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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Estudo sobre a escolarização


do negro em Santa Catarina:
Municípios de Itajaí, Lages, Criciúma e Florianópolis
2
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina
Universidade do Estado de Santa Catarina

Prof. Dr. Sebastião Iberes Lopes Melo


Reitor
Prof. Dr. Antonio Heronaldo de Sousa
Vice-Reitor
Prof. Dr. Paulino de Jesus Francisco Cardoso
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Comunidade
Prof. Dr. Jarbas José Cardoso
Diretor Geral do Centro de Ciências Humanas e da Educação - FAED
Profª. Dra. Alba Regina Battisti de Souza
Diretora de extensão do Centro de Ciências Humanas e da Educação - FAED
Profª. Dra. Jimena Furlani
Coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros - NEAB/UDESC

C onselho Editorial
Profª Msc. Neli Góes Ribeiro
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Prof. Dr. Paulino de Jesus Francisco Cardoso
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Prof. Dr. Wilson Roberto de Mattos
Pró-Reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação -
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Prof. Dr. Ahyas Siss
Vice-Diretor do Instituto Multidis-ciplinar - Campus da UFRRJ em Nova
Iguaçu -Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
Prof. Dr. Paulo Vinicius Baptista da Silva
Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros - NEAB/UFPR -
Universidade Federal do Paraná - UFPR
Profª Msc. Claudia Rocha
Coordenadora do Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-
Americanos - Cepaia - Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Colaboração
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

Karla Leandro Rascke


Graduanda em História e Bolsista do Núcleo de
Estudos Afro-Brasileiros - NEAB/UDESC
Thaís Regina de Carvalho
Graduanda em Pedagogia e Bolsista do Núcleo de
Estudos Afro-Brasileiros - NEAB/UDESC
Virginia Ferreira Boff
Graduanda em Pedagogia e Bolsista do Núcleo de
Estudos Afro-Brasileiros - NEAB/UDESC
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Neli Goes Ribeiro


Leandra Vicente

Estudo sobre a escolarização do


negro em Santa Catarina:
Municípios de Itajaí, Lages, Criciúma e Florianópolis

1a edição

Itajaí - 2008
4
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Editores
José Isaías Venera
José Roberto Severino

Comercial
Ivana Bittencourt dos Santos Severino

Rua Lauro Müller, n. 83, Centro, Itajaí - CEP. 88301.400


Fone/Fax: (47) 30455815

981.34
R484e Ribeiro, Neli Goes; Custódio, Leandra Vicente
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina:
municípios de Itajaí, Lages, Criciúma e Florianópolis/ Neli Góes
Ribeiro; Leandra Vicente. - Itajaí: UDESC; Casa Aberta, 2008.

94 p.: il.
Bibliografia:

1. Educação - História 2. Afrodescendentes. I. Título. II. Vicente


Leandra
CDD 981.34

ISBN: 978-85-62459-07-8

Revisão:
Débora Michels Mattos

Projeto Gráfico e diagramação:


J. I. Venera
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Sumário

Apresentação 07

1. Considerações iniciais 11
1.1 Incluindo o Negro 11
na História catarinense
1.2 Um pouco sobre os 15
municípios estudados
1.3 Quantos somos e onde estamos 18

2. Conceitos e problemática de estudo 31


2.1 Discurso pedagógico e relações raciais 31

3. Definições preliminares: 41
o modelo de diagnóstico

4. Comentários sobre os dados educacionais 45

5. Considerações finais 87

6. Bibliografia 91
6
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina
7
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Apresentação

O presente relatório representa nossa contribuição


sobre o tema das relações raciais na educação em San-
ta Catarina. Seu principal objetivo é discutir uma pos-
sibilidade de estudos cujos resultados possam apontar
para a organização de ações de combate ao processo
de exclusão a que está submetida a população negra
em nosso sistema educativo. As consequências desse
processo de exclusão consolidam e naturalizam a desi-
gualdade de participação entre brancos e negros per-
petuando os estereótipos e os preconceitos raciais em
nossa sociedade. Por outro lado, as ações que se deseja
ver implementadas demandam de políticas de ação afir-
mativa, cujo princípio é promover a valorização da
população negra.
O estudo foi idealizado no conjunto de ações do Pro-
jeto Uniafro II, executado pelo Núcleo de Estudos Afro-
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Brasileiros da Universidade do Estado de Santa


Catarina (UDESC/ NEAB), nos anos de 2007 e 2008.
Entre os avanços que podemos atribuir ao trabalho re-
alizado, destacamos sua penetração em todo o territó-
rio catarinense contribuindo para a disseminação de
informação e formação em todos os níveis educacio-
nais em municípios distintos. Considerando as carac-
terísticas populacionais e simbólicas que identificam
Santa Catarina como o Estado mais europeu do país, o
conjunto das ações realizadas representam um passo
decisivo para o aprofundamento da reflexão e do deba-
te das questões raciais presentes.
Para a realização desse estudo foram feitas discus-
sões envolvendo diversos atores no sentido de identifi-
car um modelo adequado a nossa necessidade de con-
tribuir com os municípios parceiros do Uniafro. Na im-
possibilidade de realizarmos um estudo qualitativo, fi-
zemos a opção de trabalhar com base nos microdados
do Censo de 2000, seguindo a tendência presente em
autores como Alceu Ferraro e Marcelo Paixão, cujos
estudos sobre escolarização e alfabetização consideran-
do a categoria raça/cor fazem uso de tais dados. Tal
opção não descarta a importância e a necessidade de
aprofundamento do trabalho realizado, partindo de uma
abordagem que permita identificar na escola, nas famí-
lias, no corpo docente e discente, elementos e dimen-
sões de atuação no combate à desigualdade e à exclu-
são presentes nos dados quantitativos.
Acreditamos que o estudo dos dados contidos nos
últimos censos escolares possam, em seu conjunto, pro-
porcionar detalhamentos não encontrados no censo
geral, uma vez que as informações ali contidas fazem
referência a uma realidade menor, a escola. A localiza-
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

ção das unidades escolares onde o processo de exclu-


são, seja da escola ou na escola, esteja presente, facili-
ta sua compreensão e a tomada de decisão quanto a
sua correção.
Ao chegarmos à etapa final desse trabalho, vimos
surgir outras possibilidades de estudo abrangendo
especificidades regionais e ainda os municípios onde a
população negra está mais concentrada, o que espera-
mos concretizar em outras oportunidades.
É importante destacar que a realização dessa inves-
tigação contou com a colaboração de todos os inte-
grantes do NEAB e das equipes municipais que, de al-
guma forma, participaram dos estudos e das discus-
sões realizadas.
Conscientes dos limites de nossas análises, espera-
mos contribuir para o surgimento de outros aprofun-
damentos e abordagens que complementem essa inici-
ativa.

Profa. Neli Góes Ribeiro


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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

1. Considerações iniciais
1.1 Incluindo o Negro na história Catarinense
Santa Catarina é conhecida como um pedaço da
Europa no Brasil. Segundo a história oficial do Estado,
a presença de africanos no território catarinense foi
menor do que em outros estados e regiões, o que tem
justificado a falta de programs e políticas públicas vol-
tadas para essa população.
De acordo com os dados apresentados pelo censo
de 2000, o número de negros em Santa Catarina
correspondia a 9,68% do total da população. Isso sig-
nifica, em números brutos, que a população negra (pre-
tos e pardos) no Estado totalizava 518.973 pessoas.
Desse total, aproximadamente 264.000 encontravam-
se na faixa etária de 0 a 24 anos, sendo 140.000 do
sexo masculino e 124.000 do sexo feminino. Desta-
camos essa faixa de idade considerando ser ela o
alvo da educação básica, seja através de políticas
de ensino regular, seja por meio da Educação de
Jovens e Adultos.
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 1
População residente por cor ou raça
Unidade da Federação - Santa Catarina

Nota: Os dados são da amostra de 10% do Censo. Fonte:


Censo do IBGE de 2000.

Segundo análises mais recentes, a população negra


no Estado de Santa Catarina, em 2007, totalizava
792.715 pessoas.1 De acordo com estudos sobre o au-
mento da população negra no Brasil, tal ocorrência
deveu-se não ao aumento da natalidade, mas sobretu-
do, ao advento da adoção de políticas de ação afirma-
tiva de combate às desigualdades e de valorização des-
sa população.
A invisibilidade construída no decorrer da história
de Santa Catarina com relação à presença negra em
seu território não difere da postura dos demais estados
brasileiros, facilitada em conseqüência do número re-
duzido de africanos que aqui viviam. O litoral
catarinense, por muito tempo, foi deixado em segundo
plano no processo de colonização, sendo que a sua
importância esteve ligada à questão estratégica de pa-
rada para o abastecimento das embarcações que se-
guiam viagem em direção ao Rio da Prata.
O primeiro povoamento a ser criado na Capitania
de Santa Catarina foi o de Nossa Senhora da Graça do
Rio São Francisco do Sul, no ano de 1660, hoje muni-
cípio de São Francisco do Sul. Em 1714 foi criado o
segundo povoamento, Santo Antônio dos Anjos da La-
guna, atual Laguna.
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, foi


desmembrada de Laguna em 1726, porém sua primei-
ra tentativa efetiva de povoamento data de 1675, com
a chegada à Ilha, do bandeirante Francisco Dias Velho.
Não há dados quantitativos da vinda de africanos
cativos ou forros com Dias Velho, porém, podemos su-
por a existência dos mesmos a partir de seu testamento
deixado em 2 de fevereiro de 1689, em São Paulo. En-
tre os bens deixados por Dias Velho constavam 25 es-
cravos pretos. Destes, é de se supor que boa parte de-
veria estar na Ilha onde Dias Velho viveu, executando
atividades e serviços diversos de interesse da família do
Bandeirante.
Após Dias Velho, apenas a partir de 1730 verificou-
se um maior interesse, em Desterro, pela escolha da Ilha
como ponte de apoio da penetração lusitana em dire-
ção ao interior do Estado, além de lugar estratégico para
ser fortificado no sistema defensivo colonial.
Com esse processo, a diferenciação social de Des-
terro intensificou-se, já que o relativo isolamento da
população quebrava-se com a chegada de diferentes
agentes sociais para ocupar os postos de defesa. Cria-
va-se, assim, oportunidade para um significativo incre-
mento da população, incluindo afrodescendentes liga-
dos ao trabalho de defesa do território. Também au-
mentava o contato com os valores sociais dos centros
da colônia, entre eles, a mentalidade escravista.
Toda essa nova estrutura abriu as portas para um
desenvolvimento econômico, mesmo que ainda tímido,
diferenciado da antiga economia predominantemente
de subsistência.
A partir da segunda metade do século XVIII estavam
presentes, na região, três setores básicos da economia
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

que serviam, acima de tudo, como subsidiária à econo-


mia colonial: a pesca, a agricultura e a pequena indús-
tria rural, e o comércio e o pequeno artesanato urbano.
A pesca foi o setor que recebeu maior investimento de
capitais por unidade de produção, ou seja, tanto em
utensílios como em mão-de-obra.
É nessa conjuntura que encontramos os primeiros
materiais significativos que discutem sobre o trabalho
africano e dos afrodescendentes na economia desterrense.
Fernando Henrique Cardoso, em sua obra Negros
em Florianópolis, destaca:
A conservação do peixe pela salga e sua exportação para
outras regiões da colônia, bem como a exploração da pes-
ca da baleia e de alguns de seus derivados logo se firmaram
como um dos primeiros núcleos de expansão da economia
catarinense. [...] foi nessa atividade que se concentraram
os maiores capitais utilizados na pesca, inclusive o grande
numero de escravos. (CARDOSO, 2000, p. 59)
Essa produção teve sua continuidade ao longo do
século XIX com o trabalho dos escravos africanos e seus
descendentes, como também a agricultura, apesar de
manter grande característica de subsistência na maior
parte das famílias de Desterro, teve incremento de expor-
tação para o mercado interno e até externo com o cultivo
da farinha de mandioca, já utilizando a mão-de-obra es-
crava no incentivo de sua produção. Outro setor que usu-
fruiu da mão-de-obra africana e de seus descendentes foi
o de comércio e pequeno artesanato urbano.
Autores que discutem a participação da população
de origem africana na Ilha, como Fernando Henrique
Cardoso, através da obra Negros em Florianópolis,
Octavio Ianni em Cor e Mobilidade Social em
Florianópolis, e Paulino de Jesus Francisco Cardoso em
15
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

sua tese Negros em Desterro..., não nos fornecem infor-


mações da condição (cativos ou libertos) dos africa-
nos e seus descendentes que aqui viviam. Percebe-se,
no entanto, que ao final do século XIX, as políticas de
branqueamento que ocorriam em todo o país tiveram
ação determinante na mobilidade social que os descen-
dentes de africanos passaram a sofrer na já cidade de
Florianópolis2, fazendo retroagir esse processo e levan-
do-os cada vez mais para marginalização social.
O método desenvolvido para marginalização da po-
pulação de origem africana em Florianópolis foi o mesmo
que se observa ao estudar todo o litoral e território
catarinense. Além da sistemática invisibilidade sobre sua
presença no Estado, produzindo prejuízo simbólico sobre
sua população, é também produzida sua localização em
áreas periféricas das cidades, em que as condições de
acesso aos bens públicos são menores e pode-se observar
altos índices desigualdade, violência e exclusão.

1.2. Um pouco dos municípios estudados

A cidade de Itajaí também está localizada no litoral


catarinense, à distância de 91km de Florianópolis, na
região chamada de Vale do Itajaí.
A história das populações de origem africana ali re-
sidentes é muito semelhante à de Florianópolis, já que
também sofreram, no município, com a exclusão e os
vários bloqueios para a sua ascensão social.
Itajaí foi fundada também pela questão da proteção
de fronteiras. Em 1658 o sesmeiro João Dias Arzão
recebeu a sesmaria da região, contudo não possuía con-
dições para consolidar ali um povoado. Só a partir de
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

1777 a região começou a ser ocupada com mais atua-


ção por agricultores oriundos de Florianópolis, que ha-
via sido invadida por uma esquadra espanhola e colo-
nos da região de São Francisco do Sul.
Talvez por fazer parte da estrutura de interesses da
colônia e da produção, inicialmente tão semelhante à
cidade de Florianópolis, as populações de origem afri-
cana em Itajaí tenham sofrido processos tão semelhan-
tes, como a sua utilização para servir aos oficiais que
se estabeleciam na região, bem como, na produção da
farinha de mandioca, na pesca, no comércio e entre
outras atividades ligadas ao desprestígio, principalmente
quando forros.
No século XIX, mesmo antes que a cidade de Itajaí
se formasse, seu porto era de grande importância para
todo o Vale. Tinha tamanha importância que o nasci-
mento de Itajaí em torno dele foi automático. Um gran-
de centro urbano cresceu e logo em 1876 a vila emer-
gente se elevou à cidade.
Dessa importância do porto para economia da ci-
dade é que damos destaque para o trabalho dos
estivadores, cujas funções foram exercidas através da
mão-de-obra dos africanos e seus descendentes.
O município de Criciúma encontra-se ao pé da for-
mação da Serra Geral, à distância de 46 metros acima
do nível do mar e 195 km ao sul de Florianópolis. A
história do desenvolvimento econômico de Criciúma
está diretamente ligada à presença dos descendentes
de africanos na região.
A extração de carvão teve início por volta de 1917.
Anteriormente, os negros trabalharam principalmente
nas lavouras da região. Ilka Boaventura destaca as la-
vouras de café e fumo de Araranguá, e Fernando
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Henrique Cardoso a pecuária desenvolvida em Lagu-


na, região litorânea formada por uma linha costeira reta
e arenosa, cujo solo não se destacava, na época, como
bom para a agricultura. Com o início da exploração de
carvão, as populações negras passaram a se deslocar, pro-
curando trabalho principalmente nas minas carboníferas,
cujo trabalho era considerado de alto risco.
O minério é até hoje a maior fonte de energia não
renovável do país, sendo 20 vezes superior ao petróleo
e 76 vezes ao gás natural. Na década de 1940 foi
construída a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
Com a crise do petróleo na década de 1970, o governo
brasileiro criou incentivos para a produção, mas na
década de 1980 os subsídios foram retirados. Com a
falta de apoio por parte do Governo Federal, a econo-
mia local precisou descobrir outras potencialidades.
Apesar de as populações de origem africana terem
sido de fundamental importância para o desenvolvimen-
to econômico da cidade de Criciúma, sua presença foi
marginalizada. Geraldo Barboza, em Negros das Áreas
Carboníferas do sul de Santa Catarina: marginalidade
social e segregação aponta vários relatos verificando o
mecanismo de invisibilidade e marginalização social
que estas populações sofreram e sofrem.
A História do município de Lages está ligada ao
caminho do gado riograndense em direção aos centros
de desenvolvimento econômicos do Brasil, sendo um
lugar estratégico para parada e descanso dos sujeitos
ligados à atividade.
Em 22 de maio de 1771 foi fundada, oficialmen-
te, a Vila Nossa Senhora dos Prazeres das Lagens.
O povoamento que antecedeu à Vila era constituído de
diversos segmentos que já residiam na região, entre eles
18
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

os povos indígenas das nações Xokleng e Kaingangs,


europeus, eurodescendentes de diversos ofícios, viajan-
tes, tropeiros e afrodescendentes, sendo que estes últi-
mos eram oriundos da circunstância escravagista da
colonização da região.
A exploração econômica iniciou-se com os paulistas
no século XVIII, que instalaram uma pecuária extensiva,
fruto da economia riograndense e do tropeirismo paulista.
A indústria do charque e a importação do gado para
São Paulo transformaram a exploração do escravo re-
gular e intensiva. Por esse motivo a importação do
charque e dos couros gerou grande desenvolvimento no
primeiro quartel do século XIX. Sendo assim, incidiu-
se um vasto fluxo de escravos africanos e afrodes-
cendentes para esses locais.
Os quatro municípios ocupam situação estratégica
em Santa Catarina, representando, cada um ao seu modo
e em tempos distintos, pólos de desenvolvimento e cres-
cimento expressivo para o Estado.
Os afrodescedentes que fazem parte da história do
conjunto populacional de cada um desses municípios cons-
tituem-se objetos de nosso estudo para discutir de que
forma estão distribuídos dentro do meio educacional.

1.3. Quantos somos e onde estamos

Os estados da região Sul são os que apresentam


os menores índices de população negra. Entre eles é
Santa Catarina que apresenta o menor número de ne-
gros, como podemos constatar na tabela abaixo.
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 2
Tamanho da população

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Tabulações do LAESER IE-UFRJ.

A população negra catarinense encontra-se distri-


buída de forma desigual por todo o Estado de Santa
Catarina, estando concentrada na zona urbana, con-
forme demonstra a tabela a seguir:

Tabela 3
População residente por cor ou raça,
situação de domicílio
Unidade da Federação - Santa Catarina

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Tabulações do LAESER IE-UFRJ.
20
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Segundo as mesorregiões do Estado, a composição


racial apresenta a seguinte configuração:

Tabela 4
População residente segundo cor e raça

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE -


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Tabulações do LAESER IE-UFRJ.

No conjunto dos munícipios, temos o quadro seguin-


te: aproximadamente 195 municípios contavam em sua
população com menos de 1000 pessaos negras; 72 en-
tre 1000 e 5000 pessoas negras; 12 municípios entre
5000 e 10.000; e 10 munícipios com uma população
entre 12 e 36 mil pessoas negras
A tabela abaixo indica os dez munípios que apre-
sentavam a maior concentração de pessoas negras e a
mesorregião onde estavam situados.
21
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 5
Concentração de Pessoas Negras por municípios

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Tabulações do LAESER IE-UFRJ.

Ainda que haja uma concentração desses munícipios


na Grande Florianópolis (três), percebe-se sua localiza-
ção espalhada por todas as mesorregiões, o que deixa
clara a inserção da população negra em todo o Estado
de Santa Catarina.
As pesquisas Nacionais de Amostra Domiciliar –
PNAD também nos fornecem importantes fontes de
como vem sendo configurado o crescimento dos dife-
rentes grupos no Estado:
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 6
População residente por cor ou raça
Unidade da Federação - Santa Catarina
Variável - População residente (Mil pessoas)

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de
dados: Valor absoluto. Tabulações do LAESER IE-UFRJ.

Gráfico 1
Taxa de crescimento populacional por cor ou raça no
Estado de Santa Catarina

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
23
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Este gráfico foi elaborado a partir da tabela 6 para


acompanhar a taxa de crescimento dos grupos sociais
classificados por cor ou raça segundo o Censo do IBGE
em Santa Catarina.
Verificamos certa estabilidade e pouquíssimo cres-
cimento da população classificada como branca do ano
de 2001 a 2006, e um considerável aumento da popu-
lação negra neste mesmo período. Este dado torna-se
importante pela verificação da maior presença de
afrodescendente no Estado que insiste em vender uma
imagem de homogeneidade branca, fruto de uma colo-
nização majoritariamente européia.
Observamos a seguir, na tabela 7, alguns pontos
importantes, como o grande crescimento da população
auto-declarada indígena. Este fenômeno pode ser atri-
buído ao aumento da abrangência das pesquisas do
Censo Demográfico do IBGE em 2000, cujo acesso às
comunidades indígenas existentes sofreu considerável
aumento. Contribuiu também, para essa realidade, a
construção realizada em volta dos povos indígenas, as-
segurada pelos Art. 231 e Art. 232 da Constituição de
1988, que institui alguns dos direitos básicos àqueles
que foram os primeiros habitantes das terras do Brasil.
São reconhecidos aos índios sua organização social, costu-
mes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários
sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo
à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os
seus bens. [...] Os índios, suas comunidades e organizações
são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de
seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em
todos os atos do processo. (BRASIL, 1988, p. 37)
Verificamos que, no geral, houve consideráveis cres-
cimentos em todos os grupos dos recortes realizados
24
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

pelo IBGE, com alguns se demonstrando mais expres-


sivos, sendo estes o caso dos já citados povos indíge-
nas, alcançando a maior taxa de crescimento, chegan-
do 197,75%, como também das pessoas classificadas
pretas e amarelas, atingindo 45,93% e 48,00%, respec-
tivamente. (Ver tabela 4)

Tabela 7 - População residente por cor ou raça


Variável - População residente (Pessoas)
Santa Catarina – 1991 e 2000

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
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Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Gráfico 2
Aumento relativo da população de Santa Catarina
por cor ou raça entre os anos de 1991 e 2000

Gráfico 3
Aumento relativo da população de Santa Catarina
por cor ou raça entre os anos de 1991 e 2000

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.

Outra questão importante esta relacionada aos grá-


ficos. Para melhor visualizarmos o crescimento
populacional no quesito cor e raça trabalhamos
direcionando a análise para nosso objeto de estudos,
ou seja, os gráficos a serem expostos dos municípios a
26
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

seguir seguiram o modelo do gráfico 3, verificando como


se deu o crescimento da população auto-declarada no
censo em branca, preta, parda e negra (pretos + pardos).

Tabela 8 - População residente por cor ou raça


Variável - População residente (Pessoas)
Florianópolis

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.

Gráfico 4
Aumento relativo da população de Florianópolis por
cor ou raça no período de 1991 a 2000

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
27
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 9 - População residente por cor ou raça


Variável - População residente (Pessoas)
Criciúma

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.

Gráfico 5
Aumento relativo da população de Criciúma por cor
ou raça no período de 1991 e 2000

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
28
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 10 - População residente por cor ou raça


Variável - População residente (Pessoas)
Itajaí - 1991 e 2000

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.

Gráfico 6
Aumento relativo da população de Itajaí por cor ou
raça no período de 1991 a 2000

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Valor
absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
29
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 11 - População residente por cor ou raça


Variável = População residente (Pessoas)
Lages - 1991-2000

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Insti-


tuto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Valor
absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.

Gráfico 7
Aumento relativo da População de Lages segundo cor
e raça entre os anos de 1991 e 2000

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE - Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados: Va-
lor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
30
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Como foi possível perceber, houve o aumento da


população negra nos quatro municípios, em geral, mos-
trando a necessidade de políticas públicas que consi-
gam atender este conjunto populacional tão diversifi-
cado no nosso Estado.

Notas

1
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar,
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
. Tipo de dados: Valor Absoluto.
. Tabulações do LAESER IE-UFRJ.
2
Com a vitória das forças comandadas pelo Marechal
Floriano Peixoto na Revolução Federalista, foi deter-
minada, em 1894, a mudança do nome da cidade de
Desterro para Florianópolis, em homenagem a este
oficial.
31
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

2. Conceitos e Problemática
2.1. Discurso pedagógico e relações raciais

Não há como, nos dias atuais de desmonte e


desconstrução das teorias pedagógicas e educacionais,
tentar atribuir à escola um papel de neutralidade. Cada
vez mais se percebe que a escola esteve, ao longo de
sua história, ligada a um projeto de sociedade, assu-
mindo o perfil que esta lhe traçou. Embora as teorias
ou pedagogias radicais venham tentando recuperar a
função escolar, cada vez mais é no seu interior que são
elaboradas relações e práticas de exclusão, de produ-
ção de ignorância, analfabetismos e racismos.
Essas situações são vivenciadas até os dias atuais
no espaço escolar. Para percebê-las basta que o olhar
do pesquisador esteja dirigido para as relações raciais.
Só desta forma é possível analisar e entender a fala da
professora quando diz, referindo-se a um grupo de
32
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

alunos negros: “Não conseguem aprender, não têm dis-


ciplina, são preguiçosos e desanimam logo. Só querem
saber de futebol e samba. Está no sangue.” (Ribeiro,
anotações de pesquisa, 12 ago. 1994).
A referência ao estar “no sangue” diz respeito aos
discursos de heranças biológicas das características
raciais de comportamento. O fato de crianças serem
negras e mestiças determina para essa professora que
elas serão preguiçosas, indisciplinadas e desanimadas,
incapazes, portanto, de aprender e de se adequar às
exigências disciplinadoras de um ensino baseado em
altos níveis de memorização e concentração.
Por outro lado, aquilo que em alguns momentos é
considerado positivo como contribuição cultural, o sam-
ba e o futebol, neste contexto de escolarização, trans-
forma-se em negatividade: “Não conseguem ficar pa-
rados”, o movimento atrapalha.
Em outro momento, a mesma professora referindo-
se a um grupo de meninas, acentua os benefícios da
miscigenação e do afastamento gradativo dos mestiços
e mulatos em relação aos negros. Disse ela: “Essas
meninas são as mais disciplinadas e caprichosas. São
muito inteligentes. São mais claras. As mães são mula-
tas e os pais parecem brancos. Estão sempre muito lim-
pas e não se misturam muito.” (Ribeiro, anotações de
pesquisa,16 ago. 1994).
A professora acredita que o distanciamento na es-
cala cromática entre mulatos, pardos, mestiços e ne-
gros, “melhora a raça”. Mais ainda, que é bom e pro-
dutivo que essas pessoas que estão “clareando” se dis-
tanciem dos outros, dos negros. Perdendo a cor, torna-
se necessário que se deixe de lado também a convivên-
cia que pode, de alguma forma, denunciar um
33
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

pertencimento racial indesejado. O ser negro não é de-


sejado.
As crianças e professoras demonstram dificuldades
em nomearem a si próprias desta forma. As que apre-
sentam tons de pele mais claros e podem escolher entre
o moreno, o mulato, o marrom, a cor de chocolate, ain-
da se manifestam; enquanto àquelas cuja cor de pele é
negra se calam. Algumas crianças se denominam bran-
cas embora em sua fala ou escrita revelem parentesco
com negros: “Eu não sei, mas eu me acho branca. Mas
eu tenho uma vó que ela foi escrava. Acho que tu tam-
bém és branca. Não devias ficar dizendo que és negra.
Tu és mais parecida com branco.” “Olha a Cíntia, ela é
bem clara, a mãe dela é mais escura, mas ela é só mo-
rena” “Eu não gosto de falar nisso. Meus tios não que-
rem que eu me misture. Minha mãe é branca, assim
italiana. Meu pai é índio ou negro, não sei. Eu sou as-
sim... Eu gosto da minha cor e gosto do sol, mas não
posso ficar muito no sol pra não escurecer muito. Daí
eles me chamam de negra.” (Ribeiro, anotações de pes-
quisa 16.05.94).
A fala das crianças expressa preocupação com seu
pertencimento racial. As suas dúvidas e seus anseios
rodopiam em torno de ser ou não consideradas um
pouco melhores, porque não são tão negras. O ser mais
claro, mais parecido com o branco, deve ser destacado.
Esta preocupação vai aparecer também em conversas
que se houve na biblioteca ou nos corredores quando
as crianças se referem à Macumba como “coisa de ne-
gros.” Já a Umbanda é coisa de pessoas mais instruí-
das. Por perceber os terreiros como “coisa de negros”,
as crianças negam ou escondem que os freqüentam.
Querer negar ou esconder seu pertencimento racial
34
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

ou étnico significa uma negação de si próprio para re-


fugiar-se em uma identidade simbólica que não lhe per-
tence. Isto ocorre porque a sociedade não lhes permite
ser o que são realmente: negros. A barragem social ao
negro é o que fundamenta este desejo de negação do
próprio ser.
Não há exagero, portanto, em se afirmar a existên-
cia de um pensamento racista no discurso e nas práti-
cas pedagógicas de nossas escolas. Tais práticas e dis-
cursos são influenciados por análises e conclusões so-
ciológicas e psicológicas que apresentaram o negro
como pertencente a uma raça inferior ou como porta-
dor de uma cultura primitiva que o impediu de realizar
um percurso escolar e social semelhante ao do branco.
Conceitos sobre a passividade do negro, sua apti-
dão para trabalhos braçais, sua mentalidade infantil e
primitiva, sua emoção exagerada são difundidos nos
conteúdos de História do Brasil ou em textos literários
dos livros didáticos usados nas escolas cotidianamen-
te, como conseqüência do pensamento racista que, desde
a metade do século passado, pensou um modelo para o
povo brasileiro e estabeleceu parâmetros para sua his-
tória e trajetórias futuras.
O dilema concreto que se apresentava para os inte-
lectuais brasileiros, ou que pensavam uma proposta para
o Brasil no final do século, era a construção de uma
identidade nacional popular que desse conta da diver-
sidade do povo brasileiro. Nem a Abolição, nem a Re-
pública representavam a implantação real do trabalho
livre; tão pouco o reconhecimento do negro como cida-
dão. Também não apagaram automaticamente do ima-
ginário social brasileiro sua tradição escravocrata e
conservadora.
35
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

A imigração estrangeira foi introduzida nesse con-


texto com dois fundamentos: a formação de uma cultu-
ra e economia capitalista e o branqueamento gradativo
da população brasileira. Estes foram os significados
propostos para o novo Estado em formação: capitalis-
mo e branqueamento.
Sem poder excluir totalmente a presença do negro,
torna-se necessário produzir sua positividade. Tal
positividade só pode ser reconhecida na medida do seu
agradecimento e submissão ao branco, na produção
de uma “alma branca” - já que é impossível mudar a
cor de sua pele -, de sua adequação aos desejos e ne-
cessidades do branco. Sua positividade se constitui tanto
quanto maior for sua capacidade em esquecer sua cul-
tura, sua religião, sua identidade étnica e de adotar a
cultura, a religião, os valores do mundo do branco, o
desejo de branquear.
Se durante o período escravagista o africano foi edu-
cado para ser escravo, tornou-se necessário e possível
educá-lo para ser brasileiro. Porém, como um tipo de-
terminado de brasileiro inspirado nos ideais de bran-
queamento, que se pensava para o futuro do Brasil, e
no projeto de desenvolvimento, que apontava para a
existência de um Estado Novo.
Otávio Ianni (1988) conclui em seus estudos que o
processo escravista transformou o africano em escra-
vo, e que a formação social capitalista, por sua vez,
transformou o escravo em negro e mulato. Isto signifi-
cou a reprodução e recriação das relações sociais em
que negros e mulatos ocupariam lugares e posições de-
terminadas pelo seu pertencimento racial.
A partir do discurso mitológico das três raças e da
democracia racial emergiu uma nova forma de silêncio
36
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

sobre o negro. Silêncio que tentou e tenta desintegrar


sua identidade num discurso de aceitação cordial de
sua presença na sociedade, desde que ele perceba, sin-
ta e se acomode em seu devido lugar.
Com base no mito da democracia racial é que se
tem afirmado sistematicamente a não importância da
discussão das relações raciais na sociedade e na esco-
la. Pois se somos todos iguais, por qual razão discrimi-
nar? Por qual razão falar do ponto de vista de negros,
brancos ou índios? E fala-se, então, de um só ponto de
vista, que, por acaso, é o ponto de vista do branco.
Aqui pensamos ser importante destacar os diferen-
tes aspectos que podem assumir o termo discrimina-
ção. Tal discussão é levantada por Gonçalves, em sua
Dissertação de Mestrado (1985). Origina-se da ambi-
güidade com que o termo pode ser tratado pelos profis-
sionais da escola. Segundo Gonçalves, a expressão dis-
criminação pode assumir dois sentidos: um negativo,
caracterizado pela prática de ações discriminatórias com
instrumentos de violência e dominação e que penaliza
as diferenças; e um outro, classificado como discrimi-
nação diferencial, cujo sentido seria o de reconhecer e
valorizar as diferenças.
Tal discussão torna-se procedente, pois na medida
em que o negro deseja tornar-se visível, ele passa a ser
acusado de discriminador. No entanto, em função da
posição ocupada pelo negro na sociedade, não há como
a discriminação possa ser usada por ele como instru-
mento de dominação e violência. A discriminação as-
sume, neste caso, seu aspecto de positividade. Na ver-
dade, o ato de não discriminar, tal como é exercido em
nossa sociedade, é que pode ser considerado como um
ato de violência, já que impede o reconhecimento e a
37
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

valorização das diferenças de uma parte da população.


Nesse caso, para o Movimento Negro, “Exigir que as
crianças negras tenham uma educação que não lhes
negue o direito de se reconhecerem como portadoras
de certa especificidade cultural é, sem dúvida, uma pro-
posta de discriminação, porém, confundi-la com práti-
cas discriminadoras, que visam a manutenção do sis-
tema de dominação, significa obscurecer-lhe o sentido,
remetendo-a ao perigoso jogo das ambigüidades.”
(Gonçalves, 1985, p. 4)
Tornando todos iguais, o discurso pedagógico ins-
pirado no mito da democracia racial impede uma dis-
criminação diferencial, que realce e valorize as particu-
laridades, bem como a importância na produção e
apropriação do conhecimento pelo grupo particulari-
zado. Negando a particularidade, silenciando sobre ela,
ignorando-a, estamos desconsiderando sua existência,
tornando-a menor e insignificante. Este sim é um ato
de dominação e violência.
Assim, discriminar significa trazer à tona todas as
implicações raciais subjacentes às relações produzidas
na sociedade hoje. O desmonte do mito da democracia
racial nos dias atuais não se efetivará apenas com o
resgate das diferenças culturais. É necessária a realiza-
ção de reflexões profundas sobre todas as relações que
se produzem na sociedade, tendo como base as ques-
tões raciais.
Desta forma, a partir da década 60, os cientistas
sociais começaram a produzir um novo discurso que
colocava em questão o modelo existente. Perceberam
que no centro das desigualdades sociais, instalava-se a
desigualdade racial. Todavia, o reconhecimento da de-
sigualdade de fato não significou o reconhecimento do
38
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

racismo e das discriminações raciais. As análises con-


tinuam ancoradas no já dito e as desigualdades pas-
sam a ser a inadaptação dos negros ao novo sistema
econômico. As causas são econômicas e sociais, e não
raciais.
Essa, porém, não representa a única corrente a dis-
cutir as desigualdades em nossa sociedade. Um outro
pensamento surgiu e, embora não negando a influên-
cia da dominação de classe, passou a afirmar que na
origem das desigualdades entre negros e brancos esta-
riam as questões de ordem racial.
Em seus estudos sobre as desigualdades sociais,
Hasenbalg e Silva (1990) demonstram que a maioria
da população negra em nosso país pertence à classe
trabalhadora e revelam que, comparando brancos e
negros, os negros sofrem “uma desqualificação peculi-
ar e desvantagens competitivas por conta de seu
pertencimento racial.” Afirmam, ainda, que as trans-
formações que mudaram a estrutura social do Brasil
não conseguiram modificar as desvantagens e a
desqualificação sistemática à que está exposto este seg-
mento da população. Analisando estudos empíricos
sobre a população “preta e parda”, Hasenbalg e Silva
destacam ainda que, “A evidência acumulada aponta
para a conclusão de que níveis crescentes de industri-
alização e modernização da estrutura social não eli-
minam os efeitos da raça ou cor como critério de
seleção social e geração de desigualdades sociais.”
(1990, p. 73).
Com o olhar voltado para a educação, os autores
citados destacam a negligência da pesquisa sociológi-
ca nesta área, basicamente em relação à dimensão ra-
cial e seus efeitos na distribuição de oportunidades
39
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

educacionais entre diferentes grupos da população, afir-


mando que “as desvantagens associadas à descrição
racial também ocorrem na esfera educacional.”
(HASENBALG e SILVA, 1990, p. 73).
Hasenbalg e Silva fundamentam suas conclusões
nos estudos sobre o Censo Demográfico de 1980 e so-
bre as Pesquisas Nacionais por Amostra Domiciliar (
PNADs ¾ 1982), os quais contemplam dados relativos
à escolaridade, considerando os grupos de cor. A aná-
lise dos dados do Censo de 1980 permite aos autores a
seguinte conclusão sobre o período analisado: “a taxa
de analfabetismo das pessoas de 15 a 64 anos de idade
era de 14,5 % entre brancos e 36,5% para pretos e par-
dos.” Concluem ainda que “no extremo oposto da
pirâmide educacional, 4,2% de brancos e apenas 0,65
%de não brancos tinham obtido um diploma de nível
superior.” (HASENBALG e SILVA, 1990, p. 74).
Ao denunciar a realidade, os estudiosos, pertencen-
tes ou não, aos movimentos sociais negros, a identifi-
cam como prática de racismo e discriminação, sem,
contudo obter propostas concretas da adoção de políti-
cas públicas de ação afirmativa capazes de atuar sobre
tal realidade.
Segundo Hasenbalg, “A pesquisa sociológica e
demográfica sobre desigualdades raciais no Brasil não
é nova nem escassa. Deixando de lado os estudos pio-
neiros do chamado “Projeto Unesco”, a tradição de
pesquisa desenvolvida nos últimos 25 ou 30 anos dá
forte sustentação à idéia de que os brasileiros não-bran-
cos estão expostos a desvantagens cumulativas ao lon-
go das fases do ciclo de vida individual, e que essas
desvantagens são transmitidas de uma geração a ou-
tra.” (In: GUIMARÃES, 2006) Entrevista com Carlos
40
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Hasenbalg) que foram sendo realizados no decorrer da


década de 80 e 90 abordaram as condições de traba-
lho e renda, acesso aos bens culturais, a mobilidade
social, a permanência nos status econômico conquis-
tados, revelando sempre a profunda desigualdade exis-
tente entre brancos e negros. As causas que vão sendo
apontadas para a permanência do fenômeno dizem res-
peito à prática de atitudes racistas e discriminatória em
relação ao negro em nossa sociedade.
41
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

3. Definições preliminares sobre


o estudo realizado
Ao iniciarmos nossas reflexões sobre a realização
deste estudo discutimos sobre a possibilidade de utili-
zar como fonte de dados o resultado dos últimos Cen-
sos Escolares realizados. Após os primeiros contatos com
as fontes citadas, constatamos a restrição apresentada,
uma vez que os dados ali contidos referem-se unica-
mente aos dados de matrícula, sem apresentar elemen-
tos sobre o sucesso e a permanência das crianças ne-
gras.
Observamos também a dificuldade de realizar um
diagnóstico no sentido mais completo, abrangendo as-
pectos quantitativos e qualitativos sobre as dimensões
das relações raciais que perpassam a cultura escolar.
Nesse caso, nossa opção foi utilizar os dados
censitários adotando o modelo de análise desenvolvido
pelo Professor Alceu Ferraro em suas pesquisas sobre
alfabetização e escolarização no Brasil.1
42
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Nesse modelo são utilizados dados do Censo de 1991


e da contagem da população sobre a população resi-
dente, considerando a freqüência à escola e o grau e
série freqüentadas, por idade. Os dados coletados fo-
ram agrupados seguindo o modelo descrito na figura 1.

Fonte: Adaptação baseada nos estudos do Professor Alceu Fer-


raro. Diagnóstico da escolarização no Brasil. Revista Brasi-
leira de Educação
Educação. n. 12, set/out/nov/dez, 1999.

Entende-se por não freqüência à escola a popula-


ção que em idade escolar encontra-se fora da escola.
Aparecem, aqui, tanto os que nunca realizaram matrí-
cula como os que realizaram alguma vez, porém no
momento do censo não estavam matriculados. Essa
população de não matriculados é agrupada na catego-
ria dos excluídos da escola
escola.
Por freqüência defasada entende-se o número ou
percentual de pessoas matriculadas cuja faixa etária não
corresponda à série freqüentada. Nesse caso vamos si-
tuar as pessoas ou alunos que aos 15 anos estão ainda
cursando o Ensino Fundamental. Essa situação de
distorção idade/série caracteriza o fenômeno da
repetência que quase sempre vai resultar na evasão
43
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

escolar, enquadrando-se, pois, na categoria de excluí-


dos na escola
escola, ou seja, os que estão na escola porém
não alcançam o êxito desejado no tempo adequado e
acabam por desistir no decorrer da caminhada.
As três categorias seguintes representam uma situa-
ção mais adequada, embora um ano de distórção pos-
sa representar um perda significativa para a população
que apresente situação ecônomica desfavorável, situa-
ção em que se enquadra a maioria das famílias negras.
Nesse caso temos os incluídos na escola,escola ou seja,
aqueles que conseguem lograr sucesso em sua trajetó-
ria escolar.
Para darmos seqüência ao nosso estudo adotamos
como fonte principal o Censo 2000, considerando que
os dados da amostra de 10% apresentam o recorte ra-
cial desejado de maneira ampla e consistente, atingin-
do dados regionais, estaduais e municipais. Enfrenta-
mos, no entanto, a alternativa de trabalharmos com gru-
pos de idade e não por idade, como aparece no modelo
citado, tendo em vista serem os dados agrupados dessa
forma pelo Censo 2000.
Por si só os dados demonstram a existência de me-
canismos de exclusão incidindo diretamente sobre os
afrodescendentes cujas origens guardam relação com com-
portamentos discriminatórios e preconceituosos existen-
tes em práticas educativas inspiradas no comportamente
racista presente na sociedade brasileira.

Fontes:
1
O pressuposto é que, no diagnóstico da escolariza-
ção, não basta verificar quantas crianças e adoles-
centes ingressaram alguma vez na escola. É necessá-
rio verificar também, para cada idade, a taxa de fre-
44
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

qüência no momento do censo, bem como o grau de


sucesso no processo de escolarização. A primeira di-
mensão da escolarização é avaliada pelo número
absoluto e a percentagem de não-freqüência em cada
idade, o que conceitualmente definimos como exclu-
são da escola. A segunda dimensão é definida con-
ceitualmente como exclusão na escola, sendo medi-
da estatisticamente pelo número absoluto e a porcen-
tagem de crianças e adolescentes fortemente defasa-
dos nos estudos, isto é, com dois ou mais anos de
atraso na relação esperada entre as variáveis séries
freqüentadas e idade.
45
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

4. Análise sobre os dados


educacionais
A prática da discriminação racial que se manifesta
nas escolas tem recebido maior atenção pelos pesqui-
sadores preocupados com os altos índices de exclusão
da população de origem africana dos espaços escola-
res, demonstradas pelas altas discrepâncias escolares
quando relacionadas à repetência, evasão, analfabetis-
mo entre outras, encontradas entre afrodescendentes e
brancos.
Desta forma através dos próximos gráficos daremos
enfoque mais nas análises educativas seguindo as ca-
tegorias de análises de excluídos da escola
escola, excluí-
dos na escola e incluídos na escola
escola.
46
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 12
População residente por cor ou raça, freqüência à
creche ou escola e grupo de idade
Variável - População residente (Pessoas)
Grupos de idade - 5 e 6 anos

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de da-
dos: Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
47
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Gráfico 8
População residente de 5 a 6 anos no Brasil por cor
ou raça, freqüência por nível de ensino:

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
48
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Gráfico 8.1 - População relativa residente no Brasil de


5 a 6 anos por cor ou raça, freqüência por nível de
ensino

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
49
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 13
População residente por cor ou raça, freqüência à
creche ou escola e grupo de idade
Variável - População residente (Pessoas)
Grupos de idade - 5 e 6 anos
Santa Catarina

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
50
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Gráfico 9
População residente em Santa Catarina de 5 a 6 anos
por cor e raça e nível de ensino

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
51
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Gráfico 9.1
População relativa residente em Santa Catarina de 5
a 6 anos por cor ou raça, freqüência por nível de
ensino
52
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

O gráfico 8.1 nos possibilita observar de forma clara


como na educação infantil no Brasil o sucesso das popu-
lações afrodescendentes apresenta retardamento se com-
parado à população auto-declarada branca ou amarela,
já que na faixa etária entre 5 e 6 anos, 31,28% dos auto-
declarados negros não freqüentam creche ou escola, con-
tra 25,46% da branca e 18.55% da amarela.
A realidade em Santa Catarina apesar de possuir mé-
ritos em nível nacional por qualidade de ensino, também
mantém esta relação excludente com as crianças
afrodescendentes de 5 a 6 anos de idade, atingindo os
31,91% contra 25,41% das crianças brancas (gráfico 9.1).
Desta forma podemos categorizar estes como excluídos
da escola, já que a educação infantil possui um papel fun-
damental na formação do indivíduo preparando-o, para
seu sucesso no inicio do ensino fundamental.
Por outro lado, quando verificamos de que forma as
crianças classificadas na categoria incluídas na escola,
refletem também possuir grandes diferenças quando as
enquadramos em recortes raciais. Das crianças bran-
cas 74,59% freqüentam creche ou escolas, destas
22,55% já estão matriculadas no Ensino Fundamental,
enquanto entre as negras apenas 68,09% de crianças
que freqüentam creche ou escola destes 20,95% estão
matriculadas no Ensino Fundamental.
A população indígena também merece destaque em
nossa análise. Cabe ressaltar que é ela que apresenta a
maior porcentagem de crianças de 5 a 6 anos não
freqüentante a creches ou escola, atingindo 56,40%
(Gráfico 8.1).
A seguir observaremos tabelas e gráficos contendo
os dados de freqüência por nível de ensino e de não
freqüência das crianças de 5 e 6 anos.
53
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 14
População residente por cor ou raça, freqüência à
creche ou escola de 5 e 6 anos
Variável - P opulação rresidente
População esidente (P essoas)
(Pessoas)

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
54
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 15
População residente por cor ou raça, freqüência à
creche ou escola de 5 e 6 anos
Variável - População residente (Pessoas)

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
55
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 16
População residente por cor ou raça, freqüência à
creche ou escola de 5 e 6 anos
Variável - População residente (Pessoas)

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
56
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 17
População residente por cor ou raça, freqüência à
creche ou escola de 5 e 6 anos
Variável - População residente (Pessoas)

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
57
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Gráfico 10
População residente de 5 a 6 anos em Florianópolis
por cor e raça e nível de ensino

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
58
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Gráfico 11
População residente de 5 a 6 anos em Criciúma por
cor e raça e nível de ensino

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
59
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Gráfico 12
População residente de 5 a 6 anos em Itajaí por cor e
raça e nível de ensino

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
60
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Gráfico 13
População residente em Lages de 5 a 6 anos por cor
ou raça, freqüência por nível de ensino

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
61
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Análise realizada no Ensino Fundamental


Tabela 18
População residente por cor ou raça, freqüentava o
Ensino Fundamental
por grupo de idade no ano de 2000
Variável - População residente (Pessoas)

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
62
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 19
População residente por cor ou raça, freqüentava o
Ensino Fundamental
por grupo de idade no ano de 2000
Variável - População residente (Pessoas)

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
63
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 20
População residente por cor ou raça, freqüentava o
Ensino Fundamental
por grupo de idade no ano de 2000
Variável - População residente (Pessoas)

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
64
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 21
População residente por cor ou raça, freqüentava o
Ensino Fundamental
por grupo de idade no ano de 2000
Variável - População residente (Pessoas)

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
65
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 22
População residente por cor ou raça, freqüentava o
Ensino Fundamental
por grupo de idade no ano de 2000
Variável - População residente (Pessoas)

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
66
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 23
População residente por cor ou raça, freqüentava o
Ensino Fundamental
por grupo de idade no ano de 2000
Variável - População residente (Pessoas)

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
67
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Nosso foco de observação foi uma análise compara-


tiva entre as populações classificadas como negras e
brancas, tanto em escala nacional, estadual, como tam-
bém dos quatro municípios selecionados. O número de
pessoas negras acima de 15 anos que estava no Ensino
Fundamental foi bem maior que o de pessoas classifica-
das como brancas (Ver tabelas 18-23). Parte dessa po-
pulação pode ser considerada como excluída na esco-
la, ou seja, aquela população que mesmo estando ma-
triculada não apresenta freqüência na série esperada,
uma vez que a faixa dos 14 anos em um processo regu-
lar de sucesso deve estar freqüentando o Ensino Médio.
Outro ponto importante que devemos evidenciar é o fato
de, por se tratar de uma análise por grupo de idades, e
segundo a tendência exposta até este momento, o nú-
mero de pessoas que estão na faixa etária de 6 a 14
anos fora do esperado idade/série no decorrer do ensi-
no fundamental, também deve ser bem elevado, ou seja,
podemos encontrar, por exemplo, pessoas de 10 anos
ou mais freqüentando a primeira ou segunda série do
fundamental. É esse contingente que vai aparecer pos-
teriormente nas classes de Educação de Jovens e Adul-
tos ou, ainda, nas estatísticas de analfabetismo, seja ele
funcional ou não.
68
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Análise Educação de Jovens e Adultos


Tabela 24
Pessoas que freqüentavam alfabetização de adultos,
por cor ou raça e grupos de idade no ano de 2000

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.

Gráfico 14
Valor relativo por cor ou raça que freqüentavam
Educação de Adultos

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
69
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Tabela 25
Pessoas que freqüentavam alfabetização de adultos,
por cor ou raça e grupos de idade no ano de 2000

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.

Gráfico 15
Valor relativo por cor ou raça que freqüentavam Edu-
cação de Adultos

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
70
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

As tabelas e gráficos a seguir apresentam a síntese


alcançada sobre a situação da escolarização da popu-
lação negra de 0 a 17 anos nos municípios estudados.

TABELA 26
População negra de 0 a17 anos,
segundo a freqüência à creche ou escola,
níveis de ensino e grupos de idade
Florianópolis/SC - 2000

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
71
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

TABELA 27
Percentual da população negra de 0 a17 anos,
segundo a freqüência à creche ou escola níveis de
ensino e grupos de idade
Florianópolis/SC

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
72
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Distribuição percentual da população de 0 a 17 anos


Segundo categorias de inclusão e exclusão escolar,
por faixa de idade

Gráfico 16

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.

Gráfico 17

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
73
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Florianópolis, município capital do Estado, dispõe


de um sistema educacional púbico com unidades Es-
taduais e Municipais. Seguindo a tendência atual, cada
vez mais a Educação Infantil e o Ensino Fundamental
vêm sendo municipalizados o que, no futuro, permitirá
um aprofundamento de estudos com relação, principal-
mente, ao processo de permanência e sucesso das cri-
anças negras na escola.
Observados os gráficos podemos perceber na faixa
de 0-3 anos um percentual significativo de crianças
negras que nunca freqüentaram a creche. Consideran-
do serem as famílias negras as mais empobrecidas e as
mulheres negras as que ocupam as funções com piores
remunerações, pode-se inferir o prejuízo no desenvolvi-
mento a que estão submetidas essas crianças. A mes-
ma tendência pode ser observada com as crianças de
4, 5 e 6 anos, nos anos posteriores denominados de
pré-escolar, já que o movimento observado na dinâmi-
ca das instituições se caracteriza por crianças que in-
gressam na creche prosseguirem nos grupos seguintes.
Nos grupos de idade de 7 a 9, 10 a 14 e 15 a 17, ocor-
rem casos de crianças fora da sala de aula, mas em
menor abrangência, como verificamos no Gráfico 17.
As crianças negras que não ingressam na Educação
Infantil perdem um espaço de socialização escolar que
poderá contribuir para facilitar sua inserção com su-
cesso no Ensino Fundamental. Há que se observar,
74
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

ainda, que as crianças negras de 4 anos e de 7 a 9


aparecem no gráfico 16 com uma freqüência defasada,
o que pode significar sua presença em grupos com cri-
anças menores desfrutando de atividades que não
correspondem a sua faixa etária.
O grupo de idade 10 a 14 aparece na série espera-
da ou na categoria de adiantados, com apenas uma
pequena amostragem de 0,01%, com freqüência defa-
sada neste grupo de idade. Tal situação se repete no
município de Lages com um percentual de 0,02%.
A situação presente na faixa etária 10 a 14 anos
não se repete no grupo de 15 a 17 anos, cujo número
maior aparece com freqüência defasada, ou seja, ex-
cluídos na escola. Esse fenômeno significa um contin-
gente de pessoas negras nas classes de Educação de
Jovens e Adultos e sua ausência no ensino superior.
Uma discussão mais adequada e profunda poderia ser
realizada se contássemos com dados por idade e não
faixa etária. No entanto, esse estudo já pode ser consi-
derado importante inclusive para o desenho de outros
que permitam a análise das instituições, o espaço em
que está inserida e a população para a qual se destina.
No caso do Ensino Médio Público Estadual, faz-se
necessário aprofundamento, localizando os pontos de
exclusão cujo resultado é dos mais prejudiciais para a
população negra, inibindo, inclusive, a implementação
de programas voltados para os jovens negros como é o
caso do Programa Antonieta de Barros e do Projeto
Odara1, que por não contemplarem alunos da Educa-
ção de Jovens e Adultos – EJA, acabam excluindo os
jovens negros que voltam para completar seus estudos
nessa modalidade de ensino. Há que se observar, ain-
da, a tendência oficial de diminuir ou mesmo excluir
75
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

essa modalidade de ensino no Estado. Se considerar-


mos serem os alunos de Educação de Jovens e Adultos
oriundos da população negra, mais uma vez estará, essa
população, sendo penalizada por políticas institucionais.
Os demais municípios do estudo (tabelas e gráficos
a seguir) apresentam uma situação semelhante à de
Florianópolis no que diz respeito às faixas de 0-3 anos,
4 anos, 5-6 anos e também na faixa de 15-17 anos.
Tendo como diferencial, nos municípios de Criciúma e
Itajaí, a não existência pela amostra coletada do IBGE de
crianças no grupo de idade de 10 a 14 anos com freqüên-
cia defasa, como foi demonstrado anteriormente.
Não se trata aqui de fazermos uma análise compa-
rativa, uma vez que são realidades diferentes e não su-
ficientemente estudadas em suas especificidades por
nosso estudo. Destacamos apenas a existência de uma
tendência de defasagem que provavelmente vai se re-
petir, justificando a tendência estadual.
76
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

TABELA 28
População negra de 0 a17 anos,
segundo a freqüência à creche ou escola, níveis de
ensino e grupos de idade
Criciúma/SC - 2000

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
77
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

TABELA 29
Percentual da população negra de 0 a17 anos,
segundo a freqüência à creche ou escola níveis de
ensino e grupos de idade
Criciúma/SC

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
78
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Distribuição percentual da população de 0 a 17 anos


segundo categorias de inclusão e exclusão escolar, por
faixa de idade

Gráfico 18

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
79
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Gráfico 19

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
80
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

TABELA 30
População negra de 0 a17 anos, segundo a freqüência
à creche ou escola, níveis de ensino e
grupos de idade
Itajaí/SC - 2000

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
81
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

TABELA 31
Percentual da população negra de 0 a17 anos,
segundo a freqüência à creche ou escola níveis de
ensino e grupos de idade
Itajaí/SC

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
82
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Distribuição percentual da população de 0 a 17 anos,


segundo categorias de inclusão e exclusão escolar, por
faixa de idade

Gráfico 20

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.

Gráfico 21

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
83
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

TABELA 32
População negra de 0 a17 anos, segundo a freqüên-
cia à creche ou escola, níveis de ensino e
grupos de idade
Lages/SC - 2000

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
84
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

TABELA 33
Percentual da população negra de 0 a17 anos,
segundo a freqüência à creche ou escola, níveis de
ensino e grupos de idade
Lages/SC

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
85
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Distribuição percentual da população de 0 a 17 anos,


segundo categorias de inclusão e exclusão escolar, por
faixa de idade

Gráfico 22

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.

Gráfico 23

Fonte: Dados Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, IBGE


- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de dados:
Valor absoluto. Elaboração Pesquisa Diagnóstico.
86
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

Nota:
1
O Programa Antonieta de Barros é realizado pela Assembléia
Legislativa de Santa Catarina, contemplando com bolsas
de estágio na casa, os estudantes do Ensino Médio preferen-
cialmente negros e negras. O Projeto Odara se destina ao
acompanhamento de estudantes negros do Ensino Médio da
Rede Estadual.
87
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

5. Considerações finais
O estudo realizado despertou nossa atenção e inte-
resse para a realização de uma análise detalhada sobre
a exclusão da escola e na escola. Ainda que seja cor-
rente a idéia sobre a universalização do acesso à Edu-
cação Básica, existem indícios que tal realidade pode
ser contestada especialmente no que diz respeito à Edu-
cação Infantil.
Por outro lado o fenômeno denominado de exclusão
na escola é resultado dos mecanismos pelos quais a
cultura escolar dificulta a trajetória da criança negra
através da reprovação e da repetência.
A escola, como espaço inicial e oficial de convivên-
cia entre os diferentes grupos, apresenta-se como um
dos agentes em que as práticas racistas acabam por
ajudar a perpetuar a situação de desigualdade obser-
vada entre brancos e negros. Os estudos realizados até
agora sobre o assunto têm demonstrado que as crian-
ças negras completam menos anos de estudo em todos
os níveis do que as brancas, ainda que sejam conside-
88
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

radas de mesma origem social ou renda familiar per


capita. Com relação ao acesso, permanência e
finalização no ensino médio e superior as diferenças
aparecem de maneira ainda mais acentuada. Tal desi-
gualdade se reflete posteriormente em diferenças quan-
to à inserção desses grupos na estrutura social e no cam-
po de trabalho.
Todos os estudos mais recentes sobre desigualdade
e pobreza no Brasil acabam por concluir que a nega-
ção da contribuição dos africanos e seus descendentes
pode ser apontada como fator de exclusão e produção
dessa desigualdade. Para compreender a situação rela-
tiva à questão da escolarização, pode-se buscar a aná-
lise de indicadores como o ingresso prematuro do ne-
gro no mercado de trabalho, porém na maioria dos ca-
sos, é a própria representação da escola para as crian-
ças negras que as faz perceber o ambiente escolar como
hostil, já que ali não encontram elementos de valoriza-
ção de sua cultura.
Para Menezes, o referencial que prevalece para a
criança negra é de fracasso e conseqüentemente de ex-
clusão enfatizando “já que não conseguem aprender”,
embora isso não seja impedimento meramente
cognitivo, mas uma possível dificuldade de inserção das
crianças negras no espaço escolar, por se sentirem “ex-
cluídas” do mesmo; uma exclusão simbólica, já que a
criança tem acesso à matrícula e à sala de aula, mas
não é aceita no contexto mais amplo.
A situação de rejeição em relação à criança negra e
sua família é uma constante no ambiente escolar. Ra-
cismo e discriminação têm sido apontados como prin-
cipais forjadores dessa exclusão que atinge a popula-
ção afrodescendente que ingressa na escola, porém, não
89
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

logra permanecer nessa instituição ou realizar uma tra-


jetória de sucesso em seu interior.
O racismo a que nos referimos se encontra presente
nos currículos escolares cuja tradição eurocêntrica ex-
clui conteúdos de valorização da história dos povos afri-
canos e de sua trajetória de luta e resistência na
diáspora; folcloriza e subestima as expressões de sua
cultura e realidade, invisibiliza sua presença e impor-
tância na sociedade atual.
A observação do cotidiano de nossas escolas denun-
cia a existência de atitudes preconceituosas entre as
crianças e entre estas e seus professores. A branquitude
dos conteúdos, dos cartazes, do livro didático e, a for-
ma estereotipada da presença do negro nesses espa-
ços, informa às crianças negras sobre seu papel e lugar
no ambiente escolar.
Abordar este tema não é tarefa fácil. Sobretudo se
considerarmos as características pluriétnicas e
pluriculturais da sociedade brasileira e os fundamentos
racistas que as orientam e, ainda, a especificidade de
nosso Estado em cujo imaginário permanece a idéia de
sermos o mais europeu dos estados brasileiros.
Contudo, é necessário tal empreendimento e, para
fazê-lo, torna-se imprescindível a produção de dados
quantitativos e qualitativos sobre as desigualdades pre-
sentes em nosso sistema educacional, determinando o
pertencimento étnico da população excluída, as causas
dessa exclusão e apontando a possibilidade de políti-
cas de superação.
Cabe ressaltar que dos municípios estudados ape-
nas um não apresentou uma resposta institucional
satisfatória quanto à adesão à proposta do NEAB-
UDESC com relação à implementação de atividades
90
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

sobre a Lei 10639 e das Diretrizes Curriculares Nacio-


nais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana, sendo que nos outros três foram realizadas
atividades cuja consolidação poderá contribuir para a
reversão de práticas que provocam a exclusão da cri-
ança negra de escola e na escola.
Para finalizar, deixamos nossos agradecimentos pela
oportunidade de contribuirmos, ainda que de forma
parcial, para o sucesso do Programa Uniafro em nossa
Universidade.
91
Estudo sobre a escolarização do negro em Santa Catarina

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