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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Rafaela Dias
CAMPINAS
2019
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
RAFAELA DIAS
CAMPINAS
2019
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Faculdade de Educação
Rosemary Passos - CRB 8/5751
Palavras-chave em inglês:
Classroom
Constructivism (Education)
Autonomy
Moral development
Interpersonal relationships
Área de concentração: Educação
Titulação: Licenciatura em Pedagogia
Banca examinadora:
Andréa Patapoff Dal Coleto
Data de entrega do trabalho definitivo: 13-12-2019
RAFAELA DIAS
BANCA EXAMINADORA
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Estou chegando ao final de mais um ciclo de minha vida, e com isso irei
agradecer pessoas que foram essenciais para que eu continuasse em busca de
sempre dar um meu melhor para finalizar minha graduação em pedagogia.
Ao meu irmão, Rafael, por todo amor e carinho dado a mim, pelos mimos nos
dias difíceis e por ser, mesmo que mais novo, uma referência de persistência e força
por enfrentar neste ano uma rotina tão intensa. A mais intensa que a de todos ao
nosso redor!
Ao meu pai, Ivair, por buscar entender e apoiar minha decisão em ser pedagoga
mesmo em meio a tantas críticas disparadas contra essa profissão e por me ensinar
a ser como ele, ser forte e honesta, mesmo em meio a tantas barreiras e dificuldades
ocorridas ao longo da vida.
Ao Luís, por sempre me ajudar quando preciso, desde o princípio, antes mesmo
da minha entrada na UNICAMP.
Ao meu namorado, Raul, por ter paciência nos momentos em que não pude
estar tão presente e no apoio para enfrentar todas as dificuldades, além da companhia
em momentos de estudo, até mesmo me ajudando a ler alguns textos dos quais eu já
não tinha mais energia para ler.
As minhas três amigas, Carol, Milena e Gabi, chamadas por alguns professores
de “grupinho inseparável” e é assim que quero permanecer, encerrando um ciclo ao
lado delas e lavando-as comigo o resto da vida para muitos outros ciclos que virão.
Obrigada, amigas, por todo apoio e força que demos umas às outras nesses quatro
anos intensos e repletos de mudanças!
The aim of this paper is to show how the coexistence in a constructivist classroom has
a positive influence to build an individual moral in all the types of relationships
established, in the scholar or social environment. The comparison between a
constructivist and authoritarian classroom allow us to note that the difference between
these educational environments influences directly the attitudes, the autonomy and the
relationships between the pairs with the adult, making, in one hand, the moral based
to the mutual unilateral respect and, consequently, the autonomy. The constructivist
classroom is directly related to the built of an autonomous morale, allowing that the
individual consider the collective and not only it needs and wishes, attitudes of which
our society need to better develop and to build better relationships between the people.
INTRODUÇÃO...........................................................................................................01
JUSTIFICATIVA.........................................................................................................03
2.1. Os sentimentos..................................................................................................16
2.2. As punições........................................................................................................20
2.3. As regras............................................................................................................23
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................28
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INTRODUÇÃO
Diante disso, professor deve pensar o que o aluno pode aprender por meio
desses conflitos que vivencia na interação com seus pares e com os adultos, a fim de
que ele encontre soluções adequadas para lidar com essas situações e,
consequentemente, refletir sobre princípios e normas que regem a dinâmica do
trabalho na escola.
Por meio dessa vivência em sala de aula a pessoa desenvolverá sua moral e,
consequentemente, tudo o que ela será está diretamente relacionado com o que for
aprendido e desenvolvido em sala, sendo assim, a vivência se torna decisória com
relação ao que a pessoa será no futuro.
JUSTIFICATIVA
Desde que ingressei na graduação em pedagogia na Faculdade de Educação
da Unicamp, interessei-me muitíssimo pelas pesquisas que constam da programação
da disciplina Psicologia da Educação ministrada pela Prof.ª. Dr.ª Telma Vinha.
La Taille (2001) admite que uma pessoa autônoma é aquela que permanece
com seus princípios e valores independente do contexto e da pressão exercida sobre
si, ou seja, ela se conduz por meio das regras e da autorregulação e um ambiente
cooperativo influencia positivamente a construção da personalidade autônoma.
Por outro lado, temos o ambiente autoritário que atua na construção de uma
pessoa heterônoma que muda seu comportamento conforme os contextos, isto é,
porta-se conforme as regras e a regulação externa a ela, com isso, ela pode mudar
facilmente de opinião, valores e atitudes segundo o contexto que ela está inserida,
sendo influenciada pelos meios no qual ela faz parte, podendo ser o ambiente de
trabalho, o familiar, o escolar, entre outros.
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Há diversos aspectos que compõe uma sala de aula construtivista, dentre eles,
a construção de regras, a construção do jornal de parede, as assembleias, o livro da
vida e o ateliê.
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Cada um deles possui grande importância para que o trabalho a ser realizado
em aula aconteça de maneira democrática e o desenvolvimento moral dos alunos seja
auxiliado, e por isso, a seguir será apresentado de forma mais detalhada cada um
destes aspectos.
O “eu felicito” corresponde à parte na qual o aluno irá escrever e colocar algo
que aconteceu e ele gostou, podendo ser uma situação, uma atividade, uma
brincadeira, enfim, qualquer coisa que ele queira felicitar.
As fichas em que está “eu felicito” ajudam a professora a saber o que a turma
está gostando, e também se os outros alunos concordam. Essas opiniões
proporcionam ao professor dados que lhe permitem sempre repensar sua prática na
sala de aula. A “eu critico” e “eu sugiro” também são pontos fortes para repensar sua
prática. E a “eu pergunto” ajuda a planejar aulas para a turma pesquisar sobre as
dúvidas apresentadas caso ninguém saiba a resposta, podendo até gerar um grande
projeto.
Este momento de assembleia, faz com que os próprios alunos expressem suas
opiniões, aprendendo a escutar o outro e esperar sua vez de falar, além de
aprenderem a pensar no coletivo no qual estão inseridos e não apenas em suas
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O quarto aspecto é o Livro da Vida. Ele funciona como uma espécie de diário
da turma, no qual as crianças possuem livre expressão sobre modo pelo qual elas
veem a aula, podendo ser texto, desenho, pintura.
Neste livro a turma registra o ano todo os acontecimentos relevantes. Cada dia
uma criança ou uma dupla é escolhida para registrar o que aconteceu no dia ou o que
foi mais marcante para ela(s) da forma que quiserem, tornando-se assim um livro rico
em expressões e sentimentos dos alunos.
podiam escolher qual cantinho iriam, mas havia a condição de ir em todos os cantinhos
ao longo da semana, ou seja, era necessário cada dia ir em cantinhos diferentes.
Os cantinhos eram: dois de jogo de tabuleiro, um de apostila de matemática,
um de texto livre e um de massinha. Além deles, duas crianças ficavam responsáveis
em fazer o livro da vida do dia.
A professora dava liberdade para os alunos escolherem em qual ateliê iriam,
ela intervinha apenas quando um aluno queria repetir o cantinho duas vezes na
mesma semana.
Retomando a ideia de que o ateliê pode ser estruturado conforme a
necessidade da turma, ele torna-se um aliado do professor para utilizá-lo para atender
às demandas da turma, além de ser um momento importante para o desenvolvimento
da autonomia do aluno.
Devido aos conflitos serem vistos como um grande problema a ser evitado ou
muitas vezes ignorado, pela escola, o fato de o entendimento sobre eles ser algo
negativo, aumenta a busca por soluções rigorosas e rápidas crescem, mas essas
podem apresentar uma melhora a curto prazo para a instituição, sendo uma
ocorrência muito comum nas escolas, como afirma Vinha (2003)
Ao encarar o problema como algo que pode ser positivo para desenvolvimento
da autonomia, moral e valores naquele aluno ou em um grupo de alunos que fazem
parte dos conflitos ocorridos na escola, além de ajudá-los, a escola como um todo
ganha, uma vez que ao resolver esse conflito a longo prazo a qualidade do convívio
escolar será muito melhor.
2.1 Os sentimentos
Tomemos o exemplo de um aluno que diz bater em outro por não gostar dele.
O que precisa ser feito nesse caso, não é dizer a ele que “é preciso gostar do colega,
ou “não pode bater nos amigos”.
Nessa situação temos dois principais problemas, o primeiro é que dizer que ele
precisa gostar do colega porque isso não é verdade, não existe problema em não
gostar de todo mundo o que deve ser ensinado é que precisa respeitar o colega, e
qualquer outra pessoa independente de gostar ou não dela.
O segundo ponto é dizer que não pode bater nos amigos, o que gera também
a mesma interpretação de que caso a pessoa não seja um amigo, pode bater nela.
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Esse argumento não é válido pelo mesmo motivo porque todas as pessoas devem ser
respeitadas, sendo ou não um amigo.
Quadro 7 – Terceiro fragmento do quadro temático sobre como trabalhar sentimentos em diversos
conteúdos.
2.2 As punições
A professora então se justificou dizendo que sabia que ele não fez por querer,
mas era para aprender a não levar mais estalinhos para a escola, já que era algo
proibido.
com o ato sancionado e com isso a criança vai deixar de fazer pela dor da punição e
não pela compreensão da mesma.
Para que a sanção fosse por reciprocidade e não houvesse uma punição e sim
uma coerção que possui coerência com o comportamento desaprovado a fim de que
a criança deixasse de fazer por saber que aquilo não é certo e não por medo da
punição.
A professora poderia ter dito que se ele não parasse de quebrar os carrinhos
não sobraria mais nenhum para ele brincar e ficariam todos muito estragados para a
brincadeira. Ao tratar o fato dessa forma, a professora leva a criança a refletir sobre o
que fez e que aquilo irá afetá-la, pois, ficará sem ter com o que brincar.
Além disso, pedir para a criança consertar o que ela quebrou também é uma
ótima forma de coerção, pois, mesmo que a criança não consiga repará-lo totalmente
a atitude de tentar consertar já pode fazer com que ela tenha mais cuidado nas
próximas vezes, atentando a criança ao fato de que nem tudo ela poderá reparar.
No ambiente A:
E quando se faz alguma coisa errada o que acontece? A Tia dana. Quando
a tia manda fazer alguma coisa e os outros fez errado, ela dana. O que é
danar? É ficar muito brava e dar castigo. Ah, é ficar bravo? É. Tem castigo
aqui? Tem. O que é castigo? Castigo é ficar sem recreio. Eu já fiquei sem
recreio muitas vezes. Você já ficou sem recreio muitas vezes? Hã, hã... Por
que você já ficou sem recreio muitas vezes? Porque eu faço muita arte. Você
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faz muita arte? Ela faz muita bagunça quando a tia não tá vendo.
(TOGNETTA, 2001, p.109)
No ambiente B:
Há problemas aqui nesta classe? Tem , o DOT bate em todo mundo. Mas o
que acontece? Como se resolve? Ah, a gente fala que não quer que ele bate,
que não é para bater. Mas, e a professora, não resolve? Não é a gente que
resolve. Ela também resolve quando não dá. Mas tem que conversar . Tem
castigo aqui? Castigo? Não. Só se brigar no parque, aí fica sem brincar no
parque. E se brigar na sala, fica sem parque? Não. Se brigar no cantinho fica
sem ir no cantinho que brigou. (TOGNETTA, 2001, p.115)
É verdade que os castigos nos ambientes são muito distintos, sendo que no A
ele é usado como uma sanção expiatória e no B uma sanção por reciprocidade. No
diálogo do ambiente A é possível perceber que não há respeito pelas regras na
ausência da professora (tia) o que reafirma a ideia de que as crianças não respeitam
por compreenderam a importância dela e sim por não quererem sofrer com uma
sanção expiatória até o momento em que a criança não se importa mais, como
também apresentado no primeiro diálogo quando a criança afirma que já ficou muitas
vezes sem recreio por fazer arte, ou seja, ela não parou de fazer arte e começou a
respeitar a regra, ela apenas aprender a lidar com a punição.
Mesmo que seja difícil, o objetivo de toda educação deve ser educar sem punir,
lembrando que recompensas por não fazerem algo, por exemplo, ganhar um doce se
não fizer bagunça, é totalmente errado pois a relação se torna baseada em chantagem
e não em respeito e por isso é importante ressaltar que a dificuldade existe e é natural,
mas é possível superá-la
No texto “É possível educar sem punir?” traduzido por Roberta Rocha Borges,
incluso no livro organizado por Orly Zucatto Mantovani de Assis, a ideia de
convencimento de pais e professores de que são capazes de fazer essa educação
sem punição acontecer é necessária.
2.3 As regras
Devemos aqui salientar a relação que faz Piaget (1932/ 1994) entre: a
autonomia e respeito mútuo; e a heteronomia e o respeito unilateral. Quando
há respeito unilateral a ação acontece em conformidade ao dever, ou seja,
acontece como obrigação. A criança procede da forma como foi ordenada,
geralmente pelo adulto; a regra se apresenta como algo pronto e que chega
até ela como sagrada. Por outro lado, quando há respeito mútuo, a ação é
pelo dever, ocorre pela vontade como determinante da ação (Piaget,
1932/1994). Logo, no primeiro caso há legalidade e somente no segundo
caso é que há moralidade, conforme salienta Kant (1788/ 2002). Desse modo,
só existe lei moral efetiva quando não há obrigação e quando a determinação
da ação da criança acontece mediante o respeito que ela apresenta pela lei
e pelo dever moral, ou seja, quando a própria criança é o sujeito da lei moral.
(QUEIROZ, RONCHI, TOKUMARU, 2009, p.74)
apresentem regras que não são viáveis deve-se permitir para que eles percebam com
o tempo a inviabilidade da mesma.
Por fim, vetar de forma sutil regras que prejudiquem qualquer pessoa,
conversando e explicando por que a regra não é uma boa ideia e com esse processo
envolvendo os alunos a compreensão e o respeito pelas mesmas acontecerá de forma
mais natural.
Por meio desse processo, quando necessário relembrar das regras será mais
fácil, pois, como eles participaram da construção, logo, lembrarão do sentido e do
porquê respeitá-la, podendo ser reafirmado pelos outros colegas que também
participaram da elaboração.
É por meio da escola que deveria ser possível formar cidadãos que entendem
o que acontece nos governos da cidade e do país, sendo assim a instituição possui
papel fundamental no processo democrático pois é nela que se aprende a pensar de
forma autônoma e a sala de aula construtivista é parte desse processo de formação.
[...] moral autônoma o sujeito não mais legitima uma regra pela simples
autoridade em si, mas passa a entendê-la como um contrato entre os iguais.
É importante lembrar que autonomia não é o mesmo que individualismo,
independência ou, simplesmente, ter liberdade para fazer o que se quer, mas
sim, implica em coordenar os diferentes fatores e perspectivas numa situação
para decidir agir da melhor maneira para todos os envolvidos. O indivíduo
autônomo segue um código de ética interno, obrigando-se a considerar os
outros além de si. Dessa forma, a fonte das regras não está nos outros ou em
uma autoridade (como ocorre com a moral heterônoma). (VINHA;
MANTOVANI DE ASSIS, 2018, p.168. In MANTOVANI DE ASSIS;
MENEGHEL; RIBEIRO (Orgs.))
Um problema que temos com relação aos governos é a apatia política que
possue dois principais fatores: a sensação de que a participação política é irrelevante
e pouca opção partidária o que traz a sentimento de não representatividade e é na
escola que se desenvolve uma formação democrática com o intuito de formar pessoas
que se importem com a sociedade como um todo, pois “um caminho para avançar na
democracia é que os cidadãos se tornem cada vez mais autônomos, e é para isso que
a escola e as instituições escolares podem contribuir enormemente” (DELVAL, 2007,
p.74).
Por isso que a escola se torna local de extrema importância, pois é nela que o
desenvolvimento pleno do aluno é promovido, sendo constituída sua moral, que só
acontece por meio da relação entre pares e com os adultos (PIAGET,1967).
A única forma para nós vivermos juntos com sucesso como espécie humana
é descobrir como tratar com diversidades de todo tipo. [...] Ao promover desde
cedo o desenvolvimento sociomoral das crianças, nós poderemos colocá-las
no caminho para tornar-se o tipo de adulto que pode levar adiante as
responsabilidades de cidadania democrática e trabalhar em igualdade nos
relacionamentos humanos (DEVRIES; ZAN, 2012, p. 88).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao considerar tudo que foi apresentado ao longo deste trabalho pode-se afirmar
que estar em uma sala de aula construtivista e estar em uma sala de aula tradicional
acarreta de diferentes formas no desenvolvimento moral do aluno.
Embora seja um desafio para muitos tentar fazer com que o ambiente de sua
sala seja construtivista é preciso ressaltar que mudanças são necessárias e realmente
nem todas são fáceis, demandam tempo e perseverança. E é esse o papel do
professor e da escola, sempre mudar no intuito de buscar o melhor para os alunos e
seu futuro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS