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21/03/2021 Tradição cigana - Clube do Tarô - Tarot

Os Arcanos Maiores na Tradição Cigana


Sarani Barrios

Primeira observação:
A denominação “baralho cigano” é uma coisa que nós ciganos não
entendemos, não sabemos de onde isso surgiu. É um mito. O tarô que nós
utilizamos é o usual, o clássico, mas cada cigano escolhe o de sua preferência,
não existe um específico.

Para os ciganos, existe uma lógica por trás do baralho. No caso dos
Arcanos Maiores, nós retiramos um arcano – o Tolo ou Bobo – e restam 21.
Esses 21 arcanos são divididos em três ciclos de 7 que, para nós,
correspondem à evolução ou à história de uma pessoa. Nesse sentido, tudo
que acontece na vida de uma pessoa vai do Mágico até chegar ao Mundo, que
é a carta que representa o momento em a pessoa ganha o seu mundo, onde
ela se conhece por inteiro.
Podemos assim traçar três ciclos de vida, cada uma deles constituído de três setênios:
• 1 aos 21: os anos de formação
Setênios. 1º: arcanos de 1 a 7; 2º: arcanos de 8 a 14; 3º: arcanos de 15 a 21.
• 22 aos 42: Os anos de vivência
4º (22-28): arcanos de 1 a 7; 5º (29-35): arcanos de 8 a 14 e 6º (36-42): arcanos de 15 a 21
• 43 aos 63: Os anos de usufruto
7º (43-49): arcanos de 1 a 7; 8º (50-56): arcanos de 8 a 14 e 9º (57-63): arcanos de 15 a 21

Dentro desses ciclos maiores cada setênio é considerado como uma etapa, um microciclo.
Por exemplo, até os 7 anos a gente se forma, dos 7 aos 14 a gente vive e, até os 21, a gente
usufrui. E um novo ciclo de 21 começa, passando ele também por três etapas. É sempre
assim, de sete em sete e de três em três. Quando entendemos bem essa sucessão de ciclos,
começamos a compreender a lógica da seqüência das cartas, porque cada uma delas mostra
um dado momento de evolução.
Nota: A seguir, cada arcano é apresentado em quatro itens: o seu sentido geral e os três
significados específicos a cada idade. Os números em verde indicam as referências para cada ano
do ciclo de formação; os números em bordô referem-se ao ciclo de vivência; os números
em azuldão conta de cada ano do ciclo de usufruto. Foi o modo de reunir as várias significações
de cada carta e ao mesmo tempo permitir leituras transversais de cada ciclo.

O Tolo ou Louco

O Tolo sempre significa que a pessoa está em um processo de troca de ciclos


ou que ela está num marasmo, marcando passo; algo está demorando para se
realizar. Ou então indica que vem um período de transformação; aquilo que virá
poderá ser completamente diferente do que era antes.
Esse arcano não é associado a qualquer idade específica nos três ciclos da
história pessoal.

I. O Mágico
O Mágico - A lembrança de uma vida passada, o momento de absorver o
conhecimento.
1. Traz um conhecimento lá de trás, que não consegue traduzir em
palavras, porque ainda não fala, mas tem a disposição do aprendizado; é
onde essas duas coisas mais ou menos se juntam.
22. Começar uma nova vida, quase como o bebê que vem de uma vida
antiga para começar uma nova: aos 22, a gente também começa uma nova
vida.
43. uso das minhas conquistas. Tenho em minha mala tudo o que preciso
para seguir adiante. É o momento em que a gente faz a mala,
espiritualmente falando: a nossa bagagem está aí.

II. A Sacerdotisa

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A Sacerdotisa - A figura da mãe. Os conselhos de quem só quer o bem.


A primeira mulher.
1. Sentir-se amado. A mãe vista com pureza e avaliada com tudo que ela
tem de melhor.
23. Mulheres se descobrindo mulheres, homens descobrindo o valor da
mãe.
A gente fala que uma mulher nunca é tão mulher quanto aos 23 anos, na
nossa cultura. É como se um ciclo se fechasse: ela se reconhece e tem noção
de que é mulher. E os homens descobrem o valor da mãe; até então eles
podiam ter aquela coisa de manter uma distância, e nessa idade dos 23 eles
começam a dar valor “a minha mãe querida”... e isso dura.
44. O amor maduro. Desenvolvimento da capacidade de amar o outro e,
principalmente, de receber amor. Isso é uma mudança muito significativa, pois há muita
gente que tem uma capacidade de amar tremenda, mas não desenvolve a capacidade de
receber. A chance dessas pessoas está aí, aos 44.

III. A Imperatriz
A Imperatriz - As mulheres outras. A importância da influência da força
feminina.
3. Experimentar o amor fora da família: tia, vizinha, professora. A
importância da mulher. (Nos anos de formação, os anos principais são
passados pela força feminina).
24. As grandes amizades. Vocês podem observar que geralmente
amizades feitas nesse período são as que mais duram e nos acompanham no
decorrer da vida, é um período de formação de amizades mais intenso.
Porque a gente já sabe o valor de cada sexo, sabe o valor da mulher –
aquela que gera amigos, que compartilha, que une – e quando a gente
entende isso está pronto para desenvolver amigos.
45. Descobrir o incondicional. Estar pronto para a comunidade. A gente
deixa de ser o foco de si mesmo, aos 45, e começa a olhar para fora. Até então era “eu, eu,
meu crescimento, meu desenvolvimento”, e aqui a gente consegue ver com candura todo o
mundo que está em volta.

IV. O Imperador
O Imperador - O pai. A visão de proteção, a sobrevivência.
4. O pai como o primeiro modelo. É o pai que mantém a casa, que provê;
a criança começa a entender quem traz o dinheiro, quem trabalha.
25. Falar do pai com orgulho ou desdém. Descobrir quem é o pai.
Geralmente a gente tem a ilusão de que o pai é um herói. Aos 25 a gente
começa a fazer críticas, a atribuir culpa, a questionar qual foi a influência do
pai... mas trata-se de um momento fundamental para essa relação com o
lado masculino. Até as mulheres olham o próprio lado masculino e algumas
começam uma coisa muito clara: vão atrás de amores que são a cara do pai
ou o oposto do pai, mas nunca o meio termo. Esta é a idade da busca dos
extremos.
46. Devolver o amor através da compreensão. É quando as ciganas
começam a entender as pessoas que as procuram, sem a vontade de interferir e de sacudir a
pessoa, quando vê que a situação está toda errada. Aos 46 a gente se considera uma
cartomante formada, porque consegue entender aquela situação de forma incondicional. Essa
é uma idade muito mágica no sentido da profundidade de compreensão

V. O Papa
O Papa - Os homens mais sábios. A visão fora da ingenuidade.
5. O acolhimento da sabedoria ou a influência de um homem mais sábio.
Geralmente personificada pelo avô, que dá a formação do pai sem a
necessidade ou a incumbência de ser o provedor; ele está lá para passar
sabedoria. Aos 5 anos as crianças estão muito mais próximas dos avós do
que em idades inferiores, pois elas começam a conversar, existe o diálogo –
e pessoas mais velhas têm mais habilidade para se relacionar com crianças
que falam do que com bebês. Dentro de um acampamento, a matriarca

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nesse momento até força o diálogo, porque ela sabe que a criança está
pronta para absorver a sabedoria de uma pessoa mais velha.
26. Os mentores do diálogo. É aquela busca de um professor mais velho,
de uma pessoa com quem realmente se possa trocar idéias mais profundas.

Aos 26 a pessoa já está pronta para absorver esse nível de sabedoria.


47. Experimentar ser ouvido. Geralmente é o momento em as pessoas alcançam um ápice
profissional, em qualquer profissão que tenham, porque a experiência delas passa a ter valor.
Elas começam a passar conhecimento adiante e a ser vistas como autoridades, é uma idade
importante.

VI. Os Amantes
Os Amantes - Consciência do poder do amor
6. A descoberta do amor do semelhante. Com 6 anos, a criança começa a
ter consciência do poder do amor e também começa a entender a
manipulação. Então ela começa a jogar com o amor da mãe e do pai, e por
isso Os Amantes aparecem aqui, aos 6 anos de idade.
27. O amor do crescimento compartilhado faz sentido nesta idade. Aqui a
figura dos Amantes pode representar o amor romântico, ou o desejo de
compartilhar com os amigos fiéis, ou de construir, ou de fazer trabalhos
ligados à comunidade e coisas assim, em que realmente o juntar faz sentido.
Antes o amor era visto de uma forma muito unilateral e aqui começa a se
formar o amor do compartilhamento.
48. Desenvolver o amor por si próprio. A auto-aceitação. Esta é a parte
mais legal dos Amantes, aos 48, porque a gente sabe de seus limites e deixa de existir a
cobrança, a gente começa a se gostar do jeito que é. Geralmente a mulher descobre um outro
tipo de beleza, fica mais à vontade, não se submete a nenhum tratamento de beleza. E a
comunidade começa a respeitar; uma mulher de 48 é uma deusa dentro do acampamento, é
venerada pelo fato da libertação e isso é comemorado.

VII. O Carro
O Carro - A primeira revolução.
7. O primeiro sentimento de abandono e a consciência da vida solitária. A
primeira revolução de pensamento, o questionamento da criança com 7 anos
que vai para a escola. Dentro do acampamento, é aos 7 anos que a gente
tem que contar com um estudo formal.
28. A necessidade de deixar marcas. Aos 28 a gente quer saber que
revoluções vai causar no mundo, aonde vai fazer diferença, o que consegue
mover com suas rodas, para que direção vai.
49. O medo de envelhecer, agora que eu tinha descoberto que gostava de
mim. É justamente a contradição. “Demorei 48 anos para descobrir a mim
mesma e justo agora me falam...” E a vida é assim mesmo.

Nota: Os arcanos I a VII descrevem, ano a ano, a primeira etapa ou setênio de cada ciclo de 21
anos: o de formação, o de vivência e o de usufruto. Na sequência, os arcanos VIII a XIV indicam
o significado de cada idade vivida no decorrer da segunda etapa ou setênio dos ciclos; as diferentes
cores dos números visam facilitar a identificação do respectivo ciclo.

VIII. A Justiça
A Justiça - Depois da primeira constatação, a chance de acertar o passo.
8. Sobrevivemos ao primeiro ciclo e somos julgados. Estamos no caminho
certo? A criança se situa um pouco e consegue aceitar o fato de quem ela é e
o que ela veio fazer. Então é o momento em que se faz a justiça mesmo, se
ela teve problema com pai ou com mãe é aqui que vai aparecer.
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29. O primeiro questionamento em relação às conquistas frente à idade.


Todo mundo fala da crise dos 40, mas o cigano fala que a crise acontece aos
29, que é o momento em que você começa a avaliar o que você fez em
relação ao que os outros fizeram. É um momento de grande dúvida, um
momento muito desconfortável; é difícil assimilar a Justiça com essa idade.
50. É estar em cima do muro, ter altura suficiente para subir no muro e

poder olhar para os dois lados. É muito confortável, é um marco na vida de qualquer pessoa:
olho para lá, olho para cá, tenho a visão do todo pela primeira vez, aos 50 anos.

IX. O Ermitão
O Ermitão - Saber manter-se sozinho. O primeiro gosto de bastar-se.
9. O momento para pensar a respeito, o autoconhecimento. A primeira
noção de si próprio. quando a criança começa a querer sair do lado materno,
começa a ter vergonha de ter pai e mãe por perto, começa a sentir o sabor
de estar sozinho.
30. Constatações importantes e certezas de onde nos encontramos. A
gente vê que conseguiu ou não conseguiu o que imaginava, e então cada um
sozinho arruma a casa para continuar a jornada. Um balanço!
51. A libertação. O comum das mudanças de rumo. Fazer o que não
pensávamos. Já que está olhando tudo de cima do muro, aos 51 a gente se
dá conta de coisas que nunca tinha pensado em fazer. As pessoas vão viajar,
mudam de profissão, resolvem tirar o ano sabático, vão fazer o
Caminho de Santiago, tudo isso acontece. A gente percebe que pode muito, e de um jeito
bom, não é aquela prepotência desvairada dos quarenta e poucos. Aqui nos 51, ter noção que
você é o dono do mundo é falar assim: “agora, estou entendendo!”.

X. A Roda da Fortuna
A Roda da Fortuna - As escolhas bifurcadas. A necessidade de pesar
consequências.
10. Se nos conhecemos, temos que escolher caminhos. A criança começa
a entender a lei de causa e efeito e que tem que fazer escolhas. A Roda da
Fortuna apresenta para a criança essa necessidade. É uma questão de
evolução.
31. Saber onde se está e necessidade de saber para onde se vai. Como eu
já sei onde estou, quero mover a roda da fortuna para onde eu quero ir. É
geralmente a idade dos planos de longo prazo; mesmo que seja uma coisa
pequena, mas a pessoa precisa fincar o pé. É também quando as pessoas
acham que estão ficando velhas!
52. Ter que bancar as idéias que não nos permitíamos ter. Você foi, fez
tudo diferente, e aí tem que assumir as conseqüências. O filho diz “pai, você no Tibete?” - e aí
você tem que arcar com as conseqüências, tem que justificar essas escolhas, o que não é tão
fácil também, não é?

XI. A Força
A Força - Assumir a própria escolha.
11. Lutar pelos próprios ideais. A criança tem que encarar a sua escolha e
fazer valer, ela já está preparada
32. Mais batalhas a vencer, já que eu defini algumas coisas. Agora é um
jogo de gente grande, as batalhas têm um outro peso, não é como era
antes.
53. Fazer valer o que escolhemos ou retroceder no sonho. Traduzindo
para o português, eu diria que é a idade do jogar ou não a tolha. Ou eu
banco aquilo que arrisquei e iniciei, ou daí para a frente eu vou deixar só no
sonho. É um momento de tirar do sonho e passar para a realidade. Se você
não ousou até os 53, dificilmente vai ousar depois.
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XII. O Enforcado
O Enforcado - Aprender a deixar correr. O passivo ativo.
12.Desenvolver a habilidade da observação. O aprendizado sem
necessitar da vivência. A criança precisa conter a própria vontade de fazer
tudo de uma vez, pois com 12 anos ela quer fazer tudo, mas não pode, tem
que balancear.
33. A força da água. A formação das grandes personalidades. A gente
aprende a deixar o barco correr. É o primeiro momento, nesse ciclo, em que
a gente não luta. Quando a gente aprende a deixar o barco correr se formam
as grandes personalidades. Não é por menos que Cristo e outros símbolos
atingem a compreensão aos 33 anos. Se as conclusões que a gente tira
nessa idade são boas, geralmente a personalidade se mantém muito pouco
alterada mesmo numa idade avançada. Mas se até aqui não se
formou bem, vamos ter problemas até o outro ciclo.
54. Saber que não se pode mudar o mundo, mas podemos nos adaptar. Até então, o
tempo todo a gente acha que a pode mudar alguma coisa. Aí, nessa idade, a gente percebe
que é melhor se adaptar, é mais inteligente, é mais sábio. A gente está indo a caminho da
sabedoria, então começa a desenvolver a adaptação.

XIII. A Morte
A Morte - Renascer. Cortar o vínculo com a família. Os anos de rebeldia.
13. A negação dos valores aprendidos e a primeira sensação de verdade
absoluta. Se aprendemos tudo, podemos morrer. Aqui morre a criança
propriamente dita, pelo menos para nós, ciganos, porque com 13 anos todo
cigano tem que sair do acampamento, sozinho. Sai levando uma quantia em
dinheiro e deve ficar um ano fora; a gente só pode voltar quando tiver
dobrado esse dinheiro, para que outros também possam ir quando fizerem a
mesma idade. Então a gente é preparado desde o nascimento para a carta
13, que é abandonar tudo para trás e renascer disso. Nós sempre voltamos
diferentes, sempre evoluídos. Se há algum momento de rebeldia, ele
acontece com 13 anos.
34. A libertação. Saber que podemos errar. Porque o sentimento de não
poder errar nos acompanha durante uma trajetória muito grande da vida: você acha que não
pode falhar, você é cobrado pelo pai, pela mãe, é cobrado no trabalho... Aí, de repente, aos
34, você fala “nossa, eu posso! Já passei por tanta coisa”. E essa serenidade só se dá depois
de ter passado o fatídico 33.
55. A necessidade de avaliar vínculos. Quem está sozinho quer retornar, quem tem
companhia quer o isolamento. É um inferno, porque a pessoa sente uma insatisfação com as
relações, ou quer atar ou quer separar.

XIV. A Temperança
A Temperança - A busca do equilíbrio. A importância dos amigos.
14. A descoberta de que o aprendizado teve um motivo. Devemos saber
dosar. Geralmente o cigano volta ao acampamento com 14 anos e este é o
momento do equilíbrio, em que nos perguntam: você fica ou você vai? Você
se vê cigano, você confirma a sua raça? Essa é a primeira afirmação da
nossa etnia, e no sentido do equilíbrio, de saber que existe o mundo lá fora e
existe o mundo dentro, e que dá para conciliar os dois e viver uma vida

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relativamente comum dentro disso, dentro do que é possível. Outra


associação com a Temperança é que você volta porque conseguiu sobreviver,
e isso depende de ter encontrado o caminho do meio, porque você não
sobrevive se tiver um lado só. Se você for 100% sal – o cigano é
considerado sal – num mundo doce você não vive; só vai conseguir
sobreviver quando juntar o sal e o açúcar, e aí você volta. É por isso que

Temperança dos 14 para a gente é muito bem vinda, é um alívio. E a gente volta muito
adulto, há um ciclo de formação de personalidade.
35. O reconhecimento de que não estamos sozinhos e que o grupo tem valor inestimável.
Porque a gente vem num ciclo de desenvolvimento muito solitário, e neste ponto a gente
descobre que além de poder errar, não precisa errar sozinho, tem um grupo para poder errar
junto. Geralmente, as pessoas muito egocêntricas e ambiciosas são muito ambiciosas até os
35...Se elas acordarem aos 35, elas mudam! Se não acordarem, vão carregar isso até o
próximo ciclo.
56. “Nem tanto ao mar, nem tanto à terra” pela primeira vez compreendido. A pessoa
começa a se entender, cai a ficha.

Nota: Os arcanos VIII a XIV descrevem, ano a ano, a segunda etapa ou setênio de cada ciclo de 21
anos: o de formação, o de vivência e o de usufruto. Na sequência, os arcanos XV a XXI indicam
o significado das idades no decorrer da terceira e última etapa ou setênio de cada ciclo; as diferentes
cores dos números visam facilitar a identificação do respectivo ciclo de vida.

XV. O Diabo
O Diabo - As tentações. Sobreviver às influências negativas, negociar.
15. Quando tudo está muito equilibrado, a necessidade de novos desafios,
testar limites. É uma coisa muito humana, de que as pessoas pouco se dão
conta: quando está tudo muito calmo, você começa a ficar incomodado e vai
atrás da tentação. Depois da Temperança, você quer ou mais sal ou mais
açúcar e o Diabo aparece para cumprir a função e dá todas as tentações.
Aqui começa a necessidade de sobreviver à influência negativa e negociar,
pois O Diabo propõe a negociação: o que se quer versus o custo, as
consequências. Em muitas culturas, aos 15 anos o Diabo está ligado à
descoberta da sexualidade; essa é também a idade em que o jovem acha
que sabe tudo e pode apostar tudo.
36. Quando tudo parece calmo, a busca do diferente e incômodo. A gente
descobriu o grupo, está tudo certo, tem amigos... e aí vem o Diabo e
a gente vai em busca de coisa incômoda. Essa coisa incômoda não é necessariamente uma
coisa ruim, mas geralmente a pessoa que não sabe cozinhar resolve fazer um curso de
culinária, ou resolve fazer uma viagem para o Tibete porque precisa se achar...Você precisa se
sacudir para ver se o caminho que estava seguindo era o certo mesmo; vai em busca do que
é difícil para ver se está indo para o lugar certo. O Diabo sempre aparece para isso.
57. Impor um teste para sabermos se é isso mesmo. Um grande ponto de interrogação. A
gente diz que é a idade do suicídio. Não um suicídio assim literal, mas ou a pessoa sofre
aquele questionamento e vai em frente – “é isso mesmo, a minha vida valeu, eu fiz e
aconteci” ou ela se mata psicologicamente, acha que não serve para nada e que sua vida
acabou. É um suicídio de alma, mesmo, é uma idade bem fatídica.

XVI. A Torre
A Torre - As primeiras decepções, as surpresas.
16. A descoberta do medo. Depois da sensação de saber tudo, vem A
Torre e te situa, vem desmoronar as suas crenças para você conseguir se
reerguer. Na verdade é uma prova: se você estava certo, ótimo, você se
fortalece; mas se a base da Torre for fraca, ela vem abaixo. E muitas vezes é
necessário que a Torre apareça e nos sacuda, para a gente acordar. São as
primeiras decepções e surpresas – não necessariamente negativas, pois o
resultado pode até ser melhor do que eu esperava! Alguns tarôs mostram

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pessoas ainda na torre e outras caídas no chão. Geralmente a interpretação


é que as pessoas caídas no chão são as que não sobreviveram, mas para a
gente é justamente o contrário: quando você cai no chão você olha as
estrelas e aí vem a certeza.

37. O medo da solidão. Com o Diabo você foi, fez tudo diferente, viu-se uma nova
pessoa... e vem o medo da solidão. Esse medo acontece ao redor dos 37, uma idade muito
difícil, principalmente para a mulher. Se ela arriscou e fez um caminho solitário, esse retorno
à procura de companhia é muito doloroso. Porque o que acontece no caminho solitário é uma
grande evolução mental; ela volta num outro nível, já não se encaixa no grupo em que
achava que dava certo, e aí vem o medo da solidão, porque ela é gregária.
58. Descobrir que a vida é mais fácil do que parece e assustar-se: o tempo é agora. Se a
pessoa passa os 57, vem a Torre e desmorona de um jeito bom – que é descobrir que a vida
é mais fácil do que se imaginava e daqui para a frente é usufruir mesmo.

XVII. As Estrelas
As Estrelas - Separando o joio do trigo, as primeiras certezas. As
escolhas.
17. O alívio. Saber que podemos voltar para casa. Quando tudo
desmorona, do que é que eu tenho certeza? O que é que eu sei? Eu tenho
certeza de que o céu lá em cima existe. Então, cair muitas vezes é uma
coisa boa. E existe até um verso em romani que fala “eu preciso cair”.
Quando a gente diz isso, quer dizer “eu preciso olhar o mundo de outro
modo, eu preciso mirar as estrelas”.
38. Os sinais de que não estamos sozinhos. Você acha que está sozinho e
olha para o céu para pedir ajuda, e aí vê que não está sozinho, porque
enxerga as estrelas de novo. Na verdade, é mais do que descobrir que não
se está sozinho, é descobrir que existem pessoas que sentem da mesma
forma, que compartilham daquilo que você pensa.
59. Quem descobre o poder do agora, passa a reparar nas estrelas. A gente pára de ficar
pensando no futuro e no passado, porque vem o imediatismo de prestar atenção no agora. A
gente só olha a Estrela se pára agora, não dá para olhar amanhã nem ontem. É já. E olhar as
Estrelas nessa idade é muito gostoso.

XVIII. A Lua
A Lua - Encarar o próprio lado obscuro, entender que não se pode tudo.
18. O lado escuro da lua é quando a gente percebe aquilo que não faz
bem. A criança acha que pode tudo – tocar instrumento, cantar, desenhar – e
na adolescência isso continua... mas quando a gente chega aos 18 tem
absoluta noção daquilo que não pode! Por outro lado, esta é uma carta de
introspecção e clareza mental, e esse é o seu lado positivo: saber o que eu
não posso facilita saber o que eu posso. Essa idade tem muito a ver com
uma escolha profissional. Porque aqui não há mais pai e mãe para acharem
lindo o que você faz; o mundo de fora vai mostrar que você não consegue
tudo, mas talvez faça bem tal coisa. É essa a descoberta.
39. Será que as companhias que escolhi são as mais adequadas? Será
que aquilo que eu achava que as pessoas compartilhavam é isso mesmo? A
velocidade de evolução mental da gente, nessa idade, é muito grande. A
gente lê muita coisa, ouve muita coisa, vive muita coisa – e um ano que se passa é muito
maior do que um ano antes ou depois dessa fase. Então a gente começa a questionar aquilo
em que acreditava; tem muita gente que troca de religião ou de alimentação etc. nessa
época, porque quer testar o seu limite e se descobrir. A Lua faz isso.
60. O medo de ser melhor ou mais merecedor do que se imagina. A gente aprendeu tanto,
que tem medo do próprio conhecimento. É muito comum, nessa idade, mulheres se calarem
diante de um grupo porque pensam: “não vou falar porque vão achar que sou boba, porque
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já estou ficando velha”. Ou o homem que pensa “ah, não, eu sou antigo, não sei nada disso
do que estão falando, é uma coisa muito moderna”. E na verdade a sabedoria está tão
instalada, que no momento de falar a pessoa se assusta com a própria capacidade, com o
próprio conhecimento.

XIX. O Sol
O Sol - Descobrir o que se pode.
19. O ajuste e a consciência de que a felicidade existe. O Sol brilha na
sua vida e você fala “já que eu sei o que não sei, então sei o que sei”. Essa é
a idéia do Sol, é uma certeza do coração. Para nós, ciganos, a palavra para
sol é a mesma palavra do batimento do coração, e quando o coração bate é
a certeza que a gente tem.
40. A fase do comportamento seletivo. Quando o Sol começa a brilhar, eu
falo: “é isso mesmo o que eu quero, e eu sei o que eu não quero!”. É uma
certeza de saber o que se quer.
61. Perder o medo. Depois da Lua brilha o Sol e a gente entende que não
precisa ter medo: “eu adquiri conhecimento, eu vivi esses anos”.

XX. O Julgamento
O Julgamento – O reconhecimento do que aprendemos.
20. O balanço é feito, mas não é final: é o preparatório para usufruirmos
das lições aprendidas. Se a gente descobriu o próprio lado negro (o que não
pode) na Lua, depois descobriu o que sabia no Sol e pôs em prática, é na
hora da prática que somos julgados para saber se fizemos a escolha certa. O
julgamento é muito importante, porque é quando o mundo nos dá a chance
de mudar de rumo. É uma avaliação: você não está sendo julgado, mas está
ganhando uma nota daquilo que fez.
41. O sentir-se homem/mulher no sentido adulto da palavra – “sou um
homem formado, sou uma mulher formada”, entendo o que é ser uma
pessoa de um determinado sexo. Todo mundo fala da crise dos 40, não é?
De fato, se você não sabe o que você é quando chega aos 41, tem um
problema, imenso, não é? Você começa a questionar e aparece muito a
questão da idade: “será que eu fiz o bastante para a minha idade? deveria ter feito mais?
deveria ter feito menos? Sou uma pessoa realizadora, sou forte?”. Para nós, ciganos, a
imagem dessa idade é a árvore com tronco que o vento não balança. Você tem que chegar
aos 41 e ser uma árvore que o vento não balança. Com a copa flexível o suficiente para não
quebrar, mas o tronco sólido.
62. Um balanço coerente. É a primeira vez em que você tem noção e faz um balanço
digno, imparcial: “fiz isso, fiz aquilo, isso não vai dar tempo...”

XXI. O Mundo
O Mundo - Se a lição foi aprendida, ganhamos o mundo.
21. O mundo vira um quintal e tudo faz sentido. Antes habitamos no
mundo. Agora, o mundo habita em nós. O cigano não diz “eu ganhei o
mundo“, diz “eu ganhei o meu mundo”, que é dominar a si mesmo. A
primeira chance de dominar a mim mesmo eu tenho nessa idade, e as almas
velhas já são realmente formadas e tem uma vida ascendente e muito plena
aos 21 anos. Por isso é interessante abrir as cartas para uma pessoa que tem
21 anos.
42. Se estou pronto, mando no mundo. A idade da prepotência. Os 42 são
terríveis, porque a pessoa acha que dominou tudo, que passou por tudo:
“Agora eu já sei, eu tenho o meu dinheiro, eu mando, eu sou melhor, eu sou
o chefe, eu consegui, eu escolho a mulher, eu mando essa mulher
embora... Eu, eu, eu!” É a idade do eu.
63. A grande libertação. Você ganha o Mundo aos 63 anos. Daí para a frente a vida do
cigano é a grande libertação, o ciclo não volta a se repetir.

Nós ciganos imaginamos que temos 63 anos para nos tornarmos pessoas sábias. Desse
modo, qualquer ano que alguém viva além disso será como sábio, porque realmente chegou à
grande libertação que é ganhar o seu próprio Mundo. É por essa razão que os aniversários

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21/03/2021 Tradição cigana - Clube do Tarô - Tarot

depois dos 63 são muito celebrados, com muita música, e as pessoas mais velhas têm um
valor impressionante; elas não dizem “eu tenho 64”, mas sim “eu tenho 1 ano de sabedoria”.

Bases do jogo
Para nós a estrutura do tarô é essa, toda em ciclos, e os arcanos menores complementam
esses períodos. É com base nesses ciclos que a gente consegue, através do jogo, entender
quanto tempo alguma coisa vai levar para acontecer, ou se a pessoa está num momento de
vida maduro ou não, se é uma alma velha ou se é uma alma jovem, se as coisas vão
acontecer rápido ou vão acontecer devagar, etc. Os arcanos maiores nos dão o tempo e o que
está se passando na cabeça da pessoa, o que é que ela está vivendo: ela está sendo formada,
está vivendo, está usufruindo? Depois que a gente entende isso, os arcanos menores vêm e
complementam com detalhes, é sempre assim.
Numa leitura, a gente começa avaliando em que estágio a pessoa está e se isso casa com
sua idade. Se saem os primeiros arcanos e eu começo a ter arcanos menores confirmando
uma infantilidade, eu vejo que a pessoa ainda não está madura o suficiente para assimilar
algumas idéias. Ou, ao contrário, se saem arcanos de contemplação – seguintes ao Diabo – e
os arcanos menores me confirmam isso, eu vejo que a pessoa, mesmo que seja nova, já está
num grau de evolução maior. Isso significa que ela consegue acelerar os bons acontecimentos
da sua vida.
Ou seja, a avaliação vai muito além de saber o significado da carta. A gente precisa casar o
significado da carta com a fase que a pessoa está vivendo e mais a confirmação dos arcanos
menores, e aí fazer a leitura. Por isso, para nós, é difícil entender aquela forma de usar o tarô
como um oráculo, em que você tira uma carta ou outra e tem uma interpretação fixa.

O Aprendizado
Quando a gente aprende as cartas, na infância, é passado o significado geral de cada
arcano, mas a matriarca sempre fala: “você ainda vai viver isto”. Porque só sentindo a
transformação na pele a gente tem o aprendizado completo da carta. Então, quanto mais
velha a cartomante, mais domínio ela tem, porque já passou por essas idades e sabe, a não
ser que ela seja uma alma muito velha e já traga um conhecimento assimilado. Às vezes,
quando acontece alguma coisa no acampamento, a matriarca chama as crianças e conta o
que aconteceu ou o que determinada pessoa fez: “Olhem, isso daí é o 42, entenderam?”.
Assim a gente começa a assimilar e começa a brincar, e a matriarca propositalmente
apresenta situações ou a usa expressões como “você tem Sol”, “você está descobrindo sua
Lua”, para que a gente pontue e entenda na pele o que é cada arcano. Sem esse
conhecimento não dá, não é?
De 7 em 7 anos a matriarca chama a gente numa roda e diz, por exemplo: “você já tem 7
anos. Que experiências não foram vividas ainda?”. Então nós somos forçados a descobrir
aquilo que ainda não vivemos, e isso é muito interessante para que a gente fique alerta na
própria evolução, porque cada idade tem a sua beleza e cada idade tem a sua experiência.
Nós somos chamados à atenção para aquilo que a gente tem que viver, pois a cada ano a
matriarca vem e diz: “você vai fazer tantos anos, esse é o ano do (arcano tal), preste
atenção”. Quando você está no meio daquele ano, ela vem de novo: “o que você viveu que
tem a ver com esse momento?” – e você tem que verbalizar aquilo, tem que sentir aquilo.
Então o Tarô é um guia, eu digo hoje que é um manual de sobrevivência na selva, porque ele
nos conduz, os ciclos são muito marcados, isso dá uma segurança de evolução pessoal.

Conclusão
É interessante que vocês tenham essa base – os ciclos das idades – para usar como
oráculo e ver se o momento que vocês estão vivendo casa com as indicações que foram
dadas. É muito satisfatório ver a nossa própria evolução por esse ângulo, porque quando
conhecemos nossa história conseguimos nos respeitar e saber que nenhum momento é tão
difícil. Se você sabe que neste ano vai confrontar sua Lua, por exemplo, você já tem uma
outra percepção e um outro jeito de encarar problemas que podem vir. Quando a pessoa tem
muitos problemas e está no ano do Diabo, ela sabe que faz parte – “estou no meu ano do
Diabo, então que venha a experiência”. Nós vivemos dessa forma.
E tem algumas coisas muito satisfatórias, como por exemplo já entendermos coisas de
uma idade mais avançada e podemos dizer “eu já vivi isso”, “eu já absorvi esse
conhecimento”. Isso é muito importante para a gente poder acelerar o passo em busca da
evolução. Alguns ciganos têm planos muito ambiciosos de evolução, de viagens, de ciclos e
tudo. Eles saem em busca das experiências que estão marcadas nas vidas futuras. Às vezes
vamos atrás, decidimos migrar para acelerar o nosso ciclo e viver determinadas experiências.

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Todos nós podemos marcar as experiências que queremos viver e depois fazemos um
balanço: “muito bem, vivi, então posso migrar de novo”. É mais ou menos com base nessa
disposição que a gente migra.
Por último, eu queria falar sobre aprender com o caminho do tarô, saber que há um
sentido em tudo. Vamos dizer que esse ciclo das idades é um modelo, um gabarito – se você
não fizer nada errado e um mínimo certo, quando chegar aos 63 provavelmente terá passado
por todas essas fases. Mas eu já cheguei a ver mãos e a ler jogos para pessoas
completamente imaturas numa idade avançada. Isso acontece com pessoas que incorrem
sempre no mesmo erro. Tem gente que tem o mesmo comportamento, que leva sempre ao
mesmo resultado e que a pessoa não consegue entender...
Por outro lado, você pode viver todos esses ciclos, todas essas fases, em poucos meses. Às
vezes, uma coisa que acontece na vida de uma pessoa acelera sua evolução e dá uma
experiência impressionante. Isso é muito comum entre pessoas que têm uma vida muito
intensa e vivem num turbilhão de emoções, com tudo acontecendo ao mesmo tempo. Já vi
músicos, artistas, pintores, que vivem o ciclo das Estrelas, por exemplo, das três idades ao
mesmo tempo! Isso é muito interessante de ver e podemos trazer para a nossa prórpia vida:
o que é que mais buscamos? Se é o Mundo – ganhar o mundo – precisamos de mais Sol,
precisamos de mais Lua... A Lua é um caminho de aprendizado incrível. Pessoas que fazem
análise, que querem esse confronto, querem melhorar continuamente, vivem muito a Lua. Às
vezes, uma pessoa que fez análise muitos anos já viveu todas as luas – e portanto está mais
apta a viver o Sol.
Por isso, também, a idade física diz pouco para nós, porque o que vale é essa idade da
vivência, e essa idade está na cabeça, não é no físico.

As reproduções de cartas utilizadas neste texto são do Tarot Visconti-Sforza (Milão, ca. 1450),
restauradas por A. A. Atanassov e editadas por Lo Scarabeo (Turim, Itália, 2005)
As transcrições das gravações das aulas dadas por Sarani Barrios,
no segundo semestre de 2008, foram editoradas por Bete Torii.

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