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TRANSCRIÇÃO | JANEIRO - SEMANA 3

Preguiça - Parte 1
Olá meninas, agora a gente vai começar a falar sobre as sete inclinações e a gente vai
começar com a preguiça, tá? Provavelmente eu vou dividir essa aula em dois porque ela ficou
um pouco grande, mas é interessante que essa inclinação da preguiça é uma inclinação que é
um pouco fofa.
Parece que todo mundo fala “ai nossa, preguiçosa”, “nossa, ai, que preguicinha”, então
meio que é aquele, eu acho que de todos os vícios capitais, que a gente não tem muita
vergonha de dizer que a gente tem. Todos os outros… “Nossa, luxuriosa, né?”, você fala? Não.
Caraca, sei lá, avarenta, invejoso, guloso, a gente meio que não gosta de falar, não. Mas a
preguiça, a gente meio que fala e acha legal.
Eu queria que a gente conversasse sobre ela e a gente vai ver que estragos ela pode
causar na nossa alma e como a gente realmente precisa estar atento à preguiça. Na primeira
parte, então, a gente vai conversar um pouquinho sobre o que é a preguiça, como ela se
apresenta, onde ela tá, como é que meio que funciona.
E depois, a gente vai, na segunda parte, mostrar um pouquinho como ela... Quais são
os truques da preguiça na nossa vida, onde que ela tá presente que a gente não está
percebendo, por que ela se esconde — lembra que a gente falou na nossa última aula, nossa
consciência dá umas justificadas — e como que a gente pode lutar para não ser pego pela
preguiça sabendo que todas essas más inclinações nos acompanharão por toda a nossa vida.
Isso não significa que a preguiça e todas as outras estão presentes em todas as
pessoas da mesma forma. À medida que a gente vai lutando contra esses vícios capitais, a
tendência é que, de fato, a gente vai melhorando e que a gente não caia na preguiça como a
maioria das pessoas, de repente.
Mas, talvez, a gente possa cair de outras formas e, pior ainda, às vezes, a gente não
pode se dar como vencido na preguiça, “olha, preguiçoso é uma coisa que eu não sou” porque
quando a gente se coloca no tamanco do “eu não sou preguiçoso”, aí que daqui a pouco a
gente leva uma rasteira porque a gente está ali desprevenido e a gente acaba caindo naquilo.
Temos que estar atentos, tá bom? Como a gente dizia na outra aula, só para dar uma
recapitulada, a gente tem as inclinações, as nossas paixões e a nossa maior paixão, o que faz
com que a gente aja no mundo, é o bem. Verdadeiramente, tudo que a gente faz na nossa vida,
a gente faz por um bem. A gente não faz as coisas por um mal. Eu não ajo na minha vida
achando que eu estou em busca de um mal.
Mesmo uma pessoa que esteja fazendo uma coisa que a gente julga muito errado,
como, por exemplo, usando drogas e acabando a sua vida nas drogas, ou cometendo um
adultério, ou roubando algo, ou falando mal de alguém, essa pessoa acha que ela está em
busca de um bem, ou seja, mesmo, sei lá, isso, uma pessoa que está cometendo um adultério,
ela está cometendo um adultério porque ela acha que aquilo vai fazer bem a ela, que aquilo
tem uma justificativa.
A visão de um bem, que não é um bem, obviamente, absoluto, é um bem que ela vê
como bem, desperta nela um amor que leva ela à ação. Não um amor com “A” maiúsculo, mas
uma paixão, um apaixonamento que leva ela à ação. A gente sempre se inclina para, de fato, o
bem. O problema, como a gente disse na última aula, é que às vezes a gente avalia o bem de
forma errada. E aí que está o problema, tudo bem?
O que acontece é que o bem verdadeiro, o que de fato é bom para nós, o que de fato
faz com que nós sejamos pessoas melhores, verdadeiramente, o bem é exigente, o bem é algo
que traz para nós complicações, digamos. Para a gente seguir o bem, a gente se complica.

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Quando a gente decide, por exemplo, passar no vestibular de medicina, que,
obviamente, não é um bem absoluto, mas é algo que vai ser bom para a nossa vida, para a
nossa casa, para a nossa carreira. Nossa, é exigente, a gente precisa estudar, a gente precisa
se privar de uma série de convivências sociais, muitas vezes, a gente precisa se privar do
sono, a gente precisa, muitas vezes, se privar de comer no momento que a gente deveria ou
gostaria de comer porque a gente está estudando. A gente vai se privar da convivência social,
não vai poder ir em festas, em aniversários porque a gente vai precisar estudar.
Quando a gente está, por exemplo, começando no emprego novo, que é bom para a
nossa família, muitas vezes, a gente vai precisar abrir mão de estar com os filhos num
determinado momento porque a gente vai precisar... Seria bom estar com os filhos? Seria, só
que a gente precisa, nesse momento, estar trabalhando. Então o bem é exigente. A gente, de
fato, estar casado com uma pessoa até o final da nossa vida é muito exigente. A maternidade,
que é dar a vida a alguém, é muito exigente.
A gente fazer o correto, a gente ser pontual, a gente ser magnânimo, isso é muito
exigente. E a gente olha isso como um bem. É um bem que, em geral, não é um bem
exatamente sensível — que a gente sente muito facilmente — e aí o que acontece é que pode
vir, ou pode começar a vir em nós um certo... Esse bem que a gente vê como um bem pode,
não necessariamente, despertar em nós um amor à ação. A gente pode estar com esse
coração um pouco preguiçoso, ou seja, vem em nós um torpor na nossa mente que acaba
negligenciando a prática do bem.
É algo que eu vejo como bem e eu rapidamente falo “ah, não, não, não, também não é
bem assim”. Não penso ou delibero, obviamente, dessa forma, mas “isso vai me causar muita
complicação, isso vai complicar muito a minha vida, deixa eu ficar aqui onde eu estou”. A gente
tem a inclinação à preguiça.
Toda vez que a gente é exigido de alguma forma, a gente tem a inclinação de não
fazê-lo porque a gente pode paralisar nas exigências do amor da vida. E é o que está
acontecendo, por exemplo, na maternidade. Tipo “ah, nossa, a maternidade”, aí começa “ai,
não, é que eu preciso de rede de apoio, senão eu não vou conseguir. Eu preciso de uma ajuda
na alimentação, senão eu não vou conseguir. Eu preciso que minha mãe esteja aqui. Eu
preciso que meu marido me ajude. Eu preciso…”
Eu não estou dizendo que essas coisas não poderiam acontecer. Gente, entendam. Eu
estou querendo dizer é que, diante das exigências do amor por uma coisa grande, que é o
nosso filho, a preguiça chama e muitas vezes as pessoas nem filho querem ter porque
justamente a exigência que aquilo vai trazer a ela dá uma preguiça. “Ah, eu acho que eu não
quero isso para mim, eu prefiro continuar com as minhas viagens, eu prefiro continuar com a
minha carreira, eu prefiro continuar com o meu tempo livre”, entende?
A preguiça pode paralisar uma pessoa, ela pode fazer com que a pessoa fique inerte de
fato. Então a preguiça é esse torpor do espírito na hora de fazer o bem, “ah, não”. Quando na
vida que a gente sente alegria? A gente sente alegria quando a gente alcança o bem
verdadeiro. Quando a gente alcança o bem, não só o bem sensível — comer uma coisa
gostosa, ou beber alguma coisa que eu gosto, ou ir à praia, isso traz uma alegria momentânea
— mas a alegria verdadeira que ninguém pode tirar do nosso coração, aquela que a gente
alcança quando a gente é exigido a alcançar um bem que é um bem verdadeiro e a gente o
alcança.
Essa compensação interna. É isso que a gente sente dentro do nosso coração que
ninguém pode tirar. A gente sente alegria, né? Quando a gente vê um bem, a gente vê toda a
exigência que ele nos traz, que ele exige de nós e a gente cede com paralisia, quando o nosso
espírito entra nesse estado de torpor que é a preguiça, a gente sente tristeza. Então a tristeza
nos dá preguiça sim.
Nossa, vocês não têm essa experiência de quando você tá fazendo as coisas que você
deve fazer, seus deveres de estado, os seus trabalhos que você deveria entregar, enfim, estar

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com os seus filhos, estar com o seu marido, se consumir nesse sentido, a gente se cansa? Se
cansa, mas a gente sente uma alegria na realização. Quando o contrário, eu falo “ai não, não
vou fazer, não vou fazer essa aula agora não, vou fazer depois, vou ficar assistindo aqui um
vídeo”, “eu vou ficar com os meus filhos”, a gente vai falar sobre isso, que são as desculpas
nobres, eu gosto de dizer, são desculpas “nobres”.
Se você tem que trabalhar e você tá com os seus filhos, tá errado, entende? Por quê? O
que você deveria estar fazendo naquele momento era estar trabalhando. Se você está com
eles, ainda que você esteja com eles, que é uma desculpa “nobre”, você está agindo de forma
preguiçosa porque não era isso que você deveria estar fazendo naquele momento e isso traz
tristeza.
Quando você deveria ou se coloca como meta “ah, eu quero todos os dias acordar e
fazer meia hora de oração pessoal”, “eu quero ir à missa todos os dias” e você não faz isso...
Ou “eu quero acordar todos os dias para eu conseguir acordar antes dos meus filhos, estar
pronta para estar melhor disposta para eles, ou organizar o meu dia” e eu não faço isso, eu
sinto uma tristeza. Eu falo “cara, eu frustrei aquilo que eu deveria estar fazendo” e é
exatamente isso o que a preguiça provoca.
Lembra que a gente falou que a gente tem a má inclinação dentro de nós e o mundo
também nos convida à preguiça. Ele nos desanima em relação às exigências do amor, não é
verdade? “Ai, não, a maternidade está exigente demais, o casamento está exigente demais, o
trabalho está exigente demais”, enfim, “fazer o bem é exigente demais, manter uma vida no seu
ventre é exigente demais”, “ai, mas eu fui estuprada, isso é exigente demais”. Então o mundo
desanima em relação às exigências.
“Não, não seja tão exigente como você. Não fique exigindo de você algo que a
sociedade imponha a você. Não faça isso. Fique tranquilo, seja preguiçoso. Cuide de você,
olhe para você, tenha seu tempo. Peça ajuda, é difícil demais”. A preguiça nos convida a
alimentar o nosso amor desordenado.
É necessário que a gente tenha um amor próprio, obviamente, porque, enfim, o amor
por nós faz com que a gente faça boas coisas por nós. Só que o amor desordenado é
justamente a gente não conseguir fazer coisas boas por nós. A gente vê errado, a gente julga
errado, a gente acha que algo seria bom, mas esse “bom” na verdade é um mal e isso nos
destrói.
É exatamente isso que a preguiça faz. Ela vê como bom o sono, o descanso, o
entretenimento, o estar com o filho na hora errada, o estar com as amigas na hora errada, o
pedir uma ajuda na hora que você que deveria fazer, contratar uma babá na hora que você que
tinha que assumir isso, deixar no colégio quando você que tinha que assumir. Isso faz com que
a gente fique confusa, a gente se confunde, ou seja, é um amor próprio desordenado.
Nada disso é ruim. O sono não é ruim, o descanso não é ruim, o entretenimento não é
ruim, pedir uma ajuda não é ruim necessariamente. O problema é quando a gente confunde as
coisas. A gente coloca isso como bem absoluto e deixa de fazer o que a gente deveria fazer
por amor porque a gente está com preguiça. Mas você entende como — a gente vai ver isso na
segunda aula — a preguiça se coloca como parecendo uma coisa muito boa para nós? Toda
vez que a gente cede a isso, a gente fica na mediocridade e a mediocridade nos traz tristeza.
Há duas formas possíveis de a gente se situar perante a nossa vida e as nossas
responsabilidades. A gente pode encarar a nossa vida e as nossas responsabilidades como
uma missão, que é grande, bela, árdua, e a gente... Bem, “vale a pena diante dessas coisas?
Vale a pena eu me gastar? Vale a pena gastar o meu corpo? Vale a pena gastar a minha
inteligência? Vale a pena gastar as minhas energias? Vale a pena gastar isso? O meu tempo?
Tudo?” Porque vale a pena, é assim que eu me coloco diante da vida, ou posso encarar a vida
com uma mentalidade de aproveitador. Olha só que coisa “boa”.
O que importa para o aproveitador é passar bem na vida, é usufruir dos prazeres da
vida, é fazer o imprescindível, só aquilo ali, “também não vamos ficar fazendo coisa demais,

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esse pessoal também é exagerado demais”, “não vamos aqui complicar a vida demais. Nossa,
só esse filho tá bom, imagina. Nossa, vai me dar um trabalho. Como é que vai ser? Não sei o
quê”. É a característica de pessoas preguiçosas, que é o comodismo. Eu me acomodo diante
das situações, eu não vou pra cima das situações.
O preguiçoso tem falta de vibração. Ele não vibra diante das coisas, a vida pra ele é
cinza, a vida pra ele é sem graça, a vida pra ele é “vamos cumprir ali só o que a gente deve”, a
gente não vai pra cima realmente das coisas, ou seja, são aquelas pessoas que estão
impelidas a procurar o mais fácil, o que é mais agradável, o caminho mais curto. Por que se
complicar se você pode ter uma ajuda? Por quê? Entendeu? Não tem motivo.
Então, mesmo que ele precise ceder a concessões aos seus valores, à sua honra, à sua
liberdade, ele prefere isso porque ele é medíocre, porque ele não tem vibração, porque ele é
preguiçoso. “Por que isso?” Ele tem um torpor diante do bem. “Para que isso, meu Deus do
céu?” Essa preguiça significa justamente um homem que renuncia à altura que ele poderia
chegar.
Quando eu chego pra vocês e falo pra vocês… O problema, por exemplo, é a babá?
Não. O problema é a sua mãe te ajudar? Não. O problema é você deixar de ser a mãe que
você poderia ser porque você tá com preguiça, porque você acha que você precisa dos outros
pra resolver algo, que é apenas cuidar de uma criança, que seria apenas dar banho nela,
apenas estar com ela, ler uma história, cuidar dela, ajudar com as coisas da escola, mesmo
que você tenha outros afazeres.
O preguiçoso é aquele que, diante de uma nova solicitação, fala “não vou dar conta,
não vou conseguir, deixa quieto, para, para fazer isso eu preciso de mais de 350 mil ajudas”.
Do contrário, a pessoa que tem um coração grande, ela fala “me dá aqui, eu vou conseguir, eu
vou fazer, eu vou fazer não porque eu sou uma super heroína e eu sou capaz de fazer todas as
coisas, mas porque aquilo é responsabilidade minha”. E eu preciso saber fazer aquilo, eu
preciso saber ser mãe, eu preciso saber cuidar do meu filho, eu preciso me envolver, eu ser
protagonista nessa situação.
Eu preciso, para que, se for necessário delegar algo, eu saiba delegar, eu saiba fazer, e
eu saiba até o limite aonde essa pessoa pode me ajudar. Ela não pode me substituir. O
problema dessa mentalidade de rede de apoio é esse. Apoio para quê? Para quê? Que apoio é
esse? O que você está esperando desse apoio? Não deixe que a preguiça tome conta de você.
A gente precisa se jogar nessa situação, nas situações da vida que nos são exigidas.
Então é isso: cuidar para que a gente não esteja com esse torpor diante do bem. É aquilo que a
gente falava num vídeo que está super viralizado lá no Instagram, que é a fraqueza no bem.
“Ai, mas, sabe o que acontece? É que, assim, é muito difícil deixar sem celular, é muito difícil
deixar sem televisão. Como é que eu vou fazer para cozinhar sem televisão? Para trabalhar
sem televisão? Como é que eu vou fazer? Eu preciso deixar meu filho na televisão”. Isso é uma
fraqueza diante do bem.
Você entende? Sabe por quê? Não é o problema de você deixar um pouco, ou
eventualmente. O problema é você se fixar nisso sabendo que isso faz tão mal ao seu filho, ou
você querer dizer que não faz tão mal assim, na verdade, para justificar a sua consciência. É
isso que não pode. É aí que a preguiça vai entrando na nossa vida.
Diante de algo que eu vejo como um bem, que eu sei que é um bem para os meus
filhos, que eu sei que é um bem para a minha família, que eu sei que é um bem para o meu
marido, que eu sei que é um bem, eu não posso me encolher. Eu não posso ser preguiçosa
diante disso porque essas coisas, necessariamente, vão me exigir. Necessariamente, é sempre
assim. O bem é exigente.
E, se a gente renuncia a tudo aquilo que a gente poderia ser como mãe, como esposa,
como mulher, enfim, como amiga, como filha, se a gente renuncia como filha de Deus, a gente
renuncia dolorosamente a isso, a gente se destrói necessariamente. A gente vai ver as

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consequências da preguiça na nossa vida. Então a preguiça poderia se resumir como frustrar
um plano de algo que eu deveria fazer e eu não faço.
Na vida, o que nos desencanta não são as pequenas ambições insatisfeitas, ou seja,
“eu tentei, eu fui, não consegui”, não. O que faz com que a gente fique desencantado com a
vida são os ideais abandonados, “deixa pra lá, vai ser difícil demais”. “Chegar lá é muito difícil
e, mais do que difícil, não é pra mim porque a minha circunstância é diferente da dela e a
circunstância dela é muito melhor que a minha, por isso ela consegue”, ou abandonar as
alturas morais. “Eu não consigo seguir até aqui porque a minha circunstância é muito difícil”.
Não, o que vai fazer a gente ter essa fibra, que é o contrário da preguiça, é justamente
uma energia no enfrentamento dessas situações, não justificando as situações: a dificuldade
espiritual e moral de acordo com as minhas capacidades ou de acordo com as minhas
circunstâncias, ou “não fui chamada pra isso”, nesse momento não dá.
A pessoa preguiçosa é aquela que quer viver sem exagero, sem esforço, sem... “É
demais isso, vamos ficar aqui, a questão é o equilíbrio”. O preguiçoso cai muito nisso. A
preguiça também tem o nome de acídia. Acídia é uma tristeza… Olha só que coisa, acídia é
uma tristeza ácida e fria. É o conjunto, acidez, ácida e fria. É uma tristeza ácida e fria, que é a
preguiça, olha que bizarro. É uma tristeza que vai tomando conta de nós.
Quantas e quantas pessoas falam “ai, eu sinto uma tristeza, não sei o que que é.
Parece que a vida não tem sentido. Parece que a vida tá…”. Examinem-se. Examinem se a
gente não está agindo de forma preguiçosa diante da vida e a gente precisa prestar atenção
nisso em relação aos nossos filhos.
Quando a gente pede aos nossos filhos que arrumem a cama, que levantem pra falar
com o pai que acabou de chegar, que escutem uma avó que tá precisando ser escutada, que
ajude um amigo num dever de casa. Quando a gente faz com que os nossos filhos saiam de si,
deixem de ser preguiçosos e vão à procura do bem, que consigam estudar bem, isso não é só
autoritarismo, isso não é só o meu jeito de fazer as coisas. Isso é uma luta contra uma tristeza
ácida e fria.
Nossa, se a gente for pensar, quantos adolescentes estão vivendo essa tristeza ácida e
fria porque estão vivendo vidas muito preguiçosas. Não tem que fazer absolutamente nada em
casa, eles não estudam nada, não fazem nada para ninguém, são adolescentes que deveriam
estar testando a sua força no mundo e eles estão testando a sua força no mundo onde? No
TikTok? No videogame? No YouTube?
E aí eles chegam a uma conclusão que eles não são capazes de fazer nada. Eles não
têm nenhuma capacidade de agir num mundo real das coisas. Vem realmente uma tristeza
ácida e fria. Olha o número de crianças que estão sendo vítimas de suicídio, que estão sendo
vítimas de automutilação. Isso é uma angústia gigantesca e isso pode ser fruto da preguiça.
Eles estão vivendo uma vida preguiçosa, eles vivem na vida, na casa deles, como se fosse
uma pensão. Eles não fazem nada para ninguém, de fato.
Então, justamente, a acídia é essa tristeza que invade a alma ao pensar nos bens
espirituais, na virtude, na bondade, no amor. “Meu Deus! De jeito nenhum” porque eles exigem
esforço, renúncia, sacrifício e eles não estão acostumados com isso. Eu queria que a gente
acostumasse os nossos filhos.
Quando eu falo para vocês “vamos viver a sobriedade na nossa casa”, a sobriedade em
se privar de beber um suco na hora do jantar parece uma coisa tão pequena, “não, no jantar a
gente vai beber água”. Isso é uma forma de treinar o espírito a ser capaz de renunciar a
alguma coisa por algo. Oferecer uma dor de cabeça por algo. Ainda que esteja com dor de
cabeça, não sair brigando e gritando com as pessoas. É uma renúncia, uma auto-renúncia por
um bem maior. Isso é muito necessário aos nossos filhos. A gente precisa estar muito atenta.
Toda vez que a gente sente essa repugnância na abnegação, na doação generosa,
olha, isso é uma epidemia disso. Vai criando de fato uns azedos no coração, o coração vai
ficando azedo ele vai ficando… É isso, ele não é capaz mais de pulsar por um bem. Isso vai

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realmente impregnando o coração. Então a preguiça com o passar do tempo vai criando uma
verdadeira antipatia aos bens que são árduos, uma verdadeira aversão, uma verdadeira
irritação.
Se a gente vê alguém que está disposto ao bem, que está disposto a lutar e tentar viver
uma boa maternidade, a gente se irrita e a gente coloca a culpa em tudo em tudo menos em
nós. “Ah, não é possível”, “ah, mas é o dinheiro”, “ah, mas é o marido”, “ah, mas é a
circunstância”, “ah, mas é mentira”, “ah, mas é não sei o que”, “ah, mas é enganação”, vai
criando uma verdadeira irritação.
Quantas e quantas vezes a gente vê diante, por exemplo, de uma pessoa que está
super bem na carreira… Nossa, eu vejo às vezes a tal coitada da Virgínia, que está super bem,
ganhando muito dinheiro. As pessoas irritadas, as pessoas se irritam. Muito provavelmente
essas pessoas irritadas são pessoas que trabalham pouco, que trabalham mal, que não estão
conseguindo se desenvolver nas suas carreiras. Tenho certeza, é isso, é a preguiça e se irrita
diante do bem alheio.
A preguiça detesta exatamente o que o amor abraça. Onde as pessoas só veem
abnegação, tristeza, o amor vê grandes coisas. É exatamente isso. É possível que a gente se
pergunte “mas será que as coisas precisam ser tão exigentes assim? Por que eu tenho que
pensar primeiro nos outros? Quem, então, vai pensar em mim? Eu não devo, então, dar tempo
para as minhas coisas? Minha vida, caramba! O tempo todo fazendo as coisas”. A gente vai ver
na segunda parte da aula que ser uma pessoa que não tem preguiça não significa uma pessoa
que faz tudo o tempo todo, tá? É diferente.
Uma pessoa pode ser totalmente ativa, e, ainda assim, ser muito preguiçosa. A gente
vai ver um pouco disso. Então não significa isso. Significa a gente colocar o coração em busca
da exigência daquilo que o amor exige, o bem exige, sem ter pena de nós, sem nos vitimarmos.
A preguiça, o que ela vai fazer com a gente? “Ah, eu não roubo, eu não mato, eu não faço mal
a ninguém”, só que, o que acontece é que a gente, para ir à procura de um bem verdadeiro,
como a gente falou na última aula, é necessário um esforço contínuo.
É a história da escada rolante. A escada tá sempre descendo e a gente precisa estar
sempre subindo. Se a gente não tá vivendo com um certo incômodo, a gente certamente tá
vivendo de forma preguiçosa. A gente precisa viver com um certo incômodo, sabe? “Ai, eu não
queria levantar, não queria fazer não sei o que, eu não queria, não queria, não queria”, é, mas
é pra fazer, fazer, fazer, entendeu?
Todas as pessoas que fazem grandes coisas estão sempre incomodadas. Estão sempre
puxando delas tudo que elas podem. Puxando delas, puxando dos outros, porque não só ela
quer ir ao caminho do bem, mas ela tá levando outras pessoas também. A gente não pode ter
pena dos nossos filhos de puxá-los, de fazer, de exigir, não exigir por exigir, fazer por fazer,
mas exigi-los no caminho do bem.
Então, na hora que tá tendo briga entre irmãos, e que tá tendo uma confusão, não é pra
gente ficar de “ah, vê lá, é tão comum, né, briga entre irmãos, tá? Deixe quieto”. Não! A gente
precisa intervir, a gente não pode ser preguiçosa nesse sentido, a gente tá vendo que algo não
tá bem. Certamente, eles tão brigando... Por que irmão briga? Porque as más inclinações
chocam-se uma com a outra.
É óbvio, é normal, entendeu? E eles são crianças, e como eles não têm freio, vai que
vai. O que que a gente precisa ensinar? Como um e outro vai lidar com aquela má inclinação
de achar que é a culpa do outro, de achar que foi injustiça, de lidar com a ira, enfim, pra gente
saber, pra eles conseguirem se entender.
As pessoas se enganam quando imaginam que levar a sério os compromissos, as
exigências do trabalho, as exigências do nosso dever de Estado, do ser esposa, de ser mãe,
que isso atrapalha a nossa vida, a nossa felicidade, que ser exigido demais vai nos trazer
infelicidade. E não é verdade, é justo o contrário. O que atrapalha a nossa felicidade, o que
complica, estraga a nossa vida, é fugir desses compromissos e dessas exigências da vida.

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Toda vez que a gente foge disso, a gente se entristece. Toda vez que a gente encara o que a
gente deve fazer, a gente vai em busca da verdadeira felicidade.
Nunca é por ter se dado ou sacrificado que um homem se esvazia. Um homem nunca
está vazio, o homem no fim da vida não fica “ah, tô me sentindo vazio, tô sentindo que, caraca,
eu não fiz nada na vida”, se ele se sacrificou e se doou a vida inteira. Não é possível, não é
possível.
Aí você vai falar “ah, Samia, é sim, eu conheço minha avó, ela teve 12 filhos e ela
chegou no final da vida triste e triste, tá? Ela se sacrificou muito pela família e tá super triste”.
Ter muitos filhos ou ter um casamento não significa necessariamente que você esvaziou-se de
si tudo que você podia, no sentido de que quantas e quantas pessoas a gente conhece assim e
que fizeram tudo isso sem virtude, que fizeram tudo isso porque foram obrigadas, digamos
assim, porque naquela época não tinha outra forma de fazer, fizeram tudo isso reclamando aos
montes e não querendo estar ali? Isso não é virtude, tá?
Não é a circunstância que nos faz virtuosos. “Ah, não, mas eu tenho um marido doente”,
ou “um filho doente meu, isso vai me fazer a pessoa mais virtuosa e mais que luta contra as
más inclinações e contra a preguiça”. Isso não é verdade, é necessário, como eu disse lá no
início, a gente colocar um esforço intencional para melhorar, para conseguir, de fato, fazer
essas coisas por amor e ir em busca do bem.
Quando a gente vai tentando nos poupar, a gente vai constatando, com o passar do
tempo, que o vazio só aumenta, toda vez que a gente “não, não quero, não vou assumir isso,
não vou assumir isso, não, isso não, isso não”. Também a gente conhece muitas pessoas que
foram assim, não quiseram assumir o que deveriam, e no final da vida são pessoas
extremamente vazias. Pessoas que dizem, “não, bem, eu não sei o que está acontecendo
comigo, me falta alguma coisa que eu não sei dizer, faltou compromisso, faltou
responsabilidade, faltou fazer essas coisas realmente por amor”.
Então a gente realmente precisa não ouvir a voz que vem na cabeça, que fala “pra que
você vai complicar a vida? Por que você vai ficar nesse casamento? Por que você vai ter mais
um filho? Por que você vai viver a maternidade desse jeito, se você pode delegar pra todo
mundo? Por que você vai assumir mais um emprego para melhorar a renda da sua casa? Por
quê? Nossa, isso é tão difícil. Por que você vai assumir a sua paternidade e vai conversar com
o filho no momento que ele tá precisando? Pra quê? Vai complicar demais. Deixa quieto”, né?
De fato, os nossos talentos, nossas inspirações, nossas realizações não servem pra
nada se a gente não os coloca à disposição das pessoas. Se a gente faz isso, de não colocar à
disposição, a gente vai transformar os nossos talentos, as nossas inspirações, as nossas
realizações em um ídolo e isso amputa o voo da nossa alma.
Isso também acontece na vida de muita gente. Ela coloca “a minha vocação do
trabalho”... O Italo tem falado muito isso no Instagram: o trabalho em si não é motivo de
vocação, de alegria que eu devo seguir, ele é um serviço a algo. Se a gente não coloca tudo o
que temos à disposição dos outros, a nossa alma fica na lama. A preguiça é uma lama que
prende nas nossas asas, que não deixa a nossa alma realmente voar.
Olha que coisa, as consequências da preguiça são, primeiro, a pusilanimidade, que é a
falta de firmeza de tomar decisão, porque a preguiça faz isso. A pessoa preguiçosa, ela é isso,
ela é cômoda, ela tá sempre adiando decisões porque tomar uma decisão significa que ela vai
ter que assumir a responsabilidade. É aquela pessoa que não consegue, ela fala “ah, eu não
sei. Eu não sei se eu faço isso, eu não sei se eu faço aquilo. Ah, eu não sei, eu não sei que
caminho tomar”. Por isso é uma pessoa preguiçosa, é uma pessoa que não sabe fazer nada.
O Italo tem falado muito isso também, já fala isso há muito tempo. Você não tá
conseguindo ter alegria na sua carreira, na sua vida, “ah, eu não sei o que fazer, não sei o
quê”, faça alguma coisa, mas faça bem feito. Faça aquela coisa até o fim. Realmente tenha
uma habilidade que você saiba e que você consiga dizer que é sua, “eu sei fazer aquilo” porque
senão, do contrário, é isso, é a preguiça.

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“Ah, eu não sei, eu não tomo essa decisão porque eu tô com medo, porque... Enfim,
muitas vezes a covardia entra porque, ai, é isso”. Decidir vai trazer consequências e vai trazer
responsabilidade. A preguiça muitas vezes traz essa fraqueza moral. Nossa, isso é muito forte.
A fraqueza moral é uma maior inclinação às tentações.
Quando eu tô preguiçosa porque eu não tô trabalhando como eu deveria, porque eu
não tô assumindo a minha responsabilidade de mãe como eu deveria, a minha
responsabilidade de filha, porque isso me complica, porque eu não tô conseguindo cuidar da
minha saúde como eu deveria. “Ai, mas são muitas coisas”, realmente são muitas coisas, mas
essa é a vida. Essa é a vida. A gente tá chamado a isso porque é isso que vai fazer nas
grandes coisas porque eu não tô conseguindo ler o livro que eu deveria, me formar como eu
deveria para desempenhar melhor o meu trabalho.
Tem uma frase que é muito verdadeira, “um abismo traz outro abismo”. Quando a gente
não vai fazendo aquilo que a gente deveria por preguiça, a gente só vai por água abaixo. Outra
coisa que a preguiça traz é muito curioso, realmente, é muito verdadeiro, é a inconstância,
porque o preguiçoso deseja o que ele não tem, mas ele também tem raiva do que ele tem
porque o que ele tem… Ele deveria tá fazendo um monte de coisas com as coisas que ele tem,
mas ele não queria. Ele queria ter uma coisa que ele não tem porque assim, já que ele não
tem, ele não tem responsabilidade porque ele não tem, não é dele mesmo, entende?
Então ele tem raiva da sua profissão, aí ele quer mudar de profissão, aí ele começa a
fazer um monte de faculdade, muda de emprego. Aí vai mudando, aquele também é ruim e vai
mudando porque todos os empregos vão ser exigentes, todos os empregos vão exigir dele que
ele realmente seja bom naquilo que ele faz.
E aí ele fica “ah, mas o emprego do outro deve ser melhor porque parece que ele tá tão
feliz ali, parece que ele tá fazendo tão bem, tá ganhando tão bem”. Mas porque pra você ser
feliz na sua profissão, pra você conseguir ganhar muito bem, você precisa trabalhar, você
precisa renunciar a uma série de coisas, você precisa se formar bem, você precisa sair de você
mesmo. Você precisa lutar contra a preguiça.
Outro caso: “tenho raiva da minha família porque a minha família exige de mim. Exige o
casamento, exigem os filhos, exige minha mãe, exige minha sogra, exige a minha avó. Todo
mundo exige de mim. Ai, mas essa família é muito complicada demais porque exige que eu
saia de mim. Exige que eu, enfim, leve a minha sogra em determinado lugar, que eu seja
carinhoso com os meus filhos”.
E aí, o que ele quer fazer? Ele quer se separar, ele quer não estar tanto com os filhos.
Ele foge no emprego, fica trabalhando mais tempo para fugir das suas responsabilidades. “Ai,
eu não quero mais essa cidade. Ah, nossa, essa cidade aqui tá muito ruim, muito violenta, me
atrapalha porque eu não consigo isso, eu não consigo aqui”, e vai, viaja, quer mudar de cidade
porque ele não quer ficar ali onde ele tá, porque é muito exigente, ou “eu não quero mais esse
corpo”, e aí eu vou e faço cirurgia. E eu vou, tento melhorar e não sei o que porque o que ele tá
encontrando dentro dele é um incômodo. É um incômodo pela preguiça por ele não tá fazendo
aquilo que ele deveria.
Voltamos mais uma vez àquela frase maravilhosa. O combate à preguiça é “faz o que
deves e está no que fazes”. Toda vez que a gente frustra isso, a gente tá sendo preguiçoso.
Combinado? Na próxima aula, a gente vai falar um pouquinho sobre os truques que a preguiça
tem e como ela aparece na nossa vida e muitas vezes a gente não percebe, tá bom? Até a
próxima aula.

Samara Cardoso - samaragulartefofa@gmail.com - CPF: 053.688.000-02

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