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DE
UMA
SERRA
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CENA 01
NARRADOR: Um continente...
NARRADOR: Um país...
NARRADOR: Um estado...
CORO: Cuité...
NARRADOR: Um bairro...
ATOR 2: Já começou viajando, não viu como ele(a) começou? “Era uma vez...” Desde quando
estamos fazendo um conto de fadas??
CORO:
Guardando as recordações
Chuva e sol
Poeira e carvão
Longe de casa
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Sigo o roteiro
Vamos contar para vocês histórias de uma terra de cabra arretado e muiê macho sim sinhô
Cachoeiras e maribondos
Cuité idolatrada
SOBE CORO.
E a alegria no coração
ATORES EM CENA.
CENA 02
ATOR : Boa noite, está aqui um homem que perdeu as esperanças de melhorar. Pensando
muito na minha vida, eu descobri que passo o tempo todo pra poder ficar de pé e continuar
trabalhando.
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Trabalho, recebo dinheiro, compro todo de comida, pra poder trabalhar no outro dia. Nunca
fico rico, não tenho mulher, não danço, não bebo, não viajo, não nada. Tudo que eu faço é pra
continuar em pé. Aí eu cheguei a conclusão, vou morrer.
Me deito aqui nesta rede, me estiro, começo a dormir e não acordo mais nunca. Em vez de
ficar a vida toda em pé, eu fico deitado a eternidade.
Os senhores que ficam, boa noite, obrigado pela atenção dispensada e sigam meu exemplo.
ATOR: (REPENTINAMENTE) Tenho, mas não quero mais ter. (TODOS SE ASSUSTAM) Vão
embora que eu quero morrer sossegado.
OS TRÊS: Mas o que é isso moço? Conte pra gente que o senhor alivia.
UM: Eu tinha uma prima solteira que queria se jogar no rio só por que o cachorro dela morreu.
Bastou ela contar pra mim que passou a vontade de morrer.
ATOR: Eu agradeço, mas vocês não podem fazer nada por mim.
Até logo.
UM: Pelo amor de Deus, conte pra gente moço... Foi olhado?
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ATOR: Eu conto e vocês me deixam sossegado.
OS TRÊS: Deixamos.
ATOR: Eu não aguento mais trabalhar pra comer. Trabalho, como, trabalho. Durmo, trabalho e
como. De tardezinha me dá uma tristeza...
PAUSA.
ATOR: Não.
UM: Olha aqui, eu tenho umas três cuias de arroz lá em casa, a gente podia oferecer a ele.
Dava para passar umas três semanas sem trabalhar. Aí ele pensava na vida.
SAEM DE CENA.
CENA 03
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NARRAÇÃO: No fatídico ano de 1877, uma das piores secas assolava toda região do semiárido
nordestino. O vigário do Distrito de Cuité, Pe. José do Coração de Maria Castro, buscando uma
forma de solicitar ajuda divina para o povo que sofria, contata através de uma carta, o Pe.
Manuel Franklin de Sousa, do município de Picuí.
CORO:
Ave Maria
FIEL 1: Mas padre, o que vai ser da gente? Essa seca tá acabando com tudo...
PADRE JOSÉ: Ah meu filho, temos que ser mais fortes na fé! Deus nos chama acreditar mais
em seu nome.
FIEL 1: Tanto que já rezamos pra que o Senhor mande uma chuvinha! Será que nossa fé tá
pouca então?
PADRE JOSÉ: Isso eu não sei dizer. Vamos pedir que Nsa. Das Mercês e São Sebastião
intercedam ao Nosso Senhor para que olhe pra nossa terra. Vou escrever para o Padre Manuel
agora mesmo.
PADRE JOSÉ: Isso mesmo, vou lhe propor uma permuta dos nossos padroeiros.
FIEL 1: E será que isso vai dar certo padre? Trocar os santos?
PADRE MANUEL: Que assim seja! A troca dos padroeiros vai trazer a complacência dos Céus.
Que Deus continue te iluminando padre José do Coração.
FIEL 2: Padre Manuel, que história é essa que São Sebastião vai pra Serra de Cuité? O sacristão
acabou de me contar...
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PADRE MANUEL: Sim, isso mesmo! Nossa Senhora das Mercês ficará agora aqui na nossa
Matriz...
FIEL 3: Sua benção padre. Com todo respeito, o senhor acha que é mesmo necessário fazer
isso?
PADRE MANUEL: Claro minha filha! Vai ser uma prova de fé! São Sebastião e Nsa das Mecês
vão interceder ao Nosso Senhor Jesus Cristo para que olhe pra nossa gente e envie chuva para
acabar com o sofrimento de todos!
PADRE MANUEL: Vâo! E avisem ao Apostolado da Oração e todas as outras irmandades que a
procissão para a troca das imagens será de hoje a 15 dias, lá na fazenda do Sr. Zé Gomes.
Avisem a todos os fiéis.
PADRE MANUEL: Escuta nossas preces , Oh Deus! Olha para este povo que sofre com a falta de
água!
PADRE JOSÉ: Nossa Sra. Das Mercês, tu que libertastes os cativos fieis ao Senhor, tu que nunca
desamparastes teus filhos cuiteenses, olhai também pra nossos irmãos de Picuí, e rogue a
Deus por nós. Roguemos ao Senhor? ( Nenhum fiel responde, apenas o padre Manuel).
PADRE MANUEL: Senhor, escutai nossa prece. Oh São Sebastião, mártir de Cristo, soldado
romano que lutou pelos cristãos, rogai à Santíssima Trindade que mande chuva pra nossa
região, e guarde o povo da Serra de Cuité a partir de hoje. Roguemos ao Senhor? (Apenas o
padre José Responde).
FIEL PICUÍ: Fique São Sebastião, não abandone seu povo! Padre Manuel, deixe-o conosco!
FIEL PICUÍ 2: Não vá embora glorioso São Sebastão. ( Segura a imagem, chorando).
FIEL CUITÉ: Não faça isso padre, por favor! Deixa nossa senhora com a gente!
FIEL CUITÉ: Nossa mãe, nossa Guia, Nossa Luz...Vamos voltar padre José! Isso não é coisa que
se faça!
PADRE MANUEL: Silêncio. Isso é prova de fé. Além disso, Cuité vai receber a mais bela e mais
conservada imagem de padroeiro de toda a diocese.
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PADRE JOSÉ: Meu querido companheiro, não exagere. Sem sombra de dúvida estamos
fazendo isso em nome da fé, mas todos nós sabemos que a imagem de Nsa. Das Mercês é
considerada a mais sublime imagem da mãe do Salvador de toda a nossa diocese. Será um
privilégio para Picuí ter a mãe libertadora como padroeira.
FIEL CUITÉ: Padre Manuel: Ora Padre José do Coração de Maria Castro, você um pastor de
Deus, não deveria falar mentiras diante dos fiéis.
PADRE JOSÉ: Me chamas de mentiroso Padre Manuel Franklin de Sousa? Retire suas palavras
por gentileza.
PADRE MANUEL: Não quis ofender, no entanto a imagem do glorioso Sebastião é magnífica.
Temo que ela não receba os devidos cuidados e acabe sendo danificada.
PADRE JOSÉ: Mas que ofensa! Veja como está Mercês: em perfeito estado de conservação.
Diferente da imagem que aí carregas, esta nunca precisou ser restaurada.
PADRE MANUEL: Pra mim já chega! Meu povo, vamos voltar com o nosso santo padroeiro, de
onde nunca devíamos ter saído!
PADRE JOSÉ: Digo o mesmo! A casa de Nsa. Das Mercês é na Serra de Cuité.
FIEL PICUÍ: Sim, vamos! São Sebastião é de Picuí, sempre foi, e sempre será!
FIEL CUITÉ: Não estão vendo que ninguém vai dar nossa Mãe Santíssima por um soldado de
Picuí?
TODOS SE RETIRAM.
CENA 04
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ATOR: Através de observações de particularidades, lembraças, brincadeiras e acontecimentos
ocorridos na serra do Cuité, os amantes da poesia vão encontrando inspiração e deixando o
seu legado...
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O mais pouco importa se morro
E tu blasfema que me infame
Mais nobre seria chamar-me cachorro
CENA 05
PADRE: No dia ___ do mês de __________ do ano de 1846, nesta cidade de Cuité, estado da
Paraíba, façam saber todos os presentes neste local, que o senhor Chico Marreco, morador da
propriedade do Senhor Manoel Medeiros, foi condenado pelo assassinato do senhor Manoel
Medeiros, da sua esposa, sua cunhada pela tentativa de assassinato da empregada Maria. A
pena de morte será executada na forca, como rege a lei deste estado. (O Padre fecha a
sentença, olha para Chico Marreco). Você se arrepende dos crimes que cometeu?
CHICO: Me arrependo sim, seu vigário. Na hora que fui jogar os moleques na cacimba, lembrei
dos meus “fi” e voltei atrás. Mas depois fiquei pensando: se fosse pra fazer o serviço, que fosse
completo. Por isso, se eu pudesse voltar atrás teria jogado eles dentro da cacimba.
CHICO: Padre, pra ser bem sincero, eu queria comer queijo com doce. Faz tanto tempo que
não como. E quero morrer de bucho cheio.
O PADRE MANDA PROVIDENCIAR O QUE FOI PEDIDO POR CHICO. O ESCRAVO COME. LOGO
APÓS ISSO, O CARRASCO EMPURRA COM OS PÉS O TAMBORETE QUE MANTINHA CHICO
SUSPENSO, COM A CORDA AMARRADA NO SEU PESCOÇO. CHICO MORRE. APÓS ISSO, CHEGA
UM RAPAZ E LÊ A SENTENÇA.
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RAPAZ: Trago-lhes um comunicado do Imperador Pedro II. A partir desta data fica proibido a
execução de condenados à morte por forca. O cidadão que não cumprir este decreto, estará
sujeito a condenação e prisão.
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