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TRANSCRIÇÃO “O NORDESTE”

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O COMUNISMO É ATEU POR ÍNDOLE E PRINCÍPIOS
Nenhum católico pode nele ingressar, mesmo sob a forma de partido político
<<O Comunismo é, por sua natureza, anti-religioso e considera a religião <<o opio do
povo>>, porque os princípios religiosos, que falam do além-túmulo, impedem o
proletariado de contentar-se com a realização do paraíso soviético, que é aqui mesmo na
terra.>>
PIO XI – ENCICLICA CONTRA O COMUNISMO
EIS A PROVA DO QUE AFIRMA O PAPA, NAS SEGUINTES PALAVRAS DE
LENINE, EM SEU LIVRO <<DA RELIGIÃO>>:
<<A religião é um aspecto da opressão espiritual que pesa sempre e por toda parte sobre
as massas populares, acabrunhadas pelo trabalho perpétuo em proveito dos outros... A fé
numa vida melhor, no Além, nasce inevitavelmente das classes exploradas em sua
impotência na luta contra os exploradores.... A religião é uma espécie de grosseira
aguardente espiritual na qual os escravos do Capital afogam seu ser humano e suas
reivindicações por uma existência indigna de um homem.>>

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OS COMUNISTAS QUEREM DOMINAR PELA FORÇA
Munich, 3 (UP) – Os comunistas retirarão todo o apoio ao ministério da desnazificação
da Baviera, devido à projetada substituição do ministro comunista por um cristão social.
Essa declaração foi feita ontem, pelo presidente e pelo secretário do Partido Comunista
b a v a r o, quando ambos eram conduzidos à prisão.

03.07.46 pág. 04 (PAGINA DO LAR)


A PROVA
(Adaptação radiofônica)
Continuação
Guilhermina colhe flores no bosque. Vagueia, sonhando, e pensa na carta que recebera.
Carta que traduzia toda a indignação do sr. Montjoie e na qual ele confessava todo o seu
amor. De repente, avistam os seus olhos a imagem dos seus sonhos. O sr. De Montjoie
passa dignamente, cumprimentando-a com nobreza. [...]

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MINHAS AULAS DE CORTE
Então, vai tomando gosto pelas nossas lições, como é? Tem encontrado alguma
dificuldade, compreendo. Constância e atenção e, vamos para frente.
Não sei como você vai aí pelo seu Ceará; aqui no meu Pernambuco tem chovido
bastante e eu me lembrei, então, de lhe enviar nessas aulas que se seguem um molde
completo de capa. Ei-lo E’ um CAPOTE RAGLAN e você tomará para este molde um
papel que tenha comprimento total desejado, com desconto para bainha que deve ser
bem larga, pela metade do busto maus dez centímetros, mas 8 a 12cms. Este último
acréscimo é para o traspasse e dobra-se sobre a folha.
Pronto? Divida o papel como já sabe, com a parte da frente mais larga que a das costas
os 5cms. Divida o papel, cada parte, em 4 colunas.
O mais, para não ficar uma explicação monótona, você vá olhando a demonstração.
Marque os pontos, ligue-os depois, por fim recorte. Vamos ver:
(imagem)
Fez tudo certo? Mui-quarta feira se Deus to bem. Até a próxima quiser. Sua
Clara Lucia.
ARRANJOS DE CASA
Tania:
Você me diz que gosta muito de “omelette” mas acha um prato indigesto devido a
quantidade de gordura. E, se eu lhe disse que você tem um jeitinho para diminuir a
gordura? Vejamos:
Tome, você, carne passada na máquina, misturada com batatas inglesas e refogada nos
temperos costumeiros. Isto fica a sua disposição, pois, camarões inteirinhos, batatas,
verduras, macarrão fino ou talharim, são também ótimos recheios para omelete. Até a
ervilha, ou carne presuntada, sardinha, peixe fresco, frito, mesmo feijão bem
cozinhadinho dão bons resultados.
Bem, você já escolheu o seu recheio e já o tem preparadinho. Tome três ovos, bata-os
bem batidos, junte-lhe as gemas. Pronto? Adicione três colheres de chá de pó Royal.
Bata mais um pouco os ovos.
Unte a frigideira como uma vasilha para assar bolo. Leve-a ao fogo quando estiver
fervendo, derrame um pouco do ovo batido e ponha logo o recheio. Espere um pouco.
Vire-o, então, fechando pela metade. Deixe que toste de cada lado e eis uma formidável
omelete sem aquela quantidade de gordura.
Clara Lucia

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ELA...
Maria de Ipojuca
Sozinha, na sala acanhada. Ela meditava. Era rica e independente. Nada lhe faltava.
Nada?
De uma infância descuidosa e feliz, rodeada de pais e avós extremosos, senhora
absoluta desses corações e dessas vontades, crescera Ela - mas que nome lhe deram? –
crescera voluntariosa e egoísta, herdara uma vontade difícil de dobrar. Tinha tudo, tudo.
Uma casa preparada, um carro levado pelas suas próprias mãos para onde bem
desejasse, dinheiro sobrando, saúde... mas não era feliz!
Ela sobressaltou-se. Confessara, pela primeira vez, sinceramente, qual o sentimento que
lhe aprisionava o coração fazendo-a sofrer. Sim, a si mesma repetia, era uma infeliz.
Mas, infeliz por que? A vida lhe sorria, o mundo lhe acenava e Ela sabia aproveitar a
vida, sabia aceitar o convite desse senhor. O que lhe faltava, então? E de lá se abismou
novamente em seus próprios pensamentos, procurando enxergar em meio às trevas do
seu coração, o raio luminoso da felicidade. Baixinho, o rádio cantava musicas
sentimentais e pela primeira vez Ela ia conhecendo que alguma coisa mais que uma
boneca havia nela, Ela era mulher. Tinha razão forte e decidida sim, mas tinha também
coração cheio de sentimento e ternura. Sabia rir e brincar era certo, mas saberia também
sentir e chorar, sobretudo, consolar. Era o tudo da casa, a rainha do lar, com todos a seus
pés, vassalos fiéis, era também saberia ser, sentia necessidade de se tornar filha
amorosa, amiga fiel, bondosa senhora.
O crepúsculo, envolvendo a tarde, pagando o sol, ia estendendo meigamente a paz, no
coração de Ela. A sua natureza sincera e decidida não sabia vacilar: haveria de
transformar a sua vida. Seria, então, feliz. Mas como? Seu espírito prático começou a
trabalhar. Pausadamente, quase em surdina, na sua voz discreta o rádio, que cantava
baixinho começou as badaladas da Ave-Maria. Seis badaladas singelas e a voz de seda
começou a cantar a prece à Santa Virgem.
Ave-Maria, cheia de graça... bendita sois entre as mulheres... Santa Maria... rogai por
nós, pecadores... e na da nossa morte...
Ela chora de mansinho. Nossa Senhora rogara por ela, agora, e a hora da graça soou.
Nada mais de dúvidas e interrogações. Saberia onde achar a solução dos seus
problemas; ajudada por uma mestra amiga, sabe, agora, encontrar a felicidade porque
novamente compreende qual a sua finalidade, sua nobreza. Sim, transformada, a si
mesma confessa baixinho: agora sou feliz!

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DE BUBUIA
Os comunistas da ribeira demoravam, nas suas invectivas contra o Congresso Brasileiro
de Médicos Católicos. Ontem, lá “O Democrata” veio com uma estirada proporcional ao
enorme despeito de que anda possesso, diante do êxito formidável do Congresso. E foi
um desastre, como sempre. Investiu descortesmente contra ilustres visitantes de
Fortaleza, vindos de fora para a brilhante assembleia. E, não contente com essa falta de
educação, entrou a vociferar por que, no seu parecer, a Ciência nada tem que ver com a
Religião... Tamanha bobagem não merece revide, pois a atuação dos congressistas, os
seus trabalhos autorizados, as suas teses admiráveis colocariam, de vez, semelhante
ponto de vista ta fora de qualquer consideração, se ele, por si, não estivesse já
desmoralizado completamente. A pseudo-argumentação do jornal bolchevista ainda é
uma prova cabal de que o Comunismo apenas representa, no mundo a mutilação
monstruosa da própria essência do homem, de quem tora a alma, reduzindo-o a um naco
de carne que não sabe por que pensa. Por isso é que tudo nele é truncado, decepado,
aleijado. Não entende um médico católico, como não pode entender quem não é
comunista...
Os distintos viajantes que Fortaleza hospeda presentemente não ligam, é certo, a mínima
importância ao desabrimento desse despeito, já esperado. Nem pensam – está claro –
que isso é o Ceará. Não poderia ser. O Ceará é muito outro e eles sabem distinguir
muito bem.
A.M

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FUNDADA, EM FORTALEZA, A SOCIEDADE DAS DONAS DE CASA
CONTRA A CARESTIA
Recebemos, à tarde de ontem, a visita de uma comissão de distintas senhoras da
sociedade local, que vieram comunicar-nos a fundação da Sociedade das Donas de Casa
Contra a Carestia, destinada, como o nome indica, a combater a atual situação de crise
de vida.
A primeira sessão esteve muito concorrida, discutindo-se durante a mesma, assuntos de
interesse geral, como os casos do pão, leite e outros artigos. Achavam-se presentes d. d.
Roselia de Learne Menescal, Francisca Silveira Bessa, Vanda Mendes, Nubia Barbosa,

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Iracilda Gondim, Clotilde Leite, Almerinda Fiuza Costa, Amélia Mororó, Elvira Morais
Lima, Nair Magalhães Guerra e Maria Rodrigues.
Foram eleitas presidentes de honra as exma. Sras. D. Debora Lima e d. Elvira Pinho,
ficando a diretoria interina assim constituída: presidente, d. Maria Marinho Melo; 1ª
secretária, d. Maria de Lourdes Correia Bezerra; 2ª, d. Amélia Lucena Barbosa e
tesoureira, d. Mercedes.
A próxima reunião será segunda feira, dia 8, em local a ser avisado pela imprensa e
radio, cujo apoio a S.D.C.C.C. solicita. De sua parte, “O NORDESTE” solidariza-se
com novel sociedade, desejando-lhe, igualmente, o melhor êxito nos seus intentos.

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DE BUBUIA
O plano Comunista, em todo o Brasil, presentemente é minar o interior com as suas
negregadas células. Acabo de ter diante dos olhos carta procedente do Maranhão, em
que o zeloso vigário de importante paróquia dali estranha eu homens sem rendas nem
posses, agora filiados ao P.C.B., andem a distribuir machados e foices aos caboclos, a
troco de levantá-los contra os proprietários, rendeiros e criadores daquela zona.
A táctica vermelha é justamente essa: dividir para reinar, comprar com ninharias
materiais a servidão da consciência da gente humilde e ignorante dos sertões. E o
dinheiro vem da Rússia, naturalmente.
Não foi o que Prestes lamentou, na sua famosa Circular secreta, quando ridicularizou
quem quisesse dizer que havia fome no Brasil? Fome, realmente, há na URSS, onde ele
esteve e sabe disso muito bem. O nosso, porém, não é um país de fome. Assim, o
Comunismo precisa da FOME, para argumentar com ela. E a fome se fomenta
afastando, pelas greves, os operários do trabalho; explorando a miséria alheia com
sensacionalismos hipócritas e degradantes; lançando os lavradores contra os criadores;
os tarefeiros contra os proprietários; o trabalhador, enfim, contra o patrão.
Os vigários do interior de todos os Estados devem, neste momento, manter-se em
grande vigilância, pois vêm partindo, das Capitais, enviados, caravanas e amplo
material de infiltração e propaganda comunista.
A hora, para eles, é a das “células de fazenda”. Duro com elas!
A. M.

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O NÓ VITAL
A grande crise alimentar em que se debate o Brasil origina-se da insuficiência de
produção, dificuldade e carestia de transporte. Se a produção é pequena. O produto sobe
de preço.
Tem-se acanhamento em expor-se truísmo tão sediço que os ignorantes comunistas
cearenses divulgam com a empáfia de quem descobriu a pólvora e o milagroso
soporífero “Tudo passa”...
Os gêneros sobem porque também a escassez acorrem os especuladores sem escrúpulos,
guelas de tubarão, insaciáveis, inconscientes da própria sorte.
Passaram a gozar o animal deleite de quem vê aumentarem montes de ouro.
Que na outra vida se avenham com Satanás, imperador deles e dos comunistas.
Um partido que honestamente se propusesse a bom combate contra tão vexatória
situação entraria a dizer aos trabalhadores: - “Trabalhem, trabalhem e não se deixem
explorar. Produzam, produzam. Vão para os campos, camponeses que, vegetais nas
cidades sob a manopla da fome. Ordem. Justiça. Energia, oh autoridades”.
Ao avesso dessa diretriz, procedem os comunistas. Seu ideal é que a fome se estabeleça
e gere a desordem a que gratuitamente forneceriam intrigas formuladas por técnicos lá
em Moscou.
Está tardando muito a campanha oficial em benefício da produção agrícola
principalmente.
De começo, deveria o governo promover o regresso dos sertanejos que, na Capital,
passam fome e sonham com empregos.
É facilitar-lhes transportes, é conceder-lhes diárias de alguns duas, após sua chegada ao
lugar de regresso. E vedar-lhes irretorquivelmente colocações públicas, mesquinhas, a
que eles aspiram e que não arredariam suas famílias do pauperismo. É fazer-lhes sentir
que tais colocações se ajustam melhormente a filhos da Capital que nunca abriram
roçados, em manejaram foices, nem cultivaram vazantes, nem campearam gado, nem
caçaram pebas...
Vazantes... desapareceram elas dos sertões a falta de braços.
O comércio, em auto interesse, que dê preferência nas colocações a conterrâneos da
Capital.
Deveria tomar a iniciativa de abrir subvenções em favor do repatriamento desses que
poderiam estar produzindo, levando seu contingente de combate à fome. O

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desenvolvimento comercial se aceleraria, compensando a larga as despesas da
subvenção.
“Não sou besta” – replica o negociante imediatista e os beneficiários do câmbio negro.
E ante essa estupidez um comunista pouco ignorante e muito safado medita:
“Que preciso colaborador é esse negociante! Está nos ajudando a devorar o direito de
vender e comprar! Estúpido!”
E sai depois a bradar “O Comunismo protege o Comércio, admite altas fortunas
particulares, não ameaça de confisco os bens dos proprietários”
E depois... ri-se a valer.
Zé do Sertão

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SOCIAIS
ANIVERSÁRIOS ONTEM:
- A senhorinha Olga Barbosa Bezerra, funcionária do Instituto dos comerciários e filha
do sr. Vicente Morais Bezerra, já falecido, e de d. Albertina Barbosa Bezerra.
- O sr. Arsenio da Cruz Flexa, funcionários da Fazenda Estadual.
HOJE:
- O nosso prezado amigo dr. José Parsifal Barroso, procurador do Instituto dos
Comerciários e figura destacada nos meios sociais, educacionais e religiosos de
Fortaleza.
- A exma. Sra. D. Idelzuite Peixoto Correia Lima , esposa do sr. Carlos Correia Lima.
- O jovem José Holanda, filho do casal sr. José Alves de Holanda – d. Maria Júlia
Pinheiro de Holanda.
[...]

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MÃE
(A’ memória de Utilinda Bittencourt)
Mãe! Palavra bela e santa, que nãbo tenho mais a gloria de pronunciar.
Minha mãe já não existe!
O destino, com os seus desenlaces cruéis, a levou para a Eternidade, e eu fiquei aqui,
para sofrer, em angustia dolorosa, chorando a falta que ela me faz. Jamais ouvirei as
suas palavras ternas e acalentadoras.

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Minha infância, alegre e esperançosa, com os meus sonhos e encantos, transformou-se
após este rude golpe em áspera adolescência. Minha existência, desde então, tornou-se
um vácuo impenetrável, minhas palavras somem-se num eco que se vai defrontar com
as muralhas de um cruciante destino. tornei-me então um ser ânimo, sem alegria de
viver, vagando pelo mar da vida como um barco sem velas e singrar um oceano revolto.
Trago comigo a memória do 2° domingo de mês de maio que é consagrado ás mães. E,
neste dia, quando vi as crianças sorridentes e alegres, como não me sentir infeliz!
Tristonho, lamentando a ausência de minha mãe que deixou nove filhinhos na
orfandade. Nove entezinhos sentindo a dor de sua falta. E é justo, pois eles choram a
falta daquela que lhes deu a vida e que os embalara e os acalentara. Mas seja feita a
vontade divina!
E no dia de hoje, 1º aniversário de sua morte, recordando o passado, vejo-a sempre com
sorrisos, enfrentando com ardor sua carreira de magistério, como se os seus discípulos
fossem seus próprios filhos: vejo-a como uma das incansáveis batalhadoras em pról dos
lázaros, aos quais dedicou uma parte de si mesma, vejo-a também com a sua palavra
bela e fácil, enfrentando tribunas. Finalmente, vejo-a em todas as ocasiões, como mãe
exemplar e insubstituível.
E agora, qual será minha atitude? Consolar-me e resignar-me com a vontade do Criador.
Ele levou minha mãe, é certo! Mas dar-me-á forças e coragem para continuar a árdua
luta da vida.
Que Deus proteja todas as mães! Este vocábulo legítimo e expressivo de dignidade,
verdadeiro paradigma da virtude e do Amor!
Gentil Antônio de Barros Bittencourt

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TABELAMENTO E TRANSPORTES
Em 1943, no apogeu da Guerra, estabeleceu-se no Ceará vergonhoso cambio negro, que
enriqueceu a muitos e não levou nenhum explorador à cadeia.
A gasolina racionada, era vendida a preços criminosos. 90, 100 e até 150 cruzeiros
custava uma lata! Tão grande era a necessidade consequente da escassez do produto e
tão deslavada ganancia de certos vendedores que houve deles que adicionavam litros de
água nos tambores de gasolina. E as vítimas tinham de se submeter caladas a esse
roubo, temerosas da boicotage dos cambistas que paralisaria seus veículos.
Semelhantemente ocorria com óleo sobressalentes.

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Pois bem – a esse tempo o preço do transporte em caminhões era muito menos que
atualmente.
De Jaguaribe a Fortaleza cobrava-se vinte centavos por quilo de mercadoria conduzida.
Hoje, o preço elevou-se a 34 centavos, quase o duplo do preço de quando a escassez do
combustível e a pouca vergonha de gueludos tornaram o produto caríssimo.
A lata de gasolina custa ao presente 37 cruzeiros – um terço, um quarto, mais de um
quarto a menos que em 43.
A alta do transporte determina alta correspondente ao preço da mercadoria transportada.
Esta produzindo milhares de tostões em benefício de proprietários ao em vez de se
espalharem entre os consumidores.
O tabelamento de transporte é o mais fácil de ser executado. A distância quilométrica
não poderia ser falsificada com o uso obrigatório de taquímetros em perfeito
funcionamento em casa carro.
Cada caminhão, ou automóvel de aluguel, deveria exibir em lugar bem visível a taxa a
ser cobrada por quilo de mercadoria, ou unidade de pessoa, em cada quilômetro.
As estradas seriam classificadas em boas medíocres e más para o estabelecimento do
preço unitário em cada uma.
Precisa baratear-se a vida e portanto se faz imperioso e urgente o tabelamento de
transporte.
Claro que a providência só poderá ser adotada ouvidos os proprietários de veículos.
Zé do Sertão

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QUARTORZE PESSOAS ENVENENADAS COM QUEIJO
De quando em vez aparecem, em Fortaleza, casos de envenenamento com queijo,
atingindo, não raras vezes, número de pessoas superior a dez. Os livros de registro da
Assistência Municipal estão cheios desses casos, que requerem das autoridades tomem
as necessárias providências.
Ontem, as 14 horas, o posto da Praça da Bandeira atendeu a nada menos de 14 pessoas,
que foram envenenadas com queijo. O dr. Trajano de Almeida, que estava de plantão,
prestou os socorros necessários, sendo todas transportadas para as suas residências, a
rua Samuel Uchoa.
AS VÍTIMAS

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Manuel Pereira de Sousa de 52 anos, casado, funcionário público, cearense; Lucinha
Alves Pereira, 26 anos, solteira, doméstica; Maria Suzete Rodrigues, de 18 meses;
Juarez Pereira da Silva, 14 anos; Antonieta de Sousa, 12 anos; Maria Alice, de 8 anos;
José Rodrigues de Sousa, 24 anos, casada; Marcolino Pereira da Silva, 52 anos, casado.

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A comissão de Preços vai reunir-se amanhã, às 16 horas, para tratar do pleiteado
aumento do preço do leite, que os vendedores desejam subir para 3 cruzeiros o litro.
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DE BUBUIA
MAIS uma elevação capital no custo de vida há de perseguir o povo, daqui por diante.
O leite, tão necessário a toda gente, quase o único recurso do mundo de crianças, velhos
e doente da cidade, vai subir de preço. Não é um aumentozinho de cinco ou dez por
cento, ou coisa parecida. Não, senhores. O que se anuncia é nada mais na menos do que
cinquenta por cento. De dois cruzeiros, passará o litro a ser vendido por três! Comemos
pão roxo a cinco cruzeiros e mais, calculando a olho, pois isso de balança é coisa de que
as padarias têm mais medo do que o demo à Cruz. Os cereais vivem em correrias pelas
nuvens, em matéria de preços. Um quilo de banha exige vinte cruzeiros, um de
manteiga mais do que isso. Eis agora vem para o leite um aumento de metade do preço
actual. Carne aí está, sobrando e sendo salgada, nos açougues. Quem foi, porém, que
disse que o preço baixaria? Se algo se fizer em torno disso, há de ser para cima, para
subir, para aumentar. A situação do povo é de desesperar, diante da tremenda carestia da
vida. E, se isso, que aí expomos, se verifica precisamente com os artigos de necessidade
alimentar – carne, leite, pão – imagine-se o que vai pelo domínio dos tecidos para
roupa! Qualquer chitazinha de terceira custa os olhos da cara do pobre, que não pode
nem deve andar nu, nem ele nem a família. Tudo isso – afirma-se – é, antes de tudo,
consequência da guerra. Está certo. Mas, se a maioria dos homens de comércio e
negócio, daqueles que lidam na direção da indústria e da produção, tivesse um pouco
mais, já não dizemos de consciência, mas de solidariedade humana, por certo que havia
de ser menor o sofrimento do povo.
A. M.

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PAGINA DO LAR

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A NOVA PROMESSA
Naquela manhã luminosa de Junho, ela estava triste. Esposa amante e piedosa como
deseja ver o marido cumprir ao menos o preceito pascal! Rezara tanto! E nesse Junho do
Sagrado Coração, sentia-se, - apesar das dificuldades – impelida a rezar mais, forçar
como ela, o amigo dos pecadores.
Comungaria diariamente em desagravo do Rei de Amor, assistiria a santa missa, e faria
a via-sacra. Todo o dia estaria em espírito suplicante, em contínua oração fervorosa. Os
dias fogem céleres. O Rei Divino se compraz em vê-la santamente ativa, atenta ao
governo, da casa humilde, e ao mesmo tempo, seguindo a risca o magnífico programa
traçado. O marido nota a diferença. Acha tudo melhor, num ambiente de paz
imperturbável.
E admira porque ela nunca mais tocara no assinto tão temido para ele: a confissão. A
cada momento esperava uma advertência. E nada! As vezes tinha vontade de perguntar-
lhe, pra saber ao menos, a causa do seu silêncio. Mas irritava-se agora consigo; pois,
que pensamento obsedante, só era esse, que não o deixava, como se alguém do lado lhe
dissesse: “Vai confessar-te! É tempo! Deixa tudo, e pensa na tua alma, faminta do teu
Deus”! Vai a oficina. Um operário lhe diz, que um amigo encontra-se em estado grave.
E o pensamento vem: “Se fosses tu, num ataque desses, inconsciente, de viagem para a
eternidade?” Estremece apavorado. As horas passam. O estado do amigo se agrava,
chamam o sacerdote, que o prepara, para comparecer perante o Juiz Eterno. Horas
depois daquele homem forte, só resta um cadáver, frio e inanimado. Ele é informado, e
sente-se quase resolvido a fazer a pascoa. Dias depois, numa palestra é comentado o
falecimento do amigo, que se foi, confortado com os sacramentos da S. Igreja. Alguém
explica, que depois de católico, se filiara a uma seita inimiga da Igreja, mas,
conhecendo que ia morrer, arrependeu-se, abjurou, e voltou confiante e feliz ao seio da
verdadeira religião. Ele ouve o comentário final, único de fé ardente e sincera! “Morreu
tão bem, porque fizera as nove primeiras sextas-feiras, em honra do Coração de Jesus!
“A nona promessa, que Nosso Senhor, disse a Margarida Alacoque”. “Eu te prometo ba
excessiva misericórdia do meu coração, e no amor todo poderoso deste coração
concederei a todos que comungarem nas nove primeiras sextas-feiras, seguidas, a graça
da penitência final. Não morrerão em desgraça do meu coração, e nem sem receber, os
últimos sacramentos. Meu coração será o asilo seguro nos últimos momentos”. Aquilo
lhe deixa uma impressão profunda. É a hora da graça. Deixa apressado a roda de
amigos, e regressa a casa.

11
Acerca-se da esposa, e relata o que acabara de ouvir. E como num sonho maravilhoso,
ela o ouve dizer. Vou confessar-me, fazer a minha pascoa e também as nove primeiras
sextas-feiras.
De joelhos chorando de emoção, ela agradece a graça recebida. O coração divino, que
se não deixa vencer em generosidade, fizeram mais do que ela pedira.
A. Soares
UM RETRATO
Enquanto “os olhos são o espelho d’alma, o retrato é a imagem do corpo.
Eu queria ter a mão leve e a mente clara para descrever a fisionomia daquele que se foi
para deixar vazio em nossos corações um lugar que jamais se fará ocupado. Daria
liberdade plena ao lápis que tenho em mãos, pudesse eu expressar em palavras, as mais
simples que formam o vocabulário de nossa língua, o que sente o meu coração ao
fitarem meus olhos o retrato do meu querido papai...
No entanto, direi: o homem simples, trazia consigo todo exemplo que seus filhos
pudessem imitar. Sempre amigo do lar, vivia cercado da família, que o venerava. De
estatura media e olhos castanhos, trajava com simplicidade. Fazendo parte da
Humanidade - que é fraca - possuía, com certeza, lá, seus defeitos. Não era por isso
menos digno da estima de seus colegas e amigos. Hoje, mês de julho, veio-me o desejo
insaciável de revê-lo, mas a Voz da Verdade, a Voz que consola os aflitos, que adoça
uma saudade me chamou a sós no recinto de meu quarto, onde o silêncio é rei e me
disse – espera, filha o tempo é breve a eternidade sempre durará; ela não é marcada
pelos minutos, ela é sempre eternidade; espera, tempo há de vir em que não mais
sentirás esta saudade, tão doce por ser ligada com o elo da esperança, mas no mesmo
tempo, saudade de fel por estar misturada com o fel da separação. Espera, porque a mim
foi dado ver, o que te digo: a tempo virá o remédio: quando mais existir o que se chama
Tempo, mas quando tudo se resumir na palavra: Eternidade.
Deus o levou. Graças dadas sejam a Deus. Levou-o para um lugar distante [...]

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VÃO AUMENTAR O PREÇO DO LEITE
Reunir-se-á amanhã, às 16 horas a Comissão Estadual de Preços a fim de dar uma
decisão sobre o pedido de aumento do preço do leite. Parece que desta vez os donos de
vacaria vão levar a melhor em mais uma investida contra os interesses da população.

12
Consoante foi anunciado, o parecer que a respeito vai apresentar o tem. Cel. Afonso
Magalhães é favorável ao aumento para três cruzeiros o litro, desde que os proprietários
forneçam dez por cento da sua produção diária para as crianças pobres da cidade, o que
achamos fácil de prometer mas muito difícil de realmente ser cumprido.

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DE BUBUIA
Os jornais anunciam que a velha Light vai aumentar o número dos bondes, vinte e sete
deles correrão, dentro em breve, nos trilhos da cidade, foi só chegar um materialzinho e
a Companhia entrou logo a melhorar. Não convém que o facto corra sem registro.
Mesmo porque falar bem de qualquer Light, agora, é uma esplêndida propaganda contra
o Comunismo. Os meninos que o sr. Prestes, num passe de Chang improvisado,
transformou em “jornalistas”, tomam-se de cólera vermelha, quando se diz que a Light,
seja lá onde for, é uma necessidade.
A doença deles – “capitalite colonizadrite” – mostra alegria para essa palavrinha. E pe
um gozo vê-los túrgidos de zanga, bolçando a incoercível sociologia do cavaco, ao
único manejo desse vocábulo mágico – LIGHT.
Quem se vir perseguido pela marcação comunista, no Brasil, basta exorcizar o duende,
jogando-lhe em cima, de pronuncia escandida, como se machucasse um pedaço de
flandres: - LIGHT! O bicho dará o fora. Sairá escanifrado. Rebentará de fúria.
Depois da surra plebiscitária que os transviários cariocas aplicaram, valentemente, aos
“pioneiros” prestistas, o horror deles às Lights centuplicou. Porque foi mesmo sério, o
negócio. Até um “deputado” entrou na dança. Levou na cabeça direitinho. Tanto que a
Justiça agora, amável, o corteja, como perfeitamente digno de lhe prestar severas contas.
Vejam lá que “deputado”!
Vamos te transportes um pouco melhores. Os comunistas ficarão tristes. Perdem mais
um ensejo de atiçar briga e fomentar desordens. Mais um pitéu da sua saprofagia. Mas
por isso mesmo convém registrar. Quando eles não gostam de uma coisa é porque a
coisa é boa...
A. M.

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ASSOCIAÇÃO DAS SENHORAS DE CARIDADE

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Sexta-feira, 12, haverá reunião das Senhoras de Caridade, às 16 horas, no local de
costume. Encarece-se o comparecimento de todas as associadas.

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A CULPA NÃO FOI DA F.C.D.
Sem fundamento mais uma acusação do <<Democrata>>
O <<Democrata>> de ante-ontem em uma local acusa a Federação Cearense de
Desportos de não ter cumprido com a sua promessa em correr no jogo “Fortaleza x
Ceará” uma “bandeira” em favor dos padeiros.
Hoje pela manhã esteve em nossa redação o dr. Marcelo Pinto, que nos declarou que,
como delegado da Mentora, antes do jogo reuniu i juiz e os clubes preliantes afim de
fazer a arrecadação em favor da laboriosa classe. No entanto, devido ao adiantamento
da hora, ficou resolvido que somente no período de descanso do 1º para o 2º tempo seria
corrida a “bandeira”. Chegando o intervalo, os jogadores não quiseram angariar os
donativos, não cabendo, dessa maneira, à F.C.D. nenhuma culpa. Como se vê, é mais
uma das muitas notícias infundadas que o órgão vermelho em nossa capital noticia sem
saber a verdadeira causa.

12.07.46 pág. 01
A Comissão de Preços deixou de resolver sobre o caso do leite, na sessão de ontem, a
pedido do Centro Médico.
12.07.46 pág. 08
AINDA O CASO DO LEITE
Como foi anunciado reuniu-se ontem a Comissão Regional de Preços sob a presidência
do jornalista Luiz Sucupira e contando com o comparecimento da maioria dos
membros.
O assunto principal foi o preço do leite que mais uma vez entra em discussão devido à
pretensão dos proprietários de vacarias os quais pretendem aumentar o preço deste
produto.
O Tenente-Coronel Afonso Pinto de Magalhães, vice-presidente da Comissão
apresentou o relatório sobre o referido caso.
Em virtude de um pedido do Centro Médico o caso só será solucionado 2ª feira quando
a comissão Regional de Preços se reunirá novamente.

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Os proprietários de vacarias declararam que se não fosse atendidos se viam na
contingência de fechar seus estabelecimentos.

13.07.46 pág. 01
A novel Sociedade das Donas de Casas vai levar avante uma ofensiva em regra contra o
pretendido aumento do preço do leite.

Os jornais dizem hoje que a Associação das Donas de Casa vai interferir junto à
Comissão de Preços contra o aumento na tabela do leite.
Tratando-se de um artigo de tão premente necessidade, exigido, na maioria dos casos,
não mais como alimento propriamente dito, senão como verdadeiro remédio, merece os
mais amplos encômios a atitude dessa simpática sociedade. E se dizemos simpática é
porque, no rol das associações e grêmios que pululam agora, em toda parte, sob a
inculca dos comunistas, a “Associação das Donas de Casa” se apresenta, pelos nomes
que a encabeçam, perfeitamente imunizada contra a ingerência deletéria dos vermelhos
audaciosos.
Senhoras da nossa sociedade, eminentemente cristã, conhecendo a nobreza da família
em todos os seus aspectos, trazem como credenciais os requisitos necessários a
merecerem a confiança irrestrita da família cearense.
O seu gesto, advogando os interesses dos nossos lares, ameaçados de mais uma
clamorosa num artigo de necessidade imediata e constante, é digno do mais alto louvor
e deve ser recebido pela Comissão com a importância e no valor que realmente incarna.
Elas. As mães de família, as donas de casa, sabem, melhor do que qualquer técnico de
gabinete, porque é que o leite não deve subir de preço. As suas razões devem ser
escutadas com maior atenção ainda do que essa com que se costuma ouvir as dos
capitalistas, que passam anos e anos lucrando, mansa e pacificamente, consolidando
fortunas consideráveis, à custa de um produto como esse, e agora perdem a calma,
somente porque os lucros diminuem um bocado, ou mesmo se suprimem
temporariamente.
Que a Comissão ouça a voz autorizada das donas de casa, cuja interferência aqui
envolvemos com os nossos melhores votos de confiança e com êxito.
AM.
15.07.46 pág. 03
CARTAS

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A UMA PROFESSORA COMUNISTA
Heitor Cavalcante
Numa escola improvisada, para efeito de propaganda, à entrada da espaçoso prédio,
duas ou três dezenas de crianças, singelas criaturinhas de Deus ainda em botão,
alinham-se em modestas carteiras, confiantes e atentas sequiosas talvez de aprender algo
de com e elevado.
Vou passando e olho para dentro. Lá está você sentada na sua cadeira de jovem
professora, muito séria e bem posta.
Você! Que tremenda responsabilidade está pesando em seus ombros tão frágeis. E você
não percebeu ainda esse peso que é a mão da justiça divina.
Que estará você ensinando a essas crianças, ou, melhor, deixando de ensinar-lhes?
Não creio que você, mesmo no ardor da sua missão, no arrojo do seu idealismo ateu,
pregue a essas crianças, tão simples e inocentes, o materialismo que sufoca os anseios
da alma. Basta, porém, para torna-la culpada, o seu prejudicial exemplo, a sua nefasta
doutrina, o seu tendencioso silêncio em matéria de fé.
Aí, diante da sua banca de professora, estão essas pobres crianças proletárias, que
acreditam nas suas palavras, talvez sem discuti-las, porque não sabem ainda pensar por
si mesmas. Você poderá conduzi-las pelo caminho da luz, que leva a felicidade e a
Deus, ou pelo caminho tenebroso da negação, que leva ao abismo de todos os males.
Essas crianças, aprendendo e crescendo sem Deus em torno de você, elas mesmas será
as suas mais veementes acusadoras, na hora do juízo infalível, perante o tribunal
daquele que julga em tergiversar.
Que contas dará você a Deus de tão inocentes criaturas se vier a impedi-las de se
tornarem boas, piedosas, virtuosas, animadas de fé, corajosas no sofrimento e nos
revezes da vida, tornando-as, ao contrário, homens pecadores e viciados, sem luz e sem
esperança, e mulheres destinadas à orgia dos divórcios e à incompreensão do lar?
Lembre-se das palavras severas de Jesus “ A quem puser uma pedra de tropeço no
caminho de um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria que se lhe
pendurasse ao pescoço uma grande pedra e que fosse lançado no fundo do mar”.
Lembre-se disto; e pense bem nesta espantosa advertência do seu futuro juiz.
Pense e renuncie ao seu ingrato magistério, minha amiguinha, ou salve essas crianças do
erro, salvando-se a si própria.

15.07.46 pág. 03

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FACTO DO DIA
O Governo do Estado acaba de entregar à Cooperativa do Leite, aqui fundada, a
importância de 310 contos que, juntos aos 460 já pagos em 1943, perfazem a soma de
770mil cruzeiros. Essa quota se destinou ao pagamento dos maquinismos
encomendados na América do Norte para a pasteurização e beneficiamento do leite que
Fortaleza bebe.
Asseguram os diretores da Cooperativa que dentro de três meses estaremos consumindo
leite puro e exatamente medido, pois por isso se responsabilizará a mesma cooperativa.
Apesar de toda nossa vontade, encaramos com pessimismo os resultados dessa
realização, que é útil e necessária, mas impraticável entre nós. Primeiro porque nem
todos os produtores de leite pertencem à Cooperativa. Segundo, por que muitos dos que
a ela se filiaram não se conformarão em submeter seu leite a exame, viciados que se
acham em adulterá-lo para ganhar mais.
Depois... depois virá o caso de mais um aumento no preço do leite, uma vez que o
beneficiamento não será feito de graça...

16.07.46 pág. 01
- Os padeiros voltam novamente a solicitar o amparo do governo, com a extinção do
dinheiro arrecadado para manutenção dos empregados em padaria que se acham
desocupados por falta de farinha.
- Os consumidores de leite não devem pagar além da tabela e 2 cruzeiros, denunciando à
Prefeitura – dr. Clovis Matos – os infratores, que serão punidos.

16.07.46 pág. 03
Como aqui, os proprietários de vacarias do Rio de Janeiro estão pleiteando o aumento
do litro do leite para... Cr$ 2,60. Ante a resistência da Comissão de Preços, reuniram-se
os vendedores do precioso produto, e, segundo narra a imprensa Sali, “num juramento
solene, sob palavra de honra, declararam que, caso o governo não aceitasse a tabela
estabelecida por eles, deixariam de produzir leite a partir de 1º de Agosto, passando a
plantar batatas”. Como tolerância, deram à Comissão de Preços o prazo até o dia 26
deste mês para dizer sim ou não.
Aqui os proprietários de vacarias também já lançaram a sua ameaça. Ou conseguem o
aumento do preço do leite ou mandarão as vacas para o sertão, e o povo que se amole.

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A situação, pois é premente. Diante de tais ameaças, o governo está impotente, pois nem
pode requisitar o gado leiteiro, nem pode obrigar os donos de vacarias a tirar leite das
vacas.
Que fazer, nessa dura emergência? Realmente, que fazer?
OBS

17.07.46 pág. 03
CARTAS
A UMA MULHER BONITA
III
Heitor Cavalcante
Você tem vinte e cinco anos, e é, na verdade bonita. Seu rosto parece o rosto de um
anjo, e o seu corpo esbelto, flexuoso, elegante, ostenta o porte magnífico e soberbo de
uma deusa. Esses olhos negros e profundos brilham com uma luminosidade estranha,
misteriosa, dominadora. E a pele macia e rósea. Toda ela reçuma saúde, vitalidade,
sangue puro.
Todo um conjunto de encantos a faz admirada e querida. Você não ignora isto. Não é
tão boba. E se envaidece. Orgulha-se, creio eu.
Mais de uma vez já percebi o desdém, a altivez com que você trata as pessoas feias,
principalmente as mulheres, as mais idosas, aquelas que não apresentam um semblante
venusto como o seu.
Mas eu lhe peço que suspenda, por um momento, essa torturante azáfama que a
empolga, esse afá de vestidos e perfumes e penteados que lhe escraviza o corpo e a
alma.
Cinco minutos apenas é o que lhe peço. Detenha-se, por favor. Suspenda tudo isto e
pense na realidade. Pense que a beleza da carne é agradável, sim, porém efêmera. “Toda
a carne é como a erva, diz São Pedro, e a sua glória é como a flor da erva; seca-se a erva
e cai a flor”.
Só a beleza do espírito perdura. Só a virtude permanece. Vai ao fim da vida, por longa
que seja; atravessa as fronteiras da morte e sobe ao céu com a alma.
Você tem cinte e cinco anos. Daqui a outros vinte e cinco você será: se tiver morrido –
uma caveira, se ainda viver – uma velha.
O dilema é fatal. E não há outro desfecho para a sua vaidade. Fique certa, bem certa
disto. E trate de ir embelezando a sua pobre alma, que anda muito feia e esquecida,

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como qualquer Maria Borralheira, dentro desse lindo palácio do seu corpo, que é hoje
esplendor e vida e amanhã ruina e pó.
Se um espelho houvesse que refletisse, por milagrosa antecipação, o seu rosto de aqui a
vinte e cinco anos, você recuaria horrorizada, ou diante de uma caveira, lúgubre e
sarcástica, ou perante a face duma velha, murcha, encarquilhada, amarelecida e feia.
Ou você cuida, no delírio da sua vaidade, que a beleza física é eterna? Deixe-se de
tolices. Você é bonita, incontestavelmente. Mas não se iluda. Você como diz São Tiago,
“nada mais é que um vapor que aparece por um pouco e logo se desvanece”.
Está entendendo?
Só a beleza da alma triunfa do tempo e da morte.

17.07.46 pág. 04
PAGINA DO LAR
RESSUREIÇÃO
Dona Antônia suspirou. Levantou, por instantes, os olhos da costura e cravou-os num
Crucifixo suspenso na parece. Uma sombra dolorosa passou pelos seus olhos, seus
lábios moveram-se num balbuciar de prece, grossas lagrimas banharam-lhe as faces. A
candeia tremulante enchia de sombras, também, a apertada salinha. Entretanto não
escondia de todo, ao olhar indiscreto a sua disposição interior, uma rede, desbotada e
coberta de remendos, duas ou três cadeiras de onde já fugira o verniz, uma mesa coberta
por uma toalha de tacos, duas prateleiras com uns restos de louça e uma máquina sob a
janela em ruinas. Lá, em um canto ainda mais escuro, dois ou três tijolos, com umas
varas crepitantes e, sobre eles, uma panela a fumegar. Em meio a tanta pobreza um
asseio e uma ordem que edificavam.
As feições ainda moças de dona Antônia, embora cavada de sulcos profundos,
contrastavam singularmente com a cabeleira bordada de fios de prata. Eram tantos,
tantos...
A senhora novamente retoma a costura. Lá fora uma ventania medonha ajuda a chuva
na lavagem das ruas. Uma rajada mais forte, parece que abriu a porta da saída. Dona
Antônia levantou-se ligeira mas, parou aflita. Na soleira da porta, mal podendo sustenta-
se, estava o Anselmo. Enxarcado, embriagado, faminto, chegava ele ao lar. Um
instintivo movimento de asco, percorreu o corpo de dona Antônia. Vencendo, porém, o
seu terror, correu para aquele que mais parecia um fantasma da desgraça.

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- Anselmo, corra a trocar esses trapos molhados, no quarto te espera uma roupa enxuta,
e, quentinha, no fogo que se não apagou, a sopa espera aquele que esqueceu a hora do
jantar.
Tropeçando aqui e ali, Anselmo entra em sua casa. D. Antônia, procurando engolir o
soluço de dor que quer estalar do seu peito, corre, pressurosa e atenta, no preparo do
jantar. Anselmo volta. Toma, cabisbaixo e mudo, o que a mulher lhe oferece. Aos
poucos, vai desaparecendo do seu olhar aquela névoa de demente que o envolvia. Pouco
a pouco, vai erguendo a cabeça e aprumando o corpo maltratado que se curvara. Seus
olhos passam pela salinha acanhada e caem sobre a cabeça de dona Antônia curvada
novamente sobre a costura. Estremeceu e, passando as mãos calosas sobre os olhos,
tomas a sua observação. Estará sonhando? Apenas cinco anos. Cinco... que levara ao
altar a jovem que possuía a mais bela cabeleira da redondeza. E agora... o que fora feito
daquelas tranças sedosas da sua Antônia? Como visão acusadora, passou sob seus olhos
os últimos meses do seu viver.
A ambição desmedida que fizera abandonar seu trabalho por outro mais rendoso que o
tornaria igual a esses burgueses. Um chama de ódio apareceu em seu olhar. Novamente
olhou os fios de prata que se debruçavam com a sua dona sobre a riquíssima toalha de
linho que ela bordava.
Sim, sua Antônia era uma excelente bordadeira. Estudara num colégio das irmãs, na
capital, de onde viera cheia de beatices. Isso já passara, pois ele não lhe proibia a missa
e as devoções!?! Mas, proibira também... antes até da outra proibição, quando os dois
iam ainda para a igreja... Imaginem só! Anselmo, um grande camarada.... Sim proibira
que Antônia trabalhasse para fora. Tinha, agora, ele, o Anselmo. Trabalharia só, para o
lar que o Senhor lhe confiara. O Senhor! Seus olhos novamente passeiam pela salinha
tristonha e caem agora sobre o Crucificado. Que força arrastava-o para Ele. Oh!
Anselmo agora via tudo nem claro! “Senhor, senhor. Eu ainda creio, Senhor! Obrigado
pelo bem que me deste”!
- Antônia! Esses cabelos brancos... Perdoa!
- Ele te perdoou... Eu... eu te perdoo também!
ARRANJOS DE CASA
 Ensinando às Donas de Casa a fazer um jantar de aniversário com dicas de
pratos e receitas. (Clara Lucia)
MINHAS AULAS DE CORTA
 Continuação das aulas de corte (Clara Lucia)
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18.07.46. pág. 01
NO CEARÁ:
- Hoje reúne-se a Comissão de Preços, afim de tratar do caso do leite.
NO BRASIL:
- O governo paulista racionou o óleo comestível cabendo 200 gramas por mês a cada
pessoa.
- Os bancários gaúchos, animado pelos comunistas, estão protestando contra a medida
do ministro do Trabalho que decretou intervenções na federação dos Sindicatos dos
Bancários de Porto Alegre.
- O ministério reuniu-se para tomar medidas sobre a carestia da vida.

22.07.46 pág. 01
NO MUNDO:
- Londres ficou sem pão, tendo as mulheres londrinas comprado também toda a farinha
de trigo existente no mercado.
NO BRASIL:
- A greve ultimamente verificada na Estrada de Ferro Sorocabana foi instigada pelos
comunistas, conforme ficou apurado.
- Demitiu-se a Comissão de Preços de Porto Alegre por não querer impopularizar-se,
autorizando aumento nos preços.

22.07.46 pág. 02
COMISSÃO REGIONAL DE PREÇOS
Tabela provisória para a venda do leite
A Comissão Regional de Preços tomando conhecimento do Memorial que lhe foi
dirigido pelos proprietários de vacarias deste Município, deliberou, em sua sessão de
ontem, elevar o preço da venda do litro de leite para Cr$2,70 (dois cruzeiros e setenta
centavos), a domicílio, e Cr$2,50 (dois cruzeiros e cincoenta centavos) nos estábulos,
pelo prazo de trinta dias, a vigorar amanhã, 20 do corrente.
Fortaleza, 19/julho/1946.
Clovis de Alencar Matos
Secretário

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22.07.46 pág. 03
DE BUBUIA
Apareceu, hoje, pela primeira vez neste semestre, pão branco nas casas de família.
Houve uma espécie de surpresa agradável para a maioria.
Muita gente já tinha perdido o gosto do precioso alimento. Comia cuscuz de farinha de
milho, batata doce, macaxeira, quando não se resignava a consumir o produto roxo e
pesado que os padeiros vinham fornecendo, como feito de farinha de triso misturada
com a de mandioca. O bicho havia dias em que apresentava a consistência de um
“casse-tête”...
Daqui por diante, é de crer que não falte mais, tão radicalmente, o pãozinhos branco da
cidade, mesmo a cinco mil reis generalizados, contanto que não se instale o mercado
negro.
O Ceará, entretanto, sempre há de ser como o ferreiro da maldição: solucionando o caso
da penúria do pão, começa a vigorar a tabela do leite na altura incrível de dois cruzeiros
e setenta.
Bem disse O NORDESTE que a distinção entre comprar na vacaria e receber à porta de
casa não adiantaria. Eles cobrarão mesmo dois e setecentos, de qualquer modo. Se, de
quando em vez, não ficarem com os três cruzeiros, a título de falta de troco.
Ainda ontem, ao meio dia, ou aí perto, passava e frente à nossa casa, na Dom Manuel,
uma engomadeira humilda da vizinhança. Trazia, numa latinha, o litro de leite da sua
doente, que há anos vive entrevada, dentro de uma rede. Fora busca-lo na
vacariapróxima. Perguntamos quanto pagara. Resposta: dois e setecentos...
Aí está...
A.M.

22.07.46 pág. 08
AS DONAS DE CASA PROMOVEM UMA PASSEATA DE PROTESTO
CONTRA O PREÇO DO LEITE
A Sociedade das Donas de Casa está convidando todas as donas de casa e o povo em
geral para uma grande passeata de protesto contra o aumento do preço do leite.
Essa passeata deverá realizar-se no próximo dia 25, quinta-feira, às 15 horas, partindo
da rua Senador Pompeu, 973.

24.07.46 pág. 01

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NO BRASIL:
- A partir de 28 deste mês a cidade do Rio ficará sem leite, porque os proprietários de
vacarias não conseguiram aumento do preço do produto para Cr$2,60 o litro.

24.07.46 pág. 01
O LEITE VAI VOLTAR PARA 2 CRUZEIROS
A nossa reportagem foi seguramente informada de que a Comissão Regional de Preços
vai fazer o preço do leite baixar novamente, para dois cruzeiros o litro.
Na sua reunião de hoje, aquele órgão tomará essa resolução, em benefício do povo.

24.07.46 pág. 08
MAIS UMA TORPE EXPLORAÇÃO COMUNISTA
Protesto de moradores do bairro da Prainha
Pertence ao “programa” comunista de toda parte abusar do nome alheio, quando isso lhe
favorece os desígnios.
Nesse sentido, um dos seus expedientes mais queridos é forjar telegramas às mais altas
autoridades e dá-los como firmados PELO POVO PELOS TRABALHADORES, PELA
MULTIDÃO, PELOS LEGÍTIMOS REPRESENTANTES DA DEMOCRACIA e
coisas assim mirabolante. Desse modo é que eles “fazem opinião”, usurpando o nome
do povo humilde e bom, para as suas empreitadas escusas.
Na edição de sábado último do “Democrata”, saiu uma proeza das tais envolvendo a
laboriosa população do bairro da Prainha.
A esse propósito, recebemos, com pedido de publicação, o seguinte?
ABAIXO ASSINADO:
Nós, abaixo-assinados, moradores no bairro da Prainha, vimos de público protestar
contra um telegrama enviado pelos comunistas, à nossa revelia, ao senador Melo Viana,
abusando assim do nosso nome.
I – O referido telegrama, publicado no “Democrata”, tem duas inverdades: a) o seus
signatários Franciné Elpidio Ribeiro, Severiano José Nascimento, Samuel Fernandes,
Manuel Pereira Silva, João Alves são homens que n]ao existem naquele bairro, pois
ninguém os conhece; b) não deve haver nele centenas de assinaturas, de vez que
nenhuma pessoa que habita o bairro o assinou.
II – Toda a população do bairro da Prainha, reconhecidamente católica e portanto
anticomunista, não poderia, em hipótese alguma, compactuar com as tramoias

23
vermelhas. E, se ficou indignada, não foi contra as tais prisões, porque nada tem a ver
com os negócios de estados tão distantes, como São Paulo, porém ficou indignada
contra mais este acto covarde e traiçoeiro dos comunistas.
Eis o nosso protesto veemente.
Francisca Costa, Maria do Carmo Barbosa, Teresinha de Jesus, Maria Júlia Rocha,
Raimundo Rocha, Maria José Rocha. Josefa Martins Santos, J. dos Santos, Francisco
Berto da Costa, Raimundo dos Santos, Raimundo Rocha Matos, Francisco M. Silva,
Maria Graciola Rocha de Matos, José Raimundo Matos, João Rocha de Matos, José
Raimundo Lima, Maria Rocha Silva, Emília de Souza, Elisa Rodrigues Silva, Maria
Rocha Freire.

25.07.46 pág. 01
NO BRASIL:
- A farinha de trigo existente em Belém foi requisitada pela Comissão de Preços para
ser distribuída equitativamente com as padarias.
- Renunciaram seus lugares os membros da Comissão de Preços de Nova Hamburgo, no
R. G. do Sul, por não quererem sancionar o aumento no preço do pão e da manteiga.
NO CEARÁ:
- O leite voltou a ser vendido a dois cruzeiros durante os dias em que a Comissão de
Preços decidir sobre a possibilidade de baixar o custo do resíduo e forragem
- Os proprietários de vacarias declararam que, se até o dia 29 deste não tiver a Comissão
de Preços concluído seus estudos sobre o leite, ficara a cidade sem esse produto.
- A febre aftosa continua grassando no interior do Estado, o que deixa entrever venha a
subir o preço da carne, por falta de bovinos.

25.07.46 pág. 02
COMISSÃO REGIONAL DE PREÇOS
NOTA OFICIAL
Novo preço para o leite
A Comissão Regional de Preços, a despeito de ter chegado à evidência de que o litro de
leite não podia ser vendido a domicílio a menos de Cr$2,70 e nas vacarias a menos de
Cr$2,50 de acordo com o minucioso estudo feito pelos relatores do caso, mas, tendo em
vista a possibilidade de se conseguir uma redução nos preços das utilidades que estão
contribuindo para aquela majoração, resolveu restabelecer a título precário o preço

24
anterior daquele produto, de Cr$2,00 o litro, até que sejam completados os estudos em
andamento neste sentido.
Fortaleza, 24 de julho de 1946.
Clovis de Alencar Matos
Secretário

25.07.46 pág. 04
JUVENTUDE FEMININA CATÓLICA

PORQUE SERIA?!...
Gitirana
Maria Teresa viera passar as férias na fazenda de seus pais.
Contava 17 anos e cursava o 2º científico.
Entre a gente simples daquele recanto sertanejo sempre despertou comentários a sua
chegada. Por que impressionavam mal as novidades extravagantes que exibia com as
colegas pracianas. Desta vez, porém, o que se ouvia de todas as bocas era a mesma
observação: - Mas... como Maria Teresa está diferente!...
Bem atrapalhado ficou o velho Aniceto quando, apoiado em seu bastão, descia com
dificuldade uma ribanceira e o veio ajudar a altiva filha do fazendeiro. Seria ela mesma
que estava a lhe estender as mãos fidalgas, dirigindo-lhe a sua palavra amável: - Como
vai, Seu Aniceto?
Apareça lá em casa, pois trouxe um ótimo remédio para o seu reumatismo.
A neta de sinhá Delmira pensou ser caduquice da avó, já octogenária, a história que lhe
contou.
Enquanto ela lavava roupa no rio, Maria Teresa aparecera em sua chouparia Sentara
naquele banco grotesco... Conversara com a velha...
Pedira-lhe notícias da neta... E, no se despedir lhe entregara um rosário novo, dizendo-
lhe: - É para a senhora ter gosto de rezar, mas... se lembre de mim.
Deveras se surpreendeu a Cota, filha do vaqueiro, quando a sua companheira de
infância, que sempre a tratara com tanta arrogância e desdém, batendo-lhe ao ombro a
sorrir, lhe disse: - Sabe, Cotinha, que tive umas aulas de corte e costura? Estou uma
modista de fato!... Se quiser ter uma prova, mande-me o seu vestido para a nossa festa
de S. João, que o farei com todo o gosto. Está certo, sim?

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E como você é muito jeitosa, não gostaria de me ajudar a fazer umas roupinhas para os
pobres?
Que espanto não teve o Toinho, aquele rapazito, carregador de água, ouvindo da filha da
patroa, acostumada a lhe dar ordens ais gritos, o delicado convite: - Você já está um
homem Tonico, e nunca teve tempo de aprender a ler e a escrever. Entretanto, sei que é
inteligente, e lhe garanto que, se vier todas as noites, lhe ensinarei direitinho. Dentro em
breve, saberá escrever cartas bonitas...
Também aprenderá a rezar para ser feliz. Você quer mesmo?
E em casa, como adotava o lema de “cada coisa no seu lugar”, tinha tempo para tudo.
Até para ensinar a cozinheira a preparar novos quitutes, enquanto lhe contara histórias
de Sta. Zita, mostrando-lhe como podia transformar o trabalho em oração.
Não se continha de alegria a avozinha cuja luz se apagara nos olhos, ao ouvir a neta a
leitura de livros que tanto conforto lhe davam.
A mudança de vida em Maria Teresa foi percebida até pelo irmãozinho de 9 anos que
não mais foi tratado com azedume e irritabilidade pela manda.
Também à mãe se estendia a sua influência. Quantas vezes, abraçada ao seu pescoço,
ela, docemente, a aconselhava! Vendo-a repreender asperamente a empregada, dizia-
lhe, à parte:
- Ora, mamãezinha, Josefa não tem culpa de ser ignorante! Ensine-lhe caridosamente os
serviços, que ela os farpa a seu cintento.
- Seria um sonho... pensava consigo o Coronel Faustino, ante a revelação surpreendente
da filha, cuja vontade inflexível ele jamais conseguira domar e cuja repugnância pela
vida sertaneja era para ele um espinho cruciante. Beijando-lhe a fronte Maria Teresa
comunicara-lhe: - Refleti bem, papaizinho, e compreendi que devia renunciar ao meu
plano de ser uma doutora sabichona da capital. É preciso, antes, que eu seja a professora
da sua fazenda. Há tanta ignorância a dissipar!... Tantas trevas a carecerem de luz!... De
mais, o senhor e a mamãe necessitam da minha assistência. Não pense, no entanto, que
me vou sacrificar. Já estou tomando gosto pela vida no campo! Cada qual faz o seu
ambiente! E, depois, acho que acabo casando com um fazendeiro... Porém... só se
encontrar um tão com quanto o meu papai. Concorda?
Após uma pausa, beijando-o mais uma vez, acrescentou: - Uma condição somente exijo.
É a construção de uma capelinha, permitirá ao nosso povo, tão abandonado de
assistência religiosa, o conforto da visita de Nosso Senhor de quando em vez... Já posso
começar a fazer as alfaias não é?

26
De todos os aspectos da nova vida de Maria Teresa, o que mais admirava era o facto de
reunir , aos domingos, no alpendre de sua casa, os moradores de “Tapajós”, aqueles
mesmos matutos que dantes não tolerava, para lhes dar, após o terço, a palavra de Nosso
Senhor, em substituição à missa. E, no fim, abria o rádio para os divertir. Sim, Maria
Teresa não perdera o amor às diversões. Vez por outra continuava a sua casa a receber
festivamente as famílias das fazendas vizinhas. Mas... por que não trouxera Maria
Teresa, este ano, como nos demais, aqueles rapazes granfinos e garotas pedantes que
transportavam a vida de Hollywood para o sertão? Uma colega apenas a acompanhara.
Era uma jovem meiga e simpática, porém pálida e franzina, muito contrastando com a
vivacidade e robustez de Maria Teresa. A precariedade de sua saúde tolhia-lhe a
participação nas atividades da caridosa companheira que a trouxera para se robustecer
no clima sertanejo.
Era, todavia, Angelina quem derramava o azeite da prece e do sofrimento na lambada
do apostolado daquela que conquistara para a milícia do seu Rei.
Qual seria o segredo daquela transformação na vida de Maria Teresa?
Ninguém suspeitara, só Maria Tereza o sabia: Fôra a sua entrada na Acção Católica.
Doravante, tomara por ideal a glória de Deus e a felicidade do próximo.

O QUE A J.F.C REGISTRA...


A visita honrosa à nossa sede dos médicos congressistas drs. Celestino Borroul, Heitor
Cirne Lima, Roberto de Almeida Cunha e Josias Vaz de Oliveira, que responderam a
nossa homenagem com palavras de estímulo e orientação.
A visita de uma comissão da J.F.C. ao Exmo. Snr. Bispo de Mossoró, D. João Batista
Portocarrero Costa, por ocasião da sua estada em nossa terra.
A reabertura das aulas do Curso Superior de Religião às 19,30, da terças-feiras, nos
altos do Edifício Nordeste.
A tarde de recolhimento, que se realiza aos terceiros domingos, às 14 horas, no Colégio
da Imaculada Conceição.
A entrega ao Exmo. Snr. Arcebispo de 95 roupas para os pobres, estando sendo
preparada nova remessa.
SOCIAIS:
A 2 do corrente aniversariou Maria Estefania Salgado Campos, nossa mui estimada
companheira que se acha atualmente no Rio.
- A 17 decorreu o aniversário de Lenôa Freire da nossa sede.

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- E hoje registramos a dará natalícia de Maria Carmozita Ramos, zelosa presidente
paroquial da J.F.C. no Curato da Sé.
Para todas, com as nossas preces, um abraço fraternal.
- A 9 transcorreu o natalício de Maria Edelvita Bessa de Carvalho, dedicada secretária
arquidiocesana, que recebeu de suas companheiras e pessoas amigas uma expressiva
manifestação à noite em sua residência.

COMO COMUNICAR JESUS ÀS ALMAS?


Quando Cristo habita numa alma, esta sente a necessidade de se dar, de fazer o bem de
comunicar Jesus às almas.
De que maneira?
Falando de Deus, de sua Igreja da doutrina de Cristo. Exortando a receberem os santos
Sacramentos: a santa Comunhão, para unir-se com Jesus; a Confissão, para reconciliar-
se com Deus, o Baptismo, para que os recém-nascidos se tornem, quanto antes, cristãos,
livre da mancha do pecado original; o casamento religioso, para que a união dos esposos
e a prole sejam reconhecidas e legitimadas também pela Igreja e abençoadas por Deus.
Comunicar Jesus às almas é trazer a alegria, o conforto aos atribulados desanimados.
Comunicar Jesus – “O Príncipe da paz” – às almas é contribuir para a concórdia e paz
entre os membros da família.
Ainda que não sejamos investidas do mistério da palavra, entretanto, mesmo sem falar,
podemos ser uteis ao nosso próximo, pois “as palavras ensinam, os exemplos arrastam”.
As almas não se salvam só à custa de pregações, mas também com mortificações, com
penitências, com orações e bons exemplos.
Não está o reino de Deus nas palavras, mas sim na virtude”, escreve São Paulo na
primeira epístola aos Coríntios (4-20).

25.07.46 pág. 08
SÓ O GOVERNO PODERÁ AGIR EM FACE DA ATITUDE DOS
PRODUTORES DE LEITE

O POVO DEVE EXIGIR O CUMPRIMENTO DA TABELA OFICIAL NOS


CAFÉS, NÃO PAGANDO ALÉM DO PREÇO
Consoante havíamos anunciado, a Comissão Regional de Preços, reunida
extraordinariamente ontem, resolvei voltar a 2 cruzeiros o preço do litro de leite,

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enquanto se concluem os estudos definitivos sobre o caso. Conhecedores dessa decisão,
os produtores de leite publicam hoje uma nota nos jornais, anunciando que, a partir do
próximo dia 29, segunda-feira, se considerarão desobrigados do fornecimento do
produto. Vai, assim o nosso povo ficar privado do precioso alimento, facto cujas
perigosas consequências não são difíceis de prevenir.
Em face dessa atitude, só o governo poderá agir, não tendo a Comissão de Preços
atribuições para tanto. De qualquer forma, porém, vamos aguardar os acontecimentos.
Parece-nos incrível que não se encontre uma solução satisfatória, para que se evitem
medidas extremas.
OS PREÇOS NOS CAFÉS
Na mesma sessão de ontem foi organizada uma tabela para os produtos vendidos nos
cafés da cidade. Para o cumprimento da mesma, a C.R.P. recomenda o próprio concurso
do povo, principal interessado no caso. Ninguém deve pagar mais do que o que ficou
marcado, exigindo o cumprimento do que foi determinado pela autoridade competente.
Para o maior êxito dessa recomendação, são obrigados os donos dos referidos
estabelecimentos a colocar, imediatamente, em local bem visível, a nova tabela, com o
visto da CRP.

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