Você está na página 1de 3

Reforma sanitária brasileira (RSB): expressão ou reprodução da revolução passiva?

Autor: Paim - publicado em 2017.


Resumo:

O conceito de Revolução Passiva é cunhado por Antônio Gramsci (Itália


1891-1937) para análise das transformações políticas no contexto italiano e diz
respeito à ausência de uma iniciativa popular unitária em processos de
mudança. São espécies de “restaurações” que acolheram exigências vindas
de baixo, porém, não foram protagonizadas por essas camadas. Gramsci
atribui um protagonismo dos intelectuais e não das classes populares nos
processos de Revolução Passiva.

Revolução Passiva é uma categoria que começa a ser utilizada para pensar
outros contextos históricos e, não somente, o contexto italiano. É utilizado para
pensar a realidade de outros países que modernizaram o Estado através de
reformas e/ou guerras nacionais.

Revolução Passiva: enquanto conceito geral, podemos dizer que é um


processo de transformação, mas que excluiu a participação das forças
democráticas e populares dos novos blocos de poder que se formam. Ex: PT
quando assume o poder no Brasil. Ou seja, há mudanças, mas não aquelas
observadas em movimentos políticos revolucionários.

Nessa perspectiva, existem 4 tipos de Mudança Social possíveis: Reforma


Parcial, Reforma Geral, Movimentos Políticos Revolucionários e Revolução do
Modo de Vida. Nessa divisão, a Revolução Passiva estaria distante dos
Movimentos Políticos Revolucionários e da Revolução do Modo de Vida e,
poderia ser alocado entre a Reforma Parcial e a Reforma Geral.

Importante entender que as interpretações do conceito de Revolução Passiva


difere entre autores. Alguns o pensam de forma mais positiva e outros de forma
mais negativa.

Já o conceito de Transformismo está associado à ideia de Revolução


Passiva, diz respeito a processos de unificação de agentes ou partidos políticos,
quando estes mudam de lado e reforçam uma posição conservadora. Ou seja,
refere-se a um processo de cooptação ou assimilação pelo bloco do poder, que
pode cooptar forças rivais das próprias classes dominantes ou até de setores
das classes subalternas(!!!).
Originalmente o Transformismo foi utilizado para pensar a vida parlamentar e
Gramsci elaborou duas modalidades. Transformismo Molecular e Transformismo
de grupos radicais inteiros. O primeiro refere à assimilação de agentes e o
segundo de grupos inteiros.
Exemplos de Revolução Passiva (ou Revolução-Restauração) no Brasil:
quando as mudanças são realizadas pelo alto, pelas próprias classes dirigentes.
Quando as tentativas dos de baixo são esmagadas ou deturpadas pela história
oficial. Por ex. a Independência não veio de Tiradentes, mas do grito do Imperador.
A Independência embora traga algumas transformações, não altera o modelo
agroexportador escravista; a abolição pela princesa etc.
Lula e Dilma no Brasil, um sindicalista, líder operário e uma ex guerrilheira
que realizaram “uma política de direita com homens e frases de esquerda”
ilustrando o transformismo de grupos radicais inteiros. Uma espécie de
modernização conservadora. O argumento do texto é que esse panorama
comprometeu políticas universais como o SUS.

A RSB nasce do Movimento Social, mas é parcialmente incorporada


pelo Estado. Enquanto movimento, a RSB defende a democratização da saúde
como parte da democratização da sociedade, mas como é campo de disputas,
nem todas as perspectivas envolvidas são assim.
Apesar de todas as perspectivas envolvidas, as condições concretas de de
implantação da RSB reduziram-se à uma Reforma Parcial setorial. (!!!)

Desse modo, os conceitos de Revolução Passiva e Transformismo podem


ser usados para pensar a Reforma Sanitária Brasileira.

Questão: Por que a RSB se reduziu a uma Reforma Parcial?

A investigação da relação entre Revolução Passiva e Reforma Sanitária


Brasileira possui distintas leituras:

Primeira, a história do próprio Brasil não é marcada por grandes rupturas,


mas por mudanças graduais, vindas do alto e com processos conciliatórios entre
antagonistas. O que se refletiria na RSB.
Segunda, a ideia de Revolução Passiva poderia ser utilizada para explicar as
promessas não cumpridas da RSB, ou seja, houve um constrangimento externo.
Terceira, a RSB tem seu próprio processo de Revolução Passiva específica
acompanhada do Transformismo de parte de seus intelectuais.
Quarta, apesar de ações esporádicas de mudança, não houve estagnação.
Quinta, o chamado portador da antítese ainda que imobilizado politicamente
não estaria condenado a inércia.

Primeira e segunda leitura enfatizam condicionamentos histórico-estruturais.


As três últimas não se reduzem a constrangimentos externos. Nesse sentido, o
autor defende a hipótese de que a RSB não se trata somente de um reflexo do
modo como a Revolução Passiva se dá no interior da sociedade brasileira. Mas de
que a reprodução da Revolução Passiva é tão grande dentro da RSB que ela
chega a delinear uma “Revolução Passiva Específica” que precisa ser
investigada. (!!!!)

Conclusões (!!!)
Diferentes projetos permanecem em disputa no campo da RSB. Esses
projetos podem manter ou superar a Revolução Passiva.

● Projeto Mercantilista ou Expansionista = saúde como mercadoria,


defende interesses de empresas médicas, indústria farmacêutica,
planos de saúde etc.

● Projeto Revisionista ou Racionalizador= segmentos que defendiam


o sus anteriormente, mas que diante dos dilemas preferem flexibilizar
seus princípios e diretrizes para ajustá-los à ordem econômica e
interesses do Estado. Prioriza eficiência em detrimento da qualidade
e da garantia ao direito à saúde.

● Projeto da RSB= admite pluralidade de ideologias, discussões e


práxis mas se distancia do projeto mercantilista e racionalizador. É
legitimado pela Constituição.

Reforma Sanitária no Brasil e na Itália


Diferenças - Itália contou com a direção política do Partido Comunista Italiano e
base social do movimento operário / Brasil - apoio débil da esquerda, além de
enfrentar o “fantasma da classe ausente”.

Aproximações - partidos políticos que se opuseram à Reforma foram responsáveis


pela sua implementação, no Brasil a lei orgânica de 90 foi sancionada pelo Collor.

Você também pode gostar