Novamente, podemos dizer que aqui há o funcionamento discursivo da (dis)simulação que é
determinante na fabricação do consenso de que todos sabem o que é diversidade, democratização, equidade, ao mesmo tempo em que se tampona o real da precarização das condições de ensino-aprendizagem: salas lotadas, “inclusão” de alunos com demandas de atendimentos especializados e a ausência de profissionais para acompanhá-los. p. 92
É pela necessidade de uma dupla negação que se dá o processo de produção de sentidos do
enunciado “preparação básica para o trabalho e a cidadania”, em que “preparação”parece estar substituindo “formação”. Esse deslizamento de “formação básica” para “preparação básica” está sustentando a denegação que é produzida nessa formulação que trazemos como recorte para análise. Primeiramente, a negação se constitui pela resposta/ articulação com um saber lateral em forma de denegação (“... o que não significa a profissionalização precoce ou precária”) e com isso fica o efeito de sentido do não dito presente no dito: há a questão da profissionalização precoce (de quem? que jovens?). Essa denegação traz junto a afirmação de que existem necessidades do mercado de trabalho que devem ser atendidas, mas isso é modalizado pelo uso de “imediatas”, isto é, não se trata das necessidades imediatas, então de que necessidades se trata? p. 93
É por um jogo de denegações, de (dis)simulação das próprias evidências que a discursividade
coloca, que são produzidos efeitos de consenso de relações entre “o trabalho e a cidadania”, de “trabalho” enquanto “ocupação” (e não necessariamente profissão) possibilitada pelo “projeto de vida”. p. 94