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A Responsabilidade De Ser Pai Ou Mãe De Santo

Zélio de Moraes, Edmundo Ferro e Fernando Guimarães: exemplos a ser seguidos.

Há pessoas que têm a ilusão que para ser pai ou mãe de santo basta ter um cargo, outros nem
se valem de cargo e acham que basta fazer a obrigação do sétimo ano (quando se tornará uma
ebomi) para abrir um terreiro.

Infelizmente o que mais se vê por aí são pessoas que tem sim o cargo e abrem um terreiro,
porém não estão preparadas para exercer tão importante função, e acabam se perdendo e
fazendo com que muitos também se percam.

Quando você se torna uma yalorixá ou babalorixá você passa a ser responsável pelos orixás e
também pela vida dos seus filhos, pois a cada problema ou dúvida é na casa de santo que um
filho procura resposta. Por desilusão com casas de santo mal administradas, muitas pessoas
abandonam a religião e não querem nunca mais saber, pois a decepção faz com que desistam
e sigam outro caminho.

Não basta cuidar do Orixá, é preciso cuidar também da pessoa, pois todo Babalorixá e Yalorixá
também precisa ser um pouco psicólogo para poder acolher e aconselhar os seus filhos.
Precisa aprender a lidar com os defeitos e qualidades de cada um, pois os filhos de santo
precisam sim servir, mas é ao Orixá.

Conhecimento, postura, humildade e desprendimento, sem essas características não é possível


chefiar um terreiro, seja ele de Umbanda ou de Candomblé, pois quando a vaidade chega o
espiritual acaba dando lugar ao interesse, à ganância e é por esse motivo que tantas pessoas
abandonam a religião, pois depois que ingressam na casa, percebem que toda aquela atenção,
carinho e cuidado deixa de existir, o que causa grande decepção. Por desilusão com casas de
santo mal administradas, muitas pessoas abandonam a religião e não querem mais saber, pois
a decepção faz com que desistam e sigam outro caminho.

Costumo dizer que o Orixá é puro, e nem todos estão preparados para lidar com essa pureza,
muitos se valem de cargo, tempo de santo e conhecimento para humilhar e destratar as
pessoas da casa. Esquecem que também já foram iaôs, abiãs e também já precisaram de uma
ajuda para tirar dúvidas e também para aprender e pagar as suas obrigações. É muito comum
fazer o santo com uma pessoa, e dar obrigação com outra, pois há Yalorixás e Babalorixás, que
não sabem dar a assistência necessária para os seus filhos, e por não ter o conhecimento
necessário “brincam” com a cabeça do yaô, fazendo coisas erradas e prejudicando ao invés de
ajudar.

Existem muitos pais e mães de santo que parecem artistas, costumam deixar as pessoas
esperando para falar com os mesmos por horas e nunca podem atender um filho, a menos que
tenham algo a receber em troca. Procure sempre casas sérias, que realmente honrem a
religião, porém não se humilhe para ninguém, respeite a hierarquia e as regras da casa, isso é
primordial, mas não se esqueça que tratar bem e respeitar também é um dever.

O Sacerdócio de Umbanda

O que é Sacerdócio? – Quem é o Sacerdote de Umbanda? – Sacerdócio Vertical e Horizontal


O Xamanismo é a expressão primeira da religiosidade do ser humano, é uma expressão natural
a do Xamanismo primitivo. O Xamanismo mostra que a expressão do êxtase, do transe
religioso, do estado alterado de consciência, vai muito além daquilo que classificamos e
rotulamos como mediunidade.

O Xamã é alguém que se torna Xamã por dois caminhos, ele é um homem normal, comum, que
passa a ter dificuldades emocionais, espirituais, ele vê coisas, ele sente coisas e muitas vezes
ele fica até doente com doenças que não têm explicação, isso se conhece por doença
Xamânica.

Em algum momento, ele se auto cura, ele tem uma visão, um encontro com um espírito ou
com uma divindade, com um ser, com uma força, com um mistério, ele passa a ser portador
desse mistério, se torna um Xamã, isso é o Xamanismo de investidura vertical.

Ele se torna Xamã pelo contato direto com o transcendente, com aquilo que vai ser sagrado na
vida dele. E há o preparo do Xamã que é feito por outro Xamã, o Xamã mais velho prepara um
Xamã mais novo para dar continuidade a uma linhagem Xamânica.

Na história da humanidade houve homens, na origem do que chamamos de história,


civilização, já havia homens que tinham essa expressão e se tornavam a referência espiritual
para sua comunidade, para sua tribo, para aquele coletivo, ali ele se torna a expressão. Esse
homem se tornava a expressão da espiritualidade do que chamamos de religiosidade porque
mesmo que não houvesse uma religião organizada, ali estava a fé daquele grupo.

Esta é a sua religião, mesmo que não tenha nenhuma organização, passa a existir um conjunto
de conhecimentos, de informações baseadas na prática desse Xamã que começa a explicar
quem é o sagrado quem é Deus quem é o transcendente, como ele se manifesta.

Nesse momento, ele começa a organizar as coisas e passa a ser o representante da


espiritualidade, não só da espiritualidade como também o Xamã, ele era, ao mesmo tempo, o
médico, o filósofo, o mestre, o professor, uma figura importantíssima que até hoje vemos em
algumas culturas tribais que ainda sobrevivem.

Esse Xamã é um líder espiritual, é um sacerdote que foi investido de poder de forma vertical,
ele foi preparado de uma forma direta, por uma experiência transcendente ou de forma
horizontal quando outro lhe preparou. E com o tempo, a experiência dos Xamãs, dos místicos,
desses homens que são como profetas, passou a ser organizada, a sua experiência é o
conjunto de informações que eles coletaram acerca de uma experiência forte para conduzir a
sua comunidade e isso passou a ser organizado na forma daquilo que chamamos de religião.

E pela investidura horizontal alguém, que viveu isso, preparou outra pessoa, que preparou
outra e assim sucessivamente, assim surgiu a hierarquia sacerdotal no Judaísmo que é descrita
na Bíblia, onde Moisés, que tem o contato direto com Deus – da forma como está descrito no
Velho Testamento – prepara Arão e coloca a responsabilidade da descendente de Arão – irmão
de Moisés – que constitui os descendentes da tribo de Levi, de terem a investidura sacerdotal.

Em Levíticos estão os detalhes do que é pertinente ao sacerdócio sobre a investidura


sacerdotal e como preparar um sacerdote, lá está escrito ainda como um sacerdote Judeu
deve se vestir, está escrito nos mínimos detalhes, como é confeccionada a roupa do sacerdote,
os detalhes da roupa, o sacerdote Judeu deve usar um “éfode” – éfode é um peitoral, um
tecido que vai ao peitoral e nesse vão incrustradas doze pedras entre elas estão o ônix, o
quartzo e algumas outras pedras, sendo que, cada uma das doze pedras simbolizava uma das
doze tribos de Judá e ele usava mais duas pedras nos ombros, que são aquelas pedras
chamadas de Urim e Tumim que é algo como uma pedra branca e uma pedra preta que são
colocadas dentro de um saco e esse é o oráculo do sacerdote, quando ele não sabe se a
resposta é sim ou não, ele reza a Deus e pede para que Deus lhe dê a resposta certa, ele busca
a resposta tirando uma pedra daquele saco, se a pedra é branca a resposta é sim e se a pedra é
preta a resposta é não ou vice e versa.

Esse sacerdote tem um oráculo que são duas pedras para responder sim ou não, tem um efode
de doze pedras que vai ao seu peito, tem uma roupa sacerdotal, ele passou por uma
investidura, na Bíblia, no Velho Testamento está descrito como é feita a investidura desse
sacerdote.

Jesus é tido como sacerdote, não da linhagem de Judá, mas da linhagem de Melquisedeque
porque na Bíblia também está escrito que Abraão encontra um sacerdote do Altíssimo e seu
nome é Melquisedeque, quer dizer: O rei justo.

Abrahão encontra esse sacerdote Melquisedeque que não tem pai, nem mãe, na linhagem
sempre aparece quem é o pai e quem é a mãe, Melquisedeque aparece sem pai, nem mãe,
então, ele pode ser um Anjo, ele é um sacerdote do Altíssimo.
O sacerdócio Judaico é um sacerdócio, o Cristão é outro, o sacerdócio Cristão segue Cristo.
Cristo não é da tribo de Judá, ele não usa as roupas sacerdotais, não passou por uma
investidura sacerdotal, mas ele é reconhecido como descendente da linhagem de
Melquisedeque que é uma linhagem que não tem sacrifício animal porque Melquisedeque
senta-se junto com Abrahão e ele comunga do pão e do vinho com Abrahão e não faz sacrifício
animal, é de uma linha não cruenta.

Jesus é de uma linhagem sacerdotal não cruenta, ele é um Judeu da linhagem de


Melquisedeque que não é uma linhagem consanguínea, é uma linhagem independente da
tribo. Jesus é um leão de Judá, ele é da tribo de Judá, mas os seus descendentes, os seus
sacerdotes, da sua hierarquia, ou seja, os doze apóstolos, são de qualquer tribo, não importa
qual é a tribo.

No Cristianismo, a hierarquia sacerdotal, a linhagem sacerdotal, já é diferente do Judaísmo


clássico, do Judaísmo tradicional e ortodoxo, existe outro sacerdócio.

E a igreja Católica vai criar a sua investidura sacerdotal, há uma forma, que Roma criou, de dar
a investidura sacerdotal que é uma investidura horizontal, um sacerdote prepara outro
sacerdote, é outra leitura.

Jesus era um rabino, um mestre, mas não tinha investidura sacerdotal, mas passa a ser
sacerdote da linhagem de Melquisedeque. O rabino deve ser respeitado como sacerdote
enquanto líder religioso.
Todo médium de Umbanda já é um sacerdote em potencial, mas ele será o líder da
comunidade quando for o dirigente espiritual e ele é um sacerdote quando assume a
responsabilidade do Templo e da comunidade.

Temos de entender o que é o sacerdote a rigor, um líder religioso é visto como um sacerdote
porque ele está à frente de uma comunidade. Agora, eu tenho o sacerdócio como um ofício
por aqueles que passaram por uma investidura sacerdotal, muitos passam por uma investidura
sacerdotal, são preparados como sacerdotes, por exemplo, no caso dos padres. Há padre que
foi ordenado padre, mas não está à frente de nenhuma igreja.

Aquele que foi ordenado como padre, que foi preparado para ser padre – para ser padre, meu
amigo, você tem que estudar muito, tem que se formar em Teologia, tem que ter cultura, tem
que ter conhecimento, tem que ter embasamento para se ordenar padre, você tem que saber
o que está fazendo, a pessoa se ordenou, ela recebeu investidura sacerdotal e que naquela
tradição Católica ele é chamado padre, ele é um sacerdote.

Mesmo que ele não seja um líder de nenhuma comunidade, ele já é um sacerdote porque ele
já foi ordenado, mas não é líder de nenhuma comunidade porque ele não está à frente de
nenhuma, não é responsável por nenhuma igreja, mas ele é um sacerdote que foi ordenado.
Agora, aquele que está à frente de uma comunidade tendo passado ou não por uma
ordenação horizontal é um líder religioso, logo, é um sacerdote. Por que essa conversa toda?
Porque existe uma enorme discussão de quem é sacerdote ou quem pode ser sacerdote.

No Xamanismo antigo, o representante da comunidade é um sacerdote que recebeu


investidura direta do astral.

No Catolicismo, é sacerdote aquele que foi ordenado sacerdote.

No Islã, o Sheik não passa por uma ordenação de sacerdócio de templo porque a Mesquita é
uma casa de oração e ele não é ponte, mas ele é um sacerdote enquanto líder religioso.

O Rabino é a figura do sacerdote enquanto líder religioso, mas tecnicamente ele não teve uma
investidura para estar à frente do templo porque a Sinagoga é uma casa de oração. Mas, ele é
o líder religioso daquele povo, então, ele é visto como um sacerdote.

Esse é o ponto, na Umbanda, quem é sacerdote?

Vamos começar com Zélio de Moraes. O que aconteceu com Zélio de Moraes? Ele tinha dores
pelo corpo, o Zélio teve todos os traços da doença Xamânica, de uma mediunidade
descontrolada, ele já incorporava antes de descobrir a sua mediunidade, passava mal, ficou
doente, foi levado para um padre exorcizar, foi levado para um médico psiquiatra, ele foi
levado a benzedeira, foi para um Centro Espírita, incorporou um espírito e o espírito disse
“amanhã eu vou criar uma nova religião” no dia 14 de novembro de 1908. Zélio era um jovem
rapaz que não sabia o que fazer da sua mediunidade.

No dia 15 de novembro, incorporado nele um Caboclo, anunciou uma religião, no dia 16 de


novembro, o Zélio de Moraes estava inaugurando, incorporado, um Templo, no dia 16 de
novembro o Zélio já estava como sacerdote da Umbanda – olha que loucura – por uma
ordenação vertical, os espíritos fizeram de Zélio de Moraes o sacerdote da Tenda Espírita
Nossa Senhora da Piedade, ali ele preparou outros sacerdotes e é o fundador da religião, que é
o primeiro Umbandista e criou o primeiro Templo.

Por qual preparo Zélio passou? Zélio de Moraes não foi raspado, não foi burilado, não deitou,
não fez coroação, não fez nada disso porque ele não vinha do Candomblé, a sua mediunidade
eclodiu, ele veio tendo manifestações mediúnicas que é aquela história “quem não vem pelo
amor, vem pela dor”, Zélio estava vindo pela dor e no momento que ele entra no Centro
Espírita, sua mediunidade eclode, o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorpora e fala “Estou
aqui. Estou dando minha mensagem e tenho uma missão de trazer uma nova religião, esse
rapaz vai estar à frente”.

Por qual preparo sacerdotal de investidura horizontal o Zélio passou? Nenhum. Horizontal?
Não tinha alguém mais velho na Umbanda para prepará-lo, ele foi preparado direto do astral
por investidura vertical.
Zélio preparou médiuns, como é que Zélio de Moraes preparava médiuns? Fazendo
desenvolvimento mediúnico, é simples.
E aí, quando o médium, por meio do desenvolvimento mediúnico, mostrava aptidões ou o
Zélio reconhecia a missão de líder religioso, de sacerdote, ele era distinguido como dirigente
espiritual, não tinha o conceito de hierarquias sacerdotais, mas Zélio preparou médiuns na
qualidade de dirigentes para tomar conta de outros Templos, outras Tendas, só o Zélio fundou
sete Tendas além da Tenda Nossa Senhora da Piedade e além da Cabana de Pai Antônio, Zélio
fundou sete Tendas, no total sete Tendas com a Tenda Nossa Senhora da Piedade, sete Tendas
sob a ordenação do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Mas, esse preparo não vinha do Candomblé, esse preparo não veio do Espiritismo, Zélio os
preparou mediúnicamente e eles tinham uma missão.

Quem é, afinal, independente da história de Zélio de Moraes, do Xamanismo, do Catolicismo,


do Islã, do Budismo, do Hinduísmo – quem é o sacerdote ou quem pode ser sacerdote de
Umbanda e na Umbanda?

Respondemos essa pergunta, pelo menos, em três instâncias: quem é um sacerdote perante a
lei independente da religião ou do segmento religioso? Perante a lei, o Estado, quem é que
valida a condição do sacerdote, do sacerdócio perante as nossas leis? Legalmente falando
quem é sacerdote?

A resposta é essa: legalmente falando, é sacerdote o líder religioso ou o ministro religioso que
está à frente de uma comunidade devidamente registrado em cartório.

Essa comunidade, que é uma comunidade religiosa, deve ter um estatuto e nesse estatuto, os
membros da comunidade fazem saber a quem possa interessar que fulano de tal é o
sacerdote, o líder religioso, o ministro religioso dessa comunidade, então, ele é um sacerdote
reconhecido por essa comunidade e isso é registrado em cartório, a partir desse estatuto, essa
comunidade faz saber ao Estado de forma legal que essa pessoa é sacerdote, ou seja, é o líder
religioso, o responsável espiritual por aquela comunidade.

Legalmente é esse estatuto registrado em cartório que diz quem é o sacerdote, que é um
sacerdote independente da religião. Quem é o sacerdote perante a sua comunidade no
conceito da Umbanda? É o dirigente espiritual. O dirigente espiritual use ou não essa
terminologia, é um sacerdote.

O seu dirigente, seu padrinho, sua madrinha, seu Babá, sua Babá, o comandante de Terreiro, o
cacique da sua Tenda, seu Babalaô, Babalorixá, use a palavra que quiser, o pai de santo, a mãe
de santo, o pai no santo, a mãe no santo, o pai espiritual, use a terminologia que quiser, esse
dirigente espiritual é o sacerdote daquela comunidade.

Qual comunidade? A comunidade que frequenta o Templo onde ele é o sacerdote, o líder.

E perante o astral quem é sacerdote? Perante o astral é sacerdote aquele que encarnou com a
missão sacerdotal ou durante a encarnação recebeu a incumbência da missão sacerdotal.

E como é que a gente sabe que é um sacerdote reconhecido pelo astral? É simples, ele está
incorporado, o seu Caboclo informou que ele tem a missão de sacerdote, quem faz validar
isso? O seu Caboclo, o seu Guia incorporado, os seus Guias fazem valer a sua missão sacerdotal
perante o astral.
Quando o astral reconhece que você tem a missão de sacerdote, você é visto como sacerdote
perante o astral.

Há quem não recebeu investidura sacerdotal ou não é reconhecido pelo astral e quer abrir o
Terreiro, abre, mesmo porque, para abrir um Terreiro, perante a lei, é só fazer o estatuto e
registrar em cartório, mas e depois, vai fazer o quê? Muita gente gostaria de ser sacerdote e
existe curso de sacerdote, mas o curso de sacerdócio ministrado pelo saudoso Rubens
Saraceni, e que pai Ronaldo ministra e tantos outros ministram e ministraram esse curso não
faz de você um sacerdote porque por mais que você receba todo o preparo sacerdotal, na
Umbanda, se você não incorporar um Guia espiritual e esse Guia não confirmar que você tem a
missão de sacerdote, você é alguém que foi preparado para sacerdócio e ponto, apenas isso,
sem validação da espiritualidade. Qualquer pessoa pode ser preparada, mas é o seu Guia que
confirma que você tem essa missão.

E por que preparar alguém para o sacerdócio se antigamente só era feito dentro do Terreiro?
Ainda é feito no Terreiro, o curso de sacerdócio é uma vivência, é uma experiência de Terreiro,
isso é feito dentro do Terreiro, isso não é feito fora do Terreiro. Para ensinar teoria ensinamos
em qualquer ambiente, mas o preparo sacerdotal é presencial, é feito no Templo, no ambiente
do Templo.

A teoria, a doutrina, a teologia, a cultura de Umbanda Sagrada, isso nós devemos ensinar de
qualquer ambiente, principalmente porque muitos que frequentam o Terreiro não tem lá
dentro um espaço para estudar teoricamente a religião, não tem tempo para ficar um ano
estudando teologia com cada médium que entra no seu Terreiro, não é isso?

O tempo todo tem médium entrando para o Terreiro, como é que você vai dar teologia de
Umbanda para todos eles que estão entrando no seu Terreiro? Não tem condição.

A crítica ao curso de sacerdócio, a contestação, o enfrentamento, a tentativa de desvalorizar


um curso de sacerdócio é totalmente uma bobagem porque o curso de sacerdócio é para o
médium de Umbanda desenvolvido e praticante da religião que já frequenta o Terreiro.

O sacerdócio é algo a mais para quem já é sacerdote ou para quem é médium mesmo que
você nunca venha a ser um sacerdote, um líder religioso de Umbanda, mesmo que você nunca
venha ser um dirigente espiritual, conhecimento não ocupa espaço.

O aprendizado sacerdotal não vai te fazer menos, vai te fazer mais porque o objetivo não é
inventar coisas, é aprender coisas, viver experiências, é burilar a questão mediúnica, lapidar o
relacionamento entre você e a sua espiritualidade, trabalhar a ideia do sacerdócio que diz que
todo médium de incorporação é um sacerdote em potencial.

Fazer um curso de sacerdócio é você entender melhor as dificuldades, a problemática e a


complexidade do seu Templo, que você é só um médium, você tem o seu sacerdote, para você
entender melhor o seu sacerdote, para você ter mais tranquilidade e segurança se você já é
sacerdote, para você ter tranquilidade e segurança se um dia você vier a se tornar um
dirigente espiritual, tudo isso está no curso de sacerdócio.

O que é um curso de sacerdócio? É um preparo horizontal, de investidura horizontal em que


nós estamos passando conhecimento e experiência e que tem um lastro, esse conhecimento
sacerdotal tem um histórico.
Pai Ronaldo Linares

Pai Ronaldo Linares conheceu Zélio de Moraes na década de 70 e Pai Ronaldo Linares desde a
década 50/60 vinha preparando um curso de doutrina de Umbanda, um curso de médiuns que
evoluiu para curso de sacerdócio.

Quando Pai Ronaldo conheceu Zélio de Moraes ele já tinha o curso de sacerdócio e Zélio de
Moraes viu com bons olhos, Zélio de Moraes fundador da Umbanda viu com bons olhos o
curso de sacerdócio de Pai Ronaldo Linares, tanto que, em muitas formaturas de sacerdócio de
Pai Ronaldo Linares, as filhas de Zélio de Moraes: Zélia e Zilméia estiveram presentes no
momento da formatura.

Num livro chamado “Umbanda, Religião Cristã e Brasileira”, o autor fez uma entrevista com
Zélio de Moraes onde ele comenta sobre o trabalho de Pai Ronaldo Linares, da Federação
Umbandista do Grande ABC e da organização da religião pelo sacerdócio.

Rubens Saraceni foi preparado por Pai Ronaldo Linares de forma horizontal, foi preparado
pelos seus Guias e Orixás de forma vertical e idealizou uma teologia, um sacerdócio
fundamentado em todo um conhecimento trazido do astral.

Quem é o sacerdote de Umbanda? Ele é o dirigente espiritual, ele é o líder espiritual, esse
dirigente pode e deve fazer um curso de sacerdócio para conhecer mais sobre a religião, só
isso. Ele pode e deve ser preparado dentro de um Terreiro, de qualquer forma ele está sendo
preparado dentro do Terreiro, não tem como ser preparado em outro ambiente porque o
Terreiro é o Templo.

Agora, quem é o sacerdote? O que é a figura do sacerdote para sua comunidade? Isso é
importante, ele é acima de tudo alguém interessado no elemento humano. O sacerdote de
Umbanda é um médium de incorporação desenvolvido que recebeu a missão de dirigente
espiritual, mas para exercer a função do sacerdócio, ele deve conhecer acerca dos
fundamentos da religião, das firmezas, dos assentamentos, dos banhos, acima de tudo de
como cuidar da mediunidade do outro porque algum dia alguém cuidou da mediunidade dele.

Agora, é fundamental que o sacerdote seja alguém interessado no elemento humano, no ser
humano. O maior problema da religião de Umbanda e de todas as religiões é o ser humano. A
maior dificuldade de um sacerdote não é nem quebrar demanda, não é desobsessão, não é
cuidar, o maior problema de um sacerdote, dentro de um Terreiro de Umbanda é o
relacionamento humano.

O sacerdote é um líder e ele deve exercer liderança, você não ensina alguém a ter fé, mas você
ensina alguém a entender a sua fé. Você ensina o sacerdócio, você pratica junto, é um
conjunto de experiências. Agora, liderar é algo que pode ser trabalhado, lapidado.

Todo sacerdote de Umbanda deveria estudar um pouco sobre liderança, existe um livrinho
chamado “O Monge e o Executivo” sobre liderança, a arte da liderança, da editora Madras,
existe também um livro chamado “Krishna e a Arte de Liderar”, excelente. O sacerdote deve
aprender como lidar com o ser humano e não apenas como lidar com a mediunidade, não
apenas como lidar com a Umbanda, ele tem que saber lidar com o ser humano, saber ouvir.

O sacerdote tem que ser acima de tudo alguém que quer se tornar uma pessoa melhor para
ajudar o outro a se tornar uma pessoa melhor.
Agora, o sacerdote não é um iluminado, ele não é um santo, o sacerdote de Umbanda não é
um “avatar”, é uma pessoa comum que quer se tornar alguém melhor e quer ajudar o próximo
a se tornar uma pessoa melhor.

O sacerdote de Umbanda é alguém que tem na religião de Umbanda um sentido para sua vida
e ajuda para que outras pessoas possam dar sentido para suas vidas. O sacerdote de Umbanda
é alguém interessado no ser humano, mas não é alguém perfeito. É alguém que de vez em
quando pode e deve dançar, cantar, namorar, beijar na boca, tomar uma cervejinha, tem
família, tem um emprego, tem uma vida fora do Templo e é uma pessoa que tem dificuldades,
problemas, que, às vezes, pisa na bola porque não é um ser humano perfeito.

Se você idealizar o seu sacerdote como se ele fosse um “avatar”, um mestre ascensionado,
uma pessoa perfeita, você vai se decepcionar, se você é médium aprenda a ver seu sacerdote
como uma pessoa comum, se você é sacerdote mostre para o seu médium que você não está
em cima do altar, que em cima do altar está Oxalá, Xangô, Obaluayê, Nanã, Yemanjá, você não,
você está no chão, estabeleça uma relação saudável. O sacerdote é um pai espiritual, a
sacerdotisa é uma mãe espiritual. E a Umbanda é uma religião onde você tem: sacerdote e
sacerdotisa no mesmo nível.

Os Terreiros podem ter um sacerdote ou sacerdote e uma sacerdotisa ou uma sacerdotisa, tem
Terreiro que tem um sacerdote: um pai e uma mãe pequena que são sacerdotes auxiliares.

É importante estabelecer uma relação saudável, se você é sacerdote, com a comunidade que
dirige.

Não usar o sacerdócio como ferramenta da sua vaidade, do seu ego, não usar o sacerdócio
para se sentir melhor ou mais importante, para se colocar acima dos outros, não usar o
sacerdócio para humilhar, não usar o sacerdócio para expor alguém ao ridículo.

O Sacerdote moderno entende que velhos modelos já não servem mais, não se encaixam
numa sociedade voltada à tecnologia que, a cada dia, disponibiliza novidades. O novo
Sacerdote tem a preocupação de ensinar, sabe que segredos já não mais satisfazem os
médiuns de hoje, mesmo porque são jovens que se valem dos recursos tecnológicos capazes
de acessar, facilmente, qualquer informação, portanto, busca, na religião, uma trégua nas
tribulações da vida sem dispensar o conhecimento acerca da religião e do templo que
frequentam.

Respostas vazias, frias, que demonstrem desconhecimento, enfraquecem a relação entre


partes tão sensíveis como essas.

O Novo Sacerdote, de qualquer religião, deve ser aquele que incentiva o estudo, que se abre às
novas ideias, pois o novo bate à porta todos os dias. Exemplo claro é o novo Papa que tem
conquistado a simpatia de todos, dentro e fora da religião católica. Ele sabe que velhos
modelos já não mais satisfazem a ninguém, principalmente aos que buscam, junto à
espiritualidade, viver melhor e com mais qualidade.

Vejo o novo Sacerdote de Umbanda como alguém que se aproxima mais do povo e de seus
seguidores, como um homem, ou mulher, disposto a ensinar e a aprender todos os dias, algo
novo que possa ser aplicado dentro da religião ou de seu templo.

Sem idealizar, vejo o novo Sacerdote de Umbanda como um estudioso disposto a romper com
velhas e já inúteis crenças que o impedem de evoluir e que impedem ainda, aqueles que o
cercam, de também evoluírem.
Tudo e todos evoluímos afinal, o progresso não espera ninguém, ele simplesmente acontece,
espontaneamente a cada dia, cabendo a cada um de nós, segui-lo, para o nosso bem e para o
bem de todos que estão a nossa volta.

Sempre é tempo de rever posturas, ajustar crenças, abrir a mente a novas ideias, isso acontece
em todos os segmentos de nossas vidas e, com nossa religião, não deve ser diferente.

O Jovem Umbandista tem sede de conhecimento, não aceita velhas e mal-acabadas posturas,
ele quer um Sacerdote amigo, acolhedor, que incentive o estudo, que saiba lidar com as
dificuldades de cada um dos seus seguidores sem com isso se prevalecer de sua posição.

Respeito muito a todos os Sacerdotes de Umbanda que batalham todos os dias para
conseguirem manter de pé os templos que fundaram. Não é tarefa fácil assumir tal
compromisso junto à espiritualidade e à comunidade.

Existe a questão financeira, a pessoal, relações de difícil enfrentamento que requerem


preparo, dedicação, não basta querer, é preciso muita disposição, fé e perseverança no
cumprimento da missão Sacerdotal, principalmente na Umbanda que não deve explorar a fé
alheia extorquindo seus fiéis.

É uma missão árdua essa, mas, certamente, prazerosa, pois cumprir um compromisso, muitas
vezes, pré-estabelecido, antes da encarnação, tem de ser uma benção, um grande e honroso
prazer mesmo com todas as dificuldades e impedimentos.

É claro que existem os bons e os maus Sacerdotes, como em todos os setores onde atua o ser
humano, reconhecer os bons, a fim de segui-los, não é tão difícil assim como pensam alguns,
basta não idolatrar, verificar a postura do Sacerdote diante daquela comunidade religiosa
procurando não confundir as coisas, certificar-se da gratuidade nos atendimentos realizados
pelo Sacerdote e, é claro, sentir simpatia, alguma afinidade com sua postura para que a
relação seja saudável e longa.

O Sacerdote seja de Umbanda ou de qualquer religião é um ser humano sujeito a erros e


acertos como qualquer outro, muitos dissabores poderiam ser evitados se as pessoas
conseguissem entender isso.

É claro que o Sacerdote, como cidadão, deve manter uma postura que não o contradiga como
religioso, é natural que seja assim, porém, as pessoas que o seguem, ou pretendem seguir,
devem, por sua vez entender que o Sacerdote é humano, não é um Santo, não é alguém que já
atingiu a iluminação, é apenas alguém que está buscando ser melhor e querendo compartilhar
com os outros esses desejos.

Muito se fala sobre os deveres do Sacerdote, pouco se fala sobre seus direitos. O Sacerdote é
extremamente cobrado, constantemente sabatinado, muitas vezes passa pelo
constrangimento de não saber a resposta para todas as perguntas que lhe são feitas, exigindo
assim que se mantenha, o máximo possível, informado sobre a religião e assuntos gerais que
afetam a vida cotidiana de todos.

Nem todo Sacerdote é ou foi estudioso, alguns não tiveram acesso ao estudo, porém,
cumprem com amor, humildade e fé a missão do Sacerdócio.

Exigir de pessoas assim alguma erudição é falta de caridade, compreensão, significa que a
pessoa está no lugar errado, que deve buscar outro Sacerdote que o satisfaça intimamente, se
é que seja possível encontrar porque ninguém é perfeito, mas afinidade é fato.
O Sacerdote tem muitos direitos, caminham lado a lado com seus deveres e obrigações. O
direito de ser uma pessoa comum é um deles, de viver sua vida fora do templo como bem
entender é outro e assim por diante porque nenhum Sacerdote atingiu a angelitude, sabe tudo
ou está à disposição de seus seguidores 24 horas por dia como fosse o setor de emergência de
um hospital.

O Sacerdote tem direito à privacidade, deve, pelo seu próprio bem, estabelecer controle sobre
o acesso a ele fora do templo, do contrário terá uma vida controlada, sufocada e, penso eu,
isso não é saudável. Estabelecer a dependência de seus seguidores não é algo bom, pelo
contrário.

É claro que alguma atenção deve ser concedida, porém, que seja com equilíbrio, controle e,
acima de tudo, bom senso de ambas as partes, sim, porque, em contrapartida, existem aqueles
Sacerdotes que não dão sossego aos seus seguidores, por isso, bom senso para os dois lados é
garantia de uma boa e saudável relação.

E que as advertências do Caboclo das Sete Encruzilhadas possam ser sempre relembradas, são
roteiro seguro a seguir.

(*) Anna Ponzetta é uma Médium espiritualista – Espírita e Umbandista -, se dedica à pesquisa
e estudos avançados do tema. Escritora de renome, já publicou três livros: A História de Pai
Inácio, a Cabana de Pai Inácio e mais recentemente Carmen Maria. O texto acima foi baseado
no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada, desenvolvido por Rubens Saraceni e ministrado
por Alexandre Cumino.

Glossário

Abiã: (noviço ou noviça): É a pessoa que começa a freqüentar o terreiro como assistente (fiel),

Ebomi – Egbomi: é o(a) candomblecista que já cumpriu o período de sete anos de iniciação
(Yaô) na feitura de santo, já tendo feito a obrigação de sete anos “odu ejé”.

Éfode: I. Veste sacerdotal. O éfode especial a ser usado pelo sumo sacerdote acha-se descrito
em pormenores nas instruções que Deus deu a Moisés.

Yaô: (filho ou filha de santo): Pessoa que se inicia na religião.

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