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A5 ECoNoM rA5 EURoPETAS ADAPTAM -SE


(0u NAo)no cn¡sclMENTo
¡coruóurco MoDERNo

A era do crescimento económico moderno, embora tenha começado com


a Revolução Industrial na Grã-Bretanha ou encontre origens muito mais
profundas no passado, foi claramente um fenómeno europeu do século xrx.
É verdade que, no Êm do século, os Estados Unidos eram a principalnação
industrial, mas as suas relações económicas estabeleciam-se principalmente
com a Europa, sob o ponto de vista do comércio, da migraçáo ou dos fluxos
de capíral. Além disso, a Rússia e o Japão começaram a industrialização
nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, mas os dois países tentaram
imitar os sucessos dos seus pares europeus. A estratêgia adotada por
esses países e pelos seus seguidores de imitar um exemplo europeu fazia
sentido. A grande variedade de condiçóes contextuais que existia entre os
países europeus ântes da genenlízação da industrialização proporcionava
um belo menu de opçóes políticas entre as quais os seguidores podiam
escolher. O crescimento económico moderno ocorreu em todos os Estados
europeus, como revela o seu rendimento [)er cøpitø médto ao longo do
século xrx (Figura 10.1).
Angus Maddison e os seus colaboradores compararam os níveis de ren-
dímeîto per cøpitø alcançados pela média dos doze países mais industriali-
zados (e mais bem documentados) da Europa Ocidental(l) com a média dos
trinta países europeus ao longo do século xrx. As médias tendem a atenuar
as oscilações dentro de cada país, mas mostram uma melhoria bastante
estável no desempenho económico, o que realmente aumenta em dimensão
absoluta ao longo do século, A comparação meticulosa dos números de

(1)
Áustria-Hungria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Itália,
Países Baixos, Noruega, Suécia, Suíça e Reino Unido.

351
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As economias europeias aãaptøm-se (ou nao) ao crescirnento económico moderno 353

referência para os trinta países europeus com as médias Para os doze países e fracasso na adaptação à expansão das principais economias industriais.

mais industrializados mostra que, embora o padrão de vida no resto d¿ A partir da Figura 8.2, as escolhas óbvias sáo a Suíça (mais bem-sucedida),
Europa tenha melhorado de forma notáveI, a diferença absoluta entre os aItâIia (menos bem-sucedida), a Bélgica (uma das primeiras a industriali-
países mais e tnenos industrialiZados continuou â âumentar'. Em retros- zar-se),os Países Baixos (não industrializados) e a Suécia (de florescimento
petiva, podemos ver que essas grandes discrepâncias nos níveis de vida tardio). Os países restantes cabem, mais ou menos, numa destas categorias,
de países vizinhos da Europa durante o século xIX constituíam sinais de e outros países em todo o mundo podiam encontrar (e encontravam) pro-
problemas futuros para a Europa e também Parâ os países seguidores. tótipos úteis nos países que analisamos na secçáo seguinte.
Confrontados com uma ementa tâo ríca em escolhas como ilustração,
temos de selecionar aquelas que seráo mais instrutivas Pat'a compreender
o curso da história económica no século seguinte, de 7914 a2014, Devido Grã-Bretanha
à dimensáo absoluta do produto interno bruto das quatro maiores econo-
mias durante o século xIX, as economias da Grã-Bretanha, dos Estados Começamos pela Grá-Bretanha, na primeira nação industrial>. No fim das
Unidos, da França e da Alemanha dominaram a Produção industrial mun- Guerras Napoleónicas, a Grá-Bretanha era clararnente a principal naçáo
clial e, através da expansão do comércio, afetaram todos os outros países do fabril do mundo, produzindo cerca de um quarto da produção industrial
mundo. Os efeitos mais imediatos e observáveis do crescimento constante mundial total de acordo com algumas estimativas(2),
dos Quatro Grandes foram senddos pelos países vizinhos de menor peso Além disso, como resultado da sua posição de liderança na indústria
espalhados pela Europa Continental. A variedade das suas condiçóes con- e do seu papel como potência marítima esmagadoramente superior, no
textuais permite-nos escolher alguns exemPlos contrastantes de sucesso mundo, uma distinçáo alcançada durante es guerras com Napoleáo, tem-
bém surgiu como a principal naçáo comercial do mundo, representando
entre um quarto e um terço do comércio internacional total bem mais
3700 -
rivais. A Grã-Bretanha
do dobro do que os seus principais manteve o
X 12 Europa Ocidental
seu domínio como nação industrial e comercial durante a maior parte do
I 30 Europa Ocidental
3200 século xIx. Depois de alguma quebra nas décadas intermédias do século,
øô ainda representave cerca de um quarto do comércio internacional total em

*s'
w
7870 e aumentou a sua participação na produção industrial total para mais
2700 de 30 por cento. Depois de 1870, ainda que a produção total e o comér-
cio tenham continuado a aumentar (por exemplo, a produção industrial

2200
JMñ' anmentou 250 por cento entre 1870 e 7913), perdeu gradualmente alíde-
>( ruîça para outras naçóes em rápida industrialização. Os Estados Unidos
X a
ultrapassaram-îa îa produção industrial total na década de oitenta do
1 700 século xrx, e a Alemanha na primeira década do século xx. Nas vésperas
da Primeira Guerra Mundial, ainda era a principal naçáo comercial, mas
dominava apenas cerca de um sexto do comércio total e era seguida de
1 200
OsfCOc!\OOst@c.i \oost@ c{ ro o+cONrOOst0ON
ócôcoororooo- perto pela Alemanha e pelos Estados Unidos.
NNNmm+sf<h n(o!o\o rF-
00æ cOaOCO@COOlOrOrOl
coco00co@coco00co ócoæco

Figura 10.1. PIB percapita real (1990 PPP$) de países da Europa ocidental (doze (2)
Ou seja,
produção de indústrias modernas orientadas para o mercado; não
a
ou trinta), 1820-1913. (Fonte: Projeto Maddison, www.ggdc.neVmaddison/
Historical_statistics/horizontalfile_02-2010, consultado a 18 de novembro indústrias domésticas tradicionais na Índia e na
há maneira de calcular o valor das

de 2014). China (e noutros locais), grande parte das quais se destinava ao consumo familiar,
As economias euroqteias adaptam-se (ou nao) ao crescimento económico moderno 355
rusT0RrA LCONÓMICA D0 [tUND0

Os têxteis, o carvão, o ferro e a engenharia, as bases da prosperidade e do aço constituiu outro estímulo intenso. Só em 7870 a tonelagem
-
pfecoce da Grã-Bretanha, continuafam a sef os seus Pontos fortes. Até dos novos navios a vapor ultrapassou a dos novos navios à vela, mas o seu

1gg0, a produção de ño e tecido de algodao superava as do resto da Europa predomínio eumentou rapidamente depois disso; em 1900, a produçáo de
globalmente; em 1913, embora a sua posição relatívatenha decaído, ainda novos veleiros caiu para menos de cinco por cento do total. O ferro come-

repfesentava um rerço da produçáo total europeia neste sector, mais do çou a substituir a madeíra emlarga escala na construção de navios a vapor e
dobro dos concorrentes mais próximos. Da mesma forma, na indústria àvelana década de cinquenta do século xrx, e o aço começou a ultrapassar
metalurgica, a Grá-Bretanha atingiu o seu pico relativo em 7870, produ- o ferro na década de oitenta. Nos primeiros anos do século xx, a indústria
zindo mais de metade do ferro-gusa do mundo. Em 1890, no entanto, os britãnica de construçáo naval produzia, em média, mais de um milháo
Estados unidos haviam assumido uma posiçáo de liderança, e, nos pri- de toneladas por âno, praticamente apenas sob a forma de navios avapor

meiros anos do século xx, a Alemanha também se notabiliZou no sector. erî eço. Esse resultado representou mais de 60 por cento da construçáo
Na indústria mineira, por outro lado, a Grã-Bretanha mânteve a liderança mundial, (Durante alguns anos, nâs décadas de oitenta e oitenta do sécu-
na Europa (embora os Estados Unidos a tenham ultrapassado no início do 1o xrx, a Grã-Bretanha produziu mais de 80 por cento da produção total

século excedenres para exporraçáo. Numa base lter cøpita,


xx) e produziu neste sector.) Uma fração substancial desse resultado, entre um sexto e um

a Grã-Bretanha produziu quase o dobro do carv'ao ao longo do século ærço, foi exportada, Contudo, apesar das impressionentes realizaçóes, o

em relaçáo aos seus principais rivais europeus, a Bélgica e a Alemanha. ritmo e a extensão da industrialização britànica não devem ser exagera-
As minas do Nordeste (Northumberland e Durham) e do Sul do País de dos, como aconteceu por vezes- Pesquisas recentes demonstraram que a

Gales export avam carvâo pâra o continente desde o início do século e até taxa de crescimento industrial nos cem anos que mediaram entre 7750 e

antes; em 1870, esse comércio foi avaliado em três Pof cento do total das 1850 foi consideravelmente mais lenta do que as estimativas anteriores e

exportaçöes britânicas. A rápida industrialização dos vizinhos euroPeus impressionistas sugeriram e que, até 7870, cerca de metade da potência

da Grã-Bretanha, pobres em carvâo, resultou num aumento notável desse total da energia a vapor era aplicada no fabrico de têxteis, ao passo que
em muitos ofícios essa energia ainda tinha um impacto comparativamente
comércio; em 1913, as exportaçóes de carváo, uma matéria'pdma, rcpre'
sentaram mais de 10 por cento do valor de todas as exportações da nação baixo. A grande maioria dos trabalhadores industriais, em 1857, e talvez
atê em L871, não se encontrava na indústria fabril emlarga escala, conti-
mais industr ializada do mundo.
A indústria da engenharia, uma criação do Ênal do século xvrrr, nuando aqueles a laborar como artesáos em pequenas oÊcinas. A aplicação
macíça da energia do vapor só ocorreu até depois de 1870, aumentando de
encontra as suas raíZes nas três indústrias que acabámos de mencionar.
um total de cercade dois milhóes de cavalos-vapor até essa data para quase
A indústria têxtil precisava de construtores e de reparadores de máquinas
10 milhóes de cavalos-vapor em 1907ø,
mecânicas, a indústria metalúrgica produzia os seus próprios, e a necessi-
dade, por parte da indústria mineira, de bombas eñcientes e de transporte
O recenseamento de 1851 conÊrma ainda mais essas generalizaçóes.
Por exemplo, a agricultura continueve a ser o maior empregador de mão de
barato resultou no desenvolvimento da máquina a vaPor e do caminho de
obra na época e L92L Êcando o serviço doméstico em segundo
ferro. As vias férreas, como sugerido no capítulo anterior, constituíram - ^té -,
lugar, As indústrias têxteis representavam menos de oito por cento da força
a nova e mais importante indústria do século xrx. Fofam especialmente
de trabalho total (com a indústria do algodão, apenas, ern cerca de quatro
importantes pafa as ligações, em todos os sentidos, com outras indús-
por cento). Os ferreiros ultrapassavam os trabalhadores da indústria pri-
trias, Além disso, como resultado do papel pioneiro da Grã-Bretanha
mária do ferro em valores de L72 500 para 79 500; os sapateiros (274 míI)
no desenvolvimento dos caminhos de ferro, a pfocura exterîa, tanto da
eram mais numerosos do que os mineiros (219 mil).
Europa como de outfos continentes, de conhecimentos, materi al e capital
britânicos proporcionou um forte estímulo a toda a economia'
(') A.
Da mesma forma, a evoluçáo da indústria da construçáo naval - desde E. Musson, .Technological Change and Manpower>>, in History 67 (junho

a propulsão a vela até ao vâPor e da construçáo em madei ra até à do


ferro 1982), pp. 240-24L
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l

A Grã.Bretanha alcançou o apogeu em termos de supremacia indus- chumbo e estanho


-
foram gradualmente esgotados ou não podiam com-
trial em rcIaçâo a outras naçóes nas duas décadas compreendidas en*e petir com fontes mais baratas situadas no estrangeiro, mas, na maioria dos
1850 a 1B70. A taxa de crescimenro do produto nacional bruto de 1856 casos, esses fornecimentos mais baratos foram explorados e importados
a t873 ambos anos de pico de ciclo económico - era de cerca de por empreses britânicas que operavam no exterior. No início do século xx,
- inferior à média de todo o século e substancialmente inferior
2,5 por cento, a indústria do ferro importou cerca de um terço do seu minério, principal-

à dos Estados Unidos e da Alemanha durante o mesmo período. Numa rnente de Espanha, mas isso deveu-se em grande pafte ao facto de a indús-
base per cøçtitø enainda mais baixa do que a de França, tradicionalmente trianão ter adotado completamente o processo básico de fabrico de aço de
considerada como a potência mais atrasada. Como deve avalíar'se esse Thomas-Gilchrist, o que permitiria o uso de minério de fosforo nacional.
fraco desempenhoi O úldmo exemplo aponta pera outrâ possível causa do declínio relativo
Em primeiro lugar, as taxas de crescimento são, em certa medida, da Grâ-Bretanhar fracasso empresarial. A questão foi (e ainda é) muito
enganadoras, visto que unidades com uma Pequena base estatística podem debatida pelos estudiosos, sem resoluçáo deÊnitiva à vista. Sem dúvida que
elevadas taxas de crescimento com incrementos absolutos de a Gri-Bretanha vitoriana tinha alguns empresários individuais dinâmicos
"pr"r"rrr",
crescimenro muito modestos. Mais fundamentalmente, a Grã-Bretanha e agressivos: William Lever (da Lever Brothers, posteriormente Unilever)
não conseguiu manter a sua preeminência indeÊnidamente, enquanto e Thomas Lipton (chá), enre outros, tornaram-se nomes familiares. Por
outras nações menos desenvolvidas, mas bem dotadas, começarem a outro lado, há provas abundantes de que os empresários da época vitoriana
industrializar-se. Nesse senrido, o declínio relativo da Gtã'Bretanha era tardia geralmente não exibiam o dinamismo dos seus antepassados, visto
inevitável. Além disso, em vista dos vastos recursos e do rápido crescimen- que os Êlhos e netos dos fundadores das empresas familiares adotaram o
to populacional dos Estados Unidos e da Rússia, náo é de esPantar que esdlo de vida dos cavalheiros ociosos e deixaram a administração diária das
acabem por ultrapassar a Pequena nação insular na produção total' Mais suas empresas a gerentes contratados. A introduçáo tardia, quase destemi-
dtfîcil deexplicar é a taxarelativamente baixa de crescimento da produção da, de novas indústrias de alta tecnologia (à época), como as de produtos
per capitada Grá-Bretanha de 1873 a1913, quando era claramente
inferior químicos orgânicos, eletricidade, 6tíca e alumínio, embora muitos inven-
à do, Ert"dos Unidos, mas também inferior à da Alemanha e da
França' rores nesses campos fossem britânicos, é um sinal de letargia empresarial.
A taxa de crescimento da produtividade total dos fatores (produção por Ainda mais reveladora é a resposta tardía e parcial de empresários britâ-
unidade de todas as entradas) foízero, nicos a novas tecnologias nas indústrias básicas em que eram, ou foram,
Muitas explicaçóes pafa este desempenho dececionante foram apre- líderes. A adoçáo lenta e incompleta do processo de Thomas-Gilchrist na
sentadas. Algumas são altamente técnicas, envolvendo os Preços relativos indústria do ferro é um exemplo ilusrativo e, nâ mesma indústria, a adoção
dos produtos primários e dos produtos fabricados, os termos de troca,
os relativamente lenta do alto-forno de Siemens-Martin. As indústrias têxteis
1-ríu.i, padróes de investimenro, e assim por diante. com o risco de
uma resistiram muito tempo à introdução de máquinas de Êação e tecelagem
"
simpliÊcação excessiva, Pâra os propósitos Presentes, esses argumentos mais avançadas inventadas nos Estados Unidos e no continente, e os
pod.- ser ignorados. Outras explicaçóes sáo mais diretas, mas provavel' produtores de soda Leblanc empenharam.se numa açio falhada de trinta
eo
mente erradas. Por exemplo, se a disponibilidade de recursos naturais anos contre o processo de soda amoniacal de Solvay, introduzido a partir
acesso a matérias-primas fosse um problema, certamente aquele
desem- da Bélgica.
penho seria inferior- A indústria do algodão, como é natural' dependera Em parte, o etraso do sistema educativo britânico pode ser responsabi-
,".rrpr" do algodão em ramâ importado, mas isso náo impediu o Reino lizado tanto pela desaceleração industrial como pelas falhas empresariais
unido de se rornar o principal fabricanre mundial de artigos de algodâo,
e, do país, A Grá-Bretanha foi a última grande naçáo ocidental a adotar a
em todo o ceso, todos os outfos produtores euroPeus de algodão também escolaridade básica pública e universal, um fator importante para a for-
obtiveram a matétia-prima do exterior, frequentemente Por intermédio mação de uma mão de obra qualiÊcada. As poucas grandes universidades
da Grã-Bretanha. Os minerais nativos de metais náo ferrosos -
ç6þ¡e', inglesas prestaram escassa atenção à educação científrca e em engenharia
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(em contraste com as universidacles escocesas). Embora tenham ukra- da Gñ-Bretanha permitiram que as suas empresas industriais continuâs-
passado em parte o torpor do século xvrrr, ainda estavam empenhadas sem a trocar um mercado por outro, pois começaram a ser criadas tarifas
principalmente em educar os Êlhos das classes mais abastadâs no âmbiro gue os sobrecarregavam (ver Capítulo 11). A Grã-Bretanha tinha, de
dos clássicos,Fazia parte da perpetuaçáo de valores aristocráticos¡ cor[ o Ionge, a maior marinha mercante e os maiores investimentos estrangeiros
seu desprezo pelas conquistas comerciais e industriais. O contraste desta de qualquer país, ambos importantes angariadores de divisas. Desde o
atitude com a do século xvrrr é impressionante e irónico; na época, a socie- início do século xIX, se não mesmo antes, epesâr das suas importantes
dade britânica era amplâmente considerada como mais fluida e aberta do indústrias de exportaçáo, a Grã-Bretanha registava uma balança comerciel
gue as do øncien régime do continente. Um século depois, as perceçóes, ss <desfavorável> ou negativa relativamente a bens. O déÊce era coberto (mais
não a realidade, eram revertidas. do que coberto) pelos ganhos da marinha comercial e pelos investimentos
Esta discussáo sobre os triunfos e as tribulaçóes da indústria britânica externos, o que permitiu que aumentâsse quase de forma constante ao lon-
no século xrx deu origem a apenas uma referência ocasional ao contexto go do século, Além disso, no último troço da cerúnria o papel central de
internacional uma omissáo fr.agrante que será corrigida, até certo ponro, Londres no campo dos seguros e da banca internacional aumentou ainda
-
no Capítulo 12, mas é necessário fazer aquí algumas observações para mais esses ganhos invisíveis, A importância dessas fontes internacionais
colocar a discussão na perspetiva adequada. de rendimento pode ser avaliada por uma cornparaçáo brevel comparámos
De todas as grandes nações, a Grá-Bretanha era a mais dependente tan- ataxa de crescimento do produto nacional bruto de 1856 a 7873 com a
to das importaçóes quanto das exportações para o seu bem-estar material. de7873 a7913, ou seja,2,5 por cenÍo uersus 1,9 por cento. Os valores
Assim, as políticas comerciais, especialmente as tarifas alfandegárias, de comparáveis para o produto interno bruto (ou seja, o PNB menos ganhos
outras nações tinham repercussóes importantes neste âmbito, Mais do que estrangeiros) foram2,2 e 1,8 por cento, Para concluir esta discussão muito
isso, a Grã-Bretanha dependia delas para subsistir em maior medida do breve sobre o padrão de industriaLzação da Grá-Bretanha no século xrx,
que as naçóes menores da economia internacional. deve dizer-se que, apesar de todas es sues vicissitudes, o rendimento real
O problema da generalização a partir destes exemplos é que as empre- per cøpitø dos britânicos aumentou cerca de2,5 vezes entre 1850 e 1974, a
sas britânicas de fabrico continuaram afazer lucro e a serem competitivas distribuiçáo do rendimento tornou-se ligeiramente mais igual, a proporçáo
nos mercados internacionais até ao início da Primeira Guerra Mundial, da população em pobreza extrema pobreza diminuiu, e o inglês médio,
Olhar para o passado é algo maravilhoso, mas os empresários têm de tomar em1914, gozava do nível de vida mais elevado da Europa,
decisões com base na capacidade da sua atual reserva de capitais, oferta de
mão de obra e tecnologia para saúsfazerem a procura dos seus produtos.
No caso da Grã-Bretanha, o sector industrial acumulara urna imensa 0s Estados Unidos
reserva de capitais ao longo dos séculos anteriores, e as empresas formaram
geraçóes de trabalhadores qualiÊcados no uso da maquinaria, fazendo O exemplo mais espetacular de rápido crescimento económico nacional no
melhoramentos crescentes mas duradouros na produtividade geral, Estes século xrx foi o dos Estados Unidos. O primeiro recenseamento federal de
aspetos constituíram vantâgens de que náo se desistiria de ânimo leve com 1790 registou menos de quatro milhóes de habitantes. Em 1870, depois de
vista a aclotar tecnologias novas e não testadas, tivessem provado ser bem- se terem alcançado os limites da expansão continental, a população aumen-
sucedidas noutros locais. Além disso, se alguns mercados estrangeiros se tou para quase 40 milhões, mais do que a de qualquer naçáo europeia, à
fecharam como resultado da subsdtuição bem-sucedida de importaçóes no exceçáo da Rússia. Em L9L5, a população ultrapassou os 100 milhóes,
continente ou nos Estados Unidos, ou devido a tarifas elevadas, os comer- Embora os Estados Unidos tenham recebido a maior parte da emigraçáo
ciantes britânicos tiveram uma longa história de descoberta de mercados da Europa, o maior elemento de crescimento da população resultou de
para os produtos das suas indústrias nacionais e de fontes de abastecimento umâ taxâ extremamente elevada de crescimento natural. Em momento
para as matérias-primas de que precisavam. Os comerciantes estrangeiros algum a população nascida no estrangeiro ultrapassou um sexto do total.
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No entanto, a políttca americana de imigraçáo quase irrestrita até depois rnaiores retornos por âcre do que nos Estados Unidos, mas os agricultores
da Primeira Guerra Mundial deixou uma marca deÊnitiva na vida nacional, americanos que utilizam máquinas relativamente baratas (mesmo antes da
e a Américatornou-se conhecida como o <caldeirão cultural, da Europa. introdução dos tratores) obtiveram rendimentos muito superiores Por tra-
O número de imigrantes que entrarem no país anualmente cresceu de balhador (Figura 10.2). Uma situação semelhante prevaleceu na indústria-
formarápidamas irregular, de menos de 10 mil entre7820-1825 para mais I
A grande dimensão dos Estados Unidos em termos geofísicos, com
de um milháo nos primeiros anos do século xx. Até à década de novenra climas e recursos variados, permitiu um grau de especialização regional
do século xrx, a grande maioria veio do Noroeste da Europa, e o volume de ainda maior do que era possível em países especíÊcos da Europa. Embora
imigração desses países continuou a constituir a maior parte dapopulação naépoca em que conseguiu a sua independência quase 90 por cento da
nascida no estrangeiro- No entanto, por volta de 1900, os novos imigrantes mio de obra estivesse principalmente empregada na agricultura, e muito da
de Itália e da Europa de Leste dominaram as listagens. Em 1910, a popula- restente no comércio, a nova nação começou a diversiÊcar-se rapidamente.
ção nascida no exterior era de 13,5 milhóes ou de cerca de 15 por cento do Em L789, ano em que a Constituiçáo entrou em vigor, Samuel Slater che-
total. Destes, cefca de 17 por cento vieram da Alemanha, 10 por cento da gou da Inglaterra e, no ano seguinte, em parceria com os comerciantes da
Irlanda, perto de igual valor deltâIíae da monarquia austro-húflgara, cerca Rhode Island, estabeleceu a primeira indústria fabril da América. Pouco
de nove por cento da Grã-Bretanha, da Escandinávia, do Canadá (muitos depois, em 1793, a invenção de Eli Whitney do descaroçador de algodão
de origem britânica) e da Rússia, respetivamente, e perto de sete por cento lançou o Sul americano como principal fornecedor de matéria-prima para
da Polónia Russa, Austríaca e Alemá e de vários outros países. a maior indústria fabril do mundo (ver Capítulo 7).
O rendimento e a riqueza cresceram ainda mais rapidamente do que
a populaçáo. A partir da época colonial, â escassez de mão de obra dos
Estados Unidos em relação à terra e outros recursos signiÊcou melhores
salários e um padráo de vida mais elevado do que na Europa. Foi este facto,
juntamente com as oportunidades relacionadas para arealização individual
e as liberdades religiosas e políticas de que gozava'm os cidadãos america-
nos, que atraíram os imigrantes da Europa. Embora as estatísticas sejam
{2.
imperfeitas, é provável que o rendimento médio per cøpitø nos Estados
Unidos tenha no mínimo duplicado entre a adoção da Constituição e o
início da Guerra Civil. É quâse certo que mais do que duplicou entre o Êm
daguerra e o início da Primeira Guerra Mundial. Quais foram as fontes
deste enorme aumentói
Terras em abundância e recursos naturais ricos ajudam a explicar por
que motivo os Estados Unidos têm maiores rendimentos per cøpitø do que
a Europa, mas náo explicam a maior taxa de crescimento. Os motivos para
o facto encontram-se principalmente nas mesmas forças que oPeravam na
Europa OcidentâI, ou seja, o rápido progresso da tecnologia e a crescente Figura 10.2. Colheita do trigo em Nebrasca. A escassez de mão de obra e a
especíalízaçio regional, embora também existissem fatores especiais no introdução de maquinaria para poupar trabalho caracterizaram a indústria e a
rabalho nos Estados Unidos. Por exemplo, a escassez permanente e o ele- agricultura nos Estados Unidos. Na fotografia, um homem com uma segadeira-
-enfardadora e uma parelha de quatro cavalos realiza o trabalho que teria ocu-
vado custo da mão de obra representâm uma vântagem para as máquinas pado uma dúzia de trabalhadores europeus. (De The American Land, de William
que poupassem em mão de obra, tanto na agricultura como na indústria. R. Van Dersal. Copyright de 1943 da Oxford University Press. Com a autorização
Na agricultura, as melhores práticas europeias renderam consistentemente da Oxford University Press, EUA.)
362 HJSTÚRìA TCONÓMICA DO t\TUNDO As economiøs euroyteiøs adaptam.se (ou não) ao uescitnento econótnico moderno 363

Esta dicotomia levou a um dos primeiros grandes debates sobre apolíticq ferrcvifuia começou quase simulteneamente nos Estados Unidos e na
económica na nova nação. Alexander Hamilton, o primeiro secretário do Grá-Bretanha, embora, durante muitos anos, os Estados Unidos tenham
'Iesouro, pretendia patrocinar fabricantes por meio de tarifas protecionisras
dependido fortemente da tecnologia, do equipamento e do capital britâni-
e outras medidas (consulte-se o seuReytort on MønuJøctures, 1791), Thor¡¿g co. No entanto, os promotores americanos depressa aproveitaram a oPor-
JefFerson, o primeiro secretário de Estado e terceiro presidente, por outro tunidade deste novo meio de transporte. Em 1840, a extensão das estradas
lado, preferiu o <encorajamento da agricultura e do comércio como seu coad- concluídas nos Estados Unidos excedia náo só a da Grã-Bretanha, mas a
juvante> (do seu primeiro discurso inaugural, em 1801). Os jeffersonianos de toda a Europa, e assim continuou a veriÊcar-se durante a maior parte do
ganharam a batalha política, mâs os hamiltonianos (após a morte trágica e século (ver Tabela 8.3). Tal como na Grã-Bretanha, os caminhos de ferro
prematura de Hamilton) viram as suas ideias triunfar. A indústria do algodâo na América eram importantes náo âPenas como fornecedores de serviços
da Nova Inglaterca, depois de assistir a alguns altos e baixos graves até 1815, de trânsporte, mas também pelas suas ligaçóes com outras indústrias,
surgiu na década de 1820 e permaneceu até 1860 como principal indústria especialmente as de ferro e aço e as de obras relacionadas com máquinas.
fabril da América e uma das mais produtivas do mundo. Na sua sombra, Antes da Guerra Civil, é certo, a indústria do ferro estava bestante disper-
desenvolveram-se várias outras indústrias, nomeadamente a de fabrico de sa, prcd:ozia em pequena escala edependia da tecnologia do carváo, tendo
armas com peças intercambiáveis (outra inovação de Eli Whitney), e lança- muitos materiais ferroviários, especialmente carris, sido importados da
ram-se as bases das indústrias de produçáo em massa subsequentes. Grã-Bretanha- Mesmo assim, em 1860, o ferro ficou em quarto lugar na
Outra vantagem da dimensão dos Estados Unidos foi o seu potencial indústria dos EUA em termos de valor acrescentado (valor de produção
pare nm grande mercado interno, praticamente isento de barreiras comer- menos valor das matérias-primas), a seguir ao algodáo, à madeira e ao
ciais artiÊciais. Mas concretizar esse potencial requer uma vasta rede de calçado (botas e sapatos). Depois daguerra, com a adoção generalizada
transportes. No início do século xrx, a escassa população estava distribuída da fundiçao de coque, a introduçáo dos processos de Bessemer-Kelley
ao longo do litoral atlântico; a comunicaçáo era mantida através da nave- e da soleira aberta no fabrico de aço e, especialmente, com a descoberta
gação costeira, complementada por algumas estradas de carreiras postais. das reservas de minério de ferro na cordilheira Mesabi, no Minnesota,
Os rios forneciam o único acesso prático ao interior, o qual era severamente em 1866, tornou-se rapidamente a maior indústria americaîa em termos
limitado por quedas da âgua e rápidos. Para remediar esta deÊciência, os de valor acrescentado pelo fabrico-
estados e os municípios, em cooperação com intèresses privados (o governo Apesar do célere crescimento das fábricas, os Estados Unidos Perme'
federal quase não estava envolvido), participaram num extenso programa neceram uma nação predominantemente rural ao longo do século xrx.
de nmelhoramentos internos>, que signiÊcaram principalmente a constru- A população urbene só excedeu a populaçáo rural depois da Primeira
ção de estradas com portagens e canais. Em 1830, foram construídas mais Guerra Mundial. O fenómeno devia-se em parte ao facto de grande
de 11 mil milhas de estradas com portagens, principalmente no Sul de número das fábricas se situar em áreas essencialmente rurais. Como
Nova Inglaterra e nos estados do Atlântico médio. A construção do canal mencionado, a indústria do ferro foi principalmente ruraI, até depois da
começou efetívamente depois de 1815 e atingiu um pico nos anos vinte e Guerra Civil. Outras indústrias, que empregam energia hidráulica barata
trinta do século xrx. Em 1844, foram construídas mais de 3000 milhas de e eficiente, permaneceram por muito mais temPo. Embora as máquinas a
canais e mais de 4000 em L860. Os fundos públicos representarâm quase vapor tenham substituído gradualment e a energiahidráulica, foi o advento
três quartos do total de 188 milhóes de dólares investidos neste esforço. das centrais geradoras de eletricidade a causar o declínio das indústrias
Algumas das iniciativas nomeadamente o canal do Erie do estado de rurais,O movimento para oeste continuou após a Guerra Civil, encora-
-
Nova Iorque foram espetacularmente bem-sucedidas, mas a maioria jado pela Homestead Act [Lei da Propriedade Rural] e pela abertura do
-
náo; muitas nem sequer recuperaram o capital investido, Trans-Mississípi Ocidental pelos caminhos de ferro. Os produtos agrícolas
Uma das principais raz1es para o dececionante desempenho econó- continuaram a dominar as exportações americanas, embora a mão de obra
mico dos canais foi o advento de um novo concorrente, e. ferrcvia, A era não agrícola tenha ultrapassado os trabalhadores agrícolas na década de
HISIORIA LCONOMICA DO t\IUNDO
As economia.s europeias aãaptam-se (ou nao) ao crescimento económico moderno 365

oirenra do século e o rendimento da indústria transformada tenha


xrx É ho¡" ponto assente que o crescimento económico moderno em França

começedo a ultraPâssar o da agriculture na mesma década. Ern 1890,6s começou no século xvrrr. Para o século como um todo, as tøxas de cresci-
Estados Unidos haviam-se tornado a principal nação industrializacla rnento da produção total e da produção per caltita foram aproximadamente
do mundo. as mesmas em França e na Grã-Bretanha, e talvez até um pouco mais
elevadas em França, embora este país tenha iniciado (e encerrado) o século
com ume produção per cøpitø mais baixa . Contudo, o século terminou com
França a Gr'a-Bretanha a passar por uma <Revolução Industrial> (no algodao),
enquanto Françafoi apanhada em uma grande revolta política, a Revoluçáo
De todos os primeiros países industrtalizados, França semPre aPresentou Francesa. Nessa situaçáo, uma diferença importante que afetou os desem-

o padráo de crescimento mais aberrante. Esse facto deu origem â uma Pro' penhos relativos das duas economias durante grande parte do século xrx.
Iiferaçio de literatura, tanto no século xrx como mais recentemente, que Durante um quarto de século, de1790 aI8l5, com exceção dabrevePaz
se dedicou a explicar o suposto (<âtraso> ou (retardamento) dâ economia de Amiens (1802-1803), França esteve quase sempre envolvida naquilo

francesa. No entanto, mais recentemente ainda, novas pesquisas empíri- que se convencionou chamar primeira gûerra nmodernarr, envolvendo o
cas e estudos teóricos mostraram que os debates anteriores se baseavam recrutâmento massivo de máo de obra. Com as necessidades em tempo de
numa premissa falsa. Na verdade, embora o pødrão de industrializaçâo gtreffa, a produção da economia expandiu-se, mas principalmente ao longo
em França diferisse do da Grá-Bretanha e dos ourros países que sofreram de linhas deÊnidas, com escasso progresso tecnológico. Estabeleceram-se

primeiro o processo de industrialização, o resultødo não foi menos eficiente algumas máquinas de Êação na indústria do algodao e construíram-se
e, em termos de bem-estar humano, alvez até o tenha sido mais, Além aigumas máquinas a vapor, mâs âs importantes indústrias de ferro e
disso, ao analisar os padróes de crescimento de países de industrializaçáo guímica experimentaram uma estagnação tecnológica. A Grã-Bretanha
tardia,parece que o padrão francês pode ter sido mais <típico> do que também entror.r em guerra em7793, mas o escoamento da sua máo de
o britânico. obra foi bastante inferior, deixando a maior parte dos combates terrestres,

Em busca de uma solução Para este paradoxo, vale a pena analisar os excetuando na península lbêrica, para os seus aliados continentais. Com o

determinantes básicos do crescimento económico. A característica t¡ais controlo dos mares (e, da mesma forma, com a França afastada dos merca-
norável do século xrx, no caso de França, foi a baixa taxa de crescimento dos estrangeiros), as exportações expandiram-se drasticamente, acelerando

demográÊco (ver capítulo B). Quando todas as medidas relevantes de a modernização tecnológica de principais indústrias.

crescimento (PNB, produção industrial, etc.) são red]uLzídas a uma base Após uma depressão de pós-guerra bastante severa, que afetou toda a
per cøpitø, Parece que França teve um excelente desempenho. O segundo Europa Continental e chegou a a Grã-Bretanha, a economia fran-
^tingir
cesa retomou o seu padrão de crescimento em níveis ainda superiores aos
determinante-chave correspondeu aos recursos, A industri alizaçáo 6ritâL'
nica,belgae, eventualmente, americana e alernâbaseou-se em grande parte do século xvIII. Pâra o século como um todo, o produto nacional bruto
cresceu provavelmente a uma taxa média entte 1,,5 a 2,0 por cento ao âno,
em abundantes recursos de carvâo.França, embora náo totalmente ptivada
de carvio, era muito menos dotada dos mesmos e, além disso, a îatûreza embora esses números estejam sujeitos a alguma íncerteza, especialmente

das suas jaZidas tornava a sua exploração mais cara. Esses factos tiveram durante aprimeira metade do século. Para o período de 1871 a 7914, paru
o qual as estatísticas são mais numerosas e mais Êáveis, o produto nacional
implicações importantes para outras indústrias relacionadas com o carvão,
como o ferro o aço, que exploraremos adiante. Em tecnología,Françanâo
e
bruto francês cresceu a uma taxa anual média de aproximadamente 1,6 por
longe disso. Cientistas, inventores e inovadores fran- cento, enquanto o do Reino Unido cresceu aproximadam ente 2,1- por cen-
estava atrasada
- to, e o da Alemanha 2,8 por cento. Estes números parccem indicar que a
ceses assumiram aliderança em várias indústrias, incluindo a de energía
economia alemã cresceu quase duas vezes mais depressa do que a francesa
hidroelétrica (turbinas e eletricidade), de aço (processo de soleira abetra),
alumínio, âutomóveis e, no século xx, de avíaçio,
e três vezes mais do que a britânica. No entanto, estes números podem
366 HJSTORTA aCONÓMICA D0 ¡tUND0 As economias euroyteias adaptam-se (ou não) ao tescimento económico moderno 367

ser enganosos como orientação pere o desempenho geral da econornl¿, rnais de cem altos-fornos acionados a coque produziam mais ferro-gusa
porque, quando todas as taxas de crescimento sáo reduzidas a uma base do que 350 fornos de carvã.o vegetal,Implantaram-se durante esse período
per c6pita, es taxas comparáveis são 7,4 por cento pate e França contra as bases de uma importante indústria de máquinas e de engenharia; em
I,7 por cento para a Alemanha e apenas L,2 por cento para o Reino Unido, rneados do século, o valor das exportações de máquinas excedia o das
Por outras palavras, o lento crescimento demográÊco de França conta ern I importaçóes em mais de três Para um. Muitas das novas máquinas foram
grande medida para o crescimento aparentemente lento da economia corn6 desdnadas à indústria têxtil doméstica, de lanifícios e de algodão, em
um todo. Além disso, mesmo as tâxas de crescimento I)er c6Í)itø podem ser particular, que eram os maiores utilizadores de máquinas a vePor e outros
enganadoras porque a Alemanha, uma economia relativamente atrasada equipamentos mecânicos, bem como as indústrias mais imPortantes em
em meados do século xrx, começou com rendimentos per cøÍ)itø muirc rermos de emprego e de valor acrescentado. O consumo de algodão em
menores e, portento, uma base estâtística mais reduzida. Além disso, como bruto subiu cinco vezes de 1815 para L845, e as importaçóes de lá em
consequência do resultado da Guerra Franco-Prussiana, duas das pro- bruto (além da produçáo doméstica) aumentâram seis vezes de 1830 para
víncias de França economicamente mais dinâmicas, a Alsácia e a Lorena, 1845. As refrnarias de açucar de beterraba cresceram de uma em \8I2 para
pessaram afazer parte do novo império alemão emIBTL, rnais de 100 em 1827, As indústrias químicas, de vidro, porcelana e papel,
A produção industrial, o principal fator do crescimento económico que também cresceram rapidamente, não conheceram equivalente devido à
moderno em França, tal como na maioria das outras naçóes indus- variedade e qualidade dos seus produtos. Várias indústrias novas nasceram
trializadoras, cresceu ainda mais rapidamente do que o produto total ou foram rapidamente adotadas por França durante esse período, incluin-
e foi estimada de forma variâveI entre 2,0 e 2,8 por cento. As variações do iluminação a gás, fósforos, fotografra, cromagem e galvanizaçã.o, bem
surgem como resultado não apenas de diferentes métodos de cálculo (e como fabrico de borracha vulcanizada, As melhorias no transPorte e na
diferentes analistas), mas também da variação do número de indústrias comunicação, incluindo o alargamento do canal, a introduçáo danavegaçâo
incluídas nas estimativas. Ao longo da primeira metade do século eté avapor, os primeiros caminhos de ferro e o telégrafo elétrico, facilitaram o
-
as artes mecânicas, o trabalho artesanal e a indústria crescimento do comércio interno e externo. O último, avaliado em função
o segundo ano
-, clos preços atuais, âumentou 4,5 por cento ao ano de 1875 para 1847, e,
doméstica representavam três quartos ou mâis da produção <industrial>
total. O resultado dessas atividades cresceu mais lentamente do que o das como os Preços desceram durante a maior parte desse período, o valor real
fábricas modernas e de outras indústrias novas e, em alguns casos, declinou foi ainda maior, Além disso, França conheceu um considerâveI excedente
em absoluto; assim, a sua exclusáo dos índices revela taxas de crescimento de exportação no comércio de mercadorias durante esse período, através
aparentemente superiores. No entanto, a sua importância não deve ser do qual obteve recursos para investimentos estrangeiros substanciais.
subestimada, pois, em grande medida, conferiram à indústria francesa as As crises políticas e económicas de 1848-1851 criaram um hiato no
suas carâcterísticas distintivas. ritmo de desenvolvimento económico. A crise das finanças públicas epriva'
Embora o desempenho global da economia tenha sido bastante digno A produçáo
das paralisou a construção ferroviâria e outras obras públicas.
de consideração, experimentou variaçóes na taxa de crescimento (indepen- de carváo caiu abruptamente 20 por cento; e produção de ferro diminuiu
dentemente das flutuaçóes de curto prezo, a que todas as economias em mais lentamente, mas, em 1850, ascendeu a menos de 70 por cento do
vias de industrialização estavam sujeitas). Entre 1820 e 1848, a economia valor de 1847. As importaçóes de mercadorias caiu para metade em 1848
cresceu a um ritmo moderado ou mesmo rápido, pontuado por peqtrenas e só recuperaram completamente em 1851; as exportaçóes diminuíram
oscilaçóes pontuais. A produção de carvão, com uma média de menos ligeiramente em 1848, mas recuperaram no ano seguinte. Com o golpe de
de um milhão de toneladas por ano entre 1816 e L820, excedeu cinco Estado de L85L e a proclamação do Segundo Império no âno seguinte, o
milhóes de toneladas em 7847, e o consumo de carvão aumentou ainda crescimento económico francês retomou o curso anterior a um ritmo ace-
mais rapidamente. A indústria de ferro adotou o processo de pudlagem lerado. A taxa de crescimento diminuiu um pouco após a leve recessão de
e começou a transição paraa fundição de coque. Em meados do século, 7857,mas as reformas económicas dadécadade sessenta, nomeadamente
368 rusTÓRrA LCONÓMltA D0 t\tuND0 As economiøs euroyteiøs adaptam-se (ou nao) ao crescimento económico moderno 369

os rratados de comércio livre (ver Capítulo L2) e as leis de constituição novas indústrias como as de eletricidade, alumínio, níquel e automóveis.
libenhzada de sociedades comerciais de 1863 e L867, proporcionararn França mais uma vez gozou de uma taxa de crescimento comparável à de
novos estímulos. A guerra de LB70-7871 trouxe o desastre económico 1815 - L848, e mesmo à de 185 1- 1 88L. L ø b elle ép o cye, designaçáo atribuí-
e militar, mas França recuperou economicamente de uma forma que da pelos franceses aos anos imediatamente anteriores à Primeira Guerra
surpreendeu o mundo. Sofreu menos com a depressão de L873 do que Mundial, foi assim um período de prosperidade material e de florescimento
outras naçóes industrializadas e recuperou mais rapidamente. VeriÊcou-se cultural, Embora não seja possível fazer comparaçóes precisas, é provâvel
um novo impulso, que foi desenvolvido até o Êm de 1881- Durante esse que o francês médio, em 1913, tivesse um padráo de vida material tão ou
período, a rede ferroviária cresceu de aproximadamente 3000 quilómetros rnais elevado do que o dos cidadãos de qualquer outra naçáo continental.
para mais de 27 mil, e a rede telegrâfica de 2000 para 88 mil quilóme*os. Certas caracteústícas-chave do padráo de crescimento francês conti-
A construção fercoviáriaproporcionou um poderoso estímulo ao resto da nuam a ser analisadasl a baixa taxa de urbanizaçâo, a escala e a estrtttttrâ
economia, direta e indiretamente. A indústria de ferro completou a ran- da empresa, bem como as fontes do poder industrial. Todas elas estão
sição para a fundição de coque nadécadade cinquenta do século xx, e nas inter-relacionadas e se associam intimamente com outras duas caracterís-
décadas de sessenta e setenta foram adotados os Processos de Bessemer e ticas que já foram destacadas; a 6aixataxade crescimento demográñco e a
de Siemens-M aftin A produção de carvão e
para a produção barata de aço. relativa escassez de carváo.
ferro quadruplicou durante o período, com a produçio de carvio a atingir Entre os maiores países industíalizados, França apresentou a menor
20 milhões de toneladas e a de ferto dois milhões de toneladas Por ano. t:rxa de arbanízação. O lento crescimen¡o da sua população total foi prin-
O comércio externo, que beneñcia dos melhoramentos nos transPortes cipalmente responsável por esse fenómeno, mas a percentagem de mão de
e nas comunicaçóes, aumentou mais de cinco por cento ao ano, e França, obra agrícola e a estrutura elocalízaçio dos empreendimentos industriais
aínda asegunda maior nação comercial do mundo, aumentou ligeiramente também constituem fatores importantes. França também tinha uma maior
a sua participaçáo no comércio mundial de 10 para 11 por cento. Ao longo percentagem da mão de obra empregue no sector agrícola do que qualquer
do período de 1851 a 1881 como um todo, a ríqueza e o rendimento fran- grande nação industrial cerca de 40 por cento em 1913, Esse facto
-
ceses cresceram aos seus ritmos mais rápidos em todo o século, com uma tem sido frequentemente apontado como evidência básica do (atraso> da
média de dois a quatro por cento ao ano. economia francesa, mas a interp retaçio coffeta não é assim táo simples.
A depressão que começou em 1882 durou mais e provavelmente custou Invocou-se uma série de fatores para explicar a percentagem relativamen-
à França mais do que qualquer outra desacelençâo no século xIx. No iní- rc elevada de população destacada na agricultura incluindo as baixas
-
cio, assemelhavâ-se a muitas outras recessóes menores, começando com taxas de crescimento populacional e de urbanização mes com menos
-,
um pânico Ênanceiro, mas surgiram vários fatores que a complicaram e frequência se observa que, no início do século xx, França era a unica nação
prolongaraml doenças catastróÊcas, que afetaramgravemente as indústrias industrial na Europa autossuÊciente em géneros alimentares e que tinha,
do vinho e da seda durante quase duas décadas; grandes perdas em inves- inclusive, excedente para exportaçâo,
timentos estrangeiros de governos em bancarrota e caminhos de ferro em No que diz respeito à escala e estrutura da empresa, França era famosa
fa\ëncia; o regresso mundial ao protecionismo, em geraI, e as novas tarifas (ou conhecida) pela reduzída dimensão das suas empresas. De acordo com
francesas em particulaÛ e uma arîarga gluterra comercial com aItâlía, de o recenseamento de 1906, 7I por cento de todas as empresas industriais não
L887 a 1898. O comércio exterior declinou, em bloco, e Permaneceu prari- possuíam assalariados; os seus trabalhadores proprietários e familíares
perda de mercados
-
câmente estacionário por mais de com industrial. No outro extremo,
- constituíam}7 por cento da máo de obra
quínze anos, e, a

estrangeiros, a indústria doméstica também estagnou' A acumulação de 574 grandes empresas empregavam mais de 500 funcionários cada; os seus
capital desceu até eo seu ponto mais baixo na segunda metade do século. trabalhadores representavam cerca de 10 por cento da mão de obra indus-
A prosperidade regressou Ênalmente, mesmo ântes do Ênal do sécu- trial ou 18,5 por cento dos assalariados indusriais. SigniÊcativamente, essas

lo, com a extensão dos campos de minério da Lorena e o advento de empresas estavam concentradas nos sectores da mineração , da metalurgia e
370 rusrÓRrA LCONÓMICA D0 lvLUND0 As economias euroyteias adaptam-se (ou nao) øo tescimento económico moderno 371

os têxteis, as mesmas indústrias em que as empresas em grande escala e de Alemanha


elevado capital se destacavam noutros grandes países industrializados, só
que em França estas existiam em maior número. Entre esses dois extremos, A Alemanha foi o mais tardio dos primeiros países a sofrerem o Processo
havia um grande número de pequenas e médias empresâs que empregâvarrr de industrialízaçáo, Na verdade, pode aÊrmar-se que estava um Pouco
a grande maioria dos assalariados. Na base inferior da escala, as que empre- affaseda. Pobre e escassamente desenvolvida na primeira metâde do sécu-

gavam menos de dez trabalhadores cada, encontravem-se as indúslias 1o xrx, esta nação politicamente dividida também era predominantemente
artesanais tradicionais, como as de processamento de alimentos, vestuáfio e rtrrzil e agrâria. Existiam Pequenas concentraçóes industriais na Renânia,

madeira,enquanro as que tinham mais de 100 trabalhadores se inscrêviarn na Saxónia, na Silésia e na cidade de Berlim, mas eram principalmente de
principalmente nas indústrias modernasl produtos químicos, vidro, papel 6 tipo artesanal ou protoindustrial. As escassas infraestruturas de transpor'
borracha, bem como têxteis, mineração e metalurgia. Duas outras caracte- tes e comunicaçóes impediram o desenvolvimento económico, e as muitâs

rísticas da escala relativament e reduZidadas empresas francesas não devem divisóes políticas, com os seus diversos sistemas monetários, políticas
ser esquecidasl elevado valor acrescentado (artigos de luxo) e dispersão comercieis e outros obstáculos às trocas comerciais, atrasaram o Progresso'
geogrâfrca,Ao invés de conrar apenas com algumas aglomeraçóes urbanas No entanto, nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, o Império Alemão
de indústria pesada, como a Grã-Bretanha e a Alemanha, França dispersara UniÊcado eta;-naçáo industrial mais poderosa da Europa. Possuía as maio-
amplamenre indústrias muito diversiÊcadas por pequenas cidades, aldeias res e mais modernas indústrias para a produção de ferro, aço e subprodutos

e mesmo na província. Emparte,a dispersão foi determinada pela nattrte1a (incluindo muniçóes e material militar), de energia elétrica e de máquinas,
das fontes de energia disponíveis. bem como de produtos químicos. A sua produção de caw'ao era apenas
Para compensar a escasse2 e o elevado custo do carvio, França dependia ultrapassada pela da Grã-Bretanha, e o país foi um dos principais produto-
muito mais da energia hidráulica do que os seus vizinhos ricos em carvão. res devidro, instrumentos óticos, metais náo ferrosos, têxteis e vários outros
ao aperfeiçoamento da tecnologia, produtos fabricados. Possuía uma des mais densas redes ferroviárias e um
Já foi apontado que, graçes, em pafte,
incluindo a introdução da turbina hidráulica, aenergiahidráulica comPetiu elevado nível de urbanízação,Como ocorreu essa formidável transformaçãoi

com o vapor aré perto de meados do século, mesmo na Grã-Bretanha. Com alguma simplitcação, a história económica alemã no século xrx
No continente, especialmente em França e noutros países pobres em pode ser dividida em três períodos bastante distintos, quase simétri-
carvio, manteve a sua importância por muito mais temPo' Em França, no cos. O primeiro, que se estende do início do século até à formaçáo do

início da décadade sessenta do século xrx, as quedas de !ryua forneciam ZolIvercin, em 1833, testemunhou um despertar gradual em relação às
quase o dobro dos cavalos-vapor que as máquinas evîPot, e, em termos de mudanças económicas que ocorriam na Grã-Bretanha, na França e na
potência total, asua utili2ação continuou a eumentar até à década de trinta Bélgica e a críação das condiçóes jurídicas e intelectuais essenciais Para a

do século xx (além do seu uso na produçáo de elericidade, que se tornou transiçáo para a ordem industrial moderna. No segundo, um período de
cade vez mais importanre a parrir da ð,écada de noventa do século xrx). imitação e empréstimo consciente que durou até cerca de 1870, ganharam
Mas as caractefísticas da água como fonte de energia impuseratn restriçóes forma as verdadeiras bases materiais da indústria moderna, dos transpor'
à sua utilizaçáo. Os melhores locais para aproveitar a energia hidráulica tes e das Ênanças. Finalmente, a Alemanha ascendeu rapidamente até à

estavam geralmente afastados dos centros populacionais; o número de utili' posição de supremacia industrial na Europa Ocidental Continental, a qual

Zadores em qualquer local limitava-se, portanto, â um ou a muito Poucos,


e continua a ocupâr. Em cada um desses períodos, influências estrangeiras
as dimensóes das instalaçóes erem igualmente limitadas. Assim, o poder
da desempenharam um papel importante. No início, as influências, tal como
as próprias mudanças, foram principalmentejurídicas e intelectuais, decor-
água, embora importante Patá a industrialização ftancesa, ajudou a impor
um padrão: reduzidadimensão da empresa, dispersão geogrâfica e baixas rentes da Revolução Francesa e da reorganização napoleónica da Europa.

taxas de urbaniZaçio, Como veremos, essas carecterísticas vieram a ser Um afluxo acelerado de capital, tecnologia e iniciativa estrangeiros, que
partilhadas por outros países que não possuíam grandes reservas de cawão, atingiu o seu epogeu na década de cinquenta do século xlx, marcou o
372 l1lsTÓRrA LCONÓMrCA D0 r\tuND0 As economias euroçteiøs adaptøm-se (ou não) ao crescimento económico tnoderno 373

segundo período. No período ñnal, a expansáo da indústria alemã para os oposiçáo Estado versus iniciativa privada. A construção ferroviáría tam-
mercados estrangeiros dominou o cenário. bém exigiu que os estados sejuntassem paraacordar rotas, tarifas e outras
A margem esquerda do Reno, unida política e economicamente ) questóes técnicas, resultando numa maior cooperação interestatal.
França sob o domínio de Napoleão, adotou o sistema jurídico francês e Embora tenha sido muito importente parâ uniÊcar o país e estimular
as instituiçöes económicas, a maioria dos quais foram mantidos após ¿ o crescimento do comércio nacional e internacional, o papel dos caminhos
derrota de Napoleão, em 1815, Sob o domínio napoleónico, a influência de ferro no crescimento da indústria, por meio de ligações a montante e a
francesa foi bastante forte na Confederação do Reno, que abrangeu a maior jusante, não foi menos importante. Até à década de quarenta do século xrx,
parte da Alemanha Central. Até a Prússia adotou, com algumas alterações, aAlemanha produziu menos canão do que a França ou mesmo a minúscu-
muitas instituições jurídicas e económicas francesas. Um édito de 1807 laBéIgica.Também produziu menos ferro do que a França até à década de
aboliu a servidão, permitiu que a nobreza se dedicasse a <ocupações bur- sessenta. Posteriormente, o progresso em ambas as indústrias foi extrema-
guesas [comércio e indústría] sem derrogação do seu estatuto)) e aboliu a çnente rápido; este progresso Êcou a dever muito (embora não totalmente)
distinção entre propriedades nobres e não nobres, criando efetivamente o à extensão da rede ferrovíária devido à procura direta de caminhos de ferro
<comércio livre> em t"tr". Éditor subsequentes aboliram os grémios e eli- no âmbito da produção das indústrias siderúrgicas e ao menor custo de
minaram outras restrições à atividade comercial e industrial, melhoraram o rransporte que as ferrovias proporcionavam a outros utilizadores.
estatuto jurídico dos judeus, reformaram o sistema Êscal e simpliÊcaram a O fator para a rápida industrialização da Alemanha foi o célere cres-
administração central. Outras reformas ainda deram à Alemanha o primei- cimento da indústria do carváo e a condição para o acelerado crescimento
ro sistema educativo moderno (ver Capítulo 9). da indústria do carvão correspondeu à bacia carbonífera do rio Ruhr.
Uma das reformas económicas mais importantes instigadas por funcio- (O rio Ruhr e o seu vale, a pefth do qual a bacía e a rcgião industrial,
nários da Prússia levou à formaçáo do Zollverein (literalmente, portagem a maior do mundo, obtiveram o seu nome, formam na verdade, o limite
ou união tarrffuía), Esta estabeleceu as bases em 1818, decretando uma sul da região. A maior parte da regiáo locaLiza-se a norte,) Pouco antes da
tarifa comum para toda a Prússia, principalmente no interesse da eÊciência Primeira Guera Mundial, o Ruhr produziu cerca de dois terços do carvão
administrativa e de um maior rendimento frscal. Vários pequenos estados, da Alemanha. No entanto, antes de 1850, a regi'ao era muito menos impor-
alguns deles completamente rodeados pelo território prussiano, juntaram- tante do que a Silésia, o Saar, a Saxónia e até a região de Aachen. A produ-
-se ao sistema tariffuio prussiano, e, em L833, um tratado com os maiores çáo comercial começou no vale do Ruhr propriamente dito, na década de
estados do Sul da Alemanha, excetuando a Áustria, resultou na criaçáo oitenta do século xvlrI, sob a direção da administração mineira do estado
do próprio Zollverein, O Zol\vercin fez duas coisas: em primeiro lugar, prussiano. As minas eram superÊciais, as técnicas de mineração simples, e a
aboliu todas as portagens e barreiras alfandegârias internas, criando um produção insignificante, No Ênal da década de trinta do século xtx, foram
<mercado comum)) alemiq em segundo, criou uma tarifa externa comum descobertos os veios <escondidos> (profundos) a norte do vale do Ruhr.
determinada pela Prússia. De modo geral, o Zol\verein seguiu uma política A sua exploração, embora extremamente rentâvel, exigiu mais capial, téc-
comercial <liberal> (isto é, tarifas baixas), não como princípio económico, nicas mais soÊsticadas (uso de bombas avapot, etc.) e maior liberdade de
mes porque os funcionários prussianos queriam evitar a participação da iniciativa, Todos estes elementos acabaram por ser fornecidos, embora não
Áustria, protecionista, na união. sem atrasos burocráticos, em grande parte por parte de empresas estran-
Se oZollverein possibilitou ume economia alemã uniÊcada, o caminho geiras (francesas, belgas e britânicas). Desde cerca de 1850, a produçáo de
de ferro tornou-a realidade. A rivalidade entre os vários estados alemães, carvão no Ruhr aumentou muito rapidamente, e com ela a produção de
que contribuiu para o número e a qualidade das universidades alemãs, ferro e deaço, de produtos químicos e de outras indústrias baseadas no
também acelerou a construçáo fertoviâria. Como result ado, a rede ferrovíâ' carvão (Figura 10,3).
ria alemâ expandiu-se mais rapidamente do que a de França, por exemplo, Até 1840, a indústria alemã do ferco ainda tinha um aspeto primitivo,
que dnha um governo uniÊcado, mas se encontrava dividida a respeito da O primeiro alto-forno de pudlagem começou a produzir em L824, mas foi
As economias euroyteias adaptøm-se (ou nøo) ao crescimento económico moderno 375
374 rusTÓRrA LCONÓMrCA D0 ¡{UND0

Ênanciado por capital estrangeiro. As forjas medievais ainda estavam e¡¡ anos do século xx, a produção média por empresa erâ quase o dobro da da
uso nâ década de quarenta. A fundição de coque começou na Silésia, ¡¡¿g Grá-Bretanha. As empresas elemãs adotaram rapidamente a estratégia de
o desenvolvimento da indústria da Alemanha Ocidental é quase sinónimo írltegtaçao vertical, adquirindo as suâs próprias minas de carvio e minério,
de desenvolvimento do Ruhç e isso só ocorreu em grande parte depois ds fábricas fundiçáo de coque, altos-fornos, fundiçóes e laminadores, ofrcinas
1850. Em lS55,haviacerca de vinte e cinco fornos de coque no Ruhr e u¡n de fabrico de máquinas, etc.

número similar na Silésial estes e uma dispersão de outros altos-fornos O período entre 1870 e L87I, tão dramâtico na história polítíca devido
acionados a coque aproduzir quase 50 por cento de toda aprodução aler¡i à Guerra Franco-Prussiana, à derrocada do Segundo Império em França e

de ferro-gusa, embora os altos-fornos a carvão vegetaL ainda os ultrapassas- à cnação de um novo Segundo Império na Alemanha, foi menos dramático
sem em cinco para um. na história económica. A uniÊcação económica jâ havia sido alcançada,
' A produção do aço de Bessemer começou em 1863, e o Processo e um novo aumento cíclico do investimento, do comércio e da produção
Siemens-Martin foi adotado pouco depois. Mas só depois de o processo industrial começara em 1869, Mas o desfecho favorável da Guerra Franco-
de Gilchrist-Thomas ter sido introduzido, em 1881, permitindo o uso do -Prussiana, incluindo uma indemnização sem precedentes de cinco mil
minério de ferro fosforico da Lorena, a produção de aço alemã acelerou milhóes de francos e a proclamaçáo do Segundo Império Alemão, acres-
drasticamente.Parao período de 1870 aI9l3, a produção de aço aumen- centou um elemento de euforia a este surto expansionista- Só em 1871,
tou a uma taxa anual média de mais de seis por cento, com o crescimento surgiram 207 novas sociedades anónimas na Alemanha (ajudadas, certa-
mais rápido a ser registado após 1880. A produção alemá de aço ultra- mente, pela nova lei de livre constituiçáo de sociedades comerciais de 1869

passor¡ a da Grã-Bretanha em 1895 e, em 1914, mais do que duplicou da Confederaçáo Alemã do Norte de 1869) e 479 em 1872. No processo,
a produção britânica. A indústria alemã era grande, não só na produção investidores alemães, auxiliados e encorajados pelos bancos, começaram
total, mas também nas unidades individuais de produção. Nos primeiros a comprar as explorações estrangeiras de empresas elemãs e mesmo a
investir no exterior. Esta hiperatividade deteve-se repentinamente com a
crise Ênanceira de junho de 7873, que anunciava uma grave depressão.
No
Regiões carboníferas exploradas:
0 Milhas 20 foi retomado
entanto, depois de ultrapassada a depressão, o crescimento
antes de 1840
com mais força do que antes- De 1883 a 1913, o produto interno líquido
o Münster
entre 1840 e 1900 aumentou a uma taxa anual superior a três por cento; em termosper cøpitø,
entre 1900 e 1927 o aumento foi de quase dois por cento ao eno.
Os sectores mais dinâmicos da indústria alemá eram aqueles que
produziam bens de capital ou produtos intermediários para consumo
industrial. A produção de cawão, ferro e aço foi notável, como vimos.
Ainda mais dignas de destaque foram duas indústrias relativamente novas,
de produtos químicos e de eletricidade, como se apresenta na Tabela 10.1,
A tabela também mostra que as indústrias de bens de consumo, como têx-
teis, roupas e peles, e de processamento de alimentos, epresentaram taxas
de crescimento substancialmente abaixo da média. A ênfase dada ao capital
e bens intermediários na Alemanha e a negligência relativa dos bens de
Krefeld
consumo contrastam marcadamente com a situaçáo em França e ajudam a
explicar os seus diferentes padróes de crescimento.
Antes de 1860, a indústria química não existia na Alemanha, mas o
Figura 10.3. A região industrial do Ruhr. [Utilizaçao autorizada, baseada em
material publicado em lhe Times Atlas of World History (1978, 1984).1 rápido crescimento de outras indúsrias criou uma procura de producos
376 HlsTÓRrA LCON0MliA D0 l\tuND0
As economias eurolteiøs adaqttam-se (ou não) ao crescimento económico moderno 377

químicos industriais, especialmente álceli e ácido sulfrrrico. Estimulados A indústria elévica cresceu ainda mais rapidamente do que a química.
pela nova literatura sobre guímic a agrícola, uma invenção alemã, os agri- Baseando-se na ctència, também recorreu ao sistema universitário para
culrores também exígiram ferúLizantes artiÊciais. Libertos de instalações conseguir pessoal e ideias. Do lado da procura, aurbanízação extremâmen-
e de equipamentos obsoletos, os empresários químicos podiam usar a tec- æ râpídr da Alemanha, que ocorreu à medida que a indústria crescia, deu-
nologia mais recente numa indústria em transformação rápida. Isto Êcou lhe um impulso adicional; a indústria alemã não teve de lutar contra uma
exempliÊcado de forma surpreendente pelo advento dos produtos químicos indústria bem organizada de gás de iluminaçáo, como a sua homónima
orgânicos. Como observado (ver Capítulo 8, p. 308), o primeiro corante britânica. A iluminação e os trânsportes urbanos foram as duas utiliza-
sintético foi descoberto acidentalmente por um químico inglês, William ções iniciais mais importantes para a eletricidade, mes os engenheiros e
Perkin, mas este estudou sob a orientação de A. W. Hofmann, um químico empresários rapidamente desenvolveram outras utilizaçóes. No início do
alemão rrazído para o novo Colégio Real de Química em 1845, Por suges- século xx, os motores elétricos competiam com as máquinas â vapor como
tão do príncipe Alberto. Em 1864, Hofmann regressou à Alemanha como motores principais e substituíam-nas.
(Jma característica notável das indústrias química e elétrica, tal como
emérito professor e consultor Pata a indústria de tinturaria. Em alguns
anos, a indústria, graças ao pessoal e aos recursos das universidades, conso- das indústrias de carvão, ferro e aço, foi a grande dimensão das empresas.

lidou a sua primazia na Europa e no mundo. A indústria química orgânica Contavam-se aos milhares os funcionários da maioria das empresas dessas
também foi a primeira no mundo a estabelecer as suas próprias instalações indústrias; como caso extremo, a empresa de eletricidade de Siemens e
e equipas de investigação. Como resultado, introduziu muitos produtos Schuckert, nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, registava mais de
novos e também dominou a produçáo de produtos farmacêuticos. 80 mil funcionários. Em certa medida, a grande dimensão das empresas foi
ditada por economias técnicas de escala. A mineração em profundidade,
por exemplo, exigia bombas, guindastes e outros equipamentos dispendio-
Tabela 10.1. Taxas de crescimento da produção e da produtividade da mão de
obra na Alemanha, 1870-1913 sos; era mais económico, portanto, empregar a maquinaria pera um grande

Taxa de crescimento
volume de produção de modo a dissipar os custos. No entanto, nem todas
Taxa de crescimento
da produção, da produtividade as grandes empresas podem ser explicadas por essa lógica, Em alguns casos,
I 870-1 91 3 da mão de obra, economias de escala pecuniárias projetos que proporcionavam lucros
Sector industrial (por cento) 1875-1913 (por cento) -
adicionais ou rendas a promotores ou empresários sem reduzir o custo real
Pedras e terra 3,7 1,2
para a sociedade fornecem uma explicação mais claraparaa empresa em
Produção de metal \7 6,3 -
grande escala. As ligaçóes estreitas entre o sistema bancário e as indústrias
qq
Fabrico de ferro de manufatura na Alemanha são frequentemente responsáveis; esta possi-
Fabrico de aço 2,4 bilidade é discutida de forma mais detalhada no Capítulo 11.
Trabalho em metal 5,3 )) Outra caractetístíca de destaque da estrutura industrial alemã foi a

Químicos 6,2 ¿,J prevalência de cartéis. Um cartel é um acordo ou contrato entre empre-
Têxteis 2,7 2,1 sas nominalmente independentes no sentido de Êxar preços, limitar a

Vestuário e curtimenta ?( 1,6 produção, dividir mercados ou envolver-se em práticas ¡nonopolísticas e


11 0,9 anticompetitivas. Tais contratos ou acordos eram contrários à proibiçáo do
Produtos alimentares e bebidas

Gás, água e eletricidade 97 3,6 direito comum de combinaçóes em restrição do comércio na Grã-Bretanha
5,t 1,6 e nos Estados Unidos e à Lei Antimonopolista de Sherman, nos Estados
Média para toda a indústria e
trabalho manual Unidos, mas eram perfeitamente legais e efetivamente protegidos por lei
Fonte: Alan 5. Milward e S. B. Saul, The Development of the Economies of Continental EuroPe' na Alemanha. O seu número cresceu rapidamente de quatro, em 1875,
1850-1914 (Cambridge, MA, 1977), p. 26; adaptado de W. G. Hoffma nn, Das Wachstum der
deutschen Winschaft seit der Mitte des 19. lahrhunderts (Berlim, 1 965). para mais de cem em 1890 e perto de mil em 1914, A teoria económica
378 rusrÓRrA (c0N0MrcA D0 ltuND0 As economias europeiøs adaptam'se (ou não) ao crescimento económico moderno 379

elementar ensina que o comportamento do cartel restringe a produção (ver Capítulo 5, p, L44), recuperou um pouco sob o domínio mais favorâvel
para aumentar os lucros, mas essa previsão é diÊcilmente comPâtível corn da Áustria, no século xvrrr. Na Flandres, floresceu uma importante indús-
o recorde de crescimento rápido da produçáo da Alemanha, ût€Strto -=- sq ffta artesanal. de linho, e a míneração de carvão desenvolveu-se na bacia do
especialment indúsrias canelizadas, A resoluçáo desse paradoxo Hainaut e no vale do Sambre-Mosa.
encontra-se na combinaçáo de cartéis com tarifas Protecionistâs, aPós a Em segundo lugar, a riqueza em recursos naturais da BéLgica asseme-
conversão do primeiro-ministro Otto von Bismarck ao protecionismo, thava-se à da Grä-Bretanha. Possuia jazidas de carvão facilmente acessíveis
emL879.Por meio de tarifas protecionistas, os cârtéis podiam manter arti- e, apesar das suas reduzidas dimensóes, produziu mais do que qualquer
6cialmente preços elevados no mercado interno (o que também implicava país continenal até 1850. Também possuía minério de ferro perto das
restrições sobre as vendas nacionais ou outros dispositivos de partilha de jazidas de carvão, a\ém de minérios de chumbo e zinco, Na verdade, um
mercados), ao mesmo temPo que se dedicavam a exPorteçóes praticamente empresário belga, Dominique Mosselman, desempenhou um papel cru-
ilimitadas para mercados estrangeiros, mesmo a Preços abaixo do custo cial na fundação da indústria moderna do zinco, e a empresa que criou,
médio de produção, se a marcação de vendas no mercado interno conse- a Société de lø Vieille Montøgne, prâticamente monopolizou a indústria
guisse compensar as perdas nominais nas exPortaçóes. A rentabilidade durante muitos anos.
deste tipo de atividade foircforçadapelaprâtíca,por Partedos caminhos de Em terceiro lugar, em parte devido à sua localizaçâo, tadiçíes e liga-
ferro estatais ou regulados, de cobrar uma texa mais baixa Para transportes çóes políticas, a regiâo que se transformou na BéIgica recebeu importantes
destinados às fronteiras do país do que Para transPortes denro do país. injeçóes de tecnologia, investimento e capital estrangeiros e gozou de uma
posição privilegiada em certos mercados estrangeiros, especialmente os de
França. Este processo começou sob o Antigo Regime e acelerou durante
Bélgica o período de domínio francês. A família Biolley, oriunda da Saboia, ins-
talou-se em Verviers no início do século xvIII e apostou na indústria de
A primeira região da Europa Continental a adotar plenamente o modelo lanifícios. No Ênal do século, detinha, de longe, os estabelecimentos mais
britânico de industrializaçio foi a ârea que se tornou o reino da Bélgica importantes desse sector, Os Biolleys atraíramainda outros migrantes que
em 1830. No século xvrrr, havia sido (com exceçáo do príncipe-bispado vieram trabalhar para eles e, eventualmente, por conta própria. Entre eles,
de Liège) um domínio da Áustria dos Habsburgo. De L795 a 1814, foi William Cockerill, um mecânico qualiÊcado da indústria de lanifícios de
incorporada na República Francesa I Império, e de 1814 a 1830 fez parte Leeds, que chegou a Verviers vindo da Suécia e em 1799 estabeleceu a
do Reino Unido dos Países Baixos. Apesar dessas mudanças políticas sua otcina para constru çirc de máquinas de Êar. Louis Ternaux, natural
frequentes e, a curto ptazo, pertvrbadoras, aPresentou um notável grau de de Sedan, que fugiu de França em 1792 e viajou por toda a Grã-Bretanha
continuidade no seu padrão de desenvolvimento económico. esrudando os processos indusriais britânicos, regressando àquele durante
A proximidade com a Grã-Bretanha não foi um fator insigniÊcante o Diretório e criando vârías fâbricas de lanifícios em França e nas provín-
na imitação inicial e bem-sucedida da industrializaçin britânica por Pârte cias belgas anexadas. Em 1807, uma das suas Fábricas perto de Verviers,
da Bélgica, mas também havia outros motivos mais fundamentais. Em equipada com máquinas de Êar movidas a energia hidráulica e construídas
primeiro lugar, a regiáo tinha uma longa tradição industrial. A Flandres por Cockerill, empregava 1400 trabalhadores.
ere um importante centro de produçáo de tecidos na Idade }llédia, e, a Em 1720, um irlandês chamado John O'Kelly construiu a primeira
leste, o vale de Sambre-Mosa era famoso pelos seus produtos metálicos bomba de vapor de Newcomen no continente para uma mina de carvão
(ver Capítulo 5, p. 175). Bruges e Antuérpia foram as primeiras cidades perto de Liège, Dez anos depois, um inglês, George Sanders, construiu
do Norte a assimilar as técnicas comerciaís e Ênanceiras italianas no outra pare uma mina de chumbo em Vedrin. Antes do 6m do Antigo
Ênal da ldade Média. Embora a economia da regiâo tenha sofrido com Regime, quase sessenta motores de Newcomen estavam em funcionamento
o domínio espanhol e outros infortúnios após a revolta dos holandeses naregiâo que se tornou aBélgica.EmI79I, os irmãos Perefte de Chaillot,
As economias euroçteias adaptøm-se (ou não) ao tescimento económico moderno 381
380 rusTÓRrA LCON0[¡lCA D0 ¡tUND0

'watt na mesma área e industriais das guerras revolucionárias e napoleónicas, mas manteve-se
pefro de Paris, instalaram o primeiro motor do tipo
e, em L8I4, consrruíram deZoíto ou mais de um total de vinte e quatro ligada às técnicas tradicionais. EmI82I, Paul Huart-Chapel introduziu
desse tipo que foram construídos no futuro território belga, Esses motofes a pudlagem e a laminação nas suas oÊcinas perto de Charleroi. Em 1824,

efam empregados em fábricas de têxteis, siderúrgicas e na fundição ds começou a construir um alto-forno movido a coque, que Êcou Ênalmente
operacional emL827 a conhecer sucesso comercial no conti-
- primeiro
o
canhões em Liège, que os Périer dirigiam, além de minas de carváo, mas o
seu reduzido número total é indicativo do desempenho relativamente fraco nenre. Ouros rapidamente se the seguiram, inclusive, em1829, o deJohn

das máquinas. Cockerill, cujo sócio não era senão o governo holandês do rei Guilherme I.
A rede de canais e de ourras vias navegáveis que liga o Norte de França Nas vésperas da Revoluçáo Belga de 1830 (que, ironicamente, despojou

à bacia belga fez do carvão belga um investimento atÍeente Para a capital o governo holandês do seu investimento), a Êrma de Cockerill foi, sem
francesa. Durante os grandes impulsos industriais dos anos trinta e qua- dúvida, a maior empresa industrial nos Países Baixos e provâvelmente a
renra e aú à décadade setenta do século xrx, quando a produçáo de carvão maior do continente, empregando quase 2000 trabalhadores e represen-
floresceu, foram exploradas novas minas na Bélgicacom capital francês. tando um investimento de capital de mais de três milhóes de florins (cerca
A indústria do algodeo cresceu em torno da cidade de Gante, que, de de 1,5 milhóes de dólares), uma quântia imensa para a época, Com as suas

facro, se rornou a Manchester belga. constituindo jâ o príncipal mercado minas de carvão e ferro, altos-fornos, reÊnarias, laminadoras e oÊcinas
para a indústria rural de linho da Flandres, a cidade assistiu ao estabeleci- de construção e reparação de máquinas, também foi uma das primeiras

menro, a paftir da década de setenra do século xvtrr, de várias fábricas de empreses metalúrgicas integradas verticalmente. Como tal, serviu de

estâmpagem de algodáo gue, no entanto, náo usavam energia mecânica. modelo a outras empresas na indústria florescente.
- A Revolução Belga, bastante suave em termos de mortalidade e de
No início do século xrx, um empresário local, Liévin Bauwens, que ante-
riormente não estava associado à indústria têxtil, foi paralnglatetta cofreî' propriedade, produziu uma depressão económica devido à incerteza sobre

do grande risco pessoal (a França e a Grá-Bretanha estavam em guerre), o carâcter e o futuro do novo Estado- No entanto, a depressão foi de curta
como espião industrial. conseguiu conrrabandear algumas máquinas de duraçio, e os anos intermédios da década testemunharam um vigoroso
tar crompton, ume máquina avepú e atétabalhadores especializados
de impulso industrial. Além das condiçóes económicas internacionais, que
ingleses para manobrarem as máquinas e construírem outras a Paftir do também for am f av or âveis, dois fatores em particula r fot am principalmente

modelo daquelas. Em 1801, instalou as máquinas num convento abando- responsáveis pelo carâcter e dimensáo da explosáo na Bélgicar (1) a decisão

nado, em Gantei assim começou a moderna indústria belga do algodao' do governo de construir uma rede ferroviâria abrangente a expensas do
Bauwens teve logo concorrência local, mas a indústria cresceu rapida- Estado (ver Capítulo 8), uma vantagem em particuler para as indúsrias

menfe, em especial com a prcteçâo oferecida pelo sistema continental de carvão, ferro e engenharia, e (2) as notáveis inovações institucionais
nas áreas bancâria e frnanceira, representadas principalmente pela Société
de Napoleão. Em 1810, e ílpregeva 10 mil trabalhadores, principalmente
Générøle de Belgique (ver Capítulo 9).
mulheres e crianças, Os caprichos da guerra e, aínda mais, a Pez que se
seguiu sujeitaram a indústria a flutuações violentas que levaram muitos Em 1840, se não antes, aBéIgrca era claramente o país mais industria-
empresários à falència, incluindo Bauwens, mas a indústria propriamente lizado do continente e, em termos per cøpitø, um seguidor muito próximo

dita sobreviveu e cresceu. Os teares mecânicos paru tecelagem aPareceram da Grã-Bretanha. Embora, como outros dos primeiros países a serem
na década de trinta do século xrx, e, no ñnal da década, a introdução da
industrializados, a sua taxa de crescimento indusrial tenha acabado por
Êação mecânica do linho, também em Gante, ditou o destino da indústria
diminuir ligeiramente, Êcando atrás das novas naçóes industrializadas,
rural do linho. em I9L4 continuava a ser a naçáo mais altamente industrializada no con-
Existia há muito uma indústria de ferro ffadicional, alimentada por tinente em produçáo per cøpitø, tendo apenas aGrã-Bretanha à sua frente,
na Europa. Ao longo do século, as bases da sua prosperidade continuaram
carvã.o vegetal, no vale de Sambre-Mosa e nas montanhas das Ardenas,
a ser as indústrias que iniciaram o seu crescimentor carvão, ferro (e aço),
a leste- Esta desempenhou um papel signitcativo nos esforços militares
382 HlsTÓRrA LCON0MICA D0 ¡tUND0

metais não ferrosos, engenharia e, em menor grau do que na Grã-Bretanha,


têxteis. Na indústria química, a introdução do processo de soda amoniacal
de Solvay impulsionou uma indústria de crescimento lento, e es emPresas
de engenharia belgas destacaram'se na instalação no estrangeiro (bem
como a nível nacional) de caminhos de ferro de bitola esrreira e, depois de
11
1880, de carris para veículos elétricos e interurbanos. Também ao longo O CRESCIMENTO DA ECONOMIA MUNDIAL,
do século xrx, a indústria belga dependeu fortemente da economia inter-
nacional; em última análise, 50 por cenro ot1 mais do seu produto nacional 1,848-1914
bruro vinha das exportaçóes. França foi especialmente importante a este
respeito. Na verdade, sob a suspeita plausível de contrafaçio, se a Bélgica
rivesse sido incorpor ada na França ao longo do século, reríamos <perdido,
estatísticas importantes sobre uma economia regional, mas as de França O comércio de longa distância existe desde o início da civihzaçáo (vejam-se
teriam mostrado um crescimento total muito mais impressionante. Assim os dados sobre a antiga Babilónia no Capítulo 2) e expandíu-se rapida-
sendo, França, em 1844, importou 30 por cento de toda a produção belga mente após as descobertas europeias das rotas oceânicas Para a Ásia e as
de ferro-gusa, e esse nem foi um ano excecional. Para o século como um Américas no século xvl, graças à eÊciência dos transportes marítimos.
todo, França importou mais de 30 por cento das suas resefvas de carvão, Contudo, a importância do comércio externo para o produto interno no
das quais mais da metade vieram daBélgica, principalmente de minas de mundo atingiu o seu nível mais elevado antes do século xxr na segunda
propriedade francesa, metade do século xIX. As estimativas de Maddison (Tabela 11.1) indicam
que, embora o comércio externo (exportaçóes mais importaçóes), a nível
mundial, tenha crescido três vezes mais depressa do que a produçáo para
o mundo como um todo durante o período de 1500 a1'820, o ritmo da
g\obaIízaç-ao acelerou de facto durante o período de 1820 a 1870, crescen-
do mais de quatro vezes mais depressa do que a produção mundial, que
já, atingira um pico histórico. Uma análise mais atente do comércio nesse

período mostra que este primeira vaga de gLobalização atingiu um pico por
volta de 1873, com um enorme aumento após 1848- Os estudiosos deste
período podem encontrar razões válidas para que o ano de 1848 constitua
um ponto de viragem no desenvolvimento histórico, olhando para cada um
quatro principais determinantes do nosso crescimento económico.
O crescimento dapopuløção certamente recuperou à medida que os flu-
xos migratórios dos países mais atingidos pelas crises agrícolas de meados
dadécadade quarenta do século xlx se dirigiram claramentepareos países
que os investigadores designam, conjuntamente, como <áreas de fíxaçáo
recente> (AFR). Aí, os novos imigrantes já não limitados pela disponibili-
dade de terras aráveis, tendo aumentado a dimensão média das respetivas
famílias. As AFR eram principalmente os Estados Unidos, o quais haviam
acabado de expandir o seu território até ao oceano PacíÊco, em virtude
de reivindicarem o Texas e a Califórnia ao México no Êm da Guerra

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