Você está na página 1de 2

ACOMPANHAMENTO NO PROCESSO INTEGRAL DESDE A DIMENSÃO DA EVANGELIZAÇÃO

O caso da samaritana (Jo 4, 5 – 42)

Estamos frente a um dialogo que carrega em si um processo de acompanhamento. A


quantidade de versículos da narrativa (37) fala da importância de fato, num livro tão breve,
como é um Evangelho. No fato da Samaritana vemos um “processo” de acompanhamento
pessoal. Que passa neste texto?

1) Jesus conhece o contexto do povo samaritano, distante do povo judeu por questões de
fé. Toma, contudo, a iniciativa e se aproxima dela.

2) Pede água a samaritana porque não traz consigo algo para tirá-la do fundo do poço.
Deseja, também, saber de sua história e de sua vida. Pede de sua água, isto é, de sua
cultura, sua vida, suas necessidades, suas buscas.

3) Mais do que água, está buscando uma ocasião para entrar em diálogo com ela. Deseja
aprender da vida e de sua história.

4) Depois da resposta da mulher, onde é chamado de “judeu” de forma não muito


agradável – pois ela o trata como alguém que os/as samaritanos/as não conseguem
tratar bem – fala à mulher em outro nível. Passa do motivo do encontro, para
um diálogo regenerador. Jesus quer beber da água da samaritana. Há conflitos
e diferenças entre eles, também há sede de encontros e desejos de conhecer
mais, respeitando as diversidades. É um diálogo tenso e, ao mesmo tempo, terno,
provocando revelações tanto de Jesus como da mulher.

É preciso saber passar da “ocasião” do encontro para o que sabemos que reconstrói e dará
vida nova. É o que Jesus chama de “água viva”. Embora a samaritana não soubesse de que se
tratava, ela começa fazer perguntas mais profundas: “Acaso és mais do que nosso pai Jacó”?
Jesus toma o exemplo do poço para dar o salto ao que a mulher buscava: vida nova. E ela não
deixa de exclamar: “Senhor, dá-me dessa água”, embora nem soubesse o que seu coração
a levava a proferir. Não voltar mais ao poço e sair desta vida dura é o primeiro desejo. O
diálogo entre eles é marcado por uma linguagem conhecida para chegar a valores e realidades
desconhecidas: a água viva escondida no poço, símbolo do Espírito Santo.

A conversa continua cheia de revelações íntimas. No “processo” Jesus pergunta sobre


coisas pessoais e que mexem com a cultura daquela época: “Vai e chama teu marido”. Ela,
espontaneamente, responde que não tem marido. Jesus lhe diz, então, que ela teve cinco
maridos e que o atual não é seu marido... Quando, pelo diálogo, se vai conhecendo a pessoa
podem tratar-se das dores internas e falar das chagas do coração, para curá-las com a água
viva. Ela aprende com Jesus e Jesus aprende como ela e com sua história. O/A acompanhante
não pode deixar de ser veraz e, muito menos, ter uma atitude de quem sabe tudo. Aprender
no diálogo é sabedoria. Pedir “água viva” ao jovem não é humildade. É grandeza. Assim como
Jesus, ele/ela aprende no encontro e na novidade que o/a jovem traz, tanto da sua experiência
de viver a sua condição de ser jovem no contexto que lhe é tocado viver.
Jesus lhe fala, então, de Deus e do novo nascimento. “Nascer da água e do Espírito”... Abre
outras possibilidades para sua vida. O/A acompanhante pode oferecer uma alternativa de
vida nova, se conhecer a fundo e a situação da pessoa acompanhada. Fala-lhe com veracidade,
embora possa acontecer o que sucedeu com a samaritana tentando novo escape: “Sei que
vai vir o Messias, o chamado Cristo”. O encontro, quando profundo é revelador dos segredos
mais escondidos. Jesus sentiu que era a hora e lhe diz com uma veracidade inesperada: “Sou
eu, que falo contigo”. Notemos: o acompanhamento marcado pelo diálogo entre Jesus e
a Samaritana é progressivo, pois a samaritana vai descobrindo e o chama de “judeu”, de
“senhor”, de “profeta”, de “Messias” e de “Cristo”. O povo chamá-lo de “Salvador do mundo”.
A riqueza do acompanhamento se vai descobrindo segundo o caminhar do/a acompanhado/
a. As descobertas são mútuas. Podemos dizer que, neste encontro como a mulher samaritana,
Jesus vai descobrindo mais sua identidade, revelando-se, reafirmando suas opções e revelando
o Deus do amor e da compaixão no encontro profundo com as pessoas.

O poço era um lugar onde se viam as pessoas que se queriam. Jesus, ao aproximar-
se da mulher, se aproxima não só como alguém que vai ensinar-lhe algo, mas se aproxima
com carinho, como amigo. Por isso os discípulos, ao regressarem, se “surpreendem que ele
estivesse falando com a mulher”... De que surpreender-se se falava com muitas mulheres?
Sabiam que Jesus era amigo de Marta e Maria (Lc 10, 38); que o acompanhavam algumas
mulheres, alem dos discípulos: Maria Madalena, Joana, mulher de Cusa, Susana e outras
muitas que o serviam com seus bens (Lc 8, 1 – 3). Surpreendem-se, contudo, do contexto
de amizade e proximidade com uma estrangeira! O acompanhante não é uma máquina de
resolver problemas; é alguém que oferece um ambiente de amizade e proximidade, que
favorece o diálogo e a confiança.

Quando entre eles se estabeleceu a confiança, sentiram-se amados, com uma nova visão
da vida e a samaritana, carregando a experiência de Deus que a recriara, supera as barreiras
que a prendiam. “Deixando o cântaro” (Jo 4, 28) – simbolizando o antigo – correu à cidade
para contar o que havia sucedido nela, levando a todo o povo da cidade boas notícias. Quem
recebe um bem, comunica-o.

(...) O fruto de um bom acompanhamento é sair de si e servir a comunidade, em qualquer


circunstancia, a partir do contexto do/a acompanhado/a. Além disso foi uma decisão da
samaritana voltar para seu povo e levá-lo a Jesus. Diz o texto grego que se levantaram para
ir ao encontro de Jesus (Jo 4, 30), isto é, uniram-se à sua causa. O acompanhamento pessoal
transforma não somente a pessoa que o experimenta, mas também o ambiente onde a ação
se desenvolve. Acompanhar uma pessoa séria e corretamente pode mudar, por sua influência
e pelo descobrimento de sua missão e projeto de vida pessoal e da sociedade, levando-a a
assumir causas para toda uma vida.

Fonte: Acompanhamento: Mística do/a Acólito/a da Juventude.


Organização: Hilário Dick, Carmem Lúcia Teixeira, Salvador Segura Levy. São Paulo: CCJ –
Centro de Capacitação da Juventude, 2008. (Educação na fé) pp. 52-54

Você também pode gostar