Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/282049296
CITATIONS READS
0 5,250
5 authors, including:
All content following this page was uploaded by Plácido Da Silva on 23 September 2015.
Resumo
O presente artigo busca discutir o Palácio de Cristal como uma obra de arquitetura que teve
como criador de seu projeto Joseph Paxton, um jardineiro e paisagista, que pode ser
considerado um designer pela inovação e pelas preocupações em sua concepção levando
em consideração as limitações arquitetônicas e dos materiais da época.
Palavras-chave: Palácio de Cristal, design, projeto.
1. Introdução
Foi projetado por Joseph Paxton como um enorme espaço para exposições temporárias, a
Exposição Universal de Londres de 1851, e representou um notável avanço no
desenvolvimento da arquitetura da época.
Feito com elementos pré-fabricados de aço e vidro, o projeto exigiu inovações técnicas.
Consumiu um terço da produção de vidro do país e provocou a extinção do imposto que era
cobrado sobre este material. A importância destes avanços foi ímpar, pois percebeu-se a
possibilidade de se projetar utilizando materiais que eram considerados outrora estruturais
ou de acabamento.
O Palácio de Cristal forneceu a mais completa e indiscutível contribuição para seu tempo,
marcando a primeira fuga dos estilos históricos na arquitetura e, simultaneamente, uma
concepção estritamente ligada aos conceitos de produção em massa.
Percebe-se que, não obstante, o Palácio de Cristal pode ser compreendido como uma obra
projetada levando em consideração as limitações da época; um espaço resultante da
2
somatória de elementos padronizados e industrializados, fruto perfeito da tecnologia
empregada e do estudo racional dos vínculos, dos limites econômicos e de tempo, dos
condicionantes técnicos de produção e montagem, isolados de toda problemática estilística
e formal.
Por esta razão, pontua-se que a obra de Paxton teve profunda similaridade com o que se
espera de um projeto de design, e é sobre este enfoque que esta pesquisa busca
enveredar-se.
2. Objetivos
O artigo aqui apresentado pretende analisar o Palácio de Cristal, refletindo sobre seus
aspectos construtivos e conceituais, apontando o design como ponto central do projeto
desta obra feita por um jardineiro e paisagista, Joseph Paxton. Outra pretensão desta
pesquisa é a de viabilizar e enquadrar o trabalho como uma obra de um designer nato.
3. Revisão
3.1. Palácio
Palácio de Cristal
O Palácio de Cristal representou um grande marco na arquitetura, não apenas por ter sido
uma construção totalmente pré-fabricada em ferro e vidro, desenhado para produção em
escala industrial de suas partes, mas também por ter demonstrado o primeiro afastamento
maior dos estilos históricos na arquitetura da época. (PEVSNER, 2001).
3
De acordo com Darby (2002), após inúmeros desenhos insatisfatórios, convidaram Joseph
Paxton para desenvolvê-lo. Este era o jardineiro do Duque de Devonshire, e ficou conhecido
por suas estufas de cristal e pelas construções inspiradas na estrutura da folha de vitória-
régia.
A história relata que ele soube conquistar a confiança dos organizadores e da Câmara da
Construção de Londres e, em dez dias, apresentou um anteprojeto que incluía todos os
detalhes da construção. O primeiro rascunho já possuía as características básicas e mais
fortes do projeto (figura 1).
4
Figura 1 - Primeiro rascunho de Paxton.
[Fonte: http://www.victorianweb.org/history/1851/8.html]
Nota-se que houve um cuidado e que foram feitos estudos antes de se chegar ao desenho
final. Fazendo uma breve analogia com o projeto de design, Montenegro (1987) reforça esta
afirmação ao explicar que todo projeto está apoiado em um preparo prévio, seja em estudo
ou pesquisa, e na familiarização com aquilo que se irá projetar.
Também apelidado de “Arca de Vidro”, a obra ficou como protótipo do modo de construção
do século XIX. (FRIEMERT apud BÜRDEK, 2006). O Palácio de Cristal aparece como um
resultado inovador e sintético de sua era, tanto sobre a ótica construtiva quanto no aspecto
5
conceitual. Sendo assim, faz-se necessário fundamentar-se de maneira mais detalhada
ambas características.
Segundo Darby (2002), o Palácio de Cristal foi pioneiro em muitas áreas: foi a primeira
grande edificação auto-suporte de ferro fundido, precursor na utilização de paredes de
cortina de vidro, e na construção erguida com peças pré-fabricadas.
6
De acordo com Judice (1998), a edificação deveria ficar pronta em um tempo recorde para a
época: dezessete semanas, o que supunha uma estrutura de fácil manejo e montagem.
Para isto, todas as peças deviam ser pré-fabricadas em ferro fundido, com exceção para as
caneletas do teto, que eram de madeira. Toda a facilidade estava na capacidade do
operário e no tamanho e peso das partes, desenhadas levando em consideração a mão-de-
obra.
O vidro utilizado representava um terço da produção total da Inglaterra. Não teria sido
possível erguer o Palácio sem a revogação do alto imposto sobre o vidro que era cobrado
antes da construção.
7
Esta engenhosa união universal foi a chave para que o Palácio de Cristal fosse tão fácil e
rápido de montar e desmontar. O galpão estava pronto em julho de 1851, mês da Grande
Exposição (figura 4).
Pevsner (1980) ressalta que o fato que torna a obra de Paxton o exemplo mais importante
da arquitetura de ferro e vidro dos meados do século XIX é sua grande dimensão: 556
metros de comprimento, a ausência de quaisquer outros materiais e o uso de um
engenhoso sistema de pré-fabricação dos elementos de ferro e vidro assentados numa
armação envolvente de 8 metros.
Maldonado (1991) afirma que a Grande Exibição de 1851 contou com a participação de
14.000 expositores e 6 milhões de visitantes. Ruskin, em seu tempo, considerava-o “uma
estufa maior do que qualquer já construída” e “a prova cabal de que era definitivamente
impossível” conseguir, com estrutura de ferro, uma beleza superior. (RUSKIN apud
PEVSNER, 1980, p. 128). O fato de o Palácio de Cristal ter voltado a ser construído em
8
1854 em Sydenham, próximo de Londres, para fins mais duradouros, prova que a nova
beleza do metal e do vidro tinha conquistado os vitorianos mais progressistas, assim como o
público em geral. (PEVSNER opt. cit).
Em 1854 foi de fato desmontado e levado a Sydenham Hill onde permaneceu até 1936, ano
em que um incêndio o destruiu.
A idéia da exposição mundial surgiu para que fossem mostrados os avanços das potências
mundiais. Era um campo de batalha preliminar e diplomático do que seria a Primeira Guerra
Mundial. Por isso o Palácio de Cristal teria que demonstrar a capacidade tecnológica da
Inglaterra e também sua ideologia.
9
3.4. As fileiras de árvores
Um dado que sobressai na história do Palácio de Cristal é a inclusão, no desenho, de um
transepto abobadado, num projeto preliminar totalmente racionalista.
Segundo Dugan (1953), o local em que seria edificado o Palácio de Cristal, o Hyde Park, era
una zona suburbana de Londres, predominantemente coberta por grandes árvores. Isto
causou alvoroço e preocupação no Comitê organizador da exposição. Eles propunham
derrubar os 772.824 pés quadrados (aproximadamente 19 acres, ou 76.893 metros
quadrados) que devia ocupar o palácio e edificar o galpão.
Joseph Paxton, embora jardineiro de profissão, poderia ser chamado de engenheiro,
arquiteto e designer nato. Devido à sua afeição pelas plantas, salvou a fileira de árvores de
mais de quinze metros de altura acrescentando em seu projeto um corredor de 72 pés de
largura por 108 de altura (figura 5).
Este tratamento supõe uma ruptura do racionalismo, própria da engenharia, para dar lugar à
sensibilidade característica das artes plásticas. Duas reações paralelas para um mesmo
10
problema. Assim, aparece o transepto com um estilo que, uma vez mais se adianta à sua
época, mostra o que posteriormente se chamaria de Art Nouveau.
Para Dorfles (1991), Art Nouveau, fase seguinte a da Revolução Industrial, procurou criar
objetos e projetos arquitetônicos que, embora recorrendo à mecânica, também
apresentavam um coeficiente artístico. Segundo Argan (1992), do ponto de vista
sociológico, o Art Nouveau é um acontecimento imponente, complexo, que deveria
satisfazer o que se acreditava ser “a necessidade da arte”. Trata-se de um fenômeno
tipicamente urbano que nasce nas capitais e se difunde para o interior. Interessava, como
renovação de todas as categorias, às práticas projetuais da cultura vigente.
Denis (2000) afirma que embora o Art Nouveau não seja reconhecível como um estilo
definido, possui características claramente identificáveis e uma nítida unidade formal. Dentro
desse estilo existiam duas soluções visuais. A primeira defendia o uso de formas orgânicas,
extraídas da representação realista ou convencional da natureza. E a segunda promovia a
geometrização das formas, caminhando cada vez mais em direção ao uso de motivos
abstratos e/ou lineares, com ou sem simetria.
De acordo com Dorfles (1991) o Art Nouveau teve grande mérito de propor à criação
arquitetônica, ligada ao design, módulos e decorações que prescindiam por completo de
qualquer herança estilística. Mesmo possuindo uma grande admiração pela natureza, esta
se manifestava e se identificava coerentemente com a estrutura e a decoração, permitindo a
intervenção das máquinas características da época.
11
4. Discussão
Design é uma palavra de origem na língua inglesa, e diz respeito à idéia de plano, designo,
intenção, projeto. Do ponto de vista etimológico, o termo contém uma ambigüidade entre o
aspecto abstrato de conceber, projetar e outro concreto de configurar e formar (DENIS,
2000). Para tal autor, a separação nítida entre projetar e fabricar é um dos marcos
fundamentais para a caracterização do design moderno.
De acordo com Schulmann (1994) o design industrial não surgiu bruscamente, mas
progressivamente, com os primórdios da revolução industrial. O design está inserido neste
processo como um importante fator de conexão entre o conhecimento e a produção
industrial. Entretanto, para isso, é necessário que o design seja reconhecido na sociedade
como uma ferramenta de inovação tecnológica. Deste ponto de vista, Joseph Paxton pode
ser considerado designer por seu projeto inovador que soube empregar a tecnologia
disponível em sua concepção do Palácio de Cristal.
12
Faggiani (2006) defende que design arquitetônico refere-se ao desenvolvimento de conjunto
e disposição de componentes, assim como produtos destinados à indústria de construção
civil e arquitetura, e não de apenas artigos isolados, nos quais são observadas e estudadas,
principalmente, as características ergonômicas, de comunicação e de conforto ambiental,
dentre os quais podemos destacar: ambientação, layout e planejamento, sistemas de
iluminação, forros e estruturas modulares, esquadrarias e divisórias. É o agente que
interfere com a intenção de oferecer coerência e funcionalidade aos componentes que
integram os locais previamente destinados a um determinado propósito.
De acordo com Lima (1994), a profissão de designer precisa de elementos que a determine,
e o design sempre existiu como uma resposta às necessidades da sociedade ou de um
grupo de usuários. Portanto, pode-se considerar que Paxton era designer devido ao fato de
ter desenvolvido projetos de acordo com a necessidade e limitações impostas.
Sendo assim, pode-se afirmar que no contexto industrial e econômico da época, o Palácio
de Cristal significou muito, inclusive na revogação do imposto sobre o vidro, além de ter sido
concebido em coerência com as necessidades da exposição, salvando ainda a fileira de
árvores, numa atitude sustentável e de interação da arquitetura com o ambiente,
transformando-o. As definições de design, ainda que abrangentes e imprecisas, corroboram
com a consignação do projeto de Paxton não apenas como de um designer, mas de um
designer inovador e criativo.
13
5. Conclusão
14
6. Bibliografia
Sites Consultados
15