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Fundamentos

de química
orgânica
Fundamentos de química
orgânica

Elisangela Orlandi de Sousa Gonçalves


Roberta Lopes Drekener
© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer
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Editorial
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André Augusto de Andrade Ramos
Cristiane Lisandra Danna
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Emanuel Santana
Erick Silva Griep
Lidiane Cristina Vivaldini Olo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Gonçalves, Elisangela Orlandi de Sousa


G635f Fundamentos de química orgânica / Elisangela Orlandi
de Sousa Gonçalves, Roberta Lopes Drekener. – Londrina :
Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
208 p.

ISBN 978-85-8482-862-3

1. Química orgânica. I. Drekener, Roberta Lopes.


II. Título.
CDD 547

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Unidade 1 | Propriedades dos compostos orgânicos 5

Seção 1.1 - Introdução à química orgânica 7


Seção 1.2 - Alcanos e substituintes alquila 24
Seção 1.3 - Nomenclatura e propriedades dos compostos orgânicos 39

Unidade 2 | Conformação dos alcanos e cicloalcanos 57

Seção 2.1 - Análise conformacional dos alcanos 59


Seção 2.2 - Tensão dos cicloalcanos 73
Seção 2.3 - Conformação dos cicloalcanos 87

Unidade 3 | Isomeria geométrica e óptica 101

Seção 3.1 - Isomeria cis-trans e isomeria E/Z 103


Seção 3.2 - Identificação de carbonos assimétricos e centros quirais 119
Seção 3.3 - Isomeria óptica 137

Unidade 4 | Estereoquímica 153

Seção 4.1 - Estereoisômeros: projeções e nomenclaturas 155


Seção 4.2 - Enantiômeros e diastereoisômeros 171
Seção 4.3 - Quiralidade em ambientes biológicos 185
Unidade 1

Propriedades dos compostos


orgânicos

Convite ao estudo

Iniciando nossos estudos sobre Fundamentos de Química Orgânica,


vamos compreender o conteúdo desta unidade de ensino relacionando
os compostos orgânicos com o nosso cotidiano. Mas o que são e onde
encontrá-los? Por que são essenciais para a nossa sobrevivência? Quais
são os produtos que utilizamos e que são de extremamente importantes
para nós? As respostas para essas e muitas outras perguntas estão
relacionadas ao ramo da química que estuda os compostos do elemento
carbono.

A partir desses questionamentos, temos como competência conhecer


e compreender a nomenclatura, as propriedades, estruturas e isomerias
dos compostos orgânicos, apresentando, para esta unidade de ensino,
os seguintes objetivos de aprendizagem: (1) conhecer as propriedades
físicas e químicas dos átomos de carbono; (2) saber a importância dos
compostos orgânicos; (3) estudar a teoria estrutural dos compostos
orgânicos; (4) classificar os compostos orgânicos; (5) aprender as
fórmulas químicas; (6) desenhar as fórmulas estruturais; (7) conhecer os
processos de obtenção; (8) nomear os compostos orgânicos conforme
a quantidade de carbono presente na molécula, formatos, quantidade de
ligações entre os carbonos e suas principais funções.

Vivemos uma época em que o petróleo é considerado uma


substância essencial à nossa sociedade, pois além de ser responsável
por aproximadamente um terço da energia utilizada no Brasil, é através
dele que obtemos os mais diversos produtos indispensáveis para a nossa
U1

sobrevivência. Você já imaginou como seria a nossa vida sem o petróleo?


Já se perguntou como ele é formado? O que acontece após ser retirado
do subsolo? Quais produtos são originados a partir do petróleo? Você já
fez uma relação entre seu laptop e o petróleo?

Nesta unidade, o assunto petróleo é utilizado como uma iniciativa


de aprendizagem e iniciaremos o nosso estudo pensando que tipo de
composição química tem o petróleo para que seja utilizado de forma
intensiva e em grandes quantidades como matéria-prima para produzir
inúmeros produtos consumidos em todo o mundo. Portanto, desejamos
a você bons estudos e que, ao término desta unidade, você seja
incentivado a reconhecer os produtos originados do petróleo e a sua
importância para a sociedade moderna.

6 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Seção 1.1

Introdução à química orgânica

Diálogo aberto

O petróleo é uma fonte de energia e uma das matérias-primas mais


consumidas no mundo. Você já deve ter ouvido falar que o petróleo é formado
pela decomposição muito lenta de restos de seres animais e vegetais. E, portanto,
pode-se dizer que o petróleo é uma mistura bem complexa de hidrocarbonetos,
ou seja, substâncias formadas principalmente por átomos de carbono e hidrogênio
e que possuem diferentes aplicações. Em nossa sociedade não utilizamos o
petróleo em sua forma bruta, sendo necessário que essa mistura de característica
oleosa, coloração escura e inflamável passe por um processo de transformação
denominado refino, com o objetivo de ser separada em compostos bem mais
simples que podem ser utilizados para inúmeras finalidades. (Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Petr%C3%B3leo>. Acesso em: 13 jul. 2016).

Figura 1.1 | Processo de separação do petróleo através de uma coluna de destilação


fracionada

20 oC
150 oC Gás 20°C
Gasolina

200 oC

Petróleo Querosene
bruto 300 C
o

Óleo
Diesel
370 C
o

Óleo
lubrificante

400 oC

Fornalha
Resíduo sólido: parafinas,
ceras, asfalto, piche

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Refinaria#/media/File:Crude_Oil_Distillation-es.svg>. Acesso em: 10 jul. 2016.

Propriedades dos compostos orgânicos 7


U1

Como o petróleo é a fonte de energia e uma das matérias-primas mais


consumidas no mundo, é necessário, primeiramente, que essa mistura bem
complexa de hidrocarbonetos passe por um processo de transformação,
denominado refino, com a finalidade de separar seus componentes em misturas
bem mais simples, com menor diversidade de elementos, para obtermos um melhor
aproveitamento dos produtos. O principal método de separação dos componentes
do petróleo é a destilação fracionada. Você sabe quais são as frações básicas do
petróleo obtidas nesse processo de separação e como podemos classificá-las?
Por que a quantidade de carbono presente nas moléculas interfere na finalidade
dessas frações do petróleo? Iniciaremos o conteúdo desta disciplina com alguns
conceitos importantes da química orgânica, identificando as substâncias como
ácidos ou bases e como as ligações covalentes são formadas. Você também terá
a iniciativa de classificar esses compostos orgânicos de acordo com a quantidade
de carbono nas moléculas, formatos, quantidade de ligações entre os carbonos,
radicais ligantes e suas principais funções. Bons estudos!

Não pode faltar

A Química Orgânica é o coração da existência da vida na Terra. De fato, a todo


instante ocorrem reações químicas entre os compostos de carbono, juntamente
com o oxigênio que respiramos, que fornecem a energia necessária para vivermos.
Além disso, o nosso dia a dia está repleto de compostos orgânicos. Tudo que o
que você vê ao seu redor está relacionado à química orgânica, como a maioria
dos medicamentos, equipamentos e materiais que estão dentro de nossa casa,
combustíveis que movem os automóveis, as roupas que vestimos, entre outros.

Reflita

Os seres humanos têm utilizado os compostos orgânicos e


suas reações por milhares de anos. Sua primeira experiência
proposital com uma reação orgânica data provavelmente da
descoberta do fogo. Os antigos egípcios usavam os compostos
orgânicos (índigo e alizarina) para tingir tecidos. O famoso
‘púrpuro real’ usado pelos fenícios também era uma substância
orgânica, obtida através de moluscos. A fermentação das uvas
para produzir álcool etílico e as qualidades ácidas do ‘vinho
azedo’, ambas descritas na Bíblia, já eram provavelmente
conhecidas anteriormente. (SOLOMONS 2001)

8 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Os compostos orgânicos são formados a partir da extração de produtos


naturais, essencialmente de materiais fósseis, e são compostos principalmente por
átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. No início, os químicos identificavam
compostos orgânicos com funções diferentes, porém apresentavam a mesma
fórmula molecular. Diante desse problema, entre 1858 e 1861, August Kekulé,
Archibald Scott Couper e Alexander M. Butlerov implantaram a Teoria Estrutural,
que considera dois critérios básicos fundamentais da Química Orgânica:

a) Ligação covalente: tipo de ligação química em que os átomos compartilham


um ou mais pares de elétrons, formando ligações fixas, dando origem às
moléculas. O carbono tem a tendência de sempre formar quatro ligações
covalentes, ou seja, é tetravalente. Já o hidrogênio é monovalente, forma
apenas uma ligação covalente; enquanto o oxigênio é bivalente, forma duas
ligações covalentes.

b) Um átomo de carbono pode compartilhar seus elétrons com outros átomos


de carbono. As ligações entre os átomos de carbono podem ser ligações
simples, ligações duplas e ligações triplas (McMURRY, 2011).

Essas moléculas podem ser representadas pela fórmula eletrônica de Lewis,


composta pelos elétrons ao redor dos átomos; fórmula estrutural, composta
por traços entre os átomos da molécula, em que cada traço representa o
compartilhamento de elétrons; fórmula condensada, que apresenta todas as
informações contidas na fórmula estrutural, porém as ligações entre os átomos não
são representadas pelos traços; e/ou fórmula molecular, que informa a quantidade
de cada átomo presente na molécula.

Na Figura 1.2, podemos ver exemplos de fórmula eletrônica de Lewis, fórmula


estrutural, fórmula condensada e fórmula molecular do etano.

Figura 1.2 | Exemplo de fórmula eletrônica de Lewis, fórmula estrutural, fórmula condensada
e fórmula molecular

H H H H
H C C H H C C H CH 3CH 3 C2 H 6
H H H H
Fórmula eletrônica de
Fórmula estrutural Fórmula condensada Fórmula molecular
Lewis

Fonte: elaborada pelo autor.

O átomo de carbono tem a tendência de compartilhar elétrons com vários


tipos de outros átomos por ser tetravalente, formar ligações simples, duplas
e triplas e por não apresentar característica eletropositiva nem eletronegativa.

Propriedades dos compostos orgânicos 9


U1

Consequentemente, o carbono permite ligações com átomos eletropositivos,


como o hidrogênio, e eletronegativos, como o oxigênio.

O conceito de Brönsted-Lowry propõe descrever a tendência de certa espécie


química que se comporta como um ácido quando doa um próton (H + ), e como
uma base quando recebe um próton. As substâncias que apresentam esse duplo
comportamento são conhecidas como anfipróticas.

A água é um exemplo de uma substância anfiprótica, ou seja, pode agir tanto


como ácido quanto como base, dependendo da circunstância. Por exemplo, na
reação com HCl , a água é uma base que recebe um próton (H + ) para gerar o íon

H 3O. Porém, na reação com o íon amida NH 2 , a água é um ácido que doa um

próton para formar amônia, NH 3, e um íon hidróxido, OH conforme Equações 1.1
e 1.2:

OH + H 3C − COOH → H 3C − COO − + H 2O
(1.1)
(base) (ácido)

H 2O + NH 3 → −OH + NH 4+
(1.2)
ácido) (base)

O cientista americano Gilbert N. Lewis complementou o conceito para ácidos


e bases. Ele definiu o ácido de Lewis como toda espécie química, íon ou molécula
que recebe um de par de elétrons de uma base ainda não compartilhada, formando
assim uma ligação covalente. E a Base de Lewis é toda espécie química, íon ou
molécula que doa um par de elétrons.

Para determinamos o caráter ácido dos compostos orgânicos é fundamental


conhecermos o radical ligado ao carbono, pois dependendo do tipo de radical,
há um deslocamento de pares de elétrons que podem ser atraídos ou repelidos.
Existem dois tipos de radicais, os eletroatraentes, que produzem um efeito indutivo
negativo (I-), e os eletrorepelentes, que produzem efeito indutivo positivo (I+)
(SOLOMONS, 2001).

Exemplos de radicais eletroatraentes: halogênios,−OH , −C6 H 5, −CH = CH 2,


−NO2 , −SO3 H , −COOH , −NH 2 .
Exemplos de radicais eletrorepelentes: radicais alquilas, R3C − , R2 HC −,
RH 2C − , H 3C −, H , onde R são radicais saturados.

10 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Pesquise mais
A carga formal é definida como a carga de um determinado átomo dentro de
uma molécula. As estruturas de Lewis apresentam geralmente átomos com
cargas positivas e negativas. Para saber mais sobre a teoria de Lewis e a carga
formal, acesse: <https://www.youtube.com/watch?v=i6l5arePt18>. Acesso
em: 13 jul. 2016.

Como comentado anteriormente, os átomos de carbono têm a tendência


de compartilhar elétrons e realizar ligações covalentes formando uma variedade
enorme de compostos orgânicos, que podem ser de diferentes tamanhos,
formatos e funções.

Para entendermos como as moléculas dos compostos orgânicos se comportam,


é necessário aprendermos alguns critérios estabelecidos para classificar o átomo
de carbono e a cadeia carbônica conforme a posição do átomo de carbono,
estrutura, disposição dos átomos e quanto à quantidade de ligações entre os
átomos de carbono.

Primeiramente, vamos classificar o átomo de carbono conforme sua posição


em relação a outro átomo de carbono.

1. O carbono primário é o átomo de carbono que apresenta apenas uma


ligação covalente a um outro átomo de carbono na cadeia carbônica.

2. O carbono secundário é o átomo de carbono que apresenta ligações


covalentes a dois outros átomos de carbono na cadeia carbônica.

3. O carbono terciário é o átomo de carbono que apresenta ligações covalentes


a três outros átomos de carbono na cadeia carbônica.

4. O carbono quaternário é o átomo de carbono que apresenta ligações


covalentes a quatro outros átomos de carbono na cadeia carbônica.

Figura 1.3 | Exemplo da classificação do carbono conforme sua posição na cadeia carbônica

CH3 H H Carbono primário: 1, 2, 6, 7, 8


6
Carbono secundário: 3
H 3C C C C CH3
1 2 3 4 5 Carbono terciário: 4
7CH3 H 8CH3 Carbono quaternário: 2

Fonte: elaborada pelo autor.

Propriedades dos compostos orgânicos 11


U1

Em uma cadeia carbônica, o átomo de carbono pode ser classificado conforme:

1. Fechamento da cadeia carbônica

a) Cadeia carbônica aberta, acíclica ou alifática – os átomos de carbono


não formam um círculo ou anel e a cadeia carbônica apresenta, no mínimo,
duas extremidades.

b) Cadeia carbônica fechada ou cíclica – os átomos de carbono formam um


círculo ou anel.

Figura 1.4 | Exemplo de compostos orgânicos de cadeia carbônica aberta e cadeia


carbônica fechada

CH3 H H H H
H C C H
H 3C C C C CH3
H C C H
H H H H H
Aberta, acíclica ou alifática Fechada ou cíclica

Fonte: elaborada pelo autor.

2. Disposição do átomo de carbono

a) Cadeia carbônica normal: apresenta fórmula estrutural apenas com a


presença de carbonos primários e secundários.

b) Cadeia carbônica ramificada: apresenta fórmula estrutural com a presença


de, pelo menos, um carbono terciário ou quaternário.

Figura 1.5 | Exemplo de compostos orgânicos de cadeia carbônica normal e cadeia


carbônica ramificada

H H H H H H CH3 H
H C C C C H H C C C C H

H H H H H CH3 H H
Cadeia carbônica normal Cadeia carbônica ramificada

Fonte: elaborada pelo autor.

3. Quantidade de ligações entre os átomos de carbono

a) Cadeia carbônica saturada: possui apenas uma ligação entre os átomos


de carbono.

12 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

b) Cadeia carbônica insaturada: possui pelo menos uma ligação dupla ou


tripla entre os átomos de carbono.

Figura 1.6 | Exemplo de compostos orgânicos de cadeia carbônica saturada e cadeia


carbônica insaturada

H H H H H H
H C C C C H H C C C C H
H H H H H H
Cadeia carbônica saturada Cadeia carbônica insaturada

Fonte: elaborada pelo autor.

4. Natureza dos átomos de carbono

a) Cadeia carbônica homogênea: possui apenas átomos de carbono ao


longo da cadeia carbônica.

b) Cadeia carbônica heterogênea: possui um átomo de outro elemento


entre os átomos de carbonos.

Figura 1.7 | Exemplo de compostos orgânicos de cadeia carbônica homogênea e cadeia


carbônica heterogênea

H O H H H H H
H C C C C H H C C O C H
H H H H H
Cadeia carbônica homogênea Cadeia carbônica heterogênea

Fonte: elaborada pelo autor.

Propriedades dos compostos orgânicos 13


U1

Exemplificando

Cadeias carbônicas

Abertas, acíclicas ou alifáticas


Quanto à disposição dos átomos
normal/ramificada
Quanto aos tipos de ligações
saturada/insaturada
Quanto à natureza dos átomos
homogênea/heterogênea

Fechadas ou ciclicas
Quanto à disposição dos átomos
normal/ramificada
Quanto aos tipos de ligações
saturada/insaturada
Quanto à natureza dos átomos
homegênea/heterogênea

Mistas

Fonte: elaborada pelo autor.

Para compreendermos melhor como os átomos se combinam para formar


as moléculas, é necessário conhecermos o processo de formação de orbitais
eletrônicos híbridos dos átomos. No caso dos átomos de carbono existe a
possibilidade de serem formadas quatro ligações covalentes com até quatro
átomos diferentes, possibilitando a formação de inúmeros compostos orgânicos.
A esse fenômeno dá-se o nome de hibridação do carbono, que é a mistura do
orbital s e p por meio da transferência de um elétron do subnível s para um subnível
3
p, dando origem a orbitais híbridos sp , sp e sp.
2

3
1. Hibridação sp : é a mistura de um orbital s com três orbitais p, formando quatro
3 3
novos orbitais “híbridos” denominados sp . A geometria dos quatro orbitais sp
3
é tetraédrica e os quatro orbitais híbridos sp formarão quatro ligações do tipo
sigma. Conforme a Figura 1.8, a ligação C − C tem comprimento de 1,54 Å
(angström), a ligação entre C − H tem comprimento de aproximadamente
1,10 Å e os ângulos de ligação no etano são próximos do valor do tetraédrico
de 109,5°.

14 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Figura 1.8 | Estrutura do metano e do etano

H H
H
1.09A H 1.54 A
1.10 A
109.5o
H 109.6o H
H H
H H

Fonte: <https://gl.wikipedia.org/wiki/Alcano#/media/File:Representaciones_del_metano.JPG>, <https://upload.


wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c1/An%C3%A1lise_estrutural_do_etano.png> e <https://upload.wikimedia.
org/wikipedia/commons/3/3c/Ethane-A-3D-balls.png>. Acesso em: 19 ago. 2016.

2
2. Hibridação sp : é a mistura de um orbital s com dois orbitais p, formando três
2 2
novos orbitais “híbridos” denominados sp . A geometria dos três orbitais sp
2
é planar triangular e os três orbitais híbridos sp formarão, entre os átomos de
2 2
carbono, uma ligação sigma do tipo sp - sp e outra do tipo � (pi). A Figura 1.9
apresenta a molécula do eteno e possui ligação C = C de comprimento de
133,9 pm, ligação entre com comprimento aproximadamente de 108,7 pm. O
ângulo de ligação apresenta 121,3°.

Figura 1.9 | Estrutura do eteno

H 121.3o
H
108.7pm
C C
133.9pm
H H

Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/3b/Ethylene-CRC-MW-dimensions-2D.png> e
<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c2/Ethylene-CRC-MW-3D-balls.png>. Acesso em: 19 ago.
2016.

3. Hibridação sp: é a mistura de um orbital s com um orbital p, formando dois


novos orbitais “híbridos” denominados sp. A geometria dos dois orbitais sp é
plana linear e o carbono, ao realizar a hibridização sp, terá duas ligações duplas
ou uma simples com uma tripla. No caso da ligação tripla, teremos uma ligação
C = C sigma e duas ligações � (pi). A Figura 1.10 apresenta a molécula do
etino e possui ligação de comprimento de 120,3 pm, ligação entre C − H com
comprimento de aproximadamente 106 pm. O ângulo de ligação apresenta
180°.

Propriedades dos compostos orgânicos 15


U1

Figura 1.10 | Estrutura do etino

106.0pm

H C C H
120.3pm

Fonte:<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f8/Acetylene-CRC-IR-dimen-
sions-2D.png> e <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8b/Acetylene-
-CRC-IR-3D-balls.png>. Acesso em: 19 ago. 2016.

Assimile

Átomos ligados ao
Hibridação Geometria Estrutura
carbono

C
sp 2 Linear
C

sp 2 3 Planar Triangular C

sp 3 4 Tetraédrica C

Fonte: elaborada pelo autor.

Exemplificando
A borracha natural é um polímero formado por sucessivas adições de
isopreno, conforme Figura 1.11.
Figura 1.11 | Estrutura química do isopreno

CH3 H
H 5 H

C C C C
1 2 3 4
H H

Fonte: elaborada pelo autor.

Classificação do carbono:

a) Carbono primário: 1, 5, 4.

16 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

b) Carbono secundário: 3.

c) Carbono terciário: 2.

d) Carbono quaternário: ------

Sua cadeia carbônica é classificada como: cadeia aberta.

a) Quanto à disposição dos átomos: normal.

b) Quanto aos tipos de ligações: insaturada.

c) Quanto à natureza dos átomos: homogênea.

Hibridação do carbono:

a) Hibridação sp: ------

b) Hibridação sp2: 1, 2, 3, 4.

Hibridação sp3: 5.

Faça você mesmo


Agora faça você mesmo. Observe o composto orgânico representado
na Figura 1.12 e faça a sua classificação:

a) Quanto à classificação do carbono.

b) Quanto à classificação da cadeia carbônica.

c) Quanto à hibridação do carbono.


Figura 1.12 | Estrutura química de um composto orgânico

CH3 H CH3

H3C C C C CH3

CH3

Fonte: elaborada pelo autor.

Propriedades dos compostos orgânicos 17


U1

Vocabulário
Composto orgânico: substância que apresenta o carbono e o
hidrogênio em sua estrutura e que pode apresentar também oxigênio,
nitrogênio, enxofre, fósforo, boro, halogênios e outros.

Hibridação: processo em que os orbitais eletrônicos híbridos são


formados

Sem medo de errar

Agora, vamos dar início ao nosso processo de refino do petróleo. Considere que
você foi contratado para trabalhar em uma refinaria de petróleo: quais são as frações
básicas do petróleo obtidas no processo de refino? Nesta seção aprendemos que
para o petróleo ser utilizado como matéria-prima na produção de vários produtos
é necessário que ele passe por um processo de refino, o que possibilita que essas
frações bem mais simples do petróleo sejam classificadas em grupos e destinadas
corretamente a suas diversas finalidades. A Figura 1.13 apresenta as frações básicas
do petróleo.

Figura 1.13 | Frações básicas do petróleo

Gás

Gasolina

Querosene

Óleo diesel

Óleo lubrificante

Resíduo sólido

Fonte: elaborada pelo autor.

Agora, vamos conhecer e classificar as principais utilizações das frações do


petróleo.

Gás: utilizado em combustível e matéria-prima para a síntese de compostos


orgânicos e a fabricação de plásticos. Exemplo: gás metano.

18 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Classificação da cadeia
Fórmula Hibridação do carbono
carbônica
H
H C H Aberta: saturada sp3
H

Gasolina: utilizada como combustível de motores de explosão. Exemplo:


hidrocarboneto que compõe a gasolina iso-octano.

Classificação do Classificação da cadeia


Fórmula Hibridação do carbono
carbono carbônica

CH3 H H
Primário: 1, 5, 6, 7, 8
6
Secundário: 3 Aberta: ramificada,
H 3C C C C CH3 sp3
1 2 3 4 5 saturada e homogênea
Terciário: 4
7CH3 H 8CH3
Quaternário: 2

Querosene: utilizado em iluminação, solventes, combustíveis domésticos e


combustível para aviões.

Óleo diesel: utilizado em combustíveis de ônibus e caminhões.

Óleo lubrificante: utilizado em lubrificantes de máquinas e motores.

Exemplo: n-dodecano, hidrocarboneto que faz parte do querosene e óleo diesel;


normalmente são líquidos.

Classificação do Classificação da cadeia Hibridação do


Fórmula
carbono carbônica carbono

CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 Primários: carbonos


das extremidades Aberta: normal, saturada
H 3C
Secundários: carbonos e homogênea
sp3
CH2 CH2 CH2 CH2
centrais

Resíduo sólido: dividido em parafina, asfalto e piche.

Parafina: utilizada em velas, cosméticos, alimentos, impermeabilização e


revestimentos de papéis.

Asfalto: utilizado em pavimentação de ruas e calçadas, vedação de encanamentos


e paredes, entre outras.

Piche: revestimento de fornos e refratários, entre outros.

Exemplo: ciclopentano, hidrocarboneto que faz parte da parafina.

Propriedades dos compostos orgânicos 19


U1

Classificação do Classificação da cadeia


Fórmula Hibridação do carbono
carbono carbônica

CH2
H 2C CH2 Fechada: normal,
Carbonos secundários
saturada e homogênea
sp3
H 2C CH2

Atenção
Identificar e classificar os compostos orgânicos é a primeira etapa para a
realização de um processo de transformação.

Avançando na prática

Classificação dos combustíveis

Descrição da situação-problema

Experimente praticar o que você aprendeu transferindo seus conhecimentos


para diferenciar fontes de energia renováveis, como o álcool combustível e o bio-
diesel, de combustíveis fósseis como a gasolina. O álcool combustível é produzido
por meio do processo de fermentação, principalmente da cana-de-açúcar. Já o
biodiesel é produzido pela transesterificação do óleo vegetal com o álcool etílico.
E a gasolina é um alcano de cadeia carbônica longa, derivada do petróleo.

Imagine agora que você trabalha no laboratório de controle de qualidade de


uma empresa regulamentadora de normas e padrões de identidade e qualidade dos
combustíveis. Por esse motivo, você deve identificar e classificar os combustíveis
de acordo com a estrutura das moléculas, quantidade de carbono nas moléculas,
formatos, quantidade de ligações entre os átomos de carbono, radicais ligantes e
suas principais funções.

Resolução da situação-problema

Comparando as fórmulas estruturais do álcool combustível, do biodiesel e


da gasolina, percebemos que elas apresentam algumas semelhanças. Porém,
conhecendo os conceitos fundamentais de química orgânica apresentados nesta
seção, você será capaz de identificar e classificar as estruturas moleculares do
álcool combustível, do biodiesel e da gasolina quanto à posição dos carbonos,
cadeia carbônica e hibridação.

20 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Faça valer a pena

1. O ácido adípico é um composto orgânico cristalino, branco e sem


odor muito utilizado pela a indústria química como matéria-prima
na produção de sal de náilon, aditivos de papel e em usos finais como
solventes, lubrificantes e eletrônicos. O ácido adípico também é usado
como acidulante na indústria de alimentos.

H H H H
O O
C C C C C C
HO OH
H H H H

Fonte: elaborado pelo autor.

Analisando a fórmula estrutural do ácido adípico, é correto afirmar sobre


a cadeia carbônica:
I. A cadeia carbônica é normal e saturada.
II. A cadeia carbônica é homogênea e cíclica.
III. A cadeia carbônica é insaturada e heterogênea.
A cadeia carbônica é ramificada e acíclica.

a) A afirmativa I está correta.


b) A afirmativa II está correta.
c) A afirmativa III está correta.
d) As afirmativas I e II estão corretas.
e) As afirmativas I e IV estão corretas.

2. Os flavorizantes são substâncias naturais ou sintéticas que dão sabor


e aroma característicos quando adicionadas a alimentos, bebidas ou
medicamentos. Os flavorizantes artificiais são obtidos a partir da síntese do
ácido carboxílico e um álcool. O composto orgânico a seguir representa
a fórmula estrutural do flavorizante de morango. (Disponível em: <https://
pt.wikipedia.org/wiki/Flavorizante>. Acesso em: 19 ago. 2016).

Propriedades dos compostos orgânicos 21


U1

O
H 3C C
O CH2 CH CH3
CH3

Fonte: elaborado pelo autor.

Conforme a fórmula estrutural do flavorizante, pode-se afirmar:


I. A cadeia carbônica é homogênea e ramificada.
II. A cadeia carbônica é alifática e saturada.
III. A cadeia carbônica apresenta apenas carbonos primários e secundários.
IV. A cadeia carbônica apresenta pelo menos um carbono terciário.

a) As afirmativas I e II estão corretas.


b) As afirmativas I e III estão corretas.
c) As afirmativas II e III estão corretas.
d) As afirmativas II e IV estão corretas.
e) As afirmativas I, II e III estão corretas.

3. A anfetamina é uma substância química estimulante da atividade do


sistema nervoso central, que provoca o aumento das capacidades físicas
e psíquicas. É conhecida por “rebite” e/ou “bola”, e a pessoa sob sua ação
tem insônia, perde o apetite e sente-se cheia de energia. O uso contínuo
de anfetaminas pode levar à degeneração de algumas células do cérebro.
Por esse motivo, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu,
em 2011, a sua importação, fabricação e comercialização.

NH2

CH3

Fonte: elaborada pelo autor.

22 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Observando a estrutura química da anfetamina, o número de átomos de


carbono secundário é:
a) 5.
b) 6.
c) 7.
d) 8.
e) 9.

Propriedades dos compostos orgânicos 23


U1

Seção 1.2

Alcanos e substituintes alquila

Diálogo aberto

Na seção anterior, aprendemos a classificar e identificar as cadeias carbônicas e


suas moléculas de acordo com a posição do átomo de carbono, estrutura, disposição
dos átomos, quantidade de ligações entre os átomos de carbono e suas principais
funções. O estudo da teoria estrutural do átomo de carbono e suas ligações ajuda a
compreender os compostos orgânicos, com o objetivo de adequá-los para as suas
diversas aplicações e possibilitando atender às necessidades do ser humano e da vida
moderna.

Para dar continuidade ao nosso estudo, vamos entender agora o que caracteriza
a classe dos alcanos, bem como suas propriedades físicas, para, posteriormente,
classificá-las conforme a estrutura desses compostos e a quantidade de carbonos
presentes na molécula. Por último, aprenderemos a nomeá-los.

Nesse contexto, voltaremos a analisar o processo de refino do petróleo. Após passar


pelo processo de refino, no qual ocorre a separação do petróleo em frações, acontece
a conversão, ou seja, a alteração da estrutura da cadeia carbônica ou da função química
para a produção de derivados. Os alcanos são os hidrocarbonetos mais comuns
presentes no petróleo e quando são convertidos produzem, por exemplo, frações
de gasolina, assim como outros produtos que posteriormente podem ser utilizados
para diversas finalidades. Mas você sabia que a quantidade de carbonos presentes nos
alcanos interfere na característica do composto e na finalidade das suas aplicações
industriais? Portanto, classificar os alcanos é muito importante. Como você fará essa
classificação? Como é dada a nomenclatura desses alcanos? E por que os alcanos não
são muito reativos e, por isso, possuem a propriedade de sofrer combustão?

A partir de agora você verá que as propriedades físicas e químicas dos alcanos
caracterizam o petróleo como principal fonte de energia. Entenderá também por
que utilizamos o termo parafínico para os alcanos. Vamos classificá-los em cadeia
carbônica, normal ou ramificada e aprender a nomeá-los corretamente conforme as
principais recomendações da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC).

24 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Bons estudos e vamos começar!

Não pode faltar

Os alcanos, ou hidrocarbonetos saturados, pertencem a uma classe de


compostos orgânicos formados unicamente por átomos de carbono e hidrogênio
e possuem apenas uma ligação simples entre os átomos de carbono, ou seja, cada
átomo de carbono é ligado a outros quatro átomos de carbono ou hidrogênio.
Portanto, para que a cadeia carbônica de um alcano seja formada, é necessária a
utilização de apenas duas das suas quatro valências, restando duas valências para
se ligarem a átomos de hidrogênio.

Reflita

Ao longo de vários anos de experiência, os químicos apren-


deram que os compostos orgânicos podem ser classificados
em famílias de acordo com suas características estrutu-
rais, e que os compostos de uma mesma família apresen-
tam frequentemente comportamento químico semelhante.
(McMURRY, 2011, p. 68)

Os alcanos também são chamados de parafinas, uma palavra derivada do


latim que significa pouca afinidade por outros reagentes. Esse termo caracteriza o
comportamento dos alcanos, pois estes apresentam pouca afinidade química por
outras substâncias. No entanto, a maioria dos alcanos reage com o oxigênio do
ar, sob condições apropriadas, numa reação de combustão para produzir energia
(McMURRY, 2011).

Todos os alcanos são apolares e, por esse motivo, são imiscíveis com solventes
polares, como a água, álcoois, soluções diluídas de ácidos, soluções diluídas de
bases e ácido sulfúrico concentrado. Essa característica apolar dos alcanos é
responsável pela sua aplicação como removedor de óleos e gorduras, por exemplo.

Conforme a Figura 1.14, os alcanos apresentam geometria tetraédrica, o que


caracteriza hibridação sp3.

Propriedades dos compostos orgânicos 25


U1

Figura 1.14 | Estrutura geométrica do alcano

H
1.09A
109.5o
H
H
H

Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e9/Representaciones_del_metano.JPG>. Acesso em:


9 ago. 2016.

O encadeamento de carbonos favorece a formação de alcanos com vários


tipos de estruturas. Quando os átomos de carbono são unidos um ao outro para
formar a estrutura dos alcanos, ocorre uma disposição espacial para cada átomo
de carbono e hidrogênio na estrutura.

À medida que há o aumento do número de átomos de carbono, a massa molar


aumenta e, consequentemente, há o aumento de sua massa específica e das
temperaturas de fusão e ebulição. Porém, para alcanos com a mesma quantidade
de carbono e massa molar, mas com arranjos estruturais diferentes, a cadeia
carbônica que apresentar maior número de ramificações terá uma maior massa
específica e menor temperatura de fusão e ebulição (McMURRY, 2011).

Os alcanos apresentam densidade menor do que a da água e sua solubilidade


diminui com o aumento de sua massa molar. Quanto ao estado físico, os alcanos
que apresentam de 1 a 4 carbonos em sua estrutura molecular são gases, de 5 a
16 carbonos são líquidos, e com mais de 17 carbonos são sólidos, nas condições
normais de pressão e temperatura.

Quanto à sua estrutura, os alcanos que se encontram ligados em linha são


denominados alcanos de cadeia linear ou alcanos normais. Já os alcanos que
formam ramificações são chamados de alcanos de cadeia ramificada. Os alcanos
que formam um círculo são chamados de cicloalcanos. Para os alcanos de cadeia
aberta, o número de átomos de hidrogênio é o dobro do número de átomos
de carbono, mais dois hidrogênios que são adicionados nos extremos da cadeia
carbônica. Consequentemente, a fórmula molecular de um alcano de cadeia
aberta é dada por Cn H 2 n + 2. Para alcanos de cadeias fechadas, ou cicloalcanos, o
número de átomos de hidrogênio é o dobro do número de átomos de carbono
e apresenta fórmula molecular Cn H 2 n. A Figura 1.15 apresenta a classificação dos
alcanos.

26 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Figura 1.15 | Estrutura geométrica do alcano

ALCANOS

Abertas, acíclicas ou alifáticas Fechadas ou cíclicas

Cadeia linear Cadeia ramificada

Fonte:<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/91/Hexane-3D-balls-B.png>, <https://upload.
wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fa/2%2C3-Dimethylbutane-3D-balls.png> e <https://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/c/c6/Cyclohexane-chair-3D-balls.png>. Acesso em: 9 ago. 2016.

O alcano mais simples é o metano e apresenta apenas um átomo de carbono


em sua estrutura molecular. Da mesma forma, o etano apresenta apenas uma
combinação de dois carbonos e seis hidrogênios, e o propano, uma combinação
de três carbonos e oito hidrogênios. Porém, se quatro carbonos ou mais forem
combinados, mais de uma estrutura poderá ser formada.

O sistema formal de nomenclatura adotado atualmente é o proposto pela


União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) e tem como princípio
fundamental que cada composto orgânico tenha um único nome, sem que ocorra
ambiguidade (SOLOMONS, 2001).

Pesquise mais
A União Internacional de Química Pura e Aplicada (em inglês:
International Union of Pure and Applied Chemistry – IUPAC) é uma
organização internacional dedicada ao avanço da química. E devido
ao crescimento de compostos orgânicos, houve necessidade de um
método sistemático para nomeá-los (McMURRY, 2011). Para saber mais
sobre as normas de nomenclatura dos compostos orgânicos, visite o
site: <http://www.sbq.org.br/noticia/iupac-2017>. Acesso em: 1 set.
2016.

Vamos iniciar o estudo sobre nomenclatura apresentando uma introdução


de algumas recomendações e aplicações. O nome de um composto é formado
por um prefixo, que indica o número de átomos de carbono pertencentes à
cadeia principal; um número localizador, que indica onde está o grupo funcional
primário; um afixo (intermediário), que indica o tipo de ligação entre os átomos
de carbono; e um sufixo, que indica o grupo funcional do composto orgânico

Propriedades dos compostos orgânicos 27


U1

(SOLOMONS, 2001). O Quadro 1.1 apresenta exemplos de prefixos, afixos e sufixos


recomendados para nomear os hidrocarbonetos.

Quadro 1.1 | Recomendações de nomenclatura para hidrocarbonetos


NOMENCLATURA
1C = met 6C = hex 11C = undec
2C = et 7C = hept 12C = dodec
Prefixo 3C = prop 8C = oct 13C = tridec
4C = but 9C = non 15C = pentadec
5C = pent 10C = dec 20C = eicos
Todas simples = an Duas duplas = dien Uma tripla = in
Afixo
Uma dupla = en Três dupla = trien Duas triplas = diin
Ácido Carboxílico =
Hidrocarboneto = o Éter = Éter ___ílico
oico
Sufixo
Aldeído = al Cetona = ona Amina = amina
Álcool = ol Éster = oato Amida = amida

Fonte: elaborado pelo autor.

A nomenclatura dos alcanos lineares está diretamente relacionada à quantidade


de átomos de carbonos presentes na cadeia carbônica principal. Vamos tomar
como exemplo o alcano de nome propano. Este nome é composto pelo prefixo
“prop”, que indica o número de átomos de carbono pertencentes à cadeia
principal; pelo afixo “an”, que indica o tipo de ligação entre os átomos de carbono,
que no caso são todas simples; e pelo sufixo “o”, que indica o grupo funcional do
composto orgânico, conforme Quadro 1.2.

Assimile

Quadro 1.2 | Alcanos – cadeias lineares


Número
Nome átomos de Fórmula condensada
carbono

Metano 1 CH 4
Etano 2 CH 3CH 3
Propano 3 CH 3CH 2CH 3
Butano 4 CH 3CH 2CH 2CH 3
Pentano 5 CH 3CH 2CH 2CH 2CH 3
Hexano 6 CH 3CH 2CH 2CH 2CH 2CH 3

28 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Heptano 7 CH 3CH 2CH 2CH 2CH 2CH 2CH 3


Octano 8 CH 3CH 2CH 2CH 2CH 2CH 2CH 2CH 3
Nonano 9 CH 3CH 2CH 2CH 2CH 2CH 2CH 2CH 2CH 3
Decano 10 CH 3CH 2CH 2CH 2CH 2CH 2CH 2CH 2CH 2CH 3
Fonte: elaborado pelo autor.

Quando é retirado um átomo de hidrogênio de um alcano linear, este apresentará


uma valência livre e a estrutura parcial resultante é denominada de grupo alquil(a).
Este grupo faz parte de compostos maiores e apresenta nomenclatura diferenciada,
pois substitui-se a terminação ano do alcano de origem por il ou ila. Por exemplo,
a remoção de um átomo de hidrogênio do metano CH 4 resultará em um grupo
metila, −CH 3. A partir de então, é possível combinar um grupo alquil(a) com
qualquer cadeia carbônica, gerando milhares de compostos (McMURRY, 2011). O
Quadro 1.3 apresenta alguns exemplos de grupos alquila de cadeia linear.

Quadro 1.4 | Alguns grupos alquila de cadeia linear

Alcano Nome Grupo alquila Nome

CH 4 Metano −CH 3 Metil(a)

CH 3CH 3 Etano −CH 2CH 3 Etil(a)

CH 3CH 2CH 3 Propano −CH 2CH 2CH 3 Propil(a)

CH 3CH 2CH 2CH 3 Butano −CH 2CH 2CH 2CH 3 Butil(a)

Fonte: elaborado pelo autor..

Para grupos alquilas que apresentam três ou mais átomos de carbono, outras
combinações são possíveis e, portanto, recebem um prefixo em sua nomenclatura.
Os prefixos mais utilizados são sec, iso e tert. Os nomes isopropila, isobutila, sec-
butila e terc-butila são frequentemente utilizados e estão representados no Quadro
1.4.

Propriedades dos compostos orgânicos 29


U1

Quadro 1.3 | Alguns grupos alquila de cadeia linear

Alcano Nome Grupo Alquila Nome

CH 3CH 2CH 3 Propano Metil(a)


CH3 CH CH3

CH 3CH 2CH 2CH 3 Butano Etil(a)


CH3 CH2 CH CH3
CH3
Propil(a)
CH3 CH CH2
CH3
Isobutano CH3
CH3 CH CH3
CH3 C Terc-Butila

CH3

Fonte: elaborado pelo autor.

Os compostos butano e o isobutano apresentam a mesma fórmula molecular


( C4 H10 ), porém seus átomos estão ligados em posições diferentes. A este
fenômeno, dá-se o nome de isômeros constitucionais; apresentam propriedades
físicas diferentes, como pontos de fusão e ebulição, densidades, índice de refração,
entre outros.

Os alcanos ramificados são compostos que apresentam cadeias carbônicas


menores ligadas a uma cadeia carbônica maior, portanto, apresentam no mínimo
um carbono terciário ou quaternário em sua estrutura. Não existem ramificações
em carbonos secundários e primários. A nomenclatura deve seguir algumas regras:

1. Identificar sempre a cadeia carbônica principal, ou seja, a cadeia linear


que contém o maior número de carbonos possível, e dar o nome ao
hidrocarboneto linear.

2. Identificar os grupos alquilas que estão ligados à cadeia carbônica principal.

3. Enumerar os carbonos da cadeia principal, esta numeração deve ser


iniciada pela extremidade em que os grupos alquilas fiquem com a menor
numeração possível.

4. Citar os grupos diferentes, quando existirem, em ordem alfabética; e quando


houver grupos repetidos, usar o prefixo multiplicador correspondente, como
di, tri, tetra.

Depois de observadas essas regras, o nome do alcano ramificado apresentar-


se-á da seguinte forma: primeiramente, o nome dos grupos alquila precedido do
número do átomo de carbono ao qual está ligado, separados sempre pelo hífen;
após, o nome do alcano principal, conforme exemplo apresentado no Quadro 1.5.

30 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Exemplificando

Quadro 1.5 | Exemplo de nomenclatura de alcanos ramificados

CH3

Estrutura química H3C CH CH CH2 CH3

CH3

Nome 2,3 – dimetilpentano

CH3

H3C CH2 CH C CH3


Estrutura química
CH3 CH2

CH3

Nome 3,3,4 – trimetilhexano

Fonte: elaborado pelo autor.

Os haloalcanos, também conhecidos como haletos de alquila, são alcanos que


possuem substituintes halógenos em sua estrutura. Quando a cadeia carbônica
principal apresentar halógenos ou algum grupo alquila, numere a cadeia a partir
do substituinte mais próximo, independentemente de ser um halógeno ou grupo
alquila, porém o alógeno deve ser escrito primeiro que o grupo alquila. O Quadro
1.6 apresenta exemplos de nomenclatura dos haloalcanos.

Exemplificando

Quadro 1.6 | Exemplo de nomenclatura dos haloalcanos

Estrutura química H3C CH2 CH2 Br

Nome brometo de propila ou 1-bromopropano

CH3

Estrutura química H3C CH CH CH2 CH3

CI

Nome 2-Cloro-3-metilpentano
Fonte: elaborado pelo autor.

Propriedades dos compostos orgânicos 31


U1

A nomenclatura dos cicloalcanos é dada pelo prefixo ciclo ligado ao nome


dos alcanos que possuem o mesmo número de átomos de carbono. Quando o
cicloalcano apresentar halógenos ou algum grupo alquila, o nome será dado pelo
alquilcicloalcano e halocicloalcano. Não será necessário atribuir sua posição se o
cicloalcano apresentar apenas um substituinte, porém, quando dois substituintes
estiverem presentes, numeraremos o anel começando pelo substituinte, primeiro
em ordem alfabética, e o número na direção que dá ao substituinte seguinte
que apresentar o menor número possível. O Quadro 1.7 apresenta exemplos de
nomenclatura dos cicloalcanos.

Exemplificando

Quadro 1.7 | Exemplo de nomenclatura dos cicloalcanos

CH2
Estrutura química
H2C CH2

Nome Ciclopropano

CH3
CH2 CH3
Estrutura química

CI

Nome 4-Cloro-2-etil-1-metilcicloexano

Fonte: elaborado pelo autor.

Faça você mesmo


Agora faça você mesmo. Observe o alcano ramificado a seguir e escreva
seu nome, conforme normas da IUPAC.

CH3 CH3 CH3

H3C CH CH CH CH3 H3C C CH CH2 CH2 CH2 CH2 CH3

CH3 H2C CH3

Fonte: elaborado pelo autor.

32 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Os alcanos são obtidos principalmente da destilação do petróleo, pois o


petróleo já os contém em grande quantidade e variedade. Podem ser obtidos
nos estados sólido, líquido ou gasoso. O gás que existe nos poços de petróleo
contém alcanos de pequena cadeia (metano, etano, propano, butano, isobutano).
Os maiores empregos dos alcanos líquidos são como gasolina, querosene, óleo
diesel e como matéria-prima nas indústrias química e petroquímica para obtenção
de vários produtos.

A obtenção de alcanos por hidrogenação de hidrocarbonetos insaturados


ocorre quando se mistura um solvente orgânico na presença de catalisadores
metálicos e podem ser realizadas sob pressão atmosférica normal e à temperatura
ambiente. A seguir, a Equação 1.3 apresenta a reação:

Cn H 2 n + H 2 catalisador

Pt , Pd , Ni
→ Cn H 2 n + 2 (1.3)

Outra forma de obtenção do alcano é por meio da reação de reagentes de


Grignard com a água com bastante agitação. Os reagentes de Grignard são
compostos organometálicos formados de haleto de alquila ou arila com o metal
magnésio. A reação é fortemente exotérmica. Forma-se um haleto básico e o
alcano, conforme Equação 1.4:

Cn H 2 n +1MgBr + H 2O 
→ Cn H 2 n + 2 + Mg (OH ) Br (1.4)

Vocabulário
Alcanos: são hidrocarbonetos alifáticos saturados.

Alquila: radical orgânico monovalente de fórmula geral


( Cn H 2 n+1 ) −, formado pela remoção de um átomo de hidrogênio de um
hidrocarboneto saturado.

Cicloalcanos: são hidrocarbonetos cíclicos saturados.

Haloalcanos: grupo de compostos que pertence aos derivados dos


halogenados.

Sem medo de errar

Após o processo de refino, que ocorre por meio da destilação fracionada,


surgem os primeiros derivados do petróleo. Em seguida, essas frações do petróleo
passam por outro processo, o de conversão, realizado a altas temperaturas e

Propriedades dos compostos orgânicos 33


U1

na presença de catalisadores, com a finalidade de alterar a estrutura da cadeia


carbônica ou da função química, ou seja, consiste na quebra de cadeias longas em
cadeias menores.

Pense que você precisa identificar os alcanos que passaram pelo processo
de conversão e nomeá-los corretamente, conforme a IUPAC. O que acontece
nesse processo de conversão? Como você poderá classificá-los e destiná-los
corretamente a suas diferentes aplicações?

Nesta seção aprendemos que o grupo dos alcanos engloba diversas aplicações
dependendo da quantidade de carbono na cadeia carbônica e suas estruturas.
Os alcanos são utilizados principalmente como combustíveis, por possuírem a
propriedade de sofrer combustão, e como solventes ou matérias-primas para a
produção de diversos compostos.

Quadro 1.8 | Aplicação dos alcanos


Número de átomos de carbono
Estado físico Uso dos alcanos
na molécula
C1 − C4 Gasoso Gás natural e GLP.
Gasolina, diesel, querosene,
C5 − C16 Líquido óleo combustível e óleo
lubrificante.
Cera parafina, velas e giz de
C17 − mais Sólido
cera, asfalto.

Fonte: McMurry (2011).

O metano é um gás incolor, inodoro, pouco solúvel na água e apresenta


um alto teor inflamável quando é adicionado ao ar sob condições apropriadas.
É o hidrocarboneto mais abundante na atmosfera, pois é produzido a partir de
processos biológicos, como a decomposição do lixo orgânico e a digestão de
animais herbívoros, e por meio dos processos de extração e distribuição de gás
natural e carvão e queima de combustíveis fósseis.

O metano e o etano são os principais componentes do gás natural e abastecem


residências, indústrias e veículos. Os outros alcanos gasosos, como propano e
butano, podem ser liquefeitos a pressões moderadas e formarem o GLP (Gás
Liquefeito de Petróleo), muito utilizado em botijões para uso doméstico. A Figura
1.16 apresenta as estruturas químicas do (a) metano, (b) etano, (c) propano e (d)
butano.

34 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Figura 1.16 | Fórmula estrutural do (a) metano, (b) etano, (c) propano e (d) butano

a b c d

Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/19/Metano-3D.png>, <https://upload.wikimedia.


org/wikipedia/commons/6/6f/Ethane-3D-balls.png>, <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e4/
Propane-3D-balls-B.png>, e <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/it/a/af/Butano_modello.png>. Acesso em: 9
ago. 2016.

Alcanos que possuem quantidade igual ou superior a 12 carbonos, denominados


gasóleo, são submetidos ao craqueamento catalítico favorecendo a quebra das
cadeias carbônicas, formando-se alcanos menores e ramificados.

Do pentano até o octano, os alcanos são líquidos altamente inflamáveis e


extremamente tóxicos, podendo causar graves efeitos para a saúde. O hexano é
um componente comum da gasolina e é utilizado como solvente em laboratórios e
indústrias. O heptano e o octano também são componentes presentes na gasolina,
porém alcanos de cadeia normal não são favoráveis para a composição de uma
boa gasolina. A melhor gasolina é aquela que apresenta alcanos ramificados,
como o 2,2,4-trimetilpentano, conhecido como isoctano, pois favorece melhor
o desempenho dos motores dos carros. A Figura 1.17 apresenta as estruturas
químicas do (a) hexano e (b) isoctano.

Figura 1.17 | Fórmula estrutural do (a) hexano e do (b) isoctano

a b

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hexane-3D-balls-B.png> e <https://commons.wikimedia.org/wiki/


File:Isooctane-3D-balls.png>. Acesso em: 9 ago. 2016.

Alcanos que apresentam de 9 a 16 carbonos na cadeia carbônica são líquidos


com uma viscosidade maior se comparados com os outros alcanos líquidos,
portanto não são adequados para fazer parte da composição da gasolina.
Normalmente são compostos do diesel e querosene. O hexadecano é um
composto muito encontrado no diesel. Já alcanos que apresentam de 13 a 16
carbonos são componentes do óleo combustível e de óleos lubrificantes.

Os alcanos sólidos são utilizados como cera parafina na produção de velas.

Propriedades dos compostos orgânicos 35


U1

Os alcanos com cadeias carbônicas que apresentam em torno de 35 átomos de


carbono são compostos do betume, utilizado na produção de asfalto. A Figura 1.18
apresenta (a) undecano e (b) eicosano.

Figura 1.18 | Fórmula estrutural do (a) undecano e do (b) eicosano

a b

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nonane-3D-balls-B.png> e <https://commons.wikimedia.org/


wiki/File:Undecane-3D-balls.png>. Acesso em: 9 ago. 2016.

Avançando na prática

Propriedades físicas para o controle de qualidade dos combustíveis

Descrição da situação-problema

Ainda considerando que você trabalha no laboratório de controle de qualidade


de combustíveis, faça uma comparação da estrutura química do álcool combustível
e do biodiesel em relação à gasolina que é composta por alcanos ramificados.

Relacione o número de átomos de carbono do etanol, biodiesel e gasolina


ramificada com a massa molar, massa específica, temperaturas de fusão e ebulição,
solubilidade e densidade. Faça também uma relação dos tipos de motores de carros
para os quais eles apresentam um bom desempenho, indicando suas propriedades
físicas, vantagens e desvantagens.

Resolução da situação-problema

As estruturas químicas que devem ser analisadas pelo controle de qualidade


para que o álcool combustível (etanol), o biodiesel e a gasolina (isoctano) sejam
aprovados para a venda estão apresentadas na Figura 1.19:

Figura 1.19 | Fórmula estrutural do (a) etanol, (b) biocombustível e (c) isoctano

a b c

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ethanol-alternative-3D-balls.png>, <https://pt.wikipedia.org/


wiki/Biodiesel#/media/File:Methyl_Linoleate.png> e <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Isooctane-3D-balls.
png>. Acesso em: 9 ago. 2016.

36 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Álcool combustível (etanol): apresenta cadeia carbônica alifática, normal,


homogênea, e possui 2 átomos de carbono na cadeia carbônica. Apresenta massa
molar 46 g/mol, temperatura de fusão de - 114,3 °C, temperatura de ebulição de
78,4 °C, densidade de 0,789 g/cm3, menor do que da água, e solubilidade em
água.

Biodiesel: apresenta cadeia carbônica alifática, normal e heterogênea, e possui


18 átomos de carbono na cadeia carbônica. Apresenta massa molar de 280 g/mol,
temperatura de fusão de - 5 °C, temperatura de ebulição de 230 °C, densidade
aproximadamente de 0,88 g/cm3 e é imiscível com a água.

Gasolina (isoctano): apresenta cadeia carbônica alifática, ramificada e


homogênea, e possui 5 átomos de carbono na cadeia carbônica principal e 3
átomos de carbonos nas ramificações. Apresenta massa molar de 114 g/mol,
temperatura de fusão de - 107,4 °C, temperatura de ebulição de 99,3 °C, densidade
aproximadamente de 0,688 g/cm3 e é imiscível com a água.

Faça valer a pena

1. Cloreto de etila é uma substância que já foi muito utilizada como


anestésico, mas, devido ao seu alto índice de toxicidade, atualmente sua
utilização é autorizada apenas pelas indústrias químicas, como solvente, e
na produção de tetraetilchumbo, um aditivo da gasolina.
Pode-se dizer que cloreto de etila é um haleto de alquila. Indique a
alternativa que representa a fórmula molecular correta:
a) C2 H 6.
b) ClC2 H 4.
c) CClH 3.
d) C2 H 6Cl .
e) C2 H 5Cl .

2. O dodecano, composto presente na composição química do querosene,


é um hidrocarboneto líquido, incolor e estável em condições normais de
uso. Em contato com a pele, é uma substância irritante e pode provocar a
redução de consciência quando inalada em altas concentrações.
Em relação à cadeia carbônica do composto dodecano, é correto afirmar
que:
a) Apresenta cadeia carbônica normal, ramificada e insaturada.
b) Apresenta cadeia carbônica normal, ramificada e saturada.

Propriedades dos compostos orgânicos 37


U1

c) Apresenta fórmula molecular C12 H 26.


d) Apresenta fórmula molecular C12 H 24.
e) Apresenta fórmula molecular C12 H 24O.

3. Os alcanos são hidrocarbonetos saturados, pois apresentam apenas


átomos de carbono e hidrogênio e possuem somente ligações simples,
portanto apresentam o número máximo de átomos de hidrogênio por
átomos de carbono em sua estrutura. Um determinado alcano pode ser
desenhado arbitrariamente de várias formas.
Observando a estrutura química da figura a seguir, o nome dado pela
IUPAC para alcano é:

CH3 CH3

H3C C C C C C CH3
H H2 H2 H H2

Fonte: elaborado pelo autor.

a) 2,5-Dimetileptano.
b) 5-Etil-2-metilexano.
c) 2-Metil-5etilexano.
d) Nonano.
e) 2,5-Dimetilnonano.

38 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Seção 1.3

Nomenclatura e propriedades dos compostos


orgânicos
Diálogo aberto

Agora que você já aprendeu a classificar as cadeias carbônicas e sobre as


propriedades e nomenclatura da classe dos alcanos, vamos conhecer e nomear
os heterocompostos presentes nos compostos orgânicos. Vale lembrar que as
cadeias carbônicas podem ser classificadas de acordo com a natureza dos átomos
em homogêneas e heterogêneas, e que nesse contexto é importante saber que as
cadeias carbônicas apresentam funções orgânicas diferentes.

Como vamos identificar e nomear os heterocompostos presentes nos


compostos orgânicos? Primeiramente, teremos que reconhecer um átomo ou
um grupo de átomos específicos, que denominamos de grupos funcionais, e, em
seguida, classificá-lo e nomeá-lo. Teremos as seguintes classificações: compostos
insaturados, compostos oxigenados, nitrogenados e sulfurados. Dentro dos
compostos oxigenados, temos uma divisão de funções que são caracterizadas
conforme a ligação e a posição do átomo de oxigênio na molécula. O mesmo
acontece com os compostos nitrogenados e sulfurados; já os compostos
halogenados são formados a partir da substituição de átomos de hidrogênio
por igual número de átomos de halogênio, como flúor, cloro, bromo e iodo na
molécula.

Vamos voltar para o refino do petróleo. Depois de passar pelo processo de


refino, no qual ocorre a separação do petróleo em frações, e após converter
a estrutura da cadeia carbônica ou da função química dessas frações para a
produção de derivados, vamos passar pela fase de acabamento, que envolve
a etapa de remoção ou modificação dos contaminantes. Mas você sabe quais
são esses contaminantes? Como podemos identificá-los? O que caracteriza
esses contaminantes? Você já imaginou que os heterocompostos presentes nas
estruturas das moléculas podem alterar e interferir na finalidade das aplicações das
frações do petróleo?

A partir de agora vamos classificar os heterocompostos presentes no petróleo

Propriedades dos compostos orgânicos 39


U1

e nomear esses compostos orgânicos, levando em consideração suas estruturas e


composição química. Ao final seremos capazes de nomear compostos oxigenados,
nitrogenados e halogenados e analisar melhor a importância dos derivados do
petróleo nos produtos básicos do nosso dia a dia.

Não pode faltar

Com a finalidade de compreendermos melhor as propriedades físicas e químicas


dos compostos orgânicos, estes são separados em grupos conforme suas funções
orgânicas, que são caracterizadas por um átomo ou por um grupo de átomos. As
moléculas orgânicas que pertencem a um mesmo grupo funcional apresentam
propriedades semelhantes entre si, enquanto as moléculas que não pertencem
ao mesmo grupo apresentam propriedades diferentes. Porém, vale lembrar
sempre que não existem duas substâncias iguais e por isso, quando os compostos
orgânicos são organizados em grupos, há sempre algumas propriedades distintivas
e exceções às regras (McMURRY, 2011).

Nos hidrocarbonetos saturados, cada átomo de carbono é ligado a outros


quatro átomos de carbono ou hidrogênio, estabelecendo ligações covalentes
simples. Existe, porém, outra classe de hidrocarbonetos em que há pelo menos
uma ligação dupla, C = C , ou tripla, C ≡ C , entre os átomos de carbono,
denominados hidrocarbonetos insaturados.

Designa-se alceno a cadeia carbônica que apresenta pelo menos uma ligação
dupla entre os átomos de carbono, e, portanto, possui menos hidrogênio que
um alcano com um mesmo número de carbonos. Um alceno de cadeia aberta
apresenta fórmula molecular Cn H 2 n . Em geral, cada anel ou ligação dupla em
uma molécula corresponde a uma perda de dois hidrogênios a partir da fórmula
de um alcano Cn H 2 n + 2. Conhecendo essa relação, é possível calcular o número
de anéis e/ou ligações múltiplas presentes na molécula. Os compostos com duas
ligações triplas são denominados dienos e com três ligações triplas, trienos.

Um alcino é um hidrocarboneto que apresenta uma ligação tripla entre os


átomos de carbono. Esse composto apresenta fórmula molecular Cn H 2 n − 2. Os
compostos com mais de uma ligação tripla são denominados diinos, triinos, e assim
por diante. E os compostos com mais de oito ligações triplas são denominados
poliinos e possuem hibridação sp. Os compostos que contêm ligações duplas e
triplas são denominados eninos. A Figura 1.20 apresenta uma molécula de um
alceno e de um alcino (SOLOMONS, 2001).

40 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Figura 1.20 | Alceno e alcino

H H H
C C H C C C H
H H H

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ethene-2D-flat.png> e <https://commons.wikimedia.org/wiki/


File:Propyne-2D-flat.png>. Acesso em: 18 ago. 2016.

Quanto à nomenclatura, alceno e alcino são nomeados conforme as regras


similares dos alcanos, utilizando-se o sufixo -eno e –ino no lugar de –ano para
identificar a dupla e a tripla ligação, respectivamente.

Regras para a nomenclatura:

• Primeira etapa: nomear o hidrocarboneto principal. Identificar sempre a cadeia


linear que contém o maior número de carbonos possível e que contenha a
ligação dupla, nomear utilizando o sufixo –eno.

• Segunda etapa: numerar os átomos de carbono. Iniciar a contagem pela


extremidade mais próxima da ligação dupla ou tripla. Caso a insaturação esteja
distante das extremidades, iniciar pela extremidade que possui a ramificação
mais próxima.

• Terceira etapa: escrever o nome completo. Indicar a posição da insaturação e,


imediatamente após, colocar o sufixo –eno ou –ino, conforme IUPAC.

Assimile
Figura 1.21 | Exemplo de nomenclatura de um alceno

H 3C CH2
C CH2
H 3C CH2 CH2

Fonte: elaborado pelo autor.

Primeira etapa: nomeado como um penteno.

Segunda etapa: ligação dupla no 1° carbono e um grupo alquila no 2°


carbono.

Terceira etapa: nome: 2-Etilpent-1-eno.

Propriedades dos compostos orgânicos 41


U1

Compostos orgânicos oxigenados

Os compostos orgânicos oxigenados são substâncias que possuem em sua


fórmula química átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. O oxigênio forma
duas ligações covalentes e pode ou não estar presente na cadeia carbônica
principal. Os grupos funcionais oxigenados são:

1. Álcool

Álcoois são compostos que apresentam o grupamento funcional hidroxila −OH


ligado a um átomo de carbono saturado de um radical orgânico.

Fórmula geral: R − OH , onde R é um radical orgânico cuja estrutura é formada


por átomos de carbono e hidrogênio.

A nomenclatura oficial é dada enunciando-se o prefixo indicativo do número de


átomos de carbono seguido da terminação OL. A nomenclatura usual, ou seja, não
oficial, é muito utilizada em álcoois de estrutura mais simples, e usa-se a palavra
álcool, seguida do nome do radical orgânico, como metil, etil e assim por diante,
ligado à hidroxila, acrescido da terminação ICO. O Quadro 1.9 apresenta exemplos
de nomenclatura IUPAC e usual.

Quadro 1.9 | Exemplo de nomenclatura função álcool


Estrutura Nomenclatura IUPAC Nomenclatura Usual

H 3C CH2 OHI Etanol Álcool etílico

H 3C CH2 CH2 OHI Propanol Álcool propílico

Fonte: elaborado pelo autor.

Os álcoois podem ser classificados quanto ao tipo de carbono em que se


localiza a hidroxila –OH e conforme a quantidade de grupos –OH presentes na
cadeia carbônica:

42 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Exemplificando
Quadro 1.10 | Classificação dos álcoois
Quantidade
Localização da
Estrutura de hidroxila Estrutura
hidroxila –OH
–OH

H 3C CH2 OHI Monoálcool H 3C CH2 OHI


Álcool primário:
ou Monol:
Etanol Etanol

H 3C CH2 CH OHI OHI OHI


Diálcool, ou
Álcool secundário: CH3 Glicol: H 2C CH2
Butan-2-ol Etan-1,2-diol
CH3
OHI OHI OHI
H 3C C OHI Triálcool ou
Álcool terciário:
Triol: H 2C CH CH2
CH3
Propano Propan-1,2,3-triol

Fonte: elaborado pelo autor.

2. Fenol

O fenol é identificado por um grupo hidroxila –OH ligado diretamente ao átomo


de carbono que pertence a um anel aromático.

Fórmula geral: Ar − OH , onde Ar é um anel aromático.


A nomenclatura oficial dos fenóis apresenta o prefixo hidróxi seguido do nome
do hidrocarboneto correspondente, conforme Quadro 1.7. Quando ocorrem
ramificações, é necessário iniciar a numeração sempre pela hidroxila e indicar suas
posições para obter os menores números possíveis.

Quadro 1.11 | Exemplo nomenclatura função fenol


Estrutura Nomenclatura IUPAC Nomenclatura Usual
OHI
Hidroxibenzeno Fenol

OHI
1-hidroxinaftaleno 1-naftol

Propriedades dos compostos orgânicos 43


U1

OHI

1,4-di-hidroxibenzeno Hidroquinona

OHI
Fonte: elaborado pelo autor.

3. Aldeído

Aldeídos são compostos orgânicos que recebem o nome de grupo formila ou


aldoxila e apresentam o grupo funcional H − C = O na extremidade da cadeia
carbônica ligada a um radical alifático ou aromático.

A nomenclatura oficial é dada enunciando o prefixo indicativo do número


de átomos de carbono seguido da terminação AL. Sua terminação será, mais
especificamente, ANAL se a cadeia carbônica for saturada e ENAL se for insaturada
com dupla ligação, por exemplo.

Os três aldeídos mais simples apresentam nomes usuais formados pelos prefixos:
form, acet, propion, seguidos da palavra aldeído, por exemplo: formaldeído,
acetaldeído e propionaldeído. Para os que apresentam insaturação ou ramificações
seguem as regras de nomenclatura vistas anteriormente. Como o grupo funcional
se encontra sempre na extremidade, esse carbono será identificado como o
número 1, portanto não é necessário indicá-lo, conforme apresentado no Quadro
1.12.

Quadro 1.12 | Exemplo nomenclatura função aldeído


Estrutura Nomenclatura IUPAC Nomenclatura Usual
O
HC Metanal Formaldeído
H
O
HC
3
C Etanal Acetaldeído
H

O O
C CH2 CH2 CH2 C Pentanodial Glutardialdeído
H H

Fonte: elaborado pelo autor.

44 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

4. Cetona

Cetonas são compostos orgânicos que recebem o nome de grupo carbonila e


são representados pelo grupamento: −C ( = O ) − .

Esse átomo de carbono necessariamente tem que ser secundário e para que
essa condição se verifique a cadeia carbônica deverá ter, no mínimo, três átomos
de carbono.

Enuncia-se o prefixo indicativo do número de átomos de carbono seguido


da terminação ONA. O grupo funcional =O deve ser identificado através da
numeração. Na nomenclatura usual é dado o nome dos radicais ligados à carbonila
e acrescenta-se a palavra cetona, conforme o Quadro 1.13.

Quadro 1.13 | Exemplo nomenclatura função cetona


Estrutura Nomenclatura IUPAC Nomenclatura Usual
O
Propanona Dimetilcetona
H 3C C C H3

O
2-metilpentanona Metilpropilcetona
H 3C C C H2 C H2 C H3

Fonte: elaborado pelo autor.

5. Ácido carboxílico

Ácidos carboxílicos são todos os compostos orgânicos denominados carboxila


e cuja fórmula estrutural aparece o grupamento: C ( = O )OH .

Oficialmente, o nome é dado mencionando-se a palavra ÁCIDO, seguida do


vocábulo formado pelo prefixo designativo ao número de átomos de carbono,
mais o sufixo OICO. Segue exemplos de nomenclatura no Quadro 1.14.

Quadro 1.14 | Exemplo de nomenclatura ácido carboxílico


Estrutura Nomenclatura IUPAC Nomenclatura Usual
O
H 3C C Ácido etanoico Ácido acético
OH

O
H 3C C H2 C Ácido propanoico Ácido propiônico
OH

Propriedades dos compostos orgânicos 45


U1

O O
C C H2 C Ácido propanodioico Ácido metanodicarboxílico
HO OH

Fonte: elaborado pelo autor.

6. Éster

Ésteres são compostos orgânicos resultantes da reação de um ácido com um


álcool e são representados pelo grupamento: R1C ( = O )O − R2 .

O nome oficial do éster é composto de três vocábulos, a saber:

Nome de R com terminação ATO de acordo com o número de átomos de


carbono que o compõe + preposição DE + nome do radical R1 de acordo com o
número de átomos de carbono que o compõe, conforme exemplos no Quadro
1.15.

Quadro 1.15 | Exemplo nomenclatura função éster


Estrutura Nomenclatura IUPAC Nomenclatura Usual

O
H 3C C Etanoato de metila Acetado de metila
O C H3

O
H 3C C H2 C Propanoato de etila Propionato de etila
O C H2 C H3

Fonte: elaborado pelo autor.

7. Éter

Éteres são compostos orgânicos que apresentam em sua fórmula estrutural


um átomo de oxigênio interligando dois radicais orgânicos. Radicais: R − O − R1.

Enuncia-se o prefixo do primeiro radical R indicando o número de átomos de


carbono seguido da terminação OXI e, em seguida, enuncia-se o segundo radical
R1 seguido da terminação ANO. Os radicais R e R1 não são necessariamente iguais,
conforme exemplos no Quadro 1.16.

46 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Quadro 1.16 | Exemplo nomenclatura função éter


Nomenclatura Nomenclatura
Estrutura
IUPAC Usual

H 3C C H2 O C H2 C H3 Etoxietano Éter dietílico

H 3C C H2 C H2 O C H2 C H2 C H 3 Propoxipropano Éter dipropílico

Fonte: elaborado pelo autor.

Compostos orgânicos nitrogenados

Os compostos orgânicos nitrogenados são substâncias que possuem em sua


constituição o heteroátomo nitrogênio. O nitrogênio forma três ligações covalentes
e pode estar presente ou não na cadeia carbônica principal. Os compostos
orgânicos nitrogenados podem ser:

1. Amina

Composto orgânico derivado da amônia ( NH 3), é obtido a partir da substituição


de um ou mais átomos de hidrogênio da amônia por um grupamento orgânico.
Podem gerar aminas primárias, secundárias e terciárias. A nomenclatura oficial é
dada enunciando os radicais com terminação IL mais a palavra AMINA, conforme
Quadro 1.17.

Quadro 1.17 | Exemplo nomenclatura amina


Amina Primária Amina Secundária Amina Terciária
C H3
H 3C N H2 H 3C NH C H2 C H3
H 3C N C H3
Metilamina Etilmetilamina
Trimetilamina
Monoamina Diamina Triamina
H 3C C H2 NH C H3
H 3C C H2 N H2 H 2N C H2 C H2 NH C H2 C H2 N H2
NH C H2 C H2
Etilamina Dietileno Triamina
N-Etil-N’-Metiletilenodiamina
Amina Alifática Amina Aromática
N H2
H 3C C H2 C H2 N H2
Propilamina
Fenilamina

Fonte: elaborado pelo autor.

Propriedades dos compostos orgânicos 47


U1

Pesquise mais

As aminas são compostos biológicos de grande importância para os


seres vivos por estarem presentes nos aminoácidos e apresentarem
várias funções, como regulação biológica e defesa contra predadores.
Para saber mais sobre as aminas e sua importância, acesse: <http://
www.infoescola.com/compostos-quimicos/alcaloides/>. Acesso em:
24 ago. 2016.

2. Amida

A amida é derivada da amônia, pois é caracterizada pela substituição de um


átomo de hidrogênio por um grupo acila. A nomenclatura oficial da amida é dada
enunciando o nome do hidrocarboneto correspondente mais a palavra AMIDA,
conforme Quadro 1.18.

Quadro 1.18 | Exemplo de nomenclatura amida


Estrutura Nomenclatura IUPAC

O
H 3C C H2 C Propanamida
N H2
O
C Diaminometanal (Ureia)
H2 N N H2

O
H3 C C H 2 C H 2 C Metilbutanamida
N C H3

Fonte: elaborado pelo autor.

Compostos organossulfurados

Normalmente apresentam pelo menos uma ligação covalente entre átomos de


carbono e enxofre. O enxofre forma compostos orgânicos semelhantes aos do
oxigênio, conforme Quadro 1.19.

48 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Quadro 1.19 | Exemplo de nomenclatura compostos organossulfurados


Estrutura Nomenclatura IUPAC

H3 C S H Metanotiol

H3 C S C H3 Sulfeto de dimetila

S
Propanotiona
H3 C C C H3

Fonte: elaborado pelo autor.

Reflita
Os compostos organossulfurados são frequentemente associados
com odores marcantes, mas muitos dos compostos com sabores mais
agradáveis conhecidos são derivados de organossulfurados. A natureza
é abundante em compostos organossulfurados, dado que o enxofre é
essencial à vida. Dois dos aminoácidos mais comuns são compostos
organossulfurados. Combustíveis fósseis, carvão mineral, petróleo
e gás natural, os quais são derivados de organismos pré-históricos,
necessariamente contêm organossulfurados, e a remoção destes é um
foco importante das refinarias de petróleo.
Fonte:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
40422010000400035&lang=pt>. Acesso em: 24 ago. 2016.

Sem medo de errar

Agora, vamos finalizar o processo de refino de petróleo por meio da purificação


para a remoção ou transformação de contaminantes, também chamados de
impurezas. Você sabe quais são esses contaminantes? Como podemos identificá-
los? Já imaginou que essas impurezas presentes nas estruturas das moléculas
podem alterar as propriedades do petróleo? É de grande importância realizar uma
análise elementar dos principais constituintes presentes nas frações de petróleo,
pois a quantidade de contaminantes está diretamente relacionada à qualidade e ao
preço desses derivados.

Agora identificaremos os heterocompostos presentes no petróleo, que podem


estar combinados de inúmeras formas, levando em consideração suas estruturas e
composição química. Essas impurezas são constituídas por compostos de oxigênio,
nitrogênio, enxofre e metais. O Quadro 1.20 apresenta os principais elementos
químicos presentes no petróleo e suas proporções, porém esses valores podem
variar de acordo com a origem do petróleo.

Propriedades dos compostos orgânicos 49


U1

Quadro 1.20 | Proporções dos principais elementos químicos presentes no petróleo

Constituintes Proporção (%)


Carbono 83 a 87
Enxofre 0,05 a 6
Hidrogênio 10 a 14
Nitrogênio 0,1 a 2
Oxigênio 0,05 a 1,5
Metais (VI e V) < 1000 mg/kg

Fonte: Speight (2001).

1. Oxigênio

Os compostos oxigenados estão concentrados nas frações mais pesadas do


petróleo e são considerados compostos indesejáveis por serem responsáveis pelo
aumento de acidez, corrosividade, coloração e odor nos derivados do petróleo. Os
compostos oxigenados presentes no petróleo são quase tão abundantes quanto
os compostos de enxofre e são apresentados no Quadro 1.21:

Quadro 1.21 | Proporções dos principais elementos químicos presentes no petróleo

Ácido
Álcool Cetona Éter Éster Furano
Carboxílico
Ácido acético
Metanol e Propanona Metoximetano
Acetato de etila e Ácido Furano
Fenol (Acetona) e Éter difenílico
benzoico
CH 3OH CH 3OCH 3 CH 3COOH
e CH 3COCH 3 e CH 3COOCH 2CH 3 e C2 H 2OC2 H 2
C6 H 5OH C6 H 5OC6 H 5 C6 H 5COOH

Fonte: elaborado pelo autor.

Nitrogênio

Os compostos nitrogenados também se encontram nas frações mais pesadas


do petróleo e têm a tendência de aumentar a capacidade do óleo de reter água
em emulsão, de contaminar os catalisadores no processo de craqueamento,
tornar instáveis os produtos de refino e contribuir para a formação de gomas nos
produtos. Podem ser classificados em básicos e não básicos, conforme Quadro
1.22.

50 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Quadro 1.22 | Compostos nitrogenados presentes no petróleo


Básico Não básico

Piridina Pirrol
C5 H 5 N N C4 H 5 N
N
H

Quinolina Indol
C9 H 7 N N C8 H 7 N
N H
H
Indolina Carbazol
N
C8 H 9 N N C8 H12 N
H

Fonte: elaborado pelo autor.

3. Enxofre

Os compostos de enxofre estão entre os mais importantes contaminantes


presentes no petróleo. A presença de compostos organossulfurados são
responsáveis pela corrosividade e pela contaminação de catalisadores nos
processos de transformação. Outros problemas causados são a diminuição da
estabilidade de combustíveis, deterioração da cor e odor desagradável. O Quadro
1.23 apresenta os principais compostos organossulfurados presentes no petróleo.
Quadro 1.23 | Compostos organossulfurados presentes no petróleo
Tiofeno Benzotiofeno Dibenzotiofeno

S S S
C4 H 4 S C8 H 6 S C12 H 8 S
Fonte: elaborado pelo autor.

Compostos metálicos

Os compostos metálicos de maior relevância encontrados no petróleo são


ferro, níquel, cobre e vanádio e estão concentrados nas frações mais pesadas do
petróleo. A presença desses metais auxilia na contaminação de catalisadores nos
processos de transformação e catalisa a formação de ácido sulfúrico em meio
aquoso.

Propriedades dos compostos orgânicos 51


U1

Avançando na prática

Heterocompostos presentes nos combustíveis

Descrição da situação-problema

Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos


para novas situações que podem ser encontradas no ambiente de trabalho.
Ainda considerando que você trabalha no laboratório de controle de qualidade
de combustíveis, apresente as fórmulas químicas dos compostos sulfurados e
outros contaminantes presentes na gasolina e que também são danosos ao meio
ambiente. Quais são as consequências da presença de compostos sulfurados na
gasolina? E quais compostos químicos são considerados aditivos para manter a
qualidade elevada da gasolina para consumo?

Descreva também os contaminantes inorgânicos e orgânicos que podem estar


presentes no álcool combustível e no biodiesel. Aplicando o que aprendeu na aula,
você pode também escrever a fórmula 2,6-di-terc-butil-4-metil fenol e 2-terc-butil-
4-hidroxianisol, exemplo de alguns aditivos utilizados para melhorar a estabilidade
oxidativa do biodiesel. Realize as atividades e depois as compare com a de seus
colegas.

Resolução da situação-problema

Os compostos orgânicos nitrogenados e sulfurados são substâncias


consideradas contaminantes quando presentes na gasolina e podem promover
corrosão de partes do motor e pistões, além de serem prejudiciais ao meio
ambiente. São elas: indol, quinolina, dibenzotiofeno, 4,6-dimetildibenzotiofeno e
metilnaftaleno.

A incorporação de aditivos melhora a qualidade da gasolina, pois esses agem


como antidetonantes, ou seja, evitando que a combustão da mistura gasolina e ar
ocorra antes do tempo certo, prejudicando o rendimento do motor. Os principais
aditivos são: éter metiltercbutila, éter etiltercibutila, álcool tercbutílico, entre outros.

Conforme a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP),


os compostos considerados contaminantes no álcool combustível são: cloreto,
sulfato de sódio e compostos orgânicos de baixo peso molecular, tais como
formaldeído, acetaldeído, ácido acético, ácido fórmico e acetona. A presença
desses compostos, mesmo em pequenas concentrações, reduz o desempenho
do combustível, promove corrosão e formação de resíduos indesejáveis no motor.

Os contaminantes orgânicos encontrados no biodiesel, segundo a ANP, são:


metanol, etanol, glicerol livre e total, triacilglicerol.

52 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Faça valer a pena

1. O propano-1,3-diol é utilizado para a produção de diversos produtos


industrializados, como adesivos, películas, poliésteres alifáticos, solventes
e anticoagulantes. O isobutanol é utilizado em grande escala como
solvente em reações químicas.
Identifique as fórmulas moleculares, respectivamente, dos compostos da
função álcool citados acima:
a) C4 H10O e C3 H 6O2.
b) C4 H10O2 e C3 H 8O .
c) C3 H 8O2 e C4 H10O.
d) C3 H 6O2 e C4 H10O2.
e) C3 H 8O2 e C4 H10O2.

2. O cicloexano é um composto orgânico cíclico utilizado como solvente


para éteres de celulose e na indústria de plásticos. Já o benzeno é um
hidrocarboneto aromático e é utilizado principalmente para a produção
de outras substâncias químicas.
Ao substituir um átomo de hidrogênio por um grupo hidroxila (OH) nas
moléculas do cicloexano e benzeno, obtêm-se, respectivamente, as
funções:
a) Álcool e fenol.
b) Fenol e álcool.
c) Álcool e álcool.
d) Ácido e fenol.
e) Álcool e ácido.

3. O formol é um aldeído formado por átomo de carbono, considerado


uma substância cancerígena que, em contato com a pele, causa irritação
com vermelhidão, dores e queimaduras. Por esse motivo, a Anvisa proibiu
seu uso em alisantes capilares, pois o formol vinha sendo utilizado em
concentrações maiores que as permitidas.
A fórmula molecular e o nome oficial, segundo a IUPAC, da substância
descrita pelo texto são, respectivamente:
a) C2 H 4O , etanol.
b) CH 2O , metanal.

Propriedades dos compostos orgânicos 53


U1

c) C2 H 4O , etanal.
d) CH 2O, metanol.
e) CHO , metano.

54 Propriedades dos compostos orgânicos


U1

Referências

McMURRY, John. Química orgânica. Tradução de All Tasks. 7. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2011.
SOLOMONS, T. W. Graham; FRYHLE, C. B. Química orgânica 1. Tradução de Whei Oh
Lin. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001.
Speight, J. G. Handbook of Petroleum Analysis. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 2001.
VASCONCELOS, M. Teoria de Lewis e carga formal química orgânica 1, aula 004.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=i6l5arePt18>. Acesso em: 13 jul.
2016.
WIKIPÉDIA. Petróleo. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Petr%C3%B3leo>.
Acesso em: 13 jul. 2016.

Propriedades dos compostos orgânicos 55


Unidade 2

Conformação dos alcanos


e cicloalcanos

Convite ao estudo

Dando continuidade ao nosso estudo de Fundamentos de Química


Orgânica, entraremos agora na segunda unidade deste livro didático.
Nesta unidade, aprenderemos o que é conformação dos alcanos e por
que ocorre uma rotação em torno de ligação carbono-carbono. Você já
imaginou quando ocorre essa rotação? Qual é o motivo dessa rotação?
Por meio dos aprendizados desta unidade de ensino, saberemos
responder a essas perguntas e a muitas outras.

Com base nesse raciocínio e assimilando todos os assuntos relevantes


desse tema, temos como competências conhecer e aplicar os conceitos
essenciais em fundamentos de química orgânica na formação científica e
tecnológica, tendo nesta unidade os seguintes objetivos de aprendizagem:
(1) entender o que são ligações sigma e rotação de ligações; (2) aprender
o que é uma projeção de Newman; (3) assimilar os conceitos de análise
conformacional; (4) entender sobre reações de substituição em alcanos
(5) conhecer a estrutura dos cicloalcanos; (6) conhecer sobre os átomos
de hidrogênio axial e equatorial, (7) conhecer sobre tensão angular,
torsional e estérica.

Atualmente, existe uma grande preocupação em desenvolver


produtos que causem um menor impacto ao meio ambiente e também
em destinar corretamente os resíduos, como óleos lubrificantes usados,
que apresentam grande potencial de deterioração ambiental ao serem
descartados impropriamente. Os óleos lubrificantes são compostos
orgânicos obtidos em maior escala do petróleo e apresentam a função
U2

de reduzir o atrito entre dois componentes sólidos móveis de motores,


máquinas e equipamentos rotativos.

No nosso cotidiano, utilizamos os óleos lubrificantes nos motores dos


automóveis, mas você sabe qual é a composição do óleo lubrificante
automotivo? Por que ele evita o desgaste precoce das peças metálicas?
E o que acontece com suas propriedades originais após certo tempo de
uso? Por que o óleo lubrificante automotivo usado se torna um resíduo
muito perigoso ao meio ambiente? Como tratar corretamente esse
resíduo? Já ouviu falar que existe um processo industrial de reciclagem
do óleo lubrificante usado?

Nesta unidade, você assumirá o papel de um pesquisador químico


que trabalha com a fabricação de motores de automóveis e deverá,
primeiramente, identificar quais são os tipos de óleos lubrificantes
automotivos mais utilizados, diferenciar as moléculas orgânicas de
óleos lubrificantes novos, que ainda não foram utilizados nos motores
automotivos, dos óleos lubrificantes automotivos usados. Após realizar
essa etapa, será necessário compreender o que acontece com as
moléculas orgânicas dos óleos lubrificantes durante o processo de
reciclagem. Para que essa tarefa seja realizada corretamente, é importante
que você fique atento às formas de procedimentos que abordaremos
durante a Unidade 2.

58 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Seção 2.1

Análise conformacional dos alcanos

Diálogo aberto

Nesta seção, aprenderemos sobre a disposição geométrica dos átomos nas


moléculas dos alcanos e dos cicloalcanos. O grupo dos alcanos e cicloalcanos
apresenta apenas uma ligação sigma entre os átomos de carbono, por esse motivo
pode sofrer uma rotação livre em torno da ligação, permitindo assim diferentes
posições dos átomos, o que chamamos de conformação das moléculas. Portanto,
desejamos bons estudos e que, ao final desta unidade, você seja capaz de entender
a estrutura tridimensional dos alcanos.

No nosso dia a dia, utilizamos diferentes tipos de óleos lubrificantes e nem nos
damos conta de sua composição ou de como é realizada a sua fabricação. Todas
as pessoas utilizam meios de transportes diariamente para ir ao trabalho ou se
locomover. Você já deve ter ouvido falar que de tempo em tempos é necessário
trocar o óleo do carro, pois se não o motor pode fundir? Já deve ter percebido que
se os óleos lubrificantes que utilizamos em motores de automóveis, motocicletas,
ônibus, trens, embarcações e em turbinas de aviões não existissem, estes teriam
uma vida útil muito baixa? Isso aconteceria porque o movimento das peças dos
motores, em contato umas com as outras, gera atrito, aumentando a temperatura
e causando desgaste.

Os óleos lubrificantes automotivos são uma composição química de óleos


minerais base em quantidades variadas e com a presença de aditivos. Mas o que são
esses aditivos? E com qual finalidade são adicionados aos óleos minerais básicos?

Como pesquisador químico, primeiramente, você terá como função classificar


os tipos de óleos lubrificantes minerais e identificar qual é o mais utilizado em
motores automotivos, fazendo uma comparação das estruturas químicas e suas
aplicações. Após essa tarefa, você também classificará esses óleos lubrificantes
automotivos conforme a presença de certos aditivos, identificando quais são suas
composições químicas e suas funções.

Estudaremos a fórmula estrutural e a representação das moléculas de alguns

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 59


U2

óleos lubrificantes automotivos. Vamos identificar qual composto químico deve ser
utilizado para obter uma melhor viscosidade do óleo lubrificante e entenderemos
por que alguns arranjos na estrutura das moléculas de alcanos e cicloalcanos são
mais propícios a se formarem do que outros arranjos estruturais. Assim, vamos
compreender um pouco mais sobre os óleos lubrificantes e, a partir de agora,
entender as suas funções e aprender os seus segredos.

Bons estudos!

Não pode faltar

Como já visto na seção anterior, os alcanos pertencem a uma classe de


compostos orgânicos formados unicamente por átomos de carbono e hidrogênio
e possui apenas uma ligação simples carbono-carbono, denominada ligação
3
σ. Esta ligação, cilindricamente simétrica, é formada quando um orbital sp de
3
um átomo de carbono se sobrepõe a outro orbital sp de um segundo átomo
de carbono. Portanto, devido a essa simetria cilíndrica, é possível uma rotação
ao redor das ligações carbono-carbono nas moléculas de uma cadeia carbônica
aberta. Geralmente, essa rotação é livre ao redor de todas as ligações simples à
temperatura ambiente (McMURRY, 2011).

Por exemplo, a Figura 2.1 apresenta uma molécula do etano, em que a rotação
em torno da ligação C − C ocorre livremente, alterando assim repetidamente as
relações espaciais entre os átomos de hidrogênio em um carbono e os átomos de
hidrogênio em outro carbono.

Figura 2.1 | Rotação em torno da ligação σ ( C − C ) na molécula do etano

H H H H
H
Rotação

H σ H
sp 3 sp 3
H
H H H H

Fonte: adaptada de <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Etano_2.png>. Acesso em: 7 set. 2016.

Essas diferentes combinações temporárias de átomos resultantes da rotação


interna de ligações simples são denominadas conformações, e as moléculas que
apresentam diferentes combinações são chamadas de confôrmeros ou isômeros
conformacionais.

Os isômeros conformacionais podem ser representados de três maneiras:

60 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

1. Fórmula em perspectiva: visualiza-se uma linha sólida que representa ligações


que ficam no plano do papel, uma cunha sólida que representa ligações saindo
do plano do papel e uma cunha tracejada que representa ligações que entram
no plano do papel. A Figura 2.2 representa a fórmula em perspectiva do etano.

Figura 2.2 | Representação em perspectiva da molécula do etano

H H
H
H
H H

Fonte: adaptada de <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cof%C3%B3rmeros_de_etano.png>. Acesso em: 7


set. 2016.

2. Representação por cavalete: visualiza-se a molécula em perspectiva que


apresenta a ligação C − C a partir de um ângulo oblíquo e indica-se a
orientação espacial pela exibição de todas as ligações C − H . A Figura 2.3 é
uma representação por cavalete da molécula do etano.

Figura 2.3 | Representação por cavalete da molécula do etano

H H
H H
H H
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cof%C3%B3rmeros_de_etano.png>. Acesso em: 7 set. 2016.

3. Projeção de Newman: visualiza-se a ligação C − C a partir das extremidades e


representa-se os dois átomos de carbono por círculos coincidentes. As ligações
do carbono dianteiro estão representadas por linhas que vão até o centro do
círculo. Já as ligações do carbono de trás estão representadas por linhas que
vão até a circunferência do círculo, conforme Figura 2.4.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 61


U2

Figura 2.4 | Projeção de Newman da molécula do etano

H
H H
H H
H

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cof%C3%B3rmeros_de_etano.png>. Acesso em: 7 set. 2016.

Uma análise da variação de energia que a molécula sofre com grupos girando
sobre uma ligação simples é chamada de análise conformacional. As moléculas
podem apresentar conformação alternada e eclipsada.

A conformação mais estável do etano, ou seja, com menor energia é a


conformação alternada, pois todas as seis ligações C − H se encontram o mais
distante possível umas das outras. Já a conformação eclipsada é menos estável,
pois requer a interação repulsiva máxima entre os elétrons de seis ligações C − H ,
apresentando, portanto, energia mais elevada.

Assimile

Quadro 2.1 | Conformação do etano

Conformação Alternada Eclipsada

H H H H
Fórmula em perspectiva H C C H H C C H
H H H H

H H H
Representação por H H
cavalete H H H
H H H H
H HH
H H
Projeção de Newman H
H H H H
H H

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cof%C3%B3rmeros_de_etano.png>. Acesso em:


7 set. 2016.

62 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

As moléculas de etano em 99% dos casos apresentam conformação


aproximadamente alternada, enquanto que apenas 1% das moléculas do etano
ficam próximas da conformação eclipsada (McMURRY, 2011).

O confôrmero eclipsado possui uma maior energia devido à repulsão dos elé-
trons entre as ligações ser maior do que quando estas são mais distantes e alterna-
das. A essa repulsão de elétrons damos o nome de tensão torsional. A diferença de
energia entre as conformações alternada e eclipsada da molécula do etano é de
12 kJ.mol-1. Algumas moléculas irão oscilar com seus átomos nas conformações
alternadas ou quase alternadas. As mais energéticas, entretanto, irão girar das con-
formações eclipsadas para outras conformações alternadas (SOLOMONS; FRYHLE,
2001). A Figura 2.5 apresenta as mudanças de energia que ocorrem na molécula de
etano em função da rotação sobre a ligação carbono-carbono.

Figura 2.5 | Potencial de energia versus rotação das ligações do etano

Conformações eclipsadas
Energia

Fonte: adaptada de McMurry (2011, p. 93).

O propano também apresenta uma barreira torsional resultando da diferença de


energia entre as conformações alternada e eclipsada de 14 kJ.mol-1. Essa barreira
é um pouco maior quando comparada com o etano, pois enquanto o etano
apresenta três interações H − H , o propano apresenta duas interações H − H e
uma interação H − CH 3 (hidrogênio-metila), conforme Figura 2.6.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 63


U2

Figura 2.6 | Projeções de Newman do propano

CH3 H3C H
H H

H H H H
H H
H
Propano alternado Propano eclipsado

Fonte: elaborada pela autora.

Pesquise mais
Para conhecer mais sobre projeções de Newman, acesse o link disponível
em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/estereoisomeria-ou-
isomeria-espacial.htm> Acesso em: 10 set. 2016.

Em alcanos maiores, com quatro átomos de carbono ou mais, a situação


conformacional se torna mais complexa, pois nem todas as conformações
alternadas apresentam uma mesma energia e nem todas as conformações
eclipsadas apresentam a mesma energia.

O butano apresenta três ligações simples entre os átomos de carbono e,


portanto, a molécula pode girar em torno delas. Na Figura 2.7, os confôrmeros
em oposição e eclipsados são desenhados para a rotação em torno da ligação
C1 − C 2 . Os confôrmeros em oposição resultantes da rotação em torno da
ligação C1 − C 2 apresentam a mesma energia.

Figura 2.7 | Projeções de Newman do butano em torno da ligação C1 − C 2

H HH
H H

H H H H
H CH2CH3
CH2CH3

Fonte: elaborada pela autora.

Para a rotação em torno da ligação C 2 − C 3 , os confôrmeros em oposições


resultantes da rotação em torno da ligação não apresentam a mesma energia. A
combinação de menor energia é denominada de conformação anti, que consiste

64 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

na combinação em que os dois grupos metilas se encontram o mais distante


possível um do outro, ou seja, estão separados em 180°. Conforme a rotação das
ligações continua, há um aumento de energia na conformação e os grupos metila
ficam separados por um ângulo de 60°, denominado de conformação gauche.
Essa diferença de energia se dá devido aos átomos de hidrogênio do grupo metila
estarem mais próximos um do outro, resultando no que é chamado de tensão
estérica. A tensão estérica consiste na interação de repulsão que ocorre quando
os átomos são forçados a ficarem mais próximos do que é permitido pelos seus
raios atômicos.

Conforme os grupos metilas se aproximam de 0°, a energia atinge um ponto


máximo na conformação eclipsada de 19 kJ.mol-1. Após 0°, a rotação se torna
uma imagem refletida do que já foi visto anteriormente. A Figura 2.8 apresenta as
mudanças de energia versus a rotação da ligação C 2 − C 3 do butano.

Figura 2.8 | Potencial de energia versus rotação das ligações do etano do butano em torno
da ligação C 2 − C 3

19kJ mol -1
16kJ mol -1
Energia

3,8J mol -1

Anti Gauche Gauche Anti

Fonte: adaptada de McMurry (2011, p. 95).

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 65


U2

Exemplificando

Desenhando as projeções de Newman do 1-cloropropano para a


conformação mais estável e para a menos estável.

CI H3C CI
H H

H H H H
H H
CH3
Mais estável Menos estável
alternada eclipsada

Fonte: elaborada pela autora.

Desenhe as projeções de Newman do 1,2-dibromoetano para a


conformação mais estável e menos estável:

Mais estável Menos estável

As reações químicas orgânicas podem ocorrer de duas maneiras: pelo tipo de


reação química ou pelo modo como esta ocorre. Como exemplo temos as rea-
ções de substituições, que acontecem quando dois reagentes trocam partes de
suas moléculas para formar dois novos produtos. As reações de substituição em
alcanos podem ser realizadas por halogenação, nitração e sulfonação (McMURRY,
2011).

A halogenação é uma reação quando ocorre a substituição de um átomo de hi-


drogênio por um halogênio, como cloro, bromo, iodo e flúor na presença de luz e
calor, convertendo-se em um haleto de alquila. As reações que contêm o flúor são
explosivas e as de iodo praticamente não ocorrem. Um exemplo de halogenação é
a cloração do metano, em que é formado o clorometano. Para alcanos com mais
de dois átomos de carbono, há a possibilidade de todos os átomos de hidrogênio
serem substituídos, permitindo assim a formação de produtos com diferentes po-
sições do halogênio, o que denominamos isômeros de posição.

A reação de halogenação ocorre por meio de radicais livres. Por exemplo, a

66 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

bromação do propano ocorre em duas etapas. Na primeira etapa (Equação 2.1),


sob a influência de luz ou calor, a molécula de bromo se dissocia, formando-se
dois átomos de bromo altamente reativos. Na segunda etapa (Equação 2.2), um
átomo de bromo extrai um átomo de hidrogênio da molécula do propano produ-
zindo uma molécula brometo de hidrogênio e um radical propila, que se liga ao
átomo de bromo formando uma molécula de brometo propílico. As quantidades
de moléculas 1-bromopropano e 2-bromopropano formadas dependem das velo-
cidades relativas em que os radicais n-propil e isopropil se formam.

Br Br Br + Br 2.1
H H H
H C C C Br+HBr
H H H
H H H
H C C C H+2 Br ou

H Br H 2.2
H H H
H C C C H+HBr
H H H

Reflita

Reflita um pouco mais sobre a halogenação dos alcanos. Disponível


em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010040422000000300
011&script=sci_arttext>. Acesso em: 10 set. 2016.

A nitração consiste na reação de substituição de um átomo de hidrogênio


por um grupo nitro ( −NO2 ). Por exemplo, a reação de nitração do etano pode
ocorrer quando for utilizado o ácido nítrico concentrado a temperaturas elevadas,
em torno de 400 °C, formando a molécula de nitroetano. A Equação 2.3 apresenta
a reação da molécula de etano com o ácido nítrico. O átomo de oxigênio do
ácido nítrico extrai um átomo de hidrogênio da molécula de etano formando um
radical etila. Consequentemente, o radical etila ataca o nitrogênio liberando uma
molécula de água e formando o nitroetano.

H H H H
H3C C H+H O NO2 H3C C +H O NO2 H3C C NO2+ H2O
2.3
H H H

A sulfonação consiste na reação de substituição de um átomo de hidrogênio


por um grupo sulfônico ( −SO3 H ). Por exemplo, a reação de sulfonação do etano
pode ocorrer quando for utilizado o ácido sulfúrico concentrado a temperaturas

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 67


U2

elevadas, formando ácido sulfônico. A Equação 2.4 apresenta a reação da


molécula de etano com o ácido sulfúrico. O átomo de oxigênio do ácido sulfúrico
extrai um átomo de hidrogênio da molécula de etano formando um radical etila.
Consequentemente, o radical etila ataca o enxofre, liberando uma molécula de
água e formando o ácido etanossulfônico.

H H H H
H3C C H+H O SO3H H3C C +H O SO3H H3C C SO3H+ H2O 2.4

H H H

Vocabulário
Confôrmeros: compostos caracterizados por poder modificar sua
orientação espacial, convertendo-se em outro composto da mesma
molécula à temperatura ambiente, por rotação da ligação simples
C − C.

Sem medo de errar

É importante saber que os óleos lubrificantes minerais utilizados em motores


automotivos são uma composição química de óleos minerais base em quantidades
variadas com a presença de certos aditivos e apresentam como função a redução
do atrito entre dois componentes sólidos móveis de motores, evitando o desgaste
precoce das peças metálicas.

Iniciando o trabalho como pesquisador químico, você tem a função de


classificar os óleos minerais base apresentando suas estruturas químicas e suas
principais aplicações, com o objetivo de identificar qual é o tipo de óleo mineral
base mais utilizado em motores automotivos. O Quadro 2.2 apresenta os tipos de
óleos minerais e suas principais aplicações.

68 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Quadro 2.2 | Tipos de óleos minerais e aplicações

Tipo Aplicação Estrutura química

Óleos de motores CH3


automotivos, óleos
Óleos parafínicos
hidráulicos e de H3C CH3
engrenagem. CH3 CH3

H3C
Óleos para
transformadores,
CH3
Óleos naftênicos compressores
de refrigeração e
compressores de ar.

CH3
Extensores e emolientes
CH3
Óleos aromáticos
da indústria de borracha. CH3

Fonte: elaborado pela autora.

Portanto, os óleos minerais base parafínicos são os mais utilizados para a


produção dos óleos lubrificantes automotivos, por apresentarem um melhor
comportamento da viscosidade em relação a variações de temperaturas. A sua
qualidade e as suas propriedades físico-químicas dependem diretamente do
petróleo bruto, do tipo de refino e da utilização de certos aditivos.

Os aditivos são compostos químicos que são incorporados aos óleos


lubrificantes com a função de melhorar suas propriedades físico-químicas para
atender às exigências de lubrificação dos motores automotivos, possibilitando
assim um bom funcionamento e uma maior vida útil dos motores.

Os aditivos em óleos lubrificantes podem modificar tanto as características fí-


sicas como a natureza química. As características físicas que podem ser alteradas
são a viscosidade e o ponto de fluidez. Já a natureza química que pode ser mo-
dificada consiste nos inibidores de oxidação, agentes antidesgaste e dispersantes.
Agora, vamos conhecer e classificar os principais aditivos utilizados nos óleos lubri-
ficantes para motores automotivos.

O Quadro 2.3 apresenta os principais aditivos utilizados nos óleos lubrificantes


para motores automotivos e suas composições químicas.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 69


U2

Quadro 2.3 | Aditivos e composição química

Aditivos Função Composição química


Reduzir a variação de
Polímeros de butileno,
Modificador de viscosidade viscosidade em relação à
polimetacrilatos e iso-olefinas.
variação de temperatura
Reduzir o ponto de fluidez do Polimetacrilatos, naftaleno
Ponto de fluidez
óleo lubrificante alquilado ou fenóis.
Proteger superfícies metálicas Dialquilditiofosfato de zinco,
Inibidor de oxidação
do motor contra a corrosão fenóis, aminas aromáticas.
Dialquilditiofosfato de zinco,
Reduzir desgaste de peças em
Agente antidesgaste compostos de enxofre e cloro,
movimento no motor
ácidos fosfatados orgânicos.
Manter em suspensão a Poliésteres de estireno,
Agente dispersante fuligem e neutralizar os ácidos polisobutinil succinamidas de
formados durante a combustão poliaminas.

Fonte: elaborada pela autora.

Avançando na prática

Óleos lubrificantes sintéticos

Descrição da situação-problema

Como pesquisador químico, foi solicitado também que você estude o que são
óleos lubrificantes sintéticos automotivos, qual é a principal diferença na obtenção
desses óleos, em quais situações os óleos lubrificantes podem ser utilizados e se
existe alguma vantagem quando comparados aos óleos lubrificantes minerais.

Resolução da situação-problema

Os óleos lubrificantes sintéticos, ao contrário dos óleos lubrificantes minerais,


são produzidos por meio de reações químicas específicas, ou seja, são produzidos
artificialmente.

Na maioria das vezes, quando comparados com os óleos lubrificantes minerais,


são mais indicados para motores de alta performance oferecendo vantagens em
termos de desempenho, aumento de vida útil do motor e garantindo melhor
lubrificação. Apresentam também um bom comportamento de viscosidade em
relação às variações de temperatura, ou seja, baixo ponto de solidificação a baixas
temperaturas e pouca tendência de coqueificação a altas temperaturas.

Existem vários compostos químicos que são utilizados para a fabricação de óleos
lubrificantes sintéticos, dos quais podemos citar os hidrocarbonetos sintéticos,
polioésteres, diésteres orgânicos, óleos de silicone e poliésteres perfluorados,
conforme apresentado no Quadro 2.4.

70 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Quadro 2.4 | Lubrificantes sintéticos

Tipo Vantagens Estrutura química


CH2
Mais estável à oxidação,
Hidrocarbonetos sintéticos CH3
excelente relação viscosidade e H3C
(PAO, polialfaolefinas)
temperatura. H3C CH3

Importantes para fluidos de


Poliolésteres etilenoglicol freios, óleos lubrificantes OH
HO
hidráulicos.
R4
R3 O
Utilizados para a lubrificação
O
Diésteres e fabricação de graxas O
lubrificantes. O R2
R1

Resistência muito alta contra


Óleos de silicone
temperaturas baixas e altas.

Poliésteres perfluorados F
Extraordinária estabilidade F
Cl Cl
contra influência química.
F Cl Cl Cl
(fluorclorocarbonos)

Fonte: elaborada pela autora.

Faça valer a pena

1. Uma projeção de Newman é visualizada quando as ligações carbono-


-carbono são representadas por círculos.
A conformação mais estável, ou seja, com menor energia é:

a) Conformação eclipsada.
b) Conformação alternada.
c) Conformação por cavalete.
d) Conformação do alcano.
e) Conformação oblíqua.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 71


U2

2. A figura a seguir representa o 2-metilpropano:


CH3
H H

H CH3
H

Fonte: elaborada pela autora.

Analisando a projeção de Newman e observando a ligação C1 − C 2, é correto


afirmar:

a) Apresenta a conformação alternada, ou seja, mais estável.

b) Apresenta a conformação alternada, ou seja, menos estável.

c) Apresenta conformação eclipsada, ou seja, mais estável.

d) Apresenta conformação eclipsada, ou seja, menos estável.

e) Não apresenta conformação.

3. A reação de monocloração de um alcano, na presença de luz, produz os


seguintes compostos: 1-cloro-2-metilpropano e 2-cloro-2-metilpropano.
O nome do alcano utilizado nessa reação é:

a) Propano.
b) Metilpropano.
c) Butano.
d) Pentano.
e) Isobutanol.

72 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Seção 2.2

Tensão dos cicloalcanos

Diálogo aberto

Na seção anterior, aprendemos sobre as ligações sigma e por que ocorre rotação
ao redor das ligações carbono-carbono nas moléculas dos alcanos. O estudo da
combinação espacial das moléculas dos alcanos ajuda a determinar suas propriedades
e seu comportamento biológico. Aprendemos também que as diferentes combinações
que resultam da rotação da ligação são denominadas de conformações e moléculas
que apresentam diferentes combinações são chamadas de confôrmeros.

Nesta seção, estudaremos alguns arranjos na estrutura das moléculas dos


cicloalcanos e o motivo de sua estrutura formar tensões angulares e torcionais.
Identificaremos a posição dos átomos de hidrogênio nos anéis.

Os óleos lubrificantes são substâncias essenciais para aumentar a vida útil de um


veículo, por exemplo, pois têm como principal objetivo reduzir atritos e desgaste
precoce das peças metálicas. Você já se perguntou por que trocamos periodicamente
o óleo do motor de nosso carro? O que acontece com as propriedades originais
físico-químicas após o seu uso? Já imaginou para onde vai o óleo lubrificante usado?
E que após o óleo lubrificante ser retirado dos motores de carro, esses passam a ser
um resíduo perigoso para a saúde da população e para o meio ambiente?

Ainda como pesquisador químico, agora você verificará o que aconteceu com a
estrutura química dos óleos lubrificantes minerais usados depois que foram retirados
dos motores de automóveis para serem substituídos, fazendo uma comparação das
propriedades físico-químicas com os óleos lubrificantes novos. Para finalizar essa
tarefa, você irá compreender por que esse óleo lubrificante usado se torna um resíduo
perigoso e será capaz de identificar a melhor destinação para ele.

Nesta seção, estudaremos a fórmula estrutural de alguns óleos lubrificantes usados,


sempre comparando com os óleos lubrificantes novos, já analisados. Vamos aprender
por que o óleo lubrificante, após certo tempo, sofre deterioração e o que caracteriza
esta deterioração.

Bons estudos!

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 73


U2

Não pode faltar

Os hidrocarbonetos cíclicos saturados são denominados de cicloalcanos, ou


seja, a formação de um anel ocorre quando há a ligação dos extremos de um
composto orgânico com a presença de três ou mais átomos de carbono na cadeia
carbônica, com a remoção de dois átomos de hidrogênio.

Um ciclo é considerado uma forma de insaturação correspondente ao


composto acíclico, devido aos dois átomos de hidrogênios a menos. Porém, é
importante destacarmos que esse tipo de insaturação é diferente da insaturação
devido às ligações duplas e triplas, pois diferentemente dos cicloalcanos, que
apresentam apenas ligações sigmas (σ), os alcenos e alcinos apresentam ligações
pi (π). Para os cicloalcanos, o número de átomos de hidrogênio é o dobro do
número de átomos de carbono e apresenta fórmula molecular Cn H 2 n.

A nomenclatura dos cicloalcanos refere-se às mesmas regras dos alcanos,


conforme IUPAC, porém acrescida do prefixo ciclo, ou seja, está diretamente
relacionada com a quantidade de átomos de carbonos presentes no ciclo da
cadeia carbônica e podem ser representados por polígonos, conforme a Figura
2.9.

Figura 2.9 | Exemplos de representação de cicloalcanos

Ciclopropano Ciclobutano Ciclopentano Cicloexano

Fonte: elaborada pela autora.

Devido a todas as posições do anel serem equivalentes, e quando apenas


um átomo de hidrogênio for substituído por um radical ou função, ou o ciclo
apresentar apenas uma única ligação dupla, não é necessário especificarmos a
posição da substituição ou da insaturação. A Figura 2.10 apresenta exemplos de
ciclos em que há apenas uma modificação e sua nomenclatura conforme IUPAC.

Figura 2.10 | Exemplos de ciclos monossubstituídos


O
OH
CH3

Ciclobuteno Metilciclopentano Ciclopropanol Cicloexanona

Fonte: elaborada pela autora.

74 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Quando o número de átomos de carbono do anel for igual ou maior do que o


número de carbonos do radical, o composto é nomeado como um cicloalcano
mais alquil substituído. Agora, se o número de átomos de carbono do anel for
menor que do radical, o composto será nomeado como um alcano cicloalquil
substituído. A Figura 2.11 apresenta exemplos de nomenclatura quando há presença
de um ciclo no composto químico.

Assimile

Figura 2.11 | Exemplos de nomenclatura de cicloalcanos

CH3 CH2 CH2 CH2 CH3


Metilciclopentano 1- Ciclopropilbutano

Fonte: elaborada pela autora.

Primeira etapa: encontrar a cadeia principal através do número de


átomos de carbono anel ou do radical.

Segunda etapa: nomear o composto orgânico.

Porém, quando há a presença de radicais ou ligações duplas nos compostos


cíclicos, é necessário seguir algumas regras. Primeiramente, precisamos
identificar se os cicloalcanos apresentam ligações duplas no anel, radicais e se
apresentam uma ou mais funções. Após essa identificação, é feita uma contagem
numérica do anel, de modo que os radicais apresentem os menores números
do sequenciamento, ou seja, o radical, a função ou ligação dupla deva estar na
posição de menor número possível.

Para duas ou mais modificações, é necessário que as posições sejam


especificadas, sendo ideal enumerar um ponto de ligação como carbono
número 1 e, em seguida, enumerar o outro radical de modo que este esteja no
menor número possível. Quando a molécula apresentar dois ou mais tipos de
grupos alquilas, é necessário enumerá-los dando prioridade à ordem alfabética.
Se estiverem presentes halógenos, trate-os exatamente como se fossem grupos
alquilas. A Figura 2.12 apresenta exemplos de nomenclatura de cicloalcanos para
duas modificações.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 75


U2

Exemplificando

Figura 2.12 | Exemplos de nomenclatura de cicloalcanos

CH3
CH3
CH3
CH3
CH2 CH3 Br
1,2 - Dimetilciclopentano 1 - Etil - 3 - metilcicloexano 1 - Bromo - 2 - metilciclobutano

Fonte: elaborada pela autora.

Faça você mesmo


Agora faça você mesmo. Observe o composto a seguir e escreva seu
nome, conforme normas da IUPAC.

O
H3C CH3
CH3

OH
CH3

Fonte: elaborada pela autora.

Quando mais de um sistema de anel é ligado a uma cadeia simples, é necessário


denominar esses compostos de cicloalquilalcanos. A Figura 2.13 apresenta
exemplos de cicloalquilalcanos.

Figura 2.13 | Exemplos de nomenclatura de cicloalcanos com mais de um anel

Dicicloexilpropanona 1,3 - Dicicloexilpropno

Fonte: elaborada pela autora.

76 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Os heteromonociclos são compostos monocíclicos que apresentam um único


anel, contendo no máximo 10 átomos no anel e podendo apresentar um ou mais
heteroátomos. Nesse caso, a nomenclatura é dada por combinação de um prefixo
que indica o heteroátomo, com um sufixo que indica o tamanho do anel.

O Quadro 2.5 apresenta os prefixos mais comuns utilizados em compostos


monocíclicos que apresentam um heteroátomo.

Quadro 2.5 | Prefixos de nomenclatura dos compostos monocíclicos com heteroátomos

Elemento Prefixo Elemento Prefixo

Oxigênio Ox(a) Nitrogênio Az(a)

Enxofre Ti(a) Fósforo Fosf(a)

Selênio Selen(a) Silício Sil(a)

Telúrio Telur(a)

Fonte: elaborada pela autora.

Para que a pronúncia seja suavizada, é utilizada a letra (a) que aparece entre
parênteses na coluna prefixo do Quadro 2.6, ou seja, é utilizada sempre que
o prefixo estiver antes de uma consoante. Por exemplo: oxirano (ox + irano) e
oxatiolano (ox +ti + olano).

Quadro 2.6 | Terminações de nomenclatura dos compostos monocíclicos com


heteroátomos

Quantidade de
Terminações
átomos no anel
Com (N) Sem (N)
3 iridina irano
4 etidina etano
5 olidina olano
Com (N) ou (P) Sem (N) e (P)
6
inano ano
Com ou sem (N) ou (P)
7 epano
8 ocano
9 onano
10 ecano
Fonte: elaborada pela autora.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 77


U2

A química dos cicloalcanos é como a dos alcanos de cadeia aberta, ambas são
apolares e razoavelmente inertes, porém os cicloalcanos são menos flexíveis, ou
seja, apresentam uma menor liberdade de rotação em torno das ligações simples
(McMURRY, 2011).

Mas quando imaginamos os compostos cíclicos como polígonos regulares,


como Adolf von Baeyer propôs em 1885, podemos observar que os anéis
apresentam uma certa tensão devido aos ângulos das ligações C − C serem
diferentes do valor tetraédrico ideal de 109°. Ou seja, quanto mais afastados os
ângulos dos anéis forem de 109°, maior será a sua tensão angular.

Na verdade, nós não podemos nos apoiar nessa teoria, pois está baseada em
falsas suposições de que os cicloalcanos seriam planos. O que ocorre é que, a
maioria dos cicloalcanos adota conformações tridimensionais. Uma evidência
disso é que o anel de 5 átomos deveria ser mais estável que o anel de 6 átomos,
mas na prática o anel de 6 átomos é mais estável, isso ocorre pois o tamanho do
anel de 6 átomos permite uma melhor organização tridimensional. O único anel
considerado realmente plano é o ciclopropano, por apresentar apenas três átomos
de carbono, que define um plano, e é considerado uma molécula rígida e plana,
além disso, nenhuma rotação de ligação em torno da ligação C − C ocorre sem
que o anel se abra (McMURRY, 2011).

Reflita

Johann Friedrich Wilhelm Adolf von Baeyer (1835-1917) foi um químico


alemão que recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1905. Descobriu
o ácido barbitúrico a partir da reação do ácido malônico com ureia.
Os derivados sintéticos do ácido barbitúrico apresentam propriedades
sedativas e hipnóticas e por vários anos foram muito utilizados no
tratamento da insônia. Fonte: <http://www.infoescola.com/medicina/
barbituricos/>. Acesso em: 19 set. 2016.

Os outros cicloalcanos não são planos e apresentam uma liberdade crescente


de rotação, porém, cicloalcanos com anel de 4 a 7 átomos de carbono são
ainda considerados extremamente restritos em seus movimentos moleculares
(McMURRY, 2011). Por esse motivo, a energia global dos cicloalcanos é exercida
por conformações tridimensionais de menor energia devido à combinação de três
fatores:

• Tensão angular: tensão gerada pela expansão ou compressão dos ângulos das
ligações simples.

• Tensão torsional: tensão gerada pela interação de ligações sobre os átomos


da vizinhança.

78 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

• Tensão estérica: tensão gerada pela interação repulsiva devido à aproximação


dos átomos uns dos outros.

Como resultado, a tensão angular ocorre somente em anéis com três ou quatro
átomos de carbono, o que caracteriza pouca flexibilidade; e para alcanos com
anéis de sete a onze átomos de carbono, a tensão torsional e a tensão estérica são
os fatores mais importantes a serem considerados (McMURRY, 2011).

O anel que possui seis átomos de carbono é o anel mais comumente encontrado
entre as moléculas orgânicas na natureza. O cicloalcano pode apresentar duas
conformações principais, denominadas cadeira e barco, representadas na Figura
2.14.

Figura 2.14 | Conformações do cicloexano

Conformação cadeira Conformação barco

Fonte: elaborada pela autora.

Para transformarmos da forma barco para a forma cadeira é necessária uma


força, pois as ligações entre os átomos de carbono passam por um estado de
transição em que os 5 carbonos ficam num mesmo plano. E, nesse estado de
transição, a molécula não apresenta ângulos próximos a 109°, por esse motivo
dizemos que as ligações estão forçadas.

Se considerássemos apenas os ângulos entre as ligações dos átomos de carbono,


poderíamos afirmar que a conformação do barco teria a mesma estabilidade da
conformação cadeira, porém, é necessário considerarmos também as interações
entre os grupos e os elétrons. Podemos observar que na conformação barco há
várias ligações eclipsadas e os dois hidrogênios que estão no bico da molécula se
encontram inclinados para dentro, repelindo-se um ao outro.

Devido a essas várias interações, a conformação cadeira é bem mais estável


em relação à conformação barco, e, portanto, quase todas as moléculas dos
cicloalcanos estão na conformação cadeira. A Figura 2.15 apresenta a molécula do
cicloexano em formato estrutural denominada cadeira.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 79


U2

Figura 2.15 | Conformação cadeira do cicloexano

H H
H H
H H
H H
H H
H H
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cyclohexane_structure.png>. Acesso em: 18 set. 2016.

Conforme a Figura 2.15, podemos observar que a molécula do cicloexano


apresenta dois tipos de orientação dos átomos de hidrogênio em relação ao anel.
Os átomos de hidrogênio ligados a cada um dos seis átomos de carbono que
ficam próximos ao perímetro do anel são chamados de átomos de hidrogênio
equatoriais. Os demais átomos de hidrogênio, também um em cada átomo de
carbono que apresenta direção perpendicular em relação ao plano do anel, são
chamados de hidrogênio axiais (SOLOMONS; FRYHLE, 2001).

Cada átomo de carbono no cicloexano possui um átomo de hidrogênio axial


e um átomo de hidrogênio equatorial e cada face do anel apresenta três átomos
de hidrogênio axial e três átomos de hidrogênio equatorial em uma combinação
alternada. Por exemplo, se a face superior do anel apresentar hidrogênios axiais
nos carbonos 1, 3 e 5; consequentemente os hidrogênios equatoriais estarão nos
carbonos 2, 4 e 6 (McMURRY, 2011).

Pesquise mais
Para conhecer mais sobre a conformação dos cicloalcanos, acesse o
link disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3Twpsr84k-
zk>. Acesso em: 18 set. 2016.

A Figura 2.16 (a) apresenta as seis ligações axiais, uma em cada carbono,
alternadas acima e abaixo da face. As ligações são perpendiculares em relação
ao anel e paralelas entre si. A Figura 2.16 (b) apresenta as seis ligações equatoriais,
uma em cada carbono, e fazem três grupos de duas ligações paralelas. Cada grupo
também é paralelo a duas ligações do anel.

80 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Figura 2.16 | Representação de ligações axiais e equatoriais no cicloexano de cadeira

(a) (b)

Fonte: elaborada pela autora.

À temperatura ambiente, um cicloexano em formato estrutural cadeira pode


sofrer rotação do anel, oscilando rapidamente as conformações de cadeira.
Lembrando que quando há essa oscilação do anel, denominada de rotação do
anel, todas as ligações axiais se tornam equatoriais e vice-versa. A Figura 2.17
apresenta uma rotação do cicloexano alternado as posições axial e equatorial.

Figura 2.17 | Rotação do cicloexano

3 1 2
4 3
2
4 5 6
6 Oscilação do anel
5 1

Fonte: elaborada pela autora.

As conformações axial e equatorial de um cicloexano monossubstituído não são


igualmente estáveis. Por exemplo, a conformação do metilcicloexano equatorial
é cerca de 7,6 kJ/mol mais estável do que em uma posição axial. À temperatura
ambiente, 95% das moléculas de metilcicloexano estão na conformação com
o grupo metil em equatorial. A Figura 2.18 apresenta a interconversão dos
metilcicloexanos axial e equatorial.

Figura 2.18 | Metilcicloexano axial e equatorial

H H
H H
H C H H H 2H H
H H H 4 H
H 3 H C
3
1
2
1
6 H
H 5
4
H H H H 5

H
6
H H H
H H

Fonte: elaborada pela autora.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 81


U2

Analisando a Figura 2.18, podemos observar que a diferença de energia entre


as conformações axial e equatorial é causada devido à tensão estérica provocada
pelas interações entre os carbonos 1 e 3, chamada de interações 1,3-diaxiais.

Podemos concluir que o radical ou função em um cicloexano substituído


apresenta quase sempre conformação mais estável em uma posição equatorial do
que em uma axial.

Exemplificando

A Figura 2.19 apresenta as moléculas do bromocicloexano axial


tornando-se bromocicloexano equatorial após sofrer a rotação do
anel. O processo é rápido à temperatura ambiente e para que ocorra
rotação, a barreira energética é de 45 kJ/mol.

Figura 2.19 | Rotação do bromocicloexano

Br

Rotação do anel

Br

Bromocicloexano axial Bromocicloexano equatorial

Fonte: elaborada pela autora.

A tensão estérica de 1,3-diaxiais em um determinado cicloalcano substituído


depende da natureza e do tamanho do substituinte, conforme indicado na Tabela
2.5. Observe que os valores no Quadro 2.7 se referem às interações 1,3-diaxiais do
substituinte com um único átomo de hidrogênio. Esses valores devem ser dobrados
para alcançar a quantidade de tensão em um cicloexanomonossubstituído.

Quadro 2.7 | Tensão estérica em cicloexanomonossubstituídos


H Y
Tensão de uma interação H − Y 1,3-diaxial

Y 1(kJ/mol) Y 1(kJ/mol)

F 0,5 CH (CH 3 ) 2 4,6

Cl , Br 1,0 C (CH 3 )3 11,4

OH 2,1 C6 H 5 6,3

CH 3 3,8 CO2 H 2,9

CH 2CH 3 4,0 CN 0,4

Fonte: adaptada de McMurry (2011, p. 122).

82 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Sem medo de errar

Nesta nova etapa, como pesquisador químico, você tem a função de verificar
a estrutura química dos óleos lubrificantes minerais usados quando são retirados
dos motores de automóveis, com a finalidade de classificá-los conforme sua
composição química, identificando os contaminantes e o tipo de degradação.

É importante lembrar que o alto desempenho de um veículo se deve aos


eficientes lubrificantes, que têm como principal função garantir a lubrificação da
superfície de peças em movimento e, depois de certo tempo de uso, perdem suas
propriedades originais, não servindo mais para aquilo que foram preparados.

Por que precisamos trocar o óleo lubrificante do motor do carro periodicamente?


Os óleos lubrificantes minerais utilizados nos motores de automóveis são formados em sua grande
parte por óleos parafínicos e uma pequena parcela de óleos naftênicos, ou seja, hidrocarbonetos
saturados de cadeia acíclicas e cíclicas que reagem com o oxigênio do ar pela ação da temperatura
formando vários tipos de reações químicas, que produzem certas substâncias indesejadas.

Com o passar do tempo, são formados a borra e contaminantes diversos, sendo, portanto,
necessário que o lubrificante seja trocado para evitar o desgaste das peças e problemas no
funcionamento do motor.

Após a oxidação, surgem substâncias indesejadas na composição dos óleos lubrificantes de


grupos funcionais oxigenados, como álcoois, aldeídos, cetonas, ésteres, ácidos carboxílicos e
hidroperóxidos, e ainda podem ser formados hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, como
tolueno, naftaleno e dioxinas.

Além da formação desses produtos, os óleos lubrificantes usados podem apresentar metais
pesados, como arsênio, cádmio, chumbo, mercúrio e cromo, procedentes do desgaste dos
motores.

O O O O
R1 R1 R1 R1
R1 OH O R2 OH
H O R2
Álcoois Ésteres Ácidos
Aldeídos Cetonas
carboxílicos
CH3 O
H3C H
O O
O
Hidroperóxidos
Tolueno Naftaleno Dioxina

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 83


U2

Qual a função dos aditivos?


O uso de aditivos em lubrificantes controla o acúmulo de contaminantes que se formam nas partes
internas dos motores durante o seu funcionamento. Porém, existe um ponto de saturação do óleo
que, quando alcançado, exige a sua troca por um novo, para manter os contaminantes em níveis
baixos.
Por que, com o passar do tempo, todos os óleos lubrificantes, parafínicos e sintéticos sofrem
deterioração e perdem suas propriedades originais?
Os óleos lubrificantes apresentam em sua composição química hidrocarbonetos entre 9 e 40
átomos de carbono e quando utilizados pelo motor sofrem uma reação de oxidação que modifica
suas propriedades químicas originais, formando compostos oxigenados, como cetonas e ácidos
orgânicos; compostos aromáticos de viscosidade elevada, resinas e borras, metais pesados e
dioxinas. Além disso, há a presença de aditivos que ainda não foram consumidos, metais de
desgaste do motor e contaminantes diversos, como água, combustível não queimado, poeira e
outras impurezas.
Após ser retirado dos motores dos automóveis, para onde vai o óleo lubrificante usado?
Conforme o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), após os óleos lubrificantes serem
retirados dos motores de automóveis, é obrigatório que sejam armazenados em condições de
segurança, não sendo permitido, em hipótese alguma, que sejam lançados no esgoto comum,
solo ou águas. Esses óleos lubrificantes usados devem ser recolhidos e enviados para processos de
recuperação e regeneração, denominados de rerrefino. Caso a recuperação não seja possível, o
material deverá ser incinerado em condições que não poluam o meio ambiente.

Avançando na prática

Troca de óleos

Descrição da situação-problema

Ainda como pesquisador químico, nesta etapa, você irá analisar os óleos
lubrificantes sintéticos usados e fará uma comparação do tempo de troca dos
óleos lubrificantes minerais e sintéticos.

Para isso, é importante destacarmos que só seria possível determinar o


intervalo perfeito para a troca de óleo por meio de análises periódicas realizadas
em laboratório. Porém, os fabricantes de motores automotivos já testam os óleos
lubrificantes e fazem a recomendação de certos tipos de óleos lubrificantes para
determinados períodos de troca.

Resolução da situação-problema

Todo óleo lubrificante novo ao ser utilizado apresenta característica de cor clara
e ao sair está com coloração escura. Isso ocorre porque o óleo lubrificante arrasta
todas as impurezas e desgastes, evitando que se depositem no motor.

Como visto na seção anterior, os óleos lubrificantes sintéticos apresentam


em sua composição química hidrocarbonetos sintéticos, polioésteres, diésteres
orgânicos, óleos de silicone e poliésteres perfluorados. Esses compostos são mais
resistentes à oxidação e à contaminação, portanto, mantêm suas propriedades

84 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

por um período mais longo, podendo ser trocados no dobro da quilometragem


preestabelecida para os óleos lubrificantes minerais.

Porém, como todo óleo lubrificante mineral, o óleo lubrificante sintético


também sofre contaminações de elementos como combustíveis não pesados,
poeira, metais pesados e reações de oxidação.

Faça valer a pena

1. O mentol é um composto orgânico obtido preferencialmente da


extração do óleo de hortelã-pimenta e utilizado principalmente como
matéria-prima em produtos de higiene bucal, possibilitando a sensação
de hálito fresco e limpeza.
Disponível em: <http://www.oleosessenciais.org/mentol/>. Acesso em:
19 set. 2016.
Observando a molécula do mentol representada na figura a seguir, o
nome oficial, conforme IUPAC, é:

OH

Fonte: elaborada pela autora.

a) 6-isopropil-3-metilcicloexanol.
b) 4-isopropil-1-metilcicloexanol.
c) 2-isopropil-5-metilcicloexanol.
d) 3-metil-6-isopropilcicloexanol.
e) 5-metil-2-propilcicloexanol.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 85


U2

2 Considerando os hidrocarbonetos I, II e III apresentados na figura a


seguir, é correto afirmar:
CH3

CH3
H3C
CH3
(I) (II) (III)

Fonte: elaborada pela autora.

a) O composto I é alcano alifático normal de fórmula molecular C6 H14.


b) O composto II é um cicloalcano com fórmula molecular C5 H12.
c) O composto III é um cicloalcano com fórmula molecular C6 H14.
d) A nomenclatura do composto II é ciclopentano e tem fórmula molecular
C5 H10.
e) A nomenclatura do composto III é 1-metil-cicloexano e tem fórmula
molecular C7 H14.

3. Os éteres são compostos orgânicos que apresentam em sua fórmula


estrutural um átomo de oxigênio interligando dois radicais orgânicos.
Suponha que você tem o composto químico representado na figura a
seguir. Sua nomenclatura, segundo a IUPAC, é:
O

Fonte: elaborada pela autora.

a) Cicloexiletano.
b) Cicloexildietílico.
c) Cicloexano.
d) Metóxicicloexano.
e) Etóxicicloexano.

86 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Seção 2.3

Conformação dos cicloalcanos


Diálogo aberto

Nesta unidade, aprendemos sobre as ligações sigma e por que ocorre rotação
ao redor das ligações carbono-carbono nas moléculas de uma cadeia carbônica
aberta, as diferentes combinações que resultam da rotação da ligação e alguns
arranjos na estrutura das moléculas dos cicloalcanos, além de compreender
por que sua estrutura forma tensões angulares e torcionais. E para finalizarmos
o assunto desta unidade, estudaremos as conformações de alguns cicloalcanos,
como o ciclopropano, ciclobutano, ciclopentano e cicloexano.

Vimos que com o passar do tempo de utilização dos óleos lubrificantes em


nossos automóveis, aqueles vão mudando a sua cor original e é necessário realizar a
substituição por um novo óleo lubrificante para mantermos o bom funcionamento
do motor. Vimos também que isso acontece porque os óleos lubrificantes alteram
suas características físico-químicas por sofrerem deterioração ou algum tipo de
contaminação, e que esses óleos são considerados nocivos ao meio ambiente.
Mas para onde o óleo lubrificante descartado é destinado? O que é feito com o
óleo lubrificante usado?

Você sabia que existe um processo que descontamina o óleo lubrificante


usado e resgata todas as propriedades do óleo básico novamente? E que esses
óleos lubrificantes recuperados podem ser reutilizados como matéria-prima do
processo produtivo de lubrificantes por inúmeras vezes? Mas como isso é feito?
Quais técnicas físico-químicas são utilizadas?

Ainda como consultor químico, você poderá analisar como é feito o rerrefino
dos óleos lubrificantes usados, ou seja, saber como o óleo lubrificante usado é
transformado em óleo básico novamente, e que o rerrefino tem padronização
exigida por lei em todas as fases do processo para sua recuperação, seguindo o
caminho da sustentabilidade.

Nesta seção, estudaremos como é feita a remoção de contaminantes do


rerrefino do óleo lubrificante usado, comprovando as mesmas características dos
óleos lubrificantes básicos e atendendo às especificações exigidas pela Agência

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 87


U2

Nacional de Petróleo (ANP).

Bons estudos!

Não pode faltar

Como visto na seção anterior, os cicloalcanos são compostos cíclicos


formados por anéis de unidades −CH 2, de fórmula molecular Cn H 2 ne que podem
ser representados por polígonos.

Os cicloalcanos, com exceção do ciclopropano, não são planos e, portanto,


apresentam uma liberdade crescente de rotação, porém, cicloalcanos com anel
de 4 a 7 átomos no ciclo apresentam movimentos moleculares ainda restritos
(McMURRY, 2011). Por esse motivo, a energia global de um cicloalcano é exercida
por conformações tridimensionais de menor energia devido à combinação de três
fatores:

• Tensão angular: tensão gerada pela expansão ou compressão dos ângulos das
ligações simples.

• Tensão torsional: tensão gerada pela interação de ligações sobre os átomos


da vizinhança.

• Tensão estérica: tensão gerada pela interação repulsiva devido à aproximação


dos átomos uns dos outros.

Os cicloalcanos apresentam propriedades físicas semelhantes às dos alcanos


de cadeia aberta, pois são apolares, insolúveis em água e incapazes de formar
ligações com o hidrogênio. Os cicloalcanos apresentam temperatura de fusão e
ebulição muito mais elevada que alcanos de cadeia aberta. Os cicloalcanos, assim
como os alcanos de cadeia aberta, são considerados os menos densos do grupo
dos compostos orgânicos e possuem densidades menores que 1 g/mL. O Quadro
2.8 traz algumas constantes físicas de diversos cicloalcanos.

Quadro 2.8 | Constantes físicas de alguns cicloalcanos


Cicloalcano Ponto de ebulição (°C) Ponte de fusão (°C) Densidade (g/mL)
Ciclopropano - 33 - 126,6
Ciclobutano 13 - 90
Ciclopentano 49 - 94 0,751
Cicloexano 81 6,5 0,779

Fonte: Solomons e Fryhle (2001, p. 159).

3
Como os átomos de carbonos apresentam hibridação sp e o ângulo da
ligação tetraédrica normal para essa hibridação é de 109,5°, os ciclopropanos se
afastam do valor ideal devido, principalmente, ao se apresentarem na forma de um

88 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

triângulo regular, ou seja, possuem três átomos de carbono no anel (SOLOMONS;


FRYHLE, 2001).

O ciclopropano é o composto mais tensionado de todos os cicloalcanos,


pois possui forte tensão angular provocada pelos ângulos de ligação de 60°. E,
além disso, apresenta também tensão torsional, pois as ligações entre C − H são
eclipsadas.

A Figura 2.20 apresenta a estrutura do ciclopropano mostrando as ligações


eclipsadas entre C − H que causam a tensão torsional.

Figura 2.20 | Estrutura do ciclopropano

HH
C

H C C H
H H

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cyclopropane-2D.png> e <https://commons.wikimedia.org/wiki/


File:Cyclopropane-3D-balls.png>. Acesso em: 27 set. 2016.

Nas ligações entre C − C nos alcanos de cadeia aberta há uma perfeita


sobreposição dos átomos de carbono. A ligação máxima ocorre quando dois
átomos apresentam seus orbitais apontando diretamente um para o outro
(McMURRY, 2011).

Já nos cicloalcanos, os orbitais não podem apontar um para o outro e são


sempre descritos como ligações torcidas; e esses orbitais passam a apresentar
3
maior caráter p do que sp das ligações normais. Como consequência, os orbitais
formam ligações curvas, conforme Figura 2.21, apresentada a seguir.

Assimile
Figura 2.21 | Comparação da ligação C − C normal do alcano e da ligação C − C
angular do ciclopropano

H C H
C C
109o
HH HH

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Propane-dipole-moment-2D.png> e <https://


commons.wikimedia.org/wiki/File:Coulson_Moffit_Model.png>. Acesso em: 27 set. 2016.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 89


U2

O resultado é que as ligações do ciclopropano são mais fracas e mais reativas


do que as dos alcanos normais. Uma ligação C − C do propano de cadeia aberta
apresenta 355 kJ/mol enquanto a ligação do ciclopropano apresenta – 255 kJ/mol
(McMURRY, 2001).

Mesmo que a tensão angular seja responsável pela tensão do anel do


ciclopropano, outro fator que contribui para a tensão do anel é que todos os
átomos de hidrogênio são eclipsados e a molécula também apresenta tensão
torsional (SOLOMONS; FRYHLE, 2001).

A Figura 2.22 apresenta a distância entre as ligações C − C e C − H do


ciclopropano.

Figura 2.22 | Distância das ligações C − C e C − H do ciclopropano

H H
C
1,089A
H H
C C
H H
1,510A

Fonte: elaborada pela autora.

O ciclobutano também apresenta uma tensão angular considerável, porém é


menor que a do ciclopropano, pois os ângulos de 90° são maiores que os 60° do
ciclopropano, mas possuem uma maior tensão torsional devido à presença de
mais átomos de hidrogênio no anel. Consequentemente, a tensão total para os
dois anéis é muito próxima, cerca de 110 kJ/mol para o ciclobutano e 115 kJ/mol
para o ciclopropano (McMURRY, 2011).

O ciclobutano apresenta estrutura levemente angular, de modo que um átomo


de carbono se encontra 25° acima dos outros três átomos de carbono que estão
no plano. O efeito dessa curvatura na estrutura do ciclobutano aumenta a tensão
angular, mas diminui a tensão torsional, até que um equilíbrio de energia mínima
entre esses dois efeitos seja alcançado. A Figura 2.23 apresenta a conformação do
ciclobutano.

90 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Figura 2.23 | Conformação do ciclobutano

H’ H’ H
H H H’
H H H’ H’
H H’ H’
H’ H H

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:CyclobutaneConf2.png>. Acesso em: 27 set. 2016.

Os ângulos internos do ciclobutano são de aproximadamente 88°, um


afastamento de 21° do ângulo normal de ligação tetraédrica. As ligações entre
C − H não são totalmente eclipsadas, mas apresentam um pequeno ângulo,
semelhantemente ao que ocorre com a estrutura do barco, e por esse motivo a
conformação mais estável do ciclobutano não é plana, mas levemente dobrada.

Se o anel do ciclobutano fosse planar, a tensão angular seria um pouco menor,


ou seja, os ângulos internos apresentariam 90° ao invés de 88°, porém a tensão
torsional seria maior, pois todos os oito átomos de hidrogênio seriam eclipsados.
Consequentemente, quando há a torção do anel do ciclobutano, há um alívio
da sua tensão torsional, mesmo com um ligeiro aumento da tensão angular
(SOLOMONS; FRYHLE, 2001).

A Figura 2.24 apresenta a estrutura do ciclobutano mostrando as ligações entre


C − H.

Figura 2.24 | Estrutura do ciclobutano

H H
H H

H H
H H

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cyclobutane-buckled-3D-balls.png>. Acesso em: 27 set. 2016.

Pesquise mais
Para conhecer mais sobre geometria molecular dos alcanos e
cicloalcanos, acesse o link disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/
online/cadernos/03/modelag.pdf>. Acesso em: 27 set. 2016.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 91


U2

O ciclopentano é um composto de estrutura pentagonal e apresenta um ângulo


interno (108°) bem mais próximo do valor ideal tetraédrico (109,5°). Portanto,
cicloalcanos que apresentam 5 ou mais átomos no anel têm a possibilidade de
assumir conformações não planares, fazendo com que a tensão angular desapareça
completamente. A estrutura real do ciclopentano possui a forma de um envelope
(McMURRY, 2011). A Figura 2.25 apresenta a conformação do ciclopentano.

Figura 2.25 | Conformação do ciclopentano

H H

H H
H
H H
H
H H

Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9b/Ciclopentano.jpg>. Acesso em: 27 set. 2016.

Quanto à tensão torsional, os ciclopentanos assumem uma conformação


ligeiramente distorcida, em que um ou dois átomos do anel estão fora do plano dos
demais átomos, aliviando a intensidade da tensão torsional, ou seja, a conformação
não planar contraída pelo ciclopentano tende a alcançar um equilíbrio entre o
aumento da tensão angular e o decréscimo da tensão torsional (McMURRY, 2011).

Uma rápida torção das ligações C − C decorre de uma pequena variação na


energia e os átomos que estão fora do plano se movem para dentro do plano
e, consequentemente, os outros se movem para fora do plano. A maioria dos
hidrogênios está em conformação estrela com relação aos átomos vizinhos
(SOLOMONS; FRYHLE, 2001). Portanto, o ciclopentano é uma molécula flexível
e muda rapidamente de uma conformação para outra. O ciclopentano é quase
tão estável quanto o cicloexano, pois possui uma pequena tensão torsional e
tensão angular (SOLOMONS; FRYHLE, 2001). A Figura 2.26 apresenta a estrutura
do ciclopentano mostrando as ligações entre C − H .

Figura 2.26 | Estrutura do ciclopentano

H H
H H

H H
H H
H H

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cyclopentane3D.png>. Acesso em: 27 set. 2016.

92 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

O cicloexano é considerado o composto cíclico mais importante pelo fato de


a sua estrutura ser amplamente encontrada em compostos de origem natural.
Como visto na seção anterior, o cicloexano apresenta poucas conformações es-
táveis, ou seja, é particularmente livre de tensão na conformação cadeira. Nesta
conformação, a estrutura do cicloexano apresenta todos os ângulos de ligação
próximos do tetraédrico e os átomos de hidrogênio ligados a cada um dos seis
átomos de carbono que ficam próximos ao perímetro do anel são chamados de
átomos de hidrogênio equatoriais, enquanto que os demais, também um em cada
átomo de carbono que apresenta direção perpendicular em relação ao plano do
anel, são chamados de hidrogênio axiais (SOLOMONS; FRYHLE, 2001).

A Figura 2.27 apresenta a estrutura do ciclopentano mostrando as ligações en-


tre C − H .

Figura 2.27 | Estrutura do ciclopentano

H H
H
H H H
H H H
H
H H

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cyclohexane-chair-3D-balls.png>. Acesso em: 27 set. 2016.

Exemplificando

A Figura 2.28 apresenta duas conformações de 1,3-dimetilciclobutano


e a conformação (a) é mais estável devido aos grupos metila estarem
mais distantes uns dos outros.

Figura 2.28 | Conformação do 1,3-dimetilciclobutano

H H
H H H H H H H
H

HH H H H
H H HH H
H H
a) b) H H

Fonte: elaborada pela autora.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 93


U2

Faça você mesmo


Agora, faça você mesmo. Qual das moléculas apresentadas a seguir você
imagina ser mais estável? Por quê?

H H
H H H HH H
H H H H
H H
H H
HH H H H H
H H H H
a) b)
H H

Fonte: elaborada pela autora.

Reflita
Conforme a IUPAC, a modelagem molecular é uma investigação
das estruturas e propriedades moleculares por meio da utilização da
química computacional e de algumas técnicas de visualização gráfica,
tendo em vista o fornecimento de uma reprodução tridimensional
em determinadas condições. Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422003000300023>. Acesso
em: 27 set. 2016.

Quando é aumentado o número de átomos do anel para de 7 a 13, as


moléculas voltam a apresentar tensão torsional e aparecem tensões estéricas,
que são provocadas pelas interações repulsivas quando os átomos se aproximam
muito uns dos outros. A Figura 2.29 apresenta a estrutura dos anéis de 7, 8, 9 e 10
carbonos, respectivamente, mostrando as ligações entre C − H .

Figura 2.29 | Estrutura dos anéis 7, 8, 9 e 10 carbonos

HH HH H H HH H H H H
H
H H H H
H H H
H H H
H H H H H H H H H H
H H
H H H H
H H H H H H H H
H H H
H H H H HH H H H H
HH HH H H H H

Fonte: elaborada pela autora.

Para verificar experimentalmente a existência de tensões nos anéis, é necessário


medir o calor de combustão, ou seja, o calor de combustão é a variação de entalpia
na oxidação completa de um composto.

94 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Quando os cicloalcanos estão tensionados, mais energia é liberada por grupo de


metileno −CH 2. Os valores do Quadro 2.9 correspondem ao valor de combustão
para alguns cicloalcanos. A coluna mais importante desse quadro é a de calor de
combustão por grupo de metileno −CH 2, pois pode ser feita a comparação direta
entre o tamanho do anel e a energia potencial.

Quadro 2.9 | Calores de combustão por −CH 2 dos cicloalcanos


Calor de combustão por grupo de
Tamanho do anel Calor de combustão (−∆H ) (kJ/mol)
−CH 2(kJ/mol)
3 2091 697
4 2721 681
5 3291 658
6 3920 653
7 4599 657
8 5267 658
9 5933 659
10 6587 659

Fonte: Carey (2011, p.139).

O ciclopropano apresenta o calor mais alto de combustão por grupo metileno,


sendo comprovado que sua energia potencial é aumentada pela tensão angular. O
ciclobutano possui um valor de combustão inferior ao ciclopropano, pois apresenta
uma tensão angular menor em cada átomo de carbono. O ciclopentano apresenta
um valor ainda mais baixo, por ter pouca tensão angular. Já o cicloexano tem um
calor de combustão menor por grupo de metileno. Para os anéis com mais de seis
átomos de carbono na molécula, temos calores de combustão semelhantes ao
cicloexano (CAREY, 2011).

Sem medo de errar

Depois de analisarmos os óleos lubrificantes usados na seção anterior, é


importante evidenciar o destino correto para esses óleos lubrificantes usados. O
que é feito com o óleo lubrificante usado? Este óleo apresenta em sua constituição
química moléculas inalteradas do óleo lubrificante básico, contaminantes
inorgânicos, água, combustíveis não queimados, entre outros.

Nesta etapa final, você, pesquisador químico, terá a função de verificar


como é feita a descontaminação do óleo lubrificante usado, resgatando todas
as propriedades do óleo lubrificante básico por meio do processo de rerrefino.
Segundo o Conama, art. 3° da resolução n. 362, de 2005, “todo óleo lubrificante
usado ou contaminado coletado deverá ser destinado à reciclagem por meio do
processo de rerrefino”.

Os óleos lubrificantes são derivados do petróleo e estão entre poucos que não

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 95


U2

são totalmente fundidos durante a sua utilização, apenas perdem a capacidade de


exercer sua função devido à presença dos contaminantes. Os óleos lubrificantes
automotivos usados, provenientes de motores a gasolina e a diesel, são enviados
a um rerrefinador e passam por um processo de rerrefino que deve abranger as
seguintes etapas:

Desidratação e destilação simples


Após passar por uma filtração para reter partículas grosseiras, é iniciada a desidratação do óleo
lubrificante usado por meio de seu aquecimento, em torno de 180 °C, em um equipamento de
destilação simples em uma capela para que a água e os solventes sejam evaporados.
Tratamento químico
Após a destilação, o óleo lubrificante usado é resfriado até temperatura de aproximadamente 35 °C,
e sob agitação é adicionado ácido sulfúrico concentrado. Após a adição do ácido sulfúrico, deixar
decantar para que toda a mistura seja oxidada e os aditivos sejam separados do óleo.
Neutralização e clarificação
Após a sulfonação, é adicionada terra fuller e cal. A mistura é então novamente aquecida para
que haja a adsorção de produtos não desejáveis e, consequentemente, ocorra a neutralização e
clarificação.
Filtração a vácuo
A mistura de óleo, terra fuller e cal é então passada por uma filtração a vácuo para separar a terra
fuller e a cal do óleo lubrificante. Após a filtragem, é obtido o óleo básico mineral rerrefinado, com
as mesmas propriedades do óleo lubrificante básico.

Avançando na prática

Processo de rerrefino

Descrição da situação-problema

Como o óleo lubrificante usado no Brasil ainda é coletado sem separação, uma
mistura de óleos lubrificantes minerais, semissintéticos e sintéticos é entregue
às refinarias para o processo de rerrefino. Mas, mesmo assim, os processos mais
atuais de rerrefino permitem a transformação do óleo lubrificante usado em óleos
lubrificantes básicos com as especificações das normas da Agência Nacional do
Petróleo.

Para finalizar o nosso estudo sobre óleos lubrificantes, foi solicitado agora que
você refaça o processo de rerrefino com amostras de óleos lubrificantes industriais
para comparar os processos de rerrefino dos óleos lubrificantes automotivos e
industriais.

Como o principal componente dos óleos lubrificantes é o óleo lubrificante


básico, ambos podem passar pelo processo de rerrefino para serem recuperados.
Os óleos lubrificantes podem ser reciclados várias vezes, porém a origem dos óleos
lubrificantes usados em aplicações industriais e os automotivos apresenta grandes
variações e, por esse motivo, é necessário fazer uma separação para a reciclagem.

96 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Resolução da situação-problema

Os óleos lubrificantes industriais usados são utilizados em turbinas, sistemas


hidráulicos e engrenagens e possuem baixo nível de aditivação, porém apresentam
uma maior variedade de contaminantes possíveis, como degradação microbiana e
contaminação com produtos estranhos.

O óleo lubrificante acabado é formado por 80% de óleos lubrificantes básicos


em sua composição, sendo o restante formado por aditivos. O aumento de óleos
básicos sintéticos tem dificultado o processo de rerrefino e os produtos rerrefinados
tendem a perder a sua identificação como óleos minerais.

No caso dos óleos industriais usados, o rerrefino pode ser substituído por outro
processo denominado recondicionamento físico completo do fluido, que aumenta
o grau de limpeza dos óleos lubrificantes industriais reduzindo automaticamente
os teores de água, gases, sólidos e borras a padrões excelentes, comparados com
os óleos industriais novos.

Faça valer a pena

1. Os cicloalcanos são compostos cíclicos formados por anéis de unidades


de carbono, de fórmula molecular Cn H 2 n e que podem ser representados
por polígonos.
O composto que reage mais facilmente com hidrogênio é:
a) Ciclopropano.
b) Ciclobutano.
c) Ciclopentano.
d) Cicloexano.
e) Cicloeptano.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 97


U2

2. O ciclobutano não é completamente plano, mas levemente angular.


Quantas interações eclipsadas hidrogênio-hidrogênio deveriam estar
presentes se o ciclobutano fosse planar?
H H
H H
H H
H H
Fonte: elaborada pela autora.

a) 6 interações.
b) 8 interações.
c) 10 interações.
d) 12 interações.
e) 14 interações.

3. O cicloexano normalmente adota um formato denominado de


conformação cadeira, devido à sua semelhança com uma cadeira
espreguiçadeira.
Observando a estrutura do cicloexano representado na figura a seguir, e
em relação às tensões angulares e torsionais, é correto afirmar:

H H
H
H H
H
H H H
H
H H
Fonte: elaborada pela autora.

a) O cicloexano não apresenta nem tensão angular, nem tensão torsional.


b) O cicloexano não apresenta tensão angular, mas apresenta tensão
torsional.
c) O cicloexano apresenta tensão angular, mas não apresenta tensão
torsional.
d) O cicloexano apresenta tensão angular e tensão torsional.
e) O cicloexano só apresenta tensão angular quando há tensão torsional.

98 Conformação dos alcanos e cicloalcanos


U2

Referências

CAREY, F. A. Química orgânica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. v. 1.

McMURRY, J. Química orgânica. Tradução All Tasks. 7. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2011.

SOLOMONS, T. W. Graham; FRYHLE, C. B. Química orgânica 1. Tradução de Whei


Oh Lin. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001.

Conformação dos alcanos e cicloalcanos 99


Unidade 3

Isomeria geométrica e óptica

Convite ao estudo

Na terceira unidade deste livro didático, aprenderemos sobre a isomeria


geométrica e óptica dos compostos orgânicos e analisaremos a posição
dos átomos num plano tridimensional. Mas o que significa isomeria? Por
que ela ocorre? Por que é importante diferenciar isômeros? Você sabe
que, dependendo da posição dos átomos na molécula, os compostos
podem assumir funções e propriedades diferentes, pois possuem
fórmulas estruturais diferentes, porém, mesma fórmula molecular?

Relacionando todos os assuntos expressivos desse tema, vamos


conhecer e aplicar os conceitos fundamentais de isomeria geométrica e
óptica para a nossa formação tecnológica por meio dos seguintes objetivos
de aprendizagem: (1) assimilar o conceito da isomeria geométrica; (2)
aplicar nomenclatura cis-trans em compostos que apresentem ligação
dupla e em compostos cíclicos; (3) aprender a nomear os compostos
orgânicos utilizando a nomenclatura Z e E; (4) identificar carbonos
centros de quiralidade; (5) reconhecer a quiralidade nas moléculas; (6)
estudar compostos com mais de um centro de quiralidade; (7) conhecer
os compostos opticamente ativos; e (8) compreender o desvio de luz
plano polarizada.

Moléculas orgânicas fazem parte de nosso dia a dia, estando não


apenas em nosso corpo, mas em nossa alimentação, nos perfumes
que utilizamos, em nossas bebidas etc. Essas moléculas podem ser
encontradas com variadas constituições, sendo claramente compostos
distintos ou apenas arranjados espacialmente de uma maneira diferente.
Neste caso, embora a conexão dos átomos seja igual, esta acaba por
U3

apresentar propriedades diferentes. Ao longo desta e da próxima


unidade, veremos como os compostos se organizam no espaço e
como podemos descrever essa organização.

Nesta unidade, você assumirá o papel de um analista júnior em um


laboratório que desenvolve novas moléculas análogas a compostos
utilizados na indústria alimentícia, em especial adoçantes e antioxidantes
que serão utilizados em um novo suco diet. Após uma extensa pesquisa
na literatura, seu gestor lhe fornece algumas fórmulas moleculares
escritas de maneira simplificada. Como você está trabalhando na
primeira etapa do planejamento, sua tarefa é registrar a fórmula química
desses novos protótipos de maneira mais completa, levando em conta
a organização espacial de cada substituinte e realizando considerações
sobre a análise desses compostos. Após realizar essa organização, você
deve entregar uma lista ao setor de síntese. Uma mesma fórmula, com
a mesma conexão entre os átomos, pode levar a quantos compostos
diferentes? Como reconhecê-los? Quais os átomos de carbono que
devem ser analisados em cada passo? Essas estruturas terão uma rota
de obtenção planejada e desenvolvida, então é importante não esquecer
nenhum detalhe.

Nesta unidade, vamos estudar a existência de dois ou mais compostos


com mesma fórmula molecular, como poderemos diferenciá-las e a
forma correta de nomenclatura para esses compostos. Desejamos bons
estudos e dedicação para a conclusão desta etapa.

102 Isomeria geométrica e óptica


U3

Seção 3.1

Isomeria cis-trans e isomeria E/Z

Diálogo aberto

Você já pensou que diferentes moléculas podem variar apenas pela relação
entre suas partes? Isso pode definir, por exemplo, se compostos terão o mesmo
cheiro ou cheiros bastante diferentes. Ou ainda, se apresentam atividade como
fármaco (remédio) ou não. A conexão entre os átomos no espaço tem muita
importância. Existem algumas técnicas aplicadas para análise de compostos
orgânicos, entretanto, nem todas diferenciam os diversos tipos de estrutura, pois
algumas apresentam as mesmas propriedades no ponto que estão sendo avaliadas.

Como analista júnior em um laboratório que desenvolve novas moléculas para


a indústria alimentícia, você recebeu a tarefa de identificar a estrutura de alguns
compostos que apresentam a mesma conectividade entre os átomos, em todas as
suas possibilidades. Seu gestor lhe forneceu uma lista de moléculas baseadas em
adoçantes e antioxidantes que serão testadas para o desenvolvimento de um novo
suco diet, agora você precisa começar a identificar a estrutura química e avaliar
as possibilidades isoméricas. Como será possível realizar essa identificação? Existe
diferença entre os diversos tipos de hibridização dos átomos de carbono? Quais
pontos podem levar a novos compostos?

Nesta seção, iremos identificar principalmente os compostos contendo


carbonos sp2. Vamos entender a origem da palavra isomeria e a nomenclatura dos
arranjos espaciais das moléculas de carbono. Veremos o quanto a relação entre
os substituintes afeta as propriedades das moléculas e quais são as nomenclaturas
aplicadas para esses compostos.

Bons estudos.

Isomeria geométrica e óptica 103


U3

Não pode faltar

Isomeria é o fenômeno no qual dois ou mais compostos químicos apresentam


mesma fórmula molecular, porém diferentes fórmulas estruturais. A isomeria
geométrica está relacionada com a estrutura espacial dos compostos. O termo
isomeria vem do grego: iso significa mesmo, e meros significa partes, transmitindo
o significado de mesma parte, ou mesma composição (McMURRY, 2011).

A isomeria geométrica ocorre em alcenos, ou seja, compostos que apresentam


dupla ligação. A possibilidade de haver isômeros geométricos ocorre quando cada
átomo de carbono dessa dupla ligação apresenta dois ligantes diferentes entre si,
ou seja, o composto deve ter no mínimo 1,2-dissubstituídos, sendo os substituintes
diferentes uns dos outros.

A ligação π dos alcenos impede que ocorra rotação livre em torno da dupla
ligação, e, portanto, qualquer tentativa de rotação ocasiona o rompimento dessa
ligação (Figura 3.1). Para que ocorra a rotação é necessário fornecer energia ao
sistema, romper a ligação π C-C, rotacionar a ligação simples e então formar a
ligação π C-C novamente. Em alcenos cíclicos, dependendo do número de
membros no anel, apenas um dos isômeros é possível, comumente com os
substituintes do ciclo para o mesmo lado.

Figura 3.1 | Dupla ligação e a rotação restrita

Rotação proibida devido ao


alinhamento dos orbitais

Fonte: elaborada pelo autor.

Para alcenos dissubstituídos, o arranjo espacial dos ligantes dos carbonos da


ligação dupla podem ser cis ou trans. Do latim, o termo cis significa próximo a
e o termo trans significa através de (McMURRY, 2011). Quando cada átomo de
carbono da ligação dupla apresenta átomos de hidrogênio do mesmo lado da
estrutura química, podemos dizer que a molécula está na forma cis. A forma trans
ocorre quando o átomo de hidrogênio de cada átomo de carbono da dupla ligação
está em lados opostos da estrutura química. Isômeros desse tipo são formalmente
classificados como estereoisômeros, ou simplesmente denominados de isômeros
cis-trans (SOLOMONS; FRYHLE, 2010). A Figura 3.2 apresenta a isomeria geométrica
cis-trans do 2-buteno.

104 Isomeria geométrica e óptica


U3

Figura 3.2 | Isomeria geométrica do 2-buteno

Fonte: elaborada pelo autor.

Se um dos carbonos da ligação dupla estiver unido a dois grupos idênticos, a


isomeria cis-trans desaparece, assim como a isomeria geométrica.

Você deve notar que a molécula de um alceno é planar na região da dupla


ligação, ou seja, os dois átomos de carbono da dupla estão no mesmo plano,
assim como os átomos ligados diretamente a eles. Cada átomo da dupla ligação
apresenta geometria trigonal plana, típica de carbono sp2, que podemos representar
com uma visão lateral, com dois substituintes para trás do plano e dois para frente,
como na Figura 3.1, ou com uma visão frontal, como na Figura 3.2.

Com relação ao 2-buteno, o isômero cis apresenta os substituintes hidrogênio


em cada átomo de carbono da dupla no mesmo lado e o isômero trans apresenta
os substituintes hidrogênio em cada átomo de carbono da dupla em lados opostos.
Desde que não ocorra a quebra da dupla ligação e a rotação não venha a ocorrer
(como na Figura 3.1), as duas moléculas de 2-buteno não podem se interconverter
espontaneamente, assim, estes são considerados compostos diferentes.

Como compostos diferentes, as propriedades físicas dos isômeros cis e trans


são levemente diferentes e as propriedades químicas também podem variar,
possibilitando que esses compostos sejam separados. A Tabela 3.1 apresenta
a densidade (d) em g/mL e os pontos de ebulição (PE) e fusão (PF) em °C dos
isômeros cis-trans do 2-buteno.

Tabela 3.1 | Densidade e ponto de ebulição dos isômeros cis e trans do 2-buteno

Isômero d (g/mL) PE (°C) PF (°C)

cis 0,641 3,7 -139

trans 0,626 1,0 -105

Fonte: <http://www.tutorbrasil.com.br/forum/viewtopic.php?t=22113>. Acesso em: 16 jan. 2017.

Isomeria geométrica e óptica 105


U3

Termodinamicamente, o isômero trans é mais estável que o isômero cis, ou


seja, requer mais energia para romper a dupla ligação. O composto trans apresenta
um menor ponto de ebulição, e quando se encontra no estado sólido, apresenta
um maior ponto de fusão.

Devido à organização espacial dos substituintes, a polaridade de isômeros cis


e trans é bastante diferenciada. Quando temos o composto cis, o momento de
dipolo da molécula é um somatório de efeitos, enquanto para o isômero trans,
os efeitos se anulam. Isômeros cis apresentam os átomos mais próximos uns dos
outros, aumentando a sua densidade. Por consequência, isômeros cis apresentam
maior polaridade, sendo mais solúveis em água e menos solúveis em compostos
apolares. Já os isômeros trans tendem a ser apolares, portanto, são mais solúveis
em gorduras (apolares) e menos solúveis em água. A Figura 3.3 apresenta isomeria
geométrica cis-trans do 1,2-dicloroeteno e seus momentos de dipolo.

Figura 3.3 | Isomeria geométrica do 1,2-dicloroeteno e seus momentos de dipolo

Fonte: elaborada pelo autor.

Por possuírem uma proximidade espacial, os substituintes de alcenos cis podem


reagir entre si em diferentes condições de reações.

Exemplificando

O ácido maleico e o ácido fumárico são isômeros cis e trans do


ácido butenodioico, respectivamente. O ácido maleico apresenta
os dois grupos carboxílicos de um mesmo lado em relação ao
plano determinado pela ligação π, essa característica permite que
os dois grupos reajam entre si, ocorrendo uma reação desidratação
intramolecular, formando o anidrido maleico (Figura 3.4). O mesmo
não ocorre com o ácido fumárico, pois os grupos carboxila estão em
planos opostos e, portanto, não existe a possibilidade de ocorrer essa
reação.

106 Isomeria geométrica e óptica


U3

Figura 3.4 | Isômeros cis e trans do ácido butenodioico e formação do


anidrido maleico

Fonte: elaborada pelo autor.

Quando um anel de um cicloalcano apresenta dois substituintes, há também a


possibilidade do isomerismo cis e trans. A estrutura cíclica é rígida e os átomos de
carbono do anel não possuem a possibilidade de rotação da ligação simples C-C
sem que haja rompimento do ciclo.

Exemplificando
Por exemplo, a molécula de 1,2-dimetilciclopentano pode apresentar
duas fórmulas estruturais diferentes, conforme a Figura 3.5.

Figura 3.5 | Isomeria geométrica do 1,2-dimetilciclopentano

Fonte: elaborada pelo autor.

Na primeira estrutura, os grupos metilas estão apresentados do mesmo lado do


anel, ou seja, cis. Na segunda estrutura, os dois grupos metila estão apresentados
em lados opostos ao anel, denominados de trans. O cis-1,2-dimetilciclopentano e
o trans-1,2-dimetilciclopentano diferem um do outro somente na posição em que
os átomos se encontram no espaço e são denominados de estereoisômeros. As
duas formas não podem ser interconvertidas sem quebrar as ligações C-C.

Agora, vamos analisar a isomeria dos cicloexanos dissubstituídos. Os


cicloexanos monossubstituídos são considerados mais estáveis em uma posição
equatorial, porém, nos cicloexanos dissubstituídos todas as interações estéricas

Isomeria geométrica e óptica 107


U3

das duas possíveis conformações em cadeira devem ser analisadas antes de


decidir qual é a conformação mais estável (McMURRY, 2011). Para a molécula do
1,2-dimetilcicloexano, podemos considerar os isômeros cis-1,2-dimetilcicloexano
e trans-1,2-dimetilcicloexano, como na Figura 3.6 (McMURRY, 2011).

Figura 3.6 | Conformações do cis e trans-1,2-dimetilcicloexano

Fonte: elaborada pelo autor.

Para o isômero cis, ambos os substituintes metilas estão na mesma face do


anel, sendo que uma conformação do cis-1,2-dimetilcicloexano apresenta um
grupo metila em axial no carbono C2 , possuindo interações 1,3-diaxiais com os
hidrogênios ligados aos carbonos C4 e C6. Após a alteração na conformação
do anel, o isômero cis-1,2-dimetilcicloexano apresenta o substituinte metila em
posição axial no carbono C1, com interações 1,3-diaxiais com os hidrogênios
ligados nos carbonos C3 e C5. As duas conformações são iguais em energia, com
uma tensão estérica total de 3 x 3,8 kJ/mol = 11,4 kJ/mol (McMURRY, 2011).

Na molécula do trans-1,2-dimetilcicloexano, os dois substituintes metila


estão em faces opostas do anel, sendo que em uma conformação o composto
trans apresenta os dois substituintes metila na posição equatorial e, portanto,
não apresenta nenhuma interação 1,3-diaxial, apenas interação gauche entre os
substituintes metila com energia de 3,8 kJ/mol. Após alteração da conformação
do anel, os dois substituintes metila estão em posição axial. O substituinte metila
axial do carbono C1 possui interações 1,3-diaxiais com os hidrogênios ligados aos
carbonos C3 e C5, já o substituinte metila em axial no carbono C2 possui interações
1,3-diaxiais com os hidrogênios ligados aos carbonos C4 e C6. Essas quatro
interações produzem uma tensão estérica total de 4x3,8 kJ/mol=15,2 kJ/mol,
tornando a conformação com ambos os substituintes em axial menos favorável que
a conformação com ambos em equatorial. Você deve ficar atento: quanto maior
o volume do substituinte, maior é a tendência em assumir a posição equatorial.

108 Isomeria geométrica e óptica


U3

Pesquise mais
A preferência pela conformação menos energética sempre existirá.
Entretanto, esta varia de acordo com o padrão de substituição, como 1,2, ou
1,3 ou 1,4, e o volume do substituinte exerce muita influência na escolha da
conformação preferencial. Você pode aprender mais sobre isso consultando
o livro Química orgânica (SOLOMONS; FRYHLE, 2010, v. 2). Lembre-se de
consultar a “Minha Biblioteca” em sua área do aluno.

A nomenclatura cis-trans é utilizada para alcenos 1,2-dissubstituídos com átomos


de hidrogênio. Porém, para ligações duplas em que há três ou quatro substituintes
diferentes (trissubstituídos e tetrassubstituídos), outro método de nomenclatura é
utilizado para descrever a geometria dessa dupla ligação McMURRY, 2011.

Nesse caso, a IUPAC recomenda a utilização dos prefixos Z/E, que utilizam
regras de prioridades entres os substituintes. As letras Z e E descrevem a relação
entre os substituintes de maior prioridade, sendo provenientes das palavras em
alemão zusammen (Z), que significa juntos, e entgegen (E), que significa oposto. As
letras Z e E devem ser escritas sempre em maiúsculo e em itálico.

Assimile

A nomenclatura E e Z é mais abrangente que a nomenclatura cis/


trans, pois permite nomear alcenos tri e tetrassubstituídos. Ela avalia a
prioridade dos substituintes ligados aos dois carbonos isoladamente,
sendo assim, pode também ser aplicada a alcenos dissubstituídos.

Para nomear esses alcenos como E ou Z, é necessário considerar separadamente


cada átomo de carbono da dupla ligação, avaliando, segundo o número atômico,
qual dos dois substituintes apresenta maior prioridade. Após essa avaliação, se os
grupos de maior prioridade em cada átomo de carbono da dupla ligação estão
do mesmo lado do plano imaginário, o alceno é designado como Z. Porém, se
os grupos de maior prioridade estiverem em lados opostos do plano imaginário, o
alceno é indicado como E.

Isomeria geométrica e óptica 109


U3

Reflita
Um par de alcenos com isomeria geométrica consiste em dois
compostos com a mesma estrutura, porém, arranjo espacial diferente.
Quando os substituintes dos dois carbonos são diferentes, eles são
considerados estereoisômeros, ou seja, são isômeros espaciais, sendo
moléculas assimétricas.

A regra de prioridade baseada no número atômico foi desenvolvida pelos


químicos Robert Sidney Cahn, Christopher Kelk Ingold e Vladimir Prelog, sendo
nomeada de regra de Cahn-Ingold-Prelog (CIP). Para aplicar esta regra você deve
considerar separadamente cada um dos átomos de carbono da ligação dupla,
observando os dois átomos diretamente ligados a esses carbonos e atribuindo
prioridades de acordo com os seus números atômicos.

Observe a sequência de prioridade dos átomos de acordo com o número


atômico.
2 1
Br > Cl > S > P > O > N > C > H > H
35 17 16 15 8 7 6 2 1

Um átomo com o número atômico mais alto recebe prioridade mais alta do
que um átomo com número atômico mais baixo. A Figura 3.7 apresenta os prefixos
E/Z na nomenclatura do 2-cloro-2-buteno.

Figura 3.7 | Determinação E/Z para isômeros do 2-cloro-2-buteno

Fonte: elaborada pelo autor.

Para o 2-cloro-2-buteno, o isômero que apresentou prefixo E na nomenclatura


do 2-cloro-2-buteno foi definido devido aos substituintes de maior prioridade
estarem em lados opostos, enquanto o isômero que apresentou prefixo Z foi
definido porque os substituintes de alta prioridade estão do mesmo lado da ligação
dupla.

Caso não seja possível identificar a geometria usando o átomo ligado de


imediato aos carbonos da ligação dupla, observe os átomos ligados em segunda
posição, ou terceira, até encontrar uma diferença.

110 Isomeria geométrica e óptica


U3

Por exemplo, os substituintes -CH3 e -CH2CH3 são equivalentes, pois ambos


possuem o carbono como primeiro átomo ligado ao mesmo carbono da dupla
ligação. Entretanto, se avançarmos uma posição, o substituinte etila possui
prioridade mais alta que o substituinte metila, pois a etila possui um carbono e dois
hidrogênios conectados ao primeiro carbono, enquanto a metila possui apenas
hidrogênios. Carbono possui maior prioridade que hidrogênio.

Você deve ficar atento: átomos com ligações múltiplas são equivalentes ao
mesmo número de átomos com ligações simples.

Assimile

Um substituinte aldeído ( -CH=O ) possui um átomo de carbono com


ligação dupla com um átomo de oxigênio e é equivalente a um
substituinte que tem um átomo de carbono unido a dois átomos de
oxigênio por ligações simples.

Exemplificando

Considerando todas as regras de sequência apresentadas nesta seção,


você pode atribuir a nomenclatura correta dos seguintes compostos
químicos:

Figura 3.8 | Nomenclatura dos compostos químicos utilizando prefixos Z e E

Fonte: elaborada pelo autor.

Isomeria geométrica e óptica 111


U3

Sem medo de errar

Você é analista júnior em um laboratório que desenvolve novas moléculas para


a indústria alimentícia. Nessa função, é fundamental conhecer as estruturas de
moléculas orgânicas, identificando os possíveis isômeros. Seu gestor passou uma
lista de cinco moléculas análogas a antioxidantes e adoçantes conhecidos para que
você identifique os possíveis isômeros que deverão ser sintetizados no próximo
passo. Sua tarefa é reconhecer os possíveis isômeros desenhando as estruturas
químicas de maneira expandida (Figura 3.9).

Figura 3.9 | Moléculas propostas para estudo

Fonte: elaborada pelo autor.

112 Isomeria geométrica e óptica


U3

Existe diferença entre os diversos tipos de hibridização dos átomos de carbono,


carbonos sp não levam à formação de nenhum tipo de isomeria. Para realizar essa
tarefa, você deve analisar os átomos de carbono em cada estrutura e identificar
quais pontos podem levar a novos compostos. Todos os átomos devem estar
ligados a quatro outros átomos, se forem de hibridização sp3, três átomos para
hibridização sp2, e dois átomos para hibridização sp. Procurando apenas os
carbonos sp2, você terá as partes da cadeia com as duplas ligações, devendo então
avaliar as prioridades dos substituintes e definindo qual dos isômeros é Z e qual é E.
Vamos começar analisando a estrutura I, realizando todos esses passos.

Figura 3.10 | Análise da estrutura I

Fonte: elaborada pelo autor.

Para o composto I, as estruturas variando a dupla ligação são duas, o isômero


E e o isômero Z. Para as outras quatro estruturas, os isômeros estão definidos na
Figura 3.11.

Isomeria geométrica e óptica 113


U3

Figura 3.11 | Análise estrutural dos compostos II-V

Fonte: elaborada pelo autor.

Agora todos os isômeros envolvendo as duplas ligações foram identificados,


mas existem outros isômeros espaciais nessas moléculas? Como devemos
proceder com relação à análise desses compostos? Continue acompanhando
nossa disciplina para encerrarmos a tarefa proposta pelo seu gestor!

114 Isomeria geométrica e óptica


U3

Avançando na prática

Gordura cis e trans, qual a importância na dieta?

Você foi contratado como consultor de uma clínica de nutricionistas para


elaborar um relatório sobre fontes de lipídios, uma vez que a constituição de óleos
e gorduras afeta a saúde de quem os consome. Os lipídios são moléculas orgânicas
formadas a partir da reação de glicerol e ácidos graxos, tais como os óleos e as
gorduras. Comumente ouvimos e lemos sobre produtos livres de gorduras trans
serem mais saudáveis. Os dois tipos de lipídios insaturados são interpretados pelo
nosso corpo de maneira diferente, sendo que os compostos que apresentam
isomeria trans fazem com que o colesterol de baixa densidade se acumule, o LDL
ou colesterol ruim, e diminua a quantidade do HDL, colesterol de alta densidade,
ou colesterol bom, levando a problemas cardíacos. Os lipídios cis, por sua vez,
levam a um aumento do colesterol bom (MERÇON, 2010). E os lipídios saturados
aumentam a concentração do LDL (ruim) sem alterar o HDL (bom). Conseguir
identificar os isômeros espaciais dos alcenos torna-se vital para planejar uma
dieta equilibrada. Entre os diferentes tipos de óleos e gorduras, quais serão mais
saudáveis devido à sua composição?

Resolução da situação-problema

As gorduras de origem animal são, em sua maioria saturadas, portanto devem


ser consumidas com moderação. As gorduras insaturadas cis apresentam ácidos
graxos em sua composição química e são mais bem absorvidas pelo organismo,
sendo encontradas nas gorduras de origem vegetal, como o azeite de oliva, as
sementes e castanhas em geral. As gorduras trans apresentam em sua composição
química ácidos graxos insaturados com uma ou mais ligações duplas com estrutura
química trans.

O uso de óleos vegetais é preferencial ao uso de gordura animal, sendo que


diversos estudos foram publicados sobre a composição de óleos vegetais de
diferentes fontes, como nos estudos de Malacrida e Jorge (2003) e Jorge et al.
(2005). Se analisarmos os principais ácidos graxos componentes dos óleos de soja,
dendê, girassol e milho, temos os resultados da Figura 3.12:

Isomeria geométrica e óptica 115


U3

Figura 3.12 | Constituição dos óleos de soja, girassol, milho e dendê

Fonte: adaptada de Malacrida e Jorge (2003) e Jorge et al. (2005).

Se compararmos a manteiga e a margarina, embora a manteiga seja de origem


animal (rica em compostos saturados), esta contém grandes quantidades de ácido
oleico, enquanto a margarina contém compostos como o ácido elaídico (Figura
3.12). Com base no conteúdo apresentado na seção, além de identificar entre
compostos instaurados e saturados, você consegue definir que a margarina é rica
em gorduras trans, sendo então menos indicada que a manteiga.

Com esses dados você consegue começar a elaborar o relatório sobre


gorduras/óleos. Lembre-se, você pode consultar a literatura da área para pesquisar
sobre a composição completa dessas gorduras e dos óleos e também seus valores
nutricionais.

Faça valer a pena

1. A isomeria cis-trans pode ocorrer em alcenos com um substituinte


diferente do hidrogênio em cada carbono da dupla ligação. A relação
espacial desses hidrogênios define se os compostos serão cis ou trans.
As propriedades desses compostos diferem, como no ponto de fusão,
ebulição e solubilidade.
Em quais dos compostos químicos relacionados a seguir podem existir
pares cis-trans?
a) CH 3CH = CH 2.
b) ( CH 3 )2 C = CHCH 3.
c) ( CH 3 )2 C = C ( CH 3 )2.
d) ( CH 3 )2 C = C ( CH 3 ) CH 2CH 3.
e) ClCH = CHCl.

116 Isomeria geométrica e óptica


U3

2. A nomenclatura cis-trans é muito utilizada em alcenos que contenham


um substituinte hidrogênio em cada átomo de carbono na dupla. Esses
compostos com dupla ligação e com dois substituintes diferentes de
hidrogênio são chamados dissubstituídos.
Nomeie corretamente a molécula representada a seguir, incluindo as
designações cis ou trans.

Fonte: elaborada pelo autor.

a) trans-1,2-dimetil-4-hexeno.
b) cis-1,2-dimetil-4-hexeno.
c) cis-4,5-dimetil-2-hexeno.
d) trans-4,5-dimetil-2-hexeno.
e) trans-4-metil-4-isopropil-2-hexeno.

3. Para nomear alcenos trissubstituídos e tetrassubstituídos, é necessário


considerar separadamente cada átomo de carbono da dupla ligação
e seguir algumas regras que apresentam maior prioridade. Estas regras
foram desenvolvidas pelos químicos Cahn, Ingold e Prelog, levando o
nome de regra CIP.
Qual membro apresenta prioridade mais alta pela regra CIP?
a) −H .
b) −Cl .
c) −CH 3.
d) −Br .
e) −N .

Isomeria geométrica e óptica 117


U3

118 Isomeria geométrica e óptica


U3

Seção 3.2

Identificação de carbonos assimétricos e centros


quirais
Diálogo aberto

Na seção anterior, aprendemos o conceito de isomeria geométrica, a diferenciar


os compostos que apresentam ligação dupla em cis-trans, ou a mesma relação
cis-trans em molécula cíclicas, e ainda, quando utilizar a nomenclatura Z/E em
isômeros geométricos. O estudo da isomeria ajuda a entender compostos que
apresentam mesma fórmula molecular, porém, disposição alternada dos átomos
nas moléculas, consequentemente, formando substâncias distintas com funções
diferentes. Nesta seção, você será apresentado aos isômeros óticos, outra forma
de isomeria, e aos centros de quiralidade de carbonos sp3.

Você é um analista júnior em um laboratório que desenvolve novas moléculas


análogas a compostos utilizados na indústria alimentícia. Na fase de planejamento
do projeto, seu gestor lhe deu uma lista de moléculas que serão sintetizadas e
testadas como novos adoçantes e antioxidantes. Inicialmente, você identificou
quais moléculas apresentavam duplas ligações que poderiam ser obtidas como
isômeros. Agora, é preciso identificar os isômeros espaciais dessas moléculas, pois
essa isomeria pode afetar as propriedades organolépticas dos compostos. Mas o
que são isômeros espaciais? Quais carbonos devem ser analisados nesse passo?

Para responder a essas perguntas e lhe auxiliar a atender seu gestor, nesta
seção daremos continuidade ao estudo de isomerismo, identificando agora
os carbonos que são centros de quiralidade, e conheceremos compostos que
apresentam dois centros quirais iguais e dois centros quirais diferentes. Vamos falar
de estereoisômeros.

Bons estudos!

Isomeria geométrica e óptica 119


U3

Não pode faltar

Podemos dizer que uma molécula quiral, ou assimétrica, é a molécula que não
é idêntica à sua imagem no espelho. Mas o que isso quer dizer? Para estudarmos
a quiralidade das moléculas, primeiramente teremos que compreender o que é
simetria e assimetria.

Um objeto é dito simétrico quando, ao ser dividido por um plano, as duas


partes são iguais, por exemplo, quando traçamos uma linha dividindo uma taça de
vinho ao meio e as duas partes são exatamente iguais. Esse plano é dito plano de
simetria. Além disso, se colocarmos a taça de vinho em frente a um espelho plano,
este produz uma imagem idêntica, conforme representação da Figura 3.13.

Figura 3.13 | Representação de um objeto simétrico

Espelhos

Fonte: <https://pixabay.com/en/wine-glasses-red-wine-wine-red-308871/>. Acesso em: 22 nov. 2016.

Assimile
Plano de simetria é um plano imaginário que divide um objeto em duas
partes iguais. Quando há um plano de simetria na molécula, objeto e
imagem especular são podem ser sobrepostos.

Utilizamos essa mesma definição para as moléculas. Uma molécula simétrica,


além de apresentar um plano de simetria, pode ser sobreposta à sua imagem original,
ou seja, o plano de simetria em qualquer uma de suas possíveis conformações
deve ser idêntico à sua imagem especular. Compostos orgânicos cujas moléculas
são simétricas também recebem o nome de moléculas aquirais. Um exemplo
de molécula aquiral é o ácido propanoico, que apresenta um plano de simetria,
conforme Figura 3.14.

120 Isomeria geométrica e óptica


U3

Figura 3.14 | Representação da molécula aquiral do ácido propanoico

Fonte: elaborada pelo autor.

As estruturas que não apresentam um plano de simetria são denominadas


de assimétricas. Por exemplo, quando colocamos uma mão sobre a outra, com
as palmas voltadas para cima, vemos que elas não se sobrepõem (Figura 3.15a);
quando colocamos a nossa mão esquerda em frente a um espelho, a imagem
refletida é a da mão direita (Figura 3.15b) e vice-versa.

Figura 3.15 | (a) Mãos esquerda e direita não se sobrepõem; (b) imagem especular da mão
esquerda

Fonte: adaptado de <https://socratic.org/organic-chemistry-1/r-and-s-configurations/chiral-and-achiral-


molecules-1> e <https://scientificusblogpt.wordpress.com/2014/06/11/a-quiralidade-dos-farmacos/>. Acesso
em 23 jan. 2017.

O mesmo é válido para moléculas, como apresentado na Figura 3.15(c). As


moléculas que não são idênticas às suas imagens especulares são denominadas
assimétricas ou quirais. A palavra quiral tem origem grega khéir, que significa
mão (McMURRY, 2011). A molécula quiral e sua imagem especular são tipos de
isômeros denominados de estereoisômeros, e a relação entre a molécula quiral
e sua imagem especular é definida como enantiomérica (SOLOMONS; FRYHLE,

Isomeria geométrica e óptica 121


U3

2013). Portanto, estereoisômeros são compostos que apresentam uma mesma


sequência de ligações covalentes, porém a disposição relativa dos átomos no
espaço é diferente.

Quando falamos de carbonos sp3, para que uma molécula orgânica seja quiral,
é necessário que esta apresente pelo menos um átomo de carbono que possua
quatro substituintes diferentes entre si. Esses substituintes podem ser: uma cadeia
carbônica, um heteroátomo, grupos funcionais, entre outros. Esse carbono,
*
nomeado centro de quiralidade, é representado por C e será sempre saturado,
com geometria tetraédrica. A Figura 3.16 apresenta uma molécula quiral em que
*
o carbono C se encontra ligado aos quatro ligantes -Cl, -CH3, -H, -CH2CH3, que
são diferentes entre si.

Figura 3.16 | Representação de uma molécula assimétrica ou quiral

Fonte: elaborada pelo autor.

Para representarmos a posição espacial dos ligantes, usamos uma cunha


(para frente do plano do papel), ou uma cunha tracejada (para trás do plano do
papel). Você pode observar, na Figura 3.16, que o átomo de hidrogênio está se
afastando do observador (para trás do plano), enquanto o substituinte metila está
se aproximando do observador (para frente do plano). Os substituintes cloro e etila
*
estão no mesmo plano que o carbono, centro de quiralidade C .

Assimile

Um carbono sp3 com quatro substituintes diferentes que leva a uma


molécula quiral é chamado centro de quiralidade. Como veremos
nesta e na próxima unidade, há algumas moléculas que possuem
centro de quiralidade mas não são quirais, e há moléculas que não
possuem centro de quiralidade e são quirais.

122 Isomeria geométrica e óptica


U3

A quiralidade das moléculas orgânicas é muito importante para diversas áreas


da química, sendo que a área que estuda a influência dos arranjos espaciais dos
átomos de uma molécula é denominada estereoquímica.

Para as moléculas que apresentam um único átomo de carbono centro de


quiralidade é confirmada a possibilidade da existência de um único par de
enantiômeros (compostos que não podem ser sobrepostos com sua imagem
especular). A Figura 3.17 apresenta um par de enantiômeros para o composto
bromoclorofluormetano. Você pode observar que os enantiômeros assemelham-
se uns aos outros da mesma maneira que a mão direita se assemelha à mão
esquerda (McMURRY, 2011).

Figura 3.17 | Representação do carbono assimétrico ou quiral

Espelho

Imagens que
não podem ser
sobrepostas

Enantiômeros

Fonte: elaborada pelo autor.

Pesquise mais
É importante observar que a quiralidade é propriedade de uma molécula como
um todo, ao mesmo tempo em que o centro de quiralidade é característica
estrutural dentro da própria molécula (McMURRY, 2011). Conheça mais sobre
a quiralidade em: <https://www.youtube.com/watch?v=_o9mHE2e_vU>.
Acesso em: 13 jan. 2017.

A maioria das propriedades físicas e químicas apresentadas pelos enantiômeros


é idêntica, pois as moléculas possuem o mesmo ponto de fusão, ebulição, mesmo
índice de refração, entre outros. A única diferença em propriedades químicas ocor-
re quando são usados reagentes (ou ambientes) quirais. Em propriedades físicas,
a diferença ocorre no desvio da rotação do plano de luz polarizada, por exemplo,
quando um enantiômero gira o plano da luz polarizada para a direita, o outro gira
para a esquerda. Para diferenciar essas moléculas são acrescentados aos nomes os
sinais (+) e (-) entre parênteses, indicando essa alteração.

A Figura 3.18 apresenta um par de enantiômeros do ácido lático (ácido-2-hidró-


xipropanoico). Para essa molécula, o carbono quiral é o C2, pois há quatro ligantes
diferentes entre si nessa posição. Os enantiômeros são chamados de (+)-ácido

Isomeria geométrica e óptica 123


U3

lático e (-)-ácido lático. As duas moléculas são encontradas no leite azedo, mas
apenas o enantiômero (+) está presente no tecido muscular.

Figura 3.18 | Representação do par de enantiômeros do ácido lático

Imagens que
não podem ser
sobrepostas

Fonte: elaborada pelo autor.

A interconversão do estereoisômero (+) no (-) só ocorre mediante a quebra de


uma ligação. Utilizando modelos atômicos ou no papel, podemos transformar o
(+)-ácido lático em (-)-ácido lático. Como para fazer isso é necessário que uma
ligação da primeira molécula seja quebrada e, em seguida, reformada na segunda
molécula, esse é um processo que requer energia e é preciso ficar atento: esse
exercício de transformação de um estereoisômero em outro muitas vezes só é
possível no papel.

Exemplificando
A Figura 3.19 apresenta a molécula 2-bromobutano, que possui um
carbono quiral. Para interconverter essas moléculas, precisamos quebrar
uma ligação do composto (+), e ligar novamente esse substituinte pelo
outro lado. Nesse caso, em determinadas condições, pode ocorrer
essa reação, mas nem sempre esse exercício de imaginação ocorre
realmente.

124 Isomeria geométrica e óptica


U3

Figura 3.19 | Interconversão dos estereoisômeros do 2-bromobutano

Fonte: elaborada pelo autor.

Para que o centro de quiralidade de uma molécula seja reconhecido é


necessária certa prática, pois nem sempre fica aparente que um átomo de carbono
possa estar ligado a quatro substituintes diferentes. Por exemplo, a molécula de
5-bromodecano é uma molécula quiral, pois quatro substituintes diferentes estão
ligados ao C5. A Figura 3.20 apresenta a fórmula estrutural do 5-bromodecano.
O substituinte butila é diferente da pentila por uma unidade CH2. Os outros
substituintes são o hidrogênio e o bromo.

Figura 3.20 | Representação estrutural do 5-bromodecano

Fonte: elaborada pelo autor.

Isomeria geométrica e óptica 125


U3

Reflita
Quiralidade é um fenômeno que permeia o universo. Muitas plantas
apresentam quiralidade na maneira que se enrolam em torno de
estruturas de suporte. Moléculas quirais podem apresentar suas
lateralidades diferentes de muitos modos, incluindo a maneira que
afetam os seres humanos. Uma forma enantiomérica de um composto
chamado limoneno é responsável principalmente pelo odor das
laranjas, e o outro enantiômero pelo odor dos limões. Outro exemplo
é o par enantiomérico de um composto chamado carvona, em que
um enantiômero é a essência do cominho, e o outro a essência da
hortelã (SOLOMONS; FRYHLE, 2013).

Como já vimos anteriormente, compostos cíclicos apresentam uma limitação


na rotação da ligação C-C, levando a diferentes conformações. Em termos
estereoquímicos, mesmo em diferentes conformações, a relação espacial entre os
substituintes é a mesma para um estereoisômero.

Devido à possibilidade de mais de uma conformação, a estereoquímica dos


compostos cíclicos apresenta uma maior facilidade de visualização e compreensão
quando analisadas as projeções planas dos anéis. Observando a Figura 3.21,
podemos perceber que o metilcicloexano é uma molécula aquiral, pois nenhum
dos átomos de carbono da molécula está ligado a quatro substituintes diferentes.
O C1 está ligado a um átomo de -H, ao substituinte -CH3 e aos carbonos C2
e C6 do anel. Os átomos de carbono C2 e C6 são equivalentes, ou seja, o
substituinte C6-C5-C4 é equivalente ao substituinte C2-C3-C4. Enquanto o
2-metilcicloexanona é uma molécula quiral, pois não possui um plano de simetria,
ou seja, o C2 está ligado a quatro substituintes diferentes: um átomo de -H, ao
substituinte -CH3, ao grupo funcional -COCH2 ( C1 e C6 ) e ao substituinte
-CH2CH2 - ( C3 e C4 ).

126 Isomeria geométrica e óptica


U3

Figura 3.21 | Representação das moléculas metilcicloexano e 2-metilcicloexanona

Plano Sem plano


de simetria de simetria

Fonte: elaborada pelo autor.

Até o momento, vimos que moléculas com um único centro de quiralidade


possuem dois enantiômeros. Porém, existem moléculas mais complexas que
apresentam mais de um centro de quiralidade, sendo que uma molécula com n
centros de quiralidade pode ter até 2n estereoisômeros (McMURRY, 2011).

Os compostos orgânicos que possuem dois centros de quiralidade ou mais


apresentam moléculas estereoisoméricas que nem sempre possuem a relação
objeto-imagem, denominadas diastereoisômeros. Lembre-se da analogia que
fizemos sobre a mão direita com a mão esquerda para descrever a relação
entre os dois enantiômeros, podemos retomá-la dizendo que a relação entre
os diastereoisômeros é como a de mãos de pessoas diferentes, ou seja, são
consideradas similares, porém não são idênticas e nem são imagens especulares.
Os diastereoisômeros, ao contrário dos enantiômeros, apresentam propriedades
físicas diferentes, como o ponto de fusão, ebulição e solubilidade.

A Figura 3.22 apresenta os quatro estereoisômeros do ácido-2-amino-3-hidroxi-


butanoico com dois centros quirais diferentes.

Isomeria geométrica e óptica 127


U3

Figura 3.22 | Estereoisômeros do ácido-2-amino-3-hidroxibutanoico

Fonte: elaborada pelo autor.

As quatro moléculas do ácido-2-amino-3-hidroxibutanoico podem ser


agrupadas em dois pares de enantiômeros. O estereoisômero (I) é a imagem
especular do estereoisômero (II) e o estereoisômero (III) é a imagem especular
do estereoisômero (IV). Porém, quando comparamos uma das duas moléculas
que não são imagens especulares uma da outra, dizemos que essas são
diastereoisômeros. Por exemplo, as moléculas (I) e (III) são similares, mas não são
idênticas e nem imagens especulares uma da outra, elas são diastereoisômeros e,
por isso, apresentam propriedades diferentes. Já as moléculas que são imagens
especulares, I e II, são enantiômeros e apresentam propriedades físicas idênticas.

É importante observar a diferença entre os enantiômeros e diastereoisômeros.


Os enantiômeros apresentam configurações opostas em todos os centros qui-
rais, enquanto os diastereoisômeros apresentam configurações opostas em algum
centro de quiralidade e a mesma configuração em outro centro de quiralidade. A
Tabela 3.2 apresenta a relação entre os quatros estereoisômeros do ácido-2-ami-
no-3-hidroxibutanoico.

Tabela 3.2 | Relação entre os quatro estereoisômeros ácido-2-amino-3-hidroxibutanoico

Estereoisômeros Enantiômeros com Diastereoisômeros com

(I) (II) (III) e (IV)

(II) (I) (III) e (IV)

(III) (IV) (I) e (II)

(IV) (III) (I) e (II)

Fonte: elaborada pelo autor.

Algumas moléculas apresentam centros de quiralidade iguais, como na Figura


3.23. O ácido tartárico (ácido-2,3-dihidroxibutanodioico), por ter dois centros de
quiralidade, possui quatro estereoisômeros; esse composto é o principal ácido
encontrado no vinho.

128 Isomeria geométrica e óptica


U3

Figura 3.23 | Estereoisômeros do ácido-2,3-dihidroxibutanodioico (ácido tartárico)

Fonte: elaborada pelo autor.

As estruturas (I) e (II) são imagens especulares uma da outra e não são idênticas,
portanto, são consideradas um par de enantiômeros. Já as estruturas (III) e (IV)
são idênticas, pois é possível girar uma dessas estruturas em 180° para ficar igual
a outra molécula. Analisando cuidadosamente as estruturas (III) e (IV), podemos
observar que estas apresentam um plano de simetria, portanto, é uma molécula
aquiral, mesmo com dois centros de quiralidade. Esses compostos aquirais, que
apresentem centro de quiralidade, são denominados de compostos mesos, que
estudaremos melhor na próxima unidade. Logo, o ácido tartárico existe em três
formas estereoisoméricas, que compreendem dois enantiômeros e uma forma
aquiral meso.

Para os compostos cíclicos com dois centros quirais iguais é realizado o


mesmo tipo de análise feito para compostos acíclicos. Por exemplo, a molécula
cis-1,2-ciclopentanodiol apresenta dois centros de quiralidade, porém, não é
uma molécula quiral. A molécula trans-1,2-ciclopentanodiol também apresenta
dois centros de quiralidade e é uma molécula quiral. A Figura 3.24 apresenta as
moléculas cis e trans do 1,2-ciclopentanodiol, que possui dois carbonos quirais.

Assimile
Figura 3.24 | Moléculas cis e trans-1,2-ciclopentanodiol

Fonte: elaborada pelo autor.

Isomeria geométrica e óptica 129


U3

Sem medo de errar

Como analista júnior em um laboratório de desenvolvimento de novas


moléculas, você recebeu uma lista de compostos para identificar os possíveis
isômeros a serem obtidos na etapa de síntese. Inicialmente, você identificou as
duplas ligações que podem levar aos isômeros E/Z. Agora é preciso identificar
quais os outros centros que podem levar a isômeros, dessa vez enantiômeros e/
ou diastereoisômeros.

Você aprendeu que para que sejam formados estereoisômeros em carbonos


sp3 é necessário que estejam ligados a ele quatro substituintes diferentes. Na
Figura 3.25 as moléculas listadas já estão com os carbonos centros de quiralidade
assinalados.

Figura 3.25 | Moléculas-alvo

IV

Fonte: elaborada pelo autor.

Logo, essas serão as estruturas para as quais você deve propor os enantiômeros
e estereoisômeros. Não se esqueça de combinar com os resultados obtidos na
seção anterior.

Dessa forma, para a molécula I os estereoisômeros possíveis são quatro, pois


existem dois centros de quiralidade. Como existem os isômeros E e Z, teremos
oito isômeros possíveis para a molécula I (Figura 3.26).

130 Isomeria geométrica e óptica


U3

Figura 3.26 | Possíveis isômeros para a estrutura I

Fonte: elaborada pelo autor.

As moléculas II e III não possuem um centro de quiralidade sp3, e as moléculas


IV e V possuem apenas um centro cada uma, portanto, cada isômero geométrico
ocorre na forma de um par diastereoisomérico (Figura 3.27).

Figura 3.27 | Possíveis isômeros para as estruturas IV e V

Fonte: elaborada pelo autor.

Para finalizar a solicitação do seu gestor, elabore comentários sobre as análises


dos compostos I-V. Vamos para a próxima seção!

Isomeria geométrica e óptica 131


U3

Avançando na prática

Trabalhando em um laboratório de pesquisa de novas moléculas, você estava


realizando uma reação bastante específica em uma mistura de enantiômeros da
eritrose e treose. Após a reação de oxidação, você analisou a mistura de produtos
com técnicas cromatográficas quirais e notou que dos 4 compostos que deveriam
estar presentes, restaram apenas 3 moléculas. Partindo do pressuposto que as
análises estavam corretas, você deve explicar o resultado obtido, de modo que
possa prosseguir em seu estudo.

Resolução da situação-problema

A treose e a eritrose são açucares com relação diastereoisomérica entre si,


ou seja, na treose os substituintes hidroxila estão para lados opostos do plano,
enquanto na eritrose, para o mesmo lado. A estrutura plana destes compostos,
assim como a reação de oxidação realizada estão descritas na Figura 3.28.

Figura 3.28 | Reação de oxidação de uma mistura de quatro isômeros (eritrose e treose)

Fonte: elaborada pelo autor.

Como os açúcares utilizados como matéria-prima possuíam dois centros


de quiralidade, havia no meio quatro estereoisômeros, sendo dois pares de
enantiômeros com relação diastereoisomérica entre si. Após a reação, os quatro
isômeros reagiram, porém apenas três pareciam estar presentes nas moléculas. Se
você desenhar a reação de oxidação dos quatro isômeros e comparar as quatro
estruturas, verá que um dos pares enantioméricos (do composto eritro) levou à
formação de uma estrutura meso, portanto, dois dos produtos que deveriam ser
obtidos são idênticos (Figura 3.29).

132 Isomeria geométrica e óptica


U3

Figura 3.29 | Reação da eritrose e treose – detalhes estereoquímicos

Plano de
simetria

Idênticos, com plano de simetria

Fonte: elaborada pelo autor.

Portanto, após reagir os quatro isômeros, foram obtidas duas moléculas quirais
e um composto meso, o que explica, então, os resultados obtidos nas análises.
Como temos duas enantiomêros e um composto com relação diastereoisomérica,
você deve separá-los e prosseguir com a rota sintética.

Faça valer a pena

1. Para que a molécula orgânica seja quiral, é necessário que esta apresente
pelo menos um átomo de carbono que possua quatro ligantes diferentes
entre si e, assim, não admita um plano de simetria, ou seja, a molécula não
se sobrepõe com sua imagem especular.
Observando as estruturas representadas a seguir, é correto afirmar:

Fonte: elaborada pelo autor.

Isomeria geométrica e óptica 133


U3

a) Somente as estruturas I e II apresentam carbonos assimétricos.


b) Somente as estruturas I e III apresentam carbonos assimétricos.
c) Somente as estruturas I e IV apresentam carbonos assimétricos.
d) Somente as estruturas II e III apresentam carbonos assimétricos.
e) Somente as estruturas II e IV apresentam carbonos assimétricos.

2. A quiralidade das moléculas orgânicas é muito importante para a área


da química que estuda a influência dos arranjos espaciais dos átomos de
uma molécula.
Para que a molécula a seguir seja quiral, é necessário que os grupos R1 e
R2 sejam substituídos por grupos:

Fonte: elaborada pelo autor.

a) Metil, metil.
b) Metil, etil.
c) Metil, hidroxila.
d) Etil, etil.
e) Etil, propil.

3. A frutose é um monossacarídeo encontrado naturalmente em várias


frutas e pode ser encontrado também em outros tipos de alimentos,
como soja, ervilha, repolho, alho, entre outros.
Analisando a fórmula estrutural da frutose, a quantidade de carbonos
assimétricos encontrados na figura a seguir é:

134 Isomeria geométrica e óptica


U3

Fonte: elaborada pelo autor.

a) 1.
b) 2.
c) 3.
d) 4.
e) 5.

Isomeria geométrica e óptica 135


U3

136 Isomeria geométrica e óptica


U3

Seção 3.3

Isomeria óptica

Diálogo aberto

Nesta unidade, aprendemos sobre isomeria dos compostos orgânicos,


estudamos a posição dos átomos da molécula num plano tridimensional,
aprendemos também sobre a quiralidade das moléculas e que os compostos
podem assumir funções e propriedades diferentes apenas com o rearranjo dos
átomos e ainda apresentar a mesma fórmula molecular. Para finalizarmos o assunto
desta unidade, estudaremos os compostos orgânicos opticamente ativos.

Lembre-se de que você é um analista júnior em um laboratório que está


desenvolvendo novas moléculas a serem usadas como adoçantes e antioxidantes.
Na primeira etapa do planejamento de síntese, foram determinadas quais
moléculas seriam possíveis de obter isômeros E/Z, mostrando a estrutura desses
isômeros. Na segunda etapa, você identificou quais compostos seriam obtidos
como enantiômeros ou diastereoisômeros, novamente detalhando suas estruturas.
Como último estágio dessa fase de planejamento, é preciso indicar ao seu gestor
as análises a serem realizadas para cada tipo de composto. Mas como podemos
analisar moléculas que possuem pares de estereoisômeros? No que isso afeta a
próxima etapa de síntese?

Compostos quirais apresentam uma característica peculiar frente à luz plano


polarizada: eles a desviam. Nesta seção, veremos como ocorre esse desvio e como
podemos usá-lo em síntese orgânica. Com esses conhecimentos e aprimorando
sua habilidade para identificar compostos assimétricos, fecharemos esta unidade.

Bons estudos!

Isomeria geométrica e óptica 137


U3

Não pode faltar

A isomeria óptica é uma divisão da estereoisomeria que ocorre em compostos


orgânicos que apresentam moléculas assimétricas. Como visto na seção anterior,
toda molécula que apresenta em sua estrutura química um carbono centro de qui-
ralidade produz uma imagem especular que não se sobrepõe uma a outra. Essas
duas moléculas correspondem a dois isômeros denominados enantiômeros.

Os enantiômeros apresentam as mesmas propriedades, exceto as propriedades


relacionadas ao carbono assimétrico, como a interação com a luz plano-pola-
rizada, ou seja, os enantiômeros se diferem na interação com a luz polarizada.
Para entendermos melhor o comportamento dos enantiômeros, veremos alguns
conceitos sobre a natureza da luz plano-polarizada e como é o funcionamento do
polarímetro.

A luz é uma espécie de energia radiante, que consiste em ondas eletromag-


néticas, e as oscilações da luz natural se dão em todos os planos perpendiculares
à direção de propagação de luz. Porém, quando um feixe de luz comum passa
através de um aparelho chamado filtro polarizador, ou polarímetro, somente as
ondas luminosas que oscilam em um determinado plano atravessam o polarizador,
portanto, dizemos que essa luz é plano-polarizada. As demais ondas de luz dos
demais planos são bloqueadas (McMURRY, 2011).

Conforme a Figura 3.30(a), se fosse possível observarmos um feixe de luz a par-


tir de uma extremidade, veríamos os planos em que as oscilações elétricas da luz
estariam ocorrendo e perceberíamos que as oscilações do campo elétrico esta-
riam acontecendo em todos os planos possíveis, perpendicularmente à direção da
propagação. Depois que a luz passasse através de um polarizador, Figura 3.30(b),
veríamos que a luz que emerge do polarizador estaria oscilando apenas em um
único plano.

Figura 3.30 | Representação da luz não polarizada (a) e polarizada (b)

Fonte: elaborada pelo autor.

138 Isomeria geométrica e óptica


U3

O polarímetro é um aparelho utilizado com a finalidade de medir o efeito da


luz plano-polarizada sobre compostos opticamente ativos. A Figura 3.31 apresenta
uma representação esquemática do comportamento de um feixe luz antes e após
um filtro polarizador.

Figura 3.31 | Representação do feixe de luz

Fonte: <https://no.wikipedia.org/wiki/Fil:Wire-grid-polarizer.svg>. Acesso em: 5 nov. 2016.

Reflita
Para a química orgânica, é interessante o estudo da atividade óptica
causada apenas pela assimetria molecular, pois a substância apresenta
atividade óptica no estado fundido ou em solução. Quando a atividade
óptica for gerada pela assimetria cristalina, a substância é considerada
opticamente ativa apenas quando estiver no estado sólido, pois ao ser
fundida ou dissolvida em um líquido, a atividade óptica desaparece
(SOLOMONS, 2001).

As substâncias orgânicas ditas opticamente ativas são aquelas que possuem


a propriedade de desviar o plano de vibração da luz polarizada, ou seja, o plano
polarizado sofre rotação. Apenas as moléculas quirais apresentam a propriedade
de desviar o plano de vibração da luz polarizada, enquanto as moléculas aquirais
não desviam o plano de vibração da luz polarizada e, portanto, são inativas
opticamente.

O ângulo de rotação pode ser medido por meio de um instrumento conhecido


como polarímetro. A Figura 3.32 apresenta o desenho das partes operacionais
principais de um polarímetro e a medida de rotação óptica.

Isomeria geométrica e óptica 139


U3

Figura 3.32 | Representação de um polarímetro

Rotação
óptica de 30o

Luz
polarizada

Luz não Analisador móvel


polarizada

Fonte de luz

Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5d/Polarimeter_%28Optical_rotation%29.svg>. Acesso


em: 5 nov. 2016.

A Figura 3.32 apresenta um equipamento composto por uma fonte de luz, que
geralmente é uma lâmpada de sódio; um polarizador; um tubo, que contém uma
solução de moléculas orgânicas opticamente ativas no feixe de luz; um analisador
móvel, que mede o número de graus que o plano de luz polarizada girou; e um
observador. O novo plano de polarização é determinado girando o analisador
móvel até que a luz passe através dele.

O ângulo de rotação obtido através do polarizador depende não só do número


de moléculas opticamente ativas pelo feixe de luz, mas também da concentração
da amostra e do comprimento do caminho. Para que os valores de rotação óptica
sejam significativos para comparações, é necessário padronizar as condições de
medidas, conforme a Equação 3.1.
Rotação observada (graus) α
[α ]D = = (3.1)
Caminho óptico, l(dm) x Conceentração, C(g/mL) l x C

onde:
[α ]D:
rotação em graus observada quando se usa um tubo de 1 dm de
comprimento, sendo a concentração da amostra de 1 g/mL.

α : ângulo de rotação do plano da luz polarizada, em graus.


l : comprimento do compartimento da amostra, em dm.
c : concentração em g/mL.

140 Isomeria geométrica e óptica


U3

A rotação específica [α ]D é definida como a rotação observada quando a luz


do comprimento de onda de 589,6 nanômetros é usada com um comprimento
de caminho da amostra de 1 dm, a cada concentração (C) da amostra de 1 g/
mL. Muitos polarímetros utilizam uma luz de comprimento de onda de 589,6 nm
(nanômetros), conhecida como linha D do sódio, que corresponde à luz amarela
emitida pelas lâmpadas comuns de sódio (McMURRY, 2011).

Pesquise mais
Os enantiômeros apresentam diferentes comportamentos apenas quando
interagem com outras moléculas quirais. Quando um feixe de luz plano-po-
larizada passa através de um enantiômero, o plano de polarização gira. Além
disso, enantiômeros separados provocam a rotação do plano de luz plano-
-polarizada em quantidades iguais, mas em direções opostas (SOLOMONS;
FRYHLE, 2010).

Além de determinar o ângulo de rotação, também podemos identificar o plano


de rotação. O plano de vibração da luz polarizada pode ser dextrogiro, ou seja,
quando o desvio é no sentido horário e é indicado com (+), ou levogiro, quando
o desvio é no sentido anti-horário e é indicado com (-). As palavras dextrogiro e
levogiro vêm do latim dexter, que significa direita e laevu, que significa esquerda.

As moléculas opticamente ativas que desviam o plano de vibração da luz


polarizada para a direita são denominadas dextrogiras, enquanto as substâncias que
desviam o plano de vibração da luz polarizada para a esquerda são denominadas
levogiras. Você deve ficar atento: por convenção, a rotação para a direita recebe o
sinal (+) e a rotação para a esquerda recebe o sinal (-) (McMURRY, 2011).

Uma nomenclatura conhecida para substituir os sinais é substituir o (+) pela


letra d e o (-) pela letra  .

Exemplificando
As propriedades físicas, como ponto de fusão, ponto de ebulição e
densidade de dois enantiômeros, são iguais, exceto o desvio sobre a
luz polarizada. A rotação específica [α ]D é de –5,9° para o isômero A
e +5,9° para o isômero B, que recebem as nomenclaturas (-) e (+),
respectivamente (Figura 3.33).

Isomeria geométrica e óptica 141


U3

Figura 3.33 | Representação do par de enantiômeros do 2–metil–1–butanol

Fonte: elaborada pelo autor.

A rotação específica [α ]D é uma constante física característica de um


determinando composto opticamente ativo, sendo que o sinal de (+), de (-) ou
o valor da rotação só são conhecidos experimentalmente, ou seja, não podemos
inferir qual o sinal apenas analisando a estrutura. Tomamos novamente o ácido
lático (ácido-2-hidróxipropanoico) como exemplo, representado na Figura 3.18
(Seção 2). Os enantiômeros (+)-ácido lático e (-)-ácido lático apresentam [α ]D
iguais a +3,82 e – 3,82, respectivamente, ou seja, os dois enantiômeros giram a luz
polarizada no plano exatamente na mesma extensão, porém em sentidos opostos.
O composto (-)-ácido lático, ou ácido láctico levogiro, desvia o plano de vibração da
luz polarizada para esquerda ou no sentido anti-horário. Já o composto (+)-ácido
lático, ou ácido láctico dextrogiro, desvia o plano da luz polarizada para a direita ou
no sentido horário.

Para comprovarmos que é devido à presença do átomo de carbono assimétrico


que a molécula causa a atividade óptica, podemos fazer uma reação química em
que o carbono assimétrico (centro de quiralidade) deixa de ter quatro substituintes
distintos, sendo que a molécula passa a ser opticamente inativa. Por exemplo:
quando ocorre a reação de oxidação do ácido láctico dextrogiro ou levogiro, há a
formação do ácido pirúvico, considerado opticamente inativo, pois não apresenta
o carbono assimétrico em sua estrutura molecular, consequentemente a molécula
do ácido pirúvico é simétrica, ou seja, não desvia a luz plano polarizada. A Figura
3.34 apresenta a reação de oxidação do ácido lático em ácido pirúvico.

142 Isomeria geométrica e óptica


U3

Assimile
Figura 3.34 | Reação de oxidação do ácido lático em ácido pirúvico

Fonte: elaborada pelo autor.

Como mencionado, diferentemente dos enantiômeros, os diastereoisômeros


apresentam propriedades físicas, como ponto de fusão, ebulição e solubilidade
distintas, além de apresentarem diferentes rotações específicas. Lembre-se de
que os diastereoisômeros são estereoisômeros que apresentam dois pares de
enantiômeros, em que as moléculas dos diastereoisômeros são consideradas
similares, mas não idênticas, e não são imagens especulares.

Em diastereoisômeros com dois centros de quiralidade, C2 gira a luz polarizada


de um ângulo α qualquer, enquanto o C3 gira a luz polarizada de um ângulo
β . Os compostos orgânicos que apresentam dois centros quirais diferentes na
molécula não têm uma estrutura meso, consequentemente apresentam quatro
isômeros opticamente ativos formando dois pares de enantiômeros, sendo que o
valor de rotação óptica será resultante dos dois desvios α e β , que são diferentes
(Figura 3.35). Com isso, esse composto orgânico apresentará dois isômeros
dextrogiros, denominados d1 e d 2 , e dois isômeros levogiros, denominados  1 e
 2. A Figura 3.35 apresenta os estereoisômeros do 3-cloro-2-butanol, que possui

Isomeria geométrica e óptica 143


U3

quatro estereoisômeros, sendo dois pares enantioméricos, portanto os compostos


d1, d 2, 1 e  2 (rotação óptica obtida em Lucas e Gould, 1941, e Leroux e Lucas,
1951).

Figura 3.35 | Estereoisômeros do 3-cloro-2-butanol

Fonte: elaborada pelo autor.

Para os compostos que apresentam dois centros de quiralidade iguais (mesma


relação entre os substituintes), como visto na seção anterior, dois compostos
serão idênticos e com um plano de simetria, portanto, sem quiralidade. A ausência
de uma rotação óptica pode ser explicada pelos ângulos dos desvios α e β serem
iguais e em sentidos opostos. Um exemplo de composto que apresenta dois
centros quirais iguais é o ácido tartárico, conforme Figura 3.36. São apresentados
os quatro isômeros, dos quais dois são opticamente ativos, denominados de ácido
d-tartárico e ácido  -tartárico. Os outros dois isômeros são idênticos (meso),
opticamente inativos por compensação interna.

Figura 3.36 | Estereoisômeros do ácido tartárico

Fonte: elaborada pelo autor.

144 Isomeria geométrica e óptica


U3

Assimile
Lembre-se de que não existe uma relação que pode ser prevista de
maneira direta entre a estrutura e o sinal da rotação óptica. Isso ocorre
também em reações químicas, em que um reagente (+) ou (-) não
leva obrigatoriamente a um produto de mesmo sinal. Por exemplo, o
(+)-ácido lático pode ser convertido em seu sal de sódio, o (-)-lactato
de sódio, sem que ocorra alteração no centro de quiralidade. Após
acidificação, teremos novamente o ácido lático com rotação (+)
(Figura 3.37).

Figura 3.37 | Conversão do (+)-ácido lático em (-)-lactato de sódio

Fonte: elaborada pelo autor.

Sem medo de errar

Como analista júnior em um laboratório de desenvolvimento de novas


moléculas, você recebeu a tarefa de determinar quais entre os cinco protótipos
poderiam existir como mais de um composto. Inicialmente, havia cinco compostos
em sua lista, porém na primeira seção você assinalou que cada composto poderia
ser obtido como isômeros E/Z e na segunda seção, quais moléculas poderiam
ser obtidas como enantiômeros ou diastereoisômero. Agora, seu gestor precisa
de uma indicação de quais análises fazer nessas moléculas após a obtenção em
laboratório.

Inicialmente, foi identificado que as cinco estruturas poderiam ser obtidas


como 10 compostos. Na segunda etapa, percebeu-se que na estrutura I, quatro
diastereoisômeros poderiam ser obtidos para cada isômero geométrico (E/Z), já
que havia dois centros de quiralidade e nenhum plano de simetria. Os compostos
IV e V também podem ser obtidos em pares de enantiômeros para cada isômero
geométrico, sendo possíveis quatro estruturas de cada composto. Esses dados
estão na Tabela 3.3 e você consegue checar todas as estruturas nas Figuras 3.10 e
3.11 da Seção 1, e 3.26 e 3.27 da Seção 2.

Isomeria geométrica e óptica 145


U3

Tabela 3.3 | Contagem de moléculas obtidas a partir das cinco estruturas iniciais

Isômero Centro de Total de


Composto Enatiômeros
geométrico quiralidade estruturas

I E 2 2 pares (4 compostos)
8
Z 2 2 pares (4 compostos)

II E 0 0
2
Z 0 0

III E 0 0
2
Z 0

IV E 1 1 par (2 compostos)
4
Z 1 1 par (2 compostos)

V E 1 1 par (2 compostos)
4
Z 1 1 par (2 compostos)

Fonte: elaborada pelo autor.

Você aprendeu, ao longo da unidade, que isômeros E/Z apresentam


propriedades diferentes, assim como diastereoisômeros. Nesta seção, vimos que
embora enantiômeros possuam as mesmas propriedades físicas e químicas (em
ambientes aquirais), eles desviam a luz plano polarizada em sentidos opostos.

As análises químicas mais usuais em síntese são infravermelho (IV),


espectrometria de massas (EM), ressonância magnética nuclear (NMR) e rotação
óptica. Com o infravermelho você irá avaliar os grupos funcionais das moléculas
com base nas energias de estiramento das ligações, portanto se composto for
apenas um isômero espacial, isso não irá lhe ajudar, uma vez que a conectividade
dos átomos é a mesma. Espectrometria de massas lhe fornecerá a massa exata
de cada composto, e com a medida de massas de diferentes fragmentos você
obtém dados sobre a conectividade dos átomos. Com NMR é possível, com as
técnicas mais simples, avaliar a conectividade dos átomos, analisando os carbonos
e hidrogênios da molécula. Com técnicas mais elaboradas, podemos avaliar a
relação espacial entre grupos substituintes da dupla ligação, determinando se é E
ou Z. Porém, sem o uso de moléculas auxiliares quirais ou solventes quirais não há
diferença sobre enantiômeros, apenas sobre diastereoisômeros.

Para determinar a pureza enantiomérica, além de derivatizações químicas


(reações), a rotação óptica é excelente para avaliar compostos enantioméricos.
Por exemplo, os dois enantiômeros do composto V foram obtidos de forma
separada, mas como podemos ter certeza de que são enantiômeros, e não o
mesmo composto duas vezes? Devemos medir a rotação óptica de cada um deles
e eles devem fornecer valores com sinal inverso. Se eles possuírem o mesmo valor
numérico, está indicado que os dois são obtidos na mesma pureza ótica.

146 Isomeria geométrica e óptica


U3

No seu relatório, além das estruturas químicas completas de todos os isômeros,


você deve anexar essas informações, indicando ao seu gestor que além das análises
comuns a moléculas assimétricas, deve-se incluir a rotação ótica.

Se a dúvida sobre a estrutura persistir, é possível transformar um enantiômero


em um diastereoisômero, e então efetuar diversas análises. Mas isso é assunto para
a próxima unidade.

Avançando na prática

Análise de enantiômeros através da rotação óptica

Trabalhando em um laboratório de análises de moléculas orgânicas, você


recebeu dois blocos de moléculas para análise. O primeiro bloco, com quatro
amostras, corresponde à estrutura planar representada na Figura 3.38(a), e o
segundo bloco, com três amostras, possui a estrutura plana representada na
Figura 3.38(b). Sua tarefa, nessa solicitação de análise, é medir a rotação óptica dos
compostos e, no relatório, identificar o conjunto de possíveis estruturas.

Figura 3.38 | Estruturas planas dos compostos analisados

Fonte: elaborada pelo autor.

Resolução da situação-problema

O primeiro passo é realizar as medidas de rotação óptica, os resultados


encontrados estão listados na Tabela 3.4.

Tabela 3.4 | Contagem de moléculas obtidas a partir das cinco estruturas iniciais

Composto I II III IV V VI VII

[α ]20
D
-41 -51 +41 +52 -94 0 +94

Fonte: elaborada pelo autor.

Isomeria geométrica e óptica 147


U3

Você precisa analisar os dois grupos separadamente, pois eles possuem


estruturas diferentes. No grupo 1, pelos valores de [α ]D obtidos, você pode dizer
20

que os compostos I/III e II/IV são dois pares enantioméricos, já que apresentam
apenas sinais opostos. Como todos possuem a mesma estrutura, entre os dois
pares, a relação é diastereoisomérica. Para o segundo grupo, os compostos V e
VII são enantiômeros por apresentarem o mesmo valor de rotação óptica, porém
com sinais inversos, enquanto o composto VI é meso, por não apresentar desvio
da luz plano polarizada.

Dessa forma, em seu relatório devem constar as estruturas descritas na Figura


3.39. Para determinar qual estrutura corresponde a qual rotação óptica, consulte a
literatura, pois não podemos prever o sinal de rotação pelos substituintes.

Figura 3.39 | Relação entre as estruturas estudadas

Fonte: elaborada pelo autor.

Faça valer a pena

1. Substâncias que apresentam pelo menos um carbono assimétrico em


sua estrutura química são consideradas opticamente ativas.
Analisando as estruturas químicas apresentadas na figura a seguir, é
correto afirmar:

148 Isomeria geométrica e óptica


U3

Fonte: elaborada pelo autor.

I. Somente as estruturas A e B apresentam isomeria óptica.


II. Somente as estruturas C e D apresentam isomeria óptica.
III. A estrutura A é enantiômero da estrutura D.
IV. A estrutura C é enantiômero da estrutura B.
a) Apenas I está correta.
b) Apenas II está correta.
c) Apenas III está correta.
d) II e III estão corretas.
e) II e IV estão corretas.

2. A isomeria óptica é uma divisão da estereoisomeria que ocorre em


compostos orgânicos que apresentam moléculas assimétricas.
Quais dos compostos orgânicos relacionados a seguir apresenta isomeria
óptica?
a) Metanol.
b) Etanol.
c) 2-propanol.
d) 3-metil-2-butanol.
e) 1-pentanol.

Isomeria geométrica e óptica 149


U3

3. As substâncias orgânicas ditas opticamente ativas são aquelas que


possuem a propriedade de desviar o plano de vibração da luz polarizada,
ou seja, o plano de polarização sofre rotação.
Considere as fórmulas estruturais seguintes:
I. CH2 (OH) - CH3.
II. CH3 - CH (OH) - CH2 - CH3.
III. CH2 (OH) - CH = CH2.
Apresenta(m) isômero(s) óptico(s) o(s) composto(s):
a) Apenas a estrutura I.
b) Apenas a estrutura II.
c) Apenas a estrutura III
d) As estruturas I e II.
e) As estruturas II e III

150 Isomeria geométrica e óptica


U3

Referências

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GOULART, Flávia Cristina. Lípidios: Ciências fisiológicas – Universidade Estadual


Paulista. Marília, [s.d.]. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/
Instituicao/Docentes/FlaviaGoulart/lipidios.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2017.

JORGE, N. et al. Alterações físico-químicas dos óleos de girassol, milho e soja


em frituras. Química Nova, São Paulo, v. 28, n. 6, p. 947-951, 2005. Bimestral.
Disponível em: <http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=3174>.
Acesso em: 23 jan. 2017.

LEROUX, P. J.; LUCAS, H. J.. L(-)-2-Butanol from D(-)-2,3-Butanediol. Journal of


the American Chemical Society, [s.l.], v. 73, n. 1, p. 41-42, jan. 1951. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1021/ja01145a015>. Acesso em: 2 fev. 2017.

LUCAS, H. J.; GOULD, C. W. The Conversion of the 3-Chloro-2-butanols to the


2,3-Dichlorobutanes; Evidence for a Cyclic Chloronium Intermediate1. Journal of
the American Chemical Society, [s.l.], v. 63, n. 10, p. 2541-2551, out. 1941. Disponível
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MALACRIDA, Cássia Roberta; JORGE, Neuza. Alterações do óleo de soja e da


mistura azeite de dendê - óleo de soja em frituras descontínuas de batatas chips.
Brazilian Journal of Food Technology, Campinas, v. 6, n. 2, p. 245-249, 2003.
Anual. Disponível em: <http://bjft.ital.sp.gov.br/artigos/html/busca/PDF/v6nu137a.
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McMURRY, John. Química orgânica. Tradução AllTasks. 7. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2011.

MERÇON, Fábio. O que são gorduras trans? Química Nova na Escola, Campinas,
v. 32, n. 2, p. 78-83, 2010. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/
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SOLOMONS, T. W. Graham; FRYHLE, C. B. Química orgânica 1. Tradução de Julio


Carlos Afonso et al. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010. v. 1.

SOLOMONS, T. W. Graham; FRYHLE, C. B. Química orgânica 1. Tradução de Julio


Carlos Afonso et al. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010. v. 2b.

Isomeria geométrica e óptica 151


Unidade 4

Estereoquímica

Convite ao estudo

A representação de isômeros óticos, enantiômeros e diastereoisôme-


ros ocorre com uma nomenclatura muito específica. Além de entender
os principais conceitos de isomeria ótica em química orgânica, vistos na
unidade anterior, também é preciso ser capaz de identificar os isômeros.
Você já entendeu o que é um carbono quiral e que ele pode ou não levar
a moléculas assimétricas e viu que moléculas assimétricas com apenas
um centro de assimetria podem existir como um par de enantiômeros,
assim como moléculas com mais de um centro de assimetria podem
ser encontradas como diastereoisômeros, e que ambos desviam a luz
plano-polarizada.

Ao final desta unidade, você será capaz de representar os


estereoisômeros a partir de seus nomes, compreendendo a importância
de conhecer a sua estereoquímica e saber determiná-la. Para isso,
vamos nos colocar no lugar de um responsável técnico em uma
indústria farmacêutica que comprou um lote do composto 3-mercapto-
-2-metilpropanoato de metila, vindo de uma indústria de química fina,
precursor de um fármaco anti-hipertensivo. A compra de moléculas
em estágios avançados de síntese é uma estratégia bastante comum
na indústria farmacêutica e essas moléculas estruturalmente mais
complexas são chamadas de building blocks (blocos de construção). No
entanto, a empresa passa por uma reestruturação no setor de compras e
seu gestor solicitou que você avalie se é viável continuar adquirindo esse
composto 3-mercapto-2-metilpropanoato de metila desse fornecedor.
Quais as primeiras ações a serem tomadas para dar uma resposta? É
possível identificar esse lote corretamente? Após a etapa de identificação,
U4

o que deverá ser feito? Uma vez que essa indústria procura identificar
novas moléculas a serem empregadas como fármacos, todos os
intermediários da rota de síntese desse composto serão testados, a
pureza dos reagentes utilizados precisa ser verificada, assim como deve-
se indicar quais compostos serão enviados para os testes biológicos. Na
última etapa, você deve elaborar um relatório ao seu gestor, indicando a
manutenção ou a troca de fornecedor, e para isso precisa entender um
pouco sobre como moléculas quirais atuam em sistemas biológicos.

A análise e avaliação de compostos é uma prática rotineira dentro de


diferentes ramos da indústria. Será que o lote recebido contém somente
um composto, visto que este apresenta apenas uma fórmula química?
Como podemos identificar isso? E qual a importância dos isômeros?

Para resolver esses problemas, nesta unidade, você irá se aprofundar


nos conceitos de enantiômeros e diastereoisômeros, assim como nas
nomenclaturas utilizadas para indicar a estereoquímica dos centros de
assimetria. Você aprenderá também sobre pureza ótica e irá finalizar a
disciplina entendendo a importância da quiralidade no meio em que
vivemos. Portanto, temos muito o que aprender!

154 Estereoquímica
U4

Seção 4.1

Estereoisômeros: projeções e nomenclaturas

Diálogo aberto

Você está atuando como responsável técnico em uma indústria farmacêutica


que acaba de receber um lote do building block 3-mercapto-2-metilpropanoato
de metila, precursor de um fármaco com atividade anti-hipertensiva, e deve realizar
uma série de etapas para indicar ao seu gestor a manutenção ou não do fornecedor
desse composto. Sua primeira tarefa é identificar se existe apenas um composto
no lote recebido. Para isso, proponha uma análise a fim de verificar o que está
ocorrendo e entregue um relatório ao seu gestor, para que os próximos passos do
processo sejam realizados de maneira correta.

Até agora, sabemos que os estereoisômeros são nomeados principalmente


pelos símbolos (+) e (-), sendo estes utilizados para indicar o sentido de desvio
da luz plano-polarizada. Entretanto, existem outras maneiras de identificarmos os
estereoisômeros, sendo mais comum o sistema R/S, que aprenderemos nesta
seção. Embora a projeção em zigue-zague seja muito útil para representarmos os
estereoisômeros, você conhecerá uma nova projeção, a de Fischer, que é bastante
aplicada em açúcares.

Vimos que os compostos estereoisoméricos podem coexistir em uma amostra


sem serem facilmente notados. Como mencionado na unidade anterior, os enan-
tiômeros apresentam as mesmas características físicas. Você também já sabe que
esses compostos, embora sejam bastante semelhantes, desviam a luz plano-po-
larizada em sentidos opostos. Nesta unidade, iremos relacionar esses conceitos,
desenvolvendo uma técnica que permita não só verificar se há uma mistura de
isômeros, como também qual a proporção de cada um deles se misturados. Com
esses conceitos, começaremos a falar de excesso enantiomérico (ee), um termo
utilizado para avaliar a pureza de um isômero em relação a outro.

Estereoquímica 155
U4

Não pode faltar

Na unidade anterior, você aprendeu que as moléculas que possuem um


carbono sp3 com quatro substituintes diferentes apresentam um centro, chamado
de centro estereogênico ou de assimetria. Quando há apenas um carbono desse
tipo na molécula, sem a presença de planos de simetria, essa molécula é chamada
de quiral. Nesse caso, o carbono também pode ser nomeado como quiral.

Embora a peculiaridade de compostos desviarem a luz plano-polarizada tenha


sido observada por Jean-Baptiste Biot já no século XIX, dando origem ao estudo da
quiralidade, em 1848, muito pouco havia sido desenvolvido sobre o assunto. Louis
Pasteur, ao realizar a cristalização de tartarato de amônio e sódio em temperaturas
próximas a 28 °C, observou que dois tipos de cristais eram obtidos. Com o auxílio
de uma pinça, Pasteur separou-os cuidadosamente, observando que havia cristais
voltados para a direita (destros) e voltados para a esquerda (canhotos).

Figura 4.1 | Imagem especular e estrutura química dos cristais de tartarato de amônio e
sódio

Fonte: adaptada de <https://en.wikipedia.org/wiki/Louis_Pasteur#/media/File:Pcrystals.svg>. Acesso em: 29 dez. 2016.

Após isolar os cristais, Pasteur realizou experimentos com luz plano-polarizada


e observou que um dos cristais desviava a luz para a direita, enquanto o outro
desviava a luz para a esquerda. Mesmo sem as bases químicas que temos nos
tempos atuais, nem as modernas técnicas de análise, Pasteur propôs que a
estrutura do cristal estava relacionada com a estrutura das moléculas de sua

156 Estereoquímica
U4

composição. De fato, hoje sabemos que cada um dos dois cristais é formado por
um dos enantiômeros do sal de tartarato de amônio e sódio, os isômeros (+) e (-).

A nomenclatura (+) e (-) que antecede o nome de estereoisômeros não nos


permite saber qual a posição espacial do carbono tetraédrico, uma vez que se
trata de uma observação experimental. Para sabermos qual é essa posição
(configuração), precisamos utilizar uma nomenclatura aplicável a moléculas com
centros de assimetria, que podem corresponder a 1 ou a n centros. Não é o caso
da nomenclatura D e L, que além de ser corretamente aplicada a aminoácidos
e açúcares, também funciona bem para compostos com um único centro de
assimetria.

A nomenclatura de estereoisômeros mais amplamente conhecida e aplicada foi


desenvolvida por Cahn, Ingold e Prelog, ficando conhecida como regra CIP, ou
sistema R/S. Pela regra, ao adicionarmos R ou S na frente da nomenclatura IUPAC de
um composto, saberemos de qual enantiômero estamos falando. Para o 2-butanol,
por exemplo, podemos dizer que temos o (R)-2-butanol e o (S)-2-butanol, sendo
que cada nome é atribuído a um determinado enantiômero (Figura 4.2).

Figura 4.2 | Estruturas químicas do par de enantiômeros (R)-2-butanol e (S)-butanol

Fonte: elaborada pela autora.

Para definirmos se um isômero é R ou S, devemos seguir algumas regras que dão


prioridades diferentes aos diversos substituintes do carbono centro de assimetria.

1. A primeira regra é o número atômico, sendo que


o substituinte com o maior número atômico apresenta
a prioridade 1, ao passo que o substituinte com o menor
número atômico apresenta a prioridade 4. Sempre que
tivermos H como substituinte, ele terá a prioridade 4.

Estereoquímica 157
U4

2. Os outros dois substituintes são os átomos de


carbono. Nesse caso, devemos olhar os substituintes
ligados diretamente a cada um desses carbonos. Note
que de um lado temos uma metila, ou seja, um carbono
ligado a 3 H, enquanto do outro lado temos um substituinte
etila, portanto, um carbono ligado a 2 H e 1 C. Podemos
definir como segunda prioridade o substituinte do carbono
estereogênico que tem um carbono ligado a outro carbono,
pois o número atômico do C é maior que o do H(C, H, H) >
(H, H, H).
3. Agora, precisamos desenhar o centro de assimetria
como uma projeção tipo Newman, em que o grupo de
menor prioridade fique para trás. Ao fazermos isso, se os
números prioridade estão em sentido horário, temos o
isômero R.

Repetindo os passos 1 e 2 para o outro enantiômero, você verá que para


posicionar o átomo de prioridade 4 para trás, deve-se inverter a molécula, mudando
a posição dos grupos etila e metila. Isso faz com que a prioridade fique no sentido
anti-horário, sendo este o enantiômero S (Figura 4.3):

Figura 4.3 | Determinação da configuração S do 2-butanol

Fonte: elaborada pela autora.

Assimile
Para que a prioridade atribuída corresponda à configuração R ou
S corretamente, é importante que o grupo com prioridade 4 fique
afastado do observador. No início, isso não é tão fácil de ser realizado,
podendo levar a erros mesmo quando você sabe a regra. Praticar é o
melhor caminho! Use modelos atômicos como ferramenta. Também
é possível construir um carbono tetraédrico utilizando bolas de isopor
e palitos.

158 Estereoquímica
U4

Quando um dos substituintes possui uma ligação dupla ou tripla, para contar
a prioridade, devemos duplicar ou triplicar o átomo que está na dupla ou tripla
ligação, respectivamente, como nos exemplos da Figura 4.4.

Figura 4.4 | Determinação da prioridade: duplas e triplas ligações

Fonte: elaborada pela autora.

Como já mencionamos, essa nomenclatura é a mais abrangente, pois descreve


corretamente o centro de assimetria e vale para compostos com um ou mais
centros. Para os diastereoisômeros, basta determinar os centros um a um.

Exemplificando

Para determinarmos a configuração (R/S) de um diastereoisômero


devemos tratar as prioridades uma a uma, conforme exemplificado para
o isômero do composto 4-bromopentan-2-ol descrito na Figura 4.5.

Figura 4.5 | Determinação da configuração do composto 4-bromopentan-2-ol

Fonte: elaborada pela autora.

Estereoquímica 159
U4

Atenção
A nomenclatura R/S não está relacionada com o desvio da luz plano-po-
larizada, ou seja, um composto pode ter a configuração R e apresentar o
sinal (-) ou (+), assim como outro composto pode ter a configuração S e
apresentar o sinal (+) ou (-). Independentemente da configuração, só sa-
beremos o sinal de rotação ao realizarmos a medida experimental.

A representação em zigue-zague utilizando cunhas e cunhas tracejadas (Figura


4.6) para representar os estereoisômeros é a mais eficiente e simples, pois permite
a representação em três dimensões para as moléculas. Entretanto, existem outras
maneiras, tais como a projeção de Fischer que já vimos sendo utilizada na unidade
anterior. Essa projeção foi desenvolvida por Herman E. Fischer, em 1981, e consiste
em projetar em duas dimensões as moléculas tridimensionais (Figura 4.6). Essa
regra pode ser aplicada para qualquer molécula, porém foi desenvolvida para
representar os carboidratos acíclicos.

Figura 4.6 | Princípio básico aplicado na projeção de Fischer

Fonte: elaborada pela autora.

Nessa projeção devemos colocar a cadeia principal na vertical, iniciando de


cima para baixo, e os substituintes na horizontal.

Para transpormos a representação zigue-za-


gue em uma projeção de Fischer, devemos co-
locar os grupos da cadeia principal para baixo,
de modo que estes fiquem para trás do plano.
Para fazermos isso, devemos girar essa ligação e
atentar para que a relação entre os grupos mude
de syn (mesmo lado) para trans (lados opostos).

160 Estereoquímica
U4

Como segundo passo, devemos colocar o


observador vendo a estrutura de cima, girar 90ο
e redesenhar. A segunda estrutura é exatamente
o que a estrutura de Fischer representa.

Toda vez que olharmos uma projeção de


Fischer, por mais que ela seja representada
com todas as ligações no plano, devemos
imaginar os carbonos da ponta das cadeias
para baixo (posições 1 e 4) e as ligações na
horizontal para frente do plano.
Quando falamos em estruturas de carboidratos, temos uma regra adicional
para escrevermos a estrutura de Fischer. Como já vimos nas outras seções, os
carboidratos são moléculas em equilíbrio entre as formas cíclica e acíclica (aberta).
A forma aberta é comumente representada como estrutura de Fischer, sendo que
nesses casos devemos colocar no topo da estrutura de Fischer o carbono mais
oxidado (CHO).

Figura 4.7 | Projeção de Fischer para a eritrose

Fonte: elaborada pela autora.

Representar a forma correta da projeção de Fischer tem um impacto importante


na nomenclatura mais utilizada para os açúcares. Comumente, referimo-nos a
açúcares pela nomenclatura L/D, que é arbitrária e diz respeito ao gliceraldeído
e ainda a nomenclatura d/  , que já vimos anteriormente. Lembre-se de que os
compostos levorotatórios desviam a luz plano-polarizada para a esquerda (-), tendo
a nomenclatura  , ao passo que os dextrorotatórios desviam a luz para a direita (+)
e apresentam a nomenclatura d.

Quando utilizamos D e L em maiúsculo, estamos fazendo uma referência direta


ao gliceraldeído. Para realizar a comparação, devemos colocar os isômeros d (+) e
 (-) do gliceraldeído na projeção de Fischer (Figura 4.8). Note que no isômero d

Estereoquímica 161
U4

(+), o grupo hidroxila fica para a direita, enquanto que no isômero  (-) esse grupo
fica para a esquerda. Essa posição deu origem à nomenclatura L/D, onde L significa
que o grupo está para o mesmo lado que no (-)-gliceraldeído e D em comparação
com o (+)-gliceraldeído.

Figura 4.8 | Isômeros do gliceraldeído e nomenclatura L/D

Fonte: elaborada pela autora.

Expandindo essa nomenclatura para os carboidratos, devemos observar o


carbono estereogênico mais distante do carbono do topo da projeção de Fischer.
Se a hidroxila estiver para a direita, como no D-gliceraldeído, este açúcar terá a
nomenclatura D. Já em analogia ao L-gliceraldeído, quando a hidroxila estiver para
a esquerda, este açúcar terá L em seu nome (Figura 4.9).

Figura 4.9 | Isômeros da glicose e da eritrose

Fonte: elaborada pela autora.

162 Estereoquímica
U4

Para as formas cíclicas dos açúcares, ainda temos a nomenclatura α e β . Essa


nomenclatura diz respeito ao equilíbrio existente entre as moléculas nas confor-
mações aberta e fechada, resultantes da reação entre um grupo hidroxila e o al-
deído. O grupo substituinte formado nessa reação, assinalado na Figura 4.10, pode
estar abaixo ou acima do plano. Você deve lembrar que essas estruturas estão em
equilíbrio e, portanto, se interconvertem.

Figura 4.10 | Nomenclatura α e β para a D-eritrose


H
H H H H H H H OH
O OH O
O
OH H
OH OH OH OH OH OH
α -D-eritrose D-eritrose β -D-eritrose
Fonte: elaborada pela autora.

Pesquise mais
Aprenda mais sobre a nomenclatura e a reatividade de carboidratos
lendo o capítulo:

CAREY, F. A. Carboidratos. In: ______. Química orgânica 2. 7. ed. São


Paulo: AMGH, 2011.

Tanto os estereoisômeros obtidos em um laboratório quanto os compostos


encontrados na natureza nem sempre são observados em sua forma
enantiomericamente pura, ou seja, apenas o enantiômero R ou apenas o
enantiômero S. Eles podem ser encontrados em misturas. Quando há em uma
mistura a metade de um enantiômero e a metade do outro, dizemos que essa
mistura está 50:50, sendo denominada de racêmica. Quando se tem uma maior
proporção de um isômero em relação ao outro, dizemos que essa amostra está
enantiomericamente enriquecida. Por sua vez, quando houver apenas um isômero
em solução, usaremos o termo enantiomericamente pura.

Por meio de diversos métodos é possível medir essa proporção, e o resultado


deverá ser expresso em excesso enantiomérico (ee) ou razão enantiomérica
(re), para os enantiômeros, e excesso diastereoisomérico (ed) ou razão
diastereoisomérica (rd), para os diastereoisômeros.

A razão enantiomérica é descrita como a proporção entre os dois compostos,


enquanto o excesso enantiomérico é dado em % e pode ser calculado por:
no de mols de um estereoisômero - no de mols de outro estereoisômero
% ee = X 100
número de mols de ambos estereoisômeros

Estereoquímica 163
U4

Exemplificando
Uma mistura dos isômeros R e S da 2-metilcicloexanona contém
13,5 mols do isômero R e 4,5% do isômero S. Utilizando a fórmula
acima, temos:
13,5 - 4,5
% ee =
18 . Como há uma maior quantidade do isômero R,
X 100= 50%

esse é o excesso enantiomérico em favor desse isômero.

Esse resultado significa que 50% é apenas o isômero R e 50% é


racêmico (25% R e 25% S), tendo assim 75% de R e 25% de S. De fato,
13,5 mols correspondem a 75% e 4,5 mols a 25%. Portanto, a razão
enantiomérica é de 75:25 em favor do isômero R.

Figura 4.11 | Excesso enantiomérico para a 2-metilciclohexanona

Quantidade a mais =
excesso
(R)-2-metilciclohexanona (S)-2-metilciclohexanona
13,5 mols 4,5 mols

re: 75:25
ee: 50%

Fonte: elaborada pela autora.

Uma mistura racêmica da 2-metil ciclohexanona pode ser representada


por (+/-)-2-metilciclohexanona. A Figura 4.12 mostra uma representação
gráfica para uma mistura racêmica, que consiste em utilizar uma ligação
ondulada significando que o substituinte está para frente ou para trás.
Na verdade, metade para frente e metade para trás.

Figura 4.12 | Representação de uma mistura racêmica da 2-metilciclohexanona

Fonte: elaborada pela autora.

164 Estereoquímica
U4

Para determinar a proporção de enantiômeros em uma mistura, você pode


usar algumas técnicas analíticas tais como cromatografia gasosa ou cromatografia
líquida. Em ambos os casos, utilize condições especiais, como colunas de
separação quirais.

Também é possível utilizar a rotação ótica de uma mistura de estereoisômeros


para saber qual o excesso enantiomérico do estereoisômero preferencial. Para
isso, procure na literatura a rotação ótica de um dos isômeros enantiomericamente
puros e utilize a fórmula:
rotação específica observada
% ee = × 100
rotação específica enant. puro

Por exemplo, suponha que para o (R)-2-butanol tenhamos [α ]D = + 6,76 (CHCl3 ) , já


para a mistura de isômeros [α ]D = + 13,52 (CHCl3 ) . A porcentagem de ee será 50%,
pois (+6,76/13,52) × 100 = 50. Note que foi descrito o solvente em que a análise
foi realizada. Observe que essa medida é bastante sensível e o solvente afeta o
valor de α . Logo, apenas compare valores quando as análises foram realizadas no
mesmo solvente.

Reflita
A medida da rotação ótica é muito sensível, como dissemos, e o
solvente afeta os valores obtidos. Outra fonte de erro é a presença de
qualquer impureza, oticamente ativa ou não, pois afeta a passagem
de luz pela solução. O mesmo é observado para amostras coloridas.
Com base nessas informações, você considera seguro determinar o
ee unicamente pela rotação ótica?

Sem medo de errar

Lembre-se de que você está atuando como responsável técnico em uma in-
dústria farmacêutica que acaba de receber um lote do building block 3-mercapto-
-2-metilpropanoato de metila. Revendo a estrutura química desse composto, você
identificou um carbono centro de assimetria sp3. Isso é um indicativo de que nessa
amostra pode haver qualquer um dos isômeros, ou ainda uma mistura deles (Figu-
ra 4.13). Para iniciar a identificação correta, atribua a configuração R/S utilizando as
regras estudadas nesta seção, como descrito a seguir.

Estereoquímica 165
U4

Figura 4.13 | Estrutura do 3-mercapto-2-metilpropanoato de metila e configuração dos


isômeros

(S)-3-mercapto-2-metilpropanoato
de metila

3-mercapto-2metilpropanoato
de metila

(R)-3-mercapto-2-metilpropanoato
de metila

Fonte: elaborada pela autora.

Atenção
Sobre a ordem de prioridade: note que embora o carbono centro de
assimetria esteja ligado a dois átomos de carbono, um deles possui um
átomo de enxofre, enquanto o outro tem uma ligação dupla de oxigênio
e uma ligação simples oxigênio. Mesmo a ligação dupla “abrindo” em
3 oxigênios, não olhamos a soma dos números atômicos, e sim qual o
elemento de maior número atômico, que é o enxofre.

Você detectou que não há nenhum relatório sobre a pureza ótica do lote e
resolveu solicitar uma análise de rotação ótica. O resultado encontrado pelo
analisador foi [α ]D = + 17,9 (CHCl3 ) . Checando a literatura, você encontrou que
o isômero S apresenta [α ]D = - 29,8 (CHCl3 ) (BIANCHI; CESTI, 1990). Sua primeira
conclusão é de que o lote recebido é enriquecido enantiomericamente com o
isômero R, uma vez que o sinal é oposto ao descrito na literatura para o isômero S.
17,9
O ee pode então ser calculado por: % ee =
29,8
× 100 = 60% .

Com esse resultado, você está indicando que existe 60% do isômero R em
excesso em relação ao isômero S. A razão enantiomérica é então 80:20 (60% é R
e 40% é racêmico – 20% R e 20% S).

Ao elaborar o relatório e entregar ao seu gestor, ele lhe questionou se temos


como obter os enantiômeros puros e quais os custos desse processo. Existem
alguns métodos para separar os estereoisômeros. Vamos falar sobre eles na
próxima seção para responder à pergunta do seu gestor.

166 Estereoquímica
U4

Avançando na prática
Estereoquímica auxiliando escolhas de síntese

Descrição da situação-problema

Você está trabalhando no setor de pesquisa de desenvolvimento em uma


indústria de química fina. Sua tarefa é analisar a estereoquímica das estruturas
obtidas por um químico orgânico sintético. Como você já viu anteriormente, a
rotação ótica pode ser uma boa opção para obter esse tipo de informação.

O químico sintético lhe passou duas amostras contendo o mesmo produto,


entretanto obtidos em condições diferentes de reação, descrita na Figura 4.14.
Figura 4.14 | Obtenção de 2-octanol a partir do R-2-bromooctano

Fonte: elaborada pela autora.

Você deve analisar as amostras 1 e 2 e indicar os excessos enantioméricos


obtidos, assim como a configuração, indicando ao químico sintético qual a melhor
condição a ser aplicada.

Resolução da situação-problema

Para resolver esse problema, você escolheu utilizar a rotação ótica. Para isso, você
pesquisou na literatura que a rotação ótica do (S)-2-octanol é [α ]D = -9,9 (CHCl3 )
(SOLOMONS; FRYHLE; JOHNSON et al., 2013, p. 248) e analisou as amostras 1 e
2, obtendo os valores [α ]D = -8,84 (CHCl3 ) e [α ]D = +5,31 (CHCl3 ) , respectivamente.
Com esses dados você pode calcular os excessos enantioméricos:

Amostra 1: Amostra 2:
8,84 5,31
% ee = X 100 = 89,3% % ee = X 100 = 53,6%
9,9 9,9

Pelos sinais de rotação ótica, você observou que a amostra 1 apresenta o mesmo
sinal descrito para o isômero S; e a amostra 2, o sinal oposto. Portanto, a amostra 1
contém o isômero S em 89,3% de ee, enquanto a amostra 2 contém o isômero R
em 53,6% de ee. Ambas as amostras são enantiomericamente enriquecidas.

Em seu relatório deve constar uma estrutura dos compostos e os seus valores
de ee. Para isso, você deve aplicar a ordem de prioridade e determinar os dois
isômeros, como descrito na Figura 4.15.

Estereoquímica 167
U4

Figura 4.15 | Configurações do composto 2-octanol

Fonte: elaborada pela autora.

Com isso, o seu relatório deve conter as informações descritas na Figura 4.16,
sendo que o sintético deve escolher a condição de acordo com a necessidade do
isômero. Para obter o isômero R, você indica a necessidade de mais estudos nas
condições reacionais, devido ao baixo ee.

Figura 4.16 | Informações sobre as amostras 1 e 2

Fonte: elaborada pela autora.

Faça valer a pena

1. A nomenclatura de estereoisômeros mais amplamente conhecida e


aplicada foi desenvolvida por Cahn, Ingold e Prelog, ficando conhecida
como regra CIP, ou sistema R/S. Pela regra, ao adicionarmos R ou S na
frente da nomenclatura IUPAC de um composto, saberemos de qual
enantiômero estamos falando.
Considere os compostos I, II e III, descritos a seguir:

168 Estereoquímica
U4

Compostos I, II e III

Fonte: elaborada pela autora.

A alternativa que corresponde à nomenclatura R e S corretamente é:


a) composto I S, composto II C-Br (R), C-I (R) e composto III S.
b) composto I R, composto II C-Br (S), C-I (S) e composto III R.
c) composto I R, composto II C-Br (S), C-I (S) e composto III S.
d) composto I S, composto II C-Br (R), C-I (R) e composto III R.
e) composto I S, composto II C-Br (R), C-I (S) e composto III R.

2. Quando estamos nos referindo a estereoisômeros, diferentes


nomenclaturas podem ser aplicadas como descritores. A nomenclatura
mais usual é a R/S, por ser mais completa. Entretanto,  e d também são
descritores estereoquímicos utilizados, assim como L e D.
Sobre os descritores estereoquímicos, podemos afirmar:
I. A regra CIP é baseada em determinarmos a prioridade dos substituintes
do carbono centro de assimetria, atribuindo os números e, após colocar o
número 4 para trás do plano, verificar o sentido de giro 1, 2 e 3.
II. O uso de  e d corresponde ao sentido de desvio da luz plano-polarizada,
(-) e (+), respectivamente. Entretanto, não podemos desenhar a estrutura
apenas com esse dado.
III. A nomenclatura L e D é arbitrária, fazendo referência aos isômeros  e
d do gliceraldeído.
Estão corretas:
a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e III.
d) II e III.
e) I, apenas.

Estereoquímica 169
U4

3. Estereoisômeros podem ser encontrados em misturas. Quando há em


uma mistura metade de um enantiômero e metade do outro, afirmamos
que essa mistura está 50:50 e a chamamos de racêmica. Quando há uma
maior proporção de um isômero em relação ao outro, essa mistura está
enantiomericamente enriquecida. Já quando houver apenas um isôme-
ro em solução, usaremos o termo enantiomericamente pura.
Uma mistura de enantiômeros de um determinado composto apre-
senta [α ]D = -97,9 . Sabendo que o isômero R desse composto apresenta
[α ]D = +104,2 , sendo as duas análises realizadas no mesmo solvente, pode-
mos afirmar que:
I. O isômero R está em aproximadamente 3%.
II. O excesso enantiomérico do isômero S é aproximadamente 94%.
III. Sinais opostos significam que há impurezas.
Está(ão) correta(s):
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.

170 Estereoquímica
U4

Seção 4.2

Enantiômeros e diastereoisômeros
Diálogo aberto

Você é o responsável técnico em uma indústria farmacêutica e deve avaliar a


compra de um lote do building block 3-mercapto-2-metilpropanoato de metila,
precursor de um fármaco com atividade anti-hipertensiva. Seu gestor lhe pediu
que analisasse o lote e indicasse se o fornecedor deve ser mantido ou não.
Inicialmente, você notou que esse composto é uma molécula quiral e que não
havia informações sobre a sua pureza ótica ou configuração, então nomeou
corretamente os dois isômeros e realizou as medidas de rotação ótica, obtendo
um excesso enantiomérico de 60%. Agora, para obter o genérico do captopril, seu
desafio é separar os dois estereoisômeros a fim de formar um composto puro e
determinar em que ponto da rota realizar essa separação.

Para resolver essa questão, é preciso saber um pouco mais sobre


estereoquímica, enantiômeros e diastereoisômeros. Iremos aprender novas
nomenclaturas para os diastereoisômeros e, lembrando das propriedades de
enantiômeros e diastereoisômeros, iremos falar sobre os métodos de separação
de estereoisômeros.

Com esses conhecimentos, será possível responder ao questionamento atual


do seu gestor, isso irá lhe ajudar a decidir se mantém o fornecedor do building
block ou não.

Não pode faltar

Até o momento, você entendeu bem o que é estereoquímica, enantiômeros


e diastereoisômeros. Também aprendeu a determinar a configuração desses
compostos como R ou S. Além disso, conheceu os descritores estereoquímicos
d/  e D/L, sendo este último utilizado em projeção de Fischer. Agora você sabe
que os compostos oticamente ativos causam desvio na luz plano polarizada e que
a partir desse valor podemos determinar o excesso enantiomérico de uma mistura
ou definir se ela é enantiomericamente pura. Uma técnica empregada para isso foi
a comparação de valores de rotação ótica.

Estereoquímica 171
U4

Embora tenhamos visto na seção anterior as nomenclaturas para os compostos


contendo átomo de carbonos centro de assimetria, para os diastereoisômeros
ainda existem outras nomenclaturas que podem ser utilizadas. Quando temos
uma projeção em zigue-zague, podemos utilizar syn e anti para indicar se os
substituintes estão do mesmo lado ou em lados opostos, respectivamente. Já em
projeção de Fischer, existe a nomenclatura eritro e treo.

Eritro é utilizado quando os substituintes dos carbonos centros de assimetria


estão no mesmo lado e treo quando estão em lados opostos, comumente em
projeção de Fischer.

Figura 4.17 | Designação eritro e treo para o 2,3-pentanodiol

Fonte: elaborada pela autora.

Reflita

A representação de uma estrutura nos diz muito sobre ela, entretanto


devemos sempre nos atentar para qual tipo de projeção estamos utili-
zando. Como vemos na Figura 4.17, embora em uma projeção os subs-
tituintes estejam do mesmo lado e em outra em lados opostos, ambas
as estruturas são iguais e correspondem ao composto 1 (2R,3R)-pen-
tano-2,3-diol. O mesmo para o composto 2 (2R,3S)-pentano-2,3-diol,
em que os substituintes são anti (lados opostos) na projeção em zigue-
-zague e eritro (mesmo lado) na projeção de Fischer.

Agora que estamos focando em diastereoisômeros, devemos ressaltar que tanto


essa nomenclatura quanto a configuração R/S ou os descritores L/D são válidos
também para os compostos meso. Para lembrarmos, um composto meso é aquele
em que, embora haja átomos de carbonos com quatro substituintes diferentes,
a molécula não apresenta quiralidade, pois nela há um plano de simetria. Por
exemplo, o composto 2,3-dibromobutano apresenta dois centros estereogênicos,
no carbono 2 e no carbono 3. Logo, com a regra 2 (onde n é o número de
n

centros de assimetria) sabemos que ele apresenta quatro estereoisômeros, que


podem ter suas configurações determinadas utilizando as regras de prioridade,
como descrito na Figura 4.18.

172 Estereoquímica
U4

Figura 4.18 | Estereoisômeros do 2,3-dibromobutanol e suas configurações

Fonte: elaborada pela autora.

Os compostos I-IV foram representados em zigue-zague, com a denominação


syn/anti, e em Fischer, com a denominação eritro/treo, ambas com as configurações
R/S. Sobre esses compostos, observe que como não há diferenciação sobre os
carbonos terminais em níveis de oxidação, então não podemos utilizar D/L, pois
não teremos um ponto de fixação na estrutura.

Assimile
As configurações dos centros de assimetria devem ser iguais
independentemente da projeção. Entretanto, os descritores de relação,
tais como syn/anti ou eritro/treo, estão intrinsicamente relacionados
com a maneira que desenhamos a molécula em diferentes projeções,
indicando apenas a relação entre os substituintes.

Outra coisa importante a notar é que os compostos III e IV são idênticos, basta
girar uma das estruturas em 180ο.

Estereoquímica 173
U4

Figura 4.19 | Compostos III e IV – mesma estrutura

Fonte: elaborada pela autora.

Os compostos que apresentam um plano de simetria na molécula não desviam


a luz plano-polarizada, sendo plano de simetria um plano imaginário que divide a
molécula ao meio, resultando em duas partes que são imagens especulares uma
da outra. Para o composto III (idêntico ao IV) isso fica bem evidente quando esta-
mos na projeção de Fischer, ou quando giramos uma ligação na cadeia em zigue-
-zague, como na Figura 4.20. Com isso, concluímos que o composto (S,R)-dibro-
mobutano é um composto meso.

Figura 4.20 | Plano de simetria no composto eritro-2,3-dibromobutano

Fonte: elaborada pela autora.

Então, embora você esperasse quatro estereoisômeros do composto


2,3-dibromo-butano, existem apenas três, sendo dois quirais e um meso.

174 Estereoquímica
U4

Faça você mesmo


Para praticar, desenhe todos os isômeros possíveis do 2-bromo-3-pen-
tanol (Figura 4.21) nas projeções de Fischer e zigue-zague, determi-
nando as suas configurações e nomeando como syn/anti, eritro/treo.
Quantos são os compostos assimétricos?

Figura 4.21 | Composto 2-bromo-3-pentanol

Fonte: elaborada pela autora.

Quando você estiver lendo sobre os diastereoisômeros, principalmente em


síntese orgânica, poderá encontrar a palavra epímero. Este termo significa que
os compostos são similares em alguns centros, porém diferem em apenas um
deles. Na Figura 4.22 temos uma estrutura de um diastereoisômero com quatro
centros de assimetria, a prostaglandina E1. Note que esses dois diastereoisômeros
se diferem apenas na configuração da posição 11, sendo, portanto, epímeros.

Figura 4.22 | Prostaglandina E1 e epímero em C-11

Prostaglandina E1 11-epi-Prostaglandina E1

Fonte: elaborada pela autora.

Quando empregamos a nomenclatura R/S na determinação de uma configu-


ração, estamos nos referindo à configuração absoluta de um composto, ou seja,
aquela que representa realmente o arranjo dos substituintes nos carbonos estereo-
gênicos. Quando não temos certeza do arranjo espacial entre os átomos, porém

Estereoquímica 175
U4

conseguimos, por meio de análises, saber qual a relação entre os substituintes,


* *
utilizamos R ou S , nesse caso estaremos falando em configuração relativa.

A estereoquímica relativa pode ser determinada por análises de ressonância


magnética nuclear, com ou sem derivatização química. Essa etapa consiste em
uma reação que altera a estrutura e permite que determinados sinais sejam obser-
vados, indicando, por exemplo, que se um substituinte qualquer está para um lado,
o substituinte do outro carbono centro de assimetria estará para o lado oposto.
Em outras palavras, determinar a estereoquímica relativa consiste em saber apenas
a relação syn/anti. Na Figura 4.23 temos um estereoisômero que, por análise de
RMN, teve a estereoquímica relativa anti determinada. Para mantermos a relação,
se o carbono C2 é S, então o carbono C4 deve ser R. Entretanto, se C2 tiver a con-
figuração R, C4 deve apresentar a configuração S. Mas, no final, não sabemos se
C2 é realmente R ou S, apenas temos a configuração relativa.

Figura 4.23 | Estereoquímica relativa do éster anti-2,4-diidroxiexanoato de metila

Fonte: elaborada pela autora.

Para analisarmos a estereoquímica absoluta de centros quirais, devemos utilizar


as análises de raio-X, ou ainda comparar com outras moléculas que já tiveram a
estereoquímica absoluta determinada. Uma técnica de comparação é utilizar a
rotação ótica, que pode ser realizada de maneira direta, da mesma forma que
fizemos com a medida de rotação ótica na seção anterior, ou de maneira indireta.
Nesta última, você precisa transformar um composto que não tem rotação ótica
descrita na literatura em um que tenha, mas para isso deve usar reações que não
afetem o centro estereogênico.

176 Estereoquímica
U4

Figura 4.24 | Exemplo de determinação da estereoquímica utilizando rotação ótica após


transformação química

D D

Fonte: elaborada pela autora.

Outra técnica de comparação que pode ser empregada comumente envolve


o uso de cromatografia líquida ou gasosa. Essa técnica consiste em analisar a
amostra com configuração desconhecida e uma amostra do mesmo composto,
com configuração conhecida. Se os dois compostos derem o mesmo resultado, a
amostra desconhecida é idêntica à conhecida.

Durante o estudo desta unidade, você aprendeu que os enantiômeros são


compostos que apresentam propriedades físicas semelhantes, ou seja, tanto o
isômero R quanto o S apresentam mesmo ponto de fusão e de ebulição, assim
como as análises de ressonância magnética nuclear e solubilidade. Entretanto, os
enantiômeros apresentam diferença no desvio de luz plano-polarizada e, em alguns
casos, na cristalização. Diferentemente dos enantiômeros, os diastereoisômeros
possuem propriedades físicas distintas, tendo diferentes pontos de fusão, ebulição
e diferentes interações com ambientes, mesmo que aquirais.

Devido a essas características, utilizar a cromatografia para comparar uma


amostra exige o uso de colunas quirais, ou seja, a análise é realizada em ambiente
quiral. Dessa forma, os enantiômeros R e S passam a se comportar de maneira
diferente, sendo possível uma análise comparativa. Ao realizar esse tipo de análise,
uma série de cuidados inerentes à técnica devem ser tomados e quanto mais
informações tivermos sobre os estereoisômeros de referência, melhor.

Exemplificando
Em uma rota sintética para desenvolver uma metodologia química, um
químico obteve um aminoácido sintético. Como ele não conseguiu
purificar o composto, não foi possível preparar uma amostra e obter
a sua rotação ótica. Esse profissional escolheu, então, utilizar a
cromatografia líquida com uma coluna quiral (ambiente quiral). Dessa
forma, ele pôde evidenciar que seu composto sintético se comportava
exatamente como o comercial, enantiomericamente puro, e, portanto,
possuía a mesma estereoquímica.

Estereoquímica 177
U4

As propriedades idênticas de enantiômeros afetam também a sua separação.


Como eles se comportam da mesma maneira, não conseguimos uma técnica
que os separe diretamente. Esse processo de separação de enantiômeros é
denominado de resolução.

Existem duas técnicas simples que podem ser aplicadas na resolução de


enantiômeros. Como é mais viável separarmos e obtermos uma amostra pura,
uma alternativa é transformar os enantiômeros em diastereoisômeros. Quando
uma mistura racêmica de enantiômeros reage com um único enantiômero de
outro composto, leva à formação de um diastereoisômero. Esses podem ser
separados por meios convencionais, devido às propriedades desses compostos
serem diferentes. Um exemplo de reação simples a ser realizada é a formação de
um sal, observe a Figura 4.25.

Figura 4.25 | Resolução de enantiômeros utilizando uma reação química – uso de aminas
quirais

amina S composto S, S composto R, S


Mistura de enantiômeros
mesmas propriedades Mistura de diastereoisômeros: possível de separar

composto S, S composto R, S

Fonte: elaborada pela autora.

Uma outra opção para é realizar uma reação enzimática. A resolução enzimática
fornece um ambiente quiral seletivo ao enantiômero, sendo que apenas um deles
irá reagir com a enzima, e o outro fica inerte. Dessa forma, os dois compostos
agora são estruturalmente diferentes e podem ser separados.

178 Estereoquímica
U4

Figura 4.26 | Resolução enzimática de enantiômeros

lipase

Mistura de enantiômeros Compostos diferentes, possíveis de serem separados


mesmas propriedades

Fonte: elaborada pela autora.

Pesquise mais
Ao longo de nosso estudo, sempre tratamos de diastereoisômeros
3
abrangendo moléculas com carbono sp . Porém, devemos lembrar
2
que existe a quiralidade em moléculas com átomos de carbonos sp .
Por exemplo, os alcenos cis e trans são diastereoisômeros. Outro tipo de
isomeria é a atropoisomeria, que ocorre devido a restrições estruturais,
como no composto Binol. Pesquise mais sobre a atropoisomeria no
capítulo:

SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. B. Estereoquímica. In: ______.


Química orgânica. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. 1. v. p. 227.

Sem medo de errar

Sendo o responsável técnico por avaliar um lote de um precursor químico, você


identificou que o composto 3-mercapto-2-metilpropanoato de metila comprado
recentemente estava em uma mistura racêmica, com excesso enantiomérico de
60%. Seu gestor agora quer um relatório indicando se é uma boa opção manter ou
trocar o fornecedor. Para tomar essa decisão, você precisa informar se é possível
realizar a resolução dessa mistura e se esse processo vale a pena economicamente.
Se for viável, deve recomendar manter o fornecedor; no caso oposto, alterar para
outro que entregue o composto como um único estereoisômero.

O composto 3-mercapto-2-metilpropanoato de metila é o precursor do


princípio ativo captopril, que será utilizado na obtenção de um medicamento
genérico.

Estereoquímica 179
U4

Figura 4.27 | Obtenção do princípio ativo captopril

Fonte: elaborada pelo autor.

Você aprendeu nesta seção que não é possível separar os enantiômeros, porém,
podemos separar os diastereoisômeros. Assim, define que precisa transformar
a mistura enantiomérica de 3-mercapto-2-metilpropanoato de metila em uma
mistura diastereoisomérica.

Analisando a estrutura do princípio ativo, você observou que o composto final


obtido será um diastereoisômero. Logo, se a reação ocorrer tendo como base a
mistura enantiomericamente enriquecida, fornecerá o captopril e o epi-captopril
(Figura 4.28), que são compostos diastereoisoméricos, portanto, podem ser
purificados diretamente no processo.

Figura 4.28 | Obtenção de captopril e epi-captopril

epi

Fonte: elaborada pela autora.

Entretanto, a mistura estaria presente em diversas etapas da síntese, consumindo


os reagentes, tempo de fábrica e energia. Isso levaria a um gasto extra, já que o
epi-captopril não seria comercializado.

Você está quase sinalizando para alterar o fornecedor e comprar o building block
enantiomericamente puro. Entretanto, o seu gestor faz um outro questionamento:
haveria diferença comercializar o captopril em uma mistura com o epi-captopril?
Vamos aprender sobre isso para passar uma indicação ao seu gestor.

180 Estereoquímica
U4

Avançando na prática

Resolução de enantiômeros: escolha de reagentes

Descrição da situação-problema

Você trabalha em um laboratório que presta consultoria para diversas indústrias.


Entre elas, está uma empresa agroquímica, em que o composto descrito na Figura
4.29 encontra-se em estudo avançado como um defensor agrícola.

Figura 4.29 | Composto obtido por uma indústria de agroquímicos

Fonte: elaborada pela autora.

Foram realizadas algumas análises antes de enviar o produto ao laboratório em


que você trabalha. A informação que lhe passaram é que esse composto tinha
relação syn entre os substituintes. Sua tarefa é realizar um relatório mostrando
quantos compostos estão presentes nessa amostra e propor uma possível
separação, caso haja mais de um composto.

Resolução da situação-problema

Por possuir dois centros estereogênicos, havia a possibilidade de quatro produtos


estarem presentes na amostra. Porém, os clientes passaram uma informação
muito importante, segundo a qual a relação entre os substituintes é syn. Sabendo
a estereoquímica relativa desse(s) composto(s), você pode começar a racionalizar
uma resolução para a sua questão. Com essa relação, é possível que existam dois
compostos, conforme mostrado na Figura 4.30.
Figura 4.30 | Possíveis compostos presentes na amostra-problema.

Fonte: elaborada pela autora.

Estereoquímica 181
U4

Você realizou uma análise de rotação ótica e observou que, embora a molécula
seja assimétrica, não há desvio da luz plano-polarizada. Isso é explicado por termos
uma amostra racêmica contendo os dois enantiômeros possíveis. Para separá-los,
você propõe uma resolução utilizando uma amina enantiomericamente pura, tal
como visto no final da seção anterior.

Figura 4.31 | Resolução de enantiômeros

Fonte: elaborada pela autora.

Faça valer a pena

1. Compostos orgânicos contendo mais de um centro de assimetria em


sua estrutura são denominados diastereoisômeros. Além da configuração
com nomenclatura R/S, podem ser nomeados utilizando os descritores
que definem a relação entre os compostos.
Qual das alternativas apresenta o conceito correto sobre os descritores
estereoquímicos?

182 Estereoquímica
U4

a) Eritro e treo são descritores que dizem se os substituintes estão todos


do mesmo lado ou em lados opostos em uma estrutura em zigue-zague.
b) Eritro e treo são descritores que dizem se os substituintes estão todos
do mesmo lado ou em lados opostos em uma estrutura em projeção de
Fischer.
c) Syn é um descritor de relação que indica que os substituintes estão
voltados para o mesmo lado em uma projeção de Fischer.
d) Um composto que apresenta relação syn em uma estrutura zigue-
zague terá uma relação eritro quando a mesma estrutura for descrita em
uma projeção de Fischer.
e) Anti é um descritor que é sinônimo de treo.

2. Moléculas quirais são de grande interesse em química orgânica, sendo


que a ausência do plano de simetria faz com que essas moléculas desviem
a luz plano-polarizada. O ângulo de desvio pode ser medido e a rotação
ótica é uma importante ferramenta para o estudo de estereoisômeros.
Sobre estereoisômeros, é correto afirmar:
I. Enantiômeros apresentam as mesmas propriedades físicas, tais como
ponto de fusão, ponto de ebulição e solubilidade.
II. Diastereoisômeros apresentam as propriedades físicas diferentes, sendo
mais simples de serem separados.
III. O processo de separação de enantiômeros em uma mistura racêmica
é complicado e não é realizado comumente.
Está(ão) correta(s):
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas I e III.

3. Plano de simetria é um plano imaginário que divide a molécula ao meio,


sendo que as duas partes são imagem especular uma da outra. Moléculas
com plano de simetria não apresentam quiralidade, sendo assim, não
desviam a luz plano-polarizada.
São exemplos de moléculas que contêm centros de assimetria, porém
não são consideradas moléculas quirais:

Estereoquímica 183
U4

a) Compostos racêmicos.
b) Compostos enantioméricos.
c) Compostos diastereoisoméricos.
d) Compostos meso.
e) Compostos enantiomericamente puros.

184 Estereoquímica
U4

Seção 4.3

Quiralidade em ambientes biológicos

Diálogo aberto

Você tem estudado os principais conceitos de estereoquímica, assim como as


principais nomenclaturas utilizadas na química de moléculas assimétricas. Porém,
além de propriedades diferentes de diastereoisômeros, enantiômeros apresentam
uma propriedade diferenciada: a interação com sistemas biológicos. Este é um dos
principais motivos para conhecermos moléculas quirais.

Em uma indústria de compostos genéricos, um lote do building block


3-mercapto-2-metilpropanoato de metila, precursor de um fármaco com atividade
anti-hipertensiva, foi comprado. Você é o responsável técnico em uma indústria
farmacêutica e deve avaliar essa compra, gerando um relatório que indique ou
não a manutenção de um fornecedor desse composto. Para isso, foi iniciada uma
avaliação do lote, e você identificou que se tratava de uma mistura racêmica com
ee de 60%. Também observou que o processo de separação dos enantiômeros
seria dispendioso, e havia a possibilidade de fazer isso no decorrer da obtenção
do composto genérico do captopril. Seu gestor agora questiona se é necessária
uma separação dos compostos captopril e epi-captopril. Como se comportam
moléculas quirais em ambientes biológicos? Será que os enantiômeros e os
diastereoisômeros apresentam o mesmo comportamento em um ambiente
celular?

As moléculas orgânicas quirais apresentam grande importância, principalmente


quando ocorre interação com os sistemas biológicos. Mas por que isso acontece?
O nosso corpo é formado por proteínas compostas por aminoácidos quirais, sendo
assim macromoléculas quirais. Isso caracteriza os sistemas vivos como ambientes
quirais, o que gera uma série de implicações e questionamentos que veremos
ao longo da unidade, entre elas a ação de compostos. Fármacos interagem
com receptores e proteínas, por exemplo, sendo que um mesmo fármaco pode
apresentar um estereoisômero ativo e outro inativo, ou ainda com atividades
bastante distintas.

Estereoquímica 185
U4

Não pode faltar

Anteriormente, falamos em quiralidade e mostramos as mãos como exemplo


de objeto e imagem especular. As nossas mãos são quirais, assim como o nosso
corpo também é. Trace um plano imaginário passando entre os seus dois olhos e
estendendo-o até as suas pernas. Você pode notar que os nossos olhos, braços,
orelhas e pés são diferentes dos dois lados do corpo. Internamente, o nosso corpo
também não é simétrico, uma vez que temos a divisão de órgãos ora para esquer-
da, ora para a direita. E as moléculas que formam as nossas células? Muitas delas
também são quirais.

Toda a nossa informação genética está contida no DNA, o qual tem uma dupla
hélice assimétrica. Se olharmos como o DNA é formado, veremos que nos nucleo-
sídeos (base purínica + açúcar) está presente uma molécula de 2-desoxi-D-ribose,
uma molécula quiral (Figura 4.32). O RNA, que é responsável por carregar essa
informação nos processos celulares, também contém moléculas de D-ribose. Si-
milarmente ao DNA, o RNA é uma macromolécula quiral.

Figura 4.32 | Estruturas químicas da 2-desoxiguanosina e da guanosina

Fonte: elaborada pela autora.

Vimos um pouco sobre os açúcares quando falamos de projeção de Fischer.


Os açúcares ou carboidratos são hidratos de carbono de forma básica (CH 2 O) n ,
podendo conter uma unidade (monossacarídeos), duas ou mais unidades (dissa-
carídeos, por exemplo) ou acima de 20 unidades (polissacarídeos). Um exemplo
de monossacarídeo que já estudamos é o gliceraldeído, que contém apenas um
centro de assimetria, sendo possível a existência do D-gliceraldeído e do L-gliceral-
deído. Como exemplos de açúcares contendo quatro átomos de carbono temos a
D-eritrose e a D-treose (Figura 4.33), cujos enantiômeros são a L-eritrose e a L-treo-
se. Observe que um deles possui os grupos hidroxila para o mesmo lado, enquanto

186 Estereoquímica
U4

a outra molécula enantiomérica apresenta as hidroxilas em lados opostos. Você


consegue relacionar tal fato com a nomenclatura eritro e treo?

Figura 4.33 | Estruturas da eritrose e da treose

Fonte: elaborada pela autora.

Os açúcares contendo cinco átomos de carbono (pentoses) são a ribose,


arabinose, xilose e lixose (Figura 4.34).

Figura 4.34 | Estruturas das pentoses

Fonte: elaborada pela autora.

Hexoses é o nome dado aos açúcares que contêm seis átomos de carbono,
tais como a glicose e a glucose. Note, na Figura 4.35, que o nome dos açúcares
varia para cada diastereoisômero, sendo que o enantiômero dessas estruturas
deve ser nomeado apenas com L antes do nome, como L-glicose ou L-altrose.

Estereoquímica 187
U4

Figura 4.35 | Estruturas das hexoses

Fonte: elaborada pela autora.

Como vimos anteriormente, os açúcares estão em equilíbrio em sua forma


fechada e aberta, porém, no momento, não precisamos nos preocupar com suas
formas cíclicas.

Até agora, observamos vários carboidratos contendo a função aldeído.


Entretanto, as suas estruturas podem conter também a função cetona, tais como
a ribulose e a frutose (Figura 4.36). Os açúcares que contêm a função aldeído
são chamados aldoses, ao passo que aqueles contendo a função cetona são
denominados cetoses. O dissacarídeo sacarose é composto por uma aldose e
uma cetose: a glicose e a frutose.

Figura 4.36 | Estruturas de cetoses e sacarose

Fonte: elaborada pela autora.

188 Estereoquímica
U4

Reflita

Vimos que o equilíbrio entre as formas aberta e fechada de açúcares


pode levar a diferentes epímeros, denominados α e β . Assim, seriam
esperados dois valores de rotação ótica, mas na prática apenas um
valor é observado. Você já pensou em qual é a razão para isso?

Cada carboidrato tem a sua função. Por exemplo, a glicose, a frutose e a


galactose possuem função energética, enquanto a ribose participa da síntese do
RNA. Isso significa que o nosso corpo lê as moléculas para diferentes funções. E isso
não tem relação apenas com o número de carbonos da cadeia, ou se o composto
é uma aldose ou cetose. Para ilustrar, a arabinose que possui cinco átomos de
carbono não é encontrada no RNA, e sim apenas o seu diastereoisômero ribose.
A sacarose poderia ser constituída de quaisquer carboidratos, porém é formada
apenas por glicose e frutose. O mais interessante é que, em algum ponto, houve
uma seleção por açúcares de configuração D, pois eles são a maioria dentre os de
ocorrência natural.

Pesquise mais
Você pode aprender mais sobre carboidratos acessando:
<www2.iq.usp.br/docente/fgueiros/Carboidratos_alunos.pdf>. Acesso
em: 9 fev. 2017.
Ou ainda, lendo o capítulo:
SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. B. Carboidratos. In: ______. Química
orgânica. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. 2. v. p. 425.

O mesmo tipo de seleção que ocorreu para os D-carboidratos ocorreu


também para os aminoácidos, sendo que são os L-aminoácidos os constituintes
das proteínas em nosso corpo. Os aminoácidos são compostos que contêm a
função amina e a função ácido carboxílico, apresentando ainda um substituinte
no carbono vizinho à carboxila (carbono α ), como mostrado na Figura 4.37. Por
convenção, na projeção de Fischer na vertical devem ficar o grupo ácido carboxílico
e o substituinte R do aminoácido, sendo que a posição do grupo amino determina
a nomenclatura L/D.

Estereoquímica 189
U4

Figura 4.37 | Estrutura de um aminoácido

Fonte: elaborada pela autora.

O substituinte R do aminoácido é responsável pelas suas características e nome,


sendo que 20 deles são considerados essenciais (Figura 4.38).

Figura 4.38 | Substituintes dos aminoácidos

Fonte: elaborada pela autora.

190 Estereoquímica
U4

São aminoácidos apolares os aminoácidos que têm como substituinte R


hidrocarbonetos apolares ou hidrocarbonetos modificados, tais como a alanina,
leucina, valina, isoleucina, prolina, fenilalanina, triptofano e metionina. São
aminoácidos polares neutros aqueles que formam ligação de hidrogênio, por
exemplo, a glicina, serina, treonina, cisteína, tirosina, asparagina e glutamina. Já
os aminoácidos que possuem o grupo carboxílico são denominados aminoácidos
ácidos e são hidrofílicos (possuem afinidade com a água) São eles o ácido aspártico
e o ácido glutâmico. Por sua vez, os aminoácidos básicos possuem no substituinte
R um grupo amino, tais como a arginina, lisina e histidina.

A configuração absoluta dos aminoácidos é dada utilizando a regra de Cahn,


Ingold e Prelog, que já vimos anteriormente.

Exemplificando
Para o aminoácido fenilalanina, a configuração é S e também L. Os
passos para essas atribuições estão descritos na Figura 4.39.

Figura 4.39 | Atribuição da configuração da fenilalanina

Fonte: elaborada pela autora.

Assimile
Embora todos os aminoácidos naturais em comparação com o
gliceraldeído sejam L, nem todos possuem a configuração S, pois como
sabemos as nomenclaturas utilizam critérios diferentes. Quando temos
o aminoácido cisteína, o grupo enxofre assume a maior prioridade,
portanto esse centro possui a configuração R. Porém, em comparação
com o gliceraldeído, ainda é L (Figura 4.40).

Estereoquímica 191
U4

Figura 4.40 | Configuração da L-cisteína e da L-alanina

Fonte: elaborada pela autora.

Reflita

Em laboratório, a quiralidade não é gerada em ambientes aquirais. Ela


deve ser transferida de um ambiente quiral (com compostos quirais)
durante uma reação química. Devido a isso, muito se especula sobre
a origem da quiralidade biológica. Em que momento apenas uma
configuração de aminoácidos ou açúcares passou a ser a maioria
absoluta nos seres vivos? As moléculas quirais evoluíram ou vieram do
espaço?

Quando vários aminoácidos se ligam, temos um peptídeo (Figura 4.41). Quando


esse número é muito grande, temos a formação de proteínas. As proteínas estão
relacionadas a praticamente todos os processos celulares, sendo responsáveis
por funções como duplicação de DNA ou ativação/desativação de processos
inflamatórios. Como os substituintes de aminoácidos possuem diferentes grupos
R em sua cadeia, devemos esperar que alguns deles tenham mais afinidade para
interagir entre si ou se repelirem, o que confere às proteínas formas tridimensionais.

Figura 4.41 | Estrutura de um peptídeo e representações de proteínas

Fonte: adaptada de <https://en.wikipedia.org/wiki/Protein#/media/File:Proteinviews-1tim.png>. Acesso em: 10 jan. 2017.

192 Estereoquímica
U4

Como vemos na Figura 4.41, algumas proteínas adquirem bolsões em suas


estruturas tridimensionais, sendo que determinadas moléculas cabem nesse
bolsão. Quando este é responsável pela atividade da proteína, ele é chamado sítio
ativo.

Quando um composto quiral está interagindo com o sítio ativo de uma proteína,
ele pode ou não caber efetivamente nesse espaço. Isso ocorre, pois o composto
deve interagir com o bolsão, por exemplo, por ligações de hidrogênio ou outras
forças intermoleculares. Podemos representar essa interação ou a falta dela pelo
esquema apresentado na Figura 4.42.

Figura 4.42 | Interação de enantiômeros com sítios ativos

Fonte: elaborada pela autora.

Interagir com os sítios de proteínas é o princípio de atividade de muitos fármacos


no mercado, sendo possível ativar ou desativar as proteínas dessa maneira,
levando a diferentes respostas biológicas. Na década de 1950, um composto
chamado talidomida era administrado em mulheres grávidas, na forma racêmica,
contra o enjoo gestacional. Um grande número dessas mulheres teve filhos com
malformação congênita, levando a diversos óbitos, principalmente na Alemanha,
Austrália e no Japão. Esse efeito rapidamente foi atribuído ao uso do medicamento
talidomida, sendo que estudos determinaram que um dos estereoisômeros era
teratogênico (causava alteração nos fetos). O uso do outro enantiômero também
não se mostrou seguro, já que quando se administrava o isômero não nocivo, este
passava a uma mistura racêmica no estômago devido ao pH ácido.

Estereoquímica 193
U4

Figura 4.43. | Estrutura química da talidomida

(S)-talidomida (R)-talidomida

Fonte: elaborada pela autora.

O efeito da talidomida foi um importante marco na indústria farmacêutica,


pois a partir desse momento as moléculas quirais começaram a passar por testes
de atividade biológica em suas formas estereoisomericamente puras e também
racêmicas. Isso decorreu devido à possibilidade de estereoisômeros apresentarem
atividades biológicas diferentes da forma racêmica. Por sua vez, obter um resultado
que não necessitasse da separação desses isômeros levaria a processos de síntese
e purificação mais baratos.

Você pode pensar que isso impossibilita o uso da talidomida. Entretanto, isso
não é verdade, uma vez que esse composto é utilizado no tratamento de inúmeros
tumores, principalmente em pacientes em idade não fértil.

Além da atividade de fármacos decorrente da interação com o meio biológico de


maneira diferente, muitos compostos quirais apresentam diversos comportamentos,
tal como o odor. Um exemplo desses já foi mencionado, visto que um mesmo
composto pode apresentar um aroma para cada enantiômero, como no caso do
limoneno (Figura 4.44). O isômero R é encontrado na laranja, enquanto o isômero
S é encontrado no limão. Ao interagirem com o nosso corpo, detectamos dois
aromas diferentes. Outro exemplo é a carvona, cujos enantiômeros fornecem o
cheiro do cominho e da hortelã.

Figura 4.44 | Estruturas químicas do limoneno e da carvona

Fonte: elaborada pela autora.

194 Estereoquímica
U4

Pesquise mais
É muito interessante como o nosso corpo interpreta diferentes
estereoisômeros e você pode aprender mais sobre isso acessando
este material sobre fármacos e quiralidade: <qnesc.sbq.org.br/online/
cadernos/03/quiral.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017.

Sem medo de errar

Como responsável por determinar a manutenção de um fornecedor de um


building block, você identificou que esse composto foi comprado como uma
mistura racêmica com ee de 60%. A sua análise da rota sintética determinou
que, embora os enantiômeros pudessem ser separados e transformados em
diastereoisômeros, esse processo já ocorreria no decorrer da obtenção do
fármaco genérico. Seu gestor questionou se havia a necessidade de obter o
captopril a partir de um material de partida puro, ou promover a separação, ou
ainda se o produto em questão poderia ser comercializado na forma de uma
mistura enantiomericamente enriquecida, porém não pura.

Figura 4.45 | Possíveis caminhos a serem adotados

epi-captopril

epi-captopril

Fonte: elaborada pela autora.

Estereoquímica 195
U4

Para responder a essas perguntas, há dois caminhos a serem trilhados. No caso


de compostos ainda não comercializados (chamados inéditos), essa avaliação
deve ocorrer realizando os testes de atividade biológica in vitro e in vivo (animais)
com os estereoisômeros puros e também a mistura racêmica.

Quando um composto tem atividade biológica descrita na literatura, como


um fármaco já comercializado, você deve procurar na literatura informações
sobre o assunto e verificar se há alguma diferença do perfil biológico das formas
estereoisoméricas. Por exemplo, Barreiro e Fraga (2008) afirmaram que a atividade
do epi-captopril é modesta. Isso significa que seria necessária uma dose muito
maior para se ter o mesmo efeito terapêutico do captopril.

Muitas vezes, aumentar a dose não é possível. Imagine uma pessoa tomando
10 comprimidos de uma única vez, ou ainda tomando 10 vezes um comprimido
ao longo do dia: isso aumenta muito a chance de erro e da dose correta não ser
ingerida. Outro fator importante é que um composto em doses mais altas pode
se tornar tóxico a outra função do corpo que não o alvo, causando, por exemplo,
lesões no fígado.

Por isso, diante desse resultado, você deve informar ao seu gestor que os
custos precisam ser comparados. É necessário analisar o preço do composto
3-mercapto-2-metilpropanoato de metila na forma do isômero R e o quanto se
perde não comercializando o composto epi-captopril. Nessa conta, você deve
incluir os gastos com os reagentes em todas as etapas do processo e também as
despesas de manutenção da planta industrial.

Essa comparação indicou uma grande economia na alteração do fornecedor e


você realizou sua tarefa com sucesso.

Avançando na prática

Seleção de um meio de cultura rico em enxofre

Descrição da situação-problema

Você está trabalhando em um laboratório de microbiologia que estuda a


produção de compostos orgânicos por bactérias. Esta é uma prática comum
para a obtenção de determinados compostos, pois as bactérias atuam como
fábricas, retirando substratos (reagentes) do meio e realizando os seus processos
celulares, excretando produtos complexos. Alguns compostos, como os derivados
da penicilina, são obtidos dessa maneira e a variação dos substituintes ou grupos
funcionais pode ser definida pela presença de nutrientes no meio de cultura. No
estudo que você está desenvolvendo, a ideia é que um determinado composto
produzido originalmente com o grupo funcional cetona ( R 2C=O ) passe a ser
obtido como tiocetona ( R 2C=S ). A sua responsabilidade é preparar o meio de

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U4

cultura. Quais aminoácidos naturais podem ser utilizados? Em qual forma, L ou D?

Resolução da situação-problema

Nesta seção, você foi apresentado a diferentes aminoácidos (Figura 4.38).


Como você precisa que um composto naturalmente obtido com oxigênio passe
a ser fabricado pelas bactérias com o átomo de enxofre nessa mesma posição, é
preciso escolher um meio de cultura rico em enxofre, pois é dele que a bactéria
retira os seus substratos. Uma fonte de substratos no meio de cultura é o uso de
aminoácidos, nesse caso, os que contêm enxofre em sua composição. Dentre os
aminoácidos naturais, você pode observar que dois deles contêm enxofre: a cisteína
e a metionina (Figura 4.46). Esses aminoácidos são obtidos comercialmente nas
suas duas formas, L e D.

Figura 4.46 | Opções de aminoácidos contendo enxofre

Fonte: elaborada pela autora.

Você aprendeu nesta seção que os compostos quirais são interpretados de


maneira diferente pelo nosso corpo, sendo que o mesmo vale para as bactérias,
pois elas também são compostas de proteínas. Como cientista, você irá testar os
meios de cultura com os aminoácidos L e com os aminoácidos D, observando
se isso afeta a bactéria e a formação de produtos. Porém, para as bactérias que
possuem os aminoácidos L (igual ao nosso corpo), a chance desses substratos
serem utilizados por elas é maior.

Estereoquímica 197
U4

Faça valer a pena

1. Os aminoácidos são compostos que contêm a função amina e a função


ácido carboxílico, apresentando ainda um substituinte no carbono vizinho
à carboxila (carbono α ). Para esses compostos também se emprega a
nomenclatura L/D, sendo que há algumas regras que devem ser aplicadas
nessa determinação.
Determine se os seguintes aminoácidos são L ou D.
Estrutura cisteína e leucina

Fonte: elaborada pela autora

a) I-L, II-D, III-L, IV-D.


b) I-D, II-L, III-L, IV-D.
c) I-L, II-D, III-D, IV-D.
d) I-L, II-L, III-L, IV-D.
e) I-L, II-L, III-D, IV-D.

2.

Apesar do papel principal dos carboidratos estar relacionado


com as suas diversas funções na bioquímica dos seres vivos,
esta classe de substâncias tem sido largamente estudada pe-
los químicos orgânicos nos seus diversos aspectos estereo-
químicos, mecanísticos, sintéticos e analíticos. (FERREIRA;
ROCHA; SILVA, 2009, p. 624)

Para os açúcares L-eritrose e D-eritrose, os centros de quiralidade são:

198 Estereoquímica
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Eritrose L e D

Fonte: elaborada pela autora.

a) 1-R, 2-S, 3-S, 4-R.


b) 1-S, 2-S, 3-R, 4-R.
c) 1-R, 2-R, 3-S, 4-R.
d) 1-R, 2-S, 3-R, 4-S.
e) 1-R, 2-S, 3-S, 4-S.

3. Os enantiômeros e os diastereoisômeros interagem de maneira


diferente com os sistemas biológicos. Por exemplo, um composto de um
par de enantiômeros pode ser responsável por um aroma, enquanto a
sua imagem especular por outro, tal como ocorre com o limoneno: o
isômero R é encontrado na laranja e o isômero S é encontrado no limão,
sendo que ambos fazem parte do aroma dessas frutas.
Com relação a isso:
I. Nosso corpo possui proteínas que interagem com os enantiômeros
de maneira diferente, sendo que a posição dos substituintes permite um
encaixe ou não.
II. Um composto que é encontrado como um par de enantiômeros
pode apresentar atividade biológica como um fármaco ou um veneno,
dependendo de sua estrutura.
III. Na indústria farmacêutica, a quiralidade não é analisada com cuidado, já
que os enantiômeros apresentam as mesmas propriedades físico-químicas.
Está(ão) correta(s):
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) I e II.
e) I e III.

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U4

200 Estereoquímica
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Referências

BARREIRO, E. J.; FRAGA, C. A. M. Química medicinal: as bases moleculares da ação


dos fármacos. São Paulo: Artmed, 2008.

BIANCHI, D.; CESTI, P. Lipase-catalyzed stereoselective thiotransesterification of


mercapto esters. The Journal Of Organic Chemistry, [s.l.], v. 55, n. 21, p. 5657-
-5659, out. 1990. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1021/jo00308a028>. Aces-
so em: 4 mar. 2017.

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FERREIRA, V. F.; ROCHA, D. R. da; SILVA, F. de C. da. Potencialidades e oportunida-


des da química da sacarose e outros açúcares. Química nova, v. 32, n. 2, 2009, p.
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Janeiro: LTC, 2012. v. 2.

Estereoquímica 201

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