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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

P693c
Pilotto Neto, Egydio
Caderno de receitas de concreto armado, volume 1 : vigas / Egydio
Pilotto Neto. - 1. ed. - Rio de Janeiro : LTC, 2018.
il. ; 21 cm.

Apêndice
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-216-3468-3

1. Concreto armado. 2. Vigas. I. Título.

17-43055 CDD: 620.137


CDU: 624.012.46
À minha mãe, que alicerçou minha vida para eu ser o ser que sou.
À minha esposa, que, com o amor, me ajudou a edificar uma
família.
Aos meus filhos, que, com seus feitos, constroem o presente.
Aos meus netos, que se preparam para ser os realizadores do
futuro.
Homenagem
Tributo à Força da Palavra
Ao sair da faculdade, de posse do diploma de Engenheiro Civil,
optei pela especialidade em Cálculo Estrutural. Logo no início dos
trabalhos, deparei-me com dificuldades que todo engenheiro tem
em início de carreira. Se houvesse um livro de fácil consulta como
este agora apresentado, voltado para uma solução prática, teria
sido mais fácil resolver o que se apresentava na época.
Foi então que escrevi a meu pai, que sempre foi para mim um
sábio conselheiro, narrando minha situação, dizendo que temia
estar vivendo um ideal que estava fora de meu alcance. Logo
recebi a resposta, cujo trecho a seguir transcrevo.

Querido filho Egydio Recebi sua


carta e acabei com muita pena
das penas que vão através dos
oceanos, acompanhando,
naturalmente, as aves em
revoada, que hibernam além-
mar... Mas o que dá mais pena
é das penas que ficam como
“duras penas” nos corações dos
mortais.

As grandes lições são ensinadas com poucas palavras. Meu


pai estava a me mostrar que eu não podia abandonar o meu ideal
e fugir como um pássaro que se livra do frio, indo hibernar em
local longínquo. Se assim o fizesse, passaria a viver a “duras
penas”, suportando o peso da derrota.
Foi assim que aprendi que ninguém resolve um problema
fugindo dele.
Com novo ânimo, fui à busca do conhecimento que se fazia
necessário.
No lugar de me transformar em um frágil pássaro migratório,
criei “asas” para alçar voo em minha carreira como calculista de
estruturas.
A partir daí, passei a anotar em um caderno, como se fossem
simples receitas, tudo que pudesse me ajudar a solucionar, na
prática, outros problemas que por certo teria que enfrentar depois
daquela data. A força das palavras daquela carta me incentivou a
prosseguir na busca do que desejava.
Ao relatar aqui este fato, estou dividindo a lição com o leitor, e
esta é a melhor maneira de homenagear quem também foi
professor.
PREFÁCIO

Como engenheiro, lecionei disciplinas como Materiais de


Construção e Cálculo de Estruturas na Universidade do Vale do
Paraíba – UNIVAP, em São José dos Campos, São Paulo, ocasião
na qual pude verificar que os alunos sentiam falta de um livro que
tratasse o cálculo de estruturas de uma forma prática, direta e
sequencial para quem se inicia nessa área.
Durante a execução de projetos de certa envergadura, tais
como a base de lançamento de foguetes para o Projeto Espacial
Brasileiro, em Alcântara, no Maranhão, bem como as instalações
de apoio da antena de rastreamento de satélites do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE e do túnel de ensaio do
Instituto de Estudos Avançados do Centro Técnico Aeroespacial –
CTA, reuni em meu caderno de anotações uma série de
informações de caráter iminentemente prático.
Atualmente presto consultoria em projetos estruturais para a
Embraer e continuo lecionando como professor da Universidade
Paulista – UNIP, em São José dos Campos, São Paulo. O contato
com a juventude me estimula. O ambiente acadêmico, com seu
natural alvoroço, faz com que, ilusoriamente, também me sinta um
moço.
Há algum tempo venho me dedicando ao estudo da filosofia
voltada para a engenharia. Existe um acentuado sentido de
convergência entre a filosofia e a engenharia. Podemos dizer que
esse ponto em comum está no uso do pensamento abstrato da
matemática.
Os grandes filósofos da Antiguidade se valiam da matemática
para estabelecer uma operacionalidade lógica da mente.
Enquanto a engenharia lança mão dos valores numéricos para
atender o que a exatidão exige, a filosofia busca a resposta sobre
a exatidão dos conceitos que levam à aplicação daqueles
números.
Os grandes sábios gregos da Antiguidade que criaram a
filosofia foram, antes de tudo, autênticos engenheiros, que, com
suas privilegiadas mentes, embasaram os alicerces do
conhecimento.
Sócrates idealizou a estrutura da verdade e tentou construí-la
eliminando as falsas crenças tidas como verdadeiras pelo fato de
nunca terem sido questionadas.
Platão, ao transmitir, nos jardins de Academus, os
ensinamentos do mestre Sócrates, ergueu as colunas da cultura
ao conceber o mundo das ideias.
Aristóteles, com o conhecimento que lhe foi transmitido por
Platão, aliado ao seu rico domínio do saber, erigiu o pedestal da
ética, cultuada até os dias de hoje.
A engenharia – voltada para o cálculo das estruturas que
ganham altura, que vencem barreiras e encurtam distâncias –
parece acessível apenas a poucos. Porém, perde essa aparente
dificuldade e se torna acessível a todo engenheiro que consegue
atingir o patamar em que a mente é capaz de alcançar a partir do
conhecimento. E isso só é conseguido por quem possui uma
filosofia de vida voltada para o estudo.
Os primeiros sábios não gostavam que lhes chamassem de
“sábios”, porque tinham consciência do muito que ignoravam.
Preferiam ser conhecidos como “amigos do saber” (filo = amigo;
sofia = saber). Daí o termo filósofos.
A filosofia é a busca da essência, enquanto a engenharia é a
realização para que haja existência.
A filosofia começou com a perplexidade do homem perante a
natureza, buscando nela a razão de ser das coisas. A engenharia
começou quando o homem, perplexo diante da natureza,
descobriu que precisava se valer dela para viver, modificando-a,
quando necessário, e buscando nela o material usado para
construir um lugar no qual pudesse se proteger das intempéries.
A filosofia cria um modelo mental. A engenharia estuda a
viabilidade da solução para o modelo idealizado.
A filosofia tem em conta que as operações mentais, por mais
complexas que sejam, devem partir da lógica do conhecido para
dar acesso ao desconhecido.
A engenharia se estrutura em uma operação mental formadora
da ideia sobre o que fazer para definir o que calcular. E, para
calcular, lança mão das ferramentas que permitem a obtenção de
resultados rápidos e precisos. Primeiro, foi o ábaco, depois a
régua de cálculo, a seguir a calculadora e, atualmente, o
computador.
A cada dia se torna maior o número de programas de
computador para o cálculo de elementos estruturais. Mas, onde
ficam os fundamentos que nos mostram a razão dos cálculos que
o computador executa?
Por mais perfeito e eficiente que seja um software, será sempre
preciso que alguém alimente a máquina com as informações
necessárias.
A técnica de construir é fruto de experiências seculares, por
isso seus processos e princípios devem ser preservados, até
mesmo para conhecimento histórico da evolução das construções
e do desenvolvimento dos materiais.
A ideia da elaboração deste trabalho nasceu quando alguns
alunos, próximo ao término do curso regular de Engenharia Civil,
me pediram para ministrar aulas práticas que complementassem
os conhecimentos e completassem os vazios de assuntos não
totalmente entendidos durante o curso na faculdade. Para tanto,
fui buscar no velho caderno de anotações as informações colhidas
em 40 anos de atividade de cálculo de estruturas. O resultado
desse trabalho se transformou neste livro, que é colocado à
disposição dos profissionais da área, na esperança de estar
prestando um serviço válido para os que são e os que serão
profissionais da área das construções e, portanto, penso eu, um
trabalho útil à sociedade.
O objetivo deste livro não visa a um conhecimento teórico e
destinado a uma mentalidade científica, tão necessária para o
desenvolvimento avançado das técnicas da construção, mas
pouco útil para quem busca uma solução para os problemas do
dia a dia relacionados às tarefas do engenheiro. Nossa intenção é
a abordagem de forma simples de um conteúdo em que exista a
explicação lógica e matemática das soluções indicadas. Trata-se
de uma busca dos conhecimentos direcionados para a aplicação
prática dos profissionais da construção civil, desde o engenheiro
até o mestre de obra, cuja capacidade de compreensão possa ser
desenvolvida.
Neste livro, a sequência de apresentação dos assuntos é a
seguinte:
1) Conhecimentos sobre composição das forças. O
conhecimento dos princípios que regem a composição de
forças é fundamental quando se fala em cálculo estrutural,
que nada mais é do que a busca do equilíbrio entre as
forças.
2) Levantamento das cargas que irão originar os esforços na
estrutura. Uma estrutura tem como finalidade suportar
cargas, a não ser que seja apenas para enfeite. Algumas
vezes, quando uma estrutura está apresentando sinais de
colapso, a primeira dúvida recai sobre a qualidade dos
cálculos. Os cálculos podem estar corretos, mas se não
forem feitos em função da carga que será aplicada, de
nada vale a correta elaboração do dimensionamento.
3) Reconhecimento do comportamento dos materiais. Saber
como se comporta um material, e conhecer os valores de
sua resistência quando submetido a esforços, é tão
necessário quanto saber qual a carga que ele deverá
suportar.
4) Solicitações no material diante das cargas. É preciso
determinar os esforços internos que o material sofre em
consequência das solicitações externas de ação do
carregamento e de reação dos apoios.
5) Dimensionamento diante das solicitações. As medidas das
seções de concreto e a área de ferros necessária para
reagir aos esforços é o objetivo final do cálculo estrutural e
permite ao calculista estabelecer os coeficientes que
garantem a segurança de um comportamento estável das
vigas como componentes da estrutura.

Nesta nova fase de desenvolvimento pela qual passamos,


outra linha invisível do tempo nos é colocada como marco de nova
dinâmica de ação diante daquilo que se convencionou chamar de
globalização.
As gerações mudam, o progresso avança e o tempo parece
fluir mais rapidamente na sequência de eventos que se sucedem.
Precisamos ser cada vez mais rápidos nas decisões, porque as
soluções não podem esperar. Então, precisamos estar cada vez
mais preparados, tendo à mão aquilo que nos permita decidir
rapidamente, sem correr riscos de erro.
O leitor pode ter um computador à mão e obter dele qualquer
informação que se tornar necessária. Mas, se não tiver na cabeça
a formação apropriada para saber interpretar as respostas do
computador, provavelmente se perderá na solução. Não basta ter
o computador ou o telefone de quem sabe, é preciso saber, e
saber com precisão.
São essas informações básicas que nos propomos a
apresentar em forma de receitas, para facilidade de compreensão.

O Autor
AGRADECIMENTOS

No faz de contas da matemática da vida, vivemos fazendo contas,


sem nos atentar de agradecer a quem nos permite ter uma
pequena parte do saber.
E se, por alguma razão, me foi dada a possibilidade de
transmitir o pouco que sei, só me cabe a Deus agradecer.
Meu agradecimento é extensivo a todo aquele que me ajudou e
incentivou para que este livro se tornasse uma realidade.
SOBRE O AUTOR

Estudou na Academia Militar das Agulhas Negras, na Arma de


Engenharia, tendo trabalhado na construção de obras de arte
(pontes, túneis e viadutos) de estradas cuja execução estava a
cargo do Exército.
Complementou a formação como Engenheiro Civil na antiga
Escola de Engenharia de Taubaté.
Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho na
USP.
Pós-Graduação em formação do docente no ensino a distância
na Unip.
Lecionou em faculdades do Vale do Paraíba.
Atualmente é professor na Universidade Paulista (Unip).
Entre os projetos estruturais que merecem destaque estão:
- base para lançamento de foguetes em Alcântara, Maranhão.
Projeto espacial brasileiro.
- base do radar de rastreamento de satélites do INPE.
- base para torre metálica sobre prédio na Av. Paulista – SP.
É autor do livro Cor e Iluminação nos Ambientes de Trabalho
(1980).
Material
Suplementar

Este livro conta com o seguinte material suplementar:

■ Ilustrações da obra em formato de apresentação (restrito a docentes).

O acesso ao material suplementar é gratuito. Basta que o leitor se cadastre em nosso site:
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SUMÁRIO

PARTE I Receitas Básicas


1 Receitas Básicas
1.1 Receita Experimental
1.2 Conceitos Fundamentais
1.2.1 Validade do Concreto Armado
1.2.2 Vantagens
1.3 A estática das Partículas
1.4 A busca do Equilíbrio
1.5 Esforços nas Estruturas
1.5.1 Esforços Externos
1.5.2 Esforços Internos
1.6 Uma Receita Chinesa
1.7 O Tempero que Comanda Tudo: a Força
1.7.1 Representação da Força
1.7.2 Composição das Forças
1.8 A Massa e o Peso
1.9 A Grafostática
1.9.1 Forças de Mesma Direção
1.9.2 Forças Concorrentes
1.9.3 Forças Quaisquer em um Mesmo Plano
1.9.4 Forças Paralelas no Plano
1.9.5 Par de Forças
1.9.6 Momento Estático de um Sistema de Forças
2 Receitas para Dosagem das Cargas
2.1 Procedimento
2.1.1 Objetivos do Cálculo
2.2 Levantamento das cargas
2.2.1 Classificação das Cargas
2.2.2 Distribuição das Cargas
2.2.3 Disposição das Cargas
2.3 Sequência de Reações de Apoio na Estrutura
2.3.1 Carga do Telhado
2.3.2 Carga da Laje
2.3.3 Carga da Alvenaria
2.3.4 Peso Próprio da Viga
2.4 Esforços Acidentais
3 Receitas sobre o Comportamento dos Materiais
3.1 A receita que tornou Robert Hooke famoso
3.2 Determinação da Resistência Estrutural
3.2.1 Estados-limites
3.2.2 Valor Característico das Solicitações
3.2.3 Valor Característico dos Materiais
3.2.4 Coeficiente de Majoração da Carga
3.2.5 Coeficientes de Redução ou Majoração

PARTE II Receitas sobre a Teoria das


Estruturas
4 Receitas da Mecânica da Ação e Reação
4.1 Conceito e Classificação das Estruturas
4.1.1 Conceituação
4.1.2 Classificação Quanto à Estaticidade
4.1.3 Classificação Quanto à Posição no Espaço
4.1.4 Classificação Quanto à Forma
4.2 Projeto de Estrutura
4.2.1 Cálculo
4.2.2 Dimensionamento
4.2.3 Detalhamento
4.3 A Engenharia do Equilíbrio
4.3.1 Esforços Solicitantes
4.3.2 Esforços Normais
4.3.3 Momento Fletor
4.3.4 Esforço Cortante
4.3.5 Momento Rotacional
4.4 Ação e Reação
4.4.1 Vínculos Externos
4.4.2 Gêneros de Apoio
4.4.3 Condições de Apoio
4.4.4 Grau de Hiperestaticidade
5 Efeitos das Cargas no Mecanismo do Equilíbrio
5.1 A Receita que a História Ensina
5.2 Hipótese de Bernoulli
5.3 Conceitos Clássicos
5.3.1 A Mecânica dos Sólidos
5.3.2 O Ponto Material
5.4 Tensões Elásticas na Flexão
5.4.1 Linha Neutra
5.4.2 Posição da Linha Neutra
5.5 Tensões Máximas
5.6 Momento de Inércia
6 Receitas para Determinar os Esforços na Estrutura
6.1 Comportamento Estrutural
6.2 Tensões nas Vigas Carregadas
6.3 Convenção de Sinais e Montagem dos Gráficos
6.3.1 Sinais dos Esforços
6.3.2 Diagrama de Momento Fletor (DMF)
6.3.3 Diagrama de Força Cortante (DFC)
6.3.4 Traçado dos Diagramas
6.4 Vigas Isostáticas com várias Situações de Carga
6.4.1 Determinação das Reações de Apoio
6.4.2 Cálculo do Momento Fletor
7 Receitas de Vigas Fletidas Contínuas
7.1 Características das Vigas com Continuidade
7.2 Vigas Biapoiadas com Balanço
7.3 Condições de Engastamento
7.4 Roteiro de Cálculo para Vigas Contínuas
7.4.1 Vigas sobre Três Apoios
7.4.2 Aplicação Prática

PARTE III Receitas para Dimensionamento


8 Teoria do Cálculo de Vigas
8.1 Introdução
8.2 A Treliça
8.2.1 Configuração da Treliça
8.2.2 A Receita de uma Equação
8.3 Esquema de Solicitações nas Treliças
8.3.1 O Método de Cremona
8.3.2 Método de Ritter
8.4 A Analogia de Morsch
9 Teoria do Dimensionamento
9.1 Situações de Colapso
9.2 Comprimento de Ancoragem
9.3 Colapso por Flexão
9.3.1 O Surgimento das Fissuras
9.3.2 Condições de Ruptura
9.3.3 Ruptura por Flexão
9.3.4 Diagrama de Domínios
9.4 Ruptura por Flexão
9.5 Ruptura por Cisalhamento
10 Dimensionamento da Viga de Concreto Armado

PARTE IV Receitas Passo a Passo de como


Fazer

PARTE V Receitas Avulsas


Tipos de Cimento
Categorias do Cimento
Receita para Preparo do Concreto em Betoneira
Receita para Traços do Concreto
Teste de Consistência Slump Test,

PARTE VI Apêndices
Apêndice A Participação do Vento no Peso do Telhado
A.1 Cargas Atuantes no Telhado
A.2 A Origem do Vento
A.3 A Força do Vento
A.4 Leis da Resistência do Ar
A.5 Elementos de Cálculo
A.6 A Velocidade do Vento
A.7 Fatores de Correção da Velocidade do Vento
A.7.1 Fator Topográfico (S1)
A.7.2 Fator de Rugosidade (S2)
A.7.3 Fator Estatístico (S3)
A.8 Conceito Físico de Pressão do Vento
A.8.1 Pressão de Obstrução
A.8.2 Coeficiente de Forma
A.9 Conceito Físico de Sucção
A.10 Turbulência
A.11 Características dos Telhados
A.11.1 Formas de Telhados
A.11.2 Inclinação
A.12 Componentes dos Telhados
A.12.1 Composição dos Esforços no Telhado
A.12.2 Cálculo Prático
Apêndice B Vigas Contínuas com Vãos Iguais
B.1 Tabelas para Cálculo de Vigas Contínuas
B.2 Método de Cross
B.3 Convenção de Grinter
B.4 Aplicação do Método de Cross
B.4.1 Coeficiente de Rigidez da Barra
Apêndice C Recuperação e Reforço de Vigas
C.1 Fissuras de flexão
C.2 Fissuras de cisalhamento
C.3 Medidas corretivas e de reforço
C.4 Falhas na execução

Glossário de Termos Técnicos


Bibliografia
PARTE I

RECEITAS BÁSICAS

▷ CAPÍTULO 1
Receitas Básicas

▷ CAPÍTULO 2
Receitas para Dosagem das Cargas

▷ CAPÍTULO 3
Receitas sobre o Comportamento dos Materiais

Nesta primeira parte do Caderno de Receitas de Concreto


Armado – Vigas, vamos reunir os conhecimentos básicos
necessários para a compreensão do que será exposto.

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que a estabilidade


das construções ocorre com base em quatro conceitos:

▷ ação;
▷ reação;
▷ equilíbrio;
▷ resistência.

Ação se refere ao carregamento e à forma como atua na


estrutura. Já a reação, é a oposição às forças que tendem a
movimentar a peça, a qual deve manter-se estaticamente
fixa e indeformável em seu comportamento quando da
aplicação das cargas. O equilíbrio é obtido através de
equações da Mecânica Aplicada, que resultam na nulidade
de movimento de translação e rotação. E, por último, a
resistência, que abrange todo o campo de estudo das
tensões nos materiais e da adequação do dimensionamento
para suportar essas tensões.

A Parte I deste livro compreende o Capítulo 1 – Receitas


Básicas, o Capítulo 2 – Receitas para Dosagem das Cargas
e o Capítulo 3 – Receitas sobre o Comportamento dos
Materiais.
CAPÍTULO 1
RECEITAS BÁSICAS

1.1 RECEITA EXPERIMENTAL


Para tudo na vida há sempre uma receita. Essa receita poderá ser
simples, como fazer um chá, ou complexa, em que apenas poucos
têm a capacidade de executá-la. Tomemos como exemplo a
receita de um bolo.
Dependendo de sua finalidade, seu tamanho, aparência e
sabor, este alimento será sempre consequência dos ingredientes
usados e da capacidade de quem o preparou. Quanto maior o
conhecimento, habilidade e experiência do executante, melhor
será o produto final.
Às vezes, a aparência simples de uma receita traz uma
complexidade que não é vista inicialmente. Em outras, parece ser
tão difícil que julgamos quase impossível realizá-la, mas que se
revela fácil à medida que aprendemos como executá-la.
Esta receita ilustrativa retrata o caminho que, na prática, é
percorrido na execução de um elemento de concreto armado, a
partir de seu cálculo.
Uma peça de concreto armado nada mais é do que um sólido
de concreto com recheio de aço feito a partir de uma receita que
pode ser assim resumida:
Primeiramente, relacione as cargas e deixe-as de lado por
algum tempo enquanto prepara os outros ingredientes.
Analise as condições que são necessárias para o equilíbrio da
peça. Lembre-se de que a medida certa para que a peça fique no
ponto é manter bem dosada sua resistência. Para tanto, verifique
como as cargas podem agir e também seus efeitos.
A seguir, apanhe as cargas que estavam separadas,
acrescente o peso próprio e coloque-as cuidadosamente sobre a
estrutura, posicionando-as corretamente de modo que os efeitos
previstos não incidam fora dos pontos em que devem ficar.
Meça corretamente as intensidades das cargas usando as
medidas adequadas. Tome cuidado para não misturar ingredientes
de unidades diferentes, pois a massa pode desandar antes
mesmo de ser colocada na forma. Cargas mal estimadas, ou mal
colocadas, danificam o produto, por mais bem elaborada que seja
a técnica de execução e a qualidade do material usado na
confecção.
Evite adicionar muito fermento, usando a medida necessária
que lhe forneça uma margem de segurança suficiente e garanta
um produto bem firme. Em seguida, verifique as consequências no
interior da massa pela aplicação das cargas e determine o
tamanho da forma e a quantidade do recheio de aço.
Ajeite o recheio de aço na forma e cubra-o com cuidado com a
massa de concreto. Deixe na forma pelo tempo necessário até
adquirir a consistência da pega e alcançar a resistência
necessária. Após 28 dias, retire a forma e, finalmente, sua peça de
concreto recheada de aço estará pronta para uso.
Para que o produto seja bem elaborado, é importante conhecer
os fundamentos que regem seu comportamento, como os que
passaremos a ver a seguir.

1.2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS


O concreto armado é uma associação de concreto e aço, cujo
objetivo é aproveitar vantajosamente as qualidades de resistência
desses dois materiais.
1.2.1 Validade do Concreto Armado
A união do concreto e do aço é possível, durável e altamente
confiável, por três razões:
A primeira razão refere-se à aderência. A boa aderência entre
os dois materiais garante a transmissão eficaz e segura das
deformações e dos esforços entre um e outro material.
A segunda é o coeficiente de dilatação, visto que, pelo fato de
os coeficientes de dilatação térmica do aço e do concreto serem
aproximadamente iguais, não há solicitações secundárias
prejudiciais, oriundas da variação de temperatura.
E a terceira razão está relacionada com a proteção contra
oxidação, à medida que a armadura, quando imersa no concreto,
é preservada contra ferrugens, mesmo tratando-se de peças
delgadas.

1.2.2 Vantagens
O concreto armado apresenta, entre outras, as seguintes
vantagens:
▶ resiste bem à ação do fogo;
▶ adapta-se bem a qualquer forma;
▶ necessita de um mínimo de manutenção;
▶ sua resistência cresce com o tempo.
Para que uma estrutura de concreto armado se mantenha
estável é preciso que se conheça a condição da carga que lhe
será aplicada.

1.3 A ESTÁTICA DAS PARTÍCULAS


Os elementos estruturais, como as barras sobre as quais são
aplicados esforços externos, podem ser considerados como
constituídos de partículas. Assim sendo, os corpos podem ser
tratados como partículas isoladas, reunidas em grupos para formar
o corpo.
A posição de uma partícula é determinada pela sua disposição
em relação a outras partículas que constituem sua vizinhança.
Quando um corpo se deforma, ocorre um movimento da partícula
em relação às outras. Esse movimento tem uma direção e um
sentido que pode ser determinado em relação a um referencial.
Quando uma partícula de um corpo não se mantém em
posição constante em relação às partículas que lhe são vizinhas,
ou seja, se as partículas se deslocam e o deslocamento mútuo
entre elas não cessa, dizemos que o corpo se encontra em estado
de deformação. No caso de o movimento da partícula não cessar,
o corpo se rompe.
Quando uma carga é aplicada em um elemento estrutural,
existem três possibilidades:
1) Ao ser retirada a carga, o corpo deformado retorna à sua
posição original.
2) Ao ser retirada a carga, o corpo não retorna integralmente
à forma inicial.
3) Mesmo sendo retirada a carga, a deformação permanece
integralmente.
Se a carga que causou a deformação for retirada e o corpo
retornar à forma inicial, dizemos que se trata de um corpo elástico.
Todo corpo que se deforma sob a ação de forças exteriores a
ele e que chega a um estado de equilíbrio estará ao mesmo tempo
em equilíbrio estático e equilíbrio elástico. Significa dizer que os
esforços a que uma estrutura estará submetida devem se
equilibrar tanto externa, como internamente.

1.4 A BUSCA DO EQUILÍBRIO


É sabido que o repouso absoluto não existe, pois o dinamismo
cósmico da força de atração rege o universo.
O ramo das ciências matemáticas, inserido na física, que
estuda as leis gerais e abstratas do equilíbrio e movimento é a
mecânica. Desse conceito básico, surge espontaneamente uma
divisão da mecânica em dois sub-ramos: a dinâmica, que estuda o
movimento, e a estática.
A estática é o ramo da mecânica que estuda os sistemas em
equilíbrio.
A resultante das forças exercidas sobre as diferentes partes
que formam a estrutura de uma edificação deve ser nula, de forma
a não permitir que haja deslocamento ou deformação capaz de
causar danos na estabilidade ou na forma da estrutura de tal
ordem que inviabilize o seu uso.
O cálculo estrutural se fundamenta nos estudos da mecânica
dos sólidos, que, por sua vez, está inserida na estática aplicada.

1.5 ESFORÇOS NAS ESTRUTURAS


Os esforços em uma estrutura atendem o princípio da ação e
reação. Uma estrutura submetida a um carregamento desenvolve
uma resistência que permite suportar a carga e transmiti-la para as
posições nas quais se apoia.
Assim sendo, os esforços nas estruturas atuam de duas
maneiras: externa e internamente.

1.5.1 Esforços Externos


Esforços externos são os que agem sobre a estrutura, incluindo o
peso próprio, acarretando um carregamento que deve ser
transmitido para os apoios da estrutura. Dividem-se em: ativos e
reativos, dependendo de se tratar da carga a ser suportada
(esforço ativo), ou do esforço oferecido pelos apoios que suportam
a estrutura (esforço reativo).

1.5.2 Esforços Internos


São os que se manifestam no interior do material do qual a
estrutura é composta, como decorrência da aplicação da carga.
São eles: os esforços solicitantes e os esforços resistentes.
Classificam-se como esforços solicitantes:
▶ esforço normal de tração;
▶ esforço normal de compressão;
▶ momento de flexão;
▶ força cortante;
▶ momento de torção.
Os esforços resistentes são as tensões que se desenvolvem
no interior da peça e se dividem em tensões normais (tração e
compressão) e tensões tangenciais (cisalhamento). O esquema a
seguir resume o descrito.

1.6 UMA RECEITA CHINESA


Em tempos bem antigos, quando ainda não existiam tubulações,
os chineses inventaram um sistema de transporte da água usando
grandes baldes. O balde era suspenso por meio de uma travessa,
a qual era apoiada sobre o ombro dos homens.
Esse modo de transporte, contudo, apresentava alguns
inconvenientes: primeiro, se um homem fosse mais fraco, o outro
arcaria com um peso maior, ou seja, a divisão da carga não era
equitativa; segundo, não havia estabilidade no sentido transversal.
Inventaram, então, outro método, suspendendo o balde por
meio de uma trave central, sustentada em suas extremidades por
outras duas em cujas pontas ficavam dispostos os carregadores,
como é mostrado na Figura 1.1.

Figura 1.1 Receita chinesa.


Assim, cada homem tinha que sustentar a mesma carga, além
de haver uma melhor estabilidade transversal. A travessa central
descarregava metade do peso do balde em cada trave. Por sua
vez, o peso que agia no centro das traves suportadas pelos
carregadores se distribuía com a mesma intensidade.
A receita chinesa se apresenta como importante ferramenta
para compreensão da geometria das forças. Quando os chineses
usavam apenas uma haste, a representação era possível em
apenas um plano. Porém, quando decidem fazer uma melhor
distribuição de carga, a representação exige mais de um plano,
como é mostrado na Figura 1.2.

Figura 1.2 Planos da figura.

Para determinar qual a carga que cada um deveria carregar, há


necessidade de fazer a distribuição das forças em cada plano.
Superpondo os efeitos, obtemos o valor da carga sustentada por
cada um dos carregadores. Cada homem carrega a quarta parte
do peso total (Figura 1.3).
Figura 1.3 Distribuição das forças.

Compor forças é juntá-las em uma só força resultante, capaz


de produzir o mesmo efeito que seria produzido pela aplicação de
cada uma delas agindo, separadamente, uma após outra.

1.7 O TEMPERO QUE COMANDA TUDO: A


FORÇA
Força é tudo aquilo capaz de produzir ou modificar um movimento,
realizar um trabalho, ou deformar um corpo.

1.7.1 Representação da Força


A representação da força é, possivelmente, a mais simples e
criativa representação gráfica de algo, cujo conceito é produto de
um pensamento abstrato. A força é representada por um segmento
de reta orientado e se caracteriza por quatro elementos:
1) Ponto de aplicação: lugar do corpo onde a força atua.
2) Direção: trajetória descrita pelo corpo sob a ação de uma
força.
3) Sentido: orientação que a força segue. Para cada direção
há sempre dois sentidos (para a direita ou para a
esquerda; para cima ou para baixo).
4) Intensidade: quantidade da força aplicada. É a
capacidade de produzir maior ou menor efeito.
Figura 1.4 Representação da força.

A resultante de várias forças da mesma direção e do mesmo


sentido, aplicadas no mesmo ponto, é igual à soma das
intensidades das forças e age no mesmo sentido das
componentes.

1.7.2 Composição das Forças


Em uma carreta puxada por dois cavalos, a resultante será a soma
das forças desenvolvidas por cada um dos cavalos,
independentemente de estarem um na frente do outro ou lado a
lado, desde que estejam na mesma direção, com o mesmo
sentido. Nesse caso, a soma de forças é algébrica, e a operação
matemática é de acréscimo ou subtração de forças com os valores
de suas respectivas intensidades.
Mas quando as forças aplicadas num mesmo ponto não estão
na mesma direção, ou seja, fazem um ângulo entre si, não podem
ser simplesmente somadas. Nesse caso, a soma deve ser
geométrica, levando em conta a direção das forças, não sendo,
portanto, o valor real de sua intensidade, mas o valor da projeção
no plano que contém a resultante das forças componentes.
Figura 1.5 Como as forças se compõem.

1.8 A MASSA E O PESO


Massa de um corpo é a quantidade de matéria que o compõe.
Tudo que tem massa tem peso. E tudo que tem peso tende a
cair, a menos que haja uma condição de equilíbrio sustentando o
peso. Ou seja, uma força que se oponha à força da gravidade.
Figura 1.6 Equilíbrio das forças.

Segundo Newton, a atração exercida entre dois corpos é tanto


mais intensa quanto maiores forem os corpos e quanto mais
próximos tais corpos estiverem entre si. A Terra, pelo seu tamanho,
exerce uma força de atração sobre todos os corpos nela situados,
chamada de força da gravidade.
Todo corpo abandonado a si mesmo cai no solo por causa da
força da gravidade. A direção de queda é vertical; o sentido é de
cima para baixo; a intensidade com que a gravidade “puxa” o
corpo em direção ao solo representa o seu peso e o ponto de
aplicação da força é chamado de “centro de gravidade” do corpo.
Um corpo apoiado sobre um plano estará em equilíbrio quando
a vertical baixada de seu centro de gravidade passa pelo interior
da base de sustentação, na qual o corpo se apoia.

Figura 1.7 Equilíbrio de um corpo.


Admitindo que a Terra seja perfeitamente esférica, todas as
forças que atuam nas partículas são direcionadas para o centro da
esfera terrestre. Tomando o valor de 40.000 km para a
circunferência da Terra, que corresponde a 360º, é fácil concluir
que para cada um grau os pontos extremos do corpo estejam à
distância de 111 km, aproximadamente. Para o ângulo de um
minuto, a distância seria de 1852 metros.
Podemos considerar como paralelas as cargas verticais dos
extremos de um corpo com a extensão de aproximadamente 30 m.

Figura 1.8 Força de atração da Terra.

1.9 A GRAFOSTÁTICA
A solução gráfica de composição de forças, ou grafostática,
permite, usando meios geométricos, determinar as condições de
equilíbrio de sistemas de forças. Em alguns casos em que as
fórmulas matemáticas se tornam muito trabalhosas, recorre-se ao
processo gráfico, baseado em propriedades geométricas para a
determinação da resultante de várias forças aplicadas
conjuntamente.
As bases da grafostática foram estabelecidas pelo belga Simon
Stevin (1548-1620). Posteriormente, Poncelet, Rankine, Maxwell,
Cremona e Culmann, com seus trabalhos, deram aos métodos
geométricos seu pleno desenvolvimento.

1.9.1 Forças de Mesma Direção


A resultante de várias forças da mesma direção, aplicadas no
mesmo ponto, é igual à soma das forças e age no mesmo sentido
das componentes. Nesse caso, se trata de uma soma algébrica.

Figura 1.9 Composição de forças de mesma direção.

A soma de duas forças que não sejam paralelas não pode ser
feita pela simples adição das intensidades das forças. No caso de
forças concorrentes, que formam entre si um determinado ângulo,
a resultante é obtida pela soma geométrica das forças. A solução
gráfica se resume na construção de um paralelogramo sobre a
representação das duas forças e o traçado da diagonal que
corresponderá à resultante.

Figura 1.10 Paralelogramo de forças no plano.

1.9.2 Forças Concorrentes


A determinação da resultante é feita pelo traçado do “polígono das
forças”. Monta-se o polígono ligando as extremidades das
paralelas às forças. A linha que fecha o polígono dá a grandeza e
a direção da resultante procurada. Seu sentido de ação é obtido
partindo do ponto inicial para a extremidade da última força
considerada. O sentido do caminhamento dado pelas
componentes é contrário ao da resultante.

Figura 1.11 Resultante de forças num plano.

1.9.3 Forças Quaisquer em um Mesmo Plano


Para se obter a resultante, inicialmente constrói-se o polígono das
forças. O fechamento do polígono indica o sentido e a grandeza
da resultante. Para se conhecer a posição da resultante, marca-se
um ponto O no interior do polígono das forças. São traçados os
raios polares a partir de O.

Figura 1.12 Polígono funicular.

As paralelas aos raios polares formarão os lados do polígono


funicular. O primeiro e o último lado prolongados se encontram em
um ponto “m” por onde passa a resultante, cuja direção, sentido e
grandeza são dados no polígono das forças.
1.9.4 Forças Paralelas no Plano
No caso mais comum de esforços nas vigas, as cargas são
consideradas verticais e paralelas, aplicadas no plano que passa
no eixo da viga.

Figura 1.13 Forças paralelas.

O caso mais simples de forças paralelas é o de determinar a


resultante de duas componentes paralelas de mesmo sentido.
A relação entre as componentes e sua distância à resultante
pode ser determinada pela relação entre triângulos. Verifica-se
que as componentes estão na razão inversa de suas distâncias às
resultantes.

1.9.5 Par de Forças


Chamamos de par de forças duas forças de mesma intensidade,
direções paralelas e sentidos opostos. Nesse caso, não é possível
obter uma resultante. Sua ação não pode ser substituída pela
ação de uma só força. Temos então um binário. Chama-se
momento de um binário o produto da intensidade de uma delas,
uma vez que as duas são iguais, pela distância que as separa, e
que recebe o nome de “braço do par de forças”.
Assim como uma força provoca o deslocamento de um corpo
em repouso, um binário produz a rotação do corpo inicialmente em
repouso, a menos que este corpo seja equilibrado por outro
binário.
Quando uma força P de um par de forças se fixa em um ponto
C, a outra força tende a fazer o sistema girar em torno do ponto
fixo C. Essa tendência de movimento rotativo recebe a
denominação momento de giro, ou momento estático da força P
com relação ao centro de rotação, ou centro dos momentos C.
Esse momento é expresso pelo produto da força P pela sua
distância L ao centro dos momentos.

M=P×L

A distância L é chamada de braço de alavanca da força P em


relação ao centro dos momentos C.
Por convenção, se o par de forças produz um movimento
rotativo no sentido dos ponteiros de um relógio analógico, diz-se
que o momento é positivo. Se o movimento for contrário, o
momento é negativo.

1.9.6 Momento Estático de um Sistema de Forças


Quando se trata do momento de um sistema de forças situadas de
qualquer forma num plano, em relação a um centro de momento, a
soma algébrica dos momentos estáticos de cada força em relação
ao centro de momento é igual ao momento estático da resultante
do sistema com relação a esse mesmo centro. O mesmo se aplica
quando se trata de um sistema de forças paralelas.
Dado um sistema de forças no plano, em primeiro lugar
determina-se a posição e intensidade da resultante. Tendo a
posição, se torna possível determinar a distância do centro dos
momentos até a resultante, traçando uma perpendicular que passa
pelo ponto fixo C e nos fornece o valor do braço de alavanca do
sistema.
Figura 1.14 Momento estático.
CAPÍTULO 2
RECEITAS PARA DOSAGEM DAS
CARGAS

2.1 PROCEDIMENTO
A razão de ser de uma estrutura é suportar uma carga. Portanto,
saber qual a carga que deve ser suportada é a principal
preocupação de quem realiza o cálculo da estrutura.
Para que a estrutura cumpra com segurança a finalidade a que
se destina são necessárias duas condições:
1) Que a estrutura se mantenha estável enquanto suporta a
carga que lhe é imposta.
2) Que a estrutura se assente em bases capazes de suportar
a edificação, sem ocasionar esforços que sejam nocivos
ao comportamento da estrutura.
Nas duas condições, é de grande importância a determinação
das cargas que compõem o conjunto de elementos da estrutura,
bem como a sobrecarga nela aplicada.

2.1.1 Objetivos do Cálculo


O cálculo estrutural tem por finalidade o estudo do grau de
segurança de uma obra sujeita à ação de forças conhecidas.
Para o calculista de estruturas, os problemas que se
apresentam na prática são de duas naturezas: uma se refere à
verificação das tensões e a outra diz respeito ao
dimensionamento.
Sendo conhecidas as cargas e as dimensões das seções, é
possível fazer a verificação da compatibilidade da capacidade da
estrutura com a carga aplicada. Calculadas as solicitações, é feita
então a comparação com as tensões consideradas compatíveis.
Se as tensões geradas pelas cargas forem menores que a tensão
que a peça pode suportar, então a carga pode ser aplicada. Caso
ocorra o contrário, torna-se necessário diminuir o carregamento ou
reforçar a estrutura.
No dimensionamento, a partir do conhecimento das cargas e
do material a ser usado, determina-se a solicitação à qual o
elemento estará exposto e dimensiona-se a seção necessária.
A sequência a ser seguida em cada caso é mostrada na Figura
2.1.

Figura 2.1 Sequências de cálculo.

2.2 LEVANTAMENTO DAS CARGAS


Determinar com exatidão os pesos que serão aplicados em um
sistema estrutural não é tarefa fácil. Exige, além de tudo, muita
experiência e conhecimento dos materiais.
Podemos dizer que a estimativa das cargas é a parte crítica do
processo de cálculo estrutural e depende da sensibilidade do
calculista, que deve ser bastante criterioso na avaliação. Cargas
muito elevadas exigem peças mais reforçadas, onerando,
consequentemente, a obra. Cargas abaixo das realmente
aplicadas colocam em risco a estrutura.

2.2.1 Classificação das Cargas


As cargas atuantes na estrutura se dividem em duas classes bem
distintas, quais sejam:
1) Carga permanente: atua na estrutura em caráter fixo e
permanente.
2) Carga acidental: atua na estrutura em caráter eventual e
esporádico.
Genericamente, o maior desafio para se executar uma boa
receita é a dosagem adequada dos seus ingredientes. No cálculo
estrutural não é diferente. Só podemos projetar uma estrutura para
suportar certo peso se soubermos qual o peso a ser suportado.
Mas é preciso lembrar que o que vai suportar um determinado
peso também pesa. Então, deve ser incluído o próprio peso no
peso a ser suportado.
Como ainda não sabemos as dimensões que permitem
quantificar o peso próprio, temos duas alternativas:
▶ 1a alternativa: considerar a estrutura como não tendo
peso e acrescentar esse peso depois, recalculando a
estrutura para compatibilizar o disponível com o
necessário;
▶ 2a alternativa: estimar um peso, somar com o peso que
deverá ser suportado e fazer o dimensionamento.
Todo cuidado deve ser tomado para que não se faça uma
estimativa de carga muito abaixo ou muito acima do real.

2.2.2 Distribuição das Cargas


Conforme a carga se transmite na estrutura, podemos ter
diferentes tipos de carga:
▶ Carga pontual: carga aplicada em um ponto em que
passa a resultante das forças atuantes. Como exemplo,
podemos citar o caso de um pilar que transmite sua carga
para uma parte qualquer da estrutura.
▶ Carga linear: carga alinhada em um plano que contém o
elemento estrutural sobre o qual a carga se assenta. O
exemplo é a carga de uma parede assentada sobre uma
viga.
▶ Carga distribuída: carga que se distribui sobre uma
superfície, gerando uma pressão em determinada área
considerada unitária. Por exemplo, a carga transmitida ao
solo por uma sapata.
▶ Carga em volume: corresponde ao peso específico de um
material a granel em sua tridimensionalidade.
Exemplos de distribuição de cargas são apresentados na
Figura 2.2.

Figura 2.2 Distribuição das cargas.

2.2.3 Disposição das Cargas


Refere-se às maneiras como as cargas se colocam sobre uma
viga, que podem ser:
▶ Carga uniformemente distribuída: quando a carga é
aplicada de maneira uniforme ao longo da viga, como no
caso das paredes. Pode ser uniformemente distribuída
sobre toda a viga, ou sobre parte dela.
▶ Carga concentrada: quando se trata de carga transmitida
por outra viga ou por um pilar que nasce sobre a viga,
podendo ser uma carga concentrada ou várias cargas
concentradas.
É comum acontecer de em uma mesma viga serem aplicadas
cargas distribuídas e cargas concentradas.
Figura 2.3 Disposição das cargas.

2.3 SEQUÊNCIA DE REAÇÕES DE APOIO NA


ESTRUTURA
A carga é distribuída sobre uma laje de andar superior de um
edifício. A laje transfere seu peso e da sobrecarga para a viga na
qual está apoiada. Passamos de uma carga distribuída em uma
área para uma carga linear sobre a viga.
Por sua vez, a viga transmite sua carga para um pilar, sendo
que a carga que era linear sobre a viga passa a ser pontual no
pilar.
A carga conduzida pelo pilar chega até a fundação, na qual
encontra condições de se transferir para o solo.
A sequência é mostrada na Figura 2.4.

Figura 2.4 Partes componentes da estrutura.


Na sequência, apresentamos algumas tabelas que permitem
uma avaliação, com boa aproximação, dos pesos de alguns
materiais. Se houver dificuldade para realizar o levantamento das
cargas, torna-se necessário consultar as tabelas dos fabricantes,
que fornecem os pesos ou a densidade dos materiais.
Deve haver um ordenamento na consulta das tabelas e
levantamento das cargas.

2.3.1 Carga do Telhado


Toda edificação tem uma cobertura e é pelo telhado que devemos
iniciar o levantamento das cargas que agem na estrutura.
De posse dos dados arquitetônicos e do conhecimento da
geometria do telhado, podemos estimar seu peso com o uso das
tabelas.

Tabela 2.1 Peso de telha

DIMENSÕES NOMINAIS PESO PRÓPRIO


TIPO DE
TELHA
Comprimento Largura Espessura Quantidade Peso

FRANCESA 400 mm 240 mm 14 mm 15 telhas 54


p/m2 kg/m2
saturada

ROMANA 415 mm 216 mm 10 mm 16 telhas 58


p/m2 kg/m2
saturada

COLONIAL 485 mm 140 mm 10 mm 17 telhas 1,8


- CAPA p/m2 kg/m2
COLONIAL 485 mm 140 mm 10 mm 17 telhas 1,8
- CANAL p/m2 kg/m2

São peças encaixadas e fixadas com argamassa na linha de encontro da


parte superior de duas águas de telhado. Quando não forem
CUMEEIRA
disponíveis tais peças, podem ser usadas capas de telhas tipo capa-
canal.

PESO DO É o próprio peso das telhas mais o peso da estrutura de madeira.


TELHADO

Tabela 2.2 Madeiramento de telhado

DIMENSIONAMENTO DA TESOURA

VÃO (m)
PEÇA
6 8 10

LINHA 6 × 12 6 × 16 6 × 16

PERNAS 6 × 16 6 × 16 6 × 16

PENDURAL 6 × 12 6 × 12 6 × 16

ESCORAS 6 × 12 6 × 12 6 × 12

DIMENSÕES DA TERÇA
DISTÂNCIA ENTRE TESOURAS

DISTÂNCIA ENTRE TERÇAS


de 2,50 m de 2,50 a
4,00 m

2,00 m 6 × 12 6 × 16

2,50 m 6 × 16 —

DIMENSÕES DOS CAIBROS

DISTÂNCIA ENTRE TERÇAS


DISTÂNCIA ENTRE CAIBROS
2,00 m 2,50 m

0,50 m 6 × 16 6×7

Tabela 2.3 Telhado com telha cerâmica

MADEIRAMENTO PESO (kgf/m2)

TESOURA 20,0

TERÇAS 12,0

CAIBROS 5,0

RIPAS 3,0

CONTRAVENTAMENTO 5,0

FORRO DE TÁBUA 15,0


TOTAL 60,0

2.3.2 Carga da Laje


A seguir vem a determinação da carga que atua na laje e vai ser
transmitida para as vigas que a sustentam. Com base no tipo de
ocupação que terá a estrutura, obtemos, na Tabela 2.4, os valores
estimativos para as cargas a considerar, conforme o uso do local.
A Tabela 2.5 nos dá o peso próprio da laje.

Tabela 2.4 Sobrecarga nas lajes

CARGAS E SOBRECARGAS

LOCAL CARGA
(kg/m2)

DORMITÓRIOS - SALA - COZINHA - 150


COMPARTIMENTO BANHEIRO
DESTINADO A
RESIDÊNCIA DESPENSA - ÁREA DE SERVIÇO - 200
LAVANDERIA

COM ACESSO AO PÚBLICO 300


ESCADAS
SEM ACESSO AO PÚBLICO 250

COM ACESSO AO PÚBLICO 300


CORREDORES
SEM ACESSO AO PÚBLICO 200
GARAGEM PARA VEÍCULOS DE PASSAGEIROS 300
RESIDENCIAL

ESCOLAS - SALAS DE AULA 350


LOCAIS PÚBLICOS
ESCOLAS - SALAS DE RECREAÇÃO 400

LOCAIS DE ACESSO PÚBLICO 400

SALAS DE ESPETÁCULO 500

OUTROS LOCAIS GARAGEM PÚBLICA 500

PÁTIO DE MANOBRA 800

SUPERMERCADO E LOJAS 400

Tabela 2.5 Peso de laje

PESO PRÓPRIO DE LAJE MACIÇA E PRÉ-FABRICADA

LAJE MACIÇA LAJE PRÉ-FABRICADA

h P.p. h (cm) P.p. P.p. enchimento


(cm) (kg/m2) (kg/m2) Altura
acabada
7 175 14 350 cerâmica EPS

8 200 15 375 cm kg/m2 kg/m2


9 225 16 400 8+5 210 180
(13)

10 250 17 425 10 + 5 235 185


(15)

11 275 18 450 12 + 5 255 195


(17)

12 300 19 475 16 + 5 300 220


(21)

13 325 20 500 20 + 5 335 245


(25)

A estimativa feita na fase de anteprojeto para determinação do


carregamento de uma laje deve atender à seguinte sequência:

Sobrecarga na laje
▶ Alvenaria sobre a laje: carga distribuída equivalente ao
peso da parede.
▶ Sobrecarga: específica para o uso a que se destina.
▶ Revestimento: peso do revestimento a ser aplicado na
laje.

Carga sobre a laje = somatório das cargas

Peso próprio da laje


▶ Para laje maciça: estima-se a espessura e multiplica-se
por 2500 kgf/m3
▶ Para laje pré-fabricada: peso indicado pelo fabricante.

Carga referente ao peso próprio = obtido para o tipo de laje


O peso total a ser transmitido para a viga é a soma da
sobrecarga com o peso próprio da laje.

2.3.3 Carga da Alvenaria


O peso da alvenaria depende da espessura da parede e do pé-
direito do aposento. Multiplicando-se o peso da parede por metro
quadrado pelo pé-direito, obtemos o peso da parede por metro
linear. O desconto das aberturas pode ou não ser feito. Quando os
vãos de portas e janelas não são significativos, o acréscimo da
carga que seria descontada fica a favor da segurança.
O peso de parede é obtido nas Tabelas 2.6 e 2.7.

Tabela 2.6 Peso de parede de alvenaria

ESPESSURA TIJOLO TIJOLO BLOCO DE


MACIÇO FURADO CIMENTO
PAREDE

cm kgf/m2 kgf/m2 kgf/m2

DE ESPELHO 10 160,0 120,0 120,0

MEIO TIJOLO 15 240,0 180,0 180,0

UM TIJOLO 25 400,0 300,0 300,0

MULTIPLICANDO-SE O PESO DA PAREDE POR METRO QUADRADO PELO PÉ-


DIREITO,OBTÉM-SE O PESO DA PAREDE POR METRO LINEAR.

Tabela 2.7 Peso por metro linear de parede

PESO POR METRO LINEAR DE PAREDE (kg/m)


PÉ-DIREITO (m) 2,70 2,80 2,90 3,00

10 cm 432 448 464 480

TIJOLO MACIÇO 15 cm 648 672 696 720

25 cm 1080 1120 1160 1200

10 cm 324 336 348 360

TIJOLO FURADO 15 cm 486 504 522 540

25 cm 810 840 870 900

10 cm 324 336 348 360


BLOCO DE
15 cm 486 504 522 540
CIMENTO
25 cm 810 840 870 900

2.3.4 Peso Próprio da Viga


O peso próprio da viga depende das suas dimensões, as quais
não são conhecidas, uma vez que a viga somente poderá ser
dimensionada depois de levantadas todas as cargas que atuam
nela, inclusive seu peso próprio.
Para solucionar esse impasse, é feito um pré-dimensionamento
da viga que permita estimar sua largura e altura.
A estimativa da largura da viga é feita observando-se os
seguintes aspectos:
1) Dentro das possibilidades estruturais, a largura da viga
deve atender às determinantes do projeto arquitetônico.
2) A largura da viga é condicionada à largura da parede, de
modo a ficar oculta nela.
3) A largura da viga deve ser compatível com um bom
alojamento da ferragem e uma boa condição de
concretagem.
4) Quando outras vigas se apoiam nela, sua largura deve ser
no mínimo a necessária para oferecer a condição de
ancoragem da outra viga.
Para a estimativa da altura da viga, pode-se usar uma altura
igual a 1/10 a 1/12 do comprimento do vão vencido pela viga.
A Tabela 2.8 fornece o peso próprio de vigas retangulares.

Tabela 2.8 Peso próprio da viga retangular (kgf/m)

PESO PRÓPRIO DA VIGA RETANGULAR (kgf/m)

h (cm)
bw
(cm)
15 20 30 40 50 60

10 37,5 50,0 75,0 100,0 125,0 150,0

12 45,0 60,0 90,0 120,0 150,0 180,0

15 56,0 75,0 112,5 150,0 187,5 225,0

18 — 90,0 135,0 180,0 225,0 270,0

20 — 100,0 150,0 200,0 250,0 300,0

25 — — 187,5 250,0 312,5 375,0

30 — — 225,0 300,0 375,0 450,0

Às vezes, temos necessidade de conhecer o peso de alguns


materiais que podem fazer parte da composição de uma estrutura,
razão pela qual é apresentada a Tabela 2.9, que nos fornece o
peso específico de alguns deles.

Tabela 2.9 Peso específico de alguns materiais

MATERIAL PESO ESPECÍFICO


(kg/m3)

Madeira (Ipê róseo) 1000

Tijolos furados 1300

Lajotas cerâmicas 1800

Tijolos maciços 1800

Argamassa de 1900
cal:cimento:areia

Cimento amianto 2000

Tijolos silico-calcários 2000

Blocos de argamassa 2200

Concreto simples 2400

Concreto armado 2500

Vidro plano 2600

Mármore e calcário 2800


Granito 2800

Argamassa de gesso 12.500

Aço 78.500

2.4 ESFORÇOS ACIDENTAIS


Deve-se tomar cuidado com esforços ocultos que agem nas
estruturas sem ninguém perceber.
Além dos esforços causados pelo peso próprio da estrutura e
das sobrecargas nela aplicadas, existem outros esforços que
devem ser levados em consideração na ocasião dos cálculos.
Entre esses esforços, podem ser citados os decorrentes da
dilatação e a ação do vento.
Existem outros tipos de esforços causados pela condição
reológica do cimento, tal como retração e deformação lenta. Entre
todos os esforços, o mais significativo é o vento.
Para se ter uma ideia da intensidade da pressão exercida pelo
vento, uma rajada de 100 km/h soprando sobre um homem em pé,
com uma área de exposição de 0,50 por 1,70 m de altura, resulta
em um esforço horizontal de 85 kgf atuando sobre ele, sendo,
portanto, da mesma ordem de grandeza de seu peso.
Verifica-se, dessa forma, a impossibilidade de um homem
permanecer de pé sob o efeito de um vento com tal intensidade.
A ação do vento em uma estrutura está diretamente ligada à
velocidade com que incide sobre a edificação. O efeito do vento é
tanto maior quanto maior for a velocidade com que ele sopra.
Nada mais importante, pois, do que a determinação das
consequências da ação do vento nas edificações.
No Apêndice A, são encontradas informações que permitem a
determinação do efeito do vento nas edificações.
CAPÍTULO 3
RECEITAS SOBRE O
COMPORTAMENTO DOS MATERIAIS

3.1 A RECEITA QUE TORNOU ROBERT HOOKE


FAMOSO
Por volta de 1700, um senhor muito interessado na fabricação de
relógios, testando uma invenção, fez uma grande descoberta que
veio a se constituir uma das mais importantes leis do
comportamento dos materiais submetidos à ação de forças
capazes de modificar a forma desse material.
Sua experiência era bastante simples: em uma armação de
madeira firmemente presa em uma parede, é fixado um fio
metálico de certa dimensão. Na outra ponta, é colocado um balde.
Um pouco acima do balde, preso no fio, é posto um ponteiro que
pode deslizar sobre uma escala solidária ao suporte, como
aparece na Figura 3.1.
Figura 3.1 Ensaio de Hooke.

À medida que a água vai sendo colocada lentamente no balde,


o ponteiro vai se deslocando para baixo. Isso indica que o fio vai
se alongando com o peso colocado na sua extremidade. Como a
densidade da água era conhecida, e sabendo o volume de água
no balde, foi fácil calcular a carga aplicada no fio.
Como o senhor Hooke era um estudioso de matemática, logo
estabeleceu uma relação numérica entre a força e o alongamento.
Era o primeiro passo para uma nova ciência experimental teórico-
empírica, por meio da qual teve início o estudo dos materiais e de
sua resistência.
Robert Hooke constatou que havia um limite além do qual não
se pode aplicar uma força maior na solicitação da peça, sob pena
de se processarem transformações sensíveis na natureza íntima
do material, podendo levar, inclusive, à sua ruptura.
Figura 3.2 Gráfico tensão/deformação.

Chamando de P o peso que atua em uma determinada


superfície S, a relação P/S recebeu o nome de tensão específica
σ.

σ = P/S

Hooke constatou ainda que, tomando uma peça de


comprimento L e aplicando nela um esforço, essa peça sofrerá
uma deformação ∆L.

Figura 3.3 Deformação de uma barra sujeita a um esforço.

A relação ∆L/L é chamada de deformação específica,


representada pela letra grega ε.

ε = ∆L/L
No limite de elasticidade, as deformações são proporcionais às
tensões. Existindo essa proporcionalidade, a representação
gráfica é de uma reta. Cada material tem para a reta um
determinado ângulo α de inclinação. À tangente do ângulo α é
dada a denominação Módulo de Elasticidade do material,
representado pela letra E.

E = tg α

O Módulo de Elasticidade (E) é usado no cálculo da


deformação de uma viga para um determinado carregamento.

Figura 3.4 Elasticidade e deformação.

Para o aço, que é um material homogêneo, o módulo de


elasticidade é:

E = 2.100.000 kgf/cm2

No caso do concreto armado, que não é um material


homogêneo e depende das características do concreto, não há um
valor fixo.
Prosseguindo nas suas experiências, o senhor Hooke usou
dois materiais diferentes: um fio metálico e uma tira de couro,
ambos com a mesma medida da seção e do comprimento. A
seguir, fez a determinação dos pesos que deveriam ser aplicados
no aço e no couro para que ambos tivessem a mesma
deformação, ou seja, se alongassem a uma mesma medida. Veja
na Figura 3.5a.

Figura 3.5 Experiências de Hooke.

Depois de colocados os pesos para o aço e para o couro, de


modo a terem a mesma deformação, nota-se que para o couro o
peso é bem menor. Podemos dizer então que houve maior grau de
dificuldade para deformar o fio de aço, conforme mostra a Figura
3.5b.
Isso demonstra que o aço tem menos elasticidade que o couro.
A tensão requerida para obter o alongamento é determinada pela
divisão do peso pela área da seção considerada.

σ = P/S

A relação entre a tensão σ e a deformação unitária nos fornece


o valor do módulo de elasticidade longitudinal (módulo de Young)
do material E = σ/ε.
Quanto maior o valor da deformação unitária do material,
menor o valor do módulo de elasticidade. Podemos dizer que o
módulo de elasticidade representa o inverso da elasticidade.
Quanto maior o valor de E, menos elástico é o material.
O senhor Hooke fez ainda outra experiência. Usando desta vez
dois fios da mesma bitola, mas de comprimentos diferentes, ele
verificou que o mais longo sofreu uma deformação maior, tendo
sido aplicado em ambos o mesmo peso e sendo eles do mesmo
material.
Para este caso, a conclusão é de que, se dividirmos a
deformação pelo respectivo comprimento, verificaremos que o
resultado será o mesmo.

ΔL1/L1 = ΔL2/L2

Se uma barra de comprimento L ao ser submetida a uma força


(tração ou compressão) sofre uma deformação (alongamento ou
encurtamento) ΔL, chamamos de variação unitária linear o
resultado da divisão ΔL/L.
Pela Lei de Hooke, os alongamentos são proporcionais aos
esforços aplicados, e ainda, para um dado esforço os
alongamentos são diretamente proporcionais ao comprimento da
peça e indiretamente proporcionais à área da seção transversal.

3.2 DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA


ESTRUTURAL

3.2.1 Estados-limites
Segundo a observação de Hooke, há um limite além do qual não
se pode aplicar mais força na solicitação de uma peça, sob o risco
de acarretar transformações na natureza íntima do material,
causando uma deformação irreversível e até mesmo o seu
rompimento.
O objetivo do cálculo estrutural é determinar um valor de
compatibilidade entre a carga e a capacidade de suporte de um
determinado material, de modo a manter abaixo desse valor
preestabelecido a probabilidade do aparecimento de algum indício
de esgotamento da capacidade portante da estrutura, ao mesmo
tempo em que busca manter dentro dos parâmetros de economia
de custo a quantidade do material utilizado na composição da
estrutura. A condição de máxima capacidade de carregamento,
quando se dá o esgotamento da capacidade de resistência do
material, recebe a denominação estado-limite último.
Existe outro estado limitador do carregamento da estrutura.
Embora não esgotando a capacidade de suporte, uma carga maior
que a estabelecida como máxima poderá causar deformações
excessivas na estrutura, fato que impossibilita seu uso. Essa
limitação determina outro estado-limite denominado estado-limite
de utilização.

3.2.2 Valor Característico das Solicitações


É o valor efetivo dos esforços solicitantes provocados pelas cargas
que atuam nas vigas.

3.2.3 Valor Característico dos Materiais


É o valor obtido estatisticamente, que apresenta uma possibilidade
prefixada de não ser ultrapassada no que se refere aos valores de
cálculo do limite último. Em suma, é a determinação do valor
máximo convencional da solicitação que pode ser resistida por
uma viga.
Trata-se, portanto, de determinar a solicitação que provoca o
colapso da seção e dimensioná-la dentro das condições de
segurança, usando valores característicos alterados por
coeficientes de majoração para os esforços solicitantes, e de
minoração, para a resistência dos materiais.

3.2.4 Coeficiente de Majoração da Carga


Os valores considerados nos cálculos para o dimensionamento de
uma estrutura são denominados valores de cálculo, também
chamados de valores de projeto, pois são eles que irão valer para
a elaboração do projeto.
O valor de cálculo de uma solicitação é produto do valor efetivo
do esforço solicitante por um coeficiente de majoração, que leva
em conta as incertezas na previsão ou no cálculo das cargas. Em
geral,

γ = 1,4

Sendo Fk o valor característico das ações resultantes da


aplicação das cargas, o valor de cálculo das ações é dado por:

Fd = 1,4 Fk

3.2.5 Coeficientes de Redução ou Majoração


Mesmo considerando que haja exatidão nos cálculos e que as
hipóteses simplificadoras usadas para obtenção das fórmulas
estejam a favor da segurança, o aparecimento de situações de
instabilidade em uma estrutura pode decorrer de dois aspectos:
1) Avaliação inexata das ações diretas ou indiretas aplicadas
nas estruturas, bem como as excepcionais, devida à
impossibilidade de se saber com precisão absoluta as
solicitações reais a que a peça estará submetida no
decorrer de sua vida útil.
2) Incertezas referentes aos valores considerados como
resistência dos materiais empregados, em face de fatores
humanos, tais como condições de execução e controle da
obra.
Como decorrência, deve-se trabalhar tanto no que se refere às
forças atuantes, como no que diz respeito à resistência dos
materiais, com valores característicos definidos em função da
probabilidade de que esses valores não sejam, na prática,
inferiores (no caso dos materiais) ou superiores (no caso das
solicitações) aos valores considerados como característicos.
Tendo em vista as incertezas, os valores característicos devem
ser transformados em valores de cálculo com a aplicação de
fatores de majoração para as cargas, e de minoração para a
resistência dos materiais. Feito isso, os cálculos para o
dimensionamento das seções de concreto e de aço serão
executados de tal forma que as resistências de cálculo dos
materiais apresentem a capacidade de suporte necessária para as
situações mais críticas. Os coeficientes a serem adotados são os
seguintes:
▶ Coeficientes de majoração das cargas: γf = 1,4
▶ Coeficientes de minoração dos materiais:

Concreto: γc = 1,4

Aço: γs = 1,15
PARTE II

RECEITAS SOBRE A TEORIA DAS


ESTRUTURAS

▷ CAPÍTULO 4
Receitas da Mecânica da Ação e Reação

▷ CAPÍTULO 5
Efeitos das Cargas no Mecanismo do Equilíbrio

▷ CAPÍTULO 6
Receitas para Determinar os Esforços na Estrutura

▷ CAPÍTULO 7
Receitas de Vigas Fletidas Contínuas

Nos primórdios da civilização, o homem das cavernas


precisava percorrer longas distâncias para encontrar
alimento e, muitas vezes, os obstáculos naturais impediam
sua passagem. O rio era um deles. Até que, em dia de
tempestade, um raio vindo do céu fez com que uma árvore
fosse derrubada e seu tronco repousasse com suas
extremidades nas duas margens do rio. Foi então que o
homem descobriu que o tronco servia como passagem para
transpor o obstáculo do curso d’água. Deve ter sido assim
que surgiu o conceito de viga.
Na Parte II deste livro, vamos tratar do estudo da ação da
carga e o comportamento do material, assim distribuído:
Capítulo 4 – Receitas da Mecânica da Ação e Reação,
Capítulo 5 – Efeitos das Cargas no Mecanismo do Equilíbrio,
Capítulo 6 – Receitas para Determinar os Esforços na
Estrutura e o Capítulo 7 – Receitas de Vigas Fletidas
Contínuas.
CAPÍTULO 4
RECEITAS DA MECÂNICA DA AÇÃO
E REAÇÃO

4.1 CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DAS


ESTRUTURAS

4.1.1 Conceituação
Tudo que sugere um objeto com massa é conhecido pelo termo
corpo.
Um bloco de madeira é um corpo. Um edifício também é
chamado de corpo. Mas um bloco de madeira não pesa o mesmo
que um edifício. A razão é óbvia e facilmente perceptível por
qualquer pessoa. Quando comparados, um corpo é bem menor
que o outro, portanto, bem mais leve. Porém, existem outras
particularidades que diferenciam um corpo do outro. Um bloco de
madeira é um corpo único e monolítico, de um material com
determinada densidade, enquanto o edifício resulta de uma
combinação de várias partes, com diferentes pesos, montadas em
conjunto, formando uma estrutura. Se cada parte ficar fixa em sua
posição, teremos um corpo estaticamente equilibrado.
Entende-se como estrutura a peça ou conjunto de peças
dispostas de forma adequada e ordenadamente interligadas, que,
pela sua própria resistência, garantem a estabilidade do conjunto,
suportando com segurança a carga que lhe é aplicada e para a
qual é destinada.
Figura 4.1 Composição da estrutura.

4.1.2 Classificação Quanto à Estaticidade


Quanto à natureza estática, as estruturas são classificadas em:
▶ Isostáticas: solucionáveis com o uso exclusivo das
equações fundamentais da estática.
▶ Hiperestáticas: além das equações da estática, usa os
teoremas da teoria da elasticidade.
Na isostática, admite-se que as deformações são pequenas para
serem consideradas. Já na hiperestática, não é possível desprezar
as deformações elásticas.

4.1.3 Classificação Quanto à Posição no Espaço


▶ Planas: são consideradas planas as estruturas passíveis
de uma resolução por decomposição em uma superfície
bidimensional, superpondo-se, posteriormente, os efeitos
em cada plano.
▶ Espaciais: são as estruturas que não podem ser
decompostas em estruturas planas para serem resolvidas.

4.1.4 Classificação Quanto à Forma


▶ Placas: são estruturas planas tridimensionais, estando
incluídas nesta classificação as lajes de edifícios.
▶ Pórticos: são estruturas de eixo poligonal, formadas por
barras rigidamente ligadas, apresentando dois ou mais
apoios. Fazem parte desse grupo as estruturas em quadro
e as vigas contínuas.
▶ Pilares: são estruturas constituídas por uma única barra
vertical, sujeita, principalmente, ao esforço de compressão
axial ou flexo-compressão.
▶ Escoras: são pilares inclinados com a horizontal em um
ângulo maior que 45º e que devem ser calculados
obrigatoriamente pelo método da flexão composta.
▶ Tirantes: são peças estruturais sujeitas apenas à tração.
▶ Treliças: são estruturas reticuladas em que os esforços
são distribuí-dos nos eixos das barras, podendo ser de
tração ou compressão, conforme a posição da barra no
reticulado.
▶ Vigas: são peças retas que descansam sobre apoios e se
acham submetidas às forças cujas direções não coincidem
com o eixo da peça, mas lhe são perpendiculares ou
inclinadas. Sendo um corpo tridimensional, a viga possui
três eixos. Dois (eixos xx e yy) na seção transversal, e um
(eixo zz) contido no plano que passa pelo centro de
gravidade da viga e se estende pelo seu comprimento.

Figura 4.2 Eixos de viga.

4.2 PROJETO DE ESTRUTURA


Um projeto estrutural compreende basicamente três etapas, a
saber: cálculo, dimensionamento e detalhamento dos elementos
estruturais.
4.2.1 Cálculo
Permite a obtenção dos valores que dão condições para que se
desenvolva o dimensionamento dos componentes da estrutura. O
cálculo tem como objetivo quantificar as cargas atuantes, as
reações de apoio e os esforços solicitantes que se desenvolvem
internamente na estrutura quando esta recebe um carregamento.
Esse carregamento deve ser adequado ao previsto no uso da
edificação em função da sua destinação.

4.2.2 Dimensionamento
O dimensionamento tem por finalidade, com base na tensão
admissível específica de cada material, fixar as medidas das
seções em função da carga a ser aplicada e da disponibilidade de
resistência oferecida pelo material. O dimensionamento é
realizado de modo a resistir ao esforço a que está submetida a
estrutura na pior situação de carga. O que se busca é dar à
estrutura um equilíbrio estável, dentro dos critérios de segurança e
economia.

4.2.3 Detalhamento
Mostra, por meio da linguagem gráfica, como deverá ser
executada cada peça da estrutura para o atendimento das
imposições do dimensionamento, bem como os detalhes das
ligações que mantêm a disposição estável e a transferência dos
esforços entre elementos, de forma a representar a estrutura como
um todo.
O detalhamento deve ser claro e suficiente para que o operário
não tenha dúvidas na ocasião da execução. Deve, ainda,
obedecer às regras de desenho projetivo, de modo que seja
colocada em cada plano de projeção a representação da estrutura
vista em suas três dimensões no espaço. Algumas informações
adicionais sobre o detalhamento estão apresentadas no Apêndice
B.
Genericamente, chamamos de cálculo estrutural o cálculo e o
dimensionamento dos elementos estruturais, assim como, quando
nos referimos ao dimensionamento, obrigatoriamente estamos
partindo do pressuposto de que nele estão incluídos os cálculos
que permitem o dimensionamento.
Entende-se como projeto estrutural o conjunto de informações
obtidas por meio dos cálculos e dimensionamento, representadas
graficamente de modo a permitir a execução da obra.
A estrutura, ou seja, a disposição e ordenação dos elementos
resistentes que compõem a sustentação do edifício, pode ser vista
na Figura 4.3.
Figura 4.3 Partes componentes da estrutura.

Os demais elementos, como escada e caixa d’água, são


elementos secundários, que não fazem parte diretamente da
sustentação do edifício.
Para que um corpo sujeito à ação de forças exteriores atuando
sobre ele se mantenha em equilíbrio estático, é necessária a
introdução de outro sistema que seja equivalente ao primeiro, mas
de sinal contrário, tornando nulas as resultantes das ações de
translação e de rotação do corpo.

4.3 A ENGENHARIA DO EQUILÍBRIO


Todo corpo submetido à ação de esforços externos se deforma,
pois não há um material que seja perfeitamente rígido.
Suponhamos uma prancha de madeira apoiada nas
extremidades sobre cavaletes. Imaginemos um homem
posicionado em cima da prancha, conforme mostra a Figura 4.4a.
Se a prancha tiver resistência suficiente para suportar o peso do
homem, e os cavaletes tiverem resistência para aguentar o peso
da prancha com o homem, o sistema estará em equilíbrio estático,
mantendo-se, portanto, em repouso.

Figura 4.4 Sistema em equilíbrio estático.

Se for mudada a posição da prancha, colocando-a de cutelo,


por exemplo, fica mais difícil para o homem se equilibrar, mas o
sistema estático continua em equilíbrio com relação à resistência
estrutural, embora se torne instável lateralmente. Lembre-se de
que na física dizemos que um corpo está em equilíbrio instável
quando, ao deslocarmos de sua posição de repouso, ele não
retorna à sua posição inicial (Figura 4.4b).
Contudo, notamos uma diferença do efeito da carga em uma e
em outra posição da prancha. Na posição deitada, a prancha se
encurva e forma uma “barriga”. Na outra posição, não se nota a
curvatura, embora ela não deixe de existir, mas acontece de modo
impercebível. Conclui-se daí que deve existir outro tipo de
equilíbrio, além do equilíbrio estático. A esse novo tipo de
equilíbrio é que chamamos de equilíbrio elástico.
Isso significa que a posição em que a prancha é colocada
interfere no comportamento interior do material da peça. Em um
sistema de forças no plano, devemos obedecer duas equações,
denominadas equações universais da estática, que nos permitem
determinar as forças equilibrantes. São elas:
1) ΣF = 0, o somatório das forças atuantes e das forças
resistentes deve ser nulo.
2) ΣM = 0, o somatório dos momentos atuantes e resistentes
deve ser nulo.
Mas, para que uma estrutura cumpra sua finalidade de suportar
cargas, não é suficiente que se mantenha um equilíbrio estático; é
necessário, também, que se mantenha dentro de certos limites de
deformação, ou seja, obedeça a um equilíbrio elástico.

4.3.1 Esforços Solicitantes


Todo corpo quando submetido à ação de um esforço externo gera
forças internas que buscam dar ao corpo uma nova condição de
equilíbrio. Essas solicitações internas provocadas pelo
carregamento que é aplicado no corpo recebem a denominação
esforços solicitantes.

4.3.2 Esforços Normais


São assim chamados os esforços aplicados no eixo da peça ou
paralelo a ele, com ponto de aplicação geralmente no topo da
peça. O esforço normal pode ser de compressão ou de tração.
▶ Esforço de compressão: que tende a encurtar a peça.
▶ Esforço de tração: que tende a alongar a peça.

4.3.3 Momento Fletor


O esforço de flexão é aquele que tende a modificar a forma
primitiva do eixo longitudinal da peça, flexionando-a.
Há uma experiência clássica que nos permite avaliar o que
ocorre no interior de uma peça sujeita a forças externas, capazes
de alterar sua condição de repouso.
A experiência é a seguinte: em uma viga de madeira apoiada
nas extremidades são feitos dois entalhes, sendo um na face
superior e outro, na inferior. Os entalhes são preenchidos com
material plástico, que se deforma sem se romper e não adere na
madeira. Quando forças exteriores P1 e P2 são aplicadas, a viga
se flexiona, apresentando um encurvamento, como pode ser visto
na Figura 4.5.

Figura 4.5 Efeito da flexão na viga.

O enchimento do entalhe da face superior é espremido em seu


alojamento, e o enchimento da face inferior tende a se soltar.
O ensaio nos indica que as fibras da parte superior da viga se
encurtaram, isto é, sofreram uma compressão, enquanto as fibras
da parte inferior se alongaram, ou seja, foram tracionadas.
Assim sendo, as forças exteriores geraram um momento fletor,
que criou no interior da viga tensões de tração e de compressão.

4.3.4 Esforço Cortante


Esforço de cisalhamento é aquele que tende a fazer escorregar
duas partes infinitamente próximas, uma em relação à outra.
Teoricamente, há cisalhamento quando duas forças de sentido
contrário são aplicadas imediatamente de um lado e do outro de
uma seção transversal perpendicular ao eixo da peça. O
fenômeno ocorre nas proximidades dos apoios, nos quais o peso
da viga faz com que a seção junto à face do apoio tenda a
deslizar, como se uma lâmina fizesse um corte na viga,
separando-a do seu vínculo com o restante da estrutura. A Figura
4.6 representa o fenômeno do cisalhamento em uma viga.

Figura 4.6 Cisalhamento de viga.

4.3.5 Momento Rotacional


O esforço de torção é um esforço rotacional que faz girar cada
parte da viga em torno do seu eixo longitudinal.

4.4 AÇÃO E REAÇÃO


O primeiro problema com o qual o engenheiro calculista se depara
no cálculo de uma viga é a determinação das reações de apoio. As
reações de apoio são forças que resultam de vínculos de um
corpo, no caso uma viga, com os corpos vizinhos, que lhe dão
sustentação como elemento de uma estrutura.

Figura 4.7 Reações de apoio.

Conhecidas as cargas atuantes, incluindo o peso próprio,


torna-se necessário decidir como sustentar essa carga e distribuí-
la nos apoios. É como se tivéssemos uma prateleira presa numa
parede, e sobre a qual serão colocados objetos com determinados
pesos.
Torna-se claro e evidente que, se os pesos dos objetos
colocados na prateleira forem maiores que o imaginado, ela pode
se desprender da parede em que foi fixada, e tudo vai para o
chão. Para que isso não aconteça, ou retiramos alguns objetos
para diminuir o peso, ou aumentamos a bitola dos parafusos. Isso
significa tornar os vínculos externos mais consolidados, com
melhor capacidade de suportar a transferência de esforços.

4.4.1 Vínculos Externos


Recebe a denominação vínculo a união entre barras da estrutura,
ou então entre a estrutura e o meio exterior. Essa união se faz
com nós ou aparelhos de apoio.
▶ Nós: são dispositivos de união entre as barras de uma
estrutura.
▶ Aparelhos de apoio: dispositivos de união da estrutura
com o exterior. Podem ser de três tipos:
♦ Apoio móvel: transmitem um único esforço, que é
uma força oposta ao deslocamento impedido.
♦ Apoio fixo: são articulações que transmitem dois
esforços, impedindo a translação em um plano.
♦ Apoio engastado: impede os movimentos de
translação e rotação em um plano.

4.4.2 Gêneros de Apoio


Para a determinação das reações de apoio é preciso, inicialmente,
identificar o tipo de apoio. Nos sistemas planos, podemos
distinguir três classes de apoios, chamados de gêneros.
Na Figura 4.8a, é apresentado um apoio de 1o gênero, também
chamado de apoio livre. Apresenta apenas um grau de
impedimento, que é a restrição ao movimento vertical. Neste caso,
só se produz uma reação de apoio, que é uma força oposta ao
deslocamento impedido.
A Figura 4.8b, mostra um apoio de 2o gênero com um grau de
liberdade, que é a rotação em torno do ponto de vínculo com o
apoio, havendo duas reações, uma na horizontal e outra na
vertical.
Finalmente, na Figura 4.8c, podemos ver um apoio de 3o
gênero, no qual não há liberdade, nem de translação nem de
rotação. Trata-se de um engastamento em que ocorre uma rígida
fixação da viga no maciço onde se apoia.

Figura 4.8 Vínculos externos.

Dependendo da carga e das reações de apoio, que são as


forças externas aplicadas na viga, haverá no interior desse
elemento estrutural o desenvolvimento de forças que compensem
tais solicitações.
A Figura 4.9 nos mostra os esforços internos que se
desenvolvem em uma viga com determinado carregamento e
apoiada nos dois extremos.

Figura 4.9 Solicitações internas.

4.4.3 Condições de Apoio


Os apoios das vigas sujeitas aos esforços de flexão terão suas
condições de vínculos com os demais elementos da estrutura
determinadas em suas reações de apoio. Para que haja um
dimensionamento adequado de vigas sujeitas à flexão, é
necessário levar em consideração as condições de apoio.
Na Figura 4.10, são apresentadas as condições de apoio, nas
quais uma viga pode se encontrar.
Figura 4.10 Condições de apoio da viga.

4.4.4 Grau de Hiperestaticidade


Pela lei da gravidade, todo corpo que tem massa, tem peso e só
se mantém estável em situação de equilíbrio se for sustentado por
um sistema de apoio que permita mantê-lo em sua posição. Para
tanto, a estática nos fornece três equações. São elas:
1) ΣV = 0 a soma algébrica das forças verticais de ação e
reação deve ser nula.
2) ΣH = 0 a mesma coisa deve ocorrer com as forças
horizontais.
3) ΣM = 0 o somatório dos momentos aplicados na viga deve
ser igual a zero.
Sendo “n” o número de reações de apoio de uma estrutura, e
sendo três as equações da estática, o número de incógnitas
hiperestáticas é dado por n – 3.

Figura 4.11 Viga isostática.

Figura 4.12 Viga com um grau de hiperestaticidade.

Figura 4.13 Viga com dois graus de hiperestaticidade.


Figura 4.14 Viga com três graus de hiperestaticidade.
CAPÍTULO 5
EFEITOS DAS CARGAS NO
MECANISMO DO EQUILÍBRIO

Foi durante a Renascença que Leonardo da Vinci propôs a tese


fundamental da engenharia: primeiro é preciso conhecer a teoria e
depois a prática.
Com a divulgação das leis fundamentais da estática,
formuladas por Galileu e Newton, nascia a ciência da mecânica,
mas muito tempo se passou e muita história aconteceu para que
se chegasse aos notáveis progressos que possibilitaram a
execução de grandes obras de engenharia.

5.1 A RECEITA QUE A HISTÓRIA ENSINA


Toda receita, para que possa trazer bons resultados, deve estar
fundamentada em algum princípio que justifique o que deve ser
feito.
Houve época em que era quase consenso geral a ideia de que,
ao engenheiro, era suficiente o conhecimento prático, sem a
necessidade de uma formação teórica voltada para os
fundamentos científicos que devem conduzir os trabalhos da
engenharia. A história nos mostra que isso mudou, e essa
mudança não foi sem um fundamento.
Durante a Idade Média, obras de grande beleza e extrema
sensibilidade para os problemas de engenharia foram realizadas
graças ao sentimento prático e gosto artístico dos mestres
medievais, que se dedicaram à construção de templos e castelos.
Somente a partir de 1870 é que a aplicação do concreto
armado se desenvolveu, graças a uma sociedade fundada na
Alemanha, que, adquirindo de Mounier os direitos para
construções de concreto armado, deu-lhe grande incremento.
Começaram então os estudos e investigações do novo material,
que logo passou do campo empírico para o científico.

5.2 HIPÓTESE DE BERNOULLI


Estudando o comportamento de uma viga reta, ou seja, uma barra
prismática de eixo plano, Bernoulli interessou-se, não somente
pelas tensões produzidas por cargas que atuavam na viga, mas
também pela deformação produzida por essas cargas. Tornou-se,
assim, um dos primeiros investigadores das curvas elásticas.
Para realizar os estudos matemáticos e levantar a
indeterminação que o problema apresentava com o uso apenas
das equações da estática, Jacques Bernoulli se valeu de uma
hipótese que se tornou célebre e que passou a ser o ponto inicial
da teoria da flexão dos prismas.

HIPÓTESE DE BERNOULLI

DURANTE A DEFORMAÇÃO DE UMA PEÇA,


AS SEÇÕES TRANSVERSAIS PERMANECEM
PLANAS

No transcorrer da deformação e no seu final, a seção


transversal de uma peça conserva-se idêntica à seção primitiva e
normal ao eixo deformado da peça.
5.3 CONCEITOS CLÁSSICOS
Na mecânica racional, para facilidade de estudo, considera-se a
hipótese da rigidez absoluta, na qual os corpos são considerados
indeformáveis. Nesse caso, as equações universais da estática,
que nos permitem determinar as forças equilibrantes, são ΣV = 0;
ΣH = 0 e ΣM = 0, que significam que um corpo permanecerá em
equilíbrio estático quando os somatórios das forças verticais e
horizontais, e dos momentos nele atuantes, resultarem nulos.

5.3.1 A Mecânica dos Sólidos


Como na natureza todos os corpos são suscetíveis de sofrerem
pequenas deformações sem se destruírem, quando se trata do
estudo da mecânica dos sólidos as deformações sofridas pelos
corpos quando forças externas agem sobre eles devem ser
levadas em consideração.
A resistência dos materiais, sendo um ramo da mecânica dos
sólidos, leva em conta essas deformações, com a finalidade de
determinar o grau de segurança que apresenta um determinado
material de não sofrer colapso em sua estrutura interna, quando
estiver sujeito a forças externas conhecidas.

5.3.2 O Ponto Material


O ponto não tem definição, sendo apenas uma intuição intelectual
que exprime a ausência de extensão. Portanto, o ponto
geométrico é apenas uma idealização, uma marca deixada no
papel pela ponta do grafite de um lápis.
O ponto material difere do ponto geométrico, porque o ponto
material possui as características da existência. É o elemento
infinitamente pequeno de um corpo, com todas as suas
propriedades. Assim, um corpo seria um conjunto de pontos
materiais ligados entre si, formando um sistema. Quando as
ligações mútuas do conjunto de pontos materiais que formam o
sistema guardam entre si a mesma posição relativa, o sistema é
dito invariável.
No sistema invariável, as ações mútuas dos pontos entre si,
ações e reações, iguais e contrárias, se equilibram duas a duas e
o sistema permanece estável. Um corpo constituído por um
sistema de pontos materiais invariavelmente ligados uns aos
outros, após a deformação provocada pela aplicação de forças
externas, é assimilável a um sólido indeformável.

5.4 TENSÕES ELÁSTICAS NA FLEXÃO


Para estabelecer as equações que permitem avaliar os esforços
aos quais uma peça pode resistir, torna-se necessário adotar
certas hipóteses que permitem determinar, sem dificuldade, o
equilíbrio estático da estrutura. A primeira delas é a hipótese de
Bernoulli, que se refere à permanência da seção plana durante a
deformação. As demais hipóteses são:
▶ Princípio da rigidez: em uma mesma seção qualquer, a
deformação da parte imediatamente à esquerda é igual à
deformação da parte imediatamente à direita.
▶ Hipótese da continuidade da matéria: a matéria é
considerada contínua, o que evidentemente não ocorre,
razão pela qual se justifica o uso de coeficientes de
segurança.
▶ Isotropia transversal: os materiais são considerados
isótropos, isto é, a sua estrutura molecular é suposta
idêntica em dois pontos simétricos em relação a um plano
qualquer passando pelo eixo da peça.
Para o estudo das deformações, é considerada a hipótese de
que o material é formado por fibras longitudinais, que se
comportam independentemente umas das outras. As fibras
longitudinais da barra não têm o mesmo comportamento em toda
a seção.

5.4.1 Linha Neutra


Vamos imaginar uma barra prismática de material que atende as
hipóteses formuladas (Figura 5.1a). Essa barra deverá funcionar
como uma viga simplesmente apoiada em suas extremidades.
Marcamos no centro dela uma linha vertical a-b. Paralela à linha a-
b, e a uma distância mínima L, marcamos outra linha a1-b1(Figura
5.1b).
O que caracteriza a flexão é que, ao ser aplicado um esforço
gerador de um momento fletor, a seção a1-b1, primitivamente
paralela à seção fixa a-b, torna-se oblíqua, tomando a posição a2-
b2, enquanto a distância L entre os centros de gravidade g e g1,
respectivamente, de a-b e a1-b1, permanece a mesma (Figura
5.1c).

Figura 5.1 Viga fletida.

Podemos dizer que a seção a1-b1 girou em torno de um eixo


projetado em g1, situado no plano do eixo da viga e passando pelo
seu centro de gravidade.
As fibras longitudinais do lado côncavo sofrem uma contração,
enquanto as do lado convexo se distendem. A Figura 5.2 completa
a ideia do que ocorre na viga fletida.

Figura 5.2 Giro da seção em torno da linha neutra.

5.4.2 Posição da Linha Neutra


Conforme a hipótese de Bernoulli, uma seção plana de uma peça,
quando se deforma por efeito da flexão, gira em torno de uma
linha e conserva-se plana depois da deformação. Essa linha é
uma linha de eixo deformada pela flexão.
Com base na hipótese de Bernoulli, da conservação das
seções planas, e acompanhando o que nos mostra a Figura 5.2,
podemos concluir que:
▶ na viga sujeita à flexão, as fibras inferiores tendem a se
alongar, pois estão recebendo um esforço de tração que
vai crescendo desde a linha neutra até a face inferior da
viga, na qual é máxima;
▶ na parte superior da mesma viga, as fibras tendem a se
encurtar, uma vez que o esforço passa a ser de
compressão, acontecendo o mesmo crescimento de
intensidade, tal como aconteceu com as fibras inferiores,
só que, em vez de alongamento, se dá o encurtamento;
▶ na região central da viga, a variação de comprimento das
fibras é muito pequena, havendo uma linha na qual o
esforço é neutro. Significa que não há tração ou
compressão.
Em uma viga de material homogêneo, essa linha, chamada de
linha neutra, passa pelo centro de gravidade da seção.
Como estamos considerando que o material é homogêneo,
supõe-se que a elasticidade à tração é a mesma que a da
compressão. As fibras alongadas têm sua correspondente
encurtada. Assim sendo, fica formado um conjugado e a resultante
geral das tensões elásticas é nula.

5.5 TENSÕES MÁXIMAS


Para obtenção do valor das tensões, a resistência dos materiais
nos fornece a seguinte equação:

σ = (Mfle/Jxx) · yo

Ou seja, o Mfle (momento de flexão) dividido pelo Jxx (momento


de inércia) da seção da viga nos fornece uma tensão que é nula
na linha neutra e cresce com sinal positivo ou negativo, à medida
que o valor de yo vai se afastando até atingir o máximo na face da
viga, sendo yo = distância da fibra até a linha neutra (LN).
Qualquer que seja a seção transversal de uma viga, essa
seção tem um centro de gravidade (CG). Por este centro de
gravidade passa a linha neutra, que define o momento de inércia
da seção.

Figura 5.3 Seção da viga na flexão.


O valor máximo da tensão será dado para a fibra mais extrema.

5.6 MOMENTO DE INÉRCIA


O conceito do que vem a ser o momento de inércia é muito
importante e no seu entendimento reside o segredo do estudo da
resistência dos materiais.
Todo corpo tridimensional possui massa e, por isso, tem peso,
como já vimos. Mas todo corpo também apresenta uma inércia,
isto é, uma tendência a continuar como se encontra.
Conceitualmente, a massa inercial difere da massa gravitacional. A
massa gravitacional expressa a propriedade que um corpo tem de
atrair outros. Já a massa inercial, exprime a resistência que um
corpo oferece a qualquer alteração de seu estado.
Como estabeleceu Newton, massa de um corpo é a
capacidade de resistir ao efeito das forças. Significa que, quanto
maior é a massa de um corpo, maior é a oposição às forças sobre
ele aplicadas.
Uma esfera com diâmetro maior que outra do mesmo material
necessita de uma força maior para vencer a inércia, do que aquela
que seria necessária para deslocar a esfera menor.

Figura 5.4 Momento de inércia do par de esferas.


Figura 5.5 Momento de inércia das esferas.
CAPÍTULO 6
RECEITAS PARA DETERMINAR OS
ESFORÇOS NA ESTRUTURA

6.1 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL


Em uma viga apoiada em cabeceiras suficientemente fortes,
capazes de reagir aos esforços provocados por uma carga
colocada sobre essa viga, quando posta em serviço, duas coisas
podem acontecer:
1) A carga está dentro do limite de capacidade de suporte da
viga. Nesse caso, o sistema se mantém em equilíbrio.
2) A viga é carregada acima de sua capacidade de suporte,
caso em que pode haver o colapso da viga.
Isso ocorre porque o estado-limite último foi atingido. Em outras
palavras, os esforços solicitantes foram maiores do que as tensões
admissíveis. A viga não suporta tamanho sacrifício e se rompe.
Para que isso não ocorra, basta saber quanto o material resiste e
não colocar nele carga de maior peso. Mas, se os esforços
solicitantes não forem conhecidos, como saber se eles estão
dentro de limites adequados para as tensões admissíveis no
material da viga? É isso que vamos tentar desvendar.
Figura 6.1 Solicitações no interior da viga.

6.2 TENSÕES NAS VIGAS CARREGADAS


Até aqui tratamos do equilíbrio das forças externas, de ação e
reação. Trataremos agora das solicitações internas e iremos
analisar o comportamento da estrutura em face das solicitações a
que estará sujeita.
Para que o leitor não esqueça o que iremos tratar, existe uma
trovinha interessante de lembrar.

PRESTE ATENÇÃO NESTE MOMENTO E


APRENDA ESTA LIÇÃO,
É NO CÁCULO DO MOMENTO QUE SE
ENCONTRA A SOLUÇÃO.

Já sabemos que um corpo estará em equilíbrio estático se as


forças aplicadas sobre ele forem rigorosamente determinadas e
colocadas nas suas respectivas posições, de modo que a soma
das forças que atuam sobre ele e as reações de apoio, que são as
forças de ligação do corpo com o que lhe serve de sustentação,
tiverem uma resultante nula.
Vamos iniciar analisando o que acontece na viga simplesmente
apoiada em suas extremidades, quando é carregada com uma
caixa significativamente pesada, posicionada no centro do vão.
Sendo:
+P = a carga atuante sobre a viga, ou seja, o peso da caixa
concentrado em um ponto
–RA e –RB = as reações de apoio
A viga se manterá estática em sua posição se o somatório das
forças (+P – RA – RB) resultar em zero.
Logo:

+P = + RA + RB.

Se a carga for colocada no centro da viga, as reações de apoio


serão iguais:

RA = RB

e terão como intensidade a metade da carga:

RA = RB = P/2,

como é mostrado na Figura 6.2.


Figura 6.2 Representação das reações de apoio.

Dessa forma, fica obedecida a imposição de ação e reação das


cargas se compensarem, ou seja, a soma algébrica de todas as
forças externas ao corpo ser nula.
Resta, ainda, a imposição da nulidade do somatório dos
momentos. Para este estudo, vamos lançar mão de um princípio
resultante das observações experimentais, que demonstram que,
quando várias forças agem sobre um sistema, podem-se calcular
os efeitos produzidos por cada uma delas e superpor os efeitos
globais. Não se ultrapassando determinado limite, todo o esforço
que se juntar a outro já existente depende exclusivamente das
novas forças que se superpõem ao sistema anterior. Isso significa
que podemos seccionar a viga para saber como se comporta seu
interior e depois recompô-la, superpondo os efeitos. O resultado
será o de que, conhecendo o que se passa no interior da viga,
podemos dimensioná-la para suportar as tensões a que será
submetida. Identificados os esforços necessários para o equilíbrio
interno da viga, basta fazer a superposição desses esforços e
teremos conhecido o valor do momento na seção considerada.
Supondo-se seccionada a parte central da viga, haverá
necessidade de algo ou alguém para segurar a parte que estava
segura pelo restante da viga.
Vamos analisar o que acontece. A pessoa, para manter na
posição a parte da viga que permaneceu no lugar, terá que
despender o equivalente à mesma tensão suportada pela parte
retirada.
A tendência da viga é rotacionar no ponto A, o que deve ser
impedido por quem substituiu a outra metade da viga. Usando a
imaginação, é como se a pessoa tivesse se transformado num
corpo rígido, com um sensor capaz de sentir a tensão que deverá
ser despendida para segurar a metade da viga.
A viga foi seccionada na parte central, mas poderia ter sido
cortada em qualquer outra posição de sua extensão. Se a viga
estava nas condições de equilíbrio estático, então o momento na
seção considerada é igual à soma algébrica dos momentos
referentes a todas as forças aplicadas à esquerda da referida
seção, incluindo a reação de apoio. Assim sendo, torna-se
possível determinar o momento em cada seção de viga e traçar
um gráfico.
Para que haja uma coerência nos cálculos, torna-se necessária
uma padronização.

6.3 CONVENÇÃO DE SINAIS E MONTAGEM


DOS GRÁFICOS
Para que se possa entender o que ocorre no interior da viga,
torna-se imperioso traçar diagramas que forneçam, como que
fotografias, os valores dos esforços solicitantes ao longo de toda a
sua extensão.

6.3.1 Sinais dos Esforços


As linhas obtidas nos gráficos dos momentos fletores e das forças
cortantes são denominadas linhas de estado, e, para seu traçado,
deve ser obedecida uma convenção de sinais.
O momento fletor é considerado positivo (+) quando tende a
flexionar a viga com a concavidade para cima, e negativo (–)
quando a concavidade é para baixo.
A força cortante é positiva (+) quando tende a deslocar para
baixo a parte que se situa à direita da seção, e negativa (–), caso
contrário.
Figura 6.3 Convenção de sinais.

Quem se depara pela primeira vez com esta convenção de


sinais tem logo uma dúvida: em que casos o momento fletor é
positivo ou negativo?
Para uma fácil e rápida resposta, podemos dizer que, entre os
apoios, encontramos os momentos positivos, enquanto nos apoios
o momento é negativo. Nos casos em que a viga está
simplesmente apoiada (apoio de 1o gênero), não existe momento
no apoio.
A mesma simplificação se dá com o esforço cortante. Em
princípio, à direita de cada apoio o cortante é positivo, enquanto à
esquerda do apoio, o cortante é negativo.
Essas simplificações são usadas só para início de conversa.
Cada caso deve ser cuidadosamente analisado.
Vamos analisar, primeiramente, o caso de uma carga
concentrada no meio do vão da viga. Para facilidade de
compreensão, desprezaremos o peso próprio da viga.
6.3.2 Diagrama de Momento Fletor (DMF)

Figura 6.4 Seções da viga.

O diagrama de esforço cortante será representado como a


seguir.
6.3.3 Diagrama de Força Cortante (DFC)

Figura 6.5 Carga no meio do vão.

Os diagramas DMF e DFC para o caso de uma carga


concentrada no meio do vão são relativamente simples. Vejamos
agora o caso de uma viga biapoiada, com uma carga
uniformemente distribuída ao longo de sua extensão.
O momento de flexão, ou momento fletor numa seção qualquer
de uma viga, é a soma algébrica dos momentos de todas as forças
exteriores, ou seja, as cargas e as reações de apoio, situadas à
esquerda da seção referente ao ponto em que o eixo da viga
atravessa a referida seção. O cálculo poderá ser feito dentro do
mesmo princípio para as cargas à direita da seção. Em ambos os
casos, o resultado apurado deve ser o mesmo.
Figura 6.6 Reações de apoio para carga distribuída.

Reação de apoio:

Distância até a seção:

Carregamento à esquerda da seção:

Distância do ponto médio da carga até a seção SS:

Momento na seção SS:

Substituindo, temos:
Resolvendo a equação, resulta em:

que é a equação que nos fornece o valor do momento fletor


máximo da viga biapoiada, com carga uniformemente distribuída.
O diagrama de momento fletor e o diagrama de força cortante têm
a seguinte característica:

Figura 6.7 Diagramas de esforços.

Podemos observar que, à medida que o momento cresce, o


cortante decresce, até chegar no ponto em que o momento é o
máximo e o cortante é nulo.

6.3.4 Traçado dos Diagramas


Para o desenho do diagrama de momentos fletores usamos um
sistema cartesiano, no qual são marcados no eixo Y os pontos
com o valor do momento na seção correspondente, indicada no
eixo X, que representa o afastamento do apoio à esquerda.
Figura 6.8 Diagrama de momento fletor.

A equação dos momentos corresponde a uma curva, que, no


caso de uma carga uniformemente distribuída sobre toda a
extensão da viga, sai de zero no apoio, passa por um valor
máximo no centro do vão e retorna a zero no outro apoio.

Figura 6.9 Diagrama de força cortante.

A equação da força cortante é linear e representa a reta que


liga os extremos das reações de apoio. Como já dissemos, no
ponto em que o momento é máximo, o esforço cortante é nulo.
6.4 VIGAS ISOSTÁTICAS COM VÁRIAS
SITUAÇÕES DE CARGA
Qualquer que seja a situação da carga, nas vigas isostáticas,
teoricamente, não teremos momentos nos apoios; o momento
máximo estará situado no vão entre os apoios e sua posição
depende da disposição e distribuição da carga na viga.

6.4.1 Determinação das Reações de Apoio


Em uma viga biapoiada, o momento no apoio é nulo, então,
tomando-se o momento em A igual a zero, teremos a situação
indicada na Figura 6.10:

Figura 6.10 Viga biapoiada.

6.4.2 Cálculo do Momento Fletor


Conhecida a reação de apoio, podemos escolher a seção na qual
desejamos saber o momento fletor, considerando todas as forças
à esquerda ou à direita da seção.
Na Figura 6.11, está representada a situação de uma viga
recebendo uma carga e o que acontece em seu interior. O
momento fletor provoca esforços normais de compressão e tração
nas fibras e se faz acompanhar do esforço cortante.
Portanto, para o dimensionamento de uma viga, torna-se
necessário determinar os valores do momento fletor e do esforço
cortante na seção considerada. O cálculo é feito separadamente
para a flexão e para o cortante. Em seguida, é feita a
superposição dos dois esforços. Neste caso, não se trata de uma
soma algébrica de efeitos, mas de uma combinação que busca um
equilíbrio elástico.
O exemplo clássico de flexão simples, com cortante nulo, é
apresentado a seguir. Na Figura 6.11 aparece uma vagoneta,
exatamente para lembrar a grande colaboração da via férrea no
desenvolvimento das estruturas de concreto.

Figura 6.11 Momento fletor no eixo.


No trecho do eixo entre as cargas P-P, o esforço cortante é
nulo, enquanto o momento fletor permanece constante e igual a P
× a, conforme demonstrado na Figura 6.12.

Figura 6.12 Momentos fletores nas seções da viga.

Figura 6.13 Gráficos dos momentos fletores e esforço cortante.


Figura 6.14 Tabela para cálculo de momentos e reações de
apoio.
CAPÍTULO 7
RECEITAS DE VIGAS FLETIDAS
CONTÍNUAS

7.1 CARACTERÍSTICAS DAS VIGAS COM


CONTINUIDADE
Para encontrar algo que estamos procurando, é necessário, em
primeiro lugar, estabelecer o que queremos encontrar.

Figura 7.1 Erro de cálculo ou de execução?


Provavelmente, o erro deve-se ao fato de ele não ter o
conhecimento necessário de como calcular a viga que apresenta
continuidade. Nos apoios de vigas contínuas, as fibras tracionadas
estão na parte superior da peça. Se a ferragem tivesse sido
colocada no local adequado, a marquise não teria tombado.
Portanto, se nosso objetivo é o cálculo de uma viga, é preciso,
inicialmente, classificá-la estruturalmente para saber quais
esforços ela deverá absorver internamente.
Para o dimensionamento, precisamos saber se a viga está
simplesmente apoiada ou engastada, e, neste caso, qual o grau
de engastamento.
Numa viga isostática, a determinação das reações de apoio é
feita considerando que o momento nos apoios é nulo. Assim
sendo, fazendo igual a zero o momento no apoio B, poderemos
encontrar o valor da reação no apoio A.
Quando uma viga tem continuidade, ou seja, que se estende
depois do apoio, continua valendo a regra do somatório dos
momentos, com a diferença que, no apoio em que se dá a
continuidade, o momento deixa de ser nulo. Ficando apenas o
apoio livre como o ponto no qual não existe momento, colocamos
aí a seção de referência (seção S), à esquerda da qual se fará o
somatório dos momentos. A reação de apoio do extremo oposto da
viga deverá ser tal que o momento em relação à seção S equilibre
o sistema.
Figura 7.2 Determinação das reações de apoio.

O caso mais elementar de continuidade de uma viga é quando


uma das extremidades apresenta um prolongamento após o apoio,
ou seja, quando existe um balanço.

7.2 VIGAS BIAPOIADAS COM BALANÇO


Já sabemos que em uma viga biapoiada, sujeita à flexão, o risco
de colapso ocorre na parte central da viga. Quando se trata de
viga com continuidade, que se prolonga além dos dois apoios,
surge outra posição crítica com possibilidade de colapso, que é
sobre o apoio em que ocorre a continuidade.
O momento de flexão, ou momento fletor, de uma seção
qualquer de uma viga é a soma algébrica dos momentos de todas
as forças exteriores (cargas e reações de apoio), situados de um
lado da seção referente ao ponto em que o eixo da viga atravessa
a referida seção. Inclui, também, as forças atuantes no balanço.
Figura 7.3 Somatória dos momentos das forças exteriores.

Fazendo x = 0, isto é, passando a seção no apoio A, as forças


que ficam à esquerda da seção são as colocadas no balanço.
Logo:
Figura 7.4 Viga em balanço.

Podemos concluir que o balanço em uma das extremidades de


uma viga biapoiada pode ser calculado como se fosse engastado
na extremidade da viga sobre o apoio. Dessa forma, para
determinação das solicitações, podemos considerar o balanço
como se fosse separado da viga. Isso significa dizer que devemos
calcular como engastado e, em seguida, fazer a superposição com
os esforços da viga.
Na mecânica racional, na qual os corpos são considerados
rígidos, há um efeito de gangorra, que tende a aliviar a reação no
apoio oposto ao balanço. Na prática, isso se reflete tão pouco no
cálculo, que, em pequenas obras, passa a ser desprezível.

7.3 CONDIÇÕES DE ENGASTAMENTO


Em ourivesaria, engaste é o nome dado à parte de uma joia, na
qual está presa a pedra preciosa.
Na engenharia, engastamento é a condição de fixação de uma
peça em outra, de dimensões significativamente maiores, que, por
sua grande rigidez, impede todos os movimentos de translação ou
rotação da peça engastada.
Nas vigas de concreto armado, mesmo naquelas consideradas
teoricamente apoiadas, se origina uma união elástica, ou seja, há
um pequeno grau de engastamento, dificultando parcialmente sua
flexão livre no apoio.
Desde o tempo dos egípcios, era conhecido o fato de que a
pedra possui uma baixa resistência à flexão. Em face das
necessidades, os arquitetos egípcios criaram uma engenhosa
maneira de diminuir o efeito da flexão nas pedras usadas como
vigas. A solução era criar um falso engastamento, empilhando
outras pedras para fazer peso nas posições de apoio, obtendo,
assim, uma diminuição da flecha proveniente da flexão no centro
do vão.
Figura 7.5 Flexão no centro do vão da viga.

Para as vigas que apresentam continuidade sobre vários


apoios, com apenas as três equações da estática só podemos
obter resultados aproximados, fato que não nos permite um uso
generalizado.
A viga apoiada nas duas extremidades por apoios do 1o gênero
é uma viga isostática. Nos seus pontos de apoio, transmite apenas
um esforço. Esse esforço é vertical e se opõe ao deslocamento da
viga por ação da força da gravidade. No caso, são as reações de
apoio RA e RB.

Figura 7.6 Reações de apoio RA e RB.

O próprio peso de uma viga colocada sobre dois apoios faz a


sua linha de eixo formar um ângulo com a horizontal em virtude da
sua elasticidade e da possibilidade de girar em torno do apoio.
Quando a viga está embutida nas suas extremidades em peças
de dimensões bem maiores, teremos um apoio de 3o gênero, que
impede seu movimento vertical, horizontal e rotacional. Se este
encaixe é perfeito, então o ângulo da sua linha de eixo é nulo, e a
viga está engastada.

Figura 7.7 Viga engastada em dois pontos.

Foi, provavelmente, a necessidade de vencer rios mais largos


que obrigou o construtor a criar novas formas de apoio para
sustentação das vigas mais longas, de tal forma que não
houvesse necessidade de seções muito avantajadas.
Foi daí que surgiu a mão-francesa, barra inclinada formando
um triângulo, que propicia apoio intermediário para a viga,
permitindo aumentar sua extensão, e, dessa forma, ultrapassar
vãos maiores.
Figura 7.8 Viga contínua com engastamento nos apoios internos.

A viga deixou de ser biapoiada, pois assumiu uma condição de


continuidade. Em 1860, o engenheiro alemão Christian Otto Mohr
publicou um trabalho sobre vigas, do qual se depreende um
importante princípio: para as vigas que apresentam continuidade
sobre vários apoios, o sistema principal se forma anulando as
rotações nas ligações da viga com os apoios (chamados de nós),
e cada trecho funciona como engastado no nó.

Figura 7.9 Viga com engastamento no nó do apoio central.


7.4 ROTEIRO DE CÁLCULO PARA VIGAS
CONTÍNUAS
A sequência de cálculo para determinação dos esforços
solicitantes, que permitam o dimensionamento das vigas
contínuas, pode ser definida nos seguintes termos:
1) No caso de viga contínua, o primeiro passo é determinar
os momentos nos apoios.
2) A determinação dos momentos nos apoios pode ser feita
por processo aproximado, no caso das pequenas
construções, ou por um processo de maior exatidão, como
no método de Cross.
3) Conhecida a carga atuante e o vão entre os apoios, além
de já definido o número de apoios, calcula-se o momento
fletor sobre os apoios e o esforço cortante.
4) Também é necessário conhecer os vínculos de ligação
com os apoios extremos, que mantêm a viga estável em
sua posição no conjunto da estrutura.
5) Conhecidos os momentos nos apoios, bem como a força
cortante, determinamos os esforços nos vãos
considerados isolados.
6) É feita a compatibilização do esquema estrutural, levando
em consideração a continuidade da viga e o princípio da
superposição dos esforços.
Com esses dados, determinamos a curva dos momentos ao
longo da viga.

7.4.1 Vigas sobre Três Apoios


No cálculo da viga sobre três apoios, podemos separar a viga à
esquerda do apoio 2 da parte que fica à direita desse apoio.
Dependendo das dimensões dos vãos, se a medida de um vão
não ultrapassar 20 % da medida do outro, podemos considerar as
vigas como engastadas no apoio central e então calcular o
momento de engastamento.
Figura 7.10 Tendência de deformação da viga.

Figura 7.11 Engastamento no nó central.

O momento no apoio será obtido considerando um trecho de


viga engastado no outro.

Figura 7.12 Cálculo do momento negativo em cada trecho da


viga.

Cada trecho de viga é calculado separadamente, como se


fosse uma viga isolada, com um apoio do 1o gênero e engastada
na outra extremidade.
Figura 7.13 Média dos valores dos momentos de engastamento.

O momento negativo sobre o apoio é obtido pela média dos


valores do momento de engastamento obtido para cada trecho
considerado isoladamente.

Figura 7.14 Cálculo dos esforços cortantes em cada trecho da


viga.

De posse do valor do momento no apoio intermediário, é


preciso conhecer os esforços cortantes para a determinação dos
momentos nos vãos.
Figura 7.15 Diagrama dos momentos fletores em cada trecho da
viga.

Podemos agora determinar os momentos nos vãos.

Figura 7.16 Diagrama de forças cortantes em cada trecho da


viga.

Assim, temos completo o diagrama de momento fletor, com o


valor do momento no apoio intermediário e nos dois vãos, bem
como as suas posições.
E, para finalizar, conhecendo os valores da força cortante à
esquerda e à direita dos apoios, podemos traçar o diagrama de
força cortante.
Figura 7.17 Carga variável sobre três apoios.

Para consolidar o entendimento, vamos trabalhar com um


exemplo prático.

7.4.2 Aplicação Prática


Calcular os esforços solicitantes na viga da Figura 7.17. Para
efeito de exercício, não considerar o peso próprio da estrutura.
Em primeiro lugar, calculamos o momento sobre o apoio:

Figura 7.18 Cálculo manual dos momentos sobre os apoios.

A seguir, determinamos o esforço cortante:

Figura 7.19 Cálculo manual dos esforços de cisalhamento.


Figura 7.20 Cálculo manual da superposição dos esforços.

Quadro comparativo

Esforços/posições Cálculo manual Valores Valores do


aproximados computador

Momento negativo no x = –221,00 –235,8642


apoio interno

Cortante apoio 1 direita Q1d = 265,8 –253,4465

Cortante apoio 2 esquerda Q2e = –634,2 –646,5535

Cortante apoio 2 direita Q2d = 852,5 861,2437


Cortante apoio 3 esquerda Q3e = –592,5 –583,7563

Ponto de Mmáx. (vão 1) em x1 = 0,35 0,3379


relação ao apoio da esq.

Ponto de Mmáx. (vão 2) em x2 = 1,00 1,0132


relação ao apoio da esq.

Momento positivo no vão + M1 = 47,00 42,8234


1

Momento positivo no vão + M2 = 206,50 200,4538


2

Figura 7.21 Quadro comparativo de cálculo manual e


automatizado.
PARTE III

RECEITAS PARA
DIMENSIONAMENTO

▷ CAPÍTULO 8
Teoria do Cálculo de Vigas

▷ CAPÍTULO 9
Teoria do Dimensionamento

▷ CAPÍTULO 10
Dimensionamento da Viga de Concreto Armado

Conhecida a curva dos momentos fletores em cada seção da


viga e determinada a geometria da seção, temos a
possibilidade de estabelecer a ferragem longitudinal, que
dará condições de resistência ao conjunto da viga.

Propositadamente, será deixado para a Parte IV deste livro o


dimensionamento da ferragem que previne o cisalhamento,
uma vez que se trata de armação independente da ferragem
principal da viga.
Na montagem da armadura longitudinal, deve ser levado em
conta o arranjo das barras para a escolha do diâmetro dos
ferros.
CAPÍTULO 8
TEORIA DO CÁLCULO DE VIGAS

8.1 INTRODUÇÃO
A formulação para o dimensionamento das vigas não se deu em
um instante. Durante longo tempo foi observada, examinada,
cálculada e usada. Houve uma sequência natural. A viga de
madeira foi a primeira a ter um método de cálculo e até hoje ainda
é usada em construção, em virtude da sua abundância na
natureza, facilidade de adaptação em qualquer finalidade e sua
boa resistência aos esforços mecânicos. A madeira constitui a
classe de materiais naturais de mais longo tempo em uso,
juntamente com a pedra.
Figura 8.1 Tipos de vigas com vários materiais.

A determinação dos esforços solicitantes em uma viga de


madeira segue a forma clássica de estabilidade, podendo ser
calculada em função de duas variáveis: a carga a ser suportada e
o vão a ser vencido. Por se tratar de material considerado
homogêneo, é possível determinar, com facilidade, a posição da
linha neutra e obter, assim, a dimensão da peça, na qual a tensão
máxima na fibra mais afastada não ultrapasse o valor admissível.
A estabilidade de uma viga de material considerado
homogêneo, como no caso das vigas de madeira ou vigas
metálicas, nas quais existe simetria em relação ao eixo vertical e
horizontal, é de determinação relativamente fácil. Torna-se
necessário e suficiente que a tensão máxima devida à carga,
acrescida de um coeficiente de segurança, resulte inferior à tensão
que é admitida para o material em uso. No caso de material
homogêneo, a linha neutra coincide com o centro de gravidade da
seção.
De posse da posição da linha neutra (LN), torna-se possível
conhecer o momento de inércia em relação à LN, a partir da qual
se define a distância até a fibra extrema, superior ou inferior da
viga.

Figura 8.2 Momento de inércia da seção da viga de madeira.

Na sequência cronológica do estudo das vigas, a que se


seguiu foi a viga metálica.

Figura 8.3 Substituição da viga de madeira pela viga metálica.

As vigas metálicas passaram a substituir as vigas de madeira


quando o homem descobriu que o peso que levava ao rompimento
da viga de madeira era bem sustentado pela viga metálica, com a
sua característica peculiar de manter a massa longe do centro de
gravidade pelo qual passa o eixo neutro.
8.2 A Treliça
O surgimento do concreto armado trouxe um novo material para as
construções, mas não veio com uma cartilha que ensinasse como
utilizá-lo.
Era preciso criar uma teoria nova para o novo material.
Contudo, muito poderia ser aproveitado do que havia sido
descoberto, na prática, quando da construção das ferrovias. A
construção de pontes e viadutos foi se tornando cada vez mais
complexa e as estruturas resultavam muito pesadas.
Até que um dia alguém percebeu que uma cadeia de barras
retas, ligadas em forma de triângulo, se comporta como um sólido
rijo e pode ser utilizada como elemento estrutural. A essa nova
forma geométrica de sustentação de carga foi dado o nome de
treliça e a forma mais simples de treliça é o triângulo.
Os estudiosos da época, com os conhecimentos que
adquiriram a partir de suas experiências, logo se lançaram na
busca de princípios que pudessem ser aplicados à nova teoria do
concreto armado.
Uma das mais interessantes adaptações da teoria trazida das
ferrovias com suas estruturas metálicas dizia respeito à treliça.

8.2.1 Configuração da Treliça


Pode-se definir uma treliça como um sistema de barras situadas
em um plano e ligadas umas às outras em suas extremidades, de
modo a formar uma cadeia rija.
Partindo de três barras articuladas nas suas extremidades e
adicionando-se a elas duas barras, podemos formar uma treliça,
que, teoricamente, se prolonga indefinidamente. Mas o indefinido
não nos diz quantas barras são necessárias para a construção de
uma treliça com um comprimento definido. Era imperioso
estabelecer uma equação que generalizasse a solução da
questão.
No século III a.C., o matemático Diofante deu início à teoria das
equações, que, somente a partir do século XVI, passou a ter uma
notação algébrica. A equação mostra o caminho a seguir na
descoberta do valor da incógnita. Vejamos como se monta uma
equação.

8.2.2 A Receita de uma Equação


Começamos com um triângulo (A) formado pelos lados 1, 2 e 3.
Acrescentando mais duas barras, 4 e 5, formamos o triângulo B, e
assim por diante.
Observamos que são necessárias três barras para os primeiros
três nós e cada nó seguinte requer duas novas barras.
Teremos então o resultado apresentado no quadro da Figura
8.4.

Figura 8.4 Quadro com os componentes da equação da treliça.

Na treliça da Figura 8.5, o número de barras (B) em relação ao


número de nós (N) é o seguinte:

No triângulo (A) 3 barras .....................3


nós

Nos triângulos (A) + (B) 5 barras.....................4


nós
Nos triângulos (A) + (B) 7 barras.....................5
+ (C) nós

e assim por diante 9 barras.....................6


nós

até 11 barras ...................7


nós

Com o uso dessa relação, podemos determinar o grau de


deformação da treliça, segundo as seguintes situações:
▶ se B = 2N – 3 a treliça é estritamente indeformável;
▶ se B > 2N – 3 a treliça é superabundante, ou seja, é
totalmente indeformável;
▶ se B < 2N – 3 a treliça é deformável.

A partir da análise da treliça de uma ponte triangular, vista na


Figura 8.5, podemos constatar que se trata de um sistema
estritamente indeformável, pois atende à condição da relação B =
2N – 3: são cinco barras e quatro nós.

Figura 8.5 Treliça em uma ponte triangular.


8.3 ESQUEMA DE SOLICITAÇÕES NAS
TRELIÇAS

8.3.1 O Método de Cremona


Pela lei de Newton, a força exercida por uma barra no nó provoca
na barra uma força igual e de sentido oposto. Isso significa dizer
que toda barra que comprime o nó é uma barra comprimida, assim
como toda barra que traciona o nó é uma barra tracionada.

Figura 8.6 Esforços nas barras da treliça.

Intuitivamente, somos levados a perceber que cada barra está


sujeita a um esforço que tende a aumentar ou diminuir o
comprimento da barra. Como a treliça está apoiada nos pontos A e
B, há uma tendência de o ponto D baixar. Isso é impedido pela
barra CD, que está segura no ponto C. Logo, esta barra está
sendo tracionada. As barras AC e BC estão travando a barra
central e estão sendo comprimidas. Na Figura 8.7, as barras
tracionadas tendem a aumentar de comprimento e, por isso, tem o
sinal (+), enquanto as peças comprimidas tendem a encurtar, daí o
sinal (–).
Figura 8.7 Barras tracionadas e comprimidas nas treliças.

Observando atentamente o comportamento das treliças,


Antonio Luigi Cremona, engenheiro nascido em Pávia, na Itália,
em 1830, professor de matemática, além de pesquisador no
campo da estática gráfica e da geometria descritiva, desenvolveu
um método que ganhou seu nome, o qual permite determinar,
graficamente, a solicitação sofrida por cada uma das barras do
sistema.
No método de Cremona, para que um sistema articulado esteja
em equilíbrio é preciso e é suficiente que cada um dos nós,
considerado como um ponto material livre, esteja em equilíbrio sob
a ação das forças exteriores ao sistema e sob a ação das reações
exercidas pelas barras.
Figura 8.8 Gráfico de Cremona.

8.3.2 Método de Ritter


O professor alemão August Ritter, que lecionava mecânica e
astrofísica no século XIX, desenvolveu um método para a
determinação das forças nas barras da treliça. O método, que
recebeu seu nome, apresenta a vantagem de permitir a
determinação dos esforços nas barras isoladamente.
Em uma seção qualquer da treliça, o momento fletor deve ser
equilibrado por um binário, que tem a altura da treliça como a
distância entre as forças horizontais que atuam na mesa superior
e inferior.
O esforço na diagonal é igual ao esforço cortante na seção,
dividido pelo seno do ângulo de inclinação da diagonal.
Figura 8.9 Método de Ritter.

8.4 A ANALOGIA DE MORSCH


A primeira teoria cientificamente consistente relativa ao concreto
armado, comprovada, portanto, por experimentos, foi elaborada e
publicada por Morsch, em 1908.
Com base nos estudos de Ritter para determinação dos
esforços nas barras de treliças metálicas, muito em uso na época,
Morsch idealizou um modelo para o funcionamento de uma viga
de concreto armado submetida à flexão simples.
O modelo imaginado, conhecido como treliça clássica de
Morsch, sofreu poucas modificações e continua válido até hoje
como base para entender o dimensionamento das vigas de
concreto armado com atuação de força cortante, sendo
considerado o melhor dentre os modelos estáticos para explicar o
comportamento das vigas de concreto armado.
Na analogia de Morsch, a barra horizontal superior
corresponde ao concreto acima da linha neutra, que resiste bem
ao esforço de compressão. A armadura colocada na face inferior
da viga faz o papel da barra horizontal tracionada. Os estribos
funcionam como as diagonais tracionadas e as bielas de
compressão do concreto representam as diagonais comprimidas
da treliça.

Figura 8.10 Analogia de Morsh.

Um ensaio realizado mais tarde em uma viga reta de concreto


armado de seção constante, sujeita a um momento de flexão,
permitiu que fossem traçadas linhas de tensão no interior da viga.
A partir daí constatou-se que os esforços normais de tração e
compressão formam as linhas de tensão, conforme é visto na
Figura 8.11.
Figura 8.11 Linhas de esforços em uma viga biapoiada.

O leitor deve estar lembrado da experiência do senhor Hooke,


vista no Capítulo 3. Pois bem, Hooke estabeleceu que as tensões
são proporcionais aos alongamentos ou encurtamentos. Assim
sendo:

σ=εE

Nas vigas de concreto armado, o material não é homogêneo,


pois o módulo de elasticidade do concreto (Ec) não é o mesmo que
o do aço (Ef):

Ef = 2.100.000 kgf/cm2

Ec = 140.000 kgf/cm2

A relação entre os módulos de elasticidade do concreto e do


aço é de:

n = Ef / Ec = 2.100.000/140.000 = 15

O cálculo das tensões no concreto armado pode ser realizado


como se fosse feito de concreto simples, desde que se faça a
substituição da armadura por concreto fictício resistente à tração,
de área igual a 15 vezes a área da armadura. Dessa forma, é
obtida uma seção homogeneizada, considerada seção ideal.
Equivale dizer que as leis da resistência dos materiais para
material homogêneo podem ser aplicadas, desde que a seção
ocupada pelo ferro seja substituída por concreto fictício, com um
valor 15 vezes o seu valor real.
Podemos concluir que, para uma viga de concreto armado se
manter em equilíbrio, é necessário que as deformações no aço e
no concreto se equilibrem.
CAPÍTULO 9
TEORIA DO DIMENSIONAMENTO

9.1 SITUAÇÕES DE COLAPSO


Pela teoria clássica de Morsch, o concreto armado foi concebido
de tal forma que os esforços ocorrem assim como acontece nas
treliças metálicas.
Os esforços de compressão devem ser resistidos pelo
concreto, enquanto os ferros da armadura resistem ao esforço de
tração, desde que os dois materiais não se separem durante a
aplicação dos esforços.
Dessa forma, nas vigas de concreto armado, podem acontecer
duas situações de colapso que ocorrem com a treliça, ou seja:
1) colapso da barra propriamente dita;
2) colapso da ligação entre as barras (nó).
Nas barras horizontais, superior ou inferior de uma treliça, o
colapso se dá quando é atingido um limite de resistência ao
esforço normal de tração ou compressão. Já nas barras diagonais,
o colapso se dá pela ação do esforço cortante.
A ruptura das ligações ocorre no caso de deficiência da
ancoragem da armação. A ruptura por deficiência de ancoragem
dos ferros no concreto deve ser combatida calculando-se um
comprimento adequado a partir do ponto em que a barra deixa de
ser solicitada em sua função estrutural, podendo ser retirada de
trabalho, necessitando de um comprimento adicional para sua
ancoragem.
9.2 COMPRIMENTO DE ANCORAGEM
Esse comprimento adicional é calculado em função da aderência
da barra no concreto.

Figura 9.1 Cálculo do comprimento de ancoragem.

Sendo fyk o valor característico da resistência do aço à tração.

Figura 9.2 Comprimento de ancoragem.


Figura 9.3 Zonas de aderência.

A qualidade da aderência depende muito da posição da barra


dentro do concreto da viga.
A distância ao fundo ou ao topo da forma determina a
qualidade de aderência entre o concreto e a barra de aço. Isso se
dá porque, durante o adensamento e o endurecimento do
concreto, a sedimentação do cimento e, em particular, o fenômeno
da exsudação, tornam o concreto da camada superior mais
poroso, fato que pode diminuir a aderência nessa região. São
consideradas de boa aderência nos elementos estruturais com
altura h < 60 cm as barras horizontais que se situem, no máximo,
a 30 cm acima da face inferior desse elemento. No caso de h > 60
cm, estarão em zona de boa aderência as barras horizontais
alojadas abaixo de 30 cm da face superior da viga. Resolvida a
questão do comprimento de ancoragem para as barras no interior
do concreto, portanto, com a segurança de que não haverá
colapso por escorregamento da ferragem, falta determinar a
quantidade e a bitola dos ferros que deverão compor a armadura
da viga.
9.3 COLAPSO POR FLEXÃO
Garantida a eficiência da ancoragem dos ferros da armação, a
ruptura de uma viga na flexão se dá por esmagamento do
concreto comprimido ou por deformação plástica excessiva das
barras de aço da armadura longitudinal.
O leitor deve estar lembrando do senhor Hooke, aquele que
estabeleceu que a relação entre a deformação (ΔL) e a dimensão
(L) inicial da peça antes de receber a carga é expressa da
seguinte forma:

ε = ΔL/L

Como o concreto armado é um material não homogêneo, a


deformação do aço na tração é diferente da deformação do
concreto na compressão.
No concreto, a deformação durante a compressão está limitada
a 0,35 %, o que representa que, em uma viga de concreto com
100 cm, o máximo encurtamento que pode sofrer, sem se romper,
é de menos de 3,5 mm. Não havendo a possibilidade do aço se
encurtar mais do que o concreto, pois ambos estão solidários, e
para que a armadura se encurte ainda mais, o concreto já teria
ultrapassado seu limite e se rompido, de nada valendo o aço se
encurtar mais.
Já no alongamento, a história é outra. O aço pode ter um
alongamento máximo de 1,0 %, ou seja, em 100 cm, uma barra de
aço, ao ser tracionada, pode chegar a 101 cm até se romper.
Como o concreto não tem uma elasticidade suficiente, antes de a
viga atingir esse comprimento, todo o concreto apresentaria
fissuras.

9.3.1 O Surgimento das Fissuras


O fenômeno fica fácil de ser entendido quando se usa o exemplo
de um elástico envolvido numa calda de açúcar. Uma vez seca, a
calda endurece aderida ao elástico. Ao ser puxado, o elástico se
estica, enquanto a camada endurecida da calda, não resistindo ao
alongamento, se parte. É mais ou menos isso que acontece entre
o concreto e o aço e que justifica o aparecimento de fissuras.

Figura 9.4 Conceito de fissuras.

Não será absurdo dizer que a fissura é inerente ao concreto


armado. As tensões de serviço, os módulos de deformação
longitudinal do aço e do concreto, além do coeficiente de
conformação superficial da armadura, entre outros provenientes
dos fenômenos reológicos do concreto, como a retração e a
deformação lenta, são fatores que contribuem para o surgimento
de fissuras.
Assim sendo, a ocorrência da fissura em uma viga não implica
necessariamente um problema estrutural, desde que a armadura
de tração não tenha superado seu limite elástico e as fissuras se
fecharem ao cessar o efeito que as produziu.
Contudo, certos tipos de fissura podem indicar problemas
estruturais e devem ser verificados por quem entende do assunto.
Em alguns casos, as fissuras se estabilizam após seu
aparecimento, razão pela qual são classificadas em duas
categorias. As fissuras que estão submetidas a movimentos e,
especialmente, a variações de comprimento e abertura são
chamadas de fissuras “vivas”. As que estão estabilizadas,
apresentando sempre o mesmo comprimento e abertura, recebem
a denominação fissuras “mortas”.
Embora possa parecer um paradoxo, o aparecimento de
fissuras em uma viga, na qual é aplicada uma carga excessiva,
tem seu aspecto positivo, pois serve de alerta. As fissuras de
flexão aparecem lentamente e funcionam como um aviso a tempo
de tomar medidas corretivas. Por uma questão de prevenção, em
todos os casos de aparecimento de fissuras deve ser feito
escoramento enquanto se faz a verificação e se procura a(s)
causa(s) para sua correção. É preciso lembrar que uma trinca
pode ter várias causas e uma causa pode provocar várias trincas.
Outra verificação a ser feita é se a abertura está dentro de
certos limites estabelecidos. São eles:
▶ 0,1 mm para peças em meio agressivo sem proteção;
▶ 0,2 mm para peças sem proteção em meio não agressivo;
▶ 0,3 mm para peças protegidas.

9.3.2 Condições de Ruptura


A ruptura de uma viga sujeita à flexão pode ocorrer em dois casos
extremos de limite máximo:
1o Caso: a parte superior da viga atinge o estado-limite último por
deficiência da área comprimida, ocorrendo o esmagamento do
concreto, que sofre um encurtamento unitário maior que 0,35 %,
sem que o aço das fibras tracionadas tenha entrado em
escoamento. É uma ruptura que acontece sem aviso prévio, por
não haver o aparecimento de fissuras visíveis.
2o Caso: quando há deficiência na armadura, o processo de
ruptura se inicia pelo aço, ocorrendo um alongamento unitário
máximo maior que 1 %, ultrapassando o limite de escoamento.
Com os acréscimos de deformação na fibra, aparecem as fissuras
e a elevação da linha neutra que separa a parte tracionada da
parte comprimida, diminuindo a área comprimida e aumentando o
grau de compressão no concreto. O processo que se inicia com a
tração na armadura acaba repercutindo na região comprimida.
Começaremos estudando as situações em que uma peça de
concreto armado é solicitada por um esforço exterior devido ao
carregamento.
Se uma peça de comprimento L, submetida a um esforço N,
sofre uma deformação dL, chamamos de deformação específica a
relação entre a deformação dL e a dimensão inicial L.
No concreto armado, as deformações específicas têm as
seguintes limitações:
O encurtamento relativo do concreto comprimido é limitado a:

ε = 0,35 % (3,5 ‰)

O alongamento do aço é limitado ao máximo de:

ε = 1,00 % (10 ‰)

9.3.3 Ruptura por Flexão


A ruptura por flexão pode ocorrer nas seguintes situações:
1) Esmagamento do concreto comprimido, quando é atingido
o encurtamento máximo que pode sofrer, que é de 0,35 %.
2) Quando o limite de escoamento do aço (1 %) é
ultrapassado, ocorrendo uma deformação plástica
excessiva da armadura tracionada.
Entre esses extremos existem faixas de comportamento do aço
e do concreto sujeitas às deformações. Essas faixas recebem a
denominação domínios.

9.3.4 Diagrama de Domínios


As faixas de domínio abrangem todas as situações em que uma
peça de concreto armado pode se encontrar, dentro dos limites de
resistência, desde a tração uniforme, percorrendo toda a gama de
possibilidades de aplicação de cargas com pequenas e grandes
excentricidades geradoras de momentos que provocam esforços
de flexotração e flexocompressão, até atingir o oposto da tração
uniforme, que é a condição de compressão axial.
Quanto às solicitações normais no estado-limite último, têm-se
as seguintes possibilidades que podem ocorrer devido à
deformação plana da seção considerada, e a reta AB indica o
traço da seção não deformada:

Domínio 1: estado-limite último por deformação plástica excessiva


da armadura tracionada. Abrange desde a tração uniforme até o
ponto no qual a tração não uniforme, decorrente de flexotração de
pequena excentricidade na aplicação da carga, não provoca
compressão na peça de concreto.

Figura 9.5 Domínio 1 – somente tração.

O domínio 1 está relacionado com as vigas que são usadas


como tirantes. A ruptura ocorre por deformação plástica da
armadura.

Figura 9.6 Situações de tração uniforme e de flexotração.

Domínio 2: flexão simples e flexão composta de grande


excentricidade, sem ruptura do concreto à compressão.
Figura 9.7 Domínio 2 – predomínio da tração com início de
compressão.

Domínio 3: flexão simples e flexão composta de grande


excentricidade, com ruptura do concreto e escoamento do aço.
Neste domínio, ocorre o limite último dos dois materiais, concreto e
aço.

Figura 9.8 Domínio 3 – compressão acima da LN e tração abaixo


da LN.

Domínio 4: flexão simples e flexão composta de grande


excentricidade, com ruptura do concreto e sem escoamento do
aço.
Figura 9.9 Domínio 4 – predomínio da compressão.

Superpondo cada um dos campos de domínio, obtemos o


diagrama apresentado na Figura 9.10.

Figura 9.10 Diagrama de domínios.

Com relação ao alongamento do aço, devemos lembrar que


cada aço tem seu valor de εyd deformação específica de início de
escoamento. Para o aço CA 50 B, esse valor é de 0,40 %. O valor
estabelecido de εsd = 1 % é um valor referencial do alongamento
máximo do aço para o estado-limite último.

9.4 RUPTURA POR FLEXÃO


Uma viga adequadamente calculada e recebendo um
carregamento compatível, obedecendo ao princípio da
permanência plana da seção na deformação, se comportaria da
forma mostrada em relação à linha neutra. As fibras acima da linha
neutra sofrem compressão, e as de baixo estão sujeitas à tração.
Figura 9.11 Posição da linha neutra na situação crítica.

A situação crítica se fixa nos limites de 1 % para o


alongamento do aço e 0,35 % para o encurtamento do concreto.

Figura 9.12 Situação-limite para o aço e o concreto.

Figura 9.13 Limites para a viga normalmente armada.

Figura 9.14 Alongamento excessivo da armadura.


Situação 1: por alongamento excessivo da armadura, que alcança
um alongamento máximo maior que 1 %. Com a ferragem
deficiente, há o aparecimento de fissuras e a elevação da LN que
separa a parte tracionada da parte comprimida. Quanto mais
elevada a LN, maior será a tração. Nos domínios 2 e 3, o colapso
se dá em virtude da carência da ferragem.

Figura 9.15 Limites para a viga subarmada.

Situação 2: por ruptura do concreto comprimido.


A área comprimida do concreto é deficiente, ocorrendo o
esmagamento, com encurtamento unitário maior que 0,35 %.
O aço tracionado ainda não entrou em escoamento.
Sem aparecimento de fissuras, a ruptura se dá sem aviso
prévio.

Figura 9.16 Ruptura por compressão.

Como há uma forte oposição da ferragem ao alongamento, a


ferragem força a viga a baixar a LN, na tentativa de manter plana a
seção, provocando um encurtamento excessivo que causa o
esmagamento do concreto.

Figura 9.17 Limites para a viga superarmada.

Para que não ocorra a possibilidade de um colapso sem aviso


por rompimento do concreto esmagado, deve ser evitado o
excesso de armadura.

9.5 RUPTURA POR CISALHAMENTO


Ensaios realizados em uma viga reta de seção constante, sujeita a
um momento de flexão, permitiram que fossem traçadas linhas de
tensão no interior da viga.
Constatou-se que, além dos esforços normais de tração e
compressão, surgem tensões tangenciais nas proximidades dos
apoios.

Figura 9.18 Curvas isostáticas.

Morsch imaginou uma analogia com o comportamento de uma


treliça no interior da viga de concreto armado. Haveria a formação
de uma biela de concreto sujeita ao esforço de compressão.
Figura 9.19 Biela de compressão no concreto.

Repare na semelhança com as peças da infraestrutura da


ponte. Funcionando como barras de uma treliça comprimindo o nó,
as barras da biela imaginária no interior da viga de concreto
também são comprimidas.

Figura 9.20 Semelhança no comportamento das barras da ponte.

Morsch estabeleceu um valor de tensão para um prisma de


concreto como se fosse a barra de uma biela comprimida da
treliça.
Para vigas de altura constante, a tensão convencional de
cisalhamento é dada por:
Figura 9.21 Cálculo da tensão convencional de cisalhamento.

O valor de cálculo dessa tensão que o concreto deve


apresentar para resistir à ruptura por cisalhamento depende das
medidas da seção útil da viga, em que bw é a medida da base e d
é a altura útil, contada a partir da armação longitudinal da viga.
Verifica-se, assim, que não é suficiente somente a colocação de
estribos para prevenir a ruptura devido ao cisalhamento. Torna-se
necessária, também, uma seção de concreto compatível com o
esforço cortante.
Esse limite visa impedir que o esmagamento da biela
comprimida de concreto se dê antes do escoamento da armadura
transversal composta pelos estribos.
Para prevenir o colapso por cisalhamento, é usada uma
armadura transversal com os estribos. Esta armadura é, em geral,
constituída de estribos distanciados de “s” e posicionados ao longo
da viga, perpendicularmente ao seu eixo.
CAPÍTULO 10
DIMENSIONAMENTO DA VIGA DE
CONCRETO ARMADO

Observando-se o que ocorre em uma seção de corte transversal


feito no meio do vão de uma viga submetida à flexão simples,
podemos notar:

Figura 10.1 Zonas de solicitação na seção da viga.

Dimensionar uma viga é fixar a sua geometria e determinar a


ferragem a ser colocada no interior do concreto. Isso é feito com
base nas chamadas equações de esquadria.
O dimensionamento de viga sujeita à flexão é feito com base
nas seguintes considerações:
▶ a resistência do concreto à tração não é considerada;
▶ o limite de trabalho do concreto é a ruptura;
▶ o limite de trabalho do aço é o seu escoamento;
▶ é válida a hipótese de Bernoulli de que as seções
transversais permanecem planas na viga fletida.
Considerando a seção central de uma viga retangular sujeita a
um momento fletor máximo. Como o dimensionamento é feito para
o estado limite último, a condição de segurança deve ser dada por
um coeficiente de majoração:

Figura 10.2 Viga sujeita a momento fletor.

Para que o sistema permaneça estático, devem ser satisfeitas


as equações de equilíbrio:
Figura 10.3 Hipótese de Bernoulli.

Usando as equações de equilíbrio e de compatibilidade


geométrica das deformações, é possível a elaboração de tabelas
que facilitam os cálculos para o dimensionamento das vigas de
concreto armado. Substituindo as deformações específicas pelos
valores máximos, em cada caso de seção normalmente armada,
subarmada ou superarmada, os valores-limite podem ser
determinados.
Figura 10.4 Equações de compatibilidade.

Relacionando o valor de kx com os demais elementos da


seção, será possível elaborar uma tabela que facilita os cálculos.

Figura 10.5 Gráfico de compatibilidade nas seções.


Figura 10.6 Determinação da seção de ferro da armadura
longitudinal.

Substituindo os valores na equação e fazendo as devidas


transformações matemáticas, obtemos:

Figura 10.7 Determinação do valor de K6.


Figura 10.8 Cálculo da armadura.

Figura 10.9 Determinação da seção de ferro da viga.

Observação: considera-se fraco o concreto com fck < 20 MPa;


o concreto forte é aquele com fck = 20 MPa.
Figura 10.10 Tabela de determinação de K6 e K3.
Para outros valores de fck, devem ser montadas outras
tabelas.
Obtido o valor de As, ou seja, a seção de ferros necessária
para absorver o esforço de tração, a tarefa seguinte é a escolha
da bitola da barra e do número de barras necessárias. Na tabela
da Figura 10.11, encontramos os elementos que nos permitem
fazer a escolha.

Figura 10.11 Tabela de área da seção das barras redondas.

Por exemplo: a área da seção de ferros necessária (As) é igual


a 5,85 cm2. Entrando na tabela com a bitola, encontramos a
quantidade necessária.
Figura 10.12 Exemplo de determinação da ferragem mais
econômica.

As soluções possíveis são: usar cinco barras de 12,5 mm ou


três de 16 mm. Nesse caso, a seção mais econômica é o uso das
barras de 16 mm. Essa escolha depende do arranjo da ferragem.
A tabela da Figura 10.13 facilita a verificação da disposição da
armadura em relação à largura da viga.
O espaçamento entre as barras da armadura longitudinal é
importante para garantir uma boa concretagem, evitando o
aparecimento de vazios no concreto, devido à segregação da
pedra que não consegue passar entre os ferros.

Figura 10.13 Tabela de áreas e larguras mínimas para uma fiada


de barras.
O cálculo para o dimensionamento de uma viga deve ser feito
seguindo o roteiro apresentado na Figura 10.14.

Roteiro de cálculo
1) Geometria da viga
2) Determinação da carga atuante
3) Vão teórico
4) Momento fletor máximo
5) Diagrama de momento fletor
6) Cálculo do coeficiente K6
7) Obtenção do coeficiente K3
8) Cálculo da seção de ferros As
9) Escolha da bitola
10) Arranjo da ferragem

Figura 10.14 Roteiro de cálculo para dimensionamento de vigas.

O roteiro tem início com uma estimativa das dimensões da viga


para uma primeira avaliação do peso próprio. A seguir, é feito o
levantamento das cargas que atuam sobre a viga, bem como a
dimensão do vão para determinação do momento fletor. Tendo as
medidas da seção da viga e o momento fletor, determina-se o
coeficiente K6, usado para entrar na Tabela da Figura 10.10 e
obter o valor de K 3. De posse do coeficiente K3, do momento
característico (Mk), sem adoção de coeficiente de segurança (já
embutido na tabela), e da altura útil da viga, se torna imediata a
determinação da seção de ferros necessária (As).
Figura 10.15 Distribuição da ferragem.
PARTE IV

RECEITAS PASSO A PASSO DE COMO


FAZER

▷1 Como proceder para estabelecer uma geometria da viga no


dimensionamento inicial?
▷2 Como fazer a avaliação prévia dos esforços solicitantes,
conhecendo as cargas e os vãos da viga contínua?
▷3 Como considerar o extremo das vigas contínuas com relação
aos apoios?
▷4 Para efeito de previsão, como fazer a estimativa da ferragem
longitudinal da viga?
▷5 Como determinar a bitola e a distância que deve haver entre
os estribos?
▷6 Como proceder quando a altura da viga é insuficiente e não há
como aumentá-la?
▷7 Como aproveitar parte da laje convencional como largura de
mesa colaborante de viga T?
▷8 Como criar a descontinuidade da viga contínua, na junta de
dilatação?
▷9 Como saber se existe necessidade de armadura de pele e qual
é a sua função?
▷ 10 Como determinar o traço do concreto para obter o fck indicado
em projeto?
PARTE IV
RECEITAS PASSO A PASSO DE COMO
FAZER

ASSUNTO: Como proceder para estabelecer uma geometria


da viga no dimensionamento inicial?
RECEITA: Define-se como viga uma barra prismática de
concreto com armadura de aço que atenda as seguintes
condições:

bw = ou < 5 h e ainda: h < L/2 para vigas


simplesmente apoiadas h <
L/2,5 para vigas contínuas
h < L para vigas em balanço

sendo:
bw = largura da viga
h = altura total da viga
L = vão teórico entre apoios

Para o estabelecimento de uma geometria para determinada viga, há


necessidade do conhecimento da posição da viga, respeitando as
imposições da arquitetura, das limitações e necessidades construtivas, e
ainda, de aspectos econômicos. A seguir são apresentados alguns tipos de
vigas que podem servir de orientação para o leitor na escolha de sua
geometria. Como referência, vamos usar o projeto de uma residência que
nos permite ver algumas posições de viga.
Para uma primeira escolha das dimensões da seção retangular de uma
viga, deve ser observado o seguinte:
As dimensões da viga devem atender às diretrizes do projeto de
arquitetura, desde que obedecidas às imposições técnicas de segurança.

Detalhes da seção da viga, conforme sua disposição na estrutura.


A largura da viga deve ser compatível com um bom alojamento da
ferragem longitudinal e boa condição de concretagem.

O espaçamento entre as barras da armadura longitudinal é importante


para garantir uma boa concretagem, evitando o aparecimento de vazios no
concreto devido à segregação da pedra, que não consegue passar entre os
ferros. O espaço livre entre duas barras vizinhas da armadura longitudinal
não deve ser menor que o diâmetro da barra, nem menor que 20 mm, o
que implica dizer que, para barras com bitola inferior a 3/4’’, o
espaçamento deve ser de 2 cm. Para determinar a largura necessária da
viga, foi elaborada a Tabela 1.

Tabela 1 Áreas e larguras mínimas para uma fiada de barras


Na Tabela 1, As é a seção de ferros e bs é o espaço necessário, sem
contar o recobrimento.
Quando houver outra viga ou elemento estrutural apoiado nesta viga, a
sua largura deve ser a adequada à largura mínima para ancoragem da
ferragem longitudinal da viga que nela se apoia.
Para uma primeira estimativa de altura total da viga, pode ser adotado o
valor de 1/10 a 1/12 do vão livre. Outro processo que permite uma primeira
estimativa é o emprego da fórmula:

na qual:
d = altura útil da viga (cm)
K = coeficiente que depende da resistência do concreto
Mk = momento estimado (t · cm)
bw = largura da viga (cm)
Deve ser adotada armadura em camadas quando a colocação de uma
só camada se tornar inviável devido à falta de espaço. Neste caso, é
necessário rever o cálculo para a nova posição do centro de gravidade da
ferragem longitudinal.

ASSUNTO: Como fazer a avaliação prévia dos esforços


solicitantes, conhecendo as cargas e os vãos da viga
contínua?
RECEITA: Para uma viga contínua com dois vãos e carga
uniformemente distribuída em cada vão, usar a tabela de viga
contínua (três apoios) desenvolvida pelo autor.

Tabela 2 Tabela de viga contínua – três apoios com momento negativo no apoio intermediário
L1 L1/L2 1,00 0,90 0,85 0,80 0,75 0,70 0,65 0,60 0,55 0,50
M

2,00 k1 0,250 0,237 0,229 0,222 0,021 0,205 0,197 0,187 0,177 0,166
k2 0,250 0,325 0,373 0,433 0,507 0,600 0,717 0,871 1,065 1,333

2,50 k1 0,390 0,370 0,358 0,347 0,334 0,321 0,307 0,293 0,276 0,260
k2 0,390 0,508 0,584 0,677 0,792 0,938 1,119 1,356 1,665 2,015

3,00 k1 0,562 0,533 0,516 0,500 0,481 0,462 0,442 0,422 0,398 0,375
k2 0,562 0,731 0,840 0,976 1,141 1,352 1,612 1,952 2,398 2,999

3,50 k1 0,765 0,725 0,703 0,681 0,655 0,629 0,603 0,574 0,542 0,510
k2 0,765 0,995 1,144 1,328 1,553 1,892 2,649 2,657 3,263 4,082

4,00 k1 1,00 0,947 0,918 0,889 0,856 0,822 0,787 0,750 0,708
k2 1,00 1,333 1,495 1,735 2,028 2,403 2,867 3,471 4,26

4,50 k1 1,265 1,199 1,162 1,126 1,083 1,040 0,996 0,950


k2 1,265 1,645 1,891 2,196 2,566 2,946 3,628 4,258

5,00 k1 1,562 1,480 1,435 1,390 1,337 1,285 1,23


k2 1,562 2,114 2,335 2,711 3,168 3,755 4,479

5,50 k1 1,890 1,790 1,736 1,682 1,618


k2 1,890 2,457 2,826 3,280 3,834

6,00 k1 2,250 2,13 2,066 2,001


k2 2,250 2,924 3,363 3,903

6,50 k1 2,570 2,78


k2 2,570 3,432
7,00 k1 3,062
k2 3,062

EXEMPLO ELUCIDATIVO

O resultado obtido no computador é X = –4,3929 (Resultado compatível).


VIGA CONTÍNUA
FORÇA CORTANTE

MOMENTOS FLETORES NO VÃO


Conhecidos os valores dos momentos nos apoios, podemos determinar os
momentos máximos em cada vão, considerando cada trecho da viga como
viga biapoiada e superpondo os resultados.
Considera-se o trecho entre A e B como viga isolada.
No traçado do DMF para carga uniformemente distribuída em viga
sobre dois apoios, divide-se o eixo da viga em 10 partes iguais e acha-se o
momento fletor em cada ponto, multiplicando-se o k da Tabela 3 por .

Tabela 3 Valor de k

PONTO 1 2 3 4 5 6 7 8 9

k 0,36 0,64 0,84 0,96 1,00 0,96 0,84 0,64 0,36

DMF

Outro processo rápido de obter o momento máximo no vão é determinar


o valor do momento máximo, M′máx, para uma viga em dois apoios, e
conhecidos os momentos nos apoios, aplicar a seguinte fórmula:

Mmáx. = M′máx. – 0,4 Xa – 0,6 Xb


em que:
Xa = maior dos dois momentos no apoio

ASSUNTO: Como considerar o extremo das vigas contínuas


com relação aos apoios?
RECEITA: O tramo da extremidade da viga contínua pode se
apresentar em três condições: (1) simplesmente apoiada, (2)
semiengastada e (3) engastada.

Quando o apoio extremo é uma viga, considera-se a viga como


simplesmente apoiada neste extremo. Deve-se, no entanto, colocar uma
armadura superior igual a Asmín. = 15 % da seção. A finalidade dessa
ferragem é prevenir a possibilidade do aparecimento de um pequeno
engastamento no apoio.
Quando o apoio extremo é um pilar, existe certa solidariedade da viga
com o pilar. Esta influência deve ser levada em consideração para o
cálculo do momento nesse apoio. Se o pilar apresenta um elevado grau de
rigidez e tem continuidade, o apoio deve ser tratado como um
engastamento da viga. Quando o pilar é esbelto e não tem continuidade,
estaremos diante de um semiengastamento.
GRAUS DE ENGASTAMENTO

ASSUNTO: Para efeito de previsão, como fazer a estimativa


da ferragem longitudinal da viga?
RECEITA: A explicação será dada com a apresentação de um
exemplo. Vamos calcular a ferragem longitudinal de tração de
uma viga em um vão de 5,00 metros, sabendo-se que a
sobrecarga é de 1300 kgf/metro linear de viga.
1o PASSO COMEÇAMOS DEFININDO A GEOMETRIA DA VIGA
Considerando que a sobrecarga não é muito elevada, podemos estimar
a altura como L/12, ou seja, 500/12, que resulta em uma viga com altura de
40 cm, por aproximação.

2o PASSO CÁLCULO DO PESO PRÓPRIO DA VIGA


O peso próprio deve ser somado à sobrecarga para se obter a carga
uniforme total que atua na viga.

0,20 m × 0,40 m × 2500 kgf/m3 → PP = 200 kgf/m

A carga uniformemente distribuída na viga, para cálculo, é:

S.C. + PP = 1300 + 200 → q = → 1500 kgf/m

Agora estamos em condições de calcular as solicitações na viga.


3o PASSO CÁLCULO DO MOMENTO FLETOR
Momento fletor máximo no vão:

De posse do valor do momento fletor característico e tendo as medidas


da seção da viga, é possível calcular k6.
Uma atenção especial sempre deve ser dada para o aspecto referente
à unidade com a qual estamos trabalhando. No presente caso, deveremos
passar para:

Mk = 468,7 t · cm

4o PASSO CÁLCULO DO COEFICIENTE


Na fórmula, o valor de d corresponde à altura útil.

Entrando com o valor de k6 = 62 na tabela, obtemos o valor de k3.


5o PASSO OBTENÇÃO DO COEFICIENTE k3

De posse do valor de k3, podemos determinar a seção da armadura


longitudinal de tração.
6o PASSO CÁLCULO DA ÁREA DE FERROS

Na Tabela 4, verifica-se que o valor de As mais próximo é As = 5 cm2,


correspondente a 4 φ 12,5.

Tabela 4 Área da seção de barras redondas

ASSUNTO: Como determinar a bitola e a distância que deve


haver entre os estribos?
RECEITA: Ensaios realizados em uma viga reta de seção
constante sujeita a um momento de flexão permitiram que
fossem traçadas linhas de tensão no interior da viga.
O resultado foi a constatação de que, além dos esforços normais de
tração e compressão, surgem tensões tangenciais nas proximidades dos
apoios.
Segundo a analogia de Morsch, no interior da viga de concreto armado
haveria a formação de uma biela de concreto sujeita ao esforço de
compressão.

Biela de compressão no concreto

Repare na semelhança com as peças da infraestrutura da ponte.


Funcionando como barras de uma treliça comprimindo o nó, as barras da
biela imaginária no interior da viga de concreto também são comprimidas.
Morsch estabeleceu um valor de tensão para um prisma de concreto
como se fosse a barra de uma biela comprimida da treliça.
Para vigas de altura constante, a tensão convencional de cisalhamento
é dada por
Esse limite visa impedir que o esmagamento da biela comprimida de
concreto se dê antes do escoamento da armadura transversal composta
pelos estribos.
O valor de cálculo dessa tensão que o concreto deve apresentar para
resistir à ruptura por cisalhamento depende das medidas da seção útil da
viga, na qual bw é a medida da base e d é a altura útil contada a partir da
armação longitudinal da viga.
Assim,

τd = 1,15 τwd

Logo, a taxa de armadura será obtida com a fórmula:

Podemos agora calcular a área da seção de estribos por unidade de


comprimento ao longo do eixo da viga.
A área mínima da seção de estribo é dada por ρ = 0,0014

At/s = ρ · b

Tabela 5 Esforço cortante admissível nos estribos (em toneladas)

BITOLA bw ESPAÇAMENTO (CM)


DE (cm)
FERRO
8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28
(ϕ)
10 24,1 19,3 16,1 13,8 12,0 10,7 9,6 8,8 8,0 7,4 6,9
15 16,1 12,8 10,7 9,2 8,0 7,1 6,4 5,8 5,4 4,9 4,6
6,3 20 12,0 9,6 8,0 6,9 6,0 5,4 4,8 4,4 4,0 3,7 3,4
25 9,6 7,7 6,4 5,5 4,8 4,3 3,9 3,5 3,2 3,0 2,8
30 8,0 6,4 5,4 4,6 4,0 3,6 3,2 2,9 2,7 2,5 2,3

10 37,5 30,0 25,0 21,4 18,8 16,7 15,0 13,6 12,5 11,5 10,7
15 25,0 20,0 16,7 14,3 12,5 11,1 10,0 9,1 8,3 7,7 7,1
8 20 18,8 15,0 12,5 10,7 9,4 8,3 7,5 6,8 6,3 5,8 5,4
25 15,0 12,0 10,0 8,6 7,5 6,7 6,0 5,5 5,0 4,6 4,3
30 12,5 10,0 8,3 7,1 6,3 5,6 5,0 4,5 4,2 3,8 3,6

10 54,0 43,2 36,0 30,9 27,0 24,0 21,6 19,6 18,0 16,6 15,4
15 36,0 28,8 24,0 20,6 18,0 16,0 14,4 13,1 12,0 11,1 10,3
10 20 27,0 21,6 18,0 15,4 13,5 12,0 10,8 9,8 9,0 8,3 7,7
25 21,6 17,3 14,4 12,3 10,8 9,6 8,6 7,9 7,2 6,6 6,2
30 18,0 14,4 12,0 10,3 9,0 8,0 7,2 6,5 6,0 5,5 5,1

Tabela 6 Espaçamento do estribo conformea bitola da barra de ferro

BITOLA (ø)
ESPAÇAMENTO
(cm)
5 6,3 8 10

8,0 2,50 3,94 6,25 10,00

9,0 2,22 3,50 5,56 8,89

10,0 2,00 3,15 5,00 8,00

11,0 1,82 2,86 4,55 7,27

12,0 1,67 2,62 4,17 6,67


13,0 1,54 2,42 3,85 6,15

14,0 1,43 2,25 3,57 5,71

15,0 1,33 2,10 3,33 5,33

16,0 1,25 1,97 3,13 5,00

17,0 1,18 1,85 2,94 4,71

18,0 1,11 1,75 2,78 4,44

19,0 1,05 1,66 2,63 4,21

20,0 1,00 1,58 2,50 4,00

21,0 0,95 1,50 2,38 3,81

22,0 0,91 1,43 2,27 3,64

23,0 0,87 1,37 2,17 3,48

24,0 0,83 1,31 2,08 3,33

25,0 0,80 1,26 2,00 3,20

26,0 0,77 1,21 1,92 3,08

27,0 0,74 1,17 1,85 2,96

28,0 0,71 1,12 1,79 2,86

29,0 0,69 1,09 1,72 2,76

30,0 0,67 1,05 1,67 2,67


ASSUNTO: Como proceder quando a altura da viga é
insuficiente e não há como aumentá-la?
RECEITA: Quando a seção de concreto acima da linha neutra
se torna insuficiente, e o limite de resistência torna a viga
superarmada, a solução é aumentar a altura da viga. Quando
esta solução não pode ser empregada, a outra é aumentar a
capacidade de resistência à compressão do concreto ou
colocar uma armadura na parte superior da viga. Essa
solução é chamada de armadura dupla, que não deve ser
confundida com camada dupla.

Vejamos como dimensionar a viga com armadura dupla.


1) Com base nas medidas inicialmente escolhidas, verifica-se o
momento que pode ser resistido, considerando todo o esforço de
compressão absorvido pelo concreto.
2) É feita a comparação entre o momento total e o momento resistido.
3) Determina-se a diferença de momentos, ou seja, determina-se o
momento que ainda falta ser resistido pela viga.
4) Essa diferença de momento que está sobrecarregando a parte
comprimida da seção da viga deve ser compensada por um binário
constituído por uma força de compressão e outra de tração,
afastadas pelo braço de alavanca que corresponde à distância
entre a barra inferior e a barra superior da ferragem que compõe a
armadura.
Assim, a força de compressão que ultrapassava a capacidade de
resistência do concreto passa a ser resistida por uma armadura colocada
na zona comprimida.
A diferença ΔMk que iria sobrecarregar a área comprimida do
concreto deve ser compensada por um binário constituído
pela força de compressão R′sc e por uma força de tração
Rst2, com um braço de alavanca Z = d – d′.

A força de tração que compõe o binário deve ser compensada por uma
armadura colocada na parte inferior da viga.
Equações que nos fornecem a condição de equilíbrio:

ASSUNTO: Como aproveitar parte da laje convencional como


largura de mesa colaborante de viga T?
RECEITA: Quando uma viga é embutida em uma laje maciça,
um trecho dela pode ser aproveitado estruturalmente como
parte da área de compressão da viga.
É importante ressaltar que uma seção só será considerada seção T se
o momento fletor provocar tensões de compressão no lado da mesa.

Existem duas possibilidades: primeira, a linha neutra passa pela seção


da laje que serve como mesa de compressão da viga. Segunda, a linha
neutra passa abaixo da laje, cortando apenas a seção da viga.

Atendida a primeira possibilidade, estaremos diante de uma situação na


qual toda zona de compressão é abrangida pela altura da laje. Como
abaixo da linha neutra não há participação do concreto no esforço de
tração, que é absorvido apenas pela ferragem, podemos considerar a viga
como tendo a base de comprimento bf.
Se ocorrer a segunda possibilidade, ou seja, a linha neutra passando
abaixo da seção da laje, teremos que calcular a viga como viga T, pois há
carência de concreto para resistir ao esforço de compressão como se fosse
uma seção retangular única de largura bf.
Determinação da posição da linha neutra:
Inicialmente, considera-se a seção T como seção retangular de largura
bf e calcula-se o valor de k6:

Conhecido o valor de k6, entra-se na Tabela 4 e obtém-se kx :

Com os elementos conhecidos, calcula-se o valor de y:

y = 0,8 kx · d

Valores de y:

O diagrama de tensões de compressão no concreto está


y ≤ hf todo contido na mesa e a seção se comporta como uma
seção retangular de largura bf.

Trata-se de uma seção T com compressão de nervura,


y > hf
além da mesa.

Procedimento para cálculo de viga T:


1) A seção T é decomposta em duas seções.
2) Calcula-se a resistência da primeira seção, considerando o
diagrama de tensões de compressão no concreto de altura y = hf e
uma seção de ferro As1.

Do binário de forças, tiramos: 0,85 fcd (bf – bw) hf = fyd As1.

O momento resistido por essa primeira seção será:

3) A diferença de momento fletor deverá ser resistida pela seção


retangular de largura bw da nervura.

Mk2 = Mk – Mk 1

O dimensionamento é feito como uma viga de seção retangular.

Entrar na Tabela 4, aqui apresentada integralmente, para obter k3 e kx.


Tabela 7 Unidades de Tf × cm : cm

k6 k3

kX CONCRETO AÇO

15 MPa 20 MPa CA -50B

0,02 968 726 0,32

0,04 488 366 0,32

0,06 328 246 0,33

0,08 248 186 0,33

0,10 200 150 0,33

0,12 168 126 0,34

0,14 145 109 0,34

0,16 128 96 0,34

0,18 115 86 0,35

0,20 104 78 0,35

0,22 96 71 0,35

0,24 88 66 0,36

0,26 82 62 0,36

0,28 77 58 0,36

0,30 73 55 0,36
0,32 69 52 0,37

0,34 65 49 0,37

0,36 62 47 0,38

0,38 60 45 0,38

0,40 57 43 0,39

0,42 55 41 0,39

0,44 53 40 0,39

0,46 51 38 0,40

ASSUNTO: Como criar a descontinuidade da viga contínua,


na junta de dilatação?
RECEITA: Torna-se necessário a cada 25 metros de
comprimento fazer uma junta de dilatação para permitir a
movimentação da estrutura, evitando-se, assim, os efeitos
mecânicos da dilatação. Embora sejam pouco apreciáveis as
variações de comprimento causadas pela variação de
temperatura, são consideráveis as forças que entram em jogo
nesse fenômeno regido pela seguinte equação:

L = Lo (1 + λ t)

em que:
L0 = comprimento inicial
t = variação de temperatura
λ = coeficiente de dilatação
L = comprimento final

Os valores de λ – coeficientes de dilatação do aço e do concreto – são


quase os mesmos:
dilatação do aço: 0,0140 mm por 1 ºC e por 1 metro linear.
dilatação do concreto: 0,0137 mm por 1 ºC por 1 metro linear.
Para se ter uma ideia, uma barra de ferro de um metro de comprimento
alonga-se apenas de 1/10 de milímetro para uma elevação de 10 ºC. Para
produzir este pequeno alongamento, sob temperatura constante, seria
preciso exercer sobre a barra, no sentido do comprimento, uma tração
mecânica de 250 kgf por cm2 de seção transversal. Essa seria a força
necessária para impedir a dilatação da barra. Isso nos mostra a
necessidade da junta de dilatação, com espaçamento de 20 a 25 metros. É
preciso lembrar também que, pelo fato de a Terra ser redonda, a cada 30
metros há uma ligeira mudança de paralelismo das verticais, resultando em
uma leve variação na horizontalidade da viga contínua. Por essas razões,
torna-se necessário criar uma descontinuidade na viga contínua. A
liberdade para o movimento de dilatação e retração da viga se faz criando
uma rótula, como mostrado na figura.

Os dentes de apoio funcionam como consoles curtos, desde que as


cargas sejam aplicadas a uma distância da face do apoio não maior que a
altura da peça.

Armadura do console curto usado no dente Gerber

As é a armadura principal do dente. Funciona como um tirante. A


insuficiência do valor de As pode provocar o aparecimento de fissura,
conforme mostrado no desenho.
Determinação da seção de ferro necessária:

Para controlar as fissuras, deve ser usada uma armadura não inferior a
Ah ≥ 50 % As Ah ≥ 0,5 × As

Para transferência da carga do console para a parte superior da viga,


deve ser colocada uma ferragem de transferência, As1 e As2.

ASSUNTO: Como saber se existe necessidade de armadura


de pele e qual é a sua função?
RECEITA: Nas vigas que possuem grande altura, quando
a altura útil (d) da viga superar 60 cm, torna-se necessário
colocar armadura longitudinal de pele em cada face das
laterais da viga.

A finalidade da armadura de pele é servir de costura entre a parte


tracionada e a parte comprimida da viga, evitando o aparecimento de
fissuras. Na realidade, a armadura de pele não interfere na resistência da
viga, mas no seu funcionamento mecânico e reológico.
O aço da armadura de pele deve possuir resistência igual ou superior a
do aço da armadura longitudinal de tração.
Normalmente, a armadura de pele é constituída por barras de bitola
fina, espaçadas regularmente em um espaçamento que não deve
ultrapassar 30 cm, sendo aconselhável não ultrapassar 20 cm. A barra
mais próxima da armadura de tração deve se situar entre 6 e 20 cm.
ASSUNTO: Como determinar o traço do concreto para obter
o gr indicado em projeto?
RECEITA: Dentro de um caráter iminentemente prático, a
dosagem inicial do concreto é estabelecida empiricamente
com a utilização de tabelas confeccionadas em função da
experiência, conforme a Tabela 8.

Tabela 8 Tabela de dosagem do concreto

TRAÇO EM VOLUME fcj (kgf/cm2)

fck (MPa)
3 7 28
CIMENTO AREIA BRITA
DIAS DIAS DIAS

25 1:2: 3 117 172 254

22 1 : 2 1/2 : 3 100 150 228


20 1:2:4 90 137 210

18 1 : 2 1/2 : 4 74 114 185

O traço deve ser corrigido em função dos ensaios com corpos de prova
obtidos no canteiro de obras.
PARTE V

RECEITAS AVULSAS

▷ Receita para Preparo do Concreto em Betoneira


▷ Receita para Traços do Concreto

PARTE V
RECEITAS AVULSAS

TIPOS DE CIMENTO

Tipo CP I Cimento Portland comum obtido pela pulverização do clínquer resultante da


calcinação até a fusão incipiente de uma mistura íntima e convenientemente
proporcionada de materiais calcários e argilosos, com adição de gipsita (gesso),
indispensável para regular o tempo de pega.

Tipo CP II Cimento Portland composto, derivado do cimento comum, com adição de outros
produtos, a saber:
CP II-F adição de 6 % a 10 % de pó calcário.
CP II-Z adição de 6 % a 14 % de pozolana e até 10 % de calcário.
Cp II-E adição de 6 % a 34 % de escória de alto-forno.

Tipo CP III Conhecido como cimento de alto-forno, é obtido da mistura do clínquer Portland,
gipsita, 35 % a 70 % de escória de alto-forno e até 5 % de pó calcário.

Tipo CP IV Cimento Portland pozolânico tem em sua composição de 15 % a 50 % de pozolana.

Tipo CP V Cimento Portland de alta resistência inicial.

CATEGORIAS DO CIMENTO
A categoria do cimento é dada pela resistência esperada no ensaio de compressão aos 28 dias, para a
argamassa comum de cimento.

Categoria 25 – resistência mínima de 25 MPa (250 kgf/cm2).


Categoria 32 – resistência mínima de 32 MPa (320 kgf/cm2).
Categoria 40 – resistência mínima de 40 MPa (400 kgf/cm2).
RECEITA PARA PREPARO DO CONCRETO EM BETONEIRA
Mesmo quando se usa o concreto produzido em usina, continua sendo necessário o uso da velha
betoneira para trabalhos de complementação de concretagem. Para que seja mantida a qualidade do
concreto, certas regras devem ser seguidas.

RECEITA PARA TRAÇOS DO CONCRETO


A tabela de dosagem do concreto serve como referência inicial das quantidades a serem usadas. As
quantidades devem ser corrigidas após o rompimento dos corpos de prova.

Tabela 1 Dosagem do concreto

TRAÇO CONSUMO DE CONSUMO DE CONSUMO DE ÁGUA fcj kgf/Cm2


EM CIMENTO POR m3 AREIA litros/m3 DE PEDRA litros/ m3
VOLUME DE CONCRETO CONCRETO DE CONCRETO

CIM. kg SACOS SECA ÚMIDA BRITA 1 BRITA 2 LITROS 3 DIAS 7 DIAS 28 DIAS
AREIA
BRITA

1: 2 : 3 344 6,9 486 622 364 364 210 117 172 254

1: 2 1/2 319 6,4 562 719 337 337 207 100 150 228
:3

1: 2 : 4 297 5,94 210 538 420 420 202 90 137 210

1: 2 1/2 276 5,5 487 623 390 390 201 74 114 185
:4
Para uma dosagem adequada do concreto são usadas caixas de madeira com as medidas fornecidas
na tabela a seguir.

As caixas do tipo padiola podem ser substituídas por outro recipiente que permita estabelecer um
volume dos ingredientes colocados na mistura.
É costume usar lata de 18 litros. Tal uso não é proibido, desde que haja o cuidado de verificar se a lata
não está amassada, o que reduziria seu volume.
Neste caso, a tabela para dosagem deve ser adaptada para o padrão da lata.

Tabela 2 Dosagem com lata de 18 litros – execução do concreto com nível intermediário

EMPREGO DO fck TRAÇO DOSAGEM fc28


CONCRETO PROVÁVEL
CIMENTO(SACO) AREIA(LATA) BRITA1(LATA) BRITA2(LATA) ÁGUA(LATA) (kgf/cm2)

Obra de 11 MPa 1:2:4 1 5 4 4 2 210


pequeno porte 110
kgf/cm2

Estrutura 15 MPa 1:2:3 1 5 3 3 2 254


comum 150
kgf/cm2

Obra de 20 MPa 1:2:2 1 5 2 1/2 2 1/2 1 1/2 298


responsabilidade 200 1/2
2
kgf/cm

Obra de 25 MPa 1:1 1 4 3 3 1 1/2 350


responsabilidade 250 1/2 : 3
kgf/cm2
Os traços devem ser corrigi dos com base nos ensaios de corpos de prova.

TESTE DE CONSISTÊNCIA SLUMP TEST


Trata-se de uma maneira rápida de verificar se determinado traço de concreto se mantém constante.

Procedimento

PEÇA ABATIMENTO (cm)

Lajes 3a9

Pilares 6a9

Vigas 5a9
Tabela 3 Abatimento

CONSISTÊNCIA ABATIMENTO (cm) TIPO DE OBRA

Seca 0a2 Estruturas com vibração enérgica

Rija 2a5 Estruturas correntes com vibrador

Plástica 5 a 12 Estruturas com adensamento manual

Úmida 12 a 20 Estruturas secundárias

Fluida 20 a 25 Inadequado para uso estrutural

Analisando a tabela, é possível verificar que a escolha de um abatimento em torno de 6 cm, com
tolerância de 1 cm a mais ou a menos, é um valor adequado para os vários tipos de peças estruturais de
uso corrente.
PARTE VI

APÊNDICE

▷ APÊNDICE A
Participação do Vento no Peso do Telhado

▷ APÊNDICE B
Vigas Contínuas com Vãos Iguais

▷ APÊNDICE C
Recuperação e Reforço de Vigas
APÊNDICE A
PARTICIPAÇÃO DO VENTO NO PESO DO TELHADO

A.1 CARGAS ATUANTES NO TELHADO


As cargas que dão origem ao peso do telhado são de duas naturezas: cargas fixas e cargas acidentais.
As cargas fixas são aquelas devidas ao peso das telhas e da estrutura do telhado. Já a carga acidental,
diz respeito à manutenção do telhado e ação do vento. A carga decorrente da manutenção é uma
sobrecarga de pequena proporção e não se soma à do vento, uma vez que o trabalho em um telhado não
deve ser feito na ocasião de uma ventania. Assim, a carga acidental significativa é a carga do vento.

A.2 A ORIGEM DO VENTO


Se tudo que tem massa tem peso, então a massa de ar também pesa. Cada metro cúbico de ar pesa cerca
de 1,296 quilograma.
A causa básica dos fenômenos atmosféricos, entre eles o vento, está ligada ao desequilíbrio térmico
entre regiões da atmosfera.
Cientificamente, o vento é uma consequência do deslocamento da massa de ar na superfície do solo.
Essa movimentação se dá em virtude das diferenças de pressão entre dois pontos próximos na superfície
terrestre.
Como a atmosfera tem peso, ela é atraída pela gravidade, exercendo uma pressão. Contudo, essa
pressão não é constante nem homogênea, variando segundo diversos fatores. As regiões equatoriais
recebem maior quantidade de radiação solar que as regiões polares. O ar aquecido tende a subir, deixando
atrás de si um vazio a ser preenchido.
A condição básica de segurança de uma edificação é seu comportamento estrutural. Todas as demais
condições estão direcionadas à estética e ao conforto.
O cálculo estrutural compreende, em ordem de sucessão lógica, três estudos:
1) Conhecimento de todas as cargas reais capazes de agir sobre a estrutura, incluindo a ação do
vento.
2) Cálculo das tensões atuantes nos elementos estruturais, a partir do conhecimento das cargas
máximas atuantes.
3) Determinação dos valores de dimensionamento da estrutura capaz de absorver os esforços a que
será submetida no decorrer de sua vida útil, portanto, sujeita às condições desfavoráveis
decorrentes dos fenômenos naturais.
Alguns dos principais riscos existentes em uma estrutura, que podem resultar em danos quando
submetida a fortes ventos, são:
▶ falta de consideração da ação do vento superpondo-se às demais cargas;
▶ falta de fixação adequada de elementos móveis ou que possam ser deslocados pelo vento.

A.3 A FORÇA DO VENTO


Tomemos um corpo em uma situação fixa (estático) e o vento incidindo sobre ele. Como sabemos, sob o
ponto de vista aerodinâmico, não há diferença alguma entre a situação de um corpo que se move em
relação ao ar parado e a de outro, imóvel e sujeito ao ar em movimento. Em ambos os casos, a interação
corpo-ar se verifica da mesma maneira.
Para compreendermos o que vem a ser força do vento, imaginemos uma esfera com certa massa,
animada de uma velocidade v, que se choca contra uma parede vertical, segundo uma perpendicular à sua
superfície. A esfera, ao se chocar contra a parede, tem sua velocidade anulada. Passa, portanto, de uma
velocidade v positiva para um valor igual a zero.
Por um dos teoremas gerais da dinâmica, a soma das forças vivas de que estão animados dois corpos,
depois do choque, é igual à soma dessas mesmas forças antes do choque. Como a esfera está animada
de movimento, possui uma força viva. Na parede, essa força viva é nula, uma vez que ela se encontra em
uma situação estática.
Quando a esfera se choca com o obstáculo, toda força viva é absorvida pela parede. Em outras
palavras, uma esfera em movimento, ao encontrar um oponente que procura impedir seu deslocamento,
realiza um trabalho que recebe a denominação trabalho resistente.
Se, em vez de uma esfera, tivermos um grande conjunto delas, cada uma irá fazer com que se crie na
parede um trabalho resistente, cujo somatório se traduz na própria resistência da parede ao esforço a que
está sendo submetida. É o que se dá com o vento, que podemos considerar como um conjunto de esferas
de ar animadas de movimento.
Quando um corpo se desloca no ar, experimenta uma resistência que tende a reduzir-lhe o movimento.
Isso ocorre porque o objeto encontra camadas de ar que deve afastar de um lado e do outro para abrir
passagem.

A.4 LEIS DA RESISTÊNCIA DO AR


I – Lei das velocidades: para velocidades entre 5 e 100 metros por segundo, a resistência do ar é
proporcional ao quadrado da velocidade do corpo em deslocamento. Para velocidades menores que cinco
metros por segundo, a resistência é proporcional à primeira potência da velocidade, e para as grandes
velocidades, como a de um projétil de arma de fogo, a potência é maior que dois.

II – Lei da superfície: sobre corpos geometricamente semelhantes, a resistência do ar é proporcional à


superfície aparente do corpo que se desloca. Dá-se a denominação superfície aparente à seção reta do
canal que o corpo descreve em seu movimento. É a chamada “área de sombra”.
As duas leis da resistência do ar são expressas na seguinte fórmula:

R = K · S · v2

na qual:
R = resistência do ar
S = superfície aparente
v = velocidade do corpo em relação ao ar
K = uma constante que depende da forma do corpo e da densidade do ar.
O vento, ao incidir sobre uma edificação, provoca pressões ou sucções que dependem de vários
fatores, entre eles: a forma e proporções das dimensões da construção; localização das aberturas
(barlavento ou sotavento); saliências e pontos angulosos (beirais e chaminés); situação de outras
edificações e obstáculos circunvizinhos (turbulência).
O vento é considerado como um esforço horizontal que requer uma situação específica da estrutura
para que esteja em condições de suportar tal esforço. Sendo o vento um fenômeno natural, previsível, mas
não inteiramente determinável, torna-se, até certo ponto, difícil de ser calculado com precisão. A velocidade
do vento considerada como máxima para o local da obra é aquela capaz de ocorrer em um intervalo de 50
anos.
As forças devidas ao vento sobre uma edificação devem ser calculadas separadamente para:
▶ elementos de vedação e suas fixações;
▶ partes da estrutura (telhados, paredes etc.);
▶ estrutura como um todo.

A.5 ELEMENTOS DE CÁLCULO


Para o dimensionamento dos elementos estruturais em relação à carga do vento, são necessários dois
dados básicos:
1) a pressão dinâmica referente à velocidade do vento considerada como máxima para o local da
obra, capaz de ocorrer em um intervalo de 50 anos;
2) o valor correspondente do coeficiente de pressão e forma para o tipo e características da estrutura.
A essência do cálculo da carga de vento pode ser demonstrada considerando-se uma placa plana com
o vento atingindo perpendicularmente uma das faces. Na parte central da face de barlavento, a carga do
vento é máxima e igual à pressão dinâmica, ou seja, o coeficiente de pressão é igual a +1,0, decrescendo
para as bordas. Na face oposta, sotavento, a pressão é constante e igual a –0,5 (sucção).

Quando se trata de um maciço de alvenaria, o fenômeno é o mesmo, mudando, logicamente, as


características do comportamento do fluxo e o valor do coeficiente a ser aplicado.
Um vento com velocidade v, contada em metros por segundo, produz uma pressão dinâmica q em
quilograma força por metro quadrado, cujo valor pode ser obtido com a seguinte fórmula:

Para a resolução da fórmula, necessitamos conhecer o valor da velocidade do vento.

A.6 A VELOCIDADE DO VENTO


A ação do vento em uma estrutura está diretamente ligada à velocidade com que ele incide sobre a
edificação.
A velocidade do vento varia conforme as condições meteorológicas e climatológicas, bem como da
localização geográfica. Além disso, as condições topográficas também exercem influência nas variações
de velocidade do vento.
A velocidade é medida com o anemômetro na altura de 10 metros acima do solo, que corresponde a
uma rajada com duração suficiente para perturbar todo o campo aerodinâmico das proximidades, podendo
atuar em qualquer direção, O tempo de duração da rajada considerada é de três segundos. A velocidade
básica é identificada como vo.
A.7 FATORES DE CORREÇÃO DA VELOCIDADE DO VENTO
Tendo em vista que a velocidade básica é medida em uma altura fixa em lugar aberto e plano, existem
certos fatores que devem ser considerados para obtenção de um valor que mais se aproxime daquele que
o vento terá ao incidir na edificação, que passa a ser chamada de vk, velocidade característica.
A velocidade característica é dada por

vk = vo · S 1 · S 2 · S 3

em que:
vo = velocidade básica do vento
S1 = fator topográfico
S2 = fator de rugosidade
S3 = fator estatístico

A.7.1 Fator Topográfico (S1)


O fator topográfico depende da localização da obra:
S1 = 1,00, nos casos gerais;
S1 = 1,10, nos vales estreitos, encostas e cristas de morro;
S1 = 0,9, nos vales profundos protegidos do vento.

A.7.2 Fator de Rugosidade (S2)


O fator de rugosidade depende das características da obra, tais como a altura e posição em que é
construída a edificação.
O fator de rugosidade leva em conta a exposição e a existência de obstáculos que impeçam a livre
circulação do vento.
▶ Muito exposta: grandes extensões de campo aberto e zona costeira.
▶ Exposta: trechos planos ou ondulados, com alguns obstáculos.
▶ Com obstruções: pequenas cidades e subúrbios de cidades grandes.
▶ Grandes cidades: cidades com edifícios altos.

Tabela A.1 Fator de Rugosidade

MUITO EXPOSTA EXPOSTA COM OBSTRUÇÕES GRANDES CIDADES S2

ALTURA DA EDIFICAÇÃO ACIMA DO TERRENO (M)

0 a 20 1 a 30 0,90
0 a 10 0 a 15
21 a 30 31 a 50 1,00
11 a 30 16 a 40
31 a 60 51 a 80 1,10
31 a 100 41 a 100
61 a 100 81 a 100 1,20
acima de 100 acima de 100
acima de 100 acima de 100 1,30

Curva de velocidade do vento sobre terreno com diferentes graus de rugosidade


A.7.3 Fator Estatístico (S3)
O fator de risco depende da importância da obra:
S3 = 1,10: de vital importância
S3 = 1,00: com alto fator de ocupação
S3 = 0,95: com baixo fator de ocupação
S3 = 0,83: obras em execução

A.8 CONCEITO FÍSICO DE PRESSÃO DO VENTO


Inicialmente, é importante frisar a diferença entre força e pressão. Pressão leva em conta, além da força
exercida sobre uma superfície, também a área onde a força atua. Dessa forma, pressão é a força dividida
pela área em que está aplicada:

Conforme o teorema de Bernoulli, a pressão estática que um fluido em movimento exerce sobre um objeto
é igual à redução da pressão dinâmica do fluido. A pressão estática (W) pode ser expressa pela fórmula:

em que:
γ = massa específica do fluido
v = velocidade do fluido
g = aceleração da gravidade

A.8.1 Pressão de Obstrução


Denomina-se pressão de obstrução (q) a pressão efetiva em um ponto da construção onde o vento,
incidindo normalmente à superfície, tem sua velocidade reduzida a zero. A pressão de obstrução é
numericamente igual à pressão dinâmica do vento livre, sem considerar a existência do obstáculo.

q = Kv · v 2

em que:
q = pressão exercida pelo vento (kgf/m2)
Kv = constante
v = velocidade escalar do vento (m/s)

Para as condições normais de pressão (1 atm) e temperatura (15 ºC):


Peso do ar por unidade vol. = 1,2253 kgf /m3
Aceleração da gravidade g = 9,80665 m/s2
Resulta em: Kv = 0,125

Portanto, sendo v em m/s:


A força do vento que age sobre uma parede isolada é determinada pela seguinte fórmula:

F = CF · q · A

em que:
F = força que age perpendicularmente na superfície atingida
Cf = coeficiente de força
q = pressão dinâmica do vento
A = área de atuação do vento

Os valores do coeficiente de força Cf são tabelados em função das condições do fluxo do vento. Nos
casos práticos, podemos adotar = 1,2 para vento incidindo perpendicularmente à parede.
Daniel Bernoulli, matemático holandês (1700-1782), formulou o teorema que leva seu nome, segundo o
qual “para uma corrente de fluido em movimento a pressão é menor onde a velocidade do fluido é maior”.
O teorema de Bernoulli é válido para um fluido incompressível e sem viscosidade, animado de
movimento lamilar. Define-se como regime lamilar aquele em que as trajetórias das partículas do fluido são
bem definidas e não se cruzam. O vento, sem obstáculos que se interponham em sua trajetória, flui em
regime lamilar.
Uma das características inerentes aos gases é a compressibilidade. Contudo, no caso do vento, a
compressibilidade do ar é desprezível, podendo ser considerado um fluido incompressível e sem
viscosidade, em fluxo horizontal, tornando-se válida a aplicação de teorema de Bernoulli.

Tabela A.2 Pressões

VELOCIDADE CARACTERÍSTICA Vk PRESSÃO DE OBSTRUÇÃO q

km m/s kgf/m2 N/m2

40 11,11 7,72 77,16

50 13,89 12,05 120,56

60 16,66 17,36 173,61

70 19,44 23,63 236,30

80 22,22 30,86 308,64

90 25,00 39,06 390,62

100 27,77 48,22 482,25

110 30,55 58,35 583,52


120 33,33 69,44 694,44

130 36,11 81,50 815,00

140 38,89 94,52 945,21

150 41,66 108,50 1085,07

A.8.2 Coeficiente de Forma


Quando um corpo está imerso no ar parado e não se move em relação a ele, todos os pontos de sua
superfície ficam sujeitos à mesma pressão. Porém, quando há movimento do ar em relação ao corpo, as
distintas regiões deste corpo ficam sujeitas a diferentes pressões.
Quanto maior a velocidade do ar em relação ao corpo, maior a resistência que o corpo oferece. Além
disso, ficou comprovado, por meio de experimentação, que a forma do corpo e a sua disposição em
relação à direção de incidência do vento têm influência sobre a resistência oferecida pelo corpo.
A maior ou menor resistência que o corpo oferece à passagem do ar é função do que se convencionou
chamar de coeficiente de forma desse corpo. A expressão matemática que relaciona a resistência com o
coeficiente de forma é a seguinte:

R=C·q·A

em que:
R = resistência (uma força que se opõe ao fluxo de ar)
C = coeficiente de forma
q = pressão dinâmica do fluxo de ar
A = área da superfície do corpo que está voltada para o fluxo de ar

A resistência à passagem do fluxo aumenta com o coeficiente de forma. Mantendo-se fixa a área da
superfície do corpo voltada para o fluxo de ar, e variando a forma desse corpo, observa-se que o
coeficiente de forma diminui quando se passa de superfícies planas para esféricas.
O Quadro A.1 a seguir nos mostra o valor relativo do coeficiente de forma. O diâmetro de cada uma das
formas é o mesmo, ou seja, a área frontal é a mesma.

Quadro A.1 Nome do quadro


A.9 CONCEITO FÍSICO DE SUCÇÃO
A sucção é definida como a pressão efetiva abaixo da pressão atmosférica de referência. Representa-se a
sucção com o sinal negativo, ao contrário da sobrepressão, que é uma pressão efetiva acima da pressão
atmosférica de referência e que, por esta razão, possui sinal positivo.
Para que se possa ter uma perfeita compreensão sobre a sucção causada pelo vento nas construções,
passamos a relatar uma experiência aprendida nos bancos escolares pelos alunos no início dos estudos
de Física, e por isso bastante elementar. Passa-se um alfinete pelo centro de um pequeno cartão. Coloca-
se o cartão apoiado sobre dois livros. Com o carretel um pouco afastado e acima do cartão e o alfinete
entrando no seu interior, sopra-se fortemente pela sua parte superior. O cartão tende a subir
desprendendo-se dos livros.

Como já foi visto, segundo a lei de Bernoulli, em um fluido em movimento a pressão é menor onde a
velocidade do fluido é maior. Na experiência apresentada, o ar soprado, ao sair pelo espaço entre o cartão
e o carretel, reduz a pressão na parte de cima do cartão. A pressão da atmosfera, sendo superior,
impulsionará o cartão para cima.
Outra maneira de se demonstrar o efeito da sucção pela passagem do fluxo de ar é segurar uma folha
de papel fino e soprar fortemente por cima dela. A pressão da corrente de ar será diminuída. A maior
pressão da atmosfera na parte inferior suspenderá o papel.
Esse fenômeno é o que ocorre em coberturas de edificações nas quais a inclinação é pequena e o
material é de pouco peso. Telhados com pouca inclinação, onde o caimento, em geral, se situa entre 10 e
15 graus, usando coberturas de fibrocimento ou alumínio, estão sujeitos a grandes sucções quando
submetidos a ventos fortes. São inúmeros os casos conhecidos de acidentes provocados pelo efeito da
força ascensional em coberturas desse tipo, particularmente quando se trata de obras de grandes vãos
internos, como pavilhões, ginásios de esporte etc.

A.10TURBULÊNCIA
A pressão que o ar exerce sobre um corpo depende, também, do regime de fluxo do fluido. Para um
mesmo corpo, a pressão é menor quando o ar está em turbulência do que quando o regime é mais
homogêneo.
Como já mencionado, define-se como regime laminar aquele em que as trajetórias das partículas de ar
em movimento são bem definidas e não se cruzam. Já o regime turbulento, se caracteriza pelo movimento
desordenado das partículas. Entre as situações de regime laminar e de turbulência, pode ocorrer uma
diferença no valor do coeficiente de forma em torno de seis vezes.
Normalmente os ensaios para determinação dos coeficientes são realizados em túnel de vento, no qual
a corrente de fluxo é produzida por um ventilador que simula um vento muito próximo do verificado em
campo aberto e plano, considerado de baixa turbulência. Nas grandes cidades, em virtude dos inúmeros
obstáculos oferecidos pelas edificações existentes, o regime do vento é de turbulência, havendo, em
consequência, uma alteração em certos coeficientes, em particular os que se referem à sucção em
edifícios paralelepipédicos.
Existem basicamente, três situações nas quais uma estrutura está sujeita a um carregamento
horizontal:
1) obras sujeitas à pressão hidrostática, como as barragens e paredes de reservatório de água;
2) obras sujeitas ao empuxo do terreno, como nos muros de arrimo e muralhas de contenção de
encostas;
3) obras sujeitas à ação do vento.

O vento, ao incidir sobre uma edificação, provoca pressões ou sucções que dependem de vários
fatores:
▶ forma e proporções das dimensões da construção;
▶ localização das aberturas (barlavento ou sotavento);
▶ saliências e pontos angulosos (beirais e chaminés);
▶ situação de outras edificações e obstáculos circunvizinhos (turbulência).

O vento é considerado como um esforço horizontal que requer uma situação específica da estrutura
para que esteja em condições de suportar tal esforço. Sendo o vento um fenômeno natural, previsível, mas
não inteiramente determinável, torna-se, até certo ponto, difícil de ser calculado com precisão.

A.11CARACTERÍSTICAS DOS TELHADOS


O vento é a principal causa de acidentes com telhados, razão pela qual deve ser sempre levado em
consideração nos projetos de cobertura.
Para um perfeito entendimento de como o vento age num telhado, é importante que sejam conhecidas
certas características do comportamento estrutural dessa parte da edificação.

A.11.1Formas de Telhados
O telhado tem por objetivo proteger a edificação contra as intempéries, tais como: chuva, vento, incidência
dos raios solares etc. Sua forma e inclinação têm papel importante no aspecto arquitetônico da edificação.
Basicamente, o telhado se compõe de um ou mais planos inclinados, denominados águas. Assim,
temos telhados de uma água ou várias águas. As formas fundamentais são a seguir melhor abordadas.

Telhado de duas águas


Formado por dois planos inclinados, que se encontram na aresta horizontal da parte mais alta do telhado,
denominada cumieira.
No telhado de duas águas, o triângulo de alvenaria que vai até a cumieira é chamada de empena.

Telhado de três águas


Composto de dois planos inclinados principais e um plano secundário de forma triangular, na face oposta à
empena.
Telhado de quatro águas
Com dois planos principais, que se encontram na cumieira, e dois planos triangulares, que se encontram
com as duas águas principais, em arestas inclinadas chamadas de espigões.

Em um telhado de quatro águas, os planos maiores, de forma trapezoidal, são chamados de águas
mestras.
Um telhado pode ser composto por várias águas, sendo que o importante é a concordância entre elas.
Daí a necessidade de se respeitar a uniformidade da inclinação do telhado.
Na figura a seguir é mostrada uma casa cuja cobertura é composta por um telhado de formato
complexo, com várias águas.

O telhado é constituído por uma parte resistente, formada pela estrutura de sustentação, e por um
conjunto de elementos de vedação que revestem a trama da cobertura. O telhado mais usado é formado
por tesouras com caimentos que acompanham os planos das duas águas principais, razão pela qual
daremos ênfase ao estudo da ação do vento nesse tipo de telhado.

A.11.2Inclinação
A inclinação do telhado é um fator determinante na avaliação dos esforços causados pelo vento na
estrutura de uma cobertura. Em geral, a carga crítica que causa acidentes em telhados é a sucção, que
acontece quando o vento contorna o telhado, ganhando velocidade. Como aprendemos no estudo dos
princípios de aerodinâmica, sempre que há um aumento da velocidade do vento ocorre, simultaneamente,
uma diminuição de pressão.
De modo geral, as sucções nos telhados de pequena inclinação são os maiores esforços causados pelo
vento sobre as edificações. Pode haver casos em que a sucção é bastante superior ao peso próprio do
telhado, ocasião em que os esforços na estrutura de sustentação da cobertura se invertem. Constatou-se
que as maiores sucções ocorrem em telhados com inclinação em torno de 10º, com vento normal à
fachada.
A inclinação do telhado é fixada em função do tipo de telha e da possibilidade de aproveitamento do
espaço para sótão. Quanto maior for a inclinação do telhado, maior a velocidade das águas da chuva na
descida sobre ele. Um caimento maior evita a possibilidade de penetração da água através da junção entre
as telhas quando a chuva é acompanhada de vento forte. O limite da inclinação é determinado pela
possibilidade de deslocamento da telha e a necessidade de amarração com arame.

Inclinação de telhado

A.12COMPONENTES DOS TELHADOS


A estrutura resistente de um telhado pode ser uma laje em que se apoiam pontaletes, tesouras de madeira
ou treliças metálicas. Sobre a estrutura de sustentação assenta-se a trama, composta por terças, caibros e
ripas, que tem como finalidade receber as telhas e distribuir a carga na estrutura resistente.

A.12.1Composição dos Esforços no Telhado


O peso da cobertura e as sobrecargas no telhado são transmitidos para as tesouras por meio do
vigamento das terças, as quais se apoiam nos pontos de encontro das peças que formam a tesoura,
chamados de “nós”. Dessa forma, os componentes da tesoura estarão sujeitos apenas a esforços de
compressão ou de tração. Evita-se assim, que as peças trabalhem à flexão, o que exigiria maiores seções.
Para que um sistema articulado, como é o caso da tesoura de telhado, esteja em equilíbrio estático, é
necessário e suficiente que cada um dos “nós” esteja em equilíbrio sob a ação das forças externas
solicitantes e das reações exercidas pelas barras que se encontram no nó. Isso é válido tanto para
tesouras de madeira ou metálicas.
A representação gráfica da forma das pressões e sucções nos telhados em função da inclinação é
mostrada a seguir.

Ângulo de incidência do vento: 90º


Inclinação do telhado: < 30º

Inclinação do telhado: 30º


Observa-se que, na zona de sobrepressão, a curva é côncava, enquanto na zona de sucção, ela é
convexa.

Vento paralelo à geratriz: 0º


Devemos ainda estudar a possibilidade de o vento incidir na edificação com fluxo paralelo à linha de
cumieira, para verificar a pior situação da ação do vento. Nessa situação, a passagem do fluxo provoca
sucção em todo o telhado, independentemente de sua inclinação. Essa sucção é maior nas proximidades
de barlavento, decaindo na zona de sotavento.

Neste caso, para qualquer inclinação do telhado, a conformação gráfica das curvas de pressão é a
seguinte:
Ângulo de incidência do vento: 0º

O coeficiente de pressão e de forma externo (Ce) deve levar em conta as proporções entre a altura e a
base da edificação. A corrente de ar penetrando no interior de uma edificação por aberturas existentes, ou
que venham a ocorrer em virtude de acidente durante uma ventania, como a ruptura de vidros fixos,
encontrando uma vazão de saída inferior à de entrada, ou havendo mudança na direção dos filetes de ar,
irá ocasionar um aumento de pressão interna (sobrepressão). É o que ocorre quando existe uma abertura
dominante na face de barlavento.

Quando a abertura está voltada para a face de sotavento, ocorre uma tendência de a vazão de saída,
por efeito da sucção externa, ser maior que a de entrada, ocasionando uma subpressão interna.

A determinação dos coeficientes de pressão interna, conforme determina a Norma Técnica, envolve
certo grau de complexidade em virtude da necessidade de uma precisão na avaliação dos índices de
permeabilidade das paredes.

A.12.2Cálculo Prático
No caso de residências de padrão normal em que não exista grande número de recortes do telhado, o
efeito da força do vento atuando perpendicularmente à superfície inclinada do telhado faz com que as
peças voltadas para o vento trabalhem à flexão.
Para que a estrutura do telhado se comporte bem ao esforço ocasionado pelo vento, as dimensões das
peças deverão ser mais robustas, o que significa dizer que devem ter mais peso, aumentando,
consequentemente, o peso próprio da cobertura.
Considera-se que o vento atua da seguinte maneira: em superficies verticais, ele incide horizontalmente
e, em superfícies inclinadas, a incidência do vento se dá sob um ângulo de 10°.

Para a determinação do esforço do vento incidindo com determinado ângulo em uma superficie
inclinada, torna-se necessário estabelecer a pressão exercida pelo vento como incidindo
perpendicularmente ao plano do telhado. Essa determinação é feita graficamente, conforme a inclinação
do telhado.
Para telhados com inclinação menor que 30°, haverá o esforço de sucção na superficie do telhado.
Para inclinação maior que 30°, haverá compressão.

Tomando como referência a construção gráfica, torna-se possível determinar o valor de qn através da
seguinte fórmula:

qn = q × sen2 (α + 10°)

Para melhor entendimento, tomemos como exemplo de cálculo do esforço em um telhado, com
inclinação (α) de 30°, de uma casa construída no subúrbio de uma grande cidade, na qual pode haver
ocorrência de vento (vo) de até 120 km/h.
Em primeiro lugar, vamos determinar a velocidade característica do vento.

vk = vo S1 S2 S3

vo = 120 km/h
S1 = 1,00 (caso geral)
S2 = 0,90 (subúrbio de grande cidade e pouca altura)
S3 = 0,95 (baixa ocupação)
Resulta em uma velocidade característica vk = 102,6 km/h ou 28,5m/s.

Correspondendo a uma pressão de obstrução:

Considerando a inclinação do telhado:


qn = 50,8 × sen2 40°, que resulta em qn = 21 kgf/m2 de telhado, atuando perpendicularmente a ele.

Por hábito e de forma empírica, em telhados comuns destituídos de maior importância, é costume usar
um valor em torno de 30 kgf/m2 para efeito da ação do vento. Verifica-se, na prática, que o valor
encontrado em nosso exemplo não está fora dos parâmetros, podendo ser adotado na maioria dos casos,
salvo naqueles que exigem maiores cuidados.
A adoção de um valor empírico para o caso de habitações e edificações, em geral, se justifica, uma vez
que os parâmetros aplicados não podem ser considerados exatos. Dos fatores de correção da velocidade
básica do vento, o que apresenta maior variação é o S2 (fator de rugosidade), que leva em conta a
exposição e a existência de obstáculos que impeçam a livre circulação do vento.
APÊNDICE B
VIGAS CONTÍNUAS COM VÃOS IGUAIS

B.1 TABELAS PARA CÁLCULO DE VIGAS CONTÍNUAS


Antes do evento do computador e dos programas para cálculo estrutural com variáveis, o calculista
procurava montar tabelas que facilitassem o seu trabalho e permitissem ganhar tempo.
A seguir é apresentada uma tabela bastante útil, mas que só é válida para vigas com vãos iguais, fato
que impede seu uso para o caso de vigas com vãos variáveis.

Tabela B.1 Tabela para vigas contínuas com vãos iguais

VALORES NÚMERO DE VÃOS MULTIPLICADOR

2 3 4 5 6

R0 0,3750 0,4000 0,3929 0,3947 0,3942 p·ℓ


R1 1,2500 0,1000 1,1428 1,1317 1,1346 p·ℓ
R2 0,9286 0,9736 0,9616 p·ℓ
R3 1,0192 p·ℓ

-X1 0,1250 0,1000 0,1071 0,1053 0,1058 p · ℓ2


-X2 0,0714 0,0789 0,0769 p · ℓ2
-X3 0,0865 p · ℓ2

M1 máx 0,0703 0,0800 0,0772 0,0779 0,0777 p · ℓ2


m2 máx 0,0250 0,0364 0,0332 0,0340 p · ℓ2
M3 máx 0,0461 0,0433 p · ℓ2

x1 0,3750 0,4000 0,3930 0,3947 0,3942 ℓ


x2 0,5000 0,5357 0,5264 0,5327 ℓ
x3 0,5000 0,4904 ℓ

p = carga uniformemente distribuída por unidade de comprimento;ℓ = vão entre apoios; R = reação de apoio; –X = momento
negativo sobre o apoio;Mmáx = momento máximo no vão; x = distância do ponto de momento máximo ao apoio da esquerda mais
próximo.
DIAGRAMAS DE MOMENTO FLETOR

Viga com 3 apoios e 2 vãos

Viga com 4 apoios e 3 vãos

Viga com 5 apoios e 4 vãos

Viga com 6 apoios e 5 vãos

B.2 MÉTODO DE CROSS


O método de Cross utiliza o princípio da estabilidade da estrutura em decorrência da rigidez das barras e
rigidez do nó em que se encontram duas ou mais barras de uma estrutura. Se as barras não forem rígidas
o suficiente para suportar as cargas, ou o encontro entre as barras não se mantiver estático, não será
possível manter a estabilidade do conjunto.
Assim, a solidariedade dos elementos de uma estrutura depende de dois fatores, a saber:
1) Rigidez das barras: a relação entre o momento aplicado no extremo de uma barra é transmitido ao
outro extremo segundo um fator denominado “coeficiente de transmissão”. Quando a seção da
barra é a mesma em toda a extensão, portanto, o seu momento de inércia J é constante, o
coeficiente de transmissão é igual a 0,5.

2) Rigidez dos nós: representa-se pelo “coeficiente de distribuição”. Quando temos um nó em que
convergem várias barras, um momento M aplicado no nó se distribui em quinhões nas diversas
barras, de tal modo que:

M total do nó = Σ M de cada barra

ou seja,

Mo = Ma + Mb + … + Mn

A distribuição de quinhões do momento aplicado no nó para cada uma das barras que chega nesse nó
depende dos comprimentos das barras e do momento de inércia da seção de cada uma das barras (J).

K = coeficiente de rigidez de uma barra


J = momento de inércia da seção da barra
L = vão da barra
O coeficiente de distribuição é a relação entre o coeficiente de rigidez da barra considerada, dividida
pelo somatório dos coeficientes de rigidez das barras que se ligam ao nó.

A soma dos coeficientes de distribuição em um nó é igual a um.

B.3 CONVENÇÃO DE GRINTER


Os momentos exercidos à esquerda do apoio são negativos e os momentos exercidos à direita do apoio
são positivos.

A compensação dos momentos deve ser iniciada no nó mais desequilibrado, ou seja, naquele em que a
diferença entre o momento à esquerda e à direita do nó seja a maior de todas.
Como os momentos de engaste perfeito no nó interagem, tudo se passa como se houvesse uma carga
momento concentrada no nó considerado igual à soma algébrica dos momentos no nó. A estrutura reage
produzindo um momento equilibrante igual e de sinal contrário.
Multiplicando o momento equilibrante pelo coeficiente de distribuição, achamos o valor dos momentos
absorvidos em cada um dos tramos adjacentes ao nó considerado.
Em seguida, faz-se a transmissão dos momentos para o apoio adjacente, encerrando o ciclo.
Os ciclos se repetem para cada nó, até que se tenha realizado o equilíbrio.
O valor do momento na seção será o valor do momento equilibrante, respeitando a convenção de sinal.

B.4 APLICAÇÃO DO MÉTODO DE CROSS


Calcular os momentos nos apoios de uma viga contínua, carregada com alvenaria de diferentes alturas,
conforme a figura a seguir. Vale dizer que, nos carregamentos, estão incluídos as sobrecargas e o peso
próprio da viga contínua, e que consideramos uma viga com seção constante no longo de sua extensão.

B.4.1 Coeficiente de Rigidez da Barra


Rigidez da barra representa sua capacidade de transmitir o esforço aplicado em um extremo até o outro
extremo, e depende do momento de inércia da seção e do comprimento da barra. Um momento aplicado
no nó em que convergem várias barras se distribui em quinhões nas diversas barras. O coeficiente de
distribuição, como já foi dito, é a relação entre o coeficiente de rigidez da barra considerada, dividida pelo
somatório dos coeficientes de rigidez das barras que se ligam ao nó.
APÊNDICE C
RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE
VIGAS

Diversos fatores contribuem para o aparecimento de fissuras nas


vigas de concreto armado, sendo alguns de natureza inerentes ao
conjunto concreto e aço. O fato de o aço ter um grau de
elasticidade maior que o concreto já é uma condição para o
aparecimento de fissuras.
Uma viga de concreto armado sujeita a uma carga sofre uma
deformação natural que leva ao encontro do equilíbrio elástico,
dando condição a um pequeno alongamento da armadura
longitudinal por efeito da tração. Como o concreto não apresenta
uma condição de resistência à tração, surgem as fissuras
invisíveis a olho nu. Compreende-se, portanto, que as
microfissuras são inerentes ao concreto armado.

Porém, quando a fissura se torna visível, transforma-


se em um alerta, particularmente quando se
apresenta com determinada configuração e amplitude.

Dependendo da posição, inclinação e direção da fissura, é


possível determinar as suas causas. Apresentamos a seguir
alguns tipos de fissuras característicos de causas conhecidas.
C.1 FISSURAS DE FLEXÃO
As fissuras de flexão são as mais comuns, e por isso mesmo, as
mais conhecidas e facilmente identificáveis.

As principais causas desse tipo de fissura são:


▶ carga maior que a prevista inicialmente;
▶ armadura insuficiente;
▶ escorregamento da ferragem por insuficiência de
ancoragem.
As fissuras de flexão aparecem lentamente, havendo tempo
para sua recuperação. Se não forem adotadas medidas corretivas,
pode chegar ao colapso.

Ruptura por tração na flexão

C.2 FISSURAS DE CISALHAMENTO


As fissuras provocadas pelo esforço cortante se manifestam junto
aos apoios e têm uma conformação típica do cisalhamento.

As principais causas são:


▶ carga maior que a prevista inicialmente;
▶ estribos insuficientes;
▶ concreto de baixa resistência.
As fissuras de cisalhamento, em geral, manifestam-se em
processo rápido, sendo por esta razão, bastante perigosas.

Ruptura por cisalhamento

Existem ainda inúmeras outras causas que provocam o


aparecimento de fissuras, entre as quais cabem citar:
▶ por retração do concreto;
▶ por deformação lenta do concreto;
▶ por escorregamento da armadura;
▶ por dilatação térmica etc.

C.3 MEDIDAS CORRETIVAS E DE REFORÇO

Reforço de viga ao cisalhamento por insuficiência de estribos


C.4 FALHAS NA EXECUÇÃO
Em alguns casos, o defeito em uma viga se origina durante a
execução da obra. É o caso de quando ocorre insuficiência de
escoramento da forma. Para que tal fato não ocorra, é necessário
fazer os cálculos do escoramento.
As formas para concretagem das vigas são mantidas na
posição com o emprego de escoras. A quantidade e o
espaçamento entre as escoras dependem da dimensão da sua
seção e da altura do escoramento, além da carga a ser suportada.
As dimensões da seção da escora devem ser compatíveis com
sua altura, conforme a seguinte relação:
sendo:

Lfl = comprimento de flambagem da barra


i = raio de giração mínimo da seção da barra
Os valores do raio de giração mínimo variam em função da
forma geométrica da seção da escora.

Essa relação, em princípio, deve estar abaixo de 100, não


devendo ultrapassar a 140.
As vigas do perímetro das lajes diferem das vigas internas,
devendo receber um reforço da lateral externa para não abrirem
durante a concretagem.

Um processo rápido e fácil para calcular o escoramento das


formas nos é patrocinado pela tabela de Rondelet. Deve-se
considerar que a carga que um pontalete pode suportar é dada
por:

N=W×σ×A

em que:
A = área da seção da escora
σ = tensão admissível na madeira da escora
W = coeficiente fornecido pela tabela de Rondelet, que depende
da relação entre a altura da escora e a menor dimensão da sua
seção.

Tabela C.1 Tabela de rondelet

L/a W L/a W L/a W

11 0,917 31 0,403 51 0,146


12 0,833 32 0,389 52 0,139

13 0,805 33 0,375 53 0,132

14 0,778 34 0,361 54 0,125

15 0,750 35 0,347 55 0,118

16 0,722 36 0,333 56 0,111

17 0,694 37 0,317 57 0,104

18 0,667 38 0,305 58 0,097

19 0,639 39 0,291 59 0,090

20 0,611 40 0,277 60 0,083

21 0,583 41 0,264 61 0,080

22 0,555 42 0,250 62 0,076

23 0,528 43 0,236 63 0,073

24 0,500 44 0,222 64 0,069

25 0,486 45 0,208 65 0,066

26 0,472 46 0,194 66 0,062

27 0,458 47 0,180 67 0,059

28 0,444 48 0,167 68 0,055


29 0,430 49 0,160 69 0,052

30 0,417 50 0,153 70 0,049

L = altura do pontalete; a = menor dimensão da seção da peça.

Por exemplo, determinar o escoramento para execução de


uma viga com pontaletes de eucalipto, com comprimento de 3,20
m e diâmetro médio de 10 cm.
O peso a ser suportado inclui:
peso da forma = 34,12 kg/m
peso da armadura da viga = 7,15 kg/m
concreto em massa = 264,00 kg/m
pessoal e equipamento = 150,00 kg/m
total = 455,27 kg/m
Na Tabela C.2 a seguir, verificamos que a tensão admissível à
compressão simples para pontalete de eucalipto é de 52 kg/cm2.

Tabela C.2 Madeiras de uso na construção civil

ESPÉCIE MASSA LIMITES DE TENSÃO USO NA


DE ESPECÍFICA RESISTÊNCIA ADMISSÍVEL CONSTRUÇÃO
MADEIRA (kg/CMP) com
MADEIRA A 15 %
pressão
VERDE DE
simples
UMIDADE
Pinho do 5,5 260 420 52 Estrutura de
Paraná telhado
Formas e
andaimes

Jequitibá 7,8 472 593 94 Obras


temporárias
Escoramentos

Eucalipto 5,0 263 421 52 Pontaletes

Cedro 5,9 337 422 67,4 Formas para


concreto

Sucupira 9,9 639 759 127,8 Pontaletes e


andaimes

Unidades: peso em kg; extensão, área e volume em cm.

Na Tabela de Rondelet (Tabela C.1), para L = 3,20 m e


diâmetro = 10 cm, teremos:

L/a = 32 W = 0,389

Aplicando os valores na fórmula, obtemos:

N = 1588 kg

Este seria, teoricamente, o peso máximo que uma escora


suportaria.
Por se tratar de madeira bruta, com irregularidade no diâmetro,
adota-se um fator de segurança igual a dois.
Normalmente, é usado um espaçamento de 1,00 a 1,50 m
entre as escoras. Adotando-se, então, o espaçamento de 1,45 m
entre as escoras, resulta em:
Capacidade de suporte da carga: 794/1,45 = 547,6 kg/m
Carga atuante: 455,27 kg

Como se vê, o valor aqui encontrado é compatível, ainda mais


considerando o fator de segurança adotado.
GLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS

Abóbada — Cobertura encurvada de teto côncavo. Do ponto de


vista da geometria, a abóbada tem origem em um arco que se
desloca e gira sobre o próprio eixo, cobrindo toda a superfície do
teto. As abóbadas variam de acordo com a forma do arco de
origem.
Acabamento — Arremate final da estrutura e dos ambientes da
casa, feito com os diversos revestimentos de pisos, paredes e
telhados.
Acesso — Qualquer meio de entrar e sair de um ambiente,
terreno, rampa, escada ou corredor.
Aclive — Quando o terreno se apresenta em subida em relação à
rua considerada de baixo para cima.
Adensamento — Processo manual ou mecânico para compactar
a mistura de concreto no estado fresco com o objetivo de eliminar
vazios internos da mistura (bolhas de ar) ou facilitar a acomodação
do concreto no interior das fôrmas.
Afastamento — Distâncias entre as faces da construção e os
limites do lote.
Agregado — Material mineral (areia, brita etc.) ou industrial que
entra na preparação do concreto para lhe conferir trabalhabilidade.
Agregado leve — Material mineral composto por argila expandida
e de peso específico menor que o da água. O agregado leve flutua
na água.
Alicerce — Maciço de alvenaria enterrado que recebe a carga das
paredes da construção.
Aprumar — Acertar a verticalidade de paredes, colunas ou
esquadrias por meio do chamado fio de prumo.
Aterro — Colocação de terra ou entulho para nivelar uma
superfície irregular do terreno.

Balanço — Prolongamento para além do apoio de parte de uma


estrutura, como uma viga ou uma laje.
Balaústre — Pequena coluna ou pilar em metal, madeira, pedra
ou alvenaria que, alinhada lado a lado, sustenta corrimãos e
guarda-corpos.
Balcão — Elemento em balanço, na altura de pisos elevados,
disposto diante de portas e janelas. É protegido com grades ou
peitoril.
Baldrame — Designação genérica de vigas de concreto armado
que correm debaixo do piso para a sustentação das paredes do
pavimento térreo.
Banzo — Nome dado para as abas das vigas metálicas, superior
ou inferior nas vigas T ou I.
Beiral — Prolongamento do telhado para além da parede externa,
protegendo-a da ação das chuvas.
Betoneira — Máquina que mistura as argamassas e é usada para
o preparo do concreto.
Bloco — Edifícios que constituem um só conjunto construído.
Bloco cerâmico — Tijolo de barro utilizado para a execução das
paredes como elemento de vedação. Pode ter função estrutural,
caso no qual é prensado para adquirir maior resistência.
Bloco de concreto — Elemento de dimensões padronizadas. Tem
função estrutural ou decorativa, cuja qualidade geralmente é
melhor que o de cerâmica ou barro.
Bloco de coroamento de estacas — Bloco de concreto armado
de ligação entre estacas para a distribuição de cargas nas
cabeças de estacas.
Bloco sílico-calcário — Bloco com função estrutural.
Braçadeira — Peça metálica que, normalmente, segura as vigas
ou tesouras do madeiramento. Também fixa peças, como tubos,
em paredes.
Brita — Pedra fragmentada. Fragmentos de pedra de dimensões
padronizadas usados na concretagem. Dependendo de seu
diâmetro máximo, é classificada de 0 a 4, da menor para a maior.

Caderno de encargos — Conjunto de especificações técnicas,


critérios, condições e procedimentos estabelecidos pelo
contratante para a contratação, execução, fiscalização e controle
dos serviços e obras.
Caiar — Pintar com cal diluída em água.
Caibro — Peça de madeira nos telhados, geralmente de seção
próxima ao quadrado, que assenta nas terças e sustenta as ripas
de telhados.
Caixa de escada — Espaço, em sentido vertical, destinado à
escada.
Cal — Material indispensável à preparação das argamassas. É
obtida a partir do aquecimento da pedra calcária a temperaturas
próximas de 1000 ºC.
Calafetar — Vedar fendas e pequenos buracos. Serve ainda para
vedar as formas de concretagem para evitar a perda da água com
cimento contida no concreto, afetando o fator água-cimento.
Cálculo estrutural — Cálculo que estabelece a dimensão e a
capacidade de sustentação dos elementos básicos de uma
estrutura, que pode ser de concreto armado, de estrutura metálica,
de madeira ou de outros materiais.
Calefação — Qualquer sistema de aquecimento para interiores.
Calha — Duto aberto que recebe as águas da chuva e as leva aos
condutores verticais.
Cambota — Molde de madeira com meia-volta usado na
confecção dos arcos.
Cantaria — Pedra esquadrejada usada para edificar, construir
muros ou casas.
Canteiro de obra — Local da construção no qual se armazenam
os materiais e se realizam os serviços auxiliares durante a obra.
Cantoneira — Peça em forma de L que remata quinas ou ângulos
de paredes.
Capa — Camada de concreto aplicada para proteger a ferragem
dos elementos de concreto armado.
Carga concentrada — Carga aplicada em determinado ponto da
estrutura.
Carga distribuída — Carga aplicada ao longo do elemento
estrutural.
Cargas acidentais — Cargas que podem atuar sobre a estrutura
de edificações em função do seu uso (pessoas, móveis, veículos e
materiais diversos).
Cargas permanentes — Peso de todos os elementos construtivos
fixos e instalações permanentes, tais como revestimentos, pisos,
enchimentos, concretos, paredes divisórias e outras.
Chapiscar — Lançar argamassa de cimento e areia grossa contra
a superfície para torná-la áspera.
Chumbar — Fixar com cimento ou argamassa.
Cimento — Aglomerante obtido a partir do cozimento de calcários
naturais ou artificiais. Misturado com água, forma um composto
que endurece em contato com o ar. O cimento de uso mais
frequente é o Portland, cujas características são resistência e
solidificação em tempo curto.
Cinta de amarração ou cintamento — Sucessão de vigas
situadas nas paredes perimetrais das construções, visando tornar
mais solidárias entre si as paredes concorrentes.
Coluna — Elemento estrutural de sustentação, quase sempre
vertical. Ao longo da história da arquitetura, assumiu as formas
mais variadas e diversos ornamentos. Esses elementos aparecem
inicialmente nas colunas dóricas e jônicas dos templos gregos.
Concreto — Mistura de água, cimento, areia e pedra britada em
proporções prefixadas, que forma uma massa compacta que
endurece ou ganha pega com o tempo.
Concreto armado — Quando a massa recebe armaduras de aço,
chamadas de vergalhões, para aumentar sua resistência no que
se refere a esforços de tração.
Console — Elemento em balanço na parede para servir de apoio
às sacadas.
Contrapiso — Camada, com cerca de 3 a 5 cm de massa de
cimento e areia, que nivela o piso antes da aplicação do
revestimento.
Contraventamento — Estrutura auxiliar organizada para resistir a
solicitações extemporâneas que podem surgir nos edifícios. Sua
principal função é aumentar a rigidez da construção, permitindo-a
resistir à força dos ventos.
Contraverga — Viga de concreto usada sob a janela para evitar a
fissuração da parede.
Corrimão — Apoio para a mão colocado ao longo das escadas.
Corte — Desenho que apresenta uma construção sem as paredes
externas, deixando à mostra uma série de detalhes como: pé-
direito, divisões internas, comprimentos, escadas etc.
Cota — Toda e qualquer medida expressa em plantas
arquitetônicas.
Croqui — Primeiro esboço de um projeto arquitetônico.
Cúpula — Parte superior interna e externa de algumas
construções. Uma curiosidade das cúpulas é o aparecimento do
óculo, abertura no seu ponto mais alto que permite a entrada de
luz e que, muitas vezes, conta com uma pequena edícula,
chamada lanterna ou lanternim. Outra curiosidade é que,
normalmente, as cúpulas são duplas, ou seja, é feita uma cúpula
interna, oca, e outra externa, encarregada da proteção da
construção.
Cura — Ação que garante água suficiente para que todo o
processo de reação química do cimento se complete. Se o
concreto não for curado, ficará sujeito a fissuras em sua superfície.

Deck — Piso em madeira ripada, geralmente para circundar


piscinas, banheiras e represamentos de água ou servir de palco
criando desnível.
Declive — Quando o terreno se apresenta em subida em relação
à rua.
Demão — Cada uma das camadas de tinta ou qualquer outro
líquido aplicado sobre uma superfície qualquer.
Desaterro — Local de onde se retirou um volume de terra;
desterro.
Descimbramento — Retirada do escoramento e das fôrmas.
Desempenadeira — Instrumento de pedreiro, em madeira ou
metal acrílico, usado para distribuir e aplainar a massa sobre as
paredes.
Desgaste — Efeito causado nas superfícies pelo movimento de
pessoas ou objetos.
Drenagem — Escoamento de águas por meio de tubos ou valas
subterrâneas, chamados de drenos.
Dry-wall — Sistema no qual as paredes são executadas com
gesso acartonado impermeável e perfis metálicos, gesso cujo
papel utilizado é verde, e perfis metálicos.
Duto — Tubo que conduz líquidos (canos), fios (condutores) ou ar.

Edícula — Construção complementar à principal, na qual,


geralmente, ficam instalados a área de serviços, as dependências
de empregados ou o lazer.
Edificação — Obra, construção, estrutura feita para determinada
finalidade.
Elemento vazado — Peça produzida em concreto, cerâmica ou
vidro, dotada de aberturas que possibilitam a passagem do ar e
luz para o interior da casa.
Elevação — Representação gráfica das fachadas em plano
ortogonal, ou seja, sem profundidade ou perspectiva.
Emboço — Primeira camada de argamassa nas paredes. É feito
com areia grossa, não peneirada.
Empena — Cada uma das faces dos frontões, paredes laterais
nas quais se apoiam os extremos da cumeeira do telhado de duas
águas.
Empreitada — Contrato pelo qual uma das partes se obriga em
relação à outra a realizar qualquer tipo de obra ou serviço, sendo
tratado que recebem para executar aquela tarefa e o pagamento
fica preestabelecido apenas ao término da tarefa a 100 %. É
fixado o prazo com tal objetivo acordado entre as partes.
Engastado — Encaixado, embutido.
Ensaio de abatimento — Ensaio realizado de acordo com a
norma técnica para determinação da consistência do concreto e
que permite verificar se não há excesso ou falta de água no
concreto.
Esforço cortante — Esforço transversal ao eixo da peça que
pode ocasionar seu cisalhamento.
Estaca Strauss — Quando a perfuração no terreno é feita com
um tubo de 75 cm e após, é lançado concreto para encher o furo.
Esse tipo de estaca deve ser cravado em uma profundidade até
encontrar terreno firme.
Estaiar — Segurar e manter firme com “estai”, emprego de um
cabo ou vergalhão esticado que permite equilibrar uma torre ou
elemento vertical em pé na obra.
Estribo — No concreto armado, são as alças de ferro redondo
colocadas transversalmente à armadura longitudinal, espaçadas
ao longo das vigas, objetivando absorver os esforços cortantes.
Nos pilares, são destinados a solidarizar a ferragem. Tem esse
nome também a peça de ferro batido que une o pendural das
tesouras ao tirante.
Estrutura — Conjunto de elementos que forma o esqueleto de
uma obra e sustenta o peso de paredes, telhado e pisos.
Estudo preliminar — Busca da viabilidade de uma solução que
dá diretriz e orientações à elaboração do anteprojeto.
Estuque — Massa à base de cal e gesso e água, usada para
fazer forros.

Fachada — Cada uma das faces de qualquer construção, a de


frente é denominada fachada principal, e as demais: fachada
posterior ou fachada lateral.
Ferreiro — Profissional responsável pelo corte e pela armação
dos ferros dos elementos estruturais de uma construção.
Fiada — Fileira horizontal de pedras ou de tijolos de mesma altura
que entram na formação de uma parede.
Fissura — Corte ou trinca superficial no concreto ou na alvenaria.
Flanco — Parte lateral da construção.
Flecha — Deformação devida ao deslocamento perpendicular de
seção da estrutura construída. Usa-se aplicar a contraflecha antes
da concretagem, de modo a melhorar o aspecto da peça estrutural
em lajes e vigas.
Flexão — Esforço físico em que a deformação ocorre
perpendicularmente ao eixo do corpo, paralelamente à força
atuante. A linha que une o centro de gravidade de todas as seções
transversais constitui o eixo longitudinal da peça, que está
submetido a cargas perpendiculares. Este elemento desenvolve
em suas seções transversais um esforço que gera momento fletor.
Fôrma — Elemento montado na obra para fundir o concreto,
dando formas definitivas aos elementos estruturais de concreto
armado, que irão compor a estrutura da construção. Em geral, são
de madeira ou de metal.
Fundação — Conjunto de estacas e sapatas responsável pela
sustentação da obra.
Fuste — Parte intermediária de uma coluna, entre a base e o
capitel.

Gabarito — Marcação feita com fios nos limites da construção


antes do início das obras. O encontro de dois fios demarca o lugar
dos pilares. É feito baseado no trabalho do topógrafo,
planialtimetria, nível de referência etc. Também chamada assim a
peça que é executada geralmente em compensado ou papel
grosso, no qual é marcada a forma exata que a futura peça irá ter
no local, ou irá se encaixar.
Galgar — Alinhar, levantar, alçar, endireitar, desempenar; fazer
com que uma régua, uma tábua ou um vão (porta ou janela)
tenham seus lados perfeitamente paralelos.
Galpão — Depósito. Construção que tem uma das faces aberta.
Gesso — Pó de sulfato de cálcio que, misturado à água, forma
uma pasta compacta, usada no acabamento de tetos e paredes.
Gesso acartonado — Painéis de gesso revestido por papel-
cartão com espessura, em geral, de 12 mm.
Granito — Rocha cristalina formada por quartzo, feldspato e mica.
Muito usado para revestir pisos. Existem diversas cores de granito
e, muitas vezes, o seu nome deriva da sua cor ou do local em que
fica a jazida.
Grauteamento — Aplicação de argamassa com aditivo especial
que confere características de aumento de volume durante a pega,
usada em base de máquinas e alvenaria estrutural.

Habitação — Direito real, personalíssimo, conferido a alguém, de


morar gratuitamente, com sua família, na casa alheia, durante
certo espaço de tempo. Casa que a pessoa ocupa e onde vive, no
momento. Morada, domicílio, residência. Ao termo habitação
também se dá o sentido de prédio, imóvel, alojamento.
Habite-se — Documento emitido pela prefeitura com a aprovação
final de uma obra e para permitir que seja habitada.
Hall de entrada — Patamar de acesso ao interior da casa.

Impermeabilização — Conjunto de providências que impede a


infiltração de água na estrutura construída, podendo ser com filme
plástico ou por aplicação de camadas de betume ou massa
impermeável chamada de manta, em geral com 3 mm.
Complemento por meio de proteção mecânica com massa de
cimento e areia, cujo fornecimento é, em geral, de
responsabilidade do contratante.
Implantação — Criação do traçado no terreno para demarcar a
localização exata de cada parte da construção.
In loco — Ato de executar no local.
Inchamento — Aumento de volume sofrido pela areia quando
molhada.
Infiltração — Ação de líquidos no interior das estruturas
construídas. Existem dois tipos básicos: de fora para dentro,
quando se refere aos danos causados pelas chuvas ou pelo
lençol; e de dentro para fora, quando a construção sofre os efeitos
de vazamentos ou problemas no sistema hidráulico.

Junta de dilatação — Recurso que impede rachaduras ou fendas.


São réguas muito finas de madeira, metal ou plástico, que criam o
espaço necessário para que os materiais como concreto, cimento
etc. se expandam sem danificar a superfície.

Laje — Estrutura plana e horizontal de pedra ou concreto armado,


apoiada em vigas e pilares, que divide os pavimentos da
construção.
Lençol freático — Camada na qual se acumulam as águas
subterrâneas. Seu rebaixamento é contratado à firma
especializada em solos, que utiliza bombas para extração da água
e canalização para bueiros. A prefeitura exige a utilização de caixa
de coleta e decantação de sólidos antes do bota-fora, sendo
aplicadas multas quando a mesma não é utilizada, implicando,
inclusive, o embargo da obra.
Levantamento topográfico — Análise e descrição topográfica de
um terreno.
Limite de escoamento — Tensão na qual a deformação do
material aumenta rapidamente para um pequeno acréscimo de
esforço que age sobre o material.
Limite elástico — Maior tensão que um material pode suportar,
sem sofrer deformações permanentes.

Macho-fêmea — Tipo de encaixe no qual uma peça traz uma


saliência e a outra, uma reentrância.
Mão-francesa — Série de tesouras. Escora. Elemento estrutural
inclinado que liga um componente em balanço à parede,
diminuindo o vão livre no pavimento inferior.
Marquise — Pequena cobertura que protege a porta de entrada.
Cobertura, aberta lateralmente, que se projeta para além da
parede da construção.
Massa — Argamassa usada no assentamento ou revestimento de
tijolos, ou para executar pisos.
Massa corrida — Massa à base de PVA ou acrílico, aplicada com
espátula, que dá um acabamento liso à superfície a ser pintada.
Massa fina — Mistura proporcional de areia fina, água e cal,
utilizada no reboque de paredes ou muros.
Massa grossa — Mistura proporcional de areia, cal e cimento
usada para emboçar ou chapiscar.
Matacão — Pedra arredondada, encontrada isolada na superfície
ou no seio de massas de solos ou de rochas alteradas, com
dimensão nominal mínima superior a 10 cm.
Meia-água — Telhado com apenas uma água, um só plano
inclinado.
Meio-fio ou guia — Peça de pedra ou de concreto que delimita a
calçada da rua.
Meio-tijolo — Parede de espessura correspondente à largura de
um tijolo assentado pelo comprimento.
Memória descritiva — Descrição de todas as características de
um projeto arquitetônico, especificando os materiais que serão
necessários à obra, da fundação ao acabamento.
Mestre de obras — Profissional que dirige os operários em uma
obra e que possui muita experiência prática em todos os tipos de
serviços, mais do que o encarregado.
Mezanino — Piso intermediário que interliga dois pavimentos; piso
superior que ocupa uma parte da construção e se volta para o
nível inferior com o pédireito duplo. Atualmente, construído em
estrutura metálica.
Módulo de elasticidade — Relação entre o esforço e a
deformação para valores abaixo do limite elástico.
Momento fletor — É chamado momento fletor numa seção
transversal de uma viga o conjugado M, que é igual à soma
algébrica dos momentos das forças exteriores que estão à
esquerda da seção considerada em relação ao centro de
gravidade dessa seção.
Monta-carga — Equipamento eletromecânico ou manual tipo
elevador para transporte de material. Não permite transporte de
pessoas, por isso pode ser aberto.
Montante — Moldura de portas, janelas etc. Peça vertical que, no
caixilho, divide as folhas da janela.
Mosaico — Trabalho executado com caquinhos de vidro ou
pequenos pedaços de pedras e de cerâmicas incrustados em base
de argamassa, estuque ou betume ou mesmo cola.
Muro de arrimo — Muro de peso usado na contenção de terras e
de pedras de encostas. Muro de contenção, comumente de pedras
grandes.
Muro de contenção — Usado para contenção de terras e de
pedras de encostas.

Nicho — Cavidade ou reentrância nas paredes, destinada a


abrigar um armário ou prateleiras. É comum na composição de
bares ou na exposição de obras de arte.
Nível — Instrumento que verifica a horizontalidade de uma
superfície por meio de uma bolha de ar em um líquido, a fim de
evitar ondulações em pisos e contrapesos.
Nivelar — Regularizar um terreno por meio de aterro ou
escavação.
Norma técnica — Regra que orienta e normaliza a produção de
materiais de construção.

Oitão — Parede lateral de uma construção situada sobre a linha


divisória do terreno. O termo é muitas vezes confundido com
empena, porque, nos séculos passados, era comum encontrar
construções com telhado de duas águas paralelas ao alinhamento
do lote.
Orientação — Posição da casa em relação aos pontos cardeais.
Ornato — Adorno. Elemento com função decorativa.
Oxidação — Ferrugem. Processo químico em que se perde o
brilho pelo efeito do ar ou por processos industriais.

Parapeito — Proteção que atinge a altura do peito, presente em


janelas, terraços, sacadas, patamares etc. Diferenciase do guarda-
corpo por se tratar de um elemento inteiro, sem grades ou
balaústres. Ver peitoril.
Parede — Elemento de vedação ou separação de ambientes,
geralmente construído em alvenaria.
Patamar — Piso intermediário que separa os lances de uma
escada.
Pavimento — Andar. Conjunto de dependências de um edifício
situadas em um mesmo nível.
Pé-direito — Altura entre o piso e o teto.
Pedra — Corpo sólido extraído da terra, ou parte de rochedo, que
se emprega na construção de edifícios, no revestimento de pisos e
em peças de acabamento.
Pedra amarroada — Pedra bruta, obtida por meio de marrão, de
dimensão tal que possa ser manuseada.
Pedreiro — Profissional encarregado de levantar a alvenaria.
Pedrisco — Material proveniente da britagem de pedra, de
dimensão nominal máxima inferior a 4,8 mm e de dimensão
nominal mínima igual ou superior a 0,075 mm.
Pega do concreto — Início da solidificação da mistura fresca.
Peitoril — Base inferior das janelas, que se projeta além da
parede e funciona como parapeito.
Pérgola — Proteção vazada, apoiada em colunas ou em balanço,
composta por elementos paralelos feitos de madeira, alvenaria,
betão etc.
Perspectiva — Desenho tridimensional de fachadas e ambientes.
Pilar — Elemento estrutural vertical de concreto, madeira, pedra
ou alvenaria. Quando é circular, recebe o nome de coluna.
Pilastra — Pilar de quatro faces no qual uma delas está anexada
ao bloco construtivo.
Pilotis — Conjunto de colunas de sustentação do prédio que
deixa livre o pavimento térreo.
Piso — Base de qualquer construção. Onde se apoia o
contrapeso. Andar. Pavimento.
Plano inclinado — Rampa, elemento vertical de circulação.
Planta baixa — Representação gráfica de uma construção na
qual cada ambiente é visto de cima, sem o telhado, para
representar os diversos compartimentos do imóvel, suas
dimensões e suas diversas aberturas (esquadrias).
Planta isométrica — Tipo de perspectiva em que o desenho
reproduz todos os elementos do projeto, com pontos de fuga.
Muito usada para mostrar instalações hidráulicas.
Platibanda — Moldura contínua, mais larga do que saliente, que
contorna uma construção acima dos frechais, formando uma
proteção ou camuflagem do telhado.
Platô — Parte elevada e plana de um terreno. O mesmo que
planalto.
Pó de pedra — Proveniente do britamento de pedra, dimensão
nominal máxima inferior a 0,075 mm.
Policarbonato — Material sintético, transparente, inquebrável, de
alta resistência, que substitui o vidro no fecho de estruturas.
Garante luminosidade natural ao ambiente.
Porta — Abertura feita nas paredes, nos muros ou em painéis
envidraçados, rasgada até o nível do pavimento, que serve de
vedação ou acesso a um ambiente.
Pré-fabricado — Qualquer elemento produzido ou moldado
industrialmente, de dimensões padronizadas. O seu uso tem como
objetivo reduzir o tempo de trabalho e racionalizar os métodos
construtivos.
Projeto — Plano geral de uma construção, reunindo plantas,
cortes, elevações, pormenorização de instalações hidráulicas e
elétricas.
Proteção de itens prontos — Uso provisório até a entrega da
obra de plásticos lona de terreiro preto, gesso com sisal, folhas de
compensado, papelão em rolos, mantas de flanela para sinteco
etc. sobre acabamentos.
Prova de carga ou teste — Conjunto de procedimentos não
destrutivos executados por firma especializada a fim de verificar se
a obra está construída de acordo com o previsto no projeto. O
ensaio é feito utilizando, em geral, recipientes com água e são
feitas medições para verificar parâmetros de deformação,
defletômeros e outros. Pode ser também procedimento destrutivo
realizado em peça aleatória. São emitidos relatórios ou laudos.
Prumo, prumada — Aparelho que se resume a um fio provido
com um peso em uma das extremidades. Permite verificar o
paralelismo e a verticalidade de paredes e colunas.

Reboco — Revestimento de parede feito com massa fina,


podendo receber pintura diretamente ou ser recoberto com massa
corrida. Quando feita com areia não peneirada, recebe o nome de
emboço; se feita com areia fina, é denominada massa fina.
Recuo — O mesmo que afastamento.
Referência de Nível (RN) — Cota determinada a que todos os
projetos tomam como referência evitando erro de nível. Essa
referência adotada é transportada por meio de mangueira de nível
para os pontos-chave da obra, geralmente com a presença de
engenheiro ou técnico, além de um mestre.
Refratário — Qualidade dos materiais que apresentam resistência
a grandes temperaturas.
Rejunte — Procedimento de aplicação de pós como cimento
branco, cimento, serragem fina, ou granilhas apropriadas,
especiais, misturadas em líquidos ou cola PVA, para calafetar
cerâmicas e as juntas da alvenaria ou as frestas entre os materiais
de acabamento.
Relação água/cimento (a/c) — Relação, em massa, entre o
conteúdo efetivo de água e o conteúdo de cimento Portland.
Resistência à compressão — Esforço resistido pelo concreto,
estimado pela ruptura de corpos de prova.
Respaldar — Aplainar, alisar ou desempenar uma superfície, que
pode ser um terreno, uma parede etc. Na linguagem dos
pedreiros, também pode significar levantar as paredes.
Respaldo — Última carreira de tijolos de alvenaria no encontro
com o forro.
Revestimento — Designação genérica dos materiais que são
aplicados sobre as superfícies.
Rodapé — Faixa de proteção ao longo das bases das paredes,
junto ao piso. Os rodapés podem ser de madeira, cerâmica, pedra,
mármore etc. Os rodameios ficam a 1 m do piso e servem de bate-
maca, ou proteção das paredes, enquanto os rodatetos são
usados junto aos tetos.
Rufo e contrarrufo — Elementos que guarnecem os pontos de
encontro entre telhados e paredes, evitando infiltração de águas
pluviais na construção. Um fica disposto coroando o topo das
alvenarias, e o outro entra com aba.

Sacada — Qualquer espaço construído que faz uma saliência


sobre o paramento da parede. Teoricamente, é qualquer elemento
arquitetônico que se projeta para fora das paredes sem estrutura
aparente, ou seja, o mesmo que balanço.
Saguão — Sala de entrada de grandes edifícios onde começa a
escadaria e onde se situam os elevadores que levam aos andares
superiores.
Saibro — Tabatinga, barro, encontrado em jazidas próprias, de cor
avermelhada ou amarelo-escura. Pode ser usado na composição
de argamassas, concedendo-lhes plasticidade.
Sapatas — Parte mais larga e inferior do alicerce. Há dois tipos
básicos: a isolada e a corrida. A primeira é um elemento de betão
de forma piramidal, construído nos pontos que recebem a carga
dos pilares. Como ficam isoladas, essas sapatas são interligadas
pelo baldrame. Já a sapata corrida é uma pequena laje armada
colocada ao longo da alvenaria que recebe o peso das paredes,
distribuindo-o por uma faixa maior de terreno. Ambos os
elementos são indicados para a composição de fundações
assentes em terrenos firmes; é também a peça de madeira
disposta sobre o pilar e que recebe todo o peso sobre si; peça em
ferro colocada sobre a estaca, facilitando sua cravação.
Sarjeta — Vala, valeta, escoar águas.
Sarrafear — Desempeno de massa com emprego de régua ou
sarrafo de madeira.
Sarrafo — Ripa de madeira, com largura entre 5 e 20 cm e
espessura entre 0,5 e 2,5 cm.
Segregação — Separação dos componentes do concreto fresco,
de tal forma que sua distribuição não seja mais uniforme.
Seixo rolado — Pedra de formato arredondado e superfície lisa,
características dadas pelas águas dos rios, de onde é retirada.
Existem também seixos obtidos artificialmente, rolados em
máquinas.
Servente — Auxiliar dos profissionais que trabalham nas obras.
Servidão — Trecho de imóvel vizinho com área comum aos dois
ou de uso deste. Passagem, para uso do público, por um terreno
de propriedade particular.
Shaft — Vão na construção para passagem de tubulações e
instalações verticalmente.
Shed — Originalmente, termo inglês que significa alpendre. No
Brasil, designa os telhados em forma de serra, com um dos planos
em vidro para favorecer a iluminação natural. Bastante comum em
fábricas e galpões.
Sondagem — Contratação de firma de fundações que executa
perfuração do terreno antes do início de projetos, de modo a obter
dados da resistência do solo para lotes pequenos; em geral, são
três furos.

Tensão admissível — Tensão considerada no projeto de uma


estrutura.
Tensão máxima — Maior tensão que um material suporta até
romper.
Torção — Efeito causado pela rotação da seção transversal de
uma peça em relação ao seu eixo longitudinal.
Traço — Proporção entre os componentes da mistura de concreto.
BIBLIOGRAFIA

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