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Eliane Lousada
Lília Santos Abreu-Tardelli
Planejar
gêneros
acadêmicos
escrita científica - texto acadêmico - diário de pesquisa - metodologia
Editor: Marcos Marcionilo
Capa e Projeto GrAfico: Andreia Custódio
Conselho Editorial
Ana Stahl Zilles [Unisinos]
Carlos Alberto Faraco [UFPR]
Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP]
Gilvan Muller de Oliveira [UFSC, Ipol]
Henrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela]
Kanavillil Rajagopalan [Unicamp]
Marcos Bagno [UnB]
Maria Marta Pereira Scherre [UFES]
Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP]
Salma Tannus Muchail [PUC-SP]
Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]
M773
ISBN 978-85-88456-43-3
05-2877 CD0001.42
CDU 001.81
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PARÁBOLA EDITORIAL
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ISBN: 978-85-88456-43-3
O
científicos que possam ser considerados bons pelos seus professores e
pela comunidade científica. Para isso, vamos iniciar discutindo alguns
textos que mostram as dificuldades desses trabalhos e algumas das
ideias que você tem sobre esses gêneros acadêmicos/científicos.
Tenho um casal de amigos que há uns dez anos prepara suas teses. Cada um,
uma. Dia desses a filha, de 10 anos, no café da manhã, ameaçou:
— Quero estudar mais, não. Olha vocês dois. Não fazem mais nada na vida.
E só a tese, a tese, a tese. Não pode comprar bicicleta por causa da tese. A gente
não pode ir para a praia por causa da tese. Tudo é pra quando acabar a tese.
Até trocar o pano do sofá. Se eu estudar vou acabar numa tese. Quero estudar
mais, não. Não me deixam nem mexer mais no computador. Vocês acham
mesmo que eu vou deletar a tese de vocês?
Quando é que alguém vai ter a prática ideia de escrever uma tese sobre a tese?
Ou uma outra sobre a vida nos rodapés da história?
Acho que seria uma tesão.
(http://www.marioprataonline.com.br, último acesso em 06/08/2005)
2. Responda as perguntas abaixo e/ou discuta suas respostas com seu co
lega ou professor:
a) Que críticas negativas o autor faz sobre as teses e a quem escreve teses?
b) Como foi o processo de escrevê-los? Quais foram as fases que você seguiu?
f) Como você acha que o leitor de um texto acadêmico deseja que esse texto seja?
Concluindo... -------------------------------------------------------------
Complete as frases abaixo e discuta suas respostas com um colega ou com
seu professor:
Eu me senti:___________________________________________________________
Achei fácil:___________________________________________________________ _
Busque textos acadêmicos que você já escreveu e releia-os. O que você achou deles?
Você mudaria alguma coisa? Por quê?
A elaboração e manutenção
de um diário de pesquisa
Assim, consideramos que é indispensável que, desde o início de seu trabalho, você
comece a redigir o seu diário de pesquisa.
1. Você pode escolher vários suportes para escrever seu diário de pesquisa:
caderno, fichas, arquivos no computador, weblogs etc., dependendo de
seu objetivo e de sua facilidade maior ou menor para usar um ou outro
desses suportes. Reflita sobre a relação que pode haver entre o tipo de
suporte e o seu objetivo para escrevê-lo, colocando a letra corresponden
te ao suporte no objetivo correspondente:
(a) caderno
(b) fichas
(c) arquivos no computador
(d) weblogs
Esse blog começou hoje e tem como objetivo acompanhar o dia a dia, o
andamento das minhas pesquisas acadêmicas. Até onde conheço sobre blogs,
• ele é o primeiro do gênero. Já ouvi falar, e li a respeito, de diários íntimos, •
• diários coletivos, warblogs, babyblogs, blogs temáticos, blogs jornalísticos, blogs •
• metajornalísticos, blogs crítico-culturais, anéis de blogs (rings), blogs híbridos, *
• moblogs. Contudo, blog diário de pesquisa, pelo que sei, é algo novo. Espero •
• que seja uma oportunidade de conectar e compartilhar descobertas, inquieta- •
• ções e benefícios que só uma inteligência coletiva pode proporcionar.” •
*••••••••••••••••••••••••••••••••
0 •
• “O objetivo era criar um fórum público sobre o assunto sobre o qual eu estou •
trabalhando que toca uma questão bastante atual, a memória da escravidão” *
(Ana Lúcia Araújo, http://arte.typepad.com/memoire_esdavage). •
6/10/92 — É preciso recomeçar o diário. De uma nova maneira. Com uma nova
entrega. Vendo-o caminhar diante de mim, como caminham meu dia, minha
vida, minha morte. Registrar o cotidiano e a alma. Os medos e as esperanças.
Grandes providências foram tomadas hoje. Fui à Cúria, falei com várias pessoas,
agi. Selecionei os questionários para levar para o Antônio Carlos bater. Preciso
refletir sobre o diário. O que ele faz comigo? Reelabora o tempo passado,
reconstrói, dá-lhe uma macroestrutura talvez. Tenho de preparar um workshop
sobre ele. O que dizer? Como passar uma experiência que é mais vida do que
teoria? Algumas ideias talvez: falar sobre o diário de forma geral? Não. Isso
talvez para a mesa-redonda. Dizer o que é o diário de leitura? Dar exemplos dos
dados? Falar sobre o diário como instrumento do pesquisador? Melhor talvez
dizer sobre as duas coisas. Acho interessante ver o que os diaristas de P. Lejeune
falam da releitura do diário, porque é isso que o pesquisador vai ter de fazer ao
examinar suas reflexões. Acho que sou muito atrevida. Na verdade, pouco sei
O BLOG •••••••••••••••••••••••••••••••••••
• 27.6.05 •
• Bibliografia... bibliografia... bibliografia??? — parte 2 •
5. Você encontrou nos diários outras coisas que não mencionamos no exer
cício 4? Quais?
7. De acordo com o suporte que você escolher para o seu diário de pesqui
sa, de acordo com seu objetivo, algumas características textuais poderão
ser mais comuns em um ou outro diário. Quais serão as características
citadas abaixo que poderão ser encontradas em um texto escrito em um
caderno, só para você, e um texto escrito em um blog, em que se procure
discutir com outras pessoas?
Coloque (C) na alternativa que corresponde mais provavelmente a uma caracte-
rística do texto do caderno e (B) na que corresponde ao texto do blog:
Concluindo... ------------------------------------------------------------
1. Complete uma das alternativas abaixo:
Estou convencido de que devo manter um diário de pesquisa, sobretudo porque
2. Discuta sua opção do exercício anterior com um colega ou com seu professor.
CONSELHO ÚTIL
Como você viu, antes de mais nada, acostume-se a escrever o má
ximo que puder, livremente, à medida que desenvolve sua pesquisa.
Procure dominar o tema que você escolher e refletir sobre todas as
fases de sua pesquisa. Não se limite a xerocar textos e sublinhar
palavras ou frases: escreva diários de leitura, resumos, críticas,
perguntas, dúvidas, faça esquemas, gráficos etc.
1. Escreva uma primeira parte de seu diário de pesquisa, com a máxima liberdade
possível, mas não se esqueça de colocar as referências bibliográficas completas
dos textos que você for lendo (autor, título da obra, data da publicação, página)
e de colocar aspas para marcar as frases que você copiar do autor.
Se tiver dificuldade para começar o diário, você pode se servir de algumas das
questões abaixo:
2. Se quiser, troque o seu diário com o de um colega e façam comentários sobre eles.
Construção da situação
de produção
1. Este projeto foi apresentado ao programa de doutorado de Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da
PUC/SP em 2005 para candidatura à bolsa CAPES de estudos no exterior.
2. Fundamentação teórica
Segundo Bronckart & Machado (2004), a análise dos textos sobre a relação
linguagem e trabalho pode trazer nova compreensão do trabalho do professor
tanto em relação a seu agir concreto quanto em relação a alguns aspectos das
interpretações/representações/avaliações que socialmente se constroem sobre
eles. No caso dos estagiários, tal análise se torna mais relevante, ao considerar
mos que essas interpretações/representações/avaliações, ao serem apropriadas
e interiorizadas pelos indivíduos, tornam-se uma espécie de “guia”, um modelo
para seu agir futuro (Bronckart & Machado, 2004). Dessa forma, em um curso
de formação de professores, o conhecimento dessas interpretações/representa
ções/avaliações torna-se essencial, se quisermos, por um lado, evitar a manu
tenção de ideias ou comportamentos que pouco ajudarão no desenvolvimento
do trabalho do professor e, por outro, incentivar a propagação daquelas que
contribuem para um trabalho que satisfaça o professor e a sociedade.
Além disso, de modo geral, a maioria dos trabalhos que tomam como objeto
o trabalho do professor acabam dando ênfase maior à forma como deveria ser
esse trabalho e não ao que ele efetivamente é. Ao contrário, acreditamos que,
ao analisarmos textos produzidos por futuros professores sobre esse trabalho,
como são os projetos de intervenção, poderemos buscar o que é realmente esse
trabalho, pelo menos, para esses aprendizes. Essa compreensão certamente
dará nova orientação para a organização, se não dos cursos de formação de
professores, ao menos das disciplinas específicas de estágio supervisionado.
Segundo Saujat (2004, 2003), existe uma tradição de pesquisa sobre o profes
sor, mas não sobre o seu trabalho. Dessa forma, em uma revisão de vários
trabalhos, ele constatou que, devido às escolhas teóricas, metodológicas e
epistemológicas, o professor apresenta-se sob múltiplas figuras: como profissio
nal eficaz nos estudos centrados na relação processo-produto; como ator racio
nal nos estudos da década de 1970; depois como sujeito cognitivo que tem
representações; em seguida, como sujeito singular tomado no fluxo de um viver
subjetivo; e finalmente, o professor aparece como um profissional reflexivo,
atualmente. No Brasil, as pesquisas seguiram, de certa forma, o mesmo cami
nho e também vemos hoje muitas discussões sobre o professor reflexivo, como
em Magalhães (2004) e em muitas teses de mestrado e doutorado do Programa
de Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem - LAEL - na PUC-SP.
Entretanto, nos últimos anos, têm aparecido estudos que colocam que é preciso
“construir um ponto de vista mais integrativo, interacionista, capaz de melhor
apreender a complexidade e a multidimensionalidade das práticas educacionais”
(Saujat, 2004: 19). Tais estudos, segundo Saujat (2004), ajudam a corroborar a
ideia de que é preciso uma confrontação com outras disciplinas, a fim de se
compreender melhor a prática do professor. Afinal, como coloca Saujat (2003: 18),
estamos ante um paradoxo: o ensino é, sem dúvida, o trabalho mais estudado hoje
em dia, como se pode ver pelo número de pesquisas que lhe são consagradas, mas
quase nada sabemos do ensino como um trabalho em si mesmo.
Na verdade, conforme o autor, esse paradoxo é só aparente, uma vez que os
estudos sobre o trabalho do professor foram feitos sem levar em conta as
disciplinas que fazem o estudo do trabalho. Dessa forma, cada disciplina nor
malmente acaba estudando o aspecto do professor que lhe diz respeito e, assim,
constrói uma visão redutora que não dá conta do trabalho do professor.
Fazendo uma análise de base ergonómica, mas já aliado a profissionais de
diferentes áreas, Amigues (2002, 2004) mostra que o trabalho do professor é
bem mais complexo, indo além de uma mera relação só com o aluno ou só com
um conteúdo a ser transmitido. Na verdade, ao olhar a organização escolar e
o trabalho de ensino, nota-se que o professor é: “Ao mesmo tempo, um pro
fissional que prescreve tarefas dirigidas aos alunos e a si mesmo; um organizador
do trabalho dos alunos, que ele deve regular ao mesmo tempo em que os
mobiliza coletivamente para a própria organização da tarefa; um planejador,
que deve reconceber as situações futuras em função da ação conjunta conduzida
por ele e por seus alunos, em função dos avanços realizados e das prescrições”
(Amigues, 2004: 49).
3. A necessidade de um modelo eficaz de análise de linguagem foi ressaltada por Clot durante comu
nicação oral em discussão sobre os trabalhos do grupo ALTER. LAEL, PUC-SP, 22/09/2004.
perspectiva teórica que se convencionou chamar de interacionismo sociodiscursivo
(isd). Essa perspectiva procura compreender o papel da linguagem no agir e,
simultaneamente, no desenvolvimento humano.
3. Metodologia
6. Referências bibliográficas7
6 Essa pane do projeto foi retirada pois não será trabalhada neste livra
’ Uma parte das referências bibliográficas será reproduzida na seção 10.
Autor (nome)
CONSELHO ÚTIL
Como você deve ter percebido, as imagens que você constrói sobre
seu(s) destinatário(s), antes mesmo de começar a escrever seu texto
de forma definitiva, serão fundamentais para que ele seja adequado
à situação e que seja bem avaliado. Quanto mais próximas essas
imagens estiverem da realidade, melhor será.
c) Todos eles conhecem bem a linha teórica que você assume ou não?
e) O que eu espero que o meu(s) destinatário(s) diga(m), depois de ler meu texto?
9. Nas atividades anteriores, vimos que, antes de mais nada, você deve
seduzir o leitor para que ele tenha vontade de ler o seu texto. Agora leia
os dois inícios de resumo a seguir e identifique o que parece mais fácil
de ler para a maioria das pessoas.
a) A presente investigação fornece material empírico atinente à congruência pessoa-organização,
no domínio dos climas éticos, satisfazendo critérios de comensurabilidade para as duas entidades
do binómio. [...]
(Rego, A. 2001. Climas éticos organizacionais: validação do constructo a dois níveis de
b) As mudanças recentes do mundo do trabalho alimentam dúvidas sobre quais crenças persistem
entre as pessoas. Um estudo americano identificou empiricamente a persistência de cinco
sistemas: ética do trabalho, crenças organizacionais, crenças marxistas, crenças humanistas e ética
do lazer, e o fortalecimento do último. [...]
(Borges, L. de O. 2001. Crenças no trabalho: diferenças entre acadêmicos e dirigentes de
CONSELHOS ÚTEIS
a) Em todas as fases de seu trabalho, depois de deixar seu texto
“dormir um pouco na gaveta”, coloque-se na posição de um de
seus leitores. O texto está claro? As ideias estão bem relaciona
das umas às outras? Elas estão bem sustentadas? Estão bem
apoiadas em autores reconhecidos no campo?
b) Depois, releia, colocando-se na posição de outro leitor. Faça as
mesmas perguntas.
Concluindo... -------------------------------------------------------------
Leia as dicas abaixo e acrescente outras, baseando-se em suas conclusões sobre a
situação de produção de um texto acadêmico.
• Lembre-se sempre de que você não está escrevendo apenas para seu orientador/
professor, mas, em primeiro lugar, para uma banca, representante de uma comu
nidade científica ampla, que não compartilha das mesmas teorias.
• Você deve passar a imagem de alguém que conhece a teoria com a qual trabalha,
que sabe trabalhar cientificamente, que observa a lógica científica, que escreve
bem, que é claro etc.
• ________________________________________ ______________________________
Procure três textos quaisquer que você tenha escrito e verifique se, pela leitura deles,
você pode detectar as imagens que tinha sobre os destinatários desses textos.