Você está na página 1de 20

Textos dissertativos I

.
Comstock Complete

E xpressar opiniões, ideias, ponto de vista a res-


peito de um assunto ou tema, quem não gosta!
Todos gostam de dissertar. A dissertação é uma
das atividades fundamentais da nossa prática de lin-
guagem. Com as experiências dissertativas, pensamos
e repensamos, questionamos, interrogamos e critica-
.
mos a realidade, defendemos os nossos direitos. Isso
te
ple

porque fazer um texto dissertativo consiste em deba-


om
kC

ter um tema, apresentar e defender ideias a respeito


toc

de algo.
Coms

.
te
ple
Comstock Com

EF2_9A_POR_105
O texto: um meio de
expressar opiniões
Dissertar é o ato de expressar opiniões, ideias, pontos de vista a respeito de um assunto
ou tema.
A dissertação está presente em muitos momentos da vida cotidiana. Quando, por exem-
plo, os jovens argumentam com seus pais para pedir o carro emprestado ou para chegar em
casa de madrugada; quando os pais tentam convencer os filhos de que passar as férias no sítio
é muito mais agradável que ir para aquela praia movimentada...
A dissertação também faz parte dos bate-papos descontraídos nas reuniões com amigos
em que discussões sobre futebol, religião, política, costumes e cinema surgem acaloradas e
cada um quer convencer os outros de seu ponto de vista.
Ninguém deve temer a dissertação, imaginando que ela seja um bicho de sete cabeças;
trata-se apenas de uma modalidade de discurso de nosso dia a dia. Fique claro, no entanto, que,
ao redigir, seja para o vestibular, seja para qualquer outra finalidade, há que se tomar certos
cuidados e alguns caminhos precisam ser trilhados, uma vez que um bom texto dissertativo
requer leitura, reflexão, técnica e prática.
Do ponto de vista prático, como se aprende a ler e escrever uma dissertação? Vamos
por etapas.
Primeiramente, é bom esclarecer que existem dois tipos de dissertação:
a expositiva, cujo objetivo é explicar de modo impessoal uma ideia para esclarecimento
de outras pessoas, com intuito de informar (esta não será desenvolvida neste livro,
porque não é a modalidade exigida nos vestibulares);
a argumentativa, que visa persuadir, por meio de provas, procurando levar o interlo-
cutor a pensar como o autor do texto.

Estrutura do texto dissertativo argumentativo


O texto dissertativo tem uma forma mais ou menos rígida, que compreende três par-
tes: introdução (ou tese), desenvolvimento (ou argumentação) e conclusão (ou retomada da
tese). Veja como exemplo de dissertação o texto transcrito a seguir:

Tráfico, a Hidra de Lerna


Primeiro foi o Cartel de Medellín. Agora, anuncia-se o fim do eminente Cartel de Cali.
Se esses poderosos cartéis aos quais se atribuiu a quase totalidade da produção global de
cocaína e crack podem ser tão facilmente destruídos, como se explica então que a oferta
EF2_9A_POR_105

e o consumo de drogas só aumentem?

2
O tráfico se assemelha muito

IESDE Brasil S.A.


à Hidra de Lerna, o monstro da
mitologia grega que possuía nove
cabeças, uma das quais imortal.
Hércules foi encarregado de “ani-
quilar” a Hidra, mas, para cada ca-
beça mortal que ele decepava, duas
novas brotavam em seu lugar.
O semideus decidiu então ate-
ar fogo ao bicho e, por fim, cortou-
-lhe a cabeça imortal e a enterrou
sob uma pesada pedra, onde ela
teria permanecido vivíssima. A ri-
gor, portanto, Hércules não matou a Hidra, ele apenas a “varreu para debaixo do tapete”.
No caso do tráfico, os cartéis são as cabeças mortais. Para cada uma “destruída”, sur-
gem duas novas. A cabeça mortal é o todo-poderoso mercado, a demanda, o consumidor,
o homem. Enquanto o homem for homem, com seus impulsos dionisíacos e fragilidades
bioquímicas, o flagelo das drogas tende a permanecer, sejam elas ilegais, como a cocaína
e a heroína, ou legais, como o tabaco e o álcool.
Os bilhões de dólares gastos anualmente em todo o mundo na repressão ao trá-
fico são apenas uma cara tentativa de varrer o problema para debaixo do tapete. O
que é uma pena.
(Folha de S.Paulo, 1995.)

Cada parte da dissertação será estudada isoladamente.


Introdução: o 1.º parágrafo apresenta a introdução, na qual há duas informações, e a tese
enunciada em forma de pergunta.
Desenvolvimento: o 2.º, o 3.º e o 4.º parágrafos fazem parte do desenvolvimento, em que
o autor defende sua tese, comparando o tráfico com a lenda grega da Hidra de Lerna.
Conclusão: no último parágrafo, conclui-se o texto, confirmando o que foi expresso na tese.

Introdução
A introdução é o início do texto, em que se apresenta o tema e se define a tese. É im-
portante que, desde o começo, se tenha em mente que toda dissertação precisa apresentar
uma tese; sua defesa é o motivo pelo qual se escreve um texto desse tipo. Em outras palavras,
sempre que se escreve um texto dissertativo, tem-se por objetivo defender uma tese.
E o que é defender uma tese? É mostrar para o interlocutor, por meio de dados, argu-
mentos ou provas, qual é sua posição em relação a determinado assunto e dividir com ele sua
opinião, tentando persuadi-lo a pensar como você. Quanto mais objetividade for demonstrada
EF2_9A_POR_105

em uma dissertação, mais convincente ela será, pois dessa forma você estará retratando um

3
ponto de vista fundamentado e passível de comprovação, e não apenas a sua verdade.
A introdução pode ser iniciada de várias maneiras:
por afirmação;
por citação;
por pergunta.

Introdução por afirmação


Veja um exemplo:

Às portas do III Milênio, a máxima filosófica “conhece-te a ti mesmo” nunca esteve


tão em voga. De repente, parece que todos se deram conta de que é preciso analisar-se
e, especialmente, “autoconhecer-se” para poder progredir, conquistar sonhos, ser feliz,
enfim. E na esteira deste tão desejado “autoconhecimento”, como não poderia deixar de
ser, cometem-se exageros de toda ordem.
(ALVES, Januária Cristina. Classe, 15 mar. 2000.)

Introdução por citação


Veja um exemplo:
“Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da lei.” Isso é o que reza o artigo 7.° da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
mas a realidade nos mostra fatos bem diferentes, principalmente se compararmos o tratamento
dado ao infrator de colarinho-branco em relação àquele que recebe o cidadão comum que tenha
a infelicidade de cair nas “garras” da Justiça.

Introdução por pergunta


Veja um exemplo:
Como pode haver paz no mundo se faltam o amor, a tolerância e o respeito pelo outro?

Desenvolvimento
Terminada a introdução, é preciso preocupar-se com o desenvolvimento do texto, que
deve ser redigido de maneira clara, coerente, concisa e objetiva, mantendo sempre a mesma
linha de raciocínio apresentada na introdução.
É importante, neste momento, definir os argumentos a serem usados, fundamentar muito
bem as ideias e ter convicção do que se está falando, a fim de receber crédito do leitor e ter
seu ponto de vista respeitado.
EF2_9A_POR_105

4
Ao se justificar esse ponto de vista, convém usar argumentos que tenham valor objetivo,
ou seja, que possam ser aceitos por outras pessoas. Por exemplo: ao se afirmar ser necessária
uma atitude enérgica e eficaz no combate ao tráfico e uso de drogas, muitos leitores concor-
darão com essa postura. Entretanto, se os argumentos apresentados basearem-se apenas em
opiniões pessoais ou mesmo preconceituosas, o assunto não terá sido analisado objetivamente,
mas julgado subjetivamente. Dessa forma, perde-se credibilidade e não se convence o leitor.
No momento de se desenvolver o tema, citações feitas por autoridades, relatos de fatos
divulgados pelos meios de comunicação, estatísticas, exemplos e ilustrações poderão ser utili-
zados para fortalecer a argumentação e dar mais veracidade ao texto. É essa a grande função do
desenvolvimento: fundamentar o ponto de vista apresentado na introdução.
O desenvolvimento pode ser elaborado de muitas maneiras diferentes, as quais serão
abordadas aqui:
desenvolvimento por enumeração;
desenvolvimento por comparação (por retrospectiva histórica);
desenvolvimento por causa e consequência;
desenvolvimento por aspectos favoráveis e desfavoráveis;
desenvolvimento por predominância crítica.

Desenvolvimento por enumeração


Esse tipo de desenvolvimento é muito comum quando se quer expor uma série de caracte-
rísticas, de funções, de processos, de situações referentes ao tema abordado. Exemplo:

A proximidade das eleições municipais

IESDE Brasil S.A.


é uma ótima oportunidade para a discussão
sobre as condições de vida em nossas cida-
des. Poluição, congestionamentos de trân-
sito, lixo, multiplicação de favelas, des-
truição de rios e lagoas e desmatamento
compõem o cotidiano dos grandes centros
urbanos. O número de problemas causados
pelo desenvolvimento é grande, mas isso não
significa que o respeito à ecologia e o pro-
gresso não possam andar juntos. O que falta no Brasil é uma vontade política que possibi-
lite ao país rever o seu processo de desenvolvimento, muito destrutivo até agora.

(BRAGA, Nina de Almeida. Soluções para as cidades. Veja, São Paulo, 14 set. 1988, grifo nosso.)

Desenvolvimento por comparação


EF2_9A_POR_105

Um outro tipo de desenvolvimento possível é o de estabelecer comparações com a inten-

5
ção de colocar lado a lado ideias, fatos, seres, apontando semelhanças ou contradições entre
eles. Exemplo:

Alguns quarteirões adiante posso ver, a distância, um grupo de 15 ou mais jovens,


todos parecidos, alguns sentados e outros deitados na grama em uma das saídas do me-
trô. Esses, claramente, usam drogas. No Brasil seriam chamados de meninos de rua.
Aqui recebem o nome de “itinerantes”.
Montreal é a segunda maior cidade do Canadá. Tem mais de 3 milhões de habitantes.
Gaba-se de ser multicultural. A imigração aqui é incentivada. Mas não explica a presença
desses jovens nas ruas. Os motivos da “itinerância” não são econômicos. São outros. Ao
contrário de nossos jovens de rua, os de Montreal não são violentos. A população se
sente incomodada mais pelo aspecto e pela presença que por atos infracionais.

(LEITE, Lígia Costa. Época. São Paulo, 20 nov. 2000, grifo nosso.)

Desenvolvimento por causa e consequência


Em muitos casos, a introdução do texto dissertativo permite um desenvolvimento que usa
uma ou mais relações de causa e consequência. Exemplo:

Todos sabemos que, em nosso país, há muito tempo, observa-se um grande número
de grupos migratórios, os quais, provenientes do campo, deslocam-se em direção às
cidades, procurando melhores condições de vida.
Ao examinarmos algumas das causas desse êxodo, verificamos que a zona rural
apresenta inúmeros problemas, os quais dificultam a permanência do homem no
campo. Podemos mencionar, por exemplo, a seca, a questão da distribuição da terra
e a falta de incentivo à atividade agrária por parte do governo.
Em consequência disso, vemos, a todo instante, a chegada desse enorme contin-
gente de trabalhadores rurais ao meio urbano. As cidades encontram-se desprepa-
radas para absorver esses migrantes e oferecer-lhes condições de subsistência e de
trabalho. Cresce, portanto, o número de pessoas vivendo à margem dos benefícios
oferecidos por uma metrópole; por falta de opção, dirigem-se para as zonas perifé-
ricas e ocasionam a proliferação de favelas.
Por tudo isso, só nos resta admitir que a existência do êxodo rural somente agrava
os problemas do campo e da própria cidade. Fazem-se, portanto, necessárias algumas
medidas para tentar fixar o homem na terra. Assim, os cidadãos rurais e urbanos deste
país encontrariam, com certeza, melhores condições de vida.

(GRANATIC, Branca. O problema das correntes migratórias. São Paulo: Scipione, 1996, grifo nosso.)

Desenvolvimento por aspectos favoráveis e desfavoráveis


Esse tipo de desenvolvimento deve ser utilizado quando o tema em questão costuma di-
EF2_9A_POR_105

vidir as opiniões de tal modo que dificilmente se consegue chegar a um posicionamento capaz
de satisfazer a grande maioria das pessoas. Exemplo:

6
A pena de morte

Cogita-se, com muita frequência, da implantação da pena de morte no Brasil. Muitos


aspectos devem ser analisados na abordagem dessa questão.
Os defensores da pena de morte argumentam que ela intimidaria os assassinos
perigosos, impedindo-os de cometer crimes monstruosos, dos quais costumeira-
mente temos notícia. Além do mais aliviaria a superlotação dos presídios. Isso sem
contar que certos criminosos, considerados irrecuperáveis, deveriam pagar com a
morte por seus crimes bárbaros.
Outros, porém, não conseguem admitir a ideia de um ser humano tirar a vida
de um semelhante, por mais terrível que tenha sido o delito cometido. Há registros
históricos de pessoas executadas injustamente, pois as provas de sua inocência
evidenciaram-se após o cumprimento da sentença. Por outro lado, a vigência da
pena de morte não é capaz de, por si, desencorajar a prática de crimes.
Percebemos, então, o quanto é difícil uma posição categoricamente contra ou a favor
da implantação da pena de morte no Brasil. Enquanto esse problema é motivo de deba-
tes, só resta esperar que a lei consiga atingir os infratores com justiça e eficiência. Isso
se faz necessário para defender os direitos de cada cidadão brasileiro das mais diversas
formas de agressão das quais é hoje vítima constante.

(Granatic, Branca. Técnicas básicas de redação. São Paulo: Scipione, 1995, grifo nosso.)

Desenvolvimento por predominância crítica

Essa técnica deve ser aplicada a temas que contêm uma crítica profunda. Essa crítica
pode referir-se a algum aspecto da natureza humana e qualquer circunstância da realidade
nacional ou mundial: uma questão política, um problema social, uma situação econômica, um
conflito entre nações.

A idade da humilhação

É claro que a corda sempre se rompe do lado mais fraco, mas para tudo existe um
limite que, quando ultrapassado, causa-nos espanto, revolta e vergonha. Até quando,
neste país, o aposentado será visto pelas autoridades como um cidadão de quinta
categoria, sobre o qual podem recair todos os tipos de infâmia?
Não é segredo para ninguém que o salário do aposentado sempre esteve muito aquém
de suas necessidades básicas. Ao longo dos anos temos visto os indicadores financeiros
apontando para uma vertiginosa queda do valor real recebido por essa categoria. [...]
EF2_9A_POR_105

7
Exatamente como uma peteca o aposentado brasileiro tem vivido muito mais de
promessas do que de pão. Levando em conta os valores da ética e a civilidade própria
das sociedades que alcançaram um mínimo de desenvolvimento, questionamos nossos
valores, ao compararmos a situação desses idosos com a dos velhos em algumas al-
deias indígenas do passado, que não conseguiram mais prover seu sustento e eram
levados a um lugar distante da tribo, para encontrarem a morte.
Resta saber por quanto tempo mais o aposentado e o indigente estarão no mesmo pa-
tamar, depois de árduas décadas de empenho e sacrifício dos que acreditaram no trabalho
e na honestidade e, até o momento, receberam em retribuição somente humilhações.

(Granatic, Branca. Técnicas básicas de redação. São Paulo: Editora Scipione, 1995, grifo nosso.)

Conclusão
A conclusão é a parte do texto que sintetiza as ideias desenvolvidas, reafirmando-as de acor-
do com a tese apresentada na introdução e justificada pela argumentação no desenvolvimento.
Da mesma forma que a introdução e o desenvolvimento, a conclusão também pode ser
expressa de outras formas:
conclusão-resumo;
conclusão-proposta.

Conclusão-resumo
É a maneira mais tradicional de se finalizar um texto dissertativo. É na conclusão-resumo que
são reforçadas as ideias apresentadas, resumindo as abordagens feitas ao longo do texto. Exemplo:

Diante de definições equivocadas que têm sido levadas à opinião pública, é impor-
tante expor as reais atribuições e ações desenvolvidas pelo Conselho da Comunidade
Solidária. O trabalho teve início em 1995 e evoluiu com base na constatação de que a
sociedade civil contemporânea se apresenta como parceira indispensável de qualquer
governo no enfrentamento da pobreza, das desigualdades e da exclusão social.
Passamos, então, a atuar em três grandes linhas: adotando medidas para o fortale-
cimento da mesma sociedade civil, desenvolvendo a interlocução política sobre temas
sociais com diversos atores e criando programas inovadores. Esses programas, marcados
por um novo modelo de gestão, oferecem-se como alternativa viável ao mero assisten-
cialismo, caracterizado pela ineficiência e obsolescência de políticas centralizadoras. E,
se os projetos surgiram pequenos, hoje cresceram de forma significativa. O Alfabetização
Solidária, por exemplo, começou a atuar em 1997 com 9 200 alunos em 38 cidades. Este
ano estará presente em 866 municípios do Norte e Nordeste e nas regiões metropolitanas
de São Paulo e Rio de Janeiro, beneficiando cerca de 800 mil pessoas. [...]
EF2_9A_POR_105

8
Em resumo, além da promoção do debate e da busca da diversidade de ideias, o con-
selho está articulando, de modo transparente, recursos de todos os tipos, provenientes
do Estado, da iniciativa privada e do setor privado sem fins lucrativos (o Terceiro Se-
tor). Segmentos que, há pouco, ainda eram considerados incapazes de conviver e mais
ainda de atuar conjuntamente a favor do desenvolvimento do país.

(CARDOSO, Ruth Corrêa Leite. Uma ação social inovadora.


Folha de S.Paulo, 26 set. 1999, grifo nosso.)

Conclusão-proposta
A conclusão do tipo proposta é aquela que apresenta algumas possíveis soluções para as
situações-problema levantadas no texto. Exemplo:

No Brasil, o que se tem feito é dar bolsas aos estudantes – nunca em número su-
ficiente, com um sistema que tem dado origem a distorções. Talvez fosse o caso de
tentar ajudar diretamente as próprias instituições de ensino superior, desde que
baixassem suas anuidades e demonstrassem efetiva melhoria de qualidade na edu-
cação e no treinamento que oferecem.

(GOLDEMBERG, José. O Estado de S.Paulo, grifo nosso.)

Convenções não eliminam abusos


1 O universo das crianças testemunha um dos maiores paradoxos dos direitos
humanos. É uma das áreas mais regulamentadas e ao mesmo tempo apresenta
alguns dos piores indicadores.
2 O Brasil é uma espécie de símbolo internacional desse paradoxo. Incorporou na
Constituição de 1988 os princípios sobre a infância que seriam internacionali-
zados só um ano mais tarde, com a aprovação da Convenção sobre Direitos da
Criança pelas Nações Unidas. Em 1990, o Brasil também sancionou o polêmico
– e avançado – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que inspirou leis
nessa área em 16 países latino-americanos.
3 Apesar disso, os brasileiros apresentam índices de mortalidade infantil com-
EF2_9A_POR_105

paráveis aos de países africanos (de cada mil nascidos, 52 morrem antes de
completar 5 anos de idade). Em 1996, havia 3,8 milhões de crianças entre 5 e

9
14 anos no mercado de trabalho, segundo a Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
4 Somos vistos no plano internacional como o país do Estatuto e como o país do
extermínio de crianças, define António Carlos Gomes da Costa, um dos mestres
do ECA e consultor de boa parte do que se faz nessa área no Brasil.
5 Mas a situação não é muito diferente no conjunto dos países do mundo. Já
em 1924, quando a ideia de direitos humanos ainda era incipiente, a Liga das
Nações Unidas aprovou em Genebra a Declaração dos Direitos das Crianças.
6 A Declaração Universal também tratou do tema em 1948. Em 1959, a Assem-
bleia das Nações Unidas aprovou nova declaração específica para crianças – fi-
xando, por exemplo, “o direito de crescer e desenvolver-se com saúde”.
7 É significativo que, 40 anos depois dessa declaração, o Unicef (Fundo das Na-
ções Unidas para a Infância) tenha escolhido como tema de seu relatório anual
(1998) a nutrição. Alguns números:
12 milhões de crianças com menos de 5 anos morrem por ano em países em
desenvolvimento;
55% das mortes de crianças se deve à desnutrição;
100 milhões de crianças têm o sistema imunológico debilitado por des-
nutrição;
17% de todos os bebês do planeta nascem com menos de 2,5kg.
8 Em 1979, ocorreu outro marco: o Ano Internacional da Criança. Foi quando se
decidiu começar a elaborar a convenção – um tipo de documento internacional
que, depois de aprovado, tem mais força do que as declarações.
9 Essa convenção tem quatro princípios gerais: a não discriminação (visando
à igualdade de oportunidades); o interesse da criança (que deve nortear as
políticas públicas); o direito à vida, à sobrevivência e ao desenvolvimento
(o que envolve de moradia à educação); e o respeito à opinião da criança
(conceito que define a criança como um ser diferente do adulto, e não como
um “adulto menor”).
10 O fato é que o desrespeito a esses princípios tem correspondência direta com
a pobreza do país. E isso não se muda só com convenções.

(ROSSETI, Fernando. Folha de S.Paulo, 3 dez. 1998.)

1. A respeito do texto lido, responda ao que se pede:


a) A que parte do texto corresponde a introdução e qual é sua ideia principal?
b) O desenvolvimento corresponde a quais parágrafos?
EF2_9A_POR_105

c) Como o autor procede no desenvolvimento para fundamentar seu ponto de vista?


d) Como é feita a conclusão do texto?

10
Solução:
a) A introdução corresponde ao primeiro parágrafo e sua ideia principal é a de que há
um paradoxo na área de direitos humanos quando se trata de crianças.
b) Ocorre o desenvolvimento do texto do segundo ao nono parágrafo.
c) Como quer demonstrar um paradoxo, o desenvolvimento é trabalhado com oposições
(parágrafos 2 e 3, 4 e 5); além disso faz uso de citação (parágrafo 4) e dados esta-
tísticos (parágrafo 7).
d) Após ter mostrado, no desenvolvimento do texto, que o direito das crianças vem sen-
do desrespeitado, apesar das várias deliberações determinando o contrário, o autor
conclui apontando o motivo do paradoxo existente (ideia central da introdução),
que ele diz ser a pobreza do país.

1. Classifique as introduções abaixo de acordo com a teoria apresentada:

Qual é o maior problema ambiental do Brasil? Queimadas, erosão, abusos no uso


de agrotóxicos, poluição? Ou carência do saneamento básico, contaminação da
água potável?

Há milhares de alunos que têm plenas condições de frequentar uma universidade


pública. O que falta é vaga para todo esse contingente, que disputa palmo a palmo
seu banco universitário.

Jogos eletrônicos violentos são uma das causas do crescimento da violência infanto-
juvenil.

“Se Deus não existe, tudo é permitido”, dizia Dostoievski, talvez já prevendo a falta
de humanidade que se vê por toda parte neste mundo cão.

2. Escreva uma introdução sobre o tema diversão virtual, recorrendo à introdução por
pergunta. Antes de escrever a introdução, é importante que você pense no assunto e
trace algumas linhas de discussão, como: quais são os brinquedos virtuais, como são
EF2_9A_POR_105

usados, que benefícios ou malefícios podem trazer aos usuários, quais as diferenças
entre os brinquedos virtuais e os brinquedos comuns. Somente após refletir um pouco

11
sobre o assunto, você estará apto a redigir sua introdução, apresentando a tese que
irá defender. Se tiver dificuldade, troque ideias com seus colegas. Mostre sempre seu
texto ao professor, para verificar se está no caminho certo.

3. Elabore com um colega, dois ou três argumentos para as introduções a seguir:


a) O medo é um estado de espírito. Tem gente que tem medo de amar, de abraçar,
de doar, de repartir. Tem gente que tem medo das reações de seu semelhante que
poderão ser do tamanho da sua intenção.
(MENDES, Etelcina Barbosa. O Estado de Minas, 2001.)
EF2_9A_POR_105

12
b) Nas novelas, casamento é sinônimo de final feliz. A vida real não fica muito atrás e
casais veem a troca de alianças como sinal de felicidade eterna. Mas o mito de que
o dia a dia de marido e mulher deve ser de beijinhos e juras de amor está cada vez
mais fraco e já há quem defenda que uma boa briga é fundamental para manter as
estruturas do relacionamento.

4. Para o texto a seguir, faça uma conclusão-proposta:

Foi-se o tempo em que entrar em uma universidade significava enfrentar uma compe-
tição massacrante, meses de dedicação e muito estudo, sem direito a fins de semana
nem noites de lazer. Inúmeras instituições de ensino superior têm sido criadas de
forma a popularizar o ensino de 3.º grau.

Infelizmente, essa popularização acaba por baixar a qualidade do ensino oferecido


por essas instituições. E a facilidade que se oferece na entrada custa muito caro para
quem pretende se tornar um bom profissional. O mercado de trabalho, depois, cobra
do candidato uma postura que ele está longe de possuir.
EF2_9A_POR_105

13
5. Agora faça uma conclusão-resumo:

Eles são homens, mulheres, jovens e adultos. Estudam, trabalham, cuidam da vida.
Sexo, idade e ocupação não importam. Todos têm em comum uma prioridade: malhar.

O culto ao corpo e a onda politicamente correta da geração saúde lotam academias,


levam milhares de pessoas às ruas para caminhar ou correr de forma quase alucinada.
Alguns chegam a desenvolver uma compulsão tão forte pela atividade física que um
dia sem ginástica provoca mal-estar. Os sintomas são parecidos com uma síndrome de
abstinência: irritação, agressividade, tremores, nervosismo, mau humor. É como um
viciado em drogas que ficou sem sua dose. Esse vício por ginástica ganhou o nome
de atividade física compulsiva.

Leia o texto abaixo, atentando-se para a estrutura dissertativa, e resolva as questões:

Amazonas, pátria da água

A Amazônia já não é mais a região misteriosa de antigamente, um exótico celeiro


de lendas. Não é a Manoa do Lago Dourado, nem o País das Amazonas. Também já não
se trata apenas do paraíso, com bem-aventurança da luz na poderosa quietude da selva.
Nem do inferno; rubro do fogo das febres, de serpentes e peçonhas. Muito dela ainda
está por ser descoberto. Mas de muito já se sabe. Dos recursos minerais do seu solo,
que despontam cada dia maiores, em descobertas que se sucedem. O ouro do Tapajós, o
ferro da serra dos Carajás, a bauxita do Trombetas. São reservas calculadas em bilhões
de toneladas. Que não venham elas a padecer o destino que foi dado ao nosso manganês
da serra do Navio, que há uma porção de anos está sendo levado todo, todinho, lá para
as bandas poderosas da outra América, que não dispõe de reservas daquele minério e se
garante o futuro com os estoques acumulados da riqueza do nosso subsolo.
Se o subsolo se revela cada dia mais rico, sucede que o solo vem confirmando uma
inquietante pobreza. E mais empobrecido se torna com a floresta derrubada. De muita
ciência ainda se precisa para alcançar o conhecimento de técnicas que favoreçam o uso
justo e adequado do solo. Mas não só de ciência. É de consciência a nossa precisão
maior. É preciso ocupar a Amazônia para ajudá-la a viver, a fim de que ela possa ajudar
EF2_9A_POR_105

melhor o homem, quero dizer, a humanidade.

14
Já não se esconde mais a tensa inquietação a propósito do futuro desse verde pedaço
do mundo, cujo equilíbrio ecológico está fundamente ferido. Sobretudo porque também
não se esconde, conquanto mal negada, a intenção sinistra de vender, por meio de con-
tratos de riscos, partes da nossa floresta para cobrir uma parte da nossa dívida externa.
Por isso quero contribuir, com essas palavras escritas no interior do Amazonas, nas
margens do Rio Andirá, morada dos últimos sobreviventes da nação maué e que banha
a pequena Barreirinha, onde nasci – para a causa da minha terra e do meu povo. Quero
que elas sirvam de testemunho e de advertência.
“O barco se afasta devagar. Do alto da proa, fico olhando a menina sentada no
barranco. Um brilho que me perturba cresce nos seus olhos, onde palpitam misturados
a força e o desamparo. Uma espécie de esperança amedrontada. É o olhar da própria
Amazônia, de alguém que sente precisão de amor.”

(Mello, Thiago de. Mormaço na floresta. São Paulo: Círculo do Livro, 1983.)

6. Identifique no texto:
Assunto: ______________________________
Tema: _________________________________

7. Observe a linguagem do texto.


a) Que variedade linguística predomina?

b) Que tempo verbal predomina?

c) Como se classifica esse texto? Marque a(s) alternativa(s) correta(s).


( ) de opinião.
( ) de alerta.
( ) de entretenimento.

8. Qual o objetivo de Thiago de Mello ao escrever o texto “Amazonas, pátria da água”?


EF2_9A_POR_105

15
9. O texto nos transmite várias informações sobre a Amazônia. Complete o quadro resu-
mindo as informações contidas em cada parágrafo indicado:

1.ºparágrafo

2.ºparágrafo

3.ºparágrafo

10. De que forma o autor construiu a conclusão do texto? Com que objetivo?

11. A que personagem lendária o autor se refere com a expressão “País das Amazonas”?

12. No primeiro parágrafo, transparece um receio do autor a respeito dos minérios da


Amazônia. Esse receio tem fundamento?

13. Releia: “é o olhar da própria Amazônia, de alguém que sente precisão de amor”.

Explique como você entendeu a mensagem final do texto.


EF2_9A_POR_105

16
14. Leia a charge:

IESDE Brasil S.A.


É possível estabelecer uma relação entre o texto “amazonas, pátria da água” e a charge.
Qual a relação temática entre os dois?

Você sabe que quando observamos um fato, lemos um texto, tiramos algumas conclusões
(inferências) a partir de dados que se encontram implícitos, ou seja, contidos nele.

1. Indique uma inferência para cada manchete de jornal:


a) Carnaval menos violento este ano.

b) Indústria demite dois mil funcionários só neste mês.

c) As mulheres já ganham salários iguais aos dos homens.

d) As aulas recomeçam na próxima segunda-feira.


EF2_9A_POR_105

17
e) Brinquedos estrangeiros saíram do mercado.

2. Agora, há uma inferência e você vai imaginar um fato que a possa ter gerado:
a) O inverno está terminando.

b) As crianças estão mais violentas.

c) Precisamos mudar a lei para punir menores.

d) Vai ficar mais fácil ser atleta neste país.

e) Maior número de jovens ingressará na universidade.

3. Discuta com um colega e selecione dois ou três argumentos que poderiam ser utili-
zados para defender as teses:

Tese A

Ultimamente temos notado pouco interesse dos jovens em participar da vida política
desta nação.

Tese B

As grandes cidades enfrentam problemas de violência.


EF2_9A_POR_105

18
Você poderá exercitar sua capacidade para escrever textos dissertativos utilizando os co-
nhecimentos adquiridos. Para isso, leia o texto que se segue e atente à proposta.

Para Nações Unidas, natureza vale mais em pé do que derrubada

É possível calcular o valor monetário de uma floresta intacta ou os custos, em dólares,


da extinção de uma espécie animal? Esse tema controverso começou a ser debatido ontem
na COP8 pelos delegados dos 172 países que participam da conferência. Para muitos, não
se pode mensurar em termos financeiros o valor da biodiversidade. Mas, para uma cor-
rente de pesquisadores, não só é possível como necessário fazer essa medição. Segundo
eles, somente pela quantificação dos custos da perda de um ambiente natural é possível
impedir que eles venham a ser substituídos por atividades econômicas insustentáveis.
Dados divulgados na Expo Trade Pinhais nesta sexta-feira (24/03) pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostram que há muitos exemplos de que a
natureza produz mais riqueza para os homens em pé do que derrubada para a exploração
econômica. Segundo o Pnuma, por exemplo, a exploração comercial de peixes dos recifes de
coral do Caribe, para alimentação ou para o mercado de aquários ornamentais, rende anual-
mente US$300 milhões. Segundo o porta-voz do Pnuma, Nick Nuttal, a indústria do turismo
nesses recifes, uma atividade não predatória, gera mais dinheiro: US$2 bilhões por ano.
Nuttal ainda citou o exemplo de Nova Iorque, que estima ter economizado de US$3
bilhões a US$5 bilhões na compra de equipamentos de purificação da água usada no
abastecimento somente com investimentos na recuperação ambiental dos mananciais
de abastecimento. Matas ciliares, por exemplo, filtram a água das enxurradas que, caso
contrário, poderiam levar terra e impurezas para o rio.

(Martins, Fernando. Para Nações Unidas... Gazeta do Povo Online. Curitiba. Disponível em:
<www.portal.rpc.com.br/gazetadopovo>. Acesso em: 24 mar. 2006.)

Proposta:
Após a leitura, elabore um texto dissertativo, de 15 a 20 linhas, sobre o comportamento
do homem em relação ao meio ambiente.
Dê um título a seu texto.
EF2_9A_POR_105

19
20
EF2_9A_POR_105

Você também pode gostar