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20/12/2023, 10:33 Gmail - aquilino

Alexandre Rodrigues <alexandre.manuel.rodrigues@gmail.com>

aquilino
Aquilino Rodrigues <rodrigues.aq@gmail.com> 28 September 2021 at 16:39
To: Alexandre Rodrigues <alexandre.manuel.rodrigues@gmail.com>

Estimado primo,
Agradeço o teu email e entendo que devo responder-te para esclarecer alguns mal-entendidos.
As minhas respostas abaixo.

Alexandre Rodrigues <alexandre.manuel.rodrigues@gmail.com> escreveu no dia terça, 28/09/2021 à(s) 09:46:


Ola primo.

Quando publicaste a tua opiniao com o link que direcionava para o tal artigo, assumi que sim, que pensavas como
ela.
R: na verdade não li o artigo, só o estou a ler agora. Mas o que eu defendi, e está lá escrito, é o direito a uma pessoa
expressar as suas convicções religiosas em liberdade, desde que não ofenda ninguém diretamente. Não há ali nada
de ódio ou incitamento à violência. Nada.
Ora, tu não concordas com as convicções religiosas e morais da autora, e estás no teu direito. Mas tens que
respeitar o direito de ela se expressar, ou então instauramos aqui um regime de censura.

Se for esse o caso e pelo conteudo do artigo, compreenderas a razao pela qual nao tenho vontade de estar com
pessoas que escrevem ou assiam por baixo daquilo que novamente repito acho insultuoso e ofensivo.
R: Se todos pensarmos e agirmos assim, deixamos todos de falar uns com os outros. Por exemplo, eu já não teria
vontade de estar contigo devido aos teus comentários extremamente agressivos contra a Igreja católica. Porque eu
sou católico. Aplica-se o mesmo princípio.
Só que eu não reagi como tu, todo indignado. Porque eu sei que nem todos pensam como eu. Tenho que ter
capacidade de encaixe para isso. E desde que não me insultem, lá está, voltamos ao mesmo... liberdade de
expressão.
Por muito que te custe, tens que aceitar que a tua opção de vida não é consensual. Nunca foi ao longo da história da
humanidade, e agora só o é nos países ocidentais mais desenvolvidos devido a uma grande transformação
antropológica que tem ocorrido desde os anos 60 com a invenção da pílula. Isso é um assunto que daria pano para
mangas, mas concentremo-nos no cerne da nossa questão.

Sim, a tal deputada nao odendeu ninguem em particular - ofendeu e insultou (re le os excertos acima) toda uma
comunidade da qual eu, como muito orgulho, faço parte.
R: não vejo lá insultos nenhuns, apenas uma visão do assunto baseada na sua religião. Um muçulmano, hindu ou
budista escreveria coisas semelhantes porque todas as religiões não aprovam a homossexualidade.

A familia, como tu sabes 'e para mim mesmo muito importante. Telefono regularmente para os primos, tios e primos
de tios para saber como estao e dar uma palavra de amor e carinho.
Estou ha 9 anos a viver no estrangeiro mas as minhas relacoes familiares continuam intimas, fortes e solidas.
Quando vou a Lisboa tenho o tempo contado mas reservo sempre algumas horas para visitar os mais idosos. Nao
para me divertir e festejar de uma maneira convencional mas sim para que eles se sintam acarinhados e nao
esquecidos.
R: Todos na família reconhecem essa tua vocação, incluindo eu e todos cá em casa. É uma característica que te
assenta muito bem. Não está minimamente em questão.

Com tanto amor, carinho e consideracao que dou a todas essas familias, sim, tomo a decidao de afastar me de
quem pensa que a minha familia (eu e Tony) 'e de alguma maneira inferior a outro modelo.
R: Portanto, não te chega pedir que aceitem a tua relação amorosa, e que te aceitem como tu és.
Queres impor que todos passem a pensar que as relações homossexuais são equiparadas 100% às heterossexuais.
Hum... parece-me um bocado esticado, quando sabemos que a maioria das pessoas tem muitas reservas quanto a
isso. Isso é doutrinamento à força.
Se aplicarmos o mesmo princípio à Igreja católica, então eu tenho que deixar de falar contigo porque tu não vais à
missa e não recitas o credo.

O nosso proprio cla do qual eu e tu temos muito orgulho nao 'e um cla tradicional se pensares bem, e nao foi por
isso que deixamos de estar os 12 primos unidos mantendo os valores que nos foram ensinados.
R: não percebo o que queres dizer com isto. Mas sobre valores, sim, há o valor do respeito mútuo, do respeito pela
vida privada de cada um, e é por isso que ninguém na família (que eu saiba) sequer belisca o teu estatuto. Terá sido
sempre assim na tua família nuclear? Foi sempre pacífico? Não sei, mas se foi ou não foi, ambas as coisas
são naturais. Tudo depende da personalidade de cada um.

https://mail.google.com/mail/u/0/?ik=76785ef733&view=pt&search=all&permmsgid=msg-f:1712164396364033128&simpl=msg-f:1712164396364… 1/2
20/12/2023, 10:33 Gmail - aquilino

Se realmente ves a minha familia como sendo disfuncional, anormal ou de alguma maneira inferior aa tua, respeito
isso mas por favor respeita tambem a minha decisao de nao querer estar contigo pois prefiro estar rodeado de
seres humanos que pensam de maneira diferente.
R: Vou tentar explicar-te a minha posição, esperando que tu compreendas.
Eu entendo que a atração por pessoas do mesmo sexo é um facto da natureza, uma realidade que existe, quer
gostemos quer não.
É auto-evidente que os nossos corpos e o da maioria dos animais são sexuados, e que essa natureza sexuada tem
subjacente a complementaridade dos dois sexos. É assim até com as plantas. Os orgãos sexuais do nosso corpo
estão desenhados para a função reprodutiva, com o prazer associado como bónus.
Assim, o nosso desígnio enquanto seres corporais, e não meramente mentais ou espirituais, é simplesmente viver
segundo a nossa natureza. É isso que a grande maioria da humanidade sempre fez e faz. Casa, tem filhos, e é assim
que nós aqui estamos.
Contudo, sabemos que uma minoria de pessoas sente atração por pessoas do mesmo sexo, e hoje, nas sociedades
tolerantes que queremos construir, temos encontrado forma de encaixar essa realidade respeitando cada vez mais
os sentimentos dessas pessoas.
É assim que eu aceito que se conceda do direito de união, e até conferir direitos legais de propriedade, sucessão,
heranças, etc, que felizmente já estão acautelados na lei.
No entanto, no meu entender, não faz sentido equiparar uma relação H-H a uma família, precisamente porque a
família tem pressuposta a tal complementaridade H-M.
Tu nasceste e cresceste numa família, com um pai e uma mãe, e todas as crianças precisam de um pai e de uma
mãe. Não de dois pais, ou duas mães, ou seja o que for.
(já agora, não precisas dizer-me que há muitas famílias H-M disfuncionais e violentas, eu sei disso.
Proporcionalmente, tantas como as famílias H-H ou M-M, por isso o argumento não vinga).

Portanto, depois de muito pensar nisto, digo-te:


- Se queres o meu respeito, aceitação, admiração, até defesa dos teus direitos, conta comigo.
- Se exiges que eu equipare a tua relação a uma família, não posso aceitar uma doutrina que vai completamente
contra as minhas convicções e a minha consciência. Não é a mesma coisa um filho ser criado numa família
tradicional ou por dois homens íntimos. Por muito que faças o pino.
Por outro lado, aceito que dois homens que se amem tenham o direito de ver a sua união reconhecida legalmente
(embora eu não goste de lhe chamar casamento, porque isso é alterar o significado de uma palavra)
Por esta altura, e com base no que tens escrito, é para mim claro que tu não aceitarás isto.
Será uma decisão tua. Mas lembra-te bem disto Ozi: ninguém, nem o próprio Deus, pode violar a consciência de um
ser humano. Se vais por esse caminho, afastando-te de quem não quer adotar a tua doutrina, vais por mau caminho.
E eu, como teu primo, que te amo, tenho que te avisar disso.

Vive a tua vida como és, com o teu companheiro, sobriamente, mas não sigas o radicalismo dos tempos atuais.
Respeita quem não pensa como tu.

Gostaria de pedir te, para antes de publicares conteudo com links que direcionam para aquele tipo de
artigo, refletires no conteudo dos artigos pois essa foi a razao do nosso conflito (nao o fato de ela ou tu terem
publicado).
R: terei certamente muito mais cuidado, mas não posso garantir que não falarei deste assunto, sempre com o
respeito e cuidado que ele merece, e que aliás já demonstrei.

Como sabemos, o meu papa e o meu querido tio Zito estiveram muitos anos afastados e eu nao quero repetir esse
padrao.
R: ouso dizer que depende de ti. Eu estou em paz contigo como sempre.

Desta vez sim deixo te com um abraco sincero e o desejo de um virar de pagina,
R: é recíproco, um abraço fraterno.

Ozi
R: Aquilino
[Quoted text hidden]

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