Você está na página 1de 5

HIS1850 – História das cidades

Grupo: Bruna Fomm, Julia Zagury, Luiza Masset & Rafaella Scapin
G2 – Resenha crítica

Confiança e Medo na Cidade

O texto a seguir tem como objetivo fazer uma resenha sobre o livro “Confiança e Medo
na Cidade” por Zygmunt Bauman, relatando seus objetivos ao escreve-lo e analisando
especificamente cada capitulo. Para isso, o trabalho também conta com uma breve
biografia do autor, mencionando sua formação e detalhes de sua vida pessoal e
profissional que possam ser relevantes.

Zygmunt Bauman nasceu em Poznan, na Polônia, em 1925, em uma família de


judeus não praticantes que fugiram para a União Soviética, em 1939, diante da invasão
nazista sobre o país. Ele foi um sociólogo, pensador, professor, escritor e uma das vozes
mais críticas da sociedade contemporânea. Durante a Segunda Guerra Mundial, Bauman
aliou-se ao exército, participou de duas batalhas e foi reconhecido com uma medalha ao
valor militar. Com o fim da guerra, Zygmunt voltou para Varsóvia conciliando sua
carreira militar com os estudos universitários e com a militância no Partido Comunista.
Concluiu o mestrado em 1954 e tornou-se professor-assistente de Sociologia na mesma
universidade em que estudou (Universidade de Varsóvia). Por muitos anos, ele esteve
próximo da ortodoxia marxista, mas depois começou a criticar severamente o governo
comunista polonês e sofreu perseguição por 15 anos. Em março de 1968, uma série de
protestos contra a censura do regime lançada por professores, alunos e artistas acabou
levando a expurgos antissemitas, forçando muitos poloneses de ascendência judaica a
deixar o país. A situação não foi diferente com Bauman e sua esposa, que foram expulsos
da Polônia. Exilado em Israel, lecionou na Universidade de Tel Aviv e anos depois foi
convidado a ensinar sociologia na University of Leeds, no Reino Unido. Além de toda
sua história, o autor pós-moderno criou a expressão “Modernidade Líquida” para
classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não possuem mais padrão de referência.
Foi o mais agudo e original pensador da atualidade, travou um corpo a corpo dramático
com as grandes questões do mundo contemporâneo, assumindo plenamente a
responsabilidade e o risco de intelectual público.
O livro resenhado é uma compilação de ensaios de Bauman e se chama
“Confiança e Medo na Cidade”. Nele, o autor fala sobre a figura arquitetônica das
cidades, que foi criada em um aspecto defensivo gerado pela insegurança e o medo que a
sociedade apresenta. A obra mostra que o medo passa a exercer forte domínio na
Grupo: Bruna Fomm, Julia Zagury, Luiza Masset & Rafaella Scapin
G2 – Resenha crítica

sociedade, gerando uma sensação constante de insegurança, que estimula a vontade de


construir grandes fortalezas, casas isoladas e condomínios tentando constituir uma
espécie de sociedade própria, afastada da cidade em que se situa. O raciocínio do autor
pode ser resumido de forma que as cidades globais entraram numa nova fase histórica,
inaugurada no fim do século XX. Nela, os ricos tendem a se tornar mais ricos, enquanto
os mais pobres tendem a se tornar ainda mais pobres, afundando na miséria. Ao longo do
livro o autor expõe algumas características dos centros urbanos. Ele mostra que o contato
com a figura do “estrangeiro” e as possibilidades decorrentes disso estão na essência da
própria ideia das cidades, constituindo as bases de sua origem. Contudo, o autor busca
mostrar que as grandes cidades são movidas pelo medo. Existem motivos para essas
mudanças, mas em “Confiança e Medo na Cidade” o foco se dá nas imposições globais
que ocasionam a perda de identidade das comunidades, onde está a origem do atual
problema exposto na obra. A obra apresenta o desafio de recuperar a figura comunitária
da esfera pública, levando em conta, como argumento impulsionador das relações
humanas, a solidariedade e a valorização de um espaço que é ocupado por muitos. Mesmo
assim, Zygmunt é capaz de nunca fechar o discurso, como em seus outros ensaios, abrindo
espaço para outros argumentos e opiniões que possam vir a surgir.
O primeiro capítulo do livro chama-se "Confiança e medo na cidade",
apresentando o mesmo nome da obra. Ele se trata da “forte tendência a sentir medo e a
obsessão maníaca por segurança” 1. Ou seja, Bauman fala sobre o medo que muitos
tendem a sentir, e que tem como consequência a obsessão maníaca por segurança. Esse
medo e insegurança viriam dos crimes cometidos pelos indivíduos, pela falta de confiança
no outro e pela “miséria social”, e não mais por fenômenos naturais. Com isso, a grande
promessa moderna passa a ser a proteção, a qual, para o autor, constitui o verdadeiro
coração do Estado Social. Com a eliminação da solidariedade, novos atores passam a ter
o papel do “universo no qual a modernidade sólida administrava o medo" 2, assim os
incapacitados para a reintegração passam a ser os protagonistas que representam as
classes perigosas. Portanto, os excluídos formam a atual classe aguardente. A cidade
começa a ser dominada pela cultura do medo, perdendo sua função de proteger as pessoas
dos “outros”, que não faziam parte do “nós”. Essa cultura do medo defende políticas de
controle e repressão com a esperança de que seu problema seja dissipado. Sendo assim,
Bauman classifica quais seriam as tendências sociais, políticas e culturais mais relevantes

1
BAUMAN, 2009, p. 8
2
Ibid., p. 11
Grupo: Bruna Fomm, Julia Zagury, Luiza Masset & Rafaella Scapin
G2 – Resenha crítica

que possibilitaram a passagem de uma fase sólida para a constatada fase líquida da
modernidade. “A segregação das novas elites globais; seu afastamento dos
compromissos que tinham com o populus do local no passado; a distância crescente entre
os espaços onde vivem os separatistas e o espaço onde habitam os que foram deixados
para trás” 3. A mensagem que Bauman busca transmitir com essa frase é que “as cidades
se transformaram em depósitos de problemas causados pela globalização” 4. É daí que
as cidades contemporâneas começam a ser vistas como grandes campos de batalha, no
qual surge o estranhamento com o estrangeiro, por sua presença causar desconforto. O
resultado disso é o paradoxo dos grandes centros urbanos.
O capítulo seguinte tem o nome de “Buscar abrigo na caixa de Pandora: medo e
incerteza na vida urbana”, onde Bauman trata da importância que transferiu a segurança
pessoal na sociedade e da instabilidade das relações sociais. A consequência dessa
atividade, por segurança, se dá numa espécie de arquitetura do medo: espaços vigiados
constantemente. Ou seja, a promessa de progresso ao invés de trazer mais segurança,
trouxe mais insegurança. O autor analisa as implicações sociais da arquitetura que nascem
com a cultura do medo, da incerteza e do risco. A arquitetura do medo tende a virar
padrão. Os espaços modernos projetados pelos arquitetos modernos, que privilegiavam o
acesso e o convívio público, são reconstruídos com o interesse da uniformização das casas
dos residenciais vigiados pelas câmeras de seguranças, cercados por muros e cercas
eletrificadas. As praças e os espaços urbanos de convívio social perdem o seu significado
e são contestados pelas novas gerações, que mais sofrem com esse próprio esvaziamento
urbano. Com essas ações dos agentes preocupados com a segurança, eles acabam
gerando, ao contrário do que eles desejam, ainda mais medo e incerteza. O autor ressalta
que nunca é possível estar totalmente seguro.
Por fim, o terceiro e último capítulo do livro, que se chama “Viver com
estrangeiros”, que faz uma transcrição de uma conferência feita por Bauman em 2004.
Ele diz que “viver numa cidade significa viver junto – junto com estrangeiros” 5.
Ademais, ele traz o questionamento da obsessão da separação de fronteiras, na qual a
resposta estaria em algo que se origina do desejo de recortar para nós um lugar
confortável, seguro, num mundo que se mostra selvagem e ameaçador. O autor defende
que a preocupação contemporânea deveria residir na compaixão, algo fundamentalmente

3
BAUMAN, 2009., p. 15
4
Ibid., p. 17
5
Ibid., p. 37
Grupo: Bruna Fomm, Julia Zagury, Luiza Masset & Rafaella Scapin
G2 – Resenha crítica

humano. Bauman também afirma que é preciso “ver, reconhecer e resolver os problemas
da convivência” 6. Somos sempre os estrangeiros do outro, já que nos caracterizamos
como vizinhos de pessoas que, na maioria dos casos, mal nos conhecem e também não
conhecemos. Nas novas aglomerações urbanas, essa diferença vem sendo encarada
através da criação de fronteiras com o “estrangeiro”, tentando construir moradias em que
não há brecha para qualquer figura externa, sendo o nosso lugar acolhedor, longe de toda
a “loucura” da cidade.
Conclui-se então que esta obra é relevante para a discussão da análise dos
movimentos urbanos, processos de segregação e a crescente onda de xenofobia mundial.
Mesmo com os problemas das relações interpessoais pós-modernidade, é possível
observar que o autor sinaliza esperanças para que os seres humanos vivam de forma
pacífica e respeitando as diferenças de cada um. Na frase “levar essa compaixão e essa
7
solicitude para a esfera planetária” , releva a sua maior preocupação com a
contemporaneidade. Esta sociedade moderna é determinada por diversos aspectos,
principalmente aqueles resultantes da globalização e da industrialização. O mundo
globalizado tem tanto seu lado positivo, quanto negativo, já que atualmente o capitalismo
se estende em todo o hemisfério. Dessa forma, ao mesmo tempo em que nas grandes
cidades há mais oportunidades e escolhas para as pessoas por causa das grandes empresas,
as mesmas causam os maiores problemas da época, como o medo, a insegurança e a
fragilidade dos indivíduos. Assim, tornando-se responsável pela transformação do espaço
e do tempo, atuando de maneira contraditória e gerando conflitos e mudanças nas relações
e nas posições sociais das pessoas. Atualmente, essas cidades são locais onde a pobreza
se encontra em qualquer lugar, assim como o medo e a insegurança. De acordo com
Bauman, devemos reduzir o medo de estranhos e aumentar a vontade exacerbada de
conviver com os mesmos, para assim, resolvermos os problemas da cidade moderna com
compaixão, solidariedade e a valorização daquele mesmo espaço que é ocupado por
muitos.

6
BAUMAN, 2009, p. 37
7
Ibid., p. 44
Grupo: Bruna Fomm, Julia Zagury, Luiza Masset & Rafaella Scapin
G2 – Resenha crítica

Bibliografia

ARAÚJO, Janaina Lucia de. Resenha: confiança e medo na cidade. Temática, João
Pessoa, n. 7, p. 210-214, jul. 2015. Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/index.php/tematica. Acesso em: 25 jun. 2021.

BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.


Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/6011973/mod_resource/content/1/Confianca%
20e%20Medo%20na%20Cidade%20-%20Zygmunt%20Bauman.pdf. Acesso em: 29
jun. 2021

BEZERRA, Juliana. Zygmunt Bauman: Biografia. Toda Matéria. Disponível em:


https://www.todamateria.com.br/zygmunt-bauman/. Acesso em: 27 jun. 2021.

FRAZÃO, Dilva. Zygmunt Bauman, Sociólogo polonês: biografia de Zygmunt


Bauman. Biografia de Zygmunt Bauman. 2019. Ebiografia. Disponível em:
https://www.ebiografia.com/zygmunt_bauman/. Acesso em: 25 jun. 2021.

GUIA DO ESTUDANTE (Brasil). Editora Abril (ed.). Zygmunt Bauman. 2017.


Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/zygmunt-bauman/.
Acesso em: 25 jun. 2021.

MENEZES, Daniel Gonçalves de. Resenha: confiança e medo na cidade zygmunt


bauman. 2012 p. 351 - 355. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências Sociais,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012. Disponível em:
https://www.cchla.ufrn.br/bagoas/v06n07res01_menezes.pdf. Acesso em: 26 jun. 2021.

SILAS FILHO, Paulo. Resenha de “Confiança e Medo na Cidade”, de Zygmunt


Bauman. 2018. Canal Ciências Criminais. Disponível em:
https://canalcienciascriminais.com.br/confianca-medo-cidade-bauman/. Acesso em: 24
jun. 2021.

SOUSA JUNIOR, José Dantas. Resenha: confiança e medo na cidade bauman,


zygmunt. confiança e medo na cidade. rio de janeiro: zahar, 2009. Publicatio, Ponta
Grossa, n. 23, p. 221-222, ago. 2015. Disponível em:
https://revistas2.uepg.br/index.php/sociais. Acesso em: 25 jun. 2021.

Você também pode gostar