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"Ismália” Acrobata da dor

Quando Ismália enlouqueceu,


Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Pôs-se na torre a sonhar... como um palhaço, que desengonçado,
Viu uma lua no céu, nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu, Da gargalhada atroz, sanguinolenta,


agita os guizos, e convulsionado
Banhou-se toda em luar...
salta, gavroche, salta clown, varado
Queria subir ao céu,
pelo estertor dessa agonia lenta ...
Queria descer ao mar...
Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
E, no desvario seu,
nessas macabras piruetas d'aço. . .
Na torre pôs-se a cantar...
E embora caias sobre o chão, fremente,
Estava longe do céu...
afogado em teu sangue estuoso e quente,
Estava longe do mar...
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

E como um anjo pendeu Cruz e Sousa

As asas para voar. . .

Queria a lua do céu,

Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...

Sua alma, subiu ao céu,

Seu corpo desceu ao mar...

Alphonsus de Guimaraens

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