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ATIVIDADE PRÁTICA – ATP

Disciplina: Ética PUCPR


Curso: Análise e Desenvolvimento de Sistemas
Aluno: Murillo Santiago de Queiroz

Na área de tecnologia de análise e desenvolvimento de sistemas, um dilema


ético possível que pode surgir seria o seguinte caso fictício: um programador é
contratado por uma empresa de tecnologia para desenvolver um aplicativo de
delivery, e com isso ele tem acesso a muitas informações pessoais dos usuários,
como por exemplo, números de cartões de crédito e CPFs. É importante que esses
dados sejam armazenados de forma segura e de acordo com a lei, mas uma grande
empresa oferece por “baixo dos panos”, uma grande quantia em dinheiro para ele
vender esses dados, para que ela possa fazer propagandas direcionadas. Ninguém
vai saber que o programador vendeu esses dados e ele poderia usar o dinheiro,
porque está passando por necessidade. Mas de outro lado, além de ser antiético, ele
poder ser demitido ou mesmo preso se descobrirem.
Como se observa isto caracteriza um dilema ético, pois qualquer um dos
caminhos, ou seja, das ações possíveis não será satisfatório. Se o programador
deixar de vender os dados, ele deixará de ganhar um bom dinheiro que poderia
ajudar ele em necessidades que está passando. Se ele decidir vender ele corre o
risco de ser punido por essa ação “imoral”.
É importante esclarecer que existe uma diferença entre moral e ética.
PORFÍRIO explica que a ética é um campo da filosofia que reflete sobre as ações
humanas, já a moral são os costumes, os hábitos de uma sociedade, e isso pode
variar de acordo com o tempo e o espaço. Assim, a ética se preocupa também com
o que é certo e errado, mas vai além de uma construção teórica, ela tenta investigar
porque uma ação é errada ou não, tenta apresentar referências para que possamos
tomar decisões e agir.
A ética e a moral não se confundem com a lei, pois o Direito busca
estabelecer regras para a sociedade, valendo para um certo território, e pode haver
discordâncias entre as leis e a moral de uma sociedade. Já a ética não se trata de
estabelecer regras, mas sim de uma reflexão sobre a ação humana (GOLDIM).
Conforme MACHADO a ética se liga com a questão da justiça. Em um
dilema ético dois valores morais importantes estarão em jogo, então teremos que
fazer uma reflexão moral dialética para descobrir o significado de Justiça naquele
caso. E como explica o autor “fazer a coisa certa nem sempre é fazer a coisa mais
fácil”.
ROSSETI e ANGELUCI explicam que no contexto da Quarta Revolução
Industrial, que se refere a inserção da inteligência artificial e dos algorítimos nas
relações, as questões envolvendo privacidade de dados e cibersegurança surgem
como um elemento central de dilemas éticos, citando como exemplo o caso de
vazamento de dados de 50 milhões de usuários do Facebook. Os autores entendem
que os muitos dilemas éticos que surgem na área de tecnologia exigem “um
processo de tomada de consciência das decisões feitas tanto pelos planejadores e
designers como pelos participantes sociais em geral”.
Diante de um dilema os sistemas ou modelos éticos podem ser utilizados
para tentar se pensar na melhor solução, tentando encontrar aquela mais justa. Os
principais modelos éticos mais conhecidos são: na antiguidade clássica o
pensamento de Aristóteles, no século XVIII o pensamento de Kant, e no século XIX
o pensamento utilitarista de John Stuart Mill.
O pensamento de Aristóteles é focado na ideia de busca pela felicidade e de
virtude. Para este filósofo o fim das ações dos homens é a felicidade, e isso se
realiza mediante certos hábitos constantes, que são as virtudes. As virtudes não são
natas, elas se conquistam com a constância. Para o autor a virtude se encontra no
meio termo, ela é uma justa medida entre dois extremos. Por exemplo o meio termo
entre a ambição e a moleza é a prudência, e isto seria virtuoso.
Já no pensamento de Kant o ser humano não é a felicidade o que se deve
buscar, deve-se agir pelo dever. Mediante a nossa racionalidade/razão devemos
chegar a conclusão do que é certo ou errado, e então devemos agir da forma certa,
independente de questões externas, mas sim guiados pelo interno. Apenas
saberemos se a ação é correta se ela poder se tornar uma lei universal, esta é a
máxima pensada por Kant, o imperativo categórico. Para Kant, portanto, a ação
moral é algo que ocorre quando usamos a razão e pensamos de forma universal.
Já na corrente utilitarista, diante de dilemas éticos temos que realizar um
cálculo sobre os benefícios e malefícios. Aqui se pauta no princípio do bem-estar
máximo, onde se deve agir sempre de forma a produzir a maior felicidade ao maior
número de pessoas. É uma doutrina que busca uma consequência, que é maximizar
o bom, mas em uma perspectiva mais geral, não só pensando no indivíduo.
No caso do dilema fictício apresentado, do trabalhador que está lidando com
a dúvida de vender os dados dos clientes do aplicativo e receber uma grande
quantia de dinheiro que lhe ajudaria, ou respeitar as leis e a ética e deixar de ganhar
essa quantia, verifica-se que duas possíveis soluções poderiam ser fornecidas pelo
modelo ético de KANT, e pelo UTILITARISMO.
Levando em conta o modelo de KANT, a solução conforme esse sistema
seria utilizar do imperativo categórico. Ou seja, esse trabalhador vai ter que chegar a
uma conclusão racional sobre o que seria certo fazer, e essa conclusão vai ter que
ser universal, valendo para todos. Assim, ele poderia pensar: é correto agir de forma
antiética e desonesta no trabalho? E se todas as pessoas agissem assim? E
chegaria a conclusão de que isso não seria justo, e que deveria agir por dever,
apenas pelo que é certo, independente se outras pessoas ficariam ou não sabendo
dos fatos, se ele seria punido ou não por isso. Assim, usando o modelo de Kant, o
programador não venderia os dados, mesmo que isso signifique que não ganharia a
grande quantia que poderia ajudar ele financeiramente.
Já sobre uma visão utilitarista o programador poderia chegar a uma
conclusão semelhante, mas por motivos diferentes. No utilitarismo ele deveria
analisar como a ação dele geraria o maior bem comum a todos, e poderia pensar: é
correto vender os dados e desrespeitar a privacidade de um grande número de
pessoas para apenas uma pessoa lucrar, no caso eu? E diante desse cálculo
utilitário ele chegaria a conclusão que a ação não deveria ser realizada, talvez não
por motivos tão nobres, pois, por exemplo, se a situação fosse diferente o resultado
do cálculo dele poderia ser outro. Exemplo, se apenas uma pessoa fosse sofrer com
a venda dos dados, e mais pessoas fossem lucrar, ele poderia concluir por vender
os dados. Porém, conforme explica CRISOSTOMO, não se pode esquecer que o
utilitarismo tem também um fim coletivo, e não só individual, então muitas vezes o
próprio agente moral chega a conclusão de que agir para favorecer os outros muitas
vezes repercute de modo favorável para si mesmo.
Portanto, pensando em uma ideia de “responsabilidade profissional”, esse
programador agiria de forma correta em uma visão ética, se não vendesse os dados
dos clientes, deixando de lucrar com isso, mesmo que isso pudesse ajudar ele.
Porém, é o modelo de KANT que explica melhor porque isso seria o caminho
responsável e correto, pois esse sistema entende que é pela razão que chegamos a
conclusão do que é certo ou errado, independente de tudo que é externo, e que isso
deve ser universal e valer para todos. Então adotar um comportamento tão
ganancioso como esse não poderia ser correto de nenhuma forma, pois jamais isso
poderia ser generalizado nas práticas da sociedade, correndo o risco de se formar
uma sociedade totalmente corrupta.

Referências:

PORFÍRIO, F. Diferença entre ética e moral. Brasil Escola, Filosofia. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/diferenca-entre-etica-moral.htm#:~:text=Moral
%20representa%20os%20h%C3%A1bitos%20e,mesmas%20palavras%20designam
%20coisas%20distintas.

MACHADO, Vitor G. Justiça e ética: o caso do bonde desgovernado e o


comportamento humano em questão. OAB Espírito Santo, 23 set. 2014. Disponível
em: https://oabes.org.br/noticias/justica-e-etica-o-caso-do-bonde-desgovernado-e-o-
comportamento-humano-em-questao-556042.html.

CRISOSTOMO, A. L. et al. Ética. Porto Alegre: SAGAH, 2018.

ROSSETI, Regina, e ANGELUCI, Alan. Ética Algorítmica: questões e desafios éticos


do avanço tecnológico da sociedade da informação. Disponível:
https://doi.org/10.1590/1982-2553202150301.

GOLDIM, José Roberto. Ética, moral e direito. Disponível:


https://www.ufrgs.br/bioetica/eticmor.htm.

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