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ALGORITMOS DE REDES SOCIAIS – CARACTERIZAÇÃO COMO PODER


SIMIBÓLICO – CIDADANIA E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO
FUNDAMENTOS DA LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS

SOCIAL NETWORK ALGORITMS - CHARACTERIZATION AS SIMIBOLIC POWER - CITIZENSHIP AND


DIGNITY OF HUMAN PERSON AS GROUNDS OF THE GENERAL LAW FOR THE PROTECTION OF
PERSONAL DATA

Cibele Marcon1
Pedro Gustavo Pimentel2

Sumário: Introdução. 1. Breves conceitos e características de inteligência artificial e


algoritmos. 2. As redes sociais sobre a concepção de “poder simbólico” de Pierre Bourdieu.
2.1. Redes Sociais e Perpetuação do Habitus através do Capital Simbólico. 2.2. A cidadania e
a dignidade da pessoa humana como fundamentos da Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais – Consequências decorrentes do Poder Simbólico. 3. Conclusão. 4.Bibliografia

Resumo:

O presente estudo visa apresentar possíveis reflexões da existência de fatores de


influência sobre os agentes sociais pelos algoritmos de inteligência artificial, especialmente
em relação às redes sociais.
Com efeito, será abordada a tentativa de apresentar as influências promovidas pelas
redes sociais e que determinam, ainda que inconscientemente, formas de submissão àquilo
que é especificado por essas redes sociais e que poderiam moldar pensamentos e

1 Advogada e mestranda em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.


2 Assistente Jurídico do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e mestrando em Direito Político e
Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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comportamentos, individual ou coletivamente, criando tendências acerca da maneira de


interagir com o mundo, inclusive sobre eventual forma de dominação sobre as convicções dos
indivíduos.
E, consequentemente, essas influências passariam a ser admitidas, na perspectiva do
pensamento relativo aos sistemas simbólico desenvolvido por Pierre Bourdieu, como um meio
legítimo, de modo que os agentes sociais começassem ou passassem a agir e se comportar em
consonância com os interesses inerentes ao contexto dessas redes sociais.

Palavras-chave: Inteligência artificial, algoritmos, agentes sociais, legislação, redes sociais,


poder simbólico, Pierre Bourdieu.

Abstract:

This study aims to present possible reflections on the existence of factors of influence
on social agents by artificial intelligence algorithms, especially in relation to social networks.

In fact, the attempt to present the influences promoted by social networks will be
addressed and that determine, albeit unconsciously, forms of submission to what is specified
by these social networks and that could shape thoughts and behaviors, individually or
collectively, creating trends about how to interact with the world, including about the
possible form of domination over the convictions of individuals.
And, consequently, these influences would be admitted, from the perspective of the
thought related to symbolic systems developed by Pierre Bourdieu, as a legitimate means, so
that social agents began or began to act and behave in line with the interests inherent in the
context of these social networks.
3

Keyboards: Artificial intelligence, algorithms, social agents, legislation, social networks,


symbolic power, Pierre Bourdieu.

Introdução:

A atual fase de informatização que se encontra a inteligência artificial, com base em


respectivos algoritmos de redes sociais determinou o crescimento de adeptos ou usuários a
essa nova tecnologia, impondo o surgimento, imensurável, de novas tendências e
direcionamentos daquilo que atualmente é concebido como pensamentos sociais,
influenciando e até mesmo impondo novas regras de comportamento que passaram a ser
consentidos pelos agentes sociais como legítimo e passível de ser admitido, ainda que de
forma não expressa ou consciente, por aqueles que se utilizam das respectivas redes sociais e
por aqueles que inserem tais mecanismos de buscas nesses meios de convívio digital.
A questão ora abordada que se coloca tem ainda importante aspecto como meio de
submissão a tais informações e condutas veiculadas pelos participantes dessas redes sociais,
sendo que tais apreciações, que influenciam no atual comportamento humano, mostrar-se-ão
preponderantes para a coerente compreensão do que objetiva desenvolver no presente estudo,
que terá como uma de suas bases os meios de acesso e a forma como essas informações
permitem afirmar a existência de certa submissão às tendências apresentadas por esses
mecanismos tecnológicos.
Também será abordada, de forma exemplificativa, disposições legais criadas pela Lei
Geral de Proteção de Dados Pessoais, em especial aquelas que estabelecem como seus
fundamentos a cidadania e a dignidade da pessoa humana.
E, assim, utilizando-se do método dedutivo, baseado em uma revisão bibliográfica
4

sobre do tema, demonstrando o raciocínio lógico para se apresentar a obtenção do resultado


da presente abordagem, buscando estabelecer sua compreensão e possibilidade de incidência
pelas concepções fixadas por Pierre Bourdieu, em especial sobre sistemas simbólicos de
influência no comportamento dos agentes sociais, considerando delimitações atuais do
conceito, bem como preceitos com ele relacionados e que podem lhe conferir sustentação.

1. Breves conceitos e características de inteligência artificial e algoritmos:

De início, vale ser deixar registrado que não há efetivo consenso sobre a
conceituação de inteligência humana, não sendo o objeto do presente estudo promover sua
ampla discussão.
Contudo, para fins de introdução à inteligência artificial, é necessário, ainda que em
linha gerais, promover a abordagem, não exaustiva, de suas principais características, para
fins de demonstrar sua similitude com aquilo que foi criado para o auxílio de
desenvolvimento da humanidade.
Dentre as mencionadas características que se pode atrelar à inteligência humana,
merece destaque a possibilidade de aprendizado por meio das experiências vivenciadas,
capacidade de adaptação do indivíduo e sua interação com o ambiente, bem como a
capacidade de resolução de problemas.
E, dentre as características acima elencadas, será possível verificar, como já
mencionado, a efetiva semelhança que se empresta ao que atualmente se denomina como
inteligência artificial.
Pois bem, o significado de inteligência artificial não é, como se percebe, de fácil
elaboração, tendo em vista a abrangência altamente volátil e polissêmica que se pode atribuir
a tal expressão em virtude da constante agregação de novos elementos nascedouros da
modernidade, ou seja, configurando a sua multiplicidade 3 de sentidos ou a possibilidade de
adquirir um novo significado, assemelhado, evoluído ou diverso do seu sentido original, o que
determina a franca e regular continuidade de variação e adaptação do processo de formação
de sua conceituação.
Pode-se afirmar, na verdade, que sua conceituação deriva de uma classe variável 4,
3 VILLAS BÔAS FILHO. Orlando. Democracia: a polissemia de um conceito político fundamental. São
Paulo. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, v.108, p.651-696, jan/dez. 2013, pág.
669.
4 BOBBIO. Norberto. A Era dos Direitos. Apresentação de Celso Lafer, nova edição. Tradução Carlos Nelson
Coutinho. 29ª tiragem. Rio de Janeiro. Gen LTC. 2020, pág. 18.
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expressão esta utilizada por Norberto Bobbio, ou, ainda, utilizando-se das lições de Reinhart
Koselleck, a inteligência artificial estaria dentro daquilo que denominou de conceitos de
movimento5, caracterizados por sua flexibilidade, baseados não apenas em experiências
comuns, mas, também, pelas expectativas constituídas ao longo do tempo e, assim, chega-se à
conclusão de que o conceito de inteligência artificial sofrerá efetiva modificação e evolução
pela constante alteração dos meios tecnológicos.
A inteligência artificial pode ser conceituada como o conjunto de algoritmos que são
programados para o cumprimento de objetivos específicos, cuja característica principal é a
“capacidade” de aprendizado e o poder de tomar decisões baseadas nas informações que nela
são implementadas6, bem como a sua capacidade de adaptação, esta configurada pela
possibilidade de promover ajustes, com finalidade assemelhada ou diversa de sua atribuição
original, de acordo com as informações inseridas ou já existentes.
Vale registrar que, o que diferencia a inteligência artificial da automação, decorre do
fato de que a primeira goza de autonomia para o exercício de atividades específicas de
conhecimento, assemelhando-se à inteligência humana, isto é, como dito, baseada na
característica de tomada de decisões, enquanto a automação possui atividade meramente
mecânica7, sem autonomia, sem a capacidade de aprendizado e adaptação, dependendo
efetivamente de funcionamento, em sua totalidade, de uma iniciativa humana.
De outro lado, os algoritmos de redes sociais, em breve síntese, são o conjunto de
diretrizes utilizadas para determinar a vinculação aos resultados de buscas de conteúdos que já
foram pesquisados pelos seus respectivos usuários e que promovem a visualização,
direcionamento ou destaque a novos acessos às páginas de conteúdo idêntico ou assemelhados
aos já pesquisados pelo usuário ou, ainda, estabelecendo quais páginas ou conteúdos ficarão
em destaque, identificando os interesses do público e os seus respectivos comportamentos nas
diversas redes sociais8.
É possível verificar que os algoritmos de inteligência artificial trabalham com a
capacidade de aprendizado9, supervisionado ou não, bem como busca a possibilidade de

5 Cf. KOSELLECK, Reinhart. Histórias de Conceitos. 1ª Edição. Rio de Janeiro. Contraponto Editora. 2020,
págs. 90 e 91.
6 FREITAS, Juarez. FREITAS, Thomas Bellini. Direito e Inteligência Artificial em Defesa do Humano. 1ª
reimpressão. Belo Horizonte. Forum Conhecimento Jurídico. 2021, pág. 28.
7 Cf. Id. Ibid., pág. 28 e 29.
8 CAVALCANTI. Naira. O QUE SÃO E COMO SÃO OS ALGORITMOS USADOS NAS REDES
SOCIAIS? Rede Sociais – Naiara Cavalcanti. Disponível em: https://eixo.digital/como-funcionam-os-
algoritmos-das-redes-sociais/. Acesso em 14 de julho de 2021.
9 CARVALHO, André Carlos Ponce de Leon Ferreira de. FACELI, Katti. LORENA, Ana Carolina. GAMA,
João. Inteligência Artificial - Uma Abordagem de Aprendizado de Máquina. Rio de Janeiro. LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora Ltda. 2011, pág. 03.
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aumenta a compreensão e como ocorre o aprendizado do ser humano, visando apresentar uma
ou mais hipóteses que se ajustará ao elemento a ser solucionado.
Na verdade, pelo que se observa, o marco central é a capacidade de aprendizado e
evolução da “machine learning”, ou seja, da possibilidade de extrair e absorver informações e
aprender por si só, de maneira que os algoritmos se modificam de acordo com aquilo que
processado pela inteligência artificial, reconhecendo padrões, às vezes, com supervisão
humana para a inserção de informações, mas, muitas vezes, sem essa supervisão ou com
supervisão realizada por outra “machine learning”, e, ainda, com a possibilidade de interação
com o ambiente, sendo, por assim dizer de forma sintetizada, um sistema admite efetiva e
constante adaptação.
Com efeito, as redes sociais vinculadas à rede mundial de computadores atualmente
utilizam-se de algoritmos, que são ferramentas que promovem a análise e “observam” o
comportamento e interesses do seu usuário e das pessoas que com ele interage, passando a
identificar o conteúdo que mais se identifica com os respectivos usuários, de acordo com o
que já se verificou no seu histórico de acessos ou pesquisas, promovendo a formação de
classificação para fins de recomendações de novos conteúdos eventualmente assemelhados
àqueles que são de interesse do usuário ou que já foram pesquisados ou acessados por outras
pessoas vinculadas a este mesmo usuário, ou, ainda, estabelecendo os conteúdos que ficarão
em destaque de acordo com o que já foi explorado pelo usuário, de modo a promover uma
determinada correspondência entre os assuntos e interesses buscados, impondo, assim, que o
explorador sejam mantido o maior tempo possível na rede social de internet visada ou que se
encontra vinculado.

2. As redes sociais sobre a concepção de “poder simbólico” de Pierre Bourdieu:

O pensamento desenvolvido por Pierre Bourdieu parte do princípio da necessidade


de conexão entre problemas práticos e questões atuais, ou seja, no sentido de que a análise dos
fatos e vivências sociais deve ter por abordagem prática a época dos seus acontecimentos e
respectivas influências exteriores ao indivíduo, tendo a partir de determinados problemas
práticos, observados a análise e explicação dos fenômenos sociais, dentro de relações
estruturais objetivas, que decorriam de aspectos subjetivos do indivíduo, possuindo existência
mútua e, em determinados momentos, dissonante.
Dessas experiências práticas que influenciam a subjetividade do indivíduo tornou-se
indispensável a necessidade de afastar os sujeitos e até a própria sociedade das tensões e
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tendências sociais que moldavam a coletividade, promovendo uma observação e resolução no


contexto das práticas sociais, políticas e culturais, de modo a demonstrar uma relação entre o
sentido dos atos do indivíduo com os seus respectivos eventos sociais e históricos.
A confrontação entre o que os agentes sociais julgam de acordo com a observação
efetivada com base no caráter, na conduta, no comportamento de outros agentes sociais, bem
como do que se aprecia de uma certa forma daquilo que decorre da sua origem, isto é, daquilo
que pode ser extraído do que foi efetivamente vivenciado pelo agente social configura, como
apresentado pelo filósofo e sociólogo francês, a noção de habitus.
Contudo, inexistindo uma regra pré-definida e concreta de tais práticas, mais
especificamente, a partir de tais características, intrínsecas ou extrínsecas do agente social,
podem ser observadas condutas fundamentais e que tem um ponto de origem determinado ou
regrado, mas que, necessariamente, pode não determinar a obediência a essas mesmas regras,
buscando uma forma de compatibilizar a ação do indivíduo à estrutura social por ele
vivenciada.
Pierre Bourdieu explica que o habitus tem como estrutura o passado experimentado
pelo agente social e por tudo aquilo que ele absorveu de experiência atuais, a exemplo de sua
estrutura familiar, relações com terceiros, vida acadêmica, crenças, sentimentos, ou seja, por
tudo aquilo que deriva de apreciações e atividades experimentadas costumeiramente, de
situações organizadas e não de circunstâncias meramente aleatórias.
Na verdade, o habitus teria como noção as vivências experimentadas pelo indivíduo,
que ocorrem de forma sistemática, das quais se poderiam extrair, não como uma regra
anteriormente definida, aquilo que poderia ensejar os comportamentos atuais e futuros do
sujeito, no sentido de ser possível aferir a tendência ou inclinação daquilo que moldará as
condutas do agente social.
Todavia, como explicara Pierre Bourdieu, o habitus não decorre somente daquilo que
foi vivenciado pelo agente social, ou seja, não se trata de experiências pré-definidas que, por
si só, moldam a formação do indivíduo, não sendo uma fórmula regrada e definida
anteriormente que, de forma isolada, por sua unicidade, teria o condão de fixar e vincular
estritamente o comportamento do agente social, pois também pode ter decorrência de
qualquer interferência alheia ou externa ao indivíduo.
Pierre Bourdieu explica que o habitus10 tem como estrutura o passado experimentado
pelo agente social e por tudo aquilo que ele absorveu de experiência atuais e o modo como a

10 GRENFELL, Michael. Pierre Bourdieu Conceitos Fundamentais. Tradução Fábio Ribeiro. Petrópolis/RJ.
Editora Vozes. 2018, pág. 76
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sociedade ou seus mecanismos atuam sobre esses mesmos agentes sociais, ou seja, por tudo
aquilo que deriva de apreciações e atividades experimentadas costumeiramente, de situações
organizadas e não de circunstâncias meramente aleatórias.
Destarte, o habitus11, como reunião de disposições duráveis e transmissíveis, seria a
junção das experiência subjetivas e objetivas adquiridas pelo agente social, daquilo que é
vivenciado no plano individual e suas respectivas influências, no plano das relações internas
do indivíduo, com aquilo que ele experimenta nas suas relações externas, moldando, por
consequência, mas não como uma regra absoluta, sua personalidade e seu comportamento, de
modo que o agente social externar suas experiências e ao mesmo tempo incorporar aquilo que
experimentou no trato de terceiros, ou seja, no âmbito de suas relações sociais, políticos,
econômicos, culturais, etc.
Ao lado do habitus também há a influência do que o sociólogo francês chamou de
“campo”, determinando da sua reunião a “prática”, que poderia inclusive derivar de uma
relação não consciente.
Pierre Bourdieu tinha como propósito a descrição do funcionamento da sociedade
moderna em vários campos (econômico, acadêmico, jurídico, cultural, consumo etc.) e a
forma com cada um desses campos mostrava-se um lugar de disputas entre os agentes sociais,
o qual teria por finalidade a hegemonia do respectivo campo que se encontrava “atrelado”,
assim como, o reconhecimento de hierarquia entre os agentes sociais de cada campo
específico, ou por mecanismo específicos, hierarquia essa adquirida em seus respectivos
campos de acordo com o “capital social” especificamente adquirido em tal campo.
Vale registrar que na ideia do mencionado sociólogo francês, capital social não era
uma expressão vinculada necessariamente a uma natureza pecuniária, mas sim, a forma
destacada que sua expertise ou conhecimento aflorava no campo correspondente, observando-
se, para tanto, o modo como a sociedade, ou seus respectivos mecanismos, atuava sobre os
agentes sociais ou determinavam formas de convívio ou experiências sociais.
No que concerne à Teoria dos Campos Sociais, o sociólogo francês afirmou que se
trata de um espaço social não fixo, possuindo e admitindo volatilidade e novas adaptações de
acordo com os conhecimentos que são absorvidos, o que permite reconhecer as mudanças
ocorridas e que influenciam aquilo que passa a ser tolerado, ou não, no mundo fenomênico,
bem como reconhece que as condições do espaço social influenciam o comportamento e o
modo de pensar dos agentes sociais, tendo o propósito de descrever o funcionamento da

11 BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução Fernando Tomaz. 16ª edição. Rio de Janeiro. Editora
Bertrand Brasil. 2015, pág. 61.
9

sociedade em suas diversas dimensões sociais com um campo de disputa entre os agentes
sociais, inclusive de acordo com a acumulação do mencionado “capital”, este entendimento
não apenas na sua natureza econômica, mas, também, pelos diversos meios existentes, a
exemplo do capital cultural, social e simbólico.
É inegável que se pode atribuir à ideia de habitus as influências geradas pelas redes
sociais de inteligência artificial, bem como seus respectivos algoritmos, formam, na realidade,
um novo campo social, pois passam a expor e ditar regras de funcionamento e conduto,
influenciado o comportamento dos agentes sociais, seja na sua esfera individual, seja nas suas
atividades e interação com a coletividade, passando a estabelecer novas experiências, que
passam a ser vivenciadas pelos agentes, amoldando suas respectivas personalidades,
influenciando e determinado novos comportamentos.
Pelo todo exposto, pode-se afirmar que as experiências práticas vivenciadas pelos
agentes sociais são o resultado que decorre da junção das disposições do indivíduo e sua
posição no campo social, ambos baseados nas influências absorvidas e daquilo que o agente
social passa a permitir, ainda que inconscientemente, como meio de submissão para se fixar
no meio social e aceitar aquilo que sistematicamente é admitido como legítimo e, assim,
chega-se ao necessário paralelo dos estudos às lições do filósofo francês Pierre Bourdieu 12,
sobretudo no que diz respeito às concepções relacionadas ao sistemas simbólicos, permitindo-
se afirmar que as influências geradas aos agentes sociais, agora especificamente pelos
diversos meios digitais existentes, em especial pelos algoritmos das redes sociais que indicam
ou levam, direta ou indiretamente, as novas buscas, pesquisas ou variações daquilo que se
acessou, criando novas expectativas, quiçá, na realidade, impondo a ideia de novas
necessidades, fixando, ainda que sem conhecimento concreto, em outras palavras, ainda que
forma não efetivamente consciente, a existência de sua submissão a tais ferramentas e àquilo
que se transmite ou propaga pelas informações que, em tese, por consequência lógica, geram
influências nos agentes sociais e seus respectivos estilos de vida e, por assim dizer, passam a
amoldar e a ditar a vida em sociedade.
O citado filósofo francês apresenta o entendimento que esse poder decorre da
convergência de vários fatores e ramos, até mesmo ideológico, que modelam a sociedade
(estruturas estruturantes), passando a submeter os seus agentes sociais a todas as formas de
influências, ainda que de maneira não perceptível, isto é, sem uma existência concreta e
visível, ou, ainda, não admitido conscientemente pelos membros do corpo social, em outras
palavras, por aqueles que se encontram a ele submissos e, possivelmente, por quem possui

12 Idem, págs. 7, 8, 9, 10 e 11.


10

esse poder influenciador, determinando a existência do que se denominou como “sistemas


simbólicos”13, como instrumentos de conhecimento e comunicação que exercem uma certa
forma de poder.
Com efeito, esse sistema simbólico decorre da formação, em tese, de determinadas
bases do conhecimento, a exemplo da arte, religião, cultura, etc (estruturas estruturantes) e
que se materializam, ou determinam suas influências, por meio de atividades que as
instrumentalizam, como a linguagem ou, atualmente, pelas formas modernas de comunicação
e algoritmos de redes sociais (estruturas estruturadas), como uma forma de impor, como já
mencionado, tendências, maneiras de comportamentos, pensamentos e aquilo que passa a ser
aceitável pela coletividade.
Assim, os agentes sociais aceitam esse sistema simbólico, admitindo que esse
sistema venha a fluir livremente para que se possa importar aquilo que aparentemente é
aceitável, passando, por consequência, a ser admitido como legítimos, como uma forma de
“poder simbólico”, que determina a criação da realidade, ou modificação para uma nova
realidade, e de integração coletiva de acordo com os interesses delineados, promovendo-se a
imposição daquilo que se passa a reconhecer como legítimo e adequado socialmente, nas
palavras de Pierre Bourdieu “... o poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só
pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos
ou mesmo que o exercem”14.
Desta forma, é possível constatar que esse poder simbólico reconhecido por Pierre
Bourdieu, ainda que inconscientemente, pode se utilizar até mesmo de mecanismos
legalmente admitidos, bem como das ferramentas utilizadas pela sociedade, em especial os
atuais meios de comunicação e de acesso de informações, especificamente, de algoritmos de
inteligência artificial, para se impor e, desta forma, todas as interações do indivíduo e suas
influências externas podem passar a compor a personalidade do sujeito de direitos,
modificando aquilo que pode ser admitido e, especificamente, existindo, consequentemente,
um poder invisível, mas perceptível, que permeia todas as concepções, pela cumplicidade
daqueles que ignoram sua submissão e se utilizam das mais diversas formas dos já
mencionados meios de acesso à informação, passando a modelar tendências e realidades e
fazendo surgir, com base nas estruturas estruturantes e materializado pelas estruturas
estruturadas, novas realidades circunstanciais que passam a ser admitidas pelos agentes
sociais e que foram propagados pela respectiva inteligência artificial.

13 Idem, pág. 9.
14 Idem, pág. 8.
11

2.1. Redes Sociais e Perpetuação do Habitus através do Capital Simbólico:

“A Internet é o tecido de nossas


vidas. Se a tecnologia da informação
é hoje o que a eletricidade foi na Era
Industrial, em nossa época a Internet
poderia ser equiparada tanto a uma
rede elétrica quanto ao motor
elétrico, em razão de sua capacidade
de distribuir a força da informação
por todo o domínio da atividade
humana.”15

Cumpre, sem vulgaridade, a constatação de adesão massiva da sociedade


contemporânea junto as redes sociais.
Mas, ainda que a etimologia da palavra rede nos remeta ao tecido formado através do
encontro de nós, que se cruzam em sentidos diversos, é acerca da conceituação moderna de
rede social que se apresenta o presente.
Através de todos esses nós e conexões, a possibilidade do uso coletivo de
conhecimentos anteriormente restritos, de maneira horizontalizada, passou a gerar aquisição
de capitais, tanto social quanto simbólico16, nos termos que nos apresenta Pierre Bourdieu, eis
que: “Quando (... ) a aquisição do capital simbólico e do capital social constitui, de certo
modo, a única forma possível de acumulação ( …. ) investidos nas trocas, podem produzir
alianças, isto é, capital social e aliados prestigiosos, isto é, capital simbólico.”17
A conceituação de rede, ainda que primitiva, agrega essencialmente elementos
consolidadores de percepção da realidade, significando-os através de uma construção
linguística e cultural observadas ao longo do tempo.
O desenvolvimento da internet proporcionou a formação de um novo modelo de
rede, aquele em que a conexão, virtual, se dá através da comunicação entre os nós. Neste
sentido, Silvia Portugal:

“Durante a segunda metade do século XX, o conceito de rede social tornou-se


central na teoria sociológica e deu azo a inúmeras discussões sobre a existência de

15 CASTELLS, MANUEL. A Galáxia da Internet. Zahar, 2003, p.14


16 BOURDIEU, P. A Dominação Masculina, Bertrand Brasil, 2002, pág. 58.
17 Idem.
12

um novo paradigma nas ciências sociais. No decorrer das últimas décadas, a


sociologia das redes sociais constituiu-se como um domínio específico do
conhecimento e institucionalizou-se progressivamente.”18

Conceito importante que se agrega às redes sociais, o capital social, como pretendido
por Pierre Bourdieu, possui dimensão individual e coletiva, uma vez que as relações sociais
privilegiadas são assim dimensionadas pelo próprio agente ou pela comunidade que o
percebe19, como aduzem Marteleto e Oliveira e Silva:

“Sucintamente, a participação em redes está associada ao capital social estrutural,


sendo muito relevante a compreensão do tipo de rede que se está observando
(diversidade dos participantes, institucionalização de normas de decisão, objetivos
gerais ou específicos, tamanho e área geográfica etc.). O nível de confiança (e
expectativa) entre os indivíduos da rede está relacionado com o capital social
cognitivo e influencia a ação coletiva do grupo. Em parte, relaciona-se com o acesso
à informação tanto no nível local quanto mais geral, este último associado aos meios
de comunicação, ou, em outros termos, às fontes pessoais e impessoais.”20

A permeabilidade entre os discursos dos agentes sociais é condicionada pelos rituais


de fala que envolvem oportunidade e aceitação, fazendo com que exista ganho simbólico
através das trocas sociais na rede. Todavia, não basta apenas haver competência técnica para
falar, é preciso que exista mercado simbólico específico, sob pena de efeito de censura dos
agentes sociais envolvidos na relação. Neste sentido Girardi: “É por isso que, mesmo tendo a
competência técnica necessária para falar, determinados agentes sociais podem sentir-se totalmente
desprovidos da competência social para fazê-lo.”21
Assim, mesmo que o modelo econômico das últimas décadas seja facilitado na
estrutura das redes para realização de negócios por meio das tecnologias da comunicação, não
há transposição para o modelo social da descentralização e horizontalização fora das redes. A
ausência de horizontalidade e de descentralização também implica, em especial quando
alicerçada pelos moldes atuais dos algoritmos da inteligência artificial, uma forma de
influência e direcionamento do comportamento dos agentes sociais. Com efeito, assim se
18 PORTUGAL, Silvia. Contributos para uma discussão do conceito de rede na teoria sociológica.
http://hdl.handle.net/10316/11097, consulta em 30 de junho de 2021.
19 BOURDIEU, Pierre. Escritos de Educação. 5.edição. Petrópolis, RJ: Vozes. 2003
20 MARTELETO, Regina Maria. OLIVEIRA E SILVA, Antonio Braz de. Redes e Capital Social: o enfoque
da informação para o desenvolvimento local. In Revista IBICT.
http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/1032/1092, disponivel em 30 de junho de 2021.
21 Liráucio Girardi Jr. Pierre Bourdieu: mercados linguísticos e poder simbólico. Revista Famecos. DOI:
http://dx.doi.org/10.15448/1980-3729.2017.3.25978, ISSN: 1415-0549 e-ISSN: 1980-3729, consulta em 30
de junho de 2021.
13

posiciona Castells:

“A elasticidade da Internet a torna particularmente suscetível a intensificar


tendências contraditórias presentes em nosso mundo. Nem utopia nem distopia, a
Internet é a expressão de nós mesmos através de um código de comunicação
específico, que devemos compreender se quisermos mudar nossa realidade. [...] [A
invenção da Internet] reforça também a ideia de que a cooperação e a liberdade de
informação podem ser mais propícias à inovação do que a competição e os direitos
de propriedade.”22

A força entre a combinação do capital social e outros tipos de capital, ainda que
possibilite a produção de iniquidades, também promove maiores chances de obtenção de
conexões ao capital físico e humano, já que sua multiplicidade propicia incremento de
possibilidades de realização. O risco de segmentação e concentração do capital social, quando
inseridos em rede, possibilita a fragmentação e a polarização de discursos políticos e étnicos.
Os novos contornos das relações em rede interferem necessariamente no habitus dos
agentes, assim como o habitus dos agentes molda as conexões e o modo de trafegar na
internet, em um ciclo contínuo. Mais uma vez, nos socorremos de Marteleto e Oliveira e
Silva, que assim lecionam:

“E, neste sentido, o habitus de quem navega na internet certamente interferirá na


forma como se desloca no espaço virtual e na maneira como acessa, produz e
reproduz conteúdo da internet. Apesar disso, não podemos fazer tabula rasa do
potencial espaço de diálogo entre práticas, discursos e atores distintos existentes na
internet.”23

Ainda que muito se fale na cultura de convergência que agregam a internet e redes
sociais, são francamente claras a manutenção da dominação, divisão de trabalho e segregação
simbólicas existentes, mesmo que restem perspassados, por narrativas, experiências e práticas
de seus usuários, os campos e espaço sociais distintos. E é através da alteridade que os
agentes permeiam as narrativas uns dos outros, como colocam Marteleto e Oliveira e Silva:

22 CASTELLS, Manoel. A Galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de
Janeiro: Zahar, 2003.
23 MARTELETO, Maria Regina. PIMENTA, Ricardo Medeiros. Pierre Bourdieu e a produção social da
cultura, do conhecimento e da informação.pag.246. Garamond Universitária. Rio de Janeiro, 2017.
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4952291/mod_resource/content/1/pierre_bourdieu_ebook.pdf,
consulta em 30 de junho de 2021.
14

Ainda assim, sabe-se que a potencial proximidade por meio desses canais e fluxos
não “desmonta” a priori as classificações que compõem a própria gênese do
habitus ali partilhado. Habitus este que é também uma forma de classificação
socialmente e culturalmente reproduzida em dado espaço social. Essa mesma
proximidade poderia, ainda, “inflamar” as diferenças; e na internet isto é
razoavelmente perceptível.24

Logo, a manutenção do habitus subsiste, ainda que a internet e as redes sociais


possibilitem o acúmulo de novos conhecimentos de maneira horizontalizada, e ainda que
transversalizados por narrativas distintas dos agentes, ou suscetíveis ao direcionamento
através dos mecanismos da inteligência artificial pois essas emulam o comportamental do
usuário.

2.2. A cidadania e a dignidade da pessoa humana como fundamentos da Lei


Geral de Proteção de Dados Pessoais – Consequências decorrentes do Poder Simbólico:

Vale destacar que, em tempos recentes, foi editada a Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais, Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, com prazos distintos de início de vigência,
consoante seu artigo 65, inciso I, I-A e II, sendo que tal legislação estabelece a forma de
tratamento e utilização de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou
por pessoa jurídica de direito público ou privado, tendo por objetivo a proteção dos direitos
fundamentais de liberdade e de privacidade, bem como o livre desenvolvimento da
personalidade da pessoa natural.
Assim, verifica-se que a nova legislação preocupa-se com a privacidade do sujeito de
direitos, talvez não da forma com reconhecida anteriormente pelos juristas estadunidenses
Samuel D. Warren e Louis D. Brandei, quando apresentaram conceito relativo ao direito à
privacidade no artigo “The Right to Privacy” (“O Direito à Privacidade”) 25, relacionado ao
direito de ser deixado em paz, porém, a referida legislação apresenta traços que visam
reconhecer a proteção dos agentes sociais naquilo que possa ser nocivo ou abusivo como meio
de acesso à informação, promovendo uma certa controle da informação e do seu respectivo
acesso.
A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, logo no seu artigo 2º, apresentou um rol
de fundamentos, dentre eles, especificamente para o presente estudo, destaca-se o seu inciso
24 Idem.
25 WARREN, Samuel D. BRANDEIS, Louis D. The Right to Privacy. Harvard Law Review, v. 4, n. 5, 15 dez.
1890.
15

VII, que relaciona os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade


e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais.
Assim sendo, verifica-se que a legislação decorre de base constitucional, tendo por
origem os chamados protoprincípios ou supraprincípios da cidadania e da dignidade da pessoa
humana (art. 1º, II e III), que são fundamentos da Constituição Federal de 1988, vinculando-
se, dessa maneira, a valores superiores, pois servem como sustentação para outros princípios,
legais ou constitucionais, uma vez que estruturam toda a ordem constitucional positivada.
E, nessa toada, a Lei 13.709/2018 estabelece várias formas de acesso às informações,
dispondo, inclusive de meios de proteção e controle de acesso à informação, a exemplo dos
seus artigos 5º, inciso II, e 7º, que dispõe sobre as hipóteses de acesso com e sem o
consentimento do seu titular e seu artigo que criou regras sobre “dados pessoais sensíveis”,
sendo dados sensíveis aquelas relacionadas a origem racial, étnica, convicção religiosa,
opinião política, filiação a sindicato, filiação a organização religiosa, filosófico ou político,
referentes, ainda, à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculados à
pessoa natural.
Entretanto, para fins do presente estudo, ainda que baseado em conceitos jurídicos
indeterminados, vale chamar a atenção para o artigo 6º da supramencionada legislação, haja
vista determinar que o tratamento dos dados das pessoas deverá observar a boa-fé e, dentre
outros, os princípios da finalidade, adequação, necessidade, livre acesso, qualidade,
transparência e não-discriminação.
Assim sendo, como já afirmado, mostrou-se forçoso a apresentação de regras legais
para fins de evitar o acesso abusivo e utilização distorcida das informações ou, ainda, para a
“realização do tratamento para propósitos legítimos, específicos, explícitos e informados ao
titular, sem possibilidade de tratamento posterior de forma incompatível com essas
finalidades” (finalidade - art. 6º, I), “compatibilidade do tratamento com as finalidades
informadas ao titular, de acordo com o contexto do tratamento” (adequação – art. 6º, II),
“limitação do tratamento ao mínimo necessário para a realização de suas finalidades, com
abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não excessivos em relação às finalidades
do tratamento de dados” (necessidade – art. 6º III); “garantia, aos titulares, de consulta
facilitada e gratuita sobre a forma e a duração do tratamento, bem como sobre a integralidade
de seus dados pessoais” (livre acesso – art. 6º, IV), “garantia, aos titulares, de exatidão,
clareza, relevância e atualização dos dados, de acordo com a necessidade e para o
cumprimento da finalidade de seu tratamento” (qualidade dos dados – art. 6º, V), “garantia,
aos titulares, de informações claras, precisas e facilmente acessíveis sobre a realização do
16

tratamento e os respectivos agentes de tratamento, observados os segredos comercial e


industrial” (transparência – art. 6º, VI) e “impossibilidade de realização do tratamento para
fins discriminatórios ilícitos ou abusivos” (não discriminação – art. 6º IX).
Destarte, a legislação relacionada à proteção dos dados pessoais, quiçá, ainda que
inconscientemente pelo legislador, por meio, como já mencionado, de mecanismo admitido,
no caso no campo da abstração legislativa, inclusive respaldado por princípios superiores de
ordem constitucional, também teve por condão, dentro desse sistema simbólico de formação
de opinião e comportamento (estruturas estruturantes) promover e fixar regras de utilização
adequada da informação acessível pelos meios digitais e pelas atividades que os
instrumentalizam (estruturas estruturadas), impondo limites para sua utilização, adequação e
segurança das informações e consequências pelo acesso e respectiva utilização (vide,
exemplificativamente, artigos 15, 16, 17, 18, inciso III, 22, 37 e 42 da Lei Geral de Proteção
de Dados Pessoais), criando, assim, como dito, por meio admitido pelos agentes sociais, agora
fulcrada pela sistemática jurídica, de natureza, geral, impessoal e abstrata, forma simbólica
efetivamente admitida pela coletividade, mormente pela sua obrigatoriedade e força
coercitiva.

3. Conclusão:

Todas as interações, pensamentos e comportamentos dos agentes sociais, de forma


individual ou perante a coletividade, sofrem influências que amoldam a sua personalidade,
suas condutas, enfim o seu modo de pensar e interagir com o mundo, mas, pelo que se
observa atualmente é forçoso reconhecer que as redes sociais promovem direcionamentos que
vinculam os fatos do cotidiano, o meio cultural, o método de consumo e as reflexões dos seus
usuários, determinando, direta ou indiretamente, regras que promovem submissão aos seus
usuários, inclusive impondo o seu modo de agir e pensar, sendo que, a linguagem, que
antigamente era considerado um instrumento da concepção de poder simbólico desenvolvida
por Pierre Bourdieu, passa a tramitar em conjunto, ou até mesmo substituída, pelas redes
sociais e seus algoritmos de inteligência artificial, que no atual momento da modernidade,
ainda que de forma despercebida, dita as regras, interesses e tendências do convívio em
sociedade, impondo aquilo que passou a dominar as convicções atuais, sendo admitido como
um sistema legítimo, de modo que os agentes sociais passam a agir e refletir em consonância
com o sugerido, talvez imposto, dentre os interesses inerentes ao contexto dessas redes
sociais.
17

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