Daojia nº 25 Jul/Ago/Set 2023

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A Sabedoria do Taoismo em suas mãos
Conheça alguns livros publicados pelo Prof. Gilberto António Silva
Os Caminhos do Taoismo
Uma obra fundamental para se compreender o Taoismo de modo completo. O mais abrangen-
te panorama da cultura taoista publicado no Brasil.
Conheça a história, conceitos principais, Mestres do Tao, livros importantes, técnicas taoistas
como Medicina Chinesa e Feng Shui, o lado religioso, o taoismo popular e muito mais.
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I Ching - Manual do Usuário
O I Ching, O Livro das Mutações da velha China, é uma
das obras mais antigas da Humanidade, com 3.000 anos.
Esta obra visa a transmitir desde os conceitos mais funda-
mentais do I Ching até dicas de utilização para estudantes
experientes. Todas as pessoas terão muito o que aprender
deste livro, do básico ao avançado. Por ser um “Manual do
Usuário”, esta obra não traz o texto do I Ching, propria-
mente dito, mas um conjunto de ferramentas para utilizá-lo
com mais eficiência, desvendando pequenos e obscuros
segredos.
268 páginas
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China e sua Identidade
Este livro em formato de bolso traz um ensaio conciso e
objetivo sobre a formação e desenvolvimento da identidade
nacional chinesa desde seus primórdios e os obstáculos que
enfrentou no século XX. Conheça o processo de formação
da China como nação e quando seus habitantes passaram a
se denominar “chineses”. A unificação do império, a expan-
são pela Ásia, a Rota da Seda, os contatos com o Ocidente,
as tentativas de colonização por parte dos europeus, a queda
95 páginas do Império e o advento da República, a guerra civil e a con-
solidação do Comunismo, a tragédia da Revolução Cultural,
a China atual.
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Guia de Autodefesa para Mulheres
Um livro simples e objetivo, que possibilita às mulheres
de qualquer idade uma autodefesa eficiente. Diferente de
outros métodos, aqui proporcionamos conhecimentos de
autocontrole emocional, estratégia, postura, legislação,
psicologia do agressor, armas, situações de risco, níveis
de aplicação, onde buscar auxílio em caso de violência
e várias técnicas marciais simples e eficientes, fáceis de
serem treinadas em casa e empregadas em momentos de
perigo.
Feito com o apoio da Delegacia da Mulher, é o único que
176 páginas conta com conteúdo aprovado por essa instituição.
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“... desejo a todos que leiam esse livro maravilhoso e importante,
“Os Caminhos do Taoismo”. Isso é muito importante. Até agora eu vi
muitos livros, mas esse livro realmente é muito bom, dá para ajudar
muito as pessoas a terem o conhecimento para introdução ao Tao.
Eu recomendo, é muito bom”.
Mestre Liu Chih Ming
(entrevista - Daojia#4)
Reflexões Taoistas
Reflexões Taoistas trata do olhar taoista sobre a vida
cotidiana, explicando conceitos dessa milenar filosofia
ao mesmo tempo em que se aplicam esses conheci-
mentos ao mundo ao nosso redor. Uma obra simples
e desapegada que exemplifica a aplicação da filosofia
taoista em nosso dia a dia e ilustra vários de seus fun-
damentos.
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88 páginas
Dominando o Feng Shui
Como aprender o Feng Shui Tradicional Chinês em casa,
de modo fácil e agradável. Diferente de outras obras, Do-
minando o Feng Shui é um curso completo em 24 aulas
demonstradas de modo prático e em linguagem simples, re-
cheado de exemplos e fartamente ilustrado com desenhos,
plantas e esquemas. Toda a técnica é transmitida de modo
gradual segundo um esquema didático planejado e capacita
o leitor a dominar esta técnica e a aplicar imediatamente
tudo o que aprendeu. O curso abrange toda a parte histó-
rica e filosófica, os fundamentos, duas escolas tradicionais
(“8 Residências” e “Escola da Forma”), técnicas avançadas
292 páginas e técnicas complementares
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Xing Yi Quan - Características, História e
a linhagem de Sha Guozheng
O Xing Yi Quan é um dos chamados "Estilos Internos"
das artes marciais chinesas. Extremamente poderoso no
combate e excelente para a saúde, ainda é um estilo mui-
to pouco conhecido dos brasileiros. Esta obra simples e
objetiva, a primeira editada no Brasil sobre o assunto,
é uma introdução completa ao estilo, explicando suas
origens históricas e fundamentos técnicos e filosóficos,
sendo um importante acréscimo à biblioteca de qualquer
135 páginas
praticante ou aficcionado por artes marciais e Taoismo.
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 EDITORIAL

Religião sim, por que não?

O Taoismo é uma filosofia extremamente abrangente e diversa, fruto com certeza de
sua grande antiguidade. Uma face pouco conhecida no Brasil e tumultuada pelos aca-
dêmicos é a do Taoismo Religioso.

A religião, para os chineses, não é o sectarismo absoluto que vemos no Ocidente, mas
uma postura flexível com base na sabedoria e na diversidade do Universo. Um chinês
poderia participar de uma cerimônia budista, depois ir acender incensos em um templo
taoísta e meditar em um templo confucionista. Depois de assistir a uma missa católica.

Essa postura se reflete bem no espírito brasileiro, onde Umbanda, Catolicismo, Espi-
ritismo e outras religiões são frequentadas, muitas vezes, pelas mesmas pessoas. O
brasileiro, de modo geral, é bem aberto à espiritualidade, não importa de onde venha,
da mesma maneira que os chineses. Por isso acho que o Brasil é um terreno fértil para
a sabedoria do Taoismo.

Em 2014 lancei o livro “Os Caminhos do Taoismo”, que abrangia inclusive o Taoismo
Religioso pela primeira vez no Brasil, incluindo o Taoismo Popular com suas cerimônias
a céu aberto, incorporações mediúnicas, exorcismos e outras práticas. Aqui trazemos
sempre os artigos de nosso amigo e colaborador em Cingapura, Victor Yue, com essas
concepções populares e tradicionais. Acredito que esse conhecimento faça parte inte-
grante do Taoismo como um todo e mereça ser conhecido. O Taoismo como religião
levou a filosofia e as práticas taoistas a toda a população, mesmo pessoas sem acesso
à educação formal e até mesmo os analfabetos. Graças a isso, hoje o pensamento
taoísta está embutido no próprio modo de pensar chinês.

A matéria de capa desta edição é, portanto, de grande importância e precisa ser analisada
com atenção e sem sectarismos e preconceitos. Embora o Taoismo Filosófico (Daojia)
seja mais conhecido do que o religioso (Daojiao), ter intimidade com todo o universo
taoísta apenas amplia ainda mais nosso conhecimento e, quem sabe, nossa sabedoria.

O Tao é flexível e abrange tudo o que existe.

Estude e compartilhe – nossa Daojia sempre será gratuita.

Boa leitura

Editor-responsável

Sumário
08 Especial Primavera
12 ZHANG DAOLING - O Fundador do Caminho dos Mestres Celestiais
17 Relação dos Mestres Celestiais desde Zhang Daoling
18 Zhengyi Dao e Alquimia Taoista
22 - Diáspora Chinesa - Festival Chinês do 7º Mês em Singapura
28 AURICULOMEDICINA
32 Acidente Vascular Encefálico e a Acupuntura Craniana
38 As várias faces do SHÉN
34 Qigong dos Cinco Animais Brasileiros
42 A Autêntica Vida
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Observação sobre nomenclatura

Wade-Giles Pinyin
Existe um problema que devemos enfrentar ao se estudar a cultura da China. Trata-se da Peking Beijing
maneira como se escrevem as palavras chinesas nos idiomas ocidentais.
Tai Chi Chuan Taijiquan

Em chinês, as idéias são expressas através de sinais gráficos denominados “ideogra- Chi Qi
mas”. É praticamente impossível traduzir um ideograma por uma única palavra em Lao-Tzu Laozi
idioma ocidental, qualquer que seja ele. Existe sempre uma idéia complexa por trás de
Chi Kung Qigong
cada desenho, que requer várias linhas de explicações. Para facilitar as interações entre
as diversas culturas orientais e ocidentais criou-se a transliteração fonética, conhecida Tao Te Ching Daodejing
popularmente como “romanização”. Chuang-Tzu Zhuangzi

Nesse sistema anota-se em alfabeto ocidental o SOM dos ideogramas, sua pronúncia, de
modo que possamos articular as “idéias” e poder conversar e escrever nomes e endereços
sem precisarmos recorrer aos ideogramas.
Entretanto, existe uma série de sistemas de transliteração diferentes. Os principais, que
estamos acostumados a ver em obras sobre cultura chinesa, são o Wade-Giles e o Pinyin.
O primeiro foi muito utilizado em livros especialmente vindos da língua inglesa. O segundo
foi desenvolvido pelo governo chinês na década de 1950 e hoje é a transliteração oficial.
Veja a diferença na tabela a seguir:
Tao Dao
I Ching Yi Jing
Embora a maioria dos trabalhos ocidentais sobre cultura chinesa se baseiem
na língua inglesa e muitos ainda utilizem o sistema Wade-Giles, optamos por
colocar as expressões chinesas no sistema Pinyin, que afinal de contas é o
oficial e cresce em utilização todos os dias. Assim, os termos chineses estarão
sempre grafados em Pinyin, excetuando aqueles muito familiares aos brasileiros
como Tao, I Ching, Tao Te Ching, Tai Chi Chuan, e alguns outros. Esta “licença
poética” é utilizada mesmo em obras chinesas modernas.

Daojia nº 25 Jul/Ago/Set 2023 A revista eletrônica Daojia é uma publicação independente e sem fins lucrativos produzida por estudiosos e praticantes da anti-
Editor Responsável: ga filosofia do Taoismo chinês. Não possuímos nenhuma espécie de vínculo oficial ou filiação a nenhum grupo ou organização
Gilberto António Silva (Mtb 37814) filosófica, religiosa, política ou de outro tipo. Nosso único desejo é a difusão do conhecimento taoista para maior benefício dos
brasileiros. Todo material postado aqui tem como objetivos o estudo, reflexão, análise e debate, acadêmico ou cultural, estando
Conselho Editorial: portanto amparado pela lei 9610/98.
Mestre Liu Chih Ming
Dr. Reginaldo Carvalho Silva Filho Matérias assinadas são de total responsabilidade de seus autores e a eles pertencem todos os direitos autorais. Todo conteúdo
Mestre Gutembergue Livramento (in memorian) sem assinatura é produzido pelo Prof. Gilberto Antônio Silva. Nos esforçamos para que todas as fotos e ilustrações utilizadas
Mestre Miguel Martin (Espanha)
Victor Yue (Cingapura) possuam autores identificados. Se algum material seu apareceu em nossa publicação de forma indevida, entre em contato.

Contato: revista@taoismo.org Aceitamos anúncios pagos para custeio das despesas com a publicação. Entre em contato para saber de valores e condições.
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Fundamentos
Não se perca em nossos artigos! Consulte aqui os fundamentos básicos da filosofia taoista.

Formação fundamental

Wuji (Vazio Primordial)

Taiji (Taichi)

Ba Gua do Céu Anterior

(Xian Tian Ba Gua)
Yang e Yin

4 Formas (Si Xiang)

8 Trigramas (Ba Gua)

Trigramas do I Ching (Yi Jing)

Ba Gua do Céu Posterior

(Hou Tian Ba Gua)

Cinco Movimentos (Wu Xing)

CICLO DE CRIAÇÃO ou GERAÇÃO (Sheng)

Quando um movimento gera o outro. Os movimentos são
interdependentes e se sucedem mutuamente o tempo todo,
cada um dando condições dos demais existirem.

Madeira gera Fogo

Fogo gera Terra
Terra gera Metal
Metal gera Água
Água gera Madeira

CICLO DE DOMÍNIO ou CONTROLE (Ke)

Quando um elemento exerce controle sobre outro. Note que
muitas vezes se fala em “Ciclo de Destruição”, o que não é
correto. Energia não pode ser destruída, apenas transfor-
mada. O Ciclo de Controle apenas exerce uma moderação
sobre o movimento que domina.

Madeira domina Terra

Terra domina Água
Água domina Fogo
Fogo domina Metal
Metal domina Madeira
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Livros
Fitoterapia Chinesa e Plantas Brasileiras
- Dr. Alexandros Spyros Botsaris

Desde os primórdios da civilização humana, os povos da terra têm recorrido aos re-
cursos terapêuticos originários de sua cultura. Pode-se observar, sob uma perspectiva
histórica, que os povos que mantém e preservam suas tradições e manifestações
culturais, conjugando-as com as exigências do mundo contemporâneo ao invés de
destruí-las, conseguem potencializar os avanços da técnica sem corromper as bases
de sustentação da sociedade. A Medicina Tradicional Chinesa compreende diversas
técnicas terapêuticas que são usadas em associação ou isoladamente no tratamento
de doenças. A fitoterapia destaca-se como principal técnica para tratamento de doen-
ças internas e divide com a acupuntura os méritos de serem os pilares da Medicina
Tradicional Chinesa. Este livro, luxuosamente apresentado e minuciosamente escrito,
entrega esta sabedoria de forma simples e didática. Nas suas páginas encontramos
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uma obra notável, que é indispensável para os estudiosos da área médica e para os
interessados na ampliação dos conhecimentos.

Páginas: 550 | ISBN: 978-8527409346 | Editora: Ícone

Terapia Dietética Chinesa

- Perini Mauro

Apesar dos mestres chineses antigos terem dito tudo, eles foram espertos o
bastante para deixar a teoria em aberto, e nós, médicos modernos, temos o dever
de continuar desenvolvendo-a. Isso também se refere à alimentação. Todos nós
sabemos a importância da alimentação na formação do ser humano. A Medicina
Ocidental cada vez mais valoriza estes aspectos, e em muitos casos a alimentação
é reconhecida como causa de inúmeras doenças. Uma boa orientação dietética
passou a ser, nos últimos anos, fundamental para o restabelecimento da saúde e
o curso superior de nutrição surge no contexto histórico da Medicina Ocidental,
ocupando um espaço que se encontrava vazio durante centenas de anos. Há mais
de três mil anos, os mestres chineses já tinham esta preocupação, e nos livros
Compre agora: antigos de matéria médica, encontramos vários capítulos de orientação dietética.
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Páginas: 272 | ISBN: 978-6587642000 | Editora: Andreoli

Splendid Chinese Garden: Origins, Aesthetics and Architecture

- Jie Hu

The Splendid Chinese Garden é um guia ilustrado para os jardins clássicos da China.
Ele explica a história do jardim, as tradições e crenças que representam, sua estética
e as técnicas usadas para criá-los. Os jardins chineses no sul do rio Yangtze incluem
o Jardim Ge (Yangzhou), He Yuan, também conhecido como Jixiao Shan Zhuang
(Yangzhou), Jardim Zhan (Nanjing), Jardim Jichang (Wuxi), Jardim do Administrador
Humilde (Suzhou), Jardim Lingering (Suzhou), Jardim Mestre das Redes (Suzhou) e
Jardim do Bosque do Leão (Suzhou). Os jardins chineses no norte do rio Yangtze
incluem o Jardim Yihe ou o Palácio de Verão (Pequim), o Parque Beihai (Pequim), o
Jardim Jingyi na Montanha Xiangshan (Pequim), o Jardim Imperial, o Museu do Palácio
(Pequim) e o Jardim dos Fundos da Mansão Prince Gong (Pequim).

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(em INGLÊS) | Páginas: 240 | ISBN: 978-8576803454 | Editora: Shanghai Press
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Especial Primavera

Por: Gilberto António Silva

primavera é uma estação especial do ano. É quando as de tempo a partir do desenvolvimento energético das estações

A flores desabrocham, os animais e pássaros procuram

seus companheiros, um clima de esperança cobre o ar.
Apesar de não termos os rigores do inverno do Hemisfério Norte,
em um ano solar. Os chineses são os únicos a utilizarem ambos
os calendários ao mesmo tempo: solar e lunar.

ainda assim a Primavera se destaca como um novo recomeço, Os 12 hexagramas utilizados são os seguintes:
uma injeção de vida.

Vamos mostrar alguns detalhes desta estação dentro da cultura

chinesa e como aproveitar melhor esse período tão mágico do ano.
24 Fu 19 Lin 11 Tai 34 Ta Chuang
O Retorno Aproximação Paz O Poder
A Primavera no I Ching do Grande
A primavera se caracteriza como um novo início de ciclo dentro
da cultura chinesa. É o período do Ano Novo Chinês, que traz
de volta a luz perdida nos dias de trevas do inverno. Esse ciclo
pode ser expresso através dos hexagramas do I Ching, o Livro 43 Kuai 1 Ch’ien 44 Kou 33 Tun
A Retirada
Irromper O Criativo Vir ao
das Mutações, uma das obras mais antigas da Humanidade. Encontro

Se tomarmos o Hexagrama 2, Kun @, formado apenas por

linhas Yin, teremos a representação da escuridão, das trevas, do
frio e desolação do inverno. O Hexagrama 24, Fu 6, apresenta
uma linha Yang na primeira posição (a leitura do hexagrama é
sempre feita de baixo para cima) e representa o ressurgimento da
luz (daí sua tradução como O Retorno). A partir daí a luz cresce
até seu apogeu, quando começa surgir a escuridão novamente.
Quando o Yang atinge seu auge, surge o Yin e assim por diante.
Do Yin total ao Yang total e seu retorno à condição anterior são
representados por uma sequência de 12 hexagramas denominado
“Diagramas Pi”.
“Os 12 Diagramas Pi” ou “12 Hexagramas Pi” é um método cria-
do inicialmente para o calendário solar chinês e muito utilizado
na agricultura. Foi desenvolvido na Dinastia Han (206 a.C.-220
d.C.) pelo estudioso Meng Xi que considerou atentamente as
mudanças energéticas ao longo do ano em concordância com as
estações e formulou um sistema para poder prever as condições
12 Pi 20 Kuan 23 Po 2 Kun
Estagnação Contemplação Desintegração O Receptivo
Este diagrama mostra a ascensão e o declínio do Yin e do Yang,
sendo por isto chamado poeticamente de “Ascensão e Declínio
de Ch’ien e K’un” pelo Mestre Da Liu.
Quando se utilizam os Diagramas Pi para ciclos energéticos em
geral, como as estações do ano, normalmente iniciamos com o
Hexagrama 24 – O Retorno, pois este mostra a volta do Yang
após uma período de Yin completo, denotando o início do ciclo.
Os inícios sempre se dão com a energia Yang, que é movimento.
Este hexagrama demonstra a volta da luz em meio às trevas.
Assim, a Primavera é representada como o primeiro hexagrama
da sequência, FU - O Retorno. Ele é formado pelo trigrama Terra
☷ sobre o trigrama Trovão ☳, que também representa o elemento
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Madeira. Assim temos “madeira sob a terra”, na forma de raízes.
Se analisarmos seus trigramas nucleares vamos obter o Hexa-
grama 2, O Receptivo @, formado apenas por linhas Yin. Isto
demonstra que tudo começa em um vazio interior, similar ao Wu
Ji, que é o Vazio primordial de onde tudo vem. Esta atitude de
receptividade é fundamental para que se possa fluir com o Qi.
O texto da Imagem do Hexagrama 24 diz, segundo Wilhelm:
mentos excessivos. Por isso usam e abusam do cozimento no
vapor, possuindo equipamentos profissionais especializados nos
granes restaurantes e que não se encontram com facilidade no
ocidente. Podemos achar utensílios para usar em casa, mas é
possível improvisar com uma vasilha de metal furadinha, como
um escorredor de macarrão, colocada dentro de uma panela com
água fervente e tampada. Basta colocar os legumes dentro, sem
contato com a água do fundo, e esperar ficarem macios. É um
processo excelente para a saúde.

O trovão no interior da terra: a imagem do Ponto de Transição.
Assim, os reis da antiguidade fechavam as passagens na época
do solstício.
Comerciantes e forasteiros não transitavam e o governante não
viajava pelas províncias.
Sônia Hirsch afirma em seu maravilhoso livro “Manual do Heroi”,
sobre alimentação chinesa, que “para os chineses, sabor é aquilo
que guarda um movimento dentro de uma forma”. Ou seja, cada
sabor é um movimento de energia específico e que vai influenciar
nosso organismo daquela maneira.

É a energia explosiva do Trovão que rompe a terra para dar início Efeitos mais comuns dos sabores, segundo Sônia Hirsch:
às coisas. É ele que vai começar um novo ciclo, assim como faz
no Bagua do Céu Posterior. “Fechar as passagens” e não viajar Picantes- Ativam a circulação de energia e fazem suar.
ou transitar alude à dormência que está passando para uma nova Doces- Acalmam sensações agudas de desconforto e neutra-
etapa surgir, natural em toda mudança de ciclos. A ideia de “ponto lizam os efeitos tóxicos de carnes e peixes.
de transição” reflete essa mudança de uma fase para outra, em Ácidos- Podem obstruir os movimentos e assim conter diarréias
nosso caso de um período de 12 meses para outro ciclo anual. e suores excessivos; aqui se inclui o sabor adstringente - por
exemplo, da goiaba.
O texto do Julgamento informa: Salgados- Amaciam a rigidez de músculos e glândulas.
Amargos- Reduzem o calor do corpo, drenam fluidos corporais
"O RETORNO tem sucesso." O firme retorna. Movimento e e provocam eliminações intestinais.
influência através da devoção. Por isso, "saída e entrada sem
erro". "Amigos chegam sem culpa. Para adiante e para trás Não se deixe levar muito pelo sabor em si, pois eles podem estar
segue o caminho. Ao sétimo dia chega o retorno." Este é o curso camuflados. O doce você encontra na cenoura, na beterraba, no
do céu. "É favorável ter aonde ir." No hexagrama RETORNO se arroz e na carne de boi; o salgado na carne de porco e na alga
vê o caminho do céu e da terra. marinha; o amargo no café e no chocolate, o picante no gengibre e
assim por diante. Não precisa comer jiló ou uma colher de açúcar
Ele é muito claro em sublinhar a ausência de impedimentos. A para ter um sabor específico, pois todo alimento está dentro de
citação do “sétimo dia” implica no fim de uma semana e início uma categoria ou outra.
de outra, justamente o ponto de transição citado na Imagem. E
a frase decisiva encerra o texto: “No hexagrama Retorno se vê Os sabores tóxicos em geralmente estão onde nós os buscamos
o caminho do céu e da terra”. Aqui vemos nitidamente que essa naturalmente: o salgado no sal de cozinha, o ácido no vinagre, o
situação de recomeço é fundamental em nossa caminhada. doce no açúcar. Por isso é preciso cautela ao usar esses produtos,
pois eles possuem o sabor em uma intensidade tóxica.
Primavera na Alimentação
A alimentação é a maneira mais natural e prioritária de se manter Se você quiser utilizar o conhecimento de alimentação taoista,
a saúde ou a restabelecer. Todos os povos antigos sabiam disso. dentro da Medicina Chinesa, uma boa maneira de começar fa-
"Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu cilmente é utilizar a tabela de correspondência com as estações
remédio" já dizia o pensador grego Hipócrates (460 a.C. - 370 do ano e os cinco movimentos.
a.C), considerado o Pai da Medicina Ocidental.
No nosso caso, a Primavera tem o Movimento Madeira como es-
Para os chineses muitos “remédios” são ministrados em forma sência, portanto o sabor ácido já está presente no ar e devemos
de sopa ou através de mudanças na alimentação. Mas a maneira restringir seu consumo. Basta seguir a tabela:
como eles veem os alimentos é diferente da dos ocidentais. Para
os chineses cada tipo de alimento possui determinadas qualida- ALIMENTAÇÃO DURANTE AS ESTAÇÕES DO ANO
des que agem sobre a energia Qi de nosso corpo de diversas REDUZIR NORMAL REFORÇAR
maneiras. Dependendo então, de nosso problema, são prescritos PRIMAVERA ÁCIDO AMARGO SALGADO DOCE PICANTE
alimentos que possam reequilibrar o sistema. Verão amargo doce ácido picante salgado
Final do Verão
doce picante amargo salgado ácido
Os chineses têm como hábito saudável cozinhar sempre os ali- (5ª estação)
mentos, mas nunca em excesso. Os vegetais são sempre tenros, Outono picante salgado doce ácido amargo
porém crocantes, na medida exata para facilitar a mastigação e Inverno salgado ácido picante amargo doce
a digestão sem perder os nutrientes, o que ocorreria com cozi-
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Primavera no Qigong circulares forem as rotações dos ombros, maior será o efeito. De-
Uma técnica de Qigong interessante é o Retorno da Primavera. O pois de ter dominado as habilidades e quando o corpo se adaptou
termo “primavera” nesse contexto indica o retorno à juventude, a ao exercício, pode-se usar maior força e mover as articulações
primavera da vida. É uma técnica muito simples, mas que permite do ombro em círculos maiores.
nutrir o Rim através da respiração e tem eficácia em restaurar a
Efeitos:
juventude e fortalecer o Qi do Rim.
O papel desta técnica é absorver elementos frescos, expulsar
elementos obsoletos, regular órgãos internos, estimular energia
(1) Postura preparatória: Fique ereto, mantenha as pernas afas-
e circulação sanguínea e reforçar a vitalidade. Esta técnica é
tadas na largura dos ombros; os dois braços e as mãos caem
útil para lançar uma base para outras técnicas e é eficaz para o
naturalmente de cada lado; relaxe os músculos, olhar direto;
tratamento de problemas nos ombros e dores nas costas, disten-
manter a mente em branco (Fig. 1).
são abdominal e dor menstrual. Também é bom para melhorar a
constituição física, fortalecimento da função sexual e redução de
(2) Início: Respirar profundamente, primeiro inspirando e ao
peso. O iniciante deve se esforçar para fazer corretamente essa
mesmo tempo levantando os calcanhares e alinhando o peito. Os
técnica, repetindo-a duas vezes ao dia, três a cinco minutos de
iniciantes devem primeiro respirar pelo nariz. Depois um tempo,
cada vez.
eles podem usar tanto o nariz quanto a boca simultaneamente
e fazer o abdômen inferior se estender para inalar mais ar (fig.
2); ao expirar, puxe o abdômen levemente para dentro, dobre os
joelhos e desça os calcanhares (Fig. 3). Respire continuamente
desse modo dezesseis vezes.

Pare de respirar por um minuto e, em seguida, agite o corpo todo.

Relaxe os músculos do corpo, mantenha o corpo ereto, os braços
caindo ao lado, os joelhos dobrando levemente. Em seguida,
agite o corpo para cima e para baixo em uma vibração de mola.

Os praticantes do sexo masculino devem balançar os testículos

na virilha ligeiramente separada para frente e para trás; os prati-
cantes do sexo feminino devem manter suas vulvas ligeiramente
abertas. Dobre ligeiramente os dedos ao estender o corpo para
sentir uma sensação de dilatação nos dedos. Agite assim por um
minuto, cerca de 164 oscilações (fig. 4).

Pontos de Atenção:
Os movimentos só são corretos quando se sente os seios,
músculos de todo o corpo, dentes e órgãos internos todos cha-
coalhando. Após o tremor, afaste os pés tão largos quanto os
ombros, desloque o centro do peso corporal para a palmilha dos
pés, dobre ligeiramente os joelhos, relaxe os músculos do corpo,
abra a boca levemente de forma natural, coloque os braços para
baixo ao lado do corpo. Em seguida, gire as articulações do
ombro alternadamente: a articulação do ombro esquerdo faz um
movimento redondo para a frente, para cima, para trás e para
baixo para voltar à posição normal, ao mesmo tempo em que a
articulação do ombro direito se move para trás, para baixo, para
a frente e para cima, também em um círculo completo. As articu-
lações do ombro alternadamente fazem os movimentos circulares
dezesseis vezes (Figs. 5-6). Use o corpo para levar consigo o
movimento das articulações do ombro, e use os ombros para fazer
o movimento dos braços. A torção contínua da parte superior do
corpo pressiona os órgãos internos para que possam absorver o
ar fresco e expelir o ar usado.

Ao girar as articulações do ombro, o praticante não precisa res-

pirar deliberadamente. Confie na pressão do corpo pelas torções
para uma respiração espontânea. Após um período de prática,
pode-se ouvir o som dos pulmões em um ambiente silencioso.
O movimento do estômago e intestinos causará arrotos e gases.
Iniciantes não devem se esforçar demais na prática. Quanto mais
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11

Referências:

BIAN, Zhizhong. Daoist Health Preservation Exercises. 3ª Ed.

Beijing: China Today Press, 1996

Daojia - Especial Ano Novo, nº 01, 2020

HIRSCH, Sônia. Manual do Herói. Rio de Janeiro: Correcotia,

1997

SILVA, Gilberto A. Os Caminhos do Taoismo. São Paulo: Clube

de Autores, 2014

[
Pesquisa, redação e tradução: Gilberto António Silva
 Daojia nº 25
12
张道陵
ZHANG DAOLING
O Fundador do
Caminho dos
Mestres Celestiais
hang Daoling (张道陵), nome de cortesia Fuhan 輔漢, tam-
Z bém conhecido como Zhang Ling 張陵 ou Zhang Tianshi 張
天師 (Mestre Celestial Zhang), foi uma figura proeminente
na história chinesa e uma figura-chave no desenvolvimento da
tradição taoísta. Ele viveu durante a Dinastia Han Oriental (25-220)
e é considerado o fundador do Caminho dos Mestres Celestiais,
uma das mais importantes linhagens taoístas.
Zhang Daoling nasceu no ano 34 d.C., décimo ano da era Jianwu
durante o reinado do imperador Guangwu, em Pei Guofeng, hoje
condado de Feng, província de Jiangsu, China. Os detalhes da
vida da figura histórica Zhang Ling são obscuros. A maioria das
informações sobre ele vem das escrituras e hagiografias poste-
riores. Pouco se sabe sobre sua juventude, mas acredita-se que
começou a ler o Tao Te Ching em uma idade jovem e a "Biografia
dos Imortais" de Ge Hong narra a experiência de vida de Zhang
Daoling com um pouco mais de detalhes, dizendo que ele era
bem versado nos Cinco Clássicos e estudou na afamada Taixue
(Academia Imperial). Serviu como magistrado em Jiangzhou (atual
Chongqing) durante o reinado do imperador Ming de Han, e foi
um proeminente médico e alquimista.
Mais tarde, como estudar os Cinco Clássicos não ajudava a
prolongar a vida, ele passou a buscar aprender o caminho da
longevidade taoista. Zhang se aposentou e levou uma vida reclusa
no Monte Beimang, onde praticou métodos taoístas para alcançar
a longevidade. Quando convidado para servir como boshi (equi-
valente a um professor atual) na Academia Imperial, ele alegou
que estava doente. O Imperador He de Han o convocou três
vezes para servir como Taifu (Tutor Imperial), mas ele recusou
novamente. Queria apenas cultivar o Tao.
De acordo com a lenda, ele recebeu uma revelação de Laozi,
o lendário fundador do Taoísmo, que o nomeou como o Mestre
Celestial para propagar os ensinamentos taoístas e restaurar a
ordem no mundo. De acordo com hagiografias compiladas em
aproximadamente 400 d.C., no sexto ano de Yonghe (141 d.C.),
a divindade Taishang Laojun (um Laozi divinizado) revelou a
Zhang no Monte Heming a "Doutrina da Unidade Ortodoxa [que
se apoia] na Autoridade da Aliança" (zhengyi mengwei dao), e
concedeu-lhe o título de Mestre Celestial. A divindade advertiu
que pragas, bestas e os demônios dos Três Ofícios e Seis Céus
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do submundo deveriam ser liberados sobre a humanidade, e
que apenas 240.000 pessoas (ou 18.000 segundo outras fontes)
seriam escolhidas como sobreviventes para povoar a nova era,
a era da Grande Paz.
Zhang então se esforçou para reformar práticas religiosas suposta-
mente degeneradas, escrevendo 24 escrituras taoístas e passando
a curar as doenças das pessoas. Como era proficiente no tratamento
de doenças, muitas pessoas vieram aprender com ele e seus discípu-
los chegaram a dezenas de milhares. Depois de reunir seus inúmeros
seguidores, iniciou um culto à saúde que defendia certas práticas
de longevidade, registradas em livros que acabaram se perdendo.
Ele fundou um estado teocrático em Sichuan organizado em 24
distritos, mais tarde 28. Em 142 d.C., Zhang Daoling estabeleceu o
Caminho dos Mestres Celestiais, na região da atual Sichuan, também
conhecido como o Caminho das Cinco Medidas de Arroz (Wǔ Dǒu
Mǐ Dào), pois um imposto desse valor era cobrado dos seguidores.
As cinco medidas (dǒu) solicitadas seria o equivalente a cerca de
13Kg. A seita ganhou popularidade entre as pessoas comuns devido
à sua ênfase na cura, exorcismo e na busca da longevidade. Oferecia
um sistema estruturado de rituais, práticas de cura e ensinamentos
éticos que ressoavam com as massas.
Uma grande mudança instituída pela nova Aliança foi a rejeição
dos sacrifícios de alimentos e animais. Os ensinamentos de Laozi
transmitidos por Zhang incluíam o primeiro verdadeiro panteão
religioso taoísta como algo distinto da antiga religião anterior da
China (Shendao). O Xiang'er 想爾, um comentário sobre o Tao
Te Ching preservado hoje em um manuscrito do século VI, é
tradicionalmente atribuído à autoria de Zhang Daoling e, mesmo
que não seja, essa obra refletiu seus ensinamentos.
 Daojia nº 25
Os ensinamentos de Zhang Daoling foram baseados nos princí-
pios taoístas de viver em harmonia com a natureza, cultivar ener-
gia interna (Qi) e alcançar a iluminação espiritual. Ele defendeu um
estilo de vida simples e virtuoso, promovendo o vegetarianismo
e a abstenção do álcool. O Caminho dos Mestres Celestiais tam-
bém enfatizava o uso de talismãs e rituais para afastar espíritos
malignos e doenças.
Sob a liderança de Zhang Daoling, a linhagem dos Mestres Ce-
lestiais tornou-se uma força poderosa e influente na China. Eles
ganharam o apoio dos governantes locais e acumularam um
grande número de seguidores, estendendo sua influência para
além de Sichuan. A seita desempenhou um papel significativo
nos assuntos sociais e políticos durante o declínio da Dinastia
Han Oriental.
Os ensinamentos de Zhang Daoling e o Caminho dos Mestres
Celestiais tiveram um impacto duradouro no desenvolvimento do
Taoísmo. Seus sucessores continuaram seu trabalho, estabele-
cendo uma linhagem de Mestres Celestiais que guiaram essa
tradição por séculos. O movimento se espalhou rapidamente,
particularmente sob o comando de seu filho Zhang Heng (張
衡) e seu neto, Zhang Lu. O Caminho dos Mestres Celestiais
também contribuiu para a disseminação do Taoísmo por toda a
China, influenciando outras seitas taoístas e deixando uma marca
profunda na história religiosa e cultural chinesa.
Diz-se que Zhang morreu no Monte Qingcheng em 156 durante
o reinado do imperador Huan de Han com a suposta idade de
123 anos. No entanto, também é dito que Zhang não morreu,
mas aprendeu os segredos do Taoísmo e ascendeu aos céus
em plena luz do dia. Zhang teria desaparecido no dia de sua
morte, não deixando nada para trás além de suas roupas. Esse
tipo de despedida da vida é muito comum entre as histórias de
Imortais taoistas.
Zhang Daoling recebe ensinamentos de Taishang Laojun (Laozi)
Jul/Ago/Set 2023
13
Em reconhecimento às suas contribuições para o Taoísmo, Zhang
Daoling foi homenageado postumamente como o primeiro Mestre
Celestial, e seu templo, conhecido como Mausoléu de Zhang
Daoling, tornou-se um importante local de peregrinação para os
praticantes taoístas.
O legado de Zhang Daoling como fundador do Caminho dos Mes-
tres Celestiais continua a ser celebrado nas tradições taoístas, e
seus ensinamentos permanecem influentes nas práticas taoístas
modernas. Ele é reverenciado como um mestre espiritual e um
guardião da tradição taoísta, cuja sabedoria e ensinamentos
continuam a inspirar seguidores até hoje.
Seus descendentes detiveram o título de Mestres Celestiais
até os dias atuais, com os pretendentes mais recentes do título
atualmente residindo na China Continental e Taiwan.
Caminho das Cinco Medidas de Arroz
O Caminho das Cinco Medidas de Arroz ( 五斗米道 Wǔ Dǒu Mǐ
Dào) ou o Caminho do Mestre Celestial, comumente abreviado
para simplesmente Os Mestres Celestiais, foi um movimento
taoísta chinês fundado pelo primeiro Mestre Celestial Zhang
Daoling em 142 d.C. Em seu auge, o movimento controlava um
estado teocrático no vale de Hanzhong, ao norte de Sichuan.
Em 215 d.C., o estado foi incorporado pelo General Cao Cao no
que mais tarde seria o Reino de Wei, e os seguidores do Mestre
Celestial foram dispersos por toda a China.
Os Mestres Celestiais acreditavam que o Qi permeava tudo, e
para alcançar a imortalidade, o equilíbrio correto do Qi tinha que
estar presente dentro do corpo. Ter uma quantidade pobre de Qi
no corpo resultaria em doença e, eventualmente, morte. A me-
ditação poderia ser usada para restaurar o Qi do corpo, mas o
sexo deveria ser evitado, pois poderia resultar na perda de Qi. Se
houvesse o equilíbrio correto de Qi dentro do corpo após a morte,
o praticante poderia "falsear a morte" e renascer como Imortal.
Caso contrário, seria transportado para uma prisão terrena, onde
enfrentaria o tormento eterno, ideia baseada na religião tradicional
chinesa mais antiga.
Em sua estrutura administrativa, o estado de Hanzhong foi dividido
em 24 regiões ou distritos que foram lideradas por um funcionário.
Cada distrito tinha um registro civil que registrava os nomes e as
graduações das pessoas. Três vezes por ano os registros eram
atualizados ao mesmo tempo em que se celebrava um importante
festival. Enquanto a classificação de uma criança subia automa-
ticamente, os adultos tinham que elevar sua própria classificação
por meio de conquistas religiosas ou casamento, formando uma
espécie de hierarquia. Pessoas de alto escalão tinham mais
“generais divinos” sob seu comando, que poderiam ser usados
para combater demônios que causavam má sorte ou doenças. O
Estado tinha um sistema de leis que encorajava a confissão e a
benevolência em vez de punições rigorosas. Os criminosos eram
convidados a confessar seus crimes e meditar, e recebiam serviço
público para fazer como sentença. Poucos textos escritos pelos
Mestres Celestiais Hanzhong sobreviveram, com o mais importante
sendo o comentário Xiang'er ao Dao De Jing. Enquanto o estado
de Hanzhong durou apenas vinte e cinco anos, suas crenças
influenciaram todos os movimentos taoístas subsequentes.
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Depois da derrota para o General Cao Cao, Zhang Lu recebeu

um título e terras, assim como vários outros membros da família
e seus generais. Seus seguidores foram forçados a se reassentar
em outras partes da China, com um grupo sendo enviado para a
área de Chang'an e outro sendo enviado para Luoyang. Zhang e
sua família se mudaram para a sede administrativa de Cao Cao
em Ye, localizada nas atuais províncias de Hebei e Henan. Ele
então usou sua própria popularidade como líder religioso para em-
prestar legitimidade aos Wei, proclamando que o Reino Wei havia
herdado a autoridade divina da igreja taoísta, bem como das leis
confucionistas. Pouco depois da rendição, Zhang Lu morreu e foi
sucedido por seu filho, Fu. Depois desse ponto, há poucas fontes
históricas até 255 d.C., quando um texto indica que a comunidade
do Mestre Celestial estava se fragmentando como resultado da
turbulência política dentro do Reino Wei, que caiu em 260.
Monte Longhu | (c)Chen Yun - CC-BY-SA 2.5
O colapso do Reino de Wei em 260 d.C., juntamente com a queda
do norte da China para os hunos em 317, dispersou ainda mais Zhengyi Dao
os adeptos do Mestre Celestial. Os Mestres Celestiais mais tarde Zhengyi Dao (正一道), também conhecido como o Caminho da
ressurgiram nos séculos IV e V como duas ramificações distintas, Unidade Ortodoxa ou Ordem Ortodoxa Unitária é um movimento
os Mestres Celestiais do Norte e do Sul. taoísta chinês que tradicionalmente se refere como sendo a mes-
ma linhagem taoísta do Caminho das Cinco Medidas de Arroz e
Legado
o Caminho dos Mestres Celestiais, mas a partir do período da
A crença e as práticas dos Mestres Celestiais Hanzhong tiveram
dinastia Tang (618-907) e posteriormente. Como no Caminho dos
um profundo legado sobre a futura crença taoísta. O movimento
Mestres Celestiais (Tianshi Dao), o líder do Taoísmo Zhengyi era
marcou uma mudança significativa em relação aos movimentos
conhecido como Mestre Celestial.
filosóficos anteriores do Taoismo. Ele deixou de ser um estudo
filosófico para os letrados e as elites e passou a ser promovido a
O termo Zhengyi (Unidade Ortodoxa) tem sido usado desde que o
todas as classes da sociedade, incluindo os analfabetos e os não
Taoísmo se tornou uma religião organizada em 142 d.C., quando
chineses. Além disso, Os Mestres Celestiais foi o primeiro grupo
Taishang Laojun concedeu o Pacto com os Poderes da Unidade
taoísta a formar um sacerdócio organizado que ajudou a espalhar
Ortodoxa (zhengyi mengwei) a Zhang Daoling. Os seguidores
suas crenças. Sendo os primeiros taoístas religiosos organiza-
de Zhang chamaram seus ensinamentos de Caminho das Cinco
dos, os primeiros Mestres Celestiais são os ancestrais de todos
Medidas de Arroz, enquanto durante o período das Seis Dinastias
os movimentos taoístas subsequentes, como os movimentos
(222–589), os taoístas do sul o chamaram de Caminho dos Mes-
Shangqing e Lingbao, bem como os taoístas medievais Zhengyi,
tres Celestiais. A Aliança, o Cinco Medidas de Arroz e os Mestres
que reivindicaram afinidade com os primeiros Mestres Celestiais.
Celestiais referem-se ao mesmo ramo Zhengyi do Taoísmo, mas
em períodos diferentes.

O Imperador Xuanzong (712-756) canonizou o primeiro Mestre

Celestial Zhang Daoling durante seu reinado. Isso não trouxe
nenhum benefício para a base original dos Mestres Celestiais
em Sichuan, mas sim beneficiou um templo na área de Jiangnan,
na província de Jiangxi. Este templo estava localizado no Monte
Longhu, alegado ser o local onde Zhang Daoling havia obtido o
Tao, e onde seus descendentes ainda viviam. Reconhecidos pelo
imperador como descendentes legítimos de Zhang Daoling, esses
novos Mestres Celestiais estabeleceram uma nova e poderosa
organização em sua base de Longhu Shan.

A importância da escola Zhengyi cresceu durante a dinastia Song,

com os Mestres Celestiais frequentemente recebendo nomeações
imperiais. Em 1239, o Imperador Lizong, da Dinastia Song do
Sul, ordenou ao 35º Mestre Celestial Zhang Keda que unisse a
Escola Lingbao, a Escola Shangqing e a Zhengyi Dao. A nova
escola deveria manter o nome Zhengyi e permanecer baseada
no Monte Longhu. Pouco depois que as escolas foram unidas, os
mongóis sob Kublai Khan conquistaram a Dinastia Song do Sul e
estabeleceram a Dinastia Yuan na China. Ele aceitou a alegação
Portão Principal da residência do Mestre Celestial no Monte Longhu
de que o Mestre Celestial do Monte Longhu era descendente de
 Daojia nº 25
Zhang Daoling e concedeu à escola o direito de controlar os as-
suntos relacionados ao Taoísmo na área de Jiangnan. Em 1304,
como resultado do aumento da importância de Zhengyi Dao sob
os mongóis, todas as escolas taoístas, com exceção da Escola
Quanzhen, foram unidas sob a bandeira da Escola Zhengyi, com
o 38º Mestre Celestial, Zhang Yucai, como líder espiritual.
A fundação da dinastia Ming em 1368 marcou o início de um longo
declínio no poder do Taoismo Zhengyi. O primeiro governante
Ming, o Imperador Hongwu (1368-1398), suprimiu o uso do título
de "Mestre Celestial" entre a Escola Zhengyi, e o 50º Mestre
Celestial Zhang Guoxiang teve seu título retirado pelo Imperador
Longqing (1567-1572). No período Daoguang (1821-1850) da
dinastia Qing, as relações entre a corte e os Mestres Celestiais
chegaram ao fim. As atividades da escola tornaram-se localizadas
em regiões nas quais a escola era particularmente importante.
Apesar de terminar a associação com a corte, o próprio Mestre
Celestial ainda mantinha muito prestígio e importância entre os
taoístas em toda a China. Esse prestígio, que surgiu da crença
de que ele era descendente de Zhang Daoling, ficou evidente
quando o Mestre Celestial viajou pela China e atraiu multidões
de pessoas por onde passava.
A linhagem dos Mestres Celestiais sobreviveu até o século XXI.
Em 1949, depois que os comunistas dominaram a China conti-
nental, o 63º Mestre Celestial, Zhang Enpu (張恩溥), migrou para
Taiwan com o governo do Kuomintang de Chiang Kai-shek. Após
sua morte, uma disputa sucessória surgiu entre diferentes ramos
da família em Taiwan e na China continental.
A Ordem dos Mestres Celestiais na China continental sofreu muito
durante a Revolução Cultural (1966-1976), mas conseguiu sobre-
viver. Eles foram finalmente autorizados a ordenar sacerdotes na
Ordem Zhengyi na Mansão do Mestre Celestial, em 1982.
O Taoismo Zhengyi se tornou comum nas províncias de Jiangxi,
Jiangsu e Fujian, na China, bem como em Taiwan. Foi introduzido
no Brasil em 1991 pelo Mestre Wu Jyh Cherng através da funda-
ção da Sociedade Taoísta do Brasil no Rio de Janeiro.
Hoje, ainda há um Mestre Celestial que reivindica descendência
direta de Zhang Daoling, e a esmagadora maioria dos sacerdo-
tes taoístas não monásticos, tanto na China quanto na diáspora
chinesa, se identificam como parte dessa tradição.
Práticas
Ao contrário de encarnações anteriores dos Mestres Celestiais,
como a escola baseada em Louguan, os taoístas Zhengyi não
veneravam Laozi como um deus. Em vez disso, ele era visto como
o ancestral do ensino da escola.
Durante a dinastia Tang (618-907) a principal atividade dos taoís-
tas Zhengyi era vender talismãs protetores. Os cultos locais se
desenvolveram em torno da venda desses talismãs, e em torno de
guildas e associações patrocinadas por membros da congregação.
Uma das práticas fundamentais da escola era conferir registros (lu)
às pessoas que entravam no Taoísmo. Um registro era uma forma
de permitir que a tradição taoísta passasse para as gerações
futuras, garantindo que aqueles que os recebiam tivessem um
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conhecimento adequado dos ensinamentos da escola. Os regis-
tros também tinham os nomes de divindades escritas neles que
podiam ser chamadas pelo portador para ajudar em momentos de
necessidade. Uma vez que alguém recebia um registro, era con-
siderado parte da linhagem. Havia diferentes graus de registros
para leigos com diferentes níveis de conhecimento religioso. Essa
prática acabou se disseminando por outras linhagens taoistas.
Existem dois tipos principais de rituais realizados pelos taoístas
Zhengyi: os rituais jiao (oferenda) e zhai (retiro). O ritual zhai é
realizado como uma forma de obter benefícios através da purifi-
cação e abstinência, e geralmente ocorre imediatamente antes
do ritual jiao. A estrutura dos rituais se assemelha a uma requisi-
ção burocrática imperial, com selos, carimbos, petições e taxas
a serem pagas. Isso reflete a forte influência confucionista no
pensamento chinês, com a burocracia do Estado atingindo até as
regiões celestiais. Os rituais também podem envolver procissões
religiosas pela cidade, apresentações musicais e uma oferenda
em massa em frente ao templo.
Textos
Os taoístas Zhengyi foram particularmente notáveis por seu tra-
balho em buscar textos taoístas e reuni-los em coleções. Zhang
Yuchu (1361-1410) recebeu uma comissão imperial em 1406
para reunir textos, em particular aqueles produzidos durante o
reinado do imperador Hongwu (1368-1398). Com esses textos,
Zhang compilou uma obra de referência conhecida como Zhen-
gtong Daozang (Cânone Taoísta do Reinado de Zhengtong), que
era uma visão geral dos textos e práticas taoístas atuais. Zhang
Guoxiang (?-1611) compilou uma obra de referência semelhante
em 1607 conhecida como Wanli Xu Daozang (Cânone Taoísta
Suplementar do Período do Reinado de Wanli). O Cânone Taoísta
(Daozang) atual possui cerca de 1.400 textos e é a literatura fun-
damental do Taoismo, reunindo as mais diversas obras escritas
nos últimos 3.000 anos.
Os Mestres Celestiais
A seguir dispomos uma lista dos Mestres Celestiais, líderes de
Zhengyi Dao, continuando a partir do Wudoumi Dao (Caminho
das Cinco Medidas de Arroz). Após a morte do 64º Mestre Ce-
lestial Zhang Yuanxian em 2008, surgiu uma controvérsia sobre
a sucessão legítima, com diferentes descendentes reivindicando
ser o legítimo 65º Mestre Celestial, incluindo Zhang Jintao e
três outros pretendentes na China continental, e Zhang Yijiang
e Zhang Meiliang em Taiwan. Inclusive outro mestre taiwanês,
Zhang Daochen, afirma ser o legítimo 64º Mestre Celestial, já
que, segundo ele, Zhang Yuanxian não o era.
Zhang Yijiang 張意將 é tido como o atual 65º Mestre Celestial e
assumiu o posto oficialmente em 10 de Junho de 2009. A Asso-
ciação Taoísta do 65º Mestre Celestial Zhang carrega o espírito
taoísta de caridade. A organização estabeleceu um sistema de
ajuda em desastres que subsidia serviços funerários para cerca
de mil cidadãos pobres anualmente. Esses esforços receberam
o reconhecimento do Ministério do Interior de Taiwan no ano
de 2012. Além disso, o Mestre Celestial Zhang e seus adeptos
colocaram seus ideais religiosos em prática e muitas vezes con-
tribuíram para o processo de ajuda humanitária. Eles trouxeram
ajuda durante o tufão em 8 de agosto de 2009, no sul de Taiwan,
 Daojia nº 25
16
e após o terremoto em 11 de março de 2011, no Japão. Eles tam-
bém incentivaram as pessoas a doar e ajudar as áreas atingidas,
acreditando que os desastres não conhecem fronteiras, mas o
resgate e a compaixão também podem ser inesgotáveis.
Zhang Yijiang 張意將 - 65º Mestre Celestial
Zhang e o tigre
Zhang Daoling é muitas vezes representado como montando um
tigre. De acordo com o Taoísmo popular e a tradição religiosa
chinesa, o aniversário do Senhor Tigre (虎爺誕辰 Huye Danchen)
é observado no 12º dia do 2º mês lunar chinês. O Senhor Tigre
(虎爺 Huye) é um nome honorífico para o Espírito do Tigre (虎
神 Hushen). Também é conhecido como o General Tigre (虎將軍
Hu Jiangjun) e seu título religioso taoísta formal é O General do
Altar Inferior (下壇將軍 Xiatan Jiangjun).
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O Espírito Tigre representa o poder bruto da coragem e da força
e é considerado um espírito protetor. Também é tradicionalmente
visto como o animal montaria ou veículo de várias divindades
taoístas independentes. Nas iconografias tradicionais, a divindade
é descrita como sentada em um tigre.
Referências
https://www.zhonghuadiancang.com/renwu/zhangdaoling/
https://chinatripedia.com/zhang-daoling-the-founder-of-way-of-
the-celestial-masters/
https://en.wikipedia.org/wiki/Zhang_Daoling
https://en.wikipedia.org/wiki/Way_of_the_Five_Pecks_of_Rice
https://en.wikipedia.org/wiki/Zhengyi_Dao
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Celestial_Masters
https://en.wikipedia.org/wiki/Xiang%27er
https://wapbaike.baidu.com/tashuo/browse/content?id=67941b-
7ca1c679e17d42a47b
https://www.davidleffman.com/daoists-and-tigers-zhang-daoling
-at-shangqing-palace/
https://jadeturtlerecords.blogspot.com/2011/03/tiger-spirit.ht-
ml?m=1&fbclid=IwAR1f40m-LmLqhreaJwM4x3Fe8dc1wFjUk3z-
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https://www.sohu.com/a/708269280_121281747
http://www.goldenelixir.com/publications/eot_tianshi_dao.html
http://www.chinaknowledge.de/History/Han/personszhangdaoling.
html
Pesquisa, redação e tradução: Gilberto António Silva
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天師道
Relação dos Mestres Celestiais desde Zhang Daoling
Nome Chinês Data 33 Zhang Jingyuan 张景渊
1 Zhang Daoling 张道陵 Século II 34 Zhang Qingxian 张庆先
2 Zhang Heng 张衡 ?-179 35 Zhang Keda 张可大 1218-63
3 Zhang Lu 张鲁 ?-215 36 Zhang Zongyan 张宗演 1244-91
4 Zhang Sheng 张盛 37 Zhang Yudi 张与棣 ?-1294
5 Zhang Zhaocheng 张昭成 38 Zhang Yucai 张与材 ?-1316
6 Zhang Jiao 张椒 39 Zhang Sicheng 张嗣成 ?-1344?
7 Zhang Hui 张回 40 Zhang Side 张嗣德 ?-1353
8 Zhang Jiong 张迥 41 Zhang Zhengyan 张正言 ?-1359
9 Zhang Fu 张符 42 Zhang Zhengchang 张正常 1335-78
10 Zhang Zixiang 张子祥 aprox. 600 43 Zhang Yuchu 张宇初 1361–1410
11 Zhang Tongxuan 张通玄 44 Zhang Yuqing 张宇清 1364–1427
12 Zhang Heng 张恒 45 Zhang Maocheng 张懋丞
13 Zhang Guang 张光 46 Zhang Yuanji 张元吉
14 Zhang Cizheng 张慈正 47 Zhang Xuanqing 张原庆
15 Zhang Gao 张高 aprox. 735 48 Zhang Yanpian 张彦页 1480–1550
16 Zhang Yingshao 张应韶 49 Zhang Yongxu 张永绪 ?-1566
17 Zhang Yi 张颐 50 Zhang Guoxiang 张国祥 ?-1611
18 Zhang Shiyuan 张士元 51 Zhang Xianyong 张显庸
19 Zhang Xiu 张修 52 Zhang Yingjing 张应京
20 Zhang Chen 张谌 53 Zhang Hongren 张洪任
21 Zhang Bingyi 张秉一 54 Zhang Jizong 张继宗 ?-1716
22 Zhang Shan 张善 55 Zhang Xilin 张锡麟 ?-1727
23 Zhang Jiwen 张季文 56 Zhang Yulong 张遇隆 ?-1752
24 Zhang Zhengsui 张正随 1015 57 Zhang Cunyi 张存义 ?-1779
25 Zhang Qianyao 张干曜 58 Zhang Qilong 张起隆 ?-1798
26 Zhang Sizong 张嗣宗 59 Zhang Yu 张钰
27 Zhang Xiangzhong 张象中 60 Zhang Peiyuan 张培源 ?-1859
28 Zhang Dunfu 张敦复 1077 61 Zhang Renzheng 张仁政 1841–1903
29 Zhang Jingduan 张景瑞 1049?-1100? 62 Zhang Yuanxu 张元旭 1862–1924
30 Zhang Jixian 张继先 1092–1126 63 Zhang Enpu 张恩溥 1904–1969
31 Zhang Shixiu 张时修 64 Zhāng Yuanxian 張源先 1971 - 2008
32 Zhang Shouzhen 张守真 ?-1176 65 Zhang Yijiang 張意將 2009
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Zhengyi Dao e
Alquimia Taoista
Linhagem Zhengyi, dos Mestres Celestiais, se preocupa

A com a saúde e a longevidade desde os tempos de Zhang

Daoling. Seria natural que a Alquimia Interna Taoista, que
surgiu com força mais ou menos na mesma época que o Cami-
nho das Cinco Medidas de Arroz ( 五斗米道 Wǔ Dǒu Mǐ Dào),
acabasse sendo absorvida por ele. Várias linhagens taoistas
incluem a Alquimia em seu repertório, seja para alcançar a saúde
e longevidade ou mesmo buscar a Imortalidade.

De fato, Zhang Daoling e seus sucessores fizeram uma amálgama

de várias correntes de pensamento da China e não poderiam
deixar de fora a Alquimia, prática então muito valorizada. Mestre
Wu Jyh Cherng, que introduziu o Zhengyi Dao no Brasil, não era
exceção.

Mestre Cherng foi discípulo do Grande Mestre Maa Ho Yang,

patriarca da sétima geração da Escola Oeste de Alquimia Taoís-
ta, que dedicou sua vida ao Tao da Alquimia. Uma das grandes
forças do Taoismo na China, Mestre Maa obteve a ascensão
espiritual e se tornou um Imortal, sendo reverenciado pela sua
grande sabedoria.

Aqui apresentamos pela primeira vez a genealogia de Alquimia

Interna do Mestre Cherng, elaborado pela conhecida Mestra Eva
Wong e carinhosamente compartilhado conosco por Lîla Schwair,
esposa de Mestre Cherng. Nossos agradecimentos a ambas por
compartilhar esse conhecimento com os brasileiros.

Alquimia Taoista: Diálogos

Ma Hé Yáng (Maa Ho Yang)
Com tradução de Wu Jyh Cherng e participação de Lîla Schwair e Eva Wong, essa
obra é indispensável no estudo da Alquimia Interna.

Traduzida para o português por seu discípulo direto, Mestre Wu Jyh Cherng, essa
obra elucida, de forma simples e direta, questões fundamentais sobre o caminho da
Alquimia Taoista. Uma verdadeira pérola sagrada, para nos inspirar e orientar no cultivo
do nosso próprio Caminho.

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Genealogia de Alquimia Interna do Mestre Wu Jyh Cherng

Laozi 6th C. BCE

Wenzi 4th C. BCE

Wei Boyang
Classic Internal Alchemy

Yijing Internal Alchemy

Lu Dongbin
Shao Yong Modern Internal Alchemy
10th C

Chen Xiyi
Xiantianwujimen
11th C

Quanzhen/
Complete Reality
11th C

Orthodox Southern School Northern

Xiantianwujimen Zhang Boduan 12th C School

Green City East School Orthodox South

School Lu Xixing Quanzhen
10th C 16th C

Xiao Tianshi West School

20th C Li Xiyue
10th C

Modern
Xiantianwujimen Maa Ho Yang
20th C
Eva Wong
Wu Jyh Cherng
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http://taoismo.org/index.php/dimensoes-do-wuwei-2/
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- Diáspora Chinesa -
Festival Chinês do 7º Mês
em Singapura
Festival Chinês do 7º Mês é um momento em que as
O comunidades chinesas observam e participam da lem-
brança familiar de seus antepassados e recém-falecidos,
além de oferecer "serviço comunitário" às almas que não têm
descendentes, o que muitas vezes é chamado de “almas errantes”.
Há várias maneiras pelas quais o Festival do 7º Mês é conhecido
por diferentes pessoas em Cingapura, e talvez pela diáspora
chinesa no Sudeste Asiático. Pode ser o Festival do Fantasma
Faminto, Zhong Yuan Jie 中元节 (Taoísta) ou Ullambana (Budis-
ta), dependendo das tradições da comunidade. Com a mistura
de crenças budistas, taoístas e folclóricas chinesas, o Festival
Chinês do 7º Mês Lunar é um evento antigo, com variações em
diferentes comunidades da diáspora chinesa.
Durante o 7º Mês Lunar chinês, a diáspora chinesa observaria, de
certa forma, este importante mês. Para a família chinesa, para os
vizinhos não chineses e para os visitantes do Sudeste Asiático,
eles poderiam percebê-lo de forma diferente. O que é mais con-
fuso, para alguns, é a mistura das palavras usadas, Zhong Yuan
Jie (para o taoísta) e Ullambana (para o budista), e para a maioria
dos chineses, é apenas o 7º mês. É muitas vezes traduzido como
o Mês dos Fantasmas Famintos. Para muitos, é um mês colorido
com orações familiares aos antepassados, oferendas às almas
errantes (acredita-se que elas partirão de seu reino para o reino
dos vivos) à medida que chegam e partem. Aldeias e comunidades
de rua organizam orações combinadas com óperas ou shows de
marionetes. Locais de trabalho, de fábricas a escritórios e hotéis,
também organizam esses eventos.
Jul/Ago/Set 2023
Por: Victor Yue
Os Hokkien e os Teochews, principalmente, podem colocar ofe-
rendas à beira da estrada para "acolher" as almas errantes que
chegam no primeiro dia do 7º Mês Lunar Chinês. E, da mesma
forma, eles os mandariam embora da mesma maneira no último
dia do 7º mês. Os cantonenses fariam isso no dia 14 do 7º Mês
Lunar.
Ao nível do conjunto habitacional, onde os moradores vivem há
muito tempo, tendo saído das aldeias, as tradições continuaram,
mas com adesão cada vez menor. Antigamente, como eu me
lembrava, na nossa rua da cidade um organizador ia de casa em
casa (costumávamos ter muitas casas em um casa antiga, cada
moradia em um cômodo) para oferecer uma assinatura. Por alguns
dólares por mês, contribuímos e, após as orações, recebíamos
um balde ou cesta de alimentos enlatados, frutas, pato assado e
frango, que valia muitas vezes as assinaturas que pagávamos.
Os organizadores geralmente tinham um jantar para encerrar o
evento e, no jantar, eles faziam um leilão, geralmente licitado pelos
empresários ou lojistas da comunidade. Esse dinheiro contribuiu
para o pagamento de tais ofertas. E haveria óperas, que é um
grande evento para nós, crianças. Não havia TV na época. E o
getai não estava em voga. Estou falando dos anos 1950.
Naqueles dias, assistíamos à ópera chinesa (muitas vezes em
Hokkien, Teochew ou Cantonês) maravilhando-nos com os trajes
e suas cenas de batalha no palco limitado. Com a avó, aprendía-
mos sobre as histórias, que muitas vezes eram dramatizações da
história chinesa. Foi assim que a vovó e nós aprendemos sobre
a história chinesa e nossa herança cultural.
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Com o tempo, Getai1 tornou-se mais popular entre os artistas em

suas roupas chamativas e cantando canções populares.

Chong Feng Shan Tang 崇峰善堂 conduzindo os rituais

Um getai (show de canto de variedades) em um jantar do 7º mês de
Chinatown de Cingapura

Em Cingapura, a nível comunitário, há principalmente eventos

organizados com base nas tradições Hokkien e Teochew. Pode-se
ver as ofertas de alimentos baseadas nessas duas tradições em
tais eventos nos conjuntos habitacionais (apartamentos construí-
dos pelo governo) nos dias de hoje, já que não há mais aldeias
em Cingapura. Ao longo dos anos, os eventos comunitários de
conjuntos habitacionais diminuíram à medida que os organizado-
res envelheceram ou faleceram. Em um nível mais ativo, outras
comunidades, como os centros de vendedores ambulantes,
continuariam a observar esses eventos. Em Cingapura, os mais
ativos estão nos mercados atacadistas e nos grandes centros
de vendedores ambulantes. Curiosamente, muitos dos grandes
eventos são organizados com base nas tradições de Teochew. Os sacerdotes abençoam os feirantes do Centro de Alimentação que
colocaram oferendas
Aqui estão alguns instantâneos dos eventos no Newton Food Cen-
tre e no Pasir Panjang Wholesale Market. Ambos se organizam No Pasir Panjang Wholesale Centre, há uma configuração ainda
com base nas tradições Teochew, envolvendo os sacerdotes do mais elaborada para o evento.
Teochew Shan Tang 善堂 .

No Newton Food Center, um palco temporário é montado apenas

para o propósito dos rituais ao longo de 2-3 dias.

Tong De Shan Tang Lian Xin She 同德善堂念心社 conduzindo os

rituais
A configuração para os rituais

1 Getai (歌臺) "palco da canção") refere-se a apresentações ao vivo normalmente realizadas

durante o Festival dos Fantasmas Famintos no sétimo mês lunar e nos aniversários de
divindades chinesas. Estes shows normalmente duram das 19h30 às 22h e são comumente
organizados em Cingapura, Malásia e algumas partes da Indonésia. Os palcos são geralmente
compostos por estruturas temporárias, como tendas situadas nos subúrbios da cidade - ou
seja, em campos vazios, vagas de estacionamento ou conjuntos habitacionais. (N. do E.)
 Daojia nº 25
24
Este evento foi organizado pela comunidade atacadista de frutas
frescas (Sheng Guo Pi Fa Shi Chang 生果批发市场)
Após os rituais, os Da Shi Ye com os outros apetrechos de oração são
despachados deste mundo.
O despacho é através da queima.
Durante o 7º mês
Para as pessoas, a maioria acredita que no primeiro dia do 7º
mês lunar chinês (o início do primeiro dia começa às 23h do
dia anterior) as almas deixarão seu mundo para o mundo dos
Jul/Ago/Set 2023
vivos. Para apaziguá-los e para não nos incomodar (na forma de
acidentes ou maus negócios), muitos colocavam oferendas com
incensos e velas à beira da estrada. Supomos que eles estariam
usando as estradas como nós.
Da mesma forma, faríamos o mesmo para enviá-los no último
dia do 7º Mês Lunar.
Os cantoneses observavam as oferendas à alma errante (conhe-
cida pelos chineses e bons irmãos) no dia 14 do 7º mês, onde
também colocavam oferendas à beira da estrada.
Oferenda cantonesa às almas errantes no 14º dia do 7º Mês Lunar
Os taoístas e budistas observam o dia 15 do 7º Calendário Lunar
como o dia real do evento. Para o taoísta, o dia 15 do 7º Mês
Lunar é a festa de Di Guan 地官, o Oficial da Terra. Existem três
Oficiais no Panteão Taoísta, a saber, o Tian Guan 天官 (Dia da
Festa sendo o dia 15 do Primeiro Mês Lunar), Di Guan 地官 (Dia
da Festa sendo o dia 15 do 7º Mês Lunar) e Shui Guan 水官 (Dia
da Festa sendo o 15º do 10º Mês Lunar).
Os budistas observam o dia 15 do 7º Mês Lunar como Ullambana.
Este evento também é amplamente observado pelos Teochews
da crença e tradição Shan Tang. Pode-se ver tais eventos que
a Comunidade Teochew na Tailândia e Hong Kong, incluindo
Malásia e Singapura.
Da Shi Ye 大士爷
Acredita-se que um Da Shi Ye (traduzido livremente como o
Rei Monstro) foi criado para acompanhar as muitas oferendas
às almas direcionadas no outro mundo. É uma transformação
de Guan Yin. Você notará que no topo do Da Shi Ye existe uma
pequena estatueta de Guan Yin. Um novo papel machê de Da
Shi Ye é geralmente encomendado pelos organizadores todos os
anos, pouco antes do evento. Os Da Shi Ye com os Guan Yin são
consagrados. A prática usual é que o Da Shi Ye será queimado
com a estatueta Guan Yin do ano anterior. O Guan Yin deste ano
será então colocado no altar para ser reverenciado pela comuni-
dade até o próximo ano, quando o recém-consagrado Guan Yin
substituirá seu lugar.
 Daojia nº 25 Jul/Ago/Set 2023
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Da Shi Ye 大士爷

Imagem de Guan Yin consagrada no ano anterior

Em outro evento semelhante você pode ver Guan Yin já em cima de

Recém-consagrada Guan Yin
Da Shi Ye.
 Daojia nº 25 Jul/Ago/Set 2023
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Antigamente, quando as comunidades eram majoritariamente

pobres, elas podiam não ter uma efígie de Da Shi Ye, mas ela
podia ser representada por um banner ou um papel com as pa-
lavras escritas nele. Para as pessoas mais velhas, o Da Shi Ye
era conhecido como Pu Du Gong.

O plano de fundo é uma configuração típica para o antigo e

tradicional Evento do 7º Mês

O 7º Mês é o momento em que diferentes membros de uma co-

Uma comunidade de bairro em meio à preparação para o mesmo.
Victor Yue é muito interessado na herança cultural de Cingapura e
munidade, seja no conjunto habitacional, centros de vendedores
ambulantes, fábricas, centros comerciais e qualquer lugar onde
haja atividades, se reúnem para organizar tais eventos. É para
a paz comum e o bem da comunidade. Os templos chineses -
taoístas e budistas - também organizam eventos semelhantes
para que seus devotos se reúnam.

[
tem observado e documentado as culturas locais como parte de seu
interesse histórico e cultural. Sendo um taoista, ele enfoca mais os
templos chineses locais, suas histórias e práticas. Tradução, edição e notas: Gilberto António Silva
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AURICULOMEDICINA
APLICAÇÃO DA AURICULOMEDICINA NO CONTROLE DA
SENILIDADE PRECOCE E NA MANUTENÇÃO DA SAÚDE
1 : Senilidade e Senilismo(Envelhecimento precoce)
Envelhecimento aqui se refere a um fenômeno caracterizado
pelo progressivo declínio ou alteração na estrutura e função do
corpo humano com o decorrer do tempo a partir da consolida-
ção da idade adulta. Às vezes pode acontecer envelhecimento
anormal devido a enfermidades, nutrição, aspectos ambientais e
fatores subjetivos. Se o fenômeno de envelhecimento está em
conformidade com a idade da pessoa é denominado senilidade,
que é um fenômeno fisiológico; de outro maneira é denominado
senilismo, também conhecido como “senilidade precoce”, que é
considerado um fenômeno patológico.
2 : Sinais e Sintomas da Senilidade
Um dos mais óbvios sinais da senilidade são mudanças na pe-
le,especialmente no rosto. Em pessoas de meia idade ou idosos
a disfasia da epiderme e a estimulação externa prolongada da
pele pode levar à redução da gordura subcutânea e da água retida
nas camadas vivas resultando no alongamento das células nos
tecidos subcutâneos e conectivos. Além disso, como resultado
de menor tônus na pele mais idosa, rugas aparecem na face
especialmente na testa e nos cantos dos olhos. A pigmentação
da pele na pessoa mais velha é comumente denominada “placa
senil” ou “placa de longevidade”. A Auriculoterapia pode aprimorar
a coloração e o brilho da pele facial.
Geralmente a pele das pessoas de meia idade e idosas é mais
fina que a dos jovens exceto a pele das porções expostas tais
como face, mãos e pés que se tornam mais espessas devido a
estimulação externa prolongada. A pele é um tecido periférico
que protege as camadas subcutâneas. O tecido cutâneo protege
contra irritação que pode ocorrer devido à estimulação produzi-
da por uma mistura contendo descamações residuais secas da
pele, dejetos metabólicos dérmicos e poeira que se acumulam
nas rugas.
Jul/Ago/Set 2023
Por: Ernani Franklin
Além de mudanças na pele e no corpo, sinais externos de senili-
dade incluem mudanças no cabelo. Com o passar do tempo a cor
do cabelo no adulto pode gradualmente perder a cor, agrisalhando
das têmporas até o resto da cabeça. Durante este processo o
cabelo vai se tornando mais macio e fino e pode ocorrer alopecia.
Sinais de senilidade manifestam-se não apenas por mudanças
exteriores, mas também pela função dos órgãos internos.
• Sistema Nervoso: Pesquisadores modernos concluíram
que sinais de senilidade nos nervos craniais nos idosos in-
cluem: hipomnésia (fraqueza de memória), falta de interesse
no ambiente, manifestações emocionais deficientes, incom-
preensão da vida cotidiana, perda ocasional de auto-controle,
perda sensorial mais acentuada nos membros inferiores em
comparação com os superiores, déficit severo de reflexo
patelar e reflexo do tendão de Aquiles.
• Sistema Circulatório: Os sinais incluem insuficiência
cardíaca, fibrose do miocárdio, amiloidose cardíaca, esclerose
do miocárdio, aterosclerose coronária, perda de elasticidade
e espessura ou mesmo esclerose na parede da aorta e arté-
rias periféricas, decréscimo do volume do fluxo sanguíneo e
circulação lenta do sangue.
• Sistema Respiratório: Os sinais abrangem atrofia da
mucosa nasal, calcificação e ossificação gradual da traquéia,
das cartilagens da laringe e cartilagens costais, perda da
elasticidade do pulmão e plexo braquial, atrofia do tecido
pulmonar e enfisema senil resultante do aumento dos alvéolos
pulmonares e redução da espessura da parede dos alvéolos.
• Sistema Digestivo: Os sinais são redução da espessura
do trato digestivo devido à atrofia da mucosa e da camada
muscular, atrofia das glândulas ou vilosidades no trato gas-
tro-intestinal, diminuição da elasticidade da musculatura lisa,
 Daojia nº 25
enfraquecimento das funções digestivas resultando em indi-
gestão e constipação.
• Sistema Urinário: Os sinais indicam uma redução ób-
via do fluxo sanguíneo nos rins e na taxa de filtragem dos
glomérulos, enfraquecimento e insuficiência tubular renal e
ocorrência de urgência urinária, frequência de micturação e
disúria devido à hiperplasia da próstata.
• Sistema Endócrino: Os sinais são hipofunção da glândula
tireóide e enfraquecimento do funcionamento das células B
nas ilhotas de Langerhans do pâncreas e insuficiência na
secreção de insulina, que pode levar ao diabetes mellitus.
• Sistema Reprodutor: Os sinais incluem atrofia e perda
funcional dos órgãos genitais, diminuição da secreção de
hormônios sexuais. Foi determinado que o teor de vários es-
teróides na urina de pessoas idosas apresenta um decréscimo
óbvio. Não há, todavia, decréscimo dos produtos do metabo-
lismo de esteróides ou redução de lipídeos neutros. A função
parcial dos testículos pode ser compensada pela função das
supra- renais, que não enfraquecem com o passar do tempo.
Independente de ser homem ou mulher, o climatério acontece
mais cedo ou mais tarde durante a meia idade.
• Sistema Músculo-Esquelético: Os sinais são o declínio da
dinâmica muscular e do consumo de oxigênio, além de fadiga
muscular mais acentuada. Portanto, a habilidade de trabalho
muscular nos idosos é reduzida. Um dos sinais importantes da
senilidade incluem as mudanças na capacidade de trabalho
(físico), adaptação social e ambiental. Devido às alterações
que surgem com a senilidade o metabolismo e distribuição de
cálcio são prejudicados, resultando na diminuição de compos-
tos orgânicos tais como a osseína , mucoproteína nos ossos e
aumento dos sais orgânicos, tais como o carbonato de cálcio
e sulfato de cálcio. Em decorrência, a pouca elasticidade e
tenacidade nos ossos dos ido-
sos podem causar fraturas ou
fissuras. Como resultado das
alterações metabólicas das
proteínas pode surgir osteo-
porose que resulta em dor nos
quadris e membros inferiores.
• Olho, Ouvido, Nariz, Faringe
e Laringe: Audição e visão
comprometidas são duas ca-
racterísticas da terceira idade.
Quando uma pessoa atinge
a idade avançada costuma
sofrer de presbiopia e/ou ca-
tarata devido à esclerose,
pouca elasticidade e perda da
função reguladora da lente do
cristalino. Com a passagem
do tempo pode ocorrer perda
auditiva, depressão auricular,
comprometimento do tímpano
e mesmo surdez. Perda da
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olfação também é comum devido à redução da espessura da
concha nasal inferior. Atrofia das amígdalas, bem como perda
das defesas na região da garganta e comprometimento vocal
devido à osteopetrose da faringe e laringe, além de depósitos
de gordura na faringe são outros indicativos da senilidade.
3 : Prevenção da Senilidade Precoce
É um fato que a boa saúde é muito importante para todos. Segun-
do o Sr. Qian Zinzhong, ex-ministro da saúde da China, “Para as
pessoas de meia idade e mais idosos a saúde significa tempo e
vigor”. O interesse em manter a saúde e vitalidade psicológica e
psíquica, durante o período da meia idade em diante, por meio de
medidas preventivas, antes do aparecimento das enfermidades e
através de medidas cautelares contra a progressão das doenças
, é de suma importância.(...)
Muitos médicos na antiga Grécia(como Hipócrates) e na Pérsia,
discutiram métodos de prolongar a vida à luz da gerontologia e
preservação da saúde em pessoas idosas. Em 1909, um médico
austríaco que havia pesquisado meios de aumentar a produção de
testosterona no organismo, visitou um asilo de idosos em Viena
que apresentava uma reduzida taxa de mortalidade; ele também
foi o primeiro que usou o termo “Gerontologia” numa tese publi-
cada numa revista médica de Nova Iorque. Conforme o tempo
médio de vida do ser humano vem aumentando gradualmente
desde a década de 50, a gerontologia tem se tornado uma matéria
de interesse abrangendo a economia, a cultura, o bem estar e os
cuidados médicos dos idosos.
Há dois mil anos os três primeiros capítulos do livro Tratado de Me-
dicina Interna do Imperador Amarelo apresentaram métodos para
a preservação da saúde dos mais velhos. A massagem auricular é
especialmente mencionada como um método de preservação da
saúde e prevenção da senilidade. Está registrado que “Do mesmo
modo que se reforçam as muralhas de uma cidadela, massagear
todo o pavilhão auricular pode tonificar o Qi do rim e prevenir o
comprometimento da audição”. Ele também destaca que “ as
pessoas que mantém a boa função dos ouvidos conseguem
manter-se plenas de vigor”. Tendo por base o descrito acima,
pode-se perceber que o estímulo das orelhas pode preservar a
saúde e melhorar a resistência à senilidade.
Como se sabe a homeostase (homeostasia) é a garantia essen-
cial da atividade vital normal do corpo humano. Uma perturbação
da homeostase pode inevitavelmente afetar a atividade vital e
o metabolismo e conduzir à senilidade. A eficácia das funções
metabólicas podem gradualmente enfraquecer após os quarenta
anos. O equilíbrio entre síntese e decomposição nas células
pode ser gradualmente alterada. Acredita-se que a senilidade é
essencialmente relacionada a distúrbios funcionais das células
no corpo. A aplicação da Auriculomedicina para preservação da
saúde e resistência à senilidade é atingida pelo fortalecimento das
defesas do corpo, eliminação dos fatores patogênicos , regulação
dos aspectos yin e yang da energia, aplicação de métodos de
tonificação para síndromes de deficiência, métodos de purgação
para os problemas por excesso e restauração da harmonia dos
órgãos e vísceras Zang-Fu.
As pessoas na China antigamente diziam: “Existem três tipos de
 Daojia nº 25
30
tesouro no corpo humano: a Essência da vida, o Qi e a Vitalidade”.
A Essência da vida refere-se a substâncias tais como a essência
congênita da vida, sangue e fluidos corporais que constituem e
nutrem o corpo humano mantendo as atividades vitais. É herdado
dos pais e enriquecido e fortalecido pela essência dos alimentos
ingeridos. O significado de Qi em MTC tem dois aspectos. Um re-
fere-se à substância vital abrangendo o corpo humano e mantendo
suas atividades vitais. O outro diz respeito às funções fisiológicas
dos órgãos e vísceras Zang-Fu. O Qi é geralmente produzido e
enriquecido a partir da essência dos alimentos e do ar fresco. A
Vitalidade refere-se à manifestação externa do processo vital no
corpo humano, incluindo a mentalidade, consciência, pensamento,
sentimento e motilidade.
A Essência da vida, o Qi e a Vitalidade abrangem diferentes pro-
priedades e formam um conjunto inseparável fisiologicamente e
patologicamente. Quando estes 3 tesouros estão suficientes, a
boa saúde e a longevidade estão garantidas. Uma insuficiência
deles é um fator desencadeante de senilidade e doenças.
Insuficiência da Essência da vida pode levar à insuficiência de
sangue e fluidos corporais, resultando em falhas na nutrição e
umidade no corpo inteiro, acarretando, portanto, esclerose do
músculo cardíaco e artérias, ressecamento e enrugamento da
pele, discinesia articular e comprometimento da visão e audição.
Insuficiência de Qi pode causar hipofunção dos órgãos e vísceras
Zang-Fu, além de falha no livre fluxo de Qi e sangue no organis-
mo. Pode gerar doença cardíaca coronariana e angina pectoris
devido à insuficiência de Qi do coração e estagnação de sangue
no órgão. Bronquite e enfisema pulmonar podem ocorrer devido
à insuficiência de Qi no pulmão e acúmulo de umidade-flegma
nos pulmões. Indigestão e constipação podem ocorrer devido à
disfunção do estômago e intestino.
Insuficiência da Vitalidade pode acarretar hipofunção do siste-
ma nervoso, especialmente hipofunção do córtex cerebral que
resultam em disfunções das atividades mentais, consciência e
pensamento. Por isso os idosos frequentemente sofrem com
receios e suspeitas, distúrbios de sentimento, insônia, perda de
memória e dificuldade de expressar ideias com palavras.
De acordo com o mencionado acima se compreende que a ma-
nutenção e nutrição da Essência da vida, do Qi e da Vitalidade,
que são tão importantes no processo vital, são passos chaves na
preservação da saúde e resistência à senilidade.
A MTC assegura que “Qi é material fundamental na atividade
vital” e Qi é a raiz da Essência da vida e da Vitalidade. No livro
Prescrições Efetivas para Su e Shen é indicado que: “Massagear
e aquecer as orelhas e os olhos pode enriquecer o Qi genuíno.”
A Auriculomedicina pode ser usada para regular e nutrir a Essên-
cia da vida, o Qi e Vitalidade para preservar a saúde e resistir à
senilidade.
Nas pesquisas experimentais e observações clínicas descobriu-
se que a senilidade está relacionada à hipofunção das células.
Estimulação dos pontos auriculares pode efetivamente regular
a função das células, restaurar o metabolismo das enzimas e
o equilíbrio anabólico e catabólico de modo a restabelecer a
homeostase.
Jul/Ago/Set 2023
Foram feitas pesquisas sobre os efeitos da Acupuntura no córtex
cerebral. Produziram-se registros das ondas cerebrais demons-
trando que a Acupuntura fortalece a atividade das células cere-
brais, bem como a excitação e inibição de processos fisiológicos
das células cerebrais.
A Acupuntura pode regular e acentuar o fortalecimento e a adap-
tabilidade dos processos patológicos de excitação e inibição do
córtex cerebral de modo a restaurar o equilíbrio normal. O estí-
mulo dos pontos auriculares pode melhorar a função da glândula
hipófise (pituitária) e do córtex das glândulas supra-renais (adre-
nais) para corrigir disfunções endócrinas e restaurar a hipofunção
das glândulas endócrinas. O estímulo que otimiza o tálamo e o
córtex cerebral com o tratamento auricular conduz à melhoria do
humor, à acuidade do pensamento, fortalecimento do vigor físico,
alívio de fadiga, redução de rugas na face e alívios de sintomas
e sinais de senilidade prematura.
Tem sido reportado recentemente que a senilidade pode gradual-
mente enfraquecer o sistema imunológico. Como resultado pode
ocorrer um aumento na incidência de doenças infecciosas. Nas
pesquisas clínicas constata-se que a Acupuntura aumenta o teor
de alfa, beta e gama globulina e o conteúdo de IgA, IgG e IgM
no plasma sanguíneo, especialmente o conteúdo de IgA. IgA é
o principal imunoglobulina nos fluidos exócrinos e pode aglutinar
alguns tipos de bactéria e neutralizar vírus.
Nos últimos anos alguns pesquisadores extraíram células T do
sangue de ratos jovens e as conservaram em baixa temperatura.
Quando o rato está prestes a morrer uma injeção de células T
pode fazer com que o rato recupere a vida. Pode-se perceber
claramente por tais fatos que tanto a Acupuntura Auricular quanto
acupuntura no corpo associadas ao fortalecimento das funções
das células T na reações imunológicas são eficazes na preser-
vação da saúde e na resistência à senilidade.
Fonte:
AURICULAR MEDICINE - Dra. Li-Chun Huang
Auricular Medicine International Research & Training Center
www.earmedicine.us
Tradução selecionada e adaptada do capítulo oitavo : ‘Auricular
Therapy in Preventive Medicine, Cosmetic Medicine and Anti-aging
Medicine’ por Ernani Franklin ///// franklin.ernani.b@gmail.com
Ano do Dragão – 2012 / Revisão: 2023 – Ano do Coelho
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https://gilberto1617842376.kpages.online/energias-em-movimento
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Acidente Vascular Encefálico

e a Acupuntura Craniana
Por: Camille Elenne Egidio

A.V.E. (Acidente Vascular Encefálico), também conhecido

O como A.V.C. (Acidente Vascular Cerebral), e popularmen-

te chamado de Derrame Cerebral, é resultante da falta de
irrigação sanguínea ao cérebro, que pode provocar lesão celular
e alterações nas funções neurológicas. As manifestações clínicas
subjacentes a esta condição incluem alterações das funções
motora, sensitiva e cognitiva, embora o quadro neurológico desta
lesão possa variar de acordo o local e a extensão exata da lesão.

Estima-se que o AVE seja a segunda maior causa de morte no

mundo e a principal causa de incapacidade neurológica, depen-
dente de cuidados de reabilitação, na terceira idade. Segundo a
OMS, as causas mais freqüentes de AVE são os enfartes cere-
brais, a hipertensão arterial, a hemorragia cerebral, a malformação
dos vasos sanguíneos, os tumores cerebrais, os traumatismos e
outras situações diversas.
ramos. Os trombos podem ser deslocados, sendo carreados para
outro local, sob a forma de um êmbolo. Os êmbolos cerebrais são
Os enfartes cerebrais resultam de dois processos patológicos, a
pequenas porções de matéria como trombos, tecido, gordura, ar,
trombose, que é o bloqueio de uma artéria do cérebro, causado
que se deslocam até as artérias cerebrais, produzindo a oclusão
por um coágulo sanguíneo sólido ou trombo que se forma dentro
e enfarte. O AVE pode ainda ocorrer por um ataque isquêmico
do sistema vascular; e a embolia, que é um bloqueio causado por
transitório, cuja interrupção do suprimento de sangue ao cérebro
um fragmento destacado do trombo que se formou em outro local
é temporária.
e é elevado para o cérebro pela corrente sanguínea.
Um AVE Hemorrágico (cerca de 10% dos casos) ocorre devido à
Se a interrupção do aporte sanguíneo demorar menos do que
ruptura de um (ou mais) vaso sanguíneo, ou quando a pressão
3 minutos, a alteração é considerada reversível, no entanto, se
no vaso faz com que ele se rompa devido à hipertensão. Então a
ultrapassar os 3 minutos, a alteração pode ser irreversível, pro-
falta do aporte de sangue no local causa enfarto na área suprida
vocando necrose do tecido nervoso. O tecido nervoso depende
pelo vaso e as células morrem.
totalmente do aporte de sangue para que as células nervosas se
mantenham ativas, uma vez que não possui reservas. A inter-
Quando a lesão é no Hemisfério Esquerdo (Hemiplegia Direita)
rupção da irrigação sanguínea e conseqüente falta de glicose e
ocorrem afasias, apraxias ideomotoras e ideacionais, alexia para
oxigênio necessários ao metabolismo, provocam uma diminuição
números, descriminação direita-esquerda e lentidão em organiza-
ou parada da atividade funcional da área do cérebro afetada.
ção e desempenho. Quando é no Hemisfério Direito (Hemiplegia
Esquerda) ocorre alteração na visão espacial, auto negligência
O AVE pode ser causado por dois mecanismos distintos, por uma
unilateral esquerda, alteração da imagem corporal, apraxia de
oclusão ou por uma hemorragia.
vestuário e de construção, ilusões de abreviamento de tempo e
rápida organização e desempenho.
Um AVE Isquêmico ocorre quando um vaso sanguíneo é obstruí-
do, frequentemente pela formação de uma placa aterosclerótica
A sintomatologia depende da localização do processo isquêmico,
ou pela presença de um coágulo (trombo) que chega através
do tamanho da área isquêmica, da natureza e funções da área
da circulação de uma outra parte do corpo. A trombose cerebral
atingida e da disponibilidade de fluxo colateral. (Sullivan, 1993).
refere-se à formação ou desenvolvimento de um coágulo de
sangue ou trombo no interior das artérias cerebrais, ou de seus
 Daojia nº 25 Jul/Ago/Set 2023
33

As principais sequelas provenientes de um AVE são os déficits dos acidentes vasculares encefálicos. Devem ser puncionadas as
neurológicos que vão se refletir em todo o corpo, uni ou bilateral- áreas correspondentes às sequelas e os resultados terapêuticos
mente, como conseqüência da localização e da dimensão da lesão variam de acordo com o tamanho, local, a causa e, especialmente,
cerebral, podendo apresentar somo sinais e sintomas perda do o tempo da lesão.
controle voluntário em relação aos movimentos motores, sendo
a disfunção mais comum a hemiplegia (devido a uma lesão do
lado oposto do cérebro); a hemiparesia ou fraqueza de um lado do
corpo é outro sinal. Desta forma, existirá um comprometimento aos
níveis das funções neuromuscular, motora, sensorial, perceptiva
e cognitiva/comportamental. (Resck, et.al.,2004; Petrilli, Durufle,
Nicolas, Pinel, Kerdoncuff, Gallen, 2002).

A acupuntura tem como objetivo principal equilibrar a Energia Vital

(气) do corpo e sua técnica consiste em aplicar agulhas finíssi-
mas e apropriadas em pontos estratégicos que ficam sobre os
“Meridianos”, que são os canais por onde passa a nossa energia.
Tais estímulos são transmitidos pelas terminações nervosas até o
sistema nervoso central que, por sua vez, irá desencadear uma
resposta motora e sensorial para o corpo. A inserção de agulhas
também melhora a circulação sanguínea o que é fundamental
para o processo de regeneração do tecido nervoso lesado durante
o processo do AVE.

A escalpo acupuntura ou acupuntura craniana é uma técnica que
consiste na aplicação de agulhas em determinadas áreas do couro
cabeludo, relacionadas com áreas corticais específicas, com o
objetivo de obter efeitos terapêuticos. Os mecanismos da escalpo
acupuntura são muito eficientes no tratamento das sequelas do
AVE, pois atuam no foco da lesão. Este método de acupuntura
tem maior eficácia nas sequelas motoras e sensoriais decorrentes
[
Camille Elenne Egídio- acupunturista há mais de 20 anos,
fisioterapeuta, membro do Comitê Executivo da WFCMS,
membro do Comitê de Clínica Livre da WFAS, ex-diretora
do SATOSP, professora e coordenadora geral dos cursos do
Instituto Long Tao. Site oficial: www.institutolongtao.com
 Daojia nº 25
34
Qigong dos Cinco
Animais Brasileiros
igong 氣功 pode ser entendido como um tipo de
Q exercício corporal e respiratório que visa promover
o fortalecimento do nosso organismo. Esse fortale-
cimento pode ter diferentes objetivos finais, como se tornar mais
resistente para lutas ou para alguma forma de cultivo espiritual,
porém, o objetivo mais recorrente desses exercícios é para nos
tornar mais saudáveis. Assim, há diversas formas de Qigong, e
muitas vezes diversos exercícios com nomes mais específicos
(Dao Yin 導引, Zhan Zhuang站桩, Nei Dan 内丹 etc.) são iden-
tificados pela categoria mais ampla de Qigong.
O seu nome, Qigong, que é em língua chinesa, já expressa
sua origem cultural. Essa origem pode não oferecer nenhuma
dificuldade aos praticantes, por exemplo, quando a prática envol-
ve apenas manter-se numa posição corporal e respirar durante
o exercício: qualquer pessoa pode fazer isso, com as devidas
adaptações – ficar em pé, sentado, deitado e com variações de
acordo com cada corpo. Contudo, em outros casos, o uso da
língua ou de conteúdos culturais, a falta de afinidade ou o desco-
nhecimento de fatores culturais específicos da história da China
pode, sim, causar estranhamentos que eventualmente afastam
algumas pessoas – ainda que aproximem outras, como eu.
Um caso de Qigong que contém fortes elementos chineses
(em termos de língua, medicina, fauna, e até mesmo de estéti-
ca) é o famoso Wuqin Xi 五禽戲, Jogo dos Cinco Animais. Wai
(2004), Shahar (2011) e Balaneskovic (2018) lembram que a
fonte visual mais antiga da China já mostra exercícios inspirados
em animais – trata-se do Diagrama dos exercícios de Guiar e
Esticar, Dao Yin tu 導引圖, texto da antiguidade (pré 221 AEC)
encontrado nas escavações arqueológicas chamadas de Mawang
Dui 馬王堆 em 1973, no estado de Hunan 湖南, centro-sul da
China. Tradicionalmente atribui-se ao clássico médico Hua Tuo
華佗 (108-208) a criação de um sistema de exercícios com o
nome Jogo dos Cinco Animais, ainda que os animais citados
variem muito. Ao longo dos séculos o Jogo dos Cinco Animais
começou a ser entendido como uma forma de Qigong, e desde
o século XX, com a intensificação da diáspora chinesa, a prática
alcançou diversos países.
Entre as várias formas de Qigong que chegaram ao Brasil,
Jul/Ago/Set 2023
Por: Matheus Oliva da Costa
o Jogo dos Cinco Animais foi um deles. Um professor formado
na AFICORJ (Associação de Filosofia e Cultura Oriental do Rio de
Janeiro), uma instituição ligada ao grão-mestre Wu Chao Xiang,
foi para Belo Horizonte e começou a divulgar essas e outras tra-
dições chinesas lá: Marcello Giffoni (2013). O mestre Wu Chao
Xiang (2023) aprendeu e ensinou tanto artes marciais chinesas
como também práticas e teoria da Medicina Chinesa, incluindo
Qigong que ele mesmo criou. Mas os estudantes da sua tradição
sempre estiveram abertos para aprender por outras fontes,
como foi o caso do professor Marcello Giffoni que aprendeu
o Jogo dos Cinco Animais a partir da Oficina dessa prática em
um evento da Sociedade Taoista do Brasil em Niterói, no ano
de 1997. Poucos anos depois, a partir de 2003, ele inseriu o
Jogo dos Cinco Animais no Projeto Tai Chi Chuan no Parque, no
centro de Belo Horizonte, projeto que fez 20 anos em 2023 e
que ensina o legado do mestre Wu Chao Xiang e outras práticas
próprias da trajetória desse professor.
Tenho a alegria de ser um dos praticantes que entrou nesse
projeto e, além de toda uma série de práticas, também aprendi
o Jogo dos Cinco Animais. A versão como ele ensina é composta
por elementos teóricos e práticos. Os elementos teóricos podem
ser sintetizados na teoria dos Cinco Movimentos ou Cinco Agen-
tes (Wu Xing 五行): madeira, fogo, terra, metal e água, que, por
sua vez, podem ser entendidos como arquétipos de classificação
de coisas e processos do mundo (Wang, 2013, cap. 5). O corpo
humano e suas expressões, os alimentos, as estações e outras
coisas podem ser classificadas dentro dessa perspectiva. Do
ponto de vista prático, os animais são um recurso lúdico que
seguem a teoria na ordem descrita acima, e aparecem como
Alce, Serpente, Urso, Tigre e Macaco. Cada um desses animais
inspira exercícios, mas a prática também envolve a conexão
com toda a associação dos arquétipos dos Cinco Agentes que
eles representam.
Quando pensamos que os animais representam cada um dos
Cinco Agentes, notei, ao longo dos anos, que eu e quase todos do
ambiente de prática não conhecíamos a maioria desses animais
pessoalmente (tigre, alce e urso, no caso). Daí que pensei, em
meados de 2017: seria possível um Qigong de animais
 Daojia nº 25 Jul/Ago/Set 2023
35

brasileiros? Isso ajudaria o público brasileiro a se familiarizar
com o aspecto lúdico e cultural da prática de Qigong? E quais
animais seriam?
Inicialmente pensei no beija-flor e no jacaré... aos poucos,
ao longo de meses e anos, a seleção foi se refinando tendo em
vista a escolha de cinco animais, e como eles, de alguma forma,
representariam cada um dos Cinco Agentes de uma forma equili-
brada. Além disso, os movimentos dos animais foram conectados
aos canais da anatomia segundo a Medicina Chinesa que corres-
pondiam a cada um dos Cinco Agentes. Após anos de versões
preliminares passando por revisões com o professor Marcello
e irmãos de treino que também eram acupunturistas, como o
Elgem, e meus alunos mais antigos de Tai Ji Quan em São Paulo
(Helena, Francisco e Selma, esta última também acupunturista),
finalmente formulei a primeira versão oficial que apresento aqui.
A primeira vez que a mostrei foi em uma oficina curta em abril
de 2022 para estudantes de Psicologia da UFRR (Universidade
Federal de Roraima), em retribuição à excelente hospitalidade
que tive em minha passagem por lá. Em abril de 2023 tive a
oportunidade de retornar esse aprendizado no lugar em que
mais aprendi: no Projeto Tai Chi Chuan no Parque, durante a
comemoração do Dia Mundial do Qigong e do Tai Ji Quan.
Em sua versão oficial concluída, o Qigong dos Cinco Animais
Brasileiros é composto por cinco movimentações representadas,
respectivamente, por seguintes animais: Beija-Flor (ou Colibri),
Iguana-verde, Tatu-bola, Bicho-preguiça e Jiboia. Segue abaixo
um quadro que simboliza a perspectiva teórico-prática desse
sistema:

Wu Xing Madeira Fogo Terra Metal Água

Animal
Beija-Flor (Colibri) Iguana-verde Tatu-bola Bicho-preguiça Jiboia
brasileiro
Preocupação / Medo /
Emoções Raiva / ímpeto Alegria / euforia Melancolia / pesar
concentração determinação
Fígado Coração Estômago Pulmão Rim
Canais e órgãos
Vesícula Biliar Intestino Delgado Baço-Pâncreas Intestino Grosso Bexiga
Estação Primavera Verão Canícula Outono Inverno

O objetivo desse modesto texto é registrar esse processo de Beija-Flor

criação e o seu resultado, e não ser um manual da prática em si. movimento da madeira, primavera, yang jovem, bater as
Contudo, alguns princípios e aspectos podem já ser explicitados. asas enquanto movimenta para frente e para trás, como o voo
Em toda a prática os movimentos devem ser fluidos, suaves e beija-flor, para alongar canais do fígado e vesícula biliar.
arredondados, sempre com a respiração profunda. No início,
entre os exercícios de cada animal e no final, recomenda-se focar
a atenção no próprio Campo do Elixir (Dān Tián 丹田), pouco
abaixo do umbigo, dentro do corpo. A prática prevê dois níveis
de intensidade que geram pelo menos uma variação para cada
exercício, e, em textos futuros, pretendo abordar sobre isso.
A meta da prática é promover a saúde, com efeitos espe-
rados como a correção postural, alongamento, regulação dos
sistemas nervoso (especialmente das emoções) e vascular, e o
aprofundamento da respiração, tal como no exercício chinês que
me inspirou (Chen et al. 2019; Bovolini et al. 2022). Para fina-
lizar convido você, que me lê, a ver as imagens e as descrições
simples dos movimentos. Que te inspire a cultivar sua saúde e
a observar a naturalidade à sua volta.
 Daojia nº 25 Jul/Ago/Set 2023
36

Iguana-verde
movimento do fogo, verão, yang maduro, alongar os dedos
mindinhos (dedos mínimos) tal como uma iguana-verde subin-
do numa árvore para esticar os canais do coração e intestino
delgado.
Bicho-preguiça
movimento do metal, outono, yin jovem, respiração profun-
da e lenta como o bicho preguiça, com alongamento dos canais
do pulmão e intestino grosso.

Jiboia
movimento da água, inverno, yin maduro, abraço constritor
como o da jiboia e torce o corpo olhando para trás (se possível,
olhar para o calcanhar) alongando os canais do rim e bexiga.
Tatu-bola
movimento da terra, Canícula (ou “águas de março”),
expandir e recolher o centro do corpo como um tatu-bola se
fechando e se abrindo, trabalhando os canais do estômago e
baço-pâncreas.
 Daojia nº 25 Jul/Ago/Set 2023
37

Referências WU, Chao Xiang. Tài Jí Quán: a arte de unir yin e yang.
BALANESKOVIC, Saša. Hua Tuo’s Wu Qin Xi (Five Animal Coordenador da nova edição Matheus Oliva da Costa. 6ª edição,
Frolics) movements and the logic behind it. Chinese Medicine atualizada, revisada e ampliada. Coordenadora da coleção “As
and Culture, v. 1, n. 3, p. 127-134, 2018. Artes Daoistas” Lîla Schwair. Rio de Janeiro: Mauad X, 2023.
BOVOLINI, A.; COSTA-BRITO, A.R.; MARTINS, F.; FURTADO,
G.E.; MENDONÇA, G.V.; VILA-CHÃ, C. Impact of Exercise on
Vascular Function in Middle-Aged and Older Adults: A Scoping
Review. Sports, v. 10, n. 12, art. 208, p. 1-17, 2022. Disponível
em: <https://doi.org/10.3390/sports10120208>. Acesso em
18 mai. 2023.

[
CHEN, Xiaorong et al. Dao Yin (aka Qigong): origin, develo-
pment, potential mechanisms, and clinical applications. Eviden-
ce-Based Complementary and Alternative Medicine, v. 2019.
GIFFONI, José Marcello. Cinco Animais – Apostila para a
oficina do Jogo dos Cinco Animais. 6 p. Belo Horizonte, Projeto
Tai Chi Chuan no Parque, 2013.
SHAHAR, Meir. O Mosteiro de Shaolin: história, religião e
as artes marciais chinesas. Tradução de Rodrigo Wolf Apolloni e
Rodrigo Borges de Faveri. São Paulo: Perspectiva, 2011. Matheus Oliva da Costa: Instrutor de Tàijí quán da
WAI, Fan Ka. On Hua Tuo’s position in the history of Chinese escola Wǔ Cháoxiāng, estilos tradicional e formas
medicine. The American Journal of Chinese Medicine, v. 32, n. modernas de Beijing. Doutor em Ciência das Religiões.
02, p. 313-320, 2004. Pesquisador das culturas e filosofias chinesas.
WANG, Bing. Princípios de Medicina Interna do Imperador Praticante de meditação budista e daoísta.
Amarelo. São Paulo: Ícone, 2013.
 Daojia nº 25
38
神 As várias faces do
SHÉN
xistem vários conceitos pertencentes à cultura chi-
E nesa que são praticamente impossíveis de traduzir,
como “Qi” ou “Tao”. Nesses casos, é mais honesto
mantermos a grafia original e procurarmos pensar o conceito
em termos puramente chineses.
Um desses conceitos intraduzíveis é “shén”, um elemento
básico dentro da Medicina Chinesa, da filosofia taoista e da
própria cultura chinesa. Nesse artigo gostaria de explorar um
pouco das várias aplicações e significados desse quase enigmá-
tico conceito. Não me aprofundarei nesse tema mais do que
o necessário para uma visão global, pois é um assunto muito
complexo.
A raiz
Para entendermos um pouco melhor os vários significados
de Shen, precisamos analisar brevemente seu ideograma1.
示 shì + 申 shēn = 神 shén
神 Shén, literalmente representa um presságio do Céu
que se estende por todas as coisas vivas. É formado por dois
caracteres principais:
示 shì, formado por três elementos que simbolizam os
Tesouros do Céu (Sol, Lua e Estrelas) e outro que mostra que
se dirigem para baixo, para a Terra. O caractere shì simboliza
presságio, augúrio, literalmente algo que emana do Céu;
申 shēn (note que a pronúncia é diferente), é um caractere
que mostra duas mãos cingindo o corpo. É usado como verbo
“estender” e em tempos antigos também significava “espírito”.
Por “um presságio do Céu que se estende por todas as coisas
vivas” podemos antever um campo muito extenso de significado.
O Shén se manifesta na cultura, na medicina, na espiritualidade,
na religião, na alquimia interna e outras áreas do pensamento
chinês. Isso não implica que você deva conhecer e utilizar todas
essas aplicações, mas é importante que possamos compreender
sua vastidão de significado e sua importância dentro da cultura
chinesa.
Jul/Ago/Set 2023
Por: Gilberto António Silva
Como se trata de um termo em chinês muito difícil de
ser compreendido, sofre com suas traduções como “alma”,
“espírito” ou “divindade”. Isso pode causar certo mal-estar
para o profissional de Medicina Chinesa, à primeira vista, pois
parece que entramos no reino da religião e do misticismo. De
fato, o ideograma Shén participa de várias palavras chinesas
como shénfu 神甫 (sacerdote), shénqí 神奇 (milagroso, místi-
co), shénrén 神人 (homem milagroso, santo), shénshèng 神聖
(sagrado). No entanto, sua abordagem filosófica pode se dar
sem a necessidade de envolvimento religioso, pois tratamos
de medicina. É preciso estar atento a isso para não decair em
preconceitos que possam mascarar esse conceito fundamental
dentro da Medicina Chinesa.
Shén e medicina
A importância do Shén na Medicina Chinesa não pode ser
subestimada. Vemos no Huandi Neijing Ling Shu, Capítulo 54:
“... quando a pessoa perde o espírito, morre;
quando o espírito existe, a pessoa sobrevive”.
Ao que o Imperador Amarelo pergunta:
“O que é o espírito?”
Disse Qibo: “Quando o sangue e a energia estão
harmoniosos, a energia Rong e a energia Wei
passam livremente, as cinco vísceras têm forma e o
espírito está guardado no coração fazendo com que
ele induza a pensamentos e desejos, e isso mantém
um homem”.6
Não adianta todos os sistemas estarem equilibrados e har-
mônicos se o Shén também não estiver.
Cada órgão (zàng 脏) possui seu próprio Shén (alma, espíri-
to), sendo que o Coração armazena o Shén (神) especificamente,
é a sede oficial do espírito. A pesquisadora especializada em
Taoismo Elizabeth Reninger5 credita a inclusão dos espíritos ao
sistema Zàng Fǔ 脏腑 pela influência da Tradição Taoista Shan-
gqing 上清 (“Suprema Pureza” ou “Suprema Claridade”). Ainda
segundo essa pesquisadora, os Cinco Shén (Wushén 五神) per-
tencentes aos cinco órgãos possuem uma espécie de hierarquia:
 Daojia nº 25
Dentro do sistema dos Cinco Shen encontramos
algo como uma hierarquia espiritual: Shen – o
espírito do Coração – é o Imperador, com aspectos
de seu poder – como Ministros – residindo como os
espíritos dos outros órgãos. Quando esses espíritos
secundários funcionam como emissários fiéis do
Shen do Coração, a comunicação entre nossos
órgãos é equilibrada e harmoniosa, resultando em
um feliz e bom funcionamento do “Corpo Político”.5
Shén almas ou
Órgão Emoção
associado espíritos
Coração Shén Mente* Euforia
Alma Etérea:
Fígado Hun ideias, sonhos, Raiva
criatividade
Rins Zhi Vontade Medo
Alma corpórea:
Pulmões Po lógica, controle, Tristeza
disciplina.
Intelecto,
Baço Yi Preocupação
pensamentos
* tradução utilizada por Giovanni Maciocia
Note que os “espíritos” ou “almas” possuem determinadas
qualidades características, ao passo que as emoções associadas
aos órgãos são reflexos, basicamente, de seu funcionamento.
Enquanto as emoções são bem conhecidas e utilizadas pelos
praticantes de Medicina Chinesa, as “almas” muitas vezes são
deixadas de lado.
Unindo essas características do Wushén, sob comando do
Coração, chegamos à ideia de “mente” como a entendemos
no Ocidente. Enquanto neurocientistas se atrapalham para
identificar e entender a mente, os antigos chineses não só a
compreendiam como a interligavam com os órgãos, construindo
um conjunto muito sofisticado. Isso mostra como a Medicina
Chinesa é algo completo quando se fala sobre o funcionamento
dos seres humanos.
Veja também que “mente” não é a mesma coisa de “in-
telecto”. Os pensamentos se originam na mente (Shén) e se
exteriorizam através do intelecto (Yi). Se os pensamentos não
saírem da mente (Shén), ocorre o estado que se reconhece como
meditação profunda, quando a cessação de pensamentos acon-
tece e a verdadeira natureza do universo se mostra ao praticante.
O grande Mestre indiano Ramana Maharshi ensinava essa
técnica como a base da Iluminação.
Quando a mente, que é sutil, exterioriza-se através
do cérebro e dos órgãos sensoriais, os nomes e as
formas densas aparecem; quando ela permanece no
Coração, os nomes e as formas desaparecem. Não
permitir que a mente se exteriorize, mas mantê-la
no Coração, chama-se “introversão” (antarmukhà).
Permitir que a mente saia do Coração é conhecido
como “extroversão” (bahirmukha). Assim, quando
a mente permanece no Coração, o “eu”, que é a
fonte de todos os pensamentos, desaparecerá, e
o Ser - que existe eternamente - resplandecerá. 4
Jul/Ago/Set 2023
39
Essa ligação entre o Shén no Coração e o do Universo, que
também pode ser chamado de Shén, será abordado melhor
quando falarmos sobre sua transcendência.
Também todas as emoções e estímulos externos passam
pelo Coração. Quando dizemos que o Shén está em desarmonia,
é neste órgão que prestamos atenção pois toda a estrutura men-
tal e emocional passa por ele. Quando você sofre um impacto
emocional, este atinge primeiro o Coração e depois é distribuído
para o órgão específico daquela emoção.
Wang Bing: “...o qi dos cinco depósitos depende do Coração
para ser ativado. É o palácio do brilho do Espírito. Portanto, é
capaz de realizar essas tarefas.”
Zhang Zhicong: “todos os cinco depósitos armazenam a
essência, mas o Coração é o governante dos cinco depósitos e
seis palácios”.
Em nossa época atual o Shén sofre consideravelmente. As
principais doenças deste século são a ansiedade e a depressão,
cercadas por outras patologias emocionas e mentais que tem
no Coração sua vítima, pois todos esses distúrbios passam pelo
desequilíbrio do Espírito. O acesso mais fácil ao Shén, o Espírito,
é através do Coração, que é sua sede.
Ainda o coração
Esse órgão sempre foi tido com grande respeito por todas
as culturas humanas e hoje sabemos que ele possui milhares
de neurônios em suas paredes que funcionam muitas vezes de
modo independente do cérebro. Isso não é difícil de entender,
pois ele bate do momento em que nascemos ao momento em
que morremos, sem jamais parar. Então é natural que ele tenha
algum grau de independência. Os indianos localizam um Cha-
kra sobre ele, um dos mais importantes do corpo. Os chineses
localizam o Dāntián 丹田 Médio sobre ele, corroborando o que
os indianos afirmam. Arrancar o coração do inimigo é um ritual
presente em diversas culturas espalhadas pelo mundo. Para os
egípcios o coração era o único órgão deixado intacto na mumi-
ficação, pois acreditavam ser a sede da mente e das emoções. O
coração como centro de nosso ser é amplamente reconhecido
em muitas culturas. O coração é o mediador entre as potências
celestes e todas as instâncias do organismo.
Chakra (leia-se “tchacra”) pode ser traduzido literalmente
como “roda”. Trata-se de um transformador e regulador de
energia (Prana ou Qì), que rege os órgãos internos, nossa rela-
ção com o mundo exterior e nossa espiritualidade. Eles giram,
literalmente, com rotações que variam conforme nossa idade
ou sua ativação. São grandes “funis” energéticos localizados no
Corpo Energético e ligados diretamente à nossa medula espinhal.
Seu desequilíbrio interfere diretamente no funcionamento
físico e psíquico de nosso corpo, pois são os estabilizadores e
trocadores de energia de nosso sistema.
O Chakra Cardíaco, chamado de “Anahata” em sânscrito,
localiza-se no meio do peito, perto da 1ª vértebra toráxica e
do esterno, na altura do ponto VC 17 (Danzhong 膻中), na
Medicina Chinesa. Possui a cor verde ou rosa como vibração
predominante e governa no corpo o coração, sistema imunoló-
gico e circulatório, tato e sangue. Atua na limpeza e purificação,
envolvimento social, une o que vem de cima com o que vem
de baixo, harmonia, amor universal, solidariedade, dedicação
à Humanidade, compaixão.
 Daojia nº 25
40
Ele é muito importante por se situar no centro do corpo,
servindo como suporte e harmonizador entre os chakras supe-
riores (mais etéreos) e os inferiores (mais corpóreos), ou seja,
fazendo a conexão entre Céu e Terra. Então podemos dizer que
o Shén, que se localiza no Coração, é nosso eixo central.
Alquimia e Medicina
Além da Medicina Chinesa, um dos temas onde mais apare-
ce a ideia de Shén é na Alquimia Interna (Neidan 內丹). Todos
que já leram sobre isso sabem que sua base é a transmutação
da essência (Jing) em Qì e depois em Shén, obtendo a imorta-
lidade, que é seu objetivo maior. O que não se comenta muito
é que existe uma terceira etapa, onde o Shén se transmuta no
Tao (Dào) e aí sim o objetivo maior é alcançado. Isso você não
vai ver na maioria dos textos por aí.
Mas muito se fala sobre alquimia e pouco se faz, realmen-
te. É uma técnica muito complexa e difícil, cheia de segredos e
textos obscuros. Engana-se quem pensa que lendo e seguindo
alguns livros de Mantak Chia e sites da internet vai estar fazendo
o Neidan. De modo algum. A verdadeira alquimia requer grande
dedicação por muitos anos e um Mestre de alto nível, conhece-
dor profundo da técnica, para guiar o praticante em meio aos
labirintos dos textos e termos alquímicos. Sem isso, na melhor
das hipóteses, não existe nenhum resultado.
No entanto, estudar os textos sobre Alquimia nos traz gran-
des informações, realmente muito importantes, sobre o funcio-
namento energético do corpo, sua ligação com o Espírito (Shén)
e sua interconexão com as energias do Céu e da Terra dentro
dos vários ciclos cósmicos a que estamos sujeitos. É uma fonte
importante para aprofundarmos nosso conhecimento sobre a
relação entre nós mesmos e o universo e de vários conceitos
utilizados na Medicina Chinesa, no Qigong e Taijiquan.
Grandes médicos chineses eram profundos estudiosos da
filosofia taoísta e da alquimia, como Hua Tuo 華佗, Ge Hong
葛洪 e Sun Simiao 孫思邈, tido como o Pai da Medicina. O
caso de Sun Simiao (581-682) é exemplar. Uma das obras mais
importantes da Alquimia foi escrita por ele, a Inscrição sobre
Preservação do Shén e refino do Qì (Cún shén liàn qì míng 存神
錬氣銘), do qual vamos observar duas passagens3:
Jul/Ago/Set 2023
夫身爲神氣之窟宅
神氣若存身康力健
神氣若散身乃死焉
若欲存身先安神氣
即氣爲神母神爲氣子
神氣若倶長生不死
A corporeidade humana é morada de Shén e Qì.
Se Shén e Qì são armazenados, a
corporalização é tranquila, forte e saudável.
Se Shén e Qì se dispersam, a corporalização morre.
Se alguém deseja apoiar a corporalização
[deve-se] primeiro acalmar Shén e Qì.
O Qì é mãe de Shén, Shén é filho de Qì.
Se Shén e Qì são íntegros a vida é longa e não há morte.
Essa passagem parece tirada de algum livro clássico de Me-
dicina Chinesa. Por “corporeidade” entende-se a nossa presença
em forma humana, física, nesse plano da existência. Isso se deve
basicamente ao Qi e ao Shén. Se houver problemas com o Qi,
o Shén estará afetado e vice-versa. Então serenar o Espírito é
uma das tarefas primordiais do acupuntor ou especialista em
Medicina Chinesa. Note que o ponto VC 17 (Danzhong 膻中), já
mencionado, além de atuar no Coração também é o Ponto de
Influência do Qì, ou seja, vai atuar tanto no Shén quanto no Qì.
氣通神境神通慧命
命住身存合於眞性
日月齊齡道成究竟
依銘煉氣欲學此術
Qì está ligado à condição de Shén, Shén está
ligado à sabedoria e ao destino (Mìng)
O destino que reside dentro da corporeidade
[constantemente] mantida une-se à verdadeira natureza
[Assim, obtém-se] idade igual ao Sol e Lua e o Dao é obtido
Siga as inscrições de refinamento do Qì
se alguém deseja aprender esta técnica
Depois de mostrar a ligação entre Qì e Shén, Sun Simiao ex-
pande a ideia ligando Shén ao destino (Mìng 命). Para os chineses,
“destino” é sua trajetória na vida, qualquer que ela seja. Aqui ele
explica que o destino de cada um que está encarnado, para usar
um termo popular, une-se à Verdadeira Natureza. “Verdadeira
Natureza” era um termo muito utilizado pelo Mestre Liu Yiming
(1734–1821) para se referir às pessoas como integrantes indivisí-
veis do Tao, que seria nossa verdadeira natureza, e não a ilusão de
que somos separados uns dos outros. Desse modo, ao equilibrar-
mos Qì e Shén podemos obter uma harmonia com o Tao e seguir
nosso destino dentro dessa harmonia, com saúde e longevidade.
O Shén Transcendente
Outra maneira de vermos o Shén é através de sua caracte-
rística transcendente. Para os taoistas, o universo é muito amplo
e complexo e essa complexidade toda gera uma consciência,
que é a inteligência por trás de todas as coisas. Cientificamente
poderíamos classificar o Shén como uma propriedade emergente
do universo.
As propriedades emergentes são novidades que se
manifestam em um nível superior àquele que o produz
por meio de interações e parecem ser irredutíveis aos
 Daojia nº 25
seus componentes constituintes (agentes ou entidades).
A propriedade de um sistema é emergente, se ela não for
uma propriedade de qualquer elemento fundamental.2
Ou seja, uma complexidade de fatores gera uma propriedade
diferente da soma dos fatores que a originaram, algo “a mais”,
por assim dizer. Essa consciência gerada pela complexidade do
universo é denominada pelos taoistas como Shén. É para essa
consciência universal que os chineses oram, uma consciência que
está ciente de tudo e ao mesmo tempo participando de tudo.
No Taoismo religioso (Daojiao 道教) o Shén é representado
pelo Rei de Jade, que é reverenciado como a mais alta divindade
da hierarquia taoísta. O Rei de Jade ou Imperador de Jade, devi-
do ao jade ser considerado um símbolo da pureza absoluta, é o
administrador do Universo, o guardião do Tao. Então note que a
efígie no altar taoista não é um “deus”, mas uma representação
simbólica de algo maior. Isso geralmente dá um nó na cabeça dos
acadêmicos ocidentais que não entendem a ideia de “religião”
no Oriente.
Então constatamos que o Shén não existe apenas em nós,
mas em todo o universo. Aqui se faz necessária uma explicação
rápida da noção geral de “Shén” dentro da cultura chinesa.
Como dito anteriormente, esse é um termo em chinês muito
difícil de ser traduzido e participa de várias palavras chinesas
normalmente ligadas à espiritualidade. Quando os missionários
cristãos tentaram catequizar os chineses, se depararam com um
grande problema: por lá não existe a noção de um Deus Criador
e Onipotente, como os cristãos conhecem do Velho Testamento.
Então usaram o termo “Shén” para traduzir “Deus”, por signifi-
car algo vagamente parecido. Mesmo assim não tiveram muito
sucesso, pois esse conceito cristão continua obscuro para os
chineses.
Enquanto o Taoismo era ainda somente uma filosofia
(mais ou menos do século V a.C. ao século II d.C.), a China já
possuía uma religião própria, com características chinesas, mas
profundas raízes no xamanismo e no animismo. Essa religião,
que não possuía um nome próprio, é conhecida como “Religião
Tradicional Chinesa” ou “Religião Folclórica Chinesa”. O termo
“folclórico” aqui significa tradição, costumes e cultura de um
povo. Ela passou a se denominar Shéndào 神道 (“Caminho de
Deus” ou “Caminho dos Deuses”) a partir da Dinastia Han (206
a.C.-220) para não ser confundida com o Budismo que começou
a ser conhecido na China nesta época. Mais tarde o termo Shén-
dào se tornou o japonês “Shindo” ou “Shinto” para identificar a
religião tradicional japonesa, na segunda metade do século VI.
Se quisermos definir o conceito universal de Shén (神), po-
deríamos dizer que ele é o “espírito do universo”, a consciência
do universo. Mas esse espírito
é o mesmo que habita em nós,
através do Coração. O ideograma
para ambos é o mesmo, mos-
trando que partilham o mesmo
conceito. Então temos em nós
uma parte do Absoluto.
Talvez isso não seja de pron-
to utilizado na Medicina Chinesa,
mas é importante que saibamos
a extensão da importância do
Shén e porque os clássicos e os
médicos antigos prestavam tanta
atenção a ele.
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Conclusão
Uma boa prática da Medicina Chinesa impõe, necessaria-
mente, uma mente aberta. A cultura chinesa e sua ciência são
muito diferentes do que temos no Ocidente e compreendê-la
melhor significa aplicá-la melhor. Não adianta querer praticar al-
gum tipo de medicina chinesa “científica”, pois estará trabalhan-
do em uma ilusão. A ciência ocidental vem para somar, nunca
para substituir. Podemos usar com grande proveito elementos
da medicina ocidental e de seu pensamento científico, mas sem
nunca deixarmos a cultura chinesa e o estudo dos clássicos an-
tigos, pois eles são o alicerce de todo o conhecimento médico
chinês e são insubstituíveis.
Depois de todas essas divisões apresentadas, precisamos
reiterar a unicidade do conjunto: temos um único Shén, que se
expressa e se manifesta de várias maneiras diferentes. Então
podemos abordar essa questão dentro da Medicina Chinesa
de muitas maneiras, seja através da Acupuntura em seus vários
protocolos próprios, através da Fitoterapia, da movimentação do
Qi através do Taijiquan (lembre-se de Sun Simiao), da harmoni-
zação dos Cinco Órgãos através do Qigong, pela meditação, etc.
Lembre-se de que não estamos lidando com conceitos
religiosos, mas filosóficos. O fato de que o conceito de Shén é
utilizado na religião não pode indispor o praticante a estudar
suas aplicações em muitas outras áreas. Tratamos aqui de en-
tidades como a mente, cuja sutileza escapa mesmo da ciência
moderna. O Shén se encontra no limiar entre o mundo físico e
a realidade energética, flertando com a espiritualidade. Longe
de ser um problema, é uma oportunidade de explorar possibi-
lidades muito além da medicina ocidental e tratar as pessoas
de forma realmente integral, holística.
Serenar e trabalhar o Shén é fator essencial na manutenção
e restauração da saúde, conforme os clássicos antigos. Esse não
é um assunto menor dentro da Medicina Chinesa e merece toda
a nossa atenção.
Referências
1. Chinese characters: A Genealogy and Dictionary- Dis-
ponível em: https://zhongwen.com/
2. Emergência [propriedade emergente] - https://edis-
ciplinas.usp.br/pluginfile.php/3139163/mod_resource/con-
tent/1/Emerg%C3%AAncia2017.pdf
3. Inscription of Preserving Shén and refining Qì - https://
ikivesi.net/sun-simiao-and-preserving-shen-and-refining-qi/
4. MAHARSHI, Sri Ramana. Pérolas de Sabedoria. 3ª Ed.
Brasilia: Editora Teosófica, 2021
5. RENINGER, Elizabeth. The Five Shen. Disponível em:
http://taoism.about.com/od/thefiveelements/a/fiveshen.htm
6. WANG, Bing. Princípios de Medicina Interna do Impe-
rador Amarelo. São Paulo: Ícone, 2001
7. Wushen – Disponível em: https://www.maurocaputo.
com/wu-shen
[
Gilberto António Silva - Bacharel em Ciências e Humanidades com
ênfase em Filosofia, Acupuntor e Jornalista. Autor de 15 livros, a
maioria sobre cultura oriental e Taoismo, incluindo “Os Caminhos
do Taoismo” e “China e sua Identidade”. Atual Editor-Executivo
da Revista Brasileira de Medicina Chinesa e Editor Responsável
da revista Daojia. Site: www.taoismo.org
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A Autêntica Vida
Por: Wu Jyh Cherng
a prática espiritual, quando conseguimos relaxar, perce-
N bemos que existe um Vazio dentro de nós. Quanto maior
o estado de relaxamento, maior a percepção da dimensão
do Vazio. O resgate desse Vazio é a base do caminho espiritual.
A sua importância pode ser sintetizada através de uma história a
respeito de um mestre cujo discípulo, na busca da confirmação do
seu caminho espiritual, procura subjugar o mestre em um debate
altamente metafísico, repleto de conceitos e teorias. Ao perceber
o problema, o mestre convida-o para tomar chá. Ao servi-lo, en-
che completamente a sua xícara, deixando o chá transbordar
continuamente. Ao avisar o mestre que o chá está transbordando,
recebe o seguinte ensinamento: “Pois é, meu caro rapaz, quando
a xícara está cheia, não cabe mais nada nela. Por isso, o Vazio
interior é fundamental...”.
Geralmente, estamos tão cheios, com tudo tão espremido e com-
primido dentro de nós, que nos tornamos rígidos e sem espaço
para a entrada de novas ideias, conceitos ou energia.
No caminho espiritual daoista, não importa o que estejamos pra-
ticando, o nosso interior deve sempre permanecer num estado
de Vazio. Mesmo recitando cânticos e mantras1, mesmo lendo
e cantando, mesmo tocando instrumentos ritualísticos, mesmo
acompanhando uma cerimônia, o nosso estado interior deve ser
sereno, quieto e vazio. Não devemos alimentar pensamentos,
ideias, julgamentos, desejos ou intenções. Devemos, simples-
mente, cantar, permitindo que as palavras fluam livremente, sem
intervenção. Esse é o estado de consciência do “Autêntico Vazio”.
Mesmo após estudar e aprender os significados dos cânticos e
1 Mestre Cherng refere-se, aqui, aos cânticos e mantras entoados, em chinês, durante os ri-
tuais realizados nos templos da Sociedade Taoista do Rio de Janeiro e de São Paulo (N.E.).
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mantras, simplesmente esvazie a sua mente e repita as pala-
vras, sem tentar entender o significado delas. Procure colocar a
consciência dentro do Sopro, e deixar o seu interior o mais vazio
possível. Quanto maior o Vazio interior, maior o espaço interior.
No nível espiritual, o espaço interior de uma pessoa é infinito,
podendo acolher todo o Universo. A esse estado de ser, o Daois-
mo chama de “Espírito do Vale”, que é a própria consciência do
Vazio. Ao buscarmos um relaxamento físico, tranquilizando a
nossa respiração e acalmando a nossa mente, aumen- tamos
o estado de Vazio interior. Consequentemente, alcançamos um
outro grau de consciência, aumentando a fluidez e a qualidade
da nossa energia, sangue, fluidos e essências. Como resultado,
temos benefícios nos níveis físico, energético e espiritual. Pois a
nossa consciência é o próprio veículo do espírito.
Espírito do Vale (谷神 gu shén) simboliza a
consciência que possui o mesmo atributo do
vale: da mesma forma que ele é um espaço
vazio que recebe todas as águas dos rios que
o procuram, a consciência que tem a qualida-
de do “espírito do vale” coloca-se como um
espaço vazio de impurezas para receber todas
as expressões da vida, simbolizadas pela água.
O contrário também é verdadeiro: tudo o que tem uma forma,
uma imagem e um sentido é impermanente, e, mais cedo ou mais
tarde, desaparecerá. O nosso corpo físico, desde o momento em
que nasce, à medida que o tempo passa, vai se transformando,
crescendo, envelhecendo e morrendo. Tudo o que tem forma –
não importa se concreta ou abstrata – está em constante trans-
formação, e passa por um princípio, um durante e um fim. Todas
as formas têm vida e morte. Por outro lado, aquilo que não tem
forma, não se modifica, não envelhece e não morre.
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No nosso caminho espiritual, devemos resgatar essa consciência,
que, de fato, é a nossa verdadeira consciência. A partir desse
resgate, nosso espírito passa a ser um espírito imortal, e não mais
uma alma mortal. Alcançada essa condição, a nossa consciência
permanece inde- finidamente no seu estado original, não havendo
mais a possibilidade de decaimento da qualidade da consciência.
Na linguagem simbólica do Yì jing, o Céu é yáng – é criativo e
ativo – e a Terra é yin – é abrangente e receptiva2. Tanto yáng
quanto yin nascem do mesmo princípio, que, por sua vez, nasce
de um portal. O princípio, chamamos de “Tài Jí”.
Tài Jí 太極 significa Extremidade (Jí) Sublime
(Tài) e representa o Dào manifestado em sua
totalidade, como Unidade ou Universo; a força
criativa ou a criatividade que gera todas as
existências. Nele encontra-se a mais perfeita
união do yin e yáng, sem máculas. Seu símbolo
é conhecido no Ocidente pela expressão ‘yin e
yáng’ e sugere a imagem do yin gerando yáng
e yáng gerando yin, permanentemente, dentro
de um círculo.
Quando abrimos esse portal, entramos no estado de consciência
do Absoluto, que é infinito e inesgotável.
Nesse ponto, fica claro que a porta que devemos abrir, para
encontrarmos a libertação do nosso espírito, é a própria porta
que se abre para a criação do yáng (Céu) e do yin (Terra); e que
esta porta é aberta através do resgate do Espírito do Vale; do
Espírito do Vazio.
Entre o Céu e a Terra, entre a existência e a não-existência, entre a
forma e a não-forma, surgem os dez mil seres e as dez mil coisas.
Para que possamos resgatar esse estado original, precisamos,
na prática da meditação, buscar um estado em que convivam,
ao mesmo tempo, a condição de ser e de não-ser, a condição da
forma e da não-forma.
Para iniciar o processo meditativo, antes de mais nada precisa-
mos eliminar a agitação e a ansiedade3. E, uma vez meditando,
precisa- mos manter o estado de quietude e serenidade, inde-
pendentemente de fatores externos ou internos, como ruídos ou
diálogos interiores.
Porém, nosso comportamento não deve ser rígido, mas, sim, sua-
ve e constante. Não devemos repelir pensamentos, mas permitir
que, da mesma forma que surgiram, desapareçam novamente.
Também não devemos nos apegar a resultados, desejando
2 Aqui, Mestre Cherng refere-se aos hexagramas ‘Céu’ e ‘Terra’ no Yì jing (N.E.). Para mais
informações, consulte as obras I Ching, o Tratado das Mutações; Wu Jyh Cherng; coautoria
de Marcia Coelho de Souza (Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2015) e I Ching, a Alquimia
dos Números; Wu Jyh Cherng (Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2001, reimp. 2003, 2013,
2.ed. 2019).
3 Para mais informações sobre a prática de meditação, consulte o Guia de Meditação para
Principiantes, Lîla Schwair (Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2020), à disposição no QR Code
no início deste livro ou pelo e-mail guiademeditacao@gmail.com. Sobre a meditação daoista,
de modo aprofundado, consulte Meditação Taoísta; Wu Jyh Cherng; coautoria: Marcia Coelho
de Souza (Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2008).
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manter, de qualquer maneira, uma determinada qualidade de
meditação. Pois tudo o que é rígido, dura pouco. Até mesmo
uma grande árvore, com toda a sua robustez, não aguenta uma
forte ventania. Por outro lado, o bambu, devido à sua suavidade,
maleabilidade e flexibilidade, nada sofre du- rante a ventania.
Esse tipo de comportamento, suave e constante, deve nortear
todos os momentos da nossa vida. Não basta buscarmos esse
com- portamento somente na meditação; devemos ampliá-lo para
todos os instantes da vida diária: nas relações sociais, no trabalho,
no lazer, no supermercado, na alimentação, no ônibus lotado, na
queda do dólar… Não adianta brigarmos o tempo todo com os
acontecimentos da vida, pois para toda ação existirá uma reação.
O segredo reside em fluir com suavidade, sem desgastes, condu-
zindo a vida com constância. Pois aquela pessoa que conduz um
trabalho, um estudo ou qualquer outra atividade sem constância,
estará, o tempo inteiro, criando e destruindo um propósito. Estará
sempre vivendo a alternância da vida (criação) e da morte (des-
truição). A constância é a anulação desse processo dual, no qual
vida e morte são condições antagônicas. Na ausência da vida
como antítese da morte, ou na ausência da morte como antítese
da vida, surge a autêntica vida. E, nessa condição, o tempo não
tem mais importância.
Na civilização contemporânea, prevalece a cultura do imediatis-
mo, em que tudo precisa ser rápido e sem demora. A formação
esco- lar, a alimentação, a solução de um problema, a cura de
um mal-estar, tudo é feito às pressas, com ansiedade e tensão.
Um jovem vive, hoje, em dez anos o que uma pessoa, em épo-
cas passadas, viveria, sem estresse, em oitenta anos. Como
resultado, surgem inúmeras doenças e neuroses. No Daoismo,
acreditamos que cada um de nós nasce com uma determinada
quantidade de Sopro ou energia, que funciona como uma espécie
de combustível da vida.
A quantidade de Sopro inicial e a maneira como fazemos uso
desse Sopro definem a duração de uma vida. Se uma pessoa
vive agitada e dispersa, sempre com pressa, participando de
inúmeras atividades e tarefas, sem tempo para alimentar-se e
descansar adequadamente, com certeza consumirá muito mais
rapidamente o seu combustível, tornando a sua vida muito mais
curta. Por outro lado, ao usufruir a vida, sem se apressar, vivendo
o presente com calma e tranqüilidade, poderá prolongar por muito
mais tempo a sua potencialidade vital.
[
Fonte: Capítulo 5 do livro "Trilhando o Caminho" de Wu Jyh Cherng; Mauad
Editora; Rio de Janeiro (RJ); 2020
Para adquirir o livro clique aqui:
https://mauad.com.br/trilhando-o-caminho-palestras-de-wu-jyh-cherng?search=trilhando%20o%20caminho
Wu Jyh Cherng (Wǔ Zhì Chéng 武志成), 1958-2004, foi um
mestre daoísta da linhagem Ordem Ortodoxa Unitária (Zhèng Yī
Pài 正一派) e da Escola Oeste de Alquimia Interna (Nèi Dān Xī
Pài 内丹西派), de Taiwan. Foi fundador da Sociedade Taoista
do Brasil, com centros no Rio de Janeiro e em São Paulo, que
continuam ativos até hoje.
© Lîla Schwair, coordenadora das edições das obras de Wu Jyh
Cherng.
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