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de chegar a ficar com medo da intensidade desse desejo.

Mas
conservar a União foi um chamado tão forte que as
considerações do eu não importavam mais. Ele deixou para
trás a reputação pessoal e partiu para sua segunda montanha.
Um dia, em novembro de 1861, fez uma visita ao general
George
McClellan, na esperança de pressioná-lo pessoalmente a levar
a briga contra os Confederados de maneira mais agressiva.
Quando Lincoln chegou, McClellan não estava em casa, então
Lincoln disse ao mordomo que ele, o secretário de Estado
William Seward e um assistente, John Hay, esperariam na sala.
Uma hora mais tarde, McClellan chegou em casa e passou pelo
cômodo onde o presidente o aguardava. Lincoln esperou por
mais 30 minutos. O mordomo retornou para dizer que
McClellan havia decidido se recolher naquela noite e que veria
Lincoln em algum outro momento. McClellan travava um jogo
de poder com Lincoln.
Hay ficou enfurecido. Quem tinha a audácia de tratar o
presidente dos Estados Unidos com tanto desrespeito? Lincoln,
no entanto, estava imperturbável. “Neste momento”, ele disse
a Seward e Hay, “é melhor não discutir por questões de
etiqueta ou dignidade própria”. Não se tratava dele; seu
orgulho não estava em jogo. Ele estava disposto a esperar para
sempre se pudesse encontrar um general que lutasse pela
União. A essa altura, Lincoln havia se doado. A causa era o
centro de sua vida. Seu apelo final era para algo externo, não
interno.
Essa é a maneira decisiva de saber se você está na primeira ou
na segunda montanha. Para quem é seu apelo final? Para si
mesmo ou para algo externo?
Se a primeira montanha trata da construção do ego e da
definição de si mesmo, a segunda trata de se desprender do
ego e deixar o eu de lado. Se a primeira montanha trata da
aquisição, a segunda trata da contribuição. Se a primeira
montanha é elitista — melhoria de posição social —, a segunda
é igualitária — estar em meio àqueles que precisam e andar
lado a lado com eles.
Não escalamos a segunda montanha do mesmo jeito que a
primeira. A primeira montanha é conquistada. Nós
identificamos o cume e vamos em direção a ele com unhas e
dentes. A segunda montanha nos conquista. Nós nos rendemos
a um chamado e fazemos tudo o que for necessário para
atendê-lo e lidar com o problema ou a injustiça com a qual nos
deparamos. Na primeira montanha tendemos a ser ambiciosos,
estratégicos e independentes. Na segunda, tendemos a ser
relacionais, íntimos e implacáveis.
Cheguei ao ponto de conseguir reconhecer pessoas da primeira
e da segunda montanha. As pessoas da primeira montanha
geralmente são alegres, interessantes e divertidas de ter por
perto. Muitas vezes têm empregos admiráveis e podem levá-lo
a uma variedade incrível de ótimos restaurantes. As pessoas
da segunda montanha não são avessas aos prazeres do
mundo. Elas apreciam uma boa taça de vinho ou uma bela
praia. (Não há nada pior do que pessoas tão espiritualizadas
que não amam o mundo.) Mas elas superaram esses prazeres
em busca de uma alegria
moral, um sentimento de terem alinhado sua vida a um bem
final. Se precisarem escolher, escolhem a alegria.
Seus dias geralmente são exaustivos, pois se dedicam a outras
pessoas que preenchem seus dias com pedidos e exigências.
Mas estão vivendo com mais amplitude, ativando partes mais
íntimas de si mesmas e assumindo responsabilidades mais
amplas. Decidiram que, como diz C. S. Lewis: “A carga, ou
peso, ou fardo da glória do meu vizinho deve ser colocado
diariamente em minhas costas, uma carga tão pesada que
apenas a humildade pode carregá-la, e as costas dos
orgulhosos se quebrarão.”
Eu também passei a reconhecer as organizações da primeira e
da segunda montanha. Às vezes trabalhamos em uma empresa
ou vamos a uma faculdade e ela não nos marca. Você pega o
que foi buscar e vai embora. As organizações da segunda
montanha tocam as pessoas de modo profundo e deixam uma
marca permanente. Você sempre sabe quando conhece um
fuzileiro naval, alguém que estudou na Morehouse College, um
pianista da Juilliard, um cientista da NASA. Essas instituições
têm um propósito coletivo, um conjunto compartilhado de
rituais, uma história de origem em comum. Elas nutrem bons
relacionamentos e exigem comprometimento total. Não só
educam; elas transformam.
O PLANO
O primeiro propósito deste livro é mostrar como os indivíduos
passam da primeira para a segunda montanha, mostrar como é
uma vida mais intensa e alegre, passo a passo e em detalhes
concretos. Todo mundo diz que

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