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PUC-SP
Mestrado em Administração
São Paulo
2017
Thiago Machado Rodrigues
Mestrado em Administração
São Paulo
2017
BANCA EXAMINADORA
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AGRADECIMENTO
Ao meu orientador, Prof. Dr. Arnaldo Mazzei Nogueira pela paciencia, dedicação e
principalmente pelos ensinamentos.
À Thaiza Lima, por seu eterno apoio, dedicação, amor e parceria, sem os quais seria
impossível realizar este trabalho.
Ao Paulo Gustavo, meu pai, que hoje não está entre nós para presenciar esta conquista, porém
estará sempre presente em meus pensamentos, assim como tudo o que me ensiou durante a
vida.
À Marisa Machado, por toda uma vida dedicada a mim, por seu amor incondicional e eterno
cuidado, que resultaram no que sou hoje e no que serei no futuro.
À Rosa e ao Helio, por todo apoio, dedicação e por terem se tornado minha família, da qual
tenho muito orgulho.
Aos Profressores Leonardo Trevisan e Luciane Tudda pelas valiosas contribuições em minha
banca de qualificação.
Aos Professores Leonardo Trevisan, Belmiro do Nascimento João, Alexandre Las Casas,
Neusa Maria Bastos, Luciano Junqueira e Fabio Gallo pelos ensinamentos durante o
Mestrado.
Nowadays, society has been suffering from recurring economic crises in many ways. In this
scenario, countries are greatly affected by unemployment which, in turn, is one of the main
features of the current capitalist economic system. Furthermore, innovations brought by new
production and management models driven by the microelectronics and information
technology revolution also foster the creation or reduction of jobs. Unemployment hits society
as a whole, but the youth of today is one of its levels which are most affected. Currently,
young people seek their insertion into the labor market without any experience and
qualification in a scenario in which, according to data from surveys, 50% of employers
require hands-on experience as a prerequisite for employment. Through a qualitative and
exploratory approach, the present study aimed to identify different aspects involving young
Brazilians’ particularities and the main factors involving their insertion into the current labor
market. For such a purpose, the historical development of labor evolution and its interactions
with the capitalist system have been addressed, as well as the major changes in employment
relationships, through which labor projections as to the future of society and the impacts
caused by new forms of production and information technology were discussed. Issues
concerning the interaction of young people with education and the labor market in Brazil were
also addressed. The present Brazilian youth population and quality of education provided to
such individuals, as well as its scope, were also discussed. Through an extensive use of
secondary data from main national social survey agencies, an analysis of the labor market in
Brazil has been conducted by highlighting aspects that lead to youth unemployment. In
conclusion, young Brazilians are not inserted in the labor market mainly on account of lack of
experience, qualification and jobs.
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 78
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 83
11
INTRODUÇÃO
O problema de pesquisa
incerteza do mundo atual, ascendendo assim um modelo produtivo em sincronia com cenário
instável da economia mundial.
Um novo formato de sistema produtivo e econômico pode afetar os mais diversos
aspectos da sociedade. O capitalismo reestruturado, pautado pela flexibilização, evidencia um
clima favorável aos negócios e à acumulação capitalista, não importando as consequências
que possam vir a ocorrer no emprego e na sociedade. As reivindicações trabalhistas e os
interesses particulares dos indivíduos são menosprezados pela flexibilização e precarização do
trabalho. Desprovidos de experiência profissional e muitas vezes de bagagem acadêmica,
muitos jovens tornam-se reféns da precarização do trabalho e da flexibilização.
A flexibilidade é a característica primordial da sociedade da informação. Castells
(1999) aponta que o aumento excessivo de flexibilidade faz com que os trabalhadores percam
gradativamente a proteção institucional e com isso ficam cada vez mais dependentes de
condições individuais de negociação e de um mercado de trabalho em mudança constante.
Não obstante, Sennett (1999) retrata que a flexibilização causa a extinção do longo
prazo nas relações de trabalho, fazendo com que os projetos sejam planejados sempre a curto
prazo, fator que irá influenciar para a “corrosão do caráter” dos indivíduos. Neste novo
conceito de capitalismo, trabalhado pelo autor como capitalismo flexível, as formas rígidas de
burocracia são questionadas, assim como os malefícios trazidos pela rotina dos trabalhadores.
O conceito de capitalismo flexível impõe aos trabalhadores que sejam ágeis e que estejam
sempre abertos a mudanças repentinas, assumindo riscos continuamente. Tais aspectos são
cada vez mais comuns no mundo atual, portanto para obter sucesso na sua carreira, desde a
inserção no mercado de trabalho até a aposentaria, os trabalhadores devem se acostumar com
as estas novas tendências.
Diversos fatores impactam na inserção destes jovens no mercado de trabalho, como
falta de experiência profissional e acadêmica. Segundo Pochmann (2007), o capitalismo
global é um novo formato do sistema capitalista que surge principalmente na transição das
sociedades industriais no final do século XX, onde diversas alterações impactaram nos pré-
requisitos solicitados para inserção de indivíduos no mercado de trabalho, principalmente os
aspectos relacionados a conhecimento técnico e acadêmico.
As exigências profissionais e pessoais impulsionadas pelo capitalismo global e pela
flexibilidade impactam diretamente a inserção no mercado de trabalho dos jovens, sendo que
muitas vezes estes indivíduos não possuem as ferramentas necessárias para atender aos
requisitos básicos de contratação, resultando assim na marginalização de muitos destes
jovens.
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resultados destes impactos nas grandes cidades, ou metrópoles, pois estas são geralmente as
primeiras a serem afetadas pela globalização.
Telles (2006) discute as particularidades relacionadas aos caminhos sempre instáveis
dos mais jovens no mercado de trabalho e pontua:
Objetivos da pesquisa
Justificativa
Metodologia da pesquisa
A estrutura da dissertação
Não obstante sob o ponto de vista social e tecnológico, em meados do século XIX
ocorre a Segunda Revolução Industrial, que foi uma continuação, ou aprimoramento, das
técnicas produtivas desenvolvidas na Primeira Revolução Industrial. Importantes avanços na
indústria química, elétrica, de petróleo e de aço pautam as principais evoluções desta
significante fase da evolução da produção e do trabalho na sociedade. Neste período os
motores passam a fazer parte da rotina produtiva de grande parte das indústrias, trazendo
maior agilidade e assertividade na produção.
21
Henry Ford se diferenciava em muitos aspectos, inclusive alguns que não estavam
ligados diretamente à produção. A visão generalista de Ford era inovadora para a época. Um
importante exemplo desta visão generalista era o modo com que ele enxergava seus próprios
22
funcionários. Ford não os entendia apenas como funcionários, mas também como clientes, ou
seja, entendia-se na visão de Ford que se o trabalhador ganhasse mais, teria condições de
consumir mais, inclusive o que ele mesmo produz, e para consumir seria necessário que
tivesse mais tempo de lazer. Harvey (1993) retrata este paradigma:
A visão generalista de Ford foi de grande impacto social na época, Clarke (1991)
ressalta que na visão de Ford,
Com isso é possível compreender que para Ford a prioridade não era os interesses
específicos dos clientes, como padronização e customização, e sim a padronização e
homogeneização dos produtos. A célebre frase de Henry Ford resume a estratégia produtiva
do fordismo: “O cliente pode ter o carro da cor que quiser, contanto que seja preto".
Todos os expoentes da evolução industrial decorrentes da Primeira e da Segunda
Revolução Industrial contribuíram integralmente para estrutura social e trabalhista do mundo
atual. Contudo a próxima revolução a ser tratada neste estudo pode ter sido, ou estar sendo, a
maior de todas as revoluções já vistas na história do homem.
Esta expressiva revolução, que não envolve apenas o setor produtivo ou trabalhista,
mas sim a sociedade como um todo, será amplamente abordada no presente trabalho,
principalmente quanto ao que se refere a seu impacto no âmbito trabalhista da sociedade e no
sistema econômico.
As evoluções trabalhistas e produtivas da era fordista foram importantes e impactaram
a sociedade, porem uma grande ruptura em todos os paradigmas fordistas estava se iniciando
no Japão. Desenvolvido no final da década de 1940, o Sistema Toyota de Produção surge para
revolucionar o sistema produtivo mundial.
Basicamente, o Sistema Toyota de Produção, consagrado com o toyotismo, estabelece
uma serie de conceitos e paradigmas que tem por fim o objetivo de maior produtividade e
eficiência, incluindo fatores como redução no desperdício de tempo e matéria-prima,
superprodução, inventário desnecessário e gargalos para o transporte de mercadoria. Porem
23
Como decidimos o que tem valor duradouro em nós numa sociedade impaciente,
que se concentra no momento imediato? Como se podem buscar metas a longo
prazo numa economia dedicada ao curto prazo? Como se podem manter lealdades e
25
As novas concepções de um novo sistema que se sobrepõe no mundo atual acabam por
interferir também nas questões relacionadas ao aspecto interno de cada indivíduo. Se
anteriormente presenciávamos um mundo completamente burocratizado e de longo prazo,
evoluímos hoje para o mundo da flexibilidade, tendo como resultado uma nítida e importante
diferença entre ambos: a maneira de administrar o tempo.
As necessidades geradas pelo sistema capitalista que sempre existiram passam a
dualizar o pensamento humano, onde valores, relações interpessoais e diferentes setores da
vida social que não se limitam ao mundo do trabalho são impactados. (SIQUEIRA, 2002;
SENNETT, 1999). Sennett (1999) ressalva que a desconstrução também acarreta uma
sensação de vulnerabilidade nos indivíduos, onde a falta de estabilidade gera a falta de
confiança em si e nos outros.
Temos aqui a ascensão de um novo sistema que irá alterar as formas de trabalho de
uma forma jamais vista, trazendo o mundo para um novo cenário, que envolve rápidas e
constantes alterações e a extrema facilidade e rapidez na troca de informações.
A flexibilização e a transformação tecnológica e administrativa do trabalho e das
relações produtivas dentro e em torno da empresa são o principal instrumento por meio do
qual o paradigma da era da informação e o processo de globalização afetam a sociedade em
geral (CASTELLS, 1999).
O trabalho hoje passa a ser fator crucial em paradigmas sociais e culturais na
sociedade, impactando não somente os funcionários, como a sociedade em geral. Além do
impacto no que se refere ao aspecto pessoal dos indivíduos, as importantes mutações sociais e
trabalhistas do novo sistema capitalista descontroem estruturas rígidas e estáveis, incluindo
rotinas e horários inflexíveis, burocracias e hierarquias, sendo as últimas substituídas por
organizações em redes. (SENNETT 1999; CASTELLS, 1999).
A hierarquia corporativa está diminuindo gradualmente diante das alterações da
sociedade da informação, a antiga cadeia de comando empresarial estática e rígida vem sendo
substituída por ligações mútuas e igualitárias entre funcionários da mesma empresa,
simplificando a troca de informações e ideias.
Porém é importante destacar que esta flexibilização acaba por privilegiar
primeiramente os grandes empresários, abrindo margem para que os mesmos tirem proveito
dos funcionários mediante enfraquecimento do poder sindical e da grande mão de obra
excedente. Temos aqui a aparente redução do emprego regular e do contrato de trabalho
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rígido, dando lugar à empregos temporários e trabalho em tempo parcial (HARVEY, 1993;
CASTELLS, 1999).
Observa-se assim que o aumento do trabalho irregular e os problemas sociais
decorrentes dele ocorrem dentro e fora das empresas. Dentro das empresas a flexibilidade nos
horários acaba por aumentar a carga de trabalho, pois, funcionários que não tem mais a
obrigação em chegar em um determinado horário estipulado pela empresa acabam por
permanecer no trabalho por muito mais tempo do que a carga horária pré-estabelecida, sem o
recebimento das horas extras. A falsa ilusão de que estão gerindo o próprio tempo
proporciona aos empresários funcionários trabalhando bem mais, ganhando cada vez menos.
Em contrapartida, do lado de fora das corporações, trabalhadores autônomos ou sem carteira
assinada deixam de obter os benefícios que um contrato de trabalho regular proporciona, onde
não possuem férias, seguro-desemprego e aposentadoria.
A partir do século XX, a sociedade começa a protagonizar um gigantesco processo de
transformação, onde diversos novos modelos surgirão, impulsionados por padrões e
mecanismos da tecnologia da informação. Dessa forma as alterações provenientes da
tecnologia da informação implicam nas relações de trabalho e empresa, resultando na
reestruturação produtiva. Conceitos abordados por Nogueira (2009) a respeito de uma
empresa que passava por tais paradigmas contribuem para o entendimento deste conceito.
[...] todas as áreas que deveriam se adaptar ao novo cenário, definido pela abertura
econômica e o ambiente competitivo, o que implicava reposicionamento junto aos
clientes, adoção de novas tecnologias e compatibilidade de preço e qualidade. As
necessidades de mudanças, pressionadas pela otimização do produto e dos
processos, implicavam a reestruturação da produção, novas parcerias e orientação
voltada ao cliente e à qualidade, com forte impacto na organização do processo de
trabalho em busca da maior flexibilidade e produtividade. (NOGUEIRA, 2009, p.
12).
tenha diminuído efetivamente nos Estados Unidos (de 19.367 milhões para 18.657 milhões), e
de forma ainda mais relevante na União Europeia (de 38.400 milhões para 29.919 milhões),
aumentaram no Japão e foram multiplicados por 1,5 a 4 nos principais países em processo de
industrialização. Analisando uma tendência global, torna-se nítido que os novos empregos
industriais excederam em muito as perdas no mundo desenvolvido. Tais dados nos mostram
que o conceito de trabalho segue uma tendência global, porem possui desvios regionais, fator
que exige análises mais setoriais e menos globais (CASTELLS, 1999).
Ainda sob a mesma temática, Castells (1999) aponta fatores que possibilitam tais
movimentações na diversidade dos empregos, analisando que países como Estados Unidos,
Canadá e Alemanha demonstram maior rapidez em aspectos referentes ao que o autor trabalho
como informacionismo, ou seja, aos aspectos provenientes da era da informação. Em
contrapartida, países como Japão, França e Itália de certa forma ainda procuram preservar
atividades tradicionais como rurais e comerciais. O autor explica que isso ocorre porque os
primeiros exemplos tendem ao modelo norte-americano onde caminham para o
informacionismo mediante a substituição das antigas profissões pelas novas. O modelo
japonês também caminha para o informacionismo, mas segue um caminho diferente,
aumentando o número de novas profissões, sendo as antigas redefinidas. Já os demais países
europeus seguem um misto das duas tendências (CASTELLS, 1999).
Um importante fator provindo do pós-industrialismo e amplamente discutido por
Castells (1999) refere-se à expansão das profissões dependentes da informação, como os
cargos de administradores, profissionais especializados e técnicos, que hoje representam o
cerne do que temos como a nova estrutura ocupacional. Diante deste conceito, torna-se nítido
que perante o avanço da tecnologia, o trabalho e as formas de realização deste, está e sempre
será impactado diretamente pelas novas formas de se administrar e pela rápida
desindustrialização que ocorre hoje no globo. E um fator importante é que no parâmetro da
desindustrialização todos os países seguem a mesma tendência, ou seja, todos os países
estudados por Castells (1999) estão se desindustrializando, porém, em velocidades diferentes
mediante as particularidades de cada pais ou região.
Podemos concluir diante dos fatores apresentados que o embasamento tecnológico
possibilitou a disseminação de uma sociedade em rede, que evolui proporcionalmente ao
avanço tecnológico. É valido ressaltar novamente que tais tendências evolutivas não
impactam somente fatores ligados às empresas e ao trabalho coorporativo, mas também a
sociedade como um todo e sua capacidade de se modificar e evoluir de forma sistêmica ou
não. O fato de o trabalho passar a ser quase que predominantemente focado nos serviços exige
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que os funcionários estejam cada vez mais atualizados, devido à tecnologia estar ainda mais
presente e impactante neste meio.
A sociedade em rede irá sempre exigir que os trabalhadores estejam rotineiramente
atualizados, inclusive Sochaczewski (2012) aponta que o conhecimento é atualmente um fator
imprescindível para os trabalhadores, tanto para o saber do trabalho na pratica quanto em o
saber acadêmico, tendo em vista sempre a transformação da realidade.
Segundo Castells (1999), as economias da grande maioria dos países envoltos na era
informacional estão experimentando inúmeras maneiras de flexibilidades nas organizações e
no trabalho, dependendo de sua legislação trabalhista, da previdência social e dos sistemas de
tributação.
Além das mudanças que ocorrem no trabalho diante da evolução tecnológica, diversos
outros fatores podem impactar em mutações paradigmáticas no tema em questão. Envolto na
crise financeira que ocorre em abrangência mundial, o trabalho está em plena eclosão.
Diversos fatores contribuem para a degradação do trabalho na atualidade, tendo em vista o
trabalho clássico, regulamentado e como também o trabalho baseado na lógica produtivista
(ANTUNES, 2009).
As alterações nas relações de trabalho são constantes na sociedade atual, com elas
surgem também novos formatos de emprego:
empresa em rede, porém, em contrapartida, temos o risco de que muitos trabalhadores fiquem
desprotegidos e tendo que lidar toda a vida com o trabalho precário.
Castells (1999) relata que de acordo com o relatório oficial da Comissão Europeia
sobre Crescimento, Competitividade e Empregos, entre 1975 e 1999 os Estados Unidos
criaram cerca de 48 milhões de novos empregos e o Japão criou 10 milhões. Por outro lado,
toda a União Europeia criou somente 11 milhões nestes 24 anos analisados, e em suma
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maioria, todos estes empregos estavam relacionados ao setor público até fins da década de
1990. Além disso, Janeiro de 1993 e Janeiro de 2000, os Estados Unidos criaram mais de 20
milhões de novos empregos, ao passo que o número absoluto de empregos na União
Europeia caiu entre 1990 e 1996. Dentre tais dados, um fato crucial apontado é que o
número de empregos começou a aumentar na União Europeia entre 1997 e 1999, no exato
momento em que os países europeus aceleraram a difusão das tecnologias da informação em
suas empresas, enquanto realizavam reformas nos aspectos institucionais do mercado de
trabalho que impediam a criação de empregos. Resultante deste fato, pela primeira vez na
década, o índice de desemprego em toda União Europeia esteve abaixo da marca dos 10%.
De acordo com Zanella (2006, apud NAKATANI-MACEDO, et al., 2015), na lógica
do sistema capitalista, a prioridade sempre será o capital, o que irá gerar o detrimento do
trabalho e do emprego. Diante de tais ideias pode-se entender que quando a tecnologia está
empregada nas empresas, tem-se como resultado a precarização do trabalho humano, pois
isto impacta em uma relação proporcional onde quando a tecnologia aumenta, o valor da
mão de obra diminui.
Os exemplos recentemente abordados neste estudo influenciam outro entendimento
sobre a ideia de que a inovação e a tecnologia resultam em desemprego. De acordo tais
conceitos, a evolução tecnológica não está impactando negativamente a quantidade de
empregos disponíveis e sim aumentando em determinadas regiões, ou seja, de acordo com as
ideias de Castells (1999) é complicado e inviável globalizarmos os impactos da tecnologia da
informação na quantidade empregos. Mattoso (2000) é partidário desta mesma opinião e
aponta da seguinte forma a sua visão sob este tema:
de produção e não apenas uma tarefa específica, além disso, a produção deixa de ser massiva,
com objetivo de produzir sem excedentes e de acordo com a demanda. Um importante fator
para atração do trabalho estrangeiro no Brasil no período em questão foi a baixa remuneração
da força de trabalho, que trouxe o interesse de diversas empresas multinacionais, com intuito
obvio de explorar a força de trabalho Brasileira.
Todos estes avanços no âmbito organizacional e trabalhista brasileiros foram de muita
significância para o país, porém, as alterações de maior intensidade e proporção para o
contexto nacional ocorreram durante a década de 90.
Antunes (2012) aponta que os primeiros impulsos para o grande salto em termos de
sistema econômico capitalista foram resultantes da nova divisão internacional de trabalho e
pelas formulações definidas pelo Consenso de Washington. Diante deste contexto torna-se
nítido o quanto a globalização já está presente no contexto brasileiro neste período, afetando
seu sistema econômico, organizacional e trabalhista. Era o fim da fase do nacionalismo
econômico. Nogueira (2007) ressalta que nesta nova fase econômica e política a integração do
Brasil à economia internacional e à competição por novos mercados acelerou-se. O autor
complementa:
Diversos fatores contribuem para o avanço desta nova fase da economia Brasileira,
alguns são altamente significantes em todo contexto da época, pois proporcionaram uma
política de eliminação da proteção de mercado para os setores empresariais nacionais. Dentre
tais fatores, um dos mais impactantes foi a abertura de mercado. Chahad (2003) ressalta:
Contudo, após o impeachment de Collor, Fernando Henrique Cardoso avança ainda mais a
abertura de mercado com diversas privatizações e desnacionalizações de empresas estatais
importantes para o Brasil (NOGUEIRA, 2007)
O processo de reestruturação produtiva no Brasil, durante os anos 1980, teve uma
tendência limitada e seletiva, foi especialmente a partir da década de 1990 que ele se ampliou
e ganhou força e a partir do Plano Real o Brasil encontrou uma contextualidade propícia para
o deslanche vigoroso de sua reestruturação (ANTUNES, 2012).
Chahad (2003) evidencia algumas particularidades deste novo plano:
[...] O controle dos altos níveis de inflação, que adveio do Plano Real, trouxe
consigo o fim do "imposto inflacionário", com implicações positivas para a
diminuição dos índices de pobreza. Por outro lado, o controle da inflação, por meio
da política monetária – altas taxas de juros, e controle do déficit fiscal restringindo o
crescimento econômico –, originou taxas de desemprego aberto maiores, assim
como um aumento do trabalho informal. (CHAHAD, 2003, p. 206).
O setor industrial passou por uma forte reestruturação produtiva e organizacional, que
levou à perda de dinamismo da economia Brasileira e uma diminuição sensível da mão-de-
obra absorvida pelos seus diferentes ramos industriais, implicando profundas transformações
na geração de empregos, em sua qualidade e nas relações de emprego (CHAHAD, 2003).
No Brasil, devido à política neoliberal de abertura comercial do governo Collor citada
anteriormente, que prossegue no decorrer da década sob os governos Itamar Franco e
Fernando Henrique Cardoso, significou a destruição de cadeias produtivas na indústria
Brasileira, com empresas sendo fechadas por não conseguirem concorrer com produtos
estrangeiros, e, portanto, o crescimento do desemprego de massa.
Assim as empresas foram obrigadas a intensificar a reestruturação produtiva diante da
recessão econômica com desemprego crescente. Claramente o desemprego total aumenta de
forma expressiva após 1994 e vem sofrer uma queda, ainda que sutil, apenas em 2001.
As linhas mestras do regime de política macroeconômica do governo FHC (sistemas
de metas de inflação, superávits primários e câmbio flutuante) foram mantidas pelo governo
Lula. Em 2003, o governo Lula recém-empossado dedicou-se especialmente a conter as
pressões inflacionárias que vinham sendo transmitidas desde meados de 2002 pela
desvalorização cambial ocorrida naquele ano.
Mattos (2015) afirma que primeiras medidas econômicas pontuais do governo Lula
foram justamente a elevação da Selic e da meta de superávit primário, porem o autor ressalta
que o controle da inflação na verdade ocorreu pela apreciação cambial advinda da melhora
das relações de troca e da expansão da demanda externa, gerando aumento nos preços das
commodities exportadas pelo Brasil.
Diante deste aspecto econômico nacional, no âmbito da política fiscal, o governo Lula
utilizou a estratégia de ajuste definitivo das contas públicas, com medidas destinadas à
geração de superávits primários suficientes para reduzir a elevação da dívida. Em
consequência, algumas medidas relevantes foram tomadas durante o segundo mandado de
Lula:
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crescimento, sendo que o mercado de trabalho ainda gera 1.540 milhão de empregos formais,
quantidade menor do que a de 2007, porem superior às de 2006 e de 2005.
Durante os anos da crise internacional que se iniciou em 2008, houve no Brasil o
aumento das despesas correntes, e a manutenção da regra de aumento real do salário mínimo,
permitindo o crescimento das despesas com a Previdência Social, com o abono salarial e com
o seguro-desemprego. Outro fator importante foi a expansão da oferta de crédito por parte dos
bancos públicos, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e, notadamente, o BNDES
resultando em impactos positivos sobre o consumo. Porém, mesmo com tais medidas, houve
uma retração do PIB em 2009, contudo a criação de empregos formais foi mantida. Em 2010
o PIB nacional atinge uma taxa de crescimento de 7,5%, criando cerca de 2.136 milhões de
postos de empregos formais naquele ano (MATTOS, 2015).
É neste cenário que Dilma Rousseff assume o comando da nação, porém tal cenário
detinha alguns pontos negativos em comparação ao início do governo Lula. De acordo com
Mattos (2015) Dilma Rousseff começa a governar com pouco espaço para valorizar o câmbio.
Com forte redução da taxa global dos investimentos, a economia mundial desacelerava e os
ganhos de produtividade tendiam a zero.
Porém, o mercado de trabalho ainda demonstrava sinais positivos, pois fatores que
haviam sido implementados ainda no período Lula, como o aumento real do salário mínimo e
a expansão do crédito, continuaram atuando, impulsionando a massa salarial e o consumo das
famílias. Porém, desde o início do primeiro mandato de Dilma a perda de dinamismo do
mercado de trabalho era evidente então a crise internacional passa a demonstrar alguns
impactos na realidade econômica Brasileira (MATTOS, 2015).
Teixeira e Pinto (2012) ressaltam que a redução dos juros adotada pelo Banco do
Brasil e Caixa Econômica e o discurso de Dilma Rousseff no dia 1º de maio de 2012,
cobrando por mudanças dos bancos privados em relação aos elevados juros da época,
sinalizaram mudanças nas relações entre o sistema financeiro e o Estado brasileiro.
Porem em 2012, o desemprego nacional ainda declinava, sendo que a taxa de
desemprego do Brasil caiu de 12,4% em 2003, para 4,8% em 2014, segundo a PME/IBGE.
Porém não há como discutir que a formalização do mercado de trabalho foi muito expressiva.
No final de 2014 a soma da criação de novos postos de trabalho no período entre 2003 e 2014
foi de 21,2 milhões. Contudo o decréscimo da taxa de desemprego não se sustenta após o final
de 2014 e fecha o ano de 2015 com um significativo aumento segundo IBGE, passando de
5,0% para 7,5%. Dessa forma, o cenário do emprego nacional não obteve sinais de melhoria,
e diante de tal cenário, Carleial (2015) explica:
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Uma interessante definição do que seria ou quem seriam hoje em dia os indivíduos
alocados nesta camada da sociedade foi elaborada por Mello (2005, p.21), onde o autor retrata
que "juventude poderia ser definida como uma fase de transição entre os limites da
dependência e da autonomia. Os jovens aparecem ora tendo pouca idade para algumas coisas,
ora já tendo passado da idade para outras coisas".
Na mesma linha de raciocínio, Dayrell (2003), retrata que
Podemos constatar mediante ideias de Carvalho (2009, p. 22) que a juventude não foi
sempre assim, o autor relata que "no início do século XX, a juventude nem sequer possuía
uma existência social, pois os indivíduos passavam diretamente da condição de criança para a
condição de adulto". Dessa maneira observa-se que o conceito de juventude é mutável e tais
mutações dependem dos fatores sociais que interagem com estes indivíduos.
Diversos autores convergem para a ideia de que o fim da juventude se dá após o
casamento e consequentemente à formação de uma família. Um autor que trabalhou bem este
conceito foi Becker (1991, apud OLIVEIRA et al., 2016), o autor argumenta que no modelo
tradicional de união, ou casamento, o homem irá atuar como o provedor financeiro enquanto a
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mulher cuida da casa, de tal forma que os ganhos do casamento são ampliados em função da
especialização dos papéis de gêneros. Com os movimentos femininos para melhoria no status
das mulheres, as desigualdades entre os sexos no mercado de trabalho têm diminuído. Becker
(1991, apud OLIVEIRA, 2016), conclui que as funções de homens e mulheres na questão da
produção tornam-se mais similares, reduzindo supostos ganhos anteriormente associados à
divisão sexual do trabalho entre o casal.
No Brasil, tratando-se da parte burocrática ou oficial do conceito de juventude, temos
a descrição estabelecida pela Secretaria Nacional de Juventude que define como jovens
aqueles que possuem entre 15 e 29 anos (Lei n. 11.129/2005, art. 11). Oliveira et al. (2016)
argumenta que o limite inferior é uma definição de característica biológica, pois aos 15 anos
já estão desenvolvidas e plenamente estabelecidas as funções sexuais e reprodutivas, sendo
este um dos principais fatores que diferenciam o adolescente da criança. Em contrapartida, o
limite superior é subjetivo. Segundo Oliveira et al. (2016), à medida que os filhos prolongam
o tempo de permanência na casa dos pais, o conceito de jovem vai sendo redefinido.
Jovens também são retratados como indivíduos que se encontram em um período
inicial de seu desenvolvimento orgânico. O termo provém do latim “Juventus” para referir à
idade situada entre a infância e a idade adulta. Segundo a Organização das Nações Unidas, a
extensão da juventude pode variar desde os 10 até os 23 anos, tanto na puberdade como na
adolescência tardia, até chegar à juventude propriamente dita. No Brasil, de acordo com a
PEC da Juventude aprovada pelo Congresso em Setembro de 2010 e o Estatuto da Juventude
sancionado em 2013, considera-se jovem no Brasil todo o cidadão que compreende a idade
entre 15 e 29 anos de idade.
A classificação dos jovens utilizada para o desenvolvimento deste estudo será a
mesma da PEC da Juventude citada anteriormente, ou seja, de 15 a 29 anos. Está
classificação é amplamente utilizada em pesquisas relacionadas aos jovens no Brasil,
inclusive pesquisas abordadas de forma ampla no presente estudo, como o relatório Trabalho
Decente e Juventude (2014) da OIT. De acordo com o relatório Trabalho Decente e
Juventude (2014), esta classificação etária dos jovens decorre do entendimento de que a
transição para a idade adulta tem se estendido, considerando-se não só a formação escolar e a
entrada no mundo do trabalho, como a aquisição de autonomia e, em geral, a constituição de
nova família. Considerar a juventude até esse limite permite captar a complexidade das
experiências de transição dos jovens para o trabalho, tanto ao longo como depois de
completarem os estudos.
45
Fonte: TET Brasil, 2013. Elaboração: Relatório Trabalho Decente e Juventude (2014) – OIT
No que se refere à situação conjugal dos jovens, o relatório evidencia que a maior
parte dos jovens brasileiros é solteira e vive com os pais e naturalmente esta condição diminui
com o aumento da idade, porem esta diminuição é sempre menor diante do quadro feminino
(Tabela 2). Ainda nas diferenças entre os sexos, a pesquisa do TET Brasil 2013 exposta no
relatório mostra que a porcentagem de solteiros é significativamente menor para as mulheres
em todas as faixas etárias da pesquisa, conforme dados expostos na Tabela 2:
46
Fonte: TET Brasil, 2013. Elaboração: Relatório Trabalho Decente e Juventude (2014) – OIT
Fonte: TET Brasil, 2013. Elaboração: Relatório Trabalho Decente e Juventude (2014) – OIT
Fonte: TET Brasil, 2013. Elaboração: Relatório Trabalho Decente e Juventude (2014) – OIT
Fonte: TET Brasil, 2013. Elaboração: Relatório Trabalho Decente e Juventude (2014) – OIT
Gráfico 1: População economicamente ativa (PEA) e não economicamente ativa por situação de estudo e sexo:
Fonte: TET Brasil, 2013. Elaboração: Relatório Trabalho Decente e Juventude (2014) – OIT
Com o passar das décadas e com os avanços tecnológicos, as gerações vêm mudando
suas ambições e perspectivas quanto à escolaridade e emprego. A geração “nem nem” citada
acima é um dos exemplos de gerações que demonstram uma ruptura em paradigmas sociais,
porem ela não é a única. Dentre estas gerações que demonstram rupturas paradigmáticas,
muito se fala da chamada “Geração Y” que devido às grandes rupturas que causou, ganhou
grande foco nos estudos acadêmicos e na mídia.
De acordo com Loiola (2009), uma característica muito marcante dos indivíduos da
Geração Y é que aceitam a diversidade em todos os aspectos, convivem muito bem com as
diferenças de etnia, sexo, religião e nacionalidades em seus círculos de relação.
Diante de uma perspectiva diferente, alguns autores acreditam que a chamada Geração
Y não deve ser utilizada para a compreensão de um grupo, como os jovens. Rocha-de-
Oliveira et al., (2016) ressaltam que não podemos destacar todos os jovens como Geração Y
em um país onde o ensino superior é um privilégio e a inserção digital um desafio. Este
aspecto reflete a importância de um estudo mais detalhado a respeito dos jovens, como, por
exemplo, sua classe social ou nível de formação.
O agrupamento de todo um grupo em um conceito amplo como “Geração Y” pode
distorcer os estudos, principalmente quando relacionado à inserção de jovens no mercado de
trabalho. Se assumirmos a Geração Y como a classe jovem atual, temos de aceitar que todos
os jovens estão imersos na tecnologia e na globalização, porém é sabido que a muitas das
redes públicas de educação no Brasil não oferecem sequer um computador para os estudantes.
Esta informação é nítida diante da pesquisa TIC Educação 2013, onde é relatado que na
grande maioria das escolas públicas urbanas (95%) tem computadores instalados em suas
dependências, mas apenas em 6% delas os equipamentos estão presentes nas salas de aula
regulares. Os principais locais de instalação dessas máquinas ainda são a sala do diretor e a da
coordenação pedagógica.
A última pesquisa da TIC Educação 2015, realizada de setembro a dezembro de 2015
releva que as disparidades entre a utilização da tecnologia entre as redes públicas e privadas
de educação continuam. Uma comparação entre os locais de acesso à internet disponíveis nas
escolas (públicas e privadas) está disposta a seguir (Gráfico 2):
51
Os dados da pesquisa mostram que, na maior parte dos aspectos avaliados, as escolas
públicas possuem menos acesso e disponibilidade de internet em suas dependências. O
mesmo ocorre para o acesso ao Wi-Fi:
Outro dado importante apontado pela pesquisa, que neste caso não é de
responsabilidade da escola, é a utilização da internet no celular:
52
Gráfico 4: Uso de Internet no Celular nas Escolas Públicas e Privadas (2014 e 2015)
Fonte: TIC Educação 2015 - Elaboração: TIC Educação 2015.
Os dados da pesquisa TIC 2015 apresentados nos gráficos acima mostram como os
alunos das redes privadas de educação utilizam mais a internet no celular comparado aos
alunos das redes públicas de maneira significativa.
Estes dados refletem que o conceito de que todos os jovens dispõem de tecnologia e
informação no mundo atual não é predominante. Muitos jovens brasileiros ainda não dispõem
da tecnologia e da internet, portanto, diante de tais dados, torna-se questionável entender a
juventude atual em apenas um grupo: Geração Y.
diversos problemas sociais, que inevitavelmente afetam todo o globo e obviamente afetam os
jovens diretamente.
Historicamente o Brasil vivencia sérios problemas oriundos do baixo investimento
educacional e de políticas públicas que não priorizam o tema com o devido valor. Para
Teixeira (1969), já na década de 60, a expansão do ensino era:
É certo que o quadro apresentado por Teixeira (1969) não se alterou muito até os dias
atuais. Neste ponto, Picanço (2015) corrobora que o Brasil já sustenta há anos péssimos
indicadores de acesso à escolarização, além é claro de gritantes desigualdades quando
segmentamos esta análise por cor e renda. Dificilmente encontramos na história do
investimento educacional no Brasil algo que cause algum impacto significativo, tratando-se
neste caso obviamente do setor público educacional.
O baixo investimento na educação pública foi inversamente proporcional ao
investimento da educação privada o que tornou os egressos das escolas privadas mais bem
preparados para a seleção no vestibular. Além disso, outro fator que influencia a segregação
educacional é a não expansão das vagas de ensino superior, que por fim irá restringir ainda
mais o acesso dos grupos sociais em desvantagem socioeconômica, são fatores que serão
desenvolvidos mais adiante neste trabalho. (PICANÇO, 2015)
Ainda com relação à qualidade da educação do Brasil, Picanço (2015) evidencia
alguns dados quanto à desigualdade educacional no país e sua evolução. A autora relata que
com o aumento do acesso ao ensino médio ocorreu impacto crucial na diminuição das
desigualdades entre os grupos de cor e renda. Em 1993, entre os brancos acima de 18 anos,
13,2% tinham o ensino médio completo, já entre os negros o percentual era 7,8% resultando
em quase dois brancos para um negro. A ampliação com o passar do tempo diminuiu pouco
entre os dois grupos, chegando em 2011, com os percentuais de 27,8% e 24,8%,
respectivamente. Tomazetti e Schlickmann (2016) corroboram que somente a partir dos anos
1990 que o Brasil passou a praticar políticas sociais voltadas para o ensino médio, se
aproximando de países desenvolvidos, onde projetos de modernização e democratização do
ensino são prioritários.
54
pertenciam ao extrato intermediário, com renda domiciliar per capita entre meio e 2 salários
mínimos; apenas 15,8% viviam em famílias com renda superior a 2 salários mínimos.
Pesquisas realizadas pela PNAD do IBGE e expostos no texto Trabalho Decente e
Juventude (2014) da OIT, contribuem de forma significativa para que se possa entender a
atual situação educacional dos jovens brasileiros. Esta pesquisa, que foi denominada
“Educação Dos Jovens Brasileiros No Período 2006-2013”, realiza uma comparação de
importantes índices educacionais brasileiros entre os anos de 2006 e 2013. Começando pelo
total de anos de estudo que indivíduos de determinadas faixas etárias possuem, a pesquisa
relata os seguintes dados:
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Elaboração: IPEA
Os dados apresentados na Tabela 6 mostram uma tímida variação positiva nos anos
estudados em determinadas faixas etárias, porém, está variação positiva não representa um
verdadeiro avanço na educação do Brasil. Diante destes dados a pesquisa relata que na
realidade o total de anos de estudo no Brasil ainda está aquém de um patamar educacional
adequado. A pesquisa informa que o valor ideal de anos de estudo dos jovens de 15 a 17 anos
deveria ser entre 8 e 11 anos, valor muito acima dos 7,73 obtidos na pesquisa. Assim como os
jovens de 18 a 24 anos deveriam ter em média 11 ou mais anos estudados, representando
também um importante aspecto negativo na educação dos jovens brasileiros. A pesquisa
conclui que no aspecto de Anos de Estudo, ainda há de se elevar substancialmente o nível
educacional dos jovens.
Para analisar as disparidades educacionais por renda, a mesma pesquisa (Educação
Dos Jovens Brasileiros No Período 2006-2013) dividiu a população em cinco grupos de igual
tamanho (denominados quintis) considerando a distribuição da renda domiciliar per capita.
56
Sendo que o grupo de menor renda representa o primeiro quintil e o de maior renda representa
o ultimo quintil, ou Quintil 5. Dessa forma, a pesquisa resultou nos seguintes dados:
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Elaboração: IPEA
Tabela 8: Proporção De Jovens Com Ensino Médio E Ensino Superior, Por Renda – Brasil –
2006/2013
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Elaboração: IPEA
57
Pode-se observar que na grande maioria dos países, o ensino médio é fragmentado em
disciplinas desassociadas.
Morin (2009) critica o ensino atual e incita novas formas de visualizar o mesmo,
além de ressaltar a importância do entendimento de como estas gerações estão sendo
formadas perante o atual ensino que lhes é oferecido. Para o autor, que trabalha com a
palavra “hiperespecialização” como forma de diagnosticar a dissociação da ciência, temos
como resultado uma visão do todo que é sempre imparcial. Pode-se entender assim, diante
dos preceitos de Morin (2009), que o formato sistemático e segregado que as matérias são
ensinadas na escola é contraditório, pois acaba privando os alunos do desenvolvimento de
uma visão holística a respeito do mundo em que vivem.
O ensino médio brasileiro possui hoje muitos déficits quanto à forma com que o
conhecimento e a informação são transmitidos para os alunos, sendo que o objetivo final deste
conhecimento muitas vezes deixa de lado a evolução dos alunos como indivíduos e cidadãos.
O verdadeiro objetivo do ensino médio é muito controverso, dessa forma, com intenção de
obter um racional a respeito deste tema, Tomazetti e Schlickmann (2016) citam opiniões
comuns de autores como Dubet (1997, 2006); Canário (2005, 2006); Dayrell (2007); Sposito
(2000, 2009); Esteves (2005); Romero (2007); Tomazetti e Ramos (2010); Souza (2003),
onde os mesmos compartilham da ideia de que o ensino médio deve:
Contudo, o ensino médio no Brasil atualmente está muito longe de atingir tais
objetivos. Abramovay e Castro (2003, apud TOMAZETTI; SCHLICKMANN, 2016)
realizaram um estudo em treze capitais brasileiras para diagnosticar a percepção de docentes e
discentes quantos aos objetivos do ensino médio, tanto na rede pública quanto na rede
privada. Os jovens entrevistados relatam que o principal objetivo era “preparação para o curso
superior” em primeiro lugar e em seguida a “preparação para o trabalho”.
Por outro lado, os professores quando questionados a respeito dos objetivos principais
para os alunos de ensino médio, apontaram em primeiro lugar “preparar o aluno para a vida”,
seguida da opção “preparar o aluno para o mercado de trabalho” e como terceira opção mais
assinalada a “preparação para o curso superior” Abramovay e Castro (2003, Apud
TOMAZETTI; SCHLICKMANN, 2016). Dessa forma, considerando o princípio de que o
59
mais importante no ensino médio seria a convivência entre gerações e entre os jovens,
priorizando o desenvolvimento como cidadãos e a evolução como indivíduos, pode-se
observar que o país está muito defasado neste quesito, com alunos e professores mais
preocupados apenas na aprovação em uma prova.
Nas palavras de Moreira e Kramer (2007) a escola no Brasil é concebida como um
negócio, onde o conhecimento foi reduzido a uma ferramenta para o ingresso na universidade.
E esta perspectiva os autores destacam que os
Há inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os saberes separados,
fragmentados, compartimentados entre disciplinas, e, por outro lado, realidades ou
problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais,
transnacionais, globais, planetários. (MORIN, 2009, p. 13)
Tais aspectos relatados por Morin (2009), diretamente relacionados com a tecnologia,
estão presentes de maneira integral no ensino e no cotidiano dos jovens. Para o autor, a
fragmentação do conhecimento causada pela rapidez da informação faz com que o jovem
separe as partes do todo, internalizando apenas uma forma de aprendizagem superficial. Ao se
deparar com a forma habitual e fragmentada de aprendizagem não é possível unir as
informações de maneira natural e complexa.
O raciocínio logico evolui de forma retilínea durante a principal fase de aprendizado,
prejudicando assim a capacidade de formar opiniões e analisar situações que se distinguem do
habitual (MORIN, 2009). Portanto, segundo Morin (2009) o formato de ensino proporcionado
aos jovens, trouxe alguns malefícios como, principalmente, a capacidade de formar opiniões,
acarretando também em dificuldades na tomada de decisão e no pensamento analítico.
60
Em contrapartida, alguns autores são partidários de outra visão em relação a este mesmo
tema. Alguns autores defendem que a evolução tecnológica e a internet trouxeram aos jovens uma
proximidade maior aos assuntos pertinentes a eles ou não.
Tapscott (1999) defende que a geração provida de informação em rede aprender a interagir
com o mundo voluntariosamente, não aceitando informações de forma acabada e estática. Os
jovens hoje podem confrontar opiniões, inclusive de seus professores, além de buscar o
conhecimento de forma autônoma e eficiente mediante utilização da internet, não necessitando
mais, por exemplo, das antigas enciclopédias. A relação entre pratica educativa e tecnologia é
muito ampla e discutível, a escola deve ser um ambiente que proporcione aos alunos a
evolução do pensamento crítico, assim desafiando-os a construírem uma compreensão de sua
presença no mundo.
Conforme ressaltado anteriormente, em conjunto com todas essas alterações sofridas na
maneira com que o conhecimento é passado aos jovens, obviamente temos como protagonista a
inserção da internet no ambiente escolar e no próprio sistema educacional, tanto dentro quanto
fora de sala de aula. De acordo com dados do IBOPE 2013, 78% das pessoas com idade entre
20 e 34 anos acessam a internet. Quando considerado indivíduos com 35 anos ou mais,
esse percentual é de 45%. Sabe-se que a internet passou a ser uma importante fonte de
informação da grande maioria dos jovens.
A internet proporcionou uma vasta quantidade de informações de forma rápida aos
jovens de hoje. Com isso, o advento da internet trouxe mudanças positivas e negativas, que
interferiram no crescimento e na capacidade analítica dos jovens. Essa geração passou a não
receber apenas as informações disponibilizadas pelos pais e professores do colégio, mas
também do mundo todo em tempo real (KUNTZ, 2009).
Neste quesito, Morin (2009) defende que o resultado da busca rápida e especifica
seria a difícil consolidação e principalmente o verdadeiro “aprendizado”. Como estas
rápidas pesquisas não exigem um elevado grau de energia e esforço, acabam por serem
gravadas apenas na memória de curto prazo, fazendo com que estas informações sejam
rapidamente esquecidas ou “deletadas” pelo cérebro. Obviamente não se trata de uma
sentença aplicável em todos os casos, estudos comprovam que a utilização da memória de
longo prazo está cada vez menos presente no cotidiano de aprendizado das pessoas,
independentemente da idade (MORIN, 2009).
Conforme a tecnologia avançou, grandes facilitadores foram sendo criados na
mesma proporção, disponibilizando assim diversas maneiras do jovem sair do status passivo
do aprendizado (KUNTZ, 2009).
61
O mundo flexível e instável resulta em novas maneiras de pensar e agir perante desafios e
situações em que seja necessária a tomada de decisão, impactando de forma integral a vida
destes indivíduos. Sendo assim, o cenário educacional dos jovens atualmente se diferencia
das gerações anteriores principalmente devido à velocidade da informação impulsionada
pela tecnologia. As gerações anteriores obtinham poucas fontes de informação, onde eram
quase sempre passivas no recebimento das mesmas. O investimento nacional em educação
aumentou nas últimas décadas, conforme dados expostos neste capítulo, porém ainda tem
demonstrado insuficiência perante o mercado de trabalho brasileiro. De tal forma, o
próximo capítulo foi desenvolvido com intuito de entender como a população jovem está
enfrentando os percalços da dificultosa inserção no mercado de trabalho.
62
Não é de hoje que a inserção dos jovens no mercado de trabalho no Brasil é um grande
desafio. O Brasil da República Velha já enfrentava grandes percalços em relação aos jovens e
sua preparação para inserção no mercado de trabalho. Naquele tempo a educação já era
limitada aos jovens de famílias mais abastadas, e para os que não tinham condições restavam
apenas as atividades de subsistência, tanto no meio rural quanto no meio urbano. Este quadro
sofreu algumas alterações no período de industrialização do Brasil, que se deu principalmente
após a década de 1930. Com a industrialização se estabilizando no país, consequentemente
muitos indivíduos que detinham como única fonte de renda e trabalho o meio rural, passaram
a migrar para as cidades, produzindo assim uma extraordinária transformação das estruturas
econômicas e sociais (SANTOS; GIMENEZ, 2015).
Conforme citado anteriormente neste estudo, Antunes (2012) ressalta que o primeiro
formato de emprego do Brasil, o emprego pré-informacionismo, se destacava por
superexploração da força de trabalho, baixos salários, jornada de trabalho prolongada e
fortíssima intensidade do ritmo de trabalho, e consequentemente o mesmo se aplica para os
jovens. Ainda que em ritmo lento, devido à disseminação da informação, o Brasil passou a
caminhar rumo ao Capitalismo Flexível, fator que impacta hoje o trabalho integralmente.
Tais transformações resultantes da industrialização impactam diretamente o trabalho e
o mercado de trabalho brasileiro de maneira integral (SANTOS; GIMENEZ, 2015). É
necessário frisar que apesar das positivas benesses da rápida industrialização, a pobreza e a
desigualdade social no país não se alteraram, sendo que em 1980 o Brasil já é colocado como
um dos países com maior desigualdade social no mundo (HENRIQUE, 1999). De acordo com
Pochmann (2007), a relação entre jovem e trabalho foi, durante um longo período, desprezada
perante o governo e as políticas públicas brasileiras e o autor afirma que o tema passou a ter
maior visibilidade apenas a partir dos anos 1990 principalmente em decorrência do
significativo aumento populacional dos jovens. Inevitavelmente o expressivo aumento
populacional juvenil acarretou uma extensa mão de obra excedente, prejudicando ainda mais
63
o acesso dos jovens no mercado de trabalho. Por fim, a alta demanda de jovens no mercado e
a baixa quantidade de postos de trabalho fez com que os jovens ficassem em desvantagem,
tendo que assumir funções inferiores, com menores salários e jornadas mais intensas
(POCHMANN, 2007).
Conforme dito anteriormente, somente a partir dos anos 1990 que a relação juventude
e trabalho passou a ter maior notoriedade perante as políticas públicas nacionais, porem
também foram anos de extensas crises e recessões no país, pautadas por políticas e reformas
neoliberais que causaram uma profunda deterioração do mercado de trabalho dos anos 1980 e
desencadearam por fim uma grande desestruturação do trabalho no Brasil nos anos 1990. No
período de 2004 a 2010, a economia Brasileira passou a demonstrar maior estabilidade e
crescimento do PIB que resultou em impactos positivos na geração de emprego, elevação dos
salários e redução do desemprego (SANTOS; GIMENEZ, 2015).
Em decorrência dos avanços proporcionados pela melhora na economia, a temática da
juventude começa a ganhar espaço e maior complexidade na agenda pública nacional, e tal
conjuntura também influencia na política e nos investimentos relacionados ao trabalho.
Contudo o jovem começou a entrar nas estatísticas de desemprego, proporcionando
desagregação do tecido social e aumentando o tamanho e a proporção da pobreza estrutural do
país, de tal forma que passou a gerar a preocupação de governos e organismos sociais. Tais
fatores incomodam o governo e consequentemente o jovem torna-se público-alvo nas políticas
públicas nacionais. (VELASCO, 2012). De acordo com o Censo da Educação Básica do
Inep/MEC (apud VELASCO, 2012), houve então no Brasil uma expansão significativa dos
cursos de ensino superior, tanto da rede pública quanto da rede privada, sendo que de 2002 a
2012 o número de alunos no ensino superior dobrou no Brasil, aumentando de 3,5 milhões de
alunos para 7 milhões. Consequentemente, com mais conhecimento, formação e informação, a
empregabilidade dos jovens brasileiros aumenta e o quadro dos jovens no mercado de
trabalho demonstra uma efetiva melhora. Neste aspecto Velasco (2012) aponta que programas
de formação e qualificação profissionais voltados para a juventude incidem como um retrato
do foco atual de políticas públicas trabalhistas. Em contrapartida, alguns autores defendem a
opinião de que aprimorar a qualidade do ensino e da formação dos jovens não são suficientes
caso o mercado não possua condições de aderir a esta demanda de trabalho. Diante desta
perspectiva, Santos e Gimenez (2015) destacam:
Segundo a pesquisa, os setores que tiveram as maiores perdas de vagas formais foram
construção civil (-22.113 postos), agricultura (-15.436) e serviços (-3.014 postos). O CAGED
ainda indica um saldo negativo de 624 mil vínculos de trabalho formal no primeiro semestre
de 2016. No primeiro semestre de 2015 o saldo também tinha sido negativo, com redução de
306 mil vínculos formais de trabalho.
Algumas pesquisas de mercado de trabalho apontam uma relativa estabilização das
taxas de desemprego nos últimos meses no país, contudo é alarmante o alto patamar de
desemprego atual. Na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) de 2016, as taxas de
desemprego de Julho de 2016 praticamente não apresentaram variação em relação às
verificadas no mês anterior, exceto na Região Metropolitana de Salvador, onde a pesquisa
aponta que o desemprego continua a crescer chegando a um quarto da força de trabalho.
Estes dados são demonstrados seguinte gráfico:
66
Gráfico 6: Taxa de desemprego total (em %) Regiões Metropolitanas e Distrito Federal – Julho/15, Junho/16 e
Julho/16
Fonte: DIEESE/Seade, MTb/FAT e Convênios Regionais. Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), 2016.
Um fator importante da atual crise trabalhista é apontado por Pochmann (2007), onde
o autor ressalta que pessoas muito mais qualificadas estão sendo contratadas em postos de
trabalho que na realidade não exigem tamanha qualificação. Desta forma é nítido que o fato
de termos pessoas com alto nível de qualificação assumindo cargos abaixo de sua
competência irá resultar em uma reação em cadeia, onde os menos qualificados e com menos
experiência ficarão à margem das vagas de empregos.
Um reflexo deste cenário se dá na importante diminuição da expectativa por um
emprego diante da ótica juvenil, fator este que implica em uma juventude que foca cada vez
mais na elaboração de projetos de carreira voltados para o trabalho autônomo. (MELO;
BORGES, 2007).
Recentemente publicado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), o
relatório Panorama Mundial do Emprego 2016, já citado previamente neste texto, aponta que
o desemprego global entre os jovens deve atingir um total de 71 milhões este ano, indicando
uma tendência de alta. De acordo com o relatório, o índice de desemprego desse grupo deve
chegar a 13,1% em 2016 e se manter neste mesmo nível até 2017. No ano anterior (2015) o
índice de desemprego entre os jovens foi de 12,9%. O relatório da OIT diz ainda que 156
milhões, ou 37,7% dos jovens trabalhadores vivem em pobreza extrema ou moderada,
comparado com 26% dos adultos. De acordo com a agência da ONU:
69
No Brasil, por exemplo, 40% dos jovens estão em empregos informais. O que é
fundamental é que o desemprego é somente a ponta do iceberg. Por exemplo, no
mundo, aqueles que têm o privilégio de ter um emprego, 38% ganham menos do que
US$ 1,90 por dia, que é o patamar inferior à linha de pobreza. E os jovens também
estão mais propensos a empregos precários e empregos temporários. (RADIO ONU,
2016)
anos nesta mesma situação, sinais alarmantes e negativos que demonstram o preocupante
quadro de desemprego no Brasil.
De acordo com o Boletim Emprego em Pauta do DIEESE, referente à Maio de 2016,
vários motivos podem impulsionar o aumento do desemprego entre os jovens no Brasil. O
estudo do DIEESE relata que fatores como o aumento da população com idade superior a 14
anos e poucos mecanismos de proteção que garantem renda familiar mínima e adiam a
entrada dos jovens no mercado de trabalho, impactam neste expressivo crescimento na taxa de
desocupação dentre os jovens.
Para que se possa entender os fatores que causam o desemprego juvenil é previamente
necessário entendimento do que caracteriza este tipo de desemprego. De acordo com o
relatório Trabalho Decente e Juventude elaborado pela OIT, um jovem é considerado
desempregado se o mesmo não realizou nenhum tipo de trabalho na semana anterior à
pesquisa e está disponível para trabalhar ou procurando algum tipo de trabalho ativamente. A
adição do conceito de “ativamente” ocorre, pois muitos destes jovens que estão disponíveis
para o trabalho, não estão procurando emprego ativamente, são os chamados trabalhadores
desalentados.
De acordo com o mesmo relatório estes jovens desalentados deixaram de procurar
trabalho por algum motivo específico como: não saber como ou onde procurar trabalho,
incapacidade para encontrar trabalho de acordo com as suas habilidades, experiência anterior
em procurar trabalho não teve resultado, sentir-se jovem demais para encontrar trabalho e um
sentimento de que não há empregos disponíveis na área.
O conceito de desemprego que não contabiliza os jovens em situação de trabalhadores
desalentados é chamado de desemprego estrito. Em contrapartida, o conceito de desemprego
caracterizado pela somatória total dos jovens desempregados, ou seja, somando os jovens
trabalhadores desalentados é chamado de desemprego ampliado. O relatório Trabalho
Decente e Juventude divulga a proporção entre estes dois tipos de desemprego no Brasil,
representada na seguinte tabela:
71
Fonte: TET Brasil, 2013. Elaboração: Relatório Trabalho Decente e Juventude, OIT, 2014.
Diante dos dados observados na tabela acima fica nítido o quão significante é a análise
do desemprego juvenil contabilizando os jovens desempregados desalentados. Na época da
pesquisa (2013) observa-se que quando somados os desempregados desalentados, o
percentual de jovens desempregados no Brasil aumenta de 17,9% na definição estrita para
26,6% na definição ampliada.
Os fatores escolaridade e educação sempre aparecem como um dos mais impactantes
dentre os principais causadores do desemprego jovem. De acordo com Trevisan e Veloso
(2007), as faixas etárias mais jovens dos trabalhadores são mais impactadas pelo desemprego,
pois ocorre uma incompatibilidade entre a oferta e o perfil da demanda por trabalhadores
qualificados no mercado de trabalho.
O Relatório Trabalho Decente e Juventude, OIT (2014), revela que a proporção de
desempregados é expressivamente maior entre os níveis educacionais mais baixos, conforme
demonstrado no gráfico a seguir (Gráfico 5):
72
Tabela 11: Distribuição da população ocupada por escolaridade, Brasil, 2009 e 2013
Fonte: TET Brasil, 2013. Elaboração: Relatório Trabalho Decente e Juventude, OIT, 2014.
Os obstáculos enfrentados pelos jovens na busca pelo emprego são muitos, e de acordo
com a mesma pesquisa (Trabalho Decente e Juventude, OIT), os principais obstáculos para a
conquista do emprego entre os jovens são representados na seguinte tabela:
Tabela 12: Desempregados por principais obstáculos para arrumar um emprego, por sexo (%).
Fonte: TET Brasil, 2013. Elaboração: Relatório Trabalho Decente e Juventude, OIT, 2014
74
CONCLUSÃO
Este estudo empreendeu uma análise ampla sobre os fatores que influenciam na
inserção dos jovens no mercado de trabalho. Para isso, foi previamente necessário o
entendimento das mudanças no trabalho e sua configuração na sociedade atual, assim como
sua evolução histórica. O trabalho e as relações de trabalho impactam o ser humano desde a
antiguidade e hoje assume um papel primordial na sociedade, pois interage também com a
formação da identidade dos indivíduos.
A evolução do trabalho na sociedade interage também com a evolução do sistema
capitalista e da economia no mundo, inclusive, marcos históricos da evolução do trabalho e do
sistema capitalista ocorreram de forma simultânea. Foi durante a Primeira Revolução
Industrial, marco da evolução do trabalho na sociedade, que o Capitalismo Comercial,
pautado diretamente pelo comercio entre especiarias ou bens manufaturados entre os países,
evolui para o Capitalismo Industrial, evidenciando um exemplo clássico desta evolução
simultânea.
Constantes mutações ao longo dos anos resultaram no que é hoje o trabalho e o
capitalismo na sociedade, e algumas destas mutações foram de alto impacto e relevância. É o
caso do Sistema Toyota de Produção, ou, toyotismo. Com este novo conceito produtivo, a
fabricação dos produtos passou a ser focada em qualidade e eficiência, produzindo sempre de
acordo com a demanda, ou seja, uma produção flexível.
Esta flexibilidade na produção passa a interagir também com as relações de trabalho
de uma forma jamais vista, e conforme abordado por Sennett (1999), as exigências
relacionadas com as qualidades que um trabalhador deve possuir também mudaram. Desta
forma passou-se a exigir que os trabalhadores estejam sempre abertos a mudanças de curto
prazo e assumam riscos continuamente.
Diversos aspectos do trabalho foram deteriorados pela flexibilização e pela evolução
tecnológica. As relações de trabalho entre empresa e funcionário apresentam transformações
importantes. Jornadas rígidas de trabalho, de 35 a 40 horas semanais em expediente integral,
passam a perder espaço para a liberdade e flexibilidade nos horários de trabalho. Além disso,
o local de trabalho físico e limitado às dependências da empresa perde espaço para o home-
office.
79
na maioria pardos (43,6%), seguidos por Brancos (34,1%) e Pretos (14,2%). Dos jovens
brasileiros, 99,9% já frequentou a escola, e os principais motivos para a evasão escolar são os
estritamente econômicos, como a necessidade de trabalhar e gerar renda para a família.
A classificação do jovem da atualidade como Geração Y foi questionada neste estudo,
e como resultado da pesquisa fica nítido que o conceito de Geração Y não representa toda a
classe jovem brasileira. Se assumirmos a Geração Y como a classe jovem atual, temos de
aceitar que todos os jovens estão imersos na tecnologia e na globalização, porém é sabido que
a muitas das redes públicas de educação no Brasil não oferecem sequer um computador ou
internet para os estudantes.
Historicamente o Brasil apresenta diversos problemas resultantes do baixo
investimento na educação e as políticas públicas destinadas a este tema são questionáveis. O
investimento em educação das escolas públicas e privadas não se desenvolveu de forma
igualitária no Brasil. Enquanto que as escolas privadas demonstram alto grau de investimento
em educação, as escolas públicas são recordistas de péssimos desempenhos escolares.
Programas como PROUNI e FIES contribuíram para uma diminuição da desvantagem
educacional pública, porem o investimento em educação no Brasil ainda está aquém de uma
abrangência nacional relevante. Dados comparativos da PNAD Contínua demonstram uma
tímida evolução positiva no total de anos de estudo dos jovens brasileiros, entre os anos de
2006 e 2013. O total de anos estudados pelos jovens é expressivamente maior nas famílias
com maior renda domiciliar per capita, resultando em média 3,5 anos a mais de estudo para os
jovens com maior renda, quando comparados com jovens de menor renda.
Em conjunto com as disparidades do investimento na educação dos jovens, outras
questões educacionais também influenciam a inserção dos mesmos no mercado de trabalho.
Na era da informação, diversos fatores passam a impactar a educação dos jovens e o
tradicional método de ensino nas escolas e universidades começam a se transformar.
Este estudo também concluiu que o objetivo do ensino médio brasileiro é controverso.
Alguns autores afirmam que o ensino médio deve ser um espaço de convivência entre
gerações e evolução dos jovens como cidadãos. No entanto, presenciamos hoje no Brasil um
ensino médio pautado por seleção e competição, com um objetivo predominante: passar no
vestibular.
Além dos problemas educacionais, o expressivo aumento populacional jovem
contribui proporcionalmente para o aumento do desemprego dentre os jovens na atualidade
brasileira. Somente a partir dos anos de 1990 que a relação juventude e trabalho passou a ter
maior notoriedade perante as políticas públicas nacionais.
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a vida profissional terá de lidar com a flexibilização nas organizações, onde é exigido que
sejam ágeis e que estejam sempre abertos a mudanças repentinas, assumindo riscos
continuamente.
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REFERÊNCIAS
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