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Texto da aula
A FLEXÃO DO INFINITIVO
Este assunto dá um livro. Os gramáticos formularam diversas regras para a flexão do infinitivo, mas nem sempre
as regras de um batem com as regras de outro, e a maioria delas comporta exceções.
Para o professor Pasquale Cipro Neto, “em muitos casos a decisão [pela flexão] se dá pelo estilo, pela carga de
ênfase que se quer dar ao agente ou ao processo expresso pelo verbo”. O filólogo Said Ali, um dos maiores especialistas
em sintaxe da língua portuguesa, dizia que a escolha depende de cogitarmos somente a ação ou de haver a intenção ou
necessidade de pôr em evidência o agente da ação: no primeiro caso, prefere-se o infinitivo não flexionado (ou infinitivo
impessoal); no segundo, o flexionado (ou infinitivo pessoal). Para Celso Cunha, o emprego da flexão é seletivo, uma
decisão muito mais estilística do que gramatical. E há os estudiosos que recomendam que se observe sempre a eufonia,
ou seja, a combinação agradável de sons.
Como veremos a seguir, o emprego da flexão do infinitivo é oscilante, assim como são oscilantes as regras que
tentam normalizar esse uso. Portanto, não existe propriamente erro na flexão ou não flexão do infinitivo, mas algumas
tendências de uso.
Em todos os casos acima o sujeito está oculto. Se estivesse explícito, a flexão seria obrigatória:
Parece correto afirmar que ninguém diria “Lutamos muito para nós vencer”, não é mesmo?
Quando o infinitivo não é flexionado, a ênfase está no processo; quando é flexionado, no agente. Repare, porém,
que nos exemplos acima o sujeito do infinitivo e o do verbo da oração anterior é o mesmo. O que aconteceria se não
fosse?
Mas mesmo para essa regra parece haver uma exceção. O que explica, por exemplo, a construção abaixo, em
que o infinitivo não está flexionado, embora os sujeitos sejam diferentes?
A explicação é que com os verbos deixar, mandar, fazer, ver, ouvir e sentir a tendência é não flexionar o infinitivo
quando há o pronome oblíquo átono.
No entanto, se nessas construções o sujeito do infinitivo for um substantivo, e não um pronome oblíquo átono, a
tendência é flexionar o verbo.
Mas isso não é tudo. Se o substantivo estiver posposto ao verbo, a flexão passa a ser facultativa. E então
poderíamos dizer:
Se o infinitivo for o verbo principal de locução verbal, não deve ser flexionado.
Precisam ir ao banco.
Precisamos ir ao banco.
Quando vem depois de substantivo ou adjetivo e precedido de preposição, o infinitivo não costuma ser flexionado.
Mas a tendência é flexionar o infinitivo se ele estiver apassivado ou se o verbo em questão for pronominal ou
reflexivo.
O infinitivo impessoal
Sentar!
4. Quando, em locuções com os verbos estar, andar, ficar, viver, etc. e regido pela preposição a, equivale ao
gerúndio.
O SUBJUNTIVO
São três os modos do verbo, lembra? Indicativo, subjuntivo e imperativo. O modo indicativo é aquele que enuncia
uma certeza. “Vou ao cinema”. Vou mesmo, não há dúvida. “Meu patrão me deu um aumento de salário”. É um fato
concreto, o dinheiro já está na conta! Já o modo imperativo é aquele que enuncia uma ordem. “Arrume já esse quarto”,
diz a mãe ao filho adolescente. “Não deixe nada no prato”, diz a mãe ao filho pequeno.
E o subjuntivo?
O subjuntivo enuncia uma suposição. É o modo próprio das orações subordinadas, exigido nas orações que
dependem de verbos cujo sentido está ligado à ideia de hipótese, proibição, desejo, vontade, súplica, condição,
etc. O subjuntivo enuncia a ação do verbo como eventual, incerta ou irreal. Assim, desejar, duvidar, pedir, implorar,
suplicar, lamentar, negar, ordenar, proibir, querer são verbos comuns nas construções subjuntivas.
Corrigir. É isso o que devemos fazer ao encontrar construções dessa espécie, que tentam expressar uma ideia de
incerteza com os verbos no modo indicativo. Corrigindo:
Obs.: O advérbio talvez exige o subjuntivo quando precede o verbo: “Talvez ela tivesse estudado”. Mas deixa o verbo no
indicativo quando vem posposto: “Ela estudou talvez”.
Embora essas orações sejam independentes, nelas está implícito um período composto por subordinação:
Um fenômeno interessante acontece em orações como “Viva as mães!”. Um preparador ou um revisor atentos
parariam para se perguntar se esse verbo não deveria estar no plural: “Vivam as mães!”. Ou seja, “Que vivam as
mães!”. Embora essa seja mesmo a origem da expressão, o fato é que os gramáticos já admitem esse viva como uma
interjeição. Então, “Viva as mães!” não precisa de correção.
Nas orações subordinadas substantivas, o subjuntivo é usado quando a oração principal exprime:
Uma dúvida, uma suspeita, uma desconfiança: Suspeitava que fosse um policial infiltrado.
Para negar a razão aludida, com não porque (orações causais): Procurei-o não porque precisasse de sua ajuda,
mas para dar-lhe uma informação.
Com antes que, assim que, até que, enquanto, depois que, logo que (orações temporais): Peça desculpas antes
que eu o derrube no chão.
Ø Com sem que, a não ser que, caso, contanto que, se (orações condicionais): Caso não venhas, darei o dito
pelo não dito.
Também temos visto com certa frequência o emprego do futuro e do futuro do pretérito no lugar do subjuntivo em
orações que expressam hipótese, suspeita, dúvida, etc.:
Há suspeitas de que a morte do prefeito de Santo André estaria relacionada a um suposto esquema de corrupção
montado na cidade.
Porém, esse não é considerado um uso correto. Quando a incerteza está na oração subordinada, a regra é o
subjuntivo:
Há suspeitas de que a morte do prefeito de Santo André esteja relacionada a um suposto esquema de corrupção
montado na cidade.
Mais do que uma incerteza, o futuro do pretérito indica uma impossibilidade, mas quando ele está na oração
principal:
Mas:
Infelizmente, a leitura de jornais, revistas e portais de internet não vão ajudá-lo a encontrar bons exemplos de uso
do subjuntivo. Para isso, recorra à leitura dos clássicos da nossa língua.
Muitas vezes, por desconhecimento, preparadores e revisores fazem correções desnecessárias. Para que você
não faça isso em relação aos verbos, vamos terminar esta aula com alguns usos especiais dos tempos verbais e com a
formação do imperativo.
Presente do indicativo
Além de expressar ações que ocorrem habitualmente e fatos universais e atemporais, o presente do indicativo
pode ser empregado:
Com valor de pretérito perfeito do indicativo (presente histórico): Em 1792, a Constituinte francesa põe fim à
monarquia e proclama a República.
Com valor de futuro do indicativo: Amanhã eu falo contigo.
Com valor de pretérito imperfeito do subjuntivo: Se atraso o banho, minha mãe se zangaria.
O pretérito imperfeito designa um fato passado, mas não concluído, e encerra a ideia de duração de um processo,
mas também pode ser usado:
Com valor de presente do indicativo (polidez): Vinha lhe pedir uma nova chance.
Mais-que-perfeito do indicativo
O pretérito mais-que-perfeito situa a ação em um tempo anterior ao de outra ação já no passado, mas também
pode ser usado:
Com valor de futuro do pretérito (uso literário): Por escrava, te servira se pudesse.
Com valor de imperfeito do subjuntivo: Mais faria, não fora pouco o tempo.
O futuro do presente é usado para indicar fatos certos posteriores ao momento da fala, mas também pode ser
empregado:
Com valor de presente do indicativo (indica uma incerteza): A menina terá uns 5 anos.
Com valor de imperativo: Não matarás.
A FORMAÇÃO DO IMPERATIVO
a
O imperativo negativo de todas as pessoas é derivado do subjuntivo presente. O imperativo afirmativo da 2
a
pessoa do singular e da 2 pessoa do plural é derivado do presente do indicativo sem o s. O imperativo afirmativo das
demais pessoas é derivado do subjuntivo presente.
Ouço Ouça
Ouves Ouças Ouve Não ouças
Ouve Ouça Ouça Não ouça
Ouvimos Ouçamos Ouçamos Não ouçamos
Ouvis Ouçais Ouvi Não ouçais
Ouvem Ouçam Ouçam Não ouçam
Outro aspecto do emprego do imperativo no português do Brasil é a mistura que fazemos entre a segunda e a
terceira pessoas – entre o tu e o você. Na maior parte do país o tu foi substituído pelo você, mas ainda assim, na fala,
costumamos usar o imperativo na segunda pessoa. Pense na maneira como você fala. Você diz “Vai comprar meio quilo
de feijão” ou “Vá comprar meio quilo de feijão”? Muito provavelmente, você prefere a primeira opção, que é o imperativo
na segunda pessoa (tu), embora também provavelmente trate o seu interlocutor por você.
Esse aspecto muitas vezes se faz notar nos diálogos dos livros de ficção e nos slogans publicitários. Veja estes
exemplos da literatura:
1)
2)
Caíram um nos braços do outro. Foi um abraço demorado e emocionado. Deram-se tantos tapas nas costas
quantos tinham sido os anos de separação.
– Deixa eu te ver!
– Estamos aí.
– Mas você está careca!
– Pois é.
3)
– Não sejas ruim! Ficarei muito triste se estiveres mal com a tua negrinha!... Anda! Não me feches a cara!...
– Deixe-me!
– Vem cá, Pombinha!
– Não vou! Já disse!
[...]
– Faço tudo! tudo! mas não fiques mal comigo! Ah! se soubesse como eu te adoro!...
– Não sei! Largue-me!
– Espera!
Nos dois primeiros exemplos, os personagens usam o imperativo na segunda pessoa, enquanto tratam o
interlocutor por você. No terceiro exemplo, Léonie trata Pombinha sempre por tu, ao passo que esta a trata por você. Os
imperativos estão de acordo com essa escolha.
Tudo isto para mostrar que, na lida diária com o texto de ficção, outras questões podem se sobrepor à gramática
normativa. No caso dos autores nacionais, essa é uma escolha deles. No caso das traduções, é preciso considerar se
existe um padrão nas escolhas do tradutor e se elas estão adequadas ao texto em questão. No exemplo de Harry Potter,
talvez a tradutora tenha optado por reproduzir nos diálogos a mistura exata que os brasileiros fazem em sua fala. Seria
preciso avaliar o conjunto para entender se tal opção tem ou não tem sentido, se deveria ou não ter sido mantida pela
preparação. Quando o texto chega à revisão, em tese não é mais hora de mexer nisso.
Nos slogans publicitários, os revisores não têm muita margem de ação. Conforme respondi na videoaula, o
clássico slogan da Caixa Econômica Federal “Vem pra caixa você também” está errado do ponto de vista da gramática
normativa mas correto do ponto de vista comunicativo. Às vezes, escrever mal é escrever bem.
DE OLHO NO TEXTO
Na seção “De olho no texto” desta aula eu mostrei alguns exemplos de usos corretos e usos incorretos do
gerúndio, que é uma forma nominal do verbo – junto com o infinitivo e o particípio.
Como vimos, o gerúndio expressa uma ação em curso, que pode ser imediatamente anterior ou imediatamente
posterior à do verbo da ação principal, ou contemporânea dela. O gerúndio também se combina aos verbos estar, andar,
ir e vir para marcar diferentes aspectos da execução da ação verbal.
Aquilo que chamamos de gerundismo – o uso do gerúndio para se referir a ações futuras – não é comum em
textos de livros. Mas é bastante comum o gerúndio no lugar das orações adjetivas, como o do exemplo: “Precisamos de
uma professora sabendo inglês”. Esse precisa ser corrigido.
Por fim, chamo sua atenção para uma ocorrência comum nos textos traduzidos do inglês relacionada à construção
estar + gerúndio. Na tradução dos tempos verbais present e past continuous, para evitar um excesso de estava
andando, estava dormindo, está comendo, está estudando, considere, na preparação, substituir alguns deles pelo nosso
pretérito imperfeito: andava, dormia, etc. Dessa maneira, o texto perderá um pouco do eco e ganhará elegância.
E vamos chegando ao fim. Para concluir esta aula, leia o texto complementar:
Luis Fernando Verissimo, Comédias da vida privada, Porto Alegre, L&PM, 1995, p. 137.
NAVEGAÇÃO
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INÍCIO - Utilização do Ambiente Virtual de Aprendi...
AULA 01 - Texto, contexto e trabalho editorial
AULA 02 - Gramática, coesão e colocação
AULA 03 - No princípio era o verbo
Sobre a aula
Vídeo da aula
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Leitura(s) complementar(es)
Exercício 1: Aula 03
AULA 04 - Concordância verbal e concordância nominal
AULA 05 - Regência verbal
AULA 06 - Eu, tu, eles e a colocação dos pronomes ...
AULA 07 - Do artigo à crase
AULA 08 - A vírgula
AULA 09 - Outras questões de linguagem
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