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Chiquinho

Baltasar Lopes da Silva


Infância

Esta primeira parte da obra conta-nos histórias, aventuras e características da infância do


menino Chiquinho, original do Caleijão na ilha de São Nicolau. Pertencente a uma família
relativamente abastada devido ao pai estar a trabalhar na América como baleeiro.

Vamos ouvindo falar de histórias contadas por velhos, de aventuras que o próprio Chiquinho
viveu com os seus amigos e da evolução nos seus estudos. Os homens da aldeia, quando não
tinham a oportunidade de trabalhar nos navios americanos dedicavam-se à agricultura, o que
nem sempre era fácil devido às secas.

Somos totalmente envolvidos na cultura desta aldeia, desde a hospitalidade da mãe de


Chiquinho, como nas queixas da avó. São nos contados contos, desde velhos que participaram
na guerra, outros que eram marinheiros, histórias de fantasmas e até mesmo possessões, uma
das quais Chiquinho assistiu, a dita possessão de Bibia. Também é nos mostrado a fé deles em
Deus e num amanhã melhor, e também uma população que acreditava que a América é que
era um local bom, apesar de ser reconhecido que os homens trabalhavam muito, mas por
pouco dinheiro.

É nos apresentado um menino cheio de imaginação e sonhos, que acreditava em varinhas de


condão, princesas e reis, mas também um menino dotado de grande inteligência e de
capacidades de aprendizagem incríveis. Um menino que apesar do conhecimento que
aprendeu na escola também absorveu muito conhecimento dos mais velhos, das histórias que
ouvia e das próprias histórias que vivenciou.

É possível observar testemunhos de escravidão e também já alguns desejos de liberdade e da


crença de um futuro melhor, e podemos também começar a observar a valorização da
natureza, principalmente quando é conhecida a morte de Manuel irmão de Nha Tudinha que
morreu num acidente de com uma máquina, então um velho comenta que para morrer às
mãos de uma máquina mais valia nunca ter ido, é desde já associado algo de mau às máquinas.

Esta parte termina com a partida de Chiquinho para a ilha de S. Vicente para continuar os
estudos no Seminário, os pais acreditavam que ele era demasiado inteligente para ficar a
trabalhar no campo como os outros.
S. Vicente

Já em S. Vicente Chiquinho fica em casa nha Cidália, aqui ele vai estudar no liceu onde logo
desde início une-se a um grupo de rapazes bastante inteligentes, mas cada um com uma
qualidade diferente, Nonó era o poeta lírico, Humberto Tavares especialista em questões
sociais, Manuel de Brito (Parafuso) latinista e por fim Andrezinho que era o “Erudito”. Assim
Chiquinho graças a Andrezinho passa a fazer parte do grupo “Grémio Cultural Cabo-verdiano”
um grupo formado por estes rapazes, que tinha como objetivo lutar contra a pobreza e tentar
mudar a mentalidade das pessoas, queria a renovação de métodos e programas
administrativos, renovação de atitudes espirituais e ao mesmo tempo humanas.

Vamos observar ao longo desta parte várias tentativas deste grupo de tentar mudar e renovar
as ideias das pessoas, chegam até a lançar um jornal chamado “folha académica”, mas que
infelizmente não teve grande aderência não dando em nada, mas mesmo com esforços que
não davam em nada estes rapazes nunca vão desistir tentando constantemente arranjar novas
formas de levar o seu plano a toda a gente de todas as ilhas.

Além de assistimos a vários relatos de pobreza, assistimos também à vulgarização da


prostituição, apesar de criticada por homens e mulheres, uma mulher prostituir-se para se
sustentar era algo considerado relativamente normal, e até mesmo justificável naquelas
condições. Um dos maiores e mais pormenorizados casos de pobreza caracterizado nesta
parte é a vida de Parafuso, que dos 5 amigos era o mais pobre e também devido a essas
condições pobres de vida que ele levava com família acabou por ficar doente e falecer.

Temos vários momentos de festividades, onde ouvimos referencias ao Jazz, ao Samba, a


mornas, todo o tipo de influências musicais ligadas aos países com os quais Cabo Verde
mantinha uma relação forte.

Também é nos apresentado um relacionamento de Chiquinho com Nuninha, um


relacionamento que ele leva muito a sério e até fala em casar com a rapariga, um
relacionamento que começa muito tímido mas que depois vai evoluindo e também um
relacionamento onde o medo de Chiquinho ter de partir para outro local para arranjar
trabalho.

Esta parte termina com o fim do liceu de Chiquinho e com o seu regresso a S. Nicolau, regresso
cheio de dúvidas, pois Chiquinho questiona-se sobre o que irá fazer com aquele diploma.

Sem dúvida as situações que marcam mais esta parte são mesmo as situações em que os
jovens compreendem que têm de fazer algo mais do que aceitar a situação do seu país,
acreditam num futuro melhor e que com união do povo essa mudança é possível. Vemos aqui
talvez um ponto de mudança, ou seja, o início de uma tentativa de revolução, uma tentativa
de começar a lutar pela própria terra, pelo próprio povo.
As Águas

Depois de regressar ao Caleijão, Chiquinho sente uma certa estranheza, quase como se tudo o
que aprendeu ali, com aquela gente, não passasse de memórias da infância. Ele era tratado
com uma certa superioridade por ter estudos, tanto que a sua mãe não o deixou fazer
qualquer trabalho ligado à terra.

A partir deste ponto Chiquinho sente-se um estranho no meio das pessoas com que cresceu e
faz duas novas amizades, dois homens velhos que estiveram emigrados na América e fizeram
estudos, os três todos os dias se encontravam e falavam sobre assuntos que para “os outros”
era conversa de malucos.

Chiquinho e os jovens do Grémio continuaram a corresponder-se e cada um tinha a missão de


escrever um ensaio sobre as ilhas onde encontravam.

A um certo ponto Chiquinho decide tornar-se professor e fica colocado em Monte Braz, mas aí
a pobreza é tão grande que com frequência os seus alunos não apareciam e até chegavam a
morrer. Aqui por todo Cabo Verde começa a cair a miséria e a fome devida às secas, Chiquinho
testemunha, crianças, homens, mulheres a morrer de fome, a miséria é de um extremo tão
grande que toda a gente entra em desespero.

Numa certa altura o desespero da fome e da pobreza leva a gente da sua terra a agredir um
polícia e até a invadir um estabelecimento para conseguir comida.

No meio disto tudo, Chiquinho continua a falar de Nuninha e das saudades que sente da sua
amada.

Há um episódio nesta parte que toca Chiquinho de uma forma que ele admite que lhe apetecia
gritar, Nho Chic’Ana morre de fome, o senhor que contou imensas histórias a Chiquinho,
histórias essas que moldaram toda a sua infância e de certa forma a sua vida. Chiquinho
admite por diversas vezes que é adulto, mas é um adulto que cresceu e aprendeu com as
histórias que os velhos lhe contavam e também com o que aprendeu e vivenciou em S.
Vicente.

A sua terra para de ser caracterizada pelos campos com erva verde e acastanhada e pelo pó
vermelho e passa a ser caracterizada como cinzenta.

A história termina com a partida de Chiquinho para América, para a beira de seu pai,
assistimos a todas as despedidas, tanto dos seus colegas do Grémio, como das pessoas com
quem ele cresceu, até Nuninha lhe escreve prometendo o seu amor eterno e que no ano
seguinte irá ter com ele, apesar de um pouco apreensivo com a ida Chiquinho entusiasma-se
com o facto e poder ir estudar numa Universidade da América apesar de ter de trabalhar. Toda
a gente no Caleijão fica muito feliz e comovida com a ida de Chiquinho para a América.

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