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EU AINDA ACREDITO EM NÓS

Copyright © 2021 by Thales Eduardo


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Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a


realidade (nomes, lugares ou situações descritas) é mera
coincidência.

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trechos em críticas. A violação dos direitos autorais é crime definido
pela lei 9.610/98 e punida nos termos do artigo 184 do Código
Penal.

CAPA E ARTE DO TÍTULO: Mateus Aiam


REVISÃO E PREPARAÇÃO: Carlos César da Silva
DIAGRAMAÇÃO: Carlos César da Silva
Índice

Prólogo
1. Agora
2. Antes
3. Agora
4. Antes
5. Agora
6. Antes
7. Agora
8. Antes
9. Agora
Epílogo
Agradecimentos
Sobre o autor
Prólogo
Eu me lembro de um bom tempo atrás, quando nós éramos
felizes. Esse simples ato hoje se torna algo difícil e doloroso. Olhar
para o passado e ver tudo o que tínhamos, estando agora
acompanhado pela maneira de que tudo acabou. É o tipo de fim que
a gente não quer ver, porque é uma tragédia e só te deixa pra baixo.
Agora já é tarde, o que aconteceu não pode ser alterado e
precisamos viver com as consequências das nossas escolhas.
Vivíamos um sonho, algo que muitos invejavam. Só que
nunca é simples e assim como nos sonhos, uma hora a gente
acorda e tudo aquilo fica apenas na lembrança. Foi assim com a
gente. Despertamos e quando percebemos já era muito tarde para
voltar atrás. Estávamos acordados e nessa realidade o “nós” já não
existia mais.
Entretanto, espero que saiba que não é fácil para mim
também, porque é o seu rosto que vejo na minha mente quando me
deito para dormir e fecho meus olhos. Lá está você, ainda vivo nos
meus sonhos.
Só que não reclamo, admito. Na verdade, é totalmente o
contrário. Eu faço uma prece silenciosa para que esse sonho possa
um dia se tornar real.
Pois sim, eu ainda acredito em nós.
1. Agora
É uma noite agradável de primavera e o céu brilha repleto de
estrelas. Estamos no interior do Rio Grande do Sul, em uma cidade
minúscula e longe dos grandes centros urbanos, e é justamente por
isso que o céu se torna protagonista nesse cenário.
Com uma cerveja em minhas mãos, caminho pelo jardim sem
destino, enquanto a festa aos poucos vai ficando cada vez mais
longe.
Assim que o jantar acabou, os convidados logo seguiram
para a pista de dança, ao redor do mais novo casal. Minha irmã
brilhava, radiante em seu vestido de noiva enquanto se divertia ao
lado do, agora, marido.
Estou de fato muito feliz por ela, pois vejo o quão
apaixonados eles são e o casal perfeito que formam. Só que, ao
mesmo tempo, ver tamanha felicidade ainda me atinge de uma
maneira profunda. Velhos fantasmas que insistem em me cercar.
Porque sim, a culpa desse aperto em meu coração ainda é dele,
mesmo que no final das contas nem esteja aqui agora.
Quando fiquei sabendo do casamento, fui tomado pela
alegria de saber que minha irmã estaria vivendo algo com que
sempre. Depois de muito conversar, falar dos detalhes e de outras
besteiras, ela ficou séria, dizendo que tinha ainda outra coisa para
me falar. Eu já imaginava o que seria — ou melhor, sobre quem
seria.
O companheiro de minha irmã era um dos melhores amigos
dele e, mais do que óbvio, eles faziam questão de convidá-lo para a
cerimônia. A dúvida deles era apenas como seria o nosso
reencontro, principalmente se eu estaria confortável para isso.
Eu não tinha o que dizer, precisava ser maduro e aceitar a
situação. Afinal de contas, uma hora isso iria acontecer. Se parar
para pensar, até que demorou bastante para nossos caminhos
voltarem a se cruzar.
E desde aquela conversa venho me preparando para o
reencontro. Naqueles últimos dias até o evento, ele nem saía da
minha cabeça, me tirando umas boas horas de sono. Só que tudo
foi em vão, já que ele mais uma vez escolheu pelo caminho mais
fácil e não veio ao casamento.
Me sinto, mais uma vez o idiota da história, percebendo a
força que ele ainda exerce em mim, estando ou não presente.
Nunca soube que eu pudesse sentir tudo isso e talvez seja isso que
mais me assusta, pois é evidente que ainda hoje esse sentimento
continua vivo — e forte — no meu peito.
Mas não gastarei minha noite pensando nele, não hoje. Viro a
bebida toda de uma vez, sentindo o álcool queimar minha garganta.
Torço pelo efeito rápido da cerveja em meu organismo, para assim
afastar esses pensamentos que não levam a lugar nenhum.
Uma agitação corre pelo meu corpo e estou pronto para
voltar para a festa e aproveitar cada minuto ao lado das pessoas
que amo e que me fazem bem. Hoje é um dia especial para minha
irmã, preciso me fazer presente, estar lá por ela.
Noto o quanto me afastei quando vejo um carro manobrando
no pátio do sítio. Deve ser outro convidado que se perdeu, afinal,
não tinha um lugar menos isolado do que esse que minha irmã
escolheu?
Observo por um tempo o automóvel, tentando reconhecer
quem possa ser. Já estou prestes a desistir e voltar para a tenda da
festa, quando percebo quem acaba de sair. Lá está ele. Meu
coração acelera e sinto uma adrenalina em todo meu corpo.
Queria ter sido rápido o bastante, mas antes que eu
conseguisse fazer qualquer movimento, ele já estava me encarando
de volta. Em um segundo estava tudo perfeito, mas agora parece
que tudo vai desabar.
Ele me olha sorrindo e acena. É real, Rodrigo está de volta.
2. Antes
Estamos dirigindo estrada à dentro, cruzando pela
madrugada por caminhos que eu desconheço totalmente. Já tem um
certo tempo desde que saímos de casa, desde que Rodrigo chegou
até mim animado, me chamando para uma surpresa. Eu, animado e
tolo, pensando em ter um momento ao seu lado, nem pensei duas
vezes.
Com a cabeça encostada no banco, observo timidamente ele
de perfil: seu rosto sério encarando a paisagem, que brilha conforme
os faróis do seu carro avançam por aí. Ainda olhando para ele, outra
coisa chama minha atenção na estrada. Uma placa que parece a
mesma de minutos atrás.
— Olha, não querendo duvidar do seu conhecimento, mas já
duvidando... Tem certeza de que sabe mesmo aonde estamos indo?
— pergunto para Rodrigo, agora prestando mais atenção no
caminho que seguimos e notando outras semelhanças com as que
passamos anteriormente.
Ele revira os olhos, debochando da minha pergunta como se
fosse coisa boba, mas com a maneira de que seus olhos seguem
fixos na estrada e com um vinco na sua testa entre os olhos
aumenta, percebo que realmente está nervoso. Parece de fato
perdido e levemente desesperado por algo que ainda não descobri.
— É difícil demais confiar em mim, Denis? Claro que eu sei
onde estamos, e se conseguir ser um pouco mais paciente, logo
verá nosso destino a frente.
Tento encará-lo, buscando verdade em suas palavras. Eu
conheço o quão teimoso ele é e sei que nunca admitiria caso
estivesse perdido. Resolvo acreditar e pelo menos dar esse voto de
confiança de que ele também conseguiria organizar algo para nós,
já que geralmente era eu quem tomava as iniciativas. Entretanto,
não posso deixar de incomodá-lo.
— Acho bom mesmo que estejamos no caminho certo,
porque um certo alguém aí me fez madrugar com a promessa de
que veríamos o nascer do sol. E você sabe com o meu sono é
especial, então, mocinho, ache logo esse lugar! — digo com minha
cara mais abusada possível, realmente para implicar com ele um
pouco mais.
Ele sabe que estou apenas fazendo graça, então me olha
mostrando a língua, com um sorriso largo estampando seu rosto,
daqueles que mexem tanto comigo. São momentos como esse que
me fazem questionar o quão bem eu escondo meus sentimentos por
ele, porque sinto já não conseguir disfarçar tão bem a maneira de
que meu corpo reage diante de nossas interações. Como se
fossemos uma lei de física na qual toda ação de Rodrigo tem uma
reação direta em mim.
Mas não é a hora de pensar sobre isso, principalmente com
ele tão perto assim. Já sinto meu rosto esquentar, então preciso
disfarçar antes que ele me faça explicar o que está acontecendo.
Resolvo ligar o rádio, dando assim algo com que possamos nos
ocupar.
Com o ritmo tranquilo da estrada e o som agradável que
agora toma conta do ambiente, me deixo levar novamente por
outros devaneios. Penso em muitas coisas, mas todas elas me
levam sempre para ele, para nós. Ainda que eu tenha a noção de
que um “nós” é algo longe de acontecer. Repito que esse não é o
momento e que Rodrigo certamente está estranhando tamanho
silêncio. Ao dar foco no momento presente, noto que estamos
parados na beira de uma estrada que não conheço. Olho para ele e
o vejo com a cabeça apoiada na direção, com os ombros caídos.
— Ei, Rodrigo — digo, enquanto deposito minha mão em seu
ombro, apertando de leve — aconteceu alguma coisa? Você está
bem?
O escuto resmungando, ainda com a cabeça baixa. Chego
mais perto, tentando ouvir o que está falando.
— Claro que não está nada bem, Denis. Tu não consegue
perceber como eu sempre faço as coisas erradas? — o seu tom de
voz, irritado e triste, me assusta. — Hoje era para ser algo especial.
Organizei tudo para que tivéssemos um momento bacana juntos e
pudéssemos ainda aproveitar o dia na praia. Mas se ainda não
percebeu, eu estraguei tudo, de novo.
Penso em dizer que ainda podemos resolver isso, mas olho
novamente ao redor e percebo agora que a claridade que ganha
cada vez mais espaço já é o sol nascendo. Perdemos a
oportunidade de assistir a esse momento e, para ajudar, pelo jeito
também estamos perdidos. Agora entendo a frustração dele.
— Calma, não era você que me chamava de dramático?
Espero que esteja percebendo o papel que está fazendo agora
mesmo — digo de maneira descontraída, tentando ganhar sua
atenção. — Olha, é sério, não precisa ficar desse jeito. Não é como
se esse fosse nosso último dia.
Rodrigo finge não me ouvir, seguindo com os seus
resmungos dando a impressão de estar na realidade falando mais
consigo mesmo do que comigo.
— Qual a necessidade de ter inventado isso justo hoje? Eu
sabia que seria muito melhor escolher uma praia mais conhecida e
que já tivéssemos ido antes. Só que não, o teimoso aqui precisava
inventar algo diferente. Bem feito, talvez assim eu aprenda...
Me canso de toda essa situação e de como ver ele dessa
forma acaba me deixando mal também. Interrompo sua fala lhe
dando um tapa em seu pescoço, o que parece funcionar. Ele ergue
a cabeça rapidamente, colocando a mão onde eu acabei de bater.
— Ai, essa doeu! Não precisava disso, sabia?
— Precisava sim, Rodrigo. Se você não fosse tão teimoso, já
teria me escutado e percebido que está tudo bem. Que não precisa
se preocupar com tudo isso não. Teremos outros dias, calma. Ou
precisarei te dar mais uns tapas para que entenda isso? — digo
rindo e já erguendo minha mão num falso gesto de ataque, ao qual
ele reage se afastando de mim e colando seu corpo contra a porta.
— Tá, tudo bem. Tu pode ter razão mesmo, teremos outros
dias. Só que hoje era para ser o dia. Queria tornar esse momento
especial. Eu já tinha tudo planejado na minha cabeça, inclusive o
que iria falar quando…— ele se interrompe, percebendo talvez que
tenha dito mais do que o planejado. Logo vejo seu rosto ficando
vermelho e o acho tão fofo que não consigo conter um sorriso.
Ele mantém sua cabeça reta, tentando fugir dos meus olhos.
O que acabou de falar fica martelando na minha cabeça. Preciso
saber do que está falando.
— Sabe que não adianta ficar com essa cara, né? Precisa me
explicar essa história agora mesmo.
— Cala a boca, Denis! Eu estou aqui todo nervoso por
estarmos perdidos, acabei falando besteira. Não era nada, só
esquece isso, por favor.
Só que não consigo tirar suas palavras da minha cabeça.
Uma dúvida queima em meu peito e sinto que não posso deixar
esse momento passar, preciso arriscar.
— Besteira ou não, precisa me contar sim. Não vai escapar
tão fácil assim. Você escolhe, vai me dizer por bem ou por mal? —
pergunto, fazendo a cara mais séria que consigo nesse momento.
Vejo a dúvida em seus olhos, tentando prever o que virá da
minha parte. Por fim ele decide ficar em silêncio, esperando que eu
não faça nada.
— Tudo bem, Rodrigo. Mas lembre-se de que foi você que
escolheu dessa forma — assim que termino de falar, jogo minhas
mãos em sua barriga, sem dar tempo para sua reação, fazendo
cócegas nele.
Rimos alto e o som da nossa risada invade o carro. Ele tenta
escapar de todo o jeito das minhas mãos, enquanto eu, envolvido
pelo momento, não cesso a pressão que minhas mãos fazem pelo
seu corpo.
Estou inebriado pela sua risada e pelo toque, o que acaba me
deixando vulnerável. Rodrigo aproveita o momento e em uma
manobra rápida ele me puxa, fazendo com que eu acabe
praticamente caindo em seu colo, com seus braços ao meu redor.
Estou imobilizado, sentindo o corpo dele contra o meu, em uma
distância quase inexistente.
— Que isso? Me solta logo, vai! — digo tentando disfarçar a
maneira que cada vez meu rosto vai ficando mais vermelho. Será
que ele escuta o meu coração completamente acelerado, batendo
descompassado dentro do peito?
— Te soltar? Só pode estar louco. Tu acabou de me atacar.
Como sei que não repetirá isso assim que eu te soltar, hein? Não
posso arriscar. — Ele mostra a língua novamente, me fazendo
graça.
Reviro os olhos, sabendo que ele não cederá tão fácil. Da
maneira que acabamos, por Rodrigo ser mais alto que eu, minha
cabeça acaba praticamente repousada em seu peito. Seus braços
me apertam contra si ainda mais, me fazendo assim colocar meu
rosto nele, e chegando a ouvir os batimentos acelerados como os
meus. Então isso significa que ele está tão nervoso com isso tudo,
assim como eu? Ou é apenas uma reação natural pelo movimento
que acabamos de fazer?
Preciso focar na realidade e nela não há sentimentos mútuos,
sei disso. Preciso parar de idealizar os grandes romances que vejo
nas páginas dos meus livros favoritos. Ainda estou pensando sobre
isso quando ele interrompe meu raciocínio com sua voz levemente
trêmula.
— Enfim, era para ter sido tudo diferente hoje. Eu tinha
planejado nós dois na praia, sentados observando o sol nascer,
iluminando tudo ao nosso redor. E somente nesse momento eu te
contaria o que tenho guardado por tanto tempo. Denis, você tem
sido o meu sol, todos os dias, desde que nos conhecemos.
Ainda em seus braços, olho para ele, observando o contorno
do seu rosto e busco focar meus olhos nos seus. Ele lentamente
direciona a cabeça para mim, sorrindo de uma maneira diferente,
especial. Sua mão sobe até meu rosto, fazendo um carinho pelo
qual tanto sonhei. Fecho meus olhos, sentindo o toque quente de
seus dedos fazendo caminhos pelo meu rosto.
— Todos os dias você está aqui, pronto para iluminar meu dia
— ele continua — e já não consigo ignorar a maneira que isso
reflete em mim, nos meus sentimentos. Sinto algo gigante por você,
Denis. Algo diferente de tudo que eu já tenha vivido antes. Estou
cansado de criar essas barreiras entre a gente, de bloquear essa
enxurrada de sensações que causa em mim. Quero estar ao seu
lado, totalmente presente. Sentindo o bom daquilo que a vida tem
para nós.
Sinto como se todas as palavras tivessem sumido de uma
hora para outra, não sei como reagir. Não sei como lhe falar que me
sinto da maneira exata que ele. Mas reconheço que esse é o
momento decisivo para nós. Se eu quiser construir algo ao lado
dele, preciso mostrar para Rodrigo que é recíproco, verdadeiro.
Me arrumo em seu colo, ficando com seus olhos na mesma
altura dos meus. Replico o seu gesto, meus dedos desbravando seu
rosto. Ainda estamos fixos nos olhares quando meus dedos passam
lentamente pelos seus lábios.
Ganho mais confiança, puxando seu rosto para mim. Sinto a
aprovação em seus olhos, enquanto foca o seu olhar em minha
boca. Lentamente nos tocamos e o primeiro beijo começa. Nossas
bocas parecem metades, que agora se tornam uma só peça.
Fico inebriado pelo seu gosto e pelo toque de seus lábios nos
meus. É algo único, especial, totalmente perfeito. Espero que esse
seja só o começo de uma grande história.
3. Agora
Finalizo o espumante que está em minha mão, devolvendo
em seguida a taça para o garçom assustado que me encara. Penso
na cena que acabei de causar, voltando até a festa quase correndo
e atacando o primeiro atendente que cruzou meu caminho. Peço
desculpas e agradeço sua gentileza. Ele se afasta o mais rápido
possível.
Agora, novamente sozinho, não consigo ignorar o gosto que
invade minhas lembranças e, automaticamente, minha boca. É o
gosto dos lábios dele. Ainda me lembro do beijo de Rodrigo, de
como um ansiava pelos lábios do outro.
Quantas coisas não andei acumulando em todos esses anos,
afinal? As memórias dele, de nós, ressurgem lentamente em minha
cabeça. Como em um quebra-cabeça, relembro pequenos detalhes
daquilo que tivemos.
Vou até o banheiro, buscando um abrigo para que possa me
recuperar do que acabou de acontecer. Na frente do espelho, vejo
no reflexo que me encara o velho Denis assustado e perdido, de
tanto tempo atrás. Eu não posso, não agora, digo numa prece
silenciosa. Estou caindo e, novamente, a culpa é dele.
Lavo o rosto buscando afastar todo esse fluxo de
pensamentos que me invade. Preciso manter o foco e a postura,
afinal, já sou um homem agora e não mais aquele jovem imaturo,
que acreditava que já soubesse tudo que precisava saber. Não
posso me esconder para sempre, preciso enfrentar essa situação e
pôr o ponto final de uma vez.
Claro, fui pego de surpresa naquele momento, por isso fiquei
dessa forma. Mas já estou recuperado, pronto. Repito isso algumas
vezes em minha cabeça, para que possa de fato acreditar nessas
palavras. Respiro fundo uma última vez, alinhando minha roupa e
tentando resgatar o máximo de confiança possível.
Não espero mais nenhum segundo, vou até a porta. E, claro,
de todas as possibilidades, o universo mais uma vez se mostra
disposto a me testar. A primeira pessoa que vejo assim que saio é
ele. Rodrigo está ali, parado e olhando diretamente para mim.
Parecia que de alguma forma ele sabia onde me encontrar e estava
ali justamente me esperando para sair. Seria constrangedor demais
dar as costas e voltar para o banheiro?
Ele se aproxima, tão respeitável em seu terno bem passado.
Um sorriso aos poucos cresce em seu rosto, fazendo com que ele
pareça realmente feliz com esse reencontro.
— Olá, Denis!
Olho para seus lábios, apreciando o jeito como ele diz meu
nome. Percebo então que não estou pronto, nunca estive. Encarar
Rodrigo tão de perto assim tem de tudo para ser minha ruína, e
sinto que já perdi o controle da situação.
Tento manter o máximo de calma possível, mas sinto as
palavras sumirem da minha boca. Ele estende a mão, esperando
por uma reação minha. Sei que isso deveria ser algo simples, ou
pelo menos foi o que eu achei que seria. Consigo erguer a mão indo
de encontro a sua. Quando o toque acontece, sinto uma descarga
invadir meu corpo. Há uma energia agora entre nós, e vejo nos seus
olhos que ele pensa da mesma forma.
— Estava com saudades — ele complemente, com nossas
mãos ainda juntas, e toda essa situação me leva para o passado,
para um momento antigo do qual compartilhamos tempos atrás.
4. Antes
Estou no quarto, deitado em minha cama, pensando em
Rodrigo. É sempre assim, ele surge em meus pensamentos e os
domina, fazendo com que tudo gire em torno de si. Eu já deveria
estar dormindo, mas me permito navegar por todas as imagens de
nós dois que flutuam pela minha cabeça.
Relembro o passeio que tivemos e todas as palavras que ele
disse para mim. Lembro do seu beijo, o primeiro e os muitos outros
que tivemos naquele dia. Me pergunto se ele tem noção de que
aquele foi um dos melhores dias que já tive.
Mas outra coisa me preocupa, pois, apesar de tudo que
aconteceu entre a gente, no dia seguinte, de volta nos corredores da
faculdade, uma aflição tomou meu coração e acabei me esquivando
de todas as oportunidades. Estava sempre na posição contrária que
ele, cuidando para que não nos encontrássemos sozinhos. E essa
situação acabou se estendendo por toda a semana.
Agora é sexta-feira e uma sensação ruim me preocupa. Eu
gosto dele, gosto muito. Só que não poderia encontrá-lo e descobrir
que todo aquele dia não passou de um sonho. Parece que
conseguia ouvir as palavras dele na minha cabeça dizendo que
“aquilo foi um equívoco e nós obviamente não poderíamos ficar
juntos”. Acredito que será desse jeito, afinal, não faz sentido alguém
como Rodrigo gostar de mim.
Eu sou invisível, enquanto todos sabem quem ele é. Penso
em quando cheguei aqui, nessa cidade pequena onde todos já se
conheciam desde sempre. Pela minha timidez, acabei ainda mais
isolado, me tornando então o estranho no ninho.
Só que então, em uma daquelas tardes em que ficava no
meu quarto perdido nas leituras, escuto meus pais me chamarem.
Quando desço até a sala, vejo que temos visitas. O casal que mora
em frente está aqui e meu pai me apresenta para ambos, dizendo
que o homem era seu chefe e que era que havia conseguido o
emprego e a casa para nós. Meu pai ficou falando mais sobre o
homem, mas meu foco já tinha mudado para o garoto que agora
olhava os livros de nossa estante. Quando ele vira, com seu habitual
sorriso no rosto, sei que é Rodrigo, uma daquelas pessoas que
todos conhecem no colégio.
O começo foi uma aproximação forçada. Meu pai insistia para
termos uma boa relação com a vizinhança, principalmente com seu
chefe. Entretanto, enquanto aquilo parecia exaustivo para mim, para
Rodrigo era extremamente divertido. Ou ao menos era isso que ele
fazia parecer. Falava sem parar sobre vários assuntos,
principalmente sobre as músicas que ouvia e as diversas séries que
acompanhava. E lá ficava eu atônito, sem entender a razão de ele
querer fazer amizade comigo.
Nossas interações foram se tornando tão recorrentes que aos
poucos acabei baixando a guarda e ganhando a confiança de
Rodrigo. E se antes eu ficava a maioria do tempo calado, chegou
um momento que era natural falar para ele, me abrir e contar cada
detalhe das coisas que aconteciam comigo. Só que agora, talvez,
tenhamos colocado em risco toda essa amizade.
Me reviro contra o lençol, cobrindo meu rosto com o
travesseiro e gemendo diante de tamanha frustração. A vida real é
cruel e nada parecida com os grandes romances dos quais tanto
gosto.
Seria culpa minha estarmos nessa situação? Tenho uma
mania de fugir das situações que me causam desconforto, que
possam exigir de mim um pouco mais. Lembro novamente de nosso
tempo juntos e de como ele foi corajoso revelando seus sentimentos
para mim. Aquilo não seria algo de momento, preciso entender isso.
Tenho que lhe mostrar que também estou disposto a ser sincero
sobre o que sinto por ele.
Pego meu celular, me levantando da cama e indo até a
janela. Vejo a luz do seu quarto acesso e no mesmo momento
começo a digitar uma mensagem para ele, antes que a coragem
resolva me abandonar.
Parece que mais alguém não anda dormindo tão bem.
A mensagem é logo recebida e visualizada. Olho para o
telefone, esperando por alguma resposta. Nada. Talvez realmente
eu já tenha estragado tudo. Olho para a sua janela mais uma vez e,
assim que me viro para voltar até a cama, sinto meu celular vibrar, e
uma mensagem sua chega.
Alexa, lembrar de comprarmos amanhã cortinas mais
grossas, pois parece que temos uma vizinhança muito interessada
na vida alheia.
Sorrio, ficando mais confortável com a brincadeira e com a
chance de que ainda há esperança para nós.
Muito engraçadinho! Iria perguntar se estava a fim de vir até
aqui para conversarmos um pouco, mas acredito então que isso
poderia assustar ainda mais certos vizinhos. Boa noite :)
Escrevo dessa forma apenas para incomodá-lo e acabo me
divertindo quando o vejo saindo escondido pela sua janela e
correndo desesperado até a minha casa. Ainda rindo, abro espaço
para ele, que chega até meu quarto de maneira espalhafatosa pela
janela.
— Rodrigo, há mais alguém que você queira avisar da tua
chegada? Porque com esse barulho todo é certo que meus pais
tenham ouvido a bagunça que você fez— digo de maneira
debochada, que ele retribui me mostrando a língua.
— Quanta maturidade... — tento lhe provocar novamente,
mas sou interrompido pelo abraço apertado dele. Nossos corpos se
unem e sinto seus braços contra minha cintura. Ficamos assim por
um tempo, com minha cabeça apoiada em seu peito. Percebi que
estava precisando disso, que sentia saudade de Rodrigo. E é
exatamente o que ele diz, ainda com os braços ao meu redor.
— Olá, Denis! Estava com saudades. Você precisa parar de
se esconder desse jeito, sabe que não precisa. Me desculpe se
aquele dia na viagem acabei sendo precipitado demais. Se por
acaso você não sentir nada daquilo ou não estiver pronto, quero que
se sinta realmente confortável para me dizer. Afinal, somos amigos
e quero continuar assim.
Escuto suas palavras e uma dor ganha meu peito.
Novamente meu silêncio machucando as pessoas ao meu redor,
principalmente aquelas que amo. Mas se ele está sendo tão
corajoso pela segunda vez, eu também posso avançar em alguns
sentidos.
Me afasto apenas para conseguir olhar em seus olhos e
colocar um dedo em seus lábios.
— Não diga besteiras, por favor, Rodrigo. É claro que gosto
de você, sempre gostei na verdade. Aquele último dia juntos foi
perfeito e espero que tenhamos muitos outros ainda. É por isso que
te chamei aqui, para conversarmos. Sei que andei fugindo, mas foi
tudo por medo de você ter se arrependido. Tive medo de ter
estragado nossa amizade.
— Percebeu o quanto de palavras você coloca na minha
boca? Em nenhum momento me senti desse jeito, arrependido.
Muito pelo contrário, estou feliz, como nunca estive. E não forcei
qualquer encontro, pois sei que cada um tem o seu tempo, e não
era justo lhe pressionar dessa maneira.
Rodrigo diz tudo de um jeito doce e calmo, me acolhendo
como sempre fez. Seus dedos acariciam minhas costas, subindo até
os cabelos. Estar com ele me proporciona um sentimento infinito de
amor e sei que é algo que quero ter ao meu lado. Agora e para
sempre. Então avanço mais um passo, dando uma chance para o
desconhecido.
— Eu sinto muito. Sei que preciso melhorar a comunicação e
nem preciso falar muito sobre isso, você sabe bem— digo,
ganhando um sorriso de volta. — Caso tenha ficado alguma dúvida
ainda, eu gosto de você, Rodrigo. Gosto muito, na verdade. O futuro
é algo que me assusta, mas se eu souber que terei você do meu
lado, sei que estou disposto a tudo. O seu lugar é comigo. Sempre
soube disso e agora preciso saber de mais uma coisa: você quer
namorar comigo?
5. Agora
As palavras dele me levaram até aquele dia, na noite em que
iniciamos o namoro. Será que Rodrigo sabia que estava dizendo as
mesmas palavras daquela vez ou foi tudo por acaso?
Tento não pensar muito nisso, mas é mais forte que eu. Fico
me perguntando qual motivação ele teria, se sabemos o final disso
tudo. Ele deve ser muito ingênuo se acha que não me lembro da
maneira como nosso relacionamento chegou ao fim e,
principalmente, que estou bem com isso.
Depois de me recuperar, consigo manter uma conversa com
ele. São coisas simples, apenas aquelas frases básicas, de forma
que nos mantemos em uma zona neutra. Há uma mesa vazia
próxima de onde estamos e sigo até lá, chamando pela sua
companhia. Um garçom logo se prontifica a nos servir algumas
bebidas e petiscos.
Olho para ele, que observa distraído a festa ao nosso redor.
Rodrigo parece se divertir, quase prestes a correr até a pista e ter a
noite mais animada da sua vida. Me deixo levar e acabo sentindo
sua paz me invadir. Quase é normal estar sentado ao lado dele,
olhando para os outros dançando. Quase, porque preciso me
lembrar de tudo que aconteceu, do que ele fez. Não posso fraquejar
agora, não posso.
— Tem certeza de que você não quer estar lá? Sinto que
você quer demais mostrar alguns passes de danças para aquele
grupo de jovens que mal está se mexendo — digo sorrindo e me
arrependendo na hora, não era dessa forma que eu deveria seguir
com a conversa.
— Será que ainda sabemos? Olha, se você topar, eu topo. O
que me diz, Denis? Me daria a honra dessa dança? — me sinto
completamente exposto por suas palavras e pela maneira da qual
ele tem controle sobre mim.
— Desculpa te decepcionar, Rodrigo, mas não bebi o
suficiente para aceitar uma coisa dessas. Talvez depois de mais
umas três dessas? — digo indicando o copo de cerveja sobre a
mesa e acabamos os dois em uma risada gostosa.
Nos ver dessa forma, nessa harmonia, não era algo que eu
esperava ver acontecer. Sinto que tudo ainda é muito perigoso, que
eu não devo me entregar com tanta facilidade, pois sei quão dura
pode ser a queda. Ao mesmo tempo, sei que a atração que ele
exerce em mim segue poderosa e me puxa cada vez mais para si,
sem me deixar chance para escapar.
— Se for assim eu posso providenciar agora mesmo, preciso
apenas chamar o garçom de volta — ele diz com aquela sua cara
divertida, olhando ao redor procurando pelo atendente.
— Nem pense nisso, está me ouvindo? Foco aqui, antes que
essa cerveja vá parar no seu rosto. — Ele me olha assustado até
ver meu sorriso. Voltamos ao ponto das velhas implicações, o que
está acontecendo comigo?
— Você está se fazendo de difícil, como sempre. Acha que
não lembro de como dançamos bem juntos? E nem faz tanto tempo
assim, certeza de que formamos ainda uma bela dupla. — Suas
palavras, por mais bem intencionadas, me ferem, desfazendo
qualquer ilusão que eu possa ter criado por esse momento.
— Essa dupla já não existe há um tempo, Rodrigo, e, caso
não lembre, foi você quem fez questão de pôr um ponto final nela —
ele sente a mudança no rumo da conversa. Meu rosto já não exibe
aquela risada de antes, e agora sinto uma raiva crescer em meu
peito.
Ele me encara por alguns segundos, talvez pensando sobre
qual é o próximo passo que deveria tomar. Desejo que ele escolha o
mais fácil e aquele que ele já fez antes. Torço para que ele me deixe
em paz e vá embora. Só que ele parece ignorar toda a ira que
despeja pelos meus olhos e suas próximas palavras são tranquilas e
pacíficas.
— Está bem, Denis. Essa eu realmente estava merecendo!
Mas me deixe te dizer mais uma coisa: não há um dia sequer que
eu não pense na gente, no que tínhamos. Sinto uma saudade
enorme de tudo aquilo, de você. Dói em mim tanto quanto deve doer
em você.
Quero gritar, voar em seu pescoço. As palavras dele me
cortam, expondo antigas feridas. Como ele ousa comparar nossas
dores? Não há comparação, não quando fui eu o deixado para trás.
Fui eu que fiquei lá, largado enquanto ele seguia com sua vida.
Eu estava cedendo, porque também sinto essa saudade
imensa de Rodrigo, que me consome dia após dia. Sinto saudade
dele, do seu toque, de tudo a seu respeito. Só que a mudança no
rumo da nossa conversa me mostrou um outro da relação que
tínhamos, a da dor. Lembro da dor de ter ficado lá, do abandono, de
como foi difícil se reerguer ao caos que parecia querer me engolir.
Isso não é um conto de fadas e agora já é tarde demais para
Rodrigo me salvar em seu cavalo branco. Os finais felizes não
existem, bem-vindo à vida real!
Olho mais uma vez para ele e sei o que devo fazer. Não sou
à prova de balas, não posso correr novos riscos. As coisas
mudaram, e agora sou eu que dou um passo para trás e deixo ele ir.
6. Antes
Puxo os braços de Rodrigo contra meu corpo e ficamos
assim, encaixados, ainda debaixo das cobertas.
— Amor, você sabe que nunca te deixarei. Foi apenas um
pesadelo, não fica assim vai — ele diz isso de uma maneira meio
sussurrada e sonolenta. Sinto ele depositar um beijo em meu
ombro, me puxando mais para perto de si. Minhas costas agora
colam em seu peito e sinto que ficamos bem juntos.
— Foi um daqueles pesadelos mais reais, que realmente nos
assusta, sabe? Desculpa por ter te acordado, é que por um
momento parecia que você tinha ido embora e eu estava aqui
sozinho.
Nos seus braços, olho ao redor, notando a leve bagunça pelo
meu quarto. Nossas roupas estão jogadas aleatoriamente por ali e
por mais desorganizado que seja, posso dizer que gosto dessa
decoração desalinhada.
Pelo seu silêncio cogito que tenha voltado a dormir, mas ele
então faz uma manobra entre a gente, e acabamos um de frente
para o outro. Nossas pernas seguem enroladas, incapazes de se
afastarem. Ele sorri e acaricia meu rosto de leve, porque sabe que
adoro essas carícias.
— Eu gosto do jeito que você soa de manhã, todo
preocupado com as milhares de ideias que surgem nos teus sonhos.
Mas vou repetir, estou aqui e não tenho intenção de ir embora.
— Está bem, prometo controlar o grande dramático que eu
sou — digo sorrindo e depositando um selinho em seus lábios.
Meus dedos brincam com seus cabelos, devolvendo o cafuné que
ele gosta.
— Não se preocupe, pois tenho um segredinho aqui pra te
contar — ele se aproxima do meu ouvido, baixando o tom de voz
como se realmente estivesse dividindo um grande segredo. — Caso
não saiba, amor, eu te amo, desse jeitinho dramático mesmo —
finaliza deixando um beijo no meu pescoço e sua risada gostosa
invade meus ouvidos e sinto que esse é um dos melhores sons que
já escutei, principalmente quando sai de maneira espontânea.
Estar com ele é fácil, simples, de uma maneira como se
apenas nós dois existíssemos no mundo. Será que ele também
consegue sentir essa magia no ar? Essa força gigantesca que
parece nos querer juntos?
Não deixo nada disso passar, muito menos o meu coração
acelerado no peito. Estar com Rodrigo sempre será algo especial e
irá mexer comigo até quando eu não quiser. Não tem jeito, parece
ser algo natural entre nós. Sempre que ele está por perto, tudo é
diferente, parecendo até que o tempo desacelera para que nós
possamos aproveitar cada minuto.
— Sabia que posso ver a fumacinha saindo dessa tua
cabeça? — Rodrigo pergunta sorrindo e tocando o topo da minha
cabeça. — Quantas histórias diferentes não devem estar
borbulhando aí, hein? Só espero que me inclua em todas elas
também — ele diz fazendo uma cara fofa e pedinte.
— Veja bem, parece que não sou o único dramático da
relação — digo para provocá-lo, arrancando outro riso seu. — É
claro que você está em cada uma delas. Todas, se me permite dizer.
E, se depender de mim, será sempre assim, a menos que você
mude de ideia. — Deixo escapar um leve tremor em minha voz,
mostrando como a ideia da separação é algo que me assusta.
— Sabe, parece que às vezes você duvida do que sinto por
você, mas tudo bem, repetirei quantas vezes forem necessárias. Eu
te amo, Denis, e eu nunca estive envolvido em algo dessa forma.
Você é tudo que eu sempre quis e espero ter você do meu lado para
sempre. Não precisa mais ter medo, amor. Estou aqui e nada vai
mudar entre a gente!
7. Agora
Me levanto da mesa, pronto para fugir de Rodrigo pela
segunda vez na mesma noite. Antes que consiga me afastar, ele
segura meu braço pedindo para que eu espere, que fique mais um
momento para podermos conversar e resolver de uma vez a
situação.
— Espere, Denis. Não podemos continuar dessa forma,
fugindo um do outro, enquanto sabemos de todos esses
sentimentos que carregamos ao longo dos anos — ele diz. Eu já
estou prestes a reclamar, fingir que não tem sentimento nenhum
aqui, mas ele é mais rápido. — E não adianta fazer essa cara, você
acha mesmo que eu não consigo notar a maneira com que você
vem lutando com tudo isso?
Ele tem essa capacidade de me decifrar de uma maneira
muito fácil, algo que sempre me surpreendeu. Me pergunto se sou
mesmo tão transparente assim, ou então se é realmente uma
ligação própria nossa, de forma que só ele consegue ter esse
acesso até mim.
Ainda que esteja completamente mexido por todos esses
sentimentos, tento fingir indiferença, mostrar de alguma forma que
ele não tem esse efeito sobre mim. Ainda que seja a maior mentira
de todas.
— Será que precisamos mesmo ter essa conversa, Rodrigo?
Afinal, qual seria o sentido de falarmos sobre algo que já está
esquecido no passado e nem deveria ser lembrado? Muita coisa já
aconteceu desde então. Nós crescemos, amadurecemos. Para mim,
parece tudo uma grande besteira.
— Tu realmente acredita nas palavras que estão saindo da
tua boca, Denis? Porque elas, sim, são besteira. — Seu olhar é
sério e duro sobre mim, me fazendo pensar que ele está realmente
disposto a lutar por essa conversa, essa reconciliação.
Ver ele dessa maneira é algo que me desestabiliza, pois a
visão que tenho dele é do cara que vai embora na primeira
oportunidade. Claro, eu o estou julgando com base em uma atitude
de tempos atrás muita coisa pode ter mudado desde então. Só que
nenhuma mudança apagará o que aconteceu, a dor que ele me
causou ao partir daquele jeito.
Antes que eu tenha chance de respondê-lo, ele decide
continuar, novamente de uma forma como se lesse esse fluxo de
pensamentos que me cercam de todos os lados.
— Você está confuso, vejo isso. Só que vejo também como
aquilo que sai da tua boca é diferente de todas essas coisas que
estão na tua cabeça, Denis. Pode insistir o quanto quiser que não
precisamos dessa conversa, mas há algo em seus olhos que me
dizem o contrário.
— E o que dizem os meus olhos, Rodrigo? Me diga, estou
curioso. Será que eles falam sobre toda a dor que eu passei? Sobre
como é ser abandonado? Sobre como é ser a pessoa que ficou e te
viu indo embora? — Eu explodo e despejo tudo nele de uma só vez.
Sinto uma vontade de machucá-lo, de mostrar o que ele me fez de
verdade. Estou cansado, muito cansado.
— Denis, por favor, me perdoe. Eu acredito que podemos
transformar tudo isso. Há algo ainda forte entre nós. Consegue
sentir isso agora também? Só me deixe explicar, sei que vamos
resolver isso juntos — ele me diz com a voz calma e baixa,
enquanto lágrimas escorrem pelo seu rosto. A impressão que tenho
é que ele estava já há muito tempo lidando com um fardo maior do
que poderia suportar e tudo o que mais quer agora é jogar tudo fora,
se livrar daquilo que lhe faz mal.
Rodrigo leva sua mão até a minha, que está apoiada na
mesa. Deixo que ele complete o movimento e sinto o calor do seu
toque. Um fluxo de sentimentos e sensações percorrem meu corpo.
Me deixo levar pelo momento, absorvendo o que ele ainda causa
em mim.
Nosso toque reacende muitas experiências marcantes da
minha vida, momentos felizes e especiais ao seu lado, mas tudo
leva para o mesmo fim e sinto que não consigo desvincular esses
momentos. De um lado, alegria, e de outro, a dor. Já fui de uma
para outra e me afundei nesse caos que me tornei.
Não posso correr novos riscos, tenho que me lembrar do que
ele me fez. Preciso pensar em mim dessa vez, no que é mais
seguro para mim. Respiro fundo, sabendo que as próximas palavras
serão as mais difíceis da minha vida.
— Juro que adoraria, em uma conversa, esquecer toda essa
dor. Só que não consigo. E isso porque ela ainda está marcada em
mim, me consumindo desde o dia em que você sumiu da minha
vida. Você está pensando que nós vamos ficar bem de novo, mas
não dessa vez, não agora. Suas palavras são bonitas e eu,
realmente, ainda posso gostar muito de você, Rodrigo, só que ao
mesmo tempo não acredito em você, não como acreditei um dia.
Então, me perdoe, mas não podemos mais ficar nesse jogo. Adeus,
Rodrigo!
Aperto sua mão e me despeço silenciosamente. Me levanto e
vou embora, sem esperar uma reação sua. Sinto uma vontade de
olhar para trás, ver como ele está. Só que não posso, preciso
manter firme minha decisão. Vou embora para nunca mais olhar
para trás.
8. Antes
“Adeus, Denis”. Essas foram as últimas palavras que ouvi de
Rodrigo no que se tornou um dos momentos mais difíceis da minha
vida. Fiquei sem chão, o vendo ir embora enquanto o mundo
desabava aos meus pés.
Eu não imaginava a tempestade que estava prestes a entrar
no meu caminho e destruir tudo que eu conhecia. Era apenas mais
um dia comum, no qual amanheci nos braços de Rodrigo sentindo
que eu poderia ser feliz ao lado dele e que aquela história estava
apenas começando.
Eram tantos planos para aquele dia em específico. Depois de
dormirmos juntos, combinamos de dar uma volta à tarde no
shopping, que após algumas voltas, já seguiríamos para o cinema.
A noite seria novamente em meu quarto, onde poderíamos ficar o
mais confortável possível.
Quando amanheceu, eu tentei persuadi-lo para ficar comigo
por mais tempo. Poderíamos passar o dia na cama juntos e eu não
reclamaria nenhum pouco. Só que ele precisava resolver algo em
casa e foi aí que tudo começou a dar errado naquele dia.
Assim que saiu da minha casa, também resolvi levantar e
organizar um pouco a bagunça que havia tomado conta do quarto
nos últimos dias. Eram roupas largadas aleatoriamente pelo quarto,
além de livros e cadernos da aula que precisavam ser organizados.
Algum tempo já tinha passado desde a saída de Rodrigo, e
eu estava envolvido com a limpeza da casa, até que ouvi os gritos
do lado de fora. Não conseguia entender o que estava acontecendo
e nem o que estavam dizendo, mas sabia que aquilo vinha da casa
de Rodrigo.
Fiquei preocupado com ele, com o que poderia estar
acontecendo. Certamente seria algo com seu pai, que nos últimos
dias percebi pegar cada vez mais em seu pé. Estava sempre de
olho em tudo que ele fazia e controlava até mesmo seu tempo livre.
Muitas vezes tivemos que desmarcar certos encontros, porque o
seu pai simplesmente não o havia deixado sair.
Após algum tempo, o silêncio voltou a reinar em nossa rua.
Resolvi mandar mensagem para Rodrigo, tentando justamente
saber se estava tudo bem, mas ele não respondeu. Mandei mais
algumas outras e uma atrás da outra ele ia apenas visualizando e
não respondia nada. Tinha algo errado, eu conseguia sentir. Então
decidi ir até sua casa.
Assim que estava saindo da minha, vejo ele também saindo
da sua, só que de uma forma que nunca o vi. O rosto de Rodrigo
estava transformado. Ele estava vermelho, mas de raiva. O ódio que
vertia de suas feições e gestos era nítido. Aquele não era o Rodrigo
que conhecia, não poderia ser ele daquele jeito.
Mesmo chamando seu nome enquanto caminhava em sua
direção, ele continuou com os movimentos. Foi até seu carro, que
estava estacionado na frente da casa, abrindo o bagageiro e
jogando uma mochila grande, que acabei só percebendo nessa
hora, dentro do compartimento.
O meu desespero só aumentava a cada nova atitude
estranha dele, que só podia considerar como indiferença perante a
mim. Em nenhum momento ele parou e olhou para onde eu estava.
Não desistindo, segui até onde ele estava. Nesse momento, ele já
havia entrado no carro e estava prestes a dar a partida.
— Rodrigo! Você pode, por favor, me esperar e explicar o que
está acontecendo? — gritei meio desesperado em sua janela,
segurando a porta do carro como se pudesse evitar sua partida.
Eu só não estava preparado para a reação que recebi dele ao
olhar para mim. Pude ver o quanto, naquele momento, eu parecia
um ser repugnante para ele, diante de tamanha repulsa e ódio que
via estampando em seus olhos.
— Está acontecendo o que já deveria ter acontecido há muito
tempo. Ou você achou que isso era para sempre, Denis? Eu estava
me divertindo, mas agora cansei. Cansei dessa cidade, dessas
pessoas, de você. — Cada palavra que saia da sua boca era como
uma adaga direto em meu coração. O pior era ver como ele estava
indiferente, dizendo aquelas palavras como se não aguentasse mais
um minuto ficar ao meu lado.
Eu gostaria de ter dito algo, tentado fazer com que ele me
explicasse o que aconteceu, mas na hora acabei paralisado. Um
choque tomou conta do meu corpo, eu sentia as lágrimas
escorrendo pelo meu rosto enquanto eu só ficava lá, estático,
olhando para ele.
— Podemos parar com esse drama? Não éramos nada,
Denis, nunca fomos. Aproveitamos o tempo por um tempo, mas
agora já deu. Quer uma dica? Vira a página e siga com sua vida,
pois é exatamente isso que estou fazendo com a minha.
— O que você está dizendo, Rodrigo? Nada disso faz
sentido. Por favor, precisamos conversar. Por favor… — A frase
ficou entalada e minha garganta enquanto o choro caia em maior
intensidade.
— Nós nunca fomos feitos para acontecer, não da maneira
que você idealizava. E não preciso explicar nada, apenas que para
mim isso já deu. Estou indo embora e espero que não me procure
nunca mais. Adeus, Denis! — Com essas palavras, deu partida no
carro e partiu para o desconhecido.
Antes de o carro avançar, pude perceber o semblante
destruído de Rodrigo. Era uma dor tamanha debaixo daquela
máscara dura sob a qual ele se escondia. Só que se ele sentia tanta
dor, qual a necessidade de fazer isso justo agora?
Agora são duas da manhã e estou amaldiçoando o seu
nome, com o coração completamente em cacos. Já faz um tempo
desde que ele partiu, mas a dor ainda está presente em vários
momentos ao longo de cada dia. É algo que me consome lenta e
gradativamente.
Eu ainda tentei ir atrás dele, buscar notícias com quem
pudesse me dizer algo. Só que, de forma unânime, eu sempre
recebia a mesma resposta: ele havia ido embora pois precisava de
um tempo dessa cidade e, principalmente, de mim. Acabei sendo
apagado totalmente da sua vida.
Da maneira que pude, segui com minha rotina. Me isolei
novamente e só pensava em ir embora daquele lugar, pensando que
assim também conseguiria esquecê-lo. Desmoronei e me desfiz
muitas vezes ao longo do caminho, no qual tentava dia após dia,
superar tudo que aconteceu. Não é fácil, mas algo com que eu
preciso lidar.
Ainda estou nesse processo de cura, longe de um fim,
reconheço. A cada dia consigo esquecê-lo um pouco mais,
deletando cada momento que tivemos juntos. Nessa nova jornada
da minha vida, quero nunca mais ter que olhar para trás. O passado
é simplesmente algo que eu enterrei com cada momento que
tivemos juntos.
9. Agora
Choro de um jeito incontrolável e intenso, como se toda a dor
que estivesse aqui dentro me consumisse por inteiro. Sinto por
aquilo que aconteceu no passado e por tudo que está se repetindo
agora.
Eu achava que poderia ignorar tudo que aconteceu antes, só
não contava que tudo fosse voltar de uma só vez. Que reviveria o
que havia jurado não lembrar mais.
Estou agora no carro, eu e meu orgulho estúpido. Essa
indecisão que machuca ainda mais, pois ao mesmo tempo que sei
que nada apagará o mal que me foi feito lá atrás, há uma outra parte
de mim dizendo que talvez poderia ter tido uma conversa mais
civilizada com Rodrigo.
Sei que não posso viver nessa indecisão, que preciso estar
no controle antes que tudo desmorone outra vez. Ergo a cabeça e
respiro fundo, tentando conter o fluxo de lágrimas que insistem em
sair. Digo para mim mesmo que as coisas acontecem como devem
acontecer, afinal, não é o que sempre dizem?
Minha respiração vai lentamente acalmando, e sinto que está
na hora de partir. É hora de seguir os passos de Rodrigo e fazer o
mesmo que ele fez na última vez que nos vimos. As posições
viraram e agora sou eu, no carro, fugindo de tudo e de todos,
principalmente dele.
Quando me sinto pronto para dar a partida, Rodrigo invade
meu carro de forma brusca. Sentado ao meu lado, vejo o seu
semblante tomado por sofrimento e os olhos tão vermelhos quanto
os meus.
— Rodrigo, por favor, saía do carro — eu peço de forma
cansada, já sem forças para enfrentá-lo de novo.
— Não! As coisas não vão acabar desse jeito. Não de novo
— a forma como ele diz é carregada de decisão, como se ele
estivesse pronto para fazer algo e mudar toda nossa situação.
Penso se devo ouvi-lo, se algo ainda pode mudar de fato. Se
antes, em algum momento dessa noite, eu estava animado em estar
ao seu lado, agora um sentimento de exaustão me domina. Estou
no meu limite, frustrado. Não acredito que pude ser tão fraco a
ponto de deixar as coisas se repetirem, de estar sofrendo por ele
mais uma vez.
— Não torne isso mais difícil do que já é! Você não percebe o
quão mal está me fazendo? Além de tudo, você não me deve
qualquer satisfação. Eu sei o que aconteceu, também estava lá.
Você cansou, de tudo e de todos, especialmente de mim. Então teve
a oportunidade de ir embora e foi. Simples assim. Eu te entendo,
agora chegou sua vez de me entender. Me deixa ir embora, por
favor.
— Olhe para mim, Denis, veja que você não é o único
sofrendo aqui. — Ele começa a chorar novamente e virado em
minha direção tenta prosseguir. — Eu não vou repetir o erro, não
vou deixar que as coisas acabem entre nós dessa maneira. Eu te
amo, sempre te amei, e partir foi um dos momentos mais horríveis
para mim também. Como você pode pensar que eu cansaria de
você? De nós?
— Como você consegue dizer essas palavras sendo a
pessoa que me deixou lá, completamente devastado? O amor que
você diz ter por mim parece não ter sido o suficiente para nos
manter juntos — sinto a amargura nas minhas palavras e como
dizê-las o machuca de alguma forma.
— Quando eu fui embora, queria que você fosse atrás de
mim. Que de alguma forma lutasse por nós, já que eu não fui
corajoso o suficiente. Eu nunca tive a oportunidade de lhe contar
isso antes, mas se eu fugi naquele dia foi em consideração a tudo
que sentia por você. — Rodrigo cobre o rosto com suas mãos,
tentando conter o choro forte que agora sai de si.
As suas palavras ainda pairam no ar e tento de alguma forma
entender o que ele está falando. Ao mesmo tempo, me preocupo
com ele, com seu sofrimento. Me vejo nele, refletido na sua dor.
— Tudo bem, Rodrigo, me conte mais. Se você acha que
falarmos sobre isso vai te fazer bem, eu prometo te escutar.
Vejo ele se recompondo lentamente e, quando as lágrimas já
não caem da mesma forma, ele começa a falar.
— Naquele dia, ao chegar em casa, meu pai estava me
esperando. Eu demorei demais para perceber que tinha algo errado.
Ele começou a perguntar sobre como era minha amizade contigo,
pescando algum detalhe que eu nem fazia ideia de que estava
atrás. Como sempre, não falei muito sobre nós, até porque sabia
que ele nunca aceitaria um filho seu com outro homem. Não lembro
as exatas palavras que disse, só sei que de um momento para outro
ele estava lá, gritando e me xingando de tantas formas diferentes.
Tudo por causa do nosso namoro, Denis!
As palavras dele me assustam, nunca imaginei algo desse
nível, tão cruel e perverso, ainda mais vinda de seu pai. Tento
imaginar o sofrimento que ele sentiu ao perceber que a pessoa que
deveria lhe amar está agora o amaldiçoando simplesmente por você
ser quem é. Pego sua mão, fazendo um carinho breve, e peço para
que continue.
— As coisas foram ficando cada vez piores depois disso, ele
não me ouvia de maneira nenhuma. Dizia que nunca teria um filho
assim e que ninguém o faria passar essa vergonha. Foi difícil
demais, Denis, e chegou um momento em que eu só chorava. Por
mais que tentasse me defender, o peso daquela situação me atingiu
em cheio. Eu ainda estava tentando processar a situação quando
ele disse as palavras que mudariam para sempre minha vida. Que
eu deveria acabar aquilo que tivesse contigo, caso contrário nossas
vidas seriam um inferno, e ele mesmo ficaria responsável por isso.
Ameaçou ainda o restante da tua família. Por causa dos muitos
anos e gerações que estávamos na cidade, sua influência era
enorme e com isso ele poderia fazer o que quisesse, inclusive fazer
com que nunca tivessem qualquer oportunidade por ali. Eu não
podia causar esse estrago na vida de vocês, assim decidi ir embora,
pois por mais difícil que fosse largar tudo, seria ainda pior ficar e não
poder estar junto de ti. Não sei se me controlaria e não podia
colocar vocês em risco. Perdão, Denis. Nunca quis deixá-lo, nunca,
mas eu precisava — Rodrigo finaliza e me olha, aguardando pela
minha reação, e consigo ver o tamanho da dor que ele carregou por
tanto tempo.
Trago ele para próximo de mim e o abraço. Ficamos assim
por um tempo, como se estivéssemos precisando desse carinho
desde o começo. Ainda em meus braços, vejo que lhe devo uma
resposta.
— Rodrigo, não fazia ideia disso tudo e lamento pela situação
terrível pela qual você teve que passar. Saiba que você não é uma
vergonha para ninguém e que não causaria nada contra mim e
minha família. O responsável por tudo isso foi o seu pai e são as
ações dele que devem ser repudiadas. Eu te entendo, sabia?
Talvez, em seu lugar, faria até o mesmo. Eu que lhe peço perdão
por todos esses anos te julgar dessa maneira, como se o vilão da
nossa história fosse você.
— Ficar longe de você foi um dos piores pesadelos que já fui
obrigado a enfrentar — ele diz com a cabeça colada em meu peito.
Eu acaricio seus cabelos, do mesmo jeito que fazia tanto
tempo atrás. Minha cabeça está um caos, e sinto meu coração bater
descompassado da mesma forma. Antes, por mais difícil que fosse,
eu sabia o caminho que deveria seguir. Só que agora já não tenho
qualquer certeza. Será que poderíamos ter aquilo que nos foi
negado? E se tudo não passar de uma saudade? Talvez estejamos
focados no passado, sendo que muita coisa mudou, inclusive nós
mesmos.
Sinto Rodrigo se afastando. Ficamos frente a frente, os olhos
fixos um no outro, e me preparado para o que ele tem a dizer.
— Mesmo após todos esses anos, sempre foi você quando
eu fechava meus olhos. Talvez eu esteja atrasado, mas me diga que
não é tarde. Me diga que ainda posso ter você de volta. Me diga que
vamos ficar juntos, Denis!
Epílogo
De pé, na varanda da casa principal, tenho uma visão do
quintal e da tenda onde a festa continua. Já é tarde, mas as
pessoas continuam comemorando. Consigo ouvir um resquício da
música agitada que está tocando e vejo ainda as luzes brilhando
nessa noite estrelada de verão.
Estou tão disperso que não noto sua chegada. Sua mão vai
até minha cintura, enquanto sinto ele se posicionando ao meu lado.
— Olá, sumido — Rodrigo diz com um sorriso estampado em
seu rosto e os olhos brilhando de uma maneira que transmitem
amor e esperança.
Em um gesto brincalhão, como nos velhos tempos, mostro a
língua para ele.
— Que exemplo de maturidade, Sr. Denis — ele tenta falar de
maneira séria, mas depois de um tempo, acabamos rindo.
Meu coração ainda está confuso, mas sei que estamos
prontos para isso. Apesar de tudo que nos aconteceu, sinto que tive
o melhor dia com ele hoje. Ganhei o bilhete premiado e agora
estamos aqui, juntos novamente.
— Lembra de como nós dois éramos jovens quando te vi pela
primeira vez? Quer dizer, ainda somos, né? — ele diz rindo. —
Enfim, o que eu queria dizer mesmo é que pensei em tudo, desde
aquele nosso encontro até hoje e você não precisa ter medo, nós
vamos sair dessa bagunça.
Eu fecho meus olhos e o flashback começa. Revejo os
momentos que tivemos juntos — cada um deles, os bons e ruins.
Sei que todos foram importantes e moldaram quem somos hoje.
— Eu amo você, Rodrigo, e isso é tudo o que realmente
importa pra mim. Vamos vencer a cada momento, juntos, como
sempre deveria ter sido. Temos uma eternidade ainda pela frente e
estou disposto a gastar ao seu lado — junto sua mão da minha e
levo até meus lábios.
Nos aproximamos, selando nossos corpos e bocas em um
beijo apaixonado. Sinto como se estivesse flutuando, como há muito
tempo não sentia. Ficamos alguns minutos trocando carinhos e
juras, cada um de nós mostrando em seus gestos todo o sentimento
gigante que carregamos.
— Eu sempre acreditei em nós, Denis, e quero que essa seja
a nossa história de amor. Você só precisa dizer sim!
Agradecimentos
Começo agradecendo a você, que chegou até aqui. Tenho
muito a lhe agradecer — afinal, você escolheu o meu conto entre
tantos outros, dedicou seu tempo na leitura e, agora, permanece um
pouco mais por aqui para essa conversa. Então, sim, preciso dizer
isso: muito obrigado!
Depois de você, leitor, há uma outra peça que foi primordial
para a construção dessa história. Quero usar esse espaço para
destacar a leitura nacional, principalmente a independente, já que foi
por causa dela que estou aqui hoje.
Cruzei até hoje com uma série de livros nacionais, dos quais
já me tornei um grande fã, e por trás de cada um encontrei autores
incríveis. Esses autores, por serem independentes, precisam de
maneira árdua cuidar de cada etapa para a entrega de seus livros e,
mesmo com todo esse trabalho extra, conseguem ainda entregar
obras impecáveis que merecem todo nosso reconhecimento e
carinho.
Dessa forma, foram esses autores (muitos deles tenho o
prazer e honra de chamar de amigos) que me trouxeram até aqui e
me inspiraram para acreditar que eu conseguiria de alguma forma
chegar até aqui.
Claro, preciso mencionar também a Taylor Swift, já que essa
história está recheada, especialmente, com as músicas do álbum
Fearless. Foi exatamente entre uma música e outra que a trama foi
surgindo e, a cada nova vez que ouvia o álbum, mais detalhes
surgiam. Então, Taylor, se um dia você ler isso, saiba que foi tudo
por você.
Por fim, mas não menos importantes, tenho que registrar aqui
aqueles que estiveram diretamente presentes nesse conto. Foram
elas: Mateus Aiam, Zoni, Carlos César da Silva, Willians Glauber e
Augusto Guibone. Não tenho palavras para agradecer a cada um de
vocês, e saibam que vocês foram fundamentais em diferentes
momentos dessa criação. Fico muito feliz por terem topado fazer
parte disso tudo!
Sobre o autor
Thales Eduardo tem 26 anos e mora atualmente em
Florianópolis. Em 2020, criou o perfil Estante do Thales no Twitter,
espaço esse que utiliza para falar daquilo que mais ama: a literatura.
O autor pode também ser encontrado no seu perfil pessoal.
Eu Ainda Acredito Em Nós é sua primeira história publicada e
ele espera, animadamente, que tenha muitas outras pela frente.

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