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Filosofia para a gestão: pensando liderança fora da

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Eu me apresento, eu me chamo Clóvis de Barros Filho.

Sou professor da Escola de Comunicações e Artes da


Universidade de São Paulo. Tenho graduação em direito,
jornalismo e filosofia, mestrado e doutorado em direito e
doutorado em comunicação. Sou professor livre docente de
comunicação da Universidade de São Paulo.

Represento o governo brasileiro na UNESCO para questões


éticas.

Nem sempre o homem pensou através de conceitos e fórmulas


racionais, houve um tempo em que o homem contava histórias
para explicar as coisas que ele pensava. Essas alegorias e esses
mitos já continham boa parte das preocupações, que continuam
as nossas.

Assim, poderíamos lembrar do mito de Epimeteu e Prometeu.

Os deuses estavam enfadados, afinal, Zeus tinha colocado ordem


na casa e o universo funcionava como um relógio. O vento
ventando, a maré mareando, o sapo sapeando, tudo no seu lugar.

E quando tudo está no seu lugar, aquilo vira um tédio sem fim,
nada acontece. Então, os deuses foram reclamar com Zeus:
“Vamos fazer uma balada? Vamos fazer alguma coisa diferente?
Isto aqui é de uma ordem insuportável.”

Então, Zeus teve uma ideia: “Vamos fabricar mortais. A grande


vantagem é que se os mortais derem errado, eles morrem e nos
livramos deles. Enquanto isso, a gente se diverte com eles.” E
assim surgiram os mortais, para diminuir o tédio dos deuses.

Os mortais foram encomendados a uma dupla de deuses de


quinta categoria. Epimeteu e Prometeu, dois irmãos. Epimeteu,
em grego, quer dizer aquele que pensa devagar. Prometeu, em
grego, quer dizer aquele mais esperto, mais “antenado”. Então,
Epimeteu sabendo-se mais lento, disse: “vamos fazer o seguinte:
eu fabrico os animais, e você, Prometeu, que é tão esperto, fica só
para fabricar o homem”.

Epimeteu, então, pegou todos os atributos, pegou garra, pegou


escamas, pegou asas e distribuiu aos animais de maneira a dar a
eles condições de sobrevivência, enfrentando as intempéries e
enfrentando-se a si mesmos.

Epimeteu distribuiu tudo, todos os atributos de natureza para os


animais. Quando o Prometeu chegou para fabricar o homem, ele
descobriu que ele tinha que fabricar o homem sem nada. Ele não
tinha patas ágeis, ele não tinha escamas, ele não tinha
nadadeiras, ele não tinha asas, ele não tinha pico, ele não tinha
casaco de pele, ele não tinha nada! E ele virou para o Epimeteu:
“você gastou tudo?”. E Epimeteu disse: “foi mal, mas também eu
sou um Epimeteu, era normal que eu fizesse uma bobagem”.

Estava chegando o momento da apresentação dos novos


produtos, nessa grande feira que era a feira da apresentação dos
mortais, e Prometeu não tinha com o que fazer o homem.

Então, ele invadiu o palácio de Atena, uma deusa super


importante, é só a filha de Zeus. E roubou a astúcia e entregou
para o homem e disse: “eu não tenho muito que te dar, vai nascer
meio que pelado, sem recursos, sem força, sem velocidade, sem
possibilidade de nadar direito, sem possibilidade voar, lamento,
você é ruim, você não tem nenhum recurso. Mas eu vou te dar a
astúcia”.

E qual é a moral da história? É que o homem é aquele capaz de


criar mecanismos de adaptação para qualquer contexto.

O animal vai se adaptar se houver uma coerência entre os seus


atributos, os seus recursos naturais e as condições de vida. Se
não houver esse alinhamento, ele não sobrevive e ele morre. O
animal é assim, se ele for peludo, precisa fazer frio, se ele tiver
escamas, precisa ter água, se ele tiver asas, precisa ter ar, se
alguma coisa der errada, ele não sobrevive, porque os recursos
são aqueles.

O homem não. O homem como não tem recursos nenhum,


fabricará tudo e poderá customizar, ele poderá se adequar às
necessidades específicas. Se fizer frio, ele faz um casaco, se fizer
calor, ele faz um biquini, se tiver que nadar, ele arruma um pé de
pato, se tiver que voar, ele faz uma asa-delta. E aí, você percebe
a lição dessa especificidade do homem.

O homem é aquele se adapta a qualquer situação. E o líder é


aquele particularmente astuto, capaz de não só adaptar-se, mas
facilitar a adaptação do grupo que lidera a qualquer novo contexto
de existência.

A lição é linda, porque a especificidade do homem e a força do


líder nascem da fragilidade da nossa natureza.

Se fôssemos fortes, talvez não tivéssemos a astúcia. Se fôssemos


ágeis, talvez não tivéssemos astúcia. Mas como não somos nada
disso, o que temos para compensar é a inteligência.

E o líder é aquele capaz de levar o coletivo que lidera a resolver


problemas específicos para situações sempre novas de vida.
Situações de carência sempre renovadas, situações de dificuldade
sempre inéditas. Caberá ao líder encontrar a solução sempre
única para um problema que não existia ainda.

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