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MANTRAS DA CANARICULTURA

Acredito que todos nós já ouvimos algumas frases que são repetidas vez ou outra por algum
criador iniciante ou até mesmo pelos mais antigos. São alguns “mantras” que persintem na
canaricultura e de certa forma já estão incorporados na cultura do criador brasileiro.
Infelizmente muitos as aceitam como verdades absolutas, criando para si alguns obstáculos
difíceis de transpor. Minha intenção aqui, com minhas opiniões, é motivar uma reflexão de
modo que o criador possa considerar que sempre há uma luz no final do túnel:

“Nunca vou ganhar. A cor que eu crio é muito disputada”.

Não importa quantos concorrentes estão na mesa, as condições de competição são iguais para
todos. Temos dois juízes que têm (ou deveriam ter) condições de avaliar tecnicamente as aves
na disputa. Então mesmo sozinha sobre a mesa, uma ave mediana continuará sendo uma ave
mediana, que obterá uma pontuação baixa ou talvez nem se classifique. Ou seja, mesmo com
dezenas de aves na mesa, tudo o que você precisa é ter uma ave com qualidade para estar em
condições de vencer. Ganhar ou não pode ser questão de detalhes, mas não é a quantidade de
concorrentes que indica a qualidade das aves em disputa. Observe nos últimos cinco anos
quais são os criadores que classificam e você vai reparar que aqueles especialistas na cor
sempre estão entre os primeiros. São as aves destes que você deve derrotar e não as outras
trezentas. Melhor dizendo, você precisa expor aves com uma qualidade equivalente àquelas
que estes criadores levam ao torneio.

“Tenho concorrentes muito fortes. Vai demorar décadas para chegar ao nível deles”.

Pode ser verdade mas em quase todas as cores há concorrentes fortes. Fortes porque criam há
mais tempo, por terem um plantel qualificado quase homogêneo. Muitas cores de canários no
Brasil têm um nível muito bom. Isto significa que já há possibilidade de se adquirir exemplares
com um padrão próximo do ideal, sem necessidade de importação. Qualificar o plantel e
trabalhar para torná-lo vencedor não é uma tarefa difícil, mas requer trabalho, estudo e
persistência. Contar com a sorte pode funcionar em um ano ou outro mas não é sempre que o
arco-íris finda no pote de ouro. Hoje há muita informação disponível, há vários artigos
publicados, há vários canais nas redes sociais com criadores experientes dando dicas de
manejo, seleção e criação. Basta separar o joio do trigo. E uma informação importantíssima:
dificilmente de aves medianas, vindos de um plantel equivalente, você obterá alguma coisa
que se destaque.

“Não almejo classificar no Campeonato Brasileiro. Só participar já é um prêmio. O importante


são as amizades”.

Cada um tem um objetivo com sua criação. Se está criando é um indicativo de que aprecia os
canários, gosta de determinada cor. Se está competindo, deseja vencer. Ou não estaria
competindo. Se criamos sem o mínimo cuidado com o padrão ideal, que é descrito no Manual
de Julgamento dos Canários de Cor, o que estamos fazendo é aumentar a quantidade de aves
que não produzirão senão um esboço do canário desejado, o que consequentemente poderá
desapontar e atrasar anos de trabalho de outro criador iniciante. Sobre as amizades,
realmente a canaricultura nos permite entrar em contato com pessoas excepcionais, que
acabam se tornando nossos amigos. Mas não criamos canários para fazer amigos. Fazemos
estes amigos porque criamos canários, temos essa paixão em comum. Ao menos, penso desta
forma. De outro modo, promover churrascos aos finais de semana seria um caminho muito
mais apropriado.

Os juízes são tendenciosos. Por isso parei de competir. Sempre os que vencem são os mesmos,
são cartas marcadas”.

Na verdade, os mesmos que vencem continuarão se destacando pois criam a cor há muitos
anos. São especialistas naquele segmento. Não é uma questão de julgamento, embora alguns
equivocos possam acontecer em um ou outro caso. Mas os julgamentos são executados por
dois juízes no campeonato Brasileiro. Algumas vezes há uma pontuação em um campeonato
aberto ou no campeonato regional e outra distinta no brasileiro. O canário sagrou-se campeão
nestas competições, com o mesmo juiz. E no campeonato Brasileiro sequer se classifica.
Embora a ave seja a mesma, muitas vezes os critérios adotados em campeonatos abertos ou
mesmo no regional são distintos. O juiz pode ser mais generoso nestes como forma de
incentivo ao criador. É quase uma questão política. No campeonato Brasileiro a qualidade dos
concorrentes é outra e como principalmente os julgamentos são feitos por comparação, a
disputa será mais acirrada. O principal é que o próprio criador tenha condições de reconhecer
as qualidades de suas aves e também as de seus concorrentes.

“Os grandes criadores têm segredos que não compartilham. Não vendem as melhores aves
nunca”.

Pode ser verdade que as melhores aves evidentemente permaneçam no plantel do criador.
Excetuam-se os casos em que o criador está abandonando a cor ou a própria criação e repassa
o plantel para terceiros. Entretanto não há mistérios na criação: um manejo adequado, escolha
dos exemplares para compor o plantel, seleção, separação de filhotes para concurso,
preparação para exposição, etc. Há vários artigos que podem ajudar, conversa com criadores
experientes, literatura, enfim, basta trabalho e dedicação.

“O criador sempre vence porque usa tal farinhada, só usa extrusada...”

O manejo mais adequado é o que dá certo na sua criação. Temos criadores de todo o Brasil,
climas distintos. No caso dos canários de cor, o grande responsável pela pigmentação é a
alimentação. Mas não se iluda: não é somente a alimentação que tornará uma criação
vencedora. A capacidade de pigmentação de um canário depende de sua genética. Avançando
nesse tema, algumas criações são mais bem sucedidas que outras: muitos ovos brancos, os
ovos não eclodem, filhotes morrem nas primeiras semanas ou depois, etc. Vários criadores
adotam sistemas de “prevensão de doenças” antes da criação e outros são totalmente
contrários. Pesquise, converse com os mais experientes, faça suas experiências e tire suas
conclusões.

“Para vencer no brasileiro você tem que ter uma estrutura muito boa, centenas de casais e ó
não tenho possibilidade agora”.

Eu sou prova de que necessariamente isso não é verdade. Até hoje meu canaril está
improvisado em uma lavanderia e crio com poucos casais. Não posso reclamar dos resultados
obtidos nos últimos oito anos. Nestas condições obtive resultados muito significativos. Pode-se
dizer que crio uma cor menos concorrida, mais fácil de criar e que os concorrentes não são
fortes, entre outras suposições. Nada mais distante da verdade. Mas a escolha de determinada
cor para criação depende exclusivamente do criador.

“Se eu tiver mais casais, da quantidade eu tiro a qualidade”.


Se você pensa deste modo, jogue mais na megasena. Com a sorte que você espera contar na
criação, ficará milionário facilmente. De uma plantação de avocado não nasce abacate.
Entender a genética das cores é fundamental, selecionar, trabalhar e acima de tudo é preciso
ter boas uvas para fazer um bom vinho. Evidentemente em um plantel homogêneo e com aves
de excelência genétic, quanto mais exemplares maior será a condição de seleção para os
concursos. Ou seja, qualidade vem em primeiro lugar.

Estas são apenas algumas frases, há tantas outras que podem ser questionadas. Então o que é
preciso? Que você crie exemplares do mesmo nível ou superior que seus concorrentes. Já
escrevi alguns artigos - e alguns amigos criadores também - dando opiniões sobre criação.
Qualificar o plantel e conhecer muito bem o padrão da cor ou cores que se cria é fundamental
para se obter êxito, tanto na criação quanto nos concursos. Então é uma questão de ter um
objetivo e trabalhar para atingi-lo. Eu posso afirmar com a mais absoluta tranquilidade que é
possível. Mas se você não acreditar nessa possibilidade, se acha mais fácil arrumar desculpas
para os insucessos da sua criação, paciência. Você decide. Coloquei minhas opiniões para sua
reflexão, quem sabe auxilie de algum modo. Eu desejo que os criadores sempre alcancem seus
objetivos pois isso só beneficia a canaricultura. Então, boa sorte na criação.

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