Roberto Licciardo – IE 099 - criador de Ágatas Pastéis sem fator
Muitos criadores iniciantes – ou nem tanto – sempre perguntam como é que eu
consigo resultados tão bons criando com poucos casais. É óbvio que é preciso “sorte” e cada um considere “sorte” o que quiser. Eu não sou exatamente religioso e cada um tem sua fé, como penso que a existência é um verdadeiro milagre sempre peço que Deus abençoe minha criação. Não sei se é fundamental ou não, se eu tivesse uma “fórmula mágica” para compartilhar estaria rico. Não é o caso. O que posso fazer é simplesmente dar minha opinião sobre alguns aspectos que eu considero relevantes e cabe a cada um tirar suas próprias conclusões. Mas uma coisa é certa: enquanto o criador se apegar a frases como “minha cor é muito concorrida, nunca terei chance”, “o criador não vende suas melhores aves”, “os julgamentos não são justos: os que ganham contam com ajuda dos juízes” entre outras, é melhor nem começar. Só para desmistificar alguns pensamentos: em primeiro lugar seu único concorrente, sua única preocupação não é ganhar de 80 ou 200 concorrentes, mas apenas um: o canário ideal da cor que você cria, descrito no Manual de Julgamento. Se o seu canário não tem qualidade suficiente para se aproximar do ideal da cor, ele pode estar sozinho na mesa de julgamento que não será campeão. No Campeonato Brasileiro há centenas de exemplos de cores com poucos exemplares na disputa que não conseguem pontuação de campeão. Se o criador não vende suas melhores aves, reflita comigo: este criador também começou sua criação da mesma forma, também não adquiriu as melhores aves. Como pode então obter um plantel que gera campeões, ano após ano? Aí entra o conhecimento de seleção e genética, aquisição de bons exemplares e fundamental conhecimento do que se está criando. Por fim, muitos juízes auxiliam criadores orientando acasalamentos, selecionando exemplares para concurso, etc. Não vou entrar no mérito da questão pois certos aspectos desconheço, mas se há qualquer desconfiança sobre a lisura de um torneio, não participe dele. Pois se eventualmente obter algum êxito, também não estará sob suspeita? Considere que no campeonato brasileiro serão sempre dois juízes concordando com o resultado e mais o aval do coordenador. As coisas mais importantes que o criador tem que considerar: qual o padrão da cor/ mutação que se quer criar como produzir filhotes com este padrão como funcionam os torneios Qual o padrão da cor/ mutação que se quer criar Uma vez que a decisão está feita sobre qual cor/ mutação se quer criar, a primeira coisa a fazer é buscar entendimento sobre o padrão. Muitos criadores até reconhecem determinada cor/ mutação, mas têm dificuldade em saber o que se busca neste padrão, o que é mais relevante no julgamento. Por exemplo, estão preocupados com o tamanho do canário quando outros aspectos como tipo, variedade e categoria estão longe do ideal. Muitos nem sabem direito o que isto significa, têm até dificuldade em distinguir um canário intenso de outro nevado da mesma cor. Se isto acontece com você, é necessário que você busque conhecimento, seja através de palestras em seu clube, vídeos nas redes sociais, artigos em revistas, visitas a criadores mais experientes, participação nos torneios, conversas com juízes e assim por diante. Outro aspecto importantíssimo é olhar suas aves. Muitas vezes o conhecimento está presente, mas ignoramos o fundamental: temos a tendência de achar nossos canários maravilhosos e não enxergamos defeitos e qualidades. Muito menos procuramos compará-los aos melhores exemplares de outros criadores. Como produzir filhotes com este padrão Aqui é preciso entender como as coisas funcionam. Pelo menos o básico de genética. Há vários caminhos, várias ferramentas que auxiliam no processo de seleção. Muitas vezes o criador seleciona seu melhor exemplar macho com sua melhor fêmea. Muita expetativa no cruzamento e posteriormente o que se obteve são filhotes inferiores aos pais ou de cores diversas de seus
progenitores ☹
Outras vezes o criador ouviu dizer que é necessário utilizar-se de poligamia
(usar o mesmo macho com diversas fêmeas). Possivelmente o que se obtém é uma multiplicação de resultados ruins. Depois o criador aprende sobre consanguinidade, que é o mal necessário, e sai acasalando pai com filhas e filho com a mãe, sem qualquer critério. Todas estas possibilidades que eu citei são válidas desde que o criador saiba quando utilizá-las. Isso é fundamental. Infelizmente não é possível compartilhar em um único texto detalhes sobre cada situação. Mas posso adiantar algumas opiniões: Filho de campeão não gera campeão – a culpa não é do canário, mas exclusivamente do criador. Posso dizer sem medo que no meu criadouro filho de campeão gera campeão, como filho de canários que nem foram ao concurso também geram. Não porque eu seja melhor que qualquer um ou minhas aves sejam melhores, mas durante toda minha criação eu busquei ter um plantel no qual a loteria genética fosse a mais favorável possível. Algo que é preciso entender é que “consanguinidade” fixa, estabelece um determinado “tipo”. Acasalamentos abertos (sem qualquer grau de parentesco) podem melhorar ou piorar algumas características de seus progenitores. “Melhorar” significa um pouco melhor. Se os canários melhorassem com o tempo do modo como os criadores pensam, um criador de quarto-de-milha começaria a criação com um casal de mulas... Outro erro é pensar que pode-se melhorar itens do canário por partes (“precisa ter mais tamanho”, “vou trabalhar a melanina”, “estou buscando melhorar a forma”). Quando se pensa desta forma, o que acontece é que todos os outros detalhes ficam em segundo plano e anos de trabalho serão perdidos. O que se precisa é buscar um exemplar ideal e multiplicar TODAS as características juntas para o seu plantel. Só há um modo de fazer isso e para ter sucesso todo criador deve ter isto bem claro em seu planejamento seletivo. Como funcionam os torneios Outro item fundamental para o criador é entender como as coisas funcionam. Os canários se classificam nos torneios regionais de cada clube. Normalmente julgados por um único juiz que é convidado pelo Presidente da agremiação. Dito isto, é preciso entender que as condições de julgamento, principalmente no quesito iluminação, serão bem diferentes do ambiente no campeonato Brasileiro em Itatiba. Como sabe-se a iluminação é fundamental para o julgamento de um canário de cor (experimente olhar seu canário dentro e fora do criadouro, em diversos horários). Outro fator a considerar que muitas vezes a cor/mutação que você cria não tem concorrentes no seu clube. O juiz então está diante de suas aves apenas, escolhendo a melhor entre elas. Se o juiz não tem julgado frequentemente determinada cor/ mutação fica mais complicada a comparação das suas aves com o ideal daquela cor. Pode haver um relaxamento no julgamento no sentido de incentivar o criador, possibilitando uma disputa mais genuína no campeonato Brasileiro. No campeonato brasileiro há o enfrentamento com as melhores aves do Brasil todo. Mesmo que haja relativamente poucos exemplares, haverá uma comparação. E novamente chamo a atenção: se não houver qualidade que aproximem as aves do ideal da cor, independente de quantos canários concorram, não haverá um campeão. Por estas razões, muitas vezes, a pontuação no clube é bem distinta do que ocorre no campeonato Brasileiro Finalizando, como disse no início são opiniões próprias sobre alguns aspectos da criação. Também para se ter sucesso, é preciso discernimento para absorver o que é útil e ignorar o que não acrescenta. Isto vale também para o que foi exposto acima. Mas fundamental: nada cai do céu, vá atrás dos seus objetivos. Boa sorte nos concursos e boa criação a todos.