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Arte e Política No Brasil - Marcondes
Arte e Política No Brasil - Marcondes
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Resumo
Palavras-chave
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Abstract
Keywords
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Introdução
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“Como artista integrante dessa vanguarda
brasileira, e teórico, digo que o acervo de
criações ao qual podemos chamar de
vanguarda brasileira, são um fenômeno
novo no panorama internacional,
independente dessas manifestações
típicas americanas ou européias.
Vinculação existe, é claro, pois no campo
da arte nada pode ser desligado de um
contexto universal. (...) Toda a minha
evolução de 1959 para cá tem sido na
busca do que vim a chamar recentemente
de uma ‘nova objetividade’, e creio ser
esta a tendência específica da vanguarda
brasileira atual. Houve como que a
necessidade das descobertas da
estruturas primordiais do que chamam
‘obra’, que se começaram a revelar com a
transformação do quadro para uma
estrutura ambiental (...) a criação dessa
nova estrutura em bases sólidas e o
gradativo surgimento dessa nova
objetividade, que se caracteriza em
princípio pela criação de novas ordens
estruturais, não de ‘pintura’ ou
‘esculturas’, mas ordens ambientais, o
que se poderiam chamar ‘objetos’. ( ...) A
participação do espectador é fundamental
aqui, é o princípio do que se poderiam
chamar de ‘proposições para a criação’,
que culmina no que formulei como
antiarte. Não se trata mais de impor um
acervo de idéias e estruturas acabadas ao
espectador, mas de procurar pela
descentralização da ‘arte’, pelo
deslocamento do que se designa como
arte, do campo intelectual racional, para
o da proposição criativa vivencial; dar ao
homem, ao indivíduo de hoje, a
possibilidade de ‘experimentar a criação’,
de descobrir pela participação, (...)
diversas ordens, algo que para ele possua
significado. Não se tratam mais de
definições intelectuais seletivas (...) O
artista hoje usa o que quer, mais
liberdade criativa não é possível. (...)
procurar um modo de dar ao indivíduo a
possibilidade de ‘experimentar’, de deixar
de ser espectador para ser participador.
Ao artista cabe acentuar este ou aquele
lado dessas ordens objetivas (...) Poder-
se-ia chamar a isto de ‘novo realismo’
(...), mas prefiro o de ‘nova objetividade’,
pois muito mais se dirigem estas
experiências a descoberta de objetos pré-
fabricados (...) ou a criação de objetos,
mais generalizados entre nós, como que
tentando criar um mundo experimental,
onde possam os indivíduos ampliar o seu
imaginário em todos os campos,
principalmente, criar ele mesmo parte
desse mundo (ou ser solicitado a isso).
No Brasil, livre de passados gloriosos
como os europeus, ou de super-
produções como os americanos, podemos
com élan criar essa ‘nova objetividade’,
que é dirigida principalmente por uma
necessidade construtiva característica
nossa (...) O que há de realmente
pioneiro na nossa vanguarda é essa nova
‘fundação do objeto’, advinda da
descrença nos valores esteticistas do
quadro de cavalete e da escultura, para a
procura de uma arte ambiental’( que para
mim se identifica, por fim, com o conceito
de antiarte). (...) Essa magia do objeto,
essa vontade incontida pela construção
de novos objetos perceptivos (tácteis,
visuais, proposicionais, etc.), onde nada é
excluído, desde a crítica social até a
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patenteação de situações-limite, são
características fundamentais da nossa
vanguarda, que é vanguarda mesmo e
não arremedo internacional de país
subdesenvolvido, como até agora o
pensam a maioria das nossas ilustres
vacas de presépio da crítica podre e
fedorenta”.
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motivos de certo clima de euforia então reinante. Ao mesmo tempo,
o surgimento da televisão já denotava um novo ingrediente à
expansão dos meios de comunicação de massa no Brasil.
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Questões Gerais
Faço nessa passagem uma rápida digressão a fim de trazer para
discussão um conjunto de questões sócio-estéticas geralmente
implicadas num estudo sociológico da arte: para os limites deste
ensaio, tais questões se apresentarão vinculadas diretamente a uma
reflexão particularmente voltada para o entendimento da arte
contemporânea, que teve um importante legado oriundo das
chamadas vanguardas históricas. Mais especificamente, ainda, essas
reflexões têm por base um dado olhar sobre certos aspectos das
neovanguardas brasileiras dos anos 60.
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Devo, contudo, advertir que vou seguir um procedimento guiado por
uma abordagem de tipo relacional, mas, numa perspectiva que
procure centrar no objeto plástico sua atenção principal. Em todo
caso, isso não implica assumir uma orientação de estudos voltada
propriamente para os elementos de uma teoria dos signos, capazes
de um alcance efetivo de abordagem internalista ao campo da
linguagem poética e artística. Noutra direção, desejo unicamente
apontar para o fato de que um enfoque de âmbito relacional pode,
apesar de sua inclinação externalista, ajustar seu foco mais
detidamente ao enquadramento do objeto de arte. Em outras
palavras, quero tratar de questões tais como transformações na arte
e no meio artístico, mas, privilegiando o olhar sobre contextos
históricos e manifestações artísticas à luz das tensões vividas no
interior destas, identificadas aqui na forma de sistemas de arte ou,
seja qual for o nome que se queria atribuir a isso, instituição-arte,
meio de arte, circuito.
Por outro lado, há que se reconhecer que tais ressalvas não são
garantias e nem nos livram suficientemente dos riscos de uma
abordagem de tipo generalista em nosso entendimento de um dado
acontecimento artístico. Nesse sentido, e ainda que se consiga situar
obra e contexto, pode-se fazer deste último um tão poderoso
mecanismo de interpretação, que torne inviável o delineamento de
certas particularidades contidas nas diversas linguagens artísticas,
manifestas em suas obras e movimentos.
Esta parece ser, em todo caso, uma assertiva que não diz respeito,
exclusivamente, ao que se poderia nomear de contemporâneo na
arte. Qualquer discussão a respeito dos movimentos artísticos do
início do século XX, com as vanguardas históricas, passa
necessariamente pelo reconhecimento desta relação da arte com os
meios tecnológicos.
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implicação (Rush, idem). Se tecnologia e cotidiano compõe o
universo experimental das vanguardas históricas, com relação à arte
contemporânea eles se compõem como elementos altamente
expressivos e a partir de novas configurações.
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sociedade: a arte enquanto modelo para a própria construção social.
Aqui, a visão do artista é mais a de um “produtor social”, sem
qualquer idealização do artista como ser “inspirado” (Brito, 1985:
14-7).
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termos de uma resposta ao quadro social vivido àquela época (tanto
em contexto local quanto internacional), como já aludimos.
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obra à participação, o artista deixa propositadamente de se
caracterizar como criador para a contemplação, tornando-se, assim,
um motivador para a criação – que só se completa no envolvimento
ativo do “espectador” como “participador” no processo. A antiarte
seria, assim, uma atividade criadora latente, motivada pelo artista,
orientada para uma forma de necessidade coletiva. Nesse sentido,
não importa qualquer valor da obra em si, mas o processo criador
mais amplo, que se compõe pelo envolvimento do público-
participador. Em outras palavras, não se trata mais da obra-objeto
da contemplação, mas, da obra inorgânica, que se vai caracterizar
como o objeto-evento, aberto à participação.
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Em suas características mais gerais, a experiência artística dessas
tendências assume certo direcionamento para a obra coletiva, com
base em processos de intervenção, apropriação e incorporação de
novos materiais, objetos cotidianos e abertura à participação do
público. A incorporação de imagens do cotidiano e de questões
políticas se faz, por sua vez, sem se abrir mão do experimento com
a linguagem. A idéia central posta aqui é: não há transfiguração
poética dos elementos banais sem o trabalho radical com a
linguagem.
Por outro lado, não se pode falar de uma sintaxe de dicção única nas
manifestações da neovanguarda brasileira. Como exemplo disso,
suficiente seria tomarmos como referência as distinções
paradigmaticamente postas nas concepções de arte esboçadas por
dois dos mais importantes artistas desse período no Brasil. Refiro-
me ao modo como Waldemar Cordeiro e Hélio Oiticica vão orientar
seus projetos a partir de visões cujo balizamento se mostra como
desdobramentos de posições que remontam a antigas disputas entre
concretistas e neoconcretistas.
No que se segue, temos algumas imagens que podem nos dar uma
maior clareza a propósito de técnicas e de materiais envolvidos
nessa produção de arte, bem como, das posições assumidas
relativamente tanto ao jogo ético-político quanto aos processos
sociais da banalidade cotidiana. Dentre os mais importantes
recursos usados pelas várias tendências da Nova Figuração, no que
pese às suas próprias distinções, podemos destacar a presença do
objeto; inclusive, a partir das apropriações seja de instrumentos da
tecnologia mais sofisticados, seja dos utensílios de uso cotidiano ou
do lixo urbano. No tocante à política, o recurso às técnicas de
colagens e de serigrafia sobre notícias de jornal, sobretudo aquelas
denunciativas da violência (seja ela da ordem do autoritarismo
político ou da criminalidade) ou, ainda, os modos de instigação do
público para que se envolvessem na experiência artística e
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escapassem da passividade crônica em que se encontravam, foram
sempre modos recorrentes de manifestação de tomadas de posição
dos artistas da neovanguarda brasileira dos anos 60.
Imagens
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HÉLIO OITICICA
Antonio Dias
Lygia Clark
A Luta Diária
Bicho, 1960
Tinta plástica e óleo, ass. 1966 ' 28x50cm
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Rubens Gerchman
Carlos Vergara
Carols Vergara Berço Esplêndido, 1968
Sem título, 1965 óleo s/ tela 32x32cm Materiais variados Dimensões variadas
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Antonio Manuel
Antonio Manuel
Jornal, 1968
A imagem da violência, 1968
Crayon sobre papel
Flan pintado
Pedro Escosteguy
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Waldemar Cordeiro
Subdesenvolvido, 1964
Referências
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Antonio Dias; LygiaClark; Wesley Duke Lee; Waltercio Cardas Jr. Rio
de Janeiro: FUNARTE.
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COSTA, Cacilda Teixeira da; RIBEIRO, José Augusto. 2003.
Aproximações do Espírito Pop: 1963-1968. São Paulo: MAM.
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ZOLBERG, Vera L. 2006. Para uma Sociologia das Artes. São Paulo:
Editora SENAC.
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