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A TERRA DOS LEONIDES

O ENCONTRO
PREFÁCIO

“Quem eram eles? De onde teriam vindo? Como chegaram ali?”


Eram essas e outras perguntas que primeiro vieram à mente de Assad quando o vigia veio
lhe trazer a notícia da chegada dos estranhos seres. Passados o susto e a desconfiança iniciais,
perfeitamente naturais naquela situação, estabeleceu-se pouco a pouco um elo de confiança.
Apesar de não falarem a mesma língua, uma palavra proferida pelos seres estranhos fez-se
compreender: “Amigo”. Eles vieram em paz. Não eram agressivos, apesar do aspecto
absolutamente diferente deles causar certa repulsa
Não tinham jubas nem caudas. As garras eram ausentes e ainda cobriam o corpo com
panos e metais. Eles não rugiam, simplesmente emitiam sons incompreensíveis de
modulações exóticas. Seus corpos não eram robustos nem musculosos. Eram criaturas
absolutamente frágeis que poderiam ser facilmente derrotadas em um combate corpo a corpo.
No entanto, Assad, dono de uma sabedoria ancestral, aguardou até que os seres estranhos
demonstrassem qualquer espécie de sinal. E ele veio. Era uma palavra cujo significado o Alfa
nunca poderia decifrar, se não fosse pela maneira como ela fora pronunciada.
Os Leonides entendiam muito bem sobre modulação de rugidos como forma de
linguagem. Era assim que eles se comunicavam. Portanto, não foi difícil para nenhum deles
compreender o que aquele que parecia ser o chefe dos estranhos, quis dizer quando ergueu os
braços e disse:
“Amigo”.
Capítulo I

O céu estava azul naquela manhã, com a exceção de algumas nuvens que eram arrastadas
pelo vento. A temperatura era amena e algumas gaivotas se arrojavam de quando em quando
no mar almejando os cardumes.
Diante da praia estendia-se o mar aberto, e no final da mesma havia um porto e uma torre
de vigia. Era responsabilidade dele alertar os marinheiros do porto toda vez que um navio se
aproximava. Neste caso, eles rapidamente se organizavam para auxiliar na atracagem das
embarcações.
O porto era sempre comandado por um oficial da Marinha. Naquele dia, o oficial
responsável era o Tenente Queiroga, um jovem de 26 anos recém saído da Academia Real de
Marinha. Todo homem que desejasse atingir o Almirantado precisava estudar nesta
Academia. A seleção era rigorosa e somente os filhos das classes mais abastadas conseguiam
entrar.
_ Tenente Queiroga, avistei um navio, senhor! - gritou o vigia.
Desperto de suas divagações, o jovem Tenente pegou a sua luneta e mirou para o horizonte
em busca do navio.
“Será?”, pensou Queiroga.
_ Homens, entrar em forma! Preparar o porto para atracagem! - ordenou o Tenente.
Prontamente, aproximadamente dez marinheiros se colocaram em ação de forma
coordenada, como se fossem um grupo de dança. Pelos cálculos do Tenente, que levava em
conta a força e direção do vento, em aproximadamente quarenta minutos o navio atracaria no
porto.
Enquanto isso, imagens de navios zarpando no ano anterior ocupavam os pensamentos de
Queiroga. Lembrava-se da Grande Viagem, uma expedição que tinha por objetivo explorar o
Oceano a oeste do Reino Celtibero. Ela havia sido idealizada pelo Capitão Yunus Zarco, um
homem visionário muitas vezes incompreendido. Indo na contramão daqueles que duvidavam
das suas ideias, ele percorreu vários países em busca de financiamento para sua Grande
Viagem, e somente no Reino Celtibero ele obteve apoio do monarca e de alguns banqueiros.
Ele conseguiu três navios e trezentos homens. Fazia quase um ano que a expedição partiu
do Reino Celtibero. Os meses se passaram sem nenhuma notícia das tripulações. Somente
após o sexto mês que dois navios voltaram. O que não voltou era a nau capitânia comandada
pelo Capitão Yunus Zarco. Ninguém soube responder o que acontecera com ele e seus
homens.
A história que contaram foi que no terceiro mês de viagem, não tendo encontrado nenhum
sinal de terra, houve uma grande discussão nos navios da expedição. Os suprimentos estavam
quase acabando, e se não encontrassem logo algum continente ou ilha onde pudessem
abastecer, não haveria mais nada para consumirem na viagem de volta. Foi tudo calculado
para uma viagem de seis meses, divididos em ida e volta.
O Capitão Yunus Zarco sempre foi firme na sua resolução de que em breve encontrariam
algum sinal de terra, mas ele decidiu que queria na expedição somente os homens que como
ele fossem firmes e determinados. A decisão final foi que somente a nau capitânia continuaria
viagem e os outros dois navios voltariam para o Reino Celtibero. E foi assim que contaram o
que se sucedeu.
O Tenente Queiroga ficou remoendo esses pensamentos enquanto observava com a luneta
o navio se aproximando cada vez mais. Já conseguia divisar detalhes e não restava mais
dúvida. Eram Zarco e seus homens!
Só havia uma explicação para ele ter conseguido voltar após tanto tempo com suprimentos
limitados. Ele havia encontrado terra! Queiroga se animou diante desta constatação.
Admirava muito Zarco pela sua bravura e conhecimentos. Apesar de não pertencerem ao
mesmo país - o Capitão Yunus Zarco era um remanescente do Reino Mouro, derrotado
décadas atrás nas Guerras Médias - Quiroga torcia pela sucesso do empreendimento de Zarco,
que mais do que tudo seria uma comprovação das habilidades de marinharia dos mouros, que
Queiroga tanto admirava.
Os mouros eram exímios navegadores, e muito do que os celtiberos adquiriram não
somente de náutica, mas das ciências em geral, foi através deles. Infelizmente, aquela
magnífica civilização fora destruída pela ganância dos reinos do norte, interessados nos
segredos científicos dos mouros. Felizmente, o Reino Celtibero manteve-se neutro durante as
Guerras Médias, e preferiu antes dar abrigo a vários súditos e cientistas do reino derrotado.
Mais tarde, esta ajuda provou-se de extrema valia para os celtiberos, pois os mouros
transferiram todo o seu conhecimento para o pequeno reino do oeste.
Ele estava mais próximo.
Já podiam ver os mastros e velas da grande nau capitânia. A tripulação do navio também
se agitava para realizar uma boa atracagem. No meio deles, um vulto de homem se distinguia
dos demais. Era alto, preto, ombros largos, barba farta e cabelos crespos. Seus olhos
castanhos eram levemente amendoados e pareciam querer saltar das órbitas. O Capitão Yunus
Zarco ostentava orgulhosamente os traços da raça moura. Seu olhar era confiante e
misterioso. Parecia trazer histórias sobre novos mundos que as imaginações dos homens não
ousavam desvendar.
Era essa a impressão que todos tiveram ao ver de perto novamente o Capitão Yunus Zarco.

***

Os portões do salão real se abriram para a passagem do Mestre de Cerimônias do Rei. Ele
adentrou o salão segurando um bastão sob o braço direito. Realizando movimentos lineares,
se colocou perante do monarca e anunciou:
_ Vossa Majestade, o Capitão Yunus Zarco deseja ter uma audiência!
Prontamente, os guardas reais posicionaram-se em duas fileiras, uma diante da outra, em
frente aos portões do salão. Era um corredor humano feito para recepcionar o Capitão e o
seus homens.
Ao ouvir o nome Zarco, o Rei Randolfo estremeceu. Todos o julgavam morto. As
esperanças tinham acabado quando os navios da Grande Viagem voltaram sem a nau
capitânia.
_ Capitão Yunus Zarco? Pensávamos que estivesse morto… - falou o rei e voz insegura. -
Os outros navios da expedição voltaram há poucos meses e nos relataram a sua grande
determinação em continuar adiante.
Zarco ajoelhou-se sobre o joelho direito e baixou a cabeça. Seus homens o seguiram no
gesto.
_ Vossa Majestade, se permitires posso explicar.
_ Prossiga, por favor.
_ Estávamos há três meses em alto mar. Segundo os meus cálculos iniciais, veríamos terra
firme exatamente neste período. Portanto, nossos suprimentos eram suficientes para uma
viagem de ida e volta que durasse seis meses no total. Entretanto, eu estava errado. Criou-se
um impasse e decidimos nos reunir para decidir que rumo iríamos tomar. Eu deixei todos
livres para decidir. Os homens diretamente sob meu comando no meu navio decidiram
avançar comigo. As duas outras embarcações resolveram voltar para o Reino.
_ Sim. Até esta parte eles nos contaram. - interrompeu o monarca.
_ Permita-me prosseguir, Majestade.
O Rei Randolfo fez um sinal afirmativo com a cabeça e Zarco prosseguiu.
_ Depois que a nossa expedição se dividiu com o retorno dos dois navios, prosseguimos
adiante. Eu tinha a convicção de que em breve encontraríamos terra firme. Minha certeza
vinha do conhecimento que eu adquiri estudado os velhos mapas dos mouros. Séculos atrás,
nosso antigo Imperador Kanga Mussa, organizou uma grande expedição com centenas de
embarcações cujo objetivo era o mesmo que o nosso. Somente um navio retornou, e a sua
tripulação relatou detalhes de uma terra maravilhosa e rica. O Capitão deste navio, Babacar,
contou que a grande maioria dos que empreenderam aquela viagem resolveram ficar na nova
terra … - Zarco vacilou um pouco antes de prosseguir. Quando finalmente se decidiu, disse: _
Foi isto que me moveu. Foi essa a razão pela qual eu tinha tanta fé na minha missão. Tinha
levado para a nossa expedição as anotações que eu mesmo fiz quando li o antigo diário do
Capitão Babacar anos atrás.
_ Por que não nos contou nada ? - questionou o Rei.
_ Majestade … Eu tive medo da inveja e ganância dos homens.
_ Teve medo de mim?
_ Não, Majestade! Claro que não … Mas como todos sabem as paredes do palácio têm
ouvidos, e todos tentam agradar o seu Rei de todas as formas. Temi que alguém pudesse, por
inveja, atrapalhar os meus planos ou então se adiantar a mim e empreender a viagem sem o
meu conhecimento. Mas eu queria ter a honra de trazer “eu mesmo” esta glória para meu Rei.
_ Ficou muito feliz com essa atitude, Capitão. Por favor, conte-nos mais sobre a sua
viagem. Vocês finalmente descobriram algum continente ou ilha ?
_ Sim. Após navegarmos mais três dias na mesma direção chegamos à terra firme! Não sei
dizer ainda se era um continente ou uma ilha. Não chegamos a fazer este viagem de
exploração, mas o pouco que vimos faria qualquer ser humano maravilhar-se. Era um mundo
de sonhos. Árvores e plantas coloridas de uma espécie que nunca vi em lugar nenhum.
Animais estranhos, desde o mais pequenino até a maior criatura. E eles eram coloridos e
possuíam cheiros exóticos! E havia frutas, Majestade! De todas as árvores coloridas pendiam
frutas enormes que poderiam matar a fome de qualquer homem por horas. E como isto nos
ajudou! Estávamos famintos devido aos mais de três meses de viagem, e ainda pudemos
abastecer o nosso navio para o retorno.
_ Conte-me mais. - pediu o Rei.
_ Nós vimos pássaros coloridos que nos acordavam com seu canto e embalavam a nossa
noite para que dormíssemos tranquilos. Havia também pedras, muitas pedras coloridas e de
diferentes tamanhos, que emitiam brilhos correspondentes à cor de cada uma delas.
_ Não haviam pessoas? A ilha era desabitada?
_ Sim, Majestade. Mas não eram como nós. A “ilha”, se podemos chamar assim, era
habitada por um povo com corpo humano e cabeça de leão. Nós resolvemos chamá-los de
Leonides. Eles são seres inteligentes e organizados, e apesar de não falarem uma língua como
a nossa, nós conseguimos estabelecer uma espécie de comunicação com eles. Parece que eles
compreendem o que queremos dizer. Não tivemos que entrar em combate eles. Aliás, acho
que eles nos dominariam facilmente se tentássemos tal coisa. Mas não houve necessidade.
Desconfiados a princípio, fomos conduzidos ao líder deles, que se mostrou amistoso conosco.
Ele era o maior de todos eles. Os Leonides, no geral, possuem corpos musculosos, tanto os
machos quanto as fêmeas, mas o líder deles se destacava de todos. Apesar disso, ele não se
mostrou em nada agressivo. Na verdade, ele transmitia muita tranquilidade e sabedoria.
_ É uma pena você não ter trazido nada de lá …
_ Guardamos esta surpresa para o final.
O Capitão Yunus Zarco bateu palmas e gritou:
_ Mandem entrar o baú!
Os portões do salão real se abriram novamente e entraram quatro homens carregando um
grande baú vermelho nos ombros. O Rei Randolfo ficou um tanto surpreso e observou
ansioso. Os homens pararam diante do Rei e desceram o baú. Yunus Zarco colocou-se ao lado
do baú e repousou a mão sobre a tampa enquanto falava:
_ Contemple, Majestade! As maravilhas da Terra dos Leonides!
Zarco abriu o baú, e o brilho que saiu de dentro dele fez com que todos no salão
desviassem os olhares. Eram as pedras brilhantes mencionadas pelo Capitão. Depois de
alguns segundos, os olhos dos presentes se acostumaram com o brilho e todos puderam
examinar o conteúdo do baú, incluindo aquelas pedras que pareciam ser mágicas.
_ Como elas são belas! - exclamou o Rei sobre as pedras. Elas brilhavam em cinco cores
diferentes: amarelo, azul, vermelho e verde. Zarco colocou algumas delas nas mãos do Rei.
_ Elas possuem alguma propriedade mágica? - perguntou Randolfo enquanto as
examinava atentamente.
_ Não sabemos ao certo, Majestade. Mas os nativos se enfeitam com elas.
_ Elas parecem ser muito valiosas. Veja este brilho! Que maravilha! O que mais você
trouxe?
O Capitão se aproximou novamente do baú e tirou algumas frutas. Por algum prodígio
maravilhoso estavam todas maduras. Nenhuma delas havia estragado com a viagem. Zarco
segurou uma delas, a maior de todas e mais colorida, e mostrou para o Rei Randolfo.
_ Meu Rei, por favor.
Randolfo pegou a fruta com a mão direita e deu uma mordida. A expectativa era enorme.
O Rei Randolfo podia ser bem imprevisível quando queria. Diziam no palácio que ele já
havia mandado cortar a cabeça de um escravo que lhe servira uma comida azeda. Ao mesmo
tempo, se alguém tivesse a sorte de cair nas graças de Randolfo, poderia ser agraciado e
receber muitos presentes e promoções inesperadas. Portanto, era este o clima do salão quando
o Rei mordeu a fruta colorida. A sua reação posterior fez todos se aliviarem.
_ Deliciosa! Tem mais delas?
Zarco não tinha dúvidas que Randolfo aprovaria. Ele pegou mais um punhado de frutas e
mandou que um dos homens as entregasse ao Rei. Depois, continuou exibindo o conteúdo do
baú.
_ Veja, meu Rei. Estes são alguns dos pequenos animais que encontramos. - disse o
Capitão enquanto segurava apoiado em um dos dedos um pássaro de cor verde fluorescente.
A cada vez que o pássaro cantava, ele mudava de cor, podendo ir do verde fluorescente até o
laranja.
O Rei Randolfo estava cada vez mais satisfeito e maravilhado. Voltou a admirar o punhado
de pedras brilhantes que Zarco havia lhe dado.
_ Existem mais pedras como essas? - perguntou o Rei.
_ Sim, Majestade. Os nativos as usam como enfeite. Nós conseguimos que eles nos
entregassem essas através de trocas. Algumas das coisas que trazíamos conosco chamou a
atenção deles. Os nossos pentes e espelhos, mais especificamente.
_ Ah, sim. Fale-me mais sobre os nativos.
_ Como eu havia dito, meu Rei, os nativos são seres fantásticos, metade humanos e
metade leão. Na minha opinião, eles são a maior riqueza daquela terra. Eles dão sentido para
aquilo tudo. Vivem em perfeito equilíbrio com a natureza e são uma raça amistosa.
_ Como foi o primeiro contato com eles ?
_ Aconteceu da seguinte maneira, Majestade. Quando avistamos a terra firme, fundeamos
o nosso navio próximo a praia e eu juntamente com meus melhores homens fomos até a praia
em nosso pequeno barco. Chegando lá, um desses Leonides nos viu na praia e logo a seguir
fugiu para dentro da floresta, que era bem densa, diga-se de passagem. Passados alguns
minutos, ele retornou com um grupo de mais quinze Leonides. Eles não se comunicavam com
palavras como nós. Apesar de não estarem portando nenhum tipo de arma aparente, a
expressão deles era um tanto intimidadora. Seus corpos eram maiores que os nossos e de
musculatura bem desenvolvida. Eu diria que a altura média deles, e os Leonides podem andar
tanto eretos quanto sobre as quatro patas, é um pouco superior à dos nossos maiores homens.
Apesar do corpo aparentemente humano, eles possuem garras e pelos no corpo. Também
existe uma cauda, exatamente como a de um leão. A cabeça é a parte mais leonina deles, em
nada semelhante a um ser humano. Os leonides têm até mesmo jubas, e é assim que
diferenciamos as fêmeas dos machos. Nós fomos conduzidos por eles até o líder. Nossa
comunicação era bem precária a princípio, mas eles se faziam entender através de sinais. E
por mais que nós não compreendêssemos a língua deles, que era basicamente uma série de
rugidos variados, eles compreendiam a essência de nossas palavras.
“Assim que chegamos diante do líder ficamos estupefatos. Que criatura magnífica! A sua
juba era a mais chamativa de todas. Os seus modos eram extremamente elegantes. Ele estava
sentado sobre um trono. E era um trono feito de madeira e grandes folhas das árvores nativas.
Eu compreendi imediatamente que todos o respeitavam e seguiam como líder. Imediatamente
procurei demonstrar minha amistosidade erguendo os braços e dizendo: “Amigo”. E pelo que
aconteceu depois, os Leonides entenderam o que quis dizer. Após alguns rugidos para o resto
do bando, cessou o clima de desconfiança. Tudo ficou melhor depois disso. Eles organizaram
uma espécie de festa para nós. É isso mesmo … Fomos recepcionados como convidados de
honra. Eles serviram toda a variedade de frutas para nós. Quanto às pedras brilhantes, eles as
utilizam em colares. Parece ter alguma importância para eles, pois dificilmente os Leonides
não carregam uma dessas pedras quando saem das suas cavernas”.
_ Cavernas? Você disse cavernas?
_ Sim, Majestade. Os Leonides habitam cavernas dentro das florestas. Isso os protege no
caso de alguma chuva ou tempestade. Entretanto, eles conseguiram produzir utensílios
semelhantes aos nossos. Eles são seres inteligentes. São apenas diferentes.
_ Tudo bem, fale-me mais sobre as pedras que brilham … Eles as utilizam como moeda de
troca? - perguntou Randolfo.
_ Não creio, Majestade. Evidentemente, não ficamos lá tempo suficiente para descobrir, e
a diferença de nossas línguas também impediu que fizéssemos pergunta mais completas. Mas
pudemos observar que em relação a estas pedras, eles ao mesmo tempo que lhe dão valor e
importância, eles não vêem problema em dividi-las entre si. É como se elas fossem um direito
de todos, e o Líder Leonide garante que cada membro da sua raça tenha pelo menos um
punhado delas, seja adulto ou filhote, macho ou fêmea. Foi essa a impressão que tivemos.
_ É incrível que vocês tenham conseguido permanecer entre eles sem nem ao menos
conseguir ter uma comunicação clara.
_ Meu rei, isto foi mais por mérito deles do que nosso. De alguma forma, eles sempre
conseguiam entender o que estávamos tentando dizer. Mas o mesmo não era verdade para
nós. Tudo o que ouvimos deles foram rugidos e mais rugidos. É certo que nem todos eram
iguais, mas aquilo não tinha nenhum significado para nenhum de nós. De todo modo, se
alguém chega até eles e troca presentes, eles entendem imediatamente como uma
demonstração de amizade.
_ De quais presentes do nosso Reino eles mais gostaram? - perguntou o Rei Randolfo.
_ Eles gostaram especialmente do nosso vinho, meu Rei. Acredito que eles dariam
qualquer coisa para ter alguns barris do nosso vinho.
O Rei sorriu pensativo. Um sorriso misterioso e enigmático.
_ Você está disposto a voltar lá? - perguntou o Rei.
_ Sim, Majestade. Eu sei o caminho de volta. Os mapas dos antigos navegantes mouros
não estavam errados. Só preciso de suprimentos para a viagem de ida. Podemos abastecer
tranquilamente na Terra dos Leonides com os frutos que matam a fome.
_ Esplêndido, Zarco! Quero reunir em breve uma grande frota carregada de barris de vinho
para inaugurarmos uma linha de comércio com estes seres metade humano, metade leão.
Esteja preparado para a qualquer momento voltar a servir ao seu Rei.
_ Certamente, Majestade. Não quero te decepcionar nunca.
_ Quantos eram os Leonides no total?
_ Cerca de quatrocentos, Majestade.
_ Tem certeza que eles não possuíam qualquer tipo de arma?
_ Absoluta, meu Rei. Eles utilizam somente suas garras poderosas. Eu fui testemunha de
uma caça que eles fizeram a um grande animal, maior do que dois homens e com um chifre
na cabeça. Eles facilmente dominaram este animal e rasgaram a sua carcaça com suas garras.
Foi assombroso. Eles fizeram isso para nos servirem no jantar. Ao que parece, em ocasiões
especiais eles comem carne de animais. Nos dias normais eles se alimentam de frutos e
raízes.
_ Fantástico, Zarco. Você cumpriu bem sua missão. Vou lhe elevar a Lorde Almirante a
partir de agora. Aproxima-se, Lorde Almirante Yunus Zarco!
Zarco aproximou-se mais do Rei Randolfo e postou-se ajoelhado diante dele. O Rei
colocou um colar de jóias sobre o seu pescoço.
_ Majestade, eu não sei como agradecer.
_ Lealdade. Quero apenas a sua lealdade. Nunca traia o seu Rei.
_ Eu juro, meu Rei. Serei leal a Vossa Majestade mesmo que isso custe a minha vida.
_ Que assim seja! - disse o Rei.
_ Que assim seja! - repetiram todos no salão real.
***
E assim começaram as aventuras do Lorde Almirante Yunus Zarco. Preso pelo juramento
de lealdade que fizera ao Rei Randolfo, estaria ele disposto a sacrificar os seus valores mais
profundos por isso? Ao encontrar os Leonides, Zarco sentiu uma estranha familiaridade com
eles. Havia algo que o atraía para aquela raça de seres exóticos, mas ele não sabia explicar o
que era.

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