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Nada é impossível para Deus Kathryn Kuhlman

Publicado em espanhol, com o título: "Nada es imposible para Dios"


Editorial Peniel, Buenos Aires, Argentina
Originalmente publicado em inglês com o título: "Nothing is impossible with God" by Bridge
Publishing,
Copyright © 1974 by The Kathryn Kuhlman Foundation 2a edição, 2005
Tradução para o espanhol: Virginia Lópes Gradjean ISBN 087-557-088-5
Impresso na Colômbia
Digitalização: JEm Tradução para o português: sssuca
Nestas páginas...
...você conhecerá Elaine Saint-Germaine, uma atriz cuja queda barranco abaixo em um
caminho de drogas e satanismo foi detida por milagre... o Dr. Harold Daebritz, cuja esposa foi
curada em segundos de uma lesão nas costas que tinha resistido a vinte anos de tratamentos
em mãos de especialistas... e muitos, muitos mais. Maravilhosos, autênticos e imensamente
comovedores, estes relatos são testemunhos irrefutáveis da incrível transformação que Deus
pode produzir em qualquer pessoa que o busque.

Índice
Prefácio - Um tributo a Kathryn Kuhlman ............................................................4 Capítulo 1 - O
que chegou tarde ............................................................................6 Capítulo 2 - Não há
escassez no depósito de Deus ............................................. 13 Capítulo 3 - Caminhando nas
sombras ............................................................... 31 Capítulo 4 - O dia em que a misericórdia de
Deus se encarregou ......................44 Capítulo 5 - Quando o céu baixa à
Terra..............................................................53 Capítulo 6 - Diga às
montanhas .......................................................................... 71 Capítulo 7 - Este é um ônibus
protestante? .........................................................85 Capítulo 8 - A cura é só o
começo .......................................................................96 Capítulo 9 - Um vazio com forma de
Deus ........................................................ 105 Capítulo 10 - A cética do chapéu de
pele ............................................................115

Prefácio
Um tributo a Kathryn Kuhlman
Creio que, a esta altura, todos a conhecem. Durante quase um quarto de século ela foi um
vaso de Deus que fez com que a cura e a restauração fluíssem nas vidas de milhares de seres
humanos.
É amada e admirada por milhões de pessoas e difamada somente por aqueles que não
acreditam na cura divina ou por quem não fez nenhum esforço em compreendê-la ou ao que
ela representa. Mas eu a vi, antes de apresentar-se diante de uma multidão para expressar sua
ilimitada fé em Deus, e a observei cuidadosamente. Uma e outra vez dizia:
"Querido Deus, a menos que me unjas e me toques, eu não sou nada. Quando a carne se põe
no meio do caminho, eu não tenho nenhum valor. Se não receberes toda a glória, eu não
posso ministrar".
E, de repente, sobe à plataforma. É explosivo, quase incrível. Não é tanto o que diz, porque
sempre é tão claro e simples como o estilo de pregação que o próprio Senhor Jesus usava. Não
o compreendo, e ela também não; mas quando o Espírito começa a mover-se sobre ela, (e se
sente repentinamente movida a desafiar o poder do diabo no nome de Jesus), começam a
acontecer os milagres. Em todo lugar, todos, até os mais rígidos e dignos, caem prostrados ao
chão. Católicos e protestantes elevam as mãos e adoram a Deus, unidos... tudo decentemente
e com ordem. O poder do Espírito Santo cai sobre as pessoas como as ondas do oceano.
Os representantes dos meios televisivos logo compreenderam que ela não era falsa, nenhuma
fanática. Conheciam pessoas que tinham sido tocadas por seu ministério.
Sua sabedoria divina e sua capacidade não têm igual. Não é rica, nem está obstinadamente
agarrada ao materialismo. Eu sei! Ela pessoalmente reuniu e entregou ao Teen Challenge o
dinheiro necessário para construir em nossa granja um lugar para a reabilitação de viciados.
Suas orações trouxeram o dinheiro necessário para construir igrejas em países
subdesenvolvidos de todo o mundo. Apoiou a educação de meninos pouco capacitados e
também outros jovens superdotados receberam seu amor e seu cuidado. Entrou comigo nos
guetos de Nova Iorque e impôs suas mãos carinhosas sobre sujos viciados. Nunca duvidou nem
voltou atrás; sua preocupação era genuína.
Qual é a razão por que faço este tributo? Porque o Espírito Santo me ordenou que o fizesse!
Ela não me deve nada, e eu não lhe peço nada

mais que o mesmo amor e respeito que demonstrou por mim durante anos.
Mas, muitas vezes, damos tributo unicamente aos mortos. Agora, pois, darei a uma grande
mulher de Deus, que tocou tão profundamente minha vida e as de milhões de pessoas mais:
Te amamos, no nome do Senhor! A história dirá sobre Kathryn Kuhlman: Sua vida e sua morte
deram glória a Deus.
David Wilkerson, autor de A cruz e o punhal.

Capítulo 1
O que chegou tarde
Tom Lewis
Tom Lewis, coronel reformado do Exército, é um dos produtores de filmes mais conhecidos de
Hollywood. Sua lista de créditos no "Quem é quem na América" ocupa tanto espaço como as
medalhas sobre seu peito. Foi o produtor fundador do Screen Guild Theatre, fundador do
Serviço de Rádio e Televisão das Forças Armadas Americanas, do qual foi comandante durante
toda a Segunda Guerra Mundial, e criador e produtor executivo de "O Show de Loretta Young".
Como diretor da Universidade Loyola, recebeu inúmeros prêmios por excelência em produções
televisivas, tanto no país como das forças armadas americanas estabelecidas em todo mundo.
Devoto católico-romano, conta-se agora entre o crescente grupo dos assim chamados
"católicos carismáticos".
No inverno passado, meu filho (jovem diretor de filmes), e um produtor de mesma idade dele,
planejavam realizar um programa especial de TV sobre o "povo de Jesus" 1. Aceitei escrever a
apresentação, mas a contragosto. Como os "Meninos de Jesus" eram jovens, imaginei que meu
filho e seu sócio deveriam contratar pessoal de idade similar.
Minha investigação preliminar sobre os jovens, a respeito dos quais desejava saber mais, gerou
em mim grande interesse e respeito por eles. Muitos tinham saído do inferno da dependência
de drogas, através de uma fé renascida em Jesus Cristo. Até esse momento, eu ainda não tinha
estudado a motivação religiosa do movimento. Entretanto, do ponto de vista humano, não
pude me sentir menos do que muito impressionado por sua sinceridade, assim como
assombrado e pasmado diante de sua maneira tão familiar de falar sobre Jesus, como se Ele
estivesse ali mesmo com eles.
1 "Jesus People", um movimento cristão surgido na década de 70.

Eu sempre tinha me considerado um homem razoavelmente religioso, que desfrutava da vida


sacramental da Igreja Católica Romana. Eu não saía por aí referindo-me a Jesus Cristo como se
me encontrasse com Ele pessoalmente com freqüência. Na verdade, muito raramente o
mencionava por seu nome. Pensava que era melhor evitar o tratamento muito pessoal e
preferia uma referência mais reservada, como "meu Senhor", ou "o bom Senhor".
Como parte de minha tarefa, me pediu que estudasse o ministério de Kathryn Kuhlman. uma
pessoa muito estimada pela "gente de Jesus".
A senhorita Kuhlman vinha uma vez por mês ao auditório Shrine de Los Angeles para realizar
um culto de milagres. Pedi dois assentos, na seção do centro, sobre o corredor, perto da
frente. Entretanto, aparentemente não era assim que se obtinham os ingressos. Teria que
entrar numa fila e arriscar tentar conseguir a localização desejada. A capacidade do auditório
era de 7.500 pessoas, e me disseram que algumas vezes tentava entrar o dobro dessa
quantidade de gente. Isto me deixou espantado, e essa sensação continuou durante quatro ou
cinco meses, já que foi esse o tempo que tive que esperar até poder chegar a entrar na fila.
O dia em que cheguei a esse lugar era anormalmente quente para o mês de março, até na
ensolarada Califórnia. Saí da rodovia na rua Hoover para evitar o trânsito da zona próxima ao
auditório. Normalmente essa zona do centro da cidade estaria quase deserta em um domingo.
Mas enquanto me aproximava do estádio, todos os lugares destinados para estacionar e as
ruas estavam ocupadas. Os ônibus chegavam um após o outro à entrada principal, onde
descarregavam seus passageiros. Alguns tinham placas que diziam "Fretado"; outros
revelavam o nome de seus pontos de origem. Lembro de um de "Santa Bárbara", e outro, de
"Las Vegas". Para meu assombro, havia um, cheio de pó, que tinha uma placa de "Portland,
Oregon"... que "pequena viagem" tinham feito somente para assistir a um culto de milagres do
Kathryn Kuhlman. Me perguntei o que seria o que a senhorita Kuhlman daria ali dentro. Não
podia ser comida; havia muitas pessoas. Tampouco podia ser um bingo... como gerenciar 7.300
cartões de bingo?
Uma longa fila de pessoas em cadeiras de rodas avançava pela rua Jeferson para uma entrada
lateral, pela qual eram imediatamente admitidas. Algo similar acontecia com um grande grupo
de homens e mulheres com hinários nas mãos; aparentemente eram os membros do coro.
Também havia muitos com colarinhos romanos e mulheres vestidas sobriamente. Me
perguntei o que estariam fazendo ali todos esses padres e freiras.
Encontrei um local, onde estacionei meu automóvel, e logo me juntei aos milhares de pessoas
que esperavam diante da entrada principal do estádio. Meu relógio marcava onze em ponto.
As portas seriam abertas à uma. Normalmente, eu não teria esperado tanto tempo por coisa

alguma, nem sequer pela segunda vinda. Mas logo compreendi que essa era uma definição
apressada.
Começou a reunir-se uma grande quantidade de gente atrás de mim, e me encontrei perto do
centro de uma grande multidão. Isto me deu uma ligeira sensação de claustrofobia, por isso
me concentrei em tomar notas mentais com as quais construiria minha apresentação: grande
multidão, muito ordenada; vários jovens que respondiam às características dos "Meninos do
Jesus".
Estes jovens tendiam a formar grupos, como ilhas num mar de corpos. Cantavam enquanto
esperavam, não muito forte, não necessariamente para que outros os ouvissem; nem sequer
atuavam como se tivessem muita consciência da presença de outros. Cantavam de forma
bastante quieta e meditativa. Isso me pareceu estranho, incomum. Lembrava um grupo de
cristãos coptos que vi uma vez em Roma, orando de forma audível, mas não em uníssono,
independentemente de outros, mas juntos.
Agora a quantidade de gente tinha realmente aumentado muito, e alguém que estava lá
dentro se compadeceu de nós. As portas se abriram uns vinte minutos antes da uma. As
pessoas que estavam atrás de mim se lançaram para a frente, e me empurraram para além da
entrada. Isto me surpreendeu, porque tinha a mão na carteira, preparado para pagar meu
ingresso.
Uma senhora que estava justo atrás de mim viu, e riu. "Aqui, o dinheiro não o levará a
nenhuma parte", disse. "Mas, se está lhe queimando no bolso, haverá uma oferta voluntária
mais tarde."
Assim todos se comportavam: em ordem, não festiva, como a multidão que assistiria a uma
partida no estádio, bastante quieta, não muito comunicativos uns com outros, embora
amistosos, quando se dava ocasião para conversar.
Encontrei um assento bastante atrás e para o lado.
A plataforma, brilhante e muito iluminada, estava cheia de atividade. Homens e mulheres com
hinários nas mãos procuravam seus lugares em uma espécie de arquibancada que ocupava
todo o espaço. Em ambos os lados havia dois grandes pianos. Parecia que havia centenas de
pessoas no coro, mas, assim como entre o resto do povo, não havia desordem nem confusão.
Apesar do constante movimento devido aos que chegavam tarde, o coro continuava cantando
como se estivesse em uma silenciosa catedral. O diretor, um homem magro, branco e de
aspecto aristocrático, guiava o ensaio com precisão e inquestionável autoridade.
Uma anciã de aspecto encantador se sentou à minha direita. Pela atenção que me dedicou ou
aos milhares de pessoas que a rodeavam, era como se estivesse sozinha na Capela de Nossa
Senhora da Catedral de São Patrício. Tinha uma Bíblia aberta sobre o regaço, e algumas vezes a
lia em silêncio.

A Bíblia parecia o equipamento comum de muitos dos presentes. Dois jovens sentados atrás
de mim tinham Bíblias, mas não as liam. Simplesmente cantarolavam ou cantavam as letras
dos hinos que o coro ensaiava na plataforma. Isso eu não gostei. Nunca me agradei dos teatros
ou concertos ou cinemas em que o público participa, sobretudo quando não lhe foi
especialmente solicitado que o fizesse. Mas ia escutar muito mais destes jovens.
Enquanto isso, as luzes brilhantes sobre a plataforma baixaram um pouco, e lhes acrescentou
cor. As cores pastéis dos vestidos das mulheres do coro faziam um agradável contraste com o
azul do cenário curvo que rodeava tudo.
Uma vez terminado o ensaio, o coro começou a cantar segundo o programa. A maioria dos
hinos eram conhecidos e muito queridos: "Quão grande és Tu", "Sublime Graça". Os cantores
eram excelentes; mais tarde soube que provinham de igrejas de todas as denominações da
zona de Los Angeles.
Sem interrupção, o coro começou a cantar "Ele me tocou". Senti que uma tensa expectativa se
apoderava da audiência. A luz de um spot se concentrou em uma área à direita do público.
Todos ficaram de pé e aqui e acolá algumas pessoas começaram a aplaudir. A senhorita
Kuhlman, uma figura frágil e magra, vestida com um encantador vestido branco, subiu à
plataforma, cantando com o coro. Aproximou-se de um conjunto de alto-falantes à direita do
centro do cenário, tomou um microfone pendente que colocou ao redor do pescoço, e sem se
deter, dirigiu o coral em "Ele me tocou", energicamente, várias vezes, e finalmente em forma
decrescente. Em seguida, sem explicação nenhuma, continuou com "Ele é o Salvador de minha
alma". O público e Kathryn Kuhlman pareciam concordar em que estes hinos eram especiais
para ela. Sem explicações, uma vez, mais, começou a orar em voz alta. O público ficou de pé,
com as cabeças inclinadas, seguindo sua oração em silêncio.
Soube então o que era o que tinha sido distinto no canto dessas "ilhas" de jovens que
esperavam fora do auditório; o que era isso tão especial no canto desse grande coro que
estava sobre a plataforma. Estavam cantando, sim, mas era mais do que cantar. Não estavam
atuando; estavam adorando. E o público reagia de forma diferente. Não era público, era uma
congregação. Cantavam a uma só voz com o coro, quando lhes indicava. Oravam em uníssono
com a senhorita Kuhlman. Isto não era um show, era uma reunião de oração. Não sei como me
senti nesse momento; provavelmente impressionado, e agradado por ter feito um
descobrimento interessante.
Entretanto, logo descobri outra coisa, que me surpreendeu muito. Uma e outra vez, os jovens
que estavam sentados atrás de mim gritavam "Amém", e "Louvado seja Deus", aparentemente
em resposta a uma oração ou a uma afirmação. Muitos outros faziam o mesmo. Outros
levantavam as mãos em um gesto de súplica que relacionei com a posição

das figuras bíblicas representadas nos vitrais de igrejas. "Já imagino aonde terminará tudo
isto", pensei, e automaticamente comecei a procurar a saída mais próxima.
Uma das coisas que mais me incomodava era um jovem que estava em uma das filas
superiores do coro. Esteve quase todo o culto com as mãos levantadas. Este deve ser "o"
milagre do culto de milagres, pensei. Nenhum sistema circulatório pode suportar a tensão de
uma postura como essa durante muito tempo. Certamente seus braços cairiam como chumbo
em pouco tempo.
Mas depois me esqueci dele; esqueci-me de todos. Como a senhora que estava sentada a meu
lado, era como se estivesse em uma capela remota, exceto, talvez, por uma Presença que
normalmente não se sente em um auditório tão grande.
Sim, era isso. Havia uma Presença ali, e era por isso que esta multidão de tantos milhares de
pessoas ficava tão calada que, por momentos, eu podia escutar o som de minha própria
respiração. Era por isso que se perdia a noção do tempo. Havia algo diferente ali; havia amor,
específico e real. Sim, e mais que amor, estava essa Presença. Lembrei das palavras de uma
canção dos Meninos de Jesus: "Saberão que somos cristãos por nosso amor, por nosso amor.
Saberão que somos cristãos por nosso amor".
Começaram as "curas": duas na fila perto de onde eu estava. Eu os vi antes que a senhorita
Kuhlman os chamasse. Vi a expressão maravilhada de terem sido curados, depois sua
incredulidade, a compreensão do fato e sua felicidade.
Havia muitas, muitas curas na plataforma nesse momento. Alguns se levantavam das cadeiras
de rodas. Uma freira paralítica caminhou; fazia anos que não podia fazê-lo. Vi gratidão nos que
foram curados, um agradecimento tão evidente que quase podia ser tocado. Os drogados
eram libertados, e na evidência de seus rostos transformados, luminosos, vi renascimentos
interiores e regenerações morais.
Perdi a conta do que vi, porque, em algum ponto desconhecido para mim, deixei de ver e
comecei a sentir. Senti no mais profundo da minha consciência.
Compreendi que participava de uma conversa, a mais assombrosa, nua, honesta conversa de
minha vida. Estava falando com Deus. Em algum lugar no meu interior, estava contando a Deus
coisas que nunca tinha sabido antes, ou que não tinha podido ou querido admitir.
Apesar de toda a evidência de minha carne, dos fatos visíveis e aparentes de minha ocupada
vida, o amor e a companhia de meus filhos e seus amigos, meus próprios amigos, que eram
muitos, meus interesses no mundo, meus hobbies, apesar de toda essa evidência, estava
dizendo a Deus que estava inquieto e sozinho. Profunda, desesperadamente solitário. Não de
gente, nem de coisas. Tinha muito disso. Disse a Deus

que estava vazio. Então me invadiu a emoção mais forte que jamais havia experimentado:
fome. Uma fome selvagem, rude, primitiva.
Vi que a plataforma e os corredores estavam cheios de gente. A senhorita Kuhlman convidava
aqueles que queriam a Cristo em suas vidas para que fossem à frente, reconhecessem seus
pecados, recebessem a Jesus como seu Salvador pessoal, e se entregassem completa e
irrevogavelmente a Ele.
Segui-os. Coloquei-me entre eles. Eu, que não participava, que me tinha feito sozinho, o
sofisticado. Eu estava tomando esse compromisso, surpreendentemente consciente de tudo o
que significava e da responsabilidade que assumia. Pedi a Deus que me livrasse de todo temor.
E Ele o fez.
Essa noite, enquanto voltava, em meu carro, à minha pequena cidade do Ojai, chorei. Chorei
durante todo o caminho. Não me sentia nem triste nem feliz: sentia-me... limpo.
Durante a noite, despertei e senti que compreendia, instantânea e plenamente, o que tinha
acontecido. Me re-consagrei a Cristo, percebi que não duvidava e nem temia esse
compromisso, e dormi profundamente uma vez mais, sem sonhar.
Na manhã seguinte, já bem adiantada, fui caminhando desde meu lar no campo até a pequena
cidade do Ojai. Sentia-me bem, descansado e em paz. As emoções do dia anterior já tinham
ficado para trás. Passei junto à capela a que estava acostumado a freqüentar, uma capelinha
de estilo colonial espanhol, localizada na rua principal. Era a época da Quaresma. Eram
aproximadamente 11:30, e eu sabia que devia estar sendo celebrada a missa.
Assim era. Cheguei a tempo para a celebração eucarística a que usualmente chamamos Santa
Comunhão. Fui para o altar automaticamente, e como só havia seis ou oito pessoas presentes,
recebemos ambos os elementos da Santa Eucaristia, pão e vinho. Em vez de voltar para os
fundos da capela, ajoelhei-me no primeiro banco.
Foi bom que o fizesse. O que eu tinha tomado em meu corpo não era pão e vinho, não era um
símbolo, não era uma lembrança. Era o Corpo e o Sangue de Cristo, e o resultado em mim foi o
mais profundo conhecimento da real presença de Cristo. Foi uma experiência de grande e
inexprimível gozo, e meu corpo estremeceu violentamente devido ao esforço que realizava
para contê-lo.
Jesus, o Cristo, estava ali comigo, e cada célula de meu corpo era testemunha de que Ele era
real. Descansei minha cabeça nos ombros e, por um momento, o tempo ficou suspenso.
Deus vive. Deus vive verdadeiramente, e se move entre nós, e exala seu Santo Espírito sobre
nós. E por mérito do sangue derramado

por nós por seu divino Filho, Ele nos prepara tudo o que nos espera neste mundo de dor... e
mais à frente.
Louvado seja Deus!

Capítulo 2
Não há escassez no depósito de Deus
Capitão John LeVrier
Lembro a primeira vez que estive cara a cara com o capitão LeVrier. Um policial e diácono
batista. Estava em uma situação crítica. Desesperado, tinha voado de Houston até Los Angeles.
Mas deixemos que ele mesmo conte sua história.
Sou policial desde que tinha vinte e um anos. Em 1936 comecei no Departamento de Polícia de
Houston, e cheguei a ser capitão da Divisão de Acidentes. Em todos esses anos jamais estive
doente. Mas em dezembro de 1968 fiz um exame físico, e tudo mudou.
Eu conhecia o doutor Bill Robbins desde que ele era um interno e eu era um novato em minha
profissão. Quando comecei minha carreira, ele estava acostumado a me acompanhar no
automóvel da patrulha. Logo depois do que eu pensava ser um exame médico de rotina em
seu consultório, no Sanatório Saint Joseph, o doutor Robbins tirou as luvas de borracha e se
sentou na beirada da escrivaninha. Sacudiu a cabeça. "Eu não gosto do que encontrei, John",
disse. "Quero que veja um especialista."
O olhei de esguelha enquanto terminava de ajustar minha camisa na calça e segurava meu
cinturão com a arma. "Um especialista? Para que? As costas doem um pouco, mas que
policial...?"
Ele não me escutava. "vou encaminhá-lo ao doutor McDonald, um urologista do sanatório."
Eu sabia que era melhor não discutir. Duas horas depois, logo depois de um exame ainda mais
cuidadoso, escutava outro médico, o doutor Newton McDonald. Ele não suavizou as coisas.
"Quando pode internar-se, capitão?"
"Me internar?" Detectei um pouco de temor em minha voz.
"Eu não gosto do que encontrei", disse deliberadamente. "Sua próstata teria que ser do
tamanho de uma pequena noz, mas está grande como um limão. A única forma de averiguar a
causa é fazendo uma

biópsia. Não podemos esperar. Você deveria internar-se, no máximo, amanhã pela manhã."
Fui direto para casa. Logo depois do jantar, Sara Ann mandou as crianças para a cama. John
tinha somente cinco anos; Andrew, cinco, e Elizabeth, nove. Então lhe dei a notícia.
Ela escutou em silêncio. Tínhamos sido felizes juntos. "Não deixe para depois, John", disse com
voz calma. "Temos muito por que viver."
Apoiando-me na beira da mesa da cozinha, olhei-a. Era tão jovem, tão bonita. Pensei em
nossos três lindos filhos. Ela tinha razão, eu tinha muito por que viver. Nessa noite liguei para
minha filha Loraine, casada com um pastor batista, em Springfield, Missouri. Prometeu-me que
pediria na sua igreja que orassem por mim.
Três noites depois, logo depois de extensos exames (incluindo a biópsia), eu estava sentado
em minha cama no hospital, comendo o jantar, quando a porta do quarto se abriu. Era o
doutor McDonald com um dos médicos do hospital. Fecharam a porta e aproximaram duas
cadeiras da minha cama. Eu sabia que os médicos geralmente estão muito ocupados e não têm
tempo para bate-papos sociais, e comecei a sentir que meu pulso se acelerava.
O doutor McDonald não me deixou especular muito. "Capitão, temos más notícias." Fez uma
pausa. Era difícil para ele pronunciar estas palavras. Esperei, tratando de manter os olhos fixos
em seus lábios. "Você tem câncer."
Vi como seus lábios se moviam formando a palavra, mas meus ouvidos se negaram a registrar
o som. Repetiu. Eu podia ver como se formava a palavra em seus lábios. Câncer, assim,
simplesmente. Um dia sou forte como um boi, um veterano com trinta e três anos de serviço
na Polícia. No outro dia, tenho câncer.
Pareceu ter se passado uma eternidade até que pude responder. "Bem, o que fazemos?
Suponho que terá que extirpá-lo."
"Não é tão simples", disse o Dr. McDonald, limpando a garganta. "É maligno, e está muito
avançado para que possamos tratá-lo aqui. Vamos encaminhá-lo aos médicos do Instituto de
Câncer M. D. Anderson. Eles são famosos em todo o mundo por suas investigações no
tratamento dessa doença. Se alguém pode ajudá-lo, são eles. Mas não está muito bem,
capitão, e mentiríamos se lhe déssemos alguma esperança sobre o futuro."
Ambos os doutores foram muito compassivos. Eu percebi que estavam comovidos, mas sabiam
que eu era um policial veterano, e ia querer conhecer os fatos. Me fizeram saber isso,
francamente, mas com a maior suavidade possível. Em seguida se foram.
Sentei-me, olhando a comida que esfriava na bandeja. Tudo parecia sem vida: o café, o bife
meio comido, a compota de maçãs. Afastei tudo de mim e me sentei no lado da cama. Câncer.
Sem esperanças.

Caminhei para a janela e olhei para fora, para a cidade de Houston, que eu conhecia como a
palma de minha mão. Ela também tinha câncer; estava cheia de delitos e enfermidades, como
qualquer grande cidade. Durante um terço de século eu tinha trabalhado, tentando deter o
avanço desse câncer, mas era uma tarefa interminável. O Sol estava se ocultando, e seus raios
moribundos se refletiam nas torres das Igrejas por sobre os telhados. Nunca tinha notado
antes. Houston parecia estar cheia de Igrejas.
Eu era membro de uma delas, a Primeira Igreja Batista de Houston. Na verdade, era um ativo
diácono de minha igreja, embora minha fé pessoal não fosse muita. Alguns meus amigos
brincavam dizendo que eu era da mesma classe de batista que Harry Truman: dos que bebiam,
jogavam pôquer e amaldiçoavam. Embora eu tivesse ouvido o meu pastor pregar poderosos
sermões sobre a salvação, nunca tinha tido nenhuma vitória em minha vida pessoal. Era
diácono por minha posição na comunidade, mais do que por minha qualidade espiritual. Aqui
estava eu agora, cara a cara com a morte, desesperado para encontrar algo a que me agarrar.
Mas ao pôr os pés na água, não havia fundo. Sentia como se estivesse afundando.
Olhei para baixo, do nono andar, onde estava. Seria fácil saltar pela janela. Eu tinha visto
algumas pessoas morrerem de câncer, com seus corpos consumidos pela enfermidade. Seria
muito mais fácil terminar com tudo agora. Mas algo que Sara havia dito tinha ficado gravado
em minha mente: "Temos muito por que viver..."
Voltei para a cama e me sentei na beirada, olhando no profundo dessa grande nuvem cinza e
negra que parecia estar se fechando sobre mim. Como dizer a ela, e aos meninos, que ia
morrer?
No dia seguinte vieram os médicos do Instituto M. D. Anderson. Houve mais exames. O doutor
Delclose, que estava encarregado de meu caso, foi realmente honesto comigo. "A única coisa
que posso lhe dizer é que será melhor que se prepare para ver muitíssimos médicos", disse-
me.
"Quanto tempo tenho?", perguntei.
"Não posso lhe dar nenhuma esperança", disse ele francamente. "Talvez um ano, talvez um
ano e meio. O câncer está muito espalhado por toda a zona inferior do abdômen. A única
forma com que podemos tratá- lo é com grandes doses de radiação, o que significa que, ao
mesmo tempo, mataremos muitos tecidos saudáveis. Mas se quisemos tentar prolongar sua
vida, devemos começar já."
Assinei a autorização, e começaram o tratamento com cobalto nesse mesmo dia.
Eu acreditava na oração. Na Primeira Igreja Batista, orávamos todas as quartas-feiras pelos
doentes. Mas sempre iniciávamos nossa oração por cura com as palavras: "Se for da Tua
vontade, cura-o..." Era assim que me tinham ensinado. Eu não sabia nada sobre orar com

autoridade, o tipo de autoridade que tinham Jesus e os discípulos. Realmente eu acreditava


que Deus podia curar as pessoas, mas não acreditava que Ele fizesse milagres na atualidade.
Portanto, quando fui receber o tratamento com raios, com o corpo raspado e marcado com
um lápis azul como se fosse uma cabeça de gado pronta para a faca do açougueiro, a única
oração que fiz foi: "Senhor, que esta máquina faça o que deve fazer".
Bem, essa não é uma má oração, já que a máquina fora feita para matar células cancerosas.
Obviamente, os médicos tratavam de evitar que a radiação afetasse outros órgãos, assim eu
estava marcado até os detalhes em milímetros. O câncer estava na zona da próstata e devia
ser tratado de todos os ângulos. A gigantesca máquina que irradiava cobalto rodeava a mesa, e
a radiação penetrava em meu corpo de todos os ângulos.
Os tratamentos diários duraram seis semanas. Recebi alta no hospital e me permitiram voltar
ao trabalho, embora devesse retornar todas as manhãs para receber a dose.
Tinham se passado quatro meses desde que minha doença foi diagnosticada. Aproximava-se a
Páscoa, e Sara comentou que parecia que ia ser melhor que o Natal. Possivelmente o cobalto
tinha obtido seu objetivo. Ou, melhor ainda, possivelmente os médicos se equivocaram. Então,
cento e vinte dias depois do primeiro diagnóstico, chegou a dor.
Era uma sexta-feira ao meio dia. Eu tinha prometido a Sara que nos encontraríamos no
pequeno restaurante, onde costumávamos nos reunir para almoçar. Ela já tinha chegado. Eu
sorri, apoiei minha boina de polícia no batente da janela, e me sentei junto a ela. Enquanto o
fazia, senti como se tivesse sido apunhalado. A dor atravessava meu quadril direito em
terríveis espasmos. Não podia falar, só podia olhar para Sara em muda agonia. Ela segurou
meu braço.
"John", sussurrou. "O que está acontecendo?"
A dor se dissipou lentamente, me deixando tão fraco que quase não podia falar. Contei-lhe.
Então, como a maré que retorna à margem, a dor voltou. Era como fogo nos ossos. Meu rosto
brilhava de transpiração; abri a camisa e afrouxei minha gravata. A garçonete que tinha vindo
nos servir notou que algo estava mal. "Capitão LeVrier," disse, preocupada, "está você bem?"
"Estarei bem", respondi finalmente. "É que tive uma dor repentina."
Decidimos não comer. Em vez disso, fomos diretamente ao hospital, e o doutor Delclose
ordenou imediatamente novas radiografias. Enquanto me preparavam, pus a mão sobre o
quadril direito e senti a fenda. Era do tamanho de uma moeda grande e parecia um oco sob a
pele.

Os raios X mostraram o que era: o câncer tinha feito um buraco que atravessava o quadril. Só a
pele cobria a cavidade.
"Sinto muito, capitão", disse o médico. "O câncer está se espalhando, como esperávamos."
Em seguida, em um tom moderado, concluiu: "Começaremos novamente as aplicações de
cobalto, e faremos tudo o que for possível para que o tempo que lhe resta seja o menos
doloroso possível."
As viagens diárias ao hospital começaram outra vez. Sara procurava manter-se calma. Ela tinha
trabalhado no Departamento de Polícia antes de nos casarmos, e tinha estado exposta à morte
muitas vezes. Mas isto era diferente. Eu não sabia então, mas os médicos lhe haviam dito que
provavelmente eu não tivesse mais do que seis meses de vida.
Continuei trabalhando, embora cada vez mais fraco. Era difícil saber se era devido ao câncer ou
ao cobalto. Uma tarde Sara me buscou ao sair do trabalho e me disse: "John, estive pensando.
Faz bastante tempo que estou fora de circulação. O que diria de eu voltar a trabalhar?"
"Já tem trabalho", disse-lhe, em tom de brincadeira, "somente cuidando dos meninos. Eu
ganharei o pão para esta casa. Ainda faltam muitas milhas para percorrer."
"Continua sendo o policial durão, não?", disse ela. "Bem, eu também sou durona. Vou me
inscrever na faculdade."
Comecei a compreender o que ela estava fazendo: estava pondo as coisas em ordem. Era hora
de eu fazer o mesmo. Mas antes que pudesse, houve uma novidade. Cirurgia.
"É a única forma de mantê-lo vivo", disse a cirurgiã. "Este tipo de câncer se alimenta de
hormônios. Vamos ter que redirecionar o curso dos hormônios em seu corpo por meio da
cirurgia. Se não o fizermos, realmente terá pouco tempo."
Aceitei a operação, mas antes de cento e vinte dias, o câncer apareceu novamente na
superfície, desta vez na coluna.
Numa tarde de domingo, em junho, finalmente a ficha caiu. Sara tinha levado os meninos a um
piquenique da Escola Bíblica de Férias, e eu estava em casa, cuidando de transplantar uma
plantinha num canteiro. Estava tão fraco que estava difícil me inclinar, mas pensei que o
exercício me faria bem. Tinha cavado uma pequena cova na terra, e quando me inclinei para
pegar a plantinha, uma dor, como se me tivessem aplicado um raio de mil volts, me paralisou a
parte inferior das costas. Caí para a frente, na terra.
Nunca tinha imaginado que podia existir uma dor tão terrível. Não havia ninguém próximo
para me ajudar, então, me arrastando, um pouco de quatro, um pouco sobre o estômago, subi
os degraus e entrei na casa.

Então, pela primeira vez, me rendi. Jogado ali no piso, na casa vazia, chorei e gemi
descontroladamente. Tinha estado reprimindo-o por Sara e os meninos, mas essa tarde, com a
casa vazia, fiquei ali chorando e gemendo até que a dor finalmente se dissipou.
Depois disso, seguiu-se uma nova série de aplicações de cobalto, e mais olhares
desesperançados dos médicos. Tinha recebido minha sentença de morte.
O câncer nos destrói de dentro para fora, e eu não era o único na família que tinha sofrido
desse mal. Os maridos de minhas duas irmãs, que também viviam em Houston, tinham
morrido de câncer. Ambos tinham aproximadamente cinqüenta anos, como eu. Parecia que
agora era minha vez. Era hora de terminar de pôr minhas coisas em ordem.
Sempre tinha desejado possuir um grande automóvel antigo. Num impulso de esbanjamento,
comprei um Cadillac que só tinha três anos de uso. Quando terminou o verão, colocamos a
toda a família no carro e partimos, para o que eu acreditei que seriam minhas últimas férias.
Queria que fosse especial para as crianças. Anos antes, tinha viajado pela costa noroeste do
Pacífico, e agora queria que Sara e as crianças conhecessem essa parte do mundo, que tinha
significado tanto para mim: o curso do rio Columbia, o monte Hood, a costa de Oregon, lago
Louise, Yellowstone e as Montanhas Rochosas. As crianças não sabiam, mas Sara e eu
acreditávamos que seria nosso último verão juntos, como família.
Voltei para Houston para juntar alguns fios soltos. Mas quando a vida está destruída além de
toda possibilidade de conserto, é impossível recolher os pedaços. A única coisa que se pode
fazer é deixá-los soltos e esperar o final.
Num sábado pela manhã, no começo do outono, entrei em casa e liguei a tv no canal Nosso
Pastor, da Primeira Igreja Batista. John Bisango tinha um programa chamado "Terras Altas".
John estava em Houston, vindo de Oklahoma, onde sua igreja tinha sido reconhecida como a
igreja mais evangelística da Convenção Batista do Sul. O que tinha acontecido em Oklahoma
estava começando a dar-se também em Houston. Eu estava muito entusiasmado com seu
ministério.
Muito fraco para me levantar, fiquei jogado na cadeira enquanto terminava esse programa e
começava outro. "Eu creio em milagres", disse a voz de uma mulher. Olhei para a tela. Não me
impressionava; poucos batistas se sentiriam impressionados por uma mulher pregadora. Mas,
à medida que avançava o programa, e esta mulher, Kathryn Kuhlman, falava de maravilhosos
milagres de cura, algo dentro de mim se acendeu. "Será real isto?", pensei.
O programa terminou, e começaram a passar os créditos na tela. De repente, vi um nome
conhecido: Dick Ross, produtor.
Eu conhecia o Dick; conhecia-o desde 1952, quando ele estava em Houston, trabalhando com
Billy Graham na produção do Oiltown, USA".

Na verdade, eu tinha tido um pequeno papel nesse filme, e, a partir daí, me tornei amigo de
Billy Graham e sua equipe, e cuidava da segurança toda vez que vinham a Houston. E agora via
o nome de Dick Ross relacionado com esta pregadora que falava de milagres de curas.
Eu tinha me mantido em contato com o Dick através dos anos. Toda vez que eu ia à Califórnia a
trabalho, procurava-o. Tinha-o visitado na sua casa, e até tinha assistido a sua aula de escola
dominical na igreja presbiteriana. Peguei o telefone e liguei para ele.
"Dick, acabei de assistir o programa de Kathryn Kuhlman. São verdadeiras essas curas?"
"Sim, John, são de verdade", respondeu Dick. "Mas teria que assistir a uma dessas reuniões no
auditório Shrine para ver por si mesmo. Por que pergunta?"
Duvidei por um momento, mas, em seguida falei: "Dick, tenho câncer. Já apareceu em três
áreas de meu corpo, e temo que a próxima vez me matará. Sei que parece que estou tentando
me agarrar a algo impossível, mas isso é o que faz um homem que vai morrer."
"Vou fazer que a senhorita Kuhlman lhe ligue pessoalmente", disse Dick.
"Oh, não", protestei. "Sei que ela deve ser muito ocupada para atender um policial de
Houston. Só me diga onde posso conseguir seus livros."
"Eu lhe enviarei seus livros", disse Dick. "Mas também lhe pedirei que ligue para você, como
um favor pessoal a mim."
Em menos de uma semana, ela me ligou. "Sinto como se já o conhecesse", disse-me, e sua voz
soava exatamente igual como no programa de TV. "Anotamos seu nome na lista de oração,
mas não deixe de vir a alguma das reuniões."
Embora Sara e eu tenhamos lido seus livros e nos convertidos em ávidos espectadores de seu
programa de TV, na verdade eu adiava o momento de assistir a alguma reunião de Kathryn
Kuhlman. "Onde estivemos durante toda a vida?", perguntava Sara. "Essa mulher é famosa no
mundo todo, mas nunca ouvi falar dela antes."
Como tantos outros batistas, simplesmente não tomávamos conhecimento de que havia
outras coisas acontecendo no Reino de Deus, além da Convenção Batista do Sul. Agora nossos
olhos estavam sendo abertos, não só a outros ministérios, mas também a outros dons do
Espírito e ao poder de Deus para curar. Era tudo tão novo, tão diferente. Mas eu compreendia
que era bíblico. Apesar da minha ignorância dos dons sobrenaturais de Deus, tinham-me
ensinado a aceitar que a Bíblia é a Palavra de Deus. Quando começamos a ver todas essas
referências ao poder do Espírito Santo, referências que nunca tínhamos visto antes,

nossos corações começaram a sentir fome, não só de cura, mas também de receber a
plenitude do Espírito Santo.
Em fevereiro, soube que meu tempo estava se esgotando. Sara e as crianças também sabiam.
"Papai", disse-me Elizabeth, "você vai à Califórnia, e ficaremos em casa orando. Acreditamos
que Deus vai curá- lo".
Olhei para Sara Ann. Com os olhos úmidos, assentiu e disse: "Creio que Deus o curará."
Na sexta-feira, 19 de fevereiro, voei de Houston até Los Angeles. Uns velhos amigos de Los
Angeles me emprestaram seu carro, e encontrei um hotel onde ficar em Santa Monica. Como
policial e como batista, queria formar uma idéia sobre a senhorita Kuhlman antes de assistir à
reunião, no domingo.
Soube que ela geralmente vinha de Pittsburgh no dia anterior ao culto no Shrine. Também fiz
algumas perguntas, usando minhas técnicas de polícia, e averigüei onde se alojava. Logo tive
toda a informação de que precisava.
Na manhã seguinte, cedo, fui ao seu hotel. Como policial que era, foi fácil para mim contatar
os oficiais da segurança e lhes tirar informações. Pouco depois me disseram o horário em que
geralmente a senhorita Kuhlman chegava.
Sentei-me no saguão do hotel e esperei. Uma hora depois se abriu a porta, e ela apareceu. Era
exatamente como a tinha imaginado. Descaradamente, a interceptei quando ia para o
elevador. "Senhorita Kuhlman", disse-lhe, "sou aquele capitão da polícia do Texas."
Ela me mostrou um amplo sorriso e exclamou: "Ah, sim! Você veio para ser curado".
Falamos durante uns instantes. Em seguida lhe disse: "Senhorita Kuhlman, sou um crente em
Jesus Cristo, nascido de novo. Sei que não tenho que ser curado para ser crente, porque já o
sou. Mas você fala de algo em seus livros, que eu quero tanto quanto a cura física".
"O que é?", perguntou ela, examinando meu rosto. "Quero ser cheio do Espírito Santo."
"Oh," sorriu docemente, "prometo-lhe que pode ter isso."
"Bom, estou gravemente doente, mas ainda estou forte para ir ao auditório e esperar na fila.
Tenho lido seus livros e conheço a forma como se conduzem suas reuniões. Me levantarei bem
cedo para conseguir um bom lugar." Despedi-me e comecei a me retirar.
"Espere!", disse ela. "Estou sentindo algo, e tenho que ser obediente ao Espírito Santo. Venha
aqui pela manhã, e iremos juntos até o auditório. Pode nos seguir em seu automóvel."

Por um instante, duvidei. "Senhorita Kuhlman, faz tanto tempo que sou polícial, e aproveitei
muitas vezes as situações para obter o que queria mais rapidamente... Desta vez, não quero
fazer nada que possa ser obstáculo para minha cura. Simplesmente irei e me porei na fila com
os outros."
Sua voz soou encolerizada, e seus olhos brilharam. "Agora, deixe eu lhe dizer algo", disse,
marcando cada palavra. "Deus não vai curá-lo porque você se comporta bem. Ele não vai curá-
lo porque você é um capitão de polícia. E certamente não curá-lo pela forma como chegar à
reunião."
Não foi necessário que dissesse mais nada. Na manhã seguinte, a segui do hotel até o auditório
Shrine. Chegamos às 9.30. Embora a reunião não começasse até a uma da tarde, a calçada
onde estava a entrada do enorme auditório estava cheia de pessoas, milhares de pessoas.
Entramos pela parte da plataforma, e a senhorita Kuhlman me disse: "Agora, sinta-se em
liberdade para andar por este lugar, até que veja que me reúno com os obreiros. Quando isso
acontecer, quero que você esteja comigo."
Aceitei, e andei percorrendo o vasto auditório. Centenas de obreiros, que tinham viajado
muitos quilômetros para colaborar voluntariamente, estavam ocupados, colocando as cadeiras
para o coro de quinhentas pessoas, preparando a seção onde estariam os que vinham em
cadeiras de rodas, acomodando os que tinham vindo em ônibus fretados, e arrumando o lugar
para o que ia ocorrer.
Eu quase podia sentir a expectativa, enquanto percorria o salão. Era como eletricidade. Todos
sussurravam em voz baixa, como se o Espírito Santo já estivesse presente. Que diferença das
experiências que tinha tido nos cultos da igreja! Eu também o sentia, e repentinamente, já não
era mais um policial, nem um diácono de uma igreja batista. Era somente um homem que
sofria de câncer, que precisava de um milagre para viver. Se esse milagre pudesse acontecer,
seria nesse lugar.
Um dos homens se apresentou como Walter Bennett. Reconheci seu nome imediatamente.
Tinha lido seu testemunho em "Deus pode fazê-lo outra vez". Sua esposa Naurine tinha sido
curada de uma horrível enfermidade. Ele me levou para a porta que dava à plataforma, onde
ela montava guarda. O simples fato de vê-la tão radiante, sabendo que tinha estado a ponto
de morrer, deu-me nova esperança e fé. Senti vontade de chorar.
"John", disse-me Walter, "temos algo em comum. Você é um diácono batista, e eu fui um
diácono batista, também. Vamos tomar uma xícara de café."
Saímos por uma porta lateral e encontramos um café ali perto.
"Depois que for curado," disse Walter, "é possível que seus companheiros batistas não
queiram ter mais nada a ver com você." Sorriu como se soubesse. Falava com tal fé, como se
estivesse certo de que eu ia ser curado.
"Não me importa o que pensem os outros sobre mim, se for curado," falei, "contanto que Deus
toque meu corpo."
Walter sorriu. Senti muito amor por este novo amigo.
"Bom, há algo de que podemos estar certos", disse suavemente. "Deus não o trouxe de tão
longe até aqui para nada. Você vai voltar para Houston sendo um homem novo." O fato de que
esse diácono batista falasse com tanta fé me enchia de entusiasmo. Estava ansioso para que
começasse a reunião.
Ali no auditório, a senhorita Kuhlman se estava reunindo com os obreiros, para lhes dar as
últimas instruções antes que se abrissem as portas. Me juntei a eles sobre a plataforma.
"Hoje temos aqui conosco um homem que é capitão da polícia de Houston", disse Kathryn.
"Ele tem câncer em todo o corpo, e vou orar por ele agora. Quero que cada um de vocês,
homens, inclinem-se em oração, enquanto rogo ao Senhor por ele."
Percebi que isso era algo especial. Sabia que o ministério da senhorita Kuhlman era
simplesmente dizer o que Deus fazia à medida que se desenvolviam os grandes cultos de
milagres; que ela não tinha nenhum dom pessoal de cura, em particular. Fez um sinal para que
eu me aproximasse e esticou suas mãos sobre mim.
Embora esse fosse o momento pelo qual eu tinha esperado, duvidei. Lembrei o que tinha lido
em seus livros, que muitas vezes, quando ela orava por alguém, a pessoa caía ao chão. Eu
achava que isso de cair estava muito bem para alguns pentecostais, mas não era para um
batista, e muito menos para um capitão da polícia. Mas não tinha opção. Dei um passo à frente
e deixei que orasse por mim.
Apoiando firmemente os pés em minha melhor postura de judô, esperei, enquanto ela me
tocava e orava por minha cura. Não aconteceu nada, e quando comecei a relaxar, escutei-a
dizer: "E enche-o, bendito Jesus, com o Espírito Santo".
Senti que cambaleava, e pensei: "Não pode ser!" Firmei-me sobre meus pés, colocando-os um
atrás do outro, e a escutei dizer pela segunda vez: "E enche-o com teu Santo Espírito".
Senti como se alguém tivesse posto suas mãos sobre meus ombros e me estivesse empurrando
para o chão. Não pude resistir, e desabei sobre a plataforma. Lutei para recobrar a posição
vertical, justamente quando a escutava dizer pela terceira vez: "Enche-o com teu Espírito
Santo". E caí de novo.

Desta vez fiquei no chão durante vários minutos. Sentia como se estivesse afundando em uma
piscina cheia de amor. Alguém me ajudou a levantar, e escutei que ela me dizia: "Agora,
procure um assento. Vamos abrir este lugar, e em poucos minutos todos os assentos estarão
ocupados".
Deveria havê-la escutado, porque momentos depois se abriram as portas e o povo entrou
correndo pelos corredores como a lava de um vulcão. Pude subir por um dos corredores, e me
detive, olhando uma seção inteira do auditório cheia de gente em cadeiras de rodas. Não
podia tirar meu olhar de seus rostos. Alguns eram tão jovens e já estavam tão deformados...
senti desejo de chorar novamente. "Oh, Senhor, como sou tão egoísta para desejar me curar,
quando há tantas pessoas aqui, algumas delas tão jovens?"
Enquanto estava assim parado, olhando-os, pela primeira vez em minha vida, escutei a voz de
Deus em meu interior, que dizia: "Não há escassez no depósito de Deus".
Com novas forças voltei para a parte detrás, e lenta, dolorosamente, subi as escadas até
encontrar um assento na primeira fila do mezanino.
Faltava ainda um pouco antes que começasse a reunião. O enorme coro havia tomado seu
lugar na plataforma e fazia os últimos ensaios. Entretive-me, observando as diferentes pessoas
que estavam sentadas ao meu redor, e me apresentei ao homem que estava sentado junto a
mim. "Sou o doutor Townsend", saudou-me.
"Você é médico?", perguntei-lhe, assombrado de que um médico estivesse assistindo a um
culto de cura.
"Sim", respondeu, tirando seu cartão. "Venho porque sou muito abençoado. Eu gosto de ver o
enorme poder de Deus em ação." Em seguida, apresentou a sua família. "Trouxe o meu pai,
que veio de outro Estado. Esta é a primeira reunião a que assiste."
Sentado do outro lado do corredor estava um de meus atores favoritos da TV. "Vejam só.",
pensei. "Médicos e estrelas de TV que vêm e se sentam aqui em cima! Não vieram para ser
reconhecidos, mas sim para participar da reunião." Estava impressionado.
O culto começou. Uma linda jovem, uma modelo cujo rosto eu tinha visto na capa das revistas
femininas que Sara lia, deu um rápido testemunho sobre o que Jesus Cristo significava em sua
vida.
Eu tinha estado em muitas reuniões evangelísticas, mas esta era incomum. Possivelmente era
a expectativa que havia no ambiente, possivelmente a sensação de maravilha. Fosse o que
fosse, era diferente de qualquer outra reunião a que tivesse assistido.
A senhorita Kuhlman falava da plataforma. "Sabem, pediram-me que separasse este domingo
para os jovens, mas há pessoas que vieram de

tão longe, que não me atrevo a dizer: 'Só para os jovens'. No entanto, como há tantos jovens
aqui hoje, devo lhes falar".
Sua mensagem foi breve e dirigida aos jovens. Falou do amor de Deus e, em seguida,
apresentou um dos apelos mais desafiantes que jamais escutei. Bem, se há algo que
impressiona um batista, são as quantidades e o movimento. E quando vi quase mil jovens
deixarem seus assentos e irem para a frente, para tomar uma decisão por Cristo, isso me
impressionou. Ao contrário da maioria dos cultos evangelísticos que tinha assistido, esta
reunião não tinha fanfarras, nem testemunhos lacrimogêneos. Só um simples convite desta
mulher alta que havia dito: "Quer nascer de novo?" Os jovens responderam, muitos deles
literalmente correndo pelos corredores para aceitar esse desafio.
Ela parecia ter esquecido o passar do tempo enquanto os atendia sobre a plataforma, orando
por muitos deles individualmente. Finalmente, voltaram para seus assentos, mas a
congregação estava percebendo que ia acontecer algo mais.
"Pai", sussurrou a senhorita Kuhlman, em voz tão baixa que eu quase não podia ouvi-la,
"acredito em milagres. Acredito que tu curas no dia de hoje, como o fazias quando Jesus Cristo
estava aqui. Tu conheces as necessidades das pessoas que estão aqui, neste imenso auditório.
Peço- te isso no nome de Jesus. Amém."
Em seguida houve um silêncio. Eu sentia meu coração batendo dentro do peito. Tinha
consciência de cada célula de meu corpo e quase podia sentir a batalha espiritual que estava
ocorrendo enquanto as forças do Espírito Santo lutavam contra as forças do mal em meu
corpo. "OH, Deus", orei, em adoração. "OH, Deus."
De repente, a senhorita Kuhlman estava falando outra vez, e sua voz falava rapidamente à
medida que recebia conhecimento do que acontecia no auditório. "Há um homem no
mezanino, no extremo direito de onde estou, que acaba de ser curado de câncer. Levante-se,
senhor, em nome de Jesus Cristo, e receba a cura."
Olhei. Ela apontava para o lado oposto de onde eu estava. Era extraordinário. Eu somente
podia observar, maravilhado, enquanto sentia um entusiasmo crescente. Isto era real. Eu
sabia.
"Não venha à plataforma a menos que tenha certeza de que Deus o curou", enfatizava ela.
Olhei ao meu redor e vi os ajudantes caminhando pelos corredores. Estavam falando com
pessoas que acreditavam terem sido curadas, certificando-se de que só aqueles que
verdadeiramente tinham recebido cura fossem dar testemunho.
A maioria das pessoas curadas que davam testemunho tinham estado sentadas no mezanino.
Foram da direita à esquerda:
"Duas pessoas estão sendo curadas de problemas na vista."
"Uma mulher está sendo curada agora mesmo de artrite. Levante- se e proclame sua cura."
"Você está sentada na parte do meio do mezanino."
A senhorita Kuhlman dizia: "Você veio hoje para receber cura. Deus a restaurou. Tire o
aparelho de surdez. Pode ouvir perfeitamente."
Olhei. Uma mulher de aproximadamente quarenta anos estava ficando de pé, tirando os
aparelhos de surdez dos dois ouvidos. Um ajudante, por trás dela lhe sussurrava algo. Pensei
que a mulher ia gritar enquanto levantava as mãos sobre sua cabeça, louvando a Deus. Podia
ouvir. O doutor que estava sentado ao meu lado chorava, dizendo: "Obrigado, Jesus".
As curas aconteciam em direção a onde eu estava sentado. "Senhor, que não se acabem", orei.
Então lembrei o que Ele me tinha sussurrado quando estava no corredor, em baixo: "Não há
escassez no depósito de Deus".
Repentinamente vi que a senhorita Kuhlman estava assinalando para cima e à esquerda, onde
eu estava sentado. "Você veio de muito longe para ser curado de câncer", disse. "Deus o
curou. Fique de pé em nome de Jesus e proclame-o."
Eu estava tão longe da plataforma! Possivelmente ela nem imaginava que eu estava ali. Mas
seu dedo, comprido e magro, apontava em minha direção.
"OH, Senhor," murmurei, "é óbvio que quero ser curado. Mas, como saber que isso é para
mim?"
Nesse mesmo instante, a mesma voz interior que tinha escutado em baixo, quando olhava aos
cadeirantes, disse-me: "Fique de pé!"
Coloquei-me de pé. Sem sentir nada, simplesmente o fiz em obediência e fé.
Então eu senti. Era como ser batizado em energia líquida. Nunca havia sentido uma força assim
percorrendo todo meu corpo. Senti que poderia tomar em minhas mãos a lista telefônica de
Houston e parti-la em pedaços.
Uma mulher se aproximou de mim. "Você foi curado de algo?" "Sim", declarei, com vontade de
saltar e correr ao mesmo tempo. "Como sabe?"
"Nunca me senti tão gloriosamente bem. Quase não tive forças para chegar até este assento, e
agora, sinto-me tão bem!" Enquanto isso, eu me esticava e me dobrava, fazendo coisas que
não tinha podido fazer durante mais de um ano. "Sinto que poderia correr mais de um
quilômetro."
"Então corra até a plataforma e testemunhe", disse ela.

Lancei-me a correr. Mas, enquanto o fazia, comecei a me perguntar: "E se houver aqui alguém
de Houston? Vou chegar correndo à plataforma, e a senhorita Kuhlman vai pôr suas mãos
sobre mim e vou cair no chão. O que pensarão?"
Então percebi que não me importava. Momentos depois, estava junto à senhorita Kuhlman, na
plataforma. Ela caminhou para mim e disse simplesmente: "Te agradecemos, bendito Pai, por
curar este corpo. Enche-o com teu Espírito Santo".
Bam! No chão outra vez. Mas desta vez, devido à nova energia curadora que enchia todo meu
corpo, levantei-me imediatamente. Na segunda vez, nem sequer me tocou. Só orou em minha
direção, e a ouvi dizer: "OH, o poder..." E caí de novo no chão.
Desta vez fiquei ali, me regozijando novamente nessa maré de amor líquido. Mas, mesmo ali,
Satanás me atacou. Veio como leão rugindo. "O que o faz acreditar que foi curado?"
A senhorita Kuhlman já tinha posto sua atenção em outra pessoa. Rolei e me pus de joelhos,
com a cabeça nas mãos, orando: "OH, Pai, me dê fé para aceitar o que sinceramente creio que
me deste".
Durante muitos anos eu tinha recebido muitos estudos bíblicos batistas. Minha mente tinha
sido verdadeiramente exposta à Palavra de Deus, e nesse momento, um versículo veio à minha
mente: "Provai-me agora, diz o Senhor..."
Pensei em todos esses corpos deformados que tinha visto. "Pai, me mostre um sinal visível
para que minha fé se fortaleça."
Abri os olhos, e vi uma garotinha de nove anos que se aproximava da plataforma. Nunca vi
alguém mais feliz. Estava correndo e saltando, descalça. Dançava de um lado ao outro em
frente à plataforma, junto à senhorita Kuhlman, que se esticava para tomá-la pela mão, mas
não pôde alcançá-la. Deu a volta e começou outra vez. Novamente a senhorita Kuhlman quis
pegá-la, mas outra vez lhe escapou dançando. Nesse momento, a mãe da menina já estava
sobre a plataforma. Nas mãos tinha um par de sapatos com rígidas barras de metal.
Sem poder alcançar a garotinha, que continuava saltando e dançando, a senhorita Kuhlman se
voltou para a mãe: "O que temos aqui?"
"Essa é minha filhinha", soluçava a mãe. "Teve paralisia infantil quando era bebê e nunca pôde
tornar a andar sem estes sapatos especiais. Mas olhe para ela agora!"
Toda a congregação prorrompeu em estrondosos aplausos.
"Como você soube que Deus a curou?", perguntou Kathryn Kuhlman.

"Oh, senti o poder curador de Deus percorrendo seu corpo", quase gritou a mãe. "Tirei-lhe os
sapatos ortopédicos, e ela começou a correr."
Atrás dela havia outra mãe, que tinha nos braços uma menina de dois anos. "O que aconteceu
aqui?", perguntou a senhorita Kuhlman.
"Deus acaba de curar o pezinho de minha filhinha." A voz da mãe tremia tanto que era difícil
entender o que dizia.
A senhorita Kuhlman tomou o pezinho da menina. "Era este o pé prejudicado?"
"Sim, sim, era esse", disse a mãe, sustentando na mão um sapato especial. "A menina nasceu
com pé chato. Sofreu muitas operações. Se você lhe tivesse massageado o pé antes, como está
fazendo agora, teria gritado de dor."
"Aqui na plataforma há vários médicos", disse a senhorita Kuhlman. "Eles me conhecem. Há
algum médico entre o público que não me conheça e que não conheça estas meninas? Poderia
vir e examiná-las, por favor?"
Um homem ficou de pé.
"Você é médico?", perguntou a senhorita Kuhlman.
"Sim", respondeu ele.
"Onde exerce?"
"No Hospital St. Luke's, aqui em Los Angeles."
"Poderia nos fazer o favor de vir e examinar estas meninas?"
O médico foi e subiu à plataforma. "A primeira coisa que posso dizer é que essa garotinha que
salta e corre ali, com essas perninhas tão magras, é um milagre. Se não fosse por um milagre,
não poderia estar parada, e muito menos saltar de gozo." Em seguida, tomou os pezinhos da
menina menor. "Senhorita Kuhlman", disse com voz séria, "não vejo nenhuma diferença entre
os dois pés desta criatura. Creio que sua mãe pode tirar o sapato ortopédico."
Não precisei de mais provas. Cambaleando, saí pela parte posterior da plataforma, procurei
um telefone público e liguei para Sara, em Houston. Estava ocupado. Pedi à telefonista que
interviesse na ligação.
"Não posso fazê-lo a menos que seja um assunto de vida ou morte", disse-me ela.
"É exatamente isso, operadora. E pode ficar na linha a escutar, se quiser."
Repentinamente, Sara estava ao telefone. Tentei falar, mas só conseguia soluçar. Nunca chorei
tanto em minha vida quanto nesse

momento, com o telefone na mão, detrás da plataforma, no auditório Shrine. Sara repetia:
"John, John, foi curado?"
Finalmente pude lhe dar a mensagem. Estava são. Então ela começou a chorar. Desejei que a
operadora estivesse escutando. Era um assunto de vida, não de morte.
Voltei para junto da plataforma e observei. Cinco sacerdotes católicos, um deles um
"monsenhor", estavam sentados na primeira fila, sobre a plataforma. O monsenhor estava
sentado na ponta de sua cadeira, absorvendo tudo. Ao passar, a senhorita Kuhlman olhou para
ele e viu a expressão de ansiedade em seu rosto. "Gostaria de experimentar isto?", perguntou-
lhe.
Ele sabia perfeitamente do que lhe estava falando, já que ficou em pé, com as dobras de sua
batina sacudindo no ar, e disse: "Sim".
Lhe impôs as mãos e disse: "Enche-o com teu Espírito Santo". Ele caiu ao chão. Ela se voltou
para os outros sacerdotes e lhes disse: "Venham". Cada um deles caiu ao chão como o
monsenhor.
Os hippies eram salvos. As extremidades tortas eram endireitadas. Meu próprio câncer tinha
sido curado. Os sacerdotes católicos eram cheios do Espírito Santo. Saí como se estivesse
flutuando em uma nuvem e voltei para o hotel. Era mais do que eu podia compreender.
No hotel, fiz todo tipo de exercícios: me sentar e me levantar, empurrar, coisas que não tinha
podido fazer durante mais de um ano. E as fiz sem problemas. Mesmo sem ainda não ter feito
um exame médico, eu sabia que estava curado. Durante essa noite, despertei várias vezes, não
para tomar calmantes (tinha deixado de tomar minha medicação essa manhã, antes de ir ao
culto), mas sim para poder dizer em voz alta, no meio da escuridão: "Obrigado, Jesus. Bendito
seja o Senhor!"
Então chegou o momento de me reunir a Sara e às crianças. Quando cheguei ao aeroporto de
Houston, estavam me esperando. Corri para eles, e abracei Sara tão forte, que literalmente a
levantei do chão. Minha força a deixou sem fôlego. Em seguida agarrei os meninos, primeiro
Andrew, em seguida, John, levantando-os acima da minha cabeça. Abracei Elizabeth. Todos
falávamos com mesmo tempo.
"Seu rosto, John", dizia Sara. "Está cheio de cor e vida."
"Eu sabia que ia ser curado", dizia Elizabeth. "Orava por você todos os dias, às nove, às doze, e
às seis."
"Nós também, papai", apareceu o pequeno John. "Nós, seus filhinhos, também orávamos.
Sabíamos que Deus o curaria."
Era muito, e este veterano capitão da polícia, parado no meio do aeroporto de Houston, pôs-
se a chorar.
Pouco depois, voltei ao Instituto M. D. Anderson para fazer um exame físico. Tinha uma
entrevista com dois médicos no mesmo dia.

A primeira que me examinou foi a que tinha recomendado a operação. Dei-lhe um exemplar
do livro de Kathryn Kuhlman, "Creio em milagres". Ela o olhou, escutou o relato de minha
história, e em seguida me olhou como se eu estivesse louco.
"Deixe eu lhe dizer algo", disse. "O único milagre que lhe aconteceu é um milagre médico. Isso
é tudo. O que o está mantendo vivo é sua medicação. Continue tomando-a, e veremos quanto
tempo vive." Eu sorri. "Bom, não tomei nenhuma medicação desde vinte de fevereiro, já faz
mais de um mês."
Ela se mostrou surpreendida e zangada. "Você fez uma verdadeira tolice, senhor LeVrier",
disse. "Não passará muito tempo, antes que o câncer apareça em outra parte do seu corpo, e
você se irá."
Que atitude tão estranha para uma cientista!, pensei.
Saí dali e fui ao consultório do doutor Lowell Miller, chefe do Departamento de Terapia de
Radiação do Hospital Herman. Esperava que sua reação fosse mais positiva, mas depois da
recente experiência, decidi não lhe contar nada sobre o milagre. Que o descobrisse por si
mesmo.
Sua enfermeira me pediu que fosse ao quarto contiguo e me preparasse para o exame físico.
Então notei algo estranho. Como muitos policiais veteranos, eu tinha sofrido de varizes nas
pernas. Na verdade, não usava bermuda em público, porque eu não gostava que vissem os
nódulos em minhas pernas. É obvio, quando se está morrendo de câncer, não nos
preocupamos muito com varizes, mas, à brilhante luz do quarto, olhei minhas pernas, pela
primeira vez desde que voltei de Los Angeles. O Senhor não somente havia me curado de
câncer, mas também tinha feito desaparecer minhas varizes. Minhas pernas estavam lisas e
suaves como as de um adolescente. Quando o Dr. Miller entrou no quarto, eu estava me
regozijado e louvando ao Senhor.
Sentindo saudades de ver um paciente de câncer tão contente, o Dr. Miller retrocedeu. "Bom!
O que é o que lhe aconteceu?"
Isso foi tudo o que precisei para lhe contar toda a história de como Jesus Cristo tinha curado
meu câncer.
"Vejamos", disse o Dr. Miller. "Eu também sou cristão, mas Deus nos deu suficiente senso
comum para que cuidemos de nós mesmos."
"Não vou discutir isso", falei alegremente. "Essa é a razão por que estou aqui para me
submeter a este exame. Me faça todos os exames que desejar. Mas lhe digo que não
encontrará nada mal."
"Ok", disse o médico. "vamos fazer, então." E a seguir me submeteu ao exame físico mais
completo que já me fizeram.
Ao terminar, disse: "Sabe, desejaria que minha próstata estivesse tão bem como a sua." Em
seguida, examinou a coluna, batendo em vértebra por vértebra. "Notável", repetia. "Notável."

Me enviou a fazer raios X, e disse depois: "Ligarei dentro de um ou dois dias, logo depois de
que tenha tido tempo de comparar estas radiografias com as anteriores. Mas por todas as
indicações que tenho, você foi curado."
Três dias depois soou o telefone de minha escrivaninha no segundo andar do Departamento
de Polícia de Houston. Era o doutor Miller. "Capitão", disse, "tenho boas notícias. Não
encontrei absolutamente nenhum traço de câncer. Agora, queria lhe fazer uma pergunta. Está
acostumado a dar palestras?"
"Sobre meu trabalho como policial?", perguntei.
"Não", disse ele, "não sobre isso. Quero que venha à minha igreja e conte à congregação o que
Deus fez por você."
Isso foi o começo. A partir de então, viajo por todo o país, contando às pessoas que não têm
esperança, sobre o Deus que não tem escassez em seu depósito de milagres.

Capítulo 3 Caminhando nas sombras


Isabel Larios
O Natal é uma época de muito gozo para mim. Recebo milhares de cartões de amigos queridos
de todo o mundo. Leio cada um deles. Mas os mais preciosos para mim são os que me
escrevem as crianças. Eles são tão abertos, tão sinceros. Quando uma criança me diz: "Te
amo", nunca duvido de que realmente o sinta. Por isso, quando recebi um pequeno e singelo
cartão, de uma doce garotinha mexicana-americana que vive na Califórnia, soube que
realmente sentia o que escrevia. Escreveu para me agradecer por lhe fazer possível viver outro
Natal. Lisa me agradecia porque podia me ver. Mas eu sabia o que ela queria dizer. E, Deus
sabe, não foi Kathryn Kuhlman: foi Jesus. Lisa Larios estava morrendo de câncer ósseo até que
Jesus a curou no auditório Shrine. A mãe e o pai adotivos da Lisa, Isabel e Javier Larios, viviam
em um modesto complexo de apartamentos em Panorma City, Califórnia. Isabel nasceu em Los
Angeles, mas foi criada em Guadalajara, México. Javier, que passa grande parte de seu tempo
trabalhando com seu cavalete de pintor em seu apartamento, é um respeitado garçom na Casa
Vega, um dos restaurantes mais elegantes do Sherman Oaks. Além da Lisa, têm mais dois
filhos: Albert e Gina.
"São só os dores do crescimento, Lisa", falei enquanto minha filha de 12 anos se queixava de
dor no quadril direito. Eu estava sentada na beira da cama, na semi-escuridão, lhe esfregando
o quadril e as costas com linimento. Lisa crescia rapidamente. Já tinha o corpo de uma
mocinha de quinze anos e parecia a imagem viva da saúde.
Mas aqui, na penumbra da noite, enquanto esfregava sua pele suave, senti que essa dor, em
particular, era algo mais do que essas dores musculares normais que as meninas
experimentam quando estão crescendo. Lisa também sentia isso. O medo entrou no quarto,
junto com a dor.

"Mamãe, acenda a luz do quarto quando sair", sussurrou Lisa. "Não quero ficar aqui sozinha no
escuro."
Javier tinha ido trabalhar no restaurante. As outras duas crianças já estavam dormindo. Lhe dei
umas palmadinhas nas costas e lhe arrumei o pijama. "Não há nada que temer", falei.
"Eu não gosto das sombras", respondeu ela, com sua cabecinha metida no travesseiro. "Me
dão medo."
Acendi a luz do corredor e deixei a porta de seu quarto aberta. Por um momento me detive na
porta, olhando-a. De onde tinha vindo esse temor repentino? Lisa nunca tinha tido medo
antes. Agora eu podia senti- lo em todo o quarto, como uma rede que descia do teto e cobria
toda a cama. Será que Lisa percebia algo que eu não podia sentir?
O dia seguinte foi um desses estranhos e belos, que às vezes acontecem na Bacia de Los
Angeles. Era o último dia de março, e uma forte chuva, logo antes do amanhecer, tinha lavado
o ar, deixando-o claro e limpo. O sol brilhava com toda sua força, o céu era azul radiante, e
dava para ver claramente as montanhas cobertas de neve sobre o horizonte, a leste. Javier se
tinha levantado para tomar o café da manhã com as crianças, antes que fossem à escola.
Depois, ele e eu fomos a Van Nuys fazer compras. Eu procurava um suéter para Lisa, e Javier
queria uns lápis de carvão, para terminar um desenho que estava fazendo em seu cavalete.
Quando voltamos, pouco antes do meio-dia, a porta do apartamento estava entreaberta. Lisa
estava lá dentro, jogada sobre o sofá, chorando.
Alarmado, Javier se ajoelhou junto dela e suavemente lhe tirou o cabelo de sobre os olhos. "O
que aconteceu, Lisa?", perguntou com doçura, e o som musical de seu sotaque mexicano soou
nos ouvidos da menina.
"É o quadril, papai", soluçou ela. "Começou a doer muito, assim que o vizinho foi me buscar e
me trouxe da escola."
Lisa me passou um bilhete amassado, de uma das irmãs da escola Santa Isabel. "Por favor,
ocupe-se disto: Lisa tem muita dificuldade para andar. Acreditamos que deveria consultar um
médico."
Javier assentiu. "Ligue para o doutor Kovener", disse. "Não devemos esperar mais."
O doutor Kovner era um amigo da família. Tinha nos atendido antes, e sempre dizia que Lisa
era sua paciente favorita. Sua secretária nos agendou para o dia seguinte, à tarde.
O doutor tirou algumas radiografias e realizou um exame preliminar. Em seguida me recebeu
em seu escritório. "Senhora Larios, isto pode ser uma de várias coisas. Temos que começar
com as mais óbvias e começar a trabalhar nisso. Vou internar Lisa no hospital, onde
poderemos fazer outros exames."

No Hospital Comunitário Van Nuys fizeram novos exames. Lisa tentava ser valente, mas estar
constantemente dolorida, passando a noite fora de sua casa, em um lugar estranho, rodeada
por gente que não conhecia, não era fácil para ela. Todas as manhãs eu levava as crianças à
escola, e em seguida ia para o hospital, chorando durante todo o caminho, me perguntando se
as pessoas que passavam a meu lado saberiam da grande dor que eu estava sentindo. No
hospital, eu era toda sorrisos, mas era só uma máscara. Por dentro, estava destroçada.
"É possível que a dor seja causada por um apêndice aumentado que esteja pressionando um
nervo", disse o médico. "Vamos extrair o apêndice e veremos se isso resolve o problema."
Mas a dor continuou depois que Lisa voltou da operação. Aparentemente ninguém sabia o que
fazer agora. Em 12 de maio voltou para casa. Só podia andar com muletas. Houve mais visitas
ao médico. "Isto me deixa perplexo", disse o doutor Kovner ao examinar as radiografias
novamente. "Acredito que devemos consultar um especialista."
O doutor Gettleman, cirurgião, era muito metódico. Mandou tirar mais radiografias e realizou
um novo exame, ele mesmo. "Deve continuar usando as muletas durante mais uma semana",
disse. "Traga-a de novo, na próxima quinta-feira."
Apesar das muletas, a dor era cada vez mais forte. Como que não podia ir à escola, Lisa vagava
pela casa com as muletas, chorando e tentando parecer valente. Passava a maior parte do
tempo na cama. Ao final dessa semana, voltou ao hospital, desta vez ao Saint Joseph, de
Burbank.
"Teremos que operar de novo", disse o Dr. Gettleman. "Vimos algo nas radiografias. Poderia
ser uma bolsa de pus que causa pressão. Mas também poderia ser um tumor. Há dois tipos de
tumores, benignos e malignos. Se for um tumor benigno, não teremos problemas. Se for
maligno, pode ser muito sério."
Embora pertencêssemos a uma igreja católica romana, e nossos filhos estudassem em uma
escola católica, nem Javier nem eu éramos muito religiosos. Raramente íamos à missa, e quase
nunca nos confessávamos. Mas eu sempre me havia sentido muito próxima de Jesus, e os
cartõezinhos que as coleguinhas da escola da Lisa lhe enviavam, dizendo que estavam rezando
por ela, também ajudaram a me voltar para Deus, em oração.
Na noite anterior à operação, eu estava em casa, só, com o Albert e a Gina. Eles se foram se
deitar cedo, e eu fui ao meu quarto e me joguei sobre a cama, no escuro. Parecia que todo
meu mundo se tinha feito em pedaços. Tinha carregado Lisa em meu corpo durante nove
meses. Tinha desejado morrer no parto, para que ela pudesse viver. Tinha cuidado dela, tinha
estado com ela nas noites escuras, tinha rido com ela, tinha

passeado pelo campo com ela, tinha chorado e orado por ela. E agora os médicos me diziam
que possivelmente morreria. Já tinha chorado até não ter mais lágrimas. Tudo parecia tão
inútil, tão fútil.
Enquanto estava assim na cama, olhando as sombras no teto, comecei a orar. "Querido
Senhor, Lisa realmente não é minha. É tua. Somente nos deixaste tê-la, para criá-la, alimentá-
la, educá-la e amá-la. Um dia ela nos deixará, se casará e criará seus próprios filhos. Se
quiseres levá-la antes que isso aconteça, eu a devolvo a ti, e te agradeço, porque a deixaste
conosco todo esse tempo, para nos abençoar."
Foi uma oração simples, sem grandes emoções. Mas era sincera. Enquanto continuava olhando
as sombras, adormeci.
Sonhei que estava sentada em um pequeno quarto escuro. Javier estava junto a mim,
segurando minha mão. Uma porta se abriu em frente a nós, e pelo corredor se aproximaram
dois homens vestidos com batas, dessas que os cirurgiões usam. Um dos médicos estava
chorando e não podia falar. O outro parou diante de nós e disse: "Sua filha está muito doente.
Tem câncer".
Despertei, sobressaltada. Passava da meia-noite, e eu ainda estava jogada na cama sem me
deitar. A casa estava em silêncio. Só a luz do corredor se filtrava no dormitório. Levantei-me e
fui ver os meninos. Dormiam tranqüilamente. Fui para o living e me sentei na beirada do sofá,
na escuridão. Esse sonho era do diabo? Estava tentando me assustar? Ou era de Deus, para me
advertir e me preparar? Como saber?
Quando ouvi os passos de Javier na escada, rapidamente fui para nosso quarto e me meti na
cama antes que ele entrasse. Não queria que soubesse o quanto eu estava preocupada. Lisa
precisaria encontrar nós dois fortes, para enfrentar a operação, na manhã seguinte.
Javier e eu nos sentamos, de mãos dadas, na pequena sala de espera junto à sala de
operações, no hospital. Era natural que ambos orássemos, e o fizemos em silêncio. Os médicos
entravam para informar às outras pessoas que também estavam esperando. "Seu pai está
muito bem. Nem sequer precisamos operá-lo..." "Não tem do que se preocupar, sua esposa
está perfeitamente bem." "Pode levar seu filho para casa esta tarde."
Às duas da tarde olhei, e vi que vinham dois médicos pelo longo corredor. Um deles era o
doutor Kovner. Seu rosto estava cinza. O outro era o doutor Gettleman. Javier se levantou de
um salto e foi ao encontro deles, mas eu fiquei sentada. Sabia o que aconteceria, e minhas
pernas pareciam de borracha. Era a mesma cena que tinha vivido em meu sonho.
"Encontramos um tumor", disse o doutor Gettleman. "É inoperável. Se tivéssemos cortado,
teríamos que amputar toda a perna."
"É câncer?", perguntou Javier.

"Sinto dizer que sim", respondeu o médico. "Está muito, muito mal. O osso do seu quadril está
como se fosse manteiga. Se tivesse uma colher, poderia tê-lo tirado todo. A carne que rodeia o
osso está como queijo gruyere, cheia de buracos. O laboratório já fez uma análise, e é o pior
tipo de câncer. A única coisa que pudemos fazer foi costurá-la outra vez."
"Não houve nada que pudessem fazer?", clamou Javier, com o rosto macilento e abatido.
"Nada no momento. Depois que se recupere da operação, começaremos o tratamento com
cobalto. Falaremos depois sobre isso."
"Mas ficará boa, não é?", perguntou Javier.
O doutor Gettleman sacudiu a cabeça. "Só posso dizer é que tentaremos lhe prolongar a vida.
Não posso prometer nada mais."
Olhei para o doutor Kovner. Embora não dissesse nada, o seu rosto expressava tudo. Seus
olhos estavam cheios de lágrimas. Lisa estava morrendo, e nenhum de nós podia fazer nada a
respeito. Eu a havia devolvido a Deus, e ele tinha aceito meu oferecimento.
Os médicos aconselharam que não deveríamos dizer nada a Lisa sobre seu estado. Duas
semanas depois, a trouxemos novamente para casa, em uma cadeira de rodas, decididos a lhe
dar o verão mais feliz de sua vida.
O doutor Kovner não concordou com nossos planos de levar Lisa em umas longas férias.
"Devemos começar o tratamento de cobalto o mais rápido possível", disse.
"Se assinarmos a autorização e permitimos fazer o tratamento com radiação," perguntei, "o
que pode nos prometer?"
"Não podemos lhe prometer nada", respondeu ele. "Mas nunca saberá se ajudará ou não, a
menos que o faça."
"O que acontecerá se não permitirmos que lhe faça o tratamento?"
"Não me agrada responder perguntas como essa", disse o doutor Kovner. "Mas, mesmo com o
tratamento, o máximo que podemos estimar é seis meses. E estará muito, muito, muito mal
quando morrer."
Prometi conversar sobre isso com Javier. Ambos sentíamos que seria cruel que Lisa devesse
passar seus últimos meses de vida sujeita a esse tratamento de radiação.
Em 9 de junho, Lisa foi internada no Hospital Pediátrico de Los Angeles. Era o terceiro hospital
em que entrava em três meses. A doutora Higgins, que estava encarregada de seu caso, disse
que havia três áreas para onde poderia se espalhar o câncer: fígado, peito ou cérebro.
Qualquer poderia ser fatal. Aparentemente, o câncer se espalha rapidamente nas crianças em
idade de crescimento, e a única forma de

tentar salvar sua vida era por meio do tratamento com cobalto e quimioterapia.
Finalmente demos nossa autorização para que lhe realizassem o tratamento preliminar, e
começaram a lhe aplicar uma série de injeções. O organismo de Lisa reagiu violentamente. Eu
me sentava com ela durante toda a noite, enquanto ela vomitava e perguntava: "Mamãe, o
que está acontecendo comigo? por que estou tão doente?"
Era mais do que eu podia suportar. Javier e eu conversamos novamente e decidimos que seus
últimos dias seriam vividos em nosso lar, conosco, em vez de no hospital. A levaríamos para
casa.
O capelão da escola em que Lisa estudava ficou sabendo de sua doença e a visitava todas as
noites, levando a comunhão. Comentamos com ele nossa decisão de interromper o
tratamento de cobalto. Ele concordou. "Se ela está morrendo, deveria passar os últimos dias
de sua vida o mais feliz que fosse possível."
"Lisa não tem absolutamente nenhuma possibilidade de recuperação sem a terapia de
radiação", objetou a doutora Higgins, quando lhe comunicamos nossa decisão.
Os outros médicos opinavam igual. "Se ficar no hospital, talvez possamos aprender algo que
possa ajudar alguma outra garotinha dentro de cinco ou dez anos."
"Não me interessa que minha filha se converta em uma experiência médica", lhes falei com
total honestidade. "Só quero que ela se cure. Vocês podem me prometer isso?" "Sinto muito,
senhora Larios", disseram os médicos. "A medicina não pode lhe prometer nada."
No dia seguinte, levamos Lisa para casa, para que morresse em nosso lar.
Passamos o resto do verão tentando fazê-la feliz. Nos endividamos muito para levá-la a passeio
pela costa, comprar as coisas que queria, como gravador e outros objetos materiais. Mas tudo
parecia tão pateticamente vazio. Não era bom que estivéssemos sentados ao seu redor,
cobrindo-a de presentes, e esperando sua morte.
Numa tarde, em meados de julho, alguém bateu à porta de nosso apartamento. Abri-a e vi
nosso vizinho, um jovem solteiro chamado Bill Truett, parado no corredor.
"Como está Lisa?", perguntou Bill.
"Não está bem", respondi. "piorou desde que a tiramos do hospital."
Bill sorriu fracamente e me olhou fixo aos olhos. "Ela ficará bem", disse com voz confiante.
Encolhi os ombros. "Espero que sim."

"Não, você não me compreendeu", disse seriamente. "Ela vai ficar bem. Alguma vez você ouviu
falar de Kathryn Kuhlman?"
"Bom, a vi umas duas vezes na TV, mas nunca prestei muita atenção."
"Neste próximo domingo ela vai estar no auditório Shrine de Los Angeles", disse Bill. "Queria
levar Lisa à reunião."
Duvidei por um momento. Realmente não conhecia muito bem o Bill, e tinha ouvido dizer que
as reuniões no Shrine eram muito prolongadas. Mas ele insistiu tanto, que finalmente
concordei em ir junto com Lisa e ele, só para me livrar dele.
Depois de lhe dizer que iríamos, fechei a porta e me encostei na mesa da cozinha. Javier estava
trabalhando em um desenho junto à janela, olhando o pátio. Vários de seus desenhos estavam
pendurados nas paredes de nossa casa. Eu sabia que ele estava interessado em desenvolver
seu talento, mas também sabia que a pintura era uma forma de escape para ele. Quando
estava ocupado com seus desenhos, não tinha tempo para pensar na Lisa. Observei seu rosto,
parecia esculpido em pedra, ali concentrado em seus carvões. Senti minhas unhas cravarem na
palma da mão, ao fechar o punho, tentando deter as lágrimas. Javier estava perdido em sua
arte. Bill sugeria coisas estranhas. Mas eu era a mãe da Lisa, e tinha que enfrentar a realidade.
Não podia me agarrar à arte para escapar, nem me deixar levar pelas tolices que Bill dizia
sobre milagres. Eu tinha que enfrentar as coisas como elas eram. Lisa ia morrer.
Bill voltou na a manhã seguinte e me lembrou de minha promessa de ir com ele e Lisa ao
auditório. "Bill, não quero apagar seu entusiasmo", falei, "mas os médicos me disseram que
Lisa não pode se curar. Ninguém pode fazer nada."
"Então vejamos o que Deus pode fazer", disse ele simplesmente.
Quis retroceder. Sentia que Bill me estava pressionando. Além disso, detestava ter que me
levantar cedo num domingo pela manhã e dirigir por toda a cidade só para esperar numa fila
durante horas.
Bill se negava a desanimar. "Sei que ela será curada. Minha mãe é muito próxima desse
ministério. Ela conhece muitas pessoas que foram curadas."
Eu não tinha fé nenhuma. Só agradecia que Lisa não soubesse o quão sério era seu estado.
Embora eu não soubesse, Lisa suspeitava de algo. Ao menos sabia que sua perna não podia
suportar seu peso. Poucos dias antes, tinha visitado uma amiga em um apartamento próximo,
do outro lado do corredor, e tentou andar sem as muletas. Seu quadril se dobrou como uma
esponja molhada, e ela caiu no chão. Embora não soubesse o que era, podia perceber que
tinha algo muito ruim no quadril.
Na tarde do sábado, Bill tornou a bater à porta. "Lembre, amanhã é o dia. Lisa receberá um
milagre."
"Tudo bem, Bill", falei, fechando a porta. Mas por dentro sabia que não havia como isso
acontecer. Já não se produziam milagres, ao menos não para gente como nós. Se havia
milagres, eram para os ricos, os piedosos, os Santos da igreja. Nós somos somente uns pobres
mexicanos católicos que nem sequer íamos muito à missa. Como podíamos esperar um
milagre?
No dia seguinte, 16 de julho, de manhã muito cedo, Bill bateu à porta.
"Me deixe terminar o café", gritei. Por dentro, desejava que se fosse sem nós.
Bill e sua noiva Cindy nos estavam esperando com uma cadeira de rodas. Ajudaram Lisa a
descer as escadas, em seguida rodearam a piscina, percorreram a calçada estreita e a meteram
no automóvel. Pouco depois saímos da estrada Harbor para o sul, para Los Angeles e o
auditório Shrine.
Lisa estava na cadeira de rodas, enquanto eu esperava apoiada sobre uma velha manta contra
a parede do auditório Shrine, me perguntando quando abririam as portas. Tudo isto parecia
tão estúpido: passar toda a manhã sentada na calçada, me calcinando sob o Sol, esperando
por nada.
Finalmente abriram as portas. Bill empurrou a cadeira de Lisa para a seção reservada para
cadeiras de rodas e eu me sentei junto a ela. Ele e Cindy foram se sentar em outra parte do
auditório. Eu estava maravilhada pela quantidade de gente e a cordialidade, a amizade e o
amor que sentia nesse lugar.
A reunião começou com o coro cantando "Ele me tocou". Kathryn Kuhlman, com um vestido
branco vaporoso, apareceu na plataforma. Lisa tocou meu braço. "Mamãe, se olhar para ela
com os olhos entreabertos, verá um halo ao seu redor." Encolhi os ombros e não fiz nenhuma
tentativa para descobrir o tal halo.
Então a senhorita Kuhlman pregou um breve sermão, ao qual nem sequer emprestei atenção.
Eu sacudia a cabeça. Tudo isto era muito lindo, mas, por que estávamos perdendo o tempo
aqui?
Então, sem aviso prévio, começaram a acontecer coisas. A senhorita Kuhlman apontava para o
balcão. "Há um homem que está sendo curado de câncer agora. Fique de pé, senhor, e aceite
sua cura."
Me virei e tratei de olhar para cima. Mas estava muito longe. Só o que podia ver eram rostos
que se perdiam para trás na escuridão.
Mas ao mesmo tempo, parecia haver luz; não o tipo de luz que pode ser vista, mas sim a que
se sente. Estava em todo o edifício. Luz e

energia, como se houvesse pequenas chaminhas de fogo que dançassem de uma cabeça a
outra. Senti-me eletrizada. A senhorita Kuhlman continuava apontando outros lugares no
auditório onde se estavam produzindo curas.
Em seguida apontou para a área onde estavam as cadeiras de rodas, logo onde nós estávamos
sentadas. "Há um câncer ali", disse suavemente. Levante-se e receba sua cura."
Olhei para Lisa, mas ela não se moveu. É obvio. Como saberia que tinha câncer? Nós não lhe
havíamos dito. Se eu lhe dissesse que a senhorita Kuhlman estava falando com ela, e se ficasse
em pé, seu quadril e sua perna poderiam se torcer. O que deveria fazer?
A senhorita Kuhlman sacudiu a cabeça e se dirigiu a outra seção, assinalando novas curas em
outras partes do auditório. Meu coração quase parou. Tinha passado a oportunidade da Lisa?
Seria muito tarde?
Então a senhorita Kuhlman tornou a olhar para nossa seção, apontando para o lugar onde
estávamos. "Não posso me esquecer disto", disse. "Alguém ali está sendo curado de câncer.
Deve se levantar e aceitar sua cura."
"Mamãe," disse Lisa, "sinto uma quentura no estômago."
Não tínhamos comido da manhã cedo, e comecei a procurar alguma guloseima em minha
bolsa.
"Não, não é esse tipo de calor", disse Lisa, recusando a guloseima.
A senhorita Kuhlman continuava assinalando em nossa direção. Olhei ao meu redor.
Não havia ninguém mais de pé em nossa área. Eu sabia que devia ser Lisa quem estava sendo
curada, mas tinha medo. O que aconteceria se não fosse para ela? O que aconteceria se ficasse
de pé e caísse? Ou, o pior... o que aconteceria se fosse Lisa... e não ficasse em pé?
Quando pensava que morreria de incerteza, de dúvida, Lisa se inclinou e me sussurrou:
"Mamãe, acredito que vou subir à plataforma. Creio que estou sendo curada."
"Faça o que quiser", falei, me sentindo aliviada de que ela tivesse decidido por mim. Mas temia
por ela, quando tentasse caminhar sem as muletas.
Um dos ajudantes sentiu que algo estava acontecendo a Lisa e se aproximou de nós. "Creio
que me sinto melhor", disse-lhe Lisa. "Quero subir à plataforma."
Ele a ajudou a sair da cadeira de rodas. Contive a respiração enquanto ela se levantava. Por um
momento, pensei que desabaria, mas repentinamente compreendi algo. Esse mesmo fogo que
eu havia sentido que dançava de uma cabeça a outra, estava agora descansando sobre Lisa.
Quase podia ver uma nova força fluindo em seu corpo.

O conselheiro a ajudou a se apoiar nele, e começaram a descer pelo corredor. Lentamente, a


princípio, em seguida com mais segurança, chegaram junto à plataforma, onde uma mulher
trocou algumas palavras com eles. Bill Truett se uniu a eles ali, e logo depois de uma breve
conversa, subiram Lisa à plataforma.
A senhorita Kuhlman escutou enquanto a mulher lhe dava alguns detalhes. Em seguida se
aproximou de Lisa. Lisa retrocedeu um passo, e em seguida caiu ao chão. Contive a respiração,
pensando que sua perna tinha cedido. Mas Lisa ficou de pé novamente.
"Dedico desta menina ao Senhor Jesus Cristo", disse a senhorita Kuhlman, enquanto Lisa
permanecia de pé em frente a ela, com o rosto banhado em lágrimas. "Agora, vejamos como
caminha." Lisa começou a correr de um lado a outro do cenário, e todos começaram a
aplaudir, louvando a Deus. Então, como se fossem anjos cantando, o coro começou a entoar
suavemente "Aleluia, aleluia".
"Quero que esta cura seja verificada", disse a senhorita Kuhlman. "Quero que torne a ver seu
médico e peça que lhe faça um exame completo. Em seguida, retorne para a próxima reunião
e testemunhe o que Deus fez por você."
Olhei de esguelha para Bill. Estava exultante, como se fosse sua própria irmã a que tivesse sido
curada. Logo, eu aprenderia que na família de Deus somos verdadeiramente irmãos e irmãs.
Mas nesse momento só conseguia pensar em Lisa. Ela continuava correndo de um lado ao
outro da plataforma, ainda mancando um pouco, mas pisando forte. Mordi o lábio. Sabia que
seu quadril era como manteiga e cederia diante da mínima pressão... mas não aconteceu.
Será? Tinha sido curada?
Eu tinha medo de acreditar. Tinha sofrido uma vez, e tanto, quando o doutor nos havia dito
que não havia esperança. Acreditar agora, somente para descobrir depois, que era uma falsa
esperança, seria mais do que poderia agüentar. Era mais seguro não acreditar nada.
Javier estava saindo para trabalhar quando chegamos em casa. Lhe contamos o que tinha
ocorrido.
"Então começaremos a ter esperanças", ele disse. "Isso é algo que não tivemos antes. Tivemos
tanto amor por nossa garotinha. Agora temos esperanças. Cedo ou tarde, possivelmente Deus
nos dará a fé para aceitar a maravilha que está fazendo." Foram as sábias palavras de meu
maravilhoso marido.
Bill e Cindy entraram conosco no apartamento. "Tire as muletas dela", disse Bill, quando eu as
estava dando outra vez a Lisa. "Não compreende? Ela foi curada."
Durante o resto da noite, Lisa andou coxeando pelo apartamento. Eu observava cada um de
seus passos, temendo que pudesse cair. Mas não
caiu. Na verdade, parecia que ela estava ficando cada vez mais forte bem diante de meus
próprios olhos.
No dia seguinte, a primeira coisa que Javier perguntou foi: "Onde está Lisa? Como ela está?"
Eu tinha levantado mais cedo, assim levei Javier para a janela. "Olhe"', falei, apontando para o
pátio. Ali estava Lisa, pedalando em sua bicicleta ao redor da piscina, brincando com outras
crianças do edifício.
Quando Javier se afastou da janela, seu rosto estava riscado pelas lágrimas. Se eu acreditasse
ou não, dava no mesmo. Ele sim, acreditava.
Na semana seguinte levei Lisa ao Hospital Infantil. Logo depois de uma série de exames de
sangue e várias radiografias do quadril e do peito, o radiologista disse: "Ligaremos quando
tivermos algo".
Os olhos do Javier dançavam quando abriu a porta do apartamento para mim. "Bem, o que
disseram?"
Expliquei-lhe a situação e falei que teríamos que esperar. Ele insistiu em que ligasse para a
doutora Higgins.
"Estava a ponto de chamá-la", disse-me a doutora, quando finalmente consegui me comunicar
com ela. "Mas estive em consulta com outros sete médicos sobre o caso da Lisa. Não sei o que
lhe dizer."
Engoli a saliva. "Quer dizer que algo está mal?" Será que isto foi só um truque cruel, que
minhas esperanças surgiram só para serem feitas em pedaços agora?
"Não sei como pôde ter acontecido", continuou a doutora, como se não me tivesse ouvido.
"Todos vemos o mesmo nas radiografias. O tumor se reduziu muitíssimo em vez de espalhar-
se. Há evidências de cura."
É claro, ela não sabia nada sobre a reunião de Katbryn Kuhlman, mas havia dito "evidências de
cura". O que mais seria necessário para que eu me convencesse de que Deus havia tocado a
vida da Lisa?
"Doutora, tem você um minuto?", perguntei. "Quero lhe contar algo. Sei que achará estranho,
mas levamos Lisa a uma reunião de Kathryn Kuhlman. Desde então, ela anda sem muletas,
corre, anda de bicicleta, nada e se comporta normalmente. Acreditamos que Deus a curou."
Houve um longo silencio do outro lado da linha.
"Quero compreender bem isto", disse finalmente a doutora. "Você não esteve lhe dando
nenhuma medicação, verdade?"
"Nenhuma", respondi.
"Você recusou que fizesse o tratamento com cobalto e quimioterapia, verdade?"
"Sim", respondi.

Novamente houve um longo silencio.


"Bom, pode ser que seu corpo esteja armando um certo tipo de resistência e jogando isso fora,
o que não parece natural. Ou poderia ser sua Kathryn Kuhlman. Seja o que for, o tumor está
desaparecendo. E até onde eu sei, é o primeiro caso na história da medicina em que isso
acontece."
Eu estava chorando. Lembrava de ter lido, fazia tempo, a história de Tomé, na Bíblia. Ele
acreditou que Jesus tinha sido levantado dos mortos só quando finalmente viu as marcas dos
pregos em suas mãos. Como eu me parecia com ele... Mas, mesmo assim, Deus tinha
permitido que eu visse esse milagre em minha filha.
"Lhe digo algo mais", disse a doutora Higgins suavemente. "Todos se alegraram muito no
hospital pelo que aconteceu a Lisa, porque este é um caso no qual tínhamos perdido toda
esperança."
Lisa retornou à escola no outono, sem muletas. Um mês depois a levei ao médico. O tumor
continuava se reduzindo. Estava se retirando. Lisa estava quase normal.
"Como se explica isto?", perguntava eu.
"Não temos explicação", disse o médico. "Nunca houve um caso de cura como este antes. Se
lhe tivéssemos dado tratamento com cobalto, e o tumor tivesse retrocedido, o teríamos
considerado como um milagre da medicina. Mas sem tratamento algum... bem, o que
podemos dizer?"
Nosso sacerdote, entretanto, podia dizer algo: "Deus tem muitas formas de fazer as coisas.
Certamente isto vem Dele."
Agora que Lisa está completamente sã, muitos de nossos amigos perguntam: "por que
aconteceu tudo isto?"
Creio que Deus permitiu esta enfermidade em nossas vidas, para nos aproximarmos mais
entre nós e nos aproximarmos mais dEle. Na Bíblia encontrei um relato que explica tudo. Certo
dia Jesus estava caminhando por uma rua e viu um homem que era cego de nascença. Seus
seguidores lhe perguntaram: "Mestre, por que este homem é cego? É porque ele pecou, ou
porque pecaram seus pais?"
O Mestre respondeu: "Não, nenhuma das duas coisas. Ele é cego para que Deus possa ser
glorificado por meio de sua cura." Então o tocou, e o cego pôde ver.
Creio que Lisa chegou a ficar tão doente para que Deus pudesse ser glorificado em sua cura.
Dar a glória a Deus não é algo que se aprenda através dos livros. Tem que ser aprendido ao
andar com Ele pelo vale de sombras. Se a gente viver no topo da montanha todo o tempo,
torna-se duro e insensível, sem reagir diante das coisas mais delicadas da vida. Somente na
sombra do vale crescem estes tenros pastos.

Estive muitas vezes observando Javier enquanto desenha. Adora usar carvões e misturar
sombras. "O brilho do sol ressalta os detalhes", diz, "mas são as sombras que fazem ressaltar o
caráter."
Só quando caminhamos nas sombras, aprendemos a louvar a Deus pelas pequenas coisas. Foi
então que aprendemos que Lisa não era realmente nossa, mas sim de Deus. Nos momentos
mais obscuros, a devolvemos ao Pai Celestial. Ali, no vale, descobrimos o segredo da renúncia.
Mas quando a demos, Ele teve a misericórdia de a devolver a nós curada.
Lisa já não teme as sombras. Como nós, compreendeu que até no vale, Deus está conosco. Sua
vara e seu cajado nos confortam, fazendo que nossa taça transborde de sua bondade e sua
misericórdia.

Capítulo 4
O dia em que a misericórdia de Deus se encarregou
Richard Owellen, Ph.D., M.D.
O doutor Richard Owellen é um velho amigo. Conheci-o quando cantava em nosso coro, em
Pittsburgh, enquanto trabalhava para obter seu doutorado em química orgânica no Carnegie.
Depois de dois anos de estudos em pós-doutorado na Universidade de Stanford, passou à
Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, onde completou seu doutorado em medicina em
três anos. Depois de um ano como interno e dois de residência em medicina interna, foi
contratado por essa universidade como professor ajudante de medicina, pelo qual dividiu seu
tempo entre a investigação do câncer, a atenção a seus pacientes e o ensino.
Enquanto trabalhava para obter o doutorado em química no Carnegie, comecei a assistir às
reuniões de Kathryn Kuhlman, que se realizavam todas as sextas-feiras no velho auditório
Carnegie, ao norte de Piltsburgh. Ali, pela primeira vez em minha vida, senti o poder de Deus
agindo enquanto as pessoas se reuniam para adorar. Pouco depois, me ofereci como
voluntário para cantar no coro, e ali conheci Rose, que tinha literalmente crescido dentro do
ministério da senhorita Kuhlman.
Rose e eu começamos a sair, nos apaixonamos e, em abril de 1959, a senhorita Kuhlman
celebrou nosso casamento.
Um ano depois, nasceu a pequena Joann. Rose teve uma gravidez e um parto normal, mas
quando levamos a menina para casa, notamos um grande machucado em uma das nádegas.
Perguntei ao doutor o que era isso, mas nos assegurou que não havia nada que indicasse haver
um problema.
Mas tanto meus pais, como a irmã de Rose, notaram algo estranho no comportamento da
bebê. Era extremamente nervosa; muito, dizia minha mãe. Chorava e gemia constantemente e
não queria alimentar-se,

rejeitava a mamadeira, vomitava e gritava se a movíamos enquanto era alimentada. Além


disso, notamos que uma perna estava sempre dobrada para o corpo, com o joelho e o pezinho
girados para fora, algumas vezes em um ângulo de até noventa graus. Era impossível fazê-la
esticar as duas perninhas ao mesmo tempo para as pôr direitas.
Quando a levamos novamente ao médico da família, examinou suas pernas e quadris. "Sim,
realmente há algo errado com a perna direita", disse. '"Não estou certo do que é, neste
momento, mas esperemos um tempo. Algumas vezes essas coisas se arrumam sozinhas."
Esperamos vários meses, mas nada se arrumou. Ao contrário, ficou pior. Joann continuava
sendo muito nervosa, e muitas vezes chorava quando a tocávamos. Quando tomava sua
mamadeira, freqüentemente parava para chorar. Estes sintomas nos comunicavam que sofria
fortes dores. Mas, o que era? E onde?
Depois dos três meses Joann já deveria ter sido capaz de levantar sua cabecinha do colchão,
mas não o fazia. Cada vez mais preocupados, a levamos novamente ao médico.
Desta vez, logo depois de examiná-la, o doutor me fez gestos para que me aproximasse dele. A
pequena Joann estava de costas sobre a maca. O doutor tomou seu pezinho direito em uma
mão e pôs a outra sob seu joelho. Logo começou a dobrar lentamente o pezinho para dentro.
A menina gritou de dor. "A perna não gira nada", disse o doutor. "Agora olhe isto."
Suavemente começou a girar a perninha para fora. Fiquei boquiaberto e, em seguida, contive a
respiração enquanto a perninha da minha filha girava em sua mão, não só de cima para baixo,
mas também no que foi quase uma rotação completa de 360 graus. Só quando tinha
terminado a rotação a bebê começou a gemer de dor.
O doutor colocou cuidadosamente a perninha em sua posição original. Depois me apontou as
dobras na pele ao longo de sua coxa. "Esta é uma das coisas que um médico observa", disse-
me. "Note que há duas dobras deste lado, mas só uma na outra perna. Uma criatura normal
teria as mesmas dobras em ambas as pernas. Uma diferença como desta indica algum tipo de
alteração interna, quer dizer, que há algum defeito na estrutura do quadril, da coluna ou da
perna. Neste caso, estou certo de que se trata do quadril."
Rose tomou a menina e a apertou contra si. "O que está querendo nos dizer, doutor?",
perguntou, com os olhos cheios de lágrimas.
O doutor pôs sua mão sobre o ombro do Rose.
"Não posso dizer com total segurança", respondeu, "por isso quero que seja examinada por
um ortopedista. Ele poderá nos dar um diagnóstico definitivo. Parece um quadril deslocado."
Rose se sentou na cadeira que estava junto à maca, sustentando ainda a bebê junto a seu
peito. O médico continuou falando, e de forma

muito suave e amável, disse-nos o que podíamos esperar. Joann possivelmente necessitaria de
aparelhos ortopédicos, possivelmente, inclusive, um colete ortopédico. O tratamento levaria
um longo tempo, e mesmo assim, não havia cem por cento de probabilidades de que se
curasse totalmente. Existia a possibilidade concreta de que fosse uma aleijada durante toda
sua vida, e caminhasse sempre com dificuldades. Poderia ter uma perna mais curta do que a
outra, ou outro tipo de anomalia.
"Não devem esperar", disse o médico. "Levem-na a um cirurgião- ortopedista."
"Não entendo", falei para Rose. Ambos estávamos agitados, sentados em nosso pequeno
living. "Aqui estamos, servindo ao Senhor, e ele deixa que isto nos aconteça."
Rose estava calada; seu belo rosto estava tenso, os lábios tremiam um pouco. Eu queria parar,
cruzar o quarto, tomá-la em meus braços e consolá-la. Mas estava muito agitado em meu
interior. Não tinha nada para dar.
"Estivemos dizendo a outras pessoas que acreditamos na cura divina," explodi, "e agora temos
uma filha deformada."
"Se Deus permitiu que tivéssemos uma filha deformada," disse finalmente Rose, "certamente
espera que nos ocupemos dela e a cuidemos."
"Não discuto isso", falei amargamente. "Amo esta menina e farei tudo o que for possível para
que seja curada. Se não se curar, a criaremos e a amaremos a vida toda. É que não parece
justo. O mundo está cheio de gente que não ama a Deus, que nem sequer o conhece. Muitas
destas pessoas odeiam a Deus, mas têm filhos normais. Por que Nós temos que ter uma filha
deformada?"
Era uma pergunta injusta. Eu sabia que Rose não tinha a resposta, assim como eu não a tinha.
Também sabia que as pessoas que questionam a Deus estão mostrando sua falta de fé. Estava
me dando conta de que não tinha nenhuma, pelo menos não o tipo de fé que eu achava que
era necessária para que nossa filha se curasse.
Na manhã seguinte, enquanto me vestia para ir para a aula, Rose se sentou ao lado da cama.
Tinha ficado acordada a maior parte da noite, cuidando da bebê, e seu rosto mostrava os sinais
da falta de sono. "Dick", disse, indecisa, "vimos o Espírito Santo fazer tantas coisas
maravilhosas nos cultos da senhorita Kuhlman. Não crê que deveríamos levar Joann e ter fé
em que Deus vai curá-la?"
Rose se tinha retirado do coro da senhorita Kuhlman pouco antes do nascimento da bebê, e
embora tivéssemos tornado a ir a algumas das reuniões, tanto em Piltsburgh como em
Youngstown, Ohio, a vergonha

tinha feito que não contássemos a ninguém sobre o estado da menina. Só meus pais e a irmã
de Rose sabiam.
Com a pergunta de Rose dando voltas na minha cabeça, detive-me em frente do espelho
durante um longo tempo, brincando com o nó da minha gravata. Fé? Acabava de perceber que
não tinha nenhuma fé, ao menos, não a que se requeria para que Joann fosse curada. Mas
lembrava de algo que tinha escutado a senhorita Kuhlman dizer muitas vezes: "Faça tudo o
que puder. Então, quando tiver chegado ao fim de seus recursos, deixe Deus se encarregar".
Tínhamos ido ao médico. Os únicos recursos possíveis eram os aparelhos ortopédicos e uma
possível cirurgia, sem garantia de que a menina se curasse. Rose tinha razão. Agora era o
momento de confiar completamente em Deus.
Na sexta-feira de manhã saímos do apartamento para levar a menina ao culto de milagres no
auditório Carnegie. Sentados no automóvel, inclinamos nossas cabeças para orar. "Senhor
Jesus, está escrito em tua Palavra que temos o privilégio de vir diante de ti e te pedir que, em
tua misericórdia, toque o corpo de nossa filhinha. Mas não o exigimos de ti, Senhor. Nem
sequer o reclamamos, porque embora já nos tenha sido dado, sabemos que ainda depende de
tua misericórdia. Simplesmente lhe pedimos, Senhor Jesus, que cures a nossa pequena filha."
Foi uma oração muito singela, não do tipo que eu tinha imaginado muitas vezes que diria. Em
minha imaginação eu irrompia diante do trono da graça e atirava as promessas de Deus na sua
cara, exigindo que as cumprisse. Mas agora, cara a cara com um problema que era maior que
nós, maior que a ciência medica, Rose e eu compreendíamos que o nosso único descanso era
na misericórdia de Deus.
O culto foi similar às centenas de reuniões a que já tínhamos assistido antes, só que desta vez
não estávamos simplesmente como espectadores. Vínhamos esperar um milagre.
Parecia que era um desses dias em que a pequena Joann estava especialmente incomodada.
Várias vezes gemeu e gritou de dor. Não queríamos que incomodasse no culto, por isso
ficamos na parte de trás do auditório, enquanto Rose a segurava nos braços. Quando Joann
chorava, Rose a levava ao saguão, e voltava quando a menina se acalmava. Tínhamos dado
nossos assentos a outras pessoas e estávamos apoiados contra a parede do fundo do grande
auditório, enquanto se desenvolvia o culto de milagres.
Joann estava envolta em uma manta, e, de vez em quando, Rose a levantava um pouco e
olhava. Acreditava que quando Deus começasse a agir, ela veria algo.
Quase ao final do culto, algo aconteceu. Desde que Joann nasceu, os dedinhos de seu pé
direito tinham estado firmemente dobrados para

baixo. Agora, enquanto estávamos apoiados contra a parede, esses pequenos dedinhos
rosados começaram a relaxar, até se parecerem com os de qualquer menina saudável de
quatro meses de vida.
Rose me acotovelou. Seu rosto estava radiante. "Deus começou a agir", disse. "Sua presença
está sobre a menina. Vou à plataforma." Estava decidida, e vi que seria inútil tentar detê-la.
Começamos a avançar pelo corredor. Eu esperava que a qualquer momento algum obreiro nos
detivesse, já que tinham estritas ordens de evitar que qualquer pessoa descesse, a menos que
algum conselheiro tivesse falado com ela antes. Mas não havia nenhum obreiro por perto.
Seguimos descendo pelo corredor. Enquanto caminhávamos, a senhorita Kuhlman desceu da
plataforma e se aproximou de nós. Nos encontramos no centro do auditório.
"Rose", disse, olhando surpreendida para minha esposa. "Algum problema com a menina?"
Rose tentou falar, se engasgou, e tentou novamente. "S-s-sim, senhorita Kuhlman. Ela tem um
quadril deslocado desde que nasceu."
A senhorita Kuhlman sacudiu a cabeça, assombrada. "por que não me disse...?" interrompeu-
se e voltando-se para auditório lotado de gente, disse: "Quero que todos fiquem de pé e
comecem a orar. Deus vai curar esta preciosa criatura."
Rose tirou a manta de Joann e a estendeu para a senhorita Kuhlman. Em todo o lugar as
pessoas estavam de pé, com os olhos fechados, orando. Eu também orava, mas tinha os olhos
abertos. Queria ver o que acontecia.
Observei cuidadosamente. A senhorita Kuhlman estendeu seus dedos sensíveis e tocou os
dedinhos de Joann muito suavemente. Não os agarrou. Nem sequer fechou os dedos. Só tocou
ligeiramente e começou a orar. "Maravilhoso Jesus, toque este precioso bebê..."
Eu vi! Eu vi com meus próprios olhos! Essa perninha, torcida tão grotescamente para a direita,
começou a endireitar. Girou lentamente até que os dedinhos ficaram apontando para cima,
como os do outro pé. Tudo parecia perfeitamente natural. Mas eu sabia que o que estava
vendo era impossível. Alguma força exterior estava movendo essa perna. Mas a senhorita
Kuhlman não o tinha feito. Rose, com os olhos fechados e o rosto elevado para o céu, não o
tinha feito. E é obvio, a pequena Joann não o tinha feito. Quem podia tê-lo feito, então, a não
ser Deus!
Mantive os olhos fixos na perninha que descansava em posição natural, e soube que a cura era
total. "Obrigado, Senhor", não me cansava de repetir, em silêncio. "Obrigado."
A senhorita Kuhlman parou de orar, e todos se sentaram. Rose envolveu a menina na manta, e
começamos a voltar para a parte de trás do auditório.

"Você viu?", sussurrei-lhe quando chegamos lá.


"Ver o que?", perguntou Rose. "Estava orando. Você não?"
"Eu também estava orando, mas com os olhos abertos. Não sentiu?"
"Sentir o que?" Rose me olhava intrigada.
"A perna de Joann, seu pé. Vi como sua perna se moveu. Endireitou. Eu vi quando foi curada!"
Estava tão entusiasmado que quase não conseguia me controlar para não gritar.
Rose arregalou os olhos, e a alegria se refletiu em seu rosto, "Jesus!", sussurrou. "Oh, Jesus,
obrigado."
Empurramos a porta vaivém e quase corremos para o saguão. Ali tiramos a manta e
observamos as perninhas de Joann. Estavam perfeitas. A perninha direita já não estava
dobrada para dentro como antes. O pezinho direito já não estava dobrado para fora. Ambas as
pernas estavam retas, e os pés estavam bem colocados.
"Vamos para casa", falei. "Quero passar o resto do dia louvando a Deus."
Não só passamos o resto do dia louvando ao Senhor, mas também a maior parte da noite.
Depois do jantar, que a bebê tomou sem problemas, a deitamos de barriga para baixo no
berço. Ficamos de mãos dadas junto ao berço e a observamos. Pela primeira vez em sua vida,
Joann levantou a cabeça do colchão e olhou ao seu redor. Ficamos acordados até as três da
madrugada, observando-a. Dormia, acordava, fazia gorgolejos, gorjeava e tornava a dormir.
Era como se estivesse compensando o tempo perdido em que sua vida não tinha estado cheia
de gozo.
Na manhã seguinte ainda podíamos ver a perfeita cura operada em suas pernas. Eu as podia
manipular sem problemas. A única ocasião em que chorou foi quando eu tentei torcê-la para
fora, como era possível fazer até o dia anterior. Nossa Joann estava perfeitamente normal. A
única diferença entre seus perninhas era que uma tinha uma dobra na pele, e a outras duas...
uma lembrança de que tinha tido algo ruim na sua estrutura.
Na segunda-feira seguinte fomos à consulta com o cirurgião- ortopedista. Ele olhou a menina e
leu o relatório enviado por nosso médico de família.
"Por que seu médico os enviou para cá?", perguntou enquanto esticava as pernas de Joann.
"Ele suspeitava que o quadril direito dela estivesse deslocado", falei.
O médico a examinou cuidadosamente mais uma vez, e sacudiu a cabeça. "Não entendo. Esta
menina não tem nada errado. Sua perna

esquerda se torce um pouco, mas isso não é anormal. Vocês não precisam de mim. Para mim,
esta menina está perfeitamente bem."
Nós estávamos encantados por escutar a confirmação de sua cura da boca de um médico. E
agora Joann comia normalmente; já não parava para chorar.
Na sexta-feira, uma semana depois de Joann ser curada, voltamos ao médico da família.
Perguntou-nos o que tinha acontecido e por que havíamos retornado tão rápido. Lhe
contamos toda a história, sem omitir nenhum detalhe.
Durante todo o relato, o doutor nem sequer piscou, mas continuou examinando Joann e
fazendo anotações. Repetimos o que o outro médico havia dito. Ele girava a perna, para a
frente e para trás, para um lado e para o outro, o mesmo exame que lhe tinha feito na semana
anterior.
Com um gesto, indicou a Rose que seu exame estava concluído e que podia vestir Joann. Em
seguida, se sentou e se recostou para trás. "Bom, as crianças mudam", disse. Mas logo
completou; "Mas não tão rápido. Isso tem que ser de Deus."
Nós estávamos extasiados de gozo. A cura era completa, e até o medico dava a glória a Deus.
Agora, anos mais tarde, faço parte da equipe de um dos centros médicos mais importantes do
mundo. E, como tal, não vejo nenhum conflito entre a medicina e a cura divina. O médico não
cura. Pode prescrever um medicamento, mas esse medicamento não troca os órgãos; só
melhora a maneira como eles funcionam. Toda cura vem de Deus. Os cirurgiões podem cortar
os tecidos ou as células doentes, o que algumas vezes permite que o organismo se cure mais
rapidamente. Mas nenhum cirurgião pode entrar no corpo e curar. Ele só costura o corpo,
depois de terminar seu trabalho. Quem cura é Deus.
Deus nos proveu de uma grande quantidade de medicamentos maravilhosos, técnicas
cirúrgicas, ortopédicas, a capacidade de cuidar dos doentes... e o cristão tem o benefício
adicional de poder ver além do que o médico pode fazer: ele pode ver o que Deus pode fazer.
Alguns de meus colegas médicos sinceramente acreditam que isto não é assim. Outros,
igualmente sinceros, vão além e negam a existência de Deus. Mas quando enfrentam o fato de
que alguns de seus pacientes "incuráveis" são curados quando se voltam para Deus, ficam
desconcertados.
Para alguns pode parecer estranho que um homem de ciência, dedicado a ser
intelectualmente honesto, possa ignorar esta maneira de curar. Mas as coisas do espírito não
são como as da mente natural. Na verdade, a mente natural é inimiga da espiritual. Qualquer
pessoa, até um cientista muito capacitado, que não quer enfrentar o fato de que está em
rebeldia contra Deus e necessita de Jesus Cristo, fará algo para anular a

mensagem da salvação de Deus. O mesmo acontece com o reconhecimento do poder de Deus


para curar. Entretanto, aqueles que sinceramente desejam chegar ao conhecimento de toda a
verdade, finalmente chegarão a Jesus Cristo, "em quem", diz Paulo, "estão escondidos todos
os tesouros da sabedoria e do conhecimento" (Colossenses 2:3).
Foi somente nos últimos anos, depois de me unir ao corpo de professores da Universidade
Johns Hopkins como ajudante da cadeira de medicina, que comecei a apreciar plenamente a
grandeza da graça de Deus ao curar a pequena Joann. Não foi minha fé, nem a de Rose, que
fez isso acontecer. Nenhum de nós tinha o tipo de fé necessária para "reclamar" a cura. Foi a
misericórdia de Deus; seu favor imerecido.
Quando fomos a essa reunião, tínhamos razões para esperar um milagre. Tínhamos visto
muitos outros que foram curados e, é obvio, sabíamos que Deus ama as crianças. Mas, mesmo
assim, não tínhamos a fé que acreditávamos que era necessária para que um milagre assim se
produzisse. Mas sentimos que tínhamos que lhe dar a Deus a oportunidade de tocar a nossa
filha, deixando-a nas mãos dEle. E quando a deixamos, a alcançou, a tomou e a curou.
Por meio deste milagre, aprendi a diferença entre a fé em Deus, que a maioria de nós tem, e a
fé de Deus (a mesma classe de fé que Deus tem), que é um dom do Espírito Santo. A fé em
Deus nos permite acreditar que Deus fará algo maravilhoso. Mas, a menos que tenhamos a fé
de Deus, devemos fazer todo o humanamente possível primeiro, acreditando que
possivelmente Deus queira operar por meio da ciência médica, e deixar o resto em suas
misericordiosas mãos.
Muitas pessoas tentam obrigar Deus a fazer algo, vindo à sua presença e quase exigindo que
opere. Algumas vezes Deus honra tais demandas, não porque tenha que fazê-lo, mas sim
porque o comovemos. Mas eu me sinto muito mais seguro dependendo de sua graça e de sua
misericórdia para satisfazer todas minhas necessidades.
Muitas vezes me perguntei se muitas das curas que presenciei não seriam psicossomáticas. A
partir de um estudo básico da natureza humana, sabia que algumas provavelmente o foram.
Mas uma bebê de quatro meses de vida não sabe o suficiente para ter uma cura
psicossomática. O que vimos naquele dia no corredor do auditório Carnegie, não foi um
processo mental; foi puramente físico. E foi instantâneo. Não há termos médicos que possam
descrevê-lo, à exceção da palavra "milagre".
Constantemente me perguntam: "por que tenho esta imperfeição? Esta deformidade? Por que
Deus permite doenças nas pessoas, especialmente nos cristãos? Por que Joann teve essa
imperfeição?" São perguntas inquietantes, sobretudo para um médico. Realmente, não tenho
a resposta. Mas, no que concerne a Joann, estou absolutamente

convencido agora, embora não o estivesse então, que Deus permitiu que sofresse dessa
deformação em particular para que sua cura fosse um testemunho dEle. Sentimos que, se
Deus podia nos confiar uma menina aleijada, tinha algo maior que queria nos confiar: o
testemunho de seu poder para curar.

Capítulo 5
Quando o céu baixa à Terra
Gilben Strackbein
Gilbert e Arlene Strackbein vivem em uma cômoda casa se localizada entre os pinheiros de
Little Rock, Arkansas. Gilben é um bem-sucedido vendedor de uma empresa de artigos para
escritórios. Têm três lindas filhas e participam ativamente do movimento do Espírito Santo que
está varrendo a nação. Mas nem sempre foi assim. Esta é a história de Gil.
Certa vez, quando eu solicitava um emprego como vendedor, o psicólogo da companhia me
perguntou: "por que quer você este cargo de vendedor?"
"Bom," respondi, "vender é o que sei fazer, o que sempre fiz."
"Isso é difícil de acreditar, senhor Strackbein", disse o psicólogo, franzindo o cenho.
"Normalmente, um vendedor tem que lhe gostar de gente; mas segundo seu teste psicológico,
você nem sequer gosta de si mesmo."
Ele tinha razão, é claro. Realmente não me interessava se eu gostava ou não das pessoas.
Como vendedor, só estava interessado em duas coisas: conseguir um pedido e sair dali em
seguida.
Sempre tinha me afastado das pessoas. Meus pais eram alemães, luteranos, muito rigorosos,
do sul do Texas. Aprendi a falar inglês só quando entrei na escola. Orgulhoso de minha
herança, encontrava uma grande satisfação em acreditar que minha mente alemã podia levar
vantagem em tudo o que fosse, seja mecânica, eletrônica ou lógica. Com o passar dos anos,
cheguei a acreditar que poderia fazer qualquer coisa, por tão somente me propor a isso.
Embora ganhasse a vida como vendedor, passava todo meu tempo livre na oficina, fazendo
coisas como montar computadores.
Arlene tinha dezenove anos quando nos casamos. Depois que nos mudamos para a New
Orleans, ela começou a sofrer ataques de desmaios

e perdeu grande parte de sua energia. Mas eu simplesmente me neguei a acreditar que ela
estivesse doente.
A enfermidade, para mim, era sinal de fraqueza. Quando nossa pequena filha, Denise, tinha
três anos, decidi que Arlene precisava ter outro filho. Isto lhe faria tirar da cabeça o que ela
chamava "seus problemas", pensava eu, e lhe daria algo construtivo no que pensar.
Mas a gravidez de Arlene não foi tão simples. Desde o início surgiram complicações que
exigiram muita atenção médica. Seus rins apresentavam problemas que ameaçavam a ela e
também ao bebê. Sofria horríveis espasmos nas pernas, e para evitar o risco de um aborto
espontâneo, o médico ordenou que guardasse repouso... na cama, durante sete meses.
Irritado por esta demonstração de fraqueza de sua parte, afastei-me ainda mais, tratando de
ter o menor contato possível com ela. Embora Arlene estivesse na primeira fase de uma
terrível doença, eu não tinha a menor idéia de que minha enfermidade espiritual era ainda
pior.
Arlene tinha freqüentado uma Igreja Metodista, em New Orleans. As senhoras de sua igreja,
sabendo que ela tinha que enfrentar seu problema sozinha, começaram a passar em casa para
preparar o almoço, já que o médico a tinha proibido de se levantar, a não ser para ir ao
banheiro. Se alguém a visitava quando eu estava em casa, eu abria a porta e desaparecia pelos
fundos. Embora detestasse que Arlene estivesse de cama, me incomodava muito mais que as
pessoas de fora interferissem em nossas vidas tentando ajudar.
A gravidez complicada foi só o começo. Durante os anos seguintes, sua condição piorou:
fraqueza, espasmos musculares, infecções nos rins, enjôos, visão turva. Melhorava e logo
depois piorava novamente. Algumas vezes, tinha fases em que sofria de falta de coordenação
muscular, depois da qual ficava com ainda menos energia que antes. Os médicos não
conseguiam descobrir o que estava errado, e eu continuava me negando teimosamente a
reconhecer que havia algo funcionando mal.
Numa noite, vim para casa à hora do jantar e encontrei a mesa já preparada. Algumas
senhoras da igreja haviam trazido uma refeição completa, arrumado a mesa e ido embora.
Sabendo como eu me sentia, Arlene se levantou da cama para sentar-se à mesa comigo.
Chegou até a porta da cozinha e caiu no chão. Não estava inconsciente, mas era como se todos
os músculos de seu corpo tivessem deixado de funcionar ao mesmo tempo.
Eu estava assustado. Queria fugir, mas sabia que não podia deixá- la ali sozinha, caída no chão.
Levantei-a, chamei uma vizinha para que cuidasse de nossos dois filhos, e a levei rapidamente
ao hospital.
Na sala de emergências, a enfermeira, que tinha trabalhado com Arlene, começou a gritar:
"Doutor, está sem pressão sangüínea!"
Os médicos vieram imediatamente para o seu lado. Foi necessário um tratamento de
emergência para que seu coração voltasse a bater.

Então, compreendi que minha demonstração de força era só uma máscara. Ao enfrentar uma
situação realmente impossível, não tinha respostas. Odiei Arlene por sua fraqueza, mas me
odiei ainda mais, por ser incapaz de suportar a situação.
Uma noite voltei tarde para casa e encontrei Arlene semi-erguida na cama, cochilando. Tinha
um livro aberto sobre o colo: Creio em milagres, de Kathryn Kuhlman.
Resmungando, peguei o livro, olhei a capa e vi uma dedicatória escrita na primeira página por
Tom e Judy Kent.
Eu conhecia esse casal: Judy tinha trabalhado no mesmo escritório que Arlene, enquanto Tom
estudava medicina em Tulane. Agora ele trabalhava como médico na Califórnia.
Arlene acordou e me viu de pé junto à cama. "Tom me enviou isso", disse sorrindo, apontando
o livro com um gesto. "Disse que ele e Judy estavam orando para que o Senhor fizesse um
milagre de cura em mim."
Sacudi a cabeça e lhe devolvi o livro. "Como é possível que um médico acredite num lixo como
esse?"
"Por favor, Gil", disse Arlene, com os olhos cheios de lágrimas. "Não me tire minha fé em um
Deus que faz milagres, só porque você não crê. Tenho que acreditar em algo."
"Acredite em si mesma", falei. "É tudo o que tem que fazer para sair dessa cama."
Mas embora Arlene pudesse se levantar, não conseguia manter-se em pé. Tentava. Fazia
valentes esforços para continuar, mas parecia que sempre terminava no hospital.
Mudamos para Little Rock, Arkansas, onde comecei a trabalhar para uma empresa de artigos
de escritório. Em meu tempo livre eu fazia o possível em não pensar na situação de Arlene,
que se deteriorava rapidamente. Me incomodava que, embora não pudessem diagnosticar
qual era seu problema, os médicos a fizessem retornar ao hospital a cada poucos meses para
lhe fazer novos exames e tratamentos.
Depois do nascimento de nossa terceira filha, Lisa, Arlene começou a assistir a um culto nas
noites de quinta-feira, na Igreja Anglicana de Cristo. Wanda Russel, sua professora da escola
dominical na Igreja Metodista, vinha todas as quintas buscá-la, depois do jantar, e a levava às
reuniões. Eu achava que era uma tolice, mas pensava que Arlene precisava passar algum
tempo fora de casa. Assim, não neguei que fosse... até uma noite em que voltou mais tarde
que de costume.
"Arlene, por que quer ir à reunião de uma Igreja Anglicana? Temos a Igreja Metodista mais
perto."

Arlene caminhou fracamente até o sofá e se sentou. "Essa Igreja Metodista não acredita na
cura divina", disse.
"Está me dizendo que esteve assistindo a cultos de cura?"
Arlene simplesmente assentiu.
"Nenhuma pessoa inteligente acredita nessas coisas", falei firmemente. "É tudo superstição. E
não quero que minha mulher seja vista com esses charlatães."
Arlene tentou ficar de pé, mas suas pernas se negaram a mover-se.
"Por favor, Gil. Eu preciso. Não me tire isso."
"Ouça", falei com determinação. "Sei tudo sobre essas coisas. Quando eu era menino, no
Texas, havia uma Igreja Pentecostal perto da minha casa. Íamos ali depois que escurecia, e
espiávamos pelas janelas. Tinham cultos de cura, e gritavam em idiomas estranhos, rolavam
pelo chão, gritavam, corriam pelo templo e caíam na plataforma como se fossem animais
feridos. Não vou deixar que minha esposa se meta em tolices como essas."
"Oh, Gil", disse Arlene, com os lábios tremendo. "Não é assim. O pastor Womble diz que ele
acredita que Deus vai me curar."
"Me recuso a acreditar nisso de Deus", falei. Estava começando a me zangar. "Esse assunto das
curas não passa de uma tolice e eu a proíbo de voltar lá."
Arlene se recostou para trás no sofá e fechou os olhos. Pequenas lágrimas começaram a cair
sobre suas bochechas.
"Você conheceu meu pai depois que Jesus entrou em seu coração. Mas o que eu lembro dele,
quando era uma garotinha, não é nada agradável; ele era alcoólatra. Ficava louco quando
estava alcoolizado. Não tínhamos comida suficiente em casa porque o álcool era mais
importante para ele do que minha mãe ou eu. Mamãe tentou continuar com ele, mas
finalmente se deu por vencida. Quando eu fiz seis anos, nos mudamos para o outro lado da
cidade, e, num ataque de fúria provocado pelo álcool, meu pai tentou arrombar a porta e me
levar com ele. Mamãe e eu nos abraçamos dentro da casa e ficamos orando e chorando até
que ele se foi."
"Quando cresci, pensava que a coisa mais maravilhosa no mundo seria ter um marido que
amasse tanto a Deus como a mim. Para mim, ter uma família cristã seria o céu. Pensei que
tinha realizado esse sonho quando o conheci, Gil. Mas você foi fazer o serviço, e quando
voltou, odiava a Deus. Não sei o que aconteceu com você."
Eu estava paralisado. "Você tem tudo o que precisa", exclamei. "Vivemos em uma bela casa,
numa boa vizinhança. Tenho um bom salário e jamais lhe neguei nada, nem sequer cuidados
médicos. Não me importa que vá à igreja aos domingos. Nem mesmo a proíbo de dirigir o coro
infantil."

"Na verdade, não preciso de você, sabe?", me disse Arlene, olhando diretamente na minha
cara. "Quando eu era pequena, sempre orava para que os anjos do Senhor me protegessem, e
sei que o faziam. Pode me proibir de ir aos cultos de cura, mas não pode me tirar meu
relacionamento com Deus. Ele é tudo de que preciso."
Ardendo de ira, saí da casa e me dirigi à oficina. Quando finalmente voltei para me deitar,
tinha passado da meia-noite. Apesar de Arlene estar com o rosto enfiado no travesseiro; eu
podia ouvir seus soluços incontidos. Queria acariciá-la, tomá-la em meus braços. Mas ser
terno, doce, chorar... tudo isso seria sinal de fraqueza, e eu tinha sido criado para ser forte. Na
manhã seguinte, me levantei, preparei meu café da manhã e saí de casa, sem me despedir
sequer das meninas. Me odiei por isso, mas não sabia agir de outra forma.
Embora estivesse ganhando muito dinheiro e ter recebido muitas promoções, por dentro eu
estava me deteriorando ainda mais rapidamente do que Arlene se deteriorava fisicamente.
Arrumava viagens "de negócios" que duravam vários dias. Arlene suspeitava de minhas
infidelidades, mas eu racionalizava minha conduta permissiva, justificando que ela não era
capaz de satisfazer minhas necessidades. O álcool tranqüilizava minha consciência, e
gradualmente foi se convertendo em um companheiro constante.
A saúde de Arlene piorou depois do nascimento de Lisa. Ela já tinha sido internada no hospital
mais de vinte vezes, com coisas como problemas urológicos, mas isto agora era diferente. Sua
pressão sangüínea subiu a mais de vinte, e seu braço esquerdo ficou parcialmente paralisado;
não podia fechar a mão. O médico que a atendia chamou um neurologista para realizar uma
consulta. Disseram que poderia ter um tumor cerebral.
Três dias depois, no corredor, fora de seu quarto no hospital, o doutor me disse o que
acontecia. "Suspeitamos que pode haver um tumor no cérebro, senhor Strackbein. Queríamos
fazer um arteriograma, mas Arlene tem apresentado reações alérgicas a todas as tintas que
usamos em radiologia. O próprio exame poderia matá-la. Eu não gosto disso, mas teremos que
esperar para ver o que acontecerá."
Engoli em seco e percebi que não podia encará-lo.
"Faremos o melhor que pudermos e o avisaremos se for necessário operar."
Não era um tumor cerebral. O diagnóstico final revelou que era uma enfermidade do sistema
nervoso central; podia ser miastenia grave, esclerose múltipla, ou ambas... e devia estar
progredindo já a vários anos.
Permitiram que voltasse para casa, mas lhe recomendaram ficar na cama a maior parte
possível do tempo. Uma noite, enquanto eu assistia TV na sala, ela apareceu cambaleando do
dormitório. Seu rosto estava macilento.

"Por favor, venha", disse-me. "Meu corpo todo está tremendo."


Quando apoiei minha mão em suas costas, senti os músculos sacudindo-se em espasmos sob a
pele. "Deite e relaxe", falei. "Se sentirá melhor daqui a pouco."
Ela me olhou e voltou para quarto. Quinze minutos depois a escutei levantar-se, caminhar para
o banheiro... e gritar. Quando cheguei até ela, estava caída no chão, inconsciente e sem
firmeza alguma no corpo. Quando a levantei, senti os músculos retorcendo-se debaixo da pele.
Então teve a convulsão. Sua coluna ficou rígida, e a cabeça foi jogada violentamente para trás.
Ao mesmo tempo, todo o corpo ficou rígido e os olhos reviraram. A língua se enrolou para trás,
obstruindo sua garganta.
Consegui levantá-la do chão e repentinamente perdeu força uma vez mais, ficando como um
peso morto em meus braços. Levei-a ao dormitório e chamei a nossa vizinha, Edna Williamson,
para que cuidasse das meninas enquanto eu levasse Arlene ao Hospital St. Vincent. Quando
terminei de fazer a ligação para o hospital, o corpo inconsciente de Arlene estava sofrendo
uma nova convulsão. O espasmo durou aproximadamente um minuto e em seguida se
acalmou. Momentos depois, começou outra vez.
Edna chegou quando eu já tinha posto Arlene no automóvel. Foi internada na UTI do hospital.
Dois dias depois, tivemos o diagnóstico definitivo. Era, sem dúvida alguma, esclerose múltipla,
com a possibilidade de que ter sido complicada por miastenia grave.
Fazia muito tempo eu havia dito a Arlene; "Um dia encontrarei algo que eu não possa superar
sozinho, e quando esse momento chegar, vou me converter em uma pessoa melhor." Este era
o momento. Sempre tinha podido fazer todo o que quisesse. Se precisava de mais dinheiro,
podia sair e trabalhar seis horas extras por dia, mas o simples fato de ser forte não curaria
Arlene de sua esclerose múltipla. Eu tinha chegado ao limite.
A trouxe novamente para casa e contratei a uma enfermeira profissional que passava oito
horas diárias com ela. Durante dois anos, nos mantivemos com grande esforço, pagando US$
137,50 por semana à enfermeira, mais os medicamentos que custavam aproximadamente o
mesmo valor, mais as viagens adicionais ao hospital. Finalmente, recebi uma ligação da
companhia de seguros, dizendo que estimavam que sua obrigação para conosco tinha sido
concluída; de agora em diante teríamos que custear tudo sozinhos.
Enquanto tudo isso acontecia, eu me fechei em mim mesmo totalmente. Arlene tinha pedido o
divórcio e eu, com minha típica lógica alemã, não quis concedê-lo. Durante muitas noites,
desejei poder sair de mim mesmo e lhe dar o apoio que ela necessitava tão
desesperadamente. Como desejava poder abraçar minhas filhas e as trazer para perto de mim.

Mas não podia. Era forte, obstinado, e a muralha que tinha construído ao meu redor era tão
forte que nem eu podia escapar dessa clausura.
Um dia, ao sair do escritório, Dick Cross, que trabalhava em outra seção, me deteve no
elevador. Dick trabalhava para a divisão de Serviços Diversos para Investidores, e disse que
fazia tempo que queria me falar sobre o investimento de recursos mútuos. Eu não tive como
lhe dizer que, nesse momento, isso era o que menos me interessava, então acabei me
comprometendo a recebê-lo em casa, na segunda-feira às 19:00. Sabia que Arlene iria à
fisioterapia nessa tarde, e esperava receber Dick, escutar seu discurso de vendas, e mandá-lo
de volta para sua casa.
Quando Dick chegou, expliquei-lhe brevemente qual era nossa situação. Ele estava de saída,
quando Arlene voltou. Depois de alguns breves comentários, Dick disse de forma bastante
direta: "Suponho que sabe que a esclerose múltipla é incurável".
"Sei", disse Arlene. "Mas creio que Deus pode me curar."
"Eu também creio", disse Dick.
Eles se sentaram e conversaram sobre o poder de Deus para curar, durante quatro horas.
"Este homem está completamente louco", pensei. "Não se pode falar de coisas como estas,
pelo menos entre pessoas inteligentes." Mas Dick não era nenhum tolo. Era um bem-sucedido
agente de investimentos que, além disso, acreditava no poder sobrenatural de um Deus
pessoal. Era meu convidado, e embora eu tivesse vontade de expulsá-lo, não pude fazer outra
coisa, a não ser me sentar e escutar.
Arlene perguntou ao Dick sobre sua experiência pessoal, e sua história foi quase mais do que
eu podia compreender: Dick tinha sido muito parecido comigo, tão imerso em seus negócios,
que não tinha consciência de que seu lar estava se desmoronando. Então, seu pequeno filho,
David, tinha sofrido um sério acidente enquanto andava de bicicleta, que o deixou num estado
muito grave, com um coágulo de sangue no cérebro. Tiveram que chamar um neurocirurgião
para ficar de prontidão, caso fosse necessária uma cirurgia de emergência. Logo depois de
tirarem algumas radiografias, David sofreu uma série de convulsões e entrou em coma.
"Sei que você não entenderá", disse Virginia, a esposa do Dick, "mas chamei alguns amigos e
estamos orando. Entregamos David nas mãos do Senhor."
Dick disse que ele não sabia do que sua mulher estava falando. Então lembrou que muitos
anos antes, Virginia tinha confessado que tinha ficado a ponto de suicidar-se, mas começou a
assistir aos cultos de cura na Igreja Anglicana, e tinha sido libertada espiritualmente.
Minutos depois de Virginia dizer essas palavras ao marido, o médico apareceu no hall e disse
que, embora David tivesse recuperado a

consciência, ainda seria necessário operar. Entretanto, sua melhoria era franca e constante.
Quarenta e oito horas depois, a crise tinha sido superada. David tinha sido curado.
A partir desse momento, Dick se tornou crente. Sua fé em Deus tinha crescido rapidamente, ao
ver muitas outras pessoas curadas pelo mesmo poder da oração.
Se eu não tivesse pessoalmente convidado Dick a vir à minha casa, teria acreditado que esta
conversa tinha sido preparada especialmente para que eu a escutasse.
Ali, sentado, ouvindo a conversa dos dois, comecei a me dar conta de que um de meus
problemas, durante todos esses anos, tinha sido que eu sempre tinha "sofrido" de lógica:
queria explicar as coisas cientificamente. Dick, por outro lado, operava sobre uma base
totalmente diferente: uma base de fé. Ele aceitava as coisas em fé, como diziam as Escrituras.
Algo tinha acontecido a Dick Cross. Tinha sido como eu, mas agora era livre. Na verdade, até
amava pessoas que nunca tinha visto antes, como nós.
Enquanto a conversa entre Dick e Arlene continuava animadamente, minha mente trabalhava
em outras áreas. Estava tentando definir, logicamente, é claro, quais eram minhas opções.
Tinha chegado ao limite. Ou admitia que não havia nada que eu pudesse fazer, e me resignava
a que Arlene morreria, ou punha minha confiança nos médicos, ou admitia que havia um Deus
que estava interessado nessa situação. Não podia aceitar o primeiro; tinha comprovado que o
segundo não era suficiente, o que me deixava somente com a terceira opção. O que eu faria
com ela?
Dick Cross era diferente da maioria das pessoas que eu conhecia. Nem mesmo tinha
mencionado qual igreja freqüentava. Não tentava nos convencer a nos juntarmos a uma
organização. Só falava sobre Jesus e sobre o poder do Espírito Santo. Quando se foi, eu já tinha
decidido iniciar uma honesta investigação sobre o poder de Deus.
Comecei de noite seguinte, depois do jantar, lendo a Bíblia. A única Bíblia que tinha lido até
então, era a versão King James. Mas alguém tinha dado a Arlene uma versão em paráfrase.
Muito depois que ela tinha ido para a cama, eu continuava lendo suas páginas, tentando
comprovar as coisas que tinha escutado Dick dizer.
No início, pensava somente na cura de Arlene. Mas, quanto mais lia a Bíblia, mais me
apercebia de que também continha a solução para minhas necessidades pessoais... essas que
nunca tinha contado a ninguém.
Dick e Virginia começaram a vir em casa regularmente. Embora Dick tivesse se convertido há
pouco tempo, esforçava-se por responder a todas minhas perguntas. Finalmente sugeriu que
fôssemos com eles à aula da Escola Dominical, na Igreja Central da Assembléia de Deus.

Então retrocedi. As cenas que tinha visto naquela igreja em minha infância ainda estavam
vívidas em minha memória. Mas Arlene queria ir, e finalmente aceitei. Entretanto, falei que se
ela caísse no chão como eu tinha visto acontecer com outros na igreja, eu simplesmente a
deixaria lá. O orgulho continuava ocupando o trono na minha vida.
A igreja da Assembléia de Deus era muito diferente do que eu esperava. O professor que
ensinou essa noite disse coisas que tinham sentido para mim. Desenhou um pequeno círculo
em um quadro-negro, que conforme disse, representava a vida de um cristão. Nos rodeando,
assinalou, estava o poder de Satanás. À medida que crescemos em Cristo, nosso círculo cresce,
empurrando os poderes da escuridão, estendendo nossa área e permitindo que conquistemos
o terreno que Satanás tinha dominado por longo tempo. Este terreno, disse o professor,
continha muitas coisas maravilhosas, como uma comunicação pessoal com Deus, saúde para o
corpo físico e limpeza para a alma.
Sempre tinha pensado que era nossa responsabilidade nos sentar dentro de nosso pequeno
círculo e "guardar a fortaleza". Agora via que Satanás estava na defensiva, e que era nosso
privilégio sair e possuir a terra. Logicamente, tinha sentido. Nem sequer as portas do inferno
poderiam prevalecer contra o poder crescente, em expansão, do circulo.
Ao final do culto, o ministro fez um apelo para receber a Cristo. Antes de que eu soubesse o
que acontecia, Arlene e Virginia caminhavam para a frente. Virginia ajudava Arlene a caminhar,
para evitar que caísse. Comecei a me sentir incomodado. Em vez de orar para que Arlene fosse
curada, o pastor pôs a mão sobre a cabeça de minha mulher e orou para que ela fosse cheia do
Espírito Santo. Comecei a ir para frente, mas Arlene parecia estar em outro mundo. Virginia a
sustentava (me perguntei se Arlene tinha comentado com ela o que eu havia dito, sobre deixá-
la no chão se caísse), e da boca de minha esposa saíam palavras pronunciadas em um estranho
e melodioso idioma. Minha lógica venceu outra vez e me neguei a aceitar o que ouvia. Esperei,
e em seguida ajudei Arlene a voltar para seu assento. O orgulho impediu que lhe perguntasse
sobre a experiência que tinha vivido. Deus ainda tinha que me quebrantar antes que pudesse
escutá-lo por mim mesmo.
Dick e Virginia começaram a nos trazer livros "carismáticos", quer dizer, livros que falavam de
curas, batismo no Espírito Santo, dons do Espírito e salvação. Um deles foi o livro de Kathryn
Kuhlman, Creio em milagres. Arlene não teve coragem de contar que o tinha lido fazia alguns
anos. Como ela não enxergava bem, tive que lê-lo em voz alta, para ela. Deus tinha uma linda
maneira de quebrar minha dura couraça.
Uma noite, depois de Arlene ter ido para a cama, eu estava sentado na sala lendo a Bíblia. Era
começo de julho, aproximadamente um mês depois da primeira visita de Dick a nossa casa. O
ar condicionado não funcionava e o calor era sentido em toda a casa... um calor como só pode
fazer no Arkansas. Mas o calor não me importava, só o desespero

que havia em meu coração. Finalmente, deixei de ler e pus o livro sobre meus joelhos.
"Senhor," orei em voz alta, "preciso de ajuda." Foi assim, simples, mas era a primeira vez que
eu orava pedindo ajuda em toda minha vida. A partir desse momento as coisas começaram a
mudar.
Mais dois ataques fizeram Arlene ficar totalmente fora de circulação. O primeiro foi um
bloqueio do coração que quase a matou; em seguida uma insuficiência coronariana a mandou
outra vez ao hospital, pela segunda vez em menos de um mês. Entretanto, as coisas já tinham
começado a mudar.
Eu estava com Arlene no hospital, num domingo à tarde, em meados de agosto. Dick e Virginia
chegaram, trazendo com eles uma amiga, Leanne Payne, que tinha sido professora de
literatura no Wheaton College, em Wheaton, Illinois, e agora estudava para outra profissão. Eu
não sabia nesse momento, mas eles tinham vindo para impor as mãos sobre Arlene e a orar
por ela. Como Dick não estava certo sobre como eu reagiria ao fato de fazerem uma reunião
de oração no quarto do hospital, ele me convidou para tomar uma xícara de café, enquanto as
mulheres ficavam com Arlene, "conversando".
Encontramos uma mesa na cafeteria e quase imediatamente Dick me contou que tinha sido
"batizado no Espírito Santo". Disse-me que tinha acontecido em um sonho, e depois,
novamente, no dia seguinte, enquanto estava acordado. Desde então, confessou-me, sua vida
transbordava de gozo.
Realmente não entendi o que me dizia. Só o que podia pensar nesse momento era que Arlene
estava lá naquele quarto do hospital, no quinto andar, e que logo terminaria a hora de visita.
Tomamos o elevador para ir ao quinto andar. A porta do quarto de Arlene estava fechada. Me
detive um instante antes de entrar. Havia uma estranha quietude. Os sons normais do
hospital, os tons suaves das vozes femininas na sala de enfermeiras, o som dos sapatos de
borracha sobre o chão de cerâmica, o chiado dos carrinhos que as enfermeiras levavam, os
alto-falantes que chamavam os médicos e enfermeiras, os sons das rádios e televisões em
outros quartos, todos tinham sido absorvidos por um grande vazio de silêncio. Soube que Deus
estava detrás dessa porta.
Empurrei-a e abri. Arlene, vestida com sua bata branca do hospital, estava deitada na cama. Os
fios do monitor cardíacos estavam presos a seu corpo. Virginia, de pé à esquerda da cama, e
Leanne à direita. Tinham posto suas mãos sobre o corpo de Arlene e as três oravam
suavemente em um idioma que não pude entender.
Instantaneamente todos os pelos do meu corpo se arrepiaram. Olhei meus braços; o pêlo
estava arrepiado como os espinhos de um porco-espinho. Era como se tivesse pisado em um
cabo de alta voltagem, só que não sentia choque nem dor; só uma poderosa corrente de poder
que percorria meu corpo.

As duas mulheres acabaram de orar e as acompanhei até o carro, em baixo, onde Dick as
esperava. Ainda sentia essa fonte de poder dentro de mim, e continuei sentindo-a até depois
de chegar em casa.
Meu primeiro pensamento foi que tinha me contagiado com alguma doença estranha no
hospital. Procurei em todos os dicionários médicos que pude encontrar, esperando descobrir o
que era o que causava esse formigamento, o que fazia com que meu cabelo se arrepiasse. Não
encontrei nada. Mas, na quarta-feira, o assunto já não me importava, porque compreendia
que durante estes últimos dias me havia sentido mais feliz do que nunca antes em minha vida.
Essa noite, sentado outra vez na sala lendo a Bíblia, deixei o livro ao lado, e falei em voz alta:
"Senhor, queres me dizer algo? Se for isso, terás que fazê-lo de forma que eu possa entender".
Dick tinha me contado experiências de pessoas que tinham "provado" a Deus. Isso era algo
novo para mim, mas precisava descobrir. "Senhor," falei, "sabes que faz dois anos que tenho
estas dores na nuca. Se estás tentando me dizer algo, podes tirar essa dor de mim? Fui para a
cama e, ao acordar na manhã seguinte, a primeira coisa que fiz foi pôr a mão na nuca. Já não
tinha dor alguma. Estava curado. Pela primeira vez na minha vida, soube, realmente soube,
que Deus era real, e que se importava comigo.
Enquanto me barbeava, me olhando no espelho, também me ocorreu que se Deus podia curar
a dor de minha nuca, também poderia curar a minha esposa. Foi tão repentino que quase
cortei o queixo.
Nessa tarde, enquanto estacionava o carro em frente ao hospital, os pelos de meu corpo
voltaram para sua posição normal. O formigamento também desapareceu. Isso me
aterrorizou, e pensei que certamente tinha feito algo que tinha desagradado a Deus. Mas, ao
terminar de estacionar, senti algo novo, ainda mais forte que o anterior. Foi como se tivessem
atirado um balde de ar quente em cima de mim. Não houve trovões nem relâmpagos, e não
escutei nada com meus ouvidos. Mas dentro, muito dentro de mim, onde somente o espírito
pode ouvir, escutei uma voz que dizia: "Arlene ficará bem".
Foi então que soube. Não houve nem um instante de dúvida. Soube com tanta certeza como
se um anjo tivesse aparecido e se sentado no capô do meu carro. Arlene seria curada.
Embora Arlene tivesse sido muito forte até esse momento, quando cheguei ao quarto, a
encontrei com o pior quadro de depressão que jamais tinha visto. O médico tinha dado o
relatório final. O padrão anormal de seu eletroencefalograma e a insuficiência coronária não
eram causados pela esclerose múltipla. Voltou a surgir a forte suspeita de que poderia estar
sendo complicada com miastenia grave. Arlene estava mais fraca, enxergava menos, e lhe era
impossível ficar em pé sem ajuda. Mas em

meio a toda essa situação, eu tinha uma fé que não desapareceria. Sabia que ela seria curada.
Arlene voltou para casa mais doente que nunca; já quase não podia sair da cama, nem sequer
para ir ao banheiro. Até suas amigas, que tinham sido muito otimistas, pareciam deprimidas.
Seu estado piorava cada vez mais.
Um mês depois, eu estava no escritório e soou o telefone. Era Arlene. "Gil, Katrhyn Kuhlman
estará em St. Louis na terça-feira que vem. Queria ir."
A lógica me dominou rapidamente e comecei a enumerar as razões pelas quais era impossível
que ela fosse a St. Louis. Estava a 650 km de distância. Não havia nenhuma cidade grande
entre Little Rock e St. Louis, caso precisasse ir a um hospital. Arlene devia ficar próxima de dois
especialistas que a atendiam aqui, em Little Rock. E se tivéssemos problemas com o carro e
precisássemos nos deter em algum lugar da rota...?
Quando terminei, só o que escutei do outro lado da linha foi o suave soluçar de Arlene. "Por
favor, Gil, é minha vida..."
Senti que voltava a entrar em minha couraça. Em vez de me irar, falei simplesmente:
"Falaremos sobre isto quando eu chegar em casa."
Essa noite, Arlene na cama e eu sentado em uma cadeira a seu lado, ela me contou que no
começo dessa semana Edna Williamson tinha ido visitá-la. Ao ver o livro "Creio em milagres"
que Arlene tinha, Edna disse: "Sabe, tenho outro livro de Kathryn Kuhlman, "Deus pode fazê-lo
outra vez". Quer trocar comigo?"
Envergonhada de lhe dizer que ela já não podia ler, Arlene aceitou a troca. Na manhã seguinte
Edna voltou. Ela e Arlene começaram a falar sobre milagres, e por que estes não aconteciam
em Little Rock. Arlene disse que achava que o fato de ter um ambiente de fé ao redor ajudava
muito. Nem mesmo Jesus pôde realizar milagres em sua cidade natal, porque as pessoas
diziam: "Não, não". Minha esposa disse ainda que ela também acreditava que jamais estaria
em um culto em que todas as pessoas estivessem em um mesmo espírito, esperando,
acreditando que Deus a tocaria e a curaria.
Nesta manhã, Virginia Cross entrou e despejou a notícia como uma bomba: "Kathryn Kuhlman
vai realizar um culto de milagres na próxima terça-feira em St. Louis."
Arlene jamais tinha estado em uma dessas reuniões, assim não tinha a menor idéia de quão
difícil seria entrar. Estava decidida a ir. "Creio que Deus está me dizendo para ir a St. Louis",
afirmou.
"É possível que Deus lhe tenha dito que vá," falei, "mas não me disse que a levasse."

Assim que pronunciei estas palavras, todos os pelos de meu corpo se arrepiaram outra vez.
Tentei falar, mas minha língua se negou a mover- se. Finalmente, com a boca e os olhos muito
abertos, limpei a garganta e com uma voz que parecia vir do outro extremo da casa, falei: "Está
bem, iremos".
O rosto de Arlene refletia uma mistura de alegria e surpresa. "Oh, Gil..." Mas eu já estava de
pé, e saía cambaleando do quarto.
Já sabia que seria melhor não discutir mais. Estava na presença do Senhor! Saímos no domingo
à noite, depois que voltei do trabalho. Arlene ia jogada no banco de trás do carro. Passamos a
noite em Poplar Bluff, Missouri, e chegamos a St. Louis aproximadamente ao meio dia de
terça- feira. Eu não conhecia nada da cidade, por isso seguimos a estrada até o centro da
cidade. Saímos na Market Street, e de repente nos encontramos em frente ao auditório. A
reunião começaria às 19:00, mas já havia uma grande quantidade de gente esperando diante
das portas fechadas.
Comecei a temer que nos tivéssemos arrojado a fazer mais do que podíamos. Mas Deus tinha
ido diante de nós. O Hotel Holiday Inn da Market Street nos deu seu último quarto vago.
Minutos depois, Arlene descansava comodamente, e o gerente do hotel tinha prometido nos
levar em seu carro ao auditório, às 16:30. Era um dia úmido e tremendamente quente em St.
Louis, com uma temperatura de aproximadamente 40°. Eu havia trazido um par de cadeiras de
jardim, mas não foram de grande ajuda. Arlene tinha estado de cama desde seus primeiros
problemas de coração, em julho, e estávamos a 19 de setembro. Nos últimos dias, não saía da
cama nem para comer, mas aqui estava, a mais de 600 km de casa, sentada em uma cadeirinha
de jardim na calçada, debaixo do sol ardente. Eu temia que não chegasse a entrar no auditório.
As pessoas que esperavam junto a nós perceberam o estado de saúde de Arlene. Ao contrário
do que costuma acontecer quando há aglomeração na entrada de um estádio de futebol, ali as
pessoas se alternavam para protegê-la do sol e lhe trazer bebidas geladas. As portas laterais
onde se alinhavam as cadeiras de rodas foram abertas às 18:00. Fui falar com o ajudante que
estava encarregado da entrada e lhe roguei que deixasse Arlene entrar também. "Lamento,
amigo, tenho ordens estritas. Só quem está em cadeiras de rodas podem entrar agora." E
fechou a porta com firmeza. O desespero e a frustração de antigamente começaram a crescer
dentro de mim outra vez. O estado de Arlene naturalmente requeria o uso de uma cadeira de
rodas, mas seu temor de tornar-se muito dependente dela tinha evitado que lhe comprasse
uma. Quis fugir. Não podia suportar a visão de todas estas pessoas que sofriam. Eram como
aqueles doentes que se amontoavam junto ao tanque de Betesda. Mas, apesar de doentes
como estavam, cantavam e se ajudavam mutuamente, cheios de gozo. Voltei para junto de
Arlene, decidido a não sair do seu lado.

Dez minutos depois, as portas se abriram, e a maré humana que corria para o interior nos
arrastou. Eu nunca tinha visto nada como aquilo. Momentos depois estávamos sentados
exatamente no centro do enorme auditório. Um imenso coro já estava sobre a plataforma,
ensaiando, e até os assentos pareciam ferver de expectativa e poder. A senhorita Kuhlman,
com um vestido branco e vaporoso de mangas largas, estava parada no centro da plataforma.
"O Espírito Santo está aqui", sussurrou, em voz tão baixa que tive que me esforçar para escutá-
la. Enquanto esperávamos, aconteceu outra vez: esse silêncio que tinha experimentado no
corredor do hospital, pareceu assentar-se sobre o imenso auditório. Na massa humana que
ocupava o lugar deve ter havido tosses, pés arrastando, ruídos de papéis... mas eu não escutei
nada disso. Estava envolvido por um suave manto de silêncio.
A senhorita Kuhlman estava de pé no centro da plataforma, com a mão esquerda levantada,
seu dedo indicador apontando para o céu. Sua mão direita descansava suavemente sobre uma
velha e gasta Bíblia apoiada sobre o púlpito. E havia silêncio, um silêncio como o que
certamente haverá no céu depois de ser aberto o sétimo selo.
A senhorita Kuhlman não era absolutamente o que eu tinha esperado. Era cálida e amigável,
informal. Recebeu as pessoas e os fez sentir à vontade, como em casa. Depois se virou para a
lateral e moveu os braços enquanto apresentava o seu pianista, Dino.
"Sabe quem é?", perguntou Arlene enquanto o arrumado jovem de cabelos escuros se sentava
ao piano. "Certa vez quis escutar boa música de piano e telefonei à livraria batista. Eles me
enviaram algumas gravações do Dino. Todo este tempo escutei sua música, e nem sequer
sabia que acompanhava Kathryn Kuhlman."
A senhorita Kuhlman começou a pregar, mas não era como nenhuma outra pregação que eu
tivesse escutado antes. Falava sobre o Espírito Santo como se fosse uma pessoa real. Enquanto
escutava, comecei a compreender que ela não somente o conhecia pessoalmente, mas
também andava com Ele dia a dia. Não era estranho que fosse tão real para ela; O conhecia
melhor do que a qualquer homem no mundo.
De repente, se deteve, com a cabeça inclinada como se estivesse escutando. Estaria escutando
o Espírito Santo? Esforcei-me para ver se eu também podia ouvi-lo. Então ela levantou o braço
e apontou para cima, à esquerda.
"Há alguém ali em cima, nessa seção, que acaba de ser curado de câncer no fígado."
Virei-me em meu assento e olhei para cima. Era mesmo o Espírito Santo quem lhe havia dito
isso? Ele fala às pessoas de forma que possam saber coisas como essas?
Todo isso e as curas acontecia tão rapidamente que minha cabeça dançava. As pessoas
começavam a descer pelos corredores, indo para a

plataforma para testemunhar do que tinham sido curadas. Quando recebeu o primeiro
homem, Kathryn Kuhlman agiu como se tivesse sido o primeiro milagre que tinha visto em sua
vida. Certamente, pensei, esta mulher viu centenas de milhares de pessoas curadas, mas está
tão entusiasmada como se fosse a primeira vez. É este o segredo de seu ministério, que não
perdeu a capacidade de maravilhar-se?
A senhorita Kuhlman falou com o homem por um momento e em seguida começou a orar por
ele. "Pai Santo...", disse, e o homem caiu no chão. O mesmo aconteceu com a segunda pessoa
que passou à plataforma. E a seguinte, e outra mais. Tentei compreender todo logicamente,
mas o que acontecia desafiava toda a lógica. Era como se Deus estivesse me dizendo: "Há
algumas coisas que você não pode compreender, e o poder de meu Espírito Santo é uma
delas."
À medida que o culto prosseguia, algo acontecia em meu interior. Estava me suavizando.
Como uma dura esponja colocada debaixo da água, senti que me tornava muito brando e
suave. Meus olhos se encheram de lágrimas, e comecei a orar por outras pessoas, que eu não
conhecia, no culto. Enquanto orava, senti que fluía o amor. Era uma experiência nova e
magnífica.
A seguir, minhas orações se concentraram em Arlene, que estava sentada junto a mim, e
roguei a Deus que a curasse. Em todos esses anos de casamento, era a primeira vez que queria
orar por ela. Tinha acreditado que ela seria curada; sabia que Deus nos tinha guiado. Mas
nunca meu coração se abrandou o suficiente para sair de mim mesmo e pedir ao Senhor que a
tocasse e a curasse.
Quase instantaneamente Arlene se apoiou em mim.
"Sente a brisa? Sinto uma brisa", sussurrou ela, "uma brisa suave e acariciante em todo meu
corpo."
Olhei ao meu ao redor, mas não havia lugar algum de onde pudesse vir a brisa. Deixei de lhe
prestar atenção e olhei novamente para a plataforma. Uma jovem sentada aproximadamente
cinco filas de assentos adiante tinha se virado para nós, e falou com Arlene. "O Senhor está
agindo em você?", perguntou, em voz tão alta que todos a ouviram claramente.
Um pouco envergonhada, Arlene respondeu em um sussurro: "Não sei".
A jovem, totalmente desconhecida para nós, perguntou: "Qual é seu problema?"
"Lhe diga que tenho esclerose múltipla e problemas de coração", sussurrou Arlene à senhora
que estava sentada junto dela.
A jovem não ficou satisfeita com isso. Continuou enviando mensagens. "Lhe pergunte como se
sentia quando entrou."

"Mal tive forças para entrar", disse Arlene.


"Lhe pergunte como se sente agora", disse a jovem, quase gritando.
Essas interrupções já estavam começando a me incomodar, e me voltei para pedir a Arlene
que se calasse.
Ela olhava suas mãos, atônita. "Os tremores", murmurou com voz trêmula. "Desapareceram.
Já não estou inflamada. Vejo bem. Meus olhos estão bem outra vez."
A jovem estava muito entusiasmada, inclinando-se sobre as pessoas da outra fila.
"Tem que ir à frente," gritou, "e aceitar sua cura."
No mesmo momento Arlene ficou de pé, passou por cima de mim, pisando nos pés dos que
estavam no caminho, saindo da fileira de assentos para o corredor. Quase sem fôlego, eu
também compreendi que ela tinha sido curada.
Segui-a com os olhos enquanto descia pelo corredor para a frente. Um obreiro a deteve por
um instante, e logo lhe fez gestos para que continuasse. Arlene subiu as escadas até a
plataforma como uma mulher normal. Os espasmos, os tremores, as convulsões tinham
desaparecido. Como o homem junto ao tanque de Betesda, tinha esperado que um anjo
movesse as águas para que ela pudesse entrar... até que finalmente compreendeu que não
precisava do tanque; só precisava de Jesus. Tinha sido curada por Sua mão.
A plataforma estava cheia de gente e o culto estava para terminar. Arlene não conseguiu
chegar ao púlpito para atestar de sua cura. Mas não importava. Enquanto o majestoso coro
começava a cantar, Arlene parou na outra extremidade do cenário, apoiada contra o piano, e
com o rosto luminoso, sua voz se uniu às do coro cantando as palavras do velho hino:
"Embora Satanás me sacuda e venham as provas, esta bendita confiança terei, que Cristo viu
meu estado de angústia e seu sangue verteu por minha alma."
O culto tinha terminado, Kathryn Kuhlman já saía da plataforma, mas ao passar junto a Arlene
se voltou ligeiramente e esticou a mão em um gesto de oração. Instantaneamente Arlene caiu
no chão. Mas desta vez eu sabia que não era pela esclerose múltipla, mas sim pelo poder de
Deus.
O auditório estava cheio de música. Milhares de pessoas entoavam uma e outra vez "Aleluia",
com as mãos levantadas. Nunca tinha visto ninguém elevar as mãos assim, mas, antes que
pudesse entender, minhas mãos também estavam no alto, fazendo o mesmo que eles faziam:
louvar ao Senhor.

Finalmente Arlene conseguiu voltar para seu assento. Parecia que ninguém queria ir embora.
As poucas vezes que eu tinha ido a igrejas, mal o pastor dizia "Amém", as pessoas saíam
correndo para a porta. Mas essa gente não queria ir. Queriam ficar, abraçar-se e cantar.
Pessoas que eu absolutamente não conhecia vinham e me abraçavam. Todos diziam: "Louvado
seja o Senhor!", e "Aleluia!"
Estávamos a sete quadras de distância do hotel, e o gerente tinha prometido vir nos buscar se
o chamássemos por telefone. Arlene sorriu.
"Vamos caminhando", disse. E fizemos isso.
Ao voltar para o quarto, lembrei-a que devia tomar seu remédio anti-convulsivo. Se não o
fizesse, poderia sofrer convulsões que a matariam antes da noite chegar.
"Creio que Deus verdadeiramente me curou", disse, olhando os frascos de remédios, "e não
preciso mais disso."
"Isso é entre você e o Senhor, querida", falei.
Não tomou o remédio... e não voltou mais a tomá-los.
Uma semana depois Arlene literalmente irrompeu no consultório de seu neurologista. Na
semana anterior quase tivemos de levá-la de maca. O médico a olhou e exclamou: "Algo lhe
aconteceu! O que foi?"
"Fui curada, doutor", disse ela. "Fui a um culto de milagres em St. Louis. Sabia que você me
proibiria isso, assim fui ao Chefe Máximo, e perguntei a Ele."
O médico reconheceu que tinha acontecido algo maravilhoso. Examinou os reflexos de Arlene,
sua visão, até a fez saltar pelo consultório para observar sua coordenação. Finalmente voltou
para seus papéis sacudindo a cabeça.
"Em meus vinte e cinco anos de prática da medicina, vi só três casos que não tinham
explicação médica. Sei que há possibilidade de remissão da esclerose múltipla, mas isto é outra
coisa. Tem que ser de Deus."
Juntos riram alegremente.
"Não sei o que fez você, ou o que está fazendo", adicionou ele. "Mas seja o que for, continue
fazendo. E não esqueça de agradecer a Deus todas as noites."
Parecia que a cura de Arlene seria o clímax de nossas vidas. Mas foi só o começo. Três meses
depois, entrei na plena dimensão do poder do Espírito Santo. Estava em uma pequena reunião
doméstica de oração, e o líder falou sobre a ocasião em que Pedro, impulsionado pelo Senhor,
caminhou sobre as águas. Em seguida disse: "Todos temos duas opções. Ou ficamos tranqüilos
em nosso bote, ou saltamos à água e vamos para Jesus. Se não o tiver feito antes, este é o
momento de saltar."

E eu saltei. Literalmente! Saltei de meu assento, e aterrissei com ambos os pés no centro do
aposento.
"Eu quero", falei. "Quero agora." E o dizia a sério.
Alguém trouxe uma cadeira. Sentei-me, e em seguida todos ficaram ao meu redor e
impuseram suas mãos sobre mim. Um pastor batista, de voz suave e cabelos brancos,
começou a orar, e nesse momento minha vida deu uma reviravolta total. Ao contrário
daquelas primeiras experiências em que o Espírito Santo veio sobre mim, fazendo que todos os
pelos do meu corpo se arrepiassem, desta vez Ele veio dentro de mim... e a mudança foi
permanente.
Em outra noite, sentados à mesa antes do jantar, em família, tivemos nosso tempo de oração
costumeiro. Cada um leu um versículo da Bíblia, demos as mãos, e em seguida, um por vez,
oramos de forma individual. Ao terminar, vi que Arlene tinha lágrimas nos olhos.
"Faz muito tempo, Gil," disse-me suavemente, enquanto nossas filhas escutavam, "eu lhe falei
que, para mim, ter uma família cristã, com o pai como sacerdote do lar, seria o céu. Mesmo
que não tivesse sido curada, só o fato de fazer parte desta maravilhosa família teria valido a
pena. Realmente o céu baixou à Terra."
Arlene tem razão. O céu baixou à Terra. Cada reunião da família se converte em um culto de
adoração. Arlene e eu nos alternamos para ensinar em uma classe bíblica em nossa Igreja
Metodista, e cada vez vêm mais gente. Creio que estão como nós estávamos, desejosos de
ouvir falar sobre o poder do Espírito Santo, que não só cura corpos doentes, mas também
maridos doentes.

Capítulo 6 Diga às montanhas


Linda Forrester
Linda e John (Woody) Forrester vivem em Milpitas, uma zona residencial ao sudeste da Baía de
São Francisco, na Califórnia, ao pé do Monument Peak. Woody é programador de
computadores na vizinha cidade de San Jose. Têm duas filhas, Teresa e Nanci.
A montanha sempre esteve ali. Ergue-se como um monumento solitário, oitocentos metros
acima da bacia da Baía de São Francisco. No inverno, às vezes está coberta de neve; no verão,
uma grama amarronzada cobre alguns setores. Está a menos de 16 km de nossa casa, em
terreno plano, e muitas vezes as nuvens ou o smog a cobrem parcialmente, mas sempre está
ali, perfilando-se ameaçadora diante de nós.
Os nascidos ao sul da baía aparentemente não lhe dão importância. A chuva a erode. O Sol faz
brilhar seus perfis nus. Algumas poucas almas valorosas sobem até seu cume. Simplesmente
está ali, e sempre estará. Nada pode tirá-la. É como a doença. Desde que Adão pecou, a
doença esteve sempre conosco. O homem aprendeu a viver com ela. Alguns tentam escondê-
la, fingindo que não está ali, ensinando que a doença não existe. Outros a ignoram, com a
esperança de que não tocará sua casa. Muitos tentaram conquistá-la por meio da medicina e
das pesquisas. Quase todos a aceitam, entretanto, como aceitam a montanha que domina a
paisagem e que desafia a quem tenta lançá-la ao mar.
Eu era um dos que temiam a doença e tentava ignorá-la. Em nossa família não se adoecia com
freqüência. Se alguém adoecia, encontrávamos alguma injeção ou um comprimido que o
curava, até que Nanci adoeceu. Desta vez, as coisas foram diferentes.
Nanci, nossa filhinha de quinze meses, tinha sido muito ativa desde que começou a andar. Na
verdade, nunca caminhava; ela corria. Mas ultimamente tinha começado a agir de forma
estranha. Caía com freqüência, e de cada tombo ficavam feios hematomas. Chegou a ficar
coberta de hematomas, como se a tivessem espancado.

Em uma segunda-feira de manhã, em 1970, Nanci acordou com uma febre muito alta. Comecei
a lhe dar aspirina infantil, mas no segundo dia a temperatura tinha subido a mais de 40° e não
baixava. Liguei para Woody em seu escritório, em San Jose, e me disse que a levasse ao
Hospital Kaiser, em Santa Clara. Nanci tinha nascido ali, e conhecíamos vários médicos e
enfermeiras.
Um jovem médico a examinou na sala de emergências. Encontrou uma infecção nos ouvidos e
na garganta, prescreveu alguns medicamentos e nos enviou de volta para casa. Dois dias
depois, a febre não tinha baixado e a levei novamente ao hospital. Antes, sempre tínhamos
conseguido superar as doenças com remédios. Mas desta vez, a doença parecia erguer-se
diante de nós, inconquistável.
Durante a semana notei algo mais. Nancy tinha uma pequena bolha de sangue na virilha. No
primeiro dia em que a vi, tinha o tamanho de uma cabeça de alfinete. Agora tinha crescido até
ser do tamanho da unha de meu dedo mindinho. O médico a observou, disse que
provavelmente seria um furúnculo que logo ficaria maduro, deu-nos mais medicamentos e nos
enviou novamente para casa.
Na manhã de sábado eu estava à beira do pânico. Apesar de toda a medicação, Nanci estava
pior que antes.
"Temos que levá-la outra vez ao hospital", disse Woody.
Teresa se sentou no banco traseiro e eu levei Nanci no colo até chegarmos a Santa Clara. Ela
sempre tinha sido inquieta e agitada. Desta vez ficou em meus braços quase sem se mover,
fraca demais até para choramingar. Seu corpo ardia em febre.
O doutor Feldman a examinou brevemente com olhar preocupado. "Este medicamento
deveria ter controlado a febre. Também não gosto do aspecto desse furúnculo. Leve-a ao
andar superior para coleta de sangue, depois voltem aqui e aguardem."
Depois de receber o resultado da análise, o doutor Feldman apareceu novamente. Notei
preocupação em seu rosto.
"Nanci tem uma anemia aguda", disse. "Quero que seja internada."
Isso me aliviou. Tinha temido que lhe dessem outra quantidade de pílulas e xaropes e a
mandassem de volta para casa. Achei que anemia não era algo muito grave, e eu estava
contente de que cuidassem dela no hospital. A responsabilidade de cuidar sozinha de alguém
muito doente me assustava.
A médica de plantão na pediatria era a doutora Cathleen O'Brien, que tinha atendido Nanci
desde o nascimento.
"De tarde faremos um exame físico completo nela", disse. "Não quero que fiquem aqui. Podem
voltar às seis da tarde e então a verão."

Deixamos Teresa com uma vizinha e voltamos ao hospital ao entardecer. Ao entrar no quarto
de Nanci, tive um choque. Estava deitada de costas no berço, com tubos espetados nos dois
braços. Tinha os olhos fechados.
A doutora O'Brien apareceu na porta.
"Linda, quero ver você e Woody em meu consultório. Temos alguns resultados dos exames."
Senti meu coração dando pulos no peito enquanto a seguíamos pelo corredor. A doutora
O'Brien nos indicou duas cadeiras. Quando a olhei e vi lágrimas em seus olhos, meu próprio
temor quase se converteu num grito.
"Esta tarde, depois de que vocês foram embora, Nanci perdeu sangue pelo nariz, e depois
evacuou duas vezes com sangue. Ainda não fechamos o diagnóstico, mas há duas
possibilidades: um tumor canceroso tão expandido que é intratável, ou leucemia."
Woody prendeu a respiração e trincou os dentes. Segurei sua mão e senti que começava a
tremer.
"Oh, não", gaguejou. "Oh, por favor, não."
Eu queria chorar, mas Woody já tinha desmoronado. Eu sabia que um de nós teria que manter
um pouco de controle. Olhei para a doutora O'Brien.
"Todos os sinais apontam para leucemia", disse. "Daqui a pouco vamos fazer um exame de
medula, mas se quiserem, podem vê-la primeiro."
Voltei-me para Woody.
"Por favor, ligue para o pastor Langhoff. Pergunte se ele pode vir."
É estranho como as pessoas, assim como nós, vivem como se Deus não existisse. Mas quando
estamos frente a frente com a morte, procuramos ajuda espiritual.
Eu tinha sido criada como católica romana. Quando conheci Woody, depois de me divorciar,
concordamos em adotar um meio termo entre minha fé católica e sua fé evangélica, e nos
unimos a uma Igreja Luterana, em Milpitas. Mas raramente assistíamos aos cultos. Não
sabíamos quase nada de Deus. Nunca líamos a Bíblia nem orávamos. Mas, ao enfrentar a
morte, chamamos a única pessoa que conhecíamos que supostamente conhecia Deus: o
pastor Langhoff, da Igreja Luterana Reformada.
O pastor Langhoff, que já era idoso, tinha estado muito doente. Na verdade, saiu da cama para
vir ao hospital essa noite. Nos ministrou como um pai ministraria a seus filhos, e estava
conosco quando a enfermeira veio buscar Nanci e levá-la para fazer o exame de medula.

Eu sabia o que iriam fazer. Tinha visto a longa agulha que inseririam no seu quadril para extrair
um pouco de medula. Fiquei no quarto, estremecendo ao ouvir seus gritos de dor.
Woody e o pastor tinham ido conversar no corredor. Eu estava sozinha no quarto. De repente,
pela primeira vez em minha vida, tive consciência de uma presença espiritual, uma sensação
de que o Filho de Deus estava ali. Eu não conhecia a Jesus Cristo. Só tinha ouvido falar dele, e
não muito. Mas, por um momento, Jesus esteve naquele quarto comigo.
Meia hora depois, a doutora O'Brien voltou.
"Sinto muito", disse. "Definitivamente, é leucemia."
Caí no choro, mas quando notei a agonia de Woody, me recompus. Não tinha ninguém a quem
me agarrar. A doutora O'Brien disse que poderíamos ficar todo o tempo que quiséssemos, mas
eu tinha a horrível sensação de que Nanci morreria naquela noite, e não queria estar ali
quando acontecesse. Queria fugir. Mas, para onde fugir quando a montanha me rodeava por
toda parte?
Saímos do hospital e fomos para casa. A lua estava saindo por cima do Monument Peak, que se
levanta sobre nossa casa, a leste. A doença de Nanci era como essa sólida montanha.
Podíamos gritar com ela, chutá-la, cavá-la, pôr dinamite. Mas ali estava ela, irremovível.
Nossa vizinha nos ligou assim que chegamos.
"Como está Nanci?", Perguntou alegremente. "Espero que tudo esteja bem."
"Não!" Gritei pelo telefone. "Ela tem leucemia."
Houve uma longa pausa; e em seguida, uma suave voz do outro lado da linha me perguntou:
"Quer que eu vá até aí?"
"Não", falei, recobrando o controle. "Precisamos ficar sós. Se puder ficar com Teresa esta
noite, a veremos de manhã."
Passamos a noite em casa, juntos mas solitários. Queríamos nos aproximar um do outro, mas,
despojados de toda superficialidade, descobrimos que não nos conhecíamos. Éramos dois
solitários mortais, enfrentando uma situação impossível, deslizando lentamente pelo ralo.
Andei de quarto em quarto pela casa na semi-penumbra. Durante longos momentos me detive
na porta do quarto de Teresa, olhando sua caminha branca apoiada contra a parede cor de
lavanda. Será que Deus me castigava por ter me divorciado? Teresa era filha de meu primeiro
casamento. Deus ia levar Nanci para me castigar? "Por que, Deus? Por quê?", chorei. "Por que
fez isso com minha filhinha? Ela é tão pequena, tão indefesa. Por que é tão cruel e nos tortura
dessa maneira?"
Voltei ao quarto de Nanci. A Lua se refletia por detrás do topo da montanha no quarto pintado
de amarelo brilhante, agora tão quieto e desolado. A cama ainda estava desfeita. Me agachei e
recolhi um patinho

de borracha do chão. Apertei-o, e assobiou. Mentalmente, lembrei as centenas de vezes que


Nanci o tinha apertado enquanto eu lhe dava banho, e o patinho fazia borbulhas debaixo da
água. Suavemente, coloquei o patinho de borracha em uma prateleira e peguei o porquinho de
pele cor-de-rosa. Dei-lhe corda e começaram a soar umas singelas notas: "Quando o ramo se
quebrar, o berço cairá... Venha, neném..."
Comecei a gritar às paredes e saí do quarto para a cozinha. Woody estava sentado à mesa,
com o olhar perdido na escuridão. Eram quase três da madrugada, e era impossível dormir.
"Temos que armar um plano de ação", disse Woody. Suas palavras soavam ocas e mecânicas.
"Temos que ser positivos. Não podemos deixar que nossa atitude mental afete Nanci. Mesmo
que por dentro estejamos destroçados, temos que sorrir diante dela."
Que vazio, pensei. Que falso. Mas não tínhamos nada mais. Concordamos que seria isso que
faríamos.
Na manhã seguinte (era domingo), voltamos ao hospital.
"Está muito mal", admitiu a doutora O'Brien. "Mas é pequena, e isso conta a seu favor.
Deveremos conseguir que a doença retroceda logo. Ainda assim, não devem abrigar
esperanças."
"Quanto tempo ela tem?", eu quis saber. A pergunta soou melodramática como num filme
ruim.
"Se pudermos fazer com que a doença retroceda imediatamente, poderia durar dois anos",
disse a doutora O'Brien, esperançosa. "Mas essas crianças duram um ano com a doença
controlada e depois decaem rapidamente."
Fomos ver Nanci. Estavam lhe dando uma transfusão de sangue. Um hematologista viria de
Stanford para ajudar a dar um diagnóstico final. Nos disseram o que podíamos esperar: mais
exames de medula, muitas mais transfusões de sangue.
"Como morrem?", sussurrei.
Enquanto formulava a pergunta, percebi que mentalmente já tinha transformado Nanci em
um objeto, uma terceira pessoa que estava se preparando para desaparecer.
A doutora O'Brien foi muito suave: "Geralmente, quando uma criança pequena morre de
leucemia, é devido a um ataque. Pode sofrer um pouco, mas não será por muito tempo."
Woody e eu tínhamos freqüentado reuniões de Encontro Matrimonial em nossa vizinhança.
Nosso casamento tinha sido difícil, e tínhamos chegado nesse nível de humanismo para tentar
encontrar ajuda. Um dos casais do Encontro ficou sabendo o que estava acontecendo com
Nancy e nos ligaram. Sua pequena filhinha acabara de morrer de leucemia, e queriam vir para
nos contar suas experiências.

Foi horrível, mas dissemos a nós mesmos que precisávamos saber, para estarmos preparados
para quando chegasse a morte. Contaram-nos todos os detalhes: como as drogas tinham feito
com que sua filhinha inchasse, como tinha perdido o cabelo, sua intensa agonia, sua morte.
Contaram-nos o que podíamos esperar de nossas relações mútuas e com nossa família. Em
nenhum momento disseram algo que pudesse projetar alguma esperança.
Os médicos tinham conseguido controlar a leucemia de Nanci. Na segunda semana, estava em
estado de remissão temporária, e as drogas a manteriam assim até que se produzisse o ataque
final, fatal, furioso. Mas a bolha de sangue, que agora chamavam de úlcera de sangue, tinha
crescido até cobrir todo um lado da virilha da menina. Os médicos diziam que era um "efeito
secundário" da leucemia, e que continha uma bactéria que poderia matá-la. Ironicamente, o
único medicamento que poderia curá-la era mortal para a maioria dos pacientes de leucemia.
Uma noite, depois de que Teresa fora dormir, Woody e eu nos sentamos à mesa da cozinha.
Tínhamos chorado até ficar sem lágrimas. Finalmente, falei: "Woody, vamos fazer prova com
Deus".
"Está querendo que a levemos a um desses que curam por fé?", disse com desaprovação na
voz.
"Claro que não", exclamei. "Essas pessoas não passam de charlatães."
Woody estava perplexo.
"Pensei que havia dito que queria provar com Deus."
"Quero dizer que oremos", falei.
"Mas eu não sei como orar."
"Eu também não", falei, "mas temos que fazer algo."
Ele assentiu. Eu tomei sua mão e murmurei umas poucas palavras. "Deus, por favor, que
encontrem algo com que possam tratá-la."
Foi um começo tão fraco... como atirar pedras na montanha, com a esperança de que ela se
levantasse e fugisse. Mas era um começo, e na manhã seguinte, quando chegamos ao hospital,
a doutora O'Brien sorria pela primeira vez.
"Boas notícias", disse. "Em Stanford descobriram uma droga para tratar a úlcera. É um
pequeno milagre."
O cirurgião do Kaiser abriu a úlcera, e a isto seguiram meses de dolorosos tratamentos.
Entretanto, Nanci melhorava.
O primeiro encontro com a oração me convenceu de que havia mais poder ao meu alcance do
que tinha imaginado. Comecei a orar diariamente antes de visitar Nanci.

Então aconteceu algo. Uma de nossas vizinhas estava na mesma associação de pais e mestres
que eu. Uma tarde, depois de falar dos assuntos da associação, ela me disse: "Sabe, Linda,
Deus a ama, e ama a Nanci".
Isso me tocou. Ninguém nunca havia dito isso de mim, e nem de Nanci. Era um conceito novo
e maravilhoso. Deus me amava, como pessoa. E amava Nanci.
"A Bíblia está cheia de relatos de Jesus curando pessoas", continuou dizendo ela. "A igreja em
que vou não acredita que Jesus continue curando hoje, mas eu acredito. Creio que se Deus te
ama, também pode te curar." Suas palavras foram como uma luz num quarto escuro. Então
comecei a abrir caminho para essa luz.
Muitos anos antes, durante a tramitação do meu divorcio, eu tinha comprado uma Bíblia.
Naquela ocasião eu achava que ter uma bíblia em casa poderia me dar sorte. Agora
compreendia que a Bíblia era muito mais que um amuleto de boa sorte. Abri a gaveta de meu
armário, encontrei-a, e prometi a mim mesma que leria um capítulo por dia, começando com o
evangelho de Lucas.
Quase imediatamente, de meu subconsciente, um versículo do passado me veio à mente. Não
sabia onde buscá-lo, nem mesmo se estava na Bíblia. Mas repetidamente, dia após dia, ele
ressoava em minha mente: " o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora".
Comecei a passar mais tempo em oração. Visitava Nanci no hospital todas as manhãs, e logo
depois do almoço, lia um capítulo da Bíblia e orava, antes de Teresa voltar da escola. Aquele
tempo se tornou uma parte do dia muito importante para mim.
Certa tarde, minha vizinha me perguntou se já tinha ouvido falar de Kathryn Kuhlman.
"Ela acredita em milagres", disse-me.
Encarei-a.
"Não me diga que você crê na cura pela fé", lhe falei cheia de sarcasmo.
Sorriu docemente.
"Antes de julgar, por que não sintoniza seu rádio na KFAX?"
Confiei nela, e no dia seguinte voltei do hospital com tempo suficiente para escutar a
transmissão das 11:00. Gostei do que ouvi. A senhorita Kuhlman falava de uma experiência
que ela chamou "novo nascimento". Embora eu não tivesse idéia do que ela estava falando, de
alguma maneira soava certo. Eu gostei especialmente de sua maneira positiva e feliz de falar.
Muitos de meus amigos eram negativos. Um pastor com quem tínhamos falado no hospital até
nos tinha sugerido que

"a morte é a melhor cura de todas". Eu precisava ouvir uma voz positiva, que apontasse para a
luz em vez das trevas.
Um dia, depois de escutar o programa, que durava meia hora, abri a Bíblia para ler um capítulo
de Lucas. Casualmente, era o relato da crucificação de Jesus Cristo. Enquanto lia, fui inundada
pela compreensão profunda da verdade. Jesus tinha morrido por mim. Foram meus pecados
que o tinham levado à cruz. Ele tinha morrido porque me amava. Comecei a soluçar. "Oh,
Deus, lamento que tenha tido que morrer por mim."
Mas ao mesmo tempo que o dizia, um gozo e uma sensação de bem-estar me inundavam
interiormente. Era a sensação de ter tomado um bom vinho, mas não estava em meu
estômago, mas sim em meu espírito. Então soube o que era. Eu tinha nascido de novo.
Sentada na poltrona verde da sala, gritando, chorando e rindo ao mesmo tempo, falei:
"Obrigada, Deus, por me salvar. Te amo! Durante anos soube que tinha morrido por causa dos
meus pecados. Agora sei que morreu por mim."
Nesse momento voltei à vida. Era uma nova criatura. Tudo em mim tinha mudado. Ao mesmo
tempo, a cura de Nanci se tornou algo mais do que uma luzinha no fim do túnel; agora era
como o Sol, uma gigantesca bola de luz que inundava todo meu ser. Era possível. Deus podia
curá-la.
Nos dias seguintes terminei de ler o evangelho de Lucas e comecei o de João. Certo meio-dia,
depois de ouvir o programa da senhorita Kuhlman na rádio e de orar, peguei a Bíblia e li o
sexto capítulo de João. Ali estava: "...o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora."
Junto com ele, veio outra revelação, tão assombrosa que eu estava certa de que ninguém a
tinha compreendido antes. Em nenhum lugar do Novo Testamento se dizia que um doente
tivesse ido a Jesus e Ele o tivesse recusado. Ele curava a todos!
Parecia tão impossível... os médicos especialistas, meus amigos que tinham perdido o seu
filhinho, todos diziam que Nanci morreria. Não havia esperança. Mas dentro de mim havia
uma fé que surgia como uma fonte no desolador deserto de minha vida. Era pequena como
um grão de mostarda, mas estava ali. Eu sabia que era tão impossível para mim achar que
Nanci seria curaria, como falar com a montanha e lhe ordenar que se lançasse à Baía de São
Francisco. Mas, a Bíblia não dizia que todas as coisas são possíveis para Deus? Me agarrei a
isso.
Tomei a decisão de confiar nele, embora não o entendesse, embora não fizesse sentido. Deus
teria de lhe dar novo sangue e uma nova medula para seus ossos. Mas decidi confiar em sua
Palavra, sem me importar com o que os outros dissessem.
"Pai." orei. "Tu prometeste que o que vem a ti, não o jogarás fora. Venho a ti com esta
necessidade. Creio que serás fiel a tua Palavra." Foi simples assim. Agora, só tinha que esperar.

Após cinco semanas os médicos nos deixaram levar Nanci para casa.
"Ela não está bem", advertiram. "E não vai melhorar. Se tiverem muita sorte, é possível que
consiga viver mais um ano e meio. Mas depois disso, a leucemia será mais forte que as
drogas."
Os primeiros dias de Nanci fora do hospital foram terríveis. Dois dias depois de trazê-la para
casa surgiram úlceras nos lábios, que logo se estenderam a toda a boca, gengivas e garganta.
Os médicos diagnosticaram escarlatina, complicada pelas drogas que estava tomando, que
provocavam sintomas parecidos. A úlcera (do tamanho de uma mão) na virilha estava secando,
mas tínhamos que limpá-la três vezes por dia com água oxigenada. Logo depois da limpeza,
devíamos prender as mãos e os pés de Nanci às laterais do berço, e colocar uma lâmpada
elétrica acesa a curta distância da úlcera, para secá-la.
Uma enfermeira vinha duas vezes por semana para ajudar. As coisas começaram a melhorar.
Depois de seis semanas Nanci pôde mover- se de forma um pouco mais independente, mas
continuava sendo uma garotinha doente.
Para Woody a situação era muito difícil de suportar. Ele via a grande transformação ocorrida
em mim, e não a compreendia. "Querida, tem que controlar isto", me advertiu. "Não pode
ficar se enganando dessa forma. Quando Nanci morrer, isso vai deixá-la totalmente arrasada."
"Você não entende", eu lhe dizia. "Pela primeira vez sei que poderei aceitar sua morte, se
acontecer. Sei que Deus está com ela, e comigo. Porém, creio que Deus a curará."
"Queria poder acreditar nisso", disse Woody, com os olhos cheios de lágrimas. "Queria poder
acreditar."
Certa tarde minha vizinha me ligou para me contar que Kathryn Kuhlman estaria em Los
Angeles para realizar um culto de milagres. Também me deu um telefone onde poderia pedir
informações.
A atendente da agência de viagens nos informou que a passagem de avião ida e volta a Los
Angeles custaria setenta dólares. Eu não tinha esse dinheiro, mas ela disse que incluiria nossas
reservas na lista de junho, o mês seguinte, para o caso de conseguirmos reunir o dinheiro.
Janet, uma adolescente que vivia próximo, tinha sido babá de Nanci desde que ela era um
bebezinho. Um grupo, chamado Vida Jovem, se reunia em sua casa às terças-feiras de noite.
Quando souberam que levaríamos Nanci ao culto de Kathryn Kuhlman, quiseram nos apoiar
em oração. Na terça-feira seguinte levei Nanci à casa de Janet, onde estavam reunidos mais de
cem jovens para participar do estudo bíblico. Combinaram que, no domingo em que nós
iríamos a Los Angeles, eles se reuniriam na casa de Janet para orar e jejuar. Eles também criam
que Deus a curaria.

Na semana anterior à nossa partida para Los Angeles, fui a uma livraria cristã em Fremont.
Uma amiga me tinha recomendado vários livros que queria que eu lesse, incluindo dois de
Kathryn Kuhlman: Creio em milagres e Deus pode fazê-lo outra vez. Enquanto estava ali olhei
alguns marcadores de páginas plásticos, procurando algum para usar em minha Bíblia. Me
chamou a atenção um deles, até que o comprei, sem atentar ao versículo bíblico que estava
impresso na parte de trás.
A caminho de casa, indo para o sul pela auto-estrada Nimitz, repentinamente fui invadida por
uma sensação desencorajadora. Que tipo de tola eu era? Todos diziam que Nanci era
incurável, mas aqui estava sua mãe, comprando livros, juntando dinheiro para comprar
passagens de avião, pensando em levá-la até Los Angeles para assistir a um culto de milagres
de uma mulher que eu jamais tinha visto. Pus-me a chorar.
Saí da auto-estrada em Dixon Landing, e olhei para cima. Ali estava a montanha, erguendo-se
ameaçadora diante de mim. Era mais do que eu podia suportar. Saí da rua, chorando.
Quando finalmente consegui controlar o choro, estiquei a mão para o outro assento,
procurando um lenço de papel. Ao fazê-lo, o cordão do marcador que havia comprado
enganchou em minha mão. Então li o versículo que estava impresso. Não pude acreditar no
que via. "Se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para
acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível." (Mateus 17:20).
Olhei para a montanha e sorri em meio às lágrimas. "Saia do meu caminho, montanha. Nanci
vai ser curada."
Eu quase não podia abranger a imensa multidão que esperava no auditório Shrine. Nos
guiaram até uns assentos na parte de baixo. Fazia calor quando chegamos, então tirei os
sapatinhos de Nanci e pedi a Woody que os segurasse. Nanci tinha ficado muito inquieta no
avião. Não tinha dormido nem um minuto e se dobrava e se retorcia enquanto ocupávamos
nossos assentos. Woody também estava incomodado.
"Você ficará muito bem" disse ele: "mas não vou agüentar ficar sentado em um culto que dure
quatro horas."
A reunião começou, e o magnífico coro começou a cantar. Então a senhorita Kuhlman
apresentou Dino. Eu adoro música, e esse elegante jovem grego que acariciava o piano como
se fosse um anjo acariciando uma harpa, me fascinou.
Mas para Nanci nada disso interessava. Continuou se retorcendo e gemendo. Durante os
momentos mais quietos, quando Dino acariciava as teclas do piano como com uma pluma,
Nanci se pôs a chorar. Imediatamente vi um obreiro parado no corredor, que se inclinava para
nós. "Senhora, terá que levar a menina para fora. Está atrapalhando as outras pessoas."

"Levá-la para fora?" exclamei indignada. "estivemos economizando dinheiro durante dois
meses para vir até aqui, e você me diz para sair!"
Olhei para Woody. Ele assentiu. "por que não a leva para caminhar um pouco?", sugeriu.
"Depois pode trazê-la de volta."
A ponto de gritar de raiva, mordi os lábios e saí cambaleando entre as pessoas que estavam
sentadas perto de nós, até chegar ao corredor. Com uma mistura de vergonha e irritação, saí
para o saguão.
Nanci já tinha quase dois anos de idade e era bastante pesada para carregá-la, mas caminhei
de um lado a outro com ela nos braços até que se acalmou. Então voltei para meu assento.
Minutos depois começou a choramingar de novo. O obreiro apareceu novamente. Dessa vez
não foi muito amistoso. "Senhora," disse, "muitas destas pessoas fizeram muitos sacrifícios e
vieram de muito longe para chegar a esta reunião. Terá que levar a menina para fora."
Bem, eu também tinha vindo de muito longe. Estive a ponto de discutir, mas o obreiro fez um
gesto direto com seu indicador, como dizendo: "Fora!" Não quis fazer um escândalo, então
peguei Nanci, e saí pisando em pés e me chocando com os joelhos das demais pessoas, e me
dirigi novamente para o saguão. Estava furiosa.
"Esta é uma reunião cristã", resmunguei diante de um homem que estava parado junto à
porta. "Nem sequer se pode assistir a um culto de cura com uma menina doente sem que a
expulsem. Linda reunião!"
Caminhei pelo hall com Nanci nos braços. Woody estava com os seus sapatinhos, e eu não
queria que minha menina pisasse no chão sujo. Fui para o banheiro. Continuei caminhando de
um lado para o outro do saguão. Quanto mais eu andava, mais furiosa ficava e mais Nanci
gritava e se retorcia. Não era justo. Nós tínhamos economizado dinheiro. Mas era eu que
queria ver Kathryn Kuhlman. E Woody, que nem sequer queria estar aqui, estava
confortavelmente sentado na reunião, enquanto eu estava aqui fora.
Finalmente me sentei nos degraus.
"Bem, Deus", murmurei entre dentes, "se vais curá-la, certamente será em outro dia, porque
estando aqui fora, no saguão, nem mesmo poderá nos ver." E me dei por vencida.
Pelo movimento que percebia do auditório, notei que certamente já havia começado a parte
das curas no culto. Nesse momento uma senhora de meia-idade cruzou o saguão. Estava
radiante de alegria. "O que necessita?", perguntou-me.
Fiz um gesto apontando para Nanci, que se retorcia e reclamava em meus braços. "Ela tem
leucemia", falei. "E não posso entrar na reunião porque grita e incomoda os outros."

O rosto da mulher se iluminou. "Querido Jesus, reclamamos a cura desta criatura." A seguir,
começou a agradecer a Deus. "Obrigado, Senhor, por curar esta menina. Te louvo por curá-la.
Te dou toda a glória."
Oh, Senhor, pensei, este lugar está cheio de loucos. Mas não podia negar o gozo e o amor que
brotavam dessa mulher. Ela tinha fé suficiente para acreditar que Nanci se curaria.
Lentamente, minha amargura e ressentimento começaram a dissipar-se, e enquanto ela estava
ali, com suas mãos ao alto, louvando a Deus, minha própria semente de mostarda de fé
começou a surgir outra vez.
"Sabe, há muita atividade lá dentro", disse ela. "por que não vem e fica junto dessa porta?
Dessa forma poderá ver, e se a menina começar a queixar-se outra vez, pode voltar para o
saguão."
Eu quase não podia acreditar no que via. Havia uma longa fila de gente que subia por ambos os
lados da plataforma. Todos atestavam que haviam sido curados.
Nanci, que tinha estado lutando e revirando-se em meus braços, aquietou-se. Começou a dizer
repetidamente: "Aleluia!"
Aleluia? De onde ela tinha tirado essa palavra? De nossa casa, certamente não. E eu não tinha
ouvido ninguém dizê-la na reunião. Até então, o vocabulário de Nanci tinha se limitado a
"mamãe", "papai", "queima", e "não".
"Vou voltar para meu assento", falei à mulher que estava ao meu lado. Minhas costas doíam
de carregar Nanci, e estava cansada de que toda montanha que se interpunha em meu
caminho me sacudisse a seu bel prazer. Outra vez mais passei por sobre pés e joelhos e
aterrissei junto a Woody.
Minutos depois Nanci estava adormecida em meu colo. Escutei enquanto a senhorita Kuhlman
anunciava as curas que se produziam em todas as partes do auditório.
"Um quadril. Alguém está sendo curado de uma séria afecção no quadril."
"Alguém na parte alta do auditório está sendo curado de um problema de coluna."
"Leucemia..."
Leucemia! As distrações quase me tinham feito esquecer o motivo principal por que
estávamos ali.
"Leucemia. Alguém está sendo curado de leucemia neste momento", repetia a senhorita
Kuhlman.
Então eu soube. Era Nanci. Comecei a chorar.

Não queria chorar. Tinha prometido a mim mesma que não teria reações emocionais, mesmo
que Nanci fosse curada. Mas não podia evitar. Olhei para Woody. Estava com o olhar fixo para
frente, mas por baixo das lentes de seus óculos, podia ver as lágrimas.
Repentinamente, sem aviso prévio, Nanci me deu um chute no estômago. Muito forte. Tinha a
cabeça apoiada no meu braço esquerdo e seu corpo estava colado ao meu. Estiquei a mão e
segurei seus pés para que não me pegasse de novo, mas então o senti outra vez. Desta vez
notei que seus pés não se moveram. A pancada havia partido do interior de seu corpo. Foi um
poderoso golpe de dentro dela que havia sentido contra meu estômago.
Olhei seu rosto, geralmente muito pálido. Estava vermelha, febril, coberta de suor. Algo estava
acontecendo dentro de seu corpo. Ao mesmo tempo, senti um calor e uma cócega que me
percorria por inteiro. Já não pude me conter mais. "Oh, obrigado, Jesus. Obrigado."
No caminho de volta ao aeroporto, só o que podíamos fazer era chorar. Woody me advertiu de
que não me entusiasmasse muito. "Se ela está curada, só o tempo dirá", disse sabiamente. Eu
sabia que tinha razão, mas não havia como deter minhas lágrimas de alegria.
Na terça-feira seguinte fomos ver a doutora O'Brien para que examinasse Nanci como vinha
fazendo com regularidade. Contei-lhe tudo. Ela escutou pacientemente, e notei que seus olhos
se enchiam de lágrimas.
"O que foi?", perguntei.
"Bom", disse ela com voz duvidosa, "o lugar que você me descreveu, de onde veio a pancada, é
onde se localiza o baço, um órgão vital que tem um papel muito importante em sua doença."
"Você acredita que ela foi curada?", eu quis saber.
"Oh", disse ela, segurando meu braço, "queria acreditar de todo coração."
"Por que não acredita, então?", perguntei.
"Porque nunca vi isso acontecer", respondeu. "É tão difícil acreditar em algo quando nunca o
vimos antes. Você entende, não é?"
É claro que entendia. Mas agora eu tinha olhos para ver o que não tinha visto antes. Ao ficar
de pé para sair, lhe falei: "No entanto, aconteceu. O fato de que você nunca tenha visto uma
montanha se mover, não significa que não possa ocorrer."
A doutora O'Brien apalpou as costas de Nanci. "Não há exame que possa comprová-lo agora.
Só o tempo dirá se a cura é real ou não."
O tempo provou que era real. Dia após dia, a cor de Nanci melhorou. Recuperou a vitalidade e
o apetite. Deixamos de lhe administrar as drogas. Todos os exames realizados nos últimos
quatro

anos tiveram resultados negativos. Não há rastros da enfermidade em seu corpo.


Embora a cura de Nanci tenha sido maravilhosa, a cura operada em nosso lar e em nossas
vidas foi ainda mais milagrosa. Falando de montanhas que deviam ser movidas do caminho... A
situação em nosso lar era como uma cadeia montanhosa; dura, rochosa. Mas desde que Nanci
foi curada. Woody recebeu Cristo como seu Salvador pessoal e ambos fomos batizados no
Espírito Santo. Nosso lar, que certa vez esteve a ponto de ser destruído pelo divórcio, agora
recuperou a ordem divina.
Uma montanha de milagres! E tudo começou com uma fé tão pequena como uma semente de
mostarda.

Capítulo 7
Este é um ônibus protestante?
Marguerite Bergeron
Não pude conter as lágrimas ao contemplar o precioso bordado que esta mulher do Canadá
me havia entregado. Cada ponto era um ato de amor, porque tinha sido feito por mãos que
certa vez estiveram dobradas e deformadas pela artrite. A senhora Bergeron, que vive em
Ottawa, Canadá, era uma católica romana de sessenta e oito anos de idade que nunca tinha
entrado em uma igreja protestante. Durante vinte e dois anos tinha sofrido de artrite
paralisante, tão grave que não podia manter-se em pé durante mais de dez minutos. Seu
marido, incapacitado por uma afecção cardíaca, é o orgulhoso possuidor de uma medalha que
lhe fora entregue pelo Primeiro-ministro do Canadá por ocasião de sua aposentadoria, depois
de servir durante cinqüenta e um anos no serviço postal de seu país. Marguerite e seu marido
têm cinco filhos e vinte e três netos.
Em nosso pequeno apartamento no subúrbio de Ottawa tocou o telefone. "Querida Maria,
Mãe de Deus," rezei, "que não deixe de tocar antes que eu chegue."
Fiz um esforço para sair da cadeira de balanço e me apoiei na parede para obter equilíbrio,
caminhando com dificuldade até a mesinha do telefone. Cada passo me provocava espasmos
de dor nos joelhos e nos quadris. Fazia vinte e dois anos que sofria de artrite paralisante, e
esse inverno tinha sido o pior de todos. Não tinha podido sair de casa. O intenso frio
canadense tinha endurecido minhas articulações de tal forma, que quase não podia andar. Até
o simples ato de cruzar a sala para atender ao telefone era mais do que podia agüentar.
Peguei o rosário e finalmente cheguei ao telefone. Meu filho Guy, que vivia em Brockville,
Ontario, disse: "Mamãe, conhece Roma Moss?"
Eu conhecia bem o senhor Moss. Estava muito doente de artrite, como eu. Os médicos tinham
soldado vários discos de sua coluna. Não

podia agachar-se, assim também não podia sentar-se. "Aconteceu algo ruim?", perguntei-lhe,
temendo o pior. Até falei em voz alta: "Está morto?"
É estranho, agora que penso nisso. Nunca imaginei que pudessem ser boas notícias. Eu sempre
esperava más notícias. Depois de anos ouvindo o médico dizer: "Você não vai melhorar; só
ficará pior", acreditava que todos os doentes pioravam automaticamente cada vez mais, até
morrer.
"Não, mamãe", disse entusiasmado Guy. "O senhor Moss não morreu. Foi curado! Pode
caminhar! Pode agachar-se! Já não sofre mais de artrite!"
"Como é?", perguntei secamente. Em vez de me alegrar, me sentia ameaçada. Por que ele se
curava enquanto o resto de nós tinha que continuar vivendo na dor?
"Ele foi a Pittsburgh, mamãe", a voz do Guy soou feliz no telefone. "Foi a um culto de Kathryn
Kuhlman. Enquanto estava lá, foi curado. Por que você não vai a Pittsburgh também? Quem
sabe poderá ser curada."
Eu tinha ouvido falar de Kathryn Kuhlman e até tinha visto seu programa de TV, mas sempre
tinha pensado que a cura era para outros, não para mim.
"Oh, eu estou muito doente para sair de casa", falei. "Como poderia fazer essa viagem tão
longa até Pittsburgh?"
Guy me contou sobre um ônibus especialmente fretado que fazia a viagem entre Brockville e
Pittsburgh todas as semanas. "Me deixe ligar para eles e reservar um lugar para você", rogou.
Eu não me sentia bem. Só o fato de estar de pé junto ao telefone falando com Guy me fazia
sentir fraca. Meu corpo estava deformado e inchado pela artrite fazia muito tempo.
Lembrava que, a alguns anos, tinha brincado com meus netos durante o aniversário de um
deles. Tinham amarrado um lenço ao redor dos olhos de um garotinho, que tinha que ir por
todo o lugar tocando as mãos das pessoas e adivinhando quem era cada um. Ele me identificou
imediatamente porque as articulações estavam terrivelmente inchadas e os dedos dobrados,
como garras.
E que era isso que dizia da cura? Por acaso Guy achava que sabia mais do que os médicos, que
haviam dito que eu não tinha possibilidade de cura? Sacudi a cabeça, sem esperanças.
"Não, Guy, não faça nenhuma reserva", suspirei. "Falarei com seu pai e responderei amanhã à
noite."
Desliguei e voltei com dificuldade até minha cadeira. Durante um longo momento estive ali,
sentada na penumbra do quarto, chorando, porque era velha e a dor era muito forte. Tentei
recordar dos tempos em

que meu corpo era jovem e ágil, e formoso. Lembrava quando Paul e eu nos apaixonamos.
Fomos tão corretos; ele, criado em um ambiente católico francês e eu, com minha família
católica escocesa. Em uma noite, ele tocou timidamente as costas da minha mão, e
lentamente entrelaçou seus dedos com os meus. Gostava de acariciar minhas mãos
suavemente, com doçura, de uma forma que me chegava ao coração.
Agora eu não suportava que Paul me tocasse as mãos. Doía muito. Estava velha e cheia de nós,
como um velho carvalho no topo de uma montanha rochosa. Já não lembrava de nenhum
momento em que não estivesse sofrendo de dores. Essa dor tornava quase impossível que
alguém me chegasse ao coração.
Nessa noite contei a Paul sobre a ligação de Guy. Desde que meu marido se aposentou do
serviço postal, seu coração tinha ficado rodeado de líquido. Isto lhe afetava as pernas, por isso
estava parcialmente paralisado. Mas Paul me estimulou para que fosse a Pittsburgh, e até
disse que queria ir comigo.
"Não podemos perder nenhuma oportunidade", disse.
"Mas são quase mil quilômetros", protestei. "Não sei se poderei suportar todos os buracos e
problemas do caminho."
Paul assentiu. Era tão compreensivo... Mas algo nele continuou insistindo. Finalmente
concordei em ir, e no dia seguinte liguei para o Guy.
"Seu pai irá comigo", falei. "Mas antes de que nos reserve lugar, quero ver o senhor Moss.
Quero ver com meus próprios olhos que está curado."
Guy estava feliz, e disse que arrumaria todo para que eu pudesse falar com o senhor Moss,
que vivia perto.
No dia seguinte, enquanto escutava o senhor Moss, quase não podia acreditar no que ouvia.
Era a história mais fantástica que jamais me contaram. Uma senhora chamada Maudie Phillips
lhe tinha reservado um lugar para que ele pudesse viajar de Brockville a Pittsburgh. Ali havia
assistido ao culto de Kathryn Kuhlman na Primeira Igreja Presbiteriana, e tinha sido curado.
Para prová-lo, parou no meio do quarto, inclinou-se e tocou o chão. Correu, saltou e girou as
costas em todas as direções para me mostrar que seus ossos e articulações estavam como
novos.
Para mim, o mais incrível era que tinha sido curado em uma igreja protestante. Eu tinha sido
católica durante toda minha vida. No Canadá, quando eu era menina, as relações entre
católicos e protestantes eram tão tensas que às vezes parecia que iriam entrar em guerra.
Desde que eu era pequena me tinham ensinado que entrar em uma igreja protestante podia
me fazer perder a salvação, e sempre que passava em frente a uma, prendia a respiração.

Em meus sessenta e oito anos de vida, nunca tinha entrado em um desses lugares. E agora o
senhor Moss me dizia que tinha sido curado em uma igreja presbiteriana. Só pensar nisso era
quase mais do que eu podia suportar.
"Querida Maria, isso pode ser verdade? Deus ama aos protestantes, também?" Só a idéia já
me fazia estremecer. Mas não havia como negar o que tinha acontecido ao senhor Moss.
Antes, tinha estado obviamente doente; mas agora estava perfeitamente saudável. Engoli
saliva, apertei os dentes e assenti diante de meu marido. Iríamos a Pittsburgh.
Guy fez as reservas. O ônibus partiria na quinta-feira pela manhã.
"Acha que devemos contar ao padre?", perguntou-me Paul.
"Oh, não", protestei decididamente. "Já é bastante ruim que Deus saiba que estamos indo a
uma igreja protestante, para que também o padre saiba."
Isto pesava muito em minha consciência. O que aconteceria quando nossos amigos católicos
soubessem o que tínhamos feito? Mas mesmo assim, estava convencida de que deveríamos ir.
Na quinta-feira pela manhã Paul se levantou cedo. Mas quando tentei me levantar, gritei de
dor. Geralmente a dor da artrite aparecia em um lado ou no outro. Mas nessa manhã, a dor
era intensa em todo o corpo. Cada articulação ardia. Só o que pude fazer foi me recostar
novamente na cama e chorar.
Paul saiu do banho e se aproximou da cama, sem saber o que fazer. Quando me doía o pé ou o
joelho, às vezes me fazia massagens para aliviar a dor. Mas nessa manhã, qualquer
movimento, qualquer contato, fazia que sentisse como fogo líquido correndo por meus ossos.
Nunca a dor tinha sido tão extrema. Com minhas lágrimas molhei o travesseiro, e nem sequer
podia secá-las por causa da intensidade da dor nas mãos. Minhas mãos estavam dobradas e
rígidas sobre o monte de lenços de papel que tinha segurado na noite anterior, tentando que
não se fechassem totalmente. Nenhuma oração poderia fazer que se abrissem. Nesse
momento desejei morrer.
"Não posso ir", solucei. "Deus não quer que eu vá a essa igreja. Isso é um castigo dele por ter
pensado em fazê-lo."
"Não é assim, mamãe", disse Paul, quase com firmeza. "Deus quer que se cure. Ele não lhe
faria algo assim. Tem que se levantar."
"Não posso ir. Não posso caminhar. Nem sequer posso sair da cama. Não posso fazer nada. Até
viver me dói."
"Deve se levantar, mamãe", rogou Paul. "Deus não quer que se deixe morrer aqui. Tente. Por
favor, tente."

Mover cada articulação era como romper gelo em uma corrente. Cada movimento fazia ranger
algo que estava solto. A dor era insuportável, mas movi as articulações de um lado ao outro
até que finalmente consegui tirar as pernas da cama. Com a ajuda de Paul, fiquei em pé. Em
seguida lutamos para abrir minhas mãos.
"Agora ponha o vestido, mamãe", disse Paul. "Não devemos chegar tarde para pegar o
ônibus."
Vestir foi terrivelmente difícil... e pôr a cinta, quase impossível. Comecei a chorar outra vez.
"Continue tentando, mamãe", dizia Paul. "Continue tentando. Esta pode ser sua última
oportunidade de ser curada."
"Acha que irei sem minha cinta?", chorei. "Seria indecente."
Mas Paul continuou me incentivando, e finalmente fiquei pronta para sair... sem vestir a cinta.
Chegamos ao carro e fomos para o lugar de onde sairia o ônibus.
No estacionamento, a esposa de Guy nos apresentou à senhora Maudie Phillips, representante
de Kathryn Kuhlman em Ottawa. A senhora Phillips era cálida, amistosa, extrovertida, e me
estendeu a mão. "Sinto muito", falei, retrocedendo, "mas não posso dar a mão a ninguém. Se
me tocarem, a dor me faria desmaiar."
Ela sorriu, e senti que me entendia. Isso me ajudou muito. Mas o temor de me misturar com os
protestantes estava voltando a apoderar-se de mim.
Voltei-me para o Paul. "Deveríamos ter ido primeiro à igreja. Tinha que confessar este grande
pecado ao padre. Assim não me sentiria tão mal."
Guy me escutou e disse: "Mamãe, nem que tenha que levá-la no colo, vai subir nesse ônibus."
Finalmente cedi, e a senhora Phillips, junto com o motorista do ônibus, me ajudaram a subir.
Cada passo, cada contato, me fazia chorar de dor, mas cheguei até o assento junto a Paul.
Tínhamos uma viagem de quase mil quilômetros pela frente.
Quando o ônibus partiu, a senhora Phillips começou a ir de uma ponta à outra do corredor,
falando, respondendo perguntas, ministrando às pessoas, como um pastor que cuida de suas
ovelhas. Cada vez que passava perto de mim, eu a detinha. Tinha muitas perguntas.
Muitas das pessoas que estavam no ônibus já tinham feito essa viagem antes. Logo
começaram a cantar. Eu nunca tinha ouvido cantar assim. Era como uma igreja com rodas
percorrendo o campo, mas uma igreja diferente de qualquer uma das que eu conhecia. Me
preocupei, e a próxima vez que a senhora Phillips passou por mim, segurei-a pelo braço.
"Este é um ônibus protestante?", sussurrei.

"Não", riu ela. "É um ônibus de Jesus. Costumamos levar alguns sacerdotes católicos. Às vezes
até nos dirigem no canto."
"Sacerdotes católicos em um ônibus protestante?", perguntei. "Como pode ser?"
A senhora Phillips sorriu. "Ao ônibus não importa se você for protestante ou católica. A Jesus
também não."
"Mas estamos indo a uma igreja protestante em Pittsburgh", protestei. Como rezarão? Como
eu devo rezar? Posso rezar como em minha igreja?"
A senhora Phillips era tão doce, tão paciente, tão compreensiva. Depois de chamá-la seis ou
sete vezes para lhe perguntar coisas como essas, ajoelhou-se junto a mim. "Senhora
Bergeron." disse, "você crê que há um só Deus para todos?"
Senti que meus olhos se enchiam de lágrimas. Não queria desonrar a minha fé, a minha igreja,
os meus padres. Todos eles tinham significado muito para mim. Mas, como explicar a essa
mulher que transmitia tanto amor? "Oh, sim", respondi. "Creio que há um só Deus para todos
nós. Eu rezo a Maria, mas amo a Deus. Sei que só Deus pode me curar."
"Então simplesmente confie nele", disse ela. "Deus a ama, mas Ele não pode fazer muito por
você se continuar fazendo tantas perguntas. Por que não se recosta em seu assento e deixa
que o Espírito Santo lhe ministre?"
Comecei a relaxar um pouco, embora não estivesse segura de quem era o Espírito Santo.
Depois de cruzar a fronteira e entrar nos Estados Unidos, dormi.
Não sei por quanto tempo dormi. Ainda estava meio adormecida quando, ao me mover, vi
meus pés. De alguma forma, enquanto dormia, tinha posto um pé em cima do outro. Não
podia ser! Fazia anos que não podia cruzar as pernas. Pisquei e olhei outra vez. Tinha os
tornozelos cruzados. E o mais notável... não sentia nenhuma dor.
"O que está acontecendo?", exclamei.
Paul me olhou, com uma estranha expressão no rosto. Eu estava muito entusiasmada para
notar que também lhe ocorria algo.
"O que disse?", gaguejou.
Então olhei minhas mãos. Os dedos, que tinham estado rígidos e dobrados, estavam se
endireitando. Já não sentia dor ali tampouco.
"O que está acontecendo?", repeti.
"Algo errado, mamãe?", perguntou Paul.
"Ouça", sussurrei. "Mas não diga a ninguém. Vão pensar que estou imaginando."

"Imaginando o que?", perguntou Paul.


"Olhe meus pés", sussurrei. "Viu, os tornozelos estão cruzados. E não doem. E olhe meus
dedos. Já não me doem as mãos, e os dedos se estão endireitando como os de uma menina.
Estou me curando antes de chegar a Pittsburgh! Estou me curando neste ônibus protestante!"
Paul tirou os óculos. Tinha os olhos cheios de lágrimas. No início pensei que chorava por mim,
mas depois notei que havia algo mais.
"O que está acontecendo com você?", perguntei.
"Algo me acontece", disse, atropelando-se ao falar. "Enquanto você dormia, eu estava
sonolento. Quando despertei, senti algo quente, como uma onda de calor, que percorria meu
peito e chegava até as pernas. Foi tão forte que durante um minuto não pude ver nada. Estava
cego. Então você acordou. Recuperei a vista. E creio que estou me curando."
Nesse momento o ônibus saiu da estrada para deter-se em um lugar de descanso. A senhora
Phillips voltou a nos ver. "Vamos parar para tomar um café", disse. "Me deixe ajudá-la com
seus pés."
"Não preciso de ajuda", falei, rindo alegremente e sem me preocupar que me ouvissem.
"Posso caminhar! Posso subir e descer sozinha esses degraus."
Me levantei e desci pelo corredor, com meu marido atrás de mim. Desci os degraus e saí no
estacionamento. Todos se aglomeraram ao meu redor. "Senhora Bergeron", perguntavam, "o
que lhe aconteceu?"
"Não sei o que aconteceu", falei, sentindo-me transbordar de alegria. "Mas faz vinte e dois
anos que não me sinto tão bem."
Passamos a noite de quinta-feira em um hotel em Pittsburgh. No mês anterior eu tinha ido ver
meu médico, lhe rogando que me desse algum calmante para a dor. "Olhe meus joelhos", lhe
havia dito. "Olhe meus dedos. Doem tanto que não consigo dormir de noite."
Ele tinha sido amável, mas firme. "Senhora Bergeron, não há nada que possamos fazer. Minha
própria mãe morreu dessa doença. Os médicos não podem fazer nada mais do que lhe dar
comprimidos que aliviem a dor." E me tinha dado comprimidos. Comprimidos para tomar de
manhã, comprimidos para tomar depois das refeições, comprimidos para tomar de noite. E
cada vez que engolia um comprimido, engolia onze centavos.
Nessa noite, em Pittsburgh, deixei os comprimidos em minha bolsa. Não tomei nem um, e no
mesmo instante em que apoiei minha cabeça sobre o travesseiro, dormi. Nunca tinha dormido
tão bem. Durante mais de vinte anos só tinha conseguido dormir de costas ou de bruços, mas
essa noite dormi de lado, dobrada como um bebê.
Às quatro da manhã estava completamente acordada. O quarto do hotel estava ainda às
escuras quando saí da cama, me sentindo mais

jovem e saudável do que tinha estado em muitos anos. Não via a hora de ir ao culto de
milagres... embora fosse em uma igreja protestante.
Na noite anterior, a senhora Phillips me havia dito que sentia que eu tinha sido curada no
ônibus quando falei: "Amo a Deus e sei que só ele pode me curar." Ela me citou um versículo
da Bíblia: "E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho"
(Apocalipse 12:11). Mas não importava quando tinha ocorrido. Só o que sabia era que, como o
senhor Moss, eu não era mais a pessoa que tinha sido até então. E nem Paul. Suas dores de
coração tinham desaparecido e se sentia como novo. Estávamos muito bem.
Haviam nos dito que esperava-se por horas fora da igreja até que se abrissem as portas. Eu
tinha temido que minhas pernas não resistiriam se tivesse que ficar de pé tanto tempo, por
isso havia trazido um banquinho para me sentar. Mas afinal não precisei dele. Estive de pé
durante três horas e meia às portas da Primeira Igreja Presbiteriana de Pittsburgh, desejando
encontrar alguém a quem pudesse dar o banquinho. Fazia anos que não podia ficar de pé mais
do que dez minutos; agora estava parada durante horas, desfrutando de cada momento, com
o banquinho na mão.
Finalmente as portas se abriram e as pessoas se aglomeraram na entrada. A senhorita
Kuhlman subiu à plataforma e o culto começou a desenvolver-se em meio de uma música
gloriosa. Poucos minutos depois ela parou os cantos e disse: "Entendo que há aqui uma
senhora que vem de Ottawa e que foi curada no ônibus".
Estava falando de mim. Paul e eu aceitamos seu convite de subir à plataforma. Eu esqueci que
estava em uma igreja protestante. Esqueci que estava em frente a duas mil e quinhentas
pessoas. Senti esse amor especial de Kathryn Kuhlman por todas as pessoas, pessoas como eu,
e antes que me desse conta, respondi-lhe, saltando, batendo palmas e me dobrando para
tocar o chão... diante de todas essas pessoas.
Como eu fui a primeira a subir à plataforma, não sabia o que acontecia algumas vezes quando
Kathryn Kuhlman orava por alguém. Ela esticou sua mão e me tocou no ombro, e
repentinamente senti que caía. "Oh, não", pensei. "O que faz uma mulher grande como eu
aqui, caindo ao chão diante de toda essa gente?"
Mas não pude evitar. Era como se os céus tivessem se aberto e o próprio Deus me tivesse
tocado. Alegrei-me de que houvesse um homem forte que me sustentou antes que me
desabasse sobre o chão... se ele não tivesse estado aí, creio que teria atravessado a plataforma
até acabar no subsolo. Em seguida me colocou suavemente sobre o chão.
Pus-me de pé, surpreendida de não sentir nenhuma dor. "Obrigada", falei à senhorita
Kuhlman, entre lágrimas. "Obrigada, muito obrigada."

"Não me agradeça por isso", riu ela. "Eu não tive nada a ver com sua cura. Nem sequer a
conheço. Você foi curada antes mesmo de vir aqui. Eu não tenho poder. Só Deus o tem.
Agradeça a Ele."
Voltei para meu assento e comecei a agradecer a Deus. As pessoas cantavam, como no ônibus.
Mas desta vez não me importava que fossem protestantes. Eu também queria cantar. Como
não conhecia a letra das canções, pus-me a escutar a mulher que cantava junto a mim e a
repetir o que ela dizia. Sei que soava horrível, porque estava atrasada um verso em relação a
todos os outros, mas não podia evitá-lo... e não me importava! Estava tão feliz... Quando os
que me rodeavam levantavam as mãos para louvar a Deus, eu também o fazia. Pela primeira
vez em vinte e dois anos podia levantar os braços, e o fazia em adoração. Assim continuei
cantando, (um verso depois que todos os outros), levantando as mãos, chorando e louvando a
Deus por minha cura.
Eram duas da manhã quando chegamos de volta a Brockville. Guy estava à porta de sua casa
quando viramos para entrar em nossa rua.
"Mamãe, está bem?", perguntou, quando saí do automóvel que havia nos trazido do lugar
onde o ônibus nos deixara.
Todos seus amigos, que estavam esperando em sua casa, se juntaram ao seu redor. "Não lhe
pergunte, apenas olhe para ela!", gritaram. "Olha para ela! Está curada! Deus a curou!" A essa
hora da noite me pus a dançar no meio da sala.
"Oh, mamãe!", disse Guy, me tomando em seus braços. Estava chorando. Todos choravam,
menos eu, que continuava dançando de um lado ao outro.
Assim que cheguei em casa, acredito que por volta das três da madrugada, liguei para minha
filha Jeanne. "Estou curada!", gritei pelo telefone. "Fui curada!"
"Mamãe?", respondeu Jeanne, com voz sonolenta. "O que está dizendo?"
"Já não sofro mais de artrite", lhe falei, rindo. "Ligue para todos e lhes conte. Já não estou mais
doente."
Quando finalmente me deitei, eram cinco da manhã. Tinha estado em pé durante vinte e
quatro horas, mas me sentia cheia de vitalidade e força. E Paul também. No dia seguinte meu
marido foi ao campo de golfe com Guy e o acompanhou num percurso de cinco buracos. Oh,
Deus! O Senhor foi tão bom conosco.
No domingo de tarde, Pierre, outro de nossos filhos, veio com sua esposa e seus três filhos à
casa de Guy, para ver se eu tinha sido realmente curada. O rosto de Pierre refletia um enorme
sorriso enquanto caminhava ao meu ao redor, me observando de todos os ângulos. "Mamãe,
está curada. Agora chegará a ser anciã, a menos que um caminhão passe por

cima de você. E mesmo que isso acontecesse, acho que temeria mais pelo caminhão que pela
senhora."
Uma de minhas netas, a pequena Michelle, apareceu: "Mamãe, quando esteve em Pittsburgh,
eu fui à escola católica, levantei as mãos e falei: 'Jesus, cure a minha avozinha'. E Ele o fez."
Então apareceu meu netinho de sete anos. "Agora, vovó, já não precisará caminhar como um
pingüim."
Deus estava fazendo algo mais. Não só havia curado meu corpo, mas, além disso, também
estava agindo em minhas atitudes. Como muitas outras pessoas que vivem constantemente
sob uma intensa dor, eu havia me tornado resmungona e difícil de suportar. Não sabia disso
até que ouvi minha nora falando com Jeanne pelo telefone. "Houve outro milagre", dizia. "Não
só foi curada da artrite. Já não encrenca mais. Algo maravilhoso aconteceu em seu interior."
No domingo seguinte fiz que toda minha família fosse comigo, caminhando, até a Igreja do
Sagrado Coração. Quando cheguei lá, falei ao sacerdote: "Padre, Deus me curou de minha
artrite."
Eu queria que ele compreendesse o que realmente tinha acontecido, assim, no domingo
seguinte, levei a todos os sacerdotes um exemplar dos livros de Kathryn Kuhlman.
Duas semanas depois fui ver meu médico. Quando entrei caminhando no consultório, a
enfermeira me disse: "Senhora Bergeron, o que aconteceu? Parece estar muito bem."
Minutos depois o médico entrou na sala de espera. "Ei doutor," lhe falei, "não tenho mais
artrite. Olhe minhas mãos. Olhe os joelhos. Olhe! Estou caminhando."
O médico parou no meio da sala, me olhando caminhar por todo lado. Logo tomou minhas
mãos e examinou os pulsos e os dedos.
"Sei o que está pensando", lhe falei. "Está pensando: "Bom, a senhora Bergeron já não sofre de
artrite... agora está louca."
Riu e me fez gestos de que entrasse outra vez no consultório. "Não, não creio que esteja
louca", disse com voz séria. "Seu estado era irreversível, incurável. Agora você está curada.
Não entendo."
Peguei minha bolsa e lhe passei um dos livros de Kathryn Kuhlman. "Leia isto, doutor. Terá que
enviar todos seus pacientes a Pittsburgh... e depois terá que procurar outro emprego."
Riu outra vez, pegou o livro e me abraçou. "Isso me converteria no homem mais feliz do
mundo... ver todos meus pacientes tão bem como você."
No mês seguinte, Paul e eu subimos novamente ao ônibus que ia a Pittsburgh. Desta vez,
dezessete membros de nossa família nos acompanhavam, e também alguns amigos. Um jovem
sacerdote católico ia

conosco. Durante todo o caminho a Pittsburgh, fomos cantando e louvando a Deus.


Uma mulher me perguntou: "Você trabalha para Kathryn Kuhlman?"
"Não", respondi. "Trabalho para Deus."
Antes, sempre que tinha que pedir algo a Deus, eu tinha medo. Por isso, em vez de ir a Jesus, ia
a Maria, para lhe pedir que intercedesse por mim. Agora compreendo que Deus me ama tanto
que não tenho por que temê-lo. Quando oro, digo: "Deus, sou eu, a senhora Bergeron." E Ele
para tudo o que está fazendo e me escuta. Assim é Deus.

Capítulo 8
A cura é só o começo
Dorothy Day Otis
Entre as pessoas que vêm como convidadas ao meu programa semanal de televisão, Creio em
milagres, encontram-se médicos e barmans, famosos educadores e crianças, modelos e donas
de casa. Todos foram tocados por Jesus de uma forma especial e atestam a mudança
produzida em suas vidas. Entretanto, poucos convidados me emocionam tanto como os
representantes do mundo do espetáculo, tanto televisivo como teatral, que deixam de lado
toda sua capacidade de atuação e, com sinceras lágrimas de agradecimento, contam ao
mundo o que Jesus fez por eles. Este foi o caso de Dorothy e Dom Otis, que apareceram no
programa que eu gravava nos estúdios da CBS em Los Angeles. Dorothy Day Otis dirige uma
das agências de artistas mais bem-sucedidas. Representa artistas muito importantes da TV, do
cinema e do teatro. Dom tem uma florescente agencia de publicidade. Ambos são bem
conhecidos e muito respeitados por todos os artistas de Hollywood. "Faz anos que Dom e eu
estamos na TV", disse Dorothy, "mas a única aparição verdadeiramente importante foi a que
fizemos no programa de Kathryn Kuhlman." Disse isso porque essa aparição foi
completamente dedicada a Jesus.
Eu pensava que era normal sentir-se mal. Nunca me senti realmente bem, e fazia anos que
sabia que minha saúde estava se deteriorando. Ficava cansada facilmente e tinha constantes
dores nas costas, que tentava ignorar. Mas não podia ignorar o meu estômago, que reagia
violentamente a quase tudo que eu comia. Vivia me alimentando com grandes quantidades de
queijo cottage, pudins e geléias, e só de olhar para comida comum me causava repulsa.
Quando a dor se tornou insuportável, fui ver os médicos. Vários clínicos me observaram e
deram o mesmo diagnóstico: "um grave

problema estomacal", doença que parece ser companheira constante de muitos dos que se
deixam apanhar pelo redemoinho de Hollywood. Os médicos prescreveram comprimidos, que
comecei a tomar tal como me tinham indicado, mas não melhorei.
Durante anos arrastei dores nas costas, uma nuca rígida, uma total falta de energia e apetite.
Passava a maioria dos finais de semana na cama. Algumas vezes me perguntava em voz alta se
meus problemas estomacais estariam relacionados com minhas dores nas costas, minha forma
estranha de caminhar e o fato de que meus sapatos se gastavam de forma desigual. Mas os
médicos simplesmente me olhavam, sacudiam a cabeça... e me mandavam à farmácia a
comprar mais comprimidos.
Eu tinha me formado no curso de teatro na universidade, e depois disso iniciei minha carreira
na moda e na televisão. Vivi durante dois anos em São Francisco, conduzindo meu próprio
programa de entrevistas e de cozinha na TV e atuando como apresentadora de filmes aos
sábados de tarde. Depois mudei para Los Angeles, onde continuei minha carreira como
modelo e atuando na TV.
Todas as manhãs levantava às 05:30 para chegar a tempo para passar pela maquiadora e a
cabeleireira. O dia todo estava sob as luzes, frente a uma câmara ou trabalhando com pessoas.
À noite, muito tarde, literalmente desabava sobre a cama. Com minha exigente agenda, não
achava que fosse estranho que sofresse dores constantes e me sentisse completamente
exausta todo o tempo. Além disso, aparentemente todos os outros que me rodeavam se
sentiam igual.
Seis meses depois de chegar a Los Angeles, conheci Don Otis. Sua história era similar à minha:
atuava em TV e rádio, era disc jóquei, diretor de programas, e agora era dono de uma agência
de publicidade.
Eu tinha ido ao escritório de Don para uma entrevista para um comercial de TV. Quando saí,
ele disse a um colaborador: "Essa é a garota com quem vou me casar.
"Sério?", perguntou seu amigo. "Qual é o nome dela?"
Don não sabia, e teve que ir a outro escritório para perguntar a uma secretária. Ao voltar,
sorriu. "Seu nome é Dorothy Day, e continuo pensando em me casar com ela."
Um ano mais tarde eu continuava doente, como de costume... mas já estávamos casados. Don
teve que fazer todos os acertos, inclusive conseguir autorização para utilizar o belo Mission Inn
de Riverside para nossa cerimônia de casamento.
Nessa época eu era presbiteriana, e ia à igreja só ocasionalmente. Don era metodista, mas
nunca ia à igreja. "Cristãos nominais" é a expressão que eu usava para nos descrever. Don, que
é mais franco, diz que fomos "cristãos péssimos".

Apesar de minha saúde ruim e nossa total falta de espiritualidade, ambos tínhamos muito
sucesso nas carreiras que tínhamos escolhido. A agência de Don crescia a passos largos, e eu
aparecia com muita freqüência na TV. Então, logo quando achava que estava aprendendo a
conviver com meus problemas físicos, a saúde de Don começou a decair.
Meu marido fumava muito desde que tinha quinze anos. Repentinamente, depois de todos
esses anos, começou a ter problemas respiratórios. Só conseguia respirar de forma
entrecortada, e pouco a pouco teve que reduzir toda sua atividade física. Sequer podia subir a
colina que estava atrás de nossa casa.
Um exame físico nos permitiu descobrir uma doença temível: enfisema pulmonar. Não havia
cura. Don estava tão desanimado que nem sequer pensou em deixar de fumar. Já que não
tinha solução, deixar de fumar não faria diferença.
Em 1966, Harold Chiles, um importante representante de Hollywood, ofereceu-me trabalho
como agente de crianças para interpretações e comerciais de TV. Ele e Don acreditavam que os
anos que eu tinha passado na TV me capacitavam para a tarefa. Significava entrar em um
campo completamente novo em minha profissão, e a idéia me fascinou. Quando Chiles
morreu, comprei sua agência dos sucessores, e repentinamente me vi dentro do negócio,
comandando uma das agências mais bem-sucedidas de Hollywood.
Então minha própria saúde começou a piorar. Eu media 1,75m, por isso meu peso normal era
cerca de 65 kg. Mas comecei a perder peso. Comecei a evitar todas as comidas, até o queijo
cottage, e rapidamente baixei a 55 kg. Parecia um esqueleto, e tornei a visitar os consultórios
dos médicos. Nenhum podia me ajudar. Eu me obrigava a ir trabalhar, embora me sentisse
muito mal. Só meu amor pelo trabalho me mantinha em pé.
Uma amiga próxima andava assistindo aos cultos de Kathryn Kuhlman. Ela nos animou a ir,
certa de que, se fossemos, seríamos curados. A idéia de Deus não me interessava muito, mas
mesmo assim comprei os livros de Kathryn Kuhlman e os li. Don também os leu. Eram muito
interessantes, e até me fizeram chorar. Mas quando se aproximavam os finais de semana, era
mais fácil cair na cama o que assistir às reuniões.
"Um dia desses iremos ao Shrine", eu repetia à minha entusiasmada amiga. Mas se passaram
três anos antes de cumprirmos essa promessa.
Don e eu assistimos ao primeiro culto de milagres em janeiro de 1971. Mesmo agora ainda é
difícil descrever o que eu sentia enquanto esperava que as portas do auditório se abrissem.
Milhares de pessoas rodeavam as portas, mas eu não as sentia como estranhas, mas sim como
amigos que não tinha conhecido antes. Era como uma grande reunião

familiar. Havia tal amor mútuo, tal compaixão pelos doentes... Todos falavam e
compartilhavam com alegria enquanto esperavam. Antes de que se abrissem as portas, Don e
eu já sabíamos que Deus estava lá.
Voltamos no mês seguinte. Ali, sentada no auditório, chorei ao ver as curas, orando pelos
doentes que me rodeavam. Pela primeira vez em minha vida senti a presença de um Deus de
amor que se preocupava tanto que queria tocar essas pessoas imersas em uma terrível
situação e as curar por completo.
Mas eu não era curada. Minhas dores nas costas ficaram piores. E ainda pior; a nuca estava tão
rígida que não podia virar a cabeça sem virar o tronco junto. Olhava e caminhava como as
múmias dos filmes de terror.
Em março de 1971 fui consultar um médico traumatologista, o doutor Larry Hirsch. Ele me fez
um exame preliminar e me encaminhou a fazer radiografias da coluna.
Quando voltei a vê-lo, vários dias depois, mostrou-me a radiografia.
"Olhe isto", disse-me. Até para meu olho inexperiente, era óbvio que minha coluna não era
normal. O doutor Hirsch descobriu que os grandes depósitos de cálcio em cada vértebra eram
indicadores de uma artrite em desenvolvimento. Como se isto fosse pouco, meu quadril estava
torcido, pelo qual a perna direita ficava dois centímetros e meio mais acima que a esquerda.
Isso explicava alguns dos meus problemas: porque meus sapatos se gastavam de maneira
desigual, porque tinha a nuca rígida, e por que sempre doía a parte inferior das costas. O
doutor Hirsch também me disse que meus problemas estomacais possivelmente se deviam à
pressão sobre os nervos.
Lembrei que quando estudava na Universidade de Iowa, certa vez tinha levado um tombo,
caindo pesadamente sobre o gelo. A enfermeira da universidade me tinha enfaixado as costas,
mas a dor tinha permanecido durante muito tempo depois disso. O doutor Hirsch disse que
provavelmente esse acontecimento tivesse dado origem aos meus problemas atuais.
"Deveria estar de cama", disse-me. "A maioria das pessoas que estão em sua situação nem
sequer podem caminhar."
Mediu minhas pernas e inseriu uma palmilha em meu sapato direito. "Se não houver alguma
melhora notável até a próxima semana", disse, "será melhor que consulte um especialista."
Isso foi em uma sexta-feira. Deixei o consultório muito desanimada, com o compromisso de
voltar na segunda-feira para que me fizesse outro exame.

No domingo, Don e eu fomos a Los Angeles para assistir ao culto no auditório Shrine. Depois
de ficar de pé em frente à porta durante mais de duas horas, tentamos nos mover
rapidamente para conseguir assentos. Entre a respiração ofegante de Don e meu andar lento,
só conseguimos dois assentos na parte de cima, a cinco filas da parede. "A vantagem de estar
aqui em cima" disse Don, com respiração arfante, "é que estamos mais perto do céu."
Desde o começo do culto comecei a contar a Deus todas as coisas que estavam erradas
comigo, como se Ele não soubesse. Em alguns momentos, enquanto Kathryn Kuhlman pregava,
eu voltava a orar. Então escutei que ela dizia: "Alguém na parte superior do auditório foi
curado de um mal-estar estomacal. Você não come a muito tempo."
Senti que minha respiração se tornava agitada, como se me faltasse o ar. "Além disso, alguém
está sendo curado de uma afecção na coluna", adicionou a senhorita Kuhlman.
Minha respiração se acelerou a tal ponto que já não podia controlá-la. Estava sem fôlego, e ao
mesmo tempo comecei a chorar com todas minhas forças. Sabia que estava atraindo a atenção
de todos, mas não podia evitar. Em meio a tudo isso, um grande calor se apoderou de mim,
como uma manta em um dia frio.
Meus soluços violentos sobressaltaram Don. Tentou me ajudar, mas eu não podia falar. Não
podia lhe contar o que acontecia. Ele me passou um lenço, e quando me virei para pegá-lo,
quase gritou: "Você virou a cabeça! Olha pra mim, Dorothy! Você virou a cabeça!"
Era mesmo. Sem que eu tivesse percebido, a nuca destravou e se movia livremente. Com a
respiração ainda entrecortada e soluçando, comecei a virar a cabeça de um lado para o outro,
da frente para trás. Não havia dor. Saí cambaleando e me aproximei de uma obreira.
"Fui curada", falei soluçando.
A mulher me olhou com grande calma. "Como sabe?"
Eu estava quase histérica, sacudindo a cabeça e tentando desesperadamente conseguir ar.
"Posso virar o pescoço", falei com dificuldade. "E meu estômago também foi curado."
"Seu estômago?", perguntou. "Como pode saber que se curou do estomago?"
Não sabia. Nem sequer tinha pensado nisso. As palavras saíram aos borbotões. "Eu sei", insisti.
"Se posso mover a cabeça, sei que Deus me curou do estômago também."
A mulher sorriu, convencida. Pegou-me pelo braço e me ajudou a descer. Havia uma longa fila
na plataforma, esperando para testemunhar sobre suas curas. Fiquei na fila, ainda soluçando.

"Onde está Don?", me perguntei, repentinamente. Olhei para o mar de rostos, tentando achá-
lo. Então o vi, descendo junto com um obreiro. Ele também chorava. Ao me ver, começou a rir.
Nos abraçamos.
"Eu também fui curado, Dorothy", disse-me. "Quando você desceu, uma sensação de calor me
envolveu. Caí no choro. Então notei que podia respirar normalmente. Veja!", continuou. "Pela
primeira vez em oito anos não tenho que me esforçar para respirar." Ria e chorava ao mesmo
tempo... mas respirava bem.
Então Kathryn Kuhlman nos chamou para que subíssemos à plataforma. Algo tinha acontecido
no íntimo de meu marido. Não só em seus pulmões, mas também em sua alma. Notei ao vê-lo
em frente ao microfone, respirando profundamente, com a alegria lhe inundando a face. A
senhorita Kuhlman queria lhe fazer perguntas, mas só o que ele dizia era: "Olhem! Posso
respirar".
Compreendendo que não poderia obter muita informação de nenhum de nós, em nosso
estado de agitação, ela pôs as mãos sobre nossos ombros e começou a orar. Senti que Don
pegava em minha mão, e a seguir, só soube que estávamos ambos no chão. Eu não escutava
nada. Não sentia nada definido, só uma maravilhosa calidez e uma paz que nos envolvia.
Lembro vagamente da voz de Kathryn Kuhlman dizendo: "Isto é só o começo. A partir de
agora, suas vidas serão totalmente transformadas".
Oh, como tinha razão!
Compreendo agora, olhando para trás, que a mão de Deus fez muito mais do que curar meu
corpo. Mas como a cura física tinha sido tão sensacional, levou algum tempo até que pude
compreender a mudança, mais profunda, que se tinha produzido em meu interior,
simultaneamente.
Quando chegamos em casa, essa noite, toda a dor de minhas costas tinha desaparecido. A
primeira coisa que fiz foi tirar a palmilha do sapato. Don estava tão feliz com seus "novos"
pulmões, que saiu correndo para subir a colina de trás de nossa casa. Depois saímos para
jantar fora. Comemos bifes. Eram os primeiros que eu comia depois de muito tempo.
Na manhã seguinte fui à consulta com o doutor Hirsch. Assim que me viu, perguntou: "O que
aconteceu?"
Eu não conhecia muito bem o médico e fiquei em dúvida se devia lhe contar tudo.
"Quero que você me diga", respondi.
Foi fácil para ele perceber que os músculos de meu estômago estavam relaxados, mas quando
examinou minha coluna, realmente soube que tinha acontecido algo.
"Esta não é a mesma coluna que eu examinei na sexta-feira", disse.

"Você tem um minuto, doutor?", perguntei, mais animada para lhe contar todo. Ele assentiu, e
me lancei a relatar em detalhes o que tinha acontecido na reunião de Kathryn Kuhlman, no dia
anterior.
"Se houve alguma mudança, Dorothy," disse ele, "as radiografias mostrarão."
Tirou uma série de chapas e me disse que voltasse em dois dias. Nessa noite, entretanto,
lembrei que não lhe havia contado que tinha tirado a palmilha de meu sapato, e liguei para a
sua casa para dizer-lhe.
"Oh, não", protestou o doutor. "Volte a pô-la. Se não o fizer, perderá todo o benefício que
ganhou. Embora Deus haja curado seu estômago, sua perna direita sempre será mais curta que
a esquerda." Mas, quando coloquei a palmilha, me senti desequilibrada. Sabia que agora,
ambas as pernas tinham o mesmo comprimento.
Dois dias depois voltei ao consultório. Don foi comigo. A primeira coisa que o doutor Hirsch
fez, foi medir minhas pernas. Em seguida, tornou a medi-las. Tinha um olhar estranho quando
finalmente disse: "Têm o mesmo comprimento".
Comecei a chorar. "Eu sabia", falei. "Só queria que você também soubesse."
O doutor Hirsch não tinha tido tempo de examinar as chapas, então as examinamos os três
juntos. O médico ficou mudo. Minha coluna estava perfeitamente direita. A curvatura em "L"
de minha última vértebra tinha desaparecido. Todos os depósitos de cálcio tinham
desaparecido. Minha nuca estava perfeitamente alinhada com a coluna e o crânio. O mais
surpreendente era que a bacia tinha girado notavelmente e estava na posição correta.
O medico exclamou: "Eu diria que você teve um transplante completo de coluna, se isso fosse
possível".
Então me deu os dois conjuntos de radiografias, tirados com uma semana de diferença. Eu os
guardo em meu escritório e os mostro a toda pessoa que me visita. São mais preciosos para
mim do que um Picasso.
Don estava menos preocupado do que eu em obter uma prova de sua cura. O simples fato de
que podia respirar era evidência suficiente para ele. Na verdade, foi imediatamente se
matricular na academia de Beverly Hills, e começou a fazer quatro horas por dia. Também
deixou de fumar, como agradecimento ao Senhor. Também tinha mudado por dentro.
Nove meses mais tarde voltou ao seu médico. Depois de um exame clínico completo, o doutor
começou a lhe dizer ele estava em ótimo estado. Don pensou que ele estava tentando fugir do
assunto, então lhe perguntou diretamente: "Bem, doutor, e como está meu enfisema?"

O médico pigarreou: "Bem. Don, você sabe que enfisema é incurável. Uma melhora de um por
cento seria algo verdadeiramente chamativo."
"E eu tenho uma melhora de um por cento, ou não?"
"Não tem nenhum problema nos pulmões", disse o médico. "É só o que posso lhe dizer."
O maior milagre, entretanto, foi muito além do que a cura da coluna ou os pulmões. Kathryn
Kuhlman tinha razão. Quando o Espírito Santo entrou em nossas vidas, tudo mudou. Don e eu
agora freqüentamos uma igreja dinâmica, onde se ensina a Bíblia, em Burbank. Don se tornou
membro da Associação Cristã de Homens de Negócios, e ambos demos muitas vezes nossos
testemunhos para grandes audiências. Sabemos que Jesus está vivo, não só porque curou
nossos corpos, mas também porque mudou nossa forma de ver a vida. Embora estejamos mais
ocupados do que nunca em nossos respectivos trabalhos, ambos sentimos que somos
missionários que testemunham do Senhor Jesus Cristo e da gloriosa experiência de nascer de
novo... e ser cheios do Espírito Santo.
Meus colaboradores e meus clientes dizem que meu local de trabalho é "o escritório feliz". Sei
que isso não se deve ao brilhante papel amarelo que cobre as paredes, mas sim a que o
Espírito Santo enche esse escritório com sua alegria e me dirige no trabalho. Eu oro por meus
clientes e vejo acontecerem coisas, em suas profissões e em suas vidas, coisas que só Deus
pode fazer. É maravilhoso.
Mas o mais maravilhoso é isto: sabemos que isto é só o começo do que Deus tem reservado
para nós:
"Coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem,
são as que Deus preparou para os que o amam. Porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito."
(1 Coríntios 2:9-10).

A quem possa interessar:


Em 3 de março de 1971 a senhora Dorothy Otis se apresentou neste consultório com queixa de
dores em múltiplas zonas da coluna vertebral, pelo qual tirou uma extensa série de
radiografias (desde a primeira até a última vértebra de sua coluna). Estas radiografias
mostraram uma dupla escoliose com um encurtamento da perna direita de aproximadamente
2,54 cm, e uma compressão de nervos ao longo dos intestinos.
A senhora Otis começou um tratamento ao qual respondia com lentos progressos. Cinco dias
depois assistiu ao culto de milagres de Katrhyn Kuhlman. No dia seguinte, ao submeter-se a
um novo exame, era como se lhe tivessem implantado uma nova coluna e uma nova bacia, em
substituição das anteriores, e a perna direita tinha o comprimento normal. Também o trato
intestinal estava completamente relaxado e havia tornado a funcionar normalmente.
Tiramos novas chapas radiográficas da coluna da senhora Otis nessa mesma semana e desta
forma confirmamos que a curvatura tinha sido eliminada totalmente. A coluna está direita e
não há zonas de pressão.
Em meus vinte anos de prática profissional, nunca encontrei este tipo de resultados que não
fosse resultado de um extenso tratamento. Houve uma milagrosa mudança de estruturas.
Respeitosamente, Dr. Larry Hirsch Médico traumatologista
14 de abril de 1972

Capítulo 9
Um vazio com forma de Deus
Elaine Saint-Germaine
Eliza Elaine Saint-Germaine, cujo nome artístico em Holywood era Elaine Edwards, foi uma vez
proclamada uma das mais brilhantes jovens estrelas da indústria da TV e do cinema. Mas
Elaine, como muitos apanhados no enlouquecedor redemoinho da fama e a fortuna, sem
perceber, começou a procurar a felicidade em Satanás, em vez de procurá-la em Cristo.
Santo Agostinho disse certa vez que dentro de cada pessoa há um vazio com forma de Deus.
Um jovem drogado o descreveu como um "oco de solidão" no mais profundo da alma de cada
criatura. Podemos tentar preenchê-lo com todos os tipos de amores pervertidos, mas esse
oco, esse vazio, foi feito para o amor de Cristo. Nenhuma outra coisa pode verdadeiramente
preenchê-lo.
Quando olho para trás e vejo minha infância, acho que meus pais tentavam agradar a Deus.
Sempre iam à igreja. Meus primeiros passos aconteceram entre os bancos de uma Igreja
Batista do Sul, em Dearbon, Michigan. Mas tudo isso era somente uma "religião dos
domingos". Meus pais não tinham nenhuma fonte de poder pessoal que os ajudasse a
transportar os princípios que aprendiam na igreja para suas vidas ou seu lar. Papai tinha
problemas com bebida, e mamãe sempre pensava negativamente. Cresci pensando que Deus
era igual a infelicidade.
Em minha casa, demonstrações de amor não eram costumeiras, e meu coração clamava por
ser cheio de amor. Visto que em minha casa, isso me era negado, busquei-o em outras partes,
e aos quinze anos me casei com um marinheiro e fui com ele para a Califórnia. Depois que meu
jovem marido partiu em uma viagem pelo oceano, descobri que estava grávida. Eu não queria
sofrer o processo de me adaptar em um novo lugar e de criar um filho ao mesmo tempo, então
fui a Michigan e fiz um aborto.
Ao voltar para São Francisco conheci outro homem, um atraente capitão de corveta das Forças
Armadas, que estava a serviço de um submarino fora de função. Ainda procurando
desesperadamente por

amor, me deixei arrastar... e me casei com ele, embora já tivesse um marido.


A Segunda Guerra Mundial estava em pleno desenvolvimento, e pouco depois meu segundo
marido foi convocado a embarcar. Em seguida meu primeiro marido retornou. Encontrei-me
com ele e lhe pedi o divórcio. Ele se sentiu profundamente magoado, mas vendo que eu estava
totalmente decidida, concedeu.
Passou-se quase um ano até que meu segundo marido voltasse de sua viagem. Me encontrei
com ele em Nova Iorque, e em nossa primeira noite juntos decidi lhe confessar toda a verdade,
esperando que pudéssemos começar todo de novo, limpamente. Em vez de ouvir minha
confissão e mostrar que me amava, rejeitou-me. Enlouquecido, pediu a anulação de nosso
casamento.
Eu continuava em minha desesperada busca por amor. O segui até Washington, e roguei que
voltasse. Ele se negou a me receber. Em Washington conheci um homem dez anos mais velho
do que eu. Houve outro tórrido romance, e seis meses depois estava casada pela terceira vez.
Aos dezessete anos já tinha vivido uma vida inteira. Tinha cometido bigamia, feito um aborto,
me divorciado duas vezes e estava casada outra vez.
Meu terceiro marido estava interessado em interpretação. Eu tinha trabalhado como modelo e
me ofereci ajudar a nos mantermos, se ele quisesse estudar. Nos mudamos para Los Angeles,
onde ele começou a ter aulas de interpretação, em Pasadena.
Ele era ator por natureza, e logo foi contratado como protagonista de uma bem-sucedida série
de TV. Nosso casamento começou a ter problemas quase imediatamente, porque ele começou
a fazer turnês por todo o país, em apresentações pessoais. Eu continuava precisando de
amor... e de aceitação. Estando ele fora a maior parte do tempo, a solidão me pesava. Dessa
vez tentei procurar satisfação em uma carreira. Me matriculei para estudar teatro em
Pasadena.
Tal como meu marido, eu era atriz por natureza. Ao terminar os estudos em Pasadena
continuei minha carreira no teatro. Fui uma estrela desde o início. Finalmente achei que tinha
encontrado o que me daria satisfação, aquilo que encheria o vazio que havia em meu interior.
Durante um tempo, tudo parecia se encaminhar. Em 1954 ganhei o papel de protagonista da
peça Bernardine, em sua estréia na costa oeste. Na noite da estréia atuei para mais de duas
mil pessoas que se amontoaram no belo teatro. Foi um enorme sucesso. Quando eu estava em
cena, as pessoas não conseguiam tirar os olhos de cima de mim. Patterson Greene, o
renomado crítico, escreveu sobre a peça, dizendo que era "incrível".

Eu representava o papel de Bernardine com perfeição. Mas Bernardine, como eu mesma, não
era mais do que uma ilusão. Não existia. De pé sobre o cenário, ouvindo a ovação da multidão
que me aplaudia e dava vivas à minha atuação, me sentia irreal, como se não estivesse ali. Mas
de qualquer maneira, eu gostava disso, e bebia os aplausos, as adulações, o reconhecimento e
a aceitação com que meus fãs me brindavam. Desfrutava e absorvia tudo. Para mim, ser
amada e admirada por fãs de todo o país era o máximo que podia desejar.
A seguir passei a outro tipo de ilusões. Assinei contrato com Edward Small para protagonizar
filmes. Ele disse que estava me preparando para ser a maior estrela de Hollywood. Fui
protagonista de alguns filmes de Allied Artists, e alguns para a TV. Atuei no Playhouse 90 e O
milionário, e fui co-protagonista de Chuck Conners, em alguns de seus primeiros espetáculos.
Eu não tinha problemas em trabalhar o dia todo no set de filmagem e depois pegar um avião
para ir trabalhar em alguma peça de noite. Estava na crista de uma incrível onda de sucesso.
Mas as ondas finalmente se desfaziam em espuma e borbulhas... e sempre voltavam para o
mar. Eu continuava vazia.
Numa manhã de outubro saí cedo de casa. Ed e eu tínhamos comprado uma bela mansão ao
pé das colinas, em La Crescenta. Enquanto dirigia meu próprio Cadillac, a caminho do estúdio
em Hollywood, comecei a me perguntar: "Para que tudo isto? por que faço isto?" Essas
perguntas existenciais provinham do profundo vazio que havia em minha vida. Tinha todo:
fama, dinheiro, um belo lar, um marido atraente e famoso... Mas me sentia muito infeliz.
Então lembrei de algumas palavras de "Tam O'Shanter", de Robert Burn:
"Mas os prazeres são como um campo de papoulas; colhida a flor, sua beleza se desvanece; ou
como a neve que cai no rio, branca por um momento, antes de fundir- se para sempre".
Eu tinha me rodeado de todos os prazeres que meus sentidos podiam apreciar. Tinha
transformado a busca da felicidade em um negócio. Nesse dia, enquanto ia para o estúdio,
decidi traçar uma linha debaixo de tudo que tinha, e fazer a soma. O resultado era zero.
Lembrei de um versículo de meus dias de escola dominical, na infância: "Tudo é vaidade, como
apanhar o vento". Desse dia em diante comecei a buscar verdades espirituais. Mas eu não
sabia que há duas fontes diferentes de energia e poder espiritual. Em minha ignorância, fui em
direção à escuridão.
Comecei a freqüentar um grupo de oração que se reunia todas as semanas em uma casa
próxima. Mas ali nunca acontecia nada. Era tão carente de poder como tinha sido a religião de
minha infância. Como eu,

todos os outros estavam procurando, mas nenhum tinha encontrado nada. Passávamos as
noites analisando intelectualmente a oração. Quando nos púnhamos a orar, não era real, e
nunca houve respostas. Tudo era vazio, sem significado algum.
Então tentei a Ciência Cristã, e daí passei a um pequeno grupo que estudava religiões
orientais. O sul de Califórnia está cheio de pessoas vazias que correm atrás de algo que lhes
ofereça esperança. Um vazio, ainda que tenha forma de Deus, atrai tudo que não esteja
amarrado... especialmente os espíritos malignos.
Ed ficava fora de casa durante dias inteiros, e eu caí em uma profunda depressão. Nem queria
sair da cama. Estava perdendo o interesse em minha carreira, e logo me encontrei balbuciando
até quando estava no set de filmagem.
"Algo está errado", falei a minha psiquiatra em certo dia de setembro de 1959. "Minha carreira
já não me faz feliz. Meu casamento não me satisfaz. Sinto-me culpada por ter todas estas
coisas que deveriam me fazer feliz e, no entanto estou tão mal."
Ela me escutou com atenção e comentou sobre um novo método de psicanálise com drogas
que o doutor Sidney Cohen estava experimentando na UCLA. Era uma nova droga, bastante
controversa, que, se tomada de forma controlada, aparentemente acelerava o processo de
análise: cinco sessões com a droga eram equivalentes a uma terapia completa, que geralmente
levava anos. Aceitei imediatamente experimentar essa nova terapia, na qual deveria tomar
uma dose por semana. O nome da droga era ácido lisérgico: LSD.
Eu tinha acabado de protagonizar, junto com Agnes Moorehead e Vincent Price, o filme O
vampiro, inspirado em um livro de Agatha Cristhie. Embora nesse momento não acreditasse
em espíritos malignos, agora compreendia que meu papel nesse filme tinha me preparado
para as "viagens" de LSD que estava por empreender.
Em 19 de setembro ingressei em uma instituição privada como paciente ambulatorial. Minha
psiquiatra, entusiasmada com o projeto, assegurou-me que a droga faria com que minha
mente se expandisse, aprofundaria meu estado de consciência e seria a resposta a todos meus
problemas. Também assegurou que viria com freqüência me ver, para tomar notas e fazer
perguntas, enquanto eu estivesse sob a influência da droga.
Naturalmente, acreditei nela. Mas foi um engano terrível e trágico. Em vez de liberdade,
encontrei uma escravidão pior do que todas as que tinha conhecido até então. Em vez de cinco
sessões com o LSD, tive 65: uma por semana durante um ano e meio. A única maneira de me
libertar do LSD era tomar outras drogas, ou beber álcool. Comecei a tomar mescalina (outro
alucinógeno), e logo comecei a desmoronar.

A seguir, nos "graduamos", passando de viagens individuais com o LSD a terapias de grupo.
Sob a supervisão dos psiquiatras da UCLA, aproximadamente doze pacientes nos reuníamos de
manhã cedo aos sábados e passávamos o dia, até tarde na noite, "viajando" com o LSD. Nós
psico-analizávamos uns aos outros, falávamos sobre nossos ódios e nos contaminávamos
mutuamente com nossos problemas. Em pouco tempo adotei todos os sintomas de outros
pacientes do grupo, para deleite dos psiquiatras, que cada vez estavam mais convencidos de
que finalmente tínhamos encontrado a realidade.
Durante uma dessas viagens com o LSD revivi um acidente automobilístico muito traumático
que tinha sofrido quando tinha três anos de idade. Todo terror que havia sentido então, voltou
para mim. Minha psiquiatra estava encantada: "Oh, por fim está chegando à última peça de
seu quebra-cabeças. Finalmente conseguirá arrumar sua vida".
Mas em vez de se arrumar, minha vida estava se amarrando em um nó de confusão que não
havia como desatar. Durante um ano e meio de puro terror, as drogas desataram todas as
forças malignas e demoníacas que já tinham entrado em minha mente. Meu cérebro não
parava de funcionar em alta velocidade, e cada dia sofria visões como efeitos da droga.
Comecei a engolir todo tipo de narcóticos que pudessem me fazer "descer" dos "picos" que o
LSD produzia. Assim, fui apanhada em um vício que duraria doze longos anos.
Mal conseguia trabalhar no set de filmagem: tinha inexplicáveis ataques de ira, resistia a
obedecer ordens e aparecia tão drogada que nem sequer podia ler meus scripts. "Elaine," me
disse Edward Small, "você poderia chegar a ser uma das maiores atrizes no cenário artístico,
mas está arruinando sua vida. Saia disso!"
Eu já não tinha controle sobre mim mesma. Força extremas, muito mais poderosas do que a
minha força de vontade, se instalaram em meu interior. Já não era dona de mim mesma.
Em 1961 quase fui protagonista, junto com Mickey Rooney, da série televisiva The Seven Little
Foys. Mas quase não conseguia me arrastar pelo set e finalmente desabei no chão. Então
soube que meus dias como atriz estavam contados.
Minha última experiência como atriz teve estranhos toques sobrenaturais. Uma diretora com
quem tinha trabalhado anteriormente, me ligou de Albuquerque, Novo México.
"Elaine, temos um problema", disse-me. "Faltam só dois dias para a estréia de Dulcie, e Jean
Cagney, que faz o papel principal, adoeceu. Pode tomar o lugar dela?"
"Sem problema", falei. "Posso fazê-lo. Irei esta noite de avião."
Depois de desligar, comecei a me perguntar por que tinha aceitado. Eu nunca tinha feito
comédias. Demorava muito a decorar as

falas, geralmente semanas. Dulcie estava em cartaz durante toda a temporada, e eu nem
mesmo tinha lido o script. Isso era ridículo.
Tinha uma sessão de LSD programada para essa tarde, a qual participei, como estava
agendado. Quando tomei a droga, tive uma visão. Vi um tremendo raio de luz, e no meio dessa
luz havia um homem que me dizia que saísse das sombras e fosse para ele. Me deu medo, mas
sempre tinha achado que a luz não podia ser algo ruim. Quando saí da sombra e entrei na luz,
senti uma grande corrente de poder e energia. Era como se pudesse fazer qualquer coisa,
quase como se fosse o próprio Deus.
Saí daquele lugar ainda sentindo essa grande energia, nova para mim. Passei pelo escritório da
diretora, em Los Angeles, peguei uma cópia do script do Dulcie, e o li de cabo a rabo durante o
vôo a Albuquerque. Sabia que o tinha dominado.
Estavam me esperando no aeroporto, e me levaram ao teatro para ensaiar. A diretora
caminhava de um lado ao outro, meditando.
"Não poderá fazê-lo, Elaine", disse-me. "É impossível. Tem que ficar em cena durante duas
horas e meia."
Mas eu tinha uma confiança sobre-humana. Começamos o ensaio.
"Não está anotando seus blocos", dizia-me a diretora. Os "blocos" incluem todos os
movimentos sobre o cenário, e geralmente, para uma obra como essa, demoraria pelo menos
três semanas para aprendê-los.
"Não preciso anotá-los", sorri misteriosamente.
Nunca havia sentido uma energia e um poder tão fortes em toda minha vida.
Essa noite fui ao hotel e estudei minhas falas durante umas duas horas. No dia seguinte, no
ensaio com figurino, tinha tudo perfeitamente aprendido.
Era a obra mais importante já encenada em Albuquerque. Os críticos ficaram loucos. "É como
uma luz quando ela está em cena", escreveu um deles. "Literalmente, domina o resto do
elenco e faz que a sigam."
A peça foi apresentada durante duas semanas e atraiu mais gente do que qualquer outra já
representada ali. Durante esse tempo, fiz coisas que jamais tinha sonhado fazer, como dar
várias aulas de representação na Universidade de Novo México. Parecia que eu estava
flutuando no poder daquela tremenda energia... sem imaginar, nem por um segundo, que
poderia provir de Satanás.
Meu marido veio para me assistir na última apresentação, e logo depois dela terminar,
desabou o inferno. Acabou comigo. Eu nunca tinha visto tanto ódio e tanta ira em um ser
humano. Embora eu já suspeitasse que ele estava com ciúme de meu sucesso, não pude
suportar a violência de seu ataque. Perdi toda minha coragem, e quando voltamos para Los

Angeles, todo o poder e a energia que havia sentido, tinham desaparecido por completo. Me
sentia como Cinderela ao chegar a meia-noite. Tornei a cair numa profunda depressão. As
trevas se instalaram novamente em mim, tão espessas que não podia rompê-las. Soube que
nunca voltaria a atuar.
Voltei para o LSD. Drogas de manhã, drogas de tarde, drogas de noite. Caia cada vez mais
baixo.
O produtor de meu marido o convenceu a ir a Nova Iorque para protagonizar uma novela. Não
somente ganhou o papel principal, mas também começou um relacionamento romântico com
a protagonista feminina. Nosso casamento, que tinha durado dezenove anos, estava
condenado a morrer. Ele pediu e obteve o divórcio e se casou com sua protagonista. Eu fiquei
na Califórnia, abandonada emocionalmente e com o espírito destroçado.
Comecei a visitar um psicólogo que estava fazendo experiências com o ocultismo. Ele
acreditava que podiam ser ativadas certas energias do "exterior" que formariam "triângulos
protetores de luz" ao meu redor. Chamava-os de "vértices de energia", que entrariam em meu
corpo e abririam minha mente para novos e mais elevados níveis de conhecimento. Tudo
estava relacionado com Shakti, a energia feminina do deus hindu Shiva.
Comecei a freqüentar duas vezes por semana às sessões, em uma tentativa desesperada para
encontrar a verdade para minha vida destroçada. No entanto, só o que fazia era me afundar
cada vez mais nas trevas. Isso me levou a cursos de astrologia, espiritismo, e de ondas alfa de
energia mental. Eu ainda não tinha pensado que a energia e o poder podiam vir de fontes que
não fossem boas.
Em nossa terapia de grupo, meu psicólogo nos fazia invocar certos "mestres ascendidos",
espíritos que viriam nos ministrar conhecimento. Ele insistia que eu invocasse um,
especialmente, chamado "o Tibetano", que poderia me dar uma grande sabedoria. Nessa
época, eu já estava tão metida no mundo do ocultismo, que parecia que nunca poderia
desenredar o matagal retorcido que era minha vida.
A antiga busca do amor reapareceu. Me relacionei com um ator e diretor divorciado, com o
qual vivi durante dois anos. Esse homem abusava de mim, e várias vezes tentou me matar. Era
um pesadelo. Em um louco intento de escapar dele, fugi no meio da noite. Duas semanas
depois, ele me achou. Se eu não tivesse concordado em voltar a viver com ele, ele teria me
matado.
Meses depois, ele adoeceu gravemente. Então pude escapar e fui viver em um velho
apartamento em Havenhurst, na saída do Sunset Boulevard. Era o mesmo apartamento em
que Carole Lombard morara antes de ser assassinada. John Barrymore tinha morado bem em
frente. Meus amigos ocultistas estavam entusiasmadíssimos com o lugar, e

diziam que podiam sentir toda classe de espíritos que habitavam ali. Insistiam para que eu
entrasse em contato com eles, mas eu tinha medo. Tornei a me refugiar em meu mundo de
drogas e solidão.
Um de meus amigos era um famoso astrólogo judeu, amigo pessoal de um colunista de uma
revista de Toronto, Canadá, que tinha preparado as sessões do Bispo Pike. Esse colunista tinha
entrevistado Kathryn Kuhlman, e meu amigo judeu me leu os relatos do seu ministério. Pela
primeira vez, senti um indicio de esperança. Seria possível que, apesar do mundo
enlouquecedor dos demônios e das trevas, houvesse uma verdadeira luz, não poluída pelos
poderes do mundo subterrâneo? Fascinada por essa esperança, comecei a assistir às reuniões
mensais de Kathryn Kuhlman no auditório Shrine de Los Angeles.
Várias vezes a ouvi falar contra as coisas das quais eu participava: astrologia, espiritismo,
ocultismo. Parecia que sabia do que estava falando. Falava com autoridade, não como os
psiquiatras, psicólogos e psicanalistas que eu tinha consultado. Em vez de fazer perguntas, ela
dava respostas. E quando orava, tinha resultados. Decidi que me esforçaria para me libertar de
todas essas ataduras.
Comecei orando por cura, pedindo a Deus que me tirasse a necessidade de drogas. E decidi
exorcizar meu apartamento, limpá-lo de todos os espíritos malignos. Não sabia nada sobre as
técnicas de exorcismo, então perguntei aos meus amigos espíritas. "Quero fazer como diz na
Bíblia", lhes falei.
Eles me deram todo tipo de sugestões, e uma delas foi queimar incenso e mirra (isso sim,
estava na Bíblia). Parecia uma boa idéia para expulsar os espíritos malignos. Decidi adicionar
"pó de sangue de dragão" à mistura, para fazê-la mais potente.
Uma noite, enchi o apartamento de incenso e caminhei por todos os cômodos, repetindo o
salmo 91, para ter boa sorte e ganhar coragem. Depois queimei incenso e mirra, coloquei-os
num prato, polvilhei o "pó de sangue de dragão" sobre ele, e pus o prato perto de minha
cama, sobre o chão.
Mal virei as costas, ouvi uma pancada e senti um cheiro diferente de fumaça. Me virei, e vi que
o prato tinha se virado sobre o chão. A parte de baixo da minha cama estava em chamas!
Corri para o banheiro, enchi um copo de água e fui para a cama. De joelhos, levantei o colchão
para jogar a água no fogo.
Repentinamente, senti uma força sobre-humana que atirava o colchão para baixo, esmagando
minha mão entre o elástico e o colchão. Nesse momento, o fogo literalmente explodiu da
cama.
Tentei libertar a mão. Estava presa. Estava como que pregada à cama que se incendiava. As
chamas se espalharam pelo quarto, subindo pela cortina e paredes. "Deus, me ajude!", gritei.
Então dei um último

puxão, consegui soltar minha mão, e saí cambaleando do quarto para o corredor.
Quando os bombeiros chegaram, o apartamento estava totalmente destruído. Depois que as
cinzas esfriaram, entrei. O dormitório era um monte de carvões, como o interior de um forno
crematório. Eu tinha perdido tudo, exceto a vida.
Em fevereiro de 1972 voltei ao auditório Shrine. Depois de ter estado tão perto da morte,
esperava ansiosamente o momento de voltar ali para estar na presença do Espírito Santo.
Nessa tarde de domingo, sentada atrás, na parte de baixo, comecei a orar pelas pessoas que
me rodeavam. Repentinamente tomei consciência das trevas em que tantas pessoas andavam.
Quantos outros, milhares, milhões, estariam tropeçando no caminho, como eu, tentando
libertar-se das garras do maligno?
Enquanto orava, senti uma Presença à minha volta e sobre mim. Soube imediatamente quem
era. Nunca o tinha conhecido, mas não precisávamos ser apresentados. Eu estivera buscando-
o por toda minha vida, e de repente, estava ali. Jesus estava ali.
Senti um grande calor em todo o corpo, e comecei a chorar. Algumas vezes eu ia acompanhada
a esses cultos, mas dessa vez tinha ido sozinha. Me alegrei de não ter que explicar a ninguém o
que me acontecia. Jesus estava ali, me envolvendo com seu amor. E nesse momento, soube
que era amada, com um amor muito maior do que o que qualquer homem poderia me dar.
Estava nos braços do Pai. Era como se em todos aqueles anos tivesse havido um buraco vazio
em meu coração, com um cartaz dizendo: "Reservado para Jesus Cristo". Agora Ele tinha
chegado, e todas as minhas necessidades de amor estavam satisfeitas.
Soube que nunca mais voltaria a precisar das drogas. Foi assim: simples, definitivo, absoluto.
Estava curada.
Depois que terminou o culto, saí rapidamente. Esperava ansiosamente o momento de ficar
sozinha. Antes, sempre tinha necessidade de ter gente ao meu redor, multidões de pessoas
que me admirassem. Agora já não queria nem necessitava de mais ninguém. Era suficiente
estar com Ele.
Jantei tranqüila em um pequeno restaurante fora do ambiente mais cheio, e voltei para meu
pequeno apartamento de um cômodo. Fui ao banheiro e esvaziei o conteúdo de todos os
frascos e das caixas de medicamentos na privada. Nunca mais voltaria a ser escrava das
drogas. Fui até o sofá-cama. Foi tão natural me ajoelhar para orar, para agradecer a Deus pelo
que tinha feito.
Nessa noite, pela primeira vez em anos, dormi pacificamente. Sem drogas, sem pesadelos, sem
insônia. Compreendi então o significado do versículo: "Em paz me deitarei e dormirei, porque
só tu, Senhor, me fazes habitar em segurança." (Salmo 4:8).

Meus problemas não se acabaram por completo com a experiência dessa noite. Houve
momentos de desalento e solidão. A maioria de meus antigos "amigos" se afastaram de mim, e
tenho que criar novas amizades com crentes. Ainda há momentos de tristeza e tentação, mas
agora sei que não estou sozinha. Jesus me ama. E estou aprendendo a deixar que Ele lute em
meu lugar.
Algumas vezes, de noite, depois de apagar a luz, sinto forças malignas à minha volta. Já não
repito rituais de exorcismo, nem mesmo falo com os espíritos. Simplesmente oro: "Jesus,
preciso de tua ajuda. Eles voltaram. Podes vir e mandá-los embora?" E Ele sempre responde
minha oração.

Capítulo 10
A cética do chapéu de pele
Jo Gummelt
A senhora Jo Gummelt, esposa de um ex-pastor batista, era reconhecida como uma das
colaboradoras mais importantes do Congresso, em Capitol Bill (Washington D.C.). Nasceu em
Mobile, Alabama, estudou na Universidade Baylor e depois se mudou para Fort Worth, Texas,
junto com seu marido Walter, que fez pós- graduação no Seminário Teológico Batista dessa
cidade. Desde 1958, os Gummelt vivem em District Heights, Maryland, onde Walter ocupou
vários cargos importantes dentro de sua denominação.
Como a maioria dos batistas, eu acreditava que a Bíblia é o registro inspirado da revelação de
Deus à humanidade, e agradecia a Deus pela maneira como tinha falado aos profetas e aos
apóstolos. Acreditava que quando Jesus tocava em alguém, essa pessoa era curada. Acreditava
que logo depois dele subir ao céu, aqueles cento e vinte crentes que estavam no cenáculo
durante a celebração do Pentecostes, e muitos outros na igreja primitiva, receberam o poder
do Espírito Santo. Acreditava que esses homens e mulheres tinham falado em línguas,
realizado milagres e tinham visto a recuperação dos doentes depois de impor as mãos sobre
eles. Mas por alguma razão, não compreendia que Deus podia derramar seu Espírito em mim,
hoje, da mesma maneira.
Não é que não quisesse receber seu Espírito, sentir seu poder ou manifestar os dons do
Espírito. Sim, desejava todo isto. Na verdade, eu estava dirigindo um estudo bíblico sobre o
Espírito Santo, para mulheres. É que pensava que Pentecostes era algo que tinha acontecido
em um tempo muito longínquo. Tive que chegar a estar perto da morte para descobrir a
verdade de que podia receber a vida de Deus hoje.
Em 1949, depois de me formar na escola secundária em Mobile, Alabama, meu pai me
presenteou com uma viagem a Washington D.C. Apesar de ter estado doente durante quase
tantos anos como os que eu tinha de vida, papai tinha economizado o suficiente para comprar
duas

passagens de ônibus e poder visitar meu irmão mais velho, que trabalhava na biblioteca da
Suprema Corte.
Meu irmão conhecia Truman Ward, um importante funcionário da Câmara de Deputados. O
senhor Ward me ofereceu um emprego, e assim me tornei a mais jovem estenografa do
Capitol Hill. Três dias depois, o senador Spessard Holland, da Florida, ofereceu-me um
emprego como sua secretária por três mil dólares por ano. Isso era mais do que meu pai
jamais havia ganhado em Mobile. Então soube que ficaria em Washington.
Logo me encontrei submersa no fascinante mundo da política, e passei a trabalhar para outro
congressista, com um salário ainda maior. Nesse momento o casamento não me atraía. Meu
constante esforço por obter eficiência e perfeição me transformara na colaboradora ideal... e
eu adorava sê-lo. Dormia três horas por noite, e uma sesta de quinze minutos depois de comer
uma salsicha de quinze centavos. Isso era só o que necessitava. Mas já estava criando padrões
de vida e de trabalho que quase me levariam à destruição antes de completar os quarenta
anos.
Durante aqueles primeiros anos em Washington, conheci um grupo de jovens da Igreja Batista
Metropolitana, que eram diferentes de tudo o que eu tinha conhecido antes. Em sua alegria e
testemunho constantes, podia ver que tinham algo que me faltava. Aqueles jovens de
Washington me motivaram a ter uma sede nova: a de ser como Jesus, e entregar toda minha
vida a Ele para servi-lo em tempo integral. O gasto de tempo "mais completo" que eu podia
conceber naquele momento era ser médica missionária. Talvez porque papai estava sempre
doente; talvez pelo que tinha lido sobre o Jesus que impunha suas mãos sobre os doentes e os
curava. Fosse pelo que fosse, eu queria ver as pessoas curadas, e ser médica missionária era a
única forma que eu conhecia de obtê-lo.
Matriculei-me na Universidade Baylor, em Waco, Texas. Meu chefe, o deputado Prince
Preston, da Georgia, ajudou-me financeiramente, e me disse que, quando ficasse com o
dinheiro curto, poderia voltar para Washington, e que meu emprego sempre estaria me
esperando. Aproveitei seu oferecimento e, alternando entre Washington e Waco, finalmente
terminei meus estudos, depois de seis anos.
Enquanto estava em Baylor, conheci Walter Gummelt, um jovem muito atraente, loiro, de
cabelo ondulado e físico atlético. Walter se formou antes de mim, e em seguida se mudou para
Fort Worth, onde se matriculou no Seminário Batista. Nos casamos logo após eu terminar
meus estudos. Meu desejo de ser médica missionária tinha sido substituído por outro: o de ser
esposa de um pastor. Depois de Walter se formar no seminário, voltamos para Washington.
Voltei a trabalhar, e Walter aceitou o convite para ser pastor da Igreja Batista Parkway, uma
congregação nova em District Heights, Maryland.

Imediatamente voltei para meu antigo estilo de vida: trabalhava até horas incríveis, comia mal,
e tudo o que empreendia, concluía com perfeita precisão. Conservei minha boa saúde durante
os primeiros anos. Mas logo, gradualmente, as pressões de ser esposa de pastor, além das
incríveis pressões de trabalhar no Congresso, começaram a se fazer sentir. Perdi peso.
Em algumas manhãs, me levantava mais exausta do que ao me deitar. Sofri vários abortos
espontâneos, e quando finalmente consegui chegar ao final de uma gravidez, trabalhei até que
o pequeno Gordon nasceu. Logo depois de um breve recesso, voltei a trabalhar. Havia me
tornado viciada em trabalho.
Quando meu chefe perdeu a reeleição, Walter sugeriu que poderia ser um sinal de Deus para
que eu deixasse de trabalhar. Mas antes de ter tempo de considerar seu conselho,
ofereceram-me um dos cargos mais importantes: um congressista do Texas me pediu que
fosse sua assistente administrativa, o cargo mais importante dentro do gabinete de um
congressista.
O emprego exigia alguém perfeccionista, e eu tinha ganhado a reputação de ser exatamente
isso: motivada, eficiente, leal. Aceitei o posto e comecei com um trabalho que me desgastava
sem misericórdia, administrando o escritório, dirigindo o pessoal, escrevendo discursos e
fazendo pesquisas sobre leis até muito depois do horário de encerramento do expediente.
Noite após noite, me arrastava para casa, muito depois de escurecer, e me sentava no banco
do piano, com papéis ao meu redor: trabalhava até a madrugada.
Continuei perdendo peso. Sofri outros três abortos espontâneos, e me surgiram três úlceras
hemorrágicas, características de quem trabalha no Congresso, conseqüências inevitáveis dos
conflitos internos do gabinete e da perseguição dos empregados homens, que invejavam
minha posição. Eu trabalhava setenta horas por semana, dormia menos de quatro horas por
noite e continuava tentando estar presente na igreja junto ao Walter.
Então começaram as dores de cabeça. As enxaquecas começavam como uma dor surda na
parte de trás e em uma lateral da cabeça. Quando começava, a dor era como um fogo que me
incendiava o cérebro. Era como ter o crânio em um torno gigante que o apertava tão forte que
parecia que ia explodir. Junto com a dor vinham as náuseas, em ondas, enquanto meu corpo
se convulsionava em agonia.
O médico disse que eu sofria de uma "clássica enxaqueca de personalidade", e me receitou
drogas. Comecei a tomar grandes doses de Darvon composto. Disseram-me que não causava
vício, mas logo me dei conta de que psicologicamente já tinha sido apanhada. À medida que as
enxaquecas se faziam mais e mais intensas e freqüentes, fui aumentando a dose. Então, como
se estivesse em uma comédia de horror, meu cabelo

começou a cair. Coloquei a culpa nos abortos espontâneos e no fato de que estava começando
a envelhecer, mas a perspectiva de me tornar calva não era nada divertida. Comprei uma
peruca.
Num dia de primavera, muito ventoso, saí cedo de meu trabalho. Nossos escritórios ficavam
no edifício Sam Rayburn, e ao sair pela porta principal, vi, estacionadas na rua circular, as
grandes limusines pretas dos membros do Gabinete. Cada uma, com seu motorista parado ao
lado da porta. Eu sabia que estava acontecendo uma audiência especial, e não pensei muito
mais no assunto, até que saí da área protegida. Então, o vento me arrancou a peruca e a fez
voar até um espaço aberto, no meio de todos esses motoristas uniformizados.
Gritei pedindo ajuda, mas ninguém se moveu. Os seguranças e os motoristas ficaram parados,
com as bocas abertas, olhando como minha peruca dava voltas pelo gramado até "aterrissar"
sobre um pé de tulipas. Então prorromperam em gargalhadas. Eu imaginei os congressistas,
correndo até as janelas e me vendo correr atrás da minha peruca. Finalmente a peguei,
coloquei-a apressadamente na cabeça, e me dirigi ao estacionamento. Para os homens fôra
muito engraçado, mas eu tinha vontade de chorar. Por que tinha que usar uma peruca? Por
que não podia ser normal? Sentada no carro, desatei a chorar.
Certa manhã, vários meses depois, levantei-me da cama, fraca e cambaleante, para preparar o
café da manhã para o Walter. Ali, inclinada sobre o fogão, comecei a chorar. Minhas lágrimas
caíam sobre o óleo quente da frigideira e provocavam pequenas nuvens de fumaça. "Já não
tenho um lar", pensei. "E Walter não tem esposa, porque eu estou casada com meu trabalho.
Mas ele nunca se queixa. Ele é como o penhasco de Gibraltar, enquanto eu estou me partindo
pela base." O simples pensamento de enfrentar outro dia no escritório me fazia tremer.
Senti o braço do Walter me rodeando a cintura por trás, seu rosto contra meu pescoço, e o
perfume de sua loção de barba. Quanto tempo fazia que eu não ficava olhando ele se barbear?
Antes, quando batalhávamos juntos, na época em que estudávamos no seminário, eu tinha
tempo para isso.
Lembrei dos primeiros anos de casamento. Nosso pequeno duplex na rua Stanley, perto do
Seminary Hill, no cruzamento com a Wichita Falls, onde Walter pregava aos finais de semana.
Não tínhamos dinheiro, mas caminhávamos pelas ruas desertas do centro de Fort Worth,
muito tarde na noite, e olhávamos as vitrines. Algumas noites, para me distrair, ia com ele à
biblioteca do seminário e ficava olhando ele pesquisar nos livros, preparando-se para um
exame. Ou simplesmente caminhávamos ao redor do saguão central, de mãos dadas, olhando
os retratos dos antigos reitores do seminário. Agora não tinha tempo para coisas assim, para
me sentar e olhar para ele. Não tinha tempo para caminhar com ele de mãos dadas. Não tinha
tempo para lhe passar colônia depois de haver se barbeado e sorrir, fazendo-lhe cócegas no
nariz. Continuei chorando.

"Não vale a pena, Jo", me disse Walter, suavemente. Ele sempre foi tão gentil, tão amável.
"Deixe o trabalho. Não precisamos de dinheiro extra. Deixe-o antes que a mate."
Ele tinha razão, mas já era muito tarde. Fui ao médico. Me olhou e sacudiu a cabeça. Ulceras
hemorrágicas e enxaquecas! Anotou em minha ficha: incapacidade total permanente.
"Descanse muito", advertiu-me, "ou lhe acontecerá algo drástico." Ele não sabia, e nem eu,
mas já tinha começado a acontecer algo drástico. Eu tinha começado a morrer.
Walter pensou que seria bom pegar o trailer e sair por uma semana, de férias às montanhas
Allegheny. Eu não tinha vontade de fazer camping. Gordon tinha seis anos e muita energia.
Mas fui, decidida a aproveitar o máximo possível.
Deixamos o trailer em um camping no Parque Estatal Allegheny, ao sul do Estado de Nova
Iorque, e seguimos de automóvel até a fronteira com o Canadá, para visitar as cataratas do
Niágara. Foi um dia cansativo. Passeamos pelos caminhos de concreto, subimos as escadas e
pegamos o bote até a base das cataratas. No retorno, a caminho do trailer, enquanto Gordon
dormia no banco traseiro, comecei a me sentir mal como nunca antes. Sentia uma tremenda
pressão em ambos os lados da parte de baixo da coluna, como se tivesse toda a água do rio
Niágara fazendo pressão contra um dique. Quando tentei girar o corpo no assento, a dor
aumentou. A via pela qual trafegávamos estava em obras, e a cada solavanco, um espasmo
agônico percorria meu corpo.
Então, lentamente, notei algo mais: uma paralisia que se estendia por minha coluna.
Ofegando, agarrei Walter, lhe cravando as unhas no braço.
"O que foi, Jo?", perguntou ele, alarmado. "Está branca como papel."
"Não sei", respondi com dificuldade. "Mas tenho medo. Estou perdendo a sensibilidade nas
costas." Isso não era uma simples úlcera ou uma dor de cabeça. A dor se estendia pelas costas
e enchia o estômago. As ondas de náuseas me faziam ter desejos de vomitar. Pela primeira vez
em minha vida, soube o que era sentir as garras da morte sobre mim.
Quando chegamos ao trailer, já tinha escurecido. Atirei-me na cama enquanto Walter foi
procurar um hospital, levando Gordon com ele. Quando voltou, disse-me que o mais próximo
estava a quilômetros de distância. Mordi os lábios. "Talvez, se descansar, me sentirei melhor."
Walter estava preocupado, mas eu insisti em esperar até de manhã. Mas à medida que a noite
avançava, eu me sentia pior. Sentia que meu corpo se estava destroçando por dentro.
De manhã cedo, levantei para ir ao banheiro. Pude eliminar algo de meu organismo, e me senti
um pouco melhor. Cambaleando, voltei para a cama, e enquanto o Sol nascia sobre as árvores,
adormeci.

Quando despertei, a manhã já estava avançada. Ouvia as vozes de Walter e Gordon lá fora.
Quando tentei me levantar, percebi que estava no meio de uma poça de sangue.
Walter queria me levar ao hospital, mas outra vez tratei de acalmá-lo e o convenci a não fazê-
lo. "Somente me leve para casa. Se me deitar em minha cama, ficarei bem."
Mas não melhorei, e Walter me levou, finalmente, a um médico. Logo que descrevi meus
sintomas, pude ver o olhar de alarme no rosto do profissional.
"Não se pode ignorar este tipo de hemorragia, senhora Gummelt", disse.
Depois de tirar algumas radiografias, disse-me com voz severa: "A espero esta tarde no
hospital".
Percebi que algo estava terrivelmente mal.
"O que é?", perguntei.
"Saberemos melhor em poucos dias. Mas neste momento, parece como se literalmente
estivesse expulsando pedaços de seus rins.
O diagnóstico: uma variante de necrose papilar renal, uma doença muito rara e grave, que
causa a deterioração do interior do rim. O urologista me explicou que meus rins eram como
duas esponjas podres, as quais poderiam ser atacadas por qualquer bactéria insignificante que
entrasse em meu sistema, causando ainda mais deterioração. Quase a metade dos dois rins já
tinha se desprendido e sido eliminada de meu sistema. Estava morrendo.
Walter enviou uma carta à congregação, pedindo que orassem por mim. Embora a oração
pelos doentes (a oração da fé, com autoridade), fosse algo estranho para a maioria deles,
houve um grupo de mulheres que compreenderam que Deus as havia preparado para esse
momento e esse lugar, para orar por minha cura.
Aproximadamente um ano antes, algumas jovens donas de casa da igreja, tinham vindo me
pedir que as ensinasse. Elas queriam uma relação mais profunda com o Senhor, mas não
sabiam como obtê-la. Aparentemente sentiam que, apesar de meus nervos destroçados e meu
corpo doente, eu podia lhes indicar a direção correta.
Muitos anos antes, quando estudava em Baylor, tinha me acontecido algo. Uma tarde,
enquanto atravessava a rua Ocho, em Waco, repentinamente recebi a revelação de que o
Espírito Santo habitava em mim. Meus olhos se encheram de lágrimas, e mal consegui chegar
ao outro lado da calçada. "Que assustador, mas maravilhoso, ao mesmo tempo!", murmurei.
"Levo o Espírito Santo a todo lugar que vou!"
A partir desse momento o Espírito Santo se converteu em uma pessoa para mim, alguém que
escutava todas as minhas palavras,

conhecia todos os meus pensamentos, via tudo o que eu fazia. Durante semanas, caminhei
pelos edifícios da universidade completamente alheia a qualquer problema, inundada pelo
Espírito Santo, apaixonada pelo Senhor. Comecei a dar o dízimo, não só de meu dinheiro, mas
também de meu tempo, em estudo bíblico e oração. Ao final desse período passava
aproximadamente cinco horas por dia em comunhão com o Senhor. Mas não havia durado
muito. Foi uma relação passageira, não algo para toda a vida. Mas embora meu "amor" pelo
Espírito Santo tivesse se desvanecido, eu continuava consciente de seu poder.
Portanto, quando essas jovens vieram me pedir que as ensinasse a andar mais próximas do
Senhor, era natural que começasse por lhes ensinar o que a Bíblia dizia sobre o Espírito Santo.
Sabia que eu mesma era uma aprendiz. E suspeitava que embora falasse todas as palavras
corretas, não compreendia realmente o que estava dizendo.
"Pentecostes não é tempo passado", eu havia dito.
"Se a Bíblia é verdadeira, então, por que não podemos tomá-la literalmente?", tinham
perguntado minhas alunas. "por que não podemos esperar milagres e curas, agora?"
Como batistas que éramos, acreditávamos que a Bíblia era a Palavra inspirada de Deus, e fazer
esse tipo de perguntas sempre provocava grandes frustrações. Eu queria ser intelectualmente
honesta, mas como nunca tinha visto um milagre, nunca tinha visto uma demonstração física
do poder de Deus, me custava acreditar.
Aprofundamos mais nosso estudo da Palavra, tentando encontrar respostas. De alguma forma,
sabíamos que esse caminhar mais perto de Deus tinha a ver diretamente com a doutrina do
Espírito Santo. Mas o que esperávamos e necessitávamos desesperadamente era uma
demonstração do poder de Deus, e não apenas palavras sobre Ele. Essa demonstração se
produziria no sábado de manhã, uma semana após eu ter dado entrada no hospital.
Nesse dia eu completava trinta e sete anos. As mulheres do grupo de estudo bíblico tinham
vindo ao hospital me visitar, e estavam rodeando minha cama. Ao olhar para elas, soube que
algo tinha acontecido.
"Como se sente?", perguntou Pat Vandeventer. O marido de Pat era da Marinha, e eles tinham
começado a freqüentar nossa igreja, não porque fossem batistas tradicionais, mas sim porque
o Senhor lhes tinha indicado que o fizessem. Poucas pessoas se aproximavam de nossa igreja
porque o Senhor lhes ordenava, mas com Pat e seu marido foi assim.
Eu estava fraca, muito fraca e muito sedada, mas me esforcei em responder com um ligeiro
sorriso: "um pouco melhor. Não tenho tanta hemorragia".
"Louvado seja o Senhor!", disse Pat, suavemente, e piscou o olho para uma das mulheres que
estava do outro lado da cama. Essa, por sua

vez, sorriu e piscou para outra. Em seguida, todas começaram a assentir com a cabeça e sorrir,
como se soubessem algo que eu não sabia. E assim era... mas só fiquei sabendo várias semanas
depois.
Então, uma tarde, quando estava sozinha no quarto do hospital, Pat veio me visitar e contou o
que tinha acontecido naquele sábado. "Quando recebemos a carta do pastor", disse-me,
"todas do grupo de oração soubemos que estava morrendo. Também sabíamos que esse era o
momento de provar se o que tínhamos estudado com você era verdade. Ou Deus cura, ou não
cura. É simples assim."
"Parece que é como colocar Deus à prova", falei.
"Não, não é isso", disse Pat, aproximando sua cadeira de minha cama. "Simplesmente
decidimos nos juntar e confiar nele para sua cura. Talvez Deus tenha nos posto à prova, para
ver se acreditamos no que Ele diz em sua Palavra. As oito integrantes do grupo nos reunimos
aquele sábado para ter uma reunião de oração ao amanhecer, num canto do parque
municipal."
Esperei em silêncio enquanto Pat fazia uma pausa. Seus olhos começaram a umedecer-se. "Foi
um momento muito precioso e sagrado para cada uma de nós. Enquanto esperávamos em
Deus, cada uma, de forma pessoal, recebeu uma demonstração do poder do Senhor. Todas
soubemos que seria curada milagrosamente."
"Não entendo", interrompi-a. "Sei que estou melhor, mas isso é porque estou no hospital, e
estão me enchendo de medicamentos. Mas o doutor diz que meus rins desapareceram."
"Já sabemos", disse Pat, sorrindo uma vez mais. "Mas também sabemos que Deus demonstrou
seu poder, o poder de que temos lido na Bíblia. Sabemos que será curada."
"Diz que demonstrou seu poder? Como?"
Pat ficou em pé e foi para a janela. Falava com suavidade, como se estivesse revivendo aqueles
momentos no parque. "Cada uma o sentiu ao mesmo tempo, mas de maneiras diferentes. Eu
estava sentada no banco, com a cabeça apoiada em minhas mãos, e repentinamente senti
como se meu coração se partisse. Todas começamos a sentir um amor por você, tão profundo
como nunca o havíamos sentido antes. E parecia que íamos perdê-la. Começamos a orar por
você, mas quando o sol começou a nascer, ficamos sem palavras. Já não podíamos orar mais, e
ficamos sentadas, chorando em silêncio. Então, do fundo do meu coração, surgiu como um
manto de paz, como a neve fresca que cai sobre a paisagem cinza e a cobre de branco puro. Eu
soube, Jo. Soube que Deus a havia curado. Não houve foguetes, nem terremotos; só a
profunda certeza interior de que estava sendo curada... e quando Deus o dispuser, saberá."
Pat se voltou da janela e me olhou. Continuou o relato: "Levantei a vista, e todas as outras
mulheres do grupo estavam sorrindo através das

lágrimas. Elas tinham recebido a mesma mensagem que eu, ao mesmo tempo. Saímos do
parque com essa segurança, e depois disso todas as dúvidas se dissiparam."
"Mas não estou curada", falei.
"Oh, sim, claro que está", disse Pat com firmeza. Seus olhos faiscavam, cheios de decisão e fé.
"Sabemos que os médicos disseram ao pastor Gummelt que sua enfermidade é incurável; mas
lembre, nosso Deus é o Deus do impossível."
Eu sabia que estava muito doente. Mas... incurável? Esqueci todo o resto que Pat havia dito.
Essa palavra ficou ressoando em minha mente.
Muitos, muitos especialistas vieram me examinar durante as semanas seguintes. Na região de
Washington, eu era a única, até então, em quem tinha sido diagnosticado esse tipo de doença
de rins, em particular. Um dos urologistas comentou que na Suécia havia sido feito um estudo
com cento e vinte e cinco pessoas que tinham sintomas similares aos meus e estavam em
iguais condições. Mas quando lhe perguntei sobre os resultados do estudo, respondeu com
evasivas. O que pude deduzir foi que todas elas tinham morrido. O único alento que recebi dos
médicos foi a esperança de que pudessem estabilizar meus rins e possivelmente deter o
processo de deterioração. Eu sabia que não havia medicina capaz de me curar.
Finalmente, me deram alta do hospital, recomendando que ficasse de doze a quatorze horas
por dia na cama. A advertência não era necessária. Eu estava completamente sem forças.
Antes sempre tinha conseguido extrair de mim mesma um pouco mais de energia ou força
para completar uma tarefa. Mas dessa vez, quando procurei em meu interior, somente
encontrei vazio.
Na segunda manhã em casa, esperei até que Walter fosse trabalhar. Então me levantei para
abrir a janela do quarto. A simples tarefa de andar até o outro lado do quarto e tentar abrir a
janela consumiu toda minha energia, como se tivesse andado mais de três quilômetros.
Desabei novamente sobre a cama, ofegando de cansaço, sem ter conseguido abrir a janela.
Podia sentir meus rins inchados, se esmagando contra minhas costas.
Minhas energias de reserva, esse pequeno "extra" que evita que uma pessoa morra quando
chega ao final de suas forças, esgotaram-se. O médico havia dito: "Uma pequena bactéria, que
possa contrair, por exemplo, de água não muita limpa, a colocará em perigo iminente de
morte".
Havia outras pressões acumulando-se ao mesmo tempo. O médico me havia dito que quando
me sentisse bem, poderia voltar para a igreja, mas não mais de uma vez por semana. Antes de
entrar no hospital eu

pesava aproximadamente cinqüenta quilos. Mas quando me deram alta, meu corpo começou
a reter líquidos, e fiquei muito inchada. Não queria que me vissem assim.
Passei o ano seguinte entrando e saindo do hospital. Tinha que ir constantemente ao médico
para que me fizesse exames, análises e cultivos. À medida que meu corpo se auto-imunizava
contra uma droga, o médico me dava outra, e com a mudança, vinha toda uma nova série de
exames para comprovar se essa droga me mataria, em vez de me fazer bem. Parecia que
estava todo tempo no consultório do médico, fazendo uma radiografia atrás da outra. Para
combater as infecções internas que sempre surgiam, constantemente devia tomar diversos
antibióticos. As despesas com remédios subiam sem parar.
Preparar-se para a morte é uma experiência psicológica aterradora. Todo meu estilo de vida
mudou. Eu sabia que morreria, e era muito difícil me adaptar a esse fato enquanto ainda
estava viva. O médico da família me sugeriu consultar um psiquiatra. "Talvez ele possa ajudá-la
um pouco com essas enxaquecas", disse. Isso era o que esperava. Minha oração era que
pudesse jazer em paz e acabar com esse processo de morrer.
Já não podia funcionar como esposa ou mãe. Não podia fazer nenhuma tarefa caseira. Ouvia
quando Gordon voltava da escola e passava pelo corredor nas pontas dos pés sem entrar no
meu quarto, para não me incomodar. Me fazia lembrar de quando eu era menina e meu papai
estava sempre doente. As crianças deviam andar sempre nas pontas dos pés em casa, para não
despertá-lo. Agora tudo isso tornava a acontecer. Sentia-me terrivelmente culpada. Isso será a
única coisa que meu filho lembrará de sua mãe, pensava. Doente, na cama, atrás de uma porta
fechada. Será que esse horror vai continuar de geração em geração?
Então começaram a acontecer coisas. Tudo começou com uma carta de minha irmã mais nova,
que soube que minha doença era terminal e me sugeriu que lesse o livro de Kathryn Kuhlman,
Creio em milagres. Dois dias depois, eu estava na cama, ouvindo um programa em uma rádio
local, e escutei o anúncio de uma convenção da Associação Internacional de Homens de
Negócios do Evangelho Pleno, que aconteceria no Hotel Hilton de Washington. O anúncio não
teve grande importância para mim, até que ouvi o nome de Kathryn Kuhlman. Ela falaria em
uma reunião vespertina da convenção. Era estranho que escutasse esse nome duas vezes
seguidas em uma semana.
Deus ainda não tinha terminado. Na manhã seguinte, Pat Vandeventer veio me ver. "Jo, vamos
à Convenção de Homens de Negócios do Evangelho Pleno. Kathryn Kuhlman vai falar lá na
quinta- feira à tarde."

Três vezes seguidas em uma semana não podiam ser coincidência. Entretanto, resisti. "Sinto
muito, Pat, mas não me convence o fato de uma mulher pregando", respondi.
"Pensei que fosse mais aberta", sorriu Pat, com os olhos brilhantes. "Você não é aberta, é
batista."
Foi um golpe no meu ponto fraco, e eu soube que ela tinha razão. Eu estava julgando essa
mulher, apoiada em que não tinha visto seu nome impresso em nenhuma publicação de nossa
Convenção Batista do Sul. Eu lia todas elas, e nunca tinha visto seu nome em nenhuma delas.
Até duvidava se seria do Senhor, já que os batistas do Sul pareciam não reconhecê-la.
Olhei para Pat. "Está bem, tem razão. Meu coração tem tanta fome da plenitude do Espírito
como o seu. E se podemos aprender algo a respeito de Deus de alguém que não seja batista do
Sul, estou preparada."
Pat foi me buscar na quarta-feira de noite e cruzamos a cidade até chegar ao Hilton, na noite
de abertura da convenção. Eu tinha estado em muitas, muitas reuniões batistas, desde
reuniões de associações até as imensas convenções anuais. Mas esta não era como nenhuma
outra reunião que já houvesse freqüentado. As palavras-chaves eram a alegria e a liberdade.
Mais de três mil pessoas estavam sentadas ali, no luxuoso salão, e todas pareciam estalar de
gozo. Jamais tinha visto tantos rostos sorridentes.
Imediatamente suspeitei de algo. Nas reuniões batistas que eu havia freqüentado, ninguém
sorria assim. Na verdade, não sorriam assim nem em nossa igreja.
Eu havia trazido um gravador para poder captar tudo o que o orador pudesse dizer, mas não
tinha adiantado nada. O homem sentado à minha frente estava tão feliz que ficou o tempo
todo falando ao mesmo tempo que o orador. A cada frase, esse homem respondia gritando:
"Louvado seja o Senhor!" ou "Obrigado, Jesus".
Eu tinha escutado alguns "Amém" no Baylor, e nos cultos do seminário, mas nunca nada como
isto. Estava irritada. "Por que não se cala?", protestei intimamente.
Saí da reunião muito confusa. Seria real tudo isso? Toda essa gente era genuinamente feliz, ou
eram simplesmente desequilibrados mentais? Quanto a mim, sentia que estava se
aproximando uma enxaqueca, e pedi a Pat que fosse mais rápido.
Ao despertar ao dia seguinte, a enxaqueca continuava me incomodando. O psiquiatra me
havia prescrito uma série de drogas, um comprimido a cada trinta minutos durante três horas.
As drogas me reviravam terrivelmente o estômago, mas acalmavam a dor de cabeça. Quando
tomava o quinto comprimido, a dor já se estava acalmando, mas

tinha que ficar de cama por causa de meu estômago. Sabia que Pat teria que ir sozinha à
reunião de Kathryn Kuhlman.
Mas dessa vez foi diferente. Era estranho, mas a dor de cabeça desapareceu, e meu corpo
parecia mais forte do que antes. Depois de tudo, poderia ir ao culto de milagres.
Nesse ano Walter era presidente da Conferência de Pastores Batistas de Washington D.C.
Nesse dia teriam um almoço. Pouco antes do meio-dia, Walter me ligou para saber como
estava. Contei-lhe que Pat e eu iríamos ao culto de Katrhyn Kuhlman.
Walter sorriu maliciosamente. "Vários pastores da cidade estão pensando em ir", disse. "A
maioria são curiosos, e é capaz de levantarem as lapelas de seus casacos para esconder o
rosto, para que ninguém os reconheça." Eu não tive coragem de lhe contar que acabara de
pegar meu grande chapéu de pele, que podia abaixar as abas até me cobrirem as orelhas, e
que pensava em usá-lo, para que ninguém me reconhecesse também.
Foi uma tarde verdadeiramente estranha. Chegamos ao hotel uma hora e meia atrasadas, mas
encontramos um lugar para estacionar bem em frente... sem nos apercebermos de que todos
os lugares para estacionar estavam ocupados em um raio de quatro quadras ao redor.
Aceleramos rumo ao salão, que estava lotado de gente, esperando encontrar assentos perto
da saída, onde pudéssemos nos sentar e observar. Quando já pensávamos que teríamos que
ficar de pé junto à porta, duas senhoras que estavam perto da primeira fila se levantaram e
deixaram seus assentos vazios. Pat e eu nos sentamos quase imediatamente. Meu chapéu
estava enfiado o mais baixo possível na cabeça. Mal conseguia espiar algo de debaixo da aba.
Kathryn Kuhlman estava falando. Havia uma quietude tão dinâmica na sala que eu quase podia
escutar os batimentos de meu coração. Sua voz era suave, tão suave que algumas vezes não
conseguia distinguir o que dizia. Tinha que me esforçar para escutar cada palavra. Não estava
dizendo nada novo nem diferente. Tudo o que ela dizia, eu já tinha escutado Walter dizer
umas cem vezes do púlpito de nossa igreja. Mas havia um espírito diferente nela e nesse lugar.
As pessoas tinham vindo esperando algo, e ela falava com autoridade. Embora isso tenha me
comovido profundamente, eu continuava sendo cética.
Havia uma garotinha cega sentada atrás de mim, e comecei a orar por ela. "Senhor, toque essa
garotinha." Senti que meus olhos fechados se enchiam de lágrimas. Repentinamente todos nos
pusemos de pé e Kathryn Kuhlman começou a cantar:
Senhor, eu recebo. Senhor, eu recebo.

Todas as coisas são possíveis; Senhor, eu recebo.


"Levante seus braços", dizia ela. "Levante seus braços e receba o Espírito Santo."
Levantar meus braços? De repente voltei a ser uma esposa de pastor batista do Sul, muito
decorosa. O que aconteceria se alguém me visse? E se algum pastor batista amigo do Walter
me visse? Algum membro de nossa igreja? Mas não pude evitar. Minhas mãos já estavam
levantadas, e era como se estivessem sendo puxadas por fios para cima. Para cima, para
cima... eu não podia controlá-las. Sentia como se estivessem me esticando até que tivesse que
ficar nas pontas dos pés. Nunca tinha me esticado tanto nem tinha chegado tão alto. Quando
minhas mãos já estavam completamente levantadas, senti que as palmas se viravam para cima
e, ao mesmo tempo, minha cabeça caía. Nunca havia sentido tal humildade em toda minha
vida. Esqueci por completo de mim mesma, de quem era, de onde estava, e só sabia que Deus
estava me tocando literalmente, fisicamente. Senti como se me estivessem derramando água
morna da cabeça aos pés.
Então escutei uma voz que vinha do corredor. "Oh, Deus, sua glória sobre esta." Era Kathryn
Kuhlman. Eu nem tinha percebido que ela havia descido da plataforma.
Ela tocou meu pulso muito suavemente. Me senti totalmente sem peso. Parecia que estava
flutuado no espaço e dando voltas ao redor do teto nos braços de Jesus. Um homem, atrás de
mim dizia: "me deixe ajudá-la a levantar-se".
Mas eu o ignorei, ao mesmo tempo que me perguntava o que esse homem estava fazendo no
teto, comigo. Eu só queria ficar onde estava, mas ele não queria ir. Sua voz ressoava em meus
ouvidos. "Me deixe ajudá-la a levantar-se. Me deixe ajudá-la a levantar-se."
Pensei: "O que ele quer dizer com "levantar-se"? Não posso ir mais acima do que estou, aqui
no teto. Finalmente abri os olhos. Estava estendida de costas no corredor, com as mãos
esticadas para cima. Meus lábios repetiam seguidamente: "Louvado seja o Senhor! Louvado
seja o Senhor!" Não me importava quem me visse ou me escutasse.
A caminho de casa, Pat e eu revivemos cada momento da reunião. Em nenhum momento me
ocorreu que pudesse ter sido curada. De qualquer modo, não tinha ido por isso. Só o que sabia
era que Deus me havia tocado e que no mais íntimo de mim, eu era diferente agora.
"Melhor não contar a nossos maridos." disse Pat. "Acho que não compreenderiam."
Concordei. Mas eu sabia que em algum momento que Deus prepararia, Walter estaria disposto
a escutar e compreender.

O momento chegou uma semana depois. Walter tinha se levantado cedo para participar de um
café da manhã de pastores com um evangelista batista, o doutor Paul Rader. Também estaria
lá o doutor George Schuler, autor de Overshadowed.* Walter, como presidente da
Conferência de Pastores, seria o moderador.
Nesse sábado dormi quase até o meio-dia e fui despertada pelo toque do telefone. Quando
Walter chegou, eu estava sentada a um lado da cama, falando ao telefone. Olhei para ele,
quando entrou no quarto. Ele fez uma pausa e saiu. Mas continuou entrando e saindo, até que
finalmente me interrompeu. "Quando terminar de falar ao telefone, tenho algo que quero lhe
contar."
Walter nunca me interrompia assim, por isso compreendi que precisava falar comigo... e logo.
De modo que cortei a comunicação e quase o levei aos empurrões à cozinha. Nos sentamos à
mesa e esperei, impaciente, que ele começasse a falar. "Preciso compartilhar algo com você",
disse. "Esta manhã aconteceu algo."
Tentava falar, mas percebi que estava explodindo por dentro. Nunca o tinha visto assim.
Walter era sólido, estável, muito confiável. Raramente mostrava alguma emoção. Mas agora,
cada vez que abria a boca para falar, seus olhos se enchiam de lágrimas. Finalmente estendeu
o braço, pegou minha mão, e ficou ali sentado, olhando através da janela da cozinha,
esperando que suas emoções se acalmassem. Finalmente, quando pôde falar, começou a fazê-
lo lentamente, fazendo longas pausas entre as frases, lutando para controlar a voz.
"O salão estava cheio de pastores", disse suavemente, "e o presidente do comitê de
planejamento da campanha estava falando. Então entrou esse homem alto, de cabelo branco,
o doutor Schuler. Tinha o cabelo parecendo crina, muito desordenado, lhe rodeando a cabeça
como um halo. Mas havia algo mais nele... como uma aura, um halo. Todos os pastores
deixaram de falar quando ele entrou. Produziu-se um silêncio absoluto. Todos e cada um de
nós soubemos que o Espírito Santo tinha entrado com esse homem. Finalmente, eu levantei a
voz e falei: "por que não nos ajoelhamos e oramos?"
"Imediatamente, todos nós caímos de joelhos. Não sei o que estava acontecendo. Foi como se
algo na atmosfera daquele lugar nos obrigasse a adorar. Nunca tinha sentido a presença de
Deus com um poder tão avassalador."
Walter deixou de falar. Era óbvio que ainda estava profundamente comovido pela experiência.
Era minha vez. Com a maior suavidade possível, contei-lhe o que me havia acontecido uma
semana antes. Ele ficou sentado, me escutando solenemente e em silêncio. Eu continuei
falando, lhe contando como as mulheres do grupo tinham orado, lhe
* Overshadowed – Ofuscado (Nota da tradutora).

contando sobre a reunião, e finalmente o que tinha vivido no Hilton, quando Kathryn Kuhlman
me tocou o pulso.
Ele simplesmente me escutava, assentindo, como se soubesse tudo de antemão. Eu podia ver
que Deus o tinha preparado essa manhã, ao visitar esses ministros com uma experiência tão
comovedora, e que dissesse eu o que dissesse, Walter estava preparado para recebê-lo como
do Senhor.
"Foi curada?", perguntou.
"Não sei", respondi, sorrindo. "Não pensei muito nisso. Só sei é que já não tenho depressão. A
necessidade de ser perfeita também desapareceu. A incapacidade de aceitar a mim mesma
como imperfeita no corpo e na alma, também desapareceu. Sou livre."
"Mas, como se sente fisicamente?", insistiu Walter.
"Maravilhosamente", falei. "deixei que tomar as drogas e os antibióticos. Pela primeira vez em
anos, tenho força e energia."
"Creio que foi curada", disse Walter, com os olhos novamente cheios de lágrimas. "Acho que
tem que voltar ao médico e pedir que a examine, para ter certeza."
Na semana seguinte voltei ao consultório do médico, que tirou radiografias e fez outros
exames.
Dois dias depois voltei a me sentar na frente dele, no consultório.
"O que lhe aconteceu, senhora Gummelt?", perguntou.
"Estava esperando que me perguntasse isso", sorri. E lhe contei, detalhadamente, exatamente
o que tinha acontecido.
O doutor ficou olhando a parede onde estavam seus diplomas durante um longo momento.
Finalmente pegou a pasta que continha meu histórico médico.
"Vou fechar seu caso", disse-me. "Você está completamente curada. Não há evidências de
nenhum problema renal; só tecidos com lesões leves por danos anteriores. Se alguma vez tiver
problemas com os rins, será algo completamente distinto."
Eu queria dançar de alegria, e pude fazê-lo mais tarde. Chega de drogas, de inchaços, de
hemorragias, de fraqueza! Agora podia viver uma vida saudável e normal como mãe e como
esposa. Então soube como Lázaro se havia sentido ao sair da tumba para o sol, pestanejando.
Minha vida tinha sido restaurada. Glórias a Deus!
Nos três meses seguintes, meu peso subiu de cinqüenta até quase oitenta quilos. Pela primeira
vez em minha vida tive que fazer regime.
Mas aconteceu algo mais. Ao receber o Espírito Santo em minha vida, pude aceitar também a
mim mesma, tal como era. A tensão foi substituída por louvor. As enxaquecas desapareceram.
Não só meu corpo

tinha sido restaurado, mas também minha mente tinha sido renovada. Aleluia!
Seis meses depois pude voltar a trabalhar. A Jo Gummelt que entrou no edifício Sam Rayburn
nesse dia não era a mesma de antes. Eu tinha prometido ao Senhor que, se me deixasse voltar
a trabalhar, lhe daria a maior parte do que fizesse. Fui trabalhar com um congressista de
Kentucky, livre da compulsão de ser a número um, de ser perfeita. Pouco tempo depois, todas
as mocinhas que trabalhavam no escritório tinham aceitado a Jesus como seu Salvador, e a
metade tinha sido batizada no Espírito Santo. Eu nunca tinha estado tão consciente do poder
do Espírito Santo para testemunhar de Jesus.
Pouco tempo depois que eu voltei a trabalhar, Walter, Gordon e eu tiramos umas curtas férias.
Na primeira noite que estávamos fora, fui ao banheiro para lavar o cabelo. Walter e Gordon
ficaram no quarto, assistindo TV. Enquanto passava a mão por meus cabelos, notei uma
textura diferente. Levantei a cabeça, tirei o sabão dos olhos, e pude ver que os cabelos que
nasciam ao redor de meu rosto eram novos, fortes. Poderia guardar a peruca.
Pessoas começaram a se aproximar de mim para que as aconselhasse. Antes, eu sempre
estava muito fraca para as ajudar. Mas agora podia compartilhar com elas minha experiência
pessoal com um Deus que demonstra seu poder e seu amor. Comecei a passar várias horas de
joelhos, orando e com a Bíblia aberta na minha frente. No lugar onde me ajoelhava para orar,
literalmente ficaram buracos no tapete. O Senhor me ensinava e me dava uma nova
linguagem, maravilhosa, para orar.
Na primavera, aproximadamente um ano depois de ter sido curada, tive uma ligeira infecção
urinária. Eu sabia que quando Deus cura, a cura permanece. Mas o velho temor voltou,
rugindo, e corri ao médico.
Ele me examinou e em seguida parou com as mãos na cintura, me olhando seriamente. "Você
tem uma ligeira infecção na bexiga", disse. "A última vez que esteve aqui, lhe falei que se
tivesse algum problema renal, seria algo totalmente distinto. Você foi curada."
Saí do consultório, agradecida, apesar da reprimenda. Washington nunca me pareceu tão
formosa. As cerejeiras ao redor da fonte estavam em flor. A grama do parque era
luxuriosamente verde. Até as tulipas haviam tornado a florescer no edifício Sam Rayburn. A
cúpula branca do Capitólio brilhava contra o céu azul. As pessoas corriam para seus escritórios.
Soavam as buzinas. O trânsito era terrível. Era igual a sempre. Mas eu era diferente.
Pentecostes tinha chegado à minha vida!

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