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Beijo Na Face 2A
Beijo Na Face 2A
antonio raposo
tavares
POR
ALVARO KENZO
VITOR HUGO
VITOR PROENÇA
E FABRICIO MURILLO
2A
NÚMEROS 1, 13, 47
E 49
Depois, com um gesto lento
e cuidadoso, abriu as
palmas das mãos,
Salinda tombou contemplando-as
suavemente o rosto e com
as mãos em concha colheu,
pela milésima vez, a
sensação impregnada do
beijo em sua face.
No princípio, a viver silente tamanha emoção era como deglutir a própria boca
aprendizagem lhe
custara muito. Havia quase um
Acostumada ao amor ano que a
em que tudo ou quase felicidade lhe
Ela estava
tudo pode ser era servida em
aprendendo um
gritado, Salinda conta-gotas
novo amor
perdeu o chão.
ela tentou guardar em si
as lembranças e retomar
a rotina. Era preciso viver
a calma e o desespero
como se
nada estivesse
acontecendo.
dia 1 sendo
observada
talvez eu
esteja
ficando
louca...
eu quero
que voce
me conte
exatamente
o que ela
fez.
me
escutou?
sim
senhor.
se eu for
embora
vou levar
as
crianças.
No princípio, logo que começou a ser Tinha medo, sentia-se acuada,
mevigiada,
escutou?chegou embora às vezes pensasse que ele
a pensar que estivesse sofrendo de nunca faria nada, caso ela o
mania de perseguição. deixasse de vez. sempre sondava
terreno e procurava saídas.
entretanto, aquela conversa Aos poucos, foi se fortalecendo,
confirmava sua desconfiança vou me criando defesas
matar e
Depois a confirmação foi se dando deixar uma
pelas notícias que ele trazia. Ela carta
tinha sido vista em tal e tal lugar. dizendo que é
sua culpa.
Salinda entendeu o comportamento do
marido. Estava a vigiá-la, mas em vez de de
agir em silêncio, vinha de própria voz
alertá-la. Era como se ele buscasse
retardar um encontro com a verdade
e Aos poucos, as ameaças feitas pelo marido,
as mais diversificadas e cruéis, foram
surgindo.
Tia Vandu, em Chã de Alegria, foi a única pessoa que
adivinhou o sofrimento de Salinda, acolheu seu segredo De noite, depois das crianças,
e se tornou cúmplice. desconhecendo
o que se passava com a mãe, dormirem,
Era na casa da tia
Salinda, no quarto destinado a ela,
que os encontros
aconteciam. podia se dar, receber, se ter e ser para
ela mesma e para mais alguém. Tia Vandu
era guardiã do novo e secreto amor de
Salinda.
no outro dia
A mala ia sendo
desfeita lentamente
enquanto tempos
Distraída em desarrumar a mala e em reviver
distintos
várias lembranças, Salinda não percebeu o
amalgamavam-se em
avançar das horas. Quando deu por si, já era
suas lembranças
noite. Estranhou o silêncio e a ausência do
marido. Ele não tinha ido buscá-la na
rodoviária, mas, assim que ela chegou, recebeu
um telefonema dele dizendo que estava na casa
da mãe. Ela, admirada, gostou. Depois de longos
anos, ia poder ficar sozinha
Havia uns cinco anos, desde que ele desconfiou dela com Mas por que o marido estava demorando tanto?
um colega de trabalho, um inferno na relação dos dois Ela começava a se atormentar. O que tinha
havia se instaurado. Das perguntas maldosas feitas de acontecido? O que estava para acontecer? E sua
maneira agressiva surgiu uma vigilância severa e vida secreta? Será que o segredo havia sido
constante, que se transformou em uma quase prisão descoberto de alguma forma?
domiciliar. Ela respondeu com um jogo aparentemente
passivo. Fingiu ignorar. Era apenas uma estratégia de
sobrevivência. Ensaiava maneiras de se defender
aguardando que as crianças crescessem um pouco mais.
Quando foi iniciado o cárcere doméstico, a menina que
ele havia assumido como filha desde os onze meses tinha
treze anos.
e se ele
realmente se
matar ou
levar as
Sair com os filhos não levantava crianças?
suspeição alguma. E, quando qualquer
desconfiança acontecia, o marido aplicava as
suas táticas interrogativas. As
crianças eram conclamadas a falar nao, ele
nao teria
exaustivamente sobre gragem...