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S. Evans
Copyright© 2022 S. Evans
1ª Edição
Capa: L.A Designer Editorial
Revisão: Miriã Menezes
Diagramação: S. Evans
CONTEÚDO ADULTO
Esta obra trata-se de uma ficção. Nomes, personagem e
acontecimentos descritos foram produzidos através da imaginação
da autora. Torna-se mera coincidência fatos que se referem à
realidade.
De acordo com a lei nº 9.610/98, dentro do artigo 184 do código
penal brasileiro, torna-se crime cópia total ou parcial, por quaisquer
meios existentes, sem prévia autorização da autora.
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE DEZOITO ANOS
Essa obra contém:
Sexo e nudez: Sexo explícito; indução ao ato sexual; masturbação.
Linguagem: Linguagem imprópria e/ou pejorativa.
ATENÇÃO ALERTA DE GATILHO
Esse livro foi escrito com muito carinho, os temas abordados não
foram aprofundados / descritos graficamente, para que gatilhos não
fossem acionados, no entanto a obra CITA:estupro/estupro marital,
relacionamento tóxico/abusivo (físico e psicológico), assédio e
importunação sexual, bullying, gordofobia, depressão/estado
depressivo, dietas restritivas, e procedimento cirúrgico.
Adendo importante: Durante o texto, haverá questionamento
quanto à existência de divindade. Este livro terá cenas de pegging e
seus derivados (como a penetração anal masculina com dedos) e
cenas em casa de swing.
Edição Digital | Criado no Brasil
Índice
Índice
Nota da autora
Playlists
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
1- Big Bang
2- Trabalho de campo
3- Universo oscilante
5- Deriva continental
6- Orientação teórica
7- Empata coito
8- Metodologia
9- Biotipos
10- Sinapses
11- A tese
14- Hipóteses
18- Estudos apontam que quando só tem uma cama, algo acontece entre os envolvidos.
Fonte: Não precisa
19- Amaral; Thompson, 2022
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Vem aí
Esse é um livro soft.
Diferente dos outros trabalhos que vocês conhecem, aqui temos um
amor descomplicado, sem um grande plot por trás do passado das
personagens.
Talvez o grande plot desse livro seja realmente o amor.
O amor sem grandes dramas, sem grandes complicações, sem
amarras, sem ex-loucos que voltam para destruir o casal, sem
psicopatas e tramas políticas.
Trago aqui o amor em sua forma mais clara, leve, sucinta e real.
No entanto, pessoas têm passados, e eles nem sempre são bonitos,
então deixo aqui um pequeno alerta:
Loren teve uma antiga e longa relação abusiva/tóxica, em que o
ápice para o divórcio foi um estupro marital, a cena não é gráfica,
mas existe essa narrativa no texto, e se você for sensível ao tema,
peço que não prossiga. Sua saúde mental vale mais do que um
entretenimento.
Nicolas é uma personagem jovem, de vinte e quatro anos,
inicialmente, que passou, há pouco tempo, pelo que muitos
consideram a pior parte da vida: a adolescência — ( A Organização
Mundial da Saúde, OMS, considera adolescentes pessoas com
idade cronológica até os dezenove anos). Alguns momentos
passados por ele neste período, como: o bullying, a gordofobia e
consequentemente uma depressão/estado depressivo, são narrados
em texto livre. Fica aqui então o meu alerta quanto à sensibilidade
nesses assuntos.
O Nicolas é CIENTISTA, então ele acredita na CIÊNCIA, haverá no
texto questionamentos sobre a existência de alguma Divindade. Se
esse for um assunto delicado para você, peço que não prossiga
nesse enredo, tenho outros livros disponíveis na Amazon que
possam te interessar.
Gostaria também de deixar claro que as personagens possuem
gatilhos e que algumas situações podem despertá-los. O que para
você é só uma fala/atitude considerada comum, para eles, pode
abrir uma gama de sentimentos ou sofrimentos vistos como
exagerados para as pessoas que não os têm, então peço um pouco
de empatia.
Antes de prosseguir, gostaria também de comentar algumas coisas.
Neste livro você encontrará cenas de sexo, para maiores de 18
anos, com inversão de papéis, se você não gosta desse tipo de
cena, eu entendo e deixo disponível em minha página na Amazon
outros livros que talvez lhe interesse.
Todos assuntos abordados neste livro são baseados em
informações científicas, empatia e um pouco de licença poética.
Se prosseguir com a leitura, espero que se apaixone por Nicolas e
Loren!
E se no fim lhe for conveniente, deixe sua avaliação na Amazon.
Boa leitura!
Com amor,
S.
Essa obra contém duas playlists, uma nacional e uma internacional,
Finalmente!
Suspiro aliviado ao estacionar em minha vaga alugada na
primeira pousada da cidade.
Foi a viagem mais longa da minha vida.
Durou mais quando fui a São Paulo de carro.
Céus, foi pior do que o “ali” de mineiro.
— Loren, daqui nós temos que seguir caminhando, carros
que as placas não são locais não podem circular livremente no
centro histórico. — Desço e abro sua porta, pegando a mala pesada
em seguida. — Vou levá-la até a pousada da Flor, e mais tarde o
André deve vir visitá-la. Bem-vinda a Ouro Preto!
Loren Thompson
Estou me sentindo completamente sem educação!
Nicolas me pegou no aeroporto, foi gentil, mas eu não estou
sabendo lidar com tanta hospitalidade.
Ele sorri o tempo todo. Sua voz mantém um tom cortês e fala
devagar quando está falando português, e não o vi olhando para
mim com ousadia, ou algo do tipo.
Loren, você é doze anos mais velha que ele, obviamente ele
não olharia assim para você.
Ele insiste em levar minha mala, mesmo que eu possa puxá-
la.
A viagem foi longa e cansativa, mas um tanto agradável.
Menos o tempo dentro do carro, esse não foi desagradável.
Céus, eu claramente não estava sabendo manter ou conduzir
um assunto com ele.
— Então… Você fala português e inglês… Mais alguma
língua? — Minha cabeça está rodando um pouco, parece… Sei lá,
um enxame de abelhas zunindo desde que aterrissei em São Paulo.
— Mineirês também — Nicolas sorri, e eu vasculho minha
mente tentando lembrar qual país fala essa língua. Minha cara deixa
claro minha ignorância, e ele ri — É uma brincadeira, Loren. É como
as pessoas daqui brincam sobre nossos dialetos regionais, gírias e
afins.
— Ah sim… Acho bom eu saber sobre isso então.
— Seria bom, afinal quando alguém falar trem, não estão se
referindo ao veículo, que está um pouco distante daqui.
— E o que significa?
— Qualquer coisa.
— E vocês entendem?
— Muito bem! — sorrio diante o pânico dessa fala dele, como
assim qualquer coisa?
— Algo mais que eu preciso saber? — Ele para na calçada, e
põe a mão no queixo.
— Qualquer informação que você pedir em Minas, e eles
falarem: “é logo ali” não vai, porque você está longe, possivelmente
muuuuuito longe.
— Trem é qualquer coisa, e ali na verdade é longe… Ok, e o
que mais?
— Uai.
— Why[16]?
— Não assim, mas é como se fosse — ele gargalha — é U-A-
I, é um gíria regional.
— Que significa…
— Às vezes espanto, às vezes indignação, às vezes uma
dúvida.
— Acho que vou aceitar a indicação de um professor… — Ele
ri, possivelmente da minha cara.
— Irei arrumar alguns contatos para você. Ah, às vezes nós
falamos rápido demais, e por isso engolimos letras das palavras.
— Que ótimo, português é super easy[17], ainda mais
engolindo letras — ironizei, e ele se dobra de rir. Ainda mais comigo
misturando o inglês com português. — Ei, não estou vendo você
falar assim!
— Eu estou conversando com você, sei que não é daqui,
seria rude da minha parte. — pensava que os jovens não tinham
empatia — Sem contar que o regionalismo não é bem vindo em
instituições de ensino. A gente tenta minimizá-lo, mas quem mora
no Brasil sempre descobre quando a pessoa é mineira. Juro para
você, no primeiro “bom dia”. — Ele dá de ombros.
— Por que vocês tentam minimizá-lo?
— Eu já senti que fui descredibilizado pelo sotaque, e no meu
caso, pela idade.
— Como assim?
— Eu sou “novo” demais para alguns assuntos, pelo menos
fui julgado assim. E então quando começo a falar sobre algo, eles
duvidam dos resultados, ou do que eu estou falando. — Começo a
sentir uma empatia por ele…
— Sério?
— Sim… Eu já fui a alguns lugares no Brasil para workshops,
congressos, palestras, e já me perguntaram se aqui tem prédio.
— O quê? Como assim?
— As pessoas de outros estados têm uma imagem que aqui
só se tem queijo, Minas Gerais é o estado do queijo, fazenda,
pastos, comida no fogão a lenha, e…
— Fogão a lenha? Isso ainda existe?
— Hmm, sim. É um clássico aqui. Pessoas vêm de muito
longe só para apreciar nossa culinária.
— E que diferença isso faz na comida?
— Muita! Céus, preciso te levar para almoçar na taberna! —
ele diz empolgado, e então para, se contendo.
— Taberna? — decido não deixá-lo sem graça.
— É um restaurante, ele fica bem na praça, e chama-se
assim pois pertence a uma linhagem de família inglesa, e o
restaurante fica no “porão” da casa. É bem centralizado, bem em
frente a praça Tiradentes.
— Okay, você fica me devendo um almoço lá então — tento
sorrir para ele.
— Quando você quiser!
— Então… — tento buscar uma palavra.
— Qual palavra você está procurando?
— Uma para fazer de novo, mas no sentido de passar a lição.
— Recapitulando.
— Isso! Recapitulando, trem é qualquer coisa, ali é longe, e
uai. Quais palavras vocês mais… somem as letras?
— Engolem? — Eu concordo com a sugestão de palavra —
Você, vira “ocê”, às vezes “cê”, para pode perder o primeiro ‘a’ e
virar “pra”... Nossa são muitas coisas…
— Tudo bem, tenho seis meses para aprender.
— Vai sair daqui com diploma em minerês! — Ele sorri.
— Alguma outra dica?
— Se você for a algum lugar e te oferecerem comida, coma,
é desfeita não aceitar, é sério, eles se sentem magoados e
ofendidos. Mas, se for a mais de um lugar, coma pouco, pois eles
sempre, SEMPRE, vão te oferecer algo para comer. Sei que onde
você mora neva, mas coloque mais um cobertor na cama, aqui é
uma região com mata fechada, amanhece quase sempre com
neblina, então é bem frio. Estamos no fim do verão, de dia é bem
quente após às 10h, e às 16h começa a esfriar. As pessoas aqui
quase sempre vão te chamar de moça, principalmente se não
souberem seu nome, eles estão sendo cordiais… Aqui é uma cidade
turística, então na segunda e na terça a movimentação é mínima,
mas de quarta a domingo, isso aqui vira um formigueiro!
— For… o quê?
— Formigueiro, é a casinha das formigas… Anthill[18]. Sempre
cheio, entendeu?
— Ah sim. — Olho para o meu lado, prestes a perguntar se
falta muito para chegarmos, e então consigo ver a cidade, eu acho
que é ela toda. — Uau! — Me aproximo do parapeito e encosto na
grande pedra larga.
— É lindo, não é? — Ele para ao meu lado.
— De fato é… A arquitetura não me é estranha, mas a
paisagem é…— meu vocabulário não é tão extenso como pensei
que fosse.
— Pitoresca. — ele diz. — A arquitetura é europeia, fomos
colônia da família Real Portuguesa, precisávamos nos manter nas
aparências da riqueza… Mas eles não conseguiram tirar de nós o
nosso mar de montanhas.
— O que você quer dizer?
— Não temos litoral no estado, sempre que queremos ir à
praia devemos ir a outro estado e geralmente demanda tempo,
então as pessoas costumam dizer que Minas tem mar de
montanhas, pois quase todo o estado é fechado por elas — ele
aponta. — Consegue ver? Essa cordilheira nos acompanha até o
estado do Rio de Janeiro. — Observo o que ele aponta, e vejo o que
quer falar. Não sei onde começam e onde acabam os grandes
montes verdes.
Quando eu olho, consigo ver vários pontos, e neles vejo
grandes construções que se parecem com a velha Inglaterra.
— A cidade tem altitude… — Observo.
— Muita, costumo pensar nela como um gráfico de linhas,
com altos e baixos. Quando você for explorá-la, perceberá isso. Já
são quase 16h, vamos antes que esfrie?
— Claro — sigo-o através de um pequeno declive de
paralelepípedos, e ele aponta como marco zero da cidade a grande
estátua em praça pública, e por mais alguns minutos entramos em
uma rua, e vejo uma grande construção branca e azul, com os
dizeres “Pousada da Flor”.
Nicolas sobe os poucos degraus, e abre a porta, aguardando
que eu entre.
Um cheiro gostoso me toma quando entro no local, e não sei
explicar o que é, mas percebo a sensação de acolhimento.
— Meu Deus! Ô minino — chama a senhora negra de rosto
gentil, ao rapaz novinho próximo a ela, que se espanta ao nos ver, e
dá a volta no balcão da recepção — chama o Zé lá pra ele vê quem
tá aqui! Meu fio, cê sumiu dimais! — demoro a perceber que ela
está conversando com o Nicolas, que sorri grande e abre os braços
para a senhora, aguardando um abraço. — Vê só, como que tá
magrin! Cê não tá comeno, Nikinho! — Sinto um sorriso se espalhar
involuntariamente em meu rosto ao ver como ela está lidando com
Nicolas.
Não foi esse o idioma que a Olívia me ensinou, céus!
Será que ela me ensinou o português certo?
Fui transferida de país ao passar pela porta?
Tento educar meus ouvidos à fala carregada da senhora
simpática e automaticamente me recordo do que o Nicolas falou há
pouco.
Quanto tempo será que vou demorar a me adaptar aqui?
— Ô, Flor, que mentira, eu ando fazendo três refeições por
dia. — Ele beija a senhora, que fica minúscula perto dele.
— Não é o que tá parecendo, minino! Cabei de passar um
cafezim, tem pão de queijo quentin e broa de fubá com erva doce!
— Hmm — ele geme de satisfação e eu acho fofo —, assim
como que vou manter uma dieta?
— Té parece, cê num carece disso não, moço! — Nicolas
pisca para mim, e eu começo a entender o que ele explicou uns
minutos atrás — Um rapaiz bunito desse, mitido nessas moda de
gente besta. Larga de ser bobo hein!
— Pode deixar, Flor, eu vou vir tomar café da manhã
qualquer dia, igual quando morava aqui, satisfeita?
— Dimais uai!
— Eu vim trazer sua nova hóspede, o André acertou com
você a estadia dela. — Ele aponta para mim, e a senhora me olha e
sorri.
— Moça do céu, cê me desculpa, mas é que esse minino é
um fio pra mim. Ele some dimais, nem parece que mora aqui na
frente. Péra lá, ela me entende meu fio?
— Srta. Thompson fala português muito bem, Flor, ela te
entende sim. — A senhora se solta dele, e passa o braço no meu,
somos da mesma altura.
— Ah minha fia, eu tenho essa budega aqui há muitos anos,
sabe? Era do meu pai e da minha mãe, eu era minina moça quando
comecei a tocar o negoço, mas hoje em dia, com esses trem de
modernidade, uma tal de interneta, e um bando de gente de fora,
não se ofenda, moça, eu gosto de ver esse povo de fora, mas mali-
mali consigo conversar com ocês. Me conta, de onde que cê veio,
seu nome.
— Vim da Inglaterra, me chamo Loren.
— Valei-me Minha Nossa Senhora, até ocê ir embora, eu
aprendo falar seu nome, moça, cê desculpa eu se falar errado.
— Não se preocupe.
— Chamou eu, Flor? — Um senhor alto e com cara de
ranzinza aparece no alto da escada.
— Chamei, Zé, espia só, Nikinho chegou e trouxe a moça
que o Seu [19]André falou, cê trata de levar as coisa dela pro quarto.
— Uai, Flor… — ele começa a falar.
— Uai nada, bora com isso. — Ela passa o braço no de
Nicolas e começa a nos levar para um outro cômodo. — O Zé anda
difícil dimais, pai eterno! — Nicolas gargalha alto, e eu fico de
observadora de toda a cena que se desenrola a minha volta. —
Mais então, minha fia, eu mandei minha neta, Quésia, pra essa tal
dessa Inglaterra sabe? Pra aprendê a falar essa língua sua aí.
— Que ótimo, ela gostou?
— Muito, queria ficar lá, vê se pode?
— Eu amo lá também.
— Onde está a Quésia? — Nicolas pergunta olhando em
volta.
— Uai, tá na faculdade, cê num foi hoje de tarde, o Bruno
pediu pra ela ficar no gabinete dele.
— Hmm…
— Criei a Quésia moça, ela é fia da minha fia que foi morar
no Rio, ela é uma moça bonita, mas boba dimais… Eu só queria que
o Nicolas virasse meu neto, sabe? — Ela começa a falar, e Nicolas
repuxa o rosto em uma careta. — Mais Quésia foi na onda dos otro,
aí já viu, né?! Galinha que acompanha pato morre afogada por não
saber nadar.
— Flooooor — Nicolas a repreende, e é engraçado de ver ele
ficando sem graça. — A Loren não chegou aos ditados populares
ainda. — Ele claramente está desviando o assunto. — E você me
prometeu café da tarde, se quiser minha companhia tem que ser
rapidinho, tenho que arrumar as coisas para dar aula amanhã.
— Oiá só, Lo, vô te chamar assim tá bão? — Concordo com
ela, que continua falando — Esse trem até otro dia era um minino
metendo as mão na minha panela, roubando toicim, agora fica aí,
todo do sem tempo, todo dos importante.
— A senhora sabe que tenho uma agenda cheia.
— Harrã, cheia de muié. — Mulheres? É isso que ela quer
falar?
— FLOR!
— Num tô mentindo. Vem, senta aí, eu vou colocar café
procês.
Vejo a cara de descontentamento de Nicolas com as
colocações da senhora, e sua expertise ao puxar assunto sobre
pessoas que eu desconheço.
A senhora vai respondendo e colocando talheres e pratos na
mesa, se virando em uma cozinha bem grande.
O piso é de madeira, pelo que percebi toda a pousada deve
ser assim. Uma mesa de madeira maciça redonda toma conta dela
toda. Os armários são grandes, ocupando uma parede
completamente. Três geladeiras estão por ali também. Consigo ver
um fogão grande, e panelas gigantes estão penduradas na parede
sobre ele. O ambiente tem um cheiro de comida delicioso, e percebo
vir do fundo aparentemente do tal do fogão a lenha. Madeiras
queimam morosamente, e uma panela de pressão chia baixinho.
No tempo em que eu observo o ambiente, não percebo a
mesa que ela monta em nossa frente.
Uma infinidade de coisas são postas ali.
— Pode ficar a vontade viu, Lo?
— Obrigada, Dona Flor.
— Num carece de chamar de Dona, pode chamar de Flor.
Nicolas, serve a moça, cê é de casa. Cê vai ficar pra janta? Hoje
tem costelinha com canjiquinha.
— Flor, Flor, você vai me engordar desse jeito... Eu queria,
mas tenho que lançar notas hoje. Você toma café, Loren? Deve ter
chá em algum lugar, se preferir…
— Sim, por favor.
— Põe pra ela um tiquim de cada trem. — Flor vai em direção
ao fogão, e continua falando de costas. — Come o pão de queijo
antes que esfrie.
Nicolas monta um pequeno prato com diversas coisas da
mesa, coloca em minha frente e então monta seu prato.
— Isso é pão de queijo — ele aponta para o próprio prato —,
essa aqui é a melhor broa de fubá com erva doce que você vai
comer na vida, fica ótima com um pouquinho de manteiga. Esse
aqui é o queijo artesanal, a Flor mesmo que faz…
— Tudo aqui sou eu quem faço, minino! — ela articula, e ele
sorri.
— Verdade! Aqui tem biscoito de polvilho assado, bolo de
laranja e bolinho de chuva, esse a gente come com doce de leite
pastoso — aponta para a compota fechada.
— Céus, é muita comida! — falo baixinho, e ele sorri.
— Eu te avisei — fala, passando manteiga em seu próprio
pedaço de broa, e mastigando.
Decido começar pelo pão de queijo, que já comi na casa de
Olívia uma vez, mordo e juro que se um orgasmo pudesse vir de
papilas gustativas, eu teria um.
Olívia que não me ouça, mas isso aqui deixa o dela com
sabor de borracha.
— Hmmmmm — grunho.
— Cuidado, aqui tem a melhor comida da cidade, você vai
acabar se viciando.
— Eu não vi isso no aeroporto!
— E nem ia adiantar, o da Flor é o melhor.
— Nem tenta me amansar, não, minino! — Ela para com as
mãos na cintura e eu rio.
Os dois voltam a falar sobre estranhos, e eu me concentro
em meu prato. Quando finalizei os três pãezinhos, passo para a
broa, e penso que terei que ser mal-educada e repetir o pedaço.
Após o divórcio, eu viajei bastante, experimentei novas
culinárias, novas culturas, mas nada me preparou para essa
cidadezinha e esse café da tarde.
Minas Gerais, mal cheguei e já te amo.
Não sei que horas são quando terminamos o café que a fofa
senhora tão gentilmente preparou, mas sinto meu corpo pedindo por
um banho e cama.
Aproveito quando Nicolas levanta-se alegando que precisa
realmente ir, pois deve lançar notas no sistema da faculdade, para
me recolher até meu quarto.
— Loren, você precisa de mais alguma coisa? — Ele me
pergunta quando está para sair na porta, e eu com o pé no degrau
da escada.
— Não, muito obrigada por tudo.
— Imagina, não foi nada. Você trocou dinheiro no aeroporto?
— Sim, tudo certo.
— Bom descanso, bem-vinda novamente, e desculpe
qualquer coisa. Se precisar, eu moro em frente. Literalmente.
— Obrigada.
— Nicolas? — Uma mulher linda, morena, de cabelos
cacheados grossos, tão jovem quanto ele, entra e vejo sua postura
mudar. — Vovó não me disse que estaria aqui… Não foi trabalhar
hoje.
— Estive ocupado, Quésia. E já estou de saída. — Ele acena
e passa para fora da porta, e a senhorita o segue
— Ei, Nick, espera…
Subo as escadas com a chave do quarto na mão para dar
segmento a minha vida.
Loren Thompson
— EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEU estou morrendo de
saudades! — É assim que sou atendida por Emma quando retorno a
ligação perdida em meu celular.
— Bom dia! Como você está?
— Com saudades! Falta muito para você voltar?
— Você sabe que há pouco tempo completamos um dia,
certo?
— Eu sei, mas está tudo tão calado aqui! Como foi sua
viagem?
— Eu também estou com saudades, e, apesar de ser minha
primeira noite aqui, sinto que não é nada calado.
— Que horas são aí? Estou morrendo de fome já, e a Belle
não termina a sessão de fotos dela.
— São oito da manhã — levanto-me da cama e vou até a
pequena sacada que tem no meu quarto, abrindo-a e contemplando
uma Ouro Preto esbranquiçada de neblina, junto a um vento
outonal. — Acabei de acordar, ainda não tomei café da manhã. Nós
temos quatro horas de diferença. Meu voo foi ótimo, houve uma
pequena divergência quando cheguei ao estado que eu vou ficar,
mas, no mais, foi tudo tranquilo.
— Teve algum problema com a língua?
— Não muito, as aulas particulares com a técnica de ouvir
música e ler em português funcionaram bem demais, foram
maravilhosas e muito úteis. O André, o professor que vai me orientar
aqui, não pôde me buscar no aeroporto, e aí pediu um aluno do
marido dele para me buscar.
— Um jovem universitário hmm… — Emma responde, e pelo
timbre sei que ela está com segundas intenções.
— Ele é aluno do programa de doutorado, chama-se Nicolas.
— E ele é desses universitários gostosos?
— Não sei — respondo, e um movimento lá fora me chama
atenção.
Três caras sobem o morro, na lateral da minha janela,
correndo. Eles estão rindo de algo que o do meio, o único que usa
camisa, disse.
Do meu quarto, eu sinto a neblina gelada do amanhecer
tocando-me, sinto cheiro de café e antiguidade, se é que faz sentido
sentir cheiro de antiguidade.
— Pelo amor de Deus, você não sabe se um homem é
gostoso?
— Em, você sabe como sou para essas coisas. Ele tem vinte
e quatro anos, não vou reparar isso.
— Qual a maior idade do Brasil?
— Não sei, dezoito, eu acho. — Levando em consideração
que é a idade que se pode dirigir e devo ter alguma memória da
Olívia falando sobre.
— Então como a própria Olívia fala, caiu na rede é peixe,
bebê! — Gargalho da fala dela. Aprender sacanagens e frases de
sentido duplicado é simplesmente a cara da Emma.
Os rapazes param no casarão em frente a minha sacada e
começam a se alongar. O mais alto é negro, cabelo raspado e
barbudo. Posso ver daqui os sulcos abdominais. O suor escorre
entre eles e param no elástico da cueca branca. O outro, que da
soquinhos no abdômen do menor, no caso mais baixo, porque eles
não são nada pequenos, é loiro e segue o padrão do outro, definido
e suado.
O “menor”, o único de camisa, levanta o corpo que estava
alongando e passa a alongar os braços sorrindo e respondendo aos
demais. Um lindo sorriso aberto e claro, acompanhando de uma
pele amendoada e lábios médios. Os cabelos pretos e cacheados,
com um comprimento pouco abaixo da orelha, estão suados e
colados à testa.
Nicolas.
— Se ele não é menor, está tudo certo com o mundo. — A
voz de Emma me assalta do pequeno devaneio que estou tendo. —
Como são os homens aí? — gargalho da sua pergunta.
— Pergunte daqui uma semana. Por enquanto estou
tentando entender o que as pessoas falam comigo, e depois disso
irei prestar atenção nos homens. É só deles que você quer saber?
— Não! Você me conhece, tenho amor para dar e vender!
— Ficarei na espreita! Se eu conhecer alguém que possa ser
seu número… Talvez uma pessoa de origem italiana, com pelos
pelo peitoral e coxas…
— Argh! Obrigada por me lembrar que posso esbarrar em
Heitor a qualquer momento. Graças a Deus, Belle terminou! Vou
almoçar, mande notícias! Eu amo você. — Desconfio que Belle não
tenha chegado, mas ela ainda está sensível quanto ao ex/atual
amor.
— Também te amo.
— Pela sua cara, eu vou julgar que a sua semana foi uma
merda.
— Você me anima muito, Cadu. — Ele me dá um soquinho
no ombro e chama o garçom.
— Sei lá, só me parece isso. Vai falar o que aconteceu no
“fantástico mundo de Nicolas” essa semana? — Esse é o jeito que
Carlos Eduardo apelidou meus devaneios quando nos encontramos
a primeira vez e eu vomitei toda a minha história nele. — Não é
comum você beber na sexta-feira, ainda mais em um bar cheio de
alunos seus. E pior, negar uma ida ao The Jungle.
— Uma aluna abriu uma denúncia alegando — o que ela
estava alegando mesmo? Melhor maneirar na cerveja — sabe como
é… Sexo com o professor, ela queria nota, e você sabe como sou
em relação a isso… e aí meu reitor me pegou sem camisa, mas eu
estava de colete…
— Uai…Você quase nunca tira a camisa… — Viu só, André?
Engole essa, cuzão.
— E de colete — todos resolveram ignorar esse fato? —,
jogando bola com a turma de biologia, e enfim. Foi isso.
— Só isso?
— Aí o Bruno foi cuzão e falou… cê sabe. — Fiquei sem
tomar meus medicamentos por dois dias, devo contar essa parte?
— Tive uma sessão de terapia hoje e minha psicóloga falou que eu
não deveria canalizar meu ressentimento em transas casuais, e fez
aquele discurso sobre ética. Ética a qual, de acordo com a
sociedade e minha psicóloga, não estou levando a sério.
A verdade é que também sei disso, mas prefiro não admitir.
Nem para mim mesmo.
Certa vez, li um livro em que a personagem gostava de
gastar dinheiro com a terapeuta à toa, eu a julguei e me tornei
exatamente como ela pelo jeito.
— Boa noite, bem-vindo à República do Coreu, em que posso
ajudar? — O garçom interrompe nossa história.
— Amigo, traz um chopp artesanal, e duas doses de Salinas.
— Cadu responde ao garçom simpático.
— Não vou beber pinga hoje.
— Eu sei o que é melhor para você, relaxa. Mas você está
cansado de saber disso, certo?
— Por favor, Cadu, sermão não…
— Sermão sim, Alazão. — Eu odeio quando ele veste a
persona do Grilo Falante da minha vida — Já conversamos diversas
vezes, Nickinho, e para você estar aqui, nesse estado, tenho
certeza que não foi tão ok assim.
— Não foi, porra! Meu cu não passava wi-fi, Cadu. Eu dei
uma de grandão, pois estava tão puto com a aluna, com o André,
com o Bruno e suas falas atravessadas… A raiva me impulsionou…
Mas, queria sair correndo. É o trabalho da minha vida, faltam meses
agora, meses para foder tudo. Já imaginou perder mais de quatro
anos de pesquisa?
— Por causa de boceta ainda. Coisa que você pode ter aos
montes na The Jungle, e mais de uma por vez. Onde está o seu QI
altíssimo? Perdeu com o cabaço?
— Não fode, Carlos Eduardo.
— Eu já tinha te avisado, cara, essa merda de pegar aluna…
Isso uma hora ia dar ruim e não me venha com essa que você tem
regrinhas, é ridículo. Presta a atenção… Ela provavelmente não fez
uma denúncia formal, se não estaria te acolhendo em minha casa,
você ainda é um aluno no doutorado, perderia a bolsa, vaga de
professor e depois você ficaria sem teto, é o mínimo. Mas já pensou
no tanto de coisas que transar com elas poderia te acarretar?
— Sei.
— Não parece. Essa aluna te ameaçou por três pontos, e o
que vai ser da próxima vez? Elas vão dar para você em algum
momento querendo facilitação de provas? De trabalhos? E quando
não conseguirem, vão dizer que foram coagidas por você. Vão te
ameaçar sempre, e você vai viver nesse limbo, entre ética e tesão?
Cabe a você até um processo de assédio. E tudo isso por quê?
Você não consegue segurar seu pauzinho, como um adolescente
virgem de treze anos? — Faço dedo para ele que devolve.
Muito maduro, Nicolas.
— Eu sei disso tudo, não preciso que você liste os meus
delitos e em quais crimes me encaixo.
— Preciso, mas não vou entrar nesse ponto. E depois disso
tudo, você enfiou aqueles ossos de dinossauros no cu dele? Do
Bruno, ou do marido, tanto faz. — Cadu poderia ser muitas coisas,
mas ainda era o meu melhor amigo.
Pelo jeito, não só a foder ele iria me ensinar nessa vida.
— Não posso, é crime.
— Sério?
— Claro, depredação de patrimônio científico.
— Posso enfiar meu estetoscópio no rabo dele. — Gargalho
e viro o resto da minha cerveja. — Não é crime isso.
— Uai, exercer indevidamente a medicina veterinária, não é?
— Não é, nenhum deles estaria em uma consulta comigo.
Infelizmente, só posso consultar animais.
— Mas nós somos animais, sabe… Você deve ter estudado
em algum momento. Perante a taxonomia, somos classificados…
— Céus! Nem mesmo com álcool você desliga? Eu sei
espertinho, fiz faculdade também, ou você acha que tirei meu
CRMV[20] do cu? Não responda. Enfim, foda-se. Quem liga? — ele
dá de ombros. — Algo mais que eu deva saber do Nicolasverso? —
É a minha vez de dar de ombros e suspirar.
— E foi isso… Acho que vou recorrer ao celibato. Minha
psicóloga ficará feliz, minha carreira ficará feliz. A única parte triste
nesse acordo será meu pau.
— Jamais, boceta é bão demais. Reserve suas fodas para
The Jungle, e a terra voltará a girar normalmente. Lá você se farta,
ninguém se importa quem é você, e depois você volta para Ouro
Preto, e sabe como é, né? — Peço outra cerveja, e Cadu me olha.
— Já bebeu quanto hoje?
— Acho que essa é a terceira? Quarta?
— Você chegou há meia hora. Vamos agora beber água.
— Você estava me oferecendo cachaça agora.
— Mudei de ideia. Quero você sóbrio.
— Não vou na The Jungle hoje, amanhã tenho visita técnica
na Gruta Do Lapinha.
— Mais um motivo para você não beber… E tem mais.
— Mais?
— Estou considerando me mudar…
— Se mudar? Para onde?
— Não sei, cara… Você sabe que a minha vibe é gado…
Reprodução assistida, essas coisas, estou preso aqui há dois anos
cuidando de cachorro de madame… Não que eles não mereçam
cuidado, mas porra… Eu quero mais sabe?
— Hmm, você sabe que não combina com você, né?
— Como assim?
— Cadu, olha o seu estilo… Cara, você usa gola polo, seu
perfume é importado, o que é esse cardigan amarrado no pescoço?
— Olho para ele e busco mais sinais de heterotopismo.
— Nick! Qual é, cara?
— Você vai usar jaleco no pasto!
— E daí? Eu sou médico veterinário, é óbvio que eu vou usar
jaleco, é meu uniforme. — Apoio a cabeça nas mãos e sorrio para
ele. — É na fazenda onde minha mãe trabalha.
— Então isso já é certo? Você já está indo?
— Vou cumprir um mês de aviso prévio.
— Pelo amor de Deus, quero fotos de você trabalhando
enterrado no estrume! — gargalho. — Já pensou? Você tendo que ir
buscar leitõezinhos no chiqueiro, enchendo sua unha de lavagem!
— A cena é impossível de ser criada em minha cabeça, mas só de
pensar nela, eu automaticamente tenho crise de risos.
— Ha. Ha. Ha. Superengraçado, Nick, ria mais. — E é o que
eu faço! Não faz sentido tudo isso. É como misturar água e óleo. —
Vamos voltar ao seu falso celibato que não vai durar três dias?
Loren Thompson
Minha primeira semana transcorreu bem na cidade
encantada.
Vou sim continuar chamando esse lugar assim.
Ainda mais depois de passar uma semana inteira no museu.
A conservação da história, o cuidado com a exposição, as pessoas,
por quem encanto-me cada dia mais, me fazem agradecer muito a
insistência de Suzanne para que seguisse essa linha de pesquisa e
todo o incentivo para vir para cá.
Ah… As pessoas são algo que devo exaltar por aqui, pois
meu encantamento não pode ser descrito só por esse termo.
Precisa ser destrinchado.
O Senhor José ou Zé, como ele falou que posso chamá-lo, é
o marido da Dona Flor, e todos os dias quando eu desço para o
café, ele sorri e pergunta se estou precisando de alguma coisa.
Duas vezes por semana, ela coloca um buquezinho de flores locais
em um aparador que tem na entrada do meu quarto.
No domingo, eu dormi mais tempo do que o normal, quando
desci, pensei em ir até a padaria que achei no google, mas Flor, que
insiste em ser chamada assim, me levou até o cantinho da sua
cozinha, e me alimentou.
Céus, sinto que ganharei mais peso em seis meses do que
ganhei na última década.
Depois daquela terça-feira, a do futebol, não vi mais Nicolas.
Quer dizer oficialmente, pois ele parece seguir árduamente a
rotina de correr todos os dias pela manhã, sempre com os mesmos
rapazes. Durante dois dias, eu o vi correndo à noite. E, desde então,
mais nada.
Como ele mesmo disse naquele primeiro contato, a cidade é
quase fantasmagórica na segunda e na terça.
Estou mais um dia na minha segunda casa em Minas Gerais,
o Museu da Inconfidência.
André disse para eu ficar à vontade e, desde o dia que ele
me trouxe até aqui e me apresentou a gerente do museu, não o vi
mais.
Jamile, a gerente do museu, é uma moça — céus! já estou
começando a falar como eles — muito linda que parece morar aqui
dentro. Ela é sempre muito solícita e além de me explicar sobre a
exposição, sempre está disponível para me levar ao acervo e
ajudar-me a procurar o que eu acho que preciso.
Decido dedicar o dia de hoje ao “Salão do Império”, em busca
de sustentar minha tese que alguns costumes perduram até hoje na
sociedade. Seguro minha prancheta com forçae anoto alguns itens
que eu quero acessar no acervo do museu e, por incrível que
pareça, reconheço um timbre de voz.
— Atenção, turma, presta atenção em mim! O que
combinamos em sala de aula?
— Não podemos tocar nas peças do museu — uma voz jovial
responde. Aproximo-me deles, sem ficar completamente exposta e
os observo-os.
— O que mais? — Nicolas pergunta.
— Nem bater no vidro. — alguém atrás da fila responde.
— O que nós veremos nesse museu? — Ele torna e
perguntar.
— Resquício da presença da coroa portuguesa e a
inconfidência mineira — um adolescente responde na frente da fila.
— Muito bem, pessoal! As fichas técnicas nos auxiliam no
passeio. Não podemos sentar nos móveis, não podemos tocar em
nada, e onde vocês devem permanecer?
— Em frente aos seus olhos.
— Muito bem, começamos pela minha esquerda — Nicolas
começa a conduzir uma turma de adolescentes pelo Museu da
Inconfidência, e ainda não me viu.
Quésia, a neta de Dona Flor, vem com os alunos atrás, e com
eles tem mais duas professoras, pelo menos suponho que sejam.
Decido seguir sua visita ao museu, e percebo como sua
oratória é boa, como ele conduz os alunos e principalmente a
paciência que faz isso.
Ele explica como a casa funcionou ao longo dos anos, do
período em que a cidade foi capital do estado, de quando trocou o
nome de Vila Rica — porque era chamada assim — para Ouro
Preto.
Na sala do Império, mostra os resquícios da coroa
Portuguesa no Brasil, e eu anoto as coisas que ele fala, e pretendo
perguntar depois.
Nicolas abre um espaço para perguntas e então, por quinze
minutos, ele vai respondendo à turma de jovens animadamente.
Nicolas os libera para banheiro e água antes de seguirem com a
visita guiada.
— Pensei que você fosse biólogo — digo ao me aproximar.
— Loren — Ele dá um sorriso tímido, e acanhado, eu diria. —
Quanto tempo!
— Uma semana, não que eu esteja contando — dou-me
conta do que eu respondi e coro. Loren, é só um garoto.
— E sua pronúncia melhorou consideravelmente. Parabéns!
— Obrigada! — É bom ouvir isso. Os métodos de Oli foram
eficazes, mas estar inserida em lugares onde a língua é constante é
uma metodologia totalmente eficaz. — Então… decidiu continuar
sua graduação parada de história?
— Não… isso — ele aponta para as crianças — é um projeto
social. Eu me inscrevi há uns anos na secretaria de cultura e faço
um trabalho voluntário algumas vezes no mês com as crianças da
rede pública de ensino.
— Nossa, Nicolas! Isso é muito legal.
— Eu estudei na universidade pública, acho que todos
deveriam fazer algo em sociedade para “devolver” — ele faz aspas
com os dedos — para as pessoas de alguma forma todo o
conhecimento adquirido lá dentro. Meus pais sempre fizeram isso, e
decidi fazer o mesmo.
— Nick, as crianças estão prontas — Quésia aparece e
chama.
— Claro, vamos seguir.
— Posso acompanhar a visita guiada? — pergunto.
— Claro, fique à vontade. — Ele toma seu lugar na frente e
começa a conduzir a turma ao segundo piso do museu.
Começamos a visita pelo lado esquerdo do lugar onde temos
diversas pinturas de Mestre Ataíde, um pintor mineiro de estilo
barroco, superconceituado. Seguimos pelas salas de esculturas,
depois a sala de arte religiosa, passando pelas salas do triunfo
eucarístico, em seguida para a exposição de oratórios, e ele ressalta
a importância das peças para estabelecimento da religião, até
então, euro centralizada, o catolicismo romano.
Percebo que eu não havia levado em consideração as
crenças religiosas para minha tese antes das falas dele, e então
faço um círculo na palavra “religião” e depois tentarei perguntá-lo
mais sobre o assunto.
A sala de exposição de Aleijadinho ganha uma cara nova
quando Nicolas conta a história do escultor. Além de escultor, ele foi
um arquiteto e entalhador local, reconhecido nacionalmente pelas
suas obras e feitos durante o que Nicolas chamou de Brasil
Colonial.
Suas obras seguem um estilo barroco, nascido na Itália, e o
estilo rococó, aparentemente começado na França. Marco com
asterisco, para priorizar em meu texto, e sigo com a turma até a
exposição de mobília.
As pequenas camas, cadeiras e mesas chamam a atenção
dos alunos que questionam o professor à frente.
— Os europeus eram pequenos, logo a mobília seguia o
padrão do tamanho deles.
— A fessora de história disse que muitos de nós podemos ter
origem europeia, e você não é pequeno, fessor.
— Luana, eu sou belo-horizontino, não sei se posso entrar na
comparação da professora de vocês — a turma ri —, mas temos
que considerar que hoje em dia somos muito miscigenados.
Podemos ter alguma origem europeia, mas também podemos ter
uma parcela africana, e eles eram maiores. Sem contar nossas
origens indígenas. Para saber exatamente sobre nossas possíveis
origens, deveríamos, cada um, fazer teste de ancestralidade
genética.
— Ainda acho impossível uma mulher adulta cabê dentro
disso — uma aluna aponta o espartilho exposto e de fato é bem
pequeno.
— Vou provar para vocês que uma mulher europeia pode ser
menor.
— Hum, como, fesso?
— Loren, pode vir aqui na frente? — Loren, eu? Aponto para
mim, e ele sorri. — Essa é a Loren — ele diz quando, com meu
rosto, pescoço e colo corados, me dirijo até onde ele está —, minha
amiga inglesa. — Nicolas se abaixa e sussurra em meu ouvido —
Você já fez teste de ancestralidade genética? — Eu assinto e ele
revira os olhos. — É a cara dos estrangeiros fazerem isso. —
Concordo, porque contra fatos não há argumentos. — Qual o
resultado?
— Sou cinquenta e oito por cento inglesa, trinta e quatro por
cento irlandesa e oito por cento galesa.
— Uma puro sangue então — ele ri. — Como eu estava
falando, Loren é uma mulher cem por cento europeia, para ser mais
exato ela é de origem total das ilhas britânicas, ou seja, vai ser um
ótimo padrão comparativo. — Ele me pega pela mão e me coloca ao
lado da peça e me sinto envergonhada por ser o centro de atenção
daqueles pequenos jovens.
— Nuuuuu, fessô, ocê é treis veiz o tamanho dela, uai! —
Olho para Nicolas ao meu lado e percebo que realmente ele é bem
alto, comparado aos meus 1,54m. Olho-o de baixo para cima e, se
fosse beijá-lo, eu precisaria de um suporte.
Não que fosse beijá-lo um dia.
Obviamente.
Nicolas arranha a garganta e se volta para os alunos.
— Pois bem, como vocês podem ver, Loren, licença — ele
pede e toca minha clavícula com uma mão, e a outra toca meu osso
próximo ao cós da calça que estou usando. Sinto a temperatura da
sua mão, junto a pressão leve do seu toque, meu coração dispara e
meus pelos se eriçam —, tem o tronco menor do que a… Venha
aqui, Jéssica — uma aluna com a forma corporal próxima a minha
se aproxima receosa, mas para ao meu lado. — A anatomia das
duas é bem próxima, mas vocês percebem que — mesmo Loren
sendo uma mulher adulta, e Jéssica ainda estando em
desenvolvimento — tem uma diferença considerável de uma para a
outra? Levando em consideração que o espartilho era ajustado
debaixo dos seios, vocês conseguem ver que ele poderia ser usado
em Loren. Poderia talvez ficar um pouco apertado, pois todos…
— Estamos em constante evolução — alguém fala ao fundo,
e ele sorri.
— Bom saber que estão prestando atenção nas coisas que
eu digo em sala. Mas como Eduardo completou ali atrás, esse é um
espartilho europeu do século XVIII, então vários fatores nos trazem
a forma corporal que temos hoje. A demonstração de que os
europeus são menores, e que temos que levar em consideração
mais de duzentos anos cronológicos evolutivos, foi o suficiente para
vocês, senhoras e senhores?
— Sim! — um coro toma conta da sala que ecoa.
— Obrigado, Loren, por ser nossa modelo. Vamos continuar
nossa visita.
Essa já é a última sala de exposição, então ele abre para
perguntas de novo. Aguardo Nicolas finalizar as explicações,
prestando atenção e anotando algumas coisas.
— Próxima semana, nós vamos ao Museu de Mineralogia,
fechado? — combina com a turma que sorri animada — E a
professora Quésia vai levá-los de volta à sala de aula.
— Aaaaaah — um coro de insatisfação é solto pela turma, e
ele abre um sorriso.
— Sejam bonzinhos, se não, sem ajuda do tio Nick na feira
de ciências. Tcha-au! — ele dispensa a turma que segue em fila
para fora do museu.
— Ei, Nicolas, posso falar com você? — digo quando vejo-o
pegando suas coisas no guarda-volumes.
— Claro! Em que posso ajudar minha modelo inglesa? — o
jeito como seus olhos fixam em meu rosto me deixa sem graça,
coço a nuca, e penso se isso vai ser uma boa ideia.
Primeiro, ele pode nem topar, para começo de conversa…
Segundo, Nicolas parece ter tendência a ser invasivo, não
por consciência, pelo menos não parece ser, e eu sou reservada…
E…
— Loren?
— Desculpa, então… Eu vi que você tem um conhecimento…
Não sei a palavra para o que eu quero dizer. — Sinto-me corar, e ele
ergue uma sobrancelha.
— O que você quer falar?
— Quando você tem um conhecimento adquirido, entende?
— Sim, se chama etnoconhecimento.
— Isso! Dever ser isso. Como se escreve? — Ele pega a
prancheta e a caneta de minhas mãos, me toca no percurso, e
como desculpas oferece só um sorriso sem dentes.
Ele escreve a palavra em uma caligrafia elegante demais
para ser masculina, não que eu esteja estereotipando.
Percebo que estou a tempo demais analisando a palavra, e
então sorrio.
— Vou procurar no google se é isso, mas acredito que seja.
Enfim, você acha que poderia me ajudar com algumas coisas?
Talvez uma visita guiada pela cidade possa me auxiliar em
valorizar…? — é essa palavra? — e sustentar minha tese.
— Claro! Eu não posso me comprometer com uma
regularidade alta, mas acho que posso te levar para conhecer um
local por dia. O que acha?
— Para mim, ficaria ótimo.
— Bem, esse — ele pega novamente minha prancheta e
toma notas — é o meu número, me envia um “oi” e a gente
combina.
— Obrigada.
— Não por isso… Eu tenho uma pilha de provas para corrigir.
— Pilha? Isso não é aquele objeto que dá … eletricidade as coisas?
— Preciso realmente ir, e me dedicar a isso.
— Obrigada. Pela ajuda e disposição.
— Que isso, não é nada.
Loren Thompson
Releio minha tese, olho minha hipótese e nada.
Estou assim desde o horário que cheguei do museu.
Para ser específica duas horas.
Penso em Nicolas e nos ensinamentos que ele passou para o
grupo hoje, e penso se tem alguma fonte que eu possa usar e
melhorar o texto.
E é movida a isso que mando uma mensagem.
Oi.
Olá, Loren.
Sua resposta chega rápida, e vejo que a foto de perfil dele no
aplicativo de mensagens tem a cidade ao fundo, eu gostaria de ter
uma foto assim, pois acho que nunca mais voltarei aqui.
Afinal, minha viagem para cá é exclusivamente para essa
pesquisa.
Você disse que
eu poderia enviar
uma mensagem,
se precisasse
de ajuda, e seria
muito útil uma fonte
para justificar o meu
texto, os livros que André
disponibilizou são muito
subjetivos, a internet,
em sites acadêmicos, também.
Eu preciso da história local,
costumes locais, entende?
Você teria algo assim?
Seja livro ou revista científica
local?
Hmm..
Eu mesmo não tenho,
mas tem um cara daqui
que faz história, deixa eu
ver com ele.
Um minutinho.
Por que ele escreveu no diminutivo?
Enquanto eu espero, olho as horas e faço o cálculo se é tarde
ou não para ligar para Emma na Inglaterra.
Voltei.
Ele tem sim.
É um calhamaço.
Posso levar para você?
O que é um calhamaço?
Se eu precisar saber
o que é um calhamaço,
vou dispensar.
KK’
É um livro robusto,
grande… Entende?
Ah, okay.
Se você quiser
posso ir buscar,
não quero te
incomodar.
Loren –’
Eu moro em frente,
literalmente.
Vou levar para você.
Muito obrigada.
Vou descer.
Estou colocando os sapatos para descer, quando recebo um
e-mail da minha orientadora, com nossa diferença de horários,
quase não conseguimos nos falar algumas vezes. Respondo-lhe a
sua dúvida sobre as datas e desço.
Abro a porta abruptamente, e a cena que se desenrola na
curta calçada é o que me para.
Nicolas e Quésia parecem estar em um embate caloroso.
— Você não tem jeito! Parece que tem prazer em viver nessa
loucura. Você não é mais o bom moço que chegou aqui, e… —
Quésia o acusa gesticulando ferreamente. Já ele possui a postura
alerta e agarra o livro pesado em suas mãos.
— E o que você tem a ver com isso, Quésia?
— Eu gosto de você, e…
— E porra nenhuma. Você não pensava assim há cinco anos.
Podemos pular essa etapa? Já faz cinco anos. Cinco. Por favor,
pare de desgastar o respeito que ainda sinto por você, por causa da
Flor, só pare. — Eles namoraram?
É impressão minha, ou todos vêm ao mundo com uma veia
curiosa?
Se eu fosse Emma, seria cara de pau o bastante para
perguntar antes mesmo de dar boa noite.
Mas não sou a Emma, então vou dormir e sonhar com o
desfecho dessa história.
— Então vai ser assim? Você vai continuar enfiando seu
pau... — ele a corta.
— Vai, vai ser assim, vou continuar enfiando meu pau onde
quiser, quem quiser me dar e eu quiser comer, vou fazer e foda-se.
Para com isso. Ou eu mesmo vou conversar diretamente com a Flor.
— Já li livros eróticos demais desse país para não entender do que
se trata isso.
— Você vai envolver a vovó nisso? — Ela recua dois passos.
— Pelo amor de Deus e Nossa Senhora, Nicolas! Ela é uma idosa, e
nós somos adultos.
— Não estamos sendo adultos neste exato momento,
Quésia. Ir ao departamento e confirmar uma história que você não
conhece foi baixo... Até mesmo para você. É por isso que digo, se
insistir nisso, sim, vou conversar diretamente com a Flor!
Não vejo quando um hóspede se aproxima, mas levo um
susto ao ser cumprimentada e automaticamente notada.
— Noite, moça. — As duas cabeças que até agora
discutiam, se viram em minha direção.
Sinto toda a vergonha de ter sido pega espionando
estampada em meu rosto.
Posso jurar que ouvi um “Amém” sair da boca de Nicolas—
Acho que esse momento é inútil — ela diz sem graça, vindo em
direção à pousada.— Pelo menos nisso, concordamos.
— Boa noite — ela diz rudemente e entra sem esperar uma
réplica.
— Oi — cumprimento-o sem graça.
— Oi, Loren, me desculpe pelo show.
— Que show? — Prefiro sair pela tangente do que deixar
meu lado curioso tomar a vez.
— Isso é muito gentil de sua parte. Enfim, trouxe o livro, e ele
tem algumas marcações que meu colega usou no ano passado,
deve ser bem útil. — Ele me entrega o livro.
— Obrigada por isso. Eu estava achando o meu texto pouco
argumentado. Vai ser muito útil.
— Não por isso. — Ele tem o rosto tenso, de quem está com
a cabeça a mil, e quem precisa espairecer, ou vai explodir.
E eu não sei movida a que, decido fazer algo que não é o
meu comum.
— O André esteve um pouco ausente essa semana, e eu
descrevi minha metodologia, pelo menos acho que descrevi. Você já
tem o título de mestre, se importaria de dar uma olhada no meu
texto... Bom, eu sei que não é sua área de dominação, mas você se
ofereceu uma vez. — Ele protela um pouco, e logo emendo — Se
puder, obviamente.
— Posso, ia só me jogar no sofá mesmo, e ficar fazendo
vários nadas. — Eu sorrio, pelo menos acho que sim, e abro a porta,
guiando-o para o meu quarto.
O que raciocino depois, Céus! Estou levando um homem
jovem para o meu quarto, o que será que vão pensar de mim?
Mas, essas pessoas não têm nada a ver com a minha vida,
certo?
Deus, morar com Emma esses anos fez de mim uma libertina
que não liga para a opinião alheia.
O que essa atitude diz sobre mim?
Mas é um cara doze anos mais novo.
E você não vai fazer nada com ele, Loren.
— Esse é o meu quarto — abro a porta, convidando-o
silenciosamente para entrar.
— Esse é o melhor quarto da pousada.
Suponho que seja, pois é amplo, arejado, tem sacada
própria, janela do chão ao teto, banheiro privativo espaçoso e com
banheira. É bem tecnológico, mas mantém a arquitetura clássica da
cidade. E a luz que entra de manhã e no fim de tarde é maravilhosa.
— Deve ser…
— Vai por mim, é sim — ele é enfático na afirmativa.
— Como sabe? Parece estar tão certo disso.
— Porque morei aqui. Nesse mesmo quarto, durante quase
três anos.
— Mesmo?
— Sim. Quando fui aprovado na universidade, era menor de
idade. Meus pais não queriam sair da capital para ficar aqui comigo,
então até eu ficar maior de idade, morei aqui. A Flor é como uma
segunda mãe para mim. Ela passava um relatório semanal para a
minha mãe — ele sorri —, elas ficaram muito amigas. Até a minha
vaga na república surgir, fiquei aqui. — É assim que conheceu a
Quésia?
— E tem algum segredo seu arquivado aqui? — ergo a
sobrancelha para ele. — Talvez uma horcruxes [21]escondida? — Ele
gargalha e balança a cabeça.
Percebo que Nicolas mantém os cabelos um pouco mais
longos e ondulados, do que havia notado anteriormente, chegam a
cobrir a orelha. Essa observação direta da sua imagem, me deixa
um pouco desconcertada, abro o computador, enquanto ele fecha a
porta.
— Até tem, mas prefiro que você não desvende esse enigma,
e nem mate um pedaço da minha alma — fala baixinho.
— Bom, se você quiser pular a introdução e ir direto à
metodologia, não vou me importar — digo abrindo o arquivo.
— E perder os créditos? Não. Vou ler tudo o que você tem.
Eu leio bem rápido.
— Okay. Fique à vontade. — Dou espaço para ele se sentar
na minha mesinha de duas cadeiras. — Vou ficar na cama,
analisando o livro. Se ficar com dúvidas, é só falar.
— Sim, senhorita Thompson. Mas vai por mim, após mais de
quatro anos em uma sala de aula universitária, nada, repito, NADA
pode me chocar. Já li de tudo um pouco.
Ele senta-se e passa a ler o arquivo quieto.
Ficamos assim durante um tempo, e então meu celular toca.
Emma. Em uma chamada de vídeo. Não sei se devo atender,
pelo horário em Londres, ela pode bem estar tomando banho.
Nunca tivemos muitas restrições quanto a isso uma com a outra.
— Se eu atender, irei atrapalhar você?
— Jamais, fique à vontade. Já te falei, quem dá aula, está em
um outro nível de alma, somos canonizados, fazemos mais de uma
coisa ao mesmo tempo — ele segue lendo, e eu atendo-a.
— Oi, Emma. — Seu rosto um pouco bêbado preenche a
minha tela.
— Loooooooooou, eu estou numa pior.
— E bêbada. Você está sozinha?
— Não! Trouxe a Amber comigo.
Amber anteriormente era secretária de Daniel Valentine,
quando Emma começou a trabalhar lá, ela fazia a vez de relações
públicas e assistente dele, mas com Belle montando a própria
marca de roupas masculinas, Em obrigou — figurativa e literalmente
— Daniel promover Amber, sua amiga do café, de secretária para
assistente, e essa amizade vem crescendo a cada dia.
Um fato sobre Emma, é impossível não amá-la.
— Mande um “oi”. Onde vocês estão?
— No Magic Mike. — Ah, não! Emma vai ser a sociopata
perseguidora de gogoboys agora?
— Hmmm, não sei o que achar disso.
— Não tem que achar, pelo jeito o Heitor não está aqui
hoje, por isso eu bebi.
— Se ele tivesse... O que você faria?
— Um boquete! — Ela grita, e antes que eu possa abaixar o
áudio, Nicolas explode em uma gargalhada. — Quem está aí?
— É o Nicolas.
— O universitário?
— Sim. Ele é professor, pedi a ele um auxílio sobre minha
tese.
— Quero vê-lo! — ela diz animada.
— Nicolas, minha prima louca quer te conhecer — falo com
ele em português, pois estou no país dele, e por mais que não se
importe de conversar comigo em inglês, acho extremamente
soberbo conversar em outra língua.
— Acho que eu posso dizer “oi” — ele responde, ajeita o
corpo na cadeira, e sorri.
— Em, esse é o Nicolas — viro a câmera para que ela o
veja, e ele acena para o celular.
— Caralho, Lou, ele é gostoso! — ela diz empolgada, como
só uma Emma bêbada pode ser. Meu coração dispara, e eu fico
atônita. Ao contrário de Nicolas que gargalha.
— E ele fala inglês — falo alto desvirando a tela.
— Ótimo, assim posso desenrolar com ele. HEY NICK!
Minha casa em Londres está aberta para você! — ela diz alto.
— Posso ver se faço meu PhD aí — ele fala para que ela
escute.
— Minhas pernas também.
— Emma! — Eu deveria prever isso, por que, Deus?
Já é tarde demais, Nicolas se sacode de rir, com as mãos na
barriga, e o quarto parece ter aquecido ao ponto de fusão, tamanho
o calor que toma todo o meu corpo devido à vergonha.
— Vou desligar, a Amber trouxe shots, ligo amanhã. —
Simples assim, ela desliga.
— Me desculpe por isso.
— Por favor, me apresente sua prima. Jamais peça
desculpas. Eu estava tendo um dia de merda, e ela aliviou o meu
estresse.
— Que bom que se divertiu. Já eu, vou fingir que essa cena
nunca aconteceu, e vou perguntar o que está achando do meu
texto.
— Muito bom, vou deixar alguns comentários, para ver se
você consegue implementar, mas até então… Estou fascinado. Você
é muito inteligente!
— Isso vindo de uma pessoa que terminou o ensino médio
aos dezesseis — ironizo, e vou em sua direção, e antes que eu
chegue lá, recebo uma notificação de Emma no grupo que temos
com Olívia e Belle.
ALERTA: Loren está com o universitário gostoso, no quarto dela.
REPETINDO: NO QUARTO DELA. Eu aposto que ele tem um
tanquinho.
É o que basta para meu celular explodir de mensagens.
Nicolas Amaral
O problema do pecador é a tentação.
Na minha cabeça, a conta estava certa.
Eu estava firme e forte.
Nada de comer ninguém aqui.
E aí apareceu ela e sua tese. — As mensagens insinuantes,
das minhas companhias, continuavam, mas elas não são o pivô do
meu pau duro, não, elas não.
Caralho, que tesão da porra.
Eu tenho apenas vinte e quatro anos, não sei ainda o que
penso sobre céu e inferno.
Deus existir, ainda é uma incógnita para mim. Os estudos
dominicais nunca me convenceram de muita coisa, ainda mais
quando me falaram que o homem veio do barro e a mulher da
costela dele.
Mas o inferno, esse não há dúvidas de que existe, e ele é
bem aqui, agora. E possivelmente o elemento de tortura que eles
usarão hoje é o meu pau.
Todos os dias eu sigo a mesma rotina de correr pela manhã
com os caras da república, e estava tudo bem.
Porém agora eu vejo Loren em todos os lugares. O tempo
todo.
E detalhe, ela não mudou nada. Absolutamente, nada, na
rotina dela.
O mundo era normal, ela existe nele há mais tempo do que
eu. Doze anos para ser exato. E aí, ela resolveu ficar uns tempos
aqui. Tudo bem no universo, várias pessoas transitam
geograficamente o tempo todo. Sejam em viagens, intercâmbios ou
mudanças.
Mas essas pessoas não são a Loren.
Não tem a mente, e as palavras de conexão da Loren.
E nada é tão ruim que não possa piorar.
Pois agora além de vê-la, eu a percebo. É como positivo e
negativo, metal atraído pelo ímã.
Quando volto da corrida, ela geralmente está sentada na sua
sacada, uma xícara na mão, só de roupão, ora está lendo, ora está
ao telefone, e teve até um dia que estava passando hidratante nas
pernas, ainda de roupão e toalha na cabeça.
Essa imagem não deveria ser erótica, NÃO DEVERIA.
Mas se não deveria, por que eu tive uma ereção que me fez ir
para o banho sem me alongar?
Quando estava na graduação, o professor de Biologia
Evolutiva, nos deu uma missão: trazer para a aula o maior número
de “teorias” da criação do mundo. E o melhor desse trabalho era:
Ele não precisava de uma fonte científica segura. A ideia era discutir
sobre o assunto e nos fazer assimilar e nos convencer sobre a
veracidade da teoria do Big Bang e, por tabela, da teoria da Seleção
Natural de Charles Darwin.
Houve tantas histórias, umas mais absurdas do que as
outras. Mas a teoria que nossa realidade era algo como a realidade
assistida, como na série “Divergente”, era a que eu mais
desdenhava.
Seria tarde para acreditar nela?
Porque tenho absoluta certeza de que Loren veio parar aqui e
agora para ser a minha provação, e aí eu até posso acreditar que
ela foi mandada por alguma Divindade, para quando chegar meu
juízo final, eles passarem todo esse momento na tela de provas.
Principalmente a cena de ontem à noite.
Eu estava chegando da universidade, cansado. Fiz um
trabalho de campo com a turma, em outra cidade. Minhas botas
estavam carregadas de lama de caverna, havia carrapichos em toda
a minha calça e, no banho, achei samambaias em meu cabelo, que
eu precisava cortar, mas antes de entrar em casa, e morrer, pois
essa era a prioridade — mais uma vez —, recorri ao erro de olhar
para a janela de Loren.
Eram quase oito da noite, e ela estava enrolada em um robe
preto, e digitava concentrada em seu notebook, tão calmamente
seus dedos percorriam o teclado, e sua boca fazia um bico fofo.
Quanto tempo eu fiquei olhando isso? Não sei.
Mas quanto mais a olhava, mais queria ver quais as palavras
inteligentes que ela estaria colocando ali em seu texto, qual o
superplot de sua tese, qual a sua teoria sobre mais um documento
que outros antropólogos deixaram passar, mas ela cirurgicamente
iria discorrer um ou dois parágrafos inteligentes sobre eles.
Da última — e única — vez que li seu texto, ela havia usado
um pequeno trecho de uma tabela do século XVIII de compra e
venda de cavalos para comparar com tabelas usadas hoje por
hípicas mineiras. E adivinhem? Ela comprovou vários entrelaces da
época que permanecem até hoje. Sen-sa-ci-o-nal.
— Terra para Nicolas? Hellooo? — uma pequena mão é o
que me tira do devaneio. — Eu estava pensando se deveria chamar
um médico, estou te chamando há algum tempo.
— Desculpe, Loren, estava em outro mundo — o mundo do
seu cérebro e talvez de sua calcinha também.
— Você sumiu, faz o quê? Uns dez dias que não te vejo
desde que leu minha tese. Foi algo que Emma falou naquele dia?
Ela é impulsiva, fala muitas bobagens, mas é inofensiva — ela
divaga.
Faz treze dias, e contando.
Sara, minha amiga escritora — que conheci em um
congresso de anatomia e fisiologia comparada de mamíferos,
desistiu da carreira de bióloga, como acontece com noventa e nove
por cento das pessoas que se formam em biologia, e decidiu se
aventurar em escrever romances eróticos para o mundo —, em um
dos seus últimos lançamentos, um personagem masculino disse
uma vez: é foda ter duas cabeças e pensar com a de baixo. Ou foi
algo assim, mas o fato é que Stv, o cara do livro, tem toda a razão.
E é por isso que eu “sumi”.
Chama-se tesão incubado.
— Eu fico na capital alguns dias. De quinta a tarde, até
segunda de manhã. Chego à cidade por volta de 13h30, e nem
passo por aqui, vou direto para a universidade. Enfim, estou aqui e
sou todo seu milady. Em que posso ajudar? — Ela havia me enviado
uma mensagem antes de ontem à noite, pedindo uma ajuda.
Meu pau queria ajudá-la de várias maneiras, então tal qual
Kung Fu Panda, eu sentei, meditei e treinei a minha mente e meu
corpo para ter esse encontrinho com ela na terça à tarde.
— Ah, sim. Então, tenho seis meses, agora menos que cinco,
para toda essa pesquisa e desde quando cheguei, estou no Museu
da Inconfidência, o André disse que essa seria a minha segunda
casa. Mas tenho receio de saturar a pesquisa dentro de um único
tópico como justificativa. Não posso correr o risco de chegar a
Londres em janeiro, que é a data da minha entrega, e não ser
aprovada, sabe? É um gasto, e eu não estou querendo e nem posso
perder tempo com uma reprovação. Tenho planos. — Eu nem sei o
que ela começou a falar, mas sua boca rosada se mexendo durante
a fala, e suas sardas se movimentando de acordo com o movimento
maxilar, e essa voz cantada em um português fofo, me derreteu
todinho.
E foi por isso que eu fugi.
A semana toda.
Não dá.
— Sua sorte é que eu estou ao seu dispor hoje. Vamos, vou
te levar a um lugar — pego-a pela mão, e começo a descer a ladeira
que é para chegar até o Museu Casa dos Contos.
— Onde estamos indo? — Ela olha para minha mão grande,
segurando o seu pulso pequeno e fino com as sobrancelhas
arqueadas, e então a solto.
— Museu Casa dos Contos.
— Que seria…? Lembro do André citá-lo, mas não me
explicou sobre o que ele era.
— Um museu que vai te contar a história do dinheiro
nacional. Sobre a moeda, desde quando usávamos moedas de
troca, moedas de ouro e prata, até a moeda atual, que é o Real.
Acho que lá você conseguirá sustentar sua tese sobre a influência
europeia.
— Vocês têm quantos museus aqui?
— Treze, sem contar as igrejas, que são históricas também.
— E por que você não me disse isso antes? — indaga-me.
— Porque você não me perguntou. E você é estranha —
okay, eu poderia ter deixado esse pensamento sobre ela guardado
para mim.
— Estranha?
— Sim, você é toda… Europeia. E tem aquele jeitinho… Sabe
como? De ser fria e calculista. Acho que você poderia ser uma serial
killer, tamanha a sua frieza. Parece a Elsa. E eu falo demais — digo
quando olho para trás, e ela está com a expressão ultrajada. —
Desculpe, eu…
— Elsa? Que Elsa?
— De Frozen. Nunca assistiu Frozen? É uma animação.
— Eu sei de quem está falando, só que esse é um desenho
recente, não?
— Animação, Loren, é uma animação.
— E qual a diferença?
— Se eu falo com mulheres que eu vejo desenho, perde o
encanto, se falo que assisto animações, elas podem levar para algo
futurístico, 4K, alguma extensão de um jogo, e aí pareço um cara
descolado. — Olho para trás, e ela segura sua bolsa transversal, e
morde o lábio.
— É sério isso? — Por que sempre tenho que desatar a falar
como o Burrinho do Shrek? A descrença está estampada em sua
cara.
— Muito, e não ria. Eu amo aquelas animações com animais,
fico comparando com os animais reais.
— Seu preferido é qual então? A Era do Gelo?
— Não, esse fez uma bagunça na linha evolutiva, misturou os
animais de um período e outro, mas é didático, e os animais são
legais. Amo o Sid. Mas o melhor é Moana, com certeza. As músicas
são as melhores. — E algo inacreditável acontece, eu ouço uma
gargalhada espontânea de Loren, e esfrego os olhos para saber se
é real.
— Céus! — Ela enxuga o canto dos olhos, e eu sou
trombado, por uma pessoa que quer passar no pequeno passeio de
pedra-sabão, pela pressa do cidadão, ele não é daqui. Deve ser
paulista, paulistas estão quase sempre com pressa.
— Desse jeito vamos chegar lá quando o museu fechar.
— Desculpa, Nicolas, mas jamais imaginei que você assistiria
desenhos, ops, animações — ela se corrige antes que eu faça —,
vai me falar o quê agora? Que tem você tem top dez deles?
— Uai, Loren, é óbvio! É isso que biólogos fazem!
Selecionamos, nomeamos e classificamos. Faço isso com tudo na
vida.
— Sério?
— Bem sério, tenho uma pasta separada por nome e cores,
como o Christian Grey, mas ao invés de mulheres, são animações,
avaliações de alunos… etcetera.
— Meu Deus, você leu Cinquenta Tons de Cinza? — o
espanto está estampado em seu rosto.
— Loren, acho melhor a gente parar de falar sobre mim, isso
pode te assustar. Tem coisas que não me orgulho, e acho que não
ficaria confortável com isso. Não me orgulho nada. E vamos logo,
daqui a pouco alguém te acerta um trem, por você estar parada aí.
— Tudo bem, professor, vamos indo.
Belle: Odeio exercícios físicos, isso
não me deixa feliz. E ele ri. Fico
altamente estressada e excitada.
Emma: Tenho experiência. Vai
por mim, ele é gostoso. Mas
confesso que fiquei chateada,
eu estava pronta para um tanquinho.
— Será que sua prima está interessada? Acho que transar
com ela, não me daria problemas. — Ergo a cabeça para ele, e vejo
que ele ainda está lendo meu celular.
— Hey, você continua bisbilhotando — acuso-o.
— Estão falando sobre mim, tenho direito. Posso mandar foto
do tanquinho se quiser.
— Elas estão enchendo o saco…
— Me sinto bastante ofendido, me dá aqui esse celular. —
Ele pega o aparelho da minha mão, e ergue a blusa.
Chocada.
Não há como definir minha situação.
Nicolas, sempre usa roupas mais largas ao corpo. Eu não
havia prestado a atenção nisso.
E de forma alguma tinha imaginado o que estava por baixo
daquele moletom.
Não são músculos a lá Chris Hemsworth ou Dwayne
Johnson. Mas tem um pouco de músculo por ali.
E o tanquinho…
Não são seis ou oito quadradinhos completos, mas existe
uma marcação elegante, como de alguém que começou a malhar há
pouco tempo, talvez. O peito é delgado, mas também marcado.
Abaixo do umbigo tem ralos e poucos pelos castanhos que se
adentram para a cueca. Sua pelvis é saliente, e desenha um “V”,
pelo menos eu acho que é, requintado que desaparece em sua
vestimenta.
Percebo que estou encarando seu abdômen.
E eu não deveria gostar do que eu vejo.
Mas eu gosto. Bastante.
Só não posso admitir isso para ele, para ninguém na
verdade.
— Prontinho, enviada. — Ele põe o aparelho em cima da
mesa, então coloco um pedaço de torrada com galinha na boca,
para que eu tenha o que fazer. Acho que eu não conseguirei
conversar agora.
Prontinho!
Emma: Wooooow!
Aí sim! Eu vi qualidade!
Belle: O do Dan é mais
bonito, mas ainda assim
tenho que concordar com
Em, é bem instigante.
Olívia: Não é o Stv, mas
está de parabéns, cara!
GENTE!
Nicolas me olha, e pega o aparelho de mim de novo, e aperta
o áudio.
— Desculpe, senhoras. Vou me esforçar mais nos
exercícios físicos, para que em uma próxima imagem, eu
satisfaça a fantasia de vocês — ele gargalha faceiro.
— Já chega, que invasão de privacidade. Céus! Elas não têm
limites, e você também não conhece essa palavra.
Nicolas Amaral
Loren é amiga, não comida (DORY; AMARAL, 2022).
Darwin dizia que “para ser um bom observador, é preciso ser
um bom teórico”.
Quanto mais eu afirmar que ela é minha amiga, menos afim
dela eu vou ficar. Tenho que firmar sempre em minha mente a teoria
de que ela é minha amiga, e plim! Meu cérebro vai absorver e
armazenar essa ideia.
De volta ao território seguro. Friendzone o nome dele.
Essa é a teoria, mas em contrapartida temos a prática.
Há alguns dias venho pensando nisso.
Não teria problema, não é? Ela vai embora daqui uns meses
mesmo.
Nicolas! — Eu sou o juiz e carrasco dos meus próprios
pensamentos.
Mas não está dando certo!
Não tem como dar certo, se ela continuar com essas
olhadelas em minha direção, e soltando barulhinhos enquanto prova
as iguarias mineiras.
Já contei que ela está com um bigodinho de cerveja?
Pego um guardanapo, e levo ao seus lábios, e dessa vez ela
não se afasta. Acho que finalmente ela está começando ficar à
vontade em minha presença.
E você pensando nas sacanagens que quer com a moça.
Nicolas, você não presta.
Loren está corada e desligou o seu celular desde que enviei o
áudio para suas amigas.
— Você parece chocada com o meu tanquinho — resolvo
atormentá-la, pois já que não posso foder ninguém, pelo menos vou
ter uma diversão que não envolva o meu pau, quer dizer, não
diretamente.
— Nicolas, nada mais que vir de você irá me chocar — ela
diz forçando uma indiferença.
— Loren, Pãozinho de queijo, você não pode dizer isso para
mim.
— Vamos lá, tente.
— Tenho uma tatuagem na virilha. — Ela para o pastel no
meio do caminho para boca.
— Que tatuagem?
— Uma frase.
— Tudo bem, você está pedindo, que frase?
— Suck my[23], e três pontinhos — O pastel cai de sua mão,
direto para o prato.
— Você está brincando.
— É sério, calma, vou te mostrar — Me levanto e faço como
quem vai abrir a calça, mas ela põe as mãos em cima das minhas, e
me puxa para baixo.
— Para, Nicolas, você é doido? — Sua cara de desespero
me desarma e eu gargalho até lágrimas escorrerem no canto dos
meus olhos.
A cereja do bolo é ela corada.
Suas sardinhas ficam muito mais laranja quando ela fica
assim, é lindo de se ver.
— Somos amigos, todo amigo já viu o outro pelado. Que mal
faz? Vai me dizer que nunca viu suas amigas peladas?
— Minhas amigas sim.
— Loren, que frase mais sexista. Pois eu já vi meus amigos e
minhas amigas.
— Eu nunca tive amigos homens.
— Que vida triste a sua… Somos ótimos companheiros. Se
bem que… Nunca tive amigas mulheres, eu sempre dormi com elas,
e elas não queriam me ver depois.
— Nicolas, você está falando sério da tatuagem? — rio da
cara de desespero dela.
— É brincadeira, pode respirar aliviada. — Ela bebe mais um
pouco da sua cerveja. — Eu não sei por que você ficaria tão
chocada se fosse verdade!
— É tão … Não sei uma palavra para expressar o que eu
acho.
— Então eu não posso te contar um fato verdadeiro sobre
mim.
— Vá em frente, me choque.
— Já fiz sexo com mais quatro pessoas.
— Não, você está blefando.
— É sério. Por que eu iria mentir?
— Porque você gosta de me constranger.
— Pois acredite, Pãozinho de queijo, é verdade.
— Você e quatro mulheres?
— Eu, Cadu e mais três mulheres.
— Você já ficou com outro… — ela desvia o olhar, e percebo
que ficou sem jeito.
— Outro cara? — ela assente. — Não, outros homens nunca
me brilharam os olhos. Mas eu curto um pegging de vez em quando.
Gosto de ser mimado com uma massagem na próstata. Mas é
complicado fazer isso em sexo casual, e as pessoas não são tão
abertas assim, existe um preconceito muito grande em relação a
isso na heterossexualidade. E não é só chegar e fazer. Requer um
certo carinho, e cuidado. Pegging tem a ver com troca, segurança,
entrega e consentimento.
— E como isso funciona? — A curiosidade está mais
estampada do que o choque em sua face. E essa pergunta cai como
uma rocha em meu colo.
Entendam bem, minha cabeça de cima já aceitou, com muita
dor, que nada vai acontecer.
A de baixo não.
E ela está só imaginando os dedos delicados de Loren em
mim, enquanto eu gozo loucamente.
Apoio o tornozelo direito no joelho esquerdo a fim de
esconder minha ereção.
— Hm… O que especificamente? — Ela engole em seco.
— O pegging.
— Ah, não, senhorita. Não vamos ter essa conversa.
— Por quê?
— Porque não quero fazer de você um objeto das minhas
punhetas — jogo o melhor sorriso cafajeste, pois sei que fará com
que ela recue.
E como dois e dois são quatro, ela recua.
— Ah, tenho mais uma para te chocar.
— Acho que já é o suficiente. Entendi que você…
— Eu frequento um clube de sexo — interrompo-a. Sua
pequena mão cobre a sua boca, que está aberta em um “o”
maiúsculo. — Sua vez agora.
— Minha vez? — ela pergunta, ainda em completo estado de
choque.
— De me chocar.
— Acredite, em comparação a você, eu não tenho nada para
contar.
— Ah, não, nada disso, Pãozinho de queijo, você é doze
anos mais velha. Vamos lá, não é possível que não tenha coisas
para me contar. Um caso sórdido com um cara mais velho? Um cara
mais novo? Um número incontável de parceiros… Se esforce um
pouquinho.
— Nicolas… Vamos lá, não tem nada. Você está fazendo
amizade com a Thompson errada — ela sorri. — Talvez você deva
fazer amizade com a Emma. Ela faz sexo em grupo, — ela gargalha
— , dança de lingerie no Magic Mike, é adepta ao sexo casual e ela
te contaria histórias ótimas, ela é bissexual.
— Gostei dela, quando você voltar para Londres, depois de
dois meses eu irei defender meu doutorado, em dezembro eu chego
para fazer meu PhD, ela me ofereceu abrigo — lembro-a.
— Ah, vocês vão se divertir demais.
— Ótimo saber disso. Mas vamos lá, não fuja. Com quantos
pessoas você já transou?
— Você sabe essa conta?
— Não, Pãozinho de queijo, mas já deixamos claro que eu
combino com a outra Thompson. — Ela ri, e vejo que começa a
contar nos dedos. — Uau, você já encheu uma mão! — brinco
quando vejo ela marcando seis — e continua contando! Terceira
mão! Que safada, Thompson! — Ela sorri e me olha.
— Doze.
— Doze? As fodas da sua vida toda dão doze caras? — ela
assente.
— Eu não consigo só chegar e transar com um cara, tenho
que ter a mínima ligação com a pessoa.
— Você é demissexual então?
— Não sei se eu me encaixaria nisso, a terapeuta nunca me
classificou assim. Sei lá, só é estranho, para mim, ficar pelada na
frente de uma pessoa que eu nunca vi.
— É como a Jamie, a regra dos três encontros.
— Jamie?
— Amizade Colorida, o filme…
— Nunca vi.
— Isso é uma afronta! Tem o Justin Timberlake.
— Não sei mesmo qual é esse filme. Mas talvez não seja, o
que eu sinto não tem a ver com sentimento emocional ou afetivo. O
que eu sinto se remete mais a segurança. Houve dois caras que eu
tive algo sexual, casual puramente, mas eles me passaram
segurança no dinamismo todo. — Ela ergue as sobrancelhas,
parecendo surpresa pelo o que ela mesma disse.
— Vamos marcar de assistir o filme. Você não pode
atravessar o oceano de volta para a casa sem ver esse filme. É um
absurdo. Voltando ao seu número baixíssimo de parceiros sexuais.
Doze, Loren?
— Contando que eu fiquei com o mesmo cara por doze anos,
e nesse tempo fui casada por onze anos — espera, o quê? —,
sobram onze caras nos últimos cinco anos. Ou seja, eu sou uma
devassa. — Ela me olha — Você não concorda? O que foi? Por que
está me olhando com essa cara? — Eu não sei qual a minha cara,
mas, chocado é o mínimo.
— Você foi casada?
— Fui…
— Caralho, isso é chocante!
— Não é não. Você acha que alguém é incapaz de se casar
comigo? — Ela parece ofendida.
— Não, não, não. Como alguém é capaz de se casar com
você e deixar você ir? — Ela se assusta com a minha resposta.
— Não sei se te entendi…
— Olha só para você… Você é linda, carismática, inteligente
e gostosa, desculpe falar assim, mas se você não sabe que é,
deveria saber. E como um cara perde isso, me fala? Porque na
minha cabeça não faz sentido nenhum. E você está falando com o
cara que nunca cogitou a possibilidade de se casar… Tem noção do
tamanho desse paradigma? Loren, se você pedisse, eu me casaria
com você, sem pestanejar. — Ela revira os olhinhos aveludados, e
não dá créditos ao que eu acabei de falar.
— Pode ter partido de mim o rompimento.
— Verdade, isso faz sentido. Desculpe minha indelicadeza.
Posso perguntar por que você decidiu se separar?
— Pode, mas eu não vou te responder… — Ela toma o
restante de sua cerveja, e percebo que o seu humor mudou um
pouco.
— Desculpe, meu lado curioso às vezes se exaspera.
— É só que… é delicado e complicado. Envolve muitas
coisas, e eu nem sempre gosto de abrir essa caixinha. É algo que
eu abro para poucas pessoas.
— Tudo bem, preciso conquistar o lugar de melhor amigo. —
Ela dá de ombros e concorda. — Loren, eu vou ser o melhor amigo
da sua vida todinha. Vou pedir uma rodada de cerveja para
brindarmos a nossa melhor amizade.
Faço o trajeto para casa infinitas vezes mais leve, porém com
o pau duro. Dirijo com sua mão esquerda envolvida na minha direita,
às vezes mordisco seus dedos, e ela estremece.
Tomamos banho juntos na suíte da The Jungle, e não sei até
que ponto isso foi inteligente, pois minha ereção não baixou, e vê-la
pelada não estava ajudando. Porém eu queria ser cavalheiro, ao
contrário do meu pau.
Gozar com seus dedos me comendo foi uma experiência
extraordinária, mas agora eu queria me afundar nela, e até a
camisinha parecia zombar de mim quando a guardei de volta.
Quanto tempo será que eu deveria esperar para sugerir mais
uma vez comê-la ?
— Vamos pedir um fast food? — sugiro quando estamos de
volta em meu quarto.
— Você vai comer? — ela parece surpresa.
— Estou decretando a noite do lixo, quero um hambúrguer
gorduroso, cheio de cheddar, bacon e cebola.
— Nossa, parece até mesmo um homem crescido — seus
olhos se fecham em fendas e o deboche está estampado em sua
carinha fofa —, pelo menos para pedir o seu jantar, já que para
acabar com a minha excitação…
— Pãozinho de queijo, você está sugerindo que eu não te
satisfiz? — É minha vez de estreitar os olhos.
Ela está sentada em minha cama, descalça e com as pernas
cruzadas na beira da cama.
Loren dá de ombros.
— Não pelo tanto de promessa que você fez… Achei que
você ser novinho duraria mais.
Aproximo-me dela e empurro seus ombros delicadamente.
— Eu estava tentando ser gentil indo resolver sozinho minha
constante ereção e vontade de comer sua boceta, mas você, Loren,
vai engolir sua audácia de sugerir algo assim do meu pau.
— Hmm… Não sei, como isso será possível.
— Esqueça a física de Newton, vou te ensinar hoje como dois
corpos ocupam o mesmo lugar no espaço.
Pego sua calça pelo cós e puxo-a para fora com a calcinha,
passo a mão pelo seu corpo das panturrilhas a cintura, agarrando
sua blusa e atirando-a para trás, ela mesma tira o sutiã, e eu
removo minha roupa afoito e coloco a camisinha.
— Abre as pernas, deixa eu conferir se você está pronta para
o novinho te comer… — ela faz o que eu peço, e o brilho molhado
está ali, exposto para mim. — Sabe qual o seu erro?
— Qual?
— Me desafiar, você não sabe o quão tenaz eu posso ser…
Meio da cama, Srta. Thompson, e mantenha as pernas abertas. —
Vou ao banheiro e derramo um pouco de lubrificante, desses que
esquenta, nas mãos e me sento entre suas pernas.
Esfregando as mãos começo a massagear sua virilha e
recebo um grunhido baixo.
— Um dia, eu ainda vou fazer você gritar, mas não será
hoje…
— Nick…
— O quão boa de anatomia você é?
— Sou péssima.
— Que pena, eu sou ótimo… Sei por exemplo que aqui são
seus pequenos lábios — acaricio o lugar — e todos livros de
biologia ensinam isso… Sabe o que eles não ensinam?
— Nicolas… Vamos logo.
— Shiu, odeio ser interrompido quando estou dando aula…
Mas voltando: o que ninguém te conta é que aqui atrás temos o que
chamamos de raiz do clitóris, e elas se prolongam até aqui — paro o
dedo no fim dos grandes lábios — e anexo a elas, temos os bulbos
do vestíbulo, ou bulbos dos clitóris — subo e desço meus dedos
pressionando com um pouco mais de precisão o local, sentindo as
ondulações preenchidas — é um corpo cavernoso igual ao pênis,
que se enche de sangue quando você fica excitada… — esfrego a
mão quente e escorregadia por ela, de cima para baixo, sentindo
seu corpo vibrar.
— Merda, Nicolas, para com isso — ela geme.
— É para parar ou continuar?
— Continuar.
— Estou quase finalizando esse slide, baby… De fato quando
você tem a impressão da sua boceta estar inchada, ela está. Meu
veredito é que a sua boceta está inchada pra caralho, agora a
pergunta é: Você quer dar pra mim?
— Sim.
— Tsc, tsc, tsc… Resposta completa e justificada, Pãozinho
de queijo. O acréscimo de palavras de baixo calão adiciona dois
pontos.
— Eu quero dar para você.
— Você ficaria tão mais gostosa se soltasse um palavrão,
mas meu pau está doendo, e deixarei você de recuperação, talvez
em uma prova oral. Venha cá, Loren, senta no colo do novinho. —
Puxei-a pelos braços e faço-a sentar enganchada em mim, com os
peitos à disposição.
Por estar tão molhada e com lubrificante, ela desliza em meu
pau sedento, e eu realmente não poderia dormir sem isso.
Minhas pernas cruzadas em lótus lhe dão mais conforto de
descer e ter meu colo alto para sentar. Seguro sua cintura e ajudo-a
a subir e descer.
Seus seios balançam com os movimentos e é a visão do
paraíso.
— Nick, chupa…
— Se você falar um palavrãozinho, eu chupo.
— Nicolas…
— Estou só esperando…
— Porra, Nicolas, chupa meus peitos — sorrindo, aplaco seu
pedido afoito.
Somos uma mistura quente e suada de duas pessoas
tomadas pelo prazer cru, em que dois corpos buscam libertação, e
seria perfeito se eu pudesse empalá-la a mim.
Cedo demais seu corpo dá sinais de orgasmo, apertando
meu pau, esfregando-se com ganância em meu osso púbico, as
mãos fechadas em meu cabelo, gemendo e avisando que vai gozar.
Mamo mais apertado, mordendo o bico do seio, fechando
minhas mãos em sua bunda, puxando-a para baixo, elevando o meu
quadril, ela goza mordendo meu ombro para sufocar sua voz.
— Você quer mais, ou posso te encher de porra? Posso
meter em você até você gozar de novo — isso é fake news, mas ela
não precisa saber disso.
— Não, misericórdia — arremeto mais rápido, em metidas
curtas, liberando meu gozo dentro dela.
— Eu não pedi misericórdia… Aguento mais uma ou duas, e
você? — provoco-a.
— Preciso comer — sua barriga ronca, e eu gargalho.
— Eu ia te oferecer minha bunda, mas o monstro do Lago
Ness parece estar morando dentro de você.
— Não é nada educado apontar as necessidades fisiológicas
das pessoas.
— Desculpe-me, tentarei ser mais principesco deixando-a
tomar banho enquanto peço comida para acalentar o pequeno Ness
do seu estômago, tenho certeza de que é ele que as pessoas viram
naquele lago — ela me morde, rindo.
Quando foi a última noite em que eu passei do sexo quente
para a tranquilidade em poucos minutos?
Nicolas Amaral
Seria possível, Loren, fagocitar[35] meu pau para dentro de
sua boceta?
Pois, eu não vejo outra alternativa para sanar minha vontade
de tê-la empalada em mim a todo tempo.
Vlad Drácula estaria sentindo inveja de mim agora.
Com a Pãozinho de queijo em minha vida, foi abortado o ano
sabático. Se antes era difícil manter-me afastado dela, agora não
tinha como mesmo.
E mais do que em qualquer momento da minha vida, eu
anseio pelas férias. Diferente de antes, que provavelmente iria
hibernar em meu quarto com Elden Ring[36] por vinte dias inteiros,
essas férias gostaria de passar trepando.
Bom, se convencesse a Loren disso, pois nosso sexo matinal
de segunda foi a última vez que meu pau esteve detro dela, e ele
está sentindo falta.
Ser adulto é um porre!
Ser professor, nas últimas semanas de junho, é pior ainda,
todos querem férias, os alunos, a secretaria, eu…
E Loren não está aqui a passeio. O museu ficar fechado a
semana passada atrasou seu cronograma e, com o tempo apertado,
ela não podia se dar o luxo de transar comigo loucamente.
Para falar a verdade a única putaria que estava acontecendo
era com a minha escrivaninha lotada de relatórios para corrigir.
Além dos beijos, minha única companhia foi a minha mão
essa semana.
— Boa tarde, Flor mais linda do meu jardim! — beijo a
cabeça salpicada de fios brancos.
— Ôh, minino, onde cê se infiou?
— Uai, Flor, estava trabalhando em BH. Cheguei segunda à
tarde, hoje eu vou de novo.
— E tá aqui pro modo de quê intão? Vai vuar, daqui até lá?
— Vim pegar a Loren — A reprovação está estampada em
seu rostinho marcado pelo tempo e sinto um calor se acumulando
em meu rosto —,fiquei de levá-la para a festa junina da universidade
onde eu trabalho — busco me justificar. Não sei por que sinto a
necessidade de não deixar explícito para a doce senhora que eu
transei com Loren.
— Vi ocês na festa daqui ça semana…
— Somos amigos, estou mostrando para ela algumas coisas.
— Minino…
— Boa tarde, Flor! — Loren chega na recepção, salvando-me
de um sermão de mãe, abençoada seja essa mulher.
— Oi, Lo, cê tá boa ,fia?
— Sim, e você?
— Tamém… Nick disse que vai levá ocê em Beagá, pede
esse trem pra te levar nu forró du maleta.
— Anotado, agora temos que ir, senão meus alunos atrasam,
e eu quero tirar férias, beijos, Flor — pego a mala de mão de Loren,
e conduzo-a pelas costas.
— Boa tarde, Loren, Nicolas — Quésia nos cumprimenta
quando passamos.
— Boa tarde — Loren a responde, e eu só balanço a cabeça.
— Por que parece que estamos fugindo?
— Porque estamos, quer dizer, eu estou fugindo da Flor. —
Beijo a sua testa e em seguida mordo sua bochecha. — Como
passou a noite? Dormiu bem?
— Pouco, minha menstruação está para descer, comecei a
sentir cólicas.
— Sabe o que é bom para cólicas?
— Advil?
— Sexo!
— Nick!
— É sério, cientificamente comprovado… As endorfinas,
serotoninas…
— Qual a programação do fim de semana?
Dois dias.
Esse é o tempo para o humor de Nicolas melhorar.
Cadu me fazia rir, mas o irritava, o que era engraçado.
Eu ficava sentada de costas para o quarto, no meio da
parafernalha nerd dele, usando sua mesa para trabalhar em meu
artigo que, como ele mesmo citou um dia, parecia “menstruado de
tão vermelho”, mas ouvia hora ou outra a conversa deles.
Algumas vezes jogavam juntos, Nicolas lia um livro, enquanto
ao seu lado Cadu assistia algo em seu notebook, estávamos
“funcionando”. Mas, de fato, a melhor parte era quando Cadu
implicava com ele, pareciam dois irmãos às vezes.
— Sabe o que eu queria agora? — Nicolas pergunta tão perto
que me assusto.
— Você deveria ficar deitado… O que você quer?
— Um beijo, desses bem molhados e com bastante língua.
— Onde está o Cadu?
— Foi resolver umas coisas. E depois disso, tenho outro
pedido… — paro de digitar, e presto a atenção em sua postura
desleixada praticamente sentada na escrivaninha — Por favor,
vamos comer uma comida beeeem calórica.
— De repente, você melhorou o humor e ficou exigente?
— Não, exigência mesmo seria querer gozar… Isso é só um
mimo.
— Eu não sei dirigir aqui, vamos ter que ir andando.
— Tudo bem, e o meu beijo?
— Caso você se comporte, ganha na volta. Vamos.
Loren Thompson
— Quase vale a pena machucar para que você dê comida em
minha boca, sabia?
— Que horror, Nicolas! — Levo o refrigerante aos seus
lábios, enquanto ele segura o hambúrguer. Primeiro ele reclamou,
depois começou a repensar motivos positivos que o levaria a ficar
imobilizado, sob meus cuidados constantemente.
— É sério, me sinto um Rei! Só falta minha súdita se ajoelhar
para mim.
— Pois saiba você que…
— Nick Bolinha! — Um estranho, sem educação, senta-se em
nossa mesa e corta minha fala. — Ca-ra-lhooooo, não acredito. É
você mesmo? — Olho para Nicolas, e percebo algo errado.
Sua postura está rígida, o maxilar travado, e o hambúrguer
que ele ficou escolhendo por meia hora caiu da sua mão, direto para
a mesa.
— Meu nome é Nicolas.
— Ah Nick Bolinha, qual é… Desencana! Você está ótimo.
Quer dizer… Parece meio machucado, mas o físico… Melhorou
demais. Você perdeu o quê? Pelo menos uns cinquenta quilos.
Quem é essa? Sua irmã?
— Você sabe que só tenho um irmão mais velho, ele estudou
com seu irmão, Tiago.
— Claro, é verdade — o estranho toca a sua testa —, então é
sua amiga? Por que assim você claramente está magro, criou um
músculo ou outro e ficou até bonitinho, mas antes de me aproximar,
fiquei olhando-os por um tempo, para ter certeza de que era você. E
então, quando tive certeza, acabei me aproximando… Você sabe
que…— Nicolas limpa a mão no guardanapo e arrasta a cadeira
para trás, se levantando.
— Tiago, você já disse que eu era uma pessoa gorda. Não
precisa reforçar sua fala.
— Enfim — o rapaz morde o lábio —, só fiquei
impressionado. De verdade, parabéns! — pelo que exatamente o
estranho está parabenizando-o? — Ela é uma moça bonita, mas
você não conseguiria uma pessoa assim, e…
— Hmm, e como seria uma pessoa que eu conseguiria? —
Nicolas o encara, e eu olho de um para o outro.
— Não precisa me olhar assim cara, somos amigos, lembra?
Não precisamos disso.
— Se bem me lembro, nós não fomos amigos, em nenhum
dos anos que estudamos na mesma turma. Você queria saber e
especular se era Nicolas Oliveira Amaral, bom você confirmou. Não
vamos sentar e trocar trivialidades. Mais alguma coisa? — Eu vi
Nicolas de mau humor durante três dias seguidos e o que eu
percebo na cara dele agora, não é mau humor, parece…
Ressentimento.
— Nossa, cara, isso ficou no passado… Você ainda se
ressente por brincadeiras? Éramos crianças, Nick Bolinha, e…
— Eu já te falei que meu nome é Nicolas. Se passaram
quase dez anos, e se você ainda encara aquilo como brincadeira,
significa que por todo esse tempo, as coisas não evoluíram para
você.
— Eu acho que você está exagerando, como quando
crianças e…
— Tiago, eu não sou nada seu, você queria ver se era eu, e
sou. Não fomos amigos antes, e não seremos agora. Eu estou
machucado, só quero terminar meu lanche e ir para casa.
— Foi mal, aí — ele ergue ambas as mãos em sinal de
rendição, levanta-se da mesa ainda nos olhando.
— Pelos anos anteriores, ou por agora?
— Não queria atrapalhar o seu lanche — ele se vira e vai
embora.
Eu continuo sentada, por um momento, não sei como
proceder. Nicolas coça a cabeça, respira fundo, e força um sorriso
em minha direção.
— Será que podemos levar para casa e terminar lá? — Ele
pergunta olhando para baixo.
— Se você preferir assim, por você, não vejo problemas
nisso, mas se for por causa de terceiros… Acho melhor terminarmos
enquanto ainda está quente. — Ele assente e senta-se ao meu lado.
— Loren… — ele morde o lábio, seus olhos vagam para
vários lugares, menos para mim.
— Nick, eu não preciso saber as coisas que você não quer
compartilhar comigo. Foi isso que você me disse, certo? — ele
concorda — Está tudo bem. Depois disso aqui, você ainda vai me
pagar o milk shake? — Sorrio para ele.
— Claro, preciso alimentar esses vermes que vivem em você
— ele olha para o hambúrguer dele, que não dá mais para comer,
depois para mim e sorri.
Odeio reuniões.
Odeio ainda mais as reuniões de início de período letivo.
Quando uma vem seguida da outra, e essa última é sobre os
ajustes finais da minha tese de doutorado… Porra, só quero morrer.
Mas não posso, pois tenho planos com a Pãozinho de queijo.
Planos salientes.
— Hey, professor, posso entrar? — a pequena cabeça ruiva
desponta entre a porta e o batente sorrindo.
— Com certeza! — Loren desfila em minha direção,
colocando suas coisas na bancada da frente que está vazia. —
Como foi com o André?
— Foi ótimo, ele me elogiou, sabia? Me deu sugestão de
fotos que irei precisar para o artigo e para a apresentação, estava
todo educado e solícito. E a sua reunião?
— Reunião de doutorado, péssima.
— Por quê?
— Porque o Bruno quer introduzir algo que não quero, e
odiei. Se eu fizer isso, atraso de seis meses a um ano minha defesa,
quero e vou defender em novembro. Não faz sentido o que ele quer,
na verdade faz, para ele, para enaltecer o superego dele.
— Se não acredita, não faça. E a outra?
— Peguei duas turmas de primeiro período, e não tenho
material pronto para isso, por isso te chamei aqui… Sei que
marcamos um café à tarde, podemos atrasar um pouquinho?
Preciso só ver o que tem nesse laboratório para a aula inaugural.
— Claro, enquanto isso vou ver quais fotos tenho na nuvem
para o artigo.
— Sim, senhora, serei o mais breve o possível.
Enquanto ela está absorta em seu material, vou até a porta,
trancando-a, e trazendo o microscópio comigo.
Sigo organizando a bancada, fotografando o que preciso para
montar o plano de ensino e apostila, como quem não quer nada.
— Pãozinho de queijo, você já manuseou um microscópio?
— Há muitos anos, nas minhas primeiras matérias
generalistas. Por quê?
— Curiosidade… Na aula inicial eu gosto de colocar as
coisas comuns para os alunos no microscópio, eles ficam
alucinados. Pode ser minha cobaia?
— Nicolas… — Loren me olha de lado, desconfiada, morde a
boca, se levanta e vem em minha direção.
— Então, vou colocar no microscópio: bolha de sabão, pena,
detergente em pó, água contaminada, frutas, algumas lâminas
prontas, e você vai vendo. Depois me diz o que achou da aula — ela
assente, desconfiada.
Seguro a vontade de rir, para manter uma postura, mesmo
que eu queira despi-la, deitá-la na bancada e comê-la.
Começo a passar as lâminas e vou prestando atenção em
suas reações. Loren é tão fofa, tenho que me segurar demais para
não apertá-la e beijá-la durante a demonstração.
— Então, o que você achou?
— Muito legal, Nick, sério, nunca tinha parado para pensar
sobre essas coisas no microscópio.
— Qual você mais gostou?
— Das frutas! Sério, são perfeitas as fibras aumentadas
desse jeito.
— Só tem uma coisa que é mais legal do que isso tudo…
— O quê?
— Espermatozóides! Quer ver?
— Quero!
— Ótimo, você só precisa me ajudar a tirá-lo.
— Tirá-lo?
— Sim… Do escroto… — ela cora, e eu não me aguento,
gargalho a ponto de me sentar.
— Nicolas! Sério, não tem jeito! — ela bate em meu ombro —
Eu sabia que tinha alguma sacanagem em mente, como me deixei
ser ludibriada por você?
— Você não vai contribuir com a ciência? Que absurdo,
Loren. Poderia coletá-los sozinho, mas com companhia é mais legal.
— Você ia trazer sua… ejaculação para aula inaugural?
— Loren, os alunos não saberão que é minha. É material
biológico, quando colocamos as amostras ninguém fica
questionando de quem é o xixi, o esperma, o sangue ou as fezes.
— Biólogos são estranhos.
— Somos normais, vocês quem superestimam o normal.
Você prefere que eu faça o quê? Dê o potinho para um cara da
república e peça para eles? Ou pegue um aluno e peça que ele vá
ao banheiro e me traga uma amostra? Isso sim seria estranho.
Então, você vai me ajudar ou prefere que eu faça isso em casa
pensando em você?
— A aula é amanhã.
— Espermatozóides vivem até 72h. Sim ou não?
— Sim.
— Ótimo, vou te dar a melhor aula experimental da sua vida.
Nicolas Amaral
Pego-a pela cintura, sentando-a longe dos materiais
dispostos na bancada, sem perder tempo, tomo sua boca na minha,
já tirando a roupa de seu corpo afoitamente, sendo recepcionado
por ela pela mesma fome, em segundos estamos nus.
Ela com as pernas em volta da minha cintura, meu pau
dolorido em nosso meio, e o seu seio em minha boca.
Merda, por que Loren tem que ser tão gostosa?
Isso com certeza vai atrapalhar meu processo de esquecê-la
quando ela for embora.
Mordisco sua clavícula, sugando a pele alva, até marcá-la de
rosa claro.
— Eu não posso colocar o preservativo antes de tirar a
amostra, se não vai comprometê-la — sussurro em seu ouvido —,
acho melhor eu me tocar antes de seguirmos…
— Ah não, você não pode me excitar e fazer isso… — ela
desce as pernas e nos gira até que eu esteja com a bunda
encostada na bancada fria — e seu eu tirar com a boca? — Oi?
— Você está falando que vai me chupar até eu gozar? — Por
favor, sim!
— Se não atrapalhar a amostra…
— Não vai! — respondo depressa — Pode ter células
epiteliais ou bactérias, mas não vou corar a amostra então, não vão
aparecer, e…
— Nick, isso é um sim ou…
— É um sim com certeza! Cai de boca em mim, já tem uns
meses que sonho com você me chupando até gozar. — Loren se
ajoelha por cima de minhas roupas, suas mãos pequenas tocam
minha virilha, traçando suavemente minha tatuagem ela sorri, e
balança a cabeça, como se a visse pela primeira vez, ainda
desacreditada. Meu pau pulsa próximo ao seu rosto, a cabeça
inchada expelindo pré-semen. — Loren, Loren, eu ainda sonho
surrar suas bochechas rosadas com meu pau… — ela beija
delicadamente a gotícula robusta e sorri.
— Você não está ouvindo nenhuma negativa da minha parte
quanto a isso… — diz e abocanha-me, até metade.
Puta que pariu, ela disse isso?
Tento raciocinar, mas sua mão acariciando minhas bolas faz
com que eu perca o raciocínio.
Seguro-me na bancada, para não cair, enquanto Loren
desliza os lábios pelo meu prepúcio, mordiscando minha glande,
circulando meu óstio com a língua.
Pego-a pela nuca, e sua olhada de baixo para cima,
estremece-me ao ponto de querer encher sua boca de porra, de
colocá-la de quatro e fodê-la sem dó.
Puxo-a até que meu pau babado saia de sua boca.
— Espera, não é para acabar assim, rápido, e você está me
enlouquecendo.
— Uai, Nick, não é você o frequentador de swing aqui? Onde
está sua resistência?
Seu sorriso debochado, me desestabiliza, seguro meu pau
pela base e bato com ele em sua cara, surpreendendo-a.
— Toda vez que falar uai e rir debochada, vou tirar esse
sorriso daí com meu pau.
— Pois ele ainda não foi embora, uai… — sua provocação
faz a veia do meu pênis saltar, e minha boca enche de desejo.
Repito o movimento em sua outra bochecha, fazendo seu
sorriso ampliar, e sua boca captar-me quando com força meu pau
bate em seus lábios.
Loren me engole até o fim, minha cabeça toca a sua
garganta, eu tento recuar, mas com uma força desconhecida, ambas
as mãos seguram meu quadril, sou tomado pelo êxtase do vai e
vem de sua boca.
Quando percebe que me tem domado, sua mão desliza por
meu abdômen e tórax, o pequeno indicador me chama para baixar a
cabeça, eu o faço, seu dedo adentra meus lábios, chupo-o com
fome, como farei com seu grelo depois. Loren põe mais um dedo,
excitando-me ainda mais. Quando satisfeita, ela tira a mão, e leva-
os para acariciar-me no períneo, que é o paraíso.
Meus joelhos cedem, a ponto de quase eu ficar ajoelhado
para ela.
Olhando-a de cima, percebo os bicos dos seios rijos, quero
tocá-los, mas temo soltar a bancada e cair.
Meus olhos então fixam-se em meu pau entrando e saindo
entre os lábios finos, minhas bolas pesam com sua carícia, ela pisca
para mim e, antes que eu raciocine, seu indicador adentra em meu
cu.
Debruço-me de costas na bancada, encantado com toda a
onda de sensualidade que me toma, no melhor boquete que já
recebi na vida.
Delicada como só ela sabe ser, Loren toca minha próstata,
circulando-a, tirando meu pau de sua boca, só para lamber-me.
É o fim.
— Vou gozar, vou gozar, vou gozar, puta merda — minha
mão desesperada e meio trôpega busca o coletor na bancada,
despejando minha porra dentro. Estou tão entorpecido de prazer,
que demoro a perceber uma lenta masturbação vinda dela.
O suor escorre em minhas costas, minhas mãos tremem e
minha mente se inunda dos mais recentes flashes dela me
chupando.
Lentamente sua mão sai de dentro do meu ânus, fecho a
amostra, e estendo a mão livre para ajudá-la a se levantar.
— Você sabe que não vai dar, né?
— Para quê?
— Você ir embora, Pãozinho de queijo. — Pego-a no colo e
apoio-a na bancada.
— Essa possibilidade não existe, Nick.
— Pelo amor de Deus, você acredita nele, não faz isso,
Loren, estamos colocando sua puta interior para fora. Você faz o
melhor boquete da galáxia, como vou ficar sem você? — Deito
minha cabeça na curva do seu pescoço, sentindo seu pequeno
tremor, vindo do riso baixo.
— Bem, você vai ter que retirar todas suas amostras por
agora e congelá-las.
— Minha próxima amostra vai para dentro de você, isso
sim… Deite e abra as pernas — pego o preservativo dentro da
calça, e o coloco ao seu lado. Separadas na bancada, pego as três
pinças de madeira[39] e lhe mostro — aula básica de laboratório, que
objetos são esses?
— Pregadores de cabo longo?
— Não, não… E eu falei para abrir as pernas. — Lentamente
ela afasta as pernas, possibilitando-me ver o quão molhada ela está.
Meu pau recém-recuperado gosta do que vê, e minha boca saliva.
— Sem palpites? — ela dá de ombros — Pois bem, são pinças de
madeira, comprei especialmente para você.
— Três?
— Sim, duas para os mamilos, uma para o clitóris — ela
engole em seco, e seu queixo desce conforme a boca se abre de
surpresa.
— Você… — um delay a toma, e eu rio.
— Vou te comer a lá BDSM hypado em 2011, versão
cientista, que dizer, quase isso, e adivinha? Você vai gostar.
— Eu não estou acreditando…
— Nessa altura do campeonato? — Acaricio o mamilo
marronzinho, fazendo-a estremecer. — Você já deveria colocar mais
fé em mim… Ainda mais, agora que quero-a aqui, vou me empenhar
mais para que fique…
— Nicolas… — antes que ela faça um discurso inteiro
durante o sexo, beijo-a.
Longamente, molhado, com bastante língua, chupando seus
lábios entre os meus, pescando-os com meus dentes, para então
colocar minha língua na sua de novo, e mais uma vez, até sentir seu
corpo mole entre meus braços. O beijo é desses que fazem
barulhinho, estremece e arrepia.
O que me faz parar é a falta de ar. Porém, só migro de sua
boca para seus seios, tomando o primeiro mamilo afoitamente,
mordo-o e o estico com a minha língua, para tomá-lo em mamadas
lentas e longas.
Loren eleva o corpo, querendo dar-me mais dela, e assim eu
faço, abocanhando o pequeno seio por completo, fazendo-a rebolar
embaixo de mim e gemer. Quando sinto a textura inchada, tiro-o
com pesar da minha boca, em seguida encaixando a pinça de
madeira. Repito o mesmo tratamento com outro seio, e é uma visão
do caralho, os mamilos presos sob o longo cabo das pinças.
Sorrindo, desço pelo seu corpo, mordendo e chupando, até
alcançar meu prêmio final. Abocanho sua boceta, sugando o clitóris,
preendo entre os dentes com delicadeza, bato minha língua nele
rapidamente. Loren, se segura em meus cabelos, rebolando contra
minha boca.
Introduzo meu dedo médio nela, esfregando a parede frontal
rugosa, em seguida coloco mais um, abrindo-os um para cima e um
para baixo, meto-os nela, e sou agraciado com um gemido alto.
Seus pés se encaixam em meus ombros onde ela se apoia,
levantando o quadril para minha boca, fazendo com que eu acelere
os movimentos da língua e dedos. Antes que ela goze, eu paro, pois
se ela estiver contraída demais, não conseguirei entrar.
— Nicolas!
— Calma, Pãozinho de queijo! — visto o preservativo e meto
ela até o fim. Pego na bancada a embalagem esterilizada e retiro o
bastão de dentro. — Lembra-se o que é isso? — Mostro o objeto
para uma Loren extasiada e pedinte.
— É um bastão de vidro.
— Sim, mas hoje vai ser seu vibrador — abro os grandes
lábios e posiciono o bastão frio sobre clitóris. — Segure aqui,
querida. — Ela faz o que peço, eu pego a última pinça, fecho os
lábios em volta do bastão e os prendo. — Agora você vai desliza-lo
aqui.
— Merda, Nicolas… — ela geme quando começa a seguir
minha instrução — e você vai fazer o quê?
— Te comer gostoso — começo a me movimentar, entrando e
saindo de sua boceta.
Loren começa a se marturbar tímida, mas quanto mais sua
excitação cresce, mais a superfície lisa desliza no espaço apertado.
Aproveito o cabo longo das pinças, e as giro nos mamilos, às
vezes, abro-as minimamente, sem nunca deixar de meter em sua
boceta que, a cada investida, me aperta mais.
— Eu não consigo, essa porra está deslizando! — Loren,
frustrada, solta um palavrão, e isso faz meus pelos se eriçarem. —
Eu quero gozar e essa merda… — geme desapontada.
— Calma, meu amor, deixa eu te ajudar… — aperto mais a
pinça nos lábios, diminuindo o espaço do fino bastão. — Prontinho,
pode continuar.
Ela volta a desliza-lo com avidez, toda sua pele está
vermelha pelo esforço e excitação, percebo que Loren arqueia as
costas, sempre que giro as pinças nos mamilos e ela me prende ao
seu redor.
Sua boceta pulsa em volta do meu pau, fazendo minha fome
por ela aumentar, como-a com metidas curtas, meu pau, maior que
a média, consegue sentir o colo do seu útero, e quando o faço,
rebolo contra ela, que grita meu nome.
— Nicolas, eu … merda, não consigo.
— Solta, meu bem, deixa eu fazer você gozar — assumo o
controle do bastão em sua mão, que está molhado demais, não sei
se de suor ou do fluido dela, e passo a masturbá-la. Aperto-o mais
para baixo e, ao sentir o nervo endurecido, vibro minha mão sobre.
— Não para, por favor, isso, continua… — ela aperta os
próprios mamilos nas pinças, consigo vê-los perder a cor, pela força
que faz.
Tê-la nua, suada e pedinte sob mim, desperta-me uma onda
de luxúria tão grande, capaz de fazer minhas bolas se contraírem e
expelir minha porra sem que eu sinta.
O orgasmo intenso faz meu períneo se contrair e relaxar, tão
gostoso quanto as vezes de um pegging completo.
Masturbo-a com mais pressão e velocidade, até que ela
goze, derramando seus fluidos quentes sobre minha mão, meu pau
e o bastão.
Encosto minha cabeça em sua barriga para que eu possa
voltar para a órbita terrestre.
Seu abdômen subindo e descendo me faz querer dormir
assim, em uma gostosa onda pós-orgasmo.
— Você está viva?
— Não sei ainda — ela ri —, isso foi muito, muito bom.
— Por nada, quando precisar… é só pedir.
— Você vai deixar que eu leve essas coisas para a
Inglaterra? — De repente sou tomado por um aquecimento, que
começa no fundo do meu âmago, ao imaginar outro cara usando
meus utensílios nela. Levanto-me depressa, saindo de dentro dela.
— Não, o cara que quiser fazê-la gozar, terá que comprar
suas prórias coisas… Pensando bem, ninguém a fará gozar como
eu faço. — Começo a remover dela as pinças, mas a minha raiva
só cresce depois da minha frase, levando-me a perceber que o
problema não são as pinças ou bastão, ou qualquer outro utensílio
usado para o sexo… A questão é a imagem criada em minha mente
de Loren pedindo para outro cara fazê-la gozar.
— Não sinto minhas pernas.
— De nada. — Amarro o preservativo e descarto-o no
banheiro. Vejo-a estremecer por estar frio no laboratório, limpo-a
com rapidez e visto-lhe a calcinha, com sua ajuda, fazendo o
mesmo com o restante das suas roupas, em seguida me visto.
Descarto o papel, lavo as mãos, e encontro-a ainda sentada na
bancada.
— Está tudo bem?
— Sim… — calço as luvas descartáveis, preparo a lâmina,
meço 5µL[40] de sêmen pela pipeta, despejo-o sobre ela, sobreponho
a lamínula sem formar bolhas, coloco-a pronta no microscópio e
acerto o foco, vendo minhas células germinativas se movimentando
rapidamente.
— Tem certeza? — ela insiste.
— Sim, Loren. Venha, já dá para ver os espermatozóides —
chamo-a desviando sua atenção antes que ela insista nisso, e eu
seja obrigado a falar que estou com ciúmes, não acredito que estou
com ciúmes dela, de uma pessoa que não pode ser minha. — Por
eles dá para saber como meus filhos serão lindos. Talvez você deva
levá-los para Inglaterra e usá-los para sua fertilização. — Loren sorri
para mim e me leva na brincadeira, mas é toda uma verdade.
Abro espaço para que se aproxime. Enquanto ela segue
visualizando-os encantada, aproveito para respirar, e tentar eliminar
essa energia pulsante de dentro de mim. Céus! — como diz Loren
— acabei de ter dois orgasmos, não é para me sentir assim.
Temo que minhas glândulas suprarrenais estejam expelindo
tanto cortisol e epinefrina agora, que inibiram toda minha ocitocina
pós-orgásmica. Tudo isso pelo estresse do ciúme.
— Agora entendo, literalmente, sobre as pessoas
engravidarem com uma gotinha.
— É, cada µL tem milhões de espermatozóides.
— São bem rápidos.
— Amanhã pela manhã, na aula, eles estarão mais lentos —
suspiro — Hmm, aquele café pode ficar para outro dia? Vou precisar
montar pelo menos a ementa, e são quase 17h.
— Sem problemas — ela me olha, forço um sorriso, tento não
ajeitar tudo rápido e sair correndo.
Eu só quero sair daqui.
Loren Thompson
— Eu juro para vocês, eu sei o que estou falando. Conheço
meu corpo.
— Amiga, eu te vejo todo dia, almoçamos juntas sempre, sua
barriga não está aparecendo!
— O Dan disse que está, e eu acredito nele! — Belle e Emma
entraram nessa pauta desde quando perguntei sobre a gestação, na
nossa chamada de vídeo em grupo.
— Belle, puft! — Olívia, que está de touca de alumínio na
cabeça, colocando máscaras de skin care de tecido nela, e nas
meninas. — Se você falar com Dan que quer um pedaço da lua ele
vai buscar, você acha que iria negar a você o prazer de vê-la sorrir
pelo elogio a sua barriga? — Todas riem, pois contra fatos não há
argumentos.
— Lou, vou te mandar uma foto, e VOCÊ poderá tirar suas
PRÓPRIAS conclusões.
— Pode deixar, Belle! Como estão as crianças, Oli?
— Vão muito bem. Estou louca que você os conheça! Lucas
foi passar uma tarde com Steven no CT[41], o danadinho parece que
nasceu com uma bola no pé, estamos incentivando, tanto ele quanto
às meninas a descobrirem suas habilidades. Lucas não quer dar
chance a outras coisas, quer ir trabalhar todos os dias com o pai. —
A paixão do sonho realizado parece iluminá-la a ponto de
resplandecer-lá...
— Já marcou a passagem, Lou? — Emma me lembra porque
estou com o computador aberto sobre a cama há horas.
— Ainda não, estou olhando as opções ainda.
— Pelo amor de Deus, mulher, escolha logo essa data, você
é a única capacitada a me dar um vale-night, Emma só pode se
estiver sob supervisão também…
— Hey, eu sou a tia mais legal!
— Legal e legalmente responsável não são a mesma coisa,
amiga, continuando, e Dan quer contratar dois seguranças, um para
Belle e um para o bebê, então, ficar com duas adolescentes e uma
criança que AMA jogar bola dentro de casa, está fora de
cogitação… Só você pode me ajudar nisso.
— Oli, podemos ficar sozinhas, a gente dá conta do Lucas —
Maria tenta ajudar a mãe, o que é superfofo.
Há alguns dias, Oli comentou no grupo que Maria, por ser
mais velha, ainda não a chamou de mãe, diferente do irmão, Lucas,
que é mais novo, e está extasiado por ter pais. Percebo que a
maternidade tem diversos desafios, independente da forma que
você exerça ela. Mas, seja como for, Olívia está em êxtase com a
família, mesmo que a assistente social ainda esteja com eles, Maria
ainda a chame pelo nome, nada disso apaga seu brilho. Sophia
mesmo demorou anos para chamá-la de mãe.
— Mamãe está brincando, meu bem, ela só quer que a Tia
Loren volte para casa.
— Dois seguranças?
— Por favor, o homem acabou de esquecer esse assunto,
falem baixo! — Belle procura um fone de ouvido, e nós rimos dela.
— Quanto tempo você tem ainda? Quatro semanas?
— Três.
— Nossa! — Emma, para sua corrida noturna, me olha
surpresa. — Passou voando! Ainda bem, estou com saudades.
— Eu também, de todas vocês.
— Por que sua boca fala isso e sua linguagem corporal não?
— Olívia e sua expertise policial.
— Não é nada.
— Pois está me cheirando alguma coisa e, grávida, meus
instintos estão todos aguçados.
— Pois para mim, tem jeito de pau isso aí.
— EMMA! — Nós três a repreendemos, pois o celular de Oli
está sem fone.
— Desculpe, Oli! — Olívia vaga pelo quarto, e volta com um
fone no ouvido.
— Meninas, já volto — ela diz para as filhas que estão
deitadas na cama aos cochichos. — Ok, pode ir falando.
— Não tenho nada para falar.
— Você parece ter… — Belle insiste.
— Concordo. Por favor, não faça a gente esperar por três
semanas para você contar o que está acontecendo. — É um saco
ter Emma em minha vida às vezes.
— Eu e o Nicolas transamos.
— Meu Deus!
— Céus!
— Não acredito! — o caos se instala na conversa com as três
falando juntas.
— Quando?
— No aniversário?
— Ele come gostoso?
— Gente, vocês vão me enlouquecer! A primeira vez foi…
— Teve mais de uma? Que ódio de você, garota! — Emma
não me deixa terminar.
— Deixa ela falar — Olívia pede —, falta dez minutos para o
Steven chegar, e quero escutar tudo.
— Enfim, transamos bastante, foi um dia depois do
aniversário dele, sim, é gostoso — me limito a dizer essas coisas,
sem detalhes de compartilhamentos de passados, sobre ele estar
diferente esses dias, eu estar com pesar de ir embora, e etcetera.
— Cadê os detalhes? — Belle pede. — Eu conto tudo que o
Dan faz comigo. —Realmente, mas o caso é que ninguém pede,
quer dizer, Emma sempre pede detalhes, e nada a abala, mesmo
que esteja falando dos seus chefes. De acordo com ela, existe o
momento do crachá, e esses compartilhamentos são feitos fora
dele.
— Eu também — Emma concorda —, não o Dan,
obviamente.
— Meninas! — Olívia chama. — Talvez não seja o momento
— ela pisca, como se eu não estivesse na chamada — e tem algum
problema, Lou?
— Não, nenhum.
— Você parece triste, e…
— Pãozinho de queijo, cheguei! — Nicolas abre a porta do
quarto, cortando Olívia, e entra, me salvando de uma conversa que
não sei se saberia conduzir no momento. Afinal, o que é tudo isso
que está acontecendo agora? — Ops, desculpe, achei que estivesse
pronta. — tiro o fone esquerdo do ouvido e respondo-o sorrindo.
— Já estou, é só me despedir aqui. — Ele vaga pelo quarto,
se deita na minha cama e tira o celular do bolso.
— Que essas três semanas voem! — Emma reclama. Por
algum motivo desconhecido, meu coração se aperta e a última coisa
que eu quero é que as próximas semanas passem rápido.
— Okay, Okay, meninas, bora nos despedir, alguém tem
compromisso! — Belle começa a se despedir, em seguida sai da
chamada, Emma faz o mesmo, e Olívia me olha daquele jeito que
só ela sabe.
— Sei que não temos muito tempo, e não posso falar tudo
que eu quero… — ela olha para algo atrás dela, e sua atenção
desvia com o som da porta abrindo — LUCAS! Sem bola! Você está
imundo! Steven, meu Deus! — seu filho responde longe demais
para que eu entenda. — Vai para o banho sim, você e seu pai!
Logo! Steve, tem grama no cabelo dele! — Rio ao vê-la nervosa, e
ela coloca no mute.
— Já estamos acabando aqui — aponto para o celular. Ele
desvia o olho de seu celular, sorrindo, e me manda um beijo.
— Sem problemas, estou a sua disposição, milady.
Menos de um minuto ela volta a falar comigo
— Desculpe, chegaram antes, tem grama para todos os
lados. Enfim, voltando. Você não precisa me responder, sei que
Nicolas está próximo. Mas o fato é que há pouco mais de um ano
você chegou para que eu te ensinasse português, e aí está você. Do
outro lado do oceano, conquistando um sonho. No entanto, nesses
meses percebi que não só um título acadêmico te conquistou aí. E
nessa última hora, durante toda essa fala demasiada e sem pauta
nossa, só consegui reparar em uma coisa.
— O quê?
— Seu olhar. E sabe o que achei nele? — eu balanço a
cabeça em negativa — Eu. Não a Olívia Brown, de agora, com o
emprego que amo e realizando o maior sonho da minha vida que é
ter a minha própria família. Encontrei-me em seu olhar, no ano de
2019, quando eu percebi que queria pertencer a isso aqui — ela
gesticula para a casa —, queria o lar que Steve criou, queria
pertencimento, era só isso. Eu queria ficar, e foi isso que enxerguei
em você na última hora. E não tem problema nenhum nisso. Se for
da sua vontade e o desejo do seu coração, não se apegue a nada e
ninguém além de você, pois, se tem algo que aprendi nessa vida, é
que só nós podemos ser felizes por nós mesmas. Mais ninguém tem
esse poder. — Sinto minha garganta fechar, como um pré-choro, e
meu nariz arder.
— Obrigada.
— Não por isso. Agora vou deixá-la livre para cuidar do seu
garoto. Beijos, amo você.
— Eu também — respiro fundo, e tiro os fones por completo.
— Ei, você sumiu! — Sento-me ao lado livre da cama, e Nick larga o
celular.
— Odeio primeiros semestres! — Ele se arrasta até deitar em
meu colo. — Os alunos chegam pensando que universidade é
American Pie. — Ele suspira e parece bastante cansado.
— Nick, deixa-os. Daqui a pouco passa.
— Passa mesmo, principalmente quando receberem a prova
toda riscada. Sabe qual a maior nota da turma de Anatomia
Humana?
— Não faço ideia.
— 3,8 em 10.
— Nicolas, os alunos foram mal ou você pesou a mão na
nota? — conhecendo-o, sei do que ele é capaz.
— Posso ter tirado alguns décimos por respostas
incompletas… Porque falanges não são só falanges. Existem as
falanges proximais, as falanges médias e as falanges distais.
— Qual a diferença?
— As distais, são essas — ele aponta para a ponta dos seus
dedos. — É essa que mastubo o seu clitóris e que consigo aplicar a
pressão que você gosta; as médias são essas que curvo meus
dedos dentro de você e esfrego suas paredes rugosas, fazendo-a
suplicar por mais; e as proximais são as que me limitam, fico puto,
tiro os dedos e te meto logo o pau, pois sei que é o que você gosta,
e vai pedir em seguida.
— Nicolas! — empurro o seu ombro — E se um aluno te
responde isso na prova?
— Bom, se ele estiver falando de uma boceta que não seja a
sua, é dez, pela criatividade. Caso contrário é zero, pois você é
minha, então…
— Meu Deus, você só conhece os limites das suas falanges
proximais. — Ele gargalha e se vira de lado mordendo meu joelho.
— Você está olhando a passagem para ir embora? — Ele se
levanta no rompante, quase batendo a cabeça na minha.
— Sim, estava analisando dias e horários. Toda a parte
prática da minha pesquisa está pronta, qualquer coisa que vier a
precisar, poderei pedir a Jamile, André, ou até mesmo você…
Preciso repor as aulas que meus colegas deram por mim durante
minha ausência, então, por mais que queira tirar umas férias por
aqui, preciso voltar para Londres.
— Hmm, entendo. Quando você está pensando em ir?
— Dez de setembro, achei um voo de São Paulo para
Londres, direto. Ele partirá às 22h daqui. Chegarei mais ou menos
às 15h, no horário de lá. Chegarei no outono, então é bom que seja
esse horário. Não estou nada animada com o frio. Odeio o frio. Por
fim, achei um voo que sairá de Confins para São Paulo às 16h, não
quero me arriscar e perder o voo.
— Entendi. Podemos ir? Não quero chegar em BH tarde.
Chegar lá tarde é dormir tarde, e ter que dar aula às 7h não me
anima.
— Podemos.
Sorrio ao ver a sua assinatura, e um lugar para eu assinar.
Um post-it está sob a linha que deverei rubricar, escrito:
Parabéns, Pãozinho de queijo, você está formada na escola Nicolas
de idiomas.
Quando tiro o certificado, o livro que ele me emprestou e
pediu muito cuidado está ali, O Lorde que Eu Abandonei. Abro-o e
na capa mais um recado: Não sei se você sabe, mas por acaso
pegou esse livro emprestado, e é meu romance de época preferido.
Primeiro porque envolve um cara santo e uma moça extremamente
pecadora, quer enredo mais delicioso que esse? É o auge da
perversão! Segundo, mas talvez seja complemento do primeiro, é
um romance de época com BDSM, é sensacional! Como ninguém
pensou nisso antes? Terceiro, você consegue compreender que
Alice e Henry são completamente opostos, e é isso que nós somos?
Ah, e espero que não se importe, mas tornei-o único para você,
assim, quando ler, saberá exatamente o que eu sinto ao lê-lo.
Abro na primeira página do livro e um post-it azul marca a
descrição dos olhos de Alice, a personagem principal, feita por
Henry — “Olhos de pomba” — e a observação de Nicolas: Tão
brega, mas tão único. Tal qual Pãozinho de queijo. Folheio o livro e
ele está todo assim, com observações, alguns adesivos, como no
capítulo em que eles ficam presos na neve, vários floquinhos de
neve enfeitam a página. Às vezes surgem aesthetics[43] que
remetem à cena, presos com um grampo minúsculo, como quando
os trechos descrevem vestimentas, objetos ou lugares. As cenas
eróticas vêm acompanhadas de adesivos com carinhas safadas,
onde ele não gosta das atitudes das personagens, vem com
carinhas bravas, é encantador o tamanho da sua criatividade.
Tiro o livro da caixa, e sou recebida por uma pequena
caixinha, e antes de abri-la o último recado: Para você entender a
forma que eu te enxergo.
Com as mãos tremendo mais do que o normal, abro-a,
deparando-me com um chaveiro que se parece com um livro,
destaco o botão, e afundo-me no mar de lágrimas, quase que
literalmente.
Impressas em formato polaroid, minifotografias fazem um
álbum de fotos. Minhas, na cachoeira em seu aniversário, no
museu, no Palácio da Liberdade, distraída, sorrindo, concentrada…
Minhas lágrimas impedem que eu veja com clareza todas.
Respiro fundo, sem me importar que soluce copiosamente.
Deparo-me com uma camisa branca sua, a mesma que dormi
em algumas noites, um bilhetinho anexado nela, diz que é para eu
dormir com o seu cheiro, e me sentir em casa na Inglaterra.
E no fundo, impressa no mesmo papel bonito do certificado, a
última peça da caixa.
Pego-a e percebo que é o desenho de uma cladogênese. O
título é o que me chama a atenção: Teoria da Seleção do amor, por
Nicolas Amaral.
Baseada no esboço de Charles Darwin, cada ramificação tem
uma informação que me faz sorrir: Ter uma decepção amorosa,
Frequentar The Jugle, Fazer sexo casual são os primeiros ramos,
ele faz uma marcação importante, e nela escreveu: Buscar uma
estranha no aeroporto, e depois mais tópicos: Salvar a vida dela de
aranhas, Ajudá-la a escolher biquini, Transar com ela, Levá-la ao
aeroporto e Se despedir.
Por que você fez isso comigo, Nicolas?
Duas horas.
Esse é o tempo que Oli demora para me resgatar, mesmo
que eu tenha pedido a enfermeira que me liberasse logo, pois não
tinham mais nenhum sinal de náusea ou tontura.
Durante a viagem de volta sinto um pequeno refluxo, mas o
seguro fortemente.
Sou distraída pelas crianças que vão no banco de trás
conversando entre elas. Enquanto Lucas conta que fez três gols, um
para cada irmã e um para a mãe, as irmãs contam para ele sobre o
dia delas, eu acho isso superfofo.
Minha cabeça dói um pouco, e julgo ser pela enfermeira que
me estressou o tempo todo.
— Está entregue! — Oli desliga o carro e sorri.
— Muito obrigada, sério! Eu estava a ponto de sacudir a
enfermeira.
— Hmm, um pouco agressiva pelos seus padrões — penso
nessa fala e percebo que, sim, não é algo que eu tipicamente
comentaria ou faria.
— Você quer subir? — pergunto quando solto o cinto.
— Quero sim — ela se estica, abre o porta luvas e deixa em
meu colo uma sacola. — Abra. Acho que você vai precisar que
alguém te dê um copo d’água.
Abro o pequeno embrulho, e tem dois testes de gravidez
dentro.
— Para quê isso?
— Para você fazer. Náusea, tontura, má alimentação, só
sente sono, agora desmaios e agressividade. Sabe quem estava se
sentindo assim? A Belle, e ela está grávida.
— Não, isso é porque voltei do Brasil há uma semana, não
me adaptei ainda, frio, fuso horário, você sabe como é… Sem contar
que uso DIU, e usamos… você sabe. — Olho para as crianças no
banco traseiro. — Não existe essa possibilidade.
— Então não faz mal descartarmos. Certo?
— Okay, vamos lá — assumo a coragem que não tenho e
descemos do carro.
Maria e Sophia colocam Lucas entre elas e o seguram pela
mão para atravessarmos. Olívia os conduz segurando nas mãos de
Maria até entramos, onde ela pede que as crianças não mexam em
nada e sentem-se porque não vão demorar.
— Lou, já acabou? — É a quarta vez que Oli bate na porta.
— Eu não estou conseguindo fazer xixi! — grito para ela de
dentro da porta, já ficando estressada. Isso deve ser a TPM,
certeza!
Que dia eu menstruei, hein?
— Bebe água!
— Eu já bebi os três copos que você me deu.
— Liga a torneira, sempre ajuda!
— Estou me sentindo quando a minha mãe me levava para
exames de rotina — ligo a torneira reclamando.
— Pois se o universo conspirou, como diz a Belle — ela
gargalha do outro lado da porta —, logo você saberá dar essa
entonação de comando.
— Não tem graça! — Sinto uma micro vontade de fazer xixi,
sento-me no sanitário novamente e forço a bexiga. Um mísero
copinho é tudo o que sai, mas tem que servir.
— E aí?
— Calma, estou mergulhando o palitinho — visto-me e abro a
porta. — Pronto, na embalagem diz cinco minutos. Mas você gastou
suas libras à toa. — Oli entra no banheiro e senta-se sobre a pia
enquanto me sento na tampa do vaso.
— Não tem problema, eu ganho bem — ela dá de ombros,
olhando no celular.
Se Nicolas estivesse aqui, me compararia ao Burrinho do
Shrek, quando eles estão indo a Tão Tão Distante, pois a cada dez
segundos, eu pergunto se já deu tempo, o que me faz calar é Olívia
com seu olhar mordaz.
— Você não deveria estar ansiosa. Disse agora a pouco que
é impossível.
— Oli, se isso aconteceu, você sabe que o pai está do outro
lado do oceano, certo?
— Arrã, por quê?
— Ele tem vinte e cinco anos!
— Arrã, por quê?
— Ele é quase doze anos mais novo!
— Arrã, por quê?
— Para! Você está parecendo o Olaf! — Let it go, Loren!
Péssima hora para fazer piada na minha cabeça, Nicolas!
Olívia gargalha e balança as pernas despreocupadamente.
— Você sabia que duas a cada mil mulheres engravidam
usando DIU? Li isso na internet, enquanto você estava se forçando
a fazer xixi.
— Você não está ajudando.
— Só significa que se você for uma delas, só existe mais uma
— ela ergue os braços em uma falsa comoção — eeeeeeeeh.
— Olívia! É uma criança!
— Eu sei, tenho três! Você não disse que iria tentar em
janeiro?
— Estamos em setembro, tenho um título para obter.
— E você vai, Lou, não pira. Estou tentando te ajudar, mas
meu arsenal de desculpas e motivação estão quase no fim. Olha —
ela desce na pia e se ajoelha entre minhas pernas. — Eu entendo
que está assustada, de verdade, e seja lá qual for a solução que
queira nesse momento, vou estar aqui, e as meninas também. Mas
se você queria ter um filho, ele só deu uma antecipada, de uns
meses. Eu vi como você desceu daquele avião e, nessa semana,
diversas vezes te vi olhando o celular ou então distante demais da
conversa.
— Eu estou com saudade dele.
— Me surpreenderia se não estivesse, pelo que eu percebi
vocês se amam de verdade. Confio no seu julgamento, se ficou com
Nicolas durante todo o tempo, ele é especial, e é um ser humano
incrível. Ele não vai abandonar você ou o bebê.
— Mas eu não posso exigir nada dele! Ele é um menino
ainda, e…
— Loren, por favor, se faz sexo tem que saber que existe a
possibilidade de um bebê. Nicolas não é uma criança, tem vinte e
cinco anos, e pode muito bem assumir os atos dele. E se ele
abandonar vocês, estaremos aqui.
— Não acho que ele faria isso.
— Ótimo, evita de ganhar um tiro de mim.
— Você anda muito perigosa com sua arma. — Ela gargalha
e seu celular desperta, anunciando os cinco minutos.
Levantamos ao mesmo tempo, Olívia quase batendo em
mim, pois é alta, e encaramos os dois testes, ambos com dois
risquinhos.
Positivo.
— Agora entendo, literalmente, sobre as pessoas
engravidarem com uma gotinha.
— É, cada µL tem milhões de espermatozóides.
— Isso nunca aconteceu, eu juro — olho para o meio de suas
pernas e o preservativo está rasgado —, sei colocar essa merda,
como isso aconteceu? Estou limpo, você sabe que estou em dia
com os exames e não saio com ninguém desde que praticamente
nos conhecemos, e…
— Ei, está tudo bem. Meus exames estão em dia também, e
eu uso DIU. Relaxa. Não precisamos desesperar.
Um microlitro.
Um preservativo rasgado em dezenas de vezes que
transamos.
E agora tenho um mini de nós dois dentro de mim.
Não acredito nisso.
Não vou me perguntar como isso aconteceu.
Já sei a resposta.
Uma tarde, um museu, em nossa despedida adiantada.
Ou outro preservativo que tenha furado.
Existe essa possibilidade, certo?
Um bebê.
— Eu devo te dar os parabéns ou…
— Parabéns — digo decidida. Não existe possibilidade de eu
não ter esse bebê. Oli está certa, ele só foi um pouco apressado,
como o pai. Teria ele a cara do pai? Céus! Se for um menino e puxar
o Nicolas? Eu não tenho psicológico para dois Nicks na minha vida.
— Aih! — Oli, começa a pular no meio do banheiro — Vou ser
tia de novo! Nem acredito! Parabéns!!!! Quando vamos contar ao pai
bonitão?
— Sim. Me inscrevi para um programa de PhD na Alemanha,
eles têm um programa de genética avançada que pode me auxiliar a
continuar essa pesquisa no próximo ano. Se eu quiser aprofundar a
pesquisa, terei que ir atrás de recursos premium. Acho que aqui na
UFOP já tirei tudo que poderia. Provavelmente eu irei ficar
enfurnado dentro de um laboratório, o que não gosto muito. Pipetas
e balanças de precisão. Mas, acho que seria um diferencial para
mim, profissionalmente falando.
— Eu não sei, Oli… Ele tem planos para o PhD, que envolve
um centro de pesquisa na Alemanha. E você mesma disse, eu
posso criar esse bebê sozinha,e …
— Amiga — ela me interrompe —, você pode, desde que o
pai diga que NÃO quer a criança, e você decida seguir com a
gestação sozinha. Mas pense, se fosse hipoteticamente possível
que Nicolas tivesse um filho seu, e não te contasse isso. Como você
se sentiria? Ele pode nunca mais te perdoar, caso descubra um dia,
nem o bebê, quando for maior…
— Tudo bem, nada de namorar a Loren. Gosto de romances
sáficos e aquilianos também. Acho que é isso. Gosto de pouco
drama também. AMO livros com bebês. Menos quando as mulheres
fogem grávidas, isso não é legal. Descobriu sobre o bebê conte
sobre ele.
— Sério? Você disse que nunca se viu casando.
— Mas casar não tem nada a ver com bebês. Fazer bebê é
muito legal.
— Os livros que você lê tem muitas personagens fazendo…
bebês?
— É muita coisa para pensar, não é mesmo? — indago.
— Bastante, é uma vida.
É, Belle, o universo dá mesmo um jeito.
Nicolas Amaral
Um mês depois
— Levanta da porra da cama, Nicolas! — Um clarão quase
me cega, me obrigando a tapar os olhos com os braços.
— Para de gritar caralho! — grito de volta e minha própria voz
ecoa em minha cabeça.
— Não dá! Alexa desliga a música! — a música para
instantaneamente.
— Vai se foder, Cadu! Deixa a música. Alexa, tocar “Te amo
demais" playlist Marília Mendonça.
— Tocar ou não a playlist? — Até a voz robótica da
inteligência zomba de nós dois.
— Toca!
— Não toca! — Carlos Eduardo vai até o canto e desconecta
o modem da tomada. — Está deprimente, Nicolas, você ouvindo
essa música no repeat chorando como um bebezão. Cara, nem pela
Quésia você ficou assim.
— Eu NÃO AMAVA a Quésia! O que você está fazendo aqui?
— Pedi demissão. Dá para você tomar um banho e reagir?
Sério, cara, esse quarto está uma porcaria! Você vai ficar de
atestado mais quantos dias?
— Não te interessa, Carlos Eduardo!
— Terminou de escrever seu artigo?
— Não terminei, me deixa em paz! — Viro de costas,
cobrindo-me com o lençol.
— Não vou deixar porra nenhuma. Vamos fazer essa barba
porque você está horrível, tomar um banho, passar um desodorante,
e cortaremos esse cabelo, pelo amor de Deus!
— Eu não vou, porra.
— Beleza, aguarde! — Cadu sai do quarto me deixando na
santa paz.
Quando eu saí do céu direto ao inferno?
Há quinze dias.
Eu sabia que quando Loren chegasse na Inglaterra as coisas
seriam diferentes. A distância e o fuso horário atrapalhariam.
Não esperava viver um relacionamento à distância, nunca dei
credibilidade para esse tipo de relação, mas ela precisava sumir de
vez da minha vida?
Quando Darwin disse que “A sobrevivência de um organismo
depende da sobrevivência de um outro”, não era do jeito romântico,
era?
Porra, Pãozinho de queijo!
Ela me enviou uma mensagem horas depois de ter pousado.
Disse que estava tudo bem, e agradeceu pelos presentes.
Só isso.
Nenhum comentário sobre a declaração.
Let it go, Loren.
É da porra do meu pequeno coração que estamos falando!
Pensei ser o cansaço, os horários que ela precisaria
rapidamente se adaptar, cogitei até mesmo a readaptação da rotina,
mas uma semana depois, suas mensagens passaram a ser mais
frias e distantes.
Passei a ser visualizado e não respondido.
Patético, Nicolas.
Agora zombando de mim, em cima da minha escrivaninha,
está a carta de aceitação da minha inscrição para a Imperial College
London.
Será que eu fanfiquei, totalmente, essa história?
Não, a Pãozinho de queijo sentia algo por mim, tenho
certeza.
Talvez Loren não me ame, com todas as letras e tudo mais,
mas pelo menos uma faisquinha ela sentiu.
Bem ao lado dessa carta, a aceitação para a Alemanha
brilha.
Na Alemanha, terei todo o brilho e injeção de ego em uma
carreira promissora, mas totalmente infeliz, já falei que odeio
pipetagem? Mas o glamour biotecnológico é muito maior do que ser
evolucionista.
Na Inglaterra, estarei na escola formadora de catorze prêmios
Nobels, uma pesquisa que me deixaria em minha zona de conforto,
e a Pãozinho de queijo, em tese.
E tenho que decidir logo, pois a inscrição da Alemanha vai
até hoje às 18h59min59 do meu horário local.
Estou protelando essa inscrição há duas semanas.
Eu AMO estudar, mas acho que estou cansado.
E meu currículo é muito bom.
A Imperial College London me ofereceu até mesmo um cargo
de professor assistente para a graduação, incluindo estadia por um
ano.
Claro que a carta de recomendação assinada por Bruno e a
parceria de André com um dos professores da instituição ajudaram.
Mas, sem meu currículo impecável do CNPq, o cargo de auxiliar não
viria junto.
Em qual eu seria mais feliz?
Já tinha descartado a Alemanha, mesmo que tenha sido mais
difícil de conseguir, afinal minha segunda língua é inglês.
Agora as coisas mudaram…
Mudaram bastante.
Eu sei quando sou rejeitado, e é isso que fui nos últimos
quinze dias.
Nicolas, nada te impede de ir para Inglaterra, você não
encontrará Loren se não procurá-la.
Mas irei procurá-la e caso eu a ache nos braços de algum
Sugar Daddy, vou pedir para ter os olhos arrancados.
Ela é minha Maria Mucilon.
Pensando assim acho que…
— Pode ligar,Terezinha! — Ergo a cabeça e vejo Cadu com
uma mangueira na mão.
— QUE PORRA É ESSA? — Grito quando um jato de água
molha a minha cara.
— Mangueira, conhece? Se não tomar banho por bem, vai
por mal. Então o que você prefere?
— Você molhou meu colchão idiota!
— Você me faz ter atitudes extremistas. Banho lá ou aqui,
decide.