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COMPANHIA VIVA

Psicoterapia psicanalítica com


crianças autistas, borderline,
desamparadas e que sofreram abuso

Anne Alvarez

Tradução
Gabriel Hirschhorn

Revisão técnica

Nilde Parada Franch


Companhia viva: psicoterapia psicanalitica com crianças autistas, borderline
abuso
desamparadas e que sofreram
Titulo original: Live Company: Psychoanalytic Psychotherapy with Autistic,
Borderline, Deprived and Abused Children
1992 Anne Alvarez
Blücher Ltda.
2020Editora Edgard
Imagem da capa: iStockphoto

Dados Internacionais de Catalogaçao

Blucher na Publicaçto (CIP)


Angélica llacqua CRB-8/7057
Rua Pedroo Alvarenga. 1245, 4" andar
Alvarez, Anne, 1936
4531 934 Sao Paulo- SP - Brasil
Companhla viva: psicoterapla psicanaittca com
Tel: 55 11 3078-5366
crlanças autistas, borderline, denamparadas e que
contato@blucher.com.br sofreram abuno/ Anne Avarez; traduçaode Ciabrlel
www.blucher.com.br Ilirschhornirevisaotécnica: Nilde Parada Franch.
Sao Paulo: Blucher, 2020.
392 p.
Ssegundo o Noo Acordo Ortográfico, conforme
S. ed do Vocabulárlo
Ortográfico da Lngua Mibliogralia
Portuzuesa, Academia Brasileira de Letras, ISBN 978-85-212-1H67-N (lunpres0)
março de 2009 ISBN978-5-212-1868-5 (e-book)
I Psicoterapla lnfantil 2. AutIo em crlangas
3.Enqulzodrenlu em erlançan 4. Distirblos da pern0
proubida a reproduçao total ou parclal por nalidade borderlne Crianças . T'tulo. I1. Ulrncl
quaisaquer neios sem autorização escrita da
horn, Giabriel. 1. Vraneh, Nilde Paradla.
ditnta
19 1N71 CDD ol92N91
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pela ldinora dgard Indice para catalogo nistemátkcon
Blocher 1da hoterapla lnlantil
1. A longa queda

Em O livro do riso e do esquecimento, de Milan Kundera, uma


viúva exilada, Tamina, tenta desesperadamente recuperar alguns
diários deixados em sua terra natal, a
Tchecoslováquia,
na
espe-
rança de recuperar a memória cada vez mais reduzida de sua vida
com seu marido. Ela sabe que há muitas coisas
desagradáveis nos
diários:

Mas (diz Kundera) não é isso o que conta. Ela não de-
seja transformar o passado em poesia, ela quer devol-
ver o
passado a seu corpo perdido. Porque, se a frágil
estrutura de suasmemórias colapsa como uma tenda
mal montada, tudo o que restará a Tamina será o
pre-
sente, esse ponto invisível, esse nada que se move len-
tamente na
direção da morte. (Kundera, 1981, p. 86)

Tamina fracassa. Ela termina em


uma ilha cheia de crian-
ças sensuais que não têm nem
memória nem passado. Kundera
38 A LONGA QUEDA
ANNE ALVAREZ 39

descreve seus últimos momentos na ilha, antes de sua fuga e virtual


explicava que podia ver perfeitamente que o relógio
marca-
então,
suicidio:
va quatro e quinze, mas
isso não significava nada para ela. Apresen-
e, assim como Tamina,
tava um sintoma chamado "desrealização
Tamina está escondida atrás do grosso tronco de um tirou sua própria vida.
pouco tempo depois
plátano. Näo quer que a vejam, mas não consegue des-
Essas duas mulheres estavam desesperadas devido à perda de
viar os olhos deles. Eles estão se commportando com a
realidade, mas estavam desesperadas porque podiam
sentido e
sensualidade provocante dos adultos, movendo seus a vida tinha valor, pensamentos
lembrar-se de um tempo em
que
quadris para a frente e para trás, como que imitando densidade e a memória dava sentido presente.
ao
tinham peso e

o coito. A obscenidade dos movimentos estampada n0s uma unidade de medida, e talvez isso Ihes desse o de-
Elas tinham
os meios
escolhidos.
terríveis que fossem
corpos infantis abole a antinomia entre obsceno e ino- sejo de escapar, por mais
memória nem esperança,
quando não não existe essa
cente, entre o puro e o imundo. A sensualidade se torna Ås vezes,
numa espécie de aceitação
absurda, a inocência se torna absurda, o vocabulário existe que vai além do desespero,
algo vou descrever pa-
das crianças psicóticas que
se decompöe, e Tamina se sente enjoada, como se seu resignada. Algumas
se é que algum
dia souberam que pode -

recem ter esquecido


estômago tivesse sido esvaziado. estados, elas não dão meia-vol-
maneira de ser. Nesses
existir outra
Não costumam
E, enquantoa idiotice dos violões continua ressoando, ao suicídio.
mesmo em direção
ta fogem - n e m
e
da lembran-
as crianças continuam dançando, ondulando sensu- Parecem ter ido além da esperança,
gritar n e m chorar. Mandelstam (1970, p. 42) su-
almente seus pequenos ventres. São pequenas coisas, e até mesmo do medo. Nadezhda
ça é a expressão
gritar sob tortura porque grito
o
totalmente sem peso, que estão deixando Tamina en- gere que
é correto
Diz que é o
de dignidade humana.
joada. Na verdade, de vazio concentrada do último vestígio
a
sensação no estómago as pessoas
modo de pessoa
deixar um vestígio, de contar para
vem de uma insuportável ausência de peso. E assim uma
nesses estados de
viveu e morreu. No entanto, para crianças
como um extremo pode a qualquer momento se como deixar
trans retraimento profundo, é como se não restasse nada em que
formar em seu contrário, a leveza le vada a seu máximo piores
imaginado. Em
seus
interlocutor
não há um
tornou-se o terrível peso da leveza, um vestígio, que pode
ter
Tamina sabe que
e
desistir. Para o psicoterapeuta
momentos, parecem éterrível teste-
não poderá suportá-lo nem mais um segundo. Ela da a n t e r i o r m e n t e sinais de
vida em seu paciente,
visto seu paciente,
meia-voltae dispara. (Kundera, ainda mais terrível
caso, como
1981, p. 188) munhar isso. Porém, é descobriu
a esse estado
de coisas. Como
a c o s t u m e
o terapeuta se dar uma
s o r r a t e i r a m e n t e pode
Uma mulher desvairada que eu vi certa vez num a alma escape
hospital psi- Tamina, permitir que
quiátrico costumava agarrar pelo braço todos os enfermeiros ou tranquilidade.
sedutora sensação de paz
e

visitantes que passavam e dizer a eles que


algo terrível tinha acon-
tecido com ela. Ela fazia o visitante olhar o narelógio e, parede
ANNE ALVAREZ 4 1
A LONGA QUEDA
40

de trinta e poucos anos que um assistente social, os encontros eram quase


Gostaria de descrever um jovem consultas com e

de diferentes níveis de in-


esteve comigo em terapia psicanalítica sempre a quatro.

tensidade desde a infância. Infelizmente, ele não teve


terapia uma
poças de água, cor-
Robbie falava pouco, costumava pisar em
4
intensiva antes dos 13 anos. Aos anos,
foi diagnosticado com au-
rua e tentava desesperadamente grudar folhas
tismo infantil. Quando comecei a vê-lo, aos 7 anos, após a partida
rer para o meio da
"eu" e, um
caídas de volta nas árvores. Ele nunca usava palavra
a

de seu analista anterior, achei excepcionalmente dificil fazer con- um quebra-cabeça era uma
dia no jardim de infância, disse que
tato emocional - em parte por conta de muitos anos de condições
"mamãe Eu costumava vê-lo na escadaria da clínica, e
quebrada.
inadequadas de tratamento, mas também em razão de seu profun- olhar
ele era uma criança bonita, de aparência delicada, com um

do e crónico retraimento. O diagnóstico foi confirmado diversas boneca de pano vida. Ele não tinha a agilidade e a
perdido de sem
vezes por profissionais de diferentes escolas de pensamento, mas
graça que muitas crianças autistas têm. Depois de um ano de trata-
devo dizer que ele era muito diferente e, de certa forma, muito
primeira terapeuta, finalmente se referiu a si
mes-
mento com sua
mais enfermo que o tipo de criança autista que se apresenta mais
mo como "eu'. Isso aconteceu depois de um episódio dramático
ativamente retraida e tem alguma estrutura de personalidade. A Ela tinha se ele a confundia
cansado da forma como
com sua mäe.
personalidade de Robbie parecia quase inteiramente sem forma. constantemente com sua avó, que ajudava a criá-lo. A me gritou
Ele me ensinou muito, em parte devido à lentidão de sua melhora, você tem que aceitar isso!. Como tan-
com ele: "Eu sou sua mäe e
sobre a natureza dos estados de dissolução e colapso, mas também
tos outros aparentes avanços nos primeiros anos do tratamento,
sobre as condições necessárias nele e em mim
para que algu-
-
-

essa nova capacidade logo desapareceu novamente.


ma
regeneração fosse possível.

História
Indicação
Os pais e os avós maternos de Robbie vieram do exterior um
Robbie foi encaminhado para uma consulta 4
aos anos de ida- ano antesde ele nascer. Ele é o filho do meio, com um irm o dois
de, com uma observação do médico da
família apontando que es- anos mais velho e uma irm oito anos mais nova. Ele nasceu com
tava atrasado em termos de fala e
era muito retraído. Ele fez testes
comportamento e que, por vezes, um atraso de três semanas e meia do previsto, e sua mäe teve uma

vezes desde então,


psicológicos na época e diversas considerável hemorragia. Ela estava profundamente deprimida na
maior parte delas, foi
e, na
tendo pelo menos um nível considerado como época do nascimento dele e foi deixada sozinha por um bom tem-
médio de
cinco vezes por semana foi inteligência. Tratamento po durante o longo trabalho de parto. Disse que quando o bebê
recomendado, mas isso não foi
pos-
sível, e ele começou, aos finalmente nasceu, ela queria simplesmente morrer.
duas sessões semanais com
quatro anos e meio, o tratamento com
sua
primeira terapeuta. Sua mäe tinha Ele foi amamentado no peito por três semanas, mas nos pri
meiros três meses não conseguia reter o alimento. Chorava depois
42 A LONGA QUEDA
ANNE ALVAREZ 43

de quase todas as mamadas.


Bebeu no copo cedo, falou algumas seus sentimentos, mas
minhas interpretações sobre
de pé respondeu a
com 11 meses e hcou
com um ano.
eram
palavras não percebi, naquele quão frágeis e escorregadias
momento,
estava baseada
O evento que parece ter precipitado sua doença, ou, pelo me- as fundações n a s quais sua aparente responsividade
rapidez devastadora cada nova aquisição podia
ser
nos, suas
características manifestas, ocorreu quando tinha 18 me- nem com que
movimentos
Sua mãe estava muito preocupada
e triste enquanto cuidava do
perdida. No entanto, por frágeis que fossem seus
mais
ses.
isolamento para fazer dois tipos de
conta-
saía de seu
pai moribundo e mandou Robbie para casa de amigos, no interior, para fora, ele
diferentes comigo.Um deles parece, até hoje, promover
não conhecia a família e ficou aterrorizado com to bastante
por trés dias. Ele crescimento e vida. O outro é
fatal para o
faleceu e, oito dias depois, nele alguma mudança,
alguns cachorros de lá. O avó de Robbie desenvolvimento.
sua me foi internada às pressas com pneumonia e em estado de
descoordenada,
Robbie foi mandado de volta para seus cachorros. Parece uma criança bonita, com aparência
choque. Robbie era

Ele entrou na sala de atendi-


esse episódio e parecia es- tivesse ossos.
que ele se retraiu cada vez mais após molenga, como se n o
perdido e atordoado,
a mim, aos
estado bastante
tar literalmente apavorado com tudo. Quando chegou mento de crianças em um sustado. Entretanto, de-
a
7 anos, frequentava uma escola para crianças com dificuldades, balbuciando "foi
embora" e parecendo
a relaxar e a talvez sentir
numa classe em que predominavam crianças psicóticas. minutos em que começou
pois de alguns entendido algumas
meus
comentários indicavam que eu tinha
que acontecido com sua
tera-
sobre o que havia
de suas preocupaçóes
bloco em forma de
arco e

ele pegou um pequeno


Tratamento peuta anterior, c o m o u m a ligação
que talvez a ponte fosse
disse: "ponte. Sugeri tivesse sentido
anterior e eu, e que talvez ele
entre sua terapeuta Tive
A primeira sessão uma
estranha tão perigosa.
poderia não ser
que, afinal,
eu
momento de contato
também envolvia um
de que a ponte
Freud concordava com Adler sobre a especial importância certeza
ele. Na primeira parte
real comigo, mas não interpretei para
das primeiras comunicações feitas pelos pacientes (Freud, 1909, vivo e elas não foram
ele tenha dito algumas palavras,
embora
da sessão,
p. 160). Alguns clínicos foram além e sugeriram que tudo que de-
momento
no
particular, ao passo que
dirigidas para alguém
em
vemos saber sobre o paciente está contido na primeira sessão, se mim e falar
a olhar para
tinha começado
da ponte, já
tivermos perspicácia e entendimento para perceber. Isso é verdade, em que falou Essa serenidade,
infelizmente,
sereno.
c o m um
olhar mais a
tenho certeza, mas é dificil ser um microscópio e um telescópio comigo rolo de barbante que
começou
Ele achou um

ao mesmo tempo. Precisamos estar atentos cuidadosamente ao logo foi perdida. à minha mão
com gosto e pra-
torno de si e a amarrar

detalhe que enrolar em


Ele disse "preso"
nos é apresentado, mas também ao que não se apre- até que
finalmente ficou enredado.
Inter
z e r crescentes, claustrofóbico.
senta ou que é apenas remotamente e vagamente visível. Muito indicios de pânico
com claro prazer e sem ele e não o
deixasse,
do que estava presente na primeira sessão com Robbie me deu mo- eu ficasse presa a
sua esperança
de que
tivos para ter esperança. Em alguns aspectos, ele era muito me- pretei anterior.
terapeuta
teve de fazer
sua
como
nos retraído que outras crianças autistas atendidas por mim. Ele
ANNE ALVA REZ 45
Pouco tempo depois, ele retomou o jogo do
barbantee depois
soltou sua ponta, enquanto insistia para que eu
segurasse a minha primeiro, do bebé de sua mâe e, cinco meses depois, do meu bebé.
começou a enrolar uma massa de modelar. Ele estava Eu estava, de toda forma, vendo-o apenas uma vez por semana, o
tendo dif.
culdade e disse: "Senhora Alvarez, amacia'. De fato, esse que claramente não era suficiente, tudo o que a clínica, eu mas era
pedido. e seus pais podíamos fazer naquele momento. Ele voltou depois
sob vários disfarces, foi repetido interminavelmente
por Robbie ao
longo dos anos e envolveu muitos do nascimento de sua irm zinha e m u m estado bastante desespe-
problemas técnicos para mim,
maneira vazia,
em termos de quanto eu deveria amaciar. Na rado, descontrolado, frenético, rindo sem parar de
época, entendi como
jogando-se no chãoe expressando muitas fantasias suicidas que
um pedido para que eu fosse
figura uma materna
maleável, macia, alguns meses.
permaneceram por
que viria a se adaptar quaisquer denmandas que ele pudesse fazer.
a
de enfrentar era
Entretanto, a coisa mais difícil de suportar e
Esse pedido teve, infelizmente, seu correlato na demanda, e na ne-
também a coisa mais dificil de com-
vazio. Era, para mim,
cessidade, de que nada jamais fose duro demais. seu
hospitais psi-
de pacientes crônicos
em

preender. Com exceção olhos de alguém


visto tanto vazio
jogo do barbante teve, de certa forma, conotações tocantes
nos
O n u n c a tinha
quiátricos, eu espécie de fé na

para mim na época, em termos do desejo de Robbie por conta- certamente não em uma criança. Eu tinha uma
-

contato
os doentes
mentais e de conseguir
to. Não compreendi, até muito mais tarde, que não se tratava de possibilidade de salvar teorias de Melanie Klein,
das
um comovente símbolo de contato - diferentemente da ponte, essa c o m eles;
além disso, tinha a ajuda
nascimento e que
s o m o s seres
sociais desde o
brincadeira não dava acesso a um relacionamento vivo, firme e que
declarou que não humanos

nosso
interesse pelo mundo e pelo universo
móvel; era muito mais limitada e sem saída. A terrível ilha da sen- mesmo
na primeira e mais intima e

fundamento nos humanos,


seu seus c o
sualidade de Tamina estava à nossa espera. Essa era a única forma tem
recém-nascido e sua mãe. Klein e
entre o
de contato que ele desejava quase o tempo todo algo concreto, intensa relação pacientes psi-
estavam conseguindo psicanalisar
laboradores que bizarras e falas
fisico, sensual e muito macio. Quando isso não estava presente, mesmo
fantasias mais
as
cóticos
descobriram que entendidas,
decodificadase
como veremos, ele simplesmente desmoronava. A verdadeira pon- ser
sentido e neologísticas podiam não
sem Esse significado
te da vida real era muito tênue para sustentá-lo. humano e interpessoal.
tendo um significado a
destrutividade

Aprendemos que
n e c e s s a r i a m e n t e
positivo. terríveis fen-
era e produzir
mente
contra si mesma

denota
colocar a Mas isso
podia na vida mental.
A queda e fragmentações No en-
das e explosões
encontrado no
não significado.
ser
significado pode eram o
comportamento

que reais n o
As dificuldades de Robbie em manter com outros seres huma- Robbie os problemas em
outras
com eu tinha visto
tanto, como

víinculos do mental deixaram-no enorme- entrecortada, ca-


nos tipo imaginativo e
esquisito
nem a
fala
t a m b é m apresentasse
essas

mente suscetível a separações e mudanças. Ele já tinha passado por que ele vezes,
de
sensação, às
mesmo

psicóticas
crianças era a
al- o problema
Mais que isso,
mudança de terapeuta, e suas esperanças de ficar preso
a
uma racterísticas.
absolutamente
nada nele.
descrevi foram terrivelmen- não existir
guém de maneira emaranhada como simplesmente

nascimentos,
te frustradas n o segundo ano de tratamento pelos
A LONGA QUEDA
46 ANNE ALVAREZ 47

Penso muito no tempo em que fhquei dando voltas em torno


a enrolasse. Comecei a enrolar e, enquanto o fazia, ele
releio minhas notas,
percebo um senti.
dessa questão. Quando olhou pela janela com um olhar que eu chamaria de
tentava lembrar o
mento de dolorosa descrença quando que tinha
sonhador,se essa palavra não tivesse comotações agra-
visto. Eu tinha que continuar falando sobre o que não estava lá,
dáveis. Elefora para longe - mas o lugar para onde ele
andando em círculos, talvez com medo de enxergar a verdade. Eis
tinha ido não era agradável. Dei a massinha de volta
aqui um breve exemplo do periodo logo após nascimento de sua
o

para ele quando tinha mais ou menos 15 centímetros


irmãzinha, quando Robbie estava em terapia há seis meses: de comprimento - ele a mediu e, de novo, com a mesma

voz morta, disse: "Quer enrolar isso". Essa brincadeira


Parecia descontrolado lembrou-me de unm esquizofre.
-

(se é que se pode usar essa palavra) com a massinha


nico hebefrènico rindo desesperadamente -

tentou jo- continuou por alguns minutos. Ås vezes, ele indicava


gar o barbante pela janela - tentou tirar a roupa - ten

que queria que eu a enrolasse; outras vezes, ele a en-


tou correr para fora parecia determinado a
-

me fazer rolava. Fiz várias interpretações pseudopsicanalíticas


segui-lo-mas havia algo terrivelmentedesesperador na
fraca risada -quase nada de prazer (até sórdido) nela.
sobre seu desejo de fazer um longo pénis para si, mas

erradas. Inú-
agora acho que eram tão inúteis quanto
teis porque não desencadearam nenhuma resposta dele
Um mês depois, notei que, ocasionalmente, um pouco de cor evitaram a questão de como realmente era
e porque
aparecia em seu rosto perto do fim das sessões. Ele estava menos
estar com ele; erradas porque ele queria muito pouco
descontrolado e mais verbal, mas às vezes também havia algo mais
morto nele. A seguir, uma sessão em detalhe: naquele momento. Desejo era principalmente o que fal-
tava em suas sessões naquele período. No entanto, sua

Quando entrei na sala de espera, sua única reação ao falta de desejo, creio eu, não significava que tivesse um
sentimento de completude arrogante e onipotente sobre
me ver foi irar-se com o rosto sem
expressão e pedir sobre si mesmo. Ele não se comportava, como algumas
doces à senhora D (que o trouxe da escola para o tra-
tamento). Ela disse "depois"e, então, ele veio na minha crianças autistas, como se estivesseparaíso, como se
no

o tivesse encontrado. Ele queria algo na forma de uma


direção com um olhar vvazio. Segurei sua mão no ca-
atividade automática repetitiva e queria que algo fosse
minho. Ele não olhou para mim. Havia algo de muito
muito isso e, em
vazio nele e no jeito conmo andava. Foi direto mais longo, mas não parecia querer
para sua todo caso, demorou an0s para que eu descobrisse o que
gaveta e pegou um pouco de massa de modelar azul.
era.Talvez o que ele realmente quisesse fosse o doce da
Foi até uma mesa
perto de
mim, olhou-me rapidamen-
senhora D, mas, como não pôde të-lo, todo seu corpo e
te e, com
um olhar sem
vida, murmurou baixinho: mente pareceram ficar vazios.
Quer enrolar isso', e me deu a massinha
para que eu
A LONGA QUEDA
8 ANNE ALVA REZ 49

Acredito, como sugeri, que preferi me distanciar do poderoso


disse: "Acho que você sente que está olhando para den-
seu vazio e sua desesperança tinham sobre mim. Eu bem den-
impacto que tro de
mime com seus olhos, você entrou
que,
e sinais de vida onde eram mínimos. No
procurava por significados Iro de mim, mas não está gostando do que está vendo.
tarde na mesma sessao, parece que conse-
entanto, um pouco mais você está vendo algo horrível"
Nao é legal -

parece que
mais perto disso, e acho que isso o ajudou:
gui chegar um pouco
pouco mais perto,
mas

Esta última interpretação chegou um

A brincadeira da massinha continuou por algum tem- bastante tímida. O que ele
via era o nada. depois, pe-
Instantes
foi
com o olhar morto de "gelo". In-
po, e de novo ele olhou pela janela de cera da tampa de u m pote e chamou
gou um pouco
Então correu a porta, colocou suas mãos
nela, e sentindo como uma espécie de pessoa-mãe
para terpretei que
estava me

lhe dar. Isso, creio eu,


virou-se com um olhar dissimulado. Havia algo de frio fria, morta, gelada, que não tinha calor para
forma, eu estava
Eu disse que achava que m a s era tarde
demais, e, de qualquer
e sórdido em suaexpressão. estava certo,
observações ele próprio
conteúdo desuas
ameaçando sair (ele tinha feito
no
isso antes) pegando c a r o n a atmosfera há
ele estava
Na verdade, o gelo estava na

me desconectar de mim usara a palavra "gelo.


eu o seguisse e para Não havia nenhum
para que Estávamos juntos e m um necrotério.

mesma e dos meus vínculos como marido que ele ima semanas.

doces seios
maternos
deliciosos e
vivo confiável, tampouco
mantinha tão distante pênis
eu tivesse e que me
ginava que reconfortantes.
assustada por
dele. Além disso, queria que eu ficasse
umas

esse período, ele c o m e ç o u


a desenhar árvores
Durante
tenho certeza. Ele ainda que
ele e preocupada com ele. Disso eu folhas, s e m frutos, rígidas
e ameaçadoras,
coisas sem
de que e u não
realmente queria isso, e eu realmente me preocupei, entendi transmitir seu
sentimento

caídas o que não lhe


oferecia
de autoproteção e podia que, de
fato,
qualquer fruto
e
não tinha senso
porque ele Ihe estava dando natureza de
correr por toda a clínica e até para fora to- Também t r a n s m i t i a m algo sobre a
começar a nenhum vínculo. aos 4 a n o s ,
ele
disse que ele queria interno. Lembremos que,
talmente sem direção. Quando eu
s e u mundo
imaginativo
tentar grudar
folhas caídas de
sintoma de
que eu ficasse
assustada e preocupada, primeiro surgiu tinha apresentado
o unido
e m Robbie
n o tinha permanecido
vazio, mas s u a expressão gradu- volta n a s
árvores. Algo seiva não fluiu
o olhar dissimulado e Será que a
em s e u
mundo interno.
suavizou exatamente, dentro dele o u seus
almente relaxou um pouco. Não nutrir e dar suporte
à folha, o u será que
ainda que cálida
da mae-raiz para dele a
alegre que dissimulada destruíram dentro
-

mas pareceu mais ciúmes e desespero


ódio, sei é
e sejogou próprios ambos. O que eu
maldosa. Aproximou-se, olhando para mim, influência do
amor? Talvez
vivificadora reais de
c o m os pais
Olhou bem nos meus olhos,
com e
pesadamente no div. Morte n o tinha relação
Arvore da extrema
que
essa sensiveis e
u m pouco
calorosas, alegres,
queixo apoiado nas mâos, princípio
a
Robbie. Eles e r a m pessoas
seu
outros
hlhos e r a m
seus
e conheci, e
sonhador; depois o olhar frio, morto, vazio apareceu, mente
carinhosas quando os

Eu
olhou-me nos olhos desse jeito por um longo tempo.
50 A LONGA QUEDA

ANNE ALVAREZ 51

normais. Talvez a depressão da me no início da vida de Robbie


tenha influenciado - um recém-nascido pode não ser capaz de di.
descrever a sensação de ter estado "no fundo de um poço escuro"
ferenciar uma mae pouco responsiva, por estar deprimida, de uma e de ter "caido fundo dentro da noite, como a chuva - que demora

que é indiferente de forma mais fria e insensível. E talvez houvesse tanto tempo para cair". É dificil transmitir o sentimento terrivel
algo frágil em seu cérebro desde o princípio que o tenha tornado que eu frequentemente tinha a respeito de quão longe ele tinha
tão vulnerável. Outras crianças sobreviveram ao tipo
de separa- caído ou tinha se afastado. Minhas tentativas de mostrar que en-
tendia o quão abandonado ele tinha se sentido o que poderia ter
-

ção que ele sofreu aos 18 meses sem ficarem destruidas. Qualquer
mais moderadamente ou deliberadamente
que fosse a causa, seu mundo interno ficou extraordinariamente ajudado um paciente
retraído -
foram inúteis. Eu estava longe demais. Em Sob o vulcão,
empobrecido. Ele parecia não ter virtualmente nada, nem mesmo
cônsul alcoólatra
esposa distante de um re-
de Malcolm Lowry, a
os mais patológicos mecanismos de defesa aos quais recorrer em descobre que
torna para tentar salvá-lo dele mesmo. Quando ela
momentos de estresse. mais?" Ele pen-
ele estava fora de alcance, grita: "Vocè não me ama

Mas sua
No verão e no outono do ano em que Robbie tinha 8 anos, sa consigo mesmo: "Ela não percebe? Claro que eu a amo.

de alguém soluçando numa sala distante". Suspei-


durante o período anterior ao nascimento de meu bebê e alguns voz é como a voz

meses depois do nascimento de sua irm, senti como se o tivesse to que Robbie tenha
sentido o mesmo. Quanto a mim, estava como
vasculhando o fundo de um rio: esperando sinais de vidae
perdido emocionalmente em definitivo. Disse a ele que teríamos alguém
terrivelmente inerte.
arrastando
que parar de nos ver por alguns meses. Eu tinha considerado, com
um peso
torno desse tema
colegas da clínica, uma mudança de terapeuta, mas, afinal, decidi Havia, contudo,
minúsculas variações em

continuar com ele, apesar da longa interrupção. Isso se deu, em eram, para ele, muito mais dificeis
apocaliptico. Algumas situações um pouco-
As vezes, ele se aproximava
-

parte, porque ninguém com experiência estava disponível para de suportar que outras.
tentativas de se conectar a
atende-lo - pouquíssima gente tratava crianças autistas com o mé- de uma sessão e fazia pequenas
no meio
e fins de sessões
eram particu-
Começos
todo psicanalítico naquela época-, mas também porque ele já ti- alguma coisa e alcançáa-la. n e m deixar a
sala
vera uma mudança de terapeuta. Ainda me pergunto se essa foi ou larmente agoniantes para
ele. Não podia entrar
ao longo do
corredor. As ve
tocar as paredes
não a melhor decisão. Anos preciosos certamente foram perdidos. de brinquedos s e m
tocava seu nariz e
então a
a parede; outras vezes,
Ele tinha 13 anos quando começou a fazer cinco sessões por sema- zes, apenas roçava tarde, mais
duas coisas. Anos
tentasse conectar as
na. Ao mesmo tempo, outro terapeuta podia ter deixado a clínica. parede, como se
concordou que
essas coisas,
Outros pacientes que encaminhei de fato acabaram ficando sem quando conseguiu comigo sobre
falar
ai?"
"Oi. Você ainda está
a parede algo
como:
dizendo para
tratamento. Também sentia que Robbie era meu paciente e minha estava
m a s não n o passado.
Na
ele achou aquilo engraçado,
responsabilidade e, no fim das contas, acho que isso era importan- Nessa época,
perguntando para
dizer que não estava
te. Mas, à época, ele claramente se sentiu abandonado por mim. verdade, agora e u preferiria e u e toda a
reali-
Acho que a parede,
ela ainda estava lá.
Simplesmente se encolhia ou olhava para o espaço sem expressão. a parede s e
sessões. Acredi-
semana
entre as
na
dade material
desaparecíamos
Anos mais tarde, quando pôde sair e distanciar-se suficientemente "Vocè está ai? Tem alguém
to que estava perguntando algo como:

de tais sentimentos a ponto de encontrar palavras para eles, pôde


A LONGA QUEDA
52
ANNE ALVA REZ 53

ou qualquer coisa aí?. No entanto, naquele tempo, essas mínimas


pequenas roçadas na realidade, geral.
cérebro'. Ele parecia não ter uma membrana mental para colocar
tentativas de ligação, essas
entre um self central e as experiências - particularmente as visuais
mente falhavam. Uma vez, perto do fim da sessão, ele desenhou
e as auditivas. Tudo chegava demasiadamente perto, então se reti-
da própria pele acabou.
e, quando a sessão
uma lagarta surgindo rava ou caía longe demais para ser resgatado.
no caminho para a sala de
simplesmente caiu três ou quatro
vezes

nem eu éramos suficientes para segurá-lo. Ele manteve um ou dois canais abertos. Sua principal via de
espera. Nem parede
a

Ele no tinha suportes internos, e, então, suportes


praticamente investigação sensorial era o nariz. Raramente me olhava e me es-

externos eram desesperadamente essenciais.


cutava durante esse período, mas cheirava literalmente tudo. Se
eu soubesse falar língua dos cheiros, acho que poderia ter feito
a

têm dificuldade com separações.


Muitas crianças perturbadas contato antes. Mais tarde, quando conseguia falar mais e sabiao
ser humano, uma partida é como uma pequena amarelo cheiro de limão-sicilia-
Para qualquer nome das cores, significava o um

descrever
morte. Robbie, porém, não vivenciava uma partida como a perda no, que ele adorava;
e ainda mais tarde, quando queria
se sentia deixado em um lugar fazia sons, mas sim com cores. Al-
de algo ou de alguém. Tampouco das pessoas, não o com
a voz
laranja-claro; outro,
estar. Na verdade, ele se sentia deixado em tinha uma voz amarela; outro, uma voz
em que não quisesse guém todos os
ou alguém com a
se A maioria das pessoas normais e
lugar nenhum. Ele não tinha perdido algo uma voz verde-escura.
modalidade sensorial para des
inclusive a si mesmo. Anos depois, usam imagens de alguma
paração; tinha perdido tudo, poetas
outra modalidade. Robbie, no entanto, nos
experiências de
chamou isso de "Apagou acabou o Robbie'. E eu era apagada crever
e seu tato eram quase
o mundo não tinha escolha. Seu ol fato
também. Esse estado de lugar nenhum significava que
-

primeiros anos,
de boas experiências. Tanto quanto conseguia,
humanas, o mundo suas únicas fontes
um possível mundo imaginativo com figuras Ou, talvez, eles estivessem fecha-
nos sustenta em perío- fechava-se para imagens e sons.

que nossa parte


não psicótica habita
e que
discuto sobre quando isso
era volitivo
descreveu seu mundo dos para ele. Mais adiante,
dos de solidão desaparecia. Uma vez ele
-

parecia não haver escolha.


Tive de aprender
e ele estava e defensivo e quando
como uma "rede
esburacada". Era um universo irreal, retraimento. Seu interesse por
odo-
ele tinha muitos tipos de
me tornar que
perpetuamente caindo através dela. Como eu poderia que, em algum lugar,
ele se interessava por
suficiente- res, porém, significava Mantinha-se
e concentrada e alimentava bem.
suficientemente densa, comprometida e também significava que se
algo tivesse certeza de
eu não
mente real para capturá-lo? embora nesse período
vivo fisicamente,
coisas eram bastante reais: seus sua sobrevivência mental.
Em sua vida exterior, algumas carecer até mes-
cachorros latindo, do barulho que Robbie parecia
terrores. Ele morria de medo de Mencionei
anteriormente

de m e c a n i s m o s de
defesa. Naturalmente,
do motor de um táxi, do som
dos limpadores de para-brisa, mo dos mais
patológicos
ser absoluta-
qualquer barulho já que ninguém pode
homens trabalhando em construções, de quase isso é uma questão de grau,
percebia sobre
sua

que mais
seus se
luzes brilhantes machucavam de defesas. O
alto. Frequentemente sentia que mente destituído
ele
caminhão passou como um raio,
olhos e, uma vez, quando um
não só as orelhas -
dizendo "Machuca meu
cobriu sua cabeça -
ANNE ALVAREZ

LONGA QUEDA
54 A

dele. Quando a ameba se machucava,


intermitente e oscilante de autodefesa e autoprotecão acredito ter visto lampejos
capacidade a morte. Até então, só tinha visto isso
algo parecido
com
era sua fragilidade. acontecia
Tamina de Kundera
alas especiais de hospitais psiquiátricos. A
Faltava-lhe até i esmo o método mais patológico que muitas nas
vazio como uma perseguição
sentir essa sensação de
se proteger de experiências
era capaz de haver alguma parte da
outras crianças autistas empregam para como o "peso
da leveza'. Mas é preciso
intensas. Frances Tustin (1972)
chamou esse método e
mundo em algum
demasiado pela
fortalecida percepção de um
descreveram a impressão personalidade e odiar o peso.
Na-
de encapsulamento, e
muitos terapeutas possível sentir o peso
outro lugar para que seja m o m e n t o s fu-
de estarem dentro de uma história completa: havia
de que tais crianças dáo a impressão turalmente, essa não era a
momentos de
os "crustáceos, que são capa- havia
concha. Tustin fez a distinção entre Como na primeira sessão;
gazes de esperança, página XX; e
desenvolvido entre eles e a como na sessão
descrita na
zes de interpor algum comportamento ódio frio e dissimulado, do que
não têm essa capa- muito mais tempo
realidade não desejada, e o tipo "amebas, que momentos de fusão onírica. Por
havia m e s e s e anos
de
Canadá, levei um menino autista ao descrever semanas,
cidade. Muitos anos atrás, no
posso
faz -los acreditar sem
o vácuo.
que até mesmo ele, com sua preocupação de vazio, havia simplesmente
zoológico, imaginando sessões
silenciosas

interesse infantil por leões, tigres e perseguido? Nós


com luzes, demonstraria algum de nós faz quando se sente
O que a maioria
macacos. Porém, sobre as jaulas,
havia um ventilador elétrico que exílio imaginado, se somos
exilamos exílio real talvez, ou
nos Robbie, por
criava, com sua rotaço, um complicado jogo de luz e sombra no ou autistas.
Ou ficamos e protestamos.
imaginativos não tinha esse

teto. O menino fixou seus olhos,aquilo foi simplesmente tudo o


e
outro lado, quase
nunca protestava. Ele também
tinha praticamente
que se permitiu ver. Outra criança que
eu co- no
que ele viu e tudo o de defesa. Parecia que
-

mecanismo
outro iden-
dia todo escutando determi- envolvesse métodos
de projeção e
nhecia do mesmo hospital passava o
nenhuma capacidade que sentido
seu radinho de pilha. Ambas
más do self, no
nado ruido de estática específico em sentimentos ou partes
de
Tustin chamou de
tificação projetiva Klein. Ele não podia
se exilar
conseguiam criar quase que uma auto-hipnose. primeiramente
descrito por Melanie
não podia
ficar e lutar.
adere
"objetos autísticos" esses objetos de amor aos quais criança medo e da dor, tampouco
a
distanciar do e le-
e se
rigidamente e que podem ser eficientemente utilizados para
cortar
mecanismo de identificação
projetiva é muito complicado,
O diferentes
o contato com o mundo vivo (Tustin, 1981). descrever os muitos tipos
inteiro para
varia um capítulo diferentes
Mas um desses
estudados pela psicanálise.
No entanto, Robbie realmente era mais como uma ameba in- que foram
d e s e n v o l v i m e n t o pode
fazer depois
o que o
beb em
defesa. Tenho certeza que, às vezes, ele se desligava voluntariamen- tipos explica
experiência ruim: ele pode evacuá-la.
te-e, de fato, o elemento volitivo aumentou com o passar dos
anos de ter uma
recém-nascidos
bebês
e ele começou a desenvolver algo próximo de uma vontade. Minha esforçam muito para proteger
Mães se
sabemos também da enorme, e
dificuldade estava no fato de que, na maior parte do tempo, durante mas
de sentimentos de desamparo, desde o começo,
os bebës
esse doloroso periodo inicial, ele não parecia ter ido a lugar algum; crescente, capacidade que,
rapidamente versão mais
Um dos modos é
uma
não estava se escondendo, estava perdido. Se existe um equivalente também têm de autoproteção.
mental do coma profundo a que o cérebro pode estar submetido,
A LONGA QUEDA
56 ANNE ALVAREZ 7

encapsulado com a estática. Eles retiram


branda do menino sua
livrar de sentimentos aflitivos de desamparo era
único meio de se

atenção colocam, quando conseguem, em algo mais agradável


e a os pés e sacu-
correr para para trás, meio que arrastando
a frente e

Podem desviar o olhar de uma luz muito


brillhante para uma mais
acabava emergindo dessa
dindo as mãos na direção do chão. Ele
na voz de sua mãe em uma
suave. Podem prestar atenção apenas
situação não aliviado,
mas simplesmente vazio e sem vida;
talvez

sala cheia de estranhos falando. Mas o que ocorre quando o inevitá- desesperado, mas ainda mais morto.
menos
vel acontece e os estímulos assustadores ou dolorosos os atingem?

chora. Adultos fazem Bion (1962) escreveu que alguns pacientes psicóticos projetam
O bebê se assusta e, então, grita ou o mesmo
tão vasto que todos os fragmentos da expe-
em um espaço mental
após um choque -

ou conversam emocionados com amigos. Há, deles mesmos assim projetados se dispersam a grandes
riência e
obviamente, graus de patologia nessas projeções e evacuações. Se dos outros. O próprio Bion
fez trabalhos incríveis
distâncias uns
unir frag-
esfaqueamos alguém que nos ultrapassou muito agressivamente esquizofrênicos adultos muito doentes e conseguiu
com
em in-
em uma estrada, provavelmente somos esquizofrênicos paranoides apareciam
mentos do material
de pacientes que, às vezes,
mental
ou psicopatas. Se gritamos com nosso cônjuge ou parceiro porque anos. Ele destacou que o vasto espaço
tervalos de quatro
de tempo. Acredito que algo
acabamos de dar topada em uma cadeira, estamos apenas ten-
uma
se traduzir
em grandes períodos
pode Robbie nesses momentos.
do uma crise paranoide passageira. Se exclamamos "Ai" quando o como isso estivesse
acontecendo com
mui-
A rede ainda estava
dedo dói, apresentamos um mecanism0 projetivo comum e apa- foi para muito longe.
Muito saiu dele e
de iden-
usar métodos
rentemente bastante essencial. Levou anos até que ele pudesse
to frouxa. ou que
identificável e receptivo
em um objeto
Na visão kleiniana, a projeção é dirigida para dentro de uma tificação projetiva marca'. Enquanto isso,
chamava de "deixar uma

conseguisse o que fizera


figura humana imaginada com vários níveis de receptividade, ami- restabelecer o vínculo
envolvente que
finalmente conseguiu
zade ou inimizade. Robbie, no entanto, nunca gritava nem chorava sessão.
nem explodia. Algumas vezes, choramingou. Näão sei quanta força comigo na primeira

pode ter havido em seus gritos quando era bebê, mas duvido que
houvesse muita. Nada dentro dele parecia capaz de receber más

experiências, suportá-las e mandá-las de volta para fora; talvez ele


sentisse que não havia ninguém esperando por elas. Refiro-me,
claro, experiências, mentais ou fisicas. Agarrava-se frene-
às más
ticamente a produtos corporais quando sua ajuda era necessária
e, às
para lidar com os produtos mentais. Sofria de constipação
vezes, de longos processos gripais por todo o inverno. Ele não su
portava assoar o nariz. Quanto mais entupido ficava, mais Robbie
sentia que precisava aspirar a secreção de volta. Realmente parecia
sentir que não podia colocar aquilo para fora ou corriao risco de
se perder completamente, e isso era de fato um perigo real: seu

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