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JOÃO CLÁUDIO RUFINO

Para realmente entender


a Palavra de Deus, não basta
apenas abrir a Bíblia e começar
a lê-la. Você precisa aprender
a como estudá-la e fazer a lei-
tura de forma correta.
Ao longo de todos esses

A MELHOR SEQUÊNCIA PARA LER A BÍBLIA


anos estudando e ensinando
teologia, eu percebi que
99% dos cristãos não con-
seguem entender a Bíblia
corretamente.
Hoje eu tenho uma missão,
de ajudar o máximo de pes-
soas a ler e entender a Bíblia,
do jeito certo, e compreender
a mensagem que Deus deixou
para nós.
Além disso, eu quero que
Deus te use para levar Sua
Palavra, ainda mais longe.
Esse é o principal motivo
pelo qual eu estou compar-
tilhando esse conhecimento
com você por meio deste livro.
Que a Verdade de Deus
liberte a sua vida e que Ele te
use para libertar e transfor-
mar a vida de outras pessoas.
A MELHOR
SEQUÊNCIA
PARA LER A
BÍBLIA

Editora
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João Cláudio Rufino (Autor)


Fernando R Zanata (Editor)
Jhonatas Alfradique (Revisor)
Jhonata Souza Cardoso (Revisor)
Marcos Roberto de Sousa (Projeto Gráfico/Diagramação)
Rafael Sicoli Pacheco (Revisor gramatical)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Rufino, João Cláudio


A melhor sequência para ler a Bíblia / João
Cláudio Rufino. -- São Paulo, SP : Qualifica Mais,
2022.

ISBN 978-65-996060-8-3

1. Bíblia - História 2. Bíblia - Interpretação


3. Bíblia - Leitura 4. Palavra de Deus I. Título.

22-100214 CDD-220.6
Índices para catálogo sistemático:

1. Bíblia : Leitura 220.6

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380


*
Dedico este livro às três mulheres
mais importantes da minha vida:
Divina Maria (minha mãe),
Patty Ventura (minha esposa) e
Olivia (minha filha).

Amo vocês!
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AGRADECIMENTO ESPECIAL

Este livro é fruto de um movimento dos apaixonados pela Bíblia que tem tomado o
Brasil. Aqui, vai o meu agradecimento especial aos irmão e irmãs que contribuíram e
fizeram que esse livro se tornasse uma realidade. Que Deus os abençoe!

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• Ana Paula Moreira Dias • Cirlene Marcia da Fonseca • Edson de Souza
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• Ângelo Aparecido dos Santos • Claudiomar Queiroz Couto • Erasmo de Sá Novaes Júnior
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• Patrick Simon Shija • Sebastião Ferreira Cassemiro • Wilton Cesar de Vasconcelos Leitão
• Paulo Francisco de Araújo • Sebastião Ferreira Sobrinho • Zélia de Jesus Oliveira Rodrigues
• Paulo Leme Ferreira Mendonça • Sidnei Martins Figueiredo • Zoeli Maria Pletsch
Índice
PARTE I: O CÂNON DA BÍBLIA 15
1 O Cânon Bíblico nem sempre foi assim… 15
1.1 O que significa a palavra cânon? 15
1.2 As diferenças entre os cânones dependem da tradição religiosa,
seja cristã ou judaica 16
1.2.1 As diferentes sequências (a sequência judaica - Tanak) 17
1.2.2 As diferenças de conteúdo nos cânones judaicos da Bíblia Hebraica 19
1.2.3 Qual é a diferença entre os cânones católico romano e protestante? 20
1.2.4 Qual é a lógica da sequência do cânon cristão? 22

PARTE II: A MELHOR SEQUÊNCIA DE LEITURA DA BÍBLIA 24


2 Por que a sequência melhor é a histórica?
(O contexto histórico determina a interpretação) 24
2.1 Breve história de Israel (elementos base - Linha do tempo -
informações dos períodos históricos gerais) 26
2.2 A Bíblia foi escrita na história do povo de Israel 27

PARTE III: A SEQUÊNCIA HISTÓRICA DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO 28


3 Comece pelo começo… Gênesis. 28
3.1 Período pré-patriarcal (Gn 1-11) 29
3.2 Estrutura e sequência do período pré-patriarcal 29
3.3 Período patriarcal (Gn 12-50) 30
3.3.1 O ciclo de Abraão (Gn 12,1-25,18) 30
3.3.2 O ciclo de Isaac (Gn 25,19-26,35) 34
3.3.3 O ciclo de Jacó (Gn 27,1-36,43) 34
3.3.4 O ciclo de José (Gn 37-50) 38
3.4 Sequência de leitura da Bíblia em um ano:
Período pré-patriarcal e patriarcal 42
4 O nascimento do povo de Israel no Egito, a escravidão, o êxodo,
o deserto e a chegada na terra prometida (Canaã) - 1250 - 1200 a.C. 43
4.1 Êxodo 43
4.2 Levítico 43
4.3 Números 44
4.4 Deuteronômio 45
4.5 Sequência de leitura da Bíblia em um ano:
Escravidão, êxodo e 40 anos no deserto (1250 – 1210 a.C) 46
4.6 Josué 48
4.6.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano:
a entrada na terra prometida, Canaã (1210 a.C. [+/-]) 49
5 Período tribal (1200 - 1030 a.C.) 50
5.1 Juízes 50
5.2 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Sistema Tribal (1210 – 1030 a.C.) 51
6 A monarquia Unida (1030 - 931 a.C.) 52
6.1 Primeiro livro de Samuel 1-8: a crise do sistema tribal 52
6.2 Saul, o primeiro rei 52
6.3 Davi, o segundo rei de Israel 53
6.3.1 Os problemas na família de Davi 54
6.3.2 Os problemas na história da sucessão de Davi 54
6.4 O reinado de Salomão (970/60-931 a.C.) 55
6.4.1 Quem é a verdadeira mãe de Salomão? 55
6.4.2 Como foi o reinado de Salomão? 55
6.4.3 Quem foi Salomão? 56
6.5 Quadro sinótico dos livros de Samuel, Reis e Crônicas – Monarquia Unida 57
6.6 Sequência de leitura da Bíblia em um ano:
A monarquia Unida (1030 - 931 a.C.) 59
7 A monarquia dividida (931 - 586 a.C.) 60
7.1 Quadro de síntese - as diferenças entre os reinos 61
7.2 Sinopse - Reis e Crônicas sobre os primeiros anos da monarquia dividida 62
7.2.1 O reino dividido: período entre 899-860 a.C. 63
7.2.2 O reino dividido: período entre 859-800 a.C. 63
7.2.3 O reino dividido: período entre 799-760 a.C. 64
7.3 A presença da Assíria e a destruição de Israel em 722 a.C. 64
7.4 Sinopse - Reis e Crônicas sobre a monarquia dividida
até a destruição de Israel em 722 a.C. 67
7.4.1 O reino dividido: período entre 759-700 a.C. 67
7.5 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: A monarquia dividia –
Reino do Norte (Israel) e Reino do Sul (Judá) (931 – 586 a.C.) 67
7.6 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Releia a história
da monarquia unida e dividida pela ótica da Obra Histórica Cronista 68
7.7 Sequência de leitura da Bíblia em um ano:
Profetas que viveram durante a monarquia dividia –
Reino do Norte (Israel) e Reino do Sul (Judá) (931 – 586 a.C.) 69
7.7.1 Amós (por volta de 750 a.C.) 69
7.7.2 Oseias (por volta de 755-722 a.C.) 69
7.7.3 O Primeiro Isaías – Capítulos 1 a 39 (aproximadamente entre 740-734 a.C.) 69
7.7.4 Miqueias (por volta de 740-701 a.C.) 70
7.7.5 Sofonias (cerca de 630 a.C.) 70
7.7.6 Naum (cerca de 612 a.C.) 70
7.7.7 Habacuc (cerca de 600 a.C.) 70
7.7.8 Joel (597-587 a.C. – há muitas discussões sobre
a datação de Joel, ele é muito difícil de ser situado historicamente) 70
8 O exílio da Babilônia (598 - 539 a.C.) 71
8.1 Sinopse - Reis e Crônicas sobre o período próximo ao exílio da Babilônia 73
8.1.1 O reino dividido: período entre 699-620 a.C. 73
8.1.2 O reino dividido: período entre 619-540 a.C. 73
8.2 Sequência de leitura da Bíblia em um ano:
O exílio da Babilônia (586 - 538 a.C.) 73
8.2.1 Livro que ajuda a contextualizar o que está acontecendo historicamente:
Lamentações (586-550 a.C.) 73
8.3 Sequência de leitura da Bíblia em um ano:
os profetas que viveram nessa época 74
8.3.1 Abdias (586 a.C.) 74
8.3.2 Jeremias (628-585 a.C.) 74
8.3.3 Baruc (aproximadamente, entre 570-539 a.C.) 74
8.3.4 Ezequiel (593-568 a.C.) 75
8.3.5 Segundo Isaías – capítulos 40-55 (por volta de 540 a.C.) 75
9 O período da dominação persa (538 - 319 a.C.) 76
9.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: A dominação Persa (538-331 a.C.) 77
9.1.1 Livros que ajudam a contextualizar o período histórico 77
9.1.2 Os profetas que viveram nesse período 78
9.2 Livros que foram escritos nesse período para discutir sobre a teologia da
retribuição do Templo de Jerusalém 78
9.2.1 Rute (foi escrito por volta de 400 a.C. – mas o livro faz menção ao período
do sistema tribal) 78
9.2.2 Jonas (foi escrito por volta de 400 a.C. – mas o livro faz menção ao período
do reino dividido, quando a Assíria exercia do domínio da região) 79
9.2.3 Jó (foi escrito por volta de 400 a.C. – mas o livro faz menção ao período
pré-patriarcal) 79
9.2.4 Cântico dos cânticos (foi escrito por volta de 400 a.C. – mas o livro foi
atribuído a Salomão que reinou entre 970/60 e 931 a.C.) 79
9.3 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Tobias
(esse livro é muito difícil ser datado, optei por situá-lo entre 400 e 175 a.C.) 80
10 O período da dominação grega (319 - 200 a.C.) 81
10.1 Os lágidas ou ptolomeus (319 - 200 a.C.) 82
10.1.1 Como estava a comunidade judaica nesse período? 84
10.2 Os selêucidas (200 - 142 a.C.) 84
10.3 Os macabeus (175-134 a.C.) 86
10.4 Os asmoneus (142-63 a.C.) 90
10.4.1 João Hircano (135–105 a.C.) 90
10.4.2 Aristóbulo I (105–104 a.C.) 91
10.4.3 Alexandre Janeu (104–76 a.C.) 91
10.4.4 Alexandra Salomé (75-67 a.C.) 92
10.5 A dominação grega 93
10.5.1 Livros que contextualizam, historicamente,
o que está acontecendo no período 93
10.6 Livros que foram escritos nesse período 93
10.6.1 Ester (foi escrito por volta de 350 a.C., mas se refere a uma
personagem que viveu durante entre o período do exílio da Babilônia
e a dominação persa, mais ou menos, 597 a.C.) 93
10.6.2 Eclesiastes (foi escrito por volta de 250 a.C. –
mas o livro foi atribuído a Salomão que reinou entre 970/60 e 931 a.C.) 94
10.6.3 Eclesiástico (por volta de 180 a.C.) 94
10.6.4 Daniel (deve ter sido editado por volta de 165 a.C., mas se refere a um
personagem situado durante o período do exílio da Babilônia, entre 598 e 539 a.C.) 95
10.6.5 Judite (deve ter sido escrito por volta de 165 a.C., mas se refere a uma
personagem situada durante o período do exílio da Babilônia, entre 598 e 539 a.C.) 95
10.6.6 Sabedoria (deve ter sido escrito por volta de 60 a.C., mas o livro foi atribuído
a Salomão que reinou entre 970/60 e 931 a.C.) 95
APÊNDICE – SALMOS E PROVÉRBIOS 96
11 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Salmos 96
12 Sequência de Leitura da Bíblia em um ano: Provérbios 98

PARTE IV - A SEQUÊNCIA HISTÓRICA DOS LIVROS DO NOVO TESTAMENTO 99


12.1 O período do Império romano 99
12.2 O poder político na época de Jesus 101
12.2.1 Herodes, o Grande 101
12.2.2 Os filhos de Herodes, o Grande 103
12.2.3 Os imperadores romanos na época de Jesus 104
12.2.4 Quem foi Pôncio Pilatos? 105
12.3 O poder religioso na época de Jesus 106
12.3.1 A estrutura do Templo 106
12.3.2 Os sacerdotes no tempo de Jesus 107
12.3.3 O Sinédrio no tempo de Jesus 108
12.3.4 As sinagogas no tempo de Jesus 109
12.3.5 Os partidos religiosos na época de Jesus 109
12.4 Os Evangelhos 114
12.4.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Evangelhos 114
13 Atos dos Apóstolos 116
13.1.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Atos dos Apóstolos
(escrito, provavelmente, por volta de 85-90 d.C.) 117
14 Escritos Paulinos 118
14.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Escritos Paulinos 121
14.1.1 1 Tessalonicenses (51 d.C) 121
14.1.2 1 Coríntios (entre 54 e 56 d.C.) 121
14.1.3 Gálatas (entre 54 e 56 d.C.) 121
14.1.4 Filipenses + Filêmon (ambas entre 54 e 56 d.C.) 122
14.1.5 2Coríntios (entre 55 e 56 d.C.) 122
14.1.6 Romanos (56 d.C.) 122
14.1.7 2Tessalonicenses (depois de 80 d.C) 122
14.1.8 Colossenses (95 d.C) 122
14.1.9 Efésios (95 d.C) 123
14.1.10 1Timóteo (talvez 115 d.C) 123
14.1.11 2Timóteo (talvez 115 d.C) 123
14.1.12 Tito (talvez 115 d.C) 123
15 As cartas católicas 124
15.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano:
Cartas Católicas e Escritos Joaninos 125
15.1.1 Hebreus (em torno de 100 d.C.) 125
15.1.2 Tiago (em torno de 95 d.C.) 126
15.1.3 1Pedro (entre 95 e 96 d.C.) 126
15.1.4 2Pedro (130 d.C.) 126
15.1.5 1João (110 d.C.) 126
15.1.6 2João e e 3João (ambas 110 d.C.) 126

APOCALIPSE 127
15.2 O conteúdo do Apocalipse em linhas gerais 127
15.3 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Apocalipse 128
1
Parte I: O Cânon da Bíblia

Parte I: O Cânon da Bíblia

1 O CÂNON BÍBLICO NEM SEMPRE FOI ASSIM…

U
ma das informações mais importantes se você quiser compreender
a melhor sequência de leitura da Bíblia consiste no seguinte fato: a
organização e o conteúdo das Escrituras nem sempre foi assim como
é hoje. Ao longo do tempo, houve uma série grande de modificações na estru-
tura e no conjunto do que entraria e do que ficaria de fora da lista de livros.
Isso se deu tanto do ponto de vista do Antigo Testamento quanto do Novo.
Nas próximas partes desse capítulo, mostrarei, em profundidade,
informações cruciais que formarão a base para que você compreenda a
melhor sequência de leitura da Bíblia. Vamos em frente?

1.1 O que significa a palavra cânon?


A primeira informação diz respeito ao termo que nos acompanhará
por todo este livro: cânon. De onde vem essa palavra? O que ela significa?
A palavra “cânon” vem do grego kanōn e é derivada de uma raiz se-
mítica, que no hebraico é qāneh, no assírio, qaň, no sumério-acadiano,
qin, no ugarítico, qn. Ao ser traduzido para a língua helênica, ficou kanna
ou kanē; para o latim, canna; e, para o português, cânon.
Um dado interessante é que a palavra portuguesa “canhão” tem a
mesma raiz de “cânon”. Por quê? Pelo fato de ser um termo que designa
algo firme e reto. Além do mais, “cana” de açúcar vem disso.
Para se ter uma ideia, em grego, esse vocábulo era usado para
indicar uma estaca, uma vara de tecelão, uma vara de cortina, uma
coluna de cama e uma vara mantida para desenhar uma linha reta ou
como uma referência constante para medir ou nivelar, como linha de
prumo ou régua.
Com o passar do tempo, “cânon” foi assumindo significados mais
metafóricos, passando a se referir a modelo, padrão, paradigma, limite,
lista e imposto ou tabela de tarifas. No grego do Novo Testamento, esse
termo aparece por 4 vezes (cf. 2Cor 10,13.15.16; Gl 6,16) e geralmente sig-
nifica regra, delimitação, padrão.

15
A melhor sequência para ler a Bíblia

Por exemplo, em alguns manuscritos antigos da Carta aos Filipenses,


em 3,16, trazem a seguinte lição:
Andemos segundo o padrão (κανονι - kanoni) que recebemos
Já em Gl 6,16, o apóstolo Paulo diz:

E, a todos quantos andarem de conformidade com


esta regra (κανονι), paz e misericórdia sejam sobre eles
e sobre o Israel de Deus.

Na literatura da Igreja primitiva, “cânon” passou a ser empregado


para se referir a uma variedade de coisas: à lei bíblica; a uma pessoa
ideal - daí o título de cônego que é, até hoje, utilizado na tradição ca-
tólica, aplicado a certas figuras eclesiásticas de proeminência -; a um
artigo de fé ou doutrina; a um catálogo ou índice; a uma lista de pessoas
ordenadas ou santificadas.
Um teólogo cristão, situado entre o segundo e terceiro século,
Orígenes, pode ter sido o primeiro a utilizar a palavra cânon no sentido
de uma lista de livros inspirados, mas não há um registro disso. Sabe-
mos, porém, que foi Atanásio, um dos pensadores mais importantes
do cristianismo primitivo, cuja morte é datada em 373 d.C., o que, por
primeiro, deixou o registro histórico da utilização do termo cânon em
sua carta de Páscoa de 367 d.C., na qual inclui a lista dos 27 livros do
Novo Testamento.
É a partir disso que o termo passou a designar a lista dos livros sagra-
dos do cristianismo, a Bíblia. Desse modo, até hoje, se utilizam expressões
como “o cânon das Escrituras”, “os livros do canônicos”, “os evangelhos
canônicos” e etc. Para fins didáticos, quando neste livro for utilizado o
termo cânon, será para se referir à lista de livros sagrados.
Nesta obra, vou mostrar os elementos básicos sobre o tema do cânon
para que você compreenda qual é a melhor sequência de leitura da Bíblia,
e me absterei de aprofundar na questão da formação da lista de livros, na
história de seu desenvolvimento, na temática da inspiração, entre outros
assuntos que serão tratados em outro livro ou curso.

1.2 As diferenças entre os cânones dependem da tradição religiosa,


seja cristã ou judaica
Ao compararmos as mais diversas escrituras, judaicas e cristãs, cons-
tatar-se-á uma variedade de cânones. Isso se deu porque, ao longo dos
séculos, as mais diversas linhas religiosas foram definindo como inspirados

16
Parte I: O Cânon da Bíblia

e sagrados os seus conteúdos escritos e a ordem na qual eles deveriam


ser organizados. Para se ter uma ideia, o menor cânon é o da tradição
protestante, com 66 livros; o mais amplo é o da tradição cristã ortodoxa
etíope, com 96 livros.

1.2.1 As diferentes sequências (a sequência judaica - Tanak)


Ao observarmos a Bíblia Judaica, com seu cânon definido desde o
ano 90 d.C., também conhecida como TANAK, veremos que a ordem dos
livros, comparando com o Antigo Testamento cristão, católico e protes-
tante, é bem diferente.
Antes de tratarmos as diferenças mais importantes na sequência dos
livros, é necessário compreender o que significa o termo TANAK, utilizado
para dar nome à Bíblia Judaica. TANAK é um acróstico. Cada consoante
que o compõe se refere a uma parte do cânon. “T” é Torá (Lei); “N”, neviim
(profetas); “K”, ketuvim (escritos).
Observe a tabela ao lado e perceba que alguns livros são classificados
de modos bastante diversos:
O cânon mais antigo dos judeus, muito possivelmente, foi composto
pelos livros da Torá (Lei): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deute-
ronômio. Os primeiros cinco livros da Bíblia cristã atual, que também é
chamado de Pentateuco, termo grego que significa literalmente “cinco
rolos”. A definição desse conjunto de escritos como parte de uma Escritura
Sagrada deve ter-se dado num período entre o sexto e quarto século a.C.,
tornando-se o documento central da fé judaica.
À Torá foi adicionado um conjunto de escritos chamados de Neviim,
termo hebraico que significa “profetas”. Nesse conjunto, estavam incluídos:
• os profetas anteriores - em hebraico, neviim rishonim: Josué,
Juízes, 1-2 Samuel, 1-2 Reis;
• os profetas posteriores - em hebraico, neviim aharonim: Isaías,
Jeremias, Ezequiel;
• e, por fim, os doze profetas: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas,
Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.
Um terceiro conjunto de livros que compõem o TANAK são os
chamados Ketuvim, palavra que significa, em português, “escritos”. Essa
parte da Escritura Judaica inclui: Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cântico
dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras-Neemias
e 1-2 Crônicas.
Por volta do ano 70 d.C., no final do período do Segundo Templo,
esses livros parecem ter funcionado como um cânon não oficial da

17
A melhor sequência para ler a Bíblia

Bíblia hebraica para a maioria dos judeus. Alguns autores apontam que
esse conjunto foi oficializado por proclamação de um conselho rabínico,
liderado por Yohanan Ben Hazakay, em torno de 90 d.C.
Uma indicação desse processo consiste no fato de que a igreja cristã
nos próximos séculos adotou esses escritos como seu Antigo Testamento,
ao assumir que esse conjunto era o que compunha as Escrituras de Israel.

Partes AT - Católica - 46 AT - Protestante - 39 Partes Tanak (37 livros)

Bereshit = Gênesis
Gênesis (Gn) Gênesis (Gn) (Gn)
Êxodo (Ex) Êxodo (Ex) Shemot = Êxodo (Ex)
Pentateuco Levítico (Lv) Levítico (Lv) Wayyiqra = Levítico (Lv)
Tora (5)
ou Tora (5) Números (Nm) Números (Nm) Bemidbar = Números
Deuteronômio Deuteronômio (Nm)
(Dt) (Dt) Debarim =
Deuteronômio (Dt)

Josué (Js) Josué (Js) Josué (Js)


Juízes (Jz) Juízes (Jz) Juízes (Jz)
Rute (Rt) Rute (Rt) 1 Samuel (1Sm)
1 Samuel (1Sm) 1 Samuel (1Sm) 2 Samuel (2Sm)
2 Samuel (2Sm) 2 Samuel (2Sm) 1 Reis (1Rs)
1 Reis (1Rs) 1 Reis (1Rs) 2 Reis (2Rs)
2 Reis (2Rs) 2 Reis (2Rs) Isaías (Is)
1 Crônicas (1Cr) 1 Crônicas (1Cr) Jeremias (Jr)
Livros 2 Crônicas (2CR) 2 Crônicas (2CR) Ezequiel (Ez)
Históricos Esdras (Esd) Esdras (Esd) Oséias (Os)
(16) Neemias (Ne) Neemias (Ne) Joel (Jl)
Tobias (Tb)* Ester (Est)** Amós (Am)
Judite (Jt) Abdias (Ab)
Ester (Est)** Jonas (Jn)
1 Macabeus Neviim Miquéias (Mq)
(1Mac) (21) Naum (Na)
2 Macabeus Habacuc (Hab)
(2Mac) Sofonias (Sf)
Ageu (Ag)
Zacarias (Zc)
Jó (Jó) Jó (Jó) Malaquias (Ml)
Salmos (Sl) Salmos (Sl)
Provérbios (Pr) Provérbios (Pr)
Livros Eclesiástes (Ecl) Eclesiástes (Ecl)
Sapiencias Cânticos dos Cânticos dos
(7) cânticos (Ct) cânticos (Ct)
Sabedoria (Sb)
Eclesiástico
(Eclo)

18
Parte I: O Cânon da Bíblia

Isaías (Is)
Isaías (Is)
Jeremias (Jr)
Jeremias (Jr)
Lamentações (Lm) Salmos (Sl)
Lamentações (Lm)
Baruc (Br) Jó (Jó)
Ezequiel (Ez)
Ezequiel (Ez) Rute (Rt)
Daniel (Dn)**
Daniel (Dn)** Cânticos dos cânticos
Oséias (Os)
Oséias (Os) (Ct)
Joel (Jl)
Joel (Jl) Eclesiástes (Ecl)
Livros Amós (Am)
Amós (Am) Ketuvim Provérbios (Pr)
Proféticos Abdias (Ab)
Abdias (Ab) (11) Lamentações (Lm)
(18) Jonas (Jn)
Jonas (Jn) Ester (Est)**
Miquéias (Mq)
Miquéias (Mq) Daniel (Dn)**
Naum (Na)
Naum (Na) Esdras
Habacuc (Hab)
Habacuc (Hab) Neemias
Sofonias (Sf)
Sofonias (Sf) 1 Crônicas
Ageu (Ag)
Ageu (Ag) 2 Crônicas
Zacarias (Zc)
Zacarias (Zc)
Malaquias (Ml)
Malaquias (Ml)

1.2.2 As diferenças de conteúdo nos cânones judaicos da Bíblia Hebraica


Há algumas evidências, porém, que indicam que a questão do cânon
judaico ainda estava em fluxo durante o primeiro século d.C. Flávio Josefo,
um historiador judeu-romano que viveu entre 37-100 d.C., em sua obra,
As Antiguidades Judaicas, testemunhou esse fato, afirmando que os sa-
duceus aceitavam apenas a Torá, assim como o fizeram os samaritanos,
que tinham sua própria versão da Lei.
Um exemplo disso é o que a comunidade essênia de Qumran deixou
de evidências. Em razão dos vários manuscritos que foram encontrados
nas grutas e escavações na região do deserto da Judeia, próxima ao Mar
Morto, há o testemunho de que havia ainda, no primeiro século, antes e
depois da era comum, uma variedade grande de escritos, além dos con-
siderados canônicos pelos fariseus, sobretudo de Jerusalém.
Outra informação fundamental é que havia o conjunto de escritos
que formam o cânon da versão grega do Antigo Testamento, a famosa
tradução dos setenta, também chamada de Septuaginta. Muitos judeus
de língua grega, que habitavam fora da Judeia, espalhados por todo o
território do Império Romano, teriam aceitado outros livros e escritos
que não faziam parte do cânon hebraico, como: Odes de Salomão, quatro
livros de Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Oração de Manassés,
Salmo 151, Salmos de Salomão, Carta de Jeremias, Susana, Bel e o Dragão,
Oração de Azarias, Judite e Tobit.

19
A melhor sequência para ler a Bíblia

O que quero dizer com tudo isso até aqui? A Bíblia nem sempre foi
assim como é hoje, do ponto de vista de seu conteúdo e também de ordem
dos livros. Ambos os elementos foram sendo organizados com o passar
do tempo. Eles não caíram do céu prontos. Há, portanto, que se dizer que
existe uma lógica, diferente da lógica da sequência histórica dos relatos,
que organiza o cânon tal como ele está hoje.

1.2.3 Qual é a diferença entre os cânones católico romano e protestante?


Antes de entendermos a lógica da organização da sequência dos livros
no cânon cristão, é importante mostrar qual é a diferença entre as listas
cristãs da Bíblia Católica e da Bíblia Protestante. Olhe a tabela a seguir:

Partes Bíblia Católica Bíblia Protestante


73 livros 66 livros

Gênesis (Gn) Gênesis (Gn)


Êxodo (Ex) Êxodo (Ex)
Pentateuco ou Tora (5) Levítico (Lv) Levítico (Lv)
Números (Nm) Números (Nm)
Deuteronômio (Dt) Deuteronômio (Dt)

Josué (Js) Josué (Js)


Juízes (Jz) Juízes (Jz)
Rute (Rt) Rute (Rt)
1 Samuel (1Sm) 1 Samuel (1Sm)
2 Samuel (2Sm) 2 Samuel (2Sm)
1 Reis (1Rs) 1 Reis (1Rs)
2 Reis (2Rs) 2 Reis (2Rs)
Livros Históricos (16) 1 Crônicas (1Cr) 1 Crônicas (1Cr)
2 Crônicas (2CR) 2 Crônicas (2CR)
Esdras (Esd) Esdras (Esd)
Neemias (Ne) Neemias (Ne)
Tobias (Tb)* Ester (Est)**
Judite (Jt)
Ester (Est)**
1 Macabeus (1Mac)
2 Macabeus (2Mac)

20
Parte I: O Cânon da Bíblia

A diferença se dá na quantidade de livros do Antigo Testamento. Na Bíblia


Católica, há 46 livros; na Protestante, 39. Os sete livros que não estão na
Bíblia Protestante são Judite, Tobias, 1-2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico
e Baruc. Além disso, algumas partes de Ester e Daniel figuram apenas no
cânon católico.
Para o propósito do livro, vou explanar alguns elementos a respeito
do porquê dessa diferença.
O primeiro deles é que as versões cristãs do Antigo Testamento, ge-
ralmente, incluíam uma variedade de livros que não estavam incluídos no
Tanak, inclusive os sete livros e as partes de Ester e Daniel, acima citados.
Lembrando que esses textos foram aceitos pelos judeus de língua grega
e estavam presentes na Septuaginta.
Por causa da reforma protestante, a partir de 1517 d.C., começa o
abandono desses escritos. Martinho Lutero e alguns outros reformado-
res colocaram dúvida na canonicidade desses livros. Desde então, esses
textos são chamados, pelos protestantes, de apócrifos.
É importante salientar que, quando Lutero traduziu a Bíblia para
o alemão, ele não removeu os tais “apócrifos”; simplesmente, os colo-
cou num apêndice. Esse tipo de organização dos livros permanece em
muitas Bíblias europeias e em algumas versões ecumênicas da Bíblia no
Brasil. Um exemplo disso é a Bíblia TEB (Tradução Ecumênica da Bíblia)
da Editora Loyola.
O primeiro grupo de pessoas a retirar esses escritos considerados
apócrifos foram os ingleses. Efetivamente, a primeira versão impressa sem
esses livros foi a Bíblia de Genebra, em 1599. Alguns anos depois, em 1615,
o Arcebispo de Cantuária, George Abbot, em reação a esse fato, declarou
pena de prisão aos que imprimissem Bíblias em que faltassem esses textos.
Por influência dos puritanos e presbiterianos, nos três séculos que
se seguiram, que o governo britânico e a Sociedade Bíblica Britânica
fortaleceram a cultura de imprimir Bíblias sem os livros considerados
apócrifos. As Escrituras Protestantes passaram, mais comumente, a ter
apenas 66 livros.
As Bíblicas Católicas, por sua vez, mantiveram o cânon comum aos
cristãos dos primeiros séculos e do período medieval. Assim, o número
de escritos de sua versão é de 73 livros. Os sete livros e as partes de Ester
e Daniel, que estão originalmente na língua grega, na tradição católico
romana, não são chamados de apócrifos, mas de deuterocanônicos. Esse
termo significa “outro cânon”. Além disso, não há qualquer tipo de ques-
tionamento sobre sua inspiração e autenticidade.

21
A melhor sequência para ler a Bíblia

Por fim, os cânones cristãos, católico, ortodoxo oriental e protestante


do Novo Testamento, não têm diferenças substanciais. Já as tradições
cristãs siríacas e etíopes trazem algumas variações importantes, por
exemplo, alguns livros apócrifos como Enoque e, até mesmo, do histo-
riador Flavio Josefo.

1.2.4 Qual é a lógica da sequência do cânon cristão?


O cânon cristão, católico e protestante, não está organizado a
partir da lógica histórica, ou seja, ele não segue a ordem da sucessão
dos eventos que marcaram o povo da Bíblia, tanto do ponto de vista
do Antigo quanto do Novo Testamento.
Se observarmos a sequência em que estão os livros proféticos, por
exemplo, constatar-se-á que o primeiro na lista é Isaías. O primeiro
a ter sido escrito, porém, foi o de Amós, que viveu seu ministério en-
tre 760-754 a.C. Depois, de acordo com os estudos mais avançados,
Oséias, e assim por diante.
Amós é contemporâneo de Oséias, Isaías e Miquéias; todos situados
no século VIII a.C. Ele é, no entanto, provavelmente, o primeiro desses
profetas, pois seus oráculos de condenação abordam a denúncia da
desigualdade social e da injustiça no Reino do Norte.
Diante disso, é preciso dizer que essa temática se encaixa me-
lhor com a prosperidade vivida por Israel e Judá, durante o período
dos reinados, quase contemporâneos de Ozias de Judá (790-740 a.C.)
e Jeroboão II de Israel (786–746 a.C.), na primeira metade do século.
Na continuidade da lista, tal como a temos hoje em dia, depois
de Isaías está Jeremias. Esse último, porém, vivenciou seu chamado
profético entre os anos de 628 e 585 a.C. Período dos reinados de
Josias, Joacaz, Joaquin, Joaquim e Sedecias, passando, dessa maneira,
parte de sua vida no período da dominação babilônica na terra de Judá.
Esses foram apenas dois exemplos para demonstrar que a lógica
da organização do cânon cristão não é histórica, mas, sim, o agrupa-
mento por gênero literário.
Ao olhar para a primeira parte do Antigo Testamento, encontra-
mos a Torá ou Pentateuco, livros que formam uma unidade literária
em torno da narrativa dos patriarcas, do êxodo do Egito e das leis que
foram entregues por Deus a Moisés no Sinai.
Depois, aparecem os livros históricos. Neles, estão contidos os
escritos considerados, como o nome diz, históricos. Não necessaria-
mente esse material todo é composto por uma historiografia. Rute,

22
Parte I: O Cânon da Bíblia

Ester, Judite e Tobias - os dois últimos estão apenas na Bíblia Católi-


ca - são novelas bíblicas, por exemplo. Ao longo da história da Igreja,
entretanto, eles foram sendo considerados relatos históricos e, então,
foram inseridos nesse conjunto.
Como já falei um pouco dos livros proféticos, terminarei a exposi-
ção desse trecho do livro com a parte que falta do Antigo Testamento,
os livros sapienciais. Esse conjunto reúne os livros que, de alguma
maneira, transmitem a sabedoria do antigo Israel. Alguns autores
preferem utilizar outra nomenclatura para designar esses escritos, a
saber, livros poéticos. Eu, particularmente, entendo que essa termi-
nologia reflete muito bem o gênero literário das obras em questão: Jó,
Salmos, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Eclesiástico e Sabedoria.

23
A melhor sequência para ler a Bíblia

PARTE II: A Melhor

2
sequência de leitura
da Bíblia

A
o longo desses anos de estudo, pesquisa e ensino da Bíblia, uma
das perguntas que mais as pessoas fazem é essa: “qual é a melhor
sequência para ler a Bíblia?” Alguns fazem esse questionamento
mesmo já tendo lido a Escritura inteira. Dizem isso porque não conseguem
entender uma lógica, “um fio da meada”, na narrativa como um todo.
Claro, nunca vão entender, mesmo! Por quê? Os livros da Bíblia
não estão numa sequência para serem lidos de Gênesis ao Apocalipse.
A sua forma é como a de uma prateleira de biblioteca, na qual alguém
pega o material de acordo com seu interesse, organizado por seus
gêneros literários.
Neste capítulo, mostrarei os fundamentos da leitura contextualizada
da Bíblia e como isso impactará muito positivamente sua interpretação.
Isso se dará a ponto que nunca mais você abrirá mão desse processo, já
que os escritos sagrados terão muito mais sentido. Está preparado?

2 POR QUE A SEQUÊNCIA MELHOR É A HISTÓRICA? (O CONTEXTO


HISTÓRICO DETERMINA A INTERPRETAÇÃO)

Os sentidos das palavras mudam a medida em que os contextos


mudam. A Bíblia foi escrita ao longo de toda a história do Antigo Povo de
Israel. Nesse sentido, foram vários períodos, cada qual com seu pano de
fundo cultural, econômico, social, político, ideológico, religioso e, claro,
teológico que determinaram o modo de comunicação dos seus autores.
Os escritores sagrados, chamados de hagiógrafos, inspirados
pelo Espírito Santo, foram comunicando por escrito a experiência
individual e coletiva com Deus, mediante a linguagem de sua época.
De tal modo é assim que diversas figuras de linguagem utilizadas na
Bíblia não têm o mesmo impacto e significado, se lidas e interpretadas

24
PARTE II: A Melhor sequência de leitura da Bíblia

de maneira fundamentalista, literalmente.


Um exemplo disso consiste no modo de se elogiar um homem, por
parte de sua amada, no livro de Cântico dos Cânticos. Ao olhar para ele,
a mulher apaixonada afirma, em Ct 2,8-9:

8
Ouço a voz do meu amado; ei-lo aí galgando os
montes, pulando sobre os outeiros. 9 O meu amado é
semelhante a gazela ou ao filho da gazela; eis que está
detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, esprei-
tando pelas grades.

Hoje, pejorativamente, chamar um homem de gazela daria uma


outra conotação. Não estou aqui debatendo questões de homofobia.
Esse é apenas um exemplo de como os contextos alteram sentidos. Em
alguns casos, radicalmente.
Pense que a Bíblia é cheia desse processo. Vamos a um outro exemplo
que está em Jeremias 1,13-15:

Outra vez, me veio a palavra do Senhor, dizendo:


13

Que vês? Eu respondi: vejo uma panela ao fogo, cuja


boca se inclina do Norte. 14 Disse-me o Senhor: Do
Norte se derramará o mal sobre todos os habitantes
da terra. 15 Pois eis que convoco todas as tribos dos
reinos do Norte, diz o Senhor; e virão, e cada reino
porá o seu trono à entrada das portas de Jerusalém e
contra todos os seus muros em redor e contra todas
as cidades de Judá.

Se eu te perguntar de que maneira você interpreta esse texto, o


que você me responderia? Qual é o significado dessa panela com a boca
voltada para o norte? Do que esse texto está falando?
Jeremias está situado, num primeiro momento, num período an-
terior à invasão de Judá, por parte dos babilônios, por volta de 586 a.C.
Jerusalém é a panela. Sua boca está voltada aberta para o norte, porque
os inimigos entravam, no território dos judaítas, pelo norte. Os babilô-
nios chegariam pelo norte. E o norte da cidade de Jerusalém era o lado
mais fácil para se atacá-la. Assim, o texto está falando sobre a ameaça
da futura invasão babilônica.
Ao ler o texto de Jr 1,13-15, novamente, você perceberá que sua in-

25
A melhor sequência para ler a Bíblia

terpretação da passagem se altera. Ela fica mais clara! Isso porque, agora,
você tem conhecimento do contexto histórico e linguístico.
Ler a Bíblia acompanhando a sequência histórica do Antigo Israel
vai trazer à tona a força comunicativa do texto bíblico. Diante disso, a
melhor ordem de leitura deve respeitar esse processo. Aqui, no livro, eu
vou te explicar tudo isso em detalhes. Vamos continuar?

2.1 Breve história de Israel (elementos base - Linha do tempo -


informações dos períodos históricos gerais)
Talvez uma das maiores lacunas de conhecimento para nós, os cristãos
que querem ler a Bíblia, é não ter as informações básicas sobre a história
do Antigo Israel. Por isso, neste momento, eu apresentarei os elementos
mais importantes desse desencadeamento de períodos.
Primeiramente, pode-se dividir a história dos israelitas bíblicos em
três grandes momentos: antes, durante e depois do exílio da Babilônia.
O momento antes do exílio da Babilônia pode ser dividido em
cinco partes:
1. Período pré-patriarcal e patriarcal (da criação até 1600 a.C.);
2. Período do êxodo (1250-1210 a.C.);
3. Sistema tribal (1210-1010 a.C.);
4. Monarquia unida (1010-931 a.C.);
5. Monarquia dividida (931-586 a.C.).
O período do domínio babilônico se deu por aproximadamente 50
anos. Ele se iniciou em 597/6 e foi até 539 a.C. Durante esse tempo, par-
te da população de Judá foi levada cativa para viver na Babilônia. Houve
quem ficou na terra também.
Esse momento histórico termina com a derrota dos babilônios para
o império persa, liderado por Ciro. É ele quem determina o retorno dos
exilados para suas terras. Aqui se inicia o pós-exílio.
No novo período, os judaítas são autorizados a reconstruir as mura-
lhas e o Templo de Jerusalém. Uma nova forma religiosa passa a vigorar,
centrada na Lei e no culto do Templo.
Esse império foi fundado em 550 a.C. e perdurou, estendendo seu
poder, por várias regiões do Antigo Oriente Próximo. Tendo durado
200 anos, seu término é, geralmente, situado em 330 a.C., com o início
do império helênico. Alexandre o Grande venceu os persas, estabe-
lecendo o domínio grego. Inclusive, a região da Judeia foi anexada ao
território imperial.
Grandes conflitos aconteceram entre o povo judeu e os dominado-

26
PARTE II: A Melhor sequência de leitura da Bíblia

res helênicos. A pressão foi tão grande que os macabeus se revoltaram e


conseguiram derrotar os gregos (167-160 a.C.), iniciando, assim, a dinastia
judaica dos asmoneus, que governará até 63 a.C., quando o Império ro-
mano chegou nessa região.
Com a chegada dos romanos no território da Judeia, dá-se o início
do que será o pano de fundo histórico do Novo Testamento.

2.2 A Bíblia foi escrita na história do povo de Israel


A Bíblia foi escrita durante toda essa história, brevemente contada
acima. Diante disso, é preciso ter a clareza de que a linha mestra que
conduz a interpretação das Escrituras deve ser a sequência dos eventos
que a marcaram.
Os livros da Bíblia fazem menção a esses fatos históricos, interpre-
tando-os à luz de sua relação com Deus. Os hagiógrafos foram elaborando
sua teologia da história, do ser humano, da sociedade, inspirados pelo
Espírito Santo, na mediação da linguagem de suas respectivas épocas.
Assim, é comum dizer, no meio dos estudiosos sérios das Escrituras,
que a Bíblia não é um livro de história, segundo os moldes da ciência his-
tórica moderna, mas, sim, um livro de teologia da história. Trata-se de um
livro da fé de um povo que, passando pelas diversas opressões, depositou
sua confiança num Deus que os libertaria.

27
A melhor sequência para ler a Bíblia

PARTE III: A sequência

3
histórica dos livros do
Antigo Testamento

3 COMECE PELO COMEÇO… GÊNESIS.

O
livro do Gênesis, o primeiro que precisa ser lido, está estru-
turado em duas grandes partes: a primeira pode ser chamada
de narrativa pré-patriarcal ou história primordial (Gn 1—11); a
segunda, que tem seu início em Gn 12 e vai até o final, no capítulo 50,
é denominada de narrativa patriarcal.
Nos primeiros capítulos, podemos discernir quatro relatos que são
encontrados em diversas genealogias: criação, vida humana dentro e
fora do jardim (Adão / Eva; Caim / Abel), o dilúvio de Noé e a Torre de
Babel (cf. Gn 1-11,9).
Entre os relatos patriarcais, há três coleções narrativas: as histórias
de Abraão, Jacó e José. A ausência de uma coleção distinta de Isaac se
deve ao seu papel marginal como uma figura de transição, ofuscada tanto
pelo pai (Abraão) quanto pelo filho (Jacó) (cf. Gn 11,27-50,26).
Toda essa narrativa do Gênesis está organizada em 10 sessões, con-
tadas a partir da introdução (cf. Gn 1,1-2,3). O que mais chama a atenção
é o fato de que cada uma das porções é introduzida com uma expressão
que aparece dez vezes, “esta é a história...”. Essa fórmula, em hebraico,
é chamada de “toledot”, palavra hebraica que significa “genealogia”, pois
esse é o termo utilizado em todas essas frases (cf. Gn 2,4; 5,1; 6,9; 10,1;
11,10; 11,27; 25,12; 25,19; 36,9; 37,2).
Observe o quadro abaixo:

Introdução: o poema da criação


(Gn 1,1–2,3)
Período Pré-patriarcal
1 A genealogia da criação
(2,4–4,26)

28
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

2 A genealogia de Adão
(5,1–6,8)

3 A genealogia de Noé
(6,9–9,29)
Período Pré-patriarcal
4 A genealogia dos filhos de Noé
(10,1–11,9)

5 A genealogia de Sem
(11,10–11,26)

6 A genealogia de Taré
(11,27–25,11)

7 A genealogia de Ismael
(25,12–18)

8 A genealogia de Isaac Período patriarcal


(25,19–35,29)

9 A genealogia de Esaú
(36,1–8; 36,9–37,1)

10 A genealogia de Jacó
(37,2–50,26)

3.1 Período pré-patriarcal (Gn 1-11)


O período pré-patriarcal tem seu início com o primeiro relato da
criação do mundo e da humanidade (cf. Gn 1,1-2,4a); é seguido pelo se-
gundo relato da criação (cf. 2,4b-25). A queda e suas consequências são
apresentadas em Gn 3-5. Diante do pecado que tomou conta da humani-
dade, o livro apresenta o ciclo de Noé e do dilúvio (cf. Gn 6-10). Por fim,
vem a história da Torre de Babel (Gn 11).

3.2 Estrutura e sequência do período pré-patriarcal


I. História da Humanidade em Geral (1-11)
A. Criação dos céus e da terra (1-2)
B. Adam e sua família (3-5)
A queda do homem (3).
C. Noé e sua família (6-11)

29
A melhor sequência para ler a Bíblia

O Dilúvio (6–10).
A rebelião de Babel (11).

3.3 Período patriarcal (Gn 12-50)


A transição da narrativa da Torre de Babel para o ciclo de Abraão é
feita pela apresentação da genealogia de seu pai, Taré (ou Terá, depen-
dendo da tradução da Bíblia que você tiver), no final de Gênesis (11,10-32).

3.3.1 O ciclo de Abraão (Gn 12,1-25,18)


Chegamos ao ciclo do primeiro patriarca, Abrão (Gn 12,1-25,18). Essa
narrativa começa com o patriarca em Ur da Caldeia e Deus lhe prome-
tendo uma terra e uma posteridade numerosa (cf. Gn 12,1-3). Ele inicia sua
peregrinação, passando por Haran, terminando em Canaã (cf. Gn 12,4-5).
Ao chegar lá, mais especificamente à cidade de Siquém, Deus lhe
promete a terra de Canaã (cf. Gn 12,6-7); depois, Abrão vai para Betel,
onde contrói um altar; dali, ele parte para o sul, até o deserto do Negev
(cf. Gn 12,8-9).
Nesse período, a fome assolava a região na qual ele se encontrava,
por isso partiu para o Egito, local onde passou por dificuldades por causa
do faraó, que quis tomar sua mulher, Sara, por esposa (cf. Gn 12,10-20).
Por tudo isso, Abrão retorna a Betel (cf. Gn 13,1-4).
Nesse tempo, Ló, sobrinho de Abrão, aparece na história. Há uma
contenda entre os pastores desses dois personagens. Eles se separam,
pois não podiam mais viver juntos. Cada um vai para um lado. Ló decide
morar próximo da cidade pervertida de Sodoma. Esse bloco termina com
uma nova narrativa da promessa de Deus ao patriarca (cf. Gn 13,1-18).
Em Gn 14,1-11, a narrativa mostra a coragem de Abrão diante de
uma situação de guerra. Cinco cidades-estados se rebelam contra Co-
dorlaomor, Rei de de Elam (14,1-4). Como forma de retaliação, ele e seus
aliados derrotam esses cinco exércitos, saqueiam suas cidades e levam
muitas pessoas como escravas (14,5-11). Ló, que agora mora em Sodoma,
é levado como escravo (14.12).
Diante disso, ao saber da captura de seu sobrinho, Abrão e seus
318 servos-pastores, treinados, cavalgam para resgatar Ló (14,13-14). O
patriarca divide seus homens e inicia um ataque surpresa à noite (14.15).
Codorlaomor é derrotado e Ló é resgatado (14,16).
Ao retornar da batalha para sua casa em Hebron, Abrão encontra
Melquisedeque, Rei da cidade de Salém, que o abençoa. O patriarca ofe-
rece-lhe um décimo de todos os bens que recuperou de Codorlaomor

30
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

(14,17-20). De forma muito diferente, Abrão se recusa a ter qualquer co-


munhão com Bera, Rei da ímpia Sodoma (14,21-24).
Abrão afirma que, após sua morte, todos os seus bens serão re-
passados para Eliezer, um de seus servos de Damasco, tornando-se o
herdeiro da aliança (15,1-3). Diante disso, o Senhor diz ao patriarca que o
herdeiro prometido será o seu próprio filho e que os seus descendentes
serão tão numerosos quanto as estrelas nos céus (15,4-5). Deus ratificou
tal promessa a Abrão, mediante uma aliança selada com sangue (15,6-17).
Sarai, porém, não conseguia ter filhos. Diante de tal situação, ela
convence Abrão a se relacionar com Agar, sua serva, a fim de ter um filho
por meio dela (16,1–3). Dessa relação nasceu Ismael (16,4). Os conflitos
começaram. Agar despreza Sarai, que revida, tratando-a muito mal.
Depois de sofrer o tratamento severo da parte de Sarai, Agar fugiu para
o deserto (16,5-6). Nesse momento, Deus vai ao seu encontro e consola-a,
fazendo-a retornar. Quando Ismael nasceu, Abrão tinha 86 anos (16,7-16).
Em Gn 17,1-8, Deus, ao fazer uma aliança com o patriarca, muda o
nome de Abrão (“pai exaltado”) para Abraão (“pai de muitos” ou “pai de uma
grande nação”). Como sinal desse pacto, ele deve circuncidar a si mesmo,
a todos os homens do acampamento e a todos os meninos, oito dias após
o nascimento. Isso é obrigatório e os que se recusam a ser circuncidados
devem ser expulsos do povo (17,9-14).
Além disso, Deus também mudou o nome de Sarai para Sara (“prince-
sa”) (17,15) e lhe promete que será mãe das nações (17,16-19). Aos noventa
e nove anos, Abraão circuncidou a si mesmo, a Ismael de treze anos e a
todos os homens em seu acampamento (17,20-27).
O texto bíblico continua com a narrativa do encontro de Abraão com
os visitantes celestiais, em Hebron. O patriarca os acolhe, preparando-
-lhes uma refeição farta. Os três, então, fazem a promessa de um filho,
o que seria o herdeiro. Ao ouvir tal notícia, Sara riu. Abraão colocará o
nome de seu filho de Isaac, termo que em hebraico significa “risada” (cf.
Gn 18,1-15; 21,2-3).
Porém, nem tudo era fácil na vida de Abraão. Em Gn 18,16-22, visto
que ele foi escolhido para ser o pai de um povo justo, Deus determina que
lhe seja revelado Seu plano a respeito da cidade de Sodoma. O patriarca,
porém, inicia uma intercessão por aquelas pessoas (cf. Gn 18,23-33).
No capítulo seguinte, Gn 19,1-38, dois anjos visitam Ló, em Sodoma,
e ele os convida para pernoitar em sua casa. Os sodomitas exigem que
Ló entregue seus visitantes para que possam molestá-los sexualmente
(19,4-11). Nessa situação caótica, em vão, Ló avisa os noivos de suas filhas

31
A melhor sequência para ler a Bíblia

para fugirem da cidade (19,12-14).


Relutante em partir, Ló e sua família são conduzidos para fora da
cidade condenada pelos anjos (19,15-17). Ló implora que eles tenham
permissão para morar em Zoar, um pequeno vilarejo perto de Sodoma
(19,18-22). A ira ardente de Deus, porém, recai sobre Sodoma e outras
cidades perversas da planície (19,23-25).
Durante a fuga, olhando para trás, para a queima de Sodoma, a
esposa de Ló se torna uma estátua de sal (19,26). De uma distância de
mais de trinta quilômetros, Abraão vê a fumaça subindo da destruição
de Sodoma e Gomorra (19,27-29).
Depois da destruição de Sodoma e Gomorra, as filhas de Ló temem
nunca se casar e criar filhos (19,30-31). Diante disso, elas embebedam
o pai e dormem com ele para engravidar (19,32-36). Dessa relação,
Moabe, pai dos moabitas, nasce da filha mais velha de Ló, e Ben-Ami,
pai dos amonitas, da filha mais nova (19,37-38).
Gn 20,1-18 narra que Abraão foi morar na região sul de Canaã, no
deserto do Negev. Lá, temendo por sua vida, ele apresenta Sara como
sua irmã ao Rei Abimelec. Deus informa a esse rei, em um sonho, que
Sara é casada. Diante disso, Abimelec devolve a mulher do patriarca,
que ora por ele. O Senhor remove a maldição sobre o rei.
É no capítulo 21,1-7 que acontece o cumprimento da promessa
do nascimento de Isaac. Na continuidade da história, em Gn 21,8, é
feita a celebração de seu desmame. Nessa ocasião, Ismael caçoa de
Isaac (21,9). Isso faz com que Sara exija que Abraão tire Agar e seu
filho do acampamento (21,10-11).
Depois que Abraão é assegurado por Deus de que Agar será
provida, ele a manda embora com um suprimento de comida e água
(21,12-14). No deserto, Agar teme que os dois morram logo (21,15-16).
Em Gn 21,17-21, Deus fornece comida e água para Ismael no de-
serto e mais tarde o guia até a idade adulta. Assim como o Senhor
havia predito, Ismael se tornará pai de doze filhos (25,12-18).
A narrativa continua e apresenta o pacto feito entre Abraão e
Abimelec. Ambos não deverão fazer o mal um ao outro. Embora alguns
conflitos entre eles tenham ocorrido, mesmo depois do contrato
feito, selarão um juramento pacífico em Bersabeia, que em hebraico
significa “poço do juramento” (21,22-34).
Em Gn 22,1-24, Deus ordena a Abraão que sacrifique Isaac como
holocausto. O patriarca segue para a terra de Moriá. Constrói o altar.
Coloca sobre ele o seu amado. Levanta a mão para o sacrifício. Mas

32
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

o Senhor age impedindo esse processo. Abraão oferece um carneiro


no lugar de Isaac.
Na continuidade do ciclo de Abraão, em Gn 22,15-19, o anjo do
Senhor novamente promete a Abraão que seus descendentes serão
tão numerosos quanto as estrelas e a areia da praia.
Diante disso, em Gn 22,20-24, o texto afirma que Abraão fica
sabendo que seu irmão Nacor teve oito filhos. Um deles é Betuel, que
se tornará pai de Rebeca (esposa de Isaac).
Abraão, na sequência da narrativa, chora por Sara, que morreu
aos 127 anos (Gn 23,1–2). Ele se descreve como um estrangeiro e pe-
regrino em Canaã e pergunta a Efron, o hitita, se ele pode comprar a
gruta de Macpela, próxima a Hebron, para enterrar sua esposa nela
(Gn 23,3-13). O patriarca a adquire por quatrocentos siclos de prata
(Gn 23,14-16) e lá a sepulta (Gn 23,17-20).
Nos versículos de Gn 24,1-67, é narrada a história do casamento
de Isaac. Abraão instrui um dos servos a encontrar uma esposa para
o seu filho, em sua terra natal, a Mesopotâmia (Gn 24,1-4).
Tendo carregado dez camelos com presentes, o servo parte com
(Gn 24,10) e pede ao Senhor que faça com que a mulher escolhida
como noiva de Isaac se ofereça como voluntária para fornecer água
para ele e seus camelos (Gn 24,11-14).
Enquanto o servo orava, Rebeca aparece em cena e cumpre o
sinal (Gn 24.15-21). Diante disso, Eliezer, possivelmente esse era o
nome do servo de Abraão, dá à futura noiva algumas joias de ouro
(Gn 24,22-28).
Assim, o irmão de Rebeca convida Eliezer para entrar em sua
casa (Gn 24,29-33). O servo conta a Labão, pai de Rebeca, a mis-
são que Abraão lhe deu (Gn 24,34-41), como Deus respondeu à sua
oração (Gn 24,42-44) e como foi seu encontro inicial com Rebeca
(Gn 24,45-48).
Rebeca recebe as joias e as roupas e é convidada a ir para Canaã
a fim de se casar com Isaac (Gn 24,49-56). Tendo ela aceitado (Gn
24,57-60), vai com Eliezer ao encontro de Abraão e Isaac (Gn 24,61).
Isaac está caminhando por um campo quando encontra sua
nova noiva. Eles se casam e se dão amor e conforto (Gn 24,62-67).
No final de seu ciclo narrativo, Abraão se casa com sua terceira
esposa, Cetura (Gn 25,1) e tem com ela seis filhos, entre eles, Madiã
(Gn 25,2-4). O patriarca passa sua riqueza para seus filhos, dando a
maior parte a Isaac (Gn 25,5-6), e morre aos 175 anos (Gn 25,7-11).

33
A melhor sequência para ler a Bíblia

3.3.2 O ciclo de Isaac (Gn 25,19-26,35)


A partir de Gn 25,19, está presente o ciclo de Isaac. Ele é curto,
termina em Gn 26,35, quando se dá início à narrativa a respeito de Jacó.
No começo desse ciclo, Isaac ora para que Rebeca conceba um filho
(25,19-22). Deus responde à oração, em dupla medida! Eles terão gêmeos
(25,23-34). Esaú nasce primeiro, seguido por Jacó (25,24-26). Ao chegar à
idade adulta, Esaú vende sua primogenitura por um pão e uma tigela de
cozido de lentilhas (25,27-34).
Na continuidade, parece haver uma interrupção da narrativa, que
retornará em Gn 26,34. A história fica dramática. Durante uma fome, Deus
proíbe Isaac de ir ao Egito, mas permite que ele fique em Gerara (26,1-5).
Como seu pai havia feito anteriormente, Isaac mente a Abimelec (o rei
filisteu) sobre sua esposa, alegando que ela é sua irmã (26,6-7).
Ao ver Isaac acariciando Rebeca, Abimelec o repreende por tê-lo
enganado. Apesar disso, Deus continua a abençoar Isaac (26,8-16).
Em Gn 26,17-22, uma discussão a respeito da propriedade de alguns
poços se inicia. Depois, em um sonho, o Senhor aparece a Isaac e confirma
a aliança que ele fez com seu pai, Abraão (26,23-25).
Percebendo a bênção de Deus sobre Isaac, os filisteus propõem
um tratado de paz com ele. Isaac aceita e comemora com uma grande
festa (26,26-33).
A partir de Gn 26,34, o fluxo da história retoma a narrativa sobre
Esaú e Jacó. Esaú se casa com duas mulheres hititas, que tornam a vida
de Isaac e Rebeca amarga (26,34-35).

3.3.3 O ciclo de Jacó (Gn 27,1-36,43)


A partir de Gn 27, o texto começa a apresentar o ciclo de Jacó,
um tanto misturado com o final do ciclo de Isaac.
Acreditando que a morte está próxima, Isaac instrui Esaú a
caçar alguns animais selvagens e preparar uma refeição; e promete
abençoa-lo após esse evento (27,1-4).
Ouvindo essa conversa, Rebeca prepara uma refeição semelhante,
disfarça Jacó para se parecer com Esaú e o envia a Isaac (27,5–17),
que, no início, fica confuso, dizendo: “A voz é de Jacó, mas as mãos
são de Esaú” (27,18-23).
Diante disso, Jacó convence seu pai, Isaac, de que ele é realmente
Esaú e recebe a sua bênção (27,24-29). Quando Jacó sai, Esaú entra,
pronto para ser abençoado (27,30-33).
Chorando de raiva e frustração, Esaú diz: “Ó meu pai, aben-

34
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

çoa-me também!” (27,34-38). Isaac, então, prediz que Esaú e seus


descendentes viverão pela espada e servirão a seu irmão por um
tempo (27,39-40). Esaú jura matar Jacó após a morte de seu pai (27,41).
Por causa dessa ameaça, Rebeca incentiva Jacó a escapar da ira
de Esaú indo para sua cidade natal, Harã, na Mesopotâmia (27,42-
46). Isaac diz a Jacó que vai para Harã e escolher uma noiva entre
os parentes de sua mãe (28,1-5).
Esaú, percebendo que suas esposas cananeias são uma fonte
de tristeza para seus pais, se casa com Maelet, filha de Ismael, filho
de Abraão por meio de Agar (28,6-9). A lista dos descendentes de
Esaú está em Gn 36,1-43.
Depois de tratar a respeito do outro casamento de Esaú, o Gê-
nesis fala da fuga de Jacó e afirma que, em dado momento, durante
um sonho em Betel, ele vê anjos subindo e descendo por uma escada
que vai da terra ao céu (28,10-12).
O Senhor está no topo da escada e reafirma a Jacó a aliança que
ele estabeleceu com Abraão (28,13-15). Ao acordar, Jacó promete
servir a Deus, mas somente se Deus o proteger e prover para ele
(28,16-22).
Jacó vai ao oriente e lá encontra Raquel perto de um poço. Ele
rola uma pedra enorme de sua entrada para que ela possa dar água
às ovelhas de seu pai, Labão, tio de Jacó (29,1-12).
Durante esse encontro, eles decidem que Jacó deveria trabalhar
para Labão (29,13-17). Assim, Jacó pede em casamento a Raquel, em
troca de sete anos de trabalho para Labão (29,18-21). Na véspera do
casamento, porém, o seu sogro, secretamente, substitui Raquel por
Lia, forçando-o a trabalhar mais sete anos (29,22-30; 30,25-31,55).
Jacó, no fim das contas, teve quatro mulheres: Lia (29,28); Raquel
(29,30); Bala, serva de Raquel (29,29; 30,1-14); Zelfa (30,9). Os filhos
de Jacó são (apresentados na sequência do nascimento):

Mulher Nome dos filhos

1. Rúben (29,31-32)
2. Simeão (29,33)
Filhos com Lia
3. Levi (29,35)
4. Judá (29,35)

35
A melhor sequência para ler a Bíblia

5. Dã (30,5-6)
Filhos com Bala
6. Neftali (30,7-8)

7. Gad (30,9-11)
Filhos com Zelfa
8. Aser (30,12-13)

9. Issacar (30,14-18)
Mais filhos com Lia:
10. Zabulon (30,19-20)

Única filha de Jacó, com Lia 11. Diná (30,21)

12. José (30,22-24)


Filhos com Raquel
13. Benjamin (35,16-18)

Jacó teve 13 filhos. 12 homens; uma mulher.

Retomando a história, o Gênesis afirma que Jacó ficou muito rico


(30,25-43). Isso gerou um conflito com Labão e fez com que Jacó tives-
se que fugir (31,1-21). Depois de muita perseguição e discussão entre
eles (31,22-42), fazem as pazes e selam um contrato (31,43-54). Diante
disso, Jacó e sua família continuam seu caminho; então, anjos vêm e
os encontram (32,1–2).
Ao saber que Esaú está por perto, Jacó, assustado, envia mensageiros
a seu irmão, prometendo-lhe grandes riquezas (32,3–5). Esses voltam com
algumas notícias aterrorizantes: Esaú estava vindo com quatrocentos
homens para encontrar Jacó (32,6-8).
Jacó, tomado de medo, “lembra” a Deus da aliança que ele estabe-
leceu com Abraão e clama por ajuda (32,9-12). Ele tenta subornar Esaú
enviando-lhe grandes rebanhos e rebanhos de cabras, carneiros, camelos,
gado e jumentos (32,13-21).
E, enquanto Jacó esperava sozinho o seu irmão, à beira do rio Jaboc,
durante a noite, um homem vem e luta com ele até o amanhecer (32,22-26).
Jacó vence. E Deus muda seu nome de Jacó (que significa “o enganador”
ou “trapaceiro”) para Israel (“aquele que lutou com Deus”) (32,27-29).
Na continuidade, Jacó chama o lugar de Fanuel, que significa “rosto
de Deus”. Após este evento, ele (literalmente) nunca mais andará da mes-
ma forma; Jacó ficou manco, pois o homem (ou Deus; ou um anjo [?]) lhe
feriu a coxa, durante a luta (32,30-32).

36
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

Em Gn 33,1-16, O texto apresenta, finalmente, o encontro de Jacó com


Esaú (33,1-16). Jacó se curva sete vezes ao se aproximar de seu irmão que
para seu alívio, o abraça e o beija! Ambos choram de alegria (33,1–4). Jacó
apresenta sua família e seus rebanhos a Esaú (33,5-7.8-16).
Próximo à cidade de Siquém, Jacó compra um campo e constrói
um altar, chamando-o de El-Elohe-Israel, que significa “El, o Deus de
Israel” (33,17-20).
Na sequência, a história da violência feita à Dina é narrada. Ela
foi estuprada por Siquém, um príncipe cananeu local, vários eventos
aconteceram (34,1-31).
Hemor, pai de Siquém, encontra-se com Jacó, propõe relações ín-
timas entre os dois povos, começando com o casamento entre Dina e
Siquém (34,3-12).
Fingindo concordar com essa sugestão, pois sabiam que Dina já tinha
sido estuprada por Siquém, os filhos de Jacó insistem que Hemor e seus
homens devem primeiro ser circuncidados (34,13-24).
No terceiro dia, quando os homens da cidade estão desamparados
por causa dos ferimentos da circuncisão, Simeão e Levi entram em seu
acampamento e os matam! (34,25-29). Jacó repreende seus filhos por
fazerem com que seu nome “fedesse” entre os outros cananeus da terra,
temendo que alguns buscassem vingança (34,30-31).
Por ordem de Deus, Jacó retorna a Betel, local onde viu, pela primeira
vez, o sonho da escada para o céu (35,1). Lá, ele reúne e enterra todos os
ídolos em seu acampamento, ordenando que cada pessoa “se lave e vista
roupas limpas”. Em seguida, Jacó constrói um altar e o chama de El-Betel,
que significa “o Deus da casa de Deus” (35,2-7).
Diante disso, o Senhor, novamente, confirma a Jacó a aliança que ele
estabeleceu com Abraão (35,9-15). Vale lembrar que, em Gn 35,8, Débora,
ex-ama de Rebeca, morreu e foi enterrada em Betel.
Em Gn 35,16-20, Raquel morre ao dar à luz Benjamim e é enterrada
no caminho para Belém. Depois disso, Jacó e Esaú retornam a Hebron e
enterram seu pai de 180 anos (35,27-29).
A narrativa segue e conta a história do adultério cometido por Rúben.
Ele dorme com Bala, a concubina de Jacó e a ex-serva de Raquel, e seu
pai fica sabendo (35,21-22).
Depois disso, Gn 35,23-26 apresenta os nomes dos filhos de Israel
(antes chamado de Jacó, como vimos acima). Então, a narrativa muda
seu foco para apresentar o paradeiro e a descendência de Esaú (36,1-8).
O principal filho de Esaú é Edom, do qual saíram os edomitas (36,9-43).

37
A melhor sequência para ler a Bíblia

3.3.4 O ciclo de José (Gn 37-50)


Nesse momento, Gênesis traz uma das histórias mais conhecidas de
toda tradição bíblica: a narrativa de José do Egito.
Esse ciclo tem seu início com a informação de que Jacó (Israel) amava
José mais do que qualquer um de seus outros filhos, porque José nasceu
para ele em sua velhice. Então, um dia, ele deu a José um presente espe-
cial, um lindo manto (37,1–4).
Na continuidade, José tem dois sonhos que representam seus irmãos
curvando-se diante dele, fato que aumentou a inveja dos demais filhos
de Israel (37,5-11).
Israel envia José para visitar seus dez irmãos e ele os alcança em
Dotain. Os irmãos, ainda zangados com os sonhos de seu irmão e o status
de favorito de seu pai, planejam matá-lo. Rúben, entretanto, os convence
a jogá-lo vivo em um buraco (37,18-27).
Os irmãos decidem vender José a um bando de comerciantes ismae-
litas por vinte moedas de prata (37,28-30). No retorno à casa, os irmãos
enganam Jacó, fazendo-o acreditar que José fora morto e comido por um
animal selvagem (37,31-35).
Ao chegar no Egito, José foi vendido como escravo e se tornou um
servo fiel e altamente eficaz na casa de Putifar, eunuco e capitão da guarda
do palácio do Faraó (37,36).
Nessa altura do texto, a narrativa é interrompida, mais uma vez,
para apresentar a imoralidade sexual de Judá, um dos doze filho de Jacó
(Israel) (38,1-30).
Judá se separou de seus irmãos e tomou por esposa Sué, uma cana-
neia. Com ela, teve três filhos: Her, Onã e Sela (38,1-5).
Judá escolhe uma mulher chamada Tamar para ser a esposa de Her.
Mas esse morre antes de ser pai de qualquer filho, deixando Onã para
criar uma família para ele por meio de Tamar. Mas ele também morre
sem gerar filhos (38,6-10).
Judá promete a Tamar que Sela, seu filho mais novo, um dia a tomará
como esposa, conforme o costume da época, em que o irmão do falecido
passava a cuidar da viúva (38,11-13).
Mais tarde, percebendo que essa promessa não foi cumprida, temendo
ficar desguarnecida, sem a tutela de um homem, Tamar se disfarça de
prostituta e incita Judá a dormir com ela (38,14-23).
Três meses depois, Judá fica sabendo da gravidez de Tamar e ordena
que ela seja queimada. Ela, no entanto, rapidamente produz evidências
irrefutáveis ‌‌de que o pai de seu filho não nascido não é outro senão o

38
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

próprio Judá! (38,24-25). Ele, diante disso, de rosto vermelho, envergonha-


do, reconhece: “Ela está mais certa do que eu”. Assim, nasceram gêmeos:
Farés; depois, seu irmão, chamado Zara (38,26-30).
Talvez, toda essa descrição, que interrompeu o fluxo narrativo, tenha
servido para criar um contraste entre a postura de Judá e José. Enquanto o
primeiro não cumpriu o costume e foi promíscuo; o segundo foi fiel diante
da sedução perpetrada pela mulher de Putifar, como veremos mais adiante.
Assim, a narrativa retorna ao seu ponto focal, ou seja, à história de
José, lá no Egito (39,1-20), onde a esposa de Putifar tenta seduzí-lo (39,7).
Ele recusa seus avanços, repetidamente, até mesmo fugindo de casa em
uma ocasião, abandonando sua túnica (39,8-12). Diante disso, José é fal-
samente acusado de tentativa de estupro e lançado na prisão! (39,13-20).
Preso, José ganha o favor do carcereiro, que o coloca no comando
de toda a prisão (39,21-23). Nessa situação, o copeiro e o padeiro-chefe
do Faraó o enfurecem, e ele os joga na prisão. José foi designado para
cuidá-los (40,1-4).
Tanto o copeiro quanto o padeiro têm sonhos que não conseguem
entender (40,5-8). José interpreta os dois (40,9-19). O primeiro sonho
foi interpretado favoravelmente, ou seja, o Faraó libertaria o copeiro e o
restituiria no cargo em três dias (40,9-15). Já o segundo tinha significado
de que o Faraó executaria o padeiro, em três dias! (40,16-19)
Ambas as interpretações se cumprem ao final do período relatado.
O copeiro, entretanto, esquece-se imediatamente de José (40,20-23).
No capítulo seguinte, quem teve dois sonhos foi o Faraó (41,1-8). No
primeiro, ele vê sete vacas magras devorando sete vacas gordas (41,1-4).
No segundo, sete grãos finos devorando sete grãos saudáveis (41,5-8).
Ninguém na corte conseguia interpretar os sonhos do chefe do Egito.
O copeiro, repentinamente, lembra que José foi capaz de interpretar seu
sonho (41,9-13).
José é trazido da prisão para ouvir o rei relatar seus dois sonhos
misteriosos (41,14-24). Então, Deus revela a José que os sonhos estão
predizendo os eventos dos próximos quatorze anos. Os primeiros sete
anos testemunharão colheitas abundantes, enquanto os próximos sete
apenas fome (41,25-32).
José sugere que alguém seja designado para armazenar alimentos
durante os anos bons, a fim de se preparar para os anos ruins (41,33–36).
Por causa da confiança gerada por esse processo, Faraó nomeia José para
supervisionar o armazenamento de grãos, colocando-o no comando de
todo o governo do Egito (41,37-46).

39
A melhor sequência para ler a Bíblia

O Gênesis narra que José armazenou grandes quantidades de grãos


em cidades próximas. Então, quando a fome chegou, “pessoas das terras
vizinhas também iam ao Egito para comprar grãos” (41,47-57).
O conjunto de Gn 42,1-45,28 narra como foi o reencontro de José com
seus irmãos. Em Gn 42,1–6, Jacó diz a seus dez filhos que havia grãos no Egito e
por isso eles deveriam ir até lá para buscar alimento e garantir a sobrevivência.
Ao chegarem lá, José reconhece seus irmãos, mas eles não o reco-
nhecem (42,7-8). Tentando fazê-los sentir medo, José os acusa de serem
espiões; o que eles negam (42,9-14).
José exige que seus irmãos voltem para casa e tragam Benjamin, o
irmão mais novo. Simeão é mantido como garantia de retorno (42,15-20).
Os irmãos atingidos pela culpa concluem que Deus os está punindo
por vender José como escravo (42,21-23). Ao ouvir isso, José sai da sala
para não revelar sua verdadeira identidade, enquanto chora (42,24).
Os nove irmãos chegam a Canaã com a comida. Ao desempacotar,
eles ficam surpresos ao descobrir em suas malas o dinheiro que usaram
para comprá-la! (42,25-28). Os filhos de Jacó contam a ele tudo sobre sua
primeira viagem, incluindo como “o homem” (José) solicitou que Benjamin
os acompanhasse em sua viagem de volta. Jacó se recusou (42,29-38).
Os filhos de Jacó, diante disso, tiveram que fazer uma segunda viagem
ao Egito (43,1-44,34). Depois que Judá garante a segurança de Benjamin,
um relutante Jacó finalmente concorda em deixá-lo ir (43,1-14).
Ao chegar, José envia os irmãos para sua casa, onde a comida lhes
está sendo preparada(43,15-17). O gerente da casa de José tranquiliza os
irmãos amedrontados e afirma que seu mestre não lhes pretende fazer
mal. Simeão foi liberado e se juntou a eles (43,18-25).
Em Gn 43,26-30, José entra e é “apresentado” a Benjamin. Para es-
panto de seus irmãos, José os senta à mesa do banquete na ordem de
suas idades (43,31-34).
José ordena que sua própria taça de prata seja colocada secretamen-
te no saco de Benjamin. Pouco depois de deixar a cidade, os irmãos são
parados e revistados. Para horror dos irmãos, o objeto é encontrado na
bolsa de Benjamin, e ele foi preso (44,1-17). Judá implora a José que solte
Benjamim, oferecendo-se para ser preso em seu lugar (44,18-34).
Incapaz de se conter por mais tempo, um José revela sua verdadeira
identidade a seus irmãos (45,1-4). Ele lhes diz que Deus permitiu que tudo
acontecesse para que ele pudesse salvar as pessoas durante o período da
fome (45,5-8). José diz a seus irmãos que vão para casa e diga a seu pai
que faça as malas e se mude para o Egito (45,9-15). Faraó diz o mesmo

40
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

aos irmãos (45,16-24).


Ao ver a riqueza trazida de volta por seus filhos, Jacó acredita em seu
relato sobre José (45,25–28). Deus orienta Jacó a se mudar para o Egito,
prometendo cuidar dele lá (46,1–7). Ele e sua família inteira, setenta ao
todo, mudam-se para o Egito (46,8-27).
Pai e filho se encontram e se abraçam em Gessen (46,28-30). Faraó
dá o melhor da terra a Jacó e sua família (46,31–47,10). José atende cuida-
dosamente às necessidades de seu pai e lhe promete que o enterrará ao
lado de seus ancestrais na Terra Prometida, não no Egito (47,11-31).
A fome intensa força todos os egípcios (exceto os sacerdotes) a ven-
der suas terras ao Faraó para alimentação. Diante disso, José redistribui
a terra e estabelece uma lei exigindo que um quinto de todas as safras
sejam dadas ao Faraó (47,13-26).
Jacó adota os filhos de José, Manassés e Efraim, e eles passam a
desfrutar da mesma posição que os outros doze filhos (48,1-7). Jacó unge
os filhos de José. Ele concede a maior bênção a Efraim, o filho mais novo,
em vez de Manassés, o primogênito (48,8-22).
Em Gn 49,1-27, o texto mostra onze bençãos de Jacó a cada um dos
filhos (a segunda é dupla, ou seja, para Simão e Levi):
1. Rúben (49,3-4): Ele é tão rebelde quanto o mar tempestuoso e é
rebaixado por causa de sua imoralidade.
2. Simeão e Levi (49,5-7): Eles são homens violentos, dados à ira e à
crueldade, de modo que seus descendentes serão espalhados por Israel.
3. Judá (49,8-12): Ele será elogiado por seus irmãos e derrotará
seus inimigos. O cetro (linha real) não se afastará dele “até a vinda
daquele a quem pertence”.
4. Zabulon (49,13): Ele viverá à beira-mar e se tornará um porto de navios.
5. Issacar (49,14-15): Ele trabalhará com animais e lavrará a terra.
6. Dã (49,16-18): Ele será como uma cobra à beira da estrada.
7. Gad (49,19): Ele se defenderá de todos os inimigos.
8. Aser (49,20): Ele produzirá um alimento rico, digno de reis.
9. Neftali (49,21): Ele será tão livre quanto um cervo.
10. José (49,22-26): Ele será como uma árvore frutífera ao lado de uma
fonte, abençoando outros. Ele foi perseguido, mas foi fortalecido pelo Se-
nhor. Ele será abençoado por Deus e será um príncipe entre seus irmãos.
11. Benjamim (49,27): Ele devorará seus inimigos como um lobo faminto.

É de cada um desses filhos de Jacó que surgirão as doze tribos de


Israel, posteriormente, como será mostrado.

41
A melhor sequência para ler a Bíblia

Na continuidade da narrativa, mais uma vez, Jacó pede para ser en-
terrado com seus ancestrais na caverna de Machpelah em Hebron. Então
ele morre (49,28-33). Após um período de luto de 70 dias, os doze irmãos
carregam o corpo embalsamado de seu pai para Hebron (50,1-14).
Depois que os irmãos voltaram ao Egito, José tenta acalmar seus
temores de que ele busque vingança. Ele diz a eles: “Deus transformou
em bem o que você quis dizer com o mal” (50,15-21). José vive para ver
a terceira geração dos filhos de Efraim e morre aos 110 anos (50,22-26).
O livro do Gênesis termina assim, com os doze filhos de Jacó no
Egito. Lá, ao longo do tempo, eles se tornarão um povo. A continuidade
da história será contada, por volta de 400 anos depois, a partir do livro
do Êxodo.

3.4 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Período pré-patriarcal


e patriarcal

Dia Gênesis – Leia os capítulos Data

1 1-4

2 5-8

3 9-12

4 13-16

5 17-20

6 21-24

7 25-28

8 29-32

9 33-36

10 37-40

11 41-44

12 45-50

42
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

4 O NASCIMENTO DO POVO DE ISRAEL NO EGITO, A ESCRAVIDÃO, O


ÊXODO, O DESERTO E A CHEGADA NA TERRA PROMETIDA (CANAÃ)
- 1250 - 1200 A.C.

Como foi dito no capítulo anterior, depois de um período de, mais


ou menos, 400 anos em que os setenta membros da família de Jacó /
Israel estiveram no Egito, se tornaram uma grande nação. Diante disso,
o faraó e os egípcios se sentiram ameaçados em sua soberania, tornando
os israelitas escravos. Toda a história da escravidão, passando pela liber-
tação, passagem pelo deserto, durante 40 anos, e a chegada à terra de
Canaã, bem como sua conquista, é narrada nos livros de Êxodo, Levítico,
Números, Deuteronômio e Josué.

4.1 Êxodo
O livro do Êxodo retoma a narrativa iniciada em Gênesis, quando os
filhos de Jacó se tornam a nação de “Israel” (cf. Ex 1,1-7). Tanto a longa
permanência quanto a condição de convidado que se tornou escravo
de Israel no Egito são o cumprimento da palavra de Deus dirigida a
Abraão em Gn 15,13.
Ademais, o Êxodo narra a história que se deu a partir do julga-
mento de Deus sobre o Egito e a libertação de Israel (cf. Ex 1-15), fatos
que completaram a promessa do Senhor a Abraão de acordo com Gn
15,14. É por conta dessa história que o livro se chama Êxodo, termo
grego que significa “saída”.
A segunda parte do livro do Êxodo enfoca a aliança que Deus esta-
beleceu com Israel no Sinai, por meio de Moisés. Esse pacto, incluindo as
leis (cf. Ex 19-24) e a construção do tabernáculo (cf. Ex 25-40), tornou-se
a base para a missão de Israel na Terra Prometida.
O final do Êxodo consiste na narrativa do momento em que Deus foi
morar com o seu povo no tabernáculo (cf. Ex 40).

4.2 Levítico
No livro do Êxodo, a nação israelita foi tirada do Egito e levada ao
Sinai (cf. Ex 19); é nesse monte que o livro do Levítico é situado. Assim, a
maior parte desse escrito registra Deus explicando Suas leis a Moisés. A
lei bíblica dada a Israel, durante esse momento, abrange Êxodo 20,1-Nm
9,14, incluindo todo o livro de Levítico.
Em Levítico, que é a continuidade da narrativa anterior do Êxodo,
o Senhor chama Moisés ao tabernáculo (cf. Lv 1,1) e lhe explica como

43
A melhor sequência para ler a Bíblia

o homem pecador pode andar em comunhão com Ele. Esse é um dos


temas mais importantes desse escrito. Por isso, as palavras “santo” ou
“santidade” são encontradas mais de oitenta vezes em seus 25 capítulos.
O conjunto de leis mais importantes do Levítico é o código de santidade,
presente em Lv 17-26.
O Levítico é divido em seções. A primeira trata dos sacrifícios (cf. Lv
1-7). A compreensão desse escrito é que não é possível se aproximar de
Deus sem o sangue derramado. A palavra “sangue” é encontrada oitenta
e oito vezes em Levítico.
A segunda constitui-se pelas leis relacionadas aos estabelecimentos
do sacerdócio dos levitas, ou seja, dos descendentes de um dos filhos de
Israel, Levi (cf. Lv 8-10). Vale lembrar que é do termo “Levi” que nasceu o
nome grego desse livro “Levítico”, que significa, literalmente, “aquilo que
tem a ver com os levitas”.
A terceira seção, formada pelos capítulos 11-15, contém uma série de
regulações a respeito do ritual de pureza e impureza. É nessa parte em
que estão as leis sobre o que se pode ou não comer, por exemplo.
Na quarta seção, Lv 16, está o conjunto de instruções sobre o sacrifício
especial pelo perdão dos pecados no dia da expiação. Já na quinta seção
é onde está o Código de Santidade (cf. Lv 17-26). E, na sexta e última, está
o conjunto de leis a respeito dos votos pessoais (cf. Lv 27).

4.3 Números
Na sequência da leitura, deve-se ler o livro de Números. Ele recebe
esse nome por causa das duas “numerações” dos homens de guerra nos
capítulos 1–4 e 26–27. Em outras palavras, o nome do livro nasce por causa
desses dois censos realizados: o primeiro foi feito no segundo ano após a
nação ter deixado o Egito; e o segundo foi feito 38 anos depois, quando a
nova geração estava para entrar em Canaã. O primeiro censo revelou que
havia 603.550 homens disponíveis; a segunda, que havia 601.730.
Números é o livro que narra os 40 anos dos israelitas no deserto. Ele
descreve o fracasso da nação israelita em Cades Barne (cf. Nm 13,26) e suas
peregrinações até o momento da morte de toda a geração incrédula, mais
velha (cf. Nm 14,26-22,1). Dos que saíram do Egito, apenas dois entraram
na Terra Prometida, Caleb e Josué (cf. Nm 15,30).
Números pode ser dividido em três seções. A primeira e a terceira
seções estão separadas por 40 anos. Elas começam cada uma com um
censo e relatam os preparativos dos israelitas para uma grande mudança.
Na primeira seção (cf. Nm 1–10), a mudança envolve a partida do Sinai

44
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

(10,11–12); na terceira seção (cf. Nm 26–36), a mudança envolve a travessia


do rio Jordão de Moab para a terra prometida (um evento que será descrito
apenas em Josué 3). A seção intermediária (cf. Nm 11–25) consiste numa
coleção de histórias e leis do período de 40 anos entre essas mudanças.
O livro também pode ser dividido de acordo com as principais loca-
lizações geográficas que menciona:
1. Os israelitas estão no Sinai, se preparando para sair dali (1,1-10,10);
2. os israelitas vão para Cades Barne (10,11-12,16);
3. os israelitas fazem peregrinações pelo deserto (13,1-20,21);
4. os israelitas vão para Moab (20,22-22,1);
5. os israelitas estão nas planícies de Moab, fronteira com a Terra
Prometida (22,2-36-13).

4.4 Deuteronômio
Deuteronômio é o escrito que conclui o Pentateuco ou a Torá, os
primeiros cinco livros da Bíblia. Ele é entendido como os discursos falados
finais de Moisés (cf. Dt 1,3.5; 4,44; 5,1; 29,1) e transcritos por ele (31,9.22.24;
32,45) para o Israelitas que viveriam na Terra Prometida (1,3.35.39).
É justamente por isso que o livro leva o nome “Deuteronômio”. Esse
termo em grego significa “segunda lei” e está presente em Dt 17,18. Nesse
escrito, Moisés estava reafirmando e reapresentando a Lei para a nova
geração, nascida no deserto. Esse
livro não é uma nova lei, trata-se de uma segunda declaração da lei
dada anteriormente.
Deuteronômio registra Moisés dizendo aos israelitas como viver na
terra há muito prometida a seu antepassado Abraão (cf. Gn 12,1-3) - a terra
que eles ainda deveriam conquistar.
Assim, Deuteronômio é, basicamente, Moisés falando suas palavras
finais à leste do rio Jordão, perto de Bet Fegor, no que antes era o ter-
ritório de Moab, atual Jordânia (cf. Dt 1,1.5; 3,29; 4,46; 29,1; cf. Nm 21,26).
Uma curiosidade é que da região citada acima, a Terra Prometida, a
oeste, foi considerada por Moisés como um território “além do Jordão”
ou “no outro lado do Jordão” (cf. Dt 3,20.25; 11,30; cf. Nm 32,19).
Em contraste, o editor final de Deuteronômio, que estava já na Terra
Prometida, vendo a posição onde Moisés e Israel estavam em Moab, afirma
que aquele local estava no “além do Jordão” (cf. Dt 1,1.5; 3,8; 4,41.46-47.49).
Isso sugere duas perspectivas redacionais distintas de pelo menos dois
momentos diferentes: um antes da conquista e outro depois da conquista
da Terra de Canaã.

45
A melhor sequência para ler a Bíblia

O Deuteronômio termina narrando os eventos finais da vida de


Moisés, incluindo a nomeação oficial de seu sucessor Josué - o homem
que anteriormente encorajou os israelitas a conquistarem, fielmente, a
terra prometida apesar dos terríveis inimigos (cf. Nm 13-14; Dt 31,1-8),
bem como a morte de Moisés (cf. Dt 34).

4.5 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Escravidão, êxodo e 40


anos no deserto (1250 – 1210 a.C)

Dia Êxodo – Leia os capítulos Data

13 1-4

14 5-8

15 9-12

16 13-16

17 17-20

18 21-24

19 25-28

20 29-32

21 33-36

22 37-40

46
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

Dia Levítico – Leia os capítulos Data

23 1-4

24 5-8

25 9-12

26 13-16

27 17-20

28 21-24

29 25-27

Dia Números – Leia Data


os capítulos
30 1-4

31 5-8

32 9-12

33 13-16

34 17-20

35 21-24

36 25-28

27 29-32

28 33-36

47
A melhor sequência para ler a Bíblia

Dia Deuteronômio – Data


Leia os capítulos

39 1-4

40 5-8

41 9-12

42 13-16

43 17-20

44 21-24

45 25-28

46 29-32

47 33-34

4.6 Josué
A continuidade da narrativa bíblica, na melhor sequência de leitura,
se dá no livro de Josué, que se passa logo após a morte de Moisés, o an-
tigo líder de Israel.
Esse livro tem seu início com Deus dando autoridade ao sucessor de
Moisés, Josué, a fim de que ele lidere os israelitas na conquista da Terra
Prometida ao antepassado, Abraão (cf. Js 1,1-5; Gn 17,8). O povo começa
uma campanha militar contra as nações que já residiam em Canaã.
Deus os ajuda e os israelitas tomam posse da terra e a distribuem
em territórios para suas 12 tribos (cf. Js 14,1-5). Todo esse processo é não
apenas uma narrativa de eventos, mas são interpretações teológicas do
que aconteceu.
Josué, no final do livro, conclama Israel a escolher o Senhor, e a re-
novação dessa aliança é apresentada em Js 24.
O livro de Josué pode ser dividido em três partes. A primeira descreve

48
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

a conquista de Canaã, incluindo a batalha de Jericó e a observância da


primeira Páscoa na terra prometida (cf. Js 1–12).
Na segunda, situada nos capítulos 13–21, é narrada a distribuição de
terras para as 12 tribos de Israel. Dentro disso, é importante lembrar que
os levitas não recebem território tribal; eles serão colocados em algumas
cidades em todas as terras das outras tribos, onde podem servir como
líderes espirituais, sacerdotes (cf. Js 21).
A última seção relata a aliança dos israelitas com Deus (cf. Js 22–24).
Ao estabelecerem, a leste do Jordão, um altar para comemorar a conquista,
as tribos que estavam a leste do Jordão violam os regulamentos sobre o
local apropriado de adoração (cf. Js 22).
Diante disso, Josué, já com idade avançada, reuniu os israelitas na
cidade de Siquém e os levou a reafirmar seu compromisso de servir so-
mente ao Senhor Deus. É nesse momento que ele afirma “eu e minha casa
serviremos ao Senhor” (cf. Js 23–24).

4.6.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: a entrada na terra


prometida, Canaã (1210 a.C. [+/-])

Dia Josué – Leia os capítulos Data

48 1-4

49 5-8

50 9-12

51 13-16

52 17-20

53 21-24

49
A melhor sequência para ler a Bíblia

5 PERÍODO TRIBAL (1200 - 1030 A.C.)

D
epois que o povo estava instalado na terra de Canaã, distribuído
nas 12 tribos de Israel, se tem início o sistema tribal. O conjunto
de livros que trata desse período é o livro de Juízes e os oito pri-
meiros capítulos do primeiro livro de Samuel.

5.1 Juízes
Os eventos de Juízes aconteceram desde a morte de Josué (cf. Jz 1,1)
até a crise do sistema tribal; momento no qual cada um fazia o que bem
entendia, deixando de lado o reto proceder (cf. Jz 22,24). O livro cobre
um período de praticamente 200 anos.
Como o livro se concentra no assentamento na terra, os eventos
narrados ocorreram dentro das fronteiras da Terra Prometida de Israel,
exceto na ocasião em que um juiz pressionaria a batalha contra um grupo
dos povos vizinhos (cf. Jz 3,30; 8,10; 11,32–33; 16,23).
São mencionados, nesse livro, doze juízes diferentes levantados por
Deus para derrotar um inimigo específico num determinado território
e dar descanso ao povo. Eles não eram líderes nacionais; em vez disso,
eram líderes locais que libertaram o povo de vários opressores. É pos-
sível que alguns dos períodos de opressão e descanso se sobreponham.
Nem todas as tribos participaram de cada batalha e frequentemente
havia rivalidade tribal. O fato de Deus poder chamar essas “pessoas
comuns” de juízes e usá-las tão poderosamente é ressaltado no livro.
O Espírito de Deus descia sobre esses líderes para a realização de uma
tarefa específica (cf. Jz 6,34; 11,29; 13,25), embora, muitas vezes, suas
vidas pessoais não fossem exemplares em todos os detalhes. As várias
centenas de anos de governo sob os juízes prepararam Israel para seu
pedido de um rei, como será visto mais adiante (cf. 1Sm 8).
Juízes começa com uma descrição da turbulência política e religiosa
em Israel (Juízes 1–2). Depois disso, vem uma sequência de histórias
sobre os juízes, líderes de Israel. Os juízes principais incluem Eúde (cf.
Jz 3,12–30), Débora (cf. Jz 4–5), Gideão (cf. Jz 6–8), Abimelec (cf. Jz 9),
Jefté (cf. Jz 10–11) e Sansão (cf. Jz 13–16).
O mesmo padrão ocorre em cada história: Israel cai em pecado; Deus

50
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

permite que uma nação estrangeira oprima Israel como punição; Israel se
arrepende; Deus envia um juiz para libertar Israel da opressão estrangeira.
Alguns dados importantes precisam ser destacados a respeito
desse momento da história. O primeiro consiste no fato de que, nesse
período, Deus é entendido como o rei de Israel (cf. Jz 8,23; 1Sm 8,7).
Assim, não havia um monarca humano e a tentativa de estabelecê-lo
foi fracassada (cf. Jz 9).
O segundo ponto fundamental constitui-se pelo fato de que não
havia uma estrutura religiosa plenamente organizada. Não havia um
templo central e sacerdotes que governavam todo o sistema religioso.
Existiam, ao contrário, sacerdotes familiares e os levitas (cf. Jz 17-18) e
santuários espalhados por todo território das 12 tribos (cf. Siquém: Js
8,33; Guilgal: Js 3-4; Betel: Jz 20,26-28; Tabor: Jz 4,6.14; Silo: 1Sm 1-3).
Os últimos cinco capítulos de Juízes enfatizam o declínio social
e moral dentro de Israel, em vez do conflito com inimigos externos.

5.2 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Sistema Tribal (1210


– 1030 a.C.)

Dia Juízes – Leia os capítulos Data

54 1-4

55 5-8

56 9-12

57 13-16

58 17-21

Dia 1Sm 1-8 – Leia os capítulos Data

59 1-4

60 5-8

51
A melhor sequência para ler a Bíblia

6 A MONARQUIA UNIDA (1030 - 931 A.C.)

A
monarquia unida consiste no período que ocorre entre os anos de 1030-
931 a.C. e é chamada assim pelo fato de que os reis Saul, Davi e Salomão
reinaram sob todo o território das doze tribos, antes de sua divisão.

6.1 Primeiro livro de Samuel 1-8: a crise do sistema tribal


Os primeiros oito capítulos do Primeiro Livro de Samuel tratam da
crise do sistema tribal e do início da monarquia em Israel, por volta do
ano 1030 a.C. Esse conjunto registra a transição do período dos juízes até
o momento em que o reino foi estabelecido.
Samuel foi o último dos juízes e o primeiro dos profetas nacionais;
ele estava situado no santuário de Silo. Durante sua liderança, os israe-
litas pediram um rei, pois de acordo com os anciãos, os seus filhos, Joel
e Abias, tinham se desviado da vontade de Deus, tornando-se corruptos
(cf. 1Sm 8,1-4).
Ao ouvir o pedido para se ter um rei (cf. 1Sm 8,4-5), Samuel adverte
o povo contra isso (cf. 1Sm 8,6). O Senhor, mesmo observando que isso
significa a decisão de Israel de rejeitá-lo como seu rei legítimo (cf. 1Sm
8,7-8), concede o pedido (cf. 1Sm 8,9). Foi, então, ele quem ungiu Saul, o
primeiro rei (cf. 1Sm 9,15-16), e depois Davi, seu sucessor.

6.2 Saul, o primeiro rei


O tempo de Samuel como profeta continua no reinado de Saul como
rei. Isso introduz uma nova estrutura para a liderança de Israel: um rei
com um profeta consultor, ambos reportando-se a Deus. O monarca passa
a ser um regente sob o comando do Senhor e deve obedecer ao profeta.
O problema foi justamente esse, ou seja, Saul não foi obediente a Deus,
mediante o profeta Samuel, e acabou infringido Sua vontade ao fazer um
sacrifício ilícito (cf. 1Sm 13,4.8-14); não destruir todos os amalequitas e
seus rebanhos (cf. 1Sm 15,3.9).
Diante disso, Deus rejeitou Saul como rei (cf. 1Sm 13,10–14; 15,10–29),
dando espaço a Davi (cf. 1Sm 16). Quando Davi foi ungido como futuro
rei por Samuel, o foco de 1 Samuel muda para retratar Saul como alguém

52
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

que desejava matar Davi e estabelecer sua própria dinastia (cf. 1Sm 18–27).
O fim do primeiro rei de Israel foi trágico; Saul morreu na batalha
junto de seus filhos, abandonados por Deus (1Sm 28,31).

6.3 Davi, o segundo rei de Israel


Com a morte de Saul, o reinado de Davi tem seu início oficialmente,
pois ele já havia sido ungido como rei, porém ainda não havia exercido
seu mandato (1Sm 16). Primeiro, ele é proclamado monarca em Hebron
(cf. 2Sm 2,1-7) e, depois, o será sobre todo território de Israel (2Sm 5,1-5;
1Cr 11,1-3; 12,23-40).
O texto bíblico fala que Davi, depois de ter vencido uma batalha contra
os filisteus, conseguiu conquistar a cidade de Jerusalém, que pertencia
aos Jebuseus, que viviam no território da tribo de Judá (cf. 2Sm 5,6-10).
Nesse local, ele estabeleceu a capital do reinado, levando para lá a Arca
da Aliança (cf. 2Sm 6,12-19; 1Cr 15,1-16,3).
Foi em Jerusalém que Davi estabeleceu a adoração a Deus; ele che-
gou até mesmo a querer construir um templo para o Senhor. Mas Natã, o
profeta, trouxe-lhe a mensagem divina de que não seria ele o construtor
da casa de Deus (cf. 2Sm 7,1-17; 1Cr 17,1-15).
Por fim, Deus selou uma aliança com Davi, afirmando que sua mi-
sericórdia nunca se apartaria de sua casa e que sua família reinaria num
trono firmado para sempre (cf. 2Sm 7,1-17). Diante disso, Davi agradeceu
a Deus (cf. 2Sm 7,18-29).
Nem tudo foi belo, entretanto, na vida de Davi. Sentindo-se atraído por
Bersabeia, acabou cometendo adultério (cf. 2Sm 11,1-5; 1Cr 20,1). Provocou
a morte de Urias, marido dela, e seu fiel soldado (cf. 2Sm 11,6-13.14-25).
Depois disso, Davi ainda se casa com Bersabeia (cf. 2Sm 11,26-27).
O Senhor, então, enviou Natã a Davi para lhe transmitir uma mensa-
gem de repreensão ao que ele havia feito (cf. 2Sm 12,1-14). E, como conse-
quência, a criança, fruto desse adultério, nasceu, mas acabou morrendo
(cf. 2Sm 12,15-23). Tempos depois, nasceu Salomão da união de Davi e
Bersabeia (cf. 2Sm12,24-25).
Davi teve outros filhos antes e depois de Salomão. Ele teve oito espo-
sas citadas nas Escrituras, sete das quais lhe deram filhos, sendo a outra
Mical, filha de Saul (cf. 2Sm 6:23); as mais proeminentes foram Abigail
(cf. 1Sm 25) e Bersabeia (cf. 2Sm 11–12). Ele também teve muitas esposas
e concubinas anônimas, que também lhe deram filhos (cf. 1Cr 3,9; 14,3).
Davi teve mulheres e filhos em Hebron (2Sm 3,2-5.14-15); mulheres
e filhos em Jerusalém (2Sm 5,13-16).

53
A melhor sequência para ler a Bíblia

Destes, apenas quatro filhos - Amnon, Absalão, Adonias e Salomão


- e uma filha - Tamar - são conhecidos em detalhes. Salomão é o mais
proeminente deles, visto que sucedeu a Davi no trono de Israel; e seus
descendentes continuaram na linhagem familiar como os reis de Judá.

6.3.1 Os problemas na família de Davi


Chama a atenção um fato que consiste no seguinte: dada a impor-
tância e o prestígio conferidos a Davi na maior parte das Escrituras, iro-
nicamente, as narrativas a respeito de seus filhos apresentam como eles
se saíram mal, em diversos aspectos.
Isso tudo foi entendido como um resultado dos pecados de Davi;
cometer adultério e assassinato (cf. 2Sm 11-12). O profeta Natã já havia
predito as falhas dos filhos de Davi (cf. 2Sm 12,9-12.14). Nessa altura da
narrativa bíblica, Davi será apresentado como uma pessoa trágica e pas-
siva diante das situações.
Existem alguns exemplos dessas narrativas que mostram os fracassos
dos filhos de Davi. Destacam-se algumas, como a história na qual Amnon,
o primogênito, estupra sua meia-irmã Tamar, de maneira brutal (cf. 2Sm
13). Diante dessa barbaridade, Absalão, seu irmão, conspira para matar
Amnon como vingança.

6.3.2 Os problemas na história da sucessão de Davi


Absalão, o terceiro filho de Davi, aparece na história como um
personagem muito importante (cf. 2Sm 13-18). Ele assassinou seu irmão,
como visto acima, e se rebelou contra seu pai, forçando-o a fugir de
Jerusalém para salvar sua vida (cf. 2Sm 15,1-6).
Depois da fuga de Davi, Absalão anunciou a consolidação de seu
poder, proclamando-se rei, em Hebron (cf. 2Sm 15,7-12) e, posterior-
mente, em Jerusalém (cf. 2Sm 16,15-19). Para piorar o cenário, ele
cometeu a aberração de coabitar com as mulheres de seu pai à vista
de todo Israel (cf. 2Sm 16,20-23). Como se não bastasse, ele tentou
matar seu pai (cf. 2Sm 17,24-26). Por fim, ele chegou a erguer, para si,
um monumento para conservar sua memória (cf. 2Sm 18,18).
Finalmente, numa tentativa de matar Davi em batalha, Absalão
morreu de maneira bizarra. Ao cavalgar sua mula, que bateu em retirada,
assustada com a presença dos inimigos, sua cabeça ficou presa nos
ramos espessos de um carvalho. Algum tempo depois, Joab, chefe da
guarda de Davi, lançou lhe três flechadas diretas no coração. Estando
ele ainda vivo, dez jovens o feriram e o mataram (cf. 2Sm 18,6-17). E

54
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

Davi retorna a Jerusalém (cf. 2Sm 19,8-10).


O quarto filho de Davi, que era o mais velho vivo no período final
da vida de seu pai, Adonias, assumiu o poder num reinado muito cur-
to, de acordo com 1Reis 1–2. Estando Davi muito debilitado e tendo
perdido o controle sobre seus filhos, viu facções de oficiais e outros
se formarem em torno de Adonias e Salomão.
Bersabeia e o profeta Natã se articulam para que Davi pudesse
declarar Salomão como o herdeiro escolhido para o trono (cf. 1Rs 1,11-
14). Assim, apresentaram-se diante do velho rei e o instigaram a tal
realização (cf. 1Rs 1,15-27).
Após os apelos do profeta Natã e de Bersabeia, em favor do nome
de seu filho, Salomão foi sancionado como o herdeiro escolhido para
o trono (cf. 1Rs 1,28-37). Na sequência da narrativa, inicialmente, Sa-
lomão poupou a vida de Adonias (cf. 1Rs 1,50-53).
Depois da morte de Davi, porém, ao sentir-se ameaçado, Salomão
executou seu irmão Adonias (cf. 1Rs 2,19-25). Além disso, ele come-
çou a perseguir todos os que haviam apoiado Adonias. Ele ameaçou
de morte e expulsou o sacerdote Abiatar para a cidade de Anatot (cf.
1Rs 2,26-27); bem como matou Joab, que havia sido chefe da guarda
de seu pai Davi (cf. 1Rs 2,28-35), e o profeta Semei (cf. 1Rs 2,36-46).

6.4 O reinado de Salomão (970/60-931 a.C.)


Salomão, o décimo filho de Davi nas listas preservadas, foi o su-
cessor de Davi ao trono, o terceiro rei de Israel (cf. 1Rs 1–11; 2Cr 1-9).
Seu mandato vigorou entre os anos 970-931 a.C.

6.4.1 Quem é a verdadeira mãe de Salomão?


A Bíblia traz duas informações diferentes em relação ao nome da
mãe de Salomão. Em 2Sm 12,24-25, é Bersabeia; em 1Cr 22,9, Bateshua.
Embora exista essa discrepância, possivelmente, trata-se da mesma
pessoa.

6.4.2 Como foi o reinado de Salomão?


O reinado de Salomão foi caracterizado pela expansão de seu
poder e por um foco grande na construção. Isso aumentou sua fama.
Como fator de comparação, com Saul, por exemplo, o funcionamento
e a estrutura de governo foi fraca; já Davi constituiu uma sólida or-
ganização da administração (cf. 2Sm 8,15-18); Salomão, por sua vez,
expandiu essa estrutura (cf. 1Rs 4,1-6).

55
A melhor sequência para ler a Bíblia

Para se ter uma ideia, o reino de Salomão foi dividido administrativa-


mente em doze distritos e a terra de Judá, com o governo local nas mãos
de um oficial de provisões, uma espécie de prefeito (cf. 1Rs 4,7–19). Com
a incumbência de supervisionar os chefes de cada uma dessas regiões,
estava Azarias, filho de Natã (cf. 1Rs 4,5).
Não se sabe, com certeza, quais eram a extensão e a organização
exata de cada um dos doze distritos administrativos; apesar do número
ser doze, não é possível obtermos a informação de que isso correspondia
às doze tribos.
Para alguns autores, Salomão queria o enfraquecimento deliberado
do sistema e da estrutura tribal. Seu esquema administrativo dependia
da cobrança de impostos e taxas, bem como por imposição de trabalhos
forçados; isso se tornou um fardo pesado para o povo (cf. 1Rs 12,4.10-11.14;
9,23; cf. 2Cr 8,10).
Esses fardos foram um problema para Roboão, filho de Salomão,
quando ele tentou assumir o trono de Israel. Sua recusa em aliviar a de-
manda de trabalho forçado contribuiu para a divisão do reino em dois,
Israel e Judá, como mostrarei adiante (cf. 1Rs 12,3-4).
O objetivo de tantos tributos era fornecer à corte real um subsídio
regular de alimentação (cf. 1Rs 4,7) e apoiar o grandioso projeto de cons-
truções de Salomão como alguns fortes para a defesa nacional, em toda
a região das tribos (cf. 1Rs 10,26) e, acima de tudo, o complexo real de
Jerusalém, com um palácio e o famoso Templo (cf. 1Rs 6–7).
O complexo do Templo em Jerusalém tinha “sessenta côvados de
comprimento (28,9m), vinte côvados de largura (9,7m) e trinta côvados
de altura (14,5m)” (cf. 1Rs 6,2). Embora grandioso para aquele momento
histórico, o espaço era compartilhado com o palácio real (cf. 1Rs 7,1–12).
Vinte anos, esse foi o tempo que levou a construção de todo esse complexo,
de acordo com 1Rs 9,10. O Templo, em si, foram sete anos (cf. 1Rs 6,38).

6.4.3 Quem foi Salomão?


Geralmente, a maior parte das pessoas relacionam, de forma imediata,
Salomão com sua sabedoria e sua prosperidade. De fato, isso é muito res-
saltado nas referências bíblicas (cf. 1Rs 3,4-15; 4,29.34; 5,12; 10,23; 2Cr 9,22).
Existe, porém, uma “outra face” desse rei que é pouco conhecida e,
portanto, não muito presente no imaginário popular. A saber, os erros
cometidos por ele.
Salomão, conforme o texto bíblico, não obedeceu à lei que proibia
casamentos com mulheres não israelitas (cf. Dt 7,1-5) e acabou até mesmo

56
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

multiplicando o número de suas esposas, o que também era malvisto na


legislação sobre o rei em Dt 17,14-20. Ele chegou a se casar com a filha do
faraó do Egito! (cf. 1Rs 11,1). Esses enlaces matrimoniais perverteram o seu
coração, fazendo com que ele passasse a servir a outros deuses (cf. 1Rs 11,4).
Essa idolatria teve consequências. Deus afirma que arrancará o rei-
no de Salomão. Este julgamento foi parcial, já que Ele ainda deixará uma
tribo para o seu filho, Roboão, governar (cf. 1Rs 11,9-13). Isso dá início à
monarquia dividida, registrada no restante do Primeiro Livro dos Reis e
a continuidade disso no Segundo Livro dos Reis. O relato em 2Crônicas
não menciona esse incidente.

6.5 Quadro sinótico dos livros de Samuel, Reis e Crônicas – Monar-


quia Unida
A história da monarquia unida é contada também nos dois livros das
Crônicas, observe abaixo como essa narrativa se dá:

A Monarquia Dividida (1030 – 931 a.C.)

1030 - 1Sm 31,1-13 = 1Cr 10,1-14 (Crônicas começa a narrativa da


Saul
1010 a.C. monarquia a partir da morte de Saul)

• Davi Tornou-se Rei (2Sm 5,1-3 = 1Cr 11,1-3)


• Jerusalém conquistada (2Sm 5,6–10 = 1Cr 11,4-9)
• Homens poderosos de Davi (2Sm 23,8–39 = 1Cr 11,10–
47)
• Homens que se juntaram a Davi em Siceleg (1Cr 12,1-22)
• Homens que se juntaram a Davi em Hebron (1Cr 12,23-
40)
• Oza Toca a Arca (2Sm 6,1-11 = 1Cr 13,1-14)
1010 -
Davi • A fama de Davi (2Sm 5,11-25 = 1Cr 3,5-8 = 1Cr 14,1-17)
971 a.C.
• A Arca é trazida a Jerusalém (2Sm 6,12-16 = 1Cr 15,1-29)
• Davi adora e agradece a Deus (2Sm 6,17-19 = Salmo
105,1-15, 96,1-13, 106,1.47-48 = 1Cr 16,1-36)
• Os líderes de adoração (1Cr 16,37-43)
• A promessa de Deus a Davi (2Sm 7,1-17 = 1Cr 17,1-15)
• Davi Louva a Deus (2Sm 7,18-29 = 1Cr 17,16-27)
• Guerras de Davi (2Sm 8,1-14 = 1Cr 18,1-13)

57
A melhor sequência para ler a Bíblia

• Oficiais de Davi (2Sm 8,15-18 = 1Cr 18,14-17)


• Guerra com os amonitas (2Sm 10,1–11: 1 = 2Sm 12,29–
31 = 1Cr 19,1–20,3)
• Guerra com os filisteus (2Sm 21,18–22 = 1Cr 20,4-8)
• Salmo 18 e 2Sm 22 (2Sm 22,1-51 = Sl 18)
• Censo de Davi (2Sm 24,1-25 = 1Cr 21,1-22,1)
• Davi se prepara para o Templo (1Cr 22,2-19)
• Salomão é nomeado rei por Davi (1Cr 23,1)
• Os levitas (1Cr 23,2-32)
• Os sacerdotes (1Cr 24,1-19)
1010 -
Davi • O resto dos levitas (1Cr 24,20-31)
971 a.C.
• Os músicos (1Cr 25,1-31)
• Os guardiões (1Cr 26,1-19)
• Levitas sobre os tesouros (1Cr 26,20-32)
• Líderes do Exército (1Cr 27,1-24)
• Vários funcionários de Davi (1Cr 27,25–34)
• Davi diz a Salomão para Construir o Templo (1Cr 28,1-21)
• Contribuições para o Projeto do Templo (1Cr 29,1-9)
• Davi abençoa o Senhor (1Cr 29,10-20)
• Rei Salomão Ungido (1Cr 29,21-25)
• A morte de Davi (1Rs 2,10-11 = 1Cr 29,26-30)

• Reino de Salomão estabelecido (1Rs 2,46b = 2Cr 1,1-4)


• Salomão pede sabedoria (1Rs 3,4-15 = 2Cr 1,5-13)
• A Riqueza de Salomão (1Rs 10,26-29 = 2Cr 9,25-28 = 2Cr
1,14-17)
• Decisão de Salomão (1Rs 3,16-28)
• Governo de Salomão (1Rs 4,1-28)
• Sabedoria de Salomão (1Rs 4,29-34)
• Preparativos para o Templo (1Rs 5,1-18 = 2Cr 2,1-18)
• Construção do Templo (1Rs 6,1-38 = 2Cr 3,1-14)
Salo- 970/60- • Construção do palácio (1Rs 7,1-12)
mão 931 a.C. • Conteúdo do Templo (1Rs 7,13–51 = 2Cr 3,15–5,1)
• A Arca no Templo (1Rs 8,1-21 = 2Cr 5,2-6,11)
• Oração de Salomão (1Rs 8,22–53 = Sl 132,8–10 = 2Cr
6,12–42)
• Celebração (1Rs 8,54–66 = 2Cr 7,1-10)
• Visão de Salomão (1Rs 9,1-9 = 2Cr 7,11-22)
• Outros projetos de Salomão (1Rs 9,10-28 = 2Cr 8,1-18)
• Rainha de Sabá (1Rs 10,1-13 = 2Cr 9,1-12)
• As riquezas de Salomão (1Rs 10,14-29 =
2Cr 1,14-17 = 2Cr 9,13-28)

58
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

• Esposas de Salomão (1Rs 11,1-13)


Salo- 970/60- • Inimigos de Salomão (1Rs 11,14-25)
mão 931 a.C. • A rebelião de Jeroboão (1Rs 11,26-40)
• Morte de Salomão (1Rs 11,41-43 = 2Cr 9,29-31)

6.6 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: A monarquia Unida


(1030 - 931 a.C.)

Dia 1Samuel 9-31 – Leia os capítulos Data

61 9-12

62 13-16

63 17-20
64 21-24
65 25-28

66 29-31

Dia 2Samuel – Leia os capítulos Data


67 1-4
68 5-8
69 9-12
70 13-16
71 17-20
72 21-24

Dia 1Reis – Leia os capítulos Data


73 1-4

74 5-8

75 9-11

59
A melhor sequência para ler a Bíblia

7 A MONARQUIA DIVIDIDA (931 - 586 A.C.)

E
m 1Rs 11,31-32, está claramente indicado que a monarquia que unia
as antigas tribos do norte e do sul acabaria. É no conjunto de 1Rs
12-14 que se encontra a narrativa do fim da monarquia unida. Com
a morte de Salomão, quem assume é seu filho, Roboão, herdeiro do trono.
Diante disso, os representantes das tribos do norte convocaram os do
sul para uma reunião extraordinária em Siquém, para pensar uma forma de
reorganizar o reino sob o novo monarca, Roboão (cf. 1Rs 12,1-19; 2Cr 10,1-19).
Essa convocação foi de singular importância, pois embora Davi tenha
unido o reino, tanto as tribos do norte como do sul mantiveram suas res-
pectivas identidades, que se manifestaram em momentos de crise, como
na transição política quando Salomão morreu.
A resposta de Roboão aos pedidos das tribos do norte não foi nem
acolhedora nem cordial. O novo monarca rejeitou abertamente a reunião,
pois os anciãos de Israel tinham uma série de pedidos e demandas: A
redução de altos impostos na administração de Salomão e a redução do
trabalho forçado a que estavam sujeitos, entre outros requisitos (cf. 1Rs
12,12-15; 2Cr 10,12-14).
Essa dinâmica de pedidos de Israel e rejeições do rei Roboão, final-
mente, levaram à cisma entre as tribos, que já vinha ocorrendo há anos.
Israel decidiu rejeitar, publicamente, a autoridade do reino do sul, e nomeou
Jeroboão, filho de Nabat, como seu novo monarca, que havia retornado
do Egito com esse propósito (cf. 1Rs 12,16-19; 1Cr 10,16-19).
Um ponto fundamental em torno dessa questão é indicar que a nar-
rativa bíblica que apresenta esses incidentes se preocupa em mostrar que
essa divisão fazia parte da vontade de Deus para o povo. Diante disso,
o profeta Semeías disse a Roboão para não atacar as rebeldes tribos do
norte (cf. 1Rs 12,22–24).
Jeroboão, o primeiro rei do norte, após a divisão, organizou sua mo-
narquia. A primeira capital foi Siquém (cf. 1Rs 12,25), embora sua família
vivesse em Tersa, que também era considerada a capital (cf. 1Rs 14,17).
Essas incertezas administrativas deixam claro que ele queria manter um
certo equilíbrio político entre as várias tribos do norte.

60
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

Diante disso, Jeroboão precisou agir rápido. Ele estabeleceu santuá-


rios em Betel e Dã, para neutralizar o Templo em Jerusalém, que estava
relacionado ao reino do sul. Essas decisões religiosas e políticas afetaram
a vida do povo.

7.1 Quadro de síntese - as diferenças entre os reinos


Uma informação importante sobre o Primeiro livro dos Reis é que
nele está contida toda essa narrativa da divisão acima citada, cobrindo,
assim, cerca de 125 anos de história; 40 anos do reinado de Salomão e
cerca de 85 anos para o reino dividido de Israel e Judá.
Abaixo está o quadro com a síntese dos reis do norte (Israel) e do sul (Judá):

Israel Judá
Duração 210 anos 345 anos
19 reis, média de 20 reis, média de
Reis
11 anos por rei 17 anos por rei

Amri teve 3 sucessores


(885-841 a.C.)
Somente a dinastia de
Jeú teve 4 sucessores
Davi.
Dinastias (841-753 a.C.)
A rainha Atalia foi a
Mais três reis fizeram sucessor
única exceção.
seus filhos
9 reis não fizeram sucessor

7 reis foram vítimas de 4 reis e a rainha Atalia.


Reis assassinados conspiração. Mais um que se O faraó Necao matou o
suicidou. rei Josias.

1Rs 12–2Rs 17 — A monarquia dividida de 931 a.C.


até a destruição de Israel em 722 a.C.
Jeroboão I da rebelião de Israel,
1Rs 12,1-14,20
construção de altar, julgamento

Governantes de Judá, Roboão,


Rs 14,21–15,24
Abiam, Asa

Governantes de Israel, Nadab,


1Rs 15,25–16,28
Baasa, Ela, Zambri, Amri

61
A melhor sequência para ler a Bíblia

Ministério de Elias; reinados de Josafá de


1Rs 16,29–2Rs 2,12
Judá, Acab e Ocozias de Israel

Ministério de Eliseu; reinados de Jorão


2Rs 2,13–8,29
de Israel, Jorão e Ocozias de Judá

rebelião sangrenta de Jeú de Israel;


2Rs 9–12
Reparações do templo de Jeoás de Judá

Governantes de Israel (herdeiros de


2Rs 13,1–15,12 Jeú), Joacaz, Joás, Jeroboão II e Zacarias;
governantes de Judá, Amasias e Azarias

Governantes finais de Israel, Selum,


2Rs 15,13–17,4 Menaém, Faceias, Faceia, Oseias;
governantes de Judá, Joatão, Acaz

2Rs 17,5–41 Israel conquistado e exilado pela Assíria

Toda essa história é contada também nos livros das Crônicas, tanto
no primeiro quanto no segundo. Todo esse conjunto, a obra histórica
cronista, reconta os acontecimentos mediante a perspectiva, sobretudo
dos sacerdotes do Templo de Jerusalém, no período pós-exílico, por volta
de 450-333 a.C.
Por tudo isso, quando alguém lê a Bíblia na sequência em que ela
se encontra, acaba tendo dificuldades, já que as histórias se repetem. O
ideal, numa perspectiva de leitura comparada das duas obras históricas,
tanto a deuteronomista (Js, Jz, 1 e 2 Sm, 1Rs e 2Rs) quanto a cronista (1 e
2 Cr), seria lê-las lado a lado, ou seja, tendo uma sinopse.

7.2 Sinopse - Reis e Crônicas sobre os primeiros anos da monarquia


dividida

A divisão do reino: 931-900 a.C.

• O reino se divide (1Rs 12,1-20 = 2Cr 10,1-19)


• Roboão considera a guerra (1Rs 12,21–24 = 2Cr 11,1–4)
• Reinado de Jeroboão (1Rs 12,25-14,20)
• Fortificações de Roboão (2Cr 11,5-17)
• Família de Roboão (2Cr 11,18-23)

62
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

• A invasão de Sesac (1Rs 14,21-28 = 2Cr 12,1-14)


• A morte de Roboão (1Rs 14,29-31 = 2Cr 12,15-16)
• Reinado de Abiam (1Rs 15,1-7 = 2Cr 13,1-22)
• O Reinado Inicial de Asa (1Rs 15,8-12 = 2Cr 14,1-15)

7.2.1 O reino dividido: período entre 899-860 a.C.

• Reforma de Asa (1Rs 15,13-16 = 2Cr 15,1-19)


• O Reinado Posterior de Asa (1Rs 15,17-22 = 2Cr 16,1-10)
• Morte de Asa (1Rs 15,23-24 = 2Cr 16,11-14)
• Reinado de Nadab (1Rs 15,25-32)
• Reinado de Baasa (1Rs 15,33-16,7)
• O Reinado de Ela (1Rs 16,8-14)
• Reinado de Zambri (1Rs 16,15-20)
• Reinos de Amri e Tebni (1Rs 16,21-28)
• Acab torna-se rei (1Rs 16,29-34)
• Elias (1Rs 17,1-19,21)
• A guerra de Acab com Ben-Adad (1Rs 20,1-43)
• Acab assassina Nabot (1Rs 21,1-29)
• Os primeiros anos de Josafá (2Cr 17,1-19)
• Acab e Miqueias - Esse não é o profeta do livro de Miqueias (1Rs
22,1-28 = 2Cr 18,1-27)

7.2.2 O reino dividido: período entre 859-800 a.C.

• A morte de Acab (1Rs 22,29-40 = 2Cr 18,28-34)


• Josafá e Jeú (2Cr 19,1-3)
• Juízes de Josafá (2Cr 19,4-11)
• Guerra de Josafá com Moab, etc. (2Cr 20:,1-30)
• Resumo de Josafá (1Rs 22,41–47 = 2Cr 20,31–34)
• Os últimos anos de Josafá (1Rs 22,48–49 = 2Cr 20,35–37)
• A morte de Josafá (1Rs 22,50 = 2Cr 21,1-3)
• Reinado de Ocozias (1Rs 22,51-53)
• Julgamento de Ocozias (2Rs 1,1-18)
• Carruagem de Elias (2Rs 2,1-25)
• Guerra de Jorão com Moab (2Rs 3,1-27)

63
A melhor sequência para ler a Bíblia

• Eliseu (2Rs 4,1-8,15)


• Reinado de Jorão (2Rs 8,16–24 = 2Cr 21,4-20)
• Reinado de Ocozias (2Rs 8,25–29 = 2Cr 22,1–6)
• Rei Jeú é ungido (2Rs 9,1-13)
• Jeú mata Jorão e Ocozias (2Rs 9,14–29 = 2Cr 22,7–9)
• Jeú mata Jezabel (2Rs 9,30–37)
• Família de Acab é executada (2Rs 10,1-17)
• Ministros de Baal executados (2Rs 10,18-28)
• Reinado de Jeú (2Rs 10,29-36)
• Reinado de Atalia (2Rs 11,1-3 = 2Cr 22,10-12)
• Assassinato de Atalia (2Rs 11,4-20 = 2Cr 23,1-21)
• Reinado de Joás (2Rs 11,21-12,3 = 2Cr 24,1-3)
• Joás conserta o Templo (2Rs 12,4-16 = 2Cr 24,4-16)
• Os últimos anos de Joás (2Rs 12,17-21 = 2Cr 24,17-27)
• Reinado de Joacaz (2Rs 13,1-9)

7.2.3 O reino dividido: período entre 799-760 a.C.

• Reinado de Joás (2Rs 13,10-11)


• A morte de Joás (2Rs 13,12–13 = 2Rs 14,15–16)
• Joás e Eliseu (2Rs 13,14–25)
• Reinado de Amasias (2Rs 14,1-14 = 2Cr 25,1-24)
• A morte de Joás (2Rs 14,15-16 = 2Rs 13,12-13)
• A morte de Amasias (2Rs 14,17–20 = 2Cr 25,25–28)
• Ozias = Azarias torna-se rei (2Rs 14,21–22 = 2Cr 26,1–2)
• Reinado de Jeroboão II (2Rs 14,23-29)
• Ozias = Reinado de Azarias (2Rs 15,1-4 = 2Cr 26,3-15)
• Ozias = Lepra de Azarias (2Rs 15,5 = 2Cr 26,16-21)
• Ozias = morte de Azarias (2Rs 15,6–7 = Isaías 1,1; 6,1 = 2Cr 26,22–23)

7.3 A presença da Assíria e a destruição de Israel em 722 a.C.


Depois de se ter uma visão clara de conjunto, a partir da sinopse
mostrada acima, é importante ressaltar alguns elementos fundamentais
da história do reino dividido. Um deles consiste na presença do império
assírio na região onde o povo da Bíblia estava situado.
O império assírio começou como um reino acádio-semita, nos sécu-
los XXV ou XXIV a.C., situado no alto Rio Tigre, no norte da Mesopotâmia,

64
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

local que hoje em dia corresponde ao país do Irã, sobretudo na região


norte. A Assíria teve seu fim por volta de 605 a.C., quando foi destruída.
O Império da Assíria, porque era uma potência no Antigo Oriente
Próximo e chegou a ter uma forte presença no território de Israel e
Judá, é tratado pela Bíblia de maneira bastante intensa.
A Assíria era famosa por sua crueldade e política externa implacável. O
exército assírio era a força militar mais temida do antigo Oriente Próximo.
Muitas vezes, suas campanhas deixaram regiões inteiras despovoadas e
cidades totalmente arruinadas. As pessoas que sobreviviam eram forçadas
à escravidão e exiladas em outros territórios distantes do império.
Para os reinos do norte e do sul, Israel e Judá, os assírios foram uma
ameaça constante. O povo da Bíblia teve que conquistar sua precária
independência com muito custo, mediante de guerras extremamente
violentas ou tributos altíssimos.
Isso fez com que a Assíria se tornasse, para a Escritura Sagrada,
um símbolo de opressão e destruição. Sua capital, Nínive, para os
profetas bíblicos, representava de tudo o que era mau no mundo (cf.
Jn 1,2; Na 3,7).
Na época do imperador assírio, Salmanasar III (858–824 a.C.), essa
potência entrou em guerra contra uma coalizão de arameus, que incluía,
entre seus aliados, o Rei Acab de Israel. Tempos depois, em torno de
842 a.C., Jeú, outro rei de Israel, juntamente com cidades arameias,
pagou tributo à Assíria na tentativa de suborná-lo e evitar o ataque.
Esse fato foi retratado no famoso obelisco Negro de Salmanasar,
no qual aparece um relevo que mostra o rei israelita, Jeú, curvando-se
e pagando tributos aos assírios. Essa imagem é o primeiro registro da
possível aparência de um monarca do povo da Bíblia.

Fonte: https://missaoposmoderna.com.br/2014/05/a-arqueologia-e-a-biblia/

65
A melhor sequência para ler a Bíblia

Teglat-Falasar III (745–727 a.C.) invadiu a Síria, capturando sua


capital, Damasco, e a Fenícia (cf. 1Rs 16,9). Ele também invadiu o reino
de Israel (cf. 2Rs 15,19-20.29 – aqui, esse mandatário assírio aparece
com o nome de Pul). Por volta de 734 a.C., metade do reino de Israel foi
anexado como território assírio e Judá começou a pagar tributo. O seu
poder foi tão grande que ele também se instalou como rei na Babilônia e
capturou Gaza. Como parte de sua política de estabelecimento de poder,
ele iniciou uma deportação em massa, transferindo toda a população da
região da Galileia para a Assíria (cf. 2Rs 15,29).
Depois de Teglat-Falasar III, quem assumiu o poder na Assíria,
tornando-se imperador, foi Salmanasar V (727–722 a.C.). Ele trouxe des-
truição a Samaria, capital do reino do norte, após uma revolta do Rei
Oseias de Israel, que em vão apelou por ajuda do Egito. Seu sucessor, o
assírio, Sargão II (722–705 a.C.), deportou a população do povo de Israel
por todo o território imperial (cf. 2Rs 17,5; 18,9–10).
Além disso, com Sargão II, a Assíria instalou, em Israel, pessoas de
outras nações dominadas (cf. 2Rs 17). Essa troca do populações, com
mistura étnica, mediante reassentamentos, era a política assíria padrão,
que visava destruir qualquer espírito de união na população conquista-
da. Isso evitava ao máximo a revolta desses povos. Foi nesse momento
que as dez tribos do norte de Israel desapareceram da história, após a
conquista assíria.
Com a morte de Sargão, quem assumiu o império assírio foi Sena-
querib (705–681 a.C.). Ele invadiu Judá durante o reinado de Ezequias.
Porém, nunca conseguiu conquistar Jerusalém. Seu exército foi derrota-
do, de acordo com a Bíblia, por um anjo (cf. 2Rs 18,13; 19,35; 2Cr 32,1-21).
Quando Senaquerib voltou para a Assíria, foi assassinado por seus
filhos. Após a morte de seu pai, Assaradão (681-669 a.C.) fez campanhas
militares muito eficientes contra o Egito, saqueando, em 671 a.C., a
capital de Memphis, estabelecendo vinte reis vassalos. Tendo morrido
em guerra, seu sucessor, Assurbanipal (668-627 a.C.), enfrentou novas
revoltas no Egito, reduziu Tebas, ao instalar vassalos para governar, em
seu lugar, enquanto ele guerreava contra Elam.
A Assíria, mesmo tendo um território imenso e poder, entrou em
colapso muito rapidamente. Por conta de revoltas muito violentas, o
império se enfraqueceu. Nesse momento, quem toma o poder mundial
foram duas potências unidas, a Média e a Caldeia. Juntas, formaram o
império Babilônico. As duas destruíram a capital assíria, Nínive, em 612
a.C. E a queda definitiva do Império Assírio se deu em 609 a.C.

66
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

7.4 Sinopse - Reis e Crônicas sobre a monarquia dividida até a des-


truição de Israel em 722 a.C.

7.4.1 O reino dividido: período entre 759-700 a.C.

• Reinado de Zacarias (2Rs 15,8-12)


• Reinado de Selum (2Rs 15,13-16)
• Reinado de Manaém (2Rs 15,17-22)
• Reinado de Faceias (2Rs 15,23-26)
• Reinado de Faceia (2Rs 15,27-31)
• Reinado de Joatão (2Rs 15,32-38 = 2Cr 27,1-9)
• Reinado de Acaz (2Rs 16,1-20 = Is 14,28 = 2Cr 28,1-27)
• O Reinado de Oseias (2Rs 17,1-2)
• Queda de Samaria em 722 a.C. (2Rs 17,3-41 = 2Rs 18,9-12)
• Reinado de Ezequias (2Rs 18,1-8 = 2Cr 29,1-31,21)
• Queda de Samaria (2Rs 18,9-12 = 2Rs 17,3-41)
• Invasão de Senaquerib (2Rs 18,13–35 = Is 36,1-20 = Is 20,1; 21,16 = 2Cr 32,1-19)
• Profecia de Isaías (2Rs 19,1-13 = Is 37,1-13)
• Oração de Ezequias (2Rs 19,14–19 = Is 37,14–20 = 2Cr 32,20)
• Queda de Senaquerib (2Rs 19,20–37 = Is 37,21–38 = 2Cr 32,21–23)
• Doença de Ezequias (2Rs 20,1-11 = Is 38,1-20 = 2Cr 32,24-30)
• Visita de Merodac-Baladã (2Rs 20,12-21 = Is 39,1-8 = 2Cr 32,31-33)

7.5 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: A monarquia dividia –


Reino do Norte (Israel) e Reino do Sul (Judá) (931 – 586 a.C.)

Dia 1Reis – Leia os capítulos Data


76 12-17
77 18-22
Dia 2Reis – Leia os capítulos Data
78 1-4
79 5-8
80 9-12
81 13-16
82 17-20
83 21-25

67
A melhor sequência para ler a Bíblia

7.6 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Releia a história da mo-


narquia unida e dividida pela ótica da Obra Histórica Cronista

Dia 1Crônicas– Leia os capítulos Data

84 1-4

85 5-8

86 9-12

87 13-16

88 17-20

89 21-24

90 25-28

91 29-31

Dia 2Crônicas– Leia os capítulos Data

92 1-4

93 5-8

94 9-12

95 13-16

96 17-20

97 21-24

98 25-28

99 29-32

100 33-36

68
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

7.7 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Profetas que viveram


durante a monarquia dividia – Reino do Norte (Israel) e Reino do Sul
(Judá) (931 – 586 a.C.)

7.7.1 Amós (por volta de 750 a.C.)


Dia Amós– Leia os capítulos Data
101 1-5
102 6-9

7.7.2 Oseias (por volta de 755-722 a.C.)


Dia Oseias– Leia os capítulos Data
103 1-5
104 6-10
105 11-14

7.7.3 O Primeiro Isaías – Capítulos 1 a 39


(aproximadamente entre 740-734 a.C.)
Primeiro Isaías –
Dia Data
Leia os capítulos

106 1-4

107 5-8

108 9-12

109 13-16

110 17-20

111 21-24

112 25-28

113 29-32

114 33-36

115 37-39

69
A melhor sequência para ler a Bíblia

7.7.4 Miqueias (por volta de 740-701 a.C.)

Dia Miqueias– Leia os capítulos Data

116 1-3

117 4-7

7.7.5 Sofonias (cerca de 630 a.C.)

Dia Sofonias – Leia os capítulos Data

118 1-3

7.7.6 Naum (cerca de 612 a.C.)

Dia Naum– Leia os capítulos Data

119 1-3

7.7.7 Habacuc (cerca de 600 a.C.)

Dia Habacuc– Leia os capítulos Data

120 1-3

7.7.8 Joel (597-587 a.C. – há muitas discussões


sobre a datação de Joel, ele é muito difícil
de ser situado historicamente)

Dia Joel – Leia os capítulos Data

121 1-4

70
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

8 O EXÍLIO DA BABILÔNIA (598 - 539 A.C.)

O
utro império emergiu com muito poder no cenário mundial, a
Babilônia. Tendo suplantado a Assíria, cresceu rapidamente, com
grande força política e militar, no contexto mais amplo das nações
do Antigo Oriente Próximo, por volta do século VI a.C.
Embora tenha sido assim, seu império não durou muito, pois as
intrigas internas das elites e a instabilidade política geraram um cli-
ma de insegurança, que afetou demais a estabilidade do governo e a
capacidade de manter o domínio dos governantes babilônios.
O primeiro personagem babilônico importante, do ponto de vis-
ta bíblico, foi Nabucodonosor II, rei da Babilônia entre 605-562 a.C.;
filho mais velho de Nabopolassar, fundador da dinastia caldeia; pai de
Amel-marduk (na Bíblia, chamado de “Evil-Merodac”).
Nabucodonosor acompanhou seu pai em campanhas militares con-
tra vários povos dos territórios montanhosos da região. Ele derrotou
Necao II e os egípcios, em Carquemis, em 605, ganhando o controle
da Síria e da região onde o povo de Judá vivia. Depois, nesse mesmo
ano, ele sucedeu a seu pai como rei.
O reinado inicial de Nabucodonosor II realizou diversas campanhas
militares contra todo território da Palestina, inclusive, sitiando Jeru-
salém, capturando o rei Joaquim e colocando, em seu lugar, Sedecias,
que era mais simpático à política babilônica. Tudo isso pode ser lido
em 2Reis 24,10-17.
O rei de Judá, Sedecias, ajudado pelo Egito, acabou se rebelando
contra Nabucodonosor, que, em 589 a.C., devastou Jerusalém em re-
taliação. Isso resultou, três anos depois, nas deportações de parte da
população de Judá para a Babilônia (cf. 2Rs 24,20-25: 21; Jr 52,3-34; Ez
17,15; 24,1-2; 37,5). Isso fez com que a independência política de Judá
acabasse, bem como a dinastia davídica.
A Babilônia, depois da devastação de Jerusalém e após os processos
de deportação, anexou o reino de Judá à província de Samaria. No final
de todos os ataques militares de Nabucodonosor, Judá, o reino do sul

71
A melhor sequência para ler a Bíblia

estava destruído e desolado. Alguns poucos habitantes, que ficaram


conhecidos como “o resto de Israel”, permaneceram em suas cidades e
casas. Inclusive, é importante ressaltar que vários habitantes de Judá
participaram do saque e destruição das cidades após as vitórias da
Babilônia, entre as quais os edomitas e amonitas (cf. Ez 25,1–4).
Não se sabe ao certo qual foi o número de exilados para a Babi-
lônia. Existem inferências, de acordo com algumas passagens do livro
de Jeremias, que foram em torno de 4.600 pessoas.
Para saber um pouco como parte dos exilados viveram na Babilônia,
é possível recorrer a alguns textos bíblicos no livro do profeta Ezequiel,
pois lá são descritos modos de vida da comunidade deportada. Uma
parte considerável não era composta de escravos e tinham, inclusive,
liberdade para circular pelo império. Viviam perto da capital da Ba-
bilônia e Nippur; comunidades economicamente prósperas. Muitos
dos judaítas que estavam em terra estrangeira foram incorporados à
comunidade babilônica, prosperando política e economicamente.
Por outro lado, alguns textos de Isaías (sobretudo os capítulos de
40-55) dão a entender que havia uma parcela dos exilados que estavam
em condições mais precárias. Talvez, esses judaítas, que não faziam
parte das elites de Jerusalém, foram submetidos a trabalhos pesados.
Os autores de textos bíblicos desse momento fizeram várias inter-
pretações teológicas desses fatos. Por estarem numa terra estrangeira
e não na terra prometida, por exemplo, tinham a compreensão de que
haviam sido punidos por Deus por terem sido infiéis à Lei.
Diversas foram as sanções divinas contra eles, como: a destruição
do Templo de Jerusalém; o fim dos cultos de sacrifício; o término da
monarquia davídica. Essa última era tida como um sinal das promessas
de Deus ao seu povo. Além dos mais, a infraestrutura religiosa, política
e administrativa, em que viviam os deportados de Jerusalém, não era
o que estava afirmado e pressuposto na Lei de Moisés. Isso gerou uma
crise de identidade dos judaítas.
Nesse contexto, a religião deles foi se tornando um instrumen-
to de resistência cultural. Desse modo, a Lei (Torá), a circuncisão
e a observância do sábado tornaram-se os pilares da experiência
religiosa do povo.
É muito importante salientar que, se antes o centro da vida religiosa
do povo, em Jerusalém, era focado nos sacrifícios no templo, agora, na
Babilônia, estava associado ao livro da Lei (Torá). Surgiu, assim, um novo
espaço religioso, a sinagoga – o local do estudo dos textos sagrados.

72
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

8.1 Sinopse - Reis e Crônicas sobre o período próximo ao exílio da


Babilônia

8.1.1 O reino dividido: período entre 699-620 a.C.

• Reinado de Manassés (2Rs 21,1-18 = 2Cr 33,1-20)


• Reinado de Amon (2Rs 21,19–26 = 2Cr 33,21–25)
• Reinado de Josias (2Rs 22,1-2 = 2Cr 34,1-2)
• 8º e 12º ano de Josias (Jeremias 1,1-3 = 2Cr 34,3-7)
• 18º ano de Josias (2Rs 22,3-7 = 2Cr 34,8-13)
• Encontrado o Pergaminho da Lei (2Rs 22,8–20 = 2Cr 34,13–28)
• Reforma religiosa de Josias (2Rs 23,1-27 = 2Cr 34,29-35,19)

8.1.2 O reino dividido: período entre 619-540 a.C.

• A invasão do Faraó Necao (2Rs 23,28–30 = 2Cr 35,20–36,1)


• Reinado de Joacaz (2Rs 23,31–34 = 2Cr 36,2–4)
• O Reinado de Joaquim (2Rs 23,35-24,7 = 2Cr 36,5-8)
• Reinado de Joaquin (2Rs 24,8–17 = Jeremias 52,28 = 2Cr 36,9–10)
• O Reinado de Sedecias (2Rs 24,18-25,30 = Jeremias 52,1-34 = Jeremias
39,1-10 = 2Cr 36,11-21)

8.2 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: O exílio da Babi-


lônia (586 - 538 a.C.)

8.2.1 Livro que ajuda a contextualizar o que está acontecendo


historicamente: Lamentações (586-550 a.C.)

Dia Lamentações – Leia os capítulos Data

122 1-5

73
A melhor sequência para ler a Bíblia

8.3 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: os profetas que vive-


ram nessa época

8.3.1 Abdias (586 a.C.)


Dia Abdias – Leia o único capítulo Data
123 1

8.3.2 Jeremias (628-585 a.C.)

Dia Jeremias – Leia os capítulos Data

124 1-4

125 5-8

126 9-12

127 13-16

128 17-20

129 21-24

130 25-28

131 29-32

132 33-36

133 37-40

134 41-45

135 46-52

8.3.3 Baruc (aproximadamente, entre 570-539 a.C.)

Dia Baruc – Leia os capítulos Data

136 1-6

74
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

8.3.4 Ezequiel (593-568 a.C.)

Dia Ezequiel - Leia os capítulos Data

137 1-4

138 5-8

139 9-12

140 13-16

141 17-20

142 21-24

143 25-28

144 29-32

145 33-36

146 37-40

147 41-44

148 45-48

8.3.5 Segundo Isaías – capítulos 40-55 (por volta de 540 a.C.)

Dia Segundo Isaías - Leia os capítulos Data

149 40-44

150 45-50

151 51-55

75
A melhor sequência para ler a Bíblia

9 O PERÍODO DA DOMINAÇÃO PERSA (538 - 319 A.C.)

O
fim do grande império babilônico se deu com a ascensão da Pérsia
como a nova potência mundial no Antigo Oriente Próximo. Ciro, o
rei persa, liderou uma revolta bem-sucedida contra a Média, em
550 a.C., e continuou a construir e solidificar seu império até sua morte,
em 530 a.C. Ele foi um dos principais agentes da destruição da Babilônia
e do retorno dos exilados para a terra de Judá.
Em 539 a.C., Ciro entra na Babilônia, aclamado, e assume o poder.
O livro do profeta Isaías (dos capítulos 40-55, conhecido como Segundo
Isaías) trata justamente do avanço desse rei persa, fato que reacendeu
a esperança em muitos que estavam em condições ruins do período do
exílio. Isso foi interpretado como sendo uma espécie de novo êxodo.
Um edito de Ciro, em 538 a.C., citado em Esd 1,1-11; 6,3-5; 2Cr 36,22-
23, dá a ordem para que os exilados de todas as nações retornem às suas
terras natais. Os Persas tinham uma forma de governar seu território con-
quistado de forma muito mais branda no que tange à liberdade religiosa e
política. Essa certa liberdade religiosa e política, porém, teve um preço alto.
Tributos, em prata, deveriam ser pagos ao império persa, a partir de agora.
Um ano depois, em 537 a.C., 49 anos depois que o Templo de Jerusa-
lém tinha sido destruído, retornou, para a Judeia, um primeiro grupo de
exilados judeus, provenientes da Babilônia, liderados por Sasabassar (cf.
Esd 1,5-11). Nesse tempo, o culto em Jerusalém é, em parte, retomado, ao
mesmo tempo em que os seus novos fundamentos são colocados.
Entretanto, é somente com o governo do persa, Dario I, em 520 a.C., que
o Templo de Jerusalém efetivamente começou a ser reconstruído sobre os
novos fundamentos. Nessa época, o rei judeu, Zorobabel, colocado no poder
pelo Império, coordenou a continuidade desse processo (cf. Esd 6-12). Tendo
ele liderado mais um grupo de exilados em seu retorno (cf. Esd 2,1-70), quan-
do chegaram construíram o altar e restauraram os sacrifícios (cf. Esd 3,1-6).
Conflitos começam. Os samaritanos, remanescentes dos que ficaram
no reino do norte, misturados com outros povos, pediram para contribuir
na reconstrução do Templo de Jerusalém. Os judeus, considerando-os

76
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

impuros, não aceitam ajuda (cf. Esd 4,1-3). A reconstrução será interrom-
pida (cf. Esd 4,4-5.24).
Nessa época, os profetas Ageu e Zacarias estão atuando em favor do
Templo (cf. Esd 5,1; Ag 1,1-11). Diante disso, a reconstrução é retomada (cf.
Esd 5,2-5; Ag 1,12-15; Zc 1,1-6). As muralhas da cidade de Jerusalém serão
reconstruídas, já no tempo de Ataxerxes I, em 448 a.C., quando um grupo
de exilados retornou à Judeia (cf. Esd 4,12).
Nesse período da história, Neemias volta da Babilônia com a autori-
zação para dar continuidade às construções, sobretudo do Templo. Ele
foi nomeado governador da Judeia (cf. Ne 13,6), fato que lhe deu poder
para lutar contra as oposições do governador da Samaria, Sanabalat, que
havia feito oposição à reconstrução do Templo (cf. Ne 1,10).
Em 515 a.C., os judeus puderam celebrar a Páscoa, novamente, no
Templo de Jerusalém (cf. Esd 6,19-22), sob a liderança dos sacerdotes
levitas. Uma personagem fundamental em toda essa história foi Esdras,
um escriba, sacerdote e mestre da Lei. Ele foi colocado por Artaxerxes
para nomear magistrados e juízes (cf. Esd 7,25) e para ensinar e fazer
cumprir a “Lei de Deus” e a “Lei do Rei” na Judéia (cf. Esd 7,25–26); uma
das primeiras e mais notáveis figuras do Judaísmo do Segundo Templo.

9.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: A dominação Persa


(538-331 a.C.)

9.1.1 Livros que ajudam a contextualizar o período histórico

9.1.1.1 Esdras (538 – 516 a.C. e, depois, 458 a.C.)

Dia Esdras - Leia os capítulos Data

152 1-5

153 6-10

9.1.1.2 Neemias (444 – 428 a.C.)


Dia Neemias - Leia os capítulos Data
154 1-4
155 5-8
156 9-13

77
A melhor sequência para ler a Bíblia

9.1.2 Os profetas que viveram nesse período


9.1.2.1 Ageu (por volta de 520 a.C.)

Dia Ageu – Leia os capítulos Data

157 1-2

9.1.2.2 Zacarias (por volta de 520 a.C.)

Dia Zacarias – Leia os capítulos Data

158 1-5

159 6-10

160 11-13

9.1.2.3 Malaquias (por volta de 450 a.C.)

Dia Malaquias – Leia os capítulos Data

161 1-3

9.1.2.4 Terceiro Isaías – capítulos 56-66 (por volta de 450 a.C.)

Dia Terceiro Isaías – Leia os capítulos Data

162 55-58

163 59-62

164 63-66

9.2 Livros que foram escritos nesse período para discutir sobre a teo-
logia da retribuição do Templo de Jerusalém

9.2.1 Rute (foi escrito por volta de 400 a.C. – mas o livro faz menção ao
período do sistema tribal)
Dia Rute – Leia os capítulos Data
165 1-4

78
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

9.2.2 Jonas (foi escrito por volta de 400 a.C. – mas o livro faz menção ao pe-
ríodo do reino dividido, quando a Assíria exercia do domínio da região)

Dia Jonas – Leia os capítulos Data

166 1-4

9.2.3 Jó (foi escrito por volta de 400 a.C. – mas o livro faz menção ao período
pré-patriarcal)

Dia Jó – Leia os capítulos


167 1-4
168 5-8
169 9-12
170 13-16
171 17-20
172 21-24
173 25-28
174 29-32
175 33-37
176 38-42

9.2.4 Cântico dos Cânticos (foi escrito por volta de 400 a.C. – mas o livro foi
atribuído a Salomão que reinou entre 970/60 e 931 a.C.)

Dia Cântico dos Cânticos –


Leia os capítulos

177 1-4

178 5-8

79
A melhor sequência para ler a Bíblia

9.3 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Tobias (esse livro é


muito difícil ser datado, optei por situá-lo entre 400 e 175 a.C.)

Dia Tobias – Leia os capítulos

179 1-5

180 6-9

181 10-14

80
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

10 O PERÍODO DA DOMINAÇÃO GREGA (319 - 200 A.C.)

P
or 200 anos, o Império Persa se manteve no poder. Este foi uma
potência hegemônica no Antigo Oriente Próximo. Isso demonstrou
que o seu modo de governar teve muita eficácia. As suas decisões
econômicas, sociais, políticas, militares e religiosas de tolerância se mos-
traram muito efetivas na manutenção da coesão do Império.
Surgem, na Grécia, porém, novos líderes políticos e militares com
o desejo de conquistarem territórios ao oriente e internacionalizarem
seu poder. Felipe II, rei da Macedônia, também conhecido como Felipe,
o belo, foi um desses.
Muito sagaz, Felipe II, ao tomar consciência dos conflitos da região
entre as diversas cidades-estados gregas, se autoproclamou o impera-
dor da Grécia, em 338 a.C. Esse fato repercutiu internacionalmente. Mas
ele não levou a cabo seu sonho de conquista. Foi seu filho, Alexandre, o
Grande (Magno), que, ao suceder-lhe, realizou o feito de estabelecer um
grande império que ficou conhecido como o Império Helênico.
Alexandre Magno foi sendo, ao longo do tempo, preparado tanto
intelectualmente, com a ajuda de Aristóteles, o famoso filósofo, discí-
pulo de Platão, quanto militarmente, já que era treinado pelos melhores
guerreiros da Grécia.
Ao assumir o poder, o jovem militar, Alexandre Magno, iniciou uma
série de campanhas contra os exércitos do império persa e seus interesses
no Antigo Oriente Próximo. Esses esforços tiveram êxito. Em 334 a.C.,
quando ele enfrentou os exércitos de Dario II, na Ásia Menor, o derrotou.
Desde aquele momento, nunca deixou de lado seu ímpeto de conquista.
Começou sua expansão territorial, vencendo Damasco, Fenícia e
Palestina, o que lhe permitiu conquistar o Egito. Em 331 a.C., Alexandre
Magno fundou a cidade de Alexandria, local que desempenhou um papel
fundamental na transformação cultural de todo o mundo antigo.
Depois do grande êxito no Egito, Alexandre Magno direcionou suas
tropas para a Mesopotâmia. Lá, enfrentou, mais uma vez, os exércitos
persas de Dario II. Nessa campanha militar, seu triunfo foi tão grande que

81
A melhor sequência para ler a Bíblia

levou à queda da Pérsia. Assim, pôde avançar mais ainda para o oriente,
em territórios que pertenciam aos persas. Em pouco tempo, ainda muito
jovem, Alexandre conseguiu organizar uma vasta extensão territorial, o
Império Grego ou Helênico.
Foi dada à cultura, durante o tempo do império, muita importância.
Alexandre Magno pretendia espalhar o pensamento e o modo de vida dos
gregos por todo mundo antigo. Para tal, por onde chegava a dominação,
os exércitos ensinavam a língua grega, os mitos, a filosofia e as artes.
Além do mais, as cidades conquistadas foram sendo transformadas tanto
na estrutura social quanto na forma arquitetônica, conformando-se às
antigas cidades gregas. A isso se deu o nome de cultura helenística.
Em suas campanhas militares, Alexandre Magno teve o interesse de
conquistar Jerusalém. Entretanto, segundo Flávio Josefo, historiador ju-
deu, ele teria sido alertado em sonho de que não deveria saqueá-la, nem
destruí-la. Desse modo, foi recebido com as honras do sumo sacerdote
e decidiu oferecer sacrifícios no Templo. Além disso, como produto dos
esforços de Jedua, o sumo sacerdote, ele decidiu afirmar os reconheci-
mentos e privilégios que a comunidade judaica tinha no império.
Alexandre Magno morreu na Babilônia em 323 a.C., deixando um vazio
político, social e militar muito difícil de preencher. Não havia, portanto,
quem o sucedesse. Era um império muito grande, que incluía diferentes
nações e culturas variadas. Assim, o império ficou nas mãos dos “diádocos”,
termo grego que significa “sucessores”; eles eram oficiais de seu exército.
Ptolomeu assumiu o Egito; Seleuco, a Babilônia e outras regiões
orientais; Antígono, a Frígia Maior; Lisímaco, a Trácia; Cassandro, a Ma-
cedônia. Os mais importantes para o entendimento das Escrituras e da
história dos judeus são Ptolomeu e Seleuco.

10.1 Os lágidas ou ptolomeus (319 - 200 a.C.)


Após a morte de Alexandre Magno, Ptolomeu I Sóter (306–246 a.C.),
filho de Lagos, surgiu como uma forte liderança. Uma de suas primeiras
decisões políticas foi se autodenominar rei, a fim de se tornar um soberano
independente em 305 a.C. Foi ele quem começou a dinastia dos Lágidas,
que ficou no poder do Egito até 30 a.C. O termo “lágidas” vem do nome
de seu pai, “Lagos”.
Ptolomeu, com sua infraestrutura militar, conquistou as regiões
da Síria e da Palestina, estabelecendo várias bases marítimas no Medi-
terrâneo (cf. Dn 11,5). Com isso, demonstrou ter grande sabedoria ad-
ministrativa e política. Foi em sua época que as primeiras comunidades

82
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

militares judaicas foram estabelecidas no Egito.


Ptolomeu II Filadelfo, filho e sucessor de Ptolomeu I (285-246 a.C.),
modelou seu pai nas políticas expansionistas, respondendo às agressões
de Antíoco II, que queria retomar os territórios da Síria e da Palestina.
O triunfo de Ptolomeu II foi tão grande que forçou Antíoco II a se casar
com sua filha Berenice (cf. Dn 11,6).
Foi Ptolomeu II quem fundou a famosa biblioteca e o museu de
Alexandria, no norte do Egito, que se tornou o ambiente intelectual e
administrativo para a tradução das Sagradas Escrituras Hebraicas para
o grego, que é a chamada Septuaginta ou Tradução dos Setenta (LXX).
Ptolomeu II Evergetes, também conhecido como Ptolomeu II Filadelfo
(246–221 a.C.), filho de Ptolomeu II, foi o sucessor no trono. Ao iniciar seu
mandato, logo atacou Seleuco II da Síria, com a finalidade de defender
sua irmã, Berenice. Com isso, ele conquistou muitas bases militares na
região, incluindo a de Selêucia, a capital dos selêucidas. Tais ações per-
mitiram-lhe, a partir do Egito, exercer o poder político e econômico no
Mar Mediterrâneo, particularmente, em sua parte oriental.
O próximo a assumir o trono egípcio foi Ptolomeu IV Filopator (221–
205 a.C.). Esse, apesar de ter grande capacidade militar apurada, amava
mais as artes e o prazer do que as guerras. Quando foi atacado e invadido
pelos exércitos de Antíoco II, porém, respondeu com grande força para
derrotar os invasores de Ráfia (217 a.C.).
Com o passar do tempo, o poder dos Ptolomeus no Egito foi se aca-
bando, à medida que seus exércitos começaram a utilizar o poder militar
para fazer importantes conquistas políticas e administrativas no Egito.
Nessa situação de fraqueza política dos Ptolomeus, e em meio à expansão
do poder militar nas milícias egípcias, o exército apoiou várias revoltas
camponesas contra as influências e a cultura grega.
As campanhas militares de conquista de Antíoco II, rei inimigo,
e as lutas internas na administração ptolomaica levaram à derrota de
Ptolomeu V Epifânio (204-180 a.C.), em Pânion (200 a.C.). Essa derrota
foi decisiva para a história da comunidade judaica, já que, a partir da-
quele momento, a autoridade sobre a Palestina e a Síria ficou com os
vencedores, os selêucidas.
Com a finalidade de mostrar quem eram os novos governantes da
região, Antíoco II fez com que Ptolomeu V se casasse com sua filha, Cleó-
patra I (cf. Dn 11,13-17). Esse movimento pretendia não apenas afirmar
quem detinha o novo poder político, mas para revelar claramente que o
Egito havia sido derrotado.

83
A melhor sequência para ler a Bíblia

10.1.1 Como estava a comunidade judaica nesse período?


A comunidade judaica situada na região da Judeia e em Jerusalém
ficou, de certa maneira, sem sofrer grandes impactos por causa das
transformações políticas. A situação era confortável; os tributos eram
pagos aos ptolomeus. Isso permitia que vivessem de acordo com seus
costumes e tradições. Do ponto de vista da estrutura religiosa judaica,
no Templo, em Jerusalém, havia liberdade de culto. O sumo sacerdote
tinha plenos poderes.
Um grupo pequeno de pessoas entre os judeus detinham o poder
e a autoridade administrativa formada pelo sumo sacerdote, pois, ao
mesmo tempo, representava o poder político e espiritual, e o Sinédrio,
que é um corpo de anciãos que funcionava como uma espécie conselho.
Possivelmente, o sumo sacerdote, nessa época da dominação lágida, foi
Onias I e seus sucessores, Simão I e Simão II.
Durante o período dos lágidas, não temos muita informação a res-
peito da comunidade judaica em relação ao modo como eles reagiram à
dominação. O que se sabe, porém, é que os dominadores não impuseram
à força sua cultura; ao contrário, pouco a pouco, foram disseminando-a,
de tal modo que alguns poucos judeus, à princípio, foram abandonando
a fé e aderindo à mentalidade e aos costumes helênicos.
As práticas gregas, gradualmente, mas de forma constante, começa-
ram a chegar à Jerusalém, fazendo com que líderes judeus as percebes-
sem como sérias ameaças à fé judaica. A comunidade judaica se dividiu.
De um lado, estavam os que aceitavam as novas tendências; de outro, os
que eram mais ferrenhos em relação à obediência à Lei. Esses últimos
eram chamados “hassidim”, termo hebraico que significa “piedosos”. Eles
rejeitavam abertamente esses processos de helenização (cf. 1Mc 2,42).
Nessa época, foi escrito o livro de Eclesiastes. Essa obra trata da
corrupção dos valores judeus em relação ao pensamento e domínio
dos gregos.

10.2 Os selêucidas (200 - 142 a.C.)


Em 223 a.C., o selêucida, Antíoco III, o Grande (223-187 a.C.), assumiu
o trono da Síria e implementou uma política de confronto direto contra os
ptolomeus, tratados acima, fazendo com que os selêucidas conseguissem
reconquistar a região da Judeia.
Ptolomeu IV, entretanto, recuperou o controle dessa região em 217
a.C. Após um tempo de relativa paz, com Ptolomeu V (203 – 181 a.C.),

84
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

foi reiniciada a política de confronto e guerra contra os selêucidas. Isso


conduziu os selêucidas à vitória e à conquista, em 199 a.C., da Judeia
sob Antíoco III.
Antíoco III tinha políticas de expansão de seu território, o que levou
os selêucidas à Ásia Menor. Lá, eles perderam a guerra contra os roma-
nos, em 189 a.C. Com isso, foi assinado um tratado de paz com Roma,
em 188 a.C., fato que foi muito negativo para o exército selêucida, já que
este precisou deixar as fronteiras ocidentais de seu império, perdendo
grandes porções de terra.
Ademais, pesados tributos foram imputados, por parte dos romanos,
sobre toda essa terra perdida, com a finalidade de reparação pelas des-
pesas da guerra. Assim, Roma manteve como refém o filho de Antíoco III,
Antíoco IV, junto de um grupo de pessoas de grande importância para a
corte dos selêucidas.
A fim de pagar os tributos pesados impostos por Roma, Antíoco III
inicia uma campanha de invasão e conquista de templos da região, pois
dentro deles havia grandes tesouros. Numa dessas incursões militares,
mais especificamente na que fez no santuário do deus Bel, na região de
Elam, ele veio a falecer.
Foi por volta 190 a.C., dentro desse contexto de helenização que o livro
do Eclesiástico foi escrito. Ele tem a finalidade de garantir que os jovens
judeus não se deixassem levar pela cultura grega. Assim, Jesus Ben Sirac,
o Sirácida, provável autor dessa obra, procura garantir a manutenção da
identidade judaica. Por isso, sua comunicação se dá como um ensinamento
de um pai ou professor para um filho ou aluno, um jovem. Vale lembrar
que esse escrito não está na Bíblia Protestante.
O sucessor ao trono selêucida foi o filho de Antíoco III, Seleuco IV
Filopator. Ele continuou com as campanhas militares de assalto aos tem-
plos para pagar os tributos a Roma. Inclusive, numa dessas, ele até tentou
confiscar os tesouros do templo em Jerusalém, mas não conseguiu. Ele
foi morto pelo seu próprio chanceler, Heliodoro, em 175 a.C.
Nesse curto período de crise e instabilidade, entre os ptolomeus e
os selêucidas, os judeus tiveram relativa calma em Judá e em sua capital.
Antíoco III havia reconhecido certos privilégios à comunidade judaica.
Assim, nesse primeiro momento, selêucidas e judeus tinham boas rela-
ções. No Templo de Jerusalém, inclusive, alguns sacrifícios eram feitos
na intenção de Antíoco III e de seu sucessor.
De acordo com o historiador Flávio Josefo, Antíoco III ajudou os
judeus financeiramente a fim de que reparassem os danos ao Templo.

85
A melhor sequência para ler a Bíblia

Havia, portanto, até o momento, respeito à autonomia administrativa e


econômica na Judeia. Nesse período, a Torá era o fundamento da orga-
nização da comunidade judaica, apresentando os padrões morais, éticos
e espirituais que orientavam o dia a dia.
O problema para os judeus começou com a morte de Antíoco III. Ele,
em vez de ser substituído por seu filho, Demétrio; o foi por outro filho,
aquele que havia sido mantido como refém pelos romanos, Antíoco IV,
mediante usurpação do poder. O novo mandatário, de tão egocêntrico,
chegou a adotar o nome de Epifânio ou Epífanes, que significa “manifes-
tação”, ao se referir a si mesmo como uma manifestação do deus Zeus.
Isso deu sentido ao modo como ele geria seu território.
Antíoco IV Epifânio mudou a forma pela qual o sumo sacerdote
do Templo de Jerusalém era instituído. Certamente, essa posição era
hereditária. Ela passou, porém, a ser submetida ao escrutínio do poder
político selêucida. Assim, quem pagasse mais, assumiria esse posto. Isso
resultou no fato de que diversos grupos judaicos passaram a disputar por
essa função, gerando brigas e divisões.
O modo de gerir o processo religioso judaico, por parte dos selêuci-
das, era displicente e desrespeitoso. Isso culminou no fato de que Antíoco
IV, sem escrúpulos, roubou as riquezas do Templo de Jerusalém. Isso foi
registrado nos livros de Macabeus (cf. 1Mc 16,24; 2Mc 5,11–21).
Uma das piores ações tomadas por Antíoco IV foi iniciar um processo
de helenização nos territórios dominados. Isso gerou um conflito pro-
fundo, quando ele tentou forçar os judeus, sobretudo os de Jerusalém, a
viver de acordo com os costumes e cultura dos gregos. A resposta à tal
imposição foi a rebelião dos macabeus que consistia num movimento de
insurreição armada, organizado e liderado por Judas Macabeu.

10.3 Os macabeus (175-134 a.C.)


A estabilidade e a paz em Jerusalém foram afetadas ainda mais quando
Jasão, um representante das forças helenísticas, comprou o sumo sacer-
dócio do Templo de Jerusalém que estava nas mãos da família Oniad. Onias
III era quem ocupava o cargo. Antíoco IV, sem misericórdia ou remorso,
substituiu Onias III por Jasão, que ocupou o sumo sacerdócio por cerca
de três anos (174–171 a.C.).
Com Jasão na liderança do Templo de Jerusalém, houve o favore-
cimento da propagação da cultura grega entre os judeus. De acordo
com 2Mc 4,9-16, os cidadãos judeus tiveram, até mesmo, a possibilidade
de se tornarem cidadãos de Antioquia, uma cidade que já detinha os

86
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

benefícios associados ao helenismo.


Uma parte da comunidade judaica rejeitou a cultura grega. Com isso,
vieram as revoltas, pois entendiam que esse processo era um ataque às
tradições dos antepassados do povo israelita. O grupo judeu que se colo-
cou contrário ao helenismo foi chamado de “hassidim”, como dito acima
(cf. 1Mc 2,42; 7,13).
Mesmo tentando ser fiel às políticas de helenização, impostas por
Antíoco IV, Jasão foi traído e substituído por Menelau, por volta de 171
a.C. Esse novo Sumo Sacerdote do Templo de Jerusalém foi mais agres-
sivo em sua contribuição com a implantação da cultura grega, chegando
ao extremo de conspirar em vista de assassinar seus oponentes, entre
eles, Onias III.
Antíoco IV aumentou a repressão dos grupos contrários ao processo
de helenização. Com o incentivo de Menelau, ele foi a Jerusalém e saqueou
o Templo após uma campanha militar no Egito. O resultado foi o cres-
cimento da revolta dos judeus que não queriam renunciar à sua cultura.
Com o passar do tempo, depois de uma segunda incursão em terri-
tório egípcio, Antíoco IV começou a perseguir todos os que rejeitavam a
helenização. Diante disso, os sacrifícios nos templos de qualquer religião
rebelde e a prática da circuncisão judaica foram proibidos. Quem deso-
bedecesse sofria a pena de morte.
Um dos fatos mais marcantes dessa história ocorreu quando Antíoco
IV construiu uma estátua de Zeus, a divindade grega, no espaço do Templo
de Jerusalém. Tal coisa foi considerada uma aberração, uma blasfêmia.
Os setores mais conservadores do judaísmo passam a se revoltar mais
intensamente. O pior é que alguns acreditavam que Menelau, o sumo
sacerdote, estava de acordo com os selêucidas.
Nesse processo, os judeus se dividiram. Alguns ficaram ao lado dos
selêucidas; outros apenas não aceitavam, mas de modo pacífico, as impo-
sições gregas; por fim, alguns reagiram com maior intensidade, chegando
a se armar e a fazer guerra contra os dominadores. Nesse último grupo,
estão o sacerdote Matatias e sua família.
A revolta de Matatias chegou ao limite, dando início ao processo de
luta contra os gregos, quando ele matou um judeu que estava participando
de uma celebração pagã. Ademais, ele tirou a vida de representante de
Antíoco IV que, mesmo sendo judeu, exortava aos seus compatriotas a
aderir o helenismo, abandonando a fé.
Matatias e sua família, ao sofrerem represália por parte dos manda-
tários selêucidas e seus apoiadores, fugiram para o deserto da Judeia. Lá,

87
A melhor sequência para ler a Bíblia

reuniram um grupo de pessoas rebeldes que rejeitavam as imposições


de Antíoco IV. Após a morte de Matatias, em 166 a.C., um de seus filhos,
Judas, também conhecido como Judas Macabeu, deu continuidade à
resistência armada contra os dominadores. O termo “macabeu”, em
hebraico, significa “martelo”. Esse era um dos instrumentos que os ma-
cabeus utilizavam na insurreição.
Sob a liderança de Judas Macabeu, o grupo rebelde obteve vitórias
importantes. A derrota de Apolônio, por exemplo, narrada em 1Mc 3,12, foi
uma delas. Antíoco IV, ao saber da grande ameaça desse grupo de rebeldes,
enviou Lísias, um de seus generais, para acabar com os revoltosos. Sem
êxito, porém. Os macabeus, em Emaús, venceram essa batalha e Lísias
retornou a Antioquia humilhado.
O Templo de Jerusalém, que havia sido blasfemado, conforme dito
acima, foi purificado por Judas Macabeus e seu grupo, por volta de 164
a.C. Assim, o que começou como um esforço militar para a preservação da
cultura e os costumes judaicos, tornou-se uma revolução. Os macabeus
desejavam a independência da dominação dos selêucidas. Eles os queriam
totalmente fora da Judeia.
Judas Macabeu, nos idos de 160 a.C., fez campanhas militares contra
os exércitos gregos em várias regiões, nas quais algumas comunidades de
judeus moravam e estavam sob a forte influência helênica. Algumas dessas
localidades são a Idumeia, Amon, Gilead, Galileia e Filisteia (ou Palestina).
Com todas essas incursões, os macabeus queriam dar suporte aos judeus
para que resistissem ao dominador. Isso consolidou a revolução popular.
Foi nessa época que alguns livros da Bíblia, ou parte deles, provavel-
mente, foram escritos: Daniel e Macabeus. Ambos tinham como inten-
ção propagar a resistência contra as imposições culturais por parte dos
selêucidas. Daniel, por exemplo, é uma novela bíblica de época na qual
se narra como um profeta que, embora teria vivido durante o exílio da
Babilônia, foi fiel ao seu povo, cultura e fé.
Nessa altura, Antíoco IV morre e Lísias passa a governar no lugar de
Antíoco V, pois esse ainda era uma criança (164-162 a.C.). O novo mandatário
selêucida tentou combater os macabeus, inclusive em campanha militar
contra Jerusalém. Não obteve êxito. O que ele conseguiu foi apenas um
acordo de paz com os judeus, habilitando-os a terem liberdade religiosa
a estabelecerem um poder político, regido pela Torá (cf. 1Mc 6,59).
A revolta dos macabeus, com o tratado de paz, chegou ao ápice
de conseguir projetar o futuro para a nação. Agora, o objetivo era viver
totalmente livre dos selêucidas e organizar um governo judeu, na Judeia,

88
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

com a capital em Jerusalém. Mas alguns setores da sociedade judaica,


contrários aos rebeldes macabeus, passaram a rejeitar todo esse pro-
cesso de insurreição.
Entre os judeus que pertenciam a esses setores contrários aos ma-
cabeus, estavam alguns judeus helenísticos, ou seja, os que viviam fora
da Judeia ou que haviam assimilado de forma mais branda a cultura dos
gregos. Esses contataram o novo mandatário selêucida, Demétrio I, em
busca de apoio, e como resposta obtiveram a nomeação de um novo Sumo
Sacerdote para o Templo de Jerusalém: Alcito. Ele era bem aceito pelos
hassidim e pelos judeus partidários dos helenistas.
Judas Macabeu se posicionou de maneira contrária ao novo Sumo
Sacerdote. Isso fez com ele, mais uma vez, organizasse um grupo de
macabeus para o enfrentamento. Mesmo com ações de defesa tanto de
Alcito quanto dos selêucidas, os rebeldes macabeus conseguiram a vitória.
Demétrio I, de maneira implacável, agiu enviando mais contingente
militar para conter os macabeus. Dessa vez, obteve o triunfo. Foi justamente
numa dessas campanhas militares que Judas Macabeu veio a óbito. Esse
fato conduziu muitos judeus nacionalistas ao desespero, já que o símbolo
maior de sua luta estava morto.
O sucessor de Judas Macabeu na liderança do grupo rebelde foi Jona-
tas Macabeu. Esse teve vitórias contra os selêucidas por um determinado
tempo. Destarte, com sua habilidade política conseguiu desfrutar de um
período de paz, entre 159 e 152 a.C.
Nessa época, outros grupos também se revoltaram contra os se-
lêucidas, entre eles, os sírios, cujo rei é Alexandre Balas. Ele desafiou o
poder de Demétrio I. Jonatas Macabeu aproveitou os conflitos internos
entre os vários líderes selêucidas para se estabelecer como líder naquela
região do império.
Mesmo agindo com inteligência e perspicácia, porém, construindo
boas relações com os romanos e espartanos, o que lhe trouxe reconhe-
cimento internacional, acabou sendo enganado por um representante de
Antíoco VI, Trifo, que o levou como prisioneiro a Ptolemaida (143 a.C.). Ainda
que seu irmão, Simão Macabeu, tivesse tentado libertá-lo, não conseguiu
evitar seu assassinato. Por fim, Jônatas Macabeu foi sepultado em Modin,
que acabou se tornando a pátria da família dos macabeus.
Simão Macabeu, com sua habilidade política, buscou pela via da ne-
gociação um acordo de paz com Demétrio II. Tendo-o conseguido, isso
foi extremamente importante para a história dos judeus, tanto no aspecto
da política quanto no social. Pelos judeus, ele foi aceito como rei, além

89
A melhor sequência para ler a Bíblia

de já ter o cargo de Sumo Sacerdote do Templo de Jerusalém (142 a.C.).


Como soberano absoluto, Simão realizou uma série de campanhas
militares e diplomáticas. Foram várias as conquistas importantes. Um
dos feitos mais fundamentais foi a restauração das relações com Roma e
Esparta. Essas ações lhe trouxeram vários anos de paz.
Simão, em 134 a.C., foi assassinado, numa conspiração, pelo gover-
nador da região de Jericó, Ptolomeu, que também era seu genro. Diante
disso, o filho de Simão, João Hircano, chegou ao poder, tornando-se o rei
dos judeus, dando início à dinastia dos chamados asmoneus que durou
mais do que meio século.

10.4 Os asmoneus (142-63 a.C.)


O termo “asmoneu”, de acordo com o historiador Flávio Josefo, advém
de “Ashmon”, que é o nome do pai de Matatias, o guerreiro macabeu, citado
anteriormente. Por consequência, o termo “asmoneu” passou a designar
todos os descendentes dos macabeus. Trata-se, portanto, de uma família
de sumos sacerdotes e reis que governou a Judeia entre 142 e 63 a.C.
Os asmoneus aproveitaram para exercer o poder na Judeia diante
da oportunidade deixada pela decadência selêucida e o crescimento do
poder e da influência de Roma em toda aquela região.
É de fundamental importância a compreensão dessa época da dinastia
asmoneia para compreensão da Bíblia, sobretudo do Novo Testamento,
pois esse foi o momento histórico que antecedeu a chegada do império
romano na Judeia. Jesus viveu no período da dominação de Roma. Vale
ressaltar que toda a história dos asmoneus não é registrada na Bíblia.
Os membros dessa dinastia que merecem destaque são:

10.4.1 João Hircano (135–105 a.C.)


João Hircano (135–105 a.C.), filho de Simão, foi nomeado sumo sacer-
dote após a morte de seu pai. Ele passou a deter o governo da Judéia sob
os títulos de sacerdote e etnarca. Essa figura se tornou tão importante
que até mesmo o historiador Flávio Josefo chegou a atribuir-lhe o dom
de profecia.
Nos primeiros anos de seu reinado, a Judéia estava cada vez mais
dependente dos selêucidas. Entretanto, ao passo que os selêucidas
foram arruinados pelos partos, a dinastia asmoneia ficou totalmente
livre, autônoma.
Diante disso, João Hircano começa a se comportar como um gover-
nante bastante agressivo. Por meio de campanhas militares, ele esten-

90
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

deu a influência da cultura judaica sobre Edom e obrigou os idumeus a


aceitar a circuncisão; ambos os povos eram pagãos. Além disso, atacou
os samaritanos e destruiu seu templo no Monte Garizim e reincorporou
a Galileia ao território da Judeia.
Na época de sua ascensão, os fariseus tinham João Hircano como o
seu candidato favorito dos fariseus. Posteriormente, entretanto, por causa
de uma disputa, ele foi expulso do governo. Diante disso, os saduceus se
tornaram o partido favorecido.

10.4.2 Aristóbulo I (105–104 a.C.)


Aristóbulo I (105–104 a.C.), filho de João Hircano, assumiu o título de
rei, portanto, ele é considerado como, de fato, o primeiro monarca dessa
dinastia. Ao chegar ao trono, prendeu seus irmãos e sua mãe, que havia
sido nomeada herdeira de João Hircano (104 a.C.). Ele manteve, como
corregente, Antígono, que era o próximo na sucessão, entretanto não lhe
deu o título de rei. Sabe-se, por conta dos relatos de Flávio Josefo, que
Aristóbulo mandou matar Antígono durante a Festa das Tendas depois
de suspeitar que ele desejava o trono.
Segundo as informações de Flávio Josefo, Aristóbulo I reinou apenas
por um ano. Em 103 a.C., ele sucumbiu a uma doença. Sua interpretação
foi que a enfermidade foi uma punição divina por ter perseguido e matado
membros de sua família. Por fim, ele foi assassinado.
Alexandra Salomé, a mulher de Aristóbulo I, depois de sua morte,
ordenou que seus irmãos fossem libertados do cárcere. Salomé instituiu
em seu cunhado, Alexandre Janeu, como rei.

10.4.3 Alexandre Janeu (104–76 a.C.)


Alexandre Janeu (104–76 a.C.), irmão de Aristóbulo I, se casou com
sua cunhada, a viúva real, Alexandra Salomé, e recebeu o trono. Ele foi um
monarca determinado a expandir o seu território, mediante campanhas
militares e a disseminação da cultura judaica. Com isso, o reino atingiu
sua maior extensão, assemelhando-se ao tamanho do que era no período
de Davi e Salomão.
Todo esse processo de conquista e expansão conduziu a guerras
contra potências como o Egito ptolomaico e os nabateus. Alexandre
conquistou muitas cidades gentias próximas e escravizou seus cida-
dãos. Em adição, por exemplo, ordenou que os moabitas e os gileaditas
pagassem tributo a Israel.
De acordo com as fontes de Flávio Josefo, ele também foi implacá-

91
A melhor sequência para ler a Bíblia

vel contra os seus compatriotas rebeldes. Em resposta a uma revolta de


alguns judeus durante a Festa das Tendas, um de seus auxiliares chegou
a matar mais de 6.000 insurgentes. Quando essa oposição foi derrotada,
Alexandre Janeu ordenou que 800 subversivos fossem crucificados no
meio da cidade, com suas famílias mortas diante de seus olhos.
Flávio Josefo chegou a relatar, inclusive, excentricidades de Alexandre
Janeu. O historiador afirma que ele bebia e se deitava com suas concubinas.
Isso teria o levado a problemas com os fariseus. Diante do conflito, deixou
instruções para sua viúva melhorar a situação. Ele acabou morrendo de
causas naturais durante uma campanha militar.

10.4.4 Alexandra Salomé (75-67 a.C.)


Em seu leito de morte, Alexandre Janeu passou a autoridade de seu
reino para sua esposa, Alexandra Salomé, que acabou sendo quem teste-
munhou a queda gradativa da dinastia asmoneia. Flavio Josefo afirma que,
estando prestes a morrer, ele a aconselhou a dar aos fariseus, partido que
era muito influente entre o povo, alguma autoridade, como consultá-los
em todas as ações reais e entregar-lhes seu cadáver. Alexandra seguiu
suas instruções. Os fariseus, reconciliados com o governo, tornaram-se
administradores e agentes públicos de destaque. De acordo com Josefo,
nesse período, eles detinham o verdadeiro poder.
Alexandra Salomé fez de seu filho, Hircano II, o sumo sacerdote.
Mas privou o outro, Aristóbulo II, do serviço público, durante seu man-
dato. Quando ela adoeceu, Aristóbulo II tentou ser rei. Isso gerou uma
oposição de seu irmão. Diante desse conflito, um acordo foi realizado.
Aristóbulo II assumiu o trono e Hircano II manteve os privilégios por
ser um irmão do rei.
Na história, surge agora um personagem importante, Antípatro II,
governador da Idumeia e pai de Herodes, o Grande. Ele convenceu Hir-
cano II a tomar o trono de seu irmão, de acordo com Flávio Josefo. Nesse
contexto, ambos irmãos pediram que Roma interviesse no conflito.
Esse foi o momento no qual o general romano Pompeu levou João
Hircano sob custódia e conquistou Jerusalém para o Império Romano.
As elites da capital dos judeus foram divididas entre os partidários de
Aristóbulo II e Hircano II. Muito hábil do ponto de vista político, o militar
romano reconheceu Hircano II como sumo sacerdote e etnarca.
Com essa intervenção, segundo informações de Flávio Josefo, Roma
reclamou todas as posses do reino fora da Judeia. Nesse sentido, entre
64 e 63 a.C., os romanos transformaram a Judeia num estado vassalo,

92
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

governado por uma aristocracia. Hircano II permaneceu como sumo


sacerdote até 40 a.C. Aristóbulo II foi levado para Roma. A Dinastia dos
asmoneus foi efetivamente encerrada quando a Judeia foi anexada à
província romana da Síria.

10.5 A dominação grega

10.5.1 Livros que contextualizam, historicamente, o que está aconte-


cendo no período

10.5.1.1 1Macabeus (175-134 a.C.)

Dia 1Macabeus – Leia os capítulos Data

182 1-4

183 5-8

184 9-12

185 13-16

10.5.1.2 2Macabeus (180-161 a.C.)

Dia 2Macabeus – Leia os capítulos Data

186 1-4

187 5-8

188 9-12

189 13-15

10.6 Livros que foram escritos nesse período

10.6.1 Ester (foi escrito por volta de 350 a.C., mas se refere a uma per-
sonagem que viveu durante entre o período do exílio da Babilônia e a
dominação persa, mais ou menos, 597 a.C.)

93
A melhor sequência para ler a Bíblia

Dia Ester – Leia os capítulos Data

190 1-4
191 5-8
192 9-12
193 13-16

10.6.2 Eclesiastes (foi escrito por volta de 250 a.C. – mas o livro foi atri-
buído a Salomão que reinou entre 970/60 e 931 a.C.)

Dia Eclesiastes – Leia os capítulos Data

194 1-4
195 5-8
196 9-12

10.6.3 Eclesiástico (por volta de 180 a.C.)


Dia Eclesiástico - Leia os capítulos Data

197 1-4

198 5-8

199 9-12

200 13-16

201 17-20

202 21-24

203 25-28

204 29-32

205 33-36

206 37-40

207 41-45

208 46-51

94
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

10.6.4 Daniel (deve ter sido editado por volta de 165 a.C., mas se refere a um
personagem situado durante o período do exílio da Babilônia, entre 598 e 539 a.C.)

Dia Daniel – Leia os capítulos Data

209 1-5

210 6-10

211 11-14

10.6.5 Judite (deve ter sido escrito por volta de 165 a.C., mas se refere a uma
personagem situada durante o período do exílio da Babilônia, entre 598 e 539 a.C.)

Dia Judite - Leia os capítulos Data

212 1-4

213 5-8

214 9-12

215 13-16

10.6.6 Sabedoria (deve ter sido escrito por volta de 60 a.C., mas o livro foi atri-
buído a Salomão que reinou entre 970/60 e 931 a.C.)

Dia Sabedoria - Leia os capítulos Data

216 1-4

217 5-8

218 9-12

219 13-16

220 17-19

95
A melhor sequência para ler a Bíblia

Apêndice – Salmos e Provérbios

O
leitor, até aqui, pode se perguntar: “afinal, onde estão situados os
livros de Salmos e Provérbios?” Essa é uma pergunta muito difícil
de ser respondida, já que essas obras têm um processo redacio-
nal complexo. Basicamente, ambas são coletâneas que foram escritas e
compiladas ao longo de vários séculos.
No caso do livro dos Salmos, pode-se dizer que existem orações da-
tadas do período pré exílico, sobretudo do momento da monarquia, até
o final de sua organização que, geralmente, se situa por volta dos anos
400 a.C. Quase o mesmo é possível ser afirmado sobre Provérbios. Uma
possível diferença diz respeito à sua compilação e organização final que
deve ter sido mais tardia, por volta dos anos 300 a.C.
Aqui, não será tratado de modo mais profundo o conteúdo desses
livros. Abaixo, porém, estão presentes os planos de leitura anuais. Boa
leitura!

11 SEQUÊNCIA DE LEITURA DA BÍBLIA EM UM ANO: SALMOS

Dia Salmos – Leia os capítulos Data

221 1-4

222 5-8

223 9-12

224 13-16

225 17-20

226 21-24

96
PARTE III: A sequência histórica dos livros do Antigo Testamento

227 25-28

228 29-32

229 33-36

230 37-40

231 41-44

232 45-50

233 51-54

234 55-58

235 59-62

236 63-66

237 67-70

238 71-74

239 75-78

240 79-82

241 83-86

242 87-90

243 91-94

244 95-98

245 99-102

246 103-106

97
A melhor sequência para ler a Bíblia

247 107-110

248 111-114

249 115-118

250 119-122

251 123-126

252 127-130

253 131-134

254 135-138

255 139-142

256 143-146

257 147-150

12 SEQUÊNCIA DE LEITURA DA BÍBLIA EM UM ANO: PROVÉRBIOS

Dia Provérbios – Leia os capítulos Data

258 1-4

259 5-8

260 9-12

261 13-16

262 17-20

263 21-24

264 25-28

265 29-31

98
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

Parte IV - A Sequência

4
histórica dos livros do
Novo Testamento

F
inalmente, chegamos ao período do Novo Testamento. Até aqui, o
que se viu no livro foi o conjunto dos momentos históricos con-
cernentes ao Antigo Testamento e ao período que antecedeu a
chegada do Império Romano na região da Judeia, depois da ascensão e
declínio da dinastia asmoneia.
Do ponto de vista da sequência histórica de leitura da Bíblia, o Novo
Testamento é mais organizado, embora existam alguns pequenos ajustes,
como nas cartas de Paulo, já que elas não estão organizadas no cânon na
ordem cronológica, mas sim por causa do tamanho dos escritos.
Desse modo, a primeira parte deste capítulo consistirá na apresen-
tação de um apanhado histórico da presença dos romanos na região. Isso
dará base para uma leitura e interpretação mais acurada dos 27 livros do
Novo Testamento. Depois, será feita a exposição por blocos de livros de
alguns elementos fundamentais que contribuirão na compreensão de
todo o material canônico produzido pela Igreja primitiva.

12.1 O período do Império romano


Já foi tratado, no final da parte IV, do modo como os romanos, che-
fiados pelo general Pompeu, chegaram à conquista da região da Judeia,
mediante sua intervenção no conflito entre Aristóbulo II e Hircano II. O
que será exposto a seguir constitui-se mais na apresentação de alguns
fundamentos histórico-contextuais a fim de que o leitor tenha elementos
para interpretação do Novo Testamento.
Como visto, Roma se posicionou de modo favorável, num primeiro
momento, a Hircano II, tendo-o instalado como etnarca; uma espécie de
mandatário cliente dos romanos. O Império, sobretudo quando se tratava
de um território recentemente anexado ao seu poder, tinha a política
de governar mediante a figura de um rei-procurador. Geralmente, essa

99
A melhor sequência para ler a Bíblia

forma de governo era adotada, porque, para o Império, era difícil sub-
meter algum novo território pela imposição de uma autoridade romana.
É bom ressaltar que alguns reinos aliados dos romanos serviam para
ocupar as lacunas territoriais, nas quais o Império não tinha contingente
militar suficiente. Desse modo, não raras vezes, esses reis-clientes com-
batiam os inimigos imperiais com suas próprias forças armadas. Portanto,
esse foi um dos modelos de governança mais convenientes para os romanos.
Hircano II governou em representação de Roma na região da Judeia,
além da Galileia e de algumas comunidades da Transjordânia, como a
Pereia. Porém, não tinha controle da costa mediterrânea, visto que essa
responsabilidade tinha a possibilidade de transporte e comércio.
A queda de Hircano II começou. Quando Pompeu terminou a imple-
mentação das primeiras decisões administrativas e políticas em Jerusalém,
voltou a Roma, mas levou como prisioneiros Aristóbulo II e seus dois filhos,
Alexandre e Antígono. No decorrer dessa viagem, Alexandre conseguiu
fugir, evitando, assim, a prisão romana.
Em meio a esses conflitos, Antípatro, governador da Idumeia e pai
de Herodes, o Grande, foi desenvolvendo sua liderança regional. Como
um bom administrador, ele aproveitou as fraquezas de João Hircano II e
aumentou sua influência na Judeia. Mais tarde, esse será o Herodes da
época do nascimento de Jesus.
Alexandre, que havia escapado de Pompeu em sua viagem a Roma,
em 57 a.C., organizou um exército de opositores à presença do Império
Romano na região e iniciou uma guerra contra os grupos que apoiavam
a presença imperialista de Roma na Palestina.
Gabino, o governador da Síria, em reação aos ataques, autorizou o
general Marco Antônio a reprimir aquele levante armado de Alexandre.
A derrota do filho de João Hircano II se deu numa batalha perto de Jeru-
salém, ao se render.
Diante disso, a fim de que outras revoltas não ocorressem, Gabino
ordenou a destruição das fortalezas de Jerusalém e de outras comuni-
dades judaicas. Ademais, tirou, de modo mais intenso, poderes de João
Hircano II, dividindo seu território em cinco distritos que eram adminis-
trados por conselhos, detentores de plenas autoridades política, social
e econômica. Os distritos eram: Jerusalém, Gezer e Jericó, na Judeia; e
Perea e Séforis, na Galileia.
João Hircano II foi renomeado sumo sacerdote, mas não rei, o que o
privou de autoridade política. Porém, mais à frente, Júlio César restaurou
parte dessa autoridade, nomeando-o etnarca em 47 a.C.

100
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

Tempos depois, Antígono, filho de Aristóbulo, foi proclamado rei e


sumo sacerdote em 40 a.C. Hircano II acabou preso e levado à Babilônia;
lá, suas orelhas foram mutiladas. Isso o tornou permanentemente inele-
gível para servir como sumo sacerdote.
Em 36 a.C., Herodes, o Grande, que se tornara rei da Judeia no ano
anterior, convidou Hircano II a retornar a Jerusalém. Foi um estratagema,
entretanto, já que Herodes estava procurando uma razão para eliminar
uma ameaça potencial. Em 30 a.C., Hircano II foi acusado de conspirar
contra Herodes e foi julgado e executado.

12.2 O poder político na época de Jesus

12.2.1 Herodes, o Grande


Herodes, o Grande, também conhecido pelo nome latino “Herodes
Magno”, nasceu, muito possivelmente, na década de 70 a.C. Como Já
foi dito, ele era filho de Antípatro, Rei Idumeu, que teve contato com
João Hircano II.
A família de Herodes era extremamente leal a Roma. Isso permitiu
que ele recebesse o governo da região da Galileia, da parte de seu pai e
dos mandatários romanos, por volta de 45 a.C.
Em 42 a.C., Antípatro foi assassinado, fazendo com que Herodes
ocupasse a posição de seu pai. A aristocracia judaica, contrária a ele,
apelou a Roma na tentativa de impedí-lo de assumir o poder. Os ro-
manos, no entanto, apoiaram-no, já que ele e seu pai eram ferozmente
leais ao império.
Por parte de alguns judeus, houve revolta contra Herodes. O asmoneu
Matatias Antígono juntou forças com os partos - o temido inimigo de
Roma no leste - para expulsar Herodes e Roma da Judeia. Roma, entre-
tanto, declarou Herodes rei da Judéia em 40 a.C. Fato que o fortaleceu
e, três anos depois, ele finalmente derrotou Antígono e os partos para
restabelecer o precedente romano e recuperar seu trono.
Herodes foi muito perspicaz e formou um exército com soldados
estrangeiros, centralizou sua burocracia e começou a construir seus
projetos arquitetônicos por toda a região a fim de agradar tanto ju-
deus quanto romanos. Pode-se dizer que ele foi o maior construtor
daquela terra na antiguidade. Diversas cidades, fortalezas e prédios
suntuosos foram erguidos por esse homem. Ele reformou e ampliou
o Templo de Jerusalém, um feito surpreendente que cativou os co-
rações de seus súditos judeus.

101
A melhor sequência para ler a Bíblia

Seu governo durou 33 anos. Suas ações, ao longo desse período,


renderam-lhe a reputação de restaurador da ordem, governante feroz
e paranoico. Herodes exerceu o poder com uma autoridade dura e ab-
soluta. Acabou com toda rebelião. Eliminou todos os adversários.
Herodes foi tão paranoico com a possibilidade de perder o poder que,
até mesmo, perseguiu os seus familiares. O rei dos judeus chegou a assas-
sinar seus próprios filhos e sua esposa favorita, Mariamme. Pelo império,
se dizia: “é melhor ser um cachorro de Herodes do que ser seu filho!”.
Da mesma forma implacável, Herodes assumiu o controle de ins-
tituições importantes, como o Sinédrio e o alto sacerdócio, usando-os
e seu exército pessoal para manter a hegemonia. O resultado de seu
estilo inflexível e decisivo foi um período de paz e prosperidade de
quase 15 anos.
Para muitos judeus ele foi um grande rei do ponto de vista econô-
mico e social. Herodes promulgou diversas medidas que atendiam às
necessidades do povo. Em tempos de fome, ele sustentou os que estavam
em necessidade com seus recursos pessoais. Providenciou empregos
em toda a Judeia.
Do ponto de vista religioso, Herodes foi rigoroso em sua observância
de aspectos culturais que fortaleciam a tradição judaica. Ele proibiu a
fabricação e proliferação de imagens e representações de divindades
pagãs, enfraquecendo a idolatria. Ele mesmo aderiu às estipulações da
Lei sobre a circuncisão. Nesse sentido, foi radical, impedindo que sua
irmã se casasse com um árabe que não queria ser circuncidado.
De fato, Herodes foi uma figura ambígua; temido e amado. Mas, há
que se destacar que os últimos anos de seu governo não foram tão bons
assim. Os anos 13-4 a.C. foram cheios de malícia política, execuções,
disputas familiares, guerra e confrontos até mesmo com Roma. Nesse
momento de sua vida, ele perdeu o favor de muitos de seus partidá-
rios judeus, os herodianos, depois de colocar uma águia dourada - um
símbolo do Império de Roma - sobre o portão do Templo de Jerusalém.
Esses atos podem ter acontecido por conta de problemas psicológicos
e psiquiátricos severos que ele teve, muito possivelmente.
Isso tudo fez com que o Novo Testamento o caracterizasse como
um tirano que mandou matar os meninos judeus, menores de dois anos
(cf. Mt 2,16). Em seu leito de morte, ordenou que muitos judeus impor-
tantes da sociedade fossem mantidos como prisioneiros e executados
para que houvesse luto por sua morte, em toda a Judeia. Herodes morreu
em descrédito. Seu sucessor foi seu filho, Arquelau (cf. Mt 2,22).

102
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

12.2.2 Os filhos de Herodes, o Grande


Herodes se casou com 10 mulheres e teve 15 filhos com elas. Os
nomes de suas esposas são: Doris, Mariamme I, Mariamme II, Mal-
thace, Cleópatra, Pallas, Phaedra e Elpis (os nomes das duas esposas
restantes são desconhecidos).
Aqui, serão tratados apenas dos filhos mais importantes para a com-
preensão do Novo Testamento, isto é, aqueles que a pedido de Herodes
ficaram de assumir o poder, após a divisão das terras que estavam sob
seu poder: Arquelau; Herodes Antipas; Herodes Filipe (cf. Lc 3,1).

12.2.2.1 Arquelau
Arquelau é mencionado pelo nome apenas uma vez no Novo Tes-
tamento em Mt 2,22. Antes disso, na narrativa de Mateus, os magos
haviam informado Herodes, o Grande, sobre o nascimento do Rei dos
Judeus, Jesus.
O reinado de Arquelau foi tumultuado, de acordo com os poucos
registros históricos existentes. Conforme Flávio Josefo, ele depôs vá-
rios sumos sacerdotes, em Jerusalém, com finalidade de atender seus
próprios interesses políticos.
Flávio Josefo informou que Arquelau transgrediu a lei judaica do
levirato ao se casar com a esposa de seu irmão (cf. Dt 25,5-10). Arquelau
se divorciou de sua esposa, rapidamente, para se casar com Glaphyra.
Entretanto, pelo fato de que ela já tinha três filhos com seu ex-marido,
fez com que essa união fosse ilegal.
Os detalhes da queda de Arquelau não são claros. Estrabão, historia-
dor da antiguidade, afirmou que Arquelau, Antipas e Filipe não tiveram
êxito em seus reinados. Porém, apenas Antipas e Filipe foram autorizados
a retornar ao governo, enquanto Arquelau foi banido.
Após seu banimento, o território de Arquelau foi anexado pelo
Império Romano e se tornou uma província romana governada por
governadores romanos.

12.2.2.2 Herodes Antipas


Após a morte de Herodes, o Grande, seu filho Antipas serviu
como tetrarca na Galileia (cf. Mc 14,1; Lc 3,1). Ele é o Herodes mais
citado nos Evangelhos; pois reinou ao longo dos os anos do exercício
ministerial de Jesus.
Antipas herdou alguns dos métodos astutos de seu pai, já que Jesus
se referiu a ele como uma “raposa” (cf. Lc 13,32). Foi ele quem mandou

103
A melhor sequência para ler a Bíblia

decapitar João Batista (cf. Mc 6,14-15).


Herodes Antipas também é mencionado no julgamento de Jesus
(cf. Lc 23,6–12).

12.2.2.3 Herodes Filipe


Filipe, filho de Herodes, também é mencionado como o tetrarca
da região norte do reino (cf. Lc 3,1). Ele foi o construtor da cidade de
Cesareia de Filipe, que inclusive levou esse nome com a finalidade ho-
menagear o imperador César. Esse local foi palco do diálogo de Jesus
com Pedro em Mt 16,13s.

12.2.3 Os imperadores romanos na época de Jesus


A vida de Jesus se deu no tempo de dois imperadores romanos:
César Augusto (27 a.C. – 14 d.C.) e Tibério (14 – 37 d.C.).

12.2.3.1 César Augusto (27 a.C. – 14 d.C.)


César Augusto nasceu em setembro de 63 a.C. e, antes, se chama-
va Caio Otávio. O senado romano deu-lhe o nome de “Augusto”, que
significa “venerável”, “consagrado” ou “extraordinário”, em 27 a.C. para
homenagear sua vitória sobre o Egito. A partir desse feito, ele obteve o
controle exclusivo do império e reinou de 27 a.C. a 14 d.C.
Como um administrador, foi duro e implacável em relação aos seus
opositores. Ele restaurou a ordem no império, depois de duas décadas de
conflitos por conta de guerra civil. Augusto foi responsável por inaugurar o
que ficou conhecido como a “Idade de Ouro de Roma”, ou seja, um período
em que se experimentou a “Pax Romana” ou “Pax Augusta”, que significa
“Paz Romana” ou “Paz de Augusto”. Isso tudo durou cerca de 250 anos.

12.2.3.2 Tibério (14 – 37 d.C.)


Tibério foi imperador de Roma entre os anos 14 e 37 d.C. Ele também
foi chamado de Tibério César ou Tibério Claudio Nero – esse não é o
Nero que perseguiu os cristãos -. O fato importante é que foi ele quem
governou o império durante a vida de Jesus de Nazaré.
Na Bíblia, ele é citado uma vez pelo nome, em Lucas 3,1. Porém,
há mais referências a ele. Jesus, ao falar do imposto devido ao Império,
fala de César; no caso, trata-se de Tibério. Ademais, é sobre ele que o
Nazareno e Pilatos estão conversando, durante o julgamento de Jesus
(cf. Mt 22,15–22; Mc 12,13–17; Lc 20,19–26; 23,1-7; Jo 19,1-15). Por fim, foi
ele que baniu os judeus de Roma.

104
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

12.2.4 Quem foi Pôncio Pilatos?


Muito do que se tem de informação a respeito de Pilatos advém do
historiador Flávio Josefo, do filósofo judeu Fílo e do próprio Novo Tes-
tamento. Embora alguns escritores clássicos, como Tácito, tenham-no
citado, o conteúdo são apenas notas breves. Portanto, a vida de Pilatos
não é conhecida em detalhes.
Com o insucesso de gestão dos filhos de Herodes, sobretudo de
Arquelau, Roma se viu na necessidade de colocar mandatários romanos
para controlar a região da Judeia. Nesse sentido, o quinto prefeito ou go-
vernador romano desse território foi Pôncio Pilatos. Ele exerceu o poder
entre os anos 25 e 36 d.C., justamente, o tempo em que serviu se deu o
julgamento e a crucificação de Jesus de Nazaré, sob o comando de Tibério.
A fama de Pilatos como governador era de crueldade e indecisão. Há
um relato de que ele teria revoltado um grupo de judeus por ter utilizado,
em Jerusalém, adornos com a imagem de César, o que feria a proibição de
se utilizar imagens. Com isso, alguns membros da elite judaica foram até
Cesareia, pedindo-lhe a remoção dos estandartes. Passados cinco dias,
ele permitiu que seus soldados executassem muitos na multidão que se
reunira em protesto. Somente no sexto dia, ordenou que os estandartes
fossem levados de volta a Cesareia.
Pilatos usou dinheiro do tesouro do Templo, segundo informações
de Flávio Josefo, com a finalidade de construir um aqueduto para levar
água a Jerusalém. Diante disso, os judeus fizeram tumultos ao protesta-
rem contra essa medida. Com isso, mais sangue foi derramado, ao enviar
tropas disfarçadas para matá-los. Há quem entenda que esse evento foi
citado por Lucas 13,1-2.
O ápice de sua forma violenta de lidar com as crises se deu em 36 d.C.,
quando matou vários samaritanos que estavam reunidos no Monte Gari-
zim. Em resposta, os samaritanos buscaram ajuda do governador romano
da Síria, Vitélio. Esse ordenou que Pilatos respondesse por esse feito. Por
fim, outro prefeito foi enviado para substituí-lo, conforme relata Josefo.
Eusébio de Cesareia, bispo e historiador cristão do século IV d.C.,
relatou que Pilatos foi forçado a cometer suicídio por ordem do impe-
rador Calígula após 37 d.C. Já uma antiga tradição oriental diz que ele
se converteu ao cristianismo. Não sabemos com exatidão o fim desse
personagem emblemático da história do ocidente. Fato é que ele é o
assunto de muitas lendas e escritos apócrifos, incluindo os Atos de
Pilatos e a Morte de Pilatos. Até a década de 1960, a Igreja Ortodoxa da
Abissínia, um ramo da Igreja Copta, situada no norte da Etiópia, cele-

105
A melhor sequência para ler a Bíblia

brava uma festa em homenagem a Pilatos em 25 de junho e outra para


sua esposa em 27 de outubro.

12.3 O poder religioso na época de Jesus


É importante conhecer alguns dos pontos fundamentais do poder
religioso na época de Jesus a fim de que se faça uma interpretação mais
acurada dos eventos narrados no Novo Testamento. Aqui, eles serão ex-
postos de maneira breve.

12.3.1 A estrutura do Templo


A estrutura do Templo de Jerusalém que havia sido reformado e
ampliado por Herodes, o Grande, impressionava a todos que o visitavam.
Sabe-se que Herodes cercou todo o local onde o prédio estava construído
com pórticos fabulosos, sobretudo a porta real, situada na parede sul.
Pelos portões de Huldah, onde arcos duplos e triplos ainda po-
dem ser vistos, os adoradores subiam por passagens fechadas para o
pátio dos gentios. Aí, inscrições gregas separavam o local reservado
às mulheres e dos locais mais sagrados, nos quais somente os homens
judeus podiam entrar.
O Templo de Jerusalém é o lugar onde ocorreram diversas pas-
sagens do Novo Testamento, como: o anúncio do nascimento de João
Batista (cf. Lc 1,11–20); a apresentação de Jesus e a saudação de Simeão
e Ana (cf. Lc 2,22–38); a visita, a perda e o encontro do menino Jesus
com 12 anos (cf. Lc 2,42–51); os vários ensinamentos de Jesus (cf. Jo
7,14); a expulsão dos vendilhões (cf. Mt 21,12-13; Mc 11,15-19; Lc 19,45-
46); a cura do coxo, pela oração de Pedro e João (cf. At 3); a prisão de
Paulo (cf. 21,27-33); entre outros.
O Templo era o lugar da habitação de Deus para o povo judeu. Era
onde sua “glória” habita (ou, como foi dito durante o período rabínico,
sua “Presença” - shekhinah). O livro do Deuteronômio identifica Je-
rusalém como o único “lugar”, onde o Senhor deve ser adorado (cf. Dt
12,5-14), e sacrifícios, em outros lugares, eram expressamente proibidos
(cf. Dt 12,13-14).
Essa limitação estrita do sacrifício a Jerusalém criou a regra da
peregrinação. Diante disso, os judeus tinham, em seu calendário anual,
três festas para s quais deviam ir à capital: a Páscoa, o Pentecostes e as
Tendas (cf. Ex 23,14-17; 34,18-23).
A legislação sacerdotal na Bíblia define uma variedade de ofertas
e sacrifícios que seriam exigidos a depender da ocasião, seja por faltas

106
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

cometidas, seja para celebração de ação de graças (cf. Lv 1-7).


Um aspecto interessante das leis sobre sacrifícios constitui-se no fato
de que as ofertas estão relacionadas à situação financeira de cada pessoa.
Se alguém fosse pobre, menos era exigido, por exemplo (cf Lv 5,7–13).
O altar era o local de dois sacrifícios diários obrigatórios. A Torá pres-
crevia que em todos os dias um cordeiro deveria ser oferecido: um pela manhã
e outro à noite (cf. Ex 29,38–42; Nm 28,4.8). Além disso, existiam instruções
detalhadas sobre as ofertas feitas durante cada sábado (cf. Nm 28,9–10); em
cada lua nova (cf. Nm 28,11–15); e em cada festividade (cf. Nm 28-29).
Os sacrifícios envolviam animais em alguns casos e produtos secos
em outros; frequentemente, ambos eram estipulados junto de libações,
um ritual de derramamento de água, vinho ou sangue. Os materiais ne-
cessários para o sacrifício exigiam que houvesse lugares para os animais,
equipamentos para manuseá-los e meios para lavar o sangue e jogar fora o
lixo resultante. De acordo com a legislação bíblica, apenas os sacerdotes
tinham permissão para oficiar no altar (cf. Ex 28; Nm 18).
Para que todo o sistema do Templo funcionasse, havia um gasto fi-
nanceiro enorme. Desse modo, além das doações que eram feitas, existia
um modo mais comum para o arrecadamento dessa instituição, o imposto
anual de meio siclo que era cobrado de todos os judeus adultos. A pres-
crição da Torá, em Ex 30,11-16, já havia sido dada durante o tempo em que
Israel estava no deserto (cf. Ex 38,26).
No período de Esdras e Neemias, os judeus tinham o compromisso
de doar anualmente um terço de um siclo, para a manutenção de todo o
sistema do Templo. Ademais, havia as ofertas pelo pecado, cuja finalidade
era para fazer expiação dos pecados e impurezas (cf. Ne 10,32–33).
É possível que Mt 17,24-27 esteja falando sobre esse imposto anual
para o Templo de Jerusalém, já que os judeus, em todo o império, foram
obrigados a pagar o tributo anual.
Houve, por parte dos judeus, uma revolta em 66 d.C. Para contê-la,
o imperador romano Vespasiano e seu filho, o general Tito, reprimi-
ram violentamente todo movimento rebelde. Com isso, o Templo de
Jerusalém foi destruído, em 70 d.C. Desde então, ficou a esperança
judaica de sua reconstrução.

12.3.2 Os sacerdotes no tempo de Jesus


Os sacerdotes eram descendentes de Aarão, o irmão de Moisés, e
somente eles, podiam servir no altar do Templo de Jerusalém (cf. Ex 28–29;
Nm 18,1–20). Além deles, havia outro grupo de sacerdotes que servia em

107
A melhor sequência para ler a Bíblia

toda a estrutura, os levitas e seus subgrupos especializados, como cantores


e porteiros. Esses estavam subordinados aos aaronitas (cf. Nm 16; 18,21-32).
Os sacerdotes eram compensados por seu trabalho, recebendo partes
estipuladas de muitos tipos de sacrifícios, contribuições e um décimo
dos dízimos dados aos levitas. Entre os sacerdotes, havia vários níveis de
autoridade, e no topo de toda a classe estava o próprio sumo sacerdote.

12.3.2.1 O sumo Sacerdote


O sumo sacerdócio era um ofício hereditário que foi transmitido
na linha de Sadoc, o sacerdote líder de Jerusalém, na época de Davi. Por
mais de três séculos, houve a passagem desse cargo de pai para filho. Para
se ter uma ideia, a Bíblia relata que o primeiro sumo sacerdote, após o
exílio da Babilônia, foi Josué, filho de Josedec, que, por sua vez, era filho
do último sumo sacerdote no primeiro templo (cf. 1Cr 6,14–15; 2Rs 25,18).
Essa transmissão hereditária foi interrompida, e isso foi uma exceção,
no século III a.C., quando um herdeiro ao posto era muito jovem para as-
sumir o cargo e dois homens mais velhos da família se tornaram o sumo
sacerdote, antes do jovem Onias II assumir. Essa prática durou até que o
rei selêucida Antíoco IV nomeou Jasão, irmão de Onias III, sumo sacerdote
no lugar de seu irmão em 175 a.C., como foi visto acima.
Na época de Jesus e da Igreja apostólica, os sumos sacerdotes foram
três: Caifás (cf. Mt 26,3.57; Lc 3,2; Jo 11,49; 18,13.14.24.28; At 4,6); Anás (cf.
Lc 3,2; Jo 18,13.24; At 4,6); e Ananias (cf. At 23,2; 24,1).

12.3.3 O Sinédrio no tempo de Jesus


O termo sinédrio é proveniente do grego “synedrion” e significa
“conselho”. Ele consistia, na época de Jesus, num conselho judaico de
líderes, presidido pelo sumo sacerdote.
Sobre a origem desse organismo, há muitas discussões e dificuldade
de consenso. Embora os rabinos tivessem por certo que essa instituição
era uma continuação do conselho de anciãos que ajudavam Moisés, ao
longo da peregrinação dos israelitas pelo deserto (cf. Ex 24,1), não há
conexão provável.
No tempo de Cristo, o Sinédrio agia como um órgão consultivo do
governador romano, mas tinha o poder de tomar decisões finais sobre
questões de interpretação da lei judaica e até mesmo de agir em casos
criminais, sujeito à aprovação do mandatário romano.
Esse é o conselho perante o qual o Jesus (cf. Mt 26,59) e os apóstolos
foram apresentados (cf. At 4,15–18; 22,30; 23,1).

108
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

12.3.4 As sinagogas no tempo de Jesus


A palavra sinagoga é uma transliteração do termo grego “synagoge”
e significa “reunião”. Ele se refere tanto a uma congregação de judeus
que se reúnem para a realização das orações e estudo da Torá quanto,
também, para a designação do prédio onde isso ocorre. A sinagoga não é
o Templo, ou seja, nela não se realizam sacrifícios.
Jesus frequentava as sinagogas, sobretudo, da região da Galileia, nelas:
Ele costumava ir aos sábados (cf. Lc 4,16); ensinava e pregava (cf. Mt 4,23;
9,35; Mc 1,39; Lc 4,44); curava (cf. Mc 1,21–28; Lc 4,31–37).
Diversas vezes, porém, nas sinagogas, Jesus enfrentou oposições.
Em algumas delas, sua pregação e seu ensino despertaram fortes reações
negativas (cf. Mt 13,54–58; Mc 6,1–6; Lc 4,16–30). Tudo isso, porque alertou
contra a hipocrisia daqueles que exibiam sua pretensa obediência às leis
judaicas na sinagoga. Ele advertiu contra fazer doações e orar para ser
visto e elogiado (cf. Mt 6,2.5), também repreendeu aqueles que buscavam
os assentos principais (cf. Mt 23,6; Mc 12,39; Lc 11,43; 20,46).
À medida que a oposição a Jesus aumentava, advertiu seus discípulos
sobre o fato de que seriam perseguidos nas sinagogas (cf. Mt 10,17; 23,34;
Mc 13,9; Lc 12,11; 21,12).
Por último, é importante ressaltar que havia sinagogas, não apenas
no território judeu, mas em diversos lugares do Império Romano, e até
mesmo para além de suas fronteiras. Onde estava uma comunidade ju-
daica, muito possivelmente, aí estava essa instituição.

12.3.5 Os partidos religiosos na época de Jesus


No judaísmo da época de Jesus, não havia consenso em muitos as-
pectos da fé. Pelo fato de que na cultura cristã, sobretudo no catolicis-
mo, a unidade foi muitas vezes a prioridade, fica um pouco mais difícil
compreender que, para os diversos grupos judaicos, era normal haver
discussões sobre suas crenças, mesmo tendo o Templo de Jerusalém
como um centro difusor de ideias e da experiência religiosa.
Desse modo, existiam vários partidos religiosos. É claro que o termo
“partido” não é suficiente para dar conta do que esses grupos são. Aqui,
porém, essa será a nomenclatura utilizada.

12.3.5.1 Os Saduceus
A origem dos saduceus, provavelmente, se deu no período persa ou
helenístico. Alguns afirmam que seu início teria sido ainda mais antigo.
Fato é que, na época de Jesus, eles eram uma das três principais correntes

109
A melhor sequência para ler a Bíblia

de pensamento no judaísmo.
Eles se batizaram com esse nome em homenagem a Sadoc, o sacerdote
que já estava em Jerusalém quando Davi a conquistou. Davi e Salomão
deram suporte à descendência e à hereditariedade no sacerdócio da fa-
mília de Sadoc. Assim, o ofício de sumo sacerdote havia sido passado de
geração em geração, desde então, formando o sacerdócio sadoquita (cf.
2Sm 8,17; 1Rs 1,8; 2,35; cf. Ez 40,46; 43,19; 44,15; 48,11).
Os saduceus estavam essencialmente interessados em política e eram
fortemente influenciados pelo pensamento helenístico, o que os tornava
oponentes ferrenhos dos fariseus (cf. At 23,6s).
Na época de Jesus, os saduceus tinham pouco contato direto com o
povo, pois sendo a elite judaica composta de ricos e nobres, formavam o
grupo mais próximo ao sumo sacerdote, como um conselho (cf. At 5,17).
Assim, eles tinham a liderança política. Durante o ministério público de
Jesus, suas políticas eram, em geral, pró-romanas.
Do ponto de vista da doutrina, os saduceus e os fariseus concordaram
em reconhecer o Pentateuco ou Torá como a base da religião judaica. Os
saduceus, no entanto, rejeitaram a “tradição dos pais”, também conhecida
como a Torá Oral (Halakah), ou seja, as regras farisaicas e comentários
sobre a Lei. Em questões individuais da lei, eles julgaram ainda mais se-
veramente do que seus oponentes.
Como racionalistas declarados, eles negavam a ressurreição dos
mortos (cf. Mt 22,23; Mc 12,18; Lc 20,27; At 4,1s; 23,8) e a vida após a morte
(cf. Lc 16,27s), bem como a existência de anjos e espíritos (cf. At 23,8). Além
disso, eles não davam o devido valor aos profetas.

12.3.5.2 Os Fariseus
A palavra fariseu vem do hebraico “pharushim” e significa, possivel-
mente, “separado”. Tal nomenclatura tem relação com o fato de que eles
teriam ficado livres das influências da cultura helenista, em contraste com
os saduceus que a aderiram. Nesse sentido, o movimento surgiu como
uma contracorrente à assimilação da cultura grega.
Sobre questões políticas, enquanto os saduceus apoiaram os esforços
para alcançar a independência administrativa, após a revolta dos Macabeus,
os fariseus defenderam a separação da religião e da política, rejeitando,
inclusive, a função política do cargo de sumo sacerdote.
Os fariseus faziam oposição aos romanos, mas de forma pacífica. Por
essa razão, embora os macabeus, inicialmente, dependessem do grupo;
depois, acabou os abandonando e até os perseguindo.

110
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

Na época de Jesus, os líderes políticos, a maioria da nobreza sacer-


dotal e uma grande parte do alto conselho do Sinédrio pertenciam aos
saduceus de mentalidade helenística. No entanto, os líderes espirituais
do povo eram os fariseus. Eles, em sua maioria, não eram sacerdotes.
Os fariseus eram, na verdade, os piedosos e ortodoxos do povo que
tentavam cumprir a Torá com radicalidade (cf. Fl 3,5s). Eles acreditavam
que Deus os libertaria das mãos dos opressores, quando todos os judeus
fossem fiéis à Torá, como uma espécie de retribuição.
Eles acreditavam na existência de espíritos bons e maus, bem como na
vida após a morte e na ressurreição do corpo (cf. At 23,8). Sobre isso, Jesus
não tinha nada a criticar em seus ensinos (cf. Mt 23,2s). Apenas algumas
partes do movimento detinham uma expectativa apocalíptica iminente.
Alguns desenvolviam habilidades proféticas, realizavam missões entre os
gentios (cf. Mt 23,15) e tinham um estilo de vida simples.
A crítica de Jesus ao farisaísmo é dirigida contra o fato de que al-
guns deles viviam um processo de conversão legalista e de aparência
que relativizava o que era mais importante para a vontade de Deus, o
amor ao próximo. Para o Mestre de Nazaré, a misericórdia e a fé são mais
importantes do que observar um conjunto de regras (cf. Mt 23,23). Dessa
forma, a entrega total a Deus e o amor ao próximo deveriam ser alcan-
çados; isso é a verdadeira justiça (cf. Mt 5,20). Os conflitos entre Jesus e
os fariseus foram numerosos e, em parte, bastante intensos.

12.3.5.3 Os Doutores da Lei e escribas


Há uma questão importante sobre os escribas, quando se trata da
maneira como eles são entendidos nos 27 livros do Novo Testamento. Eles
são vistos como um grupo mais unificado, coisa que, ao compararmos
com outras fontes históricas, não ocorre. A informação bíblica, nesse
caso, talvez não seja historicamente precisa. Os escritores dos Evange-
lhos Sinóticos mostram os escribas como um grupo que faz oposição a
Jesus de Nazaré, porém não trazem muitos detalhes a respeito de suas
características.
Os escribas, apresentados nos Evangelhos Sinóticos, são mostrados
mais como burocratas e especialistas na vida judaica. Eles poderiam ter
sido funcionários de baixo escalão e juízes tanto em Jerusalém quanto
nas cidades e vilas do país. Nesse sentido, é que eles se ligam ao que se
chama, no Novo Testamento, de doutor da Lei.
Fato interessante é que a palavra “escriba” em hebraico, grego e outras
línguas tinha uma ampla gama de significados que mudaram com o tempo

111
A melhor sequência para ler a Bíblia

e podem denotar vários papéis sociais. O equivalente mais próximo, em


português, é o termo “secretário”, que se refere a funções de escritor a
oficial de gabinete, no mais alto nível de um governo.
Tanto no uso semítico quanto no grego, o escriba era comumente um
oficial do governo de nível médio, por exemplo, um “secretário” encarre-
gado do conselho municipal (cf. At 19,35). Os principais órgãos políticos
de Atenas e de outras cidades importantes do Império Romano tinham,
cada um, um escriba como um de seus oficiais.
Na época de Jesus, como a maioria da população não sabia ler nem
escrever, o escriba ganha destaque como um conhecedor das regras, das
leis e dos costumes judaicos. Assim é que eles, em diversos momentos,
serão colocados na narrativa como pessoas que tentavam colocar Jesus
à prova, a fim de incriminá-lo.

12.3.5.4 Os Zelotas
Na época de Jesus, havia também pessoas que não aceitavam o po-
der do Império Romano na região, e que, diante disso, se organizavam
de forma paramilitar a fim de fazer um enfrentamento armado contra
os opressores. Um desses grupos revolucionários é chamado de zelotas.
O termo “zelota” ou “zelote” vem do grego, “zelos”, que significa “zêlo”.
Nesse sentido, tratava-se de uma pessoa zelosa e estritamente devotada
a Deus. Por isso, é que esse grupo não se submetia, de forma alguma, ao
poder romano, já que ele era pautado na adoração do imperador como
uma divindade.
Jesus tinha Simão, um de seus discípulos, caracterizado como um
zelota como é possível ver em Lc 6,15; At 1,13. Ademais, outro seguidor
próximo de Jesus que alguns consideram possivelmente um membro des-
se grupo armado era Pedro, pelo fato de que ele estava com uma espada
durante a fatídica noite na qual o Nazareno foi preso no Getsemani. Não
dados tão exatos que comprovem essa tese. Ainda há, portanto, muita
discussão em torno disso.
Outro personagem importante que possivelmente era um zelota é
Barrabás. O texto bíblico o mostra como alguém que cometeu um assas-
sinato durante uma insurreição (cf. Mc 15,7).

12.3.5.5 Os essênios
De todos os partidos judaicos, os essênios são os preferidos de Flavio
Josefo. Fílo de Alexandria também falou deles. Plínio, o Velho, o naturalista
romano, descreve o que parece ser a comunidade de Qumran em uma

112
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

de suas obras. Porém, chama a atenção que o Novo Testamento nunca


menciona esse grupo, nem mesmo sob qualquer nome reconhecível.
Seu modo de vida certamente chamou a atenção de quem os des-
creveu. Flavio Josefo afirmou que eles formavam comunidades unidas
que evitavam uma vida com regalias e luxo. Havia, entre eles, a prática de
entregar seus bens à comunidade ao ingressar, eliminando as distinções
sociais trazidas pela riqueza. Viviam de forma mais austera.
Outros dados sobre o seu modo de vida são interessantes. Há rela-
tos que se tratava de uma comunidade composta por pessoas solteiras,
algumas celibatárias, e também por casados. Ademais, os essênios teriam
sido notáveis em seu autocontrole, do ponto de vista moral.
Para ingressar na comunidade essênia, de acordo com Flávio Jo-
sefo, era necessário passar por um processo de admissão que contava
com diversas etapas e um juramento final, no qual o candidato fazia seu
compromisso com os valores e as práticas do grupo. Tudo isso era feito
depois de anos de preparação e acompanhamento.
Flavio Josefo descreveu seu cronograma diário. Ele era composto
de oração, trabalho, banho, uma refeição, trabalho e outra refeição. O
trabalho era na agricultura e na produção e na cópia de obras para sua
biblioteca. Aos sábados, a observância dos preceitos se tornava ainda
mais radical. De acordo com Josefo, esse era o grupo mais radical em
relação às práticas do sétimo dia, entre todos os demais partidos.
Os essênios foram muito interessados no conhecimento da Bíblia
judaica e dos escritos dos antigos. Isso influenciou muito a crença da
comunidade. Eles acreditavam na imortalidade da alma e em sua pre-
destinação, pois atribuíam todas as ações humanas ao destino. Eles
realizavam seus próprios rituais de sacrifício, mesmo estando fora do
Templo de Jerusalém, que era considerado como um local corrompido.
A verdade é que os grupo o rejeitavam. Inclusive, esse teria sido um mo-
tivo do porquê boa parte deles saíram da capital da Judeia para morar,
sobretudo, no deserto, na região de Qumran, próxima ao Mar Morto.
Claro, havia também um bairro essênio em Jerusalém, no Monte Sião.
Aliás, os famosos Manuscritos do Mar Morto, encontrados em 1947,
dentro das grutas nas encostas das montanhas do deserto da Judeia, eram
parte da biblioteca dessa comunidade. Os essênios teriam escondido
essas obras, quando, em 70 d.C., as tropas romanas, durante a guerra
judaica, vieram dizimando todos os pertencentes do povo judeu.
Embora esse grupo não tenha sido citado pelo Novo Testamento,
há diversas pesquisas sobre a sua influência no cristianismo bíblico-pri-

113
A melhor sequência para ler a Bíblia

mitivo. Toda essa investigação, nos últimos anos, tem avançado muito,
revelando dados surpreendentes que ajudam a entender o modo de agir
e de pensar da Igreja Primitiva e do judaísmo na época de Jesus.

12.4 Os Evangelhos
É dentro desse contexto complexo que Jesus de Nazaré viveu.
Nesse sentido, os Evangelhos narram desde o seu nascimento, infância,
ministério, paixão, morte, ressurreição e ascensão aos céus. Sem as
informações básicas acima, é impossível compreender o que os relatos
bíblicos querem comunicar.
No que tange à sequência de leitura dos Evangelhos, é importante
ressaltar que a ordem na qual eles estão na Bíblia, muito provavelmente,
não corresponde à ordem cronológica de sua redação. Muitos acadêmi-
cos insistem que o primeiro a ter sido escrito foi Marcos, por volta do
ano 70 d.C.; seguido por Mateus e Lucas, ambos por volta de 85 d.C.; e,
por fim, João, situado pelos anos 90 d.C.
Essa teoria sobre a cronologia da redação dos Evangelhos exposta
acima é a mais aceita na comunidade acadêmica recente, independen-
temente da tradição religiosa, ou seja, católica ou protestante. Vale
ressaltar que, sendo uma teoria, ela não é um dogma católico. A Igreja,
nesse caso, dá liberdade de investigação científica aos estudiosos da
Bíblia. A aceitação, portanto, desse postulado teórico não é obrigatório.
Quem quiser permanecer na visão mais tradicional de que Mateus foi
escrito primeiro pode.
Diante do exposto, mesmo com todo o debate teórico, minha su-
gestão para a ordem de leitura dos Evangelhos é: Marcos, Mateus, Lucas
e João.

12.4.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Evangelhos


12.4.1.1 Marcos (escrito, provavelmente, por volta de 70 d.C.)

Dia Marcos – Leia os capítulos Data

266 1-4

267 5-8

268 9-12

269 13-16

114
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

12.4.1.2 Mateus (escrito, provavelmente, por volta de 85 d.C.)


Dia Mateus – Leia os capítulos Data

270 1-4

271 5-8

272 9-12

273 13-16

274 17-20

275 21-24

276 25-28

12.4.1.3 Lucas (escrito, provavelmente, por volta de 85 d.C.)


Dia Lucas – Leia os capítulos Data

277 1-4

278 5-8

279 9-12

280 13-16

281 17-20

282 21-24

12.4.1.4 João (escrito, provavelmente, por volta de 90 d.C.)


Dia João – Leia os capítulos Data

283 1-4

284 5-8

285 9-12

286 13-16

287 17-21

115
A melhor sequência para ler a Bíblia

13 ATOS DOS APÓSTOLOS

O
livro de Atos dos Apóstolos começa onde o Evangelho de Lucas
parou. Inclusive, é importante ressaltar que ambos compõem o
que se chama, na pesquisa bíblica, de obra lucana. De fato, esses
escritos formam uma unidade literária. Há duas vertentes teóricas prin-
cipais a respeito da ligação deles: uma afirma que havia um único livro
que foi dividido em dois; a outra, que Atos é o segundo volume, separado
desde o princípio. Não há consenso, mas a segunda é mais aceita.
O quinto livro do Novo Testamento narra o que aconteceu desde a
ascensão de Jesus até por volta do ano 62 d.C., quando Paulo já está pri-
sioneiro na cidade de Roma. Essa datação final da narrativa é postulada
pelo fato de que o livro não traz informações importantes a respeito da
história, como: a morte de Pedro e de Paulo, ocorridas, possivelmente,
entre os anos 64 e 68 d.C.; a perseguição do imperador Nero aos judeus
e cristãos, que se deu em 64 d.C.; a guerra entre romanos e judeus, que
teve seu ápice com a destruição do Templo de Jerusalém em 70 d.C.
O mote narrativo consiste em demonstrar que os discípulos de Jesus
cumpriram à risca o mandato missionário para levarem a Palavra de Deus,
depois do recebimento do Espírito Santo, começando por Jerusalém,
passado pela Judeia e Samaria, até os confins do mundo, ou seja, Roma
(cf. At 1,8).
Atos dos Apóstolos pode ser dividido em duas grandes partes. A
primeira descreve a história inicial com o foco no personagem Pedro,
podendo ser chamada de “Atos de Pedro” ou “Atos dos helenistas”; e a
segunda, com o foco na missão de Paulo, que poderia ser chamada de
“Atos de Paulo”, narra desde sua conversão à prisão em Roma.
As duas partes se sobrepõem, sobretudo nos capítulos 7 a 12; mas uma
divisão clara ocorre, a partir de At 13,1, quando as viagens missionárias
paulinas são descritas. O paralelismo entre Pedro e Paulo é muito notável,
ações e eventos correspondentes são relatados de cada um.
Seguindo o mandato de Jesus, os apóstolos pregam em Jerusalém
(cf. At 1 – 8,3), estendem a proclamação do Evangelho a Judeia e Samaria

116
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

(cf. At 8,4 – 12,25) e, então, levam a mensagem aos gentios, terminando


em Roma, a capital do mundo (cf. At 13,1 – 21,16; 21,17-28,31).

13.1.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Atos dos Apóstolos (escrito,


provavelmente, por volta de 85-90 d.C.)

Dia Atos – Leia os capítulos

288 1-4

289 5-8

290 9-12

291 13-16

292 17-20

293 21-24

294 25-28

117
A melhor sequência para ler a Bíblia

14 ESCRITOS PAULINOS

Chegou a hora de ler as cartas de Paulo. Elas foram escritas ao lon-


go das viagens missionárias realizadas por ele, narradas em Atos dos
Apóstolos. Desde a primeira, redigida em 51 d.C., a Primeira Carta aos
Tessalonicenses, até a última, escrita possivelmente por um discípulo do
Apóstolo, por volta do ano 115 d.C.
Esses escritos foram organizados no cânon bíblico, não na ordem
cronológica de sua redação. A lógica da estruturação, como está na Bíblia,
hoje, é por ordem de tamanho dos escritos. Do maior para o menor. Por
isso, a Carta aos Romanos é a primeira e a Filêmon é a última.
Antes de tratar da sequência de leitura, seguindo a cronologia da
redação, é de fundamental importância tratar da questão da autoria dos
escritos paulinos. Nesse sentido, há muita discussão acadêmica sobre o
assunto. Apenas para constar: aqui, não será exposto todo o conjunto de
argumentos especializados. Além disso, não há qualquer obrigatoriedade,
por parte do leitor, de aceitar as teorias de datação e autoria.
As cartas paulinas podem ser classificadas de diversas formas. Uma
delas diz respeito ao grau de confiabilidade acadêmica de autoria. Assim,
existem escritos sobre os quais não há qualquer discussão sobre quem
teria escrito, ou seja, esse material é, de fato, escrito por Paulo. Há ou-
tros, porém, sobre os quais as discussões são mais acirradas, a ponto de
se questionar que foi o Apóstolo quem os escreveu.
O primeiro conjunto de escritos paulinos recebe o nome de “cartas
proto-paulinas”. Sobre esse material não existe quase qualquer discussão
sobre a autoria, ou seja, tudo indica que esse teria sido escrito, de fato,
por Paulo. Há um segundo grupo, chamado de “cartas deutero-paulinas”;
sobre ele, há uma divisão na comunidade acadêmica a respeito da auto-
ria. Por fim, existem as “cartas trito-paulinas”; essas seriam as que, com
um grau de confiabilidade alto, mediante uma série de argumentos, não
teriam sido escritas pelo Apóstolo.
Observe no quadro abaixo a classificação dos escritos paulinos, me-
diante o critério da autoria, conforme a explicação acima:

118
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

Romanos, 1-2 Coríntios,


Cartas Proto- Estas são de autoria do Gálatas, Filipenses, 1Tessa-
-Paulinas: Apóstolo Paulo lonicenses e Filemon.

A autenticidade dessas não é


Cartas Deute- segura Efésios, Colossenses e 2
ou é negada por certo
ro-Paulinas: Tessalonicenses.
número de estudiosos

Essas dificilmente seriam do


Apóstolo Paulo, pois usam
Cartas Trito- uma linguagem diversa e 1-2 Timóteo e Tito.
-Paulinas: tratam de problemas que
existiam nas comunidades
no final do I século.

Os critérios para a classificação acima são vários. Para se ter ideia de


alguns, podem-se destacar os seguintes: linguagem diferente das cartas
proto-paulinas (vocabulário, construções sintáticas, figuras de linguagem
e estilo); teologia diferente das cartas proto-paulinas; temas diferentes
do tempo no qual Paulo viveu. Existem outros elementos utilizados na
argumentação, porém, aqui, não os exporei de maneira detalhada.
Outro dado fundamental é que não se pode tirar a importância do
conteúdo de algumas dessas cartas, baseando-se no fato de que algumas,
possivelmente, não foram escritas por Paulo. Todo o conjunto das 13 epís-
tolas são parte da Revelação Divina. Assim, não podem ser relativizadas
em seu conteúdo e valor.

119
A melhor sequência para ler a Bíblia

Seguindo a classificação por autoria, as treze cartas paulinas podem


ser lidas na sequência do quadro abaixo:

Carta Ano Local Autor(es)

1 Tessalonicen- 51 Corinto Paulo, Timóteo e Silvano


ses (ou Silas) ver 1Ts 1,1

1 Coríntios 54-56 Corinto Paulo, Sóstenes (ver 1Cor


1,1); Priscila e Áquila (ver
1Cor 16,19)

Gálatas 54-56 Éfeso Paulo e os irmãos (ver Gl


1,2)

Filipenses 54-56 Éfeso Paulo e Timóteo


(ver Fl 1,1)

Filêmon 54-56 Éfeso Paulo e Timóteo


(ver Fm 1)

2 Coríntios 55-56 Éfeso e Mace- Paulo e Timóteo


dônia (ver 2Cor 1,1)

Romanos 56 Corinto Paulo e equipe


(ver Rm 16,21-23)

2 Tessalonicen- Depois de Ásia Menor Atribuída a Paulo, Timó-


ses 80 teo e Silvano (ou Silas)

Colossenses 95 Talvez em Éfeso Algum discípulo de Paulo,


talvez Timóteo

Efésios 95 Talvez em Éfeso Algum discípulo de Paulo

1 Timóteo Talvez 115 Talvez em Éfeso Algum discípulo ou


admirador de Paulo

2 Timóteo Talvez 115 Talvez em Éfeso Algum discípulo ou


admirador de Paulo

Tito Talvez 115 Talvez em Éfeso Algum discípulo ou


admirador de Paulo

120
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

Existe outra forma para a classificação dos escritos paulinos, bastante


utilizada em diversas publicações a respeito:

Cartas maiores Romanos, 1-2Coríntios, Gálatas,


1-2Tessalonicenses

Cartas da prisão Efésios, Filipenses, Colossenses e Filêmon

Cartas pastorais 1-2Timóteo e Tito

Essa maneira parte, basicamente, do princípio de que não haveria


discussão sobre a autenticidade da autoria de Paulo. Do ponto de vista
da sequência, essa mesma, colocada acima, poderia ser uma alternativa.
Eu recomendo, ainda que não se questione a autoria, a leitura na ordem
da tabela anterior.

14.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Escritos Paulinos


14.1.1 1Tessalonicenses (51 d.C)

Dia 1Tessalonicenses –
Leia os capítulos

295 1-5

14.1.2 1Coríntios (entre 54 e 56 d.C.)

Dia 1Coríntios – Leia os capítulos

296 1-4

297 5-8

298 9-12

299 13-16

14.1.3 Gálatas (entre 54 e 56 d.C.)


Dia Gálatas – Leia os capítulos

300 1-6

121
A melhor sequência para ler a Bíblia

14.1.4 Filipenses + Filêmon (ambas entre 54 e 56 d.C.)

Dia Filipenses – Leia os capítulos

301 1-4

Dia Filêmon – Leia os capítulos

302 1

14.1.5 2Coríntios (entre 55 e 56 d.C.)

Dia 2Coríntios – Leia os capítulos

303 1-4

304 5-8

305 9-13

14.1.6 Romanos (56 d.C.)


Dia Romanos – Leia os capítulos

306 1-4

307 5-8

308 9-12

309 13-16

14.1.7 2Tessalonicenses (depois de 80 d.C)


Dia 2Tessalonicenses – Leia os capítulos

310 1-3

14.1.8 Colossenses (95 d.C)


Dia Colossenses – Leia os capítulos
311 1-4

122
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

14.1.9 Efésios (95 d.C)

Dia Efésios – Leia os capítulos

312 1-6

14.1.10 1Timóteo (talvez 115 d.C)

Dia 1Timóteo – Leia os capítulos

313 1-6

14.1.11 2Timóteo (talvez 115 d.C)

Dia 2Timóteo – Leia os capítulos

314 1-4

14.1.12 Tito (talvez 115 d.C)

Dia Tito – Leia os capítulos

315 1-3

123
A melhor sequência para ler a Bíblia

15 AS CARTAS CATÓLICAS

A designação “cartas ou epístolas católicas” vem da frase grega


καθολική ἐπιστολή (katholike epistole). O adjetivo καθολική (katholikē)
significa “universal” ou “geral”. Quando καθολική (katholike) foi acoplado
pela primeira vez com ἐπιστολή (epistole), a frase foi empregada para
descrever uma epístola individual. Eles são chamados de “católicos”
porque parecem ser dirigidos à Igreja universal, como um todo, e não a
comunidades particulares.
Esse é o nome dado a sete escritos do Novo Testamento: Tiago; 1 e
2 Pedro; 1, 2 e 3 João; e Judas. Atualmente, porém, alguns incluem o livro
de Hebreus, já que não faz mais parte dos escritos paulinos, pela grande
diferença de vocabulário e teologia, em comparação com as cartas au-
tênticas de Paulo.
Em distinção das epístolas apostólicas ou paulinas que eram diri-
gidas a igrejas ou pessoas individuais, o termo “católico”, no sentido de
universal ou geral, foi aplicado por Orígenes e outros Padres da Igreja às
sete epístolas escritas citadas acima.
Três outras explicações para o emprego do termo foram dadas: (1)
que a intenção era indicar uma autoria apostólica comum (apenas alguns
apoiam essa visão); (2) que significa que as sete epístolas foram universal-
mente recebidas como genuínas; (3) que se refere à catolicidade de sua
doutrina, ou seja, epístolas ortodoxas e autorizadas - não heréticas - cujos
conteúdos estavam em harmonia com a verdade cristã.
Fica evidente que esses escritos foram endereçados às mais diversas
comunidades cristãs do período da Igreja Primitiva, na própria forma
como elas tratam os destinatários. Por exemplo, Tiago escreveu a todos
os judeus, “da Dispersão”, que haviam abraçado a fé cristã. Em sua pri-
meira epístola, Pedro dirigiu-se aos mesmos cristãos, incluindo também
convertidos gentios, residentes em cinco províncias da Ásia Menor: Sua
segunda epístola é para todos os cristãos em todos os lugares. A primeira
carta de João foi evidentemente escrita para um ciclo de igrejas e desti-
nada ao uso universal. Judas também tinha em mente todos os cristãos
quando disse “àqueles que são chamados de amados em Deus”.
As exceções aparentes são Segunda e Terceira Epístolas de João, pois

124
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

são dirigidas a indivíduos. No caso, mesmo assim, elas são incluídas nas
cartas católicas por causa do valor para o leitor em geral.
O caráter e o conteúdo dessas sete epístolas – oito, se incluirmos
Hebreus - são tratados sob seus vários títulos. As cartas de Tiago e Judas
pertencem à escola judaica do Cristianismo; as de Pedro a um tipo de fé
ampla e apartidária que inclui e faz a mediação entre os cristãos judaizantes
e os paulinos. As cartas de João foram escritas depois que as controvérsias
doutrinárias internas da Igreja cessaram, e a pressão da oposição e do
erro de fora tendeu a unir seus “filhinhos” em uma nova comunidade de
amor e vida espiritual.
Por último, Hebreus foi acoplado a esse conjunto, mais recentemente,
como vimos anteriormente, pois, após avanços significativos nas pes-
quisas, não há mais quem, academicamente, aceite a autoria de Paulo. O
vocabulário, a estrutura sintática, os temas, a teologia e o gênero literário
são muitíssimo diferentes dos escritos paulinos.
É preciso dizer, a mais, que esse escrito não é uma carta, já que tem
a estrutura nem o estilo de uma. Sabe-se que, na antiguidade, o gênero
literário epistolar era mais rígido do que hoje em dia. Nesse sentido, ele
tinha uma arrumação que Hebreus não tem. Sendo assim, Hebreus é um
livro que faz uma exposição homilética, ou seja, ele se constitui, basica-
mente, num conjunto de sermões, realizados a partir da apresentação
de interpretações cristológicas de textos bíblicos do Antigo Testamento.
Do ponto de vista da sequência da leitura, não há uma definição.
A ordem pode ser a que a própria Bíblia apresenta, pois não uma su-
cessão lógica.

15.1 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Cartas Católicas e Es-


critos Joaninos

15.1.1 Hebreus (em torno de 100 d.C.)

Dia Hebreus – Leia os capítulos

316 1-4

317 5-8

318 9-13

125
A melhor sequência para ler a Bíblia

15.1.2 Tiago (em torno de 95 d.C.)

Dia Tiago – Leia os capítulos

319 1-5

15.1.3 1Pedro (entre 95 e 96 d.C.)

Dia 1Pedro – Leia os capítulos

320 1-5

15.1.4 2Pedro (130 d.C.)

Dia 2Pedro – Leia os capítulos

321 1-5

15.1.5 1João (110 d.C.)

Dia 1João – Leia os capítulos

322 1-5

15.1.6 2João e e 3João (ambas 110 d.C.)

Dia 2João – Leia os versículos

323 1-13

Dia 3João – Leia os versículos

324 1-15

15.1.7 Judas (por volta de 110 d.C)

Dia Judas – Leia os versículos

325 1-25

126
Parte IV - A Sequência histórica dos livros do Novo Testamento

Apocalipse
O termo grego “apocalipse” significa “revelação”. O livro, como um
todo, é entendido como uma visão recebida por um vidente, no caso,
João. Ele contém uma mensagem, transmitida por meio da simbologia do
gênero literário apocalíptico, de esperança de que os cristãos da Igreja
Primitiva, situada na Ásia Menor, se veriam a salvo da perseguição do
Império Romano, personificado pela Besta.
A partir de uma leitura rápida do Apocalipse, fica claro que a lingua-
gem do vidente foi influenciada pelas profecias de Daniel mais do que
por qualquer outro livro. Nesse sentido, é fundamental a recordação de
que Daniel foi escrito com o objetivo de confortar os judeus sob a cruel
perseguição de Antíoco Epifânio, conforme foi dito anteriormente. Assim,
o vidente no Apocalipse tinha um propósito semelhante.
Os cristãos foram ferozmente perseguidos pelo imperador de Roma,
Domiciano (51-96 d.C.). Diante de tal realidade, a apostasia se tornou uma
realidade e ameaçada a perseverança de muitos, na comunidade. Nesse
contexto, falsos profetas circulavam, tentando seduzir o povo a viver
de acordo com as práticas pagãs, participando do culto em honra ao
mandatário romano. João exorta seus irmãos, cristãos, a permanecerem
fiéis Cristo e a suportar as adversidades com firmeza. Ele os encoraja,
recordando-os da promessa de uma recompensa celestial. Por isso, ele
lhes garante que a vinda triunfante de Cristo está próxima.
De acordo com a narrativa de Apocalipse, com a parusia, as perse-
guições aos cristãos serão vingadas. Seus opressores serão julgados e
lançados aos tormentos eternos. Serão julgados os vivos e os mortos. Os
que morreram pela fé serão ressuscitados a fim de que possam compar-
tilhar os prazeres do reino de Cristo.

15.2 O conteúdo do Apocalipse em linhas gerais


AS SETE IGREJAS (AP 1,1 – 3,22)
- Título e descrição do livro (1,1-3): A revelação feita por Jesus, o
Messias, a João.

127
A melhor sequência para ler a Bíblia

- Saudação (1,4-9): Saudação introdutória às sete epístolas, desejando


às igrejas a graça e a paz de Deus e de Jesus.
- A visão de Jesus como o Filho do Homem (1,9-20)
- As epístolas às sete igrejas (2,1-3,22)

O LIVRO COM OS SETE SELOS (AP 4 – 10)


- A visão de Deus entronizada sobre os querubins (capítulos 4 e 5)
- Os sete selos e a numeração dos santos (capítulos 6 e 7)
- O sétimo selo (capítulos 8 e 10)

O DRAMA DIVINO (AP 12 – 22,17)


- Primeiro ato (capítulos 12-14)
- Segundo ato (capítulos 15-16)
- Terceiro ato (capítulos 17-18)
- Quarto ato (capítulos 19–20)
Quinto ato (capítulos 21-22,17)

EPÍLOGO (AP 22,18-21)

15.3 Sequência de leitura da Bíblia em um ano: Apocalipse

Dia Apocalipse – Leia os capítulos

326 1-4

327 5-8

328 9-12

329 13-17

330 18-22

128
A melhor sequência para ler a Bíblia

ANOTAÇÕES

129
A melhor sequência para ler a Bíblia

ANOTAÇÕES

Este livro foi impresso pela Gráfica Viena em papel offset 75g em fevereiro de 2022.

130
João Cláudio Rufino
• Doutorando e Mestre em TEOLOGIA
pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP), Bacharel em
TEOLOGIA pela Pontifícia Faculdade
de Teologia Nossa Senhora da Assun-
ção e Bacharel em FILOSOFIA (PUC-SP).

• Leciona, atualmente, na PUC-SP, na


Faculdade de Teologia, as disciplinas de
Hermenêutica Bíblica, Hebraico Bíblico,
Grego Bíblico, História de Israel, Profetas
I e II, Sinóticos I e II, Atos dos Apósto-
los, Escritos Paulinos, Cartas Católicas,
Teologia da Trindade, Teologia do Espí-
rito, Pastoral da Comunicação, Ética,
Antropologia Filosófica e Sociologia.

• Idealizador do BíbliaPlay, escola


de estudos bíblicos on line.

• Product Manager do Software


Verbum - Português.

• Palestrante em diversas áreas (ética,


comunicação verbal, teologia e filosofia),
já ministrou cursos de formação em 18,
dos 27, estados brasileiros, bem como
outras cidades do mundo como Nova
York, New Jersey, Newark (EUA), Londres
e Madrid, na Europa e várias na América
Latina e formou milhares de palestrantes
e oradores. Gravou um documentário
(Série Discipulus) no Egito e em Israel pela
T.V. Canção Nova. Participou de diversos
programas de Rádio e Televisão como
entrevistado, debatedor e palestrante
(T.V. Canção Nova, T.V. Século 21, Rede
Vida, T.V. Aparecida, Globo, TV Gazeta).
A Bíblia, sem dúvida alguma, é um dos livros mais
lidos do mundo. Porém, segundo a minha experiência
como professor de teologia, a grande maioria das
pessoas não sabem lê-la de forma correta.
Um dos principais desafios na leitura bíblica é
entender que a Bíblia não foi escrita toda de uma vez
só. Ela é uma coleção de livros que foram escritos por
pessoas diferentes, em épocas diferentes, ao longo
de vários séculos.
Neste livro, eu vou te explicar, de maneira simples
e fácil, qual é a melhor sequência para ler os livros
da Bíblia e compreender a verdadeira mensagem que
Deus nos deixou por meio de Sua Palavra.
Você vai descobrir qual foi a ordem cronológica
em que os livros foram escritos, os principais fatos
históricos que influenciaram seus autores e outras
informações que irão deixar a sua leitura da Palavra
de Deus muito mais enriquecedora.
Tenho certeza que ao ler esse livro você terá
um crescimento espiritual e de conhecimento que
jamais experimentou em sua vida. Sua compreensão
da Sagrada Escritura nunca mais será a mesma.

Editora
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