Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A seguir apresentam-se algumas sugestões para as sondagens de escrita de textos que se sabe de
memória para estudantes que já se encontram no Sistema Alfabético de Escrita.
1º bimestre
A bruxa e o caldeirão
Quando preparava uma sopa para o jantar, a bruxa constatou que o caldeirão estava furado.
Não era muito, não senhor. Um furo pequeníssimo, quase invisível. Mas era o suficiente para
pinga que pinga e ir apagando o fogo. Nunca tal lhe tinha sucedido. Foi consultar o livro de
feitiços, folheou-o de ponta a ponta, confirmou no índice e nada encontrou sobre a forma de
resolver o caso. Que haveria de fazer? Uma bruxa sem caldeirão era como padeiro sem forno.
De que forma poderia ela agora preparar as horríveis poções? Para as coisas mais corriqueiras
tinha a reserva dos frascos. Ficava muito aborrecida com aquele furo no caldeirão. Nem a sopa
do dia-a-dia podia cozinhar. Mantinha-se a pão e água. Matutou dias seguidos no assunto.
Começou a desconfiar se o mercador que lhe vendera o caldeirão na feira, há muitos anos, não
teria a enganado com material de segunda categoria. Decidiu então ir à próxima feira e levar o
caldeirão ao mercador. Mas verificou que o mercador já não era o mesmo, era neto do outro.
Ficou desapontada. Perguntou-lhe, o que podia fazer com o caldeirão furado. O mercador
mirou-o e disse: – Você pode pôr ao pé da porta e fazer de vaso. A bruxa irritou-se com a
sugestão e respondeu:
– A solução parece boa, sim senhor. Mas diga-me uma coisa: Se faço o caldeirão de vaso, onde
cozinho depois? O mercador respondeu: – Neste novo que tenho aqui e com um preço muito
em conta! Ela olhou para o caldeirão que o mercador apontava. Era lindo, brilhante,
avermelhado com lindos detalhes. Era tão leve e podia ser carregado para qualquer lado. A
bruxa ficou encantada! – Pois bem, vou levá-lo. O mercador esfregou as mãos de contente. Mas
a bruxa avisou-o: – Se acontecer o mesmo que ao outro, pode ter a certeza de que o
transformarei em sapo. O mercador riu-se do disparate enquanto embrulhava o artigo. Os anos
foram passando e a bruxa continuou no seu labor. Até que um dia, percebeu um furo no novo e
agora velho caldeirão. Rogou uma praga tamanha no mercador. Que a essa hora, em vez de
estar jantando na mesa com a família, estava à beira de uma lagoa a apanhar moscas.
Texto adaptado de: MACHADO, José Leon. A bruxa e o caldeirão. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pv00001a.pdf.
2º bimestre
A princesa e o grão de ervilha
Era uma vez um príncipe que desejava para esposa uma princesa. Mas devia ser uma
verdadeira princesa! Viajou, pois, por todo o mundo para usc-la. Princesas eram o que não
faltavam, mas todas tinham os seus defeitos. Voltou para casa triste e abatido. Desejava tanto
encontrar uma verdadeira princesa! Uma noite, sobreveio uma forte tempestade; relâmpagos
rasgavam o céu, o trovão rolava, e a chuva caía aos borbotões. Era uma coisa terrível! Foi
quando alguém bateu à porta do castelo. E o próprio rei foi abrir. Lá fora, estava uma princesa.
Mas quanto sofrera ela com a chuva e a tempestade! A água escorria-lhe pelos cabelos e pelas
roupas, entrava pelo bico dos sapatos e saía pelo calcanhar. Disse ela que era uma princesa
verdadeira. “É o que vamos ver!” – pensou a velha rainha ao vê-la. Nada disse, porém. Foi ao
quarto, tirou toda a roupa da cama e colocou um grão de ervilha sobre o estrado. Depois, pegou
vinte colchões e colocou-os seguidamente por cima da ervilha. Sobre os colchões, colocou vinte
acolchoados de pena. Ali, a visitante devia dormir aquela noite. Pela manhã, perguntaram-lhe
como tinha dormido.
– Muito mal! – disse ela. – Não pude pregar olho a noite toda! Sabe Deus o que havia naquela
cama! Estive deitada sobre alguma coisa dura, que me deixou com o corpo marcado. Um
horror! Viram então que se tratava de uma verdadeira princesa, já que ela sentira o grão de
ervilha através de vinte colchões e vinte acolchoados. Só mesmo uma verdadeira princesa teria
uma pele tão sensível! O príncipe tomou-a por esposa, pois sabia que encontrara uma
verdadeira princesa. Eles foram felizes para sempre.
3º bimestre
A princesa esqueceu sua promessa por completo. No dia seguinte, quando estava jantando com
o pai, eles ouviram alguém bater na porta, e logo o sapo apareceu. O rei obrigou a filha a lhe
contar a história toda. – É claro que você deve cumprir a promessa – ele falou. Ponha o animal
na mesa. A princesa teve de dividir seu prato com o sapo e, irritada, perdeu o apetite. Na hora
de dormir, o rei mandou a filha levar o sapo para o quarto. A princesa não queria dormir com
aquele bicho frio e viscoso. No entanto, sabia que seu pai ficaria furioso, se não dividisse sua
cama com o sapo. E, assim, deixou que ele se instalasse no travesseiro. – Agora, você tem de
me dar um beijo de boa-noite – o sapo falou. A princesa franziu a cara de nojo, fechou os olhos
e deu um beijinho minúsculo no sapo. Ao abrir os olhos, viu que o sapo havia desaparecido e
em seu lugar estava um lindo príncipe. – Você quebrou o encantamento – o príncipe falou. E
ficou tão agradecido que pediu a princesa em casamento. Como ela gostava mais dele como
príncipe, do que como sapo, disse “sim”! Então, ele a levou para seu palácio, onde viveram
felizes para sempre.
Fonte: HOFFMAN, Mary. Meu primeiro livro de conto de fadas. São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 2012.
4º bimestre
A roupa nova do Imperador
A muitos e muitos anos atrás, vivia um imperador que só pensava em comprar roupas
novas, e com isso ele gastava todo o dinheiro do reino, sua única ambição era estar
sempre bem-vestido. Ele não se preocupava com os soldados, e jamais sentiu qualquer
inclinação pelo teatro, a única coisa de fato que o interessava era sair para exibir os seus
novos trajes. Ele tinha um manto para cada hora do dia, e quando para um rei se
costumava dizer: “Ele está em seu gabinete", para ele se poderia dizer: “O imperador está
em seu vestiário.”
A grande cidade onde ele residia era muito alegre; todos os dias muitos estrangeiros
chegavam de todas as partes do globo. Um dia dois vigaristas chegaram à cidade; eles
faziam as pessoas acreditarem que eram grandes tecelões, e afirmavam poder
confeccionar as roupas mais finas que alguém poderia imaginar. As cores e os modelos
que eles criavam, diziam, não eram apenas excepcionalmente lindas, mas as roupas
feitas com o material que eles produziam possuíam a maravilhosa capacidade de ser
invisível a qualquer pessoa que não estivesse preparada para o cargo que ocupava ou
fosse imperdoavelmente tola.
"Essa deve ser uma roupa maravilhosa," pensou o imperador. "Se eu tivesse de vestir
uma roupa feita com um tecido tão especial, eu poderia descobrir quais ministros do meu
império não estavam preparados para os seus cargos, e eu poderia distinguir o tolo do
sábio. Eu preciso mandar fazer essa roupa para mim sem demora." E mandou oferecer
uma grande soma em dinheiro para os vigaristas, antecipadamente, para que eles
iniciassem o trabalho imediatamente. Eles prepararam dois teares, e fingiam trabalhar com
muita eficiência, porém, não produziam nada em nenhum dos teares. Eles solicitavam as
sedas mais finas, e os tecidos de ouro mais preciosos, e tudo o que eles conseguiam, eles
pegavam para eles e trabalhavam nos teares vazios até tarde da noite.
Logo depois o imperador enviou um outro cortesão honesto até os tecelões para
saber tudo o que estava acontecendo, e se a roupa já estava quase terminada. Do mesmo
modo que o velho ministro, ele olhava e olhava, mas não conseguia ver nada, mesmo
porque não havia nada para ver.
"Não é uma linda peça de vestuário?" perguntaram os dois trapaceiros, mostrando e
explicando os magníficos modelos, que todavia, jamais existiram.
"Eu não sou estúpido", pensou o homem. "Deve ser por causa do elevado cargo que
ocupo e para o qual eu não estou preparado. É muito estranho, mas eu não posso permitir
que ninguém fique sabendo;" então ele elogiou a roupa, que ele não via, e expressou a sua
alegria diante das cores maravilhosas, e do finíssimo modelo. "É muito lindo," disse ele ao
imperador.
SOLICITAR REESCRITA, APÓS 2ª LEITURA, A PARTIR DESTE TRECHO
O imperador e todos os seus cortesãos foram até o salão, os vigaristas mantinham seus
braços levantados como se estivessem segurando alguma coisa nas mãos e disseram:
"Estas são as calças!" "Este é o casaco!" e "Aqui está o manto!" e assim por diante. "Estes
trajes são tão leves quanto teia de aranha, e a pessoa se sente como se não estivesse
usando nada no corpo, mas aí é que está a beleza delas."
"De fato!" disseram os cortesãos, mas eles não conseguiam ver nada, porque não
havia mesmo nada para ser visto.
"Será que a Vossa Majestade por gentileza poderia se despir," disseram os
trapaceiros, "para que possamos auxiliar a Vossa Alteza nos ajustes da nova roupa diante
do grande espelho?"
O imperador se despiu, e os vigaristas fingiram colocar nele a nova roupa, peça por
peça, e o imperador olhava para si mesmo no espelho de todos os lados.
"Como ela lhe caiu bem!" "Como ficou bonita!" disseram todos. "Que modelo arrojado!
Que cores belíssimas! Esse é um traje magnífico!"
O mestre das cerimônias anunciou que os carregadores do pálio, que haveriam de
desfilar durante a procissão, já estavam prontos.
"Eu estou pronto," disse o imperador. "A minha roupa nova não caiu perfeitamente
bem?" Então ele se virou mais uma vez para o espelho, para que as pessoas pensassem
que ele estava admirando os seus novos trajes.
Os camareiros, que iriam ajudá-lo a carregar a cauda, estenderam suas mãos até o chão
como se estivessem levantando a cauda, e fingiam segurar alguma coisa em suas mãos,
eles não queriam que as pessoas soubessem que eles não estavam vendo nada.
O imperador marchava na procissão sob o belo pálio, e todos que olhavam para ele
na rua e pelas janelas exclamavam: "De fato, o novo traje do imperador é incomparável!
que longa causa que ele tem! Como a roupa caiu bem para ele!" Ninguém queria que os
outros soubessem que eles não viam nada, pois que seriam considerados incapacitados
para o cargo que ocupavam ou tolos demais. Nunca as roupas do imperador foram tão
admiradas.
"Mas ele não está usando nada," disse uma pequena criança afinal.
"Deus do céu! ouçam a voz de uma criança inocente," disse o pai, e um sussurrava
para o outro o que a criança havia dito. "Mas ele não está usando nada", gritaram afinal
todas as pessoas. Isso causou uma forte impressão no imperador, pois lhe pareceu que as
pessoas tinham razão, mas ele pensou consigo mesmo, "Agora eu vou ter de aguentar isso
até o fim." E os camareiros caminhavam com mais dignidade ainda, como se carregassem
a cauda que não existia.
Fonte: ANDERSEN, Hans Christian. Contos de Andersen