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E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Posto que as TIC são mais do que meras ferramentas e funcionam como
ambientes imersivos dos quais precisamos pesquisar e entender a força, para
podermos modificar as práticas pedagógicas, resta apreender o como dessa sua
inserção na educação escolar.
As indicações para esse caminho já nos foram dadas pelos educadores
do século XX, que se interessaram por dar respostas à crise da escola. "Como
se planeja uma nova ponte?". pergunta Dewey (1922). Através da imaginação
de alguns engenheiros, que pensam em algo que nunca foi feito antes,
aplicando seus conhecimentos matemáticos a novas condições sociais,
utilizando o conhecimento científico existente de forma diferente do usual e
com consequências desconhecidas. É preciso ousar, diz o autor, para traduzir
um pensamento te6-rico em ação. Da mesma forma que os engenheiros
tentam os caminhos da criatividade, a educação pode trabalhar com o desejo
de experimentar e de aprender dos resultados. Não sabemos quais serão
esses resultados, como os engenheiros que projetaram uma nova ponte não
sabiam o que podiam atingir.
Não se pode supor que haja realmente qualquer avanço na
educação simplesmente porque há uma melhoria técnica nas
ferramentas de gerenciamento de um esquema educacional
notável para sua formação antes do surgimento da ciência. Essa
"ciência" apenas racionaliza a educação tradicional, melhorando-a
em pequenos detalhes. Dado o equipamento intelectual
necessário, a exigência imediata é de qualidades humanas de
honestidade, coragem e invenção que permitirão avançar sem os
adereços do costume ou as pretensiosas pretensões do costume
disfarçadas na terminologia da ciência (Dewey, 1922, p. 4, tradução
nossa)'.
3 - Apoio do aluno
Uma última sugestão é de o professor trabalhar em parceria com os seus alunos.
Em nossa pesquisa de 2012 nas escolas da Bahia e de Santa Catarina sobre o
projeto Um Computador por Aluno, resultou evidente que o apoio técnico é
fundamental para o funcionamento de um projeto de inclusão digital e é,
infelizmente, o que mais falta nas escolas (Pischetola, 2015, 2016; Pischetola;
Miranda, 2015). Porém, as escolas investigadas que tinham instituído um projeto
de monitoria tiveram muito mais sucesso em termos de integração das TIC nas
práticas cotidianas. Os alunos ocupavam o papel de monitores, ficando na escola
no contra turno uma ou duas vezes por semana, e ajudavam os professores
preparando as salas com antecedência e oferecendo apoio concreto na gestão
da sala de aula. Dar aula com o uso das TIC é muito trabalhoso. A sensação do
professor é, muitas vezes, de perda de controle na gestão da sala e de dispersão
dos alunos durante a realização das atividades.
Porém, com a ajuda de um aluno monitor que cuida do apoio técnico para a
turma, o professor pode se concentrar na atuação pedagógica, na gestão dos
tempos da aula, no acompanhamento concreto das tarefas que estão sendo
desenvolvidas, para atingir os objetivos pedagógicos preestabelecidos Além
disso, trata-se para o aluno monitor de uma oportunidade extraordinária de
desenvolver algumas habilidades didáticas, comunicacionais e sociais, que não
estariam ao seu alcance no dia a dia escolar. Nas escolas pesquisadas pela
autora, havia fila de espera dos alunos que se propunham como. monitores.
E os monitores entrevistados estavam entusiasmados com seu papel de suporte
e, inclusive, muitos deles já decididos a se tornarem professores na vida adulta.
Considerações finais
A introdução das TIC na educação demanda por estratégias didáticas
capazes de promover uma variedade de processos de aprendizagem e alerta
para a urgência de uma revisão das práticas pedagógicas. Enfrentar as
implicações dessas mudanças pressupõe buscar novas metodologias para o uso
pedagógico de TIC, não apenas reproduzindo práticas tradicionais com outros
suportes, mas explorando criativamente as novas possibilidades oportunizadas
pelos novos meios.
Percebemos que o investimento das políticas públicas em infraestrutura é
importante e afeta o fazer pedagógico, mas não são os equipamentos os
principais responsáveis pela inovação na escola. Se entendermos as TIC como
artefatos culturais e percebermos que estamos imersos em uma cultura digital,
reconhecemos que a escola faz parte dessa mudança cultural e contínua, tendo
um papel crucial de mediação pedagógica.
Longe de ser substituída pelas TIC, a escola representa o lugar privilegiado para
desenvolver as habilidades que compõem hoje os novos letramentos, e para
pensarmos e discutirmos, junto com as jovens gerações, as mudanças sociais,
políticas e éticas do mundo atual.
Se aplicarmos à educação a imagem pensada por John Dewey da ponte
como construção inovadora, fruto do desenho e da criatividade de engenheiros
corajosos, teremos uma metáfora muito produtiva para o tema abordado nesse
texto. A ponte ainda vai ser construída, utilizando o conjunto de possibilidades
que as TIC apresentam para a educação: uma escola renovada em suas
práticas, tempos e sentidos. Para que isso se concretize, precisamos de
professores capazes de inventar o novo e sem medo de errar, professores
curiosos e com vontade de aprender pela prática.