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ACÚSTICA MUSICAL

Curso: COMPOSIÇÃO E REGÊNCIA


Disciplina anual (do 2do ano)
Prof. Claudio Vitale
AFINAÇÕES E ESCALAS
ESCALA PITAGÓRICA
- O advento da escala heptatônica (ou simplesmente diatônica) está
historicamente associado ao filósofo e matemático grego Pitágoras (que
viveu de 570 a cerca de 490 a. C.).
- A partir da experiência de subdivisão da corda de um monocórdio
(instrumento de medição intervalar põr ele inventado), Pitágoras chegou à
conclusão de que as combinações tidas na época como consonantes e
correspondentes ao que hoje entendemos por oitava, quinta, quarta e
uníssono estão, respectivamente, nas seguintes proporções: 2:1, 3:2, 4:3,
1:1
Sobre o termo intervalo:
- Musicalmente, o termo implica uma diferença, como o espaço entre dois
pontos em um teclado;
- Fisicamente, um intervalo é uma proporção (ou razão) entre frequências e
nada tem a ver com a diferença entre elas.
- Por exemplo: 25 Hz e 50 Hz, e 2500 Hz e 5000 Hz, constituem oitavas. No
entanto, a diferença entre elas não é igual (25 Hz, no primeiro caso e 2500
Hz no segundo).
Relação entre intervalos e proporções

- Oitava: 2/1
- Quinta: 3/2
- Quarta: 4/3
- Segunda maior; 9/8
multiplicação e divisão das proporções
- Oitava acima: 2/1
- Oitava abaixo: 1/2
- Quinta acima: 3/2
- Quinta abaixo: 2/3
- etc…
Obtendo as notas da escala…

- Para obter uma quinta acima de uma determinada frequência, fazemos (3/2)f.
- Para obter uma quarta acima desta quinta, fazemos:
(4/3) x (3/2) f = (12/6) f = 2f (isto corresponde a uma oitava acima de f)
Ex: imaginemos que o Dó central do piano tem 200 Hz (ele tem, hoje, aprox.
261 Hz). Para conhecermos a quinta acima desse Dó, fazemos 3/2 x 200 =
600/2 = 300 Hz. Para somar uma quarta a esta quinta, fazemos: 4/3 x 300 Hz
= 1200/3 = 400 Hz (isto é o dobro do Dó central de 200 Hz).
Se dois intervalos somados resultam numa oitava, um intervalo é a inversão
do outro.
A partir desses pressupostos, Pitágoras pôde constituir sua escala
diatônica, realizada por meio da utilização de tais proporções simples,
seguindo as etapas abaixo:
1) da frequência f, tem-se a oitava acima 2f (C1 e C2);
2) quinta abaixo de 2f (2f x 2/3) ou quarta acima de f (4/3 x f), tem-se F (Também podemos obter o Fá
da oitava mais grave a partir da ideia de simetria: 3/2 é a quinta Sol; então, 2/3 é a quinta inferior
Fá. Multiplicamos este valor por dois (para subir uma oitava) e dá a quarta: 2/3 x 2 = 4/3);
3) quinta acima de f (3/2 x f), tem-se G;
4) quarta abaixo de G (3/4 x 3/2 x f = 9/8 de f), tem-se D;
5) quinta acima de D (3/2 x 9/8 x f = 27/16), tem-se A;

Até aqui temos uma típica escala pentatônica (C, D, F, G, A), comum a inúmeras culturas musicais.

C D F G A C

1f 9/8f 4/3f 3/2f 27/16f 2f


A partir desses pressupostos, Pitágoras pôde constituir sua escala
diatônica, realizada por meio da utilização de tais proporções simples,
seguindo as etapas abaixo:
6) completando a escala, tem-se a quarta abaixo de A (3/4 x 27/16 = 81/64), ou seja
E, e quinta acima de E, ou seja B (81/64 x 3/2 = 243/128);
Como resultante, tem-se então:
C D E F G A B C
1f 9/8f 81/64f 4/3f 3/2f 27/16f 243/128f 2f
intervalos: 9/8 9/8 256/243 9/8 9/8 9/8 256/243
Como obter os intervalos entre as frações…
- Precisamos dividir as frações…
- Intervalos D-C: (9/8) / 1 = 9/8;
- Intervalo E-D: (81/64) / (9/8) = 81/64 x 8/9 = 1 x 9/8 (simplificando) = 9/8
- Intervalo F-E: (4/3) / (81/64) = (4 x 64) / (3 x 81) = 256/243
- Intervalo G-F: (3/2) / (4/3) = 3/2 x 3/4 = (3 x 3) / (2 x 4) = 9/8
- Intervalo A-G: (27/16) / (3/2) = 27/16 x 2/3 = 9/8 x 1 (simplificando) = 9/8
- Intervalo B-A: (243/128) / (27/16) = 243/128 x 16/27 = 9/8 x 1 (simplificando)
= 9/8
- Intervalo C-B: (2) / (243/128) = 2 x 128/243 = (2 x 128) / (1 x 243) = 256/243
tom inteiro pitagórico e semitom diatônico pitagórico
Temos então duas razões de intervalos:

1) 9/8 = 1,125 (chamado tom inteiro pitagórico)


2) 256/243 = 1,053 (1,0534979423868314; chamado semitom diatônico
pitagórico)
O Fá #
Prosseguindo com a propagação de quartas ou quintas, a fim de completar
cromaticamente a escala diatônica, tem-se a quarta abaixo de B = F#:

243/128 x 3/4 = (243x3) / (128x4) = 729/512 (F#)

Percebe-se, já aí, que os números das razões tornam-se cada vez maiores.
Intervalo entre G e F#
(3/2) / (729/512) = (3 x 512) / (2 x 729) = 1536/1458 = 256/243 (dividindo por 6
cada número)

Esta razão corresponde ao semitom diatônico pitagórico.


Intervalo entre F e F#
Entretanto, se se obtém a razão entre F e F#, ou seja:

(729/512) / (4/3) = (729 x 3) / (512 x 4) = 2187/2048

Tem-se uma outra razão para o semitom, então chamado de semitom cromático
pitagórico, o qual revela-se como sendo um pouco maior que o semitom diatônico
pitagórico, pois:

1) semitom diatônico pitagórico = 256/243 = 1,053


2) semitom cromático pitagórico = 2187/2048 = 1,067
"somando" o tom inteiro 6 vezes deveria chegar na
oitava…
(9/8) x (9/8) x (9/8) x (9/8) x (9/8) x (9/8) = (9/8)6 = 2,0272865295410156 (deveria
ser 2, para ser igual ao Dó, mas ela é um pouco mais aguda).

Portanto, neste sistema de afinação, Si# não é igual a Dó.


Coma pitagórica
- A razão da diferença entre os semitons diatônico e cromático pitagóricos, ou entre a
oitava (na razão 2) e sua presumível enarmonia pelos passos da sobreposição do
tom inteiro pitágorico (9/8 multiplicado 6 vezes), é o que se designa por coma
pitagórica.
- É o pequeno intervalo (ou coma) que existe na afinação pitagórica entre duas notas
enarmonicamente equivalentes como C e B♯, ou Db e C#; aproximadamente, um
quarto de semitom (entre 75:74 e 74:73, ou 531441 / 524288).
- 74 / 73 = 1, 0137
- 531441 / 524288 = 1, 01364
Coma pitagórica
- A coma pitagórica pode também ser vista como sendo a diferença entre a
sobreposição de 12 quintas pitagóricas (ou também justas, como veremos) e
7 oitavas, cujos passos deveriam ser coincidentes, mas não são.
- (3/2)12 (a quinta multiplicada 12 vezes) = 129,74…
- 27 (a oitava multiplicada 7 vezes) = 128
- ou: (3/2)12 / 27 = 1, 0136… (deveria ser igual a 1; 128/128, por exemplo…)
Coma pitagórica
- A coma pitagórica foi a responsável pelas limitações históricas que a escala
pitagórica demonstrou possuir ao longo da história, incompatibilizando seu
uso sistemático pela incongruência das notas supostamente enarmônicas.
- A existência de duas razões matemáticas para o semitom (que deveria
constituir um único intervalo) constitui o principal problema da escala
pitagórica.
- Muitos sistemas de organização das alturas se sucederam às tentativas de
Pitágoras e dos pitagóricos, a fim de evitar essas incongruências, e com a
finalidade de permitir o livre exercício da transposição e a modulação.
escala pitagórica e a ausência de enarmonia…
- Através da constatação da coma pitagórica, percebemos que quanto mais
calcularmos propagações de quarta e de quinta pitagóricas, tanto mais nos
distanciamos do ponto de partida.
- Disto resulta que: F## é diferente de G, C## é diferente de D, e assim por
diante.

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