Você está na página 1de 465

ATLAS

Socioambiental
MUNICÍPIOS DE TOMÉ-AÇU, AURORA DO PARÁ,
IPIXUNA DO PARÁ, PARAGOMINAS E ULIANÓPOLIS
ATLAS SOCIOAMBIENTAL

MUNICÍPIOS DE TOMÉ-AÇU, AURORA DO PARÁ,


IPIXUNA DO PARÁ, PARAGOMINAS E ULIANÓPOLIS
Realizadores:

NAEA

ATLAS SOCIOAMBIENTAL
MUNICÍPIOS DE TOMÉ-AÇU, AURORA DO PARÁ,
IPIXUNA DO PARÁ, PARAGOMINAS E ULIANÓPOLIS

Maurílio de Abreu Monteiro


Maria Célia Nunes Coelho
Estêvão José da Silva Barbosa
(Organizadores)

Belém
2009
Diretor Presidente: Roger Agnelli
Diretor Executivo de Finanças e Relações com Investidores: Fabio Barbosa
Diretor Executivo de Recursos Humanos e Serviços Corporativos: Carla Grasso
Diretor Executivo de Logística: Eduardo de Salles Bartolomeo
Diretor Executivo de Minerais Ferrosos: José Carlos Martins
Diretor Executivo de Níquel e Comercialização de Metais Básicos: Murilo de Oliveira Ferreira
Diretor Executivo de Não Ferrosos e Energia: Tito Botelho Martins
Diretor Executivo de Gestão e Sustentabilidade: Demian Fiocca

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Reitor: Alex Bolonha Fiúza de Mello


Vice-Reitora: Regina Fátima Feio Barroso
Pró-Reitora de Administração: Simone Baía
Pró-Reitor de Planejamento: Sinfrônio Brito Moraes
Pró-Reitor de Ensino de Graduação: Licurgo Peixoto de Brito
Pró-Reitora de Extensão: Ney Cristina Monteiro de Oliveira
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Roberto Dall´Agnol
Pró-Reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: Sibele Bitar Caetano
Prefeito do Campus: Luiz Otávio Mota Pereira

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS

Coordenação Geral: Edna Maria Ramos Castro


Vice-Coordenação: Thomas Piter Hurtienne
Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Sustentável do Trópico Úmido – PDTU: Armin Mathis
Coordenação do Programa de Pós-Graduação
Latu Sensu – PPLS: Rosa Elizabeth Acevedo Marin

Apoio:

Atlas socioambiental: municípios de Tomé-Açú, Aurora do Pará, Ipixuna do Pará,


Paragominas e Ulianópolis / Maurílio de Abreu Monteiro, Maria Célia Nunes
Coelho, Estêvão José Silva Barbosa; organizadores._ Belém: NAEA, 2008.

464 f. : il. (color.) ; 31 cm.


Inclui bibliografias
ISBN 978-85-7143-068-6

1. Tomé-Açu (PA) – Condições sociais – Mapas. 2. Tomé-Açu (PA) – Condições


ambientais – Mapas. 3. Aurora do Pará (PA) – Condições sociais – Mapas. 4. Aurora do
Pará (PA) – Condições ambientais – Mapas. 5. Ipixuna do Pará (PA) – Condições sociais
– Mapas. 6. Ipixuna do Pará (PA) – Condições ambientais – Mapas. 7. Paragominas (PA)
– Condições sociais – Mapas. 8. Paragominas (PA) – Condições ambientais – Mapas.
9. Ulianópolis – Condições sociais – Mapas. 10. Ulianópolis – Condições ambientais –
Mapas. 11. Pará – Atlas

CDD 330.98115
ILUSTRAÇÕES DO MIOLO: EQUIPE TÉCNICA
• Páginas 24 e 25: Região da foz dos rios Amazonas e Pará em mapa COORDENAÇÃO:
elaborado por João Teixeira Albernaz, “Pequeno Atlas do Grão-Pará e Maurílio de Abreu Monteiro
Maranhão” (1629), parte 3. Todos os direitos reservados à Fundação
Biblioteca Nacional (Usuário: Elis Miranda; Recibo n.º 197.915).* ORGANIZAÇÃO:
• Páginas 60 e 61: Habitações às margens do rio Capim. Foto: Juarez Maurílio de Abreu Monteiro
Pezzutti (2004).* Maria Célia Nunes Coelho
• Páginas 74 e 75: Trecho de várzea no rio Capim. Foto: Luciano Estêvão José da Silva Barbosa
Montag (2004).*
• Páginas 110 e 111: Aguapé (Eichornia crassipes Mart.). Foto: Luciano SUPERVISÃO GERAL:
Montag (2004).* Regiane Paracampos da Silva
• Página 136: Indivíduo de tracajá (Podocnemis unifilis Troschel) ter-
EDITORAÇÃO:
morregulando no rio Capim. Foto: Juarez Pezzutti (2004). Estêvão José da Silva Barbosa
• Páginas 162 e 163: Pescadores no rio Capim. Foto: Luciano Montag Regiane Paracampos da Silva
(2004).* Lígia da Silva Ramos
• Página 222: Projeto de reflorestamento com paricá (Schizolobium
amazonicum (Huber) Duck), Paragominas. Foto: Regiane Paracam- REVISÃO:
pos (2005). José dos Anjos
• Páginas 246 e 247: Fornos em carvoaria de Ulianópolis. Foto: Re-
giane Paracampos (2005).* EQUIPE DE CARTOGRAFIA:
• Página 272: Crianças observando um espécime de sapo cururu Flávio Altieri
(Bufo spp.). Foto: Ulisses Gelatti (2005). Carlos Romano Ramos
Elton Jean Peixoto
• Páginas 302 e 303: Aspecto da ocupação na planície do igarapé Para-
Regiane Paracampos da Silva
gominas. Foto: Estêvão Barbosa (2006).* Jorge Rafael Amaral Alencar
• Páginas 392 e 393: Moradores das margens do rio Capim. Foto: Estêvão José da Silva Barbosa
Juarez Pezzutti (2004).* Pedro Fernandes Neto
Rodney Salomão (IMAZON)
* Ilustrações presentes também na capa. Marcus Andre Fuckner (SIPAM – CTO Belém)

ASSISTENTE DE PESQUISA (PÓS-GRADUAÇÃO):


Sheila do Socorro Teixeira Gemaque

ESTAGIÁRIOS (GRADUAÇÃO):
Cleyson Alberto Nunes Chagas (Economia – UFPA)
Vandemberg Assunção Pastana (Geografia – UFPA)
Arlesson Antônio de Almeida Souza (Geografia – UFPA)
Fernanda Moreira (Direito – UFPA)

EQUIPE DE LEVANTAMENTO DO USO DO SOLO


URBANO (COORDENADORES):
Ráulisson Dias Pereira
Robsmar Dias Pereira
Estêvão José da Silva Barbosa
Paulo Alves Melo

INSTITUIÇÕES QUE APOIARAM O PROJETO:


Serviço de Proteção da Amazônia – SIPAM CTO Belém
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
Instituto do Meio Ambiente e do Homem da Amazônia – IMAZON
Prefeitura Municipal de Tomé-Açu
Prefeitura Municipal de Aurora do Pará
Prefeitura Municipal de Ipixuna do Pará
Prefeitura Municipal de Paragominas
Prefeitura Municipal de Ulianópolis

PROJETO GRÁFICO
Luciano Silva (RL|2 Propaganda e Publicidade)

DIAGRAMAÇÃO
Luciano Silva e Roger Almeida (RL|2 Propaganda e Publicidade)
SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 AVES


Alexandre Aleixo, Fabíola Poletto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
LISTA DE QUADROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
FAUNA ASSOCIADA ÀS BACIAS DOS RIOS CAPIM
LISTA DE TABELAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 E ACARÁ-MIRIM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

LISTA DE GRÁFICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 PEIXES


Luciano Fogaça de Assis Montag, Valéria de Albuquerque Oliveira,
LISTA DE FOTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Deyse Gonçalves de Oliveira, Wolmar Benjamin Wosiacki . . . . . . . . . . . 138

LISTA DE FIGURAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 QUELÔNIOS E CROCODILIANOS


Daniely Félix-Silva, Juarez Carlos Brito Pezzutti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
LISTA DE BOXS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
ANFÍBIOS, LAGARTOS E SERPENTES
APRESENTAÇÃO Ulisses Galatti, Lanna D. S. Printes, Pablo Suárez . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Maurílio de Abreu Monteiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
PERFIL SOCIOECONÔMICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
INTRODUÇÃO
Maurílio de Abreu Monteiro, Maria Célia Nunes Coelho, PERFIL DAS ECONOMIAS MUNICIPAIS
Estêvão José da Silva Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Maurílio de Abreu Monteiro, Danilo Araújo Fernandes,
Wesley Pereira Oliveira, Heriberto Wagner Amanajás Pena,
FORMAÇÃO HISTÓRICA E TERRITORIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Raphael Paiva Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164

ENSAIO: IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA, DA DEMOGRAFIA


GEOGRAFIA E DA CARTOGRAFIA NA ANÁLISE DA Gilberto de Miranda Rocha, Luiz Otávio do Canto Lopes . . . . . . . . . . . . 176
FORMAÇÃO SOCIAL E TERRITORIAL DA AMAZÔNIA
Rosa Elizabeth Acevedo Marin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 CARACTERIZAÇÃO DO ENSINO
Lilian Simone Amorim Brito, Gilber Valério Cordovil . . . . . . . . . . . . . . 188
A ÁREA ENTRE OS RIOS GURUPI E MOJU NO CONTEXTO
DA FORMAÇÃO TERRITORIAL DA AMAZÔNIA – 1616 A 1753 ANÁLISE DAS CONDIÇÕES PÚBLICAS DE SAÚDE
Elis Miranda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Sandra Helena M. Leite, Edna S. Ferreira Sales,
Marcus Andre Fuckner, Luiz Felipe Pinto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
POVOAMENTO E SOCIEDADES ENTRE OS RIOS
GURUPI E MOJU NO PARÁ DOS SÉCULOS XVIII E XIX DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS RELIGIÕES
Rosa Elizabeth Acevedo Marin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Marcos Alexandre Pimentel da Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 218

FRENTES DE OCUPAÇÃO E EXPLORAÇÃO ECONÔMICA RECURSOS NATURAIS: ASPECTOS DE USO E MANEJO . . . . . . 223
NO SÉCULO XX
Maria Célia Nunes Coelho, Maurílio de Abreu Monteiro . . . . . . . . . . . 45 CAÇA E USO DA FAUNA
Rossano Marchetti Ramos, Juarez Carlos Brito Pezzutti,
A ÁREA DE ESTUDO NO CONTEXTO REGIONAL Nívia Aparecida Silva do Carmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 224
Maurílio de Abreu Monteiro, Maria Célia Nunes Coelho,
Estêvão José da Silva Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 SITUAÇÃO, IMPACTOS E PERSPECTIVAS DO
SETOR MADEIREIRO
BASES FÍSICAS DO ESPAÇO GEOGRÁFICO . . . . . . . . . . . . . . . 75 Adalberto Veríssimo, Denys Serrão Pereira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233

GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS


Carlos Romano Ramos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 PROJETOS DE EXPLORAÇÃO MINERAL
Carlos Romano Ramos, Maurílio de Abreu Monteiro . . . . . . . . . . . . . . . 242
FEIÇÕES DO RELEVO REGIONAL
Pedro Rocha Silva, Estêvão José da Silva Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 PRODUÇÃO DE RIQUEZAS E MODOS DE VIDA
NO CAMPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA
AGRICULTURA: PRINCIPAIS LAVOURAS
Odete Cardoso de Oliveira Santos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Merilene do Socorro Silva Costa,
Maria de Nazaré Martins Maciel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248
ORGANIZAÇÃO DA DRENAGEM
Pedro Rocha Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 TEXTO ESPECIAL: PECUÁRIA
Almir Vieira Silva, Paulo Campos Christo Fernandes . . . . . . . . . . . . . . . 254
SOLOS E POTENCIALIDADE AGRÍCOLA
Pedro Rocha Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
CONFLITOS E RESISTÊNCIA DAS POPULAÇÕES
NO CAMPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273
ELEMENTOS DA BIODIVERSIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

COBERTURA VEGETAL ARTIGO: ANÁLISE JURÍDICA PARA REALIZAÇÃO


Samuel Soares de Almeida, Antônio Sérgio Lima da Silva, DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
Ingrid Cristina Borralho da Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 José Heder Benatti, Lully Rodrigues da Cunha Fischer . . . . . . . . . . . . . . 274

MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE POPULAÇÕES INDÍGENAS E A TERRA DO


José de Sousa e Silva Júnior, Eldianne Moreira de Lima, ALTO RIO GUAMÁ
Carolina Cigerza de Camargo, Rossano Marchetti Ramos . . . . . . . . . . . . 125 Márcio Couto Henrique . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282
TERRITORIALIDADE DE GRUPOS QUILOMBOLAS REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 419
Rosa Elizabeth Acevedo Marin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
REFERÊNCIAS GERAIS DOS MAPAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 427
COLÔNIAS E ASSENTAMENTOS RURAIS
José Antônio Magalhães Marinho, Ricardo Scoles Cano . . . . . . . . . . . . . 294 ANEXOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 434

ESPAÇOS URBANOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 303 ANEXO 1 – Listagem geral das espécies registradas nos inventários
realizados nos municípios de Paragominas e Ulianópolis,
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS URBANOS Estado do Pará – Cobertura vegetal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 434
Ana Cláudia Duarte Cardoso, José Júlio Ferreira Lima,
Estêvão José da Silva Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 304 ANEXO 2 – Listagem geral das espécies vegetais registradas nos
ambientes de capoeira recente, floresta de terra firme, capoeira antiga
A URBANIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO e floresta de várzea. Município de Tomé-Açu, Estado do Pará. . . . . . . . . 440
Ana Cláudia Duarte Cardoso, José Júlio Ferreira Lima,
Estêvão José da Silva Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 307 ANEXO 3 – Listagem geral das espécies vegetais registradas nos
ambientes de capoeira alta, capoeira baixa e floresta explorada.
ÁREAS URBANAS E OS SÍTIOS DAS CIDADES Municípios de Aurora do Pará e Ipixuna do Pará. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 446
Ana Cláudia Duarte Cardoso, José Júlio Ferreira Lima,
Estêvão José da Silva Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 313 ANEXO 4 – Composição de espécies de peixes das bacias dos rios
Capim e Acará-Mirim, Estado do Pará. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 451
FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO INTRA-URBANA
Ana Cláudia Duarte Cardoso, José Júlio Ferreira Lima, ANEXO 5 – Incidências das espécies de peixes nos igarapés das
Estêvão José da Silva Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344 bacias dos rios Capim e Acará-Mirim, Estado do Pará. . . . . . . . . . . . . . . 453

PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS URBANOS ANEXO 6 – Relação das espécies registradas da Classe Amphibia
Ana Cláudia Duarte Cardoso, José Júlio Ferreira Lima, nos municípios de Paragominas, Ulianópolis, Tomé-Açu,
Estêvão José da Silva Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 384 Ipixuna do Pará e Aurora do Pará. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 454

QUESTÕES REGIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 393 ANEXO 7 – Relação das espécies de Anfisbenas e Lagartos registradas
para os municípios de Paragominas, Ulianópolis, Tomé-Açu,
Ipixuna do Pará e Aurora do Pará. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 455
TERRITÓRIO E REDES DE ENERGIA ELÉTRICA
Maria Goretti da Costa Tavares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 394
ANEXO 8 – Relação das espécies de Serpentes registradas para os
municípios de Paragominas, Ulianópolis, Tomé-Açu,
PRESSÃO HUMANA
Ipixuna do Pará e Aurora do Pará. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 455
Carlos Souza Júnior, Rodney Rooney Salomão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397
ANEXO 9 – Diversidade de mamíferos não voadores de médio e
REGIÕES E SUB-REGIÕES PAISAGEM grande porte inventariada durante as campanhas do
Maria Célia Nunes Coelho, Maurílio de Abreu Monteiro, Atlas Sociombiental.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 456
Estêvão José da Silva Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 403
ÍNDICE CARTOGRÁFICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 458
ANÁLISE SOBRE A LITERATURA EXISTENTE
Maria Célia Nunes Coelho, Elis Miranda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 411 SOBRE OS AUTORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 460
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
lista de siglas e abreviaturas

A DNPM
Domin.
Departamento Nacional de Produção Mineral.
Dominância.
A Diversidade alfa (peixes). DSG Diretoria do Serviço Geográfico – Ministério do Exército.
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Abs.
Abund.
Absoluto(a).
Abundância.
E
E Leste.
ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Explorado (habitat).
ADI Área Dominial Indígena. EC Estação de coleta.
Agric. Agricultura. Exploração convencional (de floresta).
AHU Arquivo Histórico Ultramarino. EIC Exploração madeireira de impacto reduzido.
AL Alagoas. EJA Educação de Jovens e Adultos.
AM Amazonas. EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão
ANOVA Análise de variância. Rural do Estado do Pará.
Ant. Antigo(a). Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
AP Amapá. ENEM Exame Nacional do Ensino Médio.
Aurora do Pará (município). ENSO El Niño/ Oscilação Sul.
A.P. Antes do Presente. EP Espírito Santo.
APEP Arquivo Público do Estado do Pará. Esp. Espécie(s).
art. Artigo (Direito - lei, decreto etc.) ESP Diversidade de mamíferos não voadores esperada.
AU Aurora do Pará (cidade). ETM Enhanced Thematic Mapper Plus (satélite).

B ETPP
EUA
Escola de Trabalho e Produção do Pará.
Estados Unidos da América.
BA Bahia.
BASA
BR
Banco da Amazônia S.A.
Brasil.
F
FAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

C FBA
FE
Fazenda Badajós, Ipixuna do Pará.
Floresta explorada.
ca. Capoeira (vegetação). Flor. Floresta.
CADAM Caulim da Amazônia S.A. FMV Fazenda Monte Verde, Peixe-Boi (PA).
CAEMI Companhia Auxiliar de Empresas de Mineração. FNE Floresta não-explorada.
CAMTA Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu. FNO Fundo Constitucional de Financiamento do Norte.
CAP Capoeira (vegetação). FRC Fazenda Rio Capim.
Capoei./ Cap. Capoeira (vegetação). FS Floresta secudária.
CE Ceará. FSC Forest Stewardship Council.
CF Constituição Federal (Brasil). FUNAI Fundação Nacional do Índio (Brasil).
CIFOR Center of International Forest Research. FUNASA Fundação Nacional de Saúde (Brasil).
CI Conservação Internacional. FV Fazenda Vitória.
Cm Centímetro(s).
CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos
de Saúde (Brasil).
G
G Grama.
Coef. Coeficiente. GBR Reserva Biológica de Gurupi (MA).
COHAB Companhia de Habitação do Estado do Pará. GERES Gerência de Base de Dados Estatísticos.
COM Comprimento padrão (cm) médio da espécie (peixes). GO Goiás.
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente (Brasil). GPS Global Position System.
CONSTRAM Consórcio Azevedo e Travassos.
CPI
CPRM
Comissão Parlamentar de Inquérito.
Companhia de Pesquisas de Recursos
H
H Diversidade de Shanon Weaver.
Minerais (Brasil). ha. Hectare(s)
CRAI Companhia Real Agro-Industrial, Tailândia (PA). Hab. Habitantes.
CTO Centro Técnico-operacional.
CVRD
Cx.
Companhia Vale do Rio Doce.
Caixa
I
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

D IBDF
Recursos Naturais Renováveis.
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal.
D. Dom (título). IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
DAP Diâmetro à altura do peito (vegetação). IDH Índice de Desenvolvimento Humano.
DATASUS Banco de Dados do Sistema Único de Saúde. IDH-M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal.
DCU histórico ID-SPC Código da espécie (peixes).
DF Distrito Federal. IF Inventário florístico.
DGC Diretoria de Geografia e Cartografia – IBGE. IMAZON Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia.
DIEPI Diretoria de Estudos, Pesquisas e Informações INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
Socioeconômicas. Inv. Inventário(s).

8
IP Ipixuna do Pará (município). PCA Análise de Componente Principal.
IPAM Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. PCN Parâmetros Curriculares Nacionais.
IPI Ipixuna do Pará (cidade). PDR Plano Diretor de Regionalização (saúde).
Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. PE Pernambuco.
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Pe. Padre.
IRCC Imerys Rio Capim Caulim. PEA População economicamente ativa.
ITERPA Instituto de Terras do Estado do Pará. PI Piauí.
IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza. PIB Produto Interno Bruto.
IVC Índice de Valor de Cobertura. PIN Posto Indígena.
PL Projeto de Lei.
K PLADES Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento
Kg Quilograma. (NAEA-UFPA).
Km / km Quilômetro. PM Peso médio (g) dos indivíduos na coleção total (peixes).
Km2 / km2 Quilômetro(s) quadrado(s). PNLD Plano Nacional de Avaliação dos Livros Didáticos.
km/h Quilômetros por hora. PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
PO Ponto de observação.
L PPSA Pará Pigmentos S.A.
lat-long Latitude – longitude. PR Paraná.
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação. PRE Preservação e/ou conservação.
LP Légua Patrimonial. PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.
PSF Programa Saúde da Família.
M PT Peso total (g) capturado (peixes).
M Metro(s).
m2 Metro(s) quadrado(s). R
m3 Metros cúbicos R$ Real. Reais (moeda).
MA Maranhão. RAIS Relação Anual de Informações Sociais.
mar. Março. RAP Rapid Assessment Program.
MCT Ministério da Ciência e Tecnologia (Brasil). Rb Relação de Bifurcação (Hidrografia).
MEC Ministério da Educação (Brasil). RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável.
MG Minas Gerais. Rec. Recente.
MMA Ministério do Meio Ambiente (Brasil). Rel. Relativo(a).
MP Medida Provisória. REQ Requalificação urbana.
MPA Manejo de paisagem atificial. RJ Rio de Janeiro.
MPEG Museu Paraense Emílio Goeldi. RMB Região Metropolitana de Belém.
MPF Ministério Público Federal. RN Rio Grande do Norte.
Mm Milímetro. RO Rondônia.
MRH Microrregião Homogênea. RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural.
MS Mato Grosso do Sul. RR Roraima.
MST Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. RS Rio Grande do Norte.
MT Mato Grosso.
S
N S Riqueza observada (peixes).
N Norte. S.A. Sociedade Anônima.
N./ n. Número. Hemisfério Sul, de 0º a 04º S.
NAEA Núcleo de Altos Estudos Amazônicos. SAF Sistema agrossilvicultural.
NE Nordeste. Sistema agro-florestal.
Não explorado (habitat). SC Santa Catarina.
NOAS Norma Operacional de Assistência à Saúde. SE Sudeste.
NOB Norma Operacional Básica (saúde). Sergipe.
NPK Nitrogênio – Fósforo – Potássio. SEDUC Secretaria de Estado de Educação (Pará).
NW Noroeste. SEFA Secretaria de Estado de Fazenda (Pará).
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Brasil).
O SEPOF Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e
OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Gestão (Pará).
ONG Organização não-governamental. SESPA Secretaria de Estado de Saúde (Pará).
OSCIP Organizações da sociedade civil de interesse público. SIG Sistema de Informações Geográficas.
SIGIEP Sistema de Informações Georeferenciais do Estado do Pará.
P SIH Sistema de Informação Hospitalar.
PA Pará. SIM Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Paragominas (município). SINASC Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos.
Projeto de Assentamento. SINAM Sistema Nacional de Atendimento Médico.
PACS Programa Agente Comunitário de Saúde. SIPAM Serviço de Proteção da Amazônia.
PAM Produção Agrícola Municipal. SIPRA Colônias e assentamentos
PAR Paragominas (cidade). SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
PB Paraíba. sp. Espécie.

9
SP São Paulo. UFPA Universidade Federal do Pará.
SPI Serviço de Proteção aos Índios. UFRA Universidade Federal Rural da Amazônia.
spp. Espécies. ULI Ulianópolis (cidade).
Sudam Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia. UNR Usos não-residenciais.
SUS Serviço Único de Saúde (Brasil). UPGMA Unweighthed Paired Group Method by Mathematical Average.
SW Sudoeste. Método de ligação pela média de grupos (peixes)
US$ Dólar(es).
T UTI Unidade de Terapia Intensiva.
T Tonelada. UTM Universal Transverse Mercator.
TA Tomé-Açu (município).
TF Terra Firme. V
T.I. Terra Indígena. VA Valor adicionado (economia).
TO Tocantins.
TOM Tomé-Açu (cidade). W
TER Tribunal Regional Eleitoral W Oeste.

U Z
U Medida de Pielou (peixes). ZCAS Zona de Convergência do Atlântico Sul.
UC Unidade de Conservação. ZCIT Zona de Convergência Intertropical.
UEPA Universidade do Estado do Pará.

10
LISTA DE QUADROS
lista de quadros

ENSAIO: IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA, DA GEOGRAFIA CAÇA E USO DA FAUNA


E DA CARTOGRAFIA NA ANÁLISE DA FORMAÇÃO Quadro 1 - Identificação científica dos animais citados. . . . . . . . . . . . . . 232
SOCIAL E TERRITORIAL DA AMAZÔNIA
Quadro 1 - Formas e relações de trabalho nos vales dos TEXTO ESPECIAL: PECUÁRIA
rios Tocantins, Capim, Guamá, Acará e Moju – Quadro 1 - Perspectivas gerais sugeridas aos pequenos
Séculos XVIII e XIX.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 produtores de Tomé-Açu e Paragominas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
Quadro 2 - Desenvolvimento metodológico para o Atlas Quadro 2 - Perspectivas gerais sugeridas ao pequeno
Socioambiental (Parte Histórica). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 produtor de Tomé-Açu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
Quadro 3 - Perspectivas gerais sugeridas ao pequeno
A ÁREA ENTRE OS RIOS GURUPI E MOJU NO produtor de Paragominas.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
CONTEXTO DA FORMAÇÃO TERRITORIAL DA Quadro 4 - Perspectivas gerais sugeridas ao grande produtor
AMAZÔNIA – 1616 A 1753 de Tomé-Açu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271
Quadro 1 - Fontes históricas – Século XVII. . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 Quadro 5 - Perspectivas gerais sugeridas ao grande produtor
de Paragominas.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271
POVOAMENTO E SOCIEDADES ENTRE OS RIOS
GURUPI E MOJU NO PARÁ DOS SÉCULOS XVIII E XIX POPULAÇÕES INDÍGENAS E A TERRA DO
Quadro 1 - Engenhos instalados no período ALTO RIO GUAMÁ
colonial (1627-1822). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Quadro 1 - Terras Indígenas da Área de Estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285

A ÁREA DE ESTUDO NO CONTEXTO REGIONAL COLÔNIAS E ASSENTAMENTOS RURAIS


Quadro 1 - Criação de municípios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 Quadro 1 - Situação das atividades agropecuárias nos
Assentamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299
GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS Quadro 2 - Situação social de existência dos assentados. . . . . . . . . . . . . 299
Quadro 1 - Divisão cronológica da história da Terra. . . . . . . . . . . 76
Quadro 2 - Coluna estratigráfica da área de estudo. . . . . . . . . . . . 77 ESPAÇOS URBANOS
Quadro 1 - Variáveis socioeconômicas analisadas com
CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA base em dados do Censo do IBGE (2000). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344
Quadro 1 - Discriminação e localização das Estações Quadro 2 - Informações sobre abastecimento de água
Pluviométricas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 por rede geral (2006). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 345
Quadro 3 - Informações sobre coleta de lixo (2006). . . . . . . . . . . . . . . . 346
SOLOS E POTENCIALIDADE AGRÍCOLA Quadro 4 - Estereotipando as Agendas Marrom e Verde
Quadro 1 - Classes de aptidão agrícola – Latossolos para a melhora de ambientes urbanos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 385
Amarelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 Quadro 5 - Princípios das Agendas Marrom e Verde aplicáveis
Quadro 2 - Classes de aptidão agrícola – Podzólico Amarelo aos problemas ambientais em áreas urbanas, adaptado de
e Vermelho-Amarelo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 McGranahan e Satterthwaite (200, p. 76).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 385
Quadro 3 - Classes de aptidão agrícola – Solos Aluviais. . . . . . . . 103 Quadro 6 - Relação de instrumentos aplicáveis à gestão
Quadro 4 - Classes de aptidão agrícola e Tipos de Utilização. . . . 107 ambiental dos espaços urbanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 386
Quadro 7 - Instrumentos de regulação municipal aplicáveis
AVES aos espaços urbanos da área de estudo (2006). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 386
Quadro 1 - Localidades onde foram realizadas coletas prévias Quadro 8 - Presença de vegetação no interior e no entorno
de material ornitológico depositado na Coleção Ornitológica dos espaços urbanos estudados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 388
do Museu Paraense Emílio Goeldi oriundo dos municípios de
Paragominas, Ulianópolis, Tomé-Açu e Ipixuna do Pará. . . . . . . . 132 REGIÕES E SUB-REGIÕES PAISAGEM
Quadro 1 - Eixos/ setores de ocupação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 404
PEIXES Quadro 2 - Regiões e Sub-regiões Paisagem.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 404
Quadro 1 - Lista taxonômica de peixes de água doce
catalogados para as bacias dos rios Capim e Acará-Mirim
(modificada de Lauder e Liem, 1983, para as categorias
superiores a ordem). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

11
LISTA DE TABELAS
lista de tabelas

POVOAMENTO E SOCIEDADES ENTRE OS RIOS Tabela 12 - Metadados de localização e ambientes dos


GURUPI E MOJU NO PARÁ DOS SÉCULOS XVIII E XIX inventários florísticos nos municípios de Ipixuna do Pará e
Tabela 1 - Cabeças de famílias de lavradores e senhores Aurora do Pará. Legenda: AP – Aurora do Pará, IP – Ipixuna
de engenho em 1778. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 do Pará, IV – inventário, PO – ponto de observação. . . . . . . . . . . . . . . . . 122
Tabela 2 - Demografia das freguesias rurais de Belém e
Lugares de Índio em 1823. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE
Tabela 1 - Resumo da diversidade de mamíferos (mastofauna)
A ÁREA DE ESTUDO NO CONTEXTO REGIONAL não voadores esperada (ESP) em relação à inventariada nos
Tabela 1 - População urbana e rural no ano 2000. . . . . . . . . . . . . . 70 municípios de Ipixuna do Pará (IP), Tomé-Açu (TA) e
Tabela 2 - Área total dos municípios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 Paragominas (PA) durante as campanhas de campo.. . . . . . . . . . . . . . . . . 126
Tabela 3 - Setores censitários dos municípios.. . . . . . . . . . . . . . . . 70 Tabela 2 - Resumo da diversidade de mamíferos, primatas e não
primatas, e esforço de amostragem nos três sítios levantados em
CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA Paragominas neste estudo, e em cinco sítios levantados por Lopes
Tabela 1 - Distribuição mensal de chuvas (em mm) nos e Ferrari (2000).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Municípios de Ulianópolis (Gurupizinho), Tabela 3 - Taxa de avistamento por 10 km de transecção
Paragominas e Tomé-Açu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 percorrido para as espécies de mamíferos de médio e grande
porte neste estudo e em cinco sítios na Amazônia Oriental
ORGANIZAÇÃO DA DRENAGEM (Lopes, Ferrari, 2000).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
Tabela 1 - Hierarquia e Relação de Bifurcação das Bacias
da área de estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 AVES
Tabela 2 - Hierarquia e Relação de Bifurcação (rb) das Tabela 1 - Riqueza total de espécies de aves e riqueza / proporção
bacias sem identificação dos rios da área de estudo. . . . . . . . . . . . . 100 de espécies de aves ameaçadas e “especiais” entre unidades de
paisagem dos municípios de Paragominas, Ulianópolis, Tomé-Açu
SOLOS E POTENCIALIDADE AGRÍCOLA e Ipixuna do Pará. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
Tabela 1 - Extensão das principais classes de solos. . . . . . . . . . . . . 101
Tabela 2 - Identificação e Quantificação das Classes de PEIXES
Aptidão Agrícola das Terras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 Tabela 1 - Lista das espécies de peixes coletadas por redes de espera
no rio Capim em março de 2005. Família das espécies; código da
COBERTURA VEGETAL espécie (ID-SPC); nome da espécie; Freqüência relativa (%) da
Tabela 1 - Classes de tamanho dos indivíduos da vegetação abundância para a coleção total (N = 1026); abundância de
indivíduos capturados (N); peso total (g) capturado (PT);
a serem inventariados.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
comprimento padrão (cm) médio da espécie (CPM); e
Tabela 2 - Número de famílias e morfoespécies em cada uma
peso médio (g) dos indivíduos na coleção total (PM). . . . . . . . . . . . . . . . 144
das áreas inventariadas. Município de Paragominas (PA). . . . . . . . 115
Tabela 2 - Lista das espécies de peixes coletadas por redes de espera
Tabela 3 - Número de indivíduos e espécies registrados
no rio Acará-Mirim em maio de 2005. Família das espécies; código
nos inventários e pontos de observação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
da espécie (ID-SPC); nome da espécie; Freqüência relativa (%) da
Tabela 4 - Parâmetros florísticos e estruturais das
abundância para a coleção total (N = 66); abundância de Indivíduos
fitofisionomias amostradas no município de Tomé-Açu (PA). . . . 119
capturados (N); peso total (g) capturado (PT); comprimento
Tabela 5 - Formas de crescimento das espécies registradas
padrão (cm) médio da espécie (CPM); e peso médio (g) dos
nos PO’s realizados no município de Tomé-Açu (PA). . . . . . . . . . 119
indivíduos na coleção total (PM). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
Tabela 6 - Parâmetros Fitossociológicos de Abundância
Absoluta, Abundância Relativa, Área Basal e respectiva
QUELÔNIOS E CROCODILIANOS
Dominância (%) em ambiente de capoeira recente.
Tabela 1 - Número total de indivíduos de quelônios registrados
Município de Tomé-Açu (PA).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
nos rios Capim e Acará-Mirim de março a maio de 2005. . . . . . . . . . . . . 152
Tabela 7 - Parâmetros Fitossociológicos de Abundância
Tabela 2 - Espécies de quelônios aquáticos presentes no
Absoluta, Abundância Relativa, Área Basal e respectiva
rio Capim. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
Dominância (%) em ambiente de floresta de terra firme (TF1).
Tabela 3 - Biometria das espécies de quelônios capturadas. . . . . . . . . . . 153
Município de Tomé-Açu (PA).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Tabela 4 - Espécies de quelônios aquáticos presentes no
Tabela 8 - Parâmetros Fitossociológicos de Abundância
rio Acará-Mirim. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
Absoluta, Abundância Relativa, Área Basal e respectiva
Tabela 5 - Espécies de quelônios citadas e sua situação quanto
Dominância (%) em ambiente de floresta de terra firme (TF2).
à ocorrência nas áreas de estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
Município de Tomé-Açu (PA).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Tabela 6 - Espécies de peixes capturados no rio Capim em
Tabela 9 - Parâmetros Fitossociológicos de Abundância
março de 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
Absoluta, Abundância Relativa, Área Basal e respectiva
Tabela 7 - Número total de crocodilianos observados nos rios
Dominância (%) em ambiente de capoeira antiga (Cap Ant2).
Capim e Acará-Mirim de março a maio de 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
Município de Tomé-Açu (PA).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Tabela 8 - Morfometria dos crocodilianos capturados nos
Tabela 10 - Parâmetros Fitossociológicos de Abundância
rios Capim e Acará-Mirim no período de março a maio de 2005.. . . . . . 155
Absoluta, Abundância Relativa e Área Basal e respectiva
Tabela 9 - Técnicas empregadas para as observações de
Dominância (%) em ambiente de floresta de várzea. ocorrência de crocodilianos nos rio Capim e Acará-Mirim,
Município de Tomé-Açu (PA). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 no período de março a maio de 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
Tabela 11 - Parâmetros Fitossociológicos de A bundância
Absoluta, Abundância Relativa e Área Basal e respectiva ANFÍBIOS, LAGARTOS E SERPENTES
Dominância (%) em ambiente de floresta de terra firme (TF3). Tabela 1 - Número de famílias, gêneros e espécies dos principais
Município de Tomé-Açu (PA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 grupos da Herpetofauna registrados na área de estudo. . . . . . . . . . . . . . . 158

12
PERFIL DAS ECONOMIAS MUNICIPAIS Tabela 15 - Distribuição do número de leitos disponíveis no
Tabela 1 - Proporção do Valor Adicionado Municipal por setor sistema único de saúde – 2006.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
de atividade (valores em %).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164 Tabela 16 - Distribuição dos postos de trabalho em estabelecimentos
Tabela 2 - Valor Adicionado bruto a preço básico corrente por de saúde, segundo nível de escolaridade – 2005.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
setor, 2003 (R$ Mil).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164 Tabela 17 - Postos de trabalho em estabelecimentos de saúde,
Tabela 3 - Efeito escala e efeito substituição do Produto segundo nível de escolaridade e categorias ocupacionais – 2005.. . . . . . . 212
Interno Bruto (PIB) – Município de Paragominas Tabela 18 - Dengue, segundo os municípios – 2000 a 2005. . . . . . . . . . 213
(Valores em R$1.000,00). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166 Tabela 19 - Casos novos de malária, segundo os municípios –
Tabela 4 - PIB per capita a preço de mercado corrente 2003 a 2005.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214
(1997-2003) e IDH (2000). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168 Tabela 20 - Notificação de tuberculose – 2000 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . 215
Tabela 5 - Denúncias de trabalho escravo (2001 – 2006). . . . . . . . . . . . . 171 Tabela 21 - Casos notificados de hanseníase – 2000 a 2005. . . . . . . . . . . 216
Tabela 6 - Principais rebanhos existentes, 2003 (por cabeça) . . . . . . . . . 171
Tabela 7 - Quantidade e valor dos produtos de origem DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS RELIGIÕES
animal (2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 Tabela 1 - Distribuição das Religiões por Município. . . . . . . . . . . . . . . . 219
Tabela 8 - Valores simplificados das receitas (em %). . . . . . . . . . . . . . . . 173
Tabela 9 - Orçamento das Receitas Correntes do Município SITUAÇÃO, IMPACTOS E PERSPECTIVAS DO
de Aurora do Pará (valores em 1,00R$). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174 SETOR MADEIREIRO
Tabela 10 - Orçamento das Receitas Correntes do Município Tabela 1 - Produção de madeira em tora e demanda por áreas
de Ipixuna do Pará (valores em 1,00R$). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174 para manejo florestal nas zonas madeireiras do Pará em 2004.. . . . . . . . . 235
Tabela 11 - Orçamento das Receitas Correntes do Município Tabela 2 - Produção madeireira na Região de Paragominas, 2004.. . . . . 236
de Paragominas (valores em 1,00R$). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174 Tabela 3 - Produção processada de madeira na região
Tabela 12 - Orçamento das Receitas Correntes do Município de Paragominas, 2004.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236
de Tomé-Açu (valores em 1,00R$). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174 Tabela 4 - Empregos diretos e indiretos gerados pela indústria
Tabela 13 - Orçamento das Receitas Correntes do Município madeireira na região de Paragominas, 2004. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236
de Ulianópolis (valores em 1,00R$). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Tabela 5 - Origem da matéria-prima florestal na região de
Paragominas, 2004. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236
DEMOGRAFIA
Tabela 6 - Origem da matéria-prima por tamanho de propriedade
Tabela 1 - População urbana e rural do Estado do Pará (1970 – 2000). . 177
na região de Paragominas, 2004.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
Tabela 2 - Distribuição percentual da população do Estado do Pará
Tabela 7 - Principais espécies madeireiras mais extraídas e seus
entre as mesorregiões.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
preços médios, na região de Paragominas, 2004.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
Tabela 3 - População urbana e rural dos municípios da área
Tabela 8 - Mercado de madeira processada (%) na região de
de estudo (2000).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
Paragominas, 2004. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
Tabela 4 - Tamanho da População dos municípios que compõem
a área de estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178
PROJETOS DE EXPLORAÇÃO MINERAL
Tabela 5 - Taxa média geométrica de crescimento anual, segundo
Tabela 1 - Reservas Minerais (2004) (A). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 242
os municípios que compõem a área do projeto (1991 / 2000).. . . . . . . . . 178
Tabela 2 - Reservas Minerais (2004) (B).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 242
Tabela 6 - População urbana e rural (2000).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
Tabela 3 - Direitos minerários por fase. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 242
Tabela 7 - Grandes grupos de ocupação no trabalho principal. . . . . . . . 184
Tabela 4 - Substâncias minerais por fase/substância. . . . . . . . . . . . . . . . . 242
Tabela 8 - Imigrantes em relação à População Total, segundo os
municípios da área de estudo, 1996 e 2000.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
TEXTO ESPECIAL: PECUÁRIA
Tabela 9 - População residente, por lugar de nascimento,
Tabela 1 - Número de pessoas da família que trabalham fora da
segundo os municípios da área de estudo (2000). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
propriedade (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255
Tabela 2 - Profissões exercidas antes da aquisição da propriedade (%). . 256
ANÁLISE DAS CONDIÇÕES PÚBLICAS DE SAÚDE
Tabela 3 - Número de pessoas que compõem as famílias dos
Tabela 1 - Domicílios por abastecimento de água (2000). . . . . . . . . . . . 197
produtores (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256
Tabela 2 - Domicílios por instalações sanitárias, segundo
Tabela 4 - Contratação de mão-de-obra temporária pelos
os municípios (2000). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
Tabela 3 - Domicílios por coleta de lixo, segundo os produtores (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256
municípios (2000). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197 Tabela 5 - Objetivos da contratação de mão-de-obra (%). . . . . . . . . . . . 256
Tabela 4 - Indicadores sociais selecionados – Ano 2000 . . . . . . . . . . . . . 200 Tabela 6 - Condições de tráfego das estradas que dão acesso às
Tabela 5 - Cobertura populacional do Programa de Agentes propriedades nos períodos de verão e inverno (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . 258
Comunitários de Saúde (PACS) – 2000 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 Tabela 7 - Tamanho das propriedades (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 258
Tabela 6 - Cobertura populacional do Programa Saúde Tabela 8 - Atividades produtivas desenvolvidas nas propriedades (%). . 258
da Família (% ) – 2000 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202 Tabela 9 - Responsável pela coleta para análise de solo (%).. . . . . . . . . . 258
Tabela 7 - Nascidos vivos, segundo ano e município – 2000 a 2005 . . . 203 Tabela 10 - Taxa de proprietários que encontraram pastos
Tabela 8 - Óbitos segundo ano e município de residência – formados e de proprietários que formaram novos pastos (%).. . . . . . . . . 258
2000 a 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203 Tabela 11 - Uso do fogo na formação e limpeza das áreas de
Tabela 9 - Indicadores de mortalidade selecionados – 2004 . . . . . . . . . . 206 pastagens (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260
Tabela 10 - Mortalidade proporcional por grupo de causas Tabela 12 - Piquetes existentes na propriedade e dias de ocupação
definidas (%) – 2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209 de um mesmo piquete (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260
Tabela 11 - Internações hospitalares x grupo de causas – 2005. . . . . . . . 209 Tabela 13 - Número de vacas encontradas nas propriedades (%). . . . . . 260
Tabela 12 - Número de estabelecimentos de saúde segundo tipos Tabela 14 - Quantidade de leite produzido pelas vacas, segundo os
de unidade – 2006. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209 produtores (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260
Tabela 13 - Distribuição dos estabelecimentos de saúde, segundo Tabela 15 - Instalações rurais existentes nas propriedades (%). . . . . . . . 261
a natureza da unidade – 2006.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211 Tabela 16 - Inserção e motivação do produtor para participação
Tabela 14 - Distribuição da oferta de serviços especializados em da associação (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
estabelecimentos de saúde – 2006. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211 Tabela 17 - Ano de chegada do produtor ao município (%). . . . . . . . . . 263

13
Tabela 18 - Profissões exercidas antes de se tornarem COLÔNIAS E ASSENTAMENTOS RURAIS
agropecuaristas (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263 Tabela 1 - Colônias assentadas pela SAGRI em Paragominas
Tabela 19 - Número de propriedades por empresário rural (%). . . . . . . 264 (1968-1977). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 296
Tabela 20 - Tamanho médio das propriedades rurais (%). . . . . . . . . . . . 264 Tabela 2 - Percentuais das áreas de PA’s nas áreas dos municípios. . . . . 297
Tabela 21 - Origem da renda extra obtida pelos produtores (%).. . . . . . 265 Tabela 3 - Demonstrativo dos Projetos de Assentamento do INCRA. . 300
Tabela 22 - Principais atividades produtivas na propriedade (%). . . . . . 265
TERRITÓRIO E REDES DE ENERGIA ELÉTRICA
Tabela 23 - Geração de empregos e relação entre a área da
Tabela 1 - Domicílios Particulares atendidos por iluminação
propriedade e o número de empregos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 265
elétrica por município (2000). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 395
Tabela 24 - Número de produtores que obtiveram financiamentos
Tabela 2 - Estrutura do consumo de energia elétrica - 1996 (kwh).. . . . 395
e grau de sucesso nesta operação (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 265
Tabela 3 - Principais municípios atendidos e número de
Tabela 25 - Solução indicada para aumento da capacidade produtiva
consumidores no Pará - 3º trimestre de 2006. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 395
das áreas ocupadas com pastagens (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267
Tabela 26 - Uso do calcário e prática da adubação em áreas PRESSÃO HUMANA
de pastagens (%).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 268 Tabela 1 - Estimativa da Cobertura Florestal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397
Tabela 27 - Fertilizantes empregados e áreas onde estão Tabela 2 - Estimativa do desmatamento para o período
sendo aplicados (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 268 de 2001 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397
Tabela 28 - Assessoramento técnico e pagamento de serviços Tabela 3 - Número de Focos de Calor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 401
prestados (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 270 Tabela 4 - Estimativa das estradas oficiais e não-oficiais. . . . . . . . . . . . . 401
Tabela 5 - Situação fundiária. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 401

LISTA DE GRÁFICOS
lista de gráficos

FRENTES DE OCUPAÇÃO E EXPLORAÇÃO QUELÔNIOS E CROCODILIANOS


ECONÔMICA NO SÉCULO XX Gráfico 1 - Utilização de hábitats por quelônios aquáticos nos
Gráfico 1 (A e B) - Evolução das principais classes de rios Capim, durante viagem realizada no mês de março de 2005. . . . . . . 154
uso do solo – 1985-2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Gráfico 2 - Distribuição de quelônios e crocodilianos nas estações
de mostragem no rio Capim, durante março de 2005. . . . . . . . . . . . . . . . 155
A ÁREA DE ESTUDO NO CONTEXTO REGIONAL Gráfico 3 - Distribuição de quelônios e crocodilianos no rio
Gráfico 1 - População total por município. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Acará-Mirim nas estações de amostragem, durante maio de 2005. . . . . . 155
Gráfico 2 - Participação dos municípios na população total
da área de estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 ANFÍBIOS, LAGARTOS E SERPENTES
Gráficos 3 e 4 - População urbana e rural dos municípios. . . . . . 71 Gráfico 1 - Distribuição de freqüência do número de espécies dos
Gráfico 5 - Área total dos municípios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 diferentes grupos da herpetofauna terrestre observado por área de
Gráfico 6 - Participação dos municípios na extensão estudo. Miltônia: Área de Exploração da Bauxita da Vale do Rio Doce,
total da área de estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Fazenda Diamantina e Platô Miltônia, Paragominas; Cauaxi:
Fazenda Cauaxi, Paragominas; Vitória: Fazenda Vitória,
COBERTURA VEGETAL Paragominas; Jamic: Jamic, Tome-açu; Vila Nova: Tome-açu,
Gráfico 1 - Freqüência de classes de DAP por tipo de floresta. Comunidade Santo Antonio, Fazenda Inada e Vila Nova, Tome-Açu. . . 159
Acima: Capoeira antiga (aprox. 30 anos) (A); Centro: Floresta Gráfico 2 - Distribuição de freqüência de espécies dos grupos da
não manejada (B); Abaixo: Floresta com manejo herpetofauna terrestre associados aos rios Capim e Acará-Mirim. . . . . . 159
convencional (C). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 Gráfico 3 - Composição da herpetofauna terrestre associada aos
rios Capim e Acará-Mirim em relação ao habitat. AP: espécie
PEIXES indicadoras ou associadas a ambiente preservados; AA: espécies
Gráfico 1 - Famílias com os números de indivíduos indicadoras ou associadas a ambientes antropizados; AA/AP:
capturados nas bacias dos rios Capim e Acará-Mirim. . . . . . . . . . . 143 espécies que ocorrem em ambos ambientes.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
Gráfico 2 - Comprimento Padrão Médio (CPM) das espécies
coletadas por redes de espera no rio Capim (PA) no mês de PERFIL DAS ECONOMIAS MUNICIPAIS
março de 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 Gráfico 1 - Evolução do índice de preços das culturas do
Gráfico 3 - Lista das espécies de peixes coletadas por redes de Estado do Pará 1996-2003. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
espera no rio Acará-Mirim em maio de 2005. Família das Gráfico 2 - Evolução dos valores importados e exportados pelo
espécies; código da espécie (ID-SPC); nome da espécie; Pará e pelo Brasil no período de 1997 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Freqüência relativa (%) da abundância para a coleção total Gráfico 3 - Valor Adicionado (VA) dos municípios
(N = 66); abundância e indivíduos capturados (N); peso (em milhões de reais).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
total (g) capturado (PT); comprimento padrão (cm) médio Gráfico 4 - PIB per capita por município (em R$ milhões). . . . . . . . . . . 168
da espécie (CPM); e peso médio (g) dos indivíduos na Gráfico 5 - Número de pessoas ocupadas formalmente por setores
coleção total (PM). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 selecionados entre os anos de 1994 e 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
Gráfico 4 - Uniformidade de Pielou (U) e Riqueza Gráfico 6 - Distribuição das receitas municipais quanto à origem. . . . . 173
observada (S) para os rios Capim e Acará-Mirim em relação Gráfico 7 - Evolução do Fundo de Participação dos
da montante a jusante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Municípios - FPM (2000-2005). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
Gráfico 5 - Uniformidade de Pielou (U) e Riqueza
observada (S) para os igarapés da bacia dos rios Capim e DEMOGRAFIA
Acará-Mirim.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Gráfico 1 - Taxas de crescimento populacional da Região
Gráfico 6 - Curva de acumulação de espécies para as bacias Amazônica por situação de domicílio e do Brasil (1940-2000). . . . . . . . . 176
dos rios Capim (A) e Acará-Mirim (B).. . . . . . . . . . . . . . . 147 Gráficos 2 e 3 - População total dos municípios (por mil habitantes). . 178
Gráfico 7 - Dendrograma resultante da ordenação e Gráfico 4 - Evolução da População de Aurora do Pará.. . . . . . . . . . . . . . 179
classificação das estações de coleta, baseadas na abundância Gráfico 5 - Evolução da População de Tomé-Açu. . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
das espécies no rio Capim. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Gráfico 6 - Evolução da População de Paragominas.. . . . . . . . . . . . . . . . 179
Gráfico 8 - Diagrama “diplot” representando o agrupamento Gráfico 7 - Evolução da População de Ipixuna do Pará. . . . . . . . . . . . . . 179
das estações de coleta em relação à abundância das espécies. . . . 147 Gráfico 8 - Evolução da População de Ulianópolis. . . . . . . . . . . . . . . . . 180

14
Gráfico 9 - População urbana e rural da área de estudo em 1996. . . . . . 180 Gráfico 3 - Evolução da produção de mandioca no período de
Gráfico 10 - População urbana e rural da área de estudo em 2000. . . . . 180 1995 a 2005.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249
Gráfico 11 - População urbana e rural da área de estudo em 2005. . . . . 180 Gráfico 4 - Evolução da área colhida com mandioca no período
Gráfico 12 - Estrutura relativa da população, por sexo e grupos de 1995 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249
de idade – Pará – 2000. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182 Gráfico 5 - Evolução da produção de soja no período de 2000 a 2006. . 250
Gráfico 13 - Estrutura relativa da população, por sexo e grupos Gráfico 6 - Evolução do valor da produção de soja no período
de idade – Área de estudo – 2000. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182 de 2000 a 2006. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
Gráfico 14 - Estrutura relativa da população, por sexo e grupos Gráfico 7 - Evolução da área colhida com soja no período
de idade – Paragominas – 2000. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182 de 2000 a 2006. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
Gráfico 15 - Estrutura relativa da população, por sexo e grupos Gráfico 8 - Evolução da produção de milho no período de
de idade – Tomé-Açu – 2000. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182 1995 a 2005.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
Gráfico 16 - Estrutura relativa da população, por sexo e grupos Gráfico 9 - Evolução da produção de arroz no período de
de idade – Aurora do Pará – 2000. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 1995 a 2005.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
Gráfico 17 - Estrutura relativa da população, por sexo e grupos Gráfico 10 - Evolução da área colhida com milho no período
de idade – Ipixuna do Pará – 2000.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 de 1995 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
Gráfico 18 - Estrutura relativa da população, por sexo e grupos Gráfico 11 - Evolução do rendimento da cultura do milho no
de idade – Ulianópolis – 2000. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 período de 1995 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
Gráfico 19 - Média do rendimento nominal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 Gráfico 12 - Evolução do rendimento da cultura do arroz no
Gráfico 20 - Habitantes da área de estudo segundo a naturalidade período de 1995 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
(2000). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
Gráfico 21 - Habitantes não naturais da área de estudo (2000). . . . . . . . 185 TEXTO ESPECIAL: PECUÁRIA
Gráfico 22 - Não-naturais do Estado do Pará por município, de Gráfico 1 - Estado civil do produtor (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254
acordo com as regiões de origem dos migrantes: (A) Aurora do Pará, Gráfico 2 - Estados ou Regiões de origem dos produtores (%).. . . . . . . 254
(B) Ipixuna do Pará, (C) Tomé-Açu, (D) Ulianópolis e Gráfico 3 - Idade dos produtores (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255
(E) Paragominas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 Gráfico 4 - Nível de escolaridade dos produtores (%). . . . . . . . . . . . . . . 255
Gráfico 5 - Percentual de produtores com renda complementar (%). . . 255
CARACTERIZAÇÃO DO ENSINO Gráfico 6 - Nível de relacionamento dos produtores, por
Gráfico 1 - Taxa de pessoas que não freqüentam a escola (%). . . . . . . . . 189 espécie animal (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260
Gráfico 2 - Pessoas que não freqüentam a escola por município. . . . . . 189 Gráfico 7 - Maiores dificuldades encontradas pelos produtores (%). . . 261
Gráfico 3 - Taxa de analfabetismo por município (%). . . . . . . . . . . . . . . 189 Gráfico 8 - Idade dos produtores (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263
Gráfico 4 - Pessoas analfabetas por município. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 Gráfico 9 - Nível de escolaridade dos produtores. . . . . . . . . . . . . . . . . . 264
Gráfico 5 - Número de alunos matriculados nos diversos Gráfico 10 - Ocasião da coleta de amostra de solo na propriedade
níveis de ensino por municípios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 e percentagem de produtores que tiveram este procedimento
Gráfico 6 - Número de matrícula por nível de ensino.. . . . . . . . . . . . . . 191 executado (%).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 266
Gráfico 7 - Taxa de matrícula por município. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191 Gráfico 11 - Freqüência de ocorrência das forrageiras (%). . . . . . . . . . . 266
Gráfico 8 - Número de escolas por nível de ensino.. . . . . . . . . . . . . . . . 191 Gráfico 12 - Ocasião em que expandiu a área atualmente ocupada
com pastagens (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 266
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS RELIGIÕES Gráfico 13 - Ocorrência e formação de área (ha/ano) de
Gráfico 1 - Crescimento das Religiões Católica e Evangélicas entre pastagem (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267
1970 e 2000 – Tomé-Açu (A) e Paragominas (B). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 220 Gráfico 14 - Período de permanência dos animais nas pastagens (%).. . 268
Gafico 2 - Número de adeptos das Religiões Evangélicas: Gráfico 15 - Máquinas e/ou equipamentos encontrados nas
das Missões (A), Pentecostais (B), sem vínculo institucional (C), propriedades (%). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
outras Igrejas (D). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 220 Gráfico 16 - Expectativa de apoio por parte dos produtores (%).. . . . . . 270

CAÇA E USO DA FAUNA TERRITORIALIDADE DE GRUPOS QUILOMBOLAS


Gráfico 1 - Principais fontes de renda das famílias entrevistadas Gráfico 1 - Relação entre moradores livres e escravos segundo
(94 entrevistas) no verão e inverno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227 as freguesias (1823). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
Gráfico 2 - Fonte animal de proteína nas principais refeições
(almoço e janta) durante as últimas 24 horas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228 PRESSAO HUMANA
Gráfico 3 - Recordação do último consumo de caça de carne de Gráfico 1 - Taxa anual de desmatamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 399
animais silvestres presentes nas principais refeições (almoço e janta)
do último dia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228 ANÁLISE SOBRE A LITERATURA EXISTENTE
Gráfico 4 - Espécies citadas como mais consumidas, por pelo menos Gráfico 1 - Total de publicações por município – Tema 1: pecuária,
2% dos entrevistados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228 qualidade e condições de pastagens.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416
Gráfico 5 - Animais abatidos nas últimas caçadas, registradas Gráfico 2 - Total de publicações por município – Tema 2: solo e
com uso de questionários de recordação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228 uso dos solos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416
Gráfico 6 - Animais preferidos para consumo citados por pelo menos Gráfico 3 - Total de publicações por município – Tema 3: floresta,
2% dos entrevistados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228 inventário florestal, extração madeireira, impactos da atividade
Gráfico 7 - Porcentagem das técnicas de caça empregadas. . . . . . . . . . . 229 madeireira, uso da floresta e manejo sustentado da floresta. . . . . . . . . . . 416
Gráfico 8 - Técnicas de caçada mais utilizadas ao longo do ano, Gráfico 4 - Total de publicações por município – Tema 4:
segundo os entrevistados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230 pesquisas minerais e geológicas.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416
Gráfico 9 - Animais ditos como comuns, médias, desvios padrões, Gráfico 5 - Total de publicações por município – Tema 5: história,
e mínimos e máximos valores da porcentagem de desmatamento desenvolvimento ou análise regional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416
da área do entorno por espécie. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230 Gráfico 6 - Total de publicações por município – Tema 6: cidades
Gráfico 10 - Animais ditos como freqüentemente consumidos, ou estudos urbanos e planejamento municipal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416
médias, desvios padrões, e mínimos e máximos valores da Gráfico 7 - Total de publicações por município – Tema 7: pequena
porcentagem de desmatamento da área do entorno por espécie. . . . . . . . 231 produção, estudos agrícolas: pimenta-do-reino, soja e
Gráfico 11 - Efeito do grau de desmatamento na citação de lavoura em geral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416
freqüência de uso das diferentes técnicas de caçada.. . . . . . . . . . . . . . . . . 231 Gráfico 8 - Total de publicações por município – Tema 8: populações
e recursos humanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416
AGRICULTURA: PRINCIPAIS LAVOURAS
Gráfico 1 - Evolução da produção de pimenta-do-reino no
período de 1995 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248
Gráfico 2 - Evolução da área colhida com pimenta-do-reino no
período de 1995 a 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248

15
LISTA DE FOTOS ANFÍBIOS, LAGARTOS E SERPENTES
FOTOS 1 e 2 - Espécimes representativos das famílias com maior
lista de fotos
riqueza de espécies da Classe Amphibia. (1) Trachycephalus venulosus
FRENTES DE OCUPAÇÃO E EXPLORAÇÃO
(Hylidae); (2) Leptodactylus fuscus (Leptodactylidae). . . . . . . . . . . . . . . . . . 158
ECONÔMICA NO SÉCULO XX
FOTOS 3 e 4 - Exemplares pertencentes às famílias com maior
FOTO 1 - Pátio de serraria no município de Ulianópolis . . . . . . 48
riqueza de espécies de Lagartos e Serpentes. (3) Gonatodes humeralis
FOTO 2 - Toras de madeira em pátio e serraria no município
(Gekkonidae); (4) Leptodeira annulata (Colubridae). . . . . . . . . . . . . . . . . . 158
de Ulianópolis, estrada da Cauaxi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
FOTO 5 - Exemplar de Dendrobates galactonotus (Dendrobatidae). . . . . . 158
FOTO 3 - Fazenda Santa Rita, oeste do município
FOTO 6 - Exemplar de Atelopus spumarius (Bufonidae). . . . . . . . . . . . . . 159
de Paragominas.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
FOTO 4 - Marco da trilha aberta para a instalação e
TEXTO ESPECIAL: PECUÁRIA
manutenção do mineroduto da IRCC, município de
FOTO 1 - Estrada vicinal no período chuvoso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
Ipixuna do Pará.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
FOTO 2 - O emprego do fogo pelo pequeno produtor. . . . . . . . . . . . . . 259
FOTO 5 - Habitação rural no município de Ipixuna do Pará. . . . 49
FOTO 3 - Visão parcial de pasto no interior de uma grande
FOTO 6 - Cobertura de capoeira no município de Tomé-Açu. . . 49
propriedade, no município de Paragominas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 268
FOTO 4 - A integração agricultura-pecuária tem sido praticada
A ÁREA DE ESTUDO NO CONTEXTO REGIONAL
por muitos produtores. Na foto, vê-se uma propriedade rural
FOTO 1 - Trecho da BR-010, e “frente” à cidade de
localizada no município de Paragominas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
Aurora do Pará. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
FOTO 2 - Aspecto da ocupação irregular na planície de
POPULAÇÕES INDÍGENAS E A TERRA DO ALTO RIO GUAMÁ
inundação do igarapé Paragominas, entre os bairros
FOTOS 1 a 3 - Festa da Moça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285
Promissão I e II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
FOTO 3 - Aspecto da ocupação rural na área da PA-256,
TERRITORIALIDADE DE GRUPOS QUILOMBOLAS
município de Paragominas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
FOTO 1 - Ponte da rodovia Quilombola, à altura da comunidade
FOTO 4 - Plantação de soja sobre o topo de um platô no
de São Bernardino, que quebrou em novembro de 2006. . . . . . . . . . . . . 293
município de Paragominas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
FOTO 2 - Trabalhos preparatórios para passagem da linha de
FOTO 5 - Trecho da estrada da Cauaxi, município de
transmissão às proximidades de Santa Maria de Traquateua. . . . . . . . . . . 293
Paragominas, onde se destaca uma morfologia em
tabuleiros muito dissecados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
COLÔNIAS E ASSENTAMENTOS RURAIS
FOTO 6 - Perfil laterítico da Formação Ipixuna, na BR-010,
FOTOS 1 e 2 - Cultivos desenvolvidos na propriedade do
trecho entre Paragominas e Ipixuna do Pará . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Sr. Takamatsu em Tomé-Açu. Acima (Foto 1), área com
FOTO 7 - Ponto de travessia de balsa sobre o Capim,
pimenta-do-reino (cultura de entrada). Abaixo (Foto 2), área
município de Ipixuna do Pará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
onde a pimenta já foi substituída pelo cacau, banana e espécies
FOTO 8 - Vista parcial de uma carvoaria no município de
madeiráveis.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 295
Ulianópolis.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
FOTO 9 - Prédio da CAMTA, construído no contexto
ESPAÇOS URBANOS
das atividades da colônia japonesa de Tomé-Açu após a
FOTOS 1 e 2 - Visão parcial da vila de Santana do Capim, município
década de 1950 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
de Aurora do Pará.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309
FOTO 10 - Vista parcial do rio Acará-mirim, em ponto
FOTO 3 - Localidade ribeirinha de Porto da Balsa, município
próximo ao trapiche pelo qual escoava a produção da
de Aurora do Pará.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 310
colônia japonesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
FOTO 4 - Encontro de população ribeirinha da área do
Baixo Capim.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 310
GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS
FOTO 5 - Vila Nova, município de Tomé-Açu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311
FOTOS 1 a 4 - Detalhes de um corte de estrada próximo à
FOTO 6 - Núcleo da Serraria Ciprasa, localizada no município de
cidade de Ipixuna do Pará, às margens da BR-010. . . . . . . . . . . . . . 78
Paragominas e no eixo da Estrada da Cauaxi. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311
FOTO 7 - Visão parcial dos arredores da cidade de Ulianópolis,
AVES
tomada a partir de pátio de serraria instalada no interior da
FOTOS 1 a 5 - Espécies de aves bioindicadoras (bio) ou
Fazenda Cauaxi, ao S da área urbana.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311
ameaçadas de extinção (ame): (1) Hylopezus macularius –
FOTO 8 - Instalações abandonadas da antiga Fazenda Bradesco,
Torom Carijó (bio); (2) Crax fasciolata – Mutum de
hoje incorporada aos domínios da Fazenda Cikel, município de
Penacho (bio); (3) Dendrocincla merula badia –
Paragominas, estrada da Cauaxi.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312
Arapaçu-da-Taoca (ame); (4) Formicarius colma –
FOTO 9 - Portão de acesso à área de extração de caulim da
Galinha-do-Mato (bio); (5) Harpia harpyja – Gavião Real (bio). . . 133
Pará Pigmentos S.A., município de Ipixuna do Pará. . . . . . . . . . . . . . . . . 312
FOTO 10 - Visão parcial da Vila Jamic, município de Tomé-Açu. . . . . . 312
PEIXES
FOTO 11 - Rodovia BR-010 (sentido Belém-Brasília), no início da
FOTO 1 - Processo de erosão é característico no trecho superior
área urbana de Aurora do Pará.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 389
do rio Capim. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
FOTO 12 - Avenida Presidente Vargas, que corresponde a um antigo
FOTO 2 - Os lagos marginais com dominância de Jauari
trecho da BR-010 que foi desviado no início da década de 1970. . . . . . . 390
(Astrocaryum jauari) são freqüentes na área do Alto Capim.. . . . . . . 140
FOTO 13 - Balneário no rio Ipixuna, área urbana da cidade
FOTO 3 - Área do baixo rio Capim, onde as margens baixas
homônima. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 390
favorecem o aparecimento de aningas (Montrichardia spp.) e
FOTO 14 - Câmara municipal de Tomé-Açu, situada no eixo
apés (Eichornia sp).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
monumental da orla do rio Acará-Mirim. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 390
FOTO 4 - Rio Acará-Mirim, no qual as margens são
FOTO 15 - Ocupação em palafitas às margens do rio Acará-Mirim,
dominadas por “aningas” (Montrichardia spp.) e “buritis”
cidade de Tomé-Açu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 391
(Mauritia flexuosa) e ciperáceas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
FOTO 16 e 17 - Trechos da planície de inundação do igarapé
FOTO 5 - Exemplar de “surubim” (P. fasciatum), coletado no rio
Paragominas, que vem sendo ocupada pela população desde a
Capim em 2004. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
década de 1980. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 391

16
LISTA DE FIGURAS
lista de figuras
INTRODUÇÃO sobre o nordeste e sudeste do Pará, implicando a distribuição das
FIGURA 1 - Visão esquemática do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 chuvas no mês de março de 2000.
(B) A presença das linhas de instabilidade associadas ao
A ÁREA DE ESTUDO NO CONTEXTO REGIONAL aquecimento local, contribuindo para a formação de chuvas no
FIGURA 1 - Esquema de localização da área de estudo. . . . . . . . . 63 nordeste e sudeste do Pará. Julho de 1996. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

FEIÇÕES DO RELEVO REGIONAL POPULAÇÕES INDÍGENAS E A TERRA DO ALTO RIO GUAMÁ


FIGURA 1 - Perfil A-B: Meridiano 48º 05’ W (Concórdia do FIGURA 1 - Carta dos índios Tembé encaminhada ao Ministério
Pará a Dom Eliseu) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90-91 Público Federal.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 284
FIGURA 2 - Perfil C-D: BR-010/ Belém-Brasília
(Mãe do Rio a Dom Eliseu). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 ESPAÇOS URBANOS
FIGURA 1 - Projeto urbanístico inicialmente adotado na cidade
CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA de Paragominas. Croqui elaborado pelo primeiro interventor do
FIGURA 1 - (A) Atuação da Zona de Convergência Intertropical município, Sr. Célio Miranda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 351

LISTA DE BOXS
lista de boxs

POVOAMENTO E SOCIEDADES ENTRE OS RIOS PROJETOS DE EXPLORAÇÃO MINERAL


GURUPI E MOJU NO PARÁ DOS SÉCULOS XVIII E XIX Box 1 - Informes relevantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244
Box 1 - As encruzilhadas dos rios na História. . . . . . . . . . . . . . . . .39
POPULAÇÕES INDÍGENAS E A TERRA DO ALTO RIO GUAMÁ
GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS Box 1 - Identidade indígena e luta pela terra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283
Box 1 - O Tempo Geológico.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .76
TERRITORIALIDADE DE GRUPOS QUILOMBOLAS
PEIXES Box 1 - Os quilombolas do rio Moju em conflito.. . . . . . . . . . . . . . . . . . 292
Box 1 - O ambiente da ictiofauna nos rios Capim e
Acará-mirim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .139 ESPAÇOS URBANOS
Box 1 - A urbanidade das pequenas cidades.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 305
PERFIL DAS ECONOMIAS MUNICIPAIS Box 2 - Análise do espaço urbano com base na sintaxe espacial. . . . . . . . 349
Box 1 - Denúncias de trabalho escravo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .170
TERRITÓRIO E REDES DE ENERGIA ELÉTRICA
SITUAÇÃO, IMPACTOS E PERSPECTIVAS Box 1 - Redes de infra-estrutura e organização espacial. . . . . . . . . . . . . . 396
DO SETOR MADEIREIRO
Box 1 - As zonas madeireiras do Pará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235

17
APRESENTAÇÃO
apresentaçao

A
s dinâmicas de ocupação re- ligados ao mercado, locais ou inseridos em redes junto dos ecossistemas – à realidade de apropria-
cente da Amazônia, ocorridas de escala mais ampla; às formas diferenciadas de ção e transformação da natureza pelas sociedades.
a partir dos anos 1950 e 1960, manifestação cultural e de organização social, de Tal concepção justifica o uso do termo socioam-
produziram resultados questionáveis em relações de trabalho e de apropriação dos recur- biental, que traduz uma concepção de ambiente
termos sociais, econômicos e ecológicos. sos naturais, o que inclui os modos de vida das como algo representado e produzido socialmente,
Estas dinâmicas foram caracterizadas por populações indígenas, caboclas e quilombolas; ao culturalmente, a partir das interações que ocorrem
fatores como o profundo desconhecimen- papel do Estado como planejador e regulador da entre os grupos e indivíduos sociais e destes com
to dos novos atores sociais que se inseriram vida política e econômica; às condições de vida no os elementos materiais e imateriais presentes no
na região quanto à diversidade e complexi- campo e nas cidades; e às questões regionais que entorno.
dade do meio físico, dos ecossistemas e dos permitem entender a lógica de funcionamento dos O ambiente é, portanto, o entorno no qual in-
povos e culturas existentes; a forma brutal subespaços amazônicos de maneira integrada aos divíduos e grupos sociais realizam suas ações nas
como se deu a maior parte da ocupação, contextos regional, nacional e internacional. esferas do trabalho e da vida cotidiana, em coexis-
pautada na grande empresa, no latifúndio, Muitos destes aspectos, que dizem respeito à tência mais ou menos intensa com outras espécies
e em práticas de violência e desmatamento atual realidade amazônica, estão sendo discutidos viventes, e não pode ser entendido de maneira se-
excessivo; a falta de um planejamento ter- no Atlas Socioambiental ora apresentado, que re- parada da dinâmica histórico-geográfica de produ-
ritorial adequado ao contexto regional; e a sultou de parceria entre a Vale e a Universidade ção do espaço. Tal dinâmica é motivada pelas ati-
quase que total ausência de fiscalização no Federal do Pará (UFPA), por meio do Núcleo de vidades econômicas, pelo movimento e fixação da
uso dos vultosos investimentos públicos Altos Estudos Amazônicos (NAEA). A parceria população, pela definição e re-definição de territó-
que foram destinados ao “desenvolvimen- entre empresa privada e universidade possibili- rios que se projetam sobre recortes espaciais deter-
to” da Amazônia. Tais fatores, assim sendo, tou a geração de farto conhecimento, referente a minados – por vezes sobrepostos e/ou em conflito
marcaram o passado da região durante o diversos domínios do saber acadêmico (História, –, pela incorporação de objetos construídos à pai-
século XX, refletindo-se no seu presente. Geografia, Geologia, Biologia, Economia, Socio- sagem, e pelo estabelecimento de laços subjetivos
Além do mais, é importante destacar que logia, Antropologia, Arquitetura e Urbanismo, que dão sentido aos lugares. Ao incorporar este en-
deles resultou, também, uma tripla ex- Engenharia Florestal, Agronomia, Zootecnia etc.), foque socioambiental amplo à realização do Atlas,
propriação da população pobre que habita ou sob um enfoque interdisciplinar, acerca de um faz-se preciso reconhecer a ousadia, ou quem sabe
a Amazônia, seja ela nativa ou migrante, fragmento da Amazônia, mais especificamente um a necessidade, de incorporá-lo também à discussão
seja urbana ou rural, no que diz respeito conjunto de cinco municípios localizados na área e à efetivação de um novo desenvolvimento regio-
ao direito e ao acesso à terra e aos recursos que se pode chamar, grosso modo, de Leste Para- nal e local para a Amazônia.
naturais; à cidadania; ao conhecimento e à ense. São eles: Tomé-Açu, Aurora do Pará, Ipixuna O Atlas Socioambiental está dividido em 8 (oito)
informação. do Pará, Paragominas e Ulianópolis. grandes itens, que agrupam estudos/textos a partir
Caso não haja uma reflexão sobre esta Trata-se o Atlas Socioambiental ora apresentado de um tema principal. São eles: “Formação Histó-
história recente, expressa na geografia ama- ao público de uma obra relativamente inovadora rica e Territorial”, “A Área de Estudo no Contexto
zônica do início do século XXI, os proble- em âmbito regional, uma vez que representa, em Regional”, “Bases Físicas do Espaço Geográfico”,
mas e as desigualdades – tomados a partir primeiro lugar, o esforço de uma equipe de pes- “Elementos da Biodiversidade”, “Perfil socioeco-
de um ponto de vista mais amplo e integra- quisa e de um corpo técnico formado, quase que nômico”, “Produção de Riquezas e Modos de Vida
dor como sendo de ordem socioambiental exclusivamente, por profissionais do Estado do no Campo”, “Espaços Urbanos” e “Questões Re-
– gerados poderão se projetar e se repetir Pará; segundo, porque apresenta textos analíticos gionais”.
no futuro. Muita coisa já foi estudada e portadores de um rico acervo de dados e informa- O texto abre-alas coube a Rosa Acevedo Marin,
denunciada, sobretudo pelos profissionais ções, e, o que é mais importante, estão associados a que expõe um ensaio sobre o uso dos métodos e
ligados às instituições de ensino e pesquisa uma grande quantidade de produtos cartográficos. técnicas de pesquisa em História para a compreen-
– como é o caso das universidades – e às Objetiva-se, com este Atlas, fornecer subsídios são da formação social e territorial da Amazônia, e
organizações governamentais e não-gover- que possam viabilizar, dentro e fora dos municí- a correlação desta análise com os conhecimentos
namentais (ONG’s). É papel dos pesqui- pios focados, planos de intervenção futuros volta- das demais ciências sociais – como é o caso da Ge-
sadores colocarem seus trabalhos a servi- dos para uma relação mais equilibrada com o meio ografia – e com os recursos de representação espa-
ço da comunidade regional, por meio da ambiente, socialmente mais justos e comprometi- cial disponibilizados pela Cartografia. Nas palavras
investigação das causas, dos interesses, dos dos com o desenvolvimento da região, o que pode da autora, “este trabalho intelectual é um desafio
agentes e dos conflitos que geraram tantas ser feito a partir da utilização do material de caráter de elaborar, ou traduzir para uma ‘escala’, ou for-
desigualdades em âmbito intra-regional e socioambiental aqui contido. Mais do que análises, ma convencional, as dimensões do mundo social,
local. críticas, reflexões e representação de fenômenos em e de interpretar as relações sociedade e natureza e
Dito em outras palavras: vislumbra-se ilustrações, gráficos, mapas, cartas-imagem e carto- as marcas da ocupação de territórios por diferentes
uma necessidade imediata de conheci- gramas, os textos que se seguem contêm sugestões agentes sociais ao longo da história.”
mentos produzidos na região e para a re- de uso e manejo do solo e dos recursos naturais; Na seqüência do primeiro item, encontram-
gião, na busca de aprofundar, re-discutir de intervenção espacial e alocação de investimen- se três textos que abordam a formação histórico-
ou revelar questões referentes à história tos pelos administradores públicos municipais; de geográfica dos municípios no contexto da gran-
que fez, de nós, amazônidas, e que tantas criação de unidades de conservação; de aproveita- de área situada entre os rios Tocantins e Gurupi
vezes foi escrita pelos “de fora”; à geografia mento dos saberes tradicionais; de potencialização – tradicionalmente chamada de Região Guajarina.
diversa que corresponde a múltiplas paisa- de atividades econômicas em moldes sustentáveis; No primeiro texto, Elis Miranda discute, a partir
gens, formações espaciais e territórios no e de realização de estudos complementares. de um estudo de Geografia Histórica, as dinâmi-
interior da região; à rica biodiversidade e A concepção de “ambiente” e “ambiental” que cas de apropriação do território na época colonial
à heterogeneidade dos ecossistemas ama- se pretendeu alcançar por meio da realização do (1616 a 1753), enfatizando o período que vai do
zônicos; aos sistemas produtivos consoli- Atlas alia a questão mais propriamente física e eco- estabelecimento das capitanias hereditárias – que
dados ou emergentes, tradicionais ou mais lógica – relacionada à natureza primária e ao con- foram as primeiras formas de projeção do poder

19
de agentes particulares sobre o espaço amazôni- tipos de solo. A análise dos solos é complementada correntes), nas quais a agropecuária e o setor ma-
co – até o advento da política das “incorporações pela discussão sobre a aptidão agrícola das terras. deireiro têm maior peso, enquanto a mineração
pombalinas”. Rosa Acevedo Marin retorna no tex- Nestes textos, vislumbram-se muitos aspectos li- desponta como atividade econômica em expansão
to seguinte para abordar a realidade de apropriação gados a ambientes com regime climático tropical, nesta e, potencialmente, nas próximas décadas.
do espaço durante os séculos XVIII e XIX, mar- quente e úmido – não se esquecendo, é claro, da Gilberto Rocha e Luis Otávio Lopes fazem uma
cados pelo estabelecimento de sesmarias e de fre- floresta. A base física do espaço geográfico ajuda análise minuciosa sobre a demografia dos muni-
guesias, de senhores e de escravos, de engenhos e a explicar a distribuição dos recursos naturais, e cípios, caracterizados por uma população jovem e
de “fábricas de madeira” junto aos vales fluviais, como certos atributos do terreno podem influen- com número elevado de migrantes, fato associado
com destaque para os baixos cursos dos rios Ca- ciar – e não determinar, idéia corrente muito de- às dinâmicas espaciais recentes ocorridas na área.
pim, Guamá, Moju, Acará e Tocantins. Por fim, fendida e difundida no passado – a ocupação, por Na continuação do Perfil Socioeconômico, a
no terceiro texto, escrito por Maria Célia Coelho isso foi considerada, neste Atlas, como um conhe- população é analisada com base em alguns aspec-
e Maurílio Monteiro, são discutidos, com base nas cimento fundamental da análise ambiental. tos de ordem social e de prestação, distribuição e
mudanças no uso do solo, os elementos principais Alguns elementos sobre biodiversidade são acesso a serviços básicos. A caracterização do en-
do que se convencionou chamar de época de ocu- apresentados no quarto item. O primeiro texto é sino foi feita por Lílian Brito e Gilber Cordovil,
pação recente da Amazônia, posterior às décadas sobre a vegetação, tratada por Samuel Almeida, que denunciam a carência de investimentos na
de 1950 e 1960, com dinâmicas de expansão eco- Antônio Silva e Ingrid Silva, que chegaram a resul- ampliação e na qualidade da educação pública, re-
nômica e populacional que resultaram no contexto tados interessantes que mostram a diversidade da fletindo-se na baixa qualificação da mão-de-obra
geográfico atual dos municípios estudados e áreas flora em função dos tipos de ambiente e das suces- local, que necessita de uma boa formação de base,
próximas. Todas estas pesquisas foram baseadas sivas e cumulativas intervenções antropogênicas. além de cursos universitários e profissionalizantes.
em cuidadosa consulta e revisão de fontes histó- No que diz respeito aos mamíferos, José de Sousa A equipe do Serviço de Proteção da Amazônia (SI-
ricas (documentos e mapas) contidas em acervos e Silva Júnior e equipe enfatizaram as espécies de PAM – CTO Belém), formada por Sandra Leite,
públicos e livros antigos, alguns deles produzidos médio e grande porte, que são as prediletas para Edna Sales e Marcus Fuckner, com participação de
há séculos ou décadas. caça e constituem, ao lado dos peixes, tartarugas Luiz Pinto (FIOCRUZ – RJ), tratou dos aspectos
Na segunda parte do Atlas, os cinco municípios e tracajás, elementos essenciais da dieta alimentar básicos da saúde, também deteriorada em função
– que se apresentam bastante heterogêneos – são da população nas áreas rurais. O grupo das aves do pouco investimento em hospitais, o que se re-
vislumbrados quanto à sua localização geográfica foi tratado por Alexandre Aleixo e Fabíola Poletto, duz, muitas vezes, à existência de poucas unidades
no contexto regional, às articulações e aos fluxos que mostram a ocorrência por tipos de paisagem de saúde nas sedes municipais. Tanto no texto de
que ocorrem dentro e fora do Estado do Pará, além (ambiente). ensino quanto no de saúde, dois aspectos interes-
de serem discutidos em números (área e popula- Na seqüência, encontram-se três textos que santes são destacados: a situação das equipes de ad-
ção) e quanto à sua configuração político-admi- discutem, especificamente (subitem), a fauna re- ministração pública municipal em face dos novos
nistrativa. Estes são os aspectos gerais da área de lacionada às bacias dos rios Capim e Acará-Mirim. contornos institucionais colocados para a prestação
estudo, tratados de forma preliminar por Maurílio O primeiro enfatiza a variedade da ictiofauna local, de serviços básicos a partir da década de 1990; e a
Monteiro, Maria Célia Coelho e Estêvão Barbosa. ou seja, o conjunto de peixes, estudado por Lucia- precariedade destes serviços, fato que, em conjun-
O item posterior, que agrega cinco textos ana- no Montag e equipe. O segundo trata dos quelô- to com o anterior, constitui uma realidade comum
líticos, trata dos elementos físicos do espaço ge- nios e dos crocodilianos existentes nos rios da área não somente à área estudada, mas à maior parte
ográfico – geologia, relevo, clima, hidrografia e estudada, e que foram pesquisados por Daniely dos municípios paraenses. Já o texto de Marcos Pi-
solos. Chegou-se, ainda, a alguns indicativos de Félix Silva e Juarez Pezzutti. Por fim, o terceiro mentel discute os credos (religiões) que dividem a
uso e degradação ambiental pelas sociedades. Car- texto aborda a herpetofauna, que inclui os grupos maioria da população entre católicos e evangélicos,
los Romano Ramos aborda a geologia da área de de anfíbios, lagartos e serpentes, cuja diversidade estes últimos em franca expansão, sem esquecer da
estudo, rica em jazidas de caulim e bauxita, fato e ocorrência foram mostradas por Ulisses Galatti, existência de cultos não-cristãos com menor nú-
que por si só implica a necessidade de considerar a Lanna Printes e Pablo Suárez. As equipes envolvi- mero de adeptos. A religião, para além de seu as-
existência destes recursos minerais. Os dois textos das com a fauna inseriram, para além dos princí- pecto cultural, foi tratada pelo autor a partir de sua
seguintes, devido à relativa extensividade (o que pios teóricos e metodológicos relacionados à clas- relação com as dinâmicas de ocupação do espaço
não quer dizer homogeneidade) dos elementos de sificação, descrição e análise científica das espécies, regional.
geografia física da Amazônia – região na qual as conhecimentos relacionados ao saber e ao manejo Na seqüência, há um subitem dedicado aos
grandes extensões sempre foram um importante popular destas. Encontram-se, ainda, indicações aspectos de uso e manejo dos principais recur-
fator geográfico –, recorreram a uma análise mais sobre espécies raras, indicadoras de degradação ou sos naturais encontrados na área de estudo, e que
regionalizada, contextualizando-se os municípios conservação, e aquelas ameaçadas de extinção. restaram após décadas de exploração intensiva.
em amplas unidades de clima, aspecto tratado por O perfil socioeconômico foi tratado de modo O primeiro texto trata do uso da fauna, especifi-
Odete Santos, e de relevo, analisado por Pedro particular, a fim de inserir e discutir, em maior de- camente aquela relacionada às atividades de caça
Rocha da Silva e Estêvão Barbosa. No texto escri- talhe, elementos sobre a composição da população (lembrando-se que alguns aspectos sobre a pesca
to por Pedro Rocha da Silva sobre a hidrografia, é da área de estudo, enfatizando-se alguns aspectos foram tratados no texto sobre os quelônios e cro-
mostrada a organização espacial de uma rica rede sobre as condições de vida das pessoas. Em princí- codilianos). Rossano Ramos, Juarez Pezzutti e Ní-
de drenagem, mormente ligada a rios importantes pio, Maurílio Monteiro e demais autores discutem via do Carmo trazem à discussão os prós e contras
que são o Acará, o Capim e o Gurupi. Este último o perfil das economias municipais (o que inclui os das técnicas utilizadas e a importância da caça nos
autor citado é responsável, ainda, pela análise dos dados clássicos de PIB e IDH, além das receitas modos de vida da população rural, levantando-se

20
a polêmica sobre a criação de unidades de conser- nas últimas quatro décadas, é abordada por José atividades mais antigas como a agropecuária e a
vação em regime extrativista. O texto seguinte dis- Antônio Marinho e Ricardo Scoles, que também extração de madeiras, e a mineração como ativida-
cute a situação, os impactos e as perspectivas do indicam os conflitos e as ameaças à vida e à eco- de em expansão com alto potencial de degradação
setor madeireiro, considerado desde a década de nomia do pequeno produtor rural (colono). Em sobre o ambiente. Maria Célia Coelho, Maurílio
1970 como uma atividade econômica fundamen- todos estes textos, o território assume importância Monteiro e Estêvão Barbosa, em outro texto que
tal nos municípios em estudo, conforme discutido como lócus e ambiente de sobrevivência das po- pode ser considerado síntese, realizaram uma sub-
por dois pesquisadores do Instituto do Homem pulações do campo, o que deve ser garantido de regionalização da área de estudo, porém extensível
e do Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON), fato e de direito pelas leis que regulam a questão às áreas e municípios do entorno, com base na no-
Adalberto Veríssimo e Denys Pereira. Por último, fundiária, conforme demonstrado por José Benatti ção de região-paisagem. Tal noção parece bastante
a questão dos projetos de exploração mineral – os e Lully Fischer em artigo inserido no início deste adequada às análises de caráter ambiental devido a
quais, ao contrário do setor madeireiro, em crise, subitem. Além do mais, vale lembrar que os povos possibilitar o entendimento das lógicas de funcio-
constituem uma atividade em expansão – foi abor- indígenas e os quilombolas, bem como os ribeiri- namento e das espacialidades contidas nas paisa-
dada por Carlos Romano Ramos e Maurílio Mon- nhos, são geralmente considerados como popula- gens culturais, isto é, produzidas pelas sociedades,
teiro, que destacam as relações econômicas criadas ções tradicionais, com formas próprias de relação e nas paisagens ditas “naturais”, que apresentam
pelo comércio e indústria da mineração. com a natureza, no geral menos predatórias, e que menor intervenção antropogênica e conservam
O item seguinte aborda a produção de rique- precisam ser mantidas e potencializadas. parte significativa de seus atributos primários em
zas e os modos de vida no campo, onde o solo Os espaços urbanos foram alvo de análise no solos, rios e vegetação. Por último, Maria Célia
é o recurso natural mais valorizado e, também, item 7 (sete) do Atlas. Os diferentes textos aqui Coelho e Elis Miranda fazem uma breve discussão
o mais impactado. A agricultura, em particular, apresentados foram assinados por Ana Cláudia da literatura e dos estudos realizados anteriormen-
foi abordada por Merilene Costa e Nazaré Ma- Cardoso, José Júlio Lima e Estêvão Barbosa, que te sobre os municípios, enfatizando os temas e os
ciel, da Universidade Federal Rural da Amazônia realizaram estudos sobre a organização intra-urba- locais que mereceram maior atenção dos pesquisa-
(UFRA), autoras que enfatizaram as diferenças de na das sedes municipais e os problemas que apre- dores em geral, dos estudantes de graduação e pós-
área ocupada e valores de produção entre lavouras sentam em termos socioeconômicos, socioambien- graduação, e dos órgãos de planejamento e gestão.
temporárias e permanentes. Merece destaque uma tais, e de planejamento e gestão, ressaltando-se, em Esta revisão de literatura aponta para uma neces-
atividade econômica em franca expansão: o agro- relação a isto, que os resultados alcançados dizem sidade de mais estudos sobre a área em questão, o
negócio. Há, também, um texto especial de Almir respeito a parcela considerável da população da que vem ao encontro dos objetivos que motivaram
Silva (UFRA) e Paulo Fernandes (EMBRAPA) so- área de estudo (58%), concentrada nas cidades de a realização deste Atlas, o qual, embora trazendo
bre os sistemas produtivos pecuários, ressaltando- Tomé-Açu, Quatro Bocas, Aurora do Pará, Ipixu- ao público dados e informações diversas e de qua-
se uma das desigualdades mais notórias quanto ao na do Pará, Paragominas e Ulianópolis. Além de lidade, também finaliza com a certeza de que mui-
uso da terra e ao acesso a recursos técnicos e finan- aspectos específicos relacionados às cidades men- to ainda tem de ser analisado sobre esta parte da
ceiros, qual seja, aquela existente entre os grandes cionadas, os autores levantam questões regionais Amazônia e, mais além, sobre a região como um
e pequenos produtores. O caráter “especial” deste sobre a urbanização e a vida da população nas ci- todo.
texto quer dizer que ele não se refere a uma análise dades amazônicas, bem como a estreita vinculação Gostaríamos de finalizar esta apresentação lem-
mais geral da área de estudo, pois corresponde a destes espaços com as dinâmicas que ocorrem nas brando que todo o processo intelectual, de pesqui-
dois estudos de caso realizados com produtores de áreas rurais. sa e de organização das diferentes fases de elabo-
Tomé-Açu e de Paragominas. O último item do Atlas é dedicado a algumas ração do Atlas foi acompanhado por uma série de
Os próximos textos complementam a discussão questões regionais que foram tratadas à parte dos dificuldades relacionadas à grandeza dos objetivos
acima, uma vez que correspondem a um subitem demais textos ora apresentados, isto porque dizem propostos, ou seja, à multiplicidade de temas e
em que são discutidos os conflitos e a resistência respeito a dinâmicas que se reproduzem de manei- questões a serem tratados, e à vasta área a ser mape-
das populações no campo em face da grande em- ra semelhante em muitos outros locais da Amazô- ada e estudada, conforme se verificou desde início
presa ou do latifúndio, estes últimos geralmente nia. O primeiro texto, de autoria de Maria Goretti o início do projeto que antecedeu e deu origem à
associados à agropecuária. Márcio Henrique rea- Tavares, enfatiza a expansão das redes de energia presente publicação, intitulado “Mapeamento das
lizou um estudo de caso sobre a população tembé elétrica, que figuram dentre as mais importantes Condições Ambientais dos Municípios de Parago-
(ou tenetehara, na língua nativa) que habita a Terra nos sistemas de infra-estrutura, a partir da cons- minas, Tomé-Açu, Ulianópolis, Ipixuna do Pará e
Indígena Alto Rio Guamá, palco de conflitos com trução de territórios por agentes de maior poder Aurora do Pará” (NAEA/UFPA e CVRD, junho
posseiros e madeireiros que agravam a já difícil si- aquisitivo, ligados à agropecuária e à mineração. de 2004 a março de 2007). Neste sentido, a equi-
tuação dos índios devido ao risco de extinção de Isto envolve, diretamente, a alocação intencional pe envolvida com o projeto sempre teve a clareza
sua cultura, e pela precária assistência oferecida e excludente de investimentos públicos, em detri- do desafio a encarar, e tal desafio apresentou, sob
pelos órgãos competentes. Outros grupos estu- mento da população de mais baixa renda. A seguir, um ponto de vista profissional, um caráter misto
dados foram os quilombolas que habitam o baixo encontra-se o texto que talvez melhor represente de novidade e superação. Esperamos ter chegado a
Capim, o baixo Moju e o vale do Gurupi, o que foi uma síntese das dinâmicas ambientais ocorridas na um produto o mais acabado possível e útil ao co-
feito por Rosa Acevedo Marin, que expõe os con- área de estudo, e que foi escrito por Carlos Souza nhecimento e desenvolvimento da região, dentro
flitos pela manutenção das “terras de pretos” (ou Júnior e Rodney Salomão, profissionais do IMA- das possibilidades e das limitações encontradas.
quilombos) e dos recursos naturais nelas existen- ZON. Estes autores trataram da pressão antrópica, Desde já, ficam muitas experiências, aprendizados
tes. A situação dos assentamentos rurais, resultan- devida a atividades diversas de exploração e so- e lições a serem aproveitados em trabalhos futuros
tes das fragmentárias políticas de reforma agrária breuso dos recursos naturais, merecendo destaque de tal envergadura.

Maurílio de Abreu Monteiro


Professor do NAEA/UFPA

21
INTRODUÇÃO
introdução
Maurílio de Abreu Monteiro
Maria Célia Nunes Coelho
Estêvão José da Silva Barbosa

A
A forma e a extensão da ocupação humana gestores e não-gestores do espaço público e pri-
idéia de um Atlas Ambiental
sempre estiveram associadas às características físi- vado. Este Atlas contou com cartografias tecnica-
está associada ao reconheci-
co-ambientais, sociais, econômicas e políticas. Os mente elaboradas, com mapas e gráficos temáticos
mento da complexidade das
reconhecimentos das diferenciações ou os zonea- simples (que expressam a distribuição espacial e/
áreas geográficas, regionalizações, ações
mentos de espaços geográficos diversos são formas ou temporal de uma ou mais variáveis) e com car-
ou das relações sociais e ecológicas, das
ou instrumentos de re-organização apenas do pas- tas e diagramas mais complexos – elaborados no
articulações entre fenômenos físico-am-
sado e do presente. O que os atuais Atlas ambien- contexto do desenvolvimento de pesquisas básicas
bientais e sociais, das análises históricas e
tais contêm de novo é a atualização e a pertinência fundamentadas em conceitos que compõem pers-
geográficas e da necessidade de descrever
destes instrumentos, bem como dos procedimen- pectivas teóricas mais consistentes.
as diferenciações espaciais e analisá-las.
tos metodológicos a eles relacionados. No caso da Das pesquisas efetuadas no âmbito dos diversos
Um Atlas Ambiental consiste de uma
Amazônia, isto ocorre frente à expansão capitalista, domínios acadêmicos ou disciplinas resultaram,
reunião de mapas que revelam as anoma-
de um lado, e frente às pressões dos planejadores além dos mapas, diagramas e registros fotográfi-
lias, as relações ou as convergências/di-
(éticos e não-éticos) e dos ambientalistas, de ou- cos, inseridos em textos descritivos, analíticos e
vergências na distribuição de dados. Em
tro. Toda análise espacial e todo zoneamento são interpretativos dos resultados obtidos, os quais
suma, este tipo de Atlas serve, em geral,
social e politicamente produzidos, isto é, possuem atenderam à necessidade básica de dialogar com
como uma ferramenta analítica para a
uma intenção política. Além disso, nunca é demais diferentes autores, e de difundir e compartilhar os
descoberta tanto da regularidade quanto
ressaltar: com os mapeamentos e com os zonea- achados com instituições, órgãos diversos, e atores
da singularidade e, simultaneamente, da
mentos, o Estado e parte da sociedade visam redi- sociais hegemônicos e não-hegemônicos. A Figura
diversidade das estruturas sociais e eco-
recionar o futuro. 1 traz uma visão esquemática do trabalho de pes-
lógicas. Segundo Moretti (2003, p. 14),
No contexto de geopolítica interna ao país, um quisa desenvolvido pelas diferentes equipes que
o Atlas “levanta dúvidas, idéias. Coloca
dos objetivos dos mapeamentos históricos e geo- formaram o projeto do Atlas Ambiental dos Mu-
novas questões e nos força a buscar novas
gráficos, bem como dos zoneamentos ecológicos e nicípios de Tomé-Açu, Aurora do Pará, Ipixuna do
respostas”. O Atlas Ambiental, em especí-
econômicos, costuma ser o de desenhar uma nova Pará, Paragominas e Ulianópolis.
fico, oferece oportunidades de distinguir
base (cartográfica) terrestre e ecológi-
e analisar as dimensões ecológicas, sociais
ca para a orientação e reorientação do
e temporais das mudanças fisiográficas, Área de Estudo Mapas temáticos
desenvolvimento, distinguindo zonas
sociais e político-culturais.
para direcionar ou redirecionar os estí-
Um Atlas Ambiental não corresponde,
mulos ao desenvolvimento econômico,
certamente, a um zoneamento propria- Levantamento
evitando a pressão sobre áreas de usos Regionalização
mente dito, ou, especificamente, a um Bibliográfico
ecológicos ou socialmente restritos.
Zoneamento Econômico-Ecológico, ou
Não é de todo sem sentido relembrar
não é esta a sua pretensão. Desde que os Trabalho de Estudos
que “o conhecimento, incluindo sua
seres humanos começaram a explorar a Campo Regionais
própria engenhosidade técnica, é so-
terra, aumentaram as diferenças de acesso
cialmente construído” (Harvey, 2005,
a recursos e de poder entre as sociedades
p. 33). Os reconhecimentos dos objetos Mapa de Referência
humanas e dentro delas. Problemas emer- Atlas Socioambiental
e dos atributos das paisagens e os zone- Mapa-Base
giram da pressão humana sobre os recur-
amentos envolvem reflexões sobre a re-
sos naturais. Os mapeamentos por perío-
lação entre conhecimentos, metodologias
dos de tempo, os Atlas e os zoneamentos Banco de Dados
geográficas e as teorias sociais e políticas.
estão, em grande medida, associados às do Convênio
Não se trata de buscar, tão-somente, um ELABORAÇÃO:
pressões políticas e a uma justificativa de RADAM/IBGE/SIPAM Maria Célia Nunes Coelho (2008).
resultado que envolva a relação entre os
planejadores ou ambientalistas de equili-
usos dos conhecimentos geográficos e
brar populações e recursos, e à idéia dos
a criação das condições de reprodução Estudos Temáticos
planejadores éticos e dos ambientalistas e
dos modelos de desenvolvimento pelo e Regionais
do Estado quanto à regulação e ao contro-
poder político, ou dos primeiros com
le do uso dos recursos e dos territórios. FIGURA 1 – Visão esquemática do trabalho.
o processo de legitimação e reforço dos
Historicamente, as construções e as
interesses dominantes.
interpretações de mapas, reunidos ou não
A regionalização ou o zoneamento ecológico OBJETIVOS
em um Atlas, foram elaboradas num con-
ou econômico, em particular, possuem um cará-
texto de racionalização como uma forma
ter analítico, mas também político-normativo. Já O Atlas, seja qual for sua natureza, não é uma
de ordenar o espaço ou de regular o uso
o Atlas Ambiental (ou Socioambiental) tende a ser simples reunião ou coleção de mapas. O Atlas está
e o acesso aos recursos e dos territórios,
e, ainda, orientar ou reorientar os proces- uma abordagem mais analítica e explicativa. Toda- associado à construção de mapas sistematicamente
sos de mudança social de modo a romper via, ambos partem da descrição, da classificação e concebidos e elaborados a partir de propósitos es-
com relações modernas ou tradicionais do conhecimento da origem histórica dos objetos pecíficos. Ao se apresentar simultaneamente como
que deveriam ser transformadas. Neste e atributos que diferenciam realidades complexas e um instrumento de análise ou de representação
sentido, os mapeamentos e os zoneamen- podem fornecer, entre suas metas, parâmetros para localizada de atributos, o mapa, que constitui uma
tos podem se prestar, utopicamente, à (re) elaboração de políticas públicas, além de aponta- forma de linguagem privilegiada, é básico aos di-
construção de paisagens, democratização rem as áreas ambientalmente críticas para a ocupa- versos campos da pesquisa descritiva e analítico-
de espaços, padronização de valores, de ção ou exploração humana. Os Atlas Ambientais, interpretativa. Assim, como instrumento analítico,
relações e da produção, para apaziguar como o ora apresentado, destinam-se a um públi- ele permite, por meio da classificação, espaciali-
conflitos e viabilizar planos, aptidões, co amplo do qual fazem parte especialistas e não- zação temporal de objetos e atributos, ou seja, da
“vocações” etc. especialistas em questões ambientais, assim como disposição geográfica esquemática e generalizante

22
dos resultados, a identificação dos padrões espa- ocupava toda uma Cidade, e o Mapa do Império, implica inter-relações, interações, interdependên-
ciais, conferindo às relações sociais e ecológicas toda uma Província. Com o tempo, esses Mapas cia, fluxos, hierarquia de centros, ou seja, que de-
nova inteligibilidade. Desmedidos não satisfizeram e os Colégios de tém um centro para o qual convergem as relações.
Os Atlas surgiram da necessidade de relacionar Cartógrafos levantaram um Mapa do Império Região cultural ou região-paisagem, vista como
tempo e espaço ou de identificar e analisar paisa- que tinha o Tamanho do Império e coincidia uma área de ocorrência de uma mesma paisagem.
gens geográficas. Na elaboração de um Atlas Am- ponto por ponto com ele. Menos apegadas ao Consideramos a região-paisagem, também, enten-
biental, privilegiamos os estudos dos processos de Estudo da Cartografia, as gerações seguintes en- dida como região de uma ou mais paisagens bem
diferenciação em suas dimensões espaciais e tem- tenderam que esse extenso Mapa era inútil e não definidas.
porais dos fenômenos sociais e ecológicos, uma sem impiedade o entregaram às inclemências do A paisagem – modelada no contexto das rela-
vez que a área de estudo a ser considerada não é Sol e dos invernos. Nos Desertos do Oeste sub- ções entre sociedade e natureza – é definida por
homogênea, tampouco são imutáveis os processos sistem despedaçadas Ruínas do Mapa, habitadas Bonnemaison (1981, 2000) como uma estrutura
que a marcaram. Assim, este Atlas Socioambien- por Animais e por Mendigos. Em todo o País não visual, na qual se lêem, ao mesmo tempo, o di-
tal não difere dos demais Atlas que, por defini- resta outra relíquia das Disciplinas Geográficas namismo e as relações entre fatos físicos, sociais e
ção, são instrumentos reveladores das estruturas (Suárez Miranda: Viagens de Varões Prudentes, econômicos. Motiva estudos sobre formas (forma-
e das dinâmicas espaço-territoriais historicamente livro quarto, cap. XIV, 1658) ções), funcionalidade (interação de fatores geográ-
construídas. ficos, organizações e configurações), diversidades
A realização do Atlas Socioambiental envol- A escala, por sua vez, é reveladora do grau de das paisagens (combinação de formas e funciona-
veu, fundamentalmente, o processo de identifi- detalhamento ou, inversamente, de generaliza- lidades diversas) e as mudanças (causa e feito) que
car as condições físicas e socioambientais, de de- ção com que se retrata uma área ou uma região as relações entre sociedades e natureza acarretaram
finir os graus de comprometimento ambiental e geográfica. No caso da Amazônia, tal escolha fica para o meio ambiente físico. Segundo o professor
de hierarquizar prioridades para a reconstituição sempre limitada pelas dimensões grandiosas da re- Aziz Ab’Sáber (2003, p. 9), “num nível de aborda-
ou para a preservação ambiental na área estuda- gião e pela cartografia já existente e instituciona- gem, poder-se-ia dizer que as paisagens têm sem-
da. Dessa forma, ao enfatizar as relações entre lizada pelos órgãos como IBGE, Exército, INPE pre o caráter de heranças de processos de atuação
localização, organização social e a diferenciação etc. Finalmente, como se trata de uma área de es- antiga, remodelados e modificados por processos
espacial, os mapas não só favorecem as análises tudo rica em paisagens e recursos naturais de di- de atuação recente”. Assim, para Ab’Sáber, as pai-
regionais/locais e ambientais, ou seja, os estudos versas ordens, cuja exploração até o presente tem sagens são explicadas como espaços herdados da
dos sistemas de relações entre elementos locais apresentado saldos questionáveis em termos de natureza, modificados e reelaborados no contexto
e as atividades econômicas locais ou regionais desenvolvimento econômico e social, os autores de relações históricas e geográficas, ou seja, das re-
vizinhas, mas também facilitam a individualiza- dos diferentes textos analíticos foram chamados a lações dinâmicas entre natureza e sociedade.
ção de áreas ambientalmente problemáticas que contribuir com reflexões sobre as diversas proble- Neste sentido, a região-paisagem passa, então,
máticas presentes nos municípios em foco. a ser entendida como o resultado de um processo
demandam medidas e ações regulatórias especí-
de transformação da paisagem natural para a paisa-
ficas.
gem cultural. Neste caso, segundo Corrêa (2005),
A questão principal que orientou a elaboração CONCEITOS GEOGRÁFICOS BÁSICOS
a região é vista como área de ocorrência de uma
deste Atlas foi: até o presente momento, quais têm
mesma paisagem cultural.
sido os pesos da ocupação, da densidade popula- A Geografia sempre trabalhou com a diferencia-
Quanto ao território, lembra-se, inicialmen-
cional e das mudanças de uso do solo nas transfor- ção e classificação de áreas e com a regionalização
te, Ratzel, para quem o território é uma porção
mações físicas, socioambientais e socioeconômicas ou com o zoneamento (divisões) do espaço. Um
da superfície terrestre rica em recursos naturais
ao longo dos eixos de ocupação (rios e estradas), dos problemas dos geógrafos tem sido encontrar as
(condições de sustento das populações), apro-
nas diferenciações espaço-temporais e no grau de categorias geográficas (paisagem, região, território
priada e controlada por um grupo humano (Sack,
complexidade socioeconômica dos municípios em etc.) que permitissem o reconhecimento sistemá-
1986). O território é, sobretudo, espaço de lutas
estudo? tico dos aspectos ecológico, histórico e geográfi-
permanentes. Para Raffestein (1986) e para Sack
Dessa maneira, este estudo teve como obje- co das áreas de estudo. Nos limitaremos, aqui, ao
(1986), o território envolve poder e, em termos
tivo reunir dados fundamentais, coletados em exame de três dentre as unidades geográficas: re-
simples, pode ser entendido como uma “área
função da necessidade de retratar e analisar as gião, paisagem (particularmente, região-paisagem)
controlada” por indivíduo ou grupos sociais, ou
diferenciações na área de estudo. Cada mapa- e território.
como o intento de um indivíduo ou grupo para
síntese traduz conceitos e metodologias retraba- A região diz respeito a uma porção da superfí-
afetar, influenciar ou controlar pessoas, recursos,
lhados e aplicados com reajustes à pesquisa em- cie terrestre criada, definida ou delimitada a par-
fenômenos e relações por meio da delimitação e
pírica. Assim, os mapas que compõem este Atlas tir de um ou mais critérios ou como um conjunto
do controle sobre uma área geográfica específica
Ambiental trazem à luz a lógica interna da orga- de objetos e atributos estruturados por um centro
(Sack, 1986, p. 19).
nização e das transformações físico-ambientais, de aglomeração humana. Seus estudos encami- Para nós, território é, antes de tudo, a porção
sociais e espaço-territoriais verificadas ao longo nham, quase sempre, para as diferenciações espa- da superfície terrestre correspondente ao “vivi-
da história da Amazônia oriental, em geral, e da ciais e para a afirmação da identidade regional. Há do”, ou seja, espaço das experiências vividas por
área de estudo, em particular. diferentes tipos de região. Região como unidade um povo, cuja capacidade de elaborar estratégias
A decisão quanto à escala a ser trabalhada foi de político-administrativa. Região natural, concebida de domínio ou de resistência às tentativas de do-
fundamental importância, sob pena de produzir o como uma porção da superfície terrestre identifi- mínio por outros pode ter sido várias vezes tes-
mapa inútil, como pode ser deduzido de um texto cada por uma específica combinação de elementos tada. As lutas não são apenas contra um inimigo
apresentado por Jorge Luís Borges em “História da natureza, tais como o clima, a vegetação e o re- externo. Os confrontos, sejam os mais banais,
Universal da Infâmia”, no qual este autor repro- levo (Corrêa, 2005). Regiões homogêneas, perten- sejam aqueles motivados pela repartição desigual
duz, sob o título de “Rigor na Ciência”: centes a um mesmo grupo que se define pela simi- de recursos, da terra e do poder político, e que
laridade das características físicas e sociais. Região se dão entre indivíduos membros da comunidade,
[...] Naquele Império, a Arte da Cartografia atin- funcional, a qual atende a funções específicas do podem ocorrer, até mesmo, sem que tenham tido
giu uma tal Perfeição que o Mapa duma Província mercado externo. Região nodal ou polarizada, que motivações tangíveis.

23
Formação
Histórica e
Territorial
ENSAIO
ensaio

IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA, DA GEOGRAFIA E DA


formação histórica e territorial

CARTOGRAFIA NA ANÁLISE DA FORMAÇÃO


SOCIAL E TERRITORIAL DA AMAZÔNIA
Rosa Elizabeth Acevedo Marin

N
este texto, apresentam-se elemen- que se moveu por uma visão teórica e metodológi- CARTOGRAFIA HISTÓRICA COMO
tos teóricos para a representação ca da história social e da geografia. Recentemente, PRÁTICA DE MAPEAR E REPRESENTAR
cartográfica de eventos histórico- os processos de ocupação da Amazônia formulam, O PODER COLONIAL
geográficos, isto é, o mapeamento situacional e a novamente, interesses sociais, econômicos e polí-
cartografia histórica. Trata-se de uma concepção ticos em disputa na visão da colonização interna. A análise sobre a formação econômica e social da
de cartografar, de produzir mapas com vistas a in- Hobsbawm entende que a história social, ou Amazônia Colonial situa como ponto central as re-
terpretar mudanças sociais e ambientais na ótica melhor, a história da sociedade, é a “história de lações trabalho e sociedade, na perspectiva de trans-
do historiador e do geógrafo, que operam leituras unidades específicas de pessoas que vivem juntas, formações no tempo. As formas iniciais da sociedade
e interpretam processos locais inter-relacionados unidades que são definíveis em termos sociológi- colonial na Amazônia e nas Américas basearam-se
e dinâmicas locais e regionais, inserindo recortes cos. É a história das sociedades e também da socie- no projeto e na prática de domesticar os homens e
temporais e espaciais com base em determinadas dade humana [...] ou de certos tipos de sociedade e suas consciências, conduzindo a inúmeras formas de
ferramentas teóricas e metodológicas. suas possíveis relações [...] ou do desenvolvimento disciplina, de domínio e de subjugação política. Es-
Este trabalho intelectual é um desafio de ela- geral da humanidade considerada como um todo” sas formas são desenvolvidas, representadas, e estão
borar ou traduzir para uma “escala”, ou forma (Hobsbawm, 1998, p. 92). Para este autor, a situa- singularizadas nas instituições do tempo colonial: a
convencional, as dimensões do mundo social, e ção das colônias formais, adquiridas por conquis- escravidão aberta e o trabalho compulsório, além de
de interpretar as relações sociedade e natureza e as tas e diretamente administradas, revela uma socie- diversos enquadramentos, como as missões e o dire-
marcas da ocupação de territórios por diferentes dade inteira ou grupo de sociedades que contrasta tório, o corpo de trabalhadores.
agentes sociais ao longo da história. Esse desafio com a força externa, e nelas “suas várias mudan- Nos séculos XVIII e XIX, o arcabouço de idéias
consiste, ainda, em elaborar interpretações de di- ças e transformações internas, como também suas e as práticas de disciplinamento do trabalho assen-
nâmicas complexas e as múltiplas interações dos reações ao impacto poderoso e incontrolável, des- taram-se sobre as concepções do social que mar-
agentes sociais. As ações de pesquisar, identificar, sa forma, podem ser observadas e analisadas como cam os avanços desta racionalidade, indicando as
codificar, mapear, desenhar, enfim, apontar fenô- um todo” (Hobsbawm, 1998, p. 103). linhas desse progresso, colocado como finalida-
menos e símbolos, na forma de legendas e outras O conceito axilar de formação exprime a idéia de única. Temos a hierarquia e a classificação dos
convenções, assim como a própria visualização fi- de que uma realidade se forma dentro e ao fim de trabalhadores e do trabalho, que se traduzem nos
nal do instrumento de análise, corresponderão, em um processo que dura um tempo limitado. Trata- ofícios desprezados e nos métodos de organizar o
parte, às posições e aos interesses de agentes, que se, evidentemente, do resultado de um desenvolvi- mercado de força de trabalho indígena e escrava
indicam conflitos, dissensões, tensões e negocia- mento histórico preliminar, produto de numerosas africana. Esses rituais provocam a exaustão do tra-
ções desses interesses, da mesma forma que este mudanças econômicas, de destruição de formações balho e permitem a extração do sobre-trabalho.
instrumento de análise fala das diferentes experi- mais antigas da produção social e o início de uma A história da Amazônia reservou nas suas obras
ências e estratégias sociais. época social do processo de produção social, como mais cristalizadas pouca importância ao trabalho e aos
De que forma, então, utilizar técnicas conven- o de tipo capitalista (Godelier, 1986, p. 132-61). trabalhadores. Trata-se de uma grande zona de igno-
cionais de mapeamento para representar fenôme- A questão central para a qual este texto se volta rância. A tentativa de descobrir o trabalho nas Améri-
nos complexos ao longo do tempo? Como operar é a interpretação dos processos de transformação cas desde a Idade pré-colombina até a idade moderna
uma crítica densa desses instrumentos? E, por úl- da sociedade e da economia amazônica entre os somente pode ser possível interrogando-se: Como
timo, a questão de como fazer e quem fará a leitu- séculos XVII e XIX. A ênfase maior é dada aos sé- foi transformado, por que e como mudou, como e
ra desta apresentação da História na forma de um culos XVIII e XIX, quando as formas e as relações por que aconteceu? Que direção teve a mudança?
Atlas? de trabalho na Amazônia estão mais amadureci- As páginas do Atlas, no item que trata da For-
Uma primeira orientação é que os pontos, os das. Se as contribuições da historiografia e da an- mação Histórica e Territorial da área de estudo,
recortes e as interpretações aqui trazidas situam-se tropologia permitem compreender processos de revelam as experiências sociais dos trabalhadores.1
em um referencial teórico para o qual a história mudança econômica, social e política, a geografia Grande número deles foi imobilizado pela escra-
articula-se sobre e no duplo campo de relações: contribui indicando os espaços transformados, e vidão. Eram indígenas retirados de suas aldeias,
dos homens com a natureza e dos homens entre o “uso sistemático” de mapas torna-se “ferramen- e negros da África introduzidos violentamente,
si, quer dizer, uma teia de relações sociais e políti- ta analítica”, quer dizer, os mapas que dissecam portanto, duas experiências de escravidão. Com
cas. A segunda, decorrente da primeira, propõe-se o texto de uma maneira incomum, trazendo à isto, a possibilidade dessa história é a de exami-
a rever os traços definidos pela colonização. Ini- luz relações que de outro lado ficariam ocultas nar a experiência social dos trabalhadores em to-
cialmente, a colonização realizada pelos europeus, (Moretti, 2003, p. 13). dos os seus ângulos de existência e de vida, e não

1
Ver nos Quadros 1 e 2 deste ensaio os elementos que nortearam os estudos históricos do Atlas Socioambiental, bem como os procedimentos metodológicos utilizados para tal (Quadro 2).
O Quadro 1, por sua vez, sintetiza as formas e as relações de trabalho colocadas para os vales dos rios Tocantins, Capim, Guamá, Acará e Moju nos séculos XVIII e XIX.

26
apenas examinar as organizações, os movimentos. do trabalho livre na Europa. O interior da colônia, nências. Com base nestas premissas, rompe-se, e
Significa querer examinar todo o modo de vida no embora apresentando irregularidades, é marcado não por ato mágico, com formas da história que se
campo das transformações e mudanças que, quo- pelas diferencias existentes entre o estatuto (ju- pretendem hegemônicas.
tidianamente, experimentam os trabalhadores em rídico) do escravo e do homem livre. Mas essas
todos os aspectos: padrões de existência material, diferenças não são transparentes, o mundo não é REFERÊNCIAS
no engenho, nas feitorias, nas expedições, nas sen- cristalino. Por trás da imobilidade e equilíbrio das
Godelier, M. 1986. Formação econômico-social. In.
zalas, mas, também, no campo dos sentimentos e forças sociais num determinado momento o que
Enciclopédia Einaudi. Vol. 7. Portugal: Imprensa
dos valores, para perceber a intensidade com que se esconde é a opressão, a violência.
Nacional; Casa da Moeda.
muitas destas noções (de saber, de liberdade, de O camponês da Amazônia no século XIX, no
inventividade) são expropriadas no dia-a-dia da sentido mais amplo, estará sendo camponês ao seu Hobsbawn, E. 1998. Sobre a História. São Paulo:
dominação. modo e fruto do seu tempo e realidade. Na cida- Companhia das Letras, p. 83-105.
Nos dois séculos analisados (XVIII e XIX), e de de Belém, o operário das fábricas de tigelinhas Moretti, F. 2003. Atlas do Romance Europeu - 1800-
que resultam de um corte realizado grosso modo, do século XIX detém a experiência do seu grupo 1900. São Paulo: Boitempo Editorial.
buscam-se as peculiaridades da organização do tra- e de sua formação, com suas vivências de atuação
balho (escravo e livre) e das unidades coloniais de política, semelhantes às de outros grupos que fize- REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
sua produção (as plantations, as fazendas), pensadas ram parte da força de trabalho em formação. Daí
no seu tempo e lugar. Plantation nordestina clássica, alertar-se para os exageros de buscar na greve dos Acevedo Marin, R. E. 1985. Du travail esclave au
plantation na Amazônia, e ainda esse tempo é o das aguadeiros, dos arrumadores, os momentos subli- travail libre: Le Pará (Brésil) sous le regime colonial et
relações tecidas pelo mundo colonial. O centro está mes de uma luta política e da consciência desses sous l’Empire (XVIIe - XIXe siècle). Paris – Tese de
no regime de propriedade sobre a força de trabalho. trabalhadores que iluminaria (até cegar) o presen- Doutorado apresentada à École Pratique des Hau-
Índios colocados no mercado das peças da ter- te. A história do trabalho e dos trabalhadores so- tes Études en Sciences Sociales.
ra são vendidos em bloco e para sempre, o que os mente é possível rompendo com a forte linha de Alden, D. 1973. O significado da produção de cacau na
converteu de livres em escravos. Agir neste merca- determinismo e de acompanhamento de idéias de Região Amazônica. Belém: UFPA/NAEA/FIPAM.
do foi a questão central, de um lado, dos missio- progresso. O tempo histórico não é homogêneo, Ângelo-Menezes, M. N. 2000. Carta de Datas de
nários e, de outro, do Estado e dos colonos. Índios nem vazio, sempre assumindo o campo imenso de Sesmarias: uma leitura dos componentes mão-de-obra e
escravizados e índios livres são condições referen- suas possibilidades. sistema agroextrativista do vale do Tocantins Colonial.
dadas pela legislação. Aquela que aprova a escravi- Hoje, certamente a questão do trabalho é a mais Belém: NAEA, Paper n.º 151, jun. 2000.
dão foi recorrente, em 1570, como uma legítima inquietante da sociedade amazônica e, tentando ______. 1999. O sistema agrário do Vale do Tocantins
defesa contra os antropófagos. Em 1653 se redefine inverter a relação passado/presente, pode se tornar Colonial: Agricultura para consumo e para exportação. In.
a guerra justa. No intervalo de 1680-88, proíbe-se mais explícita a relação do momento do qual par- Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-
a escravidão e, nesse último ano, retoma-se a guer- timos, considerando-se a diversidade e a comple- Graduados em História e do Departamento de História

formação histórica e territorial


ra justa defensiva (em caso de invasão ou quando xidade dos problemas, das lutas e das experiências da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo. São
impedissem a circulação dos missionários), ou a históricas, com outros momentos, conseguindo- Paulo: EDUC, n.º 18, maio 1999, p. 237- 260.
guerra justa ofensiva, quando houvesse temor do se, assim, politizar a história do trabalho colonial. Baena, A. L. M. 1969. Compêndio das Eras da Provín-
ataque dos índios. Em 1686 se regula o trabalho Sobre este, realizamos uma interpretação, trans- cia do Pará. Belém: Universidade Federal do Pará.
indígena através do Regimento das Missões. mitimos e produzimos narrativas e discursos.
Cardoso, C. F. S. 1979. Agricultura, Escravidão e Ca-
A nova reorganização do trabalho é feita em A ruptura com um passado mitificado do tra- pitalismo. Petrópolis: Vozes.
1755. Retira-se a organização dos aldeamentos da balho e da sociedade aponta para os ziguezagues
Daniel, Pe. J. 2004. Tesouro Descoberto no Rio Ama-
mão dos religiosos e atende-se à reivindicação dos dessa trajetória de construção de “outra história”,
zonas (1757-1776). Rio de Janeiro: Contraponto.
colonos com a secularização das missões. Os ín- de romper com acontecimentos cristalizados – a
dios convertem-se em “vassalos do rei” e impõe- catequese, os desertores, o comércio clandestino, Ferreira, A. R. 1983. Viagem Filosófica ao Rio Negro.
se a agricultura. A legislação do Estado estruturou os índios preguiçosos, a única motivação dos se- Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi/CNPQ.
formas compulsórias de trabalho diferenciadas. nhores como sendo a crueldade. Mas, também Gross, S. A. 1969. Agricultural Promotion in The
Oscilações dessa natureza na legislação e nas prá- nessa tentativa, estão sendo discutidas as periodi- Amazon Basin, 1700-1750. In: Agricultural History.
ticas inexistem em relação ao trabalho escravo de zações (emancipacionismo/abolicionismo). São Vol. 43, n.º 2, abr. 1969, p.269-76.
origem africana. Esta escravidão moderna é modo insistentemente procuradas as rupturas dentro Sampaio, P. M. M. 1997. Os fios de Ariadne: tipologia de
particular que se define no interior do movimento de perspectivas de uma concepção de presente. Fortunas e Hierarquias Sociais em Manaus. –1840-1880.
geral de apropriação dos meios de produção, da for- Trata-se da história, não pelo culto pelo passado, nem Manaus: Editora da Universidade do Amazonas.
ça de trabalho. É essa a propriedade que esta sendo da memória como prisão, mas como libertação. Velloso, E. C. A. 1998. Estruturas de apropriação de ri-
colocada à venda (e não sua posse), mas esta forma O sentido é ver a história como fonte de inspi- queza em Belém do Grão-Pará, através do recenseamento
somente aparece quando o trabalhador é livre. ração e de compreensão, não apenas porque pode de 1778. In. Acevedo Marin, R. E. (Org.). A escrita
Na Amazônia, a escravidão não pode ser con- fornecer os meios de inter-relação com o passa- da história paraense. Belém: NAEA/UFPA.
siderada o princípio que unifica todo o sistema, e do, mas, também, porque nos permite elaborar
não pode se pensar essa formação através do ho- um ponto de vista crítico através do qual se pode FONTES
mem cativo. Também não é possível pensar por ver o presente. Comunga-se com uma História
pura oposição ao trabalho livre. O trabalho escravo que busca conviver com o indeterminado, o inde- Anais da Biblioteca e Arquivo Público do Estado
inscrito na modalidade particular de produção de- finido, o indiferenciado. É importante destacar a do Pará. Belém: Typ. e Encadernação do Instituto
finida na colônia configura-se como contrapartida diversidade, a diferença, as mudanças e as perma- Lauro Sodré. 1905. Tomo IV. P. 60. 27/9/1729.

27
formação histórica e territorial

QUADRO 1 – Formas e relações de trabalho nos vales dos rios Tocantins, Capim, Guamá, Acará e Moju – Séculos XVIII e XIX.

Vale/rio e afluentes Formas de trabalho Tensões e conflitos

- Trabalho escravo de indígenas na extração de canela, salsaparri- - Mocambos ou quilombos registrados em Cametá.
lha, cravo e no transporte de mercadorias. - Mocambos de índios fugidos.
- Trabalho do escravo de origem africana nas plantations de cana- - Índios e negros formaram mocambos em Baião.
de-açúcar. - Mocambo nas cabeceiras do rio Itapocu.
- Cacau nativo e cultivado. - Centro das forças cabanas.
Vale do rio Tocantins
- Algodão, arroz, café.
- Um dos engenhos notáveis foi o Engenho do Carmelo de Ca-
rapajó (agricultura de cacau, olaria, curtume).
- Lavradores (roceiros) de origem européia subordinados aos
grandes sesmeiros, com controle sobre as terras.
- Trabalho escravo de indígenas e dos escravos de origem africana. - Grande concentração de escravos fugidos nas cabeceiras
- Lavradores de cana dependentes dos donos de engenhos. do rio Capim.
Vale do rio Capim
- Roceiros, pescadores. - O Mocambo Caxiu foi bastante conhecido.
- Pecuária. - Mocambos e índios fugidos e de negros.
- Cultivo de arroz, cana-de-açúcar.
Vale do rio Guamá - Engenhos. —
- Pecuária.
- Trabalho escravo de indígenas e negros em fábricas reais de ma- - Rio Acará – mocambos de negros.
deira. - Escravos fugidos de fábricas reais de madeira.
Vale do rio Acará
- Engenhos. - Revolta dos Camponeses às vésperas da Independência e
- Roceiros. da Cabanagem.
- Diversos mocambos. - Mocambos de índios e negros.
Vale do rio Moju
- Roceiros.
ELABORAÇÃO: Rosa E. Acevedo Marin (2007)

QUADRO 2 – Desenvolvimento metodológico para o Atlas Socioambiental (Parte Histórica).


ELEMENTOS DE TRABALHO:
• Representação de mudanças demográficas, sociais e espaciais. Corte diacrônico e sin-
crônico;
• Representação de formas sociais e organizativas do trabalho;
• Representação de situações e conflitos socioambientais;
• Organização social e demografia: Ocupação e povoamento no século XIX e XX. Car-
tografia da ocupação dos vales e a economia colonial: Engenhos, roças e fábricas.
Documentos de terra (sesmarias e outros);
• Demografia de Paróquias, Freguesias e vilas em 1823, 1848, 1872;
• Índios, escravos e brancos no final do século XIX. Quilombos;
• O mundo das fazendas tradicionais;
• Encruzilhadas de rios e comunicações;
• Migrações e mudanças demográficas.
PROCEDIMENTOS:
• Definição de mapas situacionais de base. Elaboração de Box e Legendas. Este material
sintetiza as informações e as convenções. Em relação à história da ocupação dos vales
temos as citações de viajantes, religiosos.
• Utilização de Imagens. Mapas situacionais: antigos engenhos, localização aproximada
de um quilombo.
• Quantificação de fenômenos. O estudo de dados econômicos, demográficos e am-
bientais permite inserir barras, “pizzas” e outros elementos que ofereçam uma di-
mensão quantitativa dos problemas. Organização de quadros, tabelas, listas.
ELABORAÇÃO: Rosa E. Acevedo Marin (2007)

28
A ÁREA ENTRE OS RIOS GURUPI E MOJU
NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO TERRITORIAL
DA AMAZÔNIA – 1616 A 1753
a área entre os rios gurupi e moju no contexto da formação territorial da amazônia – 1616 a 1753

Elis Miranda

O
processo de formação ter- Garcia, Almeida, 2000). Enquanto as Ordens Re- da, Luís da Silva, sobre a ida de Francisco Coelho
ritorial da área compreen- ligiosas dominavam o interior do vale amazônico, de Carvalho para o Maranhão e da necessidade de
dida entre os rios Gurupi, o Governador do Estado do Maranhão promovia relatar os acontecimentos ocorridos naquele terri-
Capim, Acará e Moju, no leste do Estado a distribuição de terras para particulares fundarem tório.2
do Pará, tem sua origem no século XVII, capitanias. “Estes ditos acontecimentos ocorridos naquele
durante a ocupação da Amazônia pela co- Nesse contexto, foram fundadas capitanias de território” podem ser interpretados como conflitos
lonização portuguesa, no período conhe- duas naturezas diferentes: as Capitanias da Co- e disputas pelas terras do Maranhão. Confirmava
cido como a União das Coroas Ibéricas roa ou Reais e as Capitanias Particulares (Ma- a suspeita o Requerimento de 17 de outubro de
(1580-1640). Em 1615, Felipe III auto- chado, 1989; Saldanha, 2001; Garcia, Almeida, 1623, do Custódio da Ordem de São Francisco da
rizou o envio de tropas portuguesas para 2000). Com as doações das capitanias de Camu- cidade de São Luíz do Maranhão, Frei Cristóvão
a ocupação militar da embocadura do rio tá, Caité, Cumã, Tapuitapera, Cabo Norte e Joa- de Lisboa, e de outros religiosos, ao rei Felipe III,
Amazonas. Esta área era povoada por po- nes e a fundação da fortaleza de Gurupá, o mapa pedindo que capitanias não fossem concedidas nos
pulações indígenas. do vale Amazônico era constituído não só pelas territórios indígenas, por serem estas para o bem
O Francês Daniel de La Touche já ha- áreas indígenas, mas também por territórios dos do serviço de Deus e de Sua Majestade.3 O pedido
via fundado o primeiro núcleo das terras aldeamentos e missões de domínio das ordens do padre franciscano justificava-se pela presença
setentrionais, nas proximidades das terras religiosas e por capitanias e vilas de domínio da das ordens religiosas em áreas indígenas já trans-
ocupadas por índios Guajajaras: a cidade Coroa Portuguesa (Machado, 1989; Saldanha, formadas em aldeamentos e missões, onde os reli-
de São Luiz do Maranhão, em 1612, de- 2001; Garcia, Almeida, 2000). Segundo Garcia e giosos faziam o comércio das drogas-do-sertão. A
nominada França Equinocial. A presença Almeida (2000, p. 12), doação de capitanias que incluíam terras indígenas
francesa representava uma ameaça para as poderia trazer prejuízos aos negócios administra-
conquistas portuguesas, e fez com que as Findo o período de ocupação holandesa no Nor- dos pelas Ordens Religiosas.
Coroas Ibéricas enviassem uma esquadra deste brasileiro (1654) e firmada a paz com as As terras indígenas eram visadas por coloniza-

formação histórica e territorial


para a tomada de São Luís, fato ocorrido Províncias Unidas, obtida também a paz com a dores interessados em demarcar suas capitanias em
em 1615. Após a conquista deste núcleo Espanha (1668), pondo fim à prolongada guer- áreas onde já havia sido identificado algum tipo de
ra de restauração da independência de Portugal, produto a ser explorado, além da possibilidade do
de origem francesa, uma parte da tropa
foi possível à Coroa concentrar a sua atenção ao
portuguesa partiu para a fundação de um uso de mão-de-obra indígena para a exploração des-
Brasil, que já constituía então a parte mais im-
forte na embocadura do rio Amazonas, ses produtos. Em 14 de março de 16244 o governa-
portante do império português. Assim, podemos
o Forte do Presépio, considerado o em- dor do Maranhão, Francisco Coelho de Carvalho,
afirmar que a regência (1667-1683) e o reinado
brião para a cidade de Belém. A partir daí (1683-1706) de D. Pedro II corresponderam a enviou ao rei Felipe III um requerimento em que
outros pontos estratégicos de controle do um período chave na definição do espaço bra- solicitava uma ordem que lhe informasse sobre o
território foram definidos, fazendo com sileiro. modo como havia de se distribuir as terras do Mara-
que a ocupação portuguesa ficasse con- nhão. Nesta requisição, o governador informou ao
centrada na embocadura do rio Amazo- É no contexto acima descrito que devemos en- rei as suas decisões sobre a divisão das terras do Ma-
nas e em pontos propícios de controle do tender a política da Coroa portuguesa para a ocu- ranhão, e pedia que o rei mandasse carta de doação
território. pação e formação territorial do vale amazônico. das referidas terras aos respectivos donatários.
O que se reconhece hoje como Ama- As capitanias do Maranhão e do Pará pertenciam
à Coroa. Em cada uma dessas Capitanias Reais, [...] forma da repartição das capitanias de Sua
zônia Oriental nos primeiros anos do sé-
Magestade seria servido resolver que se faça.
culo XVII fazia parte do então denomina- cidades foram fundadas, como foram os casos de
A Capitania de São Luiz do Maranhão se lhe
do Estado do Maranhão, e a única cidade São Luiz e Belém, respectivamente. Após a fun-
onde anexas a Capitania do Siará, a cidade de
existente era a de São Luiz, onde se con- dação destas cidades, o governador do Estado, o Vera Cruz com a Fortaleza da Capitania, e Vila
centrou o poder do Estado. As porções senhor Francisco Coelho de Carvalho, recebeu a de Santo Antonio de Alcântara [...] de Tapuita-
central e oeste do vale amazônico eram Carta Régia, de 26 de setembro de 1623, sobre a pera, Capitania de Cumã de que será donatário
ocupadas por ordens religiosas que sub- provisão que lhe foi passada acerca do modo como Antonio Coelho de Carvalho com a jurisdição
dividiram a região em áreas de missões e deveriam ser distribuídas as terras do Maranhão.1 [...]5 até o limite que devide o pará.
aldeamentos indígenas de atuação de Je- O acompanhamento das insistentes correspondên- A cidade de Belém do Pará terá anexas as capita-
nias do Caité de quem terá donatário Álvaro de
suítas, Carmelitas, Dominicanos e Fran- cias do Rei Felipe III revela a preocupação do Rei
Souza; a capitania de Camutá de que o donatário
ciscanos. Isto variou ao longo do tempo, da Espanha em promover a distribuição de terras
Antonio de Albuquerque, a fortaleza de Gurupá
particularmente desde o fim da Com- para a ocupação do território. Para isso, em Carta com as aldeias de seu distrito, a capitania que se
panhia de Jesus, em meados do século Régia de 12 de outubro de 1623, o rei comunicava está no Cabo Norte de que era donatário Bento
XVIII (Machado, 1989; Araújo, 1998; ao Conselheiro do Estado e provedor da Fazen- Maciel Parente [...].6

1
Arquivo Histórico Ultramarino - AHU_ACL_CU_009, Cx.1, D.60 (Brasil-Maranhão).
2
AHU_ACL_CU_009, Cx.1, D. 61 (Brasil-Maranhão).
3
AHU_ACL_CU_009, Cx 1, D. 63 (Brasil-Maranhão).
4
UHU_ACL_CU_009, Cx.1. D. 83 (Brasil-Maranhão).
5
Estes traços representam palavras que não puderam ser identificadas, ou pela grafia da época, ou por algum tipo de mancha que impedia a leitura.
6
UHU_ACL_CU_009, Cx.1. D. 83.

29
formação histórica e territorial

Em análise de outros documentos, como a carta vinha explorando, fossem doadas a Álvaro Souza. Em outra correspondência localizada no Arqui-
de doação de Felipe III, foi possível constatar al- Ainda sobre o requerimento citado acima, do vo Histórico Ultramarino, de março de 1636, apa-
terações na distribuição das capitanias. As terras Conselho da Fazenda, consultou o rei Felipe III so- receu um requerimento de Feliciano Coelho de
do Cayté já vinham sendo exploradas por Felicia- bre a separação das capitanias do Pará e Maranhão, Carvalho ao rei Felipe III, sobre a doação de terras
no Coelho de Carvalho, filho do Governador do fazendo a distinção dos locais que pertenciam a na capitania de Cayté.8 O interesse de Feliciano
Maranhão, que se interessava pelas terras de Ca- cada um dos territórios.7 E seguiram-se, por pelo Coelho estava em repassar a Álvaro de Souza as
mutá e solicitara ao governador do Estado e este menos mais dez anos, trocas de correspondências terras do Cayté, e adquirir a capitania de Camutá.
ao Rei Felipe III que fizesse mercê das terras de entre o Governador do Estado do Maranhão e o Feliciano escreveu ao governador do Estado, seu
Camutá a Feliciano Coelho e não mais a Antônio Rei da Espanha (Período das Coroas Ibéricas) para pai, Francisco Coelho, solicitando que se fizesse
Albuquerque, como o fez em sua primeira carta de chegarem a um acordo sobre a doação das terras de doar a Álvaro de Sousa as terras de Cayté e a ele
intenções, de acordo com o trecho acima citado. E Camutá a Feliciano Coelho de Carvalho e as terras próprio, Feliciano Coelho, as terras de Camutá. O
determinava que as terras do Cayté, que Feliciano do Cayté a Álvaro Souza. Governador do Estado enviou carta de solicitação

7
AHU_ACL_CU_009, Cx.1, D.94
8
AHU_ACL_CU_009, Cx. 1, D. 107 - Quadro 1: vários documentos sobre a divisão das capitanias do Maranhão e Pará.

30
formação histórica e territorial

ao Rei Felipe III para doar as terras do Cayté e do paranahiba as legoas, que custumão fez todas as Esta Carta de Doação correspondeu a dez fólios
Camutá. Por fim, no ano de 1637, o Rei da Espa- capitanias que se tem dado naquela carta dame- do Livro de Doações Filipinas. Nesta mesma Carta
nha respondeu em Carta de Doação,9 que dizia: rica a rumação pello Ryo Pará assima para o sul
o Rei Felipe III fez doação das Capitanias de Cayté,
pella parte do poente onde se acaba o limite que
no Pará, e Cumã e Tapuitapera, no Maranhão. As-
Dom Philipe III faço aos que esta minha Car- tenho nomeado a Capitania do Pará, entrando
ta de Doação virem que por parte de Pheliciano noutra capitania que lhe dyto governador assim sim, pôde ser reconstituída a história da distribui-
Coelho de Carvalho filho de Francisco Coe- deu todas as Ilhas Salgadas, pescarias e passagens, ção das terras das primeiras capitanias fundadas na
lho de Carvalho que foi governador do estado E todas, ou mais pertenças e logradouros que Amazônia. A Carta de Doação mostrou, ainda, que
do Maranhão me foi apresentado a copia de hua dentro nas ditas terras Rios e Ilhas [...] a qual do- as terras que estavam sendo repartidas já haviam
Carta de Doação do dyto seu pay lhe fez como ação lhe fez o dyto governador. Em [...] da [...] sido cartografadas. Com as doações das capitanias10
governador do dyto estado em meu nome da que lhe mandey [...] quatorze de Maio de Seis-
de Camutá, Caité, Cumã, Tapuitapera, Cabo Nor-
Capitania das terras que há entre o Ryo Pará e o sentos e trinta e quatro e de [...] carta que lhe
primeiro braço do Ryo das Amazonas, com le- te e Joanes e a fundação da fortaleza de Gurupá, o
mandey [...] em quatorze de maio de seissentos
goas que ouver do destino que o se chamão do e trinta e três sobre a repartição da Capitania do mapa da Amazônia passou a ser constituído não
camutá athe sair do Rio Curupa assima para o do dyto estado daquella [...], Carta [...]. só pelas missões religiosas e aldeias indígenas, mas

9
Chancelarei de D. Filipe III. Doações, Livro 35, Fólios 95-101. Torre do Tombo. Cópia Autenticada, feita em 09 de Novembro de 2005.
10
Nem todas as capitanias tiveram Vilas fundadas. As capitanias de Cumã, Cabo Norte, Tapuitapera e Joanes só foram ter vilas após as intervenções pombalinas no século XVIII.

31
integrou a este território as vilas das Capitanias, ou pitanias Hereditárias nas colônias portuguesas. Este quase invariável.
seja, terras sob domínio de particulares interessa- fenômeno foi denominado de incorporações pom- Com as incorporações pombalinas, iniciou-
dos em explorar produtos nativos da região, prin- balinas, de acordo com Saldanha (2001, p. 422). se um novo capítulo na história da formação
cipalmente o cacau. As incorporações pombalinas significaram a espacial do vale amazônico. O período de 1750
formação histórica e territorial

No que se refere ao Pará, a divisão territorial firme vontade e um poder régio consolidados no a 1777, reconhecido como período pombalino,
ficou estabelecida em seis Capitanias (ver mapa de absolutismo josefino, a quem não eram os derra- foi marcado pela intervenção territorial, com a
Capitanias do Grão-Pará - 1616 a 1753). Uma real: deiros capitães-donatários – nobreza cortesã, de- fundação de vilas onde havia missões e aldea-
a Capitania da Coroa – a do Pará, tendo sido nela pendente do Rei e sem laços sólidos no Ultramar mentos, e intervenção urbanística, com a imple-
fundada a cidade de Belém; e cinco capitanias par- – quem se iria atrever frontalizar. mentação de um plano urbanístico e a constru-
ticulares: do Cayté (ou Caheté), concedida a Álva- O projeto das incorporações pombalinas foi a ção de prédios como igrejas e casas de câmara e
ro de Souza, que mandou fundar a Vila de Souza solução dada pelo Marquês de Pombal para reto- cadeia. Pombal interferiu, também, na organi-
do Cayté, hoje a cidade de Bragança; do Camutá, mar para a Coroa o poder e o controle sobre todas zação da economia da região, criando a Com-
a Feliciano Coelho de Carvalho, tendo fundado a as terras que estavam sob o controle de capitães- panhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão,
Vila Viçosa de Santa Cruz do Camutá, hoje Ca- donatários. Assim, Pombal pôs fim ao regime de como medida de controle sobre o comércio das
metá; a de Joanes, hoje Marajó, a Antônio de Sou- capitanias hereditárias e iniciou um novo projeto drogas-do-sertão (principalmente cacau, casta-
za Macedo; a Capitania do Cabo Norte, doada a para as colônias. Mais uma vez, Saldanha (2001, nha e madeira), o que demonstrava seu interesse
Bento Maciel Parente; e, por fim, a Capitania do p.422-423) diz: em promover alterações territoriais estruturais.
Gurupá, elevada à condição de capitania a partir da Para isso, Pombal interferiu no regime de pos-
[...] sucedem-se, pois, as resoluções régias: no
construção do Forte de Santo Antônio de Guru- se das capitanias e no controle do comércio das
primeiro dia de Junho de 1753 a que prova o
pá. Este forte foi construído sob as ruínas do for- drogas-do-sertão.
ajuste relativo às capitanias brasileiras da Paraíba
te holandês Maricocay, destruído sob o comando do Sul do Visconde de Asseca e a do Armeiro- A área de estudo do Atlas Ambiental, compre-
de Bento Maciel Parente, em 1623. Não havia um Mor, e a de Cumá e Camutá, de Francisco de Al- endida entre os rios Gurupi, Acará, Capim, Moju
capitão donatário na capitania de Gurupá, ficando buquerque Coelho de Carvalho; a 25 de Outu- e Tocantins, especificamente, refere-se à área deli-
esta sob comando do Capitão de Infantaria Jerôni- bro a respeitante à Capitania da Ilha do Príncipe, mitada como Capitania Real do Pará, onde o con-
mo de Albuquerque. do Conde do mesmo título; a 17 de Dezembro trole sobre a ocupação e sobre o comércio das dro-
a de Caeté, do Porteiro-Mor, Manoel de Souza
Houve, ainda, a solicitação, por parte de Feli- gas-do-sertão era feito diretamente por agentes da
e Melo; a 29 de abril e a 10 de Junho do ano se-
ciano Coelho de Carvalho, das terras para formar Coroa, o que fazia desta capitania a mais produtiva
guinte de 1754, as das capitanias da Ilha grande
a Capitania de Gurupy, negadas por Felippe III por do ponto de vista da exploração de cacau, castanha
de Jan, do Barão desse título, e a de Ilhéus, do
se tratar de terras encravadas na capitania do Cayté, Almirante do reino. e madeira, além da agricultura de subsistência. Tais
já doadas a Álvaro de Souza. produções se consolidaram ao longo do século
A partir do ano de 1753, teve início uma nova No mesmo lote seriam ainda ajustadas as sub- XVIII. Entretanto, este processo de ocupação das
divisão territorial na Amazônia. A Coroa Portu- rogações das capitanias de Itamaracá, e Itaparica, terras do Norte pelo colonizador europeu não se
guesa, sob as ordens de seu Primeiro Ministro, Se- dos donatários Marqueses de Cascais. O texto deu sem conflitos, pois havia ali territórios indíge-
bastião Carvalho e Melo, pôs fim ao sistema de Ca- dessas régias resoluções, com os devidos ajustes, é nas consolidados.

QUADRO 1 – Fontes históricas – Século XVII.

Arquivo Histórico Ultramarino –

AHU_ACL_CU_009, Cx. 1. D. 60 (Brasil-Maranhão).


AHU_ACL_CU_009, Cx. 1. D. 61 (Brasil-Maranhão).
AHU_ACL_CU_009, Cx. 1. D. 63 (Brasil-Maranhão).
AHU_ACL_CU_009, Cx. 1. D. 83 (Brasil-Maranhão).
AHU_ACL_CU_009, Cx. 1, D. 94 (Brasil-Maranhão).
AHU_ACL_CU_009, Cx. 2. D. 150 (Brasil-Maranhão).
AHU_ACL_CU_009, Cx. 1, D. 107 (Brasil-Maranhão).

CARTA RÉGIA - Chancelarei de D. Filipe III. Doações, Livro 35,


Fólios 95-101. Torre do Tombo. Cópia autenticada em 09 de Novem-
bro de 2005.

32
POVOAMENTO E SOCIEDADES ENTRE
OS RIOS GURUPI E MOJU NO PARÁ
DOS SÉCULOS XVIII E XIX
Rosa Elizabeth Acevedo Marin
povoamento e sociedades entre os rios gurupi e moju no pará dos séculos xviii e xix

A
s incursões pela parte ocidental, que os expedicionários seguiram, e a distinção será 60). Em 1778, ano em que foi desenhado o Mapa do
nas terras banhadas pelos rios feita para aqueles que serviram como encruzilhadas. Estado e Capitanias do Grão Pará e Rio Negro, foi
andinos, deram mérito incon- O rio Pará1 e o rio Tocantins constituíram um carre- realizado o Recenseamento mais completo desse
teste a Francisco de Orellana, que se aven- four de águas, sendo importante considerar a posição século, que apresenta a ocupação dos vales dos rios
turou no curso do “Mar-doce de Pinzon” de cada um deles em relação a Belém – centro povoado Guamá, Acará, Moju e Capim. Nele, estão listados os
e percorreu rios amazônicos até chegar ao de maior relevância histórica. Sobretudo no que diz nomes dos 37 senhores de engenho (32) e senhoras
delta, em 1542. O cronista Gaspar de Car- respeito ao rio Tocantins, releva-se a ocupação da sua de engenho (5). Entre os cabeças de família, havia 283
vajal elabora as narrativas das aventuras que margem oriental, que foi mais rapidamente ocupa- lavradores (241 homens e 42 mulheres) (ver Tabela
serviram de pegadas para o capitão Pedro da pelos colonizadores e religiosos, no transcurso do 1). Gama Abreu (1992) afirma que “o Tocantins não é
Teixeira, assim como os expedicionários século XVII e XVIII. No mapa de autoria de Alber- um rio deserto nem desconhecido como o Araguaya”,
Pedro de Ursua e Lopes de Aguirre. A len- naz (1629), vê-se o esquema geral de ocupação da e acrescentou que o Pe. Vieira subiu o Tocantins, em
da das civilizações banhadas em ouro toma Amazônia Oriental em meados da primeira metade 1653. Ele partiu de Belém em 13 de dezembro e che-
conta do imaginário europeu sobre o rio do século XVII, ocorrendo inicialmente a partir das gou à cachoeira Itaboca no dia 28 do mesmo mês.
Amazonas nos séculos XVI e XVII. cidades de São Luís do Maranhão e Santa Maria de No decorrer do século XVIII e entrando no XIX,
Com atraso, os portugueses tomaram a Belém do Grão-Pará. Desta última é que se partiu estes lugares destacaram-se pela população escra-
iniciativa de penetrar os cursos de água e para o desbravamento dos vales dos rios Amazonas va. Os dados das freguesias organizados a partir de
vales do que começava a ser reconhecido e Tocantins. Baena (2004) permitem observar a concentração do
como rio Amazonas, e, já então, estavam Segundo Baena (2004), o Padre Capucho Frei trabalho escravo que sustentava a economia agrícola,
muito receosos do avanço dos ingleses e, Cristovam de Lisboa entrou no rio Tocantins no ano em especial roças e canaviais e a extração de madeiras.
em especial, dos franceses no Maranhão, que de 1625. Transcorridos 44 anos, Gonzalo Paes e Ma- A ocupação das margens dos rios principais (Moju,
já tinham possessões em São Luís, a uma dis- noel Brandão correram as terras do Tocantins até a Acará, Guamá, Capim e Bujaru), bem como de seus
tância de 18 a 20 horas de viagem entre a foz foz do Araguaia em busca de ouro ou prata. Em 1673, afluentes, intensificou-se com a ocupação econômica

formação histórica e territorial


do rio Amazonas e aquela vila. Outro franco Pascoal Paes de Araújo, Mestre de Campo Paulista, para dar vazão aos interesses mercantis. Também nes-
que ameaçava o domínio português situava-se encabeçou uma bandeira buscando o descimento e tas áreas, aumentou o número de quilombos e, mais
nas terras do Cabo Norte. cativeiro dos índios Guarajús. Os mesmos Guarajús tarde, se constituiriam em espaço de luta das tropas
Francisco Caldeira de Castelo Branco, ca- foram contatados pelo padre Antonio Rapozo Tava- cabanas, formadas por índios, negros, desertores e
pitão-mor de Pernambuco até 1614, coman- res, que tinha, também, interesse pelo ouro. O rio colonos empobrecidos. A Tabela 2 indica os núme-
dou a expedição luso-pernambucana que de Araguaia, afluente da margem esquerda do Tocantins, ros de moradores livres, de escravos e os lugares de
São Luis, tomado pelos portugueses, rumou foi explorado pelo Capitão Diogo Pinto da Gaia, a índio das Freguesias campestres da cidade. Segundo
para o oeste com o objetivo de completar a pedido do governador do Pará, Bernardo Pereira de escreve Baena (2004, p. 188), eram nove: “a freguezia
expulsão dos franceses, controlar o territó- Berredo. O missionário jesuíta Manoel da Mota, em de Nossa Senhora da Conceição do lugar de Benfica
rio e a redução “do gentio à nossa amizade” 1721, penetrou o rio Itacaiúnas para “missionar” os no rio Mauari; a de São Francisco Xavier do lugar
como escreveu no seu regimento o Capitão- índios Tacaiuna e Guaranizes. No tocante à navega- de Barcarena no rio Gebrié; a de Nossa Senhora da
Mor Alexandre de Moura. A expedição de ção pelo rio Tocantins, há o registro de José de Nápo- Conceição do rio Abaité; a de Santa Anna do Igarapé-
Bento Maciel Parente teve o mesmo alvo les Tello de Menezes, que em 1782 fundou Alcobaça, miri; a do Espírito Santo do Moju; a de Santa Anna
de desalojar os europeus das terras do Cabo na primeira cachoeira do rio. Esse posto tinha por do rio Bujaru; a de Santa Anna do Rio Capim; a de
Norte. A primeira resultou na fundação de objetivo impedir o contrabando de ouro e a fuga dos São José do rio Acará; e a do São Domingos da Boa
Belém, em 1616, vila que entrou na disputa escravos de Cametá, assim como “desviar as agressões Vista na junção dos rios Guamá e Capim chamada
entre Castelo Branco e os Maciel Parente. dos Silvícolas Timbira, Carajá, Apinage e Gavião”. Guajará” (Baena, 1839, p. 239-240). O mapa intitu-
Como ocorreu a penetração dos portugue- Novo registro foi levantado em 1797 na grande ca- lado Mapa geral do bispado do Pará (1769) mostra as
ses e quais foram as estratégias desse povoa- choeira de Itaboca, no período de governo de Dom freguesias existentes no Pará na segunda metade do
mento? Os grandes rios formaram as trilhas Francisco de Souza Coutinho (Baena, 2004, p. 359- século XVIII.

TABELA 1 – Cabeças de famílias de lavradores e senhores de engenho em 1778.


Senhores de Senhoras de
Freguesias Lavradores Lavradoras Total
engenho engenho
Freguesia de São Miguel do rio Guamá 27 06 06 - 39
Freguesia de São Domingos do rio Guamá 48 12 02 - 62
Freguesia de Santana do rio Bujaru 28 - - - 28
Freguesia de Santana do rio Capim 28 09 03 - 40
Freguesia de São José do rio Acará 36 06 06 04 52
Freguesia do Espírito Santo do rio Moju 74 09 15 01 99
Total Geral 241 42 32 05 320
FONTE: Recenseamento (1778).
ELABORAÇÃO: Rosa E. Acevedo Marin (2006).

1
O rio Pará é formado por uma série de pequenos estuários e baías de água doce situados a S da ilha de Marajó. Encontra-se ligado, por meio dos furos de Breves, ao rio Amazonas,
e, engrossado com as águas do rio Tocantins, forma a baía de Marajó.

33
formação histórica e territorial

PEQUENO ATLAS DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ (1629)


Neste mapa do século XVII, é mostrado o “Caminho do Maranhão ao Grão-Pará”. A elipse indica, grosso modo, a área de estudo, delimitada no
interflúvio entre o rio Gurupi e o rio Tocantins. Neste mapa já aparecem representados os rios Acará (“Ocara”) e Moju (“Mogu”). No quadrante
inferior direito vê-se a cidade de Belém, fundada em 1616, e à esquerda (centro) a cidade de São Luís, que data de 1612.

34
formação histórica e territorial

INDICAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

FONTE: ALBERNAZ, João Teixeira. 1629. Pequeno Atlas do Maranhão e Grão-Pará. Fl. 1602-1649. (Direitos
reservados à Biblioteca Nacional – Brasil.)

35
formação histórica e territorial

O ESTADO E CAPITANIAS DO GRÃO-PARÁ E RIO


NEGRO COM AS DO MARANHÃO E PIAHUY (1778)
Neste mapa do século XVIII, verifica-se a divisão política da Amazônia em capitanias após o governo do Marquês de Pombal. A área de
estudo, indicada pela elipse, aparece como um espaço pouco ocupado entre os vales dos rios Acará e Gurupi. Apenas algumas poucas
freguesias aparecem ao norte, no vale do rio Capim.

36
formação histórica e territorial

INDICAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO FREGUESIAS

FONTE:
ADONIAS, Isa. A Cartografia da Região Amazônica. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Pesqui-
sas da Amazônia, v. 1, 1963. (Entre pags. 530 e 531.)

37
formação histórica e territorial

MAPA GERAL DO BISPADO DO PARÁ (1769)


Neste mapa, estão representadas as freguesias da Capitania do Grão-Pará na segunda metade do século XVIII. Destaque para
os rios Capim e Acará-Mirim, que aparece como sendo o Acará. A elipse indica, grosso modo, a área de estudo, em terras não
ocupadas por freguesias.

INDICAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

FONTE:
GALUZZI, Henrique Antonio (1769). Mappa geral do bispado do Pará: repartido nas suas freguezias que nele fundou o Exmo. Snr. D.
Fr. Miguel de Bulhões III Bispo do Pará.

Direitos reservados à Biblioteca Nacional – Brasil.

38
TABELA 2 – Demografia das freguesias rurais de Belém e Lugares de Índio em 1823
Freguesias rurais (campestres)
Moradores livres Escravos
e lugares de indios
São Domingos da Boa Vista 882 1047
Rio Capim 992 663
Rio Bujaru 799 915
Rio Acará 1539 1437
Rio Moju 1429 1728
Igarapé Miri 1734 1839
Abaeté 2425 1639
Barcarena 472 365
Benfica 913 72
Lugares de índio
Conde 400 -
Beja 886 -
Total 12471 8235
FONTE: Baena (2004).
ELABORAÇÃO: Rosa E. Acevedo Marin (2006).

AS ENCRUZILHADAS DOS José da Gama Abreu (Barão de Marajó) escreve na Essa restrição é valida para boa parte do sis-
VALES DO TOCANTINS, MOJU, ACARÁ, Amazônia do auge da borracha e da moderniza- tema hidrográfico da região amazônica, entre-
GUAMÁ E GURUPI ção da sociedade, e tem como referências para seus tanto, o mais importante é destacar as referên-
estudos corográficos os autores anteriores e suas cias da ocupação e, de forma cuidadosa, indicar
Entre os autores cotejados para a descrição do criteriosas observações. Spix e Martius e o Barão as transformações que se tornaram mais acen-
rio Tocantins, Moju, Acará, Guamá e Gurupi, es- de Marajó têm em comum o interesse pela carto- tuadas com o processo de colonização, e que se
tão o Pe. Jesuíta João Daniel (2004), Spix e Martius grafia. O último autor, em particular, é ciente das avolumaram e se complexificaram no processo
(1825), Antonio Baena (1839) e Gama Abreu (Ba- limitações dos dois viajantes quando descreveram recente de abertura dessas áreas como fronteira
rão de Marajó) (1992). A temporalidade desses au- o rio Madeira: de recursos. Por outro lado, o Pe. João Daniel
tores é, também, uma seqüência de acréscimos de é a leitura matriz e, nas suas descrições, indica
referências e de preocupações. João Daniel e Spix Se compararmos os mapas antigos, ou mesmo com detalhes as articulações entre esses cursos
e Martius situam-se em um contínuo do mundo o excelente mapa de Spix e Martius, publicado de águas. Nas páginas dessa obra são prioriza-
em Munich, em 1925 com os modernos mapas dos elementos da natureza e das sociedades.
colonial. O primeiro é um observador que, desde

formação histórica e territorial


de Paz Soldan, de Edward D. Mathews, Up the
sua formação intelectual e religiosa, compartilha Essa leitura, e as dinâmicas sociais que retrata,
Amazon and Madeira rivers, vemos que hoje o
do projeto de transformação colonial. Já os dois surge de observações in loco sobre as nascentes
rio está devassado e percorrido no interesse do
naturalistas bávaros instrumentalizam o conheci- dos rios, percursos, paisagens, exploração das
comércio pelos regatões até quase seus últimos
mento científico de sua época, e são observadores riquezas, grupos indígenas e uma visão futu-
recessos, achando-se resolvidas muitas dúvi-
da ruptura política do mundo colonial. Baena si- das sobre pontos em relação aos quais ainda há rista indicando projetos e transformações (ver
tua-se nesse campo e produz conhecimentos para poucos anos não havia opinião assentada (Gama Box 1).
o controle da elite dominante de extração colonial. Abreu, 1992, p. 114).

BOX 1
AS ENCRUZILHADAS DOS ANTONIO BAENA. Destacou como cri- pedimento pode entrar um homem.(...) O riacho
RIOS NA HISTÓRIA tério para sua “Lista hidrográfica” os rios “que Cunaua vem de serras perto das cabeceiras do rio
têm maior número de defluentes”. Na Provín- Moju: entre este e o riacho São Miguel demora a
PE. JOÃO DANIEL. Sobre as águas do rio cia do Pará, essa lista é encabeçada pelos “rios e ilha Pitauanoca que tem defronte no rio um poção
Tocantins escreveu: “Estas duas famosas baias [Li- riachos, que engrossam o rio Tocantins”, na sua farto de tartarugas no tempo delas. O rio Macauan
moeiro e Marapata] são formadas das águas do rio margem direita ou Oriental e a Margem esquer- é dilatado, e dá no rio Moju segundo dizem” (Ba-
Tocantins, o qual é tão grande, que a sua vista ficam da ou Ocidental. Em geral, cada curso d´água tem ena, 2004, p. 357).
como exinanidas as águas deste segundo braço do indicação sobre a origem do nome, características
Amazonas [....] que já daqui deve se chamar Rio geográficas (ilhas, cachoeiras), extensão, dimen- SPIX E MARTIUS. Em 21 de agosto de
Tocantins” (Daniel, 2004, Tomo I, p. 59). são do povoamento, frisando certa comparação 1820, os dois naturalistas saíram de Belém e, de-
“Tem o rio Moju na sua foz, onde recebe as entre cada um ou se ocorreu despovoamento. pois de passar pela foz do rio Guamá, alcançaram
águas dos rios Capim e Guamá um medonho sor- Outro detalhe é sobre a classificação dos povoa- a parte meridional da baía de Guajará, entrando no
vedouro [...] Passado o caldeirão, cuja paragem dores: “moradores”, “indígenas” e informações rio Moju, “[...] que se lança por uma vasta embo-
cama Morticu, se une o Moju, e as águas do Gua- sobre intervenções, do tipo construção de presídio cadura de mais de 700 braças, num mar de água
má, e Capim com as do Amazonas, e Tocantins na ou limite entre Províncias (Goiás e Maranhão). A doce”. Nessa viagem se detiveram no engenho de
baia da cidade, dividida da baia de Caranapijó por margem direita ou oriental desse rio mostra maior Jaguarary, propriedade de Ambrosio Henriques
uma ilha, como língua de terra, e junto todo este ocupação e está nele a ligação com o rio Moju: “O Pombo, famosa por sua eficiência e elegância. A
poder de águas, vão todas correnda para o mar de riacho Ipitinga é dilatado, e chega às terras do rio paisagem do rio aflora na descrição: As margens
barra fora, e para o norte, onde no fim da ilha de Moju. Pouco acima lhe fica a ilha Ararapá, e pró- do Moju prestam-se para qualquer espécie de cul-
Marajó se incorporam com as mais águas do gran- xima a esta a ilha Mauariroca, que tem uma alta tura tropical; além da cana, também há ali café,
de Amazonas no braço do norte” (Daniel, 2004, pedra, e logo adiante a ilha Uariuacuara, em cuja mandioca, milho e arroz. Nesse serviço emprega-
Tomo I, p. 67). ponta há uma grande pedra oca, na qual sem im- vam-se “os inúmeros escravos pretos da fazenda”,

39
Continuação BOX 1

enquanto os índios da vizinhança dedicavam-se à BARÃO DE MARAJÓ. Baena elabora suas a 30 kilometros da boca o Acará pela sua margem
pesca e a suas pequenas roças. Eles viviam na ilha descrições das ligações entre os rios e riachos que direita, e a grande distância da foz pela margem
formação histórica e territorial

baixa, “formada pelo desaguadouro do Tocantins, circundam o rio Moju com base em informações esquerda, o extenso rio Cairary, do qual por um
do Moju e do Igarapé Mirim, nas vilas de Conde de terceiros. O Barão de Marajó, quatro décadas afluente se passa ao Tocantins abaixo de Mocaju-
e Beja (Spix e Martius, 1961: V. III, p. 71). “O rio depois, com base no mapa do Tocantins, publicado ba, em frente à ilha do Tamanduá, habitado em
corre, em geral, de sudoeste para nordeste” e pe- em Lisboa, em 1877, e que foi elaborado pelo pi- uma extensão de mais de 400 kilometros – é con-
las anotações sistemáticas dos naturalistas é um rio loto José Velloso Barreto, confirma as ligações do tudo muito pouco conhecido na última parte do
ocupado: no rio Jacari comentam uma fazenda Moju: o rio Ipitinga “quase vai encontrar o Moju. seu curso, assim como no dos seus afluentes. O
com pequeno engenho para fazer açúcar e destilar O Cunauá tem sua origem próxima ao Moju, o Cairary, seu afluente de muita extensão, é também
aguardente. Também, cultivava-se nessa proprie- Macauan também se liga ao Moju, e era aprovei- muito pouco explorado. O volume de águas do
dade o cacau. Sobre a vegetação frisam que a tando-se da grande extensão de terras banhadas Moju enriquecido pelas do importante rio Acará, e
região, baixa e úmida, é coberta por densa mata. pelo Moju e alguns de seus afluentes, que o piloto reunido às do Guamá (impropriamente chamado
Transcorridas algumas léguas indicam que no co- queria estabelecer o transporte de gado do Tocan- assim), é que formam o rio Guajará ou rio Pará. O
meço de Igarapé-Mirim estava a fazenda Catim- tins ao Pará (capital)” (Gama Abreu, 1992, p. 198). rio Guamá, insiste o geógrafo e hidrólogo, forma-
bau e mais na frente o canal que havia sido aberto Gama Abreu acrescenta em suas anotações sobre se unindo suas águas ao rio Capim, ambos lançan-
no governo de D. Francisco de Souza Coutinho. o Moju que “é este um dos belos rios da província do-se sobre o rio Guajará ou Pará, a uma milha de
As fazendas estavam espaçadas e o primeiro lugar do Pará com um belo curso muito extenso que se distância de Belém. O rio Capim é o principal e
é freguesia de Santa Ana de Tarauaçu, onde havia supõe de mais de 600 kilometros com uma largura tem no seu curso 900 kilometros, já o Guamá tem
algumas casas em torno de uma igreja. Nesse tra- em grande parte do seu curso superior a 2 kilome- 300. No ponto de confluência de um com o outro
jeto orientaram-se até o Igarapé Mirim para o rio tros. Empreguei a palavra supõe e com vergonha o tem o Capim uma milha de largura, enquanto o
Anapu que se encontra com o rio Abaeté – braço digo, pois que com sua embocadura a uma hora da Guamá tem 200 metros, tomando o rio que deve
do rio Tocantins. O barco os conduz até a baía de capital, vendo que pelo canal de Igarapé Mirim se chamar-se Capim, uma e meia milha de largura até
Limoeiro ao oeste e à baía de Marapatá ao leste. acha suas águas ligadas as do Tocantins, recebendo alcançar o rio Pará.”

RIOS E IGARAPÉS NA PARTILHA mais bem povoados, e também os mais alegres, e O rio Acará, que deságua no Moju, dizia João
DE TERRA COLONIAL os que provêem de víveres os mesmos moradores Daniel (2004, Tomo I), metia medo com sua gran-
da cidade” (Daniel, 2004, Tomo I, p. 386). de boca aos navegantes, mas pouco acima dava a
Esses cursos de água distinguem o primeiro cír- Vários engenhos e sítios encontravam-se até à conhecer a sua “pobreza porque apenas será de
culo de agricultura comercial do Pará. Entretanto, distância de oitenta léguas nas terras banhadas pelo oito dias de navegação”; com esta referência de dis-
a historiografia, por força da abundância de docu- rio Moju. As terras baixas do rio Guajará (nome tância e tempo de navegação, deduz-se a facilidade
mentos e referências, focaliza determinadas áreas e que também recebia o rio Guamá) foram pro- para atingir essas terras. Toda essa combinação de
realidades em detrimento de outras. A ilha de Joa- pícias para o cultivo da cana-de-açúcar, estando vantagens incentivou a elevação da antiga aldeia à
nes ou ilha de Marajó, as terras do Cabo Norte, o partilhado por diversos sítios com seus engenhos condição de vila, em 1758, recebendo o nome de
Baixo Tocantins e ainda a cidade de Vigia tiveram e engenhocas dedicados à fabricação de açúcar e São José do Rio Acará (Dias, 1970, vol. 2, p. 79).
grande destaque nas fontes documentais, e por esse aguardente. Esta atividade também foi igualmente No século XVIII, o mundo rural desta região de
motivo facilitam diversas abordagens de historia- dominante nos rios Capim e Acará, que contavam encruzilhada dos rios, aqui definido como o pri-
dores contemporâneos interessados nas estratégias dezenas de sítios, de engenhos e engenhocas. O meiro círculo de agricultura formado a partir de
de ocupação, no desenvolvimento da agricultura mapa da página 42 traz um esquema da distribui- Belém, é descrito em termos de uma certa opu-
comercial e nos processos políticos (Nunes Perei- ção espacial dos tipos de produção vigentes no sé- lência por João Daniel. A descrição do rio Moju
ra, 1953; Ângelo-Menezes, 2000; Amorim, 2002; culo XVIII na área que envolve os rios Tocantins, projeta-se como cenário também dos rios Acará,
Gomes, 2000; Acevedo Marin, 1985; 1998; 2000). Guamá, Capim, Acará e Moju. Além das áreas de Capim, Guamá e ainda o Tocantins:
O mesmo interesse não se observa em relação aos engenhos (do Guamá e do Moju), também estão
vales dos rios Moju, Capim, Guamá e Acará, que representadas, no mapa citado, as localidades nas Estão estes sítios, que mais merecem o nome de
quais se achavam as Fábricas Reais de Madeira, boas, e grandes quintas, sobre as margens dos
têm pouca relevância na escrita da história regional.
rios: porque para o centro só há vivenda de bi-
bem como aquelas que se destacavam por uma
chos, e feras. Esmeram-se porém tanto nas suas
CÍRCULO DA AGRICULTURA DO produção ligada à agricultura de subsistência.
moradias os donos destas quintas ou sítios, que
ESTADO DO GRÃO PARÁ Assim, questiona-se: quais as marcas da ocupa-
fazem uma muito alegre perspectiva aos nave-
ção da terra e das estruturas agrárias, originadas nos gantes; e com mais razão se podem chamar gran-
Na primeira centúria da colonização portu- oitocentos, que se encontram no baixo Acará do sé- des, soberbos e magníficos palácios, do que casas
guesa, no estuário do rio Amazonas, a ocupação culo XIX e em décadas mais recentes? A ocupação de campo; e em muitos têm os seus moradores
foi mais dilatada em direção às terras próximas de das margens do rio Acará, com suas águas mansas e boas capelas, e igrejas, ainda que só em algum
de fácil navegação por meio de seus canais, foi efeti- mais cômodo acodem ordinariamente os mora-
Belém, o principal centro comercial e político de
dores daquele rio como a freguesia onde sempre
então. Este espaço experimentou mais acintosa- vada nos primeiros anos de colonização portuguesa
assiste o seu pároco. E posto que alguns mora-
mente os desdobramentos da política de povoa- (século XVII), conforme registram Rocque (1967) e
dores têm tantos escravos, ou fâmulos, que po-
mento e, em seguida, de fomento agrícola. O Pe. Dias (1970). Rocque afirma sobre o rio Acará: “não
diam constituir uma pequena vila, contudo em
João Daniel, no seu “Tesouro Descoberto do Rio demorou muito após a chegada de Caldeira Castelo nenhum destes rios há vila alguma formal [..].
Amazonas”, escrito com base nas observações rea- Branco a Belém, para que aventureiros explorassem (Daniel, 2004, Tomo I, p. 286).
lizadas nos anos de 1740, apresenta uma explicação suas margens, ricas em terras férteis e madeiras de
para este processo: “todos estes quatro rios, Moju, Lei” (Rocque, 1967, p. 49). Idêntica razão para sua Por longo tempo esta paisagem, de sítios e quin-
Acará, Guamá e Capim, são os mais bem povoados ocupação rápida é assinalada por Dias (1970), que tas, continuou sendo dominante sobre um com-
de todo aquele Estado, não tanto pela bondade das informa sobre o interesse na extração de madeiras ponente urbano mais de Belém do que daquela
terras, pois em todo o Estado são as mesmas, quan- reais que existiam em abundância nas suas margens, vila. A exploração das madeiras de lei das florestas
to por estarem na vizinhança da cidade [...] são os ademais de possuir bons terrenos para a lavoura. banhadas pelo rio Acará foi a primeira atividade

40
organizada pelos administradores coloniais. As meio da Carta de Sesmaria aos interessados pelo reparos com base na experiência da China, onde
Fábricas Reais de Madeira foram organizadas no Provedor da Fazenda Real e do número de donos essa cultura mostrava alto rendimento sem escra-
último quartel do século XVIII e abasteciam o Ar- de engenhos e sítios que viviam em Belém. vos, contando com instrumentos manuais e, ain-
senal de Belém e parte importante do produto era Outra questão importante: que posições detêm da assim, possuía longa durabilidade. No vale do
exportada (Rocque, 1967; Ângelo-Menezes, 1998, os camponeses, sitiantes e agregados na estrutura Amazonas, havia observado o religioso, as planta-
1999). Essa exploração chegou a produzir, no de- fundiária e que movimentos esta experimentou ções não duravam mais do que cinco a sete anos.
curso de várias décadas, a extinção de espécies, o no decorrer de dois séculos? Os primeiros tempos O “erro”, no seu entender, era a escolha da “borda
que ocorreu com o pequiá (Caryecar villosum), ma- da colonização neste círculo mostram a concessão dos rios” e não a terra firme para este cultivo, onde
deira resistente utilizada para construção de navios. de sesmarias de uma e mais léguas, favorecendo a poderiam se abrir canaviais perpétuos (Daniel,
Faltando angelins (Dinizia excelsa), paus-d’arco (Ta- concentração relativa da terra. No Baixo Acará, en- 2004, Tomo I, p. 525).
bebuia serratifolia) e o próprio pequiá, solicitavam-se tre 1707 e 1754, registram-se 68% dessas conces- O Baixo Acará foi uma das zonas da produção
toras de madeira nas povoações que funcionavam sões e, até o ano 1823, quando encerra esse regime canavieira do Estado do Grão-Pará desde quando
em rede de abastecimento. As fábricas instalaram- de apossamento da terra, houve uma tensão latente se iniciou a concessão de sesmarias, até fins do sé-
se em Igarapé-Miri, Abaetetuba, Barcarena, Con- entre os pequenos e os grandes donos de sesma- culo XIX, articulada a um conjunto de “quintas,
de, Baião, Beja, Cametá, Acará ou no Moju. Nes- rias. O novo século é um movimento de retração sítios e herdades” que se mostrariam interessantes
tas três últimas instalaram-se as maiores fábricas com rupturas e estrangulamentos desse sistema, para o mercado da capital (Daniel, 2004, Tomo II).
e igualmente se têm os registros de rápido esgo- de um lado, aumentando o número de arrendatá- A importância da cana-de-açúcar ficou em evidên-
tamento das espécies citadas (Ângelo-Menezes, rios e agregados; de outro, revelando as situações cia pela área cultivada e o número de engenhos e
1998, 1999). de absenteísmo entre os grandes sesmeiros. engenhocas que se encontravam nesta zona. Esse
A Fábrica Real do Acará praticamente ficou in- O Baixo Acará foi um dos centros da produção cultivo era feito, como menciona João Daniel, em
viabilizada em 1796, quando a distância entre esse canavieira do Estado do Grão–Pará desde quan- terras alagadas com uma produção dependente
empreendimento e as florestas estabeleceu um li- do se iniciou a concessão de sesmarias até fins do do ritmo das vazantes. A cana-de-açúcar ocupou,
mite intransponível. Esta foi uma das explicações, século XIX. A primeira sesmaria foi recebida por aproximadamente, 76.230 ha, considerando o nú-
porém outras foram centradas sobre o papel do João Ferreira Ribeiro, talvez de três léguas. Era o mero de beneficiados com sesmarias que se dedi-
Diretor da vila como agente de recrutamento e ano 1707. Desde então, desenvolveu-se uma agri- caram ao cultivo do produto. Essa plantação foi
controlador dos trabalhadores. As autoridades lhe cultura articulada a um conjunto de engenhos e seguida do cacau com 26.451 hectares. Os dados
criticaram por “não fazer diligências com regula- engenhocas, dependendo do trabalho dos sítios de das roças de mandioca (4356 hectares) mostraram
ridade” nem evitar as fugas dos índios, com isto pequenos e médios sesmeiros, de arrendatários e uma superfície cultivada bem menor.
tendo diminuído os braços disponíveis para os tra- agregados. Passou a ser uma das áreas mais povoa- As “lavouras” de mandioca, macaxeira, algodão
balhos da fábrica (Ângelo-Menezes, 1998, p. 136). das desde a fase inicial da colonização, concentran- coexistiam com a cana-de-açúcar e o cacau. Pro-
Esses empreendimentos arregimentavam traba- do, também, um número importante de escravos, duzia-se, com maior resultado comercial, a farinha

formação histórica e territorial


lhadores indígenas empregados no corte e na reti- mas também de agregados e arrendatários. de mandioca. O Acará alimentava os trabalhadores
rada das toras da floresta. O reservatório desta for- A região do Acará notabilizou-se no século XIX indígenas distribuídos entre as feitorias dos colo-
ça de trabalho encontrava-se nos Lugares de Índios pelo número de escravos,3 por quilombos forma- nos. No sistema de produção costumava consor-
e as autoridades realizavam trocas de mão-de-obra dos e intrincados nas matas e ainda pelo estalido ciar-se a mandioca com o arroz, os gêneros mais
por serviços de arraste de madeira para abastecer de uma revolta de cultivadores que a historiografia importantes para o consumo local. Plantava-se um
as fábricas.2 Na segunda metade do século XVIII, insere na gesta revolucionária da Cabanagem. Qual pouco de feijão e milho e o cacau tinha discreta
a freguesia destacava-se pelo número de escravos foi a base da riqueza destes moradores? Tudo indi- presença.
e por uma paisagem agrícola. Dos gêneros culti- ca que sua origem estava no cultivo e no beneficia- Em 1729, a Coroa proibiu a utilização de mão-
vados nas freguesias de São José do Rio Acará, São mento da cana-de-açúcar, apesar da visão negativa de-obra indígena nos canaviais, engenhos e áreas
Domingos do Rio Guamá, Santa Ana do Rio Ca- de um observador como foi o Pe. João Daniel, que de cultivo do tabaco e os cultivadores foram pres-
pim e Espírito Santo do Rio Moju constavam café, lamentava a sorte do “açúcar”, pois, sionados para adquirir o escravo de origem africa-
arroz, cacau, açúcar, aguardente, milho e farinha na,5 introduzido, anos depois, pela Companhia de
conduzidos para o mercado de Belém, além das podendo ser um dos mais preciosos gêneros Comércio do Grão-Pará e Maranhão (1755-1777).
madeiras de construção, boa parte delas exporta- daquele Estado, e com que podiam enriquecer Os produtores de açúcar e aguardente do vale
todos os seus moradores, é tão grande a sua des-
das para Europa. do Tocantins e do Acará tiveram facilidades para
curiosidade, que apenas no circuito, e vizinhan-
Fazendas de tamanho médio ou pequenas junto adquirir escravos de origem africana com a mon-
ças do Pará há alguns poucos engenhos dele; e
com uma constelação de modestos sítios arquite- tagem do mercado de escravos organizado pela
esses poucos mais o são no nome que na realida-
tam o mundo rural que se organizou com base na de porque o seu maior tráfego, no pouco tempo, Companhia de Comércio. O tamanho do plantel
agricultura, atividade dominante, no extrativismo que moem, é mais para águas ardentes, do que faz acreditar que os preços de escravos não os tor-
e muito pouca criação. Todas as unidades se dis- para açúcar[..]. (Daniel, 2004, Tomo I, p. 524) naram proibitivos, e que estes proprietários foram
tribuíam às margens do rio e ainda penetraram na favorecidos por residirem ou estarem próximos de
malha intrincada de igarapés e furos formadores O plantio da cana-de-açúcar organizou não ape- Belém. O sistema de venda da produção agrícola
deste primeiro círculo da agricultura que, cada vez nas o trabalho escravo, mas foi o elo entre o culti- e extrativa por conta da compra de escravos pela
mais, girava em torno do mercado de Belém. O vador e o dono de engenho ou engenhoca, sendo Companhia funcionou, apesar dos pouco cabe-
horizonte e atos mais definitivos da ocupação par- que esta última somente se ocupava de fabricação dais da maioria dos colonos; entretanto, estes man-
tem da cidade, e isto é verdade no tocante à soli- de aguardente.4 O engenho, de acordo com o mo- tiveram-se à procura de trabalhadores indígenas, que
citação da partilha desse espaço, por meio da con- delo português, precisava de muita escravatura, de identificaram como seus “servos”. Na fase de atua-
cessão e confirmação de sesmarias, repassadas por servidores e de máquinas. O Pe. João Daniel faz ção da Companhia, a ênfase na produção açucareira

2
Ângelo-Menezes registra, a partir de um documento de 1798, um exemplo de troca realizada por Joaquim Vicente, morador do Acará (Ângelo-Menezes, 1998, p.128-129).
3
Por volta do ano 1823, conforme dados organizados por Baena, havia 2976 escravos nesta freguesia (Baena, 2004).
4
O Pe. João Daniel cita a primeira destilação, a da cabeça, como mais refinada; as seguintes correspondiam às cachaças ou aguardentes, objeto de contrabando e contravenção (Daniel, 2004,
Tomo I).
5
Ver Azevedo, João Lúcio de. 1930. Os Jesuítas no Grão-Pará: suas missões e a colonização. 2. ed. Coimbra, Imprensa da Universidade, p. 240.

41
é mais notada na região Tocantina, incorporando zario Ribeiro foi encarregado de descobrir algum Gentios Amanajós: que daqui através de tabo-
um número importante de escravos, mas também caminho, que das vertentes do rio Capim ou de cais, ribanceiras, charaviscaes, penedias, longos
de agregados que, juntos, representam três terços algum braço, ou afluente conduza aos estabeleci- tremedaes e Silvícolas feroces, chegara à beira do
rio Pindare, construira canoas de paus, e nelas
da população e estavam subordinados aos benefi- mentos mais ocidentais do Piauí” (Baena, 1969,
formação histórica e territorial

descera até a Vila de Monção, onde entrara a três


ciados pela concessão de sesmarias. p. 232). Essa expedição não pareceu ter resul-
de Novembro; de cuja Vila se dirigira a Cidade
O rio Moju era conhecido pelas madeiras se- tados. Mas o governador e Capitão General do de São Luiz do Maranhão, e nela fora bem re-
melhantes às riquezas exploradas nas matas do rio Pará, Dom Francisco de Souza Coutinho, insistiu cebido pelo Capitão General Governador Dom
Acará. Em 1849, Bates refere-se a onze grandes nessa empresa, designando para igual diligência o Diogo de Souza. E conclui dizendo que o Rio
engenhos que existiam nesse rio. Os mais famosos Major Francisco Nunes, que informava em 1798 Capim não tem curso extenso, e que por isso não
foram visitados pelos viajantes Charles Marie de sobre os resultados. Baena descreveu os porme- da toda a facilidade de transito para as Fazendas
la Condamine (Engenho Real de Ibirajuba) e por nores da viagem: de criação de gado do Piaui ou das Aldeias Altas
(Baena, 1969, p. 238).
Spix e Martius (Engenho Jaguarary).
[...] Remontara o rio Capim até ao Arraial de
Já o rio Capim foi o centro da atenção do go- Esse resultado transtornou o projeto do governa-
Santa Cruz; do qual vogara pelo rio Suribujú,
verno do Estado do Grão-Pará, que buscava abrir braço do Capim: que da parte superior deste dor, que tinha com esse plano a idéia de tornar Be-
caminho para o transporte do gado do Piauí. Em braço transitara por terra até a maior proximi- lém menos dependente das fazendas de gado da ilha
julho de 1796, o “Capitão do Mato José do Ro- dade das vertentes do rio Gurupi onde vira os de Joanes. O governador tinha receios com o futuro

42
do fornecimento de gado, pois a população da ci- os limites de um documento produzido para de- em que ritmos? Existem traços dessa ocupação que
dade crescia e o abastecimento de carnes por parte marcar uma concessão e seus elementos que ficam permaneceram como marcas e que impactos pro-
das fazendas não era suficiente. As fazendas neces- ditos nas suas linhas e entrelinhas. Essas peças são duziram sobre fauna, flora, recursos hídricos, solos
sitavam de uma melhor administração para dar essa empregadas para definir, quase exclusivamente, os e, em especial, sobre os grupos sociais que entraram
garantia. Ainda mais, no caso de ocupação da ilha agentes beneficiados e as assimetrias da distribui- em relação durante esse processo de ocupação? Que
por qualquer nação com “projetos hostis contra a ção da terra que é facultada por essa concessão. balanço se teria dessas áreas, em uma comparação
Outras perguntas podem ser feitas em relação do século XVIII e metade do século XX?
Capitania estariam privados os moradores da cidade
à carta de sesmaria: Que recursos e situações de Nesse ponto, é preciso situar uma preocupação
do provimento de carnes” (Baena, 1969, p. 239).
uma natureza a ser transformada tornam-se co- que permanece até o presente: a validação desse
Os rios Guamá, Capim e outros, segundo Spix e
nhecidos no discurso da carta de sesmaria? Que documento, fonte de poder por instituir a legalida-
Martius, eram “regiões ainda em parte muito pou-
visões de natureza estão orientando os homens da de do controle e apropriação da terra. Correlato a
co procuradas”, e, embora pudessem dar “consi-
época? Que técnicas de transformação da nature- essa validação está o estabelecimento da cadeia do-
derável desenvolvimento à afluência dos artigos de
za começam a expandir-se? Como se fala dos li- minial e a mensuração. A questão da mensuração
exportação”, tinham “restrita operosidade” (Spix mites tecnológicos e preocupações da intervenção e o estabelecimento de marcos confiáveis foram
e Martius, 1961). sobre os ecossistemas? Quem esta identificando preocupação dos administradores e dos beneficia-
e nomeando os elementos da natureza que estão dos, em especial quando envolviam conflito com
AS SESMARIAS DOADAS: QUANTUM DAS sendo descobertos? Que dificuldades e conflitos confinante ou ambição de tomar conta de novas
RIQUEZAS NATURAIS surgiram? Desta forma, o discurso da carta de ses- terras. No final do século XVIII, o governador do
maria é colocado em diálogo dinâmico com diver- Estado do Pará propõe a criação de uma Escola Pú-
João Daniel foi contemporâneo do procedi- sos questionamentos que surgem de uma leitura blica e no regimento provisional tanto o governo
mento administrativo e burocrático que fez das detalhista. civil como o eclesiástico podiam, além de nomear
concessões de terras uma exclusividade dos euro- As cartas de Datas para o rio Moju, Acará, Gua- professores para as “cadeiras dos estudos menores,
peus, portanto, a constituição de um grupo social má e Capim (tal como o conjunto dessa documen- [...] a exigência de examinar o subsidio literário e
que usufruía desse privilégio: tação) encontram-se organizadas em 20 volumes, o número e qualidade das Cadeiras”. Nesse ato foi
disponíveis no Arquivo Público do Estado do Pa- criada a Cadeira de Aritmética, Geometria e Trigo-
Quando algum europeu, ou seja novato ou já lá
rá.6 Nesta fonte, estão as transcrições dos pedidos nometria, que, segundo Baena, formaria
nascido [...] quer situar-se naquelas terras, se são
de concessão, aprovação, confirmação ou anulação
vizinhas a povoações de brancos, fazem petição
ao magistrado pedindo tantas léguas de terra, que existem nesse Arquivo.7 No Catálogo de Ses- bons Contadores, e bons Medidores, a fim de que
que ordinariamente não passam de três por fren- marias para a freguesia rural do Moju, está iden- não se sinta a falta, que há de bons Contadores, e
te, ou menos conforme a extensão de terras, que tificada a primeira sesmaria solicitada em 1723, que as medidas das Sesmarias se fação com a ne-
devolutas, ou conforme as posses, que tem para e quase 40% das concessões ocorrem entre 1732 cessária exacção, além da utilidade que há em ha-

formação histórica e territorial


as poder povoar; o que o magistrado facilmente ver Geômetras e Topógrafos capazes de levantarem
e 1737. Significa um processo acelerado de con-
despacha, e concede longe porem de povoado, se Planos, e até darem convenientes descriçoens dos
cessão de sesmarias e sua concentração nesse rio.
fazem estas petições aos governos, que também territórios e dos rios com a nota dos trabalhos que
Algo semelhante ocorreu nos rios Acará, Capim e nos mesmos podem caber (Baena, 1969, p. 241).
facilmente concedem por uma Portaria a que
Guamá, o que compreende a região de destinação
chamam Carta de Data, ou doação de uma, ou
agrícola do Estado do Grão-Pará (ver mapa da pá- O sentido dessa análise e da própria recomen-
duas, ou três legoas em frente, dos rios junto aos
gina 42). Como destacou o pe. João Daniel, esse dação da carta do Governador é de formar técni-
quaes se formam sempre estes sítios pelas con-
veniências que já disse, e para o centro ordina- procedimento burocrático e legal começa pelo cos para fazer o registro e o reconhecimento das
riamente ou muitas vezes lhes põem limite, mas Requerimento dirigido ao Rei solicitando a carta sesmarias, indicando esses peritos os seus limites.
lhes concedem ampla faculdade para se estende- de concessão e, cumprido o prazo, solicitar-se-ia a Portanto, as técnicas de controle do espaço e de
rem, e cultivarem quanto quiserem, e puderem. confirmação. O Requerimento é um documento uma cartografia do poder estão sendo desenvolvi-
E como as terras são dos índios, e passa por es- breve no qual o requerente faz sua solicitação jus- das. Essa intervenção estava visando aos ecossis-
tas Cartas de Data a possesão dos brancos, lhes
tificando o pedido. A Carta é resposta e se organiza temas, pois se solicitavam dos topógrafos as des-
põem sempre esta clausula – não prejudicando
em um esquema protocolar. crições dos territórios. Tais informações deveriam
a seus naturais – além de não se concederem no
Cardoso (1984) informa que a primeira doa- ser repassadas para as autoridades, os primeiros a
circuito das missões dos índios por espaço de
duas léguas, para que os índios tenham terras li- ção de sesmaria ocorreu em 1624 e foi concedida estabelecer seus domínios.
vres para os seus sítios (Daniel, 2004, Tomo II, a Balthasar de Fontes e sua mulher, no rio Guajará.
p. 16). Parte dos sesmeiros iniciaram os primeiros enge- A ECONOMIA AÇUCAREIRA NA
nhos (Cardoso, 1984, p. 96). O procedimento para MARGEM DIREITA DO RIO TOCANTINS
A Carta de Sesmaria ou Carta de Data e Ses- a leitura das cartas de sesmarias que foram conce-
maria constitui um documento legal que pode ser didas e se situavam às margens dos rios Moju, Ca- O cultivo da cana-de-açúcar estava na lista de
objeto de leitura etnográfica obedecendo a uma pim, Guamá e Acará e igarapés afluentes ou ilhas produções de maior interesse para os coloniza-
decomposição e sistematização de informações busca construir momentos da ocupação colonial. dores. A extensão de terras férteis era um motivo
que se apresentam esquematizadas e rotineiras. Com base nesses documentos formulamos quatro forte para estimular as plantações e, o mais impor-
Entende-se que essa leitura permita interpretar perguntas: É possível identificar, mesmo que apro- tante, a demanda pelo açúcar e o aguardente; o pri-
um discurso datado sobre o local, a natureza e a ximadamente, quais foram os igarapés e os rios que meiro no mercado externo da colônia e o segundo
paisagem, sobre os recursos e seus usos, sobre as entraram na partilha de terra colonial e por que fo- para injetar “energia” nos trabalhadores indígenas.
formas jurídicas e suas múltiplas adaptações. Um ram estes os escolhidos? Que forma de ocupação A aguardente, cachaça, era moeda de troca, meio
discurso que revela a geografia e a ecologia com econômica transformou a natureza nesses espaços e de pagamento, e foi incluída na ração diária dos

6
A organização do Catálogo de Sesmarias foi realizada por Arthur Vianna (1916).
7
É possível conferir outras que foram digitalizadas a partir de documentos cujos originais encontram-se no Arquivo Histórico Ultramarino e hoje estão disponíveis em CD-Rom, e que
correspondem às primeiras doações.

43
trabalhadores indígenas. Foi chamado o “vinho da roda hidráulica, uma das inovações tecnológicas manual e mais operações dele um grande número
terra”, segundo o Pe. João Daniel (2004). Os re- mais destacadas. As informações históricas não de escravos índios, que eram os servos que naquele
tempo havia neste pais mais vindo o Rei dar liber-
ligiosos encontraram a “canna doce” no “dilatado permitem aferir a produção dos engenhos reais e
dades para todos aqueles cada hum procurou seu
rio” Amazonas e recomendavam ferrenhamente engenhocas. Em vários anos ocorreu uma queda
formação histórica e territorial

caminho assim o dito engenho ao desespero. Logo


ampliar os canaviais. As plantações eram feitas nas da produção de aguardente devido a políticas de cuidei de comprar escravos pretos e fiz emprego
margens dos rios e não duravam mais do que sete fabricação ditadas pelas autoridades coloniais. O neles de dar contos quintos e tantos mil reis, com
anos, escreveu o Pe. João Daniel, que ainda assina- Quadro 1 traz uma listagem dos engenhos insta- os quais e com ajuda de alguns índios de soldada foi
lava a falta de braços. Nessa economia surgem ca- lados durante o período colonial nos rios Moju, sempre trabalhando e fiz a somar com que socorri
tegorias e hierarquias sobre os estabelecimentos. Bujaru, Guamá, Acará e Capim. não só a necessidades que dele teve a Real Fazenda
senão também os (particulares) (APEP, R. 95, Nº
Os engenhos reais, segundo Antonil (1982), eram Em 1780, André Miguel Aires, dono de enge-
6736. DCU. Oficio de 28 de novembro de 1780.
oficinas perfeitas, com grande número de escravos, nho do rio Capim, que utilizava a força de trabalho Apud Silva Junior, 2006 p. 42).
com muitos canaviais próprios, obrigados à moeda, dos indígenas, dirige às autoridades um ofício soli-
por “terem a realeza” de moerem como água, à di- citando providências para introduzir mão-de-obra A economia canavieira teve novos estímulos e
ferença dos outros, que moem com base em cavalos da África a fim de atender aos serviços de fabrica- uma nova fase de desenvolvimento ao longo do
e bois e são menos providos de aparelho (Antonil, ção de açúcar dos seus engenhos: século XIX. Os grandes engenhos, neste perío-
1982). A engenhoca produzia açúcar, aguardente e do, utilizaram as inovações tecnológicas da in-
No ano de (1750) construí eu o dito Engenho na-
cachaça utilizando menos braços para o trabalho, dústria de ferro inglesa para montar os sistemas
quele dito Rio não só nas terras mais férteis próprias
pouco maquinário e animais. Também era deno- hidráulicos. Ainda hoje é possível encontrar, em
para fabricar açúcar, (sempre) também empenhan-
minado de molinete. Nas terras entre o Gurupi e do-me quanto pude na perfeição e grandeza do várias localidades, a exemplo de Bujaru e São
o Tocantins expandiu-se a economia canavieira. mesmo engenho tanto em Cofres, como na estru- Domingos do Capim, ruínas desses empreendi-
No Moju, houve engenho de cana movido por tura de casas, fornalhas, [...] Apliquei para o serviço mentos.

QUADRO 1 – Engenhos instalados no período colonial (1627-1822)

Localidade e nome do engenho Proprietário


RIO MOJU
D. Catarina da Costa, que fez doação para os
Engenho Real de Ibirajuba Jesuítas. Este chegou a ser o mais importante
da capitania.
Ambrosio Henriques da Silva Pombo,* Do-
Engenho Jaguarary
mingos Serrão de Castro
Engenho Real Bento Martins Silva
Engenho Itaboca Domingos Monteiro de Noronha
Engenho São José João Pacheco Serrão de Castro
RIO BUJARU
Engenho dos frades do Carmo Frades do Carmo
Da Ordem dos Carmelitas e doado a Baltazar
Engenho de Santa Tereza de Monte Alegre
Fortes e Maria de Mendonça
RIO GUAMÁ
Engenho Real de Mocajuba -
Engenho Murutucu José Antonio Landi
Engenho de Utinga João Antonio Rodrigues Martins
Engenho do Igarapé Uriboca Conde Antonio Coma Mello
Engenho Velho Bom Jesus -
RIO ACARÁ
João Valente Furtado de Mendonça e sua mu-
Engenho Real do Acará
lher
Engenho de Juassu Manoel de Morais
Engenho de Itapicuru --
Engenho de Tauçu Amandio José de Oliveira Pantoja
Antonio José Ferreira e foi herdado pelo fi-
Engenho Real
lho, Felix Barreira Barreto
Engenho de Nossa Senhora do Desterro e
João Rodrigues de Castro
engenho Nossa Senhora da Conceição
RIO CAPIM
Engenho Curussambaba Manoel Pestana de Mendonça
Engenho Vista Alegre -
Engenho Carmelo do Carapajó João de Moraes Bittencourt

* Esse engenho pertenceu a Bernardo Serrão Palmella, que, em 1765, o doou, com terras e escravos, aos
padres jesuítas (Silva Júnior, 2006, p. 12).
FONTE: Ângelo-Menezes (2000); Cruz (1963); Salles (1988); Silva Júnior (2006).
ELABORAÇÃO: Rosa E. Acevedo Marin (2006).

44
FRENTES DE OCUPAÇÃO E EXPLORAÇÃO ECONÔMICA
NO SÉCULO XX
frentes de ocupação e exploração econômica no século xx

Maria Célia Nunes Coelho


Maurílio de Abreu Monteiro

A
seqüência dos eventos histó- orientado pelo governo, efetivando a colônia ni- achava densamente ocupada até as primeiras déca-
ricos que ocorreram entre o pônica instalada em 1929 e que prosperou com o das do século XX.
século XVII e o final do sé- plantio da pimenta-do-reino (iniciado em 1948), A ocupação das terras firmes que separam os
culo XIX bem como as forças criadoras sendo que o período áureo das exportações deste vales do Acará e do Gurupi se deu, inicialmen-
nos campos socioeconômico e político produto correspondeu aos anos de 1950 a 1954, te, com a produção de gêneros alimentícios pelos
formaram as bases das paisagens que in- quando os preços no mercado internacional eram colonos nipônicos, com a exploração do cacau e,
fluenciaram o desenvolvimento, a produ- extremamente favoráveis (ver texto sobre a colônia secundariamente, com a exploração da borracha e
ção do espaço e a formação de territórios japonesa de Tomé-Açu no item Colônias e Assen- da castanha-do-pará e peles de animais silvestres
durante o século XX. No início do século tamentos Rurais). pelas populações índia e cabocla oriundas da Re-
passado (XX), e como prolongamento das O mapa de Uso do Solo da década de 1950 gião Tocantina nas primeiras décadas do século
dinâmicas de formação histórico-territo- mostra de forma esquemática as formas de ocu- XX, e com as fibras (malva e juta) e a pimenta-
rial dos tempos anteriores, as grandes ro- pação da parte oriental do Estado do Pará ao final do-reino a partir da década de 1940. No entanto,
tas de penetração do povoamento foram da primeira metade do século XX, expressando a fase mais radical de formação espacial e territo-
viabilizadas pelos rios Guamá, Acará e que a ocupação ainda estava muito concentrada rial da área de estudo foi marcada pela implan-
Acará-Mirim, de um lado, e pelo rio Gu- nas regiões Bragantina, Tocantina e Guajarina. Na tação da Belém-Brasília na década de 1960. A
rupi. Ao longo desses rios se localizavam área de estudo, ainda predominava a floresta, e, do penetração da pecuária e a exploração madeireira
diversos e pequenos aglomerados popula- ponto de vista econômico, a exploração de peles atraíram grandes movimentos migratórios para a
cionais. A exceção era Santana do Capim, de animais silvestres. Do ponto de vista político- área, promovendo o encontro e a mistura da mi-
que figurava como núcleo importante do administrativo, quatro municípios constituíam a gração nipônica – que já se encontrava na área do
baixo vale do Capim, servindo de entre- área em questão: Acará, Capim, Irituia e Viseu. município de Tomé-Açu e que, posteriormente,
posto para os regatões que comerciali- Na década de 1960, colônias agrícolas forma- expandiu-se para Aurora do Pará –, das migrações
zavam junto à população ribeirinha – os das com migrantes nordestinos foram implanta- nordestinas e das migrações do Centro-Sul do
chamados “capienses”, ligados à pesca e à das. O cultivo de subsistência e, principalmente, país, formando a base do desenvolvimento cul-

formação histórica e territorial


agricultura de subsistência. o arroz constituíram a base econômica inicial das tural regional.
Dessa maneira, e, particularmente, na colônias. Mais tarde, a lavoura deu lugar à criação Intensas mudanças nas formas de uso do solo
porção ocidental da área de estudo, a im- de gado. Não havia terra para todos os migrantes, podem ser acompanhadas com base na visualiza-
portância do fator histórico na formação do de forma que os que ficaram de fora das colônias ção de imagens de satélite – convertidas, aqui, em
quadro geográfico regional pode ser ressal- ocupavam terras estaduais ou fazendas improduti- mapas de uso do solo. Assim sendo, este item do
tada a partir da expansão do povoamento vas. Os posseiros – em sua maioria ribeirinhos lo- Atlas Socioambiental enfoca as mudanças ocorri-
ao longo dos rios Guajará (baixo Gua- cais, ou aqueles vindos de outras áreas ribeirinhas das na área de estudo a partir, sobretudo, da inter-
má), Guamá e dos baixos vales dos rios do Pará – tendiam a ocupar os vales e as encostas pretação dos mapas de uso do solo referentes a di-
que para eles convergem, como o Acará, desprezadas pelos criadores de gado. As expansões versos anos (1985, 1990, 1995, 2000 e 2004), sendo
o Acará-Mirim e o rio Capim. Tais áre- da agropecuária, da extração madeireira e as rotas necessário lembrar que, em virtude de se tratar de
as faziam parte da região fisiográfica do comerciais no sentido de Belém ou de Imperatriz uma dinâmica relativamente recente de ocupação
Estado do Pará conhecida como Região (MA) e de Marabá (PA) favoreceram o crescimen- e de (re)organização espacial, iniciada entre as dé-
Guajarina. Por outro lado, o povoamen- to das cidades ao longo do eixo da BR-010 e o de- cadas de 1950 e 1960 e que se consolidou nos anos
to das terras firmes – fenômeno crucial senvolvimento da indústria da madeira. Na área de de 1980, muitos aspectos serão tratados em outros
nas dinâmicas de ocupação no século XX ocupação mais antiga, isto é, os baixos vales dos temas desta publicação. É importante acompanhar,
– entre os rios Acará e Acará-Mirim foi rios Capim e Acará-Mirim, mesmo a várzea não se também, os dados do Gráfico 1 (A e B).

GRÁFICO 1 (A) GRÁFICO 1 (B)

ELABORAÇÃO: Os Autores (2007)

45
formação histórica e territorial

46
formação histórica e territorial

A DÉCADA DE 1980 com os primeiros. Ainda que em menor intensidade, nicípios de Aurora do Pará, Ipixuna do Pará e Tomé-
também contribuíram para o desmatamento os pos- Açu. Neste último, percebe-se, ainda, uma mancha
A atividade agrícola ocupava, em 1985, apenas seiros e os colonos ligados à agricultura de subsistên- de desmatamento com instalação de capoeiras que
19% da área de estudo. Durante as décadas de 1970 e cia e/ou de pequena escala. coincide com a colônia japonesa e adjacências, no
de 1980, grandes fazendeiros (denominados então de Ao longo da Belém-Brasília, mais especifica- eixo da PA-140, prolongando-se para S no eixo se-
“baianos” ou “pioneiros”) e grandes empresas – ma- mente nas áreas de influência dos núcleos urbanos tentrional da PA-256.
deireiras e agropecuárias – se instalaram nos platôs de Aurora, Ipixuna e Paragominas, assim como em Com exceção dos eixos formados pelas estradas
cujo acesso foi facilitado pela Belém-Brasília e pelos outras áreas dessa rodovia, as ocorrências de matas secundárias e alguns vales de rios tributários, com
incentivos fiscais da Sudam (Superintendência do secundárias já se apresentavam no ano de 1985 sob a destaque para os afluentes do rio Gurupi, em 1985
Desenvolvimento da Amazônia) e do BASA (Banco forma de pequenas manchas isoladas. Em 1985, em- ainda predominava a floresta, entremeada de peque-
da Amazônia S.A.). Podemos afirmar que as superfí- bora as áreas de influência destas cidades estivessem nas manchas de áreas produtivas (pastagens ou áreas
cies dos platôs –principalmente os seus topos–, outro- em plena atividade, configurando uma expressiva cultivadas). Neste sentido, apelamos para a história
ra recobertas pela floresta, foram desflorestadas pelos mancha de ocupação na parte centro-norte do cor- mais recente (meados do século XX) a fim de acom-
fazendeiros, pelas empresas da agropecuária e pelos redor da Belém-Brasília, as capoeiras, conforme dito, panhar as transformações que condicionaram os pa-
madeireiros; estes últimos, quando não se tornavam já ocorriam, o mesmo acontecendo nas áreas onde drões atuais de uso da terra e as dinâmicas regionais
eles próprios fazendeiros, atuavam em combinação predominava a lavoura de subsistência, caso dos mu- atuais.

47
DA DÉCADA DE 1980 AO SÉCULO XXI Todavia, em 1985, a floresta ainda dominava a ser um demonstrativo de que o ritmo de avan-
área estudada, ocupando 74% de sua extensão to- ço das atividades agrícolas de escala comercial, as
As áreas de ocupação mais antigas, como as por- tal. O Mapa de Uso de Solo de 1985 confirma que quais requerem investimentos elevados, é inferior
ção noroeste, correspondem às várzeas e às faixas a ocupação se deu regionalmente por eixos (cami- ao do desmatamento e da exploração de madeiras.
formação histórica e territorial

dos rios grandes e pequenos que foram pouco a nhos fluviais) correspondentes aos rios (principal- Cresceu, no entanto, a presença de capoeiras, que,
pouco conquistados, sendo suas margens ocupa- mente os rios Acará-Mirim, Capim, Gurupi) e às ocupando uma área em torno de 5% nos anos de
das por pequenos agricultores/pescadores artesa- estradas secundárias (PA-140, BR-010, PA-125 e 1985 e 1990, passou a representar 10% em 1995.
nais que cultivavam pequenas lavouras (roças) nas PA-256) e caminhos. Em outras palavras, as capoeiras de diferentes ida-
margens destes rios, isto é, os capienses, que dizem O mapa de uso de solo de 1990 revela que a des passaram a compor as diversas paisagens dos
respeito a um universo de população ribeirinha. área de floresta caiu de 74%, em 1985, para 68%, municípios, seja nas áreas urbanas, seja nas áreas
A partir da década de 1960, o eixo de povoa- em 1990.1 Isto pode representar uma queda relati- rurais. A maior incidência de capoeiras pode ser
mento e das atividades econômicas foi deslocado va no ritmo do desmatamento, associado às crises percebido no corredor da BR-010.
dos rios Acará-Mirim e Tomé-Açu para as estra- econômica e financeira dos anos de 1980. A ocor- De 1995 a 2000, o desflorestamento ocorreu em
das, principalmente para a BR-010. rência de capoeiras é proporcionalmente similar à ritmo acelerado, restando em 2000 somente 48%
Na década de 1980, a ocupação agropastoril e a que já existia em 1985. As capoeiras ocorriam não da área total coberta de floresta. Isto pode corres-
exploração madeireira eram muito mais intensas e só em volta das áreas de ocupações mais antigas, ponder a uma superação das crises econômico-fi-
economicamente relevantes nas superfícies de pla- mas até mesmo de áreas então recém-desmatadas. nanceiras que dominaram as décadas anteriores. As
naltos (terras firmes) entre os vales dos rios Capim Neste momento, cresceu, também, a quantida- transformações em processo fazem aumentar ainda
e Gurupi. A indústria da madeira já havia se torna- de de áreas de floresta já explorada, que, embora mais a área de floresta com exploração madeireira,
do a mais importante de Paragominas e, também, de ocupando 0,1% do total, são um demonstrativo do com destaque para o maciço florestal compreen-
Ulianópolis, uma vez que esta atividade se encontra- avanço da frente madeireira na década de 1980. dido no vértice entre os rios Capim e Surubiju,
va em fase de esgotamento nos municípios de Aurora Quando se analisa o Mapa de Uso do Solo do na parte sudoeste do município de Paragominas,
e Ipixuna do Pará. No Mapa de Uso do Solo de 1985, ano de 1995, percebe-se que a área coberta de flo- onde há uma série de estradas particulares e in-
este fato é comprovado pela existência de manchas de resta caiu para 61%. A área produtiva ficou similar à terligadas no interior de grandes fazendas, sendo a
áreas produtivas e de exploração de madeira. do ano de 1990, isto é, em torno de 24%. Isto pode mais importante a chamada Estrada da Cauaxi (ver

1
A crise da dívida externa atingiu os anos de 1980 e de 1990. Neste período, o desaquecimento da economia com as crises financeiras que levaram à redução das políticas creditícias pode ter
causado quedas no investimento local.

Foto 1: As serrarias constituíram o símbolo do auge da atividade madeireira na área de estudo


durante as décadas de 1980 e 1990. Na foto, pátio de serraria no município de Ulianópolis.

Foto 2: Toras de madeira em pátio de serraria no município de Ulianópolis, Foto 3: O esgotamento da maioria das fontes de extração madeireira da área de
estrada da Cauaxi. Neste setor, a proximidade com um maciço florestal – o estudo tem sido um fator que vem contribuindo para a instalação de projetos
maior ainda existente na área de estudo – é um fator que beneficia a instalação de manejo florestal. Na foto, Fazenda Santa Rita, oeste do município de Para-
de indústrias madeireiras. gominas.

48
Mapa-base). Nesse ano (2000), começam a apare- das deram origem não só a capoeiras, mas, tam- corredor disposto ao longo da Belém-Brasília, nos
cer as primeiras experiências do cultivo da soja, nas bém, à ocupação parcial pela soja nas áreas das su- municípios de Ipixuna e Paragominas, projetos de
superfícies planas ou ligeiramente onduladas dos perfícies valorizadas dos platôs da BR-010, o que mineração do caulim e da bauxita vêm mudando o
chapadões, que permitem o desenvolvimento de foi facilitado pela importância desta estrada como uso do solo local.
uma agricultura mecanizada e mais produtiva em eixo de circulação e escoamento da produção. Pe- Por fim, a configuração espacial do uso do solo
áreas anteriormente cobertas de floresta. quenas manchas (áreas descontínuas e dispersas) parece refletir a intensificação dos processos mais
Nos últimos 40 anos, o desmatamento foi inten- entremeadas nos espaços de maior ocupação pro- antigos que ocupavam faixas de terras progressiva-
so. Na área de estudo, fica evidente a subtração das dutiva podem corresponder às matas preservadas mente alargadas ao longo das rodovias, desenvol-
áreas de matas virgens, que de 48%, em 2000, caíram ao longo das nascentes de rios e igarapés, ou, de vendo atividades relacionadas, sobretudo, à pecuá-
para 35% em 2004. Neste último ano citado, a flo- outra forma, às áreas previstas em planos de ma- ria extensiva, que deixa atrás de si áreas retomadas
resta densa ainda ocorria de forma mais expressiva na nejos sustentáveis que foram pensados e instalados pela mata secundária (capoeira), e à extração de
porção sudoeste da área de estudo, embora já bastan- nas décadas de 1980 e 1990. madeira, que pode, por sua vez, resultar em ma-
te entremeada de clareiras (velhas e novas) abertas a Infelizmente, as imagens de satélite utilizadas tas já exploradas, ou seja, de onde já se extraiu a
partir da instalação de pastagens, cultivos, ou articu- e a escala trabalhada não nos permitiram verificar madeira de lei. As áreas de pastagens e as florestas
ladas à exploração madeireira. Manchas extensas de a diversidade das atividades produtivas – pecuária exploradas se expandem a partir das estradas prin-
matas eram mantidas, também em 2004, na área de de corte, fruticultura, lavoura de grãos (arroz, mi- cipais e suas vicinais, que se estendem pelos topos
reserva indígena no extremo nordeste de Paragomi- lho e soja), agricultura de subsistência, acrescida dos platôs e seguem interceptando vales e cursos
nas e nas vizinhanças do estado do Maranhão. de experiências esparsas de silvicultura e ainda o de águas formadores dos rios da área de estudo.
A área produtiva correspondia a 33% da área to- extrativismo mineral – desenvolvidas na área de Os mapas, todavia, deixam de retratar as mudanças
tal. A presença de capoeiras de diferentes tamanhos estudo, porém, o mapa do uso do solo de 2004, ocorridas ou experimentadas pelas transformações
e idades (de 5 a 15 anos ou mais) caiu. Tal queda comparado ao de 1985, possibilita a visualização do na esfera produtiva, que indicam, de acordo com
foi compensada pelo aumento na área cultivada, grau de interiorização via caminhos de penetração. análises feitas em outros tópicos do Atlas, a pre-
o que parece ter ocorrido sobretudo ao longo dos Conclui-se que esta ocupação foi acompanhada sença recente de uma economia de base extrativa
eixos (rios e estradas) nos quais se deu a ocupação pela perda de áreas de floresta natural. Por exem- mineral e de uma economia voltada para o agro-
inicial. Áreas de pastagens degradadas e abandona- plo, na porção centro-norte, que corresponde ao negócio.

Foto 5: Habitação rural no município de Ipixuna do Pará. Note-se, na placa, formação histórica e territorial
a indicação de projeto de apoio à agricultura familiar financiado pela Pará Pig-
mentos S.A. (PPSA).
Fotos: Regiane Paracampos (2005).

Foto 4: Marco da trilha aberta para a instalação e manutenção do mineroduto que Foto 6: Cobertura de capoeira recente no município de Tomé-Açu. A capoeira,
escoa o caulim da mina da IRCC, município de Ipixuna do Pará, até o porto de que constitui um tipo de vegetação secundária (mata), isto é, que já sofreu de-
Vila do Conde, em Barcarena. A presença da mineração de grande porte é uma gradação, comumente vem substituindo pastos e cultivos abandonados.
atividade recente na área de estudo.

49
formação histórica e territorial

50
51
formação histórica e territorial
formação histórica e territorial

52
53
formação histórica e territorial
formação histórica e territorial

54
55
formação histórica e territorial
formação histórica e territorial

56
57
formação histórica e territorial
formação histórica e territorial

58
59
formação histórica e territorial
Área de
Estudo no
Contexto
Regional
A ÁREA DE ESTUDO NO CONTEXTO REGIONAL
a área de estudo no contexto regional
Maurílio de Abreu Monteiro
Maria Célia Nunes Coelho
a área de estudo no contexto regional

Estêvão José da Silva Barbosa

A
área de estudo, composta por cinco municípios enfocados na divisão político- (norte), PA-256 (centro) e, mais precariamente,
5 municípios – Aurora do administrativa estadual – e o Mapa-base da Área pela estrada da Cauaxi (sul). A logística de circula-
Pará, Ipixuna do Pará, Tomé- de Estudo, no qual podem ser observados, dentre ção da área é completada pelos eixos fluviais, que
Açu, Paragominas e Ulianópolis –, está outros aspectos, os limites e as sedes municipais, permitem a sua ligação com a chamada Região das
localizada no Estado do Pará, que faz par- as rodovias e os principais acidentes geográficos Ilhas dos estuários do Amazonas e do Tocantins,
te da Região Norte do Brasil. De forma representados pela drenagem. via rios Capim e Acará-mirim, e com o litoral por
mais geral, a área integra o conjunto de A área de estudo se apresenta articulada aos de- meio do rio Gurupi. É preciso lembrar, ainda, a
terras equatoriais do norte da América do mais municípios das Mesorregiões do Nordeste existência de pistas de pouso, localizadas, sobre-
Sul, ou seja, a Amazônia – região outro- e do Sudeste Paraense, e ao Maranhão, sendo as tudo, no interior de fazendas, e de trilhas abertas
ra comumente associada a um quadro de rodovias, e não os rios – como acontece em outras para a passagem de minerodutos, isto é, condutos
relativa homogeneidade do ponto de vista partes da Amazônia –, o elemento principal que subterrâneos que escoam caulim e bauxita desde as
natural: clima chuvoso, floresta sempre- viabiliza os fluxos e interações regionais, seja no minas em exploração até o porto de Vila do Con-
verde, rica rede hidrográfica e abundan- âmbito da Amazônia Oriental, seja do Nordeste e de, em Barcarena.
tes recursos naturais. Este cenário ou esta do Centro-sul do país. Internamente, existem dois Tais eixos de circulação, ao permitirem fluxos
visão, no entanto, foram muito modifi- pólos articulados à economia regional em circuns- e conexões entre locais de dentro e de fora do Es-
cados ao longo do século XX em virtu- tâncias históricas e lógicas espaciais distintas: Para- tado do Pará, propiciaram frentes de exploração
de das dinâmicas de ocupação humana e gominas, e a área urbana binuclear de Tomé-Açu agrícola, pecuária e madeireira, além de frentes de
de exploração econômica, produzindo-se e Quatro Bocas. Estes pólos possuem facilidade de povoamento, feitos devido à chegada de migran-
conjuntos espaciais diversos e heterogê- comunicação com a capital do Estado, Belém, com tes provindos de outros municípios paraenses ou
neos no interior da Amazônia. A Figura 1 os subcentros regionais de Castanhal (PA) e Impe- de outras regiões do país – fazendeiros, colonos,
traz um esquema de localização da área de ratriz (MA), e com outras regiões do país. trabalhadores etc. O resultado desta dinâmica foi a
estudo na Amazônia brasileira. Três eixos rodoviários principais de orientação alteração drástica do meio natural, antes dominado
Tal como a região amazônica, as coor- N-S cruzam a área de estudo: PA-140, PA-150 e pela floresta, que cedeu lugar a conjuntos diferen-
denadas geográficas da área são típicas de BR-010. A PA-140 liga Tomé-Açu à Mesorregião ciados de paisagens rurais extensivas e de paisagens
baixas latitudes e da zona intertropical, Metropolitana de Belém. A PA-150 serve de eixo urbanas pontuais. Tais transformações se fizeram
verificando-se os limites extremos apro- desde o pólo de Marabá, no sul do Pará, até a área acompanhar de uma série de problemas e ques-
ximados em 02º 00’ S no norte do muni- de influência do Complexo Albrás-Alunorte, in- tões ligados ao uso do solo e dos rios, ao acesso e
cípio de Aurora do Pará (limite seco), 04º cluindo o porto de Vila do Conde, localizado no à apropriação dos recursos naturais, ao domínio da
15’ S e 47º 46’ W no sul de Ulianópolis, município de Barcarena, sendo possível, a partir terra, ao regime fundiário e à natureza e dinamis-
02º 52’ S e 46° 41’ W no extremo nordes- daí, chegar-se a Belém tanto por via fluvial quanto mo das atividades produtivas. Tudo isto é revela-
te de Paragominas (rio Gurupi) e 03º 54’ rodoviária, esta última por meio da Alça Viária. A dor da complexidade física, social e espacial da área
S e 49º 02 W no oeste de Ipixuna do Pará BR-010 (Belém-Brasília) articula o Nordeste Para- de estudo aqui apresentada.
(divisor Capim-Acará). Os limites são ense e o eixo da rodovia BR-316 (Pará-Maranhão)
feitos, a norte, com os municípios de São com o Centro-sul do país. Estas rodovias são in- ASPECTOS GERAIS
Domingos do Capim, Concórdia do Pará terligadas por eixos secundários de orientação E-W,
e Acará; a oeste, com Acará, Tailândia e representados pela PA-252 (Mãe do Rio-Acará), A área que corresponde aos municípios é for-
Breu Branco; a sul, com Goianésia do que cruza o norte da área; pela PA-256 (Paragomi- mada, basicamente, por planaltos sedimentares de
Pará e Dom Eliseu; a leste com o Estado nas-Tomé-Açu), que passa ao centro; e, secunda- pouca altitude, conhecidos como platôs, tabulei-
do Maranhão, que se limita com o Pará e riamente mais ao sul, pela estrada da Cauaxi, que ros ou, simplesmente, terras firmes amazônicas,
a área de estudo por meio do rio Guru- vai da BR-010 à PA-150 (Ulianópolis-Goianésia do além de várzeas que acompanham os cursos d’água
pi; e, a nordeste, com os municípios de Pará). Apesar da importância das rodovias, persiste e têm maior destaque no baixo vale dos rios Ca-
Nova Esperança do Piriá, Capitão Poço o transporte fluvial, com balsas e embarcações de pim e Acará-mirim. A ocupação da área de estu-
e Mãe do Rio. A configuração dos muni- médio e pequeno porte, sobretudo nos rios Capim, do ocorreu, em princípio, via eixos. Inicialmente,
cípios como um todo lembra uma figura Gurupi e Acará-Mirim, que são as principais vias seguiu-se o caminho dos rios, e, posteriormente,
geométrica, do tipo losango ou quadrilá- navegáveis da área de estudo. das estradas de rodagem, a partir das quais se deu a
tero, com dois vértices orientais, situados Por meio de via rodoviária, a área pode ser al- propagação da agricultura e da pecuária após a dé-
junto ao rio Gurupi, e dois vértices oci- cançada de diversas maneiras, sendo mais utiliza- cada de 1960. A ocupação efetiva das terras firmes
dentais, um na linha do divisor de águas das as rodovias PA-140 (principal rota para Tomé- teve início ao final da década de 1920, na porção
Capim-Acará e outro no divisor Capim- Açu) e a BR-010 (que cruza quatro dos municípios noroeste da área, onde foi instalada a colônia ja-
Guamá. Merecem destaque a presença estudados: de N para S, Aurora do Pará, Ipixuna do ponesa de Tomé-Açu. Na porção central, que cor-
central do vale do rio Capim, que drena Pará, Paragominas e Ulianópolis). A área de estu- responde, grosso modo, ao eixo da BR-010 (Be-
a área no sentido SW-NE até as proxi- do, neste sentido, é rota de fluxos rodoviários que lém-Brasília), a ocupação mais intensa começou
midades da PA-256 e, a partir daí, toma se originam interna ou externamente, dirigindo-se na década de 1950 com a abertura desta rodovia no
uma direção N-S; e da rodovia Belém- para Belém ou demais municípios do Nordeste e contexto das políticas de integração nacional, des-
Brasília, que atravessa a área de estudo no Sudeste do Pará, bem como para o Centro-Sul e pontando desde logo o povoado e depois cidade de
sentido norte-sul. para o Nordeste do país, o que sustenta uma ex- Paragominas como núcleo político e econômico
Encontram-se, nesta primeira parte do pressiva circulação interna. É dinamizada, também, mais importante.
Atlas, o Mapa de Mesorregiões do Estado por fluxos que circulam entre os eixos da BR-010, Nas décadas de 1950 e 1960, a abertura da BR-
do Pará – com destaque para a situação dos da PA-140 e da PA-150, interligados pela PA-252 010 seguiu atravessando um conjunto de platôs

62
ÁREA DE ESTUDO

a área de estudo no contexto regional

FIGURA 1 - ESQUEMA DE LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

63
a área de estudo no contexto regional

situados no divisor de águas das bacias dos rios orientação geral da drenagem de N para S. Esta são atravessadas pelas estradas de rodagem e por
Capim e Gurupi – cursos d’água que controlam mesma orientação (N-S) é verificada para os rios estradas/caminhos perpendiculares, lembrando a
grande parte da drenagem da área de estudo, a qual localizados no vértice entre o Capim e o Surubiju, estrutura de ocupação em “espinha de peixe” (ver
diverge em duas direções: para W e para E, rumo no sudoeste de Paragominas, sendo que este últi- Mapa-base da Área de Estudo). Os planaltos, ori-
aos vales dos rios citados, respectivamente. Os pla- mo rio é afluente e formador daquele pela margem ginalmente, eram caracterizados pela presença da
tôs correspondentes ao divisor Capim-Gurupi, direita. As confluências de rios, assim como as li- cobertura de floresta tropical úmida, rica em es-
por onde passa o corredor da BR-010, constituem nhas dos divisores de água, têm importante papel pécies de grande valor econômico. Neles, as con-
uma das feições de relevo mais originais da área na definição dos limites político-administrativos. dições topográficas e a proximidade do mercado
de estudo. Feições de relevo similares (em platôs) O relevo dos municípios apresenta, portanto, foram favoráveis, inicialmente (década de 1960),
aparecem, também, no oeste do Estado do Mara- superfícies de planalto ou terras firmes com dife- à expansão da pecuária, que se deu após o desma-
nhão, onde recebem o nome de Serra do Tiracam- rentes níveis altimétricos, desde os baixos platôs tamento e a formação das pastagens, e, posterior-
bu. Outra importante (sub) bacia hidrográfica é a ou tabuleiros da Formação Barreiras, que domi- mente, à expansão das madeireiras e das atividades
do rio Acará-mirim, que pertence à bacia do rio nam a parte norte, até os platôs por onde passa o agropastoris, que ocorreram, na maioria das vezes,
Acará e drena o município de Tomé-Açu e todo corredor da BR-010 ou os tabuleiros mais disseca- de forma combinada. Esta dinâmica foi acom-
o conjunto de baixos platôs nele situados, com dos da parte sul da área estudada. Estas superfícies panhada da formação de novos assentamentos

64
a área de estudo no contexto regional

humanos ao longo dos eixos correspondentes à Brasília, ao longo da BR-010 formaram-se diversos demanda das indústrias de ferro-gusa implan-
PA-140 e à BR-010. Expandia-se, assim, a ocupa- povoados, localizados quase sempre junto a postos tadas nos municípios situados ao longo da
ção já existente desde o século XVIII ao longo dos de gasolina, acampamentos e/ou entroncamentos Estrada de Ferro Carajás (inaugurada em 1985),
eixos formados pelos rios Capim e Gurupi. Depois de estradas. Neste período, acentuou-se a migração principalmente em Marabá (PA) e Açailândia
de uma fase de expansão madeireira, mais recente- de nordestinos. Na década de 1980 consolidou-se a (MA).
mente a soja encontrou nas superfícies dos topos frente madeireira, com a chegada dominantemente Na década de 1990, novos problemas e perspec-
dos platôs da BR-010 um campo propício para a de capixabas, os quais, além da indústria madeirei- tivas foram colocados para a área de estudo. Com
sua proliferação. ra, dedicaram-se à pecuária. A expansão conjunta o declínio da atividade madeireira, o refloresta-
Tomé-Açu, conforme já dito, formou-se no da pecuária e da exploração madeireira se esten- mento, a indústria moveleira e a atividade agrícola
contexto de colonização japonesa nas terras da deu paulatinamente para as terras de Tomé-Açu, de elevado valor comercial – o agronegócio – fo-
bacia do rio Acará-mirim, iniciada em 1929 com que tinha sido, até então, um município eminen- ram sendo estimulados, particularmente nos mu-
expressiva entrada de colonos nipônicos e, mais temente agrícola. A partir da segunda metade da nicípios de Paragominas e Ulianópolis. Porém, a
tarde, a partir de 1950, de migrantes do baixo To- década de 1980, as carvoarias, associadas à exploração mineração é a atividade que mais se destaca, quer
cantins que foram trabalhar nos pimentais. Na dé- madeireira e à formação ou ampliação das pastagens, pelos vínculos internacionais, quer pelo valor da
cada de 1960, no contexto histórico da criação de cresceram e se difundiram como resultado da produção, ou, ainda, pelo potencial do subsolo em

65
a área de estudo no contexto regional

recursos minerais, principalmente caulim e bauxi- fortemente a área de estudo, causando profundas Dominam, agora, paisagens que combinam flores-
ta. A emancipação dos novos municípios – Aurora modificações nos meios físico e biológico, especial- tas secundárias com atividades produtivas de vigo-
do Pará, Ipixuna do Pará e Ulianópolis –, ocorrida mente na cobertura vegetal primária, hoje restrita a res diversificados, formando um complexo mosai-
em 1993, contribuiu para ampliar os interesses po- fragmentos espaciais dispersos, além de trazer con- co espacial com idades, formas e histórias de uso
líticos em jogo, visando à captação da renda gerada seqüências negativas para a saúde e para o bem-estar diferenciadas.
pelas economias em expansão, sem a devida aten- da população. Os municípios em foco passam, tam-
ção aos problemas ambientais. As emancipações e bém, por intensas mudanças demográficas, produtivas ÁREA, POPULAÇÃO E CRIAÇÃO
as atividades econômicas em curso, combinadas, e de uso do solo que alteraram e alteram, profunda- DOS MUNICÍPIOS
foram fatores de atração de população migrante mente, a paisagem natural e a composição socioeco-
de origem urbana ou rural, cuja chegada levou à nômica deles, gerando conflitos de ordem ambiental, O município de Tomé-Açu, o mais antigo da
expansão das sedes municipais. O crescimento ur- fundiária e até mesmo cultural pelo embate entre os área de estudo, foi criado a partir do desmembra-
bano acelerado faz agravar problemas ambientais modos de vida das populações migrantes do passado e mento de terras do leste do município de Acará,
mais intensos nas periferias pobres das cidades, do presente. Todas as mudanças ocorridas nas formas o que se deveu à promulgação da lei n.º 1.725, de
onde não houve o devido controle e planejamento de uso do solo se refletiram na configuração paisagís- 17 de março de 1959. A luta pela emancipação de
quanto ao uso do solo. tica, com o desflorestamento, o grau de ameaça à bio- Tomé-Açu foi motivada, por um lado, devido aos
No passado, as sucessivas práticas econômicas, e, diversidade, a ocorrência de patologias e a fragmen- efeitos do Decreto-Lei Estadual n.º 4.505, de 30 de
no presente, as concomitantes atividades impactaram tação do ambiente se acentuando em taxas elevadas. dezembro de 1943, que possibilitou a criação de

66
novos municípios no Pará, e, por outro, pelo su- No Estado do Pará, uma geração de 23 novos 1991, pela Lei n.º 5.697, uma parte de Paragominas
cesso econômico da colônia japonesa instalada nas municípios teve origem na Constituição Federal deu origem ao município de Ulianópolis. Contu-
terras em questão. Na década seguinte, o grande de 1988. Neste sentido, com o crescimento de Vila do, os três novos municípios foram instalados, so-
crescimento populacional dos núcleos à margem da Aurora (antigo Km 58) e de Vila Ipixuna, aliado mente, em 1 de janeiro de 1993, quando tomaram
Belém-Brasília, aliado aos interesses políticos sur- às insatisfações com as administrações municipais, posse os primeiros prefeitos. Uma síntese sobre o
gidos a partir da ocupação de terras no eixo desta ocorreram novas lutas emancipatórias. São Do- processo de criação dos municípios da área de es-
rodovia, contribuiu para a fragmentação dos muni- mingos do Capim sofreu mais desmembramentos, tudo é apresentada no Quadro 1.
cípios do Capim (São Domingos do Capim) e de que originaram o município de Aurora do Pará, por A divisão política da área estudada, além de
Irituia. Assim, o Decreto-Lei Estadual nº 3.235, de meio da Lei Estadual n.º 5.698, de 13 de dezembro contar com 5 municípios, apresenta duas Mesor-
04 de janeiro de 1965, criou o município de Para- de 1991, incorporando, ainda, terras até então per- regiões e duas Microrregiões, segundo a divisão
gominas, com área desmembrada do município de tencentes a Irituia, e o município de Ipixuna do do IBGE: a do Nordeste Paraense, que abrange
São Domingos do Capim e parte do distrito de Ca- Pará, criado pela Lei Estadual n.º 5.690, de mesma os municípios de Tomé-Açu, que pertence à Mi-
miranga, que pertencia ao município de Viseu. data que a anterior. Ainda em 13 de dezembro de crorregião de mesmo nome, e de Aurora do Pará

EVOLUÇÃO DA MALHA MUNICIPAL

a área de estudo no contexto regional

67
a área de estudo no contexto regional

68
69
a área de estudo no contexto regional
e Ipixuna do Pará, integrantes da Microrregião do a área foi dividida em 178 setores, 82 deles urba- e às margens do rio Surubiju. Em segundo lugar,
Guamá; e a do Sudeste Paraense, representada pe- nos (sedes municipais), 25 referentes a povoados, vem Ipixuna do Pará, com 5.217 km2, que corres-
los municípios de Paragominas e Ulianópolis, os 11 relativos a assentamentos rurais ou serrarias, e pondem a 14,26% do total; merece destaque, na
quais fazem parte da Microrregião de Paragominas os 60 restantes são áreas rurais sem aglomerações configuração espacial deste município, uma estrei-
a área de estudo no contexto regional

(ver Mapa de Mesorregiões) significativas (ver Tabela 3 e Gráficos 1 a 4). ta faixa de terras que acompanha o vale do rio Ca-
A população total da área de estudo, de acordo A área total dos municípios reunidos é de pim, herdada da antiga configuração do município
com o censo demográfico do ano 2000 (IBGE), 36.586 km2, equivalente a 2,93% do território do de São Domingos do Capim. Tomé-Açu vem logo
é de 185.666 habitantes, sendo que a maior parte Estado do Pará, que possui 1.247.689,515 km². O em seguida, com 5.145 km2, ou 14,06% do total,
morava nas sedes municipais, onde se concentram maior dos municípios é Paragominas, com 19.331 sendo que seu território ocupa a porção noroeste
107.476 habitantes (57,97%), contra os 75.325 ha- km2, que corresponde a mais da metade do total da da área. O quarto município em área é Ulianópo-
bitantes (42,11%) que foram contados nas áreas ru- área de estudo, com 52,84%. Este município ocupa lis, com 5.081 km2 e 13,89% do total da área de es-
rais, incluindo-se, nesta contagem, as vilas mais im- uma posição central, estendendo-se desde o extre- tudo. Por fim, apresenta-se o município de Aurora
portantes (Tabela 1). A população da área de estudo, mo nordeste da área, às margens do rio Gurupi e do Pará, situado mais ao norte, como o de menor
como um todo, corresponde a 3% dos 6.188.685 onde se localiza a Terra Indígena Alto Rio Guamá, extensão territorial, com 1.812 km2, o que equivale
habitantes do Estado do Pará. Para fins censitários, até o extremo sudoeste, junto ao vale do rio Capim a 4,95% do total (ver Tabela 2 e Gráficos 5 e 6).

QUADRO 1 – Criação de municípios


Data de criação e publica- Instrumento legal de
Municípios criados Origem Desmembrado de:
ção em Diário Oficial criação
Núcleo de Tomé-Açu, fun-
Decreto-Lei Estadual
Tomé-Açu 17. 03. 1959 dado pela colônia japonesa às Acará
n.° 1. 725
margens do rio Acará-mirim
Vila Paragominas, povoado
Decreto-Lei Estadual Lei São Domingos do Capim e
Paragominas 04. 01. 1965 localizado às margens da Be-
n.° 3. 235 Viseu
lém-Brasília
Povoado Gurupizinho, loca-
Ulianópolis 13. 12. 1991 Lei n.° 5.697 lizado às margens da Belém- Paragominas
Brasília
Povoado do Km-108 ou Vila
Ipixuna do Pará 13. 12. 1991 Lei n.° 5. 690 Ipixuna, localizado às mar- São Domingos do Capim
gens da Belém-Brasília
Povoado do Km-58 ou Vila
Irituia e São Domingos do
Aurora do Pará 13. 12. 1991 Lei n.° 5. 698 Aurora, localizado às margens
Capim
da Belém-Brasília
FONTE: diversas.

TABELA 1 – População urbana e rural no ano 2000


População total População urbana População rural
Município
(hab.) (hab.) (hab.)
Tomé-Açu 47383 27263 19920
% 25,52* 57,96 42,04
Aurora do Pará 19728 5022 14706
% 10,63* 25,46 74,54
Ipixuna do Pará 25138 4991 20147
% 13,54* 19,85 80,15
Paragominas 74253 58240 16013
% 39,99* 78,43 21,57
Ulianópolis 19304 11909 7395
% 10,4* 61,69 38,31
TOTAL 185666 107476 75325
% 100* 57,97 42,11
* Relativo à participação dos municípios na população total da área de estudo.
FONTE: Censo IBGE (2000).

TABELA 2 – Área total dos municípios TABELA 3 – Setores censitários dos municípios
Município Área (km2) Área Aglomeração Aglomeração Zona rural,
Tomé-Açu 5145 MUNICÍPIOS urbanizada de rural isolado- rural isolado- exclusive aglo- Total
% 14,06* cidade ou vila povoado núcleo merado rural
Aurora 1812 Tomé-Açu 18 4 - 25 47
% 4,95* Aurora 3 5 - 12 20
Ipixuna do pará 5217
Ipixuna do pará 4 4 - 12 20
% 14,26*
Paragominas 49 11 11 8 79
Paragominas 19331
Ulianópolis 8 1 - 3 12
% 52,84*
TOTAL 82 25 11 60 178
Ulianópolis 5081
FONTE: Censo IBGE (2000).
% 13,89*
Total da área de estudo 36586
* Proporção relativa ao todo da área de estudo.

ELABORAÇÃO DO QUADRO 1 e TABELAS 1, 2 e 3: Os autores (2007).

70
GRÁFICO 1 – População total por município

GRÁFICO 2 – Participação dos municípios na GRÁFICOS 3 e 4 – população urbana e


população total da área de estudo rural dos municípios

a área de estudo no contexto regional


GRÁFICO 5 – Área total dos municípios GRÁFICO 6 – Participação dos municípios na extensão total da
área de estudo

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 1 a 6: Os autores (2007).

71
a área de estudo no contexto regional

Foto 01 -Trecho da BR-010, em “frente” à cidade de Aurora do Pará. A parada Foto 02 - O intenso crescimento populacional das últimas décadas vem acele-
de veículos e pessoas junto aos núcleos situados às margens da Belém-Brasília é rando o processo de periferização das áreas urbanas, marcadas pelo estabeleci-
um fato comum desde a abertura desta rodovia. mento de população de baixa renda e insuficiência de infra-estrutura. Aspecto
de ocupação irregular na planície de inundação do igarapé Paragominas, entre
os bairros Promissão I e II.

Foto 03 - Aspecto da ocupação rural na área da PA-256, município de Parago- Foto 04 - Plantação de soja sobre o topo de um platô no município de Para-
minas, verificando-se a presença marcante do latifúndio, que desmata e forma gominas. Os plantadores de soja encontraram nos topos planos dos platôs da
paisagens monótonas dominadas por pastagens e solos expostos. Belém-Brasília um campo propício à expansão desta cultura.

Foto 05 - Trecho da estrada da Cauaxi, sul do município de Paragominas, onde se destaca uma morfologia em
tabuleiros dissecados.

72
Foto 06 - Perfil laterítico da Formação Ipixuna, na BR-010, trecho entre Para- Foto 07 - Ponto de travessia de balsa sobre o Capim, município de Ipixuna do
gominas e Ipixuna do Pará. A presença desta formação é responsável por uma Pará, interligando as duas margens da PA-256. Percebe-se uma pequena locali-
grande riqueza mineral em caulim e bauxita. dade ribeirinha – uma das muitas que existem no eixo do rio Capim. A escarpa
fluvial expõe sedimentos da Formação Ipixuna.

FOTOS: Regiane Paracampos (2005).

a área de estudo no contexto regional


Foto 08 - Vista parcial de uma carvoaria no município de Ulianópolis. Tal atividade está associada à indústria ma-
deireira, que constitui um ramo de destaque na economia da área de estudo.

Foto 09 - Prédio da CAMTA (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu), Foto 10 - Vista parcial do rio Acará-mirim, em ponto próximo ao antigo trapi-
construído no contexto das atividades da colônia japonesa de Tomé-Açu após a che pelo qual escoava a produção da colônia japonesa. A outra margem é toda
década de 1950, quando a economia da pimenta-do-reino foi mais ativa. dominada por propriedades rurais.

73
Bases Físicas
do Espaço
Geográfico
GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS
geologia e recursos minerais
Carlos Romano Ramos
bases físicas do espaço geográfico

A
área de estudo exibe dois formações geológicas, abrange a porção E-NE da Pós-Barreiras e Aluviões Atuais, não se restrin-
conjuntos bem definidos de região amazônica, exibindo-se em manchas isola- gem àquela bacia sedimentar, estando presentes
rochas, que possuem repre- das na área do rio Gurupi e ao longo do litoral dos nos domínios geológicos adjacentes – sobretudo a
sentatividade em âmbito regional. O pri- Estados do Pará e Maranhão. Bacia de Marajó. As Formações Itapecuru e Ipixu-
meiro constitui-se de rochas de compo- Um segundo conjunto é representado por ro- na (Cretáceo) e a Formação Barreiras (Mioceno)
sição granítica e metamórfica de médio e chas sedimentares, cujas idades vão, em termos da recobrem, discordantemente, todas as unidades
baixo grau, que estão representadas pelo região amazônica, do Paleozóico Inferior (Siluria- mais antigas, e encontram-se recobertas por sedi-
Complexo Maracaçumé (Arqueano), de no) ao Terciário Superior (Holoceno). As rochas mentos inconsolidados que foram depositados ao
composição granítica, e pelos Grupos Au- paleozóicas e mesozóicas constituem formações longo do Neogeno. A estratigrafia da área de estu-
rizona e Gurupi (Arqueano ao Protero- da bacia sedimentar do Piauí-Maranhão (ou Par- do é mostrada no Quadro 2, onde se percebe uma
zóico Inferior), formados por corpos de naíba), enquanto os sedimentos cenozóicos, re- longa evolução que vai desde o Pré-Cambriano
constituição essencialmente metamórfica. presentados pelas Coberturas Detrítico-lateríticas (Arqueozóico e Proterozóico) até o Presente (Ho-
Este conjunto, que inclui, ainda, outras Paleogênicas, Formação Barreiras, Sedimentos loceno).

BOX 1
O TEMPO GEOLÓGICO alguns milhares de anos. A partir da segunda meta- existia nenhum método que possibilitasse quanti-
de do século XVIII, estudos geológicos começaram ficar esse tempo. Vários métodos foram propos-
A partir do momento em que os cien- a mostrar que em muitos locais existiam camadas tos para tentar medi-lo. Ainda que nenhum deles
tistas começaram a perceber que o plane- sucessivas de rochas sedimentares que continham, tenha sido inteiramente satisfatório, todos forne-
ta em que habitavam não era um cenário cada uma, fósseis característicos. Esses fósseis fre- ciam idades da ordem de milhões de anos, sendo
imutável, mas que os elementos da paisa- qüentemente possibilitavam a correlação de rochas a maioria inferior a 100. Apesar de hoje essa idade
gem se modificavam lentamente, come- de diferentes locais. Também no século XIX foram ser considerada muito baixa, já dava, à época, uma
çou a preocupação com a história da terra. aceitas as idéias de um precursor da geologia, Nicolas idéia da magnitude dos tempos geológicos.
Que tipo de mudanças teriam ocorrido Steno, que em 1869 tinha enunciado os princípios Uma década após o descobrimento da radioati-
no passado e quanto tempo teriam demo- de que as rochas sedimentares se depositavam hori- vidade por H. Becquerel, em 1896, B. B. Voltwood
rado? Esta concepção de uma Terra cam- zontalmente camada após camada e que as camadas imaginou um método que determinava a idade de
biante traz implícita a idéia de uma histó- inferiores eram mais velhas que as superiores. várias rochas a partir dos produtos de desintegração
ria. Teria a Terra um começo e um fim? Assim, através desses princípios e das faunas e radioativa espontânea de alguns minerais. Começa-
Mudaria ciclicamente ou estaria numa floras contidas nas rochas sedimentares, foi possí- va assim a era das datações radiométricas, que possi-
constante transformação, sendo sempre vel, pouco a pouco, estabelecer uma coluna estrati- bilitariam a elaboração de uma escala de tempo ab-
diferente? gráfica, isto é, uma seqüência das rochas com seus soluta para os eventos geológicos (Ver Quadro 1).
Até meados do século XVIII, no mun- fósseis desde as mais antigas até as mais modernas.
do ocidental, a interpretação literal da Bí- Restava, no entanto, ainda saber quanto tempo re- Texto retirado de: POPP, J. H.1999. Geologia Geral. 5. ed.

blia fazia supor que a Terra tivesse apenas presentava toda a coluna geológica conhecida. Não Rio de Janeiro: LTC, p. 351-2. (Escala geológica adaptada.)

QUADRO 1 - Divisão cronológica da história da Terra - Adaptado de Popp (1999).


ÉONS ERAS PERÍODOS ÉPOCAS TEMPO EM MILHÕES DE ANOS
Holoceno 0,011
Pleistoceno 1,8
Neogeno
Plioceno 7
Mioceno 26
Oligoceno 37,5
Cenozóico Paleogeno Eoceno 53,5
Paleoceno 65
Cretáceo 136
Fanerozóico
Mesozóico Jurássico 192,5
Triássico 225
Permiano 280
Carbonífero 345
Devoniano 395
Paleozóico
Siluriano 435
Ordoviciano 500
Cambriano 570
Prot. Superior 1000 – 1 100
Proterozóico Prot. Médio 1 700 – 1 800
Prot. Inferior 2 500
Arq. Superior 3 000
Arqueano
Arq. Inferior 4 600 ?

76
ESTRATIGRAFIA REGIONAL devida a Pastana (1995), que limitou sua ocorrên- sedimentar metamorfizada em fácies xisto verde,
cia ao Domínio Gurupi. A constituição litológica localmente fácies anfibolito, composta por xistos
A estratigrafia da região, no que diz respeito à do Complexo é dominada por ortognaisse de com- de naturezas diversas, filitos, quartzitos, rochas
área dos municípios estudados, é constituída pelas posição tonalítica, trondhjemítica e granodiorítica, metapiroplásticas, metachert e algumas rochas
unidades litoestratigráficas descritas a seguir: além de paragnaisse, mostrando efeitos variados metamórficas e metaultramáficas, havendo larga
de migmatização, tendo suas rochas atingido con- predominância de termos paraderivados em rela-
Complexo Maracaçumé dições metamórficas de fácies anfibolito médio a ção aos ortoderivados. As rochas apresentam xis-
Foi definido por Costa et al. (1977) como As- alto. No que diz respeito à correlação com outras tosidade em geral orientada segundo N15º - 70ºW,
sociação Metarmórfica Maracaçumé, contendo unidades do Cráton Amazônico, Pastana (1995) com mergulhos fortes para NE. Este conjunto
gnaisses e migmatitos de composição granítica e manteve o posicionamento da unidade no Ar- metavulcano-sedimentar tem sua ocorrência limi-
tonalítica, portadores de enclaves anfibolíticos, queano. A ocorrência do Complexo Maracaçumé tada ao Domínio São Luís, correspondendo a uma
ocorrendo tanto no Domínio São Luís quanto no está restrita ao extremo nordeste da área de estudo, parte do que era conhecido como Grupo Gurupi.
Domínio Gurupi, sendo que este último abrange onde aflora junto ao vale do rio Gurupi (ver Mapa Pastana (1995) posicionou esta unidade no amplo
o nordeste da área de estudo, dentro dos limites de Geologia). intervalo Arqueano/Paleoproterozóico. Na área de
da Reserva Indígena Alto Rio Guamá (Paragomi- estudo, o Grupo Aurizona possui distribuição mui-
nas). Abreu et al. (1980) renomearam esta unida- Grupo Aurizona to restrita junto ao vale do rio Gurupi, nordeste do
de para Complexo Maracaçumé e a posicionaram Esta unidade foi definida por Pastana (1995) município de Paragominas, não sendo mapeável na
no Arqueano. A concepção atual do Complexo é e compreende uma seqüência metavulcano- escala de trabalho adotada (1: 700 000).

QUADRO 2 – Coluna estratigráfica da área de estudo.

IDADE
ESTRATIGRAFIA
ERA
ÉPOCA PERÍODO

ALUVIÕES ATUAIS
HOLOCENO

PLEISTOCENO SEDIMENTOS PÓS-BARREIRAS


NEOGENO PLIOCENO
CENOZÓICO
MIOCENO FORMAÇÃO BARREIRAS

bases físicas do espaço geográfico


OLIGOCENO
COBERTURAS DETRITO-LATERÍTICAS
PALEOGENO PALEOGÊNICAS
EOCENO

FORMAÇÃO IPIXUNA
MESOZÓICO CRETÁCEO
FORMAÇÃO ITAPECURU

GRUPO GURUPI
PROTEROZÓICO
GRUPO AURIZONA

ARQUEOZÓICO COMPLEXO MARACAÇUMÉ

ELABORAÇÃO: Luciano A. Souza (2006).

Grupo Gurupi idade Arqueana a Paleoproterozóica. Aparece re- Os siltitos, folhelhos e argilitos são termos su-
O Grupo Gurupi é constituído por um con- presentada, somente, pela Formação Vila Cristal bordinados, apresentando-se como delgadas inter-
junto metavulcano-sedimentar metamorfizado (ver Mapa de Geologia). calações nos arenitos, ou como lentes ou estratos
em fácies xisto verde, localmente anfibolito. Foi em cunha de tons avermelhados ou brancos. As
definido por Francisco et al. (1971), que se re- Formação Itapecuru principais estruturas primárias dessas fácies são: es-
ferira a rochas que ocorriam tanto no Domínio A Formação Itapecuru está sobreposta à For- tratificação cruzada acanalada de pequeno, médio e
São Luís quanto no Gurupi. É uma unidade po- mação Barreiras, considerada de idade Cretácea. grande portes; estratos plano-paralelos, estratos em
lêmica. Sua atual conceituação é devida a Pastana Cunha e Del’Arco (1988) subdividem esta uni- cunha; e as camadas lenticulares, além de estrutu-
(1995), que restringiu sua ocorrência ao Domínio dade, estudada na região centro-norte do Estado ras de corte e preenchimento, laminação convolu-
Gurupi. Costa (2000) descreveu um zoneamento do Maranhão, nas fácies argiloso-arenosa e areno- ta, estrutura de sobrecarga e bioturbações. A fácies
litológico, sedimentar e metamórfico nas rochas argilosa. As fácies argilo-arenosas são constituídas areno-argilosa é composta de arenitos feldspáticos
deste grupo, aflorantes ao longo do rio Piriá (NE por arenitos, siltitos, folhelhos e argilitos, róseos, róseos e roxeados, friáveis, com intercalações e len-
do Pará), e propôs sua divisão em três formações, cinza esbranquiçados e avermelhados, “mosque- tes de siltitos e conglomerados, granulometria pre-
de NE para SE: Rio Piritoró, Jaritequara e Vila ado” ou com manchas esbranquiçadas. Quando dominantemente fina a média, com lâminas gros-
Cristal, esta composta por xistos feldspáticos ban- alterados, os arenitos apresentam granulometria seiras e microconglomeráticas subordinadas. Os
dados, contendo granada, cloritóide e estaurolita, muito fina e síltica, sendo constituídos, basica- conglomerados são esporádicos, lenticulares, pou-
metamorfizados em fácies epidoto-anfibolito e mente, por quartzo, argila e feldspatos, totalmente co espessos, quartzosos, sendo os seixos bem arre-
anfibolito. Para esta unidade, que também abrange alterados, e em vários locais ocorrem sericita, em dondados, empacotados em matriz síltico-arenosa.
a porção nordeste da área de estudo, foi atribuída outros cloritas e, ainda, carbonato de cálcio. As principais estruturas dessas fácies são: estratos

77
cruzados de pequeno, médio a grande portes, dos ti- sucessão sedimentar tipicamente caulinítica. Interes- e tabuleiros são mantidos, principalmente, pelos
pos acanalados, tangencial e sigmoidal; estratos pla- ses econômicos incentivam pesquisas petrográficas e sedimentos cretáceos da Formação Itapecuru.
no-paralelos, estrutura de sobrecarga e convolutas. geoquímicas objetivando compreender a origem e a
A fácies argilo-arenosa passa, lateral e superiormen- evolução dos depósitos do caulim. O modo de depo- Coberturas Detrito-Lateríticas
bases físicas do espaço geográfico

te, a fácies areno-argilosa, e o conjunto apresenta sição desta formação é complexa, e inclui ambientes Paleogênicas
ambiente de formação tipicamente continental flu- sugestivos de influência marinha. A crescente explo- Esta unidade ocorre como platôs sobre sedimen-
vial com fácies lacustres subordinadas. ração do caulim proporciona melhores exposições tos cretáceos, com destaque, em termos regionais,
Na área de estudo, a Formação Itapecuru da unidade nas minas a céu aberto, na borda leste da para as áreas do Médio e Baixo Amazonas e para o
apresenta ampla distribuição, dominando a parte sub-bacia de Cametá, mais precisamente na porção trecho entre Paragominas e Açailândia (MA). Em
oriental da bacia do rio Capim, ao S do município ocidental do município de Ipixuna do Pará. tal unidade estão inseridas importantes jazidas de
de Ipixuna do Pará, e praticamente toda a parte pa- A Formação Ipixuna possui perfil tipicamente bauxita, detectadas ou em exploração. A seqüência
raense da bacia do rio Gurupi. Esta formação está laterítico, com materiais que, quando não se pres- é poligenética, mas predominantemente aluvionar,
ligada a terrenos dissecados e vales, e não apresenta tam à comercialização enquanto minérios (caulim e durante sua formação havia uma alternância de
recursos minerais significativos. e bauxita), são aproveitados como “piçarra”, de uso climas úmidos e quentes semi-áridos. No topo,
na construção civil. Na área de estudo, os cortes a seqüência laterítica, marcadamente bauxítica e
Formação Ipixuna mais significativos desta unidade de idade cretácea ferruginosa, contém um capeamento argiloso, de-
Segundo Góes (1981), esta formação aflora des- aparecem às margens da BR-010, nas proximidades nominado de Argila de Belterra, que resultou de
de 60 km ao sul de São Miguel do Guamá (PA), até da cidade de Ipixuna do Pará (ver Fotos 1 a 4). No fluxos mais ou menos viscosos do tipo enxurra-
aproximadamente 140 km ao norte da cidade de que diz respeito à geomorfologia, a Formação Ipi- da, durante o Paleogeno (Eoceno ao Oligoceno).
Imperatriz (MA), limitada a oeste pelo rio Capim. xuna marca a transição entre o Planalto Rebaixado A espessura destas coberturas detrítico-lateríticas,
Góes (1981) subdivide a unidade nas litologias A e da Amazônia, sustentado em grande parte pelos muito bem representadas sob a forma de platôs no
B. Aflora entre Gurupi do Pará e Ligação do Pará, sedimentos miocênicos da Formação Barreiras, e o interflúvio das bacias dos rios Capim e Gurupi,
sendo composta de arenitos brancos finos, cauliní- Planalto Dissecado do Pará-Maranhão, cujos vales pode atingir 30m (IBGE, 1990).
ticos, com estratificação cruzada e bancos de cau-
lim. A litologia A foi depositada em águas energé-
ticas, em ambiente fluvial do tipo meandrante, sob 1
condições oxidantes. Por outro lado, a litologia B
ocorreu em águas calmas, em ambiente lacustre.
A formação Ipixuna compreende arenitos finos,
cauliníticos, com estratificação cruzada de pequena
escala, intercalados com siltitos e argilitos brancos
manchados de amarelo e vermelho. Ocorrem in-
tercalações de camadas de caulim e arenitos bran-
cos finos cauliníticos com estratificação cruzada de
pequena escala. A Formação Ipixuna, amplamente
exposta na área da bacia do Capim, consiste de uma

2
3

4
FOTOS: Pedro Rocha da Silva (1989).

FOTOS 1 a 4 – Detalhes de um corte de estrada próximo à cidade de Ipixuna do Pará, às margens da BR-010. Verificam-se exposições da Formação Ipixuna e seu perfil
laterítico, portador de importantes jazidas de caulim e bauxita (Fotos 1, 2 e 4). Notar, ainda, o processo erosivo que ocorre sobre a superfície do solo (Fotos 3 e 4).

78
Formação Barreiras distribuição, aparecendo no topo da seqüência em que para Ipixuna do Pará, que faz parte da área de
A Formação Barreiras recobre grande extensão diversos perfis de estrada, solos descobertos, minas estudo. Com relação à produção de caulim para uso na
das terras baixas amazônicos, e ocupa a maior parte e cortes em áreas urbanas. A unidade inferior pode indústria de papel, há duas minas, ambas loca-
dos litorais paraense e maranhense, estendendo-se ser tanto a Formação Barreiras quanto as Formações lizadas no município de Ipixuna do Pará, com-
para S até a altura do pararelo 5º S. Constitui o Ipixuna ou Itapecuru, mais antigas, enquanto a uni- preendendo a IRCC – Imerys Rio Capim S/A e a
topo dos platôs nas folhas Paragominas (S.A.23- dade superior é constituída pelos Sedimentos Pós- PPSA – Pará Pigmentos S/A ( CVRD 49,41%). Da
Y-V MI-543) e Rio Capim (S.A.22-Z-D-V MI- Barreiras, depositados em ambiente de clima seco produção nacional de 2,410 milhões de toneladas
664), normalmente apresentando uma cobertura (Rossetti, Truckenbrodt, Goés 2001). de caulim, a Imerys respondeu por 40% e a PPSA
laterítica, muitas vezes bauxitizada. Tais platôs são Segundo Rossetti, Truckenbrodt e Góes (1989) com 22%. A receita bruta (consolidada) de caulim
aplainados em direção ao litoral, onde se localizam os sedimentos Pós-Barreiras apresentam-se nor- da CVRD, em 2005, somou R$ 428 milhões, com
as cidades de Castanhal, Bragança, Irituia e os vales malmente não estruturados, e, em relação à idade, um volume de vendas de 1,218 milhão de tone-
dos rios Capim e Guamá. A Formação Barreiras estes sedimentos foram interpretados como plio- ladas (média R$ 351,40/t). A IMERYS é a maior
assenta-se, discordantemente, sobre as Formações pleistocênicos a holocênicos. Recobrem de forma produtora de caulim de alta qualidade do mundo,
Itapecuru e Ipixuna, sendo possível encontrá-la, extensiva o município de Tomé-Açu e aparecem de detendo depósitos e usinas em diversos países.
também, sobre formações mais antigas. forma isolada nas áreas a E do rio Capim, estando
A Formação Barreiras, amplamente reconhe- geralmente ligados a superfícies de aplainamento Bauxita
cida em falésias junto à linha de costa e em cor- elaboradas em época de clima seco, a exemplo do O Brasil dispõe de 2,7 bilhões de toneladas de
tes de estrada do nordeste do Estado do Pará e do que se percebe na cidade de Ipixuna do Pará, onde reservas de bauxita, sendo 95% deste recurso carac-
noroeste do Maranhão, é constituída por argilitos o pacote amarelado que caracteriza esta unidade é terizado como bauxita metalúrgica, respondendo
e arenitos laterizados, e por conglomerados com encontrada em superfície. Na bacia do Capim, estas por cerca de 8,4% do total mundial de 32 bilhões
seixos de quartzo sustentados por matriz de areia coberturas plio-pleistocênicas marcam, como de- de toneladas em 2005. A produção nacional de bau-
grossa, arenito médio, amarelado, mal selecionado, pósito correlativo, um nível de aplainamento que xita prevista para 2005, da ordem de 21 milhões
com grânulos e seixos disseminados, e camadas ar- foi denominado de “Planos de Ulianópolis” (ver de toneladas, respondeu por 12,8% do total mun-
gilosas, argilo-arenosa, areno-argilosa e arenosas Feições do Relevo Regional). dial de 165 milhões de toneladas. A distribuição da
limpas, interdigitadas, depositados em um sistema produção do minério de alumínio compreende, na
estuarino de vales incisos, cuja evolução está ligada Aluviões Atuais Amazônia, a Mineração Rio do Norte (MRN), cuja
às flutuações do nível relativo do mar e a eventos Os depósitos aluvionares recentes são constituí- lavra está localizada no município de Oriximiná
tectônicos que afetaram a América do Sul nos últi- dos por cascalhos, areias e/ou argilas inconsolidadas. (PA), a qual contribui com 83% do total nacional.
mos 7 milhões de anos (Plioceno ao Holoceno In- Aparecem como faixas estreitas, por vezes descontí- Em 2005, dentre os produtos da cadeia do alumínio,
ferior). Na área do rio Capim, a Formação Barrei- nuas, ao longo dos cursos d’água. Na escala adotada a produção de bauxita alcançou 6,9 milhões de to-
ras não ultrapassa 20 metros de espessura, estando (1: 700.000), os Aluviões Atuais são de difícil repre- neladas. O volume de vendas de bauxita somou, no

bases físicas do espaço geográfico


em discordância erosiva sobre a Formação Ipixuna sentação, e somente foi possível a sua cartografação ano de 2005, 5,6 milhões de toneladas, no valor de
e sotoposta pelos Sedimentos Pós-Barreiras. nos vales fluviais principais, isto é, no Capim (baixo R$ 358 milhões (média R$ 63,93/ton.).
Na área de estudo, a Formação Barreiras, de ida- e médio curso) e no Gurupi (médio curso). É im- Os depósitos de bauxita do Distrito Bauxitífero
de miocênica, domina os baixos platôs do município portante destacar que, nos baixos vales dos rios Ca- de Paragominas-Açailândia, como os demais exis-
de Tomé-Açu (bacia do rio Acará-Mirim), e o nor- pim e Acará-Mirim, esta unidade, formada por se- tentes na Amazônia, apresentam extensas cobertu-
te do município de Aurora do Pará, no interflúvio dimentos recentes inconsolidados, está ligada a uma ras em platôs, profundamente recortados (IBGE,
Guamá-Capim, estendendo-se para o município de planície fluvial estendida, com canais meandrantes 1990). Os platôs da área de Paragominas (PA), em
Mãe do Rio até alcançar o vale do rio Guamá. No e lagos. No médio e alto curso dos rios Capim, relação aos do setor Tiracambu (MA), localizados
entanto, encontra-se recoberta, em sua quase totali- Acará-Mirim e Gurupi, estes sedimentos formam mais a sul, são menores. Em termos regionais, os
dade, pelos Sedimentos Pós-Barreiras, e apenas em depósitos mais encaixados e descontínuos, sendo a platôs exibem extensões da ordem de até 60 km
áreas isoladas aparece como a cobertura de super- mesma situação verificada para os cursos d’água de e desníveis médios de 150 a 170 metros. O ho-
fície – sendo comum, neste caso, o seu aproveita- menor hierarquia (igarapés, riachos etc.). rizonte bauxítico-laterítico, que caracteriza os de-
mento como fonte de “piçarra” e “pedra” utilizada pósitos em questão, encontra-se recoberto por um
na construção civil, isto é, blocos de arenito ferrugi- RECURSOS MINERAIS capeamento argiloso que possui tendência a se tor-
nizado, conhecidos como “grês-do-Pará”. nar mais espesso no centro dos platôs. A base deste
Caulim horizonte é constituída por uma argila caulinítica
Sedimentos Pós-Barreiras A área do rio Capim destaca-se nacionalmen- de cores variegadas, que grada para caulim ou sedi-
Trata-se de sedimentos areno-argilosos, incon- te pelas vultosas reservas de caulim para cobertura mentos alterados. Este horizonte possui compor-
solidados, e de modo geral possuem coloração ama- de papel. O minério extraído está localizado, em tamento sub-horizontalizado e pode ser maciço ou
relada, são mal selecionados, com granulometria média, a 20 metros de profundidade, recoberto apresentar-se sob a forma de nódulos e blocos dis-
predominantemente fina. Grânulos e pequenos pelos sedimentos argilo-arenosos da Formação seminados em matriz de argila avermelhada.
seixos de quartzo também podem ser encontrados, Barreiras, ou, na ausência desta, pelos Sedimentos Encontra-se em fase de desenvolvimento a mina
formando horizontes concrecionários. Os sedimen- Pós-Barreiras. O caulim está inserido no contex- de Paragominas, no Estado do Pará, cujo startup está
tos desta unidade jazem em discordância erosional to da Formação Ipixuna. Na área do rio Capim há previsto para 2007. Em 2008, a mina de Paragominas
sobre os sedimentos da Formação Barreiras, ocor- duas unidades principais de caulim – uma supe- terá capacidade para produzir 9,9 milhões de tone-
rendo por vezes, no limite entre seqüências, seixos rior e outra inferior, sendo que a unidade inferior ladas do minério de alumínio. A bauxita produzida
rolados de arenitos ferruginosos ou fragmentos do é formada, principalmente, por caulim, que é o em Paragominas será utilizada para suprir as neces-
Barreiras (Sá, 1969). Estes horizontes concrecioná- minério da jazida (Carneiro et al., 2003), enquanto sidades de expansão da Alunorte, com qualidade si-
rios constituem as stone lines (linhas de pedra), que a superior é constituída de um material laterítico milar à da MRN. A mina de Paragominas utilizará
são verdadeiras linhas do tempo, marcando a passa- denominado Argila de Belterra (IBGE, 1990). o método strip mining de extração e possuirá uma
gem de uma época de clima mais úmido para outra, Das reservas brasileiras classificadas, medidas usina de beneficiamento que incluirá um moinho e
caracterizada por clima mais seco do tipo árido ou e indicadas como sendo da ordem de 7,7 bilhões, um mineroduto com 244 quilômetros de extensão
semi-árido (Rossetti, Truckenbrodt, Goés 1989). cerca de 97% estão localizadas na Região Norte do que transportará a bauxita, na forma de polpa, para a
Na área de estudo, as stone lines possuem ampla Brasil, sobretudo no Estado do Pará, com desta- Alunorte, no município de Barcarena (PA).

79
bases físicas do espaço geográfico

80
81
bases físicas do espaço geográfico
FEIÇÕES DO RELEVO REGIONAL
feições do relevo regional
Pedro Rocha Silva
Estêvão José da Silva Barbosa
bases físicas do espaço geográfico

O
estudo da geomorfologia da estruturais (Barbosa et al., 1974; Barbosa, Pinto, a elevação gradual da hipsometria é interrompida,
área que corresponde aos 1974). Contudo, e conforme esclarecido em um em muitos casos, pelos vales dos rios que apresen-
municípios de Tomé-Açu, desses relatórios, nem sempre há uma correspon- tam maior entalhamento e, por conseguinte, for-
Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, Para- dência perfeita entre os aspectos morfoestrutu- mam vales mais pronunciados na paisagem – caso
gominas e Ulianópolis buscou realizar o rais (geologia) e morfoclimáticos (Barbosa, Pinto, dos rios Capim, Ipixuna, Uraim, Piriá e Surubiju,
mapeamento, a identificação e a discus- 1974), haja vista as interferências de caráter tectô- dentre outros. O leito encaixado destes rios atingiu
são das unidades de relevo. A noção de nico – movimentação da crosta terrestre –, as dife- o substrato cretáceo das Formações Ipixuna e Ita-
unidade de relevo foi definida pelo pro- rentes respostas que os tipos de rocha e de mate- pecuru, abandonando, no topo e/ou nas vertentes
jeto Radambrasil (Barbosa; Pinto, 1974) riais inconsolidados oferecem à ação do clima e da dos vales, os sedimentos mais recentes, de idade
como sendo a própria compartimentação drenagem, e a extensividade do clima e da vegeta- cenozóica, depositados entre o início do Paleóge-
do relevo em função da combinação entre ção por sobre conjuntos geológicos variados (Ab’ no e o início do Holoceno. No fundo da maioria
domínios morfoestruturais e domínios Saber, 1969; Ross, 1992; Jatobá, Lins, 2002). dos vales, a deposição hodierna é do tipo aluvial
morfoclimáticos. Resultam desta dinâmi- Para identificação e delimitação das Regiões – planície de inundação formada, sobretudo, por
ca de interação entre agentes endógenos Geomorfológicas que incidem sobre a área de es- materiais carreados por canais que podem ou não
(geologia – litologia e tectônica) e exóge- tudo, foi feita uma revisão dos mapeamentos ge- apresentar caráter meândrico.
nos (clima) agrupamentos de relevo, os omorfológicos elaborados para a Amazônia pelo A variação do relevo de W para E, por sua vez,
quais podem ser analisados e representa- projeto Radambrasil – volumes 3 (Barbosa; Pin- além de também apresentar um controle litológi-
dos em escalas diversas (Ross, 1992). to, 1974) e 5 (Barbosa et al., 1974) – e pelo IBGE co, é influenciada por fatores tectônicos, hidrográ-
Chegou-se à delimitação de dois con- (1990), além de dois produtos cartográficos de es- ficos e paleoclimáticos. Neste sentido, há indícios
juntos de unidades de relevo: Regiões cala nacional assinados por Ab’Saber ([1960] 2003) de movimentação tectônica, de caráter epirogené-
Geomorfológicas, que correspondem a e Ross (1987). Assim sendo, foram classificadas 5 tico, que contribuiu para o soerguimento do bloco
agrupamentos mais amplos de âmbito re- (cinco) Regiões Geomorfológicas: Planície Ama- que corresponde ao nordeste do Pará, ao mesmo
gional (Amazônia); e, contidas nas pri- zônica, Planalto Rebaixado da Amazônia, Planalto tempo em que ocorreram fenômenos de alteração
meiras, as Unidades Morfológicas. Foram Dissecado (ou Setentrional) do Pará-Maranhão das direções dos cursos dos rios e reencaixamento
utilizados como referências bibliográficas e (PA-MA) e, a partir de divisão deste último, Pla- da rede de drenagem (Barbosa; Pinto, 1974). Esta
cartográficas trabalhos anteriores, com des- naltos Residuais do PA-MA e Colinas e Cristas dinâmica é recente (Pleistoceno - Holoceno), e
taque para os relatórios do Projeto Radam- do Gurupi. Tal divisão é justificada por especifi- pode ser atestada pelo curso anômalo do rio Ca-
brasil referentes às Folhas S.A. 22 - Belém cidades de caráter geológico e morfogenético que pim-Guamá, que sofre um desvio abrupto de N
(Barbosa et al., 1974) e S.A. 23 - São Luís influenciaram na compartimentação do relevo dos para W, e pela superimposição do rio Gurupi sobre
e parte da Folha S.A. 24 - Fortaleza (Bar- municípios estudados pelo Atlas. estruturas pré-cambrianas, o que fez surgir, nes-
bosa; Pinto, 1974), e para o mapeamento Como um todo, a geomorfologia da área apre- te último caso, afloramentos de rochas antigas por
geomorfológico elaborado pela Diretoria senta variações sutis de N para S, de W para E, e todo o noroeste da Amazônia (Barbosa et al., 1974;
de Geociências do IBGE (DGC/IBGE), para E e W; neste último caso a partir de um eixo Ab’Saber, 1996). A direção geral dos rios da região
apresentado no Projeto “Zoneamento das central representado pelo interflúvio Capim-Gu- sugere, também, um controle tectônico sobre a
Potencialidades dos Recursos Naturais da rupi. No primeiro caso, trata-se, sobretudo, de drenagem principal, que segue preferencialmente
Amazônia Legal” (IBGE, 1990). A base car- um controle estrutural de natureza litológica, ve- de SW para NE até se posicionar, em alguns ca-
tográfica deste último trabalho foi disponi- rificando-se que os platôs esculpidos nos terrenos sos (Guamá, Capim, Acará-Mirim), segundo uma
bilizada para a equipe de pesquisa do Atlas neogênicos da Formação Barreiras que aparecem orientação N-S.
Ambiental pelo SIPAM/ CTO - BE, em no norte (Aurora do Pará) e no oeste (Tomé-Açu) O reencaixamento da drenagem, aliado à reto-
formato digital e com legenda modificada. da área são, no geral, mais baixos (média de 50m mada da erosão/deposição nos vales e nas cabeceiras
de altitude) que os planaltos residuais e tabuleiros de drenagem quando do estabelecimento de nova
UNIDADES DE RELEVO dissecados das partes central, sul e leste (Ipixuna fase tropical úmida em princípios do Holoceno (11
do Pará, Paragominas e Ulianópolis), nas quais as mil anos A.P.), consolidou interflúvios de W para E
Como unidades de relevo maiores, as formas de relevo esculpidas em terrenos cretáceos entre os rios Acará, Acará-Mirim, Capim, Guamá e
Regiões Geomorfológicas permitem uma das Formações Ipixuna e Itapecuru, ou em Co- Gurupi. Nestes interflúvios, mantêm-se planaltos
discussão em escala mais ampla. Essas berturas Detrito-Lateríticas Paleogênicas, exibem, residuais (platôs) sob a forma de pediplanos, sus-
Regiões são constituídas e se diferenciam quase sempre, médias de altitude superiores aos tentados por coberturas detrito-lateríticas elabora-
umas das outras em função de condições 100m (ver Mapa de Hipsometria). Caracteriza- das durante as fases secas do Plio-Pleistoceno, ou
geológicas, combinadas com a atuação se, então, uma rampa geral ascendente norte-sul, que foram remodeladas neste período – caso das
de fatores climáticos atuais e pretéritos cuja morfologia de relevos tabulares e dissecados coberturas paleogênicas. A preservação destas co-
(IBGE, 1990). As Unidades Morfológi- lembra uma seqüência de “lombas”, elevando-se berturas reforça a variação W-E da hipsometria da
cas, por sua vez, estão sendo aqui enten- de forma quase imperceptível; nesta rampa, os área de estudo, sendo mais espetacular o caso do
didas como tipos de modelado com fisio- cursos d’água principais – rios Acará-Mirim e, fora alto estrutural que separa os cursos d’água das ba-
nomia, constituição e gênese em comuns, da área de estudo, Acará e Moju – se apresentam cias dos rios Capim e Gurupi, prolongando-se des-
vinculadas a uma escala espaço-temporal como rios conseqüentes de traçado subparalelo de as cabeceiras dos rios da margem direita do rio
específica (Engels, 1960; IBGE, 1990). (Ab’Saber, 1996). Surubiju até o sul do interflúvio Capim-Guamá,
Nos relatórios do Projeto Radambra- Os perfis topográficos A-B (Figura 1) e C-D sendo que boa parte deste alto estrutural é marcada
sil, as Regiões Geomorfológicas aparecem (Figura 2) permitem visualizar esta disposição lon- pelos Planaltos Residuais do PA-MA, que servem
sob a denominação de Unidades Morfo- gitudinal (N-S) do relevo, com a ressalva de que de sítio preferencial para o corredor da BR-010.

82
A partir do alto estrutural representado pelo in- seco, quando foram elaborados extensos pedipla- 05’ W) e C-D (BR-010/ Belém-Barsília). Pode-se
terflúvio Capim-Gurupi, a hipsometria decai para nos ainda hoje parcialmente conservados a W do acompanhar, ainda, o comportamento das altitudes
E e W, de acordo com a orientação geral da disseca- rio Capim, sobretudo nos interflúvios principais no Mapa de Hipsometria, e nos Mapas de Setores
ção pela densa rede de drenagem estabelecida com do Planalto Rebaixado da Amazônia, e no eixo oci- Morfológicos, em que estão representadas, tam-
a fase úmida atual, responsável, também, pela for- dental que acompanha o vale do rio Gurupi, onde bém, curvas de nível com eqüidistância de 100 m.
mação de extensiva cobertura de floresta sempre- o mapeamento do IBGE-SIPAM identificou uma Em outras seções do Atlas, sugere-se a consulta aos
verde (ombrófila) (Barbosa et al., 1974; Ab’Saber, unidade de relevo denominada Planalto Dissecado itens Geologia e Recursos Naturais e Hidrografia.
1996). A intensa dissecação – erosão do terreno pela do Gurupi-Grajaú.
erosão fluvial (canal), combinada com a ação ero- A seguir, as unidades de relevo serão descritas Planície Amazônica
siva das águas da chuva – para E (bacia do Gurupi) em maior detalhe, com chamadas principais para Corresponde ao conjunto das planícies de
e W (bacia do Capim) é propiciada por litologia se- as Regiões Geomorfológicas. Para um melhor en- inundação (várzeas) dispostas ao longo dos vales
dimentar que se comporta como pouco resistente, tendimento, pode-se acompanhar a espacialização fluviais. O material inconsolidado destas planícies
em face do padrão de morfogênese úmida regio- destas unidades de relevo no Mapa de Unidades é constituído, principalmente, por siltes, argilas,
nal (Barbosa et al., 1974), e reforça o rebaixamento Morfológicas, no Mapa de Regiões Geomorfoló- areias e cascalhos. Esta constituição sedimen-
do relevo iniciado em épocas pretéritas de clima gicas e nos perfis topográficos A-B (Meridiano 48° tar está ligada ao padrão de morfogênese úmida

bases físicas do espaço geográfico

83
bases físicas do espaço geográfico

84
85
bases físicas do espaço geográfico
bases físicas do espaço geográfico

regional, com o predomínio de intemperismo quí- dricos. No baixo curso do rio Capim, as planícies to da drenagem se faz para a margem direita do rio
mico, o qual fornece o material fino que vai aluvio- têm maior extensão, conforme se verifica no setor Surubiju (Setor 8) e para a margem direita do rio
nar nas várzeas (Barbosa et al., 1974). São as áreas morfológico 2. Capim (Setores 4 e 5).
planálticas adjacentes aos cursos d’água que forne- Por vezes, na continuação das planícies se si- Outra característica morfológica importante
cem os sedimentos para a formação das várzeas, tuam baixos terraços (Aptf, Aptfl), isto é, antigas diz respeito à formação de vales muito encaixa-
inclusive fragmentos de solo que, normalmente, planícies situadas acima do nível de sedimenta- dos, os quais representam, por vezes, níveis de
se apresentam sob a forma de pequenos blocos ção atual, e que foram abandonadas em virtude dissecação recente (Holoceno) que seccionam
(cascalhos). de mudanças do nível de base – fato ocorrido, superfícies de aplainamento pretéritas – confe-
A topografia das planícies é plana e acompanha possivelmente, entre o final do Pleistoceno e o rindo um caráter “residual” aos planaltos man-
o declive normal dos rios. As altitudes são muito Holoceno Inferior em virtude de mudanças no tidos por Coberturas Detrito-Lateríticas. O caso
variáveis, indo desde poucos metros (2 a 3) acima regime climático (Ab’Saber, 1967). Tal situação mais espetacular é o do rio Piriá, cujo desnível
do nível do mar, às margens dos baixos cursos dos é muito encontrada na área do baixo Capim. entre os topos dos planaltos adjacentes e o fun-
rios Capim e Acará-Mirim (norte dos setores 1 e Outra situação morfológica interessante diz res- do chato do vale é de cerca de 80m, marcado por
2), até mais de 250m nos vales de cabeceira de dre- peito aos níveis de pedimentos (rampas elabora- um forte rebordo erosivo (ver Perfil C-D). As
nagem da parte sul da área (setor 9). Tal variação das em épocas de clima seco) situados acima das superfícies que acompanham os vales são carac-
influencia, também, a disposição espacial, a exten- atuais planícies de inundação, e que convergem terizadas por relevos dissecados de topo tabular,
são e a largura das planícies, as quais, no geral, são para vales de fundo chato no qual meandram os enquanto as partes mais altas dos interflúvios que
alongadas, estreitas e descontínuas. No Mapa de rios (Barbosa et al., 1974). Um exemplo disto é o separam as sub-bacias são marcadas, em muitos
Unidades Morfológicas (1: 700 000), somente foi vale dos rios Piriá e Uraim, além de outros situ- locais, por feições de topo convexo. Estas últimas
possível cartografar a Planície Amazônica em cer- ados no setor 6, e que são um indício da intensa feições também são comuns em boa parte do vale
tos trechos dos rios Capim e Gurupi, fato que se dissecação que atingiu o Planalto Dissecado do rio Surubiju (Setores 8 e 9), e sua presença está
contradiz à distribuição espacial desta unidade de PA-MA. ligada, em ambos os casos, a uma dissecação mais
relevo por toda a área de estudo em conseqüência intensa do relevo.
da rede de drenagem extensiva. Planalto Dissecado do Pará-Maranhão Como um todo, a parte do Planalto Setentrio-
As planícies de inundação são recobertas por Ocorre ao sul do Planalto Rebaixado da Ama- nal do PA-MA que abrange a área de estudo se en-
vegetação aluvial, adaptada ao substrato inconsoli- zônia, com o qual coalesce, verificando-se, por- contra mais dissecada nas suas porções oeste (bacia
dado das várzeas, principalmente nas planícies dos tanto, uma transição litológica e morfológica do rio Capim, Setor 5), centro-norte (bacia do rio
baixos cursos dos rios Capim e Acará-Mirim. Nas gradativa, reforçada pela cobertura de floresta Uraim, Setor 6) e no extremo sul (divisor de águas
áreas antropizadas dos cursos d’água de menor hie- sempre-verde que recobre ou recobria ambas do Surubiju, Gurupi e Gurupizinho, Setor 9). A
rarquia, é comum a degradação da mata aluvial pri- unidades de relevo. Os Planaltos Residuais do porção leste (Setor 7 e sudeste do Setor 6) cons-
mitiva e a sua substituição pelo campo aluvial, ou, PA-MA ocorrem ubiquamente ao Planalto Dis- titui, segundo o mapeamento do IBGE-SIPAM,
de outra forma, por uma mata ciliar heterogênea; secado do PA-MA, e, neste caso, os contatos são o resto de um pediplano elaborado em áreas de-
nestas áreas, a concentração de palmeiras de buri- feitos por meio de rebordos erosivos. A litologia pressivas, como a Depressão do Gurupi, onde a
ti (Mauritia vinifera e Mauritia flexuosa) é um nítido mais comum que sustenta a unidade de relevo coalescência desse relevo com os baixos platôs do
indicador de perturbação do ambiente fluvial. É em questão é a Formação Itapecuru, fortemen- Planalto Rebaixado da Amazônia (Setor 3) indica
fato, também, que o desmatamento das superfícies te dissecada em feições de topo convexo (Dc) e que houve aplainamento homogêneo sobre ambas
e das bordas de planalto, ao deixar o solo exposto, tabular (Dt), embora existam amplas superfícies unidades de relevo. Trata-se de uma superfície de
intensifica a lixiviação e o aporte de sedimentos e geradas por processos de pediplanação pleisto- aplainamento elaborada durante fases sucessivas
detritos aos cursos fluviais, o que traz sérias con- cênica recobertas (Pgi) ou não (Pru) por depó- de retomada da erosão, sem, no entanto, perder
seqüências para a morfologia dos canais (largura, sitos correlativos de fases de clima mais seco suas características de pediplano, cujos processos
profundidade) e para o regime de inundação das (Cobertura Detrito-Laterítica Pleistocênica). É formadores geram sistemas de planos inclinados,
várzeas. significativa, também, a participação da Forma- às vezes levemente côncavos.
Foram identificadas como Unidades Morfoló- ção Ipixuna. Outros pequenos níveis de aplainamento apa-
gicas a Planície fluvial (Af), a Planície fluviolacus- O Planalto Dissecado do PA-MA domina os se- recem isoladamente, como setores preservados de
tre (Afl), os Planos de abaciamento (Ai), a Planície tores de 5 a 9, porém, há uma grande diversidade um relevo que, à semelhança do que fora descri-
e terraço fluvial (Aptf) e a Planície fluviolacustre dos arranjos de unidades morfológicas, em função to anteriormente, sofreu fenômeno de pedipla-
e terraço fluvial (Aptfl). Estas unidades se encon- da densidade da drenagem e do aprofundamento nação no topo da Formação Ipixuna. Rodrigues
tram mais bem representadas nos setores 2, 4 e 5, das incisões. Neste sentido, os terrenos mais disse- et al. (2003) denominou estes setores de “Planos
que correspondem às planícies fluviais e flúvio- cados estão na parte sul da área de estudo, à mon- de Ulianópolis”, situados ao nível altimétrico em
lacustres do rio Capim. Acompanhando este rio, tante do baixo vale do rio Capim, onde ocorre um torno de 80m. O nível de aplainação no qual foi
as planícies se apresentam mais encaixadas no mé- agrupamento de relevos tabulares que funcionam instalado o sítio urbano de Ipixuna do Pará é um
dio curso, com a atuação de canais fluviais meân- como centro dispersor da drenagem. O escoamen- exemplo deste relevo preservado, embora em

86
nível mais baixo – cerca de 40 m, portanto, na Pós-Barreiras, e que são o depósito correlativo da do IBGE-SIPAM, estes grupamentos aparecem
transição para o Planalto Rebaixado da Amazônia. fase de aplainamento que elaborou estes pedipla- com a denominação de Tabuleiros Paraenses.
Estes planos representam uma vasta superfície de nos (Ab’Saber, 1996).
âmbito regional que rebaixou, durante o Pleisto- Nos locais onde a cobertura do Pós-Barreiras Planaltos Residuais do Pará-Maranhão
ceno, a Superfície Paleogênica; encontra-se reto- foi retirada, ou, de outra forma, não chegou a Esta unidade de relevo, ao contrário das demais
cada por retomada de erosão e freqüentemente estar presente, aparecem os sedimentos da For- Regiões Geomorfológicas, que se apresentam de
inumada por sedimentos amarelados da fase ero- mação Barreiras, os quais estão na base da maio- forma contínua, constitui uma série de planaltos
siva Pós-Barreiras. ria dos platôs – com exceção da área de transição residuais sob a forma de “mesas” ou “chapadões”
entre o Planalto Rebaixado da Amazônia e as (platôs) talhados em sedimentos do Cenozóico
Colinas e Cristas do Gurupi Regiões Geomorfológicas imediatamente situa- Inferior (ver Mapa de Regiões Geomorfológicas).
Corresponde a um conjunto de relevos disse- das a N (ver Perfil C-D). A Formação Barreiras, Segundo Goés (1981), estes planaltos constituem
cados em Unidades Morfológicas (planaltos) de neste sentido, indica a presença desta unidade de o resto de um pediplano degradado (Pgi), desen-
topo convexo (Dc) e tabular (Dt), ocorrendo ubi- relevo por todo o noroeste da Amazônia, pro- volvido em sedimentos argilosos ou argilo-are-
quamente. No primeiro caso, pode haver situações longando-se desde o litoral do Estado do Ma- nosos reconhecidos como depósitos correlativos
de semimamelonização com feições aproximadas a ranhão, onde estão presentes baixos platôs que a um prolongado episódio erosivo-deposicional
colinas, que são formas de relevo típicas de mode- antecipam formas de relevo muito comuns na ou intempérico pós-cretácico, denominado por
lado de dissecação em complexos de rochas meta- Amazônia (Barbosa; Pinto, 1974). Del’Arco e Mamede (1985) apud Rodrigues et al.
mórficas e rochas ígneas associadas (IBGE, 1990), O Planalto Rebaixado da Amazônia abran- (2003) de Aplainamento Paleogênico.
tal como ocorre extensivamente no Domínio dos ge, regionalmente, a maior parte da antiga Zona As condições ambientais, aliadas à relativa quie-
Mares de Morros da fachada atlântica do Brasil Bragantina – onde Ab’Saber (1996) identificou o tude tectônica, propiciaram, à época deste evento
Oriental, mas que, na Amazônia, dizem respeito Baixo Platô da Bragantina – e da Zona Guajarina, erosivo, o desenvolvimento de espessas crostas
a casos mais isolados (Ab’Saber, 1996, 2003). Na estendendo-se, também, para o S do vale do rio lateríticas que constituem as Coberturas Detrito-
área de estudo, as Colinas e Cristas do Gurupi são Guamá, até coalescer com os planaltos da Bacia do Lateríticas Paleogênicas, as quais respondem pela
a Região Geomorfológica de menor abrangência, Parnaíba. A área de transição, que começa às pro- manutenção dos planaltos residuais da unidade
estando restrita à parte nordeste de Paragominas ximidades da cidade de Aurora do Pará, é bem de- de relevo em questão. As altitudes decrescem de

bases físicas do espaço geográfico


(setor 3), onde coincidem com a Terra Indígena finida pela litologia, quando a Formação Barreiras S para N, com valores máximos em torno de 200
Alto Rio Guamá. A mata nativa (floresta sempre- vai sendo, gradativamente, substituída pela For- m no município de Paragominas (Rodrigues et al.,
verde) que aí se encontra preservada mostra que a mação Ipixuna enquanto cobertura de superfície. 2003). No Estado do Maranhão, a L do rio Guru-
unidade de relevo em questão pertence, também, Seguindo a BR-010 para S, começam a surgir pla- pi, estes planaltos residuais são conhecidos como
ao domínio equatorial amazônico, e está, portan- tôs residuais com topos planos, elaborados sobre Serra do Tiracambu (ver Mapa de Regiões Geo-
to, sujeita à morfogênese úmida (Barbosa; Pinto, a Formação Ipixuna e sobre Coberturas Detrito- morfológicas), e a Região Geomorfológica, como
1974). Lateríticas Paleogênicas, embora, como um todo, um todo, está associada a platôs que detêm impor-
ainda predominem os baixos platôs. Um exemplo tantes depósitos bauxíticos-lateríticos.
Planalto Rebaixado da Amazônia de platô residual encontrado na área de transição Estes relevos, no que diz respeito ao contexto
Esta Região Geomorfológica ocorre a W e junto ao (leste do Setor 2, Perfil C-D) corresponde à super- hidrográfico regional, servem de divisor de águas
vale do rio Capim, e ao N dos Planaltos Residuais do fície na qual foi instalada a Vila de Novo Horizon- entre a bacia do rio Capim e as bacias dos rios
Pará-Maranhão. Na área de estudo, coalesce com te (Ipixuna do Pará). Guamá e Gurupi, e possuem ampla distribuição
todas as Regiões Geomorfológicas situadas mais a Os baixos platôs – também chamados de tabu- na área de estudo. A unidade de relevo foi ma-
S, e predomina como unidade de relevo nos mu- leiros – não apresentam rebordos erosivos signifi- peada nos setores 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9. No perfil
nicípios de Tomé-Açu (Setores 1, 2, 4 e 5), Aurora cativos, e entre eles ocorre a presença de terraços C-D, a representação dos Planaltos Residuais do
do Pará (Setor 2) e Ipixuna do Pará (Setores 2, 4 e e planícies de inundação (Planície Amazônica). PA-MA não difere muito dos relevos do Planalto
5), estando presente, ainda, na parte oeste de Pa- Estas formas de relevo apresentam altitudes que Dissecado do PA-MA, embora, em alguns pou-
ragominas (Setores 4, 5 e 8). É constituída pelas não ultrapassam 100 m, com média em torno de cos trechos, observe-se muito claramente estas
Unidades Morfológicas dos baixos platôs (Dt) e 50 m. A topografia se caracteriza pela disposição formas de platôs com extensos topos planos. No
compartimentos rebaixados e/ou aplainados (Pri, de pequenas plataformas interfluviais, sempre na entanto, os planaltos residuais estão muito degra-
Pru) de idade neogênica, esculpidos nos sedimen- forma de pequenos tabuleiros, os quais sofreram dados superficialmente, uma vez que boa parte
tos da Formação Barreiras e da Formação Ipixuna. processos de aplainação ou pediplanação durante o da cobertura detrítica foi retirada lateralmente,
Estes compartimentos rebaixados, que constituem Plio-Pleistoceno, mas que, na fase climática atual, passando para formas de topo convexo (Dc) ou
as superfícies preservadas de antigos pediplanos estão sujeitos à dissecação ou morfogênese úmida tabular (Dt). Os rebordos erosivos que delimi-
do Plio-Pleistoceno, podem ou não estar inuma- (Barbosa et al., 1974; Ab’Saber, 1996). Resultaram tam os platôs apresentam, por vezes, erosão em
dos por cobertura detrítica e/ou laterítica de idade deste processo grupamentos de relevo com topo ravinas (Dei), conforme observado na parte leste
neogênica, genericamente chamada de Sedimentos tabular (Dt) ou convexo (Dc). No mapeamento de Paragominas.

87
bases físicas do espaço geográfico

88
89
bases físicas do espaço geográfico
bases físicas do espaço geográfico

90
91
bases físicas do espaço geográfico
CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA
caracterização climática
Odete Cardoso de Oliveira Santos
bases físicas do espaço geográfico

CARACTERIZAÇÃO Oliveira [1986] apud Fisch et al. (1996) chamam de necessário um estudo mais detalhado do seu cli-
CLIMÁTICA REGIONAL Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), ma, principalmente por causa da ocupação do solo
que contribui para o aumento das chuvas na região pela atividade agropecuária.
A região amazônica, localizada na zona nessa estação do ano.
equatorial tropical, caracteriza-se por Outro fenômeno meteorológico de grande es- METODOLOGIA
apresentar temperaturas elevadas ao lon- cala que influência nas chuvas na Amazônia é o El
go do ano devido à grande quantidade de Niño/Oscilação Sul (ENSO), contribuindo para a Diante das dificuldades para obtenção de dados
energia que recebe, apresentando ampli- diminuição das chuvas. Segundo Kayano e Moura meteorológicos, visto que na área não há estações
tude térmica variando de 8,0o a 14,0o C [1986] apud Fisch et al. (1996), no evento do El meteorológicas, levou-se em conta apenas infor-
(Nimer, 1979). Niño que ocorreu no período de junho de 1982 mações de três estações pluviométricas, mostradas
A diminuição da temperatura pode a agosto de 1983, a Amazônia sofreu uma grande no Quadro 1, e que estão sob a responsabilidade
ocorrer por ocasião das penetrações de seca, durante todo esse período. do Setor de Hidrologia da Companhia de Pesqui-
sistemas frontais provenientes do sul do Como sistema de mesoescala têm-se as linhas sas de Recursos Minerais – CPRM. As demais in-
Brasil que atingem as partes sul, oeste e de instabilidade que se formam no litoral por causa formações climatológicas se basearam em estudos
central da região, na época do inverno do atrito diferencial entre o oceano e o continente, anteriores, como o da Sudam (1984). Por isso, não
austral, causando o fenômeno da “Fria- associado ao aquecimento local, contribuindo para foi possível determinar a deficiência de água, mes-
gem” (Nimer, 1979). Um exemplo des- os máximos de chuvas que ocorrem no leste do mo utilizando o método de Thornthwaite–Mather;
ses eventos ocorreu em Manaus, em Pará e na parte central da Amazônia (Molion, Kou- far-se-á comentários sobre essa deficiência após a
1969, alcançando a temperatura de 12,0o sky, 1981). Esse deslocamento das perturbações apresentação dos tipos climáticos que caracterizam
C (Brinkman e Ribeiro [1979] apud Fisch convectivas para o oeste da Amazônia é confirma- essa área segundo Sudam (1984).
et al. 1996). Fisch et al. 1996, ao analisa- do por Barbosa et al. (2006), ao relacioná-las com Baseando-se nos dados pluviométricos consis-
rem dois fenômenos de “Friagem” em a presença de alguma forçante de escala sinótica, tidos e doados pela CPRM, determinou-se a mé-
1994, verificaram que a temperatura mais como a ZCIT. De acordo com Cohen et al. (1989), dia mensal da série de dados para cada estação e
baixa ocorreu em Ji-Paraná, sul do estado as linhas de instabilidade são mais freqüentes nos traçaram-se os histogramas de chuvas para os mu-
de Rondônia com 10,0o C, enquanto em meses de abril e setembro. nicípios acima citados.
Manaus (AM) e Marabá (PA) o decrésci- Além desse sistema, destaca-se como micro-
mo de temperatura não foi tão baixo. escala a brisa fluvial, que é uma característica da CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS
A umidade relativa anual varia de 90% região devida às larguras dos rios. Santos e Sou-
na Ilha do Marajó, no Estado do Pará, a za (1986), ao estudarem a variabilidade das chu- As temperaturas predominantes na área da pes-
65% no extremo norte do Estado de Ro- vas em Belém, observaram que na estação mete- quisa são elevadas. Segundo o Atlas Climatológi-
raima. orológica do campus da Universidade Federal do co da Amazônia, elaborado pela SUDAM (1984),
As chuvas na região apresentam uma Pará (UFPA), às margens do igarapé Tucunduba, as temperaturas médias anuais nos municípios de
grande variabilidade tanto espacial quanto próximo a sua foz no rio Guamá, os valores plu- Aurora do Pará e Tomé-Açu oscilam entre 26,0o
temporal (Nimer, 1979; Molion, Kousky, viométricos foram menores quando comparados e 27,0o C, e nos municípios de Ipixuna do Pará,
1981; Santos, Souza, 1986; Fisch et al., com outras estações mais distantes do rio. Mo- Paragominas e Ulianópolis em torno de 26,0o C.
1996), causada por vários sistemas atmos- lion e Dallarosa [1990] apud Fisch et al. (1996), ao A temperatura média mais baixa nos municípios
féricos de macroescala, mesoescala e mi- analisarem os dados pluviométricos de 4 postos ocorre no mês de junho, alcançando em Aurora do
croescala que influenciam nesse compor- próximos à cidade de Manaus, verificaram que os Pará, Tomé-Açu e parte oeste e sudoeste de Ipixu-
tamento. valores pluviométricos anuais de um desses postos na do Pará e Paragominas 26,0o C, e no município
Dentre os sistemas atmosféricos de localizados em uma ilha no rio Negro alcançaram de Ulianópolis e no restante de Ipixuna do Pará e
grande escala têm-se a Alta da Bolívia, 1843mm e no outro, que estava numa localidade a Paragominas 25,0o C.
bastante intensificada nos meses de verão, 100km do rio Negro, alcançaram 2303mm. A temperatura máxima média anual em Ulia-
associada a uma grande convecção sobre a Essas características climáticas da região amazôni- nópolis, sul e sudoeste de Ipixuna do Pará e em
região (Molion, Kousky, 1981), e a Zona ca vão apresentar variações quando passa a se estudar Paragominas está em torno de 33,0o C; no restante
de Convergência Intertropical (ZCIT) mais detalhadamente as unidades administrativas da área desses municípios, Tomé-Açu, com exce-
formada devido à confluência dos alíseos que a compõem, como é o caso do Estado do Pará, ção da parte norte, e o sul de Aurora do Pará entre
de nordeste e de sudeste, a qual está sem- e principalmente quando se fala de municípios, que 32,0o C e 33,0o C; e a parte norte de Tomé Açu e
pre se deslocando entre as latitudes de são as unidades administrativas desta pesquisa. o restante de Aurora do Pará variando de 32,0o C
10o N e 5o S, em direção ao hemisfé- Para a área desta pesquisa, que compreende os a 31,0o C. A temperatura mínima média anual nos
rio que se encontra na estação de verão, municípios de Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, municípios não ultrapassa 21,0o C, e a temperatura
transportando umidade para o oeste e Tomé–Açu, Paragominas e Ulianópolis, e loca- mínima média mais fria acontece no mês de ju-
para o centro da região e alimentando os lizada, portanto, na Amazônia Oriental, faz-se lho, alcançando 19,0o C a 20,0o C em Ulianópolis,
sistemas de mesoescala na parte litorânea
(Nimer,1979; Molion, Kousky, 1981). QUADRO 1 - Discriminação e localização das Estações Pluviométricas
No período de verão, a convecção tro- Estações Coordenadas Geográficas Período
pical, associada à penetração dos sistemas Gurupizinho (Município de Ulianópolis) 03 44’34”S
o
47o 29’52”W 1981 - 2005
frontais na região Sudeste do Brasil, orga- Paragominas (Município de Paragominas) 03o 00’ 36”S 47o 20’35”W 1982 - 2005
niza e forma uma nebulosidade no sen- Tomé-Açu (Município de Tomé – Açu) 02o 25’ 16”S 48o 08’56”W 1983 - 2005
tido NW-SE, que alguns autores como ELABORAÇÃO: Odete C. de O. Santos (2006).

92
Ipixuna do Pará, Paragominas e parte de Tomé- De acordo com os histogramas de chuvas dos das linhas de instabilidade que se formaram de-
Açu, e 20,0o C a 21,0o C no norte de Tomé-Açu municípios de Paragominas, Tomé-Açu e Ulia- vido à brisa marítima e fluvial e ao aquecimento
e município de Aurora do Pará (SUDAM, 1984). nópolis (Ver Mapa de Distribuição de Chuvas), local (ver Figura 1b).
Como esta área está localizada no nordeste e sudes- nota-se que o trimestre mais chuvoso ocorre nos Dentre os municípios em estudo, o de Tomé-
te do Pará, não sofre o fenômeno de “Friagem”. meses de fevereiro, março e abril, confirmando Açu foi aquele que apresentou os maiores valores
As variações de temperatura observadas entre informações de SUDAM (1984) para os meses pluviométricos médios mensais (Tabela 1); crê-se
os municípios são causadas pela posição latitudi- que correspondem ao período das estações de ve- que isso se deve ao fato de estar dentro da área
nal, abaixo da linha do Equador a partir de 2o S, rão e de outono, quando, sobre a região amazô- de convergência de atuação da brisa fluvial do rio
pela variação de altitude, visto que boa parte do nica, tem-se a atuação da ZCIT (ver Figura 1a), Acará-Mirim e, também, por causa do aqueci-
município de Ulianópolis está em torno de 200m, associada às linhas de instabilidades provocadas mento local, enquanto Ulianópolis (Gurupizinho)
enquanto Tomé-Açu e Aurora do Pará estão em pelas brisas marítima e fluvial e pelo aquecimento apresentou os menores valores pluviométricos. Tal
torno de 50m (ver Mapa Hipsometria), e pela co- local. Verifica-se que os meses menos chuvosos comportamento, neste último, deve-se ao fato de
bertura vegetal (ver Mapa de Vegetação), que vão são julho, agosto e setembro, correspondentes à ser menor a influência da convecção causada pelas
influenciar na distribuição da energia solar, por- estação de inverno e início da primavera, quan- linhas de instabilidade; aliás, nota-se que desde ju-
tanto, no aquecimento local. Essas variações de do a ZCIT está no hemisfério norte, portanto, as nho há uma grande queda nos valores pluviomé-
temperaturas são confirmadas quando se observa chuvas nesses municípios acontecem por causa tricos, precipitando apenas 38,1mm.
a distribuição da umidade relativa, que apresenta
uma média anual de 80% a 85% em Aurora do Pará TABELA 1 – Distribuição mensal de chuvas (em mm) nos municípios de
e Tomé-Açu, sudoeste e oeste de Ipixuna do Pará Ulianópolis (Gurupizinho), Paragominas e Tomé-Açu.
e Paragominas, e 75% a 80% em Ulianópolis e no
Meses
restante da área dos municípios de Ipixuna do Pará Estações
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ag Set Out Nov Dez
e Paragominas. Gurupizinho
As chuvas na área de estudo, conforme men- 221,8 227,9 363,7 269,5 118,1 38,1 19,3 12,6 11,9 35,8 60,0 114,5
1981 - 2005
cionado anteriormente, sofrem uma grande varia- Paragominas
223,5 275,4 363,8 344,8 192,9 64,2 27,9 25,9 24,7 31,6 48,1 128,6
bilidade espacial e temporal, principalmente por 1982 - 2005
causa do aquecimento local, da brisa fluvial e pelo Tomé-Açu
298,8 342,4 464,2 406,2 298,3 127,9 79,0 68,9 60,7 92,9 106,7 176,4
comportamento dos fenômenos meteorológicos 1983 - 2005
de macro e mesoescala que regulam a circulação ELABORAÇÃO: Odete C. de O. Santos (2006).
geral sobre a região amazônica.
Conforme SUDAM (1984), os tipos climáticos norte, leste e sul dos municípios de Ipixuna
característicos da área, segundo a classificação cli- do Pará e Paragominas.

bases físicas do espaço geográfico


mática de Köppen, a qual se baseia em dados de De acordo com os valores pluviométricos e a
temperatura e chuvas, são: classificação climática, nota-se que nos municípios
• Af - que se caracteriza por ser um tipo climático de Ipixuna do Pará, Paragominas e Ulianópolis a
tropical úmido (A), uma vez que a temperatura deficiência de água é mais sensível, principalmen-
do mês mais frio não é inferior a 18,0ºC e a te neste último, todavia, pela falta de informações
precipitação média do mês mais seco é igual ou climatológicas mais adequadas relativas à tempe-
acima de 60mm (f). Nesse tipo se inserem os ratura do ar, vento a 2m de altura, temperatura e
municípios de Aurora do Pará e Tomé- Açu; umidade do solo e de radiação solar, não foi pos-
• Aw - que corresponde ao tropical úmido (A), sível determinar-se, com precisão, essa deficiência
com inverno seco e as precipitações do mês visando à exploração agropecuária.
mais seco inferior a 60 mm (w). Esse tipo ca-
racteriza os municípios de Ipixuna do Pará, CONCLUSÃO E SUGESTÃO
Paragominas e Ulianópolis. De acordo com os resultados apresentados para
Ao se levar em consideração a classificação de a área de estudo, a temperatura do ar é mais homo-
Thorntwaite-Mather, que se fundamenta no ín- gênea, com dependência da localização latitudinal,
dice de umidade e na evapotranspiração anual se- da topografia e da cobertura vegetal, conforme se
gundo SUDAM (1984), os tipos climáticos carac- pode verificar entre os municípios de Tomé-Açu e
terísticos dessa área são: Ulianópolis.
• B2 r A’ a’ – tipo climático úmido (B2), com A variação das chuvas é mais sensível, por cau-
pequena ou nenhuma deficiência de água, me- sa da dependência dos movimentos de larga, meso
gatérmico (r), com índice de eficiência térmica e microescalas, que caracterizam a circulação at-
maior que 1144mm (A’) e a concentração da mosférica sobre a área em estudo, tanto no período
eficiência térmica no verão inferior a 48% (a’). chuvoso (dezembro a maio) como no menos chu-
Classificam-se nesse tipo os municípios Auro- voso (junho a novembro).
ra do Pará e Tomé – Açu, parte norte e sudoeste A falta de informações meteorológicas da área
de Ipixuna do Pará e sudoeste de Paragominas. implica uma classificação climática mais apurada,
FIGURA 1- (A) Atuação da Zona de Conver- • C2 r A’ a’ – tipo climático subúmido chuvoso importante para a ocupação e exploração econô-
gência Intertropical sobre o nordeste e sudeste do (C2), com pequena ou nenhuma deficiência mica mais racional.
Pará, implicando a distribuição das chuvas no mês de água, megatérmico (r), com índice de efi- Sugere-se que em Ulianópolis e em Ipixuna do
de março de 2000. ciência térmica maior que 1144mm (A’) e a Pará sejam instaladas estações climatológicas visan-
(B) A presença das linhas de instabilidade asso- concentração da eficiência térmica no verão do fornecer informações que atendam a instalações
ciadas ao aquecimento local, contribuindo para a inferior a 48% (a’). Tipo climático caracte- de projetos agropecuários, distritos industriais, ex-
formação de chuvas no nordeste e sudeste do Pará.
rístico do município de Ulianópolis e da par plorações minerais, conjuntos habitacionais etc.
Julho de 1996.

93
bases físicas do espaço geográfico

94
ORGANIZAÇÃO DA DRENAGEM
organização da drenagem
Pedro Rocha Silva

O
Pará é um dos estados bra- implantação e realização das atividades humanas, alguns fenômenos geológicos e geomorfológicos
sileiros que possui o maior é possível conciliar as atividades socioeconômicas caracterizam bem o padrão de drenagem na área
sistema hidrográfico. Con- com a conservação ambiental. Contudo, o mais estudada, com rios apresentando, ao longo de seu
siderando-se todas as bacias e microbacias importante é que o planejamento ambiental enfa- perfil longitudinal, uma fisionomia descrita como
do Estado, percebe-se a riqueza de sua tiza a relevância do estudo e da avaliação prévios meândrica, principalmente os rios Capim e Guru-
rede de drenagem, porém, há uma sig- do ambiente para a implementação de usos e pro- pi. Como um todo, predominam os rios perenes,
nificativa degradação dos cursos d’água, jetos diversos. não sendo menos importante, porém, a participa-
seja quanto às mudanças no seu regime Partindo dessas premissas, buscou-se identifi- ção dos cursos d’água intermitentes na composi-
fluvial, seja quanto aos aspectos qualita- car e delimitar as bacias hidrográficas – entendidas ção da drenagem.
tivos ou quantitativos que, no geral, são como unidades geográficas –, através da análise Em relação aos conjuntos hidrográficos regio-
desencadeados por ações antrópicas urba- de vários parâmetros das bacias e sub-bacias que nais, o IBGE (2000) identificou, em relação à área
nas, mas também rurais, sobretudo as pri- abrangem os cinco municípios da área de estudo, de estudo, duas unidades: a) Sub-bacias hidrográ-
meiras – já que as cidades, principalmente com intuito de demonstrar e caracterizar a mor- ficas conjugadas do rio Guamá, que compreen-
as que correspondem às sedes municipais, fometria do sistema de Ordenação Fluvial, que, dem a sub-bacia do rio Acará-Mirim (pertencente
concentram parte significativa da popula- segundo Strahler (1986), consiste em estabele- à sub-bacia do rio Acará), a qual banha o municí-
ção paraense, e muitas não possuem infra- cer a classificação e descrever os cursos d’água. pio de Tomé-Açu, e a sub-bacia do rio Capim, que
estrutura urbana (transporte, saneamento O primeiro método utilizado foi o da Hierarquia drena os municípios de Aurora do Pará e Ipixuna
e habitação) que acompanhe o ritmo de Fluvial, proposto por Strahler (1986) em 1952, e do Pará, bem como a porção ocidental de Parago-
crescimento populacional (ver Espaços no qual todo canal sem tributário é considerado minas e a parte oeste de Ulianópolis; b) Bacias hi-
Urbanos). Assim, não existe o cuidado como de primeira ordem. Na confluência de dois drográficas conjugadas do rio Gurupi, que banham
necessário para com a conservação dos segmentos de primeira ordem, forma-se um ca- toda a porção a L do corredor da BR-010 – rodovia
rios, os quais sofrem com o despejo de nal de segunda ordem, o qual se prolonga até se instalada, justamente, no interflúvio entre as bacias
resíduos sólidos, desmatamento, degra- unir a outro canal de segunda ordem, do qual se do Capim e do Gurupi –, mais precisamente a por-
dação na qualidade da água, poluição (físi- origina um de terceira ordem, e assim sucessiva- ção leste dos municípios de Paragominas e Ulia-
ca, química e biológica), assoreamento do mente. Segundo este método, o rio principal de nópolis. Entende-se, a partir de modificação da

bases físicas do espaço geográfico


leito e redução da vazão, fenômenos que uma bacia é o que tem o número mais elevado de classificação do IBGE (2000), que a área de estudo
tornam o canal impraticável para uso. todo o sistema. O segundo método empregado compreende os seguintes conjuntos hidrográficos:
A degradação dos cursos d’água nos foi o da Relação de Bifurcação, definido por Hor- 1- Sub-bacia do rio Acará-Mirim; 2- Bacia do rio
municípios paraenses é, desta forma, um ton (1945) e Strahler (1986) como a relação entre Capim (ou Bacia Guamá-Capim), e 3- Bacia do
alerta para que as administrações mu- o número total de segmentos de certa ordem e o rio Gurupi (ver Mapa de Hidrografia).
nicipais comecem a se interessar pelo número total de segmentos de ordem imediata- O exame da hierarquia fluvial, por sua vez, re-
problema da gestão da água no ambien- mente superior. velou que a grandeza hidrográfica das sub-bacias
te municipal. Neste sentido, a unidade que drenam os municípios em questão compre-
geográfica mais adequada para a gestão HIERARQUIA FLUVIAL ende rios principais de 1ª (primeira) a 6ª (sexta)
dos recursos hídricos é a bacia hidrográfi- ordens (ver Mapa de Hierarquia Fluvial). Não foi
ca. A justificativa decorre da interconexão O sistema hidrográfico das bacias e sub-bacias possível determinar a hierarquia dos rios Acará-
existente entre o sistema de drenagem e da área de estudo apresenta características bastante Mirim, Capim e Gurupi, haja vista que o curso de-
as formas de ocupação do território, o que peculiares, seja no perfil longitudinal e no arranjo les se estende para além da área de estudo, incluin-
gera impactos quantitativos e qualitativos dos tributários, seja na freqüência do fluxo d’agua. do, assim, outras sub-bacias hidrográficas que não
que decorrem da utilização da água. Daí a Os cursos d’agua principais são constituídos de foram consideradas na presente análise.
importância do estudo de bacias nos mu- rios perenes, enquanto os rios intermitentes cons-
nicípios, uma vez que os usuários da água tituem, geralmente, canais de primeira ordem. Pe- RELAÇÃO DE BIFURCAÇÃO
disponível em uma bacia hidrográfica es- las características da situação geográfica, algumas
tão diretamente relacionados, como cau- bacias e sub-bacias possuem tipos de rios conse- A Relação de Bifurcação (Rb = Nu/Nu+1),
sadores e prejudicados, ou ambas as coisas, qüentes, ou seja, aqueles cujo curso foi determi- segundo Strahler (1986), é a proporção existente
aos problemas ambientais que afetam os nado pela declividade da superfície, em geral coin- entre o número de uma ordem dada e o da or-
recursos hídricos. Os usuários localizados cidindo com a direção da inclinação principal das dem imediatamente superior, como demonstra a
à montante irão, necessariamente, impac- camadas. Há, também, os rios subseqüentes, que relação de Bifurcação (Rb) entre os números de
tar os usuários de jusante, em termos da são aqueles cuja direção de fluxo é controlada pela segmentos das principais bacias da área em estudo,
qualidade e da quantidade de água. estrutura geológica, acompanhando sempre uma exposta nos quadros a seguir. A proposição exis-
Cabe às administrações municipais o zona de fraqueza, tal como falha, junta, camada tente entre o número de segmentos de uma ordem
cuidado pelo uso dos recursos hídricos rochosa delgada ou finamente erosivel. Nas áreas dada e os de ordem imediatamente superior se de-
e, por conseguinte, do solo urbano e ru- sedimentares, como é o caso da quase totalidade nomina de Relação de Bifurcação. Os resultados
ral, por meio do planejamento ambiental, da área de estudo, os rios correm perpendiculares dos levantamentos da hierarquia das bacias inseri-
a fim de minimizar a degradação atual e à inclinação principal das camadas. das na área de estudo são mostrados nas Tabelas1 e
prevenir problemas mais sérios. Respei- Na área de estudo, a drenagem foi classificada 2. A análise da Relação de Bifurcação inclui, ainda,
tando as limitações ou a capacidade de como sendo do tipo exórreica, possuindo um padrão a sub-bacia do rio Surubiju, afluente do rio Capim
acolhida apresentada pelo meio físico à de drenagem do tipo dendrítico. Foi percebido que pela margem direita.

95
bases físicas do espaço geográfico

96
97
bases físicas do espaço geográfico
bases físicas do espaço geográfico

98
99
bases físicas do espaço geográfico
bases físicas do espaço geográfico

TABELA 1 - Hierarquia e Relação de Bifurcação das Bacias da área de estudo


Ordem dos Número de Ordem dos Número de
Bacias Rb** Bacias Rb**
Canais Segmentos* Canais Segmentos*

1ª 1.467 1ª 1.389

2ª 274 5,3 2ª 268 5,1

3ª 54 5,0 3ª 52 5,1
Bacia do rio Capim Bacia do rio Gurupi
4ª 10 5,4 4ª 9 5,7

5ª 2 5,0 5ª 2 4,5

6ª 1 2,0 6ª 1 2,0

1ª 434 1ª 691

2ª 98 4,4 2ª 125 5,5

Sub-bacia do rio Acará-Mirim 3ª 21 4,6 Sub-bacia do rio Surubiju 3ª 26 4,8

4ª 5 4,2 4ª 7 3,7

5ª 1 5,0 5ª 1 7,0

* Número de segmentos dos rios pertencentes somente ao trecho da bacia inserido na área de estudo.
** Rb – Relação de Bifurcação.

TABELA 2 – Hierarquia e Relação de Bifurcação (rb) das bacias sem identificação dos rios da área de estudo.
Ordem dos Número de Ordem dos Número de
Bacias Rb** Bacias Rb**
Canais Segmentos* Canais Segmentos*

1ª 123 1ª 98

2ª 25 4,9 2ª 21 4,6

Bacia de 5ª Ordem 3ª 4 6,2 Bacia de 4ª Ordem 3ª 4 5,2

4ª 2 2,0 4ª 1 4,0

5ª 1 2,0

ELABORAÇÃO DAS TABELAS 1 e 2: Pedro Rocha Silva (2007).

100
SOLOS E POTENCIALIDADE AGRÍCOLA
solos e potencialidade agrícola
Pedro Rocha Silva

O
s solos dos cinco municí- TABELA 1 – Extensão das principais classes de solos
pios que abrangem a área CLASSES EXTENSÃO %
de pesquisa constituem AD - SOLOS ALUVIAIS 1.06 0.003
oito unidades cartográficas, as quais com- GA2 - Gleissolos 518.99
preendem as seguintes classes de solos: GD - Gleissolos 45.3
Gleissolo, Latossolo Amarelo, Plintos- GLEISSOLOS TOTAL 564.29 1.54
solo, Podzol Hidromorfico, Podzólico HP - PODZOL HIDROMÓRFICO 17.55 0.05
PA - PODZÓLICO AMARELO 961.73 2.63
Amarelo, Podzólico Vermelho-Amarelo,
PV - PODZÓLICO VERMELHO 649.36 1.77
Solo Petroplíntico e Solo Aluvial.
PT - PLINTOSSOLO 878.73 2.40
Levando-se em consideração o acervo
SP - SOLOS PETROPLÍNTICOS 5897.93 16.12
de informações sobre os recursos naturais LAa5 - Latossolos 3046.59
amazônicos hoje existentes, é possível, a LA - Latossolos (diversos) 24568.76
partir de sua avaliação, traçar linhas mes- LATOSSOLOS TOTAL 27615.35 76.48
tras gerais que possibilitem fazer suges- TOTAL ÁREA DE ESTUDO 36586.00 100.00
tões na tentativa de uma melhor utilização ELABORAÇÃO: Pedro Rocha Silva (2007).
destes recursos, tendo em vista a irrever-
sibilidade de sua ocupação. Assim, com a São solos formados a partir de deposição recente, A unidade mapeada pelo SIPAM-IBGE (2205
ajuda principalmente dos mapas de solos, mal drenados, pouco profundos e de textura argilo- - Base em formato digital) na área de estudo foi a
tornou-se possível selecionar critérios e sa dominante. São constituídos por material mine- do Gleissolo álico e distrófico Tb A moderado tex-
procedimentos metodológicos, descritos a ral, com horizonte glei dentro dos primeiros 50 cm tura argilosa relevo plano (ver Mapa de Pedologia).
seguir. Estas informações foram, em suma, da superfície do solo ou dentro de 50 cm e 125 cm Trata-se de um tipo de solo que sofre fertilização natu-
extraídas de fontes como: Manual Técnico de profundidade, desde que imediatamente abaixo ral pela colmatagem das partículas em suspensão nas
de Pedologia (IBGE, 2005), que se utilizou de horizonte A ou E, ou precedido de B incipien- suas águas. Nele, a saturação e o conteúdo de bases
de fontes bibliográficas diversas, destacan- te, B textural ou C, com presença de mosqueados trocáveis apresentam-se variáveis, sendo normalmen-
do-se: Soil map of the world (1974), da FAO; abundantes com cores de redução. Esses solos são te baixos, e possuem relação com a natureza, a idade

bases físicas do espaço geográfico


Normas e critérios para levantamentos permanente ou periodicamente saturados com dos sedimentos e a qualidade da água que as saturam.
pedológicos (1989), da Embrapa; Soil sur- água, salvo se artificialmente drenados. Caracteri- Estes solos são formados a partir de sedimentos do
vey manual (1993), do departamento de zam-se pela forte gleização, resultante da ação do Holoceno, em áreas planas com ligeiras inclinações
Agricultura dos Estados Unidos; Manual regime de umidade redutora, a qual se processa em para terra firme, sob vegetação de floresta equatorial
Técnico de Pedologia, de Souza (1995); meio anaeróbico, devido ao encharcamento do solo higrófila de várzea.
Procedimentos normativos de levanta- por longo tempo ou durante todo o ano (Embrapa, As áreas ocupadas por gleissolos não são reco-
mentos pedológicos (1995), da Embrapa; 1999 apud Rodrigues et al., 2003). mendadas para uso agrícola intensivo, sendo, por
Manual de descrição e coleta no campo, O processo de gleização resulta da redução e outro lado, indicadas para conservação dos recur-
de Lemos e Santos (1996); Manual para solubilização de ferro, promovendo translocação e sos naturais. Do ponto de vista da ocupação, ocor-
interpretação de análise de solo, de Tomé reprecipitação de seus compostos. Tal fato imprime rem em menor proporção terras com aptidão para
Junior (1997); Manual e métodos de aná- aos solos cores acinzentadas, azuladas ou esverdeadas, culturas de ciclo curto adaptadas às condições de
lise de solo (1997), da Embrapa; Field book devido aos produtos ferrosos, resultantes da escassez de hidromorfismo dos solos (ver Mapa de Aptidão
for describing and sampling soils, de Schoene- oxigênio causada pelo encharcamento. Em condições Agrícola das terras). Incluem-se nesta classe as áre-
berger et al. (1998); Sistema brasileiro de naturais, são mal a muito mal drenados. A seqüência as de várzea. Apresentam limitações à maioria das
classificação de solos (1999), da Embrapa, de horizontes é do tipo A, C, G, ou do tipo A, Bg, Cg, culturas devido ao excesso de água.
além de outros, onde foram conseguidas tendo no horizonte A cores acinzentadas até pretas,
informações quanto às classes de solos dos e no horizonte glei (B ou C) cores acinzentadas e Latossolos Amarelos
municípios da área de estudo. azuladas de cromas baixos (Embrapa, 1999; Estados Os Latossolos Amarelos constituem a uni-
Neste sentido, o presente trabalho re- Unidos, 1994 apud Rodrigues et al., 2003). São dade de maior representação na área estudada.
fere-se à caracterização e ao mapeamento formados de materiais originais estratificados ou não, São, de acordo com Vieira (1988), solos profun-
dos solos dos cinco municípios pesquisa- sujeitos a períodos de excesso de água. Desenvolvem- dos, onde o teor de argila se distribui com li-
dos pelo Atlas, para diagnosticar as suas se de sedimentos recentes nas proximidades dos geiro acréscimo em profundidade. São ácidos a
características e suas potencialidades. cursos d’água e em materiais colúvio-aluviais, sujeitos fortemente ácidos, de boa drenagem, apesar de
a condições de hidromorfismo. Podem apresentar apresentarem, em diversos casos, textura muito
CLASSES DE SOLOS horizonte sulfúrico, cálcio, propriedade solódica ou argilosa. Neles, o teor de argila no horizonte B
caráter sódico (Embrapa, 1999). Vale ressaltar, no varia de 15% a mais de 60%, valores que possi-
Gleissolos entanto, que as características dos Gleissolos estão bilitam a sua classificação em solos de textura
Os Gleissolos são solos hidromórficos, intimamente relacionadas com a composição química média (15% a 35% de argila), de textura argi-
pouco evoluídos, medianamente profun- e mineralógica dos sedimentos que lhes dão origem. losa (35% a 60%) e de textura muito argilosa
dos, extremamente a fortemente ácidos Por isso, podem apresentar-se eutróficos ou distróficos, (+ 60%). Esta argila consiste, dominantemente,
quando distróficos, desenvolvidos sob com argila de atividade alta ou baixa, e, também, com em silicatos de retículos 1:1 (caulinítica) e ses-
grande influência do lençol freático pró- diferentes condições de hidromorfismo, de acordo quióxidos. Possuem cores nos matizes 7,5 YR
ximo à superfície, apresentando cores cin- com o regime de inundação a que estão sujeitas as e 10 YR, com cromas e valores altos, em que
zentadas e neutras subsuperficialmente. áreas de ocorrência desses solos. predomina o amarelo.

101
QUADRO 1 - Classes de aptidão agrícola – Latossolos Amarelos.
As principais características morfológicas e fí-
sicas desses solos são: coloração bruno a bruno- SISTEMA DE MANEJO DESCRIÇÃO
amarelada no horizonte A, e bruno-amarelada a Culturas de ciclo curto e longo, em condições natu-
rais, podem apresentar algum rendimento somente
amarelo-vermelhada no horizonte B. A estrutu-
bases físicas do espaço geográfico

Tradicional nos primeiros anos de sua exploração em conseqüên-


ra varia de fraca pequena e média granular no cia da baixa fertilidade natural e elevada saturação com
horizonte A, e bloco subangular no horizonte B, alumínio.

nos solos de textura média e moderada a for- Esperam-se boas produções com culturas de ciclo cur-
to, durante um período de aproximadamente 10 anos.
te, pequena e média granular no horizonte A e Para culturas de ciclo longo as boas produções podem
forma muito pequena, bloco subangular e angu- Semitecnificado acontecer por um período de aproximadamente 20
lar no horizonte B, dos solos muito argilosos. A anos em decorrência da adoção de práticas de fertili-
zação e calagem razoáveis, que visem melhorar as pro-
consistência varia de duro a muito duro quando priedades químicas destes solos.
seco, friável quando úmido, e ligeiramente plás-
tico a plástico e ligeiramente pegajoso a pegajo- Neste sistema, para estes solos, são requeridos um alto
grau de conhecimentos técnicos e o emprego de capital,
so quando molhado. A textura no horizonte B Tecnificado
que permitam maior rigor no trabalho de corrigir ou
varia de média a muito argilosa, com teores da melhorar as limitações que possam apresentar.
fração argila neste último caso podendo alcançar
ELABORAÇÃO: Pedro Rocha Silva (2007).
até 900 g kg-1 de solo (Falesi, 1972; Rodrigues et
al.,1972, 1974; Embrapa, 1983 apud Rodrigues et Plintossolos simples, pois requer, entre outras coisas, sistema
al., 2003). Os Plintossolos compreendem solos mi- adequado de drenagem e controle do lençol freáti-
Os solos desta unidade são formados, do- nerais formados sob condições de restrição à per- co. Por isso não apresenta aptidão ao aproveitamen-
minantemente, a partir da Pedogeneização da colação de água, sujeitos ao efeito temporário de to atual (ver Mapa de Aptidão Agrícola das terras).
Formação Barreiras, em relevo plano a sua- excesso de umidade, de maneira geral imperfeita-
ve ondulado e ampla cobertura de vegetação mente ou mal drenados, que se caracterizam fun- Podzol Hidromórfico
florestal secundária – testemunho marcante damentalmente pela excessiva plintitização com Esta unidade também possui extensão bem res-
da ação antrópica devida aos interesses e pre- ou sem petroplintita ou horizonte litoplíntico. São trita na área de estudo, que Vieira (1988) descreve
textos de colonização. Como variação desta solos que podem apresentar horizonte B Textu- como constituída por solos com B podzol, sob o
unidade, ocorre uma diversificação morfoló- ral sobre ou coincidente com horizonte plíntico, qual assenta um horizonte A extremamente la-
gica nos solos mapeados pelo SIPAM-IBGE na ocorrendo, também, solos com horizonte B in- vado (A2). São hidromórficos, bastante arenosos,
área de estudo, conforme descrito na legenda cipiente, B latossólico, horizonte glei e solos sem bem diferenciados, profundamente ácidos, com
do Mapa de Pedologia. horizonte B. São diferenciados, tendo seqüência baixa saturação de bases e alta saturação com alu-
Quanto às possibilidades de uso, afirmam Ro- de horizontes A, Btf ou Bwf ou Bif ou Bf, C ou Cf. mínio. As características morfológicas destes solos
drigues et al. (2003) que os Latossolos, por apre- Há um predomínio de cores claras com ou sem são: textura arenosa ao longo do perfil; presença de
sentarem características químicas desfavoráveis mosqueados de cores alaranjadas e vermelhas ou horizonte A2 de coloração esbranquiçada ou cin-
à agricultura, necessitam de correção, principal- colorações variegadas do horizonte plíntico. Este za-claro; horizonte B com acumulação de húmus
mente em relação à acidez elevada e aos teores (horizonte plíntico) apresenta cores acinzentadas e sesquióxidos de ferro e alumínio, normalmente
elevados de alumínio extraível, assim como para até amarelo-claras, com ou sem mosqueados pre- dividido em Bh e Bir.
elevar o conteúdo de nutrientes essenciais ao dominantemente vermelhos ou coloração variega- Para Vieira (1988), são solos de baixa fertilidade
desenvolvimento das plantas cultivadas. Essas da composta de vermelho com uma ou mais das natural que possuem drenagem imperfeita ou má,
características limitantes são facilmente corri- cores anteriores (Embrapa, 1999; Rodrigues et al.; representando rápida permeabilidade no horizonte
gidas com aplicação de corretivos e fertilizantes 2003). A e lenta ou impedida no horizonte Bx, o que pro-
químicos e orgânicos, a fim de elevar a concen- Estes solos, na área de estudo, apresentam-se voca encharcamento do perfil na época chuvosa.
tração e a capacidade de retenção de nutrientes numa área bem restrita, na qual foi indicada pelo Trata-se de solos desenvolvidos sobre sedimentos
nos solos. Com relação às propriedades físicas, SIPAM-IBGE a presença do Plintossolo álico e arenosos do Terciário Superior, em relevo plano
Rodrigues et al. (2003) recomendam que para os distrófico Ta A moderado textura média, argilo- a suave ondulado sob vegetação de campinaranas
Latossolos Amarelos, apesar de não apresenta- sa média/argilosa relevo plano e suave ondulado ou campinas. No mapeamento do IBGE (2005),
rem restrições ao uso agrícola intensivo, devem (ver Mapa de Pedologia). Segundo Coleman e este solo foi classificado como Podzol Hidromór-
ser adotadas práticas de manejo e conservação Thomas (1967) apud Rodrigues et al (2003), este fico álico A fraco + Areia Quartzosa Hidromórfica
do solo, com vistas à perda de solo e nutrien- solo está em função de intemperismo extremo e álica A moderado, ambos em relevo plano.
tes em função da erosão hídrica resultante dos intensa lixiviação, acrescidos pela pobreza do ma-
elevados índices pluviométricos que ocorrem na terial de origem. Encontra-se esgotado de muitas Podzólico Amarelo e Vermelho-Amarelo
estação mais chuvosa. de suas bases trocáveis, sendo os sítios de troca e Segundo Vieira (1988), correspondem a uma
Estes solos, quanto à aptidão agrícola, estão a solução do solo dominados pelo H+ e Al+++ unidade constituída de solos bem desenvolvidos,
enquadrados na classe de aptidão BOA para extraível. A fertilidade natural dos referidos solos bem drenados, normalmente ácidos, que contêm
lavoura, no nível de manejo C; REGULAR está condicionada à soma de bases do perfil, que um horizonte A fraco ou moderado sobre um
no nível de manejo B; e RESTRITA no ní- é muito baixa, decrescendo com a profundidade, horizonte B com concentração de argila de baixa
vel de manejo A. Portanto, incluem-se nesta parecendo originar-se da mineralização da matéria atividade. Neles, portanto, o horizonte A1 assenta
classe as áreas que apresentam relevo plano e orgânica. A saturação de bases trocáveis é inferior a sobre um horizonte A2 ou sobre um A3, o qual re-
suave ondulado, solos profundos, bem drena- 50%, enquadrando-os na classe dos solos distrófi- pousa sobre um horizonte B vermelho-amarelo ou
dos, de baixa fertilidade natural, classificados cos (Embrapa, 1999; Rodrigues et al., 2003). amarelo, contendo argila, na sua maioria, iluvial.
como Latossolo Amarelo Distrófico coeso, e Para Rodrigues et al. (2003), os plintossolos, pela São normalmente distróficos, portanto, de baixa
Distrófico típico com textura média, argilosa sua situação na paisagem e devido às suas caracte- fertilidade natural, que aparecem, por vezes, tam-
e muito argilosa. As classes de aptidão agrícola rísticas físicas, estão sujeitos a encharcamentos pe- bém com fertilidade de média a alta (eutróficos);
para esta unidade de solo estão descritas no riódicos, o que limita sua utilização na agricultu- apresentam textura que pode ir de média a mui-
Quadro 1. Ver, também, o Mapa de Aptidão ra sem uso de práticas de drenagem para remoção to argilosa. Apesar disso, convém lembrar, aqui, a
Agrícola das terras. do excesso de água. O manejo destes solos não é existência de solos com menos de 15% de argila

102
no horizonte B e com relação textural superior a 1999). As classes de aptidão agrícola para esta uni- 1982) sob vegetação de floresta aluvial. No mapea-
1,8 que necessitam ser considerados dentro desta dade de solos estão descritas no Quadro 2. mento do SIPAM-IBGE, este solo foi classifica-
unidade. do como Solo Aluvial distrófico Tb A moderado
Como principais características morfológicas Solos Aluviais textura arenosa e arenosa/média relevo plano (ver
destes solos encontrados na área de estudo, podem São solos pouco desenvolvidos, moderados a Mapa de Pedologia).
ser citadas: diferença textural marcante entre A e mal drenados, pouco profundos, normalmente ar- O manejo destes solos é simples, pois requer
B; transição gradual, e por vezes difusa, entre os gilosos, de cores acinzentadas, moderados a bem um sistema adequado de drenagem e controle do
horizontes; horizonte B1 moderadamente estrutu- intemperizados e sem diferenciação de horizontes lençol freático. Possui fortes limitações ao uso de
rado contendo blocos subangulares e/ou angula- (Brasil, 1973). Segundo Silva (1989), pode apre- máquinas agrícolas devido ao excesso de água, in-
res; e presença de filmes de argila no horizonte B. sentar propriedade muito variável devido ao seu fluência esta que se faz mais marcante durante os
A análise destes solos demonstra que eles possuem desenvolvimento em sedimentos do Holoceno. períodos chuvosos. Esta prática deverá ser bem di-
soma, total e saturação de bases baixa. Como nos São encontrados ao longo dos rios e igarapés, em recionada, de maneira que eles fiquem em nível
demais solos da região, a capacidade de troca ca- várzeas ou terraços formados por sedimentos re- adequado às culturas. A aptidão agrícola destes so-
tiônica dos horizontes superficiais é significativa- centes ou sub-recentes e inclui solos que sofrem los é mostrada no Quadro 3. Ver, também, o Mapa
mente dominada pelo teor de matéria orgânica. Os inundações periódicas ou que estiverem sujeitos a de Aptidão Agrícola das terras.
tipos de solo mapeados pelo SIPAM-IBGE para inundações. Por se tratarem de solos jovens, não
esta unidade na área de estudo estão descritos na apresentam desenvolvimento de perfil e diferen- SOLOS PETROPLÍNTICOS
legenda do Mapa de Pedologia. ciação de horizontes. Normalmente possuem um
Estes solos estão associados aos solos petroplín- horizonte superficial escuro, resultante de ativi- A Petroplintita é um material proveniente da
tico e plíntico, que apresentam um arranjo de cores dade biológica, abaixo da qual está o material pri- plintita, que, em condições de ressecamento acen-
vermelhas e acinzentadas ou brancas, com ou sem mitivo, cuja textura varia em conformidade com o tuado, sofre consolidação vigorosa, dando lugar à
cores amareladas ou brunadas, formando um pa- regime e a velocidade da água que provoca a depo- formação de nódulos ou concreções ferruginosas
drão reticulado, poligonal ou laminar. O horizonte sição do material. (ironstones, concreções lateríticas, cangas, tapa-
plíntico usualmente apresenta argila de atividade Os solos aluviais, no novo Sistema Brasileiro de nhoacangas) de dimensões e formas variadas (lami-
baixa, com relação molecular Ki entre 1,20 e 2,20; Classificação de Solos (Embrapa, 1999) possuem nar, nodular, esferoidal ou irregular), individuali-
entretanto, tem sido constatada também argila de outra nomenclatura – Neossolos Flúvicos, que são zadas ou aglomeradas, podendo mesmo configurar
atividade alta nestes horizontes. O horizonte plín- derivados de sedimentos aluviais com horizonte A camadas maciças, contínuas, de espessura variável
tico também se forma em terrenos com lençol freá- assentado sobre horizonte C constituído de cama- (Sys [1967], Daniels et al. [1978] apud IBGE, 2005).
tico alto, ou que, pelo menos, apresente restrição das estratificadas, sem relação pedogenética entre A plintita é uma formação constituída de mistura
temporária à percolação da água. Regiões de clima si, apresentando ambos um dos seguintes requisi- de argila, pobre em húmus e rica em ferro, ou ferro
quente e úmido, com relevo plano a suave ondu- tos: decréscimo irregular do conteúdo de carbono e alumínio com quartzo e outros materiais. Ocorre

bases físicas do espaço geográfico


lado, de áreas baixas, depressões, baixadas, terços orgânico em profundidade, dentro de 200 cm da em geral sob a forma de mosqueados vermelhos e
inferiores de encosta, áreas ressurgentes, favore- superfície do solo; e/ou camadas estratificadas em vermelho-escuros, com padrões usualmente lami-
cem o desenvolvimento de horizonte plíntico ao 25% ou mais do volume do solo, dentro de 200 cm nares, poligonais ou reticulares.
permitir que o terreno permaneça saturado com da superfície do solo (Embrapa, 1999). São solos Quanto à gênese, a plintita se forma pela segre-
água durante uma boa parte do ano, com flutuação de fertilidade média a alta, normalmente eutrófi- gação de ferro em ambiente redutor, importando
do lençol d’água alto ou por estagnação da água de- cos, encontrados em relevo plano e microrrelevo em mobilização, transporte e concentração final
vido à percolação restringida ou impedida (Embrapa, de estrias e depressões locais alongadas (Santos, dos compostos de ferro que podem se processar
em qualquer solo onde o teor de ferro for sufi-
QUADRO 2 - Classes de aptidão agrícola – Podzólico Amarelo e Vermelho-Amarelo. ciente para permitir sua segregação, sob a forma de
SISTEMA DE MANEJO DESCRIÇÃO manchas vermelhas brandas. A plintita não endu-
Culturas de ciclo curto e longo, em condições natu- rece como resultado de um único ciclo de umede-
rais, podem apresentar algum rendimento somente
Tradicional nos primeiros anos de sua exploração em conseqüên-
cimento e secagem. Depois de uma única secagem,
cia da baixa fertilidade Natural e elevada saturação com ela re-umedece e pode ser dispersa em grande par-
alumínio. te por agitação em água com o agente dispersante.
Esperam-se boas produções com Culturas de ciclo No solo úmido a plintita é suficientemente macia,
curto, durante um período de aproximadamente 10
anos. Para culturas de ciclo longo as boas produções podendo ser facilmente cortada com a pá.
Semitecnificado podem acontecer por um período de aproximadamen- A plintita é um corpo distinto de material rico
te 20 anos em decorrência da adoção de práticas de fer-
em óxido de ferro e pode ser separada das concre-
tilização e calagem razoáveis, que visem melhorar as
propriedades químicas destes solos. ções ferruginosas consolidadas (petroplintita), que
Neste sistema, para estes solos, são requeridos um alto são extremamente firmes ou extremamente duras.
grau de conhecimentos técnicos e o emprego de capital A plintita é firme quando úmida e dura ou mui-
Tecnificado
que permitam maior rigor no trabalho de corrigir ou
melhorar as limitações que possam apresentar. to dura quando seca, tendo diâmetro maior que
2 mm, podendo ser separada da matriz, isto é, do
QUADRO 3 - Classes de aptidão agrícola – Solos Aluviais. material que a circunda. Suporta amassamentos e
SISTEMA DE MANEJO DESCRIÇÃO rolamentos moderados entre o polegar e o indica-
Para as culturas de ciclo curto podem apresentar bons dor, podendo ser quebrada com a mão. Quando
resultados desde que sejam respeitadas as normas ade- submersa em água por espaço de duas horas, não
Tradicional
quadas ao manejo destes solos. Para a grande maioria
das culturas de ciclo longo eles tornam-se inviáveis de- esboroa, mesmo submetida a suaves agitações pe-
vido ao teor de umidade em condições naturais. riódicas, mas pode ser quebrada ou amassada após
Culturas de ciclo longo tornam-se inviáveis em condi- ter sido submersa em água por mais de duas ho-
Semitecnificado ções naturais e as de ciclo curto estão sujeitas a ligeiras
limitações para uma produção agrícola. ras. Suas cores variam entre matizes 10R e 7,5YR,
Neste sistema as limitações são muito fortes ao uso de estando comumente associadas a mosqueados que
Tecnificado máquinas agrícolas, as quais podem inviabilizar o uso não são considerados plintitas, como os bruno-
dos solos para culturas de ciclo curto.
amarelados, vermelho-amarelados ou corpos que
ELABORAÇÃO DOS QUADROS 2 e 3: Pedro Rocha Silva (2007).

103
bases físicas do espaço geográfico

104
105
bases físicas do espaço geográfico
bases físicas do espaço geográfico

são quebradiços ou friáveis ou firmes, mas de- nidas cinco classes de aptidão agrícola para os mu- • Classe 2 (a)bc – classe de aptidão REGULAR
sintegram-se quando pressionados pelo polegar e nicípios de abrangência da pesquisa, utilizando-se para lavouras nos níveis de manejo B e C, e RES-
pelo indicador e esboroam na água (Daniels et al., a metodologia estabelecida por Ramalho Filho e TRITA no nível de manejo A. Incluem-se nesta
[1978] apud IBGE, 2005). Beeck (1995) e trabalhos realizados pela Embrapa classe as áreas que apresentam relevo plano e
A presença de concentrações de ferro imedia- Amazônia Oriental (Silva et al, 1999, Valente et al., suave ondulado, solos profundos, bem drena-
tamente acima da zona do horizonte plíntico pode 2001; Silva et al., 2003), conforme demonstrado na dos, de baixa fertilidade química, classificados
ser uma comprovação de plintita no perfil, eviden- Tabela 2, com sua respectiva quantificação. taxonomicamente como Latossolo Amarelo
ciando, desse modo, o final do processo de ume- Álico, identificados no mapa de solos pelos
decimento e secagem nestes pontos. Este processo Classes de aptidão agrícola símbolo LAa5. Constituem a unidade de maior
é acelerado quando o material é exposto em trin- • Classe 1 (a)bc – classe de aptidão BOA para representação na área estudada, e são, segun-
cheiras, valas ou cortes de estrada antigos, sendo, lavouras no nível de manejo C, REGULAR do Vieira (1988), solos onde o teor de argila se
neste caso, características diagnósticas (Embrapa, no nível de manejo B, e RESTRITA no nível distribui com ligeiro acréscimo em profundi-
1999). de manejo A. Incluem-se nesta classe as áreas dade. São ácidos a fortemente ácidos, apesar
que apresentam relevo plano, solos profun- de apresentarem muitas vezes textura bastante
APTIDÃO AGRÍCOLA DAS TERRAS dos, bem drenados, de baixa fertilidade quí- argilosa. Possuem poucas limitações ao empre-
mica classificados como Latossolos Amarelos go de máquinas e implementos agrícolas e não
A avaliação da aptidão agrícola resulta do estu- Distróficos. Não apresentam limitações ao contêm riscos de susceptibilidade à erosão. A
do das propriedades morfológicas, físicas e quí- emprego de máquinas e implementos agríco- área total de terras, com esta classe de aptidão
micas presentes nos levantamentos pedológicos, las e nem riscos de susceptibilidade à erosão. agrícola, é de 3046,59 km2, o que corresponde
que irão fornecer os parâmetros necessários para A área total das terras, com esta classe de apti- a 8,33 % da área dos municípios.
a determinação dos fatores limitantes a que estes dão agrícola, é de 24586,76 km2, o que corres- • Classe 4p – classe de aptidão REGULAR
solos estão sujeitos (Silva et al., 2003). Foram defi- ponde a 67,15 % dos municípios. para pastagem plantada. Incluem-se, nesta

TABELA 2 - Identificação e Quantificação das Classes de Aptidão Agrícola das Terras

Símbolos das Classes de aptidão Quantificação


classes de aptidão agrícola área Km2 (%)

Áreas correspondentes à classe de aptidão BOA para


24568.76
1(a)bc lavoura no nível de manejo C, REGULAR no nível de
(67.15)
manejo B e RESTRITA no nível A.

Áreas correspondentes à classe de aptidão REGULAR


3046.59
2(a)bc para lavoura no nível de manejo B e C, e RESTRITA
(8,33)
no nível A.

Classe de aptidão REGULAR para o nível de manejo 6776.66


2bc
B e C. (18.52)

Terras pertencentes à classe de aptidão REGULAR 1611.09


4p
para pastagem Plantada. (4.4)

Não possuem aptidão para uso agrícola. São indicadas 582.9


6
para preservação ambiental. (1.59)

36586
TOTAL
(100)

ELABORAÇÃO: Pedro Rocha Silva (2007).

106
classe, as áreas que apresentam relevo suave mentos agrícola, assim como susceptibilidade Níveis de Manejo
ondulado e ondulado, com declividade entre à erosão. A área total de terras com esta classe • Nível A – baseado em práticas agrícolas que
3% e 15%, solos mediamente profundos, bem de aptidão agrícola é de 6776,66 km2 , o que refletem baixo nível tecnológico. As práticas
drenados, de baixa fertilidade química, com corresponde a 18,52 % da área dos municí- agrícolas estão condicionadas, principalmen-
grande concentração de concreções ferrugi- pios. te, ao trabalho braçal e à tração animal.
nosas, classificados taxonomicamente como • Classe 6 – classe de aptidão inapta para uso • Nível B – baseado em práticas agrícolas que
Podzólicos Amarelo e Vermelho-Amarelo, agrícola. As áreas com esta classe devem ser des- refletem nível tecnológico médio. Caracteri-
com caráter fortemente distrófico e concre- tinadas à preservação ambiental. Incluem-se, za-se pela aplicação modesta de capital e de
cionário. Apresentam fortes limitações ao em- aqui, as áreas que apresentam relevo plano, resultados de pesquisas para manejo, melho-
prego de máquinas e implementos agrícolas, solos hidromórficos, de textura argilosa, de ramento e conservação das condições do solo
bem como riscos moderado e forte de suscep- baixa fertilidade química, que ocorrem sob e das lavouras. As práticas agrícolas estão con-
tibilidade à erosão. A área total de terras, com vegetação de floresta higrófila de várzea, clas- dicionadas, principalmente, ao trabalho braçal
esta classe de aptidão, é de 1611,09 km2, o que sificados taxonomicamente como Gleissolo e ao uso de máquinas e implementos agrícolas
corresponde a 4,4 % dos municípios. Álico Distrófico típico e Neossolo (Aluvial) simples.
• Classe 2bc – classe de aptidão REGULAR Distrófico típico, identificados pelos símbolos • Nível C – baseado em práticas agrícolas que
para o nível de manejo B e C. Incluem-se nesta Ga1 e Ad1, respectivamente. Inclui, também, refletem alto nível tecnológico. Caracteriza-se
classe áreas que apresentam relevo suave ondu- o Podzol Hidromórfico. Não apresentam ris- pela aplicação intensiva de capital e de resulta-
lado, solos profundos, bem drenados, de baixa cos de erosão, porém são impróprios para uso dos de pesquisas para manejo, melhoramento
fertilidade natural, classificados como Petro- de máquinas e implementos agrícolas. A área e conservação das condições do solo e das la-
plíntico e Plíntico de textura média e muito total de terras, com esta classe de aptidão, é de vouras. As práticas agrícolas estão condiciona-
argilosa cascalhenta. Apresentam moderado 582,9 km2, o que corresponde a 1,59 % dos das ao uso de máquinas e implementos agrí-
impedimento ao uso de máquinas e imple- municípios. colas modernos.

bases físicas do espaço geográfico


QUADRO 4 - Classes de aptidão agrícola e Tipos de Utilização

Tipo de utilização

Classes de aptidão
Lavoura nível Pastagem nível Silvicultura nível Pastagem natural
agrícola
de manejo de manejo de manejo nível de manejo

A B C B
B A

lb3 A B C P S N

Regular a b e P S n

Restrita (a) (b) (e) (P) (s) (n)

Não recomendada
ELABORAÇÃO: Pedro Rocha Silva (2007).

107
bases físicas do espaço geográfico

108
109
bases físicas do espaço geográfico
Elementos da
Biodiversidade
COBERTURA VEGETAL
cobertura vegetal
Samuel Soares de Almeida • Antonio Sérgio Lima da Silva • Ingrid Cristina Borralho da Silva
elementos da biodiversidade

O
presente relatório tem por CONTEXTUALIZAÇÃO Prance (1985), Almeida et al. (1993), na florística,
objetivo apresentar as in- fitogeografia e botânica; Falesi (1975), sobre os
formações, análises e dados Em termos regionais, a cobertura vegetal ori- solos da região; Ab Saber (1982) na caracterização
sobre vegetação e flora obtidas durante ginal na área de estudo pertence ao domínio da geomorfológica; Absy (1982) e Hammen (1982)
três campanhas realizadas aos municí- floresta ombrófila densa submontana, de acordo sobre aspectos da evolução paleoclimática; Haffer
pios Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, com a classificação do Projeto Radambrasil (1974), (1982) sobre a zoogeografia de aves; Sioli (1984),
Paragominas, Tomé-Açu e Ulianópolis. ou floresta densa de terra firme, de acordo com que deixou um legado ímpar sobre o conhecimen-
Os resultados da pesquisa permitiram Pires (1973). Há, também, florestas de terras bai- to das águas interiores da Amazônia; Whitmore e
mapear a atual cobertura do solo e como xas, várzeas e igapós, além de considerável área de Prance (1987), que reuniram excelente conteúdo
se deu sua involução ao longo do tempo. florestas secundárias ou capoeiras (cerca de 70% sobre a diversificação e biogeografia da região.
Isso permitirá observar como ocorreu a do total). As florestas de terra firme vegetam sobre O inventário florístico e as análises fitossocio-
ocupação recente desta área de estudo, solos pobres em nutrientes, com textura varian- lógicas, por sua vez, são um valioso instrumento
seus impactos ambientais, econômicos do de arenosa até muito argilosa. O relevo é re- utilizado para catalogar a riqueza florística de um
e sociais. Por certo permitirá aos órgãos lativamente plano, com pequenas ondulações dos determinado local. Por meio de seus dados é pos-
governamentais, entidades privadas e planaltos dissecados de baixos platôs. Constituem sível estimar parâmetros fitossociológicos, como
sociedade em geral orientarem tomadas o tipo florístico com maior representatividade na riqueza florística, abundância, freqüência e domi-
de decisões visando à implementação de Amazônia, totalizando, aproximadamente 3,3 mi- nância. Permite, também, a detecção de espécies
políticas e ações voltadas a minimizar, lhões de km2 (Pires, 1973). raras, ameaçadas e endêmicas, bem como a lista-
resolver e evitar problemas relacionados Existe razoável corpo de informações científicas gem de espécies úteis para o homem e animais sil-
com o meio ambiente, saúde, educação e disponível na literatura sobre a vegetação e o meio vestres.1
socioeconomia. físico da Amazônia Oriental e, especialmente, da
Este texto tem como objetivos: área de estudo do Atlas, embora se reconheça que METODOLOGIA
• Informar os resultados dos estudos muito conhecimento adicional precisa ser gerado.
florísticos e análises fitossociológi- Pode-se realçar que nos últimos anos aspectos dos Campanhas e Metadados dos Inventários
cas em diversos ambientes naturais e ecossistemas da Amazônia Oriental, e em particu- Foram realizadas três campanhas no período de
antropizados, nos cinco municípios lar desta área, tiveram um elevado incremento no 01 de outubro de 2004 a 28 de julho de 2005, sen-
da área de estudo. nível de informação, especialmente temas como do visitados locais dos municípios de Paragomi-
• Caracterizar estrutural e floristica- solos, geomorfologia, hidrologia, limnologia, geo- nas e Ulianópolis, Tomé-Açu, Aurora e Ipixuna do
mente os tipos de vegetação existen- logia, biogeografia, paleoecologia e ecologia. Pará (ver Mapa de Campanhas de campo).
tes na área de estudo. Diversos autores contribuíram e vêm con-
• Disponibilizar os dados gerais sobre tribuindo, em escala regional para a Amazônia Seleção dos Locais de Amostragem
os locais inventariados, incluindo Oriental, com o incremento do conhecimento Percorreu-se parte dos municípios de Parago-
metadados e dados originais dos in- científico em diversas áreas, como Campbell e minas e Ulianópolis para escolher as áreas a serem
ventários. Hammond (1989), Daly e Prance (1989), Pires e inventariadas, com base na representatividade da

1 Grande parte do conteúdo deste relatório é constituída de informações secundárias geradas pelo responsável pelo componente vegetação, Samuel Almeida, que atuou no diag-
nóstico da vegetação de outros empreendimentos na área, como a Pará Pigmentos S.A. e Imerys Rio Capim Caulim.

112
vegetação e do acesso. Levou-se em consideração O número de indivíduos varia conforme a clas- Registro de dados
a unidade de paisagem integrada, incluindo a fi- se de tamanho. Geralmente ele aumenta de acordo Após a marcação da linha base central, inicia-
sionomia vegetal (estrutura, porte, arquitetura da com a diminuição do tamanho das plantas. Como ram-se os inventários florísticos. Todas as plantas
copa, do dossel etc.), relevo ou geomorfologia e há uma relação positiva entre abundância e riqueza, tiveram o seu DAP (diâmetro à altura do peito,
o tipo de solo. Todos os pontos e estradas vicinais espera-se que assembléias mais densas apresentem medida a 1,3 m do solo) e a altura total medidos.
foram georreferenciados. Evitou-se alocar a amos- mais espécies, daí o aumento do esforço amostral Além disso, foram registrados os hábitos vegeta-
tra nas seguintes situações: a) seguindo trilhas pre- nas classes de plantas com menores tamanhos indi- tivos ou formas de vida (erva, arbusto, arvoreta,
existentes; b) locais muito próximos dos acampa- viduais. Na Tabela 1, pode-se observar que foram árvore, palmeira, epífita, hemiepífita, liana e tre-
mentos (1 km de distância); c) somente num lado fixados 75 indivíduos para a classe I, 50 para as clas- padeira). A nomenclatura vegetacional aqui apre-
da trilha, e d) iniciar a amostragem muito próxima ses II e III e 100 para as árvores de maior porte. sentada segue aquela adotada pelos compêndios
da trilha principal (50 m de distância). Sugere- As larguras das faixas de amostragem, ou transec- do Radambrasil e posteriormente modificada por
se, neste sentido, que a amostra siga uma direção tos, também foram variáveis de acordo com a classe Veloso et al. (1991) e IBGE (1993). Ao lado da no-
perpendicular ao relevo para incluir o máximo de de tamanho. Na classe I as plantas foram amostradas menclatura técnica está grafada, em itálico, a deno-
variação possível. numa faixa de 1 m, na classe II numa faixa de 2 m, minação popular regional.
Em Tomé-Açu, a pesquisa foi conduzida ao lon- na classe II numa faixa de 4 m e nas classes IV e V,
go da PA-256, georreferenciando-se de 5 em 5 km as plantas foram inventariadas numa faixa de 10 m CARACTERIZAÇÃO DAS
as diferentes formas de uso da terra em ambas as de largura. As subamostras das classes de menor ta- FITOPAISAGENS DA ÁREA DE ESTUDO
margens da PA, caracterizando a tipologia vegetal manho podem ser subdivididas. As classes I, II e III
e os sistemas agrossilviculturais (SAF’s) existentes podem ser segmentadas de 5 em 5 m, enquanto as Florestas Ombrófilas Densas de
(Anexo 1). Em Ipixuna e Aurora do Pará foram classes IV e V podem ser segmentadas de 10 em 10 Terras Firmes
visitados locais que englobavam grande parte da m. As informações sobre as classes de tamanho estão Na área de estudo existem, pelo menos, duas
variação de ambientes, especialmente as florestas na Tabela 1. E, por fim, à medida que a quantidade de feições de florestas ombrófilas densas. A primeira
de terra firme densas, capoeiras e áreas inundáveis. plantas pré-fixadas ia sendo alcançada, registrou-se o e predominante são as florestas ombrófilas densas
Tivemos como base, em Ipixuna, a sede da Imerys comprimento total de cada subamostra, desde a sua submontanas, que crescem sobre relevo de planal-
Rio Capim Caulim, e em Aurora ficamos hospe- origem até o ponto onde incluir a última planta. to dissecado, com ravinas que realçam o terreno,
dados na Fazenda São Marcos, de propriedade do drenagem escassa, solos profundos, principalmente
ator Tarcísio Meira, na divisa com o município de TABELA 1 – Classes de tamanho dos indiví- latossolos de textura mais argilosa e ácidos. As
Capitão-Poço. duos da vegetação a serem inventariados outras são as florestas ombrófilas densas de terras
Largura baixas, que vegetam até aproximadamente 100m
Classe No indi-
Delineamento dos Inventários Florísticos Tamanho
Hábitos da Faixa
víduos
de altitude e se caracterizam pelo relevo plano en-
(m)
(IF´s) e Pontos de Observações (PO´s) trecortado pela drenagem e baixios alagadiços, la-

elementos da biodiversidade
Ervas,
- Inventários Florísticos subarbustos,
tossolos areno-argilosos e também ácidos.
I 1 75
Adotou-se o método de avaliação rápida desen- palmeiras de As florestas de terra firme na Amazônia apre-
volvida pela Conservação internacional (CI) de- sub-bosque sentam elevada diversidade, especialmente do
nominado RAP (Rapid Assessment Program), que Arbustos, componente arbóreo. A diversidade de árvores na
II 2 50
arvoretas
permite o registro expresso de dados com razoável Amazônia pode variar de 120 a 280 espécies por
III Arvoretas 4 50
grau de confiabilidade, eficiência e eficácia. IV Árvores 10 100 hectare (Almeida et al., 1993), apesar de apresen-
O tamanho da amostra varia de acordo com o Epífitas, lianas, tarem uma fisionomia bastante homogênea. A
V 10 Presença
porte do estrado vegetal inventariado. Inicialmen- hemiepífitas origem desta diversidade pode ser explicada por
te é marcada uma linha base central que serve de ELABORAÇÃO: Os autores (2004). diferentes eventos de vicariância ao longo do tem-
referência para o caminhamento na floresta. No po geológico, formação geológica, pluviosidade,
geral as amostras apresentam largura variando de - Pontos de Observações (POS´s) altitude, dentre outras fontes de variação (Gentry,
1 a 10 m. No transecto foram registradas infor- Para amostragem qualitativa da vegetação não 1982).
mações físicas e estruturais do ambiente, como as lenhosa ou subarbustiva, foi adotada uma modi- Esta diversidade é uma característica básica das
coordenadas geográficas, tipo de solo (grupo taxo- ficação da metodologia desenvolvida pela TNC florestas amazônicas, envolvendo uma riqueza
nômico e textura), altura do dossel, presença ou (2000), baseada em Pontos de Observação (PO´s). econômica formidável em madeira, fármacos, fi-
não de cipós, palmeiras, emergentes etc. Os Pontos de Observações são amostras rápidas, bras, alimentos para o homem e para a fauna. Além
A amostra segue um delineamento flexível e expeditas, próprias para avaliação ecológica rápida disso, as árvores, em seu conjunto, prestam ser-
pode ser decomposta em diversas subamostras, ou RAP´s, onde são registradas todas as plantas viços ambientais essenciais, como a regulação dos
de acordo com a classe de tamanho das plantas. num raio de 50 m. Além das espécies, foram re- ciclos nutrientes e hidrológico da floresta, ameni-
É fixado um número predeterminado de indiví- lacionadas as classes de freqüência ou ocorrência, zação do clima, seqüestro de carbono e manuten-
duos por classe de tamanho, variando de 50 a 100 como abundante, comum, ocasional ou rara. ção da fauna.
indivíduos, dependendo da abundância e riqueza Foram registradas todas as formas de vida das plan- Este é o tipo de vegetação predominante na
específica. As classes de tamanho ou hábitos esco- tas, discriminando-as em árvores, arbustos, ervas, es- Amazônia. As florestas de terra firme somam algo
lhidos foram as seguintes: tipes de palmeiras, lianas ou cipós e epífitas. Árvores em torno de 3,3 milhões de km², sendo que as flo-
• Classe 1: Ervas, subarbustos, palmeiras de e arbustos são vegetais lenhosos. Árvores têm troncos restas densas de terra firme totalizam cerca de 2,2
sub-bosque, DAP < 2,5 cm; livres, enquanto arbustos ramificam desde a base. Er- milhões de km². Estão distribuídas em toda a bacia
• Classe 2: Arbusto e arvoretas, DAP entre 2,5 vas são vegetais não lenhosos, terrestres ou aquáticos; amazônica, geralmente associadas às planícies de
e 5,0 cm; lianas ou cipós são vegetais escandentes que vivem e terras baixas (até 1 m de altitude), podendo ocor-
• Classe 3: Arvoretas e regeneração natural, crescem sobre um suporte, mas o sistema de raízes rer também em relevo submontanhoso.
DAP entre 5,0 e 10 cm; é independente; epífitas vivem também sobre outras
• Classe 4: Árvores de grande porte, DAP ≥ plantas, inclusive sobre o sistema de raízes. As estipes Floresta ombrófila densa submontana
10 cm; de palmeiras foram separadas numa forma de vida à Na área de Paragominas restam poucos frag-
• Classe 5: Epífitas, hemiepífitas, lianas e tre- parte. Todos os PO’s foram georreferenciados, com mentos representativos deste tipo de vegetação,
padeiras. o registro das coordenadas em lat-long e UTM. embora no passado ocupasse provavelmente uma

113
área equivalente a 80 % do total. Em termos pai- peculiares, como elevada biomassa, sub-bosque Crescem em manchas de latossolos amarelo,
sagísticos, a exuberância das florestas densas sub- relativamente desimpedido, número de árvores textura areno-argilosa. O terreno apresenta terra-
montanas é produto da elevada disponibilidade de entre 450 e 550 por hectare. O dossel é bem fecha- ços e platôs sobre relevo de planaltos dissecados.
energia solar, água e solos profundos com boa ca- do, com pouca penetração de luz até o chão, a não Nestes terrenos, foram implantadas roças de agri-
elementos da biodiversidade

pacidade de retenção hídrica, embora, devido aos ser nas clareiras naturais, que representam cerca de cultura familiar, pastagens de pequenos ranchos e
solos serem profundos, a água do lençol freático 5 a 10 % da área, uma vez que a queda de árvores é cultura de frutíferas de ciclo longo e médio, como
seja de difícil acesso pelas plantas (50 a 10 m de bem freqüente durante as chuvas do período mais cupuaçu, cacau, pupunha, dendê e pimenta-do-
profundidade). A topografia subjacente a este tipo úmido, entre janeiro e maio. reino.
vegetacional é variável, sendo relativamente plano As árvores das florestas densas de terras baixas O dossel das capoeiras antigas é mais alto, en-
nos platôs e planaltos, e drenado esparsamente por hospedam poucos cipós ou lianas devido à reduzi- tre 20 e 25 m, com certa estratificação vertical e
igarapés de pequeno porte. Na área de estudo, a da penetração de luz, mas no alto de suas copas é sub-bosque um pouco mais limpo. A presença de
região é cortada pelo rio Capim, Acará Mirim, Su- comum ver hemiepífitas dos gêneros Clusia (Clu- lianas e espécies de árvores de floresta madura é
rubeju e Uraim. siaceae), Philodendron spp. (Araceae) e Coussapoa (Ce- um indicativo da estabilização das condições físi-
Essas florestas são sempre-verdes, latifoliadas e cropiaceae). cas. A capoeira desta parte do nordeste paraense
sem estacionalidade marcante. A maior parte des- São dominantes nesse tipo de floresta espécies pode atingir 120 a 140 espécies por hectare, com
sas florestas, na área de estudo e em toda a parte de diversos estratos, entre elas Rinorea racemosa densidade de até 800 plantas por hectare. A estru-
nordeste do Pará, cresce sobre latossolos amarelo, (Violaceae), Lecythis idatimon (Lecytrhidaceae), Es- tura ecológica das manchas de capoeira também
amarelo-vermelho e plintossolos, com textura va- chweilera coriacea (Lecythidaceae), Dodecastigma inte- varia, provavelmente em função das idades e dos
riando de areno-argilosa a argilosa. Os solos, em grifolium (Euphorbiaceae). Foram registradas espé- tipos e intensidade dos usos da terra feitos ante-
sua maioria, são bem drenados, com boa retenção cies que pertencem a todos os grupos funcionais, riormente.
hídrica. O dossel é denso, fechado e compacto, es- como espécies tolerantes a sombra, demandantes
tando situado entre 25 e 35 m de altura. O dossel de luz e outras intermediárias. Foram também de- Florestas Inundáveis – Igapó e Várzea
intercepta grande parte da energia solar, passando tectadas espécies de todos os estratos, desde emer- A composição florística das florestas de várzea e
somente uma pequena fração, em torno de 5 %, gentes, de dossel até de sub-bosque. igapó na Amazônia Oriental é muito similar, com
que chega até o chão da floresta. pequenas variações em termos florísticos e de repre-
As características de história natural mais mar- Floresta Secundária – Capoeiras sentatividade das espécies. Em termos gerais, o igapó
cantes das espécies deste tipo florestal são a dis- A vegetação secundária na Amazônia, que se parece comportar menos espécies que a várzea.
persão predominante por mamíferos, sementes ou origina após a ação antrópica, é popularmente de-
propágulos de tamanho e massa consideráveis, com nominada de capoeira (ou caa-poeira). Este termo - Igapó
pouca capacidade de dormência e pequeno tempo provavelmente tem origem no nhengatu, o tupi O igapó, na área de estudo, está restrito aos
de viabilidade. Ao contrário das espécies de capo- amazônico, uma das línguas gerais da região. As “baixões” próximos das cabeceiras de rios e igara-
eira, que formam banco de sementes, as espécies capoeiras têm substituído as florestas nativas em pés e nos vales dos platôs de terra firme, onde do-
dessas florestas formam bancos de mudas. As es- taxas crescentes. Estima-se que cerca de 15% da mina a estrutura e abundância, como as palmeiras
tratégias para a regeneração natural bem-sucedida cobertura florestal amazônica, ou aproximada- caranã (Mauritiella armata) e açaí (Euterpe oleracea),
são muitas, inclusive pelas espécies especialistas de mente 500.000 km2, serão convertidos em vegeta- indicadoras de áreas alagadas, que crescem no cen-
clareiras naturais e aquelas tolerantes ao sombrea- ção secundária (INPE, 2000). As principais fontes tro da mancha, onde estão os olhos d´água. Estão
mento em diversos graus. de conversão das florestas amazônicas primitivas associadas a outras espécies típicas deste ambien-
Nas manchas residuais de terra firme ao lon- em capoeiras são a agricultura familiar, as pasta- te, como ucuúba (Virola surinamensis, Myristicace-
go da área de estudo, ocorrem espécies de elevado gens artificiais, a agricultura comercial e a explora- ae), andiroba (Carapa guianensis, Meliaceae), anani
valor econômico e ecológico, como maçaranduba ção madeireira. (Symphonia globulifera, Clusiaceae), e espécies fitos-
(Manilkara huberi e M. paraensis), tachi preto (Ta- As características gerais de história natural das sociológicas, como o arapari (Macrolobium acacifo-
chigalia mirmecophila, Caesalpiniaceae), pau amarelo espécies de capoeira são, além de lucifilia (eleva- lium), mamorana (Pachira aquatica, Bombacaceae),
(Euxylophora paraensis), tauari (Couratari cf. guianen- da demanda de luz para crescer), ciclo de vida mututi (Pterocarpus amazonicus, Fabaceae) e o pra-
sis), pequiarana (Caryocar glabrum), pequiá verda- de curto a médio (5 a 15 anos), populações de caxi (Pentaclethra macroloba, Mimosaceae).
deiro (C. villosum), ingá pereba (Inga alba, Mimosa- tamanho considerável, existência de bancos de O igapó constitui um tipo de floresta permanen-
ceae), ipê (Tabebuia sp.), dentre outras. sementes armazenadas no solo e, na maioria das temente alagada, com elevado “stress” hídrico sobre a
A diversidade das florestas amazônicas densas vezes, dispersão das sementes pelo vento, aves e comunidade vegetal, o que contribui para uma forte
é uma das mais elevadas da região neotropical, va- morcegos. seleção das espécies aptas a colonizar este ecossiste-
riando de 120 a 180 espécies por hectare. As flores- As principais espécies deste tipo de vegetação ma. Geralmente os solos são do tipo hidromórfico
tas submontanas possuem valores medianos em re- antrópica são os arbustos conhecidos como lacre pouco húmico, com as águas escuras e ácidas. Tanto
lação a essa amplitude. O número de famílias pode (Vismia guianensis, V. cayennensis, Clusiaceae), em- o solo quanto as águas são pobres em nutrientes e
variar de 40 a 55. A distribuição de abundância de baúbas (Cecropia spp.), tapiririca (Tapirira guianen- apresentam baixa relação C/N (matéria orgânica).
indivíduos nestas florestas registra um elevado nú- sis, Anacardiaceae), chumbinho (Trema micranta,
mero de espécies localmente raras (ca. de 50 %), Ulmaceae), mata-calado (Casearia grandifolia, - Várzea
com 1 árvore por hectare; e outro grupo restrito Flacourtiaceae). São comuns, também, indivídu- Na Amazônia, as florestas de várzea ocorrem
de espécies, com elevado número de indivíduos. A os jovens de espécies da sucessão ecológica mais sob influência da bacia do rio Amazonas. Os so-
densidade total para as árvores com DAP acima de avançada, como o pará-pará (Jacaranda copaia, los de várzea são formados a partir da deposição
10 cm pode atingir até 550 árvores por hectare. É Bignoniaceae), muiravuvuia (Croton matourensis, de sedimento argiloso no leito do rio e na planície
provável que este padrão se repita em toda a área Euphorbiaceae), morototó (Didymopanax morototoni, de inundação. A maioria deste sedimento, erodido
Araliaceae), Envira preta (Guatteria poeppgiana, Anno- nas áreas declivosas das nascentes do Amazonas,
Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas naceae). Entre as ervas dominam algumas gramíneas é carreado rio abaixo e depositado em toda a sua
Essas florestas estão localizadas na zona plani- (Panicum laxum, Paspalum maritimum, P. maximum), extensão. Estima-se que as várzeas representem
ciária abaixo de 10 m de altitude e são dominantes lianas, como o cipó de fogo (Davilla kunthii e D. ru- aproximadamente 10% dos solos da Amazônia.
no município de Tomé-Açu e em algumas partes gosa, Dilleniaceae) e Arrabidaea tuberculata, Memora Os solos aluviais das várzeas são ricos em nu-
de Paragominas. Essas florestas têm características allamandiflora (Bignoniaceae), dentre outras espécies. trientes, principalmente P (Fósforo), K (Potássio)

114
e Ca (Cálcio), essenciais para o crescimento de ocorreu no inventário. O sub-bosque era denso canaliculata (louro), Poecilanthe effusa (gema de ovo),
vegetais. Isto faz com que, em alguns locais, seja em alguns locais e com poucos cipós, porém em Bagassa guianensis (tatajuba), Myrciaria tenella, Vismia
desenvolvida uma atividade agrícola anualmente, outros aparecia limpo e também com poucos cipós. cayennensis (lacre branco). Entre as emergentes cita-
regulada com o ciclo sazonal das enchentes e va- Nesse estrato destacamos: Diospyros sp, Cynometra mos Jacaranda copaia (pará-pará), Schefflera moroto-
zantes dos rios, onde se produzem algumas cultu- cf. bauhinifolia. Inga brachyrachis, Rinorea guianensis e toni (morototó), Pseudopiptadenia suaveolens (timbo-
ras, como arroz, juta e hortaliças, na várzea baixa, Neoptyhchocarpus apodanthus (moranguinho). Entre rana), que apresentam crescimento muito rápido e
e mandioca, banana e algumas fruteiras, na várzea os cipós foram comuns espécies de Machaerium são características de ambientes antropizados. Os
com cota de inundação mais alta. Nas várzeas do sp, Tetracera willdenowiana (cipó de fogo), Derris sp cipós são abundantes e o sub-bosque apresenta-
rio Acará-Mirim e parte do Capim, observou-se, (timbó) e Maripa sp. Não foram observadas pal- se denso devido ao seu emaranhado. São comuns
também, o cultivo agrícola de espécies anuais e o meiras. A camada de liteira era fina, o solo areno- várias espécies da família Combretaceae, Bauhinia
manejo de algumas espécies florestais de várzea, argiloso. Devido a ser uma floresta densa, havia guianensis (escada de jabuti), Connarus sp, Maripa
especialmente o “açaí” (Euterpe oleracea). pouca penetração de luz. sp e Acacia multipinnata entre outras. Não foram
observadas palmeiras nem no transecto nem nas
ANÁLISE FLORÍSTICA DOS INVENTÁRIOS Inventário nº. 3 - Área Explorada com Manejo áreas adjacentes. Entre as ervas destacamos Ischno-
Convencional siphon gracilis, Monotagma laxum, várias espécies de
Municípios de Paragominas e Ulianópolis Cyperaceae, Pariana latifolia e grandes populações de
Foram feitos oito inventários, sendo sete em Localização: Paragominas, PA, estrada de aces- Adiantum sp. Há que se notar uma intensa regene-
mata de terra firme e um em capoeirão de aproxi- so à fazenda Vitória, km 6, a 1400 m dentro do ração de Pseudopiptadenia suaveolens.
madamente 30 anos. Foi realizado ainda um ponto ramal.
de observação em capoeira antiga e foram coleta- Ambiente: Floresta Ombrófila densa, submon- Inventário no. 5 - Área Explorada com Manejo
das aproximadamente 383 amostras de material bo- tana, com emergentes. Convencional
tânico para posterior identificação no herbário do Relevo: Levemente ondulado.
Museu Goeldi. Foram Inventariados 1.561 indiví- Caracterização da área: Área muito semelhante Localização: Paragominas, PA, Fazenda Vitória.
duos. Adicionalmente, foram marcados com GPS à anterior quanto à sua estratificação, diferencian- Ambiente: Floresta ombrófila densa, submonta-
95 pontos ao longo das estradas de Paragominas do apenas em sua composição florística: No dos- na, com emergentes.
(Anexo 1). Esses pontos referem-se a levantamento sel destacam-se Buchenavia parvifolia, apeiba burche- Relevo: Plano.
da paisagem de 5 em 5 km, onde foram anotados os lii (pente de macaco), Ocotea sp2 (louro abacate), Caracterização da área: Área semelhante ao in-
usos da terra mais comuns no entorno. O sumário Pouteria venosa (abiu), Lecythis idatimon (jatereua) ventário 3, tanto estruturalmente quanto na com-
quantitativo dos dados florísticos está na Tabela 2 e a e Eschweilera coriacea (matá-matá preto). No sub- posição florística.
caracterização detalhada vem logo a seguir. bosque encontramos Protium apiculatum, Metrodo-
rea flavida (laranjinha), dodecastigma amazonicus (ara- Inventários nºs. 5, 6, 7 e 8

elementos da biodiversidade
Inventário n . 1 - Área Testemunha de Manejo
o
taciu) e Pouteria decorticans, entre outras. Os cipós
Florestal e Inventário no. 2 - Área com Manejo de são os mesmos encontrados nos inventários 1 e 2 Localização: Paragominas, PA, fazenda do Sr. Pér-
Impacto Reduzido com o aparecimento também de Bauhinia guianen- cio, local onde o IMAZON realiza experimentos.
sis (escada de jabuti). Entre as ervas temos Cala- Ambiente: Floresta ombrófila densa submonta-
Localização: Paragominas CIKEL, Fazenda thea ornata. Heliconia sp, Ischnosiphon gracilis e Pha- na com emergentes.
Cauaxi, Área de manejo da FFT, área testemunha rus sp. Entre as palmeiras destacamos Astrocaryon Relevo: Plano.
de 50 ha, 1,5km da base, Piquete de 500m. ginacantho (mumbaca), Bactris sp (marajá). Caracterização da área: Semelhante às outras já
Ambiente: Floresta ombrófila densa, submonta- descritas, com algumas diferenças na composição
na, com emergentes. Inventário no. 4 – Capoeira Antiga florística, a qual será mais evidente depois da iden-
Relevo: Ondulado. tificação do material coletado. No dossel registra-
Caracterização da área: Floresta ombrófila den- Localização: Paragominas, estrada de acesso à mos a presença de Zollernia paraensis (pau santo),
sa, submontana, com dossel de aproximadamen- fazenda Vitória, km 6, a 1400m dentro do ramal. que é uma espécie de distribuição restrita, na Ama-
te 30m de altura, destacando-se Lecythis idatimon, Ambiente: Capoeira com aproximadamente 30 zônia, à área em estudo.
Protium decandrum, Trichilia micrantha e Eschweilera anos de idade. Pelo Gráfico 1, nota-se a estrutura da capoeira,
sp, como as espécies mais ricas em indivíduos. As Relevo: Levemente ondulado. que, mesmo com 30 anos de sucessão, ainda é bem
emergentes chegam a atingir mais de 40 metros, Caracterização da área: Capoeira com dossel de diferente da floresta manejada ou não manejada.
destacando-se Ocotea sp. (louro preto), Pouteria aproximadamente 18m de altura com emergentes Entre essas não há muita diferença na regeneração
anomala (abiu), Laetia procera (pau jacaré), Chry- que chegam até a 25m e com remanescentes de natural, embora possa contribuir sensivelmente
sophyllum lentiscifolium var. pachycarpa (goiabão) e mata atingindo até 35m de altura, boa penetração de para o desmatamento, a despeito de sua rara detec-
Sclerolobium paraensis (tachi). Vale notar a presen- luz e camada espessa de liteira, o que é comum nes- ção quando se utilizam técnicas de sensoriamento
ça de Manilkara huberi (maçaranduba), a qual não te tipo de ambiente. No dossel destacam-se Ocotea remoto (Asner et al., 2005).

TABELA 2 – Número de famílias e morfoespécies em cada uma das áreas inventariadas. Município de Paragominas/PA
Inv. No. Ambiente No. Espécies (estimado) No. de Famílias
1 Floresta ombrófila densa, submontana, não explorada 113 45
2 Floresta ombrófila densa, submontana, manejo de impacto reduzido 141 50
3 Floresta ombrófila densa, submontana, exploração convencional de madeira 124 49
4 Capoeirão de aproximadamente 30 anos 88 46
5 Floresta ombrófila densa, submontana exploração convencional de madeira 100 46
6 Floresta ombrófila densa, submontana, não explorada 99 41
7 Floresta ombrófila densa, submontana, exploração convencional de madeira 90 40
8 Floresta ombrófila densa, submontana, manejo de impacto reduzido 129 43
PO 1 Capoeira de aproximadamente 10 anos 91 40
TOTAL ~ 394 ~ 77
ELABORAÇÃO: Os autores (2004).

115
elementos da biodiversidade

116
117
elementos da biodiversidade
Município de Tomé-Açu
A
Na Tabela 3, estão as informações sobre os inventários e os pontos de obser-
vações realizados em Tomé-Açu. As análises fitossociológicas foram feitas a par-
tir dos inventários quantitativos. Os PO´s ou inventários qualitativos serviram
elementos da biodiversidade

para compor a lista de espécies registradas e para complementar a caracterização


das fitofisionomias.

Floresta Secundária Recente – Inventário Florístico (IF) no. 1


Realizado em uma capoeira mais recente, com idade em torno de 10 anos. Altura
de aproximadamente 10 m com emergentes atingindo até 15m de altura e consti-
tuídos de árvores remanescentes da mata primitiva, como Apeiba echinata, Stryphno-
dendron guianensis, Eschweilera coriacea, Lecythis idatimon. O sub-bosque apresenta-se
B fechado, com muitos cipós, entre os quais citamos Bauhinia guianensis, Davilla rugosa,
Arrabidaea sp. O relevo é plano e a camada de liteira é bem espessa, como é comum
em ambientes deste tipo.

Floresta de Terra Firme, IF no. 2, sítio 1


Realizado em área de floresta de terra firme já explorada para retirada de madeira.
Dossel de aproximadamente 25m com emergentes de 35 a 40m, como Eschweile-
ra coriacea, Couratari guianensis, Vantanea parviflora, Micropholis acutangula. Sub-bosque
aberto, com pouca presença de palmeiras, destacando-se mumbaca. Entre os cipós
temos Doliocarpus dentatus, Derris sp e Bauhinia guianensis como os mais abundantes
em número de indivíduos. O relevo é plano, e, em algumas partes, ligeiramente
inclinado (baixio próximo ao fim do inventário).
C
Floresta de Terra Firme, IF no. 3, sítio 2
Realizado em uma floresta de terra firme, com dossel de 20 m de altura com ár-
vores emergentes atingindo de 25 a 30 m de altura. Esta mata apresenta-se com um
dossel um pouco mais baixo do que o comum, mas este fato provavelmente deve-se
à alta taxa de exploração madeireira, constatada, por nós, pelo grande número de
resíduos e tocos de troncos encontrados. Destacamos aí a significativa regeneração
e árvores pequenas de maçaranduba (Manilkara huberi). O relevo é plano com solo
arenoso. Pouca presença de cipó, apresentando um sub-bosque limpo com boa pe-
netração de luz. A exploração seletiva de madeira na área resultou no aparecimento
de grandes clareiras, diminuindo consideravelmente a dominância relativa das espé-
cies encontradas.
GRÁFICO 1 – Freqüência de classes de DAP por tipo de floresta.
Acima: Capoeira antiga (aprox. 30 anos) (A); Centro: Floresta não
Floresta Secundária Antiga, IF no. 4, sítio 1 - Capoeira velha
manejada (B); Abaixo: Floresta com manejo convencional (C).
Realizado em uma capoeira com idade entre 20 e 25 anos. Altura de aproximada-
ELABORAÇÃO: Os autores (2004).
mente 15 m com emergentes atingindo até 25 m de altura. Apresenta um sub-bosque

TABELA 3 – Número de indivíduos e espécies registrados nos inventários e pontos de observação


INV. No. Ambiente Local No. Ind. No. Esp.
Capoeira recente sem plantio anterior de aproximadamente 10 anos de idade.
TA_IF_1 TA 200 67
Dossel de 10 m de altura.
TA_IF_2 Floresta de terra firme. TA 278 132
Capoeira baixa de aproximadamente 5 anos. Sem cultivo (área derrubada e queimada).
TA _PO1 TA 54 51
Capoeira de primeiro ciclo. Dossel de 6 a 7 m de altura. Presença de Inga edulis e muruci.
TA_PO2 Floresta de várzea - Rio Cuxiú-área da CAMTA. TA 71 66
Floresta secundária de terra firme, relevo plano, boa penetração de luz, presença de cipó, solo arenoso.
TA_IF_3 TA 271 111
Exploração seletiva de madeira.
TA_IF_4 Capoeira alta, com árvores de 15 m de altura, sub-bosque sujo dossel contínuo sem emergentes. TA 226 98
Capoeira antiga com dossel de 15 a 20 m, apresentando árvores emergentes de 25 m de altura.
TA_IF_5 TA 217 76
Relevo plano, boa penetração de luz, presença de cipó, solo areno-argiloso, ausência de palmeiras.
Capoeira baixa de aproximadamente 5 anos. Sem cultivo (área derrubada e queimada).
TA_PO3 TA 40 37
Capoeira de primeiro ciclo.
Capoeira baixa de aproximadamente 5 anos. Sem cultivo (área derrubada e queimada).
TA_PO4 TA 63 61
Capoeira de primeiro ciclo. Dossel de 6 a 7 m de altura.
Mata de igapó, com aproximadamente 100 m de largura na margem do Igarapé das Pedras.
TA_PO5 Propriedade particular - Sr. Inada. Dossel de 20 m, com emergentes de 25 de altura e sub-bosque TA 61 53
denso.
TA_IF_6 Floresta de várzea – Rio Acará. TA 250 57
Floresta secundária de terra firme, relevo semi-ondulado, baixa penetração de luz e solo areno-argiloso.
TA_IF_7 TA 261 105
Comunidade São Francisco.
Capoeira antiga com dossel de 10 a 15 m, apresentando árvores emergentes de 20 m de altura.
TA_PO6 TA 70 66
Relevo plano, boa penetração de luz, presença de cipó, solo areno-argiloso, ausência de palmeiras.
Capoeira antiga com dossel de 15 a 20 m, apresentando árvores emergentes de 25 m de altura.
TA_PO7 TA 62 61
Relevo plano, boa penetração de luz, presença de cipó, solo areno-argiloso, ausência de palmeiras.
ELABORAÇÃO: Os autores (2004).

118
fechado com um grande número de espécies dos Análise Florística Geral – Tomé-Açu cies e o de indivíduos, oscilou consideravelmente,
estágios iniciais de sucessão florestal, como as es- a) Abundância e Riqueza indo de 0,23 na várzea até 0,47 na floresta de terra
pécies Croton matourensis, Schefflera morototoni. En- Os dados analisados dos inventários florísticos firme 1 (Tabela 4).
tre espécies características deste tipo de ambiente realizados no município de Tomé-Açu (PA) estão O índice de diversidade de Shanon Weaver (H),
podemos destacar várias espécies do gênero Inga, dispostos na Tabela 3. Os sete inventários regis- que mede a heterogeneidade interna da amostra,
Xylopia aromatica, Cordia scrabifolia e Poecilanthe effusa traram 1.703 plantas, distribuídas em 371 espécies levando em consideração o número de espécies, de
e Goupia glabra. Observamos também uma grande e 73 famílias botânicas, entre mono e dicotiledô- indivíduos e a distribuição destes entre as espécies,
regeneração de espécies características de mata de neas. O ambiente de várzea apresentou o menor variou consideravelmente (Tabela 3). O inventá-
terra firme, como Manilkara huberi, Eschweilera co- número de famílias, com 28 no total, enquanto rio realizado na floresta de terra firme 1 apontou
riacea, Eschweilera pedicellata e Couratari guianensis as florestas de terra firme incluíram mais riqueza o maior índice com 4,37 nats, enquanto a várzea,
a este nível, com 47 famílias na terra firme 1 e 3 que tem menos espécies, teve índice calculado de
Floresta Secundária Antiga, IF no. 5, sítio 2 - (Tabela 4). 3,19 nats (Tabela 4).
Capoeira velha Quanto ao número de espécies, a maior riqueza Quanto à estrutura, o diâmetro medido à altura
Realizado em uma capoeira com idade entre 20 foi observada na terra firme 1, com 131 espécies, do peito (1,3 m do nível do chão) variou de 6,05
e 25 anos. Altura de aproximadamente 15 a 20 m, enquanto o ambiente mais pobre foi a floresta de cm (± 3,64 cm) na capoeira recente até 12,78 cm
com emergentes atingindo até 25 m de altura. A várzea, com 57 espécies (Tabela 4). As florestas de (±11,48 cm) na floresta de terra firme 3, aquela
espécie predominante neste inventário é Poecilan- várzea, devido à limitação imposta pela inundação, que apresentou maior porte em termos de diâme-
the effusa, a qual foi encontrada em todas as classes apresentam em geral diversidade menor que as tro, e possivelmente também em altura. A área ba-
diamétricas e também com uma intensa regenera- florestas de terra firme. Essas, por sua vez, podem sal total por hectare variou de 8,55 m2 na capoeira
ção. No dossel, foi detectada a presença de espécies apresentar manchas de elevada diversidade em recente, de aproximadamente 5 anos, até 31,23 m2
características da mata de terra firme, como Cou- condições prístinas ou mesmo quando submetidas na floresta de terra firme 1 (Tabela 4). Este último
ratari guianensis, Eschweilera coriacea, Abarema jupum- a alguma pressão, como a retirada seletiva de ma- valor é elevado mesmo para florestas densas de ter-
ba. Essa floresta apresenta um sub-bosque semife- deira. Neste caso, espécies secundárias heliófitas ra firme, indicando que a área de Tomé-Açu apre-
chado com um número razoável de cipós, como colonizam clareiras e bordas dessa mata, produ- sentava florestas pesadas, características das terras
Arrabidaea cinnamomea, Davilla rugosa e Bauhinia zindo elevada diversidade alfa (local). firmes baixas do nordeste Paraense.
guianensis. A única palmeira observada neste levan- No que diz respeito ao número de indivíduos
tamento foi Astrocaryum ginacanthus. Vale ressaltar a por inventário (amostra com tamanho médio de b) Formas de Vida
presença de uma grande população de Phenacosper- 0,1 ha), registraram-se densidades variando de As informações sobre formas de vida vegetal es-
mum guianensis (sororoca) nas áreas mais abertas. 200 plantas, observadas na capoeira recente, até tão dispostas na tabela 5. Entre as formas de vida re-
O relevo é plano, com solo variando de arenoso 278 plantas, como foi o caso da floresta de terra gistradas nas assembléias de espécies, destacam-se as
para areno-argiloso. A espécie mais abundante foi firme 1 (Tabela 4). Essa variação de densidade é árvores que predominam nas florestas e nas capo-

elementos da biodiversidade
Poecilanthe effusa, encontrada em todas as classes de esperada entre os ambientes. Em geral as capoeiras eiras mais antigas. A seguir temos formas também
diâmetro inventariadas. apresentam maior densidade total, mas a maioria comuns, como os arbustos e ervas.
é de pequenos indivíduos que não são detectados
Floresta Aluvial Inundável – IF no. 6, Floresta pela amostragem. Deste modo, em Tomé-Açu, as c) Fitossociologia
de Várzea maiores densidades foram atribuídas às florestas A seguir, estão os resultados das análises fitos-
Realizado em floresta de várzea às margens do de terra firme (Tabela 4). sociológicas feitas nos inventários florísticos rea-
rio Acará. Dossel de aproximadamente 15 metros O coeficiente de mistura, que dá uma idéia ge- lizados no município de Tomé-Açu. Os parâme-
de altura com emergentes que atingiam 20m de ral da relação existente entre o número de espé- tros estão sendo estiados por hectare (10000 m2) e
altura. O inventário florístico detectou que a es-
pécie Eugenia egensis é dominante na área, o que
TABELA 4 – Parâmetros florísticos e estruturais das fitofisionomias
caracteriza a exploração anterior deste ambiente,
amostradas no município de Tomé-Açu, PA.
pois ela está presente principalmente em áreas aber-
Capoei. Terra Terra Capoei. Capoei. Flor. Terra
tas e é espécie característica de capoeira. Contu- Parâmetros
Rec. Firme1 Firme2 Ant. 1 Ant. 2 Várzea Firme3
do, apresentou espécies bem características deste Famílias (N = 73) 38 47 40 41 33 28 47
tipo de formação vegetal, como é o caso de Virola Espécies (N = 371) 67 131 111 98 76 57 105
surinamensis, Mora paraensis, Symphonia globulifera Indivíduos (N=1703) 200 278 271 226 217 250 261
e Vatairea guianensis e Ormosia coutinhoi. O estrato Coef. de Mistura 0,34 0,47 0,41 0,43 0,35 0,23 0,40
herbáceo é dominado por Ischnosiphon gracilis. Re- Diversidade (H, nats) 3,50 4,37 4,23 3,76 3,65 3,19 4,11
levo plano, solo argilo-arenoso, boa penetração Média de DAP (cm) 6,05 12,72 11,04 8,42 8,11 9,80 12,78
de luz. ± D.P. DAP (cm) 3,64 11,96 8,78 6,54 6,74 6,83 11,48
A.Basal m2/ha 8,55 28,19 21,14 22,61 20,06 22,65 31,23

Floresta de Terra Firme, IF no. 7, sítio 3


Realizado em floresta secundária de terra fir-
TABELA 5 – Formas de crescimento das espécies registradas
me. Altura de aproximadamente 25 a 30 m de al-
nos PO’s realizados no município de Tomé-Açu, Pará.
tura, destacando-se as espécies Eschweilera coria-
PO Nº. INDIVÍDUOS
cea, Zygia racemosa, Lecythis idatimon, com árvores Ambiente
Nº. Árvores Arbustos Ervas Palmeiras Lianas Epífitas Hemiepífitas
emergentes de até 40m de altura, como Manilkara
1 Capoeira baixa, 3- 5 anos 7 17 9 4 10 - -
huberi, Tachigalia mirmecophila, Couratari guianensis
2 Floresta de várzea 45 10 4 4 2 - -
e Stryphnodendron pulcherrimum. As palmeiras são 3 Capoeira baixa 26 7 - 3 - - -
poucas e podemos citar Astrocaryum gynacanthum 4 Capoeira de 3 a 5 anos 27 24 6 1 4 - -
e Bactris sp. Esta área apresenta relevo semi-on- 5 Mata de igapó 30 8 7 2 4 2 1
dulado, com solo areno-argiloso. Baixa presença 6 Capoeira Antiga 22 25 10 2 8 - -
de cipós, (Bauhinia guianensis, Doliocarpus dentatus, 7 Capoeira Antiga 20 17 12 1 11 - -
Memora flavida e Derris sp). ELABORAÇÃO DAS TABELAS 4 e 5: Os autores (2004).

119
por espécie. Entre os parâmetros fitossociológicos indivíduos (37,77%), enquanto as demais 121 es- poeppigiana (Annonaceae), Inga rubiginosa (Mimo-
pode-se citar a abundância absoluta, que expressa pécies incluem 173 indivíduos (62,23% do total) saceae), Rinorea racemosa (Violaceae), (Tabela 8).
o número de indivíduos numa amostra; a abun- (Tabela 7). Como se pode observar, houve inversão Neste caso, há alternância entre espécies típicas de
dância relativa, que informa a porcentagem de in- em relação às 10 espécies com maior representati- terra firme e outras de vegetação secundária, de-
elementos da biodiversidade

divíduos; a área basal em m², que informa o total vidade nos parâmetros fitossociológicos, as quais monstrando que muitas manchas deste tipo flores-
das somatórias das secções transversais dos troncos passaram a totalizar menor número de indivídu- tal estão alteradas, especialmente pela exploração
e a respectiva dominância, que é a percentagem de os do que as demais espécies, ao contrário do que madeireira, permitindo a colonização de espé-
área basal numa dada espécie. ocorre em áreas de capoeiras. cies pioneiras nas clareiras deixadas pelas árvores
A área basal nesta floresta de terra firme totali- exploradas.
Floresta Secundária Recente - Capoeira Nova zou 9,96 m2 para as espécies mais representativas, As 10 espécies com maior valor fitossociológi-
Os dados analisados sobre as 10 espécies mais o que corresponde a 35,33% da dominância total, co nesta floresta densa de terra firme, incluindo
importantes fitossociologicamente, do inventário enquanto o grupo restante totaliza 18,23 m2 ou árvores com DAP > 5 cm, totalizam 105 indi-
feito em capoeira recente, estão na Tabela 6, a se- 64,66% da dominância calculada (Tabela 7). Isto víduos (38,75%), enquanto as demais 101 espé-
guir. Este grupo de espécies inclui Vismia guianensis revela que, ao contrário do que ocorre em capo- cies incluem 166 indivíduos (61,25% do total)
(Guttiferae), Oenocarpus bacaba (Arecaceae), Stryph- eiras, na floresta a biomassa está mais bem distri- (Tabela 8). Como se pode observar, novamente
nodendron guianensis (Mimosaceae), Cecropia latiloba buída entre todas as classes de abundâncias, tendo houve uma inversão em relação às 10 espécies com
(Cecropiaceae), Homalium guianensis (Flacourtia- inclusive algumas poucos indivíduos de espécies maior representatividade nos parâmetros fitosso-
ceae), dentre outras (Tabela 6). A grande maioria emergentes acumulando muita biomassa. ciológicos, as quais passaram a totalizar menor nú-
se constitui de espécies características de sucessão O IVC totalizou 36,55% para as 10 espécies mais mero de indivíduos do que as demais espécies, ao
secundária, com rápido crescimento, especialistas importantes na assembléia de espécies de floresta contrário do que ocorre em áreas de capoeiras.
em colonização pioneira e demandantes de luz. de terra firme sítio 1, enquanto as demais totaliza- A área basal nesta floresta de terra firme tota-
As 10 espécies mais proeminentes na capoeira ram 63,45% (Tabela 7). lizou 8,32 m² para as espécies mais representati-
recente, com DAP > 5 cm totalizam 121 indiví- vas, o que corresponde a 39,38% da dominância
duos (60,50%), enquanto as demais 56 espécies Floresta Ombrófila Densa de Terra Firme de total, enquanto o grupo restante totaliza a maioria
incluem somente 79 indivíduos (39,50% do to- Terras Baixas – Mata de terra firme – sítio 2 de 12,82 m2 ou 60,64% da dominância calculada
tal) (Tabela 6). Este fato comprova que, em está- Os dados analisados sobre as 10 espécies mais (Tabela 8). Novamente temos um padrão que de-
gios sucessionais iniciais ou intermediários, existe importantes fitossociologicamente, do inventário monstra que a área basal e a biomassa neste tipo de
a dominância de um restrito número de espécies, feito em floresta de terra firme, sítio 2, estão na floresta estão bem distribuídas entre todas as clas-
a qual se torna mais equilibrada à medida que a Tabela 8, a seguir. Dentre as espécies mais impor- ses de abundâncias. Há inclusive compensação en-
sucessão avança para estágios mais maduros da tantes na assembléia, destacam-se Inga alba (Mi- tre abundância e biomassa, com muitos indivíduos
sucessão secundária. mosaceae), Vismia guianensis (Guttiferae), Guatteria de pouca biomassa e vice-e-versa.
Esse grupo de espécies totaliza, nesta tipologia
TABELA 6 – Parâmetros Fitossociológicos de Abundância Absoluta, Abundância Relativa, Área Basal e
vegetacional, 7,46 m2 na amostra de 100 m2 (0,01
respectiva Dominância (%) em ambiente de capoeira recente. Município de Tomé-Açu-PA.
ha), o que corresponde a 87,24% da dominân-
cia total, enquanto o grupo restante totaliza ape- Abund. Abund. Á. Basal Domin.
Espécie Família I.V.C. (%)
Abs. (n) Rel (%) (m2) (%)
nas 1,09 m2 ou 12,76% da dominância calculada
Vismia cayenensis Guttiferae 26 13,00 1,71 19,94 16,47
(Tabela 6). Isto revela também que a biomassa, Oenocarpus bacaba Marantaceae 25 12,50 0,87 10,18 11,34
que pode ser expressa indiretamente pela área ba- Stryphnodendron guianensis Mimosaceae 17 8,50 2,55 29,78 19,14
sal, também é concentrada em poucas espécies, a Cecropia latiloba Cecropiaceae 16 8,00 1,03 12,07 10,04
exemplo do que ocorre com a abundância. Homalium guianensis Flacourtiaceae 9 4,50 0,30 3,48 3,99
O IVC (Índice de Valor de Cobertura), ex- Astrocaryum ginacanthum Arecaceae 7 3,50 0,04 0,42 1,96
presso em percentagem, que representa a média Vismia japurensis Heliconiaceae 6 3,00 0,35 4,13 3,57
dos valores de abundância e dominância relati- Inga capitata Mimosaceae 6 3,00 0,25 2,89 2,94
Guatteria poeppigiana Annonaceae 5 2,50 0,09 1,09 1,80
vas, somou 73,87% para as 10 espécies mais im-
Annona paludosa Annonaceae 4 2,00 0,28 3,26 2,63
portantes na assembléia de espécies de capoeira
10 Espécies Abundantes 121 60,50 7,46 87,24 73,87
recente, enquanto as demais totalizaram 26,13%
Demais 56 espécies 79 39,50 1,09 12,76 26,13
(Tabela 6). Total 200 100,00 8,55 100,00 100,00

Floresta Ombrófila Densa de Terra Firme de TABELA 7 – Parâmetros Fitossociológicos de Abundância Absoluta, Abundância Relativa, Área Basal e
Terras Baixas – Mata de terra firme – sítio 1. respectiva Dominância (%) em ambiente de floresta de terra firme (TF1). Município de Tomé-Açu-PA.
Os dados analisados sobre as 10 espécies mais Abund. Abund. A. Basal Domin.
Espécie Família I.V.C. (%)
importantes fitossociologicamente, do inventário Abs. (n) Rel (%) (m2) (%)
feito em floresta de terra firme, sítio 1, estão na Lecythis idatimon Lecythidaceae 23 8,27 3,34 11,86 10,07
Tabela 7, a seguir. Este grupo de espécies inclui Rinorea guianensis Violaceae 23 8,27 1,24 4,40 6,33
Lecythis idatimon (Lecythidaceae), Rinorea guianen- Eschweilera coriacea Lecythidaceae 17 6,12 2,18 7,74 6,93
Rinorea racemosa Violaceae 8 2,88 0,39 1,38 2,13
sis (Vioaceae), Eschweilera coriacea (Lecythidaceae),
Astrocaryum ginacanthum Arecaceae 7 2,52 0,05 0,18 1,35
Rinorea racemosa (Violaceae), Pouteria decorticans
Pouteria decorticans Sapotaceae 7 2,52 1,01 3,57 3,05
(Sapotaceae) dentre outras (Tabela 7). A grande
Protium giganteum Burseraceae 6 2,16 0,06 0,22 1,19
maioria se constitui de espécies características de Vouacapoua americana Caesalpiniaceae 6 2,16 1,51 5,35 3,75
florestas de terras firmes sob domínio da planície Inga thibaudiana Mimosaceae 4 1,44 0,16 0,56 1,00
amazônica, pertencendo a todos os estratos, desde Fusaea longifolia Annonaceae 4 1,44 0,02 0,08 0,76
emergentes, de dossel até de sub-bosque. 10 Espécies Abundantes 105 37,77 9,96 35,33 36,55
As 10 espécies mais proeminentes na flo- Demais 121 espécies 173 62,23 18,23 64,66 63,45
resta densa de terra firme amostrada, incluin- Total 278 100,00 28,19 100,00 100,00
do árvores com DAP > 5 cm, totalizam 105 ELABORAÇÃO DAS TABELAS 6 e 7: Os autores (2004).

120
O IVC totalizou 39,06% para as 10 espécies mais grupo de secundárias iniciais se incluem Lacistema (48,85% do total) (Tabela 9). Diferentemente de
importantes na assembléia de espécies de floresta aggregatum (Lacistemaceae), Casearia javitensis (Fla- outras assembléias ou comunidades, não há pre-
de terra firme, sítio 2, enquanto as demais totaliza- courtiaceae), Myrciaria tenella (Myrtaceae). Entre dominância das 10 espécies mais representativas
ram 60,95% (Tabela 8). as secundárias tardias podemos destacar Guatteria sobre o restante. Provavelmente porque essa capo-
poeppigiana (Annonaceae) e Cupania scrobiculata. eira já está em estágio avançado de sucessão, quan-
Floresta Secundária Antiga, sítio 2 – Capoeira (Sapindaceae). Entre as espécies remanescentes do essa proporção tende a se equilibrar.
Velha (mais de 10 anos) de floresta de terra firme estão Couratari guianensis O grupo restrito das 10 espécies com maior va-
Os dados analisados sobre as 10 espécies mais (Lecyhthidaceae), uma espécie com árvores emer- lor fitossociológico totaliza 11,04 m² de área basal
importantes fitossociologicamente, do inventário gentes de floresta ombrófila de terra firme, e Poeci- (soma das seções transversais dos fustes a 1,3 m de
feito em capoeira antiga, estão na Tabela 9. Este lanthe effusa (Fabaceae). altura), na amostra de 100 m² (0,01 ha), o que cor-
ambiente inclui uma assembléia mista composta As 10 espécies mais importantes na assem- responde a 55,06% da dominância total, enquanto
por espécies típicas de capoeira ou vegetação se- bléia desta capoeira antiga (sítio 2), com DAP > o grupo restante totalizou 9,02 m² ou 44,96% da
cundária, e espécies remanescentes da antiga flo- 5 cm, totalizam 111 indivíduos (51,15%), enquan- dominância calculada (Tabela 9). Igualmente ao
resta de terra firme que ocorriam nesse local. No to as demais 66 espécies incluem 106 indivíduos que ocorre com a abundância, neste caso também
se registrou uma certa equivalência entre a bio-
massa desse grupo de espécies e a das demais.
TABELA 8 – Parâmetros Fitossociológicos de Abundância Absoluta, Abundância Relativa, Área Basal e
O IVC foi surpreendentemente alto para a es-
respectiva Dominância (%) em ambiente de floresta de terra firme (TF2). Município de Tomé-Açu-PA.
pécie Poecilanthe effusa, que contribuiu com 18,13%
Abund. Abund. Á. Basal Domin. do total. O total apurado para as 10 espécies mais
Espécie Família I.V.C. (%)
Abs. (n) Rel (%) (m2) (%)
significativas foi de 53,10%, enquanto as demais
Inga alba Mimosaceae 25 9,23 2,97 14,04 11,63
Vismia guianensis Guttiferae 19 7,01 1,04 4,92 5,97 totalizaram 46,90% (Tabela 9).
Guatteria poeppigiana Annonaceae 10 3,69 0,23 1,10 2,40
Rinorea racemosa Violaceae 8 2,95 0,57 2,72 2,83 Floresta Aluvial Inundável – Floresta de Várzea
Cecropia palmata Cecropiaceae 8 2,95 0,76 3,62 3,28 Os dados analisados sobre as 10 espécies mais
Inga rubiginosa Mimosaceae 8 2,95 0,74 3,52 3,23 importantes da assembléia amostrada, por meio do
Rinorea guianensis Violaceae 7 2,58 0,09 0,45 1,51 inventário feito na floresta aluvial inundável, ou
Apeiba echinata Tiliaceae 7 2,58 0,19 0,90 1,74 floresta de várzea, como é regionalmente conhe-
Talisia mollis Sapindaceae 7 2,58 0,05 0,25 1,42
cida, estão na Tabela 10. Este ambiente representa
Eschweilera coriacea Lecythidaceae 6 2,21 1,66 7,86 5,04
uma pequena proporção da paisagem do municí-
10 Espécies Abundantes 105 38,75 8,32 39,38 39,06
pio de Tomé-Açu, existente apenas nas margens do
Demais 101 espécies 166 61,25 12,82 60,64 60,95
Total 271 100,00 21,14 100,00 100,00 rio Acará-Mirim. Os outros cursos são por demais

elementos da biodiversidade
estreitos, formando pequenas planícies de inunda-
TABELA 9 – Parâmetros Fitossociológicos de Abundância Absoluta, Abundância Relativa, Área Basal e ção. O grupo das 10 espécies mais representativas
respectiva Dominância (%) em ambiente de capoeira antiga (Cap Ant2). Município de Tomé-Açu-PA. e típicas de várzea inclui Myrcia sp. (Myrtaceae),
Abund. Abund. Á. Basal Domin. Licania canescens (Chrysobalanaceae), inclusive
Espécie Família I.V.C. (%)
Abs. (n) Rel (%) (m2) (%) uma espécie que também ocorre em terra firme;
Poecilanthe effusa Fabaceae 49 22,58 2,75 13,69 18,13
Mauritia armata (Arecaceae), Macrolobium bifolium
Guatteria poeppigiana Annonaceae 10 4,61 2,41 12,03 8,32
(Caesalpiniaceae), Mora paraense (Fabaceae), Epe-
Inga alba Mimosaceae 9 4,15 0,39 1,95 3,05
rua bijuga (Caesalpiniaceae) dentre outras.
Couratari guianensis Lecythidaceae 7 3,23 1,81 9,01 6,12
Cupania scrobiculata Sapindaceae 7 3,23 0,97 4,86 4,04 As 10 espécies mais importantes na assembléia
Astrocaryum gynacanthum Arecaceae 7 3,23 0,20 0,98 2,10 desta floresta de várzea, com DAP > 5 cm, soma-
Lacistema aggregatum Lacistemaceae 7 3,23 1,01 5,06 4,14 ram 167 indivíduos (66,80%), enquanto as demais
Casearia javitensis Flacourtiaceae 5 2,30 0,08 0,41 1,36 47 espécies incluíram 83 indivíduos (33,20% do to-
Myrciaria tenella Myrtaceae 5 2,30 0,04 0,18 1,24 tal) (Tabela 10). Neste caso houve ligeira predomi-
Ormosia flava Fabaceae 5 2,30 1,38 6,90 4,60 nância deste grupo de espécies sobre as demais com
10 Espécies Abundantes 111 51,15 11,04 55,06 53,10 diferença de abundância pouco inferior a 30%.
Demais 66 espécies 106 48,85 9,02 44,96 46,90
Em relação à área basal calculada para o grupo
Total 217 100,00 20,06 100,00 100,00
das 10 espécies mais representativas, esse parâmetro
TABELA 10 – Parâmetros Fitossociológicos de Abundância Absoluta, Abundância Relativa e Área Basal totalizou 14,28 m² na amostra de 100 m² (0,01 ha), o
e respectiva Dominância (%) em ambiente de floresta de várzea. Município de Tomé-Açu-PA. que corresponde a 63,04% da dominância total, en-
Abund. Abund. Á. Basal Domin. quanto o grupo restante totaliza 8,38 m² ou 36,98%
Espécie Família I.V.C. (%)
Abs. (n) Rel (%) (m2) (%) da dominância calculada (Tabela 10). Igualmente ao
Myrcia sp. Myrtaceae 58 23,20 1,40 6,18 14,69 que ocorre com a abundância, neste caso também
Licania canescens Chrysobalanaceae 25 10,00 2,33 10,27 10,14 se registrou ligeira superioridade para esse grupo de
Mauritia armata Arecaceae 19 7,60 1,48 6,53 7,07 espécies, com pouco mais que 30% de dominância
Macrolobium bifolium Caesalpiniaceae 16 6,40 2,38 10,51 8,46
em favor dessas poucas espécies.
Diospyros guianensis Ebenaceae 11 4,40 1,97 8,72 6,56
A proporção do IVC também se manteve no ní-
Mora paraensis Fabaceae 10 4,00 0,71 3,13 3,57
vel do que ocorreu com a abundância e dominân-
Fabaceae Indet Fabaceae 9 3,60 1,02 4,51 4,06
Eperua bijuga Caesalpiniaceae 7 2,80 1,25 5,53 4,16 cia, com 64,92% do total para as 10 espécies desta-
Bombax longipediceilatum Bombacaceae 6 2,40 0,93 4,12 3,26 cadas e 35,09% para as 47 demais (Tabela 10).
Caraipa punctulata Guttiferae 6 2,40 0,80 3,52 2,96
10 Espécies Abundantes 167 66,80 14,28 63,04 64,92 Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas –
Demais 47 espécies 83 33,20 8,38 36,98 35,09 Mata de terra firme – sítio 3
Total 250 100,00 22,65 100,00 100,00 Os dados analisados sobre as 10 espécies mais
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 8 a 10: Os autores (2004). importantes fitossociologicamente, do inventário

121
feito em floresta de terra firme, sítio 3, estão na O sítio 3 totalizou área basal estimada por tários e 395 nos PO´s, mas ainda não se tem um
tabela 11, a seguir. Este grupo de espécies abran- hectare de 16,53 m2 para as 10 espécies mais quantitativo da riqueza específica e da abundância
ge, em sua maioria, aquelas que podem ser con- representativas, o que corresponde a 52,94% dos ambientes inventariados.
sideradas como características ou tipicamente de da dominância total, enquanto o grupo restan- Segue uma breve caracterização e descrição
elementos da biodiversidade

floresta de terra firme madura. Entre elas, Rinorea te totaliza 14,70 m2 ou 47,06% da dominância das tipologias inventariadas (IF´s) e observadas
racemosa (Violaceae), Lecythis idatimon (Lecythi- calculada (Tabela 11). Novamente, observou-se (PO´s). A pesquisa foi conduzida ao longo dos
daceae), Eschweilera coriacea (Lecythidaceae), Do- que, ao contrário do que ocorre em capoeiras, municípios de Aurora do Pará e Ipixuna do Pará,
decastigma integrifoliuum (Euphorbiaceae), (Tabela na floresta madura de terra firme a biomassa está georreferenciando-se e caracterizando a tipologia
11). Foram registradas espécies que pertencem a mais bem distribuída entre todas as classes de vegetal das áreas inventariadas (Tabela 12).
todos os grupos funcionais, como espécies tole- abundâncias, tendo inclusive algumas poucos
rantes a sombra, demandantes de luz e outras in- indivíduos de espécies emergentes acumulando Inventários Florísticos – If´s
termediárias. Foram também detectadas espécies muita biomassa. Inventário no. 1 – Vegetação Secundária Antiga, 15 a
de todos os estratos, desde emergentes, de dossel O IVC totalizou 47,54% para as 10 espécies 20 anos de sucessão
até sub-bosque. mais importantes na assembléia de espécies de flo- Realizado no município de Aurora do Pará em
As 10 espécies mais proeminentes na floresta resta de terra firme sítio 3, enquanto as demais 95 uma capoeira alta, com idade entre 15 e 20 anos.
densa de terra firme amostrada, incluindo árvo- espécies totalizaram 52,46% (Tabela 11). Altura aproximadamente de 15 a 20 m, com emer-
res com DAP > 5 cm, totalizam 110 indivíduos gentes atingindo até 25 m de altura. Neste inven-
(42,15%), enquanto as demais 95 espécies in- Municípios de Aurora do Pará e tário predominaram as espécies Stryphnodendron
cluem 151 indivíduos (57,85% do total) (Tabela Ipixuna do Pará guianensis,Tapirira guianensis e Bagassa guianensis, as
11). Como se pode observar, nesta amostra tam- Análise Florística - Ipixuna quais foram encontradas nas classes acima de 30
bém houve inversão em relação às 10 espécies Foram realizados 10 inventários, sendo 4 em cm de CAP. As espécies Vismia guianensis e Siparuna
com maior representatividade nos parâmetros floresta de terra firme submetida à exploração sele- guianensis foram predominantes nas classes de ta-
fitossociológicos, as quais passaram a totalizar tiva de madeira e 6 em floresta secundária recente, manhos inferiores. No dossel foi detectada a pre-
menor número de indivíduos do que as demais mediana e antiga (capoeiras) e 7 pontos de obser- sença de espécies características da mata de terra
espécies, ao contrário do que ocorre em áreas vação em áreas de capoeiras localizadas ao longo firme, como Couratari guianensis, Schefllera moroto-
de capoeiras, sugerindo que este tipo de floresta das estradas, dentro dos municípios. Foram inven- toni e Inga alba. Apresenta um sub-bosque semife-
está em equilíbrio. tariados 2.511 indivíduos, sendo 2.116 nos inven- chado com um número razoável de cipós, como
Paullinea pinata, Doliocarpus dentatus, Arrabidaea sp.
TABELA 11 – Parâmetros Fitossociológicos de Abundância Absoluta, Abundância Relativa e Área Basal e e Bauhinia guianensis. As espécies dominantes de
respectiva Dominância (%) em ambiente de floresta de terra firme (TF3). Município de Tomé-Açu-PA. palmeiras encontradas foram Astrocaryum vulgare,
Abund. Abund. Á. Basal Domin. associada à vegetação secundária e Astrocaryum gy-
Espécie Família I.V.C. (%)
Abs. (n) Rel (%) (m2) (%)
nacanthum.
Rinorea racemosa Violaceae 33 12,64 1,52 4,87 8,76
O relevo é pouco inclinado, com solo arenoso
Lecythis idatimon Lecythidaceae 16 6,13 3,80 12,18 9,15
do grupo latossolo amarelo. A área é bem drenada
Eschweilera coriacea Lecythidaceae 13 4,98 5,08 16,27 10,63
Dodecastigma integrifolium Euphorbiaceae 9 3,45 0,50 1,60 2,52 por pequenos igarapés, no entanto muitos deles
Inga alba Mimosaceae 8 3,07 3,14 10,07 6,57 estão sendo dizimados pelo desmatamento da ve-
Sterculia pruriens Sterculiaceae 7 2,68 1,84 5,89 4,29 getação ciliar, ocasionando excessiva evaporação,
Cordia scabrifolia Boraginaceae 7 2,68 0,07 0,23 1,46 erosão marginal e assoreamento do leito.
Astrocaryum ginacanthum Arecaceae 6 2,30 0,06 0,20 1,25
Siparuna cuspidata Monimiaceae 6 2,30 0,06 0,18 1,24 Inventário nº. 2 – Floresta densa de Terra Firme -
Pouteria decorticans Sapotaceae 5 1,92 0,45 1,45 1,68 Explorada
10 Espécies Abundantes 110 42,15 16,53 52,94 47,54 Realizado no município de Aurora do Pará, em
Demais 95 espécies 151 57,85 14,70 47,06 52,46
fragmento de floresta de terra firme, com porte
Total 261 100,00 31,23 100,00 100,00
aproximado de 15 a 20 m de altura, apresentan-
TABELA 12 – Metadados de localização e ambientes dos inventários florísticos nos municípios de do árvores emergentes de 30 a 35 m de altura,
Ipixuna do Pará e Aurora do Pará. Legenda: AP – Aurora do Pará, IP – Ipixuna do Pará, IV – inventário, destacando-se as espécies Eschweilera coriacea, Inga
PO – ponto de observação. alba e Pouteria sp. O estrato herbáceo é dominado
por Ischnosiphon gracilis e Callathea sp. Relevo pla-
INV Local Ambiente Lat. S Long. W
AP_PO1 AP Capoeira baixa de 5 a 10 anos, 8 m de altura 2º11’43,7” 47º33´40,7”
no, solo arenoso, boa penetração de luz no sub-
AP_PO2 AP Capoeira baixa de 5 a 10 anos, 8 m de altura 2º12’07,8” 47º33’42,0” bosque e presença de cipoalia composta de Derris
AP_PO3 AP Capoeira média de 10 a 15 anos, 10 m de altura 2º16’33,1” 47º34’34,1” utillis, Bauhinia sp.
AP_PO4 AP Capoeira baixa de 5 a 10 anos, 8 a 10 m de altura 2º12’58,0” 47º33’08,7”
AP_IV1 AP Capoeira alta, 15 a 20 m de altura 2º09’06,7” 47º32”21,3” Inventário nº. 3 – Vegetação Secundária Antiga, 15 a
AP_IV2 AP Capoeira alta, 15 a 20 m de altura 2º09’29,5” 47º32’46,6” 20 anos de sucessão
AP_IV3 AP Capoeira alta, 15 a 20 m de altura 2º08’39,3” 47º32’21,4” Realizado no município de Aurora do Pará, em
AP_IV4 AP Capoeira alta, 15 a 20 m de altura 2º09’40,3” 47º32’ 34,4” capoeira alta de aproximadamente 15 a 20m de
AP_IV5 AP Capoeira alta, 15 a 20 m de altura 2º09’44,5” 47º32’ 17,1” altura, porém com árvores emergentes remanes-
IP_PO5 IP Capoeira alta, 10 a 15 m de altura 2º19’30,1” 47º33’ 49,4”
centes da antiga floresta de terra firme, cujas altu-
IP_IV6 IP Capoeira baixa, 8 a 10 m de altura 2º24’47,5” 47º52’ 21,8”
ras atingem até 35m. Dentre as espécies de dossel
IP_IV7 IP Floresta com exploração seletiva, 20 m de altura 2º23’3,7” 47º51’ 00,3”
podemos destacar Scheflera morototoni, Dipteryx
IP_IV8 IP Floresta com exploração seletiva, 20 m de altura 2º23’35,6” 47º50’ 36,9”
odorata, Cecropia palmata e Pouroma guianensis. As es-
IP_IV9 IP Capoeira alta, 15 a 20 m de altura 2º22’ 4,5” 47º50’ 51,2”
IP_IV10 IP Floresta com exploração seletiva, 20 m de altura 2º23’39,5” 47º50’ 52,5” pécies emergentes são Iryanthera laevis, Inga alba e
IP_PO7 IP Capoeira média de 10 a 15 anos, 10 m de altura 2º24’01,5” 47º51’ 12,3” Stryphnodendron pulcherimum, pertencentes à flores-
IP_PO8 IP Capoeira média de 10 a 15 anos, 10 m de altura 2º24’1,0” 47º52’ 10,4” ta de terra firme. As palmeiras observadas foram
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 11 e 12: Os autores (2004). Astrocaryum gynacanthum (“mumbaca”) e Desmon-

122
cus sp. (jacitara). Entre os cipós podemos destacar no sul e sudoeste do Maranhão, a fim de atender Pontos de Observação (PO´s)
Bauhinia guianensis, Doliocarpus dentatus e Memora às necessidades das usinas de ferro-gusa. Ponto de Observação no. 1 – Capoeira Mediana – 5
flavida. Relevo semi-ondulado com solo arenoso. a 10 anos
Estrato herbáceo dominado pela espécie Miconia Inventário nº. 7 – Floresta densa de Terra Firme - Realizado no município de Aurora do Pará em
nervosa e Calathea sp. Explorada uma capoeira baixa com idade entre 5 e 10 anos.
Realizado no município de Ipixuna do Pará Altura de aproximadamente 8 m, com emergen-
Inventário nº. 4 – Vegetação Secundária Antiga, 15 a na área da Rio Capim Caulim. Floresta com tes atingindo até 15 m de altura e constituídos de
20 anos de sucessão exploração seletiva de madeira, com aproxima- árvores de estágios sucessionais primários, como
Realizado no município de Aurora do Pará, em damente 20 de altura, com emergentes de 25 a a Vismia guianensis, Myrcia excima, Cecropia palmata
capoeira alta de aproximadamente 15 a 20 m de al- 30 m de altura, como as espécies Cassia fastuosa, e Banara guianensis. O sub-bosque fechado, com
tura, destacando-se as espécies Siparuna guianen- Couratari guianensis, Inga alba, Eschweilera grandi- muitos cipós e gramíneas, como Justicea sp e Da-
sis, Guatteria poeppigiana e Eschweilera coriacea com flora e Pouteria jariensis. Relevo acidentado, solo villa cuntis, entre os cipós, e Paspalum sp, e Piper sp
árvores emergentes de até 30 m de altura, como arenoso a argilo-arenoso, com espessa camada dentre as gramíneas. O relevo é plano, com baixa
Ingá alba, Cordia scabrida e Tratinickia burserifolia. de liteira, boa penetração de luz, com presença camada de liteira, devido à presença do pasto cir-
Entre os cipós podemos destacar Bauhinia guiane- de cipós como Derris floribunda e Bauhinia guia- cunvizinho.
nis, Derris utilis e Doliocarpus dentatus. Essa capoeira nensis. Abundância de espécies típicas de área,
também cresce sobre solos arenosos, degradados e grandes clareiras, como Cecropia sciadophylla, Ce- Ponto de Observação nº. 2 – Capoeira Recente – 5 a
do grupo dos latossolos amarelos. cropia obtura e Pouroma guianensis. 10 anos
Realizado no município de Aurora do Pará em
Inventário nº. 5 – Vegetação Secundária Antiga, 20 a Inventário nº. 8 – Floresta densa de Terra Firme - uma capoeira baixa na borda de pastagem com ida-
25 anos de sucessão Explorada de entre 5 e 10 anos. Altura de aproximadamente
Realizado no município de Aurora do Pará Realizado no município de Ipixuna do Pará na 5 a 8 m, com emergentes atingindo até 15 m de
em uma capoeira com idade entre 20 e 25 anos. área da Rio Capim Caulim. Floresta com explo- altura e constituídos de árvores de estágios suces-
Altura de aproximadamente 20 m com emer- ração seletiva com dossel atingindo 20 a 25 m de sionais primários, como a Rollinia exsucca, Inga gra-
gentes atingindo até 25 m de altura. Apresenta altura, árvores emergentes de até 30m, como Ma- cilifolia, Cecropia palmata e Tabebua serratifolia. O
um sub-bosque fechado com um grande nú- nilkara huberi, Pouteria macrophylla, Pau amarelo e sub-bosque é fechado, com muitos cipós, dentre
mero de espécies dos estágios iniciais de su- Eschweilera coriaceae. Presença de palmeiras, como os quais se destacam Machaerium sp, Trigonia sp e
cessão florestal, como as espécies Croton ma- Astrocaryum mumbaca e Attalea maripa. Grande nú- Bauhnia guianenis. O relevo plano, com solo areno-
tourensis, Schefflera morototoni e Jacaranda copaia. mero de regeneração das espécies Lecythis idatimon, so e baixa camada de liteira, devido à presença do
Entre espécies características deste tipo de Rinorea riania, Rinorea racemosa, Protium pallidum e pasto circunvizinho.
ambiente podemos destacar várias espécies do Inga alba.

elementos da biodiversidade
gênero Ingá alba, Xylopia nitida, Cordia nodosa, Relevo plano a semi-ondulado, com solo Ponto de Observação nº. 3 – Capoeira Mediana – 10
Protium pallidum e Goupia glabra. Observamos argilo-arenoso e camada espessa de liteira. Sub- a 15 anos
também uma grande regeneração de espécies bosque sujo, com presença de cipós, como Do- Realizado no município de Aurora do Pará
características de mata de terra firme, como liocarpus dentatus, Arrabidaea sp e Bauhinia guia- em uma capoeira mediana na borda de pastagem
Manilkara huberi, Eschweilera coriacea, e Micro- nensis. com 8 a 10 m de altura, com idade entre 10 e 15
pholis guianensis. anos. Esta capoeira apresenta-se com um dossel
Entre as palmeiras destacamos Oenocarpus baca- Inventário nº. 9 – Floresta densa de Terra Firme - um pouco mais alto do que os PO1 e PO2, pois
ba, Astrocaryum aculeatum e Euterpe oleraceae. Presen- Explorada nela já encontramos espécies como Hevea brasi-
ça de cipós como Bauhinia guianensis, Derris utilis Realizado no município de Ipixuna em área liensis, Jacarandá copaia e Carapa guianensis atin-
e Memora magnífica. Relevo levemente acidentado, de capoeira alta com fragmentos de floresta. gindo até 20 m de altura. Destaca-se também
solo arenoso, com boa penetração de luz. Estrato Dossel de 15 a 20 m de altura com emergen- a presença de epífitas, como Phyllodendron sp e
herbáceo dominado pela espécie Miconia sp. tes de 25 a 30 m, como Chimarrhis turbinata, Es- Astruneum sp. A influência de um igarapé nesta
chweilera grandiflora, Apeiba burchelii, Macrolobium área pode explicar o aparecimento da palmeira
Inventário nº. 6 – Vegetação Secundária mediana, até sp, Pouteria sp e Ocotea sp. Relevo acidentado, solo Euterpe oleraceae e das espécies Virola surinamensis
5 anos de sucessão arenoso a argilo-arenoso, boa penetração de luz e Shymphonia globulifera. O relevo é plano com
Realizado no município de Ipixuna do Pará com presença mediana de cipós, como as espé- solo areno-argiloso, com sub-bosque fechado e
na área da Rio Capim Caulim. Capoeira baixa de cies Memora flavida e Bauhinia guianensis. A única presença de cipós, como Davilla cuntis, Doliocar-
5 a 8 m de altura com emergentes de aproxima- espécie de palmeira encontrada foi o Astrocaryum pus dentatus e Machaerium sp.
damente 15 m de altura, como as espécies Tapi- mumbaca.
rira guianensis, Goupia glabra e Virola michelli. Boa Ponto de Observação nº. 4 – Capoeira Recente – 5 a
penetração de luz, relevo plano, e com indícios Inventário nº. 10 – Floresta densa de Terra Firme - 10 anos
de exploração recente. É importante ressaltar Explorada Realizado no município de Aurora do Pará em
a presença da regeneração de espécies de mata Realizado no município de Ipixuna em área uma capoeira baixa na borda de pastagem com 5 a
primária, como a Manilkara amazônica, Manilkara de floresta com exploração seletiva. Dossel de 20 10 anos de idade, entre 8 e 10 anos. Nesta capo-
huberi, Pau amarelo, Protium pallidum e Brosimum a 25 m de altura com emergentes de 30 m, como eira destaca-se principalmente a espécie Cecropia
guianensis. Abundância de espécies de clareiras Eschweilera coriaceae, Brosimum potabile, Tachigalia palmata, Inga edulis e Inga alba. A espécie Hiptis sp
como Cecropia palmata, Pouroma mollis e Scheflera myrmecophila e Pouteria jariensis. Relevo aciden- abundante ocorrendo em toda a área de observa-
morototoni. A única espécie de palmeira encon- tado, solo arenoso a argilo-arenoso, sub-bosque ção. Sub-bosque sujo, com ocorrência da palmeira
trada foi o Astrocaryum mumbaca. sujo, baixa penetração de luz com presença de Astrocaryum mumbaca. Apresenta uma grande di-
É provável que esta área tenha sido utilizada re- cipós, como Paullinia echinata, Bauhinia guianen- versidade de cipós, como a Bauhinia guianenis, So-
centemente para exploração residual (re-entrada) sis, Doliocarpus dentatus, Machaerium sp, Derris lanum crinitum, Doliocarpus dentatus, Davilla cuntis e
de madeira remanescente da exploração antiga. floribunda e Solanum sp. Presença de palmeiras, Machaerium ferrix. Relevo plano, solo arenoso com
Esta prática está sendo largamente utilizada por como Oenocarpus bacaba, Bactris sp e Astrocaryum camada de liteira espessa.
madeireiros em busca de madeira para carvoarias gynacanthum.

123
Ponto de Observação nº. 5 – Capoeira Antiga – 15 Poecilanthe effusa e Brosimum guianensis entre outras. Ponto de Observação nº. 7 – Capoeira Mediana – 5
a 20 anos Presença de cipós, como Davilla kunthii, Justicea sp. a 10 anos
Realizado no município de Ipixuna do Pará em Realizado no município de Ipixuna do Pará em
área de capoeira antiga com dossel de 10 a 15 m. Ponto de Observação nº.6 – Capoeira Recente – área de capoeira mediana de 10 a 15 m de dossel,
elementos da biodiversidade

Árvores emergentes de 20 m, como Stryphnodendron aprox. 5 anos representado pelas espécies Cecropia sciadophylla,
guianensis, Swartzia arboresces e Tachigalia sp. Relevo Realizado no município de Ipixuna do Pará em Cecropia palmata e Scheflera morototoni. Presença de
plano com solo arenoso, com presença das palmei- área de capoeira baixa de 8 a 10 m de dossel, re- espécies predominantes de floresta secundária,
ras Astrocaryum mumbaca e Astrocaryum aculeatum. presentado pelas espécies Cecropia palmata, Bellucia como Croton matourensis, Laetia procera e Casearia ja-
Esta área está localizada na margem esquerda da es- glossularioides, Scheflera morototoni e Jacaranda copaia. viteensis. Relevo plano com solo argiloso, sub-bos-
trada nosentido Aurora do Pará a Ipixuna. O extrato Árvores emergentes de 15 m, como Stryphnoden- que sujo, com presença de cipós, como Bauhinia
herbáceo na borda da capoeira composto por uma dron pulcherimum e Goupia glabra. Relevo plano guianensis, Solanum crinitum e Doliocarpus dentatus.
grande quantidade de gramíneas (provenientes do com solo argiloso, sub-bosque sujo, com presença Dominância da espécie Miconia nervosa no sub-
pasto adjacente). As espécies encontradas neste am- de cipós, como Doliocarpus dentatus, Memora flavida, bosque.
biente foram Casearia pitumba, Xylopia cayannensis, Solanum sp. e Davilla kunthii.

124
MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE
mamíferos de médio e grande porte
José de Sousa e Silva Júnior • Eldianne Moreira de Lima
Carolina Cigerza de Camargo • Rossano Marchetti Ramos

A
pesar de os mamíferos cons- na Amazônia oriental, com diferentes graus de a riqueza e a abundância de espécies de mamíferos,
tituírem um dos grupos mais perturbação humana. Estes autores categorizaram de médio e grande porte, com registros de ocor-
estudados em termos de di- a perturbação humana em dois aspectos: pertur- rências no mosaico antropizado de paisagens com-
versidade biológica, a intensificação dos bação da floresta, ou seja, alterações da cobertura preendido pela área de estudo que abrange os mu-
trabalhos de campo e a ampliação das vegetal, especialmente fragmentação do hábitat e nicípios de Paragominas, Ulianópolis, Tomé-Açu,
amostras depositadas em museus vêm re- intensa exploração madeireira; e pressão de caça. Ipixuna do Pará e Aurora do Pará.
sultando na descrição de espécies novas, Carvalho Júnior (2003) estudou o efeito da caça e
correções de distribuições geográficas, da exploração seletiva de madeira sobre a popula- MATERIAIS E MÉTODOS
reclassificação de táxons e revalidação de ção de primatas em um fragmento composto por
sinônimos. Exemplos disso podem ser três tipos de hábitats: explorado (E), não explorado Campanhas de campo
vistos nos estudos de Hershkovitz (1985, (NE) e floresta secundária (FS). O trabalho de campo compreendeu quatro
1987a, 1987b), Mittermeier et al. (1992), A parte leste do Estado do Pará pode ser vista campanhas, sendo duas fluviais, ocorridas em de-
Queiroz (1992), Gregorin (1995), Weksler como uma das áreas prioritárias para inventários zembro de 2004 e em junho de 2005, e duas terres-
(1996), Harada e Ferrari (1996), Roosma- e ações conservacionistas na Amazônia brasileira, tres, feitas no final de fevereiro e início de março
len et al. (1998, 2000, 2002), Silva Júnior uma vez que esta região vem sendo alvo de altas ta- de 2005 e em julho de 2005 (Ver Mapa de Campa-
e Noronha (1998), Ximenes (1999), Silva xas de desmatamento desde o início da colonização nhas de campo).
Júnior (2001) e Weksler et al. (2001). européia. Apesar de o leste do Pará ser considerado Durante as campanhas fluviais (rios Capim e
A Amazônia é uma das regiões menos como uma das áreas amazônicas mais bem estuda- Acará-Mirim), foram aplicadas entrevistas estru-
estudadas do Brasil. Neste bioma, exis- das, com grandes amostras de mamíferos deposi- turadas (adaptadas de Holland et al., 1989; Lopes,
tem grandes extensões geográficas onde tadas nos principais museus brasileiros e também 1993) à população ribeirinha, utilizando questio-
o conhecimento é incipiente ou quase em museus de países do hemisfério norte, a verda- nários com abordagens sobre atividade socioeco-
nulo. Segundo Vivo (1996a, 1996b) e Sil- deira dimensão da diversidade de mamíferos nesta nômica, consumo de subsistência (caça) e per-
va Júnior (1998), o principal fator respon- área ainda está longe de ser conhecida. guntas específicas sobre espécies endêmicas, raras,
sável pelas deficiências no conhecimento De acordo com Caughley e Gunn (1996), Ro- ameaçadas, de interesse econômico ou predadores
sobre diversidade e distribuição geográ- binson e Bodmer (1999) e Silva et al. (2001), a es- de topo de cadeia. Durante as entrevistas, questões

elementos da biodiversidade
fica dos mamíferos da fauna brasileira é cassez de informações básicas sobre vários aspectos sobre a criação em cativeiro de animais silvestres
a baixa amostragem. Existem diferenças, da história natural das populações silvestres tem também foram abordadas, e a eventual presença
em diversas escalas, na situação do co- dificultado um melhor conhecimento da mas- destes serviu para confirmar sua ocorrência na lo-
nhecimento atual no âmbito regional. Na tofauna amazônica e, conseqüentemente, o seu calidade, além da investigação de alguns vestígios
Amazônia brasileira, poucos estudos pro- manejo e conservação nas matas tropicais. Desta ou partes de animais.
curaram avaliar os variados efeitos conse- forma, a realização de inventários e a identificação Nas campanhas terrestres, a coleta de dados en-
qüentes das diferentes formas de explora- dos “padrões” de uso da mastofauna de uma re- volveu uma combinação de levantamentos diurnos
ção humana sobre a mastofauna (Lopes, gião podem auxiliar as populações locais a ter um em transecções lineares (Burnham et al., 1980) da
Ferrari, 2000). Geralmente, as pesquisas conhecimento mais acurado do seu entorno, bem mastofauna arborícola e terrestre, com observações
concentram-se nos grupos de primatas como criar sistemas de monitoramento capazes de diretas e indiretas, e entrevistas com moradores lo-
(Rylands, Keuroghlian, 1988; Peres, 1990; avaliar o sucesso, ou não, de uma ação de conser- cais. Duas propriedades particulares, localizadas no
Ferrari et al., 2003). vação. Tendo como base tais premissas, o presente município de Paragominas, foram visitadas duran-
Lopes e Ferrari (2000) pesquisaram a trabalho procurou levantar, por meio de observa- te as campanhas terrestres. A primeira foi a Fazenda
mastofauna em cinco sítios localizados ções diretas e indiretas, informações básicas sobre Vitória (02°59’4,47”S e 47°25’53,2”W), localizada

125
cerca de cinco quilômetros da cidade. A fazenda mentos sistemáticos de mamíferos diurnos de mé- lômetros, a pressão de caça era presente, embora
tem aproximadamente 51% (1.809 ha) de sua área dio e grande porte por meio do método de transec- baixa, até 1999, quando foi proibida. A atividade
total constituída por dois fragmentos florestais ção linear (Burnham et al., 1980, 1985; Brockelman, de caça ocorrida neste período era realizada pelos
com exploração seletiva de madeira (ou exploração Ali, 1987). Durante a fase inicial e de execução do funcionários apenas durante a folga, e os animais
elementos da biodiversidade

convencional - EC), e o restante desta área (1.787 levantamento, procurou-se investigar a ocorrência caçados serviam somente para alimentação das
ha) continha plantação de grãos (milho e arroz) e de mamíferos por meio de registros diretos (visuais famílias dos funcionários.
pasto. A segunda propriedade visitada foi a Fazen- e auditivos) e indiretos (pegadas, fezes e abrigos),
da Rio Capim (03°39’51,6”S e 48°33’46,3”W), lo- com buscas ativas diurnas e noturnas. RESULTADOS E DISCUSSÕES
calizada cerca de 250 km da cidade. Esta fazenda Nas propriedades visitadas (Fazenda Vitória e
abrange em torno de 141.000 ha. Deste total, ape- Fazenda Rio Capim) existiam vários tipos fisionô- Diversidade e riqueza de espécies
nas 17.900 ha possuem pastos. Da área florestada, micos de floresta. Entretanto, apenas a floresta de De forma geral, a diversidade de mamíferos
cerca de 11.000 ha são de preservação, 15.000 ha terra firme foi levantada em ambos os sítios. não voadores de médio e grande porte encon-
são áreas produtivas a serem exploradas e mais de trada nos três municípios inventariados corres-
98.000 ha são produtivas já exploradas. A explo- Identificação das espécies pondeu a 90% do padrão esperado para a área de
ração madeireira utilizada na floresta é do tipo de Os procedimentos de identificação e atuali- estudo (Tabela 1). Cerca de 88% das espécies fo-
impacto reduzido (EIR). zação da nomenclatura das espécies de mamí- ram encontradas no município de Paragominas,
feros seguiram chaves de classificação, como as 78% em Ipixuna do Pará e 63% em Tomé-Açu
Resgate de dados secundários de Eisenberg (1989), Emmons e Feer (1997) e (Tabelas 1 e Anexo 7).
Para compilar o conhecimento atual sobre a Eisenberg e Redford (1999), as publicações da No município de Ipixuna do Pará, o conjunto
diversidade de mamíferos na área dos municípios Mammalian Species, as revisões sistemáticas e le- de espécies de mamíferos não voadores de mé-
inventariados, foi feito um levantamento sistemá- vantamentos de mamíferos não voadores (Her- dio e grande porte, inventariado nas margens do
tico dos registros disponíveis na literatura (Lopes, shkovitz, 1950, 1977, 1983, 1984, 1985; Hill, rio Capim, foi constituído por 22 famílias, 35
1993; Emmons, Feer, 1997; Eisenberg, Redford, 1960; Cerqueira, 1980, 1985; Torres de Assump- gêneros e 40 espécies (Tabela 1). Destas 22 famí-
1999; Lopes, Ferrari, 2000; Carvalho Júnior, 2003) ção, 1983; Patton, Emmons, 1985; Thorington, lias, quatro pertencem à ordem Xenarthra, cinco
e na coleção científica do Museu Paraense Emílio 1985; Hirsch et al., 1991; Silva Júnior, 1992, à Primates, quatro à Carnivora, uma à Cetacea,
Goeldi (MPEG). A partir deste levantamento, foi 2001; Costello et al., 1993; Ford, 1994; Gregorin, uma à Perissodactyla, duas à Artiodactyla e cinco
originada uma lista da diversidade de mamíferos 1995; Weksler, 1996; Ximenes, 1999) e observa- à Rodentia. Em Tomé-Açu, a diversidade de ma-
não voadores de ocorrência esperada para a área ções dos espécimes identificados na coleção do míferos inventariada nas margens do rio Acará-
inventariada. MPEG oriundos da área do inventário. Mirim foi constituída por 23 famílias, 30 gêneros
Um álbum com fotografias dos mamíferos de e 32 espécies. O número de famílias por ordem
Levantamento populacional médio e grande porte, com caracteres diagnósti- foi semelhante ao encontrado no município de
A metodologia empregada nos levantamentos cos bem definidos, foi utilizado durante as entre- Ipixuna do Pará, sendo acrescidas as ordens Si-
em transecções lineares é amplamente aplicada em vistas com os moradores locais para identificar a renia e Lagomorpha, cada uma com uma família.
inventários e em programas de monitoramento ocorrência dos mamíferos na área inventariada. Em Paragominas, a diversidade foi constituída
de fauna, pois permite gerar informações tanto da Foram utilizadas, também, as figuras dos manuais por 22 famílias, 36 gêneros e 45 espécies. Dentre
riqueza quanto da abundância de espécies. Entre- de identificação (Auricchio, 1995; Emmons, Feer, as 22 famílias, o número de famílias por ordem
tanto, ela é empregada somente para registros de 1997; Eisenberg, Redford, 1999). foi bastante semelhante ao encontrado nos dois
ocorrências de espécies com caracteres diagnósti- O esforço de amostragem foi direcionado aos municípios anteriores, exceto pela ausência das
cos capazes de permitir a identificação taxonômica mamíferos de médio e grande porte, incluindo ordens Cetacea e Sirenia. Isto se deveu ao in-
no campo. Adicionalmente, este é o único tipo de também alguns grupos de mamíferos de peque- ventário ter ocorrido em dois sítios localizados
registro possível para as espécies ameaçadas de ex- no porte. Nenhum representante da ordem Di- em terra firme, distantes de grandes cursos de
tinção, de acordo com as regras estabelecidas pelo delphimorphia e das famílias Muridae, Caviidae e água.
Ibama, quando da emissão de licença de coleta. Ini- Echimyidae (pertencentes à ordem Rodentia) foi Os resultados mais expressivos, quando com-
cialmente, a cada período de levantamento, foram inserido na listagem. Estes mamíferos são pouco paramos a diversidade esperada em relação à en-
realizados reconhecimentos da área a ser pesquisa- interessantes para a caça e de difícil identificação contrada, foram referentes às ordens Xenarthra,
da, localização, marcação e limpeza das trilhas retilí- por parte da população local, além de serem pou- Primates, Perissodactyla, Artiodactyla, Rodentia e
neas. As trilhas foram marcadas com estacas de ma- co avistados durante levantamentos diurnos em Lagomorpha (Tabela 1). O tamanho do corpo e o
deira a cada 50 metros, sendo varridas para a retirada transecções lineares. alto valor como fonte de proteína tornam a maio-
de folhas e galhos. Posteriormente, cerca de dois ou Mesmo estando a Fazenda Rio Capim locali- ria dos representantes destas ordens facilmente
mais dias após a limpeza, iniciavam-se os levanta- zada longe de grupos humanos, cerca de 30 qui- guardados na memória de moradores locais, assim

TABELA 1 – Resumo da diversidade de mamíferos (mastofauna) não voadores esperada (ESP) em relação à inventariada nos municípios de Ipixuna do Pará
(IP), Tomé-Açu (TA) e Paragominas (PA) durante as campanhas de campo.
Ordens Famílias Gêneros Espécies
ESP IP TA PA ESP IP TA PA ESP IP TA PA
Xenarthra 4 4 4 4 9 9 7 9 11 10 7 11
Primates 5 5 5 5 6 6 5 6 7 7 5 7
Carnívora 4 4 4 4 15 10 8 12 17 10 8 14
Cetácea 1 1 1 0 2 2 1 0 2 2 1 0
Sirenia 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0
Perissodactyla 1 1 0 1 1 1 0 1 1 1 0 1
Artiodactyla 2 2 2 2 2 2 2 2 4 4 3 4
Rodentia 5 5 5 5 5 5 5 5 7 6 6 7
Lagomorpha 1 0 1 1 1 0 1 1 1 0 1 1
Total 24 22 23 22 42 35 30 36 51 40 32 45
ELABORAÇÃO: Os autores (2004).

126
como a facilidade de avistamento e hábito diurno localizados em uma boa extensão do rio Acará-Mi- Riqueza, Diversidade e Abundância de
para a maioria das espécies de primatas. Desta for- rim. Nestas localidades, a ausência de relatos de P. Mamíferos em Paragominas
ma, tais espécies são comumente citadas em entre- maximus e P. brasiliensis pela população ribeirinha No município de Paragominas foi registrada a
vistas ou avistadas durante buscas aleatórias. pode ser indício da sua extinção local, principalmen- presença de 16 espécies de mamíferos, com varia-
A maior diferença evidenciada entre a diversi- te da segunda espécie, pois, durante as entrevistas ção no número total de espécies em cada sítio de
dade esperada e a encontrada foi no número de com alguns ribeirinhos mais antigos em Tomé-Açu, estudo. A riqueza (número de espécies) de mamí-
gêneros e espécies da ordem Carnívora. Em To- foi relatada a caça indiscriminada de P. brasiliensis para feros nos dois sítios da Fazenda Rio Capim (FRC)
mé-Açu, somente oito espécies pertenciam a esta o comércio de pele há cerca de trinta anos. Por ou- foi semelhante, e no sítio da Fazenda Vitória (FV)
ordem, em Ipixuna do Pará foram 10 espécies e tro lado, tais conclusões só poderão ser estendidas ao a riqueza foi a metade da encontrada nos dois sí-
em Paragominas foram 14 espécies. Esta diferença município de Ipixuna do Pará após uma ampliação tios. O esforço de amostragem nos dois sítios foi
pode estar relacionada ao comportamento destes do número de localidades inventariadas. de 137 quilômetros de transectos percorridos du-
animais, geralmente solitário, em grandes áreas de Myrmecophaga tridactyla (Tamanduá-bandeira), rante 17 dias de levantamentos sistemáticos, com
vida, e à susceptibilidade a diminuição do tamanho Speothos venaticus (Cachorro-do-mato-vinagre), esforço semelhante para cada sítio. A diversidade
das populações ou extinção local em decorrência Inia geoffrensis (Boto-cor-de-rosa), Trichechus inun- de mamíferos encontrada nos dois sítios da FRC
de caça e redução de hábitat. guis (Peixe-boi) e Tapirus terrestris (Anta) são con- foi bastante peculiar, sendo que oito espécies fo-
Todas as 18 espécies de mamíferos consideradas sideradas vulneráveis à extinção. M. tridactyla, S. ram registradas comumente nos dois sítios e este
sob algum perigo de extinção e com distribuição venaticus, T. terrestris tiveram ocorrência confirmada mesmo número de espécies foi registrado em ape-
geográfica esperada para a área de estudo tiveram em Ipixuna do Pará e Paragominas. I. geoffrensis foi nas um dos sítios. Porém, apenas quatro espécies
ocorrência confirmada durante o inventário. Des- confirmada somente em Ipixuna do Pará. T. inun- de mamíferos, Saguinus niger (Sauim-preto), Alou-
tas, Cebus kaapori (Caiarara) encontra-se critica- guis pode ocorrer em Ipixuna do Pará e Tomé-Açu, atta belzebul (Guariba-das-mãos-ruivas), Tayassu
mente ameaçada e sua ocorrência foi confirmada pois foi relatada por ribeirinhos entrevistados nas tajacu (Caititu) e Sciurus aestuans (Quatipuru) fo-
apenas nos municípios de Ipixuna do Pará e Para- primeiras localidades nestes municípios, ou seja, ram registradas em todos os três sítios de estudo
gominas. Todavia, não descartamos sua ocorrência em áreas mais baixas do rio e próximas a grandes (Tabela 2).
em Tomé-Açu, pois, em algumas localidades, ri- cursos de água. Em Paragominas, a ausência de re- Considerando os oito sítios (três pesquisa-
beirinhos citaram esta espécie durante as entrevis- latos da ocorrência dos mamíferos aquáticos deu- dos neste estudo e cinco disponíveis na literatura
tas. Tais localidades estão posicionadas no limite se, provavelmente, devido à falta de grandes cursos Lopes, Ferrari, 2000) nos quais a mastofauna foi
da porção noroeste da distribuição desta espécie de água, mas as ocorrências neste município po- pesquisada, por meio de levantamentos em tran-
(Silva Júnior, Cerqueira, 2000). dem vir a ser confirmadas. secções lineares, um total de 24 espécies foram
Priodontes maximus (Tatu-canastra), Chiropotes sa- A diversidade encontrada nos três municípios confirmadas, direta e indiretamente, para a Ama-
tanas (Cuxiú-preto) e Pteronura brasiliensis (Ariranha) inventariados pode estar superestimada, pois a zônia Oriental (Tabela 3). Myrmecophaga tridactyla
encontram-se em perigo de extinção. A ocorrência diversidade e a abundância de mamíferos podem (Tamanduá-bandeira) e Leopardus wiedii (Gato-

elementos da biodiversidade
da primeira espécie foi confirmada em Ipixuna do variar dentro de cada local investigado de acordo maracajá) foram observados pela primeira vez nes-
Pará e Paragominas, a segunda foi confirmada nos com o tipo e a intensidade da exploração huma- te tipo de levantamento. Das 26 espécies, sete são
três municípios inventariados, e a última apenas em na local. Por isso, inventários que envolvam várias de primatas e 19 de mamíferos não primatas (Ta-
Paragominas. Porém, mesmo tendo o inventário metodologias de coleta de dados são importantes bela 3). Entretanto, apenas duas espécies, Saguinus
em Tomé-Açu ocorrido com um número baixo de para pesquisas que objetivam levantar a diversida- midas (Sauim-preto) e Alouatta belzebul (Guariba-
entrevistados, os 17 pontos de amostragem estavam de da mastofauna de uma região. das-mãos-ruivas), foram diretamente observadas

TABELA 2 – Resumo da diversidade de mamíferos, primatas e não primatas, e esforço de amostragem nos três sítios levantados em Paragominas neste estu-
do, e em cinco sítios levantados por Lopes e Ferrari (2000).
Neste estudo* Lopes & Ferrari (2000) *
FRC FRC
Grupos FV FMV FBA FSM CRAI GBR
FE FNE
Mamíferos
Número de Registros 28 35 56 136 96 226 62 325
Número de Espécies 6 12 12 9 9 15 9 18
Taxa de avistamento 7,00 7,29 11,43 6,73 4,68 5,56 2,87 6,77
Taxa média 1,17 0,61 0,95 0,75 0,52 0,37 0,32 0,38
Primatas
Número de Registros 17 21 18 112 39 125 40 139
Número de Espécies 2 5 4 3 4 4 4 7
Taxa de avistamento 4,25 4,38 3,67 5,54 1,9 3,06 1,85 2,9
Taxa média 2,13 0,88 0,92 1,85 0,48 0,77 0,46 0,41
Não Primatas
Número de Registros 11 14 38 24 57 101 22 186
Número de Espécies 4 7 8 6 5 11 5 11
Taxa de avistamento 2,75 2,92 7,76 1,19 2,78 2,48 1,02 3,88
Taxa média 0,69 0,42 0,97 0,20 0,56 0,23 0,20 0,35
Quilômetros Percorridos 40 48 49 202 205 408 241 480
Legenda dos sítios:
FV Fazenda Vitória, Paragominas/PA
FRC/ FE Fazenda Rio Capim, Paragominas/PA
FRC/ FNE Fazenda Rio Capim, Paragominas/PA
FMV Fazenda Monte Verde, Peixe-boi/PA
FBA Fazenda Badajós, Ipixuna/PA
FSM Fazenda São Marcos, Irituia/PA
CRAI Companhia Real Agro-Industrial, Tailândia/PA
GBR Reserva Biológica de Gurupi/MA

Adaptado pelos autores (2004).

127
em todos os sítios. Outras seis espécies puderam niger (Sauim preto), que correspondeu à espécie Ferrari, 2003). S. niger foi considerado por Lopes
ser confirmadas nos oito sítios, através de obser- mais avistada neste sítio (Tabela 3). Um padrão (1993) como indicador de perturbação antrópica,
vações indiretas: Tamandua tetradactyla (Tamanduá- semelhante foi encontrado nos dois sítios, CRAI juntamente com Sciurus aestuans, que também teve
de-colete), Bradypus variegatus (Preguiça-bentinha), e FSM, pesquisados por Lopes e Ferrari (2000). uma alta na taxa de avistamento, principalmente
elementos da biodiversidade

Cebus apella (Macaco-prego), Saimiri sciureus (Ma- Nestes três sítios, a exploração florestal variou en- no sítio da FV.
caco-de-cheiro), Nasua nasua (Quati) e Dasyprocta tre baixa (CRAI) e intensa (FV), e a pressão de caça Entre as 26 espécies de mamíferos levanta-
prymnolopha (Cotia-do-dorso-preto). variou entre moderada (FSM) e intensa (CRAI). das na Amazônia Oriental (Tabela 3), oito são
A mastofauna nestes sítios da Amazônia Orien- Na maioria dos sítios, os primatas foram mais de interesse para a conservação, pois se encon-
tal apresenta riqueza e abundância, principalmen- abundantes que os não primatas, com exceção de tram sob algum tipo de ameaça de extinção. A
te de primatas, menos diversas se comparada com três sítios, FNE da FRC, FBA e GBR (Tabela 2). maioria teve sua ocorrência confirmada, dire-
outras áreas de floresta amazônica de terra firme, Somente um destes três sítios, GBR, encontra-se ta ou indiretamente, nos sítios localizados na
como na Amazônia Central (Ferrari et al., 2003) e localizado no maior fragmento e ainda está sob FRC. Destas, Cebus kaapori (Caiarara) é a única
Ocidental (Emmons, 1984; Peres, 1997). Isto pro- pouca pressão de caça e com baixa exploração flo- espécie que se encontra na categoria criticamen-
vavelmente se deve à grande influência da intensa restal. Nos outros cinco fragmentos com maior te ameaçada. Esta espécie e a Chiropotes satanás
colonização humana na Amazônia oriental e a fa- abundância de não primatas, embora as taxas de (Cuxiú-preto), vulnerável, constituem os ma-
tores inerentes ao meio abiótico, tais como a ferti- avistamento não tenham apresentado uma rela- míferos mais ameaçados, pois apresentam dis-
lidade do solo. ção com o tamanho do fragmento, observam-se tribuição geográfica restrita e são endêmicos à
A taxa de avistamento de mamíferos na FNE da alguns padrões que podem estar relacionados região mais densamente povoada e intensamen-
FRC foi quase que o dobro da taxa encontrada nos com o tipo e a intensidade de exploração huma- te perturbada da Amazônia brasileira. Embora
dois outros sítios onde existia algum tipo de ex- na. Por exemplo, os fragmentos menores e mais C. kaapori seja considerada uma espécie rara na
ploração antrópica, isto é, nos sítios da FE da FRC perturbados (FMV e FV) apresentaram, expressi- natureza (Lopes, Ferrari, 1996), ocorrendo em
e da FV. As taxas foram semelhantes nestes dois vamente, maiores abundâncias de primatas. Isto baixas densidades populacionais (Lopes, Ferrari,
sítios. Comparando-se as taxas de avistamento dos pode também ser notado no sítio na FE da FRC, 2000), os resultados encontrados no estudo da
sítios deste estudo com os outros cinco sítios pes- embora ele apresente uma baixa pressão de caça. FRC (Tabela 3) confirmaram a hipótese de que
quisados na Amazônia oriental, observamos que as Isto foi um reflexo da alta abundância de Saguinus C. kaapori pode ser mais abundante que C. sata-
taxas encontradas neste estudo são maiores. Entre- niger e∕ou Saimiri sciureus (Macaco-de-cheiro) em nas em ambientes naturais ou com algum tipo
tanto, as altas taxas de avistamento de mamíferos alguns destes sítios. Estes são primatas conheci- de exploração humana (Lopes, 1993; Carvalho
por espécie na FV deveram-se, basicamente, ao dos pela capacidade ecológica de tolerar ambien- Júnior et al., 1999). Tal hipótese é apoiada pelo
número considerável de avistamentos de Saguinus tes perturbados (Oliveira e Ferrari, 2000; Lima e fato de a dieta dos cuxiús (Chiropotes sp.) apre-

TABELA 3 – Taxa de avistamento por 10 km de transecção percorrido para as espécies de mamíferos de médio e grande porte neste estudo e em cinco sítios
na Amazônia Oriental (Lopes, Ferrari, 2000).
Neste estudo* Lopes e Ferrari (2000)*
Taxon a
FV FRC FE FRC FNE FMV FBA FSM CRAI GBR
Primatas
Alouatta belzebul c 0,75(3) 2,08(10) 2,24(11) 0,45(9) 0,20(4) 0,25(10) 0,05(1) 0,56(27)
Aotus infulatus ? + + + + + + 0,10(5)
Cebus apella c + 0,83(4) 0,41(2) –b 0,44(9) 1,00(41) 0,32(7) 0,67(32)
Cebus kaapori c – 0,42(2) 0,20(1) – – – + 0,06(3)
Chiropotes satanas c –b 0,21(1) † – 0,05(1) 0,34(14) 0,28(6) 0,37(18)
Saguinus niger 3,50(14) 0,83(4) 0,82(4) 2,28(46) 1,22(25) 1,47(60) 1,20(26) 1,10(53)
Saimiri sciureus † –b –b 2,83(57) † † + 0,02(1)
Não Primatas
Bradypus variegatus c + + + 0,45(9) 0,05(1) 0,02(1) + +
Cabassous unicinctus c ? 0,21(1) + ? ? ? ? 0,02(1)
Choloepus didactylus ? + 0,20(1) 0,05(1) + + + +
Coendou spp. ? + † ? + 0,02(1) + +
Dasyprocta prymnolopha c + 0,21(1) 2,04(10) 0,10(2) 1,41(29) 1,18(48) 0,69(15) 2,46(118)
Dasyprocta sp. c 0,21(1) 3,27(16)
Eira barbara – 0,21(1) + + + 0,05(2) + 0,02(1)
Leopardus wiedii ? –b 0,20(1) ? ? ? ? ?
Mazama americana c ? 0,21(1) 0,61(3) – 0,05(1) 0,17(7) 0,05(1) 0,35(17)
Mazama gouazoubira c ? + 0,20(1) – 0,29(6) 0,07(3) + 0,29(14)
Mazama sp. c 0,50(2) 0,20(1)
Myrmecophaga tridactyla – 0,21(1) + ? ? ? ? ?
Nasua nasua c 1,25(5) + 0,20(1) 0,05(1) + 0,15(6) 0,05(1) 0,21(10)
Sciurus aestuans 0,75(3) 1,04(5) 0,61(3) 0,50(10) 0,98(20) 0,56(23) ? 0,37(18)
Speothos venaticus ? + + ? ? 0,02(1) ? ?
Tamandua tetradactyla + + + 0,05(1) + 0,10(4) + 0,02(1)
Tapirus terrestris c – † † – – – – 0,04(2)
Tayassu pecari c – + + – – – 0,09(2) 0,02(1)
Tayassu tajacu c 0,25(1) 0,63(3) 0,20(1) – + 0,12(5) 0,14(3) 0,06(3)
Não identificado 0,42(2) 0,02(1)
*Legenda dos sítios está descrita abaixo da Tabela 2.
a
Nomenclatura das espécies seguida de acordo com este estudo.
b
Espécie ocasionalmente visita o sítio de estudo, de acordo com o relato de moradores locais.
c
Espécie caçada.
d
Símbolos: +, presentes no sítio, mas não observado; –, localmente extinto; ?, informação insuficiente; †, presente no sítio e observado fora do levantamento em transecção linear.
Adaptado pelos autores (2004).

128
sentar-se caracterizada pela exploração muito in- mando uma grande mancha de floresta. Contudo, o tamanho das populações remanescentes, bem
tensa de alguns poucos táxons botânicos (Peetz, parece razoável concluir que na FRC abrigam-se como a intensidade e o tipo de exploração humana
2001; Port-Carvalho, 2002; Santos, 2002; Silva, consideráveis populações de mamíferos com ca- neles existentes.
2003; Vieira, 2005). Desta forma, os cuxiús são racterísticas peculiares ainda não observadas em • Estimular a realização de coletas de espéci-
considerados especialistas. Os macacos-pregos e uma região com forte exploração antrópica. Além mes que ainda não se encontram bem represen-
caiararas (Cebus sp.) são generalistas, explorando disso, esta área abriga espécies ameaçadas de extin- tados nas coleções científicas, pois servirão como
uma grande variedade de itens vegetais e animais ção, agregando substancial valor para a conserva- testemunho da diversidade local, podendo ser uti-
(Mittermeier, Roosmalen, 1981; Terborgh, 1983; ção da mastofauna regional. lizadas em pesquisa na área da sistemática e da bio-
Janson, Boinski, 1992; Rosenberger, 1992). geografia.
A abundância geral de mamíferos não prima- RECOMENDAÇÕES PARA • Avaliar o efeito da fragmentação sobre a co-
tas encontrada no sítio localizado na FNE da FRC CONSERVAÇÃO munidade de mamíferos, com o maior número
foi maior que a encontrada na GBR, mesmo com possível de fragmentos levantados.
a quilométrica diferença entre os dois sítios. Tais • Incentivar a realização de levantamentos sis- • Avaliar, nos fragmentos investigados, as popu-
características podem ser decorrentes do fato de os temáticos em outros fragmentos florestais da área lações viáveis em longo prazo, e, em seguida, deter-
dois sítios da FRC (FNE e FE) estarem unidos en- de estudo, com diferentes formas e tamanhos, vi- minar as áreas potenciais para a proteção das espécies,
tre si e com outras áreas particulares vizinhas, for- sando inventariar a diversidade de mamíferos e promovendo o seu monitoramento em longo prazo.

elementos da biodiversidade

129
• Promover o manejo in situ nos fragmentos • Realizar programas de sensibilização am- tro dos limites da distribuição geográfica das espé-
isolados, objetivando a manutenção da variabilida- biental, cujo público-alvo seja a população huma- cies mais ameaçadas de extinção.
de genética das populações remanescentes. na do entorno dos fragmentos e os proprietários • Incentivar a criação de reservas particulares
• Conscientizar e incentivar os proprietários da terra. pelos proprietários dos fragmentos florestais, mes-
elementos da biodiversidade

das terras a manterem algum tipo de conexão dos • Criar e priorizar um plano de conservação e mo para as florestas que já tenham sofrido algum
fragmentos de suas propriedades com os fragmen- manejo na área de estudo, de forma a promover tipo de exploração.
tos vizinhos, permitindo, com isso, o fluxo gênico a integração e o desenvolvimento socioeconômico • Aumentar a fiscalização sobre os que estimu-
entre as populações mais próximas. da população humana local. lam a caça comercial de espécies devido a sua pele e
• Intensificar os estudos sobre a biologia das es- • Estabelecer novas unidades de conservação carne, além de animais vivos, por meio da mobili-
pécies endêmicas e de interesse para a conservação. nos municípios estudados, priorizando áreas den- zação dos moradores dos remanescentes florestais.

130
AVES
aves
Alexandre Aleixo
Fabíola Poletto

O
inventário atual da avifauna Campo), e por meio de compilação de espécimes vocalização emitida por uma espécie de ave não
dos municípios de Parago- ornitológicos coletados nestes municípios e depo- pôde ser identificada prontamente, ela foi gra-
minas, Ulianópolis, Tomé- sitados na Coleção Ornitológica do Museu Para- vada. Se a identificação dessa vocalização não
Açu, Ipixuna do Pará e Aurora do Pará é ense Emílio Goeldi (MPEG). O trabalho de cam- aconteceu logo após o “play-back” (que geral-
de crucial importância em virtude do grau po foi executado entre março e outubro de 2005, mente permite a visualização da ave em ques-
de antropização dessa área, considerado seguindo as metodologias descritas abaixo: tão), foi atribuído a essa gravação um código. Se
um dos mais altos de toda a região Ama- durante uma amostragem posterior, a mesma
zônica (Capobianco et al., 2001). As aves Levantamento qualitativo vocalização era registrada novamente, era regis-
são organismos ideais para a realização de Esse levantamento constituiu-se em percorrer trado apenas o código desta gravação. Na maior
monitoramentos ambientais em virtu- os diferentes ambientes de cada localidade visitada parte dos casos, após diversas tentativas, foi pos-
de de sua conspicuidade e diversificação com o objetivo de registrar as aves presentes atra- sível uma identificação dessas vocalizações, res-
ecológica na região Amazônica (Remsen, vés de contatos visuais e auditivos. Cada registro gatando, assim, a identidade das espécies “não
Parker, 1983; Stotz et al., 1997). Portanto, ou grupo de registros numa mesma localidade fo- identificadas” durante as amostragens.
levantamentos de avifauna georreferen- ram georreferenciados com o auxílio de um equi-
ciados permitem uma avaliação rápida e pamento de GPS. Capturas com redes de neblina
acurada do estado de conservação e da di- Os levantamentos qualitativos foram realizados Capturas com redes de neblina foram realiza-
versidade atual de ambientes. no intervalo entre 30 minutos antes do nascer do das como metodologia complementar ao levan-
Pretende-se estudar a avifauna da área sol até cinco ou seis horas após este, período que tamento qualitativo com o objetivo de registrar
por meio de duas abordagens principais: representa o pico diário de atividade da avifauna espécies não detectadas vocal ou visualmente
(1) análise da riqueza específica, diversi- e permite a detecção tanto de espécies noturnas durante a realização do levantamento qualita-
dade e similaridade entre as comunidades quanto diurnas (Blake, 1992). Durante a amostra- tivo. Redes de neblina foram colocadas em to-
de aves dos diferentes ambientes e setores gem, os observadores registravam numa caderne- das as localidades estudadas, sendo a posição de
da área de estudo, e (2) análise geográfica ta de campo todos os indivíduos e espécies vistos cada uma georreferenciada com o auxílio de um
dos registros de espécies bioindicadoras, e/ou ouvidos numa determinada localidade, com equipamento de GPS.
endêmicas e de especial interesse para a o tipo de ambiente e as coordenadas geográficas

elementos da biodiversidade
conservação, que permitirão a identifica- onde as espécies eram registradas. Levantamento de dados
ção de áreas prioritárias para a conserva- Nos casos em que a identificação imediata de secundários / históricos
ção da biodiversidade nos municípios em uma determinada ave era impossibilitada, foi re- Parte do inventário de avifauna consistiu em le-
estudo. alizada a coleta científica (conforme licença no vantar espécimes coletados anteriormente nos mu-
029/2005-CGFAU/LIC; 02001.001229/2003-30, nicípios de Paragominas, Ulianópolis, Tomé-Açu,
METODOLOGIA emitida pelo IBAMA), que foi preparada como Ipixuna do Pará e Aurora do Pará e depositados na
material zoológico e depositada na coleção de Coleção Ornitológica do Museu Paraense Emílio
O Levantamento da avifauna foi reali- aves do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Goeldi. O Quadro 1 lista as localidades desses mu-
zado a partir de trabalho de campo con- Posteriormente foi identificada com base numa nicípios (exceto Aurora do Pará) trabalhadas pelos
duzido pela equipe do projeto em várias análise comparativa com espécimes desta mes- coletores de material ornitológico, bem como o
localidades (ver Mapa de Campanhas de ma coleção. Nos casos em que uma determinada período em que as coletas foram realizadas.

131
Quadro 1 – Localidades onde foram realizadas coletas prévias de material ornitológico depositado na Coleção Ornitológica do Museu Paraense Emílio Go-
eldi oriundo dos municípios de Paragominas, Ulianópolis, Tomé-Açu e Ipixuna do Pará.
Município Localidade Coordenadas Período Coletor
Ulianópolis BR-010 4º35´S; 47º40´W1 1962 J. Hidasi.
elementos da biodiversidade

Ulianópolis BR-014 4º35´S; 47º40´W1 1968 M. Moreira.


Tomé-Açu Estrada Jamic km43 2º09´S; 40º00´W1 1964 M. Moreira
Paragominas Fazenda Vitória 2º57´21,4´´S; 47º22´59,1´´W 1985, 1986, 1989, 1990 Diversos coletores do MPEG
Paragominas Fazenda Cauaxi 3º43´52,2´´S; 48º17´25,7´´W 1998 e 1999 A. Aleixo
Tomé-Açu Massaranduba Não encontradas 1965 F. Novaes
Tomé-Açu Roda D´água Não encontradas 1994 Rosemiro Neto e Manoel Santa Brígida
Tomé-Açu Roda D´água Não encontradas 1994 Rosemiro Neto e Manoel Santa Brígida
Ipixuna do Pará Mina de Caulim Não encontradas 1994 Rosemiro Neto e Manoel Santa Brígida
1
Coordenadas estimadas a partir de dados dos coletores ou com base em Paynter e Traylor (1991).
ELABORAÇÃO: Os autores (2004).

RESULTADOS A riqueza de espécies associadas a paisagens não comunidade de aves dos municípios de Parago-
florestais (pastagens e lagos e brejos) é explicada minas, Ulianópolis, Tomé-Açu, Ipixuna do Pará e
Foi obtido um total de 1.020 registros com 354 em grande parte pela colonização da região por Aurora do Pará. O manejo florestal através de téc-
espécies de aves durante os trabalhos de campo e a espécies de cerrado ou associadas a áreas antropi- nicas como o corte seletivo de árvores (em curso,
partir de metadados recuperados de espécimes de- zadas a partir da década de 1960, com a abertura por exemplo, em áreas de floresta arrendadas pela
positados na Coleção Ornitológica do Museu Pa- da rodovia Belém-Brasília. Essas espécies ainda madeireira Cikel) ou a ampliação da área coberta
raense Emílio Goeldi. Como se observa na Tabela continuam a se expandir na região em função da por Sistemas agroflorestais (SAF’s) constituem al-
2, os elementos florestais da paisagem são muito ampliação do desmatamento. No entanto, como ternativas de ocupação bem menos danosas às aves
mais ricos em espécies de aves que os não flores- se observa na Tabela 1, nenhuma destas espécies é do que o desflorestamento extensivo que, infeliz-
tais. Além disso, todas as espécies de aves ameaça- de interesse especial para a conservação; na verda- mente, ainda é a forma predominante de intervenção
das e a maior parte das espécies “especiais” ocorrem de, na sua grande maioria, espécies de ambientes antrópica.
em apenas um único tipo de ambiente/paisagem: abertos na área estudada têm ampla distribuição Não menos importante é a criação urgente de
a floresta de terra firme, que também constitui o geográfica e se beneficiam do desflorestamento. unidades de conservação (UC’s), tanto de uso di-
ambiente mais rico de espécies de aves entre todos reto quanto indireto. A parte sul dos municípios
os amostrados. RECOMENDAÇÕES de Paragominas e Tomé-Açu detém, em conjun-
Espécies associadas à “borda de floresta” são to, um dos maiores blocos contínuos de floresta
também florestais, mas mostram em média uma O levantamento da avifauna revelou que a do denominado Centro de Endemismo Belém,
tolerância bem maior a alterações antrópicas que maior parte da comunidade de aves presente na a região biogeográfica Amazônica mais ameaçada
aquelas associadas à floresta de terra firme, sendo, área de estudo está associada à paisagem florestal. pelo homem, com apenas cerca de 30% da cober-
por isso, predominantes em florestas secundárias O componente não florestal é ainda reduzido, mas tura florestal original (Silva et al., 2005). Portanto,
manejadas, como talhões explorados por corte se- tem aumentado sua importância em função do é da máxima urgência que UC’s sejam demarca-
letivo de madeira e sistemas agroflorestais (SAF’s). desflorestamento em curso na área desde a década das nesses municípios que, como nossos levanta-
O baixo número de espécies associado à floresta de de 1960. É também na comunidade de aves ligada mentos de campo comprovaram, ainda abrigam
várzea / igapó (17) é explicado pelo fato de o siste- a ambientes florestais (especialmente à floresta de comunidades de aves praticamente não impacta-
ma hidrográfico da área de estudo ser bem menos terra firme) que se encontram aquelas espécies de das (Fazendas Cauaxi e Rio Capim, por exemplo).
influente sobre a paisagem do que, por exemplo, interesse especial para a conservação. Áreas ainda detentoras de floresta de terra firme
na região do Baixo Amazonas, onde um grande Nesse sentido, a ocupação da área por meios contínua e em bom estado de conservação devem
número de espécies de aves é associado ao am- que não envolvam o desflorestamento exten- ser prioritárias para a conservação nos municípios
biente de florestas sazonalmente alagadas. sivo é de importância crucial para o futuro da estudados.

TABELA 1 - Riqueza total de espécies de aves e riqueza / proporção de espécies de aves ameaçadas e
“especiais” entre unidades de paisagem dos municípios de Paragominas, Ulianópolis, Tomé-Açu e Ipi-
xuna do Pará.
Riqueza de Riqueza / proporção de Riqueza / proporção de
Paisagem
espécies espécies ameaçadas 1 espécies especiais 2
Floresta de terra-firme 194 12 (6,2%) 20 (10,3%)
Borda de floresta 77 0 4 (5,2%)
Pastagens 52 0 0
Floresta de várzea / igapó 17 0 0
Lagos e brejos 14 0 0
1
Status de ameaça como definido por Ibama (2003), IUCN (2004) e Aleixo (2005).
2
Espécies “especiais” são aquelas com distribuição restrita na Amazônia, endêmicas ou que possuem táxons endêmicos no Centro de En-
demismo Belém, unidade biogeográfica onde se inserem os municípios estudados.
ELABORAÇÃO: Os autores (2004).

132
FOTOS 1 a 5 – Espécies de aves bioindicadoras (bio) ou ameaçadas de extinção (ame): (1) Hylopezus macularius – Torom Carijó (bio); (2) – Crax fasciolata
Mutum de Penacho (bio); (3) Dendrocincla merula badia – Arapaçu-da-Taoca (ame); (4) Formicarius colma – Galinha-do-Mato (bio); (5) Harpia harpyja – Gavião
Real (bio).

(1)

(2)

(3)

biodiversidade
(4)

FOTOS: José Silva Jr. (2004)

(5)

133
elementos da biodiversidade

134
135
elementos da biodiversidade
136
FAUNA ASSOCIADA ÀS
BACIAS DOS RIOS
CAPIM E
ACARÁ-MIRIM

137
PEIXES
peixes
Luciano Fogaça de Assis Montag • Valéria de Albuquerque Oliveira
Deyse Gonçalves de Oliveira • Wolmar Benjamin Wosiacki
elementos da biodiversidade

O
objetivo deste texto é apre- que foram estabelecidas dez estações de coletas ao 10%, por 48 horas, para, posteriormente, serem
sentar a composição de es- longo do rio Capim, nos municípios de Paragomi- mantidos em álcool 70% como testemunhos na
pécies, a distribuição espacial nas, Ipixuna do Pará, Aurora do Pará, São Domingos coleção ictiológica do Museu Paraense Emílio Go-
e a diversidade específica das comunidades do Capim e São Miguel do Guamá, e seis estações ao eldi (MPEG/MCT), localizado na cidade de Be-
de peixes nos rios Capim e Acará-Mirim e, longo do rio Acará-Mirim nos municípios de Acará lém (PA). A identificação das espécies foi realizada
também, de alguns igarapés das bacias des- e Tomé-Açu. No rio Capim, as estações foram plota- mediante bibliografia especializada (e.g.: Burgess,
tes rios, uma vez que a ictiofauna dos igara- das distando aproximadamente 30 km em menor dis- 1989; Géry, 1977; Menezes, 1976; Santos et al.,
pés é considerada a fração menos conheci- tância percorrida; já no rio Acará-Mirim, a distância 1984) e, quando necessário, com o auxílio de espe-
da, maior e mais ameaçada da diversidade aproximada das estações de coleta foi de 20 km. Nos cialistas de diferentes grupos taxonômicos. Devido
de peixes do Estado do Pará. Este objetivo igarapés, o programa de amostragem para a captura à situação da sistemática e da taxonomia dos peixes
foi alcançado por meio da aplicação de uma da ictiofauna foi desenvolvido em dez cursos d’água tropicais de água doce, além da profusão de espé-
metodologia padronizada de coleta de peixes das bacias dos rios Capim e Acará-Mirim, localizados cies não descritas, algumas das espécies coletadas
e de dados ambientais, que possibilitaram a nos municípios de Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, ainda estão, por precaução, separadas por morfo-
obtenção dos seguintes conjuntos de dados: Paragominas e Tomé-Açu. Os igarapés pesquisados espécies.
1) composição taxonômica da ictiofauna apresentaram aproximadamente 20 m de largura e 1
e contribuição, em termos de número de m de profundidade, e situam-se na área das nascentes • Análise de dados
indivíduos, de cada espécie para o conhe- dos rios Capim e Acará-Mirim. Os pontos de coletas A caracterização da comunidade de peixes de
cimento da ictiofauna local; e 2) descrição foram estabelecidos ao longo das principais rodovias cada estação de amostra foi realizada através de
de cada ambiente coletado, acompanhada da área de estudo 1 (ver o Mapa de Campanhas de estimativas de parâmetros univariados (índices
de ilustrações fotográficas e alguns parâme- campo – Peixes). de uniformidade de Pielou) e riqueza observada
tros ambientais (Box 1). Esperamos que os e esperada. Neste último (riqueza) foi utilizado o
dados assim obtidos, além de fornecer um • Biometria estimador Chao1 para as bacias dos rios Capim e
retrato instantâneo e um testemunho du- As medidas de peso corporal (g) e o compri- Acará-Mirim. As análises de agrupamento foram
radouro de cada trecho amostrado, possam mento padrão (cm) (distância do extremo do foci- utilizadas para classificar as localidades de acordo
servir, também, para subsidiar a conserva- nho ao pedúnculo caudal) foram obtidos de todos com as abundâncias e riqueza das espécies, sepa-
ção e o manejo dos ecossistemas aquáticos, os peixes capturados por redes de espera, a fim de rando as estações com fauna mais distinta e unindo
não só em relação à área de estudo, mas, estimar a biomassa e o tamanho médio dos indi- as mais semelhantes. O método adotado foi o de
também, para o Estado do Pará. víduos. A pesagem de cada indivíduo foi realizada ligação pela Média de Grupo (UPGMA – Unwei-
por meio de uma balança digital EKS com capa- ghthed Paired Group Method by Mathematical
MATERIAL E MÉTODOS cidade para 2.000 g e precisão de 1g. O compri- Average). O coeficiente de semelhança foi o Índice
mento padrão (cm) foi medido com uma régua de de similaridade de Morisita-Horn. Uma análise de
• Programa de Amostragem alumínio de 60 cm com precisão de 0,5 cm. Componente Principal (PCA) foi também desen-
O programa de amostragem para a cap- volvida a fim de verificar quais espécies contribu-
tura da ictiofauna nos rios foi realizado por • Fixação e Preservação íram para a diferenciação dos grupos gerados pela
meio de uma amostragem sistemática, em Os exemplares foram fixados em formalina a análise de agregação.

1
Os peixes coletados nos rios Capim e Acará-Mirim obedeceram à licença de coleta de material biológico no 0090/2004. Nos igarapés, as coletas obedeceram à licença de coleta
de material biológico no 0090/2004.

138
RESULTADOS E DISCUSSÕES depois de mais de duas décadas da publicação do xuna do Pará, Aurora do Pará, São Domingos do
trabalho de Bölkhe et al. (1978), ainda são relati- Capim, São Miguel do Guamá, Acará e Tomé-Açu
• Composição geral da ictiofauna vamente poucos os trabalhos de cunho ecológico/ (Baseada em Lauder e Liem, 1983, para as categorias
Foram identificadas 115 espécies, porém, mui- naturalístico envolvendo ambientes fluviais de pe- superiores a Ordem).2 Quando comparamos a bacia
tas das espécies registradas neste trabalho (55 es- queno e médio porte (Castro, 1999). Esse fato ex- do rio Acará-Mirim com a bacia do rio Capim, esta
pécies) apresentam status taxonômico deficiente, plica os problemas freqüentes relativos aos limites última apresentou uma maior riqueza de espécies
o que revela o pouco conhecimento da ictiofauna taxonômicos de espécies de riachos e rios da região (61 e 94, respectivamente), como pode ser observa-
da região e reforça a necessidade de mais trabalhos Neotropical (Pavanelli, Caramaschi, 1997). do no Anexo 2 do Atlas. O rio Capim apresentou 50
taxonômicos sobre a ictiofauna sul-americana, É mostrada, no Quadro 1, a lista das espécies espécies exclusivas, representando 45% das espécies
conforme já apontado por vários autores (Bölkhe de peixes catalogadas para a bacia dos rios Capim e encontradas nas duas bacias, e o rio Acará-Mirim 17
et al., 1978; Menezes, 1992; Reis, 1992). Mesmo Acará-Mirim nos municípios de Paragominas, Ipi- espécies, o que representa 15% das espécies.

BOX 1
O AMBIENTE DA ICTIOFAUNA NOS res, abaixo dos primeiros afloramentos de rocha. erosão das margens fornece o sedimento do leito e
RIOS CAPIM E ACARÁ-MIRIM Neste trecho, o rio apresenta-se em forma de me- pode criar bancos de areia que, em certas situações,
andros, com fortes curvas. O leito do rio é predo- dificultam o tráfego de embarcações de maior cala-
As bacias hidrográficas são unidades físicas ideais minantemente arenoso, com o fundo constituído do. Nos trechos inferiores (alto curso), os terrenos
para a elaboração de um planejamento integrado – de dunas extensas e de pouca altura (até cerca de marginais são constituídos por campos, inclusive
unidade física e unidade biológica. Como uma ba- 3,0 m). Ocorrem, normalmente nas margens e com numerosas fazendas de gado. Quase sempre,
cia hidrográfica segue uma hierarquia fluvial, cabe fora do canal de navegação, alguns afloramentos porém, a mata ciliar esconde estes campos da vista
iniciar os trabalhos nas sub-bacias de ordem hie- de materiais resistentes, sobretudo arenitos e can- de quem navega pelas águas do rio.
rárquica inferior, as chamadas microbacias, para ga. Praticamente não existe pedregulho no leito de Em relação à vegetação ripária, a área do alto
que, num processo de integração, atinja-se as de rio, havendo, apenas, e raramente, alguns conglo- do rio Capim é dominada por Astrocaryum jaua-
nível superior (ver Organização da Drenagem). merados com seixo fino rolado. ri Mart. (jauari) e Campsiandra laurifólia Benth.
Desta forma, os estudos sobre a ictiofauna da área As margens do rio, no trecho inferior, são bai- (acapurana), principalmente nos grandes lagos
de estudo incidiram sobre duas bacias: Capim e xas e alagadiças. Já nos trechos superiores, o re- marginais. Porém, a área do baixo rio Capim é do-
Acará-Mirim, incluindo não somente os rios prin- levo é mais acentuado, com colinas suaves, e as minada por espécies como: Cabomba spp. (muru-
cipais, mas, também, alguns igarapés. margens são mais elevadas, em processo de forte ré), Caryocar spp. (piquiarana), Eichhornia spp..

elementos da biodiversidade
O rio Capim é afluente da margem esquerda erosão (Foto 1). Normalmente, uma das margens (apés) e Euterpe oleracea Mart. (açaí), estando au-
do rio Guamá e nasce nos contrafortes da Serra apresenta-se então abrupta e a outra, baixa e pan- sentes os lagos. As margens rasas, no baixo Capim,
dos Coroados, no Sudeste do Estado do Pará. Sua tanosa, com numerosas lagoas permanentes e ter- são dominadas por macrófitas emergentes, como
extensão total é da ordem de 600 km, dos quais renos alagáveis em longas extensões, com domínio “aningas” (Montrichardia spp.), e flutuantes fixas
cerca de 470 km corre sobre terrenos sedimenta- de “jauari” (Astrocaryum jauari Mart.) (Foto 2). A como os “apés” Eichhornia spp. (Foto 3)
O rio Acará-Mirim nasce ao sul do municí-
pio de Tomé-Açu e toma direção
N-NE, desaguando no rio Acará,
município de Acará. O rio Acará-
Mirim possui inúmeros afluentes,
sendo de maior importância os da
margem direita. São mais conheci-
dos o rio Tomé-Açu e os igarapés
Araraguara, Timboteua, Binteua,
Tucumandeua e Mococões. Pela
margem esquerda, destacam-se os
igarapés Água Azul, Tucumandeua
e os rios Cuxiú e Mariquita. Em
relação à vegetação ripária, o rio
Acará-Mirim (Foto 4) apresenta
uma certa homogeneidade. Em to-
dos os trechos foram encontrados
Macrolobium spp. (apeú), Montri-
chardia spp. (aninga), Pachira aqua-
tica Aubl. (mamorana), Dypteryx
odorata Aublet, (cumaru), Euter-
pe oleracea Mart. (açaí), Mauritia
flexuosa L. f. (buriti) e Eichhornia
spp. (apés).

FOTO 1 – Processo de erosão é característico no trecho superior do rio Capim.

2
Os representantes destas espécies encontram-se depositados na coleção ictiológica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém - PA, através das séries MPEG 8050 a MPEG
8099, MPEG 8123 a MPEG 8153; MPEG 8230 a MPEG 8258; MPEG 8399 a MPEG 8424; MPEG 8532 a MPEG 8554; MPEG 9087 a MPEG 9299; MPEG 8455 a MPEG 8531.

139
BOX 1
elementos da biodiversidade

FOTO 2 – Os lagos marginais com dominância de Jauari (Astrocaryum jauar Mart.) são freqüentes na área do Alto Capim.

FOTO 3 – Área do baixo rio Capim, onde as margens baixas favorecem o aparecimento de aningas (Montrichardia spp.) e apés (Eichornia spp.).

140
BOX 1

FOTOS BOX 1: Luciano Montag (2004).


FOTO 4 – Rio Acará-Mirim, no qual as margens são dominadas por “aningas” (Montrichardia spp.) e “buritis” (Mauritia flexuosa L. f. ) e ciperáceas.
FONTE DAS FOTOS: Os autores, trabalho de campo, mar. 2005.

QUADRO 1 – Lista taxonômica de peixes de água doce catalogados para as bacias dos rios Capim e Acará-Mirim (modificada de Lauder & Liem, 1983 para as categorias

elementos da biodiversidade
superiores a ordem). Ilustrações modificadas de >http://www.fishbase.org<.

CHONDRICHTHYES Hyphessobrycon copelandi Durbin, 1908


ELASMOBRANCHII Iguanodectes spilurus (Günther, 1864)
RAJIFORMES Metynnis hypsauchen (Müller & Troschel, 1844)
POTAMOTRYGONIDAE Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882)
Potamotrygon orbignyi (Castelnau, 1855) Moenkhausia sanctaefilomenae (Steindachner, 1907)
Moenkhausia sp.
Myleus sp.
OSTEICHTHYES Pristobrycon eigenmanni Norman, 1929
ACTINOPTERYGII Pygocentrus nattereri Kner, 1858
TELEOSTEI Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
CLUPEOCEPHALA Triportheus albus Coper, 1872
CLUPEOMORPHA
CLUPEIFORMES
ENGRAULIDIDAE ACESTRORHYNCHIDAE
Anchovia surinamensis (Bleeker, 1866) Acestrorhynchus falcatus (Bloch, 1794)
Pterengraulis atherinoides (Linnaeus, 1766) Acestrorhynchus falcirostris (Cuvier, 1819)
Acestrorhynchus microlepis (Schombergk, 1841)
PRISTIGASTERIDAE Acestrorhynchus nasutus Eigenmanni 1912
Pellona castelnaeana Valenciennes, 1847 CYNODONTIDAE
Pellona flavipinnis (Valenciennes, 1837) Cynodon gibbus Spix & Agassiz, 1829
OSTARIOPHYSI Hydrolycus scomberoides (Cuvier, 1816)
OTOPHYSI
CHARACIFORMES HEMIODONTIDAE
CHARACIDAE Hemiodus semitaeniatus Kner, 1858
Agoniates halecinus Müller & Troschel, 1845 Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794)
Astyanax sp.1
Astyanax sp.2 CHILODONTIDAE
Brachychalcinus sp. Caenotropus labyrinthicus (Kner, 1858)
Brycon aff. cephalus (Günther, 1869) Chilodus punctatus Müller & Troschel, 1844
Bryconops sp.1
Bryconops sp.2 CURIMATIDAE
Charax gibbosus (Linnaeus, 1758) Curimatopsis evelynae Géry, 1964

141
Curimatopsis macrolepis (Steindachner, 1876) Auchenipterichthys longimanus (Günther, 1864)
Cyphocharax cf. spilurus (Günther, 1864) Auchenipterus nuchalis (Spix, 1829)
Cyphocharax sp. Centromochlus sp.
Trachelyopterus galeatus (Linnaeus, 1766)
elementos da biodiversidade

ANOSTOMIDAE CALLICHTHYIDAE
Anostomidae gen.1 Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)
Anostomus sp. Corydoras sp.
Laemolyta garmani (Borodin, 1931) Megalechis sp.
Laemolyta sp. PIMELODIDAE
Leporinus affinis Günther, 1864 Pimelodus ornatus Kner, 1858
Schizodon sp.1 Pimelodus sp.1
Schizodon sp.2 Pimelodus sp.2
Pseudoplatystoma fasciatum (Linnaeus, 1766)
CTENOLUCIIDAE HEPTAPTERIDAE
Boulengerella maculata (Valencennes in Cuvier Gladioglanis sp.
& Valenciennes, 1850) Rhamdia sp.
LORICARIIDAE
ERYTHRINIDAE Ancistrus sp.
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Farlowela sp.
Hemiodontichthys sp.
CRENUCHIDAE Loricariidae gen.1
Characidium sp. Peckoltia sp.
Crenuchus spilurus Günther, 1863 Pseudoloricaria sp.
Microcharacidium sp. Rineloricaria sp.
GASTEROPELECIDAE NEOTELEOSTEI
Carnegiella strigata (Günther, 1864) ACANTHOPTERYGII
ATHERINOMORPHA
LEBIASINIDAE BELONIFORMES
Nannostomus beckfordi Günther, 1872
Nannostomus eques Steindachner, 1876 BELONIDAE
Nannostomus marginatus Eigenmann, 1909 Potamorrhaphis guianensis (Jardine, 1843)
Pyrrhulina brevis Steindachner, 1876 CYPRINODONTIFORMES
GYMNOTIFORMES POECILIIDAE
RHAMPHICHTHYIDAE Poecilia sp.
Gymnorhamphichthys sp.
Rhamphichthys marmoratus Castelnau, 1855
HYPOPOMIDAE RIVULIDAE
Hypopomidae gen..1 Rivulus sp.
Hypopomidae gen. 2
Hypopomidae gen. 3
Hypopomidae gen. 4 PERCOMORPHA
Hypopomidae gen. 5 PERCIFORMES
Hypopygus lepturus Hoedeman, 1962 CICHLIDAE
Steatogenys sp. Acaronia nassa (Heckel, 1840)
APTERONOTIDAE Aequidens sp.
Apteronotus albifrons (Linnaeus, 1766) Apistogramma sp.1
Apistogramma sp.2
GYMNOTIDAE Cichla pinima Kullander & Ferreira, 2006
Gymnotus carapo Linnaeus, 1758 Cichlassoma sp.
Gymnotus sp. Crenicichla sp.1
STERNOPYGIDAE Crenicichla sp.2
Eigenmannia sp. Geophagus sp.
Sternopygidae gen.1 Heros severus Heckel, 1840
Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider, 1801) Heros sp.
SILURIFORMES Mesonauta festivus (Heckel, 1840)
DORADIDAE Satanoperca jurupari (Heckel, 1840)
Doradidae gen.1 SCIAENIDAE
Trachydoras microstomus (Eigennman, 1912) Pachypops sp.1
ASPREDINIDAE Pachypops sp.2
Bunocephalus sp. Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840)
AUCHENIPTERIDAE
Ageneiosus sp.1 POLYCENTRIDAE
Ageneiosus sp.2 Monocirrhus polyacanthus Heckel, 1840

142
elementos da biodiversidade

Foram capturados 2.398 indivíduos nas duas GRÁFICO 1 – Famílias com os números de indivíduos capturados nas bacias dos
bacias estudadas. A família Characidae, com 687 rios Capim e Acará-Mirim.
indivíduos (28%), apresentou maior número de
indivíduos capturados, seguida pela Auchenipteri-
dae, com 437 indivíduos (18%), Lebiasinidae, com
267 indivíduos (11%), Cichlidae, com 240 indiví-
duos (10%), Engraulididae, com 228 indivíduos
(9%) e Curimatidae com 124 (5%). Cada uma das
demais famílias apresenta número de indivíduos
inferior a 5% de representatividade (Gráfico 1).

• Diversidade por bacia hidrográfica


Rio Capim
Durante este trabalho, foram coletados 74,490
kg de pescado (peso fresco) no rio Capim, de 1.026
ELABORAÇÃO: Os autores (2004).

143
indivíduos pertencentes a 61 espécies de 22 famílias, as quais estão descritas na Tabela 1. A espécie mais abundante capturada no rio Capim foi a Anchovia
surinamensis, com 204 indivíduos (20,04% do total), seguida pelo Ageneiosus sp., Auchenipterichthys longimanus e Cyphocharax cf. spilurus com 176
(17,29%), 165 (16,21%) e 63 (6,19%) indivíduos, respectivamente. Estas cinco espécies representaram mais da metade (60%) da captura total, indicando uma
dominância delas.
elementos da biodiversidade

TABELA 1 - Lista das espécies de peixes coletadas por redes de espera no rio Capim em março de 2005. Família das espécies; código da espécie (ID-SPC);
nome da espécie; Freqüência relativa (%) da abundância para a coleção total (N = 1026); abundância de indivíduos capturados (N); peso total (g) capturado
(PT); comprimento padrão (cm) médio da espécie (CPM); e peso médio (g) dos indivíduos na coleção total (PM).
Familia ID-SPC Nome científico % N PT CPM PM
Engraulidae sp01 Anchovia surinamensis 20,04 204 1734 9 11
Auchenipterichidae sp02 Ageneiosus sp. 17,29 176 6282 16 36
Auchenipterichidae sp03 Auchenipterichthys longimanus 16,21 165 8867 13 54
Curimatidae sp04 Cyphocharax spilurus 6,19 63 643 8 11
Auchenipterichidae sp05 Auchenipterus nuchalis 4,22 43 752 12 17
Hypopomidae sp06 Hypopomidae sp3 2,85 29 312 24 12
Hypopomidae sp07 Steatogenys sp. 2,75 28 289 21 10
Hemiodontidae sp08 Hemiodus unimaculatus 2,26 23 857 13 39
Cynodontidae sp09 Hydrolycus scomberoides 2,06 21 16524 36 826
Characidae sp10 Myleus micans 2,06 21 5050 16 240
Hypopomidae sp11 Hypopomidae sp.2 1,57 16 163 19 10
Scianidae sp12 Plagioscion squamosissimus 1,57 16 7451 29 466
Acestrorhynchidae sp13 Acestrorhynchus microlepis 1,47 15 712 16 51
Auchenipterichidae sp14 Trachelyopterus galeatus 1,47 15 3042 21 234
Engraulidae sp15 Pterengraulis atherinoides 1,38 14 377 14 28
Cynodontidae sp16 Cynodon gibbus 1,28 13 1060 20 81,5
Characidae sp17 Brachychalcinus sp. 1,08 11 99 7 10
Characidae sp18 Bryconops melanurus <1 10 104 8 10
Auchenipterichidae sp19 Ageneiosus sp2 <1 9 1089 25 136
Chilodontidae sp20 Caenotropus aff. maculosus <1 9 96 8 12
Anostomidae sp21 Laemolyta sp. <1 9 141 10 15
Characidae sp22 Serrasalmus eigenmanni <1 9 475 11 53
Curimatidae sp23 Cyphocharax sp. <1 8 1434 19 179
Curimatidae sp24 Curimatopsis evelynae <1 7 55 7 8
Erythrinidae sp25 Hoplias malabaricus <1 7 1438 24 205
Anostomidae sp26 Leporinus affinis <1 6 280 12 47
Characidae sp27 Triportheus albus <1 6 266 14 44
Characidae sp28 Agoniates anchovia <1 5 183 17 37
Ctenoluciidae sp29 Boulengerella maculata <1 4 976 31 244
Characidae sp30 Bryconops sp2. <1 4 86 12 22
Characidae sp31 Charax gibbosus <1 4 38 8 13
Characidae sp32 Serrasalmus rhombeus <1 4 106 10 27
Doradidae sp33 Doradidae sp.1 <1 3 84 10 28
Cichlidae sp34 Geophagus sp. <1 3 319 15 106
Hemiodontidae sp35 Hemiodus semitaeniatus <1 3 36 9 12
Hypopomidae sp36 Hypopomidae sp.1 <1 3 41 17 14
Anostomidae sp37 Laemolyta garmani <1 3 36 11 16
Scianidae sp38 Pachypops sp.2 <1 3 23 8 8
Lo ricariidae sp39 Pseudoloricaria sp. <1 3 61 16 20
Characidae sp40 Pygocentrus nattereri <1 3 3436 33 1145
Acestrorhynchidae sp41 Acestrorhynchus falcatus <1 2 155 19 78
Hypopomidae sp42 Hypopomidae sp.5 <1 2 24 28 12
Scianidae sp43 Pachypops sp. <1 2 94 18 47
Loricariidae sp44 Peckoltia sp. <1 2 87 11 44
Belonidae sp45 Potamorrhaphis guianensis <1 2 260 38 65
Rhamphichiidae sp46 Rhamphichthys marmoratus <1 2 678 75 339
Anostomidae sp47 Schizodon sp. <1 2 557 25 279
Apteronotidae sp48 Apteronotus sp2 <1 1 67 39 67
Characidae sp49 Brycon cephalus <1 1 319 22 319
Callichthidae sp50 Callichthys callichthys <1 1 80 14 80
Auchenipterichidae sp51 Centromochlus sp. <1 1 9 8 9
Cichidae sp52 Cichla sp <1 1 393 28 393
Callichthidae sp53 Corydoras sp. <1 1 8 5 8
Hypopomidae sp54 Hypopomidae sp.4 <1 1 12 17 12
Loricariidae sp55 Loricariidae sp. <1 1 82 14 82
Characidae sp56 Moenkhausia sp. <1 1 5 6 5
Pristigasteridae sp57 Pellona castealneana <1 1 1566 49 1566
Pristigasteridae sp58 Pellona flavipinnis <1 1 1849 49 1849
Pimelodidae sp59 Pimelodus ornatus <1 1 215 25 215
Pimelodidae sp60 Pseudoplatystoma fasciatum <1 1 3000 62 3000
Anostomidae sp61 Schizodon sp.2 <1 1 13 10 13
ELABORAÇÃO: Os autores (2004).

144
O Gráfico 2 mostra o tamanho médio (CPM) de cada espécie capturada. Rio Acará-Mirim
Dentre as espécies abundantes a maioria (60%) apresentou porte pequeno No rio Acará-Mirim, foram coletados 3,057 kg de pescado (peso fresco),
e médio entre 7 e 16 cm. Este conjunto é representado pelas espécies An- de 66 indivíduos pertencentes a 19 espécies de 10 famílias, as quais estão des-
chovia surinamensis, que apresentou 9,0 cm de CPM, seguida pelo Age- critas na Tabela 2. A espécie mais abundante capturada no rio Acará-Mirim
neiosus sp.1 com 16 cm, o Auchenipterichtys longimanus, com 13,0 cm, e foi o Ageneiosus sp.1, com 16 indivíduos (24,24% do total), seguido pelo
a Cyphocharax cf. spilurus, com 8,0 cm. As maiores espécies encontradas Plagioscion squamosissimus, Anchovia surinamensis e Auchenipterichthys
foram: Rhamphichthys marmoratus, com 75 cm, Pseudoplatystoma fascia- longimanus, com 9 (13,64%), 8 (12,12%) e 7 (10,61%) indivíduos, respec-
tum, com 62 cm (Foto 5), Pellona flavipinnis e P. castelnaeana com 49 cm tivamente. Estas quatro espécies representaram mais da metade (60,61%) da
e Apteronotus albifrons, com 39 cm de comprimento padrão. Todas estas captura total, indicando uma dominância delas.
espécies apresentaram baixa abundância (< 1% da coleção total). O Gráfico 3 mostra o tamanho médio (CPM) de cada espécie capturada.
GRÁFICO 2 - Comprimento Padrão Médio (CPM) das espécies coletadas Dentre as espécies capturadas a maioria possui porte pequeno e médio, entre
por redes de espera no rio Capim (PA) no mês de março de 2005. 9 e 17 cm, com exceção de Acestrorhynchus microlepis (com 26,5 cm), Pla-
gioscion squamosissimus (com 20,28 cm) e Hemiodus unimaculatus (com
18,5), os quais corresponderam às maiores espécies. Observa-se ainda que
as maiores espécies apresentaram baixa abundância (< 2% da coleção total),
exceto a Plagioscion squamosissimus, que mostrou 13,64% de abundância.

Os igarapés
Durante as coletas nos igarapés das bacias do rio Capim e Acará-Mirim,
foram capturados 1.306 exemplares de peixes pertencentes a 55 espécies/mor-
foespécies, distribuídas em 20 famílias e 6 ordens. A espécie mais abundante

FOTO 5 – Exemplar de “surubim” (P. fasciatum), coletado no rio Capim


em 2004. Este foi um dos maiores exemplares capturados em relação ao
comprimento padrão e peso.
GRÁFICO 3 – Comprimento Padrão Médio (CPM) das espécies coletadas

FOTO: Luciano Montag (2004).


por redes de espera no rio Acará-Mirim (PA) no mês de maio de 2005.

elementos da biodiversidade
ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 2 e 3: Os autores (2004).

TABELA 2 - Lista das espécies de peixes coletadas por redes de espera no rio Acará-Mirim em
maio de 2005. Família das espécies; código da espécie (ID-SPC); nome da espécie; Freqüência
relativa (%) da abundância para a coleção total (N = 66); abundância de indivíduos capturados
(N); peso total (g) capturado (PT); comprimento padrão (cm) médio da espécie (CPM); e
peso médio (g) dos indivíduos na coleção total (PM).
Familia ID-SPC Nome científico % N PT CPM PM
Auchenipterichidae sp.02 Ageneiosus sp. 24,24 16 650 16,61 46,43
Scianidae sp.12 Plagioscion squamosissimus 13,64 9 1296 20,28 144
Engraulidae sp.01 Anchovia surinamensis 12,12 8 89 9,08 14,83
Auchenipterichidae sp.03 Auchenipterichthys longimanus 10,61 7 214 11,07 28,25
Characidae sp.30 Bryconops sp2 7,58 5 113 10,75 22
Auchenipterichidae sp.05 Auchenipterus nuchalis 4,55 3 12 11 12
Loricariidae sp.62 Ancistrus sp. 4,55 3 91 10,5 30,33
Aspredinidae sp.63 Bunocephalus sp. 3,03 2 30 9,5 19,75
Auchenipterichidae sp.51 Centromochlus sp. 3,03 2 28 12 14
Scianidae sp.43 Pachypops sp. 3,03 2 45 11,25 22,5
Engraulidae sp.15 Pterengraulis atherinoides 3,03 2 96 17,75 48
Acestrorhynchidae sp.13 Acestrorhynchus microlepis 1,52 1 135 26,5 135
Curimatidae sp.20 Caenotropus aff. Maculosus 1,52 1 17 9,5 17
Callichthidae sp.50 Callichthys callichthys 1,52 1 32 11,5 32
Hemiodontidae sp.08 Hemiodus unimaculatus 1,52 1 112 18,5 112
Pimelodidae sp.64 Pimelodus sp.1 1,52 1 31 14 31
Pimelodidae sp.65 Pimelodus sp.2 1,52 1 54 17 54
Loricariidae sp.30 Pseudoloricaria sp. 1,52 1 12 13,5 12
ELABORAÇÃO: Os autores (2004).

145
foi Bryconops sp.1 com 174 indivíduos, represen- 5). Porém, observa-se uma maior riqueza para os As 61 espécies coletadas no rio Capim foram
tando 13% da coleção total, seguida pela espécie igarapés da bacia do rio Acará-Mirim. utilizadas na análise de componente principal em
Moenkhausia sp., com 141 indivíduos (11%). Os relação às estações de coletas. Das análises de com-
igarapés da bacia do rio Capim apresentaram 38 Estimadores de Riqueza ponente principal sobre estes dados foram con-
elementos da biodiversidade

espécies (69% das espécies de igarapés das duas ba- Foram analisadas 43 unidades de amostra para a siderados os dois primeiros componentes, que,
cias), e os igarapés da bacia do rio Acará-Mirim 42 bacia do rio Capim, e 24 unidades de amostras para juntos, explicaram 80% da variância total. Os ei-
espécies (76%) (ver Anexo 3). a bacia do rio Acará-Mirim, nas quais foram veri- xos produzidos auxiliam a verificar a adequação
ficados os números de espécies observadas e espe- da pré-classificação dos grupos de locais, além de
• Estrutura de comunidade de peixes dos rios radas por meio do estimador de riqueza Chao1. A indicar quais são as espécies que contribuem com
Capim e Acará-Mirim utilização desses estimadores tem se demonstrado maior peso nas diferenças encontradas entre os
Diversidade alfa (α) e Riqueza muito eficaz para atingir uma riqueza de grupos grupos (Gráfico 8). Os autovetores entre -0,10 e
O Gráfico 4 mostra a variação nos índices de di- megadiversos, como a ictiofauna, ou de difícil 0,10 foram considerados neutros, isto é, próximo
versidade alfa calculados nas estações de coleta nos acesso (meio aquático). a zero, significando que a respectiva espécie não é
rios Capim e Acará-Mirim. Foram tomadas como Foram observadas 93 espécies e estimadas 104 importante na separação dos grupos de amostras.
parâmetro de diversidade: a medida de Pielou (U), espécies para a bacia do rio Capim, no qual, segun- O grupo das estações do baixo rio Capim foi dife-
que mostra a uniformidade das amostras, e a ri- do o estimador, 11 espécies ainda não foram captu- renciado pela dominância de A. surinamensis, e o
queza observada (S) para os rios Capim e Acará- radas. Já para a bacia do Acará-Mirim, o número de alto rio Capim por Ageneiosus sp.1, Auchenipteri-
Mirim. Segundo Magurran (1988), muitas investi- espécies observadas foi de 60 e o esperado foi 73; chthys longimanus e Curimata cf. spilura.
gações sobre a diversidade ecológica restringem-se segundo o estimador, 13 espécies ainda não foram Em uma visão geral das comunidades aqui
à riqueza de espécies traduzidas apenas em núme- capturadas. O Gráfico 6a apresenta a acumulação estudadas, concluímos que as espécies apresenta-
ro de espécies presentes, porém, para a maioria dos de espécies para o número de espécies observadas ram uma distribuição de riqueza e diversidade não
índices de diversidade, faz-se indispensável saber e o número de espécies esperadas. A curva gerada igualitária para as estações de coleta. Parece que há
a abundância relativa das espécies que compõem revela que novas ocorrências podem ser descober- um fator que segrega uma comunidade com alta
uma comunidade. De modo geral, valores maiores tas com o aumento de coletas, tanto para a bacia do diversidade e riqueza para a área do alto rio Capim
da diversidade foram observados para os trechos rio Capim como para a bacia do Acará-Mirim. No (EC01 a EC06) e uma comunidade com alta do-
superiores dos rios Capim e Acará-Mirim. Esta si- Gráfico 6b, também podemos observar o incre- minância e menor riqueza para a área do baixo rio
tuação ocorreu, provavelmente, devido a possíveis mento considerável de novas ocorrências quando Capim (EC07 a EC10) e para o rio Acará-Mirim
ações antrópicas nos trechos próximos à foz, o que é incluída a fauna dos igarapés. (EC11 a EC16). Possivelmente o fator determi-
pode ser observado pela retirada da vegetação ripá- nante desta distribuição é a perda de habitat margi-
ria e por uma grande exploração do recurso pes- Agrupamento e Ordenação das Estações nal, através da retirada de matas ciliares para pasto
queiro. de Coleta (EC) do rio Capim e ações de pesca no baixo rio Capim.
Outro fator que pode justificar o aumento da Como as estações de coleta encontram-se sob
diversidade nos trechos superiores do rio Capim diferentes situações ecológicas, observamos que CONCLUSÕES
é a presença dos lagos marginais permanentes de tais diferenças podem influenciar a estrutura das
“jauari” Astrocaryum jauari Mart., que ampliam a comunidades. Para identificar estas diferenças, foi • Analisando a curva de esforço de coleta para as
área alagada. Este fato segue os princípios da re- realizada uma análise de agrupamento por estação bacias dos rios Capim e Acará-Mirim, os iga-
lação espécie-área, ou seja, a riqueza de espécies, de coleta utilizando-se os valores de abundância de rapés se apresentaram como importantes locais
nos sistemas em geral, é positivamente relacionada espécies. O resultado desta técnica foi a projeção de endemicidade de espécies para a bacia.
com a área (Diamon, 1975). A razão mais óbvia das estações de amostras, de forma a evidenciar os • A bacia do rio Capim apresentou uma maior
do porquê de maiores áreas conterem mais espé- padrões característicos da comunidade de peixes diversidade e riqueza de espécies, se comparada
cies é que elas apresentam maior heterogeneida- em diferentes situações ecológicas. A identificação com a bacia do rio Acará-Mirim, o que sugere
de ambiental (Pianka, 1988). Segundo a hipótese destes padrões foi auxiliada pela técnica de Agru- uma melhor integridade de hábitats para o rio
de Williams (1964), em hábitats maiores há um pamento Hierárquico Aglomerativo que produz o Capim.
maior aporte de alimento e, assim, proveria mais dendrograma (Gráfico 7). • As maiores diversidades foram encontradas nos
condições para suportar mais espécies. Os lagos de A análise de agrupamento, utilizando-se da trechos superiores do rio Capim, provavelmen-
jauari fornecem grande quantidade de frutos para similaridade de Morisita-Horn, e o método de te pela ocorrência dos lagos marginais, locais
a ictiofauna. ligação pela média de grupos (UPGMA) estão importantes com relação a abrigo e alimentação
Para os igarapés da bacia dos rios Capim e Aca- apresentados no Gráfico 8. Pode se observar que para a ictiofauna.
rá-Mirim, também foram tomadas a medida de as estações de coletas reúnem-se em dois grupos, • Os trechos inferiores do rio Capim apresenta-
Pielou (U) e a riqueza observada (S), as quais de- mostrando uma possível influência das caracterís- ram um grande adensamento de casas nas mar-
monstraram que a uniformidade e a riqueza des- ticas naturais ou antrópicas sobre a estrutura da gens do rio, o que afeta, diretamente, a ictiofau-
ses igarapés são independentes da bacia (Gráfico comunidade. na desta área.

146
GRÁFICO 4 – Uniformidade de Pielou (U) e Riqueza observada (S) para GRÁFICO 5 – Uniformidade de Pielou (U) e Riqueza observada (S) para
os rios Capim e Acará-Mirim em relação da montante a jusante. os igarapés da bacia dos rios Capim e Acará-Mirim.

GRÁFICO 6 – Curva de acumulação de espécies para as bacias dos rios Capim (A) e Acará-Mirim (B). As flechas indicam o incremento das coletas nos iga-
rapés para as bacias analisadas.

A B

elementos da biodiversidade
GRÁFICO 7 – Dendrograma resultante da ordenação e classificação das GRÁFICO 8 – Diagrama “diplot” representando o agrupamento das esta-
estações de coleta, baseadas na abundância das espécies no rio Capim. ções de coleta em relação à abundância das espécies. O tamanho dos círculos
das espécies está relacionado com o número de indivíduos da espécie em
cada estação.

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 4 a 8: Os autores (2004).

147
elementos da biodiversidade

148
149
elementos da biodiversidade
QUELÔNIOS E CROCODILIANOS
quelônios e crocodilianos
Daniely Félix-Silva
Juarez Carlos Brito Pezzutti
elementos da biodiversidade

O
s Quelônios aquáticos da aplicação deste conhecimento sobre as espécies em menor distância percorrida; já no rio Acará-
bacia amazônica sempre pode contribuir para a discussão da sustentabili- Mirim, a distância aproximada das estações de co-
constituíram um item im- dade do sistema atual de uso de quelônios na bacia leta foi de aproximadamente 20 km (Ver Mapa de
portante na dieta dos habitantes da região. amazônica. Campanha de campo).
Gilmore (1986) sugere que, possivel- Das 22 espécies de jacarés – os quais são, tam-
mente, a coleta da tartaruga é a atividade bém, alvo desta pesquisa – existentes no nosso pla- Pesquisa sobre os quelônios
etnozoológica mais importante de toda a neta, 17 são consideradas ameaçadas (Groombrid- • Entrevistas Semi-estruturadas
região amazônica, vindo desde o período ge, 1987). As causas históricas são a destruição do Efetuamos entrevistas semi-estruturadas com
pré-colombiano até hoje. Com a chegada hábitat natural e a caça comercial para produção questionários em residências nas estações de co-
do colonizador europeu, essa atividade de de couro. Na Amazônia, Magnusson et al. (1997) leta ou em encontros ocasionais. Essas entrevis-
subsistência se modifica, incluindo um propõem, inclusive, que as distribuições do jacaré- tas incluíram, quando possível, o casal e, oportu-
sistema de produção extrativista carac- tinga, Caiman crocodilus, e do jacaré-açu (Melano- namente, filhos que já exerçam a caça e a pesca.
teristicamente mercantilista, em que o suchus niger) são fragmentadas em função destes Os questionários versaram sobre recordação de
principal produto é o óleo ou manteiga de fatores. Considerou-se que as populações do açu refeições, pescarias, coletas e uso de quelônios.
tartaruga, utilizado para fritura de alimen- teriam sido tão reduzidas ao ponto de atingir a Anotamos as fontes de proteína animal da última
tos e iluminação domiciliar e pública. extinção comercial (Rebêlo, Magnusson, 1983) e e da penúltima refeição consumidas por cada fa-
Os quelônios da região amazônica con- hoje a espécie está incluída no apêndice I do CI- mília. Na recordação da última pescaria e caçada
tinuam sendo capturados, consumidos e TES (Groombridge, 1987). Todavia, a caça comer- realizada pelo informante, coletamos informa-
comercializados sistematicamente. A tar- cial pelo couro na Amazônia diminuiu bastante ções sobre a localização dos pontos de captura
taruga, outrora a espécie mais abundante, por volta da década de 1970, e a atividade voltou-se dos peixes e animais, o tempo de deslocamento
é hoje uma raridade, e os poucos indiví- para as populações do jacaré-tinga do pantanal ma- até os locais de pesca e caça, o tempo de per-
duos capturados são vendidos por preços togrossense (Magnusson et al., 1997). A caça ilegal curso entre outros locais utilizados, a duração
exorbitantes, inacessíveis para a maioria. aos jacarés tem hoje como produto a carne salgada, da atividade em cada local, o tipo de ambiente e
Nas últimas décadas, a pressão de cole- e aparentemente está restrita ao Solimões e seus as condições climáticas na ocasião. Assim, pro-
ta tem-se voltado, cada vez mais, para as afluentes andinos de água branca. curamos determinar a contribuição dos recursos
espécies menores (Smith, 1974). Nas ci- Em algumas partes estudadas da Amazônia, o da pesca de quelônios e crocodilianos à vida so-
dades (incluindo capitais como Belém e índice de densidade comum registrado foi de me- cioeconômica dos moradores e documentar as
São Luís), a carne de tartaruga é iguaria nos de 1 ind./km (Brazaitis et al., 1996). Em rios de práticas culturais relacionadas à caça e à pesca.
restrita aos de poder aquisitivo elevado. água preta, Rebêlo e Lugli (2000) sugerem que as
Por outro lado, o uso tradicional vive em populações são ainda menores. No Baixo Amazo- • Censo Diurno
conflito com as leis e com o Estado, com nas não existem informações relacionadas à abun- Os censos diurnos de quelônios consisti-
destaque para um instrumento legal que dancia e à estrutura dos estoques de jacarés, mas, ram em percorrer trechos fluviais, nos pontos
surgiu em 1967, no âmbito do Instituto pelas observações de campo e depoimentos de pes- onde paramos a cada viagem. Os censos foram
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal cadores, aparentemente o estoque tem aumentado realizados em vários horários do dia, para ten-
(IBDF), e que, com a Lei de Proteção à de forma significativa, competindo com a pesca e, tar observar se há preferência por horário para
Fauna (no 5.197), constituiu um aparato em alguns casos, transformando-se numa ameaça a atividade de termorregulação. Esta metodolo-
de auxílio legal e repressivo para proteger para o próprio homem. gia necessita de um observador experiente em
esses animais. Assim, os objetivos da pesquisa foram: localizar e identificar as espécies de quelônios
Existem, na Amazônia, evidências • Determinar a composição e a distribuição das termorregulando. Os trechos foram percorridos
de que o sistema tradicional de uso dos espécies de quelônios e jacarés que ocorrem nas com canoa de alumínio e motor de popa 25 Hp,
quelônios pode ser sustentável (Pezzuti bacias dos rios Capim e Acará-Mirim; a uma velocidade média de 7 km/h. A observa-
2003; Rebêlo et al. (no prelo); Pezzuti et al. • Identificar a importância destas espécies para ção e a identificação dos animais termorregulan-
2004). Estimativas de abundância, área de as populações humanas locais; do foram feitas com o auxílio de um binóculo 8
vida, estrutura populacional e bioecologia • Avaliar o status destas populações nas bacias x 40. Para cada animal observado foram registra-
das espécies-alvo são elementos cruciais. destes dois rios. das a espécie, o horário em que o indivíduo es-
A intensidade de utilização de quelônios, tava termorregulando, as condições climáticas, a
a seletividade e a pressão exercida pelos MATERIAL E MÉTODOS velocidade da correnteza, a temperatura do ar, a
pescadores sobre cada espécie são, tam- a temperatura da superfície e do fundo da água e
bém, elementos básicos para avaliar a vul- Pontos de Amostragem profundidade. Cada ponto foi georreferenciado
nerabilidade das populações de recursos. A seleção dos pontos de amostragem para cap- com GPS (Global Position System).
Uma análise ecológica da relação entre o tura de quelônios aquáticos e semi-aquáticos e de A partir destas observações foi possível obter
investimento e o retorno obtidos pela im- crocodilianos baseou-se no estabelecimento de dez informações a respeito da composição, da densi-
plementação de diferentes tecnologias de estações de coleta eqüidistantes entre si, ao longo dade e da abundância de quelônios aquáticos nos
captura por meio da distribuição tempo- do rio Capim (nos municípios de Paragominas, corpos d’água estudados, seus horários de ativida-
ral das atividades de pesca pode subsidiar Ipixuna do Pará, Aurora do Pará, São Domingos de e distribuição.
a implementação eficaz de um sistema do Capim e São Miguel do Guamá) e seis estações
de manejo. Da mesma forma, o estudo ao longo do rio Acará-Mirim (nos municípios de • Pescaria Experimental
do saber popular, que garante a produ- Acará e Tomé-Açu). No rio Capim, as estações fo- Foi realizada pesca experimental utilizando ar-
ção extrativista, e dos efeitos possíveis da ram instaladas distando aproximadamente 30 km madilhas do tipo Hoop (iscadas com peixe fresco

150
elementos da biodiversidade

ou salgado, ou com frango), redes de espera (ma- marcado com etiqueta numerada presa na carapaça Pesquisa sobre os jacarés
lhadeiras) e armadilhas do tipo covo (iscadas), que através de pequenos orifícios perfurados nos escudos • Entrevistas Semi-estruturadas
consistem em artefatos tradicionais confecciona- marginais, técnica de marcação permanente padro- Para os crocodilianos, também foram aplicados
dos com cipó. O esforço amostral de captura de nizada e aplicada por estudiosos de várias partes do os questionários de uso e recordação, semelhantes
animais na área do Lago incluiu as calhas prin- mundo, sem causar danos aos animais. Posterior- aos aplicados para os quelônios.
cipais dos rios estudados, os lagos internos e os mente, os animais foram soltos no local de captu-
mais importantes canais de ligação entre eles. A ra. • Censo Noturno
seleção dos locais de coleta foi feita por meio de A abundância relativa de cada espécie é Foram realizados censos noturnos de animais
sorteio de pontos tanto no rio Capim quanto no determinada em função do rendimento dos jovens e adultos e procura por ninhadas. Os per-
Acará-Mirim. aparelhos de pesca utilizados, com base nas cursos foram estabelecidos em acordo com a
Cada animal capturado foi identificado, medido características dos artefatos (altura e compri- equipe de levantamento ictiológico para repetição
(comprimentos retilíneo e curvilíneo da carapaça, mento das malhadeiras, número de armadilhas dos mesmos pontos. Estes percursos foram feitos
comprimento do plastrão, largura da carapaça, e de lances com as redes de cerco), do tempo com canoa de alumínio movida a motor de popa
largura e comprimento da cabeça, largura e com- de permanência dos plotes de captura, do nú- 25Hp e os animais foram localizados com auxí-
primento do focinho, altura da carapaça, compri- mero de indivíduos capturados e da biomassa lio de holofote alimentado por bateria 12 volts.
mento caudal e comprimento femoral), pesado e capturada. O índice de abundância foi o número de jacarés

151
avistados por quilômetro de margem percorrida. reimosas são o jabuti tucumã ou branco (Geochelone Capim são consideradas reimosas, ofensivas e
O índice de perturbação na área foi obtido pela denticulata). venenosas, de acordo com os depoimentos dos
proporção de animais que submergiram antes da Sobre a utilização das espécies de quelônios moradores.
sua identificação. A identificação da espécie foi para fins medicinais, a banha da tartaruga foi citada Os jacarés são utilizados, como recurso, no ar-
elementos da biodiversidade

feita com base em características morfológicas como tendo importante função cicatrizante, sen- tesanato – os dentes são usados para a confecção
externas, particularmente a presença de manchas do utilizada ainda para limpeza do rosto em casos de colares e pulseiras e o coro para a confecção de
na maxila, forma da cabeça e padrões de colora- de acne, hidratação e cicatrização dos mamilos em bolsas. Os dentes de jacaré são utilizados, ainda,
ção. Para cada animal observado foi estimado o mulheres amamentando. O casco do jabuti branco como amuletos, evitando ataque de outros ani-
tamanho rostro-cloacal. Alguns animais foram defumado é utilizado para defumação contra “olho mais. A carne de jacaré é apenas produto de sub-
capturados para correção dessas estimativas de ta- gordo”, “mal olhado” e “vampiros”. sistência, não tendo fins medicinais, tampouco é
manho e marcados por remoção de parte dos ver- As espécies de quelônios comercializadas no rio comercializada em grande ou pequena escala.
ticilos caudais, obedecendo a um código interna- Capim, em pequena escala, são: jabuti branco ou ca- No rio Acará-Mirim, as espécies de jacarés
cionalmente utilizado para marcação permanente rombé (R$ 10,00 – 15,00), tracajá (R$ 20,00 – 25,00), mencionadas foram o jacaré-açu (Melanosuchus ni-
de crocodilianos. muçuã (R$ 5,00) e tartaruga (R$ 30,00 – 40,00). ger) e o jacaré pretinho ou jacaré-coroa (Paleosu-
Foram georreferenciadas 28 praias consideradas chus trigonatus), cuja carne é muito apreciada e não
RESULTADOS importantes pontos de desova de quelônios, so- é considerada reimosa, pois “não tem ferrão” (João
mente no trecho percorrido. No entanto, segundo Mandá, 27 anos). A carne do jacaré pretinho é
Quelônios informações de moradores, a coleta de ovos em to- comercializada a R$ 4,00/kilo. Os moradores afir-
As espécies de quelônios que ocorrem no rio das as praias observadas é praticada intensamente mam que esta carne é tão apreciada que é levada
Capim, mencionadas por moradores, foram: tar- no período de desova no rio Capim. da Ilha de Marajó para o Acará-Mirim. As técni-
taruga (Podocnemis expansa), tracajá (Podocnemis No rio Acará-Mirim, as espécies de quelônios cas empregadas para a captura desta espécie são a
unifilis), muçuã (Kinosternon scorpioides), aperema relatadas como ocorrentes são: tartaruga (P.expansa), zagaia (tridente metálico fixado em uma haste de
(Rhinoclemmys punctularia), matá-matá (Chelus fim- matá-matá ou nana (Chelus fimbriatus), peremas madeira pesada), também conhecida como fisga,
briatus), jabuti (Geochelone carbonaria e G. denticula- (Rinoclemmys punctularia e Phrynops gibbus), jabuti ou, ainda, as armas de fogo, ambas direcionadas
ta) e jabuti machado (Platemys platycephala). do capoeirão (Geochelone carbonaria), jabuti branco para baixo do braço do animal.
Quanto às técnicas de captura de quelônios, (Geochelone denticulata) e jabuti machado (Platemys Esta espécie de jacaré não é considerada agres-
no verão são utilizadas malhadeiras (rede de espe- platicephala). A espécie relatada como preferida foi siva. O único dano oferecido, ocasionalmente, é
ra), arpão (haste de madeira com tridente), arras- a perema (Rinoclemmys punctularia) enquanto os ja- a destruição de algumas malhadeiras utilizadas na
to (com rede de malhas) e curral, e no inverno as butis (G. carbonaria e G.denticulata) são considera- pesca de peixe. Sua reprodução ocorre no período
técnicas utilizadas são a linha de mão com anzol dos reimosos. de seca, nas áreas de igapó, onde seleciona tron-
iscado, curral e covo iscado (armadilha de espera As técnicas empregadas para a captura de que- queiras para ovipor, geralmente, dois ovos. Os ovos
feita com cipó ambé ou açu). A armadilha de espera lônios são específicas para cada espécie, sendo o são depositados embaixo das tronqueiras, mas não
denominada covo e a linha com anzol iscado são munduru (paneiro ou covo) com isca de poraquê são cobertos, e o cuidado parental é relatado ocor-
utilizadas o ano inteiro no rio Capim para a captura (electrophorus eletricus) utilizado para a captura das rer durante o período de incubação.
de quelônios. As iscas utilizadas variam de acordo espécies aquáticas, especialmente perema. A exce-
com as espécies a serem capturadas, mas foram re- ção é a tartaruga, cuja técnica de captura é tiro com Composição de espécies de quelônios
latados peixe salgado, queijo, sardinha e piau. arma de fogo ou fisgada (arpão). Para a captura O número total de indivíduos de quelônios
Os quelônios relatados como mais abundantes de jabutis e quelônios semi-aquáticos, é realizada observados tanto no rio Capim quanto no rio Aca-
no rio Capim durante o verão são a aperema (Ri- procura ativa na floresta com cachorro. Todas as rá-Mirim consta na Tabela 1. A partir das diferen-
noclemmys punctularia), tracajá (Podocnemis unifilis) e espécies relatadas como ocorrentes são comercia- tes técnicas de captura empregadas, encontramos
tartaruga (Podocnemis expansa), enquanto no inver- lizadas em pequena escala, em especial a perema, as seguintes espécies de quelônios presentes no rio
no as espécies mais abundantes são o jabuti (Geo- que na cidade do Acará é vendida a R$ 3,00 o indi- Capim: Podocnemis unifilis, Podocnemis expansa e Ri-
chelone carbonaria e G.denticulata) e o jabuti macha- víduo adulto. noclemmys punctularia. No entanto, de acordo com
do (Platemys platicephala). No entanto, os quelônios as entrevistas realizadas com moradores locais, as
relatados como mais consumidos no verão são o Jacarés espécies existentes na área são: Podocnemis expan-
tracajá, jabuti machado, jabuti e tartaruga. No in- As espécies de jacarés que ocorrem no rio Ca- sa, Podocnemis unifilis, Kinosternon scorpioides, Rhi-
verno, os mais consumidos são o jabuti e o traca- pim, segundo relatos de moradores, são: jacaré- noclemmys punctularia, Chelus fimbriatus, Geochelone
já. As espécies preferidas são o muçuã (Kinosternon açu (Melanosuchus niger), jacaré-tinga (Caiman cro- carbonaria, G. denticulata e Platemys platycephala. Na
scorpioides) e a aperema (Rinoclemmys punctularia). codilus) e jacaré-coroa (Paleosuchus trigonatus). No Tabela 2 constam as espécies que ocorrem no rio
Jabuti matá-matá foi a espécie citada como rejei- verão, a captura de jacarés ocorre através da utiliza- Capim.
tada, devido a sua aparência e odor característico ção de armas de fogo, arpão, anzol, laço e cruzeta. A Tabela 3 apresenta os dados referentes à
- “é catinguento e parece um pau velho...” (Morador, A cruzeta consiste em uma armadilha feita de varas biometria das espécies de quelônios capturadas no
28 anos), “jabuti matá-matá é desvalorizado! Só come em forma de cruz, iscada com peixe ou vísceras de rio Capim.
quando o bicho tá pegando, é o último recurso” (Mora- animais, assumindo a função de anzol, que o jacaré
dor, 28 anos). engole e morre. No inverno, a captura é realizada TABELA 1 - Número total de indivíduos de que-
As espécies descritas como tabus culturais re- por meio de arpão e armas de fogo e, ocasional- lônios registrados nos rios Capim e Acará-Mirim
ferentes à alimentação são: matá-matá (Chelus mente, de malhadeira. de março a maio de 2005.
fimbriatus) e jabuti carombé (Geochelone carbona- O Jacaré-tinga é a espécie mais consumida tan- Rio Acará-
Rio Capim
ria), pois, segundo moradores, “faz mal...dá infla- to no verão quanto no inverno e a preferida en- Mirim
Espécies
Nº de indi- Nº de indi-
mação...” (Morador, 38 anos). Alguns relatos de tre os moradores (“o jacaré-tinga é mais gostoso, tem
víduos víduos
tabus confundem-se com a descrição de espécies a carne mais macia e não é catinguento...”, Morador, Podocnemis unifilis 47 31
consideradas reimosas, como o tracajá e a tarta- 28 anos). A espécie rejeitada é o jacaré-açu, por Podocnemis expansa 0 1
ruga – “têm muita gordura” (Josias, 38 anos), ape- possuir uma carne mais dura e com odor carac- Rinoclemmys punctularia 1 0
rema, muçuã, jabuti carombé e jabuti matá-ma- terístico (“é veiudo, duro, catinguento...”, Adilson, Geochelone denticulata 0 1
tá. Por outro lado, as espécies consideradas não 20 anos). As três espécies de ocorrência no rio Geochelone carbonaria 1 0
ELABORAÇÃO: Os autores (2004).

152
elementos da biodiversidade

TABELA 2 - Espécies de quelônios aquáticos presentes no rio Capim.


Espécie Nome Comum Técnica
Podocnemis unifilis Tracajá Rede de espera e de arrasto (malhadeira); censo e entrevista.
Rinoclemmys punctularia Perema Captura com a mão e entrevista
Podocnemis expansa Tartaruga Rede de espera e entrevista
Kinosternon scorpioides Muçuã Entrevista
Chelus fimbriatus Matá-matá Entrevista
Platemys platicephala Lalá Entrevista
Geochelone carbonaria Jabuti vermelho Observação oportunista e entrevista
Geochelone denticulata Jabuti amarelo ou branco entrevista

TABELA 3 - Biometria das espécies de quelônios capturadas.


Espécie Nome Comum Marca Sexo Peso (g) CCC (cm) CRC (cm) CP (cm) LC (cm) Altura (cm)
P. unifilis Tracajá D1 Macho 145 11,1 9,8 8,8 8,7 4,2
P. unifilis Tracajá D2 Macho 490 17,2 15,7 13,9 12,6 6,2
P. unifilis Tracajá D3 Fêmea 500 16,7 15,3 13,8 13,0 6,5
P. unifilis Tracajá D4 Macho 455 17,4 16,0 13,5 12,9 6,9
P. expansa Tartaruga Fêmea 1100 22,7 21,5 18,4 17,2 -
Rinoclemmys punctularia Perema D1 Fêmea 1150 23,5 22,1 22,2 16,9 8,7
Geochelone carbonaria Jabuti vermelho - Filhote - 8,9 7,1 6,3 -
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 2 e 3: Os autores (2004).

153
No rio Acará-Mirim, as espécies citadas como acesso. No Lago preservado foram capturados Censos de Quelônios
ocorrentes foram: Podocnemis expansa, P. unifilis, G. apenas peixes. No lago não preservado, além de A partir dos censos, foi possível observar, ao
carbonaria, G.denticulata, R. punctularia, Chelus fim- peixes, também capturamos um indivíduo de tra- longo do rio Capim, um total de 43 indivíduos da
briatus, Platemys platicephala, Kinosternon scorpioides e cajá (Podocnemis unifilis). Nos demais pontos de espécie Podocnemis unifilis. No rio Acará-Mirim, os
elementos da biodiversidade

Peltocephalus dumerilianus. Todos os indivíduos de amostragem, foram capturadas outras espécies, tais censos de quelônios permitiram observar 31 indi-
P. unifilis foram observados através de censos diur- como o filhote* (Brackyplatystoma filamentosum) e a víduos da mesma espécie. Os resultados de densi-
nos quando estavam termorregulando. Uma única arraia* (Potamotrygon cf. constelatta) (Tabela 6). dade populacional serão inseridos com o mapa de
carapaça de jabuti fêmea (G.denticulata), encontra- Os demais indivíduos de tracajás foram captu- distribuição, tanto de quelônios quanto de croco-
da na casa de um morador, foi medida no rio Acará- rados através de redes de espera ou malhadeiras dilianos (Ver Mapa de Quelônios e Crocodilianos
mirim, a qual apresentou: CCC= 14,9; CRC= 33,0 (N = 2) e coleta com a mão, enquanto estavam - censos).
e LC= 18,6 cm. Na Tabela 4 constam as espécies termorregulando (N = 1). A captura do único in-
ocorrentes e as técnicas empregadas. divíduo de Rinoclemmys punctularia durante os tra- Uso de Hábitat
Na Tabela 5 constam as espécies citadas por balhos de campo decorreu de um encontro oca- No rio Capim foi possível observar uma ten-
moradores e a comprovação de ocorrência. sional na margem do rio Capim. Os indivíduos de dência à utilização de lagos (57,14 %; N= 20)
G. carbonaria e G. denticulata foram analisados por como hábitats selecionados pelos quelônios aquá-
Pescaria Experimental meio de observações oportunistas, em visitas aos ticos, seguidos por enseadas (28,57%; N= 10), o
No rio Capim, além das pescarias com redes residentes locais. Os demais indivíduos de P. uni- próprio leito do rio (11,43%; N= 4) e, finalmente,
de espera, também foram realizados arrastos em filis foram observados através de censos realizados por igarapé (2,86%; N= 1), Gráfico 1. No entan-
alguns lagos, tanto preservados quanto de livre nos dois rios estudados (Gráfico 1). to, no rio Acará-Mirim, todos os indivíduos foram
observados utilizando apenas a calha principal do
TABELA 4 - Espécies de quelônios aquáticos presentes no rio Acará-Mirim.
próprio rio (100% ; N= 30).
Espécie Nome Comum Técnica
Podocnemis unifilis Tracajá Censo
GRÁFICO 1 - Utilização de hábitats por que-
Rinoclemmys punctularia Perema Entrevista
lônios aquáticos nos rios Capim, durante viagem
Podocnemis expansa Tartaruga Entrevista
Kinosternon scorpioides Muçuã Entrevista realizada no mês de março de 2005.
Chelus fimbriatus Matá-matá Entrevista
Platemys platicephala Lalá Entrevista
Geochelone carbonaria Jaboti vermelho Entrevista
Geochelone denticulata Jaboti amarelo ou branco Observação oportunista e Entrevista
Phrynops rufipes Tartaruga vermelha Entrevista
Phrynops gibbus Jabuti lalá Entrevista
Peltocephalus dumerilianus Cabeçudo Entrevista

TABELA 5 - Espécies de quelônios citadas e sua situação quanto à ocorrência nas áreas de estudo.
Espécie Nome Comum Capim Acará-Mirim
P.unifilis Tracajá Confirmada Confirmada
P.expansa Tartaruga Confirmada Não-confirmada
R.punctularia Perema Confirmada Não-confirmada ELABORAÇÃO: Os autores (2004).

Kinosternon scorpioides Muçuã Não-confirmada Não-confirmada Composição de espécies de jacarés


Chelus fimbriatus Matá-matá Não-confirmada Não-confirmada As espécies de jacarés encontradas a partir do
Platemys platicephala Lalá Não-confirmada Não-confirmada
censo e de observações pontuais foram: Melanosu-
Geochelone carbonaria Jabuti carombé ou vermelho Confirmada Não-confirmada
chus niger (jacaré-açu), Caiman crocodilus crocodilus
G.denticulata Jabuti tucumã, amarelo ou branco Não-confirmada Confirmada
(jacaré-tinga) e Paleosuchus trigonatus (jacaré coroa
Phrynops gibbus Jabuti lalá Pouco provável Pouco provável
Phrynops rufipes Tartaruga vermelha Pouco provável Pouco provável ou pretinho). No rio Capim, foi observado um to-
Peltocephalus dumerilianus Cabeçudo Pouco provável Pouco provável tal de 5 indivíduos, enquanto no rio Acará-Mirim
foram observados apenas dois indivíduos, sendo
TABELA 6 - Espécies de peixes capturados no rio Capim em março de 2005.
que em relação a um deles não foi possível identi-
Espécie Nome Comum Lago Preservado Lago Não-Preservado
ficar a espécie (Tabela 7).
Pseudoplatystoma fasciatum Surubim X
Durante a viagem ao rio Capim, foram identifi-
Geophagus spp Cará-tinga X X
cados dois indivíduos de Melanosuchus niger através
Agoniates androvia Sardinha-gato X
Satanoperca jurupari Cará-catitu X
de registros pontuais. Um deles foi abatido para
Serrasalminae Piranha-mafurá X consumo em uma residência local (Tabela 8). O
Serrasalminae Piranha bijogu X outro jacaré-açu observado estava à margem do
Brackyplatystoma filamentosum Filhote* X rio Capim, aproximadamente às 15 horas, e media
Myleus spp Pacu X cerca de 3m de comprimento total. No rio Acará-
Cicla spp Tucunaré-amarelo X Mirim capturamos apenas um indivíduo de Pale-
Potamotrygon cf. constelatta Arraia* X osuchus trigonatus (jacaré coroa ou pretinho), cujas
TABELA 7 - Número total de crocodilianos observados nos rios Capim e Acará-Mirim de março a medidas constam na Tabela 8.
maio de 2005. As três espécies de crocodilianos ocorrentes nos
Rio Capim Rio Acará-Mirim rios Capim e Acará-Mirim foram relatadas tanto
Espécie nas entrevistas realizadas quanto observadas nos
Nº de indivíduos Nº de indivíduos
Melanosuchus niger 3 0 censos. Apenas o jacaré-açu foi registrado através
Caiman crocodilus 2 0 de observações oportunistas durante consumo
Paleosuchus trigonatus 0 1 local (Tabela 9).
Olho (espécie não identificada) 0 1
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 4 a 7: Os autores (2004).

154
TABELA 8 - Morfometria dos crocodilianos capturados nos rios Capim e Acará-Mirim no período de Ferreira, 1991). No primeiro trecho do rio Capim
março a maio de 2005. foi possível observar nas suas margens a freqüente
presença de aninga (Dieffenbachia picta Schott), espé-
Espécie Comprimento rostro-anal (cm) Comprimento total (cm) Peso (g)
Melanosuchus niger 120,50 251,00 - cie aparentemente associada a regiões de estuário
Paleosuchus trigonatus 39,00 71,20 1100 sob influência de marés. À medida que se avança
a montante, nota-se um gradiente de aninga para
TABELA 9 - Técnicas empregadas para as observações de ocorrência de crocodilianos nos rio Capim e jauari (Astrocaryum jauari), uma palmeira típica de
Acará-Mirim, no período de março a maio de 2005. planícies de inundação de igapó (Ferreira et al,
Espécie Censo Entrevista Observação Oportunista 1997) e mururé (Brosimum acutifolium). De acordo
Caiman crocodilus X X X com moradores, o tracajá (Podocnemis unifilis) ali-
Melanosuchus niger X X X menta-se destas plantas, e os jacarés utilizam essa
Paleosuchus trigonatus X X vegetação como área de vida e de alimentação, por-
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 8 e 9: Os autores (2004).
tanto, é possível encontrá-los em meio ao aningal.
Distribuição e abundância de quelônios e crocodilianos Essa característica da vegetação aquática pode ser
As espécies de quelônios foram observadas apenas na porção média do rio Capim, não sendo regis- um fator positivo para a ocorrência e a abundância
tradas nas estações de coleta do baixo (ECA1 e ECA2) nem do alto Capim (ECA8, ECA9 e ECA10) (ver de quelônios e crocodilianos nesta região.
Gráfico 2). A maior abundância ocorreu na estação de coleta ECA6, com 15 indivíduos observados. Os Foi possível observar a presença de lagos, tanto
crocodilianos foram observados em apenas 3 estações de coleta do médio rio Capim, com a estação de em propriedades particulares e protegidos por em-
coleta 4 apresentando a maior abundância (N=2) (Gráfico 2). pregados, quanto lagos completamente explorados
No rio Acará-Mirim, apenas a estação de coleta 3 não teve quelônios observados e a estação de coleta 2 em regime de livre acesso. A viagem foi realizada
apresentou a maior abundância de tracajás (N= 16), contrária à estação 1, que teve apenas um indivíduo no período em que o rio Capim estava no seu ní-
de P. unifilis observado. Os crocodilianos foram observados apenas na estação de coleta 5 (Gráfico 3). vel mais baixo, sendo possível observar que alguns
igarapés e lagos estavam secos. Os lagos observa-
GRÁFICO 2 - Distribuição de quelônios e crocodilianos nas estações de amostragem no rio Capim, dos foram mencionados como importantes pon-
durante março de 2005. tos de pesca, principalmente no período de seca,
quando os peixes ficam concentrados e presos nos
corpos d’água remanescentes. Pudemos constatar
ainda, por meio de informantes locais, a apreensão
de 3 sacas com tracajás (Podocnemis unifilis) que es-
tavam sendo retirados do lago não preservado, por
moradores de São Domingos do Capim. No total,

elementos da biodiversidade
foram capturados 150 indivíduos, entre eles 100
machos e 50 fêmeas. Neste trecho existem dois la-
gos, um em cada margem, um preservado e outro
não preservado. Estes lagos têm jacarés, tracajás e
algumas espécies de peixes. Também se pôde ob-
ter a informação de que, no dia 10 de dezembro,
foi capturado um jacaré-tinga (Caiman crocodilus)
para consumo local. Portanto, é possível constatar
que, além da predação sobre os ovos de quelônios,
existe forte pressão exploratória sobre adultos, so-
GRÁFICO 3 - Distribuição de quelônios e crocodilianos no rio Acará-Mirim nas estações de amostra- bretudo em locais onde estas populações ainda são
gem, durante maio de 2005. abundantes.
Nossa viagem ocorreu já no final da “tempo-
rada do tracajá”, que corresponde ao período de
vazante e de seca, quando os animais estão mais
acessíveis e restritos aos lagos e ao canal do rio. É
também durante a vazante que ocorre a nidifica-
ção e, conseqüentemente, a coleta de fêmeas oví-
geras (Alho, 1982; Vanzolini, 1967; Pezzuti, 1998;
Félix-Silva, 2004) e dos próprios ovos. A coleta de
ovos e de fêmeas nas praias constitui prática mile-
nar de subsistência e atividade comercial dentro de
um sistema mercantilista de âmbito regional por
pelo menos três séculos; é considerada como fator
crítico na conservação dos quelônios amazônicos
(Mittermeier, 1975; Johns, 1987; Silva Coutinho,
1968; Pezzuti et al., 2004; Rebêlo, Lugli, 1996, Fé-
ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 2 e 3: Os autores (2004).
lix-Silva, 2004; Fachín et al., 1992; Soini, 1995).
Na margem dos lagos que compõem a planície de
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO inundação do rio Capim, observamos uma vegetação
formada por mata ciliar seguida de floresta de terra
As florestas de inundação na Amazônia convivem com a flutuação cíclica do nível das águas dos firme em excelente estado de conservação, no trecho
rios, resultando na submersão de vastas áreas ao longo de suas margens (Junk, 1993). Tais áreas apre- superior (município de Paragominas, porção sudoes-
sentam vegetação aquática característica e já descrita por diversos autores (Junk, 1993, Ferreira, 1997; te). Esta situação pode ser generalizada também para

155
grande parte da região do médio rio Capim. Tal si- populacional carece, entretanto, de mais conta- bacia amazônica, como RDS Mamirauá (Pezzuti,
tuação não pode ser estendida ao rio Acará-Mirim, gens, distribuídas de forma regular tanto espacial- Vogt, 1999), Parque Nacional do Jaú (Félix-Silva
cuja vegetação restringia-se à mata ciliar seguida por mente quanto temporalmente. A baixa abundância et al, 2004), Parque Nacional da Serra do Divisor e
pasto. Essa característica das margens do rio Acará- de quelônios e crocodilianos no rio Acará-Mirim RDS do Alto Juruá (Félix- Silva e Pezzuti, comu-
elementos da biodiversidade

Mirim pode ser um dos fatores que explica a baixa pode estar relacionada tanto à degradação am- nicação pessoal).
abundância encontrada, sobretudo em áreas com biental observada nas margens deste rio quanto ao De modo geral, foi observada maior abundân-
maiores assentamentos humanos, já que este tipo longo processo de exploração em regime de livre cia tanto de quelônios quanto de crocodilianos nas
de vegetação ciliar tem grande importância para a acesso, na prática. A Legislação em vigor (Lei de porções superiores das duas bacias estudadas. Pro-
fauna aquática e semi-aquática, pois proporciona, Proteção e Fauna – 5.197/1967 Sistema Nacional vavelmente a ação antrópica nas porções inferiores
principalmente, locais para a alimentação e para a de Unidades de Conservação – SNUC/2000), dos rios (macada pela retirada da vegetação ciliar
reprodução dos quelônios (Ayres, 1995). categoricamente proibitiva e míope no tocante à e pela alta exploração dos recursos pesqueiros), a
Moradores do rio Capim informam que os realidade das populações amazônicas, ribeirinhas grande presença de lagos marginais, com vegeta-
jacarés que aparecem por ali, e que são abatidos, ou não, acaba não tendo efetividade, ficando no ção característica (e.g.: Jauari) na porção superior
vêm do “alto”, porque na área mais povoada não há total descrédito. e, conseqüentemente, a maior heterogeneidade
mais, devido à pressão de caça, sobretudo animais Mapeamos dezenas de praias, reconhecidas ambiental permitem o maior número de observa-
de grande porte, como o jacaré-açu, cujo abate como pontos de desova de quelônios, o que foi ções de indivíduos nesta região.
presenciamos. Portanto, na percepção dos mora- confirmado com depoimentos obtidos da popula- A baixa abundância observada nas populações de
dores, o histórico de exploração é o principal fator ção ribeirinha. No entanto, além da predação na- quelônios e jacarés nas áreas de estudo tem como
para explicar a baixa abundância de crocodilianos, tural (Soini,1995; Fachin,1992), a predação huma- principal fator os impactos causados por ações an-
que pode ser considerada uma das menores de na é, talvez, a principal causa de perda de ninhos trópicas, com destaque, de acordo com moradores,
toda a região amazônica. Esta confirmação de status no rio Capim, como ocorre em diversas áreas da para a sobrepesca.

156
ANFÍBIOS, LAGARTOS E SERPENTES
anfíbios, lagartos e serpentes
Ulisses Galatti • Lanna D. S. Printes • Pablo Suárez

A
contínua alteração das estru- Amazônia Brasileira, levando à geração de enormes ou com a ajuda de gancho. Foram registradas, ain-
turas de populações naturais áreas de estrutura fragmentada. Nestas áreas, as da, as localizações e as características fisionômicas
vem se tornando uma das amostragens de anfíbios e répteis podem oferecer dos hábitats de captura. O tempo de duração dos
principais temáticas discutidas pelos con- importantes subsídios para a identificação de locais percursos variou de uma a cinco horas para cada
servacionistas (Diamond, 1989; Tilman et e hábitats com maior necessidade de preservação local ou hábitat. As amostragens foram realizadas
al., 1994; Kruess, Tscharntke, 1994). Seja e, ao mesmo tempo, indicar formas para a conser- principalmente à noite, quando a maioria das es-
pela antropização progressiva dos hábitats vação das espécies destes grupos, particularmente pécies de anfíbios e muitas de répteis estão ativas,
naturais do planeta ou por processos na- das espécies ameaçadas e/ou endêmicas. mas também durante o dia.
turais, as características espaciais das áre- O presente estudo apresenta informações so- Após a captura, os animais foram preliminar-
as de distribuição da maioria das espécies bre a ocorrência de espécies de anfíbios, lagar- mente identificados e acondicionados em sacos
vêm se modificando, resultando em dis- tos e serpentes em cinco municípios fortemente plásticos ou de pano, para serem transportados
tribuições heterogêneas das populações a antropizados do estado do Pará (Paragominas, até a base logística mais próxima. Os répteis fo-
diferentes escalas espaciais (Wiens, 1989). Ulianópolis, Tomé-Açu, Ipixuna do Pará e Auro- ram anestesiados e mortos com vetanarcol, e os
Acredita-se que ambientes fragmen- ra do Pará), com vistas a disponibilizar subsídios anfíbios imersos em etanol diluído a 10%. Em se-
tados podem ter efeitos particularmente acerca do mapeamento das condições ambientais guida, os espécimes foram injetados com formal-
fortes sobre a variabilidade genética em da região. deído 10%, e depois de 24 horas, conservados em
anfíbios devido a estes apresentarem, ge- etanol 70%. Alguns exemplares foram fotografa-
ralmente, baixa capacidade de dispersão MATERIAIS E MÉTODOS dos e/ou tiveram anotadas as características mor-
(Blaustein et al., 1994; Funk et al., 2005), fológicas e padrões de coloração em vida, uma
subsistindo em pequenas áreas vitais e Foi prospectado um total de 15 localidades, vez que é comum perderem coloração – muitas
ostentando uma elevada fidelidade de sítio abrangendo os municípios de Paragominas, Tomé- vezes importante para a identificação inequívoca
(Sinsch, 1990; Duellman, 1982). Embora Açu, Ipixuna do Pará e Aurora do Pará. As observa- da espécie – após fixados. Também foram regis-
se estime que cerca de 90% das espécies ções sobre estas localidades envolveram tanto dados trados e gravados os cantos de acasalamento de
de anfíbios pertencentes a uma região po- primários de coletas no campo quanto dados secun- machos que estavam na época reprodutiva, já que
dem ser encontradas em fragmentos não dários, obtidos a partir de registros da literatura e se trata de um caráter específico e de alto valor

elementos da biodiversidade
maiores que 350 hectares (Zimmerman, das Coleções Herpetológicas do Museu Paraense taxonômico e, portanto, de vital importância na
Bierregaard, 1986), as conseqüências da Emílio Goeldi. Além destas, foram analisadas, sepa- identificação de espécies críticas. Os espécimes
diminuição da variabilidade genética nes- radamente, as amostragens da herpetofauna terres- preservados foram incorporados à Coleção Her-
tes ambientes fragmentados se correlacio- tre ao longo das margens dos rios Capim e Acará- petológica do Museu Paraense Emílio Goeldi
nam com incrementos nas taxas de extin- Mirim. As observações de campo foram realizadas (MPEG), onde são mantidos, com os dados de
ção local de populações (Fahrig, Merriam, entre dezembro de 2004 e março de 2005. campo, para futuros estudos e como testemunho
1994). Já em répteis, os cenários previstos As amostragens de anfíbios e répteis foram rea- da herpetofauna da área de estudo.
não se diferenciam grandemente daque- lizadas através de procuras visuais, auditivas e pela
les para anfíbios. remoção de troncos caídos e liteira (folhiço), além RESULTADOS E DISCUSSÕES
Processos como a ocupação antrópi- de observações ocasionais e por terceiros. O princi-
ca, o desmatamento em grande escala, pal método de amostragem utilizado foi o de “Pro- Foi registrado um total de 98 espécies, sendo
a exploração de minérios e o represa- cura Sistemática Limitada por Tempo” (Campbell, 45 espécies de anfíbios, 22 de lagartos e 31 de ser-
mento de cursos d’água, entre outros fa- Christman, 1982; Martins, 1994). A maioria dos pentes (Tabela 1), as quais estão relacionadas nos
tores, têm transformado grandes áreas da espécimes observados foi capturada manualmente Anexos 4, 5 e 6.

157
TABELA 1 - Número de famílias, gêneros e es- considerados como preliminares, mas parecem lagartos e serpentes resultou bastante similar nas
pécies dos principais grupos da Herpetofauna re- representar a maior parte da diversidade de espé- áreas amostradas, sendo, em todos os casos, infe-
gistrados na área de estudo. cies da área de estudo. Na região de Belém, por rior ao esperado para a região (Gráfico 1).
exemplo, é conhecida a ocorrência de 55 espécies O elevado número de espécies de serpentes
elementos da biodiversidade

Famílias Gêneros Espécies


Anfíbios 05 16 45 de anfíbios (Galatti et al., no prelo), 27 de lagartos detectado em Vila Nova não deve ser relaciona-
Lagartos 06 17 22 e 44 de serpentes (Crump, 1971). do ao estado de conservação desta área, mas sim
Serpentes 04 23 31 Com exceção da espécie Dendrobates galactonotus ao fato de ser uma área com um esforço de cole-
Total 15 56 98 (Foto 5), que apresenta uma distribuição restrita ta muito superior em comparação com as outras
ELABORAÇÃO: Os autores (2004). à Amazônia Oriental (E do Rio Tapajós), as de- áreas. Embora exista uma relativa homogeneidade
mais espécies registradas da herpetofauna terrestre no número de espécies registradas em cada uma
Entre os anfíbios, houve uma predominância na área de estudo possuem ampla distribuição no das localidades estudadas, a composição da herpe-
de espécies das famílias Hylidae (25 espécies) e Brasil. tofauna segundo o tipo de ambiente ocupado pe-
Leptodactylidae (12 espécies), sendo a primeira de Não foi registrada a ocorrência de espécies las espécies apresenta variações importantes entre
hábito arborícola e a segunda terrestre (Fotos 1 e categorizadas em nenhum dos critérios utiliza- as áreas estudadas (ver Mapa de Composição de
2). Outras famílias com menos registros de ocor- dos pelo IBAMA na Lista das Espécies da Fauna Espécies).
rência foram Bufonidae (quatro espécies), Den- Ameaçadas de Extinção no Brasil (http://www. A Fazenda Cauaxi, que constitui e se localiza
drobatidae (três espécies) – ambas de hábitos ter- mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.cfm). Cabe des- em extensa área preservada, apresentou o maior
restres –, e Ceciliidae – de hábito aquático – com tacar a ocorrência da espécie de bufonídeo, Atelopus número de espécies associadas a ambientes primá-
apenas uma espécie (Anexo 4). spumarius (Foto 6), categorizado como vulnerável rios, isto é, ambientes não perturbados. Os me-
Entre os lagartos, a família com maior número pela IUCN (União Internacional para a Conser- nores números de espécies associadas a ambientes
de espécies foi a Gekkonidae (6 espécies; Foto 3), vação da Natureza - http://www.iucn.org) devi- primários foram observados na área da Jamic e da
seguida pelas famílias Polichrotidae e Teiidae, am- do ao declínio observado nas suas populações em Fazenda Vitória. A Fazenda Vitória possui um re-
bas com quatro espécies (Anexo 5). alguns países da América Central. As espécies do manescente florestal isolado em uma região alta-
Das 31 espécies de serpentes registradas, 24 fo- gênero Atelopus são encontradas no solo de flores- mente antropizada, onde está também a localidade
ram da família Colubridae (Foto 4), três da família tas tropicais de terra firme e no folhiço próximo a Jamic. Estes resultados indicam a necessidade da
Boidae e três da família Viperidae, e apenas uma córregos permanentes, sendo restritas a ambientes
espécie da Família Aniliidae (Anexo 6). não perturbados. Atelopus spumarius foi representa- FOTOS 3 e 4 – Exemplares pertencentes às fa-
Os resultados sobre a composição da her- do por um único registro, numa área preservada da mílias com maior riqueza de espécies de Lagartos
petofauna terrestre aqui registrada devem ser Fazenda Cauaxi. e Serpentes. (3) Gonatodes humeralis (Gekkonidae);
Do total de espécies da herpetofauna registrada, (4) Leptodeira annulata (Colubridae).
FOTOS 1 e 2 – Espécimes representativos das cerca de 50% são características de ambientes não
antropizados, 20% constituem espécies associadas 3
famílias com maior riqueza de espécies da Classe
Amphibia. (1) Trachycephalus venulosus (Hylidae); a ambientes de cobertura vegetal mais aberta (fre-
(2)Leptodactylus fuscus (Leptodactylidae). qüentemente antropizadas) e cerca de 30% têm
ocorrência em ambos ambientes.
1 Das 15 localidades estudadas, apenas cinco tive-
ram um número mínimo de registros, representa-
tivo dos três grupos de interesse (anfíbios, lagartos
e serpentes). Somente uma das áreas amostradas
apresentou um número de espécies de anfíbios
substancialmente menor (Fazenda Vitória), sen- 4
do as outras áreas mais ou menos homogêneas
em relação a este grupo. O número de espécies de

FOTO 5 – Exemplar de Dendrobates galactonotus


(Dendrobatidae).
FOTOS 3 a 5: Ulisses Galatti (2004).
FOTOS 1 e 2: Pablo Suárez (2004).

158
FOTO 6 – Exemplar de Atelopus spumarius (Bufo- GRÁFICO 1 – Distribuição de freqüência do número de espécies dos diferentes grupos da herpeto-
nidae). fauna terrestre observado por área de estudo. Miltônia: Área de Exploração da Bauxita da Vale do Rio
Doce, Fazenda Diamantina e Platô Miltônia, Paragominas; Cauaxi: Fazenda Cauaxi, Paragominas; Vi-
tória: Fazenda Vitória, Paragominas; Jamic: Jamic, Tome-Açu; Vila Nova: Tome-Açu, Comunidade
Santo Antonio, Fazenda Inada e Vila Nova, Tome-Açu.
FOTO: S. Neckel (s/d).

preservação dos fragmentos isolados de floresta


primária para a conservação da herpetofauna ter-
restre dos municípios, bem como a importância
de áreas como a Fazenda Cauaxi, que, com a
Fazenda Rio Capim (70km distante da Fazen-
da Cauaxi), constitui porção mais preservada da
área de estudo.
Também foram realizadas comparações da her-
petofauna associada às margens dos rios Capim e
Acará-Mirim. A fauna de anfíbios observada nas
matas ciliares destes dois sistemas apresentou um
número similar de espécies, enquanto entre lagar- GRÁFICO 2 – Distribuição de freqüência de espécies dos grupos da herpetofauna terrestre associados
tos e serpentes, o rio Capim teve uma maior rique- aos rios Capim e Acará-Mirim.
za de espécies do que o Acará-Mirim (Gráfico 2).
Também com relação ao tipo de ambiente ocupado
pelas espécies, o rio Capim teve um maior número
de espécies associadas a ambientes primários (Grá-
fico 3), indicando que este sistema de drenagem
está inserido em uma unidade de paisagem mais

elementos da biodiversidade
preservada.

CONCLUSÕES E
RECOMENDAÇÕES

Os resultados sobre a composição da herpe-


tofauna terrestre registrada para a área de estudo
do Atlas Ambiental devem ser considerados preli-
minares, embora representem um número próxi-
mo ao conhecido de áreas mais bem estudadas da
Amazônia Oriental. GRÁFICO 3 – Composição da herpetofauna terrestre associada aos rios Capim e Acará-Mirim em rela-
Todas as áreas analisadas apresentaram níveis ção ao hábitat. AP: espécies indicadoras ou associadas a ambiente preservados; AA: espécies indicadoras
de antropização elevados, sendo a Fazenda Caua- ou associadas a ambientes antropizados; AA/AP: espécies que ocorrem em ambos ambientes.
xi a área que detém o melhor estado de conserva-
ção. No referente à composição da herpetofauna,
além de apresentar um maior número de espécies
associadas a ambientes preservados, foi a única área
onde registramos espécimes de Atelopus spumarius,
que, além de potencial indicador da integridade
ambiental, é considerada “vulnerável”, segundo os
critérios da lista de espécies ameaçadas de extinção
da IUCN.
No que se refere às áreas avaliadas nas margens
dos rios Capim e Acará-Mirim, o primeiro apre-
sentou um melhor estado de conservação, o que se ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 1 a 3: Os autores (2004).

refletiu em relação à composição da herpetofauna.


Recomenda-se que o rio Capim seja alvo de me-
didas que impeçam a ocupação e o desmatamento impeçam desmatamentos nas áreas situadas no su- prevêem a quase totalidade da área de estudo
de suas margens, bem como que seja considerada doeste do município de Paragominas. como área de consolidação das atividades pro-
a viabilidade de revitalização do sistema de drena- Igualmente, é necessário considerar a impor- dutivas, fato este que, somado à já acentuada an-
gem do rio Acará-Mirim. tância dos fragmentos florestais remanescentes tropização, deve impossibilitar projetos de con-
Dadas as características observadas sobre a her- nas áreas mais antropizadas, uma vez que os me- servação mais efetivos, como o estabelecimento
petofauna da área da Fazenda Cauaxi, sugere-se canismos de gestão estaduais, como o Macro- de corredores que interliguem os remanescentes
a implementação de medidas de preservação que zoneamento Econômico-ecológico do Estado, florestais da região.

159
elementos da biodiversidade

160
1~PHURGHHVSpFLHV
1~PHURGHHVSpFLHV

161
elementos da biodiversidade
PERFIL
SOCIOECONÔMICO
PERFIL DAS ECONOMIAS MUNICIPAIS
perfil das economias municipais
Maurílio de Abreu Monteiro • Danilo Araújo Fernandes • Wesley Pereira Oliveira
perfil socioeconômico

Heriberto Wagner Amanajás Pena • Raphael Paiva Barbosa

S
erão analisados nesta parte do TABELA 1 – Proporção do Valor Adicionado Municipal por setor de atividade (valores em %)
Atlas Socioambiental aspectos Agropecuária Indústria Serviços
MUNICÍPIOS
relativos à economia da área 1997 2003 1997 2003 1997 2003
de estudo como um todo, com ênfase PARAGOMINAS 29,58 46,05 13,51 22,64 56,90 31,29
para o perfil das economias municipais TOMÉ-AÇU 34,50 43,50 5,50 17,48 59,98 38,95
– as interações, as diferenças e os pontos ULIANÓPOLIS 65,01 64,01 16,52 16,89 18,46 19,08
em comum encontrados na realidade em AURORA 68,75 68,66 3,73 2,52 27,51 28,86
IPIXUNA 75,69 51,14 7,32 27,18 16,98 21,67
questão. Procedeu-se à análise dos dados
FONTE: IBGE – SEPOF-PA / DIEPI / GERES, 2006.
fornecidos pela Secretaria Executiva de ELABORAÇÃO: Os autores (2006).
Estado de Planejamento, Orçamento e
Finanças (SEPOF) quanto aos setores de
TABELA 2 – Valor Adicionado bruto a preço básico corrente por setor, 2003 (R$ Mil)
atividades (agropecuária, indústria e servi-
ços) e seus valores adicionados; dados do MUNICÍPIOS Agropecuária Indústria Serviços
IBGE – PNUD (1997-2003) relativos ao AURORA 53.795 1.981 22.630
IPIXUNA 81.661 43.404 34.614
Produto Interno Bruto (PIB) dos muni-
PARAGOMINAS 225.099 110.704 152.970
cípios da área de estudo; e dados do Cen-
TOMÉ-AÇU 70.076 28.123 62.671
so IBGE (2000) e da RAIS sobre emprego
ULIANÓPOLIS 120.653 31.838 35.976
formal. Estes últimos completam a análise FONTE: SEPOF/PA, 2006.
ao permitir que se visualize a realidade do ELABORAÇÃO: Os autores (2006).

emprego nos municípios em estudo. O


emprego, que envolve, nas estatísticas, as nado concentrado na produção do setor agrope- do PIB do Pará. Os resultados atestam que em 1997
taxas de ocupação e de desocupação, bem cuário; enquanto municípios como Paragominas, o setor de serviços participava com 46,79% e em
como a distribuição da população eco- Tomé-Açu e Ipixuna do Pará apresentavam uma 2003 caiu para 41,17% da composição do produ-
nomicamente ativa, segundo os diversos distribuição bem mais eqüitativa entre os três se- to estadual. Outra semelhança decorre dos ganhos
setores de atividade, é uma das mais im- tores. reais adicionados, pois, apesar da perda percentual,
portantes variáveis socioeconômicas para A concentração do VA em Aurora do Pará e o valor do setor em questão cresceu no Estado 1,7
o estudo de uma determinada área. Ulianópólis se deve, em parte, a dois motivos: a vezes e no município de Paragominas 1,8 vezes, ou
elevada taxa de ocupação por atividade principal é seja, foi agregado monetariamente pelo setor na
DISTRIBUIÇÃO DO PIB E VALOR predominante nos setores de agricultura, pecuária, economia do estado o equivalente a 4.655.619,59
ADICIONADO MUNICIPAL silvicultura, exploração florestal e pesca, que juntos (R$ mil) e no município 68.896,25 (R$ mil).
respondem por 44,3% da população economica- A participação municipal do setor de serviços em
De acordo com dados fornecidos pela mente ativa (PEA), na média dos dois municípios; Paragominas apresentava em 1997 cerca de 56,90%
SEPOF, os municípios de Paragominas, outro fator de correspondência foi provocado pelo do valor adicionado. Em 2003, apresentou um de-
Tomé-Açu, Ulianópolis, Ipixuna do Pará desflorestamento das áreas dos municípios com créscimo de sua participação relativa para algo em
e Aurora do Pará respondiam, juntos, em a venda de madeiras de lei e impulsionadas pelo torno de 31,29% do valor adicionado, ou quase 153
2003, por cerca de 3,83% do total do PIB uso posterior em pastagens extensivas. Os dados milhões de reais (conforme Tabela 2), o que de-
do Estado. Dentre estes municípios, no do Instituto de Pesquisas Espaciais da Amazônia monstra uma alteração na estrutura da distribuição
entanto, Paragominas se destaca por apre- (INPE) atestam, que já em 2000, 765 km2 de área do PIB do município que, no entanto, deve-se mui-
sentar um PIB municipal de cerca de 507,7 dos municípios de Aurora do Pará e Ulianópolis to mais ao crescimento do setor agropecuário e da
milhões de reais (45,39% do total do PIB haviam sido desflorestados, ou seja, o equivalente indústria do que propriamente à queda do valor adi-
agregado dos cinco municípios), sendo o a 30% e 41% deles, e no ano de 2003 os percentuais cionado gerado pelo setor serviços. Até porque não
município de Aurora do Pará aquele que se elevaram para 41% e 58%, respectivamente, so- se pode negar a importância do setor de serviços,
– dentre os cinco municípios analisados mando juntos uma área de 1.049 km2. Ao mesmo sobretudo o comércio, em Paragominas, funcio-
– apresenta o menor PIB municipal, com tempo, a produção em cabeças de gado evolui de nando a sede deste município como um subcentro
cerca de 78,8 milhões de reais (7,05% do 25 mil em 1997 (Aurora do Pará) e 40 mil (Ulia- regional – fato comprovado pela presença de áreas
total do PIB dos cinco municípios para o nópolis) para 67 e 107 mil em 2003, respectiva- comerciais especializadas (varejo, atacado, agrone-
ano de 2003). mente. A quantidade de toras extraídas nos dois gócio, máquinas e equipamentos diversos) no inte-
Se analisarmos a distribuição do valor municípios somou, no mesmo período, a cifra de rior desta área urbana (ver Espaço Urbano).
adicionado (VA) entre os setores agrope- 2.605.230 (unidades físicas em toras), e sua repre- Este setor recebeu forte influência de uma
cuário, de indústria e de serviços para cada sentatividade do PIB em 2003 alcançou 18 e 25% emancipação relativamente precoce, ocorrida em
um dos municípios da área de estudo (ver de Aurora do Pará e Ulianópolis (IBGE, 2007). 1965, que permitiu ao município maior autono-
Tabelas 1 e 2), podemos perceber uma No caso de Paragominas, a tendência a um maior mia, mais tarde consolidando-o como pólo de
grande diversidade de posições relativas à equilíbrio entre os três setores se configurou nos sua microrregião. A influência da BR-010 (Be-
participação de cada um desses setores no últimos anos a partir da verificação de uma queda lém – Brasília) garantiu maior integração comer-
total do valor adicionado por município. significativa na participação do setor de serviços no cial, bem como elevada taxa de urbanização de
Em 2003, por exemplo, os municípios de total do valor adicionado do município, o que não 76,18%, segundo o IBGE (Censo 2000), aliada à
Aurora do Pará e Ulianópolis apresenta- contrariou a média estadual, em que os dados agre- 10ª posição no ranking do estado como o municí-
vam, respectivamente, algo em torno de gados para este setor revelam, no mesmo período, pio que mais postos de trabalho gerou no setor de
68% e 64% do total de seu valor adicio- significativa queda de importância na composição comércio e serviços, o que eleva sua importância

164
perfil socioeconômico

na medida em que, de 1999 a 2003, foram gera- 2001 e 2003) e pela expansão de algumas culturas no que diz respeito ao efeito substituição, este setor
dos 9,59% de empregos com carteira assinada só temporárias ligadas ao agronegócio (como o arroz perdeu em valores, na comparação com o conjun-
neste setor. e o milho – ver item Agricultura), a proporção dos to dos demais, o equivalente a 25.005,00 (R$ mil),
Quanto ao número de estabelecimentos no se- valores adicionados do setor industrial e do agro- valor este bem aquém da perda do setor de servi-
tor de serviços, no período de 1999-2003 houve pecuário no município de Paragominas sofreu um ços, que deixou de incorporar na economia entre
um aumento absoluto de 1,25 vezes. Em todo o impulso significativo nos últimos anos. No caso da períodos 46.423,00 (R$ mil), confirmando a perda
período os estabelecimentos, apesar de queda na agropecuária, por exemplo, a participação relativa de participação no valor adicionado deste setor na
participação do valor adicionado, geraram um passou dos modestos 29,58% em 1997, para apro- composição do PIB do município (ver Tabela 3).
fluxo monetário na economia de Paragominas de ximadamente 46,05% em 2003, ou 225 milhões de De acordo com a Tabela 3, a magnitude de re-
68.898,25 (R$ mil), conseguindo superar uma par- reais, desbancando, inclusive, o setor de serviços dução ou de substituição dos setores na compo-
ticipação em número acima de 50% no período em como maior fonte do PIB municipal neste ano. sição do PIB de Paragominas permite observar o
análise, de acordo com os dados analisados no Mi- Quanto ao PIB agropecuário de Paragominas, o quanto ascendem os ganhos do setor industrial
nistério do Trabalho (RAIS, 2000). forte crescimento do setor apresentou um ganho em substituição ao conjunto. Quanto aos valores
Impulsionada principalmente pelo crescimento de escala na ordem de 125.426,00 (R$ mil) no mu- registrados no período, a indústria adiciona em
da produção do carvão vegetal (entre os anos de nicípio para o período de 1997-2003. No entanto, relação aos demais setores 73.445,00 (R$ mil). O

165
crescimento industrial do município representou, GRÁFICO 01
inclusive, ascendência no ranking do PIB per capita
do Estado, subindo em posição de 26ª para 22ª en-
tre 1999 e 2003, e melhorando a renda da popula-
perfil socioeconômico

ção de 3.548,87 (R$ 1,00) para 6.104,48 (R$ 1,00)


no mesmo período.
Os demais setores, com exceção da indústria,
apresentaram efeito substituição negativo, o que
indica que para o período analisado a taxa de in-
cremento diminuiu na comparação com os demais
setores. A Dummy Financeira é uma atividade in-
cluída na determinação do PIB dos Estados e Mu-
nicípios atendendo à metodologia do IBGE como
forma de captar o custo dos serviços financeiros
intermediários de cada atividade, para não supe-
restimar o PIB do valor adicionado por atividade ELABORAÇÃO: Os autores (2006).

e, portanto, dele próprio. Não existe produção 4ª posição no ranking do Estado, contribuindo com indústrias madeireiras e movelarias do setor;
para esta variável, apenas se consideram os custos 400.877 mil cabeças em 2003, com expressão tam- fabricação de madeiras laminadas e em chapas;
embutidos de intermediações financeiras, por isso bém na produção de leite, ocupando a 6ª posição fabricação de esquadrias de madeira; indústrias
seus valores são negativos (ver Tabela 3). com 20.900 mil litros ainda em 2003. A integração de casas de madeira pré-fabricadas; desdobra-
com produtos derivados também é representativa mento industrial de madeiras; fabricação de mó-
TABELA 3 – Efeito escala e efeito substituição do e, segundo dados da RAIS (2003), existiam 884 es- veis com sobras de madeiras e aglomerados em
Produto Interno Bruto (PIB) – Município de Pa- tabelecimentos no município, um crescimento de MDF; madeiras para construção civil; entre ou-
ragominas (Valores em R$1.000,00). 51% em relação a 1999, dentre eles aqueles que re- tros. Somente nesse segmento, somam-se mais de
Varia- Efeito
forçam uma maior integração da cadeia produtiva 100 estabelecimentos formalmente registrados,
Efeito da pecuária com 172 estabelecimentos, classifica-
Subsetores ção Substi- segundo dados da RAIS (2005).
Escala
Total tuição dos como: de criação bovina; abatedouros de carne; Outro fator que impulsionou a atividade na re-
TOTAL 254.639 254.639 0
estabelecimento de preparação de leite; fabricação gião foi a Lei do Governo Federal para incentivar os
de produtos de laticínio; fabricação de rações para setores exportadores de produtos semi-elaborados
Agropecuária 100.421 125.426 -25.005 animais; fabricação de produtos orgânicos; fabri- (commodyties), denominada de Kandir e em vigor
cação de tratores agrícolas e patrulhas; máquinas e desde 1996. Esta Lei teve como finalidade desone-
Indústria 92.131 18.685 73.445
equipamentos agropecuários; fabricação de cabines rar os setores exportadores da cobrança do ICMS
Serviços 53.572 99.995 -46.423
e reboques para implementos agrícolas; comércio quando os produtos são destinados ao mercado ex-
atacadista de carne e derivados; comércio varejista terno. Para fazer frente aos superávits da balança
Dummy Financeira -3.294 -3.080 -214 de couros, bolsas, sapatos e derivados, entre outros. comercial e poder equilibrar a balança de serviços
Voltaremos a falar da pecuária mais adiante. do registro contábil nacional, o Governo Federal
Impostos 11.810 13.613 -1.803
A tendência de crescimento do setor agropecu- também exerceu seu controle sobre a política cam-
FONTE: IBGE - Sistema SIDRA. ário em Paragominas, por sua vez, já se observava bial, alargando os limites superiores das bandas, e
ELABORAÇÃO: Os autores (2006)
desde o Censo agropecuário de 1998. O acom- como as receitas de exportação são recebidas em
panhamento do desflorestamento do município dólares, na conversão para moeda doméstica, o fa-
O crescimento industrial de Paragominas no
também é um indicativo de crescimento da ati- turamento dos exportadores aumentava, e com ele
período está associado aos ganhos de produtivida-
vidade madeireira (ver item Situação, Impactos e a moeda em circulação.
de de algumas culturas como o arroz, o milho e a
Perspectivas do Setor Madeireiro). Outro indica- Para ressaltar a atividade madeireira no Estado,
mandioca, para citar algumas temporárias, com for-
tivo do crescimento da atividade agropecuária é a o Gráfico 2 mostra a evolução dos valores impor-
te beneficiamento do arroz e avanços significativos
silvicultura na região amazônica; aliás, a lógica de tados e exportados pelo Pará e pelo Brasil no pe-
em fecularias de mandioca, contribuindo para agre-
uso dos recursos florestais e não florestais obedece ríodo de 1997 a 2005, com a Lei Kandir aprovada
gação de valor ao PIB. Somente de arroz, em 2001
ao nexo de derrubada de árvores e venda das ma- em 1996. As curvas atestam importações menos
foram mais 66 toneladas beneficiadas (IBGE) (Para
deiras de valor comercial. Posteriormente o pas- expressivas de madeira até 1999, pois ocorriam de
mais informações, ver, no Atlas, o item Agricultura).
to assume como atividade de predominância. Em forma limitada à compra de madeiras bem refina-
Entre as culturas predominantemente industriais, a
Paragominas, outra atividade que impulsionou o das, como painéis de fibra de madeira, em torno
pimenta-do-reino é o destaque, com aumento do
setor industrial foi exatamente a silvicultura, que de 37,39% (2005 MDIC), e madeiras beneficiadas,
valor da produção de 40 para 67% das culturas per-
trata da extração madeireira, lenha, papel, celulose por volta de 18% (MDIC, 2005), para citar alguns
manentes. Na comparação ao preço das culturais
temporárias, as culturas permanentes revelaram tra- e madeira para outras finalidades. exemplos para a importação do Brasil.
jetórias decrescentes de 1999 a 2003, o que reduziu A correlação entre o desflorestamento e o au- No Estado, a importação atualmente é rara,
nesse período o valor da produção de 5.594 (R$ mil) mento da produção madeireira entre 2000 e 2003 é mas já chegou à cifra dos 1.301.343 (U$S 1000)
para 3.332 (R$ mil). No mesmo período, as cultu- bastante significativa. Neste período, o volume de em 1998 e vem apresentando declínio no perío-
rais temporárias aumentaram o valor de 17.717 (R$ madeiras em toras derrubadas chegou a 2.891.178 do. Até 2004, o Estado importou apenas 40.831
mil) para 31.472 (R$ mil) (ver Gráfico 1). (unidades de toras), segundo dados do IBGE. Em (U$$ 1000) e em 2005 não houve importações.
A produção industrial do município de Para- dados corrigidos para 2005, o valor das madeiras Quanto à representatividade dos municípios,
gominas teve seu grande impulso correlaciona- extraídas chegou a 387.875 (R$ 1.000,00). Com Paragominas, em 1999, ocupava a 1ª posição, e
do com a agregação de valor na cadeia produtiva relação ao impacto no PIB, somente a extração em 2003 caiu para a 3ª, segundo dados do MDIC
da pecuária de corte e da silvicultura. Na pecuária de madeira em 1999 correspondeu a 57,83% (2005), o que não diminuiu a importância do se-
de corte, o município é representativo e ocupa a do valor, sem considerar a ação em cadeia das tor no Estado do Pará.

166
GRÁFICO 2 - Evolução dos valores importados e exportados pelo Pará e pelo Brasil no período de 1997 a 2005. No geral, portanto, três municípios tiveram sua
participação industrial relativamente aumentada
durante o período de 1997 a 2003. Foram eles: Pa-
ragominas (de 13,51% para 22,64%), Tomé-Açu
(de 5,50% para 17,48%) e Ipixuna do Pará (de
7,32% para 27,18%). Aurora do Pará e Ulianópolis
mantiveram-se basicamente com perfil agropecu-
ário. No caso de Ulianópolis, as lavouras tempo-
rárias de arroz (em casca), milho e cana-de-açúcar
foram as que mais se destacaram dentre os produ-
tos agrícolas, enquanto em Aurora do Pará a maior
contribuição esteve associada à produção de man-
dioca, feijão, milho, pimenta-do-reino e maracujá.
Conforme se deduz a partir do conhecimento da
realidade fundiária e da produção agrícola nestes
ELABORAÇÃO: Os autores (2006). dois municípios, o papel relativo do setor agrope-
No caso de Tomé-Açu, a situação não foi diferen- município. No ano 2000, o valor adicionado do cuário em Ulianópolis está ligado basicamente à
te. O município também apresentou um aumento setor industrial de Tomé-Açu girava algo em tor- produção do agronegócio, vinculado ao grande la-
significativo na participação do setor agropecuário no de 7 milhões de reais. Este volume passou, no tifúndio; enquanto em Aurora do Pará destaca-se a
(de 34,50% em 1997 para 43,50% em 2003) e in- ano seguinte (2001), para cerca de 20 milhões de produção de base familiar, realizada nos assenta-
dustrial (de 5,5% em 1997 para 17,48% em 2003); reais, impulsionando fortemente um aumento na mentos rurais, bem como as iniciativas dos agri-
ao mesmo tempo em que se viu, também, o setor participação relativa do setor industrial em ter- cultores de origem nipônica que se instalaram nes-
agropecuário superar a proporção do PIB municipal mos do total do valor adicionado do município. tes municípios a partir da década de 1970, vindos
do setor de serviços (que despencou dos 59,98% do Tal crescimento foi impulsionado, principalmen- de Tomé-Açu.
valor adicionado em 1997 para cerca de 38,95% em te, pela elevação do beneficiamento de polpas de
2003). Neste caso, no entanto, entre os produtos frutas, sendo a CAMTA (Cooperativa Agrícola PIB PER CAPITA E IDH
que contribuíram com a expansão da agropecuária, Mista de Tomé-Açu) a grande responsável por tal
estão as culturas permanentes da pimenta-do-rei- incremento, chegando até a exportar grande parte No que diz respeito aos dados do PIB per capita,
no e do cacau (em amêndoa), as quais tiveram um da produção de polpas. o município de Ulianópolis é aquele que mais se
crescimento bastante significativo, sobretudo a par- Ipixuna do Pará – ao contrário dos outros mu- destaca, por apresentar o maior nível de renda mé-
tir de 1999 (no caso da pimenta-do-reino) e 2002 nicípios aqui analisados – apresenta, entre os anos dia por habitante entre os cinco municípios anali-

perfil socioeconômico
(no caso do cacau). No caso da pimenta-do-reino, de 1997 e 2003, uma queda significativa na parti- sados, alcançando um valor médio em torno de R$
por exemplo, o fator responsável pelo crescimento cipação de seu setor agropecuário em relação ao 8.282,99 no ano de 2003, valor bastante superior
do valor da produção está diretamente associado ao total do valor adicionado do município, passando à média dos outros quatro municípios, os quais
crescimento da quantidade produzida, que passou de uma proporção de cerca de 75,69% em 1997, obtiveram, em 2003, valores próximos dos R$
de 792 toneladas, em 1997, para algo em torno de para algo em torno de 51% em 2003. O setor in- 6.104,48 (Paragominas), R$ 5.211,67 (Ipixuna do
4600 toneladas em 2003. Já no caso do cacau (em dustrial de Ipixuna do Pará, no entanto, foi aquele Pará), R$3.478,01 (Aurora do Pará) e R$ 3.410,31
amêndoa), o principal fator responsável pela expan- que apresentou a maior taxa de crescimento entre (Tomé-Açu).
são do valor da produção parece ter sido a variação todos os cinco municípios analisados, subindo dos Com relação ao estado do Pará, a posição ocu-
do preço do produto, tendo-se em vista que a quan- modestos 7,32% do valor adicionado em 1997 para pada por Ulianópolis já foi mais expressiva. Em
tidade produzida se manteve relativamente estável 27,18% em 2003, desbancando, também, o setor 1999, o município ocupou lugar de destaque par-
ao longo de todo o período, enquanto o valor total de serviços como segundo setor em termos de par- ticipando como 6º maior PIB per capita, e em 2003
da produção saltou de 1,224 milhões de reais, em ticipação relativa no total do valor adicionado mu- caiu para a 14ª posição no ranking. Outro destaque
1997, para aproximadamente 4,5 milhões de reais nicipal. O crescimento industrial em Ipixuna está coube também ao município de Ipixuna do Pará,
em 2003 (ver item Agricultura). relacionado à instalação recente de projetos de ex- que para o mesmo período ocupava a 11ª posição e
O setor industrial de Tomé-Açu também ex- tração mineral de caulim, representados pela Pará- caiu 18 posições em 2003. Paragominas elevou sua
perimentou um aumento significativo na sua par- Pigmentos S.A. (PPSA) e pela Imerys Rio Capim posição de 26º em 1999 para 22º em 2003, sendo
ticipação relativa ao total do valor adicionado do Caulim (IRCC). o único que apresentou melhoria na área de estu-
do dentro do período analisado, uma vez que as
GRÁFICO 3 – Valor Adicionado (VA) dos municípios (em milhões de reais)
atividades assumidas pelo município são as mais
significativas em geração ao valor do produto do
estado do Pará.
É importante ressaltar, no entanto, que, entre os
cinco municípios analisados, Paragominas é aquele
que apresenta a maior taxa de crescimento em seu
nível de renda per capita para todo o período ana-
lisado (1997 a 2003), subindo de um valor de R$
2.426,22 por habitante no ano de 1997, para algo
em torno dos R$ 6.104,48 no ano de 2003 (uma
taxa de crescimento de 151,60%), seguido de per-
to pelo município de Tomé-Açu, o qual apresen-
tou uma taxa de crescimento de 148,26% para o
período analisado.

ELABORAÇÃO: Os autores (2006).

167
TABELA 4 - PIB per capita a preço de mercado corrente (1997-2003) e IDH (2000) sozinha, por cerca de 27,58% do total de pessoas
PIB per capita formalmente ocupadas para os cinco municípios
MUNICÍPIOS E ESTADO IDH 2000
1997 2003 Variação %, 1997/2003 analisados em 2005.
perfil socioeconômico

PARAGOMINAS 2.426,22 6.104,48 151,60 0,690


TOMÉ-AÇU 1.373,71 3.410,31 148,26 0,676 NÍVEL DE EMPREGO DOS MUNICÍPIOS
ULIANÓPOLIS 7.306,49 8.282,99 13,36 0,688 POR SETOR (2001-2005)
AURORA 2.614,67 3.478,01 33,02 0,618
IPIXUNA 5.818,24 5.211,67 -10,43 0,622
Cabe também analisar o nível de emprego por
PARÁ 2.513 4.367 73,78 0,723
setor nos últimos cinco anos (2001-2005) para
FONTE: IBGE, PNUD.
ELABORAÇÃO: Os autores (2006). cada um dos cinco municípios da área de estudo.
No geral, houve um aumento no nível de empre-
Se analisarmos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-2000), o que podemos perceber é que go formal, havendo, no entanto, algumas variações
o município de Paragominas é aquele que apresenta a melhor situação entre os cinco municípios anali- dependendo do município e do setor em questão.
sados (0,69), seguido por Ulianópolis (0,68), Tomé-Açu (0,67), Ipixuna do Pará (0,62) e Aurora do Pará Essa análise se torna interessante porque possibili-
(0,18). Todos, no entanto, com índices abaixo da média estadual, que ficou em torno de 0,723. ta identificar quais setores têm se destacado ou não
em cada município.
GRÁFICO 4 - PIB per capita por município (em R$ milhões). Em Aurora do Pará, por exemplo, a Indústria
da Madeira e do Mobiliário apresentou uma va-
riação negativa de 66,3%. Este dado, no entanto,
teve pouca influência negativa no volume total de
empregos gerados no município nos últimos anos.
Tal fato se explica pela pouca importância do setor
em termos de participação relativa, tanto do PIB
como da geração de empregos no município. Em
Ipixuna, a geração de emprego no setor teve um
crescimento de 54,76%; já Paragominas (municí-
pio com o maior número de empregados dentro
da área de estudo) aumentou seu nível de emprego
no setor em 13,51%, enquanto Tomé-Açu, apre-
sentou variação negativa de 15,86% e Ulianópolis
um crescimento tímido de 2,55%. A respeito do
ELABORAÇÃO: Os autores (2006).
setor mobiliário, o crescimento de sua atividade
pode estar ligado à expansão das áreas urbanas de
NÚMERO DE PESSOAS OCUPADAS E TAXA estão submetidas estas pessoas. Neste sentido, se alguns dos municípios estudados. Já a atividade
DE DESOCUPAÇÃO levarmos em consideração apenas os dados do em- madeireira em si continua por declinar em virtude
prego formal (fornecidos pela RAIS), temos que, do progressivo esgotamento de espécies de valor
Se levarmos em consideração os dados do para o somatório dos cinco municípios analisados, comercial, surgindo daí a necessidade de iniciati-
Censo de 2000 sobre o total de pessoas ocupa- o número de pessoas formalmente ocupadas não vas de manejo florestal e reflorestamento no inte-
das nos municípios da área de estudo, podemos supera a marca de 15.037 pessoas para o ano 2000, rior da área de estudo.
perceber que essa totalidade representa algo em o que representaria algo em torno de 24,76% do A administração pública teve um acréscimo
torno de 2,9% do número total de pessoas ocu- total de indivíduos ocupados, de acordo com os na geração de emprego da ordem de 62,17% em
padas em todo o Estado do Pará. O município dados do Censo. Aurora do Pará, de 99,2% em Ipixuna, 12,84%
de Paragominas, dentre os municípios que com- Sendo assim, podemos acrescentar que, dentre em Paragominas e 155,67% em Tomé-Açu; en-
põem a área de estudo, é aquele que apresenta a todos os indivíduos ocupados na área de estudo quanto Ulianópolis apresentou variação negativa
maior quantidade de pessoas ocupadas, com um no ano 2000, algo em torno de 75,23% desse total de 5,71%. Cabe ressaltar que a oferta de emprego
total de 25.266. viviam em situação de informalidade, perfazendo no setor público deve-se, principalmente, a uma
No que diz respeito à taxa de desocupação, o 45.679 pessoas, ou cerca de 68,39% da PEA agre- maior oferta de serviços gerados pelo Estado, so-
município de Paragominas seria aquele que apre- gada de todos os cinco municípios analisados. No bretudo em municípios mais recentes.
senta (de acordo com os dados do Censo de 2000) entanto, se analisarmos os dados da RAIS para os No que diz respeito ao emprego formal no se-
o maior percentual em termos da proporção das últimos cinco anos (de 2001 a 2005), podemos ve- tor agrícola, silvícola, de criação de animais e extra-
pessoas desocupadas – em relação ao total de sua rificar uma tendência mais recente de aumento do tivismo vegetal, houve, no período, uma variação
população economicamente ativa (medida da taxa nível de emprego formal, estando os municípios negativa apenas no município de Aurora do Pará
de desocupação). O município de Paragominas, de Paragominas, Tomé-Açu e Ulianópolis como (-23,68%). Ipixuna, Paragominas, Tomé-Açu e
neste sentido, seria o município que apresenta o aqueles que apresentam os maiores níveis de cres- Ulianópolis apresentaram crescimento para o se-
maior nível de desocupação entre os cinco mu- cimento absoluto do emprego formal. Só em Para- tor de 223,08%, 154,15%, 137,85 % e 347,97%,
nicípios analisados, com um total de 12,41% da gominas, por exemplo, o nível de emprego formal respectivamente. Uma vez que o agronegócio se
população economicamente ativa (PEA) do muni- aumentou de 8.084 em 2001 para 13.835 no ano apresenta pouco expressivo na geração de postos
cípio estando desocupada no ano de 2000. Em se- de 2005. Um aumento de aproximadamente 71% de trabalho, tal elevação nos quatro municípios
guida, apresentam-se os municípios de Ipixuna do em cinco anos. fica mais a cargo dos projetos de revitalização e
Pará (8,47%), Tomé-Açu (7,17%), Aurora do Pará Por outro lado, se fizermos uma análise setorial implantação de assentamentos rurais.
(5,43%) e Ulianópolis (4,05%). do nível de emprego agregado gerado nos últimos Já no comércio varejista, o nível de emprego em
É importante ter claro, no entanto, que os dados anos, podemos perceber claramente que a chama- Aurora do Pará elevou-se em 150%, enquanto em
do Censo de 2000 (referidos acima) abrangem o da Indústria da Madeira e do Mobiliário é aquela Ipixuna, cresceu 281,82%. Em Paragominas, o au-
universo total de pessoas ocupadas, independente- que apresenta o maior nível de ocupação agrega- mento foi de 102,03%; 77,56% em Tomé-Açu, e
mente da formalidade e do tipo de ocupação a qual da para toda a área de estudo, sendo responsável, 111,34% em Ulianópolis.

168
perfil socioeconômico

Finalmente, tem-se o setor da construção apresentaram registros em 2001 (segundo dados maior velocidade, tais como os empregos na admi-
civil. Em Aurora do Pará não há registro de em- do relatório da SEPOF). nistração pública e autárquica; na agricultura, silvi-
prego formal neste setor. Em Ipixuna, apresentou Se olharmos o Gráfico 5, podemos perceber que cultura, criação de animais, extrativismo vegetal; e
uma queda de 18,43%. Já Paragominas saiu dos o setor de madeira e mobiliário é aquele que, nos no comércio varejista e da construção civil. Setores
modestos 50 empregos em 2001 para o significa- últimos anos, vem liderando com folga o volume que têm apresentado taxas significativas de cresci-
tivo volume de 1370 em 2005. Tal evidência de- de pessoas ocupadas em toda a área de estudo. No mento nos últimos anos.
ve-se, principalmente, à expansão da área urbana entanto, se observarmos a evolução do emprego Por fim, cabe destacar a existência de denúncias
deste município, à revitalização de estradas e à pelo ponto de vista da sua evolução histórica, po- de trabalho escravo na área de estudo, sobretudo nos
construção do mineroduto de bauxita Paragomi- demos perceber, também, que é o setor madeireiro locais mais afastados, onde se processa a derrubada
nas-Barcarena, o que acabou gerando um grande e mobiliário aquele que apresenta o crescimento da mata, instalação de pastos, dentre outras ativida-
número de empregos. Tomé-Açu apresentou três mais tímido, podendo em não muito tempo ser des desenvolvidas no interior de grandes fazendas.
registros em 2005 e Ulianópolis doze; ambos não alcançado por setores que vêm crescendo com Para mais informações, ver o Box 1.

169
BOX 1
perfil socioeconômico

DENÚNCIAS DE TRABALHO ESCRAVO pessoas físicas e jurídicas, flagradas cometendo esse Comissão de Combate ao Trabalho Escravo
crime em 13 Estados. O Pará lidera o número de vistoria Pagrisa
Ao longo dos anos de 2006 e 2007, circula- relacionados com 35,5% do total [...].”
ram na mídia local (Estado do Pará) notícias so- “Três deputados estaduais e um procurador
Extraído de: O DIÁRIO DO PARÁ. Belém, 23 dez. 2006,
bre trabalho escravo em alguns dos municípios jurídico da Assembléia Legislativa do Pará visto-
Caderno A, p.10.
estudados no Atlas. Entre 2001 e 2006, de acor- riaram, na sexta-feira, 31, a fazenda Pagrisa, em
do com o Ministério Público Federal, foram 13 Ulianópolis [...]. Carlos Bordalo (PT), Márcio
Escravos “vendidos” em Paragominas
(treze) as denúncias feitas em relação a fazen- Miranda (DEM), Bosco Gabriel (PSDB), que for-
deiros e donos de firmas ligadas ao agronegócio “O Ministério Público Federal no Pará de- mam a Comissão de Combate ao Trabalho Escravo
e ao setor madeireiro. Somente em Paragomi- nunciou à Justiça Federal cinco acusados por da Alepa, além do advogado do poder legislativo,
nas, no ano de 2006, foram 7 (sete) as denúncias um esquema de compra e venda de trabalhado- Laércio Pereira, e ainda várias autoridades políti-
feitas (ver Tabela 5), com outros dois registros res para fazendas da região nordeste do Pará, que cas locais acompanharam de perto as condições
em 2001 e 2004 (um em cada ano). Tomé-Açu funcionava em um hotel de Paragominas [...]. de trabalho de centenas de cortadores de cana no
apresentou 2 (dois) registros em 2006, enquan- Eles vão responder pelos crimes de formação de local. Em julho deste ano, o Grupo Móvel do Mi-
to Ulianópolis foi foco de 1 (uma) denúncia em quadrilha, redução à condição análoga à de es- nistério do Trabalho exigiu a demissão, sem justa
2004 e outra em 2005. Ao que tudo indica, os cravo e atentado contra a liberdade do trabalho, causa, de mais de mil pessoas que trabalhavam na
focos de trabalho escravo estão concentrados na e podem ser condenados até oito anos de prisão indústria canavieira da fazenda, sob a alegação de
área de ocupação pioneira situada entre as ro- que desenvolviam trabalho análogo à escravidão.
e multa.
dovias PA-150 e BR-010, que corresponde ao A denúncia tramita na 3ª Vara da Justiça Fe- Agora, os deputados analisam documentos e se
que os autores do texto de Sub-regiões Paisa- deral em Belém, sob responsabilidade do juiz preparam para lançar um relatório sobre as cons-
gem do Atlas chamaram de eixo da Estrada da Rubens Rollo de Oliveira. De acordo com a de- tatações trabalhistas encontradas na fazenda.
Cauaxi. Trata-se de uma extensa área de lati- núncia do MPF, assinada pelo procurador Ale- A visita começou às 09h30, pela enfermaria da
fúndios e maciços de floresta nativa ainda em xandre Silva Soares, os trabalhadores vinham Pagrisa. No local, um médico e uma enfermeira
vias de substituição, principalmente por pastos do Maranhão, Piauí e Ceará e se hospedavam explicaram que o atendimento básico é ofereci-
e florestas plantadas (reflorestamento). No ge- no hotel, onde iam acumulando dívidas de di- do 24 horas aos empregados e que especialidades
ral, o principal alvo do trabalho escravo são os árias e alimentação. “Quando o gerenciador de como a odontologia estão disponíveis, pelo me-
migrantes nordestinos com baixo grau de esco- trabalhadores rurais precisava de mão-de-obra, nos, duas vezes por mês no espaço. Em seguida,
laridade. Por fim, não podem ser esquecidas as dirigia-se à pousada, pagava os débitos do “em- foi a vez da Escola da Pagrisa ser visitada. O lugar
denúncias de trabalho escravo feitas em 2007 pregado” escolhido e levava a pessoa para o local dispõe de sete salas de aula, onde estudam 236
contra a empresa Pará Pastoril Agrícola (Pagri- de trabalho. Caso os gestores do negócio rural alunos, entre filhos de trabalhadores e a própria
sa), que possui fazenda situada em Ulianópo- não gostassem dos serviços prestados pelo traba- mão-de-obra usada na fazenda. Eles cursam do
lis, onde estaria utilizando trabalho escravo em lhador rural, era a pessoa devolvida ao hotel para Ensino Básico ao Médio. ‘As parcerias com a Pre-
plantações de cana-de-açúcar. As denúncias em ser posteriormente encaminhada a outro empre- feitura de Ulianópolis e o Sesi garantem educa-
relação à Pagrisa não foram comprovadas pelo gador”, relata a denúncia. ção para todos’, explicou a diretora escolar, De-
Grupo Especial de Fiscalização Móvel da Secre- O esquema foi descoberto graças à investigação borah Pinheiro.
taria de Inspeção do Trabalho do Ministério do da Polícia Federal, após a libertação de trabalhado- A terceira parada dos deputados foi na horta
Trabalho e Emprego, ligado ao Senado Federal res escravos da fazenda Colônia, em Ulianópolis cultivada na Fazenda. Lá crescem 17 mil mudas
e à Assembléia Legislativa do Estado do Pará. [...]. [A] PF abriu inquérito e descobriu que Aguiar de açaí, quatro mil de eucalipto, além de centenas
As atividades de fiscalização e investigação fo- arregimentava os escravos no hotel. Eles eram es- de pés de outras espécies como da seringueira.
ram temporariamente suspensas. A seguir estão colhidos pelos “gatos”, aliciadores de trabalhado- As mudas serão levadas para as áreas de reflo-
sendo reproduzidos alguns trechos de notícias res rurais [...]. Na investigação, Milton confessou restamento permanentes que cobrem parte do
sobre a questão do trabalho escravo na área de a prática criminosa de restringir a liberdade de lo- cinturão verde no entorno da fazenda. ‘Espécies
estudo. comoção e trabalho dos empregados por meio das oleaginosas, como o Pinhão manso, por exem-
dívidas. Várias testemunhas ouvidas também con- plo, vão gerar renda à comunidade do Rio Boni-
Paragominas lidera trabalho escravo firmaram os fatos [...]. to, aqui perto da Pagrisa’, explicou Kleber Chini,
‘Sob barracos erigidos com lonas e toras de ma- engenheiro agrônomo responsável pela horta.
“O Ministério Público Federal (MPF) no Pará deiras, abrigavam-se trabalhadores aliciados para Em seguida, os deputados foram até a sala onde
ajuizou em 2006 um total de 26 ações criminais desenvolver atividades de roço de juquira e cons- são disponibilizados os Equipamentos de Prote-
contra acusados de submeter pessoas à condição trução de cerca. Não tinham acesso a instalações ção Individual (EPIs) e à vila onde moram 37 fa-
análoga à de escravo. Foram 42 denunciados em sanitárias, faziam suas necessidades fisiológicas no mílias, que trabalham de forma fixa na Fazenda.
mato, aconchegavam-se no chão batido, sem qual- Depois, a comitiva visitou o canavial, acompa-
15 municípios, a maioria deles localizados na re-
quer proteção contra as intempéries, assujeitados nhou a forma de trabalho dos cortadores e ain-
gião sudeste do Estado. O município com maior
à chuva e animais peçonhentos. Comiam senta- da ouviu de vários deles como se dão as relações
número de denúncias (cinco) foi Paragominas.
dos no chão, em desprezo a noções mínimas de trabalhistas e condições para a realização destas
Em seguida vem Rio Maria, com três denúncias.
higiene. Combatiam a sede com a água retirada do atividades na Pagrisa. Os deputados encontraram
Ficam empatados em terceiro lugar, com duas de-
rio Capim, que também servia para o preparo das gente como o maranhense Josué Rodrigues, de
núncias cada um, os municípios de Abel Figueire-
refeições e o asseio’, descreve a denúncia do MPF 30 anos, que nunca conseguiu emprego em sua
do, Dom Eliseu, Goianésia do Pará e Tomé-Açu.
sobre a situação em que os acusados colocaram os
Das 26 denúncias, 22 foram propostas no segundo cidade natal e que, há seis meses, buscava uma
trabalhadores.”
semestre deste ano (2006). Em dezembro, o Mi- oportunidade em Ulianópolis.
nistério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou ‘Aqui trabalho das 06h às 11h, das 12h às 16h
Extraído de: O DIÁRIO DO PARÁ. Belém, 13 jan. 2007,
a nova atualização do cadastro de empregadores, Caderno A, p.11. e acho que as condições são boas. Estou prestes a

170
receber o meu primeiro salário’, explicou o cor- res de comunidades vizinhas à Pagrisa. Na ocasião, A Pagrisa tem, no total, cerca de 17 mil hec-
tador, que estudou apenas até à 3ª série do Ensino foi apresentado um vídeo sobre a ação do Grupo tares, sendo destes, 11,6 mil hectares ocupados
Fundamental. De acordo com a direção da fazen- Móvel do Ministério do Trabalho e as atividades pelo plantio de cana. Hoje, a Pagrisa gera 1800
da, o salário médio mensal registrado na Pagrisa, de responsabilidade social e ambiental desenvolvi- empregos diretos e outros 7200 indiretos. A
no ano passado, foi de 2,2 salários mínimos. De- das pela fazenda. maior parte da mão-de-obra é usada nos cana-
pois, os parlamentares acompanharam o espaço ‘Vamos analisar tudo o que vimos, a documen- viais e é proveniente de estados como Maranhão,
de corte canavieiro mais distante, onde a retirada tação que vamos receber, para, em seguida, elabo- Piauí e Ceará.”
da cana é feita de forma mecanizada. Em seguida, rarmos um relatório que vai posicionar o poder
Extraído de: PAIVA, Rogério. Notícias de Legislativo.
os parlamentares conheceram os dormitórios e legislativo diante desta situação. Certamente fa-
Belém, 04 nov. 2007.
banheiros destinados aos trabalhadores da Pagri- remos também sugestões para que o trabalho de- Disponível em >http://www.alepa.pa.gov.br/noticias1.
asp?cod=1781<. Acesso em: 22 nov. 2007.
sa. Ainda pela manhã, a comissão se reuniu com senvolvido na Pagrisa seja aprimorado’, explicou
gestores da fazenda, vereadores da região e líde- Carlos Bordalo.

TABELA 5 – Denúncias de trabalho escravo (2001 – 2006)


MUNICÍPIO 2001 2004 2005 2006
Paragominas 1 - 1 7
Ulianópolis - 1 1 -
Tomé-Açu - - - 2
FONTE: Ministério Público Federal (PA).

GRÁFICO 5 - Número de pessoas ocupadas formalmente por setores selecionados


PECUÁRIA
entre os anos de 1994 e 2005.

A pecuária também é relevante para as econo-


mias dos municípios em estudo, assim como para
boa parte dos municípios interioranos do Estado do
Pará. Este setor de atividades será tratado a seguir,
e serve como um complemento e/ou introdução
ao item de Pecurária apresentado adiante, quando
são discutidos diversos elementos relacionados ao
grande e ao pequeno produtor.

perfil socioeconômico
Em todos os cinco municípios, o rebanho de
bovinos se apresenta em maior quantidade, com
destaque para Paragominas, que possui o maior re-
FONTE: RAIS. banho entre os municípios estudados, com 400.877
ELABORAÇÃO: Os autores (2006).
cabeças (ver Tabela 6), detendo cerca de 48% do
TABELA 6 - Principais rebanhos existentes, 2003 (por cabeça) total entre tais municípios, e sendo o quarto maior
Rebanhos Aurora Ipixuna Paragominas Tomé-Açu Ulianópolis rebanho do Estado, perdendo apenas para São
Bovinos 61.810 97.882 400.877 161.041 108.562 Félix do Xingu (1.264.991), Água Azul do Norte
Suínos 8.750 7.978 4.800 3.780 4.143 (563.594) e Xinguara (412.071). Dentre os muni-
Bubalinos 302 1.020 1.394 285 226 cípios aqui analisados, o segundo maior rebanho
Eqüinos 2.200 2.820 3.870 1.134 1.887 pertence a Tomé-Açu, seguido por Ulianópolis,
Asininos 318 389 361 1 440
Ipixuna e Aurora do Pará. Tal cenário refere-se ao
Muares 480 1.220 2.759 300 700
ano de 2003.
Ovinos 2.005 2.785 4.959 442 1.724
Caprinos 1.020 950 2.229 157 2.050
A respeito dos outros rebanhos, vale citar que
Galinhas 20.580 19.930 7.810 93.195 6.300 Tomé-Açu possui o quinto maior rebanho de ga-
Galos, Frangas, Frangos e Pintos 29.500 30.080 17.500 51.212 19.800 linhas do Estado (93.195); Paragominas possui o
Vacas Ordenhadas 3.905 8.100 29.100 3.214 4.450 quinto maior rebanho de caprinos (2.229), além
da nona posição ocupada por Ulianópolis (2.050);
TABELA 7 - Quantidade e valor dos produtos de origem animal (2003) Paragominas também possui o quarto rebanho de
Municípios Produtos Quantidade Valor (R$ Mil) ovinos (4.959).
Leite de vaca (mil litros) 2.885 1.125 Já se selecionarmos os principais produtos de
Aurora
Ovos de galinha (mil dúzias) 309 494 origem animal de cada município, podemos ob-
Leite de vaca (mil litros) 6.706 2.548 servar a quantidade produzida e seus respectivos
Ipixuna Ovos de galinha (mil dúzias) 299 463 valores, conforme a Tabela 7.
Mel de abelha (kg) 7.650 77 Mais uma vez, os municípios apresentam alguns
Leite de vaca (mil litros) 20.900 7.524
bons resultados frente à produção do Estado. Para-
Ovos de galinha (mil dúzias) 121 181
Paragominas gominas, por exemplo, que é o maior produtor de
Ovos de codorna (mil dúzias) 30 423
leite de vaca dentre os municípios em estudo, é o
Mel de abelha (kg) 5.520 39
Leite de vaca (mil litros) 2.332 746 sexto maior produtor de leite de vaca do Estado.
Tomé-Açu Ovos de galinha (mil dúzias) 733 1.319 Já Tomé-Açu é o maior produtor de ovos de
Mel de abelha (kg) 1.142 10 galinha da área de estudo, apresentando a quin-
Leite de vaca (mil litros) 3.204 1.121 ta maior produção do Estado (733 mil dúzias).
Ulianópolis
Ovos de galinha (mil dúzias) 98 146 Quanto à produção de mel de abelha, Ipixu-
FONTE DAS TABELAS 6 e 7: IBGE, SEPOF/PA (2006). na do Pará lidera o grupo dos cinco municípios
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 6 e 7: Os autores (2006).

171
perfil socioeconômico

estudados, possuindo a quinta maior produção do de estudo, relativos aos anos de 2000 e 2003 para captação. Duas são as explicações para a baixa
Estado (7.650 kg), seguido de Paragominas (5.520 Aurora do Pará e Paragominas, e 2000 e 2005 arrecadação em âmbito municipal. A primeira
kg). Lembrando também que Paragominas pos- no caso de Tomé-Açu, Ulianópolis e Ipixuna do diz respeito à relação inversa entre a moder-
1
sui, ainda, criação de codornas, com um efetivo de Pará. Examina-se, também, a participação da ar- nização da gestão pública e o retorno político,
2.015 cabeças (dos 34 municípios produtores no recadação por origem dos recursos e a evolução uma vez que o aumento da eficácia dos meios
Estado, Paragominas possui a sétima maior produ- dos valores relativos aos principais elementos da de arrecadação não é bem visto pelo eleitorado
ção). Ambos os valores citados referem-se ao ano receita. ao qual incorre o ônus do tributo. A segun-
de 2003. A Tabela 8 demonstra a distribuição das re- da refere-se à falta de capacitação dos gestores
ceitas de acordo com a sua origem. As trans- públicos, principalmente em municípios de
FINANÇAS MUNICIPAIS ferências correntes do Estado e da União fo- menor porte, dificultando a adoção de pro-
ram responsáveis por uma significativa parcela cedimentos mais eficazes de captação de re-
Neste item, são analisados os dados referentes deste orçamento, evidenciando a dependência cursos, seja na forma de financiamento ou por
às receitas arrecadadas pelos municípios da área dos municípios quanto a fontes externas de meio de programas.

1
Os períodos em questão estão relacionados à disponibilidade de dados para a análise, verificando-se a inexistência de valores referentes às receitas tributárias dos anos de 2004 e 2005 no
caso de Aurora do Pará e Paragominas.

172
TABELA 8 – Valores simplificados das receitas (em %). incremento das transferências correntes do Estado,
embora tenha havido um expressivo crescimento
Transferências da Transferências do
Município Receitas Tributárias dos repasses através do ICMS e do Imposto so-
União Estado
Aurora* 1,98% 48,66% 49,36% bre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Paragominas* 11,79% 35,74% 52,47% No âmbito das receitas tributárias, apesar de um
Ipixuna** 37,47% 27,09% 35,44% crescimento absoluto significativo na arrecadação
Tomé-Açu** 9,08% 30,24% 60,68% de impostos, como o Imposto Predial Territorial
Ulianópolis** 7,64% 71,11% 21,25% Urbano (IPTU) e o Imposto sobre Serviços de
* Referente aos anos de 2000 e 2003. FONTE: SEPOF/PA. Qualquer Natureza (ISSQN), e de uma diminui-
** Referente aos anos de 2000 e 2005. ELABORAÇÃO: Os autores (2006).
ção do valor arrecadado por meio de taxas e outras
receitas próprias, o que se constata é que as recei-
GRÁFICO 6 - Distribuição das receitas municipais quanto à origem. tas tributárias mantêm uma reduzida participação
nas receitas correntes, 1,86% em 2000 e 1,98% em
2003.
Os dados das receitas referentes ao municí-
pio de Ipixuna do Pará (ver Tabela 10) revelam
um expressivo crescimento das receitas corren-
tes na ordem de 250,73% entre os anos de 2000 e
2005, fato expresso pela elevação das receitas tri-
butárias e das transferências correntes da União
e do Estado. Este último apresentou no período
uma participação maior que a União nas recei-
tas correntes do município. A elevação das re-
ceitas tributárias foi de 278,37%, ocorrendo um
* Referente aos anos de 2000 e 2003. FONTE: SEPOF/PA. crescimento na arrecadação de taxas e de todos
** Referente aos anos de 2000 e 2005. ELABORAÇÃO: Os autores (2006).
os impostos, com exceção do IPTU, além de um
aumento significativo de outras receitas próprias.
Conforme demonstrado nas Tabelas 9 a 13, as receitas provenientes do FPM em todos os cinco No caso de Ipixina do Pará há uma expressiva e
receitas correntes de todos os municípios apre- municípios. Destaque especial para o município crescente participação das receitas tributárias pró-
sentaram substancial aumento no período estuda- de Ulianópolis, que apresentou o maior aumento prias na receita corrente do município, sendo esta
do. Quanto à importância por tipos de tributação, do repasse no período estudado. participação de 34,73% em 2000 e de 37,47% em

perfil socioeconômico
percebe-se que o Fundo de Participação dos Mu- Além dos recursos do FPM, cabe aos municí- 2005, o que pode ser explicado em grande parte
nicípios (FPM), em âmbito federal, e o Imposto pios parte do produto da arrecadação do ICMS. pela maior importância das receitas oriundas da
Sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Os Estados arrecadam o ICMS e destinam 25% atividade mineradora (ver mais informações no
Serviços (ICMS), em âmbito estadual, foram res- ao fundo da quota-parte dos municípios (QPM), item “Projetos de Exploração Mineral”). No que
ponsáveis por uma considerável fatia do total arre- conforme determinado pela Constituição Federal se refere às transferências correntes, constata-
cadado. de 1988. Os cinco municípios em estudo apre- se um crescimento de 198,70% dos repasses da
O FPM é uma transferência constitucional sentaram consideráveis incrementos quanto ao União devido, fundamentalmente, à elevação de
composta de 22,5% da arrecadação do Imposto de volume das transferências advindas do ICMS, re- 216,05% dos repasses do FPM. Nas transferên-
Renda Pessoa Física (IRPF) e do Imposto sobre fletindo o aumento do nível do valor adicionado, cias correntes do Estado ao município, observa-
Produtos Industrializados (IPI). Seu repasse é fei- como conseqüência do crescimento da atividade se um acréscimo de todas as formas de repasse,
to de acordo com o número de habitantes do mu- econômica. destacando-se o ICMS e o IPVA.
nicípio, sendo que são fixadas faixas populacionais A análise do orçamento do município de Auro- O município de Paragominas também apre-
com um coeficiente individual. O coeficiente varia ra do Pará, a qual se encontra sintetizada na Tabela sentou um crescimento de suas receitas correntes,
de 0,6 para municípios com até 10.188 habitantes a 9, mostra que o referido município apresentou um neste caso de 67,39% entre 2000 e 2003. A par-
4,0 para os municípios com uma população supe- aumento, no que diz respeito às suas receitas cor- ticipação das receitas tributárias se mantém em
rior a 156 mil. Do total de recursos, 10% são des- rentes, de 28,12% entre 2000 e 2003. Este acrés- 11,79% de 2000 a 2003, apesar de seu crescimen-
tinados aos municípios das capitais, 86,4% para os cimo é explicado pela elevação das transferências to em termos absolutos de 67,40%, o que ocorreu
demais municípios, e 3,6% para o fundo de reser- correntes da União, cuja participação passou de pela elevação na arrecadação de taxas e de todos
va, repassado aos municípios com população supe- 44,35% em 2000 para 48,66% em 2003, o que se os impostos, com destaque para o Imposto Sobre
rior a 142.633 habitantes, excluídas as capitais. O deve, principalmente, ao aumento de 44,91% no Transmissão de Bens Imóveis por Ato Oneroso
Gráfico 7 apresenta um aumento significativo das FPM. Por outro lado, observa-se um modesto (ITBI), cuja arrecadação, decorrente do incre-
GRÁFICO 7 - Evolução do Fundo de Participação dos Municípios - FPM (2000-2005). mento das transações envolvendo imóveis urbanos
ou rurais, cresceu 210,54%. Em termos de trans-
ferências correntes, observa-se uma participação
maior do Estado em comparação com a União nas
receitas correntes do município. A União, no en-
tanto, elevou as transferências de 2000 a 2003 em
52,72%, sendo que o repasse mais importante em
termos proporcionais foi o FPM. O Imposto de
Renda Pessoa Física (IRPF), com o incremento na
participação de 149,48%%, apresentou a maior va-
riação no período, fato que pode ser explicado pelo
aumento da eficácia dos instrumentos federais de
ELABORAÇÃO: Os autores (2006). arrecadação, além do aumento do rendimento

173
TABELA 9 – Orçamento das Receitas Correntes do Município de Aurora do TABELA 10 – Orçamento das Receitas Correntes do Município de Ipixuna
Pará (valores em 1,00R$). do Pará (valores em 1,00R$).
2000 2003 2000 2005
perfil socioeconômico

FONTE Partici- Partici- Variação FONTE Partici- Partici- Variação


R$ R$ R$ R$
pação pação pação pação
1-Receitas Correntes 4.992.973,00 100,00% 6.397.185,00 100,00% 28,12% 1- Receitas Correntes 6.220.265,73 100,00% 21.816.117,76 100% 250,73%
1.1- Receitas Tributárias 92.816,00 1,86% 126.457,00 1,98% 36,24% 1.1- Receitas Tributarias 2.160.483,08 34,73% 8.174.709,73 37,47% 278,37%
1.1.1- Impostos: 13.029,00 0,26% 117.535,00 1,84% 802,10% 1.1.1- Impostos: 258.227,82 4,15% 1.140.856,24 5,23% 341,80%
IPTU 5.016,00 0,10% 11.788,00 0,18% 135,01% IPTU 13.500,00 0,22% 9.240,00 0,04% -31,56%
ISSQN 3.033,00 0,06% 32.008,00 0,50% 955,32% ISSQN 238.685,61 3,84% 1.034.915,39 4,74% 333,59%
ITBI 4.980,00 0,10% 106,00 0,00% -97,87% ITBI 6.042,21 0,10% 18.480,00 0,08% 205,85%
IRRF 0,00 - 73.633,00 1,15% - IRRF - - 78.220,85 0,36% -
1.1.2- Taxas: 11.329,00 0,23% 8.600,00 0,13% -24,09% 1.1.2- Taxas: 6.934,26 0,11% 15.911,35 0,07% 129,46%
1.1.3- Outras Receitas Outras Receitas Próprias 1.895.321,00 30,47% 7.017.942,14 32,17% 270,28%
68.458,00 1,37% 322,00 0,01% -99,53%
Próprias
1.2- Transferências
4.059.782,86 65,27% 13.641.408,03 62,53% 236,01%
1.2- Transferências Correntes
4.900.157,00 98,14% 6.270.728,00 98,02% 27,97%
Correntes
1.2.1- Da União 1.978.657,00 31,81% 5.910.295,03 27,09% 198,70%
1.2.1- Da União 2.214.318,00 44,35% 3.112.630,53 48,66% 40,57%
FPM 1.764.095,00 28,36% 5.575.371,10 25,56% 216,05%
FPM 2.116.914,00 42,40% 3.067.679,53 47,95% 44,91%
IRPJ 28.740,00 0,46% 31.874,19 0,15% 10,91%
IRPJ 12.033,00 0,24% 1.212,00 0,02% -89,93%
IRPF 233,00 0,00% 10.700,51 0,05% 4492,49%
IRPF 1.341,00 0,03% 2.109,00 0,03% 57,27%
IOF - - - - -
IOF 0,00 - - - -
PIS/PASEP 72.421,00 1,16% 89.658,52 0,41% 23,80%
PIS/PASEP 26.418,00 0,53% 20.909,00 0,33% -20,85%
ITR 772,00 0,01% 4.300,24 0,02% 457,03%
ITR 8.730,00 0,17% 2.405,00 0,04% -72,45%
Outras 112.396,00 1,81% 198.390,47 0,91% 76,51%
Outras 48.882,00 0,98% 18.316,00 0,29% -62,53%
1.2.2- Do Estado 2.081.125,86 33,46% 7.731.113,00 35,44% 271,49%
1.2.2- Do Estado 2.685.839,00 53,79% 3.158.097,47 49,36% 17,58%
ICMS 629.535,00 10,12% 2.546.104,09 11,67% 304,44%
ICMS 453.265,00 9,08% 861.702,97 13,47% 90,11%
IPVA 20.314,00 0,33% 65.428,90 0,30% 222,09%
IPVA 6.194,00 0,12% 18.657,57 0,28% 201,22%
IPI 48.189,00 0,77% 81.086,88 0,37% 68,27%
IPI 34.696,00 0,69% 30.281,21 0,47% -12,72%
Outras 1.383.087,86 22,24% 5.038.493,13 23,10% 264,29%
Outras 2.191.684,00 43,90% 2.247.455,72 35,90% 2,54%

TABELA 11 – Orçamento das Receitas Correntes do Município de Parago- TABELA 12 – Orçamento das Receitas Correntes do Município de Tomé-
minas (valores em 1,00R$). Açu (valores em 1,00R$).
2000 2003 2000 2005
FONTE Partici- Partici- Variação FONTE Partici- Partici- Variação
R$ R$ R$ R$
pação pação pação pação
1- Receitas Correntes 24.988.088,98 100,00% 41.827.077,50 100,00% 67,39% 1- Receitas Correntes 10.566.819,49 100,00% 32.076.973,14 100% 203,56%
1.1- Receitas 1.1- Receitas
2.945.277,82 11,79% 4.930.538,26 11,79% 67,40% 215.552,03 2,04% 2.912.428,92 9,08% 1251,15%
Tributárias Tributárias
1.1.1- Impostos: 569.441,69 2,28% 1.207.565,18 2,89% 112,06% 1.1.1- Impostos: 117.470,73 1,11% 1.334.188,46 4,16% 1035,76%
IPTU 80.452,81 0,32% 90.952,47 0,22% 13,05% IPTU 36.410,13 0,34% 84.480,12 0,26% 132,02%
ISSQN 421.656,23 1,69% 764.234,92 1,83% 81,25% ISSQN 61.230,12 0,58% 849.211,12 2,65% 1286,92%
ITBI 67.332,65 0,27% 209.093,20 0,50% 210,54% ITBI 19.830,48 0,19% 14.437,98 0,05% -27,19%
IRRF - - 143.284,59 - - IRRF - - 386.059,24 1,20% -
1.1.2- Taxas: 123.319,13 0,49% 345.564,36 0,83% 180,22% 1.1.2- Taxas: 64.742,31 0,61% 179.885,60 0,56% 177,85%
1.1.3- Outras Receitas 1.1.3- Outras Receitas
2.252.517,00 9,01% 3.377.408,72 8,07% 49,94% 33.339 0,32% 1.398.354,86 4,36% 4094,35%
Próprias Próprias
1.2- Transferências 1.2- Transferências
22.042.811,54 88,21% 36.896.539,24 88,21% 67,39% 10.351.267,46 97,96% 29.164.544,22 90,92% 181,75%
Correntes Correntes
1.2.1- Da União 9.789.764,00 39,18% 14.950.721,67 35,74% 52,72% 1.2.1- Da União 5.712.323,00 54,06% 9.701.637,13 30,24% 69,84%
FPM 4.124.030,00 16,50% 6.646.151,67 15,89% 61,16% FPM 3.665.805,00 34,69% 6.857.927,68 21,38% 87,08%
IRPJ 920.908,00 3,69% 1.358.479,00 3,25% 47,52% IRPJ 336.734,00 3,19% 463.048,64 1,44% 37,51%
IRPF 341.746,00 1,37% 852.572,00 2,04% 149,48% IRPF 98.199,00 0,93% 270.378,77 0,84% 175,34%
IOF - - - - IOF - - 4.073,19 0,01% -
PIS/PASEP 630.882,00 2,52% 864.767,00 2,07% 37,07% PIS/PASEP 168.959,00 1,60% 253.906,36 0,79% 50,28%
ITR 333.294,00 1,33% 188.602,00 0,45% -43,41% ITR 51.734,00 0,49% 46.030,16 0,14% -11,03%
Outras 3.438.904,00 13,76% 5.040.150,00 12,05% 46,56% Outras 1.390.892,00 13,16% 1.806.272,33 5,63% 29,86%
1.2.2- Do Estado 12.253.047,54 49,03% 21.945.817,57 52,47% 79,10% 1.2.2- Do Estado 4.638.944,46 43,90% 19.462.907,09 60,68% 319,55%
ICMS 4.230.472,00 16,93% 7.891.385,11 18,87% 86,54% ICMS 1.611.609,00 15,25% 3.455.426,98 10,77% 114,41%
IPVA 392.335,00 1,57% 522.848,99 1,25% 33,27% IPVA 91.029,00 0,86% 242.766,40 0,76% 166,69%
IPI 323.830,00 1,30% 277.312,15 0,66% -14,36% IPI 123.364,00 1,17% 110.046,48 0,34% -10,80%
Outras 7.306.410,54 29,24% 13.254.271,32 31,69% 81,41% Outras 2.812.942,46 26,62% 15.654.667,23 48,80% 456,52%

FONTE DAS TABELAS 9 a 12: SEPOF/PA (2006).


ELABORAÇÃO DAS TABELAS 9 a 12: Os autores (2006).

174
médio dos brasileiros. No caso dos repasses do Es- do, que em 2000 tinha uma participação de 43,90% para o aumento na arrecadação do ISSQN de
tado, o mais importante em termos proporcionais nas receitas correntes, passa, em 2005, para uma 399,19%.
é o ICMS. O imposto foi também o que mais au- participação de 60,68%, representando um aumen- A participação das transferências da União na
mentou, apresentando uma variação de 86,54% no to absoluto de 319,55%, acarretado principalmente receita corrente se mostrou bastante superior à
período. pelo aumento da ordem de 114,41% nos repasses participação do Estado nos dois períodos contem-
Conforme demonstrado na Tabela 12, Tomé- do ICMS e de 166,69% nos repasses do IPVA. Por plados. Além disso, a participação da União sofreu
Açu apresentou de 2000 a 2005 um crescimento outro lado, a União, que em 2000 participava com uma ligeira queda de 72,22% em 2000 para 71,11%
abissal de 203,56% de suas receitas correntes. No 54,06% da receita corrente do município, em 2005 em 2005, e a participação do Estado apresentou
caso de Tomé-Açu, ocorreu uma elevação da par- passa a participar apenas com 30,24%, embora em também um decréscimo de 24,53% em 2000 para
ticipação da receita tributária nas receitas corren- termos absolutos as transferências da União te- 21,25% em 2005, não esquecendo que, apesar de
tes, passando de 2,04% em 2000 para 9,08% em nham aumentado em 69,84%. ambas as transferências caírem proporcionalmente,
2005. Este crescimento se deve, em larga medida, à Assim como nos balanços dos outros muni- elas aumentam em termos absolutos. No caso das
elevação da arrecadação do ISSQN em 1286,92%, cípios anteriormente mencionados, Ulianópolis transferências da União o repasse mais importan-
conseqüência do grande aumento das atividades apresenta no período um acréscimo em sua re- te proporcionalmente é o FPM, cuja transferência
do setor de serviços e do significativo aumento de ceita corrente de cerca de 206,97%. Neste muni- teve uma variação de 223,97% de 2000 a 2005. No
4094,35% das outras receitas próprias do municí- cípio também ocorreu uma elevação da partici- caso do Estado, o repasse mais significativo pro-
pio, que pode ser explicado, talvez, pela melhoria pação das receitas tributárias na receita corrente porcionalmente foi o ICMS, porém, o repasse que
dos meios de fiscalização da arrecadação municipal. municipal, participação esta que saltou de 3,25% mais se elevou durante o período analisado foi o
Observa-se também que, neste município, o Esta- em 2000 para 7,64% em 2005, com destaque IPVA, com 182,50% de crescimento.

TABELA 13 – Orçamento das Receitas Correntes do Município de Ulianó-


polis (valores em 1,00R$).
2000 2005
FONTE Partici- Partici- Variação
R$ R$
pação pação
1- Receitas Correntes 5.502.226,94 100,00% 16.890.259,46 100% 206,97%
1.1- Receitas
178.908,94 3,25% 1.290.157,51 7,64% 621,13%
Tributárias
1.1.1- Impostos: 55.999,75 1,02% 559.787,32 3,31% 899,62%

perfil socioeconômico
IPTU 11.624,53 0,21% 29.880,08 0,18% 157,04%
ISSQN 28.623,98 0,52% 142.888,53 0,85% 399,19%
ITBI 15.751,24 0,29% 136.098,14 0,81% 764,05%
IRRF - - 250.920,57 1,49% -
1.1.2- Taxas: 23.314,19 0,42% 119.873,88 0,71% 414,17%
1.1.3- Outras Receitas
99.595,00 1,81% 610.496,31 3,61% 512,98%
Próprias
1.2- Transferências
5.323.318,06 96,75% 15.600.101,95 92,36% 193,05%
Correntes
1.2.1- Da União 3.973.786,00 72,22% 12.011.166,64 71,11% 202,26%
FPM 1.505.599,00 27,36% 4.877.660,68 28,88% 223,97%
IRPJ 264.701,00 4,81% 1.832.386,20 10,85% 592,25%
IRPF 26.192,00 0,48% 117.020,96 0,69% 346,78%
IOF 16.282,00 0,30% - - -
PIS/PASEP 234.385,00 4,26% 735.632,02 4,36% 213,86%
ITR 28.783,00 0,52% 36.576,38 0,22% 27,08%
Outras 1.897.844,00 34,49% 4.411.890,40 26,12% 132,47%
1.2.2- Do Estado 1.349.532,06 24,53% 3.588.935,31 21,25% 165,94%
ICMS 1.032.437,00 18,76% 2.667.347,14 15,79% 158,35%
IPVA 41.697,00 0,76% 117.795,94 0,70% 182,50%
IPI 79.030,00 1,44% 84.948,16 0,50% 7,49%
Outras 196.368,06 3,57% 718.844,07 4,26% 266,07%
FONTE: SEPOF/PA.
ELABORAÇÃO: Os autores (2006).

175
DEMOGRAFIA
demografia
Gilberto de Miranda Rocha
Luiz Otávio do Canto Lopes
perfil socioeconômico

INTRODUÇÃO regional. Dito de outro modo, sempre procuramos O aumento da população regional decorre
apresentar os dados da área de forma comparativa essencialmente das elevadas taxas anuais de cres-

O
presente texto trata dos as- em relação ao estado e à região. Isto nos permite cimento populacional que, em geral, se deve aos
pectos demográficos e de perceber a participação da área e dos municípios diferenciais de natalidade e mortalidade cons-
indicadores socioeconômi- que a compõem no contexto estadual e regional. tituindo o crescimento vegetativo e as migra-
cos dos municípios integrantes da área de ções. É necessário considerar que o tamanho, a
estudo do Atlas. As informações popula- CRESCIMENTO E DISTRIBUIÇÃO evolução da população e a sua distribuição, nas três
cionais foram baseadas nos Censos De- DA POPULAÇÃO últimas décadas, sem sombra de dúvida, devem-se
mográficos realizados pelo Instituto Bra- à intensificação dos fluxos migratórios inter-regio-
sileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tamanho, ritmo de crescimento e nais. O ritmo de crescimento, todavia, tem sido
Também é possível encontrar as estima- distribuição da população diferenciado ao longo do período considerado.
tivas dos anos de 1996, 2001, 2002, 2003, No período entre 1970 e 2000, a população da Observa-se que, muito embora as taxas de cresci-
2004 e 2005 somente para os municípios. região amazônica1 quase triplicou, evoluindo de, mento tenham sido elevadas e superiores à média
A metodologia utilizada pelo IBGE em aproximadamente, 7,3 para 21 milhões de habitan- nacional, elas se mostram oscilantes, entre com-
relação à população residente total, por tes. Em termos percentuais, passou a representar portamentos ascendentes e descendentes ao longo
sexo e situação de domicílio, é referente de 7,8 % em 1970 a 12,4% em 2000 do total da das últimas décadas – 4,02% em 1980/91 e 2,26%,
aos moradores habituais em cada resi- população brasileira. O Estado do Pará concentra em 1991/2000.
dência. O recenseamento dos moradores cerca de quase 30% da população total da Amazô- Fato importante a considerar é a tendência de
habituais do domicílio que estavam au- nia Legal (29,41%). Segundo estudo realizado pela ampliação da concentração populacional urbana.
sentes na data de referência é apresentado Sudam/Pnud em 2001, a distribuição da população Conforme podemos observar no Gráfico 1, desde
respeitando a presença inferior a 12 meses entre os estados mantém o seu perfil concentrador, a década de 1970 a concentração populacional nas
na residência em relação à data em que foi embora mais atenuado. Ressalta-se, todavia, que o cidades tem se apresentado superior à população
feito o recenseamento. Já o cálculo para a Estado do Maranhão vem declinando a sua partici- rural. Entre 1996 e 2000 o crescimento da popu-
Estimativa Populacional respeita uma sé- pação relativa, passando de 41,60% em 1970, para lação urbana foi da ordem de 5,80%. A população
rie de equações estatísticas desenvolvidas 26,84% em 2000, o que reafirma a característica do rural, no entanto, mostra-se declinante, com cres-
pelo IBGE na década de 1990. Maranhão como estado de emigração. Em oposi- cimento negativo no mesmo período. Conforme
O modelo adotado para estimar os ção, os estados de Mato Grosso, Rondônia e Ama- estudo realizado pela Sudam/Pnud (2001)
contingentes populacionais dos municí- pá, embora ainda detenham reduzida participação As taxas de crescimento populacionais mostra-
pios brasileiros emprega a metodologia no contingente populacional total, ampliaram-na das no Gráfico 1 apontam para uma aceleração do
desenvolvida pelos demógrafos Madeira e de forma significativa, despontando, dessa forma, ritmo de crescimento da população entre 1940-
Simões, na qual se observa a tendência de como novas áreas de atração populacional (Sudam; 91, sendo que não ocorreu de forma monotônica.
crescimento populacional do município, Pnud, 2001). Observou-se um decréscimo na intensidade do
entre dois Censos Demográficos conse-
cutivos, em relação à mesma tendência
de uma área geográfica hierarquicamente Gráfico 1 – Taxas de crescimento populacional da Região Amazônica por situação de domicílio e do
superior (área maior). Brasil (1940-2000).
O método requer a existência de uma
projeção populacional que leve em con-
sideração a evolução das componentes
demográficas (fecundidade, mortalidade
e migração), para uma área maior que o
município, quer dizer, para a Unidade da
Federação, Grande Região ou País. Desta
forma, o modelo matemático desenvolvi-
do estaria atrelado à dinâmica demográfi-
ca da área maior.
Esse procedimento metodológico é
igualmente presente na análise dos dados
e informações estatísticas da área objeto
de estudo: parte-se sempre de uma visão
mais ampla da área maior, ou seja, da Ama-
zônia Legal e do Estado do Pará. Como a
área de estudo não está inclusa em uma
única mesorregião ou microrregião, não ELABORAÇÃO: Os autores (2007).
utilizamos esse nível escalar de divisão

1
A Lei n.° 1.806 define como Amazônia Legal a somatória dos seguintes territórios: (1) totalidade dos Estados do Amapá, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre; (2) W do
meridiano 44° no Estado do Maranhão; (3) N do Paralelo 13° no Estado de Goiás; e (40 N do Paralelo 16°, e do Estado de Mato Grosso. Com o desmembramento do Estado de
Mato Grosso em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, próximo ao paralelo 16°, e do Estado de Goiás em Tocantins e Goiás próximo ao paralelo 13°, costuma-se considerar a tota-
lidade dos territórios dos Estados de Mato Grosso e Tocantins como parte da Amazônia legal.

176
crescimento populacional entre 1960 e 1980. Tabela 1 – População urbana e rural do Estado do Pará (1970 – 2000)
Entre 1991 e 1996, detectou-se uma desaceleração Anos Pop. Rural % Pop. Urbana % Pop. Total
expressiva desse crescimento na Região, seguida 1970 1.135 51,84 1.054 48,16 2.189
de uma nova aceleração entre 1996 e 2000, igua- 1980 1.736 51,00 1.667 49,00 3.403
lando-se, portanto, às tendências verificadas para o 1991 2.352 47,53 2.596 52,47 4.948
conjunto da população brasileira. 2000 2.070 33,49 4.116 66,51 6.189
Hoje, 68,15% da população regional se concen- % Cresc. Anual - 1,38 +5.24 +2,51

tram nas cidades e/ou vilas.2 Para a geógrafa Bertha FONTE: Censos Demográficos – IBGE, 1991 e 2000.

Becker, dado o perfil urbano assumido pela expan-


Tabela 2 – Distribuição percentual da população do Estado do Pará entre as mesorregiões.
são do povoamento regional nas últimas décadas,
Mesorregiões Área (km²) População relativa(%)
a Amazônia constituiu-se em uma verdadeira selva
Marajó 104.141,5 6,1
urbanizada. Essa tendência manifesta-se em qua-
Metropolitana de Belém 6.875,5 33,7
se todas as Unidades Federadas que compõem a Nordeste Paraense 83.182,6 23,8
região amazônica, e principalmente no Estado do Sudeste Paraense 297.280,4 19,2
Pará. Baixo Amazonas 340.446,9 10,3
No Estado do Pará vivem, de acordo com Sudoeste Paraense 415.775,9 6,9
o último Censo Demográfico (2000), cerca de Estado do Pará 1.247.702,70 100
6.192.307 habitantes. Segundo estimativas po- FONTE: Censo Demográfico – IBGE, 2000.

pulacionais de 2006, o Estado do Pará apresenta


Tabela 3 – População urbana e rural dos municípios da área de estudo (2000).
população de cerca de 7.110.465 habitantes, cuja
maioria vive em cidades: 4.720,648 são habitan- Municípios Anos Pop. Urbana Pop. Rural Total
1980 0
tes urbanos, ou seja, mais de 60% da população
1991 0
total do Estado.
Aurora do Pará 1996 3.943 11.510 15.453
A população do Estado teve um incremento de
2000 5.022 14.706 19.728
30% no período entre 1990 e 2000, apresentando 2005 6.198 18.148 24.346
uma taxa de crescimento médio de 2,26% ao ano. 1980 0
O acréscimo mais significativo refere-se à popula- 1991 0
ção urbana, que passou de 2,59 milhões em 1991, Ipixuna do Pará 1996 3.119 10.811 13.930
para 4,11 milhões em 2000, com uma taxa média 2000 4.991 20.147 25.138
de crescimento anual de 4,71%. A população rural, 2005 6.962 28.105 35.067
em contrapartida, sofreu um decréscimo de 2,35 1980 12.316 35.793 48.109

perfil socioeconômico
1991 40.054 27.021 67.075
milhões, em 1991, para 2,07 milhões de habitantes
Paragominas 1996 47.789 18.142 65.931
em 2000 (Tabela 1).
2000 58.240 18.210 76.450
De fato, o intenso processo de urbanização
2005 66.264 20.719 86.983
constitui o traço mais marcante da dinâmica popu- 1980 0
lacional recente. Entre 1991 e 1996, a composição 1991 0
populacional rural/urbana mantinha-se mais ou Ulianópolis 1996 5.848 3.851 9.699
menos equilibrada, em torno de 50%. No entan- 2000 11.909 7.345 19.254
to, em 2000, o contingente demográfico urbano 2005 16.488 10.169 26.657
passa a constituir 67% da população total. 1980 5.059 35.278 40.337
A distribuição do efetivo demográfico em ter- 1991 16.206 25.197 41.403
Tomé-Açu 1996 21.998 23.068 45.066
mos geográficos é também bastante desigual, com
2000 27.314 19.959 47.273
58% da população concentrada em apenas duas
2005 29.440 21.513 50.953
mesorregiões – Metropolitana e Nordeste –, dos
FONTE: Censo Demográficos IBGE – 1980, 1991, 2000 e estimativas populacionais de 1996 e 2005.
quais aproximadamente 34% radicados na primei- ELABORAÇÃO DAS TABELAS 1 a 3: Os autores (2007).

ra (Tabela 2). Nas mesorregiões que reúnem mu-


nicípios de menor porte populacional (Sudoeste na escala local e muito menos no concernente à A área de estudo, composta pelos municípios de
do Pará e Marajó), observa-se a predominância da concentração populacional urbana e ao declínio Tomé-Açu, Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, Pa-
população rural; já os municípios de maior porte da rural. As classes de tamanho da taxa média ge- ragominas e Ulianópolis, área esta pertencente às
populacional são também os mais urbanizados. ométrica de crescimento anual da população resi- mesorregiões do Nordeste Paraense e do Sudeste
Em termos de ritmo de crescimento popula- dente na região variam desde um comportamento Paraense, apresenta uma população total de 185.666
cional, no entanto, ao considerar a escala micror- demográfico negativo (municípios que apresen- habitantes, segundo o Censo Demográfico do
regional e municipal, esse comportamento regio- tam perda populacional), municípios com ritmo IBGE de 2000. Da população total do Estado do
nal e estadual tem sido diferenciado em termos lento entre 0% e 1,5%, municípios com ritmo en- Pará, cerca de 6.192.307 habitantes, apenas apro-
de tendência, isto é, não há uniformidade nas tre 1,5% e 3% a municípios com ritmo acelerado ximadamente 3% (ou 2,99%) vivem na área objeto
tendências de ritmo de crescimento populacional acima de 3% ao ano. de estudo.

2
No Brasil, a metodologia oficial de cálculo do grau de urbanização depende do critério político - administrativo. A vigente definição de “cidade” é obra do governo de Getúlio Vargas, Estado
Novo. Foi o Decreto-Lei n.° 311, que transformou todas as sedes municipais existentes em cidades, independentemente de suas características estruturais e funcionais. A definição de cidade
no Brasil é dada por critério político-administrativo (ver mais detalhes no item Espaço Urbano).

177
Gráficos 2 e 3 – População total dos municípios (por mil habitantes) No período 1996 a 2000, a população do mu-
nicípio de Aurora do Pará teve uma taxa média
de crescimento anual de 4,54%, passando de 15,4
mil para 19,7 mil. A taxa de urbanização diminuiu
perfil socioeconômico

45,12%, passando de 46,38% em 1996 para 25,46%


em 2000. Em 2000, a população do município re-
presentava 0,32% da população do Estado, e 0,01%
da população do País.
No município de Tomé-Açu, a população
urbana, superior em número à população rural,
apresenta ritmo de crescimento que influi deci-
sivamente no comportamento geral. Observa-se,
por outro lado, que a população rural apresenta
tendência declinante. Trata-se de um município
antigo, cujas condições econômicas são mais es-
táveis.
No período 1996-2000, a população de To-
mé-Açu teve uma taxa média de crescimento
anual de 1,54%, passando de 45 mil para 47,2
mil. A taxa de urbanização cresceu 47,61%, pas-
sando de 39,14% em 1996 para 57,78% em 2000.
Em 2000, a população do município represen-
tava 0,76% da população do Estado e 0,03% da
população do País.
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).
No período 1996 a 2000, a população do mu-
nicípio de Paragominas teve uma taxa média de
Em termos da sua distribuição interna, quase dos municípios de Aurora do Pará (3,58), Ipi- crescimento anual de 4,19%, passando 65,9 mil
40% da população da área se concentra no mu- xuna do Pará (11,81) e Ulianópolis (11,25) foi para 76,4 mil. Demograficamente, o município
nicípio de Paragominas (74.253 hab.), ou seja, superior, em muito, à média do Estado do Pará. tem passado por mudanças importantes. A popu-
39,99% da população total da área. Os municípios Os municípios de Ipixuna do Pará e Ulianópolis lação rural tem declinado, ao passo que a concen-
de Aurora do Pará e Ipixuna do Pará concentram, apresentaram uma das mais altas taxas de cres- tração urbana tem se acentuado: a taxa de urba-
juntos, aproximadamente mais de 20% da popu- cimento populacional do Estado. No ranking nização cresceu 27,57%, passando de 59,72% em
lação (44.866 habitantes). Em números absolutos do crescimento populacional na última década, 1991 para 76,18% em 2000. Isto tem demonstrado
e relativos, Tomé-Açu é o segundo município em ocuparam o 5˚ e o 6˚ lugares, respectivamente, não somente o processo de crescimento urbano de
tamanho populacional, concentrando 47.243 habi- do total dos cento e quarenta e três (143) muni- Paragominas mas, igualmente, o papel que assu-
tantes, ou 25,45%. cípios do Estado do Pará. me como pólo econômico e subcentro regional,
Na última década, entre 1991 e 2000, a taxa Associadas a esse ritmo de crescimento da po- constituindo uma cidade média e intermediá-
média geométrica de crescimento anual da po- pulação, as dinâmicas internas têm se mostrado di- ria da região onde se concentra grande parte das
pulação residente do Estado do Pará esteve no ferenciadas. Segundo a concentração e a dispersão principais atividades econômicas e de prestação de
intervalo de 1,5 a 3,0 % ao ano. Os municípios populacional (população urbana e rural), o ritmo serviços. Em 2000, a população do município
de Paragominas e Tomé-Açu apresentaram taxas é heterogêneo. No município de Aurora do Pará, representava 1,23% da população do Estado e
semelhantes à média do Estado do Pará, 2,82% a dinâmica demográfica é oposta: trata-se de um 0,05% da população do País.
e 1,5%, respectivamente. Por outro lado, a taxa município predominantemente rural, cuja popu- Ipixuna do Pará apresenta uma característica
geométrica anual de crescimento populacional lação do campo está em ritmo crescente. demográfica que difere sensivelmente dos de-
mais municípios que compõem a área de estu-
Tabela 4 – Tamanho da População dos municípios que compõem a área de estudo
do. A população rural é superior à urbana e tem
Município População total % apresentado um ritmo de crescimento maior do
Tomé-Açu 47.243 25,45*
que a população urbana. Entre 1996 e 2000, a
Aurora do Pará 19.728 10,63*
população de Ipixuna do Pará teve uma taxa mé-
Ipixuna do Pará 25.138 13,54*
dia de crescimento anual de 4,54%, passando de
Paragominas 74.253 39,99*
Ulianópolis 19.304 10,40*
13,9 mil para 25,1 mil. O processo de ruralização
Total 185.666 100 pode então ser expresso pelo seu oposto, a urba-
FONTE: Censo Demográfico, IBGE, 2000.
nização: a taxa de urbanização diminuiu 57,20%,
passando de 46,39% em 1996 para 19,85% em
Tabela 5 – Taxa média geométrica de crescimento anual, segundo os municípios que compõem a área 2000.
do projeto (1991 / 2000) Segundo dados do IBGE (2004) em estudo
Município População total Taxa Média geométrica de Crescimento anual (%) desenvolvido sob o título “Tendências demográ-
Tomé-Açu 47.243 1,5 ficas – Uma análise dos Resultados na Amostra
Aurora do Pará 19.728 5,38 do Censo Demográfico de 2000”, o município
Ipixuna do Pará 25.138 11,81 de Ulianópolis é um dos municípios do Pará e da
Paragominas 74.253 2,82
Amazônia legal que mais cresce em termos demo-
Ulianópolis 19.304 11,25
gráficos. No período 1996-2000, a população de
FONTE:Tendências demográficas – Uma análise dos Resultados na Amostra do Censo Demográfico de 2000. Estudos e pesquisas, infor- Ulianópolis teve uma taxa média de crescimento
mação demográfica e socioeconômica, n. 13. IBGE, 2004.
anual de 4,19%, passando de 9,7 mil para 19,2 mil.
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 4 e 5: Os autores (2007).
Porém, a taxa de crescimento geométrico esteve na

178
Gráfico 4 – Evolução da População de Aurora do Pará ordem de 11,25% no mesmo período e a taxa de urbanização cres-
ceu 3,58%, passando de 59,72% em 1991 para 61,85% em 2000. A
atividade madeireira em Ulianópolis provavelmente estimulou
esse substancial crescimento populacional e urbano.

Densidade populacional
A densidade demográfica da região amazônica é a mais baixa
do Brasil. A grande extensão territorial (cerca de 60% do ter-
ritório nacional) para um contingente que representa cerca de
12% da população brasileira revela o caráter relativo do despo-
voamento da Amazônia em termos demográficos, se comparado
a outras regiões do país. O Estado do Pará, apesar de se consti-
tuir a unidade administrativa com maior número de habitantes,
apresenta densidade demográfica ainda baixa, em torno de 4,96
habitantes/km2. A densidade demográfica da área de estudo está
em torno de 08 habitantes por quilômetro quadrado. Em ge-
Gráfico 5 – Evolução da População de Tomé-Açu ral, os municípios que compõem a região de Paragominas são
relativamente pouco povoados: Paragominas, Ipixuna do Pará e
Ulianópolis apresentam densidades demográficas em média de
3 a 4 habitantes/km2. Aurora do Pará e Tomé-Açu apresentam
as maiores densidades populacionais, girando entre 9,13 e 10,82
habitantes/km². As sedes municipais apresentam as maiores den-
sidades expressas nos setores censitários urbanos.

Estrutura espacial das populações rural e urbana.


Taxa de urbanização
A distribuição da população entre os Estados mantém o seu
perfil concentrador, embora mais atenuado, localizando-se cer-
ca de 70% do total de habitantes em apenas três Estados: Pará
(29,41%); Maranhão (26,84%) e Amazonas (13,36%). Ressalta-
se, todavia, que o Estado do Maranhão vem declinando a sua

perfil socioeconômico
participação relativa, passando de 41,60%, em 1970, para 26,84%,
em 2001, o que se mostra de acordo com a sua característica
de Estado de emigração. Em oposição, os Estados de Rondô-
Gráfico 6 – Evolução da População de Paragominas nia, Mato Grosso e Amapá, embora ainda detenham reduzida
participação no contingente populacional total, a ampliaram de
forma significativa, despontando, dessa forma, como novas áreas
de atração populacional.
Devido ao caráter espacial heterogêneo da área de estudo, podem
ser verificadas diferenças significativas quanto à distribuição das po-
pulações urbanas e rurais. Como um todo, a população urbana da
área de estudo abrange mais da metade do total de residentes, isto
é, 57,89% das pessoas estão concentradas nas sedes municipais (ver
dados da Tabela 6). Contudo, cabe destacar que mais da metade
desta população urbana (54,18%) reside em apenas uma sede mu-
nicipal, Paragominas, que é a cidade mais populosa da área de estu-
do, com 58.240 hab. Este caráter concentrado da população urba-
na é reforçado pela soma dos contingentes populacionais das duas
maiores áreas urbanas, Paragominas e Tomé-Açú/Quatro Bocas,
as quais, juntas, perfazem 79,60% dos residentes urbanos, sendo
Gráfico 7 – Evolução da População de Ipixuna do Pará que os 20,60% restantes se encontram nas demais sedes municipais
– Ulianópolis, Aurora e Ipixuna.
A população das principais vilas corresponde a somente 9,21%
do total da área de estudo, sendo que os percentuais municipais não
estão muito distantes de média geral (Tomé-Açu – 6,06%; Aurora
do Pará – 12,6%; Ipixuna do Pará – 16,25%; Paragominas – 9,54%,
com a exceção para Ulianópolis, com apenas 3,02%). Desta forma,
a menor participação das vilas na população municipal total é regis-
trada em Ulianópolis, sendo maior em Ipixuna.
Em Ulianópolis, destaca-se somente uma vila (Arco-Íris), ao pas-
so que em Ipixuna do Pará, apesar de a parcela da população em
questão ser a soma dos residentes de 4 vilas, mais da metade se en-
contra em um único local (Vila Novo Horizonte, com 2335 hab. ou
57,16% da população dos povoados do município). Quanto aos de-
ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 4 a 7: Os autores (2007). mais municípios, percebe-se uma maior distribuição da população

179
Gráfico 8 – Evolução da População de Ulianópolis residente nos aglomerados rurais, com 5 vilas em Aurora do Pará,
4 em Tomé-Açu e 11 em Paragominas (incluindo vilas que corres-
pondem a antigas colônias rurais – Uraim, União e Caip).
A população rural, ou seja, aquela residente nas propriedades
perfil socioeconômico

(fazendas, sítios etc.) e nos assentamentos rurais, bem como nos


diversos povoados, corresponde a um universo de 31,11% dos ha-
bitantes da área de estudo. Inversamente aos menores índices de
residentes urbanos, os índices de população rural são mais eleva-
dos em Aurora do Pará, com 61,95%, e em Ipixuna do Pará, com
63,90%. Em ambos os municípios, mas, sobretudo, em Ipixuna,
estes altos percentuais podem ser explicados pela presença signifi-
cativa dos assentamentos rurais.
O município com menor participação de população rural é Pa-
ragominas, que registra somente 7,55% de residentes no campo.
Além da excessiva concentração de pessoas na sede municipal, ou-
Gráfico 9 – População urbana e rural da área de estudo em 1996 tro fator que contribui para isto é a presença do latifúndio como
esquema básico de propriedade, o que se constitui em um fator para
a não permanência da população na área rural. Os demais municí-
pios, Ulianópolis e Tomé-Açu, têm um percentual semelhante no
total de residentes rurais, isto é, 35,29% e 36,12%, respectivamente.
Neste último, é importante a contribuição dos povoados menores,
espalhados ao longo das estradas e não considerados pelo Censo do
IBGE (2000), além da população das colônias agrícolas implantadas
pelos japoneses.
FONTE: IBGE - Estimativas populacionais, 1996.

INDICADORES
Gráfico 10 – População urbana e rural da área de estudo em 2000. SOCIOECONÔMICOS

Estrutura etária e de sexos da área do Projeto


A estrutura da população pode ser analisada a partir de três cate-
gorias: número, idade e sexo dos habitantes. Esses dados podem ser
obtidos pelo censo demográfico e expresso por meio de pirâmide
de idades.
A pirâmide de idades é uma forma de representação gráfica que
expressa o número de habitantes e a distribuição por idade e sexo. Ela
FONTE: IBGE - Estimativas populacionais, 1996. pode ser usada para representar a população em diferentes escalas: a
terra; um país, estado, município ou um pequeno povoado. Esse tipo
Gráfico 11 – População urbana e rural da área de estudo em 2005 de representação nos permite tirar conclusões rápidas sobre o grau da
taxa de natalidade e a expectativa de vida da população representada.
A forma adotada pela pirâmide varia de acordo com a estrutura da
população. Desse modo, se a pirâmide apresentar aspecto triangular
com base larga, significa que a participação de jovens no conjunto
da população é muito alta. O cume afunilado significa a baixa parti-
cipação de idosos e, por conseguinte, a baixa expectativa de vida, ex-
pressando características do subdesenvolvimento. Não obstante, se
a pirâmide apresentar certa proporcionalidade na distribuição entre
FONTE: IBGE - Estimativas populacionais, 2005. as diferentes idades e sexo, significa que a taxa de natalidade é baixa
ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 8 a 11: Os autores (2006). e a expectativa de vida é alta; isso pode ser interpretado como alto
grau de desenvolvimento econômico e social.
TABELA 6 - População urbana e rural (2000)
População urbana População das População rural População rural
Município População total
(sedes) vilas (núcleos) (sem aglomerações)
Tomé-Açu 47243 27314 2865 - 17064
% 25,45* 57,82 6,06 - 36,12
Aurora do Pará 19728 5022 2485 - 12221
% 10,63* 25,46 12,60 - 61,95
Ipixuna do Pará 25138 4991 4085 - 16062
% 13,54* 19,85 16,25 - 63,90
Paragominas 74253 58240 7083 3324 5606
% 39,99* 78,43 9,54 4,48 7,55
Ulianópolis 19304 11909 583 - 6812
% 10,40* 61,69 3,02 - 35,29
Total 185666 107476 17101 3324 57765
% 57,89 9,21 1,79 31,11
* Proporcional à participação do município na população total da área de estudo.
FONTE: Censo IBGE (2000).
ELABORAÇÃO: Estêvão J. S. Barbosa (2006).

180
perfil socioeconômico

De acordo com os dados da estrutura popu- elevado índice de fecundidade e em processo de reproduz a forma cônica com base larga, expressando
lacional apresentados pelo Censo IBGE (2000), desenvolvimento de equipamentos e infra-estru- o predomínio de pessoas com faixa etária entre 0
tanto o Estado do Pará como a área de estudo em turas socioespaciais. e 19 anos. Assim, 50,37% dos homens e 53,14%
questão apresentam pirâmide de forma triangular. A variação dos percentuais referentes aos dados das mulheres encontram-se nessa faixa de idade.
Isso poderá ser observado nos gráficos a seguir. populacionais dos municípios estudados é relati- Por outro lado, os idosos, tanto entre o sexo mas-
A composição etária e por sexo da população na vamente baixa, por isso é possível ter idéia do con- culino como o feminino, não chegam a 2%. Isso
área de estudo é constituída por um ligeiro pre- junto a partir da pirâmide-síntese desse grupo de denota que o município apresenta uma expectativa
domínio de homens (51,82%) sobre mulheres municípios. Destarte, em seguida serão realizados de vida extremamente baixa. Entretanto, de acor-
(48,18%). A faixa de 0 – 19 anos, entendida como alguns comentários sobre cada pirâmide munici- do com os dados do PNUD (2000), a expectativa
população jovem, apresenta 50,49% homens e pal de modo individualizado. de vida, que em 1991 era de 59,1 anos, passou em
49,51% mulheres, enquanto os idosos, com 65 ou 2000 para 65,7 anos. Outro aspecto importante foi
mais anos, são representados por 56,59% homens Composição etária e sexo do município o fato de que nesse mesmo período (1991-2000)
e 43,41% mulheres. de Paragominas a taxa de mortalidade infantil do município dimi-
A pirâmide de idade resultou em uma configu- Paragominas apresenta uma população de nuiu 40,33%, passando de 70,65 (por mil nascidos
ração simétrica com base larga e cume afunilado; 76.450 habitantes, é o município mais populo- vivos) em 1991 para 42,16 (por mil nascidos vivos)
isso é característico dos lugares que apresentam so da área de estudo. Sua pirâmide etária e de sexo em 2000.

181
Gráfico 12 – Estrutura relativa da população, por sexo e grupos de idade – Pará – 2000 Composição etária e sexo do município
de Tomé-Açu
Também no município de Tomé-Açu os jovens
dominam, ou seja, 52,73% entre as pessoas do sexo
perfil socioeconômico

masculino e 54,88% entre as do sexo feminino. A


expectativa de vida é baixa, demandando significa-
tiva infra-estrutura social. De acordo com dados
do PNUD (2000), no período 1991-2000, a taxa
de mortalidade infantil do município diminuiu
36,28%, passando de 64,19 (por mil nascidos vi-
vos) em 1991 para 40,90 (por mil nascidos vivos)
em 2000, e a expectativa de vida ao nascer cresceu
5,59 anos, passando de 60,47 anos em 1991 para
66,06 anos em 2000.
Dados sistematizados a partir do Censo IBGE-2000.

Composição etária e sexo do município


Gráfico 13 – Estrutura relativa da população, por sexo e grupos de idade – Área de Estudo – 2000
de Aurora do Pará
Aurora do Pará, desse conjunto, é o município
que apresenta o maior percentual de população
com mais de 65 anos, ou seja, 4,13% dos homens
e 3,72% das mulheres. Por outro lado, é também
o que apresenta os maiores índices de jovens,
54,17% dos homens e 56,66% das mulheres. Os
adultos estão em 41,70% de homens e 39,62% de
mulheres. Segundo o PNUD (2000), no período
1991-2000, a taxa de mortalidade infantil do mu-
nicípio diminuiu 28,44%, passando de 50,31 (por
mil nascidos vivos) em 1991 para 36,00 (por mil
nascidos vivos) em 2000, e a expectativa de vida ao
nascer cresceu 3,76 anos, passando de 63,68 anos
em 1991 para 67,44 anos em 2000.
Dados sistematizados a partir do Censo IBGE-2000.

Gráfico 14 – Estrutura relativa da população, por sexo e grupos de idade – Paragominas – 2000 Composição etária e sexo do município
de Ipixuna do Pará
Ipixuna do Pará apresenta 52,41% de jovens en-
tre a população masculina e 57,15% entre a femini-
na. Por isso, a base da pirâmide é bastante amplia-
da, repetindo a estrutura da população dos demais
municípios em estudo. Os números sugerem que
a expectativa de vida é muito baixa, principalmente
entre as mulheres. Somente 1,65% da população
feminina está entre 65 e mais anos, isso inclusive
pode expressar problemas de saúde pública. Entre-
tanto, segundo o PNUD (2000), no período 1991-
2000, a taxa de mortalidade infantil do município
diminuiu 42,82%, passando de 51,01 (por mil nas-
cidos vivos) em 1991 para 29,17 (por mil nascidos
Dados sistematizados a partir do Censo IBGE-2000. vivos) em 2000, e a expectativa de vida ao nascer
cresceu 6,05 anos, passando de 63,51 anos em 1991
Gráfico 15 – Estrutura relativa da população, por sexo e grupos de idade – Tomé-Açu – 2000 para 69,56 anos em 2000.

Composição etária e sexo do município


de Ulianópolis
Ulianópolis apresenta somente 0,89% de mu-
lheres com idade igual ou superior a 65 anos de
idade, portanto nesse município é encontrada a
menor expectativa de vida para as mulheres, en-
tre o conjunto de municípios estudados. O per-
centual de idosos do sexo masculino também é
baixo, somente 1,17%. A população de jovens,
tanto para o percentual de homens como para
o de mulheres, está acima de 50%. Segundo o
PNUD (2000), no período 1991-2000, a taxa
de mortalidade infantil do município diminuiu
Dados sistematizados a partir do Censo IBGE-2000.
39,49%, passando de 70,65 (por mil nascidos
ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 12 a 15: Os autores (2006).

182
vivos) em 1991 para 42,75 (por mil nascidos vi- Gráfico 16 – Estrutura relativa da população, por sexo e grupos de idade – Aurora do Pará – 2000
vos) em 2000, e a expectativa de vida ao nascer
cresceu 6,45 anos, passando de 59,11 anos em
1991 para 65,56 anos em 2000.

Renda e estrutura ocupacional


A distribuição da renda está vinculada à estru-
tura da população, por isso não se pode planejar
políticas públicas para atender às demandas so-
ciais sem que se conheçam essas duas dimensões
da realidade social. Por exemplo, não é suficiente
saber quantas crianças atingiram a idade escolar
num determinado momento, é preciso conhe-
cer o nível de renda familiar dessas crianças. Por
isso, o estudo da renda é algo tão importante, seja
na escala mundial ou na escala local, para que os Dados sistematizados a partir do Censo IBGE-2000.

governos possam desenvolver com sucesso suas


políticas de educação, saúde, lazer, transporte ha-
Gráfico 17 – Estrutura relativa da população, por sexo e grupos de idade – Ipixuna do Pará – 2000
bitação etc.
Segundo dados do PNUD (2000), a renda per
capita média do Estado do Pará cresceu 19,13%,
passando de R$ 141,52 em 1991 para R$ 168,59
em 2000. A pobreza diminuiu de 55,9% em 1991
para 51,9% em 2000. Em Paragominas, município
de maior dinâmica econômica do grupo de muni-
cípios em estudo, a renda per capita média cresceu
26,49%, passando de R$ 131,27 em 1991 para R$
166,04 em 2000, portanto, seu crescimento foi su-
perior ao do Estado e a pobreza diminuiu de 54,2%
em 1991 para 49,8% em 2000.
A média de rendimento nominal mensal nos

perfil socioeconômico
municípios da área de estudo está entre R$ 383,527
e R$ 718,990 mil reais na área urbana e entre
Dados sistematizados a partir do Censo IBGE-2000.
R$ 382,283 e R$ 671,853 mil reais na área rural. A
discriminação municipal da renda (urbana e rural)
pode ser observada no Gráfico 19. Gráfico 18 – Estrutura relativa da população, por sexo e grupos de idade – Ulianópolis – 2000
O rendimento nominal mensal se associa às
atividades econômicas desenvolvidas nos muni-
cípios. Isto é, a estrutura ocupacional dominante
termina por condicionar os rendimentos médios
locais. Em Paragominas, por exemplo, a maioria
dos trabalhadores está concentrada nas atividades
industriais e de serviços. Conforme já tivemos
oportunidade de demonstrar, a cidade de Parago-
minas concentra a maioria das atividades ligadas ao
comércio e à prestação de serviços e igualmente a
atividades industriais. Exerce uma função de pólo
sub-regional, atendendo ao espaço regional de en-
torno.
Em situação oposta, encontram-se os municí-
pios de Aurora do Pará e Ipixuna do Pará, uma vez Dados sistematizados a partir do Censo IBGE-2000.
que a estrutura ocupacional se associa a atividades
econômicas rurais como agropecuária, extrativismo Gráfico 19 – Média do rendimento nominal
vegetal, caça e pesca. O município de Ulianópolis,
por sua vez, demonstra uma estrutura ocupacional
entre atividades agropecuárias e extrativistas e ati-
vidades industriais, apresentando um crescimento
expressivo de atividades de comércio e serviços.
Por fim, Tomé-Açu apresenta uma estrutura mais
equilibrada, com a participação de todos os setores
na economia local (ver item Perfil das Economias
Municipais).

Fonte: IBGE, Censo Demográfico (2000).

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 16 a 19: Os autores (2006).

183
Tabela 7 – Grandes grupos de ocupação no trabalho principal *
Trabalhadores dos
Trabalhadores Trabalhadores da pro-
serviços, vendedores do Trabalhadores de servi-
Municípios agropecuários, florestais, dução de bens e serviços Técnicos de nível médio
comércio em lojas ços administrativos
perfil socioeconômico

de caça e pesca industriais


e mercados
Aurora do Pará 3.910 849 652 292 66
Ipixuna do Pará 3.713 853 1.040 170 122
Paragominas 5.047 8.371 6.854 1.061 1.240
Tomé-Açu 5.283 3.489 3.268 604 518
Ulianópolis 2.151 1.801 1.274 199 268
TOTAL 20.104 15.363 13.088 2.326 2.214
* Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, por grandes grupos de ocupação no trabalho principal, segundo as Regiões Metropolitanas e os Municípios - Pará.
FONTE: IBGE, 2000.
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

184
MIGRAÇÃO em outra por Tomé-Açu, constitui ain- Gráfico 20 – Habitantes da área de estudo
da espaço de atração de migrantes em segundo a naturalidade (2000)
Importância da migração na área função das novas estruturas produtivas
de estudo implantadas e em implantação.
Um aspecto a destacar quanto ao crescimento de- Com o objetivo de melhor compre-
mográfico e ao processo de povoamento e ocupação ender a dinâmica migratória, a direção
do espaço da área objeto de estudo refere-se ao com- dos fluxos e a inserção espacial dos mi-
ponente migração. A migração, aqui entendida grantes, é preciso resgatar o movimento
como mobilidade do trabalho, teve papel rele- migratório nas últimas décadas, confor-
vante na conformação do processo de povoamento me análise que se segue. Fonte: Censo Demográfico IBGE – 2000.

e distribuição da população e na definição do atual


Origem e destino dos migrantes Gráfico 21 – Habitantes não-naturais
perfil demográfico da Região. É preciso considerar
Os dados sobre a participação da da área de estudo (2000)
a importância da migração na configuração espa-
cial regional: a formação socioespacial da área se população residente migrante em rela-
estabeleceu basicamente fundada no povoamento ção à população total dos municípios
alicerçado nos fluxos migratórios inter-regionais. da área de estudo nos indicam um au-
Apesar da indisponibilidade de dados recentes que mento significativo em 2000 (Censo
permitam uma avaliação mais precisa do movi- Demográfico) em relação aos dados
mento migratório para a região, sustenta-se que ela de 1996 (estimativas populacionais).
continua a exercer papel de destaque na dinâmica demo- Mesmo considerando o município de
gráfica regional. Tomé-Açu, o mais antigo da área, a
Embora com ritmo reduzido e com participação participação dos migrantes foi superior
ativa de fluxos concorrentes de caráter intra-regio- percentualmente em relação ao cresci-
Fonte: Censo Demográfico – IBGE – 2000.
nal, a migração continua a ser fator espontâneo e mento da população total.
ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 20 e 21: Os autores (2007).
induzido de ocupação do território e de produção Nos municípios de Aurora do Pará
de novos espaços. O binômio mobilidade espacial e Ipixuna do Pará, duplicou a população migran- A população oriunda do Estado do Pará representa
da população e urbanização é um dos mais dolo- te em 2000 em relação a 1996. Em Ulianópolis, apenas 7% da população dos não-naturais da área.
rosos aspectos do processo de ocupação regional, o número de migrantes em 1996, que estava em No município de Paragominas, dos 38% dos
uma vez que as cidades não têm produzido condi- torno de 2.947 habitantes, atingiu a cifra de 10.470 não-paraenses, os maranhenses representam cerca
ções infra-estruturais de absorção dos migrantes. habitantes em 2000, considerando-se a população de 60,8% dos migrantes; 29,86% dos migrantes do
O Estado do Pará, por força dos fluxos migrató- total do município. Em Paragominas, a população município de Tomé-Açu; 20,75% dos migrantes do

perfil socioeconômico
rios, tem alterado o seu perfil demográfico. Segun- migrante já soma 26.747 de 74.253 habitantes da município de Aurora do Pará; 41,37% dos migran-
do o Censo Demográfico 2000, 17% da população população total. O peso dos migrantes, portanto, tes do município de Ipixuna do Pará e 64,53% dos
total residente no Estado era de não-naturais. A tem crescido significativamente na última década. habitantes migrantes residentes em Ulianópolis.
população residente não-natural saltou de 900.639 Fato importante a destacar no que diz respeito às Tais dados reforçam não somente a participação dos
pessoas para 1.046.154. Ainda segundo o referido migrações é sobre a origem e o destino dos migran- maranhenses na composição da estrutura popula-
Censo, houve uma redução do saldo migratório tes, a inserção espacial, se rural e urbana, na área de cional da área de estudo, mas confirmam a origem
positivo. destino. Conforme já observamos e constatamos, dominante dos fluxos migratórios para a área.
A área de estudo representa um dos espaços a área de estudo é essencialmente espaço produzi- A inserção espacial desses migrantes é prefe-
do território estadual em que as migrações foram, do, sobretudo após a década de 1960, através das rencialmente urbana,3 fato que pode ser percebi-
conforme se acentuou, definidoras de sua estru- migrações. Na composição geral dos habitantes do pelas transformações nos espaços urbanos das
tura espacial. Ponto importante a relevar é o ca- não naturais dos municípios de Paragominas, sedes municipais, através da expansão urbana. Em
ráter diferenciado e singular do comportamento Ulianópolis, Tomé-Açu, Ipixuna do Pará e Auro- Paragominas, na década de 1990 e início da década
migratório da região, na última década, em rela- ra do Pará, segundo dados do Censo Demográfico de 2000, pela influência desses novos fluxos mi-
ção às tendências presentes na região amazônica: de 2000, 83% dos migrantes é de origem nordes- gratórios, em sua maioria de origem maranhense,
é opinião majoritária, no que diz respeito ao com- tina. Da população total de migrantes nordesti- novos bairros emergiram: Aragão, Jardim Atlântico
portamento demográfico regional amazônico, o nos, a maioria é constituída de migrantes de origem e Jaderlândia. O hexágono de n.° 3, que se consti-
fato de que a migração inter-regional se reduziu maranhense. O Estado do Maranhão tem contribuído tuiu como o Parque Industrial da cidade, vê-se sen-
em relação às décadas anteriores, sendo hoje do- substancialmente com nada menos que 40% dos do aos poucos substituído por moradias, como na
minantemente de natureza intra-regional (Moura migrantes para a área de estudo, sendo as rodovias parte oeste do Uruaim II, no Jardim Atlântico, no
e Morvan, 2001). BR-316 (Pará-Maranhão) e BR-010 (Belém-Bra- Aragão e no loteamento Laércio Cabeline, às proxi-
É importante sublinhar as origens e as direções sília) os principais eixos de penetração na área. midades do antigo lixão, ao sudoeste da cidade.
dos fluxos migratórios que balizam o povoamento
Tabela 8 – Imigrantes em relação à População Total, segundo os municípios da área de estudo, 1996 e 2000
atual e indicam a direção futura. O Estado do Pará,
na sua porção leste, foi um dos estados que mais Municípios População(1996) Imigrantes(1996) População Total(2000) Imigrantes (2000)
Aurora do Pará 15.453 1.122 19.728 (17.300) 2.428
atraíram migrantes entre 1991 e 2000. Embora no-
Tomé-Açu 45.066 1.388 47.243 (40.227) 7.016
vos eixos de penetração e dinâmicas de ocupação
Paragominas 65.931 14.510 74.253 (47.506) 26.747
de fronteiras estejam emergindo, como o eixo da
Ipixuna do Pará 13.930 2.414 25.138 (20.439) 4.699
BR-163 (Cuiabá-Santarém), e de áreas centrais do Ulianópolis 9.699 2.947 19.304 ( 8.834) 10.470
território estadual, como a “Terra do Meio”, a área FONTE: Censo Demográfico de 2000 e contagem populacional de 1996.
de estudo, polarizada em parte por Paragominas e ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

3
Nas últimas décadas, o processo de crescimento urbano e de urbanização do território, esta última pelo surgimento de novos assentamentos urbanos, tem se constituído em marcas carac-
terísticas do povoamento recente na Amazônia. Segundo Becker e Machado (1992), o espaço urbano tem desempenhado importantes papéis na estruturação do espaço regional. Para efeito
de nossa análise, devemos relevar: espaços que representam pontas de lança de ocupação territorial e, ao mesmo tempo, espaços de ressocialização dos migrantes.

185
perfil socioeconômico

Importante considerar o fato de que a década de e/ou investir em outras atividades, como comércio e i) o setor sul: áreas do loteamento Laércio Ca-
1990 marca o início da decadência da atividade ma- na produção agrícola, ocorrendo, assim, uma transfe- beline e loteamento Aragão, áreas da Selecta
deireira na cidade de Paragominas, em parte pela es- rência intersetorial de renda na região. Madeiras S/A.
cassez da madeira, encontrada cada vez mais distante Paragominas, como município-pólo e cen- ii) o setor noroeste: áreas de ocupação dado o
da sede municipal, onde abrigava a maioria das ser- tro sub-regional, passa a atrair leva de migrantes, sentido da dinâmica econômica e funcionali-
rarias, pelo esgotamento das áreas de madeiras no- principalmente do Maranhão, motivados pelas no- dade da cidade em direção ao Km 12, no eixo
bres, pelos movimentos ambientalistas e por pressões vas atividades agrícolas de grande porte que ali se da PA-256.
governamentais e internacionais, além das transfor- instalam, como a soja. Observa-se, assim, o cres- iii) o setor leste: áreas do Parque da Promissão
mações na economia com o advento do Plano Real. cimento populacional e a expansão urbana em al- III e do parque da Promissão IV, onde se ob-
O reflexo imediato da diminuição do ritmo dessa gumas áreas da cidade: o bairro da Jaderlândia e serva a invasão e o loteamento de sítios e fa-
atividade foi a falência da maioria das madeireiras, a Nova Conquista, na parte noroeste, e o Nagibão, zendas.
migração para outras áreas (Ulianópolis) e a amplia- distante 12 km da área urbana. Os dois primeiros iv) o setor oeste: área industrial decadente,
ção da seletividade na extração e no beneficiamento bairros surgiram em meados da década de 1990, que, por privilegiar a rodovia que liga Pa-
desse produto, dando origem ao período em que se assim como o Parque da Promissão IV, a leste da ragominas ao Km 12 (PA-256) e o próprio
evidenciam as madeireiras de grande porte, as expor- cidade, e Parque Juscelino Kubischeck, ao norte. Km 12, tende a ver substituída a sua fun-
tadoras. Com os lucros obtidos no setor madeireiro, Há, nesse sentido, uma tendência de ocupação ção. Existem áreas de madeireiras já em
muitos empresários passaram a investir na pecuária do espaço urbano privilegiando algumas áreas: processo de loteamento.

186
Gráfico 22 – Não-naturais do Estado do Pará por município, de acordo com as regiões de origem dos migrantes.

$8525$1­21$785$,6'2(67$'2
A '23$5È

,3,;81$1­21$785$,6'2(67$'2 720e$d81­21$785$,6'2(67$'2
B '23$5È C '23$5È

8/,$1Ï32/,61­21$785$,6'2(67$'2 3$5$*20,1$61­21$785$,6'2(67$'2
D '23$5È E '23$5È

ELABORAÇÃO: Os autores (2006).

Tabela 9 – População residente, por lugar de nascimento, segundo os municípios da área de estudo (2000)
Estados / domicilio Paragominas Tomé-Açu Aurora Ipixuna Ulianópolis

perfil socioeconômico
TOTAL TOTAL TOTAL TOTAL TOTAL
RO 18 12 - 15 -
AC 20 - - - -
AM 164 45 39 105 10
RR 54 - - - 4
PA 47.508 40.227 17.300 20.439 8.834
AP 78 19 - 13 13
TO 75 47 43 44 113
MA 16.284 2.095 504 1.944 6.757
PI 1.441 458 120 110 680
CE 2.843 1.839 1.174 1.333 931
RN 219 55 60 105 45
PB 189 122 65 59 100
PE 689 145 172 257 119
AL 99 257 - - 41
SE 23 23 - - 23
BA 2.362 569 64 306 400
MG 1.588 265 31 164 297
ES 1.436 524 32 49 286
RJ 72 8 - 16 10
SP 217 125 30 16 72
PR 182 140 33 50 131
SC 51 - - - 63
RS 75 24 20 18 43
MS 93 - - 9 41
MT 61 28 - 31 19
GO 592 128 42 57 216
DF 17 - - - 6
Brasil sem especificação - 40 - - -
Naturalizados
Exterior - 209 - - -
FONTE: Censo Demográfico – IBGE, 2000.
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

Resulta, assim, que a região objeto de estudo Maranhão e os recentes investimentos têm atraído segundo os municípios da área de estudo. Observa-
tende a ainda acentuar um caráter de espaço esti- sensivelmente novos fluxos. A Tabela 9 e os Gráfi- se que a participação dos migrantes no âmbito da
mulado por fluxos migratórios inter-regionais. A co 22 demonstram, em detalhes, os dados referen- população total, em 2000, é representativa em to-
proximidade da área de estudo com o Estado do tes à população residente, por lugar de nascimento, dos os municípios da área de estudo.

187
CARACTERIZAÇÃO DO ENSINO
caracterização do ensino
Lilian Simone Amorim Brito
perfil socioeconômico

Gilber Valério Cordovil

A
partir da segunda metade do da instalação das multinacionais. O país rapida- entanto, todo este processo, mesmo estabelecen-
século XX, o Brasil passou mente se urbanizou, o que certamente foi neces- do alguns avanços, é bastante criticado, devido ao
por um acelerado processo de sário para o desenvolvimento da proposta econô- excesso de centralização na tomada de decisões e,
mica neoliberal. O novo país industrial precisava
tecnicização do território, fruto dos avan- conseqüentemente, da pouca participação dos de-
de mão-de-obra qualificada a fim de atender a
ços científicos e tecnológicos e de sua mais atores sociais que produzem a educação no
nova indústria, e a escola “para todos” tornou-se
consolidação industrial, inserindo-se no uma necessidade. país, limitando o debate e impedindo, na maioria
contexto denominado técnico-científico- das vezes, uma reflexão mais consciente acerca de
informacional, que, de acordo com San- No bojo dessas necessidades, e visando imple- tais propostas.
tos (2001, p. 38), “é marcado pela presen- mentar reformas no mundo da educação, foi pro- A partir deste prisma é que se procurou en-
ça da ciência e da técnica nos processos mulgada a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, tender as implicações dessas reformas no ensino
de remodelação do território essenciais às que estabelece as diretrizes e bases da educação dos municípios de Paragominas, Tomé-Açu, Ipi-
produções hegemônicas”. nacional. xuna do Pará, Ulianópolis e Aurora do Pará. A
Para Camargo e Fortunato (1997 apud Em seu Art. 2º, a LDB/96 considera que análise sobre ensino, nestes municípios, foi ba-
Pontuschka, 1999, p. 12), esse processo faz seada tanto nos dados do Setor Censitário (2000)
parte de um quadro internacional em que a educação, dever da família e do Estado, inspira- quanto nos dados do Censo Escolar (2005) do
da nos princípios de liberdade e nos ideais de so- IBGE, devido a este último nos fornecer infor-
o mundo capitalista do pós-guerra forta- lidariedade humana, tem por finalidade o pleno mações mais atualizadas e outras variáveis bas-
leceu os capitais monopolistas e sua inter- desenvolvimento do educando, seu preparo para tantes relevantes.
nacionalização e construiu as bases para a o exercício da cidadania e sua qualificação para o Metodologicamente, partiu-se inicialmente da
difusão do neoliberalismo no mundo. trabalho (Brasil, 1996, p. 7)
análise dos Setores Censitários acerca do núme-
ro absoluto de pessoas que estão matriculadas no
A ascensão das políticas neoliberais na Partindo destes princípios, a nova LDB/96 esta-
Ensino Fundamental, Médio, Superior e de Pós-
América Latina, e em especial no Brasil, beleceu uma série de medidas, dentre as quais se
Graduação, além do número de pessoas que não
pautou-se no enfraquecimento do caráter destaca:
freqüentam a escola. Ainda com base nesses dados,
regulatório do Estado, justificado a partir a) a redefinição do papel dos entes da fe-
analisou-se a taxa de analfabetismo existente nes-
das fortes crises econômicas enfrentadas deração, cabendo à União, além de ou-
tes municípios.
no decorrer da década de 1980 e início tras atribuições, “a coordenação da política
No que diz respeito ao Censo Escolar, priori-
da década de 1990. “A inflação desenfrea- nacional de educação, articulando os dife-
zaram-se os dados referentes à taxa de alunos ma-
da serviu de motivo para que o país fosse rentes níveis e sistemas e exercendo fun-
triculados no ensino pré-escolar, ao número de es-
conduzido rumo a reformas significativas ção normativa, redistributiva e supletiva
colas por nível de ensino e ao número de docentes
no âmbito dos compromissos do Estado em relação às demais instâncias educacio-
por nível de ensino. A partir destes dados foi ela-
[...]”, traduzidas na redefinição do pa- nais”, além de estabelecer em colaboração
borada uma série de mapas e gráficos que nos per-
pel dos entes da federação e direcionado com os Estados e Municípios “competên-
mitem visualizar e relacionar de forma mais nítida
a uma política explícita de privatização e cias e diretrizes para a educação infantil, o
os indicadores de ensino por município da área de
descompromisso com a dimensão social. ensino fundamental e o ensino médio, que
estudo e o número total de suas populações.
Diante deste processo, redefiniu-se o nortearão os currículos e seus conteúdos
Do total da população dos municípios é bastan-
papel da União que repassou algumas de mínimos”, com vistas a assegurar uma for-
te significativo o número de pessoas que não fre-
suas responsabilidades para os estados e mação básica comum em nível nacional; ao
qüentam a escola (ver Gráficos 1 e 2), apesar dos
municípios após a homologação da Cons- Estado, “assegurar o ensino fundamental e
“esforços” dos entes da federação em tentar asse-
tituição de 1988. oferecer, com prioridade, o ensino médio”
gurar vaga para todas as crianças em idade escolar,
De acordo com Costa (2004), o Estado e ao Município “oferecer a educação infan-
com o intuito de atender às exigências da LDB/96,
nacional passou a ter necessidade de con- til em creches e pré-escolas, e, com priori-
mesmo sem conseguir garantir as adequações ne-
siderar as mudanças em curso derivadas dade, o ensino fundamental” (Brasil, 1996,
cessárias às escolas para recebê-las e ofertar-lhes
do acelerado aprofundamento do parti- p. 9-11);
um ensino de qualidade.
cular sistema federativo brasileiro, o que b) o estabelecimento dos Parâmetros Cur-
O grande número de pessoas que não fre-
evidenciou o complexo arranjo de reparti- riculares Nacionais (PCN), direcionados
qüentam a escola reflete-se nos elevados índi-
ção político-territorial do poder nacional: mais especificamente para o ensino funda-
ces de analfabetismo desses municípios (ver
“1- Reduziu a importância da União; mental e médio;
Gráficos 3 e 4), evidenciando que a proposta do
2- Revalorizou os papéis dos estados; c) a implantação do Sistema Nacional de
governo federal de fazer do período correspon-
3- Introduziu a singular autonomia aos Avaliação, instituída por meio do Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM) e da dente aos anos de 1996 a 2006 a “década da edu-
municípios”. A internacionalização da eco-
avaliação do ensino superior, popularmente cação”, prevista na LDB/96, na realidade não se
nomia e a globalização, por sua vez, inter-
denominada de “provão”; efetivou.
ferem não somente na economia brasileira,
d) a criação do Plano Nacional de Avalia- Essa proposta previa, também, que todas as
mas em todas as dimensões da vida do país,
ção dos Livros Didáticos (PNLD); além pessoas em idade escolar deveriam estar fre-
dentre as quais se destaca, a partir deste mo-
de um conjunto de outras medidas contidas qüentando a escola, no entanto, o que se per-
mento, a dimensão educacional.
na própria LDB. cebe é que o número de matrículas na educação
Segundo Pontuschka (1999, p. 12),
Esse conjunto de propostas expressa, por par- básica não reflete os interesses do governo fede-
te do governo federal, a nítida intenção de imple- ral devido a se observar uma grande defasagem,
a internacionalização da economia re-
mentar um novo perfil à educação brasileira. No principalmente se comparada à passagem dos
organizou a sociedade em decorrência

188
GRÁFICO 1 – Taxa de pessoas que não freqüentam a escola (%) alunos de um nível de ensino para o outro (ver Mapa de Taxa de Matrí-
cula e Gráficos 5 e 6).
A partir da análise destes dados, percebe-se que em todos os municípios
da área de estudo o maior índice de matrículas se concentra no Ensino Fun-
damental (ver Gráfico 7), evidenciando que os governos municipais têm,
prioritariamente, desenvolvido ações que visem assegurar um maior acesso
às escolas de Ensino Fundamental, procurando cumprir, desta forma, seu
papel nessa nova redefinição de atribuições entre os entes da federação, o
que não significa dizer que a qualidade da educação nestes municípios tenha
acompanhado satisfatoriamente este processo.
Percebe-se, também, que a atuação do governo estadual nessa área de es-
tudo ainda é bastante insuficiente, em virtude dos baixos índices de matrícu-
las no Ensino Médio (Ver Gráfico 7). Uma das possíveis explicações acerca
desta realidade é o baixo número de escolas estaduais (Ver Gráfico 8) e de
GRÁFICO 2 – Pessoas que não freqüentam a escola por município
profissionais capacitados a atuar nesse nível de ensino nos municípios em
estudo, fato que demonstra, até o presente momento, o não-cumprimento
de suas atribuições com relação à educação básica, prevista na LDB/96.
Esse fato é muito preocupante, visto que a maioria dos alunos que con-
cluem o Ensino Fundamental não tem tido acesso às escolas de Ensino Mé-
dio, devido aos fatos acima expostos, bem como ao tipo de atividades econô-
micas existentes nestes municípios, as quais não exigem uma mão-de-obra
qualificada, tais como a pecuária, a atividade madeireira e a agricultura, de
caráter predominantemente extensivo, e a mineração, sendo que nos últimos
anos a produção de soja e a mineração passaram a ganhar ênfase, particular-
mente no município de Paragominas, devido ao seu grande valor no merca-
do mundial, as quais passam a exigir uma melhor qualificação profissional.
GRÁFICO 3 – Taxa de analfabetismo por município (%) Outro dado que reforça esse problema é o grau de disparidade existente
entre o número de docentes que atuam nos diversos níveis de ensino (ver
Mapa de Número de Docentes). A maior parte dos docentes atua no Ensino
Fundamental, o que evidencia o pouco investimento do Estado no Ensino
Médio e, sobretudo, o baixo nível de qualificação destes profissionais, uma

perfil socioeconômico
vez que muitos docentes que atuam no ensino fundamental ministram aulas
de disciplinas nas quais sequer são formados. É “comum”, por exemplo, que
professores formados em Filosofia ministrem aulas de História, Geografia,
dentre outros casos. Esse fato faz com que a qualidade do ensino seja bastante
comprometida, pois, ao não possuir uma qualificação profissional, grande
parte destes docentes acaba por apenas reproduzir os conteúdos existentes
nos livros didáticos, os quais em sua essência, não condizem com a realidade
destes municípios.
A falta de acesso a cursos de graduação e/ou pós-graduação que contri-
GRÁFICO 4 – Pessoas analfabetas por município
buam para uma melhor qualificação profissional e a inexistência de concur-
sos públicos necessários para o preenchimento dos quadros de profissionais
habilitados, bem como o reduzido número de escolas estaduais existentes
nestes municípios (ver Mapa do Número de Escolas), expressam claramente
a pouca atuação do Estado no sentido de cumprir seu papel como ente da
federação responsável, prioritariamente, pelo Ensino Médio.
Outra defasagem bastante relevante diz respeito à demanda de alunos
que concluem o Ensino Médio e a oferta no Ensino Superior, pois o acesso
a esse nível de ensino só tem sido possível por meio dos cursos de inte-
riorizações, ofertados, na sua maioria, pela Universidade Federal do Pará
(UFPA) e pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), os quais normal-
mente são realizados em sistema modular. Visando garantir o acesso ao
GRÁFICO 5 – Número de alunos matriculados nos diversos níveis de en- ensino superior, estas universidades criam pólos, quase sempre nos mu-
sino por municípios nicípios de maior influência na região, nos quais se concentram os alunos
vindos de diversos municípios, como é o caso do pólo da UEPA existen-
te no município de Paragominas (Campus VI), no qual são ofertados os
cursos de Licenciatura em Ciências Naturais e Tecnologia Agroindustrial.
Normalmente, o número de cursos ofertados não é muito diversificado e
o número de vagas é bastante restrito diante da necessidade de qualifica-
ção dos profissionais que atuam na educação básica. Neste sentido, para
que parte da população tenha acesso ao nível superior, sobretudo no curso
de sua preferência, é necessária a mobilidade espacial para outras áreas do
Estado, a exemplo da capital, ou, ainda, para alguns centros sub-regionais
que já oferecem uma diversificada oferta de cursos, alguns, inclusive, em
sistema regular, como é o caso de Castanhal e Marabá.
ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 1 a 5: Os autores (2007).

189
190 perfil socioeconômico
Se o quadro de ensino em nível superior se apre- GRÁFICO 6 – Número de matrícula por nível de ensino
senta de forma bastante caótica, o ensino de Pós-
Graduação, nas suas diferentes modalidades, não
foge a esta realidade, todavia, apresenta uma situação
ainda mais crítica (ver Gráficos 7 e 8), evidenciando,
nestes municípios, a pouca atuação da União, como
ente da federação responsável pela oferta destes ní-
veis de ensino (ver Mapa de Número de Escolas e (16,123Ï6*5$'8$d­2
os Mapas sobre Nível de Ensino). (16,12683(5,25
(16,120e',2
Com o intuito de tentar reduzir a defasagem (16,12)81'$0(17$/
(16,1235e(6&2/$5
da qualificação profissional, o governo do Estado
criou as Escolas de Trabalho e Produção do Pará
(ETPP), que, nessa área de estudo, faz-se presente
no município de Paragominas e que funciona por
meio de parcerias com outras instituições.
No caso de Paragominas, o Programa de For-
mação Profissional é um programa da Companhia
Vale do Rio Doce (CVRD) voltado à formação e
qualificação de jovens para as atividades nas áre-
as de Operação e Manutenção de Mina, Usina e
Ferrovia. É realizado nas cidades onde a CVRD GRÁFICO 7 – Taxa de matrícula por município
está presente, por meio de parcerias com institui-
ções de ensino profissionalizante, a exemplo da
Escola de Trabalho e Produção do Pará (ETPP) e
do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI-PA). No decorrer do curso, as turmas re-
cebem formação técnica educacional em aulas com
professores das instituições e técnicos da CVRD,
além de bolsa-auxílio e apoio em transporte e ali-
mentação. Esse programa tem permitido uma cer-
ta qualificação profissional e até mesmo o acesso a

perfil socioeconômico
emprego na Companhia. Contudo, como se pode
perceber, é uma iniciativa bastante pontual, porque
atua apenas em setores determinados da economia
e atende mais especificamente aos interesses da
própria empresa gestora do programa, no que diz
respeito à formação de um mercado de mão-de-
obra e não uma preocupação com o real objetivo
da educação, que é contribuir para a formação de
cidadãos críticos, capazes de compreender e ques-
tionar a realidade em que estão inseridos, com vis-
GRÁFICO 8 – Número de escolas por nível de ensino
tas a transformá-la.
A análise de todos esses dados referentes ao
ensino nos permite afirmar que, apesar das medi-
das propostas pela União, por meio da LDB/96,
a educação escolar ainda é bastante precária na
área de estudo, pois não basta apenas estabelecer
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), criar
Plano Nacional de Avaliação dos Livros Didáticos
(PNLD) e implantar o Sistema Nacional de Ava-
liação, enquanto não forem garantidas condições
básicas que possibilitem a efetivação do ensino em
seus diversos níveis.
Enquanto essa área de estudo não receber as de-
vidas atenções das esferas do Estado em nível de
investimentos em infra-estrutura, garantia de qua-
lificação dos profissionais que atuam nos diversos
níveis de ensino, melhor remuneração dos profis-
ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 6 a 8: Os autores (2007).
sionais, educação de qualidade aos discentes etc.,
observar-se-á a permanência de um baixo padrão
social e econômico nesses municípios e no país
como um todo, o que impede o efetivo exercício
da cidadania à população.

191
192 perfil socioeconômico
193

perfil socioeconômico
194 perfil socioeconômico
ANÁLISE DAS CONDIÇÕES PÚBLICAS DE SAÚDE
análise das condições públicas de saúde
Sandra Helena M. Leite • Edna S. Ferreira Sales
Marcus Andre Fuckner • Luiz Felipe Pinto

CONTEXTUALIZAÇÃO O Ministério da Saúde gerencia vários sistemas de revisão dos critérios de habilitação de municípios e
base de dados nacional por meio da Secretaria de estados (Brasil, 2001). Em relação à regionalização,

E
ste capítulo do Atlas analisa as Vigilância em Saúde, que presta informações sobre propunha o arranjo dos sistemas municipais em
condições de Saúde Pública as mortes ocorridas no País, registradas no Sistema microrregiões e regiões de saúde, a atribuição do
com o objetivo de contribuir de Informações sobre Mortalidade (SIM), e sobre papel de coordenação e mediação ao gestor esta-
para a construção de cenários, na perspec- os nascimentos verificados no País por meio do dual, bem como a elaboração de um Plano Diretor
tiva da política pública setorial, mapeando Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SI- de Regionalização (PDR), ampliação da atenção
e discutindo os elementos demonstrados NASC); por meio da Secretaria de Atenção à Saú- básica, organização da média complexidade e uma
na coleta de dados comparativos em cinco de fornece informações relacionadas ao Programa política para a alta complexidade. No aspecto do
anos que indicam importantes aspectos da Agente Comunitário de Saúde (PACS) e Programa fortalecimento da capacidade de gestão do SUS, a
evolução da saúde pública nos municípios Saúde da Família (PSF), garantindo o acesso e aper- NOAS-2001 atribuía:
enfocados pelo projeto. A pesquisa con- feiçoando a cobertura com a qualidade dos dados.
tou com a assistência técnica do Sistema As análises destes aspectos subsidiam decisões, (a) Ao gestor estadual, a administração e regulação
hierarquizações e a adoção de medidas por parte do sistema intermunicipal, coordenação da Pro-
de Proteção da Amazônia - SIPAM, por
gramação Pactuada Integrada (PPI), garantia de
meio do Centro Técnico e Operacional dos gestores do SUS e dos profissionais de saúde;
acesso da população referenciada, acompanha-
de Belém - CTO/BE, conforme Termo auxiliam o debate e definem estratégias que pos-
mento e apoio aos municípios em suas funções;
de Cooperação Técnica firmado com o sibilitem acelerar o processo de consolidação dos
(b) Ao gestor municipal, o fortalecimento da fun-
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da sistemas de informações em saúde, sobretudo nas ção gestora, comando sobre os prestadores com
Universidade Federal do Pará – NAEA / áreas com defasagens ou subnotificação, motivadas a elaboração de um cadastro de estabelecimentos
UFPA. por fatores diversos, nas coberturas, na qualidade e contratualização, programação, controle e ava-
Preliminarmente há que se conhe- e na oportunidade na disponibilização dos dados, liação de prestadores, participação na PPI e arti-
apesar das estratégias que pretendem a superação, culação com outros municípios.
cer uma apresentação contextualizada da
gestão do SUS com o atual desenho, fru- como é o caso do Projeto de Integração das Infor-
A NOAS-2001 criou o conceito de “atenção
to de um longo processo de construção mações do SIM, SINASC e SIAB.
básica ampliada” que acrescenta 20 procedimentos
político-administrativa, gestada na déca- O Estado do Pará, segundo estimativas do IBGE
ambulatoriais de média complexidade ao elenco

perfil socioeconômico
da de 1970, objetivando mudanças nos para o ano de 2006, possui em seus 143 municí-
de cerca de 130 procedimentos de atenção básica
arranjos e estruturando-se em instâncias pios um total de 7.110.462 habitantes. A estratifi-
desenvolvidos anteriormente pelo Piso de Aten-
de articulação, de pactuação e deliberação cação dos municípios pelo número de habitantes,
ção Básica – PAB. Inclui o conjunto de ações do
compostas pela direção nacional do SUS, no que se refere ao porte populacional, revela que
primeiro nível de atenção em saúde que deveria
pelo Conselho Nacional de Secretários de 62 cidades, 43,4% do total, possuem entre 20 e 50
ser ofertado por todos os municípios do país em
Saúde (CONASS), Conselho Nacional mil habitantes e apenas 6,3% apresentam mais de
seu próprio território, com qualidade e quantidade
de Secretários Municipais de Saúde (CO- 100.000 habitantes. No desenho do fluxo geren-
para sua população. O repasse do antigo PAB pas-
NASEMS), Secretarias Estaduais de Saú- cial do SUS, a produção de serviços é registrada
sou, em 1º de abril de 2003, a ser chamado de Piso
de, Secretarias Municipais de Saúde, Co- em formulários pré-definidos com preenchimento
de Atenção Básica Ampliado - PAB-A.
missões de Intergestores Bipartite (CIB) manual. A seguir, os dados são digitados para atu-
alização das bases em diferentes sistemas de infor- No Estado do Pará, a estrutura de gestão do SUS
e Tripartite (CIT), Conselhos Municipais
mações. Para manter a habilitação e a certificação nos 143 municípios está distribuída atualmente em
e Estaduais de Saúde, dentre outras.
dos Estados e Municípios, estabelecidas com base 09 Regiões de Saúde e 34 Microrregiões de Saúde,
É indiscutível que a consolidação do
na Norma Operacional Básica (NOB-SUS/96) como demonstrado no Mapa de Regiões de Saúde
Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil
e na Norma Operacional de Assistência à Saúde do Estado do Pará. Dada a peculiaridade geopolítica
é devido à conquista de ações descentra-
(NOAS/98), a produção e o envio de informações e a arrastada descentralização, a estrutura e a vivência
lizadas bem-sucedidas, entre as quais as
pelos profissionais e gestores da saúde encontram do controle social da saúde ainda são um sonho.
relacionadas com a epidemiologia, que
dificuldades em face de precária infra-estrutura Dentre os municípios analisados, Aurora do
estabelecem claramente a definição de
instalada, em conseqüência da exclusão digital e Pará, Ipixuna do Pará, Paragominas, Ulianópolis in-
competências e responsabilidades dos
de conectividade instável, comprometendo, mui- tegram a microrregião de saúde do Guamá III, que
entes e setores envolvidos. O principal
tas vezes, o planejamento de exercícios financeiros ainda inclui os municípios de Dom Eliseu e Mãe
desafio para as esferas de gestão é atender
às necessidades do monitoramento e ava- subseqüentes. do Rio e o município-sede de módulo assistencial é
liar, de forma qualitativa, as estratégias de Um dos principais recortes para análise da dis- Paragominas. Já o município de Tomé-Açu compõe
fortalecimento do SUS e a sua capacidade tribuição dos recursos físicos, humanos e financei- a microrregião Metropolitana III, em conjunto com
de interferir positivamente nos determi- ros é a regionalização da assistência, fundamentada os municípios de Acará e Concórdia do Pará.
nantes de agravos à saúde (produção de no Plano Diretor de Regionalização (PDR, NOAS, Visando melhor analisar e refletir sobre o espa-
adoecimentos e mortalidade – morbi- 2001), que delimita as regiões e microrregiões de ço compreendido entre os municípios Aurora do
mortalidade) e na melhoria das condições saúde e promove maior eqüidade na alocação de Pará, Ipixuna do Pará, Paragominas, Ulianópolis e
de vida da população. recursos financeiros e no acesso da população às Tomé-Açu, utilizaremos a cartografia como ins-
Os indicadores em saúde no SUS as- ações de saúde em todos os níveis da atenção, re- trumento de ilustração especial promovendo a vi-
sumem um papel relevante, em que o presentando marcante inovação no período de sualização das informações desta análise, por meio
conhecimento dos dados quantitativos 1990/2000. de mapas temáticos. A metodologia empregada
e qualitativos fornece subsídios acer- A NOAS aponta duas outras estratégias: (i) for- para a geração desses mapas descrevemos de modo
ca da condição de vida da população. talecimento da capacidade de gestão do SUS; (ii) sucinto a seguir:

195
perfil socioeconômico

1. Os mapas foram elaborados em ambiente de Siste- 2. Os dados-base para as tabelas e mapas temáti- tura disponibilização pelo Ministério da Saúde.
ma de Informações Geográficas – SIG. Utilizou-se cos foram coletados em fontes oficiais, como Organizadas por município, ano e classes em
o software ArcGIS 9.1 e a construção de representa- SINAN, DATASUS e IBGE/Censo Demo- planilhas eletrônicas, estas planilhas posterior-
ções temáticas apresentadas por figuras proporcio- gráfico 2000, sendo que, na análise dos dados mente foram convertidas para o formato Data-
nais em diagramas de setores ou barras. Em ambos sobre mortalidade, natalidade e endemias refe- base permitindo a associação e inserção de atri-
os casos, o tamanho das figuras esteve associado à rentes ao ano 2005, utilizamos informações da butos dos polígonos dos municípios de Aurora
intensidade do fenômeno que se desejou represen- SESPA, àquela altura em fase de consolidação do Pará, Ipixuna do Pará, Paragominas, Tomé-
tar e as cores escolhidas, às características dele; da Secretaria de Vigilância em Saúde, para fu- Açu e Ulianópolis;

196
3. Para a carta-imagem, em representação matri- alfabetização de adultos e da taxa bruta de freqüên- esgotamento sanitário, os indicadores são dramá-
cial, foi utilizado o mosaico georreferenciado de cia escolar, ou seja, dos componentes de longevi- ticos: em todos os municípios em questão, cerca
imagens do sensor ETM+ (Enhanced Thematic dade, educação e renda. de 1,0% dos domicílios possuem rede geral de es-
Mapper Plus) Landsat 7, do ano de 2000, com No caso dos cinco municípios analisados, tal goto ou pluvial.
resolução espacial de saída de 14,25 metros. indicador apresenta-se com grandes disparidades Nesses casos, quando existe algum tipo de liga-
A área correspondente aos cinco municípios em em relação aos demais municípios brasileiros, sen- ção para o esgoto, prevalecem as fossas rudimen-
questão é tratada como uma das regiões mais degra- do os menores índices de desenvolvimento huma- tares. Já os domicílios que possuem coleta de lixo
dadas de toda a Amazônia, segundo Capobianco et no relativos a Aurora do Pará (0,618) e Ipixuna do por serviço de limpeza apresentam dados bastante
al. (2001). Os estudos de outros capítulos do Atlas Pará (0,622), e os maiores em Tomé-Açu (0,676), díspares, com valores de 71,5% em Paragominas e
apresentam e discutem os fatores e os problemas que Ulianópolis (0,688) e Paragominas (0,690). 10,5% em Aurora do Pará. Observa-se a baixa co-
dizem respeito à dinâmica de apropriação e transfor- Se comparado aos demais municípios do País, o bertura de serviços como abastecimento de água,
mação/ degradação ambiental da área. Tal realidade desempenho observado em todos os casos encon- esgotamento sanitário e coleta de lixo, elementos
deteriorou o meio ambiente de forma significativa, tra-se bem abaixo do valor médio, como é o caso que influenciam diretamente nos agravos à saúde,
e alterou diversos aspectos demográficos e sociais do de Aurora do Pará, 79% dos municípios brasileiros em particular em aspectos de morbi-mortalidade,
povoamento da área de estudo, que historicamente se possuem IDH superior; em Ipixuna do Pará (77%), conforme Mapas de Abastecimento de Água Do-
acomodou margeando os rios e as estradas com áre- em Tomé-Açu (61%), em Ulianópolis (58%) e em miciliar, Instalação Sanitária Domiciliar e Destina-
as de concentração e densidades demográficas varia- Paragominas (57%). ção do Lixo Domiciliar.
das. Em face das dinâmicas de ocupação, a análise das As condições de saneamento básico dos domi- Os serviços da atenção básica em saúde, como ati-
condições de saúde, objeto de estudo, envolve a po- cílios nestes municípios foram analisadas com base vidades estratégicas, a exemplo do Programa Agen-
pulação e seu meio e, neste particular, avalia-se que as nas informações referentes ao abastecimento de te Comunitário de Saúde - PACS e do Programa
conseqüências ambientais interferem direta e histori- água, instalações sanitárias e coleta de lixo, confor- Saúde da Família - PSF, promovem a redução dos
camente nas condições de vida da população local. me demonstrado nas Tabelas 1 a 3. impactos e agravos à saúde, na medida em que sua
A forma de abastecimento de água predomi- concepção prevê o desenvolvimento de assistência
INDICADORES SOCIAIS nante é do tipo “rede geral” em apenas 3,6% dos no primeiro nível de atenção em todos os ciclos da
domicílios de Ulianópolis, 26,3% em Ipixuna do vida, voltada para crianças, adultos e idosos. Esses
Um indicador composto nos revela o Índice de Pará, 29,7% em Paragominas, 34,1% em Auro- programas têm sua capacidade comprovada na reso-
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) ra do Pará e 53,4% em Tomé-Açu. A média do lução de grande parte das situações antes configura-
utilizando-se da combinação da expectativa Estado do Pará é de 42,6% dos domicílios com das como problemas de saúde pública, conforme os
de vida ao nascer, da renda per capita, da taxa de este tipo de abastecimento de água. Em relação ao Mapas de Cobertura Populacional do PACS e PSF.

perfil socioeconômico
TABELA 1 - Domicílios por abastecimento de água (2000)
Rede geral Poço ou nas- Poço ou Outra forma Outra forma
Rede geral
canaliza- cente canali- nascente Poço ou canalizada de canalização Outra forma
canalizada só
Município da em pelo zada em pelo canalizada só nascente não em pelo somente na não Total
na proprieda-
menos um menos um na proprieda- canalizada menos um propriedade canalizada
de/ terreno
cômodo cômodo de ou terreno cômodo ou no terreno
Aurora do Pará 524 639 88 64 2,233 3 4 363 3,918
Ipixuna do Pará 430 825 268 225 2,575 6 10 424 4,763
Paragominas 2,281 3,439 5,167 2,088 1,887 174 255 1,482 16,773
Tomé-Açu 3,867 1,169 559 293 3,114 26 33 378 9,439
Ulianópolis 58 92 917 336 1,921 46 41 736 4,147
Total 7,160 6,164 6,999 3,006 11,730 255 343 3,383 39,040
FONTE: Censo IBGE (2000).

TABELA 2 - Domicílios por instalações sanitárias, segundo os municípios (2000)


Rede geral de
Fossa séptica Fossa rudimen- Outro esco-
esgoto ou plu- Vala não discri- Rio, lago ou Não tem insta-
Município não discrimi- tar não discri- adouro não Total
vial não discri- minada mar lação sanitária
nada minada discriminado
minado
Aurora do Pará 2 351 2,100 472 95 19 879 3,918
Ipixuna do Pará 10 620 2,106 289 2 234 1,502 4,763
Paragominas 186 4,439 9,421 871 162 126 1,568 16,773
Tomé-Açu 75 2,948 4,479 349 32 176 1,380 9,439
Ulianópolis 2 74 2,827 12 0 5 1,227 4,147
Total 275 8,432 20,933 1,993 291 560 6,556 39,040
FONTE: Censo IBGE (2000).

TABELA 3 – Domicílios por coleta de lixo, segundo os municípios (2000)


Coletado por Coletado por Jogado em ter-
Queimado na Enterrado na Jogado em rio,
Município serviço de lim- caçamba de ser- reno baldio ou Outro destino Total
propriedade propriedade lago ou mar
peza viço de limpeza logradouro
Aurora do Pará 386 25 1,732 229 1,426 82 38 3,918
Ipixuna do Pará 523 22 2,286 409 1,372 100 51 4,763
Paragominas 10,737 1,253 1,893 255 2,361 93 181 16,773
Tomé-Açu 3,154 45 4,381 303 1,470 55 31 9,439
Ulianópolis 115 435 1,437 98 2,044 12 6 4,147
Total 14,915 1,780 11,729 1,294 8,673 342 307 39,040
FONTE: Censo IBGE (2000).
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 1 a 3: Os autores (2007).

197
198 perfil socioeconômico
199

perfil socioeconômico
perfil socioeconômico

TABELA 4 – Indicadores sociais selecionados – Ano 2000 (*)


(%) domicílios com abaste- (%) domicílios com lixo
(%) domicílios com rede
Município cimento de água em “rede coletado por serviço de
geral de esgoto ou pluvial
geral” canalizada limpeza
Paragominas 29,7 1,1 71,5
Aurora do Pará 34,1 0,1 10,5
Ipixuna do Pará 26,3 0,2 11,4
Ulianópolis 3,6 0,1 13,3
Tomé-Açu 53,4 0,8 33,9
FONTE: Censo IBGE (2000).
(*) As médias para o Estado do Pará são respectivamente: 42,6%; 7,4%; 53,4%.
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

200
perfil socioeconômico

TABELA 5 – Cobertura populacional do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) – 2000 a 2005
Município 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Aurora do Pará 100 92.34 92.34 100 100 100
Ipixuna do Pará 100 78.56 76.44 100 100 100
Paragominas 77.31 86.12 86.12 84.11 100 100
Tomé-Açu 50.41 100 100 100 100 100
Ulianópolis 99.43 72.94 72.94 68.77 65.3 65.3
FONTE: MS\SAB
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

201
perfil socioeconômico

TABELA 6 – Cobertura populacional do Programa Saúde da Família (% )– 2000 a 2005


Município 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Aurora do Pará 0 0 0 0 31.02 46.53
Ipixuna do Pará 0 0 0 0 34.36 34.36
Paragominas 15.13 30.92 26.5 30.19 42.23 42.23
Tomé-Açu 0 0 14.34 14.22 14.06 14.06
Ulianópolis 29.83 33.67 33.67 31.74 30.14 30.14
FONTE: MS\SAB
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

202
Os dados existentes no Ministério da Saúde re- saúde; serviços especializados: oferta e acesso; in- em Ulianópolis, 19,6%. Os dados sugerem uma
ferentes ao ano de 2005 demonstram uma baixa co- ternação hospitalar: distribuição de leitos; postos carência de recursos assistenciais, inclusive para
bertura do PACS e PSF na atenção básica no Pará. de trabalho em saúde; endemias: hanseníase, den- diagnóstico, conforme será analisado mais adiante
A evolução de implantação do Programa Saúde da gue, malária e tuberculose. na estrutura existente dos serviços de saúde. Para
Família, por exemplo, está entre uma das menores um maior detalhamento, ver o Mapa de Causas
coberturas do país, com cerca de 20% em relação Perfil de mortalidade Atribuídas às Mortes.
aos demais estados. Enquanto diversos municípios A análise de indicadores de mortalidade revela Em 2004, o grupo de causas externas ocupa-
do país possuem cobertura do PSF superiores a o ritmo lento de melhoria das condições de saúde va o primeiro lugar na proporção de óbitos por
70% da população assistida, obtendo impacto po- da população dos municípios em questão. Os co- causas definidas nos municípios de Paragominas
sitivo em indicadores epidemiológicos, no muni- eficientes de mortalidade infantil de Paragominas (37,0% do total), Ulianópolis (28,9%) e Tomé-
cípio de Paragominas a cobertura representa 42%, (34,3 por mil nascidos vivos), Aurora do Pará (34,3 Açu (23,2%). Em Paragominas, o segundo grupo
em Aurora do Pará 46%, em Ipixuna do Pará 34%, por mil nascidos vivos) e Ipixuna do Pará (32,6 de causas de óbitos foram as afecções originadas
em Ulianópolis 30% e em Tomé-Açu apenas 14%. por mil nascidos vivos) permanecem elevados, se no período perinatal. Já nos dois outros municí-
A cobertura é considerada abaixo da média nacio- comparados à média do Estado do Pará, cujo coe- pios aparece o grupo de causas relacionadas com
nal e, apesar de ser complementada pelo PACS, ficiente em 2004 era de 20,0 óbitos de menores de as doenças do aparelho circulatório. Em Aurora
acena para a tomada de decisão para a consolidação um ano por mil nascidos vivos. do Pará e em Ipixuna do Pará, o primeiro grupo de
do modelo assistencial, tendo por princípio a rees- Um outro indicador importante é a proporção causas de óbitos no ano de 2004 foram as afecções
truturação do primeiro nível de cuidado na gestão de óbitos cuja causa básica registrada no Sistema originadas no período perinatal, sendo responsá-
da saúde municipal. de Informação sobre Mortalidade (SIM) é classifi- veis respectivamente por 20,7% e 24,0% do total
A população dos municípios em questão apre- cada como “causa mal definida”, isto é, óbitos co- de óbitos informados pelo Sistema - SIM.
senta incremento com o número de nascidos vi- dificados como “Capítulo XVIII” da CID-10 (có- Devido à pequena cobertura populacional de
vos por município conforme se constata na tabela digos R00 a R99, “sintomas, sinais e achados anormais planos privados de assistência à saúde (0,1% em
abaixo e espacializado no Mapa de Natalidade. de exames clínicos e de laboratório não classificados em ou- Aurora do Pará; 0,3% em Ipixuna do Pará; 3,6%
tra parte”). Segundo a RIPSA (2002), este indicador em Paragominas; 0,2% em Ulianópolis e 1,4% em
ESTRUTURA DA ANÁLISE DAS permite avaliar o grau de qualidade da informação Tomé-Açu), é possível utilizar os dados do Sistema
CONDIÇÕES DE SAÚDE sobre causas de morte. de Informação Hospitalar (SIH-SUS) para traçar
Elevados percentuais indicam deficiências na um perfil da morbidade observada. Esse Sistema
A construção da análise das condições de saúde declaração das causas de morte, que pode estar de Informação de abrangência nacional e muni-
nos municípios foi traçada considerando-se as va- condicionada à disponibilidade de recursos médi- cipal possui cobertura apenas para as unidades de
riáveis sociais e demográficas e com base no cotejo co-assistenciais e ao preenchimento impreciso da saúde conveniadas ao SUS que, conforme descre-
entre o modelo de gestão do SUS e a evolução da causa básica de morte. No Estado do Pará, esse in- vemos, representam a quase totalidade dos servi-

perfil socioeconômico
atenção da assistência com as ocorrências de casos dicador atingiu em 2004 apenas 8,2%. Em Aurora ços de saúde nas cidades em questão.
de adoecimentos versus acessibilidade. do Pará, quase a metade das causas básicas dos óbi-
Apresenta-se um conjunto de dados gerenciais tos nesta mesma época foi codificada como “cau- Perfil de morbidade
a partir dos itens: perfil de mortalidade; perfil de sas mal definidas”; em Ipixuna do Pará, 39,0%; No ano de 2005, contou-se com o total de
morbidade; distribuição dos estabelecimentos de em Paragominas, 23,6%; em Tomé-Açu, 21,4% e 17.508 internações realizadas em Aurora do Pará,
Ipixuna do Pará, Paragominas, Ulianópolis e To-
mé-Açu. Quatro grupos de causas concentram
mais de 60% das internações: (i) gravidez, parto e
puerpério; (ii) doenças infecciosas e parasitárias;
(iii) doenças do aparelho respiratório; (iv) causas
TABELA 7 – Nascidos vivos, segundo ano e município – 2000 a 2005 externas. Ver o Mapa de Causas Atribuídas às In-
Município 2000 2001 2002 2003 2004 2005 ternações Hospitalares.
Aurora do Pará 377 442 447 433 437 410
Ipixuna do Pará 325 548 483 605 582 570 Distribuição dos estabelecimentos de saúde
Paragominas 1.736 2.087 2.196 2.144 1.919 2.078 Conforme os registros do Cadastro Nacional de
Tomé-Açu 850 538 428 700 1.035 966 Estabelecimentos de Saúde, do Ministério da Saú-
Ulianópolis 242 279 317 370 556 533
de, em 2006, a distribuição dos estabelecimentos
Total 3.530 3.894 3.871 4.252 4.529 4.557
de saúde por tipo de unidade é semelhante quando
FONTE: SINASC
se comparam as realidades dos cinco municípios
em foco. A maior parte das unidades de saúde é do
TABELA 8 – Óbitos segundo ano e município de residência – 2000 a 2005
tipo “Posto de Saúde/ Unidade Básica” ou “Centro
Município 2000 2001 2002 2003 2004 2005 de Saúde”.
Aurora do Pará 46 49 55 49 60 51
Em Aurora do Pará, por exemplo, registra-se
Ipixuna do Pará 60 59 49 87 82 64
a existência de 10 unidades de saúde, todas desse
Paragominas 369 357 266 322 324 290
tipo. A seguir, os registros do CNES relacionam
Tomé-Açu 106 141 108 112 128 145
Ulianópolis 28 34 53 51 60 68 os “hospitais gerais”, que somam apenas 09 (nove)
Total 609 640 531 621 654 618 entre os municípios em questão.
FONTE: SIM. Observa-se uma carência de unidades de aten-
Os dados da Tabela 8 encontram-se espacialmente representados no Mapa de Mortalidade. ção especializada, policlínicas e unidades de apoio
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 7 e 8: Os autores (2007). ao diagnóstico e terapia, inexistindo serviços de alta
complexidade. Apenas no município com mais sig-
nificativa população, Paragominas, existe maior di-
versidade de unidades de saúde, o que é mais bem
visualizado no Mapa de Estabelecimentos de Saúde.

203
204 perfil socioeconômico
205

perfil socioeconômico
perfil socioeconômico

TABELA 9 – Indicadores de mortalidade selecionados - 2004


Coeficiente de mortalidade (%) óbitos por causas mal
Municípios Selecionados
infantil (*) definidas (**)
Paragominas 34,3 23,6
Aurora do Pará 34,3 45,3
Ipixuna do Pará 32,6 39,0
Ulianópolis 19,7 19,6
Tomé-Açu 12,6 21,4
FONTE: SIM e SINASC, 2004.
(*) Considerando-se apenas os óbitos e nascimentos coletados pelo SIM/SINASC.
(**) A média para o Estado do Pará é de 8,2% de óbitos por causas mal definidas.
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

206
207

perfil socioeconômico
208 perfil socioeconômico
Em relação à distribuição dos estabelecimen- as cidades pesquisadas não possuem serviço es- a organização dos municípios ocorre mediante as
tos de saúde, segundo a natureza das unidades de pecializado de atenção psicossocial, e apenas duas microrregiões de saúde apresentadas anteriormen-
saúde, destacam-se as unidades da administração unidades de saúde em Ipixuna do Pará possuem te (ver Mapa de Regiões de Saúde do Estado do
direta municipal. As unidades do tipo “empresa serviço de atenção à saúde do trabalhador. Por ou- Pará), definidas no Plano Diretor de Regionaliza-
privada” são conveniadas com o SUS. Trata-se de tro lado, o serviço de atenção à tuberculose está ção (PDR).
hospitais gerais que possuem diversos serviços es- presente em todos os cinco municípios. Segundo o Ministério da Saúde, os leitos de
pecializados, modalidades de apoio diagnóstico e UTI podem ser classificados como: leitos de
terapia. Em Paragominas, conta-se com uma uni- Internação hospitalar: distribuição de leitos unidade intermediária, unidade intermediária
dade da administração indireta caracterizada como Considerando o alto custo de manutenção de neonatal, unidade de isolamento, UTI Adulto
Fundação Pública, coforme se demonstra no Mapa um leito hospitalar, seja destinado à internação (I, II e III), UTI Infantil (I, II e III), UTI Ne-
de Administração dos Estabelecimentos de Saúde. para terapêutica clínica e cirúrgica ou mesmo para onatal (I, II e III), e UTI de queimados. Levan-
leito de UTI, os avaliadores de políticas públicas do-se em consideração apenas os leitos de UTI
Serviços especializados em saúde recomendam que o cálculo do parâme- (adulto, infantil e neonatal) e observando-se as
A oferta de serviços especializados (Tabela 14) tro mínimo necessário considera não o município microrregiões de saúde que integram os cin-
evidencia a enorme carência de profissionais espe- separadamente, mas um conjunto de municípios, co municípios, é possível realizar o cálculo de
cializados e de unidades adequadas para o desen- especialmente quando se trata de cidades de me- número mínimo de leitos necessários para cada
volvimento das ações de saúde desse nível. Todas nos de 100.000 habitantes, além de considerar que uma delas. Guamá III necessitaria de 21 leitos

TABELA 10 - Mortalidade proporcional por grupo de causas definidas (%) – 2004


Grupos de causas (capítulos do CID-10) Paragominas Aurora do Pará Ipixuna do Pará Ulianópolis Tomé- Açu
Doenças do aparelho circulatório 10,7 13,8 12,0 17,8 23,2
Causas externas 37,0 6,9 6,0 28,9 23,2
Neoplasias 4,9 3,4 8,0 8,9 12,1
Doenças do aparelho respiratório 6,6 13,8 12,0 4,4 5,1
Doenças infecciosas e parasitárias 9,9 17,2 14,0 4,4 11,1
Algumas afecções originadas no período perinatal 16,0 20,7 4,0 4,4 7,1
Demais causas definidas 14,8 24,1 24,0 31,1 18,2
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
FONTE: Ministério da Saúde, Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), 2004.

TABELA 11 – Internações hospitalares x grupo de causas – 2005 (*)

perfil socioeconômico
Grupos de causas (capítulos do CID-10) Paragominas Aurora do Pará Ipixuna do Pará Ulianópolis Tomé-Açu
Gravidez, parto e puerpério 36,8 29,9 25,3 14,1 30,5
Doenças infecciosas e parasitárias 15,3 8,2 17,0 18,1 17,3
Doenças do aparelho respiratório 12,2 16,7 14,5 40,2 14,1
Causas externas 8,3 10,1 4,4 3,0 9,0
Doenças do aparelho circulatório 3,2 4,5 5,1 3,7 3,7
Neoplasias 2,6 1,4 0,9 0,9 1,4
Doenças do aparelho digestivo 6,5 7,6 11,5 7,5 5,9
Doenças do aparelho geniturinário 7,4 7,6 9,3 6,7 8,3
Demais causas 7,7 14,0 12,0 5,8 9,8
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
FONTE: Ministério da Saúde, Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS, 2005).
(*) No ano de 2005, o total de internações em Paragominas foi de 6.065 (7,0% da população); em Aurora do Pará 1.164 (4,8% da população), Ipixuna do Pará 2.523 (7,2% da população), Ulianópolis 3.583 (13,4%
da população) e Tomé-Açu 4.173 (8,2% da população).

TABELA 12 - Número de estabelecimentos de saúde segundo tipos de unidade – 2006.


Tipo de unidade Paragominas Aurora do Pará Ipixuna do Pará Ulianópolis Tomé-Açu
Posto de saúde / Centro de saúde/ unidade básica 17 10 4 4 7
(%) 53,1 100,0 57,1 66,7 58,3
Consultório isolado 1 0 0 0 0
(%) 3,1 0,0 0,0 0,0 0,0
Clínica especializada/ ambulatório de especialidades 3 0 0 0 1
(%) 9,4 0,0 0,0 0,0 8,3
Policlínica 2 0 0 0 0
(%) 6,3 0,0 0,0 0,0 0,0
Unidade de SADT isolado 2 0 1 0 0
(%) 6,3 0,0 14,3 0,0 0,0
Unidade de vigilância em saúde 1 0 1 0 1
(%) 3,1 0,0 14,3 0,0 8,3
Unidade móvel terrestre 2 0 0 0 1
(%) 6,3 0,0 0,0 0,0 8,3
Hospital geral 4 0 1 2 2
(%) 12,5 0,0 14,3 33,3 16,7
Total 32 10 7 6 12
(%) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
FONTE: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)/DATASUS, Ministério da Saúde, ago. 2006.
OBSERVAÇÃO: Não foram registradas unidades do tipo: hospital especializado, pronto socorro geral, pronto socorro especializado, unidade mista, unidade móvel fluvial, unidade móvel de nível pré-hospitalar
– urgência/emergência.
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 10 a 12: Os autores (2007).

209
210 perfil socioeconômico
de UTI; a Metropolitana III, 8 leitos de UTI, de em saúde, essas categorias são excluídas do univer- técnico e auxiliar a área de enfermagem é predo-
acordo com a necessidade estimada mínima de so de estudo. minante. Entre as ocupações de nível elementar, os
4% do total de leitos hospitalares. Em Aurora do Pará, Ipixuna do Pará e Tomé- agentes comunitários constituem a quase totalidade
Também os leitos hospitalares por 1.000 habi- Açu os postos de trabalho de nível elementar são dos profissionais de saúde.
tantes encontram-se abaixo do parâmetro de 2,5 a os mais freqüentes, sugerindo, portanto, um de-
3,0 leitos / 1.000 habitantes preconizado pelo Mi- sequilíbrio na proporção de postos de trabalho e Endemias
nistério da Saúde. A Guamá III possui 2,1 leitos a escassez de profissionais de saúde de nível supe- Dentre os casos de adoecimentos que envolvem
por 1.000 habitantes e a Metropolitana III apenas rior, o que pode dificultar a qualidade de atenção à as condições de vida de uma população, selecio-
1,4 leitos por 1.000 habitantes, como demonstrado saúde, o registro e a notificação das causas de óbi- namos, para exemplificar a evolução de patologias
na Tabela 15. tos, além de sobrecarregar os poucos profissionais relevantes na área de estudo em comparação com a
existentes. ocorrência de casos nas demais regiões do Brasil, a
Postos de trabalho em saúde No município de Tomé-Açu, há uma melhor série histórica de 2000-2005. Observamos na aná-
A distribuição dos postos de trabalho pode ser distribuição dos postos de trabalho em todos lise os casos novos de Dengue, Malária, Tubercu-
dividida segundo o número de anos de estudo ou os níveis de escolaridade. Por fim, Paragominas lose e Hanseníase, a partir da base de dados cons-
o nível de escolaridade necessário para se atingir a apresenta 36,4% do total dos postos de trabalho tantes na publicação de indicadores do DATASUS
ocupação. A Pesquisa de Assistência Médico-Sani- em ocupações de nível técnico e auxiliar, além de publicados no site e que bem nos remete a saber
tária (IBGE, 2005) classifica os postos de trabalho 29,6% de profissionais de saúde de nível superior. das transferências e aplicações de recursos públi-
da área de saúde em ocupações de nível superior, É possível aprofundar a análise da oferta de pos- cos específicos advindos do Ministério da Saúde
de nível auxiliar/ técnico, de nível elementar, e de tos de trabalho em saúde desagregando cada um para intervir no controle efetivo destas endemias.
nível administrativo. Este último grupo de ocupa- dos grupos de ocupações descritos anteriormente. A definição de casos confirmados dentre as
ções envolve profissionais de apoio de administra- Os médicos se destacam entre as profissões de patologias citadas baseia-se em critérios adotados
ção, serviço de limpeza e conservação, além de se- nível superior, sendo seguidos pelos enfermeiros pelo Ministério da Saúde para orientar ações de vi-
gurança. Em algumas análises da força de trabalho e cirurgiões-dentistas. Para as ocupações de nível gilância epidemiológica.

TABELA 13 - Distribuição dos estabelecimentos de saúde, segundo a natureza da unidade – 2006

perfil socioeconômico
Natureza da unidade de saúde Paragominas Aurora do Pará Ipixuna do Pará Ulianópolis Tomé-Açu
Administração direta (*) 23 10 5 5 11
(%) 71,9 100,0 71,4 83,3 91,7
Administração indireta (**) 1 0 0 0 0
(%) 3,1 0,0 0,0 0,0 0,0
Empresa privada 8 0 2 1 1
(%) 25,0 0,0 28,6 16,7 8,3
Total 32 10 7 6 12
(%) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
FONTE: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)/DATASUS, Ministério da Saúde, agosto de 2006.
(*) Da área da saúde e de outros órgãos - MS, SES, SMS, MEC, MEx, Marinha etc.
(**) Autarquias, empresa pública, fundação pública, organização social.

TABELA 14 - Distribuição da oferta de serviços especializados em estabelecimentos de saúde – 2006


Oferta de serviços especializados Paragominas Aurora do Pará Ipixuna do Pará Ulianópolis Tomé-Açu
Atenção à tuberculose 13 4 5 6 6
(%) (*) 40,6 40,0 71,4 100,0 50,0
Atenção psicossocial 0 0 0 0 0
(%) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Atenção à saúde do trabalhador 0 0 2 0 0
(%) 0,0 0,0 28,6 0,0 0,0
Fisioterapia 11 0 0 5 0
(%) 34,4 0,0 0,0 83,3 0,0
Odontologia 4 1 1 1 3
(%) 12,5 10,0 14,3 16,7 25,0
Cardiologia 2 0 1 1 0
(%) 6,3 0,0 14,3 16,7 0,0
Radiologia 6 0 0 3 6
(%) 18,8 0,0 0,0 50,0 50,0
Ultra-sonografia 3 0 1 2 3
(%) 9,4 0,0 14,3 33,3 25,0
FONTE: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)/DATASUS, Ministério da Saúde, agosto de 2006.
(*) Proporção de serviços existentes em relação ao total de unidades de saúde em cada município.

ELABORAÇÃO DAS TABELAS 13 e 14: Os autores (2007).

211
TABELA 15 - Distribuição do número de leitos disponíveis no sistema único de saúde – 2006
Microrregião de População-residen- Nº de leitos Razão de leitos por Nº de leitos de Nº mínimo de leitos de
Município
saúde te 2006 hospitalares (*) 1.000 hab (**) UTI (***) UTI necessários (****)
Paragominas 88.877 164 1,8 0 -
perfil socioeconômico

Aurora do Pará 25.177 0 0,0 0 -


Ipixuna do Pará 36.850 34 0,9 0 -
Guamá III
Ulianópolis 27.987 110 3,9 0 -
Dom Eliseu 50.737 121 2,4 0 -
Mãe do Rio 22.579 92 4,1 0 -
Subtotal - 252.207 521 2,1 0 21
Tomé-Açu 51.611 151 2,9 0 -
Metropolitana III Acará 63.169 33 0,5 0 -
Concórdia do Pará 25.175 15 0,6 0 -
Subtotal - 139.955 199 1,4 0 8
FONTE: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)/DATASUS, Ministério da Saúde, agosto de 2006.
(*) Total inclui número de leitos clínicos, cirúrgicos e complementares, inclusive UTI
(**) Parâmetro do MS: 2,5 a 3,0 leitos por 1.000 habitantes.
(***) Existem quatro leitos de UTI adulto e um leito de UTI Neonatal cadastrados em unidades “Não SUS” de Paragominas.
(****) Segundo a Portaria do MS, nº 1.101 de 2002, estima-se, em média, a necessidade de leitos de UTI para uma proporção de 4 a 10% do total de leitos hospitalares.

TABELA 16 - Distribuição dos postos de trabalho em estabelecimentos de saúde, segundo nível de escolaridade – 2005.
Nível de escolaridade Paragominas Aurora do Pará Ipixuna do Pará Ulianópolis Tomé-Açu
Nível superior 95 20 26 34 46
(%) 29,6 14,9 13,3 25,0 15,4
Nível técnico e auxiliar 117 17 47 37 74
(%) 36,4 12,7 24,1 27,2 24,8
Nível elementar 53 69 80 33 108
(%) 16,5 51,5 41,0 24,3 36,2
Nível administrativo 56 28 42 32 70
(%) 17,4 20,9 21,5 23,5 23,5
Total 321 134 195 136 298
(%) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
FONTE: Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária (IBGE, 2005).

TABELA 17 - Postos de trabalho em estabelecimentos de saúde, segundo nível de escolaridade e categorias ocupacionais – 2005
Ocupações / nível de escolaridade Paragominas Aurora do Pará Ipixuna do Pará Ulianópolis Tomé-Açu
Médico(a) 54 11 13 20 26
Enfermeiro(a) 20 6 8 4 7
Cirurgião dentista 5 1 1 3 5
Fisioterapeuta 5 0 1 1 0
Bioquímico / farmacêutico 10 1 1 3 3
Outros de nível superior 1 1 2 3 5
Subtotal - nível superior (A) 95 20 26 34 46
Técnico de enfermagem 31 6 17 2 50
Técnico em radiologia 5 0 0 2 3
Técnico de laboratório 6 1 2 1 1
Auxiliar de enfermagem 61 8 12 26 9
Auxiliar de laboratório 10 1 5 3 6
Outros de nível técnico e auxiliar 4 1 11 3 5
Subtotal - nível técnico e auxiliar (B) 117 17 47 37 74
Agentes comunitários de saúde 50 64 71 29 108
Agente de saúde pública 3 0 7 0 0
Outros de nível elementar 0 5 2 4 0
Subtotal - nível elementar (C) 53 69 80 33 108
Total (A+B+C) 321 134 195 136 298
FONTE: Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária (IBGE, 2005).

ELABORAÇÃO DAS TABELAS 15 a 17: Os autores (2007).

212
• Dengue exuberantes em 95% das vezes. As altas taxas de nicípios a partir do ano de 2004, e revela-se o
A ocorrência de casos confirmados de Den- casos confirmados relacionam-se com as condi- investimento dos gestores na implementação do
gue relaciona-se com a picada do mosquito Ae- ções ambientais propícias, e com insuficientes Programa Saúde da Família, conforme Mapa de
des aegypti (vetor) infectado com o vírus de Den- ações de controle vetorial. Demonstra-se na Ta- Casos de Dengue.
gue que cursa com quadro agudo com sintomas bela 18 a redução de casos de Dengue nos mu-

perfil socioeconômico

TABELA 18 - Dengue, segundo os municípios – 2000 a 2005.


Município 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Aurora do Pará 0 1 74 9 20 17
Ipixuna do Pará 1 5 80 44 61 19
Paragominas 3 95 267 137 6 73
Tomé-Açu 0 3 7 15 4 10
Ulianópolis 31 0 53 43 80 79
FONTE: SESPA/SINAN
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

213
• Malária nejamento e ações integradas de controle, asso- 2003 e 2004 coincidem com a etapa de acelerada
A ocorrência de casos novos de Malária é re- ciando educação em saúde e medidas antiveto- degradação do meio ambiente sofrida na área de
sultado de migrações internas, assentamentos riais seletivas. As notificações dos casos novos de estudo. Neste particular, ver Mapa de Casos de
rurais, atividades extrativistas e deficientes pla- Malária em Paragominas e Ipixuna do Pará entre Malária.
perfil socioeconômico

TABELA 19 – Casos novos de malária, segundo os municípios – 2003 a 2005.


Município 2003 2004 2005
Aurora do Pará 4 3 22
Ipixuna do Pará 20 72 4
Paragominas 303 192 42
Tomé-Açu 1 4 0
Ulianópolis 46 17 9
FONTE: SESPA/SIVEP_Malária
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

214
• Tuberculose do agente bacteriano-bacilo Mycobacterium tuber- tanto na cobertura vacinal como no diagnóstico
A ocorrência de casos novos confirmados de culosis e a manutenção da incidência no mesmo e/ou no tratamento de sintomas respiratórios. A
todas as formas de Tuberculose na população patamar é um elemento revelador de baixos ní- seguir, apresentamos a série histórica de casos
residente nos municípios em estudo indica a veis de desenvolvimento socioeconômico, bem novos de 2000 a 2005, como se demonstra no
persistência de fatores favoráveis à propagação como de condições assistenciais insatisfatórias Mapa de Casos de Tuberculose.

perfil socioeconômico

TABELA 20 – Notificação de tuberculose – 2000 a 2005.


Município 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Aurora do Pará 0 5 4 9 3 6
Ipixuna do Pará 0 10 9 4 7 14
Paragominas 36 44 40 40 40 34
Tomé-Açu 10 17 18 35 23 23
Ulianópolis 1 2 12 4 3 8
FONTE: SESPA/SINAN
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

215
perfil socioeconômico

• Hanseníase exposição ao bacilo Mycobacterium leprae. Conside- estimar que há falhas no acompanhamento de ca-
É sabido da dificuldade do diagnóstico preco- rou-se que tais estatísticas associam-se aos baixos sos, indicando deficiência operacional da gestão
ce da Hanseníase devido aos sinais e sintomas se níveis de desenvolvimento socioeconômico e à local de saúde, conforme a Tabela 21 e o Mapa de
apresentarem sem especificidade, e ainda por se assistência insatisfatória para o diagnóstico precoce Casos de Hanseníase.
configurar um longo período de incubação após a da doença. Para o tratamento padronizado, deve-se

TABELA 21 – Casos notificados de hanseníase – 2000 a 2005.


Município 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Aurora do Pará 0 6 8 15 9 13
Ipixuna do Pará 0 21 21 40 31 34
Paragominas 198 218 267 230 228 155
Tomé-Açu 3 24 61 92 107 75
Ulianópolis 24 85 62 40 34 40
FONTE: SESPA/SINAN
ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

216
RECOMENDAÇÕES complexo enfrentamento. Recentemente, um cobertura assistencial em conjunto com a já li-
fator impactante na gestão do SUS no Estado mitada rede de equipamentos rurais e urbanos.
1. No século XXI, o símbolo da esperança reclama do Pará foi a desatenção ao Pacto Federativo do Esta prática não dialoga com a democratização
por estratégias programáticas que, mesmo com SUS - 2006, rechaçado que foi pelo governo dos serviços de saúde.
limitações financeiras e operacionais, tenham estadual em 2006, levando, por conseguinte, 6. Os Conselhos Municipais de Saúde com in-
como premissa à saúde pública uma política distri- diversos municípios a adotar a mesma linha de cumbência relacionada diretamente à Vigi-
butiva na essência, como um investimento loco- decisão, amargando, em seguida, a baixa arreca- lância em Saúde, tarefa que não pode, em ne-
regional. Dispomos, hoje, de grandes avanços dação financeira e o impedimento de captar re- nhuma hipótese, ser ignorada na capacidade de
tecnológicos em várias áreas do conhecimento, cursos para a assistência dos entes. Urge a reade- desempenho dos conselheiros, representantes
proporcionando, cada vez mais, a ampliação da quação das metas e a pactuação local do SUS. dos usuários, devem atuar mediante os argu-
longevidade da raça humana. A idade transfor- 4. A saúde pública e o meio ambiente são intima- mentos pautados em diagnósticos situacionais,
mou-se em mais um dos fatores de risco de a mente influenciados pelo modo de ocupação do demonstrados pelas bases de dados oficiais, ob-
população conviver com a desigualdade. Pode- território. O uso de tecnologias da informação servando a premissa do compartilhamento da
se dizer que um gestor responsável será reco- para a análise de dados como a localização e a dis- gestão participativa. Intensificar o controle so-
nhecido pelas providências que direcionar para tribuição espacial das doenças vem sendo valo- cial revitalizando os conselhos, implementando
o envelhecimento saudável. O índice de hoje rizado na gestão do SUS devido a proporcionar outros modos de participação que venham ao
é motivo suficiente para a adoção de medidas novos subsídios para o planejamento e avaliação encontro das atribuições que cabem aos con-
que garantam a melhoria da qualidade de vida das ações, baseados em aspectos prioritários, de selhos: formular estratégias para a política de
em respeito ao envelhecimento populacional e forma a discutir medidas preventivas, de caráter saúde – inclusive nos aspectos econômicos e
à dignidade imediata aos já idosos nesses muni- assistencial, ambiental ou educativo. O conhe- financeiros do município; controlar a execução
cípios. Do contrário, se continuará apontando cimento das condições de vida e de saúde de da política municipal de saúde – inclusive nos
para determinantes de desigualdades, tanto na uma população pode ser freqüentemente bene- aspectos econômicos e financeiros; apreciar a

perfil socioeconômico
área de estudo quanto na Amazônia como um ficiado por um sistema de informações geográ- proposta orçamentária do sistema municipal de
todo, oferecendo a desesperança de vencer no ficas com os recursos de georreferenciamento, saúde conforme ao plano de saúde; fiscalizar a
campo das disputas – a cidadania. hoje considerado uma etapa indispensável do conta especial na qual se devem recolher os re-
2. É impreterível o uso de ferramentas de plane- processo de planejamento da oferta de serviços cursos financeiros do SUS e, assim, participar
jamento estratégico situacional com base nos e da avaliação do impacto das ações de saúde ora na formulação da política de saneamento bási-
indicadores epidemiológicos contextualizados implementadas. co e da elaboração e da atualização periódica do
e de sanidade econômico-ambiental, a fim de 5. Registra-se ainda, na área de estudo, a dificul- plano municipal de saúde.
desencadear a formulação de novos sinais no dade de fixação de trabalhadores da saúde, prin- 7. Para dar conseqüência à coesão social, a explo-
enfrentamento dos limites impostos à análise cipalmente médicos, apesar de o número de ração econômica dos recursos naturais, patrimô-
das políticas sociais e nas ações de promoção de empregos públicos em saúde ser considerado nio amazônida, em nome do desenvolvimento e
saúde na área analisada. numericamente compatível com a população crescimento dos municípios em questão, carece
3. Os mais variados agravos à saúde observados residente. Justifica-se que as condições de vida de permanentes estudos de impacto epidêmico-
nos municípios paraenses resultam da correla- não são atraentes na área, e reclama-se da falta de ambiental. A integração das cidades em consórcios
ção dos fatores socioeconômicos e de falhas na serviços de apoio ao diagnóstico. As vagas per- municipais, investindo em ações de prevenção
tomada de decisão e execução de ações na gestão manecem desocupadas por longos períodos du- intersetorial e de forma transversal, inauguraria
do SUS. As condições da saúde humana com a rante o ano, apesar dos altos salários ofertados. a perspectiva de formular uma nova cultura na
qual a população dos municípios de Aurora do Os gestores, por outro lado, impotentes diante construção da responsabilidade epidemiológico-
Pará, Ipixuna do Pará, Paragominas, Ulianópolis do fato, aceitam que os profissionais exerçam sanitária. Recoloca-se, para esta década, a reorga-
e Tomé-Açu convivem, e que ora foram anali- suas atividades com permanência no município nização das políticas públicas e a ruptura com os
sadas, refletem as questões estruturais ditas de por parte de dias do mês, fato que restringe a modelos ultrapassados de gestão.

217
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS RELIGIÕES
distribuição espacial das religiões
Marcos Alexandre Pimentel da Silva
perfil socioeconômico

E
sta parte do Atlas reúne, sin- dos missionários, embora [estes] pudessem ter as centros espíritas etc. (ver mapas de Uso do Solo
teticamente, elementos ob- melhores intenções, contribuiu para a destribali- das Áreas Urbanas).
tidos nas investigações rea- zação e o massacre, sobretudo na medida em que Quando relacionamos a disposição dos con-
lizadas sobre a distribuição espacial dos os preadores de índios procuravam as ficções da juntos urbanos em que tais prédios estão assenta-
credos, isto é, da religião, nos municípios ‘guerra justa’ e do ‘resgate’ para escravizar o maior dos, percebemos uma forte relação com o plano
de Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, Pa- número possível” (Maués, 1999, p. 87). da região, mais precisamente com os contextos de
ragominas, Tomé-Açu e Ulianópolis. Tais O segundo elemento corresponde, também, ocupação da Amazônia. Observamos, assim, que a
investigações foram feitas a partir da con- a uma forma de exclusão, representada pela Vi- distribuição espacial daqueles objetos se liga, em
sideração de aspectos relacionados à for- sitação do Santo Ofício da Inquisição ao Pará no muito, à forma de urbanização processada na re-
mação e à produção do espaço regional e período de 1763 a 1769. Como conseqüência dis- gião, uma vez que nesta, conforme assinala Becker
dos referidos municípios. A apresentação so, fora criada a Companhia Geral do Comércio (1990), os núcleos urbanos passam a se apresen-
do presente texto, assim sendo, visa a um do Grão Pará e Maranhão, fora introduzido um tar como fatores de atração de fluxos migratórios,
objetivo principal: identificar e discutir número maior de escravos negros e, além disso, como base de organização do mercado de trabalho
as religiões existentes nos municípios em teve início uma ampla devassa na situação moral e lócus da ação político-ideológica não apenas do
questão, com ênfase à formação e produ- (Maués, 1999). Estado, como de outros setores da sociedade civil
ção de cidades. A metodologia empregada A partir da análise destes dois elementos, con- organizada – tais como as instituições religiosas.
constou, basicamente, de revisão de lite- clui-se que, de maneira contraditória, a intensidade Neste processo, a urbanização atua como elemento
ratura sobre o tema e a área de estudo, e com que as duas formas de exclusão se processa- organizador do povoamento (Machado, 1999), que
de sistematização e interpretação de variá- ram veio demonstrar, inversamente, “[...] o quanto passa a se organizar em função de padrões de ocupa-
veis censitárias – população e religião. prosseguia viva uma voz subterrânea, popular, sin- ção distintos, como os que são destacados por Gon-
crética, que representava a formação da voz nativa çalves (2001): “rio–várzea–floresta” e “estrada–terra-
A RELIGIÃO E SEU PAPEL das Amazônias, em contato com o processo rápido firme–subsolo”. Não sem razão, elementos históricos
NO CONTEXTO REGIONAL DE e violento da conquista e colonização portuguesas” e geográficos desses períodos estão presentes nos mu-
OCUPAÇÃO URBANA DA (Maués, 1999, p.88). Desse modo, não podemos nicípios, em diferentes intensidades, logicamente (ver
AMAZÔNIA pensar a religião e sua relação com as “Amazônias”, Área de Estudo e Formação Histórica).
e muito menos identificar as religiões presentes Desta forma, desenvolveu-se uma geografia
Quando se procura discutir a região na área de estudo, sem levar em consideração, por distinta das práticas religiosas, definida, em um
amazônica nos dias de hoje, o atributo um lado, a negação histórica das práticas religio- primeiro momento, pela inserção das religiões no
da multiplicidade parece ser um aspecto sas nativas e daquelas relativas às populações ne- contexto histórico de ocupação direcionado para os
central de sua formação e constituição, gras trazidas como escravos, e, por outro, o cres- municípios em questão, processo este relacionado
seja de um ponto de vista geográfico, cimento subterrâneo e clandestino de tais práticas. aos padrões regionais acima mencionados. Em um
histórico ou histórico-geográfico. Neste Entretanto, quando inserimos uma outra variável segundo momento, ela é definida por sua compo-
sentido, a religião, isto é, a diversidade na discussão, qual seja, a urbanização, o que per- sição atual, a qual não deixa de expressar as dife-
de práticas religiosas em um sentido mais cebemos é que esta assume significados diversos, rentes formas e períodos históricos de ocupação
amplo, apresenta-se como um dos aspec- e a distribuição das religiões herdadas do período da área de estudo, mas se distingue deste aspecto
tos constituintes da diversidade cultural colonial, junto às mais contemporâneas, acaba por por se referir à distribuição e organização das prá-
do amazônida, como muito bem expres- acompanhar a dinâmica de urbanização definida ticas religiosas através dos objetos espaciais a elas
sou Maués (2001). Com efeito, dois as- na região. relacionados, sobretudo os que se fazem presentes
pectos relativos ao processo histórico de nas sedes municipais – onde se encontram casas
ocupação da região e à questão da religião DISTRIBUIÇÃO DAS RELIGIÕES paroquiais, centros religiosos de formação, igrejas
merecem destaque. e templos diversos.
O primeiro diz respeito ao massacre Para discutirmos a distribuição das religiões na O Catolicismo aparece, em todos os municí-
e à destribalização de inúmeros grupos área de estudo, torna-se importante considerar o pios, como o credo de maior adesão (ver Mapa de
indígenas no processo de ocupação da processo de urbanização colocado no plano da re- Distribuição das Religiões). Contudo, observamos
Amazônia. Como advertiu Maués (1999), gião (economia política da urbanização) e no plano que em Paragominas e Tomé-Açu a religião cató-
um primeiro elemento importante a ser intra-urbano (economia política da cidade), à ma- lica vem diminuindo sua participação em termos
levado em conta no processo histórico neira como propõe Santos (1994). Desse modo, é percentuais, embora ainda se mantenha como o
de formação da região é a possibilidade preciso considerar dois aspectos inter-relacionados. credo de maior adesão (ver Tabela 1). Paragomi-
de se pensar no interesse, por parte da De um lado, tem-se o processo de urbanização da nas e Tomé-Açu, neste sentido, apresentaram uma
mentalidade colonialista, de desqualificar sociedade e do território na Amazônia, e não ape- considerável diminuição na participação de cató-
a presença indígena por meio da noção nas a urbanização da população. De outro, tem-se licos, pois, nos dados censitários relativos à déca-
errônea de “vazio demográfico”, aquan- a organização interna das cidades, a qual parece se da de 1970, a religião Católica Apostólica Romana
do da ocupação da Amazônia pelos pri- traduzir melhor nas sedes municipais, pois, de for- aparecia com 91,85% em Paragominas e 81,62 em
meiros europeus – o que se traduziu na ma geral, o exercício das práticas religiosas (mis- Tomé-Açu, caindo para 90,62% e 86,50% em 1980,
história de ocupação regional não apenas sas, cultos, reuniões, estudos de formação e cele- para 84,94% e 80,19% em 1990, e apresentando o
pela exclusão ideológica, mas, também, brações diversas) depende de uma base material, maior decréscimo em 2000, quando aparece com
pelo massacre e destribalização das popu- de uma espacialidade, a exemplo do conjunto de 67,36% e 62,82%, respectivamente (ver Gráficos
lações indígenas. Como pondera aquele prédios e instituições destinados à realização deste 1A e 1B). Nesse processo, chama atenção a acen-
autor, “ninguém desconhece que o papel exercício – igrejas, templos, terreiros de umbanda, tuada diminuição nos percentuais desta religião

218
TABELA 1 – Distribuição das Religiões por Município
RELIGIÃO
MUNICÍPIOS Católica Total
Umbanda Religiões Outras reli- Sem reli- Não deter-
Apostólica Evangélicas Espírita Judaica
Candomblé orientais giosidades gião minadas
romana
14 602 2 858 - - - - - 2 161 41 19 662
Aurora do Pará
74% 15% - - - - - 11% 0% 10,50%
19 273 3 891 - - - - - 1 732 13 24 909
Ipixuna do Pará
77% 16% - - - - - 7% 0,05% 13,30%
51 478 15 806 145 26 - - 273 8 694 76 422
Paragominas
68% 21% 0,19% 0,03% - - 0,36% 11% 40,81%
29 550 10 860 - - - 230 149 6 177 72 47 038
Tomé-Açu
64% 23% - - - 0,49% 0,32% 13% 0,15% 25,12%
13 182 2 761 - 5 - 3 91 3 189 12 19 243
Ulianópolis
69% 14% - 0,03% - 0,02% 0,47% 17% 0,06% 10,28%
128 088 36 177 145 31 233 513 21 953 138 187 275
TOTAL
68,40 19,32 0,08 0,02 0,00 0,12 0,27 11,72 0,07
FONTE: Censo IBGE (2000).
ELABORAÇÃO: Os autores (2006).

relativa ao período intercensitário que se estende mais diversificada dos credos religiosos, seguido ficou prejudicada na presente análise em virtude
entre os anos de 1990 a 2000, sendo que tal re- dos municípios de Tomé-Açu e Ulianópolis. Esta da insuficiência de dados, pois, mesmo no conjun-
alidade pode ser explicada pelo próprio contexto diversificação, por sua vez, reflete um aspecto im- to das variáveis censitárias do IBGE (2000), estas
de ocupação recente pelo qual vêm passando estes portante da urbanização, isto é, a concentração da práticas aparecem em número muito reduzido, o
municípios. população nas áreas urbanas que correspondem às que reflete, logicamente, o seu pouco número de
As religiões evangélicas, como era de se esperar, sedes municipais, daí explicar-se que a distribuição adeptos. Por isto, pode-se dizer que, neste caso, tra-
apresentam-se fragmentadas em igrejas diversas, e a concentração das religiões é um elemento que ta-se de uma geografia das religiões na qual há dois
que detêm de forma desigual os crentes dos mu- expressa a forma (histórico-geográfica) como se credos majoritários – religiões católica e evangélicas
nicípios (ver Gráficos 2A, 2B, 2C e 2D). O cresci- processou a produção e a organização urbana dos –, e outros credos minoritários (espírita, umbanda
mento das religiões evangélicas – cujo percentual municípios em questão. Quando consideramos a e, também, os cultos orientais), porém não menos
para a área de estudo como um todo é de 19,32% distribuição espacial das religiões e credos, mate- importantes, porque explicam o sincretismo e a di-
–, evidenciado pelos casos de Paragominas e To- rializadas na distribuição de instituições, igrejas, versidade religiosa que existem na área de estudo
mé-Açu, encontra-se relacionado a dois aspectos centros, terreiros etc., é possível observar o refor- como resultado dos processos histórico-geográficos
importantes:

perfil socioeconômico
ço à concentração das práticas religiosas nas sedes e culturais de ocupação e formação territorial.
• De um lado, tem-se como fator mais evidente municipais, dado o número de estabelecimentos
o aumento da participação das religiões evangélicas que aí se encontram (ver Mapa de Distribuição À GUISA DE CONCLUSÃO
na composição dos credos da população residente dos Credos Religiosos), muito embora haja uma
nos municípios de Paragominas e de Tomé-Açu, relativa ocorrência nos povoados e nas áreas rurais O trabalho proposto buscou identificar as re-
que era de 6,30% e de 10,88% em 1970, passando sem aglomeração – o que não pôde ser cartografa- ligiões existentes nos 5 (cinco) municípios em
para 6,42% e 10,01% em 1980, alcançando os valo- do em virtude dos poucos dados disponíveis. questão, os quais compõem uma geografia extre-
res de 10,58% e de 15,22% em 1990 e aumentando No conjunto da área, Aurora do Pará e Ipixuna mamente relacionada à formação e produção do
de forma expressiva sua participação para 20,68% do Pará são os únicos municípios que mantêm um espaço intra-urbano de suas cidades. Em função
e 23,09% em 2000, respectivamente (ver Gráficos percentual de católicos acima de 70%, o que se deve disso, é possível destacar, como conclusões, os se-
1 e 2). No caso de Tomé-Açu, deve-se conside- ao fato de que, ali, a penetração efetiva do Catolicis- guintes pontos:
rar, ainda, a participação das religiões orientais em mo ocorreu há mais tempo, ainda nos séculos XVIII • No processo de urbanização colocado para a
função da colonização japonesa que se dirigiu para e XIX, por meio do rio Capim. Por outro lado, tanto área de estudo, a concentração urbana nas sedes
este município desde 1929, embora este dado apa- nestes municípios quanto nos demais, a participa- municipais parece ser reforçada pela distribuição
reça nas estatísticas apenas a partir do Censo de ção e o predomínio dos católicos foram reforçados espacial das religiões e práticas religiosas, tendo em
1980, e sempre com índices pouco expressivos; com a migração verificada a partir da década de vista a localização dos espaços destinados ao exer-
• De outro, a consolidação dos eixos rodovi- 1960, uma vez que a maioria da população que che- cício das práticas religiosas identificadas, fato este
ários (BR-010, PA-125, PA-140, PA-252, PA-256 gou desde então, e que proveio em grande parte da materializado nas localizações de sedes de congre-
e PA-150) na dinâmica de ocupação da área de Região Nordeste do Brasil, professava, igualmente, gação, paróquias, centros, terreiros etc. nas sedes
estudo a partir da década de 1980 contribuiu, so- a religião Católica Apostólica Romana. Destaca-se, municipais. Neste contexto, a maior complexidade
bremaneira, para acelerar o ritmo de urbanização ainda, o quanto a religião foi um elemento impor- da questão da religião foi verificada para o muni-
e a entrada de novos credos nesta área. Merece tante na ocupação territorial, sendo que cada vila ou cípio de Paragominas, fato também reforçado pelo
destaque o surgimento dos novos municípios, ou povoado foi se estruturando, em maior ou menor predomínio de população urbana.
seja, Aurora do Pará, Ipixuna do Pará e Ulianópo- medida, ao redor do prédio da igreja. • O urbano e a urbanização acabam por atua-
lis, para onde tanto a população quanto a expansão Nos municípios de Paragominas, Ulianópolis e rem, também, como organizadores da distribuição
dos novos credos ligados às religiões evangélicas Tomé-Açu, conforme visto na Tabela 1, é possível espacial das religiões, pois não podemos pensar
passaram a se direcionar. observar a presença de outras práticas religiosas, as a concretização desse último elemento sem uma
No que diz respeito à composição atual das quais, a exemplo da Umbanda e do Candomblé, base material – a cidade. Aqui, a distribuição socio-
religiões na área de estudo, observa-se, apesar da remontam às vozes subterrâneas de um sincretis- espacial das religiões é resultado, em grande parte,
dominância de católicos, uma diversidade de re- mo religioso milenar na Amazônia, ao qual Maués da dinâmica urbana colocada para os municípios
ligiões, conforme os dados fornecidos pelo IBGE (1999) já havia se referido, e que se manifestou na analisados. E, neste aspecto, podemos considerar
(2000) (ver Tabela 1). Neste sentido, o município área de estudo a partir das dinâmicas de ocupação ser a religião um elemento formador não apenas
de Paragominas, cuja população urbana em 2000 do território verificadas com o advento do rodo- da diversidade regional, mas também do urbano
era da ordem de 78,43%, apresenta a distribuição viarismo. Contudo, a discussão sobre estes credos em sua multiplicidade.

219
Com base nestes dois aspectos, torna-se per- drões de vida, valores) colocada para a área em vida urbana das Amazônias de Maués (1999),
tinente destacarmos, à guisa de conclusão, a im- questão, pois, quando se pensa em Amazônias, não podemos deixar de considerar a relação en-
portância deste fenômeno para a composição conforme já demonstrara Maués (2001), não tre a religião e sua distribuição espacial por meio
não apenas da urbanização da população (po- podemos esquecer da religião como um aspec- da urbanização, para a qual aquele elemento se
perfil socioeconômico

pulação) e do território (sistema de objetos), to da diversidade cultural na região. Além disso, coloca como produto e condição da pluralidade
mas da urbanização da sociedade (modos e pa- acrescentaríamos, quando se procura pensar na da vida urbana (Lefebvre, 2000).

GRÁFICO 1 – Crescimento das Religiões Católica e Evangélicas entre 1970 e 2000 – Tomé-Açu (A) e Paragominas (B).

GRÁFICO 2 – Número de adeptos das Religiões Evangélicas: das Missões (A), Pentecostais (B), sem vínculo institucional (C), outras Igrejas (D)

220
continuação do GRÁFICO 2

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 1 e 2: O autor (2006), com base em Censo IBGE - 2000.

perfil socioeconômico

221
222
RECURSOS NATURAIS:
ASPECTOS DE USO
E MANEJO

223
CAÇA E USO DA FAUNA
caça e uso da fauna
Rossano Marchetti Ramos • Juarez Carlos Brito Pezzutti
perfil socioeconômico

Nívia Aparecida Silva do Carmo

INTRODUÇÃO Avaliando o efeito da caça na comunidade ani- com seu ambiente (Smith e Wishnie, 2000; Cunha
mal, Redford (1992) chegou ao valor de cerca de e Almeida, 2001). Há condições em que o uso de

M
anter a qualidade e saúde 80% para a diminuição da densidade de mamíferos. recursos se torna sustentável, quer por adaptações a
dos ambientes altamente A diminuição direta da densidade dos animais utili- seu ambiente e estratégias de uso que conservem o
biodiversos da Amazônia zados na alimentação leva, por conseqüência, a ou- recurso (Vickers, 1988; Moram, 1990; Gadgil et al.,
é um desafio tanto acadêmico quanto tras alterações indiretas no ecossistema. Por exem- 1993), quer pela produtividade maior que o consu-
da agenda de políticas públicas que tra- plo, o consumo de animais que servem de presa a mo de algumas espécies em alguns sistemas natu-
tam do desenvolvimento e da proteção predadores e carniceiros reduz a disponibilidade de rais (Alvard et al., 1996; Bodmer e Penn Jr., 1997).
ambiental. Questiona-se, entre outras coi- alimento a estes animais, resultando na diminuição A caça é uma atividade extrativista intensiva-
sas, nestas arenas de debates, a capacidade da densidade destes consumidores (Redford, 1992). mente empregada pelas diversas e heterogêneas po-
que as populações rurais, com suas diver- Muitas das espécies mais consumidas representam pulações rurais que habitam a Amazônia, mesmo
sas origens e também seus igualmente di- papéis importantes nos mecanismos de manutenção em áreas urbanas, sendo responsável por uma pro-
versos graus de inserção na economia mais da diversidade e na estruturação da paisagem, tais dução importante de sua dieta protéica (Redford,
ampla, têm de conseguir adequadamente como dispersão, herbivoria e predação (Redford, 1992). A dependência da caça varia com uma série
manejar seu ambiente buscando produzir 1992; Nirzo e Miranda, 1990). Além de diminuir a de fatores, como produtividade ambiental, oferta
seu sustento sem comprometer os pro- densidade, a biomassa e de comprometer processos de fontes alternativas como peixe, atividade eco-
cessos ecológicos essenciais que mantêm naturais, a caça, por ser seletiva, modifica a com- nômica principal, acesso a mercado, dentre outros
a biota e a estrutura dos ecossistemas em posição da comunidade animal (Cullen Jr., 1997; fatores. Em estudo realizado em três comunida-
que suas atividades se inserem. Cullen Jr. et al., 2000; Redford, 1992) e exerce uma des de Marajó, a contribuição protéica dos itens
Dentro da esfera de debate acadêmi- competição direta com os predadores. alimentares obtidos a partir das atividades de caça
co pode-se, grosso modo, distinguir duas Apoiando-se em dados como estes, os grupos variou entre 17% e 0,5% (Siqueira et al., 2000).
posições antagônicas: a que vê estes atores mais preservacionistas propõem a retirada dos mo- Esta atividade tende a ser mais importante entre
sociais como parte integrante dos ecossis- radores das áreas protegidas e proibições das ativi- os moradores de áreas de terra firme, se compara-
temas e, portanto, indissociáveis destes; e dades extrativistas e de manejo desenvolvidas em dos aos ribeirinhos. Na Floresta Estadual de Anti-
outra que enxerga nestes mesmos atores áreas de relevante interesse ecológico, chegando mari, Estado do Acre, por exemplo, os ribeirinhos
fontes de impactos irreversíveis. Esta dis- a condenar as Unidades de Conservação de uso têm animais de caça presentes em cerca de 18%
cussão, e nisso ela se polariza ainda mais, direto previstas no SNUC (Galetti, 2001). Isto se das refeições, enquanto para os não-ribeirinhos,
é permeada de posições de naturezas ideo- choca com a proposta de criação de áreas prote- moradores de áreas de terra firme, esta fonte está
lógicas tão distintas quanto o direito dessas gidas com a finalidade de proteger das frentes de presente em 48% das refeições. Sua importância,
populações rurais ao ambiente em que se expansão econômica os grupos sociais rurais di- embora muito variável, é inegável às economias
encontram e a necessidade de manutenção versos mais estreitamente vinculados ao uso dire- da Amazônia rural e à segurança alimentar destas
da estrutura dos ecossistemas, dos proces- to da floresta e demais fisionomias de vegetação. pessoas.
sos ecológicos e da diversidade biológica. A manutenção destes grupos sociais, a garantia de Nesse contexto, o conhecimento ecológico
Em relação aos impactos negativos reprodução de sua cultura material e simbólica, tradicional (traditional ecological knowledge) possui
das atividades de caça, assunto principal juntamente com o conjunto de atividades ligadas um papel importante na capacidade que dife-
desta pesquisa, alguns autores relatam à produção do seu sustento, podem representar rentes grupos sociais têm de regulamentar suas
os prejuízos ambientais causados por uma estratégia de conservação dos remanescentes formas de uso de recursos naturais e suas práti-
populações humanas (e.g.: Galetti, 2000; de floresta na Amazônia brasileira, conduzindo a cas de manejo (Berkes, 1999). Um outro aspecto
Terborgh, 2000). Em decorrência disso, resultados tão positivos quanto os das estratégias que tem atraído a atenção dos estudos nesta área
argumentam que a preservação integral de proteção integral (Nepstad et al., 2006). e que contribui substancialmente com a capaci-
da fauna e flora de uma região só é pos- Há grupos sociais vivendo em estreita ligação dade de gerenciamento dos recursos naturais de
sível sem a presença humana e defendem com os recursos naturais que, segundo alguns au- uso coletivo são as instâncias de gestão, como
a criação de unidades de conservação de tores, seriam conservacionistas guiados pela tradi- instituições e acordos locais. Estes aspectos, que
proteção integral para esta finalidade. Ale- ção, possuindo conhecimento dos ciclos naturais regulamentam as formas de utilização do recur-
gam que mesmo atividades extrativistas de e de técnicas adequadas de manejo que introdu- so, são, em muitos casos, suficientes na preven-
subsistência, como caça, pesca artesanal, ziriam alterações ambientais em intensidade re- ção da sobreexploração dos recursos manejados
extrativismo vegetal e plantio de coivara, duzida e dentro dos limites de resiliência destes comunitariamente, que Hardin (1968) denomi-
exercem pressão ambiental significativa ambientes, mantendo, portanto, estável o ambien- nou a “Tragédia dos comuns”.
e têm efeito danoso na diversidade e na te que ocupam ao longo dos anos (Begossi et. al, Contrapondo este paradoxo entre conservação
composição das espécies da área em que 2000; Begossi, 2001; Diegues, 1998). e desenvolvimento econômico, no caso das neces-
ocorrem. No caso mais específico do ex- A este debate vem se acrescentando abordagens sidades das comunidades rurais, há vários ótimos
trativismo animal, há uma série de traba- teóricas menos polarizadas, conciliando a conser- exemplos de sucessos nas intenções de conservar
lhos apontando para os efeitos da caça nas vação ambiental e o uso do ambiente, enfatizando a biodiversidade em que os moradores utilizam os
populações das espécies consumidas, sua a diversidade dos grupos sociais, dos sistemas na- recursos, participam ativamente das propostas de
densidade, biomassa e na própria compo- turais e das relações que se estabelecem entre esses manejo e controlam o acesso a eles (Begossi, 1998;
sição da comunidade de mamíferos (Nir- elementos. Propõe-se uma abordagem que consi- Begossi et al., 1999; Padoch et al. 1999; Berkes et al.,
zo e Miranda, 1990; Redford, 1992; Bo- dere essa diversidade, avaliando os casos específicos 1989; Fenny et al., 1990).
dmer e Penn Jr, 1997; Alvard et al., 1997; antes de generalizar se as populações humanas se A título de exemplo, na Reserva de Desenvol-
Cullen Jr. et al., 2000; Peres, 2000). relacionam de forma harmônica ou depredatória vimento Sustentável Mamirauá, foi criado um

224
sistema de zoneamento de lagos em que a pesca é mais diversos níveis (Redford et al., 2000; Brown 1990; Begossi, 1992, 2001; Smith e Wishnie, 2000;
manejada. Este sistema foi aprovado pelos mora- & Freitas, 2002). Cunha e Almeida, 2002).
dores em assembléias gerais e obedece à propos- Neste cenário, a percepção cuidadosa dos pro- Nesse sentido, buscando de forma rápida abor-
ta de zoneamento mais ampla descrita no Plano cessos ecológicos é estratégica na produção de dar este conhecimento e, ao mesmo tempo, pro-
de Manejo da Reserva, este também apoiado nas sistemas extrativistas que respeitem os limites de duzir informações das diferentes formas de uso
experiências anteriores à criação da RDS - Mami- estabilidade e resiliência do ambiente em que se de recursos faunísticos, das técnicas de obtenção
rauá. De um modo geral, este sistema divide os desenvolvem (RESILIENCE ALLIANCE, 2002). deste e ainda avaliar as relações observadas nes-
lagos em 2 categorias principais de uso: lagos de Este trabalho objetiva avaliar o uso de recur- ta dinâmica de uso pelos moradores adotou-se,
preservação, em que há a proibição de qualquer sos faunísticos, prioritariamente as atividades neste trabalho, o uso de diferentes metodologias,
atividade, e lagos de uso sustentável, onde a pesca de caça. O foco principal é nas formas de uso e centrando-se, contudo, no uso de questionários
é permitida, mas regulamentada (INSTITUTO obtenção contextualizadas à realidade socioeco- semi-estruturados aliados à observação direta das
MAMIRAUÁ, 2002). A regulamentação é feita nômica e paisagística das comunidades estudadas. atividades rotineiras. A fim de avaliar a pressão da
com ampla participação da população, que propõe Este diagnóstico de uso é amplamente alicerçado expansão urbana e agrícola sobre estas comunida-
regras de uso (e.g.: técnicas adequadas de pesca e na percepção dos recursos e do ambiente dos pró- des campesinas e as atividades extrativistas, utiliza-
pessoas que têm direito a pescar) por meio do que prios extrativistas, e nos conhecimentos associa- ram-se, também, entrevistas informais direciona-
foi chamado de “acordos de pesca” (McGrath et al., dos às técnicas de captura, aos animais e aos ciclos das a respeito do histórico de ocupação da região.
1999). Esta forma de controle do acesso aos recur- ambientais e econômicos em que estes são envol- O questionário principal contextualizou as
sos regulamenta o uso dos moradores e, pela ação vidos. Como esta avaliação se dará num contexto atividades de caça, procurando informações a
destes, de eventuais pescadores externos. antropizado, que corresponde ao chamado “Arco respeito de técnicas de caça normalmente uti-
De forma semelhante, Almeida e Franco (2000) do Deflorestamento”, sujeito a fortes pressões lizadas; espécies mais comuns, espécies mais
relatam como a caça com cachorros foi proibida demográficas e econômicas extremamente im- consumidas e preferências. Dependendo do grau
na Reserva Extrativista do Alto Juruá pelos pró- pactantes, como produção agrícola intensiva e de confiança com o entrevistado e de disponibili-
prios moradores. O uso de cachorro era visto pe- extração de madeira, um segundo objetivo surge: dade de tempo pela programação das viagens, fo-
los moradores como muito impactante. Além dis- relacionar estas atividades de uso de recursos às ram realizados outros questionários: recordação
so, a caça, por ser um bem de uso comum mas transformações que este cenário impõe aos gru- de atividade (ultima caça); recordação das duas
tendo o acesso diferenciado pela propriedade de pos extrativistas. últimas principais refeições (almoço e janta), e
cachorros “bons de caça”, que, em última análise, última refeição com caça.
está relacionada a poder econômico, porque estes METODOLOGIA Com o primeiro questionário, mais abrangen-
cachorros tinham alto preço, fazia com que alguns te, foram 98 entrevistados. Foram 53 entrevistas
moradores tendessem a monopolizar os animais Campanhas a respeito de recordação de última caçada, 67 re-
cinegéticos. Visando nivelar o acesso ao recurso a O trabalho de campo foi realizado em 3 via- cordações das últimas refeições e 38 recordações

perfil socioeconômico
todos, independentemente do poder aquisitivo, a gens, totalizando 33 dias, envolvendo alvos distin- da última refeição com caça. Esta repetição de in-
caça com cachorro foi proibida. tos no que se refere ao histórico de ocupação e à formações é útil, pois confere mais confiabilidade
As divisões de territórios de uso, mesmo que in- estruturação econômica dos grupos rurais de cada às informações, propiciando a comparação de in-
formais, derivadas de acordos locais, concedendo di- área. Procurou-se, também, além de avaliar formas formações de mesma natureza, porém obtidas
reitos e responsabilidades, regulamentam o acesso distintas de uso e ocupação do solo, focar princi- com diferentes metodologias. Deste total de ques-
aos recursos destes espaços, o que por si só aju- palmente o grau de desmatamento e/ou transfor- tionários aplicados, houve uma pré-seleção para
da a prevenir a sobreexploração dos recursos ali mação da vegetação, a variável mais importante, a elaboração das análises cujos resultados estão
existentes. Isto é bem documentado para algumas talvez, para explicar o regime de uso de recursos expostos a seguir.
comunidades pesqueiras (Begossi, 1995; Begossi, faunísticos, além, é lógico, da própria intensidade
2001; Begossi et al., 2000). de extração. O trabalho de campo foi pensado de RESULTADOS
Estes exemplos ilustram como as populações forma a entrevistar moradores envolvidos em di-
rurais, quando organizadas e tendo suas instâncias ferentes formas de uso de terra. Além de ribeiri- Caracterização geral da área de estudo
de decisão respeitadas, podem fiscalizar, criar regras nhos, foram entrevistados moradores de pequenos • Caracterização dos Moradores
e manejar os recursos com o objetivo de garantir núcleos urbanos, áreas de exploração de madeira/ Os moradores das áreas visitadas formam
seus direitos de acesso e uso dos recursos natu- carvoarias, fazendeiros e funcionários de fazendas, grupos extremamente diversos, tanto pelas ati-
rais e ainda assegurar sua conservação. Experiên- assentamentos rurais/áreas de invasão e pequenos vidades desenvolvidas, quanto pela origem, situa-
cias como estas apontam para a importância da produtores rurais. ção fundiária e grau de inserção econômica. A
organização comunitária como um aspecto chave fim de descrever esta diversidade das diferentes
para a manutenção dos estoques dos recursos na- Uso de questionários áreas estudadas em função das formas de uso do
turais renováveis utilizados e, mais amplamente, O conhecimento local e a percepção dos diver- ambiente, dependência do mercado, do grau de
para a manutenção dos ecossistemas como um sos grupos rurais – colonos, ribeirinhos, grupos in- inserção e tipo de ocupação econômica princi-
todo. Somando-se a este fato o grau de incerteza dígenas e remanescentes de quilombos – a respeito pal e dos conhecimentos relacionados aos ciclos
dos diagnósticos científicos e suas previsões em de seu ambiente, das entidades que compõem este ambientais, adotou-se a divisão em categorias
função da complexidade ambiental, a participação ambiente natural e dos ciclos naturais que envol- explicativas, a exemplo da estratégia utilizada
dos principais interessados parece ser a melhor vem estas entidades têm sido alvo de numerosos por Lima & Pozzobon (2005). Estas categorias,
estratégia para se contrapor ao risco (Funtowics estudos que, dentre outros objetivos, procuram embora simplifiquem demais as diversas formas
& Marchi, 2000). avaliar a capacidade destes grupos em aferir mu- de ocupação das áreas estudadas, seus processos
Há, portanto, de se procurar formas de compa- danças ambientais e regular, a partir desta avalia- históricos e as diferenças naturais, auxiliam no
tibilizar uso de recursos e conservação ambiental. ção, suas práticas econômicas mais intimamente desenho das análises que se seguirão.
Isso não significa que não se possa pensar a con- ligadas ao ambiente Estudos como estes têm de- A partir do que foi exposto, os moradores fo-
servação dissociada de ganhos sociais imediatos. monstrado que o conhecimento destas sociedades ram agrupados em categorias de colonos, ribeiri-
A criação de unidades de conservação de proteção campesinas a respeito do ambiente é extremamente nhos, moradores de pequenos povoados e vilas ou
integral é uma estratégia importante para a manu- útil na elaboração de estratégias de manejo dos de fazendas. Esta categorização se faz, também, a
tenção de fontes de diversidade biológica em seus recursos e de proteção dos ecossistemas (Hames, partir da apropriação das categorias utilizadas pelos

225
próprios moradores, embora a distinção entre os econômicas desenvolvidas e facilitam o acesso a urbanização e produção agropastoril em
grupos não seja sempre clara. bens de consumo industrializados ou produzidos grandes propriedades, conforme se apro-
As classes em que há maiores dificuldades de por terceiros. Alguns são quase que exclusivamen- xima da foz do rio;
clara divisão são as de colonos e ribeirinhos. Esta te pescadores e caçadores comerciais, vendendo na - Variado grau de manutenção da vege-
perfil socioeconômico

separação foi estabelecida porque, embora a forma própria comunidade ou por encomenda aos cen- tação nativa, com áreas próximas à foz
de utilização de recursos e as atividades econômi- tros urbanos maiores. apresentando muitas superfícies desma-
cas a que se dedicam sejam semelhantes – princi- Os funcionários e moradores das fazendas, de tadas e ocupadas por fazendas e núcle-
palmente a agricultura, caça e pesca –, a origem das forma semelhante aos moradores das vilas, apesar os urbanos, e áreas com uma proporção
pessoas que compõem as classes que estão sendo de utilizarem os recursos faunísticos existentes, alta de cobertura florestal remanescente,
aqui definidas e a situação fundiária são diferentes, apresentam menor dependência destes e também ocupadas por pequenos pequenas pro-
o que sugere diferenças quanto à forma de organi- menor conhecimento associado à sua obtenção e priedades rurais, colonos, ribeirinhos e
zação da economia da unidade doméstica. usos. Por serem funcionários assalariados, dedicam área indígena.
O que está sendo denominado como ribeirinho a maior parte do tempo às atividades pelas quais 4) Subárea da estrada Goianésia – Ulianópolis
é, em outros textos, também chamado de popu- são pagos e o extrativismo animal é uma atividade - Paragominas
lação tradicional, denominação esta que, apesar recreativa ou utilizada para uma diversificação e - O complexo de estradas cruza e envolve
de gozar de reconhecimento legal, é fortemente complementação da alimentação familiar. a maior área de mata remanescente contí-
questionada por estar relacionada a pressuposições nua da área de estudo;
que idealizam a relação destes com seu ambiente, • Uso e ocupação do solo e economia - Apresenta extrema variação nas formas de
apregoando que são conservacionistas guiados pela Esta região do Leste do Pará apresenta um grau ocupação e nos usos do espaço. Há povoa-
tradição de sugerir estagnação histórica e unifor- variado de urbanização e desmatamento (ver Espa- dos constituídos, pequenos produtores ru-
midade de origem (Cunha e Almeida, 2000). Em ço urbano e Indústria Madeireira). Mas é possível rais, assentamentos rurais do INCRA, áre-
geral são tidos como grupos de ocupação mais ou estabelecer diferenças entre as áreas e os seus mo- as invadidas por sem-terras. Há também,
menos antiga, que utilizam técnicas artesanais de radores, buscando-se generalizar as formas de uso por outro lado, uma atividade econômica
coleta com baixo impacto ambiental, de economia dos recursos faunísticos e sua importância para a importante, para os municípios mencio-
prioritariamente orientada ao consumo, na qual economia local, tanto comercial quanto para con- nados, de serrarias e carvoarias – estas dis-
se comercializa algum excedente (Diegues, 1998). sumo. Para tal, os aspectos mais importantes são: tribuídas majoritariamente em Goianésia e
Portanto, apresentariam baixo impacto ambien- grau de integridade da cobertura vegetal, ou, em em Ulianópolis - e grandes fazendas.
tal. No caso das regiões estudadas, são pequenos outras palavras, a proporção da vegetação nativa É conveniente, ainda, tecer alguns comentá-
agricultores que complementam o consumo com remanescente na região; as atividades econômicas rios a respeito da subárea compreendida pelo rio
extrativismo animal, principalmente caça e pesca. desenvolvidas na área e o tipo de ocupante, uti- Capim. Como foi mencionado, há uma ocupa-
O que justifica a separação entre ribeirinhos e lizando a classificação apresentada anteriormente. ção muito maior do Baixo Capim em relação ao
colonos é, principalmente, sua origem e a forma Foram definidas 4 subáreas, indicadas no Mapa de Alto. Além da densidade populacional com uma
como estes últimos obtêm a terra. Os colonos são, Contextualização dos Locais Pesquisados - Caça, maior presença de povoados e algumas vilas, o
na maior parte das vezes, migrantes que se insta- agrupando os entrevistados a fim de traçar seme- desmatamento responde de forma semelhante,
lam na terra por diversos processos: como pos- lhanças no que se refere à forma de utilização do distribuindo-se mais amplamente nas áreas do
seiros, a partir da compra de lotes ou através de espaço e da fauna silvestre. Baixo Capim.
assentamentos rurais pelos órgãos governamen- À montante, um dos motivos da baixa densida-
tais responsáveis. Muitos são oriundos de outras • Definição e caracterização das subáreas de populacional é a crescente apropriação de ter-
áreas rurais, “expulsos” pela expansão da frontei- 1) Subárea do rio Acará-Mirim ras por fazendeiros, processo que tem expulsado
ra agrícola, impulsionada na década de 1970 pelos - Paisagem muito fragmentada, com algu- os colonos e ribeirinhos para corte de madeira ou
projetos de ocupação da Amazônia movidos pelos mas pequenas manchas de mata; para especulação. A pecuária é a uma das atividades
governos militares (Uhl & Almeida, 1995) e pela - Atividades econômicas principais diver- principais desenvolvidas nestas fazendas, embora
abertura da rodovia Belém-Brasília. Outros, sificadas (pequenos produtores, trabalha- tenham perdido um pouco a importância, ao mes-
atraídos pelas oportunidades surgidas deste pro- dores nas fazendas, funcionários públicos, mo tempo em que houve incremento na extração
cesso. De qualquer forma, sua chegada é mais produtores de açaí); madeireira (Almeida & Uhl, 1995). Estas fazendas,
recente, seu conhecimento etno-ecológico ten- - Expressivo grau de urbanização, com nú- mesmo quando produtivas, absorvem reduzida
de a ser menos detalhado, pois foi formado em cleos urbanos relativamente acessíveis mão-de-obra por conta da mecanização. Neste
outra região. Ao mesmo tempo, a economia de por estradas ou mesmo pelo rio. Ocupa- novo cenário, portanto, há poucos benefícios para
suas unidades familiares é, preferencialmente, ção humana variada: colonos, povos in- a população local, que acaba por emigrar, por conta
orientada ao comércio. dígenas, ribeirinhos, fazendeiros, alguns de expansão da fronteira agrícola.
Como foi dito, embora estas categorias se con- vilarejos e até núcleos urbanos. Nesta expansão da fronteira econômica, há ex-
fundam e, em alguns casos, sejam difíceis de dis- 2) Subárea de Tomé-Açu pulsão dos moradores pela formação de latifúndios
tinguir em campo, dado o empobrecimento de boa - Alto grau de desmatamento, mas com (Lima & Pozzobon, 2005), pela chegada dos mi-
parte dos moradores, a descrição em categorias dis- fragmentos de mata relativamente próxi- grantes e pela instalação das madeireiras e carvoa-
tintas destas duas classes de moradores é útil, pois mos; rias. Disto resulta a maciça presença dos migrantes
ajuda a compor melhor a diversidade de formas de - Atividades econômicas diversificadas, com em toda a área de estudo e, no Alto Capim, um
uso e ocupação da área. destaque para os sistemas agroflorestais “esvaziamento” demográfico pelo fato de parce-
É importante ressaltar que, excetuando-se al- (SAF’s) e produção de pimenta-do-reino; la significativa das propriedades ser improdutiva,
gumas porções do Alto Capim, em Paragominas, - Zona rural ocupada, basicamente, por co- processo este mais recente.
há poucos moradores nascidos no local. Normal- lonos e fazendeiros. Fácil acesso aos cen- Esta nova forma de ocupação e a instalação de
mente, são migrantes trazidos pelos processos des- tros urbanos. fazendas têm grande efeito no aumento do desma-
critos acima. 3) Subárea do Rio Capim (gradiente entre alto tamento. Pequenos produtores, como ribeirinhos
Os moradores de vilas são também pequenos e baixo Capim) e colonos, também promovem o desmatamen-
proprietários, mas, por morarem em povoados. po- - Apresenta, de modo geral, um gradiente to, mas seu poder de transformação da paisagem
dem apresentar maior especialização das atividades de intensificação de desmatamento, de é menor, já que não contam com capital para

226
Usos da Fauna
• Caça, aspectos gerais
As atividades de caça nas áreas estu-
dadas têm importância variada, depen-
dendo, principalmente, do grau de ur-
banização e da integridade da mata nas
proximidades das áreas ocupadas, que,
de forma geral, se correlacionam. Sua
finalidade é, na maior parte das vezes,
o próprio consumo. Há, no entanto,
muitos caçadores que comercializam
os animais abatidos, embora localmente
os animais silvestres tenham preços de
venda inferiores ao da carne bovina. Há
também venda a moradores ou comer-
ciantes, donos de restaurantes ou frigo-
ríficos de núcleos urbanos maiores, que
muitas vezes já encomendam os ani-
mais. Os preços de venda nas comuni-
dades variam entre R$ 5,00 o quilo, para
os animais mais apreciados, como veado
(Mazama spp.), paca (Agouti paca) e tatu
(vários gêneros da família Dasypodidae),
Neste mapa, foi dada ênfase à cobertura vegetal das residências onde se realizaram as entrevistas. e R$ 3.00 o quilo, para capivara (Hydro-
FONTE: PRODES/INPE (2002) e DNIT.
chaeris hydrochaeris). Para efeito de comparação, a carne
de gado é vendida a cerca de R$ 7,00 o quilo.
contratação de mão-de-obra ou maquinários, e No que tange às principais fontes de renda Além da caça comercial praticada por alguns mo-
suas propriedades são reduzidas. Seu poder de al- empregadas, a agricultura familiar é a principal radores, há, ainda, a presença de caçadores comerciais
teração da cobertura florestal é pequeno em rela- ocupação (Gráfico 1). As demais fontes de renda e esportivos, vindos de núcleos urbanos, atuando em
ção ao dos fazendeiros, capazes de desmatar, em são relacionadas a atividades oferecidas pelos diversos pontos da área estudada. Este fato resulta,
poucos dias, áreas que representam, em tamanho, empreendimentos desenvolvidos localmente, algumas vezes, em conflitos, já que estes caçadores

perfil socioeconômico
vários lotes ocupados pelos pequenos agricultores. como mão-de-obra sazonal ou permanente nas fa- “de fora” contribuem ainda mais para o esgotamen-
Além de poderem empregar largamente mão-de- zendas e nas serrarias, ou renda dos aposentados ou to deste recurso. Eles abatem grande quantidade de
obra contratada para esta tarefa, os grandes fazen- de servidores públicos municipais. Não há grande animais por excursão, principalmente os caçadores
deiros dispõem de maquinário, o que lhes conce- variação destas fontes de renda utilizadas devido às comerciais, que distribuem grandes quantidades de
de um grande poder de alteração da cobertura. Há variações das estações verão e inverno. armadilhas de caça, chamadas “bufetes”.
ainda, na subárea do Capim, um processo de “ar- Entre os agricultores, a farinha é o principal pro- A caça é praticada normalmente à noite. Os
rendamento” das propriedades dos pequenos pro- duto comercial, embora tenha um preço baixíssimo, locais onde se caça, embora variem entre as loca-
dutores para extração de madeira, comprometen- chegando a ser vendida, em alguns casos, a marretei- lidades estudadas, tendem a ser em vegetação de
do em médio prazo a qualidade de seu ambiente, ros por R$ 20,00 a saca. O alto consumo deste pro- sucessão secundária (juquiras ou capoeirões) ou
a disponibilidade de frutos e as atividades de caça duto, por outro lado, concede estabilidade ao preço nos fragmentos de floresta localizados em grandes
(Shanley & Medina, 2005). e amplo mercado consumidor, o que ajuda a manter fazendas, áreas de manejo/extração de madeira ou
Em resumo, deste cenário resultou um incre- os pequenos produtores nesta atividade. Além de áreas públicas. Esse é um aspecto que origina alguns
mento significativo do desmatamento, a formação farinha, os agricultores produzem, também, arroz, conflitos entre caçadores e proprietários de terras, e
de grandes propriedades de terra, a marginalização milho, macaxeira, melancia, pimenta-do-reino, ba- dificuldades na gestão dos recursos na medida em
dos antigos ocupantes e conflitos por terras. nana, abacaxi, abóbora, cupuaçu, dentre outros pro- que o usuário do recurso (fauna) não tem direito ao
Mais recentemente, foram criados assentamentos dutos menos importantes economicamente. acesso e não possui responsabilidade pela área.
rurais legalizados ou em processo de legalização no
GRÁFICO 1 – Principais fontes de renda das famílias entrevistadas (94 entrevis-
município de Paragominas, mas, devido à ausência
tas) no verão e inverno.
de uma estrutura de assistência adequada, crédito e
assistência técnica agrícola, a ampla maioria dos lotes
foi vendida ilegalmente, depois de terem tido a vege-
tação explorada comercialmente, segundo informam
os atuais ocupantes dos lotes que os compraram.
Isso criou um segundo ciclo de exploração madei-
reira que, com a instalação das fazendas, aumentou a
velocidade de retirada da vegetação nativa.
Houve, também, o aumento do preço do ferro-
gusa no mercado internacional nos anos anteriores
a 2005. Este produto necessita de carvão vegetal
para sua fundição. Em 2005, o ferro-gusa, além
da valorização do Real em relação ao Dólar, dimi-
nuiu a margem de lucro da atividade guseira, o que
por si só já reduziu a retirada da vegetação, como
ELABORAÇÃO: Os autores (2008).
informam os entrevistados.

227
• Seletividade e participação na dieta As informações acima estão coerentes com os resultados obtidos pela per-
A caça é uma importante fonte de proteína animal, representando 13% das cepção dos entrevistados sobre a freqüência de consumo dos animais (Gráfi-
refeições, sendo menos importante apenas que carne de gado (35%) e de pei- co 4) e pelo questionário de recordação de atividade (Gráfico 5). Há, apenas,
xe (18%). Cerca de 10% das refeições não possuem qualquer proteína animal pequenas discordâncias: uma diferença na ordem de importância entre tatus e
perfil socioeconômico

(Gráfico 2). pacas entre os resultados de recordação de caça e percepção de freqüência de


Dentre os animais silvestres, tatus (gêneros Dasypus, Euphractus, consumo; uma menor importância das capivaras; e uma maior participação das
Cabassous e Priodontes da Família Dasypodidae), pacas (Agouti paca), capiva- cotias (Dasyprocta spp.). Essas diferenças se devem à sazonalidade (as entrevis-
ras (Hydrochaeris hydrochaeris) e veados (Mazama spp.) representam os mais tas foram realizadas no inverno), à supervalorização dos veados, visto se tratar
consumidos, de acordo com os questionários de recordação de consumo de uma espécie das mais apreciadas (na resposta de percepção de freqüência de
de caça e com a recordação de refeição em que constam animais silvestres consumo; ver Gráfico 6), e a um pequeno volume de dados de recordação de
(Gráfico 3). refeição, o que torna esta fonte de informações menos confiável.
Por outro lado, a recordação de refeição (Gráfico 3) e a percepção de con-
sumo (Gráfico 4) não trouxeram informações sobre o uso de outros taxa que
GRÁFICO 2 – Fonte animal de proteína nas principais refeições (almoço e janta)
não os de mamíferos. Grupos animais bastante consumidos, como os jabutis
durante as últimas 24 horas. (67 entrevistas.)
(Geochelone spp.)¹ e jacarés (várias espécies, subfamília Aligatorinae), não
foram lembrados.
As espécies mais consumidas, portanto, são os tatus, as pacas e as cotias, to-
das espécies de pequeno porte, que exigem áreas menores e, portanto, menos
vulneráveis aos efeitos de fragmentação. Os veados também apresentam uma
importância alta, o que talvez se explique pelo fato de serem um dos animais
preferidos para o consumo, como pode ser visto a seguir.

• Técnica de caçada: sazonalidade e freqüência de uso


Como técnica de caçada, definem-se os meios e os conjuntos de ações
pelos quais o caçador localiza, persegue e captura o animal. As técnicas de
caça descritas pelos entrevistados são: a curso, espera, com cachorro, o uso de
armadilhas, faxiar e varrida.

GRÁFICO 3 – Recordação do último consumo de caça de carne de animais GRÁFICO 4 – Espécies citadas como mais consumidas, por pelo menos 2%
silvestres presentes nas principais refeições (almoço e janta) do último dia. dos entrevistados (98 entrevistados).

GRÁFICO 5 – Animais abatidos nas últimas caçadas, registradas com uso GRÁFICO 6 – Animais preferidos para consumo citados por pelo menos 2%
de questionários de recordação (53 entrevistas, 96 animais citados). dos entrevistados (98 entrevistas).

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 2 a 6: Os autores (2008).

1
Já no Gráfico 5, com dados de recordação da última caçada, os jabutis aparecem como o quarto grupo animal mais capturado. Este valor deve estar um pouco superestimado, já que parte
do trabalho de campo foi executada próximo à Semana Santa, em que o consumo destes animais, diferentemente dos mamíferos, não representa tabu. Isto se deve, conforme a explicação
local, ao fato de eles porem ovos, o que intensifica a captura, o comércio e o consumo destes animais na época em questão.

228
a) A curso ou “tronco”. Costuma ser mais utilizada no inver- e) Faxiar ou lanternar
Procura ativa, buscando indícios da presença no, quando há uma maior dificuldade de se loco- Atividade noturna que normalmente ocorre
dos animais. Pode ser também oportunística, mover na mata e escutar os ruídos dos passos dos nos cursos d’água, locomovendo-se com algum
quando realizada durante deslocamentos ou em animais, por causa da umidade. Consiste em uma tipo de embarcação, normalmente canoas. É di-
conjunto com outra atividade. Na caçada a curso, estrutura de cano, madeira e borracha que permi- recionada principalmente para jacarés, capivaras e
o caçador procura ativamente os animais, seguin- te disparar o cartucho convencional utilizado em pacas que vão beber água. Eventualmente, podem
do sua experiência e conhecimento a respeito da espingardas. É utilizada para captura de quase to- ser apanhados, também, veados e antas que, além
ecologia, distribuição e biologia comportamental dos os mamíferos não arborícolas, mas principal- deste recurso (água), procuram sais minerais nos
deles. Para isso identifica vestígios, como rastros mente tatus e pacas, os “bichos de caminho”. Deve barreiros das beiras dos cursos d’água.
novos deixados pelos animais. ser localizada uma vareda, que é a trilha utilizada Os caçadores e pescadores comerciais muitas
pelo animal. Dependendo do animal visado, iden- vezes realizam expedições de vários dias, e, en-
b) Espera tificado pelo tipo de vestígios deixado na área que quanto deixam as redes de espera, descem o rio a
É normalmente noturna. O caçador espera o utiliza, arma-se o “bufete” a determinada altura, remo ou seguindo o fluxo do próprio rio, focando
animal principalmente em áreas de alimentação, ro- escolhida em função da espécie que utiliza tal área. com a lanterna à procura destes animais que se tor-
çados, árvores em frutos ou barrancos de rio, onde O que dispara este dispositivo é o toque do animal nam facilmente detectáveis pelo brilho dos olhos.
buscam sais minerais. Muitas vezes constrói-se na linha que cruza perpendicularmente o caminho
o “mutá”, que é uma estrutura suspensa feita de deste último. Esta linha é mantida mais ou menos f) Varrida
madeira ou com a própria rede de dormir. As prin- frouxa, conforme a espécie pretendida, de forma O caçador identifica um trecho de mata que
cipais árvores frutíferas utilizadas são o pequiá que o tiro pegue em áreas vitais. julga próprio, faz uma trilha de poucas dezenas de
(Caryocar villosum), estopeiro ou tauari (Couratari Esta armadilha é muito criticada por alguns por metros e a varre. Limpa-se bem o caminho, elimi-
guianensis ou Couratari oblongifolia), inajá (Maximi- causa do risco de acidentes, já que pessoas que não nando completamente as folhas e gravetos para não
liana maripa), tatajuba (Bagassa guianensis), tucumã conhecem sua localização, e mesmo cães, podem causar qualquer ruído enquanto o caçador as per-
(Astrocaryum spp.), uxi (Endopleura uchi), goiabinha, ser atingidos. Este é um dos motivos pelo qual não é corre. Por outro lado, os animais da proximidade
ingá (Ingá spp.), bacuri (Plantonia insignis), jambo e mais amplamente utilizada. Por conta disto, há alguns emitirão sons ao se locomoverem. O caçador, à
jatobá (Hymenaea courbaril).2 Além dos frutos, mui- poucos relatos de caçadores que a instalam modifi- noite, percorre a trilha com a lanterna apagada. Ao
tos animais procuram flores caídas, especialmente cando este esquema básico descrito há pouco, sendo ouvir o som de um animal, foca e atira. Segundo
do uxi. Dentre os animais, o veado é o que mais as que o “bufete” é apontado para baixo, o que diminui os entrevistados, esta técnica tende a espantar o ve-
aprecia. Em relação às aves, o caçador pode esperá- em muito o risco de acidentes. Caçadores profissio- ado e outras espécies mais ariscas, mais sensíveis a
las em poleiros previamente identificados, onde se nais armam várias destas armadilhas à noite, com o cheiros deixados na vegetação e por isso também é
recolhem ao final do dia. objetivo de abater um grande número de animais. condenada. Muitos não utilizam este tipo de caça-
Trata-se de uma caça extremamente seletiva, Outra armadilha mencionada é o “Matapi”, es- da pelo risco de serem picados por cobras.

perfil socioeconômico
associada a uma prévia localização da presença do pecífica para animais pequenos, sobretudo tatus Deve-se escolher um local adequado para
animal em questão ou em função de um compor- (Dasypodidae). Utiliza-se uma estrutura semelhan- a instalação da varrida, próximo a fruteiras ou ou-
tamento conhecido para a espécie, como se ali- te ao “matapi” de coleta de camarão ou pesca. Em tra fonte de atração aos animais visados. Nisso esta
mentar durante tal horário de uma determinada geral, trata-se de uma armação feita de bambu, técnica assemelha-se à espera. Além de pontos de
espécie em fruto ou flor. formando um cilindro em cuja parte anterior há alimentação, como as fruteiras, os caçadores pro-
uma entrada estreita, delimitada por um cone que curam indícios da presença do animal, tais como
c) Uso de cachorros se insere neste cilindro, direcionando o animal a vareda (espécie de trilha utilizada pelos animais),
Utilizam-se cachorros para encontrar e acu- para dentro desta estrutura. A extremidade poste- rastro, mexido e fuçado.
ar a presa. Condenada por alguns por afetar mais rior é fechada, impedindo que o animal escape. O As técnicas mais utilizadas (Gráfico 7) são as se-
acentuadamente o estoque, na medida em que o “matapi” é instalado na entrada do buraco do tatu, letivas, que exigem uma identificação prévia dos
caçador aumenta sua eficiência de caça, minimiza camuflado por folhas. Ao sair do buraco, o animal animais (varrida, espera e armadilha) ou com o uso
o tempo gasto, assim como aumenta a seletivida- acaba por entrar no “matapi”. de cachorro. Esse é o panorama esperado em áreas
de, permitindo que se dedique a espécies maiores
e preferidas, como o veado. Além disso, no caso
GRÁFICO 7 – Porcentagem das técnicas de caça empregadas (questionário
de animais gregários, como os porcos silvestres, o
de recordação de captura; 53 entrevistas).
cachorro permite que o caçador acue vários indi-
víduos do bando, podendo assim abater mais de
um deles. Outro fator que pesa no alto impacto
desta atividade é o fato de, ao perseguir a presa, o
cachorro latir muito, guiando o caçador. Isto, sus-
tentam os entrevistados, espanta os animais, mes-
mo os não caçados, afastando-os desta área. Estas
afirmações, já apresentadas em outras publicações
com base também em informações dos moradores
(Almeida et al., 2002), deveriam ser tomadas como
hipóteses muito prováveis e consideradas nos pla-
nos de manejo de fauna.

d) Armadilha
A principal armadilha de caça é o “bufete”, tam-
bém chamado de “balador”, “canhão”, “bodogue” ELABORAÇÃO: Os autores (2008).

2
Identificação feita a partir dos nomes populares e do trabalho desenvolvido na área por Shanley e Medina (2005).

229
mais perturbadas, com a vegetação mais fragmentada, já que as estratégias de O desmatamento e seu efeito nas atividades de caça
caça em que não há necessidade de se localizar anteriormente o animal pre- Como já foi citado, o grau de antropização da área influencia nas atividades
tendido, neste cenário, são pouco produtivas. de caça das famílias. Portanto, a manutenção de áreas de floresta deve ser um
A variação das estações do ano, essencialmente as mudanças no regime de fator que afeta positivamente na presença dos animais, em seu consumo e nas
perfil socioeconômico

chuvas, tem efeito nas atividades de caça, sua freqüência e técnicas utiliza- estratégias de caça.
das. Quanto à variação sazonal destas atividades, pode-se observar no Gráfico A fim de se observar estes efeitos, estabeleceu-se uma métrica de paisagem
8 que no inverno predomina a caça com armadilha (“bufete”). Já no verão, simples para avaliar as respostas obtidas dos entrevistados relativas às ativida-
há uma maior diversidade de técnicas de caça, mas preponderam a espera, a des de caça: a proporção de área desmatada na área de entorno da residência
varrida e o uso de cachorro. Os motivos disto são que, além de a locomoção do entrevistado. Adotou-se um raio de 10 km para estabelecer-se esta área de
ser prejudicada na estação chuvosa, o caçador tem dificuldades de ouvir os entorno. A identificação das áreas desmatadas se deu a partir da manipula-
animais andarem, já que a vegetação molhada não emite som algum quando ção dos dados de desmatamento na Amazônia disponibilizados pelo Prodes/
pisada. INPE para o ano de 2002. No Mapa de Grau de Desmatamento a partir do
No inverno caça-se menos, mas cresce a importância do uso de armadi- Local de Residência dos Entrevistados – Caça, pode se observar o tipo de co-
lhas, sendo o “bufete” a mais utilizada. bertura do solo obtido a partir dos dados do INPE para este raio de 10 km no
Quanto ao horário, a espera, a varrida, o uso de “bufete” e o faxiar costu- entorno das residências.
mam ser à noite, embora haja alguma variação, principalmente em relação à Desta forma, avaliou-se se esta métrica de paisagem influencia as respostas
espera de aves em seus poleiros no entardecer. Já as técnicas mais empregadas relativas à percepção dos moradores (citação ou não dos animais/técnicas de
durante o dia são o uso de cachorro e a curso. caça), obtidas com o questionário principal, relacionadas à presença dos ani-
mais na região, às espécies consumidas e às técnicas utilizadas.
GRÁFICO 8 – Técnicas de caçada mais utilizadas ao longo do ano, segundo A partir desta avaliação, concluiu-se que a percepção da ocorrência dos
os entrevistados (98 entrevistas). animais (ver mapa supracitado) é dependente da porcentagem da área desma-
tada de 10 km de entorno da residência (ANOVA: 15 tratamentos; p=0.0185;
10.000 permutações).3 Pela percepção dos moradores, as espécies mais sen-
síveis ao desmatamento são a anta e a onça. As demais apresentam pouca
diferença. Outros grupos de espécies como as preguiças, os tamanduás e as
mucuras (vários didelfídeos), são mais citados como comuns pelos morado-
res das áreas antropizadas (Gráfico 9).
Em relação ao consumo, há dependência da freqüência (do consumo) e do
grau de desmatamento da área (ANOVA: 10 tratamentos; p=0.0375; 10.000
permutações). A anta é a espécie animal cujo consumo cai mais drasticamen-
te com o desmatamento. Os queixadas e guaribas têm também seu consu-
mo diminuído ligeiramente nas áreas mais antropizadas. Já para os grupos de
preguiças e para capivara, o desmatamento parece apresentar um efeito po-
sitivo no consumo (Gráfico 10). Possivelmente estas espécies são preteridas
ELABORAÇÃO: Os autores (2008).
em áreas mais bem preservadas, mas passam a ser freqüentemente consumi-
das quando as espécies mais sensíveis ao desmatamento têm suas populações
Mapa de Grau de Desmatamento a partir do Local de muito reduzidas.
Residência dos Entrevistados – Caça. Em relação às técnicas de caça empregadas, também há dependência da
manutenção da cobertura vegetal (ANOVA: 10 tratamentos; p=0.0269;

GRÁFICO 9 – Animais ditos como comuns, médias, desvios padrões, e


mínimos e máximos valores da porcentagem de desmatamento da área do
entorno por espécie.

No mapa acima, é evidenciado o grau de desmatamento do seu


entorno (10km).
FONTE: Desmatamento, PRODES/INPE (2002); Estradas (não
pavimentadas em pontilhado), DNIT; Mosaico: Landsat, NASA.
Disponível em: <https://zulu.ssc.nasa.gov/mrsid/>.
ELABORAÇÃO: Os autores (2008).

3
Utilizou-se o método de permutações descrito em Bruce et. al (2001) para avaliação da significância da diferença da variância entre as amostras. Procedimento semelhante é descrito em
AYRES et al. (2005).

230
GRÁFICO 10 – Animais ditos como freqüentemente consumidos, GRÁFICO 11 – Efeito do grau de desmatamento na citação
médias, desvios padrões, e mínimos e máximos valores da porcen- de freqüência de uso das diferentes técnicas de caçada.
tagem de desmatamento da área do entorno por espécie.

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 10 e 11: Os autores (2008).

10.000 permutações), conforme evidenciado no da área, da sua ocupação e da inclusão desta no dos entrevistados, relacionando o desmatamento
Gráfico 11. A caça com o cachorro e o uso de ar- processo produtivo. a uma cheia menor no inverno e com isso uma
madilha (bufete) são mais utilizadas em áreas mais Como exposto nos resultados, as atividades de menor área inundável (várzea). Assim, os peixes
perturbadas. Já a varrida, tende a ser mais pratica- caça têm sua produtividade comprometida confor- entrariam menos na floresta, haveria menor área e,
da nas áreas cuja cobertura vegetal se mostra mais me se intensifica a derrubada da floresta nativa nos conseqüentemente, menos alimento disponível, o
conservada. processos relacionados a atividades agrossilvopas- que ajudaria a diminuir o estoque.
toris. Há uma mudança na composição da dieta, e Além da diminuição da disponibilidade dos re-
DISCUSSÃO os animais mais tolerantes à antropização passam cursos naturais utilizados, neste processo de ex-

perfil socioeconômico
a ocupar um papel mais importante. Estudos con- pansão econômica nem todos os atores envolvidos
Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra. Terão medo duzidos em áreas mais protegidas da Amazônia participam da mesma forma dos benefícios econô-
e pavor de vós todo animal da terra, toda ave do céu, mostram uma importância maior dos ungulados micos gerados. Os ribeirinhos, na falta de docu-
tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar;
do que a encontrada, principalmente caititu (Tayas- mentação adequada que reconheça sua proprieda-
nas vossas mãos são entregues. Tudo quanto se move e
su pecari) e queixada (Tayassu tajacu) (e.g.: Vickers, de, são muitas vezes expulsos por esse processo,
vive vos servirá de mantimento, bem como a erva verde;
1984, 1991; Calouro, 1995; Ramos, 2005).4 como já foi mencionado no caso da região do Alto
tudo vos tenho dado.
(Bíblia Sagrada, Livro do Gênesis.) Há mudanças, também, nas técnicas de caça rio Capim. Ao mesmo tempo, a chegada de mi-
utilizadas, que passam a ser menos seletivas, ao grantes, que concorrem pelos postos de trabalho
“Deus deixou para gente sobreviver, mas tem gente que mesmo tempo em que exigem do caçador menor surgidos assim como pelos recursos naturais, re-
mata pra vender.” tempo comprometido com a atividade. Isto possi- presenta uma outra ameaça.
(Seu Chaguinha, município de Goianésia.) velmente está associado com a menor produtivida- É preciso, portanto, criar mecanismos que re-
de e com o maior risco de insucesso da atividade. conheçam ou concedam o direito à propriedade
“Deus não deixou um pau cortado, uma terra cavada.”
Resultados semelhantes foram encontrados por dos moradores tradicionais. Além disso, deve-se
(Raimundo Nonato, município de Paragominas.)
Bonaudo et al. (2004) no município de Uruaruá, fomentar políticas de desenvolvimento (e.g.: as-
Estado do Pará, que é cortado pela rodovia Transa- sistência técnica e linhas de financiamento espe-
“’Ó minha avó, meu avô! Deixe minha criança pegar
comida’, devia-se pedir à Cobra Grande autorização mazônica. Neste trabalho, os autores relacionaram cíficas) focadas nos grupos rurais normalmente
para que os filhos caçassem ou pescassem. Senão, era variáveis de produtividade à porcentagem da área marginalizados, visando sua inclusão e baseadas
retirada a sombra da criança e, se um pajé não interce- desmatada.5 A proporção de área desmatada tende em princípios que respeitem seus valores culturais
desse, a criança morreria.” a aumentar o tempo médio de caçada, diminuir o e os ciclos ecológicos.
(Manuel Tembé, índio tembé, aldeia Arumateua.) peso total produzido por expedição e o tamanho No primeiro caso, uma possível estratégia é
das espécies caçadas. a criação de Unidades de Conservação de uso
É necessário pensar para a Amazônia uma con- Portanto, o grau de conversão de floresta em sustentável, tais como as Reservas Extrativistas
servação aliada às necessidades dos moradores. pastagem, lavoura, atividade madeireira ou outro e as Reservas de Desenvolvimento Sustentável,
Embora estes exerçam pressão sobre os recursos processo compromete a produtividade do extrati- ambas previstas no Sistema Nacional de Unida-
naturais e eventualmente sejam agentes que em vismo animal. Assim, a expansão de fronteira agrí- des de Conservação, ou as Florestas Nacionais–
determinados cenários contribuem com a supres- cola, com o incremento local da taxa de desma- SNUC. Assim, o reconhecimento legal dos
são da floresta e outras fisionomias de vegetação, as tamento, inviabiliza o extrativismo animal para as direitos destes grupos poderia suprir para estes
necessidades que os grupos rurais têm em relação populações rurais. o problema da ausência quase completa dos ór-
aos produtos florestais no que se refere à qualidade Os moradores correlacionam ainda outros efei- gãos públicos de meio ambiente. Na medida
de vida e à segurança alimentar é um fator impor- tos ao do desmatamento: “O inverno está fraco por em que não há controle oficial do uso de ani-
tante para pensar o desenvolvimento econômico falta de mata (desmatamento)”, mencionou um mais, aqui num caso mais específico, e tendo as

4
Para uma visão geral da vulnerabilidade de cada espécie animal à caça, consultar Robinson & Redford (1991)
5
Os autores utilizaram um raio de 5km para análise.

231
regras locais mantidas pelas comunidades, quan- pessoas, concedendo direitos e atribuindo res- tro da capacidade de renovação dos recursos.
do estas as possuem, desrespeitadas pelos demais ponsabilidades, poderia ajudar a subverter esta Na região do Alto Capim esta estratégia poderia
grupos de moradores, configura-se uma situa- lógica econômica pautada numa visão de curto ser adequada. Dentro desta proposta, o manejo
ção de uso de recursos que se aproxima de livre prazo, permitindo aos moradores tradicionais madeireiro, uma vocação da região, poderia ser
perfil socioeconômico

acesso (Fenny et al., 1990). Essa estratégia, com planejar a área a médio e a longo prazos, dese- uma alternativa econômica a estas comunidades
o reconhecimento legal da permanência destas nhando práticas de atividades extrativistas den- do Alto Capim, como defende Medina (2004).

QUADRO 1
IDENTIFICAÇÃO CIENTÍFICA DOS ANIMAIS CITADOS

NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA ORDEM

Anta Tapirus terrestris TAPIRIDAE PERISSODACTYLA

Cachorro-do-mato Atelocynus microtis CANIDAE CARNIVORA

Cateto, Caititu Tayassu pecari TAYASSUIDAE ARTIODACTYLA

Capivara Hydrochaeris hydrochaeris HYDROCHAERIDAE RODENTIA

Coandu, porco-espinho Coendu spp. ERETHIZONTIDAE RODENTIA

Cotia-do-dorso-preto Dasyprocta spp. DASYPROCTIDAE RODENTIA

Guariba Alouatta belzebul ATELIDAE PRIMATES

Guaxinim Procyon cancrivorus PROCYONIDAE CARNIVORA

Onça-pintada Panthera onca FELIDAE CARNIVORA

Onça-vermelha, sussuarana Puma concolor FELIDAE CARNIVORA

Paca Agouti paca AGOUTIDAE RODENTIA

Preguiça-bentinha Bradypus variegatus BRADYPODIDAE XENARTHRA

Preguiça-real Choloepus didactylus MEGALONYCHIDAE XENARTHRA

Queixada Tayassu tajacu TAYASSUIDAE ARTIODACTYLA

Tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla MYRMECOPHAGIDAE XENARTHRA

Tamanduá-de-colete Tamandua tetradactyla MYRMECOPHAGIDAE XENARTHRA

Tatu-canastra Priodontes maximus DASYPODIDAE XENARTHRA

Tatu-galinha, Tatu-asa-branca Dasypus novemcinctus DASYPODIDAE XENARTHRA

Tatu-peba, tatu-peludo Euphractus sexcinctus DASYPODIDAE XENARTHRA

Tatu-quinze-quilos Dasypus kappleri DASYPODIDAE XENARTHRA

Tatu-rabo-de-couro Cabassous unicinctus DASYPODIDAE XENARTHRA

Tatu-sete-cintas Dasypus septemcinctus DASYPODIDAE XENARTHRA

Veado-branco, fuboca Mazana gouazoubira CERVIDAE ARTIODACTYLA

Veado-vermelho Mazama americana CERVIDAE ARTIODACTYLA

ELABORAÇÃO: Os autores (2008).

232
SITUAÇÃO, IMPACTOS E PERSPECTIVAS DO
SETOR MADEIREIRO
situação, impactos e perspectivas do setor madeireiro

Adalberto Veríssimo • Denys Serrão Pereira

CONTEXTO DO SETOR valor menor que as áreas de pastagem ou o mes- No final dos anos 1990, o setor madeireiro de
MADEIREIRO mo que as áreas de pastagem degradadas. De fato, Paragominas começou a declinar. Isso ocorreu
a floresta era considerada um obstáculo à abertura porque houve exaustão da maioria das florestas

A
exploração madeireira é uma de novas áreas (Veríssimo et al., 1992; Uhl et al., sob um sistema de exploração intensivo e predató-
das atividades mais dinâmi- 1997). rio. As florestas remanescentes ficaram largamente
cas e paradoxais da Amazônia. Foi apenas nos anos 1980 que o valor da flores- restritas às áreas manejadas certificadas pelo FSC
Se essa atividade for realizada de forma ta, devido a sua madeira, começou a ser conside- (Forest Stewardship Council), florestas esparsas em
predatória, pode causar severos danos rado. Dois acontecimentos concorreram para este áreas privadas e nas Terras Indígenas. O resultado
ambientais e empobrecer a economia fato. Primeiro, o suprimento de madeira no Sul do é que as empresas madeireiras começaram a mi-
da região. Entretanto, se for conduzida Brasil diminuiu fortemente durante os anos 1980. grar para outras áreas da Amazônia (por exemplo,
de maneira manejada, ela pode conciliar De fato, a produção total de madeira em tora na região de Tucuruí e Portel, no Centro-Norte do
a geração de riqueza com a conservação região Sul do Brasil diminuiu de 15 milhões de Pará) ou trazer madeira em tora da região do estu-
dos recursos florestais. Em nenhum ou- metros cúbicos em 1976 (47% da produção total ário por meio de balsas através do rio Capim. Em
tro lugar da Amazônia esse dilema é tão do país) para 7,9 milhões de milhões de metros cú- casos extremos, algumas madeireiras passaram a
vigoroso como na região compreendida bicos em 1988 (17% do total). Durante esse mes- explorar madeira de forma ilegal nas Terras Indí-
por Paragominas e municípios próximos mo período, a produção de madeira em tora na genas, bem como a extrair as madeiras que resta-
– Tomé-Açu, Ulianópolis, Ipixuna do Amazônia aumentou de 6,7 milhões de milhões de vam das florestas já exploradas. O resultado foi a
Pará e Aurora do Pará –, leste do Estado metros cúbicos (21% da produção total do Brasil) ampliação da degradação florestal na região de Pa-
do Pará, o maior centro de produção de para 24,6 milhões de metros cúbicos (54% do total ragominas.
madeira da Amazônia e um dos maiores do Brasil). Depois, demorou mais de duas déca-
do mundo tropical (Veríssimo et al., 1992; das para se estabelecer no leste do Pará um sistema PÓLOS MADEIREIROS
Veríssimo et al. 2002). de transporte e comunicações capaz de garantir o
A região – assim considerada em virtu- funcionamento da indústria madeireira (Veríssimo Pólos Madeireiros são sedes municipais onde

perfil socioeconômico
de da espacialização da atividade madei- et al., 1992; Uhl et al,.1997). há parque industrial madeireiro cujo consumo
reira – mencionada é uma velha fronteira A região de Paragominas era o lugar propício anual de madeira em tora é superior a 100 mil me-
madeireira, com mais de três décadas de para a rápida expansão da atividade madeireira tros cúbicos. Por sua vez, os Centros de Produção
exploração e processamento de madeira porque dispunha, além de uma infra-estrutura são sedes municipais ou distritos onde o consumo
(Veríssimo et al., 2002). A região era origi- de estradas e energia elétrica implantada, de um anual de madeira em tora pelas indústrias madei-
nalmente coberta por densas florestas de contingente expressivo de migrantes oriundos da reiras é inferior a 100 mil metros cúbicos. Na re-
terra firme, com vastos estoques naturais região Nordeste (especialmente do Maranhão). gião de Paragominas há três pólos madeireiros: Pa-
de madeira e produtos não-madeireiros Com a chegada da indústria madeireira, essa po- ragominas, Tomé-Açu e Ulianopólis. Além disso,
(Veríssimo et al., 1992). As condições de pulação tinha um amplo leque de oportunidades há cinco Centros de Produção Madeireira: Acará,
acesso são boas, com a existência da rodo- de trabalho e, em Paragominas, surgiu uma varie- Aurora do Pará, Concórdia do Pará, Ipixuna do
via Belém-Brasília e uma vasta rede de es- dade de intermediários, com a função de cortar a Pará e Mãe do Rio (ver Mapa de Pólos e Centros
tradas vicinais oficiais e não oficiais. Após madeira, transportá-la para as serrarias, transportar Madeireiros).
três décadas de exploração madeireira in- o produto serrado até os centros urbanos, fazer o
tensiva (cujo volume médio extraído por carvão com os restos da produção etc. Isso signifi- CONSUMO DE MADEIRA EM TORA
hectare é superior a 30 metros cúbicos) e ca que as indústrias madeireiras não precisavam de
em grande parte predatória, há uma redu- uma quantia muito grande de capital para começar Em 2004, a indústria madeireira localizada
ção expressiva dos estoques naturais de ma- suas atividades (Veríssimo et al., 1992; Uhl et al., na região de Paragominas (pólos madeireiros de
deira (Veríssimo et al., 2002). A maior parte 1994; Uhl et al., 1997). Paragominas, Tomé-Açu e Ulianopólis) consu-
da região encontra-se desmatada e as flo- A rapidez do crescimento da indústria madei- miu cerca de 1,9 milhão de metros cúbicos em
restas remanescentes estão sob forte pres- reira e a liderança de Paragominas nesse processo tora (17% do total do Estado do Pará). Em 1990,
são da exploração madeireira, incluindo é marcante. No início dos anos 1990, a exploração o consumo de madeira em tora foi cerca de 3
as áreas protegidas, como o é o caso da madeireira era a principal atividade econômica na milhões de metros cúbicos. O pólo madeireiro
Terra Indígena do Alto Guamá (Veríssimo área em questão, com 238 madeireiras (serrarias, de Paragominas teve a maior participação, com
et al,. 2002). laminadoras e fábricas de compensado) exploran- mais de 56% do total consumido na região (Ta-
do e processando madeira (Veríssimo et al., 1992). bela 1). Em 2004, restavam 127 madeireiras na
HISTÓRICO DA Em 1990, essas madeireiras consumiram cerca de região de Paragominas, enquanto em 1990 havia
ATIVIDADE MADEIREIRA 3 milhões de metros cúbicos de madeira em tora mais de 238 indústrias operando na região. Os
para uma produção processada (madeira serrada, municípios que mais possuem empresas flores-
A chegada da indústria madeireira em laminados e compensados) superior a 1,5 milhão tais são Paragominas, com 63 madeireiras, se-
Paragominas e municípios próximos no de metros cúbicos (Veríssimo et al., 1992). Em guido Tomé-Açu, com 29 indústrias florestais,
final dos anos 1970 alterou de forma sig- 1990, a renda bruta do setor madeireiro era esti- e Ulianópolis, com 20 empresas. Em 2004, a
nificativa a maneira de se avaliar econo- mada em cerca de US$ 190 milhões -- cinco vezes renda bruta do setor madeireiro na região de
micamente as áreas de floresta da região. maior do que a renda bruta obtida pela pecuária na Paragominas foi cerca de US$ 163 milhões contra
Antes, as áreas de floresta tinham um mesma região (Veríssimo et al., 1992). US$ 190 milhões em 1990 (ver Tabela 2).

233
234 perfil socioeconômico
BOX 1
AS ZONAS MADEIREIRAS DO PARÁ A maior parte da produção madeireira (48%) ocorre atingindo 12% da madeira extraída no Pará. Por outro
na zona leste do Estado, onde estão situados os pó- lado, a produção de madeira é incipiente na zona
O Pará possui aptidão para a atividade florestal, los madeireiros de Paragominas e Tailândia. Entre- central (influência da rodovia Transamazônica), com
pois há florestas com grandes estoques de madeira tanto, é iminente uma queda drástica na produção apenas 6%, e extremamente reduzida na zona norte
e uma localização estratégica em relação aos merca- madeireira nessa zona devido ao desmatamento. (calha norte), com apenas 2% (ver Mapa de Zonas
dos nacional e externo. Esses fatores têm contribu- Na zona sul – uma zona importante nas décadas de Madeireiras do Estado do Pará e Tabela 1).
ído para a rápida expansão da atividade madeireira 70 e 80 devido à extração de mogno –, a produção
no Estado. Em 2004, a produção de madeira em de madeira em tora representa apenas 6%. Na zona Texto extraído de:
tora no Pará atingiu 11,2 milhões de metros cúbi- do estuário, cujo principal pólo madeireiro é a ci- Veríssimo, A.; Celentano, D.; Souza Jr., C. S.;
cos, o que representou 46% da produção da Ama- dade de Breves, a produção de madeira em tora re- Salomão, R. Zoneamento de áreas para manejo florestal
zônia Legal. Mas essa produção está distribuída de presenta 26% da produção do Estado. Na zona oes- no Pará. In: O Estado da Amazônia. Belém, Imazon,
forma desigual nas zonas madeireiras do Estado. te, a produção é ainda reduzida, porém crescente, n.° 8, p.1, set. 2006.

TABELA 1 – Produção de madeira em tora e demanda por áreas para manejo florestal nas zonas madeireiras do Pará em 2004.
Produção (m³ tora)ª Demanda por Área (km²)b
Zonas
milhões m³ % Crescimento 1% ao ano
Central 0,7 6 14152
Estuário 2,86 26 57823
Leste 5,38 48 108771
Oeste 1,36 12 27496
Sul 0,7 6 13344
Norte 0,2 2 3841
Total Pará 11,2 225428
ª Baseado na produção madeireira de 2004.
b
Considerando-se um ciclo de corte de 30 anos e intensidade de exploração de 20 m³/há. Área total necessária no final do ciclo.

perfil socioeconômico

235
TABELA 2 – Produção madeireira na Região de Paragominas, 2004.1 PRODUÇÃO PROCESSADA
Pólo/Localidade Consumo Anual de Renda bruta % Produção do
Nº de empresas
Madeireira Toras (m³) (US$)4 Estado A produção de madeira processada da região de
perfil socioeconômico

Paragominas 63 1.079.144,85 98.533.730,33 9,7 Paragominas foi superior a 800 mil metros cúbi-
2
Aurora do Pará 2 10.022,26 782.769,82 0,1 cos em 2004 (Lentini et al., 2005). A madeira ser-
2
Ipixuna 2 10.022,26 782.769,82 0,1 rada correspondeu a 83% da produção, enquanto
2
Mãe-do-Rio 5 30.810,62 2.406.405,65 0,3 a produção de compensados e laminados contri-
Pólo Paragominas 72 1.130.000,00 102.505.675,61 10,1 buiu com 12% e as beneficiadoras com apenas 5%
Tomé-Açu 29 467.977,87 33.352.506,89 4,2 do volume processado. O rendimento médio de
3
Concórdia do Pará 5 32.810,40 2.281.178,99 0,3
processamento de madeira em tora na região de
Acará3 1 9.211,73 650.390,36 0,1
Paragominas foi de cerca de 41% (Lentini et al.,
Pólo Tomé-Açu 35 510.000,00 36.284.076,25 4,6
2005) (Tabela 3).
Pólo Ulianópolis 20 250.000,00 23.936.672,02 2,2
TOTAL 127 1.890.000,00 162.726.423,88 17,0%
1
EMPREGOS
FONTE: Lentini et al., (2005), adaptado pelos autores (2007).
2
Localidades madeireiras do pólo de Paragominas
3
Localidades madeireiras do pólo de Tomé-Açu Em 2004, foram gerados mais de 27 mil empregos
4
Câmbio médio em 2004: US$ 1,00/R$ 2,92 (Ipea, 2005).
diretos e indiretos pelo setor madeireiro nos pólos
TABELA 3 – Produção processada de madeira na região de Paragominas, 2004.1 madeireiros de Paragominas, Tomé-Açu e Uliano-
pólis. Desse total, cerca de 22% dos empregos fo-
Produção Processada (%) Rendimento do
Pólo/ Produção ram gerados na indústria de processamento de ma-
Localidade Processada (m³) Madeira Produtos Laminados e Processamento
Serrada Beneficiados Compensados (%) deira, enquanto a extração florestal foi responsável
Paragominas 461.644,67 84,3 7,3 8,4 42,8 por 11% dos postos de trabalho. O restante (67%)
Aurora do Pará2 4.008,90 100 - - 40,0 foi representado por empregos indiretos gerados na
Ipixuna 2
4.008,90 100 - - 40,0 área comercial (venda de madeira processada e de
Mãe-do-rio 2
12.324,25 100 - - 40,0 equipamentos para a indústria), marcenaria, trans-
Pólo Paragominas 481.986,72 83,8 8,3 7,9 40,7 porte de madeira processada e serviços especiali-
Tomé-Açu 193.117,36 89,6 0,6 9,7 41,3 zados, como consultas técnicas e manutenção de
Concórdia do Pará3 13.124,16 100 - - 40,0 equipamentos (Lentini et al., 2005) (Tabela 4).
3
Acará 3.700,18 98,7 - 1,3 40,2
Pólo Tomé-Açu 209.941,69 90,5 0,6 8,9 40,5 SISTEMA DE EXPLORAÇÃO
Pólo Ulianópolis 114.530,50 61,9 3,6 34,4 45,8
TOTAL 806.458,91 83,1 4,8 12,1 41,3
O sistema de exploração é mecanizado, sendo
1
FONTE: Lentini et al., (2005), adaptado pelos autores (2007).
2
Localidades madeireiras do pólo de Paragominas caracterizado pelo corte das árvores através de mo-
3
Localidades madeireiras do pólo de Tomé-Açu tosserras e o transporte (arraste) das toras dentro
4
Câmbio médio em 2004: US$ 1,00/R$ 2,92 (Ipea, 2005).
da floresta até os caminhões por tratores de diver-
TABELA 4 – Empregos diretos e indiretos gerados pela indústria madeireira na região de Paragominas, 2004.1 sos tipos. A maioria (67%) da madeira em tora foi
extraída pelas próprias empresas madeireiras, en-
Empregos Diretos Empregos
Pólo/Localidade Total quanto 33% do volume de toras foram extraídos
Indústria Madeireira Áreas de Extração Indiretos4
por empresas terceirizadas e madeireiros autôno-
Paragominas 3.130 1.726 9.988 14.844 mos (Lentini et al., 2005). As árvores são cortadas
Aurora do Pará2 30 16 95 141 com motosserrras e arrastadas por tratores de es-
Ipixuna2 30 16 95 141 teira e, em menor proporção, por tratores flores-
2
Mãe-do-rio 79 49 263 391 tais (skidder1).
Pólo Paragominas 3.269 1.807 10.441 15.517
Tomé-Açu 1.496 749 4.618 6.863 ORIGEM DA MATÉRIA-PRIMA
3
Concórdia do Pará 203 53 527 783
Acará3 41 15 115 171
A maioria (65%) da madeira em tora extraída das
Pólo Tomé-Açu 1.740 817 5.259 7.816
florestas da grande região de Paragominas era oriunda
Pólo Ulianópolis 890 400 2.653 3.943
de propriedades das empresas madeireiras ou
TOTAL 5.899 3.024 18.354 27.277
1
arrendadas por essas indústrias. Por outro lado, ape-
FONTE: Lentini et al., (2005), adaptado pelos autores (2007).
2
Localidades madeireiras do pólo de Paragominas nas 35% da matéria-prima eram explorados em áreas
3
Localidades madeireiras do pólo de Tomé-Açu de terceiros, com destaque para as fazendas destina-
4
Em média, cada emprego direto gera 2,06 empregos indiretos.
das à pecuária. Houve variação entre os pólos madei-
TABELA 5 – Origem da matéria-prima florestal na região de Paragominas, 2004.1 reiros com a maior amplitude em Tomé-Açu, onde
72% da madeira eram extraídos de áreas próprias
Origem da Matéria-Prima (% do volume explorado) Consumo em Toras
Pólo Madeireiro contra apenas 28% de áreas de terceiros (Tabela 5).
Áreas Próprias Áreas de Terceiros (m³/ano)

Paragominas 69 31 1.130.000 TAMANHO DAS PROPRIEDADES


Ulianópolis 48 52 510.000
Tomé-Açu 72 28 250.000 A maioria (58%) da madeira em tora era pro-
TOTAL 65 35 1.890.000 veniente de propriedades de médio porte (en-
1
FONTE: Lentini et al., (2005), adaptado pelos autores (2007).
tre 500 e 5.000 hectares). Por sua vez, as grandes

1
O skidder é um trator desenvolvido especificamente para o arraste florestal, possuindo melhor desempenho e produtividade e provocando menores danos ao solo e às árvores remanescentes
do que outros tipos de equipamento, como os tratores de esteiras (Amaral et al., 1998; Lentini et al., 2005).

236
propriedades (> 5.000 hectares) forneciam 35% ESTRADAS NÃO-OFICIAIS mil quilômetros de estradas não-oficiais (Mapa
da madeira em tora no ano de 2004. Finalmente, de Estradas não-oficiais).
apenas 8% da madeira em tora explorada na região As estradas não-oficiais têm modificado a di-
de estudo originavam-se de pequenas proprieda- nâmica de uso da terra na Amazônia, pois, na ACESSIBILIDADE
des (< 500 hectares) (Tabela 6). maioria dos casos, têm exposto extensas áreas de
florestas à exploração madeireira predatória e à As florestas remanescentes na região de Para-
TRANSPORTE DA MADEIRA grilagem de terras. Essas estradas têm sido cons- gominas estão economicamente acessíveis à ex-
truídas em áreas públicas e em terras devolutas ploração madeireira. Na maior parte dessas flo-
A madeira é, em geral, transportada da floresta por diferentes agentes privados, tais como ma- restas, é economicamente viável extrair a grande
até as serrarias através de caminhões em estradas deireiros, garimpeiros e pecuaristas. O Imazon maioria das espécies de valor comercial existente
não asfaltadas. A distância média da floresta explo- tem mapeado as estradas não-oficiais na Amazô- (> 100 espécies). Em uma fração pequena das
rada para as serrarias superava 120 quilômetros em nia utilizando técnicas de sensoriamento remoto florestas restantes, a acessibilidade é baixa e,
2002. Embora o transporte seja majoritariamente (Souza Jr. et al., 2004). Nos limites municipais portanto, somente as espécies de alto valor eco-
feito por caminhões, a partir do ano 2000 aumen- da área de estudo (municípios de Paragominas, nômico são viáveis de serem extraídas nessas
tou a proporção da madeira transportada em hi- Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, Tomé-Açu e condições (Mapa de Acessibilidade econômica
drovias (balsas ou jangadas).2 Ulianópolis), foram identificados mais de 10 da atividade madeireira).

TABELA 6 – Origem da matéria-prima por tamanho de propriedade na região de Paragominas, 2004.1

Tamanho das Propriedades (% do volume explorado)


Pólo Madeireiro
Pequenas (< 500 ha) Médias (500 - 5.000 ha) Grandes (> 5.000 ha)
Paragominas 7 61 32
Ulianópolis - 53 48
Tomé-Açu 15 52 33
Total 8 58 35
1
FONTE: Lentini et al., (2005), adaptado pelos autores (2007).

ESTRADAS NÃO-OFICIAIS

perfil socioeconômico

2
As jangadas (construídas com a madeira em tora e rebocadas por barcos) apresentam um custo de transporte menor em relação às balsas. Apesar do menor custo, as jangadas apresentam as
seguintes desvantagens em relação às balsas: (i) permitem apenas o transporte de madeiras leves; (ii) requerem um tempo maior para serem confeccionadas e para navegarem até o destino,
e (iii) geralmente ocasionam uma perda maior de toras.

237
perfil socioeconômico

Preços e Espécies Madeireiras Extraídas cúbicos de produtos de madeira. A maioria (61%) Barros, Veríssimo, 1996). Em um estudo condu-
Em 2004, as cinco espécies de madeira mais dessa madeira processada foi destinada ao mercado zido por Veríssimo et al. (1992) no município de
utilizadas na área de estudo foram: Maçaranduba doméstico, enquanto 39% foram comercializados Paragominas – em três áreas onde ocorreu a explo-
(Manikara huberi), Angelim Vermelho (Hymenolo- para o mercado externo. No mercado nacional, a ração florestal convencional (sem planejamento) – o
bium excelsum), Jatobá (Hymenaea courbaril), Ange- madeira foi destinada, principalmente, para as re- autor constatou que para uma média de 6,4 árvores
lim Pedra (Dinizia excelsa) e Ipê Amarelo (Tabebuia giões Sudeste e Nordeste. Somente 2% da madeira extraídas por hectare, outras 150 árvores/hectares
serratifolia). As 15 espécies mais utilizadas na região produzida foram comercializados na própria Ama- com DAP ≥ 10 cm foram severamente danifica-
de Paragominas têm seus preços médios de madei- zônia Legal (Tabela 8). das. Quase a metade das árvores danificadas estava
ra em tora e serrado baseados no amplo estudo do tombada; 41% apresentaram galhos quebrados e as
Imazon sobre os pólos madeireiros na Amazônia IMPACTOS DA INDÚSTRIA MADEIREIRA demais (11%) sofreram danos severos nos troncos.
Legal em 2004 (Lentini et al., 2005) (Tabela 7). NO RECURSO FLORESTAL Muitas das espécies danificadas eram de valor eco-
nômico potencial. Por exemplo, 32% dos indivíduos
DESTINO DA MADEIRA Danos da exploração danificados eram de espécies atualmente serradas
Danos consideráveis ocorrem na abertura das em Paragominas. Outros 44% dos indivíduos dani-
Em 2004, a produção dos pólos madeireiros estradas de exploração, na derrubada e extração de ficados eram de espécies usadas na construção rural,
da região de Paragominas foi de 806 mil metros árvores nas florestas tropicais (Amaral et al., 1998; mas que ainda não foram aproveitadas pela indústria

238
TABELA 7 – Principais espécies madeireiras mais extraídas e seus preços médios, na região de Paragominas, 2004.¹

Preços Médios de Madeira - Estado do Pará (US$/m³)2,3

Nome Vulgar Nome Científico Madeira Serrada


Madeira em Tora
Mercado Nacional Mercado Internacional
Maçaranduba Manikara huberi 41 155 257
Angelim Vermelho Hymenolobium excelsum 38 139 246
Jatobá/Jutaí Hymenaea courbaril 47 215 270
Angelim Pedra Dinizia excelsa 40 148 212
Ipê-amarelo Tabebuia serratifolia 95 373 458
Tauari Couratari sp. 37 190 216
Cumaru Dipteryx odorata 45 179 269
Muiracatiara Astronium lecointei 40 166 263
Cupiúba Goupia glabra 27 117 188
Faveira Parkia sp. 23 - -
Sucupira Bowdichia nítida 42 162 276
Freijó Cordia goeldiana 45 180 222
Pequiá Caryocar glabrum 31 98 -
Roxinho Peltogyne sp. 43 161 239
Cedrorana Cedrelinga cataneiformis 34 115 247
1
FONTE: Lentini et al., (2005), adaptado pelos autores (2007).
2
Câmbio médio em 2004: US$ 1,00/R$ 2,92 (Ipea, 2005).
3
Preços médios obtidos com 523 informantes do setor madeireiro.

TABELA 8 – Mercado de madeira processada (%) na região de Paragominas, 2004.¹

Destino da Madeira Processada da região de Paragominas (% da Produção)


Pólo Madeireiro
Exportação Sudeste (exclui SP) e Sul São Paulo Amazônia Legal Nordeste (exclui MA) Centro-Oeste (exclui MT)
Paragominas 46% 25% 7% 3% 17% 2%
Tomé-Açu 21% 22% 4% 0% 46% 7%
Ulianópolis 16% 22% 0% 0% 54% 8%
TOTAL 39% 24% 6% 2% 26% 3%
1
FONTE: Lentini et al., (2005), adaptado pelos autores (2007).

perfil socioeconômico
madeireira. As demais árvores danificadas (24%) não por hectare de madeira para uso futuro e 40 me- Tomé-Açu e Ulianopólis, é necessário ma-
tinham importância econômica. Em termos de vo- tros cúbicos por hectares sem perspectivas de uso nejar as florestas remanescentes, recuperar
lume, 85% do volume danificado tinham algum uso futuro. as florestas degradadas com tratamentos sil-
madeireiro (49% como madeira serrada e 36% em viculturais e reflorestar as áreas desmatadas.
outras aplicações) (Veríssimo et al., 1992). Desmatamento • A estabilização do setor madeireiro requer a
Os índices de danos da exploração revelam que Em 2005, o desmatamento já atingia aproxima- adoção de boas práticas de manejo, controle
uma troca substancial está envolvida na exploração damente 49% da região de Paragominas. As flo- eficiente e cumprimento dos regulamentos
madeireira. Quase dois metros cúbicos de madei- restas remanescentes (51%) estavam largamente do manejo florestal. Por meio do manejo,
ra são destruídos para cada metro cúbico extraído. exploradas para fins madeireiros. Além disso, pelo os impactos negativos e os ciclos de corte da
Esses danos ocorrem na abertura de aproximada- menos 1.885 focos de calor haviam sido detectados exploração madeireira podem ser reduzidos
mente 40 metros de estradas madeireiras para cada pelo satélite NOAA na região em 2006 (ver Mapa substancialmente, e os lucros das operações
árvore extraída e 663 metros quadrados de abertu- de Cobertura Vegetal e Focos de Calor). da exploração madeireira aumentam. Além
ra de dossel por árvore extraída. Em comparação, a disso, o manejo florestal mantém a compo-
queda natural de árvores na floresta causa abertu- Planos de Manejo sição geral da flora arbórea, a estrutura e a
ras entre 150 e 300 metros quadrados nessa região Em 2004 e 2005 foram emitidas 39 Autoriza- função ecológica da floresta.
(Veríssimo et al 1992). ções de Exploração em regime de Manejo Flores- • No caso do reflorestamento, ele pode su-
tal. Esses planos de manejo estão concentrados nas prir não apenas parte das demandas do
Estoque natural de espécies de valor áreas de floresta densa aluvial com alta densidade setor madeireiro como também da indús-
econômico após a exploração madeireira de madeira de valor comercial (ver Mapa de Vege- tria de ferro-gusa, a qual demanda gran-
Segundo constatou Veríssimo et al. (1992) no tação Florestal e Planos de Manejo Florestal). de quantidade de madeira em tora como o
experimento conduzido em Paragominas com ár- principal insumo energético para a produ-
ção de carvão vegetal.
vores ≥ 30 centímetros de diâmetro na altura do CONCLUSÃO
• O déficit de madeira na região de Parago-
peito (DAP), encontram-se, em média, 16 árvores
minas pode ser atenuado pelo fornecimento
por hectare com boa forma e de valor econômico, e • Há sinais claros de declínio da atividade ma-
de madeira oriunda de reflorestamento. A
22 indivíduos/hectare sem valor econômico; neste deireira nos pólos madeireiros de Paragomi-
madeira de plantações poderia substituir
último caso por apresentarem uma forma defei- nas, Tomé-Açu e Ulianopólis, no leste do
a madeira nativa usada para a fabricação
tuosa ou por serem madeira de valor econômico Pará. Nesses pólos, há uma redução severa de lâminas e compensados, bem como a
desprezível. Portanto, de um total de 55 árvores na cobertura florestal e, conseqüentemente, madeira utilizada na construção civil. Da
por hectare ≥ 30 centímetros de DAP existentes diminuição na produção florestal e na gera- mesma forma, a melhoria no rendimento
na floresta explorada, 60% têm uso atual ou uso ção de emprego e renda. do processamento mecânico da madeira
potencial no futuro. Em termos de volume, foi • Para alterar o padrão boom-colapso que tem nas indústrias da região poderia diminuir a
encontrada uma média de 27 metros cúbicos por caracterizado o desenvolvimento flores- demanda por áreas florestais e melhorar o
hectare de madeira comercial, 33 metros cúbicos tal nos pólos madeireiros de Paragominas, saldo de florestas.

239
240 perfil socioeconômico
241

perfil socioeconômico
PROJETOS DE EXPLORAÇÃO MINERAL
projetos de exploração mineral
Maurílio de Abreu Monteiro
perfil socioeconômico

Carlos Romano Ramos

R
ochas e coberturas lateríticas localizadas no município de Ipixuna do Pará, Esta- foram identificados 298 direitos minerários, com-
encontram-se distribuídas por do do Pará, são mostradas na Tabela 1, a seguir. preendendo os municípios de Paragominas, Ulia-
toda a Região Amazônica. A área do rio Capim, principalmente o municí- nópolis, Tomé-Açu e Ipixuna do Pará.
Depósitos de bauxitas lateríticas foram pio de Ipixuna do Pará, destaca-se nacionalmente A Tabela 3, abaixo, apresenta a distribuição das
descobertos nos anos de 1950, haja vista pelas grandes reservas de caulim, matéria-prima fases dos direitos minerários. Analisando-se os
as pesquisas realizadas pela Kaiser Alumi- a ser utilizada na indústria de papel. O caulim dados inerentes às diversas fases, verifica-se, de
nium Company na área do Baixo Ama- está inserido no contexto da Formação Ipixuna, imediato, que as concessões de lavra outorgadas
zonas, e pela Rio Tinto Zinc Company de grande interesse comercial, haja vista a excep- representam cerca de 13,2% do total dos direitos.
na Mesorregião do Nordeste Paraense. cional qualidade da substância mineral, incluindo Os investimentos realizados em áreas de conces-
As principais províncias lateríticas des- argilito, arenitos finos a médio, moderadamente sões de lavra compõem um perfil dos investimen-
cobertas na Amazônia são: a) Gurupi, b) selecionados, caulínicos, atribuídos a um sistema tos em pesquisas geológicas e tecnológicas assim
Paragominas/Capim, c) Carajás e d) Bai- deposicional formado por um complexo fluvial como nas minas e usinas de beneficiamento que
xo Amazonas. O conhecimento geológico na base que grada verticalmente para um comple- absorvem cerca de 90% dos investimentos totais.
permitiu a descoberta das grandes jazidas xo estuarino no topo (Rossetti, 2004). A Forma- A Tabela 4 apresenta a distribuição das fases dos
associadas às lateritas. Neste sentido, des- ção Ipixuna pode atingir até 40 metros de espes- direitos minerários, relacionando-as com as subs-
taca-se que há um interesse muito grande sura, tendo ampla ocorrência na área do médio tâncias minerais.
na província Paragominas/Capim. rio Capim. Na área de estudo, compreendendo os muni-
Vale ressaltar o avanço do Brasil no Na Tabela 2, a seguir, são mostradas as reservas cípios acima especificados (Paragominas e Ipixu-
mercado mundial de caulim, antes com de bauxita (minério de alumínio), localizadas no na do Pará), foram outorgados 298 direitos mine-
a participação apenas da CADAM, no município de Paragominas, Estado do Pará. rários. Na Tabela 4, observa-se que, do universo
Amapá, e a partir de 1996 com mais dois Um conjunto litológico (Coberturas Detrito- dos direitos minerários, duas substâncias apenas,
projetos produzindo caulins competitivos lateríticas Paleogênicas) ocorre como platôs sobre bauxita e caulim, respondem por 95% do total de
nesse fechado mercado – Imerys Rio Ca- sedimentos cretáceos no distrito bauxítico-lateríti- direitos.
pim Caulim S/A (IMERYS) e Pará Pig- co de Paragominas (PA) - Açailândia (MA), e nele As bauxitas estão mundialmente localizadas em
mentos S/A (PPSA). A Companhia Vale se inserem importantes jazidas de bauxita. quatro principais grupos. De acordo com os dados
do Rio Doce (CVRD) tem um foco estra- A seguir, tem-se um mapa que mostra a dis- de 1998, a distribuição apresentava-se da seguinte
tégico na indústria do alumínio, haja vista tribuição espacial dos direitos minerários na área forma: Tropical, 48%; Mediterrânea, 39%; Subtro-
ser uma grande produtora e fornecedora de estudo do Atlas Ambiental. Na área de estudo, pical, 13%; e Temperada, 0,5%. Segundo o U.S.
de bauxita e alumina para os mercados
TABELA 1 – Reservas Minerais (2004) (A)
nacional e internacional.
RESERVAS (106 t)
No município de Paragominas foram UF/MUNICÍPIO
MEDIDA INDICADA INFERIDA LAVRÁVEL
reveladas jazidas de bauxita, e em Ipixuna
Ipixuna do Pará 84,1 56,2 145,2 66,8
do Pará jazidas de caulim. Segundo o Su-
FONTE: Anuário Mineral Brasileiro/DNPM (2005).
mário Mineral (2006) do Departamento
Nacional da Produção Mineral (DNPM), TABELA 2 – Reservas Minerais (2004) (B)
a produção da mina de caulim da IMERYS Estado do Pará
respondeu por 964 mil toneladas, cerca RESERVAS (106t)
UF/MUNICÍPIO
de 40% do total nacional, e a mina de cau- MEDIDAS INDICADAS INFERIDAS LAVRÁVEIS
lim da PPSA contribuindo com 530 mil Paragominas 386,3 286,5 436,0 386,3
toneladas, aproximadamente 22% deste FONTE: Anuário Mineral Brasileiro/DNPM (2005).

total, com a produção brasileira atingindo


TABELA 3 – Direitos minerários por fase
2,41 milhões de toneladas.
Encontra-se em desenvolvimento a Autorização de Pesquisa 187
Concessão de Lavra 34
mina de bauxita de Paragominas, no Esta-
Disponibilidade 20
do do Pará, cujo início da produção deve-
Licenciamento 4
rá ocorrer no primeiro trimestre de 2007,
Requerimento de Lavra 18
segundo o Relatório Anual da Compa- Requerimento de Pesquisa 35
nhia Vale do Rio Doce (CVRD). As fases TOTAL 298
I e II do projeto serão concluídas em 2008 FONTE: DNPM (2006).
e se destinarão ao suprimento da expan-
são da produção de alumina. Em 2008, a TABELA 4 – Substâncias minerais por fase/substância
mina de Paragominas terá capacidade para Fase/Substância BAUXITA CAULIM ARGILA OURO PRATA TOTAL
produzir 9,9 milhões de toneladas anuais Autorização de Pesquisa 154 28 5 187
de bauxita. Concessão de Lavra 28 3 3 34
Disponibilidade 15 2 2 1 20
Licenciamento 4 4
DIREITOS MINERÁRIOS
Requerimento de Lavra 14 4 18
Requerimento de Pesquisa 31 1 2 1 35
Segundo o Anuário Mineral Brasileiro
TOTAL 242 40 12 3 1 298
(2005) do DNPM, as reservas de caulim,
FONTE: DNPM (anos diversos).
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 1 a 4: Os autores (2006).

242
perfil socioeconômico

Geological Survey, as reservas atuais extrativamente A CVRD explora as vantagens competitivas da brasileira, no período 1990/2002, exibiu uma taxa
econômicas são estimadas em 23 bilhões de tone- bauxita, compreendendo: a) direitos minerários média de crescimento de 8,3% ao ano.
ladas, supondo-se a oferta em torno de 300 anos. A sobre recursos de minério de alumínio de alta qua- O caulim permanece como o mineral selecio-
mina de bauxita de Paragominas da CVRD se insere lidade estimado em 11% do estoque mundial; b) nado nas aplicações para alta qualidade de papel,
no grupo Tropical e encontra-se em fase de desen- primeiro mineroduto de movimentação de bauxita devendo ficar assim até o uso do mineral como
volvimento, prevendo-se o start up final em 2008. no mundo, minimizando custos com transportes preenchimento (filler) continuar a cair em mui-
Em 2003, a produção mundial de bauxita alcan- (ver Minerodutos); e c) custo em conversão de tos países. Roskill (2003) estima o crescimento do
çou cerca de 125 milhões de toneladas métricas, bauxita em alumina mais baixo no mundo. consumo mundial de caulim na indústria de papel
com a Austrália respondendo por 37%, Guiné e Geograficamente, a produção de caulim vem com uma taxa anual de crescimento ao redor de 1%
Brasil com 11% cada um, e Jamaica 9%. A produção mudando ao longo da última década com o desen- até 2010. O consumo de caulim para a indústria de
de bauxita está em forte período de crescimento, volvimento de três grandes operações no Brasil, papel deverá crescer, embora a uma taxa menor do
impulsionada, principalmente, pela demanda da uma das quais é controlada pela IMERYS e outras que o carbonato de cálcio natural (GCC) e o car-
China por alumina, objetivando abastecer a indús- duas com participação da CVRD (PPSA e Caulim bonato de cálcio precipitado (PCC).
tria de produção de alumínio primário. Espera-se da Amazônia S/A – CADAM). Antes, a maior par- A PPSA opera grandes jazidas de caulim de alta
que a produção de bauxita cresça a uma taxa de te do caulim era produzida nos Estados Unidos e qualidade, destacando-se as jazidas do município
mais de 9% ao ano até 2010. na Europa. Segundo Roskill (2003), a produção de Ipixuna do Pará. Somadas à necessidade de

243
atuação no mercado global, foram exigidas solu- grandes filtros a vácuo para remover a água da pol- A CAEMI Mineração e Metalurgia, empresa
ções particulares para a viabilização da empresa. pa. A umidade é retirada por evaporação por meio holding, em seu resultado do ano de 2005, revela
Foi projetada e construída toda a infra-estrutura de secadores a gás. um lucro líquido de R$ 1,8 bilhão, cerca de três
necessária à lavra e ao beneficiamento do caulim, vezes superior ao ano anterior. Na formação do
perfil socioeconômico

um mineroduto com 180 km de extensão para CARACTERÍSTICAS DIFERENTES DO resultado da CAEMI, no segmento do caulim,
transporte seguro de polpa (caulim em suspensão CAULIM: BACIAS DOS RIOS JARI E CAPIM em 2005, houve o aumento no preço de insumos,
líquida), até o moderno terminal portuário de Vila combustíveis e químicos, além de volume de ven-
do Conde, com capacidade para recebimento de As características do caulim da bacia do rio Jari das inferior ao ano de 2004 e desvalorização do dó-
navios de grande porte para embarques a granel ou e o da bacia do rio Capim são diferentes. Nas ja- lar médio em relação ao real (-16,5%).
na forma de slurry (polpa). Localizada próxima ao zidas do Jari (CADAM), predominam caulins do Com relação ao resultado das empresas con-
rio Capim, em Ipixuna do Pará, a mina da PPSA tipo fino, dando maior brilho ao papel. Nas jazidas troladas (vida própria) do segmento do caulim, a
caracteriza-se pela deposição de caulim em uma do Capim (PPSA) são encontrados caulins de alta CADAM apresentou um prejuízo de R$ 28 milhões
faixa de 5 a 7 metros de espessura, situada entre 25 alvura, do tipo “placóides”, com elevado poder de em 2005 (no ano anterior teve um lucro líquido
e 30 metros abaixo de uma camada de estéril, pre- cobertura e opacidade. de R$ 28,3 milhões). A PPSA também apresentou
vendo-se as reservas existentes para uma produção O minério de caulim é utilizado da seguinte prejuízo, da ordem de R$ 9,4 milhões no ano.
anual de um milhão de toneladas nos próximos 30 forma em aplicação no papel: a) revestimento De acordo com o Relatório da Administração
anos, segundo a PPSA. (aplicação mais nobre do produto); b) enchimento de 2005, importantes marcos operacionais e co-
A IMERYS, grupo empresarial de origem fran- (atua na formação do papel-base). merciais foram alcançados no ano de 2005, com a
cesa, é a maior produtora mundial de caulim de Os produtos da PPSA e da CADAM compre- CAEMI conquistando o terceiro player no mercado
qualidade, tendo depósitos e usinas de produção endem: a) produtos Amazon, caulins de revesti- mundial de caulim para revestimento ao adquirir a
em todo o mundo, ofertando cerca de quatro mi- mentos ultrafinos, diferenciados pela alvura; b) PPSA em 2004.
lhões de toneladas anuais para a indústria do papel. produtos Century, caulins delaminados, utilizados As vendas de caulim realizadas pela CADAM e
Os maiores produtores de caulim detêm grande em papéis CWF e CWC; c) Paraprint e Paralux, PPSA somaram, em 2005, cerca de 1,2 milhão de
influência no suprimento do material, e, portanto, caulins finos, de alta alvura, naturalmente delami- toneladas (84% destinadas à exportação). A produ-
sobre os preços também. A demanda por especifi- nados, e d) Paraplate, caulim placa de alta alvura, ção de caulim das duas empresas controladas atin-
cações mais restritivas, especialmente na indústria naturalmente delaminado, proporcionando co- giu cerca de 1,2 milhão de toneladas. A receita lí-
de papel, poderá forçar as empresas de caulim a bertura e propriedades óticas em papéis revestidos quida (CADAM e PPSA) atingiu R$ 443 milhões.
transferir os custos para os consumidores ou parar para rotogravura (CWC-ULWC) e papéis matt No segmento de caulim os investimentos no ano
de produzi-los. (CWF). de 2005 foram estimados em R$ 82 milhões (US$
O grupo em questão (IMERYS) está aumen- 24,9 milhões). O total desembolsado alcançou R$
tando o preço dos produtos de caulim para a in- ESTRATÉGIAS E PERSPECTIVAS 46 milhões (US$ 18,8 milhões). Do total desem-
dústria global a partir de dezembro de 2006. Os bolsado, a CADAM participou com 40,22% e a
preços devem crescer, em média, US$15/ t seca A CADAM e a PPSA desenvolveram uma es- PPSA 59,78%.
para o caulim da Geórgia (EUA), US$ 40/ t métri- tratégia para o caulim buscando consolidar sua A estratégia da CADAM e da PPSA para o cau-
ca para caulins calcinados, e US$ 15/ t métrica para presença na Europa, Ásia (Japão, principalmente) lim é baseada na consolidação de sua presença nos
os caulins brasileiros. e América Latina, promovendo o incremento da mercados da Europa, Ásia (principalmente Japão)
Segundo o Relatório da Administração da participação nos mercados da América do Norte. e América Latina, além da busca pelo aumento da
CAEMI - Caemi Mineração e Metalurgia S.A., em A recuperação da rentabilidade do negócio, sob participação nos mercados da América do Norte
2005 as vendas de caulim da CADAM somaram o impacto de 2005, envolvendo fatores tais como – os primeiros embarques de caulim foram efeti-
717,5 mil toneladas, com uma receita líquida de câmbio e insumos, revela outro ponto da estratégia vados em 2005 – e da China.
R$ 260,7 milhões. Com relação à PPSA, as vendas para o caulim. O aumento de preços (a melhora
alcançaram 521,7 mil toneladas, gerando uma re- no retorno das operações) promove o crescimento LOGÍSTICA: A OPÇÃO PELO
ceita líquida de 190,7 milhões. de vendas por meio do incremento da capacidade MINERODUTO
produtiva.
PROCESSAMENTO DO CAULIM A utilização atual dos rios Guamá e Capim
FORMAÇÃO DO RESULTADO DA CAEMI: como vias de transporte comercial é muito redu-
O processamento do caulim varia de compa- CADAM E PPSA zida, limitando-se à movimentação de carga geral
nhia para companhia. Cada produtor usa diferen- entre Belém, São Domingos do Capim e Santana
tes equipamentos e métodos. A grande demanda O caulim da CADAM e da PPSA é vendido do Capim, para abastecimento da população ribei-
por caulim vem da indústria de papel, onde é usa- em trinta países – mercados da América do Norte, rinha, na maior parte feita por lanchas de “rega-
do para cobertura e preenchimento de papéis e Ásia, América Latina e Europa. Estes são os princi- tões” que comercializam diretamente suas cargas.
cartões. O caulim é misturado com água e disper- pais destinos das exportações do bem mineral. Há algum transporte eventual de toras de madeira,
santes químicos para criação da polpa (blunging). A
polpa de caulim é transportada por meio de mine-
roduto para as instalações de separação de grãos,
compreendendo areia, mica e outras impurezas
BOX 1
com ajuda da gravidade (de-gritting). A centrifuga-
INFORMES RELEVANTES de caulim, enquanto a Europa permanece como
ção separa as partículas finas das grossas.
a maior região consumidora, com mais de um
A melhora da alvura é realizada através de um
• O mercado mundial de caulim espera um cres- terço do consumo total.
ou mais processos, incluindo lixiviação, separação
cimento de 3% entre 2005/2008. • Três áreas produtoras de caulim dominam o
magnética, floculação e oxidação, removendo-se
• A produção combinada dos Estados Unidos e mercado mundial. Há depósitos de caulim na
ferro, titânio e outros materiais orgânicos e inde-
do Reino Unido responde por cerca de 40% da Geórgia e Carolina do Sul nos Estados Unidos,
sejáveis. Para clientes que desejam a separação do
produção mundial caulim primários na Cornualha e Sudoeste da
material laminado, são usadas partículas grossas
• O Japão e a Finlândia são os maiores importadores Inglaterra, e caulim na Amazônia (Brasil).
(delamination). Na filtragem e secagem são usados

244
perfil socioeconômico

movimentadas flutuando, agregadas a embarca- de alumina em Barcarena, no estado do Pará. As os produtos comercializados na forma slurry
ções automotoras, ou em balsas de pequenos com- fases I e II (esta última a ser concluída em 2008) (pasta) passam por ajustes no teor e concentra-
boios de empurra. Entretanto, o mineroduto foi se destinarão ao suprimento da expansão da pro- ção de sólidos. A partir dessa etapa, estão pron-
a alternativa de transporte para a bauxita (CVRD) dução de alumina. Em 2008, Paragominas terá tos para embarque no porto privativo da PPSA,
e para o caulim ( IMERYS e PPSA), da região do capacidade para produzir 9,9 milhões de tonela- enquanto o caulim do tipo dry (seco) passa por
rio Capim até o município de Barcarena (PA) (ver das anuais de bauxita. O mineroduto, o primei- uma planta de secagem, equipada com tecnolo-
Mapa de Minerodutos). ro no mundo para a movimentação de bauxita, gia spray dryer (atomizador) para conferir ca-
A primeira fase da mina de Paragominas, está dimensionado para uma capacidade de pro- racterísticas de pré-dispersão ao produto final.
que terá capacidade de produção de 5,4 Mtpa, dução de 14,4 milhões de toneladas de minério Em 2001, a IMERYS iniciou a movimentação
encontra-se atualmente em desenvolvimento de alumínio, o que será alcançado na fase III de do caulim em polpa com uso de balsas. No ano
juntamente com a construção de um minero- Paragominas. seguinte, as balsas foram substituídas no trans-
duto de 244 km de extensão para transporte da Na PPSA, o transporte é realizado por um mi- porte do minério por um mineroduto com 158
bauxita produzida desde a mina até a refinaria neroduto de 180 km de extensão e, em Barcarena, km de extensão.

245
PRODUÇÃO DE
RIQUEZAS E
MODOS DE VIDA
NO CAMPO
AGRICULTURA: PRINCIPAIS LAVOURAS
agricultura: principais lavouras
Merilene do Socorro Silva Costa
Maria de Nazaré Martins Maciel
produção de riquezas e modos de vida no campo

O
presente estudo teve como Em relação ao cultivo de pimenta-do-reino, para 6 ou 7, resultando em maiores desestímulos
objetivo analisar a realida- trata-se de uma das atividades de maior relevância para os produtores, em conjunto com outros fatores,
de das práticas agrícolas dos do agronegócio paraense e regional, assumindo po- tais como deficiência na infra-estrutura para estocar
municípios de Tomé-Açu, Aurora do Pará, sição de destaque na pauta de exportações agrícolas e (armazém), além de uma política de subsídios para
Ipixuna do Pará, Paragominas e Ulianópo- na ocupação de mão-de-obra no meio rural. Tomé- essa atividade. Nos anos de 1979 e 1980, confor-
lis. Esta análise foi feita a partir de dados Açu configura-se como o maior produtor dentre me a série histórica do rendimento da produção da
obtidos no Instituto Brasileiro de Geografia os municípios analisados (Gráfico 1), bem como o pimenta-do-reino, esta situava-se acima de 3.000,00
e Estatística (IBGE), por meio das publica- segundo em nível estadual. Paragominas também kg/ha, sendo reduzida nos últimos dez anos para, no
ções anuais da Produção Agrícola Munici- ocupa um lugar de destaque na produção de pi- máximo, 2.500,00 kg/ha, dependendo dos tratos cul-
pal (PAM) no período de 1995 a 2006. As menta-do-reino, enquanto os demais municípios turais, incluindo as adubações de NPK, por ser esta
variáveis que forneceram subsídios para se apresentam produções mais modestas. uma cultura exigente em nutrientes.
constatar a evolução ou involução da agri- Em 1995 a produção de pimenta-do-reino em A variação da área colhida (ha), verificada no Grá-
cultura – envolvendo as culturas voltadas Tomé-Açu foi de 1.300 t, gerando R$ 1.435.000,00, fico 2, segue a mesma tendência da produção, pois
para o abastecimento interno e aquelas li- porém em 2000 nota-se um incremento de quase está relacionada com a subida dos preços, quando os
gadas ao agronegócio – foram: produção (t/ 400% na produção e o valor da produção foi de R$ produtores tomam a decisão de plantar. Em Tomé-
ha); área colhida (ha); rendimento (kg/ha); 24.441.000,00. Esse crescimento da produção pode Açu, no ano de 1995, a área colhida ficou em 725 ha,
e valor da produção (mil reais). ser explicado analisando-se a série histórica de preços já no ano 2000 cresceu para 2.010 ha.
A importância de se conhecer o com- alcançados no mercado pelo produto, verificando-se Tomé-Açu, na década de 1990, foi um grande
portamento dos indicadores referentes a que a pimenta-do-reino permaneceu em queda por produtor de maracujá, porém nos últimos cinco
uma determinada cultura faz-se no senti- quase toda a década de 1990, com uma pequena anos a produção sofreu grande queda. Os dados do
do de se direcionar melhor a sua explora- recuperação em 1999, voltando a cair em 2004, quando IBGE mostram que em 1995 Tomé-Açu produziu
ção. Assim, o conhecimento do valor da se observa um novamente declínio da produção. 73.640 t de maracujá, porém em 2005 a produção
produção, tal como a evolução dos preços Quanto à produtividade (kg/ha) da pimenta-do- foi de 3.500 t, com área colhida de 350 ha, tor-
ao longo do tempo, permite ações dos pro- reino, constata-se que permanece quase que estag- nando-se este município o quarto maior produtor
dutores na tomada de decisões em investir, nada, não havendo grandes flutuações no período de do Pará. Atualmente, em relação aos municípios
dos planejadores na concessão do crédito 1995 a 2005. Esse comportamento é explicado, tal- analisados, Aurora do Pará é o que mais se destaca
rural (Bancos), bem como o entendimen- vez, pela ausência de pesquisa para diminuir o pro- na produção de maracujá. Nos últimos cinco anos,
to das flutuações do mercado (oferta e de- blema fitossanitário da doença fusariose, que reduziu o município tem mantido uma produção de 5.000
manda) de um produto agrícola. o ciclo de vida da pimenteira, em média, de 12 anos t e uma área colhida de 500 ha, sendo em 2005
A análise seguiu os critérios adotados
pelo IBGE, que classifica os dados de la- GRÁFICO 1 - Evolução da produção de pimenta-do-reino no período de 1995 a 2005
voura em permanentes e temporárias.
Assim sendo, foram analisados, primeira-
mente, dados referentes à produção agrí-
cola de culturas permanentes e, em segui-
da, os dados referentes à produção agrícola
de culturas temporárias, dentro das quais
foram analisadas, separadamente, as cul-
turas da soja, do milho e do arroz, por se-
rem estes gêneros produtos importantes
no contexto do agronegócio do Estado do
Pará e, por conseguinte, da economia de
base agrícola da área de estudo do Atlas.

FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal.


PRODUÇÃO AGRÍCOLA DE
CULTURAS PERMANENTES GRÁFICO 2 - Evolução da área colhida com pimenta-do-reino no período de 1995 a 2005

Dos cinco municípios analisados neste


trabalho, Tomé-Açu é o que apresenta a
maior diversidade de produção de cultu-
ras permanentes, entre as quais destaca-se
o cultivo do dendê, pimenta-do-reino,
maracujá, coco-da-baía e cacau. Contri-
buem para a vocação agrícola deste mu-
nicípio a colonização japonesa, o tipo de
solo e o clima, além de sua posição ge-
ográfica estratégica, próximo também a
Paragominas, que é um grande centro FONTE: IBGE, Produção Agrícola Municipal.
consumidor. ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 1 e 2: Os autores (2007).

248
o segundo maior produtor do Estado. Ipixuna do justamente, ao cultivo da mandioca (ver Colônias (EMBRAPA/Amazônia Oriental), forneceram as
Pará também produz maracujá e entre 2002 e 2004 e Assentamentos Rurais). bases tecnológicas para o desenvolvimento da mo-
manteve uma produção de 5.236 t, porém em 2005 No ano de 2002, a produção de Ipixuna do Pará nocultura de grãos. No início da implantação do
sofreu grande declínio, apresentando uma produ- e Aurora do Pará esteve praticamente equiparada monocultivo da soja no Pará, a partir de 1997, os
ção de 1.440 t. em torno de 21.000 t, porém Aurora do Pará co- municípios de Paragominas e de Ulianópolis fo-
Dentre a produção de frutas, Tomé-Açu é o lheu uma área de 2.500 ha a menos que Ipixuna do ram os pólos mais importantes, onde o Banco da
município que apresenta as mais representativas Pará (Gráfico 4), o que é explicado pela diferen- Amazônia, por sua vez, tem financiado fazendas de
produções de cupuaçu e acerola do Estado do Pará. ça de rendimento da cultura, pois a partir do ano milho e soja e processadoras de grãos.
Tomé-Açu também se destaca na produção de ba- de 2002 Aurora do Pará alcançou um rendimento No cenário do agronegócio da soja, observa-se
nana, coco-da-baía e laranja. Embora o mamão te- de 22.000 t/ha, enquanto Ipixuna se manteve com uma grande expansão, nos últimos seis anos, rea-
nha sido um produto importante na década de 80 18.000 t/ha. lidade presente nos municípios de Ulianópolis e
em Tomé-Açu, hoje é o município de Aurora do Os cinco municípios produzem feijão, com Paragominas. Segundo o IBGE, em 2000 a pro-
Pará que se destaca. A partir de 2000 a castanha de maiores produções em Aurora do Pará e Ipixuna dução de soja em Ulianópolis foi de 180 t, e em
caju se mostrou presente na lavoura de Aurora do do Pará. A cana-de-açúcar tem lugar de destaque Paragominas foi de 1.155 t, sendo que para 2006 é
Pará, Ipixuna do Pará, Paragominas e Ulianópolis, no município de Ulianópolis, o qual gera 90,8% da prevista uma safra na ordem de 18.751 t em Ulia-
com destaque para o município de Paragominas. produção do Estado, segundo dados de 2005 for- nópolis, e 30.000 t em Paragominas, mostrando a
necidos pelo IBGE. importância desses dois municípios no cenário da
PRODUÇÃO AGRÍCOLA DE CULTURAS A soja, o milho e o arroz são produtos que se expansão da soja no Estado do Pará. Os dados de
TEMPORÁRIAS destacam no contexto do agronegócio, portanto 2004 mostram Ulianópolis como o quarto maior
serão tratados separadamente a seguir. produtor de soja do Estado e Paragominas como o
A cultura de mandioca se faz presente nos cin- quinto, concentrando, juntos, 22% de toda a pro-
co municípios estudados, porém Ipixuna do Pará e AGRONEGÓCIO DA SOJA, MILHO dução do Estado.
Aurora do Pará são os que detêm a maior produção E ARROZ Conforme observado nos Gráficos 5 e 6, em
(Gráfico 3), sendo, respectivamente, o segundo e 2002 a produção de soja foi de 1.170 t, alcançando
terceiro maiores produtores do Estado, segundo A expansão da monocultura de grãos no Pará valor de R$ 991.000,00 em Ulianópolis, e de 3.326
dados de 2005 do IBGE. Tal fato pode estar ligado tem contado com o incentivo da estrutura dos go- t, com valor de R$ 2.262.000,00 em Paragominas,
à presença marcante dos pequenos produtores nos vernos desde 1999, fornecendo-lhe bases tecno- representando, em relação ao ano de 2000, um in-
assentamentos rurais existentes nestes dois muni- lógicas, financiamentos e infra-estrutura. O Go- cremento de 550% na produção de Ulianópolis
cípios, uma vez que a principal produção agrícola – verno Paraense e as Instituições Federais, como e 188% na produção de Paragominas. Em 2003,
baseada na agricultura familiar – deles diz respeito, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária a produção de Ulianópolis e Paragominas seguiu
patamares semelhantes aos do crescimento do

produção de riquezas e modos de vida no campo


GRÁFICO 3- Evolução da produção de mandioca no período de 1995 a 2005 ano anterior, com incremento de 511% e 160%,
respectivamente. Observa-se, no entanto, que o
valor da produção em Ulianópolis foi baixo (R$
2.574.000,00), não seguindo a mesma tendência
do crescimento da produção.
É importante destacar, a partir dos dados do
IBGE para o ano de 2004, que tanto em Ulianópo-
lis quanto em Paragominas o incremento na pro-
dução de soja caiu de maneira relevante, quando
comparado ao ano anterior. Em 2004 a produção
de soja em Ulianópolis foi de 11.570 t, com au-
mento de somente 61% em relação à produção de
2003. Tal fato pode ser atribuído ao baixo valor da
produção alcançado na safra anterior. Já em Para-
gominas, observa-se um crescimento na produção
FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal. de apenas 13% em relação a 2003.
Em 2005, a produção de soja em Ulianópolis
GRÁFICO 4 - Evolução da área colhida com mandioca no período de 1995 a 2005 atingiu 16.779 t, representando um aumento em
torno de 45% em relação a 2004, e em Paragomi-
nas a produção cresceu em 114%, atingindo 20.970
t, gerando R$ 8.702.000,00.
Por meio de dados preliminares de previsão de
safra produzidos pelo IBGE para 2006, observa-se
que, embora a produção de soja em Ulianópolis e
em Paragominas, em relação a 2005, tenha aumen-
tado, o incremento é de apenas 11% em Ulianó-
polis, com previsão de queda marcante no valor da
produção, gerando em torno de R$ 7.500.000,00.
Em Paragominas, percebe-se um aumento na pro-
dução de 43%, com geração de R$ 7.500.000,00.
De um modo geral, em ambos os municípios, ve-
rifica-se uma tendência de queda de incremento
FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal. da produção, o que pode ser atribuído aos baixos
ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 3 e 4: Os autores (2007). preços da soja alcançados nos dois últimos anos.

249
produção de riquezas e modos de vida no campo

GRÁFICO 5- Evolução da produção de soja no período de 2000 a 2006

FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal.


ELABORAÇÃO: Os autores (2007).

250
Analisando-se a evolução de área colhida com
GRÁFICO 6- Evolução do valor da produção de soja no período de 2000 a 2006
soja nos municípios de Ulianópolis e Paragominas,
no período que vai de 2002 a 2006 (Gráfico 7), ob-
serva-se que esta segue a mesma tendência da evo-
lução de crescimento da produção, pois estes dois
aspectos estão intimamente ligados, uma vez que,
segundo o IBGE, em ambos os municípios o ren-
dimento da cultura ficou em torno de 3 t/ha. Em
Ulianópolis, a área colhida com soja em 2000 foi de
100 ha e passou para 6.440 ha em 2006, representan-
do um crescimento de 65 vezes, e em Paragominas
de 550 ha passou para 10.000 ha, o que corresponde
FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal.
a um crescimento relativo de 18 vezes.
Igualmente à produção de soja, a partir do ano
2000, Paragominas e Ulianópolis se destacaram na
GRÁFICO 7- Evolução da área colhida com soja no período de 2000 a 2006 produção de milho e arroz (Gráficos 8 e 9), carac-
terizando-se como importantes pólos produtivos
de grãos no contexto estadual. Estes municípios
apresentaram uma produção crescente no perío-
do de 1995 a 2005. Os demais municípios anali-
sados apresentaram, neste mesmo período, uma
estabilidade ou um pequeno crescimento de sua
produção de milho e arroz. Tomé-Açu e Aurora
do Pará foram os que tiveram a menor produção.
Ulianópolis e Paragominas tiveram cada um, em
2005, uma produção de milho na ordem de 50.000
FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal. t, e a de arroz na ordem de 40.000 t; Tomé-Açu
produziu 1.380 t de milho e Aurora do Pará pro-
duziu somente 760 t de arroz.
GRÁFICO 8- Evolução da produção de milho no período de 1995 a 2005 Em 2002, percebe-se que Ulianópolis e Parago-
minas se equipararam em termos de produção de

produção de riquezas e modos de vida no campo


milho. Ambos produziram em torno de 30.000 t,
no entanto a área colhida em Ulianópolis (Gráfico
10) foi de 3.640 ha, menor que a de Paragominas.
Tal fato pode ser explicado analisando-se o Gráfi-
co 11, que mostra que em 2002 o rendimento da
cultura do milho em Ulianópolis foi bem supe-
rior ao de Paragominas, com diferença de quase
2,4 t em cada hectare plantado. A mesma situação
pode ser verificada nos anos posteriores, em que o
rendimento da cultura em Ulianópolis é relevan-
temente superior aos demais municípios, e, conse-
qüentemente, o valor de sua produção também é
FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal. muito maior. Essa diferença no rendimento pode
ser atribuída à utilização mais eficiente da base
tecnológica, o que inclui a utilização de cultivares
mais adaptados para a região e o manejo adequado
GRÁFICO 9- Evolução da produção de arroz no período de 1995 a 2005 da cultura.
Em contrapartida, Aurora do Pará, que dentre
os municípios analisados ocupa a terceira coloca-
ção em área colhida com milho, é o que apresenta
o menor rendimento da cultura, não sendo ob-
servada nenhuma evolução ao longo dos últimos

FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal.

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 6 a 9: Os autores (2007).

251
10 anos (Gráfico 11). A mesma observação é feita
para a cultura do arroz, em que os municípios que
menos produzem são, também, os que apresentam
o menor rendimento da cultura (Gráfico 12). Isso
produção de riquezas e modos de vida no campo

demonstra claramente a carência de assistência téc-


nica aos produtores que estão fora do contexto do
agronegócio e que têm a cultura do arroz e milho
GRÁFICO 10- Evolução da área colhida com milho no período de 1995 a 2005
como base de subsistência familiar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O município de Tomé-Açu sobressai de forma


significativa em todos os anos consultados devido
a apresentar maior diversificação da produção de
culturas permanentes, dentre as quais destaca-se
a pimenta-do-reino. Este município também per-
manece como um grande produtor e exportador de
pimenta-do-reino em virtude da área plantada, mas
a produtividade local já foi há muito tempo ultra-
passada, e atualmente chega no máximo a 2.500kg/
ha. Infelizmente, esse resultado confirma a inca-
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal.
pacidade do setor agrícola de vencer obstáculos,
tais como a pesquisa no combate às moléstias que
atacam esta cultura, e das políticas governamentais
para dinamizar a lavoura, propiciar melhores infra-
estruturas para armazenamento da produção, bem GRÁFICO 11- Evolução do rendimento da cultura do milho no período de 1995 a 2005
como assistência técnica. Acredita-se que somente
com a organização dos produtores é que Tomé-
Açu pode caminhar para não perder a condição de
grande produtor de pimenta-do-reino. Ademais, o
Banco da Amazônia, como órgão de financiamento
à agricultura paraense, deve incentivar a cultura da
pimenta-do-reino em consórcio com outras culturas
e/ou adotando um sistema SAF (Sistema Agro-
florestal).
Com relação às culturas temporárias, destaca-se
o papel significativo de Paragominas e Ulianópo-
lis no conjunto da região estudada e, inclusive, no
Estado do Pará. Estes municípios são importantes
pólos produtivos de grãos, especialmente milho, Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal.

arroz e soja, onde estas culturas apresentam ren-


dimentos superiores em relação aos demais mu-
nicípios estudados, o que leva a crer na existência
de um modelo intensivo de agricultura nestes dois GRÁFICO 12 - Evolução do rendimento da cultura do arroz no período de 1995 a 2005
municípios.
Aurora do Pará e Ipixuna do Pará, por sua vez,
são grandes produtores de mandioca no Estado,
reflexo da presença marcante dos pequenos pro-
dutores de base familiar em assentamentos rurais.
É notória, no entanto, a falta de assistência técnica
nestes municípios o que traduz os baixos rendi-
mentos da produção das culturas praticadas, espe-
cialmente as culturas do milho e do arroz.

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal.

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 10 a 12: Os autores (2007).

252
253

produção de riquezas e modos de vida no campo


Texto Especial:

PECUÁRIA
pecuária
produção de riquezas e modos de vida no campo

Almir Vieira Silva • Paulo Campos Christo Fernandes.

INTRODUÇÃO em pequena escala em uma região onde, tradicio- O Gráfico 1 mostra o estado civil dos produto-
nalmente, os grandes latifúndios possuem grande res, conforme o município avaliado. Em ambos os
O estudo da evolução dos sistemas pro- expressão. municípios a grande maioria dos produtores são
dutivos pecuários do Nordeste e Sudeste O trabalho foi conduzido com pequenos pro- formalmente casados. Em Tomé-Açu, 29,4% dos
do Estado do Pará tem grande expressão, dutores rurais de Tomé-Açu, mais especificamente produtores vivem sob o contexto de união está-
uma vez que os municípios localizados com aqueles vinculados aos assentamentos ru- vel, fato também observado para 18,0% dos pro-
nestas áreas estão fortemente relaciona- rais Miritipitanga e Tropicália, assim como com dutores de Paragominas. Os produtores solteiros
dos ao processo de desenvolvimento da pequenos produtores oriundos do assentamen- correspondem a 11,8% em Tomé-Açu e 21,3% em
Região Amazônica. Existem municípios to rural Paragonorte, localizado no município de Paragominas. A grande maioria daqueles que ad-
com o relato de implantação de sistemas Paragominas. Este último é, na atualidade, consi- ministram as propriedades está inserida no contex-
produtivos onde as tecnologias geraram derado o maior assentamento rural do Estado do to familiar, refletindo, assim, a adequação do Pro-
boas e más experiências. O potencial agro- Pará. Uma amostra representativa de produtores grama Nacional de Reforma Agrária. Poucos são
pecuário dos municípios de Tomé-Açu e foi entrevistada e, mediante a avaliação da freqüência os solteiros, que, uma vez estimulados, poderão
Paragominas, tomados na presente análi- de ocorrência das respostas, os dados foram tabu- estruturar suas famílias mantendo o interesse pela
se como locus de pesquisa, destacou-se na lados, interpretados e comentados. As entrevistas atividade rural.
atração de investidores pelo custo da terra ocorreram no mês de setembro de 2006 e, ao todo, No Gráfico 2 são apresentadas as regiões/estados
relativamente convidativo se comparado foram entrevistados 95 produtores, sendo 34 deles de origem dos produtores inseridos no contexto da
às áreas supervalorizadas do Centro-Sul oriundos dos assentamentos localizados em Tomé- pequena produção dos municípios avaliados.
brasileiro. Açu e 61 em Paragominas. No município de Tomé-Açu a grande maio-
Para possibilitar a compreensão de Quanto ao universo dos grandes produtores, ria dos produtores (64,8%) é oriunda da própria
como esta área de estudo está estruturada foram realizadas entrevistas com 50 pecuaristas Região Norte do Brasil, sobretudo do Estado do
e evoluída em relação à pecuária, fez-se de Tomé-Açu e 53 pecuaristas de Paragominas, Pará (61,9% dos casos), enquanto 29,3% dos pro-
necessária uma pesquisa nos setores pro- os quais foram selecionados por desenvolverem dutores vieram do Nordeste (Maranhão, Ceará
dutivos, visando determinar e enten- atividades ligadas à criação de bovinos, ovinos, ca- e Piauí, principalmente), 2,9% do Centro-oeste
der como o cidadão que responde pelas prinos, suínos, aves e peixes, dentre outras. As en- e 2,9% do Sudeste. No município de Paragomi-
propriedades pensa e executa suas ações. trevistas foram realizadas no mês de setembro de nas, os nordestinos, sobretudo os maranhenses,
Neste sentido, foi conduzida uma pes- 2006 e executadas por uma equipe técnica que vi- são os principais responsáveis pela ocupação das
quisa que visou interpretar a realidade dos sitou propriedades rurais, escritórios, residências, pequenas propriedades, atingindo 67,2% destas,
sistemas produtivos pecuários em Tomé- casas agropecuárias, dentre outros locais. enquanto 31,1% das propriedades são ocupadas
Açu e Paragominas, o que, em específico, por famílias da própria Região Norte, mais es-
versou sobre a realidade dos pequenos e PEQUENO PRODUTOR pecificamente do Estado do Pará. Neste mesmo
dos grandes produtores. município apenas 1,7% dos produtores migraram
Em relação ao pequeno produtor, por Estrutura social e relação do produtor do Sudeste brasileiro. Observou-se, ainda, que o
ser grande a demanda de conhecimento com o universo rural processo de migração que acometeu as duas lo-
sobre a realidade da produção pecuária Uma visão a respeito de quem lidera o proces- calidades investigadas ocorreu de modo diferen-
vinculada às pequenas propriedades ru- so administrativo das propriedades, assim como do ciado. Em Tomé-Açu a permanência do cidadão
rais, sobretudo as do Nordeste Paraense, contexto familiar, é apresentada a seguir. Neste sen- paraense é destacada, enquanto em Paragominas
foi proposta uma avaliação cujo objetivo tido, pôde ser avaliada a participação dos homens há forte influência nordestina, colonizações que,
maior foi analisar as pessoas, saber como e das mulheres na gestão das pequenas proprieda- provavelmente, interferem nos hábitos e costu-
elas pensam, conhecer quais são as di- des em ambos os municípios. A grande maioria das mes locais.
ficuldades encontradas, o que desejam propriedades de Tomé-Açu (85,3%) e Paragominas Foi efetuada a investigação da idade média dos
apreender, dentre outras questões. O (82,0%) é gerenciada por homens, o que demonstra produtores que administram as propriedades nos
envolvimento do produtor familiar com a existência da estrutura patriarcal e o quanto é ne- dois municípios investigados, sendo que o Gráfico
o desenvolvimento regional poderá indi- cessário incentivar a qualificação e o senso empre- 3 mostra o intervalo de idades.
car se as ações de apoio a estes produto- endedor das mulheres nestas comunidades, a fim de Em Tomé-Açu, 26,6% dos administradores das
res estão tendo resultados satisfatórios, a que a renda familiar aumente, por exemplo, através propriedades possuem idade entre 51 e 60 anos,
fim de viabilizar a produção agropecuária do processamento artesanal da matéria-prima. 23,5% entre 31 e 40 anos, sendo ainda que um

GRÁFICO 1 – Estado civil do produtor (%) GRÁFICO 2 – Estados ou Regiões de origem dos produtores (%)

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 1 e 2: Os autores (2006).

254
percentual semelhante a este possui idade entre 41 escolaridade e idade do produtor, indicando que TABELA 1 – Número de pessoas da família que
e 50 anos, e apenas 14,7% têm idade inferior a 30 as ações de educação para adultos, principalmente trabalham fora da propriedade (%)
anos. Em Paragominas, a faixa etária predominante a alfabetização, precisa ocorrer para todas as faixas Número de
Tomé-Açu Paragominas
está entre 51 e 60 anos (39,3%), 18% dos produto- etárias. pessoas
res possuem entre 31 e 40 anos, assim como outro Relacionando as informações contidas nos Grá- Nenhuma 82,4 65,6
grupo com percentual semelhante possui entre 41 ficos 2 e 4, é possível concluir que o maior pro- 1 5,9 23,0
2 8,8 8,2
e 50 anos, 14,9% possuem entre 61 e 70 anos, 4,9% cesso migratório incidente sobre o município de
3 2,9 1,6
têm idade igual ou inferior a 30 anos e também Paragominas tem na sua base cidadãos com maior
4 0,0 1,6
4,9% chegaram aos 70 anos de idade. De modo ge- dificuldade de acesso à alfabetização, o que pode ELABORAÇÃO: Os autores (2006).
ral, os produtores de Tomé-Açu são mais jovens, ser reflexo da estrutura ofertada nos estados de
o que sinaliza a possibilidade de serem receptivos origem. É perceptível, também, que a maioria dos Em Tomé-Açu, a maioria das pessoas (82,4%)
aos novos processos produtivos, desde que moti- produtores de Tomé-Açu teve acesso à primei- mantém-se vinculadas à estrutura produtiva fa-
vados adequadamente. O relativo avanço da idade ra etapa de alfabetização (1ª a 4a séries do ensino miliar, índice que sofre relativa redução entre as
dos produtores de Paragominas indica a necessida- fundamental). Portanto, percebe-se a importân- famílias de pequenos produtores de Paragominas
de de integrá-los a programas de qualificação es- cia de investimento imediato na educação básica (65,6%). Nas demais famílias (34,4%) há busca, por
pecíficos, que possam atender as suas expectativas destes líderes da produção familiar, no que tange parte de pelo menos um de seus membros, por al-
imediatas. Devem ser também priorizadas ações de ao desenvolvimento e à qualidades das atividades ternativas de complementação de renda. Os dados
qualificação voltadas à produção, tanto para os fi- desenvolvidas por essas famílias que anseiam por evidenciam o baixo atendimento das expectativas
lhos destes quanto para os demais produtores, que melhorias e conhecimento. econômicas de boa parte dos envolvidos, colocan-
juntamente com os produtores com idade inferior do em risco o futuro vínculo agrário familiar.
a 30 anos devem ser estimulados a comprometer- O vínculo familiar à propriedade e a Foi também determinado o percentual de pro-
se com o mérito de estarem ligados ao setor pro- geração de oportunidades de trabalho dutores que possuem outras rendas, além daquela
dutivo familiar. na pequena propriedade obtida na propriedade, estando os resultados dis-
Considerando a importância da formação básica A avaliação retratando a relação do produtor poníveis no Gráfico 5.
por parte dos produtores de Tomé-Açu e Paragomi- com o universo rural no qual está atualmente in- Em Tomé-Açu, 55,9% dos produtores não pos-
nas, e a fim ser avaliado o potencial de compreensão serido é tratada neste item. Inicialmente, os pe- suem nenhuma fonte de renda complementar, fato
e possíveis estímulos a serem trabalhados, foi efetu- quenos produtores de Tomé-Açu e Paragominas observado também para 50,0% dos produtores de
ada a investigação do nível de escolaridade destes, foram questionados quanto à existência, ou não, Paragominas. Isto reflete a condição de integral de-
estando os resultados dispostos no Gráfico 4. de dependência total da renda familiar em relação pendência com a produção agropecuária em cerca
O índice de analfabetismo entre os pequenos à propriedade. Nota-se que 55,9% dos pequenos da metade das famílias estudadas. Em Tomé-Açu,
produtores de Tomé-Açu corresponde a 5,9%. produtores de Tomé-Açu vivem exclusivamente 20,6% das famílias de produtores são beneficiadas

produção de riquezas e modos de vida no campo


A grande maioria (88,2%) dos produtores estu- da renda gerada pela propriedade, enquanto em com auxílios governamentais, enquanto somente
dou até a 4a série do ensino fundamental e apenas Paragominas esse índice é de 49,2%. Cerca da me- 5,0% das famílias de Paragominas recebem este tipo
5,9% avançaram neste nível de ensino. Já no que tade dos produtores, de ambos os municípios, vive de complemento. Esta substancial diferença talvez
se refere à escolaridade dos produtores avaliados exclusivamente da renda gerada, enquanto a outra seja explicada pela maior demanda de assistência so-
em Paragominas, 21,3% são analfabetos, 47,6% metade necessita buscar outras fontes de renda cial aos pequenos produtores de Tomé-Açu. Contu-
a
estudaram até a 4 série do ensino fundamental, para complementarem o sustento da família, in- do, trata-se de uma inferência não comprovada que
sendo que 22,9% avançaram neste nível de en- dicando que a renda de grande parte dos proprie- precisa ser mais bem analisada pelas comunidades
sino, e 8,2% chegaram ao ensino médio. Ficou tários não atende à expectativa desejada por eles e e gestores de políticas assistenciais. Por outro lado,
evidenciado que a grande maioria dos pequenos seus entes. um maior número de membros vinculados às fa-
produtores, em ambos os municípios avaliados, Ainda neste contexto, foi determinado o quan- mílias de Paragominas busca outras fontes de renda
possui um nível de escolaridade aquém daquele titativo de membros das famílias que trabalham complementar fora do universo rural, o que revela a
demandado por pessoas envolvidas com a pro- fora de propriedade, estando os resultados obtidos ocorrência da dispersão em relação ao nobre objeti-
dução de alimentos de boa qualidade e que ofe- dispostos na Tabela 1. vo de tornar a propriedade produtiva e rentável.
reçam segurança alimentar às suas Em Tomé-Açu, 11,8% das famí-
GRÁFICO 3 – Idade dos produtores (%) lias possuem membros que recebem
próprias famílias e ao comércio em
geral. Recomenda-se, portanto, o es- aposentadoria, benefício também
tabelecimento de ações estratégicas alcançado por 13,3% das famílias de
que resultem na maior capacidade de produtores de Paragominas. Em 8,8%
compreensão da própria existência, das famílias de produtores de Tomé-
assim como dos princípios envol- Açu e 3,3% daquelas que vivem em
vidos com os setores da produção. Paragominas a fonte complementar
Não existiu correlação entre nível de advém de atividades relacionadas ao

GRÁFICO 4 – Nível de escolaridade dos produtores (%) GRÁFICO 5 – Percentual de produtores com renda complementar (%)

7UDEDOKRHVSRUiGLFR

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 3 a 5: Os autores (2006).

255
comércio local, mediante emprego de algum
membro. Algum tipo de trabalho esporádico é
realizado por 5,9% dos membros das famílias de
Tomé-Açu e por 10,0% das pessoas oriundas das
produção de riquezas e modos de vida no campo

TABELA 2 – Profissões exercidas antes da aquisição da propriedade, (%)


famílias dos produtores de Paragominas, neste Profissões Tomé-Açu Paragominas
último 5,0% exercem o ofício de professor. Ou- Agricultor 47,4 42,1
tras atividades capazes de complementar a renda Agricultor e pecuarista 8,8 3,4
familiar foram relatadas por 2,9% dos produto- Agricultor e outras profissões1 5,8 1,7
res de Tomé-Açu e por 13,3% dos produtores de Vaqueiro 8,8 3,4
Paragominas (Gráfico 5). Outras profissões1 29,2 49,3
1
Visando conhecer a vocação dos produtores Auxiliar de pedreiro, cabeleireiro, carpinteiro, comerciante, empregada doméstica, escriturário, estofador, madeireiro, mecânico, moto-
rista, operador de máquinas, pedreiro, professor, serralheiro, vigilante e zelador.
vinculados aos dois municípios investigados, até
o momento da aquisição das atuais proprieda-
TABELA 3 – Número de pessoas que compõem as famílias dos produtores (%)
des, foi efetuado um questionamento específico
sobre as suas profissões, estando o resultado ob- Número de pes- Tomé-Açu Paragominas
soas % cumulativa % cumulativa
tido na Tabela 2.
1-2 5,9 - 14,8 -
Os produtores que exerceram profissões
3-4 23,5 29,4 36,1 50,8
vinculadas ao universo rural antes de adquiri-
5-6 35,3 64,7 29,5 80,3
rem sua propriedade correspondem a 78,2% em 7-8 26,5 91,2 11,5 91,8
Tomé-Açu e somente 50,6% em Paragominas. 9-10 5,9 97,1 3,3 95,1
É evidente que em Tomé-Açu há uma maior li- 10 2,9 100,0 4,8 100,0
gação histórica do produtor às atividades rurais,
devendo ser priorizadas neste município ações TABELA 4 – Contratação de mão-de-obra temporária pelos produtores (%)
voltadas ao aperfeiçoamento dos produtores, so- Contratações Tomé-Açu Paragominas
bretudo no que tange ao acesso às tecnologias Não contrata 44,1 51,6
capazes de propiciarem a diversificação das ati- Bimestralmente 0,0 3,3
vidades, para que possam verdadeiramente evo- Semestralmente 2,9 5,0
Anualmente 2,9 0,0
luir quanto à qualidade de vida das famílias pre-
Mensalmente 0,0 3,3
sentes nas localidades investigadas. Quanto aos
Eventualmente 6,0 6,7
produtores de Paragominas, faz-se necessária a
Conforme a necessidade 11,8 1,7
programação especial voltada à capacitação fa- Raramente 2,9 1,7
miliar, a fim de que toda a família possa ser mo- Continuamente 26,5 26,7
tivada quanto à aprendizagem de novas tarefas, Não soube responder 2,9 0,0
partindo da compreensão dos eventos aos quais
estas se relacionam. TABELA 5 – Objetivos da contratação de mão-de-obra (%)
O tamanho das famílias dos produtores em Tomé-Açu Paragominas
ambos os municípios avaliados é apresentado na Não contrata 44,1 51,6
Tabela 3. Conserto de cerca (CC) e limpeza de pasto (LP) – No verão 0,0 21,6
A maioria das famílias de Tomé-Açu possui CC e LP – No inverno 2,9 3,3
entre 5 e 6 membros (35,3%), sendo a presença Serviços gerais – Ano todo 6,0 5,0
Roçagem do pasto (RP) 2,9 11,7
entre 7 e 8 membros equivalente a 26,5% dos
Colheita (C) 29,4 1,7
casos. Dentre as famílias dos pequenos produto-
C e RP 11,8 1,7
res de Paragominas, 36,1% são constituídas por
Formar pastos 0,0 1,7
3 e 4 membros, enquanto 29,5% possuem entre Não soube responder 2,9 1,7
5 e 6 membros. As famílias de Paragominas são ELABORAÇÃO DAS TABELAS 2 a 5: Os autores (2006).
menos numerosas, 50,8% com até 4 membros
versus 29,4% em Tomé-Açu, isto explica a dife-
rença nos percentuais de famílias com subsídios tipo de apoio. Os demais produtores contratam (21,6%), uma mão-de-obra engajada nas ati-
de programas governamentais de complementa- trabalhadores temporários com freqüência va- vidades de conserto de cercas e limpeza dos
ção de renda (Gráfico 5). riável (Tabela 4). Os produtores de ambos os pastos, sendo ainda 11,7% dos contratados de-
Na busca de determinar a capacidade geradora municípios estão alinhados quanto à capacida- signados especificamente para o trabalho de
de oportunidades (empregos), os pequenos pro- de de contratação de mão-de-obra temporária, limpeza de pastos. Os demais contratados, nas
dutores dos dois municípios investigados foram ação que tem importância na criação de opor- duas localidades avaliadas, lidam com ativida-
questionados quanto ao nível de contratação de tunidades de trabalho para outros cidadãos das des diversas (Tabela 5). A contratação de mão-
mão-de-obra temporária nas propriedades. Os comunidades envolvidas. de-obra temporária eleva a potencialidade da
resultados obtidos estão dispostos na Tabela 4. A Tabela 5 descreve os principais objetivos função social das propriedades. A operação de
Um pouco menos da metade (44,1%) dos das contratações de mão-de-obra. colheita em Tomé-Açu, onde a atividade agrí-
produtores de Tomé-Açu não demandam mão- No município de Tomé-Açu, a maior par- cola é mais expressiva, absorve a maior parte
de-obra temporária. A maior parte (26,5%) te da mão-de-obra temporária contratada da mão-de-obra, enquanto em Paragominas
dos que necessitam deste tipo de mão-de-obra (29,4%) é direcionada à condução de ativida- é a pecuária a principal atividade responsável
contrata-a continuamente e 11,8% somente des relacionadas à exploração agrícola, ou para pela absorção deste tipo de mão-de-obra, fato
quando necessitam. Quanto aos produtores de a atividade agrícola e roçagem das pastagens que revela a necessidade de estruturar progra-
Paragominas, 51,6% também não utilizam mão- simultaneamente (11,8%). A maioria dos pro- mas de capacitação profissional diferenciados
de-obra temporária, 26,7% contratam conti- dutores de Paragominas efetua a contratação à realidade de cada município e de seus traba-
nuamente e 6,7% eventualmente buscam este em caráter temporário durante o período seco lhadores.

256
A infra-estrutura das propriedades O tamanho das pequenas propriedades de terceiros a propriedade recebida originalmente
O modo como o produtor recebeu a pro- Tomé-Açu e Paragominas foi investigado, sendo pelo INCRA. O repasse das terras em Paragomi-
priedade, as dificuldades estruturais que encon- apresentadas na Tabela 7 as freqüências de distri- nas foi baixo (4,9%) evidenciando o êxito na fixa-
tra para produzir e viver e as suas expectativas buição obtidas conforme as áreas existentes. ção das famílias beneficiadas pelos programas de
quanto ao que vem sendo estruturado são apre- Dentre as propriedades de Tomé-Açu, 58% reforma agrária. Este último resultado necessita
sentados a seguir. delas possuem área entre 26 e 50 ha, enquanto ser mais bem investigado, a fim de que possam ser
A Tabela 6 apresenta a opinião dos produtores 22,6% são inferiores a 25 ha e 19,4% superam 51 determinadas com precisão as causas relacionadas
quanto às condições das estradas que dão acesso às ha. Em Paragominas, a grande maioria (91,8%) à fixação dos produtores, já que a evasão do pro-
propriedades nos períodos de verão e inverno, nos das propriedades possui área total inferior a 25 grama governamental é considerada elevada nas
dois municípios avaliados. ha, enquanto 4,9% situam-se entre 26 e 50 ha e várias regiões brasileiras.
Durante o período de verão, menos de 30% dos apenas 3,3% possuem mais do que 51 ha. Notou- A Tabela 8 apresenta as principais atividades
produtores dos dois municípios encontram difi- se, portanto, que a grande maioria dos pequenos produtivas desenvolvidas pelos pequenos produ-
culdade para trafegarem nas estradas que dão aces- produtores de Paragominas possui propriedades tores e seu arranjo.
so às suas propriedades, entretanto, no período de com áreas inferiores àquelas observadas para os Nota-se que 54,8% das propriedades de Tomé-
inverno, ocorre uma considerável mudança nas pequenos produtores de Tomé-Açu. De maneira Açu conduzem a exploração bovina, sendo que,
condições de trânsito de pessoas e veículos. Em geral, percebe-se que as propriedades em termos em Paragominas, esta atividade está presente em
Tomé-Açu e Paragominas 52,9 e 80,3% dos produ- de dimensão enquadram-se no contexto da pro- 78% das pequenas propriedades. Em Tomé-Açu e
tores, respectivamente, apontaram dificuldades de dução familiar, devendo ser a escolha daquilo que Paragominas, a atividade agrícola esta presente em
tráfego e acesso às propriedades. As más condições será produzido uma função do que se pretende em 83,9% e 89,8% das propriedades, respectivamente.
das estradas no período chuvoso representam uma termos de futuro para toda a família. Assim sendo, A criação avícola pode ser encontrada em 35,5 e
barreira estrutural ao escoamento de mercadorias a capacitação do produtor e de seus familiares re- 16,9% das propriedades de Tomé-Açu e Parago-
e comercialização da produção. A precariedade presenta o maior instrumento capaz de assegurar a minas, respectivamente. Já a suinocultura pode ser
apontada neste período representa, também, uma continuidade dos modelos produtivos familiares. encontrada em 35,5% e 3,4% das pequenas pro-
barreira para a realização de investimentos durante Observa-se, quanto à forma pela qual os produ- priedades destes respectivos municípios. A criação
boa parte do período do ano, assim como reduz o tores adquiriram suas propriedades, que 50% de- de peixes tem sido praticada em 6,5% das proprie-
interesse dos membros das famílias dos produtores les, em Tomé-Açu, compraram suas propriedades, dades de Tomé-Açu e mostrou-se ausente nas pro-
pela exploração agropecuária, já que o transporte enquanto a outra metade adquiriu por meio do priedades de Paragominas. A produção de ovinos
rumo aos serviços básicos (escola, farmácia, igreja, INCRA. Em Paragominas, 95,1% dos produtores esteve presente em 3,2 e 5,1% das propriedades
dentre outras) fica seriamente comprometido. tiveram acesso à terra através da concessão efetu- de Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente,
A Foto 1 retrata as condições das estradas no pe- ada pelo INCRA e somente 4,9% dos produtores e a exploração madeireira é realizada em 9,7%
ríodo chuvoso e a precariedade das vias de escoa- compraram suas propriedades. Conclui-se que das propriedades de Tomé-Açu, enquanto se faz

produção de riquezas e modos de vida no campo


mento da produção. metade dos produtores de Tomé-Açu repassou a ausente nas propriedades de Paragominas.

FOTO 1 – Estrada vicinal no período chuvoso.

Foto: Almir Vieira Silva (2006).

257
O levantamento efetuado revela que as peque- TABELA 6 – Condições de tráfego das estradas que dão acesso às propriedades
nas propriedades, localizadas nos dois municípios nos períodos de verão e inverno (%)
investigados, têm na agricultura e bovinocultu- Tomé-Açu Paragominas
ra suas principais atividades econômicas, sendo
produção de riquezas e modos de vida no campo

Verão Inverno Verão Inverno


que, em termos agrícolas, os produtores dos dois Fácil 38,2 17,6 29,5 11,5
municípios se equivalem, porém a pecuária se faz Transitável 41,2 29,4 44,3 8,2
mais presente em Paragominas. Os produtores de Difícil 20,6 52,9 26,2 80,3
Tomé-Açu se relacionam mais intensamente com
TABELA 7 – Tamanho das propriedades (%)
a exploração de outras espécies de animais (aves,
suínos e peixes), o que representa a busca da di- Área (ha) Tomé-Açu Paragominas
versificação das atividades, bem como melhorar ≤ 25 22,6 91,8
26-50 58,0 4,9
a disponibilidade de proteína de origem animal
≥ 51 19,4 3,3
à família e aos consumidores urbanos. A ovino-
cultura mostrou-se incipiente em ambos os mu-
TABELA 8 – Atividades produtivas desenvolvidas nas propriedades (%)
nicípios, o que de certa forma é surpreendente,
sobretudo para o município de Paragominas, no Tomé-Açu Paragominas
qual há grande concentração de produtores de ori- Bovino e agricultura 29,0 52,5
Agricultura 0,0 13,6
gem nordestina (Gráfico 2), onde esta criação é
Bovino 6,5 10,2
amplamente difundida. Cabe, portanto, aos órgãos
Bovino, aves e agricultura 6,5 8,4
de planejamento e agentes financiadores atuarem
Bovino, suínos, aves e agricultura 6,5 3,4
mais firmemente no incentivo à diversificação de Bovino, suínos, agricultura 0,0 1,7
produtos oriundos da agropecuária regional, assim Bovino, suínos, ovinos, agricultura 0,0 1,7
como trilharem o caminho da agregação de valor Bovino, suínos, aves, ovinos e agricultura 3,2 0,0
aos produtos primários. A exploração madeireira Bovino, suínos, aves, peixes e agricultura 3,2 0,0
foi uma das atividades relatadas, porém com cono- Aves, ovinos e agricultura 0,0 1,7
tação extrativista. Aves e agricultura 16,1 3,4
Quanto à infra-estrutura e à qualidade da mo- Bovino e suínos 3,2 0,0
Ovinos e agricultura 0,0 1,7
radia dos produtores de Tomé-Açu, observou-se
Aves, agricultura e madeira 3,2 0,0
que são superiores, porém, em ambos os municí-
Aves, peixes e agricultura 3,2 0,0
pios, são muitos os pequenos produtores que vi- Suínos 6.5 0,0
vem em condições precárias quanto ao acesso aos Suínos e agricultura 9,7 0,0
meios de comunicação e informação, condições Suínos, aves e agricultura 3,2 1,7
de conservação de alimentos e higiene pessoal,
fato que certamente compromete a qualidade dos TABELA 9 – Responsável pela coleta para análise de solo (%)
alimentos produzidos e comercializados nas vi-
Responsável pela coleta Tomé-Açu Paragominas
las e cidades da região onde estão inseridos. As- Não fez análise do solo 82,4 91,8
sim sendo, cabe o desenvolvimento de ações que Técnico da cooperativa 8,8 0,0
possam permitir condições dignas de vida nas Técnico da empresa mineradora 2,9 0,0
suas próprias residências e meios responsáveis Técnico agrícola 5,9 0,0
de produção que assegurem aos consumidores a Técnico da Emater 0,0 8,2
qualidade necessária ao consumo com segurança
sanitária. O acesso a banheiros e a água encana- TABELA 10 – Taxa de proprietários que encontraram pastos formados e de
da é condição básica para a correta higienização e proprietários que formaram novos pastos (%)
manipulação de utensílios e alimentos, mas que Tomé-Açu Paragominas
ainda não foi atendida. Encontraram pastos formados
Não 82,4 57,4
Sim 17,6 42,6
Ações básicas vinculadas à produção
Formaram novos pastos
e infra-estrutura produtiva
Não 44,1 16,4
A conduta em relação aos serviços básicos es-
Sim 55,9 83,6
senciais e a base para condução da atividade pecu-
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 6 a 10: Os autores (2006).
ária são apresentadas neste item.
A Tabela 9 mostra os percentuais de produtores apenas 14,7% das propriedades de Tomé-Açu fo- Na Tabela 10 é apresentada a freqüência com
que realizaram a análise do solo de suas proprieda- ram avaliadas quanto ao potencial produtivo e que que os pequenos produtores de Tomé-Açu e Pa-
des, bem como relaciona quem efetuou o procedi- em Paragominas esta preocupação foi ainda menor, ragominas encontraram áreas de pastagens forma-
mento de coleta de amostras. esteve presente em apenas 8,2% das propriedades. das quando chegaram às suas propriedades, assim
A grande maioria dos produtores de Tomé-Açu Este nível crítico de adesão a um procedimento como se formaram novas áreas de pastagens após
e Paragominas (82,4 e 91,8%, respectivamente) técnico básico reflete a ausência das organizações adquiri-las.
nunca realizou análises de solo. Este procedimento públicas ou privadas na assistência aos produtores Em Tomé-Açu a grande maioria dos produto-
foi efetuado em Tomé-Açu em apenas 8,8% das a fim de que possam produzir alimentos saudáveis res adquiriu propriedades sem áreas de pastagens
propriedades, por um técnico da cooperativa, 2,9% em escala economicamente viável. Este parâmetro formadas (82,4%), em Paragominas 57,4% dos
por técnicos de uma empresa mineradora e 5,9% remete à adoção de sistemas produtivos de sub- produtores também depararam com esta mesma
por técnicos agrícolas. Em Paragominas, somente sistência, em que há enorme carência de atributos situação. Cerca de 55,9% dos proprietários de To-
8,2% dos produtores tiveram seus solos coletados técnicos, fato que se contrapõe à justificativa de mé-Açu investiram na formação de novas áreas de
por técnicos da Empresa de Assistência Técnica se estabelecer programas de uso racional da terra, pastagens após aquisição das suas propriedades e
e Extensão Rural do Pará. Ficou evidenciado que onde as pessoas possam viver com dignidade. 83,6% dos produtores de Paragominas investiram

258
seus recursos neste tipo de unidade de produção. grande o percentual de produtores que utilizam o vão entre 31-60 dias, 4,1% utilizam seus piquetes
Ficou evidenciado que os produtores de Tomé-Açu fogo para manterem seus piquetes limpos. A Foto por períodos superiores a 61 dias e 22,4% fazem
tiveram maior dificuldade inicial para adentrarem 2, a seguir, mostra que o pequeno produtor que faz uso contínuo das áreas de pastagens existentes na
à exploração de bovinos, assim como investiram uso de práticas corretas de limpeza de seus pique- propriedade. Estes resultados indicam a necessidade
menos neste setor. Os produtores de Paragominas tes não necessita de fazer uso da queima, garantin- de ampliação das divisões das áreas destinadas à
priorizaram a formação de áreas destinadas à cria- do assim a fertilidade de suas áreas e a perenidade pecuária, com conseqüente ajuste da capacidade
ção de bovinos. das áreas formadas. de suporte, a fim de que o processo de degradação
A Tabela 11 mostra os percentuais de pequenos Na Tabela 12, são apresentados os números de de pastagens não seja acelerado. O fato de mais de
produtores que utilizam o fogo como ferramenta pastos existentes nas propriedades, expressos em 16,7% dos produtores de Tomé-Açu e de 22,4%
para formação e combate de plantas invasoras nas percentagem de ocorrência, e o tempo médio de dos produtores de Paragominas utilizarem seus
áreas de pastagens. utilização de cada pasto pelos produtores dos dois piquetes continuamente revela que grande parce-
Notou-se que 63,1% dos pequenos produtores municípios investigados. la dos pequenos produtores não está enquadrada
de Tomé-Açu e 81,1% em Paragominas utilizam Em Tomé-Açu e Paragominas, 42,9% e 72,9% num manejo que visa à sustentabilidade da pro-
fogo na formação de áreas de pastagens. Quanto das propriedades possuem até dois piquetes, res- dução. Propriedades muito pequenas são aptas à
à limpeza dos piquetes, 43,5% dos produtores de pectivamente. Quase 90% das propriedades de produção leiteira em sistema rotacionado, pois au-
Tomé-Açu têm no fogo o instrumento para efetu- Paragominas possuem até 3 piquetes, caracterizan- menta a intensificação e viabiliza economicamente
arem a limpeza de suas áreas de pastagens, número do-se como uma localidade onde as propriedades a atividade. Contudo, tal sistema exige o emprego
bem superior àquele observado nas propriedades possuem o menor número de piquetes, se com- de tecnologias, investimentos e maior profissiona-
de Paragominas, onde apenas 10,1% dos produ- paradas às pequenas propriedades de Tomé-Açu, lização da atividade.
tores utilizam o fogo para manterem suas áreas fato atribuído à menor dimensão das propriedades Foi possível observar que em Tomé-Açu ne-
de pastagens limpas. Foi possível evidenciar que de Paragominas (Tabela 7), desobrigando o produ- nhum produtor investe na adubação de seus pas-
grande parte dos produtores tem no fogo o instru- tor da necessidade de ampliação das áreas de pas- tos, e que em Paragominas apenas 1 produtor dos
mento fundamental para a formação das áreas de tagens, já que a concepção extensiva de produção 62 investigados realiza esta ação. Este resultado
pastagens, sendo necessária a indicação de novas prepondera nestas localidades. reflete a falta de esclarecimento ou a baixa capaci-
tecnologias que possam reduzir o seu uso, pelo que Em Tomé-Açu, 38,9% dos produtores utili- dade financeira do produtor em investir e aplicar
representa em termos de riscos às pessoas, flora e zam um mesmo pasto por até 30 dias, 22,2% entre os fundamentos da exploração racional de bovi-
fauna. No que se refere à limpeza das áreas, faz-se 31-60 dias, 22,2% utilizam seus pastos por perío- nos. Esta constatação representa um elevado risco
necessário o estabelecimento de um programa dos superiores a 61 dias e 16,7% dos produtores para o futuro da atividade pecuária aumentando as
perene, capaz de manter o produtor esclarecido fazem uso contínuo dos pastos. Já em Paragomi- chances de insucesso de programas de integração
sobre o que representa o emprego do fogo na sua nas, a maioria (46,9%) dos produtores utiliza os social, já que a eminente queda da produção con-
propriedade, ação que deve ser efetuada principal- pastos por períodos iguais ou inferiores a 30 dias, tribuirá para desestimular a atividade e empobre-

produção de riquezas e modos de vida no campo


mente no município de Tomé-Açu, onde ainda é 26,5% dos produtores utilizam por períodos que cer aqueles ligados à produção primária.

FOTO 2 – O emprego do fogo pelo pequeno produtor que maneja correta-


mente suas áreas de pastejo torna-se dispensável, já que seu uso comprome-
te a manutenção da fertilidade do solo e reduz a biodiversidade.

Foto: Almir Vieira Silva (2006).

259
Visão técnica da produção animal GRÁFICO 6 – Nível de relacionamento dos produtores, por espécie animal (%)
O uso das práticas fundamentais ao manejo dos
animais, as escolhas produtivas e a capacidade or-
ganizacional do produtor são discutidos nos itens
produção de riquezas e modos de vida no campo

que se seguem.
O Gráfico 6 mostra a experiência prévia dos
produtores com diversas espécies domésticas antes
de assumirem suas atuais propriedades rurais.
Foi observado que 44 e 49,2% dos produtores
de Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente,
não tiveram nenhuma experiência com a criação
de animais antes de assumirem as suas atuais pro- TABELA 11 – Uso do fogo na formação e limpeza das áreas de pastagens (%)
priedades. Cerca de 35,3 e 32,8% dos produtores Tomé-Açu Paragominas
Uso do fogo
de Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente, já Sim Não Sim Não
tinham tido experiências com a criação de bovinos. Formação de novas áreas de pastagens 63,1 36,9 81,1 18,9
Limpeza das áreas de pastagens 43,5 56,5 10.1 89.9
Entre os produtores de Tomé-Açu, 20,6% já havia
trabalhado com a criação de suínos e 17,6% com a
TABELA 12 – Piquetes existentes na propriedade e dias de ocupação de um mesmo piquete (%)
criação de aves. Neste mesmo município, nenhum
Número de piquetes Tomé-Açu Paragominas
produtor trabalhou com a criação de ovinos e so-
Número de piquetes existentes na propriedade
mente 2,9% deles tiveram contato com a criação de
%cumulativo %cumulativo
caprinos. Em Paragominas, 18% dos produtores ti- 1 28,6 - 37,3 -
veram contato com a criação de suínos e 9,8% com 2 14,3 42,9 35,6 72,9
a criação de aves. Em relação à criação de ovinos e 3 23,8 66,7 16,9 89,8
de caprinos, 6,6% dos produtores deste município 4 19,0 85,7 6,8 96,6
se envolveram de alguma forma com estes rumi- ≥5 14,3 100,0 3,4 100,0
nantes. Os bovinos, aves e suínos representam as Tempo (dias) que utiliza o mesmo piquete
espécies de maior contato dos produtores, em am- ≤ 30 38,9 46,9
31-60 22,2 26,5
bos os municípios.
≥ 61 22,2 4,1
Considerando que todos os entrevistados em
Continuamente 16,7 22,4
Tomé-Açu possuem algum tipo de criação e que
apenas 13,6% dos produtores de Paragominas TABELA 13 – Número de vacas encontradas nas propriedades (%)
não estão envolvidos neste tipo de exploração,
Número de vacas Tomé-Açu Paragominas
por serem exclusivamente agricultores, torna-se
≤ 3 11,5 8,2
possível concluir que boa parte (quase 50%) dos 4-6 19,2 14,3
pequenos produtores adentraram no universo da 7-9 30,8 24,5
produção animal sem qualquer tipo de experiên- 10-12 11,5 20,3
cia prévia. Esta constatação sinaliza a importância 13-15 3,8 8,2
da capacitação profissional, a fim de que possam ≥ 16 23,1 24,5
estabelecer competência visando obter sucesso
na atividade, assim como diminuir os riscos de TABELA 14 – Quantidade de leite produzido pelas vacas, segundo os produtores (%)
propagação das principais zoonoses que eventu- Litros Tomé-Açu Paragominas
almente acometem os animais e que ameaçam a ≤5 54,5 20,0
vida humana e diminuem os índices de fatura- 6-10 27,3 36,0
11-20 9,1 32,0
mento de seus produtos.
≥ 20 9,1 12,0
A Tabela 13 apresenta o número médio de vacas
ELABORAÇÃO DO GRÁFICO 6 E TABELAS 11 a 14: Os autores (2006).
em cada propriedade.
Em Tomé-Açu e Paragominas 30,8 e 24,5% dos disponibilização de touros geneticamente superio- ao objetivo de atingir a produção que justifique a
produtores possuem entre 7 e 9 vacas, respecti- res para melhorar a qualidade do rebanho local. economicidade individual exigida por quem efetua
vamente. Em Tomé-Açu 23,1% dos produtores A Tabela 14 apresenta a quantidade média de a atividade pecuária leiteira. Já em Paragominas, a
possuem acima de 16 vacas, enquanto 24,5% dos leite produzido por vacas que compõem os reba- produtividade individual das vacas que compõem
produtores de Paragominas também estão enqua- nhos dos pequenos produtores investigados. os rebanhos indica a sua maior aptidão leiteira.
drados neste limite. Em Tomé-Açu 11,5% dos A maioria dos produtores de Tomé-Açu reve- O fato de os produtores de Paragominas estarem
produtores possuem até 3 vacas, 19,2% entre 4 e lou que a produção média de suas vacas é menor recebendo apoio técnico quando da aquisição de
6 vacas, 11,5% dos produtores entre 10 e 12 vacas do que 5 kg de leite/dia e 27,3% deles relataram seus animais, assim como a suplementação de seus
e 3,8% destes entre 13 e 15 vacas. Já em Parago- a produção leiteira variando entre 6 e 10 kg/vaca/ animais com maior freqüência, parece estar sen-
minas 8,2% dos produtores possuem até 3 vacas, dia, 9,1% dos produtores entre 11 e 20 kg/vaca/dia do decisivo para que esta produtividade individual
14,3% entre 4 e 6 vacas e 8,2% entre 13-15 vacas. e 9,1% deles superior a 20 kg de leite/vaca/dia. Em mais elevada ocorra neste município. De maneira
De modo geral, a grande maioria dos produtores Paragominas, 36% dos produtores ordenharam va- geral, acredita-se na importância de serem priori-
que criam bovinos possui um número de matri- cas com produção leiteira diária entre 6 e 10 kg/ zadas ações que potencializem a capacidade crítica
zes que se enquadram na concepção da produção vaca, em 32% das propriedades entre 11 e 20 kg/ do produtor, assim como uma assistência técnica
familiar. Poucos são os produtores que possuem vaca/dia, em 20% das propriedades de até 5 kg/ qualitativa, para que este possa produzir leite con-
rebanhos suficientemente grandes, capazes de via- vaca/dia e 12% dos produtores relataram possuir forme as suas expectativas.
bilizar a venda de produtos como leite e queijo e a rebanho com produção diária igual ou superior a O índice de vacinação em Tomé-Açu e Para-
compra de insumos como ração e medicamentos. 20 kg/vaca. Foi evidenciado que os produtores de gominas, respectivamente, equivaleu a 80,8% e
Importante alternativa para estes criadores seria a Tomé-Açu encontraram maior limitação quanto 98,1% das propriedades. O percentual observado

260
para produtores que não aplicaram a vacina em instalações mínimas para manejo dos rebanhos. ção poderiam obter este benefício. Para 28,1% dos
Tomé-Açu foi preocupante, pois coloca em risco a Ficou evidenciado que a grande maioria dos pro- produtores o vinculo à associação ocorreu porque
região, sobretudo se este mesmo comportamento dutores que possuem instalações zootécnicas in- ela o representava bem; 9,4% responderam que
estiver acontecendo em outras regiões do Estado vestem, primeiramente, na construção do curral; eram recém-chegados e necessitavam de engaja-
do Pará. em seguida passam a se preocupar com as instala- mento geral, sendo a associação capaz de viabilizar
A Tabela 15 apresenta as instalações considera- ções necessárias à criação de suínos em Tomé-Açu este contato; 6,3% disseram ser possível, por meio
das como infra-estrutura básica de suporte à pro- e aves em Paragominas. Foi observada a ausência da associação, obter ou pleitear assistência técnica.
dução animal. de instalações de ovinos em Tomé-Açu e que so- Um número insignificante de produtores respon-
Em Tomé-Açu, foi observado que 32,3% das mente uma propriedade em Paragominas está ade- deu que não valia a pena participar, não gostava
propriedades possuem curral de manejo dos ani- quada para este tipo de criação. Estes dados indi- de participar de reuniões ou não sabia muito ao
mais, sendo esta estrutura encontrada em 50,9% cam a necessidade de capacitação e financiamento certo por que eram sócios de associações. Já em
das propriedades de Paragominas. A pocilga está para que nas propriedades possam ser estabelecidas Paragominas, 62,1% dos produtores tinham a ex-
presente em 20,6% das propriedades de Tomé- construções rurais condizentes com a realidade in- pectativa de obterem acesso a financiamentos com
Açu, e na pequena propriedade de Paragominas dividual de cada produtor. sua filiação às associações, e 34,5% acreditavam
a presença desta instalação foi insignificante. O Na Tabela 16 é apresentado o nível de inserção que ela poderia representá-los em seus interesses.
galinheiro está presente em 17,6% das proprieda- do produtor na associação de classe que o repre- A maior parte dos produtores revelou ter na asso-
des de Tomé-Açu e em 6,8% das propriedades de senta, assim como que motivações justificam seu ciação a via de acesso ao crédito e não tê-la como
Paragominas. Os produtores foram questionados interesse por este órgão. órgão representativo, capaz de imprimir interven-
sobre a existência de unidade de processamento de Quando perguntados sobre a participação em ções, representá-la, defender e organizar ações de
mandioca para produção de farinha, sendo revela- associações de produtores, foi observado o maci- interesses coletivos.
do que esta instalação apresenta um quantitativo ço engajamento nos dois municípios investigados. A sociedade organizada (universidades, enti-
insignificante nos dois municípios investigados. Em Tomé-Açu, 85,3% dos produtores vincularam- dades de pesquisa, órgãos de difusão tecnológica,
Das propriedades envolvidas na produção animal, se à associação, enquanto em Paragominas este ín- secretarias de agricultura, agentes financiadores,
29,4 e 39,0% em Tomé-Açu e Paragominas, res- dice foi de 96,7%. Quando questionados sobre as dentre outras) precisa elaborar ações sincrônicas
pectivamente, não possuem qualquer infra-estru- razões que motivaram seus interesses, 46,9% dos de difusão tecnológica e de doutrinamento na fi-
tura de suporte à criação. produtores de Tomé-Açu responderam que ti- losofia de trabalho em grupo, no qual, de modo
De maneira geral, é alto o percentual de pro- nham como propósito ter acesso ao crédito ban- transparente, poderiam obter ganhos legítimos,
priedades que criam animais e que não possuem cário e que somente estando vinculado à associa- mediante o crescimento coletivo. Assim sendo, a
representação social, bem como a capacidade de
TABELA 15 – Instalações rurais existentes nas propriedades (%) fazer mais do que aquilo que está estabelecido,
Tipo de instalação Tomé-Açu Paragominas deve ser estimulada por todos aqueles que direta

produção de riquezas e modos de vida no campo


Curral 29,4 47,5 ou indiretamente participam do setor produtivo
Pocilga 20,6 0,0 vinculado à pequena propriedade.
Galinheiro 14,7 5,1 No Gráfico 7 estão dispostas as respostas dadas
Casa de farinha 2,9 1,7
pelos produtores dos dois municípios investigados
Curral e galinheiro 2,9 1,7
em relação às três maiores dificuldades existentes
Aprisco e galinheiro 0,0 1,7
na propriedade e que comprometem diretamente
Curral e aprisco 0,0 1,7
Curral e pocilga 0,0 1,7 a capacidade produtiva.
Sem estrutura de criação 29,4 39,0 Em ambos os municípios, cerca de metade
dos produtores tem na falta de recursos o princi-
TABELA 16 – Inserção e motivação do produtor para participação da associação (%) pal impedimento para que possa se tornar verda-
Tomé-Açu Paragominas deiramente produtiva. Em Tomé-Açu 26,5% dos
Participação na associação dos produtores produtores apontaram a falta de assistência técni-
Não 14,7 3,3 ca como a barreira para que as maiores dificulda-
Sim 85,3 96,7 des deixem de existir; 17,6% apontaram a falta de
Motivação existente para que participe da associação dos produtores pasto na propriedade como limitante à produção;
Receber financiamento 46,9 62,1
14,7% atribuíram de modo distinto a falta de ener-
Por representá-lo 28,1 34,5
gia, assim como a falta de água, como entraves à
Recém-chegado 9,4 1,7
produção; 5,9% apontam a falta de transporte, e
Não se interessa 0,0 1,7
Para receber assistência técnica 6,3 0,0
outro grupo equivalente a pequena remuneração
Acredita não valer a pena 3,1 0,0 do produto comercializado; já 2,9% dos produto-
Por gostar de participar 3,1 0,0 res entrevistados atribuem a dificuldade, de modo
Não soube responder 3,1 0,0 distinto, à carência de máquinas, à falta de curral, à
ausência de cooperativa e à falta de infra-estrutura
GRÁFICO 7 – Maiores dificuldades encontradas pelos produtores (%) na propriedade.
Em Paragominas, além da carência financeira,
34,4% dos produtores relataram, distintamente,
que a falta de água e a precariedade das estradas
impedem a sua evolução produtiva; 29,5% dos
produtores disseram que a ausência de energia elé-
trica atrapalha diretamente a sua produção; 13,1%
apontaram a baixa qualidade do solo da proprieda-
de; 9,8% responderam que a falta de máquinas e
a falta de transporte dificultam a atividade produ-
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 15 e 16 E GRÁFICO 7: Os autores (2006). tiva; 4,9% relatam que a ausência de curral é um

261
impedimento e 1,6% dos produtores relataram real, já que muitos produtores que passaram a ter as condições: de transporte das estradas, acesso
que a falta de infra-estrutura geral os impede de acesso aos recursos não conseguiram adequação ao à energia elétrica, instalações de manejo, dentre
evoluir e um número equivalente de produtores modelo produtivo no qual estão inseridos, prova- outras. Uma dificuldade que se destacou foi a au-
relataram não existir dificuldades. velmente porque outros elementos além dos re- sência de água em algumas propriedades. As di-
produção de riquezas e modos de vida no campo

A maioria dos produtores acredita que a falta cursos não podem faltar, tais como a compreensão ficuldades apontadas evidenciam a necessidade de
de recursos é o evento que mais limita a sua ca- de eventos relacionados ao universo rural, capaci- ser ensinado ao produtor como buscar alternativas
pacidade produtiva, fato que isoladamente não é dade administrativa, infra-estrutura, que envolve baratas que possam suplantar suas dificuldades.

QUADRO 1 - Perspectivas gerais sugeridas aos pequenos produtores de Tomé-Açu e Paragominas


1. A atividade pecuária precisa de estratégias de renovação e aumento da lucratividade. Os dados tabulados neste estudo mostraram propriedades rurais
predominantemente pequenas, inviabilizando a pecuária extensiva de corte e favorecendo a cadeia produtiva do leite, assim como outros tipos de explo-
ração pecuária;
2. O Estado do Pará abriu mercado para exportação de bovinos vivos para o Líbano. Mensalmente são exportados milhares de animais com impacto po-
sitivo na economia local que sofreu com a redução do preço da carne nos últimos anos. Este mesmo mercado exportador de bovinos poderia potencial-
mente ser explorado para caprinos e ovinos, pela tradição libanesa de consumo destas espécies. Para que isto ocorra é necessária a estruturação da cadeia
produtiva local, treinamento de mão-de-obra, financiamento direcionado, oferta periódica do produto e, principalmente, vontade comunitária;
3. A baixa produtividade das pastagens é um dos mais importantes pontos de estrangulamento da produção, resultado do baixo emprego tecnológico e
falta de reposição de nutrientes. O problema é ainda mais grave pelo baixo retorno econômico da atividade, o que inviabiliza investimentos. Antes da
implementação de qualquer proposta de intervenção na cadeira produtiva é imperativa a solução do mais grave problema estrutural da região, a baixa
produtividade das pastagens;
4. A cana-de-açúcar é uma cultura perene de alta produtividade e capaz de suprir demandas energéticas para os animais. Quando ofertada em associação à
uréia torna-se fonte de alimento volumoso de baixo custo e bom valor nutricional. Esta cultura é pouco difundida nos municípios estudados, mas é uma
alternativa nutricional comprovadamente eficiente. Seu inconveniente é a laboriosa tarefa de corte diário e a necessidade da picadeira. Esta tecnologia
poderia ser empregada, inicialmente para um número menor de produtores e, no futuro, ser amplamente difundida;
5. A adoção de sistemas silvipastoris também seria conveniente utilizando árvores frutíferas em associação às pastagens no esquema de cercas vivas. Esta
tecnologia proporciona conforto térmico aos animais e geração de renda extra aos pecuaristas, devendo a espécie frutífera ser escolhida criteriosamente
e plantada no contorno das cercas que delimitam as pastagens. O investimento necessário é o custo das mudas e a colocação de cercas elétricas para pro-
teção das árvores no período de crescimento;
6. As atividades econômicas propostas não podem ser desenvolvidas caso as lideranças locais não acreditem na viabilidade produtiva. O papel dos pesqui-
sadores é apontar potencialidades e o das comunidades é refletir sobre o tema, de forma participativa, e estabelecer um diálogo entre os segmentos sociais
para seguir adiante ou decidir por outros rumos;
7. As grandes empresas privadas atuantes na região podem dar uma contrapartida social no auxílio da estruturação de novas cadeias produtivas locais,
que passa pela capacitação e validação de tecnologias à realidade regional. As políticas unicamente assistencialistas podem ser, a longo prazo, prejudiciais
à comunidade pela criação de relações de dependência, mas são indispensáveis em situações emergenciais ou de risco social. O investimento na área de
educação e transferência de tecnologia agropecuária pode ser a mais valiosa contribuição de uma empresa à comunidade em termos de retorno social dos
seus investimentos.

QUADRO 2 – Perspectivas gerais sugeridas ao pequeno produtor de Tomé-Açu


1. A origem principal dos produtores de Tomé-Açu é a Região Nordeste do País. A ovinocultura pode ser uma atividade econômicas potencialmente viá-
vel, pois está inserida na cultura da comunidade, demanda áreas menores e tem bom mercado consumidor. Uma vez inserida em um modelo comercial,
a ovinocultura representa uma excelente opção aos pequenos produtores, sobretudo mediante o estabelecimento de um corredor comercial capaz de
atender à demanda da capital do Estado, assim como aquela decorrente de outras regiões brasileiras, onde não apenas a carne é valorizada, mas também
a pele;
2. A bovinocultura leiteira é uma alternativa produtiva a ser fortemente trabalhada, por ser capaz de movimentar a economia de um município, sobretu-
do se vinculada ao aproveitamento artesanal da matéria-prima, já que em Tomé-Açu a presença da indústria láctea não é ainda efetiva. A valorização da
capacitação dos vários membros das famílias, respeitando-se as aptidões individuais e a integração de grupos, é uma via promissora quanto à produção e
comercialização de produtos lácteos que ofereçam segurança alimentar e carregam o apelo do desenvolvimento social;
3. A caprinocultura leiteira também pode ser estimulada, mas demanda tecnologia de produção e processamento do leite e abertura de mercados. Algo
mais complexo, porém viável. O consumo de derivados lácteos de cabras não é tradicional, mas tem bom valor agregado e constitui-se nicho de mercado.
Estes produtos precisam ter alta qualidade, pois o público-alvo tem poder aquisitivo e nível de exigência diferenciado. A cidade de Tomé-Açu está loca-
lizada nas proximidades de Belém, cidade com classe média expressiva e estrutura comercial diferenciada para o escoamento de produtos de qualidade
com alto valor agregado;
4. A piscicultura também é uma alternativa a ser considerada, sobretudo se os produtores estruturarem o mecanismo de distribuição da matéria-prima.

QUADRO 3 – Perspectivas gerais sugeridas ao pequeno produtor de Paragominas


1. A mesma proposta para ovinocultura em Tomé-Açu pode ser viável em Paragominas. A estrutura produtiva tem que ser organizada de tal forma que
tenha oferta constante do produto. Qualquer atividade relacionada à produção de ruminantes passa pela estruturação das propriedades, formação de pas-
tagens e qualificação da mão-de-obra. A criação de pequenos ruminantes é viável para pequenas propriedades, mas tem a mesma exigência tecnológica
dos bovinos para assegurar a oferta de alimentos durante todo o ano;
2. A bovinocultura leiteira é também uma alternativa produtiva de relevante inserção social para o pequeno produtor, sobretudo se este é estimulado ao
atendimento da conduta associativista dentro de uma estrutura profissional, devendo neste sentido ser incentivado à produção agroindustrial, em que
derivados lácteos com identidade regional poderiam ser produzidos, atendendo potencialmente a vários mercados consumidores;
3. A piscicultura, da mesma forma que destacado para Tomé-Açu, pode representar uma excelente alternativa para compor o mosaico produtivo na
produção familiar, devendo ser trabalhada a diversificação das espécies, assim como ser preenchida a lacuna existente entre o setor produtivo e aquele
responsável pela comercialização; neste sentido, o profissionalismo dentro do trabalho em grupo tem que estar presente.
ELABORAÇÃO DOS QUADROS 1 a 3: Os autores (2006).

262
GRANDE PRODUTOR e 40 anos e não foram observados produtores aci- do total encontrado em Tomé-Açu e Paragominas,
ma deste intervalo. A maioria dos produtores de nesta ordem, sendo observada em Paragominas a
O processo de chegada à região e a Tomé-Açu (70,0%) se estabeleceu neste município presença de uma pequena parcela de produtores
estrutura básica dos produtores há no máximo 30 anos, período em que 76,9% dos (4,1%) com idade igual ou inferior a 30 anos.
Neste item são apresentadas as informações so- produtores chegaram a Paragominas, resultado Em Tomé-Açu, a grande maioria dos produtores
bre o processo migratório ocorrido nos municípios que demonstra não haver grandes diferenças en- (88,0%) tem idade igual ou superior a 41 anos, e
de Tomé-Açu e Paragominas, assim como propicia tre a época de aquisição das propriedades nos seus em Paragominas 71,4% dos produtores também se
o entendimento da realidade dos produtores. atuais municípios. No entanto, é importante ob- encaixam neste perfil. Este fato indica que os en-
Para isso, estão dispostos na Tabela 17 os inter- servar que em Paragominas o processo de migra- trevistados são relativamente maduros e podem ser
valos, em anos, acerca da chegada dos proprietá- ção é relativamente mais recente, pois 25,0% dos importantes no compartilhamento de experiências
rios aos municípios de Tomé-Açu e Paragominas, produtores chegaram a este município há 10 anos vividas a respeito da produção regional. Aos pro-
com destaque para a concentração dessa chegada, ou menos, enquanto esta categoria se encaixa para dutores jovens cabe a visão de fortalecerem a pro-
expressa de modo cumulativo. apenas 10,0% dos produtores de Tomé-Açu. dução aos mercados externos ao município, que se
A maioria (34,0%) dos produtores chegou a O Gráfico 8 mostra a proporcionalidade da ida- dará mediante o investimento pessoal em relação à
Tomé-Açu há um período que variou entre 21 e de dos produtores nos dois municípios investiga- qualificação, a fim de que seja amadurecida a con-
30 anos, fato também observado em Paragomi- dos. cepção empreendedora necessária ao desenvolvi-
nas (36,5% dos produtores). Os produtores que A maioria dos produtores de Tomé-Açu possui mento de uma sociedade que se integre de modo
chegaram a Tomé-Açu e Paragominas entre 11 e idade entre 51 e 60 anos (36,0%), enquanto em participativo aos mercados globalizados. O jovem
20 anos atrás correspondem a 26,0 e 15,4%, res- Paragominas a maioria (28,6%) possui idade entre empresário qualificado naturalmente assume a li-
pectivamente. Já os produtores que chegaram há 41 e 50 anos. Produtores com idade entre 61-70 derança dos diversos setores vinculados à produ-
10 anos ou menos em Tomé-Açu e Paragominas anos respondem por 16,0 e 24,5% dos produtores ção e à comercialização para atender a mercados de
equivalem a 10,0 e 25,0%, na devida ordem. Em de Tomé-Açu e Paragominas, na exata ordem. Já os interesse. Este empresário será o responsável pela
Tomé-Açu, produtores que chegaram entre 41 e produtores com idade igual ou superior a 71 anos mudança de vários dos paradigmas comumente
50 anos e 51 anos atrás ou mais representaram 10,0 representam 4,0 e 2,0% do total de produtores em arraigados ao setor produtivo primário, no qual
e 4,0% em relação ao total de produtores. Entre Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente. Já em se observa uma baixa capacidade de investimento,
os produtores de Paragominas 23,1% chegaram a relação aos produtores com idades variando entre pouco compromisso com o produto após a saída da
este município há um período que varia entre 31 31-40 anos, a representatividade é de 12,0 e 24,5% propriedade, adoção da produção extensiva, dentre
outros pontos estranguladores. Estes fatos são re-
TABELA 17 – Ano de chegada do produtor ao município (%) flexo das profissões exercidas pelos entrevistados
Tomé-Açu Paragominas antes de se tornarem produtores rurais, como visto
Anos
% cumulativa % cumulativa na Tabela 18, em que se dá ênfase ao agrupamento

produção de riquezas e modos de vida no campo


≤ 10 10,0 - 25,0 - e detalhamento da relação ao meio rural.
11-20 26,0 36,0 15,4 40,4
Em Tomé-Açu, 36,0% dos produtores relacio-
21-30 34,0 70,0 36,5 76,9
naram-se com profissões desvinculadas do setor
31-40 16,0 86,0 23,1 100,0
agrário antes de adquirirem suas propriedades ru-
41-50 10,0 96,0 0,0 100,0
≥ 51 4,0 100,0 0,0 100,0 rais, número que atingiu 40,4% dos produtores
de Paragominas. Já eram agricultores 30,0% dos
TABELA 18 – Profissões exercidas antes de se tornarem agropecuaristas (%) produtores de Tomé-Açu e somente 3,8% daque-
Profissões Tomé-Açu Paragominas les que atuam em Paragominas. Foram agriculto-
Agropecuarista 6,0 1,9 res e exerceram outras profissões não vinculadas
Agropecuarista e outras profissões 2,0 1,9 ao setor agrário 6% dos produtores de Tomé-Açu,
Agricultor 30,0 3,8 índice também observado para produtores que tra-
Agricultor e outras profissões 6,0 0,0 balharam como madeireiro, vaqueiro e agropecu-
Pecuarista 4,0 19,2 arista. Neste município 4,0% dos produtores eram
Pecuarista e outras profissões 0,0 5,8 pecuaristas, 2,0% gerentes de fazendas, e quantida-
Agrônomo 0,0 7,7
de semelhante a esta de produtores foram geren-
Madeireiro 6,0 5,8
tes de fazendas e madeireiros, outros 2% tinham
Vaqueiro 6,0 5,8
sido agropecuaristas e exerceram também outras
Gerente de Fazenda 2,0 3,8
Gerente de Fazenda e madeireiro 2,0 0,0 profissões (Tabela 18). Em Paragominas, 19,2%
Téc. Agrícola 0,0 1,9 dos produtores já eram pecuaristas, 7,7% eram
Médico Veterinário 0,0 1,9 agrônomos, 5,8% eram pecuaristas e exerceram
Outras profissões1 36,0 40,4 outras profissões, número também observado para
1
Banqueiro, carpinteiro, comerciante, costureiro, empresário, empresário da construção civil, empresário da indústria madeireira, escritu- aqueles que tinham sido vaqueiros, 3,8% dos pro-
rário, feirante, madeireiro, mecânico, motorista, pintor, reflorestador, servidor público, técnico em contabilidade e topógrafo.
dutores já tinham sido agricultores, igualmente a
GRÁFICO 8 – Idade dos produtores (%) outros 3,8% que eram gerentes de fazendas. Um
número pouco significativo, 1,9% dos produto-
res, já tinha sido agropecuarista, técnico agrícola
ou médico veterinário. Foi notado que aproxima-
damente 40% dos produtores não exerceram pro-
fissões relacionadas ao meio rural, caracterizando
a pouca relação deste grupo de produtores com a
realidade da produção animal.
No Gráfico 9, pode ser observado o nível de esco-
laridade dos produtores que respondem pelas deci-
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 17 e 18 E GRÁFICO 8: Os autores (2006). sões, nas propriedades de Tomé-Açu e Paragominas.

263
Os produtores que não tiveram acesso à alfabe- GRÁFICO 9 – Nível de escolaridade dos produtores
tização equivalem a 10,0% em Tomé-Açu e 5,7%
em Paragominas. Já aqueles que estudaram da 1a
até a 4a série do ensino fundamental representam
produção de riquezas e modos de vida no campo

26,0 e 11,4%, respectivamente, daqueles que resi-


dem em Tomé-Açu e Paragominas. Já os que estu-
daram entre a 5a e 8a série do ensino fundamental
representam 28,0 e 24,5% dos produtores de To-
mé-Açu e Paragominas, respectivamente. Aqueles
que estudaram algum nível do ensino médio fo-
ram equivalentes a 34,0 e 39,5%, em Tomé-Açu e
Paragominas, respectivamente. Somente 2,0% dos TABELA 19 – Número de propriedades por empresário rural (%)
produtores de Tomé-Açu obtiveram a formação Número de propriedades Tomé-Açu Paragominas
superior, número que em Paragominas correspon- 1 64,0 60,4
de a 20,8% dos produtores. O nível de escolaridade 2 24,0 18,9
dos produtores de Tomé-Açu é bem inferior ao dos 3 8,0 15,1
produtores de Paragominas. O índice de analfabe- 4 2,0 0,0
tismo pode ser considerado alto, especialmente em ≥5 2,0 5,7
Tomé-Açu, cabendo ao poder público reforçar os
TABELA 20 – Tamanho médio das propriedades rurais (%)
programas de educação para adultos.
Em Paragominas, é mais expressivo o número Tomé-Açu Paragominas
Área (ha)
% cumulativa % cumulativa
de produtores com ensino superior completo, o
≤ 50 15,4 - 1,1 -
que indica a real capacidade de compreensão das
51-100 17,9 33,3 6,8 8,0
experiências vividas ao longo do tempo, visão que
101-500 24,4 57,7 22,7 30,7
deve ser estimulada para benefício de toda a comu- 501-1.000 10,3 67,9 10,2 40,9
nidade produtiva. A natureza muito heterogênea da 1.001-2.000 17,9 85,9 13,6 54,5
formação profissional dos produtores mostra que 2.001-5.000 12,8 98,7 33,0 87,5
as ações de transferência de tecnologia precisam 5.001-10.000 1,3 100,0 8,0 95,5
ser adequadas a cada público. Os produtores com ≥ 10.000 0,0 - 4,5 100,0
maior formação acadêmica podem também cola- ELABORAÇÃO DO GRÁFICO 9 E TABELAS 19 e 20: Os autores (2006).

borar na avaliação e disseminação de tecnologias,


desde que adequadamente estimulados. Contudo, daquelas exploradas em Tomé-Açu e Paragominas, conexão entre a produção de matéria-prima e seu
os produtores com menor grau de escolaridade respectivamente. Propriedades com áreas variando processamento em nível local.
precisam de atenção multidisciplinar diferenciada. entre 101 e 500 ha equivaleram a 24,4 e 22,7% em Em Tomé-Açu 57,7% das propriedades pos-
A Tabela 19 mostra a distribuição de freqüência Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente. Pro- suem área de até 500 ha, enquanto em Paragomi-
relacionada ao número de propriedades que cada priedades com áreas entre 501 e 1.000 ha equivalem nas esta dimensão de propriedade agrega somen-
produtor possui. a 10,3 e 10,2% do total explorado em Tomé-Açu e te 30,7% dos produtores, sendo que 54,5% deles
A grande maioria dos produtores de Tomé-Açu Paragominas, respectivamente, enquanto aquelas possuem até 2.000 ha. Estes dados revelam a ne-
e Paragominas, equivalentes a 64,0% e 60,4% do possuindo entre 1.001 e 2.000 ha correspondem cessidade de políticas de investimentos produtivos
total, respectivamente, possui somente uma pro- a 17,9 e 13,6% das propriedades destes respectivos diferenciadas para os dois municípios. Em Tomé-
priedade. São possuidores de duas propriedades municípios. Propriedades com dimensões entre Açu a intensificação do uso da terra é, teoricamen-
24,0 e 18,9% dos produtores de Tomé-Açu e Para- 2.001 e 5.000 ha equivalem a 12,8 e 33,0% do total te, mais fácil de ser executada, já que os produtores
gominas, respectivamente. Já os empresários rurais explorado em Tomé-Açu e Paragominas, respecti- exploram áreas menores, cabendo às agências de
que possuem cinco ou mais propriedades respon- vamente. Propriedades acima de 5.000 ha equiva- financiamento adotarem programas específicos a
dem por 2,0% em Tomé-Açu e 5,7% em Parago- lem a 1,3 e 12,50% das propriedades de Tomé-Açu esta realidade.
minas. Portanto, o fato de a maioria dos produ- e Paragominas, respectivamente. Em Paragominas existe a propensão à exploração
tores exercer suas atividades econômicas somente A maioria (67,9%) das propriedades de Tomé- pecuária extensiva. Contudo, a nova realidade agrí-
em uma propriedade indica a necessidade de esta- Açu possui área de até 1000 ha, enquanto em cola, com exploração de grandes áreas para a produ-
rem engajados de forma organizada às cadeias pro- Paragominas as propriedades que se enquadram ção de grãos, irá estimular mudanças no cenário da
dutivas, caso contrário irão se manter vulneráveis neste parâmetro equivalem a 40,9%. Assim sendo, exploração pecuária. A eminente valorização das ter-
às mudanças de mercado. Contudo, há uma im- a maior parte das propriedades deste município ras demandará novas práticas de exploração dos re-
portante parcela de produtores detentores de duas possui área acima de 1001 ha (59,1%). Portanto, é banhos para viabilizar economicamente a atividade.
ou mais propriedades. É interessante desenvolver evidente que as políticas de investimentos produ- Aqueles que possuem áreas com topografia adequada
lideranças com vista à diversificação da produção e tivos devem ser diferenciadas para esses municí- à mecanização e mantiverem o sistema de exploração
da agregação de valor aos produtos, razão pela qual pios. Em Tomé-Açu, as agências de financiamento pecuário extensivo tradicional poderão sofrer forte
deve ser estimulado o processamento de matérias- devem adotar programas de incentivo voltados à tentação para vender suas áreas que serão aproveita-
primas e o desenvolvimento de novos segmentos produção em áreas menores, favorecendo o uso de das na produção agropecuária empresarial.
das cadeias produtivas do agronegócio. tecnologias que resultem em uma maior capacida- Mediante o monitoramento das propriedades,
A Tabela 20 mostra o tamanho médio das pro- de de intensificar a produção. Já em Paragominas a nos dois municípios, torna-se possível listar tec-
priedades. estratégia de intensificação tende a ser mais branda nologias potencialmente interessantes, cabendo ao
Observa-se que 15,4% das propriedades explo- em razão da maior necessidade de capital, porém empresariado local, às agências de fomento e aos
radas empresarialmente em Tomé-Açu possuem as propriedades tendem a ter uma gestão empre- órgãos de pesquisa e extensão agropecuária o in-
50 ou menos hectares (ha), enquanto em Parago- sarial, modelo que tem como diretriz a produtivi- centivo à expansão das infra-estruturas agroindus-
minas estas atingiram apenas 1,1%. Já proprieda- dade por área, devendo as agências financiadoras triais existentes, assim como novos investimentos
des entre 51 e 100 ha representaram 17,9 e 6,8% focar programas de desenvolvimento em que haja em áreas ainda inexploradas.

264
A Tabela 21 mostra a existência de renda com- TABELA 21 – Origem da renda extra obtida pelos produtores (%)
plementar por parte dos produtores e estratifica as Atividade Tomé-Açu Paragominas
atividades econômicas nas quais estão engajados. Não possui renda extra 42,00 30,2
A maioria dos produtores de Tomé-Açu Possui renda extra 58,00 69,8
(58,0%) e Paragominas (69,8%) apresenta renda Atividade econômica complementar
complementar à atividade rural, sendo que a ati- Produção de carvão 0,0 2,8
vidade que mais se destaca em Tomé-Açu é o co- Casa Agropecuária (CA) 3,3 2,8
CA e outras1 6,9 0,0
mércio, respondendo por 44,6% dos casos; porém,
Comércio 44,6 16,6
em Paragominas não houve nenhuma atividade de
Comércio e outras 3,3 0,0
destaque. A exploração madeireira também está
Construção civil 3,3 0,0
presente dentre as atividades que geram renda Funcionário público 6,9 0,0
complementar aos produtores, correspondendo a Gerente de Fazenda 0,0 2,8
10,2% em Tomé-Açu e 19,4% em Paragominas. Já Locação de máquinas 0,0 8,4
10,2% dos produtores rurais de Tomé-Açu obtêm Madeireira 6,9 8,4
renda complementar oriunda de casas agropecuá- Madeireira e outras1 3,3 11,0
rias, das quais são proprietários, enquanto em Para- Outras1 21,5 47,2
1
gominas apenas 2,8% exploram o ramo comercial Administração, aposentadoria, contabilidade e transportes

de produtores agropecuários. Em Tomé-Açu 6,9% TABELA 22 – Principais atividades produtivas na propriedade (%)
dos produtores são servidores públicos e 3,3% tra-
Atividade produtiva Tomé-Açu Paragominas
balham no ramo da construção civil. Em Parago-
Bovinocultura 50,0 70,8
minas 8,4% exploram negócios relacionados com
Bovinocultura + agricultura 41,7 14,6
a locação de máquinas, 2,8% produzem carvão e Bovinocultura + outros1 8,3 14,6
2,8% gerenciam propriedades rurais. Em Tomé- Freqüência de aparecimento
Açu e Paragominas 21,5 e 47,2% dos produtores, Bovinocultura 100,0 100,0
respectivamente, exploram outras atividades ou Agricultura 50,7 21,7
recebem benefícios. Em Tomé-Açu, a maioria dos Piscicultura 2,6 1,2
produtores busca complementar sua renda com Avicultura 3,9 2,4
atividades comerciais, o que indica a possibilidade Suinocultura 3,9 3,6
Ovinocultura 0,2 7,3
de compatibilizarem a exploração rural com esta
1
Piscicultura, avicultura, suinocultura e ovinocultura
experiência, num contexto regional ou além.
Em Paragominas, a maior parte dos produtores TABELA 23 – Geração de empregos e relação entre a área da propriedade e o número de empregos

produção de riquezas e modos de vida no campo


com renda complementar não a obtém de ativida-
Emprego Tomé-Açu Paragominas
des relacionadas com o universo rural, mostrando Média de empregos / propriedade
a viabilidade de investimento com capital oriundo Fixo 2,5 4,2
de outras atividades econômicas. O conjunto de Temporário 5,3 5,6
informações analisadas até aqui indica o potencial Coeficiente de correlação entre tamanho da propriedade e nú-
de investimento de capital na modernização e de- mero de empregos (%)
senvolvimento de cadeias produtivas e geração de Fixo 20,0 16,0
Temporário 0,0 7,9
postos de trabalho e agregação de valor aos produ-
tos em Paragominas. TABELA 24 – Número de produtores que obtiveram financiamentos e grau de sucesso nesta operação (%)
A Tabela 22 apresenta os tipos de atividades ex-
Tomé-Açu Paragominas
ploradas nas propriedades. Produtores que acessaram financiamento
Em Tomé-Açu e Paragominas, respectivamen- Não recebeu 44,0 51,9
te, 50,0% e 70,8% das propriedades praticam, ex- Receberam 56,0 48,1
clusivamente, a exploração de bovinos, enquanto Grau de satisfação com o financiamento
41,7% e 14,6% das propriedades, nestes respectivos Não 28,6 20,0
municípios, desenvolvem a bovinocultura junta- Sim 71,4 80,0
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 21 a 24: Os autores (2006).
mente com a prática agrícola, ação executada prin-
cipalmente pelos produtores de Tomé-Açu, reve- pessoas por propriedade, respectivamente. Quanto propriedade ser grande ou pequena, altera-se mui-
lando a percepção destes quanto à importância da ao número de empregos temporários, foram gera- to pouco o número de empregos gerados. A bo-
diversificação de atividades na propriedade. Entre dos, em média, 5,3 e 5,6 empregos por proprieda- vinocultura praticada extensivamente destaca-se
os que exploram a produção de bovinos também é de, em Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente. como uma atividade econômica de baixa capacida-
observada a criação de outras espécies domestica- Baixos coeficientes de correlação foram observa- de de ocupação de mão-de-obra.
das (Tabela 22). De maneira geral, a exploração de dos em Tomé-Açu e Paragominas quanto à geração A Tabela 24 revela quantos produtores de Tomé-
outras espécies de animais domesticadas foi irrele- de empregos fixos correlacionados ao tamanho da Açu e Paragominas tiveram acesso aos programas
vante nos dois municípios, mostrando novamente propriedade, 20 e 16 respectivamente. Correlação de financiamento existentes, e se obtiveram ou não
o baixo nível de envolvimento dos produtores com ainda menor foi obtida para geração de empregos resultados satisfatórios por este acesso.
atividades que demandam sistemas mais intensifi- temporários que foram equivalentes a 0,2% e 7,9%, Foi observado que 44,0% de Tomé-Açu e 51,9%
cados, com subseqüente investimento em alimen- em Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente. dos produtores de Paragominas não usufruíram de
tação, manejo sanitário, capacitação de mão-de- De modo geral, a baixa correlação existente entre o financiamento bancário. Daqueles que acessaram
obra, dentre outros requisitos. tamanho da propriedade e o número de empregos crédito externo, 28,6 e 20,0% dos produtores de
A Tabela 23 mostra a capacidade de geração de fixos e temporários reflete a inexistência de vín- Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente, não
empregos conforme a área das propriedades. culo entre o tamanho das propriedades, nos dois obtiveram sucesso nesta empreitada. O elevado ní-
Em Tomé-Açu e Paragominas, o número municípios, e a capacidade de vincularem pesso- vel de insucesso após a aquisição do financiamento
médio de empregados fixos equivale a 2,5 e 4,2 as ao trabalho, ou seja, independentemente de a necessita ser mais bem investigado, a fim de que as

265
causas do insucesso e insatisfação possam ser ate- dade do produtor em manter a produtividade das de Paragominas. Os capins pertencentes ao gênero
nuadas, sobretudo aquelas relacionadas às defici- áreas de pastagens, tidas como essenciais à econo- Panicum sp., conhecidos como capins mombaça,
ências técnicas e administrativas. micidade da produção pecuária. O menor envol- tanzânia, colonião e tobiatã formam um grupo for-
De modo geral, os produtores nos dois mu- vimento dos produtores de Tomé-Açu quanto ao rageiro presente em 15,3 e 54,8% das propriedades
produção de riquezas e modos de vida no campo

nicípios caracterizam-se, em sua maioria, por se- procedimento de coleta do solo visando a sua ma- de Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente.
rem profissionais maduros com mais de 40 anos, nutenção surpreende, sobretudo por ser este mu- De maneira geral, as gramíneas pertencentes ao
possuidores de somente uma propriedade e com nicípio conhecido pela produção agrícola, oriunda gênero Brachiaria sp. tiveram destaque frente às
outra fonte de renda além da propriedade rural. da expressiva colonização nipônica, que, segundo demais, indicando ser a produção de bovino alta-
Cerca de metade já teve acesso a financiamentos e a presente pesquisa, mostra pouca influência sobre mente dependente deste gênero, fato que se repete
mostraram-se satisfeitos com a linha de crédito. As a pecuária tradicionalmente imprimida. Dentre em todo o Brasil.
atividades econômicas desenvolvidas nas fazendas os produtores que tiveram seus solos analisados O Gráfico 12 mostra há quanto tempo o pro-
geraram poucos empregos e existiu baixa relação quimicamente, foi observada a ocorrência desta dutor expandiu a área ocupada por pastagens na
entre o tamanho da propriedade e a geração de ação a um período igual ou inferior a 3 anos, o que propriedade.
empregos fixos ou temporários. mostra a preocupação de alguns produtores quan- A expansão das áreas de pastagens de Tomé-Açu
to à manutenção da capacidade produtiva das suas e Paragominas não ocorreu após a aquisição de
A estrutura funcional da base produtiva áreas de pastagens. 20,8% e 34,9% das propriedades, respectivamente,
Para que se entenda a estrutura de funciona- Quanto ao percentual de grandes produtores em relação ao total mensurado. Em 8,3% e 2,4%
mento da base produtiva é necessário que haja que encontraram pastos formados quando ad- das propriedades, a expansão das pastagens ocorreu
uma avaliação das ferramentas utilizadas pelo setor quiriram as suas propriedades, verificou-se que a recentemente. De acordo com 31,9 e 27,8% dos pro-
produtivo, o que será efetuado na seqüência. maioria (60,0%) dos produtores de Tomé-Açu não dutores de Tomé-Açu e Paragominas, a substituição
O Gráfico 10 revela a ocasião (ano) em que foi encontrou pastos formados quando adquiriram as de áreas de matas por áreas de pastagens foi efetuada
efetuada a coleta de solo para análise nas proprie- suas propriedades, diferentemente dos produtores no intervalo de 1 a 5 anos. Levando-se em conta o
dades, sendo destacados ainda os produtores que de Paragominas onde a grande maioria (71,4%) en- intervalo entre 6 e 10 anos, foi revelada a expansão
efetuaram ou não este procedimento. controu áreas já formadas. Esta informação revela das pastagens em 39,0% e 34,9% das propriedades
As propriedades que tiveram seus solos analisa- que, quando chegaram a Tomé-Açu, os produtores de Tomé-Açu e Paragominas, nesta ordem.
dos equivalem a 40,0% em Tomé-Açu e 53,1% em tiveram que derrubar áreas de matas ou capoeiras A prática da derrubada de áreas contendo ma-
Paragominas. Já dentre as propriedades analisadas para formarem áreas de pastagens visando à criação tas é realizada pelos pecuaristas dada a necessidade
em Tomé-Açu e Paragominas a avaliação ocorreu, de bovinos, evento não necessário para a maioria de ser garantida a viabilidade da atividade pecuá-
respectivamente, há 1 ano ou menos em 70% e dos produtores de Paragominas. Fundamental- ria. Tal fato reflete a baixa produtividade das áreas
38,5% das propriedades, sendo que a determina- mente, os produtores necessitam ser conscienti- já abertas que não são adequadamente manejadas
ção se deu entre 2 e 3 anos em 10 e 34,6% das pro- zados da importância da exploração racional e dos quanto à reposição de nutrientes, investimento
priedades destes respectivos municípios. Em 5% e princípios de conservação do solo. que é considerado elevado pelos pecuaristas. A não
15,4% das propriedades de Tomé-Açu e Paragomi- No Gráfico 11, pode ser observada a freqüên- adoção de insumos e de práticas de conservação
nas a análise do solo ocorreu entre 4 e 5 anos, e cia de ocorrência das principais forrageiras encon- dos solos, assim como as elevadas taxas de lotação,
em 15 e 11,5% das propriedades dos respectivos tradas nas áreas de pastagens dos pecuaristas de a ausência de técnicas de enriquecimento dos sis-
municípios ela ocorreu há 6 anos ou mais. Em am- Tomé-Açu e Paragominas. temas produtivos e, principalmente, a progressiva
bos os municípios foram grandes os percentuais O capim braquiarão esta presente em 88,9 e queda do preço da carne contribuem para a eleva-
observados de propriedades onde a análise de solo 95,2% das propriedades de Tomé-Açu e Parago- ção das áreas de pastagens degradadas.
não foi efetuada, o que caracteriza o baixo nível minas, respectivamente, em uma variada gama de A Tabela 25 descreve as soluções apontadas pe-
de envolvimento dos produtores quanto à adoção combinações. O capim quicuio é encontrado em los produtores a fim de nortear a problemática da
desta prática básica, que representa a responsabili- 79,2% das propriedades de Tomé-Açu e em 47,6% degradação das áreas de pastagens.

GRÁFICO 10 – Ocasião da coleta de amostra de solo na propriedade e


percentagem de produtores que tiveram este procedimento executado (%) GRÁFICO 11 – Freqüência de ocorrência das forrageiras (%)

GRÁFICO 12 – Ocasião em que expandiu a área atualmente ocupada


com pastagens (%)

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 10 a 12: Os autores (2006).

266
A reforma dos pastos em 40,0 e 42,0% das pro- TABELA 25 – Solução indicada para aumento da capacidade
priedades de Tomé-Açu e Paragominas, respectiva- produtiva das áreas ocupadas com pastagens (%)
mente, é a prática indicada pelos produtores como Objetivo Tomé-Açu Paragominas
sendo a saída para contornarem a baixa produtivi- Aumentar a área (AA) 10,0 6,0
dade das áreas. Para 14,0% e 16,0% dos produtores AA e recuperar pasto 0,0 2,0
de Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente, a Adubar (A) 8,0 8,0
redução da produtividade das áreas de pastagens A e corrigir (C) 2,0 0,0
não sinaliza que tenham que efetuar a adoção de A e gradear (G) 0,0 2,0
A e reformar (R) 2,0 0,0
alguma prática. Para 10,0% e 8,0% dos produtores
A, R e pastejo rotacionado (PR) 0,0 2,0
de Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente, a
A e rotação de culturas (RC) 4,0 6,0
expansão das áreas de pastagens é a iniciativa cor-
Alugar pasto (AP) 4,0 0,0
reta a ser implementada para solucionar a proble- Análise do solo 0,0 2,0
mática da queda da produção das áreas atualmente C 2,0 2,0
existentes. Para 16,0 e 18,0% dos proprietários de G 6,0 2,0
Tomé-Açu e Paragominas, na respectiva ordem, GeR 0,0 2,0
a adubação deverá ser adotada como solução, en- Queima 4,0 0,0
quanto 6,0% dos produtores destes dois municí- Arraçoar o rebanho 0,0 2,0
pios pretendem apenas gradear as áreas ocupadas, Reduzir a carga animal 2,0 0,0
R 36,0 38,0
acreditando ser esta ação suficiente para reverter
R e AP 2,0 0,0
o elevado nível de degradação observado. A ado-
R e PR 0,0 2,0
ção da rotação de culturas foi mencionada como
PR 2,0 0,0
a alternativa a ser praticada visando recuperar as RC 0,0 6,0
áreas degradadas por 4,0 e 12,0% dos produtores Nada 14,0 16,0
de Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente. Não soube responder 2,0 2,0
Buscar alugar pastos foi a solução apresentada por
GRÁFICO 13 – Ocorrência e formação de área (ha/ano) de pastagem (%)
6,0% dos produtores de Tomé-Açu. A adoção do
pastejo rotacionado surgiu como opção para redu-
zir a baixa produtividade das pastagens segundo
apenas 2,0 e 4,0% dos de Tomé-Açu e Paragomi-
nas, respectivamente. Em Tomé-Açu, 4,0% dos
produtores disseram que irão efetuar a queima das

produção de riquezas e modos de vida no campo


pastagens e outros 2,0% dos produtores desse mu-
nicípio revelaram que irão reduzir a carga de ani-
mais. Em ambos os municípios investigados, 2,0%
dos entrevistados não souberam responder a esta
ELABORAÇÃO DA TABELA 25 E GRÁFICO 13: Os autores (2006).
questão.
A grande maioria dos produtores revela estar alternativa historicamente mais usada e eficaz, a curto A maioria dos produtores de Tomé-Açu tem
preocupada com a redução do potencial produti- prazo, para se alcançar o aumento da produtividade, investido anualmente na formação de novas áre-
vo das pastagens, e irá adotar práticas relaciona- porém esta concepção não leva em conta a susten- as para pastejo, sendo a dimensão formada infe-
das à reforma mediante a aplicação de insumos, tabilidade econômica e ecológica da propriedade. O rior a 10 ha para 56,0% das propriedades e entre
assim como irá fazer uso de tecnologias diversas sistema de integração lavoura-pecuária-silvicultura 11 e 50 ha no caso de 38,0% das propriedades,
que reduzam a velocidade de degradação das áre- ainda não foi amplamente adotado, mas representa, sendo, portanto, possível compreender que os
as. Porém, uma grande parcela não se mostrou atualmente, uma boa alternativa na recuperação de pecuaristas em Tomé-Açu estão ampliando as
consciente da importância de conservar o poten- áreas degradadas e na exploração sustentável da terra áreas de exploração pecuária em vez de inves-
cial produtivo das suas áreas atualmente ocupadas para pequenos e grandes produtores. tir num melhor aproveitamento daquelas áreas
com pastagens, inclusive alguns farão uso de técni- No Gráfico 13 pode ser visualizada a freqüência já estruturadas. Esta mesma conduta tem sido
cas equivocadas (apenas gradear, queimar, dentre de ampliação das áreas de pastagens e o tamanho observada em 17,0% e 14,0% das propriedades
outras) acreditando que irão recuperar o potencial destas, nos dois municípios investigados. de Paragominas, nas quais áreas com até 10 ha e
produtivo das áreas, fato que denota a grande im- Em 6,0% e 40,0% das propriedades de Tomé- entre 11-50 ha vêm sendo plantadas anualmen-
portância de serem informados sobre o que real- Açu e Paragominas, na devida ordem, a formação te. Foram poucos os produtores que possuíram
mente representa a curto, médio e longo prazos o de novas áreas de pastejo não ocorreu, por estarem a capacidade de formar áreas superiores a 51 ha,
emprego de ações imediatistas. Finalmente, alguns as áreas das propriedades já totalmente formadas. em um mesmo ano, fato ocorrido somente en-
produtores ainda acreditam que a ampliação das Para 56,0% dos produtores de Tomé-Açu e 3,0% tre os produtores de Paragominas, que em al-
áreas exploradas possa ser a melhor saída, o que dos produtores de Paragominas, a formação de no- guns casos tiveram a capacidade de formar áreas
fatalmente contribui para a expansão das áreas pro- vas áreas de pastagens tem sido igual ou inferior bastante amplas (Gráfico 13). A maior capaci-
pícias à proliferação de juquira e aumenta o risco a 10 ha/ano, enquanto 38,0 e 17,0% dos produto- dade de investimento na formação de grandes
de prejuízos aos ecossistemas. res têm formado, anualmente, entre 11 e 50 ha de áreas para pastejo por parte dos produtores de
Outro ponto analisado diz respeito ao fato de áreas para serem pastejadas. Em Paragominas a Paragominas reflete a crença deles quanto ao
os produtores pretenderem ou não formar novas formação anual de novas áreas de pastagens variou desenvolvimento do setor agropecuário. Tam-
áreas de pastagens. A maioria (52,0%) dos produtores entre 51 e 100, 101 e 150, 151 e 200, 201 e 250 e bém serve de alerta, a fim de que as práticas cor-
de Tomé-Açu e Paragominas (61,5%) pretende abrir 251 e 500 ha, respectivamente, em 14,0%, 8,0% , retas de preservação dos mananciais, das áreas
novas áreas de pastagens. Este elevado índice refle- 7,0% , 4,0% e 7,0% das propriedades. Neste mu- de matas e a preservação da fauna não sejam
te a cultura local de expansão das áreas exploradas, nicípio, boa parcela (40,0%) de produtores revelou deixadas de lado.
em vez de investir no aumento da produtividade das que as áreas de suas propriedades já estão total- Dentro deste contexto, os produtores foram
áreas disponíveis. Provavelmente, esta tenha sido a mente formadas. questionados quanto ao uso do fogo na propriedade.

267
A maioria dos produtores de Tomé- FOTO 3 – Visão parcial de pasto no interior de uma grande propriedade, no Quando há ocorrência de gra-
Açu (82,0%) e Paragominas (74,5%) município de Paragominas. míneas mais exigentes em nutrien-
não utilizam o fogo como instrumen- tes, como aquelas pertencentes ao

Foto: Almir Vieira Silva (2006).


to de combate às plantas invasoras das gênero Panicum sp, os produtores
produção de riquezas e modos de vida no campo

áreas de pastagens (FOTO 3). Este alto ajustam-se ao manejo, provavel-


percentual de produtores demonstra mente efetuando a reposição de
que a maioria tem consciência do que nutrientes, caso contrário, o siste-
representa o uso desta ferramenta, ma de produção com estas espé-
considerada antiquada, sobretudo em cies será rapidamente inviabilizado.
relação à degradação do solo e elimi- Em Paragominas, provavelmente,
nação da flora e da fauna. No entanto, a prática da adubação tem sido efe-
existe ainda uma expressiva parcela de tuada, também, com o propósito
produtores, 18,0% e 25,5% em Tomé- de suprir as exigências das plantas
Açu e Paragominas, na devida ordem, pertencentes a este último gênero.
que ainda insiste nesta prática preju- A recuperação de áreas de pastagens
dicial ao meio ambiente e, portanto, degradadas na Região Norte deve
necessita de ser conscientizada. ser priorizada devendo as atitudes
A fim de observar o nível de cons- para conscientização e busca de so-
cientização dos produtores em relação ao uso cor- nunca utilizou calcário para corrigir a acidez dos luções economicamente viáveis ser imediatamente
reto das áreas de pastagens, os produtores de Tomé- solos onde as suas áreas de pastagens estão esta- colocadas em ação.
Açu e Paragominas foram questionados quanto ao belecidas. Quanto ao uso de fertilizantes, 70,0% e Com relação à parcela dos produtores que re-
período de permanência dos animais nestas áreas, 40,4% dos produtores, nestes respectivos municí- aliza a prática de adubação, são descritos, na Ta-
podendo o resultado encontrado ser visualizado pios, nunca adubaram as áreas destinadas às pasta- bela 27, quais os fertilizantes que vêm sendo co-
no Gráfico 14. gens. Diante da pouca utilização de corretivos e da mumente utilizados, assim como quais os tipos de
Em 22,2% das propriedades de Tomé-Açu e prevalência de gramíneas do gênero Brachiaria sp, áreas que recebem este tratamento.
24,5% das de Paragominas, o uso individual dos que são mais tolerantes à acidez e ao baixo nível O arad (Fosfato natural) é o fertilizante mais
pastos tem variado entre 26-30 dias. Para 15,6% e de nutrientes no solo, existe a longo prazo o real utilizado nas áreas de pastagens de Tomé-Açu e
14,3% das propriedades de Tomé-Açu e Paragomi- comprometimento do potencial produtivo das Paragominas, tendo sido empregado isoladamente
nas, respectivamente, os animais pastejam a mesma forrageiras cultivadas nestes dois municípios. em 71,4% e 36,7% das propriedades, respectiva-
área por 11 a 15 dias. Em 15,6 e 12,2% das proprieda-
des destes respectivos municípios os animais paste-
GRÁFICO 14 – Período de permanência dos animais nas pastagens (%)
jam a mesma área por período que varia entre 6 e 10
dias. Em 11,1% e 10,2% das propriedades de Tomé-
Açu e Paragominas, respectivamente, cada pasto é
utilizado por períodos que variam entre 31-35 dias.
O uso contínuo das áreas de pastejo é praticado por
11,1% e 18,4% dos produtores de Tomé-Açu e Pa-
ragominas, nesta mesma ordem. A minoria, 6,7% e
10,2% das propriedades de Tomé-Açu e Paragomi-
nas, na devida ordem, utiliza um mesmo pasto por
períodos iguais ou inferiores a 5 dias.
Existem indicativos de que somente a minoria
TABELA 26 – Uso do calcário e prática da adubação em áreas de pastagens (%)
das propriedades é explorada seguindo recomen-
Tomé-Açu Paragominas
dações técnicas que consideram relevante o perío-
Uso de calcário
do de descanso das áreas pastejadas, procedimento
Não 78,0 67,9
que favorece a recuperação da planta forrageira,
Sim 22,0 32,1
conforme as suas características fisiológicas. Por Uso de adubo
conseguinte, a atividade pecuária efetuada nos dois Não 70,0 40,4
municípios está inserida no contexto extensivo, Sim 30,0 59,6
sem critérios de uso, o que coloca em risco a sua
TABELA 27 – Fertilizantes empregados e áreas onde estão sendo aplicados (%)
perenidade, num momento histórico em que se va-
loriza a produtividade por área, o retorno social de Tomé-Açu Paragominas
Tipo de fertilizante
qualquer atividade produtiva e o compromisso dos
Arad 71,4 36,7
que a executam quanto à preservação dos recursos
Arad e N-P-K 14,3 13,3
naturais. A capacitação dos produtores, assim como
Arad, N-P-K e Superfosfatos 0,0 3,3
das pessoas que trabalham no dia-a-dia da atividade Arad, Superfostatos 0,0 13,3
pecuária, faz-se necessária, para que não ocorra o N-P-K 14,3 16,7
que será discutido a seguir. Superfosfatos 0,0 16,7
A correção e a reposição de nutrientes são im- Áreas que estão sendo fertilizadas
portantes para a perenidade das áreas de pastagens. Área degradada 33,2 69,1
A Tabela 26 apresenta o nível de utilização do cor- Pastejo rotacionado 16,8 11,6
retivo (calcário) e de fertilizantes (adubos) nas suas Reforma do pasto 0,0 7,7
Formação do pasto 8,4 11,6
áreas de pastagens.
Toda área de pastagem 33,2 0,0
A maioria, 78,0% e 67,9% dos produtores
Sistema silvipastoril 8,4 0,0
de Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente, ELABORAÇÃO DO GRÁFICO 14 E TABELAS 26 e 27: Os autores (2006).

268
mente. Os fertilizantes arad e N-P-K (nitrogênio- Em 50,0% e 83,0% das propriedades de Tomé- suem máquinas e implementos tidos como essen-
fósforo-potássio) foram utilizados em 14,3 e 13,3% Açu e Paragominas não existem máquinas e im- ciais ao preparo de solo, plantio e colheita, o que
das áreas de pastagens das propriedades de Tomé- plementos agrícolas, respectivamente. O trator fortalece a necessidade de estímulo e viabilização
Açu e Paragominas, respectivamente. O arad, N- foi a máquina mais comumente encontrada den- da produção animal e vegetal pautada num contex-
P-K e os superfosfatos foram empregados em 3,3% tre aquelas equipadas em Tomé-Açu, ocorrendo to que usa tecnologia, visa à segurança alimentar,
das propriedades de Paragominas. O uso somente em 46,0% das propriedades, sendo que somente fiscaliza a economicidade, valoriza o desenvolvi-
do N-P-K tem sido utilizado em 14,3 e 16,7% das 11,3% das propriedades em Paragominas o pos- mento social e a sustentabilidade. Neste sentido,
propriedades de Tomé-Açu e Paragominas, na de- suem, mesmo índice observado para colheitadeiras a produção de grãos, no modelo empresarial, foi
vida ordem. O uso isolado dos superfosfatos ocor- neste município. O trator de esteira é encontrado despertada em Paragominas, como ilustrado pela
reu em 16,7% das propriedades de Paragominas. em 2,0% e 3,8% das propriedades de Tomé-Açu presença da plantadeira, do trator de esteira e da
Os fertilizantes estão sendo utilizados, principal- e Paragominas, respectivamente. Nas proprieda- colheitadeira.
mente, na recuperação de áreas degradadas, 33,2% des de Tomé-Açu, a grade niveladora é encontra- A integração agricultura-pecuária é uma boa al-
e 69,1% dos produtores de Tomé-Açu e Paragomi- da em 12,0% das propriedades e este implemento ternativa na recuperação de áreas degradadas, que co-
nas, na exata seqüência. A fertilização em sistema está presente em 5,7% das propriedades de Para- meça a ser implementada em Paragominas (Foto 4).
de pastejo rotacionado foi realizada em 16,8% e gominas. A grade aradora é observada em somen- Em Tomé-Açu, a maioria das máquinas e implemen-
11,6% das propriedades, respectivamente. te 4,0% e 3,8% das propriedades de Tomé-Açu e tos está vinculada à exploração agrícola e pecuária tra-
Em Tomé-Açu, 33,2% dos produtores que ferti- Paragominas, respectivamente, enquanto a plan- dicionais. A maior mecanização nas propriedades de
lizam as áreas de pastagens distribuem os fertilizan- tadeira está presente em 2,0 e 5,7% das proprie- Tomé-Açu possibilita a exploração de outras culturas
tes em todas as áreas onde existem pastagens e 8,4% dades destes respectivos municípios. A roçadeira e como alternativa para a recuperação das áreas de pas-
adubam as áreas onde estão implantados sistemas a picadeira são encontradas em 10,0% e 6,0% das tagens degradadas, tal qual vem sendo timidamente
silvipastoris. Já em Paragominas, 7,7% dos produ- propriedades de Tomé-Açu, enquanto a colheita- efetuado por alguns produtores de Paragominas, atra-
tores fertilizam áreas de pastagens somente quando deira esteve presente em 11,3% das propriedades vés da integração agricultura-pecuária (Figura 4). Esta
efetuam a reforma. De modo geral, os fertilizantes de Paragominas. tecnologia pode ser empregada pelos produtores
à base de fósforo, principalmente o arad, são prio- Metade dos proprietários de Tomé-Açu e a de Tomé-Açu, onde a agricultura é percebida com
rizados pelos produtores dos dois municípios para grande maioria daqueles envolvidos na atividade maior freqüência e as propriedades são menores, tal
a fertilização das áreas de pastagens, sendo que ne- pecuária em Paragominas (Gráfico 15) não pos- qual referido anteriormente (Tabela 20).
nhum proprietário de Tomé-Açu utiliza qualquer
tipo de superfosfato, podendo haver algum fator lo- GRÁFICO 15 – Máquinas e/ou equipamentos encontrados nas propriedades (%)
calmente limitante à sua comercialização. A maior
variedade de adubos utilizados pelos produtores
de Paragominas não reflete o maior conhecimento

produção de riquezas e modos de vida no campo


destes quanto às exigências das plantas forrageiras,
já que neste município apenas 33,3% dos produto-
res utilizam alguma fórmula comercial de N-P-K,
evento observado também em 28,6% das proprie-
dades de Tomé-Açu. Os produtores de Tomé-Açu
priorizam a fertilização das áreas degradadas e de
toda a área de pastagem, enquanto aqueles oriun- ELABORAÇÃO: Os autores (2006).
dos de Paragominas concentram seus esforços na
FOTO 4 – A integração-agricultura pecuária tem sido praticada por muitos produtores, visando ao
recuperação das áreas degradadas.
plantio conjunto da gramínea para pastejo e implantação de uma cultura, tal qual a do milho, sorgo,
Tais resultados indicam que, entre os produtores
feijão, soja, arroz, dentre outras. Na foto, vê-se uma propriedade rural localizada no município de
que adubam as áreas de pastagens em Tomé-Açu,
Paragominas.
33,2% praticam a adubação racional,
visando prevenir a degradação. Dentre
os pecuaristas que utilizam fertilizan-
tes, a priorização da reposição de nu-
trientes em áreas exploradas intensiva-
mente (pastejo rotacionado) representa
a visão conservacionista/ produtiva de
alguns produtores que devem ser po-
Foto: Almir Vieira Silva (2006).

tencializados como exemplos para ou-


tros produtores, técnicos e pesquisa-
dores. Os produtores que exploram a
atividade pecuária associada ao plantio
de árvores (sistema silvipastoril) de-
vem ser também destacados, pois estão
sendo pioneiros no emprego de uma
tecnologia moderna e bem-sucedida
em outras regiões do País e com cla-
ras evidências de que será amplamente
utilizada nos próximos anos também
na Região Norte.
No Gráfico 15 são apresentadas as
principais máquinas e implementos agrí-
colas encontrados nas propriedades.

269
A Tabela 28 apresenta o percentual de produto- TABELA 28 – Assessoramento técnico e pagamento de serviços prestados (%)
res que são assistidos tecnicamente, assim como a Tomé-Açu Paragominas
percentagem dos que pagam pela assistência. Assessoria técnica
O assessoramento técnico não ocorre em 56,0%
produção de riquezas e modos de vida no campo

Não 56,0 59,6


e 59,6% das propriedades de Tomé-Açu e Parago- Sim 44,0 40,4
minas, respectivamente. Dentre as propriedades Pagamento pela assistência técnica
assistidas, 56,0% e 21,4% não pagam pelo serviço Não 56,0 21,4
Sim 44,0 78,6
de assistência técnica. É evidenciado que a maioria
dos produtores não busca, ou não pode pagar, pelo GRÁFICO 16 – Expectativa de apoio por parte dos produtores (%)
assessoramento técnico, razão pela qual o modo de
produção adotado não incorpora novas tecnologias
e estratégias gerenciais e comerciais. Em Parago-
minas a maior parte destes (78,6%) paga pelo as-
sessoramento técnico.
Os produtores de Paragominas que pagam pela
mão-de-obra técnica podem cobrar resultados e
concluir a respeito da viabilidade econômica do
investimento. Os produtores que não pagam pelo
ELABORAÇÃO DA TABELA 28 E GRÁFICO 16: Os autores (2006).
serviço, provavelmente, não podem ter o mesmo
grau de exigência, assim como não estão passíveis acesso a algum tipo de crédito por serem associa- CONCLUSÕES
da periodicidade do serviço. Assim sendo, vários dos. Apoio quanto ao escoamento da produção a
produtores precisam compreender melhor a im- fim de que possam ser remunerados de forma jus- Os pequenos produtores de Tomé-Açu e de
portância da assistência técnica especializada e o ta foi o que relataram 14,3% e 3,7% dos produto- Paragominas ligados à produção animal estão in-
quanto ela representa em termos de custos e be- res de Tomé-Açu e Paragominas, respectivamente. seridos em um contexto produtivo com vários
nefícios. Uma das vantagens do pagamento da as- Surpreendentemente, 21,4% e 3,7% dos produ- pontos de estrangulamento, no qual o nível de
sistência técnica é a perspectiva de contratação de tores de Tomé-Açu e Paragominas disseram não qualificação na pecuária não condiz com a produ-
técnicos especializados em questões muito pontu- saber responder a esta pergunta, e outros 7,1% e ção familiar estruturada. Sugere-se a elaboração e
ais, que demandam um especialista para solucio- 14,8% dos produtores destes respectivos municí- implantação de novas estratégias capazes de gerar
ná-las. pios disseram não esperar nada deste órgão que os resultados sociais concretos nas comunidades es-
O engajamento dos produtores perante as en- representa. tudadas. Por tudo isso, faz-se necessária a reflexão
tidades/associações que os representam também Em Paragominas, o vínculo ao órgão de classe sobre novas diretrizes e modalidades de estímulos,
foi analisado. Em Tomé-Açu e Paragominas, foi maior do que em Tomé-Açu. A assistência que passam pela formação de conceitos, possibili-
respectivamente, 54,0% e 64,0% dos produtores técnica qualificada é o que mais desejam os pro- dade de exercitar práticas de campo e inserções aos
estão vinculados a algum órgão que os represen- dutores destes dois municípios. Ser beneficiado processos de comercialização e agregação de valor
ta em termos de classe produtora. Apesar de os com cursos e treinamentos é a preocupação dos aos produtos.
produtores de Tomé-Açu estarem inseridos na produtores de Paragominas, enquanto esta de- O conhecimento das dificuldades que restrin-
área de colonização nipônica, trazendo consi- manda não foi requerida por muitos produtores gem o desenvolvimento humano no campo por
go a cultura do cooperativismo, esta não tem se de Tomé-Açu, demonstrando, mais uma vez, que si só não tem implicado mudanças significativas
destacado em adesão quando comparado nume- estes não estão sendo capacitados adequadamen- da realidade dos pequenos produtores. O acesso
ricamente a Paragominas. A eventual inserção te, ou não dão valor às novas técnicas e concei- à terra, a disponibilidade de recursos e o traba-
da concepção de valorização do empreendedo- tos produtivos. Os produtores, principalmente lho sério do núcleo familiar não têm resultado
rismo e cooperativismo deve ser incentivada em de Tomé-Açu, revelaram ter dificuldades quanto na construção sedimentada do desenvolvimento
ambos os municípios. O objetivo é valorizar o ao escoamento da produção e disseram não es- social. O investimento na qualificação de várias
setor produtivo com o processamento das ma- tarem recebendo um preço justo pelo produto, gerações que compõem a estrutura familiar pro-
térias-primas, agregação de valor aos produtos e cabendo ações organizadas, a fim de reverterem dutiva poderá concretizar a integração social de-
vantagem na comercialização. O estabelecimen- esta realidade. Alguns produtores, que acredi- sejada no Programa Nacional de Reforma Agrá-
to de programas que visem contribuir para ele- tam na organização que os representa, relataram ria.
vação da capacidade gerencial, o entendimento a necessidade de auxílio no acesso ao crédito, Entidades públicas e privadas necessitam inves-
dos mercados, assim como das cadeias produti- preocupação existente para mais de 7,0% dos tir na organização social e na capacitação do setor
vas regionais, certamente despertariam os em- produtores de Tomé-Açu e Paragominas. A de- primário para fortalecer a estrutura produtiva fa-
presários, principalmente em relação aos nichos manda por capacitação da mão-de-obra local foi miliar. As entidades de desenvolvimento tecnoló-
de mercado ainda pouco explorados. mencionada poucas vezes, demonstrando não gico precisam prospectar novas alternativas, viáveis
O Gráfico 16 apresenta as expectativas em rela- existir a preocupação com a qualidade da força economicamente, que sejam geradoras perenes
ção ao tipo de apoio que podem obter da associa- de trabalho. Provavelmente, o tipo de atividade de renda. As metas governamentais precisam ser
ção de classe à qual estão vinculados. geradora de postos de trabalho não são aquelas também qualitativas para viabilizar o verdadeiro
Em Tomé-Açu e Paragominas, respectivamen- que demandem elevado nível de especialização. desenvolvimento social.
te, 35,7% e 33,4% dos produtores desejam ser as- Pouco mais de 20,0% dos produtores de Tomé- A parceria com grandes empresas privadas atu-
sistidos por técnicos qualificados, sendo que foi Açu e uma pequena porção dos produtores oriun- antes na região pode influenciar positivamente na
ainda mencionado por 3,6% dos produtores de dos de Paragominas responderam não saber como forma de produção, na transferência e adoção de
Tomé-Açu o desejo de serem beneficiados com o órgão de classe que o representam pode bene- novas tecnologias. Estas empresas precisam apro-
assistência técnica profissional e acesso a finan- ficiá-los, resultado que indicou o baixo compro- veitar a estrutura de ensino técnico, pesquisa e ex-
ciamentos. A oferta de cursos foi mencionada por metimento com a melhoria da sua situação, assim tensão já instalada nos municípios e estimular uma
7,1% e 22,2% dos produtores de Tomé-Açu e Pa- como a descrença no trabalho coletivo. Cabe, por- nova onda de desenvolvimento regional com res-
ragominas, respectivamente. Em Paragominas, tanto, estimular a integração entre órgão de classe peito às tradições locais, mas com inovação e ado-
7,4% dos produtores disseram ter a expectativa de e associado, principalmente em Tomé-Açu. ção de novas tecnologias.

270
Quanto aos grandes produtores, percebeu- desenvolvimento com responsabilidade social e nova dimensão ao desenvolvimento regional; tra-
se que a forma de produção dos pecuaristas de ambiental. ta-se de um método já empregado por governos
Tomé-Açu e Paragominas não potencializa o uso A moderna gestão pública e privada utiliza fer- e grandes empresas, mas ainda pouco difundido.
de tecnologias já consolidadas, contribuindo ramentas técnicas para o direcionamento e planeja- As técnicas de análise prospectiva e construção de
pouco para a geração de produtos processados mento do desenvolvimento regional. Os diagnós- cenários subsidiam o planejamento estratégico re-
com valor agregado. O desenvolvimento pro- ticos são as mais conhecidas técnicas empregadas gional com vista ao desenvolvimento, e por isto
dutivo, econômico e social destes municípios que visam dar suporte à definição de prioridades. esta ferramenta pode ser empregada rumo ao de-
precisa ser redirecionado, mediante estímulo ao Contudo, o estudo de cenários pode trazer uma senvolvimento regional sustentável.

QUADRO 4 – Perspectivas gerais sugeridas ao produtor de Tomé-Açu

1. Por serem as propriedades de Tomé-Açu menores e as práticas agrícolas fazerem parte da cultura dos pecuaristas, o incentivo à produção leiteira, con-
jugada à atividade agrícola, parece ser um cenário interessante a ser investigado neste universo, relacionando o maior aproveitamento da mão-de-obra
com a boa perspectiva de lucratividade, mediante estabelecimento de um pólo de processamento agroindustrial. O mercado consumidor para produtos
lácteos no município e arredores (incluso a capital) é amplo e o retorno econômico pode ser promissor;
2. A diversificação das atividades econômicas otimiza a lucratividade por área quando adota práticas como rotação de culturas e aproveitamento de
subprodutos na alimentação animal. O processamento do leite na forma de queijo e doce de leite, entre outros, agrega valor ao produto e abre novos
mercados ao empresariado local, devendo, futuramente, as agroindústrias vislumbrarem a estruturação necessária para atender às diferentes demandas
mercadológicas;
3. Para atingir os objetivos mencionados acima faz-se necessária a capacitação profissional. Existem várias instituições públicas de ensino, pesquisa e
extensão atuantes na região. Iniciativas participativas podem estimular ações capazes de preparar os produtores e seus empregados para a produção de
derivados lácteos e abertura de mercados consumidores.

QUADRO 5 – Perspectivas gerais sugeridas ao produtor de Paragominas

1. Paragominas caracterizou-se por propriedades maiores com a atividade pecuária de baixa produtividade. Se o ciclo de exploração pecuária
perpetua-se nas atuais condições aumentará a pressão econômica dos plantadores de grãos para aquisição de terras mecanizáveis. Os pecuaristas
precisam aumentar a lucratividade de sua atividade, através da intensificação e adoção de tecnologias capazes de aumentar a produtividade por
unidade de área. O moderno sistema de produção demanda maior intensificação da produção e controle financeiro das atividades produtivas. Ma-
nejo adequado, adubações periódicas, adoção de gramíneas mais produtivas e consorciação de pastagens poderão assegurar o ganho de qualidade e
produtividade com responsabilidade ambiental;

produção de riquezas e modos de vida no campo


2. A exploração agropecuária, na maioria das propriedades, mostrou-se imediatista crescendo em dimensão e perdendo a oportunidade de expressivos
resultados econômicos. Contudo, o município de Paragominas vive uma fase de aquecimento da economia e investimentos na área de extração mineral
e de produção de grãos. Abre-se a perspectiva da adoção de tecnologias de integração lavoura-pecuária-silvicultura, capazes de diminuir a dependência
do produtor ao setor específico da economia onde atua, princípio da diversificação dos investimentos. O momento histórico vivido em Paragominas não
pode se transformar em uma “bolha especulativa” de valorização momentânea dos imóveis e propriedades rurais, precisa se consolidar com políticas pú-
blicas na área de educação, infra-estrutura e estímulo ao empreendedorismo. Os sistemas de produção integrados são alternativas viáveis à recomposição
de áreas degradadas, talvez o problema mais impactante ao desenvolvimento pecuário regional. O município possui extensas áreas passíveis de mecaniza-
ção e empresários originários de regiões com tradição na produção de grãos;
3. A adoção de tecnologia de plantio de grão com o objetivo de recuperar áreas degradadas e promover a integração de sistemas é uma boa resposta aos
ambientalistas que se opõem à agricultura empresarial na Região Amazônica. Evita-se a derrubada das florestas e recuperam-se áreas já sem capacidade
produtiva. A integração da pecuária com a silvicultura poderá aproveitar áreas acidentadas, fazer cobertura de solo e dar conforto térmico aos animais, que
iriam pastorear áreas sombreadas. Além disto, poderá garantir a produção de madeira ou carvão originários de florestas plantadas, suprindo a demanda da
indústria madeireira e do setor siderúrgico regional.
ELABORAÇÃO DOS QUADROS 4 e 5: Os autores (2006).

271
272
CONFLITOS E
RESISTÊNCIA DAS
POPULAÇÕES
NO CAMPO

273
ARTIGO
artigo
produção de riquezas e modos de vida no campo

ANÁLISE JURÍDICA PARA REALIZAÇÃO DA


REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

José Heder Benatti


Luly Rodrigues da Cunha Fischer

O
objetivo do presente texto fundiária brasileira. Segundo o art. 5, do Decreto- CPI da Grilagem de Terra (BRASIL, 2002, p. 546),
não é fazer um diagnóstico lei nº 9.760/46, são devolutas na faixa de frontei- entre 1985 e 1994 foram discriminados e/ou arre-
dos problemas fundiários ra, nos territórios federais e no Distrito Federal, cadados 6.966.922 ha de terras devolutas. Somente
dos municípios estudados pelo Atlas Am- as terras que não sendo próprias nem aplicadas a uma análise gleba por gleba permite saber, exata-
biental, ou estudar a situação jurídica dos algum uso federal, estadual ou municipal não se mente, quais áreas podem ser denominadas como
assentamentos criados, das propriedades incorporarem ao domínio privado: patrimônio fundiário próprio e, portanto, não de-
rurais, das áreas indígenas, dos quilombos a) Por força da Lei nº. 601, de 18/09/1850, voluto, quais áreas são devolutas e quais estão sob
e das unidades de conservação. O que nos Decreto nº. 1.318, de 30/01/1854, e outras o domínio privado.
propomos a apresentar, sob forma de ar- leis e decretos gerais, federais e estaduais; Outro ponto a ser lembrado é que, além das
tigo, é uma discussão sobre a definição e b) Em virtude de alienação, concessão ou terras devolutas, há, também, os terrenos de ma-
o arranjo jurídico das categorias que en- reconhecimento por parte da União ou dos rinha, os terrenos marginais, as áreas de várzea e
volvem a propriedade rural, os assenta- Estados; os leitos de rios e lagos, que são terras públicas não
mentos, o manejo dos recursos naturais, c) Em virtude de lei ou concessão emanada devolutas. Interessa, à análise da realidade fundiá-
as áreas indígenas e os quilombos, a fim de governo estrangeiro e ratificado ou reco- ria da área de estudo do Atlas, as várzeas, cuja na-
de ajudar a compreender o papel de cada nhecido, expresso ou implicitamente, pelo tureza jurídica é a que incide no terreno da calha
um destes elementos e a importância de- Brasil em tratado ou convenção de limites; alargada ou maior de um rio. A dominialidade da
les no contexto da organização territorial d) Em virtude de sentença judicial ou com várzea é pública, podendo ser da União ou dos Es-
de uma região ou município. A ênfase do força de coisa julgada. tados, dependendo da propriedade das águas. Se
texto, neste sentido, será feita em relação Resumidamente, Hely Lopes Meirelles (1993, estas pertencerem à União, a várzea será federal;
às categorias jurídicas concernentes aos p. 455) afirma que as terras devolutas “são todas se a corrente d’água for estadual, a várzea será es-
problemas fundiários que ocorrem nos aquelas que, pertencendo ao domínio público de tadual, pois o álveo e o leito alargado dos rios se-
municípios em estudo. qualquer das entidades estatais, não se acham uti- guem a mesma natureza do domínio das águas. A
lizadas pelo Poder Público, nem destinadas a fins várzea não se confunde com as terras devolutas,
PROPRIEDADE PRIVADA administrativos específicos. São bens públicos pa- pois aquele terreno é aplicado a um uso público,
RURAL trimoniais ainda não utilizados pelos respectivos ou seja, tem uma destinação, que é dar suporte à
proprietários”. água.
Um dos maiores problemas fundiários O Governo Federal admite que, na Amazônia, Com a Constituição de 1988, a água passou a
é a comprovação se o imóvel rural tem o aproximadamente 24% das terras estão sob apro- ser considerada um bem público. A Lei nº 9433/97
título da terra, em outras palavras: trata-se priação privada, 31% são áreas públicas protegi- instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos
de uma propriedade (com a prova do das (sendo que 21% são áreas indígenas e 10% são e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Re-
domínio) ou é uma posse porque não há compostas por unidades de conservação) e 45% cursos Hídricos. Essa Lei afirma que a água é um
documento comprovando o domínio. são terras públicas devolutas, o que representa, bem de domínio público,1 sendo considerada um
A dúvida é gerada porque a formação aproximadamente, 235 milhões de hectares na recurso natural limitado e em situação de escassez;
da propriedade no Brasil, e em particular Amazônia Legal. É difícil afirmar que se trata de o uso prioritário é o consumo humano e a desse-
na Amazônia, está baseada mais na ocupa- domínio privado porque não é fácil comprovar se dentação de animais. Logo, as águas serão sempre
ção do que na transferência do patrimô- todos os títulos registrados em cartórios são legí- públicas. Já não há, portanto, águas particulares”2.
nio público para o particular. O governo timos, por isso preferimos dizer apropriação, que Como a água é um bem de domínio público, o ter-
não tem um cadastro de imóveis rurais envolve áreas legitimáveis e áreas ilegais. reno que a suporta, o álveo e o leito maior sazonal,
confiável. Daí, boa parte dos imóveis ru- Devido ao descontrole sobre o patrimônio pú- também o são. Logo, as águas e o respectivo solo
rais ainda não foi regularizada e está em blico e pelo fato de o cadastro de imóveis rurais que elas ocupam (permanente ou sazonalmente)
terras públicas, devolutas ou arrecadadas, privados não ser confiável, os números apresen- pertencem aos Estados quando as águas, em suas
mas não destinadas. As terras devolutas tados nunca são fidedignos à realidade. De fato, o diversas maneiras de manifestações, desde que
são um instituto jurídico originário do di- número de terras devolutas é menor do que o apre- não se encontrem em terrenos de propriedade da
reito brasileiro, não possuindo outro cor- sentado pelo Governo, pois nas décadas de 1970 e União, não banhem mais de um Estado (CF/88,
respondente no direito internacional. De 1980 diversas áreas foram arrecadadas ou discrimi- art. 20, II), ou, quando em depósito, não decorram
fato, é uma situação anômala da situação nadas em processos discriminatórios. Segundo a de obras realizadas pela União.

1
A expressão domínio público é empregada no sentido de designar os bens afetados a um fim público, os quais compreendem os de uso comum do povo e os de uso especial.
Como muito bem lembra Di Pietro (2001, p. 531), “embora a classificação adotada pelo artigo 98 do Código Civil abranja três modalidades de bens, quanto ao regime jurídico
existem apenas duas”, ou seja, os bens do domínio público do Estado e os bens do domínio privado do Estado (os bens dominicais), sendo estes parcialmente públicos e parcial-
mente privados.
2
O Código Civil de 2002, em seu artigo 1.230, afirma que “a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os
monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais”. Apesar de não constar no rol do caput do artigo citado, a Constituição Federal e a Lei especial (Lei nº 9. 433/
97) excluíram a água da dominialidade privada.

274
produção de riquezas e modos de vida no campo

Legitimação da posse e regularização A primeira legislação que tratou do assunto foi A principal finalidade da legitimação é outorgar
de posse: aspectos jurídicos a Lei nº 601 de 1850 (Lei de Terra), a qual favore- a propriedade das áreas públicas ocupadas, cujas
A legitimação de posse é um instituto genui- cia aquele que exercia a posse mansa e pacífica em posses forem consideradas regularizáveis. Os re-
namente brasileiro, e é empregada para transferir terras públicas, nela tendo a morada habitual e de- quisitos previstos na lei para a legitimação são:
o patrimônio público para o domínio particular. senvolvendo culturas ou práticas agrícolas (art. 5). a) Serem as terras devolutas federais;
Tem sua origem histórica na necessidade de regu- Contemporaneamente, faz jus à legitimação de sua b) As dimensões da área contínua não po-
larizar situações que não encontravam amparo ju- posse o posseiro que preencher as exigências le- dem ultrapassar o módulo rural;3
rídico. Legitimação de posse é o ato administrativo gais contidas nos artigos 11, 97, 99 a 102 da Lei nº c) O ocupante da terra pública deve ter mo-
pelo qual “o Poder Público reconhece ao particu- 4.504/64 (Estatuto da Terra) e na Lei 6.383/1976, rada permanente e cultura efetiva na área rei-
lar, outorgando, ipso facto, o formal domínio pleno” art. 29, incisos I e II (que dispõe sobre o processo vindicada;
(Stefanini, 1978, p. 131). discriminatório de terras devolutas da União). d) Lapso temporal mínimo de um ano;

3
Quando referirmos ao módulo rural, estamos comparando-o ao tamanho de um imóvel rural de quatro módulos fiscais. Desse modo, entendemos por módulo fiscal a unidade de medida
expressa em hectares, fixada para cada município, considerando-se os seguintes fatores: tipo de exploração predominante no município; renda obtida com a exploração predominante; outras
explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda e da área utilizada; e o conceito de propriedade familiar. Legalmente, o módulo
rural é comparado ao conceito de propriedade familiar, sendo que este é definido como “o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda
a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de
terceiros” (art. 4, inciso II da Lei. 4.504/64).

275
e) Não pode ser proprietário de outro imó- dade e os governos em âmbito global: a compati- propriedade e posse sobre os recursos naturais tem
vel rural; bilidade entre o desenvolvimento econômico e a que garantir o atendimento de sua função social e
f) Deve explorar a atividade agrária com seu proteção dos ecossistemas. ecológica devendo estar sujeito às limitações que a
trabalho direto e o de sua família. Segundo a Constituição de 1988, o exercício do legislação estabelece.
produção de riquezas e modos de vida no campo

Os agraristas brasileiros ainda não conseguiram direito de propriedade sobre a terra tem que levar As principais formas de utilização do solo na
chegar a uma conceituação consensual sobre os em consideração, também, a conservação do solo Amazônia ocorrem pela agricultura, pecuária, ati-
institutos da legitimação e regularização de posse. e a proteção da natureza. A compreensão restrita vidade madeireira, e mineração e garimpo. Outra
Parte entende que se trata de dois institutos jurí- de que a propriedade cumpre a sua função social atividade importante desenvolvida na Amazônia, e
dicos, sendo que a legitimação não é liberalidade, quando produz alimentos, sem colimar outros in- que não diz respeito à utilização do solo, é a pesca.
mas uma obrigação do Poder Público em reconhe- teresses, parece não ser suficiente para abranger as Essa atividade é praticada, também, pelas popula-
cer o direito do ocupante de terras públicas. A área novas necessidades sociais e ambientais surgidas na ções ribeirinhas, que pescam em rios locais e lagos
não pode exceder o módulo rural. A área reivindi- contemporaneidade. É preciso ampliar a compre- de várzea para aumentar sua fonte de alimento e
cada acima do módulo rural é denominada de re- ensão da função social do imóvel rural para que se renda econômica.
gularização de posse e trata-se de um instrumento possa incluir, em sua definição, uma interpretação Para que o particular possa realizar a explora-
administrativo facultativo de aquisição onerosa de da proteção ambiental que favoreça uma utilização ção florestal e suprimir a vegetação nativa, precisa
terra pública. A regularização garante o direito de mais responsável dos recursos naturais, com a bus- sujeitar-se à concessão de licenciamento do órgão
preferência para aquisição de terras devolutas. A ca tanto dos benefícios econômicos que o imóvel ambiental competente. Contudo, a maior dificul-
sistemática adotada para a regularização é a mesma pode produzir, como também dos ambientais. dade encontrada pelos camponeses para regulari-
da legitimação. Incorporando o princípio da responsabilidade zar sua situação, ou seja, para conseguir a licença
Outros entendem que legitimação e regulari- ambiental, a Constituição de 1988 é categórica ao ambiental, é a questão fundiária do imóvel rural.
zação de posse são sinônimas, a diferença ocorre definir, no art. 186, que a função social4 é cum- O licenciamento esbarra na necessidade de apre-
somente na sistemática, pois, acima do módulo ru- prida quando a propriedade rural atende, simul- sentar os documentos que comprovem o domínio
ral, o Poder Público não é obrigado a reconhecer taneamente, e de acordo com critérios e graus de ou a posse da área na qual se pretende realizar a
o direito à terra devoluta reivindicada. Neste texto exigências estabelecidos em lei, aos seguintes re- exploração. Essa exigência representa, na prática, a
iremos trabalhar com essa concepção, não fazendo quisitos: exclusão da legalização da exploração dos recursos
distinção quando denominarmos regularização ou a) aproveitamento racional e adequado; florestais para milhares de famílias camponesas,
legitimação de posse. A diferença ocorre na siste- b) utilização racional dos recursos naturais advindas da complexa e caótica realidade fundiária
mática legal de reconhecimento do direito de re- disponíveis e preservação do meio ambiente; paraense e amazônica.
gularização fundiária. c) observância das disposições que regulam A questão da documentação da terra sempre
Para ajudar a compreensão do trabalho, empre- as relações de trabalho; foi, para os trabalhadores rurais, um problema sé-
gamos os termos posseiro, possuidor ou ocupante d) exploração que favoreça o bem-estar do rio, seja para conseguir financiamento, seja para
de terra pública com o mesmo significado, ou seja, proprietário e dos trabalhadores. regularizar a exploração dos recursos naturais re-
entende-se como sendo o sujeito que mantém a Nesses mandamentos constitucionais estão nováveis perante os órgãos competentes. Nesse
posse sobre terras públicas, seja ela devoluta ou explicitados os três elementos necessários para a caso, os trabalhadores rurais são duplamente pe-
discriminada e/ou arrecadada. A distinção que será efetivação da função social: o econômico, o social nalizados pelo Poder Público. Primeiro, porque
feita é se o posseiro, possuidor ou ocupante, tem e o ambiental. A conciliação da utilidade privada este não regulariza a situação fundiária de suas
ou não legitimidade ao reconhecimento de sua (atividade agrária ou da função produtiva) e dos terras; segundo, os órgãos ambientais exigem do-
posse, assunto que trataremos a seguir. interesses públicos ocorre quando a exploração cumentos de comprovação do vínculo jurídico
econômica leva em consideração os aspectos social com a terra que os camponeses não podem forne-
A Função Socioambiental do Imóvel Rural: e ambiental. Essa orientação constitucional é asse- cer porque não foram contemplados pelo órgão
princípios constitucionais que fundamentam verada também nos princípios gerais da atividade fundiário, seja estadual, seja federal. Mas como
a regularização fundiária econômica que determinam que a ordem econô- superar esse impasse paradoxal, se, para os órgãos
mica deve observar os princípios da propriedade ambientais, não basta ter posse agrária ou agroe-
Agora iremos tratar dos requisitos necessários privada, a função social da propriedade e a defesa cológica5, sendo preciso comprovar a justa posse
para que uma ocupação de terra pública faça jus do meio ambiente (art. 170, incisos II, III e VI da do terreno?
à legitimação da posse. São exigências constitu- CF, respectivamente). Devemos esclarecer que a dificuldade está na
cionais necessárias para legitimar a ação do Poder comprovação da propriedade ou da justa posse da
Público no reconhecimento do direito à terra. O A dificuldade para regularizar as ativida- área onde vai ser implantado o projeto de explora-
pressuposto básico é verificar qual é a função dada des agrárias ção, ou seja, o objeto do impasse é a documentação
à terra: a área ocupada está cumprindo a sua função Para efeitos da lei, são considerados recursos na- comprovando a vinculação jurídica com a terra,
socioambiental? turais: a atmosfera; as águas, em qualquer de seus pois a relação de fato (posse originária, ou seja, a
A partir da década de 1970, com a ameaça da estados; a terra, o solo e subsolo, incluídos os re- posse agrária ou agroecológica) pode ser compro-
destruição dos ecossistemas e o fortalecimento da cursos pertencentes ao solo e os minerais; a flora; vada com as atividades agroextrativistas realizadas
preocupação ambientalista, assume maior relevân- a fauna; os recursos biológicos do solo, do subsolo na área, ou, se for o caso, por meio de testemu-
cia política um novo dado que preocupa a socie- e das águas; a paisagem. O exercício do direito de nhas, fotos, imagens de satélite etc.

4
O Estatuto da Terra (Lei 4.504/1964), em seu art. 2, § 1°, já prevê a função social da propriedade, afirmando que a propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando,
simultaneamente, a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias, b) mantém níveis satisfatórios de produtividade, c) assegura
a conservação dos recursos naturais, d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivam.
5
Maiores informações sobre a posse agroecológica, ver Benatti (2003).

276
As duas principais legislações que versam sobre Porém, a Constituição de 1988, diferentemente ser feita, preferentemente de maneira suasória, nos
a regularização fundiária são a Instrução Normativa das demais, avançou consideravelmente sobre a sítios arqueológicos e paleontológicos e de cavida-
nº 31, de 17 de maio de 2006, que dispõe sobre as questão da proteção dos diretos territoriais indí- des naturais, porque estas, a primeira fundamental
diretrizes e fixa os procedimentos para legitimação genas, já que, além de reconhecer sua organiza- à cultura e a última à natureza, são preexistentes à
de posse em áreas de até cem hectares localizadas ção social, costumes, línguas, crenças e tradições, ocupação indígena.”
em terras públicas rurais da União; e a Instrução garantiu-lhes o direito originário sobre as terras tra- Existe também a possibilidade de que as pró-
Normativa nº 32, de 17 de maio de 2006, que dis- dicionalmente ocupadas, estabelecendo o dever da prias comunidades indígenas possam solicitar a
põe sobre as diretrizes e fixa os procedimentos para União de demarcá-las, protegê-las e fazer com que transformação de parte ou mesmo da totalidade
regularização fundiária de posses em áreas de até sejam respeitados todos os seus bens. Essas terras de seu território em uma unidade de conservação.
quinhentos ha, localizadas em terras públicas rurais são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos dos Vale ressaltar que a previsão de inexistência de di-
de propriedade da União na Amazônia Legal. grupos indígenas sobre elas são imprescritíveis reito à indenização só tem aplicabilidade nos casos
A legislação que regula o manejo dos recursos (art. 231, §4º). onde for comprovado o apossamento clandestino
naturais e o desmatamento da área florestal é a Ins- O § 1º do art. 231 da Constituição em vigor ou violento, visto não poder esquecer que muitas
trução Normativa nº 3, de 10 de maio de 2001, e a dita quais são as terras tradicionalmente7 ocupadas vezes o próprio Estado promoveu a expansão de
Instrução Normativa nº 4, de 04 de abril 2002, que pelos índios: (a) as por ele habitadas em caráter fronteiras agrícolas, sem respeitar os direitos dos
trata da exploração das florestas primitivas da bacia permanente; (b) as utilizadas para suas atividades índios sobre as terras. Assim, a indenização, nesses
amazônica sob a forma de manejo florestal sus- produtivas; (c) as imprescindíveis à preservação casos, deve se restringir às benfeitorias decorrentes
tentável de uso múltiplo, respectivamente, ambas dos recursos necessários ao seu bem-estar; e (d) as da ocupação de boa fé. A Portaria n. 69, de 24 de
do Ministério do Meio Ambiente (MMA). É bom necessárias a sua reprodução física e cultural, se- janeiro de 1989, da FUNAI, dispõe sobre as ins-
lembrar que o manejo florestal não pode ocor- gundo seus usos, costumes e tradições. Essas terras truções para o estabelecimento de indenizações de
rer na área de preservação permanente, as demais se destinam a sua posse permanente, cabendo-lhe benfeitorias.
áreas do imóvel estão liberadas, enquanto o des- o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios Outra limitação prevista constitucionalmente se
matamento não pode ser feito na área de preserva- e dos lagos nela existentes (§2º). refere à retirada dos povos de suas terras. Segundo
ção permanente e de reserva legal.6 As terras indígenas tradicionalmente ocupadas o texto legal, como regra geral, é vedada a remoção
são bens da União, mas o regime de uso das terras de grupos indígenas de suas terras, salvo quando
TERRAS INDÍGENAS indígenas não se enquadra nas categorias normais de for aprovada pelo Congresso Nacional, em caso de
bens públicos. Essas áreas são de usufruto exclusivo catástrofe ou epidemia que ponha em risco o gru-
O direito à terra, como meio de promoção da dos grupos indígenas, incluídos aí seus recursos na- po, ou no interesse da soberania do país, também
vida de um determinado grupo humano é, tam- turais, que poderão ser utilizados segundo seus usos, somente possível após deliberação do Congresso
bém, uma reivindicação dos povos indígenas. “É costumes e tradições. Ressalte-se que a utilização Nacional. Porém, em qualquer das hipóteses, é
no território e em seus fenômenos naturais que se privativa das terras indígenas dá aos grupos indíge- garantido o retorno imediato do grupo logo que

produção de riquezas e modos de vida no campo


assentam as crenças, a religiosidade, a farmacopéia nas o poder de cesse o risco.
e arte de cada povo” (Souza Filho, 1998. p. 120). Pode-se concluir que o Brasil possui um bom
Contudo, o conceito de território e terra diferem, usar e fruir de suas riquezas naturais, tanto para sistema de proteção das terras indígenas. Contudo,
sobretudo, em termos jurídicos. Para o Direito, seu consumo quanto para suprir as necessida- para que os direitos indígenas previstos na Cons-
des de consumo de bens que não dispõem [...]
território é um dos elementos formadores do Es- tituição sejam mais bem protegidos é necessário
Quando tais atividades se destinarem a fins co-
tado e o limite de seu poder. Por esse motivo, asse- que o Estatuto do Índio seja alterado. Atualmente,
merciais, entretanto, estarão sujeitos às normas
vera Carlos Souza Filho (1998, p. 121), “as leis não existem três projetos de lei dispondo sobre uma
legais específicas, inclusive de natureza ambien-
admitem o nome território para indicar o espaço tal (Santilli, 1999. p. 660). nova legislação indigenista (PL nº. 2.057/91, PL
vital dos povos indígenas, chamando-se simples- nº. 2.160/91 e PL nº. 2.162/92) e um substitutivo,
mente de terras.” A Constituição, em seu artigo 231, § 6º, deter- todos aguardando apreciação legislativa. No en-
A proteção jurídica das terras indígenas, apesar mina que sejam considerados nulos e extintos, não tanto, não há previsão para que uma nova lei sobre
de existir desde a época do Brasil colônia, foi pou- produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham o assunto seja votada.
co eficaz. Conforme ressalta Benatti, (2003. p. 84), por objeto a ocupação, o domínio e a posse de ter- Cabe ressaltar, ainda, que a proteção dos di-
“desde o tempo do descobrimento do Brasil, as le- ras indígenas, ou a exploração das riquezas naturais reitos indígenas não é apenas uma questão de
gislações portuguesas sempre reconheceram aos do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, salvo criar normas jurídicas. Sabe-se que, historica-
índios o direito à propriedade de suas terras (pelo as ocupações de boa fé. No caso de sobreposição mente, os direitos dos indígenas no Brasil foram
menos formalmente). O que se modificou no con- de terras indígenas e unidades de conservação, os muito mais garantidos no plano formal que no
junto de leis até a contemporaneidade foram alguns atos de criação dessas áreas, como regra, devem material, demonstrando que a proteção efetiva
aspectos conceituais”. Segundo Leitão (1993, p. 66), ser considerados nulos, de acordo com o que dis- desses direitos depende de uma atuação concreta
todas as constituições brasileiras (art. 129, CF/1934; põe o texto constitucional citado acima (art. 231, não apenas do legislativo, mas do executivo prin-
art. 154, CF/1937; art. 216, CF/1946; art. 186, CF §6º). No entanto, para Carlos Souza Filho (1998, cipalmente. No entanto, não é isso que ocorre
1967, art. 231, CF/1988), ressalvada a de 1981, tam- p. 148), nem todos os casos de criação de unidades de fato. Apenas para ter-se um exemplo sobre o
bém reconheceram aos índios a posse dos territó- de conservação devem ser considerados nulos: “há problema da demarcação das terras indígenas, até
rios por eles originária e efetivamente habitados. determinadas situações em que a preservação deve hoje nem todas as terras indígenas identificadas

6
A MP 2.166-67, de 28/06/2001, define a área de preservação permanente como aquela “coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a esta-
bilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas” (Art. 1, § 2º, inciso II). Entende-se por reserva legal a “área localizada no
interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade
e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas” (Art. 1, § 2º, inciso III).
7
“O tradicionalmente refere-se não a uma circunstância temporal, mas ao modo tradicional de os índios ocuparem e utilizarem as terras e ao modo tradicional de produção, ao modo tradi-
cional de como eles se relacionam com a terra, já que há comunidades mais estáveis, outras menos estáveis, e as que têm espaços mais amplos em que se deslocam etc. Daí dizer que tudo se
realiza segundo seus usos, costumes e tradições” (SILVA, 1993. p. 48).

277
foram demarcadas e homologadas, a despeito de Segundo Mercadante (2001), de fato, até a dé- Outra possibilidade de gestão é a compartilhada,
o Estatuto do Índio ter estabelecido (art. 65) que cada de 1960 a criação de unidades de conservação quando há um conjunto de unidades de conser-
o Poder Executivo fizesse a demarcação das ter- no Brasil não obedeceu a nenhum planejamento vação, de categorias diferentes ou não, próximas,
ras indígenas no prazo de cinco anos da criação mais abrangente. Elas foram estabelecidas por ra- justapostas ou sobrepostas, e outras áreas públi-
produção de riquezas e modos de vida no campo

da Lei. zões estéticas e em função de circunstâncias polí- cas ou privadas, constituindo um mosaico. Nesse
ticas favoráveis. A preocupação em planejar a cria- caso, a gestão é feita de forma integrada e partici-
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ção dessas unidades teve início somente a partir da pativa, considerando os distintos objetivos de con-
década seguinte, com a elaboração de um plano servação. Esse mosaico deve ser reconhecido pelo
A criação de áreas protegidas é uma caracterís- para as unidades de conservação. Assim, com a ministério do meio ambiente, a pedido dos órgãos
tica comum a quase todas as civilizações, seja por edição do SNUC (Sistema Nacional de Unidades gestores das unidades e deverá dispor de um con-
questões religiosas, para a proteção de recursos de Conservação), além de terem sido instituídos selho, atuando na gestão integrada das áreas.
naturais ou por motivos históricos. No entanto, a três novos tipos de unidades de conservação no or- Um ponto relevante do SNUC foi definir a
criação de áreas públicas com uma finalidade am- denamento jurídico brasileiro, houve a unificação dominialidade que cada tipo de unidade pode pos-
biental e abertas ao público é uma invenção rela- da terminologia a ser utilizada para a constituição suir, isto é, a lei define se a unidade de conservação
tivamente moderna. A criação de áreas como essa dessas áreas, estabelecendo-se critérios e procedi- é constituída por área pública e/ou privada. Nas
surgiu nos Estados Unidos, com a criação do Par- mentos para sua criação e administração (Art. 2º, palavras de Figueiredo e Leuzinger (2001), das 12
que Nacional de Yellowstone (1872), tendo o mode- I). O SNUC foi criado a partir da edição da Lei n. diferentes espécies de unidades de conservação da
lo sido adotado posteriormente por outros países, 9.985, de 18 de julho de 2000, que dispõe sobre os natureza elencadas na Lei n.° 9.985/2000, uma das
inclusive pelo Brasil. objetivos nacionais de conservação da natureza, e unidades – reserva particular do patrimônio na-
Apesar da tendência internacional em adotar o estabelece medidas de preservação da diversidade tural – somente admite implantação em terras de
termo área protegida (protected areas) para designar biológica, além de outras providências. Essa Lei, domínio privado; sete outras delas não são, a priori,
as áreas criadas pelo Poder Público a fim de preser- inteiramente regulamentada pelo Decreto n. 4.340, compatíveis com o regime de propriedade parti-
var os sítios ecológicos e os espaços de relevância de 22 de agosto de 2002, tem por objetivo fornecer cular – estação ecológica, reserva biológica, parque
natural e cultural, no Brasil preferiu-se utilizar a uma base legal que vise estabelecer e administrar nacional, floresta nacional, reserva extrativista, re-
denominação unidade de conservação. Unidade de adequadamente uma rede integrada, coerente e serva de fauna e reserva de desenvolvimento sus-
conservação é definida como um “espaço territo- completa de unidades de conservação (art. 4º). tentável. Restam quatro unidades de conservação
rial e seus recursos ambientais, incluindo as águas Segundo o art. 22 do SNUC, as unidades de que podem ser indistintamente implantadas em
jurisdicionais, com características naturais rele- conservação serão criadas por ato do Poder Públi- terras de domínio privado ou público: monu-
vantes, legalmente instituído pelo Poder Público, co, cabendo não só ao legislador, mas igualmen- mentos naturais, refúgios da vida silvestre, áreas
com objetivos de conservação e limites definidos, te ao administrador e ao juiz, por meio dos ins- de proteção ambiental e áreas de relevante
sob um regime especial de administração, ao qual trumentos cabíveis (por lei, decreto ou termo de interesse ecológico (Figueiredo; Leuzinger, 2001.
se aplicam garantias adequadas de proteção” (Art. compromisso, respectivamente), a instituição de p. 483-484).
2o, inciso I da Lei nº9.9850/2000). tais áreas. Sua alteração ou supressão, no entanto, A lei também faz referência direta aos elemen-
No Brasil, a criação de unidades de conservação somente pode ocorrer mediante lei específica, ou tos que devem ser excluídos das indenizações para
não é recente, mas por muito tempo foi feita de seja, que exclusivamente aborde a matéria. regularização fundiária das unidades. Conforme
maneira aleatória. Antes da Constituição de 1988, Observe-se que a criação de unidades de conser- o art. 45, estão excluídos do valor da indenização,
não somente as unidades de conservação existen- vação, após a edição do SNUC, não mais pode ser derivadas ou não de desapropriação: as espécies ar-
8
tes estavam disciplinadas de forma fragmentária, aleatória. É obrigatória a realização de estudos téc- bóreas declaradas imunes de corte pelo Poder Pú-
como a própria proteção do meio ambiente era re- nicos e consultas públicas prévios para a instituição blico, expectativas de ganhos e lucros cessantes, o
gulada de maneira esparsa. Contudo, com sua pro- das unidades que permitam identificar a localização, resultado do cálculo efetuado mediante operação
mulgação, a questão ambiental recebeu tratamento dimensão e os limites mais adequados da unidade de juros compostos e as áreas que não tenham pro-
constitucional (art. 225, caput). (art. 22, § 2º), sendo o Poder Público obrigado a va de domínio inequívoco e anterior à criação das
Para assegurar a existência de um meio ambiente fornecer informações adequadas e inteligíveis à po- unidades de conservação.
sadio para as presentes e futuras gerações, a Cons- pulação local e outras partes que tenham interesse Em relação às populações tradicionais, depen-
tituição incumbiu ao Poder Público, dentre outras na questão (art. 22, §3º). Apenas estão isentos desse dendo do tipo de unidade de conservação a ser
obrigações, definir em todas as unidades da federa- último requisito os processos de criação de estação criada, será realizada ou não a remoção das comu-
ção espaços territoriais e seus componentes a serem ecológica e da reserva biológica. nidades residentes na área. Nesses casos, haverá
especialmente protegidos, sendo vedada qualquer Segundo dispõe o art. 30, as unidades de con- indenização pelas benfeitorias existentes, sendo
utilização que comprometa a integridade dos atri- servação também poderão ser geridas por organi- de responsabilidade do Poder Público remane-
butos que justifiquem sua proteção (Art. 225, § 1º, zações da sociedade civil de interesse público (OS- jar as comunidades para outro local e em condi-
III). As unidades de conservação, neste sentido, são CIP), mediante instrumento firmado com o órgão ções acordadas pelas partes envolvidas (art. 42, Lei
espécies do gênero “espaços territoriais especial- de gestão (termo de parceria previsto nos arts. 9º a nº. 9.985/2000). Enquanto o remanejamento não
mente protegidos”. 15 da Lei nº. 9.790/99). ocorrer, serão estabelecidas normas e ações para

8
Nos termos da lei, o SNUC é gerido pelos seguintes órgãos: (a) o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), como órgão consultivo e deliberativo; (b) o Ministério do Meio
Ambiente, que acompanha a implementação do sistema; e (c) o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), os órgãos Estaduais e os Municipais, que são
órgãos executores, com a atribuição de subsidiar propostas de criação de unidades de conservação, bem como de administrar as unidades de conservação, nas respectivas esferas de atuação
(art. 6º).

278
compatibilizar os objetivos da unidade como modo área de domínio privado, gravada com perpetui- relações territoriais específicas, com presunção
de vida das populações residentes (§2º). dade pelo proprietário do imóvel rural, desde que de ancestralidade negra relacionada com a resis-
Todas as unidades de conservação devem seja verificado o interesse público. Deve ser devi- tência à opressão histórica sofrida.
possuir plano de manejo9 (art. 27 e §1º, Lei nº. damente averbada no título de registro do imóvel. Apesar das diferentes possibilidades de configu-
9.985/2000), abrangendo a área da unidade, sua O ato é voluntário e não acarreta a perda da pro- ração de grupos quilombolas, um fator usual des-
zona de amortecimento (art. 2º, XVIII) e corre- priedade do imóvel. sas comunidades é a utilização coletiva das terras.11
dores ecológicos (art. 2º, XIX), devendo ser asse- Tal como ocorre com comunidades indígenas, as
gurada a participação da população residente em TITULAÇÃO DE ÁREAS comunidades quilombolas mantêm uma estreita
sua elaboração (§2º). Após sua aprovação, o Plano HABITADAS POR QUILOMBOLAS relação com a terra, e através dessa relação se cons-
de Manejo deve estar disponível para consulta do trói a identidade cultural delas. Esse fator deve ser
público, na sede da unidade de conservação e no A Constituição de 1988 reconhece a sociedade levado em consideração. Nesse sentido, esclarece
centro de documentação do órgão executor (art. brasileira como pluralista, isto é, uma sociedade Benatti (2001, p. 161) que “[a]s áreas ocupadas
16 do Decreto nº. 4.340/2002). Cada unidade de formada por grupos sociais autônomos interde- pelas populações tradicionais são espaços onde se
conservação prevista no SNUC possui um regi- pendentes, que possuem opiniões políticas, reli- localizam casas e roças, além daqueles utilizados
me próprio de fruição e pode ser criada tanto pela giosas e comportamentos culturais e sociais diver- para caça, pesca e atividades de extrativismo vege-
esfera federal, quanto pela estadual ou municipal. sos, que devem ser respeitados e garantidos. Um tal. Logo, a noção de área ocupada às terras usadas
A lei definiu 12 diferentes espécies de unidades, dos grupos integrantes desta sociedade plural são pelos moradores para garantir sua reprodução de
classificadas em dois grupos: a) unidades de pro- as comunidades quilombolas. modo de vida.”
teção integral (uso indireto), e b) unidades de uso Segundo o texto constitucional, os quilombo- Para conferir o título de domínio coletivo da
sustentável (uso direto). las possuem direito à manutenção de sua cultura terra às comunidades quilombolas, a solução en-
Segundo o art. 2, VI do SNUC, entende-se própria, por meio da garantia de respeito às mani- contrada foi concedê-lo em nome de uma associa-
por proteção integral a “manutenção dos ecossis- festações afro-brasileiras (art. 215) e da proteção, ção constituída legalmente pela comunidade, uma
temas livres de alterações causadas por interferên- pelo Poder Público, dos bens de natureza material vez que as comunidades não possuem personalida-
cia humana, admitindo apenas o uso indireto de e imaterial dos diferentes grupos formadores des- de jurídica. Sobre essa forma especial de titulação,
seus recursos naturais”. Esse grupo de unidades é ta sociedade (art. 216). Além dos dois dispositivos explicam Andrade e Treccani (1999, p. 622) que
composto por: estação ecológica, reserva biológi- citados, a Constituição vai além e consagra, em
ca, parque nacional, monumento natural e refú- seu art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais embora a constituição não determine que a titu-
10
gio da vida silvestre. Cada unidade de conserva- Transitórias (ADCT), o direito aos remanescen- lação deva ser obrigatoriamente coletiva, já é um
ção do grupo de proteção integral disporá de um tes das comunidades de quilombos de terem re- consenso no âmbito do Poder Público de que
Conselho Consultivo, do qual fazem parte: (a) o conhecida a propriedade definitiva de suas terras. esta é a forma mais adequada para a regulariza-
órgão responsável pela administração da unidade “Com este dispositivo a Constituição consagrou o ção desta categoria de terras, uma vez que corres-

produção de riquezas e modos de vida no campo


de conservação (Presidente); (b) integrantes de reconhecimento dos direitos étnicos” (Treccani, ponde à forma pela qual a comunidade concebe
órgãos públicos; (c) integrantes da sociedade civil; 2006. p. 83). o território. Uma titulação individual poderia
(d) proprietários de terras localizadas em áreas de Mas quem são os remanescentes das comu- representar uma perigosa interferência na forma
Refúgio da Vida Silvestre ou Monumento Nacio- nidades de quilombos? Para definir quais são as de organização do grupo.
nal; (e) e por residentes (art. 42, §2º). comunidades que se enquadram no art. 68, aci-
Já a segunda categoria de unidade de conser- ma citado, utiliza-se da auto-identificação como A Constituição do Estado do Pará, em seu artigo
vação permite o uso direito dos recursos naturais, elemento definidor de um grupo étnico. Assim, 322, também confere “aos remanescentes das comu-
desde que a exploração se dê de forma sustentável, o conceito de quilombo não está vinculado à sua nidades de quilombos que estejam ocupando suas
que é definida como uma “exploração do ambien- definição histórica, uma vez que, como esclarece terras [...] a propriedade definitiva, devendo o estado
te de maneira a garantir a perenidade dos recursos Treccani (2006. p. 87), as “comunidades rema- emitir-lhes títulos respectivos no prazo de um ano,
ambientais renováveis e dos processos ecológicos, nescentes de quilombos não podem ser definidas após promulgada esta Constituição”. Percebe-se,
mantendo a biodiversidade e os demais atributos em termos biológicos e raciais, mas como cria- desse modo, que o reconhecimento dos direitos ter-
ecológicos, de forma socialmente justa e econo- ções sociais que se assentam na posse e usufruto ritoriais das comunidades quilombolas não é ape-
micamente viável” (art. 2, XI). O art. 14 do referi- em comum de um dado território e na preser- nas dever da União, mas todas as esferas do Estado
do diploma legal lista as seguintes unidades como vação e reelaboração de um patrimônio cultural brasileiro “t[ê]m a competência constitucional e a
de desenvolvimento sustentável: área de proteção e de identidade própria.” Esse é o entendimento obrigação de reconhecer o domínio dos remanes-
ambiental, área de relevante interesse ecológico, adotado pela União, como se pode perceber pelo centes, seja a União ou os Estados, Distrito Federal e
floresta nacional, reserva extrativista, reserva de disposto no art. 3 da Instrução Normativa do IN- Municípios. Os Estados ou as prefeituras, quando for
fauna, reserva de desenvolvimento sustentável e CRA de nº. 20/2005, que define “remanescentes necessário, poderão celebrar convênios que possam
reserva particular do patrimônio natural. de comunidades dos quilombos” como grupos agilizar esse processo” (Treccani, 2006. p. 106).
A reserva particular do patrimônio natural, já étnico-raciais, segundo critérios de autodefini- Importante ressaltar que, com relação à defini-
mencionada no Código Florestal (art. 6), é uma ção, com trajetória histórica própria, dotados de ção dos limites físicos da área a ser titulada, em se

9
Plano de manejo é definido no art. 2, XVII do SNUC como “documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o
seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da terra e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade”.
10
“No momento da aprovação desse mandamento constitucional não houve muita resistência, pois se acreditava que o seu efeito prático pouco expressivo, devido ao fato de existirem poucos
quilombos. Para alguns deputados seria uma forma de homenagear os 100 anos de extinção da escravatura no Brasil. Contudo, com a aprovação e divulgação deste direito, além da articulação
das entidades que reivindicavam a regularização fundiária das comunidades remanescentes de quilombo, o número de quilombos cresceu significativamente” (Benatti, 2003. p. 202).
11
Segundo Girolamo Treccani (2006. p. 156), “apesar de existirem espaços de uso familiar (casa, roca e quintal), o uso da terra e demais recursos naturais (sobretudo os recursos hídricos, os
caminhos, os castanhais, os babaçuais, as pastagens naturais, a caça, a pesca e a floresta) é decidido de forma comum. Esta é, talvez, uma das especificidades mais importantes que diferencia
os territórios quilombolas das formas de uso dos fazendeiros, colonos, posseiros, etc.”

279
tratando de comunidades quilombolas, não é pos- de propriedades quilombolas e terras indígenas, ______. Congresso. Comissão Parlamentar de In-
sível fazer a demarcação das áreas de maneira con- devem ser respeitados os direitos originários das quérito destinada a investigar a Ocupação de terras
vencional, sem considerar as peculiaridades do uso comunidades indígenas, nos termos do art. 231 da públicas na região amazônica. Brasília: Câmara dos
que essas comunidades fazem da terra, tratando-as Constituição, devendo a comunidade quilombola Deputados : Coordenação de Publicações, 2002.
produção de riquezas e modos de vida no campo

como populações rurais comuns. Como bem ob- ser remanejada.


______. Decreto 1.775, de 08 de janeiro de 1996.
servam Andrade e Treccani (1999, p. 615). Ante o exposto, pode-se concluir que os direi-
Dispõe sobre o procedimento administrativo de
tos territoriais das comunidades quilombolas pos-
demarcação das terras indígenas e dá outras pro-
uma parte considerável das comunidades não suem ampla proteção jurídico-formal, inclusive no
vidências. Disponível em: www.planalto.gov.br.
dispõe, de antemão, de uma noção fechada de que toca à incorporação de conceitos culturais na
Acesso em: 01 ago. 2006.
território. Na verdade, a titulação coloca para configuração do direito de propriedade. Contudo,
os quilombolas a necessidade de repensar suas ainda existem problemas na efetivação desse direi- ______. Lei n. 6.001, de 19 de dezembro de 1973.
terras a partir de limites claramente delineados to, sobretudo resistências de outros grupos sociais Dispõe sobre o Estatuto do Índio. Disponível em:
[...]. A regularização implica a fixação das fron- que são diretamente afetados pela titulação dessas www.planalto.gov.br. Acesso em: 01 ago. 2006.
teiras territoriais que são habitualmente fluidas. áreas, uma vez que o seu reconhecimento implica
______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
São conhecidas as diferentes zonas de ocupação a declaração que determinadas “áreas abertas” ou
e exploração, mas não são determinadas em co- “sem dono” (como muitos consideram as áreas de Institui o Código Civil. Disponível em: www.pla-
ordenadas geográficas rígidas. ocupação quilombola, devido à sua forma de ex- nalto.gov.br. Acesso em: 13 set. 2006.
ploração dos recursos naturais) não estarão mais ______. Fundação Nacional do Índio. Portaria n.
Isto não significa, contudo, que essas configu- disponíveis, já que as áreas quilombolas deixarão 69, de 24 de janeiro de 1989. Cria instruções para o
rações não possam ser estabelecidas. “A noção de de ser “sem dono”, uma vez que passaram a pos- estabelecimento de indenizações de benfeitorias de
território com limites fechados, portanto, preci- suir proprietários. boa fé em terras indígenas. Disponível em: www.
sa ser construída. A definição do território pelos Apesar dos entraves encontrados pelos movi- cimi.org.br. Acesso em; 02. set. 2006.
quilombolas é um processo político que envolve mentos sociais, após 18 anos da promulgação da
uma série de negociações internas à comunida- nova ordem constitucional, já foram expedidos por ______. Decreto n. 4.340, de 22 de agosto de 2002.
de” (Andrade; Trecanni, 1999. p. 616). Portanto, órgãos federais e estaduais 64 títulos (para 119 co- Regulamenta artigos da Lei nº 9.985, de 18 de julho
é possível que se faça a negociação de limites, e munidades), perfazendo uma área de 903.612,3241, de 2000, que dispõe sobre o Sistema Nacional de
que esse diálogo reflita os interesses da comuni- sendo que o Estado do Pará detém em seu terri- Unidades de Conservação da Natureza – SNUC.
dade e não seja apenas uma imposição do Poder tório 58,83% do total de áreas já tituladas (Trec- Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 01
Público sobre a questão.12 canni, 2006). De acordo com Treccanni (2006), o ago. 2006.
As áreas que os quilombolas ocupam podem governo do Pará foi o primeiro dos governos esta-
______. Decreto n. 89.336, de 31 de janeiro de
ser públicas ou privadas e, muitas vezes, se sobre- duais a expedir títulos de reconhecimento de do-
1984. Dispõe sobre as Reservas Econômicas e
põem com áreas públicas que possuem destinação mínio de terras de quilombolas no Brasil, sendo,
Áreas de Relevante Interesse Ecológico, e dá ou-
conflitante com o regime de fruição dos recursos também, o que titulou mais, chegando à marca de
tras providências. Disponível em: www.planalto.
naturais da área. Este é o caso de grupos quilom- 414.705,6083 hectares. “Foram outorgados 23 tí-
gov.br. Acesso em: 01 ago. 2006.
bolas localizados em áreas declaradas como uni- tulos, em favor de 68 comunidades, beneficiando
dades de conservação e em terras indígenas. Caso 3080 famílias” (Treccani, 2006. p. 127). ______. Decreto n. 99.274, de 06 de junho de 1990.
as propriedades sejam públicas e não possuam Regulamenta as Leis n. 6.902/81 e 6.938/81, que
destinação, cabe ao ente federativo detentor de REFERÊNCIAS dispõem sobre a criação de Estações Ecológicas e
competência reconhecer a propriedade da comu- sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. Dis-
nidade, por meio de procedimento administra- Andrade, L.: Treccani, G. D. 1999. Terras de Qui- ponível em: <www.presidencia.gov.br>. Acesso
tivo. Se nessas áreas públicas houver posses não lombo. In: Laranjeira, Raymundo (Coord.). Direi- em: 17 ago. 2005.
quilombolas, ou esses indivíduos serão remaneja- to Agrário Brasileiro. São Paulo: LTr,. p. 593-656.
______. Instituto Brasileiro de Meio Ambien-
dos, sendo-lhes indenizadas as benfeitorias exis-
Benatti, J. H. 2001. Constituição e Cidadania: a te e dos Recursos Naturais Renováveis. Porta-
tentes, ou então, através de acordo, mudam-se os
demarcação das terras de quilombolas no Estado ria 77-N, de 20 de setembro de 1999. Regula os
limites da área quilombola a ser titulada. Já no
do Pará. In: Maués, A. G. M. (Org.). Constituição e critérios e procedimentos administrativos para a
caso de propriedades privadas com título válido,
Democracia. Max Limonad, São Paulo, p. 155-168. instrução do processo de criação de unidades de
o art. 13 do Decreto nº. 4887/2003 prevê a possi-
conservação. Disponível em: www.ibama.gov.br.
bilidade de desapropriação. _____. 2003. Posse Agroecológica e manejo florestal. Ju-
Acesso em: 27 set. 2006.
Nos casos de sobreposição de unidades de con- ruá. Curitiba.
servação e territórios quilombolas, existem quatro ______. Lei n. 4.771, de 19 de dezembro de 1973.
Benjamin, A. H. V. 2001. Introdução à lei do sistema
possibilidades para solucionar a questão: a) altera-se Institui o novo Código Florestal. Disponível em:
nacional de unidades de conservação. In: Benjamin,
o tipo de unidade de conservação; b) suprime-se a www.planalto.gov.br. Acesso em: 01 ago. 2006.
A. H. V. (Coord.). In: Direito ambiental das áreas protegi-
unidade de conservação; c) são alterados os limites
das: o regime jurídico das unidades de conservação. Forense ______. Lei n. 5.197, de 03 de janeiro de 1967. Cria
das áreas, e d) as comunidades podem ser rema-
Universitária, Rio de Janeiro, p. 235-289. o Código de Proteção à Fauna. Disponível em:
nejadas (Treccani, 2006. p. 178). Se a área incidir
www.planalto.gov.br. Acesso em: 22 jan. 2006.
sobre unidades de conservação federal, deverá o BRASIL. Constituição da República Federativa
Estado firmar um convênio com o Governo Fe- do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988. ______. Lei n. 6.902, de 27 de abril de 1981. Dis-
deral, pois áreas da União não podem ser desapro- Disponível em: www.presidencia.gov.br. Acesso põe sobre a criação de Estações Ecológicas, Áreas
priadas pelo Estado. Com relação à sobreposição em: 20 fev. 2006. de Proteção Ambiental e dá outras providências.

12
Legislações federais e estaduais garantem a ampla participação das comunidades de quilombos no procedimento de reconhecimento de suas terras. Para maiores informações, conferir:
art. 6º do Decreto Federal n. 4.887/2003, art. 27 da Instrução Normativa do INCRA n. 20/2005; art. 8º do Decreto Estadual n. 3.572/1999 e art. 12 da Instrução Normativa do ITERPA n.
02/1999.

280
Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: cedimento para identificação, reconhecimento, lombos e dá outras providências. Disponível em:
22 jan. 2006. delimitação, demarcação, desintrusão, titulação www.quilombo.org.br. Acesso em: 08. nov. 2006.
e registro das terras ocupadas por remanescentes
______. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dis- _____. Lei Estadual n. 6.165, de 02 de dezembro
das comunidades dos quilombos de que tratam o
põe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, de 1998. Dispõe sobre a Legitimação de Terras dos
Art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, Remanescentes das Comunidades dos Quilombos
Transitórias da Constituição Federal de 1988 e o
e dá outras providências. Disponível em: www. e dá outras providências. Disponível em: www.
Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003.
presidencia.gov.br. Acesso em: 15 jan. 2006. quilombo.org.br. Acesso em: 08. nov. 2006.
Disponível em: www.quilombo.org.br. Acesso
______. Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000. Re- em: 08. nov. 2006. _____. Instituto de Terras do Estado do Pará. Instru-
gulamenta o artigo 225, § 1º, incisos I, II, III e VII ção Normativa n. 02, de 16 de novembro 1999. Dis-
_____. Ministério da Cultura. Fundação Cultural
da Constituição Federal, institui o Sistema Nacio- põe sobre a Legitimação de terras dos Remanescentes
Palmares. Portaria n. 06, de 1º de março de 2004.
nal de Unidades de Conservação da Natureza e das comunidades dos Quilombos. Disponível em:
Institui o Cadastro Geral de Remanescentes das
dá outras providências. Disponível em: www.mct. www.quilombo.org.br. Acesso em: 08. nov. 2006.
Comunidades de Quilombos da Fundação Cultu-
gov.br. Acesso em: 12 out. 2005.
ral Palmares. Disponível em: www.quilombo.org. Santilli, J. 1999. O usufruto exclusivo das riquezas natu-
______. Lei n. 9.790, de 23 de março de 1999. Dis- br. Acesso em: 08. nov. 2006. rais existentes nas terras indígenas. In Laranjeira, R. (Co-
põe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direi- ord.) Direito Agrário Brasileiro. São Paulo: LTr, p. 657-683.
to privado, sem fins lucrativos, como Organizações Di Pietro. M. S. Z. 2001. Direito administrativo. 13ª
ed.: Atlas, São Paulo. Silva, J. A. da. 1993. Terras tradicionalmente ocupadas pe-
da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e
los índios. In: Santilli, J. (Coord.) Os direitos indígenas e a
disciplina o Termo de Parceria, e dá outras provi- Figueiredo, G. J. P.; Leuzinger, M. D. 2001. De- Constituição. Porto Alegre: NDI/ Fabris Editor, p. 45-50.
dências. Disponível em: www.mct.gov.br. Acesso sapropriações ambientais na Lei n. 9.985/2000. In:
em: 12 out. 2005. Souza Filho, C. M. de. 1998. O renascer dos povos indíge-
Benjamin, A. H. (Coord.). Direito ambiental das áreas
nas para o direito. Juruá, Curitiba.
______. Lei n. 11.132, de 04 de julho de 2005. protegidas: o regime jurídico das unidades de conservação.
Acrescenta artigo à Lei nº 9.985, de 18 de julho Forense Universitária, Rio de Janeiro, p. 483-484. Machado, P. A. L. 2001. Direito Ambiental Brasileiro. 11.
de 2000, que regulamenta o art. 225, § 1º, incisos ed. rev., amp. e atual. São Paulo, Malheiros.
Leitão, R. S. B. 1993. Natureza jurídica do ato
I, II, III e VII da Constituição Federal e institui o Mercadante, M. 2001. Uma década de debate e nego-
administrativo de reconhecimento das terras in-
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da ciação: a história da elaboração da Lei do SNUC. In
dígenas – A declaração em juízo. In: Santilli, J.
Natureza. Disponível em: www.mct.gov.br. Aces- Benjamin, A. H. (Coord.). Direito ambiental das áreas
(Coord.) Os direitos indígenas e a Constituição.: NDI/
so em: 12 out. 2005. protegidas: o regime jurídico das unidades de conservação. Fo-
Fabris Editor, Porto Alegre, p. 65-80.
______.Decreto n. 4.887, de 20 de novembro de rense Universitária, Rio de Janeiro, p. 190-231.
Meirelles, H. L. Direito Administrativo Brasileiro.

produção de riquezas e modos de vida no campo


2003. Regulamenta o procedimento para identifi- Rodrigues, J. E. R. 2005. Sistema Nacional de Unidades de
São Paulo: Malheiros, 18ª ed. autualizada por Eu-
cação, reconhecimento, delimitação, demarcação Conservação. Revista dos Tribunais, São Paulo.
rico de Andrade Azevedo, Délcio Balestero Aleixo
e titulação das terras ocupadas por remanescentes
e José Emmanuel Burle Filho, 1993. Stefanini, L. de L. A propriedade no direito agrário. São
das comunidades dos quilombos de que trata o art.
68 do Ato das Disposições Constitucionais Transi- Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1978.
PARÁ. Constituição do Estado do Pará, de 05 de
tórias. Disponível em: <www.quilombo.org.br>. outubro de 1989. Belém: Cejup, 2003. Treccanni, G. D. 2006. Terras de Quilombo: caminhos e
Acesso em: 08. nov. 2006. entraves do processo de titulação. Secretaria Executiva
_____. Decreto n. 3.572, de 22 de julho de 1999.
de Justiça. Programa Raízes. Belém.
______. Instituto Nacional de Colonização e Regulamenta a Lei n.º 6.165, de 2 de dezembro
Reforma Agrária. Instrução Normativa n. 20, de 1998, que dispõe sobre a Legitimação de Terras Waldman, M. 2006. Meio ambiente & Antropologia. ed.
de 19 de setembro de 2005. Regulamenta o pro- dos Remanescentes das Comunidades dos Qui- SENAC São Paulo, (Série Meio Ambiente; 6). São Paulo.

281
POPULAÇÕES INDÍGENAS E A TERRA DO ALTO RIO GUAMÁ
populações indígenas e a terra do alto rio guamá
Márcio Couto Henrique
produção de riquezas e modos de vida no campo

N
a área de estudo, assim jesuítas. Mesmo antes de serem reunidos nos al- também, ao corte de madeiras. A instalação do
como em todo o Estado do deamentos, os Tembé mantinham contatos com os único posto indígena na região, em 1945, ocor-
Pará, verifica-se a presen- regatões da região, que compravam dos índios o reu num momento em que os Tembé do Guamá
ça de populações indígenas diversas, que óleo de copaíba, uma das “drogas do sertão” mais já mantinham intensos contatos com os “civiliza-
ocupam fragmentos territoriais mais co- valorizadas à época em função de suas proprieda- dos”, inclusive comercializando madeira por conta
nhecidos como Terras Indígenas (T.I.). des medicinais. Em todo caso, os Tembé eram ca- própria em Ourém. Tal como no Gurupi, o SPI
Destaca-se, na área estudada, a Terra Indí- racterizados por uma grande mobilidade espacial incentivou a entrada de colonos na área indígena,
gena Alto Rio Guamá, que reúne o maior em seu próprio território, sendo a própria extração a fim de aumentar a produção do posto. Este fato
número de índios, conhecidos por sua da copaíba, espalhada pela floresta, um dos fatores facilitou os casamentos interétnicos e contribuiu
luta histórica pela autonomia do grupo dessa mobilidade. para a imposição da língua portuguesa sobre a lín-
contra a invasão de suas terras. Por essas Em meados do século XIX, uma parte dos Te- gua Tembé. Com o aumento constante do número
razões, os Tembé-Tenetehara constituem netehara que habitavam os rios Pindaré e Carú, de não-índios, as atividades de caça e pesca decaí-
o foco desta pesquisa, cujos resultados são no Maranhão, migrou em direção ao Pará, estabe- ram, principalmente em função da presença de ca-
apresentados no presente texto. Durante lecendo-se em aldeias ao longo dos rios Gurupi, çadores de peles, madeireiros e criadores de gado.
a pesquisa consultou-se uma bibliografia Guamá e Capim. No Pará, estes índios passaram a Com a decadência dos antigos projetos da década
básica sobre os Tembé. Além disso, entre- ser conhecidos como Tembé, ficando os Guajajara de 1970, os Tembé voltaram a plantar suas próprias
vistou-se um funcionário da Superinten- no Maranhão. Em 1862, havia 16 aldeamentos no roças, mas a área já estava bastante desmatada, além
dência Regional da FUNAI, em Belém alto Gurupi e, em 1872, grupos de Tembé foram de ameaçada pela presença de empresários, fazen-
(PA), que trabalhou durante muitos anos reunidos no rio Capim, no aldeamento de Nossa deiros e posseiros.
como Chefe do Posto Indígena Canin- Senhora da Assunção, juntamente com índios da
dé, no rio Gurupi. Também na FUNAI etnia Turiwara. Envolvidos pela lógica da “civili- ORGANIZAÇÃO SOCIAL
foram levantados os dados mais atuais zação”, os Tembé foram engajados na extração do
sobre os Tembé, utilizados na elabora- óleo de copaíba, além de serem utilizados como A estrutura social dos Tembé é baseada na famí-
ção das tabelas e mapas anexados ao tex- remeiros e agentes para a busca do ouro, da bor- lia extensa. Os líderes familiares procuram atrair
to. Consultou-se, ainda, o acervo pessoal racha e de madeiras de lei. Documentos da época para seu grupo jovens trabalhadores por meio do
do pesquisador Márcio Couto Henrique registram os abusos que eram cometidos princi- casamento de suas próprias filhas, ou por meio de
que, na condição de Chefe do Serviço de palmente pelos regatões, os quais, muitas vezes, alianças. Assim, os índios de maior prestígio, isto
Educação da FUNAI-Belém, trabalhou embriagavam os índios para raptarem ou abusa- é, os que se tornam lideranças, são aqueles que
com os índios Tembé, além da consulta à rem sexualmente de suas mulheres ou enganá-los conseguem reunir em torno de si o maior nú-
documentação do Ministério Público Fe- mais facilmente nas trocas comerciais. Revoltados mero de indivíduos. O chefe é, portanto, aquele
deral/PA e alguns sites. contra estes abusos, sete Tembé do alto Gurupi que lidera um grupo familiar numeroso, tendo
mataram nove regionais em 1861. Depois de te- um grande peso na tomada de decisões do gru-
OS TEMBÉ-TENETEHARA: rem sido espancados pela polícia, que lhes tomou po. Nesse sentido, o cacique não é, necessaria-
NOME E LÍNGUA nove crianças, remetidas para Vizeu (PA), os índios mente, a pessoa de maior peso político na aldeia,
abandonaram as aldeias (Couto Henrique, 1997). pois essa posição depende do número de pessoas
O povo indígena que nós conhecemos No início do século XX, os Tembé do Gurupi que ele consegue reunir em torno de si. Por outro
como Tembé se autodenomina Teneteha- foram utilizados pelo Serviço de Proteção aos Ín- lado, a condição de líder não é uma exclusividade
ra, termo que significa “gente” ou “ho- dios (SPI) no processo de atração ou “pacificação” masculina entre os Tembé. O maior exemplo disso
mem verdadeiro”. Podemos dizer que a dos índios Kaapor, que se tornaram conhecidos pela é a “capitôa” D. Verônica Tembé, moradora da
grande família dos Tenetehara é composta bravura na defesa de seu território durante a cons- aldeia Teko Haw, no Gurupi. Respeitada pelos
por dois grupos: o oriental é composto trução da linha telegráfica São Luís-Belém, sendo Tembé de todas as aldeias, além de seu peso po-
pelos índios Guajajara, e o ocidental pe- contactados em 1928. Com a instalação dos postos lítico ela é considerada a guardiã das tradições do
los Tembé. A língua Tembé, assim como de atração, os Tembé foram abandonando as cabe- grupo. De um modo geral, as mulheres partici-
a Guajajara, pertence à família lingüísti- ceiras do Gurupi e se estabelecendo no curso médio pam ativamente de todas as reuniões importan-
ca Tupi-Guarani. Possivelmente, a de- deste rio. O SPI, que utilizava os índios como guias, tes realizadas na aldeia. A política é um elemento
nominação Tembé lhes foi atribuída de remeiros, trabalhadores nas roças e produtores de fundamental da identidade Tembé, existindo en-
forma pejorativa pelos regionais, já que farinha, estimulou a entrada de regionais para tra- tre eles excelentes oradores.
“timbeb” significa “nariz chato” (Ricardo, balhar nas roças do posto, contribuindo para a mes- Diferentemente dos Kaapor, que preferem
1985). Em todo caso, atualmente o grupo tiçagem que hoje se percebe entre os Tembé. De- construir suas casas no interior da mata, os Tem-
ocidental dos Tenetehara mostra-se fami- pois da experiência de atração dos Kaapor, os Tembé bé geralmente constroem suas casas em barrancos
liarizado com a denominação Tembé. foram utilizados pela Fundação Nacional do Índio elevados na beira do rio, próximo às suas roças.
(FUNAI) em frentes de atração de outros grupos Atualmente, os tipos de casas são bastante variados,
HISTÓRICO DO Tupi ao longo da Transamazônica, na década de encontrando-se casas cobertas de ubim, de cavaco,
CONTATO 1970. A ausência prolongada de um número sig- com paredes feitas de troncos finos de palmeira
nificativo de homens adultos das aldeias provocou ou de taipa. Algumas aldeias possuem uma grande
As primeiras notícias dos Tenetehara escassez de alimentos com base em carne e peixe, casa cerimonial chamada pelos índios de ramada.
remontam ao século XVII, época em que além de um esvaziamento das práticas rituais. Tradicionalmente, o casamento se faz entre primos
habitavam o vale do rio Pindaré e foram Enquanto isso, os Tembé do rio Guamá perma- cruzados do segundo grau residentes na mesma al-
contactados e aldeados por missionários neciam sob a exploração dos regatões, dedicando-se, deia. Mas, por conta dos longos anos de contato

282
com a sociedade envolvente, não são raros os casos sido causados ao patrimônio indígena. Também na Atualmente, os índios comercializam de ma-
de casamentos de Tembé com moradores regio- década de 1970, Mejer Kabacznik, proprietário da neira incipiente cipós como a titica, cebolão e apuí,
nais não indígenas, situação utilizada por muitos Fazenda Irmãos Coragem, abriu uma estrada que utilizados na indústria de móveis, e resinas como
para argumentar que eles não são mais índios. São cortava a reserva e muito contribuiu para a entrada breu, jutaicica e jatobá, utilizadas nas indústrias
comuns também os casamentos com índios de ou- de posseiros. de tintas, moveleiras e como impermeabilizantes
tras etnias, como é o caso dos Kaapor. Os índios Tembé são obrigados a conviver com e fixadores naturais. Em todo caso, a inexistência
os conflitos fundiários em torno do que se con- de um mercado permanente e com preços justos
TERRA INDÍGENA E vencionou chamar de o maior litígio fundiário do gera enormes prejuízos às comunidades indígenas,
CONFLITOS estado do Pará. A T. I. Alto Rio Guamá, principal- forçando os Tembé a vender sua produção a preços
mente na área próxima ao Gurupi, é caracterizada muito baixos, o que desestimula o trabalho de co-
A T. I. Alto Rio Guamá, assistida pela adminis- pela presença da floresta tropical densa, com ár- leta e extração. O acesso aos bens industrializados
tração regional da FUNAI de Belém, foi criada aos vores densas e grande ocorrência de palmeiras de produzidos pela sociedade nacional também é ga-
21 de março de 1945, a partir do Decreto nº 307, babaçu e buriti. Existe ainda uma vasta diversidade rantido por meio da venda de farinha, porcos, ga-
assinado pelo então interventor federal no Pará, Jo- de árvores frutíferas (açaí, bacaba, buriti, inajá, linhas, canoas feitas sob encomenda e artesanato.
aquim Magalhães Cardoso Barata. À época de sua bacuri, cupuaçu, taperebá) e abundância de ani- No Guamá, o principal produto de comercializa-
criação, a terra indígena incidia sobre o município mais silvestres, além de rios e igarapés piscosos, ção é a farinha, mas os índios também comerciali-
de Vizeu. Os 279.897,70 ha da área destinavam-se o que garante uma rica alimentação aos Tembé. zam açaí, banana e malva.
aos índios Tembé, Timbira, Kaapor e Guajá, e só Entre 1940 e 1950, as atividades de caça e pesca A área da bacia do rio Gurupi corresponde,
foram homologados em 1993. Esta delimitação im- decaíram bastante na área do Guamá, devido à grosso modo, ao último maciço de floresta da Pré-
plicou uma significativa redução do território de presença constante de caçadores de pele e madei- Amazônia maranhense, constituindo uma grande
ocupação tradicional dos Tembé, nem mesmo coin- reiros. A pesca foi significativamente atingida em reserva com potencial madeireiro no leste do Pará,
cidindo com a área projetada pelo decreto de 1945. função da poluição do rio por carcaças de gado. onde se localiza o maior pólo extrativo de madeiras
Para se ter uma idéia do quanto os índios fo- Ainda hoje, os Tembé do Gurupi apresentam me- do estado, em Paragominas e municípios vizinhos.
ram lesados em seu patrimônio, em 1970, o en- lhores condições para fazer suas roças do que os Segundo dados da FUNAI, aproximadamente 30%
tão presidente da FUNAI, General Bandeira de do Guamá que tiveram a terra, a fauna e os rios da área correspondente à T. I. Alto Rio Guamá en-
Melo, propôs a desinterdição da Terra Indígena, degradados pela invasão muitas vezes autorizada contra-se invadida por grandes empreendimentos
argumentando que os índios haviam transferido de suas terras. agropecuários e por posseiros, sendo freqüentes as
suas aldeias para o lado do Maranhão. O objetivo No interior da área indígena, é possível encon- pressões de madeireiros visando à retirada ilegal de
de Bandeira de Melo era conceder à Companhia trar madeiras nobres como ipê, maçaranduba, jato- madeira. A invasão de cerca de 127.000 ha acabou
Agropecuária do Pará, subsidiária da multinacio- bá, piqui, andiroba, cedro, angelim, dentre outras. por dividir a terra indígena em duas partes, isolan-
nal americana Swift-Armour, uma certidão negati- Existem ainda produtos medicinais como sacaca, do os dois principais ajuntamentos populacionais

produção de riquezas e modos de vida no campo


va de uma faixa de terras a Oeste da T. I. Alto Rio andiroba, copaíba, jatobá, aroeira, piquiá, jaborandi Tembé (Gurupi e Guamá), entre o rio Piriá e a ba-
Guamá. Com a certidão em mãos, a empresa obte- e cumarú, muitas folhas, raízes, seivas, cascas, se- cia do Coraci-Paraná/Gurupi. Estas invasões vêm
ve da FUNAI a concessão de uma área de 11.000 mentes, frutos e cipós de uso medicinal. Toda essa de longa data, e foram, muitas vezes, incentivadas
ha entre os rios Coaraci-Paraná e Gurupi, dentro riqueza atrai a cobiça de madeireiros, fazendeiros, por políticos, madeireiros, comerciantes e fazen-
da reserva indígena. A concessão só foi suspensa caçadores, posseiros, além de agentes envolvidos deiros do entorno da reserva. Dentre os invasores,
em 1990, quando danos irreversíveis já haviam com as atividades de biopirataria. alguns se dedicam ao plantio de maconha.

BOX 1
IDENTIDADE INDÍGENA E Tembé vivem na T.I. Tembé, T.I. Turé-Mariquita 1996, ocasião em que um grupo de invasores da
LUTA PELA TERRA e Área Dominial Indígena Urumatewa (ver Mapa Vila Livramento, no município de Garrafão do
de Terras Indígenas do Estado do Pará). Norte, preparou uma emboscada em que foram
Contam-se as terras indígenas da área de estudo Tanto as Terras Indígenas (legalmente criadas aprisionados por três dias 77 índios e 3 funcioná-
em número de 6 (seis), com a ressalva de que a pelo Governo Federal) quanto as Áreas Dominiais rios da FUNAI.
maior delas, a reserva indígena Alto Rio Guamá, Indígenas (doações de empresas) correspondem a A fim de vencer os preconceitos que escondem
estende-se para os municípios vizinhos de Nova fragmentos territoriais dos referidos municípios. interesses econômicos de determinados grupos,
Esperança do Piriá e Santa Luzia do Pará. Estas ter- Estes espaços territoriais ocupados por índios são os Tembé vêm buscando saída na organização do
ras se apresentam em situação diversa quanto à lo- diversos quanto à localização, extensão, grupo ca- grupo para garantir a manutenção da Terra Indí-
calização, extensão, povos indígenas presentes e ao racterístico e grau de contato com as populações gena e a reafirmação de sua identidade étnica. As
conjunto de relações mantidas com o entorno. As- do entorno (ver Quadro 1). reivindicações das diversas aldeias têm sido enca-
sim, encontram-se povos indígenas nos seguintes Depois de séculos de relações conflituosas entre minhadas a partir de quatro associações indígenas:
municípios: em Aurora do Pará existe um pequeno os Tembé e a população moradora dos arredores da Associação do Grupo Indígena Tembé do Alto Rio
grupo de índios Tembé, ainda em fase de estudo e área indígena, os índios têm que conviver com o Guamá (AGITARGMA), Associação do Povo In-
reconhecimento pela Fundação Nacional do Índio preconceito muitas vezes estimulado por pessoas dígena Kaapor do Rio Gurupi, Associação do Povo
(FUNAI). Em Ipixuna do Pará vivem os índios interessadas em suas terras. Uma das principais ar- Indígena Tembé e Associação Indígena dos Tembé
Amanayé, na Terra Indígena (T.I.) Sarauá. Sobre mas utilizadas pelos inimigos dos Tembé consiste de Tomé Açu.
o município de Paragominas incide a T.I. Barreiri- em dizer que eles não são mais índios ou que é Apesar de cansados e descrentes da atuação das
nha, habitada por outro grupo de índios Amanayé, muita terra para pouco índio. Os conflitos se repe- autoridades políticas do Estado, os Tembé não de-
e a T.I. Alto Rio Guamá, habitada majoritariamente tem a cada ano e o clima na área é extremamente sistem de lutar pela preservação de sua terra. Como
por índios Tembé e Kaapor. Em Tomé-açu, índios tenso. Uma das mais graves situações ocorreu em forma de pressão, muitas vezes eles ameaçam

283
retirar os posseiros e madeireiros da Terra Indíge-
na com suas próprias mãos. Em maio de 1992, os
Tembé queimaram casas, inutilizaram fornos e ro-
produção de riquezas e modos de vida no campo

ças na chamada Vila do Bacaba, dentro da reserva.


Em setembro de 2006, lideranças Tembé solicita-
ram a intervenção do Ministério Público Federal
(MPF/PA) para solucionar a extração ilegal de ma-
deira da reserva e ameaçavam entrar em conflito
com os madeireiros caso nada fosse feito. Dizia o
documento produzido pelos índios: “[e]stamos
trazendo este documento com estas solicitações
para que nós indígenas tenhamos respaldo no que
vier acontecer se não houver uma providência de
imediato, podemos garantir para você procurador
e os demais órgão responsáveis que vai ter morte
tanto de branco como de índio e alguém vai ser
responsável pelo que acontecer”. Em outro docu-
mento existente no acervo do Ministério Público
Federal (ver documentação do MPF/PA) os Tem-
bé expressam clareza política com relação a seus
direitos, ao mesmo tempo em que evidenciam o FIGURA 1 - Carta dos
sentido que a apropriação da língua portuguesa índios Tembé encami-
tem para eles, como instrumento de luta: nhada ao Ministério
Público Federal.

POPULAÇÃO ATUAL

Segundo dados da FUNAI, a população to-


tal dos Tembé, em 2006, é de aproximadamente
1.423 índios. Se comparados com os cerca de cinco (com presença de índios Kaapor), Canindé EDUCAÇÃO ESCOLAR ENTRE
mil existentes na segunda metade do século XIX, (com presença de Kaapor), Cocalzinho (com OS TEMBÉ
muitos deles vitimados pelo contato com os rega- presença de Guajajara), Faveira, Ikatu (com
tões e as sucessivas epidemias de gripe e sarampo, presença de Kaapor, Guajajara, e Mundu- Desde a época do SPI algumas experiências de
estes 1.423 atuais indicam um assustador decrés- ruku), Mangueira, Pedra de Amolar e Teko escolarização funcionaram precariamente na área
cimo populacional. Em todo caso, considerando Haw (com presença de Kaapor, Timbira, do Guamá. A primeira escola foi construída em
que em 1985 a população Tembé era de cerca de Guajajara e Munduruku). Teko Haw é a al- 1945, com a criação do Posto Indígena, e contava
400 pessoas (Ricardo, 1985, p. 180-1), nota-se, nos deia mais populosa, com cerca de 265 índios. com uma professora não-índia. Entre os Tembé do
últimos anos, uma tendência à recomposição de- Aldeias do PIN Alto Rio Guamá: incidindo Gurupi, a educação escolar começou a funcionar
mográfica do grupo, muito embora tenham ocor- sobre o município de Santa Luzia do Pará de forma mais efetiva em 1978, mas, antes disso,
rido alguns casamentos entre indivíduos Tembé e existem as aldeias Apinawá, Bacuri, Frasquei- algumas experiências de escolarização foram feitas
de outras etnias indígenas ou mesmo não-índios. ra, Itahu, Itaputyre, Itwaçu, Jacaré, Pirá, São por Dona Leide, esposa do chefe do PIN Canindé,
Além dos Tembé, ocupam a T. I. Alto Rio Gua- Pedro, Sede e Tawari. A aldeia mais populosa João Carvalho.
má, em menor número, índios Kaapor, Timbira e é a de São Pedro, com cerca de 160 índios. O Decreto Presidencial n° 26, de 1991, atri-
Munduruku. Para conhecer os demais povos e ter- • A T. I. Tembé (1.075 ha) possui uma única al- buiu ao MEC a coordenação das ações referentes
ras indígenas do Estado do Pará e da área de estu- deia, chamada de Acará-mirim. Incide sobre à educação escolar indígena no Brasil, delegando
do, conferir o Mapa de Terras Indígenas do Estado o município de Tomé-Açu e é habitada por às Secretarias Estaduais e Municipais de Educação
do Pará. 113 índios. a execução de ações referentes à educação esco-
• A T. I. Turé-Mariquita é, na verdade, forma- lar indígena, ouvindo a FUNAI. Apesar de existir
DISTRIBUIÇÃO ATUAL DAS da por 146 ha de Terra Indígena e 587,99 ha uma legislação que garante aos índios uma educa-
ALDEIAS TEMBÉ de Áreas Dominiais Indígenas, totalizando ção diferenciada e específica, as escolas indígenas
733,99 ha. Incidindo sobre o município de funcionam como extensões de escolas dos muni-
A população Tembé atual está distribuída em Tomé-Açu, nela residem 78 Tembé, distribu- cípios-sede.
três Terras Indígenas (T.I.) e duas Áreas Dominiais ídos em duas aldeias, Turé (com presença de As escolas das aldeias Tembé são atendidas por
Indígenas (A.D.I.). As ADI são áreas ocupadas por índios Munduruku) e Nova. professores não-índios e índios, sendo que estes
índios, mas que não constituem terras indígenas • A outra ADI se chama Urumatewa, com uma últimos ministram aulas em Tembé e Português,
criadas pelo governo federal, e sim fruto de do- aldeia com o mesmo nome, onde residem 18 principalmente entre as aldeias do Gurupi. Os pro-
ações de empresas. Atualmente, as aldeias Tembé índios, também incidindo sobre Tomé-Açu. fessores indígenas possuem apenas o Ensino Fun-
estão distribuídas da seguinte maneira: • Existe, ainda, um grupo de 40 Tembé na aldeia damental incompleto, razão apontada pelas secre-
• A T. I. Alto Rio Guamá (279.897,70 ha) é di- Maracaxi, em Aurora do Pará, atualmente em tarias de educação para justificar seus salários mais
vidida em dois Postos Indígenas (PIN): PIN fase de reconhecimento pela FUNAI. baixos que os dos não-índios, estes com o Ensino
Canindé e PIN Alto Rio Guamá. Aldeias do • Na margem direita do Gurupi, no estado do Secundário completo e sem formação específica
PIN Canindé no município de Paragominas: Maranhão, existe a aldeia Sítio Novo, onde para trabalhar em área indígena. Com relação aos
aldeias Alta ou do Zeca, Anoirá, Cajueiro alguns Tembé moram com índios Kaapor. Tembé do Guamá, mais precocemente expostos ao

284
contato com “civilizados” e ao abandono da língua no máximo até a 4ª série do Ensino Fundamental. RELIGIOSIDADE TEMBÉ
Tembé, vem ocorrendo um esforço no sentido de Alguns jovens Tembé estudam na Escola Agrotéc-
reaprender a falar a língua indígena. Os prédios nica Federal de Castanhal, recebendo apoio finan- O sistema religioso Tembé encontra-se mescla-
das escolas da área do Gurupi são, em sua maioria, ceiro da FUNAI. Os Tembé reivindicam um tipo do com elementos do cristianismo. Em algumas
feitos em taipa com telhado de palha ou cavaco e de escolarização que os instrumentalize melhor aldeias do Gurupi, por exemplo, é possível ver
piso de chão batido. Na área do Guamá, a maioria é para um convívio mais justo, digno e saudável com altares com a imagem de São Benedito, culto le-
feita em alvenaria, com telhado de barro ou cavaco os “brancos”, e que os auxilie na consolidação de vado para a aldeia a partir do contato com negros
e piso de cimento. O ensino nas aldeias se estende sua autodeterminação. quilombolas da região. É possível ver ainda padres

QUADRO 1 - Terras Indígenas da Área de Estudo


TERRA INDÍGENA ÁREA (Ha) SITUAÇÃO FUNDIÁRIA LOCALIZAÇÃO/MUNICÍPIO POVOS INDÍGENAS POPULAÇÃO (2006)
Nova Esperança do Piriá, Parago- Tembé, Kaapor, Munduruku,
Alto Rio Guamá 279.897,70 Homologada 1174
minas e Santa Luzia do Pará Guajajara e Timbira
Tembé 1.075 Homologada Tomé-Açu Tembé 113
146 ha (homologado)
Turé Mariquita 733 Tomé-Açu Tembé Munduruku 78
**587,99ha (doação) = 733,99ha
Urumatewa 25 Lote INCRA Tomé-Açu Tembé 58
Barreirinha 2.374 Demarcada Paragominas Amanayé 72
Saraua 18.635 Identificada Ipixuna do Pará Amanayé 87
FONTE: FUNAI-Belém (2006).
ELABORAÇÃO: Márcio Couto Henrique (2006).

católicos, visitando as aldeias, cantando e dançando junto com os pajés, depois 1996, p. 150). Acredita-se que o pajé pode colocar certos objetos dentro
do que batizam os indiozinhos, às vezes a pedido dos próprios pais. Por ou- de um indivíduo, levando-o à morte. Isso faz com que os pajés sejam, ao
tro lado, a presença de missões evangélicas na Terra Indígena inseriu práticas mesmo tempo, temidos e respeitados.
típicas das igrejas protestantes, tais como a leitura mais constante da Bíblia e
o hábito de chamar os correligionários de “irmãos”. A Associação Lingüística SAÚDE
Evangélica da Amazônia (ALEM), que desenvolve um trabalho missionário
na aldeia Teko Haw, no Gurupi, utiliza-se de alguns índios para traduzir a A partir de 2001 o atendimento médico prestado aos índios passou da
Bíblia para a língua Tembé. Ao mesmo tempo em que fazem um importante FUNAI para a FUNASA (Fundação Nacional de Saúde). Atualmente, ape-
trabalho de escolarização junto aos índios, os missionários da ALEM elabo- nas o atendimento aos casos mais simples é realizado nas próprias aldeias.
ram “material de evangelização” e procuram “semear a palavra de Deus” entre O atendimento médico de média complexidade é feito em Paragominas e
os Tembé. em Capitão Poço, e os casos de maior complexidade são transferidos para

produção de riquezas e modos de vida no campo


Na década de 1980, os Tembé do Guamá combinavam o batismo cristão Belém, onde os índios ficam hospedados na Casa do Índio, em Icoaraci.
com o curandeirismo e visitas a sessões de umbanda na vila de Boca Nova Algumas aldeias contam com Agentes Indígenas de Saúde, que auxiliam
(Ricardo, 1985, p. 186). Em todo caso, os Tembé mantêm algumas práticas os Atendentes de Enfermagem. Estes últimos se revezam nas visitas às al-
religiosas tradicionais, sendo a mais importante delas, na atualidade, a cha- deias. Apesar de a verba destinada à saúde indígena ter aumentado depois
mada Festa da Moça, que tradicionalmente faz parte dos ritos de puberdade da transferência para a FUNASA, os índios têm reclamado dos serviços
de meninos e meninas (wiraohawo) e que antes era realizada como parte da prestados.
festa do milho. A partir do início do primeiro ciclo menstrual, as meninas são Uma das principais reclamações diz respeito à ausência de visitas de
isoladas do grupo e passam a observar certas prescrições alimentares. Caças médicos e odontólogos às aldeias, serviço realizado à época da FUNAI.
grandes e pássaros são proibidos. Com o corpo todo pintado de tinta de jeni- Outras tantas reclamações estão ligadas à necessidade de uma certa sen-
papo, as meninas são apresentadas à comunidade e, ao fim da festa, estão aptas sibilidade para lidar com uma população culturalmente específica, com
a ocupar um novo lugar social entre os Tembé. Um banquete é oferecido formas diferenciadas de concepção do corpo, de saúde e de doença. É ne-
aos convidados, tendo como ingredientes nhambu, mutum e porco do mato. cessário, inclusive, observar com bastante rigor a distribuição de remédios
Atualmente, a Festa da Moça (ver fotos 1 a 3) tem duração de vários dias e nas aldeias, a fim de se evitar o “vício em antibióticos” por parte dos ín-
reúne índios de todas as aldeias Tembé, além dos vizinhos Kaapor. Trata-se de dios, que passam muitas vezes a criar uma relação de extrema dependência
um importante momento de reafirmação da identidade
étnica, em que os índios se orgulham de afirmar que
durante dias cantam em sua própria língua e dançam
sem repetir uma música sequer. Em todas as etapas
da festa, é possível ver a participação ativa e decisiva da
“capitôa” D. Verônica, que, com seus mais de 70 anos,
é considerada a guardiã das tradições do grupo.
FOTOS: FUNAI (s/d)

Na cosmologia atual dos Tembé, o Deus dos


cristãos divide espaço com Maíra, o principal herói
cultural dos Tembé. Por sua vez, padres católicos e
pastores protestantes dividem espaço com os pajés,
interlocutores entre os humanos e os sobrenaturais.
Entre os Tenetehara, a posição de pajé é bastante in-
cômoda. Ele é visto como alguém que, ao mesmo
tempo, tem o dom da vida e da morte. Em 1942, ao
perguntar a um Tenetehara se ele gostaria de ser pajé,
o antropólogo Eduardo Galvão obteve a seguinte res-
posta: “[p]ajé não presta, os outros tomam raiva da
gente e querem matar a gente com cacete” (Galvão,

FOTOS 1 a 3 - Festa da Moça


285
produção de riquezas e modos de vida no campo

dos medicamentos dos “brancos”, o que implica a esquistossomose, a tuberculose, as doenças do mento das aldeias também são fatores que muito
o abandono das práticas tradicionais de cura. trato respiratório em geral, as doenças de pele, as dificultam o acesso dos Tembé aos serviços de
Os principais problemas enfrentados pelos diarréias e a leishmaniose. São comuns também saúde, pois o transporte dos doentes é sempre
Tembé no que diz respeito à saúde são a malária, os casos de verminose. A distância e o fraciona- muito difícil.

286
produção de riquezas e modos de vida no campo

PRIVILÉGIOS OU a Amazônia era definida pelos governos militares liberdade de acordo com sua cultura, respeitando
AUTODETERMINAÇÃO? como um grande vazio demográfico, anuncia- e sendo respeitados pela sociedade envolvente,
da como a “terra sem homens, para homens sem enquanto nação livre e autodeterminada.
Depois de muitos anos de luta pela garantia de terra”. Muitos dos atuais posseiros residentes ile- O desafio para os não-índios é assumir a postura
seus direitos históricos e constitucionais, os Tem- galmente na área indígena são descendentes dos adotada pelo antropólogo Eduardo Galvão, que re-
bé compreenderam que os problemas a eles re- milhares de nordestinos que foram expulsos de gistrou em seu diário de campo entre os Tenetehara,
lacionados não podem ser resolvidos sem que as suas terras desde fins do século XIX, seja pela seca, aos 3 de março de 1942: “[u]ma nova cultura abre
autoridades políticas do Estado brasileiro enfren- seja pela pressão dos latifundiários. Muitos outros não só o desejo de analisar, comparar, investigar e,
tem os problemas sociais que atingem não só os são utilizados como massa de manobra de alguns portanto, conhecer os vários modos do compor-
Tembé, mas amplos setores da sociedade brasileira fazendeiros, grileiros e políticos locais, estes com tamento humano, mas, também, uma quase que
e, particularmente, paraense. Em grande parte, a interesses bastante peculiares na invasão do patri- briga para concepção e conceitos, que temíamos ou
invasão das terras indígenas está ligada ao proces- mônio indígena Tembé. jamais ousávamos formular, acorrentados à inércia
so de concentração fundiária no país, que empurra Os Tembé, assim como os demais povos in- dos nossos próprios padrões” (1996, p. 65). Respei-
milhares de brasileiros para outras regiões, muitas dígenas do Brasil, procuram deixar claro que sua tar os direitos dos Tembé significa nos libertar “da
vezes divulgadas como o novo El Dorado. Assim, luta não é no sentido de lhes garantir privilégios inércia dos nossos próprios padrões” e alcançar não
a intensificação da invasão da T. I. Alto Rio Gua- usurpados dos não-índios. Eles querem apenas vi- só uma maior perspectiva de vida, mas aumentar
má coincide, por exemplo, com o período em que ver em paz em suas próprias terras, exercendo a em nós a capacidade de enfrentá-la.

287
TERRITORIALIDADE DE GRUPOS QUILOMBOLAS
terrirorialidade de grupos quilombolas
Rosa Elizabeth Acevedo Marin
produção de riquezas e modos de vida no campo

O quilombola é mais precisamente aquele que do século XIX. O Gráfico 1 mostra a relação entre Ao longo do rio Moju, afluente do rio Tocantins,
tem consciência de sua posição reivindicativa moradores livres e escravos nas principais fregue- e do rio Guamá, ao sul da cidade de Belém, esten-
de direitos étnicos e a capacidade de autodefi- sias no ano de 1823. dendo-se até as margens dos rios Acará e Capim,
nir-se como tal, mediante os aparatos de poder, Plantações relativamente grandes ou pequenas formou-se uma faixa de agricultura. Mas foi relati-
organizando-se em movimentos e a partir de de cana-de-açúcar, próximo das terras baixas, o vamente escassa a procura de terras agriculturáveis.
lutas concretas. arroz cultivado em terra firme, ao lado de roças Spix e Martius (1825) propuseram uma explicação
(ALFREDO WAGNER BERNO DE ALMEIDA, 2004). de mandioca, algodão, feijão, milho, café, tabaco e escreveram que isto se devia “à míngua de grandes
e a extração de madeira e as denominadas “drogas capitais, e por outro lado, ao gênio pacato do para-
CONTEXTUALIZAÇÃO do sertão” dominaram a produção e definiram as ense, que se satisfaz com menor lucro e não acom-
HISTÓRICA – REGIÃO formas de organização do trabalho não livre de ín- panha o espírito ambicioso de especulação dos seus
GUAJARINA E GURUPI dios e escravos no primeiro círculo de agricultura vizinhos, os maranhenses”. Os autores insistem
organizado nas redondezas de Belém. Em 1729, a na relação de dependência do comércio de Belém

O
s processos de formação Coroa proibiu a utilização de mão-de-obra indí- das produções interioranas e sobre a movimenta-
histórica da região Guajari- gena nos canaviais, engenhos e áreas de cultivo do ção criada com a chegada dos produtos à cidade.
na e do Gurupi, no Estado tabaco e os cultivadores foram pressionados para O motor dessa economia girava sobre o comércio
do Pará, revelam, de um lado, a presen- adquirir o escravo de origem africana,2 introduzi- das especiarias (canela, cravo, salsaparrilha) e pou-
ça econômica, demográfica e cultural das do, anos depois, pela Companhia de Comércio do ca quantidade dos produtos agrícolas era absorvida
comunidades negras rurais ou quilombo- Grão-Pará e Maranhão (1755-1777) como pilar da pelo estreito consumo interno. Os pequenos e mé-
las; de outro, registram as transformações sua política de colonização. dios sitiantes produziam para seu consumo.
socioeconômicas e ecológicas que interfe- Nas redondezas de Belém, em intervalos des- A formação das primeiras fazendas, às margens
rem nos seus modos de existência e orga- te longo período, reconhecem-se as mudanças desses rios, concentrou uma escravaria importante,
nização social. Cada comunidade, em sua na fisionomia econômica da região onde surgem embora mostrasse uma acanhada aplicação à agri-
diversidade e heterogeneidade, expressa ilhotas de agricultura com sinais de prosperida- cultura. Baena (1839, p. 73), um contemporâneo
uma resposta singular às ameaças e pres- de e florescimento. Estas datavam da tentativa de incrédulo da dedicação dos “Proprietarios Ruraes
sões sobre as terras ocupadas pelos seus administração pombalina no século XIX. A colo- em fazer um cultivo”, observava: “A plantagem do
antepassados1 e as condições construídas nização chegou a produzir uma paisagem humana arroz e do algodão, he o capital objecto das lidas
nas suas relações com a economia, poder diferenciada. agrárias nas Fazendas adjacentes à Cidade: todas
e sociedade regional. No delta do rio Amazonas, correspondendo as mais plantas são agriculturadas em porções mi-
Essas ameaças e as perdas territoriais à parte setentrional do Pará, em terras de Maca- nimas”. O comércio e as subvenções da adminis-
têm se ampliado, o que impulsiona a or- pá e Mazagão, intensificou-se o cultivo do arroz, tração permitiam a compra de escravos e a forma-
ganização e as posições reivindicativas dos produto que animou o comércio controlado pela ção de capitais. Nas fazendas antigas e engenhos
grupos. A história compartilhada por es- Companhia. Na região do vale do Tocantins, a mais recriaram-se os movimentos de contestação (fugas
ses grupos e a memória dos lugares lhes povoada das proximidades de Belém, floresceu o e revoltas) e, ainda, as formas de negociação com a
permitem situar inúmeras experiências de cultivo de cana-de-açúcar nas terras baixas para ordem escravista.
trabalho, de festas, de religiosidade, de or- aproveitar as facilidades do transporte, e, depois, Na fase de transição do trabalho escravo para o
ganização social, de relações de parentes- o cacau, o algodão, com menor sucesso. trabalho livre, os grupos negros permaneceram na
co, de formas de uso de terra sob formas de do-
recurso do ambiente, ao GRÁFICO 1 – Relação entre moradores livres e escravos, segundo as freguesias (1823). mínio diferentes. Alguns
mesmo tempo que as ela- deles receberam a terra
borações do imaginário em herança, casos estes,
social que estão referidas porém, menos freqüen-
ao território. tes. Outros ocuparam
À beira dos rios Gua- fazendas abandonadas. E
má, Acará, Moju, Capim outros ainda conquista-
e Gurupi surgiram vilas, ram as terras por meio de
povoados, sítios e reti- organização em quilom-
ros. Nesta terra, índios e bos. Os traços de diferen-
colonos foram levados a ciação são, assim mesmo,
estabelecer seus lugares pouco precisos pela situ-
de moradia e de trabalho. ação comum de cercea-
Ambos tiveram dominân- mento de liberdade do
cia demográfica sobre o trabalhador livre e pelos
grupo negro no final do sé- impedimentos de acesso
culo XVIII, relação inver- à terra. Esses povoados
tida no primeiro quartel de enraizamento agrícola
ELABORAÇÃO: Rosa E. Acevedo Marin (2006), com base em fontes diversas.

1
A produção bibliográfica sobre o tema encontra-se em diversos estudos realizados por Acevedo Marin e Castro (1993, l997, 1998, 1999, 2004) e no CD-rom organizado por
Castro e Acevedo Marin (2005), intitulado “Quilombolas do Pará”.
2
Ver Azevedo, João Lúcio de. 1930. Os Jesuítas no Grão-Pará: suas missões e a colonização. Coimbra, Imprensa da Universidade, 2. ed. 1901, p. 240.

288
existiram desde o período colonial, combinando teira física administrativa entre o Pará e o Ma- ordenada pelo governador da Província do Mara-
estratégias de coleta, pesca, caça, artesanato. Eles ranhão. No tempo, conformou-se como uma nhão, Eduardo Olympio Machado, que mandou
tiveram evolução particular até o presente e reve- fronteira étnica. Índios, negros, colonos euro- “bater” os negros do Alto Maracassume. Foi des-
lam, de um lado, os processos de expansão da agri- peus, grupos de variado tamanho e organização truído o mocambo Jacarequara, localizado entre o
cultura nas proximidades de Belém, como atividade constituíram nichos ecológicos e mantiveram Gurupi e Sicantan. Essas terras foram cobiçadas
geradora de sua riqueza e poder, então o maior cen- contatos na medida em que estabeleceram suas pelos depósitos de ouro que o responsável pela
tro de poder econômico e político na região ama- diferenças sociais e culturais. Nesse processo expedição informou existir em Montes Áureos e
zônica; de outro, as formas de organização social e de contato, cada grupo elabora a convicção de Monte Cristo. Os mocambeiros se refugiaram em
cultural que foram, e ainda são, intencionalmente sua identidade, seu reconhecimento de serem Tiracambu. Vários grupos se instalaram na ilha de
invisibilizadas pela ordem econômica e política. comunidades distintas, a capacidade de estabe- Itamoari, no Gurupi-Mirim e Pau de Remo. Hoje
Na fase contemporânea, os mecanismos de mer- lecerem fronteiras e territórios. existem 12 comunidades nas terras do Gurupi.5
cado de terras pressionam os territórios quilombolas O território é falado por uma memória anterior;
e os convertem em espaços para expansão da pecu- em pontos dele se produz a memória das fugas, QUILOMBOS DO RIO SÃO DOMINGOS
ária, exploração mineral, agronegócio, redes de in- dos lugares de migração, das revoltas, dos enfren- DO CAPIM
fra-estrutura (estradas, hidrelétricas, minerodutos, tamentos, mas, também, representa a construção
linhas de transmissão) e a própria expansão urba- da territorialidade, laços de parentesco, relações de Nos séculos XVIII e XIX, o vale do rio São Do-
na. Assim sendo, na atualidade, a reivindicação pela troca, experiências simbólicas. Igualmente fornece mingos do Capim foi uma próspera área de cultivo
regularização e titulação dos quilombolas apóia-se: os elementos da memória ritual em que se recom- de cana-de-açúcar. No final do século XIX ocor-
primeiro, nas suas formas de ocupação e modos de põem diversos eventos dessa terra de refúgio e de reu o enfraquecimento do poderio do latifúndio
existência como povos tradicionais, baseados no re- relações sociais entre os negros com os fazendei- e da economia canavieira, e um sinal disso foi o
gime de usufruto comum, no pertencimento social, ros, com os índios, com grupos da cidade. Nesses abandono dos grandes engenhos que tinham in-
portanto, dimensões não restritivas do tradicional, casos, a intermediação de uma memória territorial corporado a tecnologia de ferro para a construção
da ancianidade; segundo, nas suas demandas apoia- produz os códigos dos regimes de apropriação e de sistemas de moendas aproveitando a produção
das na legislação vigente, em critérios de sustentabi- usufruto dos recursos, de fixação de partes do ter- de energia. Dois desses engenhos pertenceram a
lidade social e ecológica; terceiro, nos seus proces- ritório identificadas em épocas de um calendário Vicente Chermont de Miranda e Pedro Chermont
sos identitários e de mobilização política em relação agroextrativo, de festas, de casamentos, portanto, de Miranda, os maiores proprietários de terra e be-
3
a direitos étnicos e territoriais. de reprodução social. neficiadores de cana da região. Pedro foi o dono
Neste Atlas, consideram-se as regiões Guajari- O rio Gurupi, conhecido como rio de Ouro, do engenho Taperaçu, e Vicente do engenho de
na, Tocantina e Gurupi como unidades de descri- separa os dois Estados (Pará e Maranhão). Parte Aproaga.
ção de situações históricas e de formação de grupos do inventário de historiadores e viajantes apon- Nos últimos anos do século XIX, ocorreram
quilombolas. A questão fundamental é interpretar ta seus cursos de água encachoeirados, as terras acontecimentos importantes no Brasil e no Pará

produção de riquezas e modos de vida no campo


o presente e os laços que se descortinam dos pro- as suas margens cheias de árvores de seringa e com os homens livres e com os antepassados
cessos de ocupação, sem obedecer a uma rigidez copaíba. O elo de comunicação está nos rios dos trabalhadores escravos – os que os primeiros
cronológica. Em parte, a descrição histórica fun- Uraim, à margem esquerda paraense, e Coracy. denominavam “pretos do canavial”. Tais aconteci-
damenta os direitos sobre o território que fazem Segundo relatos, suas várzeas seriam próprias mentos têm peso na distribuição das famílias no
justa a reclamação de demarcação e titulação. para cultura de cana-de-açúcar e arroz. Nessa Alto e Médio rio Capim, na existência de povoados
Historicamente, o quilombo significa a terra de região, foi indicada por Hurley4 a presença dos formados pelos seus descendentes e nos conflitos e
conquista da liberdade, enfrentando a necessidade Tembé, Urubu-Kaapor, quilombolas e também tensões que estão sendo gerados pela presença de
de realizar um permanente avanço sobre novas de exploradores cearenses. Os povoados negros madeireiros, fazendeiros e empresas, sem deixar
áreas, sobretudo quando estava sendo empurrado de Camiranga, Itamoari, Bela Aurora (antes de- de registrar aqueles provocados pela ausência e aban-
pelas expedições de captura. Não raro secundaram nominado Tira Couro) e Mariana são encontra- dono do Estado, que não regulamenta a condição
este refúgio, mantendo o projeto de um retorno ao dos nessa fronteira com as nações Tembé, Gua- desses povos tradicionais.
lugar onde se tornava mais fácil desenvolver agri- jará, Timbira e Kaapor. Em 1888 a abolição da escravidão acertou um
cultura, coleta e manter, no Brasil contemporâneo, Na segunda metade do século XIX, exploradores golpe nas grandes unidades de beneficiamento de
uma unidade de mobilização, e o quilombola é franceses e chineses adentraram essa região à pro- cana. Faltavam braços e a colonização agrícola, na
aquele que tem consciência de sua posição reivin- cura de ouro. Os pretos do mocambo de Itamoari qual podia se encontrar um reservatório temporário
dicativa. Até o ano de 2005, estudos sobre quilom- negociavam o ouro com um francês. As roças dos de mão-de-obra, havia sido decidida para as terras
bolas do Pará (Castro e Acevedo Marin, 2005) in- mocambeiros eram importantes, pois forneciam da Bragantina. Enquanto alguns ex-escravos disper-
dicavam as regiões Guajarina e do Gurupi como as toda a farinha para os garimpos. Mais próximo de saram-se, a maioria permaneceu nas fazendas, nas
mais numerosas. Em levantamento de mais de 16 Vizeu foram abertos campos para criação de gado cabeceiras dos igarapés, nas proximidades das vilas
anos de pesquisa, calcularam-se 286 comunidades vacum. A fronteira seria controlada com a criação onde formaram comunidades em terras livres.
no Estado do Pará, sem estar incluídos os quilom- da Colônia Militar do igarapé Sumaúma. O ouro O Sr. Virginio Santos do Carmo, de 93 anos,
bolas de São Domingos do Capim. e depois a seringa (ouro negro) foram as atividades depositário da memória do território quilombola
que mobilizaram maranhenses para as cabeceiras acima do rio Pirajuara, explica que “seus bisavós
FRONTEIRA E QUILOMBOS NO GURUPI do Gurupi. saíram por um tempo do engenho, mas seguiam
Os negros fugitivos que atravessaram o Gurupi nas terras do canavaial”. O seu bisavô nasceu em
Desde o século XVIII, as terras da primitiva e se localizaram nas suas ilhas e às margens do rio terras do engenho Aproaga, comprou as terras do
capitania do Gurupi ou Caeté, ao norte do rio experimentaram a invisibilidade expropriadora. Os que eles batizaram como “Canavial”, onde vivem
Turiaçu, foram descritas por religiosos e autori- grupos indígenas e negros que se localizaram nessa e trabalham até o presente. O que aconteceu, nas
dades, acompanhando os debates sobre a fron- região viveram atos de perseguição. Uma delas foi suas palavras, “é que eles eram desertores e cada

3
Ver artigo de José Benatti e Lully Fischer incluso no início desta seção do Atlas.
4
Hurley, Jorge. 1932. Chorographia do Pará e Maranhão. Rio Gurupi. Belém, Imprensa do Estado.
5
Constam como terras tituladas em quilombos da região paraense do Gurupi as seguintes localidades: Bela Aurora (Cachoeira do Piriá, INCRA - 2004), Paca e Aningal (Vizeu – INCRA -
2004). Outras terras de pretos não tituladas são: Pau de Remo, São José do Piriá e Bela Vista do Piriá.

289
um ia pra um mato”. Os novos homens livres ti-
nham medo de um decreto de reescravização e,
como o Sr. Virginio Santos do Carmo concluiu, o
“decreto de liberdade aconteceu em Belém e de-
produção de riquezas e modos de vida no campo

morou para chegar no rio Capim”.


Em 1891, a região do rio Capim foi abalada por
uma revolta que o Sr. João Luz, irmão do Sr. Virgi-
nio, chamou de “revolta do Pirajuara”, a qual con-
vulsionou para além do local e nela engajaram-se
esses homens recém-proclamados livres. Que
vantagens e por que esses homens se engajaram
nessa luta?
A situação da plantation da freguesia de Santa
Ana do Capim, baseada na monocultura da cana-
de-açúcar e na imobilização da força de trabalho
no regime de escravidão, experimentou forte frag-
mentação. Os grandes proprietários, como foi o
caso dos Miranda, são destituídos do seu poder
econômico, o que abalou seu poder político. Na
fala convergente do Sr. Virginio e de D. Améri-
ca, matriarca de Santa Maria, povoado próximo de
Canavial, situado à margem esquerda do rio Ca-
pim, eles estavam fracos e venderam ou doaram a
terra para os trabalhadores, seus antigos escravos.
Os acontecimentos que se desenvolveram no
Pará durante o período republicano representam
as formas de contestação a essa nova ordem polí-
tica. Essa fase de transição política da virada do sé-
culo XIX para o XX esteve marcada pelo estabele-
cimento do regime republicano. Diferentes atores
se mobilizam no interior das estruturas políticas e Os líderes haviam reunido 200 homens arma- dos engenhos do distrito do Capim” que fugiam
realizam a contestação social, por meio das revol- dos e prontos para embarcar para Belém, onde se para as cabeceiras dos igarapés”. Gaia sublinha o
tas que eclodiram. Uma delas foi a revolta de São reuniriam com Vicente de Chermont e Francisco fato de que, depois da abolição, havia na região do
Domingos do Capim ou do Pirajuara. Xavier da Veiga Cabral. Os democratas do Capim Capim dezenas de ex-escravos que permaneceram
Essa ordem responde por um fazer-se e pela for- estavam articulados com os da capital, e, ante a nos engenhos.
ma como as instituições, as propostas e as relações iminência de conflitos, o governo destacou uma Na memória dessa revolta e na voz de descenden-
sociais foram construídas em torno do regime. Com força policial para São Domingos com objetivo de tes dos rebeldes encontram-se alguns dos motivos
a proclamação da Republica, assumiram posições sufocar a ação dos democratas capienses. para a revolta, como as disputas pelo comércio da
de poder jovens paraenses que não possuíam as re- No dia 4 de junho de 1891, republicanos e demo- região. A figura de João Francisco Luz7 é retida por
galias e o prestígio político do governo imperial. O cratas se confrontaram em São Domingos do Capim. seus descendentes como de um homem bastan-
ideário e a política republicana não representaram a João Francisco da Luz e 50 homens sob seu comando te influente, tanto por ser comerciante como por
continuidade do poder político do Partido Liberal atacaram a casa de comércio do republicano Belmiro possuir muitas terras. Foi ele quem liderou gru-
ou do Partido Conservador, mesmo que as adesões Pacheco Barboza, na localidade de Santo Antônio, no pos de revoltosos porque tinha muita influência
ao novo regime aumentassem logo após esse ato. rio Capim, comerciante acusado de “mandos e des- no igarapé Paracaxi, no Caratateu e no rio Pira-
Na análise do historiador William Gaia Farias,6 a mandos”. O governo, então, autorizou uma terceira jauara. Ele reunia os homens - negros e brancos,
revolta do Capim, a revolta de 11 de junho e, em expedição para o Capim, composta por 90 homens. que eram seus fregueses. Raymundo Aires e Félix
1893, a revolta da Armada representam a contes- O conflito foi sangrento entre policiais e mo- de Souza eram também comerciantes que atuavam
tação e as disputas que foram geradas na consoli- radores. A boca do rio Pirajaura, onde se situava o pelos lados de Santana.
dação da ordem republicana no Pará. Os líderes sítio do capitão João Francisco da Luz, foi o lugar Desse episódio surgia o preconceito em relação
democratas moveram ações violentas na região do da batalha, na qual caíram mortos um sargento, aos capienses, que conseguiram a fama de “violen-
Capim. As autoridades republicanas propuseram a dois cabos, seis soldados e ficaram feridos dezenove tos e corajosos”, assim como viveram com o fan-
prisão de João Francisco da Luz, Raymundo Ayres soldados. Havia informações de que o delegado do tasma da revolta. Essa fama permaneceu por muito
Franco e Fausto Ernesto Furtado Pereira, conside- Capim estava envolvido nas disputas políticas parti- tempo, como explicou José da Luz para o historia-
rados os autores do incêndio à cadeia pública e de dárias. Farias apresenta as “partes” do conflito. Para dor William Gaia.
outros atos condenados por essas autoridades. O os republicanos históricos, essa revolta coloca em O Sr. João da Luz, nascido em Canavial, elabora
subdelegado de polícia de Sant´Anna, no rio Ca- xeque a política republicana, pois representava um a narrativa dos acontecimentos situando a partici-
pim, informava em documento de 1891 sobre o movimento legítimo e portador de significados po- pação dos seus pais e avós.
clima de tensão no povoado e identificava os nomes líticos valiosos para as ações movidas pela oposição. Monte Alegre, Pirajuara, Santa Maria ou Taua-
dos envolvidos no conflito que tinham o projeto de A leitura de documentos indica que entre os re- Miri, Santa Catarina, Canavial, Quiandeua e São
obrigar a deposição do governador do Pará. voltosos capturados estavam os “outrora escravos Mateus fazem parte desse universo de comunidades

6
Para maior aprofundamento, ler o capítulo “A Revolta do Capim”, da tese de autoria de William Gaia Farias intitulada “Os contestadores da República”. Rio de Janeiro, Universidade Federal
Fluminense (UFF). Pós-Graduação em História (2005, p.168-186).
7
João Francisco da Luz foi morto com três tiros no dia 2 de outubro de 1891 quando se encontrava na sua propriedade à margem do igarapé Pirajauara, na freguesia de Sant´Anna do Capim.
Segundo o processo desse assassinato, de 280 páginas, o republicano capiense Belmiro Pacheco Barbosa foi acusado desse crime pelas testemunhas, já que teria dado sugestões para que o
“povo” o matasse. Belmiro e João Francisco, além de serem inimigos políticos, rivalizavam no comércio (Farias, 2005, p. 221-222).

290
vinculadas à formação econômica e contextos po- consumo, e não a venda. O quintal é rico em es- estão construídas mais adentro, um pouco afas-
líticos de luta. Hoje, a maioria delas permanece pécies frutíferas, especialmente o açaí. Este fruto tadas, no lugar denominado por eles de “colô-
à margem da mobilização política dos quilombo- é consumido diariamente pelas famílias durante nia” ou “Centro”.
las e está pressionada pelas fazendas, madeireiras o período de safra, o “vinho” é produzido artesa- O Sr. Horácio de Anunciação Oliveira mora
e empresas. As localidades de Canavial (ou Nova nalmente à mão, não se usando máquinas batedo- em Quiandeua. Ele é aposentado, tem 84 anos de
Ipixuna), situada no município de Aurora do Pará, ras. A caça e a pesca limitam-se ao período mais idade, mas ainda trabalha na roça para “fazer fari-
e Quiandeua, situada em Ipixuna do Pará, foram ocioso, normalmente o fim de semana. Parece nha e não pedir aos outros”. Pai de 8 filhos criados,
objeto de estudo exploratório por pesquisadores que ainda existe uma certa fartura de peixes no ele nasceu em Tenafié, localidade muito próxi-
do projeto referente ao presente Atlas.8 Ver Mapa rio Capim, e de caça de médio porte (tatu, cutia, ma a Quiandeua; sua família chegou ao povoado
de Terras de Pretos ou Quilombos. paca) dentro da mata. quando ele tinha 9 meses de idade. Nessa época, o
No povoado, funciona, de forma muito precá- nome do local era Piedade. Ele assegura que sua
Canavial ria, uma escola em regime multisseriado de 1ª a 4ª avó foi escrava durante muito tempo.
Também chamada de Nova Ipixuna do Capim, séries. As aulas realizam-se em um barracão im- Os quintais de Quiandeua são ricos em espé-
esta localidade está situada à margem esquerda do provisado, com material educativo escasso e sem cies frutíferas, especialmente manga e caju. Todo
rio Capim, nas proximidades de Santana do Ca- energia elétrica. A prefeitura garante merenda es- quintal abriga uma criação de galinhas. A principal
pim. O coordenador da Associação de Moradores colar e fogão com gás. O único material didático atividade produtiva é o cultivo da raiz da mandioca
de Nova Ipixuna, Sr. João da Conceição Silva San- que chega à localidade é para a Educação de Jovens para produção da farinha. Plantam roças ao final
tos, informou em novembro de 2005 a pesquisa- e Adultos (EJA). do ano, mas a derruba e a queima é feita bem an-
dores do projeto que o território de Nova Ipixuna tes, no começo do verão. Não usam insumos nem
compreende uma extensão de 935 hectares. Quiandeua maquinário. Os cavalos de carga são usados para
Trata-se de uma terra que foi comprada pelos A comunidade negra de Quiandeua localiza-se transportar a mandioca desde a roça até a Beira,
trabalhadores do patrão em situação de falência na margem direita do rio Capim, no município de onde é colocada de molho por alguns dias no rio.
econômica. Segundo o Sr. João da Luz, o terreno Ipixuna do Pará. Antes de chegar ao povoado, en- Na Beira, há três casas de farinha (retiros) que são
onde fica a comunidade Nova Ipixuna antigamente contra-se Ribeira do Rio Capim, pequeno povo- compartilhadas pelas famílias segundo relações
era um grande canavial. Foi adquirido através de ado, no qual existe um posto de saúde. A primei- de parentesco e de reciprocidade, mas na colônia
uma negociação envolvendo seu Giarculano dos ra família a ocupar as terras onde está localizada existem outros retiros.
Santos e o dono da Aproaga na época, senhor Pedro Quiandeua (antes também conhecida por Pieda- As famílias, na sua maioria, trabalham fazendo
Miranda, que ainda possuía outras propriedades de) foi a do senhor Salazar. Havia outros sítios ou farinha de mandioca. O sábado é o principal dia
na redondeza. Giarculano dos Santos e seu irmão povoados próximos, como Maracaxi, Caratateua, do escoamento da produção para a comercializa-
Teófilo dos Santos foram para o rio Capim, quan- Tenafié. Quiandeua conta com 46 unidades fami- ção na cidade. Outras vezes, eles vendem as sacas
do Pedro Miranda adquiriu a Aproaga, com quem liares que se organizam com base em fortes laços de farinha diretamente para os atravessadores que

produção de riquezas e modos de vida no campo


já trabalhavam há muito tempo. Ao chegar à área de parentesco e solidariedade. encostam nas localidades ribeirinhas da região.
do Capim, Pedro Miranda disse: “Giarculano, tu A maioria dos membros das famílias nasceu em Algumas dessas relações com os marreteiros são
já trabalhas comigo há tempo eu tenho um terreno Quiandeua e suas redondezas. As unidades fami- desmonetarizadas, quando os agentes comerciais
aí (área da comunidade), tu não queres comprar? liares realizam o usufruto dos recursos de acordo trocam açaí já batido por farinha. Se a venda ocorre
Se tu quiseres comprar eu te vendo. Aí seu Giar- com regras consensuais que garantem a todos o na cidade de Ipixuna, a mercadoria viaja de ônibus
culano disse que não tinha dinheiro para pagar o acesso a recursos e garantia de terras para abrir ro- (estrada km 62) depois de atravessar o rio Capim
terreno, quando Pedro Miranda propôs uma troca: ças. Cada família trabalha uma parte da terra e os de barco comunitário.
eu te dou o terreno e tu me dás o prédio. Aí seu limites deste espaço de trabalho, sempre informais, Como o preço da saca de mandioca é baixo (R$
avô aceitou, recebendo pelo prédio, além da terra, são reconhecidos por toda a comunidade. Ainda 25/ saca) e a produção pouco elevada (entre 2 a 20
mais dois fornos de cobre e dois serrotes”. não possuem documento legal de regularização do sacas por semana, dependendo da família), con-
No Patrimônio, existe o barracão e a igreja, lo- seu território coletivo, que tem a extensão de 600 seqüentemente a renda familiar é baixa. Alguns
caliza-se um grupo de casas e as habitações mais alqueires. vêem como positiva a incorporação de plantações
afastadas no denominado Centro, perto da roça. Segundo o senhor Horácio de Anunciação Oli- de castanha de caju na roça, já que, segundo as suas
O território é rodeado de fazendas e propriedades veira, o território que eles ocupam foi, há muitos próprias palavras, “é uma cultura que não maltra-
médias. Um desses fazendeiros tentou tomar as anos, propriedade de um dono conhecido como ta as pessoas, os pés crescem sozinhos e dá bom
terras da comunidade, mas perdeu na justiça. As Sr. Salazar. Os limites territoriais deste domínio retorno econômico”. Conforme as mesmas infor-
famílias e a Associação demandam o reconheci- eram os igarapés Quiandeua e Livramento. Segun- mações, uma tarefa de roça dedicada à plantação
mento do território. do o Sr. Horácio, “deste último igarapé para abaixo de caju de 50 pés, sabendo que cada pé pode pro-
O cultivo predominante é a mandioca, as fa- sempre foi do Estado”. O Sr. Salazar morreu, e a duzir 10 kg de castanha por ano, gera uma renda
mílias fazem uma média de 3 tarefas por ano para família dele nunca apresentou documento com- de R$ 500,00.9 Se a plantação é de 3 tarefas, mais
abastecer a unidade doméstica de farinha. Na provando a propriedade; após 30 anos esta acabou ou menos um hectare, a renda pode ascender a
roça, os lavradores também plantam milho e, às passando às mãos do Estado. O Sr. Horácio refle- R$ 1.500,00, sem grandes “dores de cabeça”.
vezes, banana, de forma consorciada à raiz. O ca- te que eles sempre foram “posseiros”. Na década O extrativismo vegetal praticado na comunida-
lendário agrícola é comum a toda a região, e no de 1960, relata o Sr. Horácio, houve um intento de é apenas para consumo familiar. Existe uma área
geral a plantação das estacas de maniva é realiza- de grilagem de um homem conhecido como Ofir, de várzea rica em açaí, que durante a safra se trans-
da no começo do inverno. O uso de novas tec- mas o “‘forasteiro’ perdeu na justiça”. forma em alimento básico e diário para as unida-
nologias é inexistente, a mão-de-obra é familiar Boa parte das casas é de madeira e coberta des domésticas. Eles conservam áreas de mata rica
e é freqüente o trabalho comunitário em muti- com telha de barro. A organização espacial tem em frutíferas e outras plantas úteis, alvo de pesqui-
rão. O coordenador da localidade assegura que o como referência a “Beira”, perto do Rio Capim, sas científicas a cargo do CIFOR (Shanley, 2005).
destino da produção da farinha de mandioca é o formando a área “patrimonial”. Outras casas A produção de carvão vegetal é residual, feito em

8
Ricardo Scoles e José Antonio Magalhães Marinho realizaram entrevistas em Canavial (Nova Ipixuna) e Quiandeua, e Rosa Acevedo o fez em Canavial.
9
O preço do quilo da castanha de caju é de R$ 1.

291
caieira e somente para uso doméstico. A caça ainda tário etnobotânico em um hectare de floresta ma- comunidades tradicionais, um índice mais alto de
é uma atividade tradicional relativamente comum dura de terra firme, acrescentando elementos da comércio de madeiras, uma inexistência de comer-
na comunidade, mas apenas viável com o uso de microeconomia, que se baseia no comércio de ma- cialização de produtos florestais não madeireiros e
cachorros. O rio Capim ainda tem uma população deiras, caça e pesca, entretanto, com intensificação um baixo uso de plantas para fins tecnológicos.
produção de riquezas e modos de vida no campo

apreciável de peixes comestíveis, como tucunarés da exploração de recursos da flora. Até o presente A situação dos serviços sociais em Quiandeua
e acarás (nomeado localmente de beré). Algumas os quilombolas estão envolvidos nas relações do não é satisfatória: escola de ensino fundamental
famílias possuem gado vacum e foi calculado o re- sistema comercial de aviamento, com inícios da até a 5ª série, não tem posto de saúde, o transpor-
banho em cerca de 60 cabeças. constituição de cooperativas. No que diz respeito te coletivo é muito precário, eletricidade garanti-
Há 20 anos, o desmatamento começou a ser um ao conhecimento da biodiversidade, os pesquisa- da apenas para três horas por dia, linha telefônica
problema grave na região. Com isto, por exemplo, dores calcularam que o grupo conhece 60% das inexistente, caixa de água não funciona. A perma-
a caça “não tinha mais fruta que comer no mato e plantas inventariadas, mas reconheciam que o uso nência das comunidades quilombolas depende das
morria de fome”, analisa o Sr. Horário. ativo de muitas espécies tinha diminuído. garantias de direito sobre o território conquistado.
Shanley e Rosa10 (2005) estudaram o conheci- As conclusões deste artigo mostram certa erosão Hoje, na região do rio Capim, sua existência está
mento da natureza em três comunidades negras do conhecimento nestas localidades “capienses”, ameaçada pelas fazendas e pelos empreendimentos
localizadas no rio Capim,11 dentre elas Quiandeua, desde a formação da área como terra de fronteira de mineração (ver Box 1).
por meio de uma análise cuidadosa de um inven- de exploração, revelando-se, em relação a outras

BOX 1
OS QUILOMBOLAS DO RIO MOJU Ubaha, Pitinga e Jacundaí. No discurso dos re- mentos, concretizar o plantio de dendê em grande
EM CONFLITO querentes, era feita menção aos problemas que escala e montar uma fábrica de beneficiamento. As
enfrentavam para a agricultura em terras alagáveis, terras de Santa Maria de Traquateua, Santa Luzia
O rio Moju é famoso por sua grande extensão. aos formigueiros, e ainda ao fato de terem dificul- do Traquateua, São Sebastião (km 40), São Ber-
Comunica-se por um furo com o rio Tocantins, dades para a criação de animais. Houve mortalida- nadino, Santana do Baixo foram reduzidas. Com
por onde sai na baía Marapatá. Este furo chama-se de do rebanho causada pela mordida dos morcegos a implantação do plantio e da fábrica de dendê, é
Igarapé-Mirim, que significa, na língua brasílica, – uma praga que obrigava a mudar as fazendas. feito uso freqüente de produtos químicos que são
“pequeno caminho de canoas”. O furo favorece os Em trechos do discurso, eram citadas as espé- carreados para os rios e têm sido a causa da morte
navegantes que vão para os rios Tocantins e Ama- cies de madeira que se encontravam às margens de e desaparecimento de peixes nos cursos d’água. As
zonas, que o elegem temendo os perigos das costas rios e igarapé: cedro, sumaumeira, angelim. Des- pendências pela expropriação de terras e os proble-
da baía do Arari e de Marajó. O rio Moju ficou co- taca-se, ainda, o grupo de peticionários que men- mas ambientais de responsabilidade da Marborges
nhecido pelas madeiras que existiam as suas mar- cionam contar com a mulher e filhos para cuidar ficaram impunes até o presente.
gens, semelhantes às riquezas exploradas nas matas dos sítios para fazer suas “lavouras de roçarias”. Os No final da década de 1990, foi a vez do projeto
do rio Acará (ver Formação Histórica). engenhos e as serrarias, por sua vez, eram as ativi- de caulim. As firmas Pará Pigmentos S. A. (PPSA)
Desde os primeiros anos do século XVIII, co- dades mais rentáveis para os sesmeiros mais bem e Imerys Rio Capim Caulim (IRCC) instalaram
meçou a exploração das terras e matas às margens aquinhoados. dois minerodutos para transportar o minério (ver
do rio Moju. Manoel de Oliveira Pantoja, em 1725, Ao longo do igarapé Jambuaçu se localizaram Mineração). O beneficiamento de caulim tem pro-
justificava seu pedido de carta de sesmaria, escre- centenas de famílias, e nessa espécie de “espinha” vocado problemas ambientais tanto no rio Moju
vendo que em 1699 tinha aberto um cacual em um se distribuem 14 comunidades que se reconhe- como ao longo do rio Capim.
quarto de légua de terra. Pedia nas cabeceiras do rio cem como quilombolas. Esse povo tradicional tem Desde 2003, o território quilombola de Jam-
Moju uma légua de terra no sítio Tucumanduba. origem nos escravos imobilizados pela economia buaçu, com duas áreas tituladas pelo Instituto de
As terras estavam sendo plantadas com cacau, café, e pela sociedade escravistas. Os quilombolas de- Terras do Estado do Pará (ITERPA), ficou inserido
tabaco, muita cana-de-açúcar e mandioca. A or- senvolvem formas de existência coletiva que têm nas fases do projeto “Mina de Bauxita Paragomi-
dem dos religiosos de Nossa Senhora do Carmo experimentado a expropriação, o deslocamento e a nas”, da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).
tinha terras na região, próximas do igarapé do Ca- mudança, geralmente mediante processos de grila- Este forma parte do macroprojeto ALUMINA
bresto. A solicitação encaminhada por Manoel de gem, privatização das terras. Esta é uma síntese dos BRASIL/CHINA-ABC, completando os projetos
Ferreira de Morais indicava a vizinhança com o embates mais recentes dos quilombolas do Jambu- ALBRAS (instalado no distrito industrial de Con-
empreendimento desses religiosos, e justificava a açu, na região do rio Moju. de, Barcarena-PA) e ALUNORTE (porto de Ita-
condição de as terras estarem muito cansadas pelas Por volta de l980, a Reflorestadora da Amazônia qui, São Luís-MA).
muitas lavouras de farinha, cacau e tabaco (Carta S. A. - REASA entra na região do Moju para ins- Na planta desse projeto, o mineroduto atraves-
de sesmaria de 15 de setembro de 1727). Ele ainda talar um empreendimento de plantio de dendê. A sa 15 km dentro do território dos Quilombolas.
solicitava mais “negros para cultivar”, explicitan- grilagem de terra e os atos de violência realizados A CVRD, que é uma das grandes multinacionais
do, também, um pedido de meia légua de terra. por pistoleiros impuseram um clima de tensão e no ramo, fez intervenções à revelia dos ocupantes
Outros faziam menção de ter disponibilidade de terror entre os quilombolas. Dessa data recordam tradicionais.
servos para cultivar suas lavouras. as estratégias que usaram para recuperar a seguran- O discurso da empresa é que apenas cinco co-
As cartas de sesmarias transcritas ressaltam ça, paralisar o avanço sobre as terras e organizar os munidades são atingidas pelo projeto. Essa defini-
como lugares com terras devolutas, sobras de ter- grupos em uma Associação. A REASA renunciou ção contraria a história e a construção social do que
ra, ou braças de terra fronteiras, o igarapé Jambua- aos seus projetos e vendeu as terras para a firma representa o território quilombola e as formas de
çu, afluente do rio Moju; os igarapés Guajaraúna, Marborges, que conseguiu, sem maiores enfrenta- organização das 14 comunidades inseridas. Os três

10
SHANLEY, P. & ROSA, N.A. 2005. Conhecimento em erosão: um inventário etnobotânico na Fronteira em Exploração da Amazônia Oriental. Boletim Museu Emílio Goeldi, série Ciências
Naturais, Belém, v. 1, nº 1, jan-abr. 2005.
11
Quiandeua, Mamorana e Joíra, as três no município de Ipixuna.

292
minerodutos planejados e a Linha de Transmissão das condições de navegabilidade desse rio, além plantio de 50 castanheiras para cada uma que é ar-
atravessam seis dessas comunidades. O terceiro de alteração da qualidade das águas do rio e dos rancada, o que a empresa sustentou verbalmente
mineroduto foi instalado a partir de 2005 para o igarapés. A pesca desapareceu desses cursos mas até os dias atuais ainda não cumpriu.
transporte de bauxita. d’água. No tocante aos igarapés, verificam-se O balanço feito pelas comunidades é que houve
As 14 comunidades quilombolas são represen- modificações que os tornam inutilizáveis para uma diversidade de perdas materiais e imateriais.
tadas, legalmente, por 11 Associações de Rema- amolecer mandioca; já o uso das águas para con- Houve perdas de árvores (castanheiras, açaizeiros,
nescentes de Quilombos. Cinco delas receberam sumo ou tomar banho está relacionado com do- pupunheiras, abacateiros, ingazeiros ) com a der-
título coletivo, em 1998, e outras duas em no- enças gastrintestinais e dermatológicas. O mais rubada da mata para as obras de infra-estrutura. Os
vembro de 2006. O Conselho das Associações de preocupante é a redução das possibilidades de adultos que conheceram essa paisagem reconhe-
Remanescentes de Quilombo de Moju integra as obtenção de alimentos nas áreas impactadas pe- cem o fato dizendo: “perdemos as reservas de mata
associações acima mencionadas. los projetos. guardadas para os nossos filhos e netos”. A esse
Na narrativa das ações empreendidas pelos A CVRD, por meio das empresas terceirizadas, fato, soma-se a destruição de igarapés. No igarapé
quilombolas estão expostos os atos de resistência aprovou verbalmente e assinou acordos para mi- Itabocal ocorreu a morte de peixes, jacarés e tarta-
diante das irregularidades e violações de direito. nimizar alguns prejuízos. Como exemplos destes rugas, perda de animais, danos físicos em pessoas e
Estas iniciam pelo não-reconhecimento da iden- acordos, prometeu-se a instalação de água potável em setores onde foi enterrado o caulim derramado
tidade coletiva e dos direitos étnicos e territoriais por meio de carros-pipa durante certo período, pela ruptura do mineroduto de caulim.
que lhes são garantidos pela Constituição (Artigo o que, entretanto, foi desatendido, assim como a Houve uma cadeia de eventos que são pro-
68 ADCT/1988), pelo Decreto n.º 4887 de 2003, recuperação dos 33 km da Rodovia Quilombolas, duto de decisões por parte da empresa e de es-
e pelas Convenções Internacionais (Convenção que se torna intrafegável e causa prejuízos para o tratégias de pressão para que os quilombolas
169) assinadas pelo Brasil. transporte de pessoas e mercadorias da comuni- assinem contratos, aceitem acordos e indeniza-
Na lista de irregularidades está a própria Legis- dade para a sede municipal. Esse fato se agravou ções individuais. O tipo de pressão psicológica
lação Ambiental, no que se refere à realização da com a quebra de duas pontes. Em acordo assinado tem se exprimido e materializado de diversas
Audiência Pública para debater o EIA-RIMA do pela CVRD na presença do Ministério Público formas, gerando mal-estar e desentendimento
projeto “Mina de Bauxita”. Os atores sociais con- (22/02 - 19/10/), e reafirmado na Justiça de Casta- entre os quilombolas.
sideram que ocorreu sonegação de informações, e nhal, foi acertada a recuperação de rios, igarapés e Em matéria de políticas compensatórias, a
que os órgãos estaduais mantêm posições favorá- poços, bem como a reconstituição a partir de ter- CVRD vem elaborando acordos que não têm se
veis à CVRD. ra preta das áreas onde passam os minerodutos e a concretizado, têm experimentado demora, ou,
Conforme o Pe. Sergio Tonneti, da Comissão linha de transmissão. Entretanto, hoje se mencio- fora de qualquer possibilidade legal, levado ao re-
Pastoral da Terra – Região Guajarina, a insta- na que a área de passagem dos minerodutos não cuo ou à renúncia de sua parte. O exame dessas si-
lação dos minerodutos e da linha de transmis- poderá ser mais utilizada pelos quilombolas. O 5º tuações permite destacar a necessidade política de
são representa a perda de 20% do território das acordo foi informal, quando a CVRD necessitou estabelecer as relações entre a existência dos povos

produção de riquezas e modos de vida no campo


comunidades quilombolas (aproximadamente da retirada de água do rio Jambuaçu para limpar tradicionais, contestada por opções de desenvolvi-
2.400 hectares). Esse projeto tem implicações os tubos. Este processo duraria sete dias e todos mento que reproduzem a concentração de rique-
ambientais que começam com o assoreamento teriam água potável, no entanto se prolongou por zas, e a destruição das sociedades e dos ambientes
do rio Jambuaçu e seus afluentes. Existe perda mais de setenta dias. No EIA/RIMA é garantido o amazônicos.
FOTOS: Joseline Barreto Trindade (2006).

FOTO 1 - Ponte da rodovia Quilombola, à altura da comunidade de São Bernardino,


que quebrou em novembro de 2006.

FOTO 2 - Trabalhos preparatórios para passagem da linha de transmissão às proximi-


dades de Santa Maria de Traquateua.

293
COLÔNIAS E ASSENTAMENTOS RURAIS
colônias e assentamentos rurais
José Antônio Magalhães Marinho
produção de riquezas e modos de vida no campo

Ricardo Scoles Cano.

A
luta pela terra na área que de colonização do governo do Pará, por meio da Neste texto, elaborado com base em infor-
constitui os municípios de qual são criadas algumas colônias ao longo da ro- mações de campo1 (ver Mapa de Campanha de
Aurora do Pará, Ipixuna do dovia Belém-Brasília (Barbosa, 1990). A partir da Campo) e de fontes secundárias (documentos do
Pará, Paragominas, Ulianópolis e Tomé- década de 1980, por sua vez, evidencia-se através INCRA e literatura científica), focalizam-se, de
Açu intensificou-se a partir da segunda da ação do governo federal, viabilizada pelo Insti- maneira panorâmica, as experiências de coloniza-
metade do século passado, como conse- tuto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ção e criação de PA’s materializadas historicamente
qüência da expansão da frente pecuarista (INCRA), para a criação de Projetos de Assenta- na área de estudo. Aborda-se, assim, a colonização
e, mais tarde, da exploração madeireira. mentos (PA’s), sobretudo naqueles espaços mais dirigida pelo governo do Estado, privilegiando o
Como parte da estratégia de integração da conflituosos. Todavia, tanto num caso quanto no exemplo da colônia Uraim. Quanto às interven-
Amazônia ao resto do país, esse modelo de outro, as intervenções têm se mostrado pouco exi- ções do Governo federal a partir dos anos de 1980,
ocupação econômica estimula a concen- tosas, sobretudo quando se leva em consideração a destacam-se a importância da luta dos trabalhado-
tração fundiária e transforma a terra em continuidade de estruturas agrárias extremamente res rurais na criação dos PA’s, os efeitos desse pro-
mercadoria, tornando-a alvo de crescente concentradas e a não-fixação dos colonos à terra. cesso nas estruturas fundiárias municipais e uma
especulação e grilagem. Nesse processo, Anteriormente a essas intervenções, entretanto, síntese da realidade socioespacial desses projetos.
o Estado e o capital privado sempre se de- outras experiências de colonização, de certa ma- Entretanto, antes de se tratar dessas intervenções,
ram as mãos (Oliveira, 2001). O capital, neira menos influenciadas pelas políticas estadual algumas notas sobre o processo de colonização es-
no intuito de se reproduzir, busca a renda e federal, tomaram forma na área em apreço. Re- pontânea e a colonização japonesa em Tomé-Açu
da terra por meio da venda dos lotes dos fere-se, aqui, à colonização japonesa na bacia do são apresentadas.
camponeses, bem como pela manutenção rio Acará-Mirim (Tomé-Açu), iniciada em 1929,
da mão-de-obra “liberta” para atuar nos principalmente com apoio do governo japonês A COLONIZAÇÃO JAPONESA
seus projetos. O Estado tenta conter os (Barbosa, 1990), e à colonização espontânea que EM TOMÉ-AÇU
conflitos resultantes, criando projetos de fez surgir muitas colônias, sobretudo no vale dos
colonização, constituídos em “válvula de rios, desde o início do século passado. Essa colo- A implantação das colônias nipo-brasileiras em
escape” das tensões sociais. Assim, em vez nização espontânea, aliás, apesar de não resultar Tomé-Açu decorreu de interesse do governo do
de mudanças estruturais, tais intervenções de nenhuma política oficial, em maior ou menor Pará e do Estado japonês. Segundo Cunha e Neto
buscam, apenas, evitar a reforma agrária e intensidade termina sofrendo a interferência des- (1989), em 1923, o governo paraense envia uma
suprir de braços os empreendimentos do sas políticas, sobretudo quando as atividades in- petição ao embaixador do Japão no Rio de Janeiro,
capital na fronteira (Oliveira, 2001). centivadas oficialmente (a pecuária e a exploração solicitando imigração japonesa, disponibilizando,
Na área de estudo, esta dimensão con- madeireira) expandem-se rumo ao vale dos rios. para isso, 500.000 ha de terras na bacia do rio Ca-
traditória da expansão do capital vislum- Assim, como assinalam Hébette e Acevedo Marin pim. Interessado em incentivar empresários na
bra-se através das intervenções oficiais (2004), nesse caso o que diferencia a colonização busca de novos mercados, o Estado Japonês envia
em dois momentos. Nas décadas de 1960 dirigida da espontânea é a maior ou menor interfe- em 1924 uma missão para examinar a terra ofereci-
e 1970, manifesta-se mediante a política rência do Estado, não a sua completa ausência. da. Todavia, esta foi rejeitada, o que fez o governo

1
O trabalho de campo foi realizado nos meses de novembro e dezembro de 2005. Neste trabalho, foram feitas incursões a quatro PA’s: Manoel Crescêncio de Souza (Aurora do
Pará), João Batista, União I (Ipixuna do Pará) e Miritipitanga (Tomé-Açu). Visitaram-se também as colônias Uraim e São Sebastião em Paragominas e uma propriedade nipo-bra-
sileira em Tomé-Açu, dentre outras localidades.

294
paraense autorizar a procura de outras terras, sen- do-reino e maracujá) e depois são introduzidas es- das da metade do século (Acevedo Marin, 2005). A
do escolhida uma área no rio Acará (ver Mapa da pécies de banana, consorciadas com cupuaçu, cacau origem socioespacial desses povoados espalhados no
página 347), na qual o processo de colonização ini- (Theobroma cacao L.), açaí (Euterpeolerace Mart.), teka vale desse rio está vinculada às experiências de colo-
ciou-se em 1929, com a chegada de 189 migrantes (Tectona grandis), paricá (Schizolobium amazonicus nização de fins do século XIX e primeira metade do
japoneses (Cunha e Neto, 1980). Huber ex. Ducke) e mogno (Swietenia macrophylla) século XX. Este é o caso da colônia São Sebastião. A
(Foto 2). Isto possibilita diversas fontes de renda denominação contemporânea de colônia para esse
Segredos do êxito da colonização ao colono e ainda reduz gastos com o combate de povoado designa experiências percebidas por quem
O êxito da colonização japonesa em Tomé- pragas, diferente do monocultivo. vive em São Sebastião como diferentes às de Uraim,
Açu, segundo Barbosa (1990), associa-se a dois Assim, depois de mais de 70 anos de coloniza- identificada como um “assentamento”.
fatores: o acompanhamento da embaixada japo- ção, os colonos japoneses e/ ou seus descenden- Esta colônia se localiza em Paragominas, à mar-
nesa e a ênfase no cultivo de culturas perenes. tes vivem nas áreas originalmente ocupadas. Esta gem direita do rio Capim, e ocupa uma área de
Quanto ao primeiro fator, Cunha e aproximadamente 400 alqueires, na
Neto (1989) destacam que em 1928 FOTOS 1 e 2 - Cultivos desenvolvidos na propriedade do Sr. Takamatsu qual, em 2005, residiam cerca de 60
foi criada a Cia. Sul-Americana S.A. em Tomé-Açu. Acima (Foto 1), área com pimenta-do-reino (cultura de a 70 famílias (500 habitantes apro-
especialmente para coordenar o pro- entrada). Abaixo (Foto 2), área onde a pimenta já foi substituída pelo ca- ximadamente). Na experiência dos
cesso de colonização, isto com apoio cau, banana e espécies madeiráveis. colonos, identifica-se a memória de
do capital, da técnica e da mão-de- um antigo núcleo originário (sem
obra japonesa. Com isto, o colono periodização), desenvolvido em
japonês teve apoio técnico e finan- “terras sem donos”, ao qual se jun-
ceiro para que pudesse trabalhar e tou um grupo de migrantes oriun-
criar condições para se estabelecer na do de outras “colônias” e povoa-
colônia. dos do Capim (Nazaré, Pirajauara,
Este apoio também foi essencial Goiabla e Quiandeua) (Acevedo
para as atividades agrícolas, sendo o Marin, 2005). Assim, basicamente,
cultivo da pimenta-do-reino (Piper o conteúdo social da colônia é de
nigrum L.) o exemplo mais eviden- “capienses”, adjetivação que não se

FOTOS: Ricardo Scoles (2005).


te. Introduzida em 1947, esta cultura refere apenas à territorialidade, mas
passa a dominar as atividades agrícolas à história mais profunda dos rebel-
dos colonos, pelo menos nas três dé- des de São Domingos do Capim, a
cadas seguintes. Conforme Homma et fundo discutida por Gaia (2005).
al. (1995), os altos preços no mercado Uma das versões sobre a ocupa-

produção de riquezas e modos de vida no campo


internacional e a liberação de subsí- ção da colônia informa que as ter-
dios, sobretudo no final da década de ras foram cedidas pacificamente,
1970, contribuíram para expandir o sem conflitos, pelo madeireiro João
monocultivo da pimenta. Todavia, no Mendonça, proprietário de uma fa-
início dos anos de 1980, com a redu- zenda limítrofe. Outra explicação
ção dos subsídios e a queda dos pre- sugere que isto foi facilitado pela
ços, acompanhadas pela ação da do- posição dos colonos frente a um
ença Fusarium, o cultivo da pimenta conflito envolvendo Vicente Omar
estagna, mas continua sendo impor- Sérgio, fazendeiro que queria tomar
tante nas estratégias econômicas dos a área da colônia, e João Mendonça,
colonos nipo-brasileiros. fazendeiro que defendia a manuten-
ção dela, com o intuito de explorar
Diversificação dos cultivos e a mão-de-obra dos colonos. Nesta
novos rumos da atividade agrícola experiência de colonização, neste sentido, tem sido perspectiva, a permanência dos colonos na área
Em decorrência da estagnação da economia da exitosa, pois possibilitou a fixação do colono à terra, atrela-se aos interesses de João Mendonça que,
pimenta, de acordo com Homma et al. (1995), os em pequenas propriedades, geralmente inferiores a apesar de aproveitar-se da situação, aparece como
colonos nipo-brasileiros buscam novas alternativas 100 ha. Nessas propriedades, os colonos desenvol- “bom vizinho”.
econômicas e agrícolas, passando a investir cada vem atividades agrícolas diversificadas, por meio As condições sociais de existência dos colonos
vez mais na fruticultura. Conforme esses autores, de SAF’s, nos quais, apesar de usarem mão-de- são precárias. Na colônia há apenas uma escola de
à medida que a pimenta reduz sua importância re- obra familiar, contratam trabalhadores adicionais, ensino até a 4ª série. Não há posto de saúde, e so-
lativa, a fruticultura, representada pelo cultivo de inclusive estabelecendo com eles relações bastante mente um agente de saúde acompanha a comuni-
maracujá (Passiflora sp), cupuaçu (Theobroma gradi- assimétricas (na coleta do açaí, por exemplo, o tra- dade. A energia elétrica vem de um gerador que
florum) e acerola (Malpighia emarginata DC.), cres- balhador recebe R$ 0,10 por quilo coletado). São, pertence à comunidade. Não existe saneamento
ce, indicando uma progressiva diversificação das portanto, pequenos agricultores capitalizados. básico, a “fossa é o campo”. A água é retirada de
atividades agrícolas. córregos, alguns já poluídos por produtos quími-
Na prática, entretanto, o que se constata é uma A COLONIZAÇÃO ESPONTÂNEA: cos usados na lavoura das fazendas, caso do igarapé
complementaridade entre o cultivo da pimenta e O CASO DA “COLÔNIA SÃO SEBASTIÃO” Mucura, berço do processo de ocupação. Quanto
das outras espécies frutíferas. Em incursão à pro- aos meios de transporte terrestres, os mais usados
priedade de um colono nipo-brasileiro, localizada Paralelamente à expansão da frente pecuarista que (ônibus, “pau-de-arara”) são precários e servem à
às proximidades do núcleo de Quatro Bocas, isto se irradiava a partir da Belém-Brasília e da própria colônia somente duas vezes por semana.
ficou claro. Nesta propriedade, cuja extensão é colonização oficial dos anos de 1960 e 1970, ocorria A atividade produtiva mais importante é o cul-
de 25 ha, existem vários Sistemas Agro-Florestais um processo de colonização espontânea no vale dos tivo da mandioca (Manihot esculenta). Como diz
(SAF’s), nos quais se pratica uma rotatividade: pri- rios (Barbosa, 1990). No rio Capim, por exemplo, um colono: “o capiense sem mandioca é um pei-
meiro plantam-se as culturas de entrada (pimenta- esse processo é bem anterior à expansão das fazen- xe sem água, não vive”. O cultivo dessa cultura,

295
sem mecanização, geralmente é consorciado com TABELA 1 – Colônias assentadas pela SAGRI em Paragominas (1968-1977)
arroz (Oryza sativa L.) e milho (Zea mays), produ- Colônia Localização Área/ha Nº de Famílias
tos basicamente com valor de uso. Já da mandioca Paragominas Km 117 ao 130 23.259 930
produz-se a farinha que, além de consumida, é co-
produção de riquezas e modos de vida no campo

Uraim Km 160 3.855 154


mercializada: uma parte em Paragominas (R$ 1,00 Nipo-Brasileira Km 180 ao 215 16.800 672
o quilo) e outra com marreteiros que viajam para Rio do Ouro Km 279 ao 338 12.000 480
Belém pelo rio Capim. Água Suja Km 307 ao 325 12.100 484
Itinga Km 330 ao 338 9.375 375
A atividade agrícola enfrenta, entretanto, sérias
Total - 77.389 3.095
limitações associadas tanto à falta de assistência
FONTE: Barbosa, 1990.
técnica quanto de financiamento. Alguns colonos
chegaram, há uma década, a obter financiamento
do Fundo Constitucional de Financiamento do Paragominas (Tabela 1), e mais três colônias numa Dinâmica das atividades agropecuárias
Norte (FNO) para cultivar coco e banana, entre faixa então pertencente ao município de São Do- No início da década de 1970, os colonos de
outras culturas. Porém a falta de acompanhamento mingos do Capim, quais sejam: a) Mãe do Rio, lo- Uraim estavam abandonados e sofrendo com a
especializado e problemas na liberação do dinheiro calizada em terras hoje pertencentes aos municípios pressão dos supostos donos da terra. Preocupada
comprometeram os cultivos. O resultado foi o en- de Mãe do Rio e Aurora do Pará, b) Ipixuna, situada com a situação desses colonos, a igreja de Para-
dividamento de 14 agricultores, conforme se pôde em terras do atual município de Ipixuna do Pará, e c) gominas, com a colaboração de técnicos italianos,
apurar. Ímpar, também localizada neste último município. propôs um projeto de ajuda técnica para colônia
A atividade extrativa, em termos econômicos, Deste quadro, depreende-se que dos 210 km da Uraim. Através deste, os colonos que praticavam
é pouco representativa. Isto porque a floresta que BR-010 situados em Paragominas, em 138 km fo- apenas a agricultura tradicional de corte e queima,
resta é pobre em espécies madeiráveis de valor. Em ram assentados colonos. A área média por família começam a diversificar e intensificar seus sistemas
conseqüência, serve basicamente para a produção era de 25 ha e a população assentada nas colônias de produção, introduzindo o cultivo da pimenta-
de carvão, a qual, inclusive, começa a despertar foi de 15.475 habitantes (Barbosa, 1990). Todas do-reino e desenvolvendo a avicultura.
maior interesse, apesar de, em 2005, apenas qua- essas colônias, entretanto, foram absorvidas pelo Ao final desse projeto, em 1978, os colonos or-
tro colonos estarem envolvidos nessa atividade. O processo de expansão da pecuária, restando apenas ganizam-se criando uma caixa agrícola em 1979,
carvão de São Sebastião é vendido a atravessadores a colônia Uraim. Neste sentido, o que interessa entidade que se tornou fundamental na luta pela
que o comercializam nas fábricas de ferro gusa de saber é como essa colônia resistiu até hoje e como regularização fundiária e pela busca de ajuda oficial
Açailândia, no Maranhão. os colonos vêm reagindo ante a pressão da fazenda para dar continuidade às iniciativas implementadas
Enfim, a colônia de São Sebastião, apesar de e a influência da cidade de Paragominas, situada em parceria com a igreja. Esta luta dos colonos fez
ser um espaço de resistência dos “capienses”, que apenas 12 km a NE. com que na década de 1980, não apenas o cultivo
têm a “sua origem, seus princípios, sua fala dife- de pimenta se ampliasse, como outras culturas per-
rente, sua cultura que é difícil mudar” (Morador, Criação da colônia Uraim: manentes fossem introduzidas, a exemplo da serin-
52 anos), enfrenta sérios problemas. Estes, relacio- um processo conflituoso gueira (Hevea brasiliensis). Por conta da intensifica-
nados à falta de regularização da terra, à carência A colônia Uraim situa-se numa área a 12 km ção do cultivo de culturas permanentes em relação
de serviços e infra-estrutura em geral e, também, da cidade de Paragominas. O início de sua ocupa- às temporárias e da diversificação das estratégias
à falta de apoio às atividades produtivas e à comer- ção remonta ao começo dos anos de 1960, quan- econômicas, ao estudar Uraim nos anos de 1980,
cialização da produção. É, assim, mais uma colônia do chegaram os primeiros colonos oriundos da Costa (1997) atesta a viabilidade econômica e ecoló-
que está à margem das políticas públicas em geral. MRH-022 Guajarina, seguindo o curso do rio gica dos sistemas produtivos praticados na colônia,
Uraim (Barbosa, 1990). Em 1967, o governo do concebendo-a como uma espécie de modelo bem-
COLONIZAÇÃO DIRIGIDA PELO Estado cassou o título da área, aproveitando para sucedido de agricultura camponesa na Amazônia.
GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ NAS assentar famílias de colonos, com vistas à produ-
DÉCADAS DE 1960 E 1970 ção de alimentos para abastecer a cidade vizinha Mudanças e a nova realidade na
(Barbosa, 1990). Todavia, não providenciou a anu- colônia Uraim
O Estado do Pará, conforme Barbosa (1990), lação do registro do título no Cartório de Registro A realidade atual de Uraim revela, entretanto,
começou a regularizar a alienação de suas terras, de Imóveis, na comarca de São Miguel do Guamá. sensíveis alterações em relação à década de 1980.
por meio do decreto nº 410 de 08.10.1981. Este Em conseqüência, o interventor de Paragominas, Do ponto vista fundiário, houve uma grande re-
documento, que disciplina a reavaliação de sesma- Amílcar Tocantins, entrou em conflito com a fa- dução da área da colônia. Em função da constante
rias e outras concessões do governo, dispõe sobre mília Leão, que buscou recuperar a área. Nesse li- venda de lotes, no final de 2005, apenas 16 colonos
o papel do Estado na política de colonização, atri- tígio, Afonso Leão é morto e o interventor local é ainda detinham suas propriedades. Toniolo e Uhl
buindo a este apenas a responsabilidade burocráti- baleado. Este é substituído por Altamirando Gus- (1996), no início dos anos de 1990, indicam que
co-administrativa do assentamento. Neste sentido, mão Macedo que, em colaboração com a SAGRI, esse processo já se vislumbrava através da crescen-
etapas como acompanhamento, programas agro- instala a colônia em 4 de maio de 1969, com 150 te transação de terra com agricultores vizinhos (fa-
ecológicos voltados à colonização, infra-estrutura famílias assentadas (Barbosa, 1990). zendeiros) e agentes urbanos, ligados ao comércio
e apoio ao escoamento e à comercialização da pro- Todavia, em função de os colonos recém-as- e à indústria da madeira.
dução ficam fora dessa política (Costa, 1981; Bar- sentados terem sido abandonados à própria sorte, Quanto às atividades produtivas, o que se per-
bosa, 1990). Daí tal modelo de colonização não ter como era recorrente nas colônias criadas pelo Es- cebe entre os colonos é, basicamente, a prática de
alcançado nenhum êxito, pois o colono, exposto à tado, permitiu-se que a família Leão continuasse uma pequena pecuária, ao lado de uma modesta
própria sorte, apenas servia de desbravador de áreas a intimidar os colonos, inclusive comprando seus silvicultura de seringa e do cultivo de hortaliças.
logo incorporadas pelas grandes propriedades lotes (Barbosa, 1990). Neste quadro de abandono Na pecuária, sobressai a criação de gado leiteiro,
(Costa, 1981; Barbosa, 1990). do Estado e da pressão exercida pela fazenda, os cujo rebanho local gira em torno de 200 animais.
Na década de 1960, com a construção da Belém- colonos começam uma fase de êxodo, o que redu- A silvicultura, por sua vez, é desenvolvida nos 16
Brasília, o governo federal delegou ao governo para- ziu drasticamente a população da colônia Uraim. lotes, sendo o látex comprado uma vez ao mês por
ense o papel de colonizar os 370 km de área do Es- Aqueles que ficaram somente conquistam definiti- um dos colonos que o comercializa em Santa Izabel
tado desapropriados ao longo da rodovia (Barbosa, vamente a terra em 1981, com a desapropriação da do Pará. O cultivo de hortaliça, como jiló (Solanum
1990). Nessa área, o Estado instalou seis colônias em área e a instalação de 106 famílias (Barbosa, 1990). gilo), cheiro-verde, alface (Lactuca sativa), couves,

296
maxixe (Cucumis anguria L.) e quiabo (Abelmoschus dos segmentos sociais camponeses é um dos prin- res rurais assassinados na mata durante a fase de
esculentus), envolve seis colonos, os quais negociam cipais elementos que marca a criação dos PA’s nos intensificação dos conflitos. Em entrevista no PA
a produção na cidade de Paragominas, geralmente últimos 25 anos. João Batista, um assentado lembra que no início
aos sábados. Informações obtidas in loco indicam Nesta luta, esses trabalhadores rurais têm usado da ocupação a polícia, acompanhada de homens
que o cultivo da mandioca praticamente desapa- estratégias diversificadas. Na área de estudo, desta- contratados pelo “proprietário” da terra, destruiu a
receu, assim como as culturas perenes que tanto ca-se uma espécie de “resistência na terra”, enten- maioria das casas e toda a lavoura que fornecia sus-
marcaram a colônia nos anos de 1980. Tentativas dida como a luta desses trabalhadores para perma- tento para as famílias acampadas. Neste contexto
de incrementar o cultivo de outras culturas (laran- necer na terra onde trabalham e/ou moram contra é que a violência torna-se o principal instrumento
ja, coco) nos anos de 1990 não obtiveram êxito, a vontade de proprietários ou supostos proprietá- de coerção dos segmentos camponeses (Almeida,
por conta da precária assistência técnica, levando rios (Leite et al., 2004). Isto é o que se observa, por 1997), não raro com o patrocínio oficial, em defesa
os colonos a contraírem dívidas. exemplo, nos PA’s Manoel Crescêncio de Souza da propriedade privada, a qual, no caso, significava
Atualmente, a colônia também convive com (Aurora do Pará), União I e João Batista (Ipixuna a manutenção de latifúndios improdutivos.
problemas ambientais. O caso mais evidente é do Pará), Miritipitanga e Tropicália (Tomé-Açu).
observado no próprio rio Uraim, afluente do rio Nesses assentamentos, a ocupação remonta à dé- DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS PA’S,
Capim, que dá nome à colônia. Esse rio, que no cada de 1960. EFEITOS NAS ESTRUTURAS FUNDIÁRIAS
início da ocupação da área servia como principal Nesses casos, os conflitos que eclodiram, so- LOCAIS E ASPECTOS DEMOGRÁFICOS
meio de circulação, hoje está morrendo, devido ao bretudo a partir de 1970, derivaram, principal-
assoreamento em função da retirada da mata ci- mente, da transferência ilegal de terras já ocupadas A criação de PA’s nos municípios estudados ini-
liar, processos articulados diretamente ao desma- por trabalhadores rurais para fazendeiros e madei- cia-se em 1986, com a implantação do PA Manoel
tamento das florestas da colônia. O desmatamento reiros. Os conflitos decorreram do fato de esses Crescêncio de Souza (Aurora do Pará). Daí em
tende, cada vez mais, a aumentar a lixiviação e, trabalhadores se recusarem a abandonar as terras diante, esse processo se intensificou, de maneira
conseqüentemente, a intensificar o assoreamento onde já trabalhavam, muitas vezes, há décadas. A que hoje, na área estudada, existem 29 PA’s, distri-
do rio, agravando ainda mais a situação. luta para garantir esse direito constituiu o principal buídos da seguinte maneira: 5 em Aurora do Pará,
Desse modo, a colônia Uraim, apesar de ter combustível da resistência dos trabalhadores rurais 10 em Ipixuna do Pará, 7 em Paragominas, 5 em
apresentado mudanças nos anos de 1980 que a contra os desmandos dos supostos proprietários. Ulianópolis e 2 em Tomé-Açu (Tabela 3). A maior
projetaram como exemplo de viabilidade da agri- Em outros casos, os documentos analisados parte dos PA’s encontra-se no Mapa de Projetos de
cultura camponesa na Amazônia, encaminha-se indicam que as ocupações2 que estão na raiz dos Assentamento. Apesar desse razoável número de
para o mesmo destino das outras colônias criadas PA’s ocorreram, sobretudo, a partir de 1980. Es- projetos, seus efeitos, no que se refere à descon-
pelo Estado. Isto devido ao abandono do colono tas se deram em fazendas cujas terras constituíam centração da terra, são ainda bastante discretos.
e à crescente pressão da fazenda e da cidade, na latifúndios improdutivos. Todavia, essa estratégia Como se percebe na Tabela 2, no geral as áreas
qual, inclusive, muitos colonos sem terra procu- de luta não foi (e não vem sendo) articulada por municipais destinadas aos PA’s são muito peque-

produção de riquezas e modos de vida no campo


ram ocupação. Deste modo, mais uma vez, não se um movimento hegemônico, como o MST (Mo- nas. Isto se observa principalmente nos casos de
criaram condições para que o colono se fixasse à vimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra). Aurora do Pará, Paragominas e Tomé-Açu, nos
terra, restando-lhe somente o velho papel de des- Pelo contrário, conforme se constatou em campo, quais os assentamentos abrangem 1,8%, 3,2% e
bravador de mata para os fazendeiros e, no caso, essas ocupações estiveram mais vinculadas à atua- 1,6% das áreas municipais, respectivamente. Si-
também para agentes urbanos. ção de vários sindicatos de trabalhadores rurais e, tuação um pouco diferente verifica-se em Ipixuna
também, à ação de algum político (PA João Batista, do Pará, onde 12,9% da área municipal é ocupada
A CRIAÇÃO DE PA’S E A LUTA DOS por exemplo) ou agente ligado à igreja. por assentamentos, e Ulianópolis, que tem 14,1%
TRABALHADORES RURAIS A PARTIR Todavia, tanto num caso quanto no outro, os de sua área transformada nesses projetos. Todavia,
DOS ANOS DE 1980 conflitos têm tomado feições violentas. Violên- mesmo levando em conta esses dois últimos casos,
cia que não se restringe à morte de trabalhadores verifica-se que, em relação à área total dos muni-
O Brasil vivencia, a partir de 1980, um processo rurais, como nos PA’s Águia, Surubiju e Manoel cípios estudados, a somatória das áreas dos PA’s re-
de intensificação da criação de PA’s. Segundo Leite Crescêncio de Souza, mas à pressão exercida pe- presenta apenas 4,6%.
et al. (2004), na base desse processo estão os con- los supostos donos das propriedades, materializada Em face desses dados, constata-se que a cria-
flitos agrários decorrentes da política de moderni- por meio da pistolagem e, não raro, da força poli- ção desses projetos tem promovido efeitos mui-
zação da agricultura (modernização do latifúndio) cial. Segundo uma liderança local, neste último PA to modestos nas estruturas fundiárias municipais,
iniciada nos anos de 1960 e da herança histórica de até pouco tempo achavam-se ossos de trabalhado- sendo estas predominantemente concentradas.
estruturas fundiárias concentradas. Nesta perspec-
tiva, esses conflitos decorrentes das mobilizações TABELA 2 – Percentuais das áreas de PA’s nas áreas dos municípios
sociais, sobretudo a partir de meados da década de
Áreas Municipais % das Áreas de PA’s nas
1980, forçam as desapropriações, as quais, apesar Municípios Área dos PA’s (Km²)
(Km²) Áreas Municipais
de não sistemáticas e planejadas, tornam-se mais Aurora do Pará 18.242,79 342,4899 1,8
freqüentes (Leite et al., 2004). Em conseqüência, Ipixuna do Pará 5.285,239 685,5698 12,9
surgem verdadeiras áreas reformadas no Brasil, Paragominas 19.395,69 636,819 3,2
contrapondo-se aos pequenos enclaves criados e Ulianópolis 5.103,669 719,6726 14,1
Tomé-Açu 5.179,269 87,12 1,6
geridos pelo Estado que, muitas vezes, desapare-
Total 53.206,66 2.471,671 4,6
ciam pela sua ineficácia ou pela dinâmica da socie-
FONTE: SIPRA (INCRA/ 2006).
dade envolvente (Leite et al., 2004). Assim, a luta ELABORAÇÃO: José Antônio Marinho (2006).

2
Estas entendidas como “as ocupações massivas e públicas de terras, que se tornaram freqüentes e consolidaram sua denominação nos últimos 15 anos a partir de um estímulo da ação do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra [...]), mas que no entanto se ampliaram para outros movimentos de luta pela terra ou mesmo o movimento sindical” (Leite et al.,
2004, p. 43).

297
produção de riquezas e modos de vida no campo

Em Ipixuna do Pará, por exemplo, de acordo com siderados existem 4.659 famílias assentadas. Para- controle sobre essas negociações, determinadas fa-
o Censo Agropecuário de 1995/96 (IBGE), os 11 gominas e Ipixuna do Pará apresentam os maiores mílias vendem seus lotes para outros assentados e
estabelecimentos com mais de 5.000 ha ocupavam percentuais de famílias assentadas, 37% e 31%, res- saem do assentamento. Com isto, além de promo-
51,69% da área total dos estabelecimentos muni- pectivamente. Tomé-Açu é o município que apre- ver uma espécie de reconcentração fundiária den-
cipais. O mesmo acontecendo com Paragominas, senta a menor participação relativa, apenas 3%. Esta tro do próprio assentamento (Abelém; Hébette,
onde os 16 estabelecimentos da mesma categoria porcentagem apresenta correspondência com as áre- 1998), a quantidade de assentados se altera. Assim,
abrangem 55,81% da área total dos estabelecimentos as dedicadas aos PA’s em cada município, sendo a ex- tendo em vista que essas transações são recorren-
considerados. Fato similar ocorre em Ulianópolis e, ceção Ulianópolis, que apresenta a maior área ocu- tes e os próprios dados oficiais limitados, indica-se
em menor escala, em Aurora do Pará e Tomé-Açu. pada por esses projetos (719,6726 km²), mas abriga aqui apenas uma idéia aproximada do real número
Ou seja, pelos percentuais apresentados, a criação dos apenas 13% das famílias assentadas (ver Quadro 3). de famílias assentadas.
PA’s tem contribuído muito pouco para alterar essas Todavia, esses percentuais devem ser tomados
estruturas fundiárias concentradas. com bastante cautela, em função da dinâmica popu- Estratégias econômicas e condições
Quanto ao aspecto demográfico, torna-se extre- lacional dentro dos PA’s. Esta envolve recorrentes sociais de existência dos assentados
mamente difícil fazer qualquer análise mais segura. situações de saída e, às vezes, entrada de famílias, o As estratégias econômicas dos assentados asso-
Uma síntese da listagem do INCRA de 2006 sobre que está associado, principalmente, à comerciali- ciam-se ao desenvolvimento da atividade agríco-
essa questão mostra que nos cinco municípios con- zação de lotes. Como o INCRA não tem nenhum la, pecuária e extrativa. A agricultura é a atividade

298
mais importante em termos de consumo e de ren-
da. Baseia-se, predominantemente, no sistema de
corte e queima e tem na produção de mandioca
para farinha e de pimenta-do-reino as práticas que QUADRO 01 – Situação das atividades agropecuárias nos Assentamentos
se destacam. No entanto, a ação dos atravessadores Atividades Caracterização geral
reduz os ganhos e impede o crescimento da pro- - Ramo mais importante em termos de consumo e renda;
dução. A pecuária ocupa lugar secundário, mas, - Culturas temporárias: milho, arroz, feijão (Vigna ungula-
ta) e mandioca;
atualmente, vem apresentando grande dinamismo,
- Culturas permanentes: caju (Anacardium occidentalis), ma-
devido à liberação de parte importante de crédi- racujá e pimenta-do-reino;
to do PRONAF-A para a atividade, gerando certa - Pouca mecanização e uso de insumos em ambos os casos;
Agricultura
“pecuarização” nos PA’s. O extrativismo, por sua - Mão-de-obra predominantemente familiar;
vez, é uma atividade pouco expressiva, devido à si- - Venda de farinha e pimenta-do-reino é economicamente
mais importante;
tuação geral de degradação das áreas de PA’s. No
- A comercialização é feita predominantemente com atra-
extrativismo vegetal, a extração de madeira, sobre- vessadores;
tudo para a produção de carvão vegetal, é a ativi- - Problemas ambientais: esgotamento dos solos cultivados;
dade mais significativa, todavia, em contrapartida, - Pequenos plantéis de bovinos (10 a 30 animais), caprinos,
agrava a situação do já avançado desflorestamento suínos e aves;
das poucas áreas florestais que ainda restam. Es- - Maior parte da criação é para o autoconsumo;
Pecuária
- Venda de gado de corte é pequena, a produção de leite é
quematicamente, a situação das atividades agrope-
mais importante;
cuárias é resumida no Quadro 1. - Ramo bastante beneficiado pelo crédito do PRONAF-A;
Quanto à situação social dos assentados, em vá- - Setor de menor importância para os assentados;
rios aspectos, o quadro é precário. A análise de 12 - Extrativismo vegetal: coleta de açaí e extração madeireira;
diagnósticos do INCRA, feitos entre 2000 e 2004, - Extrativismo animal: pouca caça e pouco peixe;
mais as observações de campo permitem afirmar Extrativismo - Atividade mais importante: extração de madeira para pro-
dução de carvão;
que, nos PA’s, as casas, apesar do Crédito Habi-
- Problemas ambientais: desmatamento e poluição do ar
tação, continuam ainda predominantemente de (carvão).
madeira e taipa. O saneamento básico e a eletri- FONTE: Diagnósticos do INCRA (2000, 2001, 2002, 2003, 2004) e trabalhos de campo (2005).
ficação rural simplesmente não existem. As estra- ELABORAÇÃO: José Antônio Marinho (2006).
das vicinais são de chão batido e o transporte que
atende aos assentados é precário e insuficiente. No
âmbito da saúde, raros são os PA’s (Paragonorte,

produção de riquezas e modos de vida no campo


Águia) que têm posto de saúde. Por fim, deve-se QUADRO 02 – Situação social de existência dos assentados
salientar que, apesar de na grande maioria dos pro- Habitação e serviços Condições Gerais
jetos existir pelo menos uma escola de 1ª a 4ª ou - Predomínio de casas de madeira e taipa;
5ª séries, estas funcionam em precárias condições - Casas de alvenaria são minorias;
Casas
físicas, convivendo com limitações derivadas da - Acesso ao Crédito Habitação limitado (falta de documen-
tos dos assentados);
insuficiência de material didático e merenda esco-
- Latrinas e esgoto a céu aberto;
lar. Uma síntese dessas condições é apresentada no
- Água captada de poços amazonas (boca aberta), rios e iga-
Quadro 2. Saneamento básico rapés;
- Serviço de tratamento e distribuição de água praticamente
CONCLUSÕES inexistente;
- Poucos PA’s são atendidos por rede de eletrificação rural;
Como se evidenciou no começo do trabalho, a
Iluminação - Predomínio do uso de geradores, lampião a gás e lampa-
política de colonização do governo do Pará para a rina;
área de estudo simplesmente se limitou a assentar - Estradas vicinais de chão batido em situação precária;
os colonos, abandonando-os à própria sorte, o que - Meios de transportes: ônibus e pau-de-arara;
Transportes
resultou na desestruturação das colônias e na rápi- - Linha de condução apenas duas ou três vezes por semana;
da incorporação das áreas colonizadas pela expan- - Passageiros e produção são transportados juntos;
são agropecuária. A colônia Uraim, inicialmente, - Atendimento feito predominantemente por agentes de
saúde;
resistiu a esse processo, por conta de ajuda externa
Saúde - Carência de Posto de Saúde e medicamentos;
e da organização dos colonos, mas, atualmente,
- Enfermidades mais graves são tratadas somente nas ci-
encontra-se deformada, sob a constante influência dades;
da fazenda e da cidade. A partir dos anos de 1980, - Predomínio de escolas de 1ª a 4ª ou 5ª séries;
com a criação de PA’s pelo INCRA, num contex- - Várias escolas funcionam em estruturas precárias (taipa);
Educação
to de intensos conflitos pela terra, aparentemente - Problemas com fornecimento de merenda escolar e ma-
terial didático.
inaugura-se uma nova fase nas intervenções ofi-
FONTE: Diagnósticos do INCRA (2000, 2001, 2002, 2003, 2004) e trabalhos de campo (2005).
ciais. Isto porque acena com a possibilidade não ELABORAÇÃO: José Antônio Marinho (2006).
apenas de acesso à terra, mas de acompanhamento
dos assentados, com financiamentos especiais
(PRONAF-A e Crédito Habitação) e assistência
técnica. Todavia, na prática verifica-se que a cria- os assentados. Isto faz com que esses clientes da tiva política de assistência aos agricultores, como
ção desses projetos não tem contribuído para re- “reforma agrária” convivam com carências e pro- ocorreu inicialmente nas colônias nipo-brasileiras,
estruturar as concentradas estruturas fundiárias blemas similares àqueles encontrados nas colônias, esses agentes sociais, apesar da luta que vêm tra-
municipais e muito menos vem conseguindo ma- inclusive nas colônias espontâneas, as mais esque- vando, tendem sempre a constituir mão-de-obra
terializar efetivamente as prerrogativas que pode- cidas pelas políticas públicas. Assim, enquanto o barata e a desenvolver o papel de desbravador para
riam engendrar melhores condições de vida para acesso à terra não for acompanhado de uma efe- a expansão das frentes agropecuárias.

299
TABELA 3 - DEMONSTRATIVO DOS PROJETOS DE ASSENTAMENTOS DO INCRA
produção de riquezas e modos de vida no campo

AURORA DO PARÁ

Ato de criação
Nome Extensão (Ha) Núm de famílias Capacidade máx.
nº Data
Esperança 2.854,8630 68 68 49 23/10/03
Imperassu 1.842, 4540 70 71 82 08/10/99
Manoel C. Souza 17.398,800 364 465 917 26/11/86
São Pedro 8.699,1836 185 261 835 24/09/87
Três Irmãos 3.453,000 48 64 32 15/12/01
Total 34.248,99 735 929

IPIXUNA DO PARÁ

Ato de criação
Nome Extensão (Ha) Núm de famílias Capacidade máx.
nº Data
Diamantina II 2.177,9370 65 65 26 14/07/05
Bacabal (2) 2.549,2070 14 35 48 23/10/03
Barcelona 1.760,4000 34 35 242 24/09/92
Bom Jesus 7.466,8000 57 120 103 12/08/93
Candiru (3) 9.951,0000 199 200 75 30/10/97
Enalco 14.315,8669 389 390 135 28/12/98
João Batista 3.042,6300 75 76 24 29/04/93
Minas Pará 10.432,6300 280 288 11 05/02/96
Progresso (2) 3.302,6780 101 88 52 23/10/03
União I 13.557,8330 248 406 812 17/09/87
Total 68.556,98 1.462 1.703

PARAGOMINAS

Ato de criação
Nome Extensão (Ha) Núm de famílias Capacidade máx.
nº Data
Colônia Reunidas 4.355,9700 86 103 281 31/03/87
Camapuã 6.951,9400 31 110 92 24/12/96
Del Rey (4) 7.922,0000 118 156 60 25/08/97
Paragonorte 32.095,0000 1.205 1.177 09 26/02/98
Rio das Cruzes 3.921,7970 75 44 50 23/10/03
Alta Floresta 4036,5579 105 108 27 14/07/05
Mandacaru(6) 4.398,6338 103 107 28 14/07/05
Total 63.681,90 1.723 1.805

TOME AÇU

Ato de criação
Nome Extensão (Ha) Núm de famílias Capacidade máx.
nº Data
Miritipitanga (5) 4.356,000 85 106 205 02/09/92
Tropicália 4.356,000 62 60 75 03/10/95
Total 8.712,000 147 166

ULIANÓPOLIS

Ato de criação
Nome Extensão (Ha) Núm de famílias Capacidade máx.
nº Data
Suçuarana 4.142,2587 72 111 34 18/10/05
Águia 8.740,0000 122 150 59 25/08/97
Floresta Gurupi I 41.897,0000 224 521 58 25/08/97
Paragominas/Faiscão 13.068,0000 167 170 241 24/09/92
Surubiju 4.120,0000 7 40 302 12/11/92
Total 71.967,26 592 992
Notas: com área também em Capitão Poço (1), Paragominas (2), Aurora do Pará (3), N.E. do Piriá e Ipixuna do Pará (4), São Domingos do Capim (5), Ipixuna do Pará (6)
FONTE: SIPRA, INCRA (2006)
ELABORAÇÃO: José Antônio Marinho (2006).

300
ESPAÇOS
URBANOS
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS URBANOS
introdução aos estudos urbanos
Ana Cláudia Duarte Cardoso • José Júlio Ferreira Lima
Estêvão José da Silva Barbosa
espaços urbanos

O
s estudos sobre espaço ur- De acordo com as questões acima levantadas, IBGE é que ela exclui as localidades menores, in-
bano realizados no pre- estruturou-se o texto aqui apresentado da seguinte seridas em amplos setores censitários rurais – fato
sente Atlas tiveram por forma: 1) Introdução, mostrando-se a pesquisa em que impede uma visualização espacial mais ampla
objetivo a análise socioambiental das linhas gerais e as definições utilizadas para a distinção das frentes urbanas. Vistos a partir da localização,
principais cidades da área de estudo. Fo- das localidades em cidades, vilas e povoados; 2) Ur- os domicílios são considerados, pelo IBGE, como
ram selecionadas, para estudos em deta- banização da Área de Estudo, discutindo-se os urbanos quando estão localizados na sede munici-
lhe, as sedes municipais de Paragominas, aspectos gerais de produção e organização do espaço pal, enquanto o resto dos domicílios se apresenta
Ulianópolis, Ipixuna do Pará, Aurora do regional amazônico que incidem sobre o tempo de em situação rural.
Pará e Tomé-Açu. Também foram feitas formação de áreas urbanas e influenciam, a partir A classificação utilizada pela Fundação Nacio-
considerações sobre a cidade de Quatro de dinâmicas mais gerais, a localização e a expansão nal de Saúde (FUNASA),1 e que atende a objetivos
Bocas, que forma, com Tomé-Açu, uma dos assentamentos; 3) Áreas Urbanas e os Sítios de controle epidemiológico, é menos restritiva que
área urbana binuclear. A problemática das Cidades, em que são mostrados aspectos refe- a anterior, uma vez que atinge – ou busca atingir
central da pesquisa envolveu duas ques- rentes à localização, à configuração e aos limites das – todas as localidades, independentemente da situ-
tões básicas: 1) Qual a estrutura da ur- áreas urbanas, e as características físicas dos terrenos ação de domicílio dos imóveis (rurais ou urbanos).
banização da área de estudo, levando-se onde as cidades foram instaladas; 4) Organização Para a FUNASA, a cidade é, também, a sede do
em consideração a distribuição e o con- Intra-urbana, que diz respeito à análise dos pa- município. Porém, este órgão avança no que diz
texto geográfico das localidades? 2) Qual drões de formação e disposição das malhas urbanas, respeito à definição das vilas, entendidas como
a estrutura espacial interna a cada cida- e, por conseguinte, de ocupação e de uso do solo aglomerações que contêm equipamentos públicos
de estudada, e quais problemas e áreas no espaço urbano; e, por fim, 5) Problemas So- (hospitais, escolas, delegacias etc). A inexistência
críticas do ponto de vista socioambiental cioambientais Urbanos, que finaliza a pesquisa de equipamentos públicos define uma localidade
elas apresentam? ao discutir a realidade ambiental das cidades, o que como um povoado. Ao mesmo tempo, esta classi-
A primeira questão possui um caráter foi feito a partir da visualização dos problemas e das ficação discrimina todos os estabelecimentos rurais
mais geral, enfocando a estrutura urbana da áreas ambientais críticas, sem deixar de considerar (fazendas, sítios, serrarias, assentamentos rurais
área de estudo como um todo e em escala aspectos referentes à organização intra-urbana, à le- etc.), além de trazer, em alguns casos, um detalha-
sub-regional (microrregiões). Neste caso, gislação e ao planejamento espacial. mento por setores e/ou bairros, o que implica uma
foram analisados fatores como (1) a distri- contagem mais detalhada da população, mas que
buição, a localização e as interações existen- ELEMENTOS DE REFERÊNCIA: depende, em última análise, da abrangência das
tes entre as localidades, (2) a distribuição e o CIDADES, VILAS E POVOADOS equipes municipais de controle epidemiológico.
contingente das populações urbana e rural, Ambas as classificações (IBGE e FUNASA)
e (3) o conjunto das relações campo-cidade, Faz-se necessário, inicialmente, estabelecer ele- têm a desvantagem de amarrar as noções de cida-
vistos a partir de fenômenos espaciais que se mentos de referência para a distinção das diversas de e de urbano às sedes municipais, deixando de
apresentam em escalas e períodos diversos. localidades, o que remete às definições de cidade, fora, muitas vezes, localidades importantes, cuja
Quanto à segunda questão, foram analisa- vila e povoado. Tais definições variam de acordo forma e organização espacial indicam uma área
dos aspectos relacionados às características com os órgãos de administração, planejamento e/ urbana em formação – realidade comum no inte-
físico-ambientais dos sítios (terrenos) nos ou pesquisa, de um lado, e com a literatura cientí- rior da Amazônia. Neste sentido, defende-se que
quais foram instaladas as principais cidades fica sobre espaço urbano, de outro. Optou-se pela a consideração de áreas urbanas em formação é
da área de estudo, e os padrões de ocupação revisão às classificações brasileiras – existem outras importante para a condução de políticas públicas e
e de uso do solo que respondem pela for- que atendem a realidades nacionais diversas – do investimentos em serviços, equipamentos e redes
mação e configuração intra-urbana. IBGE e da FUNASA, haja vista ser ampla a lite- de infra-estrutura visando à melhoria das condi-
A metodologia empregada constou das ratura científica que aborda o assunto. Seja como ções de vida da população de baixa renda que reside
seguintes etapas: levantamento bibliográ- for, trata-se de matéria polêmica, sujeita a opiniões nas cidades que surgem ou que estão surgindo em
fico; levantamento documental; trabalho e critérios diversos, principalmente quando o que regiões de fronteira econômica, tal como é a maior
de campo; sistematização e interpretação está em questão é a urbanidade das pequenas cida- parte da Amazônia (Cardoso; Negrão, 2006).
de dados; produção cartográfica. Assim des (ver Box 1). Com isso, podem ser evitados problemas futuros
sendo, foram realizadas atividades de la- Para o IBGE – cuja classificação atende a fins relacionados a uma condição habitacional perifé-
boratório, visitas a instituições de ensino, censitários –, cidade é definida como a sede polí- rica que hoje se manifesta em diversas cidades por
pesquisa e administração pública (da ca- tico-administrativa de um município, vila é a sede meio de problemas como a dificuldade de acesso
pital e do interior), e trabalhos de cam- de um distrito à parte da “cidade”, enquanto as de- à terra, carência de infra-estrutura e serviços bási-
po, sendo estes últimos realizados em dez mais localidades com algum contingente popula- cos, e instalação de assentamentos informais em
campanhas ao longo do período que vai cional significativo são chamadas de “aglomerados locais inadequados do ponto de vista ambiental
de janeiro de 2005 até maio de 2006. rurais isolados”. O problema desta classificação do e/ou fundiário.

1
No Estado do Pará, o trabalho de controle epidemiológico feito pela FUNASA atualmente se encontra sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Saúde (SESPA). Para
maiores detalhes, ver o item “Análise das Condições Públicas de Saúde” deste Atlas.

304
Foi necessário definir cidade, vila e povoado de influenciam, em maior ou menor intensidade, par- (mil) habitantes. Segundo, as cidades correspon-
acordo com a realidade espacial da área de estudo celas do espaço, seja pela concentração de comércio dem às sedes municipais, até mesmo pelo fato de
tomada por esta pesquisa. Primeiro, sugere-se a uti- – geralmente instalado em um trecho da via princi- estas serem assim reconhecidas pela população lo-
lização do termo vila para as localidades que o IBGE pal –, ou pela presença de equipamentos públicos cal. E, por fim, há uma série de localidades menores
destaca como setores censitários em situação de do- como escolas, unidades de saúde etc., além, é claro, que, infelizmente, não puderam ser mais bem deta-
micílio rural, isto é, são aglomerados rurais isolados do fato de constituírem pontos de encontro da po- lhadas pela insuficiência de dados sobre o número
(ver Mapa de Localidades – Área de Estudo, e Ma- pulação (núcleos populacionais). O contingente hu- de população residente, ou mesmo informações de
pas de Setores Censitários – Referências Gerais dos mano das vilas, entendidas como áreas urbanas em campo. Constituem, então, povoados diversos em
Mapas). Isto se justifica pelo fato de que estas vilas formação, é variado, podendo ser superior a 1000 área e contingente populacional.

BOX 1
A URBANIDADE DAS a ser tratada regionalmente, dada a diversidade e a É difícil estabelecer critérios quantitativos para
PEQUENAS CIDADES desigualdade geográfica. uma classificação adequada da urbanidade de um
Nos Estados Unidos, adota-se o critério demo- assentamento humano. A diferença entre uma ci-
Muito tem se criticado a falta de critérios de- gráfico: é feita a distinção entre city e town, sendo dade e um povoado rural não está necessariamen-
mográficos para a criação de novos municípios no considerados cities os aglomerados com população te no número de habitantes, mas em suas funções
Brasil, que possibilitou, na década de 1990, um au- superior a 10.000 habitantes e towns, os aglomera- e no que faz e como vive sua população. No Bra-
mento de mais de mil novos municípios, a maioria dos com população entre 2.500 e 9.999 habitan- sil, 75% dos municípios têm até 20 mil habitantes.
com menos de 10 mil habitantes. Um dos argu- tes. A classificação francesa adota um critério um Negar a urbanidade desses municípios indiscri-
mentos, além da questão da insustentabilidade fi- pouco mais funcional, o número de empregos ge- minadamente é negar a urbanidade de boa parte
nanceira, é que isso implica a superestimação da rados, considerando como pólos urbanos os que dessa população. Hoje muitas cidades pequenas,

espaços urbanos
taxa de urbanização brasileira, na medida em que oferecem pelos menos 5 mil empregos, o que che- até mesmo com menos de 10 mil habitantes, es-
a população de aglomerações rurais estaria sendo garia a uma população mínima entre 8 mil e 10 tão passando por problemas típicos de cidades de
computada como urbana, já que, ao ser elevado à mil habitantes. Já a OCDE (3) considera o critério maior porte, como a segregação socioespacial, a
categoria de município, o núcleo sede passa neces- da densidade demográfica e leva em conta todo o poluição e a violência urbana. Superestimar a ur-
sariamente à categoria de cidade. Autores, como território do município (zonas urbana e rural): são banização é um problema, mas negar a urbani-
José Eli da Veiga (1), questionam mesmo a possi- considerados urbanos os municípios com densida- dade desses núcleos é negar o alcance da política
bilidade de um aglomerado com menos de 20 mil de demográfica superior a 150 habitantes por km². urbana e do Estatuto da Cidade a essa população.
habitantes ser considerado uma cidade. Concorde- Esse último critério não parece muito aplicável a Por outro lado, considerar urbana uma localida-
mos, ou não, trata-se de uma questão que merece um território em formação como o brasileiro. Por de rural é, do mesmo modo, tolher o alcance de
uma reflexão, sobretudo por parte dos geógrafos. exemplo, Botucatu, um importante município de uma política rural, como lembra Eli da Veiga. No
Na década de 1990, apenas no Estado de São porte médio do interior paulista, com mais de 100 entanto, na falta de critérios mais precisos, dado
Paulo, foram criados 73 novos municípios, dos mil habitantes, possui densidade demográfica de o grau de urbanização da sociedade brasileira, na
quais 61 com menos de 10 mil habitantes e apenas apenas 72 habitantes por km² (Censo 2000) e não qual o campo guarda fortes características urba-
seis com mais de 20 mil habitantes (Censo 2000). seria considerado urbano. nas, é razoável supor que se erra menos ao supe-
Podemos considerar urbano um aglomerado hu- No Brasil, as normas para a criação de municí- restimar a urbanidade da população brasileira do
mano com cerca de mil habitantes? E o que dizer pios são estaduais. Em São Paulo, para ser criado que ao subestimá-la.
de um aglomerado com cinco ou dez mil habitan- um novo município, exige-se um número míni-
(1) VEIGA, José Eli da. Cidades Imaginárias. Campinas: Au-
tes? Em suma: quais devem ser os critérios para se mo de mil eleitores. Como essa exigência inclui
tores Associados, 2002.
diferenciar um aglomerado rural de um urbano? a zona rural, podemos ter cidades com menos de (2) DOLLFUS, O. O Espaço Geográfico. São Paulo: Difel,
1982.
Para o geógrafo francês Olivier Dollfus (2), o mil habitantes. Até 1988, as normas eram federais
(3) Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
critério estatístico para a definição de uma aglo- e mais rigorosas: exigia-se população municipal Econômico, que reúne os países mais ricos do mundo.
meração urbana deve ser definido de acordo com mínima de 10 mil habitantes. Vale salientar que no
Texto retirado de:
a realidade de cada país. Para a Europa Ocidental, Brasil são consideradas cidades todas as sedes de Braga, Roberto. A urbanidade das pequenas cidades. In: Ter-
ritório & Cidadania. Boletim do Laboratório de Planejamen-
por exemplo, seria aceitável o número mínimo de município. As sedes dos distritos são consideradas
to Municipal – Deplan – Igce – Unesp – Campus de Rio
2 mil habitantes. No Brasil, essa seria uma questão zona urbana, mas não são cidades. Claro. Rio Claro, SP, ano IV, n.º 1, jan./ jul. 2004, p.1.

305
306 espaços urbanos
A URBANIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
a urbanização da área de estudo
Ana Cláudia Duarte Cardoso • José Júlio Ferreira Lima
Estêvão José da Silva Barbosa

A
urbanização da área de estudo mão-de-obra para a plantação de malva e para a pe- e das rodovias PA-140 e PA-150. Neste caso, não se
em questão manifesta-se de for- cuária, estabelecendo relações sociais e espaciais base- pode separar os eixos fluviais daqueles de caráter ro-
ma diversa no tempo e no es- adas na distinção entre trabalhadores e detentores de doviário como definidores deste eixo de urbanização.
paço. No que diz respeito à dimensão tem- meios de produção (terra, ferramentas, animais etc.). A princípio de caráter ribeirinho, com a instalação de
poral, esta diversidade se refere às diferentes A acessibilidade fluvial prevaleceu até o advento localidades centenárias como Moju e Acará, dentre
épocas e ritmos de surgimento, consolidação do rodoviarismo como padrão de circulação espacial, outras, este eixo viu-se reforçado com a abertura de
e/ou expansão das localidades e das frentes com a abertura de diversas estradas, o que ocorreu a estradas de rodagem durante a década de 1970. Ao
urbanas pelo território. Espacialmente, diz partir dos anos 1960 (ver Formação Histórica e Ter- longo das estradas, dispostas tanto em sentido N-S
respeito aos padrões de localização, configu- ritorial – Século XX). A partir deste momento, as (PA-140, PA-150) quanto E-W (PA-252, PA-256),
ração e extensão das localidades e, também, estradas assumiram um papel determinante na pro- foram surgindo inúmeros povoados e, neste contex-
das frentes urbanas, bem como ao papel que dução e organização do espaço regional, viabilizando to, os antigos núcleos ribeirinhos que não foram re-
exercem na totalidade da organização espa- o surgimento de novas cidades e a criação de novas legados a um isolamento maior – o que se deveu ao
cial. O conjunto da população, as condições hierarquias de aglomerações que, em primeira análi- fato de serem “cortados” pelas rodovias – acabaram
físiográficas do sítio (relevo, hidrografia, cli- se, ocorreram em função: se beneficiando das hinterlândias, isto é, das áreas de
ma, vegetação) e as formas de ocupação e de a) do potencial de acessibilidade em âmbito regional, influência então gestadas, reforçando seu poder po-
circulação do/no espaço intra-urbano são, com maior importância das aglomerações mais lítico (caso das sedes municipais) e, também, econô-
igualmente, elementos que variam no tempo bem conectadas às demais na região, seja pela con- mico – em virtude das novas atividades econômicas
e no espaço, em função de transformações vergência de estradas, ou pela associação da aces- e da integração modal entre os transportes fluvial e
ecológicas, econômicas, sociais e políticas. E sibilidade entre os meios de transporte fluvial e rodoviário. A fundação de Tomé-Açu, que foi em sua
a cidade, neste sentido, é resultante dos agen- rodoviário (integração modal); origem um povoado ribeirinho, veio propiciar a ocu-
tes econômicos, sociais, técnicos e culturais b) da disponibilidade e do custo da terra, relacionados pação das terras da bacia do Acará-Mirim, que cons-
que a produziram num determinado tempo à estrutura fundiária preexistente, onde proprieda- tituía, até então, uma área pioneira, dominada pela
e contexto (Landim, 2004). des rurais mais diversificadas e de menor extensão mata nativa, entre os vales do Acará e do Capim.
Em termos regionais, a ocupação total favorecem um ritmo mais acelerado de transfor- Ao longo do tempo, a estruturação e a consolida-
revela uma superposição de dinâmicas no mação da terra rural em urbana e a diversidade de ção deste eixo urbano apresentaram como principal

espaços urbanos
decorrer do tempo, as quais, apesar das tra- novos assentamentos periféricos, e; característica a maior diversidade de localidades, seja
jetórias distintas, apresentam como ponto c) da capacidade de agregação de investimentos dos em população, seja em área. Ao lado de pequenos
em comum a expansão das atividades eco- diferentes núcleos, decorrente de fatores tais como povoados figuram vilas politicamente importantes
nômicas e das frentes populacionais e de localização, associação a uma rede urbana já exis- como Forquilha (Tomé-Açu) e Santana do Capim
trabalho. Estas frentes foram viabilizadas, tente, extensão territorial, densidade populacional, (Aurora), as quais chegam a contar com grupos que
inicialmente, pela acessibilidade fluvial e, condições físicas, configuração espacial dos assen- reivindicam a emancipação político-administrativa.
posteriormente, pela abertura de estradas tamentos, assim como das estratégias de atuação de Outra característica espacial importante do eixo
rumo ao interior das “terras firmes” ama- agentes locais envolvidos na dinâmica de produção urbano em questão é a confluência de fluxos para as
zônicas, ocorrendo o afastamento gradativo, do espaço urbano. cidades de Tomé-Açu e Quatro Bocas, as quais for-
em âmbito regional, dos novos assentamen- Vale ainda lembrar que, na Amazônia, a urbani- mam uma área urbana binuclear que foi convertida
tos em relação aos grandes rios da região e zação das localidades está fortemente vinculada à em centro sub-regional devido ao sucesso da colô-
suas extensas várzeas, tradicionalmente emancipação de novos municípios, sustentados por nia japonesa e à importância da monoeconomia da
ocupadas pelos ribeirinhos. uma economia voltada para a exploração mineral, de pimenta-do-reino, esta última entre as décadas de
A rede fluvial determinou a localização madeira e agropecuária (Cardoso; Negrão, 2006), tal 1950 e 1980. A permanência das atividades terciá-
dos povoados, vilas e cidades, muitas vezes como se verifica nos municípios focados pelo Atlas. rias (comércio, serviços bancários e administrativos),
estabelecidos em áreas de várzea, terrenos Inserida nos contextos de ocupação regional, a gêne- aliada a alguma produção madeireira e à fruticultura,
vulneráveis a alagamentos, erosão das mar- se do fenômeno urbano na área de estudo esteve re- é o que sustenta, ainda hoje (primeira década do sé-
gens fluviais ou com relativas limitações de lacionada, em particular, a dois eventos importantes culo XXI), a importância destas cidades no contexto
drenagem superficial, mas com grande ca- na história e na geografia do Estado do Pará: 1 - a fun- da Microrregião de Tomé-Açu. Ao mesmo tempo,
pacidade, do ponto de vista locacional, de dação da colônia japonesa de Tomé-Açu, em 1929, os povoados, vilas e cidades mantêm relações secun-
apoiar atividades extrativistas que não impli- que seria o ponto inicial da ocupação efetiva e da ur- dárias com Barcarena, acessada por meio da PA-150
cavam, necessariamente, o controle sobre a banização nas terras da bacia do rio Acará-Mirim; e e por outras rodovias estaduais; com Mãe do Rio e
propriedade da terra para serem desempe- 2 - a abertura da rodovia Belém-Brasília (BR-010), Castanhal, por meio da PA-252; e com Paragominas,
nhadas – pesca, caça, agricultura familiar e cujo eixo serviu, desde então (fins dos anos 1960), à pela PA-256, o que indica a existência de rotas inter-
coleta de produtos das matas, campos, vár- instalação de inúmeros povoados. Podem ser defini- nas à área de estudo e a superposição de diferentes
zeas e rios. Enquanto isso, a ocupação das dos dois eixos de urbanização, os quais extrapolam a malhas na composição da rede urbana em questão.
“terras firmes” estava associada ao avanço das área de estudo, pois abrangem as microrregiões que Há de se ressaltar que, nos municípios pertencen-
frentes pioneiras, que, na área de estudo em contêm os municípios estudados. tes às bacias dos rios Acará e Moju – mais especifica-
questão, eram oriundas da Zona Bragantina mente os da Microrregião de Tomé-Açu –, onde o
e se dirigiam às terras localizadas ao S do rio EIXO URBANO DOS RIOS MOJU, ACARÁ transporte fluvial perdeu sua importância, ou nunca
Guamá. A ação destas frentes pioneiras con- E CAPIM E DAS RODOVIAS PA-140 E PA-150 a teve de fato, os índices de população urbana (sedes
sistia na apropriação de terras por fazendei- municipais), segundo dados do último Censo (IBGE,
ros individuais, que trouxeram consigo um É o eixo urbano de constituição mais antiga, que 2000), superam os de população rural. Nesta reali-
contingente de trabalhadores que serviu de segue os corredores dos rios Moju, Acará e Capim dade se enquadram Tailândia (73,21% de população

307
urbana) e Concórdia do Pará (51,32%), municípios abertura da Belém-Brasília, ou de assentamentos que problemas fundiários expressos na forte imbricação
exclusivamente de “beira de estrada”, além de Tomé- serviam como pontos de apoio a estas equipes devido entre campo e cidade, com situações de contato brus-
Açu, município no qual a construção da ponte sobre à existência de pequenos estabelecimentos comer- co entre latifúndios e assentamentos urbanos densa-
a PA-140 em 1977 obliterou as antigas rotas fluviais. ciais, postos de gasolina e/ou casas de diversão (bares, mente povoados, parcelamento de terrenos rurais
espaços urbanos

Por outro lado, nos municípios que apresentam in- cabarés). por iniciativa de fazendeiros, não raro agentes ligados
tegração modal entre os transportes rodoviário e flu- Acompanhada de um processo de apropriação, à cena política que “trocam” terras por votos – sendo
vial, o que se verifica é o contrário, uma vez que a colonização e doação de terras induzido pelo Gover- formados, neste caso, bairros periféricos, habitados
população rural, possivelmente ligada à permanên- no Federal, a ocupação de terras ao longo da Belém- por população de baixa renda e afastados da malha
cia de um padrão de ocupação ribeirinho com ha- Brasília foi, em grande parte, marcado por um padrão urbana existente –, além da retenção de terras para
bitações e localidades dispersos ao longo dos rios, é fundiário concentrado. A exceção fica por conta das fins de especulação imobiliária. Nos núcleos popu-
muito superior à urbana – caso de Acará (18,92% de áreas nas quais foram implantadas colônias (SAGRI) lacionais que resultam desta complexa dinâmica de
população urbana) e Moju (33, 31%). e assentamentos rurais (INCRA), bem como das interação rural/urbano, os ricos habitam, sim, as ci-
A paisagem e a forma urbana dos núcleos locali- áreas mais ao norte (Aurora e Ipixuna do Pará), onde dades, mas boa parte da riqueza está no campo, onde
zados às margens dos rios, como Moju, Acará e, de ocorreu uma dinâmica de apropriação de terras mais habitam muitos fazendeiros, enquanto as áreas urba-
certa forma, Tomé-Açu, expressam as fases de ocu- “espontânea”, baseada em propriedades de pequeno nas são formadas por expressivo exército de mão-de-
pação do espaço regional que foram marcadas pelos e médio portes, e que antecedeu, conforme dito, a obra que é engrossado por população migrante pro-
padrões de acessibilidade fluvial e rodoviária, cujas instalação da rodovia. Em virtude desta realidade, em vinda, sobretudo, do Estado do Maranhão (ver item
dinâmicas refletiram, também, na configuração das muitos locais a presença do latifúndio foi um fator Demogr afia).
malhas urbanas. O centro histórico, que é a área de que repercutiu na menor diversidade de localidades Outra característica importante do eixo urbano
ocupação inicial da cidade, expressa em sua paisagem – seja em número, área ou população –, no povoa- da BR-010 é o que se pode chamar de “urbaniza-
o tempo do rio. A igreja matriz e seu largo, o merca- mento rural escasso e, por conseguinte, nas altas taxas ção rural”, isto é, a concentração de população nas
do, o porto e os casarões antigos constituem marcas de concentração populacional nas sedes municipais. áreas dos assentamentos rurais criados pela SAGRI,
espaciais da influência da igreja católica e das elites Após a fase inicial da agropecuária, houve forte in- pelo INCRA e, mais recentemente, pelo ITERPA.
tradicionais na exploração secular das várzeas e dos fluência da expansão da atividade madeireira sobre o Nestes casos, ocorreu forte pressão de latifundiários
rios. As cidades de “beira de estrada”, mais recentes processo de urbanização, principalmente durante as pela posse da terra, associada à falta de assistência téc-
que as ribeirinhas, expressam outras dinâmicas, li- décadas de 1980 e 1990, com intensa migração po- nica, logística e financeira aos assentados, o que le-
gadas, exclusivamente, à ocupação e exploração das pulacional que fez dobrar, em menos de dez anos, o vou ao desaparecimento de algumas colônias rurais,
terras firmes. contingente e a área de cidades como Paragominas e enquanto outras foram gradativamente convertidas
É importante lembrar a vinculação nítida entre a Ulianópolis (ex-Vila Gurupizinho). Neste sentido, a em aglomerados populacionais que hoje são verda-
localização dos assentamentos urbanos mais recentes produção do espaço rural nesta área de fronteira eco- deiras áreas urbanas em formação, a exemplo de Vila
e os eixos viários principais. A oferta de terras nes- nômica esteve, desde o início, fortemente vinculada Uraim, Vila Caip e Vila União, todas localizadas no
ses novos assentamentos ocorre pelo loteamento de à produção do espaço urbano, o que fez coincidir – município de Paragominas.
terras mais incorporadas à periferia urbana, cujos lo- num processo concomitante e complementar – as A cidade de Paragominas exerce, tal como To-
tes são oferecidos a preços baixos. De outro modo, frentes agropecuária e madeireira com as frentes ur- mé-Açu e Quatro Bocas em relação ao eixo ante-
a ocupação resulta de invasão de imóveis particula- banas, que serviram de apoio às primeiras como es- rior, um papel de centralidade na convergência dos
res periurbanos (sítios, fazendas, terrenos baldios) tratégia de ocupação e exploração econômica. fluxos e das demandas que são gerados a partir das
ou terras públicas. Em todos os casos, observa-se É importante lembrar que todos os núcleos mais localidades e do universo dos estabelecimentos ru-
a carência de infra-estrutura. Ao mesmo tempo, as importantes do eixo da BR-010 contam com uma re- rais. Há, nesta cidade, uma expressiva concentração
áreas alagadas – inadequadas à instalação de residên- serva de terras destinadas à sua expansão urbana, com de serviços. A cidade de Paragominas concentrava,
cias e demais construções – que se situam junto ou delimitação geométrica de uma “légua” em forma de no ano de 2000, 76,43% da população municipal.
próximo às margens dos cursos d’água passam a ser um polígono ou quadrilátero. Esta forma de delimi- Confirmando esta tendência de concentração, com
ocupadas pela população de baixa renda, o que ocor- tação lembra o modo pelo qual são estabelecidos os exceção de Abel Figueiredo (50% de população ur-
re, geralmente, no entorno ou no interior das áreas limites dos lotes rurais, e, seja nas áreas urbanas ou bana), todos os demais municípios da Microrregião
centrais, sendo a localização, neste caso, um fator im- nas rurais, a demarcação resultou da esfera de atuação de Paragominas apresentam mais da metade de sua
portante para a alocação de habitações em virtude das do INCRA. No interior das “léguas” urbanas, com o população residindo na cidade-sede: Ulianópolis
menores distâncias relativas a empregos e serviços. passar do tempo e com o desenvolvimento das ativi- (61,69%), Rondon do Pará (75,40%), Dom Eliseu
As terras do patrimônio urbano, em função de suces- dades urbanas, bem como das atividades agropecuá- (60,21%) e Bom Jesus do Tocantins (82,21%). De
sivas expansões da malha (sistema de ruas e conjunto rias realizadas no entorno das cidades, passam a ser forma secundária, as localidades do eixo da BR-
de quadras), vão adquirindo contornos irregulares, recorrentes casos de apropriação de terras públicas do 010 também estão subordinadas aos centros sub-
com desapropriações para a criação de loteamentos, patrimônio urbano por agentes particulares, que pas- regionais de Castanhal (PA), que possui forte in-
ou incorporação/oficialização de assentamentos in- sam a se estabelecer por meio de sítios, serrarias etc. fluência ao N de Paragominas, e Imperatriz (MA),
formais como bairros populares. E, à medida que a cidade cresce, ou em virtude de cuja área de influência se localiza ao S da última
dinâmicas econômicas regionais assume novas fun- cidade citada.
EIXO URBANO DA RODOVIA BR-010 cionalidades, ocorre a construção de centralidades Por fim, cabe lembrar que, neste eixo de urbani-
nas áreas mais antigas, combinada com a expansão de zação, somente os municípios de Ipixuna e Aurora
O outro eixo de urbanização, mais recente e ain- assentamentos informais ou, dito em outras palavras, do Pará, que pertencem à Microrregião do Guamá,
da em vias de consolidação, estruturou-se ao longo “espontâneos”, nas áreas periféricas. apresentam população rural mais significativa que
da BR-010, em terras de ocupação pioneira. Os po- Em virtude das dinâmicas de ocupação do espa- a urbana, sendo que esta última representa, so-
voados que aí surgiram desde a segunda metade da ço agrário, algumas localidades foram “encurraladas” mente, 19,85% e 25,46% do total de pessoas resi-
década de 1950 acompanharam o avanço de frentes por grandes propriedades rurais que, em muitos ca- dindo na cidade-sede, respectivamente. Em ambos
agropecuárias, o que antecedeu, em alguns casos, a sos, retardam a expansão delas. Mais do que no eixo os municípios, estes percentuais podem ser expli-
própria abertura desta rodovia. O “embrião” de Vila anterior, onde a existência de imóveis periurbanos cados pela presença significativa de assentamentos
Aurora, por exemplo, já existia em 1957. Outros po- de pequeno porte, como sítios ou serrarias, permite rurais, cuja criação e expansão por parte dos órgãos
voados surgiram a partir de acampamentos impro- a substituição menos conflituosa de usos rurais por responsáveis pela reforma agrária (ITERPA e IN-
visados pelas equipes de trabalho responsáveis pela usos urbanos, as cidades da BR-010 apresentam CRA) é uma realidade muito dinâmica.

308
FOTOS 1 e 2 – Visão parcial da vila de Santana do Capim, município de Aurora do Pará. Esta vila figurou como importante núcleo ribeirinho do Baixo Ca-
pim até a década de 1970. Observar a igreja em estilo colonial e os casarões antigos.

espaços urbanos
2
FOTOS: Juarez Pezzutti (2004).

309
FOTO 3 – Localidade ri-
beirinha de Porto da Balsa,
município de Aurora do
Pará. Neste ponto é fei-
espaços urbanos

ta a travessia de balsa que


permite a transposição do
rio Capim pela PA-252.
O encontro da estrada
com rio representa, neste
sentido, uma realidade de
integração modal entre os
transportes rodoviário e
fluvial.

FOTOS: Juarez Pezzutti (2004).


FOTO 4 – Encontro de população ribeirinha da área do Baixo Capim. As crianças da foto pertencem a
famílias que vivem ao longo do rio Capim e baixo curso de seus afluentes, onde se encontram inúmeras
localidades ribeirinhas e habitações isoladas.

310
FOTO 5 – Vila Nova, município de Tomé-Açu.
Esta localidade se encontra às margens da PA-256,
e representa um dos muitos assentamentos surgi-
dos na área de estudo após a abertura das estradas
de rodagem.

FOTO 6 – Núcleo da Serraria Ciprasa, localizada


no município de Paragominas e no eixo da Estra-

espaços urbanos
da da Cauaxi. Os núcleos de fazendas e serrarias
constituem assentamentos humanos que, com o
passar do tempo e a consolidação da ocupação, po-
dem tornar-se povoados, vilas ou cidades.

FOTOS: Regiane Paracampos (2005).

FOTO 7 – Visão parcial dos arredores da cidade


de Ulianópolis, tomada a partir de pátio de serraria
instalada no interior da Fazenda Cauaxi, ao S da
área urbana. No entorno de Ulianópolis há mui-
tas serrarias, vitais para a economia do município e
para a geração de empregos na cidade.

311
espaços urbanos

FOTO 8 – Instalações abandonadas da antiga Fa-


zenda Bradesco, hoje incorporada aos domínios da
Fazenda Cikel, município de Paragominas, estrada
da Cauaxi. Trata-se de outro caso de assentamento
ou núcleo instalado no interior de uma proprieda-
de rural.

FOTO 9 – Portão de acesso à área de extração de


caulim da Pará Pigmentos S.A., município de Ipi-
xuna do Pará. No interior desta área foi implantada
uma vila para abrigar os funcionários da empresa,
o que representa outro tipo de assentamento cria-
do para atender a interesses de produção.

FOTO 10 – Visão parcial da Vila Jamic, município


de Tomé-Açu. Esta é uma das muitas localidades
que surgiram a partir da dinâmica de ocupação da
bacia do rio Acará-Mirim desde a implantação da
FOTOS: Regiane Paracampos (2005).

colônia japonesa de Tomé-Açu em 1929.

312
ÁREAS URBANAS E OS SÍTIOS DAS CIDADES
áreas urbanas e os sítios das cidades
Ana Cláudia Duarte Cardoso • José Júlio Ferreira Lima
Estêvão José da Silva Barbosa

A
s áreas das cidades foram cal- em alguns trechos, os contornos destes. Ao mes- com as superfícies de planalto. A vegetação origi-
culadas com base na idéia de mo tempo, não há uma correspondência entre os nal das planícies (mata aluvial) se encontra muito
mancha urbana, tomada em limites dos setores e os limites de bairros, proble- alterada, e em seu lugar houve o estabelecimento
plano a partir de imagens do satélite Land- ma que se verifica em todas as demais cidades es- do campo aluvial, além de palmeiras e espécies ar-
sat-TM do ano de 2004. Além da área que tudadas. Este fato sugere a necessidade de revisão bustivas. Ocorreram, também, mudanças nos lei-
corresponde às manchas urbanas, existem dos limites dos setores censitários, a fim de ade- tos fluviais, sobretudo na largura e profundidade
outras formas de delimitação que dizem quar os setores de contagem da população com as dos canais, o que pode ser explicado pelas dinâ-
respeito a recortes do tipo Perímetro Ur- parcelas de acordo com as quais as áreas urbanas micas de degradação ambiental sobre o rio Coité,
bano, Légua Patrimonial (LP) e Setores estão divididas, seja do ponto de vista administrati- centralmente localizado na área urbana de Aurora
Censitários Urbanos, o que implica dife- vo (bairros), seja do ponto de vista do cotidiano da do Pará, e no contexto de sua bacia hidrográfica
rentes formas de delimitação e represen- população (lugares, tipologias de assentamentos), pela produção de extensas áreas desmatadas, o que
tação espacial que constituem um duplo ou ambas as coisas. causa assoreamento.
desafio: analítico e cartográfico. Os sítios, O entorno de Aurora do Pará, bem como áreas
por sua vez, correspondem aos terrenos significativas do interior da LP, é marcado pela IPIXUNA DO PARÁ
que serviram de base para a instalação das presença de propriedades rurais, geralmente de
cidades, mas cujas características físicas pequeno (sítios) e médio (fazendas) portes, que Ipixuna do Pará apresenta 1,58 km2 de extensão
são também verificadas no entorno delas. são uma herança do esquema de ocupação e doação totalmente localizados a partir da margem direita
A localização destes sítios é um indicativo de terras ao longo da Belém-Brasília. Além disso, da Belém-Brasília. A configuração da área urbana
da realidade fisiográfica do espaço abran- a cidade se encontra interligada a uma série de lembra um quadrilátero, com largura aproxima-
gido pelas cidades, sendo que há um cer- propriedades rurais por meio de vicinais dispostas da de 1,323 km (E-W), e comprimentos (N-S) de
to controle, na área de estudo como um com orientação E-W. Na porção sudeste da LP, há 1,026 km na BR-010 e 1,323 km em um eixo cen-
todo, da variação da altitude e dos aspec- uma reserva de terras destinadas à implantação do tral (av. Pte. Vargas) que corresponde a um antigo
tos fisiográficos e geomorfológicos de N Pólo Moveleiro Municipal, mas cuja manutenção trecho da BR-010, desviado no início da década de
para S, e para E e W (ver item Feições do conflita com um processo inicial de ocupação de 1970. A E (leste) deste eixo estão os bairros do Cen-
Relevo Regional). terras que vem se expandindo desde o loteamento tro, Morro (Pará-Ubá) e Berro D’água, enquanto

espaços urbanos
chamado de Manelândia, o qual constitui um as- a W (oeste) encontram-se um pequeno trecho do
AURORA DO PARÁ sentamento informal. Centro, e os bairros Vila Nova e Liberdade; este
O sítio de Aurora do Pará está localizado na par- último é um assentamento informal, não sendo
2
Aurora do Pará possui 1,65 km de ex- te sul do Planalto Rebaixado da Amazônia, ao S do considerado um bairro oficial.
tensão, dispostos em ambas as margens rio Guamá e na área de transição para os planaltos A LP de Ipixuna do Pará também foi estabele-
da BR-010. No sentido Belém-Brasília, residuais e dissecados (i.e, erodidos pela drenagem cida pelo INCRA na década de 1970, e, à seme-
encontram-se, a partir da margem esquerda fluvial) da Bacia do Parnaíba. Perfis expostos em lhança de Aurora, possui um contorno geométrico
da rodovia, os bairros do Centro, Apare- barrancos nos limites da área urbana indicam a su- aleatório que não considera a drenagem, embora
cida, Novo e a ocupação chamada de Ma- cessão entre os sedimentos da Formação Ipixuna seja nítido que a disposição dele obedece a um eixo
nelândia (bairro não-oficial), e a partir da e, sobrejacentes a estes, os da Formação Barreiras, central (av. Pte. Vargas). A área ocupada por usos
margem direita parte do Centro mais o que formam uma camada delgada recoberta des- urbanos está, igualmente, compreendida dentro
bairro de Vila Nova. A configuração espa- continuamente pelos Sedimentos Pós-Barreiras dos limites da légua destinada à expansão deste
cial desta cidade lembra um quadrilátero, (ver Geologia e Recursos Minerais). Apesar des- núcleo. O entorno da cidade é caracterizado por
com largura (E-W) aproximada de 1,450 te caráter de transição, o relevo segue o padrão de pequenas propriedades rurais do tipo sítio ou fa-
km e comprimento (N-S ao longo da BR- baixos platôs do Nordeste Paraense, com topogra- zendola, além de serrarias e terrenos que foram
010) em cerca de 1,160 km. A LP de Au- fia suave a suave ondulada em sua totalidade, o que ocupados por antigos assentamentos rurais. Estes
rora do Pará foi estabelecida pelo INCRA implica poucos riscos à erosão. estabelecimentos (com exceção dos assentamen-
na década de 1970, e a sua configuração A partir das áreas mais altas (cerca de 50 m) dos tos) se fazem presentes, ainda, no interior da LP.
geométrica, delimitada em sua maior par- interflúvios (área entre dois ou mais cursos d’água) No interior das propriedades rurais, encontram-se
te por vicinais, não levou em conta aci- que delimitam rios de primeira ordem, há um cai- preservados fragmentos de mata nativa, além de
dentes geográficos como cursos d’água e mento gradativo, quase sempre feito por verten- trechos de mata secundária. Por fim, a cidade de
áreas alagadas; este fato, aliado à presença tes (rampas) suaves, rumo às planícies de inunda- Ipixuna é, também, interligada à zona rural por vi-
de propriedades rurais e de um alagado ção do rio Coité e afluentes. Em poucos locais as cinais de orientação E-W, sendo este mais um fator
(planície de inundação do rio Coité), le- bordas de planalto se mostram mais escarpadas, e, que denuncia o quanto o contexto urbano de Ipi-
vou a um padrão descontínuo de ocupa- estas sim, oferecem riscos à ocupação em virtude xuna é semelhante ao de Aurora do Pará. Porém,
ção urbana. do seu potencial erosivo (desmoronamentos). As ao contrário do que ocorre nesta última, não hou-
Ainda hoje (2006), a área ocupada por planícies de inundação, isto é, os locais permanen- ve eixos de expansão urbana após o último Censo
usos eminentemente urbanos está com- te ou periodicamente inundados pelas águas dos (2000) que extrapolassem os limites dos setores
preendida totalmente dentro da LP. O rios, apresentam as menores altitudes, por volta censitários.
mesmo não se aplica aos setores censitá- de 30 m, e constituem terrenos aluviais, planos, Em Ipixuna, o sítio integra o Planalto Rebaixa-
rios do IBGE, cuja delimitação não mais com tendência a alargamento nos pontos de con- do da Amazônia, em transição morfológica (relevo)
corresponde à área urbana atual, a qual fluência da drenagem. Estas planícies são terrenos para os planaltos da Bacia do Parnaíba. É caracteri-
apresenta extensão maior que os setores pouco valorizados, embora, hoje (2006), já exista zado por relevos dissecados em pequenos tabuleiros
utilizados no Censo de 2000 e ultrapassa, um processo embrionário de ocupação nos limites sustentados pelos sedimentos da Formação Ipixu-

313
espaços urbanos

na, expostos em cortes de estrada (BR-010) próxi- A LP de Ulianópolis foi estabelecida com a das capoeiras. Somente ao S da área urbana, dentro
mos à área urbana (ver item Geologia e Recursos emancipação do município (1993) e, no mesmo dos limites da Fazenda Cauaxi, é que se encontra
Minerais). A cidade apresenta um relevo peculiar, ano, foi criado o Perímetro Urbano – tipo de deli- um fragmento de mata nativa.
estando localizada em um nível de aplainação mais mitação inexistente em Aurora e Ipixuna do Pará –,
baixo (média de 40m) que os tabuleiros “colinosos” ao passo que a área urbana oficial foi instituída, TOMÉ-AÇU E QUATRO BOCAS
do entorno (acima de 60m). Este nível de aplaina- somente, em 1996, para fins de regularização da
ção é marcado por topografia plana e pela cobertura cobrança de IPTU. O único bairro localizado to- Tomé-Açu possui, junto com Quatro Bocas e
areno-argilosa amarelada dos Sedimentos Pós-Bar- talmente fora da LP é o Palmeira, verificando-se, a área periurbana localizada entre as duas cidades,
reiras, e é sobre ele que se localiza a quase totalidade ainda, que partes do Resende II e do Giácomo 5,80 km2 de área, a qual é delimitada em sua extre-
da malha urbana, o que se mostra benéfico como Uliana também extrapolam, para W, os limites da midade oriental pelo rio Acará-Mirim, e orienta-se
atributo físico pelo pouco risco de erosão. légua. Tanto a LP quanto o Perímetro Urbano e segundo o eixo da PA-140 em sentido E-W. Há ní-
O sítio como um todo é pouco dissecado, ou seja, os setores censitários do IBGE obedecem à dis- tidas diferenças entre a gênese da LP destas duas
encontra-se pouco erodido pela drenagem fluvial. posição N-S da BR-010 e apresentam, em muitos cidades e aquelas situadas ao longo da BR-010. No
Fundos de vale (“grotas”) por onde escoam torren- casos, limites coincidentes. Nos limites da cidade caso de Tomé-Açu, a LP resultou de compras e/ou
tes formadas pelas águas pluviais não contribuem encontram-se serrarias, localizadas a S, no eixo desapropriações sucessivas de terrenos rurais pela
em demasia para a dissecação do terreno, embora da estrada da Cauaxi, e a E, no eixo da BR-010, prefeitura municipal, efetuadas entre as décadas de
apresentem vertentes relativamente expressivas. além de grandes propriedades rurais, cujo limite 1960 e 2000. Em Quatro Bocas, como todo o pro-
Em um único caso, percebe-se uma drenagem in- com as áreas residenciais é quase sempre brusco, cesso de criação de loteamentos foi feito pela ini-
termitente junto ao talvegue de uma “grota”, entre o que impede a formação de franjas periurbanas ciativa privada, pode-se dizer que há uma espécie
os bairros do Centro e Vila Nova. O domínio alu- ou áreas de transição. No interior da área urbana, de “oficialização” da área urbana no momento em
vial (litologia e vegetação) é bem caracterizado na merece destaque a presença de vazios urbanos que que o poder público municipal cartografa, dota o
planície do rio Ipixuna, cujo leito, à semelhança do resultaram de serrarias desativadas, ou, de outra loteamento de alguma infra-estrutura básica e pas-
rio Coité (Aurora), escoa a cerca de 30 m, e ambos forma, do loteamento de terras que, controladas sa a cobrar IPTU sobre os terrenos loteados, então
os rios citados drenam para W, fazendo parte da ba- por fazendeiros, madeireiros e políticos, ficaram incorporados como bairros populares.
cia do Capim. Tal planície é pouco ocupada e está desocupadas à espera de valorização, sobretudo no Perante a Lei Orgânica Municipal e, também,
localizada na parte setentrional da área urbana. A bairro chamado de Caminho das Árvores. em face dos limites dos setores censitários urbanos
mata aluvial nativa já foi em grande parte retirada, e O sítio em questão integra o Planalto Dissecado do IBGE (2000), a sede municipal e também área
substituída pelo campo aluvial e bosques de palmei- do PA-MA, e é formado por tabuleiros dissecados urbana de Tomé-Açu é formada por um quadrilá-
ras com espécies vegetais arbustivas e arbóreas as- por “grotas” ligadas ao rio Gurupizinho, afluente tero E-W, no interior do qual existem duas cidades
sociadas. Assim como ocorre em Aurora do Pará, a do rio Gurupi pela margem esquerda que passa ao (Tomé-Açu e Quatro Bocas) e um “bairro indus-
ocupação incipiente das planícies de inundação em N de Ulianópolis. Estes tabuleiros são caracteriza- trial” situado entre ambas; este último correspon-
Ipixuna está ligada à existência de reserva de terras dos por topos planos, nivelados na cota de 120m, de, na verdade, a uma área periurbana onde há sí-
nas superfícies de planalto, onde terras públicas, mi- e que servem como terrenos preferenciais para a tios, herdados do esquema de doação de terras da
nas de extração abandonadas e imóveis particulares instalação de assentamentos, evitando-se, com colônia japonesa, e serrarias, além de fragmentos
subutilizados servem como locais para a instalação isso, maiores riscos quanto à erosão. A partir destes de mata nativa situados no interior das proprieda-
de assentamentos urbanos formais ou informais. topos, há vertentes expressivas que se direcionam des. É importante observar que há diferenças no-
para o fundo dos vales que formam “grotas” com tórias entre Tomé-Açu e Quatro Bocas no que diz
ULIANÓPOLIS altitudes em torno de 110m, e por vezes são ocu- respeito à configuração de área urbana, e, também,
padas pela população de baixa renda. Este sítio não às características do sítio, motivo pelo qual se op-
A cidade de Ulianópolis possui 2,70 km2 de apresenta nenhum curso d’água perene, embora tou por uma análise particular a cada uma destas
extensão, localizados, principalmente, à margem seja registrado, no limite S da cidade, um pequeno cidades.
direita da BR-010 (sentido Belém-Brasília), com rio, bastante alterado, com águas semi-estagnadas Tomé-Açu é dividida em duas partes pela PA-
os seguintes bairros, ou loteamentos, conforme (fluxo de água pouco intenso). A drenagem super- 140, localizando-se os bairros tanto a partir da
são reconhecidos pela prefeitura: Giácomo Ulia- ficial, portanto, é dominada pelas águas pluviais e margem esquerda (sentido Belém-Quatro Bocas),
na, Centro, Caminhos das Árvores, Boa Vista e seus canais de escoamento, isto é, as “grotas”, qua- caso do Centro, da Pedreira e do Tabom, quanto
Resende I e II. À margem esquerda daquela rodo- se sempre destituídas de vegetação de porte e ape- pela direita, caso do Maranhense e do Kanebo. Ta-
via encontra-se, somente, o bairro Palmeira, que nas recobertas por estratos herbáceos a arbustivos. bom (extremo W) e Kanebo (extremo N) são os
constitui um loteamento não-oficial. A configura- Dentre as cidades estudadas, Ulianópolis é a bairros mais afastados do Centro, e a área urbana
ção espacial de Ulianópolis é longitudinal, de sen- que possui o entorno mais desmatado, em função como um todo é descontínua e de formato irre-
tido N-S, estendendo-se por 2,288 km ao longo da retirada da mata nativa para a formação de pas- gular, lembrando um “V”. Esta realidade pode ser
da BR-010, enquanto a largura (sentido E-W) varia tos, o que ocorreu no interior de grandes proprie- explicada pelas sucessivas expansões do patrimô-
de cerca de 680 m quando coincidente com a LP, dades. Afora os solos expostos, que predominam, nio urbano municipal. As principais vias de circu-
até 894 m contados no norte do bairro Resende II percebe-se nestes locais um crescimento gradativo lação serviram como eixos para a expansão urbana
e, considerada a distância máxima entre os limites da “macega”, tipo de vegetação herbácea originada rumo ao N e ao W, seguindo a mesma orienta-
externos deste bairro e os do Palmeira, 1,644 km. de intervenção antrópica e que antecede a formação ção do Acará-Mirim, sem, contudo, apresentar

314
maiores articulações com o rio. Ao longo da PA- em palafitas construídas um pouco acima do ní- dentre outros, o loteamento Jardim Atlântico; e
140, a medida da área urbana de Tomé-Açu é de, vel das águas. (c) um eixo menor que corresponde à PA-256,
aproximadamente, 1,600 km; de N para S, a dis- O sítio urbano de Quatro Bocas também inte- com 1,725 km, onde o uso do solo é marcado por
tância em linha reta é de 1,350 m, contados des- gra a unidade de relevo do Planalto Rebaixado da grandes estabelecimentos comerciais e de servi-
de o rio Acará-Mirim até o extremo N do bairro Amazônia. A característica mais marcante deste ços (concessionárias de veículos, depósitos de su-
Kanebo; e, de E para W, 1,782 km entre o limite sítio é a sua topografia plana, com média de 50m permercados etc.).
externo do Tabom e o citado rio. Os entornos de de altitude, em virtude de a cidade ter sido insta- A PA-125 (antigo trecho da BR-010) separa a
Tomé-Açu são caracterizados por serrarias e, tam- lada por sobre o topo de um interflúvio da bacia malha urbana contígua ao Centro – com exceção
bém, propriedades rurais de porte médio. do rio Acará-Mirim. Esta topografia plana se deve dos bairros Jaderlândia e Nova Conquista, que se
A área urbana de Quatro Bocas lembra um qua- ao fato de o terreno não ser dissecado por rios ou situam após o rio Uraim – da malha urbana dos
drilátero ou polígono de contornos mais regula- “grotas”, o que por um lado é benéfico devido à bairros da Promissão, localizados na porção nor-
res, e apresenta cerca de 2,600 km de largura no maior extensão de terras não inundáveis e, por deste da cidade. O eixo SW-NE da área urbana
sentido E-W, que corresponde ao eixo da PA-140, outro, apresenta problemas em face dos constan- de Paragominas, que vai dos limites externos dos
e cerca de 2,200 km de comprimento N-S, mais tes acúmulos das águas pluviais nas ruas da cida- bairros Jaderlândia e Parque III, mede 4,350 km.
ou menos o que equivale à extensão da Av. Saburo de, que apresenta problemas de infiltração e esco- Os entornos da cidade são caracterizados por for-
Chiba. Quatro Bocas é toda delimitada por sítios amento. A litologia superficial deste interflúvio é mas rurais de uso do solo, sobretudo sítios e fazen-
que pertencem a nipônicos e seus descendentes. representada, exclusivamente, pelos Sedimentos das de tamanhos diversos.
Foi deste mesmo tipo de propriedade que resulta- Pós-Barreiras. O sítio de Paragominas apresenta uma divi-
ram, por meio de loteamentos levados a cabo por são do relevo esquematizada em quatro níveis, de
agentes privados, os assentamentos urbanos que PARAGOMINAS acordo com a altitude e a topografia. O primeiro
constituem a cidade em questão. nível, com média de 120m, corresponde ao topo
Por fim, serão mostradas as características fi- A maior cidade da área de estudo é Paragomi- dos planaltos residuais mantidos pela Formação
siográficas dos sítios das duas cidades em estudo. nas, situada no entroncamento da PA-125 com a Ipixuna; a topografia é, no geral, plana, e por vezes
O sítio urbano de Tomé-Açu apresenta altitudes PA-256. A expansão urbana de Paragominas ao dissecada por “grotas” que demandam o rio Uraim
modestas devido à sua localização no vale do baixo longo da década de 1980 forçou a ampliação dos – afluente do rio Gurupi pela margem esquerda. O

espaços urbanos
rio Acará-Mirim, cujo leito escoa, já neste trecho, limites da LP – também definida na década de segundo nível marca a transição entre os topos e as
a poucos metros acima do nível do mar – abaixo 1970 – por meio de lei municipal no ano de 1998, baixas superfícies aplainadas (nível de aplainamen-
de 10 m. O relevo deste sítio é caracterizado pe- que instituiu um Perímetro Urbano. A área urba- to) que acompanham aquele rio, sendo constituída
las planícies de inundação do rio Acará-Mirim e na em questão mede, juntamente com a vila do por vertentes suaves; as “grotas” acompanham o
afluentes, e pelos baixos platôs, sendo que estes km 12 (entroncamento da BR-010 com a PA-256), caimento das vertentes. O terceiro nível é cons-
2
últimos compõem o Planalto Rebaixado da Ama- 8,90 km – o que equivale, praticamente, à soma tituído por uma superfície plana que acompanha
zônia. Uma camada areno-argilosa de cor amare- das três menores cidades estudadas (Aurora, Ipi- o rio, e é nivelada pela altitude de 80m; também
lada (Sedimentos Pós-Barreiras) capeia, desconti- xuna e Ulianópolis). Outra forma de delimitação, se encontra dissecada por “grotas”, porém menos
nuamente, os sedimentos laterizados da Formação a dos setores censitários urbanos, coincide, como profundas que aquelas que “cortam” os topos e
Barreiras. A topografia dos baixos platôs varia des- um todo, com o Perímetro Urbano oficial, lem- as vertentes. Por último, e encaixada no nível an-
de o plano ao suave ondulado, com altitudes entre brando um quadrilátero. Por outro lado, os limites terior e nos sedimentos da Formação Itapecuru,
menos de 10 m nos limites com as planícies, e mais internos entre os setores apresentam contornos encontra-se a planície do rio Uraim, formada por
de 35m na parte W do sítio, o qual corresponde a bastante irregulares, dividindo bairros e agrupan- depósitos aluviais pouco expressivos, descontínu-
um interflúvio entre os rios Acará-Mirim, Arraia e do outros, o que coloca em xeque a coerência da os, que ocupam terrenos com cotas em torno de
Ipitinga. Sobre este interflúvio foi instalado o ra- delimitação dos setores censitários urbanos, ou, de 70m e menos.
mal da colônia japonesa, mais tarde incorporado outro modo, a sua validade em face da configura- O rio Uraim localiza-se na porção central da
pela PA-140. ção intra-urbana atual. área urbana e divide a cidade em duas partes, en-
O contato entre as planícies e os platôs, na área As medidas da área urbana de Paragominas quanto o seu principal afluente neste trecho, o
urbana de Tomé-Açu, é feito por rampas suaves também superam às das demais cidades estuda- igarapé Paragominas, corre inicialmente paralelo à
ou, de outra forma, por vertentes ligeiramente das, com destaque para os comprimentos dos PA-125 e fora da malha urbana para, em seguida,
escarpadas, que aparecem em alguns trechos da eixos de urbanização que foram definidos pelas adentrar o conjunto de loteamentos aqui chama-
orla do Acará-Mirim e junto às “grotas”. Estes va- rodovias: a) 3,450 km ao longo da PA-125, a qual do de Complexo da Promissão (nordeste da área
les constituem importantes elementos do relevo define um eixo de expansão urbana para o N, urbana). Este último curso d’água citado (igarapé
ao dissecarem algumas partes do sítio, e por vezes destacando-se o loteamento Pte. Juscelino; b) um Paragominas) foi intensamente alterado em virtu-
abrigam uma drenagem intermitente com depó- eixo interno definido pela rodovia dos Pioneiros, de da urbanização e da instalação de fazendas ao
sito aluvial, denunciados pela vegetação de buri- com 5,775 km, ao longo do qual ocorrem adições longo de seu leito, ao passo que no primeiro (rio
tizal. Na orla do rio Acará-Mirim, onde a planície à malha urbana existente pela criação de peque- Uraim) parte da mata ciliar nativa ainda está con-
é mais larga, aparecem a mata aluvial e cordões de nos conjuntos habitacionais e pelo surgimento servada. A sub-bacia do rio Uraim tem sido alvo
aninga. Em diversos pontos, esta orla encontra-se de assentamentos informais que ratificam o ca- de intenso desmatamento, o que prejudica a esta-
ocupada por população de baixa renda, que habita ráter periférico desta área, na qual se encontra, bilidade do ambiente fluvial.

315
316 espaços urbanos
317

espaços urbanos
318 espaços urbanos
319

espaços urbanos
320 espaços urbanos
321

espaços urbanos
322 espaços urbanos
323

espaços urbanos
324 espaços urbanos
325

espaços urbanos
326 espaços urbanos
327

espaços urbanos
328 espaços urbanos
329

espaços urbanos
330 espaços urbanos
331

espaços urbanos
332 espaços urbanos
333

espaços urbanos
334 espaços urbanos
335

espaços urbanos
336 espaços urbanos
337

espaços urbanos
338 espaços urbanos
339

espaços urbanos
340 espaços urbanos
341

espaços urbanos
342 espaços urbanos
343

espaços urbanos
FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO INTRA-URBANA
Formação e organização intra-urbana
Ana Cláudia Duarte Cardoso • José Júlio Ferreira Lima
espaços urbanos

Estêvão José da Silva Barbosa

A
atual organização político- desenvolvimento sustentável, e particularmente drões de integração local e global, que dizem res-
administrativa do território de suas cidades-sede. A pecuária extensiva não ab- peito a sistemas espaciais existentes no interior
estudado foi definida, pri- sorve mão-de-obra e demanda o padrão fundiário das cidades, é feita no Box 2. Quanto às variáveis
mordialmente, por sucessivas subdivisões do tipo latifúndio, favorecendo o êxodo rural; a socioeconômicas que auxiliaram a análise das dife-
dos municípios de Acará, Vizeu, Irituia exploração da madeira é sazonal, absorve mão-de- renças intra-urbanas, e que se encontram represen-
e, sobretudo, São Domingos do Capim, obra pouco qualificada e remunerada com baixos tadas em diversos mapas, observar o Quadro 1.
que se estendia até o atual município de salários que, quando desocupada, concentra-se nas
Rondon do Pará. A criação de novos mu- cidades e dinamiza o mercado da prostituição e o AURORA DO PARÁ
nicípios por desmembramento territorial consumo de drogas lícitas e ilícitas; a produção de
é resultado de relações políticas e sociais grãos, como a soja, é mecanizada, absorve pouca A implantação da BR-010 na área onde hoje se
relativas às possibilidades de ampliação de mão-de-obra e desestrutura a agricultura familiar encontra o município de Aurora do Pará foi carac-
posições nos poderes executivo e legisla- pelo uso intensivo de agrotóxicos, também favore- terizada por um sistema de vicinais abertas de 2 em
tivo municipais, bem como da reorgani- cendo o êxodo rural. 2 km, tanto paralelas quanto perpendiculares à es-
zação de lideranças em torno do território Todavia, a grande concentração de serrarias em trada e que acabaram sendo, em alguns casos, obs-
e suas atividades econômicas. Na área de Paragominas (mais de 200 durante a década de truídas em função de acidentes geográficos (rios,
estudo em foco, à exceção de Tomé-Açu, 1990) viabilizou uma aglomeração de pessoas e planícies de inundação). Em um desses módulos,
cujo desmembramento foi produto da uma expressiva circulação de capital que tornaram às margens da BR-010, foi estabelecido o núcleo
criação de novas centralidades na bacia do a cidade atraente para investimentos dos segmentos da Vila do Km 48, mais tarde chamado de Vila Au-
rio Acará, os demais municípios resulta- públicos e privados. O governo estadual construiu rora. Com o tempo, a rodovia assumiu um papel
ram de mudanças no acesso rodoviário a conjuntos habitacionais, instalou equipamentos, de centro geométrico da cidade, com centralidade
partir da construção da rodovia Belém- implantou infra-estrutura na cidade, e foi seguido favorecida pela concentração de atividades comer-
Brasília. pela atenção do setor privado no mercado imobi- ciais. Em relação à área de estudo como um todo,
Após a abertura das rodovias, o tempo liário. A agregação desses investimentos desper- verifica-se que a integração de Aurora é maior com
de existência de vilas ribeirinhas, como tou o interesse de fazendeiros dos municípios do o pólo de Castanhal e com o subpolo de Mãe do
Santana do Capim, distante 2 km ao S da entorno, com recursos desviados das demais sedes Rio – este subordinado ao primeiro – do que com
PA-252, não impediu que uma nova aglo- municipais. Neste sentido, Ulianópolis apresenta os pólos de Paragominas e de Tomé-Açu.
meração (vila do km 58) estabelecida à a situação mais desfavorável, em face da escala dos A Vila de Aurora passou 18 anos (1973 a 1991)
“beira” da estrada se tornasse sede do mu- latifúndios que circundam a cidade e dominam a sob administração do município de Irituia, retor-
nicípio de Aurora do Pará, sob influência área rural, e da grande diferença entre as condições nando, posteriormente, para a jurisdição de São
da sede do município vizinho de Mãe do socioeconômicas dos fazendeiros e dos habitan- Domingos do Capim, do qual se emancipou em
Rio. Da mesma forma, as atividades de tes da cidade (ver Mapa de Rendimento Nominal 1993. A estrutura fundiária existente nas décadas de
comércio e serviços do núcleo mais an- Mensal – Ulianópolis). Os primeiros (fazendeiros) 1960 e 1970 caracterizava-se pela ocupação de fa-
tigo da sede de Tomé-Açu, cidade inicial- utilizam-se dos serviços de centros maiores, e ga- zendas onde se realizavam a pecuária e a plantação
mente voltada para o rio Acará-Mirim por rantem com a cidade poder político e um exército de malva. Ao redor da vila existente, a concentração
meio do trapiche, têm migrado progres- de mão-de-obra para as suas necessidades produ- fundiária foi um fator que contribuiu para a ocupa-
sivamente para Quatro Bocas em função tivas. ção de terras devolutas localizadas a W da rodovia e,
da maior importância da estrada (PA-140) Para melhor compreensão do conteúdo discuti- também, a W da planície de inundação do igarapé
como via de circulação, da potencialidade do neste item, acompanhar os mapas de Expansão Coité, o que deu origem ao núcleo de Vila Nova,
de transformação de áreas anteriormen- Urbana, Uso do Solo, Integração Local e Global mais tarde formando o bairro de mesmo nome.
te dedicadas a atividades rurais em lote- e de Variáveis Socioeonômicas. A explicação so- A ocupação é mais consolidada ao longo do nú-
amentos urbanos, bem como da proxi- bre a análise dos espaços urbanos a partir dos pa- cleo pioneiro, o qual, partindo da rodovia BR-010,
midade com o mineroduto da CVRD
– tratando-se, portanto, de dinâmicas e
atividades relacionadas à exploração das QUADRO 1 – Variáveis socioeconômicas analisadas com base em dados do Censo do IBGE (2000).
“terras firmes”. VARIÁVEL OBSERVAÇÕES
Neste sentido, é curiosa a situação Carga de dependência Proporção de jovens (0 a 18 anos) e idosos (acima de 60
anos) em relação à população adulta (19 a 59 anos).
de Paragominas, que, apesar do desvio
da rodovia Belém-Brasília, que ante- Média de rendimento nominal mensal das pessoas res-
ponsáveis por domicílios
riormente atravessava a cidade, mante-
ve sua importância em função da con- Taxa de analfabetismo
Taxa de cobertura de serviço de água* Proporção de domicílios atendidos.
vergência de duas rodovias (PA-125 e
Taxa de cobertura de serviço de limpeza* Proporção de domicílios atendidos.
PA-256) interligadas à atual BR-010, e
Taxa de cobertura de serviço de saneamento* Proporção de domicílios atendidos.
que promovem a articulação dos cinco
Total dos rendimentos dos responsáveis por domicílios
municípios em questão, favorecendo a particulares permanentes (DPP) com renda maior que
concentração de investimentos e de ati- zero
vidades para aquela cidade. Média dos anos de estudo por responsável por DPP
As atividades predominantes no espa- * Estes indicadores, que estão representados nos Mapas Socioeconômicos, podem apresentar distorções significativas quanto
à cobertura atual dos serviços em questão. Neste sentido, muitos bairros não atendidos ou que não existiam na época do Cen-
ço rural dos municípios em questão são
so (2000) passaram a receber mais serviços públicos nos anos seguintes. Ver Quadros 2 e 3, mais atualizados (ano de 2006).
bastante desfavoráveis para a condução do ELABORAÇÃO: Estevão J. S. Barbosa (2007).

344
inclui todo o bairro do Centro, que corresponde à garantam a preservação das qualidades espaciais te, entre o antigo eixo da BR- 010 (atual av. Pte.
porção leste da cidade, e que se consolidou como identificadas nas áreas de ocupação mais antiga. Vargas) e o novo eixo desta rodovia. Nesta área, as
área mais valorizada. A expansão da cidade ocor- O abastecimento de água (ver Quadro 2), assim dimensões das quadras (aproximadamente 100 m
reu, desde o final da década de 1970, a partir de como o serviço de coleta do lixo (ver Quadro 3), por face) são vantajosas quanto à distribuição de
dois núcleos independentes (Centro e Vila Nova). são relativamente regulares na cidade, e observa-se lotes e no que diz respeito à amenização das con-
Na década de 1990 teve início uma maior articula- considerável diferença na paisagem e nos indicado- dições climáticas locais pela preservação de miolos
ção entre estes dois núcleos, com o prolongamen- res socioeconômicos do bairro central em relação de quadra com vegetação nos quintais. Observa-se,
to das ruas São Francisco e Coité, além da ocupa- às ocupações mais recentes, que denotam, assim, porém, uma pressão pelo parcelamento de miolos
ção de parte da planície de inundação. Tal iniciativa características de bairros periféricos – o que não de quadra. A organização simétrica desta porção da
tende a tornar a cidade mais simétrica, e fortalece se expressa em uma diferenciação intra-urbana cidade possibilita o encontro de moradores e tran-
a legibilidade2 do espaço construído, pela possibi- muito significativa. Não há serviço de esgotamen- seuntes, favorecendo, assim, a diversidade de usos
lidade de compreensão da estrutura da cidade com to sanitário. O comércio e os serviços públicos e de relações sociais no espaço urbano.
base na localização de seus eixos (ruas) principais, são subordinados à cidade de Mãe do Rio, onde Em Ipixuna houve, também, a formação de um
que também correspondem aos eixos (ruas) estru- há escritórios regionais da SEDUC, SESPA, TRE, bairro chamado Vila Nova em terras localizadas
turadores das partes de bairros de ocupação mais EMATER, SEFA, dentre outros, e durante todo o após o limite imposto por uma área alagada. A par-
consolidada. Tais características favorecem a in- dia são ofertados os serviços de táxi coletivo entre tir dos anos 1990, houve uma iniciativa política de
tegração e o contato entre os diversos grupos de as duas cidades pelo valor de dois reais (valor rela- conduzir o crescimento da cidade para a porção oes-
usuários da cidade (habitantes e transeuntes), e o tivo ao ano de 2006). te, com a criação do bairro de Vila Nova, que tem
controle equilibrado do espaço coletivo. recebido investimentos em pavimentação e insta-
O perímetro urbano (légua patrimonial) da IPIXUNA DO PARÁ lação de equipamentos públicos (hospital, escolas).
cidade é geométrico, obedecendo ao traçado pa- Os indicadores socioeconômicos demonstram que
ralelo das vicinais, e desconsidera, conforme dito A cidade de Ipixuna constitui-se em frontei- a porção oeste de Ipixuna denota características ti-
anteriormente, os acidentes fisiográficos (“grotas”, ra entre a área de influência dos pólos de Casta- picamente periféricas, enquanto na porção leste
igarapés), incorporando fazendas que têm seus ei- nhal e Paragominas. A organização intra-urbana (sobretudo o bairro do Centro), mais valorizada, os
xos de acesso tomados como vetores de expansão de Ipixuna é muito semelhante à de Aurora, com indicadores de renda, escolaridade e prestação de
para a formação de novos assentamentos. Começa a diferença de que a rodovia encontra-se na peri- serviços públicos são ligeiramente mais elevados.
a se manifestar na cidade o fenômeno da retenção feria da cidade. É possível identificar três estágios Os serviços de água e coleta de lixo atingem to-
de terras e expansão física descontínua da malha de ocupação, ou períodos morfológicos (forma dos os bairros oficiais (ver Quadros 2 e 3), sendo o
urbana, especialmente por assentamentos infor- das quadras), na configuração espacial da cidade. bairro Liberdade o único que não recebe tais servi-
mais originados a partir de invasões, o que carac- Um primeiro momento corresponde à porção da ços, enquanto o esgotamento sanitário está restrito
teriza uma dificuldade da gestão municipal em cidade que apresenta indícios de uma concepção

espaços urbanos
a algumas poucas quadras do Centro. A rede geral
promover o acesso equilibrado à terra pela popula- planejada de arruamento (década de 1970), mani- de abastecimento de água, mantida pela prefeitura
ção, e de definir diretrizes de expansão urbana que festa em malha regular, com modulação constan- municipal, oferece o serviço gratuitamente.

QUADRO 2 – Informações sobre abastecimento de água por rede geral (2006).


CIDADE/ SETOR N.º DE POÇOS REGULARIDADE N.º DE LIGAÇÕES
AURORA DO PARÁ
Centro/ Aparecida 5 24 horas/ dia. 691
Vila Nova/ Centro 1 Alternado de 4 em 4 horas 563
IPIXUNA DO PARÁ
Centro 1 Alternado:
Vila Nova 1 - 06 às 11 horas. Não disponível
Pará-Ubá (Morro) 1 - 17 às 23 horas.
ULIANÓPOLIS
Resende 1 1 355
22 horas (das 15 às 13 horas do
Resende 2 1 250
dia seguinte)
Boa Vista (parcial) 1 497
TOMÉ-AÇU
Setor único 1 20 horas (06 às 20 horas) 3700
PARAGOMINAS
Centro 1 623
Jaderlândia 2 1628
Nova Conquista 1 161
Res. João Alberto 1 179
Res. Olga Moreira 1 Interrupção do abastecimento em algu- 128
Jardim Atlântico 3 mas horas da noite e madrugada (sem 945
maiores informações).
Aragão 1 184
Promissão I (parcial) 1 Não disponível
Parque III (parcial) 1 Não disponível
Bela Vista, Vila Rica, Laércio Cabelini,
10 2564
Módulo II, Camboatã I, Camboatã II
FONTES: Secretaria Municipal de Obras – Aurora do Pará; Secretaria Municipal de Saúde – Aurora do Pará/ DATASUS; Secretaria Municipal de Obras – Ipixuna do Pará; Departamento de Tributos – Pre-
feitura Municipal de Ulianópolis; Departamento de Águas – Prefeitura Municipal de Tomé-Açu; COSANPA – Escritório de Paragominas.
ELABORAÇÃO: Estêvão J. S. Barbosa (2007).

2
O termo legibilidade está sendo utilizado neste texto como qualidade relativa à correspondência entre as escalas local e global (ver Box 2).

345
QUADRO 3 – Informações sobre coleta de lixo (2006).
CIDADE FORMA DE COLETA REGULARIDADE/ ABRANGÊNCIA
AURORA DO PARÁ Caminhão. Diário/ Todos os bairros.
espaços urbanos

IPIXUNA DO PARÁ Caminhão, trator, caçamba, carroça. Diário/ Todos os bairros oficiais.
ULIANÓPOLIS Caminhão. 3 vezes por semana/ Todos os bairros.
TOMÉ-AÇU Caminhão. 3 vezes por semana/ Todos os bairros.
PARAGOMINAS Caminhão, trator. Diário/ Todos os bairros.
FONTES: Secretaria Municipal de Obras – Aurora do Pará; Secretaria Municipal de Obras – Ipixuna do Pará; Departamento de Tributos – Prefeitura Municipal de Ulianópolis; Clean Service – Escritório de
Tomé-Açu; Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Paragominas.
ELABORAÇÃO: Estêvão J. S. Barbosa (2007).

Após a planície de inundação (oeste) que divi- forma da liberação de lotes de terra por parte de tampouco de comércio, uma vez que parte signi-
de os bairros Vila Nova e Centro, o arruamento proprietários de latifúndios, contidos no períme- ficativa dos estabelecimentos comerciais encontra-
já não é tão regular e tem dimensões diversas da- tro urbano. As terras pertenciam a uma família, e se ao redor do mercado municipal, no bairro de
quelas da área de ocupação mais antiga; observe-se foram adquiridas por um particular que, gradati- Boa Vista. Somente nos indicadores renda e esco-
que a delimitação dos bairros corresponde às áreas vamente, foi subdividindo a sua propriedade. Por- laridade o Centro apresenta valores mais elevados
com características de configuração da malha urba- ções de terra foram compradas por outros agentes, que os demais bairros, e ainda assim é importante
na semelhantes. O padrão de ocupação das quadras sobretudo madeireiros e latifundiários, que as uti- lembrar que a renda está mais concentrada no es-
do bairro Vila Nova, que corresponde ao segundo lizaram e utilizam como moeda de troca para a ob- paço rural, onde residem os latifundiários, madei-
estágio morfológico, é outro indicador da existên- tenção de votos, ou, de outro modo, como reserva reiros, sojeiros etc., do que no espaço urbano. A
cia de uma condição socioeconômica mais baixa do de renda para o futuro, estabelecendo-se, neste úl- precariedade de serviços e equipamentos públicos
que no Centro, em função da redução do tamanho timo caso, a especulação imobiliária. Este processo na cidade como um todo bem como os indicadores
dos lotes e das quadras, e conseqüente redução das teve início em princípios da década de 1980, uma socioeconômicos apontam para a existência de as-
dimensões de ruas e formação de uma malha regu- vez que Ulianópolis é a cidade mais jovem dentre pectos periféricos na maior parte da aglomeração.
lar, mas com angulações e modulação visivelmen- aquelas estudadas, e intensificou-se após a eman- O desempenho da malha viária é comprometido
te distintas da anterior. As conexões com o Cen- cipação do município em 1993, em associação com pela maneira como as terras foram liberadas para
tro ainda são insuficientes, tornando a área da Vila a expansão urbana impulsionada pela chegada de uso urbano. Não houve uma subdivisão da terra
Nova segregada, e sujeita a maior controle local (do migrantes. Na área urbana, o controle político tem rural em propriedades menores do tipo sítio, pois,
morador) do que ocorre na área do Centro. sido, muitas vezes, mais interessante que o con- o que ocorreu foi uma redefinição de usos de forma
O terceiro estágio morfológico corresponde à trole fundiário, o que garante acesso aos postos de abrupta, sem uma transição. As decisões referentes
expansão, verificada a partir de 1996, de ambas as comando do executivo municipal. à expansão urbana foram concentradas nas mãos
áreas mencionadas, ocupando sítios sujeitos a ala- A situação fundiária demonstra uma desigual- de poucos proprietários, sem precisar obedecer a
gamentos (“grotas”), ou superfícies já desmatadas dade social bastante aguda entre habitantes da diretrizes de arruamento ou a um planejamento es-
por processos de instalação de serrarias ou assen- cidade e fazendeiros. A transformação de terras pacial mais coerente. E, paralelamente ao problema
tamentos rurais. Nestas áreas, as quadras tendem privadas em terra urbana não leva em considera- da agregação de loteamentos, observa-se a inade-
a ficar menores, e as mais periféricas ainda estão ção qualquer tipo de ordenamento territorial, há quação do arruamento à forma da topografia.
em processo de formação. Observa-se que as ruas um interesse em liberar terras por um processo de
principais do núcleo original têm sido estendidas, agregação gradual à malha urbana existente con- TOMÉ-AÇU E QUATRO BOCAS
ainda que seja perceptível a redução da largura de forme seja mais interessante politicamente, ou
algumas delas e da cobertura vegetal no miolo de economicamente no caso dos agentes fundiários Em 1929, os arredores de Tomé-Açu receberam
quadra, e a subdivisão do módulo original (qua- e/ou imobiliários. Como resultado, observa-se a imigrantes japoneses que deslancharam um processo
dra); tal descuido da gestão municipal resulta na desarticulação das malhas a e dispersão dos vários de colonização rural bastante particular em compara-
estratificação socioespacial da cidade. Na área de bairros da cidade, que não alcançam densidade po- ção ao restante da Amazônia. Os japoneses formaram
transição entre o Centro e a periferia há quadras pulacional suficiente para gerar serviços, tais como uma comunidade rural distante 12 km a W do povoa-
não ocupadas, possivelmente reservadas para espe- transporte público e infra-estrutura viária e de sa- do de Tomé-Açu, organizada a partir de dois eixos per-
culação. Já existe pressão pela ocupação informal neamento básico, os quais, quando são oferecidos, pendiculares, ao longo dos quais os lotes rurais foram
da faixa de terra existente entre a margem oposta são bastante precários. A coleta de lixo em 2006 era estabelecidos, permitindo que os colonos morassem
da rodovia e um curso d’água paralelo a esta, prin- mais abrangente (ver Quadro 3) que o serviço de próximo à via de acesso, e que as terras produtivas fos-
cipalmente na interseção com uma vicinal que se- abastecimento de água, o qual se encontra restrito sem localizadas atrás das casas de moradia (ver Mapa
gue para leste. a 3 (três) bairros. Nas demais áreas do espaço ur- de distribuição de lotes nas colônias de Tomé-Açu).
A área localizada ao sul da Vila Nova era ocupa- bano são utilizados poços artesianos (particulares Os eixos se constituíram em vicinais de acesso ao in-
da por um assentamento rural, cujos lotes conver- ou coletivos) e poços do tipo “Amazonas”. Inexiste terior, e a formação baseada em minifúndio viabilizou
gem para áreas desmatadas. Observa-se que as ter- rede de esgotamento sanitário. O bairro Palmeira uma densidade populacional suficiente para o esta-
ras ao sul da cidade já estão bastante antropizadas, é, em relação à totalidade da área urbana, o espaço belecimento de serviços de apoio à comunidade na
com a formação de lagos (açudes) próximos à ro- mais segregado, e comporta-se como uma periferia intercessão das vicinais, colaborando para a formação
dovia, possivelmente para atender às necessidades relativamente distante do bairro do Centro (cerca do núcleo de Quatro Bocas.
da atividade pecuária. Desde o ano de 2005, vem de 2 km). Até os anos 1950, a comunidade nipônica de
se formando um assentamento informal chamado A realidade urbana de Ulianópolis indica uma Tomé-Açu dedicou-se à fruticultura, e desde então
de Liberdade na porção sudoeste do espaço urbano cidade sem nenhuma área com centralidade bem adotou a pimenta-do-reino como principal cultu-
de Ipixuna, em relação ao qual se comporta como definida. Embora haja um bairro chamado de ra, seguindo o exemplo de produtores da região
área tipicamente segregada. Centro, que corresponde à malha urbana instala- do Baixo Tocantins, com quem os japoneses man-
da antes da emancipação (1993), este não detém, tinham contato através da rede de canais fluviais
ULIANÓPOLIS tal como ocorre em Aurora, Ipixuna, Tomé-Açu, que compõe a chamada Região Guajarina. A partir
Quatro Bocas e Paragominas, uma concentração desta época, Quatro Bocas já concentrava ativida-
O espaço intra-urbano de Ulianópolis de- maior de serviços administrativos, em sua maio- des econômicas importantes, como a sede da coo-
monstra a influência das atividades econômicas na ria alocados no bairro Caminho das Árvores, perativa da colônia japonesa, o comércio varejista,

346
347

espaços urbanos
o hospital da colônia e serviços públicos diversos Nesta época, formou-se o bairro da Pedreira, que de terras rurais em urbanas tornou-se uma alter-
na confluência de acessos para lotes rurais. A aces- se apresenta como uma espécie de área de transi- nativa atraente para os produtores rurais, que fo-
sibilidade fluvial garantia a mobilidade de traba- ção, do ponto de vista da infra-estrutura instala- ram gradativamente parcelando e liberando para
lhadores e de mercadorias entre os municípios do da, dos serviços públicos e dos indicadores socio- ocupação as terras dos pimentais. A regularidade
espaços urbanos

Baixo Tocantins e os da bacia do rio Acará, e a vila econômicos, entre o Centro e o bairro periférico do esquema original favoreceu a formação de
de Tomé-Açu funcionava como o porto de apoio à conhecido como Tabom. As quadras formadas uma malha regular, subdividida em quadrantes
produção de pimenta-do-reino. neste período, apesar de irregulares quanto à for- pelas estradas existentes (uma delas a PA-140, e
O relacionamento inicial da população de To- ma e dimensões, apresentam como característica a outra o ramal que constitui a avenida Saburo
mé-Açu com o rio foi bastante funcional, pois a comum a significativa presença de vegetação de Chiba). A regularidade do traçado potencializa a
várzea existente impediu a ocupação da orla por miolo de quadra, indicando que o lote adotado centralidade, o que, somado ao crescimento po-
outras atividades que não a portuária. A concentra- para parcelamento é profundo e respeita carac- pulacional vertiginoso, atraiu para Quatro Bocas
ção de atividades comerciais na área do porto (tra- terísticas físicas do sítio (topografia, presença de atividades comerciais e serviços especializados
piche), onde existe ainda hoje (2006) o prédio do água). A vegetação presente nos miolos de quadra (hotéis, restaurantes, escritórios de firmas), al-
mercado, reforça esse utilitarismo. Diferentemente também é marcante na fase subseqüente (1990), guns diretamente vinculados às obras decorren-
de cidades tradicionais do Baixo Tocantins, não se ocorrendo em quadras maiores, mais largas, que tes da atividade de mineração na área de estudo.
observa em Tomé-Açu, por exemplo, a presença da viabilizam uma interação entre moradia e vegeta- Em Quatro Bocas há uma diferenciação intra-
igreja matriz defronte ao rio, como referência sim- ção muito positiva, se consideradas as caracterís- urbana nítida em duas partes: um centro urbano
bólica ao centro da cidade, ou elementos que reve- ticas climáticas da região. que funciona como uma área mais “nobre”, e di-
lem outras centralidades superpostas à funcional, De um modo geral, as malhas (de ruas) e po- versos loteamentos periféricos ao seu redor.
de caráter mais social e cultural, tal como praças lígonos (correspondentes às quadras) irregulares Entre os dois núcleos (Tomé-Açu e Quatro Bo-
ou espaços cerimoniais construídos na “ribeira”. O indicariam um ritmo de ocupação mais lento, e cas) foram instaladas diversas serrarias, as quais co-
caráter ribeirinho pouco significativo do centro de maior diversidade de atores envolvidos na pro- nheceram o seu auge na década de 1980, mas que,
Tomé-Açu foi agravado com a construção da pon- dução do espaço urbano, que contrastam com atualmente, já se encontram decadentes. Esta área
te sobre o rio Acará-Mirim para prosseguimento a regularidade e modulação de parcelamentos constitui-se em uma espécie de cinturão divisor, e
da PA-140, que conecta Santa Izabel do Pará (BR- produzidos por um único agente, como o lotea- a presença das serrarias marca uma fase econômica
316) à PA-256, uma vez que a ponte obstruiu a na- mento implantado pela COHAB (Tabom), e, do posterior à consolidação da colônia japonesa e do
vegação de embarcações de médio porte naquele mesmo modo, o loteamento operário projetado auge do cultivo e exportação de pimenta-do-reino.
rio em ponto anterior ao antigo porto. pela CONSTRAM, empresa responsável pela No interior das serrarias e dos sítios, encontram-se
A impossibilidade de usar o porto deslocou a construção do mineroduto que passa próximo a fragmentos de mata nativa que podem ser aprovei-
atividade comercial da cidade para as proximidades Quatro Bocas, e que proporciona o escoamen- tados como um recurso ambiental para potencia-
da rodovia, que, ao conectar-se ao eixo já existente to de bauxita desde Paragominas até o porto de lizar um relacionamento mais harmônico da cida-
de articulação de Tomé-Açu com os assentamentos Vila de Conde (Barcarena). Em negociação com de com o meio natural, através da criação de áreas
rurais e com o núcleo de Quatro Bocas, tornou-se a Prefeitura Municipal de Tomé-Açu, a empresa verdes (parques) para uso coletivo (lazer, pesquisa
a principal avenida da cidade. A observação da arti- obteve terras e vem abrindo ruas e construin- etc.).
culação de diferentes malhas (quanto à modulação do casas que, após a conclusão das obras, serão A dinâmica de crescimento urbano descrita aci-
– distância regular entre ruas, ângulos de inclinação doadas para o município. Nestas áreas de as- ma revela uma certa autonomia da sede do muni-
e dimensões e formas das quadras) contribui para a sentamentos formais, planejados, a largura das cípio de Tomé-Açu (constituída pelo núcleo his-
identificação de etapas distintas de formação da ci- quadras é muito menor, mas ainda se observa a tórico e pelo núcleo de Quatro Bocas) em relação
dade de Tomé-Açu. Uma malha paralela ao rio (ou presença da vegetação de miolo de quadra como à hierarquia urbana manifesta no restante da área
perpendicular ao antigo porto), corresponde ao um traço marcante da relação com o meio. Na de estudo, e que está mais diretamente associada
estágio inicial de formação da cidade (pré-1970), porção norte da cidade surgiram os assentamen- à abertura da BR-010 e à polarização exercida por
destacando a lógica das menores dimensões para as tos periféricos do Maranhense e Kanebo. centros como Castanhal, ao norte, Paragominas,
quadras comerciais, e das maiores dimensões para Os atributos espaciais observados na área da ao centro, e Imperatriz, ao sul.
as quadras que contêm equipamentos de uso co- COHAB (Tabom) e da vila operária da CONS- A relação urbanística entre as cidades de To-
letivo, tal como as escolas. Esta área corresponde, TRAM divergem daqueles predominantes nas mé-Açu e Quatro Bocas é praticamente inexis-
basicamente, ao Centro, no qual as condições de outras áreas da cidade de Tomé-Açu. Nestas, ob- tente. Poderíamos admitir que os fluxos exis-
infra-estrutura, renda e escolaridade são relativa- serva-se uma correspondência entre a compreen- tentes entre as duas localidades servem como
mente melhores do que no restante da cidade. são do todo e de suas partes, proporcionada pela orientadores da localização do “nó” que se for-
A área central de Tomé-Açu ainda se encontra identificação dos principais eixos de deslocamento mou em função do cruzamento entre a rodo-
em fase de consolidação, na medida em que vem dentro da área, que são estruturadores da cidade e via e o ramal (av. Saburo Chiba), com acesso
se formando, gradativamente, um cinturão de peri- também dos bairros (formam os centros de bair- às terras cultivadas com pimenta-do-reino. A
ferias ao redor dela, o que aponta para a existência ro). Os dois loteamentos planejados, neste sentido, comunidade japonesa, de grande importância
de um nítido padrão de diferenciação intra-urbana. são relativamente segregados em relação à cidade para o desenvolvimento do lugar, configurou,
Contudo, os serviços de coleta de lixo e abasteci- como um todo, apesar de internamente apresenta- no interior das propriedades – sejam sítios ou
mento de água são relativamente regulares, abran- rem estruturação clara. fazendas –, casas com características que lem-
gendo toda a cidade (ver Quadros 2 e 3). É possível que esse padrão de ocupação em bram edificações do país de origem. Em termos
Uma segunda etapa de formação produziu Tomé-Açu esteja relacionado com o fato de o de implantação, cujas configurações poderiam
os espaços de transição, que, afastando-se do núcleo de Quatro Bocas ter absorvido a pressão levar a marcar no espaço urbano traços culturais
rio Acará-Mirim, rotacionaram a malha de ruas, por adensamento populacional da área, ao apre- diferenciados, há pouca ou nenhuma correlação
acompanhando o ângulo da estrada de acesso ao sentar altas taxas de crescimento populacional e entre a arquitetura e o urbano. Encontram-se,
núcleo de Quatro Bocas, e na direção da orla ex- de expansão da malha urbana durante as décadas neste sentido, edificações invariavelmente soltas
pandiram ao máximo os eixos (ruas) existentes, de 1980 e 1990. Tal fato foi favorecido pelas ca- no terreno, com acessos voltados para a criação
mas de modo espontâneo e menos regular, orien- racterísticas do parcelamento rural já menciona- de espaços de transição como passagem para am-
tado, possivelmente, pelas limitações impostas das e pela dinâmica econômica local. Com o de- bientes conectados a um arranjo interno flexível
pela várzea durante as décadas de 1970 e 1980. clínio da produção da pimenta, a transformação que caracteriza a arquitetura japonesa.

348
BOX 2
ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO COM BASE tro extremo, no qual os tons de azul representam transformação e incorporação de áreas informal-
NA SINTAXE ESPACIAL as linhas mais segregadas. mente produzidas à cidade preexistente.
As evidências apresentadas na literatura indicam A integração espacial e social de áreas produzi-
Os sistemas espaciais são estudados em duas es- que quanto mais integrado o espaço, maior a pro- das espontaneamente ao núcleo original depende
calas, a global e a local, que correspondem a dois babilidade de ocorrência de um fluxo natural de do equilíbrio entre padrões globais e locais, ou
tipos de domínio, o do morador e o do estranho ou pedestres capaz de induzir a diversidade de usos, da possibilidade de articulação do fluxo de visi-
visitante. A escala local é estruturada pelos espaços se as tipologias edificadas e condições de apro- tantes com o fluxo de moradores, no sentido de
convexos (unidades bidimensionais que permitam priação forem favoráveis (ex: maior quantidade de fortalecer áreas que funcionem como centros de
o completo domínio visual do observador de todos portas por perímetro de quadra, continuidade de bairros, e permitam maiores oportunidades de
os seus pontos, associada à noção de lugar), defi- atividades ao longo do dia e da semana). O espaço trabalho para a população residente. Por outro
nidos por barreiras que restringem o movimento mais segregado, por oposição, induz a uma fraca lado o espaço acessível a estranhos e moradores
das pessoas (paredes, muros, cercas, taludes, rios, presença de movimento. oferece maiores oportunidades de interação en-
etc) e é dominada pelo morador. A escala global As relações intrínsecas existentes entre o mo- tre estes dois grupos, proporcionando referên-
organiza os espaços convexos ao longo de uma li- vimento de pedestres e a configuração espacial cias de comportamento e informações para os
nha reta; esta unificação linear permite a análise da cidade foram apresentadas por Hillier (1993), segundos a respeito da vida na cidade (Cardoso,
global do assentamento, através dos mapas axiais. viabilizando uma abordagem morfológica ao tema 2002). Além do mais, a atuação desencadeada
Esse mapa é formado a partir do menor número desenvolvida por esse autor (Hillier, 1989, 1996, para reduzir a segregação de áreas espacialmente
das mais longas linhas necessárias para cobrir todo 1999). No último texto o autor apresenta evidên- e socialmente periféricas potencializa o acesso da
o sistema de espaços convexos (1). Por meio desse cias sobre a criação de centralidades, em ruas di- população menos favorecida aos equipamentos e
procedimento, far-se-á a caracterização das quali- ferenciadas dentro de uma malha urbana, que em serviços disponíveis nas cidades (escolas, hospi-
dades de integração e segregação da malha urbana Cardoso (2002) foram associadas às estratégias da tais, transporte público, feiras, abastecimento de
objeto de estudo. população pobre de explorar o espaço como re- água, etc.). As leituras morfológicas permitem a
A medida de integração procura revelar a cor- curso para superar suas limitações monetárias. As descrição e a categorização de relações espaciais,
respondência entre a configuração espacial e o mo- centralidades favorecem atividades comumente subjacentes a uma dada configuração e aos seus
vimento de pessoas nos espaços abertos da malha, praticadas pela população pobre (exploração da padrões de ocupação do solo. Tais caracteriza-
buscando detectar situações de estímulo ou res- casa como local de trabalho, da calçada como local ções permitem comparações no tempo e entre
trição ao movimento de pedestres. A integração é de venda ambulante, da rua como local de ofer- diferentes objetos de estudo, conforme a dispo-
calculada através da quantidade de passos topoló- ta de serviços e produtos) e são geradas ao longo nibilidade das informações necessárias.

espaços urbanos
gicos existentes entre as linhas do sistema, onde a dos processos de consolidação de assentamentos
(1) Para a elaboração do mapa axial, é necessária a produ-
distância de uma linha em relação a qualquer outra espontâneos. Através da comparação de diferen- ção do mapa de ilhas espaciais que registra todas as barreiras
é medida a partir da quantidade de mudanças de tes áreas em processo de consolidação em Belém, ao movimento existentes, e, se possível, do mapa de espaços
convexos.
direção. O resultado dessa mensuração é expresso Cardoso (2002) constatou que as mensurações de
numericamente em tabela e graficamente através integração global, integração local e profundida- Texto retidado de:
CARDOSO, A. C. D. (org.). Condições de pobreza na
de cores aplicadas aos eixos do mapa axial, em que de, associadas a leituras morfológicas vinculadas Região Metropolitana de Belém. Belém: Ateliê de Arquite-
o vermelho corresponde à melhor situação de in- ao processo de formação da configuração do as- tura da Universidade Federal do Pará, 2006. (Relatório Téc-
nico CNPq/PIBIC-UFPA.)
tegração, e dentro de uma gradação se chega ao ou- sentamento, poderiam explicar ritmos distintos de

PARAGOMINAS los antes que a ocupação do solo assumisse um pa- privado (Promissão I e II, Parques III e IV, Laér-
Paragominas surgiu no cruzamento entre o drão mais espontâneo – sujeito, portanto, às ações cio Cabelini, Independência etc.), e de conjuntos
antigo trecho da BR-010, que atualmente corres- desarticuladas de parcelamento do setor privado, habitacionais de interesse social (Jardim Atlântico,
ponde à PA-125, e a PA-256. A cidade se estabele- ou à ocupação de terras pelos grupos excluídos. O Nova Conquista e Jaderlândia); em ambos os ca-
ceu originalmente na superfície de planalto locali- hexágono adjacente à rodovia assumiu o caráter de sos, verificam-se quadras e lotes cada vez menores
zada acima das planícies de inundação do igarapé área central, com maior diversidade de usos e con- à medida que se afastam da área central. Destaca-se
Paragominas e do rio Uraim, a partir da formação centração de serviços especializados, devido a sua a extensão do Setor Industrial, bem como sua loca-
de um pequeno assentamento de beira de estrada condição de acessibilidade privilegiada (centrali- lização adjacente ao módulo original, e que atual-
nos primeiros anos da década de 1960. Cinco anos dade). A expansão do primeiro módulo ocorreu, mente constitui-se em área privilegiada da cidade,
depois, com a emancipação de Paragominas, hou- durante a década de 1970, pela construção de um diretamente conectada ao centro administrativo,
ve a implantação do módulo básico (Módulo I), segundo hexágono mais afastado da rodovia, e pelo de comércio e demais serviços (pça. Célio Miran-
hoje bairro Centro, que foi inspirado na proposta preenchimento das lacunas existentes entre os he- da e radiais).
premiada com o terceiro lugar no concurso para xágonos e a rodovia, bem como pela ocupação de Com o crescimento da cidade, foi construída
o plano piloto de Brasília, originalmente elabora- áreas adjacentes a estes. a rodovia dos Pioneiros, para retirar o tráfego de
da pelo escritório M.M.M. Roberto. A proposta O segundo módulo não contou com o mesmo veículos pesados do centro da cidade, conduzindo
modernista (ver Figura 1) pretendia refutar todo nível de investimento em infra-estrutura do pri- ao Setor Industrial, mas também articulando
e qualquer apelo à monumentalidade e estabelecer meiro, e as malhas de preenchimento deram ori- loteamentos residenciais, o que causa conflito do
um padrão de descentralização baseado em rela- gem a áreas privilegiadas da cidade – bairros Gua- tipo de tráfego com o uso, devido à inexistência
tórios e estudos socioeconômicos que apoiavam a nabara e Uraim, e o loteamento Nossa Senhora da de solução viária compatível com essa dupla fun-
proposta (Bruand, 1991). Conceição, que hoje forma, com o Módulo II, o ção. O comércio está concentrado no Módulo
Tal experiência de desenho urbano realizada em bairro da Cidade Nova. A partir de então, a ex- I ou Centro, com varejo diversificado e lojas de
Paragominas foi um marco quanto à atuação do pansão da cidade seguiu mais claramente o padrão marcas famosas que atendem aos grupos de maior
poder público, que chegou a produzir dois módu- de adição de loteamentos produzidos pelo setor poder aquisitivo; assim como na fronteira do

349
espaços urbanos

Centro com a Cidade Nova, onde se localiza a área Promissão I e II, com ocupação mais diversificada, a mobilidade da população que vive na área mais
do mercado municipal, com concentração de va- fazendo a transição da área nobre para a de ocu- consolidada da cidade, assim como de parte da for-
rejo mais popular e atacado de gêneros vendidos pação periférica. A porção nordeste, após a planí- ça de trabalho que vive nas áreas mais afastadas.
em supermercados; e ao longo da PA-256, eixo de cie do igarapé Paragominas, é constituída por uma O loteamento Parque Pres. Juscelino é, dentre as
comércio especializado em maquinário e produtos superfície de planalto mais alta, e que vem sendo áreas intra-urbanas de produção mais recente (após
de uso agrícola e automotivo. Cabe destacar que valorizada, devido a seus atributos físicos – com o ano 2000), o mais extenso, e está voltado para as
subcentros de comércio varejista estão se forman- uma espécie de mirante que possibilita, em alguns camadas populares, com suas terras divididas por
do nos bairros mais afastados, como é o caso do pontos, uma bela vista da cidade –, para a instala- uma profunda “grota”, indicando que a ocupação é
Jaderlândia e Nagibão. ção de loteamentos dirigidos para a classe média. intensificada nos piores trechos do sítio, enquanto
No lado oposto da rodovia PA-125, próximo ao As linhas de ônibus existentes em Paragominas os terrenos melhores em termos de acessibilidade
Centro, foi construído o loteamento Guanabara, conectam apenas parte dos bairros do Complexo e de condições físicas são reservados para usos mais
que concentra as casas de melhor padrão constru- da Promissão ao Centro, e este com o loteamento nobres. Os loteamentos de menor dimensão volta-
tivo (mansões) da cidade, do município e da área chamado de Nagibão, localizado fora do perímetro dos para a população de baixa renda, tal como os re-
de estudo. Adjacente ao Guanabara, na porção urbano, a cerca de 2 km ao S da Vila do km 12, na sidenciais Olga Moreira e José Alberto, e a invasão
nordeste da cidade, encontram-se os Parques da rodovia BR-010. Deste modo, é garantida apenas conhecida como Sidilândia vêm ocupando terrenos

350
FIGURA 1 – Projeto urbanístico inicialmente adotado na cidade de Paragominas. Croqui elabora- espaços urbanos
do pelo primeiro interventor do município, Sr. Célio Miranda. FONTE: Leal (1983).

vazios ou de firmas (serrarias, olarias) desativadas comércio informal e do número de pessoas sem ser observado nos Quadro 2 e 3, o abastecimento
no interior do perímetro urbano. ocupação ou renda definida. de água, promovido pela Prefeitura Municipal e
Os pequenos loteamentos instalados a partir de Nos loteamentos Uraim e Guanabara, áreas pela Cosanpa, é bastante desigual, enquanto a co-
2000 indicam, neste sentido, que a expansão urba- mais valorizadas e adjacentes ao Centro, observa- leta de lixo abarca todos os bairros.
na principal ocorre distante do perímetro urbano, se o começo do processo de verticalização da ci- Por fim, a cidade em questão apresenta estru-
no qual a terra está concentrada nas mãos de pou- dade, pela construção de condomínios verticais tura assimétrica, que mantém os loteamentos mais
cos agentes, o que leva a população de baixa renda (executados pelas mesmas empresas que atuam afastados de forma bastante segregada em relação
e/ou migrante a se estabelecer em locais afastados nesse segmento em Belém). As porções sudeste e à área central. A fraca correspondência entre ruas
como a Vila do km 12, o Nagibão e a Vila Uraim – noroeste da cidade, por sua vez, contam com lo- que estruturam a cidade em termos globais e ruas
localidades rurais gradativamente convertidas em teamentos em condições insatisfatórias de provi- que correspondem aos centros de bairros dificulta
espaços urbanos. O incremento da migração pode são de serviços e equipamentos urbanos. Há falta a compreensão do pedestre, e prejudica a interação
ser explicado pela esperança dos recém-chegados d’água por ocasião da estiagem, pois parte signifi- entre moradores e transeuntes.
em conseguir trabalho nas atividades em expansão, cativa do abastecimento é feita por poços do tipo
quais sejam, agronegócio e a mineração, que empre- “Amazonas”, que dependem do volume de água
gam pouca mão-de-obra, o que leva ao aumento do disponível nos lençóis freáticos. Conforme pode

351
INTEGRAÇÃO LOCAL - AURORA DO PARÁ INTEGRAÇÃO GLOBAL - AURORA DO PARÁ
espaços urbanos

INTEGRAÇÃO LOCAL - IPIXUNA INTEGRAÇÃO GLOBAL - IPIXUNA

INTEGRAÇÃO LOCAL - TOMÉ-AÇU INTEGRAÇÃO GLOBAL - TOMÉ-AÇU

352
INTEGRAÇÃO LOCAL - PARAGOMINAS INTEGRAÇÃO GLOBAL - PARAGOMINAS

espaços urbanos
INTEGRAÇÃO LOCAL - ULIANÓPOLIS INTEGRAÇÃO GLOBAL - ULIANÓPOLIS

353
espaços urbanos

354
862'262/285%$12
720e$d8


espaços urbanos
FRQVWUXomR

355
espaços urbanos

356
862'262/285%$12
$8525$'23$5È


espaços urbanos
FRQVWUXomR

357
espaços urbanos

358
862'262/285%$12
,3,;81$'23$5È


espaços urbanos
FRQVWUXomR

359
espaços urbanos

360
862'262/285%$12
3$5$*20,1$6


espaços urbanos

361
espaços urbanos

362
862'262/285%$12
3$5$*20,1$6


espaços urbanos

363
espaços urbanos

364
862'262/285%$12
3$5$*20,1$6


espaços urbanos
FRQVWUXomR

365
espaços urbanos

366
862'262/285%$12
3$5$*20,1$6


espaços urbanos
FRQVWUXomR

367
espaços urbanos

368
862'262/285%$12
3$5$*20,1$6


espaços urbanos
FRQVWUXomR

369
espaços urbanos

370
862'262/285%$12
3$5$*20,1$6


espaços urbanos
FRQVWUXomR

371
espaços urbanos

372
862'262/285%$12
3$5$*20,1$6


FRQVWUXomR

espaços urbanos

373
espaços urbanos

374
862'262/285%$12
3$5$*20,1$6


espaços urbanos
FRQVWUXomR

375
QUATRO BOCAS
espaços urbanos

376
TOMÉ-AÇU
377

espaços urbanos
AURORA DO PARÁ
espaços urbanos

378
IPIXUNA DO PARÁ

espaços urbanos

379
380 espaços urbanos

PARAGOMINAS
381

espaços urbanos
382 espaços urbanos

ULIANÓPOLIS
383

espaços urbanos
PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS URBANOS
problemas socioambientais urbanos
Ana Cláudia Duarte Cardoso • José Júlio Ferreira Lima
Estêvão José da Silva Barbosa
espaços urbanos

A
s áreas urbanas apresentam Muitos destes aspectos se fazem presentes no resultam de processos de diferenciação e exclusão
problemas ambientais que re- quadro socioambiental das cidades estudadas. A no espaço intra-urbano.
sultam, por um lado, da ina- partir de informações de campo, pôde-se chegar A paisagem urbana que resulta da dinâmica aci-
dequação da ocupação às condições físicas a uma classificação dos principais problemas que ma discutida gera espaços segregados, periféricos,
do sítio, isto é, às características e às limi- atingem as áreas urbanas em três categorias ou or- conhecidos como “favelas”, “baixadas” etc., e cuja
tações do terreno quanto ao adensamento dens: geotécnica, ecológica e infra-estrutural. Estas configuração se deve a estratégias específicas de
populacional e predial, e, por outro, da categorias foram definidas para fins didáticos, pois ocupação utilizadas pela população de baixa renda,
carência de infra-estrutura e de serviços muitos dos aspectos a elas inerentes estão imbrica- mas, também, da alocação desigual de investimen-
básicos de saneamento em alguns bairros, dos. Para o enquadramento de um problema so- tos pelo Estado, o qual tende a privilegiar as áreas
sobretudo aqueles localizados nas perife- cioambiental em uma das três categorias definidas, mais centrais e/ou valorizadas do espaço urbano
rias. Assim, muito mais que uma questão levaram-se em consideração os seguintes fenôme- (Maricato, 2000).
relativa ao sítio que serviu de base física à nos ou conjuntos de fenômenos: O segundo aspecto enfoca o aparato jurídico-ad-
ocupação, os problemas socioambientais • Inadequação da ocupação e das formas de ministrativo aplicável à gestão dos espaços urbanos,
são uma questão de técnica e de investi- uso do solo urbano à estrutura e à dinâmica o que, além da legislação, inclui projetos e planos
mento, no sentido da realização, ou não, fisiográfica do terreno – problemas de ordem de intervenção espacial, ambos (leis e planos e pro-
de obras, de serviços e de ações de pla- geotécnica; jetos) elaborados no âmbito das três esferas da ad-
nejamento e gestão que possam contro- • Impacto de ações e obras sobre a fisiolo- ministração pública – federal, estadual e municipal.
lar ou, pelo menos, minimizar os riscos gia (processos) da paisagem e sobre a biota Os objetivos implícitos aos instrumentos de gestão
e os prejuízos com enchentes, acúmulo – problemas de ordem ecológica; ambiental e, logo, às políticas de gestão ambiental
de lixo, poluição e/ou contaminação das • Sobreuso e conflitos de uso entre determina- que são por eles apoiadas divergem segundo a visão
águas, formação de ilhas de calor, dimi- das atividades e o contexto ambiental do en- que se tem de ambiente e de qualidade de vida, e de
nuição das áreas verdes, degradação paisa- torno – problemas de ordem infra-estrutural. acordo com o que se toma por escopo da atuação.
gística, dentre outros. Antes de prosseguir com a discussão, dois as- Neste sentido, há um conflito entre os princípios
A realidade socioambiental das cidades pectos relativos à realidade ambiental das áreas da chamada “Agenda Marrom”, que privilegia a saú-
depende da combinação entre os padrões urbanas serão discutidos. O primeiro se refere ao de ambiental da população, em termos de melhor
socioeconômicos de ocupação, as caracte- grau de vulnerabilidade ambiental e o segundo, ao qualidade de vida por meio de um ambiente equi-
rísticas do sítio, e o conjunto de ações de- conjunto de instrumentos legais, expressos em leis librado que garanta o bem-estar da população, com
senvolvidas pelos diversos agentes socio- e em planos/projetos de intervenção espacial apli- eqüidade social e condições dignas de serviços, in-
espaciais, dentre eles os gestores públicos, cáveis à gestão ambiental das cidades. fra-estrutura e acesso à educação, habitação, renda,
proprietários fundiários e a população de O grau de vulnerabilidade ambiental ao qual a lazer, contato com a natureza etc., enfim, segurança
baixa renda. Em relação às cidades bra- população urbana está sujeita varia em função das ambiental associada à cidadania; e os princípios da
sileiras, Tucci (2000) e Maricato (2000) condições ecológicas, econômicas, sociais e polí- “Agenda Verde”, que está mais voltada para a preser-
destacam os seguintes aspectos: ticas. Neste sentido, são os grupos de baixa renda vação do ambiente em suas características originais,
• a falta de regulamentação do uso do aqueles mais afetados pelos problemas socioam- isto é, em termos de ecossistemas naturais (McGra-
solo, tantas vezes orientada de acor- bientais, fato que se relaciona com a ocupação de nahan, Satterthwaite, 2000).
do com interesses privados e privi- locais inadequados, tais como as áreas alagadas, Durante os anos 1990, estudos sobre o espaço
legiados da sociedade e do mercado, mas que, por outro lado, são vantajosas no que urbano passaram a enfocar a questão da susten-
e a dificuldade de controle da ocu- diz respeito à localização próxima de áreas mais tabilidade, visando ao uso eficiente dos recursos
pação clandestina; privilegiadas por serviços e chances de emprego naturais no que diz respeito à segurança ambien-
• a forte densificação do espaço pro- (Cardoso, 2002). Com o tempo, a consolidação tal e, também, evitar a depreciação dos recursos,
duzida pela concentração de ativi- da ocupação torna-se, também, uma vantagem além de introduzir a necessidade de geração de
dades e construções, o que ocorre no que diz respeito à incorporação gradativa de eqüidade (Elkin et al., 1991 apud Cardoso, 2002).
em virtude da produção de centra- infra-estrutura, e à passagem de um ambiente de Foram estas duas formas de eqüidade que geraram
lidades urbanas e da pouca oferta de transição para um ambiente fortemente artificial as agendas “Marrom” e “Verde”, relacionadas à
terras à ocupação habitacional; no qual há um maior controle sobre os processos questão da poluição e da pobreza, e da preservação
• a intensa produção de resíduos sóli- físicos do tipo enchente, alagamento ou desmoro- do ambiente, respectivamente (Cardoso, 2002).
dos (lixo, detritos, sedimentos), e a namento. A alocação de habitações em locais pou- Nos Quadros 4 e 5, estão detalhados os aspectos
costumeira inadequação de sua co- co apropriados em virtude de riscos ambientais principais referentes às duas agendas. Não resta
leta e deposição final; deve ser entendida como um problema de duplo dúvida quanto ao desafio de conciliar os princípios
• a falta de rede e tratamento de es- sentido: físico – degradação do sítio, com reflexos de eqüidade social e preservação dos ecossistemas,
goto cloacal, aliada à defasagem dos nas condições de vida dos moradores; e social – os colocado aos gestores públicos e todos os agentes
serviços de abastecimento de água. motivos da escolha ou as alternativas da localização envolvidos com a gestão ambiental.

384
QUADRO 4 - Estereotipando as Agendas Marrom e Verde para a melhora de ambientes urbanos
AGENDA “MARROM” DE AMBIENTES SAUDÁVEIS AGENDA “VERDE” SUSTENTÁVEL
Aspectos característicos dos principais problemas na agenda:
Impacto chave Saúde humana Saúde do ecossistema
Tempo Imediato Prolongado
Escala Local Regional e Global
Grupos mais afetados Grupos de renda mais baixa Futuras gerações
Atitude característica quanto a:
Natureza Manipulada para servir as necessidades humanas Proteger e trabalhar com a natureza
Pessoas Trabalho com as pessoas Educação
Serviços ambientais Abastecer mais Usar menos
Aspectos enfatizados em relação a:
Água Acesso inadequado e baixa qualidade Uso exagerado; necessidade de proteger nascentes de água
Ar Elevada exposição humana a poluentes perigosos Chuva ácida e emissão de gases estufa
Resíduos sólidos Abastecimento inadequado quanto à remoção e destino final Geração excessiva
Perda de habitats naturais e terras agricultáveis ao desenvolvimento
Terreno Acesso inadequado à habitação para grupos de baixa renda
urbano
Abastecimento inadequado quanto à remoção segura de material fecal Perde de nutrientes nos corpos d’água com a liberação de esgostos nos
Resíduos humanos
(e resíduos líquidos) de ambientes vivos canais
Proponente típico Urbanista Ambientalista
Nota: as entradas neste quadro são apenas indicativas. Na prática, nem as agendas nem as questões às quais elas se referem são delimitadas assim claramente. Por exemplo, enquanto a Agenda
Marrom refere-se aos grupos de renda mais baixa como os mais afetados por problemas ambientais, na maioria de centros urbanos há uma variação considerável mesmo dentro dos grupos
de renda mais baixa na extensão e na natureza de riscos de saúde ambiental nos abrigos e nas vizinhanças em que vivem. Cada pessoa ou família faz sua própria troca no meio, por exemplo,
as posições do custo com bom acesso ao emprego ou aos fatores que possibilitem renda-ganho, o espaço, o título de posse (incluindo a possibilidade da casa própria) e que influenciam a
saúde ambiental (por exemplo, qualidade e tamanho da acomodação, e a extensão da infra-estrutura e dos serviços básicos).
FONTE: McGranahan; Sattertwaite (2000, p.75, tradução nossa).

QUADRO 5 - Princípios das Agendas Marrom e Verde aplicáveis aos problemas ambientais em áreas urbanas, adaptado de McGranahan e Satterthwaite (200, p. 76)
Agenda Marrom Agenda Verde
Eqüidade intragerações, levantamento das necessidades dos habitantes para uma Eqüidade intergerações, expressando a esperança de o desenvolvimento urbano não
vida segura em ambientes saudáveis, com funcionamento, infra-estrutura e os ser- exaurir bases finitas de recursos ou degrade sistemas ecológicos de forma que com-
viços que estes requerem. prometa a habilidade das gerações futuras de se conhecer suas próprias necessida-
des.
Eqüidade processual, para assegurar o respeito e o direito legal de todos os povos em
ter um ambiente de saúde e segurança de vida e trabalho, e também o tratamento Eqüidade transfronteiriça, para impedir que os consumidores ou os produtores ur-

espaços urbanos
justo e a oportunidade de participar da tomada de decisão para a gerência das cidades banos transfiram seus custos ambientais aos povos ou aos outros ecossistemas, por
onde vivem. exemplo, dispondo de desperdícios na região em torno da cidade

Eqüidade de interespécies, para assegurar o reconhecimento do direito de outras


espécies
FONTE: Cardoso (2002, p. 228, tradução nossa).

Quanto aos instrumentos legais aplicáveis à PROBLEMAS GEOTÉCNICOS baixa renda e/ou atividades que, perante os instru-
gestão ambiental dos espaços urbanos, percebe-se mentos jurídico-normativos que regulam o espaço
uma diversidade de leis, planos e projetos que não Os problemas geotécnicos resultam de usos, ati- urbano, são consideradas como ilegais ou infor-
necessariamente estão articulados entre as três es- vidades e instalações em locais que oferecem riscos mais. Neste sentido, há uma relação direta entre
feras da administração pública. O conhecimento à estabilidade das construções e à vida da popula- expansão urbana e pobreza que se manifesta nos
destes instrumentos é condição fundamental para ção devido a características e processos físicos. Tais padrões de ocupação e uso do solo urbano e na
a elaboração de medidas de gestão ambiental, o riscos estão comumente relacionados à ocupação geração de problemas socioambientais nas cidades
que inclui, além das articulações possíveis dentro inadequada em locais sujeitos a enchentes, alaga- dos países subdesenvolvidos.
do aparato legal e das estratégias e possibilidades de mentos ou de solos inconsolidados e/ou instáveis, Destacam-se como principais problemas am-
associação interinstitucional, a ampla participação que correspondem às planícies aluviais, bordas de bientais de ordem geotécnica:
de todos os setores da população que reside nas áreas planalto e fundos de vale. Os problemas socio- • Ocupações em planícies aluviais. Traz
urbanas na tomada de decisões. No Quadro 6, ambientais de ordem geotécnica são, portanto, o sérias conseqüências para a morfologia dos
encontram-se listados os principais instrumentos resultado da instalação de assentamentos urbanos canais, isto é, a largura e a profundidade dos
aplicáveis à gestão ambiental dos espaços urbanos, em terrenos cuja estrutura e dinâmica fisiográfica cursos d’água, uma vez que aumenta o aporte
considerando-se as possibilidades de integração a são complexas e, logo, são inadequados ao estabe- de detritos, causando assoreamento. A vazão
partir dos municípios estudados. Os instrumentos lecimento de construções e de população residen- da corrente fluvial é prejudicada por obstá-
de regulação municipal neles existentes são mos- te. Quando apresentam uma paisagem primária, os culos como aterros, canalizações, edificações
trados no Quadro 7, a partir do qual verifica-se terrenos que correspondem às planícies aluviais, e entulhos, além da vegetação herbácea que
a necessidade de elaboração de legislação com di- às encostas de maior declividade e aos fundos de se prolifera na ausência da mata aluvial na-
retrizes mais específicas em termos ambientais. vale pelos quais escoa a drenagem pluvial são reco- tiva. Por conseqüência destas mudanças nos
Conclui-se que, em todos os municípios, existe mendados para usos voltados à conservação e/ou canais fluviais, que não raro tendem ao com-
Lei Orgânica (LO); em dois encontram-se leis de preservação. pleto desaparecimento da paisagem urbana,
controle do uso do solo (Paragominas e Ulianó- Ao contrário da recomendação esboçada no pa- ocorre a estagnação das águas, o que contribui
polis); em apenas um existe lei ambiental (Para- rágrafo anterior, é comum se verificar nas cidades para a reprodução de organismos nocivos à
gominas); sendo bastante diversificada a situação instalações diversas nos terrenos em questão. Tal saúde da população – realidade agravada pela
quanto ao Plano Diretor Urbano (PDU). fato está geralmente vinculado ao acesso diferen- contaminação hídrica em virtude do lança-
Em seguida, retoma-se a análise dos proble- ciado dos agentes sociais à terra urbana, de acordo mento de esgotos e demais águas residuárias.
mas socioambientais, os quais serão discutidos em com um processo de segregação no qual as áreas A geometria das planícies (várzeas) sofre al-
maior detalhe. menos valorizadas são ocupadas por famílias de terações em virtude de aterros, ao mesmo

385
QUADRO 6 - Relação de instrumentos aplicáveis à gestão ambiental dos espaços urbanos fológico (relevo), ganham maior destaque na
POLÍTICAS SETORIAIS paisagem urbana quanto mais intenso for o
LEIS (habitação, transporte, saúde, índice de dissecação do terreno. A apropria-
produção, infra-estrutura etc.) ção das “grotas” para fins urbanos tem feito
espaços urbanos

• CÓDIGO FLORESTAL – LEI 4.771, de 15 de se- destes fundos de vale locais para a deposição
tembro de 1965.
de lixo e lançamento de águas residuárias,
• RESOLUÇÃO CONAMA – 1984 - 2007.
• LEI DAS ÁGUAS – LEI NO 9.433, de 8 de janeiro além da instalação de moradias pela popula-
de 1997. ção de baixa renda, tal como ocorre em Para-
NÍVEL
• SNUC – LEI 9.985, de 18 de julho de 2000. MACROPOLÍTICAS FEDERAIS
FEDERAL gominas, Ulianópolis e Tomé-Açu. Enchen-
• ESTATUTO DA CIDADE – LEI 10.257, de 10 de
julho de 2001. tes rápidas e alagamentos são os riscos mais
• LEI DE SANEAMENTO – LEI 11.445, de 05 de comuns associados à ocupação das “grotas”.
janeiro de 2007.
• REFERÊNCIAS NORMATIVAS ABNT. Muitas vezes, os técnicos planejadores do
espaço urbano optam pelo aterramento dos
NÍVEL • POLÍTICA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE fundos de vale, porém, entende-se neste tra-
POLÍTICAS ESTADUAIS
ESTADUAL (PARÁ) – LEI 5.887, de 09 de maio de 1995.
balho que a melhor opção é a de preservação
• LEI ORGÂNICA deles enquanto condutos para o escoamento
• PLANO DIRETOR
NÍVEL das águas; inclui-se, como medida de inter-
• ZONEAMENTOS MUNICIPAIS POLÍTICAS MUNICIPAIS
MUNICIPAL venção espacial, a desocupação das “grotas”, a
• LEIS DE CONTROLE URBANÍSTICO
• PLANOS AMBIENTAIS MUNICIPAIS manutenção da cobertura vegetal ou sua re-
ELABORAÇÃO: Os autores (2007). constituição. Além das “grotas” já ocupadas
ou na iminência de ocupação que existem no
QUADRO 7 – Instrumentos de regulação municipal aplicáveis aos espaços urbanos da área de estudo (2006). interior das cidades, ou nos locais próximos
a elas, que constituem as franjas periurbanas,
Lei Orgânica Plano Diretor Lei de controle do
Município Lei ambiental deve-se preocupar também com aquelas si-
(LO) Urbano (PDU) uso do solo
Aurora do Pará Sim. Em fase de elaboração. Não. Não. tuadas no entorno rural, igualmente sujeito à
Ipixuna do Pará Sim. Em fase de elaboração. Não. Não. expansão urbana futura. Há numerosas “gro-
Ulianópolis Sim. Não. Sim. Não. tas” ao redor de Paragominas, Ulianópolis e
Tomé-Açu Sim. Sim. Não. Não. Ipixuna do Pará, cidades situadas sobre terre-
Paragominas Sim. Em fase de aprovação. Sim. Sim. nos mais dissecados.
ELABORAÇÃO: Estêvão J. S. Barbosa (2007).

PROBLEMAS ECOLÓGICOS
tempo em que o substrato inconsolidado de- do apenas um setor mais suscetível à erosão,
las exige cuidados e reforços na engenharia com tabuleiros colinosos, na área periurbana Ao contrário dos problemas geotécnicos, que
das edificações, com técnicas mais acessíveis de Ipixuna do Pará, ao N da malha urbana ocorrem em áreas de urbanização consolidada ou
aos agentes de maior poder aquisitivo. No e do rio Ipixuna, onde se verificam casos de em vias de consolidação, os problemas ecológicos
entanto, como boa parte da população ins- erosão laminar em sulcos e ravinas que ten- aqui considerados são típicos de áreas nas quais a
talada nos terrenos aluviais é de baixa renda, dem a um escoamento concentrado maior, do “forma” cidade ainda não se estabeleceu, ou seja,
a precariedade das habitações, que podem tipo voçoroca, que abre “cicatrizes” nas áreas trata-se de sítios periurbanos, ou, mais raro, áreas
ser ou não do tipo palafita, é um fator que de encosta, levando à perda da camada super- intra-urbanas não ocupadas, mas em processo de
aumenta a exposição aos riscos de doenças e ficial de solo. Nas cidades de Paragominas e ocupação iminente. A diferença básica entre as
prejuízos financeiros na época mais chuvosa Ulianópolis também são verificados fenôme- duas ordens consiste, sobretudo, no fato de que os
ou por ocasião de eventos de inundação es- nos localizados de erosão em vertentes desti- problemas geotécnicos são, quase sempre, indica-
porádica. Com exceção de Quatro Bocas, to- tuídas de vegetação. Especial atenção deve ser tivos de um grau significativo de modificação da
das as demais cidades apresentam, em maior conferida às vertentes de maior declive que paisagem primária, então inserida em um ambien-
ou menor medida, casos de instalações em se direcionam, a partir das bordas de planal- te fortemente modificado, artificial e/ou construí-
planícies aluviais, e todas as áreas alagáveis to, para os fundos de vale que correspondem do; os problemas de ordem ecológica, por sua vez,
situadas no interior ou no entorno dos espa- às “grotas”, ou para os cursos fluviais, neste estão sendo considerados para os ambientes onde a
ços urbanos estão potencialmente sujeitas ao último caso os rios Coité (Aurora), Ipixuna e cobertura do solo, a drenagem e a vegetação ainda
fenômeno. Acará-Mirim (Tomé-Açu). guardam dinâmicas e peculiaridades que lembram
• Ocupações em encostas e margens de • Ocupações em “grotas”. As “grotas”, tam- uma paisagem natural primária.
canal. Os terrenos com maior declividade e bém chamadas “grotões” pela população, são É claro que há uma ecologia própria aos am-
as margens dos canais fluviais não constituem fundos de vales de pequena extensão (rara- bientes urbanos, ao estilo do que Ab’Saber (2003)
um risco à ocupação somente pela sua topo- mente ultrapassam 1km) formados pela dre- definiu, no interior do mosaico paisagístico e eco-
grafia. É importante levar em conta fatores nagem pluvial, e funcionam, portanto, como lógico brasileiro, como “ecossistemas urbanos”
como a geometria das vertentes (encostas), a condutos para o escoamento das águas das – existindo, ainda, os agroecossistemas e os ecos-
cobertura vegetal, a circulação das águas su- chuvas, as quais circulam inicialmente de sistemas ditos naturais (primários). Portanto, são
perficiais e subterrâneas e a susceptibilidade maneira difusa pela superfície até se concen- problemas cuja dinâmica em curso afeta a circula-
do solo à erosão. O Código Florestal define trar sob a forma de torrentes. Em combinação ção das águas fluviais e, por conseguinte, da fauna
as encostas com declividade superior a 35% com as águas do lençol freático, pode origi- aquática, bem como os estoques da vida vegetal e
como inadequadas à ocupação. Devido ao nar-se no fundo destes vales uma drenagem animal e a cobertura original do solo, já muito al-
fato de a área de estudo apresentar topogra- intermitente durante a época mais chuvosa. terados em virtude das atividades agropecuárias e
fia em sua maioria plana a médio ondulada, As “grotas” tornam-se mais comuns às pro- madeireiras que antecedem e/ou coexistem com a
apenas em alguns poucos casos as encostas de ximidades dos cursos d’água perenes, uma formação das cidades. Portanto, as questões eco-
tabuleiros mais dissecados oferecem riscos à vez que constituem elementos de drenagem lógicas aqui consideradas dizem respeito muito
ocupação. Nas cidades estudadas, foi detecta- a eles subordinados; do ponto de vista mor- mais às áreas de urbanização futura e, da mesma

386
forma, aos entornos e aos interiores não ocupados (sem afluentes) e pontos de afloramentos do ambiente das cidades requereriam práticas de
das áreas urbanas constituídas. Destacam-se nesta lençol freático (as nascentes, popularmente re-vegetação,5 a fim de aproveitar as potencia-
categoria os seguintes problemas: chamadas de “olhos d’água”). Neste aspecto lidades da vegetação para o conforto térmico,
• Estrangulamento ou represamento de particular, é preciso considerar, ainda, todo o mas que podem servir, também, como ele-
drenagem. Acontecem, sobretudo, no in- processo de desmatamento que incide sobre mento estético da paisagem e como proteção
terior das propriedades rurais vizinhas às a área de uma determinada bacia hidrográ- aos processos erosivos desencadeados pelas
cidades, como necessidade dos produtores fica. O aumento das taxas de sedimentação águas pluviais e fluviais. A criação de “áreas
em armazenar água em reservatórios (açu- devido à erosão dos solos desprotegidos após verdes”, como parques urbanos, praças e uni-
des, lagos artificiais) para abastecimento do- a retirada da vegetação traz como conseqü- dades de conservação, é compatível com este
méstico, uso animal e irrigação. Casos de ência mais nítida o assoreamento dos leitos tipo de intervenção no ambiente urbano.
estrangulamento de drenagem também são fluviais, o que não se restringe, como cau- • Empréstimos de terras. Diz respeito à re-
comuns junto às estradas de rodagem, onde sa e efeito, às áreas urbanas, mas a trechos tirada de solo a fim de servir de material para
tubulações inadequadas obliteram (total ou mais extensos do curso de um rio. Em todos obras de aterro, terraplenagem etc. Assim
parcialmente) o fluxo das águas, originando os rios que drenam os espaços urbanos em sendo, pode ocorrer que este material (“pi-
pequenos lagos de drenagem estrangulada; estudo verificam-se fenômenos de retirada çarra”) seja extraído das áreas periurbanas,
neste caso, o correto seria a construção de da mata ciliar, com situações mais alarman- conforme se verifica nas cidades de Aurora
pontes cuja extensão fosse superior ao perfil tes nos rios Coité (Aurora) e Paragominas, do Pará e Paragominas, e em menor medida
transversal do leito excepcional de inundação cujas margens foram desmatadas quase que nos arredores das demais cidades. Os princi-
pelas águas (várzea maior). Por vezes, a for- por completo no interior e próximo a estas pais problemas relacionados a esta atividade
mação de lagos artificiais está ligada a inte- cidades. Os rios Acará-Mirim e Ipixuna, e al- minerária são a perda de todos os materiais
resses de atividades balneárias. Intervenções guns afluentes de ambos, também apresen- orgânicos e inorgânicos de superfície e de
desta natureza afetam diretamente a hidro- tam trechos de margens desmatadas. sub-superfície, e as mudanças na topografia
grafia local, sobretudo na época de formação • Desmatamento excessivo. O planejamento do terreno a partir da criação de pequenas
dos reservatórios, quando a drenagem está se e a gestão das áreas urbanas da faixa tropical, depressões que podem, até mesmo, atingir o
adaptando, lentamente, a um novo sistema e não somente dela, deveriam considerar as lençol freático, alterando o regime de circu-
de circulação no qual, por algum tempo, será características do clima como fatores funda- lação da drenagem subterrânea e formando
menor a quantidade de água que flui para ju- mentais para o conforto da população. Em lagos. O controle sobre a atividade minerária
sante (i.e., na direção da foz) da barragem. relação à Amazônia, região tropical tipica- e, principalmente, sobre os usos e atividades
O alagamento de sítios emersos e a interfe- mente florestada, a manutenção da vegetação instalados após o abandono das minas é es-
rência no ciclo de reprodução da ictiofauna é indispensável para o controle da sensação sencial para evitar problemas socioambien-
4
(peixes) também são conseqüências do fenô- térmica, pois atua na redução das temperatu- tais diretos da mineração. Outros problemas

espaços urbanos
meno de estrangulamento ou represamento ras durante o dia e na elevação destas à noite, que podem ser evitados são os relacionados
da drenagem. Neste sentido, há também de na retenção da umidade e na renovação dos à ocupação urbana em áreas degradadas que
se levar em conta, na análise e na elaboração ciclos locais de chuva, além de proporcionar sofreram desnivelamento do terreno, com
de medidas de intervenção que dizem res- maior sombra, retardar os impactos dos ven- aumento dos riscos à erosão, e desorganiza-
peito a esta questão, o aparato jurídico-nor- tos e proteger o solo e as margens dos cursos ção da rede de drenagem, com a formação de
mativo que regula a propriedade e o uso dos d’água contra a erosão. Na área de estudo, o lagos nos quais podem se proliferar organis-
recursos hídricos. Com exceção de Quatro desmatamento foi uma das conseqüências mos nocivos à saúde.
Bocas, onde não há cursos d’água, em todos mais imediatas do processo de ocupação, e as • Pressão sobre a biota. Corresponde a um
os demais espaços urbanos ocorrem fenô- cidades formaram-se, na maioria dos casos, conjunto de problemas que afetam, direta-
menos de estrangulamento ou represamento em locais já desmatados em função das ativi- mente, a já muito reduzida e degradada flora
de drenagem. O represamento é mais co- dades produtivas rurais, com situações mais e fauna das áreas urbanas e periurbanas mais
mum em relação aos pequenos rios, como se dramáticas em Paragominas, Ulianópolis e preservadas que se apresentam como fragmen-
observa às imediações de Aurora e Ipixuna. Aurora devido ao estabelecimento de pro- tos de paisagens primárias (ver o item “Des-
A passagem de estradas e ruas, por sua vez, priedades rurais que geraram vastas super- matamento Excessivo”). Sobre a biota animal,
quase sempre implica barragem parcial dos fícies de pastos e solos expostos. Os trechos os entornos densamente povoados são uma
cursos d’água, fenômeno que permanece de vegetação encontrados nas áreas urbanas ameaça às espécies viventes tanto pelo fato de
como tendência, uma vez que as práticas estudadas são muito reduzidos, e estão ge- os animais alcançarem, muitas vezes, os locais
de instalação da malha viária continuam as ralmente localizados junto ou próximo aos fora dos fragmentos de mata, pântanos e rios
mesmas. cursos d’água, no interior de propriedades preservados, quanto pela caça ilegal, como
• Retirada da mata ciliar. A manutenção da particulares, no interior dos lotes (vegetação ocorre na Fazenda Vitória, localizada próxima
mata ciliar, cuja preservação é amparada por de miolo de quadra), em terras públicas ou à cidade de Paragominas. No que diz respei-
lei,3 é fundamental para a estabilidade das em terrenos alagados, conforme sintetiza- to à flora, verifica-se o uso indiscriminado,
margens dos cursos d’água e dos canais for- do no Quadro 8. A arborização de rua é de- sobretudo pela população de baixa renda, dos
mados pelas torrentes (“grotas”). A retirada da ficiente, e na maioria dos casos inexistente, componentes (casca, folha, frutos, raízes etc.)
mata ciliar, além de desestruturar o solo que uma vez que não foi considerada como um de certas plantas para fins fitoterápicos. O des-
sustenta as margens dos canais, leva à despe- elemento do espaço urbano quando da ins- matamento comumente é feito para atender
renização dos mananciais, com o desapare- talação das malhas urbanas em diferentes pe- às necessidades de expansão de áreas produ-
cimento de diversos rios de primeira ordem ríodos. Intervenções espaciais voltadas para o tivas (pastos, cultivos, plantas industriais etc.),

3
Observe-se a contradição existente entre os termos da legislação ambiental que ampara a preservação das mats ciliares, particularmente quanto às determinações do Código Florestal, e os pro-
cessos de ocupação dessas áreas por populações carentes, tomadas como prioritárias para ações de regularização urbanística e fundiária pela Lei Federal n.º 10.257/2001 (Estatuto da Cidade).
4
Sensação térmica é maneira pela qual o organismo e os mecanismos psicológicos dos indivíduos percebem e respondem às condições do tempo (frio, quente, ventilado, abafado etc.).
5
A re-vegetação tem por objetivo reconstituir a cobertura vegetal de uma determinada área, a fim de atender a propósitos ecológicos e de lazer ou recreação. É diferente do reflorestamento,
que visa ao cultivo de espécies madeiráveis e de valor comercial, o que caracteriza uma atividade produtiva.

387
QUADRO 8 – Presença de vegetação no interior e no entorno dos espaços urbanos estudados. solo e das águas, assim como de ruídos que
trazem prejuízo ao uso habitacional, isto é,
- Presença de significativa vegetação de miolo de quadra nos lotes de maior extensão.
- A vegetação de miolo de quadra é menos expressiva nos lotes menores. afetam diretamente a saúde e o bem-estar da
Aurora do - Deficiente arborização de rua. população e a manutenção da qualidade das
espaços urbanos

Pará - Entorno significativamente desmatado no interior de propriedades rurais.


paisagens primárias. Nas cidades estudadas,
- As margens do rio Coité e afluentes foram excessivamente desmatadas, mas ainda apresen-
tam em alguns trechos mata ciliar. tais atividades dizem respeito à presença de
serrarias, movelarias e frigoríficos no interior
- Presença de significativa vegetação de miolo de quadra nos lotes de maior extensão.
- A vegetação de miolo de quadra é reduzida nos lotes menores. ou próximo às cidades. As serrarias são mais
- Deficiente arborização de rua. comuns no entorno das cidades de Paragomi-
Ipixuna do - Entorno significativamente desmatado no interior de propriedades rurais que apresentam, nas, Tomé-Açu e Ulianópolis, e às proximida-
Pará no entanto, vastos fragmentos de mata secundária (“capoeira”).
- As margens do rio Ipixuna e afluentes foram parcialmente desmatadas, e ainda apresentam des das duas primeiras cidades citadas existem
mata ciliar significativa. frigoríficos. Em alguns casos, o caráter inade-
- Algumas propriedades rurais do entorno urbano preservam fragmentos de mata.
quado da localização de uma atividade advém
- Presença reduzida de vegetação de miolo de quadra. da sua própria instalação em determinada
- Deficiente arborização de rua e, em sua maioria, inexistente. área, sendo mais comuns, porém, os casos em
- Entorno significativamente desmatado no interior de grandes propriedades.
Ulianópolis - As margens das “grotas” foram excessivamente desmatadas. que a expansão urbana faz surgir loteamentos
- Trechos de mata ciliar encontram-se preservados ao longo do rio Gurupizinho. no entorno de serrarias e frigoríficos que an-
- Algumas propriedades rurais a S da área urbana preservam fragmentos de mata (eixo da tes se mantinham relativamente distantes das
estrada Cauaxi).
cidades, geralmente junto a eixos rodoviários
- Presença de significativa vegetação de miolo de quadra nos lotes de maior extensão. – que são, também, eixos de expansão urba-
- A vegetação de miolo de quadra é reduzida nos lotes menores.
na. Um caso interessante é o do aeroporto da
- Deficiente arborização de rua.
Tomé-Açu - A mata ciliar encontra-se preservada em muitos trechos ao longo do rio Acará-Mirim, do cidade de Quatro Bocas, hoje situado às vizi-
igarapé Tomé-Açu e junto a algumas “grotas”. nhanças de loteamentos densamente povoa-
- Algumas propriedades rurais do entorno urbano preservam significativos fragmentos de
mata. dos. Ainda que o trânsito de aeronaves seja es-
porádico no local, aconselha-se a desativação
- Reduzida vegetação de miolo de quadra na quase totalidade da área urbana. da pista de pouso de Quatro Bocas.
- Deficiente arborização de rua.
- Entorno caracterizado por sítios e fazendolas com solos expostos, pomares e diversos pi- • Atividade balneária. A existência de ativida-
Quatro Bocas
mentais decadentes que vêm sendo substituídos pela mata secundária (“capoeira”). des balneárias nas cidades e nos entornos
- Algumas propriedades rurais do entorno urbano apresentam fragmentos de mata secundá-
urbanos requer um controle especial quanto
ria bem estabelecida (“capoeira antiga”).
à regulamentação e controle sanitário. No
- Presença de significativa vegetação de miolo de quadra nos lotes de maior extensão. primeiro caso, trata-se de garantir a função
- A vegetação de miolo de quadra é reduzida nos lotes menores.
- Deficiente arborização de rua. social dos cursos d’água em servir ao lazer e à
Paragominas - Entorno significativamente desmatado no interior de grandes propriedades. recreação da população como um todo, com
- As margens do igarapé Paragominas e das “grotas” foram excessivamente desmatadas. a instalação de equipamentos de uso públi-
- A mata ciliar encontra-se bastante preservada ao longo do rio Uraim.
- Algumas propriedades rurais a W da área urbana preservam fragmentos de mata. co, evitando-se a privatização das águas e
das margens dos igarapés. No segundo caso,
ELABORAÇÃO: Estêvão J. S. Barbosa (2007).
faz-se necessária uma fiscalização quanto ao
destino dos rejeitos sólidos (lixo) e líquidos
à instalação de novas residências e à produção adensamento de determinados usos e atividades (esgotos) gerados a partir da atividade bal-
de lenha para servir de combustível nas ativi- no interior do espaço urbano. Merecem desta- neária, ao mesmo tempo em que é preciso
dades domésticas e como material na cons- que aqueles que apresentam um maior potencial medir e controlar a qualidade das águas a fim
trução de casas, cercas etc. Muito mais que a poluidor, o que coloca em risco a saúde e o bem- de minimizar a contaminação e os riscos à
redução da biodiversidade como um todo e da estar das populações do entorno, e, relacionado a saúde dos banhistas e também da população
cobertura vegetal – o “verde” das áreas urba- este primeiro aspecto, a integridade do ecossistema que mantém contato com os rios, bem como
nas, que tantas vezes se reduz à pobre vegeta- urbano, em especial dos cursos d’água, das planí- os riscos à integridade e aos ciclos de vida
ção das praças e dos miolos de quadra –, este cies de inundação e dos fragmentos de mata pre- da fauna aquática. O potencial poluidor dos
conjunto de problemas envolve, por um lado, servados. Os loteamentos cuja malha urbana está balneários também se manifesta em desma-
conflitos de propriedade e uso do solo, uma sendo instalada sem nenhuma forma de controle tamentos para a instalação de edificações e
vez que a maioria dos fragmentos preservados por parte das autoridades competentes em matéria equipamentos de apoio à atividade balneária,
está localizada no interior de terrenos parti- ambiental e de regulação do uso do solo urbano muitas vezes alocadas em terrenos e trechos
culares, ou constituem terras públicas desti- também foram considerados como problemas de do leito fluvial inadequados do ponto de vis-
nadas à preservação e/ou conservação; e, por ordem infra-estrutural. O conhecimento da diver- ta geotécnico e/ou ecológico. Há balneários
outro, envolve atividades imediatistas que vi- sidade destes problemas é um passo fundamen- instalados nas áreas urbanas de Ipixuna do
sam tão-somente à reprodução do lucro e das tal para a busca de soluções que visem à melhor Pará (rio Ipixuna), Paragominas (rio Uraim)
condições de sobrevivência dos moradores de adequação, do ponto de vista socioambiental, en- e Tomé-Açu (rio Acará-Mirim), e alguns tre-
baixa renda no que diz respeito à moradia e à tre os usos e as atividades que ocorrem no espaço chos do rio Coité, embora inadequados, são
alimentação, além de refletir o baixo nível de urbano, o que não raro se apresenta sob a forma utilizados para banho em Aurora do Pará.
educação ambiental da população. Em todas as de zoneamentos. Destacam-se como problemas de • Lançamento de esgotos. Este problema am-
áreas urbanas ocorre a redução da vegetação e ordem infra-estrutural: biental é o mais grave no que diz respeito à
da biodiversidade animal. • Atividade em local inadequado. A presença qualidade das águas dos rios ou de trechos ur-
de determinadas atividades em meio a áreas banos dos rios, comumente transformados em
PROBLEMAS INFRA-ESTRUTURAIS densamente povoadas, ou sobre terrenos cuja “valas” para o escoamento de esgotos e demais
integridade é frágil, constitui-se em um sério águas residuárias produzidas por residências,
Os problemas infra-estruturais são, princi- risco ambiental devido à produção de rejei- estabelecimentos públicos ou comerciais,
palmente, problemas de instalação, localização e tos que contribuem para a poluição do ar, do feiras, postos de gasolina etc. A inexistência

388
de rede e de serviço de tratamento de esgo- chamam à atenção que, tradicionalmente, a Aurora, e do Liberdade, em Ipixuna, ambos lo-
tos na quase totalidade das áreas urbanas (ver instalação de novos loteamentos é precedida teamentos irregulares.
Mapas de Taxa de Saneamento) é o principal por intensa atividade de retirada da cobertura • Adensamento de construções. O adensa-
fator que explica a gênese e a gravidade das vegetal, movimentação de terra e desestrutu- mento de construções com materiais que
conseqüências que o problema em questão ração da camada superficial de solo. Tudo isto possuem grande capacidade de armazenar e
traz para a qualidade dos recursos hídricos das faz crescer a produção de sedimentos e detri- irradiar energia constitui uma séria ameaça
áreas urbanas e para as áreas situadas mais à tos que chegam aos canais, o que prossegue de ao conforto térmico da população, tanto mais
jusante. É importante lembrar, ainda, que fe- forma intensa até a consolidação da ocupação, se considerarmos que as elevadas médias de
nômeno semelhante ocorre em relação ao uso devido, também, às construções, limpeza dos temperatura são uma das principais caracte-
de substâncias químicas usadas como adubos terrenos e abertura de vias. Cabe mencionar rísticas do clima da região (ver item “Carac-
e pesticidas nas áreas rurais, visto que a lava- que não há loteamento que, de algum modo, terização Climática”). Na ausência de gran-
gem do solo pelas águas pluviais faz com que não tenha sido planejado, seja de forma geral des massas d’água que atenuem o calor, e de
tais substâncias sejam carreadas para os canais – pelo Estado ou por outro agente que detém estoques de vegetação que atuem com maior
fluviais, à montante (i.e., na direção das cabe- o controle imobiliário ou a iniciativa da cons- eficácia na retenção da umidade e na geração
ceiras) das áreas urbanas – que são, portanto, trução sobre a parcela do espaço urbano lotea- de sombra, o adensamento de construções e
atingidas pela poluição rural devido ao fluxo do –, seja como uma pletora de ações disper- superfícies revestidas (concreto, asfalto etc.),
normal da corrente rumo à foz. Nas cidades, sas da parte de agentes sociais diversos (Souza, aliado à pouca distância entre lotes e imóveis,
por fim, o acúmulo dos agentes de contami- 2002) que, às vezes, agrupam-se sob a forma tende a aumentar as temperaturas em nível lo-
nação dos rios é agravado em virtude da es- de mutirões, associações de moradores etc. Em cal devido à concentração da energia irradiada
tagnação das águas como efeito da obliteração todo caso, os loteamentos em fase de instalação e à restrição da circulação dos ventos em su-
da corrente e diminuição da capacidade de foram incluídos nesta lista devido ao fato de, perfície, com conseqüências negativas sobre
escoamento do canal. Todos os cursos d’água neles, reproduzirem-se problemas ambientais o conforto térmico da população, uma vez
localizados no contexto urbano das áreas es- que afetaram, no passado, outras áreas do es- que será aumentada a sensação de calor. Nos
tudadas são atingidos, em maior ou menor paço urbano, mas que podem ser evitados na centros urbanos mais dinâmicos, tal como é o
medida, por lançamento de esgotos. atualidade desde que haja um maior controle caso de Paragominas e, em menor medida, de
• Loteamentos em fase de instalação ou conso- sobre a ocupação. A dinâmica de instalação de Tomé-Açu e Quatro Bocas, o adensamento
lidação. A falta de controle sobre a instalação novos assentamentos é mais intensa em Pa- do uso do solo resulta, sobretudo, da sobre-
de loteamentos, irregulares ou não, gera uma ragominas e Quatro Bocas, com diversos as- valorização do espaço para fins comerciais e
série de problemas socioambientais que levam sentamentos recentes. Nas demais cidades, o de serviços. Nas áreas periféricas, por outro
ao aumento das áreas desmatadas, à instalação afluxo de migrantes e a construção de novas lado, o adensamento é produto da carência de
de edificações e demais construções em locais residências vêm ocorrendo, basicamente, pela terras disponíveis à ocupação urbana, o que

espaços urbanos
inadequados, à densificação do espaço constru- divisão dos lotes já existentes, mas também há leva à concentração populacional em lotes e
ído e a uma maior pressão sobre a drenagem. assentamentos recentes ou periferias em fase imóveis de menor dimensão, fenômeno já
Neste último caso, Tucci e Collischonn (2000) de expansão, a exemplo do Manelândia, em observado em todas as cidades em estudo.

FOTO 11 – Rodovia BR-010 (sentido Belém-Brasília), no início da área urbana de Aurora do Pará.
Esta cidade surgiu, a exemplo de muitas outras localidades, a partir da instalação de um assentamento
às margens da rodovia.
FOTO: Regiane Paracampos (2005).

389
espaços urbanos

FOTO 12 – Avenida Presidente Vargas, que cor-


responde a um antigo trecho da BR-010 desviado
no início da década de 1970. Hoje, esta avenida
constitui um eixo central da área urbana de Ipi-
xuna.
FOTOS: Regiane Paracampos (2005).

FOTO 13 – Balneário no rio Ipixuna, área urbana


da cidade homônima. A atividade balneária repre-
senta, em algumas áreas urbanas, um tipo de uso
com alto potencial poluidor sobre os recursos hí-
dricos e o ambiente fluvial como um todo.

FOTO 14 – Câmara municipal de Tomé-Açu, si-


tuada no eixo monumental da orla do rio Acará-
Mirim. A consolidação do núcleo de Tomé-Açu
resultou da construção de novas centralidades eco-
nômicas e políticas na bacia do rio Acará durante
o século XX.

390
FOTO 15 – Ocupação em palafitas às margens do rio Acará-Mirim, cidade de Tomé-Açu. Muitos trechos da orla e da planície de inundação deste rio se en-

espaços urbanos
contram ocupadas pela população de baixa renda, o que representa um sério problema socioambiental.

FOTO 16 a 17 – Trechos da planície de inundação do igarapé Paragominas, que vem sendo ocupada pela população desde a década de 1980. Devido aos ris-
cos ambientais aos quais esta população está sujeita, o poder público municipal vem estudando a possibilidade de remoção das famílias que habitam esta área
alagável, para, assim, recuperá-la.
FOTOS: Regiane Paracampos (2005).

391
QUESTÕES
REGIONAIS
TERRITÓRIO E REDES DE ENERGIA ELÉTRICA
território e redes de energia elétrica
Maria Goretti da Costa Tavares
questões regionais

A
energia elétrica pode ser pro- ou nucleares, onde está inserida a energia termelé- dutivas. Esses fluxos se estabelecem através das li-
duzida, segundo Gilberto trica). A principal característica da energia elétrica nhas de transmissão e distribuição de energia e não
Corrêa (1987), por meio de em relação a outras formas de energia é que ela se se realizam sem as redes, por onde flui a energia.
geradores elétricos acionados por turbinas comunica e se expande por redes de transmissão No entanto, essas redes elétricas não se limitam às
hidráulicas (dínamos movidos por ener- sem transporte simultâneo de material. Nesse sen- linhas de transporte e distribuição, pois incluem
gia mecânica originária de quedas d’água), tido, a rede de energia elétrica não constitui uma as barragens, centrais térmicas ou hidráulicas (Du-
no caso da energia hidrelétrica, e por meio rede de transporte, mas sim uma rede de transmis- puy, 1991).
de geradores termelétricos acionados por são (Parrochia, 1993). Não é demais afirmar que a rede de energia
turbinas a vapor (dínamos por energia ca- Os fluxos que se estabelecem entre a área de elétrica incorpora os recursos físicos, intelectuais
lorífica originária do aquecimento da água produção de energia e as localidades são determi- e simbólicos da sociedade que a constrói (Hu-
à custa de combustíveis fósseis, vegetais nados pelas necessidades básicas – sociais – e pro- ghes, 1983). Nesse sentido, os sistemas elétricos

394
construídos em diferentes sociedades, assim como ligada à densificação do atendimento às atividades 1984 que a rede passou a ser interligada à Usina
em tempos diferentes, revelam as suas variações a econômicas, tais como as atividades madeireira, Hidroelétrica de Tucuruí, a qual entrou em fun-
partir dos recursos, das tradições, da organização agroindustrial, comercial e de extração mineral. cionamento neste mesmo ano; antes disso, a ener-
política e das práticas econômicas de determinada gia era gerada por termelétricas.
sociedade. Portanto, o acesso à rede de energia se POPULAÇÃO ATENDIDA O consumo destes municípios, quando anali-
constitui em causa e efeito da ocupação e da (re)or- sados sob a perspectiva dos setores de consumo
ganização espacial. O acesso à rede de energia tende Os dados dos domicílios – independente do (residencial, comercial, industrial e rural), revela
a integrar desigualmente as regiões, os municípios tipo de atividade neles desenvolvido – atendidos que Paragominas e Ipixuna do Pará, pólo e sub-
e áreas, conforme a sua história e as atividades pre- por iluminação elétrica para o ano de 2000 (Tabe- polos madeireiros, apresentam mais da metade de
existentes, estando o acesso relacionado com a for- la 1) revelam que, proporcionalmente ao tamanho seu consumo concentrado no setor industrial. No
mação e/ou modificação da rede urbana. populacional (Ver Demografia), os municípios mais primeiro município, Paragominas, estão concen-
O Mapa de Redes de Energia Elétrica nos mu- atendidos por domicílio particular são, por ordem: tradas atividades madeireira e agroindustriais, e,
nicípios de Paragominas, Ulianópolis, Tomé-Açu, Paragominas, Tomé-Açu, Ulianopólis, Ipixuna do no segundo, estão localizados projetos de extração
Ipixuna do Pará e Aurora do Pará revela que a con- Pará e Aurora do Pará. Observa-se que o município mineral – caulim.
centração da rede de 345 KV segue o eixo mais po- de Ipixuna do Pará, apesar de ser o quarto em ta- Merece destaque a importância econômica do
voado das rodovias BR- 010, PA-125 e PA-256. A manho populacional, quando verificado o número município de Paragominas na área de estudo e,
Rede de 138 KV concentra-se na BR- 010, no tre- de domicílios atendidos aparece na quarta posição, também, no Estado do Pará, sendo este o sétimo
cho povoado e voltado para as atividades pecuárias o que pode ser explicado pelo fato de ele apresentar maior município consumidor de energia elétrica
entre Aurora do Pará e Ipixuna do Pará e próximo cerca de 80% de sua população rural, uma vez que o (dados do terceiro semestre de 2006), e, ainda, o
às sedes municipais de Tomé-Açu e Paragominas. atendimento de energia elétrica ainda se concentra sexto município em número de atendimento de
Existe, também, previsão de extensão da rede em nas cidades-sede dos referidos municípios. consumidores, estando atrás, apenas, dos municí-
138 KV e 345 KV para as zonas rurais em expan- TABELA 1 - Domicílios Particulares atendidos pios de Belém, Ananindeua, Santarém, Marabá e
são destes municípios. A ampliação da extensão e por iluminação elétrica por município (2000) Castanhal. Em Paragominas, é atendido um nú-
da capacidade das linhas de transmissão da rede mero expressivo de 20.893 consumidores (ver Ta-
MUNICÍPIOS DOMICÍLIOS
depende das demandas econômicas locais, sendo bela 3).
Paragominas 15682
a linha de 138 KV baixa tensão, e que tende a ser Tomé-Açu 7077
Por fim, observando-se o Mapa de Redes de
substituída pela de 345 KV, pois esta última possui Ulianópolis 3216 Energia Elétrica, verifica-se que os lugares poten-
maior capacidade de atendimento, ou seja, de nú- Ipixuna do Pará 2337 ciais do consumo de energia elétrica continuam
mero de unidades interligadas ao sistema de distri- Aurora do Pará 1856 a ser os municípios que possuem concentração
buição de energia elétrica. FONTE: IBGE (2000). de atividades econômicas voltadas para os setores
ELABORAÇÃO: Maria Goretti C. Tavares (2007).
Analisando-se o mapa destas redes em relação madeireiro, agroindustrial e mineral, responsáveis

questões regionais
ao Mapa da Densidade Demográfica (ver Demo- ESTRUTURA DO CONSUMO pelo aumento da população e pela intensificação
grafia), observa-se que há uma tendência das redes do consumo de energia para o setor industrial,
em seguir as áreas de adensamento populacional nas No que se refere à estrutura de consumo, ob- comercial e residencial. Essa situação ocorre prin-
sedes dos municípios onde há uma concentração de serva-se, a partir da análise de dados para o período cipalmente nas localidades situadas ao longo das
2000 a 3398 mil hab/km2, na parte oeste do municí- de 1996 a 2000 (Tabela 2), que o primeiro muni- rodovias, a federal, BR-010, e as estaduais (PA-125
pio de Paragominas em que se encontra uma con- cípio da área a ter acesso foi Tomé-Açu, em 1971, e PA-256). Várias redes de 138 KV e 345 KV foram
centração de 100 a 2000 hab por km2, seguindo-se seguido de Paragominas, em 1973, Aurora do Pará, projetadas pela Celpa, além das sedes municipais,
as áreas próximas às sedes municipais dos municí- em 1983, Ipixuna do Pará, em 1989 e Ulianópolis que até a década de 1990 era, praticamente, onde
pios de Tomé-Açu, Ipixuna e Aurora do Pará. Por- em 1991. Observa-se que estes dados referem-se se concentrava o atendimento de energia elétri-
tanto, como era de se esperar, a implantação da rede ao consumo de energia dos municípios a partir do ca, demonstrando um certo dinamismo das zonas
de energia na área de estudo segue o caminho das momento em que foram criados durante as déca- rurais, especialmente as voltadas para a pecuária e
rodovias principais e secundárias, bem como está das de 1970 a 1990. Além disso, foi somente em para a produção de grãos.
TABELA 2 – Estrutura do consumo de energia elétrica - 1996 (kwh)
TIPO
MUNICÍPIO Residencial Comercial Industrial Rural Outras TOTAL
Ano de instalação
AURORA DO PARÁ 1983 669.541 173.616 119.859 11.507 248.736 1.731.112
IPIXUNA DO PARÁ 1989 605.141 276.304 4.637.698 541.843 173.376 6.234.562
PARAGOMINAS 1973 11.356.765 7.0128.057 29.412.201 788.133 3.659.057 52.244.213
TOMÉ-AÇU 1971 2.733.102 1.031.343 3.828.766 161.847 951.787 8.706.845
FONTE: Tavares (adaptado, 1999).

TABELA 3 – Principais municípios atendidos e núme-


ro de consumidores no Pará - 3º trimestre de 2006
Municípios MWh Nº consumidores
Belém 456.558 372.696
Ananindeua 82.052 112.478
Marabá 88.858 48.732
Barcarena 24.153 17.816
Santarém 51.461 51.355
Castanhal 34.055 42.331
Paragominas 23.716 20.893
Capanema 18.149 16.053
Altamira 17.428 20.302
Redenção 16.058 18.786
Total 812.488 721.442
FONTE: CELPA (2006)
ELABORAÇÃO: Maria Goretti C. Tavares (2007).

395
BOX 1
REDES DE INFRA-ESTRUTURA E dominantes (empresários, fazendeiros, pecuaristas natureza diversa (redes urbanas, redes produtivas,
questões regionais

ORGANIZAÇÃO ESPACIAL etc.) têm na expansão das redes de energia elétri- redes culturais), os minerodutos aparecem como a
ca, não se pode negar que esta acaba por beneficiar rede mais particular, no sentido de possuir menor
As linhas de transmissão de energia elétrica fa- toda uma população ligada aos núcleos dispostos potencial de desdobramento ou interação com as
zem parte de um fenômeno peculiar de organiza- ao longo dos eixos viários. Isto depende, ainda, firmas e com as atividades produtivas do entorno
ção e produção do espaço: a disposição linear de das decisões políticas e dos recursos financeiros do – fato que poderia não ser verdadeiro se o entorno
infra-estrutura como rede que tem uma contigüi- Estado para a implantação da rede, bem como do sofresse uma reestruturação espacial ou contivesse
dade física, interligando pontos diversos do espaço nível de renda da população, a qual pode pagar, ou mais elementos interessantes à economia da mi-
geográfico ao permitir a circulação de idéias, pes- não, por este serviço privado. Questões à parte, há neração.
soas, mercadorias e energia. No caso específico da uma relação direta entre as redes de energia elé- Parece claro que não se possa negar os efei-
energia elétrica, trata-se de uma rede cuja implan- trica e os eixos de povoamento e urbanização do tos que a implantação de um projeto de extração
tação acompanha, na maioria das vezes, o traçado território que as primeiras ajudam, também, a criar mineral causam na economia e na demografia de
da estrutura viária preexistente. e/ou consolidar no interior de áreas específicas va- um município: o que se questiona são as restritas
A instalação das redes de energia elétrica sempre lorizadas por algum tipo de produção. As redes de interações dos minerodutos com as demais redes
esteve ligada ao atendimento de demandas popula- telefonia, por exemplo, também estão inseridas infra-estruturais. A intensificação das redes infra-
cionais e produtivas, consolidadas ou em expansão. nesta dinâmica de produção e organização do espa- estruturais ocorreu a partir da década de 2000, e
Na área de estudo, as demandas são resultantes das ço, e são elementos importantes da construção de trata-se, portanto, de um fenômeno relativamente
dinâmicas de ocupação do território verificadas a um cyberespaço que permite o contato simultâneo recente na área de estudo; há de se esperar mais
partir das décadas de 1950 e 1960. Destaca-se aqui a de pessoas que se encontram em lugares distintos, algum tempo para se fazer uma análise mais acu-
dupla realidade do fenômeno: por um lado, o aten- isto por meio da Internet (Haesbaert, 2004). rada da presença dos minerodutos na organização
dimento em pontos concentrados do território, so- É importante destacar, em relação à área de es- e produção do espaço em questão – seja do ponto
bretudo nas sedes municipais e, mais recentemente tudo, a instalação recente (a partir da década de de vista econômico, populacional ou ambiental.
(segunda metade do século XX), os projetos de ex- 1990) de minerodutos, isto é, condutos subterrâ- Questiona-se, sobretudo, o fato de os minerodu-
tração mineral de caulim e bauxita; e, por outro, a neos lineares que levam o minério das áreas de ex- tos atuarem como objetos espaciais que possam, ou
rede visa a atender áreas particulares definidas pelo tração até os locais de beneficiamento inicial ou de não, ser capazes de influenciar na disposição dos
quadro das atividades produtivas, principalmente embarque no município de Barcarena, localizado fluxos migratórios, comerciais, produtivos e dos
a agricultura, a exemplo dos núcleos de coloniza- no estuário do rio Pará, e onde se acha localizado o assentamentos populacionais, tal como aconteceu
ção japonesa de Tomé-Açu, e dos setores ligados ao complexo da ALBRAS/ALUNORTE e o porto de a partir da instalação das rodovias e, em seguida,
agronegócio (soja, milho, arroz e algodão) localiza- Vila do Conde (ver Projetos de extração mineral). das redes de transmissão de energia elétrica, bem
dos nos municípios de Paragominas e Ulianópolis. De todas as redes lineares de infra-estrutura (ener- como de serem fatores de acirramento de conflitos
Embora seja notório o peso econômico e político gia elétrica, telefonia) e as redes mais amplas que sociais, e, conseqüentemente, de negociações entre
que os interesses dos agentes sociais hegemônicos são definidas por formas e conteúdos espaciais de agentes sociais e locais e as empresas mineradoras.

396
PRESSÃO HUMANA
pressão humana
Carlos Souza Júnior • Rodney Rooney Salomão Reis

INTRODUÇÃO humana sobre as florestas, como o desmatamento, madeireira e/ou pela ação de queimadas (Souza et al.,
e que estão associados à exploração madeireira se- 2003). As Florestas Aluviais são aquelas que sofrem

A
região Nordeste do Estado do letiva, caça, coleta de produtos florestais não-ma- influência das águas dos rios, com ocorrência pre-
Pará é uma das áreas da Ama- deireiros, mudança na composição florestal, den- dominantemente ao longo do rio Capim, cortando
zônia brasileira com maior tre outros (Peres et al., 2006). Barreto et al. (2006) os municípios de Paragominas (572 km²) e Ipixuna
pressão humana (Barreto et al., 2006). A usaram áreas de influência de focos de calor e áreas do Pará (389 km²) (Tabela 1). As florestas de Ter-
pressão humana é diretamente associa- sob licença para mineração a fim de definir áreas ras Baixas encontram-se nas porções oeste e leste da
da com atividades humanas que levam de pressão humana incipiente. área de estudo, com uma área total de 11.457 km², e
ao desmatamento e à degradação flores- Neste item do Atlas, apresentamos um conjun- com maior concentração no município de Parago-
tal. A pecuária e, em menor extensão, a to de mapas para caracterizar a pressão humana na minas (6.682 km²). As florestas Submontanas ocor-
agricultura mecanizada são as atividades região de influência dos minerodutos instalados rem nas porções mais altas da região (altitude > 100
que mais contribuem com o desmata- por empresas mineradoras no Nordeste Paraense. m), perfazendo uma área de 6.070 km².
mento da região, enquanto a atividade Neste sentido, tais minerodutos apresentam rela- A situação da cobertura florestal no entorno
madeireira predatória, sem manejo, é a ção direta com a área de estudo, a qual totaliza uma (raio de 10 km) dos minerodutos é semelhante à
que mais degrada as florestas (Uhl et al., área de 36.585 km², abrangendo os municípios de da área de estudo como um todo em termos de
1989). As queimadas anuais de pastagens Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, Paragominas, To- cobertura florestal: há apenas 50% de cobertura
e áreas agrícolas eventualmente escapam mé-Açu e Ulianópolis. florestal remanescente. Das florestas remanes-
e queimam florestas exploradas pela ativi- cente, predominam as Florestas de Terras Baixas
dade madeireira, aumentando ainda mais COBERTURA FLORESTAL (88%) na área do entorno, com cerca de 1.835 km²
a degradação florestal (Cochrane et al., (Tabela 1). As florestas aluviais compreendem 147
1999a). O mapa da cobertura florestal da área de estu- km² (7%), e as Submontanas, 98 km² (5%). Há na
Há dois tipos de pressão humana: con- do foi elaborado a partir dos mapas de vegetação do porção central do corredor da área de entorno dos
solidada e incipiente (Barreto et al., 2006). IBGE (2005), de desmatamento do INPE (2006) e minerodutos uma extensa área contígua de flores-
As áreas de pressão humana consolidada de topografia obtido com a missão SRTM (Shuttle ta, mas na porção Noroeste, onde se concentra a
são aquelas já desmatadas e sobre influ- Radar Topographic Mission, http://srtm.usgs.gov/). O área desmatada, observa-se intensa fragmentação

questões regionais
ência de áreas urbanas e de assentamentos mapa de desmatamento foi usado para excluir as (Mapa de Cobertura Florestal).
de reforma agrária. Nas zonas de influ- áreas desmatadas até 2005, e o de topografia para
ência de áreas urbanas e de assentamen- definir a altitude das subclasses de florestas. A re- DESMATAMENTO
tos rurais, a presença humana é marcan- gião é formada, predominantemente, por Floresta
te, com maior densidade populacional. Ombrófila Densa, com três subclasses: Aluvial, das O desmatamento vem sendo monitorado pelo
Nessas áreas a taxa de desmatamento e a Terras Baixas (entre 5 e 100m) e Submontana (entre Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
fragmentação da paisagem são maiores e 100 e 600 m) (ver Mapa de Cobertura Florestal). desde o final da década de 1980, através do Progra-
há uma forte demanda por recursos flo- Há apenas 50% da cobertura florestal original, com ma de Monitoramento da Floresta Amazônica Bra-
restais madeireiros e não madeireiros. Há poucas áreas de florestas intactas. Grande parte des- sileira por Satélite (PRODES, http://www.obt.inpe.
outros tipos, não tão visíveis, de pressão sas florestas encontra-se degradada pela exploração br/prodes/). O PRODES utiliza imagens do satélite

TABELA 1 – Estimativa da Cobertura Florestal.


Área dos Floresta Densa
Municípios Municípios
(km²) Aluvial Terra Baixa Submontana Desmatamento até 2005
% km² % km² % km² % km²
Aurora do Pará 1.811,83 0,00 0,00 16,73 303,12 0,00 0,00 83,27 1.508,71
Ipixuna do Pará 5.216,95 7,47 389,71 34,56 1.802,98 11,96 623,95 46,01 2.400,32
Paragominas 19.330,52 2,96 572,18 34,57 6.682,56 19,10 3.692,13 43,37 8.383,65
Tomé-Açu 5.145,32 0,00 0,00 42,00 2.161,03 4,98 256,24 53,02 2.728,05
Ulianópolis 5.081,07 0,00 0,00 10,00 508,11 29,49 1.498,41 60,51 3.074,56
Total 36.585,69 2,63 961,89 31,32 11.457,80 16,59 6.070,72 49,46 18.095,28
Área de Entorno dos Minerodutos (10 km) 4.150,65 3,56 147,76 44,21 1.835,00 2,37 98,37 49,85 2.069,10

TABELA 2 – Estimativa do desmatamento para o período de 2001 a 2005.


Área (km²) Taxa Média de Desmatamento Total Desmatado
Municípios
>2001 2002 2003 2004 2005 entre 2001-2005 (km2/ano) até 2005
Aurora do Pará 1.467,2 5,3 13,3 17,5 5,4 10,4 1.508,7
Ipixuna do Pará 1.977,0 62,5 215,6 76,2 69,0 105,8 2.400,3
Paragominas 7.729,2 117,2 94,2 194,2 248,8 163,6 8.383,7
Tomé-Açu 2.524,7 82,4 26,3 48,0 46,6 50,9 2.728,1
Ulianópolis 2.462,3 273,2 19,3 224,5 95,3 153,1 3.074,6
Total 16.160,3 540,7 368,7 560,5 465,1 483,7 18.095,3
Área de Entorno dos Minerodutos (10 km) 1.869,7 51,6 40,3 46,3 64,1 50,6 2.071,9
FONTE: PRODES (http://www.obt.inpe.br/prodes/).

ELABORAÇÃO DAS TABELAS 1 e 2: Os autores (2007).

397
questões regionais

Landsat para detectar desmatamentos maiores que desmatamento entre 2001 e 2005, com cerca de 10 km²/ano. Isso representa um aumento de 150% na
6,25 ha. Dos 36,5 mil quilômetros quadrados da km² por ano (Tabela 2 e Figura 1). O município taxa de desmatamento.
área de abrangência deste estudo, cerca de 50% já que apresentou maior taxa de desmatamento foi o Na área de entorno dos minerodutos, o desma-
foram desmatados até 2005, segundo os dados do de Paragominas, com cerca de 160 km² de desma- tamento acumulado até 2005 chegou a 2 mil quilô-
PRODES (ver Mapa de Desmatamento). tamento por ano, para o mesmo período. metros quadrados (Tabela 2). E a taxa anual de des-
Os municípios Aurora do Pará e Ulianópolis O padrão temporal da taxa de desmatamento matamento no entorno foi de 50,6 km² por ano,
encontram-se com mais de 50% da sua cobertura também variou entre os municípios (Figura 1). no período de 2001 a 2005. Observa-se um peque-
florestal original desmatada. Aurora do Pará per- Observa-se que a taxa anual de desmatamento no aumento na taxa de desmatamento no período
deu quase 80% da sua cobertura florestal origi- oscilou em ciclos de dois anos no município de de 2004 a 2005 na área do entorno, passando de 46
nal, enquanto Ulianópolis perdeu 60% (Tabela 2). Ulianópolis, com picos acima de 200 km² de área para 64 km²/ano (Tabela 2, Figura 1).
Em termos absolutos, o município de Paragomi- desmatada nos anos de 2002 e 2004. O pico de des-
nas é o que mais contribui com o desmatamento, matamento ocorreu em 2003 em Ipixuna do Pará, QUEIMADAS
com uma área desmatada de 8.384 km² e a menor e, em Tomé-Açu, observou-se uma tendência de
área desmatada em Aurora do Pará. A taxa anual estabilização da taxa a partir de 2004. A taxa de des- As queimadas para manejo de pastagem e áreas
de desmatamento variou nestes municípios. Au- matamento em Paragominas vem crescendo desde agrícolas são comuns na área de estudo (Holdsworth;
rora do Pará foi o município com menor taxa de 2003, passando de cerca de 100 km²/ano para 250 Uhl, 1997). As queimadas na Amazônia são

398
questões regionais

FIGURA 1 – Taxa anual de desmatamento

ELABORAÇÃO: Os Autores (2007)

399
questões regionais

monitoradas diariamente pelo INPE (http://www.cp- maior incidência de radiação solar (Holdsworth; área de estudo, correspondendo, em média, a 45%
tec.inpe.br/queimadas/), por meio de vários satélites. Uhl, 1997) e acúmulo de combustível oriundo de das queimadas. Ulianópolis é o segundo municí-
A localização de queimadas ativas (focos de calor) é resíduos da exploração (Cochrane, 2003). Florestas pio onde mais se queimou na área de estudo como
feita a partir de técnicas de processamento de imagens exploradas e subseqüentemente queimadas têm sido um todo, com uma contribuição média de 28%,
da faixa termal da radiação eletromagnética. detectadas e mapeadas na área com imagens de saté- de 750 focos de calor por ano. E os que menos
O Mapa de Focos de Calor mostra a distribuição lites (Cochrane; Souza Jr.,1998; Souza et al., 2003; queimaram foram Aurora e Tomé-Açu, com uma
espacial do fenômeno detectada pelo sensor AVHRR Souza; Roberts, 2005). contribuição média de 76 e 124 focos de calor, res-
(Advanced Very High Resolution Raditometer) do satélite Foram registrados anualmente, em média, 2.658 pectivamente (Tabela 3).
NOOA-12, para o período de 2002 a 2006. Grande focos de calor no período de 2002 a 2006 pelo saté- O entorno dos minerodutos também é alvo
parte dos focos de calor ocorre nas áreas desmatadas, lite NOAA-12 (Tabela 3). O ano de 2004 foi o que de queimadas, mas com menor densidade de fo-
próximo às florestas, que na área de estudo têm alta registrou o maior número de queimadas, ultrapas- cos de calor (ver Mapa de Focos de Calor). Em
probabilidade de terem sido exploradas pela ativida- sando 3 mil focos de calor. Em 2006, houve uma média, 9% das queimadas que ocorreram no pe-
de madeireira (Veríssimo et al., 1992; Nepstad et al., queda para 1.885 focos, o que representa uma re- ríodo de 2002 a 2006 concentraram-se em um
1999). A exploração madeireira cria condições favo- dução de 33% em relação a 2005 e 44% em relação raio de 10 quilômetros dos minerodutos, o que
ráveis para a queima de florestas devido ao aumen- à média do período. O município de Paragominas equivale a uma média de 235 focos de calor por
to da temperatura no sub-bosque das florestas pela foi o que mais contribuiu com as queimadas na ano (Tabela 3).

400
TABELA 3 – Número de Focos de Calor
Área dos Mu- Queimadas NOAA-12
Municípios Média
nicípios (km²) 2002 2003 2004 2005 2006
Aurora do Pará 1.811,83 129 110 120 99 76 107
Ipixuna do Pará 5.216,95 466 440 432 338 213 378
Paragominas 19.330,52 1066 1283 1359 1249 1011 1194
Tomé-Açu 5.145,32 316 184 239 292 124 231
Ulianópolis 5.081,07 786 786 877 835 461 749
Total 36.585,69 2763 2803 3027 2813 1885 2658
Área de Entorno dos Minerodutos (10km) 4.150,65 216 260 217 300 180 235
ELABORAÇÃO: Os Autores (2007)

ESTRADAS estão também presentes na área de influência dos espécies de mais alto valor podem ser exploradas
minerodutos (ver Mapa de Estradas), onde 970 do ponto de vista do retorno econômico. Portan-
Além das rodovias oficiais, abertas pelos gover- quilômetros de estradas não-oficiais foram regis- to, a pressão sobre as florestas será maior quanto
nos estaduais e federal, há estradas construídas por trados até 2003. maior for o nível de acessibilidade econômica a
forças econômicas locais, reportadas como estra- elas. A acessibilidade econômica para exploração
das não-oficiais (Souza Jr. et al., 2005). Esses últi- PRESSÃO HUMANA E ALCANCE madeireira é alta em 40% das florestas da região, e
mos não constam nos mapas oficiais da Amazônia ECONÔMICO DA ATIVIDADE média em 51%. O restante (9%) das florestas tem
e foram recentemente mapeadas pelo Imazon até MADEIREIRA baixa acessibilidade. Isso significa que grande par-
o ano de 2003. A detecção e o mapeamento dessas te das florestas remanescentes da região está sobre
estradas podem ser feitos com as imagens do saté- Todas as florestas da área de estudo são economica- alta pressão da atividade madeireira.
lite Landsat (Brandão Jr.; Souza Jr., 2006), as mes- mente viáveis para exploração madeireira a partir das Na região do entorno dos minerodutos, a pres-
mas utilizadas para monitorar o desmatamento da sedes dos municípios de Paragominas, Ulianópolis e são da atividade madeireira é alta (66%) a média
Amazônia. Ver o Mapa de Estradas contido neste Tomé-Açu (ver Mapa de Acessibilidade da Ativida- (34%), não ocorrendo florestas com baixa pressão.
parte do Atlas. de Madeireira – Indústria Madeireira). A viabilidade
As estradas não-oficiais podem facilitar o acesso econômica da exploração é estimada a partir de mo- PRESSÃO HUMANA E SITUAÇÃO
de comunidades rurais aos serviços públicos (esco- delos de alcance econômico em função do custo de FUNDIÁRIA
las e hospitais) e o transporte da produção agrícola transporte, preço da madeira e do seu processamento
e florestal. Contudo, grande parte dessas estradas é (Veríssimo et al., 1998). O custo de transporte é variá- Por fim, lembra-se de que a realidade fundiária de
controlada por empresas madeireiras que não per- vel, enquanto os demais custos são, para grande parte uma região também se reflete nos índices de pressão
mitem a sua utilização. Desta forma, a utilização das da área de estudo, constantes. Portanto, a viabilidade humana. Neste sentido, as pressões humanas sobre as

questões regionais
estradas não-oficiais tem sido predominantemente econômica da exploração madeireira varia espacial- florestas podem ser reduzidas com a existência de Áre-
para acessar e explorar recurso madeireiro. Portan- mente em função da localização do recurso florestal, as Protegidas. A situação fundiária mostra que não há
to, há um grande dilema em relação aos benefícios da disponibilidade de estradas e rios navegáveis e das Unidades de Conservação na área de estudo.1 Apenas
e impactos dessas estradas (Perz et al., 2005). condições de topografia (Souza Jr. et al., 1997). 3% da área encontram-se protegidos por meio do esta-
Até 2003, foram construídos 9 mil quilômetros Modelos de alcance econômico são úteis para belecimento de Terras Indígenas (ver Mapa de Terras
de estradas não-oficiais na área de estudo, contra estimar a pressão econômica sobre os recursos. Indígenas – Populações Indígenas). Há, também, 4%
apenas 618 quilômetros de estradas oficiais (Tabe- Três níveis de acessibilidade econômica foram de terras da área de estudo que se apresentam como as-
la 4). A maior densidade de estradas não-oficiais definidos para a região de Paragominas. No pri- sentamentos de reforma agrária implantados pelo Incra
encontra-se em Paragominas (4.593 km; 51%), se- meiro, o de acessibilidade alta, todas as espécies e pelo Iterpa. O restante (93%) são áreas privadas, com
guido por Ulianópolis (1.534 km; 17%). Isso era madeireira de interesse ao mercado podem ser ex- a grande maioria na forma de propriedades rurais e, em
de se esperar devido à história desses municípios ploradas; no segundo, de acessibilidade mode- menor extensão, em áreas urbanas. Uma pequena por-
como um dos principais produtores de madeira da rada, apenas espécies com valor madeireiro alto; e ção da área do entorno corresponde a Terras Indígenas
Amazônia (Veríssimo et al., 1992). Essas estradas no terceiro, de acessibilidade baixa, somente as (3.4 km²) e 2% (77.3 km²) são de assentamentos.
TABELA 4 – Estimativa das estradas oficiais e não-oficiais.
Área dos Municípios
Municípios Oficial - km Não-Oficial - km Total
(km²)
Aurora do Pará 1.811,83 52,92 457,37 510,29
Ipixuna do Pará 5.216,95 109,83 1.284,68 1.394,51
Paragominas 19.330,52 196,88 4.593,02 4.789,90
Tomé-Açu 5.145,32 153,79 1.218,28 1.372,07
Ulianópolis 5.081,07 104,99 1.534,12 1.639,12
Total 36.585,69 618,42 9.087,47 9.705,89
Área de Entorno dos Minerodutos (10 km) 4.150,65 75,95 969,61 1.045,56

TABELA 5 – Situação fundiária


Área (km²)
Municípios Área dos Municípios (km²)
Assentamentos Terras Indígenas
Aurora do Pará 1.811,83 345,31 -
Ipixuna do Pará 5.216,95 445,08 198,21
Paragominas 19.330,52 451,34 979,84
Tomé-Açu 5.145,32 44,75 14,33
Ulianópolis 5.081,07 109,49 0,00
Total 36.585,69 1.395,97 1.192,38
Área de Entorno dos Minerodutos (10 km) 4.150,65 77,29 3,46
ELABORAÇÃO DAS TABELAS 4 e 5: Os Autores (2007)

1 Ver artigo de Benatti e Fischer incluído no presente Atlas.

401
questões regionais

CONSIDERAÇÕES FINAIS cial. A área do entorno dos minerodutos instalados • Criar banco de dados de monitoramento,
também está sujeita a esse tipo de pressão. Portanto, utilizando os dados existentes de queima-
Os indicadores discutidos neste capítulo mos- trata-se de uma área com alta pressão humana, o que das e de desmatamento, e disponibilizá-lo
tram que as florestas da área de estudo estão sob for- corrobora diversos estudos aí conduzidos. Algumas na internet para acompanhar as tendências
te pressão humana. Mais de 50% das florestas dos medidas podem ser tomadas para mitigar os impac- de pressão humana na área.
municípios em foco já foram desmatados até 2005. tos da pressão humana sobre as florestas da área: • Divulgar amplamente os resultados de aná-
Além de afetar diretamente os serviços ambientais • Promover campanhas de controle de quei- lises de pressão humana na área por meio
das florestas (e.g., regulação do ciclo hidrológico, es- madas para evitar que florestas adjacentes de campanhas educativas nas escolas e sin-
tocagem de carbono, biodiversidade, dentre outros), sejam degradadas. dicatos e órgãos públicos.
o desmatamento fragmenta as matas nativas, crian- • Reflorestar margens e cabeceiras de rios, Como medida para melhorar a qualidade de vida
do rupturas nos corredores ecológicos de margens topo de morros e recuperação da reserva le- das populações da região, as estradas não-oficiais
e nascentes de rios, bem como de topos de morros gal de propriedades rurais que desmataram estratégicas podem ser incluídas nas redes munici-
e encostas. As queimadas e a exploração madeireira acima do permitido por lei. pais ou estadual, a fim de facilitar o escoamento da
também têm contribuído para uma maior degrada- • Engajar proprietários rurais na criação de produção de pequenos produtores e o acesso aos
ção dessas florestas. E há uma densa rede de estradas Reserva Particular do Patrimônio Natural serviços públicos por parte da população da área
não-oficiais que facilita o acesso aos recursos natu- (RPPN), visto que não há Unidades de aqui estudada.
rais das florestas, principalmente à madeira comer- Conservação na área.

402
REGIÕES E SUB-REGIÕES PAISAGEM
regiões e sub-regiões paisagem
Maurílio de Abreu Monteiro • Maria Célia Nunes Coelho
Estêvão José da Silva Barbosa

INTRODUÇÃO dos mapas de Uso do Solo, o que revelou, à época, literatura, os padrões temporais e espaciais de ocu-
o ritmo e o local em que isto ocorreu, e, também, pação. A caracterização geral dos eixos indicou um

E
sta parte do Atlas apresenta serviu como um indicativo espacial e temporal do padrão de ocupação e de organização espacial a par-
uma proposta de regionaliza- início da ocupação efetiva. tir de corredores, sendo dois deles fluviais (Capim
ção para a área de estudo que A seguir, os dados de geomorfologia e de dre- e Gurupi), e os demais rodoviários, os quais cor-
corresponde aos municípios de Tomé- nagem foram interpretados de maneira a fornecer respondem às quatro rodovias estaduais (PA-140,
Açu, Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, um panorama da relação entre estes elementos de PA-150, PA-252, PA-256) e à rodovia federal (BR-
Paragominas e Ulianópolis. A divisão es- caráter físico, e os possíveis subespaços regionais 010) que cruzam a área de estudo, além da estrada
pacial sugerida resultou no Mapa de Re- existentes, considerando-se que, a partir das di- da Cauaxi (estrada não-oficial) e outras que, par-
giões e Sub-regiões Paisagem. A Região nâmicas de ocupação, há uma apropriação da na- tindo da BR-010 rumo ao leste, vão até o vale do
Paisagem constitui um conjunto espacial tureza como recurso e base espacial. A formação rio Gurupi. A todas estas estradas estão ligadas vias
relativamente homogêneo no que diz e a configuração destes subespaços se deveram, menores (vicinais), que permitem o acesso às áreas
respeito à ocupação e às práticas de (re) principalmente, à agropecuária e à indústria ma- mais distantes das rodovias principais (ver Mapa-
apropriação e de (re)transformação da na- deireira (desflorestamento), consideradas como as Base – Área de Estudo). Além disso, o transporte
tureza, gerando, assim, paisagens específi- atividades pioneiras mais importantes na ocupação rodoviário apresenta, em alguns casos, integração
cas – propriamente físicas ou culturais. As da área de estudo. Os eixos, rios e estradas, por modal com o transporte fluvial. O único setor que
paisagens revelam as formas de ocupação sua vez, serviram como guias de análise, na me- não segue o padrão em corredor é o da Terra Indí-
humana e de uso do solo, os interesses e dida em que são os rios e as estradas que possibi- gena Alto Rio Guamá, no extremo NE do municí-
(inter) ações dos/entre os agentes socioes- litam, com maior eficácia, a ocupação do espaço e pio de Paragominas. O Quadro 1 traz uma síntese
paciais. A noção de espaço implícita à Re- a substituição da mata nativa por outros tipos de dos principais eixos de ocupação.
gião Paisagem é a de um espaço histórico cobertura do solo. Por fim, os mapas de uso do
e socialmente produzido, e de um espaço solo se prestaram à caracterização das formas de 4ª ETAPA - Delimitação das Regiões
feito de diferenciações (totalidades e frag- apropriação dos recursos ditos “naturais”, e dos e Sub-Regiões Paisagem
mentações para alguns autores). O espaço sistemas de produção, sendo observados, ainda, os Esta etapa resultou da interação entre os gran-
geográfico é, ainda, uma base, um meio e, padrões fundiário e de distribuição de localidades, des conjuntos formados pelos meios e paisagens

questões regionais
ao mesmo tempo, um produto das socie- bem como a distribuição da população como um naturais primárias, com os eixos/setores de ocu-
dades, (inter) agindo ou reagindo a uma todo (rural e urbano). pação. As Regiões Paisagem, neste sentido, cor-
combinação de elementos (materiais e respondem aos conjuntos espaciais maiores, que
imateriais) de caráter biofísico, socioeco- 2ª ETAPA – Distinção e definição dos envolvem diversos municípios, e que foram pro-
nômico-político e cultural. A diversidade meios naturais duzidos pela dinâmica desigual de apropriação e
destes elementos e, sobretudo, de agentes Feita a divisão preliminar das Regiões e Sub- transformação dos meios e das paisagens naturais
socioespaciais, é o fator que leva à dife- regiões Paisagem, partiu-se para a execução das de- primárias. Neste sentido, a abrangência das carac-
renciação do espaço em porções distintas, mais etapas de regionalização. O primeiro aspecto terísticas espaciais e paisagísticas das Regiões Paisa-
resultando, inclusive, na multiplicidade abordado correspondeu à delimitação dos meios gem extrapola a área de estudo, conforme se pode
ou sobreposição de paisagens, de regiões, naturais, isto é, um panorama da área de estudo observar no mapa contido nesta parte do Atlas.
de territórios e de lugares. em épocas anteriores à ocupação efetiva, quando o Além das Regiões Paisagem que abrangem a área
espaço era menos diferenciado. Predominavam na de estudo, encontram-se representadas, também,
METODOLOGIA paisagem os elementos naturais primários, isto é, regiões próximas que apresentam características
que não sofreram grandes intervenções antrópicas, distintas. No mapa a seguir, podem ser vistas, ain-
1ª ETAPA - Sobreposição principalmente as florestas, que recobriam exten- da, as Regiões Paisagem do Baixo Tocantins, a W, e
preliminar de informações sivamente os planaltos e as várzeas. Para tal, esco- do Piriá, a NE.
Foram analisados, a partir da geração de lheu-se o tema geomorfologia, por entender-se A denominação das Regiões Paisagem foi
overlays, os mapas de Geomorfologia (Re- que este, ao integrar o relevo aos demais aspectos escolhida, sobretudo, a partir de nomes retira-
giões Geomorfológicas e Unidades Mor- fisiográficos (clima, drenagem, vegetação e solos), dos de rios importantes, bacias hidrográficas e
fológicas), Hidrografia, Vegetação, e os apresenta-se como o mais completo, ou, pelo me- unidades de relevo, os quais têm uma dimen-
mapas de Uso do Solo (1985, 1995, 2000, nos, o que mais se aproxima da delimitação dos são mais ampla em termos de área. Isto não quer
2004). Nesta base, o objetivo foi perceber conjuntos de paisagem e de natureza primária. Tais dizer, em hipótese alguma, que a morfologia e
como se deu, temporalmente, a influên- conjuntos estão representados pelas Regiões Geo- a drenagem tenham condicionado as formas de
cia dos elementos fisiográficos mais im- morfológicas (ver Mapa de Regiões Geomorfoló- ocupação, muito embora se reconheça uma ten-
portantes, isto é, o relevo, a vegetação e a gicas – item Feições do Relevo Regional). dência de valorização de certas unidades de re-
drenagem, nos processos de apropriação levo, ou, dito em outras palavras, dos atributos
e ocupação do solo. Tal dinâmica levou 3ª ETAPA - Identificação dos eixos espaciais nelas contidos (recursos “naturais”, es-
a uma diferenciação do meio natural em de ocupação trutura dos terrenos, consolidação da ocupação
subespaços de conteúdo artificializado em A inter-relação entre o uso do solo, as dinâmi- e dos usos). Tampouco os limites das Unidades
maior ou menor intensidade, de acordo cas de desflorestamento e a localização dos eixos Morfológicas, ou das bacias de drenagem cor-
com a realidade e o grau de intervenção viários levou à identificação dos principais eixos respondem, exatamente, aos limites das Regiões
antrópica. Neste sentido, considerou-se, de ocupação, os quais, na verdade, funcionam e Sub-regiões Paisagem, daí optar-se por uma
inicialmente, a dinâmica de substituição como setores. Foram observados, tanto nos ma- delimitação flexível, que primasse mais pelos
da vegetação primária por meio da análise pas quanto em trabalho de campo e em revisão de padrões de uso e de ocupação do solo.

403
Pode-se dizer que as Regiões Paisagem são as uni- quanto outras permanecem sob a forma de resquí- e um arranjo específico de formas de relevo e demais
dades ou os arranjos espaciais maiores dos padrões cios e fragmentos dos meios naturais, uma vez que a atributos físicos associados (abordagem integrada do
de uso e de ocupação do solo, nas quais a vegetação, área de estudo se encontra muito alterada e, portanto, meio). As Sub-regiões Paisagem, por sua vez, resul-
a drenagem e a cobertura de solo apresentam-se de dominada por paisagens artificiais rurais (pastagens, tam da diferenciação deste arranjo, devido a aspec-
questões regionais

forma combinada, dando origem a um todo inter- plantações etc.) e por manchas ou paisagens urbanas. tos particulares de ocupação espacial. No Quadro 2,
namente coerente e distinto das unidades vizinhas. A delimitação de uma Região Paisagem baseou-se, encontram-se listadas todas as Regiões e Sub-regiões
Neste sentido, são geradas paisagens culturais, en- então, na relação entre um eixo de ocupação principal Paisagem da área de estudo.

QUADRO 1 – Eixos/ setores de ocupação


Cidades de in-
EIXO/ SETOR Início da ocupação efetiva Padrão fundiário Urbanização Sistemas produtivos
fluência
Extrativismo, culturas de
Séculos XVII a XIX, na área do Concentrado. Existem, de Mãe do Rio, várzea e pequena lavoura,
Dispersa. Corredor de as-
RIO CAPIM Baixo Capim. Eixo pioneiro de forma dispersa, “terras de Tomé-Açu/ Qua- agricultura de subsistência
sentamentos ribeirinhos.
penetração fluvial. pretos” (quilombos). tro Bocas. (quilombos e demais co-
munidades ribeirinhas).
Fruticultura, pequena la-
Década de 1930. Eixo rodo-fluvial Média e pequena pro-
voura, pimenta-do-reino,
(rio Acará-Mirim) de ocupação priedade. Destaque para o Dispersa ao longo das Tomé-Açu/ Qua-
PA – 140 pecuária extensiva, indús-
ao S do vale do rio Guamá (ou esquema de colonização rodovias e vicinais. tro Bocas.
tria de beneficiamento de
Guajará). japonesa de Tomé-Açu.
madeira.
Década de 1950. Eixo rodo-flu- Média e pequena proprie-
Mãe do Rio,
vial E-W que interliga rodovias dade. Processo “espon-
Dispersa ao longo das Tomé-Açú/ Qua- Fruticultura, pequena
PA-252 (BR-010, PA-140 e PA-150) e rios tâneo” de ocupação de
rodovias e vicinais. tro Bocas, Casta- lavoura.
(Capim, Acará, Moju) importan- terras por fazendeiros
nhal.
tes do NE Paraense. individuais.
Concentrada em algumas
sedes municipais (Parago-
Décadas de 1950 e 1960. Eixo de Pecuária, agronegócio (grãos
Concentrado, com exce- minas, Ulianópolis, Dom
integração inter-regional N-S que – soja, milho, arroz),
ção da parte norte (Aurora Elizeu). Ao norte, em Au- Paragominas,
propiciou a ocupação de boa parte pequena lavoura, indústria
BR-010 e parte de Ipixuna do rora e Ipixuna, a urbaniza- Açailândia, Impe-
do Leste Paraense e, em escalas de beneficiamento de
Pará). Existem diversos ção é dispersa (povoados, ratriz.
extra-regionais, terras do Planalto madeira, mineração
assentamentos rurais. vilas). Ocorre o fenômeno
Central Brasileiro. (bauxita – Platô Miltônia).
de urbanização rural – as-
sentamentos.
Século XIX (penetração fluvial), Concentrado. Seguiu o
Incipiente. Ao longo do
RIO GURUPI E com reativação na década de 1960 esquema de ocupação de Pecuária extensiva, peque-
rio Gurupi e das vicinais Paragominas.
VICINAIS L-O (dinâmica rodoviária). Retro-faixa terras da BR-010. Existem na lavoura.
existem alguns povoados.
de ocupação a E da BR-010. assentamentos rurais.
Década de 1970. Eixo de inte- Concentrada em deter-
gração inter-regional N-S que minadas sedes municipais Pecuária, manejo e extra-
Goianésia do
PA-150 propiciou a ocupação de terras no Concentrado. (Goianésia, Tailândia). ção florestal (madeira),
Pará, Tailândia.
interflúvio entre os rios Guamá- Existem diversos povoa- carvoejamento.
Capim (W) e Tocantins (E). dos em formação.
Década de 1970. Eixo de ligação Pecuária, mineração
Tomé-Açu/ Qua-
entre a PA-150 e a BR-010 que Dispersa ao longo da ro- (caulim – IRCC, PPSA),
PA- 256 Concentrado. tro Bocas, Parago-
possibilitou a ocupação interna de dovia (PA-256) e vicinais. reflorestamento, pecuária
minas.
Tomé-Açu e Paragominas. extensiva.
Décadas de 1970 e 1980. Eixo for- Pecuária, manejo e extra-
mado a partir da ligação de ramais ção florestal (madeira),
ESTRADA CAUAXI Concentrado. Incipiente. Paragominas.
abertos no interior de proprieda- carvoejamento, refloresta-
des particulares. mento.
Agricultura de subsistên-
Desde o final do século XIX.
cia, extrativismo (caça,
TERRA INDÍGENA Inserida no contexto do vale do Área de uso especial
Inexistente. Paragominas. pesca, coleta), garimpo
ALTO RIO GUAMÁ Gurupi, a T. I. Alto Rio Guamá – Reserva Indígena.
e extração de madeira
vem sofrendo sucessivas invasões.
ilegais.
ELABORAÇÃO: Estêvão Barbosa (2006).

QUADRO 2 – Regiões e Sub-regiões Paisagem


EIXOS/SETORES DE OCUPAÇÃO REGIÃO PAISAGEM SUB-REGIÃO PAISAGEM N.º
1.a Baixo Capim I
RIO CAPIM 1. VALE E PLANÍCIES DO CAPIM
1.b Médio Capim II
2.a Tomé-Açu III
PA-140 2.b Aurora Ocidental IV
2.BAIXOS PLATÔS DO NORDESTE PARAENSE 2.c Alto Acará-Mirim V
PA-150 2.d Campos Belos VI
PA-256 2.e Aurora – Ipixuna (Baixo Interflúvio Guamá-Capim) VII
3.a Paragominas VIII
BR-010 3. PLANALTOS DO CORREDOR DA BR-010
3.b Gurupizinho IX
ESTRADA DA CAUAXI 4. PLANALTOS ORIENTAIS DA BACIA DO CAPIM 4.a Cauaxi X
5.a Uraim-Piriá XI
RIO GURUPI E VICINAIS L-O
5. PLANALTOS DA BACIA DO GURUPI 5.b Vale do Gurupi XII
R. I. ALTO RIO GUAMÁ 5.c Terra dos Tembé-Tenetehara XIII
ELABORAÇÃO: Estêvão Barbosa (2006).

404
REGIÕES E SUB-REGIÕES PAISAGEM (Aurora do Pará), a qual se destacou como impor- 2. Baixos Platôs do Nordeste Paraense
tante entreposto comercial até a década de 1970, (Região Guajarina)
1. Vale e Planícies do Capim quando a consolidação da circulação pelas estradas Conforme o seu próprio nome indica, esta Re-
Esta Região Paisagem vem sendo ocupada, de enfraqueceu as rotas fluviais. As PA’s 252 e 256 in- gião Paisagem diz respeito ao conjunto de baixos
N para S, desde o século XVIII, e durante muito tegram o Baixo Capim ao restante do Nordeste e platôs do Nordeste Paraense, iniciando o quadro
tempo esteve sob comando de São Domingos do Sudeste do Pará. físico de terras baixas florestadas equatoriais que
Capim, que possuía um extenso território muni- A maior antiguidade da ocupação proporcio- compõem a Amazônia.
cipal. Encontra-se situada na porção centro-oeste nou uma degradação mais intensa na área do Bai- Na área de estudo do Atlas, localiza-se na parte
da área de estudo, e sua disposição segue, confor- xo Capim, porém, atualmente tanto as atividades ocidental, abrangendo todo o município de Tomé-
me indica a denominação dada, a orientação SW- agropecuárias quanto as madeireiras, responsáveis Açu e o oeste de Aurora do Pará, e também na parte
NE do vale do rio Capim, que abrange terras dos em grande parte pela ocupação, encontram-se em norte, correspondente aos municípios de Aurora e
municípios de Paragominas, Ipixuna e Aurora do decadência, uma vez que foram transferidas para Ipixuna do Pará. Ao N do rio Guamá, este conjunto
Pará. Tal região se prolonga para o S, município de áreas portadoras de maiores recursos naturais e de recebe o nome de Zona Bragantina, e ao S, de Zona
Rondon do Pará, até a borda do Planalto Meso- solos menos gastos, que correspondem aos eixos/ Guajarina, em função do termo “rio Guajará”, que é
zóico da Bacia do Parnaíba, onde se encontram as setores de ocupação de influência das estradas. A como os ribeirinhos mais antigos chamam o curso
cabeceiras meridionais do sistema hidrográfico do existência de recursos extrativistas nas várzeas, d’água que prossegue desde a confluência Guamá-
Capim. Para o N, ainda abrande terras de Mãe do além de recursos pesqueiros, deve ser considerada Capim até a baía de Guajará e, a partir desta, chega à
Rio e São Domingos do Capim. a fim de potencializar as atividades ligadas às po- baía de Marajó. Neste sentido, os rios principais da
Nos períodos colonial e imperial, formou-se pulações ribeirinhas, e cuja realização se apresenta, área em questão – Guamá, Capim, Acará e Moju –
aí uma sociedade que opunha os grandes senho- do ponto de vista ambiental, mais sustentável. Por seriam afluentes do rio Guajará, e, por isso, a região
res de terras e escravos à população riberinha e fim, é importante lembrar que no Baixo Capim por eles drenada passou a ser chamada de Guajarina.
pobre composta por mestiços e negros fugidos existem abundantes reservas de caulim, ligadas à Esta Região Paisagem é muito vasta, e inclui
que habitavam as margens dos rios – formando Formação Ipixuna e que são exploradas por dois diversos municípios dos eixos das PA’s 150 e 140,
grupos sociais reconhecidos e auto-reconhecidos projetos mínero-metalúrgicos: a IRCC e a PPSA bem como do trecho norte da BR-010, além de
como “capienses”.1 Ao longo do tempo, fazendas (ver item Mineração). outras rodovias estaduais que cruzam e interli-
e pequenos assentamentos ribeirinhos – incluin- A segunda Sub-região, a do Médio Capim, gam a Mesorregião do Nordeste Paraense – daí
do quilombos – tornaram-se marcas da ocupação aparece referendada em alguns mapas e estu- sua denominação. É formada por um conjunto de
espacial da área, sobretudo do Baixo Capim, onde dos como sendo o Alto Capim, formado a partir baixos platôs seccionados por planícies fluviais,
as facilidades de navegação e contato com outras da confluência dos rios Surubiju, que vem de E, e, como um todo, encontra-se representada pelas
áreas são maiores, até mesmo pelas possibilidades e Ararandeua (ou Braço Grande), que vem do S. terras baixas dos interflúvios entre os rios Guamá
de integração modal com o transporte rodoviário Aqui, entende-se que as características do rio Ca- e Piriá, Capim e Guamá, Acará e Capim, Moju e

questões regionais
que se dão nos pontos de travessia de balsa. O pim neste trecho – o qual se apresenta muito en- Acará. Todos estes rios já apresentavam, durante
Médio e o Alto Capim, por sua vez, ainda hoje caixado, meândrico e navegável por embarcações o século XIX, indícios de ocupação. Porém, foi
(começo do século XXI) não estão efetivamente de pequeno calado – denotam aspectos de médio somente no século XX que a ocupação se inten-
ocupados. No Baixo Capim, a ocupação se deu curso, até mesmo pelo fato de o canal principal do sificou a partir da abertura de estradas, as quais
por sobre terrenos de várzea e baixas superfícies sistema hidrográfico em questão ir além da dita permitiram o avanço da exploração madeireira e
de planalto, sendo que estas últimas são as predi- confluência, prosseguindo pelo rio Ararandeua até agropecuária para o interior dos baixos planaltos,
letas para a instalação de assentamentos humanos muitos quilômetros para o S.2 resultando em um desmatamento extensivo, além
e projetos agropecuários devido ao fato de não Ao contrário da sub-região anterior, o Médio Ca- de um forte impacto sobre os cursos d’água. A
serem atingidas pelas cheias, constituindo, por- pim se apresenta pouco ocupado, e possui trechos Região está sob influência direta de Belém e suas
tanto, “terras firmes”. Os planaltos foram inten- significativos de mata nativa, o que se revela como dinâmicas metropolitanas. O início e o ritmo da
samente desmatados para a realização das ativi- um atrativo para a instalação de atividades madei- ocupação efetiva são diversos, e, no geral, obede-
dades agropecuária e madeireira. As várzeas, por reiras, lembrando-se, ainda, que na maior parte dos cem ao tempo de abertura das estradas, de expan-
outro lado, estão mais preservadas e constituem municípios em estudo as espécies madeiráveis estão são das frentes pioneiras, e do avanço e consolida-
uma importante fonte de recursos de base extra- praticamente esgotadas (ver Indústria Madeireira). ção de usos e atividades.
tivista que são retirados da floresta, do sub-solo e A sub-região em questão, assim sendo, é uma área A Região Paisagem dos Baixos Platôs do Nor-
das águas. de ocupação pioneira, embora a terra já se encontre deste Paraense é a mais diversificada da área de es-
Foram identificadas duas Sub-regiões Paisagem: apropriada por grandes latifúndios – pelo menos tudo e apresenta cinco sub-regiões:
• 1a - Baixo Capim. do ponto de vista legal. Na paisagem, as matas de • 2a - Aurora – Ipixuna (Baixo Interflúvio
• 1b - Médio Capim. várzea vão sendo substituídas pelas matas ciliares Guamá-Capim).
O Baixo Capim apresenta como principal ca- de “terra firme” das bordas dos planaltos encaixa- • 2b - Aurora Ocidental.
racterística física a existência de amplas planícies, as dos, e os “campos” de aningal, buriti e açaí, típicos • 2c - Tomé-Açu.
várzeas, cujo regime de inundação é influenciado do Baixo Capim, passam a ter menos expressão que • 2d - Alto Acará-Mirim.
por maré, o que se reflete nas maiores taxas de os “campos” de jauari, que dominam os lagos que • 2e - Campos Belos.
inundação e sedimentação. A maior parte das vár- servem de “viveiros” para a reprodução da ictio- A Sub-região de Tomé-Açu corresponde, gros-
zeas se encontra apropriada por agentes particula- fauna.3 A tendência de ocupação do Médio Capim so modo, à área da bacia do Acará-Mirim e do mu-
res, que aí estabeleceram fazendas, o que resulta, suscita um maior cuidado por parte das autorida- nicípio de Tomé-Açu (parte norte) que foi ocupada
em certos casos, numa dificuldade de acesso da des competentes, a fim de evitar que se repitam os a partir da instalação da colônia japonesa de mesmo
população ribeirinha aos recursos extrativistas. Há problemas ambientais verificados em outras áreas nome. Este projeto de colonização foi responsável
inúmeras localidades ao longo do rio Capim, sen- ribeirinhas já efetivamente ocupadas ao longo do pela formação de um esquema fundiário particular,
do a mais importante delas a de Santana do Capim rio Capim e adjacências. baseado na pequena propriedade, e de um esque-

1
Consultar textos de Rosa Acevedo Marin (Formação Histórica e Territorial – Séculos XVIII e XIX; Populações Quilombolas).
2
Ver os parâmetros de hierarquia fluvial de Sthraller no item Hidrografia, deste Atlas.
3
Interessantes observações e comparações entre a estrutura ambiental do Baixo e do Médio (ou Alto) Capim podem ser encontradas nos textos de Ictiofauna e Quelônios e Crocodilianos.

405
406 questões regionais
407

questões regionais
ma produtivo pautado na policultura – revigorada baixos platôs do vale do rio Capim e adjacências aí existentes. A pequena extensão desta sub-região,
a partir da década de 1990, o que pode ser expli- (ver Formação Histórica e Territorial – Dinâmicas localizada a W do vale do Médio Capim, mostra um
cado, em grande parte, pelo declínio da monoe- de Ocupação no século XX). A Sub-região per- padrão de ocupação baseado na pecuária, possivel-
conomia da pimenta-do-reino. A Sub-região foi tence ao oeste do município de Aurora do Pará, mente destinada ao mercado interno – ao contrário
questões regionais

intensamente desmatada já nas primeiras décadas e é drenada por sub-bacias que convergem para o do que se verifica em Paragominas e Ulianópolis,
do século XX, por ocasião da implantação da co- baixo curso do rio Capim. O esquema fundiário é onde o gado, mais bem tratado, destina-se à expor-
lônia japonesa, e boa parte da atual cobertura do diverso, embora, ao que parece, haja o predomí- tação. A área encontra-se praticamente toda des-
solo é representada por matas secundárias (capo- nio da média propriedade; o mesmo vale para as matada, com a substituição quase total da mata por
eiras). Trata-se, portanto, de uma área de ocupação atividades produtivas, caracterizadas pela pequena pastos. Quando estes (os pastos) são abandonados,
consolidada. O auge das exportações da pimenta- produção familiar (agricultura e pecuária), e pela originam-se solos expostos que gradativamente vão
do-reino (décadas de 1950 e 1980), ao gerar divi- fruticultura destinada ao mercado interno. Para o dando lugar a macegas e capoeiras. Esta Sub-região
sas e demandar serviços bancários, comerciais e escoamento da produção e para a circulação, po- apresenta ligações muito fracas com o restante da
administrativos, dentre outros, foi responsável pela dem ser utilizados tanto o rio Capim (via fluvial) área de estudo, uma vez que, como já lembrado, há
consolidação de Tomé-Açu e Quatro Bocas (área quanto a PA-252 (via rodoviária), sendo que esta uma articulação mais direta com Goianésia do Pará
urbana binuclear) como um centro sub-regional, última permite o acesso aos mercados consumi- e Tailândia. Contudo, é importante lembrar que a
função mantida até o presente. Diante deste fato, dores e aos serviços de Mãe do Rio, Tomé-Açu e área em questão é “cortada” pela estrada da Cauaxi,
e pela existência de linhas de ônibus regulares para Quatro Bocas. Na paisagem, há o predomínio das a qual, nos últimos anos, vem servindo como eixo
as cidades de Belém, Moju, Acará, Tailândia, Cas- matas secundárias. alternativo de ligação entre a BR-010 e a PA-150.
tanhal e Paragominas, infere-se que há uma impor- O Alto Acará-Mirim, à semelhança da Sub- Este fato pode contribuir para uma maior articula-
tante convergência de fluxos intermunicipais para região anterior, também conheceu um processo de ção da Sub-região de Campos Belos com a cidade
a área urbana em questão, a qual, assim, funciona ocupação mais efetiva a partir da década de 1970. de Paragominas, devido à consolidação das rotas
como um pólo sub-regional. A ocupação inicial foi impulsionada pela abertura de escoamento da madeira que provém da chama-
As atividades urbanas – incluindo vilas e po- da PA-256, prolongada desde a área agrícola da 2ª da “Terra do Meio”, no centro do Estado do Pará,
voados – têm importância significativa nesta Sub- colônia de Tomé-Açu, isto é, a SW da cidade de rumo àquele importante pólo madeireiro (ver In-
região, e são sustentadas por atividades rurais que Quatro Bocas, até a BR-010 (Vila do Km 12, Pa- dústria Madeireira).
convergem, em grande parte, para aquelas duas ragominas). Corresponde à parte sul do municí- A Sub-região de Aurora - Ipixuna, também
cidades acima citadas; merece destaque o benefi- pio de Tomé-Açu e, também, ao setor meridional chamada de Baixo Interflúvio Guamá-Capim, teve
ciamento de polpa de frutas, a indústria madeirei- (alto curso) da bacia do Acará-Mirim, estando aí sua ocupação efetiva iniciada na década de 1950,
ra, a pecuária (bovinos, galináceos), a agricultura localizadas as cabeceiras deste rio, o que, por si só, quando fazendeiros e trabalhadores rurais foram
familiar e, mais recentemente, a mineração (escoa- revela a necessidade de medidas de uso racional gradativamente se instalando ao S do vale do rio
mento – minerodutos). Tomé-Açu se destaca pela do solo e dos recursos naturais, a fim de preservar Guamá. Neste trecho, tal dinâmica respondeu por
tradição do cooperativismo, com a formação de os mananciais que dão origem à bacia hidrográfi- uma antecipação à abertura oficial da Belém-Bra-
associações de produtores, os quais estão conec- ca citada. Extensos trechos de mata nativa dividem sília, com um processo espontâneo de ocupação de
tados à Região Metropolitana de Belém (RMB) e espaço com áreas produtivas (pastos, plantações), terras que se deu desde a Zona Bragantina (muni-
aos municípios do Nordeste Paraense por meio da de solos expostos e de matas secundárias, as quais cípio de São Miguel do Guamá). Por esta época,
PA-140, e aos municípios do Sudeste e Sul do Pará vêm se expandindo na atualidade. Percebe-se, nes- estava se originando, desde o norte, a ocupação das
por meio da PA-256, que liga as rodovias BR-010 te sentido, que a área ainda está em fase de con- terras firmes até então pertencentes ao território
e PA-150.4 Além da circulação física, que permite a solidação da ocupação, o que se reflete em altas de São Domingos do Capim. A vila Aurora, ou Km
ligação direta ao importantes mercados consumi- taxas de desmatamento. O esquema básico de 58, desde o início esteve fortemente ligada à vila
dores e aos portos de escoamento da produção, é apropriação de terras foi o latifúndio, no interior do Km 48, hoje sede municipal de Mãe do Rio.
importante destacar a ligação existente com os paí- dos quais ocorre extração madeireira e iniciativas Ipixuna, por outro lado, teve sua gênese mais re-
ses estrangeiros, sobretudo o Japão, o que se revela de reflorestamento. Segundo denúncias, é possí- lacionada à abertura oficial da Belém-Brasília, que
como uma facilidade de acesso a fontes estrangei- vel que para a derrubada da mata do interior das alcançou este trecho nos primeiros anos da década
ras de financiamento. grandes propriedades se esteja utilizando trabalha- de 1960. Vicinais foram sendo abertas a partir da
A Sub-região aqui chamada de Aurora Oci- dores “escravos” (ver Economia). A agricultura fa- estrada e das vilas principais, sendo que tal reali-
dental corresponde a uma área sob influência da miliar é desenvolvida por famílias que se agregam dade foi acompanhada pela instalação de proprie-
rodovia PA-252. É marcada, do ponto de vista es- ao redor dos povoados em formação ao longo da dades rurais de médio e pequeno porte, e pela for-
pacial, por uma transição entre duas realidades dis- PA-256. A localidade mais importante da área é mação de povoados e vilas. O caráter disperso da
tintas: o padrão de ocupação ribeirinha, que marca conhecida como Vila Nova, que pertence a Tomé- ocupação em localidades, o não-estabelecimento
o Baixo Capim, e o padrão de ocupação das terras Açu, embora, na prática, haja uma transição entre do latifúndio e a criação de diversos assentamen-
firmes, o qual, conforme já dito, foi propiciado a influência da sede deste município e a influência tos rurais constituem elementos que permitiram
pelas estradas. No último caso, lembra-se outra da cidade de Paragominas. separar a Sub-região de Aurora – Ipixuna, cujos
transição, que existe entre o esquema de ocupa- A Sub-região de Campos Belos está localiza- eixos viários principais são a BR-010 e a PA-252,
ção originado a partir da implantação da colônia da no extremo SW do município de Ipixuna do daquelas ligadas à Região Paisagem dos Planaltos
de Tomé-Açu, e aquele ligado à abertura da BR- Pará, e corresponde a uma área de influência direta do Corredor da BR-010, que corresponde, assim,
010. Entre as décadas de 1950 e 1970, houve o en- da PA-150, daí ocorrer uma forte ligação e seme- a uma realidade espacial distinta do ponto de vista
contro dos japoneses vindos de Tomé-Açu com os lhança com os municípios de Goianésia do Pará e urbano, fundiário e econômico. Outro aspecto de
fazendeiros e trabalhadores rurais que, oriundos Tailândia, até mesmo pelo padrão de ocupação es- diferenciação é o relevo, que segue o esquema de
da Zona Bragantina, da Região das Ilhas (Golfão pacial típico deste setor da rodovia citada. A deno- baixos platôs. Trata-se, por fim, de uma Sub-re-
Amazônico), e de outros estados, foram ocupar os minação foi retirada de uma das poucas localidades gião com ocupação consolidada, e extensivamente

4
Para mais informações sobre os sistemas produtivos desenvolvidos no município de Tomé-Açu, ver o texto especial sobre Pecuária.

408
desmatada em face da agropecuária. Hoje, a prin- mento da BR-010 com a PA-256, como um núcleo concentrada na cidade-sede (Ulianópolis). Esta
cipal atividade produtiva diz respeito à agricultura de serviços, população e concentração de serrarias. área apresenta muitas semelhanças com a Sub-
familiar ou de pequena escala (mandioca, maracu- As estradas, e não os rios, funcionam como um ele- região anterior, com destaque para a presença
já, feijão etc.), o que inclui a produção dos assen- mento ao longo do qual se distribuem e localizam marcante do latifúndio e para a alta incidência do
tamentos rurais. os estabelecimentos rurais. Os entroncamentos de desmatamento, que resultou das dinâmicas de
estrada, por sua vez, tiveram e têm um importan- ocupação iniciadas ainda na década de 1960 e in-
3. Planaltos do Corredor da BR-010 te papel na organização espacial da Sub-região de tensificadas na década de 1980.
A Região Paisagem dos Planaltos do Corredor Paragominas, ao fazer convergir para um ponto do
da BR-010 situa-se na porção central da área de es- território (áreas urbanas) fluxos gerados a partir das 4. Planaltos Orientais da Bacia do Capim
tudo e, como o próprio nome indica, diz respeito fazendas, povoados, vilas e assentamentos rurais. A Esta Região-paisagem se encontra na área de
a uma grande área cuja formação espacial esteve cidade de Paragominas, por exemplo, expandiu-se transição entre os eixos de ocupação da BR-010
ligada às dinâmicas que acompanharam a abertura a partir do cruzamento da BR-010 com a PA-125, e da PA-150, a E do vale do rio Capim. A distân-
da Belém-Brasília e a consolidação desta rodovia e concentra uma série de serviços e atividades co- cia relativa às duas estradas principais citadas, e
como eixo de integração inter-regional. Além des- merciais e administrativas que alcançam uma es- que representam importantes eixos de integração
te aspecto, é importante considerar que a escolha cala de influência sub-regional. Há, em virtude da regional, foi um fator que contribuiu para a pre-
do interflúvio Capim-Gurupi como sítio para a combinação entre concentração de terra no campo servação de boa parte da mata nativa, o que revela
instalação desta rodovia implicou um arranjo es- e expectativa (real ou imaginária) de emprego nas que a ocupação ainda não está, de fato, consoli-
pecífico de formas de relevo, onde se destacam os áreas urbanas, uma concentração de população nas dada, embora a terra já esteja toda demarcada por
platôs ou planaltos residuais mantidos por Cober- cidades. Além disso, boa parte dos fluxos migra- latifúndios e algumas poucas Terras Indígenas e
turas Detrito-lateríticas Paleogênicas. Tal sítio é tórios tem como destino as áreas urbanas, e não o assentamentos rurais. Um conjunto de vicinais
caracterizado por amplas superfícies planas inter- campo. permite o acesso às áreas pioneiras do interior
rompidas por vales fluviais, e, se em princípio foi A grande propriedade (latifúndio) é a marca es- das fazendas, e, em alguns casos, articula-se de tal
tomado como fator favorável para a instalação da pacial mais nítida desta parte da área de estudo, e forma que constitui verdadeiro caminho alterna-
rodovia, hoje se mostra como atributo físico muito a sua presença está ligada à realização da pecuária tivo de sentido E-W, como é o caso da estrada da
valorizado pelos plantadores de soja, milho e ar- voltada para a exportação, à existência de vastos Cauaxi. Não há, neste sentido, estradas ou eixos
roz, que encontraram no topo dos platôs um lugar trechos de solos expostos, enfim, a uma paisagem de ligação E-W bem definidos, como o são a PA-
ideal para a realização da lavoura de grande escala. rural monótona. O desmatamento é extensivo, e 256 e a PA-252. A Sub-região em questão abarca,
O agronegócio, contudo, é um fenômeno recente teve como causa a limpeza dos terrenos para a im- na área de estudo, a maior parte do sudoeste de
nesta Região, cuja ocupação foi marcada pelo esta- plantação de pastos, acompanhada da extração de Paragominas, e prolonga-se, para o S, pelo mu-
belecimento do latifúndio, da agropecuária – com madeira e, em outros casos, tão-somente para con- nicípio de Rondon do Pará. Os maciços florestais
destaque para a pecuária extensiva – e da extração ferir às propriedades um caráter de bem produtivo aí existentes representam os setores mais preser-

questões regionais
madeireira. que mascara interesses voltados para a retenção e vados dos trechos de planaltos dissecados do mé-
O processo de ocupação, iniciado em fins da especulação de terras. Estudos mostram que é sig- dio e alto Capim, mais precisamente a sua parte
década de 1950, levou à formação do que se con- nificativa, também, a contribuição dos assentados oriental, uma vez que a parte oeste desta bacia foi
vencionou chamar de Leste Paraense, onde Para- da reforma agrária para a expansão do desmata- fortemente impactada pela abertura da PA-150,
gominas despontou como principal núcleo. Abran- mento. O agronegócio, por sua vez, aproveita-se onde a mata nativa foi amplamente substituída
ge a maior parte dos municípios de Paragominas, dos terrenos já degradados para sua expansão, e, da por pastos.
Ulianópolis e, ao S da área de estudo, Dom Eliseu, mesma forma, vem gerando paisagens rurais mo- Foi verificada apenas uma Sub-região Paisa-
prolongando-se a partir daí para o Estado do Mara- nótonas com plantações que chegam a ter vários gem, denominada de Cauaxi (4a) em virtude do
nhão. Houve intenso desmatamento devido à rea- quilômetros de extensão. Por fim, é importante eixo de ocupação e circulação principal aí encon-
lização das diversas atividades produtivas, sobretu- destacar o papel que as rotas rodoviárias exercem trado. Cauaxi é, também, o nome de uma grande
do a pecuária, que ainda constitui uma importante na organização do espaço da área em questão, com propriedade rural, assim como o são as Fazendas
fonte de geração de riquezas, e as atividades ligadas fluxos que se direcionam por meio da BR-010 para Rio Capim, Cikel e Bradesco, dentre outras. A
à indústria madeireira. Estas últimas, em face do o N, rumo à RMB e municípios do NE Paraense, influência do pólo de Paragominas é grande, mas
esgotamento de sua matéria-prima principal (ma- e para o S, rumo ao SE Paraense e estados do Cen- isto não quer dizer que haja uma frente urbana
deiras), foram reorientadas para o reflorestamento, tro-Sul e Nordeste do país. Pela PA-256, as rotas se em formação, pois praticamente não há localida-
para o manejo florestal – este último nos poucos direcionam para Tomé-Açu, para o Baixo Tocan- des na área em questão, a não ser núcleos de fa-
fragmentos de mata nativa – e, também, para o tins e para as áreas de influência da PA-150. zendas e serrarias que comportam pequenos as-
setor moveleiro, que desponta como alternativa à A Sub-região de Gurupizinho corresponde sentamentos humanos. A exploração de madeira,
decadência das serrarias. Apesar da existência de ao setor meridional dos Planaltos do Corredor retirada dos fragmentos de mata nativa, constitui
inúmeros povoados ao longo de estradas oficiais da BR-010 dentro da área de estudo. O nome da a mais importante atividade realizada na área da
e não-oficiais, é preponderante a concentração da Sub-região denuncia o papel do núcleo urbano de Cauaxi, e ocorre, como atividade relacionada à in-
população nas sedes municipais. No campo, os as- Gurupizinho, também chamado de Ulianópolis dústria madeireira, associada ao reflorestamento.
sentamentos rurais implantados em diversas épocas desde a emancipação do município homônimo, Em menor escala, vem sendo feita a limpeza de
lutam pela permanência em meio a uma realidade como centro para o qual convergem a população e áreas para a instalação de pastos e cultivos, que
marcada pelo latifúndio. Além do agronegócio e da certas demandas básicas (comércio e serviços não aproveitam, inclusive, fragmentos de mata se-
movelaria, outra atividade que tende a se expandir especializados) geradas a partir dos estabelecimen- cundária. O manejo racional da exploração dos
é a mineração, com a extração da bauxita a iniciar tos rurais. Trata-se de uma área sob influência da recursos naturais, sobretudo madeira e caça, deve
no município de Paragominas no ano de 2007. cidade de Paragominas (pólo sub-regional), para ser considerado a fim de evitar o desmatamento
Foram identificadas duas Sub-regiões Paisagem: onde converge boa parte da renda gerada pelas ati- extensivo e a degradação da biota. Da mesma
• 3a – Paragominas. vidades produtivas, com destaque para a extração forma, atenção especial deve ser dada às relações
• 3b – Gurupizinho. de madeira – em declínio –, pecuária extensiva e de trabalho, uma vez que, conforme denúncias e
A Sub-região de Paragominas é a área de in- agronegócio, bem como o reflorestamento, em fatos verificados em trabalhos de campo, ocorre
fluência direta da cidade homônima. Além desta franca expansão. A pequena lavoura encontra-se a exploração de mão-de-obra sob condições de
cidade, figura a Vila do Km 12, localizada no cruza- muito restrita, e a urbanização se mostra altamente “escravidão”.

409
5. Planaltos da Bacia do Gurupi quenos lotes contidos nos projetos de assentamen- colonizadores, escravos negros) que ocuparam a
Esta Região Paisagem corresponde ao trecho tos rurais instalados em diversas épocas. A parte área do vale do rio Gurupi posteriormente, sendo
oriental do interflúvio Capim-Gurupi, e represen- norte da Sub-região corresponde, basicamente, à que Tenetehara é como os nativos se autodeno-
ta uma faixa de terras cuja ocupação se deu a partir bacia do rio Uraim, que drena terras pertencentes minam (ver item Populações Indígenas). Na T. I.
questões regionais

da expansão do processo de apropriação de terras a Paragominas, enquanto a parte sul diz respeito à Alto Rio Guamá ainda existe um maciço florestal
e, concomitantemente, da realização da agropecu- bacia do rio Piriá, que drena uma pequena parte do significativo, haja vista o seu uso especial. Contu-
ária e da extração de madeiras desde o eixo da BR- último município citado e outra de Ulianópolis. do, é forte a pressão exercida pelo garimpo – ex-
010, a qual, até princípios da década de 1970, era Algumas pequenas localidades existem ao longo tração clandestina de ouro – e pela extração ilegal
representada pelo trecho que hoje forma a PA-125. de estradas não-oficiais (vicinais), e apresentam-se de madeira, com a abertura de estradas não-oficiais
Trata-se esta Região Paisagem, que se inicia ao S do articuladas a Paragominas e Ulianópolis. que abrem caminho para futuras invasões de terra.
vale do Piriá,5 de uma área de influência do pólo O Vale do rio Gurupi é, da mesma forma Os índios, por sua vez, realizam a agricultura de
de Paragominas. As suas características espaciais que o vale do Capim, um corredor fluvial pionei- subsistência e algum pequeno comércio de produ-
devem se estender, ainda, para E do rio Gurupi, ro de ocupação da área de estudo. Sua exploração tos extrativistas. O padrão do relevo nesta área é o
Estado do Maranhão, onde diversos interflúvios vem ocorrendo desde o século XIX por viajantes mesmo dos baixos platôs do Nordeste Paraense,
delimitam os rios da bacia do Gurupi daqueles da estrangeiros e comerciantes, dentre outros. O rio porém, há um atributo físico especial que se refere
bacia do rio Pindaré. A dinâmica de ocupação veio Gurupi, por apresentar trechos encachoeirados, ao afloramento do núcleo cristalino, com rochas
ocorrendo desde a década de 1970, época na qual não favoreceu uma ocupação mais consolidada, que contêm mineralizações auríferas.
teve início, também, a instalação de assentamen- como verificado no baixo rio Capim. Contudo,
tos rurais, os quais dividem espaço com as gran- a maior dificuldade de circulação foi sendo apro- CONSIDERAÇÕES FINAIS
des propriedades rurais – latifúndios. A partir da veitada por negros fugidos que passaram a formar,
BR-010, foram abertas vicinais E-W rumo ao vale ao longo do rio, quilombos, sobretudo mais ao N A proposta de regionalização da área de estudo,
do rio Gurupi. O desmatamento que atingiu esta (ver item Populações Quilombolas). A dinâmica aqui mostrada, deve servir à elaboração e realização
área foi extensivo, e, em virtude disto, hoje restam recente de ocupação impulsionada pelas estradas de análises e medidas de intervenção espacial que
poucos fragmentos de mata nativa. Ao lado da pe- de rodagem atingiu o vale do Gurupi nas décadas levem em consideração a realidade física e socio-
cuária extensiva, coexistem iniciativas de produção de 1960 e 1970. Atualmente (começo do século ambiental dos diversos subespaços identificados
baseadas na agricultura familiar, realizada, sobre- XXI), há localidades ribeirinhas ao longo do rio no interior dos municípios de Tomé-Açu, Aurora
tudo, nas áreas de assentamentos rurais. Gurupi que sobrevivem da pesca, coleta e da agri- do Pará, Ipixuna do Pará, Paragominas e Ulianó-
Foram identificadas três Sub-regiões Paisagem: cultura de subsistência. A preservação dos recur- polis. Pode chegar, assim, a um debate mais con-
• 5a – Uraim – Piriá. sos extrativistas utilizados pelos ribeirinhos do vale substanciado acerca da configuração diferenciada
• 5b – Vale do Gurupi. do rio Gurupi inclui medidas voltadas para o uso de aspectos como produção, uso do solo, apropria-
• 5c – Terra dos Tembé-Tenetehara. racional do solo nas áreas de planalto adjacentes, ção da terra, urbanização e circulação e polarização
A Sub-região do Uraim – Piriá é formada por onde, no interior de grandes propriedades rurais, regionais. A escolha da definição de Região Paisa-
terras das bacias dos rios Uraim e Piriá, além de a instalação de pastos e a retirada da floresta vêm gem veio responder à necessidade de uma discus-
outros menos importantes, como o Gurupizinho. causando sérios danos à cobertura de solo, então são ambiental pautada na realidade de apropriação,
Apresenta como característica física principal a gradativamente removida pelas águas das chuvas, de uso, de transformação e de produção de espaços
existência de superfícies de planalto que vão de- que carreiam material sedimentar que vão preju- e dos recursos e elementos (fisiográficos, biológi-
caindo suavemente até atingir o vale do Gurupi. As dicar o ambiente fluvial. cos, socioeconômico-políticos, culturais) a eles
matas que recobriam estes planaltos foram, em sua A Terra Indígena do Alto Rio Guamá, localizada inerentes. Neste caso, a própria delimitação então
maior parte, substituídas por pastos, cultivos, solos no extremo nordeste da área de estudo e do mu- alcançada pode ser modificada e aperfeiçoada, de
expostos e matas secundárias, o que indica que é nicípio de Paragominas, foi considerada, em virtu- maneira que seja feita uma aproximação, o tanto
muito expressivo o índice de degradação ambiental de do seu caráter de uso especial, uma Sub-região quanto possível, da realidade ambiental complexa
desta área de transição entre o corredor da BR-010 Paisagem particular, denominada de Tembé-Te- e heterogênea da área de estudo, seja na forma de
e o corredor do rio Gurupi. O esquema básico de netehara. A denominação Tembé foi atribuída ao diagnósticos ou de proposições futuras de uso e,
ocupação opõe o latifúndio, predominante, aos pe- povo indígena aí residente por grupos (indígenas, por conseguinte, de planejamento espacial.

5
Está-se referindo ao rio Piriá que deságua diretamente no Oceano Atlântico. Mais ao S há, como será visto, outro rio chamado de Piriá, afluente da margem esquerda do rio Gurupi, e que
serve de limite entre os municípios de Paragominas e Ulianópolis.

410
ANÁLISE SOBRE A LITERATURA EXISTENTE
análise sobre a literatura existente
Maria Célia Nunes Coelho • Elis Miranda

C
onsideramos a produção dados diversos sobre os rios Tocantins, Moju, Aca- do pioneirismo” (1983, reeditado em 2000), trata
de trabalhos acadêmicos e rá, Guamá e Capim, e as terras por eles banhadas, do município de Paragominas no período de 1959
registros cartográficos pro- nas obras de Antônio Baena, Spix e Martius e do a 2000. Embora apresente um discurso construído
duzidos ao longo das décadas do século Barão de Marajó (Gama Abreu). para ressaltar a figura do “pioneiro”, fornece um
XX e início dos anos 2000, para efeitos do No que diz respeito à formação territorial e ao rico testemunho das mentalidades dos formadores
presente mapeamento. Não se trata, aqui, histórico de ocupação dos municípios localizados da região da Belém-Brasília, enfatizando aqueles
das bibliografias coletadas individual- ao longo da rodovia Belém-Brasília no século XX, que se instalaram em Paragominas, mostrando
mente, e que serviram para fundamentar a obra pioneira consultada foi o livro dos geógrafos suas trajetórias individuais e a formação social do
os textos analíticos que constam no Atlas Orlando Valverde e Catarina Vergolino Dias, inti- município, reconstituída através da apresentação
apresentado. Buscamos, todavia, realizar tulado “A Rodovia Belém-Brasília – Estudo de Ge- das imagens dos álbuns de família.
um levantamento bibliográfico indepen- ografia Regional” (IBGE, 1967). Este livro é por- A produção após os anos 1970 foi resultado do
dente, localizando a literatura existente tador de um rico registro da ocupação de áreas ou esforço, principalmente, das instituições públicas
sobre os municípios que compõem a área lugares descritos de acordo com os seus aspectos de pesquisa e de organizações não-governamen-
de estudo. físicos e econômicos. Valverde e Dias (1967) rea- tais (ONG’s) atuantes na região. Dentre as insti-
As referências bibliográficas, coletadas lizaram suas pesquisas ainda na fase de abertura e tuições públicas destacam-se a Empresa Brasileira
para fins de levantamento inicial e geral, ocupação inicial da rodovia (década de 1960). Esta de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA); a Univer-
foram ordenadas por anos de publicações, obra tem como principal mérito o registro da ocu- sidade Federal do Pará (UFPA), especialmente as
concentradas entre 1981 e 2002. As obras pação e do uso do solo antes ou sob os primeiros monografias de conclusão de cursos, dissertações
foram classificadas de acordo com os mu- impactos físicos e sociais de uma estrada que iria e teses, com destaque para aquelas defendidas no
nicípios em estudo: Tomé-Açu, Aurora modificar a área de estudo, e mudar o eixo princi- âmbito do Programa de Pós-graduação em Plane-
do Pará, Ipixuna do Pará, Paragominas e pal de desenvolvimento regional dos rios para uma jamento do Desenvolvimento e Planejamento de
Ulianópolis; e, por fim, classificadas em estrada de ligação do norte ao centro-sul do país. Áreas Amazônicas do Núcleo de Altos Estudos
eixos temáticos de pesquisa: 1) pecuária, Valverde e Dias (1967) dedicaram parte de seu Amazônicos (PLADES – NAEA), e as da Facul-
qualidade e condições de pastagem; 2) so- livro à discussão da “franja pioneira” de Tomé-Açu, dade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP).1 Algu-
los e uso dos solos; 3) floresta, inventário algumas décadas mais antiga que a da Belém-Bra- mas monografias de conclusão de curso também

questões regionais
florestal, extração de madeira, impactos sília – a colônia foi fundada em 1929. Nos últimos foram produzidas no âmbito do Colegiado (atual
da atividade madeireira, uso da floresta anos da década de 1960, enquanto a área de ocupa- Faculdade) de Geografia da UFPA, ainda que de
e manejo sustentável da floresta; 4) pes- ção da rodovia citada sequer havia se consolidado, divulgação muito restrita.
quisas minerais e geológicas; 5) história, em Tomé-Açu já se conhecia uma primeira fase de No período em questão, surgiram duas refe-
desenvolvimento ou análise regional; 6) prosperidade econômica devida à monocultura re- rências de destaque sobre a ocupação e a formação
cidades ou estudos urbanos e planeja- lativamente bem-sucedida da pimenta-do-reino. territorial de Tomé-Açu. Primeiro, o histórico de
mento municipal; 7) pequena produção e Em termos do levantamento bibliográfico geral, instalação e consolidação, e os rumos econômicos
estudos agrícolas: pimenta-do-reino, soja deduzimos que, da literatura produzida na década e políticos tomados pela colônia nipo-brasileira de
e lavoura em geral; 8) população e recur- de 1970, alguns trabalhos figuram como referên- Tomé-Açu foram sintetizados por Yoshio Maruoka,
sos humanos. cias importantes sobre a ocupação da Belém-Bra- em comemoração aos “70 anos da imigração japo-
Em levantamentos anteriores, reali- sília. Maria de Lourdes Rodrigues (Mestrado em nesa na Amazônia”, fato que motivou e dá título ao
zados com o propósito inicial de mapea- Geografia, UFRJ, 1978) analisou em sua disser- livro (Associação Pan-Amazônia Nipo-Brasileira,
mento bibliográfico, constatamos que a tação os povoados da porção norte desta rodovia, 1994). Segundo, há um artigo de Hiroko Kumagai
literatura histórica, referente aos períodos com a análise dos fatores que levaram à expansão, publicado na Revista Sinopse (USP, n.º 37, 2002)
anteriores à segunda metade do século XX, estagnação ou decadência das áreas urbanas em que apresentou os resultados de um estudo sobre
é escassa, requerendo buscas de registros, formação. Jean Hébette e Rosa Acevedo Marin as moradias de imigrantes no interior da colônia,
sobretudo o cartográfico, na Biblioteca (NAEA/UFPA), em artigos publicados na década com apontamentos quanto à situação econômica e
Nacional do Rio de Janeiro, onde se en- em questão, enfatizaram as questões políticas e so- o modo de vida dos colonos.
contram catalogados os mapas referentes, ciológicas relacionadas à integração e à marginali- O Instituto do Homem e Meio Ambiente da
principalmente, ao período colonial e iní- zação da população, à formação do mercado de ter- Amazônia (IMAZON) e o Instituto de Pesqui-
cio do século XX, com ênfase ao “Peque- ras, e à estruturação do “baixo terciário” nas zonas sa Ambiental da Amazônia (IPAM) destacam-se
no Atlas do Maranhão e Grão-Pará”, con- urbanas da Belém-Brasília. Alguns destes artigos como as ONG’s mais atuantes no período pós-
fecção atribuída a João Teixeira Albernaz I foram reeditados no livro organizado por Hébette, 1970, e, também, aquelas que realizaram levanta-
(ver Formação Histórica e Territorial). A “Cruzando a fronteira: 30 anos de campesinato na mentos sistemáticos sobre os efeitos das atividades
partir da análise da obra “Tesouro Desco- Amazônia” (Edufpa, 2004). pastoris e madeireiras relativas aos municípios que
berto no Máximo Amazonas”, do jesuíta Destaca-se, ainda, a publicação da professora compõem a área de estudo.
João Daniel, foi possível iniciar a pesquisa Gláucia Lygia Rabello Leal, que efetuou suas pes- Considerando a área destacada no Atlas, a ci-
referente aos séculos XVII, XVIII e XIX. quisas ao longo dos anos 1960 e 1970, embora tenha dade e município mais pesquisado foi, de longe, o
Quanto ao século XIX, em específico, po- sido publicada em várias versões, sendo uma delas de Paragominas. Porém, Tomé-Açu concentrou a
demos encontrar notícias, informações e a de 1983. Sob o título “Paragominas: a realidade maior parte dos estudos sobre a produção agrária,

1
A Faculdade de Ciências Agrárias do Pará foi extinta pela Lei n.º 10.611, de 23 dez. 2002, e no seu lugar foi criada a Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA.

411
enquanto Ipixuna do Pará despontou, na década de ferente aos estudos florestais e extração de madeira uma base digitalizada do IBGE e do SIPAM sobre
1990, como área de interesse em estudos de cidades (Gráfico 3). No ano de 1999 há uma significativa elementos do meio biofísico (geologia, clima, hi-
e planejamento municipal, e desde os anos 1980 produção só comparada ao município de Parago- drografia, solos e vegetação), inclusive com atuali-
com estudos de pesquisa mineral e geológica. minas, que desde 1975 até 2002 esteve à frente zações do material do Projeto Radambrasil. Neste
questões regionais

Identificamos as áreas e os temas que concen- neste tipo de produção bibliográfica. Nos demais último caso, e ao contrário dos demais órgãos cita-
traram os estudos dos pesquisadores entre os anos municípios, os estudos sobre este tema foram in- dos, a escala dos mapas não chega a um nível maior
de 1970 até 2003 (ver Mapa Síntese da Produção significantes ou inexistentes. de detalhe, visto tratar-se de cartografia produzida
Bibliográfica e Mapa de Áreas de Concentração do Tomé-Açu, Paragominas e Ipixuna do Pará con- em âmbito regional (Amazônia). Outros produtos
Conjunto de Pesquisas Bibliográficas). Dos temas centraram as pesquisas sobre “Pequena produção e cartográficos, embora escassos, foram encontrados
mais recorrentes, identificamos uma irregulari- estudos agrícolas” (ver Gráfico 7 e Mapa de Refe- na literatura consultada.
dade na relação produção/área de estudo, tendo o rências sobre Pequena Produção Agrícola – 2006). Na Os resultados dos levantamentos bibliográfi-
município de Paragominas como a área que con- década de 1970, Paragominas liderou estas pesqui- cos apresentados por temas de pesquisa ajudaram
centrou as atenções dos pesquisadores e das ins- sas, entretanto, a partir dos anos de 1980 Tomé- os pesquisadores a levantarem questões quanto
tituições de pesquisa, e isto apesar de as obras da Açu passa a ser alvo de interesse, se igualando, às pesquisas feitas sobre a heterogeneidade físi-
Rodovia Belém-Brasília terem se iniciado somen- inclusive, a Paragominas. Em Tomé-Açu, tais es- ca e social da área estudada. A região correspon-
te no final dos anos de 1950. O pouco número de tudos voltaram-se, principalmente, para a revalo- dente aos vales dos rios Gurupi, Guamá e Capim
referências (máximo de 2) é fato que comprova a rização ou revitalização das plantações de pimen- foram destacadas como área de ocupação antiga
carência de pesquisas sobre a área de estudo como ta-do-reino, então tidas como decadentes, e para a do Pará, conforme apresentado no item Forma-
um todo, e muitos dos temas, autores e locais de diversificação da pequena lavoura com ênfase na ção Histórica e Territorial. Entretanto, estas áreas
estudo vislumbrados se repetem em mais de uma fruticultura. Apenas nos anos 2000 é que Ipixu- carecem de estudos do ponto de vista historio-
publicação. na do Pará despontou com pesquisas neste tipo de gráfico. Pouco se estudou e publicou sobre as
Temas como a extração da madeira, que come- produção bibliográfica, mesmo tendo sido criado transformações espaciais destas áreas identifica-
çaram a aparecer na década de 1970, tendo Parago- e reconhecido como município bem antes, no ano das em diversas épocas da história estadual, o que
minas como principal área de estudo, englobaram de 1993, resultante do desmembramento do ter- também ocorre em relação à sua organização so-
nas análises os demais municípios criados após a ritório de São Domingos do Capim em 1991. É cioespacial anterior à abertura da rodovia Belém-
década de 1990. O tema “Pesquisas Minerais e Ge- importante lembrar que os anos 2000 correspon- Brasília. Não há, ainda, uma publicação recente
ológicas” ficou restrito aos municípios de Ipixuna dem à fase principal de instalação de assentamen- que analise a cartografia histórica desta região.
do Pará e Paragominas (Gráfico 4), onde se insta- tos rurais em Ipixuna do Pará, o que pode, talvez, A revisão acerca da literatura mais antiga con-
laram os projetos de extração de caulim, confor- justificar a importância do município para o tema tribuiu para a composição de um imaginário so-
me já dito. No que diz respeito às pesquisas sobre em questão. bre a Amazônia, e o levantamento da bibliografia
“Pequena Produção e Estudos Agrícolas”, Parago- Estudos sobre “População e Recursos Huma- mais recente auxiliou os pesquisadores a retratar
minas, Ipixuna do Pará e Tomé-Açu constituíram nos” (Gráfico 8) não se constituíram diretamen- uma visão de fronteira econômica que predomi-
áreas de maior interesse (ver Mapa de Referências te em um campo significativo de interesse para os nou até o último quartel do século XX, quando
sobre Pequena Produção Agrícola). Os “Estudos pesquisadores e instituições. Restrito apenas ao caiu por terra o imaginário de que a floresta não
Urbanos” foram significativos em Paragominas e município de Paragominas, este tema de estudo acabaria nunca. A partir daí, instituições como a
Tomé-Açu. Aurora do Pará e Ulianópolis repre- merece maior atenção, visto que a implantação dos EMBRAPA, o Instituto Brasileiro do Meio Am-
sentam as áreas de menor interesse para os espe- projetos de mineração em Ipixuna do Pará e Para- biente e dos Recursos Naturais Renováveis
cialistas. Isto parece demonstrar que há locais que gominas pode ter promovido alterações nas ten- (IBAMA) e a Universidade Federal do Pará, bem
merecem mais atenção dos especialistas e das insti- dências regionais, principalmente no que se refere como autores individuais, passaram a se preocu-
tuições de pesquisa, quase sempre corresponden- à migração para estes municípios. Além disso, os par com o desenvolvimento de pesquisas sobre os
tes a processos locais de valorização e re-valoriza- impactos das obras de infra-estrutura (e.g.: mine- efeitos do desmatamento, o esgotamento do solo,
ção de terras. rodutos) requeridas por estes projetos, e o uso dos o manejo dos recursos e a urbanização, temas pou-
No que se refere ao tema “História, desenvol- recursos hídricos por eles demandados, provoca- co abordados até os meados do século XX.
vimento ou análise regional”, Paragominas con- ram mudanças físicas e sociais no ambiente das O levantamento da bibliografia do século
tinua a liderar a produção bibliográfica da década populações ribeirinhas, que se viram forçadas a re- XX e início do século XXI demonstrou que a
de 1970 ao ano de 2003. Não há registros sobre orientar suas estratégias de vida. Outras atividades produção intelectual sobre esta região está di-
os demais municípios a respeito desses temas (ver em expansão, como o continuado avanço da pecu- retamente relacionada a momentos de pico da
Gráfico 5). ária, o reflorestamento, o agronegócio e a movela- produção econômica de cada um dos lugares.
Paragominas lidera, ainda, a produção biblio- ria, também sugerem mudanças nas relações entre No caso de Tomé-Açu, o declínio (mas não o
gráfica dos temas “Cidades ou estudos urbanos e sociedade e natureza, particularmente nas relações desaparecimento) da produção de pimenta-do-
planejamento” (ver Gráfico 6), “Pequena produ- de produção e trabalho na área de estudo. reino renovou o interesse de pesquisadores pela
ção e estudos agrícolas” (Gráfico 7) e “População e Quanto à cartografia produzida pós-1970, me- área; em Ipixuna do Pará, as minas de caulim e
recursos humanos” (Gráfico 8), além de “Pecuária, rece destaque o IBGE, que dispõe de diversos cro- a sua exploração por grandes mineradoras leva-
qualidade e condições de pastagens” (Gráfico 1) e quis (esboços de mapeamentos) de espaços urba- ram pesquisadores a se interessar por este novo
“Floresta e inventário florestal” (Gráfico 3). Em nos e rurais de diferentes anos, utilizados para fins município. O avanço das pastagens e a crescen-
relação ao tema “Pesquisas minerais e geológicas” de contagem de população (censos). O INCRA e o te exploração de madeira instigaram pesquisas
(Gráfico 4), Paragominas não se apresentou a prin- ITERPA possuem bases cartográficas sobre os as- sobre inventário florestal, extração de madeira
cipal área de interesse para estudos, perdendo para sentamentos rurais, nem sempre apoiadas nas bases e manejo de floresta. Finalmente, a análise efe-
Ipixuna do Pará. Nos anos de 1990, as pesquisas cartográficas produzidas pelo IBGE. Os dados do tuada mostrou que modismos de temas estão
de mineração e geologia ficaram concentradas em IBGE, INCRA e ITERPA apresentaram disparida- associados aos problemas ambientais e sociais
Ipixuna do Pará, em função de haver, ali, interesse des entre os dados relativos à totalidade dos assen- decorrentes dos avanços ou mudanças nas ati-
de exploração do caulim encontrado no vale do rio tamentos e os mapas gerais que os representam, o vidades econômicas de cada época, bem como à
Capim (Gráfico 4). que dificulta o trabalho dos pesquisadores. disponibilidade de investimento por agências de
O município de Aurora do Pará despontou ape- Dados sobre lavra e licenças de extração mineral desenvolvimento que direcionaram a produção
nas em dois temas. Primeiro sobre a produção re- são encontrados na CPRM. Por fim, conta-se com bibliográfica.

412
413

questões regionais
414 questões regionais
415

questões regionais
GRÁFICO 1 GRÁFICO 2
questões regionais

7RPp$oX
7RPp$oX

GRÁFICO 3 GRÁFICO 4

7RPp$oX 7RPp$oX

GRÁFICO 5 GRÁFICO 6

7RPp$oX 7RPp$oX

GRÁFICO 7 GRÁFICO 8

7(0$3HTXHQDSURGXomRHVWXGRVDJUtFRODVSLPHQWDGR
UHLQRVRMDHODYRUDHPJHUDO

7RPp$oX
7RPp$oX

ELABORAÇÃO DOS GRÁFICOS 1 a 8: Os autores (2007).

416
REFERÊNCIAS
referências

AB´SABER, A.N. The paleoclimate and pa- ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. Reproductive ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil. 3.
leoecology of Brazilian Amazonia. In: WHIT- parameters and nesting behavior of the Amazon turtle ed. Belo Horizonte: Itatiaia/ Edusp, 1982. (Cole-
MORE, T. C.; PRANCE, G. T. (eds.). Podocnemis expansa (Testudinata: Pelomedusidae) in ção Reconquista do Brasil).
Biological diversification in the tropics. Brazil. Canadian J. Zoology, 1982, 60 (1): 97-103. ARAÚJO, G. H.; ALMEIDA, J. R.; GUERRA, A.
New York, Columbia University Press, ALMEIDA, A. W. B. Rituais de passagem entre a J. T. Gestão Ambiental de Áreas Degradadas.
1982, pp. 41-59. chacina e o genocidio: os conflitos sociais na Ama- Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, p. 54-55.
______. Geomorfologia da Região. In: zônia. In: ANDRADE, M. de P. (org.). Chacinas ARAÚJO, R. M. As cidades da Amazônia no
ALMEIDA JR. J. Carajás: desafio políti- e Massacres no Campo. São Luiz: Mestrado em século XVIII: Belém, Macapá e Mazagão. Porto:
co, Ecologia e Desenvolvimento. Brasília: Políticas Públicas – UFMA, v. 4. 1997. p. 19-48. FAUP, 1998 [1992].
Brasiliense, 1986. p. 88-124. ALMEIDA, M. W. B.; FRANCO, M. C. P. A jus- ASNER, G. P.; KNAPP, D. E.; BROADBENT,
______. Problemas geomorfológicos da tiça local: caça e estradas de seringa na Reserva E. N.; OLIVEIRA, P. J. C.; KELLER, M.; SILVA,
Amazônia Brasileira. In: AB’SABER, Extrativista do Alto Juruá. XXII Reunião Bra- J. N. Selective Logging in the Brazilian Amazon. In:
A.N. Amazônia: do discurso à práxis. sileira de Antropologia. Fórum de Pesquisa 3: Science, 2005, 310: 480-482.
São Paulo: Edusp, 1996. “Conflitos Socioambientais e Unidades de Con-
AURICCHIO, P. Primatas do Brasil. São Pau-
______. Os Domínios de Natureza no servação”. 2000.
lo: Terra Brasilis Comércio de Material Didático e
Brasil: Potencialidades Paisagísticas. São ALMEIDA, M. W. B.; LIMA, E. C.; AQUINO, T. Editora Ltda - ME, 1995.
Paulo: Ateliê Editorial, 2003. V.; IGLESIAS, M. P. Parte IV: as atividades: caça.
AYRES, J. M. As matas de várzea do Mamirauá:
ABELÉM, A; HÉBETTE, J. Assenta- In: CUNHA, M. C.; ALMEIDA, M W. B. (orgs.)
Médio rio Solimões. 2. ed. Brasília (DF): CNPq;
mentos da Reforma Agrária na Fronteira A Enciclopédia da Floresta. O Alto Juruá: Prá-
Tefé, AM: Sociedade Civil Mamirauá, 1995.
Amazônica e Meio Ambiente. In: XI En- ticas e Conhecimentos das Populações. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002, p. 311-335. BAENA, A. L. M. Compêndio das Eras da Pro-
contro Nacional de Estudos Popula-
víncia do Pará. Belém, Universidade Federal do
cionais, 1998. ALMEIDA, O.; UHL, C. Planejamento do uso
Pará, 1969.
ABREU, F. A. M.; VILLAS, R. N. N.; do solo do município de Paragominas utilizando
dados econômicos e ecológicos. In: ALMEIDA, ______. M. Ensaio Corographico sobre a Pro-
HASUI, Y. Esboço estratigráfico do pré-

referências
O. (org.). A evolução da fronteira amazônica víncia do Pará. Pará, Typ. de Santos e Menor.
cambriano da região do Gurupi; Estados
– oportunidades para um desenvolvimento Brasília, Edições do Senado, 2004 [1839].
do Pará e Maranhão. In: CONGRES-
SO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 31. sustentável. Belém, Imazon, 1996. BARBOSA, F. Experiência camponesa de rup-
Camboriú, 1980. Resumos expandidos. ALMEIDA, S. S.; LISBOA, P. L. B.; SILVA, A. S. tura com relações técnicas e econômicas tra-
Camboriú, SBG, 1980, v. 2, p. 647-658. 1993. Diversidade florística de uma comunidade dicionais na Amazônia: o caso de Uraim: sínte-
arbórea na estação científica “Ferreira Penna” em se histórica 1969-1990. UFPA/NAEA, 1990.
ABSY, M. L. Quaternary palynological studies
in the amazon basin. In: WHITMORE, T. Caxiuanã (Pará). Boletim do Museu Paraense BARBOSA, G. V.; RENNÓ, C. V.; FRANCO,
C.; PRANCE, G. T. (eds.). Biological di- Emílio Goeldi. Belém, 1993, n.º 9, vol. 1, p. 93- E. M. S. Geomorfologia da Folha S.A.22 Belém.
versification in the tropics. New York, Co- 128. In: BRASIL. Departamento de Produção Mineral.
lumbia University Press, 1982, pp. 67-73. ALVARD, M.; ROBINSON, K. H.; KAPLAN, H. Projeto Radam: levantamento de recursos natu-
The sustainability of subsistence hunting in the Neotro- rais. Rio de Janeiro: DNPM, 1974, v.5.
ACEVEDO MARIN, R. E. A. Campo-
neses, Donos de Engenhos e Escravos na pics. Conservation Biology, 1997, 11:977-982. BARBOSA, G. V.; PINTO, M. N. Geomorfologia
Região do Acará. Paper do NAEA, Be- AMARAL, P.; VERÍSSIMO, A.; BARRETO, P.; da Folha S.A.23 São Luís e parte da Folha S.A.24
lém, 2000. VIDAL, E. Florestas para sempre: Manual de Fortaleza. In: BRASIL. Departamento de Produ-
Manejo Florestal Para Florestas de terra Firme. ção Mineral. Projeto Radam: levantamento de
______. Agricultura no delta do rio Ama-
Belém, IMAZON, WWF & USAID, 1998. 156 p. recursos naturais. Rio de Janeiro: DNPM, 1974,
zonas: colonos produtores de alimentos
v.3.
em Macapá no período colonial. In: A ÂNGELO-MENEZES, M. N. Carta de Datas de
Escrita da história Paraense. Belém: Sesmarias: uma leitura dos componentes mão-de- BARBOSA, R. L.; OYAMA, M. D.; MACHADO,
UFPA, 1998, p. 53-91. obra e sistema agroextrativista do vale do Tocantins L. A. T. Climatologia das perturbações convectivas
Colonial. Paper NAEA, nº 151. Junho/2000 na Costa Norte do Brasil. Revista Brasileira de
______. Du travail esclave au travail libre:
Meteorologia, 2006, 21 (1): 107-117
Le Pará (Brésil) sous le regime colonial et ______. Histoire sociale des systèmes agraires dans
sous l’Empire (XVIIe - XIXe siècle). Pa- la vallée du Tocantins-État du Pará – Brésil: coloni- BARRETO, P.; SOUZA JR., C.; NOGUERÓN,
ris, 1985 (Tese de Doutorado apresentada sation européenne dans la deuxième moitié du XVIIIème R.; ANDERSON, A.; SALOMÃO, R. Pressão
à École Pratique des Hautes Études en siècle et la première moitié du XIXè siècle. Paris, École humana na floresta amazônica brasileira. Be-
Sciences Sociales). des Hautes Études en Sciences Sociales, 1998. lém: WRI; Imazon, 2006. 84p.

ALEIXO, A. Espécies candidatas à lis- ______. O sistema agrário do Vale do Tocantins BARROS, A., C.; VERÍSSIMO, A. (orgs.). A
ta oficial de espécies ameaçadas do Colonial: Agricultura para consumo e para expor- expansão da Atividade Madeireira na Ama-
Estado do Pará: grupo taxonômico tação. Projeto História: Revista do Programa de zônia: Impactos e Perspectivas para o Desenvol-
Aves. 2005. Disponível em >http://www. Estudos Pós-Graduados em História e do Depar- vimento do setor Florestal no Pará. Belém: IMA-
sectam.pa.gov.br/especiesameacadas/con- tamento de História da Pontíficia Universidade ZON, 1996. 168p.
sulta.asp?especie=Aves/<. Acesso em: 15 Católica de São Paulo. São Paulo, EDUC, n.º 18, BECKER, B.. Amazônia. 5. ed. São Paulo: Ed.
nov. 2005. maio 1999, p. 237- 260. Ática, 1990.

419
BEGOSSI, A. The use of optimal foraging theory in the BRANDÃO JR., A; SOUZA JR., C. M. 2006. CAPOBIANCO, J. P. R.; VERÍSSIMO, A.; MO-
understanding of fishing strategies: a case from Sepetiba Mapping unofficial roads with Landsat images: a new REIRA, A.; SAWYER, D.; SANTOS, I.; PINTO,
Bay, Rio de Janeiro state, Brazil. Human Ecology, tool to the monitoring of the Brazilian Amazon rainforest. L. P. Biodiversidade na Amazônia Brasileira:
1992, 20(4): 463-475. International Journal of Remote Sensing, 2006, 27 avaliação e ações prioritárias para a conservação,
referências

______. Fishing spots and sea teanure: incipient forms of (1): 177-189. uso sustentável e repartição de benefícios. São
local management in Atlantic Forest coastal communities. BRASIL. Departamento Nacional de Proteção Paulo: Estação Liberdade e Instituto Socioambien-
Human ecology, 1995, 23:387-406. Mineral. Projeto RADAMBRASIL. Folha SA- tal, 2001.

______. Extractive reserves in the Brazilian Amazon: 23 São Luiz e parte da Folha SA-24 Fortaleza: geo- CARDOSO, A. C. D. The alternative space: in-
an example to be followed in the Atlantic Forest? Ciên- logia, geomorfologia, pedologia, vegetação, uso do formal settlements and life chances in Belém, Brazil.
cia e Cultura, 1998, pp. 24-28. potencial da terra. Rio de Janeiro, 1973. p. II/1-17 Unpublished Ph Thesis. Oxford: Oxford Brookes
( Projeto RADAMBRASIL. Levantamento de Re- University, 2002.
______. Resiliência e populações neo-tradicionais:
cursos Naturais). CARDOSO, A. C. D.; NEGRÃO, M. R. G. Con-
os caiçaras (Mata Atlântica) e os caboclos (Amazô-
nia, Brasil). In: DIEGUES, A. C.; MOREIRA, A. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educa- siderações sobre a pobreza no Brasil e suas mani-
C. C. (orgs.). Espaços e Rescursos naturais de ção Nacional. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de festações nas cidades da Amazônia. Novos Ca-
uso comum. São Paulo, NUPAUB-USP, 2001, p. 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação dernos Naea, n.º 9, v. 1, 2006, p. 95-118.
205-236. nacional. Brasília, DF, 1996. CARDOSO, C. F. Sociedade em áreas colo-
BEGOSSI, A.; SILVANO, R. A. M.; AMARAL, ______. Ministério Público Federal. Acer- niais periféricas: Guiana Francesa e Pará (1750 a
B. D.; OYAKAWA, O. T. Uses of fish and game by vo do Procedimento Administrativo nº 1817). Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1984.
inhabitants of an extractive reserve (Upper Juruá, Acre, 1.23.000.000.339/2005/79, atualmente vinculado CARNEIRO, B. S., ANGELICA, R. S., SCHEL-
Brazil). Environment, Development and Sustaina- ao Procurador da República Felício Pontes Jr. LER, T. et al. Mineralogical and geochemical characteri-
bility, 1999, 1: 73-93. BRAZAITIS, P.; REBÊLO, G. H.; YAMASHITA, zation of the hard kaolin from the Capim region, Pará,
BEGOSSI, A., HANAZAKI, N.; PERONI. C.; ODIERNA, E. A.; WATANABE, M. E. Threats northern Brazil. Ceramica, Oct./Dec. 2003, v.49, n.
Knowledge and use of biodiversity in Brazilian hot spots. to brazilian crocodilian populations. Oryx, 1996, 30: 312, pp.237-244. ISSN 0366-6913.
Environment. Development and Sustainability, 275-284. CARVALHO JÚNIOR, O. Primates in a forest frag-
2000, 2(3-4): 177-193. BROCKELMAN, W. Y.; ALI, R. Methods of sur- ment in eastern Amazônia. Neotropical Primates, 11,
BERKES, F. Sacred ecology: traditional ecological veying and sampling forest primates populations. In: 2, pp.100-103.
knowledge and resource management. Philadelphia: MARSH, C. W.; MITTERMEIER, R. A. (eds.). CASTRO, A. H. F. O fecho do Império: História das
Taylor and Francis, 1999. 209p. Primate Conservation in the Tropical Rainforest. fortificações do Cabo Norte ao Amapá de hoje. In:
New York: Alan R. Liss., Inc., 1987, pp. 21-62. GOMES, F. S. Nas terras do Cabo Norte: fron-
BERKES, F.; FENNY, D.; McCAY, B.J.; ACHE-
SON, J. M. The benefis of commons. Nature, 1989, BROWN JR., K. S.; FREITAS, A. V. L. Diversi- teiras, colonização e escravidão na Guiana Brasileira
340: 91-93. dade biológica no Alto Juruá: Avaliação, causas e (séculos XVIII-XIX) Belém: Edufpa, 1999.
manutenção. In: CUNHA, M. C.; ALMEIDA, M. CASTRO, R. M. C. Evolução da ictiofauna de
BLAKE, J. G. Temporal variation in point counts of
B. (orgs.). Enciclopédia da Floresta: o Alto Ju- riachos sul-americanos: padrões gerais e possí-
birds in a lowland wet forest in Costa Rica. Condor,
ruá: Práticas e conhecimentos das populações. São veis processos causais. In: CARAMASCHI, E. P.,
1992, 1994: 265-275.
Paulo: Companhia das Letras, 2002, v. 1, p. 33-42. MAZZONI, R.. R.; PERES-NETO, P. R. (eds.).
BLAUSTEIN, A. R.; WAKE, D. B.; SOUZA, W.
BRUAND, Y. Arquitetura Contemporânea no Ecologia de Peixes de Riachos. Rio de Janeiro:
P. Amphibian Declines: Judging stability, persistence, and
Brasil. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1991. PPGE-UFRJ, 1999, p. 139-155. (Série Oecologia
susceptibility of local and global extinctions. Conserva-
BRUCE, P. C.; BLANK, S.; SEITER, C. Resam- Brasiliensis, v. 6.)
tion Biology, 1994, 8 (1): 60-71.
pling Stats Add-In for Excel User’s Guide. Resam- CERQUEIRA, R. A study of Neotropical Didel-
BODMER, E. R.; PENN JR., J. W. Manejo da
pling Stats, Inc., 2001. phis (Mammalia, Poliprodontia, Didelphidae).
vida silvestre em comunidades na Amazônia. In:
BURGESS, W. E. An Atlas of freshwater and ma- Ph.D. thesis, University of London, 1980.
BODMER E. R.; VALLADARES-PÁDUA, C.
(orgs.) Manejo e conservação de vida silvestre rine catfishes. A preliminary survey of the Siluriformes. ______. The distribution of Didelphis in South America
no Brasil. Brasília: CNPq; Belém: Sociedade Ci- Neptune city Carlos: T.F.H. Publications, 1989. (Poliprodontia, Didelphidae). Journal of Biogeogra-
vil Mamirauá, 1997. p.296. BURNHAM, K. P.; ANDERSON, D .R.; LA- phy, 1985, 12, pp. 135-145.

BÖHLKE, J. E., WEITZMAN, S. H.; MENE- AKE, J. L. Estimation of Density from Line Transect COCHRANE, M. A. 2003. Fire science for rainfo-
ZES, N. A. Estado atual da sistemática dos peixes Sampling of Biological Populations. Wildlife Monogra- rests. Nature, 2003, 421, pp. 913-919.
de água doce da América do Sul. Acta Amazon, phs, 1980, 72: 1-202. COCHRANE, M. A.; ALENCAR, A.; SCHUL-
1978, n.º 8, p. 657-677. BURNHAM, K. P.; ANDERSON, D. R.; LA- ZE, M. D.; SOUZA, C. M.; NEPSTAD, D. C.;
BONAUDO, T.; PENDU, Y. L.; ALBUQUER- AKE, J. L. Efficiency and Bias in Strip and Line Tran- LEFEBVRE, P.; DAVIDSON, E. A. 1999b. Positi-
QUE, N. Exploração da fauna silvestre na Tran- sect Sampling. Journal of Wildlife Management, ve feedbacks in the fire dynamic of closed canopy tropical
samazônica. In: SAYAGO, D.; TOURRAND, 1985, 49: 1012-1018. forests. Science (Washington D C), 1996b, 284, pp.
J.; BURSZTYN (eds.). Amazônia: cenas e ce- CAMPBELL, D. G.; HAMMOND, H. D. (eds.). 1832-1835.
nários. Brasília: Universidade de Brasília, 2004. Floristic Inventory of Tropical Countries. New York COCHRANE, M. A.; SCHULZE, M. D. Fire as
382p. (USA): Botanical Garden, 1989, pp. 523-533. a recurrent event in tropical forests of the eastern Amazon:
BONNEMAISON, J. Voyage autor du territoire. CAMPBELL, H. W.; CHRISTMAN, S. P. Field Effects on forest structure, biomass, and species composi-
L’Espace Géographique. Tomo X, n. 4, 1981, pp. 249- techniques for herpetofaunal community analysis. In: tion. Biotropica, 31, 1, pp.2-16.
62. Publicado em português como “Viagem em SCOTT, N. J. (ed.). Herpetological Communities: COCHRANE, M. A.; SOUZA, C. M. Linear mix-
torno do Território”. In: CORRÊA, R. L.; RO- a Symposium of the Sciety for the Study of Amphibians ture model classification of burned forests in the Eastern
SENDAHL, Z. Geografia Cultural: Um Século and Reptiles and the Herpetologist’s League. U.S. Fish Amazon. International Journal of Remote Sensing,
(3). Rio de Janeiro: Ed. Uerj., 2002, p. 83-131. Wild. Serv. Wildl. Res.Rep. 1982, 13, pp. 193-200. 1998, 19 (17): 3433-3440.

420
COHEN, J. C. P.; SILVA DIAS, M. A. F.; NO- DALY, C. D.; PRANCE, G. T. Brazilian Amazon. FÉLIX-SILVA, D. Ecologia Reprodutiva do
BRE, C. A. Aspectos climatológicos das linhas de In: CAMPBELL, D. G.; HAMMOND D. (eds). “Cabeçudo” (Peltocephalus dumerilianus). TES-
instabilidade na Amazônia. Climaanálise. São Floristic inventory of tropical countries. New York: TUDINES: PELOMEDUSIDAE, no Parque
José dos Campos, v.4, n.º 11. 1989, p. 34-42. NYBG/WWF, 1989, pp. 401-426. Nacional do Jaú, Amazonas, Brasil. Dissertação de
COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS OR- DANIEL, Pe. J. Tesouro Descoberto no Rio Mestrado – UERJ/RJ Rio de Janeiro, 2004. 117 p.
NITOLÓGICOS. Lista das aves do Brasil. Amazonas (1757-1776). Rio de Janeiro: Contra- FENNY, D.; BERKES, F; Mc. B. J; ACHESON,
Versão 22/03/2005. Disponível em < http://www. ponto, 2004. J. M. The tragedy of the commons: twenty-two years la-
cbro.org.br>. Acesso em: 15 nov. 2005. DIAMOND, J. M. 1975. Assembly of Species Com- ter. Human Ecology, 1990, 18 (1): 1-19.
CORRÊA, G. K. Energia e fome. São Paulo: Áti- munities. In: CODY, M. L.; DIAMOND, J. M. C. FERRARI, S. F.; IWANAGA, S.; RAVETTA, A.
ca, 1987. P. (eds.). Ecology and Evolution in Communi- L.; FREITAS, F. C.; SOUSA, B. A. R.; SOUZA,
CORRÊA, R. L. A Região. In: CORRÊA, R. L. ties. Harvard University Press VL, pp. 342-444. L. L.; COSTA, C. G.; COUTINHO, P. E. G.
Trajetórias Geográficas. 3. ed. Rio de Janeiro: ______. The present, past and future of human-caused Dynamics of primate communities along the Santarém-
Bertrand Brasil, 2005. p. 183-212. extinctions. Phil. Trans. R. Soc. B., 1989, 325: 469- Cuiabá highway in south-central brazilian Amazonia.
477. In: MARSH, L.K. (ed.). Primates in Fragments:
COSTA, F. A. Diversidade Estrutural e Desenvol-
Ecology and Conservation. Kluwer Academic/Ple-
vimento Sustentável: novos supostos de política de DIAS, M. N. A Companhia Geral do Grão-
num Publishers, 2003, pp. 123-162.
planejamento agrícola para Amazônia. In: XIME- Pará e Maranhão (1775-1778). Belém, UFPA,
NES, T. (org.). Perspectivas do Desenvolvi- 1970. (Coleção Amazônica José Veríssimo.) FERREIRA, L. V. O efeito do período de inun-
mento Sustentável (uma contribuição para a dação, na distribuição, fenologia e regene-
DIEGUES, A. C. O Mito moderno da natureza
Amazônia 21). Belém: UFPA-NAEA – Associa- ração de plantas em uma floresta de igapó
intocada. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1998. 169p.
ção universidades da Amazônia, 1997. p. 253-309. na Amazônia Central. Manaus, INPA. Tese de
DUELLMAN, W. E. Quaternary climatic– ecological Mestrado, 1991.
______. Notas para se iniciar a pensar e discu- fluctuations in the lowland-tropics: Frogs and forests. In:
tir a questão das colônias agrícolas do Estado FERREIRA, L. V.; ALMEIDA, S. S.; ROSÁRIO,
PRANCE, G. T. Biological Diversification in the
do Pará. Belém, CEPA-PA, 1981. C. S. As áreas de inundação. In: LISBOA, P. L. B.
Tropics. New York: Columbia Univ. Press, 1982,
(org.). Caxiuanã. Belém: Museu Paraense Emílio
COSTA, J. L.; ARAUJO, A. A. F.; VILLAS BOAS, pp. 389-402.
Goeldi, 1997, p. 195-211.
J. M.; FARIA, C. A. S.; SILVA NETO, C. S.; DUPUY, G. L’ urbanisme de réseaux. Theorie et mé-
FISCH, G.; MARENGO, J. A.; NOBRE, C. A.
WANDERLEY, V. J. R. Projeto Gurupi. DNPM/ todes. Paris: Armand Colin Editeur, 1991.
Clima da Amazônia. 1996. Disponível em:
CPRM, 1977. 258 p.
EISENBERG, J. F. Mammals of the Neotropics: >http://www.cptec.inpe.br/products/climanálise/
COSTELLO, R. K.; DICKINSON, C.; ROSEN- Panama, Colombia, Venezuela, Guyana, Suriname, cliesp10a/fisch.html<. Acesso em: 02 nov. 2006.

referências
BERGER, A. L.; BOINSKI, S.; SZALAY, F. S. French Guyana. The University of Chicago Press,
FORD, S. M. Taxonomy and distribution of the owl
Squirrel monkeys (genus Saimiri) taxonomy: a multi- Chicago and London, 1989.
monkey. In: BAER, J. F.; WELLER, R. E.; KAKO-
disciplinary study of the biology of the species. In: KIM-
EISENBERG, J. F.; REDFORD, K. H. Mammals MA, I. (eds.). Aotus: the owl monkey. New York:
BEL, W. H.; MARTIN, L. B. (eds.). Species, Spe-
of the Neotropics, v.3, The Central Neotropics: Ecua- Academic Press, 1994, pp.1-57.
cies Concepts, and Primate Evolution. New York:
dor, Peru, Bolivia, Brazil. The University of Chica-
Plenum Press, 1993, pp.177-210. FUNK, W. C.; GREENE, A. E.; CORN, P. S.;
go Press. Chicago and London, 1999.
ALLENDORF, F.W. High dispersal in a frog species
CRUMP, M. L. Quantitative analysis of the ecologi-
ELGEN, O. D. von. Geomorphology: systematic and suggests that it is vulnerable to habitat fragmentation.
cal distribution of a tropical herpetofauna. Occas. Pap.
regional. New York: The Macmillan Company, 1960. Biology Letters, 2005, pp. 1-4.
Mus. Nat. Hist. Univ. Kansas, 1971, 3:1-62.
EMMONS, L. H. Geographic variation in densities FUNTOWICZ, S.; MARCHI, B. 2000. Ciencia pos-
CRUZ, E. História do Pará. Belém: Editora da
and diversities of non-flying mammals in Amazonia. normal, complejidad reflexiva y sustentabilidad. In: LEFF,
Universidade, 1963.
Biotropica, 1984, n.16, pp. 210-222. E (org.). La complejidad ambiental, 2000, p. 54-84.
CULLEN JR, L. Hunting and biodiversity in
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA GADGIL, M.; BERKES, F.; FOLKE, C. Indigenous
Atlantic Forest fragments, São Paulo, Brazil. Tese
AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa knowledge for biodiversity conservation. Ambio, 1993,
de Doutorado. University of Florida, 1997.
de Solos. Sistema brasileiro de classificação de 22: 151-156.
CULLEN JR, L.; BODMER, R.; PÁDUA, C. solos: 5a aproximação Brasília: Embrapa Produção
GALATTI, U.; ESTUPIÑÁN, R. A.; DIAS, A.
V. Effects of hunting in habitat fragments of the Atlan- de Informação: Rio de Janeiro: Embrapa Solos,
C. L.; TRAVASSOS, A. M. Anfíbios da Área de
tic forest, Brazil. Biological Conservation, 2000, 95 1999. 412 p.
Pesquisa Ecológica do Guamá e região de Be-
(2000): 49-56.
FACHÍN, A. Depredacion de la taricaya Podocnemis lém. In: GOMES, J. I.; MARTINS, M.; SILVA,
CUNHA, B. C. C.; DEL’ARCO, J. O. Variações unifilis en la Reserva Nacional Pacaya-Samiria, Loreto. R. M. (orgs.). Inventário e Dinâmica Biológi-
faciológicas da Formação Itapecuru na região de Boletin de Lima, 1992, v. XVI., n.91-96, p. 417-423. ca da Área de Pesquisa Ecológica do Guamá
Santa Inês (MA). In: CONGRESSO BRASILEI- (APEG). Belém: MPEG. (No prelo.)
FAHRIG, L.; MERRIAM, G. Conservation of frag-
RO DE GEOLOGIA, 1988, Belém. Anais. Be- mented populations. Conservation Biology, 1994, 8 GALETTI, M. Indians within conservation units: les-
lém: Sociedade Brasileira de Geologia, 1988, v.2, (1): 50-59. sons from the Atlantic Forest. Conservation Biology,
p. 765-780.
FALESI, I.C. Os solos da rodovia Transamazôni- 2000, 15 (3): 798-799.
CUNHA, M. C.; ALMEIDA, M W. B. (orgs.) A ca. Boletim Técnico do IPEAN, 1975, n.º 55, GALVÃO, E. Organização, edição e introdução
Enciclopédia da Floresta. O Alto Juruá: Práti- p. 1-196. de Marco Antonio Gonçalves. Diários de campo
cas e Conhecimentos das Populações. São Paulo: entre os Tenetehara, Kaioá e índios do Xingu.
FARIAS, W. G. A construção da república no
Companhia das Letras, 2002. Rio de Janeiro, Editora da UFRJ/Museu do Índio/
Pará (1886-1897). Tese de doutorado. Rio de Ja-
CUNHA, M. C.; ALMEIDA, M. W. B. Indige- neiro. Universidade Federal Fluminense. Centro Funai, 1996.
nous People, Traditional People, and Conservation in the de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento GAMA ABREU, J. C. As Regiões Amazônicas –
Amazon. Daedalus/Journal of the American Acade- de História. Programa de Pós-Graduação em His- Estudo Chorografico dos Estados do Gram Pará e
my of Arts and Sciences, 2000, 129 (2): 315-338. tória. Niterói, 2005. 284p. Amazonas. Belém: SECULT-PA, 1992.

421
GARCIA, J. C.; ALMEIDA, A. F. A Terra de ciais. In: HÉBETTE, J. Cruzando a Fronteira: HUGHES, T. Networks of Power. Electrification in
Vera Cruz: viagens, descrições e mapas do sécu- 30 anos de estudo do campesinato na Amazônia. Western Society - 1880-1980. Baltimore and Lon-
lo XVIII. Porto: Biblioteca Pública Municipal do Belém: EDUFPA, 2004. v. 1, p. 41-73. don: The Johns Hopkins University Press, 1983.
Porto, 2000.
referências

HENRIQUE, M. C. Sem Vieira, nem Pombal: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA


GENTRY, A. Patterns of neotropical plant species diver- as missões religiosas na Amazônia do século E ESTATÍSTICA. A vegetação do Brasil. Rio
sity. Evol. Biol., 1982, 15: 1-84. XIX. Apresentada no XIX Simpósio Nacional de de Janeiro: FIBGE/ Departamento de Geociên-
GERY, J. Characoids of the world. T.F.H. Publica- História - “História e Cidadania”. Belo Horizon- cias, 1993.
tions, 1977. te, UFMG, 25 de julho de 1997. (Mimeo.) ______. Agricultural Census 1995-96. Rio de Ja-
GILMORE, R. M. Fauna e Etnozoologia da Amé- HERSHKOVITZ, P. A preliminary taxonomic re- neiro: IBGE, 2005. Disponível em: >http://www.
rica do Sul Tropical. In: RIBEIRO, D. (ed.). Suma view of the South American bearded saki monkeys genus ibge.gov.br<. Acesso em: 6 set. 2005.
Etnológica Brasileira. 1986, p. 189-233. (Up to Chiropotes (Cebidae, Platyrrhini), with description of a ______. Atlas Nacional do Brasil. 3. ed. Rio de
data edition of Handbook of South American In- new subspecies. Fieldiana Zoology, 1985, n. 27, pp. Janeiro: IBGE, 2000.
dians (1963), by Copper Square Publ. Inc.) 1-45.
______. Coordenação de Recursos Naturais e Es-
GÓES, A. M. Estudo sedimentológico dos se- ______. Living New World monkeys (Platyrrhini). tudos Ambientais. Manual técnico de Pedolo-
dimentos Barreiras, Ipixuna e Itapecuru, no University of Chicago Press, Chicago, 1977, v.1. gia. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2005. 300p. CD-
nordeste do Pará e Noroeste do Maranhão. ______. Mammals of northern Colombia. Preliminary re- ROM.
1981. Dissertação (Mestrado em Geologia) – Cen- port no. 6: Rabbits (Leporidae), with notes on the classifica- ______. Divisão de Geociências do Norte (Belém
tro de Geociências, Universidade Federal do Pará, tion and distribution of the South American forms. Proc. U. - PA). Mapeamento geomorfológico das fo-
Belém, 1981. S. National Museum, 1950, 100: 327-375.
lhas SA 23 Y-A e SA 23 Y-C. Belém, 2004.
GONÇALVES, C. W. P. Amazônia, Amazônias. ______. Taxonomy of the squirrel monkey genus Sai-
______. Projeto Zoneamento das Potencia-
São Paulo: Contexto, 2001. miri (Cebidae, Platyrrhini): a preliminary report with
lidades dos Recursos naturais da Amazônia
GREGORIN, R. Variação geográfica e ta- description of a hitherto unnamed form. Am. J. Prima-
Legal. Rio de Janeiro: IBGE, 1990.
xonomia das espécies brasileiras do gênero tology, 1984, 7: 155-210.
______. Tendências demográficas: uma análise
Alouatta Lacépède, 1799 (Primates, Atelidae). ______. The taxonomy of South American sakis, genus
dos Resultados na Amostra do censo demográfico
Dissertação de mestrado, Universidade de São Pithecia (Cebidae, Platyrrhini): A preliminary report
de 2000. Estudos e pesquisas, informação demo-
Paulo, 1995. and critical review with the description of a new species
gráfica e socioeconômica. IBGE, 2004.
GROOMBRIDGE, B. The distribution and status of and a new subspecies. Am. J. Primatol., 1987a, 12:
______. Produção Agrícola Municipal. Relató-
world crocodilians. In: WEBB, G. J.; MANOLIS, S. 386-468.
rios do período de 1995 a 2006.
C.; WHITEHEAD, P. J. (eds.), p.43-47.Wildlife ______. Two new species of night monkeys, genus Aotus
Management: Crocodiles and Alligators. Surrey Beatty ______. Censos Demográficos da População
(Cebidae, Platyrrhini): a preliminary report on Aotus ta-
and Sons. Chipping Norton, 1987, pp. 43-47. Brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 1980, 1991 e
xonomy. Am. J. Primatol., 1983, 4:. 209-243.
1996, 2000. (Documentos diversos.)
HAESBAERT R. O mito da desterritorializa- ______. Uakaris, New World monkeys of the genus Ca-
ção: do “fim dos territórios” à multiterritorialida- INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AM-
cajao (Cebidae, Platyrrhini): a preliminary review with
de. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. BIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RE-
the description of a new subspecies. Am. J. Primatol.,
NOVÁVEIS. Lista nacional da fauna brasilei-
HAFFER, J. General aspects to euge theory. In: WHIT- 1987b, n.12, v.1, pp 1-57.
ra ameaçada de extinção. 2003. Disponível em:
MORE, T. C.; PRANCE, G. T. (eds.). Biological HILL, O. C. Primates comparative anatomy and
>http://www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.
diversification in the tropics. New York, Columbia taxonomy, v. 4, Cebidae, Part A. Edinburgh Univer-
cfm<. Acesso em: 15 nov. 2005.
University Press, 1982, pp. 6-26. sity Press, 1960.
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS
HAMES, R. Game conservation or efficient hunting? HIRSCH, A.; LANDAU, E. C.; TEDESCHI, A.
In: McCAY, B. J.; ACHESON, J. M. (ed.). The ESPACIAIS. Monitoramento da floresta Ama-
C. M.; MENEGHETI, J. O. Estudo comparativo
Question of Commons: the culture and ecology of com- zônica Brasileira por satélite: Projeto PRO-
das espécies do gênero Alouatta Lacépède, 1799
munal resources. Second Printing. The University of DES.Brasília: INPE; MCT, 2005. Disponível em:
(Platyrrhini, Atelidae) e sua distribuição geográfi-
Arizona Press, 1990. >http://www.obt.inpe.br/prodes/<. Acesso em:
ca na América do Sul. A Primatologia no Brasil,
13 jan. 2005.
HAMMEN, T. van der. Paleoecology of tropical South 1991, n.º 3, p. 239-262.
America. In: WHITMORE, T. C.; PRANCE, G. INTERNATIONAL UNION FOR CONSER-
HOLDSWORTH, A. R.; UHL, C. Fire in Ama-
T. (eds.). Biological diversification in the tropics. VATION OF NATURE. Red List of Threatened
zonian selectively logged rain forest and the potential for
New York, Columbia University Press, 1982, pp. Species: a global species assessment. IUCN, Publica-
fire reduction. Ecological Applications, 1997, 7 (2):
60-66. tions Services Unit, Cambridge, UK, 2004.
713-725.
HARADA, M. L.; FERRARI, S. F. Reclassification JANSON, C. H.; BOINSKI, S. Morphological and
HOMMA et al. Dinâmica dos SAF’s: o caso dos
of Cebus kaapori Queiroz, 1992 based on new spe- behavioral adaptations for foraging in generalist primates:
agricultores nipo-brasileiros em Tomé-Açu (Pa).
cimes from aestern Pará (Brasil). In: XVIth Con- the case of cebines. Am. J. Phys. Anthropol., 1992, 88:
In: DA COSTA, J.M. M. (Org.) Amazônia: de-
gresso f the International Primatological Society and 483-498.
senvolvimento econômico, desenvolvimento sus-
the XIX the Conference of the American Society of JOHNS, A. Continuing problems for amazonian river
tentável e sustentabilidade de recursos naturais,
Primatologists. Madison, Wisconsin, 1996. turtles. Oryx, 1987, 21 (1): 25-28.
Belém: Núcleo de Meio Ambiente de UFPA,
HARDIN, G. The Tragedy of the Commons. Science, 1995, p. 37-56. JUNK, W. J. Wetlands of tropical South América. Acta
1968, 162 (3859): 1243-1248. Amazon., 1993, 9: 645-655.
HOOLAND, M. D; ALLEN, R. K. G.; BAR-
HARVEY, D. A Produção Capitalista do Espa- TON, D.; MURPHY, S. T. Cross River National KOUSKY, V. E.; MOLION, L. C. B. Uma con-
ço. São Paulo: Anna Blume, 2005. Park Oban Division: land evaluation and agricultural tribuição à climatologia da dinâmica da troposfera
HÉBETTE, J.; ACEVEDO MARIN, R. E. Colo- recommendations. World Wildlife Fund, Washing- sobre a Amazônia. São José dos Campos: INPE.
nização espontânea, política agrária e grupos so- ton, D.C., 1989. 2030-RPI/050, 1981.

422
KRUESS, A.; TSCHARNTKE, T. Habitat frag- MAGURRAN, A. E. Ecological diversity and its MITTERMEIER, R. A.; ROOSMALEN, M. J.
mentation, species loss, and biological control. Science, measurement. New Jersey : Princenton University M. Preliminary observations on habitat utilization and
1994, 264: 1581–1584. Press, 1988. diet in eight Surinam monkeys. Folia Primatologica,
KUMAGAI, H. Um estudo sobre a evolução das MARICATO, E. Urbanismo na periferia do mun- 1981, 36: 1-39.
moradias de imigrantes no Brasil – no caso da do globalizado: metrópoles brasileiras. São Paulo MITTERMEIER, R. A.; SCHWARZ, M.; AYRES,
Colônia Tomé-Açu, Pará. Sinopse. São Paulo, em perspectiva. São Paulo, Fundação SEADE, v. J. M. A new species of marmoset, genus Callithrix Erxle-
FAUUSP, 2002, n.º 37, p. 1-15. 14, 2000, p. 21-33. ben, 1777 (Callitrichidae, Primates) from the Rio Maués
LANDIM, P. C. Desenho de paisagem urbana: MARINHO, J. A. M.; SCOLES, R. III Relatório Region, State of Amazonas, Central Brazilian Amazo-
as cidades do interior paulista. São Paulo: UNESP, de Pesquisa sobre estrutura agrária na área nia. Goeldiana Zoologia, 1992, 14: 1-17.
2004. objeto de estudo. Pesquisa de campo. No- MORÁN, E. A Ecologia Humana das Popula-
LAUDER, G. V.; LIEM, K. F. The evolution and in- vembro/Dezembro de 2005. Projeto Integrado de ções da Amazônia. Petrópolis, RJ: Editora Vo-
terrelationships of the actinopterygian fishes. Bull. Mus. Pesquisa: Mapeamento de condições ambientais zes, 1990.
Com. Zool., 1983, 150: 95-197. dos municípios de Paragominas, Ulianópolis, To- MORETTI, F. Atlas do Romance Europeu
mé-Açu, Ipixuna do Pará e Aurora do Pará. Belém: (1800-1900). São Paulo: Boitempo Editorial,
LEAL, G. L. R. Paragominas: A realidade do pio-
NAEA/UFPA; CVRD, 2006. 2003.
neirismo. Belém: Alves, 1983.
MARTINS, M. História Natural e Ecologia de MOURA, H. A.; MOREIRA, M. M. A popula-
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo:
uma Taxocenose de Serpentes em Mata Pri- ção da Região Norte: processos de Ocupação
Editora Centaurus, 2000.
mária na Região de Manaus, Amazônia Cen- e Urbanização Recentes. Recife: FJN/INPSO,
LEITE, S. et al. Impactos dos Assentamentos: tral, Brasil. Tese de doutorado, Universidade Es- 2001.
um estudo sobre o meio rural brasileiro. São Pau- tadual de Campinas, Campinas, 1994.
lo: UNESP, 2004. MPF/PA tenta impedir conflito entre índios
MARUOKA, Y. 70 anos da imigração japonesa e madeireiros. Disponível em: >http://www.
LENTINI, M.; PEREIRA, D.; CELENTANO, na Amazônia. Belém: Associação Pan-Amazônia pgr.mpf.gov.br/pgr/imprensa/iw/nmp/public.
D.; PEREIRA, R. Fatos Florestais da Amazô- Nipo-Brasileira, 1994. php?publ=8310<. Acesso em 05 nov. 2006.
nia. Belém: Imazon, 2005. 141p.
MAUÉS, R. H. Um aspecto da diversidade cultu- NEPSTAD, D. C.; VERISSIMO, A.; ALENCAR,
LENTINI, M.; VERÍSSIMO, A.; SOBRAL, L. ral do caboclo amazônico: a religião. In: VIEIRA, A.; NOBRE, E.; LIMA, E.; LEFEBVRE, P.; SCH-
Fatos Florestais da Amazônia. Belém: Imazon, I. C. G. et alli (Orgs.). Diversidade biológica e LESINGER, P.; POTTER, C.; MOUTINHO, P.;
2004. 110p. cultural da Amazônia. Belém: Museu Paraense MENDOZA, E.; COCHRANE, M.; BROOKS,
LIMA, D.; POZZOBON, J. Amazônia socioam- Emílio Goeld, 2001, p.253-272. V. Large-scale impoverishment of Amazonian fo-
biental Sustentabilidade ecológica e diversidade so- MAUÉS, R. H. Uma outra “invenção” da rests by logging and fire. Nature, 1999, 398 (6727):

referências gerais dos mapas


cial. Estudos Avançados, 2005, 19 (54): 45-76. Amazônia: religiões, histórias, identidades. Be- 505-508.
LIMA, E. M.; FERRARI, S. F. Diet of a free-ran- lém: Cejup, 1999. (Coleção Poronga.) NEPSTAD, D.; SCHWARTZMAN, S.; BAM-
ging group of squirrel monkeys (Saimiri sciureus) in McGRANAHAN, G.; SATTERTHWAITE. En- BERGER, B.; SANTILLI, M.; RAY, D.; SCH-
eastern Brazilian Amazonia. Folia Primatologi- voronmental health ecological sustainability? Reconciling LESINGER, P.; LEFEBVRE, P.; ALENCAR, A.;
ca, 2003, 74: 150-158. the Brown and Green Agendas in Urban Development. PRINZ, E.; FISKE, G.; ROLLA, A. Inhibition of
LOPES, M. A. Distribuição, ecologia e con- In: PUGH, C. (edit.). Sustainable cities in Develo- Amazon Deforestation and Fire by Parks and Indigenous
servação do cuxiú-preto, Chiropotes satanas ping Countries. London and Sterling, VA: Earths- Lands. Conservation Biology, 2006, 20 (1): 65-73.
satanas (Cebidae, Primates), na Amazônia can Publications Ltd., 2000, pp. 73-90.
NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Ja-
oriental. Dissertação de Mestrado. Universidade McGRATH, D.; CASTRO, F.; CÂMARA, E.; FU- neiro: IBGE, 1979.
Federal do Pará, Belém, 1993. TEMMA, C. Community management of floodplains
NIRZO, D.; MIRANDA, A. M. Contemporary Ne-
LOPES, M. A.; FERRARI, S. F. Effects of human lakes and sustainable development of Amazonian fishe-
otropical Defaunation and Forest Structure, Function and
colonization on the abundance and diversity of mammals ries. In: PADOCH, C.; AYRES, J. M.; PINEDO-
Diversity – A Sequel to John Terborgh. Conservation
in eastern Brazilian Amazonia. Cons. Biol., 2000, 14: VASQUEZ, A.; HENDERSON (eds.). Varzea:
Biology, 1990, (4) 42: 444-447.
1658-1665. diversity, development and conservation of Amazonia´s
whitewater floodplains. New York: The New York OLIVEIRA, A. C. M.; FERRARI, S. F. Seed dis-
LOPES, M. A.; FERRARI, S. F. Preliminary ob- persal by black-handed tamarins, Saguinus midas
Botanical Garden Press, 1999.
servations on the Ka’apor capuchin Cebus kaapori niger (Callitrichinae, Primates): implications
Queiroz 1992 from eastern Brazilian Amazônia. MEDINA, G. Ocupação cabocla e extrativismo
for the regeneration of degraded forest habitats
Biol. Conserv., 1996, 76: 321-324. madeireiro no alto capim: uma estratégia de re-
in eastern Amazônia. J. Trop. Ecol., 2000, 16:
produção camponesa. Acta Amazônica, 2004,
MACHADO, L. O. Mitos e Realidades da 709-716.
n.° 34, v.2, p. 309-318.
Amazônia Brasileira no contexto geopolítico
OLIVEIRA, A. U. A agricultura camponesa no
internacional (1540-1912). Tese doutoral. De- MENEZES, N. A. On the Cynopotaminae, a new
Brasil. São Paulo: Contexto, 2001.
partamento de Geografia Humana. Universidade subfamily of Characidae (Osteichthyes, Ostario-
de Barcelona. Barcelona, 1989. physi, Characoidei). São Paulo: Museu de Zoolo- PADOCH, C.; AYRES, J. M.; PINEDO-VAS-
gia da Universidade de São Paulo, 1976. QUEZ M.; HENDERSON, A. (eds.) Varzea:
______. Urbanização e mercado de trabalho na
______. Sistemática de peixes. In: AGOSTINHO, diversity, development and conservation of Amazonia´s
Amazônia brasileira. In: Cadernos IPPUR, vol.
A. A.; BENEDITO-CECILIO, E. (eds.). Situa- whitewater floodplains. New York: The New York
XIII, n.1, jan./jul.1999, p. 109-138.
ção atual e perspectivas da ictiologia no Bra- Botanical Garden Press, 1990.
MAGNUSSON, W. E.; MOURÃO, G. Mane-
sil – Documentos do IX Encontro Brasileiro de PARÁ. Secretaria de Orçamento, Planejamento
jo extensivo de Jacarés no Brasil. In: VALLADA-
Ictiologia. Maringá: Editora da UEM, 1992. e Gestão. Estatísticas Municipais. Belém: SE-
RES-PADUA, C. R.; BODMER, E.; CULLEN,
MITTERMEIER, R. A. A Turtle in Every Pot - a Va- POF, relatórios de 2000 a 2006.
L. (eds.). Manejo e Conservação da Fauna
Silvestre no Brasil. Sociedade Civil Mamirauá, luable South American Resource Going to Waste. Ani- PARROCHIA, D. Philosophie des réseaux. Paris:
Brasil, 1997, P. 214-221. mal Kingdom, april-may 1975, pp. 9-14. Presses Universitaires de France, 1993.

423
PASTANA, J. M. N. Programa Grande Cara- PIRES, J. M.; G. T. PRANCE. The vegetation types SON, J. G.; REDFORD, K. H. (ed.). Neotropical
jás: Turiaçu/Pinheiro, folhas SA.23-V-D/SA.23- of the Brazilian Amazon. In: PRANCE, G. T.; LO- wildlife use and conservation. Chicago: University
Y-B: Estados do Pará e Maranhão. Brasília, CPRM, VEJOY, T. E. (eds.). Key Environments: Amazonia. of Chicago Press, 1991, pp. 415-429.
205p. (Programa Levantamentos Geológicos Bási- Oxford: Pergamon Press, 1985, pp. 109-145.
referências gerais dos mapas

ROCQUE, C. Grande Enciclopédia da Ama-


cos do Brasil.) PONTUSCHKA, N. N. A geografia: pesquisa zônia. Belém: Amazônia Ed., 1967.
PATTON, J. L.; EMMONS, L. H. A review of the ge- e ensino. In: Novos Caminhos da Geografia. RODRIGUES, T. E. et al. Caracterização e
nus Isothrix. Am. Mus. Novittates, 1985, 2817: 1-14. CARLOS, A.F.A. (org.). São Paulo: Contexto, classificação dos solos do município de Pa-
PAVANELLI, C. S.; CARAMASCHI, E. P. Composi- 1999, p. 111-142. ragominas, Estado do Pará. Belém: Embrapa
tion of the icthyofauna of two small tributaries of the Paraná PORT-CARVALHO, M. Tolerância à pertur- Amazônia Oriental. 2003. 49 p.
river, Porto Rico, Paraná state, Brazil. Ichthyol., 1997. bação de hábitat das populações de cuxiú- RODIGUES, M. L. Uma forma de ocupação
PAYNTER, R. A.; TRAYLOR, M. Ornithological preto Chiropotes satanas satanas (Primates: Pi- espontânea na Amazônia: povoados do trecho
gazetteer of Brazil. Museum of Comparative Zoo- theciinae) na Amazônia Oriental. Dissertação norte da Belém-Brasíla. 1978. 145f. Dissertação
logy, Harvard University, Harvard, 1991. de Mestrado. Belém, Universidade Federal do (Mestrado em Geografia) – Departamento de Ge-
Pará, 2002. ografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
PEETZ, A. Ecology and social organization of
the bearded saki Chiropotes satanas chiropotes QUEIROZ, H. L. 1992. A new species of capuchin Rio de Janeiro, 1978.
(Primates: Pitheciinae) in Venezuele. Ecotro- monkey, genus Cebus Erxleben, 1777 (Cebidae: Pri- ROOSMALEN, M. G. M. van; ROOSMALEN,
pical Monographs, 2001, n. 1. mates), from eastern Brazilian Amazonia. Goeldiana T van; MITTERMEIER, R. A; FONSECA, G. A.
Zoologia, 1992, 14: 1-17. B. A new and distinctive species of marmoset (Callithri-
PERES, C. A. Effects of hunting on western Amazo-
nian primates communities. Biological Conservation, RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. chidae, Primates) from the lower Rio Aripuanã, State
1990, 54: 47-59. São Paulo: Ática, 1993. of Amazonas, Central Brazilian Amazonia. Goeldiana
REBÊLO, G. H.; LUGLI, L. The Conservation of Zoologia, 1998, 22: 1-27.
______. Effects of subsistence hunting on vertebrate com-
munity structure in Amazonian forest. Conservation Freshwater Turtles and the Dwellers of the Amazonian ROOSMALEN, M. G. M. van; ROOSMALEN,
Biology, 2000, 14 (1): 20-253. Jaú National Park. Etnobiology in Human Welfa- T. van; MITTERMEIER, R. A; RYLANDS, A.
re. Ed. S.K. Jain, Deep Publications, New Delhi, B. A taxonomic review of the titi monkeys, genus
______. Primate community structure at twenty western
1996. Callicebus Thomas, 1903, with the description of
Amazonian flooded and unflooded forests. Journal of
REBÊLO, G. H.; LUGLI. Distribution and abun- two new species, Callicebus bernhardi and Callicebus
Tropical Ecology, 1997, 13 (3): 381-406.
dance os four caiman species (Crocodilia: Alligatoridae) stephennashi, from Brazilian Amazonia. Neotropical
PERES, C. A.; J. BARLOW; LAURANCE, W. F. Primates, 2002, n.10 (Suppl.), pp. 1-52.
in Jaú national park, Amazonas, Brazil. Revista de
2006. Detecting anthropogenic disturbance in tropical fo-
Biologia Tropical, 2000. (No prelo.) ROOSMALEN, M. G. M. van; ROOSMALEN,
rests. Trends in Ecology & Evolution, 2006, 21(5):
REBÊLO, G. H.; MAGNUSSON, W. E. An analy- T. van; MITTERMEIER, R. A; RYLANDS, A. B.
227-229.
sis of the effect of hunting on Caiman crocodilus and Two new species of marmoset, genus Callithrix Erxle-
PERZ, S. G.; ARIMA, E.; SOUZA JR., C.M.; ben, 1777 (Callithrichidae, Primates) from the Tapajós/
Melanosuchus niger base on the sizes of confiscated
CALDAS, M.; BRANDÃO JR., A.; SOUZA, F. K. Madeira interfluvium, South Central Amazonia, Brazil.
skins. Biological Conservation, 1983, 26: 95-104.
A. O Dilema das Estradas Não-Oficiais na Ama- Neotropical Primates, 2000, 8 (1): 2-18.
zônia. Ciência Hoje, 2006, 37(222): 56-58. REBÊLO, G.; PEZZUTI, J. C. B.; LUGLI, L.;
MOREIRA, G. Pesca artesanal de quelônios no ROSENBERGER, A. L. Evolution of feeding niches
PEZZUTI, J. C. B. Ecologia e etnoecologia de in New World monkeys. Am. J. Anthropol., 1992, 88:
Parque Nacional do Jaú. Bol. Mus. Para. Emilio
quelônios no Parque Nacional do Jaú, Ama- 525-562.
Goeldi. (No prelo.)
zonas, Brasil. Tese de doutorado, UNICAMP,
REDFORD, K. H. The empty forest. Bioscience, ROSS, J. L. S. Relevo Brasileiro: Planaltos Planí-
Campinas, 2003.
1992. cies e Depressões. In: FANNY, A. F. (org.). Novos
______. Reprodução da iaçá, Podocnemis sex- caminhos da Geografia. São Paulo: Contexto,
tuberculata (Testudines, Pelomedusidae) na REDFORD, K. H.; SANDERSON, S. E. Conser-
1999.
Reserva de Desenvolvimento Sustentável vation Biology, 2000, 14 (5): 1362-1364.
______. Geomorfologia Ambiental. In: CUNHA,
Mamirauá, Amazonas, Brasil. Dissertação de REIS, R. E. Serão suficientes os sistematas de pei-
S. B.; GUERRA, A. J. T. Geomorfologia do
Mestrado, INPA/UFAM, Manaus, 1998. 78p. xes neotropicais? In: AGOSTINHO, A. A.; BE-
Brasil. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2001, p.
PEZZUTI, J. C. B.; LIMA, J. P.; FÉLIIX-SILVA, NEDITO-CECILIO, E. (eds.). Situação atual e
351-355.
D.; REBÊLO, G. H. A caça e a pesca no Parque perspectivas da ictiologia no Brasil – Docu-
mentos do IX Encontro Brasileiro de Ictiologia. ______. Geomorfologia: ambiente e planeja-
Nacional do Jaú, Amazonas. In: BORGES, S. H.;
Maringá- Editora da UEM, 1992. mento. São Paulo: Contexto, 1990.
DURIGAN, C. C.; IWANAGA, S. (eds.). Janelas
para a Biodiversidade. Manaus: Fundação Vitó- REMSEN JR., J. V.; PARKER, T. A. Contribution ______. O registro cartográfico dos fatos geomór-
ria amazônica, 2004. of river-created habitats to species richness in Amazonia. ficos e a questão da taxonomia do relevo. Revis-
Biotropica, 1983, 15: 223-231. ta do departamento de Geografia. São Paulo,
PEZZUTI, J.C.P.; VOGT, R.C. Nest site selection
FFLCH-USP, n.º 6, 1992, p.17-29.
and causes of mortality of Podocnemis sextuberculata, RESILIENCE ALLIANCE. What is Resilience? Re-
Amazonas, Brazil . Chelonian Conservation and silience Alliance. 2002. Disponível em: <http:// ROSSETTI, D. et al. Estudo paleoambiental e
Biology, 1999, 3 (3): 419-425. www.resalliance.org>. Aceso em: 15 dez. 2004. estratigráfico dos sedimentos Barreiras e Pós-
Barreiras na Região Bragantina, Nordeste do Pará.
PIANKA, E. Evolutionary Ecology. New York , RICARDO, C. A. (org.). Povos Indígenas no
Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Editora Harper Collins, 1988. Brasil (1996-2000). São Paulo: ISA, 2000.
Belém: MCT/CNPq/MPEG, n.º 1, v. 1, jul. 1989.
PINTO, L. F. Amazônia (o anteato da destrui- ______ (org.). Povos indígenas no Brasil: Su-
ROSSETTI, D. F. Arquitetura deposicional da Ba-
ção). Belém: Grafisa, 1977. deste do Pará 8 (Tocantins). São Paulo: CEDI,
cia de São Luís-Grajaú. In: D. F. Rossetti, A.M.;
PIRES, J. M. Tipos de vegetação da Amazônia. Pu- 1985.
GÓES, W.; TRUCKENBRODT (orgs.). O Cre-
blicações Avulsas do Museu Paraense Emílio ROBINSON, J. G.; REDFORD, K. H. Sustaina- táceo na Bacia de São Luís-Grajaú. Belém;
Goeldi. Belém, 1973, p. 179-202. ble harvest of neotropical forest animals. In: ROBIN- Museu Paraense Emílio Goeldi, 2001, p 31-46.

424
RYLANDS, A. B.; KEUROGHLIAN, A. Primate SILVA JÚNIOR, J. S. Especiação nos macacos- SOUZA JR., C.; BRANDÃO JR., A.; ANDER-
populations in continuos forest fragments in central Ama- prego e caiararas, gênero Cebus Erxleben, SON, A.; VERÍSSIMO, A. Avanço das Estradas
zonia. Acta Amazonica, 1998, 18: 291-307. 1777 (Primates, Cebidae). Tese de doutorado. Endógenas na Amazônia. Série Estado da Ama-
SÁ, J. H. S. Contribuição à geologia dos sedimen- Curso de Pós graduação em Genética, Universi- zônia, n.° 1. Belém: Imazon, 2004. 2p.
tos terciários e quaternários da Região Bragantina. dade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, SOUZA JR., C.; VERÍSSIMO, A.; STONE, S.;
Bol. Inst. Geol., Rio de Janeiro, 1969, p.21-36. 2001. UHL, C. Zoneamento da atividade madeireira
SACK, R. Human territoriality: the theory and His- ______. Problemas de amostragem no desenvol- na Amazônia. Série Amazônica, n.° 8. Belém:
tory. Cambridge: Cambridge Studies. University vimento da sistemática e biogeografia de primatas IMAZON, 1997. 26p.
Press. Cambridge Studies, 1986. neotropicais. Neotropical Primates, 1998, 6 (1): SOUZA, C. M.; ROBERTS, D. Mapping forest degrada-
21-22. tion in the Amazon region with Ikonos images. International
SALDANHA, A. V. As Capitanias do Brasil:
antecedentes, desenvolvimento e extinção de um ______. Revisão dos macacos-de-cheiro (Sai- Journal of Remote Sensing, 2005, 26(3): 425-429.
fenômeno atlântico. Lisboa: Comissão Nacional miri Voigt, 1831) da Bacia Amazônica (Prima-
SOUZA, C., L.; FIRESTONE, L.; SILVA, M.;
para as Comemorações dos descobrimentos Por- tes, Cebidae). Dissertação de mestrado. Belém,
ROBERTS, D. Mapping forest degradation in the Eas-
tugueses, 2001 [1992]. Universidade Federal do Pará e Museu Paraense
tern Amazon from SPOT 4 through spectral mixture
Emílio Goeldi, 1992.
SALLES, V. O engajamento do negro na Cabana- models. Remote Sensing of Environment, 2003, 87
gem. In: PARÁ. Secretaria de Cultura. O negro SILVA JÚNIOR, J. S.; NORONHA, M. A. On (4): 494-506.
sob o regime da escravidão. Belém: SECULT- a new species of bare-eared marmoset, genus Callithrix
SPIX, J. B. Von; MARTIUS, C. F. Von. Viagem
PA, 1988. Erxleben, 1777, from Central Amazonia, Brazil (Pri-
pelo Brasil (1817-1820). São Paulo, Melhora-
mates, Callitrichidae). Goeldiana Zoologia, 1998, 21:
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: terri- mentos, 1961 [1825].
1-28.
tório e sociedade no início do século XXI. Rio de STOTZ, D. F.; FITZPATRICK, J. W., T.; PA-
Janeiro: Record, 2001. SILVA, J. M. C.; RYLANDS, A. B.; FONSECA,
RKER III, A.; MOSKOVITS, D. B. Neotropical
G. A. B. The fate of the Amazonian areas of endemism.
SANTOS, G. M.; JEGU, M.; MERONA, B. Ca- birds: ecology and conservation. Univ. of Chicago
Conservation Biology, 2005, 19: 689-694.
tálogo de peixes comerciais do baixo rio To- Press, Chicago, 1996.
cantins. Belém: Eletronorte/INPA, 1984. SILVA, P. R. Caracterização e uso dos solos
SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVI-
das bacias hidrográficas dos rios Capim e
SANTOS, M. Por uma economia política da MENTO DA AMAZÔNIA. Atlas climatológico
Guamá-PA. 2. ed. Belém: Faculdade de Ciências
cidade: o caso de São Paulo. São Paulo: EDUC/ da Amazônia. Belém, SUDAM/PHCA. 1984.125p.
Agrária do Pará: 1989. 131p. Dissertação (Mestra-
HUCITEC, 1994. SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVI-
do em Agronomia).
SANTOS, O.C. de O. & SOUZA, J. R. S. Estudo MENTO DA AMAZÔNIA; PROGRAMA DAS
SILVA, S. S. B. Comportamento alimentar do

referências gerais dos mapas


da variabilidade espacial e temporal das chuvas em NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVI-
cuxiú-preto (Chiropotes satanas) na área de in- MENTO. Diagnóstico e cenarização macros-
Belém. In: Congresso Internacional de Mete-
fluência do reservatório da Usina Hidrelétri- social da Amazônia Legal: perfil da saúde na
orologia – IV Congresso de Meteorologia. Brasí-
ca de Tucuruí – Pará. Dissertação de Mestrado. Amazônia legal e o contexto brasileiro. Belém:
lia, SBMET/ CAM/MAS. Anais 2. Outubro 1986.
Belém, Universidade Federal do Pará & Museu SUDAM; PNUD, 2000, 54 p.
p.251.
Paraense Emílio Goeldi, 2003.
SANTOS, P. C. T. C. Levantamento detalhado TAVARES, M. G. C. A Dinâmica espacial da
SINISCH, U. Migration and orientation in anuran rede de distribuição de energia elétrica no
de solos do Campus da Faculdade de Ciências
amphibians. Ethology, Ecology and Evolution, 1990, estado do Pará (1960-1996). Rio de Janeiro:
Agrárias do Pará. Fortaleza: Universidade Fede-
2: 65-79. Programa de Pós-Graduação em Geografia, 1999.
ral do Ceará: 1982. (Dissertação de Mestrado).
SIOLI, H. The Amazon and its main affluents: Hydro- 321p. (Tese de Doutorado)
SANTOS, R. R. Ecologia de cuxiús (Chiropotes sa-
graphy, morphology of the river sourses, and river types. TEMBÉ. Disponível em: >http://www.socioam-
tanas) na Amazônia Oriental: perspectivas para a
In: SIOLI, H. [ed.]. The Amazon: Limnology and biental.org/pib/epi/tembev/tembe.shtm<. Acesso
conservação de populações fragmentadas. Disser-
Lanscape Ecology of a Mighty Tropical River and its Ba- em 05 nov. 2006.
tação de Mestrado. Belém, Universidade Federal
do Pará & Museu Paraense Emílio Goeldi, 2002. sin. Monographiae Biologicae, v. 56. The Netherlan-
TERBORGH, J. Five New World Primates: a study
ds, Dr. W. Junk Publishers, 1984, pp. 127-165.
SERVIÇO DE EDUCAÇÃO DA ADMINIS- in Comparative Ecology. Princeton University Press,
TRAÇÃO REGIONAL DA FUNAI – BELÉM. SIQUIERA, A.; MURRIETA, R. S. S.; BRON- Princeton, 1983.
Aldeias indígenas jurisdicionadas. Belém, DIZIO, E. S. Land tenure, access to resources and food
______. The fate of tropical forests: a matter of stewardship.
2006. security in the Amazon estuary. In: International As-
Conservation Biology, 2000, 14 (5): 1358-1361.
sociation of Common Property (IASCP) conferen-
______. Quadro demonstrativo da situação THORINGTON, R. W., Jr. The taxonomy and dis-
ce. 31 may/4 june. Bloomington, IN, 2000.
fundiária das terras indígenas localizadas nos tribution of squirrel monkeys (Saimiri). In: ROSEN-
estados do Pará e Amapá. Belém, 2006. SMITH, E. A.; WISHNIE, M. Conservation and
BLUM, C. L.; COE, L. A. (eds.). Handbook of
subsistence in small-scale societies. Annual Review of
SHANLEY, P.; MEDINA, G. Frutíferas e plan- squirrel monkey research. New York, London, Ple-
Anthropology, 2000, 29: 493-524.
tas úteis na vida Amazônica. Belém: CIFOR; num Press., 1985, pp. 1-33.
Imazon, 2005. 300p. SMITH, N. J. J. Destructive exploitation of the South
TILMAN, D.; MAY, R. M.; LEHMAN, C. L.;
American River Turtle. Yearbook of the Association of
SILVA COUTINHO, J. M. Sur les tortues de NOWAK, M. A. Habitat destruction and the extinction
Pacific Coast Geographers, 1974, n.36, pp. 85-120.
L’Amazone. Bulletin the la Société Zoologique debt. Nature, 1994, 371: 65-66.
d’Aclimatation, 2 série, Tome V, Paris, 1968. SOINI, P. Investigaciones en la Estación Biológi-
TONIOLO, A; UHL, C. Perspectivas econômicas
ca Cahuana. Reporte Pacaya-samiria, Universidad
SILVA JUNIOR, E. B. A economia canavieira e ecológicas da agricultura na Amazônia oriental.
Nacional Agraria La Molina, 1995. In: ALMEIDA, O. (org.). A Evolução da Fron-
no Pará Colonial: engenhos e engenhocas na
segunda metade do século XVIII. Belém: UFPA, SOUZA, M. L. Mudar a cidade: uma introdução teira Amazônica: oportunidades para um desen-
CFCH, Departamento de História, 2006. (Traba- crítica ao planejamento e à gestão urbanos. Rio de volvimento sustentável. Belém: IMAZON, 1996,
lho de Conclusão de Curso.) Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p. 67-100.

425
TORRES DE ASSUMPÇÃO, C. An ecological VANZOLINI, P. E. Notes on the nesting beha- vitz, 1985), com ênfase na exploração alimen-
study of the primates of Southeastern Brazil, with viour of Podocnemis expansa in the Amazon Valley tar de espécies arbóreas da Ilha de Germo-
a reappraisal of Cebus apella races. Edinbugh, (Testudines, Pelomedusidae). Papéis Avulsos de plasma, Tucuruí – PA. Dissertação de Mestrado.
University of Edinburgh. Ph.D. Thesis, 1983. Zoologia, 1967, n.° 17, pp. 191 – 215. Belém, Universidade Federal do Pará & Museu
referências gerais dos mapas

TRECANI, G. D. Violência e Grilagem: ins- VELOSO, H. P.; RANGEL FILHO., A. L. R.; Paraense Emílio Goeldi, 2005.
trumentos de aquisição da propriedade da terra no LIMA, J. C. Classificação da vegetação brasi- VIVO, M. Estudo da diversidade de espécies
Pará. Belém: UFPA/ITERPA, 2001. leira, adaptada a um sistema universal. Rio de de mamíferos do Estado de São Paulo. 1996a.
TUCCI, C. E.M. Avaliação e controle dos im- Janeiro: IBGE/ Diretoria de Geociências, 1991. (Versão preliminar.)
pactos ambientais decorrentes da urbanização: VERIFICAÇÃO do Evangelho de Mateus. Dispo- VIVO, M. How many species of mammals are there in
apresentação do projeto. In: TUCCI, C. E. M.; nível em: >http://www.missaoalem.org.br/index. Brazil? In: BICUDO, C. E.; MENEZES, N. A.
MARQUES, D. M. L. Avaliação e controle da php?option=com_content&task=view&id=38&I (eds.). Biodiversity in Brazil. A First Approach. Pro-
drenagem urbana. Porto Alegre: Ed. UFGRS, temid=57<. Acesso em: 05 nov. 2006. ceedings of the Workshop “Methods for the assesment of
2000, p. 15-21. VERISSIMO, A.; SOUZA JUNIOR, C.; STO- Biodiversity in Plants and Animals”. Campos do Jor-
TUCCI, C. E.M.; COLLISCHONN, W. Drena- NE, S.; UHL, C. 1998. Zoning of timber extraction in dão, São Paulo, 1996b, pp. 313-321.
gem e controle de erosão. In: TUCCI, C. E. M.; the Brazilian Amazon. Conservation Biology, 1998, WEKSLER, M. Revisão sistemática do grupo
MARQUES, D. M. L. Avaliação e controle da 12 (1): 128-136. de espécies nitidus do gênero Oryzomys (Ro-
drenagem urbana. Porto Alegre: Ed. UFGRS, dentia: Sigmodontinae). Dissertação de Mes-
VERISSIMO, A.; BARRETO, P.; MATTOS, M.;
2000, p. 119-127. trado, Museu Nacional, Universidade Federal do
TARIFA, R.; UHL, C. Logging Impacts and Prospects
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1996.
UHL, C.; VIEIRA, I. C. G. Ecological Impacts of Se- for Sustainable Forest Management in an Old Amazo-
lective Logging in the Brazilian Amazon - a Case Study nian Frontier - the Case of Paragominas. Forest Ecology WEKSLER, M.; BONVICINO, C. R.; OTAZU,
from the Paragominas Region of the State of Para. Bio- and Management, 1992, 55 (1-4): 169-199. I. B.; SILVA JÚNIOR, J. S. Status of Proechimys
tropica, 1989, 21(2): 98-106. roberti and P. oris (Rodentia: Echimyidae) from eastern
VERÍSSIMO, A.; BARRETO, P.; MATTOS, M.;
Amazonia and central Brazil. Journal of Mammalogy,
UHL, C.; ALMEIDA, O. O desafio da exploração TARIFA, R.; UHL, C. Logging Impacts and prospects
2001, 82: 109-122.
sustentada da Amazônia. In: ALMEIDA, O. (org.). for sustainable forest management in na old frontier: The
A evolução da fronteira amazônica: oportuni- case of Paragominas. Forest Ecology and Manage- WHITMORE, T. C.; PRANCE, G. T. Biogeo-
dades para um desenvolvimento sustentável. Be- ment, 1992, 55: 169-199. graphy and quaternary history in tropical America.
lém, Imazon, 1996. Oxford: Claredon Press, 1987.
VERÍSSIMO, A.; LIMA, E.; LENTINI, M. Pólos
UHL, C.; BARRETO, P.; VERÍSSIMO, A.; BAR- Madeireiros do Estado do Pará. Belém: Ima- WIENS, J. A. Spatial scaling in ecology. Functional
RETO, P.; UHL, C.; AMARAL, P.; VIDAL, E.; zon, 2002. 74p. Ecology, 1989, 3: 385-397.
SOUZA JR., C. Na Integrated approach to Address WILLIAMS, C. B. Patterns in the balance of natu-
VICKERS, W. T. Game depletion hypothesis of Amazo-
natural resources problems in the Brazilian Amazon. re. New York: New York Academic Press, 1964.
nian adaptation: data from a native community. Science,
Bioscience, 1997, 47 (3): 160-168.
1988, 239: 1521-1522. XIMENES. G. E. I. Sistemática da família
UHL, C.; VERÍSSIMO, A.; BARRETO, P.; MAT- Dasyproctidae Bonaparte, 1838 (Rodentia,
VICKERS, W.T. The faunal component of lo-
TOS, M.; TARIFA, R. Lessons form the aging Ama- Histricognathi) no Brasil. Dissertação de Mes-
wland south american hunting kills. Interci-
zon frontier: Opportunities from genuine development . trado, Universidade de São Paulo. São Paulo,
ência, 1984, 9: 366-376.
In: Biodiversity and Landscapes: A paradox of humani- 1999.
ty, ed. K.C. Kim & D. Waever, 1994, pp. 287-303. VIEIRA, L. S. Manual da ciência do solo: com
ZIMMERMAN, H.; BIERREGAARD, B. L. Re-
New York: Cambridge University Press. ênfase aos solos Tropicais. São Paulo: Editora
levance of the equilibrium theory of island biogeography
Agronômica Ceres, 1988.
VALVERDE, O.; DIAS, C. V. A rodovia Belém- and specie-area reations to conservation with a case from
Brasília: estudo de Geografia Regional. Rio de Ja- VIEIRA, T. M. Aspectos da ecologia do cuxiú Amazonia. Journal of Biogeography, 1986, 13: 133-
neiro: IBGE, 1967. de Uta Hick, Chiropotes utahickae (Hershko- 143.

426
REFERÊNCIAS GERAIS DOS MAPAS
referências gerais dos mapas

• Cartas DSG – Ministério do Exército

referências gerais dos mapas


• Cenas Landsat – TM

• Setores Censitários

427
428 referências gerais dos mapas
429

referências gerais dos mapas


430 referências gerais dos mapas
431

referências gerais dos mapas


432 referências gerais dos mapas
433

referências gerais dos mapas


ANEXOS
anexos

ANEXO 1 – Listagem geral das espécies registradas nos inventários realizados nos municípios de Paragominas e Ulianópolis,
Estado do Pará - Cobertura vegetal.

Florestas Densas Sub-Montanas de Terra Firme


No. Cap. Total
Espécie Família Impacto Exp. Exp. Exp.
Ord. Sem Exp.1 Sem Exp.2 Antiga Geral
Reduzido Conv1 Conv2 Conv3
1 Abarema cochleata Leg. Mimos. 2 5 3 1
2 Abarema jupumba Leg. Mimos. 1 1
3 abiu folha grande Sapotaceae 1 1
4 “Abiu ucuubarana” Sapotaceae 1 1
5 Abuta grandiflora Menispermaceae 1 1 1 2 1 6
6 Acacia multipinnata Leg. Mimos. 1 1 1 2 5
7 Acacia paniculata Leg. Mimos. 1 1
8 Adiantum Polypodiaceae 1 1 2
9 Aechmea sp Bromeliaceae 1 1
10 Albizia pedicellaris Leg. Mimos. 1 1
11 Alibertia myrciaefolia Rubiaceae 1 1
12 Allophylus sp Sapindaceae 1 1
13 Amaioua sp Rubiaceae 1 1
14 Apeiba burcheli Tiliaceae 1 2 1 5 9
15 Apeiba echinata Tiliaceae 1 1 2
16 Apocynaceae Indet Apocynaceae 1 1
17 Araceae Indet. Araceae 1 1
18 Arrabidaea sp1 Bignoniaceae 1 1
19 Arrabidaea cinnamomea Bignoniaceae 1 1 1 1 4
20 Arrabidaea sp2 Bignoniaceae 1 1
21 Aspidosperma sp Apocynaceae 1 1 1 3
22 Astrocaryon ginacantho Arecaceae 2 1 1 1 3 8
23 Astrocaryum ginacanthos Arecaceae 1 1
24 Astrocaryum gincantho Arecaceae 1 1
25 Astronium gracilis Anacardiaceae 1 1 1 3
26 Astronium lecointei Anacardiaceae 1 1
27 Attalea maripa Arecaceae 1 1
28 Bactris sp Arecaceae 1 1 1 3
29 Bactris humilis Arecaceae 1 1
30 Bactris tomentosa Arecaceae 1 1
31 Bagassa guianensis Moraceae 1 2 3
32 “bambusinho” Poaceae 1 1
33 Bauhinia Leg. Caes 1 1 2
34 Bauhinia guianense Leg. Caes 1 1
35 Bauhinia guianensis Leg. Caes 1 2 8 1 1 6 17
36 Bellucia grossularioides Melastomataceae 1 1
37 Bignoniaceae Bignoniaceae 3 3 2 4 1 12
38 Bixa arborea Bixaceae 1 1
39 Bocageopsis multiflora Annonaceae 1 2 1 4
40 Bombax Bombacaceae 1 1
41 Brosimum acutifolium Moraceae 1 1
42 Brosimum guianensis Moraceae 1 1 2 1 1 6
43 Brosimum potabile Moraceae 1 1
44 Brosimum rubescens Moraceae 1 1 1 3
45 Buchenavia parvifolia Combretaceae 1 2 3
46 Byrsonima Malpighiaceae 1 1
47 Calathea Maranthaceae 1 2 3
48 Calathea ornata Marantaceae 1 1 1 1 4
49 caniceiro branco Annonaceae 2 2
50 Caryocar Caryocaraceae 1 1
51 casca solta Myrtaceae 1 1
52 Casearia Flacourtiaceae 6 6
53 Casearia arborea Flacourtiaceae 1 1
54 Casearia ulmifolia Flacourtiaceae 1 1
55 Cassia Leg. Caes 1 1
56 Cecropia distachya Cecropiaceae 1 4 2 6 1 14
57 Cecropia fissifolia Cecropiaceae 1 1
58 Cecropia sciadophylla Cecropiaceae 1 1 2 1 3 8

434
Florestas Densas Sub-Montanas de Terra Firme
No. Cap. Total
Espécie Família Impacto Exp. Exp. Exp.
Ord. Sem Exp.1 Sem Exp.2 Antiga Geral
Reduzido Conv1 Conv2 Conv3
59 Chaunochiton kappleri Olacaceae 2 2
60 Chimarrhis turbinata Rubiaceae 1 1 2
61 Chrysophyllum Sapotaceae 1 1
62 Chrysophyllum aurantum Sapotaceae 1 1
63 cipó coloral (vazio) 1 1
64 Clarisia ilicifolia Moraceae 1 1 2 1 5
65 Clarisia racemosa Moraceae 1 1
66 Clavija sp Theophrastaceae 1 1 1 3
67 Combretaceae Combretaceae 1 1
68 Combretum Combretaceae 1 1
69 Compsoneura ulei Myristicaceae 1 1 2
70 Connarus sp1 Connaraceae 2 1 3
71 Connarus erianthus Connaraceae 1 1 1 1 4
72 Connarus sp2 Connaraceae 1 1
73 Copaifera Leg. Caes 1 1
74 Cordia Boraginaceae 1 5 1 1 8
75 Cordia goeldiana Boraginaceae 1 1
76 Cordia nodosa Boraginaceae 1 1 1 3
77 Cordia sellowiana Boraginaceae 1 1 2 4
78 Costus sp Costaceae 1 1
79 Couepia guianensis Chrysobalanaceae 2 2
80 Couratari guianensis Lecythidaceae 1 1 2
81 Couratari multiflora Lecythidaceae 1 1 2
82 Coussapoua Moraceae 1 1
83 Croton Euphorbiaceae 2 2
84 Cupania scrobiculata Sapindaceae 2 8 10
85 Cynometra Leg. Caes. 1 1
86 Cynometra cf. marginata Leg. Caes. 1 1
87 Cyperaceae Cyperaceae 1 1
88 Davila kunthii Dilleniaceae 1 1

anexos
89 Davilla cf. rugosa Dilleniaceae 1 1 1 3
90 Derris sp Leg. Pap. 2 2 1 5
91 Desmoncus Arecaceae 1 1
92 Dialium guianense Leg. Pap. 1 1 1 3
93 Dieffenbachia sp. Araceae 1 1
94 Dioclea Leg. Pap. 1 1
95 Diospyros sp Ebenaceae 8 12 2 4 4 1 31
96 Diospyros melinonii Ebenaceae 2 1 1 4
97 Diospyros praetermissa Ebenaceae 1 1 2
98 Diplotropis sp Leg. Pap. 1 1
99 Dipteryx odorata Leg. Pap. 1 1
100 Dodecastigma Euphorbiaceae 1 8 2 11
101 Dodecastigma amazonicus Euphorbiaceae 2 2 11 6 9 30
102 Doliocarpus dentatus Dilleniaceae 1 1
103 Doliocarpus major Dilleniaceae 1 1
104 Doliocarpus minor Dilleniaceae 1 1
105 Duguetia Annonaceae 2 1 4 2 6 3 2 20
106 Duguetia calicina Annonaceae 4 4
107 Ecclinusa abreviata Sapotaceae 2 2
108 Ecclinusa breviata Sapotaceae 2 2
109 Ecclinusa guianensis Sapotaceae 1 1 2 4
110 Endlicheria sp Lauraceae 1 1 1 3
111 “envira lamuci” Annonaceae 1 1
112 Eschweilera sp1 Lecythidaceae 2 2 3 9 10 9 2 37
113 Eschweilera amazonica Lecythidaceae 2 4 2 3 5 3 1 20
114 Eschweilera cf. amazonica Lecythidaceae 1 1
115 Eschweilera cf. collina Lecythidaceae 1 1
116 Eschweilera cf. grandiflora Lecythidaceae 1 1
117 Eschweilera coriacea Lecythidaceae 6 4 5 3 2 1 21
118 Eschweilera grandiflora Lecythidaceae 2 1 3
119 Eschweilera pedicellata Lecythidaceae 1 1
120 Eschweilera sp2 Lecythidaceae 1 1
121 Eugenia Myrtaceae 2 2 1 4 1 10
122 Eugenia flavescens Myrtaceae 1 1
123 Eugenia patrisii Myrtaceae 1 1
124 Euphorbiaceae Indet. Euphorbiaceae 1 4 5
125 folha branca Myrtaceae 1 1
126 folha grande Rutaceae 2 2

435
Florestas Densas Sub-Montanas de Terra Firme
No. Cap. Total
Espécie Família Impacto Exp. Exp. Exp.
Ord. Sem Exp.1 Sem Exp.2 Antiga Geral
Reduzido Conv1 Conv2 Conv3
127 Forsteronia Apocynaceae 1 1
anexos

128 Forsteronia sp Apocynaceae 1 1


129 Fusaea longifolia Annonaceae 4 1 5
130 Gen. Indeterminado Bignoniaceae 1 1
131 Goiabão Sapotaceae 2 1 3 4 10
132 Guarea Meliaceae 1 1 1 1 2 6
133 Guarea carinata Meliaceae 1 1
134 Guarumã, membeca (vazio) 1 1
135 Guatteria Annonaceae 1 13 14
136 Guatteria poeppigiana Annonaceae 1 1 3 5
137 Guatteria schomburgkiana Annonaceae 1 1
138 Heisteria Olacaceae 1 1 1 3
139 Heliconia Heliconiaceae 1 1
140 Heliconia acuminata Heliconiaceae 1 1
141 Heliconia sp Heliconiaceae 1 1 2
142 Helicostylis Moraceae 1 1
143 Helicostylis pedunculata Moraceae 1 1
144 Helicostylis tomentosa Moraceae 1 1
145 Heteropsis jenmanii Araceae 1 1
146 Heteropsis jenmannii Araceae 1 1
147 Hippocrateaceae Hippocrateaceae 1 1
148 Hirtela Chrysobalanaceae 1 1
149 Hirtela racemosa Chrysobalanaceae 2 2
150 Hirtella Chrysobalanaceae 1 1 1 3
151 Hirtella bicornis Chrysobalanaceae 1 1
152 Hirtella racemosa Chrysobalanaceae 1 1
153 Hymenaea Leg. Caes 3 3
154 Hymenaea courbaril Leg. Caes 2 2
155 Hymenolobium Leg. Pap. 1 1
156 Hymenophyllum Hymenophillaceae 1 1
157 Hymenophyllum sp Hymenophyllaceae 1 1
158 Indet1 Lauraceae 1 1
159 Indeterminada Indeterminada 2 1 3
160 Indeterminado Indeterminado 2 3 1 2 8
161 Inga Leg. Mimos. 3 6 6 4 12 4 35
162 Inga alba Leg. Mimos. 2 1 3
163 Inga brachirachis Leg. Mimos. 1 1 2
164 Inga brachyrachis Leg. Mimos. 2 3 5
165 Inga brachyrhachis Leg. Mimos. 1 1
166 Inga cf. rubiginosa Leg. Mimos. 2 2
167 Inga gracilifolia Leg. Mimos. 2 1 1 2 2 1 9
168 Inga paraensis Leg. Mimos. 3 1 4
169 Inga rubiginosa Leg. Mimos. 1 1
170 Inga sp Leg. Mimos. 1 1 2
171 Inga sp 1 Leg. Mimos. 1 1
172 Inga splendens Leg. Mimos. 1 1
173 Inga stipularis Leg. Mimos. 1 1 1 3
174 Inga thibaudiana Leg. Mimos. 3 3 6 12
175 Ischnosiphon sp1 Maranthaceae 1 1 2
176 Ischnosiphon gracilis Marantaceae 1 1
177 Maranthaceae 1 1 1 1 1 1 6
178 Ischnosiphon sp2 Marantaceae 1 1
179 Jacaranda copaia Bignoniaceae 1 1 2 4
180 Lacmelea aculeata Apocynaceae 1 1 2
181 Lacunaria Quiinaceae 1 1
182 Lacunaria crenata Quiinaceae 1 1
183 Lacunaria jenmanii Quiinaceae 1 1 2
184 Laetia procera Flacourtiaceae 1 1 1 1 1 5
185 Lauraceae Lauraceae 1 1 1 1 4
186 Lecythis idatimon Lecythidaceae 14 21 10 6 6 7 64
187 Lecythis lurida Lecythidaceae 1 1 1 1 1 5
188 Lecythis pisonis Lecythidaceae 1 1
189 Licania sp1 Chrysobalanaceae 1 5 1 1 8
190 Licania sp2 Chrysobalanaceae 1 1
191 Licania canescens Chrysobalanaceae 1 1
192 Licania egleri Chrysobalanaceae 1 1
193 Licania heteromorpha Chrysobalanaceae 1 1 2
194 Licania membranacea Chrysobalanaceae 6 1 7

436
Florestas Densas Sub-Montanas de Terra Firme
No. Cap. Total
Espécie Família Impacto Exp. Exp. Exp.
Ord. Sem Exp.1 Sem Exp.2 Antiga Geral
Reduzido Conv1 Conv2 Conv3
195 Licania octandra Chrysobalanaceae 7 1 8
196 Licania sp3 Chrysobalanaceae 3 3
197 Licania sp4 Chrysobalanaceae 1 1
198 Louro do folhão Lauraceae 1 1 2
199 louro folha grande Lauraceae 2 2
200 louro manga Lauraceae 2 2
201 Lueheopsis Tiliaceae 1 1
202 Eschweilera sp. Lecythidaceae 1 1
203 Mabea Euphorbiaceae 5 5
204 Machaerium Leg. Pap. 1 1 2
205 Macrolobium Leg. Caes 1 1
206 Malpighiaceae Malpighiaceae 1 1
207 Manilkara Sapotaceae 1 1 2
208 Manilkara bidentata Sapotaceae 1 1
209 Manilkara huberi Sapotaceae 2 1 1 1 2 1 8
210 Manilkara paraensis Sapotaceae 1 1
211 Maquira sp. Moraceae 1 1 2
212 Maquira guianensis Moraceae 1 1 2
213 Maquira sp Moraceae 1 1
214 Maripa sp Convolvulaceae 1 1
215 Marlierea Myrtaceae 1 1
216 Maytenus Celastraceae 1 1
217 Maytenus sp Celastraceae 1 1
218 Memora sp1 Bignoniaceae 1 1 1 3
219 Memora flavida Bignoniaceae 1 1 1 3
220 Memora sp2 Bignoniaceae 1 1
221 Metrodorea Rutaceae 1 1
222 Metrodorea flavida Rutaceae 3 1 3 5 16 28
223 Miconia Melastomataceae 1 1
224 Micropholis Sapotaceae 1 2 1 3 4 11
225 Micropholis acutangula Sapotaceae 1 1

anexos
226 Micropholis egensis Sapotaceae 1 1
227 Micropholis venulosa Sapotaceae 1 1
228 Mirtacea folhão Myrtaceae 1 1
229 Monotagma laxum Maranthaceae 1 1 1 1 4
230 Mouriri Memecylaceae 1 1
231 Moutabea (vazio) 1 1
232 Myrcia Myrtaceae 1 1
233 Myrciaria tenella Myrtaceae 1 1 5 7
234 Myrtaceae Myrtaceae 1 1
235 Neea Nyctaginaceae 1 3 1 3 8
236 Neea Nyctaginaceae 1 1
237 Neea venosa Nyctaginaceae 1 1
238 Neoptychocarpus apodanthus Flacourtiaceae 2 4 8 1 6 2 23
239 Ocotea Lauraceae 6 2 1 9
240 Ocotea canaliculata Lauraceae 5 5
241 Ocotea caudata Lauraceae 1 1 2
242 Ocotea cujumari Lauraceae 1 1 1 3
243 Ocotea longifolia Lauraceae 1 1
244 Oenocarpus bacaba Arecaceae 1 1 2
245 Olacaceae? Olacaceae? 1 1
246 Olyra latifolia Poaceae 1 1
247 Ouratea Ochnaceae 1 1
248 Ouratea paraensis Ochnaceae 1 1
249 Pariana Poaceae 1 1 2
250 Pariana latifolia Poaceae 1 1
251 Pariana sp Poaceae 1 1
252 Parinari rodolphii Chrysobalanaceae 1 1
253 Parinari rudolphii Chrysobalanaceae 1 1
254 Parkia Leg. Mimos. 3 2 2 7
255 Parkia cf. ulei Leg. Mimos. 1 1
256 Parkia pendula Leg. Mimos. 1 1 2
257 Passiflora coccinea Passifloraceae 1 2 3
258 Passiflora sp Passifloraceae 1 1
259 Paullinia Sapindaceae 1 1 2
260 Pausandra Euphorbiaceae 5 5
261 Paypayrola grandiflora Violaceae 1 1 2
262 Peltogyne Leg. Caes 3 5 6 14

437
Florestas Densas Sub-Montanas de Terra Firme
No. Cap. Total
Espécie Família Impacto Exp. Exp. Exp.
Ord. Sem Exp.1 Sem Exp.2 Antiga Geral
Reduzido Conv1 Conv2 Conv3
263 Pharus sp. Poaceae 1 1 1 1 4
anexos

264 Piper Piperaceae 1 1


265 Poaceae Indet. Poaceae 1 1
266 Poecilanthe effusa Leg. Pap. 4 1 1 5 5 3 19
267 Pourouma Cecropiaceae 1 1
268 Pourouma cf. minor Cecropiaceae 1 1 2
269 Pouteria Sapotaceae 3 4 2 11 1 7 28
270 Pouteria anomala Sapotaceae 2 1 1 4
271 Pouteria caimito Sapotaceae 1 2 3
272 Pouteria cf. eugeniifolia Sapotaceae 1 1
273 Pouteria cf. heterosepala Sapotaceae 1 1
274 Pouteria cf. ramiflora Sapotaceae 1 1
275 Pouteria cf. venosa Sapotaceae 1 1
276 Pouteria cladantha Sapotaceae 2 2
277 Pouteria cuneifolia Sapotaceae 1 1
278 Pouteria decorticans Sapotaceae 3 3 1 1 8
279 Pouteria elegans Sapotaceae 1 1
280 Pouteria eugeniifolia Sapotaceae 1 1 2
281 Pouteria guianensis Sapotaceae 1 1 2
282 Pouteria jariensis Sapotaceae 7 5 2 2 16
283 Pouteria krukovii Sapotaceae 2 1 3
284 Pouteria oppositifolia Sapotaceae 2 2
285 Pouteria sp 1 Sapotaceae 1 1
286 Pouteria sp 3 Sapotaceae 1 1
287 Pouteria sp 4 Sapotaceae 1 1
288 Pouteria sp 5 Sapotaceae 1 1
289 Pouteria venosa Sapotaceae 1 2 3 3 3 3 15
290 Pouteria cuneata Sapotaceae 1 1
291 Protium sp Burseraceae 1 2 3
292 Protium apiculatum Burseraceae 2 2 1 5
293 Protium decandrum Burseraceae 1 4 1 2 8
294 Protium robustum Burseraceae 1 1
295 Protium sagotianum Burseraceae 1 1 2
296 Protium tenuifolium Burseraceae 1 5 6
297 Protium trifoliolatum Burseraceae 1 1 1 3
298 Pseudolmedia sp Moraceae 1 1
299 Pseudopiptadenia suaveolens Leg. Mimos. 1 1 2 2 1 6 13
300 Pteridophyta Pteridophyta 1 1 1 3
301 Pterocarpus rohri Leg. Pap. 1 1
302 Pterocarpus rohrii Leg. Pap. 1 1
303 Quararibea? Bombacaceae 1 1
304 Quiina Quiinaceae 2 2
305 Quiina pteridophylla Quiinaceae 1 1 2
306 Riania Flacourtiaceae 1 1
307 Rienealmia Zingiberaceae 1 1 2
308 Rinorea guianensis Violaceae 21 18 12 11 20 82
309 Rinorea neglecta Chrysobalanaceae 1 1
310 Rinorea riania Violaceae 3 3
311 Rionea guianensis Violaceae 1 1
312 Rollinia exsucca Annonaceae 2 1 3
313 Rubiaceae Rubiaceae 1 1
314 Rutaceae Rutaceae 1 1 2
315 Saccoglotis guianensis Humiriaceae 1 1
316 Sagotia Euphorbiaceae 1 1
317 Sagotia racemosa Euphorbiaceae 2 16 14 18 25 6 81
318 Salacia sp Hippocrateaceae 1 1
319 Sapindaceae Indet Sapindaceae 1 2 3
320 Sapotaceae Indet Sapotaceae 2 1 3
321 Schfflera morototoni Araliaceae 1 1
322 Scleria sp Cyperaceae 1 1
323 Sclerolobium paraensis Leg. Caes 1 1 2
324 Senna sp Leg. Caes 1 1
325 Simaba sp Simaroubaceae 1 1
326 Simaba cedron Simaroubaceae 1 1
327 Siparuna cuspidata Siparunaceae 1 1 1 3
328 Siparuna guianensis Siparunaceae 1 2 3
329 Sloanea sp Elaeocarpaceae 2 1 3
330 Smilax sp Smilacaceae 1 1 1 3

438
Florestas Densas Sub-Montanas de Terra Firme
No. Cap. Total
Espécie Família Impacto Exp. Exp. Exp.
Ord. Sem Exp.1 Sem Exp.2 Antiga Geral
Reduzido Conv1 Conv2 Conv3
331 Sparatanthelium tupinicorum Rubiaceae 1 1
332 Sterculia speciosa Sterculiaceae 1 1 2
333 Sterculia pruriens Sterculiaceae 1 1 2 2 2 3 1 12
334 Sterculia speciosa Sterculiaceae 1 1 1 3
335 Strychnos guianensis Loganiaceae 1 1
336 Stryphnodendron sp Leg. Mimos. 3 1 4
337 Stryphnodendron guianensis Leg. Mimos. 1 2 3
338 Stryphnodendron pulcherrimum Leg. Mimos. 1 1
339 Sucupira Leg. Pap. 1 1
340 Swartzia panacoco Leg. Pap. 1 1
341 Symphonia globulifera Clusiaceae 1 1
342 Tabebuia serratifolia Bignoniaceae 1 1
343 Tabebuia sp Bignoniaceae 1 1
344 Tabernaemontana Apocynaceae 1 1
345 Tachigalia mirmecophila Leg. Caes 3 1 3 3 2 2 14
346 Talisia sp. Sapindaceae 1 1 2 2 1 7
347 Talisia hispida Sapindaceae 1 1 2
348 Tapirira guianensis Anacardiaceae 3 3
349 Tapura cf. guianensis Dichapetalaceae 1 1
350 Terminalia sp Combretaceae 1 1
351 Tetracera willdenowiana Dilleniaceae 5 2 1 8
352 Tetragastris altissima Burseraceae 3 1 4 3 3 3 4 21
353 Theobroma silvestris Sterculiaceae 2 2 1 5
354 Theobroma speciosum Sterculiaceae 1 1
355 Thyrsodium paraensis Anacardiaceae 1 1
356 Tiliaceae Indet. Tiliaceae 1 1
357 Tococa guianensis Melastomataceae 1 1
358 Trattinickia rhoifolia Burseraceae 1 1
359 Trichilia ap Meliaceae 1 1 1 3
360 Trichilia micrantha Meliaceae 1 1 3 2 2 9
361 Trimatococus Euphorbiaceae 1 1

anexos
362 Vatairea erythrocarpa Leg. Pap. 1 1
363 Virola sp Myristicaceae 3 3
364 Virola michellii Myristicaceae 2 1 2 1 1 7
365 Vismia cayennensis Clusiaceae 1 1
366 Vismia guianensis Clusiaceae 1 1
367 Vitex triflora Verbenaceae 1 1
368 Xylopia sp Annonaceae 1 1
369 Zanthoxylon sp1 Rutaceae 2 1 1 4
370 Zanthozylon sp2 Rutaceae 2 2
371 Zollernia paraensis Leg. Caes 1 2 3
372 Zygia racemosa Leg. Mimos. 1 1 2
Abundância Geral 218 254 233 224 224 215 193 1500
Frequência Geral 111 138 121 99 95 89 88 653

439
Anexo 2 – Listagem geral das espécies vegetais registradas nos ambientes de capoeira recente,
floresta de terra firme, capoeira antiga e floresta de várzea. Município de Tomé-Açu, Estado do Pará.
anexos

Ambientes
No. Total
Espécie Família Capoeira Terra Terra Capoeira Capoeira Floresta Terra
Ord. Geral
Recente Firme1 Firme2 Antiga1 Antiga2 de Várzea Firme3
1 Abarema jupumba Mimosaceae 2 2
2 Abuta sandwithiana Menispermaceae 1 1
3 Acacia alemquerensis Mimosaceae 1 1
4 Acacia multipinata Mimosaceae 1 3 4
5 Aechmea sp Bromeliaceae 1 1
6 Albizia subdimidiata Mimosaceae 1 1
7 Ambelania acida Apocynaceae 1 1 2
8 Annona paludosa Annonaceae 4 1 5
9 Annona tenuipes Annonaceae 3 3
10 Anthurium sp Araceae 1 1 2
11 Aparisthimium cordatum Euphorbiaceae 2 4 6
12 Apeiba echinata Tiliaceae 7 19 1 27
13 Apeiba tibourbou Tiliaceae 2 2 2 6
14 Apuleia leiocarpa Caesalpiniaceae 1 1
15 Arrabidaea cinnamomea Bignoniaceae 1 1
16 Arrabidaea nigrescens Bignoniaceae 1 1 1 3
17 Arrabidaea sp 2 Bignoniaceae 1 1 2
18 Aspidosperma excelsum Apocynaceae 2 1 3
19 Asplenium sp Polygonaceae 1 1
20 Astrocaryum ginacanthum Arecaceae 7 7 2 2 7 6 31
21 Astronium gracilis Anacardiaceae 1 1
22 Atalea maripa Arecaceae 1 1 1 3
23 Bactris acanthocarpa Arecaceae 1 1
24 Bactris sp Arecaceae 3 1 4
25 Bagassa guianensis Moraceae 1 1 1 3
26 Bambusa sp Gramineae 1 1
27 Banara guianensis Flacourtiaceae 1 1
28 Bauhinia guianensis Caesalpiniaceae 3 2 1 1 4 11
29 Bauhinia kunthiana Caesalpiniaceae 1 1
30 Bellucia dichotoma Melastomataceae 1 1
31 Bellucia grossularioides Melastomataceae 1 1 2
32 Bombax longipediceilatum Bombacaceae 6 6
33 Brosimum guianense Moraceae 1 2 1 2 2 8
34 Brosimum lactescens Moraceae 1 1
35 Brosimum rubescens Moraceae 1 1
36 Brosimum sp Moraceae 1 1
37 Buchenavia sp 1 Combretaceae 1 1 2
38 Buchenavia sp 2 Combretaceae 1 1
39 Byrsonima crispa Malpighiaceae 2 2
40 Byrsonima sp Malpighiaceae 1 1
41 Byrsonima stipulacea Malpighiaceae 1 1
42 Calathea ovata Marantaceae 25 2 1 2 1 1 32
43 Campomanesia lineatifolia Myrtaceae 1 1
44 Caraipa punctulata Guttiferae 6 6
45 Caryocar microcarpum Caryocaraceae 3 3
46 Casearia arborea Flacourtiaceae 3 3
47 Casearia decandra Flacourtiaceae 2 2
48 Casearia javitensis Flacourtiaceae 1 1 5 7
49 Casearia pitumba Flacourtiaceae 1 1
50 Cassia fastuosa Caesalpiniaceae 1 1
51 Cassia sp Caesalpiniaceae 1 1
52 Cassipourea guianensis Rhizophoraceae 1 1
53 Cecropia latiloba Cecropiaceae 16 16
54 Cecropia palmata Cecropiaceae 1 8 9
55 Cecropia sciadophylla Cecropiaceae 1 2 4 5 1 13
56 Chamaecrista negrensis Mimosaceae 1 1
57 Chamiclamys sp Bignoniaceae 1 1
58 Cheiloclinium cognatum Olacaceae 1 1
59 Clarisia ilicifolia Moraceae 3 3
60 Clarisia racemosa Moraceae 2 2
61 Connarus erianthus Connaraceae 1 2 1 1 1 6
62 Connarus punctatus Connaraceae 1 1
63 Cordia nodosa Boraginaceae 1 3 4
64 Cordia scabrida Boraginaceae 1 1 2

440
Ambientes
No. Total
Espécie Família Capoeira Terra Terra Capoeira Capoeira Floresta Terra
Ord. Geral
Recente Firme1 Firme2 Antiga1 Antiga2 de Várzea Firme3
65 Cordia scabrifolia Boraginaceae 1 5 6 1 7 20
66 Costus arabicus Costaceae 1 1
67 Costus sp Costaceae 1 1
68 Couepia guianensis Chrysobalanaceae 1 1
69 Couepia guianensis subsp. guianensis Chrysobalanaceae 2 1 1 4
70 Couratari guianensis Lecythidaceae 1 2 3 7 1 2 16
71 Couratari tenuicarpa Lecythidaceae 1 1
72 Crepidospermum gondotianum Burseraceae 1 1
73 Croton matourensis Euphorbiaceae 2 51 53
74 Crudia oblonga Caesalpiniaceae 1 2 3
75 Cupania scrobiculata Sapindaceae 1 3 2 7 13
76 Curarea toxicofera Menispermaceae 1 1
77 Davilla rugosa Dilleniaceae 3 3 6
78 Derris utilis Mimosaceae 1 1
79 Desmoncus sp Arecaceae 1 1
80 Dialium guianense Fabaceae 2 2
81 Didimopanax morototoni Araliaceae 1 2 2 5
82 Dioscorea macrostachya Dioscoreaceae 1 1
83 Diospyros guianensis Ebenaceae 11 11
84 Diospyros sp Ebenaceae 1 1
85 Diplasia karataefolia Cyperaceae 1 1
86 Dipteryx odorata Fabaceae 1 1
87 Dodecastigma integrifolium Euphorbiaceae 1 9 10
88 Doliocarpus dentatus Dilleniaceae 1 1 1 3
89 Duguetia sandwithii Annonaceae 2 1 3
90 Duguetia trunciflora Annonaceae 2 2
91 Duroia macrophylla Rubiaceae 2 2
92 Ecclinusa abbreviata Sapotaceae 2 2
93 Ecclinusa guianensis Sapotaceae 3 2 5
94 Endlicheria levelii Lauraceae 1 1 2
95 Endopleura uchi Humiriaceae 1 1

anexos
96 Entada polyphylla Mimosaceae 2 2
97 Eperua bijuga Caesalpiniaceae 7 7
98 Eriotheca globosa Bombacaceae 1 1
99 Erisma uncinatum Vochysiaceae 2 2
100 Erythroxylon macrophyllum Erythroxylaceae 1 1
101 Eschweilera collina Lecythidaceae 1 1
102 Eschweilera coriacea Lecythidaceae 17 6 5 4 13 45
103 Eschweilera parviflora Lecythidaceae 1 1
104 Eschweilera pedicellata Lecythidaceae 1 5 1 1 8
105 Eugenia biflora Myrtaceae 1 1 2 4
106 Eugenia brachypoda Myrtaceae 1 1 2
107 Eugenia egensis Myrtaceae 1 1
108 Eugenia omissa Myrtaceae 1 1
109 Eugenia patrisii Myrtaceae 4 4
110 Eugenia sp Myrtaceae 1 1 2
111 Eugenia tapacumensis Myrtaceae 1 2 1 4
112 Euterpe oleracea Arecaceae 1 1
113 Faramea egensis Rubiaceae 2 2
114 Fusaea longifolia Annonaceae 4 1 1 1 1 8
115 Genero indeterminado 1 Myrtaceae 58 58
116 Gênero indeterminado 2 Fabaceae 9 9
117 Gênero indeterminado 3 Indeterminada 2 3 3
118 Gênero indeterminado 4 Combretaceae 1 1
119 Gênero indeterminado 5 Bignoniaceae 1 1
120 Gênero indeterminado 6 Indeterminada 1 1 1
121 Geonoma sp Arecaceae 1 1
122 Goupia glabra Celastraceae 1 1 2 1 5
123 Guapira graciliflora Nyctaginaceae 1 1
124 Guapira venosa Nyctaginaceae 1 1
125 Guarea guidonia Meliaceae 1 1
126 Guatteria poeppigiana Annonaceae 5 3 10 4 10 4 36
127 Guatteria sp Annonaceae 2 2
128 Heisteria acuminata Olacaceae 1 1
129 Heliconia acuminata Heliconiaceae 6 1 1 8
130 Heliconia sp Heliconiaceae 1 1
131 Helicostylis pedunculata Moraceae 1 1
132 Helicostylis scabra Moraceae 1 1

441
Ambientes
No. Total
Espécie Família Capoeira Terra Terra Capoeira Capoeira Floresta Terra
Ord. Geral
Recente Firme1 Firme2 Antiga1 Antiga2 de Várzea Firme3
133 Helicostylis tomentosa Moraceae 2 1 3
anexos

134 Himatanthus sucuuba Apocynaceae 1 1


135 Hirtela racemosa var. racemosa Chrysobalanaceae 1 1 2
136 Hirtella eriandra Chrysobalanaceae 1 1
137 Hirtella macrophylla Chrysobalanaceae 1 1
138 Hirtella pilosissima Chrysobalanaceae 1 1
139 Hirtella sp Chrysobalanaceae 1 1
140 Homalium guianensis Flacourtiaceae 9 9
141 Hydrochorea corymbosa Mimosaceae 1 1
142 Inga Mimosaceae 1 1
143 Inga alba Mimosaceae 3 1 25 11 9 8 57
144 Inga auristellae Mimosaceae 1 1
145 Inga brachystachys Mimosaceae 1 2 3 6
146 Inga capitata Mimosaceae 6 2 3 1 12
147 Inga edulis Mimosaceae 2 1 2 1 1 7
148 Inga gracilifolia Mimosaceae 3 1 4
149 Inga grandiflora Mimosaceae 2 2 1 5
150 Inga heterophylla Mimosaceae 1 1 2
151 Inga nobilis subsp nobilis Mimosaceae 2 2 2 6
152 Inga paraensis Mimosaceae 1 1 1 3
153 Inga rubiginosa Mimosaceae 8 1 9
154 Inga sp Mimosaceae 3 1 4
155 Inga sp 2 Mimosaceae 1 1 2
156 Inga stipularis Mimosaceae 3 4 1 8
157 Inga thibaudiana subs. thibaudiana Mimosaceae 2 4 2 2 1 11
158 Inga umbratica Mimosaceae 1 1 2
159 Ischnosiphon gracilis Marantaceae 1 1 1 1 1 1 6
160 Ischnosiphon pubescens Marantaceae 1 1
161 Ischnosiphon pulcherimum Marantaceae 1 1
162 Jacaranda copaia Bignoniaceae 1 1
163 Jarana Lecythidaceae 1 1
164 Lacistema aggregatum Lacistemaceae 7 7
165 Lacmellea aculeata Apocynaceae 1 1
166 Lacmellea sp Apocynaceae 3 3
167 Lacunaria crenata Quiinaceae 1 1
168 Lacunaria jenmanii Quiinaceae 2 2
169 Laetia procera Flacourtiaceae 1 1 2 4
170 Lasiacis ligulata Gramineae 1 1
171 Lecythis idatimon Lecythidaceae 23 5 16 44
172 Lecythis lurida Lecythidaceae 1 1
173 Lecythis pisonis Lecythidaceae 2 1 3
174 Licania canescens Chrysobalanaceae 2 6 1 25 34
175 Licania caudata Chrysobalanaceae 1 1
176 Licania egleri Chrysobalanaceae 1 1
177 Licania heteromorpha Chrysobalanaceae 1 1
178 Licania impressa Chrysobalanaceae 1 1
179 Licania licaniflora Chrysobalanaceae 1 1
180 Licania longistyla Chrysobalanaceae 2 2
181 Licania membranacea Chrysobalanaceae 1 1
182 Licania sclerophylla Chrysobalanaceae 1 1
183 Licania sp 1 Chrysobalanaceae 1 1
184 Licania sp 2 Chrysobalanaceae 3 3
185 Machaerium leiophyllum Fabaceae 1 1
186 Machaerium madeirense Fabaceae 1 1
187 Machaerium quinata Fabaceae 1 1
188 Machaerium sp Fabaceae 1 2 3
189 Macrolobium bifolium Caesalpiniaceae 16 16
190 Macrolobium multijugum Caesalpiniaceae 4 4
191 Macrolobium pendalum Caesalpiniaceae 1 1
192 Macrolobium sp 1 Caesalpiniaceae 3 3
193 Macrolobium sp 2 Caesalpiniaceae 1 1
194 Manihot sp Euphorbiaceae 1 1
195 Manilkara amazonica Sapotaceae 1 1
196 Manilkara huberi Sapotaceae 1 2 4 7
197 Maprounea colarensis Rubiaceae 1 1
198 Maquira guianensis Moraceae 1 1
199 Maquira sclerophylla Moraceae 1 1
200 Margaritaria nobilis Euphorbiaceae 2 2

442
Ambientes
No. Total
Espécie Família Capoeira Terra Terra Capoeira Capoeira Floresta Terra
Ord. Geral
Recente Firme1 Firme2 Antiga1 Antiga2 de Várzea Firme3
201 Marmaroxylon racemosum Mimosaceae 1 1
202 Matayba elegans Sapindaceae 1 1
203 Mauritia armata Arecaceae 19 19
204 Memora flavida Bignoniaceae 1 1 2 1 1 1 7
205 Memora magnifica Bignoniaceae 1 1 1 3
206 Miconia chrysophylla Melastomataceae 2 1 3
207 Miconia ciliata Melastomataceae 1 1
208 Miconia melinonis Melastomataceae 3 3
209 Miconia nervosa Melastomataceae 1 1
210 Miconia pyrifolia Melastomataceae 1 1
211 Miconia venosa Melastomataceae 1 1
212 Micropholis acuntangula Sapotaceae 1 1 3 5
213 Micropholis cyrtobotria Sapotaceae 1 1
214 Micropholis guyanensis Sapotaceae 2 2
215 Micropholis venulosa Sapotaceae 1 1
216 Minquartia guianensis Olacaceae 1 1
217 Monotagma cf. laxum Marantaceae 1 1
218 Montrichardia linifera Araceae 1 1
219 Mora paraensis Fabaceae 10 10
220 Mouriri brachyanthera Memecylaceae 2 2
221 Moutabea sp Polygalaceae 1 1
222 Myrcia bracteata Myrtaceae 1 1
223 Myrcia fallax Myrtaceae 1 1 1 1 4
224 Myrcia silvatica Myrtaceae 1 1
225 Myrcia sp Myrtaceae 2 2
226 Myrciaria floribunda Myrtaceae 3 3
227 Myrciaria tenella Myrtaceae 1 5 6
228 Nectandra pichurim Lauraceae 1 1
229 Neea macrophylla Nyctaginaceae 1 1
230 Neea oppositifolia Nyctaginaceae 1 1 3 5
231 Neoptychocarpus apodanthus Flacourtiaceae 3 3

anexos
232 Neoraputia paraensis Rutaceae 2 2
233 Ocotea caniculata Lauraceae 1 1
234 Ocotea caudata Lauraceae 2 1 3
235 Ocotea cernua Lauraceae 2 2
236 Oenocarpus bacaba Arecaceae 1 1 2
237 Olyra latifolia Gramineae 1 1 2
238 Olyra obliquifolia Gramineae 1 1
239 Ormosia cf. nobilis Fabaceae 1 1
240 Ormosia countinhoi Fabaceae 1 3 4
241 Ormosia flava Fabaceae 5 5
242 Palicourea guianensis Rubiaceae 5 5
243 Pariana sp Gramineae 1 1 1 1 1 5
244 Parinari montana Chrysobalanaceae 1 1 2
245 Parkia cf. ulei Mimosaceae 1 1
246 Parkia gigantocarpa Mimosaceae 1 1
247 Parkia guianensis Mimosaceae 1 1
248 Parkia sp Mimosaceae 2 2 4
249 Paullinia occidentalis Sapindaceae 1 1
250 Pavonia malacophylla Malvaceae 1 1
251 Paypayrola grandiflora Violaceae 3 1 4
252 Peltogyne venosa Caesalpiniaceae 2 2
253 Phenakospermum guianensis Sterculiaceae 2 2
254 Piper cyrtopodon Piperaceae 2 2
255 Piper hostmannianum Piperaceae 1 1 2
256 Piper marginatum Piperaceae 1 1
257 Platonia insignis Guttiferae 1 1
258 Pleonotoma jasminiflora Bignoniaceae 1 1
259 Poecilanthe effusa Fabaceae 1 2 49 2 54
260 Polypodium sp Polygonaceae 1 1
261 Poraqueiba guianensis Icacinaceae 2 2
262 Posoqueria latifolia Rubiaceae 1 1
263 Potalia amara Gentianaceae 1 1
264 Pourouma guianensis Cecropiaceae 1 3 4
265 Pourouma minor Cecropiaceae 1 1
266 Pourouma mollis subsp. mollis Cecropiaceae 1 1 2
267 Pourouma sp 1 Cecropiaceae 1 1
268 Pouteria caimito Sapotaceae 4 4

443
Ambientes
No. Total
Espécie Família Capoeira Terra Terra Capoeira Capoeira Floresta Terra
Ord. Geral
Recente Firme1 Firme2 Antiga1 Antiga2 de Várzea Firme3
269 Pouteria cladantha Sapotaceae 1 1
anexos

270 Pouteria decorticans Sapotaceae 7 3 1 5 16


271 Pouteria gongrijpii Sapotaceae 1 2 1 4
272 Pouteria guyanensis Sapotaceae 2 1 1 3 7
273 Pouteria heterosepala Sapotaceae 1 1
274 Pouteria hexapetala Sapotaceae 2 1 1 4
275 Pouteria jariensis Sapotaceae 4 1 1 6
276 Pouteria krukovii Sapotaceae 1 1
277 Pouteria lasiocarpa Sapotaceae 1 1
278 Pouteria oppositifolia Sapotaceae 2 1 2 1 6
279 Pouteria sp 1 Sapotaceae 3 3
280 Pouteria sp 2 Sapotaceae 6 6
281 Pouteria venosa Sapotaceae 1 2 2 5
282 Protium decandrum Burseraceae 1 2 3
283 Protium giganteum var. giganteum Burseraceae 6 6
284 Protium paniculatum var ridelianum Burseraceae 1 1 2
285 Protium pillosum Burseraceae 2 4 6
286 Protium sagotianum Burseraceae 1 3 1 3 8
287 Protium tenuifolium Burseraceae 1 1 1 3
288 Pseudima frutescens Sapindaceae 1 1
289 Pseudolmedia murure Moraceae 1 1
290 Pseudopiptadenia psylostachya Mimosaceae 1 1
291 Psychotria sp Rubiaceae 1 2 1 4
292 Pteridium sp Polygonaceae 1 1 2
293 Pterocarpus santalinoides Fabaceae 1 1
294 Qualea acuminata Vochysiaceae 4 4
295 Renealmia sp Zingiberaceae 1 1
296 Rheedia sp Guttiferae 1 1
297 Rinorea guianensis Violaceae 23 7 1 4 35
298 Rinorea neglecta Violaceae 1 1
299 Rinorea racemosa Violaceae 8 8 1 2 33 52
300 Rinorea riana Violaceae 1 1
301 Rollinia exsucca Annonaceae 1 1 2
302 Sagotia racemosa Euphorbiaceae 3 2 5
303 Salacia impressifolia Hippocrateaceae 1 1
304 Salacia sp Hippocrateaceae 2 3 5
305 Sapium marmieri Euphorbiaceae 1 5 1 7
306 Scleria bracteata Cyperaceae 2 1 3
307 Scleria cf. ciperina Cyperaceae 1 1 2
308 Scleria sp Cyperaceae 1 1
309 Sclerobium paniculatum Caesalpiniaceae 1 1 2
310 Sclerolobium sp Caesalpiniaceae 1 1
311 Securidaca sp Polygonaceae 1 1
312 Serjania paucidentata Sapindaceae 1 1 2
313 Simaba cedron Simaroubaceae 3 3
314 Simaba guianensis Simaroubaceae 2 2
315 Simarouba amara Simaroubaceae 1 1 2 10 2 16
316 Siparuna cuspidata Monimiaceae 6 6
317 Siparuna guianensis Monimiaceae 1 1 1 3
318 Sloanea brevipes Elaeocarpaceae 1 1
319 Sloanea floribunda Elaeocarpaceae 1 1
320 Sloanea grandiflora Elaeocarpaceae 1 1
321 Sloanea sp Elaeocarpaceae 2 2
322 Smilax syphilitica Smilacaceae 1 1 2
323 Solanum stenolobium Solanaceae 1 1
324 Sterculia pruriens Sterculiaceae 3 2 2 7 14
325 Strychnos parvifolia Loganiaceae 1 1
326 Stryphnodendron guianensis Mimosaceae 17 1 1 19
327 Stryphnodendron paniculatum Mimosaceae 2 1 1 4
328 Stryphnodendron pulcherimum Mimosaceae 2 2 4
329 Swartzia laurifolia Mimosaceae 1 1
330 Symphonia globulifera Guttiferae 1 1 2
331 Tabernamontana angulata Apocynaceae 1 1 2
332 Tachigalia myrmecophyla Caesalpiniaceae 1 2 4 7
333 Talisia carinata Sapindaceae 1 1
334 Talisia cernua Sapindaceae 2 2
335 Talisia longifolia Sapindaceae 1 1 2
336 Talisia marleneana Sapindaceae 1 1

444
Ambientes
No. Total
Espécie Família Capoeira Terra Terra Capoeira Capoeira Floresta Terra
Ord. Geral
Recente Firme1 Firme2 Antiga1 Antiga2 de Várzea Firme3
337 Talisia mollis Sapindaceae 7 1 1 9
338 Tanaecium nocturnum Bignoniaceae 1 1
339 Tapirira guianensis Anacardiaceae 1 2 2 4 9
340 Telitoxicum glaziovii Menispermaceae 1 1
341 Terminalia amazonica Combretaceae 1 1
342 Terminalia lucida Combretaceae 1 1
343 Tetragastris altissima Burseraceae 2 2 1 5
344 Theobroma silvestris Sterculiaceae 2 2
345 Theobroma speciosum Sterculiaceae 1 1
346 Thyrsodium paraensis Anacardiaceae 2 2
347 Tococa guianensis Melastomataceae 1 1
348 Tovomita brevistaminea Guttiferae 1 4 5
349 Tovomita caloneura Guttiferae 1 1
350 Trattinickia burserifolia Burseraceae 1 3 4
351 Trichilia micrantha Meliaceae 1 1 2 4
352 Trichilia schomburgkii Meliaceae 1 1
353 Trichilia subsessifolia Meliaceae 1 1
354 Vantanea guianensis Humiriaceae 1 2 3 6
355 Vantanea parviflora Humiriaceae 1 1 2
356 Vatairea guianensis Fabaceae 1 4 5
357 Virola michelli Myristicaceae 1 1
358 Virola surinamensis Myristicaceae 5 5
359 Virola venosa Myristicaceae 1 1
360 Vismia cayenensis Guttiferae 26 26
361 Vismia guianensis Guttiferae 4 19 2 25
362 Vismia japurensis Guttiferae 2 2
363 Vouacapoua americana Caesalpiniaceae 6 6
364 Wedellia sp Asteraceae 1 1
365 Xylopia cayennensis Annonaceae 1 1 2
366 Xylopia nitida Annonaceae 3 1 2 6
367 Xylopia sp 1 Annonaceae 1 1 2

anexos
368 Xylopia sp 2 Annonaceae 3 2 5
369 Zanthoxylon regnelianum Rutaceae 1 1 1 3
370 Zanthoxylon rhoifolium Rutaceae 1 1
371 Zygia racemosa Mimosaceae 2 2
Total geral 200 278 271 226 217 250 261 1703

445
Anexo 3 – Listagem geral das espécies vegetais registradas nos ambientes de capoeira alta,
capoeira baixa e floresta explorada. Município de Aurora do Pará e Ipixuna do Pará.
anexos

Ambiente
No.
Espécie Família Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Floresta Floresta Floresta Total
Ord.
Alta1 Alta2 Alta 3 Alta 4 Alta 5 Alta 9 Baixa 9 Expl.7 Expl.8 Explor.10 Geral
1 Abarema cochleata Mimosaceae 8 8
2 Abarema jupumba Mimosaceae 1 1 2
3 Abarema mataybifolia Mimosaceae 4 4
4 Alibertia sp. Rubiaceae 2 2
5 Alibertia edulis Rubiaceae 2 2
6 Alophyllus floribunda Sapindaceae 1 1
7 Amaioua guianensis Rubiaceae 1 1 4 6
8 Ambelania acida Apocynaceae 2 2 1 5
9 Anartia flavicans Apocynaceae 1 1
10 Aniba gigantifolia Lauraceae 1 1 2
11 Anona paludosa Annonaceae 1 1
12 Aparisthmium cordatum Euphorbiaceae 5 4 2 11
13 Apeiba burchelii Tiliaceae 4 3 3 4 2 2 3 21
14 Apeiba echinata Tiliaceae 1 12 13
15 Apeiba tibourbou Tiliaceae 1 1 1 3
16 Aspidosperma eteanum Apocynaceae 2 3 1 6
17 Astrocaryum ginacanthum Arecaceae 1 2 5 1 1 10
18 Bagassa guianensis Moraceae 5 1 6
19 Banara guianensis Flacourtiaceae 1 1 2
20 Batesia floribunda Caesalpinaceae 1 2 3
21 Bauhinia guianensis Caesalpinaceae 1 1 2
22 Bellucia glossularioides Melastomataceae 6 8 14
23 Brosimum acutifolium Moraceae 1 1 2
24 Brosimum guianense Moraceae 2 2 4 1 1 1 1 12
25 Brosimum rubescens Moraceae 1 1
26 Buchenavia oxycarpa Combretaceae 1 1
27 Byrsonima crispa Malphigiaceae 1 3 4
28 Byrsonima densa Malphigiaceae 1 1 2
29 Byrsonima stipulacea Malphigiaceae 2 1 1 4
30 Campsoneura ulei Myristicaceae 2 2
31 Carapa guianensis Meliaceae 1 1
32 Casearia decandra Flacourtiaceae 3 2 5
33 Casearia grandiflora Flacourtiaceae 2 1 3
34 Casearia javitensis Flacourtiaceae 1 4 1 1 1 8
35 Casearia pitumba Flacourtiaceae 2 2
36 Cassia fastuosa Caesalpinaceae 1 2 3
37 Cecropia obtusa Cecropiaceae 11 1 1 1 14
38 Cecropia palmata Cecropiaceae 2 18 8 1 29
39 Cecropia sciadophylla Cecropiaceae 1 3 2 6
40 Cheiloclinium cognatum Hippocrateaceae 1 1
41 Chimarris turbinata Rubiaceae 1 1 1 1 2 1 7
42 Chrysophyllum prieurii Sapotaceae 1 1
43 Clarisia ilicifolia Moraceae 4 4
44 Coccoloba sp. Polygonaceae 1 1
45 Conchocarpus grandis Rutaceae 1 1
46 Conibretum rotundifolium Rubiaceae 1 1
47 Connarus erianthus Connaraceae 1 1
48 Connarus perrottetii Connaraceae 1 1
49 Cordia goeldiana Borraginaceae 1 1
50 Cordia nodosa Borraginaceae 1 1
51 Cordia scabrida Borraginaceae 1 3 2 5 4 11 4 6 36
52 Cordia scabrifolia Borraginaceae 2 3 5
53 Cordia sellowiana Borraginaceae 1 1 1 4 7
54 Couratari guianensis Lecythidaceae 3 1 2 1 7
55 Couratari tennuicarpa Lecythidaceae 1 1 2
56 Croton matourensis Euphorbiaceae 7 7
57 Crudia tomentosa Caesalpinaceae 1 1 2
58 Cupania diphylla Sapindaceae 2 3 1 6
59 Cupania scrobiculata Sapindaceae 8 6 9 4 1 28
60 Dimorphandra sp Fabaceae 1 1
61 Dinizia sp. Caesalpinaceae 4 4
62 Diospyros praetermissa Ebenaceae 3 1 1 5
63 Dipterix odorata Fabaceae 1 1
64 Dodecastigma integrifolium Euphorbiaceae 1 1 4 5 8 19
65 Dolicarpus dentathus Dilenniaceae 1 1 2

446
Ambiente
No.
Espécie Família Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Floresta Floresta Floresta Total
Ord.
Alta1 Alta2 Alta 3 Alta 4 Alta 5 Alta 9 Baixa 9 Expl.7 Expl.8 Explor.10 Geral
66 Drypetes variabilis Euphorbiaceae 1 1
67 Duguetia calyciana Annonaceae 2 2 4
68 Duguetia flajellaris Annonaceae 1 1
69 Duguetia paraensis Annonaceae 2 2
70 Dulacia candida Annonaceae 2 3 1 4 1 1 12
71 Duroia macrophylla Rubiaceae 5 1 6
72 Dyospiros guianensis Ebenaceae 1 1
73 Ecclinusa guianensis Sapotaceae 1 2 3
74 Echweilera coriacea Lecythidaceae 2 4 2 6 5 14 4 5 16 13 71
75 Endicleria levelii Lauraceae 1 1
76 Endlicheria sp Lauraceae 1 1
77 Eperma sp Caesalpinaceae 1 1
78 Eperua purpurea Fabaceae 1 1 2
79 Erisma uncinatum Vochysiaceae 3 1 4
80 Erytroxilium macrophyllum Erytroxilaceae 2 1 1 4
81 Eschweilera amazonica Lecythidaceae 2 2
82 Eschweilera colina Lecythidaceae 2 2
83 Eschweilera grandiflora Lecythidaceae 1 5 1 7 7 21
84 Eschweilera pedicellata Lecythidaceae 1 1 1 1 4
85 Eschweilera sp Lecythidaceae 2 1 3
86 Eugenia sp. Myrtaceae 1 4 1 1 7
87 Eugenia anastamosans Myrtaceae 1 1
88 Eugenia biflora Myrtaceae 1 1
89 Eugenia brachipoda Myrtaceae 1 1
90 Eugenia cumpulata Myrtaceae 1 1
91 Eugenia omissa Myrtaceae 1 2 1 4
92 Eugenia patrisii Myrtaceae 1 1
93 Euxylophora parensis Rutaceae 1 1
94 Ficus maximus (vazio) 1 1
95 Fusaea longifolia Annonaceae 1 1 2
96 Geissospermum villosum Apocynaceae 7 1 2 1 11

anexos
97 Goupia glabra Celastraceae 2 1 2 1 6
98 Guapira noxia Nyctaginaceae 1 2 3
99 Quararibea guianensis (vazio) 1 1
100 Guarea guidonia Meliaceae 1 3 1 1 6
101 Guatteria poeppigiana Annonaceae 12 7 7 29 4 2 3 3 2 2 71
102 Guatteria schomburgkiana Annonaceae 3 3 6 1 13
103 Guatteria sp Annonaceae 3 3
104 Helicostyles tomentosa Moraceae 1 1 1 1 2 3 9
105 Hesteria barbata Olacaceae 1 1
106 Hevea brasiliensis Sterculiaceae 3 3
107 Hicronyma laxiflora Euphorbiaceae 1 1
108 Hieronyma laxiflora Euphorbiaceae 1 1
109 Hirtella eriandra Chrysobalanaceae 1 1 2
110 Hirtella excelsa Chrysobalanaceae 1 1 2
111 Hymenaea courbaril Papilionoideae 1 1
112 Hymenolobium cf. heterocarpum Papilionoideae 1 1
113 Inga sp. 2 Mimosaceae 2 2
114 Inga sp. 2 Mimosaceae 1 5 6
115 Inga alba Mimosaceae 14 9 9 8 3 5 1 8 6 2 65
116 Inga capitata Mimosaceae 1 5 1 7
117 Inga edulis Mimosaceae 2 2
118 Inga flagelliformis Mimosaceae 2 2
119 Inga laurina Mimosaceae 1 1 2
120 Inga marginata Mimosaceae 2 2
121 Inga paraensis Mimosaceae 1 2 2 5
122 Inga punctata Mimosaceae 2 1 3
123 Inga rubiginosa Mimosaceae 4 4 5 3 2 18
124 Inga stipularis Mimosaceae 1 1
125 Inga thibaudiana Mimosaceae 1 17 1 1 1 4 5 30
126 Iryanthera exoriza Myristicaceae 1 1
127 Iryanthera laevis Myristicaceae 1 1
128 Isertia longifolia Rubiaceae 1 1
129 Jacaranda copaia Bignoniaceae 7 2 9
130 Jacaratia spinosa Carycaceae 5 5
131 Kotchubaea insignis Rubiaceae 1 1
132 Lacistema aggregatum Lacistemaceae 1 2 3
133 Lacistema pubescens Lacistemaceae 3 5 8

447
Ambiente
No.
Espécie Família Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Floresta Floresta Floresta Total
Ord.
Alta1 Alta2 Alta 3 Alta 4 Alta 5 Alta 9 Baixa 9 Expl.7 Expl.8 Explor.10 Geral
134 Lacmella aculeata Apocynaceae 1 1 2
anexos

135 Lacunaria crenata Quiinaceae 1 1 1 1 3 7


136 Laetia procera Flacourtiaceae 1 1 1 3
137 Lecythis idatimon Lecythidaceae 3 2 10 15
138 Lecythis lurida Lecythidaceae 1 1
139 Lecythis pisons Lecythidaceae 2 2
140 Leretia sp Icacinaceae 1 1
141 Licania canensis Chrysobalanaceae 1 1
142 Licania guianensis Chrysobalanaceae 2 2
143 Licania heteromorpha Chrysobalanaceae 2 2
144 Licania licaniiflora Chrysobalanaceae 1 1
145 Licania octandra Chrysobalanaceae 1 1 2
146 Licania sclerophylla Chrysobalanaceae 3 3
147 Licaria sp Chrysobalanaceae 1 1
148 Mabea caudata Euphorbiaceae 7 4 3 1 1 7 3 26
149 Mabea taquari Euphorbiaceae 1 1
150 Macrolobium Caesalpinaceae 3 3
151 Macrolobium microcalyx Caesalpinaceae 3 1 2 2 8
152 Malouetia sp Apocynaceae 1 1
153 Mandevila sp. Apocynaceae 2 3 5
154 Manilkara amazonica Lecythidaceae 1 1 2
155 Manilkara huberi Lecythidaceae 1 1 1 3
156 Maquira guianensis Moraceae 4 2 1 7
157 Marmaroxylum racemosum 2 2
158 Matayba arborescens Sapindaceae 3 3
159 Mezilaurus itaiba Lauraceae 1 1
160 Miconia affins Melastomataceae 2 2
161 Miconia cuspidata Melastomataceae 4 4
162 Miconia tomentosa Melastomataceae 1 1
163 Micropholis guianensis Sapotaceae 2 1 3 1 1 8
164 Micropholis venulosa Sapotaceae 1 1
165 Minquartia guianensis Olacaceae 1 1 2
166 Mouriri brachyanthera Melastomataceae 1 1
167 Myrcia sp. Myrtaceae 3 3
168 Myrcia sp. Myrtaceae 1 1 2
169 Myrcia fallax Myrtaceae 9 1 1 11
170 Myrcia paivae Myrtaceae 1 1 2
171 Nectandra cuspidata Lauraceae 1 2 3
172 Neea floribunda Nyctaginaceae 11 3 2 17 1 34
173 Neea macrophylla Nyctaginaceae 1 1 2
174 Neea oppositifolia Nyctaginaceae 2 2
175 Neoptychacorpus apodanthus Flacourtiaceae 2 6 8
176 Neoraputia paraensis Rutaceae 1 1 2
177 Ocotea sp. Lauraceae 1 1
178 Ocotea caniculata Lauraceae 1 1
179 Ocotea caudata Lauraceae 1 1 2
180 Ocotea cujumari Lauraceae 1 1
181 Ocotea glomerata Lauraceae 2 2
182 Ocotea guianensis Lauraceae 1 3 1 5
183 Ocotea longifolia Lauraceae 1 1 1 1 4
184 Oenocarpus bacaba Arecaceae 1 1 2
185 Oxandra riedeliana Annonaceae 1 1
186 papo de mutum Quinaceae 4 4
187 Parinari sp Chrysobalanaceae 1 1 2
188 Parinari montana Chrysobalanaceae 1 1
189 Parkia gigantocarpa Mimosaceae 1 1
190 Parkia nitida Mimosaceae 1 1
191 Euxylophora paraensis Rutaceae 1 1 1 3
192 Peltogyne venosa Caesalpinaceae 1 1
193 Peschiera myriantha Apocynaceae 2 2
194 Poecilanthe effusa Leg. Papilionoideae 2 2 2 6
195 Poraqueiba guianensis Icacinaceae 3 2 5
196 Pouroma guianensis Cecropiaceae 3 1 4 6 10 2 26
197 Pouteria caimito Sapotaceae 4 2 6
198 Pouteria cladantha Sapotaceae 1 1 2
199 Pouteria decorticans Sapotaceae 2 2
200 Pouteria elegans Sapotaceae 3 1 2 2 1 9
201 Pouteria filipes Sapotaceae 1 1

448
Ambiente
No.
Espécie Família Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Floresta Floresta Floresta Total
Ord.
Alta1 Alta2 Alta 3 Alta 4 Alta 5 Alta 9 Baixa 9 Expl.7 Expl.8 Explor.10 Geral
202 Pouteria gongrijpii Sapotaceae 1 1 1 3
203 Pouteria guyanensis Sapotaceae 2 4 1 1 3 11
204 Pouteria hexapetala Sapotaceae 1 1 1 3
205 Pouteria hispida Sapotaceae 2 2
206 Pouteria jariensis Sapotaceae 5 2 6 13
207 Pouteria lasiocarpa Sapotaceae 1 1
208 Pouteria macrophylla Sapotaceae 1 1
209 Pouteria oblanceolata Sapotaceae 1 1
210 Pouteria oppositifolia Sapotaceae 1 1
211 Pouteria reticulata Sapotaceae 4 4
212 Pouteria sp Sapotaceae 1 1
213 Pouteria venosa Sapotaceae 1 2 3 1 7
214 Protium aracouchini Burseraceae 1 1 1 3
215 Protium filipes Burseraceae 1 1
216 Protium gigantheum Burseraceae 1 1
217 Protium heptaphyllum Burseraceae 1 1
218 Protium pallidum Burseraceae 2 3 1 10 8 10 34
219 Protium paniculatum Burseraceae 3 2 5
220 Protium robustum Burseraceae 1 1
221 Protium sagotianum Burseraceae 1 2 1 1 5
222 Protium spruceanum Burseraceae 8 1 1 2 2 2 16
223 Protium trifoliolatum Burseraceae 1 1 1 3 6
224 Pseudolmedia murure Moraceae 1 1
225 Pseudopiptadenia suaveolis Moraceae 2 2
226 Qualea albiflora Vochysiaceae 1 1
227 Raputia sp. Rutaceae 8 8
228 Rhabdodendron sp Rhabdodendraceae 6 2 8
229 Rinorea flavescens Violaceae 3 3
230 Rinorea neglecta Violaceae 2 1 1 4
231 Rinorea racemosa Violaceae 8 5 6 5 9 33
232 Rinorea riana Violaceae 8 6 9 12 35

anexos
233 Rollinia exsucca Violaceae 5 1 2 1 1 10
234 Saccoglotis guianensis Humiriaceae 1 1 2
235 Sagotia racemosa Euphorbiaceae 1 2 2 7 4 16
236 Salacia impressifolia Hippocrateaceae 2 1 3
237 Sapium lanceolatum Euphorbiaceae 1 1
238 Sapium marmieri Euphorbiaceae 1 1
239 Schefflera morototoni Araliaceae 1 3 3 1 3 1 3 1 1 17
240 Sclerolobium paniculatum Caesalpinaceae 1 1
241 Sclerolobium paraense Caesalpinaceae 2 2
242 Securidaca sp Polygonaceae 1 1
243 Simaba cedron Monimiaceae 1 1 2
244 Simaba guianensis Simarubaceae 1 1
245 Simarouba amara Simarubaceae 4 2 6
246 Siparuna guianensis Monimiaceae 15 2 5 2 2 26
247 Sloanea brevipes Elaeocarpaceae 1 1
248 Sloanea grandiflora Elaeocarpaceae 1 1 1 1 4
249 Sloanea sp Elaeocarpaceae 1 1
250 Solanum sp. Solanaceae 1 1
251 Solanum campaniforme Solanaceae 1 1
252 Solanum salviifolium Solanaceae 1 1 2
253 Sterculia sp. Sterculiaceae 21 21
254 Sterculia elata Sterculiaceae 1 1 5 7
255 Sterculia pruriens Sterculiaceae 2 1 2 1 2 5 13
256 Strychnos araguaensis Loganiaceae 1 1
257 Stryphnodendron guianensis Mimosaceae 13 3 1 4 21
258 Stryphnodendron occhionianum Mimosaceae 1 1
259 Stryphnodendron paniculatum Mimosaceae 1 1 2
260 Stryphnodendron pulcherimum Mimosaceae 2 5 1 1 2 11
261 Swartzia sp. Caesalpinaceae 2 2
262 Swartzia arborescens Caesalpinaceae 2 1 3
263 Swartzia brachyrachis Caesalpinaceae 2 1 1 1 5
264 Swartzia laevicarpa Caesalpinaceae 1 1
265 Swartzia laurifolia Caesalpinaceae 1 1 2
266 Symphonia globulifera Clusiaceae 1 1
267 Tabebuia serratifolia Bignoniaceae 1 1
268 Tabernamontana angulata Apocynaceae 2 2
269 Tachigalia mirmecophila Caesalpinaceae 2 2 1 1 6

449
Ambiente
No.
Espécie Família Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira Floresta Floresta Floresta Total
Ord.
Alta1 Alta2 Alta 3 Alta 4 Alta 5 Alta 9 Baixa 9 Expl.7 Expl.8 Explor.10 Geral
270 Talisia sp. Sapindaceae 1 1 1 3
anexos

271 Talisia carinata Sapindaceae 1 1


272 Talisia longifolia Sapindaceae 2 2
273 Talisia microphylla Sapindaceae 1 1
274 Talisia mollis Sapindaceae 2 6 2 1 3 14
275 Tapirira guianensis Anacardiaceae 14 3 2 17 4 2 3 2 47
276 Tetragastris altissima Burseraceae 1 1
277 Tetragastris panamensis Burseraceae 1 1
278 Theobroma speciosum Sterculiaceae 9 1 10
279 Theobroma subinacanum Sterculiaceae 1 1 2
280 Thyrsodium paraense Anacardiaceae 1 1 3 5
281 Touroulia guianensis Quiinaceae 1 1
282 Tovomita brasiliensis Clusiaceae 3 3
283 Tratinickia burserifolia Burseraceae 4 1 1 6
284 Tratinickia lawrencei Burseraceae 1 1
285 Trichilia sp. Meliaceae 1 1
286 Trichilia sp. Meliaceae 2 2
287 Trichilia micrantha Meliaceae 1 1 3 5
288 Trichilia quadrijuga Meliaceae 1 1
289 Trichilia schomburkiana Meliaceae 1 2 3
290 Tyrsodium paraensis Anacardiaceae 1 1
291 Uncaria guianensis Rubiaceae 1 1
292 unha de morcego Rubiaceae 2 2
293 Vantanea guianensis Humiriaceae 1 1
294 Vantanea parviflora Humiriaceae 1 1
295 Virola calophylla Myristicaceae 1 1 2
296 Virola elongata Myristicaceae 2 1 3
297 Virola micheli Myristicaceae 1 3 1 1 1 3 10
298 Virola sebifera Myristicaceae 9 9
299 Virola surinamensis Myristicaceae 1 1
300 Vismia guianensis Clusiaceae 8 1 4 1 2 19 3 38
301 Xylopia Annonaceae 1 1
302 Xylopia cayenensis Annonaceae 1 2 3
303 Xylopia nitida Annonaceae 7 1 8
304 Zantroxyllum regnelianum Rutaceae 2 1 2 1 6
305 Zygia racemosa Mimosaceae 1 1 2
Abundância Total 175 173 185 165 185 185 150 160 185 186 1749
No. Espécies 55 69 61 58 83 81 58 71 72 78 305

450
ANEXO 4 – Composição de espécies de peixes das bacias dos rios Capim e Acará-Mirim, Estado do Pará.

Família Nome científico Bacia do Rio Capim Bacia do Rio Acará-Mirim

Acestrorhynchidae Acestrorhynchus falcatus (Bloch,1974) • •


Acestrorhynchidae Acestrorhynchus microlepis (Schomburgk, 1841) • •
Acestrorhynchidae Acestrorhynchus falcirostrus (Cuvier,1819) •
Acestrorhynchidae Acestrorhynchus nasutus Eigenmann, 1912 •
Anostomidae ANOSTOMIDAE gen. •
Anostomidae Anostomus aff. spiloclistron Winterbottom, 1974 •
Anostomidae Laemolyta garmani (Borodin, 1931) •
Anostomidae Laemolyta sp. •
Anostomidae Leporinus affinis Günther, 1864 •
Anostomidae Schizodon sp.1 •
Anostomidae Schizodon sp.2 •
Apteronotidae Apteronotus sp. •
Aspredinidae Bunocephalus sp. •
Auchenipteridae Ageneiosus sp.1 • •
Auchenipteridae Ageneiosus sp.2 •
Auchenipteridae Auchenipterichthys longimanus (Günther, 1864) • •
Auchenipteridae Auchenipterus nuchalis • •
Auchenipteridae Centromochlus sp. • •
Auchenipteridae Trachelyopterus galeatus (Linnaeus, 1766) •
Belonidae Potamorrhaphis guianensis (Jardine, 1843) • •
Callichthyidae Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) • •
Callichthyidae Corydoras sp. •
Characidae Agoniates anchovia Eigenmann, 1914 •
Characidae Astyanax sp.1 •
Characidae Astyanax sp.2 •
Characidae Brachychalcinus sp. •
Characidae Brycon sp. •
Characidae Bryconops aff. melanurus (Bloch, 1794) • •
Characidae Bryconops sp. • •

anexos
Characidae Characidium sp. •
Characidae Charax aff. gibbosus (Linnaeus, 1758) • •
Characidae Hyphessobrycon cf. copelandi Durbin, 1908 • •
Characidae Iguanodectes spilurus (Günther, 1864) • •
Characidae Metynnis hypsauchen (Mulher & Troschel, 1844) •
Characidae Microcharacidium sp. •
Characidae Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882) • •
Characidae Moenkhausia aff. sancterfilomenae (Steindachner, 1907) •
Characidae Moenkhausia sp. • •
Characidae Myleus aff. micans (Lütken, 1875) •
Characidae Pygocentrus nattereri Kner, 1858 •
Characidae Pristobrycon eigenmanni Norman,1929 •
Characidae Serrasalmus rhombeus (Linnaeus,1766) •
Characidae Triportheus albus Cope, 1872 •
Chilodontidae Caenotropus aff. maculosus (Eigenmann, 1912) • •
Chilodontidae Chilodus cf. punctatus Muller & Troschel, 1844 •
Cichidae Cichla sp. •
Cichlidae Acaronia nassa (Heckel,1840) •
Cichlidae Aequidens sp. • •
Cichlidae Apistrograma sp.1 • •
Cichlidae Apistrograma sp.2 • •
Cichlidae Cichlasoma sp. •
Cichlidae Crenicichla sp1 • •
Cichlidae Crenicichla sp.2 •
Cichlidae Geophagus sp. • •
Cichlidae Heros severus Heckel, 1840 • •
Cichlidae Heros sp. •
Cichlidae Mesonauta aff. festivus (Heckel, 1840) • •
Cichlidae Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) •
Crenuchidae Crenuchus spilurus Günther, 1863 • •
Boulengerella maculata
Ctenoluciidae •
(Valenciennes in Cuvier &Valenciennes, 1849)
Curimatidae Cyphocharax aff. spilurus (Günther, 1864) •
Curimatidae Curimatopsis aff. evelynae Géry, 1964 •
Curimatidae Curimatopsis macrolepis (Steindachner, 1876) • •
Curimatidae Cyphocharax sp. •
Cynodontidae Cynodon gibbus Spix & Agassiz, 1829 •
Cynodontidae Hydrolycus scomberoides (Cuvier, 1819) •

451
Família Nome científico Bacia do Rio Capim Bacia do Rio Acará-Mirim

Doradidae DORADIDAE gen. •


Engraulididae Anchovia surinamensis (Bleeker, 1866) • •
anexos

Engraulididae Pterengraulis atherinoides (Linnaeus, 1766) • •


Erythrinidae Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) • •
Gasteropelecidae Carnegiella strigata (Günther, 1864) •
Gymnotidae Gymnotus aff. carapo Linnaeus, 1758 •
Gymnotidae Gymnotus sp. •
Hemiodontidae Hemiodus semitaeniatus Kner, 1858 •
Hemiodontidae Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794) • •
Heptapteridae Gladioglanis sp. •
Hypopomidae HYPOPOMIDAE gen.1 •
Hypopomidae HYPOPOMIDAE gen.2 • •
Hypopomidae HYPOPOMIDAE gen.3 •
Hypopomidae HYPOPOMIDAE gen.4 •
Hypopomidae HYPOPOMIDAE gen.5 •
Hypopomidae Hypopygus cf. lepturus Hoedeman, 1962 • •
Hypopomidae Steatogenys sp. •
Lebiasinidae Nannostomus beckfordi Günther, 1872 • •
Lebiasinidae Nannostomus eques Steindachner, 1876 • •
Lebiasinidae Nannostomus marginatus Eigenmann, 1909 • •
Lebiasinidae Pyrrhulina cf. brevis Steindachner, 1876 • •
Loricariidae Farlowela sp. •
Loricariidae Hemiodontichthys sp. •
Loricariidae Ancistrus sp. •
Loricariidae LORICARIIDAE gen. • •
Loricariidae Peckoltia sp. •
Loricariidae Pseudoloricaria sp. • •
Loricariidae Rineloricaria sp. • •
Pimelodidae Pimelodus ornatus Kner, 1858 •
Pimelodidae Pimelodus sp.1 • •
Pimelodidae Pimelodus sp.2 •
Pimelodidae Pseudoplatystoma fasciatum (Linnaeus, 1766) •
Poeciliidae Poecilia sp. •
Polycentridae Monocirrhus polyacanthus Heckel, 1840 •
Pristigasteridae Pellona castealneana (Valenciennes, 1847) •
Pristigasteridae Pellona flavipinnis (Valenciennes, 1836) •
Rhamphichithydae Rhamphichthys marmoratus Castelnau, 1855 •
Rhamphichithydae Gymnorhamphichthys sp. • •
Rivulidae Rivulus cf. compressus Henn, 1916 • •
Scianidae Pachypops sp.1 • •
Scianidae Pachypops sp.2 •
Scianidae Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) • •
Sternopygidae Eignmannia sp. • •
Sternopygidae STERNOPYDIDAE gen. •
Sternopygidae Sternopygus cf. macrurus (Bloch & Schneider, 1801) •
Total 94 61

452
ANEXO 5 - Incidências das espécies de peixes nos igarapés das bacias dos rios Capim e Acará-Mirim, Estado do Pará.

Espécie / Morfoespécie Igarapés da Bacia do Rio Capim Igarapés da Bacia do Rio Acará-Mirim

Acaronia nassa (Heckel,1840) •


Acestrorhynchus falcatus (Bloch,1974) •
Acestrorhynchus falcirostris (Cuvier,1819) •
Acestrorhynchus nasutus Eigenmann, 1912 •
Aequidens sp. • •
ANOSTOMIDAE gen. •
Anostomus aff. spiloclistron Winterbottom, 1974 •
Apistrograma sp.1 • •
Apistrograma sp.2 • •
Astyanax sp.1 •
Astyanax sp.2 •
Bryconops aff. melanurus (Bloch, 1794) • •
Carnegiella strigata (Günther, 1864) •
Characidium sp. •
Charax aff. gibbosus (Linnaeus, 1758) • •
Chilodus punctatus Muller & Troschel, 1844 •
Cichlasoma sp. •
Crenicichla sp.1 • •
Crenicichla sp.2 •
Crenuchus spilurus Günther, 1863 • •
Cuyrimatopsis macrolepis (Steindachner, 1876) • •
Eignmannia sp. • •
Farlowela sp. •
Geophagus sp. •
Gladioglanis sp. •
Gymnorhamphichthys sp. • •
Gymnotus aff. carapo Linnaeus, 1758 •
Gymnotus sp. •
Hemiodontichthys sp. •
Heros severus Heckel, 1840 • •

anexos
Heros sp. •
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) • •
Hyphessobrycon cf. copelandi Durbin, 1908 • •
Hypopomus sp.1 •
Hypopomus sp.2 • •
Hypopygus cf. lepturus Hoedeman, 1962 • •
Iguanodectes spilurus (Günther, 1864) • •
Mesonauta aff. festivus (Heckel, 1840) • •
Metynnis hypsauchen (Mulher & Troschel, 1844) •
Microcharacidium sp. •
Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882) • •
Moenkhausia aff. sancterfilomenae (Steindachner, 1907) •
Moenkhausia sp. •
Monocirrhus polyacanthus Heckel, 1840 •
Nannostomus beckfordi Günther, 1872 • •
Nannostomus eques Steindachner, 1876 • •
Nannostomus marginatus Eigenmann, 1909 • •
Poecilia sp. •
Potamorrhaphis cf. guianensis (Jardine, 1843) • •
Pyrrhulina cf. brevis Steindachner, 1876 • •
Loricaria sp. • •
Rineloricaria sp. • •
Rivulus cf. compressus Henn, 1916 • •
Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) •
Sternopygidae sp. •
Sternopygus cf. macrurus (Bloch & Schneider, 1801) •

453
Anexo 6 – Relação das espécies registradas da Classe Amphibia nos municípios de Paragominas,
Ulianópolis, Tomé-Açu, Ipixuna do Pará e Aurora do Pará.
anexos

Ordem Família Espécie Primário Secundário


Gymnophiona Caeciliidae Typhlonectes compressicauda (Duméril & Bibron, 1841) X
Atelopus spumaricus Cope, 1871 X
Bufo guttatus Schneider, 1799 X X
Bufonidae
Bufo margaritifer Laurenti, 1768 X X
Bufo marinus (Linnaeus 1758) X X
Colostethus gr. marchesianus X X
Dendrobatidae Dendrobates galactonotus Steindachner, 1864 X
Epipedobates trivittatus (Spix, 1824) X
Dendropsophus leucophyllatus (Beireis, 1783) X X
Dendropsophus melanargyreus (Cope, 1887) X X
Dendropsophus gr. microcephala X X
Dendropsophus minutus (Peters, 1872) X X
Dendropsophus walfordi (Bokermann, 1962) X X
Hypsiboas boans (Linnaeus, 1758) X
Hypsiboas fasciatus (Günther, 1859 “1858”) X
Hypsiboas geographicus (Spix, 1824) X
Hypsiboas granosus (Boulenger, 1882) X X
Anura
Hypsiboas multifasciatus (Günther, 1859”1858”) X X
Hypsiboas punctatus (Schneider, 1799) X
Osteocephalus leprieurii (Duméril & Bibron, 1841) X X
Hylidae Osteocephalus oophagus Jungfer & Schiesari, 1995 X X
Phyllomedusa bicolor Boddaert, 1772 X
Phyllomedusa hypochondrialis (Daudin, 1800) X
Phyllomedusa tomopterna (Cope, 1868) X
Phyllomedusa vaillantii Boulenger, 1882 X
Scinax boesemani (Goin, 1966) X X
Scinax nebulosus (Spix, 1824) X
Scinax gr. rostratus X X
Scinax ruber (Laurenti, 1768) X X
Scinax gr. ruber X X
Scinax x-signatus (Spix, 1824) X
Trachycephalus resinfictrix (Goeldi, 1907) X
Trachycephalus venulosus (Laurenti, 1768) X X
Adenomera andreae (Muller, 1923) X
Adenomera sp. X
Eleutherodactylus fenestratus (Steindachner, 1864) X
Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799) X
Leptodactylus knudseni Heyer, 1972 X
Leptodactylus labyrinthicus (Spix, 1824) X X
Anura Leptodactylidae
Leptodactylus macrosternum Miranda-Ribeiro, 1926 X X
Leptodactylus mystaceus (Spix, 1824) X X
Leptodactylus pentadactylus (Laurenti, 1768) X X
Leptodactylus petersii (Steindachner, 1864) X X
Leptodactylus gr. podicipinus X
Physalaemus ephippifer (Steindachner, 1864) X X

454
Anexo 7 – Relação das espécies de Anfisbenas e Lagartos registradas para os municípios de Paragominas,
Ulianópolis, Tomé-Açu, Ipixuna do Pará e Aurora do Pará.

Ordem Família Espécie Primário Secundário


Amphisbaena fuliginosa Linnaeus, 1758 X X
Anfisbênias Amphisbaenidae Amphisbaena mitchelli Procter, 1923 X
Aulura anomala Barbour, 1914 X
Gonatodes humeralis (Guichenot, 1855) X X
Gonatodes sp. X
Coleodactylus amazonicus (Andersson, 1918) X
Gekkonidae
Gekkonideo jovem X
Hemidactylus mabouia (Moreau de Jonnès, 1818) X
Thecadactylus rapicauda (Houttuyn, 1782) X
Gymnophthalmidae Leposoma parietale (Cope, 1885) X
Anolis fuscoauratus D’Orbigny, 1837 X X
Anolis nitens (Wagler, 1830) X
Polychrotidae Anolis ortonii Cope, 1868 X
Lagartos
Anolis punctatus Daudin, 1802 X
Polychrus marmoratus (Linnaeus, 1758)
Scincidae Mabuya nigropunctata (Spix, 1825) X X
Ameiva ameiva (Linnaeus, 1758) X X
Cnemidophorus cryptus Cole & Dessauer, 1993 X
Teiidae
Cnemidophorus lemniscatus (Linnaeus, 1758) X
Kentropyx calcarata Spix, 1825 X X
Plica umbra (Linnaeus, 1758) X
Tropiduridae Tropidurus oreadicus Rodrigues, 1987 X
Uranoscodon superciliosus (Linnaeus, 1758) X X

Anexo 8 – Relação das espécies de Serpentes registradas para os municípios de Paragominas,

anexos
Ulianópolis, Tomé-Açu, Ipixuna do Pará e Aurora do Pará.

Família Espécie Primário Secundário


Aniliidae Anilius scytale (Linnaeus, 1758) X
Boa constrictor Linnaeus, 1758 X
Boidae Corallus hortulanus (Linnaeus, 1758) X X
Epicrates cenchria (Linnaeus, 1758) X X
Atractus albuquerquei Cunha & Nascimento, 1983 X
Chironius bicarinatus (Wied, 1820) X
Chironius fuscus (Linnaeus, 1758) X
Chironius multiventris Schmidt & Walker, 1943 X
Chironius scurrulus (Wagler, 1824) X
Dipsas catesbyi (Sentzen, 1796) X X
Dipsas variegata X
Drymoluber dichrous (Peters, 1863) X
Erythrolamprus aesculapii (Linnaeus, 1766) X
Helicops angulatus (Linnaeus, 1758) X X
Hydrops martii (Wagler, 1824) X
Imantodes cenchoa (Linnaeus, 1758) X
Colubridae
Leptodeira annulata (Linnaeus, 1758) X X
Liophis cobella (Linnaeus, 1758) X
Liophis sp. X
Oxyrhopus melanogenys (Tschudi, 1845) X
Philodryas viridissima (Linnaeus, 1758) X
Pseustes poecilonotus (Günther, 1858) X
Pseustes sulphureus (Wagler, 1824) X
Sibon cf. nebulata (Linnaeus, 1758) X
Siphlophis cervinus (Laurenti, 1768) X
Tantilla melanocephala (Linnaeus, 1758) X
Xenodon rhabdocephalus (Wied, 1824) X
Xenodon severus (Linnaeus, 1758) X
Bothrops atrox (Linnaeus, 1758) X
Bothrops brazili Hoge, 1954 X
Viperidae
Lachesis muta (Linnaeus, 1766) X

455
Anexo 9 – Diversidade de mamíferos não voadores de médio e grande porte inventariada durante as campanhas do Atlas Socioambiental.
Status de conservação segundo a IUCN (2003) e Rylands e Chiarello (2003).
Categorias: CR - criticamente ameaçada; EN - ameaçada; VU - vulnerável; NT - quase ameaçada; DD - deficiência de dados e E - estável.
Localidades inventariadas: IP - Ipixuna do Pará; TA - Tomé-Açu e PA - Paragominas.
anexos

Localidades Inventariadas
Táxon Nome Comum Status de Conservação
IP TA PA
XENARTHRA
MYRMECOPHAGIDAE
Ciclopes didactylus Tamanduaí E X X X
Myrmecophaga tridactyla Tamanduá-bandeira VU X X
Tamandua tetradactyla Tamanduá-de-colete E X X X
BRADYPODIDAE
Bradypus variegatus Preguiça-bentinha E X X X
MEGALONYCHIDAE
Choloepus didactylus Preguiça-real DD X X X
DASYPODIDAE
Cabassous unicinctus Tatu-rabo-de-couro E X X X
Dasypus kappleri Tatu-quinze-quilos E X X
Dasypus novemcinctus Tatu-galinha E X X X
Dasypus septemcinctus Tatu-sete-cintas E X
Euphractus sexcinctus Tatu-peba E X X X
Priodontes maximus Tatu-canastra EN X X
PRIMATES
CALLITRICHIDAE
Saguinus niger Sauim-preto E X X X
AOTIDAE
Aotus infulatus Macaco-da-noite E X X X
CEBIDAE
Cebus apella Macaco-prego E X X X
Cebus kaapori Caiarara CR X X
Saimiri sciureus Macaco-de-cheiro E X X
PITHECIIDAE
Chiropotes satanas Cuxiú-preto EN X X X
ATELIDAE
Alouatta belzebul Guariba-das-mãos-ruivas E X X X
CARNIVORA
CANIDAE
Atelocynus microtis Cachorro-do-mato DD X X
Cerdocyon thous Raposa E X X X
Speothos venaticus Cachorro-do-mato-vinagre VU X X
PROCYONIDAE
Nasua nasua Quati E X X X
Potos flavus Jupará E X X X
Procyon cancrivorus Guaxinim E
MUSTELIDAE
Eira barbara Irara E X X X
Galictis vittata Furão E
Lontra longicaudis Lontra DD X X
Mustela africana Furão DD X
Pteronura brasiliensis Ariranha EN X
FELIDAE
Leopardus pardalis Jaguatirica E X
Leopardus tigrinus Gato-pequeno E X
Leopardus wiedii Gato-maracajá E X X
Herpailurus yagouaroundi Gato-mourisco E X X
Panthera onca Onça-pintada NT X X X
Puma concolor Onça-vermelha NT X X X
CETACEA
DELPHINIDAE
Inia geoffrensis Boto-cor-de-rosa VU X
Sotalia fluviatilis Boto-tucuxi DD X X
SIRENIA
TRICHECHIDAE
Trichechus inunguis Peixe-boi VU X
PERISSODACTYLA
TAPIRIDAE
Tapirus terrestris Anta VU X X

456
Localidades Inventariadas
Táxon Nome Comum Status de Conservação
IP TA PA
ARTIODACTYLA
TAYASSUIDAE
Tayassu tajacu Caititu E X X X
Tayassu pecari Queixada E X X
CERVIDAE
Mazama americana Veado-vermelho DD X X X
Mazama gouazoubira Veado-branco DD X X X
RODENTIA
SCIURIDAE
Sciurus aestuans Quatipuru E X X X
ERETHIZONTIDAE
Coendou prehensilis Coandu E X X X
Coendou koopmani Coanduí E X X
HYDROCHAERIDAE
Hydrochaeris hydrochaeris Capivara E X X X
AGOUTIDAE
Agouti paca Paca E X X X
DASYPROCTIDAE
Dasyprocta prymnolopha Cotia-do-dorso-preto E X X X
Dasyprocta leporina Cotia-vermelha X X
LAGOMORPHA
LEPORIDAE
Sylvilagus brasiliensis Tapeti E X X

anexos

457
ÍNDICE CARTOGRÁFICO
índice cartográfico

AGRICULTURA, Produção agrícola: mandioca, feijão ESPAÇO URBANO, Mapa de integração global – Tomé-Açu . . . . . . . 352
e pimenta-do-reino (2005) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250 ESPAÇO URBANO, Mapa de integração global – Ulianópolis . . . . . . 353
AGRICULTURA, Produção agrícola: milho, ESPAÇO URBANO, Mapa de integração local – Aurora do Pará . . . . . 352
arroz e soja (2005) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253
ESPAÇO URBANO, Mapa de integração local – Ipixuna do Pará . . . . 352
Anfíbios, lagartos e serpentes – campanhas de campo . . . . . . . . . 157
ESPAÇO URBANO, Mapa de integração local – Paragominas . . . . . . 353
Anfíbios, lagartos e serpentes – composição de espécies . . . . . . . 160
ESPAÇO URBANO, Mapa de integração local – Tomé-Açu. . . . . . . . . 352
Anfíbios, lagartos e serpentes – espécies indicadoras . . . . . . . . . . 161
ESPAÇO URBANO, Mapa de integração local – Ulianópolis . . . . . . . 353
ASSENTAMENTOS RURAIS, Distribuição de lotes da
ESPAÇO URBANO, Uso do solo – Aurora do Pará . . . . . . . . . . . . . . . 356
Colônia de Tomé-Açu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 347
ESPAÇO URBANO, Uso do solo – Ipixuna do Pará . . . . . . . . . . . . . . . 358
ASSENTAMENTOS RURAIS, Projetos de Assentamentos
Rurais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 298 ESPAÇO URBANO, Uso do solo – Paragominas . . . . . . . . . . . . . . . . . 360

ASSENTAMENTOS RURAIS, Trabalho de campo – ESPAÇO URBANO, Uso do solo – Tomé-Açu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 354
locais visitados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 294 ESPAÇO URBANO, Indicadores socioeconômicos –
Aves – campanhas de campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 Aurora do Pará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 378

Aves – ocorrência de espécies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 ESPAÇO URBANO, Indicadores socioeconômicos –


Ipixuna do Pará. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 379
CAÇA, Cobertura vegetal das residências onde se realizou
as entrevistas (carta-imagem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227 ESPAÇO URBANO, Indicadores socioeconômicos – Paragominas . . . 380

CLIMA, Distribuição de chuvas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 ESPAÇO URBANO, Indicadores socioeconômicos – Quatro Bocas . . 376

Desmatamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 399 ESPAÇO URBANO, Indicadores socioeconômicos – Tomé-Açu . . . . . 377

DESMATAMENTO – Grau de desmatamento a partir do ESPAÇO URBANO, Indicadores socioeconômicos – Ulianópolis . . . . 382
local de residência dos entrevistados (caça, carta-imagem) . . . . . 230 Estradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 402
ECONOMIA, Empregos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 Estradas não-oficiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
ECONOMIA, Pecuária – principais rebanhos . . . . . . . . . . . . . . 172 ESTRUTURA FUNDIÁRIA, Situação fundiária . . . . . . . . . . . . . . . . . 275
ECONOMIA, Setores de atividade – participação do valor Geologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
adicionado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
Hidrografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
ENERGIA ELÉTRICA, Rede elétrica – linhas de transmissão . . 394
HIDROGRAFIA, Contexto das bacias hidrográficas . . . . . . . . . . . . . . . 97
Ensino Fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
HIDROGRAFIA, Hierarquia fluvial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Ensino Médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
HISTÓRICO, Capitanias do Grão-Pará – 1616 a 1753 . . . . . . . . . . . . . 31
Ensino Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
HISTÓRICO, Engenhos, Fábricas de Madeira e Agricultura de
ENSINO, Não freqüentam a escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194 Subsistência no Grão-Pará – Século XVIII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
ENSINO, Número de docentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192 HISTÓRICO, Evolução da ocupação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
ENSINO, Número de escolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 HISTÓRICO, Evolução dos fluxos de pessoas e mercadorias . . . . . . . . 46
ENSINO, Pós-graduados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194 HISTÓRICO, Mapa Geral do Bispado do Pará (1769). . . . . . . . . . . . . . 38
ENSINO, Taxa de analfabetismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194 HISTÓRICO, O Estado e Capitanias do Grão-Pará e Rio Negro
ENSINO, Taxa de matrícula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190 com as do Maranhão e do Piahuy (1778) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

ESPAÇO URBANO, Carta-imagem de Aurora do Pará . . . . . . 318 HISTÓRICO, Pequeno Atlas do Maranhão e Grão-Pará (1629) . . . . . . 34

ESPAÇO URBANO, Carta-imagem de Ipixuna do Pará . . . . . . 320 INDÚSTRIA MADEIREIRA, Acessibilidade econômica da
atividade madeireira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 238
ESPAÇO URBANO, Carta-imagem de Tomé-Açu . . . . . . . . . . 316
INDÚSTRIA MADEIREIRA, Pólos e Centros Madeireiros. . . . . . . . . 234
ESPAÇO URBANO, Cartas-imagem de Paragominas . . . . . . . . 322
INDÚSTRIA MADEIREIRA, Zonas Madeireiras do Estado do Pará . 235
ESPAÇO URBANO, Cartas-imagem de Ulianópolis . . . . . . . . 338
LANDSAT-TM, Mosaico da área de estudo – 2004 . . . . . . . . . . . . . . . . 430
ESPAÇO URBANO, Manchas urbanas – 2004
(cartas-imagem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 306 LITERATURA, Mapa-síntese da produção bibliográfica . . . . . . . . . . . . 413

ESPAÇO URBANO, Mapa de integração global – LITERATURA, Produção bibliográfica: áreas de concentração do
Aurora do Pará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 352 conjunto e pesquisas bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 414

ESPAÇO URBANO, Mapa de integração global – LITERATURA, Produção bibliográfica: pequena produção e
Ipixuna do Pará. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 352 estudos agrícolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 415

ESPAÇO URBANO, Mapa de integração global – Localidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66


Paragominas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353 Mamíferos – campanhas de campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

458
Mamíferos – espécies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 SERVIÇOS, Abastecimento de água domiciliar – 2000 . . . . . . . . . . . . . 198
Mamíferos – gêneros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 SERVIÇOS, Destinação do lixo domiciliar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200
Mapa-base da área de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 SERVIÇOS, Instalação sanitária domiciliar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199
Mesorregiões do Estado do Pará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 Setores Censitários (geral área de estudo) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 432
MIGRAÇÃO, Fluxos migratórios por mil habitantes, segundo as SOLOS, Aptidão agrícola das terras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
regiões de origem – 2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186 SOLOS, Pedologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
MINERAÇÃO INDUSTRIAL, Distribuição de direitos Minerários . . 243 Uso da terra – década de 1950 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
MINERAÇÃO INDUSTRIAL, Minerodutos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245 Uso do solo – 1985, 1990, 1995, 2000 e 2004. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
MUNICÍPIOS, Evolução da malha municipal – 1950, 1960, 1980, Vegetação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
1988 e 1992 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
VEGETAÇÃO, Cobertura florestal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 398
Peixes – campanhas de campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
VEGETAÇÃO, Cobertura vegetal – campanhas de campo . . . . . . . . . . . 112
Peixes – composição de espécies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
VEGETAÇÃO, Cobertura Florestal e Planos de Manejo Florestal . . . . 241
Peixes – diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Peixes – riqueza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
PLANIALTIMETRIA, Cartas DSG- Ministério do Exército . . . . . . . . . 428
População absoluta por setores censitários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
POPULAÇÃO INDÍGENA, Aldeias da Terra Indígena Alto
Rio Guamá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287
POPULAÇÃO INDÍGENA, Terras Indígenas no Estado do Pará . . . . 286
POPULAÇÃO, Causa dos óbitos – 2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206
POPULAÇÃO, Mortalidade – 2000 a 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205
POPULAÇÃO, Natalidade – 2000 a 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204
QUEIMADAS, Focos de calor – 2002 a 2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 400
QUEIMADAS, Focos de calor – 2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 240
Quelônios e crocodilianos – campanhas de campo . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
Quelônios e crocodilianos – censo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
QUILOMBOLAS, Terras de Pretos (quilombos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 290
Regiões e Sub-regiões Paisagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 406
RELEVO, Hipsometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
RELEVO, Localização dos perfis topográficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
RELEVO, Regiões Geomorfológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
RELEVO, Setores Morfológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
RELEVO, Unidades Morfológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
RELIGIÃO, Distribuição das religiões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221
Renda por setores censitários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
SAÚDE, Administração dos estabelecimentos de saúde – 2006 . . . . . . 210
SAÚDE, Casos de dengue – 2000 a 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213
SAÚDE, Casos de hanseníase – 2000 a 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216
SAÚDE, Casos de malária – 2003 a 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214
SAÚDE, Casos de tuberculose – 2000 a 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
SAÚDE, Causas das internações hospitalares – 2005 . . . . . . . . . . . . . . . 207
SAÚDE, Cobertura Populacional do Programa de Agentes
Comunitários da Saúde – 2000 a 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
SAÚDE, Cobertura Populacional do Programa Saúde da Família –
2000 a 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202
SAÚDE, Estabelecimentos de saúde – 2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
SAÚDE, Regionais de Saúde no Estado do Pará – 2006 . . . . . . . . . . . . 196

459
SOBRE OS AUTORES
sobre os autores

ADALBERTO VERÍSSIMO CARLOS SOUZA JÚNIOR EDNA S. FERREIRA SALES


Possui graduação em Agronomia pela Secretário Executivo e Pesquisador Sênior do Ins- Graduada em Ciências Contábeis pela UFPA e
Faculdade de Ciências Agrárias do Pará tituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia pós-Graduada em Políticas Públicas e Gestão Estra-
(FCAP), atual Universidade Federal Rural (IMAZON). Geólogo (UFPA). M.Sc. Ciências do tégica em Saúde pela mesma instituição. Ocupante
da Amazônia (UFRA) (1989), e mestrado Solo com ênfase em Sensoriamento Remoto (Uni- do cargo de Analista de Sistemas do Ministério da
em Ecologia pela Universidade Estadual versidade Estadual da Pensilvânia - EUA). PhD (Uni- Saúde e cedida ao Centro Técnico-Operacional
da Pensilvânia (1995). Atualmente é pes- versidade da Califórnia - Santa Bárbara - UCSB). do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) em
quisador do Instituto do Homem e Meio Belém, atuando na Coordenação de Informações.
Ambiente da Amazônia (IMAZON). CARLOS ROMANO RAMOS
Geólogo pela UFPA. Especialista em Geolo- ELDIANNE MOREIRA DE LIMA
ALEXANDRE ALEIXO gia Econômica e Economia Mineral. Fez parte da Bacharel em Ciências Biológicas pela UFPA,
Graduado e mestre em Ciências Bioló- equipe técnica do Instituto do Desenvolvimento mestre em Psicologia pelo curso de Pós-gradua-
gicas pela Universidade Estadual de Cam- Econômico e Social do Pará (IDESP). Coordenou ção em Teoria e Pesquisa do Comportamento pela
pinas (UNICAMP), doutor em Zoologia o Laboratório de Análises Espaciais do NAEA/ mesma instituição em que foi graduada. Desenvol-
pela Louisiana State University (EUA). UFPA. Desde 2007 é consultor na Secretaria de ve há quatro anos o monitoramento de mamíferos
Atualmente é pesquisador no Setor de Or- Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia do Estado na Estação Científica Ferreira Penna, em Melgaço
nitologia do Museu Paraense Emílio Go- do Pará (SEDECT-PA). (PA), por meio de convênio Museu Paraense Emí-
eldi (MPEG) e desenvolve pesquisas nas lio Goeldi (MPEG) e Conservação Internacional
áreas de taxonomia, sistemática, biogeo- CAROLINA CIGERZA DE CAMARGO do Brasil (CI-Brasil).
grafia, conservação e evolução de aves. Licenciada e bacharel em Ciências Biológicas
pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). ELIS MIRANDA
ALMIR VIEIRA SILVA Mestre em Zoologia pelo Museu Paraense Emílio Graduada em Geografia pela UFPA (1996),
Graduado em Agronomia pela Univer- Goeldi (MPEG) e UFPA. especialista em Áreas Amazônicas (FIPAM) pelo
sidade Federal do Espírito Santo, mestre NAEA/UFPA (1997), mestre em Planejamen-
em Zootecnia pela Universidade Federal DANIELY FÉLIX-SILVA to do Desenvolvimento (PLADES) pelo NAEA/
de Minas Gerais (UFMG), doutor em Possui graduação em Ciências Biológicas pela UFPA (2001) e doutora em Planejamento Urbano
Zootecnia pela Universidade Federal de Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Regional pelo Instituto de Pesquisa e Planeja-
Viçosa, e estudante especial na Univer- (2001) e mestrado em Ciências Biológicas pela mento Urbano e Regional (IPPUR) da Univer-
sidade de Wisconsin (EUA). Atualmente Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2004). sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (2006).
é professor do Instituto de Saúde e Pro- Tem experiência na área de Ecologia, atuando Atualmente é professora e pesquisadora do Curso
dução Animal da Universidade Federal principalmente nos seguintes temas: quelônios, de Mestrado em Planejamento Regional e Gestão
Rural da Amazônia (UFRA), e atua nos ecologia reprodutiva, Podocnemididae, reprodu- de Cidades na Universidade Cândido Mendes, de
cursos de mestrado em Ciência Animal e ção, manejo e conservação. Campos dos Goytacazes (RJ).
Tecnologia de Alimentos da UFPA.
DANILO ARAÚJO FERNANDES ESTÊVÃO JOSÉ DA SILVA BARBOSA
ANA CLÁUDIA DUARTE CARDOSO Possui graduação em Economia pela UFPA Geógrafo formado pela UFPA e mestre em
Graduada em Arquitetura e Urbanis- (2000) e mestrado em Economia pela Univer- Geografia pela mesma instituição. Participa como
mo (UFPA), mestre em Desenho Urba- sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pesquisador auxiliar em projetos de pesquisa da
no (UnB), PhD em Arquitetura (Oxford (2003). Atualmente é professor substituto da Fa- Faculdade de Geografia e Cartografia da UFPA e
Brookes University, Reino Unido). Pro- culdade de Economia da UFPA e doutorando no do NAEA/UFPA. Tem desenvolvido suas pesqui-
fessora e pesquisadora vinculada à Faculda- PDTU/NAEA/UFPA. Exerce desde 2007 o cargo sas nos seguintes temas: Geomorfologia Costeira,
de de Arquitetura e Urbanismo da UFPA. de Coordenador da Câmara de Desenvolvimento Estudos Ambientais, Estudos Urbanos e Regio-
Durante os últimos anos tem colaborado Socioeconômico da Secretaria de Governo do Es- nais. Iniciou em 2007 o curso de especialização
na elaboração de planos diretores partici- tado do Pará (SEGOV-PA). “Cidades na Amazônia: história, ambiente e cultu-
pativos em municípios do Estado do Pará, ras” (NAEA-UFPA).
desenvolvido pesquisa a respeito de como DENYS SERRÃO PEREIRA
o espaço intra-urbano pode contribuir para Possui graduação em Engenharia Florestal pela FABÍOLA POLETTO
a superação da pobreza e participado de ca- Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Graduada em Ciências Biológicas pela Univer-
pacitações de movimentos sociais voltadas (2004). Atualmente é pesquisador assistente do sidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOES-
para a compreensão dos problemas urba- Instituto do Homem e Meio Ambiente da Ama- TE), mestre em Ciências Biológicas pela Univer-
nos. É a atual Secretaria de Governo do zônia (IMAZON). Tem experiência na área de sidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmente é
Estado do Pará (SEGOV-PA). Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com pesquisadora colaboradora no Setor de Ornitolo-
ênfase em Política e Legislação Florestal. gia do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e
ANTONIO SÉRGIO LIMA DA SILVA desenvolve pesquisas nas áreas de ecologia, bioge-
Bacharel em Biomedicina pela UFPA; DEYSE GONÇALVES DE OLIVEIRA ografia e conservação de aves.
mestre em Ciências Biológicas (Taxono- Possui graduação em Ciências Biológicas, mo-
mia Botânica) pelo Jardim Botânico do dalidade licenciatura, pela UFPA (2004). Partici- GILBER VALÉRIO CORDOVIL
Rio de Janeiro. Taxonomista de Mimosa- pou de atividades de pesquisa no Museu Paraense Graduado em Geografia pela UFPA (2006).
ceae e fitossociologista. Emílio Goeldi (MPEG). Mestrando em Geografia pelo Programa de Pós-

460
Graduação em Geografia da UFPA. Docente da de de Fukui, Japão. Mestre em Desenho Urbano nal de Saúde Pública/Fiocruz. Foi consultor da
escola Sistema de Ensino Incentivo. pela Oxford Brookes University, Grã-Bretanha, e OPAS e do Ministério da Saúde do Brasil, além
PhD em Arquitetura pela mesma instituição. Atu- de pesquisador-visitante da ENSP/Fiocruz. Atual-
GILBERTO DE MIRANDA ROCHA almente é docente da Faculdade de graduação em mente é professor e pesquisador do Centro Uni-
Geógrafo, doutor em Geografia Humana. Pro- Arquitetura e Urbanismo e dos cursos de mestra- versitário Serra dos Órgãos (Unifeso, Teresópolis,
fessor adjunto da Faculdade de Geografia e Carto- do em Geografia e Engenharia Civil da UFPA. É Rio de Janeiro) dos Cursos de Graduação de Me-
grafia da UFPA. Atualmente é diretor do Núcleo o atual Secretário de Planejamento, Orçamento e dicina e Fisioterapia.
de Meio Ambiente da UFPA (NUMA). Finanças do Estado do Pará (SEPOF-PA).
LUIZ OTÁVIO DO CANTO LOPES
HERIBERTO WAGNER AMANAJÁS PENA JUAREZ CARLOS BRITO PEZZUTTI Geógrafo pela UFPA, mestre em Geografia
Possui graduação e mestrado em Economia pela Possui doutorado em Ecologia pela Universi- Humana pela USP. Atualmente é professor no
Universidade da Amazônia (UNAMA). Atual- dade Estadual de Campinas (UNICAMP) (2003). Núcleo Pedagógico Integrado (NPI) e desenvol-
mente é professor Adjunto da UNAMA e Técnico Atualmente é pesquisador associado da UNI- ve pesquisas sobre População e Meio Ambiente no
em Gestão Pública da Secretaria de Meio Ambien- CAMP, gerente de Projeto do Museu Paraen- Núcleo de Meio Ambiente (NUMA) da UFPA.
te (SEMA) cedido para a Câmara de Política Seto- se Emílio Goeldi (MPEG), professor adjunto da
rial de Desenvolvimento da Secretaria de Governo UFPA, e revisor dos periódicos Acta Amazonica, LULY RODRIGUES DA CUNHA FISCHER
do Estado do Pará (SEGOV-PA). Checklist e Ambiente e Sociedade (Campinas). Advogada, graduada em Direito pela UFPA e
Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase mestranda do programa de Pós-Graduação em Di-
INGRID CRISTINA BORRALHO DA SILVA em Ecologia Aplicada. Atua, principalmente, nos reito na mesma instituição.
Engenheira florestal, mestre em Ciências Flo- seguintes temas: quelônios, uso sustentável, co-
restais. Bolsista do Programa de Estudos da Bio- munidades tradicionais, extrativismo, répteis. MÁRCIO COUTO HENRIQUE
diversidade (PPBio) na Amazônia Oriental, lotada Graduado em História, especialista em História
na Coordenação de Botânica do Museu Paraense LANNA D. S. PRINTES da Amazônia e mestre em Antropologia pela Uni-
Emílio Goeldi (MPEG). Graduada em Ciências Biológicas, modalidade versidade Federal do Pará, onde atualmente está
Bacharelado, pela UFPA (2002). Mestranda em cursando doutorado em Ciências Sociais/Antropo-
JOSÉ ANTÔNIO MAGALHÃES MARINHO Ciência Animal pela mesma instituição. Trabalhou logia. Trabalhou como Chefe do Serviço de Edu-
Bacharel e licenciado em Geografia pela UFPA, como bióloga do Jardim Botânico da Amazônia – cação da administração da FUNAI em Belém. É
mestre em Planejamento do Desenvolvimento Bosque Rodrigues Alves, Belém (PA). professor das redes municipal e estadual de ensino
(PLADES) pelo NAEA/UFPA. Trabalha no ma- e da Escola Superior Madre Celeste (ESMAC).
gistério superior, lecionando em faculdades priva- LILIAN SIMONE AMORIM BRITO
das de Belém. Concursado, deve assumir o cargo Graduada em Geografia pela UFPA. Especialis- MARCOS ALEXANDRE PIMENTEL DA SILVA
de Técnico em Gestão de Desenvolvimento Ur- ta em Psicologia Educacional, ênfase em Psicope- Licenciado e bacharel em Geografia pela UFPA,
bano na Secretaria Executiva de Estado de Desen- dagogia Preventiva, pela Pontifícia Universidade onde lecionou no curso de Graduação em Geo-
volvimento Urbano e Regional do Estado do Pará Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Mestre grafia e participou, na condição de pesquisador, do
(SEDURB-PA). em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação projeto “Espaço e Cidadania na Orla Fluvial de Be-
em Geografia (PPGEO) da UFPA. Atualmente é lém”. Consultor do Instituto do Patrimônio His-
JOSÉ DE SOUSA E SILVA JÚNIOR docente do Núcleo Pedagógico Integrado (NPI), tórico e Artístico Nacional – 2ª Superintendência
Especialista em Primatologia (taxonomia e ge- unidade acadêmica especial da Universidade Fe- Regional – Pará e Amapá. Atualmente é professor
nética) pela Universidade de Brasília (UNB), mes- deral do Pará. Desenvolve pesquisas na área de En- da Universidade do Estado do Amapá (UEAP) e
tre em Zoologia pelo Museu Paraense Emílio Go- sino e de Geografia Urbana. coordenador do projeto de pesquisa “As Contra-
eldi (MPEG) e UFPA. Doutor em Genética pela faces da Cidade na Amazônia: uma Cartografia dos
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), LUCIANO FOGAÇA DE ASSIS MONTAG Espaços de (Sobre)vivência Ribeirinha nas Orlas
com linhas de pesquisa em sistemática, biogeo- Graduado em Biologia pela Pontifícia Universi- Fluviais de Macapá e Santana (AP)”.
grafia e biologia geral de mamíferos neotropicais, dade Católica de São Paulo (PUC, Sorocaba – SP).
atuando também na realização de inventários da Mestre e doutor em Zoologia pelo Museu Paraen- MARCUS ANDRE FUCKNER
diversidade deste grupo de animais na Amazônia se Emílio Goeldi (MPEG, Belém – PA) com linhas Licenciado e bacharel em Geografia pela Uni-
e áreas vizinhas. Atualmente é pesquisador asso- de pesquisa em ecologia e conservação de peixes versidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mes-
ciado do Setor de Mastozoologia da Coordenação amazônicos. Ocupou postos na coordenação de trando em Sensoriamento Remoto pelo Instituto
de Zoologia do MPEG e docente do Programa de campo da Estação Científica Ferreira Penna e no Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e desen-
Pós-Graduação em Zoologia do MPEG e UFPA. quadro de docentes do Departamento de Biologia volve pesquisa voltada à análise ambiental urbana.
da UFPA. Atualmente é pesquisador colaborador É Analista Intelectual do Centro Técnico-Opera-
JOSÉ HEDER BENATTI do Setor de Ictiologia da Coordenação de Zoologia cional do Sistema de Proteção da Amazônia (SI-
Advogado, doutor, professor de Direito Agrário do MPEG. PAM) em Belém - Coordenação de Informações.
e Ambiental pela UFPA e Presidente do Instituto
de terras do Estado do Pará (ITERPA). LUIZ FELIPE PINTO MARIA CÉLIA NUNES COELHO
Bacharel em Ciências Estatísticas pela Escola Possui graduação em Geografia pela Univer-
JOSÉ JÚLIO FERREIRA LIMA Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE). sidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (1972),
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Mestre e doutor em Saúde Pública na área de Ava- mestrado pela Universidade Federal do Rio de
UFPA, mestre em Engenharia pela Universida- liação e Informação em Saúde pela Escola Nacio- Janeiro (1978) e doutorado pela Syracuse Univer-

461
sity (EUA) (1991). Atualmente é pesquisadora do destes. Atua na área de Planejamento Urbano e (UFV - MG) e doutora em Geografia (Área Pla-
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi- Regional, com ênfase em Teoria do Planejamento nejamento e Gestão Ambiental) pela Universida-
co e Tecnológico (CNPq) e professora adjunta da Urbano e Regional. Em suas atividades acadêmicas de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ocupou os
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). os temas mais freqüentes são: Mineração, Desen- cargos de Climatóloga no Projeto de Hidrologia e
Tem experiência na área de Geografia, com ênfase volvimento regional, Carvoejamento, Siderurgia e Climatologia da Amazônia (Convênio SUDAM e
em Geografia Regional. Atua principalmente nos Teoria do Desenvolvimento. É Secretário de De- OMM) e Meteorologista no Grupo de Estudos e
seguintes temas: Estudos Regionais, Estudos Am- senvolvimento, Ciência e Tecnologia do Estado do Técnicas em Recursos Hídricos, no Instituto de
bientais, Impactos Ambientais e Impactos Socioe- Pará (SEDECT-PA) desde janeiro de 2007. Desenvolvimento Econômico e Social do Pará
conômicos. (IDESP). Atualmente é professora no Curso de
MERILENE DO SOCORRO SILVA COSTA Geografia da UFPA.
MARIA DE NAZARÉ MARTINS MACIEL Graduada em Engenharia Florestal pela Facul-
Graduada em Agronomia e Engenharia Flo- dade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP), atual PABLO SUÁREZ
restal pela Faculdade de Ciências Agrárias do Pará Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Bacharel em Genética pela Universidad Nacio-
(FCAP), atual Universidade Federal Rural da mestre em Ciências Florestais na área de concentra- nal de Misiones, Argentina, e mestre em Genética
Amazônia (UFRA), mestre em Ciências Florestais ção de silvicultura e manejo florestal, atualmente em pela UFPA. No momento desenvolve seu proje-
e Doutora em Engenharia Florestal pela Universi- fase final de doutorado em Ciências Agrárias na área to de doutorado no programa de pós-graduação
dade Federal do Paraná (UFPR). Ocupa cargo de de concentração de sistemas agroflorestais, também em Zoologia, do Museu Paraense Emílio Goeldi
professora adjunta na UFRA, atuando nas áreas de pela UFRA. Ocupa o cargo de professora efetiva (MPEG).
manejo Florestal e Geoprocessamento. dessa universidade, onde atualmente exerce o cargo
eletivo de diretora do Instituto Ciberespacial. PAULO CAMPOS CHRISTO FERNANDES
MARIA GORETTI DA COSTA TAVARES Graduado em Medicina Veterinária pela Uni-
Concluiu a graduação em Geografia pela UFPA NÍVIA APARECIDA SILVA DO CARMO versidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
em 1998, e o curso de especialização em Geogra- Bióloga formada pela Universidade Federal do mestre em Zootecnia e doutor em Ciência Ani-
fia da Amazônia em 1989 pela mesma instituição. Amazonas (UFAM), com mestrado em Ecologia mal pela mesma universidade e Visitor Scholar na
Concluiu o mestrado em Geografia pela Universi- pelo Instituto de Pesquisa da Amazônia (INPA) Universidade da Califórnia/ Davis (EUA). Foi
dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1992 e em 2002. Ainda em Manaus (2003) participou do Gerente Técnico do Brasil da Alltech Agroin-
o doutorado em Geografia pela mesma instituição Projeto Sauim de Coleira (Saguinus bicolor bicolor). dustrial, consultor do Ministério da Saúde e
em 1999. Possui pós-doutorado pelo Laboratório Em Belém trabalhou no projeto Dendrogene, pela Técnico do Ministério da Ciência e Tecnologia.
MIT do Instituto de Geografia de Paris 1, Panthe- EMBRAPA. Em 2005, entrou na equipe do Pro- Atualmente é pesquisador da Embrapa Amazô-
on-Sorbonne, França (2007). É professora adjunta jeto Fauna de Tucuruí pelo Museu Paraense Emí- nia Oriental.
da Faculdade de Geografia e Cartografia da UFPA lio Goeldi (MPEG), trabalho este que deu início
desde 1991 e atua nas áreas de pesquisa de Geogra- ao plano de doutorado da pesquisadora. Hoje faz PEDRO ROCHA SILVA
fia Política, do Turismo e das Redes. parte da Equipe do Projeto PIT-Pará, pela UFPA Bacharel e licenciado pleno em Geografia pela
e pelo NAEA, trabalhando nas comunidades tradi- UFPA, mestre em Agronomia, “Ciência do Solo e
MAURÍLIO DE ABREU MONTEIRO cionais com o manejo de caça e pesca. Nutrição de Plantas”, tendo trabalhado como pro-
Concluiu o doutorado pelo Programa de De- fessor na UFPA e na Universidade Federal Rural
senvolvimento Sustentável do Trópico Úmido ODETE CARDOSO DE OLIVEIRA SANTOS da Amazônia (UFRA). No momento, coordena os
(PDTU), do NAEA/UFPA, em 2001. Atualmente Graduada em Geografia e especialista em Mete- cursos de Geografia e Turismo na Escola Superior
é Professor adjunto da UFPA. Participa de cinco orologia Tropical pela UFPA, mestra em Meteoro- da Amazônia (ESAMAZ). É Diácono da Arquidio-
projetos de pesquisa, sendo que coordena dois logia agrícola pela Universidade Federal de Viçosa cese de Belém.

462
RAPHAEL PAIVA BARBOSA mente é professora adjunta da Universidade Fede- Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do
Possui graduação em Ciências Econômicas pela ral do Pará. Tem experiência na área de História. Pará (IASEP-PA).
Universidade Federal de Viçosa (UFV - MG). Atu- Atua principalmente nos seguintes temas: Traba-
almente é mestrando no PLADES/NAEA/UFPA, lho Escravo, História do Pará, Camponeses, Agri- ULISSES GALATTI
onde desenvolve pesquisas na área de saneamento cultura e Colonização. Biólogo, doutor em Ecologia pelo Programa de
ambiental. Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos
ROSSANO MARCHETTI RAMOS Naturais do INPA (Manaus). É, atualmente, pes-
RICARDO SCOLES CANO Possui bacharelado e licenciatura em Ciências quisador associado da Coordenação de Zoologia
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Biológicas pela Universidade Estadual de Cam- do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).
Universitat de Barcelona (1993) e mestrado em pinas (UNICAMP) e mestrado em Ciência Am-
Planejamento do Desenvolvimento (PLADES) biental pelo PROCAM, Universidade de São Paulo VALÉRIA DE ALBUQUERQUE OLIVEIRA
(2005) no curso interdisciplinar organizado pelo (USP). Atuou em pesquisas sobre uso de recursos Possui graduação em Ciências Biológicas, mo-
NAEA/UFPA. Tem experiência na área socioam- naturais, sobretudo caça, por grupos rurais da mata dalidade bacharelado, pela UFPA (2004). Tem ex-
biental, com ênfase em ecologia, atuando prin- atlântica e da Amazônia, abordando a ecologia des- periência na área de Zoologia e Ecologia, atuando
cipalmente nos seguintes temas: biodiversidade, tas atividades extrativistas, o manejo participativo, a principalmente nos seguintes temas: pesca, mane-
desenvolvimento sustentável, ecologia florestal, conservação do recurso e o conhecimento popular jo, ecologia e conservação.
educação ambiental e comunidades negras rurais. associado ao uso. Atualmente trabalha no Ibama.
Atualmente é aluno de doutorado em Ecologia WESLEY PEREIRA OLIVEIRA
Tropical no Instituto Nacional da Amazônia (Ma- SAMUEL SOARES DE ALMEIDA Graduando em Ciências Econômicas pela
naus - AM). Desde o ano de 2002 mora na região Agrônomo pela Faculdade de Ciências Agrárias UFPA. Foi bolsista de Iniciação Científica do
amazônica. do Pará (FCAP, atual UFRA), mestre em Ecologia CNPq. Atualmente é bolsista do Programa Inte-
pelo convênio INPA/UFAM. Pesquisador da Co- grado de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão –
RODNEY ROONEY SALOMÃO REIS ordenação de Botânica do Museu paraense Emí- PROINT, no Núcleo de Estudos e Pesquisas Eco-
Possui graduação em Engenharia Florestal lio Goeldi (MPEG). Foi coordenador da Estação nômicas – NUPEC/UFPA.
pela Universidade Federal Rural do Pará (UFRA) Científica Ferreira Penna em Caxiuanã (PA). Re-
(1998) e curso técnico-profissionalizante em Geo- aliza pesquisas com ecologia vegetal, avaliação de WOLMAR BENJAMIN WOSIACKI
processamento pelo Centro Agronómico Tropical diversidade florística, botânica econômica e ecolo- Possui graduação em Ciências Biológicas pela
de Investigación y Ensenanza (1998). Atualmente gia da conservação. Universidade Federal do Paraná (UFPR) (1990),
é Técnico do Instituto do Homem e Meio Am- mestrado em Zoologia pela Universidade Federal do
biente da Amazônia (IMAZON). SANDRA HELENA M. LEITE Paraná (1997) e doutorado em Ciências Biológicas
Graduada em Medicina pela UFPA e pós-gra- (Zoologia) pela Universidade de São Paulo (USP)
ROSA ELIZABETH ACEVEDO MARIN duada em Saúde Pública pela Universidade de Ri- (2002). Atualmente é pesquisador adjunto do Museu
Possui graduação em Sociologia pela Universidad beirão Preto (UNAERP). Interventora e Ex-Dire- Paraense Emílio Goeldi (MPEG), orientador para
Central de Venezuela (1969), especialização em De- tora financeira da Unimed Belém. Ex-presidente alunos de graduação da UFPA, e revisor dos perió-
senvolvimento de Áreas Amazônicas (PLADES) do Instituto de Previdência e Assistência do Muni- dicos da Copeia, Neotropical Ichthyology, Zootaxa (On-
pelo NAEA/UFPA (1973), doutorado em História cípio de Belém (IPAMB). Ex-docente da Univer- line) e Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi.
e Civilização pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences sidade do Estado do Pará (UEPA), curso de Medi- Tem experiência na área de Zoologia , com ênfase em
Sociales (1985), pós-doutorado pelo Centre National cina. Ex-gerente do Centro Técnico-Operacional Taxonomia dos Grupos Recentes. Atua, principal-
de La Recherche Scientifique (1993) e pós-doutorado do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) em mente, nos seguintes temas: Filogenia, Trichomycte-
pela Universite de Quebec à Montreal (1992). Atual- Belém. Atual Diretora-Presidente do Instituto de rinae, Trichomycteridae, Siluriformes, Classificação.

463

Você também pode gostar