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gborges,+Gerente+da+revista,+Artigo7 Djavan
gborges,+Gerente+da+revista,+Artigo7 Djavan
Djavan Antério Resumo: Este artigo fomenta uma discussão reflexiva sobre os conceitos
Mestre em Educação pelo Programa de de corpo nas perspectivas orgânicas, biológicas e estéticas. A metodologia
Pós-Graduação em Educação (UFPB). adotada foi a revisão sistemática realizada nas bases da filosofia, das artes
Professor Tutor de Educação a Distância e da educação, tomando autores de notório saber nas respectivas áreas.
(EAD) no curso de Licenciatura Plena em Esta discussão ocorreu a partir da categoria da subjetivação, processo de
Pedagogia da Universidade Federal da tornar-se sujeito. Os estudos apresentaram, apesar dos contextos teóricos
Paraíba (UFPB Virtual) em convênio com diversificados - “corpo vivido”, “corpo em movimento” e “corpo conscien-
a Universidade Aberta do Brasil (UAB). te” - similaridades do significado do corpo como ação de humanizar-se na
Membro do Grupo de Estudos e Pesqui- relação com o mundo, passando pelo estar e fazer-se perceber no meio
sas em Corporeidade, Cultura e Educa- em que se insere.
ção (GEPEC/CNPq).
Palavras-chave: Educação; Corpo; Subjetivação..
Pierre Normando
Abstract: This article promotes a reflexive discussion about the body con-
Gomes-da-Silva cepts in the organic, biological and esthetic perspectives. The methodology
Doutor em Educação pela Universidade
adopted was the systematic review on the basis of philosophy, arts and
Federal do Rio Grande do Norte (2003).
education, having renowned authors in the respective areas. This discussion
Professor adjunto da UFPB, atuando
occurred from the category of subjectivity, the process of becoming subject.
no Departamento de Educação Física
The studies showed, in spite of diverse theoretical contexts - “lived body”,
e no Programa de Pós-Graduação em
“body in movement” and “conscious body” - similarities of body meaning
Educação Física Associado UPE/UFPB.
as action of humanize in relation to the world, going through welfare and
Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas
making perceive in the environment in which it is insert..
em Corporeidade, Cultura e Educação
(GEPEC/CNPq).
Keywords: Education; Body; Subjectivation.
culo XX, que criou um sistema de Análise do Mo- lação do movimento rígido, retraído, sem expansi-
vimento (Laban Movement Analysis - LMA). Neste vidade, muitas vezes exigido pelos educadores em
sistema, o corpo compõe-se do equilíbrio entre sala de aula. Subutilizando o movimento ao des-
estrutura física, imagens cognitivas e emoções. considerar os significados e intenções inerentes à
Trata-se do corpo que para agir no mundo, faz es- condição comunicativa do sujeito. Isto é, saben-
colhas de movimento, inventa, realiza criações ou do da potencialidade expressiva do movimento,
simplesmente repete exercícios predeterminados. é possível, intencionalmente, fazer do movimento
Laban concebe o corpo não como um instrumento uma ação comunicativa do sujeito no mundo.
a ser treinado, mas como um todo integrado com
De acordo com a teoria labaniana, quando
o pensamento, ao mover-se no mundo.
nos movemos, criamos relacionamentos mutáveis
com o mundo (pessoas, objetos, espaço). Isso por-
A extraordinária estrutura do corpo, bem como
as surpreendentes ações que é capaz de execu- que o fim do movimentar-se é satisfazer uma ne-
tar, são alguns do milagres da existência. Cada cessidade humana, de atingir um objetivo tangível
fase do movimento, cada mínima transferência ou não, de relacionar-se com algo que faça sen-
de peso, cada simples gesto de qualquer parte
do corpo revela uma aspecto de nossa vida in-
tido. Assim, cada movimento, particular ou não, é
terior. Cada um dos movimentos se origina de entendido em relação ao contexto que é afetado,
uma excitação interna dos nervos, provocada seja por uma participação harmoniosa, por uma
tanto por uma impressão sensorial imediata contraposição deliberada, ou por uma pausa.
quanto por uma complexa cadeia de impres-
sões sensoriais previamente experimentadas e Logo, entender a composição dos movimentos do
arquivadas na memória. Esta excitação tem por corpo possibilita uma maior interatividade com o
resultado o esforço interno, voluntário ou invo- meio. E isso implica na comunicabilidade do sujei-
luntário, ou impulso para o movimento (LABAN,
to com o mundo.
1978, p. 48).
na escola e encontra resguardo na própria edu- ban) e “corpo consciente” (Freire), é possível traçar
cação. pontos de confluência que dialogam perspectiva
do corpo subjetivado, do corpo como sujeito e do
Segundo Freire (1999), todo ser humano
sujeito como corpo. Merleau-Ponty (1999) argu-
existe para ser sujeito da história, pois a vida é
menta que não é o sujeito epistemológico que
existência na proporção que o corpo humano tor-
efetua a síntese, mas o corpo. Pois ao sair de sua
na-se corpo consciente, ou seja, na medida em
dispersão, o corpo se ordena, se dirige por todos
que o ser humano conscientiza-se do seu existir e
os meios para um termo único de seu movimento,
do existente social, permeável a mudanças. Dessa
e pelo fenômeno da sinergia realiza a intenção
forma, o corpo de que é alvo desse tipo de violên-
concebida nele.
cia, de “demissão do corpo consciente”, não pode
tornar-se espontaneamente, um “corpo apreen- Essa ação motriz de presença no mundo é
dedor” ou um “corpo transformador”, pois não foi coincidente com os pressupostos de Laban (1978)
educado a se tornar capaz de “decidir”, de “esco- e Freire (1999). Visto que Laban (1978) entende
lher” e de “intervir no mundo” (FREIRE, 1999, p. que é no movimento que corpo e mente se in-
57). terrelacionam, de modo interno, por meio de seu
impulso, e de modo externo, por meio de sua
O corpo para Freire (1999) é “peça inter-
expansão no espaço. E que esta interação entre
ventiva” na escola, porque é constituinte tanto da
mente, corpo e espaço estabelecem uma corres-
completude do sujeito, quanto da concretude his-
pondência com sentimento, emoção e intenção.
tórica. Sendo assim, o corpo consciente é aquele
Já Freire (1999), ao tratar do corpo consciente co-
que é detentor de suas próprias escolhas e atitu-
loca-o como ato de agir e interagir com o meio.
des. Desse modo, evidencia-se a importância em
Corpo que codifica e decodifica o mundo num es-
reconhecermos o corpo como essa “peça inter-
paço pedagógico, um “texto” que pode ser “lido,
ventiva” com a qual lidamos no interior da escola,
interpretado, escrito e reescrito”.
porque é por meio do corpo que socialmente o
sujeito vai se tornando atuante, consciente, falan- De modo que esses três autores, em con-
te, leitor e escritor. Faz parte da natureza do corpo sonância com Gomes-da-Silva (2011) e Greiner
o tornar-se um ser para aprender, é assim que ele (2005), nos autorizam a compreender o corpo
constitui-se histórica e socialmente. como sujeito, na medida em que é “corpo vivi-
do”: aquele que se apropria de suas experiências
A conscientização em Freire (1994) não tem
perceptivas tornando-se numa consciência motriz;
a ver com as tradicionais concepções representa-
em que é “corpo comunicativo”, que seus movi-
cionistas, mas como uma unidade implicada entre
mentos, produzem expressão e comunicação com
mente e corpo, e mais entre condição existencial
o entorno; em que é “corpo consciente”, situado
e histórico-cultural. E mais o corpo consciente não
num mundo histórico e culturalmente construído,
significa apenas conscientização histórica de fa-
no qual este corpo dispõe-se para aprender e a
zer-se presente, mas de desfrutar os prazeres. Daí
apresentar-se como aprendiz, como curioso do
para ele as escolas deveriam estimular o gosto da
conhecimento, do mundo e de si mesmo.
leitura e o da escrita, porque só assim o estudar
deixaria de se tornar um fardo opressor para ser O corpo e o ambiente ao invés de uma rela-
uma fonte de alegria e de prazer. Corpo conscien- ção de influência ativo/passivo são compreendidos
te em Freire diz respeito a paixão pelo conhecer a como contaminados mutuamente. O espaço deixa
partir das vivências pessoais como ser sensível e de ser conjunto de objetos desconectados, aleató-
crítico, simultaneamente. rio e dispostos sem significado passa a fazer parte
do corpo vivido, da consciência do entorno e da
comunicação do ser. O corpo vai habitando os es-
paços e os espaços habitando o corpo, em que um
3 DEBATES TEÓRICOS A PARTIR DAS DIMEN-
torna-se parceiro ativo dos experimentos cênicos
SÕES ELENCADAS
do outro. Os gestos assumem a circunstância de
modo crítico e sensível, tornando-se numa lingua-
A partir dos conceitos elencados, “corpo vivi- gem simbólica de superação da opressão, da não
do” (Merleau-Ponty), “corpo em movimento” (La- mecanização do ato motor, mas entendido como
delimitações, devendo ser considerado a partir GOMES-DA-SILVA, Pierre Normando. O jogo da cultura e
a cultura do jogo: por uma semiótica da corporeidade. JP:
de todas as suas dimensões (filosófica, artística e
Ed. UFPB, 2011.
educacional), sejam eles individuais, coletivas, so-
ciais e/ou políticas. GREINER, Christine. O Corpo: pista para estudos indisciplina-
res. São Paulo: Annablume, 2005.
Neste contexto do “corpo vivido”, “corpo co-
KATZ, Helena; GREINER, Christine. Corpomídia: a questão
municativo” e “corpo consciente”, perspectiva que
epistemológica do corpo na área de comunicação. Revista
cremos ser a mais completa e mais justa perante o Húmus, Caxias do Sul, n. 1., 2004.
valor do corpo, estamos sugerindo aos educado-
LABAN, Rudolf. Domínio do movimento. São Paulo: Sum-
res considerar essa ampliação. Sua significância mus, 1978.
está diretamente ligada ao processo de humani-
zação, passando pelo estar e fazer-se perceber no MEDINA, João Paulo Subirá. O brasileiro e seu corpo. 8.
ed. Campinas: Papirus, 2002.
meio em que se insere. O homem não está no
corpo, nem o corpo está no homem. Ambos é um MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção.
só elemento, o qual só pode ser compreendido Trad. Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
se considerado, tanto objetivamente, quanto por
meio de sua subjetividade. PICARD, Dominique. Del código al deseo: el cuerpo em la
relación social. Buenos Aires: SACIF, 1986.