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Monitoria P1 - Micro III

Laura Tavares Regadas


2024-04-02

Lista 1 - Jogos de Informação Incompleta e Leilões

O que define Equilı́brio Bayesiano de Nash ou de Bayes-Nash? Deixando de lado fórmula matemáticas com
extensa notação, o EBN será o perfil de estratégias puras de cada combinação de jogador e tipo tal que para cada jogador
e tipo aquela estratégia pura (ação) seja a melhor resposta que ele pode dar, dado que os outros também estão dando sua
melhor resposta. Ainda confuso? Vamos exemplificar. Digamos que na questão 2.c) encontremos que sim existe
EBN tal que todos apostam (jogam ”a”). Nesse caso, vamos escrever que o EBN é s∗1A (a), s∗1C (a), s∗2B (a), s∗2D (a). Ao
contrário, digamos que 2D joga ”n”. Nesse caso, escreverı́amos: s∗1A (a), s∗1C (a), s∗2B (a), s∗2D (n). Mais adiante, tratarei
de como encontrar o EBN.

1. (a) Equilı́brios de Nash:


• Jogo 2a: EN = (a, c), (b, d)
• Jogo 2b: EN = ϕ
(b) Dúvida: como calcular o EBN se o jogador 2, independente do seu tipo, não tem estratégia dominante?
Resposta: na solução, veja que o jogador 2 sabe que o jogador 1 sempre jogará ”a”. Ainda assim, o jogador
2 não tem uma estratégia dominante - ele joga c se for do tipo A e d se for do tipo B. Tudo bem, a resposta
final do EBN incorpora isso: s∗1 = a, s∗2A = c, s∗2B = d. O jogador 2 terá respostas diferentes dependendo do
seu tipo, que ele conhece.
Nem sempre a resposta final será uma única resposta para cada jogador, independente do seu tipo.
Resolução: Passo a passo para testar EBN.
1
P (1,2A)
• Aplicando a regra de Bayes: P (2A|1) = P (1) = 2
1 = 1
2
1
P (1,2B) 1
P (2B|1) = P (1) = 2
1 = 2
• Qual a melhor resposta do jogador 2 em cada cenário (A e B) dada a resposta hipotética do jogador 1?

No cenário em que o jogador 2 é do tipo A, se o jogador 1 jogar a, a melhor resposta do jogador 2 é c. Se


jogar b, a melhor resposta é d.
s∗2A (a) = c, s∗2A (b) = d

No cenário em que o jogador 2 é do tipo B, se o jogador 1 jogar a, a melhor resposta do jogador 2 é d.


Se jogar b, a melhor resposta é c.
s∗2B (a) = d, s∗2B (b) = c

• Dados os resultados da aplicação da regra de Bayes, qual a melhor resposta do jogador 1, a ou b? Vamos
analisar a utilidade esperada de jogar ”a” e de jogar ”b”.

E(U1 |a) = P (2A|1) × U (a, s∗2A (a)) + P (2B|1) × U (a, s∗2B (a)) = 12 × 2 + 12 × 0 = 1
Lê-se: a utilidade esperada do jogador 1 de jogar a é a utilidade de jogar ”a” dada a melhor resposta a
”a” do jogador 2 no cenário A multiplicada pela probabilidade condicional de estar no cenário A. A esse
primeiro produto, soma-se a utilidade de jogar ”a” dada a melhor resposta a ”a” do jogador 2 no cenário
B multiplicada pela probabilidade condicional de estar no cenário B.

E(U1 |b) = P (2A|1) × U (b, s∗2A (b)) + P (2B|1) × U (b, s∗2B (b)) = 1
2 ×1+ 1
2 × 0 = 0, 5

1
• Como 1 > 0, 5, a estratégia do jogador 1 será sempre jogar ”a”.
Sabendo disso e conhecendo seu tipo, o jogador 2 jogará c se for do tipo A e jogará d se for do tipo B,
pois estas são as melhores respostas a ”a” para cada tipo.
Portanto, o equilı́brio de Bayes-Nash é dado por: s∗1 = a, s∗2A = c, s∗2B = d

2. Dúvida: como descobrir a(s) estratégia(s) de cada jogador quando não há uma resposta (a ou n) que sempre tem
payoffs maiores do que a outra nas matrizes.
Resposta: primeiro, vamos analisar quando podemos afirmar que uma estratégia dominante só pelas matrizes. É
o caso do item a) dessa questão, quando olhamos apenas para o jogador 1A. Note que se olharmos para o jogador 1
como um todo, já não será possı́vel afirmar isso, pois no jogo de 1C com 2B, E[U1C (a)|2B(a)] < E[U1C (n)|2B(a)],
pois −1 < 0.
Segundo, quando não é possı́vel responder pelas matrizes, é preciso responder uma pergunta como E[U1C (a)|2(a)] >
? < E[U1C (n)|2(a)]. Modifique os jogadores e respostas de acordo com o que você quer descobrir. Neste caso,
comparei ”a” e ”n” como respostas dadas por 1C dado que 2 jogou ”a”. Como falo de 2 e não de 2B ou 2D, é
necessário ponderar os payoffs de cada cenário pela probabilidade condicional de estar naquele cenário.

Informação que pode ajudar na compreensão da questão: as letras a-d denotam a qualidade das cartas do jogador.
As cartas ”a” formam uma mão melhor do que as cartas ”b”, que formam uma mão melhor do que as cartas ”c”,
que pro sua vez são uma mão melhor do que as cartas ”d”, que formam a pior mão.

(a) Verdadeiro. É possı́vel analisar de forma simples: nos cenários 1A, o payoff para o jogador 1 é maior jogando
”a” do que jogando ”n” para qualquer estratégia do jogador 2, seja ele 2B ou 2D. De fato, 2 > 0 e 1 > 0.Agora
usando o instrumental de EBN. A afirmativa é verdadeira se E1A (a) > E1A (n) para quaisquer estratégias de
2B e 2D.
• 2B joga ”a” e 2D joga ”a”
E1A (a) > E1A (n) ⇐⇒ 2 31 + 2 32 > 0 13 + 0 23 ⇐⇒ 2 > 0
• 2B joga ”a” e 2D joga ”n”
E1A (a) > E1A (n) ⇐⇒ 2 13 + 1 32 > 0 13 + 0 23 ⇐⇒ 4
3 >0
• 2B joga ”n” e 2D joga ”a”
E1A (a) > E1A (n) ⇐⇒ 1 31 + 2 32 > 0 13 + 0 23 ⇐⇒ 5
3 >0
• 2B joga ”n” e 2D joga ”n”
E1A (a) > E1A (n) ⇐⇒ 1 31 + 1 32 > 0 13 + 0 23 ⇐⇒ 1 > 0
(b) Verdadeiro. s∗2D (a) = n, pois 0 > −1 e s∗2D (n) = a, pois 1 > 0. Esse resultado só depende do que 2D acredita
que 1C irá fazer no sentido que como as matrizes de payoff para 2D são iguais no cenário 1A e no cenário 1C,
mas que há 60% de probabilidade de estar em 1C (> 50%) contra apenas 40% de probabilidade de estar em
1A (< 50%), então o que determina a sua decisão é o jogo contra 1C.
Ainda que ele não saiba contra quem está jogando, ceteris paribus (o que de fato temos com as matrizes de
payoff iguais), como o mais provável é que seja contra 1C, 2D de fato joga como se estivesse jogando com 1C.
As probabilidades atribuı́das aos cenários 1A e 1C são encontradas usando a regra de Bayes.
(c) Dúvida: Para quais cenários preciso testar os payoffs esperados?
Resposta: Dúvida importante pois neste ponto o exercı́cio se difere da qestão 1, em que apenas um jogador
tem mais de um tipo.
Verdadeiro. Digamos que 1 sempre jogue ”a”. Nesse caso, 2D vai jogar ”n”. Logo, não é possı́vel ter um EBN
em que todos jogam ”a”. Demonstração:
Jogador 2 sabe que é 2D. Então, atualiza as probabilidade para 1A e 1C pela regra de Bayes.
P (1A,2D)
• 1 é 1A: P (2D) = 0,2
0,2+0,3 = 0, 4
P (1C,2D)
• 1 é 1C: P (2D) = 0,3
0,2+0,3 = 0, 6
Suponha que 1 realmente joga ”a”:
• Para 2D, qual o valor esperado de jogar ”a”? 0, 4 × −1 + 0, 6 × −1 = −1
• Para 2D, qual o valor esperado de jogar ”n”? 0, 4 × 0 + 0, 6 × 0 = 0

2
Como 0 > −1, a melhor resposta de 2D a ”a” é ”n”. Logo, não temos um EBN em que todos jogam ”a”.
Basta 1 sempre jogar ”a” que 2D vai jogar ”n”.
(d) Já sabemos que jogar ”a” é dominante para 1A. Pelo mesmo procedimento do item a), encontramos que jogar
”a” é dominante para 2B:
• 1A joga ”a” e 1C joga ”a”
E2B (a) > E2B (n) ⇐⇒ −1 51 + 2 45 > 0 15 + 0 45 ⇐⇒ 75 > 0
• 1A joga ”a” e 1C joga ”n”
E2B (a) > E2B (n) ⇐⇒ −1 51 + 1 45 > 0 15 + 0 45 ⇐⇒ 35 > 0
• 1A joga ”n” e 1C joga ”a”
E2B (a) > E2B (n) ⇐⇒ 1 51 + 2 45 > 0 15 + 0 45 ⇐⇒ 95 > 0
• 1A joga ”n” e 1C joga ”n”
E2B (a) > E2B (n) ⇐⇒ 1 51 + 1 45 > 0 15 + 0 45 ⇐⇒ 1 > 0
Qualquer EBN terá, potanto, 1A e 2B jogando ”a”. Vamos testar os casos:
(i) 1C joga ”n” e 2D joga ”n”
E1C (n) > E1C (a) ⇐⇒ 0 47 + 0 37 > −1 74 + 1 37 ⇐⇒ 0 > −1 7
E2D (n) > E2D (a) ⇐⇒ 0 25 + 0 53 > −1 52 + 1 35 ⇐⇒ 0 > 15 , o que é falso.
Não é EBN.
(ii) 1C joga ”a” e 2D joga ”n”
E1C (a) > E1C (n) ⇐⇒ −1 47 + 1 73 > 0 ⇐⇒ −1 7 > 0, o que é falso.
E2D (n) > E2D (a) ⇐⇒ 0 25 + 0 53 > −1 52 − 1 35 ⇐⇒ 0 > −1
Não é EBN
(iii) 1C joga ”n” e 2D joga ”a”
E1C (n) > E1C (a) ⇐⇒ 0 74 + 0 37 > −1 74 + 2 37 ⇐⇒ 0 > 72 , o que é falso.
E2D (a) > E2D (n) ⇐⇒ −1 25 + 1 35 > 0 52 + 0 35 ⇐⇒ 15 > 0
Não é EBN.
(iv) 1C joga ”a” e 2D joga ”a”
E1C (a) > E1C (n) ⇐⇒ −1 74 + 2 73 ⇐⇒ 27 > 0
E2D (a) > E2D (n) ⇐⇒ −1 52 − 1 35 > 0 52 + 0 35 ⇐⇒ −1 > 0, o que é falso.
Não é EBN.

Observações:
• Como vocês podem ver, não encontrei nenhum EBN. Peço que verifiquem se houve algum erro de
conta ou de seleção de payoff. Se encontrarem, por favor mandem um email avisando. Decidi liberar
mesmo sem econtrá-lo para que vocês possam aprender o procedimento que verifica se um conjunto de
estratégias é ou não EBN. Teoricamente, é preciso testar para cada jogador e tipo se a sua estratégia
é racional (lhe dá o maior payoff esperado) mantendo constante as estratégias dos demais. COmo já
sabemos que ”a” é estritamente dominante para 1A e 2B, simplificamos o problema. Resta testar as
estratégias possı́veis para os outros dois jogadores/tipos que não têm estratégia dominante. Um EBN
seria aquele em que não encontrarı́amos nenhuma sentença falsa.
• O item (iv) não precisa ser testado para essa questão, por conta da conclusão do item 2)c). No
entanto, incluı́ ele aqui mesmo assim para vocês verem outra forma de resolver a 2)c).
• O item (iii) é uma outra forma de resolver o exercı́cio 2)b). Apesar de não ser EBN, a linha que
compara E2D (a) > E2D (n) é a prova de que há caso em que o jogador 2D joga ”a” - basta que o
jogador 1C jogue ”n”. Isso vale para responder a 2)b) ainda que o conjunto de estratégias como um
todo - 1A, 2B e 2D jogam ”a” e 1C joga ”n” - não seja EBN porque 1C tem incentivo a desviar. Aqui
também surge mais uma explicação do porquê 2D jogar ”a” só depende do que 1C vai fazer: o perfil
de estratégias em que 2D joga ”a” é aquele em que 1C joga ”n”. Se 2D por algum motivo acreditar
que 1C vai jogar ”n”, ele vai jogar ”a” ainda que acredite que 1A vai jogar ”a”.

9
3. (a) b = 10 × 5 = 4, 5
9
(b) b = × 5 = 4, 5
10
O lance depende apenas da valoração e do número de jogadores.

3
(c) Não. Com a distribuição uniforme entre 0 e 100, a chence de alguém ter valoração maior do que 5 é maior
do que com a distribuição uniforme entre 0 e 10. Essas valorações possivelmente maiores implicam lances
maiores e maior receita esperada do leilão.

4. (a) Pelo teorema da equivalência de retornos, preço, em média, igual ao original. Lances, em média, metade dos
originais. Não é eliminado o trade-off entre probabilidade de ganhar e preço a pagar, portanto os jogadores
não revelam seus tipos.
(b) Pelo teorema da equivalência de retornos, preço, em média igual ao original. Lances, em média, maiores do
que os originais. Como o vencedor pagará menos do que o seu lance, ele tem renda informacional, o que o
incentiva a revelar seu tipo.
Ainda que a receita esperada desse leilão seja o mesmo que o original, o objetivo do leiloeiro de conseguir
lances mais altos é alcançado.

5. 1, 2 e 4 não violam as hipóteses do teorema da equivalência de retornos. Então, tem a mesma receita esperada do
leilão inglês. 3 viola o teorema porque, se os jogadores fizerem lances de acordo com as suas valorações privadas
(uma hipótese do teorema é respeitada), o vencedor não será quem tem a maior valoração (a outra hipótese do
teorema é violada). Aqui, todos os jogadores têm incentivo a diminuir seu lance - para tentar ganhar-, de modo
que o retorno esperado é menor do que o leilão inglês.
Comentário sobre o leilão 4: nesse caso, os payoffs de cada jogador são ui = vi − bi , sebi > bj ∀j ̸= i ou −bi , caso
contrário. Diferente dos leilões vistos em aula, se o jogador não ganha ele tem payoff menor do que zero. Então,
a maximização da sua utilidade esperada resultará em lances muito abaixo de suas valorações (a fórmula deste
caso especı́fico não será cobrada, mas posso mostrar se alguém tiver interesse em saber. Ainda, seus resultados
dependerão da distribuição em probabilidade das valorações). Embora os lances - e logo os preços a serem pagos -
sejam menores do que no leilão inglês, como o leiloeiro recebe de todos, acaba que o retorno esperado é o mesmo
do leilão inglês (mais uma demonstração que posso mostrar caso alguém tenha interesse).

4
P2 2022.1 - Questão 2

(a) No leilão inglês, cada jogador escolhe o preço em que desiste. Este é igual a sua valoração porque, neste leilão,
os jogadores têm renda informacional - têm incentivo a revelarem seus tipos porque mesmo com xi = vi ele não
terá que pagar xi . Com a entrada de mais jogadores, os que já estavam não alteram seus lances (o preço em que
desistem), pois este já é a sua valoração.
n−1 2
(b) E[v(2) ] = n+1 . A derivada em relação a n é (n+1)2 > 0. Então, o retorno aumenta quando n aumenta.

(c) Os lances serão iguais, pois dependem apenas do número de participantes do leilão e da valoração privada de cada
jogador, vide n−1
n vi . Com um leilão mais competitivo (mais jogadores), o desconto que cada jogador faz é menor.
Portanto, o preço esperado do objeto leiloado (retorno do leilão) é maior. O jogador que mais valoriza o bem
(por simplicidade, suponha que seja o mesmo na versão com 10 e na com 20 jogadores) lança apenas 90% da sua
valoração com 10 jogadores e 95% com 20 jogadores. O retorno esperado dos dois leilões é o mesmo, pois vale o
teorema da equivalência de retornos.
(d) O lance que cada um dá é n−1n vi . Cada jogador faz um desconto na sua valoração devido ao trade off entre
9
probabilidade de ganhar e preço a pagar. Com 10 jogadores, cada um joga 10 = 90% de sua valoração. Quando
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há 20 jogadores, cada um joga 20 = 95% da sua valoração. Portanto, os lances são maiores. O retorno é o mesmo
do leilão inglês: n−1
n+1

(e) Nesse caso, o valor do objeto à venda é incerto para todos (ex: um poço de petróleo). Cada jogador estuda o
bem e formula um sinal do seu valor. Os lances são diretamente proporcionais ao sinal. Logo, ganha o leilão
quem formulou o maior sinal de todos. Porém, se formulou o maior sinal em comparação com os outros, na média,
terá sobrevalorizado o bem. Descobrirá, portanto, que o bem vale menos do que esperava, reduzindo seu lucro -
π = E(v|si , ganhador = i) − pagamento. Essa é a maldição do vencedor. A maldição fica mais fraca quando o
número de participantes dobra - isto é, os lances dados são menores de modo que o lucro do vencedor sofre um
impacto negativo menor via um pagamento menor. O mecanismo é: com mais participantes, todos acham que estão
muito errados sobre o valor do objeto e ajustam seus sinais muito para baixo. Conclusão geral: com valorações
comuns, o efeito sobre o retorno do leilão de aumentar o número de jogadores é contrário ao caso de valorações
privadas.

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