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v=_aFIoOl8AHk&ab_channel=FerideKaya

“dizem que quando negamos nossa natureza, feminilidade e ancestralidade nosso corpo fala. a
dor que antecede o sangramento e por vezes persiste dia após dia durante o período está
entranhado em nossa psiquê como nosso próprio martírio. a Deusa chora conosco.”

— Hoje a sua primeira reunião é com a Primeira-Ministra, vocês marcaram de tomar um café
da manhã para acertarem o plano de reestruturação da Universidade de Ília para
intercambistas mortais. Logo após a basileomater, sua avó, a convidou para, abre aspas, uma
conversa particular, importante e de seu interesse, fecha aspas, no Pavilhão das Flores Negras.
Durante o almoço um enviado butanês apresentará as novas pautas do Tratado de Jade, mas
nós já remarcamos esse encontro duas vezes, uma terceira causará más impressões para Vossa
Majestade. Durante a tarde...

Enquanto Camila falava, Eleonora terminava de ajeitar a capa de inverno da governante cuja
estreitou os olhos para prestar atenção na voithós (secretária) e sacudia a cabeça em
concomitante. A jovem que agora cuidava dos acessórios da matriarca acabou soltando um
risinho baixo, o que despertou a atenção de Camila.

— Você não prestou atenção em nada, não é? – abaixou o iPad, encarando as duas em sua
frente.

— Claro que prestei. – Ann pigarreou, tentando conter a vontade de rir juntamente com
Eleonora. — Eu 𝒔𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 presto atenção no que você fala. – em resposta ao rolar de olhos da
ruiva, Andrômaca mandou um beijinho para ela.

— O que o povo colquiano diria se descobrissem que sua Mitéra além de tirar sarro da cara de
seus subalternos, pouco se importa com os assuntos governamentais?

E por falar em donzela de cabelos rubros, lá estava ela, Eadlyn d’Arameus, encostada na porta
com seus intensos olhos cinzas sobre a filha de Zeus. Um sorriso logo curvou no canto de seus
lábios, se aproximando um pouco mais.

— Eles acreditariam que essa pobre, linda e carismática Chefe de Estado é nada mais nada
menos que mortal. Talvez assim eu recebesse mais empatia de garotinhas riquinhas como
você. – o tom ácido escondia uma intimidade milenar, porque tinham.
— Essa garota riquinha também é conhecida como a sua Conselheira mais fiel, inteligente,
carismática, responsável, versátil, diligente...

— Chega, Eadly. Tá bom, já entendi que você é incrível. O que você quer comigo há essa hora
da manhã? – indagou antes que a herdeira Arameia continuasse, de frente para o espelho
acertava a coroa sobre a cabeça; entediada. Por ser uma reunião oficial, precisava usar aquela
linda tiara que lhe destacava como A Mais Alta e Mais Forte de seu povo.

— O que você me pediu há alguns dias. – disse fazendo careta para o amontoado de ouro e
pedrarias que adornava a loira. — O projeto de infraestrutura pr’aquele lugar. – o tom
repentinamente mudou, parecia agora falar sobre algo sério e oficial. — E você tá parecendo
um pavão com essa coisa na cabeça. – o sorrisinho voltou.

Andromakhé pegou o relatório, passando um breve olhar pelas folhas que se desenrolavam
em sua frente; dedos ágeis. De um instante para o outro, no entanto, fechou os olhos com
força, soltando um gemido baixo enquanto se apoiava na penteadeira. Isso atraiu a atenção do
trio que a circundava, fazendo com que Eleonora a pegasse pela mão. Não mais que alguns
segundos e a semidivina se reestabeleceu, colocando a mão destra sobre o baixo ventre.

— Você fez tudo isso em três dias?

— Não, em dois. Mas ontem quando vim te procurar me informaram que você estava em uma
reunião privada com seu noivo no seu quarto. – breve pausa, mudando o peso de uma perna
para a outra e dando de ombros. — E eu não me ofereço para ménages os quais não fui
convidada. Mas mudando de assunto, esse é só um esboço. Você aprovando posso passar para
o Ministério de Desenvolvimento e Infraestrutura e supervisionar pessoalmente o andamento
da iniciativa. Eu consigo algo fechado e refinado entorno de uma semana ou menos, só que
esse é o tipo de proposta que demorará anos para ser homologada. As velhas ranzinzas vão
implicar.

— Eu sei, dona Kora já me convocou para uma reunião particular, importante e supostamente
do meu interesse. – colocou a pauta dentro de uma gaveta, fechando-a logo em seguida. —
Até amanhã te darei um retorno sobre isso, preciso ler com calma. – se debruçou novamente
sobre a penteadeira, sentindo uma dor cortar de sua coluna a sua pélvis de forma ainda mais
forte. — Camila você tem certeza que tem me dado as pílulas certas? – falou devagar,
respirando por entre os lábios de forma ritmada.

— Sim, senhora, é claro. – deu um passo à frente, colocando as costas da mão em sua testa. —
Você está...?
— ... – apertou a madeira com força, arrebentando o móvel como se fosse papel. — Sim.

— Nós ainda estamos no décimo terceiro dia...

— RELATÓRIO! – Achilla entrou correndo, prestando reverência e se ajoelhando em frente à


vasílissa. — Perdoe-me invadir sua privacidade sem avisar com antecedência, Máter. Porém
são assuntos de urgência.

— Agora? – Eadlyn se pronunciou exasperada. — A Ann tá passando mal, me diga o que é e


vejo se posso resolver.

— Desculpe-me, vossa graça, eu não posso. – se voltou com olhos penetrantes para a filha da
tempestade. — É assunto de Estado Emergencial. – Rosalie fez um aceno com a cabeça,
dizendo para que prosseguisse.

— A senhora não pode! – Camila interceptou. — Precisa descer e... – encolheu os ombros com
o olhar duro qual recebeu.

— Até onde eu sei ainda posso responder por mim mesma o que posso ou não. Levanta logo
daí de uma vez e me diz o que diabos tá acontecendo agora.

A culpa pesava nos olhos de Achilla quando a somatophylake se colocou frente a frente com
Rhodon. Sem mais delongas, sob a trilha sonora de telefones tocando ao longo do corredor e
dentro do próprio quarto, continuou:

— Inúmeros relatos de casas, prédios, objetos e pessoas flutuando foram informados. Não
apenas na Cólquida como também em toda a Abecásia, ainda não existe o balanço de feridos e
perdas, mas dispersamos o maior número de Unidades de Defesa Civil e Militar que podíamos.
Não sabemos se é algum ataque em grande escala ou algum ocorrido da natureza. Sem saber
do que se trata, não poderia fazer mais nada além. A senhora é a Comandante em Chefe,
preciso que nos ilumine sobre o que fazer nesse momento.

— RELATÓRIO! – uma nova somatophylake se apresentou, reportando para a herdeira Kouris.


— Vários pontos da Abecásia tiveram plantações e florais inteiros mortos de uma noite para o
dia e bestas selvagens atacam dentro e fora do domo colquiano. Tanto na mítica quanto
mortal hospitais estão lotando, tudo virou de cabeça pra baixo em questão de horas.
— O QUÊ? ALÔ??? – Eadlyn praticamente gritava ao telefone. — Repete! Eu não tô... alô?! –
jogou o aparelho contra a parede. — Merda! A comunicação está uma bosta! Parece que os
cartórios foram invadidos ou algo assim...

— Sim, estamos com instabilidade na comunicação. – completou Camila. — E os cartórios


receberam uma enxurrada de pedidos de divórcios, todos de uma vez. Casais estão causando
caos nesses pontos.

— Pior do que isso. – falou Achilla.

— Ainda fica pior? – Eadlyn parecia indignada.

— Sim. Não tanto para a Cólquida que é composta em sua maior parte por autokhtons e
outras espécies, mas a Abecásia apresentou alguns casos de um vírus desconhecido. Seus
pacientes estão isolados e pesquisadores estão tentando chegar a uma resposta. Estão
dizendo que não é só aqui, mas esse caos está em vários pontos do mundo. Os mecanismos de
comunicação estão espalhando ainda mais medo e a população já não tem mais acesso a uma
rede de informações segura e transparente.

A Ensarkosi de Gaia ouvia a tudo de olhos fechados, aparentemente alheia. Folhagens


cresciam nas paredes, frutificando sementes com cores brilhantes. Ao passo que falavam, logo
as demais mulheres perceberam que sangravam. Algumas surpresas por não estarem em seu
período, outras por sincronizarem em um momento como aquele.

— Senhora... – Camila chamou. — Ann, você precisa descer.

— Eu sei. Mas também preciso pensar. Me dê só mais um minuto, por favor. – suspirou
baixinho, como se rezasse para si mesma e então saiu andando pelo corredor; sendo seguida
por todas na sala. — Camila você vai auxiliar a Basileomator e a Primeira-Ministra para que
cuidem das medidas administrativas e de contenção. Peça para que trabalhem juntas, daqui.
Quero que realoque todo o corpo boulé e da gerousia e seus familiares para as dependências
de Paradísia. Você – apontou para a somatophylake perdida que havia acabado de chegar. —
Segura isso aqui pra mim. – lançou a coroa na direção da garota que parecia pegar uma folha
em chamas. — Inicie os planos de intempérie e libere os fundos da FC-8492 para cauterizar os
danos iniciais, minha avó saberá o que fazer se houver excedentes até a minha volta. Eu quero
Eu quero os Departamentos de Magia, Tecnologia, Ciência e Astronomia revirando tudo e mais
um pouco para descobrirem o que está acontecendo. A lei e a ordem deve ser priorizada,
então quero forças especiais, civis e militares a instituindo. Prezem pelo discurso e evitem
ataques físicos. Destaquem Unidades Operacionais e de Batedores para caçarem e prenderem
as criaturas, digam que podem levar para Palaiós e só os machuquem em último caso. Fechem
o domo e todas as entradas e saídas da Cólquida, só ingressarão em nosso território quando
descobrirmos que vírus é esse que aflige a Abecásia. Inclusive quero médicos e curandeiros
pesquisando sobre ele, até que descubram o que é, devem tomar todas as medidas que evite
contágio conhecidas. Quero a divisão sensorial monitorando todo o fluxo de dados e
trabalhando pra reestabelecer a comunicação. Até descobrirmos se esse é um evento da
natureza ou algum ataque, todos os militares e médicos aposentados devem ser colocados em
alerta. Só deverão abandonar suas casas, no entanto, se precisarmos mostrar nossa força. Os
santuários devem ser fechados e os sacerdotes devem honrar em dobro nossas deusas e
buscar sinais dos deuses para descobrirmos o que está acontecendo. Apenas o Gaeum
permanecerá aberto, disponibilizando remédios e demais suprimentos caso necessário. Ainda
assim, o acesso deve ser monitorado. Descubra onde estão meus filhos e o meu noivo e não
permita que eles deixem a Cólquida enquanto eu estiver ausente.

Falava quase sem respirar, descendo todas as escadas com pressa e deixando peças de roupas
e joias durante o caminho. As demais não pareciam mais tão chocadas por estarem sangrando
e sim observavam que a basílissa era a única ali que não menstruava ainda e parecia
extremamente aflita com essa chegada. Principalmente pelas dores que estava sentindo,
tropeçando vez ou outra.

— Sim, senhora. – Achilla obedeceu prontamente.

— Você não. Eadlyn e você virão comigo. Serão meu braço administrativo, militar e, junto com
a Amphis, sacerdotal.

Ambas se entreolharam e falaram em uníssono:

— Quem é Amphis?!

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