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A questão da identidade e da dife-

rença está, hoje, no centro da teoria


social e da prática política. Está em
desenvolvimento, no chamado "ce-
nário pós-moderno", uma nítida "po-
IDENTIDADE E DIFERENÇA
lítica da identidade". As antigas fon-
tes de ancoragem da identidade (a
família, o trabalho, a Igreja, entre ou-
tras) estão em uma evidente crise. No-
vos grupos culturais se tornam visí-
veis na cena social, buscando afirmar
suas identidades, ao mesmo tempo
que questionam a posição privilegia-
da das identidades até então hege-
mónicas.
É nesse contexto que se insere o pre-
sente livro. A partir da perspectiva
dos Estudos Culturais, os três ensaios
que o compõem buscam, de diferen-
tes maneiras, traçar os contornos da
questão da identidade e da diferen-
ça. Eles o fazem, entretanto, não sim-
plesmente celebrando a identidade e
a diferença, mas, sobretudo, proble-
matizando-as.
No ensaio que abre o livro, Kathryn
Woodward, professora da Open Uni-
versity, oferece-nos uma introdução
clara e extremamente didática so-
bre os principais elementos que con-
figuram a questão da identidade e
da diferença. Woodward passa em re-
vista as operações pelas quais a iden-
tidade e a diferença são definidas,
discute a estreita relação entre esses
dois conceitos e explora as relações
entre identidade e subjetividade.
Stuart Hall, conhecido teórico dos Es-
tudos Culturais, por sua vez, concen-
tra-se em uma discussão da proble-
mática da formação da identidade
e da subjetividade. Evocando, entre
outros, Freud, Lacan, Althusser e Fou-
cault, Stuart Hall faz a importante
pergunta: por que acabamos preen-
chendo as posições-de-sujeito para
COLEÇÃO EDUCAÇÃO PÓS-CRÍTICA Tomaz Tadeu da Silva (org.)
Coordenador: Pablo Gentili
Stuart Hall
- Gênero, sexualidade e educação Kathryn Woodward
Guacira Lopes Louro
- Liberdades reguladas -A pedagogi,a
construtivista e outras formas de governo do eu
Tomaz Tadeu da Silva (org.)
- Identidade e diferença - A perspectiva dos Estudos Culturais
Tomaz Tadeu da Silva (org.)
- Pedagogias críticas e subjetivação - Uma perspectiva
foucaultiana
Maria Manuela Alves Garcia
Identidade e diferença
A perspectiva dos Estudos Culturais

Traduções: Tomaz Tadeu da Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Silva, Tomaz Tadeu da


Identidade e diferença : a perspectiva dos estudos culturais /
Tomaz Tadeu da Silva (org.). Stuart Hall, Kathryn Woodward. 15. ed. -
Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

3ª reimpressão, 2017.

ISBN 978-85-326-2413-0
1. Diferenças individuais 2. Identidade I. Hall, Stuart. II. Woodward,
Kathryn. III. Título.

00-3345 CDD-302

Índices para catálogo sistemático:


1. Diferença e identidade : Sociologia 302
2. Identidade e diferença : Sociologia 302
Petrópolis
© 2000, Tomaz Tadeu da Silva

O capítulo I, "Identidade e diferença: uma:irítrodt~Jd;teóric~ e conceituai", é traduzido do


original "Concepts ofidentity and difference'', del<Çathfyn Woodward, extraído do livro Sumário
Identity and difference, publicado por Sage Pi:tblícations Ltd., e organizado pela
mesma autora.

© Open University, 1997. Publicado aqui com autorização da editora.

O capítulo 3, "Quem precisa da identidade?", é traduzido do original "Who needs 1. Identidade e diferença: uma introdução
'identity'?", de Stuart Hall, extraído do livro Questions ofidentity, publicado por Sage
Publications Ltd., e organizado por Stuart Hall e Paul du Gay. teórica e conceituai, 7
© Stuart Hall, 1996. Publicado aqui com autorização da editora.
Kathryn Woodward
Direitos de publicação no Brasil:
2000, Editora Vozes Ltda. 2. A produção social da identidade e
Rua Frei Luís, 100 da diferença, 73
25689-900 _Petrópolis, RJ
www.vozes.com.br Tomaz Tadeu da Silva
Brasil

Todos os direitos reservados: Nenhuma parte desta obra pod~rá ser reproduzida ou transmitida por 3. Quem precisa da identidade?, 103
qualquer forína e/ou qüaisquer meios (elétrônico oú mecânico; incluindo fotocópia e gravação) ou
arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da editora. Stuart Hall
CONSELHO EDITORIAL

Dir~tor
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Editores
Aline dos Santos Carneiro
Edrian Josué Pasini
José Maria da Silva
Marilac Loraine Oleniki

Conselheiros
Francisco Morás
Leonardo A.R.T. dos Santos
Ludovico Garmus
Teobaldo Heidemann
Volney J. Berkenbrock

Secretário executivo
João Batista Kreuch

Editoração e org. literária: Enio P. Giachini


Diagramação: AGSR Desenv. Gráfico

ISBN 978~85~326-2413-0
',::;-

Editado conforfu6. ~-novoacordÔ ortográfico.

Este livro foi composto .e impre~so pela Editora Vozes Ltda.


1.
Identidade e diferença: uma
introdução t8óriCa e cc011ceitual
Kathryh Woodward

Introdução
O escritor e radialista Michael Ignatiéff conta a seguinte
história/à qual sê·pâ's~â nó:êôhtêxtó füftunpaís'dilâéetado
pelá·iuerfa~iintigâ Iúg~sláviâ: ..·.
' ~ão quatroho~~;j da·~~Iilir~srôu ~o po~iode comando da
..milícia sérvia locál,' eití Uma casa 4e fazenda abandonada, ·a
- · 250-metros'dâ lihha:defrerite croata:;.-não na Bósnia/mas
nas zonas de" guerra da Croácia central. O mundo não- está
inais olhando, .mas todci noite-ª~ .miHcias croatas e sérvas
tro9atn Ht~s. e;· às v.ezes,'pesadôs ataques'~~ b~zuca:
Est~ é. urn/~~eri~ de ~i4adeJJequ~ri~.1o~o·Ü1~ndo. conhece
fodámundo: ~l~.s f?r~m/ t~çlbs, :·à escõ~a jurifos; antes da
guêrrá; alguns deles-iiâbalhavam na mesma oficina::namo-
ravam as riiesinas garotas·. Toda noite, eles se comunicam
pelo rádio/'faixa_ do -cidadão~' e trocam insultos - tratan-
d9-se. por_, s~usrespec_t~yos, ~orne~. pepois saem qalip~ra
.tentf11" ~e matar uns. aos outros.
Esto~ fala~dq ,c9111 §Olda,dos, ~éryio~ .-:- rç_seryistas ca~s~gos,
de meia~idade, que preferiam estar em casa, na cama. Estou
téntanddcompreender por que.~izinhos começam a se ma-
tar :uns aos· outros; :Digo, primeiramente; _que,não;consigo
d_!stjnguir, ~ntr~, sérvi~s e crncttas.: "9: qúe" faz ::V:9Cês pensa-
', r~pl 9.u~: sjã() 4ifery?te~ ?)'
Cl homeITI com,.qu~ITIJ~t()p fal~ndo peg~ u111 m,aço de. cigar-
-: TO~ ~o ~()l.sqA~ su~Jaqu~ta cágµL.~'Vêist()? s,ãq cigarros
::,~érvios.' bô t>µtro·
·o • •
Iâdó~'
:·,r,:-::.:·· :
eíes fürtfam ·êi'garros 'éroatas." '
·':,•.; .: ••··e· · ,

''M,as eles sã~,~ arn~Ós, cigárros, .c.ert6?';


; ,...i; ;_ -~ : ' · :·. ·, :· .- : .: '. :. .; : ; : ·. :__ ,' •..-'? .: ' · ':. ·. ·.., ,.. · ' r )
"Vocês estrangeiros não entendem nada" - ele dá de ombros zendo a Ignatieff que sua maior queixa contra seus inimigos é
e começa a limpar a metralhadora Zastovo.
que oscroatasse pensam como sendomelhoresque os-sér-
Mas a pergunta que eu, fiz incomod~-o, de forma que, al- vios:, embora, na·verdade, "sejam os :mesmos :segundo ele,
guns minuto~ 111aisJar:g~~ ·ele joga l:l 1:trtná no banco ao lado e
4i~_:, ',~OJha, a ç()isa é ~~~.im, 1-queles croatas pensam que são
não:há nenhuma diferença entre os dois.
1
111_<?llioresq~~ tt§_~~ ~l~s· pe~s~1nqúe ~ão em;()p~us. finos e .,. :."'1~s'sâ'históriámg~~aquea_frleiltidade ér~l~cional.Aiden-
tudo o mais. Vou lhe dizer uma coisa. Somos todos lixo dos
Bálc~s,",(IqNATIEFF, 1994: 1-2).
ti4ade, sérvi~ depen4~, p~ra eJCistir, de. al~() ;(qra del,a: a, saber,
deoMtJ:a.. id~mti4ac1e (~r()~Cia), de ,lltna- J4,~n,idad~ que el~ não
Trata-se de uma história sobre a guerra e o conflito, de-
senrolada em um cenário de turbulência social e política. Tra-
é, ~ll~
difere,4a,iq~nti<f~~-esérvia~, mas. q11e, entretanto, foI11e-
. ce ~s;çón;diç,<}esp~~que:e1a·:eiista. Aige#tida4~ .~érviase qis-
ta-se também de uma história sobre identidades .. Nesse cená;:. tingt1e.poraquilo, q~e,:eIª, nãÔ,t\ ~~r µpi séryio és~ru~ .~'não
~iq 1mostraµi~~~ du~.s ,i4Ê~~i4~~~~ _djf,~r~:qtys, depenclentes de croata~~. A iclentida4e é~,assjm, marcàd,a pel~ diferença.
_;:; i.) .. ·, e··. =.. , ' . .(. :; •• : ; -~ . .J ~ : . " ···' ;, ., : .• : .. . , .., ' '.- . . ·-~

.dH~~J>.9~i5õ(?~ 11acio13ais ~yp~r-8:gas,,a cios,sérvios e a d()~,p~oa~


Essa-marcação da'diferença-não deixa de ter seus proble-
tas, que são vistos, aqui, com,q.ci()i~,P<?Yº,s,~htr,am,ent~ identi-
masi Porum lado, a asserção,da diferença entre sérvios e cro-
fic~~~i,s~_ ao~ q~~i,s os ~~~en~, ~~V?1vidC>{s~p()sta111énte per- afas; envolve a,negação:de que não existem quaisquer simila-
teµcyrif j'p~lp,"tji~110s, ~: i-~1i1,#'q11f é~efs~y~~Ill~ Es~as identi-
ridades entre os dois grupos. O sérvio negaaquilo que ele per-
daci~s adqui,reÍn: S~l1tjci_o ppr,_riié'íó, ~éia' lmgu'1g~"m.. e' dos siste-
cebe como sendo:a-pretensa superioridade ou vantagem dos
mas: simbólicos pelos quais ,elas, são,representadas.
1
croatas, ,OS :quais são,,todos,' reunidos; sob o guarda-chuva da
A /é~r~s~n,tM~õ atil,fl: ~ifo6bhcaíne#t~ '. pârai,~lassificar o identidade nacfonaLcroâta,: éonstituindó~os/assim;, como ·es-
m1.111do e nossas relações .no'. efy11}nterior,C1Mt~,I997a). Como tranhos e como f~outros'\ Adiferença:é su~tentâdàpela exclu-
se po,qe.ria,utiHz~ra ideici d,e_tepr,~sentaçifo para· aÍla.Hsar a for- são: se você é'.sérvio, você:n.ão.:pode: ser, droatá\;: e vice-versa.
ma ,como, as identidades .sâó constiuídás ness~: caso? Exami- Por outro lado,:essa·afinnação da diferença é:problemática
ne~os.'~utra vez a'Iiistória c1~ Ig~ati~fi."-oq~~:évi~to como t~111,~~9:1 para Q fOWaclo:~éryio.,1)-T() y.i~~l,p~ssoaJ, yJe_, ~~tá:cer-
sendo a mesma coisa e o que é :Visto como sendo diferente nas
dtiás' idefitidadêS'::i a doá sérvios e ados ;croatas? Quem é in-
tq :cl~ 5Ht~;~W;~f9.a,~~8,11~9 ,8~,()',-11}7~llqr~~,.~pe5>s.:sé1Gi9s~ ?Jct :Y~r-
/iga,cle,, ,~le cliz;. gpç e~~,s. :s~o,, ~}ll~SJJ:% PO.tS.ª:- lW1-~t1~:tr obs~rva
ch!ído e quem é excluído'?':Pa:faquefüestâêlisponível a identi-
dãô~- hàcional'sérvia enfatizada' 'nessa história?
-911~, ess.~~ "m~smt~iq~'' é _prpdmo 4~h ~fP~fi~11d~; viyi~a e 9.
cl~s. 9~isas d~,yr,4,~ ,ê,9tidi~a_'c1µ~ O.f,S~lyi()~-..~.PS,,C{()ata.stêm
' i l 1 '. ~· i ' ; , ·.' i··1; ... : • :

Trata-se _de povos que têm em .corou~ ·~irlquenta anos de ~trt c,,otriú'.m~ )~s.s~-~isj1111ç,ão, -~ntre,~ únid~de . dct i1entidade. na-
unidade política e econômica; vividos sob o regime de Tito, ç{9,1~~~l(q'1e,e,~latiz~:9 :ci,~#fP. soni~s.rc>d()s. 'sérv,iC>s'') ~' ª ~:#Ps,
na nàção;;:êstado 'daTügoslávia.~, Eles p~rtilharii ô1loêal e diver- yiga.,_cqHcli~µa cpa co1:1füs.~o, pa,ra _o s.plq~q() que pare9~,se
sos aspectos da cultura em suas vid~ifüfüdfanàs.' Mas o argu- çp~tr~clj?eF;~ô a,fn,;w~ ~él~~P:1e,~t~~rep9~,~~~~ os, s~ryios
~ê~te>'_do_µiilicfatíqséi:vi?:é, 1e,';qY~'oá~,ér,vriôsêps'~toatas são ~p:~,prqat,á~ 'e,:: ~g 1!,i~~tp:9,t~WPº, ~wa.gr,ancle ~,itnilaridade -
tÓtál~~tjt~; c1it~r,e11,~e$;, :M~,
l11~~mp nô~ pjga1;ó~ ,qu~ fumam. A
1 ''s9mp'.s'todqs:~i~? d~~;,~~lcãs'\- -., .
êol
princípfo, paréc~j1ao' ~xis,tir qualq~e!: sa -~111 c?mum entre .n e': '.A identidade: émarcadà por meio de sínibolos;:por exem-
sérvios e croatas, mài em poucos rr11htúos ·o-homem está di- plo, pelos :próprios cigarros que são' fumados em·cada· Iado.

8
Existe uma associação entre a identidade:_ç.áfpessoe'e;astcoi- distintas, opostas. Neste momento histórico-específico;as·di-
sas. que. uma pessoa usa: O cigarro: fünciprta:lrassim,;::nestr ferençasentre os homens são maiores que quaisquer .similari-
caso, --como um significante•- importante-.-da ;diferença -~·, da dades, uma vez que o·foco está colocado nas identidades na-
identidade e, além disso, corno um significmit~; qµet ~,;;9prn cionais em conflito. A identidade -é marcada pela diferença,
fre(J_uência, asso,ciado com _a mascuHn~qa~~_(t~!8P~~-~~fan- mas parece que algumas diferenças - neste caso entre grupos
çã9, dos -~()lli11á;Sk)nes, "Satisfa:~ti,~ri":· :"l3~~t;1%-~:~~l~gf; étnicos """"são vistas confo mais importantes que outras, especi-
s~r úm ho111em p~rqu,ei nã() fuma·()~ 111~s1no:s _c,1g,~!!P~ _q:4~;~~;, almente em lugares particulares e em momentos particulares.
[tyeU_heêdf!t ~eâ :rnan '}àilSf ~~~s~_ ~/'f?~~ !~~iWfttd-
kf Em outras palavras; a afirmação das identidades naciona-
gizrêites a~ mel)._ q p.ómem da P1~~1;cm ~e,rv~a ,e e~R~-~?~~?.~~'~11- is- é historicamente,::específica.. Embora se possa remontar as
tó ~ essa referência; mas me:nos-d1reto· qu~:nt?'ª.º':1!1°?.~-~~~1~- raízes das identidades nacionais em jogo na antiga Iugoslávia
carites da identidade, táis comoas ass()c,iá9ões ê~tn" a·s,~~~~i~ à história das comunidades que -existiain no interior_ daquele
cação ~élâ cultura europeia (ele: fala de ''~uràpéus. fino~"r âa territóri9, °'· .9,ollmt() ~µtre e,~~ surge, etn t11111J?pn1e:çito particu-
qual são, ambos,-sérvios e cro~tas,_e~cluidos·, eam~en~nda- lar~ N~sse, sentido, a emergêJ.J.cia dessas _diferentes identida-
de da cultura balcânica que é, 1mphc1tamente, sugerida como des é histórica; ela está localizada em um ponto específico no
sendo sua antítese~-Isso estabelece,mria outraoposição,pela t~tnpo. lJmª dasJor111ª$. pela$ quais as)clentidades estabele-
qual aquilo que a cultura balcânica tem em comum é coloca.., cem suas reivindicações:é por, meio do apelo a antecedentes
do em contraste_ com_ a· cultura de outras partes da Europa.
histp9co~._ ()s, sérvio~, 9,~ 1J~s11jo~,,~ p_s cro~ras tentaw leafir-
Assim a construção da identidade é tanto simbólica quanto
mar .suis._ jdént1daq~~,, sµp9.si~wé11te l?~téli4~s,~J)~~cªp.49-.as
social.'A luta para afirmar as diferentes identid~des :e~ ~au- n() passado, .erriborá~ ',âo,éf~z~-lp,; el~~ posS~lll esfüi;; r~ãiroeme
sas e consequências ,materiais:: neste-exemplo 1ss~ e ~1S1vel
no conflito entre os grupos em guerra e naturbulenc1a e na
pr~'éí1.p}1,1'.do pov~s 1de,nti<l~q~s7. R?i i~eínptq,, ,9,~·~~~+?·s.ry~-
s11sqit~ra1I1 e_Jedescoqri~aIÍl'a pt1lmrfsézy1a d9s.~erreiw'ge
desgraça social e econômica que a guerra traz.· dos, contadores d.e histórias~ os· duslárs da Idad'é Médiá'-
:c1~:
fQtn<) ll~ :+i~m~nto si~~ifiê~tÍv? s~i históri~, 'refJ~çâ~do,
1

Observe _ _a·freq~êrlci~: com>que áid~ritidade nacional é


a~:
marcada_ pel? gêne~o1-Nó·11~ss~ ~x~111~l~, identi~ades na-
cion~is pr<?d11ri~as sãomas~uh11as ~- ~s~~? hga4~s a _co11c~p-
1
,P9r ~ss~ ,me~(), ~ua~. a1t1:ais avf111ações de. i1entj4~c1e: 'Coino
~~,creve Ig~àt1eft;em 'o4tf?,l()cal,· ''?s•.•~~#.ores::aá 'g~~nJt s~o
f
ções II1,ilitaristàs· ~e: :n1~sclili11i~a1e. _A-s: ~~l~ere~ _n,ã?: ~~e~ ~h1P?rt~ntís~iti}o~,-11C>~: ~ál~,ã~; d~z-se aos,_ es,~ngejros: 'v()cês
parte;desse c;enário, ~fll~()ra ex~~t~~-?~,v1~~-e~te~ ~u~a~ 1?~~ têm qu~. coinpreerid~frlO'~sá:hi:stória. ~.' e, vinte minuto~ _triais
siçõc,s 'nacio~ais e éth~~as q~e_a~ó1119~~m. a~ tp~lhe~~s,;_.,Os ~o~ tarde ainda 'esta.mdi \juvindo histórias· sohre orei Lazàr, os
ª'
mens ~eridem construir posições:.4e-SUJ~l!() p~a a~_ 11:1u~.~e~ túfcôs'-ê á l,;ataln~de'~~ÔSÔV6''\IG1'V\TIE~r, 19~3: '240).' A
rés tomando-.ª si.1Jró~ri.º~ co111() p'()11to 4e ,r,~f~rê~ciat A, íp~~~ re~~o~~ção de~se; pass·~do': ~esse -p~~t?, 'sug~re,' 'entretanto,
mençãoamulher~~,,_:iíes_~~--~aso,:§.~~:,':p~?ta~_" ,1~~,,~~e.s,_.':~a~ urri;inom.énfo dé êríse:e não,'êorri8 se poderia pensar, que haja
moravam" ou melhor; que for~in. ,. 11.ail.}()rad~s _t?-º P,,~~~~~,, alg~_.ést~b~lêcido: ~-~-~~ 'p1r'c6ii,s~çã:ó-~a. identicla~ê-s~rvia.
antes do s~gimento do conflito~.Âsinulhérés sãcfos sígnifi- Aquilo· que p'arece 'ser :simplesmente· um àrguipento" soore· o
cantes de,uma ,identidade.masc:ulina.partilhada,: ma:s;,~g()~a passado' ê' à reáfiriiiáçãô dê' uma verdade' histórica: pode nós
fragmentada e reconstruída, formand~: identid~de~ naG1~:11~~ dizer mais sobre a hô~~Fposição:.de~sújeito do·gÚerrefrd do

10 11
Podemos encontrar uma "verdadeira" identidade? Seja invo-
século XX que está.tentando defender e afirmar.o sentimento
cando algo que seria inerente à pessoa;: seja buscando sua
de sepáração e de distinção de sua identidade nacionaln,o pre""
sente do que sobre aquele suposto passado. Assim,, ;essa m- "autêntica" fonte na história, a afirmação da identidade en-
descoberta do passado é parte do processo de construção da volve necessariamente o. apelo a alguma quali_dady essen-
ide,ntidade que está ocorrendo neste exato momento e que, ao st~!? Existem alternativas,. quando se trata de identidade e
que•·parece, é. caracterizad~; por conflito,, contestação-e ,uma de diforençª, ~ oposição binária ''perspectivas ess.encialis-
tas versus perspectivas não essencialistas"?
possível crise~ ,
Esta, discussão da,identidade nacional na antiga Iugoslá- Pâra tra!a~ ~es~~s; :questões precisamo~' de" explicações
via levanta questões que podeni: ser formuladas: de forma que possam· esclarecer os conceitos centrais ·envolvidos nessa
mais •ampla,,para funda~entar uma discussão mais, geral so~ discussão; bem como de um.quadro teórico que possa nos dar
uma_ compreensão mais: ampla dos; processos que .estão en-
hre ~; identidade e a diferença: ·
volvidos na construção da identidade. Embora esteja centra-
· , '.·~Porque e~tanfos exâminaiido i questão:'dá identicladê nes~
da na questão da identidade nacional, a discussão de Michael
· · te exato momento? Existemesmô uma crise da identidade?
Caso a resposta seja afinriativa:· por que isso ocorre? , Ignatieff ilustra diversos dos principais aspectos da:identida-
de e da diferença em gerai'e sugere como podemostrataral-
·-" Pôr' qüé as pessoas investem êrii posições dê'identidade?
: ,. Como sé pode explicar esse investimento?
gumas das questões analisadas neste capítulo:

}'Jab'8.Sê dá lliSêtís.Sã~ sôbiê essâs q~eStõéS e;tá. atêJlMio 1; ·Precisamos de· conceittlalizaçõe~: . Para compreender-
éntiê perspectiVas ~ssincf~listaS ~ persred~iya.8 71ãb esseri- mos ·como ·a identidade -función:a, precisamos conceituali-
zá..;la e' dividi-la em suas diferentes diíne:risõesI·'
dâUstas :s?br,e í4~ntidad~l Uma ~êfini9ão ;e:~serici,~li~ta_da
~}(!~·fe. ii~ ~onj·~~~~ :~ri~-
~d,~nfida~~:''s~rv/a." '~u~~~ifia que 2. Crirrí frequência, a identicl1d~ ~nvôl~e r~fyindica9ê>,es
tali~ô/âü~ê1HC(J, d~ 8~ª~F~ristJCas ·~ue.·'º1~f ?( Sér'7i(J~ essencialistassobr~ quem pertence e quem 11ã~ pertence a um
P!lft#h~ e4ue.~~9 i~ 11lt9\~()}()f!g() d? tfmll{.y~i .de- determinado grupo identitário, nas quais a identidade é vista
fi:ni9~0 11~<>, é~Sf ncialt~~a~t~.~~w~}lri~,as. dife~en9as,. ftSSÍill como fixa e imutável.
êd~o·a~ ~~\lcíerJsticis c{lm~11s ou ·~arti~~1,s, fanto ~11tre Íi , • - 3. Algumas vez~s, essas reiv1ndicaçõ~s. ,estão .bas~~4as

?frr?PB~~}:t~ió,~,%~l0tr ~i,ifr,igf,:~e1i.1~,r, o~tw~. ~rfg~ na natureza; por exemplo, em algumas versões d~ id~11ttda-
~trfcQs,.1Jiµá 1~fimção ,n~o. Y~-~911c.1~h$ta pr~st_~rta Nen9~() çle' étnica, na "ra.çânê nàs ·relações de parentesco~ M·ais fre-
t#~elll às' fofll¼!l.s P.eiaS qµ~fS'{<l~~11iç~q. ~qµilq. que siga g~~ntem~nte,, .entretanto, essas reivindicações·estãobasea-
nifica. serurn ''~éryio'.','!ên1.rnud~dR:a9:lp11~Q::4?s~·sécµlqs. ,ôas 'em alguma versã9 essencialista da história e do p~ssado
A?-,~fir111a~-- ~,p~i~w~A~:.a~ N,1M~ .~4i~t,{4~;4~i,~ 'r?~: ,exem~ !f-qual a história· é construída ou representada como· um~
plp, ~A<?.s;éryiÔ~P~!-~ê~p;ep~,~sá}i~ i}ij:?, àp~nase,.?:,8fá~.la verdade imutáveL - ·- · ·
~TT1- op,Ô8-i9ã9 ·a 11ni~oi}1ra.fq~ptid~~~ q~e é, ,ep~~9,,p~sv~}o~
rizadá,t mas tàmbéín reivindicar. algum~jde:Q.tidade s,ér,v,ia
. ,.:'' .·' ·:.. :·.,, .•. ·: .., .;,:.,>, . ,.-:,,,,: ... , ., . ::, ..... , ........ , ..., . · ..-,...· ., ·•··>.:/·;
,,,·. . .i\''...
i~;(i.4, f ;i?e~Údade é, na verdade, ryJacfonal, e a dif~rença é
~~t~lJ~lec11a po,r u~a. ma,;cação simbólic,q, relativamente. a
~~verd~dyira?.at1~êntJç<1~,,qúe.tefia!p~rp:1~recic:lo igual }19J9n-
outras identidades (na afirmação das identldades nacionais
go do, !e~p~- .M~~: ~; i~~9.:,~ 9.~~ 9ç9rr~l,A ide11tidade,-~ fixa?, ·, i' . , . ; . ,. ·. . '

13
12
por exemplo, os Sistemas representacionai.s que-marcam à di- 1O. Precisamos, ainda, explicar por que as pe,ssoás assu-
ferença podem incluir um uniforme;: unia:bandeira nacional mem suas posições de identidade ese identificam'com·elas.
oumesrno os. cigarros que são fumados). ·· · · Por que.. as. pessoas. inve.st~tn. m1:5 pC>siçpes. que os discursos
da identi.1ade lhes. ofer~ce111? O nível ps.íquicó. também deve
5. Aidentidade está vinculada também a cóhdiç?es·~o- fazer parte -d~ explicaç~o; .trata~~e. de ·lllÍÍa dimensão que,
ciáis e materiais. Se um grupo é simbolicamente márcado juntamente com a simbólica e a' s·ociaÍ, é necessária para
como o inimigo ou como tabu, isso terá efeitos reais i:forque o
uma completa conceitualização da identidade. Todos esses
grupo será socialmente excluído e terá desvantagens'mate-
elementos contribu.em.·.para explicar como as .identidades
ri~Js~ ~?r e~eJ!:Lplo,.o cigarro marc~ disy11ções que estão;pre-
são formadas e mantidas. -
sentes .também 11:a,s relações sociais.entre.sérvios e croatas.
, :,·-..>'.:· s .· . ··>.: .':· ,:_-.. \·,_.- .•·,;_::.• . . . ; . ) ._· . : . .-
' '' . , ; ~ ' -- . '

6. O social e o simbólico, referem-se a' dois processos di-


ferentes;:mas cada um deles é necessário para a construção e a
1. P,ôr qu~ 9. corjê~itcf d~.. ider1,id~de. é. impe>r~~nte?
manutenção.das identidades.A marcação simbólica é o meio Uma das discussões centrais sobre a identidade concen-
pelo qual damos· sentido a·práticas e a relações sociais, de- tra-se n~ tensão eJ:l.tre o ês'sericialismo e o 11ão e_ssencialismo.
finindo,·porexemplo; quem é excluído e quem éincluído •.:É O essen~ialismo:pode fundamentar suas afirmações tanto na
por meio.da diferenciação;SC>cial que essas classificações da hi~tóri~,,1\ianto na,biolOgi#; por exemplo, certos tnovimentos
diferença são '~vividas,, nas relações sociais.-_ políticos podem buscaralgurria certeza· na afirmação da iden-
ti~ade apelando seja à'\rerdad~'' fixa de um pa,ssado partilha-
· 7 .- A conceitualização da identidade envolve o exame dos
do seja a ''ver9ad~s~; ,b~oJpgigas~ q côrpp ~ rl111 d9s lo.c.~is en-
sistemas clqssificalórios que mostram co.mo as relações so- volvidos rio estabelecimento' d~s fronteiras.qü~ defiriyn1quem
ciais são organizadas e divididas; por exemplo, ela é dividida
einao menos dois grup9s em oposição- "nós e eles", "sér-
ll?S ·somos, serv_irido, de :fyndatn.~nto IJara: a ide1:1t~dade ~ por
~xemplo, para· a: identiµade·se?(u,.1. ,É'~e~~~s~riô: '.én.tre_ta~to
vios e'croafas" . '
. , ·, , ; -~: ;. : . \ . ~ ·. reivindicar uma base biológica parâ.â:i<fontidade,:seiuaÍ? A
. 8._AJgurnas diferençasgão marcada.s, mas nesse processo maternidade é outro exemplo no. qual a identidade parece es-
algumas diferenças podem ser obscurectda,~; por exemplo, a 1tar biologicamente fµn:damentada. Pq~ outro lado, os movi-
~~nn~ção,<!.a identidade n~cional pode omitir diferenças de 1·mentos étnicos oureligiosds ou nacionàlistas frequentemen-
cl~lisee;diferenças de.gênero:. . - " . , ' te reivindicam uma culhl!.é:l.. ()U uma história comum como o
-Di/'lf::1L!; _;;; c:.,)~;·1 _ : ·-. ; . •e; . . . : .• ....• · 'fundamento_desua-ideritidade. O essencialis:moªssume, as-
1~,
-if•;g.: frl.~;ntidades não são unificadas~ Pode havercontra- sim, diferen~~~-fo~as, como se demonstrou na discussão so-
~9;
q1ç;§:~~: ~iµJ~~~rio,rque tê;tl) que ~er 11egociadas; por e}(em~ bre a antiga-IµgÔslávia. É possível afirmar a1d.ê,iit1.dade étnica
P!~~\2r!!1W.9i~9 .~~J}'i9. parece e~tar e11yobrido en1 uma dificil ou nacional s~In reivindicar uma histó!iá que possa ser recu-
µ~g9~j~ç~9~~9<:.9;i~.ef:q_Ue OS S~[Yjqs ~-;9S Çro,ata,s s·ão 9.S,tn~~- perada para servir de bas~ para uma identidade fixa? Que al-
mcfaê; 'âô m~srrio tempo, fundamentalmente difere11te~. Jlpde ternativas existem àestratég~~ ~e basear a identidade na cer-
lla.ver'di~çfêpâm~ias entre o nível coletivo e o nível indi~idti~l teza essencialist~? Será que as- identidades. sãó:fluidas e mu-
~ ~
,':. º":~.-')t:.-:;:;(?<'~_:-'J-:::,\:>.r:~-/\..,.)f\"<'.}-[''- .-~= .. .
-~ª
1.·,_:~_:, ..,,: ... _~ .• -,·.····... i:"~ ~:·-. .. (~·- ... ··/'·::· '

tais C?lil"o:·a8:'9-~~cp•o~~~8:\ffgir,entre as de111an~as'.ê~~~!tY~s tantes? Vê-las comoJluiclasJ~ rnytantes é compatível com a


id.enti~à~e11áf!:?~~r~~f\Ti~e:~s·~xperiências.9~t11~~~~s:q#fos sustentaçãode um projetopolítico? Essa~ qt1estões ilustram
sérvios pârtíiliaB:Vifoin ()$ croatas~ . ; -"~;).;<, r;q.,;:Lii ..-.:, ;, },,

14 15
as tensões que existem entre as concepções construcionistas identidade e a diferença se relacionam'.com a discussão so-
e as concepções essencialistas de identidade. bre a representação (HALL, 1997). :Paracompreender oque
faz da identidade um conceito tão central, precisamos, exa:..
Para justific'ár por quê estamos analisán.do oconceito de
minar as preocupações';contemporâneas· com questões de
ide~tidade, P.reci~anios 'examinara forma cofuoa identidade
identidade em diferentes níveis. Na arena global, por exem-
se insere no "circuito dá cultura" 1 bem como a forma c'omo a
plo, existem preocupações com as ,identidades nacionais e
com as identidades:étnicas; em um contexto mais "local",
1. A autora refere.;.se ao esquema representado na Figura 2, desenvolvido por Paul existem preocupações com a identidade pessoal como, por
du Gay, Stuart Hall, Linda Janes, Hugh Mackay e K,~it~ Negus (1997).De a.cardo exemplo, com as relações,pessoais e com a política sexual.
com as explicações da autora deste ensaio em sua introdução ao livro de onde ele
foi extraído,Identity and différence, "no estudo cultural do Walkman como um ar- Háuma.discussão:que sugere que, nas;últimas décadas, es-
tefato ,ct1ltural, Paul dll Gay. e s~us polega~, !lfguine~ta~ ,que,. I)ara se. obt,er uma tão·· ocorrendo mudanças'no campo da identidade:- mudan-
ou
plena compreensão dé um texto àrtefato·cultural,-é~riecessário analisar os pro-
ças que chegam ao ponto de produzir'uma ''crise da identi-
cessos de. representação,. identidade, produção, cops~o e regulação. Como se
trata éleum cfrcuito,.~ possível começar.em qualquerponto,; nãose trata deum dade'~ l Em que medida o que está acontecendo hoje no mun-
processó:lÍÚear; sequencial. Cada momento do circuito está támbém'inextricavel- do sustentá o argumento de que existe uma crise deidentida-
mente ligado a cada um·clos outros, mas, no esquema; eles aparecem como separa-
d()s.para q':1e poss,amos nos c911c~11trai ~ eII1Inome~t,o,s ,esp~cífic95,. Arepre5,~n1ação de e,o,que significafazer uma tal afirmação? Isso implica
a
refere~se, s,istein(lS shnbólicôs (t~x~~s- O"ll 'im~gens visuàis, por exempl?) Jai,s
como ós envolvidos· na'publiciciade de urrí prodúto"coinô o Walkiriàn~ Esses siste-
examinar, a: forma como ·ás identidades são formadas e os
mas·produzem signific:ados sobre o tipo de pessoa que utiliza um tal artefato, isto processos que estãoaf:envolvidos.Implica também pergun-
é,, p~odtp:elll iqe11tidacles q1;1e lhe ~stão associ8:qa~: Essas identid~des e oartt?fato tar em que medida as identidades são fixas ou, 1de formá. al-
c?in ,º qúal elas:são ássociadas são produzidás;, !anto técnica quânto culbf.almen- ternativa, fluidas e cambiantes.-. Começaremos a discussão
te; para atingir os consumidores que comprarão o produto com o qual eles - é isso,
ao menos; o que os produtos esperam,.- se identifiéarão.;Um artefato cultural, tal com o lugar da identjdade:no ~~circuito da cultura''i"
a
co~o, o. ~alkman, t(?m µr11 ~feito sobre regulaçã? da vida social, por me~o das
formas ·pelas quáis ele é representado~ ·sobre as identidades com ele assóciadas e
sobre â àrtictilaçãó de sua-produção e de seu consumo" [N.T.]:· 1.1. Identidade eiepréséhtdção
'
! ' 'for ,9ue ~Stflip~~. e:x:~~tíiaµ40;,,a ~â~n~~cla4~~,W1if~r,~µ~~?
Ao exainit1.r1r .• sis!étn~S qe r.~prés~ritaç~o énec~ssári?' f1n3;lisar
-. -.·:.'·.

. - 'k;r,e!aç.ã,o -~ptre çmtrtra e; ~~~ifjq~do (~L, 1~~7)'. ·s,ópp"de-


?~.
,- ,

IºS éomP:fe~nder ~igriifica40s et1.xolvidos t1.e~ses ~i.~tçinas


produção s{tJy~rwos algiinJc.t iiqeÍ':1 S?b~e 'q~ais l?.?siçé5r~:.d,e:.suj,eito eles
Pt01uze111 ecóm.~: np~,-,9?~P :s:uJei~o:~!, J>p4etnÔs' ~-e,r 'po,siciç-
nados em seu interior. Aqui, estaremos.tr~t~~~o deum;outro
momento do "circuito da cultura": aq~êle. ;ein que foco se o
desloca 'dos; sistemas'.dé'reptesentação· pata :as -ideitiidades
prodúzidas pôt aqúelestsistema:s-~
,.· ... '!\fép,t~~~µt~çijó.,i,~çluf~$'práti,f~sde:ªigftl(lc~ç,ã<5t9s.·sis-
Figura 2- 0 circuito da cultuia: 'se~ndoPáhljde Óay êfaL,(1997). têriias simbóltcos potmeié>"dos quais os"signific-~dos são pro~
16 17
<luzidos, posicionando-:-nos como sujeito. É por meio dos sig- qual nos identificamos com os outros, seja pela ausência de
nificados produzidos pelas representat;ões· que .damos senti- uma consciência da diferença ou da separação, seja como re-
do à nossa experiência e àquilo que somo~~, Podemos inclu- sultado de supostas. similaridades, tem sua origem na psica-
sive sugerir que esses sistemas simbólicos tomampos,§ível nálise. A identificação é um conceito central :ria compreensão
aquilo que somos e aquilo no qualpodemos nos:torhar;Are- que a criança tem, na fase edipiana, de sua própria situação
presentação, compreendida como um processo cultural, esta- como um sujeito sexuado. O conceito de identificação tem
belece identidades individuais.e coletivas e os,Sistemas sim- sido retomado, nos Estudos Culturais, mais especificamente
bólicos nos·quais ela se baseia fornecem possíveis.respostas na teoria do cinema, para explicar a forte ativação de desejos
às·questões: Quem eusou?O que eti poderia ser? Quem eu inconscientes relativamente a pessoas ou a imagens~ fazendo
quero ser? Os discursos e os sistemas de representação cons- com que· sêja possível nos vermos na imagem ou na persona-
troem os lugares a partir dos quais os indivíduos podem se gem ápresentadana tela~ Diferentes signifiéados são produzi-
posicionar e a partir dos quais podem falar. Por exemplo, a dos por diferentes sistemas simbólicos,·mas esses significa-
narrativa das telenovelas e a semiótica da publicidade- aju- dos são contestados e cambiantes.
dam a construir certas identidades de gênero (GLEDHILL,
1997; Nixon, 1997); Em momentos particulares, as promo- Pode-se levantar qt1~~tê>es sobre o poqer da representa-
ções de •marketing podem construir novas identidades como, ção e sobre como e por '.que algtms· significados são preferi-
por exemplo, o "novo homem" das décadas de 1980 e de dos relativamente a outros; Todas as práticas de significação
1990, identidades das quais podemos nos apropriar e que po- que produzem significados envolvem relações de poder, in-
demos reconstruir para nosso uso~ A mídia nos diz como de- cluindo opoderparadefinir quem éinêluído e quem é excluí-
vemos ocupar uma posição-de-sujeito particular '.'.'."" o adoles- do.· A cultura molda aidentidade ao dar sentido à experiên-
cente "esperto", o trabalhador em ascensão ou a mãe sensí- cia e ao tornar possível ,optar, entre as .várias identidades
vel. Os anúncios só serão "eficazes" no seu objetivo de nos pqssíyeis, p9r mn _ 111od9 _ específico, de st1pj etiviclade_ - tal
vendercoisas se tivere111 apelo par~ ?s consumidores e se for- como ,a da feminilidade loira e distante ou a da masc1.dinida-
qe ,ai,íy~~ ~qativa e sofistic~d~. do.s anúncios. do \1/alkn'lan, da
necer7~ llllàgen,s co.mas qiJais eiêgpossani s~ id~tificar. É
claro; pois; q~~ i 'prod~çãode :si~i~ca1()S e a produção• das ~ohy O?U: GAY 8l, :f!A.LL ,et aL, J997\,Soµiqs cons,t~angi-
dos, ent~~ta11to, não :ape:qas pefa gama ,<;le ppssibilidades que
i1~ntidades qÚe:s~o posiciónadas,ri<>s:(e.pel~~) sis~emas.,de
fepte·~éntáçãt1. e.stão estreitamerite,\rin~~~daà.:.ó cleslocamen~ a cult1:1~a. ()ferece, .ist9,:é, pfl,a var,ie,dad~- d.~:repr~sentações
tó, aqui, panúu~a ênfas~ n~!dent~dade é. ~eslocame1:1~0 de uni simbólicas~ 111~S tarnbé1:1,1p~l_a§ r~l,~~9es,soci~J,s-., Cpmq argu-
ênfase--um desl()cainento-que o' foco': da representa- muda menta Jo11ath~1?)~-:u.t~~r,fq,r,~,,:, _ - · ,, _ -
ção pár,a' as identidades. , - - - "[... ] a identidade marca•o encontt:o de·nosso passado com
as rel~çqes sopiai~, çu!t:.t,irais,e.eco9qmic,as1 n~s q11aisyive-
_A, ênfase na _representaçijq e p. Pªnehçhave da çulturana mos ago,r~ [':".] a ~qentidad~ ~ a interS~fÇAoC,e 110ssas vidas
produção dos significados qµ~ ,p~p.ne-iam todas as,'.rnlªções cotidianas 'com as relações econômicas e'-políticas de su-
~oçi~is l~vam, ~~~!lll, ~ um.~. :pre99.1:1~~ç~~ c9111 a id17J!i/jp~ção
bordinação e dominação" (RUTHERFORD, 1990: 19-20).
.
(NIXON, 1997).' Êsse cônce_itó~' qt1~~a~screve o prq~~~~9 ~~~o
,. · : ' , , . ·. ' ' • ; -. :· · . · , ....'. J .. · .· '.i • ~ ~ .' •• ~ •• : • • ~ , ,• •• .:. • i .'. :, :: ! ·o ;: • ,J,.)' ~ i: ,- ,

18 19
Os sistemas simbólicos fornecem novas formas de se Alguns ,autores recentes argumentam que ,as "crises de
dar sentido à experiência das divisões e desigualdades soci- identidade'' são características •da ;modernidade tardia.e que
ais e aos meios pelos quais alguns grupos são e,xcluídos e es- s:ua centr~lic:lac:le atµal sé> faz sentido quandoyistas no c.ontex-
tigmatizados., As identidades são,contestadas. Este capítulo to das· transfort11,ações ,globais que têm sido de:finidas como
começou;com um exemplo de identidades fortemente con- caracterís~j9a.s; da. yida cont~mporânea (GII?,D EN'S, 1990).
testadas. Adiscussão sobre identidades suger~- a emergência Kev:in llol;>i11s, p()r e:xemplo, argµmen~a ,qu~ o ,fepômeno da
de. novas pqsições e de novas identi,dades,,produ;zidas, por gloqaliza_çãp, e11;volve urpa,extraordinárfa,transforrµação. Se-
exemplo, em circunstâncias econ9micas e:sociais camb.ian- e
gundo el,e, â.s. :velhas iestrutura~. dos estados dás. C_OtIJ.Ullida-
t~l). A~, rouda11çGts 111encionad~s. anterio,rmente. e ~nJaJi=z;adas d~~ naqipnais,'.e11trar~m,·_~tp ;9olapso, cedend9 lug::tr a.uma
no exemplo .da a!,ltiga: Iµgos,lávia sugerem qµe ,pode haver créscen~;e "tra11snaci_o11~1iiaç~q.da, vida econômica e cultu-
uma crise de ide,:itidade?Qµe muda11ças po_dem estarocor- rat (R(?BÍNS, ·1997). i:globalizaçfü) ~11voiv~ uma inter~ção
rendonos níveis global, l9cale pessoal, qu~ p9ssamjustifi- entre fütôres econôrntcô_s'e crilturais,·causandÓ mudanças nos
car o uso da palavra "crise"?. ~afê5ês de produção é COllSÜplO, asquàis,por s~a vez, produ-
e
zerti identidàdes novas glól;>alizadas. Essas novas identida-
2. Existe umá crise de identidác:le?
·,. '. >? . ; ;: ;
• •• :.: - ..'. < ; '. ~ : ,.: •' : : ' : -~~ ~- : : ~.j k.
?es, caticâtur~l111enür'~i111bbliza~as, às vez~s','pelos jovens
que corp.erri hambúrgueres do McDonald 's e que andam pela
Quase todo mundoJala,agora s~bre ~'identidade~'.·. A iden-
rua'dê Walkrri.ati/foriiiain Ulll grupo; de ''éôíis11midores globa-
tidade só _setomaumproblema quando est* em crise, quando
is'' qúe pódem ser éri.cÓn!iiidos êm qualqlÍ;êt lugar dô mundo e
algo que se supõe ser fixo; coerente e estável é deslocado pela
quê inafse distinguem entre si.· O desênvolviínénto global do
experiência da dúvida e da incerteza (MERCER,.1990: 4).
capitâlistrtô~não- é?obviãtnênte; riovó~ ·mas-·oque caracteriza
"Identidàde'' e "crise de identidade" são palavras e ideias suá fase mais rê'cêritêé a cortvetgência de êultfuas e estilos de
basta1:1téutiHzadas atualmen.téê'pareêém ser vistas por soció- vida nas sociedades que~· ao redor do mundo, são expostas ao
logos;e teóribos C.º1;11? caraéterístfo~s das' socíedad~s con.tém- seu impacto ·(ROBINS,, 1991 t .
pôrâ~~as ou?ª 1110,déijiidade t~rdia: Já mostrarii9s o ~?(emplo
/ A globalização, entretanto, produz diferentes resultados
de uma áteá 110 mundo, a ântigàTugoslávia, na qual ·se obser-
ettf termos· de identidade; A homogeneidade· cultural promo-
va o•' ·ressur~_imerito· dê identídadê~tétnicas e Ji~êi~nài.s em
conflito~ fazendo com que as identidades existentes_ entras- vida pelo:,:rnercàdci;global/pode levar ao distanciamento da
sem em éôlapso .'Nésta seção; ex~Illiíiaremosmna série de di- identidade 'fêlativárhente à• comunidade e à cultura local. De
ferentes contextos nos quais questões-sobre identidade e crise forma àltê:mâtivâ; pôdê1evar a uma resistêricfa que pode for-
de identidade se tornaram centrais. Examinaremos, assim, a talecer' ereafirmar algumas iderlt,idâdefiiâêíônais e locais ou
globalizaçãó ê,ó~ p~ocessos..ássóciados com mudanças glo- levar 'áo' suigtriiênto dê' Íiovas p'osiçõês 'â'ê' identidade.
bais,, ir,icJl:iing,<>_qll.e}tões' sobréh,Ístória, 111u9a1i,ç~ social e mo- As mudanças na e~onQmia global têm-prodn2;ido uma
vimentos polítiqos: - dis_~ersão das_ de1ll~111,as ao redor do. mun~o,. Is~o oc?ffe não
ap~ilàs;. ení termos ·dê-'i,ens 'e serviços, mas também de nier-

20 21
cados de trabalho.:A migração dostrabalhadores não é, ob- " Soviética e do bloco coinm1ista do Leste Europeu, causando a
viamente, nova, mas a globalizaçfürestá êstteitainenteiasso- afirmação de novas exenovadasidentidades étnicas e a busca
ciada à aceleração da migração.·Motivadas pêfa:hec·essida- por identidades supostamente perdidas~ O '.~olap~o do comu-
dê' eêonômica, as pessoas têm· se' 'e'spalhâdó'pélo'globô; de nismo,. em 1989, na Europa do
. ..
Leste ena ex-União Soviética'
.. . :, .

forma que "a migração internaciohalé parle· de unfarevolu- teve 1mportantestepercussões no campo dasJutas e dos com-
promissos políticos. O comunismo simplesmente deixava de
ção tránsnàcional qué está· remodelando as sôciedãde's' e a
existir como um ponto de referência na definição ·de posições
poH!ic_a aô redor ciq ~lob?", (CJ\.ST~ES & MIL~ER; :1993: pqlític~s~ P~~~ pi:eel}qh~f. ess~yazio, t~lll, res,surgido na Euro-
5). A migração- temimpactos'tânto ~o~reo país -de °:tigem
quanto sobre.o país de desünp:,J:>?r~~e111plo:, _com?resul-
pf Qrie1;1tal en~_f,c;~Upião Soviética formas antigas,de_'identi-
fü~ªç~o ~tnfo~, religÍpsa e, naci()nal. . ..
tadó -d,9, prnce~~() de i1t1ig;f
1
~9~.9~ ;tj.iyitas cidâd~:s_ e,ur~peias
Já na Europa pós~colonial e nos Estados Unidos, tanto os
apresen~am exemplos de éo'mu~i~a.des e ClHturas' diversifi-
ca_das. E~istetji, na Grã-B-~et_~ph~?, pmitos d~~s~s exeín~lós, povos,que foram colonizados:quanto aqueles,que os coloni-
incluindo comunidades asiáticas
::•: ,·;:. .'·.·:: ..... : :;,,>,· . . '
ein Bradford e Leicester .
,,,.,,--;,,:.'. .' ·., .... "'; '.··>•· ·. :· ...... ,_.,
e zaram, têm. respondido- à diversidade do multiculturalismo
por meio de uma busca renovada de certezas étnicas~ Seja por
pai;tes de Londres,
;.· ,,::. '.,.,:,:·.,..
tais como Brixtón, ou em''St~ Paui's em
,,; ,." . _. ... _..·",.;.:·,·.,.· . . ,·,)··' :,-'·,'. ·, .:·,·•'·.,.<, ,"·'.'.: . ,,· <.:·: '···:::·
meio de movimentos religiosos, seja por meio. do exclusivis-
~r~s~ol.~·. t:,.,migra9ã? •· pro.ciiiz ..idépticiad~s piur~is,, m,as·t~-
mo cultural, alguns grupos étnicos têm reagido à sua margi-
b~ffi:!cie~fül~4~-~: ,Ç,<?9-te~t~cl~~?'fü~ llffi prp9e,~,S(), qp~ .~ ·c,araç7 nalização no interior das sociedades "hospedeiras" pelo ape-
tert~f3A9 p9rg;r~n~~s. desigllalg~qes., 4. mJia~ãg é mµ, pro.- ló a uma enérgicareafinriàçãó de suasidentidades'.de origem.
cesso. ,c.aract_erístico ·da.-desigualdade ,~m. terrr10~ .<ie.. dese11:- Essas· ·contestações,,estãó: ligadàs; em aJgiins• países, .a afilia-
v9ly,imento. J~Ie§Se proc;~sso, o fat~r ,d~)'~xp11\sã~~, ,dos Pf3.Í~ ções religiosas, tais ·como;o,islamis:mo naEuropa-e nos -Esta-
s~s pobr~s é mª'is forte do que 0J<.,1to:r; _qe ~'ªtração''. das. sqcie- dos Unidos e o catolicismo,romano e,o.protestantismo-na
d.ades pós-industrü~is e tecnolpgicatne11te ayançadas~ O mo~ Irlanda doNorte.>:POr outroJado, os gru:ROS dominantes nes-
vimento global do capital é geralmente muito mais livre que sas sociedades também estão -em busca de:antigas certezas
a m()bilidade ,cio trabalho. ptnicas ~ há, por exemplo; no Reino Unido, .uma nostalgia
Essa. dispersão das p~ssoas ao redor; do. globo :produz por umá "inglesidade'? mais culturalmente homogênea~e;nos
igentidad~s que são moldada~ ~ J9çªlizª<:la~,e111 giferente~ 1u:- Estaclos Unidos, um movimento por umtetomo aos "velhos e
g~res. e por ,_difer~n!es lugare,s .. Es~ªs :-11ovªs •· ige,ntidades- p()~ bons valores da família americana".
dem ~er d~sestabili.z.adas,. JllaS ,tatnl:>ém dysestabiHzacloras. Ç) N 8;eino U~d?;:osn:ióvim~ht~s 11âctonalistas têm lutá-
qo,11ceito d~;diqspÕ,r,a,(QI1;~RtjY,' 1?9:'Z),·~-HW'. 4~s,conc~itos dô'Pfl~~-;~~~~r.~~â id~pt,iclâdep~~ 111,~i9 .1~.feivindicação ·de
que nosp~rmi~e _compr_eend~r algv111~s d~ss~s identidades - sua: própria língua;. cónio,·
póÍ-'. exemplo:; -no ··caso do Plá1d
identidades qt1e não têm lima "pátria';-~ que· não pod~m ser Cyrriru/no ;Páís .de Gales. Ao mesmq tempo que há a reafir-
simplesmente' atribuídas a umá ú.tricâ-fonte}: mação de uma nova: tHdentidadei europeia", por meio do .per-
:A:n,oção:·ae·''idé~Hd~de e~ cris.ê'~,t~lllbé~.s~rve'g;~~:~ila- tenci:1nento .à União:-Europeia, travam~se lutas pelo reconhe-
lisa.r a desestàbilizáção que se seguiu ao colapso da' ex~Uriião ciinento ·de identidades :étnicas .nó_ interior dos antigos esta-:-

22 23
dos-nação, tais como a antiga Iugoslávia~ Para :lidar com a uma reação à suposta ameaça do ,"Outro", Esse ,"Outro'~ mui.;.
fragmentação-do presente, algumas comunidades;buscam re.;. to frequentemente se refere atrabalhadores da:ÁfricadoNor-
tomar a um passado perdido" ~'ordenado [... ] por lendas 'e pai~ te (Marrocos,Tunísia e Argélia), os quais são representados
sagens; por; histórias de eras de ouro, antigas tradições,:por como uma ameaça cuja origem estaria no seu suposto funda-
fatos heroicos e destinos dramáticos- localizados em terras mentalismo,islâmico; Essa,atitude é, cada vez mais, encon-
prometidas,-cheias de paisagens e locais sagrados[ ... ]" (DA- trada .nas, políticas oficiais de imigração da União Europeia
NIELS, 1993: 5). (KING, -1996)i Podemos vê-la como a projeção de uma nova
forma:daquilo qu~ Edward Said (1978)chamou de ';'orienta-
~-p~ss:ado eop~esente ex~rcêrnmii iinpó~art~e papel nes-
ses', 'evehtos. A contestação. ri~; _preseht~}~usca j11stificaçã9 lismo" - a tendência:da cultura ocidental a produzir.um con-
para a criação de novas - e futuras - identidades: nacionais, junto de pressupostos e representações sobre o "Oriente" que
evocando origens, mitologias e fronteiras do passado; .os-atu- o constrói como uma fonte de fascinação e perigo, pomo exó-
ais conflitos·• estão, com frequência,:- concentrados- nessas !ico e, ao ITI~~m()_ temp(), _él111eaçador: ~aid ar~uI11enta que as
fronteiras, nas quais.aidentidade riacionalé questionada e fepresentaç~~:s _sobr~o c=>,rie~te prod~ze11,i~in sab,e~ ocide~tal
contestada. A desesperada>produção de uma cultura sérvia :~obt~ele'--'~m fatóquef~}n,ais sobreos,m,eclos·e ás ansieda-
unificada e homogênea, por.exemplo; leva à busca de:uma cfos p_cide~!ais: d~ ;qu~ S<?~fé
a v,i1a 110· ºriénte ena Áfr!cado
identidade naciop.alque correspónda:a um local que seja per- Norte. As·-~ili~is cônstnições·dJ·oriênte'têm se·concentrádo
cebido co1110·"0 tertjtórid e af,~ferratiataU' dos .sérvios;-Mesmo ~Hill)t1p_9st~.'.f~~~~~eq!âtrs:~o'· islârniqo,-~ qual ~ ·_construí-
que se possa argumentar que: hãô:~xistê nenhurna identidade a.~f_:' "'dehl~f!zh1{'' ~~da-~ ~~~():lllai,s ·~P~ºPfi~do - como ª
fixa~•sérvia ou croata; que remonte à Idade-Média (MALCOLM, !fü~6l~~l~:;ij~va\m\~#i~'.,~~j/~~#}i?~},.~W~~~l~j;;',.;
1994) e que poderia ser agora,ressuscitada, as pessoª's envol:.:, As nmganças.:~ tt.:apsfo.@ªçp_y§ glgp~iS.1,lJl~ ystmturas po-
vidas -nesseprocessó comportam;;.se• como.se ela:existisse ,e líticª~ e ecpnô_miça~: go 1.11u11q9, ,_contymp91;&~y,o icolo,can1 em
expressam 'um desejo p_ela restauração dá unidade dessa co.;. <li
i:yleyo_ as qµ~stqys, :id,,ypJidªçlç_ ;y :a,s.- l\l,ta,~: p~la ªfirmªç~9,e
munidade hnaginada~'.BenedictAnderson (1983;) utiliza:essa manutenção, dasjdep,tiçiªçiy$Ji.ª~iqpJtis. e,~tlliçªs.1,\1:y,Stllo que
expressão ,para desenvolver 'O argumento de que- aidentida"' ,p ,pªtm~çlo qu~, ªs, idiptiqa,des ,aJµªis,.i:ecQ_J)-S1:t"Q~tn seJª,- sem7
de nacional: é tinteiramente dependente'daddeia que fazemos :Pf~; ªpt:mªs.)magiµaclg~, ~l~; proporcio11él._ algµma: ,certeza, em
dela,.'.Umave;zque·nãffseriapossível conhec~r, todas aquelas umc,fün~rqµ~,é_cl~,tl1u,çiarlça,t(luigez.e çry~ce11te-iJJ,certeza~.As
pessoas que partilham dê:nossa,ídentidadé nacional, deve- i,d~nfü:lªdes·-,~1r.tco,r.i.f1ito,~sJ.ij.q,locªli~aqªs._119 i,n~yrior.de :nm-
1119s t~r, :UÇ1ª)4ei~ p~ilha4~t ~-9~re ~quiJoJ1ue ~ 1çons~i~i. A da11ças ;sociais, ,políticas, :e ~conômiças,,: muda11ças para as
giferênçá ~ntr~is,diversas: idftj~i4a,de~ :,~a_ci9nais ré:~idé~po~-- qu,ais_; e,Iªs. 1c91JJr.fl1µytn.,_Asr jg.en,ticlél.cle~: 'que,, ~_ãq ;_qons._trutdas
taÍlto, nas diferel}t~~Jonnas,pel~s q'l~i~ elas:são,h}!~g~µ~dâs.
~, ,··: :··:.~,-- .. ' '... ~~ .~·-:!,·:_'-.~;.1:.t·_.·:~:· ... ·· : __ ,·,.,; ,.;:'_:;);;·-.,: ..,· =:.1 •. - • - : ; : ; ; . : . ;;._;;,:''' • ."("i-J-l.'c.j ).J ...:
• p~la:,cuJWJª;sª9,c,911tyst,ªclª_s ~9J?'.fq:rrnªs:pafticµlªres. ,nQ.tnt1n-
,. _. No mundo. contemporâneo,.· éssas: ,"comunidades imagi~ do_,,_çonfe,p1pprâneo J7.. ' nµ111;_mµt1-do que Syt. pqqe :c11atnar . <ie
nadas',~ estão sendo •contestadas,;e;1reéoilstituídas:, A: ideia •de 11<S.s~c,ç,J911ja1 J~ste, é um pçi:íqqQ Jlist,9riç_C> -cará~J,erizadq, e1:17
utria id~ntiôade: europeia,- po~ exemplo"; defendida po~1aparti-:' -~re,tc,11JJQ; pe,l.9 ,~olapso. PcLSXyllla§: celiy;z;él.s,e pehtpr9dução _ele
dos políticos de extrema;.;direita;, surgiuJTecentemehte;rcomo 119ya§ .• f9rn:1ªs çie. posiçicmame11to. (Q: que, ,é importante para

24 25
exclui as experiências e as histórias daqueles povos. que a
nossos propósitos aqui é reconhecer que a luta e a cóntestação
estão concentradas na construção cultural de identidades, tra- Grã-Bretanha colonizou. Uma história alternativa questiona-
tando.;.se de um fenômeno que está ocorrendo em uma varie- ria es8:~ des~rção, tn()strando ~ diversidad~ des~es gruposétni-
dade de diferentes contextos. Enquanto, nos anos 70 é 80, a ~ps_ç. <1 pluralidctde déssas culturas. Tendo et11 vista essa plura-
luta política era descrita e teorizada em termos de ideologias lida~e .de posições, qual hera11ça hi~tórica teria. validade? Ou
em. conflito, ela se caracteriza agora, mais provavelmente, setían;i~s .1~yados a .tuna J?()Sição relatiyis~a, na qual to~as as
pela competição e pelo conflito entre as diferentes identida- dif~rent~s yersõ,es fo~i~m uma v_alida~e igual~ mas separ~-
des, o que tende a reforçar o argumento de que existe uma cri- da? Ao celebrar a diforenç~~ 'entretanto, nãôhayeria o risco de
se de identidade no mundo contemporâneo~
obscureóer à comum ()pressão econômfoíl qual esses gru- na
~.?s estãffprofun~arilerite e11yolv~do.s? S.P~ :Móhanty_ utiliza a
2J Históriás
é
dposição entre "histótja" ''histórias')ara argumentar que a
cele?raç~o da diferença podeda levar à igrtorar a natureza es-
Os confl!fos naci011ais e étniC()S par~cem ~er caract~r,iza- trutúnil da ··opres·são: .
4<>~ por tentativas .de réc,tw,erar ~ i-i~scrév~r a fíi~tó~fª~ C.()1110 ApluraÍidade(poist~idealpolítfoo tanto q1ufoto um slo-
vimos np e~emplocJa aµtiga Iug9~if~fa.: A ~fifÍ.llaçã()p,oÜti~a gan metodológico. Mas há uma questão incômoda que pre-
~~.~.i1~~ttiiades{~*1g~ .~lgu~~ ~?§~'. ~~,~µfe##c,aç~ô. ijµito ci~~ s~r .re.solyida~: Ç.o~o p9demos nego.ciar entre minha
f~9~u~ntemente,j~ss~ ~U\~~}tic~ç.~p- ~- fy'iW por m~i() .ch1 r~iyin- hj~t~ria .f { s.w17:G,9m.;o.,~eria,ppssível.para nós_ r~cuperar
4~: :grµp~
EÍi.:~~ç~o dflJ~!~tR#~; .9~iturnfyw q4-~~t~o. Esta s~ção
aquil?. que fon,\o~ ein• ,c~m,úm, ú~<} º.
mito humat1ista· dos
atrilmt~·s ~ut11âno~ q(ie 1pà~Hharíainos e •~ue-· súpdstámente
estará concêritr~1â11as·.que~fõe:s ~mp~icad~si\f~~e pr9c~~s·p. nos· distinguiriam: çios animais; mas~ de forina:mais:impor-
Pode-se perguntar~ priméiramente: existe uma verdáciê h·istó;_ .tap.te, ~· int~rs~cç~9 ele nossQ·s v4r.ios p_a_s_sacf.9s .e 11,9ss,qsyári-
rica única que possa ser recuperada? Pensemos·sobre o passa- os. prns~~t.e,~,-)~~i'..i11~vit~-y~is, ),·~l~ções, entre ~ig11if19~~os
do que R indústria que ·explora: Utnà supostá herança inglesa p~rtiiji~49§ ~; sigµH1ç,~qe>~ co*~~taqós, ~lltr~: r~I<>r,é~,'
e r~-
reproduz por:Íneio da vendá de mansões· que representariam :'cursos rrj~t~ri~is?:E p~~? ifirrilar
is~ n~~:sâs derti~s I>éé~ltâ-
ridades, nossas 'difetençâs vividas e imaginadai .Mas;pôdé-
uma histSria passada-autenticàrherité;inglesa~ Pensenios:tatn;. mos: nos permitir d~ixar.de·exarhinar a.questãh de:como
bém nas representações> quê· a mídia fa:z- dess'e' prêsúmido 'e . nossas difer~11ças,estãqy11trelaçadas. ~, na.v~r,clade, hi,erar~
1

autêntico pássadc,: côfuó, ·por exemplo,· nos filmes baseados , ~~üç~ipent9 .pfg~Hi:z~,das? ,j~q1etno,s -. nó~, .ein outr~s. pala-
nos românéesdêiJán.é'Austen.: Háufü. pa.ssádO ihglês1autêfiti~ yr~~' .;~alriíe~t~ ·nos pe~-~ti.~ ter hist~riâs .. int~irâm.e11te
co ,e-único, que possa>set utiltzádó pâftt sustentar e·definir .a. 'diferentes~ podemos no's conéeber com.ó vivéndo: ;._ e• tendo
vividóL em, esp'aços, inteiramente heterogêneos ·e, separa-
"inglêsidáde" como send6. a iderttidade'do final do século dos,,? (lv.lOHANT¾,1989:13). ..·· ._ _ :.. . -< -.
XX? A"indústria" da. hetança'parece apreséritaraperias uma
eúnícãversão: E11H;egundo lugàr/qüâl'ê â historüfqüe pesa~ . };.-A'.s hi~tóriàsisãô realhiênkcôritestadas e i.sSo ocorre<so~
i . ' . . . -· .,.

a'história.-dé'qúêni? PoddfaVerdiférentes históriãs.-Sé'êxis~ brefudá; :na.1üta···políticã~-peló.'têconhéêimento:-cdás •1identidá~


tem diferentes versões'dô passado, êofuo'nós negõciarrios eri- dé~:Erri'seti' erisaiô '-'lde~tidádê:~ultural'é'diásp?rá"·(1990),
tte1 elas? Um~tdas,:versões dcfpâssado é àquela;que môstra>a . ~tuartH~l~:-~~~mi~a ~ifer~htêsconcepç~es ~e identidade éul-
Grã-Bretarilia. como unipoder'imperial;'cómo tirii pódéf ·que tiirál, proêurando-a:nalisât o processo pelá qual se busca au-

27
26
tenticar uma determinada identidade por meio da descoberta apresentam como sendo "nós~'; Hall argumenta em favor do
de um passado supostamente comum~ reconhecimento da identidade, ·mas não . de,umaidentidade
Ao afirmar uma determfoada identidade, p()clemos bus- que.esteja fixada na rigidez da oposição binária, tal como as
car legitim.á-la por r~ferência a um ~up~sto ·eautêntico: pâ.s~a- dicotomias"nós/eles",.ou "sérvios/croatas", no exemplo.de
do- ~J)OSsivêlménte um passado glorio_SC>, 111~s,'4e qua)qrier Ignatieff., Ele sugere que, embora :seja construído por meio
fofl11a, um pass::tdo que parece '.'real" --:-: ~ue P?.derià vaHdar a da diferença, o sig11ificado 11ão_ é fixo, e utiljza, para eJCplicar
is.so, Q;ÇQnceito de différance de Jacques D~rriqa~ ,Segundp
Ao .
iden!idaçle .· que r~ivi#dic~tnOS .. efprtrssar:de,Ínai1das pela
es.se ,autor,_ o signjfiç.ªdo .é_ s.empre _. diferido oµ ,adiado; ele
identidacle lJo preserí~e,,9s tnovitne11tq~ nafionalistas, séj~ 11a
antiga União. Se>yiética s'ej.a na E-uropa. Oriental, ou ainda· na, • P:ão~ ço111pletatne11te:fixo.Qu.completo, de;fopna qµ,e sem-
Éscócia.ou,n9 ~~ís 4é a·ale~, b,us~a,ni a y~l_idaçã~.do p~ssado pre,e;xj_ste .alguntde.sJj~aroe.nto. A posição q.~l~all~nfatizé,l, a
em t.ef111os de territ<Srio,._cu!tura, e, lo9aL,StuartHall.atÍalisa'o fl:uidt;~ da.·ide11-ticl.ªde. Ap ver a id.en.tidade co_mp µma ques-
conceito de "identidade c~itural'', ~tiliz~ndo q. ex-emplo _das tã{),,de "~Ol)l~,r~se~', ªqlle~es que;reivjndjcam aide11ti~ade. não
da
id~mtid~?es .diáspora negra, baseando-se, e111piricam~nte, se t~im.i!ªf:i.t:Lm. ~- ser po.s~c.iç,,nados pe.laid<:mtida4~:: ~Íes. seriam
çapazes_de po,sipiçmtf; ·ª•s.i própr,ios..e de;Teconsti;uir e trans-
na represenfaç.~o cine11:1éltográfi.cà. ' ' , ''' ' '''
fof111ar asi4entida.4~~ m~tór,i,cas,,- h~rq'1;das 4e um. suposto pas-
:Nesse· ~nsa~o, Hall toma cotno se~ pont? de partida a sado comum. , -
e~)
qllfS~~-<?/l~,- ,CJ.l1fl!l ,que pqs repre~.~µt,a1;1os qH,a,ndo fala-
11?-9.~• :§!~iarg11:ry~nt~ qii~;R, ,S~j ~H() t~l~,;, ~elllpr,e,-él, partir de 2.2.,}efurl,anças soc.iaf~;L,
uma posição histórica.e culturalespecífic<t,~• Hallafirma que
háduas formas diferentes de se pensar"ª identidade cultural. Não estãú ocorrendo ipu4anças _apeµas rn:as· escalas,· glo-
Apri111eira reflete·~ pê~~péct~~~j ~ ·qi~cuti1~·~este .capítulo, b~l e nacional e na arena política/Aformação da identidade
118:; q9éll .um~. ·ae~~pnin~da comu11idi~f .bi~.éa iecuperar a ocorre também nos níveis "local" e :pessoalvAs mudanças
'_',:vii:cl~éle" 'sobre ~_e,u pasiéldO na:;','uniciélacle';' de u111a história g,l,o_b,ais 11~ ~f?~omia corno? PRr ~fe,tp-plo, as ,transfo~~ções
e de uma cultura partilhadas que poderiam, então, ser repre- ~'?~ p~dr~e~, d~: proq~9~9 ,é 4~ c9rtsumo •~- :9 cleslocame~t9, do
se~ta~as;'por· éx~111pl?\~-~-- üni~rfofJ?acultur~lcomo º fil- l~V~~~~~ent~A~.si i1t1ústri~~ ,1e. Íll~m.1faturâ~ l'.ª[~ ·.
o, ~~tor de
~i
rri~?pitr,â refôrç~(e :teafifl11~~: iq~n.~i4~4e - no .caso da in- s.yrriç9s têp ~ i111p~?toJ9pal.,Muclanças 11~es~turaAe cl~s-
dú.stri,a,: 4t.hera1w.~, .a "i,pgíis.i9~d~~\}~~ ,;ei'.e111pl9 qe Hall, a Sy ~?5~ª~ s~n~tí14ep:1 ~'1;,ê~r~st~i;~s(tic:~ 47sSas ͵ud~iiçts glo-
1
baü~ eJoc~~s_., · - - · - - - · · . - :· _ ·_ _
"caribenhidad~~~i Asegunda;cóncepç~o de identid~de cultu-
ralé aquela que a vê como "umâquêstão taíitüd~r'torriar-se' -As,crises globais,;Ôaideritidade têmavercomaquilo·que
q11ant0Ay ,'S.~f:t. Is~.()_.I1~(),~ign,ifiç~J1~g'1;ri,qµ,e,, a)g,ent!dade Ernesto Laclau chamou de âeslocamento.-As sociedadesmo-
te.pJ1~: µ111-.11ªss.~_90, ,111ª'.s.: ryçpnhe,cer -qµ~, f19 ;_reiy~ngicá:la,~ demas, ele argúfüêhta, não 'têrriqualquer núêleo'off centrd de-
11ós a rec911s.tftljl'l.l°"S:~-qu~,~aJ~m·_dj,s.§9,.o pªss.ado _sofi;~,~P}ct tennfüádo qúe 1pfo1duiâ'idêiitiâades fixas',: más,: emvêz dis~
C()nstaI1t~ t~ª!!~(()rmaçãq.)3ss.e .pªss.ªc;Ip, é par-:e d,~ iitl).ªt'.cgt so,·uma phirali4âded~jceritrôs: Hóuve ufüde·sloéafuênto dos
munida~~. i,lllctginªd~(',:µ111ª,cqnwni,dét,ge, de s.µjeitP,~;~rn~tS~ cênfros.·Podé-se-àrgúmentarqtieuindos··cêritrofque·foFdês-

28 29
locado é o da classe social, não a classe como uma simples • minados tipos de identidades-por exemplo, permeio danar-
função da organização econômica e dos·processos de produ- rativa das telenovelas, dos anúncios e das técnicas de venda.
ção, mas. a classe como um determinante de;todas. as: outras Embora possamos· nos ver, seguindo o senso comum, como
relações sociais: a classe como• a categoria "mestra"; ,que é sendo a "mesma pessoa" em todos os:nossos diferentes en-
como ela é descrita nas análises marxistas da estruturá social. contros e interações;não é dificil perceber .que somos dife-
Laclau argumenta que não existe maisi uma única força, de- rentemente posicionados, em diferentes momentos e em dife-
e
terminante totalizante, tal como a.classe rto paradigma mar- rentes lugares, de acordo com os diferentes papéis sociais que
xista, que molde todas as relações soéiais, rnas, em vez disso, estamos exercendo{HALL, 1997). Diferentes.contextos so-
uma rímltiplicidade de centros. Ele sugere não:somêri.te que a ciais fazem com queuos envolvamos em diferentes significa-
luta de élasse~ não· é inevitável, mas que não é mais possível dos sociais.' Consideremos as diferentes "identidades" envol-
argrimerita.r que aênian'.cipação socialestêjânasmãós de uina vidas em diferentes ocasiões,tais como participar de uma en-
úrÍica classe. Laclaú aiguinenta que isso tem implicaçõéirpó- trevista de emprego ou de uma:reunião de pais na escola, ir a
sitivas porque; êSse deslocamento indica'. que há rriuitôs f dife- uma festa ou a·umjogo de futebol, ou ira•um centro comercial.
Em todas essas situações; podemos nos sentir, literalmen-
rentés lugares a partfr'dôs quais novás ·' iâeiitidades podem
te, como sendo· a: mesma pessoa, mas nós somos, na verda-
emergir é a partir dos quais· novos sújéitos podem sé expres-
de~ diferentem,ente posicionados pelas diferentes expecta-
sar (LACLAU, 1990: 40). As vantagens desse deslocamento
tivas e restriçã'es sociais·•e.nvqlvidas:'em:cada uma dessas
da classe social podem ser ilustradas pela relativa diminuição
diferentes situações, representâridoinos; diante dos outros,
da importância das afiliações baseadas na classe, tais como
çie forma dif~f~nt~ eJJ,-19açla~ d~ss~s.?911t~x,tos. ,~liltµµ cer-
os. sindicatos 9perários e o :surgimento. de outras arenas de
to sentido, sornhs P<?SicÍOn~q?·~·; ~-~awbérnposiciÔri~mo~ a nós
conflito social, tais como as baseadas no gênero, na "raça", na
m~S111<?S ~ de acordo com os "calllpos soéiai(-nos quais est~-
etnia ou na sexualidade. mos atuando.
()s··indivídtios vivérrrn? ihterior de ÜlTlgrand~ . númern Existe, em suma, na· vida. moderna, uma diversidade de
de difo~entes .· instituições-, qriJ cm1stituetn. aquilo. q~~: Pierre posições que nos estão disponíveis.'77.posições que podemos
1
Bóurdfe1.1. c~ama· ~e ."c~n1~,oss<?cÍa1:s'', ta,is como as fatnílias, ocupar ou não. Parece dificil separar algumas dessas iden-
os grupos ~e- .~?l~gas,, as instittliçõ~s. e·d~câ~ion~is~, os, ~rupos tidades e ,estabelec~r fronteiras entre elas. Algt_Ullas dessas
de trabalho; ou
partidós ·p-oiítiêôs:.. ·Nós participáiri?s, dessas
identiciacies. podeIIl, na vercla,<ie, ter mµda,do ao longo_ do tem-
instituições ou "campos sociais", exercendo variados gráus 1

po.· As-formas. ~OlllO representam9s.a nós mesmos -.como


de escolha e.autonomia, mascada:um deles tery um contexto mul];l~res,. c9mo;homens, .c_omo·pais,. c_omo.pesso~~ _traba-
maJ~riat~;J1a verdade, um espaço e; um_lµgar, .bem como um lhadoras. - têm mudac.lo .radical111ente 110s. ,últilllo~ anos.
c9njt1ntQ çle :recw;-sos simbólicos. Pc~r .exer:ijpJQ; a._casa é O· es- Co11.10.inqivíduos, poq.~ll1C>~.pas~~Ú>or ~~peri~ncias ele' frag-
paço µoqµal ll1µi1<.ts,pesso~~yiyen1 su,as_i<ie:µticiades. f~ajlia"." ll1entação nas nossas, relações pessoais:e nonosso trabalho.
res'. A ca.sa. étalllbié,m ,um; elos lµg~es n9s quajs, ~omos ~~pec- E~sas experiênci~s s~pvivi4as nC> 99ntexto de mu~arw~~, ~07
ta,dores
'J'
J ..
das represent~çõ,es p~l~s, quais a: ffiÍd~a pr9duz. dt}tçr-
o •• •• :! ,.· ·, . . . . . ' • ·.,.· . . •, . ,• . . -· . i " ciais e históricas, tais como mudanças no merc.ado d~,trag~-:-

30 31
lho e nos padrões de emprego. As identidades e as lealdades Outros conflitos surgem das tensões entre,as expectativas
políticas também têm sofrido mudanças: lealdades tradicio- e., as normas sociais. Por exemplo, espera-:-se que.as mães se-:-
nais, baseadas na classe social,,cedem lugar à concepção de jam-heterossexuais. Identidades diferentes ·podem ser_ cons-
escolha de ''estilos de vida" e à emergência daf'política de truídas, como "estranhas"_ ou ~Mesviantes"; Audre Lorde es-
identidade". A etnia e ª"raça',', o gênero;- a sexualidade, a creve: "Como uma mãe - feminista socialista, lésbica, negra,
idade, a incapacidade fisica, ajustiça social,e.as,preocupa- de 49 anos - de duas crianças, incluindo um menino, e como
ções. ecológicas, produzem novas· formas. de jdentificação. membro de um casal inter".'raçial, com muita frequência ve-
As relações familiares também têm mudado, especialmente jo-me como. p~rte11,cendo a u~ grupo defi?ido., co~o _estra-
com_o impacto das mudanças, na estrutura do emprego. -Tem nho, desviante ÓU inferior oú süp.plésmente errado'; (1992:
havido 'mudanças também Iiàs práticas de trabalho e na pro~
47). Pôd~p,are'c~i'fi~.~lgumas'~essc1s·i4e#t~daq~sse refiram
dução e consumo de bens .e serviços-' É igualmente notável a
prÍncip~lnienté ~' ~sp~ct()S pyssqais da yida,Ja(c,9ino ª sexua-
emergêricia de novós padrões.de vida doméstica, o que é in-
lidade. Entretanto, a forma comovivemos nossas id~mtidades
dicado ,pelo crescente. número; de làn~s chefiados por -pais
sexuais é mediada pelos signifiêados'cultúrãis sobre a sexua-
solteirosou_pormãessolteiras b_emêomo pelas.taxas eleva-
lidade. que _sãq ·produzido~;por ,Illeio de sist~mcts don;iipantes
das, de divórcio.:As ddentidades_.sexuais também estão mu-
dando;,tomando~semais questionadas e ambíguas; sugerindo de representação. Inci~pe11deµtemente. çle como Lo.rde decida
mudanças· e :fragmentações ;que podem ser descritas em ter- afirmar sua ide11tidade,:por.~:xemplo ,cpmo, mãe,isuª escqlha é
mos de uma, crise dejdetitidade~- <. cpri,stnmgid~-pelos. disc11rsos: ,qpmin,antes sobre a. 4e_tere>_sse-
.... .
xµalidade,e pelallpstiJidacle {reqµenten;iepJeyiyidapqr inães
· Adortiplex.id~dê dâ vida moderna exigê que ass\imâinos lésbicas. 4c:mleC cita umª ga_Illa, cJe diferente_~ con,te_xtos nos
1
diferérites ·1dênfidades, 111~s. es~às, d~fere~tés' 1aehtitl~d~spo- quais suaidentidade é construída ounegoc:iªda,7"'." seriamelhor
dem estar em conflito. Podémos viver, em nossas.yi·dts pes-
qjzer ''s~a~: tdentidades?•..
soais, tensões entre nossas diferentes identidades· qlÍaÍido
aquilo. que é ·exigido. por ,umajdentidadeinterfere com as Todo contexto' ou canipó ·cultttfàl tetrij séÜS'éónfroles e
exigências de uma outra.:Um exemplo é o conflito existente shás 'êxpectátivâs, bem Como seu•''imaginário'';·iistà é/ suas
entre nossa identidade como pai ou-mãe 'e nossa identidade ptômessa.s' dê prazer e 'realização. Cbmô sugête ·Lorde, os
com.o assalátiado/à.' As demandas dé umainterfetem: com as pr~,ss~~'óstossobrêheterossexu,alidad~ eos disc~sos racistas
dêrnartdàs da outra e'~'êónffrequêrtcfa~: se'éontradizem. Pàra neg~niaialgúmas famílias ó acesso â' ess'e "imaginário'~. Isso
serrum "bonrpái" ou üma "boaníãe'\ dévernó'sêstàr dispo;. iiüstra à :rélâçãô entre ô social'er ó' simbólico. É pos~ível ser-
níveis para nossos filhó's,satisfazerido·suas necessidades, m,ós' sociâhrientê-éxêluídôs d~·fórina. qúe Lôr~e descreve; e
m~s.i n?S'só .• ~IUpt~gââór' também ;pode' éxigir nosso' -~?tal riãô sêiníôs simbolicámêtitê'iiiàrcfü:los;comÓ' diferentes? To""
comprorriétirnênto:'A. hecessida:dê ·de· ir a uma reunião· de d~:piátibá. sôéfal l simbôlíéâiifêllte füârcàdâ:;1ts -idêntiâa-
pâiS1füt·esêbla dêffilho ou didilhip'ô4e ent:rafêrit°êônflito dês 'sãêr;divêfsas:e óârrl.biântês/tantô:nds cohtêxfos· sôciais
cônf â'exigéifoia de nôssô éili.pfegadôr para que frabâlhemos riô~{tjuais elas'sâclvividâs quanto nós\sistéhlâs simbólicos por
·atéín'.ái~' farde:' H .., ' írieió' dos .'.qúais')damos>séritidô' a· nossas 'p:róprias posições'.

32 33
Uma ilustração disso é o surgimento dos chamados "novos envolve a celebração da· singularidade cultural de um deter-
movimentos sociais", os .quais têm se concentrado em lutas minado grupo, bem como a análise de suaopressãoiespecífi-
em tomo daidentidade; Eles têm se caracterizado por efetua- ca. Pode-se apelar à identidade~ entretanto,···de'.'duas formas
rem o apagamento das fronteiras entre o pessoal e o político, basta;n.te diferentes.
para adaptár.·o slogan .feminista. Por um l~do, a celebração da singularidade do grupo, que é
a base da solidariedade política, pod.~ se traduzir em afirma-
2.3.··0s:únovos•inovimentossôciais": o pessoal é político çpes essencialista~,. _f qr 'exe111plo~ tomando como base a identi-
De a~()rdo'·cbinJeffrêyWeeks, têfu havido um dacle e as. ci~:al}4~4~s sin~lares. das in:~~êres,. algun~ grupos
i
feministas têpi ,ar~J?J:ynta9-o em ,fayor deµm'
~êp~átismo rela-
-~Hyp,repeRS~;d~ p9lfüca, s_ob o h~p,a~to, d~s novos movi- tivamente aos homens. Existem, ·obviamente,. _diforente.s for-
m~nfossociais é âa ~olítica: de identidadé da geraçã() passa-
dá; confsuas lutas em tomo da râçâ·ê: dâ etnia~ do gênero, da •
mas de compreender e definir e.ssa "singulàridade":. E1a ·podé
política lésbica e gay, do ambientalismo e da política: do envolver apelos: -a·. características biologicamente: dadas da
HIV.e,daAid~.(WE~KS,: 1~94: 4).,, i~e~tidade p~ínó~ pôr e~e1nplo,.~ afirmação de quê opapél bio-
·fü;s~s:"11ôvos·,ilio'Vinientos' sociais" emergiram·no Oci- log1co das mulbêres: c9rho mães as torna- irierentemente füais
altruístas, e-pad~cas. Ofr pôde·,·se bas·ear· ein apelos- à história
dente nds: âtiôs'. 6ff e·,, 'especialmente, após :1968, corri a rebe-
quando,-·· por ·exemplo/as 'iínilheres ·buscam estabelecer' uma
lião estudantil; o ativismo 'pacifista é'antihélico'e as lutas pe-
~istória exclusiva das 11'.lulhéres;" reivindicando; nos pàís~s de
1os::dfreitdscivis. Eles'desafiaram ó estâblishmen't eesuas hie-
fala inglesa, ·unia ''herstofy" (DALY/1979), que os horneris
rafqüiás búrócráticas, qúestibhando principalmente as· políti;:.
ter!afü r:prirnido~ Isso·'11npl~cá?~' segurid() es~e atgümérito;a
càs "revisionistas'~ e ~'e:stalinistas" do bloco·soviético e as li-
mitações da política,liberal ocidental. As leaidades políticas
ex1stênc1a dé úma cu.lturá ~xdú~ivadas múlherés ~li~veria; ao
longo da história, aigO ~o e imu~y~l na p~siÇão das.mulhci"ês
tradicionais, baseadas na classe social,· foram: questionadas qu~ se àplicariá igualmen~e'a todásêlàs;'êorhb'tiinà êspééiêde
por moytineritos qµe atr.ave~s~tn a,si 4ivisões d~. ciasse ~ se di-
*~
rigja~ :id~n!i<;\~de:~ .partip1.1,~~~~ :dy .se11~ sustf1J~~4~res. Por
exeIIlpl9,: ()J~l]-?}pismo se ,cl~igia especific~m:ente. às mulhe-
~erda:d~ .• tràns-hi~tódca (JEFFRErs,:1985): . . •· -, ;_.•..• ,.• '
/ Ós· aipectos: .é,s~en.ciali~tas ga· p~líticá ,µ~ ideriti~ade: p9-
dem ser Ilustrados pelas visões de alguinas das participantes
r~s,, o, p()~jm,ep.t() tios di_rei~<>,S; c;,iyis do·s négro~ ,à_s pe~soa~_ ne~ dos acampamerttós· do Movimento pela Pai,- de Gteenham2 •
gra~ _e a.:pCllític~ ,sexu~J à,s pes,s9,as, lésbiq~s e g~ys. A pqHtica
d,e•.. identidade; enl o que; d~firtia ~sse~, ip.ovimentos ,so,ciâis,
m~!ca,dos P9~ l.lmapreoc:upação J?!Clfilnda pela}dentiqad.e: o
gtup9 9ué' 'eirt
qye eJ~ sigp.ifip~rÇ0.11,10,, .el.~ ~ Prn4~zicla, e ,~qrpoi ~. çontes,ta4~~
2.Refe~~~se a~ de ,~uí1ie;es: Ôiganizou, Jgost~-setenibro de 1981
uma dem~nstração de,protesto·coht±a a decisão da Otan (Organização do Tratad~
A pqlítj~~4é'iden.tid"a,deconc~~tra~s~ ~~- ~fi~~,á id~~ti4~éi~ do .A-tlântlco Norte) de armazenar míss~is, 11ucleares na base. áérea estaduniq~nse
Cll~tur~lda;,P~,SS()~s,"que P~rteriqe.gi' ª mn 4~!i~ina,dq,~grup·o de qreen!Jam Çom~on, n~ Ipgl,a~erra_: /).PÓ,~ ter ·~ap:iinhaq9 c.erc~.de)o. quilôme:-
tros, desde Cardiff no Pafa de Gales,. até. á ôase de Greenhaní. Commom situada
9pri1:ptc;lo ,. ()µ:n1argi11:alizado. i:§~s;:J.; tqeri!ida,cl.e, :.!.Or1ª"Ts,~,, c1s,sjm, em,Bekshire, Inglaterra; o grupo de mulheres acampou.próximo ao portã~ princi..:
uIIJ.. fatqr. impor,:~nt~. ,cle _mobili~aç,ijo poIWc~.. E~s~/ :e,olíti<2'1- paLda base. [N.';r.]. ·

34 35
Algumas participantes daquela campanha contra os mísseis lise tenha o apelo _de uma relativa simplicidade e da ênfase na
teleguiados afirmavam representar as, características essen- importância d9s fatores econômicos IlJ.ateriais;como determi~_
cialmente femininas da preocupação com o outro e do paci- nantes centrais das posições sociais, as.mtidánçassociaisre-
fismo. Outras criticaram essa posição con1g,um "conJormis"". centes colocam essa:visão em: questão~Mudançaseconômi-
mo com o princípio maternal que faz parte da construção so- cas taisi como .o declínio das indústrias de manufatura pesada
Cͪl do papel d~ 1?-ulhet,,untpri11cípio 'qu~ °.feminismo de"\'e- e as-transformações· na estrutura do mercado:de trabalho·aba-
riâ-quesdonar''(DE~i\,fAR, 1986:, 12). n,e fofll)a, ~itnilar, em lam a própria definição_ de classe operária, a qual,tradicional-
uma tenta.tiva· d~ 9uêstionar as afir1miçõesde. qu~ a homosse~ mente,- supõe:operários. masculinos; industriais e de tempo
xualidade' é ànórmal qú imoral~ tem~se apelado discursos a integrah:As identidades baseadas ná "raça'\ no gênero, na se-
ci~ntífic'os· ~~é;ôntinhariá111 :que aidentidade ·gay é biologi- xualidade. e:naincapaçidade fisica; por-exemplo, atravessam
camente detérníi11âda. - - _, - - o pertencimento de_classe~ O reconhecimento da complexi-
r•; ' ;.. , . '.~- ' , •, Í : •

. Ppr,outJ:Q Jªqo,t ªlguns do~ "noy9s.n1oyime11tqs sociais", dad.~ da~ diyisões S()~iai,~p~lapolítica de iclentidacle, na qual a
incluip.do q, moyi1n~,11to çlª~ mulheres, têm_.ªdotado umª posi- ''ra9'~~', \~:etnia ê:?i g~~ero ~~P,?:i~trais; tem ch:a111ado at~nção a
çij9 ,nªq ,~ss.encjaHstª,~om,r~sp,~ito .à icl~ntidªde. Ele~JêJJJ en-
paraôiitr~{.4ixi~ões SR~i~is:·Ís~géindo q1.1e'riãp:~:.111a~;~- s,~fici,-
fati~a.clo:qµe, a.s.::id~gti<:f::tge~ ,~_ãQ_:flu~cl,ªs, que ~las.não._s,ão,es:- ente ªfgll11lent~r qti~a~. ~.~entid~cie~ pode,111 ser· dedu~i,d.~s ?ª
po~iç~9, ,!ély;:9lâs~~ -(~speqial111~~1~.;quap~() ,'essa· p'róp~i(l'posi-
~êllciª~t fj?{:a~, t que ~lª'_S.; IJ:~p,~s.tfü? ;pr~§as _a, di{qr_~nça.s q11~ ,se,~
r~a.111,-p~gna,t1eQJ,e,s.y)ya,leriªm para;tqdas as. époc;a,s,(WE.EI<.S, ção,~e cla·~s~'.'HsJ~_m#1~~µq): O,}}HU~ ~~J9nµas pelds qu~if e1:~s
~9,94).,;A.lgu.ps membros_ ,dosr "novos-,movimentos sociais'~ sãq~,r~pr~~~ni~#~i )~1n',.po,ti9~}111pad(): ,s.9bxe -sua defiµiÇ,~O.
tê111,reiyiJ:l.çlicado,o direito d~-,ç_p:11struir,e_assµmir a resp,011,sa- Çqin~t argúniy~t~ K~q~êp.f M~rc9r: ,''Em_ teTI11Pti, poVtico~,:As
l?Ui<iaq~ ,q.e suas p;róprias identidades: .J?pr exen1plo, as, mu- id~~tipf1:dÇ~_; ·e:stão-:~m:,_sti~i-PRtinei,~~· tritwwr~s,t~~~ipionfl,iS
ll);er,ys,µegi;as têm h#ado pele, ,:epqll4ecin1~nt9 d~ sua,própria de p-~r,tén~i~~ito~ -~a~~â9~~'_t1~s; ~~~ci-~,9~~ qf-:clisse, ,119 partido
pauJf! d~rluiª, 1.1ojpJe1.fordom9yim~nto,feministc.t, resistindo, eA~-n~ç:ãR7~~i~qR~lêr1Ê $1#~\9#:~~~8-1?#1~t
,(fyJ}çJl,C~~,..19~ 2:
assim, aos pressup9stosge u1n-1no;vime11tq_d,e_mulh~r~s ba- 424).-Apolítiêa'de'identidáde-·te1?:~'~êEcqmp {~9rt1t~~en~~
,de sujeitos por meio do processo deiÓrinação de' identid~d~s.
s~~do _ 11~ ~~t~~o-~ia ~nLqcad~ de .''1111dh~(' que, implicitapien-
tê~\~:tc1r:·:_-;:~}i.,;.
itícfüi '~p'.êrias :âs··-~- Ínhllierê;;branêas {AZIZ~ 1992). - ·. !Esse processo se dá tanto pelo apelo,às _identiçlades hegemq-
t ,-- · <::.r·c , .:··,;,;· ,.· ... :.'•"!: = .. ·•·. ·' i
nicas - o consumidor soberano, o cidadãoJJafriótiBâ'::.:. quanto
,A.lgµns .elem,yntos çless~s moximentos têri:J, questj()nado, pela resistência dos L'.'novos movimentos.sociais", ao colocar
particularmente, duas concepções que pressupõem o caráter emjbgo:identidades que,não têm sidorecónhecidas, que têm
fixo da identidade. A primeira está baseada na c~asse sociai, sido 'mantidas ''fora da história'J:(ROWBOTHAM,,:1973)-ou
constitui1.1d9 q cpa111ado "r~g1.1çi9nis111,o <iy Çlfi,SSe"., Essa cpn~ que têm ocupado espaços 1àsimargens .da Bociedadej, ·- :,'
cepção ·bá~eia~s~ m1. ~nálisci :que,;Ma~:'iez, ;da r~lação entre
;:,i,i,: ();s~gutí~ó'. de~1~b'c1~·-·;igu#f'-_dbs,·1,#~t-°l#iovi~~n~ol~?-
bas:e _e. ·s~~erestrutur~,-•:na, ~u~l-as; ',f'~layões· soc,iais--·~ã°:· ,:ista~
c,9,~o' 'g,~t~pni,i;t~~at pe!~--lJ~s~)pat~ti,aL da s9,êX~clf1d~,;: ~~gtl~ éiâis'' t~~-ê911s_i~tf~ó'ê~; q~es~iqnár_.º; essi~~ialistn?,clã}~~~~
mentando-:-se,.ass_im, que, as:posições: de- gênem,podem>ser ti~ct~e--~-- s«J_ff~Me:z: 9
7-.oin ·aigo_ ''n(lthraf,,;istC>;_é; c8 ~1::~~§~~
"deduzidas" das posições de classe social. Emborâ'.essâ âná"" fégoria bibi~giHf'A'polítióadé1dentidáâ~tjão'''éÚtrtáltit~~rt:
:·:·';;·_~:_;._~r·::··:r.i ',;_~)~·~~::~~· . ·r: "-':-{::·.·_:;;.- ·: i_;_... .'_/Ji"",'(,,·.';;·-~~- . )·''.·j·::~;:,;:_;·_/ ~~~'.(.t}JJ}\\{}(]

36 37
tre sujeitos naturais; é umaluta emfavor da própria expressão que pertencem àquele movimento específico. 'Para-nôs:.coh-
da identidade; na qual permanecem abertas as possibilidades trapor às negações sociais dominantes de uma detéririihada
paravalores políticos que podem validar tanto a diversidade iclentidad~, p~deinos d~sfjar i-ecuar, por e!(e111plo, ~s,.aparen-
quanto a solidariedáde,,,(WEEKS,1994: 12). Weeks,argu-
tes certezas do:pâss~do~a: ~m:a.~.~firmar aforç,ad~.tj~aid~Il-
menta que uma das. principais contribuições da política de tidade'coerente. e'un~ficãda. Cq111()vimos n? . caso da.s id~iiti-
identidàde. tem sido a de construir uma política da diferença
que -subverte ·a estabilidade das categorias biológicas e .a
âades.~~cionais.~ ~tnic,'as; é t~ni~dor -em Utn inu11do cada
vezniai,s fragllleritado eemré:sposta aó: cq_l~p~9 d~ lim _çon-
junt? ,<J,~tern:1itiácfo déc~rte:?ás ~ afimíar. 11Ôvãs :Vfrda1ês, fun-
construção de oposições binárias; Ele argumenta que os "no~
vos movimentos s·ociais" historicizaram a expériência, enfa- da111:erit~is e·áp~~ar a'raízes. anteriorment~ 1:1~gadâ~. Assim,
tizando as diferenças entre grupos marginalizados como uma ~µi· Urrl~,pôlí#êá_4eicÍentiqad~,; o proj etq .pqlÚic~ deve· 9erta-
alternativa à "universalidade'~ da opressão. ment~ ser re'forçado por a~gt111\aÍJe.fo à solig~ried~dé da9ye'."
1s·so 'ihistra duas versõês'dctessenciâHsfuo· identitãtio. A l~~: ;','l)~rt~nqenf :uip grgpo ópdwido ~~. 'rrutrginalffaclo.
q~~- ºa
pfülieira fühd~menta itl,~nÚ1aff '~a ''vêr.dade"'. da tradição e a A~iol~gia}orn,ec~.un1~:?~S fo~t~~ qessa. so,l_id~j~H~Ae.; abus-
~as raíz~s' da hist~ria, faze11dó\1,niape~o à :"teaÍidadé deum
c~e~ ü11h,~rs'al,
uina ~utrr,trans~~i~tóric~,. ,' •, elaços..pu\túrais
- ' . . 'de-raí#s '' \ . - Jq1ne-
'
ptts~âdo.-p:bssiyelm.~p!~ .rf~~i11!i~1'.e,ô~~curéc,~4d~.)~o, .·qual.ª
i~étitida(ie pfoclatp~<l,.a ~o presente,' rêv~lada co111ô úm pro-
d~t~::.dá -~ist~rta.. A;sêguiidâ e'stá: relabi?11~da'a .~111á c:~teg'orfa
e -, As identidades são produzidas em momentos particulares
no tempo. Na discussão sobre mudanças-globais, identidades
"nâfur~r\ fixa, 11a· qüal, a "verCÍ,de,,: es!~ enr~iz~4á ~a bi~lo~ nacionais e étnicas ressurgentes e renegociadas e sobre os de-
gfa~ Cada.um~ d.essas versõ~s:ên.yoly~mna ctehça na·~~i~tên- safios· dos. ~'novos· movimentos,.sociais~', e:das: novas.i defini-
c.iáe. na:~usca·de 'um.a i•de11ti(l~dê .~erdadeita. ~ esse~~~~lismo
- ·.,_.-. ... ..-· _,,..:; ',, ,,J ~ .:,, ., ,: ··-,.·' :,.,..,: _7,.~? :.,,.,:. ·,~;- .· :::.,~· ,: .: .. ··.~. it·•«··,.- .. ·. ,. ' ~- '-~--· _:; ~: ·:..,,.1' .. -,; "'- ..-· J; ,- ;, ·.-,.-

ções das identidades pessoais ·e sexuais, sugeri:qy~Jt~}q~nti-


pode, -~~stm,s~r . ~iôf~g:ic?' é·.1~~_a1,:· .-~~.histór~c~ .e :-~iil~!at dades são conti11geiites, emergindo em momentos· históricos
De- ~u,afqn,~r mod~, o' q~e ele~ _t~µi êiú .cómmn é \1!11a 'dpncep- particulares. Alguns· elemerifos,_dos .· ~'novos·, movimentos. so-
çªq- tt,h'ificqqtz ;de idénti4~4f. ·_ , ,_, · _< :,. ·_· · · ;· _· · , - _ ciafs''. questiop~l]lalgurµ~s 4~~ lenqên,c}as~ fi~açã9 das iden-

2.4.' s1.tmli~tà'dâ's.ú;ã;·2 ,·_


1Ú.~,~4,es: d~ :';'~a,9a''~ (4ifl:a5:~_~;1~ . ;sub- g~1:1r,~~,lM :~e*~~ltcfa~~~-
' .: .= : .: . · ; ~ ) · •• í ~ · ;) ; ; : == J = ; ., ': ! • ) -: ·: • ~ e·, :- 1 ·, Y.~~eJ?:d9. c_~rte.z.~s .bi9}ó.~\cas., e~q~anto putrqs. ~fi1111~µ1 f1: pr,i-
,;·· . Nossa disclis~ão. apresentou visões; diferentes e. frequen- m~zia: de éértas. ~~i"aç,te#~ticas, ê~:m'síder~~a,~. ,yt,_i~~çj~k, ·. i ··., ,

temente _contraditórias sobre a ,identidade. Por, um• lado, a . ·Argumentei~• nesta, séção,, que· a identidade importa :por-
identidade_ é Vista como tendo algum núcleo essencial que que existe uma ·crise da identidade, globalmente, localmente,
distinguiria:um,grupo ,de-oµtro; Por outro, a identidade é vista pessoalmente, e; politicamente~-'Os ;processos 1hist6ricos, que,
c<>p19: fNJtirg~~t~;, ~~t~- é,: ,RR111?9, n;r2eWR ;4eyip~411rer.~~çção aparentemente;- sustentavam á fixação de 'certa·s identidades
d_~:difi~~e##~s:Ó9~P~~ên,t~i;,d~.dJs9üfsp~,110,lít,~s,?se_ç~ltuJçtfS estão entrando emcolap'so,e,novas;identidades estão ·sendo
e:Ae,: ,hJS{cfü~s'p~ipulap~~~·:A. iclé_ri,i4~4e. ç9,~~~µg~11,t~.,Çqlo:ca forjadas; muitas vezes pormeiodà luta e da contestação.polí-
P~2tjle#1,âs;para:C>S,J~pyiM~~rç~· soçJà,~~.~111~e,i}l}p~ ;9~_pr,ój;etqs . tica. As dimensões políticas- da identidade .tais'coino:se ;ex-
p'ôlíticos, especialmente' ao âfirinar a solidariedadé ·daqueles pressam; por exemplo,, nos conflitos nacionais e étnicos e no

38 39
crescimento dos "novos movimentos sociais", estão forte- Émile Durkheim,' é por m~io da organizaçãoe: ordenação das
mente;baseadas na·construção·da diferençai c?isas d~:acor~o_cotn,si~t~n1~s:classifi~ató_~io~ 3u~ o signifi-
cadp é J?roduii~o~ps;~íste111ijs; d~.d~ssifi~'àçãó 'dão ordem à
Cm~o vimos no exetnplo~e-;Ígriatieff,nd'ínício desfoca- vida so'ciàl, séndo, afinnadqs n,as falâ,s e no~ rifu'ais. De acordo
pítulo, as identidades são fortemente questionadas. Também com• o. argumento de Durkheim, ·em Asform~s elementares
yimos ~ue, ;muito' freq11enterriente,·:_~fas . e~tãà .baseadas em da vida religiosa, "sem símbolos,. os sentimentos sociais
upi~ 1
~tco~9mi~ go'~tpo "nó~,,~· def: A ~arcaç~ó-da ~w~rença teriam µ:rn~ exi.~~~ncia ~p~p.as.precária'~ (QµRKHEIM, 1954/
é cruci<tl~~J>roce,s's·o de construção das l),OSiçõês de_idêntid~- 19Ji,apudALEXA@ER, 1990) . -
---. ·: . . . . ,.._ ..... · .., ,

d{ Adí~er~nça,"ê reprod11zi~a porrn~iode _sistemas :S~Ihb_óli-


côs .(~~vólv~ndÔ átê. ines1no·osrigarros_.fuinados peÍ?~- ládos .Utilizando'~ ~eligiãó 'c?tno ~ni modelá-de' comó'ós pr?-
céssos simbólicos füriciori.ani, ele mostrou que·as relações so-
~~·,~qnfi,~t?,_fi?;.e~emp~?, -~e: Ig~~ti~ff):· .~ª~f!op◊l<?gá Mary
à
~oügl~s ·ar~~~ta .9~e 1na1~_fáyão -~adiferênça é . a, ba~e _da ciais• são prôdúzidâs e fopfodlizidàs pôr niêiô dêrituais é síin-
bólhs, o~ ~uais classi~êàm as· co~saá emd~is gnipú~: as sagra-
c~!tprà P8~qtie:.asl F~isa~ -~.e.-~~ pess.9a~ . ~ .g~nfül~ ;s;~r~ifJ'por
111~i? dá atrt~11içã°. ,dê diforerites posiçõ~s em tu11 _sistema das e as:profarias. Não existe nada irierentemente·ou·essenci-
classifiéat6rio (HALL, 1997bj. Isso nos leva à pr<Sxima; ques- almente "sagtádó'·';~as C<?i~as;.·ÜS artefatos e i~êiassão s'agra-
tão deste capítulo: por meio de quais processos os· sigri.i:fic~- dó's'. ap-emis· porque são simbolizados· e represêntad<ls' como
dos sãü"produzidos e desque forma a diferença é marcada em tais~ ;Ele· sugériü q~e:a~freptesêritações que se enco11tfam: nas
relação à identidade?,. religiões ~'primitiváf':..:: tais cômfrós fetiches, as máscaras; os
objet()s rip.ic1is ,e,9~JQt§rrijc()~ ~,~t",up.. con.~iclerados sagrados
3~ C~mô ·a'diférença 'é' marcadá em relação à porque corp9~i:fiç~y?1.1t ~~ ;!1,9!P1ª$:~ gs ya}()rç~. da sC>cie<iade,
identidader· cq:11tribu,inclo, .~§Sjm,, Pm-a. ~if1PA: \8; 9~ltur~frr.1:~,nte., :segµ1140
Dur~eim; ~~8ui~Ç_f111<>S;Ç()t11pr~~114~r, g~ ~.ig~tfi.ç_~cl.o~ ,parti-
3.1 .. Sistemas classificatórios- '.: i lllados qll~ .9.arn,~t,~ri~~,Q,~;<:ltferçnty~ élSp~ç_t9~ cl~yi4~so_cj~l,
tel!lqs: que ~?C~HJ1Ín~rjpgr,n9, ele~ ,sªq: çla.ssi,fiçatiqssimbglici:-
•. !] :>' '.~s: í~~11t,i4:á-~e~ ,sã_o· fa~dtâdas'pô~ meiq: cfa n1arcaçã? da 1iµê11J~-;_ :A8-s~m~, 0 1p~q;q~e é corpido J:)lJ:!, ~as-a é: yisto ~-iiupl~~-
d~,~~r~~~~: -~~~,a ~a
11:1~~~-ª9~º ,: :1ifere~ça-oéorré- ta11to·· P?r: rn~io
.de
de' sist~II1as/i7!!8ólito~ ·,repfes~~taçãô.-~mint? por meio: d,e
mente como 1-1;1n element<> clª :vi,cl(l, cotidiana, _mel~.,, quaµdo es-
peç_i,al:rri.~nte. pr~parado, ej_Jartido na mesa da comunhão tor-
formas füfexclusãâ'sôciáLAidentídâdê;' pois,i1ão-é o oposto
da difererwa: a identidade depende da diferença. Nas relações
n~-§f:~am:~49',;_pçqe,~~-9, §i~~~I#a.f ,Çri$to. A'vida pisqrpç/;4é.
socjal em geral, argµII1~ntava.Pt1rkheim, é estruturada pores-
sociais~ essas• formas de diferença 7" a simbólica e a social -
sas·t~nsões entre ô sagrado e.oprofano,e é por-meiO de rituais
são estabelecidas,,ao .menos em·parte, pór1peio de sistemas
clássificatórios . Um sistemàclassificatório aplica um princí-
~<?~º;''_í>Or ··:é~-etflpl~~::as !!ê~~~~es>"c?lêtiva~; dos .•·m?vimentos
pio, de diferença a uma população de; uma formata! que,seja rfH,9~q~t1~ 9l(~~_:t~l~i9,õê,~ ~1,J\:ç?~lllTI, q~~o,s9:nficio é produ-
zido. E nesses momentos qüei,,deia~,e· valore~_ são cognitiva-
capaz,d~;dividi-la:(e a, tódas· às· suas características) em ao ment~ apropria.dos pç!os ind1vídµos: .-. . -··
menos dois gruposiopostos-~ nós/eles· (por exemplo, servos e ~ .. _ ; 'r .. {j I ·,J.✓-

croatas);j eu/outro~, Na argumentação ,dq; sociólogo;francês

40 41
Areligiãoé algo emine1,1temente so,çial,.~As representações • do ritual,·do símbolo e:daclassificação~,écentralà produção
religi9s~s ,~~() rep;r,~~et1t,t1:9q~~ :~9J~tfras ,,qt1e, expre~sam re-
aÍi?aci~s C_?i~tivas; ?S, rito~. são: u111a ·m,arieira de agir que do significado e da reprodução das relações Sociais (DU" üAY,
ocorrê quándb os grupos se reímem, sendo destinadós es- a HALL et al.,1997; HALL, 1997b). Para Douglas, esses rituais
timular,· manter ôu 'recriar-certós estados' mentais nesses se estendem a todos os aspectos davida cotidiana::a prepan1ção
· grupos (DURKHEIM,:apud BOCOCK & THOMPSON, de alimentos, a limpeza, o desfazer"'.'se de coisas - tudo, â.esde a
198$: _42): .. fala até a comida. No restante desta seção;·:vamos explorar
·o sagrado~ aquÜo q_ue é "coloêâdc>'àparte", é'definidó e um pouco mais a centralidade da:classificação pará: a,cultura
marcado como diferente enfrelação· àoprofano. Na>verdâde, e.a significação,:utilizando·o exemplo cotidiano da comida.
o. ~_agradq,e,stá>~m, qposição. ao. prqfano, excl$cl~~P ,h;i~eira-
lll~Ilt~! As fºrrI!ª~ p~las q11ais a çµlwr,a: ~~tap~le.ç_e. fro11te.i,ras e
9, '.arttr~pólogo' sácial · francês . Claude •.LéJi-Str,aus~--pro-
pôs~s~ ade~eriyofver·~~se aspecto d() trabálho de b~tkJiéim e
di,stingµe a difer,e,t1ça sã9 ÇJ;t!C!ªis,~~!A çqn1p;r.e.~11cler as iden- utiliz,o~ o exêrn~lÓ, ~~ comida par~ ilustrar-esse· _propessc{ A
ticlª_çle,s., A g}(er~nça:)éJl<rnilo qµ~ ,s~mrr;ªumajde.ntid,ade, da cozinhá estabelece. uihà, identidade entre riós ~· ·. coiiicf 'seres
Olltra, estabe,!eç_ençl,o di§tit19ões,. fre,quenteme.nte, ,na forp:1,a ele
hufü~n'ós,(isto'é~'tihs'sa cultura), -e'hoss~hdmt~à'{ist°. 'é,' ~r11a~
opqsiçõe,_s, çqiµo_ vimos no ex~Inplq dª Bó,sw,E!rllº _qu~l as
tureza). A.:cozinha'é o·méio.ú11ivers~~-pelo' ~~âJ ~:,#a~e~a: é
i,det1tklades Bijo construída~ po:r meio ele uma, qiãra oposição tr~nsforinadâ ·em.·cultura. A cozinh~· é tambéni'üm.á Úngua~
e,ntre, tµó,s~\.e. ''eles'~. A.11wrc_aç_~qJ:J.a cli,{e,:re11ç~. ~, ªssim, o
genf~óf i111efo. dá .• qual'''~afa~Ôs'' sobre' ~6~ ;p~ópd~s ~)~bte
cotnpone11t~-:qhªy:e,, ei-µ qua}qt1eI' sís~ema ,ele dªs~ifü~ªçãq~:
rios:s_os1fogares nh#i~n1o,_fà~vezpossamos adaptâr â'~ásêdê
Cada ;cultúrà terh suas' próprias :ê ·distintivas formas, de
classificar o inundo~ Êpelacóristrução de sistemâS'c~assifica-
úe.scartês, é'.~izer ·"~Oillô, .
10~6 :,existf. OrganÍstnÔs :s~111~:
b.ioló~i,co~, ,pre~is~mbs ,1ifcó*id~pat,~\~?.~teviver~ª Ilàfyr,e~
tórios que a·culturariospropicia osineios pelos,qüais pode- zá~ . ~as tlo'ssa ,sofüev~y~r1cia-_ c,~~◊-,S~~e,s •. hufuan1s: depende
mós,dat'seiltidó ao rhuildó sôdal ê construir significados. Há, do u~~- da;s /a,té~orias :sócii~~· que . s~rgê111,-~â~ ~laS,~ipc_aç'õb
entre os 1hieinbtos de umàsbciedàde; um êértô'grau de cóil- culturais ·que; úttlizaínôs pára>dâr s,h1ticio :à nâfutei~} · . .,
' t·;. -~-- . ~. l. ,(;fL~_./D.> . ' _;
sê~s~ so~re• com~, clas.~ifi1.~•~s 'coisas·a::~in defuanter,algú~ t Aqt1~_l9 :qlle, ,çom~mos pod~, n9,s, dizerwuito _sob,re qu~m
í ;, :
ma· ordem ·so'éfaL Eàsés' sistemàs pàfi:illi~cfos: dê significação
/~qrnos y:;spbre,.~r ctL,ltµ~a1;t1a;quJ1Lyiv<em,os~ A_:cq111,icla é :U,!).1
são/na',yérdâde, ·ô'qÚ~;áifeíit~1:'Ídê p6f ''duitura": ;
meio pelo qu~,las pe,~soa~ pqclerµ _fazer ª'fi;r:inaçõ~s sobre si
1
;1: :.I"~.' 6;1;1ltur~:'Jb J~~!i4Ô;d~~\ ialore.s. plÍ~íicos, ,packo~izà- pr,(>prias._ füa ,ta1,11gélll:Pod_e, sugerir:wuda,11ça~ ,ao lo,rigo, _do
áôs, .~~ u~a com~idà~~,' sérv~ de int~rme~iação pàrâ. â•êx;.
périênêia dos ·indivíduos!' Elà fornece~: ántecipadain~nte, t~µ:ipob,y;m çomç, ée,11treó 9uJm:ra,s,;)10,<i~;mosp~11s_ar, n,a ~11q:i:me
algumas categorias: básicas; um p~drão positivo, pelo_ qual vai-~e,.d.,a,d. e.de ingreclit~nt.,eéüm~~~t~9l,ioj~.clisponfveis.t1osst1".'.
as id~ia~ e_<>s valo~~s ,s~o h,igie,nicfÍmenJ~ ,orderi~4os. E, ,so- n~
p~rn1e:rçad()_~ ~ ta!l1b.~m qiyers~<).açle: ~tniça,,çp~ restaura.n-
pretud(), ~Ia !~m:allrRtiga~,e, u11:10:.vei qÜç cada ~rn ~i11du- te~ nf!s_g:ra,n4xs çida,çl~;s;<ip giw14o,e llles111q,,~m pequ~1,1a~ _ci-
i
ziâó; .<á ·9oric()rdar por:?aii's~ .~~- -9~t1cordânciá -dos,. o~~ôs
(DOUGLAS; 1966: 3g;.3~).' - '. ' e • - , ' , : 'j ;,, :
: " ; -; ,
dad~s, -_,b_a:res _qµ~ 1~ery~;m t,qpas, ,ys,p~•J1,.llo,.la.~ _e J~~Jªurap"'.'.
te._s tailancles.e. ·s, e-'inq,ianq~,
. ·~· -·
.: são:apenas alguns clqs, e_xe,inplos.·. .
.. . - . . . .

o trabalho da antropól~ga' kod~{Marf Dotigl~s de~~n-


.. .· . •· ., ,·· . . . ,. . . . . ,

qµe p9"g,e,prser citêi_gci~~ P~ra,, ½~Yi~~t:rauss, ,éta:mbém a,{or"'.'.


volve o argumento durkheimiano de que a cultura,, na forma ma como organizamos a coinida que importa.:.... o que conta

42 43
como prato principal, como sohremesa etc,.; o que.é cozido alimentos integrais e consumidores de ~limentos considera'"
ou o que é cru. O consumo de alinientps pode indicar quão dos pouco saudáveis;
ricas ou cosmopolitas as pessoas são, bein como sua posição Na anãlise deLévi-Strauss, a comida é não apenas ''boâ
religiosa e étnica. O consumo de alimentos tem uma dimen- para comer", mas também "boa para pe~sat'· Com i~so, ~l_e
são política. As pessoas podem se recusar a:comer os produ- quer dizer que a comida é portadora de s1gmficados s1mboh-
tos de países particulares, emumboicote que expresse a de~ cos e pode atuar como significante: ParaLévi.:.Strauss, o ato
saprovação das políticas daquele país: os produtos daÁfrica de cozinhar representa a típica transformação; da natureza
do Sul antes do fim do apartheid; os alimentos da França,
1
em cultura: Com base riesse argumento, ele analisou as es-
1

e,m prqte~to p~los tt}stes nuck,_ares_,frctn9e~es no, Pactfico. truturas subjacentes dos mitos e dos sistemas dé crença, ar-
Ç~rtas }d~nti4a,d~s J?Odem se, clefinir ªJ>enas _com ba~e_ I10 gumentando queeles se expressam por meio daquilo que ele
fai9,4,~lqv~,aS;J3~S~9él,~r~µ+q~e~~ãQ,99111~1TI:ªfü11ept0S Ofgâni- chama de "triângulo culinário". Todo alimento, argumenta
çe~ :~)li; 4f j~ue ~-'() \çg,~!~{~~P-élS. As ,front_e~nts.,qlle estªbele- ele, pode ser dividido de acordo com este 'esquema classifi-
c_~~ o -qµ~i é ,90,111e~tive.l _podem ,y,star mud,mdo ,e as pr.4ti~~s catório (Figura ·1):
~li111~~t~res ~ã?, ; c~cl~ yei mais, c~mstruída~ de acC>r49:óom
CRU
9rit~~fós'p0Jítiços, ~or~t-s ou e,colôgic~~- O,co~su_1~w~e,~~i~
l }~TTÍ.º-~ JiiriJ~W9~111- llpl~ éot1e~~o m,a~e~iªl: a,s'p'esso~s só
pp~e,111 éó~e,r:a9-~Ho_:_que elas pode~ -c;~mprélr 9,lf: ci11:e,-~stà
cl~~pô,~~vei éiiii,ma :sod~dade-11,rt,c,Ülar. ,A ªn~Hª,e 'clasprãti-
ca{4e alim~nta9,p e dÔs ritu1ffassociâdos com· ()_ponsumo
de-, ~Iim~A~?S, ~pi7,re ,que, ~9- 1Tien9s _~-~ aI,guma 111e~idª~ ,"nós
som9s·:jó A~e,; qpniemCls" ·.'Na '"v~r.clade,' :s,e _c~msideraITlOS as
A~º
COZIDO-------P~DRB:, . ,

Figura 1: O triângulo culin~r,io~e Léyi-:Btr~µss{for111aprimária)


1

côi'sasqui,;1,ófuma f~r-ã? o,u outra, -B9~,n~-()POJ:"11e1119's, !ctl- (Fonte: baseado em Leach, 1974, p, 30). ._
vez a afirmàção mais exata seja'~ de,, qiie ''nós S~hlos o que
'·; ~· : : • • • ' : • ; 1 ; { ~· , :

n~ô-\coiné111os''_~,E~isté~:p~bibi?õés; ~il,l~rais'_I11ndainen~~is !'


cóntrào-co:n:suinó''<ié1cetfos1'aliniéntôs1;Existe·tambémuma i Lévi-Strauss argumenta,•que, da mesma forma que ne-
divisão·hásicârê:iitrê ctêóiríês'tí;~i ê1b;·iiãcfcÔmestívélquévai nhuma sociedade humana deixfl de ter uma língua,. nenhuma
al~Iitdâs distiriç-~'ês'eútré~õnt1trifiYQ_e õ'vênêrlos~i Is~Opode sociedad~ hu1.11anata1Tipouco.qeixa de ter,uma c~zinha (isto
assümir-âiferen~és' forma{comoi :por 'exemplo,, a' próibição ê~ alguns ~~ios par;a se transformar alimentocmem alimento
de-bebidas a.lcoóliêás ·e de carne de-1forco pêlos m1:1çulrrianos cozido). O alimento- c?zido é aq~ele alimento cru que foi
ou-à proibição ,de alimentos nãô kósher':'pelos jtideús. Mas, u-ansforma1oj)ormeio~ fµI,tufais. º-.-~li!rf~P:t? P?dre é o ali-
em todos--_ o·s' casos1,- a. proibição' distiriguê ás.- identida:dé-s ·. da- mento cru- que. foi ,tr~11sf9rmado por ineiqfnaturais.
qüel es:_:que 'estã.ó -·incluídoir'eni ;iifn' sistema -:pàrtfoular de Lévi-Strauss identifica os diferentes processos de cozi-
cfehças>daqueles ·que estão, fora délei i(fonstroem;.;sê'. ôposi"" mento que ilustram e~s~s transforrÍla,çõ~s. Assar,""'."" que. envol-
çõê's entrêvégetarianôS e·câtnívorôs, éíitreêonsuriiidóresde ve exposição diretaàs chamas (que é o agente de conversão),

44 45
sem a mediação de qualquer aparato cultural ou do ar ou da ders) e "forasteiros" (outsiders). A produção:_de ç~tegorias
água- é a posição neutra. Cozer envolve água,.reduz o ali- pelas quais os indivíduos que transgridem s~o· relegados ao
men!o cru a um estado que é similar à decomposição do apo- status de"forasteiros", de acordo com o sistema social vigen-
drecimento natural e exige algum tipo de recipiente. te, garante um certo controle social. A classificação simbóli-
A defumação não exige mediação cultural. Ela envolve ca está; assim, intimamente relacionada à ordem social. Por
a adição prolongada de ar, mas nã<:>·de água. O alimento as- exemplo, o criminoso é um "forasteiro" cuja transgressão o
sado. é· o alimento festivo preparado para celebrações, . en- exclui da sociedade convencional, produzindo_uma identida-
quanto o alimento cozido é mais utilizado no consumo coti- de que, por estar associada com a transgressão da lei, é vincu-
diano e pode ser dado às crianças, aos doentes e aos velhos~ lada ao perigo, sendo separada e marginalizada. A produção
O esquema,de Lévi-Strauss pode parecer complicado e até da identidade do "forasteiro" tem como referência a identida-
mesmo um pouco, forçado. Entretanto, em termos gerais . as de do "habitante do local". Como. foi sugerido .no exemplo
análises estruturalistas de Lévi-Strauss,,têm sido extre~a- das identidades nacionais, uma identidade é sempre produzi-
mente influentes, e este exemplo é útil para chamar a aten- da em relação a uma outra. Douglas sugere, utilizando o
ção para a importância cultural do alimento: "São as con- exemplo dos dias da semana, que nós só podemos saber o sig-
venções da sociedade que decretam o que é alimento e o que nificado de uma palavra por meio de sua relação com uma ou-
não é, e que tipo de alim.ento deve ser comido em quais oca- tra~ Nossa compreensão dos.conceitos depende de nossa ca-
siões" (LEACH, 1974: 32). E o papel do alimento na cons- pacidade de vê:-los como fazendo parte de uma sequência.
trução de identidades e a mediação da.cultura na transfor- Aplicar ess·es conceitos à vida:social prática; ou organizar a
mação do natllr~Ique é importante nesse desvio que fizemos vida cotidiana de acordo com esses princípios de classifica:-
pelos caminhos dá cozinha. · . . .
çãC> e de diferen~''••~P:V()ly~,. n:1yJtofr~CJ}!~nt~D1e,:ite,, u~ qom-
Outro aspecto importante da teorização deLévi-Strauss é portamentospciatrep~t!cl? qµiiwalfza~Ó,isto ,érum conjunto
sua análise de como a cultura classifica ós alimentos em co- . de práticas_ siÍÍ?-J,ólic~~-'pwtjlh::ida~:, : -
:. _.: ~ . . -· < :,
-· · · -
. ; ·-.... ~ ' : '·: . .: ; : ; .. :
mestíveis e não comestíveis. É por meio dessa distinção e de ! .O~ .dias ,eia sem.aru1; .com sua sequêµcia regular, .~eus 11omes
outras difere11ça,s que a ordem, social é produzida e mantida. / e sua singt1laridade~ al~m ~e seu valorprático na identi~cf,l:-
Como .argumenta:MaryDouglàs: ção das divisões_ dó te111po',' têm, cada, deles, uni sigriifi~UIIl
cadó'que f~z parte dé uin padrão. Câdâ dia tem seupr6prio
Sêparâr,' 'pü:dfiêar, dêmárcar ·e punk transgressões têm significado e se existem' hábitos que ,marcam a identidade
u:como·suaprincipal função impor algum tipo de sistema a de:,um dia particular, essas observâncias. regulares•têm o
u111a .exp~riência)nerentemente de~ordenada. É .apenas efeito _d9 .ritu~l. p ,4oming9 11~0, ~ ap~11as ÚAl. ~ia de, d~sc,~n-
,e;x~gera~dp, ~ ~1ferença ~nt~e o que ,e~tá dentro e o que está .so. É.Q di~ qÚ~_y,em ru,ite~ d~ SÇgtU1~a:-fei,1i,:t ~J:11 ~nicerto
f<,>f~, ~c1m~ f .~~aix~, ,ho111~n1 e múlher,a favor e contra sentido, não podemos'é~xperhnentaí- a terça-feira Se por 'al-
alguma·
que' se ·criá·· a· aparência de ordem (DOUGLAS: guma razãô'não:tivernfos'fonnahnente'rfotado que passa-
~.~66:4). : . , . ,·. mos·pela segunda.;.feira. Passar Jfor uma parte do p1:1,drão é
um ato 11~c_ess~rio p~a se estar consciente,daprbxim~ pa~e
·Isso sugete· que a' ordem ·social é mantida. por meio de
(DOUGLJ\S, 1966: ,64).
oposições ·binárias·; ··tais ·corno a: divisão entre ,~'locais" {insi-

46 47
,,~Li_! Douglas utiliza o exemplo da poluição e, em particular, pela disponibilidade ou não de.recursâs materiais; 0s fatores
de nossa percepção sobre o que conta como "sujo". Segun- econômicos,sozinhos-sem a-cultura--..;_;não·sãodétenninan-
do ela, nossas concepções sobre "sujeira"são"compostas de tes; Mary:Dougias:argumenta que; 'no interior ·de ;umá sod.e::.
duas coisas: cuidado com a higiene e respeito pelas ·conven- dade com as mesmas restrições econômicas;- cada casa ~'de-
ções'' ( p:,7). Ela argumenta que a sujeira ofende a ordem, mas senvolve um padrão regular de horários-de·alinientação,·de
que não existe nada que se possa chamar-de sujeira absoluta. beb_icla e co,mida p~ra a~ criança§, de bebidfi e comida para os
A sujeira é ~'matéria fora de lugar". Não vemos nada de errado llom~ns, d~,comida festiya e comida cotidia11a" (1982: 85).
com a terra' que encontramos no jardim, mas ela- ''não está no S~ja lá qual for o ,ní;vel relativo de po~reza ou riqueza, a bebi-
lugar certo" quando a encontramos no tapete da,sala. Nossos da atµ~ comq ,-µm µi~rcadorde gênero da .''identidade pessoal
esforços para retirara sujeira não·são movimentos simples:.. e d~~-fronteiras d.a,-inclu$ãO e da. exclusão" (p .. 85)_. ~xistem
mente negativos; mas- tentativas positivas para: organizar o pi-oibições que impedeITI_ qllç as _t11ulhere,s, to,mem "beqidas
ambiente ~- para excluir a matéria que esteja fora" de 'lugar e fortes'\ mas ()S ho~ens d_a mesma .classe e do mesmo grupo
purificar, assim, o ambiente. Ela argumenta airida que "uma de r~ndimentosão julga,clo,s,_em contextos particulares(Pou-
reflexão sobre asujeiraenvolveumareflexão sobre a-relação glas cita os homens que trabalham nos portos, mas seria pos-
entre ordem e desordem, o ser e o não ser, o formado e ó infor- sível pensar em muitos outros exemplos), "de acordo com a
mado, a vida e a morte" (p. 5). Assim, as categorias do limpo maneira correta ou errada como eles carregam sua_ be,bida"
e do não.limpo~ tal como as distinções entre "forasteiros" e (DOUGLAS, 1987:
- i -= '.;
8).
• . , ·- .. ·:, ~ J ; ; ; :" : •

~'locais',\ são produtos desistemas culturais de classificação ::Ps 1sisJ~~~~:9:Y ali,fl?.e11tctç~9 ;y§tªo,,~~~im,-~uj ~it,()~ ~s c~as-
1
cujo objetivo é·acriação:daordem. sifiçaççes:,do proce_s~,o d~\()rden~ç~o si111:9ó\i,9a 1:>,yl}1 C()m-9. às
- _ _ ,..,Pf
~e~Í~l11~S afirmar, ,1a1v~i, que ~ss.es t~óríêos: ten~~#1 a distinções •. d,e :gên~rQ; .ig~de'. •-~-, ~l~~~~-: .,Ex,ist~111, _:?~"i~m~n.te,
o
êxágerár papel do· simbólico-*~- ,qustâ~-,do:.~~terial. Afirtal, difer~nÇf.l.~ :d~:, çiª~:~~--fQCi,~1 irn.
;~()-~$q,;:·gp~t<;>,: :p~Í~
:i~qffii#a:
1
ao considerar os alimentos qu~ 'as pessoas comeni aquelese Ç()lilO :,~gu~é'~iá: ,l>ifrii
'-~~w-dí~µ ((9?:4),:, :9:e,rtô~)iü#}~11tqs
q~~;~1~s·eyitatrt~,é 1t~mbêm_·iinP;ort~~tétratardas•·restrições sJiQ,; ~~so~.iflclp~: as ?õ11.\ iíii1h~~f~;
o~ ?:Ô~ Q_S hom~Q,t:cti
'acgr-
tjl~terict!~: ~f •-
a~illlenfüs que-_ y~q~::góstad3:· de comer, mas 4o c?W ª,f~"as.~e,~9ci~l-~ :Qpeix~ '{per~~~14o_pom9}fug~9,prip
pirra_os?o~én~•-?acl,éts~~ openiria, s~nd() 'y~st6~oin?-,'~o~i1a
pq,gfn~~:~~r ô,1ipli~~r9,p~nl_çg,mpf~~lo~~ rli~~~ricamente, a
Ieyf, '~ triài,8, ªPf
ôpria1~p~ra'.as .crian~~~-e' o'~._.inv.á~idos.-Rede~-
esc.olha·.dos- alitn~11tqs :tem;s_e, d_esenvolyido. no contexto de
sua i~sca.ssez-oude· 1sua;-superabundânciarelativas:·Nossa es- fos êa,rnpanli~s '. Pfºm.?ciõmti~' ~a
indús,triâ•Ae' éâm~. '1>9v~na
britântêa, plânejá:dâs phr"á cónter quálquer tendência á6 vége-
-~?!~âfj~'~liú1~rt?·~,~ ~~âri(fo/!~.111~.~-~l~ti escolha- desen-
t~ri~füsn10, pàredérdônfi§~i~sô,' aó su~e~i(q~e :sohl~ni~ ios
yply~~-~:~ Jªffigét¼
epi, êq~f~ftq5:~.yç9~9pi{co~ pa~icµlares. Em- frácos cómém 'vegetais e pêikes· ("Homens vérdádêfros c'o-
l?Prn.~~~a,si:çªo:jçõe,ie9,911õrriic~s ~ mat~riajs possá1n ser mui-
to:inlportantes, elas nãp enfraquecem necessariamente o ar-
mem êâmé'';'''Os ,liômêíis'preêisâfü:de carne''). AS arisredà-
gumerttó"' sobre: a· centralidade- dos •sistemas simbólicos ou
det sohtê' os; 'risêfür'dô êônsufuo
&e :êariíê;·boviná bfitânícâ,
deSd'e â'crise'dá "vaca:' lática'\ podem, eritrêtàhto,· prejudicar
1

classificatórios. o "gosto" não lsi:ínplesfuéntê determinado


esse tipo' de campanha: Bourdieu argumenta que o corpo se

48 49
desenvolve por meio de uma inter-relação entre a localização bridismo, sendo vista como enriquecedora: é o caso dos mo-
de classe doindivíduo e o gosto. O gosto é definido pelas for- vimentos sociais que buscam resgatar as identidades sexuais
mas pelas quais os indivíduos se apropriam de escolhas e pre- dos constrangimentos da norma e celebrar a diferença (afir-
ferências que são o produto de restrições materiais e daquilo mando, por exemplo, que "sou feliz em ser gay").
que ele chama de habitus.
Uma característica cbmu~ à maioria dos 'sistemas de
Està seção analisou algumas das formas pelas quais· as
pensamepto: l)arece ser, portanto, um cqmpromisso com os
culturas fornecem sistemas classificatórios, estabelecendo
duªlismos p~lqs quais a difer~nça_ se. expressa e,m termos de
fronteiras simbólicas entre o que está incluído eo que está
excluído~ definindo, assim, o que constitui 1.üna prática cul- oposições .cr1~falin~s ,-;-:11.~ttirezaicultura, . corp~/mente, pai-
turalmente aceita ou não. Essa classificação ocorre, como xão/razão. As autoras~ os autores que criticam a oposição bi-
vimos, por meio da marcação da diferença entre categorias. nária argumentam,. entretantC>~ 'que os terrriqs· efu oposição re-
Examinaremos; na próxima seção, a importância particular cebem uma impôrtãncia;diferénêi'âl,'de :fortrià'que'unt dos
1
da diferença na construção de significados e, portanto, de elementos da di2otôinia é sempre mais váiorizado _ou mais
identidadesi forte que o outro. Assim, Derrida argumenta que a relação en-
tre os dois termos de uma oposição binária envolve um dese-
3;2:' A diferença quilíbrio necessário de poder entre eles.
Ao analisar como as identidades são construídas, sugeri Uma das mais frequentes e do:minante_s ·dÍC'otomias é,
que elas sãó formadas relativamente a outras identidades, como vimos no exemplo de Lévi-Strauss, ·â q_ueexiste entre
relativamente ao ''forasteiro" ou aó "outro"; isfo-é,'rélâtiva.:. natureza e cultura.. A escritora feminista francesaHélene Ci-
~e~!e ao 'q~e não é. Essit'construção aparece, mais. corou;. xous adota o argumento de Derridasob;~·~,distribuição desi-
me~~é?_ sob~·forma de óposiçõ~~ binári~s. :A.;téor!a H#guí~tica gual de poder entre os dois terrrios de tiin:à'ôposição binária,
saússtireanâ' sustentai que_ as' opo~~ç?es ~in~rias ~-_a ortna f mas concentra-se nas divisões de gênero- e átgumenta que
<;ssa oposição de poder também éa base _dás' divisões, sociais,
m~is~~~em~ :~e, m~~~~-A gifer~~9~ --§,ã9 ~ ~sse~cia1s pará a
~specialinente daquela que· existe entre homens: e mulheres:
r~c.~~?~º--~~~i~ipcA~~,fIIALJ:-,~,1,99}a):Eitâ:seç~() ah.alisa-
rá_ a._;q~e~w~, 4.~:4i;.~r~n,?~~ especialniénte, a s,Úa prôéihçãô por o pensáment~ s~fupre'
~'.eiQ,d~OJ)ási,9,õ~s pi,11;á~fas ... E~s,a ,conc.epção . de, çlif~r~nça é funéionou póf oposição.
Fala/Escrita ·
~p~a~eR-ta~. n8,-l'a Se_ 9?,rp.J>reen4~r Ol)~O~es,so-'<l,~ _co,ns~ção Alto/Baixo .. ~
cultm"~l dasjd~~tidades,. te~.do .:s~do ado~itda. por muit~s .dos Isso sign,ifi~a algu111~ ,coisa?,
"11oyqs 1:11()vimen,~os sC>ciais'',aqteri()I1J1ent~tdis:c~tidos·. À di7 (CI~QlJS, 1975: 90).
) ;, 1 ; . . .• '
. .
~-

fe~e1,1ça p()de ,ser, c9nstr,uí~tl neg~tiv~~pte .~ p~r,111eiÔ cl~, ~X7 Çixoµs. argu.ni~nt3:Hµe não se trata apenas do fato de que o
cl11s,ã() .ou c:l.~,111~ginªlizaç,ijo c:l~qµ~~a.s P:~sso~s.q11e s~o d~fini~ pensamento é. construído .em· termos_ de. oposições b_inárias,
das CQITIO t'outrqf'9u fürªªteiros,~-Por; outro lac:lo,.ela,poge'.ª~r mas qu.e n~sses dualisP10s u,m dos-:tennos é sempre.valoriza-
çelebrada cotno fo1:1te_ ci~J.iJyersidade, )letemgen~idªcl~_ ç,.J:ii7 • do mais que o outro: um é a_norma e o outro é o ''outro;' ~visto

50 51
como "desviante ou de fora'\ Sepensamos acultura em ter- Quão inevitáveis são essas oposições?, Sãoielas parte da
mos de "alto'~ e "baixo,,;.que tipos,de atividade associamos lógica de.pens~mento.e da linguagem como Saussure.e::estru-
com "alta cultura"?- Ópera, balé,, teatro? Que atividades são turalistas.tais- como Lévi~Strauss. parecem sugeri:t?-Ou.são
identificadas, de forma estereotipada, como sendode,"baixa elas impostas à cultura, como parte.do processo d~ exclusão?
cultura"? _Telenovelas,,músi,ca_,PC>pular? Esse é um terreno Estão essas dicotomias orgànizadas para desvalónzar.um dos
polêmico e U111a, dic?tomia b~stante quest~onável n,os -~studos elemento~?. Talcomo{eministas .como, por exemplo, Simone
Culturais, mas o argumento c?~siste ,eIIl enfatizar queós;dois de. Beauvoir,e, mais:1:eçentemente,-Luce Irigaray, têm argu.;.
ín·embros dessas divisões nãó'.reêebetn peso igual e, em.parti- ment~c,io, ~.por,·m~io _gçsse~ ,QJléiJÍSmos que a~:Inulher~s s!o
cular, quêêssas divisões estão relacionadas com·o gênero. construídas; ,como. "outrªs~', de: forma -que:as mulheres sao
. Cixolls .dá O!Jtros e~emplos de opos,içõ~s binárias, per-:- ~ne~-ª~ ~q~il~ :qu~-()s_hqine.11~ 11ão sªº' co1TI9 ocorre ~a teoria
psicanalíticaJaca11iana~ Po_q.~m. as,, µmlhyres -~er diferentes
guntando de q~e ,forma ,ela~ estão relacionadas com o gênero
dos· ho111ens.1s~~, se:re,111, opo~~~s ~. e\es? Iriga:rfly ,utiHza o
é especiah1:1ente com a posição das mulhere~- no dualisIT10_ em
questão: . ' . . exernplo çla ~e~µaÚ<l,a,d~ par:~ arg'llment3:r.que as mulheres
e. ~s ~o:t11en~;têm S<:,:Kt1aliclacl~s dif~rentes. rnasJ1ão .opostas
,Onde está ela?
Áti~idad~ip'as~ividade,
(iIµGAMY,' -~ 985)i Entrit~n~o,.__a i4~ntificação das,mttlhere,s
·Sol/Lua, · · comai1aturçza e dps hom~n~ cqn1 a cultura te,m;:1,1m lugar bçm
.Cul_tura/Natureza,, : ~stáí;~ieéiciê{na)eprfa antropplógica7._, .
.r r·. ,:;,~!., : (.-... };•i.·J;.-'.">.;;(·., '··'-:. .. ·-·~/J.i ..-.,;:: ... · , •·
. e,, •

füaJNoitê~ · · ·Henrietta Moore,: sU:gere·:que a antropologia tem sido im-


Pai/Mãe;·:
Cabeça/côràçâo, portà.nte:para desestabiH~ar'categorias:~nitária~ tais, como.ª
-Inteligível/sensível, de "mulher", especialmente•porcausa,de sua enfase:nadi-
.Homem/Mulher versidade intercultural. As desigualdadesJêm sido tratadas,
(p.,90). na antropologia, a partir de duas perspectivas. Em primeiro
Çixous sugere que; as mulheres estão associadas pom- a lugar, tem-se argumentado que a d_e,stgµ,algªde cl,e ,g~nero
natµreza _e não co111 a çultur~,-com Q ,''cpração" e as emoções e f$íá li?ad~ à tenclência iiclentifirara~ ~ulhe~es~om ~natu- a
não com a "cabeça,, e a racionalW~4~-. /} te11qência para clas- 1rezá e' os. hbtWenf co~: ~. 'c1I~~a (a· o~ósiçã~\ fundame11tal,
sificar o munclo em uma opos_iç~ô.int.r<!,prfoqípios masculi- aqu~h(que·tévi-Strauss.tontac?,~obas~ ~a?i~~- ~ocial!. A
nos e femininos, identificada por Cixous,-está de acordo com segtin~a,:p,osição: centfa~\e na~ estru~ras sociais: aqm as
mulheres-' sãéddêntifiéadas com à arena privada da casa e
as análises estruturalistas baseadas em Saussure, as quais
das ·relações: p·essoais- •e Os; homens ,com a atena pública.• do
veem o contraste como um piiiicíp_io:d<;t esb:iltura linguística
comércio;:da produção e dapolítica~·Aevidênciaantropoló-
(HALL,_ 1997a). Mas; enquanto.:p'àra Sauss'úre essas oposi-
gicamostra~ enfretarito,.qrie adivisão entre natureza e:cultu-
ções bináriás estão ligadas à lógica subjacente detoda lingua-
ra não é::universaltü, questionamento que Moore faz à opo-
gem e éle todo pensamento, ·para: Cix.6us á força' psíquica des-
sição :1'inária,~p.tr~ nawn~za e. cultura, •em, sua relação.com a
sàduradoura estrutura de pensa:mertto deriva de unia rede his-
opgsiç~W;~rj.tre_riluJheres ;e ):iolllen~, possibilita a:µ~lisar as
tórica de determinações culturais.
espt?Giffoi,dad~~ 4~, difereQça~

52 53
·Esta se'ção.'discutiu as oposições binárias, um elemento, sões sociais e simbólicas, da:identidaclerEsta: seção; buscou
essencial daJiriguística sm1ssureana adotada pelo,estrutura- demonstrar que a. diferença é marcada emirelaçãq, àideritida-
lismo de Lévi-Strauss. Ela também tratou das• críticas desses dê. Analisamos tambért10 pensamento que se baseiaemopó~
dualismos· como, por exemplo,: a de. Deriida. O questiona- sições• binárias tais• conid, natureza/cultura- e sexo/gênero.
mento' que Derridá faz ·das oposições binárias sugere que a Mostramos que ÓS termos que formam esses dualismos' reêe-
própria dicotomia éum dos meios pelos quais;o significado é õem~ rfa verdade; :pe~os desiguais, estarid~ estreitamente vin-
fixado~ Épormeiô dessas dicotomias'que o'pensamentó; es- éulâdos arefaçõesd~poder.·Esta seção fambém buscou ques-
pecialmente no pensamento europeuf tem garántido a-perma- tionar a perspectiva dé 'qué adotar 'uma posiçãó políticli; ê de-
nência das reláções de poder existentes. Dettida questionou fender Ôrireivhiâidâr uma pôs"ição. de' idêntidáde necêssaria-
as visões estrututálistas de Saussure' e Lévi~Strauss; sugerin- li1~ritê ériyolve uni apel?}, a~~enticidade·e:.àvetd~de, .eriraiza-
do que o'significad~' está presente corrioüm "traço'';•àrelação dàs·nª biologia. Discütimos·J~m~~ril âs·pôssíyeis'alterna~ivas
entté'Significado e significânte1iãó é;'âlgofixo.·o•significado ~ ~~sê es~en~ialis~o,~aigulllenta~d~ 'ém ,r~yór êl~ úm ~ecorilie-
é produzido por· m'.êio' de uni 'processo de diferimento oú' adia- cimen,tó dá posJcipnàlidacle-)e. t.iê .• uma ,pe>lítica. de)ócalização
ment9', o qu~l f!e~i~â'ê~~ma:,ah-d!D'éranc:- o quepaféce de~ q~~' •como argulll~nt~ I-l~miett~Jv1.oore, inclui, diferenças de
teimiilàd~é,pois,ri.â verdade; fluido e·in.s'egtiro, setri'rienhum "ra.ç~'', dassé, seiu~Iidade, 7tníâ.'~ n~ligi~~ entre;as .mulheres.
pontêtde· téchâmentô: Cf1:rá1?âlhô1dêT>errfüà sugêrê\hnâ i1~
temativa ao fechamentó. ê Yâ 'rigidêz dás' oposições binárias. A diferença é marcada'por representaçõessimbólicas que
Em vezdefixi4~z,o;que,existeéc_ontingêncíai O significado atribuem significado às relações sociais, mas a exploração da
está sujeito ao deslizamento. Cixous,desenvolve essa crítica~ diferença não nos diz pór que· as,:pessoas investem nas posi-
mas. enfatizando, díferentemen.,te :de Derrida, as refações de ções que élàsinvesteriiném põt:que\~xisttH~sse investimento
poder ligadás_ ao, gênero~; - pessoal ·ná identidadet,oesctevertlôs'"álgtins :dos: próbessos
envolvidos na· cônstruçãêf d~s pôsi9õêf â~' idê~tidà<lê, füâs
' .

30'3:, Súrháriá' da' seçãô 3 ~ão' explicam~s -ft,~t


:~uê~s .·pessoâ~' assum~m 1

~ss'as idên!.~dâ-
, ·os ~i~~e~~S; cl~~~i~;~aiótjp~ p9r meitâ()s q~~t~;P',;igµifi~
des:Voltaino~n.ds agbrà para·
â ·última gránde ··questão' âéste
'tulo~-
Icap1. . ' ,,
cado ~ prod11:;;:ido de:ee1:1ç:lep:1 d~,síste~,~~ sqcja1s_ e sjn,fb~lÍCos.
As P~!Cepçie~ e a ccmw~een~~o d~ ~8rÍSm~t~ri~l da,s nec~-~si,~
4. Por que ·imiestimos· ,na!fidentidades?, -
claç:l~~ s,ão cg11struídas por 111ei9 dç_,,sjste111~~ :simhóticos~.-9s
qua;i,$ distip.guem o sagracictclo . prqfanQ;;oJimpo do,~ujo e o 4.L 1dentidade,,e:subjetividade
cru do cozido. Os sistemas, classificatórios são,, ássith,, cons;.
;'ó~' têiniot~'idéhtid~de'~'·~·"sübjefrvidade'' são; às vezes,
truídos; sempre, em:torno dá diferença e-das formas,pelas
utilizados dé fó'ririâ ·iiítetdunbiáveL Existé, haverdáde~ uma
quais• as •diferenças são .marcadas) Nossâ discussãoiprócurou
êonsidêfávêf 'sobreposição 'êiitr~ '()s:dôis?'Subjetividàde" su'.~
teorizartas formas pelas quais os· sistemas simbóHcós t(so- 1

gêré' â'dômpreêdsãô:qúétémos·.·sôorê ó nossb eu.·oterinóen-


ciais ·.• atüâfü'patâ produzif idêritidadês/isto é;' pãfa pfêidtizir ás e·
volvê'ós'pênsaírienfos ê emó'çõés éori.sêientes incóíisci:a.
posições que podem ser assumidas, enfatizando -às; ditnên~

54 55
entes que constituem nossas concepções sobre ''quem nós so- nidade, os quais são aqui a~resent,ados '_c~Ino p~rt~- de pressu-
mos'?; A subjetividade.envolve nossos sentimentos e pensa- postos culturais partilh~~_os,, ~~ P,~ic~iar ~º?r~ o·4~e se espe-
mentos mais pessoais. Entretanto, nós vivemos nossa st1bjeti- ra de urna "boa mãe". Inicialmé!lte, Jad<le :Kay ~~screve sua
vidaqe em um contexto social no qual a linguag~me a C1Jltura experiência ao se inscrever em vari.as instituições de adoção,
d~o significad_o à çxper~ência que.teµios4e nós meSJ.1}.,0S e no em suas tentativas para.: a.d9tar '~riaµçá:. _ umâ
qual 11ós adotamos umaidentidaqe.•Quaisquerquesejan1os
_,' ••- . , · · • • •••• ... .: • ··-·· .... -·-· •• ,.., •• ç. ••••••• , , --· '·· ._,_
A primeira instituição a que fui
conjuntos degignifi,ca,<;l()s cons_truídc;>~ pelosdiscl.lfsos, eles só não queria nos colocar 11~ sua li~ta
pqd~rpser ,eficaz~s_s~ elç,s _n9s,rncrutarr(co1110 sujeit9s. Os su~ não morávamos su:(icienteme11te próximos
jéito.~ s,ão, assirrl, suj~~ta<ios ào di~curso e <ieye111, eles própri,os, nem frequentávam.C>S qualquer igreja
assmni~l9(~01110 incitví,ciuos;·que,de,ss~ fon;ria, 'se.pqsicio~~m (mas nos calamos ~obre o fato de que éramos coinunistas).
A segunda nos disse que 11:ossa renda n.~o era suficientemen-
ª . ~i :PrÓ!)d9s . . -J\~l?ºSiçõe~ ,q11e,, i1s,s~i111ds e com.as qu.ai~ t19s te alta.
idei;itiflcamÓ$~constitu~m. Il9S,_~~ª Jqê11~idades.· Asu6j:etivi~a_- A terceira gostou de 11ós . ,
dê 'indui :as'di~eiis?es in~oijsdent,es dÔ 'eu,, oque_ irnpliéa a mas tinham uma listé,i de ~spe1:a de cinco anos.
exis}~n.ciâ de,· cóntradiçõ~s~',.c1m9 viino~ no exemplo dás ten- Passei seis me~es tentando não olhar
tativas d-o -s-oldado sérvio párâ reconciliar experiência co- sua par8: bal~nço~ :'netn :c~i,nhos de. bebê, p~ra
tidt~â com 'as· Ínuâ~nçás políticas·: A süb}etividáde pode ser para nã1 :perísar' q~e 'êssacriànça que eu;911eria
poderia' tér' agora cincC>: anó,s. .·. . . - · _,_
ta11to,raéional;_quan,to irraci<?nab-Podemos·•ser-.ou:gostaría- A quarta instituição estava coni as vagas· esgotadas.
:rnos;qe :séri 7 pessoas .de cabeça fria, agenteS'racionais,. mas A sexta disse:sim{-:mas, de novo, não havia nenhum bebê.
estarµos-sujeitos a for:ç_as que estão além 4e:noss() ~ontrole. O •Quando eujá est~X8: n,a 1poi::ta,
c911cei_t9 de su.pje,tividade, pen.nite. um~~xploraçã9 dos sen- Eu disse olha a gert~'n~o·liga pra•C0L
~iJ.11epJos.:,qlle, estã() ~i;iyqlyidCl$, tl.() pro_çess,o .d~ prqdução ga E foi assim qu~,-flr,Vil?~nt~,.~;~,sp~sª ªfªR?~·
identig&9;e ~,49: i3:1~esfüg~~-?JO p~~s.o,,a\ ;qw~ fazeipq~, e~ :PO~i- O poema conti11ua, descrev~ndo:a visita:queainstituição
çgy,~ _e~pecíflca~4e ici~l)t~qade~ E:I~ nos pe1111~tç e,JCpUc.a.r as ra- de adoção fez à casa da futura ili.ãe adotiva:·ê âs' preparações
;~i~ P,~Iá~,gµ~is,µqsµq~fl:Peg~qs,'_a.
·· ·· -.. ,....:__ .....•,.,.:=,·~--,,r··
id~yµtid~d~s-p~~µlar~~-
~-'·'····'·.!..... .-.... •_:_:·- ·.,·-......... _.:. , .... ,. ...•··
.,..-··.· ... , .. ;,~--- .. :·~,,- ·•-·!•'•'·····=:..:-.- ., ... .·, ...,,.
que a mãe- b.ra1.1caC-é.faz'afimde se~prese1.1!~r-- ~. àsua casa-
A fim .de e:,cplorar um pouco mais algumas das ideias sobre
rsob o ân~l():ll}ai~fª~?ráv~,I:go~sível,·con,.side.rando-se suas
subjetividade e identidade, gostaria de analisar um poema que ~-:,.,-~
ser
ansiedadeá sbbte não- vista éóino o tipo certo de mãe:
: : ~.':(j .,_ .. _i:').t:, .. ;·:: ,:_;_; ... ·_.::. :.'.

é parte de uma,~éri~- fi.QlJr~Jtq\l,~s,t~Q ç),a,a:4"9ção ,de:~tjanças,. A Achei qµ~,ti11h,a esp9p.did9 tudo,


poeta negra Jackie Kay, ela própria adotada, explora 'seus pró- que não /inh_â -de1xad-o à.: vis.ta
nada que pudesse:'nie denun~iar.
prios sentimentos sobre a questãdda ado'ção;,ein,uma série de -·-· (·,·.:·,

B9~~ify.1a1.X, E:ngel~, Lenin (ne!1hllll'l,'fr?tsky)


p<?,e,.gia~ Jn!it.glag~ Qocl":'!1:W!/ºs :. de, qilpfffP> {i 9?,I ), .utilj~ando no a~ãrio 'dá cozinha ~ ela não ia .- .
wn~ s~tje,. 4~Ai(eryntes, "v9?:çs'~ {p()r:e,~~mp~q,, a;yo~ çta,:111ãe conferir os panos de prato, isso era certo.
.i
µa,tural, acla:mã~:~d9tixa)/Ess~ ,P?~tna. ~~t_á,.~s,ç1;ito ria iY9~ ça Os exemplares do DtârüYOjJérário ' -·
P~~~~~ péss9à S~✓upla, ,qlle,'. çi~e,f; à~ptar',U111 b,~f~'. e_ ei7 mil4~r Eu botei embaix<fda-ahnófâdá do sofá,-'·
a pomba da! pit' eü tirei dó bari)lêiro. ,. .:
p~~~s,,a. s,ell~ ~~~t,iw.i~N~ re,~,fü':a.pl~t1te ~~i4!~çHf~'?s,,4i)~it~r:
56 57
Tirei da cozinha Em casos de adoção, tornamo~nos agudamente conscien-
Um pôst~r de Paul Robeson tes sobre o que. constitui -identidades maternais ou patérnais
que dizia: 'éleem~lhe -~e~ p~ssaporte. socialmente aceitáveis. Existe, aqui, um reconhecimento cla-
Deixei uma pilha de Bum, ro sobre a existência de µma identidaciematernaL Que senti-
meus contos policiais _
e as Obras Côinpletas de Shelley.
mentos es_samãe/ppetcitra:z,par~:esses discursos sobrymater-
11iclade? Qlleposiçã~ de identjclade ela quei;- assumir? Qu~ ou-
Ela chegou às 11 :30 exatamente;
Servi-lhe café nas minhas
tn1s identidades es,tão envolvida~?. Quais são as. identidades
novas xíêaras de fouça húngàra que;estão, áqui,-,~~,s()n,flitq~~Çom? sãoel~sµegqci~das?·Quais
e tolamente rezei pra ela $ão as contrádiçõ~~ eritre a:subjetividad~ e a iqentid~de,}lpre-
não perguntar de· onde' vinhám. ~~nta,d,~~ n~ ~I?º~gÍÂ? · · · · · ·· ,
Fráncamente, •esse 'bebê
está me subindo à cabeça. O poema de Kay ,indica algumas das,fonnas pelas quais
Ela cruza as pernas no sofá - as. identidades sociais_ são construídas bem: como; as formas
Ouço nà mi~a cabe'ça o ruído pelas ,quais.nós as negociamos. Este poema;ilustraas :diferen-
do Diário Op'eráriô embaixo dela,' t~s i9entida,des,-n1as, deJorma crucial, ,up,1a deta$. em particµ-
~em, _4iz'~1a, voêf t~~ uma;c~sa j~~teressante. - lar,, que a :mãe/po,eta reçqnllec,ç co_mo, tendq predpn1inância
Ela vtminhas sobr~nc~lhàs ,se'-erguerem'. cultural: a da ~'boa" mãe da mãe "normal" tem uma res- ,✓
13qife~~llty,,, t1c,res,ç~Í}ta'e1á: , , · · ' , ' .· ',• , . . . . · ' ·.; •. ,.,_ '·.' .. ···' ·, ! . ' ' . '". ,.. .. .. · ·- ' • • • . ' .,· ·,

sonânçiapcirt~qu,l,~_!,1?1.~n~~Jorte.n~s~~-sasp~ TraJa.-se 4~ 1_uma


Drogar eu tirtha gastado toda, amanhã ,: ;:,
idep.ti4act~ qve,,yl3;p~fye.~s.S,wm!, e~bqr~ efa ~s,tçja cop.sçitm-
tentando fazer com que,parecesse uma casa comum,
uma casa adorável pára o· bebê. , · te, cle_. que est~eiri,ç~µffüo'êq~_ ?\!~as, :~,4e11ügade,s,:~spe?i_al-
n1ente suaj_ci~nti1a4e·j,plítiç,a,, i,s~p,~taqa,- ~e,sse., ,c~~Q, _p9m
Ela 'à'hótoa séü' casaccrfbda sofrisos.
fiço p_enf>ando: ag9rn.,. · su_as .Pfyferê~Áiªs,pp}#i9~s. 'fu4lr.a: ;ªi'.~§q~~rda:-.A 'm~~;yiY:~p-
;y~os :()ara o to_ur 9:~ pa~a; , ci~ ·um -cônflito---psíquípq,' in~,s'Ji1. ptjffin~l_ fe,lif,:ô p~êi,fi~µio
, , Mas ass,im que chegamos .ao último ca11t9 .,·· ,
parece, afinal, ser algo 'âêeítávêl é'âso·.·o~r'úrri'iiiíai•fe- n~sse
º· oJhoA~l~ caiein,-fitn~ ,ª9 m,esmo ,te1np<l q11e o meu. liz ao poema pode ser apenas uma licença poética, mas tam-
<l,e' }lWR_fiI~t~a
" "~- . .
qef y~-~i~-
' ..
. . ·. :
qis_tint'iyós
.• ' .
. ,:
pela paz
. ..
mu~diàl.
. . . . ,. . ' ' . , . _: ,.
1bém sugere que encontrar uma: identid~de 1,fodê ser UM meio
Cl~o como- uma f~iéee -~~ m;rt~lo na pared~. de resolver um conflito psíquico e uma expressão de satisfa-
Ah, diz ela, você é cóntra amãinübleâfos? ção -do desejo~ se é que essa resolução é: possível. O:poema
Azar, seja o que I?eu_s quis~/,ç~~;~i~bê,ou Selll bebê. também indica as formas ,pelas quais- as identidades mudam
Sim, pu ?igo Sim. ~im, s1~: sim. .. ·... :· ao longo do tempo. Isso émostradopor um símbolo histori-
Gostaria: que essel,ebê vivesse'.em um niundo sem perigo camenteiespecífico,;o jornal rcomunista D:Diário, Operário,
nuclear. ·
que também representa tudo, que pode ser indesejável em pos-
Ah! Seus ó'iho_s se _ace~d~tjl. ,_ .,._., , síveis pais -é mães adotivos ..-: -
Também ~ou. a f~\Tor _d~ pf1z,_ diz. ela, -,
e se senta pra mais, uma x!cara dy, café '*rttrétaritó, há faínbém á süg~stãti: dé ós tefupqs es~ qµe:
(KAY, 1991: 14-I6f tãó' iriudando, torna~do aceitável que a identidade máternal

58 59
possaincluiruma-posição política;..,..neste caso, uma posição tuições políticas e as formações ideológicas:Althussertam-
pacifista; Trata-sede uma-identidade maternal na qual o su- bémreformulou o conceito de ideologia inicialmente elabo-
jeito (amãe/poeta}pode fazer um investimento e com a qual rado por Marx. Em seu ensaio sobre "a ideologia eos apare-
ela pode se comprometer.· Embora ·ela represente, perante a lhos içleológicos de Estado", Althusser (1971) enfatizao pa-
inspetora-de adoção, umpapélqtiê ela vê'conio necessário p~l da id~ologia na reprodução das relaç9~s sociais, desta-
p'arà a: simulação de uma:identidade matêfuafaceitável,elâ cando os rittiais e as. pr~ticasinstitucionais ~nvolvidos n~sse
n,ãºé'i,nterpe/ad~·poress~.P?Si~ão-de-sujeito,:maspor·uma prncess?; 'Ele- ~;onc:e~~ as:id~:()logias.como.~iste.1nas :de re-
pósi.ção que· se conformá côíri suap;ósição polítiêá. "Iriterp~.;. prf~en!ação, faz~11doun:1a. complexa ~~~,lise de:.:~1~?- .~s
lação'' ê' citetm.ô utilizado por Lôuis:Althussêf(197'!) pa'.ta pto'.cessos iéleológicos funcioname de co,m? ?~: ~u,)elt?S ,sao
explicar a forma pela qual os sujeitos - aôis'e(te'conhêcêtêni reáutados ,pelas, id~.ologias~ mos.tra11do ~ue ~- suh,jetiyidade
como tais:,"sim,,ésse'sou eu~";""'" sãàrecrutados;paraocupar f
po4~-~er ~xpl~ci4~~~~n-~1~()~ d~ ~~~~r~s. Pf1ticas soc,i~is
certas posições-de.;.sujeito. Esse processo se dá-no nívél do e simbóHc,as:-Para J\lt~u~ser;,? 'SUJeltô, tla? e amesma co:1sa
inconsciente'e é uma forma de descrever como os indiví- que a péssoa human~(~~~)1ma -~atêg?ri~- ~i,~~oli~·~rnente
coristruí~à: "A ideolo*ia[:~), 'reê~ut~',:suje~fo~'e,ntre ?s- in-
duos àcabaniporadotar•posições~de~sujeito-pa:rticulates. É
uma' forma de incõtpórar:a dimensão' psicáhalítica, a;qual divíduos [ º.] óú'~rarisfüifua' b"sfa~ivíduoúS'nrsuj éitos [ ... ]
nãó se: limitá a déscreVer. sistemas dê· significado~ mas tenta por esta operação m11itó:pr~cisá' a é~aniei 4e int~rpelação"
(197T:- 146rEsse' processo' de 'int,erpdaç~o·.nomeia e, ao
explicar por que posições p'attiêularês sãh ássümidaS;: Os fa-
tnesmo témpo;posic,iona o:sujeit?_: que é~·'~ssi111,reconheci.-
tores sociâià jfodêrii explicâF Wmà c~nstfução' part'icular. de
d? 'e produzido ~or ihei? 'de p_ráti~as ~ processos simbólicos.
~aternidade, especial~~nt,e ~;dê ."boi 111ã~'',':neste rrio111en-
· 0cupar'uma posiçã~-de~s~j~ito ~~t~11l'li~a~a co1110,porexerri-
tô histórj?O~ ~as não: e,cpHt~m qual;o ihvêstimentoque os
plota dé cidadãc/pâtri?tic.o:,:i1ã?' é ~m.a ~tiestão ~implesn1ente
in~iv~duos fazem ~in'~ôsiçõe,s1,a~ióulares- é: os ap~gos que
de ·escolha pes~oal:fo~scient~;;·s~'mo~~,,.~~ 1veftt~~e; ·re'cruta-
eles' ~~Senvolvem pbr eiisás ;Pàsições:' ; '' - ''' ' ''
~ : ; i .' / : . ,~ / ' ,. • . . ·: ;· . .i ~ . .. dos para -aqüela posição'-ao :reconhe-cê-fa :poríneio deüm sis-
t~ma de representação: O investimento qúê nela fazemos· é,
i2.·· Dt~e~spespst~an~Iíttcas., .· _
~ ' - i ·, : ..' ~ - . .. ' . . : .- - :. $ ,;. ! : . . : ~ :, fgualmente~; um ·elemento~ c·entral nesse processo.
Althusser des~nvolveu su'a '.teoria ,da· supjetividade, no -'.l'te()ria m~rxist~'énfati~a o':papel'd?;subs~~üÔ rriàter,ial,
contexto de um paradigma marxista que buscava trazer ah- 1
da~ 'r~lações' de· produção ê da ação cole~iy~, ,e,sp~~i~Im nt7
gumas das contribuiçõesda psicanálise·e daJinguística:es~ da solidariedade de classe, na formação das identidades soci-
7
trutural para o materialismo marxista.O trabalho de Althus~ aüt em vezfüfaútohotniaihdividuál ou da âutodetetmináção.
ser.foi. extremamente importantei:para a revisão• do 'modelo '
Os: fatores materiais· não :podem,> entretarttofex.plicat fütal-
marxista bas_eado, nas noções, de, :base e . de,,~uperestrutura. mente oinvestimento que os shjeitostfâzení e:ni posições de
1

Nesse modelo, a base é definida como:a.fundaçãomaterial, ideritidade.TeorizaçõéS' pós~mãtxistaS como/por· exemplo, o


ecpn~~rC,tl, .1a, ~fü*~4~cl~. pe acorpo; ffIn esSaJ?~rS!)'.e.ptiva, ensâió de AlthVssér~ e~fatizain dssistêniâs simbóliêós, sugê~
~s~_,i,~~se ecónõ.111iça deternJi~~ ~~ i,elaçq~~ sociais,:ª{#1~ti- ~ : :: : ;_; 1 -! __: ; ~ , :~_ I, ;_ j :; -~ ' rihdó que ·os- sujeitos :sã<Yfambérifretrutadóffé pfodúzidôs

60 61
não,-apenas li'o'nível ddco:hsciente,;mas também no·nível do mandas das forças sociais, tais como elas se expressam·na\.
inconsciente. Para desenvolver sua teoria da subjetividade,
quilo .que Freud• chamoude supereu, tem sido.utilizada ,para
Althusser baseou-se na versão da psicanálise freudiana feita explicar comportamentos aparentemente irracionais e o iri-
porLacan.
ve·stimento que ossujeitos podem ter-em ações que podem ser
o que distingue a teoria da psicanálise de Freud ê a teori- vistas como inaceitáveis por outros,talvez até mesmo pelo eu
zação, post~ri?r de Lacan de outras teoria,s·psicológicas é ólu- êonsciente do sujeito. Podemos estar muito beht informados
gar 9}W: ela:s co11ce1em ao -conceito .de inconsciente .. O in- sobre um determinado domínio ·da vida· social, Ilias mesmo
conscI~~te~ de ac;ordo com a psicanálise, é. fonn~d~ d~ ~o~es assim acabamos nos comportando _contra 'nossos melhores
d~sej_ps,. freq~"ent~tnenty ,i1:1~atisfeitos,, que• s:urgell?- da inte~- iritetesses~Apaixonanio-nos pelas pessoas erradas, -gastamos
v~112~0 dop~l na refação entre o filho _ou·ª filha e. sua mãe. Ele dinheiro que não temos, deixatriôs de nos candidatai a. empre-
está~~ai,~a,do, em ~esej_o_s insatisf~it9~, e.m-~esejqsquef~~am gos que poderíamos conseguir e nos •candidatámos ·para em-
repnm1dos, 1e forma que o cqnt~µdo do Ínconséiente tor- pregos pará os quais não temos· qualquer' chance:, Chegamos
~a-se c_~n.su~~1PJ?.y!a .mente. consête1;1te, passando, a_ s~~"".lhe até 111esino ao ponto_ de -realizar açfies; (llle podem. ameaçar
tna~es~f y~l)~p.tryt~l}fo, _esses desej 9s, reprimi.dos ac-~ba~ -e~- nossas vidas aperias para afirmar uma- determinada identida-
contra~dq }~.Igum~ f <;>i:m,~ de_ ex:pressãq con;1p, p9r ·e~emplo, de. Sentimos emoçõês amhivâlentes - raiva páfa êom as p~s-
p~r mew de sonhos e enganos (lapsos freudianos). O incons"". soa~ que amarnos e, algumas v~zes, desejo})or pes~oas-que
c~e11t~ pode ser, assitn~ çoiµieciclo, eml:>or~ não por um acesso riós -oprimem., A psicanálise freudiana fornece: uni ·méio· de
cl11:e,to .. A tarefa_ do psicanalista <?Ons!ste eni descobrir suas vincular; C~Illpo1âníéhtôs ap~rentetnente i~ª~-idúai's:}omo
verdades~eJ~r suaJingt1agerµ. O i1:iço11~ci~tltyé o r~po~itório esses} repr~ssão _e ~ nec~~síâ~~~s :.e de~eJós i~~.o~sdente.s.
dos deseJos- rep:t;iDJidos, n,ão C>bedecep.do às leis da. mente E~ vez de. um to,~o ~ificad?'. -~ p~~que c~IiiP,iê~~de. incons- ó
c?~s<?ien~e: ~le tem. µmél: ._energi.ét ,independente e_ se~~Jtma ~ie~t~ (o id); 9,süperel!,-41;1~, àg~{~rn9,µnia'."c~iis8iê4~ia", re~
log1ca propna. Como :argumenta Lacan (1977), -~l~ é estrutu- ~:?
pr~s~ntândo a{rê~~íçõ~s sô~i~is;' :eg~~· qu~ ·terit~ 'fa~er ~1-
r~do. c~mo um~ lingl1agem. Ao dar prini~zict, a ~s.sa qcmcep- guµiâ co_nc;iliaçã,ô_ etj~~-ó~:4<?~s p~ilil~~<?s:,E.!àe'.stá./a.§'.si~,--_~h1
çao do mcon,sc,1ente, Laç~n çar~cteriz_a"".s~ como um seguidor wii esta4o,éônst~!}~é de'é~n~itq_~!tltixo. A hp~riê11da'. que te~
plOS dela' pode' sêfvivida . cÔ1110:divididáou fragment~da~ --
de :F~~.~~' -~~~ taz 1:1m~ raqiça,1 reformulação das teorias freu- ;. >:· ; . . . . ; :~:
: "\ i '.. ~ : . ; . . . :· :. . . . . . . .. . ·,

di~n~s, ao ~pfatizar. () siínbúlico ·e a linguag~m no de~ehvolvi- -. •A teoria psicanalítica lacaniana amplia a análise que Freud
mento da· identidade: ,- -. - - - fez dos conflitos inconscientes ;que: atuam no jnterior do as-:-
sim chamado sujeito soberano.A ênfase que.Lacancoloca na
:,A, ,'td~scol,~rta?' do_ ..inço11,sciente.,; de u~a, ditne~Sã() _psí~ linguagem -como: um--sistema de•significação: é;;neste. caso,
ql.l~C,~ que, :fy.n,c1ona ci~_ ªçorq.o. com _ ~t,ia~ p,róprias leis e .com
um elemento central. Ele: privileg~a-o significante como
~êi lógica, mti.ito ciiferent~, ela lógiq~ do pen~.am~nto con~~
~~-uel.e elemento que <i~teJJUna o ~t,rr.so.~o d~~-~~yolyi~ento
c1e11ty cig, sujeito.r;aci9nétl,te1~1tido.l.ln;i,.cgp.sicleráv~lJn:ipacto do sujeito ê:a ~ire:çi%'1e se~-~ésej6. ,Ã idé~tida~e ~ #íoldada e
sgbre aste9ri~sª pa iden~idade .e d3: _sl.lbjetiyidacle . A. idei~ de órient~da extemamertte,: c~nió' u111:efeito :,tl~·significânte e da
mµ co~:Qito ~f!Í~e ,o,s. d~,sej()~ qa mepJe inconsci~nte ~ ~~ de-
- , . . . . . .• ., ; ; . - : ,,_., '..! · . .- !, .; .• ) ; ~'
articulaçãà-do desejó'!·PariLàcan;'.diujeHB humano'imifica~

62
63
do é sempre. um mito. O sentimento de identidade de uma cri- primeira infância, mas que só pode ser ilusória, umf1 fantasia,
ança surge da intemalização das visões exteriores que ela tem dado que a separação real:já ocorreu._ O,sujeito ainda anseia
de si própria. Isso ocorre, sobretudo, no período, que Lacan pelo eu unitário e pela unidade com a mãe da fase imaginária,
chamou de_"fasedo espelho". Essa fase yem depois da "fase e esse anseio, esse desejo, produz a tendência para se identifi-
imagináriar',. que é.anterior à entrada na linguagem e na or- car comfiguras poderosas e significativas fora de si próprio.
dem, sitp.bólica,. quando_ a criança ainda não tem nenhuma Existe, assim, um contínuo processo de identificação, no qual
C()l1S~iênc,ia ele, .si própria. como separada e distinta, ela mãe. buscamoscriar alguma;compreensãosobre nós próprios por
Nes~a fase inicial, o infante é uma mistura de fantasias de meio.de; sistemas simbólicos-e nos identificar com as for-
amor e ódio,- ;çoncentrai1do-;se ~no corpo da mãe.- q iníciq, da mas pelas .quais somos-vistos por outros;: Tendo, inicialmen"."
f<;>Mação. ,ç1.~)dent,idacle oc,orre. quanclo q ,_inf~te se dá_ ç,onta
te, adotado uma identidade a partir do exterior do eu, conti-
d~,gve.A separ,a<io da w.ãe.A.entr,ada na Hngu~ge:rné, as~i,m, o
nuamos a nos identificar com. aquilo que queremos ser, mas
r~sµ~tad,o çle _ uITia divisão fünda~ent~l no sujeito, (LAÇAN,
1~7?), _9µançlo a uni,~q pritnitiva_ eia criançci corµ _a tn~e é rom-
aquilo que queremos ser-está•separado do eu~ de forma que o
pi4f1:~.Á c,r{~9~ _recç~ece sua)i;nagerr,i refl~tida, idep.tific._a~se eu está permanentemente dividido no seu próprio interior.
ço1!:1 yJ~ ,e, t,qm(l~se c.onscie.nte He que é um s,er sepaptdo de s1.1a É nessa tâse· edipiana 'da entrada na linguagem e n.os sis-
lll~ê-J\c,rüipç~~ q~_e tiyssa,fas.~ ~fantilé ·um conjunto mal-cp- temas simbólicos que omundo de fahtásia dâ criança, que
9~~~p~dq 4~ i111pÚlsÔs_~·:col}Sf~i ~-e.µ-pas.eadô no.~e~-.refl~~o inclui a si própria e a mãe; é rompido pela entrada do pai ou
~µ1-:üm ;ver~~~efro esrel~q .oú no espeJ11p: qos_ olllps de()lltr,os. daquilo que Lacàn chânia de "á: lei d6pa_i".' ó 'pai' representa
Q~ápd9'qJh~µios para oéspelhoy~~os_ um~-il~são d~. ~ni4a- uma intromissão externa; ó pairêpres•entáotáoáêohtrao i11~
d~-::A:ra~tt49.~~p~Ihg. d~, ffl~_~n 're~n~~-eµta ét :pritµetra cprrnie- cesto, o_ qual proíbe: a fantasia que:a: criança tem de se -casar
ensâ9 d~-s\tbJ~t1vid'.âde:_é· quân~e> iêria11ça'5êtoma consçíen~
com a·mãe bem··como.avontade da:inãe em:tera;criança
t~cl~Jllã~';é,omo,~m ?bje,to~ist~ntér.<l,~--~i rn~sma.. :~ç:orclº pe
C(>.m ~-i9in,, .() í>rim~iro epcontr() cori1 ºJtocesso ';de' co~stru-
como o objeto de seudesejo; Opai·áeparaia~áiançade suas
fantasias, enquanfo o desejo da mãe, é freprimido::para ô in""
9,ã.o ·a~; {i~ '.'~11'; ~- 'pbr_m~to .•cfa visã,ô_'dor~fl~JC°:, d~. uméu_,~'.~r#~- donsêiente; Esse é o momento ém que o inconsdente é ctia-
rific~~o:.1.~, ~ .~~- q~e tem fr9#~_e1réls,~prep~ra,_ ª-~sü~, ·a ?.ena
para tódas: as -identíficições .ftithrâ~/ o infahte chega' algum a A
áo. medida que a'criança entra ria linguagéfü e· na lei do
sentimento doffeu'tapenas quando encontraú:'s'eu"refletido pai; ela' 'Se toma capaz, -·ao 'mesmo tempo, ·de -àssumirurifa
por· algo :fota. de si próprio;pelo· outro:. a: partif do lugar· do idéntidade' de gênero, já'qrie este é'-ô'moineritô '.ein'que a cri~
'.~outro??.·:Mas,ele)sente'àsi faesmo;como se o "eu'\'o senti- apça· recónhece a diferé11ça ·se~uaL:· Assim qhe' esse mundo
mento:do eu;,fosse·pfoduzido 2.:poruma identidade.unifica- do imaginário ·e do desejo pré-edipiario pela mãe 'é deixado
da'.;.;:·a: partirde;seu própriodnterior~ de lado, é a linguagemiósitnbólico que passam à fornecer

~ª fqfm~~'
·:•-';•::pgisa ~rglÍirient? {~c~h~'~ts.tib}etiyidâdé é dividi-
@: ilt1~Ó!iá)~pr.'cfer~.nd,er~ 'par~-s~a J~~d~de, ,Ae·_~Jgo f9r~,(Íe
i,i.me~wa,,:~.i4~nt(qaciç,~urge,él_ pijkéle ~ina f~lt~,,,ist~ -é~ :.de
alguma compensação, ao proporcionar pontos de apoios lin-
guísticos nos quais se torna possível ancorara identidade. O
pai- ou o pai simbólico, simbolizado pelo phallus - repre-
senta a diférençasexuaL· O phallus é, assim, o significante
um desejo p-ei'o retorno da unidade.com a mãe qu~ era parte da

64 65
primeiro porque é aquele que primeiro introduz a diferença no interior da ordem simbólica, na qual o phallus é o signifr-
(isto é, a diferença sexual) no universo simbólico da crian- cante-chave do processo .de significação; Apesar, dasc afir-
ça, o que lhe dá um poder que é, entretanto, "falso", porque, mações em contrário deLacan, o phallus corresponde ao pê-
como ·argumenta Lacan, o phallus àpenas parece terrpoder e nis, na,medida em que significa a '-'lei do pai"- e não da-mãe;
valor por causa do peso positivo da masculinidade no dua- Ele realmente argumenta que as mulheres entram na ordem
lismo masculino/feminino; Mesmo que o poder do phallús simbólica de forma negativa-:-isto.é, como "não homens'' e
seja uma ,"piada", como afirma Lacaii, a criança é obrigada à não c;9mo "mulheres'·'.-fylesmo que o sujeito unificado tenha
reconhecê-lo como um significante tanto do poder quanto sido-.abalado pela teoria psicanalítica, parece também ver-
da diferença. Outros tipos de diferença são constniídos'.de dade que as mulheres não- são, nunca, plenamente aceitas ou
acordo com a analogia' da diferença sexual - isto é; um ter.;. incluídas como sujeitos falantes. O que é importante, aqui, é
mo (o masculino) é privilegiado em,relação a outro ( o· femi- a subv.ersão qt1e as t~orias psicanalíticas fazem. do eu unifi-
cado, ~êm COITlO a ênfase que coloéaín ll? papel:dos:sistemas
nino). Isso também significa.que; para Lacan, a entrada dâs
~ultufais e rep~esentaci911-ais no pre>ces~o de construção da
garotas na:linguagem se faz de forma muito diferente da dos
1~entidade. E 1m:rortante.,também a possibHidade que elas
garo.to,s. As g~rpta,s sã9 pqs,ipioP:3;das negativamente - como
9(er~c_em d~ se ~nalisar o pap,el tantó dos desejos c,on.scien-
"faita11ty,S". -M~s,1119 q1.rno:p9(ier do phallu_s seja ilusório, os
tes quanto dos inc9~sciente.s nos processos d<r id.entificaç~o.
~arotos,, ~ntram ~a. ord~m _si111l>ólica, positivamente yaloriza-
o c~:)llceito d.e inco11sciente aponÚt,:para wna outra dünensã,o
dos ~ cpmo sujeitos,1es~ja1:1t~s. A.sgarotas têm apÓsiç,ão ~e-
da id~nti~ct,d~, sug'erii1do_ l!111 _ outro ,qu,adrn teó~ico _JJ,~i:a>e
g~tiva,,p~s,s,W;a ~ sã?- ~Jpp~fsmente,_"deseja~ªs"·-, _ -- - - a11alisar alg11mas:d~~:ra2:õe's p_el,as qu~is)nv~stimos e111pqsi-
- O trabalho de Lacarné-importante·sobretudo:por.causa de ções de identidade·~··- - - .-. - · ' · · - · - - -;;· - -
- ... : : ': . :· ; . : ; , .

sua ênfase 'llO simbólico e' nos- sistemas represerttacionais,


pelo destaque dado à diferença e por sua teorização do,concei"." CorÍclusãÔ ·'·: -
to do inconsciente{ Ele enfatiza a construção da identidade de
/ Este capítulo apresentou alguns dos· importantes cortcei~
gênero do-suj~ito, ou seja, ~1 construção simbólica da diferen'.'."
tos
1
:relacionados à questão da, identidade e' da, diferença, de~
ça e da, identidad,e, sexu<1~a. Q_/'fracasso',' desse, pro~esso de
senvolvendo, assim, um quadro de referência para sua análi-
~oµstrµÇ~9- çlajder,i!Wa,de,, ~ a, frag1:11entaçãct da ,subj ~~tvida-
se. Discutimos as razões pelas quais é'importante tratar dessa
de_tqrilª,1AP9S,,s,tv~l _à,mud,~~Wª p~S,êp~l. _Com,o cons.~qµ~npia, questão e analisamos de ·que forma.ela-surge nesse ponto do
a,:teprlaJ~fª~!ana:dtrorinaç~p,d.asubjetividâge pode ser in- "circuito" da produção_ cultural. Analisamos~; além disso, os
p~,;ppr,a,da,a,o conjm!tP de ~e,qJj<1s q11~:questiçnam a ideia d,e processos envolvidos· ha produçãO'de-significàdos por meio
qu~ existe lltn sujeito fixo, unÚ1cado-. .,, - - - - - - - "
; '. _:· .,. ·:, ·.:·'.: .! ; ; j. ( ; . :. .: ,,..:;_:, i: ;,: . :,-'·, { _} > > ' ~ •• ') •
de sistemas representacionais, em sua conexão coí:n o posicio-
As teorias psicanalíticas de Freud e .de Lacan têm sido namento dos sujeitos e com a construção de identidades no in-
bastante questionadas, sobretudo por feministas que assina- teri~r de sistemas simbólicos.
lam as Ji111itaç~es: de ,uma; perspe~tiva: sQbre,c a: produção_ da
A identidade tem se destacado como uma questão central
identidac;l~_de gên~rn que afirma o privilegiamerito·masGuliq,o
nas discussões contemporâneas, no contexto das reconstru-

66 67
ções globais das, identidades nacionais e -étnicas e da emer- ALTHUSSER, L. (1971 ). Lenin and Philosophy, and other Essays.
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and politics of social diversity. Londres: Rivers Oram Press. tica, nessas perspectivas, a ideia dé'êiiversfrÍade; P'arêce:difí-
cil que•timapetspectiváque se limita aproélamar a existência
1
da diversidade possa-servir de· base para'Umá pedagógia'que
coloque no seü centro acrítica política daideritidade e da di-
fereriça)N a petspectiva'da diversidâde,- à diferença e a ideíiti~
dade, tendem a ser naturalizadas, ciistâlizadàs, ··essencia.liza-
das. Sãotomadas,coínodados oufatos da:vida socialdiante
dos quais:-se deve tomar posição.' Em -geral~ a posiçã8 social-
mente aceita e pedagogicament_e reêõmendâdá 6de'.respdto e
tql~r~~çia p~r~; com a)çli,versiclad_e. ea~,i,f~r~µÇ,~ .. ~fas será que
&S, q~esiõe~ <ia i~~ntidél.<l~ ~- da 4ifer~µça~e. esg9ta1n ne:ssa pQ-
S~Ç~CJ,Ijl)~ial? :E,· sogre}ud9;, ;eêS~ perspeçfr\~~,~-siifi<?~eme.Pél.f~

72 73
servir de base para uma pedagogia crítica e questionadora? essa relação. Quando digo,','sowbrasileir,o?-parece,que,estou
Não deveríamos, antes de mais nada, ter uma teoria sobre a fazendo referência a uma identidâdeque se ·e"sgotaem si mes-
produção da identidade e da diferença? Qµais as implicações ma. -"Sou brasileiro"-~- ponto; Entretanto,, eusó preciso, fazer
políticas de conceitos como diferença~-id~iiticfade;diversida- essa afirmação porque existem outros seres humanos que'não
de, a1~e,ridade? O que está em jogo na identidade? Como se são brasileiros. Em um mundo imaginário totalmente homo-
cortfigtttaria uma pedagogia e·um curtículo que estivessem gêneo, no qual todas as pessoas partilhassem a mesma identi-
centrados nilo na diversidade, mas na diferença, concebida dade, as afirmações-deidentidade não fariam sentido. De cer-
como processo, uma pedagogia e um currículo que não se li- ta forma, é exatamente isto que ocorre com nossa identidade
mitassem a celebrar a identidade e a diferença, mas que bus- de "humanos".• É apenas em circunstâncias muito raras e es-
cassem problematizá-las? E para questões como essas que se peciais que precisamos- afirmar que ."somos humanos" .. -···
volta o presente ensaio. Aarifll:l~ção_"sôúbrasileiro",··navérdade~é parte-de_umâ
ex~~nsa· c~deia de "nega9,Q~S",. ;de ,~xpress?es. negat.i~as de
ldentic:facte e' diferença: aquilo que é e aquilo que identidade, dediferenças.::P~r"trá~~àafin,nação."soubrasi~ei-
não é" ro" .d~~e-se. ler:· ''não. so~ aigentino'\ ''não sóu c~inês", ''11~0
Em uma.primeira aproximação;.-parece ser fácil definir sou japonês'; 'e assim pot" diãnte, 11um~i"'cadeia,' neste -càso,
"identidade''·. A identidade é simplesmente aquilo que se é: quase int~fl11in~vel_: A,-d111i,t.amos: ~caria muito ~o~pli~ado
"sou brasileiro", "sou negro", "sou heterossexual",• ~'sou jo- pronuriêiar ~todas éSsas :frases·negativas cada vez quê eu qüi-
vem", "sou homem". A identidade assim çoncebida parece sesse fazeruma declaração sobre-minha identidade. A gramá-
s~r UlTI~J)?SitividadeJ"~q~,ilo que sou"),_u~a c,aracterística tica nos permite a simplificação,de:simple_Sniente.dizer-"sou
in?~P~ri~e~te, -un1 "fà!<f',
·autônoino•. ~ê~sa perspediva, a brasileiro'\ Como ocorre em1>Utros casos, a-gramática ajuda,
ide~ti4~<;1-i S? tetn C?ql-9 referêi;i~ia á -si· próp#~: elà é àu~ mas também esconde.
tocoritida e autôssufide'nté. ' .. - . - -. - -. ; .
Da mesma forrtíá~'as afimiãçõé's,sôl:>rê;âtfêtêíiç~ sófâ~êm
1
Na mesma linha de ntcipcínio, t.an:ibém a difc:,rença_é con-; ,sentido se c~mpreen~i?ªS- ein suaí-él~çãó éôhi á~- ~fiftfi~çõ:e~
ceb,id~ GQme> uma entidacle ;inclependente.. Apenas, neste ca- /sobre aidéntidad·e: Diz~r que "eJà:·é éhinesa"· sigÍÜficâ âiiêr
so, em::O~p_sjç~o.àidenticl~de,,a diferença é aquilo que o 911tro que "elán~? é arge~t_irié, Hela r1ã~ éj~ponesa'' ~~~:;iínc~liirtdo
é:· ~'ela é italia11a:;\,:~elaé :1:?ranca"\ "ela é homC>ssexual'\, '~ela_ é a ·afinriação de qrie ''êl~ não é·brasífoíra"; isto é/qué ela, rtãó' é
velha:\ t'ela-_é,mlllher~'; Da nwsma;forma que a identidade, a eu
o_·qu~' sou:- As â~fl1:lações sobíiéliferenç;a tàmbém.depên~
diferença é; 11esta perspectiva,, concebida como autorrefe- dem de uma cadeiá, em geraloculta,:de decla'.rações negativas
rençiada;: como alge> _que remete a si própria. A diferença, tiil sobre (outras) identidades. Assim 'como'aidêntidá.de depende
como :a identidade,: ~implesment_e,existe. da diferença,- a diferença depende da identidade~ Identidade e
diferença· são, pois,, inseparáveis.
,''; i >Éfácilêbmpréeridér{entretantô, qtt'e idêntidade ediferen~
ça.est~?'em:1u\fa,'rela,çã?'_.• dé'_'êsttéita···depe11dênci~,··'·1•fi)1111~ E~ geral, cônsidêfamós a diferença ~ôino um p~()dutô de-
afirmativa' como'expressamos' aidentidadê· tende a êscórtder rivado da· identidade: }·fosta perspectivá, a identidade3é a refo-

74 75
rência, é o ponto original relativamente ao qual se define a di- identidade e a diferença têm que ser nomeadas. É apenaspor
ferença. Isto reflete a tendência a tomar aquilo que ·somos meio de atos de fala que instituímos a identidade e a dife~
como sendo a -norma pela qual descrevemos ou avaliamos rença como tais. A definição da identidade brasileira, por
aquilo que não somos. Por sua vez, na perspectiva que venho exemplo, é o.resultado da criação de variados e complexos
tentando desenvolver, identidade e diferença são vistas como atos linguísticos que a definem como sendo diferente de ou-
mutuamente determinadas. _ Numa visão mais radical, entre- tras identidades nacionais.
tanto, seria possível dizer que, contrariamente à primeira pers-
Como ato linguístico, a identidade e à difereriçâ ·estão su-
pectiva, é a diferença que vem em primeiro lugar. Para isso se-
ria preciso considerar a diferença não simplesmente como re- jeitas_ a certas.proprieclades que caracterizam a linguagem em
sultado de um processo, mas como_ o processo mesmo pelo geral. Por exemplo, segundo. o linguista.suíço Ferdinand de
q1.,1al t~11;tq a identjdade .quanto _a _clifyrença (cotnpreendida, Saussure, a· linguagem é;, fundamentalmente, ·um sistema de
aqu~,._co.1no _res_t1~fado1· são produzigas.~ ~a orig7111. ~staria adi- diferenças·'._Nósjáhavíamos enco11trado esta,ideia quando fa-
ferençá~compr~.~ncµ~a,. ago~a, cqmo ato ou processo de dife- lamos_- da identidade e da diferença como :elementos que' só
r(?1:çiação,- É preçfaal)lente e~á~- noção q~e est4. no ce~~~ da têm sentido no_ interióri de uma cadeia de-diferenciação lin-
~Ol}Ceitµação lµiguí~tica de difer~nça, como veremos aqiante. guístíca {''ser isto" significa ~~nãff sér isto'-: e "nãó ser aquilo e
~ .,, (: 7 -- . . '. •.~ , . ·. :,, -, . ' ...; . , . . . •. . . ,.- - .. . . :

"não sét máis aquilo'' e assim J>"ot diarit~).


lct°ent~dflde
... ,,
,
e, ci'i'ferença:·- .criaturas,
:·- .. . .
da linguagem
..
. ..· . .. . ., .. ': ... : . .,· ...· ..,· - -~ . .. ~ ,· - - 6~-acor~C>COJ:P 's~llSSllf,~,_()~.:êí~mê~t~s-~ ~s si~t?ps-que
Além de serem· interdependentes,, identidade e "diferença cÓ11sti,tuem ~~8: lín.gu~.fiã<i .tê1]1.q~al9Üef ;Y,~lqr -~bs9lu~o, 11~9
partilhamumaimportante característica: elas são o·resultado fazem -s~~tidÓ :,se: cq11si4ei~dos isol~da111.ent~. ,· $e C()nsidera:
de atos; de criação _linguísticfü' Dizer que são o resultado de ~os ~penas o aspecto'1?~t~rü1l de ,11111 si,~o;; -S~ll-~srecto ~áfi-
atos de criação significa dizer que não -são "elementos'' da co .ºu:fonêtico _ (o· _ s.inal gráfico ."vac'~"/por exe~p_lq, _()u.se11
nat~FYré!, qlle, não s~q ~~sências,. que .riãq, -~ão .coisas que este- eqüivale~te fo~ético ), 'não· 4á 'n~Ie. ~~4~'ihttjrl~~f9qu~-i~~~!<1
jawji~p1~~tneD;te aí; -A ~sp~r.a çle S~f~I)1 ~yelada~ pu, gesco~ f · ~quela·.ç.oisa. que reconh~cem6s_com.~-sen.~~-~11w ·y~9.á ;:~J~
b~li~8:,. J~~p,~i~a4as .~m: !oleradas. _; A Jçlenti4Gtde e a :diferença
1

1poderia, de· fónna i~ª!-m~n.te .arbitr~rjá, r~pi9t~r j1 'um º1:l~rp


t~m ~~ue':~er·~tiv~~-êpte,, rrn.9u~tçlas. El~s nã~ são cria1uras do
tjiijü,~q-.~âtt1f~íp~ dê Uil1 ~yµdo .tr~nséendental,Omas dq mllll-
Ôble~o co~p,.por exen:-i:pío,_~ma fac~,. Ele ~6 ~4quiry_v~l9[~
Óúseitido,~ numa ca<l.eiairtfinita d~. putt-a~ marcas .gr,áfic~s
~qHµ~~al~ ~OfÍ~l,- SoÍtiÔs~ós,qu~:~~- fc1bri9amos,no co~tex- Ollf{)nétic~s.quesão.qlfe_rt:111tes ~~lé.-0\neslllo, ocorr,~sé con-
!º <lfidâçõ,esc11ItuJ"~i~_e s~ciais. A iqentidade e a d1fer-ença sidé'í-amos o- signifi~~ctô;qúe ,constitµ~ um c1ê,termin3-:~o sigp.o,
s.~9 c~i~çqes :Sociais 'e culturais. - -
isto~' se consideramos s.eu ª-s~ecto .?onceitual. O conceito de
, Dizer, por, sua vez, que identidade e diferença são o re- "váca" só -faz sentidb:'nunia càdêia infinitâ '4e conceitos que
sultado de atos de criação linguística significa dizer que elas nãci:são ''\'.r~êa;''.Taicoino'od9rre cotrt o conàitó ''sóu b'rasi-
sãp pfict;das pqr mejo, de_at()S '1.e,linguag;~fll· Isto p~rec~ uma l~iro'', •. a;palavfa ''~a~tl' 'J'ap;ê_n~s üml iµaneira _ ?~nv~ti1e11.te
. . ... Más ....como tendemos_
ob,yiedade. -- .,--
a.. tómáAas
_-.. ; .
como dadas '
. - --- ·- .-._: -- - --_ - __ __ . ·: . e abr~viada de dizer:;,istô 11ão :é-porco~\ "não;éá_rvÔre'', ''iião-é
como "fatos da vida", com frequência· esquecemos que a cà~a'' '. e assim poFéÍiante. Em outras palavr~s, a língua não

76 77
passa de um sistema de diferenças. Reencontramos, aqui, em como tal: afinal, o signo está no lugar de alguma outra coisa~
contraste com a ideia de diferença como produto, a noção de Embora nunca plenamente realizada, apromessa da presença
diferença como a operação ou o processo básico de funciona- é parte integrante da ideia de signo. Em outras palavras, .po-
mento da língua e, por extensão; de instituições culturais e so- demos dizer, com Derrida, que a plena presença (da "coisa",
ciais como a identidade, por exemplo. do conceito) no' signo é indefinidamenteadiada: É támbém a
impossibilidade déssâ' presença ·que ;ob:riga o signo a depen-
Mas a Hnguag~m vacila... dé
dêr de um pr~fesso <liferenciação,/dé diferença, como vi-
mos ·anteriormente. Derrida acrescenta a isso, entretanto, a
.. A identi~ade e a diferença não podem ser compreendidas,
pms, .·fora dos sistemas de.·significação nos quais ·adquirem ideia detraço: o s1gnô' 3ârregâ seinprê não apenàs 'o traço da-
1

sentido. Não são seres danatureza, mas da cultura e dos siste- quilo que ele súbstitú.i: mas também o traçh daquilo que ele
mas:Simbólicos que a compõem~ Dizer isso não significa, en- não é/ôu seja, 'prêcisaméritê dldiferença. Iss'o ·significa que
1

tretanto, dizer que elas são determinadas,. de·umà vez por to"'.' nenhti.m signo· pode; sêf siinplesmente reduzido a si mesmo,
das, pelos sisternasdisçursivos.e. simbólicos.que lhesdão.de- oú·sêjá, à. identidade~' Se q_uisennós iétomar o exemplo• da
finição; Ocorre que a J,inguage111,, ent~ndida. aqui de forma identidade é da diferença cultural, a declaração de identidade
mais geral como si~tyi;na dç ~ig11ifiç_ação,. ~' ela pi-ópria, ,uma "soü 'brasileiro'\ ou seja, a, identidade brasileira, carre·ga,
contém em si mesnia, ·•o· fra.çd 'do· otitro,· da diferença ~ ·"não
1

es°:1~~ ~~~táveLE p~ecisamente isso que· teóricos pós-es-


trutur~hsta,s .como Jacq~e~ D~ITida vêm tyrifündo.dizet. nos sou italiano", "não sou chinês" etc~Ariiesmidade (ou aiden-
últirrtos •anos'. A li?~ageni yacílá.' Ou,. nas pàl~vras ·ao ·lin~ tidade) porta. semp~e. <l tr~x'? qa. quttjdctd~. (ou da diferença).
gúista Edward Sápk(1921); "todas as gramáticàs\iazam;'. ·. O exempléf da consulta ão:clicibnáriotalvez ·ajude a com~
, ··>Ê~~~)~~~té~i11açãó Jatal da-.lingu~~e~dec~rr,e uina 4~ preender melho:ras: questõés'dâ pfeSe11çá edadifêretlça ém
1

Derrida. Quando corisultam6s\nna palâvrárió diciôriáriof o


f~rn?!:~fst~ç-aJ\l~cl.am~~.~~~.~o.~igno. O sigilÓ éum.sin~l,-~ma
~~rc~,.llf1 .~f;~ .1~e.·~stá.:f~ füg~ de.,umaou,tr'1 ~oi,~~'-~ qt1al díció:nário nós fomêée umá definiçãõ ou lÚlÍ sinôiiÍmcfdaqüe-
1fa: palavra. Em 11erihum dos casóS/o dicionário 'nós· apresenta
~()de ser um O~J~!º c?~9!,~to (~. ,oweto "gat6.")_;um conceito
h$~d? a ~111 ()~Jeto concreto (o~ :éon~eitc)de "gato") ou ~ la ''coisa" mesma ou o:"coriceitó~'itrtesmô. Adefin1çãc5'dó di-
C?~.~~ito abstrato' ("amor~'}. o signo não coincidê·êôm acoí~a cionário simplesmente -nos remete pata ótitràs ·pálávras; ou
?.;ro; ê~~~éitÔ:' Na_ ~i~~;~ge.nf ~l?,só~c,· dé: I)erridá~;Pdd~ría- seja, paraoutros'signos. A presença da-"coisa'~ mesrila:01.fdo
i11?s.· dt~~r que_ ósigno n~o é uma presença, ou' seja, ac'c>isa. du conceito "mesmo'' é· iridefinidânietite :ádiada:· .elá· só' existe
o'·conceifo'_hãcYestãó presentes no'signo~- . como traço·de unia presêriça•qué nuncá ·se concretiza.· Além
• : fyf~s a n~tur~za_ dct)fogu~g~111,é t.~l qt1e,não podemos, d~i~ disso, n:a impossibilidade dá ptesençà~ rim determinado signo
xard~ ter a ih~s,ão,de ver_<tsigno C()mO µma.presença, i's_t~'é, só é o que é ·porque ·ele não é um: outro, nemâquele outtô' etc~,
1r\'~f ~O,~.i~9 f11Jf~~enç~dp.rxfer~nt~(~; "coisa) oµ do con~ óii •sej a'/sliá :existênéiá é·marcada'ü.nicamente 'pela: difétérl.ça
c,eJt9 .. E ~,i,s,so;.q11e,:Derridª' PHatilª det',~~tafísi9~ cltt :eresen- que: sobrévive em cadá signo· cótno traço, como fantasma• e
çf',: :Es,s~ "ilus,~f é _µece~~~r~â ·pàt:â 'Ut~. p_jig~o .• funcione
0
_:
assombração, se podemos assim dizer. Em 'Sutnâ, ó sign<f ê
. . . " . . ... : ;: , ! ..; -~. -·~ ,!. , -

78 79
caracterizado pelo diferimento ou adiamento (da presença) e A identidade e a diferença: o poder de<definir,
pelá-diferença (relativamente a outros signos); duas caracte- Já sabemos que a identidade e a diferença são, oresüft~do
rísticas que Derrida sintetiza no conceito de différance. de- um processo de produção simbólica e discursiva~ O pro-
Tod.a essa cemversa sopre prese,pça, adiamento. e diferen- cesso de adiamento e diferenciação linguísticos;por meio do
ça _~erve para mostrar que~se é verda(ie que somo~, de certa qual elas são produzidas está longe, entretanto; de ser simétri-
fo~a, governados pêla estrunrra_ ~~ linguagérn, não pode- co. Aidentidáde, tal como a diferença,. ê ,uma relação social.
m?s dizer, por_91ürC> la,do_, qu7se ,tr~te e.)(ata,meÍ1t;e.:de µma es- Isso significa: que. sua definição - discursiva· e linguística -
está sujeita a,vetores de força, a relações de,poder. Elas não
tl1.ltura muit9 se~a. Se>ajq~ dep~~<:lent~s~ neste caso, 4e Utna
são simplesmente definidas; elas sãü'impóstas~ Elas não con-
~sp.111µfa qµe balança. O a_cl1ame~to.in4efíni4q do: sig1#fic~<l,o
vivem harmoniosamente, lado a lado; em um campo sem hie;.
e. ~ua µep~ndência _~e.: umá, ,operação .ci~,-diferen,çª s1g1?-ifica
rarquias;-elas; são;disputadas.
q~~- o processQ de ~ig~i~cà9~q, é /~11d~~çptf1lm_~~te--ir~cleter-
min~1o,_ sempre inw~rt,o e :y~ci_!ante. An~i~w,.ps pçia, pr~~,e1,:1ça - Nã?-se trata,~~tretànto': âpe.nasd()fato'..d~-q~e adefi~i9ão
do significaçlC>,,, ~9re.f~r,ente (3: coisa à qual. ~1 Fng~agem -~e re- da identidade é ela; diferença seja obje(~' de. disputa entre' gru-
fere)_)\1as 11a,medida em qu~,não p(?çle, nu1:1ca,,,_n,os fornecer pos -sociais .assimetl'icamente situados telativa,inente ao· po-
essadesejada_presença,~lingllªg~m é caraçter:izada pela,, in- der. Na disp~ta pela-identidade e_stá envolvidaÜma disputa
determinaçijq: epela,instabjlida4e_. mais ampla por ~utrosrecursbs si_mbóllcos e materiais da so-
ciedade. A afirmaçãô; da -identidade e a, enunciação da dife-
Essa: caracterlsticà) da linguagêin terri' côriseq_uências· iin.~ rença traduzem o desejo dos diferentes grupos ~ôciats, assi"-
portªnte.s pªra a-qllestão :dct ciife.r~11çª e ela jçlentidade.cultu- metricamenté situados, ·de garantir o-acesso; privilegiado aos
nijs. Na_ tneçlida e.llJ, que são, de.fU1:igas; ~ro paii:e~ por,meio da bens sociais. A identidâde e à diferença estão;,pois,·errfestrei--
lingm1gerp,_ Jl identidade e- a difere11çct. não pqge,1]1 dej)(~r (ie ta conexão com-relações de poder., Opoder de definira idehfr-
se.r .111arçad,é:,ls,, taµiq~rµ, pe!a, ingete,~it1?ÇãQ _e pelª jn,st,al,jli"7 dade e de marcar a diferença não pode ser sepárádó da_srela--
d~çle.-_:Vo,1,temos,:l!TTH!Ye.zma,is, élO,l!O.s~,9 exemplo da-identi- ç.ões
!
mais- amplas ·de>poder;, Addentidade e. a diferença não
da,4e bra,~ileira~A _icl~ntidaçie/,'f:ler,_ bra_sile,i:rcf~:n~c;> pode.; qqmo são, nunca, inocentes~ .
yip:10s, s~r compre.e11,dicla J01:~ de :µm pr9çess.:9 de_ pi;:ogµção
simból.icayfclisçµrsi,va,.emque_Q,"se.rbra~Uei,rn~',11ãote.~;11e.7
! ..· Piídbfuo'S \fi2:ê(~tiéQndê· ~Xistê\ú~éféi}ciâÇ~()-:- Õu séjâ,
I4êtit14a~f ~. 4ife~erça;- al;estáp(~.Se!}t~:9·Po.4er . A.cli~er~~.c~-
n,lium refe:r;e.nte :n.atµraloµ :fixQ; JJ:,ijQ;~ um absqluto que.exi~tª açã() .'.é 6proc,êsso:c~én!1;al pelo_ q~àl' ~'. identià_~de'.ê,â dife~~~ça
ctJJte.Jfo@epte.. ªJj:n.guage.m e. forª dela~ ~lª sé>_t~w ~e.ntidq_ e_ll_l
s~ó-pr~d~i~á~--..11~,._-entfetâtit~_'-:urn~ ~;1rie dé_?utr~s-t~??é§~ÓS
~eJ~çãQ:çqm._:WlJª' cªdetª,4-~" ~_ig1:1i:fipªçijçl {c>_qµacla- por ot1trª,s,
~cle,ntid.ªcle.§ ;11ª9:i,onªi~ qµ~\; por -slla; ye.2:,t !ampo1199 ªªº f,i~as.,
.ci~i
qi~.H~44zé?1 '. ~~s~ ~ ~_if?~~~ç'i~çã() ·:mi :~?1!1.;~fo' ~:~~?~n,i
uma istreita relação~--~~ôoutr~s tant,as_:ipa~c~(1~tr~~~~fª 40
ª
P.ª~tllJtis ,911 pr~g,~t~n.11Jgctqas.tijm ~lll11a,; :,ic,le.µtidc!~e. e., aclife.~ poder: incluir/excluir, (''bstes~ pertencem,' aqueles nãó','); de~ !

re:lJ-9ª s.~q,tã9,i11,dete.~inªc:las e i11~táveis_ qllap.t9 a linguagem marcar fronteiras' (''nós? e,~'eles");dassificar ("bons .e· maus";
<:la, .q-qa.l qeper:igem~- ''puros e impuros~~; "deserivolvidos·e primitivos':'; ''r_acionais

80 81
e irracionais"); normalizar ("nós somos normais; eles são duas classes polarizadasi O,filósofo francêsJacquesDerrida
anormais"). analisou detalhadamente esse processo~- Para ele, as::oposi-
A afirmação da identidade·e a marcação da diferença im- ções binárias não expressam uma: simples divisão do mundo
plicam, sempre, as operações de incluir e de excluir. Como ein duas classes simétricas: em uma oposição binária, um dos
vimos, dizer "o que somos" significa também dizer "o que termos é sempre privilegiado, recebendo um valor positivo,
não somos"; A identidade e a diferença se traduzem ,assim enquanto o outro recebe uma carga negativa. "Nós" e "eles",
em declarações sobre quem pertence e sobre quem não ' per-' por exemplo, constitui uma típica oposição binária: não é
tence, sobre quem está incluído e quem está excluído. Afit:- . preciso dizer qual termo é, a~ui, privilegiado. As relações de
mar a identidade significa demarcar fronteiras, significa fa- identidade e diferença ordenam-se, todas, em tomo d~,oposi-
zer distinções entre o que fica dentro e o que fica fora.A iden- ções binárias: masculino/feminino, branco/negro; heterosse-
tidade está sempre ligada a uma forte separação entre "nós" e ~ual/horrtossexual. Questionar •a,. identidade, -e · a diferença
"y_lyf •: Essit d~11.1éll,'fªÇã?Ae Ji-o~teiras, essa separação e dis- como relações de poder significa_ problematizar os ,binaris-
tinçãp~ supÕell). e; ao mesmo ·t~mpo, afu-rp.am e re~firmam re- mos em tomo dos quais elas se organizam.
laçõ~,s_ depocler., "Nós" e,"ele~'' não são, neste caso, simples Fixar uma determinada identidâde':cônih'a: ho1111~fé'unia
distinções gra111~.jicais. Os pronomes "nós" e ~'eles" não são, das fom,ms pfivilegiêldas ele, hj~rarq11;iz~çã<? das Jcl.e,11tidades e
aqui, siinples categ~ri,as gra~aticais, 11'.las evidentes indica- das,diforenças. Anopmtliz~çã(J é um;clos processos m<ti,s: sutis
do.res de_ :po~ições~d~-suj eit() fortemente marcadas por rela- pelos quais,o poder§~ D}flllify~ta no ç,an;ipo da idenfüi~qe,Mia
ções d~ poder. -. --,. - - 4ifer~nça. _~C>~êlli2:êl;f;: ~i,gri,ifica e.1~gep ~ ai:bitrarianiente ~
...
.~w
;_- .. ·. ,. ' ; 1

Dividir.o• rriundo:social entre "nós'~- e "eles" significa u1.r,gi .W~wti~~4~-- ,~êP~_sI§2~ .s9giq 9,J?~r,ªmetr9 ep.1 ..r~laçãp
classificar. O processo de classificação é central na vida so- qu,aJ ,a_5- _91.1tras .ig~pJi,gaMs,; ~~9- -:~;ya,iacl,~_ê_; e· .~fe~ª~quizaclas.
ciaL Ele ,po'de ser· entendido como um· ato. de significação Nonn~li~ar signiµca a~tb1.1ir,~1,essêl ic~fonttd~d_e,tqdas êlS qar~ç-
pelo qual dividimos e. ordenamos o: mundo_ social. em gru- te~ísti~a~ ;p()sifo,a~, n()s,~ív,~j~,.:,i~,rel~~ão, às·, q11.ai~ _-as·'·oµtf~s
pos, emclas·ses.Aidentidade e a diferença estão.estreita~ i~enti4ijd~s ,- ~q ,pqci~µi,: ,ser: 3;yali~cias, •· ge, f o~,êi- ;~~ga,ti"ª•;, ~
mente relacionadas às formas pelas quais a sociedade pro- jdentidade normal é "nawta1~';, ,desej~yel, úniêêl,•: A forçª.dª
4f%e:~t,ili2:~H,~s~ipp(\9p~~::.-A~ cl~s,si~p,açõessãp, seJ:llpre fei- id~~tid~d~ ~~~al é tal que ~la nem sec,~er é yistâ como ·uma
~;a
tâ~.:~~~11,r/~q.pç4to éle/xist.a. i4entidide'..,Isto é, . ~~'êlass:es identidade} tnas siniplêsn1ente como aidenfü:i'.ade: Pa:rado-
11~~::q~ai~::q-pi~*49.~p~ial é ;41:tidiqo . 11ão•. sãq sirnples,~g~pa~ Xalmente,. ~ao' as: butras;-r~~nHdadcis' qüe. s_ã?'·111âfoâdas· como
n,;í~ii~?~_- )ipiét!tc9;s. :J?iviçlir e ,~l~s_s~fjc·ar sign1fic~? _. neste
f:ª,8:R? .i,ijiR~~ ~i-~r~r~uizar.:_p~~~i:?·B~iyilégio . de,~la,ss_ificar
s.i,~11~fiQA.. t~11;t,'f?é,!pJ~ter o pr(vil~gio': <;tê atriqµir <1,iferentes
po~ exemplo, "~~r
tais. Numa socie~ade::: e1n ~ué itnper~' a sup~émaciafm111cà,
branco",não; é·c?nsiderado uma identidade
étrtiéa~óu raciaL 'Nun1 mun~o,governacl~ J?elahe~emonia cul~
v~lóret~PS, ~tuR?,sassim cla~sificados. ; - _-. - ', .- , tuta:l 'éstadunidénse; "étnica'' é a música ·ou a comida:dos ou~
Amais importante forma.de classificação:é aquela que se
tios' iiaís~s~.É. a ·s~~uaHdacle 'ho~ossexual'. que'é. ·"s~iualtz:â~
da"~. 11.~ô-.a ~eferâ~sexu~,1 .. ~.for?a-ho111ogeneizàdór~td~. i~enfi,-
estrutura em tomo de oposiçõe·s ,binárias, isto é, eni tomo ,de dade nónnal é diretafuénte prop,orciorial à sua irívi~ibilidâdé~•'

82 83
rJ;w,Namedida em que é uma operação de diferenciação, de (quando ,se justifica a dominação masculina por 'meio: de ar-
pro<l:ução de diferença, o anormal é inteiramente constitutivo .gu!llentos biológicos, por exemplo},. ele é,menos utilizado
do;normal. Assim como a definição da identidade depende da ;nas tentativas de estabelecimento das identidades nacionais~
diferença, a definição ·do normal-depende da definição ·.do onde são mais comuns essencialismos culturais.
anormal. Aquilo que é deixado de fora'é sempre parte da defi- /; No 'caso das identidades n·acionais, é extretnamêhte co-
nição e dâ constituição do "dentro". A definição daquilo que é íii§, por exemplo,. ?'-~pel9. ·.~. mitos .furidad.o~es~ As identida-
considerado aceitável, desejável, -natural é inteiramente de~ aês'.nacit>nais funci011am,_'em grande part~,pôr meio daqtlilo
pendente da definição daquilo que é considerado abjeto, re.:. q?é Í3enedith J\ncl~tso11. c~ainq1.1 qe ''co111Úfli1ade~ imagina-
jeitável, antinaturaLA identidade hegemônica é permanente~
mente:assombrada.pelo seu: Outro, sem cuja existência ela
â~s". :N~flnedida ~ém' rtãoeiiste·nenhuma~ '~co11,1llnidade que
~.~túrâ~'~' ~ril to111~; da 'quá.f" s~ pb~~ªIA_re~~ir. ~~ 'p-~SS()8S q~e
nãp faria sentido>Comosabemos desde o início, a diferença é BHiistitú.ém um:dêtêfuiinâdo' agrupamento' nàciónál; el_a,pre-
parte ativa da formação da identidade.· B1~.ªJser itTve~ta~a, im~ginaqa. E .necess~rio cri.ar ,laços ünagi-
riárfos qué)p:ern1itatn "l~gar". pe'ss·oas l1u~': . .serii· 'eles, :s,~ri_am
fii~ang_o aJdenfü::lade · s'tmplesrrienté' i11diví1u~s- isol~;~o_s, _s~.ID:. n~~llm "sentimen-
O pr6cêssó ·dé'produção ·da· identidadé bscila entre:dois to" de terem qualquer coisa erri"comum:' -'· ..
füóViiíiêiitós: 'de'f'ürn la:dó';' estãô:'aquelês proceásos -que ten- A língtl~ J~tpi sjppµtp d?~: ~!e1-11el),19s c~ntqi_is . 4.es.~~ !pro~
, dêril'a'.fixaré'a estabilizar a identidade; de outro, os processos c~sso --,a história da i111pÔsi?ão·d~s naç1es n1ode111as 'cpjnci-
à
-~uê' féndé~ s~b~e~ê.:.lá é ª.~ésêsta~ilizá.:.la~ .umpfüêêsso f a.e, ·em.:grâµdépiu1e; c~'m-á'hist?~ia~da;irri~-o's~çã?·a~.l1,~~ Hn-
s'e11-1êlli~ri!e·à? ;qüe'.?ÓÓrr,e1,con1 ~ecanismós ~iscursiv:os e ôs ~tfa~aciorial úni.câ e c~~u~\J~tam~rii~;~'ólllilíngÜ~, ~ ·c.~~-
. l~g~~ísti~êf~ \nos -~~ctÍ~i s.~::s~~fo~ta-a: p.rôd~ção ·aa identidade~ tral .• à·. construção:·{1e.·:~í111hblÔ~ Üaci5).i~is·.=. :W~?.~,\9h#~,~-~~s,
1
'fa'.Pcôro.b:a!liriguagêm,· aJenâên~iádaidentidade é para a fi.a brasões.. Entrei· ess-~s :-Sí111bolbs,· qe,stâ8~m~se- -~:~ '.i'chá~~~ôs
5cãç~?'··•··~n~rêt~~~?i.taf,côrr(oi?"éorrê"êóm.alih~uâgêín,. a iàêri~i"" '~mitos. fundador~f. Fünda1!1~nt~lme#té,·#.111jt(); ftt,h,da.4?t
~ dad~,~stá ~~nipre êséapaiidt?~J}\fixação é iuna tendênc~a e, áô
filesmó::teinpó',' umtimpõssibiüaade.·. •·· · .
te~etê ·.ª.11JlÍ moinent? diúcia1 do p~s:s~~ó. ~~ quê,.âl~riJ' l~s.-
t>~;~_~_\\ i.:.1~·°(115)-) . s.J:,: . :_,-.,. :\· .21):i_").-)~-</f·:: ..::·;~3._ :.-.,:<.,=__·>.\ . {~) ),:;~;;
1
.\ ... ,---~~_:_'-,.;.-: ·-:-,. ·. i~, _· ~1gut11.·:;·~cónteci1!1~*to, ·. ~n,i geràf ~~roic9,~ __ep~c()·, :- tµf?nu~
_-:·.\ •. J}t~oí-itêtjltµr.~l .e s95ial p9,s;-e~~turalist~tem :perp9rri- 111e11t~l., :e11J. ·gerat inic;Í~?9 :,ou, e~,ec;u!<14p. por àlgun1.f figµra
4q~:~~- 1

4+yer~ 8~.,i~tritó~i,.?s:.4~. }4enti4ad,7•.par~./e~-~~r descr~ver "provide~cial",.fü~ll$úfoµ:.as ~áse~ ,cie·'~m-ª iuposta, i~entjda-


Íyll,~~-W
t~~t<ios P~?'?e;s~9~\1ü~
P~4e~·
tiir,la,qt1amo'àq~eles que iip~
Slla foX:~ç~9 .. Tê111 fi49,, aiÍ~lÍ~~9~s·,,a~sim, asi,dçnyga-
desn:'içigp~i~; as identida4ticie gê11ero, as Ídenti,d,ad~$:Se)(U-
o~
çle nacfona( P9ucó ·iI11JJ?rtª ;se: os. f~tos a~shlj ~~rrndos S~()
1

''verd,a4:~itq s~; ll~o.;: 9que importa fl~e, a: 11a~ayy:~ ftlpda-


dora.f~ncioriap~r~·daràlclentidad~ ,nf}~t?l}.ai .'liga ·s~~Üm~n-
é
a
ais,·a~ ~dentf#de,s racicti~.e-,étnicâs~'.Embora e_~tejaqt~m,fu~- tài' g'afétivi, qu~lh;e 'g~rant-e· u~~cert~.-e,stabiU~ade i ;fixação,
cio1ww~n,to; nés~as 4iv~r~c,i.s. qjme11~õ.es, da1denü4~4e; cu.Jtu- sem as q11ais elctn~() teria a! rnesn1a ,e 11ec'es~~ria éµcácia.
- ' • : •• : • '. : :. • ' l •• :". • .;_., C_ ·, : • • : : -~ : • _; • •• ." •• • •• -· .' ' - : ,

raf e.sod~1,.ã'tribb·s :º~:tipp.,~ d~ pr,9cesso.s, e,lçs,9be,~ec~rn,a di- ,· Os ·mitos :fundadores qrie tenclem a fixar .as identidades
n~Ínic~~,.~ifer~~t~.~- A~sitr1, ppr, ~x,emp~o,, enq~aptq :f!.·Í:eCll~sq naciortais são, assiin; um exemplo importante de essencialis;.
à biol~gi~. é ·,évidenté riâ-' dinârnicà· da identidade de gênero

84 85
mo cultural. Embota aparentemente baseadas em argumen- simplesmente teóricos; eles são parte integral da dinâmica
tos biológicos, as tentativas de fixação da identidade que ape- da produção da identidade e da diferença.
lam para a natureza não são menos culturais. Basear a inferio"" :O hibridismo, por exemplo, tem sido ánalisad(), 'sÔbtetu.;.
'i ·
rização das mulheres ou de certos grupos "raciais" ou étnicos
nalguma suposta caraq!erfstica ,natu~ar ou biológica não é
~o,: enfrelação :com ff procésso de produção ?ªs. i~entidades
nacionais raciais e 'étnicas. Na perspectiva d~rteoria cAltural
sitnplesm;ente,;u111 érro '''cie11#Acr'',qias -~.denwnstração .da _";.:~•.·· . . _.. _:.'.·:·-> ·.·· .•···:·~- . . :; .·:_ •. .-·.,.,··>·'i•
~?ntetliporânea, o hibridismo ~ a mistura, a conJilnçao~ o !n-
impo~ição de, µtna eloq11yJ:J.te- grape- cultural ~obre uµi~ natu"7
tercurso ·entre difererit~s-nacionalidades, .entre dife~entes
reza que, e1t1 si rnesma, é ~ 'cultur~lme1;1J~f~lando - _silenc_io- etnias, entre diferentes raçâs _;_ coloca em xeque aqueiês pro-
s~. As 9ha~ádas ;interpretações .biol9gfoas são, antes de se~ cessos _que tendem.a .conceber-as 1ideritidades- como:funda-
~e,ni'bi9lógica_s, :~nt?rpr,etações,. ist9, :~' efa~ ,ri,ão ~ão ma~s ,dó mentalmente. separadas, divididas, segregadas. O processo
que a.impo,sfa~o, d.~:\lllUL,ma~riz,de li~nificáç~o ,sobre__llma de ;hibridização. confunde a suposta pureza e insolubilidade
111~t~r,i~ .ci~ê, ~.em e.Ias," não tem .9.~-~lq~e::r,. sjgIIi.fic~do. T,odos dos grupos: que se reúnem soh as diferentesjdentidades na-
o(essenéialismo,s são, assi111,. ,culturais. Todos os essencialis- cionais, raciais ou étnicas. A identidade- que se forma por
111ps_ ra,s:9em cl? 1119víme,nto d.~-[IX,açã,o, qu,e caracteriza 9 pro- meio do hibridismo não é: mais integralmente nenhuma das
c~ss•~· a~-pr~diiçãó ·,ia: ,ÍÇ\yntidacle . ~ -da '<lifer~nça, ,
• -. e :: :'. ·r .'·. ·, :: • .:,r. .
r. a :/ • : ,'. \ ::, .,..• : .. ~ .• ::· •. • :. ;, ; . . :, -.: ~ identidades originais, embora guarde traços delas.

Si1~\fêr!êndô· ê·c?mpíiêan~o . à.i~entid-~~~- · ~ão'se p6de -e~quecer, e11tretán~()~ que a hibji~izaçâó_se


dá' éritte identidades· SltiH:tdas assimêtricaniérite em refação
--_ -ivi,ai~j~t~r~ssant~s., -entr.e,titito,~r~ã'° os ll}~vi_~e~tqs ciue
c,cmspiram,J?aia,~~mpli9~~-.~.-~~byerter_á iclentidá.4~•. A teori~
ao P?der.• 9s; p~o~~ssós ele hi~rid~~úiçã,? ~?.a.I~~ados, pe~•~-.!~?-
ria cultural contêmp;~râ~ea'~c1:s'9e111·dê~ela{~r:s. ~,º~!ii~?,~_as
Cld~ur,âl •?Ônt~rnporâJ:J.~a tetn 4êsta~ado alguns_ desses movi- entr~. difere11,tes:. ~p;os ~ n:~~io~~i.s:;tá~i,ais ;~~'.-~~!11.~:c?-~;!·El~-~
m~µtqs.)~H~s, :~~ W,~táf?r,âs uti,l,iz~d~s P~!~ desf~evê~l9s re~ e'stão ligados'â. história~;dloêuP,aç~?'-:~o~oúi*aç~o .•~ _dé~t~j'-
co.rr.~w,):rq~se t~das, {pfórí)~J~ef,a,~4.e moyimeiito, 4t ,v.üi~ çã(). Trata~s~'; na mai?~ia~dos c~~é;s/·d~.-.u~f'.~~~~~i~~ç~o
~-~:#, ,de 4~s1Qcaipen,t? =.Aifis~ora,:.9Híz.ai;ri~~to d~. f~9;nt~iras, for,çada, () que a teori~ cultut~i rê~~alta ~ 9U.~-~ ·áo'·b?~~~dg-a
11á111~çlism~.:-.Afigúra;d91Jan<1ur,'d.e.scrita,JJ,or,~~µ,ge~air~
f:Jt~&fl1:ª,4:~-~ºi .~~iij}l~~n-,.• .~.- pôn'~,t,,a~t~in~~t~,.cit~&i":c~mo
a
ésfabHidade' ê· a fixa9ã~ . dá,i~~rti~ªde; hibridi~aç~?,:. âe al~
guma forma~ tamtje~· .i~é!~ ~- ~- .J'ô~e~~-. '_O, "~yr~~ir~ •ésp/t9?~'
~~e,1t1J;?l~±-:,:1~}1~P:ti$lf,<!f:, f~~~' i~dir~!à,
in,~t~I:' ,~JA?Pr~ ,-.~~, (B1;1J\BHA;}996)'q~'e,'r~~ult~;~a.;.hi~r-i~~~a9~o·~ã? ,é: d_éter-
~f
as m.et~f~f 4~-hi~r~di~açf), ·1atpw9,igénª9~(), 4? .
~.incn~tis- minado, nri~ca, unifatêra~m.ent~{P~l~; ~d~htiâád,~ ~e'ge111?11i_-
111~. e'ôõ}r~yestism? ta~bénÍ ah~dein
'~a_lgumá' ~sp~cie de cá: ele introduz uma diferença que -c'onstitüi a possibilidade
tnobüi~a1e entre' ?'sdif~t~ntésterJ:itório~Aa ide~Üdade. i\s de seff ~uêstiortámentc>>' {':'.-:: - _. · .· . _ __
~~táfotas 'que.· ,h~scarti_. enfatiz-ár'o~ _pr~c~~s9_s .: que. côippli-
càrr1 'é subvertem-â 'i~e,11tidade (i~~!e,rti• e,rfàtizar -erii con~ :·O. lli~ridü;mo es~á. lig~191~~s_ pi~yime11tqs ~~mpgrá4ç()s
trast~:-com à p'roces;Ó que 'tentifixf-Iás '::_ aquil<{qúe tra- que-pe1J11ite,tn,-g cqp.t~!g,e1,14'~ gi,fer~i;i,te~. idtmticlade_s: as_ diá~~
balha:para contrapor-se à tendência a·essenciálizá.;.las; De po~~s,. ps 1y,sl<?~~meµ~_g~, p§pw~cles,_ .~s vi~ge~s~,,gs. c~a111~11-
aCórdo, com essas perspectivas, esses, processos-não ·são tos de fronteiras. Na perspectiv~Af:l:Jeopa ~ul~al con!elllpQ-

86 87
rânea, esses movimentos podem ser literais, como na diáspo..; Se o movimento entre fronteiras coloca em evidência a
ra forçada dos povos africanos por meio da escravização; por instabilidade da identidade, é:nas próprias linhas de fronteira,
exeµiplo, ou podem s~r simplesmente metafóricos .. "Cruzar nos limiares, nos interstícios, que ,sua· precariedade se torna
frop.t,eiras,,, 1'?~ e)(e,m1*~,' P,Odesigni{ic~r ,simplesmente mo- mais •visível. Aqui, mais do que a partida ou a chegada, é
ver7se livre11lç~{e ~#tre,ostegitórios simbólicos cie diferentes cruzar a fronteirn, é:estar ou permanecer na fronteira, que
idenfi'~~des~. :::çruz'f~/!911teirns:~: ,s~~f~c~ n~o resp;eitàr os $Í- é o acontecimento crítico~ Neste caso, é ateorização cultural
m1is, que, .den1arsan1,7; /'ái-iífiRi~l111e11t~" ~. OS, -ÍiÍnités entre os contemporânea sobre gênero e sexualidade que ganha centra-
territóxi9;~ ,das 4!feren~e~ ,identidad~s. '. - lidade. Ao chamar a atenção para o caráter cultural e cons-
; ··Mas é no movimento literah;concreto, de grupos emmo- truído do gênero e da sexualidade, atearia feminista e a teoria
vimento~ por obrigação ou por opção; ocasionalmente ou queer contribuem, de forma decisiva; para o questionamento
constantemente; que a teoriaGultural contemporânea vai bus~ das oposiçq~s ,binária~ .~ mascuFno/f~:rninipo, .· heterosse-
car inspiração para teorizar sobre os:processos que tendem a ~pal/4o:rn<>sse):(ual 7 µas,qll;t1is se baseia o pr9çesso de. fixa-
desestabilizar e a subverter a tendência da identidade à fixa- ção çla.s identidades.d,e.gênero e elas identidades~exuais. A
ção. Diásporas;· como· ·a ·.dos negros africanos escravizados, p9sstbiliclade .de "crµ?:~r. ,fronte4"as~' ~ de ~~estar na:Jr.onteira",
por exemplo/ao colocar em contato :diferentes culturas e ao d~ ter uma, id~p,tidade ambígua, iQclefinida, é uma demonstra-
fay9recer! pro9es,s9si de, :, rriiscigena9ão, . ;~oloça111- .em., ,movi- ção docaráter."artificialrot::nte" impos,to das ident,~cfades fixas.
111~~fp prqeé~~os,4e, Wbridt~açªC>r ~i~êretism-o."e ,cr~ol:lHzação O "cruzamento de frontejr.~s" e o cultivo propositaq,o de iden-
c~~1:ufal. qrie,, •f°'r9o~a111ente,. Jransf
qf111<1m, cieses!abili~aip.- e tidades ambíguas t;;~ntretanto, ao mesi:nqJempo uma pqdero"'."
~e.ªtR~áp1 as i,1~ptidríde,s o~igin~lis. p'a me~111aform~~· ~óyi- sa estratégia p0Htica:de·questiona111ent(?_dasoperaçõ_es de fixa-
~ento~ µügrat,ó[ÍO,s, .~1:H. gewl: c9II10-cis i~e,11à~.illti1llas 1éca- ção daidentidade.A evidente artificialidadeidaidentidade das
gas, ,p,or:ex~inplo,:~~Slof,ar~111 gtan1e,~ c,oriting(?ntes J)Op~la- p~ss,o,a~ traye~,iq~~; dfls qu,~ s~ aprn~~nt,~ C9WR1~q~~qµeens,
c!?H~l~ ~-~s:a#~i-gc1~ ç~ÍôÂ~ªs P8;fél~~~élJ1#g~s 111~tr~po~ês, fayo- porexeillplqr'<l.~nµnéi,aa-.i,n~nçs'êyicl,ente.-~;aí;títfotaíi<iâq,ede
~t
!ec,e~"pr9cesso~ ;q1;1e etajii bintq -as jdén;tidc1d.is. süborfiina-
todas 'âs i<l~nticladet - , , , . " . , .;. . , .-
/ -;. , '.,' .: :: >·(: . .' . . .
çi~s:q~~!~\a~ hei,ep:iônié~~,,.JiB.~~ipen~~,,-é aviag~p-i ~lllger~l !
qlj5 '~ fP~ªR~ 9omo lllet~f<?W <l.9 ,c~,á.ter, p,e9~~~aric1mé1,1t~ ;lnÓ-: ldentida.de. e cJifere,nç~: ~la.s .t~m q1:1e ser
v~t ~.~ i~~Pt~df!~~-:E:ffi~,Qia'in~~q_~:#~WW~tj~a qu~ia diásp()~a _represer1,tªda.~
9H-~ Wif~ç~~ ~r9~~~: ~ivt~i~,m-P~rig~,4Hr1P,Yi~ja a sentir~s~
f Já sabemos que a identidade e a diferença estão estreita-
''e,stt:ang~Írq:', j>,OS~Ç!?IÍaÂqq~o,.·~iµ~f que, tymporai:far.n~,nte,
éomo o ''outro". Áviagêni.propÔrcio~ct ~ exp,efiê11ci~ dct"nã9
mente 'ligadas a sistemas de significação'. A identidade' é úm
significado~ cultural e socialmente atribuído. A teoria cultu-
sentir-se em casa" que, na perspectivi da ieôi-i~ cultur~i ~o~-
ral recente· expressa essa mesma ideia por meio do cónêeito
tê~pôrâhêâ~: carâêteHza: 1
fü1:i~erdadê~ 1tôdâ identtdaâd 6u1tu-
de· representação. Pata>à têotià cultural· contemporânea, a
rat: Naviagefüfpddémós éxp'êrüfiêntâf,: àiridà 'quê• dê fornfa
liífütâdâ/ ai:flelíciás ué' 'as iiisé;gü,rariçâs 'L. dá irtstabilidâdê" ê identidade e à diferença estão estreitamente ass9ciadas a sis-
dai p:ré'êânedâdê da idêritidádê: : )//;?'' Yi - temas de- representação.

88 89
O conceito de· representação tem uma longa. história, o Em segundo lugar, ,na. pe:rspectiva ,pós°".estruturalista, o
que lhe confere uma multiplicidade de significados.Na histó.:. conceito de representação incorpora todas as características
ria da filosofia ocidental, a ideia de representação está ligada de indeterminação:, ambiguidade e·instabilidade.atribuídas; à
à busca de formas apropriadas de tomar o "real" presente-: de linguagem. Isto -significa questionar, quaisquer da.si ;preten-
apreendê-lo o mais fielmente possível por meio de sistemas sões miméticas, especulares ou reflexivas atribuídas à repre-
de significação. Nessa história,,a representação tem-se apre-:- sentação pelaperspectiya clássica.,AquJ, a represe11t~çã9 não
sentado. em suas. duas dimensões,~ a representação externa, aJoj~ ~ pr~sença do•."real" ou d? significado~ .A repr~s~µtação
por meio de sistemas. de signos como a pintura, por exemplo,
ou a própria linguagelll.;, e a representação interna ou men,tai-
11,q.é.• simplesmente 1;1111 meio .transparente de. expr~·s:são de
iigÜm suposto ieferenk' Ení ye~ 'g,isso, a repre~entação é,
a repr_esentação do ~'real" nacqnsciência.. ç9t110 qualqu~r sistemâ, d~ significaçãq,_ pp:ia fo~a de a~ri-
e
O pós.:.estruturalismo' a' chamada. "filosofia- da diferen- qiição de se!]:ticlo. Como ~1, a representáçãc> é um sistema lin-
ça" erguem.:.se, ém parte, como uma reação à ideia clássica de guístico. e, cultural: arbitr~rio, indeteI1,11it1ado e estr~itamente
representação; É'pfêcisamentéJfor concebefâ1iriguagêin ~e~ l,igado 8:. :,;~lações de p9der.
por extensão, todo sistemáfü, significação~ como u:riia. estrti":'
É âqi.ii' que a represéntaçãéf se liga à identidade' e• à •dife-
turá instável eindetêrininâda que ·o pós~estrilturalismo ques-
tiona ánoção clássica de represéntaçãó.: Isso não impediu, en- rença~ A identidade e· a diferença são estreitamente depen-
tretahto/q1iê, teóricos: e, teóricas ligados sobretudoc aos Estu- dênt~s .da.rêpresêntaç~(); ,É JJ?f. meio··da reIJresenfação; assim
dos :culturais' 'como, por 'exemplo~; Stuarr Hall~ ','recuperas- compreendida~ que à id&ntidade e á difetênça adquirem· senti-
sem" o conceito; de;representação~· desenvolvendo"'"º em· co.;. do. É por meio da representação que, por assitnd.ízer, à iden-
nexão comuma te,orizaçãfrsobrea identidade e a diferença. tidade e a diferença passam:. a; existir.: Representar 1significa,
neste caso, dizerz "essa é•a id~ntidáde'\ "a iden:tidâde· éisso" ~
'.·R.~sse i~oritexto, ªJ~ptgsê#t~ção 'êi Cfnêebidacomo U1TI
sisteriia de ··signÍficâçãêi, mas 'aéscartáfu:_::se_, Ôs pressupostos ·.~ tâmbérri;por n{6i9}ia'l:éi\k&,t:!!;~ãó'q~)'iê{thf(~ádre·ll
realistas e miméticos associados com suà éó11cepção :filosófi.:. Wt N9
er~11ça·i,e am à_si~t~i,nas .dé -~B4er. Qµifu f6ff\º :P.º:1~::d~
ca clássica. Trata-se deuma representação pós-estrutura- o
representar t~111 PP1~t: cl.e ,defip~r, ~ determirwr ~ 1de11t1da~~-
lista. Isto signifiââ,' priniêiràfuenté~-- quê sêftejéita.mf sobretu- Ê P9t: isso_qu~·.a,rep~es,erÍtação opµpa ;~J.TI I1:1gar't~? 'centraI;µa
do, quaisquer conotações mentalistas ou quâlqüér associação teqdzação.cÔnt~mpprâne~ ~09rei4e11ti~ade.e nos. moyt1.nen-
GQ11).J1JJ:1ai~;-up_of;ta, in,tei;iq:i.:i<:la4e:p~icológica. No ,registro pós- tci~ociài.~ . 1ig~dq~1~)d~~tida4~~99~~tfo~ar··a içentid~de ·e c1,
e,s,t,rutut3:li~ta,.1<1; rep:re,sen,taç~Q,,é ,concebiqa unic3:111ent~, em 9:iferen,çasignifica,; ~esse cont~?C~,~' gµ~stionar os sistemas de
S!JJtcij;in~ri§~o . d~ ',~jgtj.i-f1.93:p.t,~; i~t9 ~;-cºmo s.istem~, 4.e ~ig119s, represypJação. ,qu~ lp.e,Aãg, supo!j~-.,~: s,µst~nt~çãp. Nq .• q~n,tro
cqmg, ,p11ra llla!~ª -1113:terial. A, ;i:epre~eµtação, ~~p:re!isa-~y . PPf da .critiça_da ident~dacle "t:~(da-,dife~en:ça ,está uma ._crítica/das
;tne,!9• clfwm~ pintur;a, <ie .um~;fqtogra~a, de wnJilt11y,, ele m,n suas formas. derepre~entaç~o. Não.~difjcil perceber as im-
t~xtq, . 4~ ,lll11a express&o, or:;11~ i\ repr~,s~~taç,ijo nãq é, nessa plicações pedagógicas e çurriculares dessas conexões entre
concepção, nunca, representação me1,1~~l ou iµ~erior..Arepre- identidade e representação. A pedagogia e o currículo deve-
sentação é, aqui, sempre marca ou traço visível, exterior.

90 91
riam ser capazes de oferecer oportunidaqes para que as crian- ções de "performativas". São exemplos típicos de proposi"."
ças :e os/as jovens desenvolvessem capacidades de crítica e ções performativas: '~Eu vos declaro marido e mulher", ''Pro-
questionamento dos·sistemas e das formas dominantes de re- rneto que te :pagarei, no fim do mês'', /'Declaro inaugurado
presentação da identidade e da diferença. este, monumento".
Em seu sentido estrito, só podem ser consideradas'perfor-
Identidade e diferença como performatividade, m.ativas aquelas proposições cuja enunciação é absolutamen-
,:~~rrtéter a identid~deea diferença aos• proéeásos :qiscür- te nece,ssátia para a consecução do resultado que anunciam.
e
sivos · linguísticos qúe, .as: produ:z:ein _pode 'signi~car,, entre- Entretanto, muitas sentenças descritivas acabam funcionan-
tanto, outra· vez, simplesmente fixá~lás, se nos limitarmos 'a do 'Como performativas~ Assim, por exemplo,. uma sentença
C()trlpreender_ a· repres~?tação: cleumá forma puramenté·'des- como "João é pouco inteligente", embora pareça ser simples-
critiva. Será 'ô conceito -de perfotiriatividade; desenvolvido, mente descritiva, pode funcionar - em um sentido mais am-
neste côntexto, sobretridO pela teóriêàJudith Butler{l999), plo - como performativa, na medida em que sua repetida
que nos permitirá contornar esse problema~ ·O conceito de enunciação pode acabar produzindo_ o ~'fato" que suposta-
performatiyjdade .c:le~lo~~ a ê11fase-n~ identidade_ como des- tnente fipenas deveria ,descrevê-lo. É precisamente a partir
cp.ç~o, c9111:9: 8;g1,1pq qmJ-:- l}m,8:.ênfase qu,~ .~,. d~ c_ep:a forma, desse :seµtido ampliado _de "performatividade" que a teórica
Judith Butler. a11alisa a produção da identidade como uma
~1~-
n;i~ti4a,p~lq cp11çeito r,~m:e~~Htação ~ para a ideia de '~tor-
questão de performatividade.
nar"'.sf ', para Y,pl8: cq~c~pção qa ,i4eµt~clade como rpovime11to
e transfÓrt11âç,ij,<>. - - -- · , - - .,Em geral, ~o qiz~r algo sobre certas características identi-
'A formulação inicial do conceito de "performatividade" t~ria~ :4~\al~yin g17:1]?,8 s~l~raI,, a:c~aino,~; CJ.U~ t;?Stalll()S sim-
deve-se_aJ .A ·Austin{ 1998). Segundo Austin, contrariamen- plesmente ~e~~revénd9 ~1.1.?:ª si~ação existe11ti, µrn ?º
"fay)"
te à_ vi~~o. q~e gerahn~n,t~ ~ete.m, a lir~agetn.11~() se. limita a q
~undo, socütl~- q~e, -~sq~e_c~mP~ é ,q1w; aqµ\Í<tque: <ii:Z_(?»,:l~S
P!OPC>:siçÕes q~e,sin1pl~s1'11.ent~ desfrev~~- uma ação, uma.si- faz p~e de úrpa red~-:mais c1mplacle ,a~9s li~~í~üc-?sqµe,, em
tü~ção- ou u~ ~~~aµo de coisas.. Àssi111: se: n~(Peqireni para Sf~ll _c~nj1;11~t9? 'c()ntt;t1'µt_, :para, <iefit?:ir :()U .r~Kóiçar_ a J~eµt:idade
~m
dâr,· éX~~l})lo' -~e uma., pr?posiç~o'típica, -'ptôvavelmente ~ue~ ~up6stament~: ap~tias estanrns 'de~cn.~~ençto. _Assim; por
~xe111pl9, quando 'titi.lizanios u111a palavra r~~ista como "ne-
nos,'~airíamos com algo:~ômo,"OHv~o 'e.~t~sobre a mesa". 1

Trata~~~\ t~pióame11te, ·de, Ullla íprop()~dçãó: ~ue, J\ustin; chama gr-~o" pará nos refed~ a urna p~ssoa, ne.&ra do ~~xó masculino
dé'''constafativa" ôu "descritiva''~:Ela simplesmente descre..; nãó' est~mos si1?J:ples111ente _~a~endo uma d~s,drição sobre, a
veumàsi~~çã?'· _lv!as·a,lin~agem terif pélo menos umáôutra cor de uma p~ssoa~ -~stamos; na verdade, -inserindo-nos em
categoria de proposições qúé riãó·se ajtisfam aessa definição:
1 ~111 sistema1ingüí~tfo9 m~is amplo queóontribui para refor-
são àquela.s'prôpôsiçõês1 qí.ié 1:tiãÔ'sê limità111 á descrever um çar a negativi~ade atribuída -à identidade ''negfa". -
estado de coisas, más: que fàzemcürif que alguma cóisáicon- ' Esse, ~~erilplo serve tamb,ém para_re~saltar outro,ele~en-
teça;Ao serem pronunciadas,- essas -proposições fazem com to i,mportante d() a~pe~Jo peif()!111ativo dâ prnd~ção da, identi~
que·algose efetive, serealize.Austin-chamaa essas proposi- dade. A eficácia produtiva 49s enunciagos performatiV'OS li-

92 93
gados à identidade depende de sua incessante repetição. Ein É exatamente essa "citacionalidade" da linguagem que sê
termos da produção-da identidade, a ocorrência de uma única çom,bina com .seu caráter perfonnativo para fa.~ê~la trabalhar
sentença desse tipo não teria nenhum efeito importante. É de H<? processo de produçãp !da.iden#dade. Quando utilizo a ex-
sua repetição e, sobretudo, da possibilidade de sua rep'êtição, pressão t1egrão" para tny referir a um ho1nem negro não:estou
que vem a força que um ato linguistice desse tipo tem no pro- sirnple.smente maBifest~ndp u111a, opiniãó que tem orig.em
cesso de produção da identiclade~ É aqui que yntra outra no- plena e exclusiva yfil, 1ninha in~etição, em mtnhacon_sciência
ção semiótica importante, uma noção que foi especialmente ou1ninha m.ente.. ·:E:la não ~ a,· sirnp~es expressão singul~r e
ressaltada·porJacques Derrida. Urna característica essencial e
únfoà de m.~11~ª s~bérana 1ivreópiriiãÔ. :Ernum certó senti-
do signo é que ele seja repetível. Isto quer dizer que, quando dó,éstou efetuando ~tna oper~ç~o de ''recort.b e éofág~lfi".
encontro um signo corno. "vaca",- eu devo ser capaz de reco- Recorte: retiro··ª expressão d? ~o'ntexto 'social.mais :àritplo
em que ela foi taritas;vezés énmíciada. Colagem: insirô~a no
nhecê-fo como se referindo, de forma relativamente estável,
Ilóvdêôntexto, iiêf contexto éniqué· ela reaparece sob o dis-
sempre, à mesma coisa, apesar de variações "acidentais" -di-
faréê de minha êxcfüsivà'opinião',-cómo o resultado de mi-
ferenças decaligrafia, porexernplo.·se as palavras ou os sig-
nha ·exclusiva· ope:raçãó mental. N à verdade, estou àpêrias
nos que utilizarnos:para;nos referir-às coisas óu aos conceitos
"citando". É essa ciÚiçãô que recoloca em ação o enunciado
tivessem que ser reinventados; :a cada vez e por cada indiví~ perfürmativo que teforça o 'aspecto negativo atribuído· à
duo - i'stô é, se nãó fossem repetíveis -:- já não seriam signos identidade negra· de' nosso exemplo. Minha frase é apenas
tais corno os concebemos. mais uma ocorrência"de uma citação que tem sua origem em
Dérrida ( 1991) estende essa ideiá para a escrita, em parti- um sistema mais amplo de operações de citação, de perfor-
cular, ê, mais geralmente, para alinguagem. Para Dêrridâ, o rnatividade·e, finabpente; de definição,,produção e reforço da
que caracteriza a 'escrita é' precisárnente' o fato de que~ para identidade cultural.
furtti?nár como fal,uma 111ê11sagem escrita qualquer precisa Segundo Judith -Butler (1999), a mesma repetibilidade
ser r~cmili~cível ~- legível n:a ausência -~Y quem a escreveu e, que garantea efiçácia dos atos performativos_que reforçam as
ria ver4a1e; até 1nesn10 na ~~s_êncià d~}~~ sup_ostoAéstinatá- identidades existentes pode, s,igp.ificar também a po.ªsipilida-
rio~ Maisradiéa!~et1t~, da :é in4~perid~rite att,mêsm,q_ de de. da interrupção :dasid~ntid~.de.s llegernônicas. A repetição
quais9-1:1~r st1p9stas. i11ten~ões q_~,e ,ª p~ssoa ~1:1~- a escreveu pode. ser. inte~?,111p~d~-'. . rei:>etição pode se~. qu,~stiônada e
~tj~~s~~ ter tido 110 rnoµi.ento. enl' que o foz. ,1:'udo· isso é sinteti- contestada. É nessa interrupção que residem'as possibilida-
z.ado 1tª fórmufa de 9-ue "a escrit~ .é repetível'\ Segurido Der- de
des de' instautâção: üi~ntidades ·que não -Jeprêseriterri: sim;.
ridai isso vale para a linguagem en1: geral... Ele chama essa ca- plesmente Ei' repfoduçãàdas :relações de poder existentes. É
racterí-stica, e~~a,rep_e~füilid~de da,~scrita· e·4~.-l~ll,'guél:gem, ~e essa possibilidade de:intêrtômper o processo de "recorte-~- co-
"citacionalidade". Nesses termos, o que distingue a lingua- lagem'', de efetuaturriâ paradàno processo de "citacionalida-
gén:Í. (êomo;Ürna extensão dâ:'êsêrita)'é sua êitacioilalidade: de" que êaractêriza ôs âtós p~tfohriativos qtiefoforçam as di-
eUfpode ser sei;npre ·retiradà 'd"êurri determinado contexto e ferenças instauradas, que tomá possível pensar na produção
inserida em. Urn contexto difetehte. . de novas e renovadas identidades.

94 95
Pedagogia como diferença A identidade está ligadaa sistemas de representação. A iden-
Se prestarmos, pois, atenção à teorizaç_ão cultural con~ tidade tem estreitas conexões com relações de poder;
temporânea -sobre identidade e_ diferença;· não· poderemos Como !tudo, isso se' traduziria em term~s de currículo e pe-
abordar o_ multiculturalismo ~m educaçãosimplesmente _c.o- d_agogia? O outro cul!tiral é'seinpre um problema~ pois colo-
mouma questão de tólê~ânci~.e respeitoparncotn a div~rsi~ ca' permanentemente em xeque nossa ,Própria id~ntidade. A
dade'tulturctLPor111aise9ipcá~tes·~ 'desejáyeis que possam
par~cer,· êsses_ nobres s~nt~tn~lltÓS 1mp~dem q4~ veja1110~ ·a
:a~
que~tão da identid_a~e, diferença e do OUffO é Ufil probleina
so~,ial: ao,n1es1Uo te111P,_o'q~ê é'um IJroble111apfdagógfoo e cur-
ea
ide11ti9acle diferença co111p__pi-9c~s~~s de PJpd7rtção s9ci~~? d6ufar. É u~·P,roblem~:so~i~l porque, em ~in tnu~do hetero-
com9j:>~~çessos_ que env.oÍvem, r~la9ões (le poder. Ver fl i<l,en-
tid~de e a diferen9a éom<)UW~ ques,t~o d~ prod;ução si~ifica
?êne'?, o ~l}~ontr? .9ºfu o ;·outro,:com o estranho, co111 'o ;dife-
renfo,, é, it1év~tável.Jum:probl~tna:ped;~ógico: e curr1culàr
t~at~r as ,;efaçfies entre as. qiferenrês .cultÜ~as não C{)t11p. ll1Ila
não_ apenas p~rq~eâicri~~y,·s ;e o:s jov~~~,'.errt~ma sociedade
quest~o_<i~ ·con~~nsq,.de d,iálogo,quco,tnu11icação, inas c~1110 ~ttávessacl~ pela di_r~~e~~a, forç~san1epte 'íntera~em com_ o
m11a quçstão qµe envolye, .Íllnd~m~11!.alinente, relações; de outib :rio· próprió \~Spàçó' Jiá/s~~lct,, t,nas tâ111bém porque a
pqder,._A,jçlenti4?:4e e a difer~nç~ nã9, ~ªo_entidadespr~çxis- questão do outro e da diferehça nãô-poáe'tleixar de ser maté-
tentes; que estão c,tí desde sempre ou que passaram a estar-aí a ria•·de preocupação'pedagógica e.curricular. Mesmo quando
partir de algum mome11to Jµt1dad9r, ela~; não,:são elementos explicitamente ignorado e reprimido, a volta do outro, do di-
passivos da cultura;:.mas.têm que-ser constantemente criadas ferente; é inevitável, 'explodindo em çonflitos, confrontos,
e recriadas. A identidade e a diferença têm a ver com a atribui- hostilidades e até mesmoviolência.,Oreprimido tende avol~
ção de sentido ao mundo social e.com disputa e luta em tomo tar ~ reforçado,e;inultípHêado·. Ehproblema é que esse "ou-
dessa atribuição.
tro", mima sociedade 'eiri .-1ue addentid~~e to?1a~se,; c_ada vez
.,.•Nessa-perspectiva, -podemos fazef uma síntese, .descre- mais~- difusa· e des.centradà,cexpressa'"se.,por:meio de, inuitas
vend01 o que a identidade':'.:.:tudoissO'vale,·igualmente, para a dimensões. O outroé'o,outro gênero, o outro éa cor diferente,
diferênçà L não é e o que á identidade é.: 1 outro'é a outrasexualidade~'O óutroé aoutrâ raça, o outro éa
1 outra·nacionalidade,o outro é'o,corpo diferente.'
Pritiidramente a identid~clé !ião éuma>. ..
·- .' •. .:C,". . ,·· ,., ·. . ... ,·,,_·_• : ,_..,. .·. • •. .
essência; não é
Ulll. daclp: ~µ: ~lll fato - s~ja ga_ :~~~eza, f~Ja, da C1flnira7 A lJ~~_Pn111éirfêstra~é~iáp~dâgtSgicap,óssív~l, quepode-1

i4~~tidaq.el}ã9.f ftxa,;está\i~l,-ço(?r,ente, utÍ~fjcada, pe~anen- rfa:ínos~cla-ssi'fída~ com.ô '~Íibe~al';' cons_istiriá em· estimular ·e
te: Ai<;l~p,.ticia<;i{!AWPPl!~~) ~,h9111p_sê11~a,' g~tinitiva., .a.c,abada? ctiÍti~â(df~onsf~i,itliii~~tos ê·_a._boâ'"?tltadb.par~ t~ipi a; cha-
idêntic~ transcendental.'":éor
., .,.· <':••"· '·'.,·,_·; •. •:. ···-·
o;utro)ado, podemos clizer qµe a
··.. ·..•.• ,.,, .. ,._.-.. ·.· .. ;_. ;.·. ·.· ·-'••. ·. mad~_''divêrstda~e''.cu;ltural. ~~ste.~~sô; o:pres~~posto_bási-
identidad~ _é uma, ço11stl'llçãq, :llP:'l._.~f,eit.(), ,µmproce~so de pro- c°: é'? ~e ciue· ~ "n~ture~à" ?~~~~\em ~má yarieSI~clede for~
d~ção, uqi~ ~~lação,:u~atÓ p~~formativo.A iclentidad.e é ins~ 111a~ Íegíti111asqê ;sé ~xp~ess'ar i8paurahnent~, e tod~s de\Tel}l
tável, _coµtraclitó;ri8:, ,fragrn,entada, jnço11sistente, inacabada. ser ·respi~itádas 'ou;t~le~~~~s -_no' ex~rcíc,io _dê,ü~a t_~le~~n~ia
A identidade está ligada a estruturas 'discursivas e narrativas. Úm
que pode variar•de'sêié' 'sentimento' patetiiaÜsta i sÚpeÍ-ior

96 97
até uma atitude de sofisticação cosmopolita.de convivência Em algum lugar intermediário entre essas duas aborda;;.
para a qual nada que é humano lhe é "estranho'\Pedagogica- gens situa-se a estratégia talvez mais comumente adotada ria
mente, as crianças e, os jovens, nas escolas, seriam estimula- rotina pedagógica ·e.curricular das escolas, que consiste,em
dos a entrar em contato, sob as...mais· apresentar aos estudantes e às-estudantes uma visão superfi-
, : ,_. -·. '·,variadas
: ;: :
f~rmas ' com
' ·,
as
; : -·

mais dh~y_rsas ~xpressões cultur-~is d.os diférçnt~s grupe>,s cül~


- ·- . ,
cial e distante das diferentes culturas;Aqui, o outro aparece
turàis. I'arn essa persp.~ctiva, adiversidàde cultural é boa,e sob a rubrica do curioso e do exótico. Além de não questionar
as telações: de podenmvolvidas na produção da identidade e
expressa, sop -ª~llperfícié, .U,º~~an~tureza: hl.lllla~a,c;omU111.·Ü
pr() bl~mà çentr~l, ,agl,ii, ·-~ -. q~e,
e~tà áboi-~agelll ·simpleslll~~te da diferença culturais, essa estratégia as reforça, ao construir
o outro por meio das:categoriasdo exotismo e da curiosidade;
deixa de qúestionª~ as rdáções d~ podirros pmcessos'de di~
Em geral, a apresentação do outro, nessas abordagens, é sem-
f~nmci~ção (llle; .ª?!fS qu~ tuéfo,' produ:z;em aidéntidade ea
difyrença. É~ :ge{ài, o·r~s.ul~ado é 'a pr~guçã9 denÔvas dico- pre o suficientemente distante, tanto rt6 espaço, quanto no
totnias, c()1110 a do d91llfuante_t9Ier~iite ê do dóminadqiolera~ tempo, para não apr~sentar nenhum risco de confronto e dis-
do ou a da identidad~liegein:ônicam~s bç'nevole11te e d~ iden~ sonância.
tidaqy _~ubált~n1.a' m:a~ _~'r,espe~t~cl~'\ - - -- - - -Finalmente, gostaria de árgumetitar em favór de ürrta es-
J ~ " · - ' •• .; ~ '. ~

tratégia pedagógica ecurricufar de abordagem da identidâde


Uma segunda estratégia, queipoderíamos chamar de "te-
rapêutica'~, também aceita, liberalmente;,que a diversidade é e da diferenç~, que '.levasse em_ 'êonta:preêis~mente ~s. corttri-
"natural'' e .boa, mas atribui a rejeição _dá diferença e do outro ~~içõe~ da teo.1a, ~tll~talrece~te,i •sohretlldo' aquela_ ~e 'iiispi-
a distúrbios psicológicos. Para essa perspectiva, aincapaçi. . ração - pós~e~i~~i:aÍist1~~ _, }f~~sá _ ab~rdâg~~' _a pedagogia _e o
dade de conviver com a· diferença é'fruto de. sentimentos de cu~í~~lo. trata~~~~-~ lgf#ú~~4~:-~·:adif~tefç~ :c()ip,o,· gusstões
discriminação, de preconceitos, de ,crenças distorcidas e de de po!í,tica. E:111 ·s~~ .cê~tro, estati~Ji~~ 'füs1p~sã~ d~- ~1~~tiçla-,
estereótipos, isto é, de imagens do :outro que são fundam:en.., d~e di(ere,nç·~;c,d#b)1~04#ç~9:·,tiçrgri11t,a:c,1foJ,~X~
da 'i~fJfp
talmente errôneas: A estratégia ,pedagógica correspondente 11t~nej_ame,~to d~. úqi :S~rrícu.lo _ e..: de·~~ p~q~gÔ~i~4~-,<lif~~
:e r~nça seria: çomq_ a' i4~.11iiclad,e.,e a cliferénç~:~ãç,i?r0°~µiid~s7
consistiria• em -"tratar~' psicologicaní.éhte. essas atitudes -ina. .
! Quais são os mecanismos e as 'instítuiçõês" qÜ~ \st~o 'á#vé:l,'.'"
dequadas. Como, ó tratamento-preconceituoso e, discrimina-.
mente envolvidos_na criação da identidade e de sua fi~~ç-ã~?- ·
té~ft<?, ~o opt;q é ulll. 4~~Y~? çlç, 590.clt.1~~' _
Gt)?eg~gpgic,i e, e>,_ currí-
~~l? ;çiey#~i~ ,Prop9r~iÔnar ;~tjy{~àa,~i~:_ ~xirqídoi ~ Pf()Ç~~~ _, Pára iS§O é:~FU:Çifil ª á,4oçãode uma te,o,ri~ q~e, de~cr~~ª· e
s9:s: de S9~.sqf~pti~açã() .q11e,_p'é~itt~~e1:11_ q~e ~~ e,s-tt1d~nt,~s .~ e,xpliql.le, e~ pr9c,e,s~q ,de produçãp, ç,lajcl~3.1tidade, e,cla dif~rença.
º,~, estuq_~nh~ tp.u~asse111 su~s atitu4~s,, P~a ~ss~_ab,orcia~~111, Çma esµ-ªt~gi~ que, simplesmente a.~ita e:reconheça o_fat~ da
a! ,d,is9rimi?:1ação _e _o, 1~r~~o:nc9ito_ ,sã<{_ ,àti,t1;14es; pslc9ló~iccis çli:vernidacle, tprna:-'.se inçé:lpaz; .defomecer, os instrumentos para
tn~B~OP~}a1~s.,e _ de"e,m, re~~b.er_ t1111 trâtáll'l~nto que,_as ~orrij a. q:uestionar.precisanie,nte,osmecanismos e as.instituições que
q~
Pi~~in~ç~ $111Pº,: e~e,rfj~'r,01s,' c~q,qrai~,, ,d{~~~ti~~çge~,são fixam as pessoas emdeterminadas identidades culturais e que
Y,s_tr,at~~j~~ ,sompps llys,se ti:pq :d~ apqr1.ª~~1?·, _ -- as separam por .,meio'. dai diferença •cultural. Antes de ·tolerar,

98 99
respeitar e admitir a diferença, é preciso explicar como ela é tiplica, prolifera, dissemina. A diversidade é um dado-' dana;:.
ativamente produzida. A diversidade biológica pode -ser um tllreza ou da.cultura. A multiplicidade é um111ovimento. Adi-
produto da natureza; o mesmo não se pode dizer da diversida- versidade reafirma o idêntico. A multiplicidade estimula adi~
de cultural. A diversidade cultural não; é,, nunca, um ponto de ferença que se recusa a se fundir com o idêntico. Como diz
origem: ela é,. em vez disso, o ponto final de um processo con- JoséLuis Pardo:
duzi.do por opei:ações de diferenciação. Uma política pedagó- Respeitar a diferença não pode significar "deixar que o ou-
gica,e .curricular daidentidade-e da diferença.tema obrigação tro seja como eu sou" ou "deixar quê o outro seja diferente
de ir aléni.das benevolentes declaraçõe.s.de boa vontade.para de mil11; tf11.como eu sou diferente_{do outro)"; mas deixar
- que o outro seja como eu não sou, deixar que ele seja esse
co111a diferença~:Ela tem que. colocar no seu centro uma teoria - outro que não pode ser eu, _.que eu não posso ser~ que não
que permita não.simplesmente reconhe,cer e celebrar a di:feren- pode.ser um (outro).eu; significa deixar que o outro seja di-
ça e a identidade, mas questioná-las. feren~e, deixar ser µma dif~r~nça que n~o seja, em absoluto,
diferença entre duas identidades, mas diferença da identi-
'Por'outro lado, os estudantes 'e a.s estudantes deveriam ser dade, deixar se~ uma outridade que não é outra "relativa-
estim,ulados, nessa perspectiva, a explorar as possibilidades mente a mim" ou "relativamente ao mesmo", mas que é
de perturbação, tr(lnsgress~o -e subversão. q~s i4entidades absolutamente diferente, sem relação alguma com a identi-
dade ou com a mesmidade (PARDO, 1996: 154).
~:X:i.§~e~tes. ;ç>e que.,p:ipdq se m>µe desestabilizá~las, de,11upci-
ando seti-caráter construído esuaartificialida.de? Um currí- Essas poderiam; ser as linhas gerais, de um currículo e
c,µ1,9; é-.~~~,P~4ag~gi~-q~ .•dif~rença: çle,y~rj~n1_ser 9apa~es de uma pedagogia da diferença, de um currículo e de uma
~brir p:-ca,~po, da ide~tidadé "i:>·3!~-.a~-, es~até~iàs qµe ~erdem a pedagogia que representassem algum questionamento não
.e
coJ<>c~~ ;se~ pon~elrmerito suá es~alJi]jdade em' x:éque: ~ibri- apenas à identidade, mas também ao poder ao qual ela está
~ismo.~-. n<?trlàdis~o; _· :travesti~in~, é~.aiµ~nto· de. fronte~~ª~· estreitamente associada, um currículo e uma pedagogia da
Esti111ulâf;etn o
m~téria de id~tiúd~1e, ~i11péns~do e oarrisca~ diferença e da multiplicidade. Em certo sentido, "pedago-
d~~}>i11e~piorad<>-e'o a111bíguo, en1v~z'.à~ consensual e as- do gia" significa precisamente "diferença": educar significa
se&11fado,' d~ ~conh~cidQ ·-e. do· assentado.' Favorec~!? i e~fim, • i13:troduzir a cunha da diferença em um mundo que sem ela
tóda expêrimentação·que torrie dificll :o ·retomá dú eue·dúnó.s s6
(
limitaria a reproduzir o ,mesmo e o idêntico, um mundo
ao idêntico. - , -- - - ,. parado, um mundo morto. E nessa possibilidade de abertura
Aproximar - aprendendo, aqui, uma --lição da chamada para um outro mundo que podemos pensar na pedagogia
"filosófi~ dâdiferença''~adiferê"nça do'múltiplo êfoão'do di- como diferença. Dessa forma, talvez possamos dizer sobre a
vêrso'~Tâl corho ôêotrê'ria âtitniétiêâ, omúltiplo é'sérriprê uin pedagogia aquilo que Maurice Blanchot (1969: 115) disse
processo, uriiá operação; uma' ação; A diversidâde é" estática,
1
sobre a fala e a palavra: fazer pedagogia significa "procurar
é um estado, é estéril. A multiplicidade' é ativa,:é úm 'fluxO,;é acolher o outro como outro e o estrangeiro como estrangei-
produtiva. A multiplicidade é-uma máquina-de produzir dife"" ro; acolher outrem, p()is, em sua irredutível diferença, em
renças ~ diferenças que são irredutíveis'à identidade. A diver- sua estrangeiridade infinita, uma estrangeiridade tal que ape-
sidade limita~se ao existente; A multiplicidade estende e. mul- nas uma descontinuidade essencial pode conservar a afir-
mação que lhe é própria".

100 101
Referências
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sujeitq ,aptó~;stistentável 'que ~~~: rio ·centro _dariíetafísic~ .?ciden-
~t' pós~câttêsfr1na.'N~..<lisc~q}tí'. êriti~afémWs.tá e a~·crítica
c~lturaf j#ti~êtiçtaçl~ pçIWp:~i~~iils{ ~êrr.i~\st{,d~~tàp~q9: 9s.'iWô:
cess<;>s.ipêonsêi~ntes -~~f.q#jiãç~ôH~: s~bje#VÍda4ê,' _colác~dô~se

~~~,~!~~~~íif~~i~ti:~:.:t
suá ª· un: "eu'' '#í~f
vez,, e~i~tê~Si<t·1e. ~~eJir,~n!~,p~rf~~ativ?.
'ft~m~se· del~~~1?,~ ~~;~#~,·h~i~ont~~ió~:#'s~~s~-~~~~~~4c~â-
lista das concepções étnicas; raéiais eriációriàis dâ identiâaôe cúl-
ttiral e da ~'política da locctlizaçãd."; _algumas das concepções' teó-
ricas mais ~~ginativas :e radicais sobre ,a,questão da subjetivi<:Uk-
de e daidentidadei_:Onde,êstá;,pois,•·anecessidade deimàis'uma
discussão·sobre;a "identidad~'!?_.Qtiém;precisa-.dela?:,,
Existem duas formas de se responder a essa questão. A
primeira consiste em observar a existência de algo que distin-
gue a crítica descônstnitivaàqtialniuitos 'de·stes·conceitos es-
s~~pi<ll~$t~s ; tê&' si~o '.'su15fu~#4ds. 'Piferê~t~in~ritê 'dâq11elas
formas de crítica queobjetivam superar conceitos inadequa-

102 103
dos, substituindo-os por conceitos "mais verdadeiros" ou que da política., Por "política". entendo tanto a importância. °7, no
aspiram à produção de um conhecimento positivo, a perspec- contexto dos movimentos políticos em suas formas moder-:-
tiva desconstrutiva coloca certos conceitos-chave - -~-
"sob rasu- nc1s,,. do significante.. ''identidacle!~:e desw1 rela.ção:primprdial
ra". O sinal de "rasura" (X) indica que eléshãõ servem mais.-:- coml.UJ1.a.po,1Hic.a daJQc~lização; qm1nto as ~videntes dificul-
não são mais "bons para pensar" - em sua forma original, não cla<les :e it?-stc1bihdélcies qu~ Jêrr1 afet_ado todas. as, forITias ·. con-
reconstriiída. Mas uma vez que eles não foram dialeticamen- tem,porân~as .d3: chi:n11ªdª _''pplítica. de identidade". Ao falar
te superados e que não existem outros conceitos, inteiramen- em ''agênc,iª" não;qu~r,o.~xpre,~s,ar nenhµm:desejo de retomar,
te diferentes, que possam substituí-los, não existe nada a fa- a uma:11:o_ção ~ã() media~a e transparente do sujeito e.orno o
zer sêhãó ·éô?tiiiüar a sê pêri.Sâr ;corii eles '~'embora •agora em ~utor.êentt~do·.da· prática, social, . ~em.·tampoucó pre,tengo
suas formas' dêstôtalizadas' 'é déscoíistruídâs; 'nãó se tfabâ..: adotar uni~ abordagem :que ''.coloque o ponto· de v1sta do su-
lha~do'inaisn0parádigipáno.1ual e1.es for~m originalmente ~a
jeifo :origem d~'todâ,historicigade-'que, em. suma; leve a
getádos (~L,· 199$f" As"dúàilinlias cruzadas (X) que si- uma·cónsciêÍicia _transcendental" (FOUCAULT, 1970: XIV).
n~Hiam . q~ê,; eles .est~o.·êan~i,Iados permiteni,-.ae;rorm,rRcrra- <'· Co~cordo comJ{oucªult qµando diz que o que nos falta,
dé>;Kal, ·q1k eles continúem â·ser lidos.: Dérrida despreve e's'sa neste caso, ~ão ~ "uµia teoria do sujeito cognoscente'', ma~
â~qrd~gem,cd~o. "p~ns~11do n0Ji111ite" /d~tr1d :'pênsindo 110 '.'µtnaJçoria ~a práti.cci discursiva,,.. Acr,edito, entretanto, que
i~tê~alo'·',' como. unia. e~p'~cie -~~;escrita . dupfa. ·''Porfueio o que este d_escentramento exige-,-: como a evolução do traba-
des.5,a esc~ita-au~i~, pr~êi~ame11~e· e~tratific~d~, de~loêâda ~ 11:io,,d~. Fc,:g.c~:~iµH claran::i~nte wost,ra _-:-.~.·não um ·ªbandon,o _ou
desloêa(fora, ·ª1:en10~ :t~tnb~rAfy.~rc;~r ô' iriteryaló e#tre i11- r abo,ição, ,ina_s :!lm.a r~ç9nç~ptuªlização, 4P ."s,uj eitp" ~ É preci-
Vé~são 'ciu~
tofn~.baixo_aquil~ (lué:.ira. álto. [...j' ~rt1er~~11ci~ ~-.ª, so_pensá~l9, ~µi,~t18:HQ}{~P,P~k~P.71:,d~~lopª~!,~ o,ll,,dy~ÇÇJ;J,t,rªQª":
repenti,na'd,e' uníilO\T(): '.~oni~it? '~ 1*~.11ão: s.ê :deixá .mkis ~. q~e no in~~ri,or elo pai:adig~~-- l'a[~P~ qu~,é,n'1:'.t~_!JJa~iya 4frear-
j aníais'se ,deixo~1--s~1?s#rr pe~o re~inle :a11tep<x',': (I)ERJ{IDJ\,, tfcu_lar; ,ª· r~J3:ç~9:,Çntt:ç·; ,s,u,jeitºs,: ~,;pr,~t,\çJ!S,:gi~çg,r,s,jyªs qt1ça
1~-? I,: A2). f\jde11tida1e {U111·4~~s~s ·~º~?-ê.itos:q~~ .9perruh ''$9b questão da identidad~ ,7 QU-ll!~.lpg,r, ;l:l, _qµ~s,t~C?-}la. frle,lltijicq-
nJSura'', VFt aj9:·,entr~: -ci)iivem â: f~~ij~~çi(l: -úm~ 'i,qeia
AJJ~if ão'.i ç~<?_, ca_so se prefira enfatizar o pr<)cessode.subfrtivação (em
q~~ ll~;t)' Pº47 s~r pe11sM~, d~ torro~ ~11t~gá~ was, '~e1A a qual ç~r- çz
f gas P,f,~tic~s discursivas\e' polític~ -~e~xbhisãoqué ·essa
,},·,·,, ·••-·.: ;.C,' '.'' .• : .., .. , .'

a
'•<'.',.,..... ,.:-.,,·,,·-..- ,·,,, •; .... , .. ,,·- •·; .. :•··•··,•·;,.:':.·'•·'•"··,' :'; '';• .•: ·, ;

tas qui$~f>~s-chàv_~ pã:o, _pq~eni


- . r,:i' .-.~:-.
./';_)~:§)'.;:;.__ :_.·: :,-
s,er,s~q11,e,r,pe,11saMs~
-·, . , ,··..
'·•<;1.i;
.- -. ' .. --
·:"e':·! ;·_)i'.'i:;·),:;,-, s:qbj~~ivação, parece üjipliéaf;v'olta ~--a'.parecêr.
,Uni segundo tipo de resposta exige que- observemos onde
·• :-Q •. c,011,e~ito _cle{'id~:t1tifiyaçijq~' ªçaba pqr,.sçr;urrtdos con-
e em relação a qual conjuntode problemas· eme.rge a irreduti~ ceitos. lll,enqs bém,des~nyolvidos .da- teoria social e. cultural,
bilidadeodoicohc'eito de identid<;tde.Penso quearespostà; nes~ quas_e tão ardilos.o:- ~mborapreferível - quanto o de "identi-
te caso, está errisua.centralidàdê' para:a questão da agência1:e
dac:l~.'~; Ele n~o .nos,dá, .cenamente, nenhuma· garantia· contra
as dificuldades conceituais:qu~rtêmassolado.o último. Res-
ta-:nos, buscar .compreensões itanto ,no· repertório-discursivo
1. '~Agê,npia'.: ~. aqui, .él t~~çh_.1çã<> 40.tefl1'.lotélgeI1~y''., élt,nplé1111~nte ~til~zad<> 11a Jite- quanto no psi.cànalítico, semríos limitármos a nenhum-deles.
o
r~tma ~é ~~óría:8:ocial ai~I()~~ax9nica p~rfdes1~nfü~ ele~e~tÕ,a!ivo. dél _açã,Õ indi-
Tratâ~se de unicampo:·semântico demasiadamente complexo
viduai. Cf: Tó~az tàdetÍ 'da Silva. Teó;·/a:é'~iturate'edi~caçâó. 'Úm vo~áb~lilrio
críticó.BeloHorizonte:, Autêntica, 2000:[N,T.]1_,< S: _ · para ser deslindado aqui, mas é útil estabelecer; pelo menos

104 105
O conceito de identificação herda, começando com seu
indicativamente, sua relevância. para a tarefa que: temos à uso psicanaHtico, um rico legado semântico. Freud chama"'.'a
mão. Na linguagem do senso comum, a identi~cação é cons- de "a mais relllota expressão de um laço emocional com outra
truída a partir do reconhecimento de alguma o~igem commn, 1;essça," (FREUD, 1921/1991). No contexto do complexo de
ou· de càracterístic'as que são partilhadas com ôút~os ·grupos Edipo, o conceito toma, entretanto, as figuras do pai e da mãe
ou pessoas, ou. ainda a partir de um mesmo. i~~aL E em cima tanto como objetos de amor quanto como objetos de competi-
dessa fundação que ocorre o riàtura:I,fechamento que forma a ção, inserindo, assim, a ambivalência no centro mesmo do
base da solidariedade e da fidelidade do grupo em questão. processo. "A identificação, na verdade, é ambivalente desde
·.E111,coritrasf~ CO111 o "na~aWs111o";d~ssa c1.~fin,tç~O~·ª oirtício" (FREUD, 1921/1991: 134). Em Luto e melancolia,
abordag~m discur~iya vê a ideritifiq~ção. qomo 1!111~ é,on~tf1:1~ ela• não é aquilo que prende 'alguém a um objeto que existe,
ção·, COl).1O. um pr~ceSS(? n11nca,,5f>~plet~<io, ,- con,1? algo mas aquilo que prende alguém à escolha de um objeto perdi-
sempre "em processo'\ Ela n~o é, :i.iun.pa, ?ºTple,tam:p.~e do. Trata"'.'se, no primeiro caso, de uma"'moldagem de acordo
determinada - no sentido de que se pode, sempre, ga- com o outro~\ como uma compensação pela perda dos praze-
nhá:. la" ou "perdê-la~'; no sentido'de que'ela pode.'sêr, se~- res:libidinais do:narcisismo primai. Ela está fundada na fanta-
pre, sustentada.ou aband<;mada. Embora :enh~ ~uas condi- sia, na projeçãoxe na idealização. Seu objeto,tanto pode;ser
ções detênninadas ·de.' e~istência, -o que-1~clu1 o,s ·:ecur~os aquele que é odiado quanto aquele que é adorado. Com a
materiais e simbólicos exigidos pahi'Süstentá-la, a identifi- mesma frequência com que ela é transportada de volta ao eu
cação é; ao' fim e ao cabo; condicional;· elá _está; aó ~m .e ~? inconscienterela ~'empurra o eu para fora de si mesmo"~· Foi
cabó alojadárta contingêrtciâ.'.'Uma/vez assegurada, elanao em relação,àideia de identificação que Freud desenvolveu, a
a
anul~rá diferença; Afusão·total entre 9 '~mesmo" e· o ','ou- importante-distinção,etitre{'ser,,>e '~ter" o óutro. Elase.com-
tro'' que elá'súg~:í•eé, na verdade, uma fa~ta~!ª de inc~rp-?ra- porta "como um derivado da primeira fase da organização da
ção {Ft~ud ,sém.pre fa.lou del~ emtermo,s ~e consumir o ou- libido,rdafaseorafrem,que o objeto:queprezamosepelo qual
tro;' comosveremos.emummomento).•' > , · ansiamos é assimilado pela ingestão,-.· sendo,·.dessa;maneira
'· ... ·.,··..' ·'.·: . . . ,i..J..·· . . . , ,· ..e.··.·.... ·.,.:·: . ·.-· .,·-•·, :.· ..'-: ·, '- ,-·.• . :· ,. '. aµiquilado como tal'~. (FREUD,J 921/1991: 135).; "As identi-
•.. Aid~ntjfíc~Çã() é, p~iS, Ü!Ill)IR~~$sp ~y ~rtic1J11f~;% UI]Íâ :fü.cações vistas como um todo'?, observam Laplanche e Ponta-
suturaçãô, úina:
s,ofüF~e~e~iri~ç~o,, c,~: A~(); ~~ê:l, ~lJP:~RBx~?·
1,i~ {l ?8~),, ~'n~c;> ~~o, :~e forpia: ,alguma, Ufl1; .sist~~~rela,qional
Há sempre ''den1asia~o".ou'.'mui~o.p6~~?,:'.~.U,111~_sobrede-
termiriaçãd . ou:'uma falta, mas; n~nc~- um- ~Juste--completo, ç9}~n~pte.,,C.()e)fJ.ste~,110, i~terjpr 1dell11la.3:g~l'.lçja comóo su~
uma totalidade. Como todas as práticas:dtf sigrüficação~ ela p,~f ego, . [~\lper,e'lJ], _po{~ien1~fo, 1eII1~11p~f-qµe diyer- sã~_
está sujeita ao"jogo" da différancei,EI~ ~bedece à ~ó~ica d~ s~s, ~Pn.Wtup,sâs;e g,e~qrd~!1t4~.~-.De ~i~il~~,P- ~~Q,icl~al f9pni
mais~que-um. :g tirtlâ'.Véz qüe{como-'riúinprocesso, a id~nti- ~ c9Pjll9.~to\l~ . ip~,n#ft_Ç€lQ9~~: CC>ffi 'iMªw·ç~lttu:ii,s _que .~ão, sã9
~eces~~~~ajçnt~. haqrio,nipso~t (p. 208). - · · ·
ficação opera por méio' daidifférânce~ 1ela,envolve·umtr~ba.:. :l i á• .! . ... . ' i • ~ ; . ' .: "-~ . . ;; :'. ;= ' -. '

Iho<discursivo, o Jechamento eca marcação ·de· fronteiras Não estou,sugerindo que todas essas conbtações.,devatn
simbólicas; a produção de "efeitos de fronteiras'\ •Para co11- ser importadas emblocp e sem tradução ao nosso pensamen-
solidar o processo,: ela requer., aquilo que é deixado de fora:-- to sobre-a-."identidade"; elas são citadas,aqui para/indicar os
o·· exterior que a constitui.', -
107
106
novos significados que o termo está agora recebendo. O con- uma certa correspondência. Elas têm a ver,, entretanto,, êo111 a
ceito de, identidade_: aqui desenvolvido não é,;portanto, um questão da utilização dos recursos da história,;dalinguagem'e
conceito essencialista, mas um conceito estratégico e posicio- da cultura para a produção não daquilo que nós somos;:mâs
nai. Isto é, de forma diretamente contrárià àquilo que parece d~q11ilo no qual n<?s, ~oma111os., .T,êm a ver 13ão tanto. com as
ser sua carreira semântica oficial, esta concepção de identida- ques!?es '~CJ_uem nós; somo~'~ ou "de.<:mde nó_s viemos'\ mas
de não assinala aquele núcleo estável do eu que passa, do iní- ~s
111:uito m~is :c~m ,quest,ões '"quem· nós podemo~ 110~ ,tqrnar",
cio ao fim, sem qualquer mudança; por todas as vicissitudes da "·como ·nó~ tetnos sid? repre~~ntados:' :e ~':c.9111~ ~ssa re:presen-
história.' Esta concepção não.temcomo referência aquele seg~ t~ção ~feta_·a fqJ:11}~; pqmo nós podemos n~pris:entar a1;}ó:s pró-
mento do eu que permanece, sempre•e já~ ,"omesmo'r, idêntico J?ri?(: :ItJ~st~m tanto; a ver,cqma inyenfão ela tnidição ,quaµ-
asimesmo aolongo do tempo.Ela tampouco se refere, se pen~ to .p9111 ~' pr6pri~. tradiQ~O, a qll~~ fla~; nos, _obriga11~ ale~ ;não
samos agora na questão daidentidade,cultural, àquele ','eu co- como, uma in,c~ssante r~i~~râç~o, mâs çomo :'o m~smo que se
letivo ou verdadeiro que se esconde dentro de muitos -outros trap~foqna',' (GILROY,;1_994)~ nã9-o'âs~im chamado "retomo
2
eus .-:-mais superficiais ou mais artificialmente impostos :e-· que à,s~ªíz,é's'\,~na~,tu,pa negq~iação . colti _nossaf'.~rotas" • Elas
um povo,, com uma,história e uma ancestralidade partilhadas, surgf,lll '9ª ,n~gaffvii;%~ão d?,, eu, .111as '~ n~tµr~za nec.essaria-
mantém;em comum"• (HALL,: 1990):; Ou seja~ 'Úffi eu coletivo 111r111<~ Bçciop~l desse proc~sso_ ditninúi, 4e, forma ;algu- ~ão
capaz de -estabilizar, fixar. ou garantir o pertencimento .cultural rn~~-SlJ~ ;~fi~~~,i.a cV~.cvr,siva,.mat~~al.ou :P,o,lític~,tn~SlllO_que
ou uma''~unidade'~_imutável quese sobrepõe a todas as outras a ·se;,p~à,çâo cl~ 1,eg~p~iµi~11tp,, 91,t~~j'à, '1 :'',sutur,açãoà história"
diferenças~ supostamente superficiais~ Essa concepção-aceita P?r,ni~_Í(),4,:q11fil à~,iq~ntida4t·~,-sprg~µ1,.estej~,'i,•e~parte, no
· que;-as, identidades:não sãoriunca unificadas; que:elas ;São, na ~m~g~11"i[i~· :c~~--~iW
cgÜ).?- sünb,9lico), ,"~: :pqrtantp~,-~~rµpre, ~p:
modernidade tardia, êada vez, mais; fragmentadas e· fratura..; e,11}, p~e, c.ons~í?a pa_ fantasia 911, _ ~o me11os, no intêrior de
das;, que ela~_ não são, nunca~, singulares, mas multiplamente ~J:ll-~ampó fatititsm~ticp_. '! '. . ' •.
,, • ~ • • ~' • , • ., ,< .: ; ~ , : • \ ;·

construídas-aoJongo-de discursos:, práticas.,e posições,que po- É: 'precisamente: porque: as, -identidades -são, construídas
dein se,cruzar ou ser antagônicos. As identidades estão sujei- d,entro.e-nãofora do,discursoquenós precisamos compreen-
tas a,uma historicização :radical, estando" constantemente,em ?ê:.;las como produzidas em loéais·históricos e-institucionais
processo de mudança e transformação;, espyÇ,f;ticps, n,qjmeriqr;. c.l~, fcm.'!lações. e prMicas discursivas
-f tefi~allÍÔS?i11~ula~;âs' di~~lissõ'es' sôl>te'. idêntidage a. t~',- específicas,,; ,por. estratégias e :iniciativasriespecíficas. Além
f
d():S á~uele"s ~f?ê~.SS()~ e -~rátic'a.~ qu~ êtny~f~ba.clo ó 'c~~~ter disso~; elas ,eme~gem ~oi~terio~ ~o jogo ~e'tn~dalidades espe-
réiativ~lli~n~d J:'-,{~t~bélêcigo'''.d~ ;~~ita~ 'pop~fa~?~t ~ /ultti~ cí~c.~~/~~-p~d,e~,e' são;, ~~~i~,'~~is .º ~ro~~to,da inarcação da
~~~= õ,SP~~~êis.Bs;,a~;gl~~'~lif~~ãó,, . q~~i,s,:~u_a~giiiti~nt~~i~~
º~ d~{ere:#ç~ e\q~,éJ(clJJ~A9;4q;q~e:o~,ig11o·~e µµ,idade idên- µ#ta
d5iribidefu c&ili â rnod.~r11idade(~~L;' 1~~6), e :~;s pr9~f:~S()~ ti~a,.;_µ~t4ffllmen.te. ,c,ogsfüü(gB;,: ele -uma tidentidade" em seu
de migração forçada' ("oh "livré}qlie.têm'sé'tôriiiíddúm'fé~
nômeno;global:do assim chamado niundo.pós;..coloniàl. As
identidades parecem invocar uma ,origem que residiria em
um;passado-histórico cOm o qual elas cdntinuariamamanter
. fnhos) :d~:p~Í~~r~,
i~~?[N:T.J:, ,
J~~aciuzí~~f~: ~ntre ':;oots'' :<r~í~i~) e.-''rCJ~t~~i• :(rotas, cami-
; ,. •· · ·· ' ·_ ·

108 109
significado tradicional.~ isto é; um~ me_s1:11idade qu~ tudo ~n- Assim, as ''unidades" que as identidades proclamam.são,
clui;.uma identidade sem costuras, mtemça, sem diferencia- na verdade, construídas· no interior do jogo do poder e da 1ex-
ção .interna. clusão; elas são o:resultado não de umatotalidade natural ine-
Acima 'de tudo '..e de forma diretamente contrária àquela vitável ou primordial, mas de um processo naturalizado, sobre-
' ' ' ',
' ' ,' ,'

P,efa qúa! elas são: consta~temente. invocadas, as ident.idades


.· ',' ' .·· '
determinado, de "fechamento"-(BHABHA, 1994; HALL, -1993).
são êorishuí~as r.ormeio ·da <l,ife:rença_e não f?!ª de_la._ Isso Se as '_'identidâ1es'' S'{pódéfu ser lidas::ª co~trap~fo, isto
impli~a .º reé?~h~ciinento ~adicah?-ente P~fÍUrbad?r de_ que é,_ não ~0111.ú aquilá~que füc~ jogo da_diferenç~·ern úm ponto o
é: apenás: p:Ór' ~do éfa ·r~lação c~m .º' (?utro, ~à- r~~áção· com de orig~~ e estabili~ade': n:ías corno aquilo que é éónstruído
aquilo qm~· 'nãó é, comyrecisátnente aqt1Hoq1:1efalta, com ria âiff'éra~ce .ou P,,or_ meio' dela, sendo con~tanteme~tedeses-
aquilo·•qué tem sido: chat?ado__ ?~s~u:.~x,t~r~?r con~ü~u~i~o, tabilizadàs p'or
àquilo.· quci deixam de fora~ como podemos,
que o ~ig1üficadó '"positi~_o" de· qt1akjJ~~r .tertno - e,· assim; então',: cdmtreê#d~r seu 's1~nifitadd? co~opôclemos teorizar
sua''idetltidade" ~. pode·ser con~truí1o::(])E~DA, _1981; suá e~~rgê~cia? Avtar ~rah (1992: _143}, em seu_importante
l;ACLAU·,· 1990; BUTLER, .19~3): <f\s i1é11!icládes 'P?.~~tn artigo "Diferêhça~ diversidàde e diferenéiação'', levanta uma
funcionar,_. ao: 1b11g~ de. toda ~.·.sua ,história, COlllO pcmtos 'de sériêôe importantes' qtiestôeá qutfos'sês novos·modos dé ccm-
identi~éação e ,a~e~o· 'apetuis por_ êau,s~ ,' de SÜ~. c~pacidad~ ê'ebefa identidadê'dolocáni: . . . ..
pa~a e,x,p:iuir,_ parir de_ix~r 4~, r
o~a, p~r~. ~.ansfo1;1;1a.r ~ çH~~ren~~
.,>r:·,"'

Apes~r ~~':F;non, é ainda neçessári_o trabalhar mu_ito sobre a


eÍJl "~xte~~r;t~m abJeto. To~a1cl~11tida~~ te~, a sua.. ma,i-?em , que,stãó de conw
o"outro'',~aciali~ado é constituído.no .do-
úm _ex~ess?,~l~? _a mais. ·f.~4ade,
ahoi1fo~~11~~dâcie ~tem~, miniô·psiquiéd.· Con;io ·se· devé· analisár··a subjet1vidàde
'pós~colónial'ém.l süá relação fom'éi gênero :ê com a tâçá? O
qµ:e ?-~êrmo' "Ülentidade'_' assurrie C?~érf,m}da~i~nal_ n~~--é ~~ª
·privilegiamento ;da,fdifeten:ça sexual't.e daiprimeira infân-
forma• riatura1;···111a~· uma forma con~~í1a ~e fec~a~ent~,:
toda identidàde tem necessidade daquilo que lhe "falta" ~mes:.:
cia na ,psiçat1ª1is~,Hfuit~:- seu valor :expUç~tiyo para _c,om- ª
.p,reçt1~~9 ., ~il.~. _qi,~~µ~ões_psíq~icas de/enôn;ii~µos soc_iais
mó que· esse outro que lhe falta sejau,moutro silenciad? e inar- t~is
'9~~0 óra~iswf?,?: qu~fô§~ a "dif~r~nçasexual" e 'a De
ticulado. Laclau (1990) •ar~enta,- de forma,persuasr~a; :que ordem sociâl ;se: ~tticulam 110 processo ~e·fünnação dó su-
"a constituição deuina:identidade socialé,um ato de,poder'! ;! • jeito? Em outras·palavras~ de qúe-fonnase·devêteorizar o
· vínculo entre a realidade sociaL e a realidade .psíquica?
Ypoh{se uma identid~dcb1Bóhsê'guê·se àfinhar é_ àp~riâs pór (1992: 142)
mêio ·da repressão daquilo que·a·ameaça. -Demdamostrou
como a constituição de_ umaJdentidade.e.~tá s~,:npr~ p1:1seada .Oqµe.~~.segue ~,µrp~t,el'.lt,~Jiycl.1cd.~ cqmeçar a,responder a
110 ato d~,exp\ui(3:lgo e: ~e e.~~1:1~~,le.9~rum,3: yi9le9-tfl~~j~f~r-
1
yst.e . conjµl}tC> ~~í~~co i,n,a~; p~~pad9r .~e, ques_tões.
quiá e11~e ,os •. d?is. pofos. re~1:1Ha1-1~~~ •. 7 hoJiwlilfn;i~\~er. et~.
' • •.• , : . • • .: .. ' ..; ·. : -~ -~ \ -. • .a· ~- ., • . • ..• ::~ .\ -,-3· , ., :, ··-,- •-.\ .'. :•···· ., '• ' .; •. , . . ,· .· -. .

"~.gtliÍ? qll~ é p~~hÍiar,acfs'~~~~o ténnô:é~~~'~i~t~a.~zi~o·~ .r;:t;Emmeus\tr~balhos\recentes-sobre·:.este tópico :fiz uma


em'óp'ósiçãô à essehcfalifüi<i~ôo primeifo ~ à função de um apropriaçãô ::do, termo·. ''identidade~t; que; não: é; certamente,
acidente .. Ocorre a mesma coisa com a relação negro/bran- partilhada pôr rhuítâs.pêssoas e pode ·ser mal ccfmpreendida.
co, _11a qual o-.branco é, obvia~ente, e_quival~11te ats~r h~- Utilizo o<teririo1 ''ideritiqade'? ;para significar o ponto de; en-
m8:n?,,· ''M;17~p.e('. e '~11eg~a,"s~o_, _a~Sl~.', "marcas . (~~to e_, contro,,o ponto de sutura, eritre,porumlado,,os discursos e as
térmõshlarêáôós) em' contraste· com'os'terrrios °,~P -~~t~~~
e
dos "homem" "branco" ·(LACLAU, 1990: 33): . .. práticas que tentam nos· "interpelar',', nos falar: ou,nos convo".'

110 111
car para que assumamos nossos lugares como os sujeitos so- clássicas sobre a ideologia, reunindo emumúnico quadro ex-
ciais de discursos p~icularés e; por outro,lado,os processos plicativo tanto a função· materialista daddeologia na reprodu-
que produzem subjetividades, que-nos constroem como su'.'." ção das relações sociais de-produção (marxismo) quanto a
jeitos aos quais se pode "falar". As ·identidades, são; pois, função simbólica da: ideologia na constituição dô sujeito (em-
poritos __ de apego- temporário às posições-de~sujeito que as préstimo feito;a Lacan). MicheleBarret deu, recentemen-
pr~ticas qisc,prsiva~, ,ccms,~oetrl gar~-m~s (~{\Lt,_,, 19_9 5). Elas te, úma importante contribuição para essa discussão, ão de-
s_~o o resultad.o de umabein-sucedida artic11Jaç~9 _ou "fixa- nionSttár a ,"natureza profundamente dividida e con:traditótia
9ão·,:, do~ujeito:~~ ~uxo do. di~cupiÓ_-;aq~il9 _que S,t~p~~nHe- dó ârgiü:ri.ento ·que Althusser éstáva desenvolvendo~\ Segun-
~th,' ~tn ~~~ pf9~ejrg ~11s~i9;~ol,rf ',~~~ra'~:
,~liaµi~11 de,'~uma do: ela, ~'havia, háquefobnsaio,duas· soluções separadas; rela-
intersecção"_ (198 l:,J O~). "• U111~ teor~a da ideologia ,~~v,e, p<>- tiva~ênte :àô'di~cil 'problema· dà-idêófogià,· duas ·soluções
m~çar 11ãq p~lç)-~uj eit,o, iµas ppr _µ~a d~scriç~q:d~~- ~feit9-s, de tjtié, de_sdê êfitão,têrri sido'áti-ibúídas à dois diferentes pólds"
suturá~iPw: 'uin.i
descfiçâo, 1~,ef~tiv~ç~o. da jllÍl9ã,? ,sujeito :~o (BARRET,' 1991:· 96);'Não obstante, m.esmo que não tivesse
às estru~a~- designi:fi9~ç~o". I8:t9J,_a,~ Wentida~~~-~ão -~s_po- s~go.,b~riii~uêédido,--o, gnsai()' _s~~ré:·os.· _aparêl~os _•ideo!ógicos
siçõe~: qu~ o ~uji~to 6qbI"igado· aass11,fuir,, _ ~111qór~,~;~a~eridó" 1
de ~st~~o assinalôu.-~1n-triomento-altaín~nte:unport_~~te·des-
(áqui; 'a linguagem da filosófia ·da :c91,1~si~~~i~ acabà poi;, n-9~ sa·dis~ussãd:;·Jacq~elirif .~ôse_,' por. eiemplo,-1a~gum~nta_no
trair), sempre, que elas são representaçôef 'que areprésénta-
seu'livro Sexuâlityin the fie,!1, o/vt~ion (l 986)·q11e '_'a q~é'~ião
ção és~tnpr~ ~onstn1í4a.-aC> longo 4e,un1a "{alt~"_, longo de -~o da identidade e-- a forma como elâ'ê c'ôn:stituídae-mantida.:... é,
µm~; divisãç,'_a p~ir ~ô'. lugar do' .Outro, e .qué,-asMw, elas não
podem, nunca, -ser ajustadas ,7· idênticas - aos processos de
portàhtó,-a q~estãncentral por:meio da qual apsicanálise en-
tra no carripopolítko~~:,: ·
sujeito•que são nelas investidos:, Se uma sutqração eficaz do
sujeito alU11a rosição-de-s~jeito ~xi~e não apen~s 9ue o sujei- Esta [a.qüesfão\fa icteritÍdáde] é uma dás razões :pelas quais
a·psicanâlise lacanianàchegm.f--'viao conceito de ideologia
te)' s,ej~ "COllV(),ca10", n,:i~s,_q~~ -Ô sÜJ~ito i11yi~tana~uela posi- i de-Alth11sse11 e pQrn.ieio: dé :duas.trajetQlias: _ado.feminismo
ção; éntãôi~ ~µ~ração)~#.i ~Íie ser,pe'.1,1saq~9-~111?:uma articu- '-~ A~a, 8:ll~~i~.~; d9 9hW~~ ~,à,vi~,a ~tltel~ctual in.gles,a. O, femi-
iaçqp: e :nãq ;691119 uro: i?ro9~~sp-11,i,µlcL!yral. Is.so, por sua vez, ni~111?, porq1.1;~ a qu~,stão d~ fo.~a com_o os indiyíduos- re- s~
coloca, com-toda a forçá., a identificação, se não as identida- itóhlieceni a'si própr,ios como ril~sculiilõs ou·temiriinos e a
des, na pauta teórica. . - · , ·~~iij~ncia:-dê'qúêêles ãssfoio façam párec~ estar em úthâ re-
lação extremamente·•fündamêntal:com:as estruturas de de-
· ,. , :As >fêf~~~ribiâs, ª.?J: tê~m8 :~li~ -d~sêreve'_ •,()-: ''c~-~1t1a111ento'' sigualdç1q~;e,;sub.otdi11àção, que, o f~minismo s.~'própõe~ a
do sujeito pelo disctiisô~ "interpelação" _;'t{ósfázem1embrar P]::U,?,% P:Bm~~~? J??f91Ae.;~~~_lo,rça ?()1Aº.Hffi ,~J)~re1p9 ~c:leo-
que essa discussão. temuma pré~história: importante e incom- ·º'°"~,
'-· ,l9~1S?, xe,~t,1f m~ytt~J_~,1~1-RS,-, cl~- ld~l}tlfic~ç~o, e , f~n,t~sia
- ,·sexual dós' qúàis·'to<foi{iíós pàreêêmós particip~r, I1:1as ~ue
pleta· nos-argumentos.; qúe) fotam·provocados pelo ensaio, de fora do cinema, são admitidos, na maioria das vezes, apena~ 1

AlthussertOsaparelhos ideológicos:de-EstadoH{ i 97l)JEsse 119, ,4iyª~ [do;pSi(i"i;i~Usta].. Se a ideologia~-- efic~ é porque


ensaio introduziu dco]}ceito:d~ 'interpelação' e aideiáde que a 1 e_l,ª )~ge, f!Q~ ;;t:1íy~i~t1w1i~, p.1dipie;ntares <da ,i4en.tidade e dos
ideologiatemumaJestruturaespecular,'-numatentativa de,evü- ;,Jmpulsºª-P~_íq11_~ç9s.(R,QªJ;,)~~6: 5)._
tar o economicismo -e o 'feducionis:mo; das teorias, marxistas

112 113
Entretanto, se não quisermos ser acusados de abandonar discursiva por meio de uma estrutura de falso :reconlleci:-
3
um reducionismo economicista para cair diretamente em um , m,ento (p sujeit<>.é,a~s,itl),,~presentado C()IDÇ> sel1<:lo(~'f911,
. te do,s significad()s ,dos qúilis, n~ ·verdade, elê é Úm eféit~f
reducionismo psicanalítico, precisamos acrescentar que se a ·A interpelação· nomeia o mecanismo dessa estruturâ·-:de
ideologia é eficaz é porque ela age tanto "nos níveis rudimen- falso;reconhecimento; nomeia, na verdade, o lugar dó su-
tares da identidade e dos impulsos psíquicos,,quanto no,nível jeito no discursivo eno ideológico- o ponto de sua corres-
da formação e das práticas discursivas que constituem o cam- : pondência (1981: 101-J,02).
po social; e_ que ~ na articul!l:Çij() des$es can1pos mutµa:qiente ·Essa "correspondência'~, entretanto, continuava: incomo-
constitutivos, mas não idênticos; q11e_:se, situ~m QS proplemas damente não resolvida. Embora continuasse. à· ser usado co-
conceituaisreais.Q te,rmotjge,gtJ,çla,clet- qu~ surge p1;"ec_i~~- mo uma formá geral de descrever o·processo ·pelo qual o sujei-
mente no ponto de intei;secçªo entr~. eles~ é, as,si,m, o loc,a~ dfl to é "éhamado a ocupar seufügar'';·o conceito de interpelação
dificuldade .. Vale. a, pena apre,sce,ntar que __é ,in1p~oxáv,~l,. qµe estava sujeitóà famósá crítica de Hirst. A inteipeláção depen-
consiga111os, algum. dia, .estftbelecer esses dois constitui,ntes
dia - argumentava Hirst - de· uin recónhecimento no qual, na
[o psíquiç<> e g_social] co1110 e,quiyale11tes - o pfópriq inç~:µ,~-::
verdade, se exigia que o''sujeito", antes que tivesse sido cons-
ci~nte age como a :I:mtra ou co~o o corte e11tre eles, o q~e;faz
tituído ·como tál pelô' discurso, tivesse a capacidade de agir
cl9 i,nconsciente "um lopal de,,diferimento ou, adiarrtento_per-
confo_umsujeito; "Esse álgo qúe ãi11:da não é um sujeito deve já
pétuo d~ equiyalê11ciá'~ (f:I~L, 199,5), ID:~~ 11~9 -é p9r es,s~,ra-
ter as facúldaôes llecêssârias par~ realizar o reconhecimento
zão 9-ue,e,le, dey,~:~e,f a,~~nd9:1;1~~9.
Clllf(}COiistj~irâé1mo,um:sNeito" (IIIRST,·'1:9?9:' 65). Esté ar-
O ensaio:de Heath (198 l)nos faz lembrar que foiMichel
Pêcheux quem tentou desenvolver unia teoria dü"discurso de
gume~!º tnostroú~sê ~uítp ccm~incérite a'.mtlitos dos leitores
subsequent~8-de 'Altllus,ser, l~vand(), na verdade;todo o cam-
acordo:çoma pei:spe,,c~iya aJt];ius~e,ri,ªP.ª ~ q~ei:n, na verdade, po de investigâçãó à mna··11iterrupção' inesperada.
registrouofossojntransponí:vetentrea primeira:e a segun- ,. .'. \ ~ ~. .: . ' '. ... . ; .. ' , . . -

da metades do:ensaio de Althusser,~assinalando a~fforte au- ,.Essa,crít,iça_.ercl;;Çy]f~p.1~nte imp~e-ssionante, mas a in:t~r-


sência de Ul'.11a árticulá9.ãõ êoncêitu.al e11ti-ê a ideólogia e o rgpçªo,::;nesse m9tp.~ntQ,; .,qy. :toda ,investigação, mostrou-se
inconSCfente'' (ªI?Hº H~A-TII, .i:9~ 1: i 06\ P~che,11x tentou /prematura. A crítica de Hirst foi i:i;npoJ;t~11Je, ao mostrar que
"descre-veró :41.spµrso. e,111·.)µa relação. po,n:i q~: _ 111ecanismos t.~xlos o~ ~,ecanis.mos ~~e.constituíam o suj,eito pelo discurso,
p~los qti~is: o's 'suj.eitos; são, .posi~ion~doé:·(HÉATH, 1981: d~'
p~r_ meio mrtà'interp~l,ç~9 ep~r,~ei() d~ estrutüfâ especu-
101:;;l,02),: utilizando··o··conceito;foticaultiario.•·de:formação
~iscüts1vâ,':'~êfi11ida COill~ 'aqriil°,'que "d~têrmi[â() que pode
Ia.t4ofais~' ,récolllle~~entd, ~~s~dta., cl~ acordo com fase la-
éani~na do '.esp~lh~: 'óortian\o~iscô \ie pressUp?r um, sujeito
ª
e eleve. ser .~ito_". Nft in,teipi-~t~ção .1t1e_~~~th/~z ,dcfargu:men-
t~ de Pêche\\X:- · · · · · · · "' - · ·. •,. ·
Os indivíduos ·sãó constituídos 'corno sujeitos pela for- 3. F,:m ipglê~? ,t;1,11isrec9gnit~911'';, equivale11t~_ ao fyancês "méconnaissan~e~•-, tradu-
thação discursiv~i pro~essó d~ stijei~ão ~<> q~al [aprovei- zidos,. an.ibo~, ~!11, geral, na literatura psic~alític3:, por "~esconliecimento'\Por
tando a ideia do 1 caráter especula( dá - constituição da considérar quê'ó portuguêf "~esconhecirriento" não expressa: á idéia de "conheci-
subjetividade que Althusser tomou emprestada de Lacan] mentd' oü/'reccinhecimento,,,ilusório ou falso que está contida na palavra inglesa
o indivíduo é identificado como sujeito para a formação e na francesa, preferi..traduzirpor:-~'falso reconhecim~nto'".

114 115
já constituído. Entretanto, uma vez que,ninguénttinha pro- declará-las cegas, surdas ou idiotas, simplesmentépara negar
pôsforénunciar à ideia do sujeito como sendo c~nstituído no que elas possuem as capacidades de sujeitosfilosóficos;que
discurso/ córµó Ul11 efeitf4o: discurso, ainda. éra necessário elastêm os atributos de sujeitos cognoscentes,independente-
mostrar por meio de qual mecanismo - e de um mecanismo mente de sua formação etreinamento como sujeitos sociais".
que não fosse vulnerável à acusação de pressupor aquilo que O que está em questão, aqui, é a capacidade de autorreconhe-
queria explicar - essa constituição podia ser efetuada. O pro- cimento. Mas afirmar que o "falso reconhecimento" é um
blem<:l ficava adiado, mas não resolvid9; Pelomenos algumas a~ibuto puramente cognitivo (ou, . pior ainda, ''filosófico")
das difiçuldades pcl,r,~qia,m su,rgir do fato d~ se. aceitar ,s~m significa expressar um pressuposto sem qualquer fundamen-
muita di~c1:1ssão a pr9posiçãctw:t1 tanto sensacionalist~ de Lct- to. Além disso,, ,é.pou.,ço prqyável que ele apareça na:crian-
can qy que tudo q\,le é ccmstitµt_iyo do sujeitQ.não. ap~.nas ocor- ça de u111,~◊ golpe, . qªractyrizand9 um momento .claramente
re por 111t!ip. des,se mecanismo de r~sofoçã<;>, eia crise; ~dipiana, marc3:clo por. urri "a11tes'\e por um "depois".
tllas oc.orrenum.mesITio inoII1en,to. ,A."resqlµçijo'' .• 4a cci,se . :·Parêceqmfostennos da,questão foram, aqui,inêxplica-
edipiar,i~, .11-ª linguagem extrem,a.i:µ~nte '?9ndensada dos _evan- veltnentê; ·fomiúladôs de· uma fornía tim tanto exagerada.
g€?listas l~~antanos, .• era.idêntic~,:T.x;<)corria por meio 4~.um Não precisamos attibui{ao "animalzinho" individual a posse
II1eCé3:nisrnp yquiyalent~ T. ~ ~:uç1niss~~J Lei dq Pai, à co~s.oli- de um aparato filosófico completo para explicar a razão pela
ga9~() .48;;~ife!~,nça .sexual, à .~ntra,da na F,11-gu~gell?:, à fq1111a~ qual ele'-pôdeter a capacidade para:fazer um~'reconhecitnen-
Ç~Q, go inco11-sqi~nt~ e: (após J\lt~11sser) ,~9. ~ec.rµtameµto}s to falso" dé si próprio no-reflexo dó olhar do outro, que é tudo
,M~
id,~9logi,_a~ Pa.~~,,~ca;is ;spçi~~~d,es oci4çptf!t~ ,Ae1 c~rita)if o de'queprecisarnospara colocar·em rnovinientó a·passagem
A
mo.tarciio'! i~~i.a ma.lsc cciwp~e)(a de .~:111 s,uj eit()-errkprpê~sso entre o Imaginário e·o•Simbólico, para utilizar os termos de
fiéava perd,~4a n~~s~su ,9~~·cutíJ~*·iw1d~N~ªçq~S. ~: :nes~a~ Lacan. Afinal,'deacordo comFreud, para que se possa esta-
equivalêncfashipoteticaménte ~Iinliadas (serâ que·o sujeitô'é belecer qualquer relação .com um mundo externo, a· catexia
râcializa:dô; naciotiâlizâdb! óü êonstitúído'êo:mô'úm~süjeito básica das zonas,de atividade<corporal e o aparato da sensa-
emptêendedoré lil:ienfffardio fafübéín'iiêssefoômerito' [de re~ 9ão, doprazeredador.deven:testarjá "emação'.';mesmo que
solução da crise edipiaria]?}. / em uma forma embrionária. Existe,j á, uma relação com uma
fonte de,prazer{a relação com a Mãe no Imaginário), de for~
... ~~f pfóprió. Hfr~t p~rect~. prys~~ppr:"ciµn?, ci~~ fytic11:r~:~ maque·deve e:xistirjá algq que_é capaz de "reconhecer" o que
~arr~tt 9nW~91+. de:·,,~~~an d~ .~\W\i~.s:~r" >~ntretapt~, qpmo
é·prazen O próprio ~acan,observou; em seu ensaio sobre o es-
9i~ele~ ''o'.coll'.lpl~?(O e:~~i~c-i,dypro{~s·~o de·foT1ª?fü)d<!.U111
tágio do espelho, ;que "o •filhote do homem, numa idade em
âduÍto htiinano' á partir de 'uin' '~ntma1zinho; nãb 'éórrésp~nde
que, por um curto espaço de tempo, mas_ ainda assim por al-
necessariaín<!nte ao processo descrito pelo mecanismo da
ideologia de Althusser [... ]amenos que a Criança [.. ~] per- gurg J~m~(), J . superado . eip int~ligência.instrumental pelo
ch~Tp~n2f.Járeconhece nã'.ô obstante corriô Jalsua imagem
mart~ça·na.tas~ap·:esp~l~?l~c~niaúa, ?~··a ~e~?s;ci~:e,·p.9s fo.r: no 'espel~9'\ ,. . - .. ,

jetn()~' pe_t90, 9ª ç~i~µ2a· R8mJ1r~sslii?Ôst9s, }t1tfr9PQ.légicói" ~ ; ::' , ·:: ••. : < , ·: . : \

(HIRST, 1979)~· Sua .resposta a isso é um tanto. perfunctória. Além disso,a crítica parece estar, formulada em uma lógi~
"Não tenhonenhumproblema com as{~rianças,e não'cj_ueto ca binária: "antes/depois~·'/'ou isto ou aquilo"; A fase do és-

116 117
pefüo não é o começo de algo, mas a interrupção~ a perda, a do tipo "antes e depois do sujeito", desencadeada por alguma
falta, a divisão-que inicia o processo,que-~'funda'' o,sujeito espécie de coup de théâtre, mesmo que - como Hirst correta"."
sexualmente diferenciado ( e o inconsciente) •e isso depende mente observou- isso deixe sem solução,a problemática rela-
não. apenas· da formação instantânea de alguma capacidade ção entre o "indivíduo'' e o sujeito (oqu~ "é" o "animalzinho"
cognitiva interna, mas da ruptura e do deslocamento efetua- individual que ainda não é um sujeito?).
dos pela imagem que é refletida pelo olhar do Outro. Para La.;. Pode-se acrescentar quê a explicação de Lacan é apenas
can, entretanto, isso éjá uma fantasia:- a própria imagem que uma dentre as mufras:teorizaç'ões s~bre a formação da subje-
localiza a criança divide sua identidade entduas. Além disso, tividaclê que levam éµi contâosprocessos psíquicos tnêons-
esse momento- só tem sentido em relação com a presença e o ~ie11~es êârelaçã.o cdtn oouiro._Alémdi~so,'agora que? ''di-
olhar confortadores da mãe, aqualgaránte suarealidadepara lúvio· 1ac~11iano'' .de -aíguill~ forma retrocedeu e_ não· existe
a criança. Peter 0sbome (1995) observa qué;-em "O campo mais: o· f~rte itÍlpulso .ip.icia(i;laquelá dir~ção dàdo 'pelo texto
do Outro", L~~an ( 19]7p) desçreve "U)J;l gos pais segurando a de fJ~us'ser,.a dis~uss~o-se aprêsenfa ~e uma forma um'tanto
criança,gicmte do espelilo". A criança lança um olhar em dire~ diferente. Em- sua recente e interessante discussão sobré as
ção à lllãe, çomo quel:>uscand9 .confinnaçã:o: "ao. se agarrar à otigens 'h~g~lia~a~'Aô .~oncêitô 'éle •"recóllh~cimento" àrites
referência daquele que o ,olha num espelpo, o sujeitoyê apa- r~f,~rido, .Pefer9~bo~~ ,criticà_ facân pela ''forma pe~a qual,
recer, não se.11 ideal do eu;)l1ªs s.e11 .eu id~al': (p. ~257 [242]}. ao abstráí-la'do contexto d.e suas relações com os ~utros (par-
Esse argumento, sugere,Qsbome~ ~,'explora a-indeterminação ticularmente, com a mãe), ele absolutiza a relação 'dà criança
queé inerenteJdjscrepâ11cia e.n,tre, pqr1umJado, atemporali"'." com sua'iriiagem"; tornando essa 'relação/ao mésmó tempo,
dade, da caracterização -:-feita;por Lacan - do .encontro da cri-;; constitutiva da''.'matriz' simbólica de onde -emerge um eu pri-
ança com sua imagem corporal no espelho como um 'estágio' mordial"~ Ele discute/ â -partir dessa crítica~. as possibilidades
e, por outro, o caráter pontualda apresentação desse. encontro dê diversas· outrasVariarites (Kristeva, Jés'sica Bertjamín,La-
como -uma cena, cujo ponto dramático está restrito• às:rela~ planche);· ás quais nãoêstão confinadas aó'.falso e'aliêriado re-
ções entre apenas dois 'p~rsonagens~ :,a criança e sua imagem conhecimento do drama lacaniario.· Esses ·sãó ·indicadores
1

corporar' .• Entretanto, como•diz 0sbome; das duas uma:·ou r


/ úteis. para
.
nos tirar do impasse
.
110 qual; sob ·os' efeitos
.
do "La-
isso representa um acréscimo crítico ao argumento dó "está- êandeAlthusser'?, ·essa-discussão•rios:tinhadeixado/quando
gio do espelho~' (mas, nesse caso,: pqr que o argumento não é víamos as meadas do psíquico e do disêursivdêscorregar de
desenvolvido?) ouissojntroduz uma lógica diferente>cujas nossas mãos.y/ ,
implicações ,não,·são absolutamente discutidas ,no trabalho
Eu arguriientatià que·F oucàulttambé111. aborda o iinpàsse
subsequente del:,acan~, que'hós fofdeixado·pela crítica: que- Hitstfaz deAlthusser,
1: dº,:
·~d,~i~ 'éi{,q~~}~ã~ :e,11§te.,' ~Íi,. mtd,a s~j~itÔ'~ antes; do
drama' edipíatio; êoristifuf úma leitura: exagerada dê Là_can._ A
mas a partir da direção oposta, por;assim dizet Atacando, de
forma enérgica; o','grandemitodaintêrioridade", e impulsio-
afirmação de que a subjetividade não está plenameht~ êõnsti~ nado por 'sua 'crítiéa tanto do humanismo quanto da filosofia
tuída até que a: crise edipiana tenha, sido "resolvida'?. não su- da consciência e'.por,sualeitura negativa da psicanálise; F ou-
põe uma tela efu branco; uma tabula rasa, ou uma concepção

118 119
cault também efetua uma radical historicização da cátegoria pela·•- discussão que ,Foucault, faz ·do duplo ;caráter .~>sujei"'.'
de sujeito. O sujeito é produzido "como umefeito" do discur- ção/subjetivação (assujeUisement) - do ·processode)fonna--
so e no discurso, no interior de formações discursivas especí- ção do sujeito; :Além disso, a centralidade da questão do:pQ..;
ficas, nãff tendo qualquer existência própria. Não· existe tam- der e a ideia de que o próprio discurso é uma formação regula-
pouco nenhuma continuidade deumaposição-de-sujeito,pa- tiva e regl.llaAa,, a,. entra,da :no qual .~ "determinada pelas (e
ra. ,ou,tra ou qualquer f<lentidade transcend~p~al entJ:~. unia po- consti~tjya da,s) rela9ões de .p9q~f; q11e permei~1p .º domí!}io
siç~o e.outra. Na perspectiv~ dé seu traball?,o "arqueo,l~gico" social" (1.1ç~A.Y, 19.94: 87), trazem a concepção qµe Fouca-
««
("'4 histórJa· da)oucura,. O nascimento ci{nü:a, 4s,pa1avras µlt tel11 d~ JOf,IllélÇ~O d,iscursiv~ para mc1is 'perto de algumas
úis coi~as, A ªWUf!Ologia do_ sab~r); osAi~curS()~ çphsí!oem -
por n;iefo de Stl~S re:gras de. fonp.açãC>, ~·,~e suas "wodaliq8:des
<lélS ciM~is~~ qu.Ê~t,9es,q1;1,e~ÂJthuss~r teptoll, g~s.cutir PºF meio
do :conceit9 <ie ''ideologia".:-:-: ~em,, <:>pyic1rnenfe,. s~u reducio-
de, e11unciaçã9" ~ posiç,ões-:çi~-:sµjeit<J:, ·~or mf!ÍS, c~11yinçentes ntsll}q (i~ çl~i~e, sµa~ ,q9p.ot~ç·õ~~ e~qJ?:C>Illicis,!as .~ ~eus :yíncu-
e o~iginais que sejamésses trah'1,lh9s, <:t·~rítica·que llies é, feita los. co,irl ;a~~erçqes, q.e y~rdade.
parece, a esse respeitq, justi~e.ada., E,l~(dão, un1a d~sçriçãó
fon1?-ai da. construção de posiçõés:.de-sujeito nó interio~_clo na
-··Persistem; entretanto, área·dateorização sobre Osujei-
disêurs9, reve,la11do muito pouco, eirt ,tr°:ca, so,~r,:~.,as r~~ões to .e a identidade, certos pro~lemas. Uma das implicações das
pelas qüais os indivíduos ocupam certas ~ô~ições-:de-sujeito novas êoncepçõéf de :pádércdesenvo1vidasri0 trabalho ·de
e não ôtitràs.' e, , , , ', , , Fóucaiilt é a'radiêal''dê'sdonstriíção" do·corpb ~ o último resí~
. ~ ·, .'

, Ao deix(lr de analis,~ cqniq as, posiç_çjes, sqçiaJs dos indi-:


aucf OÚ Iôcal dé refúgio ido "Honieni" ...;. e sua "reconstrução"
êm' teriiios;deiformâç'ôesfiist◊ricas, genealógicas e discursi-
vídu,9s interagemcorna c~mstrução.clecertas posições-d~~su-
vas.(? c'ôrp9 écôiisfr\1frfo~ ipo.ld~4fê r~~?l.dado pela i,nt~r-
j~f!q tdi.s,curs,ivas."va~ias", F.9µçct,ultJ11-tJ.:9quz un;ia antip9mia secção ·dê Üma variêtfade dé' práticas disêur~ivas· ·disciplina-
entr~ ~.si,p9sições~de-:sujeit9 eos in<iivíçlllos qu~ as qçupan:i. res. A tarefa da genealogia, proclama Foucault, "é a cfe'expor
Sµa ·~qg~<;>J9giª:_dá:, :as,s,i1n.f. um~, fl~s.c,r~ção. formal çrítica, o corpototalmente'marcado, pela história, .bem como a histó-
mas,l1nigj111e_n_sjo11<3:l, do. suj~itq_d() cµs,çurso. _As :gosiçqes-de- i;ia que,arruínao corpo';':(1984: 63). Emborapossamos aceitar
sµjeitq dis,curs,ivas,, to1;11ªm,s,e.çat~gqri8:S qpriori, a"s qllais
1
,~sse argumento, comtodas· as suasimplicações radicalmente
o,ªAp,c]Jvíd11()$•~Parnçem. ocllp8! . <ie ,fo,rma. n~o p;roblemátiça "construcionistas't (OI corp0o torna""se infinitamente maleável
(McNAY;)Q94:, 76~77):. econtingente);não estoucerto de que:possamos ou:devamos
A importante mudança no trabalho de Foucaúlt; de tini ir-:tãofonge a pôntcfde dêclatarcomo Foucault que"nadâ no
método; arqµe9l.ó.gic9: pa,ra W+.1,,. método ge11eª,lóglço, -çontri- ho·mem i...;. n:em:mesmd:seu cbrpo ::_ é suficientemente· estável
buit1,1 tnlJitíssimomar~ torn,ar Inais. çonçr~to Q '~formªlismo" para, ·servir ;de' ibase: pâra; 6 rautorrecolihecimento, oü para::a
um tanto:f~vazioF~_do5rtr~balhos inicfa.is~1Em,especial, o pod~r; compreensão de outros homens" I tsso :tião porque o corpc>'se
que ·estava. ausent~ ·dá-descrição-mais fonp,alistad,o: discurso, constitua em, um,;;foferente· ·redimente· êstávél' e: verdadeiro
é ;agora introduzido,,ocüpando:uma posição; centrat. São, im"'.' para:,o•processó;dé:âútoconíptéensão~, mas porque, embora
portantes, igualmente,,,as·~stimulantes.possibilidadésabertas pdssa Se tratar'd<fu~,~~fálsfrteconheciniento'?; ewecisarhente

120 121
sob essa forma que o corpo temfuncionado como o signifi- refa que tem sido produtivamente assumida por NikolasRose
cante da condensação das subjetividades no indivíduo e essa e pela "escola da goverilameritalidade", bem como, deuma
função não pode ser descartada apenas pOrque;,como Fou- forma diferente, por Judith Butler; em Bodies that matter,
cault. tão bem mostra, ela não é "verdadeira''. 1993. Mas é difícil deixar de questionar a concepção do pró-
Além disso, o meu próprio sentimento é o'de que, apesar prio Foucault de que:os sujeitos assim construídos são "cor-
das afirmações ·em contrário' de Foucatilt; ·sua invocação do pos dóceis" e .todas as implicações que isso àcárreta. Não há
~ôfpo como'º• p~nto.d_e apHcâção de unia varíê?~d~, d~ práti-
cas disciplin·ares tende· a emprestar à súateoriá da regulação
nenhumateorização sobre as razões pelas quais os corpos de-
veriam, sempre e incessantemente; estar apostos; 'na,,hora
disdpliriàrufüâ espécie de'"êôricrefude dêslõêadiújhrrià1 co.l exata - exatamente o ponto do qual a teoria marxista clássica
locada'\ uma riiatêrialidâdé residual, à qual acabà,1des·sà for- dá ideologia começou a se desembaraçar e a própria dificul-
ma, por' agir disêursivanieritê pàra-"resolvet" oúâparêntâr re- dade que Althusser reintroduziu quando ele; normativamen-
solver a relação, indeterminada, eritré o 'sujeito; ó indivíduo e te, definiu a função.dª ideologia como sendo a de-"reproduzir
o corpo. Par.a clizê-lo de f9nn~ 4ireta, essa,."materia_l,idade" as relações sociais de produção'".•
j\lllta,. p9r P}Çi9 ;d~ uma so~tur3:,; qu- de .11tn~ '~surur~~~' ,a,q11elas Além disso, não há ne'nhurriâ teorização' sobre os meca-
coisas, que a teoria: da :pr()dµç_~o-4i,~q-µrsiya, ele sujeitos,. sele- nismos psíquicos· ouos processos interiores que podem fazer
vada .a, seu~ e~trep1(>E>, •. fratpfaria ~: çlisRer~~ri-~, 4e,. fo,l'llla iqe- c~m q~e.~·ssas "interp'el~ç?es'' ái.ltó~áti~as séj~DJ. produzidas
~~4i~y~:{,:.~~µs9 \gi!~. ''Ç; i9~ffi~i-~·,· ~~q~iriµ~-~ p~ Íll'1tStigaçi!C> 'oü, ,de. fol'l}1a mai~;i111p9rtan~~' q~epodemfaz~r~om que elas
pós~f()µcaulµaµf1~ lllll y~l()f t<>t_êmic,o,.prêci~a,-nente_ ppr _c~usa fr3:c~s~~m ou e~qgµit-~rn:.fe§_isf~ncfa: ,oµ'. sêJ8:ll?-.)legociadas.
d~:~i~- pçsiç~9;'.q1:1~s.~,.1míi.fo~L, Ê pra.#ccWl~n~e- oJ-Í~l~O· traço Mesmo iconsiderando o,-trabalho,de Foucault, sem dúvida,
q~f.·f~~ta,,no·_tra9a)ll,9 ,de Eo#c;~ul~, d_e·tlJ:11_ ,-~~igi;iifi~ante ~~~n,s-
cendéntal". , ' , , cL " • • , ; ' ' ' . • ' • ., , • ,
como·• estimulante e·, produtivo;·· podemos· dizer que, nesse
caso, ele "pula; muito faêilniente, d~l1iiia desêr~ção do poder
·Acrítica mais sériatein a ver,, entretanto,· como,problema disciplinar como uma tenâêricia das niôderha's formas de
que F oucault .ençontra' ao. teorizar a;resistência na teoria do controle social: para uma;fürmulação do·poder disciplinar
poder desenvolvida em Vigiar epuriir e'.emA história, da,se- /orno umaforça monolítica plenamente instalada-~· umà'for-
xualidade~· Temaivet também coin,a concepção do sujeito in;;. ,ça que saturatôdas âs relações sociais. Isso leva a'unia supe-
teiramente-autopolicüido, que- emerge·das modalida<Jes disci"'. restimaçãb 'da eficácia do poder disciplinar e auma compre-
plinares, confessionais e pastorais de poder_dis~utidas,J1esses ensão· empobrecida 'do indivíduo~ o' que impede que se possa
trabalhos, bem. como, çom aaus~ncia de qµalqµe:r coQ~idera~ explicar- as experiências que escapam aô; terreno do 'corpo
ção,sobre o qµe-pod~ria, d<:, algumaJorma,interromper, im~ dócil"' (McNAY, '19941 104)>
pedjr pµ pert,µilJar a trat1q11Ha jnst,rçijq d9.sJp<;livíduo~ p.as po-:- - ,"Qu~ ~ss~ :~~ tomo~ füJvi'~'para:F ~ufoult tórila~s~ evid~nt~
s_içõ~s~de-suj~ito -construídas por:,~~~eª ::gi.scursos. Conceber n,a:nítida e)içv~:~udatiç~-~tn'~~u ~ah~l~Ô, rep!~s~ptad~ pêlos
o-,c9rpC> co1110 .~µbJ.11eticlq, p<>r: m:~io, d~: ~~alrmi'\. a regilll,.es, 4e ií~tim?s(e· iricomplétqs),y?,l~e~_ cl~_ass!ril .dia~~cla ''Histó-
v~i;<Jad~ n,oill,13:l~ªºº-res,. é u111ã, t;n~l.'.leir3: .pre>duJiya -de ~e. re"7 da
ria sexualiaade'' (ó Üs6 dos pra~eres; .198?; (Jçúidqdo ·de
pensar a assim chamada "materialidade" do corpo - uma ta- si, 1988, e, tanto quanto podemos deduzir, ·o vóhmie inédito e

122 123
importantíssimo - do ponto de vista da crítica que acabamos Este não é o lugar para explorar os muitos e produtivos:dn~
de,revisar~ sobre ."As perversões"). Pois, aqui, sem se afastar sights que .surgem da análise que Foucaultfaz dosjogos de
muito de seu inspirado trabalho sobre o caráter produtivo do verdade; do trabalho ético, dos regimes de autorregulação
processo de regulação normativa (nenhum sujeito fora da e automodelaçãO' e das "tecnologias- do. eu" envolvidas,na
Lei, cofno expressa JudithButler), eletacitamente reconhece constituição do sujeito desejante. Não-existe, aqui, certamen;,.
que não é suficiente que a Lei convoque, discipline, produza te, nenhuma conversão,-por:parte de F oucault, .que·reinstaure
e regule, mas que deve haver também a correspondente pro- qualquer ideia de "agência", deiintençãoou de volição~Mas
dução de uma resposta-"'. e, portanto, a capacida~e e o aparato há;aqi.ürsim-; uma consideração das práticas de liberdade-que
da subjetividade= por parte do sujeito. Em sua introdução podem-impedir que esse.sujeito sétome, para sempre, ·sim-
crítica ao livro O uso dos prazeres, F oucault faz uma lista da- plesmente um· corpo 'Séxualizado·dócil.
quel~s coisas que,. nesse momento; poderíamos -esperar de
Há a produçâ~ cip; etl 9omo um objeto do_ mund,Ô,.~s prâti-
seu trabalho,("a correlação-entre campos,de saber, tipos de
normatividade e formas de subjetividade'-\ em uma cultura
o
ças'de áutoc.onstitu{çãÔ, rêcorihecime11to e a i:e_flexão, are-
A
l~ção. ,COJll a,r~gt~; JÜpt~m~nte éom atenç,ão escrupulosa à
p~icular),, JJ?.ªS, agpr, yritif~n-ien,t~ acres~enta ·r~gu~~ç,ãQ norrµatj~â' f,cpm, 'o_s ço11~tra,1:1;gi111e:µt()S das, regras
.·as prMipas,p,elasquais os indiyí~uosforam lev,ados a prestar sem osq1:1ai~-ne$uhi,~: ~:~rtfüet~v~çijo" ~ pro,du#4a. Trata~se
atenção.a elesJ?r,óprios,-as.~,qecifrar, a se recmilie~er e se
c6µfess~r ~C>,Ill9,Slljettos d~A~:s~j~,, ~~tapelec~11do ~e Bipara
deu~ av~11ço i111p9rti~t~, ,}lll1a, ye,z que, sew. es_quecer a exis-
;cbnsigo· uína ~ei-ta reJ~ção 'q:i1e· 'Jhes'pennite descobrir, •·110 t~1,1cia :d,a, ,fo!ça,: objétivagiente, ,4i~cip,i;nar, foucault; acena,
désejo; a verdade de se1úer;sejàelênati.rrál ou decaído: Em pela,pdru~g~ ye~ -~m ~µ.a. gr,~nde opra,Aexi~têl1çi~ pe''alguma
suma, a';ideia-era a-de-pesquisar, nessa génealogia,-de que pa,i_sage1n. iy.t~ri9r_cl,p S,\lj~_ito, de. a,lgµns lllç,canisrp.os iµterio-
maneira os indivíduos. foram -levados a exercer, sobre eles re.s ·d~,ja,ss~ntim~nto_ ~ r.egr.a,ko qu_e liyr~. es~~, te9ri:zação _do
I11~smos . e ,·~()bre .<>s ()lltr()S, ;uma ht!rm~nêutica do d~sej o :'pe11a,yiq:çjsl)l_o~r. e cio_9bjetiyis1Jw.q~eam~aç~i,n.certas.partes
(fOlJÇAPtt,; Í987) [ll]f - - _, .
de Vjgiar:~pu11~0.- A ética e as práticas do .eu ~~o, muitas vezes,
:foµ.cault descreve.issQ.7 coqe_t~~:pte, _em nossa opinião-"'. mais,-plel}am~n.t~ c:l~sçrita,s: -por: foucault,. n~s,,suas últimas
como' :u111a ,~~t~rceira 111uda11ç~, 1;1tna;mudanç_a que permitiria ,bbra~?' como um_a\~_estética da, existência,,, como uma estiliza-
analisªr ~quilo que: s~ -.çb:ima, _d~ "o:suj eito~? •. Pareçeµ:-lhe ne:- : ção deliberada c:la vida cotidiana. Além disso,,as tecnologias
C~$.S~rio exalTiinaJ.i::_qu~i_s, s~o :as, fo,rm,a,s; e as 1modalidades da aí envolvidas aparecem.mais sob a forma 'de práticas de au-
relação, com O' eu p~l~s: qt1:ais _oj11djvídu_o .$.e: constitui e se re~ toprodução, de m~dos.: específicos. de condutá, constituindo
conµece. qu,a. s,ujeito_. F o~ça~lt, obvfamente, -· não faria ;reab aquilo que aprendeniós a recónhecer, em· investigações pos-
mente uma coisa tão vulgar cotrtoa ·dei11vocar o termo "iden"'." teriores, ·como a de;JudithJ3iltlér, por exemplo, como uma es-
ti,1ade",rr1as C0111 a ''rela,,ç~~com o e1(:e a_con~tituiçãp e ore- pécie de performatividade;J _'.
, .
c-~h4êc.imen!ô}e, 'Jsi me~µio''_f~ª-•~uj~it~'~,estam.9s_nos. apro- -.6 qhe VJllih~ aqüi';;póisrhá; µiitilia _opinião, ·é Folicault
idinaridó,}ê~~9 ,~~' ·c1aqüele. térritó'rio,qiie~ :no~_ termos ~wteri"'."
sendo pressionado, pelo escrupuloso· rigor de. seu. próprio
otmente ést~faú~cidos, p~rteíjç~, legiti,marriênt~, à problemá~
pensamento e,por :rheio:de,umâ série de mudanças concei-
tiçª dâicl~~tidácie.' .- . , -
tuais, efetuadas em diferentes fases de seu trabalho, a semo-

124 125
ver em direção ao reconhecimento de que - uma vez que o (no trabalho que foi;'.então;,ttagi~an1en~édr~terrotr1pi.do), ele-é
descentramento do sujeito não significa a destruição do sujei- impedido, obviamente, _c:l~_reçgf!"eramna,~as pri1,1cip~isfontes
to e_ uma vez que·o "centramento"na prática discursiva não de pensamento sobre essé:t?-egligenciado aspecté);; _isto· é;apsi-
podefuncionar sem a constituição de sujeitos- é necessário canálise; ele é impediclo,cpela suá própria crítica; de ir naquela
complementar a teorização da regulação discursiva e disci- direção;já queeleviaapsicanálise como,sendo simplesmente
plinar, com uma teorização das :prá:ticas de autoconstituição mais uma rede -de: relações .disciplinares de poder; -O que ele
subjetiva.,Nunca foi $Uficiente.- err1;Marx, em Althus~er, em prodt1Z,- e111yez disso, h uina fenomenologia discursiva do su-
f ouçault- ter simplesmente µmateoria de como o~ indivídu~ jeito, (yoltando, ;assim, talvez;;::t fontes:e:inflttências iniciais,
os sã()_conyoc~clo$ a ocupar s~µs lugares por meioc<.le ~squ,tu~ · cuja influênci~:sol:>,rê. seU'trabálho ele:próprio, de alguma, for-
ras discursivas. Foi, sempre, neçessá_rio t_eftam.q~muinateo~ ma,: s:up~~~ir11:91;1) e UJf:~ gen~~\()g~c1;4as_ t~5nolo9ias ~o eu~_ Mas
rizaç_ão de,cptno os sujeitos s~C> c<?11stit~íçlos: Em seus úl- ~ata~s~,~~" imíàfyn9~yµol?gi~ '.éi11~Ó()~~ ôrisco'de.s~r-~trope-
timos" trabàlhds, F ouc'áult fez'.urii, a'.vàrtçb' considerável, ao làda'por._lUTia _ê~f~s,~-eiagê~~dâ,.p()..m\~iiéio11alid~de -- predsa-
mostrar ·cotiio i~só se·;dá,'êm 'con'.exãó;bdm;ptátiêas:disêursi- ~~ttt~j)e>rq~;Y• e.l~ ~ãó.I?gqe adÍ-ri#V Ôzn,çe>nsdênt~.: P~ra o bem
vâs historfoa111enté específicas~ dom :â aüiorrêgülaçãô 'nomia~ qÜ Pflf3: o' _͵al, -~quê,~-
p9rta já esiâv~, pára 'el~, (eçh~q~.. ;
tiva e COl11 ~~ê~ol~~i~s do;êu;: Aq~~st_ã? g~W~ê{é'sê11ósfa1n:
t . ~ .•. .- { j . . . ·• ·: __ ..,. " . ' • !- .: .· '· .- ' ; _.· •. . _. ... ' ' .· . -' . : -:· :. - : ; " ; 1 1 . '···

.: -Felizmente~ ela não pênnartecêu fechada. Em Gender trou-


bém 'pr~~isálllOS, P?r ~-s_§i§ dizçr;-H1ipi~111r;o'.'íóss9 eriire- °:s ble (1990) e, .mais, espêêialniente,. em Bodies that matter
dois do~íriips,}sto.·é;: s~;l'f,ecis~r19s_ :qê_-~fiíà: t~ofià_ que· des- (1993); Judith-Butler analisa; ;por,meio, de·. sua· preocupação
éreva' quais· 1são ()S; mecânismôs'• 'pêlos }quais: os·, indivíduos
côrisicieradosiéómô'sttjeifôs sé''idéiitificâm (ou riãó'se identi- com ;'Foslimites discursivos do sexo" e C()ni as,políticas do fe-
ficám}cótfitas' ~~posiçõe's'? para ás ;•quais sãá cônvo'cadós;>que minismo; as complexas-tr,msações:entre o sujei~o, o corpo e a
identidade,'ªº reunir, ein um único quadro analítico, concep-
descreva 1de quê --~orrifa ·elés·· ni?lâam; _est~líz~m;:rpfôduz~m é ções . fouc'aultianas ·e perspectivas psicanalíticas. Adotando a
"exercem'~- essas posições;' qúe :'expiique pôt que eles rião·o fá:..
1

zem completamente·, :de üm1'só: vez·éj,ôt todo' crtempó;' ê'pdr posição :de ,quer o sujeifo-;'ê discursivamente· construído e de
em
que álguns· rturtca'.o fazem; ou éStão' um prõcessô'cónstâh.;. que não:existe qualquer:sujeitO antes ou fora-daLei;:Butler
aesenvolve o argum~nto 'de .que
te~:agonístico,,;de··fütácom:as-têgrâ!:f·nomiàtiyas 101fregulâti.;. 1
vas comas quais,·:se corifrontari1ie::pelas'-quais:-regulam a si 1 ' - â 'êâfêgorUF ad-'-'sexó'?, é/desde à ;início, riorniâtiva: ela é
mesmos:;_-fazendo,:;lhes resistência,' negociando-as ou ,aco- aquilo :que -Fouêaultchalllou:d~ tfideab:egulàtório" ~ Nesse
niódando;,.as~ ,Em suma, o quf fica'.é a'.exigêricia de-se pensar ,~e1:1tjcl.p,, ppis,J~, ~-~-Jfo,,nij9,,~peI1<}~ ~Pi?na. como llllla norma,
essa relação do sujeito ·com;as, formações; discursivas como 'ffe~S.-~ ~~i'4~ vm~ir#c,~i-e,ijJ~tóii~'qú~ pr94úz os corpos
uma articulação (todas as artiéttlãções,são,:mais apropriada-
.- :•~u~J~'?~f,~~::·i~t-9,f~ ,tô,g~f9rçát~gµlât<S1iNnarit,festa-se com
- _'utp~;~sp.~,çi~:~~\íipMfpp;>,4;utivo, C>pode~Aé pr9duzir-de-
mente, relações "sem qualquer cortespondêncià necessária''; ,_.;111aré#, '9ifo~lar,t,.:éliferericiar - .p~ •corpps, qu~ Jontrola. O
i~\Ç> .~' _fy.n~ap~~ .1?:3:qu~l;:r 99:qtjng~~~ia, qu_e '~t~~tiya q. históri.;. ·): :~ii~ot'(üiii•ççnsir}1to' ide~í que é.fo1:ço~am~~te materiali-
ê0t'I~AF1A'Q~J~~-º'=/2}t\_:-: <.' -; \' ,<: ,. ...,. -- ,,, - ,:::) iédP ~~~\ié(4~:-~~íppq (~JJTL\E:R~_.\.Q93,:'l Ü5J~154]).
É,:,portant(),: ~iiidk mais fasciriàllteóbservar que,.quandq 'Àrtíaterializâçãcr.ê~ ·~qu~,,repens~~a· COtllO l.1111'efeito de
Foucault, •- finalmente; não -dá o -passo: decisivo nessa direção poder. A visão de.que-o sujeito ê produzidóriô:curso de sua

126 127
materialização está fortemente fundamentada em uma teoria ·· A relevância do argumento de Butler é,aindamais perti~
performativada linguagem e·do.sujeito.jmas a pérformativi- nente; entretanto, porqueé_desehvolvidq rtb,contexto·da dis-
dade é despojada de suas,assobiações coma.volição, com.a cussão sobre o gênero e asexualidade;.feitano quadro teórico
escolha e com a intencionalidade, s.endo relida·( contra algu- do, feminismo;temetendo, assim, diretamente, tàntó :às'ques-
mas das interpretações equivocadas de Gender trouble) '.'não tões sobreidentidade,e sobre políticadeidentidàdê quanto às
como o ato.pelo,qualum sujeitotraz à existência aquilo que questões sobre a. função paradigmática'.dà diferença,sexual
ela ou ele nomeia,• mas, ,ao invés. disso,· como ··.aquele .poder relativamente aos. outros eixos de exclusão, tal como ressalta-
reiterativo· dO.discurso·.para produzir os fenômenos .que ele do: no trabalho de; Avtar :Brah,·: anteriormente mencionado.
regula e constrange~',·(BUTTuER,·1993: 2·:[155]).·: Butler apresenta,: aqui, o convincente argumento de que todas
ç' Aínu~a~ç~:~êcis'ivâ,d9.J,b11t&áê vist~ .c1();'.afgitniêiíh/~qvi as identidades funciori~p·or meio da exclusão, por meio da
desê11voivi1?,"é,,entretànto~. aligaçã?qü'e::~-u,ger.fa~ .~i ât?:de çpnstrµçijo.:discllfsi,'7:acle:µ~ exterj9rcon,st~,~tiv9 e da produ-
''' ~~.sui1~( ·utn st!~~foíii ,~- ~~e~tão-aâ-~dedtific'açiiô ._~;dd~._ys ção d~:suj,eitos, abjetosi e. marginalizados, aparentemente fora
níefos. :â~~?ursiv~s··.·p~l~s; 9ia1s _#rtper.ati~o hétero'~.s~Jeual
possibiÍit~. certas ideütificá~ões· s~xuadàs- -e impede
o ·ou' nega
do campo do:siinbólico; do representável f-' a produção de um
'exterior', déum domínio de efeitos inteligíveis" [ 1993: 22]),
outras·ideritificáções'a~ ·(BUTLER;J993:· 5. (:155]); Esse· cen- 1 º _q1alretoma, êiitãt5, paràcôtilplipaFe .<les~stabili~ar aquelas
tràméntôda qúêstãó da ideJ1tificação;;juntamente côfü a pro~ f<?!~~h1~ões qi~
·n6s,.prigi~tµ~~í,nente,_9h,atn~t11?s . de ''identi-
bl~máticado sujeito qúeNasstµrie•:ümsexô"~; abre: no trabalho 1 dades''. Ela formula esse. argtll11ento; de fonna eficaz, em re-
dé Butler; lim·diálogo'Crítico: e;reflexivo éntre·Foricaúlt e ·a 1 lação à.sexualização,e.à racialização~dosujeito - um argu-
psicanálise. queé.extremaniente·produtivo.•·É verdade que ~etito que precisa serdésenvolvido~ p'araque a constituição
Butlernão foinec~, ~m Syu.texto,·um metá+argtUllento t.eórico elos· sttjêítos pôrmeí<fdôs êfêitos regulâtóriôs d9 discurso ra-
plenamente desérivólvido1 que desçreva como a~; duas·:pers~ cial adquira a importância até aqui reservada para o gênero e
pectivas,:ouarelação,~ntre1o~discursfvâ e o psíquico, devem a·sexuâlidadê (eiiiborâ,'obvia.mente,· sêu'éxêmplo iiiais iraba-
sebt~pe1;1saâasr'·de:formaconjunt~yalém:d~ uma,sugestivain~ lhadásejã ó da:prôtlilçãó.dessas·formâs âeàbjeção sextiál ge-
dicação: "Pode haver uma fonpalde<sujeit3:p a psicanálise a ralménte"'rtõrthalizadas'' êômo pàtõlógiêas'oti'perversas).
//, ,;:f,;;_ •_";'. • ; •;•;, .:) • ' ./.·.:. :,,,, _;'
t1nJJ! r~ylªt<;>,q~çijq Jgµy,ét:µW_f!!lª,, m~~Qlq ,9.l!Ê ,q :Rrgprjo F ouca- , ,•.,:iÇo,:µp ol:>sery()ll)ame~ Sp~té~r :{1:Q95\ "a qrítica ~nterna
ult,tenha-recus~dOL,essa •ppssipilida:de?}.,,De. qu~lquer forma, qt1e' ~,vt1~r,, r,z, 4~,ppiWB~
Ji~'i~~11ti4~~~ f~1J1ini~ta e ·d~tSll~S
premlisas _fµ11A,âpiôn~~s·,ci11~~{ioµ~" ~ ~clyqt1aç~() de, 11m~políti-
!

-~;'Jf_~rff~kt~J?~~if?9#{d;p,óhf?"cl~)~fuiâ~'a id~ia -,~;e Foucault


'. gfqüi.º: P.91i(rê~(~i~ri~fào,d~~ O~:suJ~ttc~s_ q~e controla, pa,repfes~11,{~~lon~1:,é;Jj â,1,as~ é.~ rin,h,~~sa,H~â~e.-e.a uµidade
:,qÜe' '?,! P<5,4e~' 'hã~" e. f~#111,les1ll~~t~,-i111p~s'{~c-.e~t~mamente, 1
piés~+ie~s, 4.é se~~~j~ité,~ a ,c~t~g9úáú11,ificáda.s,o~ () rótu-
.·.;'iria~. t1~~-- fili,1~f?úâ cÔrrí<f-·o·}j~i~:-·r~~~l~t1~º}' normativo ;~ç.
lo ;miiÚier~s'~' .~: l>âi-~â9xal1Jl~nte,. fal p8orrepom: to~ c~1110.
. '· pel_ç'~~âf §ssuJéitos ~ã~,.fórft1~ci?~{ :~r.êt?.nW~Y~sicanálise é
'ori~iitadõ;Wjis;,pel~ qtl:~st~o 1fcomá.~er~as -~?~as regulaM
1
~ºª-·-~,,~;:9µfo~~.idemi~~q~s,'.
r <••.,•
.,.-,_ ~ ,., • • ...
·sã.o. tr~f~êlas, pçHticarn~µte,
'•t' •,, J.• ~ , f; •.,.,."/,' ~,•
qu~n4º
•~•.,, :•'• :•;1 • ,,,• ',,,. -•••, ', . l ',,',e) l '••• , ." :,,:'• '•.,,:;_ ; •. . /•:•-'~ ,: .:.~

'. tórias fôrmam·-'iiin: sujéiióF''~éiriéiÚó\' sob 'córidições que de urpc:irpc:ine,iré:l fun<;laói()11al,e,ss, identidad~ ''está b~seada
:t911.1~111iwpo~$ÍY,~}:s_~ 9J~tfµ~jr çp.fr~ ~fe>.rmaçij91p~íquica e !}a.,~~~lµ~ã.~\la~-nÍ~i~~~ç~:'d~fer~,nte,~;.t-~o;·priyilegianiento
_a f 0I111açãp ,qorpqr~J (1 Q93 :, 4~ ).,
~.:Õ·~.c:: ,.J 'J ~, ;: ',.! ,;,,.,- t' ;;-. -~-} ,... , :, ..: :. ·, . ·.. / ~--'' , ; . -~' ~- , ,··,. , :' riônnafi,,o - dás reÍações· heteros~exuais c9íno -·
_·-~--~ J:,ase. de, uma , •, ·' , : : " : ; '· . : : . ;

128 129
políticafeminista". Essa "unidade", argumenta Souter, é uma Referências : ·.
'\midade. fictícia'',, produzida e: constrangida pelas mesmas ALTHUSSER, L. (1971 ): Lenin cind Philosophy andDther Essays.
estruturas de poder por meio das quais a emancipação é bus- Londres: N.ew LeftBooks.
cada,". Significativamente, entretanto, como-Souter também
BARRETT, M. (1991). The Politics ofTruth. Cambridge: Polity.
argumenta,. isso não. leva Butler a argumentar que todas. as
noções· de identidade deveriam; :portanto,, ser-abandonadas, BHABHA, H. (1994). "The Other Question". The Location ofCul-
por serem teoricamente falhas.: Naverdade, ela aceita a estru- ture. Londres: Routledge.
tura especular da identificação como sendo uma parte de seu BRAH,·A.. (1992). D'ifférenêe; 'diversity and differentiation. ln:
argumento. Mas ela reconhece que um tal argumento sugere, DONALD, J. & RATTANSI, A. (orgs.). Race, Culture and Diffe-
de fato; ''os limites· necessários da pC>lítica de identidade~': rence. Londres: Sage; p. 126-145.
Nhste sên.Hcío: as idéntifíca'çõés pertêricém ao'iinagíná.ifo;
elair sãb' esforços· fantasniáticos·-de alinhamento'," de 'lealda~ BROWN, B. & COUSINS, M. (1980). "The Ünguistic füult".Eco-
detde: coabitações ambíguas eintercorporais. Elas desesta:- nomy ,and Society; 90).
. bilizatll ,O yu; e!as.são ~ se<litnentação_ 40 ;'µó(na ,cm1stituição
BUTLER, J. (1993)~ Bodiêit'hat Matter. Londres: Routledge, [o
de qmtlqt1~reti;- e·l~s: f Qiji,titu~lll .a, e.~t~tll;aç~o pres~nte da
altériélàde~ dn1tida nâ formulâçãb mesma dô eu. As identi- capítulo introdutório deste livro foi publicado, em português, em
:ficâçõé'sqiãô' sãô, 'núndâ~ p1ên~iiíenté e firialmêntê 'feitas·;
1
Guacira Lopes 1:,ouro. (org.)., (l 99Q). O corpq educado - Pedago-
. elís· sãó'iífoêssanteriientê'têcoi1stitu:ídás ê'; como tál; ·e~tãó gias da s,exualidade. Belo Ilorizonte: Autêntiqa, P~ 151-J 72, com o
, sujeitas: à . lógica?volátil:da:iterabilidader mias sãó .aquilo título "Corpos que pesam~sQbr~ os limit~s cl.iscµrstvos elo 'sexo'"].
ql,l~ _é g()~stap.temente ;a,:qegitn,<?P.té!dÇ, ic;~Íl~()lid~go, ,redu:-
z,ido,; co.*e~taq<> e, oça~ionalrnep.te, ol?rigadp. ~ ,çapj~laf _ _, ,_ ( 1Q9P). Ge11der, ,Trol!Ne, Londres:. Routledge ...
(1993: 105)~ . . , ... . . ,, ·, ,'. . . . .. . . '
; :-~-; · :_:.L>f ~< :- : ; ~ /< .. DERRIDA, J:. (1981} 'Positions. Chicago: Üriiversity of Chicago
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tf111.fê6;e?i~1\i1t1-~~?,~~ .~ orí~i~~ti111pul~?- des,s·e entedáH1 ê no corpo do texto, os números entre colchetes referêm.:.se ao núme-
i~~:oncly'~:ó-~fgtil11f~td, ,qlle 1.e111onstf~;: ~em:quálquer·ioriibra ro. cl.as. páginas ,corr.yspç,nd~pJe.s da tradução. lJ_rasileir~].
de :-~íiyi~f/~*ê: á:q#,~~.t~á r·:.~-~e,ori~~9ão,,,d~ 't~~~tiJ,aHê é: u~
I
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te~ai ~~~ ·ê ~~i4ê{~iet )1~po~~~1a•'poífü?a,·'.
9 's~· ·poci~~A
5
qll~~: (org. ). The Fouca1:1-it f?,eader. ·Harm,ondsworth: ·Penguin.
~v~ri9~r-quarí~?)tf~t~'.,~-.~êc~ssi~~~e. q~~~!() á-''irnp_o~sioilicla- ;. ·, ~- t ·~ ·.1. , ' J !

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CÔlllm~!li~atiqft::i.(2). - . .. - , :. .
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Tinie>Làiidíês:;1/ersd:N. . .'

132 133
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Manaus, AM - Petrópolis, RJ - Porto Alegre, RS - Recife, PE - Rio de Janeiro, RJ
Salvador, BA- São Paulo, SP
as quais somos convocados? A res-
posta de Hall é exemplar de sua habi-
lidade em utilizar a teoria cultural e
social contemporânea para realizar
refinados e certeiros diagnósticos so-
bre a condição da sociedade e da cul-
tura contemporânea.
Finalmente, no terceiro ensaio, o or-
ganizador deste livro, Tomaz Tadeu
da Silva, enfatiza a importância do
processo de produção discursiva e
social da diferença. Segundo seu ar-
gumento, a questão da diferença e
da identidade não pode ser reduzi-
da a uma questão de respeito e to-
lerância para com a diversidade. A di-
ferença e a identidade não estão sim-
plesmente aí como dados da natu-
reza. Elas são cultural e socialmente
produzidas e como tal devem ser -
mais do que celebradas - questiona-
das e problematizadas.

Tomaz Tadeu da Silva dedica-se a es-


crever nas áreas de teoria pós-crítica
do currículo e de Estudos Culturais.
Seu mais recente livro pela Editora
Vozes é Liberdades reguladas. Publi-
cou, pela Autêntica Editora, Docu-
mentos de identidade e O currículo
como fetiche.

Stuart Hall é conhecido por seu papel


pioneiro no campo dos Estudos Cul-
turais. Trabalha na Open University.
Entre seus livros recentes incluem-se
Criticai dialogues in cultural studies
(Routledge) e Representation (Sage).

Kathryn Woodward é professora da


Open University. Seu livro mais re-
cente, de onde foi retirado o ensaio
que faz parte do presente livro, é
ldentity and difference (Sage).

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