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Fundado em 1864,Fundado

o seu Arquivo é Tesouro Nacional


em 1864

www.dn.pt / Sábado 6.4.2024 / Diário / Ano 160.º / N.º 56 597 / € 2,00 / Direção interina Bruno Contreiras Mateus (Diretor), Leonídio Paulo Ferreira e Valentina Marcelino (Diretores Adjuntos)

PORTUGUESES QUEREM PRESIDENTE


MAIS INTERVENTIVO SONDAGEM DN/JN/TSF Marcelo Rebelo de Sousa recupera popularidade, mas
a proporção dos que hesitam sobre a sua avaliação nunca foi tão alta (39%). Escolher
Luís Montenegro, mesmo com Governo minoritário, foi a melhor decisão (58%).
PÁGS. 4-5

Escolhas
Governo muito mais
técnico e feminino
do que experiente
no poder
PÁGS. 8-9

Estudo
Há 480 mil
portugueses com
problemas relacionados
com o álcool
PÁG. 12

Guerra
Israel promete abrir
rotas de ajuda,
GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS

mas EUA querem


ver resultados
PÁG. 18

A nova ministra da Energia, dias


antes de tomar posse, quando Prioridades
ainda era eurodeputada
Associações
apreensivas
com extinção da

MARIA DA GRAÇA CARVALHO secretaria de Estado


para as Migrações

“CONTINUA A HAVER MANIPULAÇÃO E POUCA


PÁG. 13

ONDE ESTAVA
HÁ 50 ANOS?

TRANSPARÊNCIA NO MERCADO DA ENERGIA” DINHEIRO VIVO


JORGE
BETTENCOURT
OFICIAL DA MARINHA

PÁG. 3
2 PÁGINA DOIS Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

Até ver...
Filipe Gil
Editor do Diário de Notícias

Serviço inútil obrigatório


F
oi o dia mais inútil da minha vida. derado em andebol há vários anos!”. Arre- É certo que vivemos uma ameaça cada vez será sim melhor pensar o assunto com estra-
Bem cedo, numa manhã de sol, fui de pendi-me meio segundo depois quando vi o mais real de Putin atacar outros países para tégia para “valorizar a carreira militar”, como
autocarro até à Calçada da Ajuda, em militar a sorrir como quem dizia: “já não te além da Ucrânia, o que implicará uma res- disse em campanha Pedro Nuno Santos ou
Lisboa, para o dia de inspeção militar. safas!”. Mas a pergunta seguinte, sobre a área posta à altura dos países da NATO (à qual criar um “sistema de incentivos” para a car-
Eu e uma centena de jovens de várias regiões de estudo que ia seguir, colocou-me certa- Portugal pertence). Mas basta ligar as televi- reira militar como disse na mesma altura o
do país (notava-se pelos diferentes sotaques) mente na reserva. Respondi que ia estudar sões e ler os jornais para ver que a forma de agora primeiro-ministro Luís Montenegro?
juntámo-nos num pavilhão do Quartel da Ciências da Comunicação, e aí o militar en- fazer guerra mudou, é feita com muita tecno- Em tempo de paz, o serviço militar obriga-
Ajuda para ouvir um militar – não me lembro colheu os ombros com indiferença. Fiquei logia e com militares muito especializados. O tório vai interromper a vida de muitos jovens,
da patente – discursar sobre aquele momen- feliz. E mais feliz fiquei quando ao final da coronel (e capitão de Abril) Carlos Matos Go- que nesse período devem ter outras expe-
to e a importância do serviço militar para tarde os militares indicaram que não seria mes relembrou isso mesmo num artigo pu- riências muito mais interessantes , estudar,
Portugal. Depois seguimos para uma longa necessário regressar no dia seguinte como blicado na revista Visão esta semana: “As viajar, entre outras coisas. Já se for em tempo
fila à espera da dita inspeção. Horas e horas até aí estava previsto. Foram horas totalmen- guerras atuais assentam em sofisticados sis- de guerra, o SMO servirá para mandar carne
de espera num dia de sol que, mesmo depois te inúteis que não despertaram em mim temas de armas e os soldados só servem para canhão. E se há cerca de um milhão de
do discurso do militar, não deixaram de pare- qualquer veia patriótica para me juntar ao como alvo e para morrer dentro das trinchei- portugueses muito ávidos de saudosismo,
cer completamente inúteis. serviço militar. E naquelas horas de tédio ras”. Será preciso acrescentar mais? convém relembrar todos os dias que são uma
Uma vez feitos os testes, sentei-me em lembrei-me do meu pai contar um dos piores Convém relembrar que, em tempos, as for- minoria, o resto não vai em cantigas saudo-
frente de um outro militar para responder a momentos da sua vida: o dia em que se des- ças armadas, tal como a ida para o seminário, sistas. Mas o caminho não é por aí, devemos
um questionário. Das perguntas recordo-me pediu dos seus pais para embarcar na viagem eram formas de sair da pobreza extrema da pensar sim no serviço militar com uma forte
de uma que julguei ter-me deixado em maus que o levou para combater na guerra em An- ditadura de Salazar. Um país que viu dema- vertente profissionalizada, bem paga, e sem-
lençóis, sobretudo porque o meu interesse gola. E como diz o ditado, “filho és, pai se- siadas vezes os filhos das famílias amigas do pre como uma escolha, nunca como uma
em ir à “tropa” era nulo. Estava muito mais in- rás…”, sou pai de dois rapazes e não consigo regime serem dispensados de irem “à tropa” obrigação. Ideias avulsas, atiradas para o ar,
teressado em continuar os estudos do que ficar indiferente a esta memória, nem à ideia ou de serem enviados para a guerra. como esta do regresso do SMO, tiram-nos o
ver a minha vida interrompida durante uma agora trazida à baila por várias chefias milita- Por isso, ao invés de se pensar no SMO foco do que é importante e de tratar os assun-
série de meses para fazer o tal serviço militar res portuguesas do regresso do Serviço Mili- “com base em estados de alma”, como disse o tos de forma séria. Mas vá, concentremo-nos
então obrigatório. À pergunta: “Faz despor- tar Obrigatório (SMO) – e o que isso implica- general LuísValença Pinto na edição de on- no que importa: o velho e o novo logótipo do
to?”, respondi orgulhosamente: “Sim, sou fe- rá na vida dos meus filhos. tem do DN (disponível em www.dn.pt), não governo português…

60396 41 3,91 4.8


OS NÚMEROS DO DIA
SECRETÁRIOS SISMO
DE ESTADO A área
O Presidente da metropolitana de
República, Nova Iorque, nos
Marcelo Rebelo Estados Unidos,
de Sousa, deu foi abalada
ontem posse, no ontem, quando o
Palácio da Ajuda, relógio marcava
aos 41 secretários 15.20 horas em
de Estado Lisboa, por um
conhecidos na sismo de
noite de quinta- magnitude de 4.8
-feira e que na escala de
MÉDICOS acabaram por ser POR CENTO Richter, que teve
Estavam inscritos na Ordem dos Médicos os últimos É a taxa de juro média das como epicentro o
em 2022, de acordo com os dados do membros do novas operações de crédito à município de
Instituto Nacional de Estatística, que Governo de Luís habitação, de acordo com o Lebanon, em New
apontam para que mais de metade eram Montenegro a Banco de Portugal: Tal Jersey. Não se
mulheres. Na prática, havia 5,8 médicos serem representa uma diminuição registaram
por cada mil habitantes. conhecidos. pelo quinto mês consecutivo. vítimas.

Direção interina: Bruno Contreiras Mateus (Diretor), Leonídio Paulo Ferreira e Valentina Marcelino (Diretores Adjuntos) Diretor de arte Rui Leitão Diretor adjunto de arte Vítor Higgs
Editor-chefe Nuno Ramos de Almeida Editores executivos Carlos Ferro, Helena Tecedeiro, Pedro Sequeira Grandes repórteres Ana Mafalda Inácio, Fernanda Câncio e Leonardo
Ralha Editores Sofia Fonseca, Carlos Nogueira, Ricardo Simões Ferreira, Rui Frias, Filipe Gil e Nuno Fernandes Redatores Alexandra Tavares-Teles, Amanda Lima, Ana Meireles,
Bruno Horta, César Avó, David Pereira, Isabel Laranjo, Isaura Almeida, João Pedro Henriques, Manuel Catarino, Margarida Davim, Mariana de Melo Gonçalves, Rui Miguel Godinho,
Sara Azevedo Santos, Susete Henriques, Susana Salvador e Vítor Moita Cordeiro Revisão Adelaide Cabral Arte Eva Almeida e António Mateus (coordenadores), Fernando Almeida,
João Coelho Digitalização Nuno Espada Dinheiro Vivo Bruno Contreiras Mateus (diretor) Evasões Pedro Lucas (coordenação ) Notícias Magazine Inês Cardoso (diretora)
Conselho de Redação Ana Meireles, César Avó, Fernanda Câncio, Sofia Fonseca e Valentina Marcelino Secretaria de redação Carla Lopes (coordenadora) e Susana Rocha Alves

6.4.2024
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NotíciasFlix

Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 3

O que era a vida quotidiana dos portugueses há meio século, antes do 25 de Abril?
PORTUGAL HÁ 50 ANOS O que faziam e como recordam hoje esse tempo em que eram jovens e o país era velho.
E como esse mundo era retratado nas páginas do DN da época. Visado pela censura.

No DN Onde eu estava
Jorge Bettencourt Oficial de Marinha ca, casou na metrópole, concor-
reu aos Serviços de Agricultura de
reformado e engenheiro, nascido em Lourenço Moçambique e foi colocado em
Inhambane, onde vivemos os pri-
Marques (Maputo) em 1950. meiros sete anos da minha vida.
Decidiu apoiar os pequenos agri-
cultores na cultura do café, uma
alternativa às concessionadas
pela administração colonial às
grandes empresas. Instalou esta-
ções experimentais, primeiro na
Malamba, a sul de Inhambane, e
depois no Gurué, na Zambézia,
quando foi transferido para Que-
limane, onde produzia e distri-
buía sementes aos fazendeiros e
agricultores, que assumiam por
inteiro o circuito de produção e
venda do café. Mas esta situação
incomodava os poderes coloniais
ULTRAMAR Na Guiné decorria o V Congresso dos Povos e em 1958 a cultura do café foi
da Guiné e daquela província ultramarina vinha uma proibida em Moçambique. Quem
“exemplar manifestação de portuguesismo”. As eleições quisesse trabalhar em café, que
presidenciais francesas eram marcadas e uma foto da fosse para Angola.
“Rapariga Ideal 74” destacava-se na primeira página. Em consequência ou por coin-
cidência, o meu pai adoeceu gra-
vemente e perante um desfecho
“Manifestação que os médicos previam fatal,
veio deixar a minha mãe, a minha
irmã e eu, então com nove anos, a

de portuguesismo” Portugal. Felizmente, recuperou


ao fim de um ano, voltou ao traba-
lho e tornou-se um especialista
do melhoramento genético do
cafeeiro. Mas acentuou a des-

N
TEXTO ISABEL LARANJO o início de 1974 estava lonial e de várias empresas e ban- crença na política colonial portu-
no quarto e último ano cos. Do meu pai, que nasceu em guesa, sentimento que transmitia
da Escola Naval, uma Lourenço Marques, filho de ma- aos filhos.

D
o Ultramar chegavam as Numa pequena nota, mas tam- escola bem diferente do deirenses à procura de uma vida Casei em fevereiro de 1973, es-
últimas manifestações de bém com destaque de primeira pá- Técnico que frequentei antes de melhor em Moçambique, ouvia tava no 3.º ano da Escola Naval. A
apoio ao Estado Novo gina, logo por baixo da notícia do V optar pela Marinha. Contudo, críticas ao Estado colonial. For- minha mulher engravidou pou-
que, dentro em breve, ha- Congresso dos Povos da Guiné, esse período de 1968 a 1970, mar- mado em Engenharia Agronómi- cos meses depois e foi na expecta-
veria de cair. “V Congresso dos Po- dava-se conta de que o Chefe de cado pelo ativismo estudantil tiva do nascimento do primeiro fi-
vos da Guiné: Exemplar manifesta- Estado, Américo Thomaz, tinha re- universitário, influenciou a forma lho e dos resultados da conspira-
ção de portuguesismo e de ânsia cebido, em audiência, no Palácio como via a ditadura. ção em que procurava participar
de paz e de progresso”, podia ler-se, Nacional de Belém, o Presidente Estava certo de que a liberdade que chegou o dia 3 de março de
em manchete. Händel de Oliveira do Conselho, Marcello Caetano. e a democracia com que sonhava 1974, o dia em que o bebé nasceu
foi o jornalista enviado especial do Com Georges Pompidou já en- só seriam possíveis com um golpe e o mundo desabou. Na materni-
DN àquele país africano, há 50 terrado eram marcadas as eleições militar que mudasse o poder em dade, explicaram que o menino
anos ainda uma colónia portugue- presidenciais francesas para os Portugal. As farsas eleitorais de sofria de uma malformação con-
sa. “Estamos fartos da guerra que dias 5 e 19 de maio de 1974. Tam- 1969 e 1973, a resistência dos se- génita, com danos significativos e
foi feita pelo cabo-verdiano Amíl- bém na primeira página, o falecido tores conservadores da Marinha a irreversíveis. O menino foi inter-
car Cabral e não pelos fulas da Gui- Pompidou continuava a ser notí- iniciativas como, por exemplo, a nado no hospital de Santa Maria e
né. Temos de acabar com a guerra cia. “Os últimos dias de Georges denúncia de práticas formativas faleceu com dez dias de vida.
e só conversando de forma a en- Pompidou que sabia próximo do caducas ou a criação de um jornal Ao drama pessoal juntou-se a
tendermo-nos é que conseguimos seu fim: paira grande mistério so- escolar para os alunos debaterem vivência das carências do sistema
que isso aconteça”, começava por bre os termos do discurso em que ideias, assim como as ameaças de público de saúde de então. O que
citar o jornalista. Quem falava era ele queria dirigir um derradeiro expulsão da Escola Naval, apesar se passava num dos maiores hos-
Buramo Balde, auxiliar do chefe da apelo ao país”, titulava o DN. “Sou- de ser um dos primeiros classifi- pitais nacionais era bem a ima-
tabanca fula de Pirada, junto da be-se agora: algumas horas antes cados do curso, militar e acade- “Na madrugada do dia gem de um regime decadente. Fo-
fronteira. “Devíamos mandar uma de morrer, Georges Pompidou quis micamente, não permitiam qual- ram os dez dias mais duros e in-
delegação de filhos da Guiné à ainda dirigir-se uma última vez aos quer ilusão.
25 de Abril, um tensos da nossa vida.
O.N.U. para demonstrarmos que Franceses, deixar-lhes uma última Os meus pais também não ti- camarada avisou-me Depois foi preciso voltar a le-
manteremos a paz e que é o mensagem”, escrevia o jornal. nham simpatia pelo Estado Novo. de que as tropas do vantar o mundo, juntos. Um mês
P.A.I.G.C. que está a complicar essa Uma fotografia ganhava desta- Da minha mãe, nascida numa al- e meio depois, na madrugada do
paz”. que na primeira página do DN de deia no sopé da serra de Monte- Movimento estavam dia 25 de Abril, um camarada avi-
Este eco chegava, precisamente, há 50 anos. Era Ana Paula “a jovem junto, ouvi falar do primeiro em- na rua. Despedi-me da sou-me de que as tropas do Movi-
mento estavam na rua. Despedi-
daquele que foi considerado o pior portuense (...) escolhida como ‘Ra- prego na sede da Companhia de
cenário da guerra de África, a Gui- pariga Ideal 74’”. O concurso, orga- Diamantes de Angola e dos tiques minha mulher e -me da minha mulher e apresen-
né. “Esta ânsia de paz está bem la- nizado pela Mocidade Portuguesa, de ditador do seu patrão, um ofi- apresentei-me na tei-me na Escola Naval.
tente entre toda a população desta não era só de beleza: as candidatas cial de Marinha monárquico pró-
martirizada província portuguesa, também deveriam provar ser boas ximo de Salazar, que foi ministro Escola Naval.” Depoimento recolhido
incluindo a europeia”, podia ler-se. donas de casa e bem educadas. da República, administrador co- por Alexandra Tavares-Teles
4 EM FOCO Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

Desempenho do Presidente da República


Avaliação* Muito bom Bom Nem bom nem mau Mau Muito mau Ns/Nr Atuação na crise do Governo Qual a sua posição sobre a decisão de
(variação em pontos percentuais face a dezembro de 2023) e convocação de eleições dissolver a Assembleia Legislativa da Madeira
Muito boa Boa Nem boa nem má
e de convocar eleições antecipadas
* nos
últimos Má Muito má Ns/Nr Concorda totalmente Concorda Nem concorda nem discorda
6% 9% Discorda totalmente Discorda Ns/Nr
30 dias
(-1) (-10)

26%
(+5)
MARCELO
16%
(-10)
BOA
% 36% MÁ CONCORDAM
%
2% DISCORDAM
7%
REBELO
DE SOUSA 4% (+1) 9% 15% 5%
24% 9%

39% 31%
(+15) 21%
22%

3%
38%
MARCELO REBELO 21%

32 (+4 p.p.)
DE SOUSA

% Atuação POSITIVA Atuação NEGATIVA 25 (-20 p.p.)


% Aceitação de um Governo minoritário

Fez bem em aceitar


Deverá ser mais interventivo nesta legislatura?

64%
61%
56%
e nomear um primeiro-
-ministro para um
Governo minoritário
58%
SIM
% 30% NÃO
49% 53%
45% 44% 44% 45%
Deveria ter insistido com Luís
37% Positiva Montenegro para obter
32% acordo parlamentar com o PS 17%
35% 37%
34% 33% Deveria ter insistido com Luís
27% 28% Montenegro para obter acordo
25% 25%
22% Negativa parlamentar com o Chega 13%
18% 15%
8%
Ns/Nr
dez-21 abr-22 jul-22 set-22 jan-23 abr-23 jul-23 out-23 nov-23 dez-23 abr-24 Ns/Nr 12%

AVALIAÇÃO
FONTE: AXIMAGE, BARÓMETRO POLÍTICO DE ABRIL DE 2024 INFOGRAFIA JN

concretizadas as eleições e escolhi-


do o Governo, volta a terreno positi-
vo (o trabalho de campo da sonda- Eleições são a melhor
gem decorreu antes das mais recen-
tes notícias sobre o caso das solução na Madeira
gémeas).
Mas vale a pena olhar, igualmen- O Presidente da República esperou
te, para o copo meio vazio: quando pela clarificação da situação política
se analisam as respostas por género, a nível nacional para decidir uma

Portugueses voltam a dar


percebe-se que são as mulheres que solução para a crise na Madeira
“salvam” o presidente de continuar (também espoletada por uma
abaixo da linha de água: entre elas, intervenção judicial). E decidiu-se
há um saldo positivo de 14 pontos; por dissolver a Assembleia

positiva a Marcelo e querem entre eles, é de dois pontos negati-


vos. Quando a análise se centra nos
segmentos partidários, percebe-se
que a avaliação só é positiva graças
Legislativa e convocar eleições
antecipadas para 26 de maio de
2024, apenas oito meses depois da

que seja mais interventivo


vitória da coligação PSD/CDS, que
aos eleitores da Aliança Democráti- só conseguiu uma maioria
ca (37 pontos de saldo positivo). En- parlamentar depois de somar, aos
tre os eleitores do PS, Chega, IL, BE, seus 23 eleitos, a deputada única do
CDU e Livre, o saldo é negativo. PAN. Quase dois terços dos
SONDAGEM Presidente da República recupera popularidade, mas a portugueses acompanham Marcelo
Decisões acertadas nessa decisão (62%), sem grandes
proporção dos que hesitam sobre a sua avaliação nunca foi tão alta Outro dado significativo deste baró- oscilações, mesmo quando se
(39%). Escolher Luís Montenegro, mesmo com Governo minoritário, metro é que, pela primeira vez, o analisam as respostas entre os
maior número de respostas aponta diferentes segmentos partidários:
foi a melhor decisão (58%). para terreno neutro: 39% dizem que dos 60% de eleitores do Livre, aos
o presidente da República não tem 69% de eleitores da AD.
estado bem nem mal (em dezembro
TEXTO RAFAEL BARBOSA passado, apenas 24% hesitavam so-
bre como pontuar Marcelo). Caso Mesmo que, sem grande vanta-

U
ltrapassada a tempestade dicação de Luís Montenegro para li- cheio: no último barómetro, em de- para concluir, talvez, que o copo pre- gem, são mais os que consideram
causada pela crise política, derar um Governo minoritário, não zembro de 2023, quando a polariza- sidencial tanto pode encher como que esteve bem no passado recente,
Marcelo Rebelo de Sousa há dúvidas: 58% acreditam que foi a ção política estava ao rubro, e na esvaziar. quando foi necessário convocar elei-
volta a conseguir uma ava- melhor solução. Há também uma agenda mediática se destacava o Se é verdade que há uma grande ções antecipadas (40%) do que os
liação positiva dos portugueses: 32% expressiva maioria que aponta para caso das gémeas brasileiras com tra- percentagem de portugueses que que se manifestam descontentes
estão satisfeitos, 25% dão-lhe nota a necessidade de um presidente da tamento privilegiado no Hospital de não é capaz de se decidir sobre o pre- (36%). Sem surpresa, a satisfação é
negativa, de acordo com uma son- República mais interventivo nesta Santa Maria, Marcelo ficou, pela pri- sidente da República (se somarmos maior à Direita (e em particular en-
dagem da Aximage para o DN, JN e legislatura (62%). meira vez, no vermelho, com um sal- os que não sabem ou recusaram res- tre quem votou na AD nas legislati-
TSF. Mas também é verdade que são Observando com mais detalhe os do negativo (diferença entre notas ponder, são 43%), não é menos que vas), enquanto à Esquerda grassa a
muitos os que hesitam sobre que números desta sondagem, é legíti- positivas e negativas) de 17 pontos. concordam, pelo menos, com as insatisfação (com destaque para
avaliação fazer (39%). Já sobre a in- mo fazer uma leitura de copo meio Pouco mais de três meses depois, suas decisões. quem votou no PS a 10 de março).
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 5

Como avalia a escolha de José Pedro Aguiar-Branco para presidir Qual a sua posição sobre a situação de impasse ocorrida nas três
à Assembleia da República nos dois primeiros anos da legislatura? primeiras votações para eleição do Presidente da Assembleia da FICHA TÉCNICA
Sondagem de opinião realizada
República?
pela Aximage para DN/JN/TSF.

% 15%
NEGATIVA
Muito positiva
Positiva 18 %
Nem positiva nem negativa POSITIVA
59
NEGATIVA
%
Universo: indivíduos maiores
de 18 anos residentes em
Portugal. Amostragem por
quotas, obtida a partir de uma
7% 3 Negativa 5% matriz cruzando sexo, idade e
12% Muito negativa região. A amostra teve 805
13% 25% entrevistas efetivas: 707
Ns/Nr
entrevistas online e 93
9% entrevistas telefónicas; 372
32% homens e 428 mulheres; 180
entre os 18 e os 34 anos, 222
19% entre os 35 e os 49 anos, 202
entre os 50 e os 64 anos e 196
para os 65 e mais anos; Norte
34% 281, Centro 173, Sul e Ilhas 128,
37% 4%
A. M. Lisboa 218. Técnica:
aplicação online (CAWI) de um
questionário estruturado a um
painel de indivíduos que
preenchem as quotas

49
Como avalia a atuação De que forma vê pré-determinadas para
do PS na viabilização
da eleição do
POSITIVA
% 16%
NEGATIVA
a eleição de Diogo
Pacheco Amorim, do 25% %
pessoas com 18 ou mais anos;
entrevistas telefónicas (CATI)
do mesmo questionário ao
4% Chega, para vice- POSITIVA NEGATIVA
presidente da AR? 10% subuniverso utilizado pela
-presidente da AR? 6%
12% Aximage, com preenchimento
das mesmas quotas para os
19% 29% indivíduos com 50 e mais anos
7% e outros. O trabalho de campo
decorreu entre 29 de março e 3
de abril de 2024. Taxa de
41% resposta: 78,15%. O erro
máximo de amostragem deste
26% estudo, para um intervalo de
22% 20% confiança de 95%, é de +/-
3,5%. Responsabilidade do
4% estudo: Aximage, sob a direção
técnica de Ana Carla Basílio.

Solução de Governo
Relativamente à decisão com que ten-
tou pôr um ponto final na crise (ou
Parlamento: PS esteve bem
pelo menos no vazio de poder), a vaga
de apoio é maior: 58% concordam
com a decisão de escolher Luís Monte-
Governar a solo
Os eleitores da AD defendem
a desbloquear o impasse
negro para liderar um Governo com que Luís Montenegro lidere um
apoio minoritário no Parlamento (ape- Governo minoritário (78%). Mas DECISÃO Eleição de Aguiar-Branco para presidente é positiva, mas não entusiasma. Ter
nas 50 mil votos separaram a AD e o PS; há 18% que gostariam de outra um vice do Chega na Assembleia da República é negativo também para os eleitores da AD.
sociais-democratas e socialistas têm o solução: 9% apontam para um
mesmo número de deputados, 78). acordo parlamentar com o PS,
Essa convicção é comum a todos os e outros tantos com o Chega.
segmentos da amostra, com a tal exce-
ção que confirma a regra: 50% dos elei-
O impasse na eleição do presi- seguiu melhores resultados que o ções negativas (33%) do que po-

18%
tores do Chega entendem que o presi- dente da Assembleia da Re- social-democrata. sitivas (18%).
dente da República deveria ter insisti- pública foi negativo (59%), mas a Há uma maioria de portugue- Os elogios esgotam-se na solu-
do com Luís Montenegro para obter atuação do PS, que permitiu des- ses que elogia a solução propos- ção. Quando perguntados sobre
um acordo parlamentar com André bloqueá-lo, foi positiva (51%). A ta por Pedro Nuno Santos a Luís os nomes, o entusiasmo dos por-
Ventura. É certo que também há 37% Evolução Em julho do ano escolha dos personagens, no en- Montenegro (51%), com desta- tugueses esmorece. Aguiar-Bran-
de socialistas que gostariam de ter vis- passado, antes de Marcelo tanto, não entusiasma. De acordo que para os que votaram à es- co consegue, é verdade, um saldo
to um esforço de Marcelo a articular Rebelo de Sousa iniciar com uma sondagem da Aximage querda nas últimas legislativas, e positivo, graças aos 39% de avalia-
um “bloco central”, mas são mais os uma rota descendente, para o DN, JN e TSF, a eleição de em particular os eleitores socia- ções positivas, contra 15% nega-
que se dizem satisfeitos com a solução apenas 18% dos José Pedro Aguiar-Branco só foi listas (71%). Mas também quem tivas. Sucede que a indiferença é
que vingou (49%). portugueses hesitavam positiva para 39%. E a de um de- votou na AD (53%). Entre todos quase a regra: 46% dos inquiridos
Conscientes de que a aritmética par- sobre se a sua atuação era putado do Chega para a vice-pre- os segmentos só destoam os que refugiam-se numa resposta neu-
lamentar dá escassa (ou nula) margem positiva ou negativa. Nove sidência foi negativa (49%). votaram no Chega. É o único seg- tra ou recusam dar uma opinião,
de manobra ao novo primeiro-minis- meses depois, são 39%. Foi só à quarta tentativa que o mento em que há mais avalia- em particular as mulheres (51%).
tro, são ainda mais os que entendem ex-ministro social-democrata Pior é a avaliação de Pacheco de

41%
que Marcelo Rebelo de Sousa deve ser conseguiu ser eleito presidente Amorim, que foi eleito vice-presi-
mais interventivo nesta legislatura do do Parlamento. E apenas para dente, com os votos dos deputa-
que na anterior (62%). É assim, de metade da legislatura, depois de dos do Chega, o seu partido, e do
novo, em todos os segmentos da os socialistas avançarem com PSD. Por cada resposta positiva
amostra, mas em particular entre os
que vivem no Sul e nas ilhas (70%), en-
Intervenção Ainda que a
maioria dos portugueses
uma proposta que permitiu ultra-
passar o bloqueio que ameaçava
Há uma maioria de (25%) há dois inquiridos que con-
sideram a escolha negativa (49%),
tre as mulheres (mais oito pontos que pretenda um presidente paralisar o arranque dos traba- portugueses que com destaque para as mulheres e
os homens), entre os mais jovens (67%) mais interventivo nesta lhos da nova legislatura: José Pe- elogia a solução os eleitores com 65 ou mais anos.
e entre os que votaram na AD (70%). legislatura (62%), há um dro Aguiar-Branco será o líder da Por segmento de voto, os mais crí-
Há de novo uma exceção que confirma grupo etário que se mostra Assembleia da República duran- proposta por Pedro ticos são os eleitores dos partidos
a regra, desta vez os eleitores do Livre, menos convencido: 41% te dois anos e, nos dois restantes Nuno Santos a Luís à Esquerda. Mas até os eleitores
em que a posição maioritária (55%) é dos que têm 65 ou mais será um deputado socialista, da Aliança Democrática pendem
de que não faz falta um presidente anos não o desejam. eventualmente Francisco Assis, Montenegro (51%). mais para uma avaliação negati-
mais interventivo. que, quando foi a votos, até con- va (36%) do que positiva (29%).
6 A SEMANA NUM MINUTO Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

por Carlos Ferro João Sousa,


acompanhado pelos
pais e pelo treinador,
foi homenageado no
Ekrem Imamoglu, do CHP, manteve court do Estoril após
a liderança da Câmara de Istambul o seu último jogo.
e é apontado como um candidato
às presidenciais de 2028.
YASIN AKGUL / AFP

A pouca adesão dos jovens às Forças Armadas e a


situação de segurança internacional voltou a colocar na
agenda a discussão sobre o Serviço Militar Obrigatório.
IGOR MARTINS / GLOBAL IMAGENS

Sáb.
Serviço Militar
Dom. 2.ª
O “ponto Alemanha
3.ª
Recados, pressões
Obrigatório. Sim, não, de viragem” autoriza consumo e ausências.
vamos analisar para Erdogan de canábis A posse do Governo
Os dados conhecidos não deixam dúvidas: há cada Os resultados das eleições municipais na Três meses. Este é o tempo que os Eis um recado do Presidente da República,
vez menos jovens a quererem ir para as Forças Turquia surpreenderam o presidente Recep consumidores vão ter de esperar na Marcelo Rebelo de Sousa: os portugueses
Armadas. Dados de outubro de 2023 mostravam Tayyip Erdogan, que viu o seu partido Alemanha para poderem comprar canábis “escolheram dar a vitória ao setor moderado e
que cumpriam serviços nas FA 23 425 militares, um perder poder em vários municípios e, ao de forma legal. A lei que entrou em vigor a não ao setor radical”. A seguir o aviso e a pressão
número bem abaixo dos 32 mil autorizados pelo mesmo tempo, assistiu ao crescimento do 1 de abril vai permitir que os do novo primeiro-ministro Luís Montenegro:
Governo. Este panorama, num momento em que o principal partido da oposição, o CHP consumidores com mais de 18 anos “Este Governo está aqui para para governar os
sentimento de insegurança mundial é cada vez (Partido Popular Republicano). Este possam ter na sua posse 25 gramas, quatro anos e meio da legislatura” e o PS tem de
maior e que existem guerras em curso na Ucrânia e manteve a liderança das cidades de cultivem até 50 gramas e tenham até três decidir se é “uma oposição democrática ou um
em Israel, fez surgir o debate sobre o regresso do Istambul e Ancara, mas ainda foi plantas por adulto em casa. Dentro de três bloqueio democrático”. E, finalmente, as
Serviço Militar Obrigatório, com os chefes militares conquistando várias outras autarquias num meses, os consumidores podem fazer ausências: o secretário-geral do PS, Pedro Nuno
a defenderem que se analise essa possibilidade. A resultado que o próprio Erdogan parte dos chamados “clubes sociais”, os Santos, o Bloco de Esquerda e o PCP não
discussão ainda vai no início, mas há uma considerou como “um ponto de viragem” quais podem ter até 500 membros, marcaram presença na tomada de posse do XXIV
curiosidade que aqui deixamos: o SMO acabou há no país. Erdogan garantiu que iria respeitar estando autorizados a distribuir 50 Governo Constitucional, liderado por Luís
20 anos após decisão do ministro da Defesa de a “decisão da nação”, que não só não lhe gramas de canábis por mês a cada Montenegro.
então, o centrista Paulo Portas; agora pode caber “devolveu” Istambul como o penalizou em membro. Esta legislação coloca a Eis o retrato do que aconteceu na Sala dos
ao presidente do CDS/PP Nuno Melo propor o seu muitas outras cidades. Os analistas Alemanha entre os três países europeus Embaixadores do Palácio da Ajuda no dia em que
regresso. Vamos ter de esperar pela decisão, mas destacaram principalmente o triunfo de que permitem o consumo recreativo, os novos ministros tomaram posse. Pelo que se
será interessante perceber qual o pensamento atual Ekrem Imamoglu, autarca de Istambul, que juntando-se a Malta e ao Luxemburgo. Em ouviu depois, dos restantes partidos com assento
do dirigente que em 2007 achava que o serviço surge como o nome em destaque para as Portugal, o consumo foi descriminalizado, parlamentar, esta tarde deve ter sido a mais calma
militar devia ser facultativo. presidenciais de 2028. mas não despenalizado, em 2001. que o Governo vai ter nos próximos tempos…
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 7

A legalização do consumo
de canábis na Alemanha foi
assinalada de várias formas.

JOHN MACDOUGALL / AFP


Antigo secretário
O Presidente da de Estado Lacerda Sales
República deu posse foi visado no relatório
aos novos 17 ministros. da IGAS.

RITA CHANTRE / GLOBAL IMAGENS


TIAGO PETINGA/LUSA PAULO SPRANGER/GLOBAL IMAGENS

4.ª
Estoril Open
5.ª
Caso das gémeas.
6.ª
A manifestação de
emocionou-se no adeus Crianças foram as TVDE que chegou à
TIAGO PETINGA/LUSA

ao “let’s go João, let’s go” únicas inocentes Avenida da Liberdade


“Não podia ter escolhido um melhor palco para Foi um dos casos que mais deu que falar nos últimos A Avenida da Liberdade recebeu
terminar a carreira”. Com a voz embargada, e meses do governo anterior. Envolveu o Ministério da um número surpreendente de
lágrimas a interromper o discurso, João Sousa Saúde, a Presidência da República, o filho do carros com o dístico TVDE numa
Trabalhadores dos TVDE exigiram despediu-se do ténis profissional no Estoril Open. Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e duas gémeas manifestação inédita dos
melhores condições de trabalho O melhor tenista português – chegou ao lugar 28 luso-brasileiras que sofrem de atrofia muscular motoristas destes veículos
em vários pontos do país. do ranking ATP, em maio de 2016 – saiu dos courts espinhal tipo 1 e que receberam um tratamento com descaracterizados de transporte
a agradecer o apoio que recebeu da família e do o medicamento Zolgensma, na altura considerado individual de passageiros. Centenas
treinador, ao longo da carreira em que venceu um dos mais caros do mundo. Não estando em de motoristas não responderam
quatro torneios ATP: Kuala Lumpur (2013), causa a necessidade de tratamento às jovens (as aos pedidos das plataformas como
Valência (2015), Estoril Open (2018) e Pune (2022). mais inocentes no processo), o que está em causa a UBER e a Bolt, preferindo parar os
No seu último encontro, João Sousa perdeu com foi a forma como a família o conseguiu. Segundo o carros como forma de protesto
Arthur Fils em dois sets (7-5 e 6-4), mas o relatório da Inspeção-geral das Atividades em Saúde, para as condições que lhes são
resultado acabou por ficar para segundo plano. o acesso foi feito de forma ilegal pois o processo não propostas - as quais estão,
Após as homenagens e discursos, João Sousa terá respeitado a portaria que regula o acesso dos asseguram, “no limiar da
saiu do court – quando terminou o jogo bateu utentes ao Serviço Nacional de Saúde. De acordo rentabilidade das empresas”. Entre
com a mão duas vezes na terra batida e depois com o que se sabe agora, terá havido interferência as suas queixas deixaram o alerta
duas vezes no coração – e a partir de agora vai de um secretário de Estado e a própria Presidência cd que têm de trabalhar sete dias
deixar-se de ouvir “let’s go João, let’s go” que se da República não está isenta de culpas ao atrasar a por semana, dez a 12 horas por dia,
ouvia nas bancadas. Foi uma saída “em paz”, entrega de documentos. Vale a pena mais para conseguirem algum
frisou. comentários? rendimento.
8 POLÍTICA Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

OS MINISTROS E OS SEUS
Governo muito SECRETÁRIOS DE ESTADO
mais técnico
e feminino do que
PAULO LOPES RUI ARMINDO
MARCELO FREITAS
SECRETÁRIO DE SECRETÁRIO DE ANTÓNIO
ESTADO DA ESTADO LEITÃO AMARO
PRESIDÊNCIA DO ADJUNTO DA MINISTRO
CONSELHO DE PRESIDÊNCIA DA PRESIDÊNCIA

experiente no poder
MINISTROS

ESCOLHAS Tomada de posse dos 41 secretários de Estado aumenta


INÊS NUNO SAMPAIO JOSÉ CESÁRIO
para dois o número de atuais governantes que já tinham sido ministros. DOMINGOS SECRETÁRIO DE SECRETÁRIO DE
SECRETÁRIA DE ESTADO DOS ESTADO DAS PAULO RANGEL
Primeiro-ministro aposta no recrutamento de figuras da sociedade civil. ESTADO DOS NEGÓCIOS COMUNIDADES MINISTRO DE ESTADO
E DOS NEGÓCIOS
ASSUNTOS ESTRANGEIROS PORTUGUESAS
EUROPEUS E DA COOPERAÇÃO ESTRANGEIROS

TEXTO LEONARDO RALHA


CARLOS PEDRO DIAS
ABREU

O
SECRETÁRIO DE
AMORIM ESTADO DO PEDRO DUARTE
Conselho de Ministros negro com noção do que é gover- sultora McKinsey, para secretário SECRETÁRIO DESPORTO MINISTRO DOS
informal, realizado hoje nar - além de José Cesário, que de Estado das Infraestruturas. Ou DE ESTADO ASSUNTOS
ADJUNTO E DOS PARLAMENTARES
de manhã em Óbidos, também foi secretário de Estado da na inclusão de sete coordenadores ASSUNTOS
será a primeira reunião Administração Local, o currículo setoriais do Conselho Estratégico PARLAMENTARES
do Governo com que Luís Monte- mais extenso é o do ministro Ad- Nacional do PSD (ver texto nestas
negro pretende cumprir mais de junto e da Coesão Territorial, Cas- páginas) e na aposta de ir buscar
quatro anos de legislatura embora tro Almeida, a quem cabe a tutela governantes às universidades, em- MARIA CLARA MARIA JOSÉ
seja apoiado por apenas 80 dos 230 dos fundos do Plano de Recupera- presas e restante sociedade civil, FIGUEIREDO BARROS
SECRETÁRIA DE SECRETÁRIO DE RITA JÚDICE
eleitos para a Assembleia da Repú- ção e Resiliência - será um dos de- patente na ida de Pedro Dias, dire- ESTADO ESTADO DA MINISTRA
blica. E também a ocasião para safios a enfrentar. Mas o primeiro- tor executivo da Federação Portu- ADJUNTO E DA JUSTIÇA DA JUSTIÇA
apresentar uma equipa de 59 go- -ministro espera responder com a guesa de Futebol, para a Secretaria JUSTIÇA
vernantes, entre primeiro-minis- competência técnica dos “recruta- de Estado do Desporto.
tro, 17 ministros e 41 secretários de dos”. Nomeadamente nas Finan- Apesar de os novos secretários de
Estado, caracterizada pelo elevado ças, onde Miranda Sarmento se fez Estado não esquecerem o aparelho
número de mulheres (24, entre sete rodear de José Maria Brandão de social-democrata, com o ex-depu- ALEXANDRE PEDRO ANA PAIVA
ministras e 17 secretárias de Esta- Brito (Adjunto e do Orçamento), tado Carlos Abreu Amorim a tor- HOMEM DANTAS DA SECRETÁRIA
do), pela profusão de figuras com economista-chefe do BCP, ou da nar-se secretário de Estado Adjun- CRISTO CUNHA DE ESTADO FERNANDO
SECRETÁRIO DE SECRETÁRIO DE DA CIÊNCIA ALEXANDRE
perfil mais técnico do que político, advogada Cláudia Reis Duarte (As- to e dos Assuntos Parlamentares, e ESTADO ESTADO DA MINISTRO DA
e ainda pela falta de experiência em suntos Fiscais). E nas Infraestrutu- mais oito deputados do PSD (e um ADJUNTO E DA ADMINISTRAÇÃO EDUCAÇÃO,
EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO CIÊNCIA E INOVAÇÃO
funções governativas. ras, onde Miguel Pinto Luz optou do CDS-PP) a cederem os seus lu- EDUCATIVA
Depois de Luís Montenegro, que por Hugo Espírito Santo, da con- gares no hemiciclo, incluindo Cla-
nunca tinha integrado um Gover- ra Marques Mendes, João Moura,
no, ter escolhido um conjunto de Paulo Simões Ribeiro e ainda os re-
HUGO ESPÍRITO CRISTINA PATRÍCIA
ministros em que apenas um dos cém-eleitos Emídio Sousa, Hernâ- SANTO PINTO DIAS MACHADO
elementos (Maria da Graça Carva- DETALHES ni Dias e Inês Domingos, ou o in- SECRETÁRIO DE
ESTADO DAS
SECRETÁRIA DE
ESTADO DA
SANTOS
SECRETÁRIA
MIGUEL PINTO LUZ
MINISTRO DAS
lho, titular da pasta do Ambiente e dependente Alexandre Homem INFRAESTRUTURAS MOBILIDADE DE ESTADO INFRAESTRUTURAS
Energia) tinha a experiência de as- MINISTRO FICA COM SUPERIOR Cristo, a busca de governantes “fora DA HABITAÇÃO E HABITAÇÃO
sumir uma pasta (Ciência e do En- Não existe secretário de Estado do da caixa” complicou a apresenta-
sino Superior), e com apenas mais Ensino Superior porque a área será ção da lista completa ao Presiden-
seis antigos secretários de Estado, tutelada diretamente pelo ministro te da República, pelo que os nomes
os 41 que ontem tomaram posse Fernando Alexandre. No que toca só foram divulgados no final da
no Palácio da Ajuda consolidaram à Inovação irá articular-se com a noite de quinta-feira. JORGE CLARA ADRIANO
CAMPINO MARQUES RAFAEL
a imagem de escassez de currículo secretária de Estado da Ciência. Marcelo Rebelo de Sousa expli- SECRETÁRIO DE MENDES MOREIRA MARIA DO ROSÁRIO
na governação. Apenas três dos cou esse atraso ontem, após a ceri- ESTADO DA SECRETÁRIA DE SECRETÁRIO DE PALMA RAMALHO
SEGURANÇA ESTADO DA ESTADO DO MINISTRA DO TRABALHO,
novos secretários de Estado têm EQUIPAS DE UM GÉNERO SÓ mónia de tomada de posse, dizen- SOCIAL AÇÃO SOCIAL E TRABALHO SOLIDARIEDADE
currículo nessas funções: o centris- Três ministérios (Justiça, Saúde e do que quando o primeiro-minis- DA INCLUSÃO E SEGURANÇA SOCIAL
ta Telmo Correia, agora secretário Cultura) só têm mulheres nos tro se dirigiu ao Palácio de Belém
de Estado da Administração Inter- lugares de topo, entre ministras e ainda faltava confirmar “quatro ou
na, já foi ministro do Turismo, en- secretárias de Estado. O inverso cinco nomes”, indiciando que al-
quanto o social-democrata José sucede noutro três ministérios: guns secretários de Estado tiverem CARLA MOURO ALBERTO
SECRETÁRIA DE RODRIGUES
Cesário retoma novamente a Se- Presidência, Coesão Territorial e de ultimar as condições de saída ESTADO DA SILVA MARGARIDA
cretaria de Estado das Comunida- Assuntos Parlamentares. dos respetivos empregos. “Não é ADJUNTO E DA SECRETÁRIO BALSEIRO LOPES
IGUALDADE DE ESTADO DA MINISTRA DA
des Portuguesas, e Hélder Reis pas- fácil compor um Governo em sigi- MODERNIZAÇÃO JUVENTUDE E
sa a secretário de Estado do Planea- DE MULETAS NA CERIMÓNIA lo e com uma diversidade de secre- E DA DIGITALIZAÇÃO MODERNIZAÇÃO
mento e Desenvolvimento Re- Entre os 41 secretários de Estado tários de Estado”, rematou o Presi-
gional, após ter sido secretário de que tomaram posse, destacou-se dente da República, que viu os seus
Estado Adjunto e do Orçamento no Hugo Espírito Santo, titular das antigos conselheiros Nuno Sam-
Executivo de Pedro Passos Coelho. Infraestruturas, que se deslocou paio e Hélder Reis assumirem fun- MARIA DE LURDES
Ter apenas uma dezena de ele- ontem ao Palácio da Ajuda ções no Governo. CRAVEIRO
SECRETÁRIA DE DALILA RODRIGUES
mentos da equipa de Luís Monte- apoiado em muletas. leonardo.ralha@dn.pt ESTADO DA CULTURA MINISTRA DA
CULTURA
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 9

Um terço dos coordenadores


LUÍS MONTENEGRO
PRIMEIRO-MINISTRO do CEN do PSD vão governar
EQUIPA Sete secretários de Estado eram responsáveis
setoriais do Conselho Estratégico Nacional. Mas quase
todos em áreas diferentes das que aceitaram tutelar.

HÉLDER REIS HERNÂNI DIAS


SECRETÁRIO SECRETÁRIO DE
MANUEL DE ESTADO DO ESTADO DA
CASTRO ALMEIDA PLANEAMENTO E ADMINISTRAÇÃO
MINISTRO-ADJUNTO DESENVOLVIMENTO LOCAL E

A
E DE COESÃO TERRITORIAL REGIONAL ORDENAMENTO s escolhas dos secretários Ministro da Presidência) tradu-
DO TERRITÓRIO
de Estado confirmaram o zem o peso político do órgão
peso do Conselho Estratégico que já foi liderado pelo ministro
Nacional (CEN) do PSD. Após o de Estado e das Finanças, Mi-
seu coordenador, Pedro Duar- randa Sarmento, que é descrito
te, ter sido nomeado ministro como uma “equipa renovada,
dos Assuntos Parlamentares, e jovem e dinâmica, pronta para
Rita Júdice, responsável pela arregaçar as mangas”.
JOSÉ MARIA CLÁUDIA REIS JOÃO SILVA MARISA Habitação, assumir a pasta da Há, no entanto, diferenças
BRANDÃO DE DUARTE LOPES GARRIDO Justiça, mais sete coordenado- entre as áreas em que esses go-
JOAQUIM BRITO SECRETÁRIA DE SECRETÁRIO DE SECRETÁRIA DE
MIRANDA SARMENTO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ESTADO DO ESTADO DA res setoriais do órgão destinado vernantes trabalharam no CEN
MINISTRO DE ESTADO ESTADO ASSUNTOS TESOURO E DAS ADMINISTRAÇÃO a preparar ideias e propostas e as que vão tutelar. Ana Isabel
E DAS FINANÇAS ADJUNTO E DO FISCAIS FINANÇAS PÚBLICA
ORÇAMENTO políticas, tornaram-se secretá- Xavier coordenava a Defesa Na-
rios de Estado, pelo que mais do cional e Nuno Sampaio a Políti-
que um em cada três dos 26 res- ca Externa, Diáspora e Assuntos
ponsáveis integram o Governo. Europeus, mas Cristina Vaz To-
ÁLVARO
CASTELO
ANA ISABEL
XAVIER ESCOLHAS DE Ana Isabel Xavier (Defesa Na-
cional), Cristina Vaz Tomé (Ges-
mé detinha a Economia e Em-
presas, Inês Domingos o Em-

SECRETÁRIOS
NUNO MELO BRANCO SECRETÁRIA DE
MINISTRO DA DEFESA SECRETÁRIO DE ESTADO DA tão da Saúde), Inês Domingos preendedorismo, Inovação e
NACIONAL ESTADO DEFESA (Assuntos Europeus), João Rui Digitalização, João Rui Ferreira

DE ESTADO
ADJUNTO E DA NACIONAL Ferreira (Economia), João Silva os Serviços Públicos e Reforma
DEFESA
NACIONAL Lopes (Tesouro e Finanças), do Estado, João Silva Lopes o

FORÇAM MAIS
Nuno Sampaio (Negócios Es- Ambiente e Sustentabilidade e
trangeiros e Cooperação) e Rui Rui Armindo Freitas o Investi-
Armindo Freitas (Adjunto do mento e Fundos Estruturais. L.R.
MUDANÇAS NO
TELMO PAULO SIMÕES
CORREIA RIBEIRO
MARGARIDA BLASCO SECRETÁRIO DE SECRETÁRIO DE
MINISTRA DA

PARLAMENTO:
ESTADO DA ESTADO DA
ADMINISTRAÇÃO INTERNA ADMINISTRAÇÃO PROTEÇÃO CIVIL
INTERNA

OITO NO PSD CDS concentrado na Defesa


ANA POVO
SECRETÁRIA DE
CRISTINA VAZ
TOMÉ
E UMA NO CDS e na Administração Interna
ANA PAULA MARTINS ESTADO DA SECRETÁRIA DE
MINISTRA DA SAÚDE SAÚDE ESTADO DA PARCEIRO Álvaro Castelo Branco torna-se o adjunto
GESTÃO DA
SAÚDE de Nuno Melo e Telmo Correia regressa ao Executivo
para retomar tradição centrista e tentar travar o Chega.

AO TODAO TODO
PEDRO REIS
PEDRO
MACHADO
SECRETÁRIO DE
JOÃO RUI
FERREIRA
SECRETÁRIO DE
LÍDIA BULCÃO
SECRETÁRIA DE
ESTADO DO MAR
AO TODO HÁ 24
MULHERES
MINISTRO DA ECONOMIA

S
ESTADO DO ESTADO DA
TURISMO ECONOMIA em o peso eleitoral que teve pela juíza jubilada (e ex-inspe-
noutros executivos de coli- tora-geral da Administração In-

NO GOVERNO, gação com o PSD, o CDS-PP só


pôde apontar dois secretários
terna) Margarida Blasco -, de-
pois de Nuno Magalhães, Filipe

COM SETE
de Estado além de Nuno Melo Lobo d’Ávila e João Almeida,
enquanto ministro, mas conso- Telmo Correia vai empenhar-se
EMÍDIO SOUSA MARIA JOÃO

MINISTRAS E 17
SECRETÁRIO DE PEREIRA
lidou a sua posição nas áreas- na resolução dos diferendos
MARIA DA GRAÇA ESTADO DO SECRETÁRIA DE -chave da Defesa e da Adminis- com as associações representa-
CARVALHO AMBIENTE ESTADO DA tivas das forças de segurança.
tração Interna. E com ambições
SECRETÁRIAS
MINISTRA DO AMBIENTE ENERGIA
E ENERGIA de conter e reverter o Chega nas Mas nos seus objetivos políticos
áreas de soberania. estará a travagem do aumento

DE ESTADO Essa será uma das missões do


ex-líder parlamentar centrista
Telmo Correia, que regressa a
de influência do Chega nas po-
lícias.
O outro secretário de Estado
JOÃO MOURA CLÁUDIA RUI LADEIRA funções governativas, duas dé- do CDS-PP é Álvaro Castelo
SECRETÁRIO DE MONTEIRO DE SECRETÁRIO DE
JOSÉ MANUEL ESTADO DA AGUIAR ESTADO DAS cadas após ser ministro do Tu- Branco, adjunto do ministro da
FERNANDES AGRICULTURA SECRETÁRIA DE FLORESTAS rismo no Governo de Santana Defesa, Nuno Melo, que terá
MINISTRO DA ESTADO DAS
AGRICULTURA E PESCA PESCAS Lopes, assumindo a Secretaria ainda a social-democrata Ana
de Estado da Administração In- Isabel Xavier como secretária de
terna. Além de confirmar a tra- Estado. A ida para o Governo do
dição do CDS-PP no ministério - vice-presidente centrista, que ti-
um dos que nunca tiveram mi- nha assumido o mandato de
nistros centristas, embora desta Nuno Melo na lista do Porto da
vez o PSD não tenha optado por AD, permite o regresso de João
um dos seus dirigentes, mas sim Almeida à bancada centrista. L.R.
10 POLÍTICA Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

Opinião
Viriato
Soromenho-
-Marques

GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS


Que fazer com esta espada?

H
á uma notável cor- a tendência geral de profissio-
respondência de nalização – acompanhada
1776, entre o mar- mesmo de privatização e mer-
Na noite eleitoral, o líder do PS recusou entrar em “tática política” e assumiu a derrota. quês de Pombal e o cenarização de tarefas antes
conde de Lippe (ver Fernando atribuídas às FFAA – que var-

“É estratégia política”:
Dores Costa, Insubmissão, ICS, reu o Ocidente. Para os EUA e a
2010, 343-351), que ajuda a OTAN, os conflitos em perspe-
perceber os recorrentes obstá- tiva, após a implosão da URSS
culos que qualquer mudança (assumida como uma “derro-

Líder do PS cola PSD profunda nas FFAA em Portu-


gal enfrentará. O conde ale-
mão Schaumburg-Lippe, figu-
ra reinante do seu principado
ta” da Rússia), seja a punição
da Sérvia, a invasão do Iraque,
ou o dinamitar da Líbia, eram
uma espécie de expedições

à extrema-direita na Baixa-Saxónia e coman-


dante militar ao serviço de
Londres, tinha chefiado o
contra líderes tribais, fazendo
lembrar as campanhas colo-
niais, em que alguns países eu-
exército anglo-luso de 15 000 ropeus, incluindo Portugal, se
OPOSIÇÃO Pedro Nuno Santos compara o Governo à direita radical. homens, que em 1762, com a envolveram antes do desenca-
ajuda da resistência popular, dear da I Guerra Mundial.
Analisando o discurso, o investigador Riccardo Marchi não tem dúvidas: desfizera um exército franco- Nos anos 80, apoiei total-
é uma tática política“inteligente” para poder liderar a oposição. -espanhol de mente a lucidez esclarecida do
40 000 efetivos. Em 1776, com general Pedro Pezarat Correia,
a ameaça espanhola de novo à na sua obra de 1988, Centu-
TEXTO RUI MIGUEL GODINHO espreita, Pombal regressava a riões ou Pretorianos? O velho
Lippe para um novo milagre. SMO tinha numerosos defei-
Com polidez aristocrática, de tos e anacronismos, mas a sua

P
ara Pedro Nuno Santos, lí- diz o professor no ISCTE. “Pedro ou nenhuma intenção de negociar Lippe não deixa de lamentar abolição não melhorou ne-
der do Partido Socialista, é Nuno Santos já foi muito claro so- e legislar em bloco central, e tem os motivos da falta de empe- nhum dos aspetos que afeta-
claro: a agenda política da bre a oposição. Agora, quer forçar mais hipóteses de governar com nho nacional nas reformas por vam negativamente a institui-
Aliança Democrática (AD) os partidos da Aliança Democráti- partidos à esquerda, como o Livre. ele lançadas. Em 1776, como ção militar, antes os agravou a
é partilhada com partidos de extre- ca a negociar com o Chega, que é Olhando para o quadro parlamen- em 2024, o país carece da visão todos. Pezarat Correia republi-
ma-direita, algo que “ficou claro” aquilo que eles não querem. É uma tar, o PSD pode governar com político-social, larga e estraté- cou há dias, no blog AViagem
no discurso de tomada de posse de estratégia inteligente, porque Pe- quem? Com o Chega, mas o cordão gica, que Lippe considerava dos Argonautas, um texto de
Luís Montenegro, na passada ter- dro Nuno Santos já mostrou pouca sanitário mantém-se”, analisa. ser fundamental. 2018, de leitura obrigatória,
ça-feira. Nessa ocasião, o líder do Para já, não vai haver declarações As palavras proferidas re- pois constitui uma autêntica
PSD apontou baterias aos socialis- oficiais do grupo parlamentar do centemente por altas chefias metodologia para analisar a
tas, dizendo que se deviam decidir PSD sobre as declarações de Pedro militares a favor do regresso ao questão das FFAA e do SMO
sobre se queriam ser “oposição ou Nuno Santos. Serviço Militar Obrigatório com seriedade e inteligência.
bloqueio” nesta Legislatura. No discurso de ontem, o líder do (SMO) não têm densidade ar- Outros militares, como Carlos
Ontem, falando na sessão de Alexandra Leitão PS olhou ainda para o contexto eu- gumentativa. Falar da “ameaça Matos Gomes ou Jorge Ferrei-
abertura da reunião anual do Par- ropa: “As semelhanças entre direi- russa” ou do “desemprego jo- ra, têm oferecido outras opi-
tido Socialista Europeu (PSE) no
é a escolha para ta e extrema-direita” são visíveis. vem” para justificar essa esco- niões pertinentes. O debate
comité das regiões, o líder socialis- líder parlamentar Por toda a Europa, “governam jun- lha não exibe um pensamento, sobre o SMO exige repensar as
ta apontou baterias ao Governo li- tos” e a “direita nacional sentiu ne- mas um reflexo de Pavlov, mi- FFAA no seu conjunto. Será o
derado por Luís Montenegro: “O A eleição na bancada parlamentar cessidade de se aliar” à direita radi- metizando os disparatados es- novo governo capaz de pro-
que nós vamos assistindo é a uma do PS realizar-se-á na próxima cal. “Ou governam com a extrema- tados de alma, sem espessura, mover essa discussão? E as
direita tradicional a assumir as quarta-feira (véspera da discussão -direita ou assumem as suas que hoje governam a UE. Aliás, Universidades? Ou a comuni-
bandeiras da extrema-direita, do programa de Governo, na bandeiras. Não governam com a uma UE cada vez mais pareci- cação social? Onde reside o
como aliás já hoje se verifica em Assembleia) e a ex-ministra da extrema-direita, mas assumem da com a anomia do Sacro-Im- nosso interesse nacional? Será
Portugal. Existem mais semelhan- Modernização do Estado prepara- parte da sua agenda”, apontou o lí- pério Romano Germânico, só útil a Portugal juntar-se aos
ças entre os partidos da direita tra- -se para suceder a Eurico Brilhante der socialista. que desta vez com delegação que querem incendiar o que já
dicional, a chamada direita clássi- Dias. Caso seja eleita, a deputada – Por isso é que, os socialistas de- em Bruxelas e sede emWa- está a arder? Como é que as
ca, e os da extrema-direita, do que que coordenou o programa de vem manter “a sua ideologia e shington, e não naViena impe- FFAA podem contribuir para
aquilo que se vai ouvindo.” Pedro Nuno Santos às eleições combater as novas alianças”. Só as- rial. A mesma superficialidade enfrentar desafios não bélicos,
Ainda que na noite eleitoral de 10 diretas do partido – será a segunda sim se pode responder aos proble- que anima, agora de ardor bé- como os da vertiginosa degra-
de março (em que saiu derrotado) mulher a liderar a bancada do PS, mas das pessoas, assegurando a lico, até homens com idade dação ambiental, que vão lesar
o líder do PS tenha recusado qual- depois de Ana Catarina Mendes democracia, defendeu Pedro Nu- mais do que madura, corres- pessoas, fazenda e território?
quer “tática política” para chegar ao (2019-2022). A antiga líder no Santos. E concluiu dizendo: “Há ponde ao apático conformis- Seremos capazes de estudar,
poder, o investigador Riccardo parlamentar é, aliás, uma das ideologia, há politica diferente e os mo reinante nas quase duas pensar e debater, antes de defi-
Marchi olha para o discurso feito deputadas socialistas que vem do socialistas vão mostrando ao longo décadas que antecederam a nir estratégias compromete-
ontem precisamente como isso: Governo que cessou funções. Ao dos anos que nos distinguimos de destruição formal do SMO em doras do nosso futuro?
estratégia. “Serve, no fundo, para todo, são 17 ex-ministros e forma séria daquilo que é o traba- 2004. Certamente, muitos dos
tentar assumir a oposição e não secretários de Estado a assumir o lho que a direita vai fazendo.” que agora apelam às armas, fo-
deixar essa função para o Chega”, lugar de deputados. rui.godinho@dn.pt ram os mesmos que aceitaram Professor universitário
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 11

João Oliveira na terra que já foi comunista,


“sem desespero nem facilitações”
REGRESSOS O cabeça de lista do PCP às eleições europeias voltou à Marinha Grande. Na terra onde o PCP já dominou,
mas que já foi ultrapassado pela esquerda e pela direita e também pelo Chega, foi ao encontro dos trabalhadores.

TEXTO PAULA SOFIA LUZ

B
“ om dia, somos do PCP, e
estamos aqui a apresentar
as nossas propostas para
ver se melhoram as condi-
ções de trabalho e a vida”. João Oli-
veira, primeiro candidato do parti-
do ao Parlamento Europeu, repete
o discurso com voz pausada e sorri-
so aberto, de cada vez que alguém
sai na portaria da Crisal - uma das
fábricas da Marinha Grande que
continua a produzir vidro, e onde
trabalham cerca de 300 pessoas. En-
trega um pequeno panfleto com
frente e verso, onde o PCP diz ao que
vem: aumentar salários e pensões,
salvar o SNS e assegurar a todos o di-
reito à saúde, garantir o direito à ha-
bitação, entre outros. E mesmo que

(NUNO BRITES / GLOBAL IMAGENS


em matéria de direitos todos este-
jam interessados em alcançar, sabe
que no que toca aos deveres, no-
meadamente o cívico, do voto, os
tempos não são famosos para o par-
tido. Ali, na Marinha Grande, onde
o PCP já foi poder, e o concelho con-
siderado um bastião comunista, há
muito que começou a ser ultrapas-
sado: primeiro pela esquerda (PS e Candidato do PCP diz que não se pode olhar para o passado – a perda de uma bastião político – com sentimento de amargura.
BE) e agora pela direita.
Nas legislativas de março, o Che- zem muito à conta do trabalho que é mais explícito. Filipe Norte, como temos vindo a perder capa- verdadeira celebração do 25 de
ga - que lhe mordera os calcanha- temporário. “Esses não querem sa- único funcionário do partido na cidade produtiva, em função de abril. Sabe que os tempos são ou-
res da votação em 2022 - ultrapas- ber do sindicato para nada. Até têm Marinha Grande, conhece bem o dois fatores que contribuem para tros, conhece bem os resultados
sou-o com uma vantagem de 13 medo de aceitar um papel”, conta registo: “basta a da frente dizer que isso - políticas nacionais nesse sen- das eleições. “Se olharmos para os
pontos percentuais. Entre os ao DN Hilário Barros, o delegado não, quem vem atrás faz o mesmo”. tido, e por outro lado imposições e resultados eleitorais como critério
22.269 votantes, o partido mais vo- sindical da Crisal, torneiro mecâni- No panfleto está escrito o que se vai orientações da União Europeia”. de avaliação social, só vemos uma
tado foi o PS (29,84%), mas logo se- co de profissão, há 10 anos ao ser- ouvindo numa gravação, através pequeníssima parte”, afirma.
guido do Chega (20,05%) e da coli- viço naquela fábrica. À medida que da coluna de som: “passadas as Ver para além das votações “Quando olhamos para as ações
gação PSD/CDS (19,43%). A CDU vão saindo os colegas, alguns cum- eleições os problemas permane- O candidato do PCP às eleições eu- de luta dos trabalhadores, que exi-
(PCP/PEV) ficou assim em 4º lugar primentam-no. cem. Os salários e pensões de refor- ropeias sabe bem a terra que pisa. gem coragem, no dia a dia (para fa-
nas eleições, com apenas 6,40% da Há anos que o partido começara ma continuam curtos, a habitação “Mais do que ficarmos agarrados zer uma greve, um abaixo-assina-
votação. a perder terreno, em linha com o inacessível para muitos, enquanto ao passado com algum sentimen- do, ir à discussão com os patrões);
Ainda assim, a luta continua. À quadro geral do país, e isso nota-se os grupos económicos lucram 25 to de amargura, temos que olhar quando os pequenos e médios
hora marcada, dois homens de no meio laboral. Por isso as expeta- milhões por dia”. A voz da gravação para esse desafio com o olhar que empresários se organizam e pro-
meia idade aproximam-se da fábri- tivas para a saída da fábrica nesta alterna com a música. Ouve-se Ze- a experiência do nosso partido nos curam encontrar soluções para os
ca, antes da chegada de João Olivei- sexta-feira não eram muito eleva- ca Afonso cantar o “Grândola”, e de dá. Isso resultado sobretudo da- seus problemas, quando as popu-
ra, que já vinha de uma cerâmica das. A maioria dos trabalhadores vez em quando Luís Varatojo (Luta quilo que é a vida, concreta”, afir- lações se organizam para lutar por
em Alcobaça. Cada um traz consi- aceita o panfleto, e os que o recu- Livre) e o “Panela de Pressão”. ma ao DN João Oliveira, já depois um centro de saúde que não fun-
go uma bandeira enrolada, um de- sam não mostram, em geral, qual- A última vez que João Oliveira es- da visita, na sala de convívio do ciona, essa dimensão da dinâmica
les carrega uma coluna de som, ou- quer animosidade. À exceção de teve na Marinha Grande envolveu Centro de Trabalho do PCP, no social não é expressa do ponto de
tro um microfone, que afinal não um pequeno grupo de mulheres, também “alguma poesia”, como o centro da Marinha Grande. Recor- vista eleitoral”, acredita. De resto,
vai ser preciso. próprio gosta de lembrar. Foi a 18 da que “na revolta de 18 de janeiro fala de uma transformação da di-
Hão de juntar-se a eles mais al- de janeiro, para assinalar os 90 anos de 1934, não havia propriamente nâmica económica, intimamente
guns elementos do partido, como da revolta. Hoje as circunstâncias uma perspetiva florescente para os ligada ao retrato social. E diz-se
Etelvina Rosa, antiga dirigente sin- eram outras, com ligação à realida- trabalhadores e para a população pronto para encarar de frente essa
dical. Conhece como poucos a de atual. Olha para aquela terra da Marinha Grande. E foi com realidade que temos hoje, “sem de-
massa operária da terra onde nas- PCP nas últimas como “um exemplo daquilo que aquele exemplo de coragem e de- sespero nem facilitações”. Até por-
ceu e vive há 68 anos, onde acom-
panhou greves, falências e insol-
legislativas ficou atrás Portugal pode ser, mas hoje não é:
podia encarar o seu futuro, apro-
terminação que se criaram as raí- que está convicto de que “a tradi-
zes que viriam a dar ‘uns anitos de- ção política dessa dinâmica social
vências, e assistiu à transformação de PS, PSD/CDS e veitando as suas potencialidades e pois’ aquilo que temos ali naquela que se vai gerando, a partir da luta
da sociedade, a partir do momen- Chega. Partido obteve os seus recursos, pondo-os verda- fotografia, no 1º de maio de 74”. dos trabalhadores e da população,
to em que os trabalhadores passa- deiramente ao serviço do seu des- Aponta para uma tela gigante que em muitas circunstâncias só apa-
ram a ser “colaboradores”, e os qua- 6,4% dos votos. envolvimento, e da forma como reproduz um mar de gente, nas rece muito tempo depois”.
dros de pessoal das indústrias se fa- ambas têm sido desaproveitadas; ruas da cidade, naquela que foi a paulasofia.luz@gmail.com
12 SOCIEDADE Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

74,7%
Resposta Grande parte dos
inquiridos declara já ter pelo
menos uma experiência de
consumo álcool ao longo da
vida. O álcool é a substância
psicoativa mais consumida
em Portugal, seguida dos
sedativos, com 14,2%.

2700
Óbitos Este é o número de
pessoas que morrem todos
os anos por doenças ou
acidentes atribuídos ao
consumo de álcool. Estes
consumos dão também
origem a episódios de
violência e até casos de
homicídio.

problemáticos. “Encontramos ál-

NUNO ALEGRIA
cool em vários sítios, mesmo com
algumas regras, que não estão a ser
cumpridas na íntegra – [como a
proibição de venda a menores] no-
O consumo de álcool é socialmente aceite e bastante promovido na sociedade portuguesa. meadamente nas grandes superfí-
cies. O acesso é fácil e demasiado
promovido”, avança o vogal do

Há 480 mil portugueses com conselho diretivo do ICAD. “Quan-


do vai a um supermercado encon-
tra bebidas alcoólicas ao virar de
cada prateleira. A acessibilidade,

problemas relacionados com o álcool até por via dos preços, também é
enorme. A facilidade de acesso, a
disponibilidade, a publicidade e o
marketing são enormes”.
ESTUDO O ICAD acaba de publicar um relatório onde são contabilizados os consumos, com ou O consumo excessivo de álcool
acaba por, também, traduzir-se em
sem substâncias. O álcool e o jogo instantâneo são as adições que mais alertam as autoridades. inúmeros problemas de saúde e
sociais, além da sua dependência.
“Não é só consumir. O problema
são os efeitos desse consumo. Este
TEXTO ISABEL LARANJO está associado a doenças como cir-
roses, cancros, pancreatites e até
aos problemas de violência do-

E
stima-se que no nosso país das alcoólicas”, adianta Manuel lerância aos consumos também é méstica, acidentes de viação e vio-
existam “480 mil pessoas Cardoso. “Independentemente muito grande.” lência contra pessoas que chega a
com problemas relaciona- desse consumo há depois práticas Devido à magnitude do consu- situações gravíssimas, até de homi-
dos com o uso de álcool e de padrões de consumo de risco mo de álcool, o médico alerta para cídios”, acrescenta o médico.
quase 50 mil com problemas rela- que são graves. Aqueles que di- “Este [consumo de a necessidade de controlar a publi- O jogo é a segunda adição mais
cionados com drogas”, garante ao zem, neste estudo, que consumi- cidade e o patrocínio, por parte de preocupante para o ICAD, sobretu-
DN Manuel Cardoso, médico e vo- ram grandes quantidades num pe- álcool] está associado bebidas alcoólicas, de eventos cul- do a lotaria instantânea, conheci-
gal do Instituto para os Comporta- ríodo curto de tempo, ou seja, que a doenças como turais e desportivos, à semelhança da como raspadinha. “A indução de
mentos Aditivos e Dependências se embriagaram, são uma percen- do que já aconteceu com o tabaco dependência vem dos jogos de re-
(ICAD) O problema é assumido tagem muitíssimo alta. Essa é a
cirroses, cancros, anteriormente. “Parece que há compensa imediata, como é o caso
com a publicação do relatório final nossa preocupação do que ao in- pancreatites e até aos condições para fazer alterações à das raspadinhas. As pessoas com
do V Inquérito Nacional ao Consu- quérito diz respeito”. lei da publicidade. Em relação às menos dinheiro acabam por con-
mo de Substâncias Psicoativas na O consumo de álcool, na perspe-
problemas de bebidas alcoólicas, o patrocínio de sumir, por jogar, na tentativa de en-
População Geral, Portugal 2022 , tiva de Manuel Cardoso, além de violência doméstica, eventos, nomeadamente culturais contrar uma resposta fácil a pro-
que acaba de ser publicado pelo ser “socialmente aceite” está enrai- acidentes de viação e ou desportivos, é muito comum e blemas”. Quando dão por elas es-
ICAD. zada na sociedade portuguesa. tem de ser regulado”, observa. Tam- tão viciadas. “A pessoa começa, e se
Neste estudo são analisados os “Tem a ver com a cultura. A nossa violência contra bém na Internet, o perigo espreita: tem retorno nos primeiros mo-
consumos de várias substâncias cultura é de consumo de bebidas
alcoólicas. Festejamos tudo com
pessoas que chega a “Tem de ser mais regulada e mui-
tíssimo mais fiscalizada a publici-
mentos, vai continuar a jogar, con-
vencido que vai ter sempre retorno.
psicoativas, lícitas e ilícitas, desde
2001 até 2022, bem como adições álcool e aceitamos isso”. E acres- situações gravíssimas, dade online, digital, feita por in- Depois, se não tiver retorno joga
sem substâncias – é o caso do jogo centa: “Somos produtores de vi- até de homicídios”. fluencers, o que não acontece nes- porque nalguma vez há de ter re-
– e as conclusões apontam para nho, de cerveja e outras bebidas al- te momento.” torno. Portanto, é para compensar
um maior excesso no consumo de coólicas. A indústria e todo o setor Manuel Cardoso O facto de o álcool ser legal e de aquilo que gastou. Nunca lá chega
álcool. “Aquilo que mais me preo- económico relacionado com a pro- Médico, vogal do conselho fácil acesso também contribuirá porque o jogo não está feito para
cupa no estudo em relação aos dução e consumo de bebidas al- diretivo do ICAD para um número tão considerável ser assim”, avisa este responsável.
consumos é o consumo de bebi- coólicas é enorme. E por isso a to- de consumidores, muitos deles isabel.laranjo@dn.pt
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 13

Associações apreensivas com extinção


da secretaria de Estado para as migrações
PRIORIDADES Governo de Luís Montenegro não terá uma pasta com a tutela do tema, numa altura em que o número
de estrangeiros a viver em Portugal é o maior de sempre e que a AIMA enfrenta problemas na gestão do trabalho.

TEXTO AMANDA LIMA

A
“ quem vamos dirigir-nos
para conversar?”, ques-
tiona Alam Kazol, líder da
comunidade do Bangla-
desh no Porto, perante o facto de o
novo governo ter acabado com a
Secretaria de Estado da Igualdade e
Migrações. A preocupação de Kazol
é a mesma de outros representan-
tes de associações de imigrantes
ouvidos pelo DN. Os líderes já esta-
vam apreensivos com o futuro das
políticas de imigração e integração
em Portugal, especialmente com
medo de possíveis retrocessos.
“É mesmo muito mau. Com o
Governo anterior ao menos tínha-
mos oportunidade de reunir com
uma pessoa para ouvir os nossos
problemas. Não sei como vamos fa-
zer, com quem devemos falar. Eu
acho que é muito importante ter-
mos um secretário de Estado”, diz

ANDRÉ ROLO / GLOBAL IMAGENS


Alam Kazol.
A opinião é partilhada por Ama-
dou Diallo, da Associação de Apoio
a Imigrantes e Refugiados em Por-
tugal (APIRP). “Isso é mau. Não
pode ficar assim, temos que tentar
falar com o Governo, porque há
muito trabalho a ser feito”, explica.
Alexandra Gomide, fundadora da Imigrantes já realizaram protestos em Lisboa, Porto e Braga contra o atendimento da Agência para as Migrações e Asilo.
associação UAI, com sede em Bra-
ga, considera a situação “preocu- tico relevante, onde se torna claro conseguir contacto. “O telefone culo na área. No mandato de 2022 a grantes de norte a sul do país (on-
pante”, especialmente pela procu- que a temática não é uma priorida- ninguém atende, os problemas 2024, a pasta migrou para os Assun- tem aconteceu uma manifestação
ra de serviços na área. “Ficamos de política para o Governo”, pontua. continuam como antes, quando tos Parlamentares, mas continuou no balcão da AIMA em Braga), me-
muito preocupados, porque sabe- A decisão de extinguir a secreta- era o SEF”, recorda Alam Kazol. com uma secretaria de Estado, que lhorar a integração dos imigrantes,
mos do momento muito intenso ria das migrações acontece no mo- também tinha a tutela da igualda- implementar o plano de ensino da
que o país vive em relação ao assun- mento em que o número de imi- Tutela fica na presidência de. A então ministra Ana Catarina língua portuguesa e o Pacto Global
to imigração. Sabemos que o nú- grantes residentes é o mais alto de Ao DN, um porta-voz do governo Mendes também possuía experiên- das Migrações. O futuro dos títulos
mero de imigrantes tem aumenta- sempre – pelo menos 800 mil es- de Luís Montenegro afirmou que a cia na matéria. da Comunidade dos Países de Lín-
do. Ainda não sei o que o novo Go- trangeiros com título de residência. tutela das Migrações ficará no Mi- No governo de Luís Montenegro, gua Portuguesa (CPLP) e a criação
verno vai fazer, mas, em princípio, Ao mesmo tempo, a recém criada nistério da Presidência. O mesmo será António Leitão Amaro a decidir. de um sistema eficiente de emissão
pensar no fim da secretaria de Esta- Agência para as Migrações e Asilo tinha acontecido no governo de An- O currículo do ministro não refere e renovação dos documentos igual-
do, é um pouco assustador para a (AIMA) – em relação à qual o PSD tónio Costa, no entanto, com uma nenhuma experiência na área. Nos mente figuram a lista de desafios. O
gente”, argumenta. votou contra na altura – está a ten- inédita Secretaria para Integração e três mandatos que cumpriu no Par- programa eleitoral apresentado por
Pedro Góis, um dos principais es- tar resolver as pendências herdadas Igualdade, que foi chefiada por lamento também não há propostas Luís Montenegro não tinha nenhu-
pecialistas na área das migrações pelo antigo Serviço de Estrangeiros Cláudia Pereira, com extenso currí- ou trabalhos nas migrações. A pasta ma medida específica para as mi-
em Portugal, vê a decisão como um e Fronteiras (SEF). Os representan- tem dois secretários, mas igualmen- grações, mas assinalava a necessi-
“erro” e uma “desvalorização” do tes das associações são unânimes te sem experiência no tema. dade de “mudar”.
tema. “Há aqui uma omissão que na opinião de que é preciso melho- Paulo Lopes Macedo, secretário No discurso da tomada de posse,
me é estranha. Num momento em rar o serviço da agência, principal- de Estado da presidência do Conse- o primeiro-ministro voltou a referir
que a extrema-direita tenta apode- mente na área documental. “Antes
Tutela das Migrações lho de Ministros é advogado e do- que a imigração “tem de ser regula-
rar-se do tema, a melhor maneira víamos as pessoas em processo de fica no Ministério da cente universitário, com publica- da, atrativa para profissionais qua-
de agir é resolver os problemas”, ar- regularização com problemas, mas, ções relacionadas em regulação e lificados, proativa com os jovens es-
gumenta. “Sem uma ação dedica- agora, também temos aqueles que
Presidência, chefiado meio ambiente. Rui Freitas, secre- tudantes e capaz de reunir famílias
da, ao menos uma secretaria de Es- entram no país com visto e não por Leitão Amaro. Não tário de Estado adjunto e da presi- (...). Queremos um país humanista
tado, não faço ideia de como vai
funcionar, de como o tema será es-
conseguem um agendamento”,
conta Alexandra Gomide.
foi designado um dência, é economista e empresário
com passagem pelo setor têxtil e
e acolhedor, que não está nem de
portas fechadas, nem de portas es-
truturado”, complementa Góis. Ou- Os imigrantes de Bangladesh e secretário para o tema dos media. cancaradas”. Sem uma área dedica-
tro profissional que também atua outras comunidades da Ásia que – um dos mais Os políticos terão, entre os desa- da a essas ideias expressas por
na área concorda que “sem uma tu- procuram a associação no Porto fios, definir uma estratégia para a Montenegro, não fica claro como
tela direta com uma secretaria de também reclamam da demora no debatidos nas eleições. AIMA, numa altura em que esta en- será executado.
Estado não é bom, é um sinal polí- atendimento e da dificuldade em frenta críticas e protestos de imi- amanda.lima@globalmediagroup.pt
14 SOCIEDADE Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

Portugueses não praticam


exercício com regularidade
ESTATÍSTICA De acordo com o INE a “falta de
tempo e o não gostar” foram as razões apresentadas
para não haver uma maior atividade desportiva.

M etade da população por-


tuguesa entre os 18 e os
Em 2023, o emprego des-
portivo abrangeu 45.600 pes-

GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS


69 anos praticou exercício físi- soas, mais 5,6% do que em
co no último ano, mas pouco 2022, segundo a mesma fonte.
mais de um terço o fez regular- A remuneração bruta total
mente, divulgou o Instituto mensal média por trabalha-
Nacional de Estatística (INE). dor nas atividades do setor foi
Os dados de 2022 indicam de 1.461 euros, “destacando-
que 45,2% da população na- -se as atividades dos clubes
quela faixa etária praticou ati- desportivos, com a maior re-
vidade desportiva. muneração bruta total men-
“A falta de tempo e não gos- sal média (2.713 euros) e o
Na Quinta dos Ingleses moram algumas pessoas que vão ter de deixar o local com o avance do projeto. tar de praticar atividade des- ensino desportivo e recreati-
portiva ou exercício físico fo- vo, com o menor valor (931

Carcavelos. Um cordão ram as principais razões refe-


ridas pelos não praticantes
(por 42,5% e 27,3%, respetiva-
mente)”, destacou o INE.
euros)”, explicou o INE, refe-
rindo que este número ficou
abaixo da média total da eco-
nomia (1.505 euros), embora

humano contra urbanização A prática de atividade des-


portiva ou de exercício físico
de modo regular (cinco ou
mais vezes por semana) ou
com um crescimento anual
maior (6,9% vs. 6,6%) e supe-
rior à taxa de inflação (4,3%).
Em 2022, existiam 16.441
PROTESTO Movimento SOS Quinta dos Ingleses e Alvorada da Floresta com alguma regularidade
(uma a quatro vezes) foi indi-
empresas do setor desporti-
vo, que geraram 2,9 mil mi-
contesta plano da Câmara de Cascais para a reestruturação da zona. cada “apenas por 35,7% e lhões de euros de volume de
36,2% dos inquiridos”. negócios.

Desigualdades condicionam
U
m grupo de cidadãos rea- cado da Quinta dos Ingleses” e um “existe uma maior sensibilização
liza amanhã, em Cascais,
um cordão humano para
empreendimento de “usos habita-
cional, de comércio, de serviços, ho-
para o problema, numa altura em
que os acessos ao parque começam
acesso ao ensino superior
contestar o plano de ur- teleiro e outros”. a ser vedados, uma vez que se pre- EDUCAÇÃO Documento da Direção-Geral do Ensino
banização previsto para a Quinta Este projeto, cujo promotor é a para o início da intervenção.
dos Ingleses, em Carcavelos, que in- empresa Alves Ribeiro, tem sido O anúncio da intervenção na Superior frisa que 56% dos alunos mais carenciados
clui a construção de vários em- contestado por várias associações Quinta dos Ingleses foi feito há um não continua os estudos após o secundário.
preendimentos. ambientalistas e sociais do conce- mês pelo vice-presidente da Câma-
Esta ação de protesto, promovida lho de Cascais, nomeadamente pe- ra de Cascais, Nuno Piteira Lopes,
pelos movimentos SOS Quinta dos los movimentos SOS Quinta dos In- durante uma reunião da Assembleia
Ingleses e Alvorada da Floresta, gleses e Alvorada da Floresta. Municipal.
acontece quase seis meses depois
de ter sido interposta uma ação ju-
dicial contra a Câmara Municipal
“No fundo, os oito hectares que
serão o parque urbano, anunciado
pela Câmara Municipal de Cascais,
Na ocasião, o autarca social-de-
mocrata afirmou que será naquele
espaço que irá “nascer o maior par-
A s desigualdades socioe-
conómicas continuam a
condicionar o acesso ao ensi-
dos analisados referentes às
taxas de transição dos alunos
do ensino secundário para o
de Cascais, a empresa de constru- correspondem ao corredor central que urbano na freguesia de Carca- no superior, segundo um re- ensino superior, que mos-
ção Alves Ribeiro e o Colégio St. Ju- do Parque Eduardo XVII, para se ter velos” e que estará concluído no ve- latório que revela que 56% tram disparidades entre os
lian’s, promotores deste plano de uma ideia. O Parque Eduardo XVII rão de 2025. dos alunos mais carenciados mais e menos carenciados.
urbanização. tem 26 hectares, portanto os oito Entretanto, o vice-presidente do não continuaram a estudar Olhando para os alunos
“Vai ser uma manifestação que corresponderão a sensivelmente SOS Quinta dos Ingleses adiantou após terminar o ensino se- que concluíram o secundário
quer ladear a quinta dos dois lados, um terço”, apontou. que a associação já pediu uma reu- cundário. no ano letivo 2020/2021, ape-
de forma a unir num abraço, diga- Segundo sublinhou Pedro Jordão, nião à nova ministra do Ambiente, Os dados referem-se ao ano nas 44% dos beneficiários do
mos assim, toda a quinta. Contamos Maria da Graça Carvalho, para dis- letivo 2021/2022 e constam escalão A de ação social esco-
que seja muito concorrida. Os cutir este tema. do relatório Revisão do Siste- lar transitaram para o ensino
apoios que temos tido nas redes so- Por sua vez, num comunicado di- ma de Acesso ao Ensino Su- superior, o que significa que
ciais são extraordinários”, disse à vulgado ontem, o partido PAN (Pes- perior 2022/2023, já publica- mais de metade não prosse-
agência Lusa o vice-presidente do soas-Animais-Natureza) anunciou do na página da Direção-Ge- guiu os estudos.
movimento SOS Quinta dos Ingle- que deu entrada esta semana no ral do Ensino Superior. Os autores recomendam,
ses, Pedro Jordão. Organizadores parlamento com um projeto de re- Num capítulo dedicado à por isso, medidas particular-
Em causa está o designado Plano esperam que protesto solução que recomenda ao Governo equidade no acesso ao ensino mente focadas nos alunos do
de Pormenor do Espaço de Reestru- que promova a salvaguarda e valori- superior, os autores começam escalão A e sublinham a im-
turação Urbanística de Carcavelos- seja muito concorrido. zação da Quinta dos Ingleses, como por reconhecer que “a expan- portância das bolsas que, no
-Sul (PPERUCS), que prevê a rees-
truturação urbanística de uma área
“Apoios nas redes paisagem protegida de âmbito local.
A Lusa contactou a Câmara Muni-
são do ensino superior não ensino superior, têm um im-
pacto significativo na proba-
conseguiu eliminar desigual-
de 54 hectares, onde se situa o colé- sociais são cipal de Cascais, mas, à semelhança dades socioeconómicas, nem bilidade de um estudante
gio inglês St. Julian’s, em Carcavelos, extraordinários”, frisa de situações anteriores, a autarquia se traduziu numa total igual- abandonar os estudos até ao
com a criação de um parque urbano escusou-se a prestar qualquer tipo dade de oportunidades no final do primeiro ano, sempre
que terá oito hectares, a “preserva- Pedro Jordão. de comentário. acesso à formação superior”. inferior em comparação com
ção e valorização do conjunto edifi- DN/LUSA Reflexo disso está nos da- os não bolseiros.
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 15

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100% ÚTIL
Traficante de sonhos
António Brito Guterres

Serviço Militar Obrigatório?


Não.

N
ão sei se tenho leitores dário na geoestratégia mundial, certeza de que os seus filhos e ne-
assíduos, mas caso te- 30 anos depois do 25 de Abril, em tos não vão patrocinar tal medida.
nha e for um deles, en- 2004, se terminou com o SMO. Os mesmos homens das forças
dereço já as minhas Entretanto, não tanto dos mili- políticas que são contra as aulas de
desculpas pela escolha de um tí- tares, mas a partir de políticos, sur- cidadania, mas a favor da obriga-
tulo tão afirmativo para esta cró- giu uma segunda vaga argumen- ção de uma cidadania militar.
nica, se não mesmo panfletário. tativa a favor do SMO. Dizem-nos Seremos uma comunidade fa-
Faço-o porque nestes últimos que que o serviço pode ser um es- lhada quanto mais precisarmos
tempos, quando nos apareceu o paço de formação de cidadania, de um SMO para incutir cidada-
impensável, e para que não haja de personalidade ou, como ouvi nia e coesão nos membros da nos-
dúvidas: o inesperado, o adventí- defender José Ribeiro e Castro – sa sociedade, ou mesmo para for-
cio ou o extemporâneo; fintamo- militante e ex-líder do CDS, o mes- mar os nossos jovens e para os im-
-lo de soslaio e seguimos com a mo partido do actual Ministro da pedir de emigrarem.
vida, e quando demos por nós, ele Defesa – pode ser um espaço im- Bastar-me-ia o meu antimilita-
já estava instalado. portante de coesão social do país, rismo ou pacifismo convicto para
É o que temos assistido na vida permitindo o encontro entre por- escrever estas linhas, mas mesmo
social do país, pronto para retro- tugueses de vários estratos sociais. no campo da política real é uma
cessos e revanchismos, que não Eu ainda sou do tempo do SMO medida sem sentido.
vão certamente ficar por aqui. As- e lembro-me bem como funcio- O movimento por um SMO
sim, dou-me ao direito e ao dever nava. No caso de frequentarmos o ocorre essencialmente em países
de deixar a cerimónia de lado. ensino superior, poderíamos europeus fronteiros com a guerra.
Acabámos de sair de uma cam- adiar a incorporação até entrar na Estamos mais distantes da Ucrâ-
panha eleitoral. Apesar de sermos reserva territorial, o que significa nia e da Rússia do que do conflito
há dois anos bombardeados com que eram os menos privilegiados do Sahel ou do Sahara Ocidental.
painéis mediáticos a toda a hora que acabavam por ter a obrigação No que respeita ao compromisso
sobre dois conflitos internacio- inadiável de ir para as forças ar- com a NATO de atribuirmos 2 %
nais, não fomos capazes de deba- madas. Depois há que somar todo do PIB a despesas militares, esta-
ter minimamente a política inter- um conjunto de esquemas, favo- mos à frente de países com a di-
nacional no seio da campanha. res e cunhas que existiam para mensão da Turquia, Canadá, Itália
No pós-eleições, o assunto en-
trou-nos porta adentro pelo lado
mais patrioteiro: a reintrodução
não obstar a progressão de carrei-
ra civil de um conjunto de filhos
de doutores.
ou Espanha.
As Forças Armadas portuguesas
servem basicamente para contro-
ASSINE A MEN’S HEALTH
do Serviço Militar Obrigatório
(SMO), com o argumento exacto
daquilo que não foi discutido na
Não deixa por isso de ser inte-
ressante, e um retrato do país que
temos, que o advocacy para a rein-
lo de fronteira, essencialmente
marítima e aérea, e para agregar
forças com outros parceiros para
PAPEL+DIGITAL
campanha: temos uma guerra na
Europa, não estamos a cumprir
trodução do SMO seja feita exclu-
sivamente por homens, que têm a
missões internacionais, desígnios
que nem vêm a debate público.
POR APENAS 43,20€
com as nossas obrigações com a
NATO, precisamos de alargar o re-
crutamento.
Desengane-se quem acha que
servem para uma defesa massiva
da integralidade territorial do
29,90 € / 12 EDIÇÕES
Não começou esta semana. país, porque nem do país vizinho
Ainda antes das eleições, aparece- seriamos capazes de impedir uma
ram na imprensa um par de textos invasão, quanto mais de uma
a sugerir a reintrodução do SMO. grande potência mundial.
Foi só sentir a inclinação dos tem- Não deixa por isso Se querem mais voluntários
pos para um conjunto de altas pa-
tentes das forças armadas virem a de ser interessante,
para as forças armadas, façam-
-nas atractivas. Aumentem os sa- LIGUE 219249999
público afirmá-lo.
A descontinuidade do SMO faz
e um retrato do país lários das suas carreiras e não as
façam um corpo de mão-de-obra
parte de uma evolução histórica. que temos, que o barata para justificar o excesso de
Portugal teve uma guerra colonial advocacy para a generais que temos.
A ASSINATURA INCLUI A VERSÃO IMPRESSA E A VERSÃO DIGITAL. VALORES COM IVA INCLUÍDO.
onde morreram 10 mil dos seus Há 115 conflictos armados ac-
soldados e outros 20 mil ficaram reintrodução do tualmente no mundo. Não me
CAMPANHA VÁLIDA PARA PORTUGAL ATÉ 30 DE ABRIL DE 2024, NÃO ACUMULÁVEL COM OUTRAS EM VIGOR.
VALOR DA ASSINATURA NÃO REEMBOLSÁVEL. PARA MAIS INFORMAÇÕES: ASSINATURAS.QUIOSQUEGM.PT |
inválidos, para além dos 100 mil SMO seja feita convencem com o argumento vi- APOIOCLIENTE@NOTICIASDIRECT.PT | 219249999 (DIAS ÚTEIS DAS 8H00 ÀS 18H00 - CHAMADA PARA A REDE FIXA NACIONAL).
mortos entre as populações que gente desde o pós-guerra de que o
lutaram pela sua libertação. exclusivamente por aumento de armamento e recur-
O 25 de Abril, promovido por homens, que têm a sos militares é dissuasor de guer-
militares, acabou com a guerra,
certeza de que os ras. O caminho para a paz não se menshealthportugal @menshealthportugal
mas ainda fez depender o regime faz com mais instrumentos para a
político durante alguns anos da seus filhos e netos guerra entre os povos.
presença militar na vida civil. Até
que, em democracia consolidada
não vão patrocinar menshealth.pt
e com Portugal num papel secun- tal medida. Investigador
16 SOCIEDADE Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

BREVES

CM de Lisboa demite
fiscais condenados
por corrupção
A Câmara de Lisboa, presidida pelo Na Ponta do Bisturi
social-democrata Carlos Moedas,
demitiu dois fiscais municipais de Eduardo Barroso
obras, condenados em tribunal em
outubro do ano passado, pela
prática de crimes de corrupção. A
decisão foi tomada na quarta-feira,
em reunião privada do executivo,
composto por 17 vereadores, por
unanimidade, disse ontem à Lusa
A propósito de cancros
fonte da autarquia. Em maio de
2022, a Polícia Judiciária anunciou a
detenção de dois funcionários da
Divisão de Fiscalização da Câmara

D
Municipal de Lisboa e um cidadão ois acontecimentos li- tumor e a sua origem, mandam cancro é muito vago, existem experiência e qualidade. Ouvir
proprietário de uma obra em curso gados a cancros foram as boas práticas médicas, as cha- cancros mais fáceis de transfor- um cidadão de Barcelos indig-
na cidade, por suspeitas de motivo de grande inte- madas “guidelines”, comple- mar em doença crónica e de me- nado por ser retirada do seu hos-
corrupção, tendo recolhido “prova resse na imprensa por- mentar o acto cirúrgico com lhor prognóstico, e outros con- pital esta modalidade terapêuti-
relevante” e apreendido “elevadas tuguesa. Um deles, aliás na im- quimioterapia. A ser verdade soante a origem mais difíceis de ca fez-me pena. Bastava tê-lo in-
quantias” de dinheiro. De acordo prensa mundial. Falo obviamen- tudo o que foi dito e omitido, na controlar. Será que foi por isso formado da razão dessa decisão,
com as propostas de demissão dos te da comunicação ao mundo, minha modesta opinião, a doen- que não se foi mais longe na in- para que ele compreendesse e
dois fiscais aprovadas na quarta- feito pela própria, de que a prin- te foi operada e fez uma extensa formação? Espero que não, e apoiasse. Admito que 100 casos
-feira na reunião do executivo, um cesa Kate tinha um cancro. Fê-lo ressecção do cólon por doença que esta jovem de 42 anos possa por ano seja eventualmente um
dos trabalhadores foi condenado a sentada num banco de jardim, inflamatória intestinal (colite ul- acompanhar e ver crescer os número exagerado, para centros
uma pena única de cinco anos de com um ar frágil, de uma forma cerosa?), provavelmente com seus filhos e vir a ser ainda Rai- muito longe dos chamados Cen-
prisão, suspensa na sua execução comovente. Com essa comuni- várias biopsias pré-operatórias nha de Inglaterra. tros de Referência, não sei como
pelo mesmo período, pela prática, cação pretendeu explicar a sua sem tumor, e só no estudo Em relação às notícias de que se chegou a esses números, e a
em autoria, de seis crimes de ausência da vida pública nas úl- exaustivo do intestino retirado em Portugal foram encerrados CNCR deveria ter sido ouvida,
corrupção passiva e de seis crimes timas semanas, e acabar com se confirmou haver focos de tu- alguns locais onde se tratava ci- mas estas medidas são necessá-
de corrupção passiva, em varias especulações. Admitamos mor maligno, com um estádio rurgicamente cancro da mama, rias para salvaguardar a qualida-
coautoria. Quanto ao outro que não mentiu, limitando-se a que implicava fazer quimiotera- por não atingirem números que de da medicina praticada, e a
funcionário, foi condenado a uma omitir informação mais porme- pia adjuvante. Especulo? Faço-o possam garantir qualidade des- própria Ordem dos Médicos de-
pena única de quatro anos e nove norizada. Foi clara e objectiva. baseado em décadas de expe- se tratamento, tenho uma opi- via ter uma palavra de total e in-
meses de prisão, suspensa na sua Disse ter feito poucos meses an- riência, partindo do princípio de nião clara. O tratamento do can- condicional apoio. Para o trata-
execução pelo mesmo período, tes uma grande operação abdo- que foi dita a verdade dos factos. cro da mama, como de muitos mento de doenças raras e ou
pela prática de seis crimes de minal, a uma doença que nessa E porque não foi emitido um re- outros cancros, não é apenas ci- muito complexas, e nestas mui-
corrupção passiva. altura se pensava não ser malig- latório clinico? Porque tinha de rúrgico, implica equipas multi- tas são oncológicas, exigem-se
na, mas que infelizmente depois ser assinado pelos cirurgiões im- disciplinares que em conjunto casuísticas (números) impor-
da análise histológica da peça plicados e logo se saberia pela definem uma estratégia global tantes e abordagens multidisci-
Militares da GNR vão operatória, afinal tinha cancro. especialidade dos mesmos que de tratamento, sendo que a ci- plinares. Quer no SNS quer na
Nos dias de hoje é muito raro co- órgão tinha sido implicado. Se rurgia aparece por vezes no iní- oferta privada. As regras têm de
a julgamento por não locar-se uma indicação cirúrgica fossem cirurgiões ginecológicos cio, e muitas vezes é precedida ser iguais para todos, para bem
passarem uma multa sem saber previamente se esta- ou abdominais, e mesmo dentro de outros tratamentos, na maior dos doentes portugueses, da sua
mos perante uma lesão maligna. destes qual era a sua sub-espe- parte a chamada quimioterapia quantidade e qualidade de vida.
Dois militares da GNR da Feira, no E a haver essa dúvida é possível cialidade. Ter dito que sofria de neo-adjuvante (feita antes da ci- Ao meu concidadão de Barcelos,
distrito de Aveiro, vão ser julgados durante a intervenção, enviar rurgia). A própria cirurgia do mando um grande abraço, e
por alegadamente não terem biopsias intra-operatórias ao la- cancro da mama pode ser muito digo-lhe apenas que a pergunta
passado uma multa de trânsito a boratório de anatomia patológi- diversa, desde logo na quantida- que lhe fizeram não foi bom jor-
pedido de um colega, segundo uma ca, aquilo a que chamamos exa- de de mama a extirpar, mais ou nalismo. Saberia ele que no seu
decisão judicial consultada ontem me extemporâneo, e obter nessa menos conservadora, com ou hospital tinham sido apenas tra-
pela Lusa. Um acórdão do Tribunal altura informação mais precisa. sem apoio imediato de cirurgia tados 3 doentes em 2022? Um
da Relação do Porto (TRP), datado Ora mesmo esses exames, even- plástica, e podendo ou não im- desafio às nossas televisões. Ti-
de 28 de fevereiro, negou tualmente realizados voltaram a plicar esvaziamentos dos gân- rem-se uns minutos a longas e
provimento ao recurso do Ministério não confirmar a existência de Uma coisa é certa, glios linfáticos da axila, con- repetitivas mesas de comentário
Público (MP) e manteve a decisão do cancro, sendo este apenas con- soante informação do chamado sobre política, economia ou fu-
Tribunal de Instrução Criminal da firmado na análise de tudo o que
para se gânglio sentinela com o apoio da tebol. Faça-se uma mesa redon-
Feira que pronunciou os arguidos foi tirado, depois de examinada optimizarem medicina nuclear. Em 2022, na da sobre a necessidade da exis-
para julgamento pela prática de um toda a peça operatória. A prince- resultados, quer unidade de Barcelos fizeram-se tência de Centros de Referência
crime de abuso de poder e o outro sa Kate não quis dizer a origem apenas 3 tratamentos cirúrgicos para tratamento das doenças ra-
de falsificação de documento do tumor, esteve no seu direito, em relação à de cancro da mama. Em outras ras e/ou complexas em Portugal.
agravado. Os dois militares incorrem
ainda na pena acessória de
mas quanto a mim fez mal. Deu
aso a uma enorme especulação,
sobrevida quer unidades encerradas os núme-
ros variaram entre 14 e 40. E to-
Um serviço público necessário,
sem preconceitos ideológicos
proibição do exercício de função. sendo que a maior é que não o em relação a das tinham essas equipas multi- ou partidários, apenas para que
Além do crime de falsificação de quis dizer porque o prognóstico aspectos disciplinares? E acordos com lo- os portugueses possam com-
documento, o MP tinha acusado os desse tipo de tumor é muito cais onde se poderiam realizar preender e saber melhor onde
arguidos de um crime de mau. Limitou-se a dizer que ia estéticos, exigem- radioterapias adjuvantes? A fun- devem ser tratados. E perceber
denegação de justiça, mas o juiz de fazer quimioterapia adjuvante, -se números cionarem com protocolos acor- que, para bem deles, nem tudo
instrução criminal entendeu que a mas chamando-lhe preventiva, dados e pré definidos? Uma coi- pode e deve ser tratado à porta
conduta que lhes era imputada dando a entender não haver ain- mínimos para sa é certa, para se optimizarem de casa.
integrava um tipo legal de crime da metástases. Ninguém faz qui- tentar garantir resultados, quer em relação à so-
diferente do qual vinham acusados. mioterapia antes de se saber que brevida quer em relação a aspec-
Os factos ocorreram no dia 13 de já tem um cancro, o que aconte- experiência e tos estéticos, exigem-se núme- Cirurgião.
novembro de 2020. ce é que, consoante o estádio do qualidade. ros mínimos para tentar garantir Escreve com a antiga ortografia
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 17

Opinião
Anselmo Borges

O Deus solidário
com as vítimas

C
omunidades cristãs vivas estão mem e mulher livres podem dizer sim ao
assentes em três núcleos ou pila- Mistério. Para tentar balbuciar este Misté-
res, que se interpenetram e exi- rio, é necessário entrar em diálogo com to-
gem mutuamente. das as ciências, com todas as filosofias, com
Evidentemente, tudo se baseia na fé em todas as religiões. Nestes tempos de penú-
Jesus Cristo e no seu Evangelho – Deus é ria e de noite, como disseram Hölderlin e
bom, Pai e Mãe – como determinantes na Heidegger, nestes tempos de niilismo, é ta-
vida e na morte e a celebração fraterna e refa decisiva da Igreja não deixar obturar a
bela dessa fé. interrogação originária que nos faz ho-
O outro núcleo é o da prática da justiça e mens e mulheres livres. É necessário man-
do amor, o do combate lúcido e eficaz pela ter acesa a pergunta radical e inconstruível,
dignidade livre de todos os homens e mu- que é o sinal de que o Homem transcende o
lheres, a começar pelos mais pobres, pelos dado e de que não pode ser encerrado num
humilhados e excluídos, no seguimento de positivismo crasso e obtuso.
Jesus, do que Ele fez e como fez. Não há reli- E permita-se-me concretizar.

SCANPIX SWEDEN / AFP


gião verdadeira sem justiça e solidariedade. Uma das situações em que o ser humano
Mas isto implica que a justiça e o respeito é confrontado com o limite é o caso do per-
pelos direitos humanos têm de começar dão do algoz por parte das vítimas mortas,
pelo interior da própria Igreja. Na Igreja, Je- como se torna palpável na história contada
sus queria mais do que uma democracia, por Simon Wiesenthal numa obra sobre
pois o que Ele propunha era uma filadélfia, Auschwitz. Como contou o teólogo Jürgen
isto é, comunidades de amigos e irmãos (lê- Moltmann, o judeu Wiesenthal era prisio-
-se no Evangelho de S. João: “Já não vos neiro num campo de concentração e foi
chamo servos, mas amigos”). chamado ao leito de morte de um chefe neamente somos com dor e sofrimento,
O terceiro núcleo, que pode ser o primei- nazi, que lhe queria confessar a ele, o judeu, por já ter sido subtraído à noite na qual to-
ro, é o da pastoral da pergunta, da interro- que tinha participado nos fuzilamentos em O judeu Wiesenthal era dos os mortais vivemos submersos. “Dis-
gação, e tem a ver com dar razões da dúvida massa de judeus na Ucrânia. Queria pedir- tingue-se por ter avançado na noite o sufi-
e razões da fé e da esperança. Lá está a Pri- -lhe perdão, para poder morrer em paz. Si- prisioneiro num campo de ciente para que a noite seja para ele ‘amável
meira Carta de São Pedro, capítulo 3, versí-
culo 15: “No íntimo do vosso coração, con-
mon Wiesenthal disse-lhe que podia ouvir
a confissão do assassino, mas que não po-
concentração e foi como a alvorada’, outra forma de luz”, como
escreveu o teólogo Juan Martín Velasco.
fessai Cristo como Senhor, sempre dispos- dia perdoar-lhe, pois “nenhum vivo pode chamado ao leito de morte Para muitos, em nenhum lugar da História
tos a dar a razão da vossa esperança a todo perdoar em nome dos mortos aos seus as- de um chefe nazi, que lhe esta experiência mística em que culmina a
aquele que vo-la peça.” Isto significa que a sassinos”. Não pode fazê-lo, porque não experiência de Deus foi tão radical como na
fé não pode encerrar-se nas muralhas de tem o direito nem o poder para isso. E Wie- queria confessar a ele, o cruz de Cristo, onde, segundo a fé cristã,
um dogmatismo fixo e morto, tem de abrir- senthal ficou tão abalado com esta impos- judeu, que tinha “Deus se revela de forma definitiva e por
-se ao diálogo e à razão crítica. sibilidade de perdoar que escreveu a mui- isso insuperavelmente obscura”. Aí, preci-
Esta abertura e este diálogo são tanto tos filósofos e teólogos europeus a contar- participado nos samente na dor insuportável da sua ausên-
mais urgentes quanto os fundamentalis- -lhes a sua história, que publicou fuzilamentos em massa de cia, nessa noite de trevas, Deus está infini-
mos (muçulmano, católico, protestante, juntamente com as respostas num livro tamente presente, escutando aquela ora-
das seitas) se tornam um desafio e perigo com o título: Die Sonnenblume (O girassol). judeus na Ucrânia. Queria ção simultaneamente desesperada e
maiores. Não se pode esquecer que na reli- A razão, se não quiser sucumbir à parcia- pedir-lhe perdão, para confiante, que atravessa os tempos: “Meu
gião, como se constata ao longo da História, lidade, isto é, se quiser ser verdadeiramente Deus, meu Deus, porque é que me abando-
há do melhor e do pior e, por vezes, em universal, não pode não ser “razão anam-
poder morrer em paz. naste? Pai, perdoa-lhes, por que não sabem
nome de Deus, o ridículo andou à solta e nética”, isto é, tem de deixar-se iluminar Simon Wiesenthal disse- o que fazem”.
anunciaram-se e praticaram-se autênticas pela memória das vítimas. E é imprescindí- Os cristãos ousam acreditar que Deus
barbaridades, que tornaram a vida das pes- vel a memória para que as tragédias acon-
-lhe que podia ouvir a ressuscitou de entre os mortos esse Crucifi-
soas menorizada, desgraçada, infeliz. Hou- tecidas não voltem a acontecer... Por outro confissão do assassino, cado, que o foi por blasfémia e sublevação
ve um número incontável de pessoas para
quem teria sido preferível não terem en-
lado, quem fará justiça às vítimas, também
para que os algozes possam reconciliar-se e
mas que não podia do povo oprimido político-religiosamente.
NEle, Deus revelou-se solidário para sem-
contrado a religião na sua vida. encontrar a paz? perdoar-lhe, pois “nenhum pre com todas as vítimas.
A fé verdadeira não tem medo da razão O religioso autêntico, o místico, é aquele vivo pode perdoar em
autónoma, pois sabe que a razão, levada até que caminha com Deus e para Deus, mas
aos limites das suas possibilidades, se acen- sem abandonar a noite. Ele não se distin- nome dos mortos aos seus Padre e professor de Filosofia.
de na noite e também sabe que só um ho- gue do crente e do descrente, que simulta- assassinos”. Escreve de acordo com a antiga ortografia
18 INTERNACIONAL Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

Refém morta por


disparos de Israel
Um helicóptero da Força Aérea
israelita “muito provavelmente”
matou a refém Efrat Katz num
ataque contra um veículo
conduzido por combatentes do
Hamas durante o ataque de 7 de
outubro, informou ontem o
exército, que publicou as
conclusões de uma investigação.
Efrat Katz, de 68 anos, foi
sequestrada no kibutz Nir Oz a 7
de outubro e morreu no mesmo
dia. A investigação revelou que um
helicóptero de combate “disparou
contra um veículo no qual havia
terroristas e, segundo relatos, em
que também havia reféns”,
declarou o exército. “Trata-se de
um acontecimento trágico e infeliz
que foi produzido no meio dos
combates e no contexto de
incerteza”, declarou o chefe das

MOHAMMED ABED / AFP


Forças Armadas, Tomer Bar.
O exército disse que o erro
aconteceu porque os sistemas de
vigilância não foram capazes de
distinguir os reféns dos
sequestradores.
Um grupo de rapazes carrega um saco cheio de plástico que recolheram entre os destroços na cidade de Rafah.

Israel promete abrir rotas de ajuda, A equipa dos drones que matou
os trabalhadores humanitários co-
meteu um “erro de julgamento
operacional da situação” depois de

mas EUA querem ver resultados avistar um suposto atirador do Ha-


mas a disparar do topo de um ca-
miões que os sete escoltavam, de
acordo com os resultados do in-
GUERRA Exército assumiu que a morte dos sete funcionários da World Central Kitchen deveu- quérito. Embora os tejadilhos dos
três veículos dos trabalhadores hu-
-se a um erro dos militares, ao acreditarem que seguiam nos veículos homens armados do Hamas. manitários estivessem estampa-
dos com logótipos da WCK, o gene-
ral aposentado Yoav Har-Even, que
lidera a investigação, explicou que
TEXTO ANA MEIRELES a câmara do drone não conseguia
vê-los no escuro. “Este foi um fator
chave na cadeia de eventos”, disse.

O
secretário de Estado nor- lhadores humanitários conseguem Erros e violações no caso Har-Even admitiu ainda que “os
te-americano garantiu entregá-la em segurança. da World Central Kitchen três ataques aéreos violaram os
ontem que Washington O líder da diplomacia dos Estados Também ontem, o exército israelita procedimentos operacionais pa-
quer ver “resultados” que Unidos disse ainda queWashington admitiu uma série de erros e viola- drão”, mas argumentou que “o es-
mostrem que está a chegar mais vai verificar o número de camiões de ções das suas regras na morte de tado de espírito” dos comandantes
ajuda aos habitantes de Gaza. Israel ajuda que entram, se eles poderão sete trabalhadores humanitários em israelitas “era que eles estavam a
anunciou que vai permitir entregas circular e se os indicadores que mos- Gaza, dizendo que erroneamente atacar veículos que haviam sido
“temporárias” de ajuda ao norte da tram que a população está à beira da acreditou que estava a “alvejar agen- apreendidos pelo Hamas” depois
Faixa de Gaza, ameaçado pela fome melhoram. O presidente do tes armados do Hamas”. Os dois ofi- de pensarem que um passageiro
fome, uma resposta ao aviso feito O presidente do Conselho Euro- ciais da brigada que ordenaram os carregava uma arma em vez de
horas antes pelo presidente Joe Bi- peu também mostrou algum ceticis- Conselho Europeu, ataques com drones – um coronel e uma bolsa. “Um dos comandantes
den, numa conversa telefónica mo em relação ao anúncio de Israel Charles Michel, um major – foram demitidos, e o presumiu erroneamente que os
com o primeiro-ministro Benjamin de abrir temporariamente rotas de chefe do Comando Sul repreendido. homens armados estavam dentro
Netanyahu, de que os Estados Uni- ajuda para Gaza, dizendo que este
alertou que a As vítimas – um australiano, três dos veículos e eram terroristas do
dos mudariam o seu apoio a Telavi- “não é suficiente”. “As crianças e be- reabertura britânicos, um americano-canadia- Hamas”, afirmou.
ve caso não fosse garantida a prote- bés de Gaza estão a morrer de des- no, um palestiniano e um polaco – Este responsável adiantou tam-
ção aos civis. “Saudamos as medi- nutrição. São necessários esforços
temporária da foram mortas na noite de segunda- bém que a World Central Kitchen
das iniciadas por Israel”, afirmou substanciais e urgentes para acabar entrada de ajuda -feira em três ataques de quatro mi- havia fornecido as informações ne-
Antony Blinken. “Estes são desen- imediatamente com a fome como humanitária em Gaza, nutos por um drone israelita en- cessárias deste transporte, mas
volvimentos positivos, mas o verda- instrumento de guerra em Gaza”, es- quanto corriam para salvar suas vi- elas não foram partilhadas. “O
deiro teste são os resultados e é isso creveu Charles Michel no X. anunciada por Israel, das entre os três veículos onde maior erro foi que [a equipa do
que esperamos ver nos próximos Já o secretário-geral das Nações
Unidas considerou que “medidas
“não é suficiente” para seguiam. drone] não tinha o plano de coor-
dias e nas próximas semanas”. A World Central Kitchen, ONG denação”, disse Har-Even. “A cren-
Blinken avisou que os Estados dispersas” para a ajuda a Gaza não evitar a fome no com sede nos Estados Unidos para ça deles era que os veículos eram
Unidos estão atentos para ver se a são suficientes. “Não basta ter medi- território a qual trabalhavam, exigiu um in- do Hamas, com base em erros de
ajuda começa a “chegar efetiva- das dispersas – precisamos de uma quérito independente, e a Polónia julgamento e classificação opera-
mente às pessoas que dela preci- mudança de paradigma”, disse An- palestiniano. apelou a uma investigação “crimi- cional”.
sam em toda Gaza” e se os traba- tónio Guterres. nal” após o anúncio do exército. ana.meireles@dn.pt
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 19

PNV e Bildu empatados Rússia avança em Donetsk


e sofre perdas de aviação
no arranque da campanha GUERRA Aldeia tomada e vila que serve de base
logística sob pressão. Drones ucranianos terão
destruído número sem precedentes de aviões.
PAÍS BASCO Dois maiores partidos vão a votos com caras novas. PNV
deve manter-se no poder, pois socialistas recusam acordo com o Bildu.

TEXTO ANA MEIRELES


A s forças invasoras conti-
nuam a progredir na
Ucrânia, face à carência de
trução na região de Chernihiv
(norte), o presidente Vo-
lodymyr Zelensky preferiu des-
munições e de artilharia. Na tacar que as suas forças “conse-
sexta-feira, Moscovo reivindi- guiram estabilizar posições” e

O
País Basco está desde cou a tomada de um povoado, travaram os avanços russos,
ontem oficialmente em Vodiane, nos arredores da ci- apesar da “escassez de projéteis
campanha para as elei- dade de Donetsk, enquanto as e de um abrandamento signifi-
ções de dia 21 e num ce- autoridades ucranianas avisa- cativo dos abastecimentos”.
nário em que, pela primeira vez, os ram para a possível queda de Segundo Moscovo, Kiev ata-
independentistas do EH Bildu se Chasiv Yar, uma vila destruída cou posições em território
encontram a disputar a vitória mas que funciona como im- russo com mais de 50 drones.
com o Partido Nacionalista Vasco portante base logística do Segundo fontes militares
(PNV), com a maioria das sonda- exército de Kiev. Em solo rus- ucranianas, foram atingidas
gens a darem um empate técnico so, os serviços militares ucra- quatro bases aéreas. Na região
entre as duas forças políticas. nianos dizem ter atingido de Rostov, o aeródromo mili-
Estas eleições trazem também mais de uma dúzia de aviões tar de Morozovsk terá sido pal-
caras novas ao debate político – da força aérea de Moscovo. co da destruição de seis aero-
Imanol Pradales pelo PNV e Pello Chasiv Yar, a poucos quiló- naves e danos significativos
Otxandiano pelo Bildu – depois de metros a oeste de Bakhmut, e noutras oito. Em Engels-2, na
Iñigo Urkullu, o atual lehendakari, ainda com mais de 700 mora- região de Saratov, os ucrania-
ver o seu partido, o PNV, impedi-lo dores, parece ser o próximo nos alegam ter destruído três
de se apresentar novamente a vo- alvo dos russos, com relatos de bombardeiros estratégicos e
tos para um quarto mandato e Ar- que as suas tropas estão a che- em Yeysk, em Krasnodar, dois
naldo Otegi, coordenador-geral do gar aos arredores. Durante uma aviões de caça atingidos. So-
EH Bildu, ter confirmado que não visita em que inspecionou as bre o quarto alvo, em Kursk,
seria candidato à liderança do go- fortificações militares em cons- não há informações. C.A.
verno do País Basco.
Esta sexta-feira, Pradales apelou
à continuidade, alertando que, no
próximo dia 21, os eleitores terão
de escolher “entre dois modelos” e
“entre um modelo melhor e pior”
Ucrânia no centro das
para o País Basco, pois o “atual
bem-estar” da região está em jogo.
presidenciais da Eslováquia
“Se queremos um futuro melhor há
que eleger a experiência, a estabili- ELEIÇÃO Ivan Korcok, um antigo diplomata pró-
dade, a confiança”, disse o candida- -Ocidente, e Peter Pellegrini, apoiado pelos
to do PNV, partido que governou o populistas no poder, disputam hoje a segunda volta.
Euskadi entre 1980 e 2009, tendo
RAFA RIVAS / AFP

regressado ao poder em 2012.


Otxandiano defendeu a “neces-
sidade de renovar a política” na re-
gião, de forma a “acabar com o sta-
tus quo que tem vigorado durante
tantos anos”. “A renovação política
O lehendakari Iñigo Urkullu foi preterido pelo PNV nestas eleições. O antigo diplomata pró-
-Ocidente Ivan Korcok e
o cético da Ucrânia apoiado
espaço vital na campanha. O
primeiro-ministro populista
Robert Fico – um aliado de
é uma necessidade, para pôr nova- O EH Bildu propôs um acordo ontem Pere Aragonès à RAC1. pelos populistas no poder Pe- Pellegrini – questionou a so-
mente de pé a Osakidetza [serviço para que governe o partido mais De acordo com o líder do govern e ter Pellegrini enfrentam-se berania da Ucrânia e apelou à
de saúde], solucionar o problema votado, que os socialistas já rejeita- candidato da ERC, um possível de- hoje na segunda volta das elei- paz com a Rússia. Já Korcok,
da habitação e poder instalar mo- ram, só admitindo a possibilidade bate com Puigdemont e Illa servirá ções presidenciais da Eslová- um diplomata de carreira de
delos de governação colaborati- de apoiar o PNV, apesar de as duas para “falar de propostas de futuro quia, onde ficará decidido 59 anos e crítico veemente do
vos, sem exclusões”, disse. formações bascas terem viabiliza- para a Catalunha” e de como cada quem substituirá a presidente governo apoiado pela oposi-
A generalidade das sondagens do em Madrid os últimos dois go- um dos três partidos poderá servir liberal cessante, Zuzana Ca- ção, é firmemente pró-Kiev.
antecipa um empate técnico entre vernos de Pedro Sánchez. melhor os catalães. Aragonès referiu putova. “Se Korcok for eleito, a Eslo-
o EH Bildu e o PNV, com cada um ainda que, se o candidato do PSC As últimas sondagens mos- váquia manterá uma atitude
deles a eleger, previsivelmente, en- Aragonès aberto a debate não se mostrar interessado num de- tram que os dois candidatos crítica em relação à Rússia,
tre 28 e 29 deputados, num parla- fora da Catalunha bate fora da Catalunha, fará um estão praticamente empata- posições pró-europeias e
mento com 75 lugares. O PNV tem O presidente da Generalitat mos- frente-a-frente com Puigdemont. dos. Pellegrini, o presidente do apoio à Ucrânia”, referiu à AFP
hoje 31 deputados e o EH Bildu tem trou-se ontem disponível para De recordar que o candidato do Parlamento de 48 anos, é cre- o presidente do Institute for
21, sendo já ambos, desde 2012, os participar num debate fora de Es- Junts se encontra exilado na Bélgi- ditado com 51% das intenções Public Affairs da Eslováquia,
dois maiores partidos na região. panha com os candidatos às elei- ca para fugir à justiça espanhola de voto e Korcok, antigo mi- Grigorij Meseznikov. Pellegri-
Este ano, nenhum deverá ter ções antecipadas na Catalunha de desde o referendo independentista nistro dos Negócios Estrangei- ni, por sua vez, “apoiará o
maioria absoluta, pelo que o cená- 12 de maio – Salvador Illa, do Par- de 2017, podendo ser detido caso ros e embaixador de 60 anos, afrouxamento dos nossos la-
rio pós-eleitoral mais provável é, tido Socialista da Catalunha (PSC), regresse a Espanha. Um risco que com 49%, de acordo com uma ços com os nossos aliados e
neste momento, a reedição da e Carles Puigdemont, do Junts per admitiu estar disposto a correr caso sondagem da NMS. parceiros na NATO e na UE,
atual coligação no governo regio- Catalunya. “Se Carles Puigdemont vença as eleições para a Generalitat A guerra da Rússia na Ucrâ- um apoio mais fraco à Ucrânia
nal, que junta o PNV com os socia- quiser fazer este debate em Perpig- (que já liderou entre janeiro de 2016 nia, agora no seu terceiro ano, e uma inclinação para a Rús-
listas, que deverão de novo ser os nan (França), em Waterloo (Bélgi- e outubro de 2017). tornou-se uma questão fun- sia”, prosseguiu.
terceiros mais votado. ca), ou onde seja, faremos”, disse ana.meireles@dn.pt damental e que ocupou um DN/AFP
20 INTERNACIONAL Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

O atentado que fez eclodir Paul


Kagame,
cem dias de febre genocida herói e vilão
RUANDA Faz hoje 30 anos que o líder ruandês foi morto, prelúdio para uma carnificina tendo
como base a etnia. Os tutsis, principais vítimas, acabaram no poder.

TEXTO CÉSAR AVÓ A ntes do genocídio de


1994, o Ruanda já vivera
situações de conflito interé-
tnico. Em 1959, os hutus re-
voltaram-se contra a potên-
cia colonial, a Bélgica, e con-
O país usou tribunais tra os tutsis que, apesar de
comunitários para menos numerosos, faziam
parte da elite. Tutsis, os pais
confrontar agressores de Paul Kagame, levaram-no
e vítimas como com dois anos para o Ugan-
da, onde cresceu nos cam-
ferramenta para a pos de refugiados. Em 1979
reconciliação. Em junta-se aos rebeldes lidera-
dos por Yoweri Museveni
paralelo, atacou os para derrubarem pela força o
refugiados hutus no ditador Idi Amin, o que acon-
teceu em 1986, ano em que
leste do Congo. ascendeu a chefe dos servi-
ços secretos militares e em
que recebeu formação mili-
tar em Havana. Quatro anos
depois recebeu treino no
Kansas. Ao regressar, tomou
do Eliseu citado pela AFP, Macron conta da Frente Patriótica
vai dizer que “quando a fase de ex- Ruandesa e invadiu o país
termínio total contra os tutsis come- natal, obrigando o governo a
çou, a comunidade internacional ti- assinar acordos de paz e à en-
nha os meios para saber e atuar”. trada de uma força da ONU.
Numa visita ao Ruanda em 2021, re- Com o assassínio do presi-
PASCAL GUYOT/AFP

conheceu as “responsabilidades” dente Juvénal Habyarimana,


francesas. Nesse mesmo ano, um Kagame lutou contra as for-
relatório encabeçado pelo historia- ças governamentais e milí-
dorVincent Duclert concluiu ter ha- cias hutus, tendo ficado
vido um “fracasso” por parte de como o herói que estancou o
Militares franceses da Operação Turquesa passam junto de uma milícia de hutus, em junho de 1994. França durante a presidência de genocídio. Ninguém sabe
François Mitterrand, mas por outro qual o seu papel na morte do

N 800
ão há dúvidas de que o propaganda em emissões de rádio lado sublinhou não haver provas de líder, mas já como vice-presi-
ataque realizado com e TV e que levou à morte por armas cumplicidade de Paris. dente admitiu ter planeado
mísseis no dia 6 de abril de fogo, mas também com catanas, A Operação Turquesa, liderada derrubar o zairense Mobutu.
de 1994 ao Falcon que se a arma das milícias, num total cal- pelos militares franceses sob man- No leste da agora RDC, as
preparava para aterrar em Kigali, ca- culado em 800 mil pessoas. Além Mil É o número de mortos que as dato da ONU, é acusada de ter pro- suas forças e milícias como a
pital ruandesa, desencadeou uma disso, a violação foi uma arma usa- Nações Unidas estimam em tegido o regime genocida hutu e de M23 perseguiram e mataram
das páginas mais sombrias da histó- da contra as mulheres tutsis: as es- resultado de cem dias de chacina, ter hostilizado a Frente Patriótica milhares de hutus.
ria do século XX – e houve muitas. A timativas mais baixas apontam a maioria das quais tutsis. Ruandesa de Kagame, que viria a Com mão de ferro, o mili-
dúvida que permanece 30 anos de- para cem mil vítimas (ONU), as tomar a capital e o poder ao fim de tar transformado em presi-

1
pois, mas que ninguém parece inte- mais elevadas para meio milhão cem dias de carnificina. Também dente eliminou qualquer
ressado em dissipar, é quem foi o (Human Rights Watch, HRW), par- há quem aponte para a operação concorrência no país e pre-
autor moral dos disparos que mata- te delas vítimas de mutilações. francesa como responsável pelo in- para-se para renovar o man-
ram o presidente ruandês Juvénal A cerimónia, intitulada Kwibuka sucesso da UNAMIR, missão de dato em julho com mais uma
Habyarimana e o seu homólogo do 30, marca o início de uma semana Milhão Em fuga, com medo de paz das Nações Unidas, que havia vitória esmagadora.
Burundi Cyprien Ntaryamira, am- de luto nacional, durante a qual a represálias, hutus estabeleceram- sido estabelecida meses antes, e
bos hutus. Paul Kagame, o homem música, eventos desportivos e fil- -se em campos de refugiados no cujo comandante, o canadiano Ró-
que na sequência do atentado se in- mes estão proibidos em locais pú- leste do Congo, onde ao longo de meo Dallaire, avisou em janeiro a
surgiu com sucesso contra a chaci- blicos, na rádio e na TV. Fotografias anos foram atacados, primeiro sede das Nações Unidas sobre os
na levada a cabo por extremistas hu- da capital mostram residentes a pelas forças ruandesas, depois preparativos dos extremistas hu-
tus e pela milícia Interahamwe, lu- pintarem portões e cercas de cores por milícias. tus, mas foi ignorado.
tava há anos contra o governo escuras. Quem não estará presente Se as responsabilidades dos paí-

2
ruandês e hoje é um líder sem mar- é Emmanuel Macron, embora em ses e dos líderes continuam por
gem para contestação. representação de França esteja o apurar, alguns dos envolvidos dire-
No domingo, na presença de dig- ministro dos Negócios Estrangeiros, tamente no genocídio continuam
nitários de vários países, Kagame, Stéphane Séjourné. O presidente fugidos à justiça. A HRW chamou a
de 66 anos, vai presidir à cerimónia francês, em mensagem de vídeo a Milhões Pessoas que passaram atenção para a urgência do tema,
no Memorial do Genocídio de Kiga- publicar no domingo, reconhece por tribunais comunitários, nos quando há suspeitos a morrerem
li, local onde se estima estarem en- que a França e os seus aliados “po- quais os agressores enfrentavam ou a serem declarados incapazes
terradas mais de 250 mil pessoas, deriam ter impedido” o genocídio vítimas e familiares. Para de ir a julgamento devido à sua de- Paul Kagame
homens, mulheres e crianças víti- de 1994, mas não tiveram a vontade promover a reconciliação muitos bilidade. Presidente do Ruanda
mas de um ódio cego acirrado por de fazê-lo. Segundo um funcionário foram perdoados. cesar.avo@dn.pt
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 21

Opinião
Marco Serronha

O serviço militar obrigatório: um tabu? Uma necessidade?


O debate necessário

C
om a guerra da Ucrânia, e identi- a mobilização é um dos problemas mais te, mais responsáveis, com maior espírito exige uma aproximação pelo lado da iden-
ficadas as vulnerabilidades de sensíveis e de resolução mais complexa. coletivo, menos individualismo e mais tificação dos problemas, naturalmente
quase todos os países europeus Basta vermos o que se tem passado com cientes das suas capacidades, em suma complexos, e das necessidades de recur-
em termos de capacidades de de- esta temática na guerra entre a Rússia e mais preparados para a vida, que é cada sos, que não só humanos, para emergên-
fesa, voltou-se a falar do regresso dos siste- Ucrânia, com as dificuldades das lideran- vez mais exigente e difícil. Neste caso, não cias, sejam elas catástrofes naturais graves,
mas de conscrição, em termos de presta- ças políticas dos dois países em ativar os está em causa diretamente nenhum prin- crises, conflitos ou, no limite, a guerra. Só
ção de serviço militar, aquilo a que vulgar- mecanismos de mobilização. A situação cípio específico duma necessidade opera- assim conseguimos perceber quais as me-
mente chamamos o Serviço Militar torna-se mais complexa quando o univer- cional militar, real ou potencial. lhores metodologias para assegurar a exis-
Obrigatório (SMO). As vulnerabilidades so recrutável não tem nenhuma experiên- Em tempo de crise, conflito ou guerra, tência de recursos humanos qualificados
dos sistemas militares dos países europeus cia militar anterior, como foi o caso da existem necessidades de reforço de recur- para desempenharem funções essenciais
são essencialmente de três naturezas dis- Ucrânia, que tinha um sistema de volunta- sos humanos em diversas áreas não milita- ao esforço de guerra, sendo que esta será,
tintas: de recursos humanos; de equipa- riado e que, quando mobilizou os mais jo- res, como a chamada Defesa Civil, que in- de certeza, a situação mais exigente que ao
mentos e armamentos militares (onde se vens, se deparou com a necessidade de corporam necessidades de serviços de Estado Português se pode vir a colocar e
incluem as munições); e da capacidade de lhes dar uma formação militar completa emergência, que requerem maiores ou cuja probabilidade estratégica é, cada vez,
produção de sistemas e plataformas de de alguns meses, o que atrasou a sua capa- menores competências especificas, que mais elevada.
combate e da sua sustentação, através das citação para integrar unidades operacio- será necessário reforçar de forma rápida e No domínio mais específico das necessi-
designadas indústrias de defesa. Estas difi- nais, com as qualificações mínimas essen- organizada. dades militares é fundamental que a com-
culdades, que não são novas e têm degra- ciais, o que teve impactos operacionais mi- Vemos, assim, que uma abordagem séria ponente operacional do sistema de forças
dado os sistemas de forças em tempo de litares negativos. e honesta a este problema da reintrodução assente em militares profissionais e con-
paz, são altamente condicionantes se ti- A necessidade de, em curto espaço de dum serviço cívico, mais ou menos militar, tratados, fruto das tecnologias empregues
vermos de passar a uma situação de Crise tempo, fazer crescer um sistema de forças e da formação e treino exigentes e de longa
ou de Guerra, não havendo, de um modo de tempo de paz para um sistema de forças duração. Este elemento central do sistema
geral, a capacidade de mobilização ade- de tempo de guerra, pode exigir duplicar, de forças militar, tem de ser suficiente-
quada de recursos adicionais, sejam hu- triplicar ou quadruplicar os efetivos em al- mente atrativo para os jovens portugueses,
manos, seja de armamentos, equipamen- gumas categorias (quase em todas). Esta de modo a estar sempre preenchido. O
tos diversos e munições, para se crescer necessidade surge pela urgência de consti- problema da mobilização exige, como já
para um sistema de forças militares de tuir novas unidades operacionais, de se fa- vimos, uma reserva de recursos humanos
tempo de guerra. zerem rotações dentro do dispositivo mili- mobilizável, com um mínimo de experiên-
Mas centremo-nos no tema dos recursos tar de combate e pela necessidade de subs- cia militar prévia que possa, de forma rápi-
humanos para as Forças Armadas, proble- tituir militares por motivos de baixas da, dar corpo a um sistema de forças de
ma que tem diversas vertentes que impor- devidas às ações de combate. A tudo isto tempo de guerra. No caso de Portugal, ao
tam focar. Como nos recordamos, no caso acrescem necessidades logísticas enormes nível do Exército, existe uma reserva de
português, o serviço de conscrição foi des- (onde se inclui o serviço de saúde militar), mobilização de cerca de 15000 militares, o
continuado em 2004, para um serviço de que exigem uma imensa necessidade de que será nitidamente insuficiente para se
voluntariado e de contrato que, de forma quadros e tropas, a que se alia a necessida- transitar para um sistema de forças de
geral, não tem permitido suprir de forma de de ministrar formação, treino ou refres- tempo de guerra.
adequada as necessidades do sistema de camento, ao efetivo mobilizado. O problema da Todos sabemos que estamos a falar de
forças nacional, em especial ao nível das A atual situação estratégica, no conti- assuntos sérios, que afetam a soberania
praças. Mas aqui, o problema não é da for- nente europeu, tem levado os responsá- mobilização exige, nacional e a capacidade de respondermos
ma de prestação de serviço, mas sim da sua
falta de atratividade, essencialmente fruto
veis políticos e militares de quase todos os
países a iniciarem a discussão de altera-
como já vimos, uma aos compromissos do Estado, perante os
portugueses e os aliados. Não há tabus em
de não se ter acompanhado a evolução sa- ções ao modelo de serviço militar, seja para reserva de recursos democracia e o debate é obrigatório, pois
larial de outras atividades concorrentes. alterar para o modelo de conscrição, seja humanos as emergências estratégicas a isso obrigam
Claro que há outras razões para a falta de para expandir o modelo de conscrição que os responsáveis de todos os níveis, ou seja,
adesão da juventude portuguesa, mas a não seja universal, extensível às mulheres, mobilizável, com todos nós. As decisões políticas adequadas
principal é mesmo esta, dos salários não como tem acontecido nalguns países, um mínimo de exigem pensamento estratégico, num pro-
concorrenciais com os vencimentos dos como é o caso da Dinamarca. cesso equilibrado de necessidade, oportu-
postos e carreiras equivalentes, a titulo de Outra dimensão da conscrição é a cria- experiência militar nidade e responsabilidade, em linha com
exemplo o das Forças e Serviços de Segu- ção de requisitos de cidadania, mais escla- prévia que possa, as avaliações técnicas, estratégicas e geo-
rança. recida e assertiva, nas juventudes dos di- políticas mais clarividentes. Para isso é ne-
Outra vertente tem a ver com a capacida- versos países. Os grandes apologistas do de forma rápida, dar cessário identificar primeiro os problemas
de de mobilização de recursos humanos SMO sempre defenderam esta necessida- corpo a um sistema e, depois, arranjar as (boas) soluções.
numa situação de conflito ou guerra. No de, com base no argumento de termos os
processo de preparação para uma escalada nossos jovens, homens e mulheres, mais
de forças de tempo
dum conflito para uma situação de guerra, integrados numa sociedade mais resilien- de guerra. Tenente-general
22 DESPORTO Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

O dérbi que pode (ou não) decidir o título


I LIGA Sporting recebe hoje o Benfica com mais um ponto e menos um jogo disputado. Amorim já pode contar com Pote
e exige mais agressividade aos seus jogadores do que no dérbi de terça-feira na Taça. Schmidt fala num jogo crucial para as
águias e quer que a equipa melhor a eficácia, num desafio em que espera que no fim não se fale da arbitragem.
TEXTO NUNO FERNANDES

GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS


MÁRIO VASA / GLOBAL IMAGENS

Amorim não assina empate Schmidt quer vitória


e deixa futuro em aberto e uma arbitragem justa

O R
Sporting recebe esta noite o Benfi- neste jogo do que no da Taça.” oger Schmidt está plenamente árbitro na Taça. Todos conseguem com-
ca em Alvalade numa posição pri- Sem abrir o jogo sobre possíveis mudan- consciente da importância do dér- preender, é complicado quando sentes que
vilegiada (está um ponto à frente, e ças, também revelou não esperar grandes al- bi desta noite para o Benfica, que tens um lance para penálti, quando há li-
tem menos um jogo), mas Rúben terações no adversário relativamente ao em- em caso de derrota compromete vres que não são marcados. Se fosse ao
Amorim garantiu ontem que a sua equipa pate a dois golos na Taça. “Não acho que vá de forma quase definitiva a possibilidade contrário, o Sporting também se queixava.
não vai entrar em campo a pensar que um haver grandes surpresas. A equipa que esti- de as águias revalidarem o título. É normal. Há sempre pressão para os árbi-
empate serve os interesses dos leões. “Se as- ver mais organizada, mais agressiva, mais “Se o Sporting ganhar é mais difícil para nós tros, também são profissionais.”
sinava por baixo um empate antes do jogo? concentrada, terá alguma vantagem no jogo. sermos campeões. Um empate também Tem sido uma constante nos dérbis com
Não, temos de vencer. Antes do jogo clara- Mas temos de esperar. Sabemos o que temos não torna as coisas fáceis. Mas se ganhar- o Sporting desde que o alemão treina o
mente não assinava um empate. Com o de- de melhorar, usámos muito as imagens do mos, claro que é uma situação diferente. Benfica: nos jogos entre ambos (e já vão
correr da partida veremos qual o melhor re- último jogo. Preparámos muito bem este Eles estão em primeiro lugar, têm mais cinco duelos), os leões começam sempre os
sultado”, prometeu ontem o técnico na con- dérbi”, indicou, deixando a garantia de que pontos e mais um jogo por fazer. Estão jogos a vencer. Uma tendência que
ferência de lançamento de mais um dérbi. não irá mudar a estratégia consoante o numa situação melhor”, começou por dizer Schmidt espera ver invertida no clássico
Relativamente ao jogo de terça-feira da avançado que o Benfica irá utilizar, se Tengs- ontem o técnico alemão, lembrando que “a desta noite. “Seria bom marcar primeiro. É
Taça, que terminou empatado a dois golos, tedt, como na Taça, ou outro: “Não muda luta pelo título é muito exigente” e que por sempre melhor marcar primeiro em qual-
há uma mudança em perspetiva no onze. nada a estratégia. O grande foco é melhorar a isso este é “um jogo crucial”. quer jogo, também é bom dar a volta ao
Isto porque Pedro Gonçalves (Pote) está re- nossa equipa.” Apesar de de satisfeito com a exibição da jogo, isso demonstra que mentalmente es-
cuperado. Mas há mais coisas a retificar: “De Rúben Amorim foi depois questionado equipa no jogo de terça-feira com os leões távamos muito fortes. A nossa abordagem é
uma forma geral, a agressividade, a velocida- sobre o seu futuro, numa altura em que são para a Taça de Portugal (2-2), Schmidt diz não sofrer golos, e amanhã [hoje] temos de
de com que encarámos as situações, peque- cada vez mais insistentes as notícias vindas que há aspetos a melhorar. Sobretudo um. demonstrar que isso é um dos nossos obje-
nos pormenores que entram no jogo. O bom de Inglaterra sobre o interesse do Liverpool. “Temos de melhorar a nossa eficácia, po- tivos do campeonato, ou seja, jogar um fu-
é que esse jogo da Taça acabou e podemos Mas ao contrário de Xabi Alonso, que já disse díamos ter ganho. Penso que merecíamos tebol de ataque”, analisou.
refazer a história neste”. que vai continuar no Bayer Leverkusen na ganhar. Isto é futebol. Nem sempre quando Roger Schmidt abordou ainda a situação
O técnico leonino recusou rotular o dérbi próxima época, o técnico leonino não dei- és melhor consegues vencer. É preciso criar de Di María, que que termina contrato no
como decisivo para as contas do título, mas xou garantias. Até porque já fez uma pro- oportunidades como na terça, mas temos final da época, mas ainda não decidiu se vai
admitiu que em caso de vitória “é um passo messa caso não se sagre campeão. “Não de aproveitá-las”, frisou. renovar: “Ainda não tive oportunidade de
importante” nesse sentido: “É sempre im- consigo garantir que vou continuar. O Spor- O técnico alemão foi muito crítico com a falar com ele sobre a próxima época. Ini-
portante vencer agora para ficarmos com ting está a tratar do futuro e eu não posso de- arbitragem do jogo de terça-feira. Por isso, cialmente a ideia dele era jogar apenas uma
uma vantagem de quatro pontos e mais um cidir porque dei a minha palavra, já não pos- para esta noite, formulou um desejo: “Es- época no Benfica. Não faço ideia se ele já
jogo. Os jogadores não têm de fazer contas, so voltar atrás no sentido em que, se não ga- pero que no final ninguém fale da arbitra- tomou uma decisão e se quer permanecer
mas sim estar concentrados. Queremos nharmos títulos, saio. Isso foi muito claro gem. Sempre foi esse o meu objetivo e ga- no Benfica. Está numa grande condição fí-
manter a nossa posição e principalmente desde início. Foi uma aposta que achei im- rantir que haja um jogo justo. Espero que sica, tenho imenso respeito por ele e vai co-
sermos melhores do que no último jogo. É portante transmitir aos meus jogadores, tomem boas decisões para as duas equipas. municar a sua decisão, tomando em consi-
mais claro para nós o que o Benfica vai fazer portanto temos de ganhar”, apontou. Não ficámos contentes com a atuação do deração a sua família. Aguardamos.”

SPORTING-BENFICA HOJE, ÀS 20.30 (SPORTTV1) ÁRBITRO: ARTUR SOARES DIAS (PORTO)


Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 23

Benfica com uma vitória


de vantagem em Alvalade João Sousa
condecorado
HISTÓRIA Os rivais empataram 22 vezes nos 89 duelos por Marcelo
para o campeonato em casa do leão. Quanto a golos, o
Sporting contabiliza 127 e os encarnados somam 129. João Sousa foi ontem
condecorado pelo
Presidente da
República, Marcelo
Rebelo de Sousa, com

MIGUEL FIGUEIREDO LOPES / PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


o grau de Oficial da

O Sporting vai receber esta


noite, pela 90.ª vez, o rival
Benfica em jogos a contar para o
Nos últimos três jogos realiza-
dos em Alvalade para a I Liga re-
gistaram-se os três resultados
Ordem do Mérito, no
Palácio de Belém, em
Lisboa. Depois de 17
campeonato nacional, sendo o possíveis, mas a verdade é que anos ao mais alto
equilíbrio é a nota dominante, nas últimas 10 partidas, o Spor- nível, o agora ex-
uma vez que 22 jogos termina- ting apenas venceu uma vez – em -tenista natural de
ram empatado, sendo que os 2021, por 1-0, com um golo de Guimarães, de 35
leões venceram 33 partidas, en- Matheus Nunes –, enquanto o anos, deu esta
quanto o encarnados triunfaram Benfica triunfou em quatro oca- semana por encerrada
em 34. Ou seja, a equipa da Luz siões – a última foi em 2022, por a carreira profissional,
tem uma ligeira vantagem, sendo 2-0, com golos de Darwin Núñez no Estoril Open, o
que em caso de triunfo da equipa e Gil Dias. único torneio ATP 250
de Rúben Amorim pode ficar De resto, no total dos 90 con- português que
tudo empatado nos dérbis dispu- frontos no reduto do leão, a equi- venceu, em 2018.
tados em casa do Sporting. pa da casa marcou em 65 jogos,
Este equilíbrio tem também tendo o Benfica faturado em 70
tradução nos golos, uma vez que partidas. Ambas as equipas só
os leões contabilizam um total de
127, enquanto o Benfica marcou
129 vezes. Ou seja, se esta noite o
Sporting vencer por 2-0, a igual-
conseguiram um máximo de três
vitórias em anos consecutivos,
enquanto o Sporting teve um
máximo de oito partidas sem ga-
Jogo polémico acaba com
dade em número de vitórias es-
tende-se também para os golos
que cada uma das equipas mar-
nhar ao rival em sua casa (entre
10 dezembro de 2012 e 17 de ja-
neiro de 2020), ao passo que os
o sonho de Nuno Borges
cou nos dérbis no reduto do leão, encarnados tem como máximo
desde a primeira edição do cam- seis duelos sem uma vitória (de ESTORIL OPEN O tenista português ficou irritado com o juiz de
peonato na temporada de 23 de dezembro de 1956 a 27 de cadeira na derrota com Garín. “O árbitro sabe que cometeu um erro.”
1934/35. maio de 1962).

TEXTO ISAURA ALMEIDA

N
Peyroteo é rei dos golos nos uno Borges despediu-
-se do Estoril Open nos
contro foi retomado, mas o pú-
blico manteve a revolta e o alvo-
erro. Acontece, mas é bom garan-
tir que a situação fica bem resol-
dérbis em casa do Sporting quartos-de-final, ao
ser eliminado por Cris-
roço até ao final. Poucos foram
aqueles que ficaram a aplaudir o
vida e não acontece outra vez”,
sublinhou o tenista português.
tian Garín num encontro marca- chileno, após um exuberante gri- Nuno Borges gostaria de ter vis-
MARCADORES A antiga estrela leonina faturou por dez da por uma decisão polémica do to de vitória que enfureceu ainda to algum fair play do adversário:
vezes em onze visitas do Benfica para o campeonato. árbitro de cadeira, Christian mais os adeptos. “Ele podia ter dito para repetir-
Manuel Fernandes tem o recorde de golos num só jogo. Rask, a meio do segundo parcial. No final do encontro, Nuno mos o ponto porque seria a coisa
Depois de entrar mal no jogo e Borges ainda não tinha processa- certa a fazer, mas não o posso cul-
perder o primeiro set (6-2), o te- do o “momento bizarro” que ti- par. Talvez tivesse feito o mesmo,
nista português melhorou no iní- nha acontecido. “Saí de lá sem não sei o que teria feito no lugar
cio do segundo parcial. Com o perceber qual foi o julgamento dele. Ainda estou a processar
jogo em 3-2, o português conse- dele porque a meu ver não havia tudo o que se passou. A culpa foi

E m 89 dérbis realizados em
casa do Sporting, Fernando
Peyroteo foi aquele que mais ve-
num só dérbi é Manuel Fernan-
des, quando em 1985 fez um pó-
quer na célebre goleada de 7-1.
guiu quebrar o serviço do chile-
no que lhe daria o 4-2, mas o ár-
bitro de cadeira acabou por anu-
dúvidas. Tenho a certeza de que
o árbitro sabe que cometeu um
do árbitro, na verdade. Mesmo
que o Garín tivesse dito que que-
ria repetir o ponto, o árbitro podia
zes faturou, totalizando 10 golos No que diz respeito a hat- lar o ponto, já que alguém tinha dizer que mantinha a decisão.
nos onze duelos em que partici- -tricks, a lista contempla apenas supostamente, gritado “out” Nem o supervisor foi capaz de lhe
pou frente ao Benfica, seguido cinco nomes, sendo Rui Jordão e (fora) da bancada. trazer esclarecimento.”
por Rui Jordão que contabiliza José Travassos os autores da Borges não concordou, expli- Garín explicou que ouviu al-
oito remates certeiros no velho proeza ao serviço do Sporting, cou que, mesmo que isso fosse guém a dizer “bola fora” e pensou
Estádio José Alvalade, sendo que enquanto pelo Benfica marca- verdade, o adversário deu segui- Nuno Borges está no que o ponto estava parado: “Não
seis foram de leão ao peito e dois ram Francisco Calado, João Viei- mento à jogada e só depois res- 18.º lugar da ATP sabia se iam repetir ou dar-me o
ao serviço das águias. ra Pinto e Óscar Cardozo. O avan- pondeu para fora. Indignado, o ponto. A atmosfera foi uma lou-
A fechar o pódio, com sete go- çado paraguaio foi o último a fa- português pediu mesmo a pre-
Race, que junta os cura e estou muito orgulhoso
los, surgem os sportinguistas Ma- zê-lo no triunfo encarnado por sença do supervisor do ATP que melhores tenistas do pela forma como lidei com isso.
nuel Fernandes e Manuel Vas- 3-1 em 2012/13. manteve a decisão do árbitro de Mantive-me muito concentrado
ques, bem como os benfiquistas Curiosamente, há menos joga- cadeira, possibilitando que Garín
ano, e promete e foi muito bom para mim.”
Eusébio e Nené , sendo que este dores que bisaram, apenas qua- fizesse o 3-3 e chegasse à vitória “trabalhar muito Apesar da derrota Nuno Bor-
último foi o único que contabili- tro: Fernando Peyroteo e Liedson no segundo parcial, resolvido no mais” para dar ges está no 18.º lugar da ATP Ra-
zou 13 jogos, pois os outros fize- pelo Sporting; Alfredo Valadas e tie break (7-6). ce, que junta os melhores tenis-
ram 12.Entre os jogadores dos Nené pelo Benfica. O último a A decisão criou frustração no seguimento àquele tas do ano, e promete “trabalhar
atuais plantéis, apenas Rafa Silva,
do Benfica, tem dois golos mar-
marcar dois golos num dérbi foi,
precisamente, Rafa Silva na épo-
número 1 nacional e levou a uma que é a sua melhor muito mais” para dar seguimen-
to àquela que é a melhor época
revolta nunca antes vista nas
cados em Alvalade, onde o fute- ca 2019/20, quando a então equi- bancadas do court Millennium. época da carreira. da carreira até agora.
bolista com mais golos marcados pa de Bruno Lage venceu por 2-0. Após mais de dez minutos, o en- isaura.almeida@dn.pt
24 CULTURA Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

mento, redutível a um coletivo de


seres que agem, sentem e pensam a
partir do mesmo evangelho de valo-
res estúpidos e repressivos.
Daí o destaque que merece a en-
trevista que encerra esta coletânea,
dada em 1975 à revista Salmagundi
(do Skidmore College de Saratoga
Springs, Nova Iorque). Trata-se, afi-
nal, de lidar com a textura infinita-
mente complexa dos comporta-
mentos: “Quero que haja autênticos
exércitos de mulheres e de homens
a chamar a atenção para a omnipre-
sença de estereótipos sexistas na lin-
guagem, no comportamento e nas
imagens da nossa sociedade.” O que
envolve também uma resistência
tenaz à dissolução da experiência
individual na cegueira que, por ve-
zes, alimenta os grupos: “Não gosto
de agendas partidárias. Dão azo a
monotonia intelectual e a má pro-
sa.”

A ousadia de pensar
Em boa verdade, o núcleo da anto-
logia organizada por David Rieff – o
texto “Fascismo fascinante”, publi-
cado na NewYork Review of Books, a
6 de fevereiro de 1975 – está longe de
Imagem do filme A Propósito de Susan Sontag: “Não gosto de agendas partidárias.” ser “apenas” sobre as mulheres, ain-
da que em grande parte centrado

Contra a monotonia intelectual numa mulher: Leni Riefenstahl


(1902-2003), a cineasta que, ao ser-
viço de Adolf Hitler, realizou O
Triunfo da Vontade (1935) e Olim-
LIVRO A obra de Susan Sontag continua a ter uma presença significativa no mercado português. píadas (1938). A herança de Riefens-
tahl volta a surgir lado a lado com o
Agora surgiu Sobre as Mulheres, uma antologia de textos selecionados e organizados pelo seu embaraço de lidar com a “mensa-
filho, David Rieff — para revisitarmos ideias e contradições da década de 1970. gem” que nela se transporta: como
separar (ou não) aquilo que no seu
trabalho é cumplicidade com o na-
zismo dos elementos que decorrem
de uma atitude de genuína experi-
TEXTO JOÃO LOPES mentação formal e narrativa?
Mesmo contornando o labirinto
de dificuldades que a pergunta ar-

O
mínimo que se pode di- O título Sobre as Mulheres poderá encarada de modo bem diferente rasta (que este artigo não pretende
zer sobre a herança de sugerir uma evolução “temática”, da nas mulheres e nos homens, em es- inventariar, nem sequer resumir),
Susan Sontag (1933- dimensão mais íntima para a refle- pecial no que se refere ao tratamen- será inevitável reconhecer que tais
-2004) é que, neste mun- xão sobre questões coletivas. A cro- to do corpo. Será que o reconheci- dificuldades assombram a prosa
do parasitado por generalidades nologia dos textos convida-nos a tal mento de tal “estado de coisas” (es- fascinante de Sontag. A ponto de
mediáticas, importa não a reduzir a descrição: estamos perante seis en- tava-se em 1972, convém lembrar) nos propor um juízo crítico tocado,
uma lógica unívoca, nem mesmo saios e uma entrevista com datas de legitima todas as generalizações? de forma porventura inevitável, por
aquela que, eventualmente, pode- publicação entre 1972 e 1975, por- Exemplo: “Talvez o facto de, nas so- uma insólita contradição: “O Triun-
ríamos recobrir com o nome de “fe- tanto já depois dessa incontornável ciedades modernas, as mulheres fo da Vontade e Olimpíadas são in-
minismo”. A antologia de ensaios coletânea que é Contra a Interpreta- tenderem a defender opiniões polí- discutivelmente filmes soberbos (é
Sobre as Mulheres, agora lançada no ção e Outros Ensaios, cuja primeira ticas mais conservadoras do que os possível que sejam os dois maiores
mercado português (ed. Quetzal, edição data de 1966 (surgiu entre homens tenha origem na sua rela- documentários de sempre), mas
com excelente tradução de Vasco nós em 2004, com chancela da Gó- ção profundamente conservadora não são verdadeiramente impor-
Teles de Menezes), poderá servir de tica e tradução de José Lima; existe com o corpo.” No limite, uma pers- tantes na História do cinema en-
exemplo da sua trajetória plural, até agora em edição de 2022, no catálo- petiva deste género pode conduzir quanto forma de arte.”
porque há nela tanto de esclarece- go da Quetzal, com tradução deVas- a duvidosas formas de combate po- Nas suas convulsões – e também
dor como de desconcertante. co Teles de Menezes). lítico. Em “O Terceiro Mundo das na ousadia de pensar que gera tais
Este é mais um livro póstumo de mulheres” (1973), Sontag não teme convulsões – Sobre as Mulheres é
Sontag, resultante do trabalho de Mulheres e homens sequer o efeito de boomerang que a mais um objeto precioso para co-
seleção e organização desenvolvido De onde provém o caráter descon- caricatura pode gerar: “Com toda a nhecer o universo de Sontag, feliz-
por David Rieff (n. 1952), filho da au- certante de Sobre as Mulheres? Dos frequência possível, as mulheres de- mente bem representado no mer-
tora. Lembremos, a propósito, a re- contrastes que, em alguns momen- vem acender os cigarros aos ho- cado livreiro português. Acrescen-
ferência fundamental de Renascer tos, vão pontuando a escrita de Son- mens, carregar-lhes as malas e repa- te-se também que, na plataforma
(ed. Quetzal, 2022, tradução de Nu- tag, levando-nos a perguntar o que rar-lhes os pneus furados.” Filmin, está disponível o excelente
no Guerreiro Josué), coligindo “diá- acontece para que um pensamento São pormenores. O certo é que es- documentário A Propósito de Susan
rios e apontamentos” escritos entre tão exigente possa ceder ao esque- pelham um défice argumentativo Sontag (2014), de Nancy Kates. São
1947 e 1963, num tom confessional matismo de certas significações ou que continua a contaminar alguns pistas para lidar com a obstinação, e
que envolve o reconhecimento do rótulos. discursos feministas. A saber: o também a fragilidade, das ideias for-
seu lesbianismo, superando um Leia-se o texto de abertura, “O du- SOBRE AS enunciado das mais legítimas rei- tes. Ou como ela diz: “(…) se quere-
destrutivo “sentimento de culpa”, plo padrão do envelhecimento”, ar- MULHERES vindicações femininas em nome de mos que um raciocínio faça sentido
para desembocar numa verdade gumentando, com sagacidade e jus- Susan Sontag uma descrição (implícita ou explíci- num determinado momento, não
cristalina: “Sei o quanto amar é teza, que a passagem dos anos é so- Quetzal Editores ta) do mundo dos homens como podemos estar a utilizá-lo o tempo
bom, e legítimo”. cialmente (e até moralmente) 192 páginas um território fechado e sem movi- todo.”
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 25

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O triunfo dos cães


LIVRO Publicado originalmente em 1922, Revolta, do polaco
Wladyslaw Reymont, tem agora primeira edição portuguesa.
O tema é a revolta sangrenta dos animais de uma quinta.

TEXTO LEONÍDIO PAULO FERREIRA

C
hega agora finalmente a
edição em português de
Revolta, de Wladyslaw
Reymont, traduzida do
polaco porVioletta Gawor. Mas este
livro que fala de uma rebelião de ani-
mais está longe de ser uma novida-
de. Mais será, na realidade, um clás-
sico, pois foi publicado pela primei-
ra vez na Polónia em 1922, e o autor,
já então um conceituado escritor, re-
ceberia o Prémio Nobel da Literatu-
ra em 1924, ou seja exatamente há Wladyslaw Reymont
um século. Morreu no ano seguinte. Escritor polaco, Nobel da Literatura
O editor da Livro B/E-Primatur,
Hugo Xavier, relembra como lhe sur-
giu a ideia de publicar este livro de
Reymont, cujo título original é Bunt: fica síntese do que se passa naquelas
“soube do livro por portas travessas páginas que Orwell escreveu desilu-
num artigo que li há décadas no Ti- dido com o caminho que levou o co-
mes Literary Supplement sobre pos- munismo desde o triunfo da Revolu-
síveis ‘plágios’ nunca confirmados. ção Russa de 1917.
Anotei o livro e há muito que o que- Tenha ou não Orwell tido conheci-
ria fazer. No artigo do jornal, lembro- mento de Revolta, sublinhe-se que o
-me que davam destaque aos ami- tema de uma rebelião dos animais
gos polacos de George Orwell em contra os humanos seus donos já ti-
casa de quem ele tinha ficado e que nha sido abordado no final do sécu-
eram exilados do meio cultural. lo XIX por Nicolai Kostomarov, se
Orwell não lia polaco, claro está, mas bem que o manuscrito de Skotskoi
o artigo demonstrava que era perfei- Bunt ( “Revolta na Quinta dos Ani-
tamente plausível que tivessem re- mais”) só tenha sido publicado pos-
sumido o livro a Orwell. Um dos tumamente, em 1917, pouco antes
amigos era mesmo diretor de uma de os bolcheviques tomarem o poder
revista para a comunidade polaca na Rússia. Kostomarov, oriundo da
no exílio. Claro que um livro como nobreza russa mas envolvido no mo-
este, que não está praticamente tra- vimento nacional ucraniano, é hoje,
duzido em nenhuma língua mains- à luz da fortíssima rivalidade entre
tream, avançar para a edição é um Moscovo e Kiev, reivindicado tanto
pouco um tiro no escuro mas li ou- pela Rússia como pela Ucrânia.
tras obras de Reymont e portanto o Os comunistas só tomaram o po-
risco não é assim tão grande”. der na Polónia após a Segunda Guer-
Revolta, que tem como persona- ra Mundial, mas Revolta, embora da-
gem principal o cão Rex, trata de tado de duas décadas antes, era tão
uma revolta de animais numa quin- denunciador do fracasso dos “ama-
ta, e é impossível não associar este li- nhãs que cantam” que foi proibido.
vro a O Triunfo dos Porcos, do inglês Só em 2004 foi esta obra de Reymont
Orwell, publicado em 1945. Até por- novamente publicada no seu país,
que o título original da obra de uma Polónia que se orgulha de ter
Orwell é Animal Farm, ou “Quinta cinco Nóbeis da Literatura.
dos Animais”. Existem, aliás, já edi- Sem querer contar demasiado so-
ções em português que têm como tí- bre Revolta, Rex é um cão indignado
tulo a tradução literal, mesmo que O com o tratamento que recebe apesar
Triunfo dos Porcos seja uma magní- da lealdade aos donos. Rodeia-se de
outros cães (e de lobos) e assume a li-
derança da rebelião, que atrai desde
as ovelhas aos cavalos. Coxo, lobo seu
aliado, quando tudo começa a correr
mal, o sangue corre e o desespero ga-
nha os animais, dirige-lhe dura críti-
ca: “achas-te o mais inteligente. Le-
vaste com as varas dos humanos,
mas não ficaste com a razão deles!
Envenenaste-te com a soberba.
Nunca foste livre e nunca compreen-
derás o que é a liberdade. O que te li-
REVOLTA gou aos rebanhos e às manadas? O
Wladyslaw ódio para com os homens comuns”.
Reymont Livro extraordinário este Revolta
Livro B/E-Primatur do polaco Reymont, cuja obra mais
212 páginas célebre é Chlopi (“Camponeses “).
26 CULTURA Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

Direto à leitura
António Carlos Cortez

E o Teatro?

Para a Eugénia Vasques teatro? Uma forma tensa e intensa de pen- dos Clássicos Ulisseia. Onde estão essas co-
e José Antunes Ribeiro e Lúcia sar a vida representando-a, dando a perso- lecções, hoje, circulando nas escolas? Os li-
nagens que são, primeiro, figuras de papel, vros de teatro, eu gosto deles. Regresso à Li-
a carne verbal e o corpo físico que as farão vrarte e, ao acaso das capas velhas que te-

F
oi na Livrarte, aquela livraria da Av. outra coisa – de seres de papel, passam a se- nho aqui em cima da mesa, vejo a edição da
do Uruguai, em Benfica, que – guia- res ficcionais-reais. Portugália Editora, da colecção ‘Problemas’,
do pelo bom gosto e a cultura do Tenho outras peças de teatro que nessa li- os Estudos sobre Teatro – para uma arte dra-
editor e livreiro José Antunes Ribeiro vraria, e depois noutras, comprei e li. Havia mática não-aristotélica (capa azul, com os
– comecei, por volta de 1992, a comprar li- nos anos 90 uma Feira do Livro Estrangeiro três triângulos a encimar, na parte esquer-
vros de teatro. Tenho comigo alguns livros que, se não erro, se realizou, durante algum da e lateral do rosto, a sobriedade do volu-
raros, edições dessas que nos lembram ou- tempo, no Fórum Picoas. Aí adquiri (num me), em tradução de Fiama Hasse Pais
tras épocas em que, nas livrarias, ao saber sábado de manhã? Numa tarde invernosa?) Brandão. E da mesma Fiama percorro as
dos livreiros se juntava a atmosfera de mis- os seguintes livrinhos (uso o diminutivo páginas de O Aquário (Colecção “A Palavra”,
tério de livros com lombadas gastas e títu- porque são edições de bolso): El Gran Tea- Faro, 1959), uma peça de inspiração nipó-
los sedutores. Alguns estão aqui comigo, tro del Mundo, das Ediciones Istmo (Ma- nica, e, de 1979, da editora Arcádia, na co-
agora. Pu-los por sobre a mesa de trabalho drid, 1974), com estudo de Domingo Yndu- lecção teatro, a peça Quem Move as Árvores
e esplendem no seu silêncio as vozes de rain; a peça de William Shakespeare, Julius (“O Campesinato O Operariado”, poema de
personagens inesquecíveis. Direi alguns Caesar, da Penguin Books e uma edição Fiama ajuda-me a ler esta peça). E outros li-
desses livros: Esta Noite Improvisa-se, em portuguesa (que também por lá andavam vros: Teoremas de Teatro 3 (reunião de pe-
edição da Editorial Estampa/Seara Nova, livros traduzidos) de Os Possessos, de Ca- ças de Garcia Lorca e estudos relativos à
datada de 1974. Tradutores? Osório Mateus, mus. Detenho-me na peça de Calderón de peça Yerma), e continuando por terras de
Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo. No La Barca e na sua origem: o auto sacramen- Espanha, o mesmo Lorca, numa edição
prefácio extremamente completo e infor- tal. Releio o estudo preliminar a esta peça que comprei em Tavira, no verão de 2014, A
mativo, num português escorreito e claro, de 1649 – magnífico estudo de Yndurain, Casa de Bernarda Alba (Edições Europa-
informações preciosas sobre esta peça pu- absolutamente erudito, mas de uma clare- -América, 1964) e que reli – como inscrevi
blicada em Milão em 1930. O título portu- za meridiana – e penso em edições do tea- no dia 9 de Julho de 2015, com letra carrega-
guês é uma tradução imperfeita do original, tro de Gil Vicente (lembrado pelo ensaísta da, para não mais esquecer – um dia depois
Questa Sera Si Recita a Soggetto. Recitar um espanhol), também elas de bolso, quer da do funeral de Maria de Jesus Barroso. Com
esquema-cenário, uma história-cenário, Editorial Comunicação, quer da colecção alguma emoção vejo esta frase: “A mim tra-
isso era o que faziam os autores da tava-me de duas formas: “Poeta” ou “Queri-
“commedia dell’arte” e esses “scenarii” do amigo” – ou com terno diminutivo –
eram preenchidos “com o seu tradicional “Querido amiguinho”. O teatro, o ensino, a
repertório de deixas, tiradas, réplicas, mo- cultura, a poesia, a música, não podería-
mentos de mímica, canções, variantes e ac- mos nós, em 2024, defender uma reforma
ções típicas”, leio. Resume-se, depois dum do ensino que libertasse professores e alu-
primeiro parágrafo geral, a intriga da peça Se um Governo nos nos da máquina de estupidificação e incul-
de Pirandello. O tema? O ciúme do passado tura em que todos vamos sendo comprimi-
e as personagens: Mommina, Totina, Dori- tirou o Frei Luís de dos e formatados?
na e Néne, com o espaço da acção nessa Si-
cília do princípio do século passado. Outras
Sousa, um outro pode Há no teatro uma magia inexplicável que
decorre da junção de três ou quatro gran-
personagens e acções se cruzam e a impro- repôr e fazer justiça, des cruzamentos: o trabalho do texto, isto é, Nacional de Ensino do Teatro. Por aí se po-
visação faz-se a partir do esboço de uma ac- não é assim? Ah! E já o modo como um dramaturgo compõe um deriam estudar a Literatura e a História,
ção. Liberdade e rigor aliam-se numa peça universo de personagens que deve ser vero- aprender a linguagem do corpo e aprender
que pensa o próprio teatro (Hinkfuss, ence- agora: terão lido, os símil e criativo; o trabalho do encenador – a respeitar o corpo (hoje tão vilipendiado e
nador e narrador de uma história dentro da senhores que ditam que deve respeitar o texto e, simultanea- banalizado). Com o teatro, superior forma
história que é Esta Noite Improvisa-se, di- mente, conduzir os actores que dão corpo literária, aprender a dizer com calma e boa
rector de uma companhia), alegoria da as leis educativas às palavras e gestos aos pensamentos im- dicção palavras com pedo, conta e medida.
vida, aqui projectada numa “recita”: a es- deste portugalinho, plícitos que essas palavras sugerem a um O teatro… Recordo aulas que dei lendo,
treia de uma peça, “Leonora Addio”, conta- desempenho superior do texto – e, por fim, numa espécie de encenação feita no mo-
da em jeito de reportagem. Pirandello ou a aquela peça de Raúl o trabalho dos que ficam responsáveis pe- mento, e que se prolongava por seis aulas
arte de narrar a história de um narrador: o Brandão, O Gebo e a los adereços e pela música (quando existe). de 90 minutos, em vozes que eram a minha
“soggetto”. A vida representada e a vida ima- O teatro, tal como o ballet, é uma arte total e com as dos meus alunos – recordo o modo
ginada, a vida da representação e a vida
Sombra? Pois é… por isso é que, na educação em todos os como aprendíamos a comentar a obra-pri-
concreta, tudo aqui se mistura. Que é, pois, Viva o teatro! graus de ensino, deveria haver um Plano ma do teatro romântico português, o Frei
Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 27

escritores em Lisboa, em Março de 1946 e


publicada depois em vários números da re-
vista PORTVCALE, em 1949-50”. Em 1951
Tenho comigo alguns livros raros, saía a 1.ª edição em livro; peça que Sena leu,
mais algumas vezes, a amigos como
edições dessas que nos lembram Sophia, antes de se ir embora do país em
outras épocas em que, nas livrarias, 1959. Apesar de lida a amigos, Jorge de Sena
constatava o óbvio: não obstante o alto va-
ao saber dos livreiros se juntava a lor desta sua tragédia, “muito pouca gente a
atmosfera de mistério de livros com terá lido”. Peça que vem na sequência de
outras como La Reine Morte, de Monther-
lombadas gastas e títulos sedutores. land, e de Murder in the Cathedral, de Eliot,
Alguns estão aqui comigo, agora. esta, de Sena, em verso regular e branco, é
fiel à História e repõe a sobriedade de Rei-
Pu-los por sobre a mesa de trabalho nar después de morir, do dramaturgo espa-
e esplendem no seu silêncio as vozes nhol Velez de Guevara, do século XVII. Per-
gunto-me, aqui, olhando estes livros:
de personagens inesquecíveis. Como podemos passar ao largo destas e de
outras circunstâncias da nossa vida cultural
dum tempo que foi ontem? É que não era
tudo Fado, Fátima e Futebol (como hoje, re-
Teatro, livros… Eu gosto deles. E abro três ceio bem, que o seja bem mais) e havia
outros livros. Um livro de ensaio e duas pe- quem resistisse. Pois é isso: o teatro é uma
ças de teatro, edições dum outro tempo. Es- forma de resistência. Ilustra, faz rir e chorar,
tou de novo na Livrarte, em 1997, com a Lú- agita a inteligência e move os afectos. Um
cia olhando-me e dizendo-me se quero, en- outro livrinho faz-me, de novo, ir a Tavira e a
tão, comprar História do Teatro Português, um outro verão, o de 2011, quando comprei
de Luciana Stegagno Picchio, a 1ª edição numa feirinha, à noite, Desejo sob os Ulmei-
(Portugália Editora, Lisboa, 1964. Compro, ros, de Eugene O’Neill, 1.ª edição, na famo-
pois claro! Sou professor de português, estu- sa colecção “das três abelhas”, lendo esta
do literatura, devo ler e conhecer essa tese da tradução de Jorge de Sena – nem de propó-
grande lusitanista (com quem virei a jantar e sito!...
a colaborar num volume sobre poesia portu- Tenho comigo mais duas edições de que
guesa da Universidade de Roma, em 2012!). quero dar nota neste Directo à Leitura de
Belíssimo livro! Na capa a reprodução de hoje: a obra de Brecht, em três volumes (ca-
uma imagem medieval: dois músicos tan- pas de Tossan!), da Portugália Editora, em
gendo dois instrumentos (um alaúde e aqui- traduções de Sena e de O’Neill, no volume I;
lo que julgo ser um predecessor do violino) de Ilse Losa e de Sena, no II volume e, no III,
acompanhando, depreende-se, uma cena tradução directa de Yvette Centeno. Peças
teatral. Detenho-me a ler os capítulos dessa que são obras-prismas: Mãe Coragem, des-
tese que nos traz do teatro pré-vicentino aos de logo. Deveria chamar a atenção para as
anos quarenta do século XX, elencando dra- versões de O’Neill (o nosso) de poemas no
maturgos que, receio, não se lêem e não se volume II. E mais teatro, para acabar esta
levam ao palco (e seriam todos para levar ao minha homenagem a um dia que celebrá-
palco? Não é o nosso teatro esse imenso de- mos há pouco – o Dia Mundial do Teatro –
serto com dois ou três oásis: Gil Vicente, An- lembrando as peças de autores gregos, que
tónio José da Silva, Garrett? Não foi esse o líamos nos livrinhos da “Clássicos Inquéri-
diagnóstico de António José Saraiva?). to” (Eurípedes, Sófocles, Aristófanes), e per-
E penso em outras quatro peças de teatro guntando a quem vai dirigir a pasta da Edu-
que li e reli, maravilhado. Compradas na li- cação se não acharia bem – em conjunto
vraria do Zé Ribeiro, pois claro! O Indeseja- com o Ministério da Cultura – lançar um
do – António, Rei, de Jorge de Sena; O Ren- programa de reedição destas e de outras
der dos Heróis de José Cardoso Pires (a edi- obras-primas do teatro das mais diversas li-
Luís de Sousa. As cenas do clímax, Acto II, acaso alegorizado nesse Romeiro/ D. João ção da Moaresa 4ª, de 1978); e, de teraturas? É que, se um Governo nos tirou o
cenas XIII a XV, com Frei Jorge, Madalena e que perde a identidade e diz ser “Ninguém” Strindberg da Editorial Presença, com data Frei Luís de Sousa, um outro pode repôr e
o Romeiro falando entre si num crescendo – não é essa uma das mensagens de Garrett de 1963, o volume onde se reúnem três tex- fazer justiça, não é assim? Ah! E já agora: te-
de tensão dramática que culmina na céle- para o nosso tempo? Não nos avisava ele tos: A Tempestade, A Casa Queimada e A rão lido, os senhores que ditam as leis edu-
bre estirada: “Romeiro, Romeiro! Quem és dos perigos dum país à deriva, conduzido Menina Júlia. Foi esta última que me levou, cativas deste portugalinho, aquela peça de
tu?” e a resposta desse fantasma vindo do por elites iletradas? Ler essa peça e fazer há já uns bons anos, a ir ver, ao vivo, a Ale- Raúl Brandão, O Gebo e a Sombra? Pois é…
passado: “Ninguém!”, ao mesmo tempo com que regresse ao ensino – é urgente, xandra Lencastre num seu regresso a um Viva o teatro! E cá iremos, nesta página, fa-
que dizendo ser ninguém aponta para o seu pois, como outras, são textos que nos aju- teatro a abarrotar. E lembro, a propósito da lando de livros, de cultura num tempo ad-
retrato de há 21 anos, quando ele, o Romei- dam a construir a cidadania. Nós, em 2024, tragédia centrada em Dom António Prior verso (como foi sempre?). Tal e qual o que
ro, tinha sido Dom João de Portugal. Peça poderíamos todos repetir com o Romeiro do Crato, quanto Jorge de Sena lutou em era (é uma peça de David!), este Directo à
que se tirou do 11º ano, num gesto incom- quem somos: “Ninguém”, olhando para um vida para que se construísse teatro de quali- Leitura continuará sendo tal e qual o que é.
preensível de mutilação da formação dos retrato antigo, o da nossa identidade perdi- dade em Portugal. O Indesejado é uma peça
estudantes. Que professores concordam da no tempo em que a própria Europa se escrita entre Dezembro de 1944 e Dezem-
com esse roubo? Pensar Portugal, não por perde de si, uma vez mais… bro de 1945 e foi lida “a um largo grupo de Professor, poeta e crítico literário
28 Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

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Aviso Week 15

3.O ADITAMENTO DO ALVARÁ DE LOTEAMENTO N.O 5/1999


Nos termos do n.o 2 do artigo 78.o do Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação, torna-se
público que a Câmara Municipal de Tavira, emitiu a 20 de outubro de 2023, o 32 aditamento
do alvará de loteamento n.o 5/1999 em nome lbrahim Georges Gerjy, contribuinte fiscal
número 213 276 852, com sede em Quinta do Perogil, Lote 2, na União das Freguesias de
Tavira, da urbanização sita em Mato de Santo Espírito e Vale Caranguejo, implantada sobre Grande San Paolo 'ƌĂŶĚĞƚůĂŶƟĐŽ
os prédios descritos na Conservatória do Registo Predial sob os números quarenta e três, West Africa Southern Express
GRS0324 GAT0305
a vinte e quatro de janeiro de mil novecentos e oitenta e cinco, novecentos e noventa e
dois, a quatro de outubro de mil novecentos e oitenta e oito, novecentos e noventa e três, Antwerp 08/04 26/04
a quatro de outubro de mil novecentos e oitenta e oito, novecentos e noventa e quatro, a LeHavre 13/04 30/04
quatro de outubro de mil novecentos e oitenta e oito, da União das Freguesias de Tavira. Leixoes 15/04 03/05
A alteração consiste: Dakar 20/04 09/05
1. No aumento da área de implantação de 191,91 m2 para 217,28 m2, do lote 128. Conakry 22/04
Lome 27/04 15/05
A alteração ao alvará de loteamento foi aprovada por despacho n.o 14190/2023, de 11/10/2023,
da Sr.a Presidente, respeitando o PDM de Tavira e demais legislação em vigor, enquadrando-se
Luanda 30/04 19/05
no número 8 do artigo 27.o do Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação. Pointe Noire 04/05 22/05
Douala 07/05 25/05
Paços do Concelho de Tavira, aos 11 dias do mês de março de 2024
Grande Anversa Grande Italia
A Presidente da Câmara Municipal Euroaegean Northbound
Ana Paula Fernandes Martins GAV0324 GIT0424
Livorno 06/04 15/04
Salerno 05/04 14/04
PROCEDIMENTO CONCURSAL PARA A Tanger Med 09/04 18/04
SINDICATO DOS MÉDICOS DA ZONA SUL ELEIÇÃO DO DIRETOR DO AGRUPAMENTO Setúbal 10/04 19/04
DE ESCOLAS DE MARVÃO Portbury 14/04 22/04
CONVOCATÓRIA Cork 15/04 23/04
Nos termos e para os efeitos do disposto nos artigos 27.o, alínea d), 29.o, n.os 1,
alínea b) e 3 e 30.o dos Estatutos do Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS), Nos termos do artigo 22.o do Decreto-Lei Antwerp 16/04 25/04
em leitura conjugada, convoca-se uma Assembleia Geral Extraordinária n.o 75/2008, de 22 da abril, com a redação que Grande Detroit Grande Sierra Leone
para o dia 12 de abril de 2024 (sexta-feira), pelas 20.30 horas, a realizar
lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.o 137/2012, ƵƌŽĂĞŐĞĂŶ^ŽƵƚŚďŽƵŶĚ;ƵƌŽƐŚƵƩůĞͿ
na sede do SMZS, sita na Rua Julieta Ferrão 10 – 12.o A-B 1600-131 Lisboa. GDE0224 GSL0324
A Ordem de Trabalhos é a seguinte: de 2 de julho, torna-se público que, por Antwerp 03/04 -
publicação do Aviso n.o 7215/2024/2 da II
Ponto único: Alteração aos Estatutos do Sindicato dos Médicos
da Zona Sul, de forma a prever a possibilidade da realização de
Portbury 07/04 -
Série do Diário da República, de 4 de abril,
eleições por voto eletrónico, assim como proceder à adequação Vigo - 09/04
dos prazos e procedimento relativo a notificações e convocatórias se encontra aberto o procedimento concursal
Setúbal 10/04 11/04
previstos nos Estatutos a esta nova realidade. para a eleição do Diretor do Agrupamento
Lisboa, 3 de abril de 2024 de Escolas de Marvão, pelo prazo de 10 dias Valencia 12/04 -
A Presidente da Mesa da Assembleia Geral
úteis (de 5 a 18 de abril). Livorno 14/04 16/04
Adélia Maria Freilão Pinhão
Civitavecchia 15/04 15/04
Salerno 16/04 -
- 19/04
emprego

Gioia Tauro
Grimaldi Portugal
info@grimaldi.pt | Lisboa: 213 216 300 - Leixões: 229 998 450 - Setúbal: 265 526 018

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alma, na próxima segunda-feira, dia 8, às 20:00 horas na Basílica da Estrela.

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Diário de Notícias Sábado 6/4/2024
PASSATEMPOS 29

PALAVRAS CRUZADAS SUDOKU

Anel. 11. Repara. Lama.


Horizontais: Om. Parir. Ir. 9. Rival. Meada. 10. Atirar.
1. Ente puramente espiritual. Idolatrar. 2. Reduziu a pó. Linha de demarcação. 3. Ovário dos Palmo. Imã. 6. Alar. Ideo. 7. Diz. Carro. 8.
peixes. Tranquilidade pública. Sigla de very important person. 4. Ressonar. Com destino a Jeans. Elege. 4. Ou. Coaxo. Um. 5.
(preposição). 5. Estrela. Silenciar. 6. A ti. Agastar-se sem dizer o motivo. Rádio (símbolo 1. Amor. Tabela. 2. Novo. Enomel. 3.
químico). 7. Ficheiro incluído no correio (Informática). Víscera dupla. 8. Quantia formada pelas Verticais:
entradas, apostas e multas dos parceiros ao jogo. Fictício. 9. Nome da letra M. Passado. Nome Idem. 11. Alemão. Rala.
feminino. 10. Verdura. Igualmente. 11. O natural da Alemanha. Certo ruído na respiração. Irreal. 9. Eme. Ido. Ana. 10. Legume.
Verticais: Te. Amuar. Ra. 7. Anexo. Rim. 8. Bolo.
1. Forte afeição. Lista de preços. 2. De pouco tempo. Xarope feito com vinho e mel. 3. Designação Paz. VIP. 4. Roncar. Para. 5. Sol. Calar. 6.
dada às calças de ganga no início dos anos 60. Escolhe. 4. Alternativa. A voz da rã. A unidade. 1. Anjo. Adorar. 2. Moeu. Limite. 3. Ova.
5. Distância da ponta do dedo polegar à do mínimo, estando a mão bem aberta e estendida. Horizontais:
Sacerdote muçulmano. 6. Levantar. Elemento de formação de palavras com o significado de Palavras Cruzadas
ideia. 7. Exprime por palavras. Viatura. 8. O mantra mais importante do Hinduísmo e outras
religiões. Dar à luz filhos. Seguir até. 9. Émulo. Porção de fio dobado. 10. Arremessar. Círculo. 11. SOLUÇÕES
Conserta. Terra ensopada em água.

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30 ACONTECEU EM Sábado 6/4/2024 Diário de Notícias

O DN
DE HÁ CEM
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AS NOTÍCIAS
DE 6 DE ABRIL

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PARA LER HOJE
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Diário de Notícias Sábado 6/4/2024 31

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BREVES
Sismo provoca
susto nos estados Marcada negociação com
de Nova Iorque professores para a semana
e New Jersey Fernando Alexandre, ministro da Educação,

SPENCER PLATT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP
Os estados americanos de Ciência e Inovação, anunciou ontem que o
Nova Iorque e New Jersey calendário para as negociações com os
foram ontem abalados por um professores sobre a recuperação do tempo de
terramoto de magnitude 4.8, serviço “será anunciado na próxima semana”. À
com epicentro no município chegada ao Palácio da Ajuda, onde decorrerá
de Lebanon, onde alguns dos a tomada de posse dos 41 secretários de
residentes tiveram mesmo de Estado (ver páginas 8 e 9), Fernando Alexandre
deixar as suas casas devido a foi ainda questionado sobre o facto de o
alguns estragos. No entanto, Ensino Superior não ter tutela autónoma e
os danos causados não foram ficar sobre a sua alçada, recusando a ideia de
significativos e não houve que esta decisão represente uma fragilidade,
registo de pessoas feridas. defendendo que atualmente o “sistema de
O sismo foi sentido no bairro ensino superior tem uma maturidade que não
nova-iorquino de Manhattan, teria há 10, 15, 20 anos”, sublinhando que o
onde uma reunião do que o Governo tem de assegurar “recursos,
Conselho de Segurança da previsibilidade e as instituições têm que usar a
ONU teve de ser interrompida, autonomia que tanto reclamam e que pedem
mas também nas cidades de até que seja reforçada para que possam
Filadélfia e Boston. desempenhar a sua ação”. O governante diz
que a sua equipa foi constituída para prever
“as competências necessárias para cobrir
todas as dimensões” no ensino superior,
referindo que o Programa prevê que “o

PR justifica atraso pediu em dezembro e, pela mesma ra-


zão, foi fornecida em janeiro”, afirmou.
Uma vez que o MP “entendeu que
era segredo de justiça”, a “Presidência
Governo seja uma entidade reguladora, que
garanta os recursos, mas que as instituições,
no exercício da sua autonomia, possam
cumprir a sua missão”.

na documentação achou por bem verificar se havia ou


não violação do segredo de justiça”, ex-
plicou sobre o atraso no envio da docu-

com segredo
mentação, quando questionado sobre
a notícia de que o relatório da IGAS re- Poeiras do norte de África
fere que a Presidência da República
não enviou, num primeiro momento, estão de volta a Portugal

de justiça documentação solicitada por esta en-


tidade relacionada com o caso das gé-
meas. “Foi entendido pela CADA que
não havia violação do segredo de justi-
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA)
alertou ontem que está prevista para o dia de
hoje uma massa de ar com poeiras proveniente
EXPLICAÇÃO Marcelo revela que após a indicação ça, que havia razões que justificavam a dos desertos do norte de África que poderá
divulgação”, acrescentou. afetar a qualidade do ar no Algarve, Lisboa e
do MP, a Presidência quis c ertificar-se que podia Sobre a comissão de inquérito parla- interior do país, sendo que irá depois mover-se
divulgar a informação à IGAS sobre o caso das mentar ao caso, pedida pelo Chega, para território espanhol, podendo chegar
Marcelo preferiu não tecer comentá- inclusive outros países da Europa Ocidental e,
gémeas luso-brasileiras. rios, justificando com o “período pré- inclusive, à Escandinávia. Esta massa de ar
-eleitoral”, pois convocou esta semana quente, que já foi sentida em algumas regiões
eleições europeias para 9 de junho. do país durante o dia de ontem e irá atravessar
TEXTO SUSETE HENRIQUES No que se refere ao papel que o filho maioritariamente Espanha, terá em Portugal
teve no acesso das gémeas luso-brasi- “um incremento pouco significativo nas
leiras ao medicamento Zolgensma, concentrações de partículas no ar”. A APA

M
arcelo Rebelo de Sousa ex- quando a TVI pediu o acesso, isso foi a com um custo total de quatro milhões sublinha que em caso de precipitação haverá
plicou ontem as razões do uma Comissão de Acesso aos Docu- de euros, nomeadamente se Nuno Re- uma melhoria da qualidade do ar com
atraso no envio da docu- mentos Administrativos (CADA) que belo de Sousa invocou o seu nome nos arrastamento das partículas nas denominadas
mentação à Inspeção-Ge- reconheceu que havia direito ao forne- contactos feitos, o Presidente da Repú- “chuvas de lama”. Nestes casos, as autoridades
ral das Atividades em Saúde (IGAS) so- cimento dessa informação, apesar de blica afirmou: “Terão de perguntar ao de saúde recomendam às populações que
bre o caso das gémeas luso-brasileiras ser segredo de justiça. Foi entregue logo próprio. Tem 51 anos, é maior e vacina- permaneçam preferencialmente em casa, que
tratadas no Hospital Santa Maria com em janeiro”, começou por esclarecer do, vive noutro Estado e, portanto, te- usem máscara nas saídas para à rua e evitem
um medicamento de milhões de euros. Marcelo Rebelo de Sousa, referindo de- rão de lhe perguntar qual é a atitude.” atividades desportivas ao ar livre. É bom
“A Presidência enviou para o Minis- pois que aconteceu o mesmo com o Marcelo garantiu ainda que não fa- lembrar que há pouco menos de um mês, o
tério Público (MP) em dezembro toda pedido da Inspeção-Geral das Ativida- lou com o filho sobre o caso. “Se está território nacional foi também afetado por
a documentação. O MP considerou des em Saúde. “IGAS entendeu que em investigação, entendi que não de- poeiras provenientes dos desertos do norte de
que era segredo de justiça e, portanto, queria ter acesso a essa documentação, via falar”, justificou. África.

Conselho de Administração - Marco Galinha (Presidente), Kevin King Lun Ho, António Mendes Ferreira, Victor Santos Menezes, Vitor Coutinho, Diogo Queiroz de Andrade,
Rui Costa Rodrigues, José Pedro Soeiro Secretário-geral Afonso Camões Direção interina Bruno Contreiras Mateus (Diretor), Leonídio Paulo Ferreira e Valentina
Marcelino (Diretores Adjuntos) Data Protection Officer António Santos Propriedade Global Notícias Media Group, SA; Matriculada na Conservatória do Registo Comercial
de Almada. Capital social: 9 309 016,95 euros. NIPC: 502535369. Proprietário e editor: Rua Gonçalo Cristóvão,195-219 – 4049-011 Porto. Tel.: 222 096 100. Fax: 222 096 200
Redação: Rua Tomás da Fonseca, Torre E, 3.º – 1600-209 Lisboa. Tel.: 213 187 500. Fax: 213 187 501 Marketing e Comunicação Carla Ascenção Direção Comercial
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Reis Soeiro – 20,40%, Grandes Notícias, Lda. – 8,74% Impressão Gráfica Funchalense (Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, 50, Morelena – 2715-029 Pero Pinheiro);
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