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ALEXANDRE RIBEIRO MENNA

DESENVOLVIMENTO DE UM SIMULADOR PARA TURBOMÁQUINAS


GERADORAS: AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS PARA UMA BOMBA
CENTRÍFUGA DE TRANSFERÊNCIA DE ÁCIDO SULFÚRICO

Monografia apresentada ao Departa-


mento de Engenharia Mecânica da Es-
cola de Engenharia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, como
parte dos requisitos para obtenção do
diploma de Engenheiro Mecânico.

Orientador: Prof. Sérgio Frey

Porto Alegre
2003
2

Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Escola de Engenharia
Departamento de Engenharia Mecânica

DESENVOLVIMENTO DE UM SIMULADOR PARA TURBOMÁQUINAS


GERADORAS: AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS PARA UMA BOMBA
CENTRÍFUGA DE TRANSFERÊNCIA DE ÁCIDO SULFÚRICO

ALEXANDRE RIBEIRO MENNA

ESTA MONOGRAFIA FOI JULGADA ADEQUADA COMO PARTE DOS RE-


QUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO DIPLOMA DE
ENGENHEIRO MECÂNICO
APROVADA EM SUA FORMA FINAL PELA BANCA EXAMINADORA DO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

Prof. José Gerbase Filho


Coordenador do Curso de Engenharia Mecânica

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. FRANCIS FRANÇA


UFRGS / DEMEC

Prof. Dra. ADRIANE PRISCO PETRY


UFRGS / DEMEC

Prof. Dr. FLÁVIO J. LORINI


UFRGS / DEMEC

Porto Alegre
2003
3

de modo especial, aos engenheiros Fábio Almeida Ribeiro de Castro e


Valtemir Zandona, pela amizade e exemplo de amor a arte da engenharia.
4

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Sérgio Luís Frey por toda a atenção
prestada a este estudo, e por me permitir utilizar as instalações do LAMAC para a construção
das rotinas computacionais.

À Copesul – Companhia Petroquímica do Sul, em particular na pessoa do engenheiro


Natanael Lopes, pela oportunidade a mim proporcionada de atuar na condução do estudo que
verificou as potencialidades da ferramenta BOMBADAPT.

Aos meus pais Ademar e Aida, por não terem simplesmente me alcançado o mundo que so-
nhava, mas sim por mostrarem que só no dicionário encontraria o Sucesso antes do Trabalho.

À Isadora, pelo apoio incondicional e amor que compartilhamos.


5

“Antes o desafio de uma juventude questionadora,


que ainda sonha, do que a presença resignada de
jovens que já não sonham mais.”

Érico Antônio Lopes Henn


6

MENNA, A. R. Desenvolvimento de um Simulador para Turbomáquinas Geradoras:


Avaliação de Alternativas para uma Bomba Centrífuga de Transferência de Ácido Sul-
fúrico. 2003. 26f. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Mecânica) –
Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2003.

RESUMO

O presente trabalho introduz a cinemática, rendimentos, semelhança dimensional e ca-


racterísticas de funcionamento de máquinas de fluxo, tendo como objetivo a construção de
ferramenta computacional para análise de pontos de trabalho e de bombas centrífugas dimen-
sionalmente semelhantes. Em um primeiro estágio, com base na teoria de semelhança dimen-
sional incompleta, o simulador gera subsídios para adequação de bombas centrífugas a novos
pontos de trabalho - a partir das curvas de altura de recalque e potência no eixo processadas
através de sua rotina de ajuste por mínimos quadrados. Em seu segundo estágio, empregando
as grandezas características biunitárias, o código desenvolvido gera parâmetros para o projeto
de modelos em escala reduzida ou aumentada de protótipos de turbobombas radiais. Em am-
bos os estágios, o simulador seleciona o tipo de máquina de fluxo ideal para aplicação, tendo
em vista o ponto de trabalho especificado. A ferramenta, desenvolvida em linguagem For-
tran90 no Laboratório de Mecânica dos Fluidos Aplicada e Computacional (LAMAC) do De-
partamento de Engenharia Mecânica da UFRGS, tem como validação experimental testes
realizados em uma bomba de transferência de ácido sulfúrico concentrado da COPESUL -
central de matérias primas do Pólo Petroquímico de Triunfo.

PALAVRAS-CHAVE: Simulador de turbomáquinas, Semelhança incompleta, Bombas cen-


trífugas, Teoria de aproximação de funções, Curvas características, Ponto de trabalho
7

MENNA, A. R. Turbomachinery Simulator Development: Evaluation of Alternatives for


Centrifugal Pump Operating with Sulphuric Acid. 2003. 26f. Monografia (Trabalho de
Conclusão do Curso de Engenharia Mecânica) – Departamento de Engenharia Mecânica,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.

ABSTRACT

This work introduces the kinematics, efficiency, physical similarity and working char-
acteristics of turbomachinery, and has as its main objective the development of a computa-
tional tool for the analysis of operating points and similar centrifugal pumps. In its first stage,
with speed and tip diameter change of the turbomachinery, the simulator generates informa-
tion modifying the operating point - using the head and input power curves processed by a
routine based on the approximation theory. In the second stage, using the unit characteristics,
the developed code generates parameters for turbomachinery models project aiming proto-
types tests, using diminished or amplified scale. In both stages, the simulator selects the most
suitable type of turbomachinery applicable on the specified operating point. The tool devel-
oped in Fortran90 language at the Laboratory of Applied and Computational Fluid Mechanics
– LAMAC – of the Mechanical Engineering Department of UFRGS, has its experimental
validation realized through tests in a centrifugal pump used to transfer sulphuric acid from
COPESUL - basic products generation company of Triunfo´s Petrochemical Chain.

KEYWORDS: Turbomachinery simulator, Incomplete physical similarity, Centrifugal


pumps, Curve approximation theory, Characteristic curves, Operating point
8

SUMÁRIO

RESUMO ...................................................................................................................................6

ABSTRACT...............................................................................................................................7

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................9

2. MODELAGEM MECÂNICA............................................................................................10
2.1 EQUAÇÃO DE EULER PARA TURBOMÁQUINAS ................................................................11
2.2 PERDAS DE ENERGIA EM MÁQUINAS DE FLUXO ...............................................................12
2.3 MÁQUINAS DE FLUXO SEMELHANTES ..............................................................................12
2.3.1 Grandezas unitárias.................................................................................................13
2.3.2 Grandezas biunitárias..............................................................................................13
2.3.3 Velocidade de rotação específica ............................................................................14
2.4 DETERMINAÇÃO DO PONTO DE TRABALHO PARA BOMBAS CENTRÍFUGAS....................15
2.4.1 Efeito da variação do diâmetro de saída do rotor (D5) nas curvas características16
3. MODELAGEM COMPUTACIONAL .............................................................................17
3.1 PROPOSTA DE VALIDAÇÃO EXPERIMENTAL: O CASO 42B17 DA COPESUL .............18
3.1.1 Curva de funcionamento e curva do sistema para a 42B17 ....................................19
3.1.2 Teste de partida da 42B17 .......................................................................................19
4. RESULTADOS E ANÁLISES...........................................................................................19
4.1 SIMULAÇÃO DAS NOVAS CURVAS CARACTERÍSTICAS PARA A 42B17..............19
4.2 OBTENÇÃO DE FAMÍLIAS DE BOMBAS SEMELHANTES VISANDO A CONSTRUÇÃO DE
MODELOS ...........................................................................................................................20
5. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS ............................................................23

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................23

APÊNDICE - RESULTADOS DO SIMULADOR BOMBADAPT ...................................25

ANEXO – CURVAS CARACTERÍSTICAS DA BOMBA 42B17 – COPESUL ..............27


9

1. INTRODUÇÃO

As primeiras máquinas de fluxo desenvolvidas pelo homem foram rodas de conchas e


bombas de parafuso para elevar a água, com os romanos introduzindo a roda de pás em torno
de 70 a.C. para obtenção da energia de cursos d'água. Posteriormente, moinhos foram desen-
volvidos para extraírem a energia do vento, mas a baixa densidade de energia ali presente
limitava a produção a poucas centenas de quilowatts. É, no entanto, a partir do século XIX
que as máquinas de fluxo passaram a ter um maior desenvolvimento, com a utilização de co-
nhecimentos de termodinâmica e aerodinâmica, com o surgimento de novos materiais e, mo-
dernamente, com o uso de recursos computacionais cada vez mais sofisticados. Atualmente, as
modernas máquinas de fluxo existentes são comuns no dia-a-dia do homem, seja no transporte
de líquidos, gases e sólidos, na geração e acumulação de energia.
Máquinas de fluxo são equipamentos que realizam transferência de energia entre um
sistema mecânico e um fluido de trabalho devido a efeitos dinâmicos. Nelas, o fluido de tra-
balho não se encontra em momento algum confinado na máquina, mas sim escoa continua-
mente através de suas passagens e câmaras. As máquinas ditas geradoras – as quais transfe-
rem energia ao fluido de trabalho – que operam com líquidos são denominadas bombas, ocor-
rendo um acentuado predomínio das turbobombas sobre as bombas de deslocamento positivo
(HENN, 2001). Quando deseja-se trabalhar com médias e grandes vazões busca-se a aplica-
ção de bombas centrífugas ou radiais, dado que o escoamento do fluido através do rotor per-
corre uma trajetória predominantemente perpendicular ao eixo da máquina (ver Figura 1.1).

Figura 1.1 - Desenho em corte de Bomba Centrífuga (Fonte: Sulzer Technical Review, 2002)

O presente trabalho, após a introdução da cinemática, rendimentos, semelhança dimen-


sional e características de funcionamento de máquinas de fluxo geradoras, com atenção espe-
cial às bombas centrífugas, tem como objetivo a construção de uma ferramenta computacional
para simulação e análise de pontos de projeto e bombas centrífugas dimensionalmente seme-
lhantes. Este simulador apresenta como possível validação experimental testes realizados para
o ponto de trabalho de bomba centrífuga de transferência de ácido sulfúrico concentrado para
a estação de tratamento de águas da COPESUL - central de matérias primas do Pólo Petro-
químico de Triunfo. Destaque-se ainda que o presente trabalho foi motivado pela queda de
desempenho da referida bomba, em decorrência do já avançado estado de degradação. Este
fato incentivou ao estudo da viabilidade da substituição do equipamento instalado por bomba
desativada da mesma unidade de processo.
10

2. MODELAGEM MECÂNICA

Um escoamento complexo, como o que ocorre no interior de uma bomba centrífuga,


poderá ser considerado permanente se observado de um sistema fixo ao seu rotor (referencial
inercial). Esta abordagem, quando aplicada ao rotor de uma máquina de fluxo, possibilita o
estabelecimento da cinemática do escoamento no interior de rotor, a qual é formulada pelo
denominado Triângulo de Velocidades (HENN, 2001).

v = w +u (1)

onde v representa a velocidade absoluta do fluido de trabalho (m/s); w, a sua velocidade rela-
tiva (m/s) e u, a velocidade periférica de um dado ponto do rotor (m/s). A velocidade absoluta
considera o movimento da partícula fluida do ponto de vista de um observador fixo a carcaça
da máquina de fluxo (descrevendo a trajetória AE´B´ da Figura 2.1), enquanto que na veloci-
dade relativa, o observador está solidário ao rotor, acompanhando o deslocamento da partícula
ao longo de suas pás (descrevendo a trajetória AEB da Figura 2.1). A velocidade periférica é
dada pelo produto vetorial ù × r , onde é a velocidade angular ω (Hz) dada máquina com o
vetor posição (m) do ponto do escoamento considerado em relação ao referencial móvel. Na
figura, definimos ainda α como o ângulo entre as velocidades u e v e β o ângulo entre w e o
sentido negativo de u.

b5
v5

6 B’
Sentido do Escoamento
u5
5
E’
α5
w5
6
5
β5
v4 B
4 r5 u4
α4 E
3
4 w4
3 A β4
b4 r4
D5 θ
ω D4

Figura 2.1 - Escoamento através do rotor de uma bomba centrífuga. (Fonte: HENN, 2001)

A equação (1), além de relacionar as velocidades envolvidas no rotor da máquina, tam-


bém introduz parâmetros de vital importância para seu projeto, como as componentes meridi-
ana vm (m/s) e de turbilhão vu (m/s) da velocidade absoluta v. A primeira está ligada à capaci-
dade Q (m3/s) da máquina. Para bombas centrífugas, escreve-se:

Q
vm = (2)
π Db

onde D (m) é o diâmetro de um dado ponto do rotor e b (m) a largura de suas pás. Já a com-
ponente de turbilhão está relacionada ao salto energético da máquina através da equação de
Euler desenvolvida na próxima seção.
A figura a seguir mostra o triângulo de velocidades para máquinas de fluxo,
apresentando a disposição de suas componentes.
11

v w
v m =w m

α u β

vu wu
Figura 2.2 - Triângulo de velocidades genérico para máquina de fluxo. (Fonte: HENN, 2001)

2.1 EQUAÇÃO DE EULER PARA TURBOMÁQUINAS

A análise ideal das máquinas de fluxo supõe um rotor com número infinito de pás, e
conseqüente canais de espessuras infinitesimais entre as mesmas, condições estas que permi-
tem assumir um escoamento unidimensional ao longo das pás. Assim, o aumento de pressão
no interior de uma bomba centrífuga ideal, desprezando variações de energia potencial, pode
ser decomposto em duas transformações de energia independentes, porém simultâneas. Uma
delas é a transformação da pressão estática (west, em J/kg), expressa por

p5 − p4 u 52 -u 24 w 24 -w 52
west = = + (3)
ρ 2 2

onde p5 e p4 são as pressões na saída e entrada do rotor, respectivamente, em Pa, ρ é a massa


específica do fluido de trabalho, em kg/m3 e demais grandezas com o significado acima des-
crito. O primeiro termo da equação (3) traduz o aumento da pressão decorrente da força cen-
trífuga sobre o fluido de trabalho, enquanto que o segundo expressa a transformação de ener-
gia cinética em estática no interior do rotor.
Outra forma de aumento da energia de pressão é pela transformação da energia de velo-
cidade, ou energia específica de pressão dinâmica (wdin, em J/kg):

v52 − v24
wdin = (4)
2

onde v5 e v4 tem o significado acima mencionado. Através da aplicação das relações trigono-
métricas dos triângulos de velocidade da entrada e da saída do rotor da máquina (Figuras 2.1 e
2.2) chega-se a dita equação de Euler para máquinas de fluxo,

w∞ = west + wdin = u 5 v u5 +u 4 v u4 (5)

onde w∞ é o salto energético específico de um rotor ideal, em J/kg, e vu4 e vu5 têm o significa-
do acima descrito. Baseado em w∞ define-se o torque T∞ exercido pelo rotor ideal sobre o
fluido de trabalho, com relação ao eixo de rotação, em J,

T∞ = ρQ (r5 v u5 − r4 v u4 ) (6)

com ρ, Q, r e vu5 e vu4 já definidas anteriormente. A potência P∞ (W) necessária para acionar
o eixo de um rotor ideal, responsável pelo acréscimo de energia w∞ , é dada por:
12

P∞ = ωT∞ = ρ Qw∞ (7)

com ρ, Q, ω, T∞ e w∞ já definidas anteriormente.

2.2 PERDAS DE ENERGIA EM MÁQUINAS DE FLUXO

Nas máquinas de fluxo com rotores de número finito de pás – ditas reais – deve-se con-
siderar as perdas na transferência de energia entre o rotor e o fluido de trabalho, classificadas
como perdas internas e externas. Dentre as perdas internas, destacam-se: (a) as perdas hi-
dráulicas (ep) decorrentes do atrito do fluido com as paredes da carcaça e rotor da máquina,
da dissipação energética por mudança brusca de seção e direção de seus canais e do choque
do fluido com o bordo de ataque das pás quando a máquina opera fora de seu ponto de traba-
lho (abordado na seção 2.4); (b) as perdas por fugas provenientes dos vazamentos ( m&f ) do
fluido através da folga entre anéis de desgaste (rotor e carcaça) e furos de balanceamento hi-
dráulico; (c) as perdas por atrito de disco (PA) em função de o rotor trabalhar imerso no flui-
do de trabalho; (d) as perdas por ventilação em máquinas de admissão parcial (HENN, 2001).
As perdas externas ou mecânicas decorrem do atrito nos mancais e dispositivos de vedação
por contato.
Afim de quantificar as perdas de energia acima, definem-se os respectivos rendimentos:
rendimento hidráulico (ηh), rendimento volumétrico (ηv) e rendimento de atrito de disco (ηa).

ηh =
w
; ηv =
m&
; ηa =
(w + e ) (m&+ m& )
p f
(8)
w + ep m&+ m&f (w + e ) (m&+ m& ) + P
p f A

com ep (J/kg); m&e m&f (kg/s), e PA (W) definidas anteriormente. A partir das equações (8),
introduz-se o chamado rendimento interno (ηi) da máquina, com Pi (W) denotando a potência
interna da máquina efetivamente entregue ao fluido:

P
ηi = = ηhηvηa (9)
Pi

Finalmente, considerando também o rendimento mecânico ηm =Pi Pe onde Pe (W) é a


potência entregue no eixo da máquina pelo equipamento acionador, defini-se o rendimento
total (ηt) de uma máquina geradora como:

ρQw
ηt = = ηmηhηvηa (10)
Pe

com P = ρQw denotando a potência recebida pelo fluido (potência disponível).

2.3 MÁQUINAS DE FLUXO SEMELHANTES

A aplicação da teoria dos modelos às máquinas de fluxo, visando a construção de mo-


delos semelhantes reduzidos ou aumentados de protótipos em verdadeira grandeza, requer que
ambos sejam geométrica, cinemática e dinamicamente semelhantes. Entretanto, de modo a
diminuir número de restrições impostas na análise, opta-se em geral pela chamada semelhança
13

incompleta, ou seja, através da obtenção das grandezas características unitárias e biunitárias,


impomos apenas a semelhança geométrica, cinemática e a invariância dos rendimentos do
modelo e protótipo.
Para uma turbomáquina girando a velocidade ω, com salto energético w = ηh uv u , capa-
cidade Q = ηv v mπ D 2 4 e potência no eixo Pe = ρQw ηt , impondo semelhança geométrica e
cinemática e assumindo constantes os rendimentos hidráulico e volumétrico, obtêm-se as
chamadas leis de variação para o w, Q e Pe, funções apenas da alteração da rotação ω´ da má-
quina.

2 3
Q´ ω ´ w´  ω ´
 Pe´  ω ´

= ; =  ; =  (11)
Q ω w ω  Pe  ω 

onde Q´, Pe´ e w´ representam grandezas correspondentes ao funcionamento da máquina de


fluxo a uma nova velocidade de rotação ω´.

2.3.1 Grandezas unitárias

Para uma mesma máquina de fluxo (D´=D), considerando nas equações (11) o caso
particular no qual a nova rotação ω´ gera um salto energético unitário, w´=w1=1J/kg, chega-se
às chamadas grandezas unitárias,

1
w ω  2
ω
= ∴ ω1 =
w1  ω1  w
1
2

1
Q ω w 2
Q
= = ∴ Q1 = (12)
Q1 ω1  w1  w
1
2

3 3
Pe  ω   w  2
Pe
=  =  ∴ Pe 1 = 3
Pe′  ω1   w1  w 2

onde ω1 representa a velocidade de rotação unitária em kg1/2/J1/2.s, Q1 a vazão unitária em


m3.kg1/2/J1/2.s e Pe1 a potência no eixo unitária em W.kg3/2/J3/2. Através das equações (12),
estabelece-se pontos de operação semelhantes de uma mesma máquina de fluxo.

2.3.2 Grandezas biunitárias

Para a construção de um modelo semelhante a uma máquina de fluxo protótipa, empre-


ga-se o conceito de grandezas biunitárias. Considerando como diâmetro característico unitá-
rio rotor D11=1m, mantendo-se o salto energético w11=w1=1J/kg, impondo a semelhança ci-
nemática e supondo ηh constante, chega-se a

u1 = u11 ∴ ω11 = Dω1 (13)

Substituindo a expressão da rotação unitária, equação (12), na equação (13), tem-se:


14

ω ωD
ω1 = 1 ⇒ ω11 = 1 (14)
w 2
w 2

onde ω11 representa a rotação biunitária, em kg1/2.m/J1/2.s.


Considerando também a igualdade de ηv, pode-se escrever:

π D12 π D112 Q1
Q1 = ηv v m1 e Q11 = ηv v m11 ∴ Q11 = (15)
4 4 D2

Substituindo a expressão da capacidade unitária, equação (12), na equação (15), tem-se

Q Q
Q1 = 1 ⇒ Q11 = 1 (16)
w 2
D2w 2

onde Q11 é a vazão biunitária em m.kg1/2/J1/2.s.


Finalmente, considerando as expressões das potência no eixo, com rendimento total e
massa específica do fluido de trabalho idênticos, apresenta-se:

ρQ1w1 ρQ11w11 Q11


Pe1 = e Pe11 = ∴ Pe11 = Pe1 (17)
ηt ηt Q1

substituindo na equação (17) os valores de Pe1, Q11 e Q1 das equações (12) e (16), obtém-se

1
Pe Q w 2 Pe
Pe11 = 3 1 ∴ Pe11 = 3
(18)
w 2
D2w 2 Q D2w 2

onde Pe11 é a potência no eixo biunitária, em W.kg3/2/m2.J3/2.


Cabe observar que no projeto de máquinas de fluxo a semelhança geométrica da rugo-
sidade, espessura e folgas nem sempre são realizáveis, criando o chamado efeito de escala.
Em conseqüência, prejudicando a perfeita transposição dos valores calculados no modelo.
Como solução, são aplicadas fórmulas empíricas de correção, como a de Moody, segundo
Stepanoff1 (1957 apud Henn, 2001), para bombas centrífugas:

1 1
1 − ηtp D  4
 Hm  10

= m    (19)
1 − ηtm  Dp 
   Hp 

onde ηt e H são os rendimentos totais ótimos e alturas de elevação de modelo (m) e protótipo
(p), respectivamente.

2.3.3 Velocidade de rotação específica

Baseado nas grandezas biunitárias, introduz-se ainda outro importante número caracte-
rístico constante para máquinas de fluxo semelhantes, a velocidade de rotação específica,
definida como a velocidade de rotação de uma máquina de fluxo geometricamente semelhante
1
STEPANOFF, A. J. Centrifugal and axial pumps. New York: John Wiley & Sons Inc., 1957 apud HENN, E.
L. Máquinas de fluido. Santa Maria: Editora UFSM, 2001
15

à considerada, mas dimensionada para um salto energético específico e capacidade unitária,


wQ = 1J/kg e QQ = 1m3/s, respectivamente. Impondo semelhança cinemática e ηv constante, da
definição de capacidade, tem-se

π D12 π DQ2 D12


Q1 = v m1 e QQ = v mQ ∴ Q1 =
4 4 DQ2
(20)
D1 ωQ 1
Mas uQ = u1 ∴ π DQωQ = π D1ω1 ∴ = ⇒ ωQ = ω1Q1 2
DQ ω1

Substituindo as expressões da rotação e da capacidade unitária definidas pela equação (12) na


equação (20), chega-se a expressão da velocidade de rotação específica.

1
Q 2
ωQA = ω 3 × 103 (21)
w 4

onde ωQA é a velocidade de rotação específica ou coeficiente de forma do rotor, adimensional,


segundo Addison2 (1966 apud HENN, 2001). Os valores de ω, Q e w empregadas na equação
(21) correspondem ao ponto de trabalho, abordado a seguir.

2.4 DETERMINAÇÃO DO PONTO DE TRABALHO PARA BOMBAS CENTRÍFUGAS

O conhecimento das curvas características fornece subsídios importantes para a especi-


ficação e operação das bombas centrífugas. Obtidas em ensaios laboratoriais, estas curvas
descrevem o comportamento do equipamento para diferentes vazões e saltos energéticos, bem
como possibilitam a análise dos fatores que as modificam. Na figura 2.3 observa-se uma re-
presentação típica destas curvas para uma bomba centrifuga, com velocidade de rotação
constante, onde as curvas w = f(Q), Pe = f(Q) e ηt = f(Q) são traçadas para um mesmo sistema
de coordenadas cartesianas, sob escalas diferentes. Os valores Qn e wn denominam-se valores
nominais e devem coincidir com o ponto de rendimento máximo ηt máx. Em bombas centrífu-
gas é comum a substituição do salto energético w pela altura manométrica total H, em m,
dado pela expressão H = w / g, em que g é a aceleração da gravidade em m/s2.

Figura 2.3. Curvas características de bomba centrífuga obtidas em ensaio com velocidade de
rotação constante. (Fonte: HENN, 2001)

2
Addison, H. Centrifugal and other rotodynamic pumps. London: Chapman & Hall, 1966.
16

Para a determinação do ponto de trabalho é indispensável conhecer a curva característi-


ca do sistema, que é a representação da energia requerida para recalcar uma determinada va-
zão do fluido de trabalho, considerando o a diferença de altura e a pressão interna dos reser-
vatórios de sucção e descarga, bem como a perda de carga que ocorre nas tubulações. Pelo
exposto conclui-se que, obrigatoriamente, o ponto de trabalho deve encontrar-se na interseção
da curva do sistema com a curva w = f(Q), conforme é ilustrado pela figura 2.4.

Figura 2.4 - Determinação do ponto de trabalho de Bomba Centrífuga (Fonte: HENN, 2001)

2.4.1 Efeito da variação do diâmetro de saída do rotor (D5) nas curvas características

Segundo Mattos (1998), torna-se fundamental destinguir os efeitos de dois casos em


que há variação do diâmetro de saída do rotor (D5). O primeiro refere-se a bombas geometri-
camente semelhantes (modelo e protótipo), as quais mantém uma proporcionalidade constante
entre suas grandezas físicas (D4, b5, b4). Neste caso, D5 é tomado como dimensão representa-
tiva da bomba, e a influência da variação de sua medida no comportamento da turbomáquina
é obtida através das grandezas biunitárias, supondo um mesmo fluido e velocidade de rotação
constante.
O segundo caso refere-se a bombas cuja única alteração ocorre no valor de D5, perma-
necendo as outras grandezas físicas constantes. Conforme sugere Karassik3 (1964 apud MA-
TOS, 1998), a área de passagem do fluido delimitada pelas pás do rotor não sofrerá alteração
se considerarmos a redução de D5 dentro de faixa adequada. Mantida a área de passagem, a
vazão varia apenas com a velocidade do fluido e, conseqüentemente, diretamente com D5.
Sendo tal conclusão comprovada experimentalmente, as equações válidas para fins prá-
ticos visando a correção das curvas características, considerando o segundo caso seguem.

2 3
Q´ D5´ w´  D5´ Pe ´  D5 ´

= ; =  ; =  (22)
Q D5 w  D5  Pe  D5 

onde Q´, Pe´ e w´ representam grandezas correspondentes ao funcionamento da máquina de


fluxo com novo diâmetro de saída do rotor D5´.
A faixa de alteração do diâmetro mencionada, tem limite superior fixado pelas dimen-
sões da carcaça da bomba, e inferior, pela queda de rendimento decorrente da alteração dege-
nerativa do ângulo de saída β5 da pás.

3
KARASSIK, I. J. Engineers´ guide to centrifugal pumps, McGraw-Hill Book Company, 1964 apud MATOS,
E. E.; FALCO, R. Bombas industriais, Editora Interciência, 1998
17

3. MODELAGEM COMPUTACIONAL

Todos os cálculos necessários à adequação de uma bomba centrífuga a novo ponto de


trabalho seguem um procedimento análogo. Nesta seção, será introduzido um algoritmo des-
envolvido para realizar a simulação de pontos de trabalho para bombas centrífugas. Nele ba-
seado, desenvolveu-se uma ferramenta computacional, a qual foi denominada BOMBADAPT,
para duas situações de interesse no projeto de turbomáquinas geradoras. A primeira delas,
apresentada na figura 3.1, considera a obtenção de novas curvas características em decorrên-
cia de alteração do ponto de trabalho (seção 2.4.1), enquanto que a segunda, apresentada na
figura 3.2 gera, a partir de um dado ponto de trabalho, curvas para famílias de bombas seme-
lhantes. Este simulador terá seu algoritmo validado com testes em uma bomba centrífuga
apresentado na seção 3.3. Em ambas as situações é considerado o cálculo da velocidade de
rotação específica (seção 2.3.3), visando orientar a seleção de tipo correto de máquina.

Objetivo: adequação de turbomáquinas geradoras a novos pontos de trabalho.


Entrada de dados
1. Parâmetros da bomba na linha original: faixa tolerável do diâmetro D5 do rotor e rotação ω;
2. Parâmetros da linha na qual a bomba passará a operar: vazão Qdes, salto energético wdes, e ρ do fluido;
3. A curva discreta H x Q da bomba, e o grau do polinômio a ser nela ajustado. A curva é baseada no valor
máximo de D5 e na velocidade de rotação ω;
4. Procedimento análogo para a curva Pe x Q da bomba;
Saída de dados
1. Velocidade de rotação específica nQA e indicação do tipo de turbomáquina adequado;
2. Curva discreta H x Q para a bomba adequada ao novo ponto de trabalho;
3. Idem para a curva discreta Pe x Q;
4. Idem para a curva discreta ηt x Q.

1. Cálculo da nQA para o novo ponto de trabalho


2. Ajuste das curvas H x Q e Pe x Q da bomba utilizando o Método dos Mínimos Quadrados;
3. Construção da matriz H das curvas características H x Q e Pe x Q, para ω = 1140rpm, 1730rpm e 3450rpm
via leis de variação, equação (11)
0 H P
e0
η 
t0
 
0

H = M
ω
M M M para m pontos considerados em cada curva.
Q H P η 
e tm
m m m m× 4

4. Comparação de H com Hdes para escolha da ω adequada.


5. Cálculo do novo D5 adequando Hω a Hdes via as relações definidas na equação (22).
6. Obtenção das novas curvas H x Q, Pe x Q e ηt x Q do sistema: equação (22).
Figura 3.1 – Algoritmo para obtenção de novas curvas características para máquina de fluxo
geradora em adequação a novo ponto de trabalho (desenvolvida no Laboratório de Mecânica
dos Fluidos Aplicada e Computacional – LAMAC – Departamento de Engenharia Mecânica
da UFRGS)

Objetivo: obtenção de família de turbomáquinas semelhantes, a partir de seu ponto de trabalho.


Entrada de dados:
1. Parâmetros da bomba: potência no eixo Pe; velocidade de rotação ω e diâmetro D5;
2. Parâmetros da linha: vazão Qdes, salto energético wdes e ρ do fluido;
3. ωmáx e ωmin; Pe máx e Pe min; Qmáx e Qmin; D5 máx e D5 min; para uma suposta bancada laboratorial, considerando
a faixa operacional de seus componentes
Saída de dados:
1. Velocidade de rotação específica nQA e indicação do tipo de turbomáquina adequado
2. Grandezas unitárias: ω1, Q1 e Pe1;
3. Grandezas biunitárias: ω11, Q11 e Pe11;
4. Curvas: w = f(ω1, ω); w = f(Q1,Q); w = f(Pe1, Pe); w = f(ω11, ω, D5); w = f(Q11,Q, D5); w = f(Pe11, Pe, D5);
18

1. Cálculo da nQA para o ponto de trabalho


2. Cálculo das grandezas unitárias ω1, Q1 e Pe1, via equação (12)
3. Cálculo das grandezas biunitárias ω11, Q11 e Pe11, via equação (14), (16) e (18)
4. Montagem das matrizes ω1, Q1 e Pe1, ω11, Q11 e Pe11 contendo as famílias de turbomáquinas semelhantes,
considerando os limites ωmáx e ωmin; Pe máx e Pe min; Qmáx e Qmin; D5 máx e D5 min; para a bancada de testes;
ω min w (ω min , ω1 )   Qmin w (Qmin , Q1 )   Pe min w ( Pe min , Pe1 ) 
   
ù1 =  M M  ; Q1 =  M M  ; Pe1 =  M M


ω max w (ω max , ω1 ) Qmax w (Qmax , Q1 )  Pe max w ( Pe max , Pe1 )
m x2 m x2 m x2
para m pontos considerados em cada curva.
ω min Dmin w (ω min , Dmin , ω11 ) 
 
 M M M 
ω max Dmin w (ω max , Dmin , ω11 ) 
 
 ω min Dint w (ω min , Dint , ω11 ) 
ù11 =  
M M M
 
ω max Dint w (ω max , Dint , ω11 ) 
 M M M 
 
ω max Dmax w (ω max , Dmax , ω11 )
5m x 3

para m pontos considerados na curva de cada diâmetro, num total de 5 curvas. As matrizes Q11 e Pe11 são
obtidas de maneira análoga.
Figura 3.2 – Algoritmo para obtenção de famílias de turbomáquinas semelhantes atendendo
determinado ponto de trabalho (desenvolvida no Laboratório de Mecânica dos Fluidos Apli-
cada e Computacional – LAMAC – Departamento de Engenharia Mecânica da UFRGS)

3.1 PROPOSTA DE VALIDAÇÃO EXPERIMENTAL: O CASO 42B17 DA COPESUL

A Unidade de Utilidades da Copesul é responsável pelo fornecimento de energia elétri-


ca, vapor, água e ar comprimido para os diversos processos pertinentes as plantas petroquími-
cas em operação no Polo Petroquímico de Triunfo, no estado do Rio Grande do Sul.
Toda a água consumida pelo Polo de Triunfo é proveniente do rio Caí. Em dado mo-
mento do processo de tratamento da água captada, é necessária a utilização de ácido sulfúrico
concentrado. Este ácido chega a Copesul através de caminhão-tanque, sendo necessário seu
bombeamento para reservatório a uma vazão de 10m3/h. Neste processo de transferência é
utilizada a bomba centrífuga horizontal de simples estágio 42B17, que vinha apresentando
desempenho aquém do esperado pelo usuário. Tal queda de desempenho é atribuída ao des-
gaste progressivo, apesar de bastante lento, a que os componentes do equipamento estão su-
jeitos, uma vez que mínimos vazamentos do fluido bombeado para o exterior serão diluídos
pela umidade do ar, gerando atmosfera extremamente corrosiva. A bomba em questão é apre-
sentada pela figura 3.3.

Figura 3.3. Bomba Centrífuga 42B17 e suas instalações (linhas).


19

Tal problema demandou a substituição da bomba. Considerando que na mesma unidade


duas bombas do porte da 42B17 estavam desativadas, iniciou-se estudo visando determinar as
modificações que o equipamento aproveitado deveria sofrer afim de atender ao novo ponto de
funcionamento.

3.1.1 Curva de funcionamento e curva do sistema para a 42B17

A curva do sistema para a 42B17 pode ser expressa pela equação abaixo. Segue-se me-
todologia apresentada por Matos (1998):

wsist = 31, 429563 + 2910, 28Q + 182619,93Q 2 (23)

O salto energético calculado para a vazão desejada de 2,77.10-3 m3/s (10 m3/h) é de
48,069 J/kg (H = 4,9m).
As curvas de performance da bomba adaptada para a 42B17 (fabricante Worthington,
Brasil, modelo D-4x3x6), para a velocidade de rotação de 58,33 Hz (1750 rpm), encontram-se
no anexo A.

3.1.2 Teste de partida da 42B17

Após efetuadas as alterações necessárias na bomba é possível acompanhar sua efetivi-


dade. Para tal, realiza-se o monitoramento de algumas variáveis após a partida da bomba:
pressão de descarga (manômetro), vazão (pelo tempo de esgotamento do tanque do caminhão,
de volume conhecido), velocidade de rotação do sistema (tacômetro de lâmpada estroboscópi-
ca) e corrente elétrica consumida pelo acionador (amperímetro). Enquanto a pressão de des-
carga e a vazão estão ligadas a expectativa do usuário, a velocidade angular do eixo da bomba
é fundamental para a verificação do ponto de trabalho teoricamente estabelecido através do
simulador BOMBADAPT. O conhecimento da corrente elétrica permite calcular a potência
entregue, e, uma vez conhecido o rendimento do motor elétrico utilizado no acionamento, a
verificação qualitativa do rendimento total associado ao sistema torna-se possível. A figura
3.4 apresenta, esquematicamente, a instalação a ser realizada.

Figura 3.4. Conjunto Motor – Bomba Centrífuga com esquema de instalação e medição.

4. RESULTADOS E ANÁLISES

4.1 SIMULAÇÃO DAS NOVAS CURVAS CARACTERÍSTICAS PARA A 42B17

As novas curvas características da 42B17 podem ser obtidas na aplicação do primeiro


estágio do simulador BOMBADAPT. Após informadas as curvas H x Q e P x Q, o valor do
salto energético exigido pelo sistema de bombeamento wdes = 48,069 J/kg (H = 4,9 m), obtido
pela equação (23), a vazão Qdes = 2,77.10-3 m3/s (10 m3/h); a rotina retorna a velocidade de
rotação específica nQA = 54,85; recomendando a aplicação de uma Bomba Centrífuga (seção
2.3.3).
20

Com base na velocidade de rotação de 29,16 Hz (1750 rpm), para a qual as curvas ca-
racterísticas foram informadas, e no diâmetro de saída do impelidor D5 = 0,167m, são compa-
rados os saltos energéticos obtidos para as velocidades de rotação de 57,5 Hz (3450 rpm),
28,83 Hz (1730 rpm), e 19 Hz (1140 rpm). A 19 Hz, considerando a vazão desejada, a bomba
adaptada apresenta w = 62,49 J/kg (H = 15 m).
Pelo exposto e aplicando a equação (22), obtém-se o novo valor de D5, 0,1463 m. Após
execução do simulador BOMBADAPT, são retornadas as curvas características H x Q, Pe x Q
e ηt x Q à ω e D5 calculados. A figura 4.1 apresenta estes resultados, indicando o ponto de
trabalho no cruzamento da curva do sistema (equação (23)) com a nova curva da 42B17.

Figura 4.1 – Simulação das novas curvas características para a 42B17 utilizando D5 = 0,1463
m e ω = 1140 rpm. (cabe ressaltar que a figura está apresentada com unidades usuais a bom-
bas centrífugas)

Pode-se observar ainda na figura 4.1 que fixando o valor da velocidade de rotação em
19 Hz (1140 rpm) e incrementando a vazão, ocorre a elevação dos valores da potência no eixo
e do rendimento total associados. A curva da bomba 42B17 ajustada para a nova rotação
mantém a mesma tendência descendente ao elevar a vazão, a exemplo das curvas originais.
A observação do comportamento do rendimento total para o ponto de trabalho indica
valor próximo de 20%, relativamente baixo considerando valores praticáveis de até 70% em
valores de vazão superiores. Nesta linha de raciocínio, a aquisição de nova bomba exclusiva
para a aplicação, através da velocidade de rotação específica, é justificada sob o ponto de vista
energético. A curva de potência informa sobre a potência do motor elétrico a ser instalado, e o
valor para o ponto de trabalho Pe = 601,78 W (0,807 CV). A curva que representa o compor-
tamento do sistema foi apresentada com representação gráfica da equação (23).

4.2 OBTENÇÃO DE FAMÍLIAS DE BOMBAS SEMELHANTES VISANDO A CONS-


TRUÇÃO DE MODELOS

As curvas a serem analisadas tendo em vista a construção de modelos semelhantes (se-


melhança incompleta) são objeto da aplicação do segundo estágio do simulador BOMBA-
DAPT. O conceito de semelhança incompleta apresentado na seção 2.3 é a base da teoria dos
modelos, onde se visa a construção de modelos reduzidos ou aumentados de máquinas de flu-
xo para a previsão do rendimento dos protótipos.
21

A título de verificação da rotina implementada no estágio dois do simulador, será estu-


dado o ponto de trabalho da bomba centrífuga 42B17 e alguns resultados obtidos pelo primei-
ro estágio do simulador. Inicialmente a rotina retorna a velocidade de rotação específica nQA =
54,85, recomendando a aplicação de uma Bomba Centrífuga, como já havia sido apresentado.
Com base na velocidade de rotação ω = 19 Hz (1140 rpm), no diâmetro de saída do im-
pelidor obtido D5 = 0,167m, da potência consumida no eixo Pe = 601,78 W (0,807 CV), efe-
tua-se o cálculo das grandezas unitárias e biunitárias - equações (12), (14), (16) e (18) - sendo
os resultados contemplados para o ponto de trabalho da bomba 42B17 (Q = 2,77.10-3 m3/s e
w = 48,069 J/kg) apresentados na tabela 4.1.

Tabela 4.1 - Valores encontrados para as grandezas unitárias e biunitárias, obtidas pela ferra-
menta BOMBADAPT para o ponto de trabalho da bomba 42B17.
Grandezas Unitárias Grandezas Biunitárias
1/2 1/2
ω1 2,740444 kg /J .s ω11 0,4001 kg1/2.m/J1/2.s
Q1 4,006.10-4 m3.kg1/2/J1/2.s Q11 0,018743 m.kg1/2/J1/2.s
Pe1 1,8123 W.kg3/2/J3/2 Pe11 4,6207.10-2 W.kg3/2/m2.J3/2

Para obtenção das curvas pertinentes a cada grandeza biunitária, as seguintes faixas de opera-
ção de suposta bancada de testes são informadas ao simulador BOMBADAPT (figura 3.2):

Tabela 4.2 – Faixas de operação da suposta bancada de testes para o modelo da 42B17.
ω (Hz) D5 (m) Q (m3/s) Pe (W)
Mínimo 1,667 0,15 0 0
Máximo 83,33 0,5 0,05 7457

A igualdade das grandezas unitárias é base para o estabelecimento de três curvas gera-
das pelo simulador. Considerando a velocidade de rotação unitária ω1 é apresentada a seguinte
curva (figura 4.3), considerando a função w = f(ω1, ω) e nenhuma alteração geométrica no
rotor.

Figura 4.3 – Curva w = f(ω1, ω) obtida pelo segundo estágio do simulador BOMBADAPT,
considerando ausência de alterações geométricas no rotor.

A curva apresentada na figura 4.3 mostra a elevação do salto energético w em função


exclusivamente da variação da velocidade de rotação ω. A curva da elevação do salto energé-
tico w com o incremento da velocidade de rotação ω, para uma mesma máquina de fluxo,
pode ser utilizada em sistemas com altura de recalque variável, onde a velocidade de rotação
do equipamento acionador da turbobomba puder ser alterada pelo usuário.
22

Por conveniência, as curvas obtidas a partir das grandezas unitárias Q1 e Pe1 são apre-
sentadas no Apêndice do presente trabalho.
A igualdade das grandezas biunitárias entre modelo e protótipo são a base da teoria dos
modelos. A família de curvas apresentada na figura 4.4 foi obtida pelo estágio dois do simula-
dor BOMBADAPT e mostra a função w = f(ω11, ω , D5), representado o salto energético obti-
do para o modelo de rotor com diâmetro D5, que varia para cada uma das curvas.

Figura 4.4 – Curva w = f(ω11, ω , D5) obtida pelo segundo estágio do simulador BOMBA-
DAPT, considerando ω a velocidade de rotação e D5 o diâmetro do modelo a ser construído.

As curvas apresentadas na figura 4.4 mostram a elevação do salto energético w em fun-


ção da variação da velocidade de rotação ω, e do diâmetro de saída do rotor modelo. Para uma
mesma velocidade de rotação ω, à medida que D5 aumenta, a curva do salto energético w
desloca-se de modo a elevar seu valor. Aumento do salto energético também ocorre quando é
fixo o valor de D5 e eleva-se a rotação do modelo.
Considerando os diferentes valores de D5 que podem fornecer a mesmo salto energético
supondo reta horizontal em dado valor de w, deve-se analisar a rotação que pode ser aplicada
em laboratório para o teste do modelo. De posse do mesmo valor de w, passa-se à análise da
curva obtida a partir da vazão biunitária Q11 (Apêndice), traçando a mesma reta horizontal em
w. A interseção da reta horizontal referida com a curva do mesmo diâmetro D5 fornecerá, em
sua abcissa, o valor da vazão fornecida pelo modelo da turbobomba.
Raciocínio análogo ao gráfico da vazão biunitária deve ser executado para a curva da
potência biunitária Pe11 (Apêndice), onde a abcissa do ponto de interseção da reta w = cons-
tante com D5 fornece o valor da potência a ser requerida no eixo Pe. A análise desta potência
possibilita prever o consumo energético do teste, considerando o rendimento inerente a má-
quina utilizada no acionamento da turbobomba. A título de ilustração, a tabela 4.3 apresenta
exemplo para aplicação das curvas do simulador BOMBADAPT para um modelo ampliado da
42B17.

Tabela 4.3 – Avaliação de variáveis operacionais do modelo para a 42B17 usando


w = cte. D5 ω lido da curva de ω11 Q lida da curva de Q11 Pe lida da curva de Pe11
100 0,5 m 8,2 Hz 0,04685 m3/s 5400 W

Observa-se, por fim, que o rendimento do protótipo da bomba será obtido pela correção
do rendimento alcançado pelo modelo em teste. Tal correção é realizada com a aplicação da
equação (19).
23

5. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

A ferramenta computacional BOMBADAPT, implementada com base nos conhecimen-


tos da cinemática, rendimentos, semelhança dimensional e características de funcionamento
de turbomáquinas, foi estruturada em dois estágios que vêm ao encontro das necessidades no
que tange: a) a construção de modelos em diferentes escalas para a avaliação de protótipos de
bombas centrífugas; b) a aplicação adequada dos fatores que modificam suas curvas caracte-
rísticas – no caso de turbobombas já existentes – afim de adequá-las a um novo ponto de tra-
balho.
Os resultados contemplados na avaliação de modificações da 42B17, bomba para trans-
ferência de ácido sulfúrico concentrado da Copesul, qualifica os resultados obtidos pela apli-
cação do simulador BOMBADAPT para ambos os estágios implementados. No primeiro, o
aproveitamento de uma bomba desativada é possibilitado com a redução da velocidade de
rotação e diâmetro de saída do rotor da turbomáquina. Apesar de não realizados os testes de
campo aqui recomendados, os parâmetros e a natureza dos mesmos estão estruturados de
modo a garantir a verificação dos resultados.
No segundo estágio, o ponto de trabalho e parâmetros operacionais da turbobomba são
novamente avaliados, sendo obtidos parâmetros operacionais para modelos semelhantes (se-
melhança incompleta). O estágio atual da ferramenta determina variáveis ligadas ao desempe-
nho do modelo. Entretanto, no futuro, pode ser estendida a aplicação para projeto e fabricação
destes modelos, acoplando rotina para avaliação de semelhança geométrica, partindo do diâ-
metro de saída do modelo e do conhecimento das dimensões de projeto do protótipo, ou de
rotor já existente.
O ambiente industrial demanda cada vez maior confiabilidade em seus processos pro-
dutivos. A ferramenta BOMBADAPT pode facilitar a tomada de decisão em tarefas de projeto,
manutenção e operação de máquinas de fluxo em quaisquer processos, uma vez que pela ava-
liação da velocidade de rotação específica pode-se verificar se a máquina de fluxo aplicada é a
mais indicada ao desempenho da função desejada. A extensão das operações realizadas pela
ferramenta ainda inspiram a implementação de estágios subsequentes, abordando turbinas
hidráulicas, ventiladores, bombas axiais.
Ainda podem ser implementadas ações visando facilitar a interface usuário-ferramenta
computacional. A rotina construída para ajuste de equações pelo método dos mínimos qua-
drados facilita a implementação de saída de dados na forma gráfica, através da apresentação
de curvas ao invés de massa de dados para pós-processamento. Os compiladores Fortran90
atuais possibilitam essa implementação.
Por fim, é possível concluir que o desenvolvimento de ferramentas computacionais pode
facilitar o desempenho da engenharia, seja em atividades de consultoria e projeto em empre-
sas, como no desenvolvimento de técnicas didáticas que facilitem o aprendizado, justificando
assim a relevância do estudo aqui apresentado.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATKINSON, K.L. An Introduction to Numerical Analysis. New York: John Wiley & Sons
Inc., 1978

BURDEN, R. L.; FAIRES, J.; REYNOLDS, A.C. Numerical analysis. Boston: PWS Pub-
lishers, 1981
24

FOX, R.W. ; McDONALD, A.T., Introdução à Mecânica dos Fluidos, Livro Técnico, Rio
de Janeiro 1998.

HENN, E. A. L. Máquinas de Fluido – Santa Maria : Ed. UFSM, 2001

LOPES, N. Equipamentos Rotativos – Triunfo : Copesul, 2001.

MATTOS, E. E. ; FALCO R. Bombas Industriais – 2 ed. – Rio de Janeiro : Interciência,


1998

PFLEIDERER C. ; PETERMMANN H., Máquinas de Fluxo, Livro Técnico, Rio de Janeiro


1979.

SHEPHERD D.G., Principles of Turbomachinery, Macmillan, New York 1969.

SULZER. Sulzer Technical Review, 1o semestre de 2002 – Alemanha, 2002


25

APÊNDICE - RESULTADOS DO SIMULADOR BOMBADAPT

Figura 1 – Curva do salto energético w = f(Q1, Q) obtida pelo segundo estágio do simulador
BOMBADAPT, considerando Q a vazão da turbobomba (m3/s) e ausência de alterações geo-
métricas no rotor. Q1 é a vazão unitária do equipamento considerando o ponto de trabalho da
42B17.

Figura 2 – Curva w = f(Q11, Q , D5) obtida pelo segundo estágio do simulador BOMBADAPT,
considerando Q a vazão da turbobomba (m3/s) e D5 o diâmetro do modelo a ser construído
(m). Q11 é a vazão biunitária do equipamento considerando o ponto de trabalho da 42B17.
26

Figura 3 – Curva do salto energético w = f(Pe1, Pe) obtida pelo segundo estágio do simulador
BOMBADAPT, considerando Pe a potência no eixo da turbobomba e ausência de alterações
geométricas no rotor. Pe1 é a potência unitária no eixo do equipamento, considerando o ponto
de trabalho da 42B17.

Figura 4 – Curva w = f(Pe11, Pe , D5) obtida pelo segundo estágio do simulador BOMBA-
DAPT, considerando Pe a potência no eixo da turbobomba (W) e D5 o diâmetro do modelo a
ser construído (m). Pe11 é potência no eixo biunitária do equipamento, considerando o ponto
de trabalho da 42B17.
27

ANEXO – CURVAS CARACTERÍSTICAS DA BOMBA 42B17 – COPESUL

6,5”
15 70% 42B17 A/B
73%
75%
78%
13
78%
6,2”
75%

11 73%
5,9”

70%
5,5”
9

5,3”
5,3”
7
5,0”

5,0
6,5”

2,5 5,9”

5,0”

20 40 60 80

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