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Notas de aula de cálculo 1

Diego da Silva Barros

1
Sumário
1 Preliminares 4
1.1 Soma, divisão e multiplicação de frações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Exponenciação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3 Radiciação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Logaritmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2 Conjuntos 8
2.1 Introdução e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

3 Funções 11
3.1 Introdução e propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.2 Exemplos de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.3 Operações com funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.4 Divisão de polinômios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.5 Cônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.6 Funções trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

4 Limites de Funções 33
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.2 Propriedades dos limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.3 Funções contínuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.4 Limites infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.5 Limites no infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.6 Limite infinitos e no infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

5 Derivadas 55
5.1 Definição e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
5.2 Regras de derivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.3 Regra da cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.4 Derivação implícita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
5.5 Derivadas de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

6 Aplicações da derivada 71
6.1 Máximos e mínimos de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
6.2 O teorema do valor médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
6.3 Formas indeterminadas e regra de L’Hopital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

7 Integração 81
7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
7.2 O teorema fundamental do cálculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
7.3 Integração por substituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

8 Aplicações da integral 88
8.1 Área entre curvas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

2
9 Técnicas de integração 90
9.1 Integração por partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
9.2 Integrais trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
9.3 Substituição trigonométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
9.4 Integração por frações parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

10 Integrais impróprias 104


10.1 Definição e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

11 Apêndice 111

3
1 Preliminares
1.1 Soma, divisão e multiplicação de frações
Uma fração representa a divisão entre dois números, ou seja, representa a divisão a ÷ b. Dessa forma, a
a
b
a 1
divisão de dois números pode ser representada na forma a ÷ b ou . Como exemplo, temos = 1 ÷ 4 = 0, 25,
b 4
6
6 = 4 ÷ 6 = 0, 888 . . . e 8 = 6 ÷ 8 = 0, 75.
4

Definição 1.1. Dadas duas frações a/b e c/d.


a c a c ad + bc
1. A soma das frações e é definida por + = .
b d b d bd
a c a c ad − bc
2. A diferença das fraçõese é definida por − = .
b d b d bd
a c a c ac
3. O produto das frações e é definida como · = .
b d b d bd
a c a c a d ad
4. A divisão das frações e é definida como ÷ = · = .
b d b d b c bc
Observação 1: é um erro muito comum que alunos executem a operação de soma de frações de maneira
a c a+c a c a+c
equivocada, fazendo: “ + = ” ou ainda, “ + = ” . Tais erros precisam ser corrigidos neste
b d b+d b d bd
1 1
ponto. Para salientar que tal “soma” é errada, consideramos o caso em que queremos somar as frações + .
4 4
1 1 1
Pelo exposto no ínico, = 0, 25, dessa forma, + = (1 ÷ 4) + (1 ÷ 4) = 0, 25 + 0, 25 = 0, 5. Usando a definição
4 4 4
1 1 1.4 + 4.1 4+4 8
de soma que foi dada, encontraremos + = = = = 8 ÷ 16 = 0, 5. Vemos dessa forma
4 4 4.4 16 16
que os resultado são iguais. Caso a “soma” fosse realizada da maneira equivocada descrita acima, teríamos
1 1 1+1 2
+ = = = 2 ÷ 8 = 0, 25. A mesma observação feita para soma vale para a diferença de frações.
4 4 4+4 8 √
22 2 2 2
Observação 2: Outro fato muito comum são expressões do tipo: “ 2 = ” ou ainda “ √ = ”. Na
3 3 3 3
primeira, o aluno “corta” o quadrado alegando estar fazendo uma simplificação. Na segunda, a raíz quadrada é
“ cortada” sob a mesma explicação. Tais procedimentos estão incorretos e são baseados no fato das propriedades
das operaçõesde frações não terem sido compreendidas. A origem para “cortar” o que aparece no numerador e
no denominador de uma fração tem origem na seguinte simplificação:
ac a
=
bc b
Nela, o número c é “cortado” da fração ao se realizar uma simplificação. Será explicado aqui o pôrque de
tal fato ser verdadeiro enquanto os demais citados não. Sabemos que qualquer número multiplicação por 1
a a
permanece o mesmo, o que vale também para frações, dessa forma, para qualquer fração ab temos · 1 = .
b b
Por outro lado, a divisão de qualquer número não nulo por sí próprio é 1, o que significa c ÷ c = 1, lembrando
c a a c a
que c ÷ c = , temos: · 1 = · = . Realizando a operação de multiplicação de frações definida acima,
c b b c b
ac a
chegamos na igualdade = . Tal simplificação se exprime com efeito “prático” de que estamos “cortando”
bc b
o c da fração. É preciso ter cuidado com esse tipo de simplificação conceitual pois a banalização de uso pode

4
22 2
incorrer em descuidos. Já para a expressão = , vemos facilmente que a igualdade não se verifica, bastando
3 2 3
22 4 2
fazer os cálculos e comparar termo a termo. 2 = = 0, 44 . . . enquanto que = 0, 66 . . .. O mesmo se aplica
√ 3 9 3
2 2
a “igualdade” √ = .
3 3
a(b + c)
A discussão anterior nos permite analisar a seguinte fração . Observe que o parenteses entre a soma
ac
b + c indica que a soma destes dois elementos deve ser tratado como um único número, que poderíamos chamar
x. Aplicando os conceitos previamente discutidos, temos:
a(b + c) ax x b+c
= = =
ac ac c c
A fração acima já se encontra escrita da forma mais simples possível. Um terceiro erro muito comum que
ocorre no processo de simplificação de frações é de “cortar” o c que aparece no numerador com o que aparece
b+c b
no denominador, a fim de obter = . Tal procedimento é incorreto e não encontra nenhuma justificativa
c 1
1+2 3 1
plausível. Para isso, basta tomar b = 1 e c = 2 e verificar que = 6= .
2 2 1

1.2 Exponenciação
Gostaríamos de analisar potências de somas. Para um número natural n, a potência xn significa multiplicar x
| · x ·{z. . . · x}. Quando x se escreve como soma de dois números, temos as
por ele mesmo n vezes, ou seja, xn = x
n vezes
seguintes relações:

(a + b)0 = 1
(a + b)1 = a + b
(a + b)2 = (a + b)(a + b) = a2 + ab + ba + b2 = a2 + 2ab + b2
(a + b)3 = (a + b)(a + b)2 = (a + b)(a2 + 2ab + b2 ) = a3 + 3a2 b + 3ab2 + b3

Um erro muito comum é escrever (a + b)2 = a2 + b2 ou (a + b)3 = a3 + b3 . Tais setenças estão em desacordo
com o que foi provado acima e são muito simples de serem provadas falsas, basta considerar a = 1 e b = 3, o
que fornece (1 + 3)2 = 42 = 16 6= 10 = 11 + 32 e (1 + 3)3 = 64 6= 28 = 13 + 33 .
Em geral, a potência da soma depois números é dada pela expressão:
! ! ! !
n n n n
(a + b) = a +
n n n−1
a b+ a n−2 2
b + ... + a +b
2 n−2
+ abn−1 + bn
1 2 n−2 n−1
!
n
Onde representa a combinção de n, p a p (0 ≤ p ≤ n), que é dada pela fórmula
p
!
n n!
=
p p!(n − p)!

Algumas igualdade que serão amplamente usadas são diferenças de potências com mesmo expoente. Indi-
caremos algumas:

5
• a2 − b2 = (a − b)(a + b).

• a3 − b3 = (a − b)(a2 + ab + b2 ).

• a4 − b4 = (a − b)(a3 + a2 b + ab2 + b3 ).

Mais geralmente vale a fórmula:

an − bn = (a − b)(an−1 + an−2 b + an−3 b2 + . . . + a2 bn−3 + abn−2 + bn−1 )

Pelo exposto acima, embora não seja verdade que (a + b)n = an + bn , para a potência de um produto temos:

(a · b)n = an · bn

Observação: Lembre-se que se quiservemos elevar um número negativo a algum expoente, deve-se usar o
parênteses. Por exemplo, para elevarmos o número -2 ao expoente 4, devemos escrever (−2)4 = 16. Caso
escrevamos −24 , o incicado aqui é −1(2)4 = −16, de forma que (−2)4 6= −24 . Em geral, (−a)n 6= −an sempre
que n for par.

1.3 Radiciação
Para algum n inteiro positivo, tomar a raíz n ésima de um número positivo a > 0, significa escolher um

número b > 0 de forma que multiplicado por√ele mesmo √ n vezes fornece
√ a como resultado. Ou seja, n a = b ↔
b . . . · b} = bn = a. Note que se a, b > 0, n a = b e n n = y, então a · b = by, pois (xy)n = xn · y n = a · b, ou
n
b| · b · {z
n vezes
√ √ √ √ √ √
seja, ab = n a b. Um erro muito comum é escrever “ a + b = n a + b”, √ tal erro √
precisa ser sanado√neste
n n n n

momento. Tal fato pode ser observado tomando a = 1, b = 1 e n = 2, donde: 2 1 + 1 = 2 6= 2 = 1+1 = 1 1.
Ao realizar simplificações, alguns alunos misturam conceitos p da radiciação de soma pela radiciação do produto.
Um deles ocorre ao tentar simplificações da forma: pa2 + b2 . Tal expressão já se encontra na forma mais
simples, todavia é comum que ocorrão erros do tipo a2 + b2 = a + b, onde √ o quadrado que acompanha
√ os
termos a e b são “cortados”. Talqengano tem origem emqsimplificações do tipo a = a, ou ainda, a b = ab.
2 2 2

Na última, repare que a2 b2 = (ab)2 e por definição (ab)2 = ab.
Convém observar, que a radiciação pode ser vista como a exponencial cuja potência é uma fração. Ou seja:
√ 1
n
a = an

Segue desse fato, que √ m


n
am = a n

1.4 Logaritmo
Definição 1.2. Dado um número x > 0, o logaritmo de x na base a (onde a > 0 e a 6= 1) é por definição o
número y tal que ay = x. Ou seja:
loga x = y ⇔ ay = x
O número a é chamado “base” do logaritmo enquanto que x é chamado logaritmando.

Exemplo 1.1. log10 1000 = 3, pois 103 = 100.

Exemplo 1.2. log2 64 = 6, pois 26 = 64.

6
Podemos enunciar as seguintes propriedades dos logaritmos:

1. loga (x · y) = loga (x) + loga (y).


x
 
2. loga = loga (x) − loga (y).
y
3. loga (xy ) = yloga (x).

4. aloga (x) = x.

5. loga (ax ) = x.
logb (x)
6. Para b > 0 e b 6= 1, vale loga (x) =
logb (a)

7
2 Conjuntos
2.1 Introdução e exemplos
Conjuntos são objetos matemáticos pertencentes ao grupo dos chamados “entes primitivos”, ou seja, são objetos
que não podem ser definidos, embora sua noção seja amplamente reconhecida. Conjuntos dão a idéia de coleção
ou de reunião de coisas, os objetos que compõem um conjunto são denominados elementos de um conjunto.
Geralmente, conjuntos são representados com letras maiúsculas, por exemplo: A, B, C etc... Os elementos que
compõem um conjunto são representados através de letras minúsculas, por exemplo: a, b, c e etc... Podemos
representar um conjunto de duas formas: (I) exibindo seus elementos de forma explicita ou (II) dizendo qual
propriedade um determinado elemento deve possuir para pertencer ao conjunto. A primeira maneira é muito
útil para representar conjuntos finitos, já a segunda é melhor para representar conjuntos que possuem um
número infinito de elementos. Em ambos os casos, por convenção, conjuntos sempre devem ser representado
por “chaves”.
Escrevemos x ∈ A para dizer que x é um elemento de A, caso contrário escrevemos x ∈ / A. Caso todos os
elementos de um conjunto A também forem elementos de um conjunto B, dizemos que o conjunto A está contido
no conjunto B (ou que B contém A, ou ainda, que A é um subconjunto de B), fato que será representado por
A ⊂ B. Caso um conjunto A possua algum elemento que não pertença ao conjunto B, diremos que A não está
contido em B(ou que B não contém A), e representaremos por A 6⊂ B. Chamamos de conjunto vazio o conjunto
que não possui elementos e denotamos por ∅.
Podemos definir as seguintes operações entre conjuntos:

• Interseção: Escrevemos A∩B para denotar a interseçãos dos conjuntos A e B, ou seja, A∩B é o conjuntos
dos elementos que pertencem a A e que pertecem a B.

• União: Escrevemos A ∪ B para denotar a união dos conjuntos A e B, ou seja, A ∪ B é o conjuntos dos
elementos que pertencem a A ou que pertecem a B. Quando A ∩ B = ∅, diremos que A ∪ B é uma união
disjunta.

• Diferença: Escrevemos A \ B (ou A − B), para denotar o conjunto cujos elementos pertencem ao conjunto
A mas não pertencem ao conjunto B.

Dentre alguns exemplos de conjuntos importantes, podemos citar os chamados "conjuntos numéricos", são
eles:

• Conjunto dos números naturais N = {1, 2, 3, . . .}.

• Conjunto dos números inteiros Z = {. . . , −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . .}.

• Conjuntos dos números racionais Q = {m/n | m ∈ Z, n ∈ Z∗ }, onde Z∗ = Z \ {0}.

• Conjunto dos números irracionais R \ Q.

• Conjunto dos números reais R.


√ √
Exemplos de números irracionais são 2, π e 5. O conjunto dos números racionais é formado por todos
os números que possuem expansão decimal finita ou infinita e periódica. Já os números irracionais, são aqueles
que não podem ser escritos como uma expansão decimal finita ou infinita e periódica, ou seja, os números que
não podem ser escritos como quociente da forma m/n onde m ∈ Z, n ∈ Z∗ }. Usamos também as seguinte
notações:

8
• Q∗ = Q \ {0}.

• R∗ = R \ {0}.

• R+ = {x ∈ R |x > 0}.

• R− = {x ∈ R |x < 0}.

Podemos concluir a seguinte sequência de inclusões:

N⊂Z⊂Q⊂R

Exemplo 2.1. Considere os conjuntos A = {1, 2, 3, 5} e B = {6, 8, 2, f, x, a}, temos que:

• A ∩ B = {2}.

• A ∪ B = {1, 2, 3, 5, 6, 8, f, x, a}.

• A 6⊂ B.

• B 6⊂ A.

• A \ B = {1, 3, 5}.

• B \ A = {6, 8, f, x, a}.

Exemplo 2.2. Uma maneira de se representar conjuntos atravéz das propriedades apresentadas pelos seus
elementos é a seguinte: P = {conjunto dos poligonos regulares no plano}. Repare que não é possível representar
o conjunto P como fizemos no exemplo anterior, pois não seria possível listar todos os elementos desse conjunto.
Poderíamos considerar também o conjunto T = {conjunto dos triângulos no plano}. Como todo triângulo é um
polígono regular, segue que T ⊂ P. Observe que P 6⊂ T , pois existe polígonos regulares que não são triângulos
(um quadrado por exemplo).

Definição 2.1. Um intervalo aberto (a, b) é o conjunto dos números reais da forma (a, b) = {x ∈ R |a < x < b},
onde y < z representa “y é menor do que z”, ou seja, um intervalos aberto (a, b) é o conjunto de todos os
números reais que são maiores do que a e menores do que b. Da mesma forma, definimos intervalos fechado
[a, b], como o conjunto dos números reais da forma [a, b] = {x ∈ R |a ≤ x ≤ b}. onde y ≤ z representa “y
é menor ou igual a z”. Podemos considerar também os intervalos semiabertos (a, b] = {x ∈ R a < x ≤ b} e
[a, b) = {x ∈ R a ≤ x < b}. Os números a e b são chamados “ extremos do intervalo”.

Observações

• Num intervalo aberto (a, b), os extremos não pertencem ao conjunto, ou seja, a, b ∈
/ (a, b).

• Num intervalo fechado [a, b], os extremos pertencem ao conjunto, ou seja, a, b ∈ [a, b].

• Num intervalo semiaberto (a, b] ou [a, b), apenas um dos extremos pertencem ao conjunto.

• O intervalo aberto com extremidades no mesmo ponto (a, a) consiste do conjunto vazio ∅.

• O intervalo fechado com extremidades no mesmo ponto [a, a] consiste no conjunto unitário {a}.

• As notações [a, +∞) e (a, +∞) serão usadas para denotar os intervalos {x ∈ R |x ≥ a} e {x ∈ R |x > a}.

9
• As notações (−∞, b] e (−∞, b) serão usadas para denotar os intervalos {x ∈ R |x ≥ b} e {x ∈ R |x < b}.

Uma observação muito importante, é por vezes, a não compreensão da magnitude de quantidade de elementos
que um intervalo pode conter. É um erro comum alguns estudantes afirmarem que o intervalo (0, 1) é um
conjunto vazio. Isso acontece por pensarem sempre nos elementos de um intervalo como números inteiros, pois
nesse sentido esse intervalo não contém números inteiros. Por outro lado, os números 0.1, 0.01, 0.001, 0, 0001 e
etc... são exemplos de números racionais que pertecem ao intervalo (0, 1), dessa forma esse conjunto é composto
por uma infinidade de números.

Definição 2.2. O produto cartesiano dos conjuntos X e Y é o conjunto X × Y = {(x, y) | x ∈ X e y ∈ Y }, ou


seja, é o conjunto das listas de dois elementos que podemos formar de forma que o primeiro elemento pertença
ao conjunto X e o segundo elemento pertença ao conjunto Y .

O último exemplo de conjunto a ser explorado será o plano cartesiano. Este, é um exemplo de produto
cartesiano, onde R × R = R × R = {(x, y) | x, y ∈ R}. Ou seja, o plano cartesiano (ou simplesmente R2 ) é o
conjunto de todas as listas de dois √ elementos (ou pares) de números reais que podemos formar. Como exem-
plo, os pares (1, 3), (0, −5), (1/2, 2), (π, 4) elementos de R2 . Esse conjunto permite a seguinte interpretação
geométrica: posicionando duas retas perpendiculamente uma à outra, de maneira que uma esteja na posição
horizontal, os elementos (x, y) ∈ R2 são identificados como aqueles cujo número x que compõe o primeiro ele-
mento da lista, seja posicionado sobre a reta horizontal na posição “x” enquanto que o número y que compõe
o segundo elemento da lista seja posicionado sobre a reta vertical na posição “y”. O elemento (x, y) pode ser
entendido como o ponto no plano cuja projeção sobre a reta horizontal é x e a cuja projeção sobre a reta vertical
é y. Por convenção, a reta horizontal que contém o primeiro elemento do par seá chamada eixo X, enquanto
que a reta vertical que contém o segundo elemento do par será chamada eixo Y .

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3 Funções
3.1 Introdução e propriedades
Definição 3.1. Dados dois conjuntos X e Y , uma função f : X → Y é uma relação que a todo ponto do
conjunto X, associa um único elemento do conjunto Y . Nesse caso, dizemos que X é o domínio da função,
enquanto que Y é chamado contradomínio.

Exemplo 3.1. Considere X = R e Y = R e vamos construir a seguinte função: a todo elemento x do conjunto
R, vamos associar o triplo do valor de x, ou seja, 3x. Dessa maneira, nossa função pode √ ser√representada
por f : R → R, onde f (x) = 3x. Nesse √ caso, o valor
√ de f para
√ os elementos
√ 1, 5, 1 +
√ 2 e −√ 3 fica sendo
f (1) = 3.1 = 3, f (5) = 3.5 = 15, f (1 + 2) = 3(1 + 2) = 3 + 3 2 e f (− 3) = 3.(− 3) = −3 3.

Exemplo 3.2. Outro exemplo de função poderia ser aquela que fornece a área de polínogos regulares. Ou seja,
dado o conjunto P = {conjunto dos polígonos regulares do plano}, podemos associar a função f : P → R que a
cada elemento de P ∈ P, calcula a sua área f (P ). Como exemplo, se P1 for um quadrado de lado 2, teremos
f (P1 ) = 4. Caso P2 seja um triângulo de altura 1 e base 3, teremos f (P2 ) = 3/2.

Exemplo 3.3. Um exemplo simples mas importante é a chamada função identidade. Ela é definida por
f : X → X onde f (x) = x.

Definição 3.2. Chamamos imagem da função f : X → Y ao conjunto dos elementos do contradomínio de


f que estão associados a algum elemento do domínio, ou seja, ao conjunto Im(f ) = {y ∈ Y |existe x ∈
X tal que f (x) = y}. Caso Im(f ) = Y , dizemos que f é sobrejetiva.

Observação: A imagem de uma função f : X → Y é composta pelos elementos do contradomínio que estão
associados a algum elemento do domínio.

Exemplo 3.4. Dada a função f : R → R definida por f (x) = x2 , observe que 6 pertence a imagem da
função. √
Para justificar
√ essa afirmativa basta exibir algum elemento do domínio que possua 6 como imagem,
como f ( 6) = ( 6)2 = 6. Já o número −1 embora pertença ao contradomínio R, não está associado a nenhum
elemento do domínio pois se existisse algum número a ∈ R no domínio para o qual f (a) = a2 = −1, haveria
um número real cujo quadrado é negativo ( o que é impossível), dessa forma nenhum número do domínio está
associado a −1, ou seja, −1 ∈/ Im(f ). Em particular segue que f não é sobrejetora.

Exemplo 3.5. Dada a função f : R → R dada por f (x) = 2x − 1, afirmo que Im(f ) = R, ou seja, essa
função é sobrejetiva. Para justificar essa afirmação, devemos mostrar que todo o elemento do contradomínio
(que é o conjunto dos números reais) está na imagem de f , ou seja, devemos mostrar que dado um elemento
b do contradomínio, haverá algum a no domínio para o qual f (a) = b. De fato, para encontrar o valor
 de  a
que fará com que f (a) = b basta resolver a equação 2a − 1 = b que é a = 2 . Observe que f (a) = f 2 =
b+1 b+1
 
2 b+1
2 − 1 = b + 1 − 1 = b.

Definição 3.3. Dada uma função f : X → Y , a imagem inversa de um elemento c ∈ Y é o conjunto f −1 (c) =
{x ∈ X | f (x) = c}. Ou seja, a imagem inversa de um elemento c é o conjuto dos pontos do domínio que são
estão associados a c pela função f .

Exemplo 3.6. Considere a função f : R → R dada por f (x) = x2 . Desejamos calcular f −1 (4), para isso
devemos encontrar todos os elementos do domínio cujo o quadrado é 4. Note que f (2) = 22 = 4, logo 2 ∈ f −1 (4).
Da mesma forma f (−2) = (−2)2 = 4, logo −2 ∈ f −1 (4). Como existem no máximo dois elementos diferentes

11
cujo o quadrado √
é 4√
segue que f −1 (4) = {−2, 2}. As mesmas contas permitem concluir que f −1 (0) = {0} e
que f (3) = {− 3, 3}. Por fim, vimos no exemplos anterior que −1 ∈
−1 / Im(f ), isso significa que não existe
nenhum x ∈ X para o qual f (x) = −1, desse modo f −1 (−1) = ∅.

Exemplo 3.7. Considere a função f : R → R, dada por f (x) = x4 − 5x3 + 5x2 + 5x − 6, vamos encontrar
f −1 (0). A expressão x4 − 5x3 + 5x2 + 5x − 6 pode ser escrita como (x − 1)(x − 2)(x + 1)(x − 3), ou seja,
f (x) = x4 − 5x3 + 5x2 + 5x − 6 = (x − 1)(x − 2)(x + 1)(x − 3). Um número x pertence a imagem inversa de 0
se, e somente se, (x − 1)(x − 2)(x + 1)(x − 3) = 0, logo f −1 (0) = {1, 2, −1, 3}.

Definição 3.4. Uma função f : X → Y é injetiva se para quaisquer x, y ∈ X com x 6= y tivermos f (x) 6= f (y).
Equivalentemente, podemos escrever f (x) = f (y) implica que x = y. Ou seja, f é injetiva se elementos distintos
possuem imagens distintas.

Observação: Para que uma função f : X → Y não seja injetiva, é necessário apenas que existam apenas dois
elementos a, b ∈ X que sejam diferentes mas que f (a) = f (b).

Definição 3.5. Uma função f : R → R é crescente se x < y implicar f (x) < f (y). Caso x < y implicar
f (x) > f (y) dizemos que f é descrescente.

• Observação 1: Se f : R → R é crescente ou descrescente, então f é injetiva. De fato, suponha que f seja


crescentes, tome x, y ∈ R, se x < y então f (x) < f (y) e em particular f (x) 6= f (y). Por outro lado, se
y < x então f (y) < f (x) e em particular f (y) 6= f (x). O caso em que f é decrescente pode ser feito da
mesma maneira.

• Observação 2: A soma de duas funções crescentes é sempre crescente enquanto que a soma de duas funções
descrescentes é sempre decrescente.

• Observação 3: Se f é crescente, então −f é decrescente. Caso f seja descrescente então −f é crescente.

• Observação 4: Um função f pode não ser crescente nem decrescente.

Exemplo 3.8. Embora uma função f : X → Y deva associar todo e elemento de X a algum elemento de Y ,
não é necessário que todo elemento de Y esteja associado a algum elemento de X. Isso pode ser visto através
do exemplo 3.2. Todo polígono regular possui área positiva, isso significa que a imagem da função f está contida
no conjunto dos números reais positivos. Como o contradomínio dessa função é composto por todos os números
reais, vemos que os números reais negativos ou nulos não estão associados a nenhum elemento do domínio,
logo essa função não é sobrejetiva. Entretanto, é possível mostrar que a imagem de f não está apenas contida
no conjunto dos reais positivos, mas que sua imagem é o conjunto dos reais positivos. Para isso basta fazer o
seguinte, seja y ∈ R+ , considere o retângulo Q de lados medindo 1 e y, sua área é dada por f (Q) = 1.y = y, isso
mostra que para qualquer número real positivo dado, existe um polígono tal que a área é y, ou seja, Im(f ) = R+ .
A mesma função mostra que não necessariamente valores distintos são associados a elementos distintos. Como
exemplo, seja Q1 o quadrado de lado 2 e Q2 o retângulo de lados 4 e 1. Temos que ambas as áreas são as
mesmas sem que os polígonos sejam iguais, ou seja, f (Q1 ) = f (Q2 ) mas Q1 6= Q2 , ou seja, f não é injetiva.

Exemplo 3.9. A função do exemplo 3.1 é injetiva e sobrejetiva. Para mostrar que f : R → R, f (x) = 3x é
injetiva, suponha que f (x) = f (y), pela definição de f , temos: 3x = 3y → x = y, ou seja, f (x) = f (y) → x = y
e portanto f é sobrejetiva. Para mostrar que f é sobrejetiva, devemos mostrar que dado y ∈ R, existe x ∈ R
para o qual f (x) = y. Fazendo f (x) = 3x, vemos que 3x = y é equivalente a x = y/3. Dessa forma, para que
f (x) seja igual a y, basta tomar x igual a y/3, logo f é sobrejetiva.

12
Exemplo 3.10. A função f : R → R dada por f (x) = x2 não é injetiva, pois existem elementos distintos com
a mesma imagem: f (−1) = f (1) = 1.

Exemplo 3.11. Se f : X → Y for injetiva, então f −1 (c) possui no máximo um elemento.


De fato, podem acontecer duas situações c ∈
/ Im(f ) ou c ∈ Im(f ). Se c ∈
/ Im(f ) então f −1 (c) = ∅. Na segunda
situação, se f (c) possuísse mais de um elemento, então existiriam a, b ∈ X, a 6= b com f (a) = f (b) = c o que
−1

contrariaria a injetividade de f .

Definição 3.6. Uma função f : X → Y é bijetora se for injetora e sobrejetora.

Definição 3.7. O gráfico de uma função f : X → Y é o subconjunto de X × Y , da forma: Graf (f ) =


{(x, f (x)) x ∈ X}.

Figure 1: Gráfico de uma função

3.2 Exemplos de funções


Exemplo 3.12. Uma função afim, é uma função f : R → R da forma f (x) = ax + b, onde a, b ∈ R. O gráfico
de uma função afim é uma reta contida no plano cartesiano. O valor da constante “a” representa a inclinação
dessa reta, geralmente chamado de “coeficiente angular da reta". Quando a > 0, o gráfico de f representa uma
reta crescente, quando a < 0, o gráfico de f representa uma reta decrescente. Para o valor “a = 0”, o gráfico de
f representa uma reta horizontal. O par “(0, b)”, representa o ponto de intersecção do gráfico da função afim
com o eixo vertical. Toda função afim com coeficiente angular não nulo é uma função bijetora.

Exemplo 3.13. Uma funções quadrática, é uma função f : R → R da forma f (x) = ax2 +bx+c, onde a, b, c ∈ R
e a 6= 0. O gráfico de uma função quadrática é uma curva denominada parábola. Quando a > 0, dizemos que a
parábola tem concavidade voltada para cima. Já para a < 0, dizemos que sua concavidade é voltada para baixo.
O valor do par (0, c) representa o ponto de intersecção entre o gráfico da função quadrática com o eixo vertical.
Uma função quadrática nunca é injetora. Para ver isso, faremos um procedimento chamado “completamento

13
de quadrados". Queremos escrever ax2 + bx + c como o quadrado da soma de dois termos, sendo um deles a
variável x. Temos:
!
b b b b2 b2
   
ax + bx + c = a x + x + c = a x2 + 2 x + c = a x2 + 2 x + 2 − 2
2 2
x+c
a 2a 2a 4a 4a
b2 − 4ac
! !
b b2 b2 b b2
= a x +2 x+ 2 2
− + c = a x2 + 2 x + 2 −
2a 4a 4a 2a 4a 4a
b2 − 4ac
2
b

= a x+ −
2a 4a
 2 2
As contas acima, mostram que a função quadrática pode ser reescrita como f (x) = x + b
2a 4a . Por fim,
− b −4ac
2
tome x1 = 0 e x2 = − 2a
b
, calculando a função nesses pontos, temos: f (x1 ) = f (x2 ) = 4a . A conta acima
− b −4ac
também permite concluir que nenhuma função quadrática é sobrejetora. De fato, suponha que a > 0. Como o
 2 2 −4ac
termo a x + b
2a será sempre maior ou igual a zero, o menor valor que f poderá assumir será − b 4a , isso
b2 −4ac
significa que nenhum valor real que seja menor que − 4a poderá estar na imagem de f . Para o caso em que
 2 2 −4ac
a < 0, o termo a x + b
2a será sempre menor ou igual a zero, o maior valor que f poderá assumir é − b 4a ,
b2 −4ac
isso significa que nenhum valor real que seja maior do que − 4a pode estar na imagem de f . Uma função
quadrática não é crescente nem decrescente.

Figure 2: Gráficos de funções quadráticas com convidades positivas e negativas

Exemplo 3.14. Uma função polinomial de grau n é uma função da forma f : R → R, onde f (x) = an xn +
an−1 xn−1 + an−2 xn−2 + . . . + a2 x2 + a1 x + a0 com an , an−1 , an−2 . . . , a2 , a1 , a0 ∈ R e an 6= 0. Dizemos que um
número α ∈ R é raíz (ou zero) de uma função polinomial, se f (α) = 0. Se α é raíz de f , então o gráfico de f
intersecta o eixo X no ponto (α, 0). Em geral, determinar as raízes de uma função polinomial de grau maior
do que 2 pode ser uma tarefa muito trabalhosa. Veremos adiante que existem critérios para determinar quando
uma função polinomial possui raízes, um deles é quando n for um número ímpar. Embora a determinação das
raízes seja uma tarefa difícil para polinômios de graus maiores que 3, o problema se torna demasiadamente

14
simples para o caso em que o grau é 2. Para n = 2, nossa equação polinomial se torna a função quadrática.
Utilizando as contas do exemplo anterior, vemos que os valores de x para o qual a função quadrática se anula,
 2
b2 −4ac
são dadas pela condição a x + b
2a − 4a = 0, ou seja:

b 2 b2 − 4ac
 
a x+ =
2a 4a
b 2 b2 − 4ac
 
x+ =
2a 4a2
s s
b2 − 4ac
2
b

x+ =
2a 4a2
s
b b2 − 4ac
x+ =
2a 2a
s
b b2 − 4ac
x+ = ±
2a 2a
s
b b2 − 4ac
x = − ±
2a 2a

−b ± b2 − 4ac
x =
2a
Como a expressão acima está definida sempre que b2 − 4ac ≥ 0, segue que a função quadrática possui raízes
sempre que b2 − 4ac ≥ 0. Caso b2 − 4ac > 0 há duas raízes reais e distintas. Quando b2 − 4ac = 0, há apenas
uma raíz real. Por fim, b2 − 4ac < 0 implica que a função quadrática não possui raízes, ou seja, seu gráfico
nunca intersecta o eixo X.
Exemplo 3.15. Uma função racional é uma função da forma f (x) = p(x) q(x) onde p(x) e q(x) são funções
an x + an−1 x
n n−1 + an−2 x n−2 + . . . + a2 x2 + a1 x + a0
polinomiais. Ou seja, f (x) = . Como a divisão por
am xm + am−1 xm−1 + am−2 xm−2 + . . . + a2 x2 + a1 x + a0
zero é uma operação que não está definida, os pontos para o qual a função q(x) se anula sempre precisarão ser
excluídos do domínio desta.
Exemplo 3.16. Para todo número positivo a, sua raíz quadrada é definida como o número positivo b para o
√ √
qual b2 = a, neste caso denotamos b = a. Definimos a função raíz quadrada f : [0, +∞] → R por f (x) = x.
Essa função é sempre injetora mas não é sobrejetora, haja visto que a imagem de f é constituída apenas dos
números reais não negativos (isso segue da definição de raíz quadrada).
Observação: Um erro muito cometido por estudantes, é considerar que um número pode possuir dois valores
como raíz quadrada. Um exemplo disso é que geralmente quando é perguntado o valor da raíz quadrada de
4, surgem como resposta 2 e -2. Tal resposta decorre da justificativa de que 2 · 2 = (−2) · (−2) = 4. Embora
tal fato seja verdade, o exemplo anterior mostra que na definição de raíz quadrada, apenas o número positivo
é considerado. A razão reside no fato de que se ambos os valores (positivos e negativos) para raíz quadrada
fossem considerados, a correspondência que associa um número à sua raíz não seria uma função.
Exemplo 3.17. (Função modular) O módulo de um número real x é por definição:
(
x, se x ≥ 0
|x| :
−x , se x < 0

15
Dessa forma, |3| = 3, pois 3 é positivo enquanto que | − 2| = −(−2) = 2 pois -2 é negativo. Logo, o módulo de
um número real é sempre o valor absoluto desse número. Para cada x ∈ R podemos associar seu valor absoluto
através da função modular f : R → R dada por f (x) = |x|. A imagem dessa função são os números reais não
negativos, portanto a função modular não é sobrejetiva. Segue também que a função modular não é injetiva,
pois | − 1| = |1| = 1.

Figure 3: Gráfico de f (x) = |x|.

Exemplo 3.18. Fixado a > 0, para cada x ∈ R podemos tomar a potência ax e definir a função f : R → R,
dada por f (x) = ax , chamada função exponencial. f é uma função injetora mas não é sobrejetora, pois ax > 0,
de modo que Im(f ) = (0, +∞). Caso a > 1, o gráfico de f (x) é representado por uma função crescente,
enquanto que se 0 < a < 1, o gráfico de f é representado por uma função decrescente.

Figure 4: Gráfico de f (x) = ax .

Exemplo 3.19. Fixado 0 < a 6= 1, para cada x > 0 podemos tomar o logaritmo loga x e definir a função
f : (0, +∞) → R, dada por f (x) = loga x, chamada logaritmo. f é uma função bijetora. Caso a > 1, o gráfico
de f (x) é representado por uma função crescente, enquanto que se 0 < a < 1, o gráfico de f é representado por
uma função decrescente.

16
Figure 5: Gráfico de f (x) = loga x.

Exemplo 3.20. Considere o número irracional “e”, cujo valor aproximado por 3 casas decimais é 2, 718, que
é chamada constante de Euller. Tal número é obtido como limite de uma sequência de números naturais e será
estudo na seção de limites. Pela sua inúmera aplicação em problemas no dia a dia, passaremos a dar ênfase no
estudo das funções exponenciais e logarítmicas com base nesse número, ou seja, passaremos a estudar a função
exponencial f (x) = ex e a função logarítmica g(x) = loge x, que nesse último caso será denotada apenas por
ln(x) (está será a notação formal para logarítmos na base e, estes serão chamados logarítmos na base natural).

Exemplo 3.21 (Funções hiperbólicas). As funções seno hiperbólico e cosseno hiperbólico são definidas por:
senh(x) : R → R e cosh : R → R onde:
ex −e−x ex =e−x
senh(x) = 2 e cosh(h) = 2

Da mesma forma que nas funções trigonométricas, podemos definir tangente, cotangente, cossecante e cossecante
hiperbólica.

Observação: Se conhecemos o gráfico da função f : X toY então a imagem de f pode ser facilmente obtida,
basta “projetar” os pontos do gráfico ortogonalmente sobre o eixo y. A imagem de f será o conjunto de todos
os pontos do gráfico que foram projetados ortogonalmente sobre o eixo y.

Exemplo 3.22. Dada uma função f : X → Y e um conjunto Z ⊂ X, podemos definir uma nova função
g : Z → Y que coincide com a função f nos pontos do conjunto Z. Para isso definimos: g(x) = f (x) para todo
x ∈ Z, tal função é denominada restrição de f : X → Y com respeito a Z e é denotada por f |Z : Z → Y . A
figura seguinte ilustra a restrição de uma função f : [a, d] → R a sua restrição ao conjunto Y = [a, b] ∪ [c, d].

17
Figure 6: Gráfico de uma função e de sua restrição

3.3 Operações com funções


Definição 3.8. Sejam f, g : X → Y funções. Definimos as seguintes funções:

• (f + g) : X → Y , onde (f + g)(x) = f (x) + g(x) (função soma de f com g).

• (f − g : X → Y ), onde (f − g)(x) = f (x) − g(x) (função subtração de f com g).

• (f · g : X → Y ) onde (f · g)(x) = f (x) · g(x) (função produto de f com g).


f (x)
• (f /g : X → Y ) onde (f /g)(x) = (função quociente de f com g, onde supomos que g não possui
g(x)
raízes em X).

A definição anterior mostrar que uma maneira muito simples de se construir funções, é somando, multipli-
cando ou dividindo funções já conhecidas.

Exemplo 3.23. Dadas as funções f, g, h : R → R onde f (x) = x, g(x) = x2 + 1 e h(x) = x + 2, temos:

• (f + g)(x) = f (x) + g(x) = x + x2 + 1.
h(x) x+2
• (h/g)(x) = = 2 .
g(x) x +1

• (g · h)(x) = g(x) · h(x) = (x2 + 1)(x + 2) = x3 + 2x2 + x + 2.

Definição 3.9. Dadas funções f : X → Y e g : J → Z satisfazendo Im(f ) ⊂ J. função composta (g ◦ f ) : X →


Z é definida como (g ◦ f )(x) = g(f (x)).

Exemplo 3.24. Dadas as funções f, g : R → R dadas por f (x) = 2x − 1 e g(x) = x2 − 2x + 1. Como


Imagem(f ) ⊂ Domínio(g) e Imagem(g) ⊂ Domínio(f ), segue que as composições (f ◦ g) e (g ◦ f ) estão
definidas. Segue portanto que:

(g ◦ f )(x) = g(f (x)) = g(2x − 1) = (2x − 1)2 − 2(2x − 1) − 1 = 4x2 − 8x + 2


(f ◦ g)(x) = f (g(x)) = f (x2 − 2x + 1) = 2(x2 − 2x + 1) − 1 = 2x2 − 4x + 1

18
Exemplo 3.25. Dada uma função f : [b, +∞) → Y e um número real a ≤ b, podemos gerar uma nova função
através de f e de a que é chamada translação de f . Para isso, basta definir g : [b + a, +∞) → R pondo
g(x) = f (x − a). O que se obtém geometricamente é a translação horizontal do gráfico de f em “a” unidades.
O gráfico de g se encontra a direita do gráfico de f quando a > 0 e a esquerda do gráfico de f quando a < 0.

Como exemplo, consideramos f : [0, +∞)
√ → R dada por f (x) = x. Escolhendo um valor positivo para a, os
gráficos de f e de g(x) = f (x − a) = x − a são dados na figura.


Figure 7: Gráfico da função f (x) = x e de sua translação

O exemplo anterior pode ser visto como uma composição de funções, onde g(x) = f (x − a) é escrito como
(f ◦ h)(x), com h(x) = x − a.

Definição 3.10. Considere uma função f : X → Y , dizemos que f é invertiível se existe uma função g : Y → X
que satisfaz

(f ◦ g)(x) = x
(g ◦ f )(x) = x

Nesse caso, dizemos que g é uma inversa de f e escrevemos g = f −1 .

Observação: Na notação acima, f −1 (x) não significa que estamos invertendo f (x) no sentido de ter f (x) .
1

A função inversa de f (x) e f (x)


1
são funções completamente distintas. Quando quisermos nos referir a f (x) ,
1

escreveremos (f (x)) .
−1

Teorema 3.11. Uma função f : X → Y possui inversa se, e somente se, é uma bijeção.

Exemplo 3.26. A função f : R → R dada por f (x) = ax + b possui inversa quando a 6= 0, sua inversa é dada
por f −1 (x) = xa − ab .

Exemplo 3.27. A função f : R → [0, +∞) dada por f (x) = x2 não possui inversa, pois como vimos anterior-
mente, f não é injetiva. Entretanto, considerando a restrição da função f ao conjunto Y = [0, +∞), segue que
f |Y : Y → [0, +∞) passa a ser injetiva, e neste caso como f |Y é sobrejetiva concluímos que f |Y é uma bijeção,

cuja a inversa é dada pela função f |−1
Y (x) = x.

19
3.4 Divisão de polinômios
Definição 3.12. Dados dois polinômios p(x) e g(x), dizemos que um polinômio q(x) é o quociente da divisão
de p(x) por q(x) se existir um polinômio r(x) satisfazendo:
• p(x) = g(x) · g(x) + r(x).
• O grau do polinômio r(x) é menor do que o grau do polinômio g(x).
Nesse caso, r(x) e q(x) são chamados resto e quociente da divisão de p(x) por g(x). O grau de um polinômio
f (x) será denotado por ∂f (x).
Definição 3.13. Dizemos que um polinômio p(x) é divisível por g(x), quando o resto da divisão de p(x) por
g(x) for o polinômio r(x) = 0.
Exemplo 3.28. Sejam p(x) = 4x3 − x2 + 2 e g(x) = x2 + 1, o quociente e o resto da divisão de p(x) por g(x)
são os polinômios q(x) = 4x − 1 e r(x) = −4x + 3, pois: 4x3 − x2 + 2 = (x2 + 1)(4x − 1) + (−4x + 3) e o
∂r(x) = 1 < ∂g(x) = 2. Nesse caso, p(x) não é divisível por g(x).
Definição 3.14. O polinômio p(x) = x4 − 1 é divisível pelo polinômio g(x) = x − 1, pois: x4 − 1 = (x − 1)(x3 +
x2 + x + 1), onde q(x) = (x3 + x2 + x + 1) e r(x) = 0.
Observação: Para executar a divisão entre dois polinômios p(x) e g(x), primeiro verificamos se ∂p(x) ≥ ∂g(x),
pois caso ∂p(x) < ∂g(x), basta tomar q(x) = 0 e r(x) = p(x).
Exemplo 3.29. Vamos fazer a divisão do polinômio p(x) = 4x3 − x2 + 2 por g(x) = x2 + 1. O primeiro passo
é representar os polinômios como da mesma forma que numa divisão de números, tendo o cuidado representar
todos os monômios do polinômio (mesmo aqueles onde o coeficiente é nulo).
4x3 − x2 + 0x + 2 | x2 + 0x + 1
O polinômio do quociente será multiplicado com cada monômio do polinômio g(x) e subtraído do monômio de
grau correspondente do polinômio p(x). Para a escolha do polinômio que aparece no quociente, consideramos o
monômio que quando multiplicado por x2 e subtraído de 4x3 deixa resultado 0, tal monômio é 4x.
4x3 − x2 + 0x + 2 | x2 + 0x + 1
−(4x3 + 0 + 4x) 4x
Depois somamos os dois polinômios.
4x3 − x2 + 0x + 2 | x2 + 0x + 1
−(4x3 + 0 + 4x) 4x
0x − x − 4x
3 2

A partir de agora, recomeçamos todo o processo dividindo o polinômio que restou (que nesse caso é −x2 +4x+2).
Escolhemos o monômio −1, pois −1(x2 ) − (−x2 ) = 0.
4x3 − x2 + 0x + 2 | x2 + 0x + 1
−(4x + 0 + 4x)
3 4x − 1
0x − x − 4x + 2
3 2

−(−x2 + 0 − 1)
−4x + 3
Portanto o resto da divisão é o polinômio r(x) = −4x + 3 e o quociente é o polinômio 4x − 1.

20
Exemplo 3.30. Vamos fazer a divisão do polinômio p(x) = x4 − 1 por g(x) = x − 1. O primeiro passo é
representar os polinômios como da mesma forma que numa divisão de números, tendo o cuidado representar
todos os monômios do polinômio (mesmo aqueles onde o coeficiente é nulo).

x4 − 0x3 + 0x2 + 0x − 1 | x − 1

O polinômio do quociente será multiplicado com cada monômio do polinômio g(x) e subtraído do monômio de
grau correspondente do polinômio p(x). Para a escolha do polinômio que aparece no quociente, consideramos o
monômio que quando multiplicado por x e subtraído de x4 deixa resultado 0, tal monômio é x3 .
x4 + 0x3 + 0x2 + 0x − 1 | x − 1
−(x4 − x3 ) x3
Depois somamos os dois polinômios.
x4 + 0x3 + 0x2 + 0x − 1 | x − 1
−(x4 − x3 ) x3
x 3

A partir de agora, recomeçamos todo o processo dividindo o polinômio que restou (que nesse caso é x3 ). Escol-
hemos o monômio x2 , pois x2 (x) − x3 = 0.

x4 + 0x3 + 0x2 + 0x − 1 | x − 1
−(x4 − x3 ) x3 + x2
x + 0x
3 2

−(x3 − x2 )
x2
Continuando...
x4 + 0x3 + 0x2 + 0x − 1 | x − 1
−(x4 − x3 ) x3 + x2 + x
x3 + 0x2
−(x3 − x2 )
x2 + 0x
−(x2 − x)
x
Repetindo...
x4 + 0x3 + 0x2 + 0x − 1 | x − 1
−(x4 − x3 ) x3 + x2 + x
x + 0x
3 2

−(x3 − x2 )
x2 + 0x
−(x2 − x)
x−1
−(x − 1)
0
Teorema 3.15. Se α é raíz do polinômio p(x), então p(x) é divisível por x − α, ou seja, p(x) = (x − α)q(x)
para algum polinômio q(x).

21
Definição 3.16. Dizemos que α é uma raíz de multiplicidade m, se:

• p(α) = 0.

• p(x) é divisível por (x − α)m .

• Se p(x) = (x − α)m q(x), então q(α) 6= 0.

A multiplicidade de uma raíz fornece o número de vezes em que ela figura como raíz de um polinômio. Como
exemplo, o polinômio p(x) = x2 − 2x + 1 possui 1 como raíz, dessa forma x2 − 2x + 1 é divisível pelo polinômio
x − 1, fazendo a divisão encontraremos: p(x) = (x − 1)q(x), onde q(x) = (x − 1), ou seja, p(x) = (x − 1)2 .
Podemos nos perguntar como encontrar as raízes de um polinômio qualquer. Embora hajam fórmulas para
o cálculo de raízes de polinômios de grau 2,3 e 4, as fórmulas para cálculo de raízes de polinômios de grau 3 e 4
são extremamente complexas. Outro problema é que não existem fórmulas genréricas para encontrar raízes de
polinômios de grau maior ou igual a 5, de forma que em certos casos o cálculo de raízes de polinômios pode ser
uma tarefa muito complexa. Entretanto, existem alguns critérios que podem ser usados, dentre eles podemos
citar o seguinte:

Teorema 3.17. Seja p(x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a2 x2 + a1 x + a0 um polinômio cujos coeficientes são
números inteiros. Se p(x) possui alguma raíz α que é um número inteiro, então α é da forma cb , onde b é um
divisor de a0 e c um divisor de an .

Exemplo 3.31. Considere os polinômios p(x) = 3x3 +10x2 −23x+10 e q(x) = 3x2 +4. Se p(x) possuir alguma
raíz racional α, então α = cb , onde b divide 10 e c divide 3. Como os divisores de 10 são formados pelo conjunto
{−1, 1, 2, −2, 5, −5, 10, −10} enquanto que os divisores de 3 são formados por {1, −1, 3, −3}, segue que as pos-
síveis raízes de p(x) são dadas pelas combinações: cb com b ∈ {−1, 1, 2, −2, 5, −5, 10, −10} e c ∈ {1, −1, 3, −3}
o que fornece:
1 1 2 5 5 10 10
1, 1, 2, −2, 5, −5, 10, −10, , − , − , , − , , −
3 3 3 3 3 3 3
Testando cada um dos valores, concluímos que as raízes são 23 , 1 e −5.

Aplicando o mesmo raciocínio para o polinômio q(x) = 3x2 + 4, concluímos que as possíveis raízes racionáis
são 1, −1, 2, −2, 4, −4, 31 , − 31 , 23 , − 32 , 43 , − 34 . Testando cada um dos valores, concluímos que nenhum deles pode
ser raíz, isso mostra que o polinômio q(x) não possui raízes racionais.

22
3.5 Cônicas
Nesta seção vamos falar sobre as secções cônicas. Tal nome se dá pelo fato de estudarmos os tipos de curvas
que se obtém ao intersectar um cone com um plano.

Circunferência

A circunferência é por definição o lugar geométrico dos pontos do plano que estão a uma distância r do
ponto (x0 ,p
y0 ). Lembrando que a distância entre os pontos P = (x, y) e Q = (x0 , y0 ) é dada pela fórmula
d(P, Q) = (x − x0 )2 + (y − y0 )2 , temos:
q
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = r
q 2
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = r2

(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = r2

A fórmula acima representa a equação de uma circunferência de raio r e centro em (x0 , y0 ).

Elipse

A elipse é por definição o lugar geométrico dos pontos do plano cujo a soma das distância entre dois pontos
fixos é constante. Denotando por F1 e F2 os pontos a serem fixados e P = (x, y) o ponto da elipse, seja 2a a
constante cujo o valor é soma das distâncias d(F1 , P ) e d(F2 , P ). Por definição temos que d(F1 , P ) + d(F2 , P ) =
2a. Vamos raciocionar no caso particular em que F1 = (−c, 0) e F2 = (c, 0), considere o ponto P = (0, b)
pertencente a elipse, aplicando pitágoras ao triângulo formado pelos pontos P , F1 e (0, 0), cujos catetos são b
e c e a hipotenusa é a, obtemos a2 = b2 + c2 .

23
d(F1 , P ) + d(F2 , P ) = 2c
q q
(x − (−c))2 + (y − 0)2 + (x − c)2 + (y − 0)2 = 2a
q q
(x + c)2 + y 2 = − (x − c)2 + y 2 + 2a
q 2  q 2
(x + c)2 + y 2 = − (x − c)2 + y 2 + 2a
q
(x + c)2 + y 2 = (x − c)2 + y 2 − 4a (x − c)2 + y 2 + 4a2
q
x2 + 2cx + c2 + y 2 = x2 − 2cx + c2 + y 2 − 4a (x − c)2 + y 2 + 4a2
q
4cx − 4a2 = −4a (x − c)2 + y 2
−cx + a2 q
= (x − c)2 + y 2
a
!2
−cx + a2
q 2
= (x − c)2 + y 2
a
c2 x2 − 2cxa2 + a4
= x2 − 2cx + c2 + y 2
a2
c2 x2 − 2cxa2 + a4 = a2 x2 − 2cxa2 + c2 a2 + y 2 a2
x2 (c2 − a2 ) − y 2 a2 = c2 a2 − a4
x2 (c2 − a2 ) − y 2 a2 = a2 (c2 − a2 )
x2 y2
− = 1
a2 c2 − a2
x2 y 2
+ 2 = 1
a2 b
O vértice da elipse de focos F1 e F2 é o ponto V = F1 +F 2 . No caso em que F1 = (−c, 0) e F2 = (c, a),
2

temos V = (0, 0), logo a equação acima denota uma elipse de vértice (0, 0). Para o caso geral em que o vértice
é da forma V = (x0 , y0 ), teremos F1 = (x0 + c, y0 ) e F2 = (x0 − c, y0 ), refazendo as contas acima chegaremos a

24
equação
(x − x0 )2 (y − y0 )2
+ =1
a2 b2
Parábola

A parábola é por definição o lugar geométrico dos pontos do plano que estão a uma mesma distância de um
ponto P e de uma reta s.

Supondo que a reta s seja horizontal e que P = (x1 , y1 ), seja r a distância entre P e da reta s. Temos
necessariamente que a reta s tem equação y = y1 + 2r ou y = y1 − 2r. Para p o caso em que y = y1 + 2r,
um ponto S da reta s tem coordenadas S = (x, y1 − 2r). Como d(P, Q) = (x − x1 )2 + (y − y1 )2 , d(Q, r) =
(x − x) + (y − (y1 − 2r)) e d(P, Q) = d(Q, r), temos:
p
2 2

q q
(x − x1 )2 + (y − y1 )2 = (x − x)2 + (y − (y1 − 2r))2
(x − x1 )2 + (y − y1 )2 = (y − (y1 − 2r))2
(x − x1 )2 + y 2 − 2yy1 + y12 = y 2 − 2y(y1 − 2r) + (y1 − 2r)2
(x − x1 )2 − 2yy1 + y12 = −2yy1 + 4yr + y12 − 4y1 r + 4r2
(x − x1 )2 = 4yr − 4y1 r + 4r2
(x − x1 )2 = 4r(y − (y1 − r))
(x − x1 )2
y − (y1 − r) =
4r
O ponto (x1 , y1 − r) é chamado vértice da parábola, é comum escrever o vértice usando a notação (x0 , y0 ), de
modo que a equação acima fica reescrita como
(x − x0 )2
y − y0 =
4r

25
Caso a reta s tivesse equação y = y1 + 2r, refazendo as contas acima encontraríamos:

(x − x0 )2
y − y0 = −
4r
Supondo que a reta s seja vertical e que P = (x1 , y1 ), seja r a distância entre P e da reta s. Temos
necessariamente que a reta s tem equação x = x1 + 2r ou y = x1 − 2r. Para p o caso em que x = x1 + 2r,
um ponto S da reta s tem coordenadas S = (x1 − 2r, y). Como d(P, Q) = (x − x1 )2 + (y − y1 )2 , d(Q, r) =
(x − (x1 − 2r))2 + (y − y))2 e d(P, Q) = d(Q, r), temos:
p

q q
(x − x1 )2 + (y − y1 )2 = (x − (x1 − 2r))2 + (y − y))2
(x − x1 )2 + (y − y1 )2 = (x − (x1 − 2r))2
x2 − 2xx1 + x21 + (y − y1 )2 = x2 − 2x(x1 − 2r) + (x1 − 2r2 )2
x2 − 2xx1 + x21 + (y − y1 )2 = x2 − 2xx1 + 4xr + x21 − 4rx1 + 4r2
(y − y1 )2 = 4xr − 4rx1 + 4r2
(y − y1 )2 = 4r(x − (x1 − r))

O ponto (x1 − r, y1 ) é chamado vértice da parábola, é comum escrever o vértice usando a notação (x0 , y0 ), de
modo que a equação acima fica reescrita como

(y − y0 )2
x − x0 =
4r
Caso a reta s tivesse equação x = x1 + 2r, refazendo as contas acima encontraríamos:

(y − y0 )2
x − x0 = −
4r

26
3.6 Funções trigonométricas
Um ângulo pode ser definido como a porção do plano delimitada por duas semiretas de mesma origem.
Uma das unidades usadas para medir ângulo é o grau. Entretanto, podemos também usar comprimento de
arcos para se medir ângulos. Tal situação é descrita na figura abaixo:

Figure 8: Ângulo α e arco BC

Poderíamos pensar em medir o ângulo α medindo o comprimento do arco BC, entretanto esse procedimento
possui um grande inconveniente: a medida do ângulo dependerá da circunferência que usarmos, de forma
que circunferências com raios maiores terão comprimentos de arco maiores para um mesmo ângulo. Como
a medida do arco sempre será proporcional ao raio, esse problema pode ser superado desde que se divida o
comprimento do arco tomado pelo raio da circunferência. Tal unidade de medida é chamada “radiano”, ou seja,
1 radiano é igual ao comprimento de arco que possui o mesmo valor do raio da circunferência. Como metade
da circunferência tem comprimento πr, segue que o ângulo de 180º medido em radianos equivale a π, ou seja:
π radianos equivalem a 180 graus. Considere o círculo unitário C em R2 centrado na origem. Fixado um ponto
P ∈ C, podemos tomar as projeções do ponto P sobre os eixos horizontal e vertical, que serão denotadas por x
e y reciprocamente. Considerando o ângulo θ medido no sentido anti-horário e delimitado pelo arco OP, onde
O consiste na interseção do círculo C com o eixo X, podemos aplicar as relações trigonométricas ao triângulo
formado pelos pontos P , x e y.

Figure 9: Círculo trigonométrico

27
Quando P se situa no segundo quadrante, a coordenada x possui sinal negativo, e têm-se portanto: sen(θ) =
−sen(π − θ) enquanto que cos(θ) = cos(π − θ). Quando P se situa no terceiro quadrante, as coordenadas x
e y possuem sinal negativo, e tem-sê portanto: sen(θ) = −sen(θ − π) enquanto que cos(θ) = cos(θ − π).
Por fim, quando P se situa no quarto quadrante, a coordenada y possui sinal negativo, e tem-sê portanto:
sen(θ) = −sen(−θ) enquanto que cos(θ) = cos(−θ). Feita essas considerções, podemos definir as funções
cos, sen : R → R, de forma que cos(x + 2π) = cos(x) e cos(x + 2π) = sen(x) para todo x ∈ [0, 2π].

Definição 3.18. Uma função f : R → R é dita periódica se existe t > 0 para o qual f (x + t) = f (x) para todo
x ∈ R. O menor t com essa propriedade é chamado período de f .

Definição 3.19. Uma função f : R → R é chamada de função par, se f (x) = f (−x) para todo x ∈ R. Caso
f (−x) = −f (x) para todo x ∈ R, dizemos que f é uma função ímpar.

Exemplo 3.32. As funções sen(x) e cos(x) são periódicas de período 2π, em particular não são injetivas.
Segue também que −1 ≤ cos(x) ≤ 1 e −1 ≤ sen(x) ≤ 1 para todo x ∈ R, ou seja, as funções sen(x) e cos(x)
são limitadas. Isso implica que estas funções não são sobrejetivas. Observe que sen(x) = 0 se, e somente se,
x = kπ e que cos(x) = 0 se, e somente se, x = π2 + kπ, onde k ∈ Z. Além disso, os gráficos abaixo mostram
que sen(x) é uma função ímpar enquanto que cos(x) é uma função par.

Figure 10: Gráfico da função sen(x)

Figure 11: Gráfico da função cos(x)

Exemplo 3.33. Como cos(x) = 0 se, e somente se, x = π2 + kπ, onde k ∈ Z, consideramos o conjunto
D = {x ∈ R | x 6= π2 + kπ, k ∈ Z}. A função tangente é definida por tg : D → R, onde tg(x) = sen(x)
cos(x) . Observe
que o domínio da função tangente coincide com o conjunto dos pontos onde o cosseno não se anula, isso faz
com que essa função esteja bem definida. A função tg(x) é periódica de período π, em particular não é injetiva
mas é sobrejetiva é uma função ímpar.

28
Figure 12: Gráfico da função tg(x)

Exemplo 3.34. Como sen(x) = 0 se, e somente se, x = kπ, onde k ∈ Z, consideramos o conjunto D = {x ∈
cos(x)
R | x 6= kπ, k ∈ Z}. A função cotangente é definida por cotg : D → R, onde cotg(x) = sen(x) . Observe que o
domínio da função cotangente coincide com o conjunto dos pontos onde o seno não se anula, isso faz com que
essa função esteja bem definida. A função cotg(x) é periódica de período π, em particular não é injetiva mas é
sobrejetiva.

Figure 13: Gráfico da função cotg(x)

29
Exemplo 3.35. Da mesma maneira em que procedemos no exemplo 3.34, consideramos o conjunto D = {x ∈
R | x 6= π2 + kπ, k ∈ Z}. A função secante é definida por sec : D → R, onde sec(x) = cos(x)
1
. A função sec(x) é
periódica de período 2π e é uma função par.

Figure 14: Gráfico da função sec(x)

Exemplo 3.36. Da mesma maneira em que procedemos no exemplo 3.33, consideramos o conjunto D = {x ∈
R | x 6= kπ, k ∈ Z}. A função cossecante é definida por cossec : D → R, onde cossec(x) = sen(x)
1
. A função
cossec(x) é periódica de período 2π e é uma função ímpar.

Figure 15: Gráfico da função cossec(x)

30
Exemplo 3.37. Embora a função sen(x) não seja injetiva, seu gráfico mostra que sua restrição ao intervalo
= − , o é. Sendo o intervalo [−1, 1] a imagem dessa função, podemos considerar a inversa de sen :
 π π
J
 π π 2 2
− 2 , 2 → [−1, 1], que será denotada por sen−1 (x).
Exemplo 3.38. Embora a função tg(x) não seja injetiva, seu gráfico mostra que sua restrição ao intervalo J =
− 2 , 2 o é. Sendo o intervalo R a imagem dessa função, podemos considerar a inversa de sen : − π2 , π2 → R,
 π π 

que será denotada por tg 1(x) : R → − 2 ,


− π π
.

2

Exemplo 3.39. Embora a função cossec(x) não seja injetiva, seu gráfico mostra que sua restrição ao conjunto
J = − π2 , π2 \ {0} o é. Sendo o conjunto (−∞, −1] ∪ [1, +∞) a imagem dessa função, podemos considerar a
 

inversade cossec : − 2 , 2 \ {0} → (−∞, −1] ∪ [1, +∞), que será denotada por tg − 1(x) : (−∞, −1] ∪ [1, +∞) →
π π


− π2 , π2 \ {0}.
Exemplo 3.40. Embora a função cos(x) não seja injetiva, seu gráfico mostra que sua restrição ao intervalo
J = [0, π] o é. Sendo o intervalo [−1, 1] a imagem dessa função, podemos considerar a inversa de cos : [0, π] →
[−1, 1], que será denotada por cos−1 : [−1, 1] → [0, π].
Exemplo 3.41. Embora a função cotg(x) não seja injetiva, seu gráfico mostra que sua restrição ao intervalo
J = [0, π] o é. Sendo o intervalo R a imagem dessa função, podemos considerar a inversa de cotg : [0, π] → R,
que será denotada por cos−1 : R → [0, π].
Exemplo 3.42. Embora a função sec(x) não seja injetiva, seu gráfico mostra que sua restrição ao conjunto
J = [0, π]\ π2 o é. Sendo o conjunto (−∞, −1]∪[1, +∞) a imagem dessa função, podemos considerar a inversa
de sec : [0, π] \ π2 → (−∞, −1] ∪ [1, +∞), que será denotada por sec− 1(x) : (−∞, −1] ∪ [1, +∞) → [0, π] \ π2 .


Observação: Um erro muito comum é escrever sen(x+y) = sen(x)+sen(y) ou ainda sen(xy) = sen(x)sen(y).
A partir desse ponto, o leitor precisa sanar esse tipo de erro. Funções para o qual valem as propriedades
f (x+y) = f (x)+f (y) e f (x.y) = f (x)·f (y) são chamadas funções lineares. As únicas funções lineares f √
:R→R
são aquelas da forma f (x) = ax, onde a é algum número real fixado (como f (x) = 2x ou g(x) = − 2x por
exemplo). Dito isso, em geral temos sen(x + y) 6= sen(x) + sen(y) e sen(xy) 6= sen(x)sen(y), para tanto, basta
considerar o caso em que x = π4 e y = π4 . Em cada cado, temos sen(π/4 + π/4) = sen(π/2 = 1 enquanto que
√ √ √ √
sen(π/4) = 2/2 o que mostra que sen(π/4 + π/4) = 1 6= 2 = 2/2 + 2/2 = sen(π/4) + sen(π/4). Vamos
enunciar agora resultados que buscam estabalecer relação entre a soma do arco de funções trigonométricas e o
valor delas em cada um dos arcos.
Teorema 3.20. Para quaisquer x, y ∈ R, valem as seguintes propriedades:
1. sen(x + y) = sen(x)cos(y) + sen(y)cos(x)

2. sen(x − y) = sen(x)cos(y) − sen(y)cos(x)

3. cos(x + y) = cos(x)cos(y) − sen(x)sen(y)

4. cos(x − y) = cos(x)cos(y) + sen(x)sen(y)

5. sen2 (x) + cos2 (x) = 1.


Segue das identidades (1) e (3) acima que:

sen(2x) = sen(x + x) = sen(x)cos(x) + sen(x)cos(x) = 2sen(x)cos(x)


cos(2x) = cos(x + x) = cos(x)cos(x) − sen(x)sen(x) = cos2 (x) − sen2 (x)

31
Usando os item (4) e (5) do teorema 3.20, obtemos ainda outras duas identidades que serão muito usadas:

cos(2x) = cos2 (x) − sen2 (x) = 1 − sen2 (x) − sen2 (x) = 1 − 2sen2 (x)
cos(2x) = cos2 (x) − sen2 (x) = cos2 (x) − (1 − cos2 (x)) = 1 + 2cos2 (x)

Tais igualdades muitas vezes serão escritas como

1 − cos(2x)
sen2 (x) =
2
cos(2x) − 1
cos2 (x) =
2
Outras relações importantes são:

sen2 (x) cos2 (x) + sen2 (x) 1


1 + tg 2 (x) = 1 + = = = sec2 (x)
cos2 (x) cos2 (x) cos2 (x)
e

cos2 (x) sen2 (x) + cos2 (x) 1


1 + cotg 2 (x) = 1 + = = = cossec2 (x)
sen (x)
2 sen (x)
2 sen2 (x)
Resumidamente:
1 + tg 2 (x) = sec2 (x) e 1 + cotg 2 (x) = cossec2 (x)

32
4 Limites de Funções
4.1 Introdução
A disciplina de cálculo se destina dentre muitas coisas, à análise do comportamento de uma função nas prox-
imidades de um determinado ponto. É de grande importância que possamos compreender e fazer previsões
sobre um sistema a medida que nos aproximamos de um determinado estado, daí a noção de limite. A fim de
exemplificar essa noção, vamos examinar o seguinte exemplo.

Exemplo 4.1. Considere a função f (x) = x2 − x + 2, vamos analisar o comportamento dessa função conforme
o valor de x vai se aproximando de 2. Os valores tomados para x e o respectivo valor de f (x) serão computados
na seguinte tabela:

x f (x) x f (x)
1 2,000000 3,0 8,000000
1,5 2,750000 2,5 5,750000
1,8 3,440000 2,2 4,640000
1,9 3,710000 2,1 4,310000
1,95 3,852500 2,05 4,152500
1,99 3,970100 2,01 4,030100
1,995 3,985025 2,005 4,015025
1,999 3,997001 2,001 4,003001

Na tabela acima, valores x que são menores do que 2 são exibidos na primeira coluna, enquanto os valores
maiores do que 2 são exibidos na terceira coluna. A tabela mostra que para valores de x menores do que 2, f (x)
se aproxima de 4 a medida que x se aproxima de 2. Da mesma forma, para valores de x maiores do que 2, f (x)
se aproxima de 4 a medida que x se aproxima de 2. A análise desses dados nos sugere que o comportamento
esperado da função é se aproximar de 4 a medida que x se aproxima de 2.

Definição 4.1. Suponha que uma função f esteja definida em algum intervalo aberto que contenha o ponto a,
exceto possivelmente no próprio a. Escrevemos

lim f (x) = L
x→a

e dizemos “o limite de f (x), quando x tende a a, é igual a L” se pudermos tornar os valores de f (x) arbitrari-
amente próximos de L, tornando x suficientemente próximo de a mas por valores diferentes de a.

Observação: Também usamos a notação f (x) → L quando x → a para denotar limx→a f (x) = L.
Observe também que na definição, não é necessário que a função esteja definida no ponto onde se deseja
calcular o limite, mas apenas em pontos em torno dele. Isso acontece porquê desejamos saber como f se
comporta ao se aproximar de algum ponto a o que independe do valor da função no ponto a. Isso é ilustrado
no próximo exemplo.

Exemplo 4.2. No seguinte exemplo, apresentamos três funções. Todas elas possuem o valor 4 como resultado
do limite quando x converge a 7. No primeiro caso, o valor da função no ponto 7 é 2. No segundo caso, a
função não está definida no ponto 7. No terceiro, o valor da função no ponto 7 coincide com o valor do limite
no mesmo ponto.

33
Figure 16: Funções cujo limite no ponto 7 vale 4

Em geral, não podemos encontrar o limite de uma função em determinado ponto usando o procedimento
descrito no exemplo 4.1, ou seja, não podemos dizer que o valor de lim f (x) = L apenas tomando alguns pontos
x→a
perto de a e analisando o valor correspondente para f (x). Observe que no exemplo 4.1 não foi afirmado em
nenhum momento que o lim f (x) = 4 (embora esse fato seja verdade), o que fizemos foi nos restringir ao fato
x→2
de dizer que tal procedimento “sugere” que o limite seja 4. O motivo para isso é ilustrado no próximo exemplo.
 
Exemplo 4.3. Considere a função f (x) = sen 1
x . Observe que essa função não está definida no zero, mas
1
 
está definida em todo ponto do conjunto (−∞, 0) ∪ (0, +∞) = R∗ , logo podemos tentar calcular lim sen . A
x→0 x
idéia é mostrar que proceder como no exemplo 4.1 pode levar a enganos, caso usemos o valor de alguns pontos
para estimar o valor do limite. Em primeiro lugar, vamos tomar pontos da forma xn = (2n)π 1
, ou seja, x1 = 2π
1
,
x2 = 4π , x3 = 6π e etc... Em seguida, vamos também tomar pontos da forma yn = − (2n)π , ou seja, y1 = − 2π ,
1 1 1 1

y2 = − 4π1
, y3 = − 6π
1
e etc... Organizando os pontos tomados e seus respectivos valores na tabela, ficamos com:

x f (x) x f (x)
x1 = 2π
1
cos(2π) = 1 y1 = − 2π
1
cos(−2π) = 1
x2 = 4π
1
cos(4π) = 1 yn = − 4π
1
cos(−4π) = 1
x3 = 6π
1
cos(6π) = 1 yn = − 6π
1
cos(−6π) = 1
x4 = 8π
1
cos(8π) = 1 yn = − 8π
1
cos(−8π) = 1
x5 = 10π
1
cos(10π) = 1 yn = − 10π
1
cos(−10π) = 1
x6 = 12π
1
cos(12π) = 1 yn = − 12π
1
cos(−12π) = 1
x7 = 14π
1
cos(14π) = 1 yn = − 14π
1
cos(−14π) = 1
xn = (2n)π
1
cos(nπ) = 1 yn = − (2n)π
1
cos(−2nπ) = 1

Note que conforme os valores de n vão aumentando, os elementos xn vão diminuindo e se aproximando de
0. Dessa forma, a tabela mostra indica que ao nos aproximarmos de  0por valores maiores e menores, f (x)
1
vai se aproximando de 1. Seríamos tentados a escrever que lim sen = 1. Entretanto, vamos continuar e
x→0 x
construir outra tabela usando as mesmas ideias.
Considere pontos da forma zn = (2n−1)π 1
, ou seja, z1 = − π1 , z2 = 3π
1
, z3 = 5π
1
e etc... e pontos sn da forma
sn = − (2n−1)π , ou seja, s1 = − π , s2 = − 3π , s3 = − 5π e etc... Construindo a tabela da mesma forma, obtemos:
1 1 1 1

34
x f (x) x f (x)
z1 = π1 cos(π) = −1 y1 = − 2π
1
cos(−2π) = −1
z2 = 3π1
cos(4π) = −1 yn = − 4π
1
cos(−4π) = −1
z3 = 5π1
cos(6π) = −1 yn = − 6π
1
cos(−6π) = −1
z4 = 7π1
cos(8π) = −1 yn = − 8π
1
cos(−8π) = −1
z5 = 9π1
cos(10π) = −1 yn = − 10π
1
cos(−10π) = −1
z6 = 11π
1
cos(12π) = −1 yn = − 12π
1
cos(−12π) = −1
z7 = 13π
1
cos(14π) = 1− yn = − 14π
1
cos(−14π) = −1
zn = (2n−1)π
1
cos(nπ) = −1 yn = − (2n)π
1
cos(−2nπ) = −1

A segunda tabela mostra que f (x) se aproxima de 1 para determinados valores x que se aproximam de 0. Dessa
forma, fica impossível dizer se f se aproxima de 1 ou de -1, pois f (x) está próximo de cada um deles para uma
infinidade de pontos. Nesse caso, o limite de f (x) quando x tende a 0 não existe.

Definição 4.2. Escrevemos lim f (x) = L e dizemos que o limite de f (x) quando x tende a a pela esquerda é
x→a−
igual a L se pudermos tornar os valores de f (x) arbitrariamente próximos de L, para x suficientemente próximo
de a com x menor que a.
Escrevemos lim f (x) = L e dizemos que o limite de f (x) quando x tende a a pela direita é igual a L se
x→a+
pudermos tornar os valores de f (x) arbitrariamente próximos de L, para x suficientemente próximo de a com
x maior que a.

Na definição de limite lateral, pedimos que os pontos x tomados nas proximidades de a sejam tomados todos
de um mesmo lado de a, à esquerda no caso lim f (x) = L e a direita no caso lim f (x) = L. O próximo
x→a− x→a+
exemplo vai mostrar a diferença entre limite de função num ponto e de limites laterais da função num ponto.

Exemplo 4.4. Considere a função (


0, se x ≥ 0
f:
1, se x < 0
O gráfico dessa funçção é dado pela seguinte figura: O gráfico mostrar que os valores de f (x) para todo x que é

Figure 17: Função cujos limites laterais são diferentes

menor do que 0 é 1, logo lim f (x) = 1. Por outro lado, os valores de f (x) para todo x que é maior do que 0 é
x→0−
0, logo lim f (x) = 0. Esse exemplo mostra que os limites laterais de f no ponto 0 existem mas são diferentes.
x→0+

Teorema 4.3. O limite de uma função f (x) no ponto a existe se, e somente se, os limites laterais existem e
são iguais.

35
Como os limites laterais da função definida no exemplo 4.4 são diferentes, o teorema acima permite concluir
que lim f (x) não existe.
x→0

Exemplo 4.5. Considere a função f (x) = c, como f é constante, o valor de f (x) independe do valor escolhido
para x, portanto vale c para qualquer ponto tomado próximo de a, dessa forma lim f (x) = lim c = c.
x→a x→a

Exemplo 4.6. Considere a função f (x) = x, como o valor de f (x) coincide com o valor escolhido para
x, temos que f (x) fica arbitrariamente próximo de a desde que x seja tomado próximo de a, dessa forma:
lim f (x) = lim x = a.
x→a x→a

|x|
Exemplo 4.7. O limite lim não existe.
x→0 x
Para isso, vamos calculas os limite laterais. Para o limite lateral à direita, os pontos x são maiores do que zero
e portanto |x| = x, dessa forma: lim |x|x = lim x = lim 1 = 1 Para o limite lateral à esquerda, os pontos x são
x
x→0+ x→0 x→0
|x|
menores do que zero e portanto |x| = −x, dessa forma: lim x = lim −x
x = lim − 1 = −1 Como os limites
x→0+ x→0 x→0
laterais são diferentes, segue que o limite lim |x| não existe.
x→0 x

4.2 Propriedades dos limites


Teorema 4.4. Sejam f e g funções para o qual os limites lim f (x) e lim g(x) existem. Seja c ∈ R, então:
x→a x→a

P.1 lim (f (x) + g(x)) = lim f (x) + lim g(x).


x→a x→a x→a

P.2 lim (f (x) − g(x)) = lim f (x) − lim g(x).


x→a x→a x→a

P.3 lim (f (x) · g(x)) = lim f (x) · lim g(x).


x→a x→a x→a

f (x) lim f (x)


P.4 lim = x→a , desde que lim g(x) 6= 0 .
x→a g(x) lim g(x) x→a
x→a
 
P.5 lim (cf (x)) = c lim f (x) .
x→a x→a

 n
P.6 lim f n (x) = lim f (x) para n ∈ N.
x→a x→a

1
 1
P.7 lim f n (x) = lim f (x) n
para n ∈ N e f (x) ≥ 0.
x→a x→a

A propriedade (6) pode ser facilmente deduzida da propriedade (3), bastando tomar g(x) = f (x), obteremos
para n = 2:
lim f 2 (x) = lim f (x).f (x) = ( lim f (x))( lim f (x)) = ( lim f (x))2
x→a x→a x→a x→a x→a

Repetindo o argumento podemos concluir para n ∈ N que


 n
lim f n (x) = lim f (x)
x→a x→a

36
Exemplo 4.8. Calcule o limite lim (2x2 − 3x + 4) justificando cada passagem.
x→5
Para justificar o cálculo desse limite, indicaremos o uso da propriedade indicada no teorema 4.4 em cada
igualdade em que ela for usada. Dessa maneira:

lim (2x2 − 3x + 4) = lim (2x2 ) + lim (−3x) + lim 4


x→5 P.1 x→5 x→5 x→5
= 2 lim (x ) − 3 lim (x) + lim 4
2
P.5 x→5 x→5 x→5
 2  
= 2 lim x − 3 lim x + lim 4
P.3 x→5 x→5 x→5

= 2(5 ) − 3(5) + 4
2

= 39
x3 + 2x2 − 1
Exemplo 4.9. Calcule o limite lim justificando cada passagem.
x→−2 5 − 3x

x3 + 2x2 − 1 lim (x3 + 2x2 − 1)


x→−2
lim =
x→−2 5 − 3x P.4 lim (5 − 3x)
x→−2
lim (x3 ) + lim (2x2 ) + lim (−1)
x→−2 x→−2 x→−2
=
P.1 lim (5) + lim (−3x)
x→−2 x→−2
lim (x3 ) + 2 lim (x2 ) − lim (1)
x→−2 x→−2 x→−2
=
P.5 lim (5) − 3 lim (x)
x→−2 x→−2
 3  2
lim x +2 lim x lim (1)
x→−2 x→−2 x→−2
=
P.6 lim (5) − 3( lim x)
x→−2 x→−2
(−2)3 + 2(−2)2 − 1
=
5−2
1
= −
11
Para o proóximo exemplo, é sugerido que o leitor reveja a seção 3.4.
x2 − 5x + 6
Exemplo 4.10. Calcule o limite lim .
x→2 x2 − 7x + 10
Nesse exemplo, não podemos aplicar diretamente o item P.4 do teorema 4.4, pois lim x2 − 7x + 10 = 0. Por
x→2
outro lado, observe que lim x2 − 5x + 6 = 0, nesse caso como ambas as funções têm 0 como limite e ambas são
x→2
funções polinomiais, segue que 2 é raíz de p(x) = x2 − 5x + 6 e de q(x) = x2 − 7x + 10. Segue portanto que
ambos os polinômios são divisíveis por x − 2, efetuando a divisão encontraremos x2 − 5x + 6 = (x − 2)(x − 3) e

37
x2 − 7x + 10 = (x − 2)(x − 5). Logo, o limite fica:

x2 − 5x + 6 (x − 2)(x − 3)
lim = lim
x→2 x2 − 7x + 10 x→2 (x − 2)(x − 5)
(x − 3)
= lim
x→2 (x − 5)
lim (x − 3)
= x→2
lim (x − 5)
x→2
−1
=
−3
1
=
3
Teorema 4.5. [Teorema do sanduíche] Sejam f , g e h funções tal que f (x) ≤ h(x) ≤ g(x). Se lim f (x) =
x→a
lim g(x) = L então lim h(x) = L. Em outras palavras, se os limites das funções f e g existem no ponto a e
x→a x→a
são iguais, então também existe o limite de h(x) no ponto a.

Figure 18: Teorema do sanduíche.

Teorema 4.6. lim f (x) = 0 ⇔ lim |f (x)| = 0.


x→a x→a
q q q q
Proof. Observe que |f (x)| = (f (x))2 , logo lim |f (x)| = lim (f (x))2 = lim (f (x))2 = ( lim f (x))2 . Se
q √ x→a x→a x→a x→a
lim f (x) = 0 então ( lim f (x))2 = 02 = 0, ou seja, lim |f (x)| = 0. Suponha agora que lim |f (x)|, observe
x→a x→a x→a x→a
que −|f (x)| < f (x) < |f (x)|, usando o teorema do sanduíche concluímos que lim f (x) = 0.
x→a

Exemplo 4.11. Como aplicação do teorema 4.5, podemos calcular o limite lim xsen(1/x).
x→0
Resolução:
sen(1/x)
Vamos mostrar que lim e o resultado seguirá do teorema 4.6. Sabemos que −1 ≤ sen(1/x) ≤ 1 para
x→0 x
todo x, portanto 0 ≤ |sen(1/x)| < 1, multiplicando essa desigualdade por |x|, segue que 0 ≤ |x||sen(1/x)| =
|xsen(1/x)| < |x|. Tomando f (x) = 0, g(x) = |x| e h(x) = |xsen(1/2)|, temos: lim f (x) = lim g(x) = 0. Como
x→0 x→0
f (x) ≤ h(x) ≤ g(x) o teorema do sanduníche implica em lim h(x) = 0.
x→0

38
Exemplo 4.12. lim sen(x) = 0.
x→0
Resolução:
Para todo x medido em radianos, o comprimento do arco x é maior do que sen(x) e maior do que 0 (para
0 < x < π2 ), desse modo 0 ≤ sen(x) ≤ x. Fazendo f (x) = 0, g(x) = x e h(x) = sen(x), temos temos:
lim f (x) = lim g(x) = 0. Como f (x) ≤ h(x) ≤ g(x) o teorema do sanduníche implica em lim h(x) = 0.
x→0 x→0 x→0

Exemplo 4.13. lim cos(x) = 1.


x→0
Resolução:
Como cos(x) = 1 − sen2 (x), temos:
p

q
lim cos(x) = lim 1 − sen2 (x)
x→0 x→0
r
= lim (1 − sen2 (x))
x→0

= 1−0
= 1

Uma das principais consequências do teorema do sanduíche é:


sen(x)
Teorema 4.7. O limite lim existe e vale 1, tal resultado é chamado limite fundamental trigonométrico.
x→0 x
sen(x) sen(x) π
Proof. Seja h(x) = , vamos calcular lim . Para 0 < x < , vale que sen(x) < x e portanto
x x→0+ x 2
sen(x) sen(x) sen(x)
≤ 1. Por outro lado, temos x < tg(x) = e portanto cos(x) < . Concluímos que:
x cos(x) x

sen(x)
cos(x) < <1
x
Passando o limite:
sen(x)
lim cos(x) < lim < lim 1
x→0+ x→0+ x x→0+

sen(x)
Como lim cos(x) = lim 1 = 1 o teorema do sanduíche fornece que lim . Para terminar, basta observar
x→0 x→0 x x→0+
sen(x) sen(x) sen(x)
que h(x) = é uma função par, desta forma lim = lim= = 1, como os limites laterais
x x→0+ x x→0 x
existem e são iguais, concluímos o resultado.

sen(5x)
Exemplo 4.14. Calcular lim .
x→0 x
Resolução:
sen(5x) sen(5x)
lim = lim 5
x→0 x x→0 5x
sen(5x)
 
= 5 lim
x→0 5x
= 5.1
= 5

39
Figure 19: Relação entre o arco x, sen(x) e tg(x).

tg(x2 ))
Exemplo 4.15. Calcular lim .
x→0 x
Resolução:

tg(x2 )) sen(x2 )
lim = lim
x→0 x x→0 cos(x2 )x

sen(x2 ) 1
= lim x · ·
x→0 x 2 cos(x2 )
sen(x2 ) 1
!  
= lim x · lim · lim
x→0 x→0 x2 x→0 cos(x2 )
= 0·1·1
= 0

4.3 Funções contínuas


Definição 4.8. Dizemos que f (x) é contínua no ponto x = a se lim f (x) = f (a). Caso f seja contínua em
x→a
todos os pontos do seu domínio, então dizemos apenas que f é contínua.

Observação: Para que f seja contínua no ponto a, é necessário três coisas:

1. Que o limite de f quando x converge para a exista.

2. Que a função esteja definida no ponto a.

3. Que o limite da função quando x converge para a seja igual a f (a).

Exemplo 4.16. Das três funções cujo gráfico é exibido na figura 3.6, apenas a terceira é contínua no ponto
x = 7. Os três gráficos mostram que o limite de f (x) quando x converge a 7 existe. Entretanto, a primeira
função não está definida para x = 7, enquanto que na segunda o limite existe no ponto difere de f (7).

Exemplo 4.17. Considere a função (


sen(x)
se x 6= 0
f: x
1 se x = 0

40
f é contínua em x = 0.
Resolução:
sen(x)
Obviamente sabemos que lim = 1 (limite fundamental trigonométrico), como f (0) = 1, segue que
x→0 x
lim f (x) = f (a).
x→0

Exemplo 4.18. Todo polinômio é uma função contínua.


De fato, seja p(x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 um polinômio d grau n, provar que p(x) é contínua num
ponto c significa provar que lim p(x) = p(c) = an cn + an−1 cn−1 + . . . + a1 c + a0 . Para isso, observamos que o
x→c
exemplo 4.6 implica que lim x = c, esse fato mais o item P.6 do teorema 4.4 implicam que lim xn = cn . Por
x→c x→c
fim, aplicando o item P.1 do mesmo teorema:

lim p(x) = lim an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0


x→c x→c
= lim an xn + lim an−1 xn−1 + . . . + lim a1 x + lim a0
x→c x→c x→c x→c
= an lim xn + an−1 lim xn−1 + . . . + a1 lim x + lim a0
x→c x→c x→c x→c
= an (lim x)n + an−1 (lim x)n−1 + . . . + a1 (lim x) + lim a0
x→c x→c x→c x→c
= an cn + an−1 cn−1 + . . . + a1 c + a0
= p(c)

Exemplo 4.19. A função f (x) = sen(x) é contínua.


Para mostrar essa afirmação, usaremos a igualdade sen(x + h) = sen(x)cos(h) + sen(h)cos(x) e observamos
que lim sen(x) = lim sen(a + h). Usando os exemplos 4.12 e 4.13, temos lim cos(h) = 1 e limh→0 sen(h) = 0,
x→a h→0 h→0
logo:

lim sen(x) = lim sen(a + h)


x→a h→0
= lim sen(a)cos(h) + sen(h)cos(a)
h→0
= lim sen(a)cos(h) + lim sen(h)cos(a)
h→0 h→0
= sen(a) lim cos(h) + cos(a) lim sen(h)
h→0 h→0
= sen(a) · 1 + cos(a) · 0
= sen(a)

Observação: O mesmo argumento acima pode ser utilizado para demonstrar que a função cos(x) é contínua.

Exemplo 4.20. Na função dada pela figura 4.4, f está definida no ponto x = 0 mas o limite não existe nesse
ponto, logo f não é contínua em 0.

Teorema 4.9. Suponha que f e g sejam funções contínuas no ponto x = a, então: (f + g)(x), (f − g), (f · g)(x)
são contínuas em x = a. Além disso, se g(a) 6= 0 então (f /g)(x) também é contínua em x = a.

Exemplo 4.21. O teorema acima permite mostrar que a função tg(x) = sen(x) cos(x) é contínua no conjunto {x ∈
R | x 6= 2 + kπ k ∈ Z}, pois é o quociente de duas funções contínuas cujo denominador nunca se anula.
π

41
Observação: O mesmo argumento acima permite mostrar que as funções cotg(x), sec(x) e cossec(x) são
contínuas.

Exemplo 4.22. Outros exemplos de funções contínuas são: inversas de funções trigonométricas, funções expo-

nenciais e funções logarítmicas. funções da forma f (x) = n x.

Exemplo 4.23. A função f (x) = |x| é contínua. Para mostrar esse fato, dividimos o racício em três casos:

1. Caso em que x > 0. Nessa situação, temos simplesmente que |x| = x, como a função g(x) = x é contínua,
seque que f (x) = |x| é contínua quando x > 0.

2. Caso em que x < 0. Nessa situação, temos simplesmente que |x| = −x, como a função g(x) = −x é
contínua, seque que f (x) = |x| é contínua quando x < 0.

3. Caso em que x = 0. Para isso basta usar o teorema 4.6, pois lim x = 0 ⇔ lim |x| = 0.
x→0 x→0

Teorema 4.10. Seja f (x) contínua em b e lim g(x) = b, então:


x→a

lim f (g(x)) = f ( lim g(x))


x→a x→a

Além disso, se g(x) for contínua em x = a, vale (f ◦ g) é contínua em x = a.

Em muitos casos, um limite pode se simplificado ao se fazer uma mudança de variáveis. O próximo exemplo
ilustra essa situação.
sen(x − 1)
Exemplo 4.24 (Mudança de variável). Calcular lim .
x→1 x2 − 1
Resolução:
sen(x − 1) sen(x − 1)
Observando que x2 − 1 = (x − 1)(x + 1), temos lim = lim . Fazendo a mudança de
x2 − 1
x→1 x→1 (x − 1)(x + 1)
variável y = x − 1, seque que x → 1 ⇔ y → 0, assim:

sen(x − 1) sen(x − 1)
lim = lim
x→1 x2 − 1 x→1 (x − 1)(x + 1)
sen(y)
= lim
y→0 y(y + 2)
sen(y) 1
= lim · lim
y→0 y y→0 y + 2
1
= 1·
2
1
=
2

Teorema 4.11. Se f e g forem funções contínuas no ponto a, então:

• f + g é contínua em a.

42
• f · g é contínua em a.
f
• é contínua em a, desde que g(a) 6= 0.
g
√ !
−1 1 − x
Exemplo 4.25. Calcule lim sen .
x→1 1−x
Resolução: Como a função sen−1 (x) é contínua em x = 1, podemos aplicar o teorema 4.10, de forma a obter:
√ ! √ !
−1 1− x 1− x
lim sen lim = sen−1
x→1 x→1 1 − x 1−x
√ ! √ !!
1 − x 1 + x
= sen−1 √
1−x 1+ x
1−x
 
= sen−1 √
(1 − x)(1 + x)
1
 
−1
= sen √
(1 + x)
1
 
= sen−1
2
π
=
4

Definição 4.12. Caso uma função f não seja contínua num ponto c do seu domínio, dizemos que f é descon-
tínua em c.

Figure 20: Função descontínua no ponto a.

|x|
Exemplo 4.26. A função definida por f (x) = x se x 6= 0 e f (0) = 0 é descontínua em x = 0 (ver exemplo
4.7) e é contínua para todo ponto x 6= 0.

43
Teorema 4.13 (Teorema do valor intermediário). Suponha que f seja uma função contínua no intervalo [a, b],
seja d um número satisfazendo f (a) < d < f (b). Então existe um número c ∈ (a, b) tal que f (c) = d.

O teorema do valor intermediário diz que se f é contínua no intervalo [a, b], então f assume todos os valores
que estão entre f (a) e f (b). Uma aplicação muito útil desse teorema é a prova de que alguns polinômios possuem
raíz.

Exemplo 4.27. Seja f (x) = 3x5 −2x2 . Como f (1) = 3(1)5 −2(1)2 = 1 > 0, f (−1) = 3(−1)5 −2(−1)2 = −5 < 0
e f é uma função contínua, segue que existe c ∈ (−1, 1) tal que f (c) = 0.

4.4 Limites infinitos


1 1
Exemplo 4.28. Considere a função f (x) = , vamos analisar lim 2 . Para esse caso, faremos uma tabela
x2 x→0 x
com valores de x e de f (x) para tentar entender o comportamento da função para pontos suficientemente
próximos de 0.

x f (x) x f (x)
1 1 -1 1
0.1 100 -0.1 100
0.01 10000 -0.01 10000
0.001 1000000 -0.001 1000000
0.0001 100000000 -0.0001 100000000
0.00001 10000000000 -0.00001 10000000000
0.000001 1000000000000 -0.000001 1000000000000

A tabela acima parece mostrar que ao nos aproximarmos de 0, a função assume valores arbitrariamente grandes.
Alé disso, quanto mais perto nos aproximamos de 0, maior o valor assumido por f (x), não importando se os
pontos tomados são menores ou maiores que 0. O fato de f (x) crescer indefinidamente nas proximidades do
ponto 0 motiva o que chamamos de “limite infinito”.

Definição 4.14. Seja f uma função definida em algum intervalo aberto que contenha o número a, exceto
possivelmente no próprio a. Escrevemos lim f (x) = +∞ e dizemos que limite de f (x) quando x tende a a
x→a
é infinito para dizer que f (x) toma valores arbitrariamente grandes desde que x seja tomado suficientemente
próximo de a.

Como na seção anterior, também podemos definir limites laterais.

Definição 4.15. Seja f uma função definida em algum intervalo aberto que contenha o número a, exceto
possivelmente no próprio a. Escrevemos lim f (x) = +∞ e dizemos que limite de f (x) quando x tende a
x→a−
a pela esquerda é infinito para dizer que f (x) toma valores arbitrariamente grandes desde que x seja tomado
suficientemente próximo de a com x menor que a.
Escrevemos lim f (x) = +∞ e dizemos que limite de f (x) quando x tende a a pela direita é infinito para
x→a+
dizer que f (x) toma valores arbitrariamente grandes desde que x seja tomado suficientemente próximo de a com
x maior que a.

44
Definição 4.16. Dizemos que limite de f (x) quando x tende a a é −∞ e denotamos por lim f (x) = −∞,
x→a
para dizer que f (x) toma valores arbitrariamente grandes e negativos desde que x seja tomado suficientemente
próximo de a.

Observação: lim f (x) = −∞ é equivalente ao fato de lim −f (x) = +∞.


x→a x→a

2x
Exemplo 4.29. Calcular lim .
x→3 (x − 3)2
Resolução:
2x limx→3 2x
Não podemos aplicar lim = pois limx→3 (x − 3)2 = 0. Por outro lado, observe que
x→3 (x − 3)2 limx→3 (x − 3)2
lim 2x = 6 > 0, logo o limite da função que está no numerador é um número positivo. Por outro lado,
x→3
2x
como o limite da função que está no denominador é 0, segue que o quociente se torna um número
(x − 3)2
arbitrariamente grande. Como (x − 3)2 é positivo para qualquer valor de x próximo de 3 (mas diferente de 3),
2x
segue que lim = +∞.
x→3 (x − 3)2

1
Exemplo 4.30. Calcular lim .
x→1 x−1
Resolução:
Começamos com valores de x maiores do que 1, ou seja, x > 1 e portanto x − 1 > 0. Dessa forma, aproximando
de 1 por valores à direita, o numerador x − 1 é sempre positivo, como x − 1 se aproxima de 0 quando x se
1
aproxima de 1, temos que lim = +∞. Agora, consideraremos valores de x menores do que 1, ou seja,
x→1 x − 1
+
x < 1 e portanto x − 1 < 0. Dessa forma, aproximando de 1 por valores à esquerda, o numerador x − 1 é sempre
1
,negativo como x − 1 se aproxima de 0 quando x se aproxima de 1, temos que lim = −∞. Como os
x→1+ x − 1
1
limites laterais são diferentes, segue que lim não existe.
x→1 x − 1

Teorema 4.17. Sejam f e g funções para o qual lim f (x) > 0, lim g(x) = 0. Suponha que exista um intervalo
x→a x→a
aberto I = (−ε + a, ε + a) contendo o ponto a onde g(x) não se anula em I \ {a}. Então:
f (x)
• lim = +∞ se g(x) > 0 para x ∈ (a, ε + a).
x→a+ g(x)
f (x)
• lim = +∞ se g(x) > 0 para x ∈ (−ε + a, a).
x→a− g(x)
f (x)
• lim = −∞ se g(x) < 0 para x ∈ (a, ε + a).
x→a+ g(x)
f (x)
• lim = −∞ se g(x) < 0 para x ∈ (−ε + a, a).
x→a− g(x)

Exemplo 4.31. No exemplo 4.29, poderíamos considerar f (x) = 2x e g(x) = (x − 3)2 . Note que lim f (x) =
x→3
6 > 0 e que g(x) não muda de sinal (pois g(x) > 0 para x ∈ R \ {3}), como lim g(x) = 0 segue do teorema 4.17
x→3

45
2x
que lim = +∞.
x→3 (x − 3)2

Observação: Para aplicar o teorema 4.17, é necessário que lim f (x) seja diferente de 0. Caso lim f (x) = 0
x→a x→a
sen(x)
pode ser que o limite seja finito, como é o caso lim = 1.
x→0 x

46
Definição 4.18. Dizemos que x = a é uma assíntota vertical de f (x) caso uma das seguintes condições se
verifiquem:
• lim f (x) = +∞.
x→a+

• lim f (x) = −∞.


x→a+

• lim f (x) = +∞.


x→a−

• lim f (x) = −∞.


x→a−

Figure 21: Exemplos de assíntotas verticais x = 3.

Exemplo 4.32. Encontre as assíntotas verticais de f (x) = tg(x).


Resolução:
Usando o teorema 4.17, vamos procurar as assintíntotas verticais nos pontos a para o qual lim cos(x) = 0.
x→a
Lembrando que lim cos(x) = 1 (ver exemplo 4.13) e que cos(x + π/2) = sen(x), temos
x→0

lim cos(x) = lim cos(x + π/2) = lim sen(x) = 0.


x→π/2 x→0 x→0

Como cos(x) > 0 para x ∈ (0, π/2) e cos(x) < 0 para x ∈ (−π/2, 0) e limx→π/2 sen(x) = 1 > 0, o teorema 4.17
implica que

lim tg(x) = +∞
x→ π2 +

lim tg(x) = −∞
x→ π2 −

Por outro lado, como cos(π/2 + kπ) = 0 para todo k ∈ Z, o que significa que lim cos(x) = 0 para todo
x→a
a = π/2 + kπ. Como lim sen(x) = ±1 sempre que a = π/2 + kπ, o teorema 4.17 implica que lim tg(x) = ±∞
x→a x→a
para todo a = π/2 + kπ, o que mostra que as assíntotas verticais são x = π/2 + kπ para k ∈ Z.

47
Observação: Um erro muito comum, é tratar limites infinitos como se fossem limites comuns no sentido da
seção anterior. Lá, dizer que lim f (x) = L significa que f (x) se aproxima do número L quando x se aproxima
x→a
de a. No caso de limites infinitos, ∞ não é um número, esse símbolo apenas representa que a função cresce ou
decresce “ilimitadamente” quando x se aproxima de um número a. Ou seja, no caso de limites infinitos, não
podemos aplicar os resultados lim (f (x) ± g(x) = lim f (x) ± lim g(x), lim (f (x) · g(x)) = lim f (x) · lim g(x) ou
x→a x→a x→a x→a x→a x→a

f (x)
 lim f (x)
lim = x→a no caso em que lim f (x) = lim g(x) = +∞. Isso é mostrado no próximo exemplo:
x→a g(x) lim g(x) x→a x→a
x→a
1 3
Exemplo 4.33. f (x) = e g(x) = 4 − 5. Nesse caso, temos lim f (x) = +∞, lim g(x) = +∞, mas
x4 x x→0 x→0
g(x)
lim f (x) + g(x) = −5 e lim = 3.
x→0 x→a f (x)

Em geral as propriedades dos limites não valem quando o limites de uma função for infinito.

4.5 Limites no infinito


1
Exemplo 4.34. Considere a função f (x) = 2 . Vamos analisar o comportamento de f (x) a medida que x
x
aumenta, para isso considere a seguinte tabela:

x f (x)
−1 1
−10 0, 01
−100 0, 0001
−1000 0, 000001
−10000 0, 00000001
−100000 0, 0000000001

A tabela acima sugere que f (x) se aproxima de 0 a medida que x aumenta, uso sugere que f (x) pode se aproximar
tanto quanto queiramos de 0 se x for tomado grande. Isso fornece a ideia de limites no infinito.
Definição 4.19. Seja f uma função definida em algum intervalo (a, +∞). Escrevemos lim f (x) = L e
x→+∞
dizemos que “limite de f (x) quando x tende a mais infinito é L”, para dizer que f (x) pode ser tomado arbi-
trariamente próximo de L desde que x seja tomado suficientemente grande.

Definição 4.20. Seja f uma função definida em algum intervalo (−∞, a). Escrevemos lim f (x) = L e
x→−∞
dizemos que “limite de f (x) quando x tende a menos infinito é L”, para dizer que f (x) pode ser tomado arbi-
trariamente próximo de L desde que x seja tomado suficientemente grande em valor absoluto mas negativo.

Teorema 4.21. Seja r > 0 um número racional, então


1
lim =0
x→+∞ xr
Caso xr esteja definido para x < 0, então
1
lim =0
x→−∞ xr

48
3x2 + 2x − 5
Exemplo 4.35. Calcule lim .
x→+∞ −x2 + x − 5
Resolução:
 
3x2 + 2x − 5 x2 3 + 2
x − 5
x2
lim = lim
x→+∞ −x2 + x − 5
 
x→+∞ x2 −1 + 1
x − 5
x2
 
3+ 2
x − 5
x2
= lim  
x→+∞ −1 + 1
x − 5
x2
 
lim 3+ 2
x − 5
x2
x→+∞
=  
lim −1 + 1
x − 5
x2
x→+∞
lim 3 + lim 2
− lim 5
2
x→+∞ x→+∞ x x→+∞ x
=
lim − 1 + lim 1
− lim 5
2
x→+∞ x→+∞ x x→+∞ x
3+0+0
=
−1 + 0 + 0
= −3

Definição 4.22. Dizemos que a reta y = L é uma assíntota horizontal de f , se

lim f (x) = L ou lim f (x) = L.


x→+∞ x→−∞

Geometricamente, uma assíntota horizontal representa que o gráfico da função se aproxima ou “tende” da
reta y = L a medida que x cresce em valor absoluto (podendo ser positivo ou negativo).

Figure 22: Exemplos de assíntotas horizontais y = 3 e y = 1.

3x2 + 2x − 5
Exemplo 4.36. A reta y(x) = −3 é uma assíntota horizontal de f (x) = (ver exemplo anterior).
−x2 + x − 5

2x2 + 1
Exemplo 4.37. Determine as assíntotas horizontais e verticais da função f (x) = .
3x − 5
Resolução:

49
p
Como lim 3x − 5 = 0 e lim 2x2 + 1 > 0, segue que a reta vertical x = 5
3 é uma assíntota vertical de f . Para
x→ 53 x→ 53
as assíntotas horizontais, vamos calcular os limites de f para x convergindo a menos e mais infinito.

2x2 + 1 x2 (2 + 1/x)
p
lim = lim
x→+∞ 3x − 5 x→+∞ x (3 − 5/x)

|x| (2 + 1/x)
p
= lim
x→+∞ x (3 − 5/x)

x (2 + 1/x)
p
= lim
x→+∞ x (3 − 5/x)

(2 + 1/x)
p
= lim
x→+∞ (3 − 5/x)

lim (2 + 1/x)
q
x→+∞
=
lim (3 − 5/x)
x→+∞
lim 2 + lim 1/x
q
x→+∞ x→+∞
=
lim 3 − lim 5/x
x→+∞ x→+∞

2+0
=
3−0

2
=
3
Da mesma forma, temos:

2x2 + 1 x2 (2 + 1/x)
p
lim = lim
x→−∞ 3x − 5 x→−∞ x (3 − 5/x)

|x| (2 + 1/x)
p
= lim
x→−∞ x (3 − 5/x)

−x (2 + 1/x)
p
= lim
x→−∞ x (3 − 5/x)

− (2 + 1/x)
p
= lim
x→−∞ (3 − 5/x)

lim (2 + 1/x)
q
x→+∞
= −
lim (3 − 5/x)
x→+∞
lim 2 + lim 1/x
q
x→−∞ x→−∞
= −
lim 3 − lim 5/x
x→−∞ x→−∞

2+0
= −
3−0

2
= −
3
√ √
Concluímos que as assíntotas horizontais de f são as retas y = 3
2
ey=− 3 .
2

50
Exemplo 4.38. lim ex = 0.
x→−∞
Resolução:
Para x maior do que 2, vale a desigualdade x < ex o que implica 1
x > 1
ex = e−x > 0. Logo:

1
lim 0 ≤ lim e−x ≤ lim .
x→−∞ x→−∞ x→−∞ x
1
Como lim 0 = lim = 0, o teorema do sanduíche nos fornece: lim e−x = 0. Por fim, como lim ex =
x→−∞ x→−∞ x x→∞ x→−∞
lim e−x temos o resultado.
x→∞

1
 n
Exemplo 4.39. Em geral, sempre que a > 1, temos: lim = 0.
n→+∞ a

Teorema 4.23 (Limite Exponencial Fundamental).

1
 x
lim 1+ =e
x→+∞ x
2
 x
Exemplo 4.40. Calcule lim 1+ .
x→+∞ x
Resolução:
Fazendo a mudança de variáveis y = x2 , temos 1
y = x2 . Por outro lado, x → +∞ ⇔ y → +∞, portanto:

2 1 2y
 x  
lim 1+ = lim 1+
x→+∞ x y→+∞ y
1 y 1 y
   
= lim 1 + · 1+
y→+∞ y y
1 1 y
 y  
= lim 1 + · lim 1 +
y→+∞ y y→+∞ y
= e·e
= e2

1
 x
Exemplo 4.41. Calcule lim 1− .
x→+∞ x

51
Resolução: Fazendo a mudança de variáveis x = y + 1, temos x → +∞ ↔ y → +∞, desse modo:
1 1
 x  y
lim 1− = lim 1 −
x→+∞ x y→+∞ y+1
y
y

= lim
y→+∞ y + 1
−1 !y
y+1

= lim
y→+∞ y
1
= lim 
y+1 y

y→+∞
y
1
=  y
lim 1+ 1
y
y→+∞
1
=
e
= e−1

1
Exemplo 4.42. Calcule lim (1 + x) x .
x→0+
Esse exemplo pode ser visto como uma aplicação direta do limite exponencial fundamental. Para isso, defina a
variável y = x1 , observe que x → 0+ ↔ y → +∞, dessa forma:
1
 y
1
lim (1 + x) x = lim 1+
x→0+ y→+∞ y
= e

As propriedades dos limites também são válidas para limites no infinito (desde que o resultado do limite
exista e seja um número), ou seja:
Teorema 4.24. Suponha que lim f (x) = L ∈ R e lim g(x) = M ∈ R, então:
x→±+∞ x→±+∞

1. lim f (x) + g(x) = lim f (x) + lim g(x).


x→±+∞ x→±+∞ x→±+∞

2. lim f (x) − g(x) = lim f (x) − lim g(x).


x→±+∞ x→±+∞ x→±+∞
   
3. lim (f (x) · g(x)) = lim f (x) · lim g(x) .
x→±+∞ x→±+∞ x→±+∞

f (x) lim f (x)


x→±+∞
4. lim = , desde que M 6= 0.
x→±+∞ g(x) lim g(x)
x→±+∞

4.6 Limite infinitos e no infinito


Definição 4.25. Dizemos que o limite de f (x) quando x tende a infinito é infinito, se f (x) puder ser tomado
arbitrariamente grande, desde que x seja tomado suficientemente grande. Neste caso, escrevemos
lim f (x) = +∞.
x→+∞

52
Definição 4.26. Da mesma forma, dizemos que o limite de f (x) quando x tende a infinito é menos infinito,
se f (x) puder ser tomado arbitrariamente grande em valor absoluto e negativo, desde que x seja tomado sufi-
cientemente grande. Neste caso, escrevemos

lim f (x) = −∞.


x→+∞

Definição 4.27. Dizemos que o limite de f (x) quando x tende a menos infinito é infinito, se f (x) puder ser
tomado arbitrariamente grande, desde que x seja tomado suficientemente grande em valor absoluto e negativo.
Neste caso, escrevemos
lim f (x) = +∞.
x→−∞

Definição 4.28. Dizemos que o limite de f (x) quando x tende a menos infinito é menos infinito, se f (x) puder
ser tomado arbitrariamente grande em valor absoluto e negativo, desde que x seja tomado suficientemente grande
em valor absoluto e negativo. Neste caso, escrevemos

lim f (x) = −∞.


x→−∞

Exemplo 4.43. Calcule lim f (x), onde f (x) = x.


x→+∞
Resolução:
Como f (x) = x, se x for tomado arbitrariamente grande, então f (x) também será grande, dessa forma
lim x = +∞.
x→+∞

Exemplo 4.44. Da mesma forma que no exemplo anterior, temos lim x = −∞.
x→−∞

Observação: lim f (x) = +∞ ⇔ lim −f (x) = −∞.


x→±∞ x→±∞

Exemplo 4.45. Suponha que lim f (x) = +∞ e que lim g(x) = L, então lim (f (x) + g(x)) = +∞.
x→+∞ x→+∞ x→+∞
De fato, como lim g(x) = L, para x suficientemente grande, g(x) estará próximo de L. Como lim f (x) =
x→+∞ x→+∞
−∞, f (x) será arbitrariamente grande para x suficientemente grande, dessa forma, f (x) + g(x) continuará
sendo arbitrariamente grande (pois L é um número fixo enquanto que f (x) cresce indefinidamente).

Exemplo 4.46. A mesma argumentação do exemplo anterior mostra que se lim f (x) = +∞ e lim g(x) = L,
x→−∞ x→−∞
então lim (f (x) + g(x)) = +∞.
x→−∞

f (x)
Exemplo 4.47. Suponha que lim f (x) = +∞ e que lim g(x) = L > 0, então lim = +∞.
x→+∞ x→+∞ x→+∞ g(x)
f (x)
De fato, uma vez que f (x) pode ser tomado arbitrariamente grande, segue que pode ser tomado arbitrari-
L
f (x) f (x)
amente grande, como g(x) está arbitrariamente próximo de L, segue que g(x) está próximo de .
L

Em geral, podemos enunciar o seguinte teorema:


Teorema 4.29. Suponha que lim f (x) = ∞ e lim g(x) = L. Então:
x→±∞ x→±∞

53
1. lim f (x) + g(x) = +∞.
x→±∞

2. lim f (x) − g(x) = +∞.


x→±∞

3. lim f (x) · g(x) = +∞ (se L > 0).


x→±∞

4. lim f (x) · g(x) = −∞ (se L < 0).


x→±∞

f (x)
5. lim = +∞ (se L > 0.)
x→±∞ g(x)

f (x)
6. lim = −∞ (se L < 0).
x→±∞ g(x)

O teorema acima também vale para lim f (x) = −∞, bastando trocar ∞ por −∞ nos respectivos itens.
x→±∞

2x4 + 3x2 + 1
Exemplo 4.48. Calcule lim .
x→+∞ 20x3 + x2
Resolução: Usando o exemplo anterior, segue que:
 
2x4+ 3x2
+1 x3 2x + 3
x + 1
x3
lim = lim
20x + x2
 
3
x→+∞ x→+∞ x3 20 + 1
x
2x + x3 + 1
x3
= lim
x→+∞ 20 + x1

3 1
Sabemos que lim + 3 = 0 e lim 2x = +∞, ou seja, o numerador da fração envolve a soma de dois
x→+∞ x x x→+∞
3
limites, um finito e outro infinito. Usando o item 1 do teorema anterior (teorema 4.29), segue que lim 2x+ +
x→+∞ x
1 1
= ∞. Agora, note que lim 20 + = 20 6= 0, ou seja, o quociente envolve dois limites: o numerador sendo
x3 x→+∞ x
2x4 + 3x2 + 1
infinito e o denominador sendo finito. Usando o item 5 do teorema 4.29, temos que lim = +∞
x→+∞ 20x3 + x2

54
5 Derivadas
5.1 Definição e exemplos
Seja f uma função real cujo gráfico é dado na figura abaixo. Dados dois pontos P = (a, f (a)) e Q = (x, f (x)) no
gráfico de f , podemos considerar a reta ra,x que passa por esses pontos. Tal reta tem inclinação m = f (x)−f
x−a
(a)
.

Figure 23: Reta cortando o gráfico de f nos pontos (a, f (a)) e (x, f (x)).

A medida que x se aproxima de a, as retas ra,x “se aproximam” da reta r, no sentido de que o coeficiente
angular de ra,x “tende” ao coeficiente angular da reta r (ver figura). Tal conceito é chamado de derivada de f
no ponto a.

Figure 24: Retas secantes se aproximando de r.

Definição 5.1. Dizemos que uma função f é diferenciável no ponto a, se o seguinte limite existe:
f (x) − f (a)
lim
x→a x−a
Nesse caso, tal limite será chamado “derivada de f no ponto a” e será denotado por f 0 (a).

55
Observação: Fazendo a mudança de variável y = a + h, temos que x → a ⇔ h → 0, nesse caso a derivada
também pode ser enunciada como o limite
f (a + h) − f (a)
f 0 (a) = lim
x→h h
Definição 5.2. A reta tangente ao gráfico da função f no ponto (a, f (a)) é a reta que que passa pelo ponto
(a, f (a)) e que possui coeficiente angular f 0 (a).

Exemplo 5.1. Encontre uma equação da reta tangente à hipérbole y = x2 no ponto (2, 1).
Resolução:
Precisamos primeiramente encontrar derivada f 0 (2). Aplicando a definição encontramos:
f (2 + h) − f (2)
f 0 (2) = lim
h→0 h
2 2

= lim 2+h 2
h→0 h
2
−1
= lim 2+h
h→0 h
−h
2+h
= lim
h
h→0
−1
= lim
h→0 2 + h
1
= −
2
Dessa forma, a reta tangente é dada por y = − 12 (x − 2) + 1.

Exemplo 5.2. Encontre a derivada da função constante f (x) = c num ponto a.


Resolução:
f 0 (a) = lim f (a+h)−f
h
(a)
= lim c−c
h = lim 0 = 0.
h→0 h→0 h→0

Exemplo 5.3. Encontre a derivada da função f (x) = x2 no ponto a.


Resolução:

f (a + h) − f (a)
f 0 (a) = lim
h→0 h
(a + h)2 − a2
= lim
h→0 h
a2 + 2ah + h2 − a2
= lim
h→0 h
2ah + h 2
= lim
h→0 h
= lim 2a + h
h→0
= 2a

56
Exemplo 5.4. Encontre derivada da função g(x) = sen(x) no ponto a.
Resolução:

g(a + h) − g(a)
g 0 (a) = lim
h→0 h
sen(a + h) − sen(a)
= lim
h→0 h
sen(a)cos(h) + sen(h)cos(a) − sen(a)
= lim
h→0 h
(cos(h) − 1)sen(a) + sen(h)cos(a)
= lim
h→0 h
(cos(h) − 1)sen(a) sen(h)cos(a)
= lim + lim
h→0 h h→0 h
(cos(h) − 1)sen(a) (cos(h) + 1) sen(h)cos(a)
 
= lim + lim
h→0 h (cos(h) + 1) h→0 h
(cos (h) − 1)sen(a)
2 sen(h)cos(a)
= lim + lim
h→0 h(cos(h) + 1) h→0 h
sen2 (h)sen(a) sen(h)cos(a)
= lim + lim
h→0 h(cos(h) + 1) h→0 h
sen2 (h) 1
!
sen(h)

= sen(a) lim lim + cos(a) lim
h→0 h h→0 (cos(h) + 1) h→0 h
sen2 (h) 1
!
sen(h)

= sen(a) lim h lim + cos(a) lim
h→0 h2 h→0 (cos(h) + 1) h→0 h
sen2 (h) 1
!
sen(h)
  
= sen(a) lim h lim lim + cos(a) lim
h→0 h→0 h2 h→0 (cos(h) + 1) h→0 h
1
= sen(a) · 0 · 1 · + cos(a) · 1
2
= cos(a)

Exemplo 5.5. Procedendo como no exemplo anterior, temos (cos(x))0 = −sen(x).

Definição 5.3. Suponha que I seja um intervalo aberto e considere f : I → R. Dizemos que f é diferenciável
em I, se f for diferenciável em todo ponto x ∈ I. Nesse caso, podemos definir a função derivada por:

f (x + h) − f (x)
f 0 (x) = lim
h→0 h
Exemplo 5.6. As funções definidas nos exemplos 5.1 e 5.3 são deriváveis em R, em cada um dos casos suas
funções derivadas são dadas por f 0 (x) = 2x e g 0 (x) = cos(x).

Observação: Algumas notações alternativas para a derivada amplamente utilizadas são: f 0 (x), y 0 , Df (x),
2)
df
Dx f (x) e dx dy
(ou dx ). Nesse caso, poderíamos denotar derivada da função f (x) = x2 por (x2 )0 , Dx (x2 ) e d(x
dx .
dy
A notação dx é chamada “notação de Leibniz”.

57
Exemplo 5.7. Determine os pontos onde a função f (x) = |x| é diferenciável.
Resolução:
Para pontos x < 0, temos que f (x) = −x, logo:
df f (x + h) − f (x)
= lim
dx h→0 h
−(x + h) − x
= lim
h→0 h
−h
= lim
h→0 h
= lim − 1
h→0
= −1

Para pontos x > 0, temos que f (x) = x, logo:


df f (x + h) − f (x)
= lim
dx h→0 h
(x + h) − x
= lim
h→0 h
h
= lim
h→0 h
= lim 1
h→0
= 1

d d
Concluímos que f (x) = 1 se x > 0 e f (x) = −1 se x < 1. Por fim, vamos mostrar que f não é difer-
dx dx
f (0 + h) − f (0)
enciável no ponto x = 0. Procedendo como nas contas acima, temos lim = −1, enquanto que
h→0 − h
f (0 + h) − f (0) f (0 + h) − f (0)
lim = 1, o que mostra que lim não existe.
h→0+ h h→0 h

Observação: Para que uma função seja derivável no ponto a, seu gráfico não pode ter “pontas”, “quinas” ou
“bicos” no ponto (a, f (a)). Repare que o gráfico da função f (x) = |x| possui um “bico” no ponto (0, 0), sendo
dessa forma 0 o único ponto em que essa função não é derivável.

Figure 25: Gráfico de f (x) = |x|.

58
Teorema 5.4. Seja f : I → R uma função derivável no ponto a, então f é contínua em a.

Proof.
x−a
 
lim f (x) − f (a) = lim f (x) − f (a)
x→a x→a x−a
f (x) − f (a)
= lim (x − a)
x→a x−a
f (x) − f (a)
= lim lim (x − a)
x→a x−a x→a
= f 0 (a) · 0
= 0

Ou seja, lim f (x) − f (a) = 0 o que equivale a lim f (x) = f (a).


x→a x→a

5.2 Regras de derivação


Na seção anterior, vimos que a derivada é um tipo especial de limite. Entranto, realizar o cálculo de algumas
derivadas pode se tornar um trabalho muito extenso. Nessa seção, introduziremos algumas fórmulas para o
cálculo de derivadas que servirão pra agilizar as contas, assim como fórmulas para derivadas de funções que são
muito comuns.

Teorema 5.5. Sejam f e g funções diferenciáveis no ponto x, então:

(a) (f + g)0 (x) = f 0 (x) + g 0 (x).

(b) (f − g)0 (x) = f 0 (x) − g 0 (x).

(c) (f · g)0 (x) = f 0 (x) · g(x) + f (x) · g 0 (x).


 0
f f 0 (x) · g(x) − f (x) · g 0 (x)
(d) (x) = , desde que g(x) 6= 0.
g g 2 (x)
(e) (c · f (x))0 = c(f (x))0 , para qualquer constante c ∈ R.

Proof. (a)

(f + g)(x + h) − (f + g)(x)
(f + g)0 (x) = lim
h→0 h
f (x + h) + g(x + h) − f (x) − g(x)
= lim
h→0 h
f (x + h) − f (x) + g(x + h) − g(x)
= lim
h→0 h
f (x + h) − f (x) +g(x + h) − g(x)
= lim + lim
h→0 h h→0 h
= f 0 (x) + g 0 (x)

(b) Análogo ao anterior.

59
(c)

(f · g)(x + h) − (f · g)(x)
(f · g)0 (x) = lim
h→0 h
f (x + h)g(x + h) − f (x)g(x)
= lim
h→0 h
f (x + h)g(x + h) − f (x)g(x + h) + f (x)g(x + h) − f (x) · g(x)
= lim
h→0 h
f (x + h)g(x + h) − f (x)g(x + h) f (x)g(x + h) − f (x) · g(x)
= lim + lim
h→0 h h→0 h
f (x + h)g(x + h) − f (x)g(x + h) f (x)g(x + h) − f (x) · g(x)
= lim · + lim
h→0 h h→0 h
(f (x + h) − f (x))g(x + h) (g(x + h) − f (x))f (x)
= lim + lim
h→0 h h→0 h
f (x + h) − f (x) g(x + h) − g(x)
= lim · lim g(x + h) + f (x) lim
h→0 h h→0 h→0 h
0 0
= f (x)g(x) + f (x)g (x)

(d)
f
 0
f g (x + h) − fg (x)
(x) = lim
g h→0 h
f (x+h) f (x)
g(x+h) − g(x)
= lim
h→0 h
f (x+h)g(x)−g(x+h)f (x)
g(x+h)g(x)
= lim
h→0 h
f (x+h)g(x)−f (x)g(x)+f (x)g(x)−g(x+h)f (x)
g(x+h)g(x)
= lim
h→0 h
(f (x+h)−f (x))g(x)+f (x)(g(x)−g(x+h))
g(x+h)g(x)
= lim
h→0 h
(f (x+h)−f (x))g(x)
( −f (x)(g(x)+g(x+h))
= lim h
− lim h
h→0 g(x + h)g(x) h→0 g(x + h)g(x)
g(x) lim f (x+h)−f
h
(x)
f (x) lim g(x+h)−f
h
(x)
h→0 h→0
= −
lim g(x + h)g(x) lim g(x + h)g(x)
h→0 h→0
g(x)f 0 (x) − f (x)g 0 (x)
=
g(x)g(x)
f 0 (x)g(x) − f (x)g 0 (x)
=
(g(x))2

60
(e) Aplicando o item (d), temos:

(c · f )0 (x) = (cf (x))0


= c0 · f (x) + c(f (x))0
= 0.f (x) + cf 0 (x)
= cf 0 (x)

O teorema anterior afirma que a soma, diferença, produto e divisão de duas funções diferenciáveis é uma
função diferenciável. É importante observar que a derivada do produto de duas funções não coincide com o
produto das derivadas de cada função, o mesmo vale para a divisão.

Exemplo
  5.8. Seja f (x) = x2 e g(x) = sen(x). Calcule as seguintes funções derivadas: (f + g)(x), (f · g)(x)
f
e g (x).
Resolução: Usando o resultado dos exemplos 5.1 e 5.3 junto com o teorema 5.5, obtemos:

• (f + g)0 (x) = f 0 (x) + g 0 (x) = (x2 )0 + (sen(x))0 = 2x + cos(x).

• (f · g)0 (x) = f 0 (x) · g(x) + f (x) · g 0 (x) = (x2 )0 sen(x) + x2 (sen(x))0 = 2xsen(x) + x2 cos(x).
 0
f f 0 (x) · g(x) − f (x) · g 0 (x) (x2 )0 sen(x) − x2 (sen(x))0 2xsen(x) − x2 cos(x)
• (x) = = =
g f 2 (x) (x2 )2 x4

Exemplo 5.9. Usando o teorema anterior, vamos determinar a derivada das funções tg(x), cotg(x), sec(x) e
cossec(x).

cos(x) 0
 
(cotg(x))0 =
sen(x) 0 sen(x)
 
(tg(x))0 = (cos(x))0 sen(x) − cos(x)(sen(x))0
cos(x) =
(sen(x))0 cos(x) − sen(x)(cos(x))0 sen2 (x)
= −sen(x)sen(x) − cos(x)cos(x)
cos2 (x) =
cos(x)cos(x) − sen(x)(−sen(x)) sen2 (x)
= −1
cos2 (x) =
1 sen2 (x)
=
cos2 (x)) = −cossec2 (x)
= sec2 (x)

61
1 0
 
0
(cossec(x)) =

1
 0 sen(x)
0
(sec(x)) = 10 sen(x) − 1(sen(x))0
cos(x) =
1 cos(x) − 1(cos(x))0
0 sen2 (x)
= 0 · sen(x) − 1(cos(x))
cos2 (x) =
0 · cos(x) − 1(−sen(x)) sen2 (x)
= −cos(x) 1
cos2 (x) = ·
sen(x) 1 sen(x) sen(x)
= · = −cotg(x)cossec(x)
cos(x) cos(x)
= tg(x)sec(x)

Exemplo 5.10. Seja f (x) = xn , onde n ∈ N, então dx f (x)


d
= nxn−1 .
Resolução:

d f (x) − f (a)
f (a) = lim
dx x→a x−a
xn − an
= lim
x→a x − a
(x − a)(xn−1 + xn−2 a + . . . xan−2 + an−1 )
= lim
x→a x−a
= lim (x n−1
+x n−2
a + . . . xan−2 + an−1 )
x→a
= (a n−1
+ an−2 a + . . . aan−2 + an−1 )
= nan−1

Exemplo 5.11. Seja f (x) = xn , onde n ∈ Z, então dx


d
f (x) = nxn−1 .
Resolução:
O caso em que n ∈ N foi feito no exemplo anterior, de forma que basta nos restringirmos ao caso em que
n = −m com m ∈ N. Escrevendo f (x) = x−m = x1m , podemos usar regra do quociente de duas funções de forma
a obter:
1 (1)0 · xm − 1 · (xn )0
 0
=
xm (xm )2
0 · xm − mxm−1
=
x2m
−m
=
xm−1
= −mx−m−1
= nxn−1

62
Exemplo 5.12. Usando o teorema 5.5 podemos provar que (xr )0 = rxr−1 para todo r ∈ Q. Em geral, pode-se
mostrar que (xr )0 = rxr−1 para todo r ∈ R.

Exemplo 5.13 (A derivada da função exponencial). Para tentar calcular a derivada da função f (x) = ax
(a > 0), procederemos inicialmente através da definição:
ax+h − ax ax ah − ax ax (ah − 1) (ah − 1)
f 0 (x) = lim = lim = lim = ax lim
h→0 h h→0 h h→0 h h→0 h
(ah − 1)
Calculando a derivada acima no ponto x = 0, obtemos f 0 (0) = lim . Isso mostra que se a função
h→0 h
exponencial for diferenciável em x = 0, então ela será diferenciável em todos os pontos, pois f 0 (x) = ax f 0 (0).
h
A existência desse limite não será demonstrada aqui. Como f 0 (0) = lim (a h−1) representa inclinação da reta
h→0
tangente ao gráfico de f (x) = ax , podemos nos perguntar se f 0 (0) = 1 para algum a > 0? Isso motiva a definição
h
do número de Euller, como o número que satisfaz lim (e h−1) = 1. Em particular, (ex )0 = ex para todo x ∈ R.
h→0

Exemplo 5.14. Observe que o único caso em que (ax )0 = ax ocorre apenas quando a = e. Para obter a derivada
de ax no caso geral é necessário apenas fazer uma mudança de base. Gostaríamos de escrever ax = ey , para
encontrar o y que satisfaz a essa equação, fazemos ln(ax ) = ln(ey ) → xln(a) = yln(e) → xln(a) = y. Dessa
forma, ax = exln(a) e agora podemos derivar ax usando a base e, ou seja:
 0
(ax )0 = exln(a)
= (xln(a))0 exln(a)
= = ln(a)exln(a)
= ln(a)ax

5.3 Regra da cadeia


Teorema 5.6 (Regra da cadeia). Seja g uma função diferenciável x e f uma função diferenciável em g(x),
então a função composta f ◦ g é diferenciável em x e sua derivada é dada por (f ◦ g)0 (x) = f 0 (g(x))g 0 (x).

Observação: Usando a notação de Leibniz, onde y = f (x) e u = g(x), a derivada da função composta pode
dy dy du
ser escrita como = .
dx du dx

Exemplo 5.15. Se F (x) = x2 + 1, encontre F 0 (x).
Resolução: √
Precisamos escrever a função F (x) = x2 + 1 como a composição de duas outras funções cuja derivada seja

conhecida. Para isso, escrevemos f (x) = x e g(x) = x2 + 1. Observe que F (x) = f (g(x)). Derivando
separadamente cada uma dessas funções: f 0 (x) = 12 x−1/2 e g 0 (x) = 2x, aplicando a regra da cadeia, obtemos:
1 x x
F 0 (x) = f 0 (g(x))g 0 (x) = (g(x))−1/2 .2x = 2 =√ .
2 (x + 1) 1/2
x +1
2

63
Exemplo 5.16. Dada F (x) = cos(x4 ), encontre F 0 (x).
Resolução:
F (x) = f (g(x)), onde f (x) = cos(x) e g(x) = x4 . Assim, f 0 (x) = −sen(x) e g 0 (x) = 4x3 , pela regrda cadeia:

F 0 (x) = f 0 (g(x)).g 0 (x) = −sen(g(x)4x3 = −4x3 sen(x4 ).

Exemplo 5.17. Dada F (x) = cos4 (x), encontre F 0 (x). Resolução:


F (x) = f (g(x)), onde f (x) = x4 e g(x) = cos(x). Assim, f 0 (x) = 4x3 e g 0 (x) = −sen(x), pela regra da cadeia:

F 0 (x) = f 0 (g(x))g 0 (x) = 4(g(x))3 (−sen(x)) = −4cos3 (x)sen(x).

3
Exemplo 5.18. Dada F (x) = ex +2x−5 , calcule F 0 (x).
Resolução:
F (x) = f (g(x)), onde f (x) = ex e g(x) = x3 + 2x − 5. Assim, f 0 (x) = ex e g 0 (x) = 3x2 + 2, pela regra da cadeia:
3 +2x−5
F 0 (x) = f 0 (g(x))g 0 (x) = eg(x) (3x2 + 2) = (3x2 + 2)ex .

Exemplo 5.19. Nesse exercício vamos calcular derivada da função f (x) = ln(x). Sabemos que f (x) é a
inversa da função g(x) = ex , desse modo (g ◦ f )(x) = x. Derivando essa função, obtemos 1 = (g ◦ f )0 (x) =
g 0 (f (x))f 0 (x) = ef (x) (ln(x))0 = eln(x) (ln(x))0 = x(ln(x)0 e portanto (ln(x))0 = x1 .

Exemplo 5.20. Nesse exemplo, vamos calcular a derivada de f (x) = loga (x).
Um erro comum, é escrever (loga (x))0 = x1 o que decorre do fato da igualdade ser verdadeira apenas quando
a = e, ou seja, (ln(x))0 = x1 . Para derivar f (x) = loga (x) numa base qualquer, basta que aplicamos a propriedade
da mudança de base (de a para e): loga (x) = log e (x) ln(x)
loge (a) = loga (e) . Derivando:

0
ln(x)

0 0
f (x) = (loga (x)) = =
loga (e)
1/x
=
loga (e)
1
=
xloga (e)

Por fim, suponha que uma função F (x) possa ser escrita como a composição de três funções: f (x), g(x) e
h(x), ou seja F (x) = f (g(h(x))). Suponha que h é diferenciável no ponto x, g(x) é diferenciável no ponto h(x)
e f é diferenciável no ponto g(h(x)). Podemos usar regra da cadeia e calcular F 0 (x). Usando a notação de
dy dy dx dy du dx
Leibniz, podemos escrever y = f (u), u = g(x) e x = g(t). Dessa maneira, = = . Na notação
dt dx dt du dx dt
convencional, teríamos F 0 (x) = f 0 (g(h(x))).g 0 (h(x)).h0 (x).

Exemplo 5.21. Dada F (x) = Ln(cos(x2 + ex )), encontre F 0 (x).


Resolução:

64
F (x) = f (g(h(x))), onde f (x) = ln(x), g(x) = cos(x) e h(x) = x2 + ex . Dessa forma, f 0 (x) = x,
1
g 0 (x) =
−sen(x) e h0 (x) = 2x + ex . Pela regra da cadeia, temos:

F 0 (x) = f 0 (g(h(x))).g 0 (h(x)).h0 (x)


= f 0 (g(x2 + ex ))g 0 (x2 + ex )(2x + ex )
= f 0 (cos(x2 + ex ))(−sen(x2 + ex ))(2x + ex )
−(2x + ex )sen(x2 + ex )
=
cos(x2 + ex )

65
5.4 Derivação implícita
Até o momento, as funções que foram consideradas até aqui são aplicações definidas explicitamente. Isso
significa que o valor de f (x) é dado de maneira explícita como função de x, como por exemplo f (x) = x2
ou g(x) = cos(x). Entretanto, existem funções que podem também (ou exclusivamente) ser definidas em
função de uma equação. Para isso considere seguinte equação: x2 + y 2 = 1. Ela define funções de maneira
implícita,
√ ou seja, funções f√(x) para o qual x + (f (x)) = 1. Nesse caso, tais funções pode ser tomadas como
2 2

f (x) = 1 − x2 e g(x) = − 1 − x2 . Para este exemplo √ específico, tais funções podem ser encontradas isolando
o termo y: x2 + y 2 = 1 ⇒ y 2 = 1 − x2 ⇒ y = ± 1 − x2 . Acontece entretanto, que para muitas funções
definidas explicitamente, não é possível encontrar uma expressão explícita em função de x, como é o caso da
equação x2 y + ey = 2. Para este caso, existe uma função f (x) que satisfaz x2 f (x) + ef (x) = 2 mas não é possível
exibir explicitamente sua expressão como função de x. Por outro lado, mesmo que não possamos encontrar
uma expressão para f num ponto x, é possível encontrar f 0 (x) (mesmo não conhecendo a expressão de f ), tal
resultado é conhecido como teorema da função implícita.
Teorema 5.7. Suponha que f (x) seja dada implicitamente pela equação F (x, y), então derivada de f (x) no
dF
dy
ponto x é dada por = − dF
dx
dx dy

Exemplo 5.22. Para entender o teorema anterior, consideramos como exemplo a função definida implicita-
mente pela
√ equação x +y =√1 tal que y(0) = 1. Como a equação x +y = 1 define
2 2 2 2
√ duas funções implicitamente,
f (x) = 1 − x2 e g(x) = − 1 − x2 , a condição y(0) = 1 nos diz que f (x) = 1 − x2 é a função definida im-
plicitamente que satisfaz a condição y(0) = 1 (pois f (0) = 1). Podemos derivar essa função de duas maneiras:
(I) usando diretamente a regra da cadeia, ou (II) usando derivação implícita. Procedendo da segunda forma,
sabendo que f (x) é definida implicitamente pela equação x2 + y 2 = 1, temos x2 + (f (x))2 = 1, derivando:
2x + 2(f (x))f 0 (x) = 0, ou seja, f 0 (x) = − f (x)
x
. Caso queiramos calcular derivada no ponto y(0) = 1, bastaria
substituir x = 0 e f (0) = 1 na fórmula, obtendo f 0 (0) = 0. Também é muito comum usar a notação y ao invés
de f (x), nesse caso, utilizando a notação de Leibniz, teríamos:
d(x2 ) d(y 2 ) d(1) dy dy x
x2 + y 2 = 1 ⇒ + = ⇒ 2x + 2y =0⇒ =− .
dx dx dx dx dx y
Exemplo 5.23. Encontre y 0 (1), onde y é implicitamente pela equação x2 y + ey = 1, onde y(1) = 0.
Resolução:
Derivando implicitamente, temos:
d(x2 y + ey ) d(0) d(x2 y) d(ey ) d(x2 ) d(ey ) dy
= ⇒ + =0⇒ y + x2 = 0 ⇒ 2xy + x2 ey =0
dx dx dx dx dx dx dx
dy dy
Substituindo y(1) = 0, obtemos 2(1) · 0 + 12 e0 = 0 e portanto: = 0.
dx dx
Exemplo 5.24. Encontre a reta tangente ao gráfico da função definida implicitamente pela equação x3 + y 3 =
6xy no ponto (3, 3).
Resolução:
6y − 3x2
Derivando implicitamente, temos: 3x2 + 3y 2 y 0 = 6y + 6xy 0 o que fornece y 0 = , substituindo as
3y 2 − 6x
6.3 − 3.32 −9
coordenadas (3, 3): y 0 (3) = = = −1. Dessa forma, a equação da reta tangente é dada por
3.32 − 6(3) 9
y = −1(x − 3) + 3.

66
Como aplicação da derivação implícita, podemos calcular as derivadas das funções trigonométricas inversas.

Exemplo 5.25. Calcular (sen−1 (x))0 .


Resolução:
π π
 
Vamos lembrar que y = sen−1 (x) é o arco y ∈ − , para o qual sen(y) = x. Como y é função de x, derivando
2 2
1 q
implicitamente obtemos y 0 cos(y) = 1, ou seja, y 0 = . Usando a igualdade cos(y) = 1 − sen2 (y) e o fato
cos(y)
p 1
sen(y) = x, concluímos que cos(y) = 1 − x2 . Portanto: y 0 = √ .
1 − x2

Exemplo 5.26. Calcular (cos−1 (x))0 .


Resolução:
Vamos lembrar que y = cos−1 (x) é o arco y ∈ [0, π] para o qual cos(y) = x. Como y é função de x, derivando
−1 q
implicitamente obtemos y 0 (−sen(y)) = 1, ou seja, y 0 = . Usando a igualdade sen(y) = 1 − cos2 (y) e o
sen(y)
p −1
fato cos(y) = x, concluímos que sen(y) = 1 − x2 . Portanto: y 0 = √ .
1 − x2

Exemplo 5.27. Calcular (tg −1 (x))0 . Resolução:


π π
 
Vamos lembrar que y = tg −1 (x) é o arco y ∈ − , para o qual tg(y) = x. Como y é função de x, derivando
2 2
1
implicitamente obtemos y 0 (sec2 (y)) = 1, ou seja, y 0 = . Usando a identidade sec2 (y) = 1 + tg 2 (y) e o
sec2 (y)
1
fato tg(y) = x, obtemos sec2 (y) = 1 + x2 . Concluímos dessa forma que y 0 = .
1 + x2

Exemplo 5.28. Calcular (sec−1 (x))0 .


Resolução:
Vamos lembrar que y = sec−1 (x) é o arco y ∈ [0, π] \ {π/2} para o qual sec(y) = x, derivando implicitamente:
1
sec(y)tg(y)y 0 = 1 e portanto y 0 = . Usando a identidade tg(y) = sec2 (y) − 1 e fato sec(y) = x,
p
sec(y)tg(y)
p 1
segue que tg(y) = x − 1. Portanto concluímos que y 0 = √
2 .
x x2 − 1

Exemplo 5.29. Calcular (cotg −1 (x))0 .


Resolução:
Vamos lembrar que y = cotg −1 (x) é o arco y ∈ [0, π] para o qual cotg(y) = x. Como y é função de x,
−1
derivando implicitamente obtemos y 0 (−cossec(y)cotg(y)) = 1, ou seja, y 0 = . Usando a iden-
cossec(y)cotg(y)
tidade cossec2 (y) = 1 + cotg 2 (y) e o fato cotg(y) = x, obtemos cossec2 (y) = 1 + x2 . Concluímos dessa forma
−1
que y 0 = .
x(1 + x2 )

67
Exemplo 5.30. Calcular (cossec−1 (x))0 .
π π
 
Vamos lembrar que y = cossec−1 (x)é o arco y ∈ − , \ {0} para o qual segue que cossec(y) = x, derivando
2 2
−1
esta equação, ficamos com −y 0 cossec(y)cotg(y) = 1 → y 0 = . Para obter cotg(z), usamos a
q cossec(y)cotg(y)
p
identidade cotg(y) = cossec2 (y) − 1, como cossec(y) = x segue que cotg(y) = x2 − 1. Concluímos dessa
−1
forma que y 0 = √ .
x x2 − 1

5.5 Derivadas de ordem superior


Caso uma função f seja diferenciável em um intervalo aberto I que contém um ponto a, podemos nos perguntar
se a função derivada f 0 é diferenciável no ponto a, ou seja, podemos nos perguntar sobre a existência do limite
f 0 (x) − f 0 (a)
lim . Caso esse limite exista, dizemos que f é duas vezes diferenciável e escrevemos
x→a x−a
f 0 (x) − f 0 (a)
f 00 (a) = lim
x→a x−a
f 00 (x) é chamada derivada segunda de f . Nesse caso, se f 00 for diferenciável em um intervalo aberto I que
contém um ponto a, podemos novamente nos perguntar sobre a derivada f 000 no ponto a e assim por diante.
Dessa forma, podemos considerar seguinte definição:
Definição 5.8. Dizemos que uma função f é n vezes diferenciável no ponto a, se para todo i ≤ n, os limites

f (i−1) (x) − f (i−1) (a)


f (i) (a) = lim
x→a x−a
existem, onde f (i) (a) denota a derivada de ordem i de f no ponto a.
Definição 5.9. Caso f seja n vezes diferenciável em todos os pontos do intervalo I, podemos definir a função
derivada de ordem n: f (n) : I → R.
n n dn f
Observação: A notação de Leibniz para as derivadas de ordem superior são ddxnf , dx
d
n f (x) ou ainda, dxn |x=x0
que será usada para indicar que a derivada de ordem n deve ser calculada no ponto x0 .
Exemplo 5.31. Seja f (x) = x5 + x4 + x3 + x2 + x + 1. Temos:

f 0 (x) = 5x4 + 4x3 + 3x2 + 2x + 1


f 00 (x) = 20x3 + 12x2 + 6x + 2
f (3) (x) = 60x2 + 12x + 6
f (4) (x) = 120x1 2
f (5) (x) = 120
f (6) (x) = 0
f (7) (x) = 0
..
.
f (n) (x) = 0

68
Exemplo 5.32. Calcule a derivada de todas as ordens da função f (x) = sen(x).
Resolução:

f 0 (x) = cos(x)
f 00 (x) = −sen(x)
f (3) (x) = −cos(x)
f (4) (x) = sen(x)
f (5) (x) = cos(x)
f (6) (x) = −sen(x)
f (7) (x) = −cos(x)
f (8) (x) = sen(x)
..
.

Podemos concluir que f (4n) (x) = sen(x), f (4n+1) (x) = cos(x), f (4n+2) (x) = −sen(x), f (4n+3) (x) = −cos(x).
Teorema 5.10. Se f é diferenciável no ponto a, então f é contínua no ponto a.
Definição 5.11. Dizemos que f : I → R é uma função de classe C n em I, se f possui todas as derivadas até
a ordem n em todos os pontos do intervalo I e f (n) é uma função contínua. Neste caso, dizemos que f é de
classe C n em (I), ou ainda, f ∈ C n (I). Caso f possua derivada de todas as ordens em todos os pontos do
intervalo I, diremos que f é de classe C ∞ em I, ou ainda, f ∈ C ∞ (I).
Segue do teorema anterior, que se uma função é n vezes diferenciável, então ela é de classe C n−1 .
Exemplo 5.33. As funções polinômiais, exponenciais, logarítmicas e trigonométricas são funções de classe C ∞ .
Exemplo 5.34. Vamos exibir uma função que é diferenciável mas não é de classe C 1 . Seja
(   )
x2 sen 1
se x 6= 0
f: x
0 se x = 0

f é diferenciável mas não é de classe C 1 . Para ver isso, calculamos derivada de f no ponto x = 0.

f (0 + h) − f (0)
f 0 (0) = lim
h→0 h
 
h2 sen 1
h −0
= lim
h→0 h
1
 
= lim hsen
h→0 h
= 0

Para ver que f 0 não é contínua em 0, calculamos f 0 para x 6= 0, o que dá


1 (−1) 1 1 1
       
f 0 (x) = 2xsen + x2 · 2
cos = 2xsen − cos
x x x x x

69
1
Por fim, vimos anteriormente, que se x → 0 por pontos da forma xk = , f 0 (xk ) = 0, enquanto que
π/2 + 2kπ
1
se x → 0 por pontos da forma xk = , f 0 (xk ) = −1, o que mostrar que lim f 0 (x) não existe.
2kπ x→0

Exemplo 5.35. Procedendo analogamente ao exemplo anterior, conluímos que


(   )
x2n sen 1
se x 6= 0
f: x
0 se x = 0

é n − 1 diferenciável mas não é de classe C n−1 em R.

70
6 Aplicações da derivada
6.1 Máximos e mínimos de funções
Definição 6.1. Seja f : X → R e c ∈ X. Dizemos que f possui ponto de máximo global em c, se f (x) ≤ f (c)
para todo x ∈ X, nesse caso f (c) é chamado valor máximo global. Dizemos que f possui ponto de mínimo global
em c, se f (x) ≥ f (c) para todo x ∈ X, nesse caso f (c) é chamado valor mínimo global.
Definição 6.2. Seja f : X → R e c ∈ X. Dizemos que f possui ponto de máximo local em c, se existe um
intervalo I contendo c de modo que f (x) ≤ f (c) para todo x ∈ X ∩ I, nesse caso f (c) é chamado valor máximo
local. Dizemos que f possui ponto de mínimo local em c, se f (x) ≥ f (c) para todo x ∈ X ∩ I, nesse caso f (c)
é chamado valor mínimo local.
Observação: Todo ponto de máximo/mínimo global é também ponto de máximo/mínimo local.
Exemplo 6.1. Neste exemplo, f possui pontos máximos em c2 , c4 e c6 , sendo c6 o ponto de máximo global.
Temos também que f possui pontos de mínimo em c1 , c3 , c5 e c7 , sendo que c5 o ponto de mínimo global. f (c2 ),
f (c4 ) são os valores máximos locais e f (c6 ) valor máximo global. f (c1 ), f (c3 ) são os valores mínimos locais e
f (c5 ) valor mínimo global.

Figure 26: Pontos de máximo e mínimo

Exemplo 6.2. Na função f (x) = sen(x), todos os pontos de mínimo e de máximo são globais. Todo ponto da
forma π2 + 2kπ é de máximo global enquanto que todo ponto da forma 3π
2 + 2kπ é de mínimo global, onde k ∈ Z.

Exemplo 6.3. As funções f (x) = ex , g(x) = x3 e h(x) = 2x + 2 não possuem pontos de máximos nem de
mínimo.

71
Definição 6.3. Dizemos que uma função f : I → R é crescente, se x < y implicar em f (x) < f (y). Dizemos
que f é decrescente, se x > y implicar f (x) < f (y).
Exemplo 6.4. f (x) = ax + b, g(x) = loga (x) e h(x) = ax são exemplos de funções crescentes quando a > 0 e
decrescentes quando a < 0. A função f (x) = x2 não é crescente nem decrescente, pois f (−1) < f (0) < f (1),
mais geralmente, temos se uma função não for injetora, então não pode ser crescente ou decrescente.
Observação: Se f : X → R possui ponto de máximo local em c, então existe algum intervalo I = (c − δ, c + δ)
para o qual f é crescente quando x ∈ (c − δ, c) ∩ X e decrescente quando x ∈ (c, c + δ) ∩ X. Equivalentemente,
se c é um ponto de mínimo local de f , existe algum intervalo I = (c − δ, c + δ) para o qual f é decrescente
quando x ∈ (c − δ, c) ∩ X e crescente quando x ∈ (c, c + δ) ∩ X (ver figura 6.1).
Exemplo 6.5. A função abaixo possui somente ponto de mínimo e máximo locais.

Figure 27: Função com apenas ponto de mínimo e máximo locais

O exemplos anteriores, mostram que não é necessário que uma função possua pontos de máximo ou mínimo,
e mesmo que os possua, não necessariamente algum ponto mínimo ou máximo deve ser global. O próximo
teorema oferece condições para a existência de pontos de mínimo e máximos globais.
Teorema 6.4. Se f : [a, b] → R for contínua no intervalo fechado [a, b], então f possui pontos de máximo e de
mínimo globais.
Observação: Se f : [a, b] → R for uma função contínua, onde a, b ∈ R, então a e b são pontos de máximo ou
de mínimo local, ou seja, os extremos do intervalo onde uma função contínuma está definida sempre são pontos
de máximo ou de mínimo local.
Teorema 6.5. Suponha que f : [a, b] → R possua possua algum ponto de mínimo ou de máximo em c, tal que
c não está no extremo do intervalo [a, b]. Se f 0 (x) existir, então f 0 (c) = 0.
Uma explicação geométrica para o teorema 6.5 é que se c for um ponto de mínimo, f decresce até x chegar
em c, de forma que a reta tangente a f também decresce. Para valores de x maiores que c, f é crescente,
de forma que a reta tangente a f também cresce. Desse modo, a reta tangente a f no ponto c deve possuir
inclinação nula.

72
Exemplo 6.6. Algumas funções possuem pontos de mínimo ou máximo para o qual a derivada não está definida,
como f (x) = |x|. Essa função possui um ponto de mínimo em x = 0 mas f 0 (0) não existe.

Definição 6.6. Dizemos que c é um ponto crítico de uma função f se f 0 (c) = 0.


x2 + 1
Exemplo 6.7. Encontre os pontos críticos da função f (x) = .
x
Resolução:
Os pontos críticos de f são aqueles para o qual a derivada se anula. Calculando f 0 , temos:

(x2 + 1)0 x − (x2 + 1)(x)0


f 0 (x) =
x2
2x · x − x − 1
2
=
x2
2x − x2 − 1
2
=
x2
x −1
2
=
x2
x2 − 1
Desta forma, f 0 (0) = 0 ⇔ = 0 ⇔ x = ±1, logo os pontos críticos de f são ±1.
x2
Exemplo 6.8. Não é verdade que se f 0 (c) = 0 então c é ponto de máximo ou mínimo. Para isso, basta
considerar f (x) = x3 . f 0 (0) = 0 mas f é sempre crescente e portanto não possui ponto de máximo nem de
mínimo.

Figure 28: Função com derivada 0 no ponto 0 que não é de máximo ou mínimo.

73
Exemplo 6.9 (Determinando se uma função possui máximo ou mínimo fora do conjunto dos pontos críticos).
Sabemos que os candidatos a pontos de máximo ou mínimmo que estão no interior do intervalo que define o
domínio da função f são necessariamente os pontos críticos. Entretanto, existe situações em que uma função
possui ponto de máximo ou mínimo que não é ponto crítico, esses casos acontecem somente quando esses
pontos estão nas extremidades do intervalo que define o domínio da função. Suponha que tenhamos uma função
f : I → R, onde o domínio I seja um intervalo da forma [a, +∞), (−∞, b] ou [a, b], então f possuirá um ponto
de máximo ou mínimo em a ou b. Considere o caso em que o domínio de f é o intervalo [a, +∞), caso f 0 (x)
seja positiva em algum intervalo (a, a + δ), então a será ponto de mínimo, caso f 0 (x) seja negativa em algum
intervalo (a, a + δ), então a será ponto de máximo. Para o caso em que o domínio de f é o intervalo [−∞, b],
f 0 (x) seja positiva em algum intervalo (b − δ, b], então b será ponto de máximo, caso f 0 (x) seja negativa em
algum intervalo (b − δ, b], então b será ponto de mínimo. Caso I não tenha extremos (caso em que I = R) ou
caso os extremos não estejam no domínio (caso em que I = (a, +∞) ou I = (−∞, b)), f só terá máximo ou
mínimo caso possua ponto crítico.

Exemplo 6.10 (Determinando se uma função possui máximo ou mínimo globais). Após encontrar os pontos de
máximo e/ou mínimo, podemos avaliar se algum deles é ou não máximo e/ou mínimo global. O primeiro caso
ocorre quando f : [a, b] → R, ou seja, quando o domínio da função é o intervalo fechado e limitado [a, b]. Nesse
caso, basta calcular todos os valores de máximo locais, o maior deles será o valor máximo global e seu ponto de
máximo será global. Fazemos o mesmo para os valores de mínimo, o menor dele será o valor de mínimo global
e seu ponto de mínimo será global (ver figura 6.1).
Para o caso em que o domínio de f é o conjunto dos números reais, uma primeira ferramenta é calcular os
limites lim f (x) e lim f (x), caso algum desses limites seja +∞, então f não pode possuir ponto de máximo
x→+∞ x→−∞
global, apenas local. Se no entanto lim f (x) ou lim f (x) for −∞, f não pode possuir ponto de mínimo
x→+∞ x→−∞
global, apenas local (ver figura 6.5). Caso lim f (x) = L e lim f (x) = M , basta comparar os maior valor
x→+∞ x→−∞
de máximo loca obtido com L e M , caso o maior valor de máximo local seja maior que L e M , então f possui
ponto de máximo global. Para saber se f possui ponto de mínimo global fazemos o mesmo, comparamos o menor
valor de mínimo local com L e M , caso ele seja menor, então f possui ponto de mínimo global.
Observação: lembre-se que um valor mínimo de uma função é a função calculada num ponto de
mínimo. Da mesma forma, um valor mínimo de uma função é a função calculada num ponto
de mínimo.

6.2 O teorema do valor médio


Teorema 6.7. Seja f : [a, b] → R uma função contínua no intervalo [a, b] e diferenciável no intervalo (a, b).
Então existe um ponto c ∈ (a, b) tal que
f (b) − f (a)
f 0 (c) =
b−a
Geometricamente, o teorema do valor médio nos diz que existe uma reta s tangente ao gráfico de f no ponto
(c, f (c)) que é paralela a reta secante r que liga os pontos (a, f (a)) e (b, f (b)).

74
Figure 29: Reta secante r paralela a reta tangente s.

Como aplicações do teorema do valor médio, temos os seguintes resultados:


Teorema 6.8. Suponha que f : I → R seja uma função diferenciável para o qual f 0 (x) = 0 para todo x ∈ I,
então f é constante.
Proof. Tome x, y ∈ I, pelo teorema do valor médio, existe c ∈ (x, y) para o qual f 0 (c) = f (y)−f
y−x
(x)
, como
f 0 (c) = 0, segue que f (y) − f (x) = 0(y − x) = 0, ou seja, f (x) = f (y) para qualquer x, y ∈ I, isto é, f é
constante.

Teorema 6.9. Suponha que f : I → R seja uma função diferenciável para o qual f 0 (x) > 0 para todo x ∈ I,
então f é crescente.
Proof. Tome x, y ∈ I, pelo teorema do valor médio, existe c ∈ (x, y) para o qual f 0 (c) = f (y)−f
y−x
(x)
, ou seja,
f (y) − f (x) = f (c)(y − x). Como y − x > 0 e f (c) > 0, segue que f (c)(y − x) > 0 e portanto obtemos
0 0 0

f (y) − f (x) > 0 ⇒ f (y) > f (x).

Teorema 6.10. Suponha que f : I → R seja uma função diferenciável para o qual f 0 (x) < 0 para todo x ∈ I,
então f é decrescente.
Os resultados anteriores nos permitem encontrar os intervalos onde um função é crescente ou decrescente.
Exemplo 6.11. Encontre os pontos onde a função f (x) = 3x4 − 4x3 − 12x2 + 5 é crescente e decrescente.
Resolução:
Vimos anteriormente, que os pontos onde f é crescente ou decrescente podem ser determinados a partir do
estudo do sinal da derivada de f . Derivando o polinômio, temos

f 0 (x) = 12x3 − 12x2 − 24x = 12x(x2 − x − 2) = 12x(x + 1)(x − 2)

Dessa forma, f 0 (x) se apresenta como um produto de funções, o que significa que o sinal de f 0 será o sinal
resultante do produto de x, (x+1) e (x−2). Vamos analisar o sinal de cada uma dessas funções individualmente.

75
Para a função x, marcamos na reta real os valores para o qual x < 0 com o sinal de − enquanto que os valores
de x para o qual x > 0 estão marcados com o sinal de +. Fazendo o mesmo para as funções x − 2 e x + 1, segue
que a região da reta para o qual 12(x + 1)(x − 2) é positiva ou negativa é dada pela seguinte figura: Pela tabela

Figure 30: Estudo do sinal de f 0 .

acima, vemos que f 0 (x) < 0 quando x ∈ (−∞, −1) ∪ (−1, 2) e f 0 (x) > 0 quando x ∈ (−1, 0) ∪ (2, +∞)

Juntando todos os resultados até agora, concluímos que para uma função diferenciável f , vale que:

• se para algum intervalo (c − δ, c + δ), f 0 (x) < 0 para x ∈ (c − δ, c) e f 0 (x) > 0 para x ∈ (c, c + δ), então c
é um ponto de mínimo local.

• se para algum intervalo (c − δ, c + δ), f 0 (x) > 0 para x ∈ (c − δ, c) e f 0 (x) < 0 para x ∈ (c, c + δ), então c
é um ponto de máximo local.

• se f 0 (c) = 0 e f 0 não mudar de sinal no intervalo (c − δ, c + δ), então c não é ponto de máximo nem de
mínimo.

Definição 6.11. Dizemos que f é côncava para cima (ou que f tem concavidade positiva) no intervalo I, se
todas as suas retas tangentes estiverem abaixo do gráfico de f . Dizemos que f é côncava para baixo (ou que f
tem concavidade negativa) no intervalo I, se todas as suas retas tangentes estiverem acima do gráfico de f .

A derivada de uma função também nos permite identificar sua concavidade. Seja f uma função duas vezes
diferenciável no intervalo I, então:

• Se f 00 (x) > 0 para todo x ∈ I, então f é côncava para cima em I.

• Se f 00 (x) < 0 para todo x ∈ I, então f é côncava para baixo em I.

76
Figure 31: Função à esquerda possui concavidade positiva enquato que a função à direita possui concavidade
negativa.

Exemplo 6.12. Encontre a concavidade da função da f (x) = 3x4 − 4x3 − 12x2 + 5.


Resolução:
f 00 (x) = 36x2 − 24x − 24 = 12(3x2 − 2x − 2), logo a concavidade de f é dada pelos pontos onde
√ 3x − 2x − 2 √
2 >0
1 + 7 1 − 7
e 3x2 − 2x − 2 < 0. Como a parâbola 3x2 − 2x − 2 é voltada para cima e possui x1 = e x2 = ,
√ √ 3 3
1− 7 1+ 7
como raízes, seque que 3x2 − 2x − 2 > 0 sempre que x < ex> e que 3x2 − 2x − 2 < 0 sempre
3 3 √ ! √
1 7 1 + 7
!
√ √ −
que 1−3 7 < x < 1+3 7 . Portanto, f tem concavidade positiva quando x ∈ −∞, ∪ , +∞ e
3 3
√ √ !
1− 7 1+ 7
negativa quando x ∈ , .
3 3
Definição 6.12. Um ponto c é chamado ponto de inflexão para f , se f for contínua em c e f mudar sua
concavidade em c.
Observe que se f 0 (c) = 0 e f não mudar sua concavidade no intervalo (c − δ, c + δ), f possuirá um ponto de
máximo ou de mínimo em c, mais precisamente:
• se f 0 (c) = 0 e f 00 (c) > 0 então c é ponto de mínimo.
• se f 0 (c) = 0 e f 00 (c) < 0 então c é ponto de máximo.

6.3 Formas indeterminadas e regra de L’Hopital


f (x)
Suponha que queiramos calcular um limite da forma lim onde lim f (x) = lim g(x) = 0. Supondo que f e
x→a g(x) x→a x→a
g sejam contínuas em a, segue que f (a) = g(a) = 0. Suponha também que f e g sejam diferenciáveis em x = a.
Temos então que:

f (x) f (x) − f (a) f (x) − f (a) (x − a)


f (x)−f (a) lim f (x)−f
x−a
(a)
f 0 (a)
x−a x→a
lim = lim = lim = lim g(x)−g(a) = =
x→a g(x) x→a g(x) − g(a) x→a g(x) − g(a) (x − a) x→a lim g(x)−g(a) g 0 (a)
x−a x→a x−a

77
Ess relação é conhecida como “Regra de L’Hopital” e é válida num contexto ainda mais geral, cujo resultado
é dado pelo teorema:

Teorema 6.13. Suponha que f : I → R e g : I → R sejam funções de classe C 1 e que lim g 0 (x) 6= 0. Suponha
x→a
que:

(a) lim f (x) = 0 e lim g(x) = 0, ou


x→a x→a

(b) lim f (x) = ±∞ e lim g(x) = ±∞.


x→a x→a
0
Então lim fg(x)
(x)
= lim fg0 (x)
(x)
.
x→a x→a

Proof.
Observe que quando f (a), g(a), f 0 (a) e g 0 (a) estão definidos, a demonstração da regra de L’Hopital se
resume ao que foi feito no início da seção. Vamos nos concentrar então no caso em que f (a), g(a), f 0 (a)
e g 0 (a) não estão definidos. Defina as funções: fe e ge da seguinte forma: fe(x) = f (x) e ge(x) = g(x) caso
x 6= a e fe(a) = ge(a) = 0. Desse modo, f e g são restrições das funções f e g, onde lim fg(x)
(x) fe(x)
= lim e e
x→a x→a g (x)
e0
lim f (x) = lim e
f (x)
. Portanto:
x→a g(x) x→a g 0 (x)

fe(x) fe(a + h)
lim = lim
e(x)
x→a g e(a + h)
h→0 g

fe(a + h) − fe(a)
= lim
h→0 ge(a + h) − ge(a)
fe(x + h) − fe(x)
!
= lim lim
h→0 x→a ge(x + h) − ge(x)
fe(x + h) − fe(x)
!
= lim lim
x→a h→0 ge(x + h) − ge(x)
 
fe(x+h)−fe(x)
= lim lim
 h 
x→a h→0 e g (x+h)−e
g (x)
h
fe0 (x)
= lim
e0 (x)
x→a g

f 0 (x)
= lim
x→a g 0 (x)

(b)
(a) Defina u(x) = f (x)
1
e v(x) = g(x)1
, como lim u(x) = lim v(x) = 0. Procedendo como no item anterior,
x→a x→a
consideramos as funções u
e(x) e ve(x) de forma que u
e(x) = u(x) e ve(x) = v(x) para x 6= a e u
e(a) = ve(a) = 0.
Desse modo:
0
−1f 0 (x) 0
  
1
e(x)
u e0 (x)
u f (x) f 2 (x) f 0 (x) u2 (x)
lim = lim 0 = lim  0 = lim  = lim lim
e(x)
x→a v e (x)
x→a v x→a −1g 0 (x) 0 x→a g 0 (x) x→a v 2 (x)

x→a 1
g(x) g 2 (x)

78
0
Escrevendo lim u(x) f (x)
v(x) = L, a igualdade acima nos fornece L = L lim g 0 (x) e portanto:
2
x→a x→a

f 0 (x) 1 v(x) f (x)


lim = = lim = lim
x→a g 0 (x) L x→a u(x) x→a g(x)

Os acima são chamados indeterminações da forma 0/0 e ∞/∞.


Exemplo 6.13. No exemplo 4.10, fatoramos numerador e denominador da função f (x) = (x−2)(x−3)
(x−2)(x−5) por x − 2
de forma a acabar com a indeterminação 0/0. Vamos refazer esse exemplo utilizando a regra de L’Hopital.
x2 − 5x + 6 (x2 − 5x + 6)0
lim = lim
x→2 x2 − 7x + 10 x→2 (x2 − 7x + 10)0
2x − 5
= lim
x→2 2x − 7
−1
=
−3
1
=
3
Exemplo 6.14. O limite trigonométrico fundamental também pode ser facilmente calculado.

sen(x) (sen(x))0
lim = lim
x→0 x x→0 x0
cos(x)
= lim
x→0 1
= 1
ex
Exemplo 6.15. Calcule lim .
x→+∞ x3
Resolução:
Esse limite fornece uma indeterminação da forma ∞/∞, aplicando a regra de L’Hopital, temos
ex (ex )0 ex
lim = lim = lim
x→+∞ x3 x→+∞ (x3 )0 x→+∞ 3x2

Mesmo após aplicar a regra de L’Hopital, a indeterminação não desapareceu, como ela permanece da forma
∞/∞, aplicando a regra de L’Hopital mais uma vez:
ex (ex )0 ex
lim = lim = lim
x→+∞ x2 x→+∞ (3x2 )0 x→+∞ 6x

Verificamos que a indeterminação contínua mesmo após aplicar a regra de L’Hopital duas vezes. Sendo a
indeterminação ainda na forma ∞/∞, aplicando a regra mais uma vez, obtemos:
ex (ex )0 ex
lim = lim = lim
x→+∞ 6x x→+∞ (6x)0 x→+∞ 6

Por fim, não há mais indeterminações, calculando o limite:


ex ex
lim = lim = +∞
x→+∞ x3 x→+∞ 6

79
Exemplo 6.16. Calcule lim xln(x).
x→0+
Resolução:
Não podemos aplicar a regra de L’Hopital diretamente, pois não temos uma indeterminação da forma 0/0 ou
ln(x)
∞/∞. Por outro lado, xln(x) pode ser reescrito como 1 , observando que a indeterminação lim ln(x)
1 é da
x→0+ x
x
forma ∞/∞, podemos aplicar a regra de L’Hopital:

ln(x)
lim xln(x) = lim 1
x→+∞ x→+∞
x
(ln(x))0
= lim  0
x→+∞ 1
x
1
= lim x
x→+∞ − 12
x
x
= lim −
x→+∞ 1
= 0

Exemplo 6.17. Calcule lim xx .


x→0+
Resolução:
Não podemos aplicar a regra de L’Hopital a esse exemplo, pois a indeterminação não é da forma 0/0 ou ∞/∞.
x
Para isso, faremos um truque: como y = eln(y) (pois ln(x) é a inversa da função ex ), segue que xx = eln(x ) =
exln(x) e portanto lim xx = lim exln(x) . No exemplo anterior, mostramos que lim xln(x) = 0. Como ex é uma
x→0+ x→0 x→0+
função contínua, temos:
lim xln(x)
lim xx = lim exln(x) = ex→0+ = e0 = 1
x→0+ x→0

80
7 Integração
7.1 Introdução
Neste capítulo, abordaremos o problema do cálculo da área delimitada pelo gráfico de uma função. Inicialmente
consideraremos uma função contínua f : [a, b] → R, e desejaremos calcular a área compreendida entre o eixo x,
Z b
o gráfico de f e as retas verticais x = a e x = b. Tal área ser á denotada por f (x)dx.
a

Figure 32: Área compreendida entre o gráfico de f , o eixo x e as retas x = a e x = b.

Uma maneira de se proceder seria considerar n + 1 pontos no intervalo [a, b], a saber, x0 = a, x1 = a + b−a n ,
x2 = a + 2 n , . . . , xn = a + n n = b. Esses pontos dividem o intervalo [a, b] em subintervalos [xi , xi+1 ] de
b−a b−a

comprimento b−a n cada. Note que quanto maior for o n tomado, menor será o comprimento de cada intervalo
[xi , xi+1 ]. Tomando ci ∈ [xi , xi+1 ] e f (ci ), o retângulo de base [xi , xi+1 ] e altura f (ci ) terá área f (ci )(xi+1 − xi ),
somando a área de todos os retângulos com base [xi , xi+1 ] e altura f (ci ), temos:
n n n
f (ci )(b − a)
f (ci )(xi+1 − xi ) = f (ci ) 4 x =
X X X

i=0 i=0 i=0


n

Onde 4x = xi+1 − xi = n .
b−a
Dess forma o somatório acima fornece uma estimativa razoável para o cálculo de
Z b
f (x)dx, ou seja,
a

n n n
f (ci )(b − a)
Z b
f (x)dx ≈ f (ci )(xi+1 − xi ) = f (ci ) 4 x =
X X X
a i=0 i=0 i=0
n

n Z b
Dessa forma, podemos esperar que quando n → +∞, a soma f (ci ) 4 x convirga a f (x)dx, ou seja:
X

i=0 a

n Z b
lim f (ci ) 4 x = f (x)dx
X
n→+∞ a
i=0

A soma acima é chamada “Soma de Riemann".

81
Z b
Figure 33: Aproximando f (x)dx através da soma de áreas de retângulos.
a

Definição 7.1. Dizemos que uma função f : [a, b] → R é integrável, se para qualquer escolha x0 = a < x1 <
n
x2 < . . . < xn = b e ci ∈ [xi , xi+1 ], o limite lim f (ci ) 4 x existir e independer da escolha de pontos xi e
X
n→+∞
i=0
Z b
ci . Nesse caso, dizemos que f (x)dx é a integral definida de f de a até b.
a

O próximo resultado fornece condições para que a integral de uma função exista.

Teorema 7.2. Se f : [a, b] → R for contínua ou se possui uma quantidade finita de descontinuidades, então f
é integrável em [a, b].
Z 3
Exemplo 7.1. Vamos usar somas de Riemann para calcular x3 −6x+6dx. Dividindo o intervalo b−a = 3−0
0
em n partes iguais, segue que 4x = n.
3
Logo x0 = 0, x1 = 0 + 3
n = n,
3
x2 = 0 + 2 n3 , . . ., xi = n.
3i
Tomando
ci = xi , temos:
Z 3 n
x3 − 6x + 6dx = lim f (ci ) 4 x
X
0 n→+∞
i=0
n
3f (ci )
= lim
X
n→+∞
i=0
n
n
3 3i 3i
 3   !
= lim −6 +6
X
n→+∞
i=0
n n n
n
3 27i3 18i
!
= lim +6
X

n→+∞
i=0
n n3 n
n
81i3 54i 18
!
= lim − 2 +
X
n→+∞
i=0
n4 n n

82
n 
81 54 18
Z 3 
x − 6x + 6dx = lim i − 2i +
X
3 3
n→+∞ n 4 n n
0 i=0
n n n
81 X 54 X 18
!
= lim i+
X
3
i −
n→+∞ n4 i=0 i=0
n 2
i=0
n

n 2 n
n(n + 1) n(n + 1)

Usando as igualdades i = e i= , temos:
X X
3

i=1
2 i=1
2

n n
81 X 54 X 18n
Z 3 !
x3 − 6x + 6dx = lim 4
i3
− 2
i+
0 n→+∞ n i=0 n i=0 n
2
81 n(n + 1) 54 n(n + 1)
   !
= lim − 2 + 18
n→+∞ n4 2 n 2
81 1 1
 2   !
= lim 1+ − 27 1 + + 18
n→+∞ 4 n n
81
= − 27 + 18
4
45
=
4
Teorema 7.3. Seja f : [a, b] → R uma função integrável, valem as seguintes propriedades:
Z b Z a
(a) f (x)dx = − f (x)dx.
a b
Z a
(b) f (x)dx = 0.
a
Z b
(c) cdx = c(b − a).
a
Z b Z b Z b
(d) (f (x) + g(x))dx = f (x)dx + g(x)dx.
a a a
Z b Z b
(e) cf (x)dx = c f (x)dx.
a a
Z b Z b Z b
(f) (f (x) − g(x))dx = f (x)dx − g(x)dx.
a a a
Z b
(g) Se f ≥ 0, então f (x)dx ≥ 0.
a
Z b Z b
(h) Se f (x) ≥ g(x) então f (x)dx ≥ g(x)dx.
a a
Z b
(i) Se m < f (x) < M , então m(b − a) < f (x)dx < M (b − a).
a

83
Z c Z b Z c
(j) f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx
a a b

Observação: Quando f : [a, b] → R for uma função que assume valores negativos no intervalo [a, b], então
Z b
f (x)dx também será negativa. Geometricamente, essa integral pode ser vista como a proximação de retân-
a
gulos contidos abaixo do eixo x. A soma do valor absoluto de tais retângulos aproximam a área sob o gráfico de
f e o eixo x com a < x < b, porém com sinal negativo. Dessa forma, caso uma função assuma valores positivos
Z b
e negativos num intervalo [a, b], a integral f (x)dx não fornecerá a área entre o gráfico de f e o eixo x com
a
a < x < b. Para elucidar melhor, apresentaremos o seguinte exemplo:

Z a
Exemplo 7.2. Considere a função f (x) = x3 e a integral x3 dx. Como f (x) = −f (−x) (f é uma função
−a
ímpar), segue que o valor absoluto da área entre o gráfixo de f e o eixo x com 0 < x < a é exatamente o mesmo
da área entre o Zgráfixo de f e o eixo x com −a < x < 0.Z A diferença entre as duas áreas é dada apenas pelo
a 0
sinal, visto que x3 dx > 0 pois f (x) > 0 para x > 0 e x3 dx < 0 pois f (x) < 0 para x < 0. Concluímos
Z a0 Z 0 Z a −a

portanto que x dx =
3
x dx +
3
x dx = 0.
3
−a −a 0

Figure 34: Área de uma função ímpar num intervalo simétrico.

Generalizando o exemplo anterior, podemos concluir que se f : [−a, a] → R é uma função integrável, então:
Z a Z 0 Z a
• Se f for ímpar, f (x)dx = − f (x)dx, e portanto f (x)dx = 0.
0 −a −a
Z 0 Z a Z a Z a
• Se f for par, então f (x)dx = f (x)dx, e portanto f (x)dx = 2 f (x)dx = 0.
−a 0 −a 0

84
7.2 O teorema fundamental do cálculo
Nesta seção introduziremos o mais importante resultado sobre integrais, chamado de “Teorema fundamental
do Cálculo”. Este teorema permite estabelecer a relação entre integrais e derivadas, sendo de vital importância
para o cálculo de integrais.
Vimos através do exemplo 7.1 que o cálculo de uma integrál por meio de somas de Riemann pode ser uma
tarefa muito complicada e por vezes até impossível de ser realizada de maneira algébrica. A partir de agora,
vamos introduzir um método para cálculo de integrais que permita o cálculo de maneira muito simples.

Definição 7.4. Dizemos que uma função diferenciável F (x) é uma primitiva de f , se F 0 (x) = f (x).
x3
Exemplo 7.3. As funções −cos(x) e são primitivas para as funções sen(x) e x2 respectivamente.
3
Teorema 7.5 (Teorema fundamental do cálculo). Se f for contínua em [a, b], então a função F (x) definida
por Z x
F (x) = f (t)dt a≤x≤b
a
é contínua em [a, b], diferenciável em (a, b) e F 0 (x) = f (x), ou seja, F (x) é uma primitiva de f .
Z x
cos(t)
Exemplo 7.4. Encontre a derivada da função F (x) = dt.
2 et + 1
Resolução:
cos(x)
Pelo teorema fundamental do cálculo, F 0 (x) = .
ex + 1
Z cos(x)
Exemplo 7.5. Encontre a derivada da função F (x) = et dt.
1
Resolução:
Observe que não podemos
Z aplicar o teorema fundamental do cálculo diretamente, pois para isso F (x) deveria
x
ser da forma F (x) = et dt, o que não é o caso. Isso pode ser contornado da seguinte forma: fazendo
1Z
x Z u(x)
u(x) = cos(x) e g(x) = et dt, segue que F (x) pode ser escrita como a composição g(u(x)) = et dt.
1 1
Aplicando a regra da cadeia, obtemos: F 0 (x) = (g(u(x))0 = u0 (x)g 0 (u(x)) = −sen(x)eu(x) = −sen(x)ecos(x) .

O teorema fundamental do cálculo admite ainda uma segunda versão:

Teorema 7.6 (Teorema fundamental do Cálculo). Se f : [a, b] → R for contínua, então


Z b
f (x)dx = F (b) − F (a)
a

Onde F (x) é qualquer primitiva de f .

Exemplo 7.6. Vamos refazer o exemplo 7.1 utilizando o teorema fundamental do cálculo. Observando que

85
x4
F (x) = − 3x2 + 6x é uma primitiva para a função f (x) = x3 − 6x + 6, temos:
4
Z 3
x3 − 6x + 6dx = F (3) − F (0)
0
34 04
= − 3(3)2 + 6(3) − − 3(0)2 + 6(0)
4 4
81
= − 27 + 18
4
45
=
4
Z 5
Exemplo 7.7. Calcule ex dx.
1
Resolução: Z 5
F (x) = e é primitiva para f (x) =
x
ex , logo: ex = F (5) − f (1) = e5 − e1 = e(e4 − 1).
1

Observação: As primitivas de uma função diferem apenas por constante. Ou seja, se F (x) e G(x) são duas
primitivas para f (x), então F (x) = G(x) + c, c ∈ R. Para ver isso, observe que se F (x) e G(x) são primitivas
de f , então (F (x) − G(x))0 = F 0 (x) − G0 (x) = f (x) − f (x) = 0. Por outro lado, sabemos que toda função
cuja derivada é nula em todos os pontos deve ser a função constante, portantoRb
F (x) − G(x) = c. Além disso,
precisamos observar que uma integral definida, ou seja, a integral da forma a (x)dx é um número enquanto
f
Z x
que a integral indefinida (ou primitiva), definida por F (x) = f (t)dt é uma função.
a

Exemplo 7.8. A tabela a seguir mostra as primitivas de algumas funções:

f (x) F (x)
xn+1
xn (n 6= −1) n+1
ex ex
1
x ln|x|
cos(x) sen(x)
sen(x) −cos(x)
sec2 (x) tg(x)
−cossec2 (x) cotg(x)
sec(x)tg(x) sec(x)
−cossec(x)cotg(x) cossec(x)
b
Observação: No cálculo de uma integral definida, é muito comum denotar F (x) = F (b) − F (a), onde F (x)
a
representa a primitiva de f (x), sendo assim, podemos escrever:
Z b b
f (x)dx = F (x) = F (b) − F (a)
a a
π
π
Z π
   
2
Exemplo 7.9. sen(x)dx = −cos(x)|0 = − cos 2
− cos(0) = 1.
0 2

86
7.3 Integração por substituição
Teorema 7.7 (Método da substituição). Seja u = g(x) uma função diferenciável em I e f (x) uma função
contínua em I, então: Z Z
f (g(x))g 0 (x)dx = f (u)du

A ideia do teorema anterior é fazer uma mudança de variável na função de forma a transformar sua integral
em outra que seja conhecida.
Z
3 +x2
Exemplo 7.10. Calcule (3x2 + 2x)ex dx.
Resolução:
3 2
Não sabemos integrar ex +x , mas conhecemos a integral de ex , logo fazemos a substituição u = x3 + x2 , assim:
3 2
ex +x = eu . Por fim, derivamos u = 3x2 + 2x de forma a obter du = (3x2 + 2x)dx portanto:
Z Z
x3 +x2 3 +x2
(3x + 2x)e
2
dx = eu du = eu = ex +C
Z
Exemplo 7.11. Calcule x2 sen(x3 + 2)dx.
Resolução:
du
Escrevendo u = x3 + 2, temos du = 3x2 dx ⇒ x2 dx = . Assim:
3
sen(u) cos(u) cos(x3 + 2)
Z Z
x sen(x + 2)dx =
2 3
du = − =− +C
3 2 2

9x2 − 2
Z
Exemplo 7.12. Calcule √ dx.
3x3 − 2x + 1
Resolução:
Fazendo u = 3x3 − 2x + 1, temos du = 9x2 − 2, assim:

9x2 − 2 1 u3/2 2(3x3 − 2x + 1)


Z Z
√ dx = √ du = =
3x3 − 2x + 1 u 3/2 3
Z
Exemplo 7.13. Calcule tg(x)dx.
Resolução:
tg(x) = sen(x)
cos(x) , fazendo u = cos(x), temos du = −sen(x), dessa forma:

sen(x) −1
Z Z Z
tg(x)dx = dx = du = ln|u| = −ln|cos(x)| = ln|sec(x)| + C
cos(x) u

87
8 Aplicações da integral
8.1 Área entre curvas
Dadas duas funções f, g : [a, b] → R, podemos considerar o problema de encontrar a área delimitada pelos
gráficos das funções f e g e as retas x = a e x = b.

Figure 35: Área entre f e g.

Esta área é dada por


Z b
A= (f (x) − g(x))dx
a

Exemplo 8.1. Calcule a área da região limitada por y = ex , y = x e pelas retas x = 0 e x = 1.


Resolução:
1
x2 1 3
Z 1
A= (e − x)dx = e −
x x
= e1 − − (e0 − 0) = e −
0 2 0
2 2

Exemplo 8.2. Encontre a área delimitada pela reta y = x − 1 e pela parábola y 2 = 2x + 6.


Resolução:
O primeiro passo é encontrar a intersecção entre as duas curvas. Para isso, substituímos y = x − 1 em
y 2 = 2x + 6, de forma a obter:

(x − 1)2 = 2x + 6 ⇒ x2 − 2x + 1 − 2x − 6 = 0 ⇒ x2 − 4x − 5 = 0

As soluções da equação acima são x = −1 e x = 5, calculando o valor correspondente para y, obtermos os


pontos (−1, −2) e (5, 4). A maneira mais fácil de se realizar esse cálculo é realizar integração com respeito a
2
y. A curva y 2 = 2x + 6 pode ser dada com x em função de y, onde x = y2 − 3. Para a curva y = x − 1, basta
fazer x = y + 1. Observe que se a figura fosse “girada” em 90º, a função y = x − 1 ficaria em cima da função

88
Figure 36: Área entre y 2 = 2x + 6 e y = x − 1.

y 2 = 2x + 6 se fosse considerado o intervalo −2 < y < 4. Dessa forma, a área da região é dada por:

y2
Z 4
A = (y + 1) − ( − 3)dy
−2 2
4
y2 y3
= +y− + 3y
2 6 −2
42 43 (−2)2 (−2)3
!
= +4− + 3(4) − + (−2) − + 3(−2)
2 6 2 6
64 −8
 
= 8+4− + 12 − 2 + (−2) − −6
6 6
32 4
= 24 − − +6
3 3
= −12 + 30
= 18
π
Exemplo 8.3. Encontre a área da região delimitada pelas curvas y = sen(x), y = cos(x), x = 0 e x = ,
2
Resolução:
O gráfico da região está descrito na figura abaixo. Observe que a intersecção entre as duas curvas ocorre
quando x = π2 . No intervalo 0, π4 , a função cos(x) se encontra acima da função sen(x), de forma que


cos(x) − sen(x) > 0. No intervalo π4 , π2 , a função cos(x) se encontra abaixo da função sen(x), de forma que
cos(x) − sen(x) < 0. Dessa forma, a integral será positiva no intervalo 0, π4 e negativa no intervalo π4 , π2 .
   

89
Figure 37: Região entre cos(x) e sen(x).

Desse modo, a área será dada por:


Z π Z π
4 2
A = cos(x) − sen(x)dx + cos(x) − sen(x)dx
π
0 4
π π
4 2
= sen(x) + cos(x) + sen(x) + cos(x)
π
0 4
π π π π π π
            
= sen + cos − (sen(0) + cos(0)) + sen + cos − sen + cos
4 4 2 2 4 4
√ √ √ √ !
2 2 2 2
= + − (0 + 1) + 1 + 0 − +
2 2 2 2
√ 
= 2 2−1

9 Técnicas de integração
9.1 Integração por partes
Sejam f e g duas funções diferenciáveis, sabemos da regra do produto para derivadas, que:

(f (x)g(x))0 = f 0 (x)g(x) + f (x)g 0 (x)

E portanto:
f (x)g 0 (x) = (f (x)g(x))0 − f 0 (x)g(x)
Integrando a equação acima:
Z Z Z
f (x)g 0 (x)dx = (f (x)g(x))0 dx − f 0 (x)g(x)dx

Pelo teorema fundamental do cálculo, (f (x)g(x))0 dx = f (x)g(x), e portanto temos a fórmula:


R

Z Z
0
f (x)g (x)dx = f (x)g(x) = g(x)f 0 (x)dx

90
Tal fórmula é chamada de integral por partes. É comum escrever u = f (x), v = g(x), du = f 0 (x) e dv = g 0 (x),
o que permite reescrever a fórmula como:
Z Z
udv = uv − vdu
Z
Exemplo 9.1. Encontre xsen(x)dx.
Resolução:
Escrevendo u = x e dv = sen(x), temos que du = dx e v = −cos(x). Substituindo na fórmula da integração
por partes, temos:
Z Z
xsen(x)dx = x(−cos(x)) − −cos(x)dx
= −xcos(x) + sen(x) + C
Z
Exemplo 9.2. Calcule ln(x)dx.
Resolução:
Fazendo u = ln(x) e dv = dx, temos du = 1
x dx e v = x. Substituindo na fórmula da integração por partes,
temos:
1
Z Z
ln(x)dx = ln(x)x − x dx
Z x
= xln(x) − 1dx
= xln(x) − x + C
Z
Exemplo 9.3. Calcule ex cos(x)dx.
Resolução:
Fazendo u = ex e dv = cos(x), temos du = ex dx e v = sen(x). ubstituindo na fórmula da integração por partes,
temos:
Z Z
e cos(x) = e sen(x) −
x x
sen(x)ex dx (1)

Ainda não é possível calcular integral acima, pois não podemos calcular sen(x)ex dx diretamente. Vamos
R

aplicar integração por partes mais uma vez, desta vez à integral sen(x)ex dx, tomando u = ex , dv = sen(x)dx.
R

Assim: du = ex dx e v = −cos(x). Temos então:


Z Z Z
sen(x)e dx = e (−cos(x)) −
x x
−cos(x)e dx = −e cos(x) +
x x
ex cos(x)dx

Substituindo essa última equação em 1:


Z Z
e cos(x) = e sen(x) −
x x
sen(x)ex dx
 Z 
= ex sen(x) − −ex cos(x) + ex cos(x)dx
Z
= ex sen(x) + ex cos(x) − ex cos(x)dx

ex sen(x) + ex cos(x)
Z Z
Logo, 2 e cos(x)dx = e sen(x) + e cos(x) ⇒
x x x
ex cos(x)dx = + C.
2

91
Para integrais definidas, a integração por partes fica escrita como
Z b Z b
b
f (x)g 0 (x)dx = f (x)g(x) a − g(x)f 0 (x)dx
a a
Z π
2
Exemplo 9.4. Calcule ex cos(x)dx.
0
Resolução:
ex sen(x) + ex cos(x)
Z
Pelo exercício anterior, temos: ex cos(x)dx = , logo:
2
π π
ex sen(x) + ex cos(x) 2
Z
2
e cos(x)dx =
x
0 2 0
π π
e 2 sen 2 + e 2 cos 2
π π
e0 sen(0) + e0 cos(0)
  !
= −
2 2
π π
e 2 (1) + e 2 (0) 0+1
 
= −
2 2
π
e2 1
= −
2 2
Exemplo 9.5. Calcule arcsen(x)dx.
R

Resolução:
Faça u = arcsen(x) e dv = dx, logo du = √ 1
1−x2
dx e v = x. Aplicando integração por partes:

1
Z Z
arcsen(x)dx = x · arcsen(x) − x· √ dx
1 − x2
p
= x · arcsen(x) − 1 − x2

9.2 Integrais trigonométricas


Z
Exemplo 9.6. Calcule cos3 (x)dx.
Resolução:
cos3 (x) = cos2 (x)cos(x) = (1 − sen2 (x))cos(x) = cos(x) − cos(x)sen2 (x). Portanto:
Z Z Z Z
cos3 (x)dx = cos(x) − cos(x)sen2 (x)dx = cos(x)dx − cos(x)sen2 (x)dx

Para a integral cos(x)sen2 (x)dx, fazemos a substituição u = sen(x) e portanto du = cos(x)dx, portanto>
R

u3 sen3 (x)
Z Z
cos(x)sen (x)dx = u2 du =
2
= . Logo:
3 3

sen3 (x)
Z Z Z
cos (x)dx =
3
cos(x)dx − cos(x)sen2 (x)dx = sen(x) − +C
3

92
Z π
Exemplo 9.7. Calcule sen2 (x)dx.
0
Resolução:
1 − cos(2x)
Usando a identidade sen2 (x) = , temos:
2
1 − cos(2x) 1
Z π Z π Z π Z π
cos(2x)
sen (x)dx =
2
dx = dx − dx.
0 0 2 0 2 0 2
Para a integral cos(2x)dx, fazendo u = 2x, du = 2dx obtemos
R

cos(u) sen(u) sen(2x)


Z Z
cos(2x)dx = du = = .
2 2 2
Assim:
1
Z π Z π Z π
cos(2x)
sen2 (x)dx = dx − dx
0 0 2 0 2
x sen(2x) π
π
= +
02 4 0
sen(2(π))
= π+ −0
4
= π
Z
Exemplo 9.8. Calcule sec(x)dx.
Resolução:

(sec(x) + tg(x))
Z Z
sec(x)dx = sec(x) dx
sec(x) + tg(x)
sec2 (x) + sec(x)tg(x)
Z
=
sec(x) + tg(x)

Fazendo u = sec(x) + tg(x) temos du = (sec(x)tg(x) + sec2 (x))dx, logo:


1
Z Z
sec(x)dx = du
u
= ln|u|
= ln|sec(x) + tg(x)| + C
Z
Exemplo 9.9. Calcule sec3 (x)dx.
Resolução:
sec3 (x) = sec(x)sec2 (x). Fazendo u = sec(x) e dv = sec2 (x), temos du = sec(x)tg(x)dv e v = tg(x). Utilizando

93
integração por partes:
Z Z
sec3 (x)dx = sec(x)sec2 (x)dx
Z
= sec(x)tg(x) − tg(x)sec(x)tg(x)dx
Z
= sec(x)tg(x) − tg 2 (x)sec(x)
Z
= sec(x)tg(x) − (sec2 (x) − 1)sec(x)
Z
= sec(x)tg(x) − sec3 (x) − sec(x)dx
Z Z
= sec(x)tg(x) − sec3 (x)dx + sec(x)dx
Z
= sec(x)tg(x) − sec3 (x)dx + ln|sec(x) + tg(x)|
Z
Portanto: 2 sec3 (x)dx = sec(x)tg(x) + ln|sec(x) + tg(x)|, portanto:

sec(x)tg(x) + ln|sec(x) + tg(x)|


Z
sec3 (x)dx = +C
2

9.3 Substituição trigonométrica


Z √
9 − x2
Exemplo 9.10. Calcule dx.
x2
Resolução:
A ideia é proceder de maneira
√ semelhante ao cálculo de derivada de funções inversas. Para isso, consideramos
9−x2
alguns termos da função x2 de forma que coincidam com os lados de um triãngulo retângulo. Tomando o

triângulo retângulo de hipotenusa 3 e um dos catetos x, podemos aplicar pitágoras de forma obter 9 − x2 para
o outro cateto.

Figure 38: Relações no triângulo retângulo.



9−x2
Aplicando relações trigonométricas ao triângulo, temos que tg(θ) = x . Por outro lado, cos(θ) = x3 o que

fornece sec(θ) = x3 . Desse modo, a expressão 9−x2
x2
pode ser substituída por tg(θ)sec(θ)
3 . O objetivo é substituir a

integral dx por uma integral que dependa de tg(θ)sec(θ)
9−x2
. Para isso, precisamos fazer uma substituição de
R
x 3
variáveis a fim de que dx seja dada como função de dθ. Para isso, derivamos a expressão cos(θ) = x3 , obtendo

94
−sen(θ)dθ = 13 dx ⇒ dx = −3sen(θ)dθ. Dessa forma:
Z √
9 − x2 tg(θ)sec(θ)
Z
dx = (−3sen(θ)dθ)
x 2
Z 3
= −tg 2 (x)dθ
Z
= 1 − sec2 (θ)dθ
Z Z
= 1dθ − sec2 (θ)dθ
= θ − tg(θ) + C

x 9 − x2
 
−1
= cos − +C
3 x

√ Observação: No exercício anterior, poderíamos ter posto x como cateto oposto ao ângulo θ e portanto
9 − x2 seria o cateto adjacente a θ. Procedendo de maneira semelhante, encontraríamos como resposta
Z √   √
9 − x2 x 9 − x2
dx = −sen−1 − + C. Embora as soluções aparentem ser diferentes, essas funções são
x 2 3 x
de fato as mesmas.
x2 y 2
Exemplo 9.11. Encontre a área delimitada pela elipse 2 + 2 = 1.
a b
Resolução:
bp 2 √
Isolando y na equação da elipse, temos: y = ± a − x2 . Observe que y = ab a2 − x2 representa a “parte de
√ a
cima” da elipse, enquanto que y = − ab a2 − x2 representa a ”parte de baixo”. Dessa forma, a área delimitada

Figure 39: Elipse.

pela elipse é dada por


Z a  p Z a  p
b bp 2 b
   
A= a2 − x2 − − a − x2 dx = 2 a2 − x2 dx
−a a a −a a
√ √
Observe ainda, que as funções y = b
a a2 − x2 e y = − ab a2 − x2 são ambas pares, como o intervalo de
integração é simétrico, segue que:
Z a  p Z a p
b b
 
A=2 2 a2 − x2 dx = 4 a2 − x2 dx
0 a 0 a

95
Figure 40: Relações no triângulo retângulo.

Utilizando o triângulo retângulo como


√ referência, definimos x como cateto adjacente ao ângulo θ, usando
pitágoras o√cateto oposto a θ é a2 − x2 . Aplicando as relações trigonométricas ao triângulo, segue que
a2 − x2 x
sen(θ) = e cos(θ) = , derivando esta última: −sen(θ)dθ = a1 dx, fazendo as substituições, en-
a a
contraremos:
b
Z p Z
a2 − x2 dx = asen(θ)(−asen(θ))dθ
a Z
= −ab sen2 (θ)dθ
θ sen(2θ)
 
= −ab +
2 4
θ 2sen(θ)cos(θ)
 
= −ab +
2 4
  √ 2
1 −1 x
!
a − x2 x
= −ab cos +
2 2 2a2

Desse modo:
Z a p
b

A = 4 a2 − x2
0 a
√ a !!
1 −1 x a2 − x2 x
 
= 4 −ab cos +
2 2 2a2 0
1 −1 a p 1 −1 1 p
  
= −4ab cos (a/a) + 2 a2 − a2 − cos (0/a) + 2 a2 − 02 (0)
2 2a 2 2a
π π
 
= −4ab +0−
2 4
= abπ

3 3
x3
Z
2
Exemplo 9.12. Calcule dx.
0 (9 + 4x2 )3/2
Resolução: √
Considere o triângulo retângulo de catetos 2x e 3. Aplicando pitágoras, segue que a hipotenusa vale 4x2 + 9.
Aplicando relações trigonométricas ao retângulo, temos: sen(θ) = √9+4x
2x
2
e tg(θ) = 2x
3 . Derivando essa última

96
igualdade sec2 (θ)dθ = 32 dx. Fazendo as substituições:

x3 sen3 (θ) 3 2
Z Z
dx = sec (θ)dθ
(9 + 4x2 )3/2 8 2
3 sen3 (θ)
Z
= dθ
16 cos2 (θ)
3 sen2 (θ)sen(θ)
Z
= dθ
16 cos2 (θ)
3 (1 − cos2 (θ))sen(θ)
Z
= dθ
16 cos2 (θ)
3 sen(θ)
Z
= − sen(θ)dθ
16 cos2 (θ)
3 sen(θ) 3
Z Z
= dθ − sen(θ)dθ
16 cos2 (θ) 16
3 sen(θ) 3
Z
= dθ + cos(θ)
16 cos2 (θ) 16
R sen(θ)
Fazendo a substituição u = cos(θ) na integral cos2 (θ)
dθ, ficamos com:

sen(θ) −1
Z Z
dθ = du
cos(θ) u2
1
=
u
1
=
cos(θ)
Dessa forma:
x3 3 1 3
Z
dx = + cos(θ)
(9 + 4x2 )3/2 16 cos(θ) 16

3 9 + 4x2 3 3
= + √
16 3 16 9 + 4x2
Por fim, a integral definida ficará escrita:


3 3 √ 3 3
x3 3 9+ 4x2 3 3 2
Z
2
dx = + √
0 (9 + 4x2 )3/2 16 3 16 9 + 4x2 0
q √ √ !
3  9+ 4( 3 2 3 )2 3 9 3
= +q √ − +√ 
16 3 9 + ( 3 2 3 )2 3 9

3 36 3 3 3
 !
= +√ − +
16 3 36 3 3
3
=
32

97
Figure 41: Relações no triângulo retângulo.

9.4 Integração por frações parciais


P (x)
O objetivo dessa seção é calcular integrais de funções racionais, ou seja, funções do tipo f (x) = , onde
Q(x)
P (x) e Q(x) são polinômios. De maneira mais detalhada, queremos calcular:

an xn + an−1 xn−1 + . . . + a2 x2 + a1 x1 + a0
Z
dx
am xm + am−1 xm−1 + . . . + a2 x2 + a1 x1 + a0
Sendo n, m ∈ N.
an xn + an−1 xn−1 + . . . + a2 x2 + a1 x1 + a0
A ideia geral é escrever o quociente quando n < m, como
am xm + am−1 xm−1 + . . . + a2 x2 + a1 x1 + a0
A Ax + B
a soma de frações frações da forma ou , tal situação é chamada soma por “frações
(ax + b) i (ax + bx + c)i
2
P (x)
parciais”. Observe que quando ∂P (x) ≥ ∂Q(x), podemos dividir P (x) por Q(x), de forma a obter Q(x) =
m(x) + PQ(x)
1 (x)
, onde m(x) é um polinômio e ∂P1 < ∂Q(x). Dessa forma, vamos sempre considerar que o grau
do polinômio do numerador é menor ou igual ao grau do polinômio do denominador, pois caso contrário basta
dividir os dois polinômios.
x2 + x
Exemplo 9.13. A função racional pode ser escrita como soma de frações parciais na forma:
x3 − 2x2 + 2x − 4

x2 + x x+1 2
= 2 +
x3 − 2x2 + 2x − 4 x +2 x−2
Para descrever de maneira geral como escrever uma função racional como soma de frações parciais, vamos
considerar quatro casos.

Caso 1: Q(x) pode ser escrito como produto de fatores lineares distintos.
Lembre-mos que se α for raíz do polinômio Q(x) = am xm + . . . + a1 x + a0 , então Q(x) é divisível por
(x − α), ou seja, Q(x) = (x − α)s(x), onde s(x) é um polinômio de grau ∂Q(x) − 1. Caso Q(x) possua n
raízes distintas (digamos α1 , α2 , . . . , αn ), então Q(x) é divisível por cada fator linear (x − αi ), o que implica que
Q(x) = am (x − α1 )(x − α2 ) . . . (x − αn ). Como αi 6= αj para i 6= j, segue que Q(x) se escrever como produto
de fatores lineares distintos. Nesse caso, a função racional pode ser escrita como:

P (x) A1 A2 An
= + + ... + (2)
Q(x) x − α1 x − α2 x − αx

98
x2 + 2x − 1
Z
Exemplo 9.14. Calcule dx.
2x3 + 3x2 − 2x
Resolução:
Q(x) = 2x3 + 3x2 − 2x = x(2x2 + 3x − 2). Como as raízes de 2x2 + 3x − 2 = 0 são −2 e 1/2, temos que
Q(x) = 2x(x + 2)(x − 1/2), portanto:

x2 + 2x − 1 A1 A2 A3
= + +
2x3 + 3x2 − 2x 2x x + 2 x − 1/2
A1 (x + 2)(x − 1/2) + A2 (2x)(x − 1/2) + A3 (2x)(x + 2)
=
2x(x + 2)(x − 1/2)
A1 (x − 1/2x + 2x − 1) + A2 (2x2 − x) + A3 (2x2 + 4x)
2
=
2x(x + 2)(x − 12 )
A1 (x2 + 3x
− 1) + A2 (2x2 − x) + A3 (2x2 + 4x)
= 2
2x(x + 2)(x − 12 )
x2 (A1 + 2A2 + 2A3 ) + x(3/2A1 − A2 + 4A3 ) − A1
=
2x(x + 2)(x − 1/2)

Comparando cada coeficiente que acompanha o monômio xi no polinômio que está no numerador da fração à
esquerda, com o coeficiente que acompanha o monômio xi no polinômio que está no numerador da fração à
direita, obtemos o sistema: 
 A1 + 2A2 + 2A3
 =1
3/2A1 − A2 + 4A3 = 2
 −A = −1

1

Resolvendo o sistema, encontraremos: A1 = 1, A2 = − 10


1
e A3 = 10 .
1
A integral pode então ser reescrita como:

x2 + 2x − 1 11 1 1 1 1
Z Z
dx = − + dx
2x3 + 3x2 − 2x 2 x 10 x + 2 10 x − 1/2
1 1 1
= ln|x| − ln|x + 2| + ln|x − 1/2| + C
2 10 10
1
Z
Exemplo 9.15. Calcule dx, onde a 6= 0.
x2 − a2
Resolução:
x2 − a2 = (x + a)(x − a), escrevendo como fração parcial, temos:

1 A1 A2
= +
x2 − a2 x+a x−a
A1 (x − a) + A2 (x + a)
=
(x + a)(x − a)
x(A1 + A2 ) − A1 a + A2 a
=
(x + a)(x − a)

Comparando os coeficientes dos monômios dos numeradores das frações termo a termo, obtemos o sistema
(
A1 + A2 =0
A1 a + A2 a = 1

99
Cuja solução é A1 = − 2a
1
e A2 = 2a .
1
Isso permite reescrever a integral como

1 1 1 1 1
Z Z
dx = − + dx
x − a2
2 2a x + a 2a x − a
1 1
= − ln|x + a| + ln|x − a| + C
2a 2a
Caso 2: Q(x) pode ser escrito como produto de fatores lineares, nem todos distintos.
Vamos recordar que se α é uma raíz de multiplicidade r do polinômio Q(x), então Q(x) = (x − α)r s(x), onde
(x − α) não divide s(x) (ou ainda, s(α) 6= 0). Desse modo, ao invés de adicionar x−α
A
a equação 2, adicionamos:

A1 A2 Ar
+ + ... + (3)
x − α (x − α) 2 (x − α)r

x3 − x + 1
Exemplo 9.16. Escrever como fração parcial.
x2 (x − 1)
Resolução:
Em primeiro lugar, note que o denominador e o numerador consistem de um polinômio de grau 3, de forma que
não podemos aplicar frações parciais diretamente, precisamos primeiro fazer a divisão do polinômio x3 − x + 1
pelo polinômio x2 (x − 1) = x3 − x.

x3 − x + 1 1 1
=1+ 3 =1+ 2
x2 (x − 1) x −x x (x − 1)

Observe que o fator x aparece com multiplicidade 2 na fatoração do polinômio x2 (x − 1) enquanto que (x − 1)
aparece com multiplicidade 1. Logo:
1 A1 A2 A3
= + 2 +
x2 (x− 1) x x x−1

Portanto:
x3 − x + 1 A1 A2 A3
=1+ + 2 +
x (x − 1)
2 x x x−1
x3 − x + 1
Exemplo 9.17. Escrever como fração parcial.
x2 (x − 1)3
Resolução:
Observe que o fator x aparece com multiplicidade 2 da fatoração do polinômio x2 (x − 1), enquanto que (x − 1)3
aparece com multiplicidade 3. Logo:

x3 − x + 1 A1 A2 A3 A4 A5
= + 2 + + +
x (x − 1)
2 x x x − 1 (x − 1) 2 (x − 1)3
4x
Z
Exemplo 9.18. Calcule dx.
x3 − −x+1
x2
Resolução:
Como 1 é raíz do polinômio Q(x) = x3 − x2 − x + 1, segue que x3 − x2 − x + 1 é divisível por (x − 1), efetuando
a divisão obtemos: x3 − x2 − x + 1 = (x − 1)(x2 − 1), lembrando que x2 − 1 = (x − 1)(x + 1), segue que

100
x3 − x2 − x + 1 = (x − 1)(x − 1)(x + 1) = (x − 1)2 (x + 1). Concluímos que a multiplicidade do fator (x − 1) é
2, enquanto que a multiplicidade do fator (x + 1) é 1. Usando frações parciais:
4x A1 A2 A3
= + +
x3 − −x+1
x2 (x − 1) (x − 1) 2 x+1
A1 (x − 1)(x + 1) + A2 (x + 1) + A3 (x − 1)2
=
(x − 1)2 (x + 1)
A1 (x2 − 1) + A2 (x + 1) + A3 (x2 − 2x + 1)
=
(x − 1)2 (x + 1)
x (A1 + A3 ) + x(A2 − 2A3 ) − A1 + A2 + A3
2
=
(x − 1)2 (x + 1)

Comparando termo a termo, obtemos o sistema:




 A1 + A3 = 0
A2 − 2A3 = 4
 −A + A + A = 0

1 2 3

Cujo resultado é A1 = 1, A2 = 2 e A3 = −1. Dessa maneira, integral pode ser calculada:


4x 1 2 −1
Z Z
dx = + + dx
x −x −x+1
3 2 x − 1 (x − 1)2 x+1
2
= ln|x − 1| − − ln|x + 1| + C
x−1
Caso 3: A fatoração Q(x) contém fatores quadráticos irredutíveis e não repetidos.
Um fator quadrático irredutível de Q(x) é um polinômio ax2 + bx + c que aparece em sua fatoração e que
não possui raízes (ou seja b2 − 4ac < 0). Nesse caso, além das frações parciais descritas nas expressões 2 e 3, as
frações parciais terão um termo da forma
Ax + B
(4)
ax2 + bx + c
x
Exemplo 9.19. Escreva como soma de frações parciais.
(x − 2)(x2 + 1)(x2 + 4)
Resolução:
Em sua fatoração, o polinômio Q(x) = (x − 2)(x2 + 1)(x2 + 4) possui o fator linear (x − 2) com multiplicidade
1, e dois fatores quadráticos irredutíveis e não repetidos. Assim:
x A1 A2 x + B2 A3 x + B3
= + +
(x − 2)(x2 + 1)(x + 4)
2 x−2 (x2 + 1) (x2 + 4)
x
Exemplo 9.20. Escreva como soma de frações parciais.
(x + 1)(x − 2)3 (x2 + 1)(x2 + 4)
Resolução:
Em sua fatoração, o polinômio Q(x) = (x + 1)(x − 2)3 (x2 + 1)(x2 + 4) possui o fator linear (x + 1) com
multiplicidade 1, o fator linear (x−2) com multiplicidade 2 e dois fatores quadráticos irredutíveis e não repetidos.
Assim:
x A1 A2 x + B2 A3 x + B3 A4 A5 A6
= + + + + +
(x + 1)(x − 2)3 (x2 + 1)(x2 + 4) x+1 (x + 1)
2 (x + 4)
2 x − 2 (x − 2)2 (x − 2)3

101
2x2 − x + 4
Z
Exemplo 9.21. Calcule dx.
x3 + 4x
Resolução:
Q(x) = x3 + 4x = x(x2 + 4), como x2 + 4 é um fator quadrático irredutível e x um fator linear de multiplicidade
1, segue que:
2x2 − x + 4 A1 A2 x + B 2
= +
x3 + 4x x x2 + 4
A1 (x + 4) + (A2 x + B2 )x
2
=
x(x2 + 4)
x2 (A1 + A2 ) + xB2 + 4A1
=
x(x2 + 4)
Comparando termo a termo, obtemos o sistema:

 A1 + A2
 =2
B2 = −1
 4A

=4
1

Cujo resultado é A1 = 1, A2 = 1 e B2 = −1. Desse modo, a integral pode ser calculada:


2x2 − x + 4 1 x−1
Z Z
dx = + 2 dx
x + 4x
3 x x +4
1 x 1
Z
= + − dx
x x2 + 4 x2 + 4
ln(x2 + 4) 1
Z
= ln|x| + − dx
2 x2 + 4
1
Z p
Para a integral dx, considerando o triângulo retângulo de catetos x e 2, obtemos x2 + 4 para
+4
x2
2 x 1
hipotenusa. Dessa forma, cos(θ) = √ e tg(θ) = , derivando essa última: sec2 (θ)dθ = dx. Fazendo as
x2 + 4 2 2
substituições:
1 cos2 (θ)
Z Z
dx = 2sec2 (θ)dθ
x +4
2 4
1
Z
= dθ
2
tg 1 (x/2)
=
2
Finalmente, concluímos que:
2x2 − x + 4 ln(x2 + 4) tg 1 (x/2)
Z
dx = ln|x| + − +C
x3 + 4x 2 2
Caso 4: A fatoração Q(x) contém fatores quadráticos irredutíveis e repetidos.
Nesse caso, procedemos de maneira parecida quando Q(x) possui fatores lineares repetidos. Ou seja, quando
Q(x) possuir fatores quadráticos irredutíveis da forma (ax2 + bx + c)r , além das frações parciais descritas nas
expressões 2, 3 e 4, as frações parciais terão um termo da forma
A1 x + B 1 A2 x + B 2 A3 x + B 3 Ar x + B r
+ + + ... +
ax + bx + c (ax + bx + c)
2 2 2 (ax + bx + c )
2 3 (ax2 + bx + c)r

102
x3 + x2 + 1
Exemplo 9.22. Escreva como soma de frações parciais.
x(x − 1)(x2 + x + 1)(x2 + 1)3
Resolução:
Os fatores lineares de multiplicidade 1 de x(x − 1)(x2 + x + 1)(x2 + 1)3 são x e x − 1, enquanto que x2 + x + 1 é
um fator não linear irredutível de multiplicidade 1 e (x2 + 1)3 é um fator não linear irredutível de multiplicidade
3. Portanto:
x3 + x2 + 1 A1 A2 A3 x + B3 A4 x + B4 A5 x + B5 A6 x + B6
= + + 2 + + 2 + 2
x(x − 1)(x + x + 1)(x + 1)
2 2 3 x x−1 x +x+1 (x2 + 1) (x + 12 ) (x + 1)3

1 − x + 2x2 − x3
Z
Exemplo 9.23. Calcule dx.
x(x2 + 1)2
Resolução:

1 − x + 2x2 − x3 A1 A2 x + B2 A3 x + B3
= + + 2
x(x2 + 1)2 x (x2 + 1) (x + 1)2
A1 (x + 1) + (A2 x + B2 )x(x2 + 1) + (A3 x + B3 )x
2 2
=
x(x2 + 1)2
A1 (x4 + 2x2 + 1) + A2 x4 + A2 x2 + B2 x3 + B2 x + A3 x2 + B3 x
=
x(x2 + 1)2
x4 (A1 + A2 ) + x3 B2 + x2 (2A1 + A2 + A3 ) + x(B2 + B3 ) + A1
=
x(x2 + 1)2

Comparando termo a termo, obtermos o sistema:

A1 + A2 =0



 B2 = −1



2A + A + A3
1 2 =2
+ = −1



 B 2 B3
=1

A1

Cuja solução é A1 = 1, A2 = −1, B2 = −1, A3 = 1 e B3 = 0. Portanto, a integra pode ser escrita como:

1 − x + 2x2 − x3 1 −1x − 1 x
Z
= + 2 + 2 dx
x(x2 + 1)2 x x +1 (x + 1)2
1 x 1 x
Z
= − 2 − 2 + 2 dx
x x + 1 x + 1 (x + 1)2
ln(x2 + 1) 1
= ln|x| − − tg −1 (x) − +C
2 2(x + 1)2
2

103
10 Integrais impróprias
10.1 Definição e exemplos
Z b
Na introdução das integrais, vimos que f (x)dx representa a área contida sob o gráfico da função f (x) para
a
a < x < b. Para uma função integrável, essa área é sempre um número finito. A medida que aumentamos o
comprimento do intervalo [a, b], esperamos que a área contida sob esse gráfico também aumente, conforme é
mostrado na figura abaixo:

Rb Rc
Figure 42: Relação entre a f (x)dx e a f (x)dx para b < c.

Entretanto, para algumas funções o incremento que se obtém na área ab f (x)dx conforme aumentamos o
R

comprimento do intervalo [a, b] é tão pequeno, que a área sob o gráfico de f se mantém finita mesmo quando
integramos sobre um intervalo ilimitado (−∞, a] ou [a, +∞). Considere a função f (x) = x21+1 , o gráfico de f se
aproxima do eixo x muito rapidamente, de forma que a região limitada pelo gráfico e o eixo x tende a ser muito
pequena conforme nos restringimos somente a valores muito grandes de x. Uma função com essas propriedades
é mostrada na próxima figura.

104
Figure 43: A área sob o gráfico para pontos x > 4 é pequena.

Esses fatos nos motiva a dar a seguinte definição:

Definição 10.1 (Integral imprópria do tipo I - intervalos infinitos). Suponha que para cada t ∈ R, as integrais
Z t Z b
f (x)dx e f (x)dx existam. Uma integral imprópria é uma integral do tipo:
a t
Z +∞ Z t
(a) f (x)dx = lim f (x)dx.
a t→+∞ a
Z b Z b
(b) f (x)dx = lim f (x)dx.
−∞ t→−∞ t

Dizemos que as integrais acima são convergentes, seZos limites existem e são finitos, caso contrário dizemos
Z a +∞
que as integrais são divergentes. Caso f (x)dx e f (x)dx existam, definimos:
−∞ a
Z +∞ Z a Z +∞
(c) f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx
−∞ −∞ a

1
Z +∞
Exemplo 10.1. Determine se dx converge ou diverge.
1 x
Resolução:

1 1
Z +∞ Z t
dx = lim dx
a x t→+∞ a x
= lim ln|x||t1
t→+∞
= lim ln|t| − ln|1|
t→+∞
= lim ln|t|
t→+∞
= +∞
1
Z +∞
Portanto, integral dx diverge.
1 x

105
1
Z +∞
Exemplo 10.2. Seja r > 1, determine se dx converge ou diverge.
1 xr
Resolução:

1 1
Z +∞ Z t
dx = lim dx
1 xr t→+∞ 1 xr
t
1
= lim
t→+∞ (−r + 1)xr−1
1
1 1
= lim −
t→+∞ (−r + 1)tr−1 (−r + 1)
1 1 1
Z +∞
Como r > 1, segue que r − 1 > 0 e portanto lim = 0, sendo assim: dx = , logo
t→+∞ (−r + 1)tr−1 1 x (−r + 1)
a integral converge.
O exemplo anterior pode ser generalizado no seguinte teorema:
1
Z ∞
Teorema 10.2. Seja r ∈ R e a > 0, podemos concluir que a integral dx:
a xr
(a) Converge se r > 1.

(b) Diverge se r ≤ 1.
Proof. Vamos supor que r > 1. Então:
1 1
Z +∞ Z t
r
dx = lim dx
a x t→+∞ a xr
t
1
= lim
t→+∞ (−r + 1)xr−1
a
1 1
= lim −
t→+∞ (−r + 1)tr−1 (−r + 1)ar−1
1 1 1
Z +∞
Como r > 1, segue que r − 1 > 0 e portanto lim = 0, sendo assim: dx = , logo
t→+∞ (−r + 1)tr−1 1 x (−r + 1)
a integral converge.

Agora suponha que r < 1, então:


1 1
Z +∞ Z t
dx = lim dx
a xr t→+∞ a xr
t
1
= lim
t→+∞ (−r + 1)xr−1
a
1 1
= lim −
t→+∞ (−r + 1)tr−1 (−r + 1)ar−1
1 t−1+r
Como r < 1, segue que 0 < −1 + r, como = t−1+r , segue portanto que lim = −∞, logo a integral
tr−1 t→+∞ −r + 1
diverge.

106
Por fim, suponha que r < 1, então:
1 1
Z +∞ Z t
dx = lim dx
a x t→+∞ a x
t
= lim ln|t|
t→+∞
a
= lim ln|t| − ln|a|
t→+∞

Como lim ln|t| = +∞, seque que a integral diverge.


t→+∞

Z 0
Exemplo 10.3. Calcule xex dx.
−∞
Resolução:
O primeiro a se fazer é calcular integral indefinida. Usando integração por partes com u = x e dv = ex , temos
du = dx e v = ex , logo:
Z Z
xex dx = xex − ex dx
= xex ex
= ex (x − 1)
Aplicando a definição de integral imprópria:
Z 0 Z 0
xe dx =
x
lim xex dx
−∞ t→−∞ t
0
= lim ex (x − 1)
t→−∞
t
= lim e (0 − 1) − et (t − 1)
0
t→−∞
= −1 + lim −et (t − 1)
t→−∞
= −1 + lim −e−t (−t − 1)
t→+∞

Aplicando a regra de L’Hopital ao limite acima, concluímos que lim −e−t (−t − 1) = 0, logo a integral converge
t→+∞
Z 0
e temos xex dx = −1.
−∞
Suponha agora que f possua uma assíntota vertical xR= c, isso significa que f é ilimitada numa vizinhança
do ponto x = c, suponha a < c e que queiramos calcular ac f (x)dx.
Definição 10.3 (Integral imprópria do tipo II - integrandos descontínuos).

(a) Suponha que f : [a, b) → R seja contínua mas que f seja descontínua em b. Para todo a ≤ t < b, a integral
Z t
f (x)dx existe. Definimos:
a Z b Z t
f (x)dx = lim f (x)dx
a t→b− a
Caso o limite acima exista (como um número), dizemos que essa integral é convergente.

107
(b) Suponha que f : (a, b] → R seja contínua mas que f seja descontínua em a. Para todo a < t ≤ b, a
Z b
integral f (x)dx existe. Definimos:
t
Z b Z b
f (x)dx = lim f (x)dx
a t→a+ t

Caso o limite acima exista (como um número), dizemos que essa integral é convergente.
Rc
(c) Caso f possua uma descontinuidade em algum ponto c ∈ [a, b] e as integrais impróprias a f (x)dx e
Rb
c f (x)dx forem convergentes, então definimos:
Z b Z c Z b
f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx
a a c

1
Z 5
Exemplo 10.4. Encontre √
dx.
2 x −2
1
Observe que a função f (x) = √ não é contínua no ponto x = 2, logo esse exemplo trata-se de uma integral
x−2
imprópria. Aplicando a definição:

1 1
Z 5 Z
√ dx = lim √
2 x−2 t→2+ x−2
√ 5
= lim 2 x − 2
t→2+ t
√ √
= lim 2 5 − 2 − 2 t − 2
t→2 +
√ √
= 2 3 − lim 2 t − 2
t→2+

= 2 3
Z 1
Exemplo 10.5. Calcule ln(x)dx.
0
Observe que a função f (x) = ln(x) não é contínua no ponto x = 0, logo esse exemplo trata-se de uma integral
imprópria. Aplicando a definição:
Z 1 Z 1
ln(x)dx = lim ln(x)dx
0 t→0+ t
1
= lim xln(x) − x
t→0+ t
= lim − (1ln(1) − 1) − (tln(t) − t)
t→0+

R1
Para calcular lim tln(t), aplicamos a regra de L’Hopital, encontrando lim tln(t) = 0, portanto: 0 ln(x)dx =
t→0+ t→0+
lim (1ln(1) − 1) − (tln(t) − t) = −1, portanto a integral converge.
t→0+

108
1
Z 1
Exemplo 10.6. Calcule dx.
−1 x
1
1
Z 1
Um erro muito comum cometido, é proceder da forma: = ln|1| − ln| − 1| = 0. O erro
dx = ln|x|
x −1 −1
consiste no fato de que não podemos aplicar o teorema fundamental do cálculo diretamente a função f (x) = x1
no intervalo [−1, 1], pois a função admite uma descontinuidade no 0 ∈ [−1, 1]. Logo, tal exemplo trata-se de
uma integral imprópria. Aplicando a definição:

1 1 1
Z 1 Z 0 Z 1
dx = dx + dx
−1 x −1 x 0 x
1 1
Z t Z 1
= lim dx + lim dx
t→0− −1 x t→0+ t x

1
Z t
Para a integral lim dx, temos:
t→0− −1 x
t
1
Z t
lim dx = lim ln|x|
t→0− −1 x t→0− −1
= lim ln|t| − ln| − 1|
t→0−
= lim ln|t|
t→0−
= +∞
1 1
Z t Z 1
Portanto, a integral imprópria lim dx é divergente, o que implica portanto que dx também é diver-
t→0− −1 x −1 x
gente.
1
Z 1
Note que a integral lim dx também é divergente, uma vez que
t→0+ t x
1
1
Z 1
lim dx = lim ln|x|
t→0+ t x t→0+ t
= lim ln|1| − ln|t|
t→0+
= lim − ln|t|
t→0+
= −∞
1
Z 1
Dessa forma, poderíamos nesse caso, determinar a divergência da integral dx usando a divergência de
x −1
qualquer uma das duas integrais imprópriasZacima. Observe que é necessário que apenas uma das integrais
1 1
divirja para que se conclua a divergência de dx.
−1 x
Um cuidado a se tomar, é que se a divergência ou convergência das integrais acima não for analisada
separadamente, podemos cometer erros. Como exemplo, observe o que acontece caso calculemos a divergência
1 1
Z t Z 1
ou convergência das integrais lim dx e lim dx ao mesmo tempo:
t→0− −1 x t→0+ t x

109
1 1 1
Z 1 Z 0 Z 1
dx = dx + dx
−1 x −1 x 0 x
1 1
Z t Z 1
= lim dx + lim dx
t→0− −1 x t→0+ t x
t 1
= lim ln|x| + lim ln|x|
t→0− −1 t→0+ t

= lim ln|1| − ln|t| + lim ln|1| − ln|t|


t→0+ t→0+
= lim ln|t| + lim − ln|t|
t→0− t→0+
= lim ln|t| − ln|t|
t→0−
= lim 0
t→0+
= 0

Ou seja, calcular as integrais de forma não separada, pode levar a concluir que a integral imprópria seja con-
vergente o que nesse caso é falso.

110
11 Apêndice
Identidades trigonométricas

1 − cos(2x)
cos(x + y) = cos(x)cos(y) − sen(x)sen(y) sen2 (x) =
2
cos(x − y) = cos(x)cos(y) + sen(x)sen(y) 1 + cos(2x)
cos2 (x) =
sen(x + y) = sen(x)cos(y) + sen(y)cos(x) 2
sen(x − y) = sen(x)cos(y) − sen(y)cos(x) sec2 (x) = 1 + tg 2 (x)
tg(x) + t(y) cossec2 (x) = 1 + cotg 2 (x)
tg(x + y) =
1 − tg(x)tg(y) 1 = cos2 (x) + sen2 (x)
tg(x) − t(y) sen(x) = −sen(x)
tg(x − y) =
1 + tg(x)tg(y) cos(x) = cos(−x)
cos(2x) = cos2 (x) − sen2 (x) 
π

cos −x = sen(x)
sen(2x) = 2sen(x)cos(x) 2
2tg(x) π
 
tg(2x) = sen −x = cos(x)
1 + tg 2 (x) 2

Tabela de derivadas

(cotg(x))0 = −cossec2 (x)


0 0 0
(f + g) = f +g (sec(x))0 = sec(x)tg(x)
0 0 0
(f · g) = f g + f g (cossec(x))0 = −cossec(x)cotg(x)
1
 0
f f 0g − f g0
= (sen−1 (x))0 = √
g f2 1 − x2
(f (g(x))0 = f 0 (g(x))g 0 (x) 1
(cos−1 (x))0 = − √
xn = nxn−1 1 − x2
1
(ex )0 = ex (tg −1 (x))0 =
1 + x2
1
(ln(x))0 = 1
x (cossec−1 (x))0 = − √
x x2 − 1
(sen(x))0 = cos(x)
1
(cos(x))0 = −sen(x) (sec−1 (x))0 = √
x x2 − 1
(t(x))0 = sec2 (x) 1
(cotg −1 (x))0 = −
1 + x2

111
Tabela de integrais

Z Z Z
udv = uv − vdu cossec2 (u)du = −cotg(u) + C
un+1
Z Z
un
= + C n 6= 1 sec(u)tg(u)du = sec(u) + C
n+1
1
Z Z
du = ln|u| + C cossec(u)cotg(u)du = −cotg(u) + C
Z u Z
eu du = eu tg(u)du = ln|sec(u)| + C
Z Z
sen(u)du = −cos(u) + C cotg(u)du = ln|sec(u)| + C
Z Z
cos(u)du = sen(u) + C sec(u)du = ln|sec(u) + tg(u)| + C
Z Z
secu (2)du = tg(u) + C cossec(u)du = ln|cossec(u) − cotg(u)| + C

112

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