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Resumo:
O uso das demonstrações contábeis para a análise econômica e financeira de empresas é uma importante
área de estudo da contabilidade. Um dos indicadores que vem recebendo maior atenção por parte dos
analistas é o Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization (EBITDA), em função de sua
utilidade na avaliação da eficiência operacional das empresas. Considerando que o nível de investimentos em
ativos imobilizados pode ser determinante para a capacidade operacional da empresa, torna-se oportuno o
estudo da relação entre o EBITDA e o Grau de Imobilização (GI). O objetivo geral do trabalho é verificar se
existe relação entre o GI e o valor do EBITDA das empresas de capital aberto que integram a lista das 500
maiores empresas do Brasil, conforme divulgação na Revista Exame – Melhores e Maiores de 2007, ano base
2006. Foi realizada pesquisa descritiva, por meio de levantamento de dados de caráter quantitativo,
aplicando-se técnicas estatísticas de análise de regressão e correlação. Os resultados demonstraram que
quando analisada a correlação entre o GI e o EBITDA das empresas em conjunto, não foi encontrada
correlação forte. Porém, quando analisada a correlação por setor, os setores de alimentos, bebidas e fumo
(2005), atacado e comércio exterior (2004 e 2005), comércio varejista (2004), confecções e têxteis (2005 e
2006), material de construção (2004 e 2005), papel e celulose (2004 e 2005), serviços de transporte (2004 a
2006) e siderurgia e metalurgia (2006) apresentaram correlação forte, concluindo-se que dependendo do
setor analisado o GI interfere fortemente no EBITDA.
1 Introdução
O uso das demonstrações contábeis como meio de efetuar a análise econômica e
financeira de empresas é uma importante área de estudo da contabilidade (ASSAF NETO,
2003). Nesse sentido, é preciso conhecer a gama de indicadores e seu significado para que os
gestores e analistas possam tomar suas decisões com mais segurança.
Um dos indicadores que vem recebendo maior atenção por parte dos analistas é o
EBITDA, em função de sua utilidade na avaliação da eficiência operacional das empresas.
Porém, percebe-se que no Brasil os estudos sobre esse indicador são escassos, sendo poucos
os trabalhos que verificaram empiricamente a sua relação com outros indicadores e o impacto
que causa sobre eles.
Entre os trabalhos já realizados sobre o assunto, encontra-se o de Costa, Monteiro e
Botelho (2005) que verificaram a relação entre o EBITDA e o retorno sobre o patrimônio
líquido (RSPL) com o preço da ação das empresas brasileiras de capital aberto do setor de
energia elétrica e verificaram que tal relação existe, porém não com significância
considerável.
Já Salotti e Yamamoto (2005) verificaram se o EBITDA podia ser considerado uma
aproximação do Fluxo de Caixa Operacional, que é extraído da Demonstração de Fluxo de
Caixa e encontraram uma resposta negativa a sua questão.
Lima, Santana e Nossa (2004) verificaram qual o impacto do indicador EBITDA nos
Retornos Totais aos Acionistas (RTA) nas empresas com ações negociadas na Bolsa de
XV Congresso Brasileiro de Custos – Curitiba, PR, Brasil, 12 a 14 de novembro de 2008.
Valores de São Paulo (BOVESPA) e concluíram que o EBITDA tem uma relação com os
Retornos Totais aos Acionistas, porém o seu grau de correlação também não é tão
significativo.
O EBITDA é tido como um sinalizador da capacidade de geração de recursos via
operações da empresa. Nesse contexto, considerando que o nível de investimentos em ativos
imobilizados pode ser determinante para a capacidade operacional da empresa, torna-se
oportuno o estudo da relação entre o EBITDA e o grau de imobilização das empresas.
Neste estudo o problema está em saber o quanto o grau de imobilização interfere no
EBITDA das empresas pesquisadas. Portanto considera-se o seguinte problema de pesquisa:
Existe relação entre o grau de imobilização e o valor do EBITDA nas empresas de capital
aberto que integram a lista das 500 maiores empresas do Brasil, conforme divulgação na
Revista Exame – Melhores e Maiores de 2007, ano base 2006?
Como resposta ao problema de pesquisa, levantam-se duas hipóteses:
H0: existe forte correlação entre Grau de Imobilização e EBITDA
H1: não existe forte correlação entre Grau de Imobilização e EBITDA
Dessa forma, o objetivo geral do trabalho é verificar se existe relação entre o grau de
imobilização e o valor do EBITDA das empresas de capital aberto que integram a lista das
500 maiores empresas do Brasil, conforme divulgação na Revista Exame – Melhores e
Maiores de 2007, ano base 2006.
Para alcançar o objetivo proposto será realizada uma pesquisa descritiva, por meio de
levantamento de dados e de caráter quantitativo, aplicando-se técnicas estatísticas de análise
de regressão e correlação.
O trabalho pode ser considerado relevante devido à importância dos estudos sobre
análise econômico-financeira das empresas, particularmente a importância do EBITDA e
considerando também a escassez de estudos sobre esse indicador.
O artigo encontra-se dividido em cinco partes. Inicia-se com a introdução, seguindo
com a revisão teórica. Após aborda-se o método e os procedimentos da pesquisa. Na
seqüência apresenta-se a análise dos resultados obtidos a partir da pesquisa realizada. Por
último são apontadas as conclusões da pesquisa.
2 Revisão teórica
Nesta seção será abordado sobre o processo de análise das demonstrações contábeis,
visando obter uma análise econômico-financeira das empresas e sobre um dos principais
índices utilizados atualmente nesse processo, o EBITDA, além da importância dos
investimentos em ativos imobilizados no desempenho operacional das empresas.
2.2 O EBITDA
Sendo amplamente utilizado atualmente, o EBITDA, cuja versão em português é
LAJIDA (Lucro antes do pagamento de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização),
conforme Vasconcelos (2002) é um “misto de indicador de desempenho econômico-
financeiro e base para avaliação de empresas […], o que ressalta sua importância”.
Ainda sobre a importância do EBITDA, Vasconcelos (2002) afirma que
[…] existe uma tendência por parte dos analistas em recomendar negócios com
empresas que apresentam EBITDA positivo, afinal quanto maior a geração de
recursos via operações da empresa, mais atrativo é o negócio, especialmente quando
comparamos o indicador absoluto com o volume de investimentos operacionais.
Lima, Santana e Nossa (2004) afirmam que o EBITDA adquiriu notoriedade na
década de 1970 nos Estados Unidos, servindo como uma medida temporária para analisar
somente o período que uma empresa, investindo em infra-estrutura, levaria para prosperar no
longo prazo, levando em conta apenas sua atividade operacional.
Já no Brasil, segundo Lima, Santana e Nossa (2004) a utilização do EBITDA teve
início somente em 1994 impulsionada pela implantação do Plano Real que reduziu os níveis
anuais de inflação. Sobre o uso do EBITDA os autores ainda destacam que em 1997 houve
uma grande desvalorização cambial do Real, fazendo com que as empresas adotassem
medidas de avaliações que expressassem melhor o seu desempenho operacional.
Assaf Neto (2002, p. 207) afirma que o EBITDA “equivale ao conceito restrito de
fluxo de caixa operacional da empresa apurado antes do cálculo do imposto de renda”. Porém
é necessário ressaltar que não se pode confundir o EBITDA com o fluxo de caixa operacional
da empresa, pois nem todos os itens considerados no seu cálculo já foram ou serão recebidos
ou pagos.
No entanto, Iudícibus (2007) afirma que por ser livre de regulamentação, a forma de
cálculo do EBITDA acaba variando de empresa para empresa ou de analista para analista e
ressalta a necessidade de uma padronização que possibilite uma maior utilização desse
indicador.
Lima, Santana e Nossa (2004) apresentam um exemplo de Demonstração do Resultado
do Exercício (D.R.E.) que contém o EBITDA e que ajuda a elucidar a sua composição:
Portanto, percebe-se que assim como outros indicadores o EBITDA apresenta suas
vantagens e desvantagens, porém percebe-se a grande utilidade desse indicador, visto sua
abrangência e o rol de análises que ele possibilita.
A população inicial era composta pelas empresas de capital aberto que integram a lista
das 500 maiores empresas do Brasil, conforme divulgação na Revista Exame – Melhores e
Maiores de 2007, ano base 2006, totalizando 103 empresas.
Dentre essas 103 empresas, 5 foram excluídas da amostra por não apresentarem todos
os dados completos para o cálculo do EBITDA. Portanto a amostra final compreendeu 98
empresas. Os dados analisados correspondem aos anos de 2004 a 2006.
Para os fins deste estudo, os dados para o cálculo do EBITDA foram extraídos da
DOAR e da DRE das empresas. Cabe ressaltar que se decidiu estornar também o resultado da
equivalência patrimonial, também extraído da DRE, já que quando o resultado computado
refere-se aos números da empresa controladora, a equivalência patrimonial torna-se
significativa e afeta o valor do EBITDA.
Já o grau de imobilização foi calculado considerando o valor do patrimônio líquido
das empresas e o valor do ativo patrimonial imobilizado tangível, ambos extraídos do Balanço
Patrimonial das empresas.
A Tabela 3 demonstra que nos anos de 2004 a 2006 a correlação existente entre o GI e
o EBITDA das empresas analisadas pode ser considerada fraca, demonstrando que a
influência do GI sobre o EBITDA não é relevante.
Na seqüência os dados foram analisados separadamente por setor, agrupando-se as
empresas conforme classificação setorial adotada pela Revista Melhores e Maiores (2007),
considerando-se a premissa de que empresas do mesmo setor tendem a apresentar GI
semelhantes. Ressalta-se que a análise só foi efetuada em setores que reuniam pelo menos 3
empresas.
Primeiramente, apresentam-se os dados estatísticos - média, desvio-padrão, variância,
mediana e valores máximos e mínimos - do indicador EBITDA por setor.
A Tabela 4 apresenta os valores encontrados nos 3 anos analisados.
Para facilitar a análise dos dados acima, foi elaborada uma tabela comparando os três
setores que apresentaram as maiores médias de EBITDA em cada ano analisado.
Também foi elaborada uma tabela comparativa dos três setores que apresentaram as
maiores médias de GI em cada ano analisado.
Verifica-se na Tabela 7, que o setor de serviços públicos foi uns dos três com maiores
médias de GI nos três anos, pois em 2004 e 2005 apresentou a segunda maior média e em
2006 a primeira. Também se destaca o setor de telecomunicações com a terceira maior média
em 2004 e a segunda em 2006.
Depois de analisar as médias dos dois indicadores em cada setor, verificou-se a
correlação entre eles. A Tabela 8 demonstra os dados encontrados.
A Tabela 8 demonstra que foi verificada correlação forte entre o GI e o EBITDA nos
seguintes setores e anos:
a) Alimentos, bebidas e fumo - 2005;
b) Atacado e Comércio Exterior - 2004 e 2005;
c) Comércio varejista - 2004;
d) Confecções e têxteis - 2005 e 2006;
e) Material de construção - 2004 e 2005;
f) Papel e celulose - 2004 e 2005;
g) Serviços de transporte - 2004 a 2006;
h) Siderurgia e metalurgia - 2006.
Portanto, verificou-se quando da análise da correlação por setor existe correlação forte
entre o GI e o EBITDA em alguns setores, com destaque para o setor de serviços de
transporte que apresentou correlação forte em todos os anos.
Na seqüência se elaborou uma tabela comparando os cinco setores com maiores
correlações em cada ano.
Tabela 9 – Comparação dos setores com maiores correlações em 2004, 2005 e 2006
2004 2005 2006
Setor R Setor R Setor R
Serviços de Serviços de
Confecções e têxteis
transporte 0,98115 transporte 0,99275 0,99417
Atacado e Serviços de
Confecções e têxteis
comércio exterior 0,96091 0,99274 transporte 0,91246
Material de Atacado e comércio Siderurgia e
construção 0,95869 exterior 0,98301 metalurgia 0,76239
Alimentos, bebidas Alimentos, bebidas
Comércio varejista
0,72185 e fumo 0,91149 e fumo 0,68046
Material de
Papel e celulose Telecomunicações
0,70078 construção 0,78434 0,59118
Fonte: dados da pesquisa
5 Conclusões
O objetivo geral do trabalho foi verificar se existe relação entre o GI e o EBITDA. A
amostra final do estudo foi composta por 97 empresas que integram a lista das 500 maiores
empresas do Brasil, conforme divulgação na Revista Exame – Melhores e Maiores de 2007,
ano base 2006.
XV Congresso Brasileiro de Custos – Curitiba, PR, Brasil, 12 a 14 de novembro de 2008.
A pesquisa foi descritiva, realizada por meio de levantamento de dados e teve caráter
quantitativo, aplicando-se técnicas estatísticas de análise de regressão e correlação.
Verificou-se que quando analisada a correlação considerando todas as empresas da
amostra, a H0 é rejeitada em todos os anos, pois a correlação encontrada é considerada fraca, o
que demonstra que se consideradas no todo, as empresas analisadas não apresentam
correlação forte entre o EBITDA e o GI das mesmas.
No entanto, quando analisada a correlação por setor, verificou-se que existe correlação
forte entre o GI e EBITDA e, portanto, a hipótese nula foi aceita, nos setores de alimentos,
bebidas e fumo (2005), atacado e comércio exterior (2004 e 2005), comércio varejista (2004),
confecções e têxteis (2005 e 2006), material de construção (2004 e 2005), papel e celulose
(2004 e 2005), serviços de transporte (2004 a 2006) e siderurgia e metalurgia (2006).
Referências
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XV Congresso Brasileiro de Custos – Curitiba, PR, Brasil, 12 a 14 de novembro de 2008.
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RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 2. ed. São Paulo: Atlas,
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