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Patrick Fraysse
Nathalie Sejalon-Delmas
Organizadores
MEDIAÇÕES
CIENTÍFICAS
POTENCIAIS
MUSEUS E COLEÇÕES DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA/BRASIL
E DA UNIVERSITÉ DE TOULOUSE III/
PAUL SABATIER/FRANCE
O livro Mediações científicas
potenciais: Museus e Coleções da
Universidade Federal da Bahia/Brasil
e da Universidade de Toulouse/Paul
Sabatier/França, aborda o patrimônio
universitário e a sua importância
para as sociedades. Na primeira parte,
os autores brasileiros abordam o
processo de mediação intercultural e
dialógica no Museu de Arqueologia
e Etnologia; a história da coleção
religiosa afro-brasileira no Museu
Afro-brasileiro e a experiência de
criação de uma disciplina a partir das
coleções do Museu de História Natural.
A segunda parte do livro, em francês,
denomina-se História das Coleções e
Museografia em Toulouse e analisa
aspectos expográficos em relação aos
fragmentos científicos e às etiquetas;
a importância das coleções para a
construção identitária da universidade
e a questão da exposição e teatralização
do corpo a partir dos artefatos de
medicina.
MEDIAÇÕES CIENTÍFICAS POTENCIAIS
MUSEUS E COLEÇÕES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA/BRASIL
E DA UNIVERSIDADE DE TOULOUSE/PAUL SABATIER/FRANÇA
Vice-reitor
Paulo Cesar Miguez de Oliveira
Diretora
Flávia Goulart Mota Garcia Rosa
Conselho Editorial
Alberto Brum Novaes
Angelo Szaniecki Perret Serpa
Caiuby Alves da Costa
Charbel Niño El-Hani
Cleise Furtado Mendes
Evelina de Carvalho Sá Hoisel
Maria do Carmo Soares de Freitas
Maria Vidal de Negreiros Camargo
REALIZAÇÃO
Universidade Federal da Bahia/Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Museologia
Université de Toulouse 3
Laboratoire d’Études et de Recherches Appliquées en Sciences Sociales (LERASS)
PATROCÍNIO
Pró-Reitoria de Ensino de Pós-Graduação da UFBA
Sidélia Teixeira
Patrick Fraysse
Nathalie Sejalon-Delmas
Organizadores
Salvador
Edufba
2022
2022, autores.
Direitos para esta edição cedidos à Edufba. Feito o Depósito Legal.
CDU: 069.5:378.1
Editora afiliada à
Editora da UFBA
Rua Barão de Jeremoabo, s/n – Campus de Ondina
40170-115 – Salvador, Bahia / Tel.: +55 71 3283-6164
www.edufba.ufba.br/edufba@ufba.br
SUMÁRIO
9 INTRODUÇÃO
Sidélia Teixeira
Patrick Fraysse
PRIMEIRA PARTE
MUSEUS E COLEÇÕES DA UFBA: MEDIAÇÃO, HISTÓRIA E ENSINO
21 INTRODUCTION
Sidélia Teixeira
Patrick Fraysse
PARTIE 1
MUSÉES ET COLLECTIONS DE L’UFBA: MÉDIATION, HISTOIRE
ET ENSEIGNEMENT
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sociedade em formação que, em última análise, era inegavelmente racista
e, portanto, excludente de negros, índios e mestiços.1
Baseando-se em argumentos tidos na época como científicos, busca-
va-se ao mesmo tempo justificar a dominação dessa elite branca e euro-
centrada, assim como obscurecer a continuidade, por outros meios e sob
novas máscaras, da velha exploração colonial, desta feita internalizada,
de uma imensa população despossuída e alijada das políticas de estado,
não por acaso, majoritariamente negra, indígena e/ou mestiça. Assim, a
despeito do fato de que seus diversos segmentos contribuíam ativamente
na produção da experiência social, sobretudo local, suas capacidades de
agência em quaisquer direções eram simplesmente invisibilizadas. No
caso dos povos indígenas, sua presença era vista apenas como sobrevi-
vência efêmera de um passado em vias de desaparição e/ou superação
pelo advento da “civilização europeia”. (SCHWARCZ, 2005)
A partir de meados do século XX, o Brasil assiste ao início de uma
vida universitária, concomitante a uma acelerada industrialização e
urbanização do país, que se disseminam entre as gerações mais jovens de
intelectuais; já no público mais letrado em geral, uma sociologia e uma
historiografia autóctones de orientação culturalista cujo sucesso remode-
laria a autoimagem da nação, bem como faria de autores, como Gilberto
Freyre (2006) e Sérgio Buarque de Holanda (1995), verdadeiros paradigmas
da interpretação da nacionalidade, aliás, de certo modo ainda vigentes
hoje em dia. Quaisquer que tenham sido as permanências do ideário colo-
nialista que se possa encontrar nessas obras e autores, por questionável
que se tenha tornado a ideia de uma “democracia racial” dos trópicos que
tenham ajudado a disseminar e transformar em pouco tempo num novo
e pernicioso senso comum de nosso imaginário social, elas tiveram seu
mérito. No mínimo, contribuíram para incluir as expressões culturais das
populações marginais do país no debate sobre a identidade nacional ainda
em construção. Agora, entretanto, com um sinal positivo, ainda que as
1 Para mais detalhes e exemplos de museus brasileiros que veicularam tais ideias, consultar
Schwarcz (1993).
2 Consultar (RIBEIRO, 2013) para uma visão de conjunto dos museus universitários brasileiros.
5 Trata-se de projeto que visa identificar e fornecer um mapeamento sobre os objetos Kamayurá,
que se encontram preservados nos museus de arqueologia e etnologia brasileiros. Para mais
informações sobre o Projeto Arquivo Kamayurá, ver: https://www.itaucultural.org.br/secoes/
rumos/uma-jornada-em-busca-de-reconstruir-a-sabedoria-dos-kamayura.
ANTROPOLOGIA E MUSEUS
Para que tal acontecesse, a forma como se tentou entabular esse diá-
logo de uma maneira ao mesmo tempo oficial e pedagogicamente rele-
vante para eles e para o museu e a sua equipe, mas que igualmente servisse
6 Nas instituições museológicas desses estados, os Kamayurá realizaram também pesquisas com
antropólogas e antropólogos.
LABORATÓRIO DE EXPOGRAFIA
Os autores deste texto, visando adaptar e dar continuidade ao projeto,
contataram os representantes dos Kamayurá já retornados à sua comuni-
dade e entabularam um novo diálogo e negociação acerca da possibilidade
de reformular a proposta na direção da constituição de uma exposição
desta feita virtual, a qual pudesse dar até maior visibilidade a tais objetos
e aos seus significados históricos, culturais, sociais e políticos não apenas
no seu contexto de produção, mas também hoje. A ideia era construir uma
exposição em colaboração com os Kamayurá, optando, assim, por uma
comunicação museológica em que a comunidade indígena abordada par-
ticipasse de forma ativa e criativa de sua execução e na qual aqueles que
nos haviam visitado se transformassem nos seus mediadores junto a seu
próprio povo. Nessa linha, são consideradas fundamentais, sobretudo, a
8 O mapeamento dos materiais disponíveis sobre os objetos escolhidos pelos Kamayurá foi
terminado no mês de janeiro de 2020, e quando estava começando o planejamento da fase
sucessiva de efetiva inclusão destes na exposição, em março, foi decretado na Bahia o estado
de emergência sanitária que tudo paralisou.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, constata-se o protagonismo do grupo indígena
Kamayurá que procura, cada vez mais, instrumentalizar seus membros,
ao mesmo tempo, como pesquisadores e responsáveis pela preservação
da sua própria cultura. Observam-se tanto uma compreensão ampla sobre
a importância do seu patrimônio, como também os receios e as ameaças
que a perda desses referenciais históricos e culturais representa para eles.
Esse sentimento em torno da necessidade de proteção dos bens cultu-
rais também é reforçado pelo sentido de urgência de sua incorporação à
educação e formação das novas gerações. Da parte do museu, afirma-se
a necessidade de compreender e aprimorar a comunicação em torno das
coleções dos museus etnográficos que retratam a cultura dos Kamayurá.
Demonstra-se, assim, a necessidade de tratar dos temas relacionados a
essa cultura, a partir dos objetos preservados, numa perspectiva cientí-
fica, primando pelo zelo e pela atenção. Isso implica construir um diá-
logo, profundo e progressivo, para negociar a construção das narrativas
expográficas realizadas pelas equipes das instituições museais.
REFERÊNCIAS
ABREU, R. Tal antropologia qual museu? Revista do Museu de Arqueologia e
Etnologia, São Paulo, n. 7, p. 121-143, 2008.
AGOSTINHO, P. S. Kwarìp: mito e ritual no Alto Xingu. São Paulo: E.P.U: Ed. USP,
1974.
LIMA FILHO, M. F.; ABREU, R.; ATHIAS, R. (org.). Museus e atores sociais:
perspectivas antropológicas. Recife: Editora UFPE, 2016.